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CUMPRIMENTO LIMITE CONSTITUCIONAL MUNICIPAL

DESPESA COM PESSOAL

O grande vilão dos dispêndios públicos sempre foi a


Despesa com Pessoal, considerada por muitos como o ralo dos gastos públicos. Este fato torna-se mais
visível em pequenos Municípios, onde a economia baseia-se na remuneração dos munícipes
empregados pelo ente e seus órgãos. O cenário de certos entes era tão calamitoso que o recurso
desprendido para gastos com pessoal ultrapassava a 80% da Receita Corrente Líquida sobrando pouco
recurso para desenvolver ações essenciais ao bem estar da sociedade.

A partir, da promulgação da Lei Complementar n°


101/00, conhecida pelo codinome de Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, esta algazarra de
empregabilidade no setor público teve fim. E os dissipadores de recursos públicos que ousassem
afrontar os ditames da referida lei passariam a sofrer sanções/punições previstas nela.

Para os gestores públicos conseguirem honrar com suas


obrigações administrativas oferecendo a seguridade social e infraestrutura básica a população eles
necessitam onerar recursos financeiros. Estes dispêndios são denominados Despesa Pública. Despesa
Pública pode ser definida como:

Todo pagamento efetuado a qualquer título pelos agentes pagadores para saldar
gastos fixados na lei do orçamento ou em lei especial e destinados à execução dos
serviços públicos, entre eles custeios e investimentos, além dos aumentos
patrimoniais, pagamentos de dívidas, devolução de importâncias recebidas a títulos
de caução, depósitos e consignações.

A realização das despesas obedece fazes processuais que


a Lei 4.320/64 discrimina em seu texto. Conforme dispõe o art. 18, §1°, da Lei Complementar
101/2000 a despesa total com pessoal é:

O somatório dos gastos do ente da federação com os ativos, os inativos e os


pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos funções ou empregos, civis,
militares e de membros de poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como
vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria,
reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens
pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições
recolhidas pelo ente às entidades de previdências.

Resumindo a definição acima citada, despesa com


pessoal são todos os gastos efetivados, direta ou indiretamente, com mão de obra.

Com relação ao Limite com Despesa com Pessoal a


Constituição Federal de 1988 – CF/88 no Art. 169 trata sobre o assunto, onde diz: “a despesa com
pessoa ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder
os limites estabelecidos em lei complementar”. A Lei Complementar 101/2000 vem preencher a
lacuna deixada pela Constituição Federal regulamentando o art. 169 da CF/88, adotando como
parâmetro de controle da Despesa com Pessoal a fixação de percentual sobre a Receita Corrente
Líquida.

O art. 18, § 2° refere a esse parâmetro dizendo que, “a


despesa total com pessoal será apurada somando-se a realizada no mês em referência com as dos
onze imediatamente anteriores, adotando-se o regime de competência.” Utilizando o mesmo
raciocínio exposto anteriormente com a despesa, à receita corrente líquida e apurada conforme o art. 2,
§ 3° somando as receitas arrecadadas no mês em estudo e nos onze meses subsequentes, excluindo as
duplicidades.

A LRF estabelece três limites distintos referentes à


Despesa com Pessoal, que Luciano Ferraz (2001) descreve da seguinte forma: Limite Máximo oscila
de acordo com o ente ou órgão; Limite Prudencial corresponde a 95% do valor do Limite Máximo; e o
Limite Pré Prudencial, que corresponde a 90% do Limite Máximo.

Da mesma forma da União e dos Estados os Municípios


também atendem a limites, que no caso da Despesa com Pessoal não poderá ultrapassar o valor
máximo de 60% da receita corrente líquida estabelecido no art. 19 da LRF. E o art. 20 da mesma lei
discrimina o rateio deste percentual com os entes da esfera municipal da seguinte maneira:

Poder Legislativo e Tribunais de Contas dos Municípios – 6%


Poder Executivo – 54%

Com relação ao aumento da despesa com pessoal, o art.


21 da LRF legisla que o acréscimo no gasto com pessoal será nulo caso não respeite as exigências
dos arts. 16 e 17 da mesma lei, o inciso XII do art. 37 e § 1° do art. 169 da Constituição Federal e
o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo. E conclui que
também será nulo o ato que incida aumento a despesa com pessoal, expedido nos 180 dias que
antecedem o encerramento do mandato do responsável pelo poder ou órgão.

A LRF é categórica com relação ao cumprimento do


limite e deixa claro isso no art. 23, onde diz que, o administrador público quando ultrapassar o limite
estabelecido deverá eliminá-lo nos dois quadrimestres seguintes, podendo realizar em duas etapas
sendo pelo menos um terço no primeiro quadrimestre.

Isto quer dizer que o gestor público deverá tomar


medidas de redução de despesa com pessoal. Que poderá ser desde redução da remuneração dos
cargos de confiança que poderá chegar a 20%, extinção de cargo e função ou redução dos valores
atribuídos a eles e até o desligamento dos servidores efetivos.

Como já mencionado alhures, existem três tipos de


limites que o gestor do Poder ou Órgão deve respeitar em matéria de despesa com pessoal. O primeiro
é o Limite Prudencial que corresponde a 95% do montante do Limite Máximo, o segundo é o Limite
Máximo que varia em percentual entre os Entes, sendo 60% da Receita Corrente Líquida para os
Municípios, Estados e Distrito Federal e de 50% para a União e por final o Limite Pré Prudencial que
corresponde a 90% do Limite Máximo.
Relembrado os limites referentes à Despesa com Pessoal,
faz-se necessário neste momento discorrer sobre as implicações que acarretam o descumprimento dos
mesmos.

Primeiramente a explanação das sanções


institucionais causadas quando atingido o Limite Prudencial.

O art. 22 da Lei complementar 101/2000 expõe uma


série de medidas restritivas, quando afetado o texto dos arts. 19 e 20 da mesma lei, ambos se
referem à fixação de limites com gastos com pessoal. As vedações do art. 22 são transcritas abaixo:

I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a


qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou
contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição;
II - criação de cargo, emprego ou função;
III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa;
IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer
título, ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de
servidores das áreas de educação, saúde e segurança;
V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto no inciso II do § 6º do art.
57 da Constituição e as situações previstas na lei de diretrizes orçamentárias. (art.
22, LRF).

Mas antes de necessitar aplicar estas vedações o Tribunal


de Contas, conforme o art. 59, § 1°, II da Lei Complementar n° 101/2000, deverá ter remetido um ato
de alerta endereçado para o Poder ou Órgão constando que o total da despesa com pessoal ultrapassou
o Limite Pré Prudencial.

Caso o administrador deixe de observar estes fatos


expostos acima, e conduza o Limite com Pessoal ao Limite Máximo e o extrapole, ficará a mercê
das imposições do art. 23 da Lei Complementar n° 101/2000, que inflige sem prejuízo das vedações
supracitadas a eliminação do excedente nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço
no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos § 3° e § 4° do art. 169 da
Constituição Federal.

Não cumprindo a redução no prazo estabelecido para


ajuste do montante da Despesa com Pessoal e, em enquanto permanecer o excesso, o ente não estará
apto, concordando com exposto no § 3°, I, II, e III, Art. 23 da LRF, a “I – receber transferências
voluntárias; II - obter garantias, diretas ou indiretas, de outro ente; III - contratar operações de
crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução
das despesas com pessoal”.
Acima foram discorridos sobre as sanções que afetam
diretamente a administração pública, pois, são ações que interferem diretamente na questão financeira
do Ente empunhando medidas de corte de repasses, acesso a crédito empecilhos no aumento da
Despesa com Pessoal.

A seguir serão expostas as penalidades que o gestor


quanto pessoa física pode sofrer civil e criminalmente pelo não cumprimento das exigências da lei
com referência a Despesa com Pessoal. Vamos observá-las abaixo:

DESPESA COM PESSOAL


LEGISLAÇÃO TRANSGRESSÃO À LEI PUNIÇÃO Fiscal Penal LEGISLAÇÃO
LRF, art. 15. Gerar despesa ou assumir obrigação Despesa ou obrigação Reclusão de 1 CP, art. 359-D.
que não atenda o disposto na Lei. não autorizada irregular a 4 anos.
e lesiva.
LRF, art. 16. Não cumprir a Lei na criação, Reclusão de 1 CP, art. 359-D.
expansão ou aperfeiçoamento de ação a 4 anos.
governamental que acarrete aumento
da despesa.
LRF, art. 17. Não cumprir a Lei na criação ou Reclusão de 1 CP, art. 359-D.
expansão das despesas obrigatórias de a 4 anos.
caráter continuado.
LRF, art. 19. Exceder o limite da despesa total com Cassação do DEL 201, art.
pessoal em cada período de apuração. mandato. 4º, inciso VII.
LRF, art. 21. Expedir ato que provoque aumento da Nulidade do ato. Reclusão de 1 CP, art. 359-D.
despesa total com pessoal em a 4 anos.
desacordo com a Lei.
LRF, art. 21, Ordenar, autorizar ou executar ato que Nulidade do ato. Reclusão de 1 CP, art. 359-G.
§ único acarrete aumento da despesa total a 4 anos.
com pessoal nos 180 dias anteriores
ao final do mandato ou legislatura
LRF, art. 22, Deixar de adotar as medidas previstas Proibições previstas na Reclusão de 1 CP, art. 359-D.
§ único. na lei quando a despesa total com lei (LRF, art. 22, a 4 anos.
pessoal exceder a 95% do limite. incisos I a V).
LRF, art. 23. Deixar de ordenar ou de promover, na Proibição de receber Multa de 30% Lei 10.028/2000,
forma e nos prazos da lei, a execução transferências dos art. 5º, inciso IV.
de medida para a redução do voluntárias, exceto vencimentos
montante da despesa total com relativas a ações de anuais.
pessoal que houver excedido a educação, saúde e
repartição por Poder do limite assistência
máximo. social. Proibição de
obter garantia e
contratar operações de
crédito, ressalvadas as
destinadas ao
refinanciamento da
dívida mobiliária e
redução de despesa
com pessoal (LRF, art.
23, § 3º, incisos I a III).
Como visto anteriormente as penalidades/sanções podem
vir cominadas de sanções pessoais para o administrador público e institucionais, para a unidade da
federação que os extrapole.

Conclui-se que o município que exceda os limites legais


estabelecidos pela Lei Complementar 101/2000 ficará sujeito às vedações impostas por esse diploma e
já mencionadas anteriormente.

Por todo o exposto, s.m.j.,


É o entendimento.

Boa Esperança, 11 de abril de 2017

DENIS FIGUEIREDO DOS SANTOS


OAB/MG 151.556
SF AUDITORIA E CONSULTORIA

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