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construção de sentidos.
Renato Coelho Barbosa de Luna Freire
Doutorando PPGHS/UERJ; Professor Educação Básica SME/FME Niterói, RJ e SEEDUC/RJ.
Os passados que circulam nas aulas de história são representados por narrativas
conduzidas por suportes materiais e imateriais (ROCHA, 2014). O tempo é elemento estruturante
do saber histórico e expresso por diferentes maneiras de narrar, já que toda narrativa trás em si
uma noção de temporalidade, que por sua vez, somente ganha significado ao ser narrado
(GABRIEL, 2015). Ainda que o tempo seja categoria fundamental para a construção do
conhecimento histórico, a tendência é que seja naturalizado nas práticas dos professores, não
sendo objeto de problematizações explicitamente enunciadas.
O tempo histórico é uma criação dos historiadores, mas a tendência nas práticas escolares
é que, por demandas dos textos curriculares, sua problematização se limite ao 6° ano do ensino
fundamental, onde trabalho do historiador é apresentado considerando a metodologia de pesquisa
científica do historiador e que, num olhar generalista, os anos seguintes não retomam as
elaborações temporais, naturalizando os regimes de temporalidades dos objetos de estudos
subsequentes.
Enquanto a história acadêmica se vale de rigorosa metodologia para controle científico
explicitando recortes temporais precisos, a história escolar não possui metodologia que garanta
aos alunos “pensar historicamente” (PALTI, 2000), motivo pelo qual se vale de diferentes
referências de temporalidades e modelos explicativos como formas para geração de
inteligibilidades (KNAUSS, 2005). Ao aproximarmos a didática da teoria da história
potencializamos as possibilidades de renovação das práticas de ensino nas negociações para as
produções de sentidos na dimensão escolar da história. Apostamos na desnaturalização do tempo
como caminho para atualizar os métodos pelos quais os objetos de conhecimento são elaborados
e reelaborados em sala de aula.
A observação direta das práticas docentes revelou a complexidade do campo de pesquisa
do ensino de história. É na aula, entendida como o núcleo do processo de aprendizagens onde os
saberes ganham sentidos por um processo tenso de seleção, elaboração, adaptação, traduções,
significação. O professor, sujeito responsável pela negociação e produção de sentidos
(MONTEIRO, 2007) possui autonomia relativa em seu saber-fazer profissional, mobilizando e
interagindo diferentes saberes, formados por diferentes vozes para construir narrativas dirigidas
aos estudantes para que possam se apropriar da aula em forma de aprendizagens.
Os professores desenvolvem diferentes narrativas que, elaboradas na interrelação dos
diferentes saberes, apresentam-se aos estudantes como um texto, indo além da escrita
(MATTOS, 2006). A aula como acontecimento único que não se repete é encarada como
atividade cultural e o próprio produto desta atividade, perdendo-se em sua efemeridade. Ao
retomarmos a aula como texto possibilita perceber o protagonismo do professor que mobiliza
diferentes saberes, como o saber científico, o saber desenvolvido em sua prática profissional e o
saber cultural acumulado em sua experiência de vida, dialogando tensamente na configuração
dos saberes docentes utilizados em seu exercício profissional (TARDIF, 2014).
Estes saberes entram em constantes negociações e, através dos fluxos de sentidos que
circulam em constantes trocas, são mobilizados para criarem inteligibilidades nas narrativas
escolares (GABRIEL & MORAES, 2014). A seleção do que será ensinado e como será ensinado
passa por disputas pela universalização do saber, alcançando a prática da sala de aula que tem no
professor a decisão sobre os saberes que circularão e suas estratégias de negociações junto aos
estudantes para produzir sentidos, visando tornar o objeto do saber “ensinável”.
A aposta na desnaturalização às complexas relações entre as temporalidades e os
conteúdos de história veiculados pelas narrativas requer a compreensão da criação de
inteligibilidades aos objetos de estudos históricos escolares, relacionando o tempo enquanto
categoria indispensável para a formulação do conhecimento histórico. O professor, em seu saber-
fazer, mobiliza diferentes temporalidades, motivo pela qual as narrativas escolares são
produzidas de maneira autoral, já que considera as interrelações de saberes que o professor
seleciona autenticamente, considerando as subjetividades pessoais, bem como o público para o
qual se dirige. É também construção coletiva ao trazer outros autores em diferentes materiais,
bem como direcionada ao público escolar, em que se objetiva explicitamente produzir
aprendizagens. No processo de negociação, os estudantes são considerados e para eles o texto
aula é direcionando, ou seja, dado a ler.
De um modo geral assim... como é que eu seleciono? Eu parto, eu busco aquilo que...
eu não sei dizer não... é tão intuitivo... pra mim passou a ser tão intuitivo é uma coisa
tão assim, né? eu tento fazer, o que eu tento fazer é correlacionar as coisas...
Independência do Brasil veio relacionada com a vinda da corte portuguesa né, que tem
a ver com a questão das invasões napoleônicas e “tal”, “não sei quê”, né... não dá
para fugir desse contexto essa... e aí eu claro, eu vou procurar falar que na questão eu
vou tentar mostrar que essa Independência é uma Independência muito relativa, que foi
condicionada uma série de coisas, que foi uma Independência... comparar com as
outras independências da América onde houve de fato a elite local se indispondo,
brigando, guerreando mesmo contra a metrópole e aqui não foi tão esse o caso que
quem fez a independência era um português e que a gente continuou com uma
monarquia enquanto que todos os outros países, todas as outras ex-colônias se
tornaram repúblicas e tal.. essa é a minha preocupação maior: mostrar as
peculiaridades dessa nossa formação e, ao mesmo tempo, também é uma coisa inédita a
colônia que virou sede da metrópole essas coisas assim né? (risos) que só no Brasil
mesmo.. tem coisas que (risos)... eu procuro mostrar dessa maneira... eu escolho esses
temas assim. Eu não vou muito pelo factual não, pela aquela sequencia “isso, aquilo e
tal”... não deixo de citar um José Bonifácio, não deixo de citar assim, mas o que eu
busco é o geral, quer dizer, são as causas e os efeitos e o que isso significa em relação
aos outros. Acho que essa questão de comparar é uma forma boa de aprender. Não
comparar no sentido de dar mais valor ou menos valor, não é isso. Mas o resto da
América se deu dessa maneira, pode-se dizer, no Brasil foi dessa maneira e tal...
enfim...
Trecho: Esses indivíduos faziam parte do povo, incluindo os burgueses. Quem eram os
burgueses? Nós falamos aula passada. Eram os comerciantes, donos de manufaturas.
Tem também a diferença entre alta, média e baixa burguesia. Vamos dar um exemplo.
Eike Batista. Está preso, tudo o mais, mas é dono de mineradoras, empresas... ele é o
quê? Da alta burguesia. Agora, a dona da lojinha aqui da frente que fechou? Ela é tão
burguesa como o Eike Batista, o que difere é que ela não é rica como o Eike. O cara
que trabalha na lojinha é burguês?
Alunos: Não!
Professor: Não, ele é trabalhador assalariado que recebe um salário da dona da loja. A
burguesia quer ter privilégios da nobreza, por isso é a classe revolucionária. Na
próxima aula veremos como a burguesia vai lutar pelo poder político. Vocês estão
vendo na televisão como um monte de empresários está sendo presos?
Alunos: Sim!
Professor: Então, eles se juntaram aos políticos do governo para obter privilégios, mas
fizeram isso de forma errada.
Considerações Finais