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PRA QUE SERVE O DEMONSTRATIVO DAS DESPESAS COM PESSOAIS

Um dos mecanismos com maior impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal


(LRF) foi a criação de limites. São vários tipos de restrição, como os que
afetam a obtenção de empréstimos e os que monitoram o endividamento. Um
dos mais relevantes, são os limites da despesa com pessoal.
Quais são os limites da LRF para a despesa pessoal?
Os limites da despesa como pessoal em cada ente da Federação para cada
quadrimestre são: na União 50% da RCL; nos Estados e no Distrito Federal,
60% da RCL; e nos Municípios, 60% da RCL.
Há limites também para cada poder em cada esfera. Preste atenção
I – na esfera estadual: 3% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do
Estado; 6% para Judiciário; 49% par o Executivo; 2% para o ministério Público
dos Estados;
II – na esfera municipal: 6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas
do Município, quando houver, 54% para o Executivo;
III – na esfera federal: 2,5% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas
da União 6% para o Judiciário; 40,9% para o Executivo; 0,6% para o Ministério
Público da União.
Exemplo, digamos que o Estado de São Paulo tenha uma RCL de 100 bilhões.
Seus limites são de 3% para o Poder Legislativo, 6% Poder Judiciário, 49%
Poder Executivo e 2% Ministério Público.
Avaliação dos Estados pelo relatório de Gestão Fiscal (RGF) em 2017 – Fonte:
Secretária do Tesouro Nacional (STN). Logo o Poder Legislativo poderá gastar
até 3 bilhões (3%), o Poder Judiciário poderá gastar até 6 bilhões (6%), o
Poder Executivo até 49 bilhões (49%) e o Ministério Público até 2 bilhões (2%)
A Receita Corrente Líquida (RCL) e os limites da despesa com pessoal?
Antes de aprendermos sobre os limites da despesa com pessoal e como
calculá-los, precisamos entender o conceito de Receita Corrente Líquida
(RCL). Por que isso importa? Porque a RCL é utilizada como referência para
verificarmos se o ente federativo está cumprindo os limites.
Por exemplo, é de 50% da RCL. Ou seja, se a RCL da União for de 800 bilhões
de reais, o limite para as suas despesas de pessoal será de 400 bilhões de
reais (50%). Logo, é preciso saber o que é e como calcular a RCL: ela é a
soma de todas as receitas correntes de um período de doze meses, excluindo-
se algumas dessas receitas. Surge então uma nova dúvida, o que é uma
receita corrente?
Classificam-se como correntes as receitas provenientes de tributos; de
contribuições; da exploração do patrimônio estatal (Patrimonial); da exploração
de atividades econômicas (Agropecuária, Industrial e de Serviços), e além de
se enquadrarem neste grupo as receitas recebidas por transferências correntes
que um ente federativo ou um órgão pode fazer para o outro (por exemplo, a
União transferindo dinheiro para um Município, gera uma receita neste
Município); além de outras receitas correntes.
Após a soma das receitas correntes, é preciso fazer as exclusões. Somente
depois das exclusões é que teremos a receita corrente líquida. São excluídos
do cálculo da RCL:
Na União, os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação
constitucional ou legal, e as contribuições dos empregadores e dos segurados
para a previdência, e do Programa de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP);
Nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação
constitucional;
Na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o
custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas
provenientes da compensação financeira entre sistemas previdenciários.
Essas exclusões são receitas correntes que não são do ente. Por exemplo,
uma parte do ICMS recolhido pelo estado é receita dos municípios. O Estado
só trabalha como ente que arrecada e depois transfere, por isso, o Estado não
pode considerar esse valor como parte da RCL.
O que acontece ao ultrapassar os limites da despesa com pessoal?
Caso sejam ultrapassados todos os limites da despesa com pessoal, além das
restrições já explicadas o ente deverá eliminar o percentual que exceder o
limite nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no
primeiro, adotando-se, dentre outras, as seguintes medidas:
Redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em
comissão e funções de confiança;
Exoneração dos servidores não estáveis;
Exoneração de servidor estável por ato normativo motivado com a
especificação da atividade funcional, órgão ou unidade administrativa objeto da
redução de pessoal.
Essas são as medidas mais drásticas e constam na Constituição Federal de
1988. Para explicar o que seria eliminar o excesso, digamos que o limite seja
de 60% e o ente tenha uma despesa de 62%, logo, terá que eliminar o excesso
(os 2% a mais) nos próximos dois quadrimestres.
E se não eliminar nos dois quadrimestres seguintes? O ente sofrerá mais
algumas restrições: não poderá receber transferências voluntárias; obter
garantia, direta ou indireta, de outro ente; ou contratar operações de crédito
(financiamentos), ressalvadas as situações de refinanciamento da dívida e as
que visem à redução das despesas com pessoal.
Essas restrições são aplicadas automaticamente quando os limites de despesa
com pessoal são ultrapassados no último ano de mandato. Há também
algumas regras específicas para situações com o Produto Interno Bruto baixo e
com redução nas arrecadações de municípios.
O que pode acontecer com o gestor? O gestor poderá responder pelos crimes
relacionados à LRF, ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas, ter
suspensos os seus direitos políticos (e com isso não conseguir se candidatar a
um cargo político por um determinado período), dentre outras consequências
resultantes do descumprimento dos limites de despesa com pessoal.
Quais os órgãos sujeitos a estes limites?
Sujeitam-se aos limites da despesa com pessoal: os Poderes Executivos
Federal, Estadual, Distrital e Municipal; o Ministério Público nas diversas
esferas; os Poderes Legislativos Federal, Estadual, do Distrito Federal e
Municipal; e os respectivos Tribunais de Contas, quando houver.
No Poder Judiciário, sujeitam-se: o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior
Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Tribunal
Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Superior Militar (TSM) e demais
Tribunais Federais. Já no âmbito estadual, o Tribunal de Justiça e outros,
quando houver.
Autarquias e fundações públicas também respeitam os limites. Apenas as
sociedades de economia mista e as empresas públicas não precisam atender
estes dispositivos, caso sejam independente.

No demonstrativo em referência serão deduzidas apenas as seguintes


despesas com pessoal, desde que tenham sido inicialmente consideradas:
1. indenizações por Demissão e com Programas de Incentivos à Demissão
Voluntária, elemento de despesa 94 – Indenizações Trabalhistas;
2. decorrentes de decisão judicial da competência de período anterior ao
da apuração, elemento de despesa 91 – Sentenças Judiciais;
3. demais despesas da competência de período anterior ao da apuração,
elemento de despesa 92 – Despesas de Exercícios Anteriores; e
4. com inativos, considerando-se também os pensionistas, ainda que por
intermédio de fundo específico, custeadas com recursos vinculados,
ou seja, provenientes da arrecadação de contribuições dos segurados
e das demais receitas diretamente arrecadadas por fundo vinculado a
tal finalidade, inclusive o produto da alienação de bens, direitos e
ativos, bem como seu superávit financeiro.

Não poderão ser deduzidos:


1. as despesas com pessoal inativo e pensionista, custeadas com recursos
não vinculados;
2. os valores transferidos a outro Ente da Federação para fins
da compensação financeira de que trata o § 9º do art. 201 da
Constituição, uma vez que esses valores não são computados como
despesas com pessoal. Em contrapartida, as despesas com
pagamento de inativos e pensionistas, custeadas com os valores
recebidos, decorrentes dessa transferência, poderão ser deduzidas
pelo ente recebedor;
3. o Imposto de Renda Retido na Fonte, uma vez que, do ponto de vista
do ente empregador, o IRRF não é despesa, mas receita tributária. De
outra forma, a despesa com a remuneração bruta do servidor, a qual
engloba o valor que, em um momento posterior, será retido para
pagamento do IRRF, é despesa com pessoal.
4. 1. Despesas de Exercícios Anteriores
5. Os valores da despesa com pessoal relativa a despesas de
exercícios anteriores, da competência de período anterior ao da
apuração, deverão ser deduzidas para fins de cálculo para verificação do
cumprimento do limite. Não poderão ser deduzidas das Despesas com
Pessoal as relativas à folha de pagamento, classificadas no elemento de
despesa 92 – Despesas de Exercícios Anteriores, que pertencem ao
período de apuração (mês de referência e os onze meses anteriores).
6. As despesas de exercícios anteriores a serem deduzidas referem-
se àquelas que, embora tenham sido liquidadas no período de 12 meses
considerado pelo demonstrativo, competem a período anterior. Na Figura
1, é apresentada uma exemplificação gráfica das despesas computadas
e não computadas, considerando a elaboração do RGF do 1º
quadrimestre do ano de 2018.
7.

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