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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

São Cristóvão-SE, 2023


© Editora UFS, 2023.
Direitos para esta edição cedidos à Editora UFS. Qualquer parte desta publicação
poderá ser utilizada e transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, desde que citada a fonte.
Obra selecionada e publicada com recursos públicos advindos do Edital 001/2021 do
Programa Editorial da UFS.
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
adotado no Brasil em 2009.

PREPARAÇÃO
Juliana Cecci Silva

REVISÃO
Roberta Martins Melo Saro e Juliana Cecci Silva

PROJETO GRÁFICO, CAPA E DIAGRAMAÇÃO


Carlos Tadeu Santana Tatum

ILUSTRAÇÃO
Guilherme Al-Chdyack Kauark

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Matos, Luiz Eduardo Oliveira.


M433a Atenção primária à saúde no interior do Estado de Sergipe:
acesso universal, gestão e condições de trabalho e saúde / Luiz
Eduardo Oliveira Matos, Márcia Schott, Renata Jardim. - São
Cristóvão, SE: Editora UFS, 2023.
137 f.; il.

ISBN 978-85-7822-702-9

1. Cuidados primários de saúde - Sergipe. 2. Saúde pública. 3.


Pessoal da área de saúde pública. 4. Educação. 5. Racismo. I. Schott,
Márcia. II. Jardim, Renata. III. Título.

CDU 364.2:61(813.7)
Sumário
APRESENTAÇÃO 8
Detalhamento metodológico 10
Apresentação dos capítulos 14
Referências 16

CAPÍTULO 1 UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE: ESTRUTURA


E NECESSIDADES NO INTERIOR DE SERGIPE 18
1.1 Introdução 18
1.2. Perfil das UBS participantes da pesquisa 20
1.3 Discussão 24
1.4 Considerações finais 30
Referências 31

CAPÍTULO 2 GESTORES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:


DA INDICAÇÃO POLÍTICA PARA O CARGO ÀS CONDIÇÕES DE
TRABALHO E DE SAÚDE 35
2.1 Introdução 35
2.2 Perfil socioeconômico dos participantes 37
2.3 Condições de Trabalho 40
2.4 Condições de saúde e impactos da precarização do trabalho. 45
2.4.1 Sedentarismo e inatividade Física: ampliando a análise dos resultados
para as condições de saúde 47
2.4.1.1 Detalhamento metodológico de análise 48
2.4.1.2 Sedentarismo e inatividade física: resultados em detalhes 49
2.5 Considerações finais 59
Referências 61

CAPÍTULO 3 EDUCAÇÃO PERMANENTE DA GESTÃO DA ATENÇÃO


PRIMÁRIA À SAÚDE 69
3.1 Introdução 69
3.2 Gestão da saúde 72
3.3 Educação permanente 74
3.4 Atenção à saúde da população negra 77
3.5 Considerações finais 78
Referências 80
CAPÍTULO 4 RECURSOS HUMANOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:
VÍNCULOS DE TRABALHO, INATIVIDADE FÍSICA
E MORBIDADES REFERIDAS 83
4.1 Introdução 83
4.2 Perfil sociodemográfico dos participantes – profissionais e trabalhadores
da APS 86
4.3 Condições de trabalho 89
4.4 Condições de Saúde 91
4.5 Considerações finais 98
Referências 100

CAPÍTULO 5 RACISMO: DEBATE NECESSÁRIO PARA O ACESSO


UNIVERSAL E ATENÇÃO INTEGRAL NO SUS 105
5.1 Introdução 105
5.2 A percepção dos gestores (100%; n=15) 106
5.3 A percepção dos profissionais e trabalhadores (n=260) 108
5.4 Análise ampliada dos resultados 110
5.5 Considerações finais 111
Referências 111

CONCLUSÃO 113

APÊNDICE A 118

APÊNDICE B 121

APÊNDICE C 130

SOBRE OS AUTORES 135


Prefácio
Matos, Schott e Jardim

Apresentação
APRESENTAÇÃO

Prezado(a) leitor(a), este livro apresenta resultados de investigações


desenvolvidas por pesquisadores vinculados ao Núcleo Transdisciplinar de
Estudos em Saúde Coletiva (NUTESC) da Universidade Federal de Sergipe (UFS),
campus Universitário Professor Antônio Garcia Filho, Lagarto, Sergipe. Trata-se
de uma coletânea de relatos de temas investigados junto a gestores de
Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de profissionais e trabalhadores de Equipes
de Saúde da Família (eSF) que integram a Rede de Atenção à Saúde (RAS) do
município de Lagarto.

Os trabalhos aqui descritos expressam um grande esforço acadêmico de


seus autores, pois estes têm realizado as investigações em uma Instituição
Federal de Ensino Superior (IFES) ainda em construção, criada em 2011. Os
pesquisadores não contaram com apoio financeiro e tiveram muitas
dificuldades de acesso aos profissionais, dada a característica espacial do
município: quase metade da população reside em áreas rurais distribuídas em
mais de cem povoados, apenas 28% dos domicílios tem esgotamento sanitário
adequado e somente 10% das moradias urbanas está em vias públicas, com
urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio)
(BRASIL, 2017).

Ressaltamos, ainda, que os projetos foram desenvolvidos mediante o


vínculo que a Universidade possui com a RAS municipal, uma parceria que vem
sendo construída a cada ano e é fundamental para a formação em saúde dos
oito cursos oferecidos pelo campus de Lagarto 1. O fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde (APS) e do Hospital Universitário de Lagarto (HUL) são
essenciais para que a UFS possa oferecer uma formação diferenciada, que se
destaca pela Integração Ensino-Serviço-Comunidade (IESC), principalmente

1 São oferecidos, pelo campus de Lagarto, oito cursos de graduação nas áreas de Ciências da Saúde: Enfermagem,
Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional.

8
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

através do módulo de ensino Prática de Ensino na Comunidade (PEC) e


equivalentes, parte da matriz curricular de todos os cursos, na maioria dos seus
ciclos (períodos anuais de estudo).

No sentido de uma melhor compreensão sobre o trabalho desenvolvido,


este espaço inicial é dedicado à descrição de aspectos metodológicos gerais das
pesquisas realizadas do qual o livro é resultante, como os instrumentos de
coleta e análise.

Os Projetos de Pesquisa vinculados à essa publicação, Educar2 e Nascer3,


foram aprovados pelo Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) do Hospital
Universitário de Aracaju, conforme Pareceres Consubstanciados de números
949.513 e 1.586.151, e atenderam a Resolução nº 466 de 2012, do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) do Ministério de Saúde (MS). Todos os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo
garantido o caráter confidencial das informações obtidas. As entrevistas foram
gravadas e transcritas na íntegra, sendo codificadas alfanumericamente.

O livro apresenta resultados parciais do Projeto Educar. Trata-se de uma


pesquisa com caráter exploratório, abordagem observacional, transversal,
descritiva e qualiquantitativa, realizada em três fases, por meio de entrevistas
semiestruturadas. A primeira fase referiu-se a gestão da Educação Permanente
em Saúde (EPS) no estado de Sergipe e as fases II e III relacionaram-se à
instância municipal da terceira maior cidade do estado, sede de uma das sete
regiões de saúde. A fase II foi conduzida principalmente junto a gestores de
UBS e a fase III apenas com profissionais da APS.

Na fase I, participaram deste estudo seis sujeitos envolvidos na gestão


do SUS que ocupavam funções estratégicas ligadas à EPS em Sergipe no

2 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: RECURSOS HUMANOS E ARTICULAÇÃO ENSINO-SERVIÇO NO


CENÁRIO DAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE NO ESTADO DO SERGIPE, coordenado pela docente Márcia Schott do
Departamento de Educação em Saúde de Lagarto (DESL), com participação de alunos estagiários e de Iniciação
Científica, a maioria voluntários sem bolsas.
3 PROJETO NASCIMENTOS, coordenado pela docente Renata Jardim (DESL), objetivou investigar a saúde da mulher
no município de Lagarto com ênfase na temática do parto humanizado realizando tanto atividades de pesquisa
quanto de extensão. As atividades também contaram com a participação de alunos estagiários e de Iniciação
Científica, a maioria voluntários sem bolsas.

9
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

período de 2015 a 2016. Resultados parciais desse recorte estão descritos em


Schott e Jardim (2020).

Na fase II, foram entrevistados, entre agosto de 2016 e julho de 2017,


quinze gestores de UBS que tinham eSF em Lagarto/SE no referido período.
Nesse tempo, também foi realizada uma pesquisa junto aos profissionais e
trabalhadores da APS do município, através da aplicação de um questionário
aos participantes de um Fórum de capacitação realizado pelo NUTESC, em
parceria com o município, que será detalhado adiante.

Na fase III, foram selecionados para participação no estudo, profissionais


de quinze Equipes, uma de cada UBS da fase anterior (sendo 13 eSF), duas
dessas ampliadas por Equipe de Saúde Bucal (eSB) e duas por Equipe de Agente
Comunitário de Saúde (eACE), perfazendo um total de 157 profissionais, assim
distribuídos: 110 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), 13 médicos, 15
enfermeiros, 15 técnicos em enfermagem, dois odontólogos e dois técnicos em
saúde bucal. Aqueles que aceitaram participar (86) foram entrevistados nos
meses de janeiro a junho de 2018 e de agosto a dezembro de 2019. Resultados
da fase III foram submetidos a diferentes periódicos para publicação.

Apresentamos, a seguir, o detalhamento do percurso metodológico da


fase II, cujos resultados estão descritos nos capítulos da obra.

Detalhamento metodológico

A fase II – realizada entre agosto de 2016 e julho de 2017 com os gestores


das 15 UBS com eSF – utilizou dois instrumentos. O primeiro foi composto por 21
questões que abordaram quesitos relativos à estrutura e ao funcionamento das
UBS: natureza da instituição, número de eSF e de Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), quantitativo de profissionais e trabalhadores por
categoria/ocupação, espaço físico/áreas, materiais utilizados na construção, tipo
de abastecimento de água, esgotamento sanitário, tratamento dos resíduos,
serviços oferecidos, população adscrita, população atendida (APÊNDICE I). As
questões foram elaboradas a partir de inquéritos utilizados no país para

10
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

caracterização de domicílios (BRASIL, 2010; BRASIL, 2015) e das instruções


normativas do MS para edificação de UBS (BRASIL, 2006a).

O segundo instrumento utilizado foi dividido em quatro eixos relativos a


aspectos do trabalho e da saúde dos gestores: (1) Sociodemográfico: idade,
sexo, cor da pele autodeclarada, moradia, estado civil, escolaridade, vínculo
empregatício, saneamento básico, meio de locomoção para o trabalho; critério
de classificação econômica; (2) Saúde: peso e altura autorrelatados, uso de
medicamentos, tabagismo, impacto da dor sobre o trabalho, interferência do
trabalho na saúde física e emocional, auto avaliação da saúde, Inventário de
Depressão, imunização, morbidade referida, sedentarismo e uso crônico de
álcool; (3) EPS: IESC, Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
(PNEPS) e Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN); (4)
Gestão e serviço de saúde: ações de atenção à saúde da mulher e da gestante;
tempo que atua na gestão em saúde; atribuições dos gestores. Investigou-se
ainda o tema da violência e racismo na percepção dos participantes do estudo
abordando episódios de agressão ou ameaça, ocorrência de racismo ou outra
discriminação (APÊNDICE 2).

A adequabilidade do instrumento de pesquisa foi realizada através de


teste piloto com 35 pessoas. Para o tratamento dos dados qualitativos, foi
utilizada a técnica de análise temática (MINAYO, 2010). Os dados quantitativos
foram processados por meio do software Excel (Microsoft®) e Stata versão 12.

Para análise de sedentarismo e da inatividade, foi utilizada a forma curta


do International Physical Activity Questionnaire (FONSENCA, 2012). Esse
instrumento contém perguntas relacionadas à frequência (dias por semana) e à
duração (tempo por dia) da realização de atividades físicas.

Ainda no ano 2017, foram elaborados questionários por setores de


atendimento das UBS, distribuídos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS),
na tentativa de se alcançar o maior número de participantes dentro do universo
de recursos humanos da APS (n=495). Distribuiu-se questionários para os
seguintes seguimentos: atendimentos diversos, profissionais de consulta,
farmácia, vacina, recepção, vigilantes, sala de curativos, triagem, sala de vacina.

11
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

Também foi construído um instrumento específico para os ACS e outro para


todos responderem sobre o tema da IESC.

Os inquéritos deveriam ser devolvidos à SMS pelos gestores das UBS. No


entanto, pouquíssimos materiais foram respondidos, impossibilitando a utilização
desses questionários para efeitos de pesquisa. Diante da situação, uma nova
estratégia foi pensada pelos pesquisadores, junto à coordenação da APS do
município, que envolveu a realização de um Fórum de capacitação para a APS.

Posteriormente, de agosto a outubro de 2017, foi organizado pelos


pesquisadores junto à SMS o “I Fórum de Formação Profissional da Atenção
Primária à Saúde: fortalecendo vínculos para cuidar”. Um único questionário foi
elaborado para ser preenchido por todos os participantes do evento,
contemplando, em parte, as questões que tinham sido abordadas nos
questionários anteriormente distribuídos a todas as UBS.

Todos profissionais e trabalhadores (n= 495) foram convocados sendo,


parte para a primeira edição (10 de novembro de 2017) e os demais para o
segundo dia de realização do Fórum (01 de dezembro de 2017). Os participantes
responderam o questionário após o credenciamento no evento. Assim, a coleta de
dados ocorreu durante a realização das duas edições do Fórum.

O instrumento utilizado durante o Fórum foi composto de 25 questões


distribuídas em quatro eixos: (1) Sociodemográfico: idade, sexo, identidade de
gênero, orientação sexual, cor da pele autodeclarada, moradia, estado civil,
escolaridade, vínculo empregatício e opção religiosa; (2) Saúde: peso e altura
informados, tabagismo, autoavaliação da saúde, Inventário de Depressão de
Beck, morbidade referida, prática de atividade física, saúde vocal e uso crônico
de álcool); (3) Atuação profissional: desempenho, satisfação e motivação no
trabalho; e (4) Racismo: frequência de fatos discriminatórios devido à cor da
pele e natureza do local da ocorrência (pública ou privada) (APÊNDICE 03).

Os dados foram processados por meio do software Excel (Microsoft®) e


Stata versão 12.

12
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

Foram usadas duas metodologias de análise do Inventário de Depressão


Beck (BDI). A análise por metodologia clássica consistiu na avaliação das vinte
e uma perguntas, e considerou os seguintes pontos de corte: 0 -13 (depressão
mínima ou ausência de depressão), 14 – 19 (depressão leve), 20 – 28 (depressão
moderada) e valores acima de 28 como depressão severa.

Outra metodologia utilizada foi a Beck Depression Inventory – Primary


Care (BDI-PC). Proposta por Steer et al. (1999), o BDI-PC é uma escala de
triagem mais curta, contendo apenas sete itens do BDI original. Os itens
avaliados são: tristeza, pessimismo, fracasso passado, autoestima, autocrítica,
pensamentos ou desejos suicidas, e perda de interesse. Tal escala de triagem
produz resultado dicotômico de “sem depressão” e “com depressão”, esse
último para pontuações iguais ou acima de 4. Essa escala, em seu estudo
original, traz 97% de sensibilidade e 99% de especificidade para análise em
profissionais da Atenção Primária.

Na análise da Saúde Vocal, duas questões sobre distúrbios de voz


foram incluídas na seção do questionário destinada à situação geral de
saúde: Nas duas últimas semanas, você tem sentido cansaço para falar?
(não/de vez em quando/diariamente) e nas duas últimas semanas, você
percebe piora na qualidade de sua voz? (não/de vez em quando/diariamente).
Ambas respostas foram consideradas para se obter a variável resposta: os
trabalhadores que responderam “não” às duas questões foram classificados
no grupo Sem Disfonia. Os trabalhadores que responderam positivamente
a uma das questões (de vez em quando ou diariamente) foram classificados
no grupo Com Disfonia.

Foi utilizada uma adaptação da Escala de Percepção de Discriminação


Racial em Saúde. Composta por 13 itens, tem o objetivo de avaliar a percepção
da frequência de racismo vivenciada ou observada pelos profissionais da APS
nos serviços de saúde. O questionário utilizado na entrevista com os gestores
abordava, inclusive, assuntos relacionados à ocorrência de racismo nas UBS,
além de dados sociodemográficos, condições de trabalho e de saúde.

13
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

Apresentação dos capítulos

No primeiro capítulo, “Unidades Básicas de Saúde: estrutura e


necessidades no interior de Sergipe”, abordamos as condições estruturais das
UBS. Na introdução, há um detalhamento da organização da APS do município
onde há eSF que atendem em diferentes localidades, ora em uma UBS ora em
um Ponto de Apoio (PA), ou mesmo em algum lugar cedido por um morador
local, em um esforço de atender a toda população adscrita. A existência de
locais inadequados para o atendimento e a falta de Equipes demonstra a
precarização ainda existente nas condições dos serviços de saúde,
principalmente em localidades rurais, no interior do país.

No segundo capítulo, “Gestores da Atenção Primária à Saúde: da indicação


política para o cargo às condições de saúde”, aborda-se a importância da gestão
das UBS atentando para os gestores e investigando suas condições de trabalho
e de saúde. Destaca-se, nesse relato, a forma de ingresso na função,
majoritariamente por indicação política, a sobreposição de atribuições do
gestor e vínculos precários de trabalho com elevada rotatividade.

A temática da “Educação permanente da gestão da Atenção Primária à


Saúde é descrita no terceiro capítulo, no qual são apresentados os resultados
obtidos junto à pesquisa com os gestores, abordando, agora, a Educação
Permanente em Saúde. Investigou-se o conhecimento dos gestores sobre a
PNEPS e sobre a PNSIPN. Percebe-se que a capacitação dos recursos humanos
em saúde ainda é deficiente, mesmo diante de Políticas instituídas pelo MS. No
caso estudado, a educação dos profissionais e trabalhadores, a partir do
trabalho para reorganização das práticas, é muito pouco conhecida e pouco
utilizada como estratégia para gestão do trabalho, mesmo contando com uma
Fundação (FUNESA) para este fim.

No quarto capítulo, “Recursos Humanos da Atenção Primária à Saúde:


vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas”, são discutidos os
dados obtidos com a realização do Fórum de Capacitação, no qual foi possível
aplicar questionários para a maioria dos profissionais e trabalhadores (53%) da

14
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

APS, sendo predominante a participação dos ACS (46%) que, de fato, são os
profissionais em maior número no nível primário da atenção.

Considerando as pesquisas relatadas anteriormente, no quinto capítulo,


“Racismo: debate necessário para o acesso universal e atenção integral no SUS”,
os autores discutem o tema do racismo, na perspectiva dos grupos estudados
(gestores, profissionais e trabalhadores da APS), compilando os resultados. A
maioria dos profissionais e trabalhadores da saúde investigados era negra e,
parte deles, referiram a ocorrência de algum ato discriminatório na APS devido
à cor da pele, sendo, expressivamente, mais comum no serviço público, local da
investigação. Alguns gestores investigados relataram já terem presenciado
algum tipo de racismo e a maioria deles referiu que, muitas vezes, não há o
preenchimento do quesito cor da pele nas fichas e prontuários, nem a sua
verificação pela UBS. As questões suscitadas revelam que o tema da
discriminação é ainda de difícil abordagem e enfrentamento, sendo necessários
mais estudos que possam retratar a realidade do racismo existente na atenção
à saúde, contribuindo, assim, na elaboração de estratégias para o acesso
universal e integral da população brasileira.

Luiz Eduardo Oliveira Matos


Márcia Schott
Renata Jardim
Organizadores

15
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

Referências

BECK, Ward; MENDELSON, Mock Erbaugh. An Inventory for Measuring


Depression," Archives of General Psychiatry, v. 561, 1961.
BRASIL, 2010b. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo
demográfico 2010. Questionário básico. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9662-censo-
demografico-2010.html?=&t=o-que-e Acesso em: 17 abr. 2020.
BRASIL, 2015. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
BRASIL, 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Estimativa
da População 2017 (Data de Referência: 1/7/2017). Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/se/lagarto/pesquisa/23/27652?detalhes=tr
ue. Acesso em: 21 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Manual de estrutura física das unidades básicas de saúde:
saúde da família / Ministério da Saúde, 2006a. 72 p. (Série A. Normas e
Manuais Técnicos).
FONSECA, Diego Henrique. Validação do IPAQ (versão curta) para estimular o
nível de atividade física em adultos. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de
Bacharelado em Educação Física. Centro de Educação Física e Esporte.
Universidade Estadual de Londrina, 2012.
KAMAKURA, Wagner; MAZZON, Jose Afonso. Socioeconomic stratification
criteria and classification tools in Brazil/Criterios de estratificacao e
comparacao de classificadores socioeconomicos no Brasil/Criterios de
estratificación y comparación de clasificadores socioeconómicos en
Brasil. RAE, v. 56, n. 1, p. 55-71, 2016.
MAYFIELD, Demmie; MCLEOD, Gail; HALL, Patricia. The CAGE questionnaire:
validation of a new alcoholism screening instrument. American journal of
psychiatry, v. 131, n. 10, p. 1121-1123, 1974.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29 ed.
Petrópolis: Vozes, 2010.
MIRANDA, Roseane Souza. Racismo no contexto da saúde: um estudo
psicossociológico. Tese [Doutorado em Psicologia Social] – Universidade
Federal da Paraíba, Paraíba, 2015.
PORTELA, Gustavo Zoio. Atenção Primária à Saúde: um ensaio sobre conceitos
aplicados aos estudos nacionais. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online].
2017, v. 27, n. 2, p. 255-276. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-
73312017000200005. ISSN 1809-4481. Acesso em: 27 maio 2021.
SCHOTT, Marcia; JARDIM, Renata. Educação Permanente em Saúde: o
caminho pelas diferentes instâncias gestoras estaduais, regionais e municipais

16
Prefácio
Matos, Schott e Jardim

em Sergipe. In: CONGRESSO VIRTUAL DE GESTÃO, EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO


DA SAÚDE, 9., Anais [...], 2020. ISSN: 2317-0441
STEER, Robert A. et al. Use of the Beck Depression Inventory for Primary Care
to screen for major depression disorders. General hospital psychiatry, v. 21,
n. 2, p. 106-111, 1999.

17
CAPÍTULO 1 Muitas vezes a naturalização das
condições precárias de trabalho
promove comodismo, um
UNIDADES BÁSICAS DE acostumar-se com a situação,
SAÚDE: estrutura e apesar do sofrimento, desgaste,
desânimo e distanciamento de um
necessidades no interior trabalho inventivo que pode ser
de Sergipe acionado. Manter ou construir
algum dispositivo que garanta aos
trabalhadores colocar seu
cotidiano de trabalho em foco, em
análise, é uma via importante
para que esse processo de
naturalização seja transformado
(BARROS et al. 2007, p. 200)
Márcia Schott

1.1 Introdução

As UBS de que tratam este capítulo fizeram parte das pesquisas cujos
resultados parciais estão sendo apresentados neste livro. No ano de 2010, o
município investigado tinha uma população de 94.861 habitantes, 51% do sexo
feminino e 33.531 domicílios (BRASIL, 2010a). Em 2017, ano pesquisado, havia
quinze UBS com eSF, sendo sete localizadas na zona urbana, onde reside 52%
da população e oito na zona rural, na qual vive 48% dos habitantes distribuídos
em mais de cem povoados (BRASIL, 2017a).

O município de Lagarto é sede de uma das sete Regiões de Saúde do


estado de Sergipe, a região Centro-Sul, que compreende também os municípios
de Simão Dias, Salgado, Tobias Barreto, Riachão do Dantas e Poço Verde,
totalizando uma população de 257.633 habitantes (BRASIL, 2016).

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), em Lagarto a taxa de mortalidade infantil média é de 16.33 para 1.000
nascidos vivos. As internações devido a diarreias são de 0.7 para cada 1.000
habitantes; apenas 28% dos domicílios tem esgotamento sanitário adequado,
58% dos domicílios urbanos em vias públicas tem arborização e 10% dos
domicílios urbanos em vias públicas tem urbanização adequada (presença de

18
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). No ano de 2017, o salário médio


mensal era de 1,7 salários mínimos e 46% da população estava entre os
domicílios com rendimento de até meio salário por pessoa (BRASIL, 2017a).

A organização espacial do território leva a SMS a imprimir esforços para


ampliação da APS, ainda que de maneira incipiente. Em 2017, ano de realização da
pesquisa, o município contava com outras oito UBS que não tinham eSF (seis rurais
e duas urbanas), as quais ficavam abertas prestando atendimentos básicos pelo(a)
técnico(a) de enfermagem e agendamentos. Também existem os estabelecimen-
tos chamados Pontos de Apoio (PA) que abrem esporadicamente quando a eSF da
UBS de referência está na localidade; na época da investigação, todos eram
imóveis adaptados e alugados, onze rurais e dois urbanos. A existência de PA está
prevista na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), aprovada pela Portaria Nº
2.436 de setembro de 2017 do MS4, no caso da necessidade de atendimento de
populações rurais, ribeirinhas, assentamentos e outras (BRASIL, 2017b). Cabe
destacar que, em 2017, o estado de Sergipe contava com duzentos e quarenta e
três assentamentos rurais, sendo doze em Lagarto, com um total de 496 famílias
assentadas no município (BRASIL, 2017c).

Destaca-se também que em algumas áreas rurais, onde não há nem UBS
nem PA, como no caso de muitas áreas rurais do município, incluindo
assentamentos, a eSF atende em algum espaço cedido pela população.
Somando-se, portanto, as UBS mais os Pontos de Apoio, a APS do município
apresentava como porta de entrada, no ano de 2017, onze estabelecimentos
urbanos (nove UBS e dois PA) e outros vinte e quatro rurais (quatorze UBS e
onze PA) perfazendo um total de 23 UBS e 13 PA.

A realidade apresentada acima foi determinante na definição apenas das


UBS que possuíam eSF para fins deste estudo. Mesmo com essa escolha, vale
dizer que essa distribuição pelo território, embora extremamente necessária,

4 A Portaria Nº2.436 de setembro de 2017 do MS atualizou a PNAB instituída pela Portaria 2.488 de outubro de 2011.
É necessária uma leitura atenciosa das novas publicações no sentido de dar conta das várias mudanças vem sendo
implementadas na APS no Brasil. Observamos, por exemplo, que um novo documento, a Portaria Nº 2.539 de
setembro de 2019, já retificou alguns elementos da nova PNAB. Destacamos ainda que a Portaria Nº2.979 de
novembro de 2019 instituiu o ‘Previne’ que é o novo modelo de financiamento da APS do país. Outra Portaria Nº
397, de 16 de março de 2020, já alterou portarias anteriores dispondo sobre o Programa Saúde na Hora. A legislação
da APS e do SUS está acessível no site do MS e em outros endereços eletrônicos.

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

dificulta a visita às instituições bem como o encontro com os profissionais e


trabalhadores por se tratar geralmente de localidades com difícil acesso.
Acrescenta-se que, naquele período, o município apresentava um total de 495
profissionais e trabalhadores na APS, 21 eSF e seis PACS (BRASIL, 2017d).

Dada a importância da cobertura da APS, principalmente das populações


mais vulneráveis do país, esse estudo buscou fazer um levantamento das
condições estruturais das UBS de referência, que contavam à época com a
presença de pelo menos uma eSF.

1.2. Perfil das UBS participantes da pesquisa

Segundo informações fornecidas pelos gestores, em alguns casos com


ajuda de outros funcionários, no preenchimento do formulário elaborado
(APÊNDICE I), as quinze UBS participantes contavam com 314 profissionais e
trabalhadores. Um terço das Unidades (33%) não foi construída para ser UBS
(Tabela 1); dois gestores não souberam informar a quantidade de profissionais
nas Equipes de PACS e um não soube informar a quantidade de ACS. Somente
uma UBS informou ter Agente de Combate a Endemias (ACE), as outras não
tinham ou não souberam relatar. Alguns gestores informaram que os ACE
pertencem à Secretaria Municipal de Saúde e que não estão alocados nas UBS.
Três Unidades (20%) relataram que a distribuição da água era proveniente de
poço ou nascente fora da propriedade (Tabela 2).

Em relação aos aspectos que envolvem a Educação Permanente e


Educação em Saúde e o Planejamento e a Saúde do Trabalhador, observou-se
que apenas 33% (n=5) das Unidades tinha sala de reunião e/ou de Educação em
Saúde; somente 13% (n=2) tinha sala para os ACS, 27% não tinha copa/cozinha
e 33% não possuía sanitário para funcionários. Não havia sanitário para usuários
nem sala de curativo em uma UBS; a sala de vacina e a farmácia não estavam
presentes em 20% das Unidades.

A grande maioria das UBS não tinha sala de nebulização (77%) e salas de
utilidades de apoio à esterilização (87%) e de coleta (93%); 82% tinha
consultórios sem sanitários. Sete unidades (47%) tinham apenas um consultório

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

com sanitário e 27% não tinha sanitário para pessoas com deficiências.
Quarenta por cento das unidades não tinham almoxarifado e a sala de coleta
existia apenas em uma Unidade. Quase metade das Unidades não tinha equipo
odontológico (47%), nem área de compressor, apesar de 67% das UBS ter
serviço odontológico. 63% das UBS não tinham Central de Material Esterilizado
(CME) e uma não tinha sala de espera (ambiência) (Tabela 1).

Quanto aos serviços oferecidos, observou-se que as ações mais


frequentemente relatadas foram Vacinação, Educação em Saúde e Exame de
Lâmina, referidas por quase todas as Unidades (93%). As consultas não foram
relatadas em 27% das UBS, assim como a dispensação de medicamentos e a
orientação farmacêutica. Prática de exercício físico e acompanhamento
nutricional e fisioterapia foram referidos em apenas 13% (n=2) das Unidades.
Práticas integrativas ocorriam em apenas 20% dos serviços. Urgência e
emergência foram referidas em 33% das Unidades. Atendimento psicológico
foi relatado em três UBS (Tabela 1).

Quase 70% das UBS (67%) não souber informar a quantidade total da
população adscrita e de atendimento mensal. Nenhuma UBS tinha dados
específicos da população adscrita, mesmo de grupos considerados prioritários,
tais como gestantes, idosos, crianças etc. Apenas 20% souber informar a
quantidade de hipertensos e diabéticos adscritos (Tabela 2).

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Tabela 1. Estrutura física, especificação das dependências e serviços oferecidos


pelas Unidades Básicas de Saúde, de um município sede de uma
Região de Saúde, no estado de Sergipe, Brasil (2017).

VARIÁVEIS INVESTIGADAS n %
Estrutura física
Construída 10 66,66
Própria adaptada 03 20,00
Alugada adaptada 02 13,33
Especificação das dependências
Sala de reunião/educação em saúde 05 33,33
Sala de nebulização 04 26,70
Almoxarifado 09 60,00
Consultório sem sanitário 11 73,30
Farmácia 12 80,00
Escovário 04 26,70
Área de compressor 08 53,30
Sanitários para usuários 14 93,30
Sanitários para deficientes 10 66,66
Sanitários para funcionários 10 66,66
Depósito de materiais de limpeza 10 66,66
Central de Material Esterilizado 05 33,33
Sala de esterilização 07 46,66
Sala de utilidades (apoio à esterilização) 02 13,33
Sala de vacina 12 80,00
Sala para coleta 01 06,66
Sala de curativo 14 93,33
Abrigo de resíduos sólidos 08 53,33
Depósito de lixo 10 66,66
Copa/cozinha 11 73,33
Sala para ACS 02 13,33
Equipo odontológico 08 53,33
Serviços oferecidos
Acompanhamento nutricional 02 13,33
Acompanhamento psicológico 03 20,00
Consultas 11 73,33
Educação em Saúde 14 93,33
Exame de lâmina 14 93,33
Farmácia 11 73,33
Vacinação 14 93,33
Prática de exercício físico 02 13,33
Práticas integrativas e complementares* 03 20,00
Urgência e Emergência 05 33,33
Serviços Odontológicos 10 66,66
Fisioterapia** 02 13,33
Total 15 100
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: Os totais variam conforme a quantidade de respostas válidas.
*Massagem, acupuntura, Reiki, outras.
** Atendimento do NASF.

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Tabela 2. Caracterização de Unidades Básicas de Saúde de um município sede


de uma Região de Saúde, no estado de Sergipe, Brasil (2017).

VARIÁVEIS INVESTIGADAS n %
Equipes
ESF 19 43,0
PACS1 05 11,0
Odontológica 20 46,0
Número de profissionais na Unidade
Até 10 05 36,0
11-20 01 07,0
21-39 05 36,0
40-47 03 21,0
Profissionais presentes nas UBS
Enfermagem 27 9,00
Técnico Enfermagem 46 15,0
Médico PSF 01 00,0
Médico Clínico geral 41 14,0
Médico pediatra 02 1,00
Dentista 15 5,00
Aux. Saúde Bucal 10 3,00
Ag. Comunitário Saúde2 149 49,0
Ag. Combate a Endemias3 04 1,50
Assistente Social 04 1,50
Massagista/Massoterapeuta 03 1,00
População Adscrita (número de UBS que informaram)
Total* 05 33,0
Mensal 05 33,0
Homens 00 00,0
Mulheres** 00 00,0
Branco 00 00,0
Negros 00 00,0
Crianças 01 07,0
Indivíduos com Hipertensão 03 20,0
Indivíduos com Diabetes Mellitus 03 20,0
Abastecimento de água
Rede geral de distribuição 12 80,0
Poço ou nascente fora da propriedade 03 20,0
Total 15 100
Fonte: Elaboração própria.
1) Duas UBS não souberam informar número de PACS. 2) Uma UBS não soube informar.
3) Somente uma UBS disse ter ACE.
* Uma UBS soube informar o número de gestantes
** O total da variável “População adscrita” refere-se a quantidade e porcentagem das
Unidades que relataram possuir a informação.

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Houve uma heterogeneidade expressiva em diversos aspectos das


Unidades, com destaque para a quantidade de profissionais por UBS. A média
de profissionais por Unidade foi de 27, a mediana 26, variando de 4 a 74
profissionais por Unidade. Uma grande parte das UBS tinha até 20 profissionais
nas Unidades (43%).

Apenas cinco Unidades informaram ter Assistente Social, sendo que uma
delas considerou o profissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Não houve registro de 11 dos 26 possíveis profissionais investigados. Quase
metade dos profissionais era ACS (47%), seguidos por Técnicos de Enfermagem
(15%), Clínicos Gerais (14%) e Enfermeiros (9%). Havia apenas um Médico de
Saúde da Família (Tabela 2).

1.3 Discussão

Dentre os resultados obtidos nessa pesquisa, destacamos que nenhuma


UBS tinha dados específicos da população adscrita, mesmo de grupos
considerados prioritários (gestantes, idosos, crianças, outros) e, apenas 20%
soube informar a quantidade de hipertensos e diabéticos. Ressalta-se também
que a grande maioria das UBS (67%) não soube informar a quantidade total da
população adscrita e de atendimento mensal.

Esses dados sinalizam um grande problema a ser enfrentado na melhoria


da APS, pois é inviável definir estratégias de prevenção e promoção da saúde
nos territórios junto às comunidades se não forem conhecidos os perfis
demográficos, socioeconômicos, culturais, epidemiológicos, de condições de
vida e de necessidades de saúde das famílias. Essa situação pode contribuir com
uma expressiva diminuição da resolutividade da APS municipal.

Pesquisa realizada por Machado (2019), com duas eSF de Lagarto,


identificou que profissionais se sentiam sobrecarregados com a
obrigatoriedade do preenchimento de vários formulários para alimentar bases
de dados do SUS e não tinham como ter tempo para visitas ao território e
educação em saúde, por exemplo.

24
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

A falta de conhecimento sobre os dados da população adscrita poderá


ser superada justamente com o correto preenchimento dos formulários, no
entanto, a gestão das Unidades precisa definir estratégias que permitam ao
serviço tanto dar conta dos registros de informações necessárias quanto das
ações de atenção à saúde dentro das UBS e nos territórios.

Ademais, é necessário haver retorno desses dados para as UBS e seus


profissionais para que sejam utilizados como um instrumento de trabalho para
a equipe. A ausência da disponibilização das informações coletadas deve-se
muitas vezes, por motivos de informatização precária no município ou mesmo
pelo entendimento equivocado quanto ao uso destes por parte da gestão local,
ou mesmo pelo fato dos profissionais de saúde apresentarem dificuldades em
entender o significado do preenchimento dos formulários que manejam
(RITTER; ROSA; FLORES, 2013; NEVES; MONTENEGRO; BITTENCOURT, 2014).

Outro resultado observado foi a grande heterogeneidade em diversos


aspectos entre as Unidades, com destaque para a quantidade de profissionais
por UBS. Não houve registro de 11 dos 26 possíveis profissionais investigados e
quase metade dos profissionais era ACS (47%). Conforme mencionado no
capítulo 3, a APS no Brasil tem como elemento fundamental a Estratégia de
Saúde da Família (ESF), entendida como uma abordagem de prestação de
cuidados primários/essenciais às populações, por meio de eSF compostas por, no
mínimo, um(a) médico(a) (de preferência com especialidade em Medicina da
Família e Comunidade), um(a) enfermeiro(a) (preferencialmente com
especialização em Saúde da Família), técnico e/ou auxiliar de enfermagem e ACS.

Os profissionais de Saúde Bucal, como o cirurgião-dentista


(preferencialmente com especialização em Saúde da Família) e o ACE podem
estar presentes nas eSF. É importante destacar que a Portaria Nº 2.436 de
setembro de 2017 do MS atualizou a PNAB, e incluiu na APS a Equipe da
Atenção Básica (eAB) que tem médico(s), enfermeiro(s) e técnico(s) de
enfermagem e pode agregar outros profissionais como da saúde bucal, ACS e
ACE (BRASIL, 2017b).

25
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

No caso estudado, apenas cinco Unidades analisadas informaram ter


Assistente Social, sendo que uma delas considerou o profissional do NASF. O
atendimento psicológico foi relatado em três UBS. A prática de exercício físico,
acompanhamento nutricional e fisioterapia foram referidos em apenas 13%
(n=2) das Unidades. No entanto, a Psicologia, a Nutrição, a Fisioterapia e a
Educação Física estão entre as especialidades que podem compor um NASF
(BRASIL, 2012), dentre outros profissionais.

Estudo realizado por Carvalho et al., (2019) verificou que o Nordeste


contava com o maior número e a maior cobertura de NASF do país, mas que
ainda não se verificava redução nas taxas de Internações por Causas Sensíveis
à Atenção Básica (ICSAB) nas populações mais vulneráveis. Moretti e Fedossi
(2016) também concluíram que o maior número de NASF não impactou na
redução das taxas de ICSAB no Nordeste. Os autores ainda consideraram que a
expansão de NASF no Nordeste pode estar relacionada a um dos critérios de
elegibilidade para implantação, que é o direcionamento de ações de saúde para
populações mais pobres, sendo que a cobertura do Programa Bolsa Família (BF)
na região é a maior do país (MORETTI; FEDOSSI, 2016).

Pocas, Freitas, Duarte (2017) apontaram também que a alta cobertura da


ESF no Nordeste, pode contribuir para um efeito sinérgico com o BF na redução
do risco de mortalidade infantil na região.

Quanto aos NASF no Nordeste, destacamos que há que se verificar a


qualidade, constituição e estrutura dos Núcleos constituídos, pois como vimos
em nosso estudo, o acesso aos serviços de profissionais do NASF local parecia
ser bastante limitado. Como previsto pela própria PNAB, um NASF do tipo 1
deve estar vinculado a no mínimo oito e no máximo 15 eSF (BRASIL, 2012), ou
seja, se houver quantidade insuficiente de equipes de NASF e/ou apenas um
profissional por categoria, fica completamente inviável atender as demandas
trazidas pelas eSF.

Com a mudança implementada pela nova Portaria, o NASF agora é


chamado de Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica, vinculado

26
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

às eSF (ou EqSF) e às eAB (ou eAP)5. Novas pesquisas precisarão ser realizadas
para compreender de que maneira as alterações em curso se expressarão no
município investigado, bem como se as novas medidas fortalecerão a
constituição dos NASF6 e da APS.

A realização de práticas integrativas foi observada em apenas 20% das


UBS. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS
(PNPIC) foi instituída pela Portaria Nº. 971 de maio de 2006, objetivando a
adoção das atividades como acupuntura, homeopatia e fitoterapia, na
perspectiva da prevenção, promoção e recuperação da saúde, principalmente
na APS (BRASIL, 2006b).

Em relação aos aspectos que envolvem a Educação Permanente e


Educação em Saúde, Planejamento e Saúde do Trabalhador, observou-se que
apenas 33% (n=5) das Unidades tinha sala de reunião e/ou de Educação em
Saúde. Como já discutido no capítulo 2, a EPS era muito pouco conhecida
entre os gestores dessas UBS e consequentemente muito incipiente no
cotidiano dos serviços.

Ainda sobre a estrutura das UBS, destacamos a falta de salas para os ACS
(87%), de nebulização (77%), de utilidades de apoio à esterilização (87%) e de
coleta (93%), de sanitários em consultórios (82%), CME (63%), e de
almoxarifado (40%). Também foi apontado na pesquisa que um terço das
Unidades participantes (33%) não foi construída para ser UBS. Os dados
sinalizam que as UBS investigadas funcionam com déficits, principalmente, de
espaços para realização de algumas ações próprias do serviço, como reuniões,
esterilização e armazenamento de materiais. A estrutura das UBS é orientada
pelo MS através do Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde
que estabelece orientações e parâmetros para reforma, aluguel e construção
de UBS para o trabalho das eSF (BRASIL, 2006a).

5Conforme PORTARIA Nº 2.539, de 26 de setembro de 2019 do MS.

6 Vários estudos foram realizados avaliando a constituição e o impacto dos NASF na APS, alguns inclusive utilizando
dados do PMAQ (BEZERRA; LIMA et al., 2019; MEDEIROS, 2018; MEDEIROS; NICKEL; CALVO, 2019; SEUS et al., 2019).

27
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

As recomendações sugerem que uma UBS, que cobre uma população de


2400 a 4000 pessoas com apenas uma eSF, deveria possuir os seguintes
espaços: Recepção para pacientes e acompanhantes (1), Sala de Espera para
pacientes e acompanhantes (1 a 3), Consultório com sanitário (1), Consultório
(1), Sala de procedimentos (2), Almoxarifado (1), Consultório odontológico com
área para escovário (1), Área para compressor e bomba a vácuo (1), Área para
depósito de material de limpeza (DML) (1), Sanitário (para usuários) (2), Copa /
Cozinha alternativa (1), Sala de utilidades (1), Área para reuniões e educação
em saúde (1), Abrigo de resíduos sólidos (1), Sala de recepção, lavagem e
descontaminação (1) e Sala de esterilização e estocagem de material
esterilizado (1) se a UBS proceder à esterilização no local (BRASIL, 2006a).
Constata-se que dentre os espaços mais ausentes, na maioria das UBS
investigadas, estão consultórios com sanitários, almoxarifado, áreas para
reuniões e aquelas relativas à esterilização de materiais. A sala de nebulização
está prevista para UBS com 3 eSF.

Moura et al. (2010) em um estudo sobre a estrutura de Unidades de


Saúde da Família (USF) e também de Unidades Convencionais (USC) do
Nordeste, identificou que nos dois municípios investigados as Unidades tinham
várias deficiências, como falta de salas de reunião, abrigo de resíduos sólidos,
precárias condições de higiene, presença de infiltrações, iluminação deficiente,
falta de material educativo e outras, como materiais de EPI, sendo variável
entre os municípios e tipos de Unidade.

Para o enfrentamento das deficiências na APS, em 2011, o MS implantou


o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica
(PMAQ), ainda em vigor, por meio da avaliação contínua das práticas de atenção
e de gestão com foco na melhoria do padrão de atendimento (CARVALHO et al.
2018; BRASIL, 2020). Depois de quase dez anos, indicadores de desempenho
das Equipes serão utilizados pelo MS para o financiamento diferenciado da APS
(BRASIL, 2019a).

Segundo Bousquat et al. (2017, p. 2), “estruturas adequadas contribuem


para o desenvolvimento dos processos de cuidado, influenciam seus resultados
e são centrais para a melhoria e qualidade da prestação dos serviços”.

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Em um estudo realizado a partir dos dados gerados com as planilhas


exigidas pelo PMAQ-AB, as Unidades Básicas de Saúde7 do tipo E foram
reprovadas por suas condições precárias de estrutura, foram localizadas, em
valores absolutos, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste. O estudo indica
também que, na região Nordeste, está localizado o maior número de UBS do país
(14.638) com distribuição por tipos próxima à média nacional, exceto do tipo A
(de referência, apenas 2,8%) e apresenta o maior número de UBS tipo B (regular).

Com foco na estrutura das Unidades de Saúde foi criado pelo MS, em
2011, o Requalifica UBS, como uma estratégia para a estruturação e o
fortalecimento da Atenção Básica com apoio financeiro para reforma,
ampliação e construção de UBS (BRASIL, 2020b).

Quanto aos serviços oferecidos, observou-se que as ações mais


frequentemente relatadas foram Vacinação, Educação em Saúde e Exame de
Lâmina, referidas por quase todas as Unidades (93%). Embora a Educação em
Saúde apareça como uma ação frequente entre as UBS, Machado (2019)
também identificou na APS do município, uma insatisfação de enfermeiras
muito cobradas sobre assistência às gestantes, que geralmente são muitas,
resultando na falta de tempo para realização das demais ações.

“[...] A gerência cobra número de consultas médicas, exames de lâmina,


100% de acompanhamento das gestantes, ficando apenas na assistência [...]
Como parar para fazer educação em saúde?” E-1 (MACHADO, 2019, p. 124)

Além das ações de vacinação, curativos, consultas, educação e outras


realizadas pelas eSF nas UBS, é importante destacar as atividades que devem
ser realizadas nos territórios como o mapeamento da área adscrita e dos
equipamentos sociais tais como escolas, associações comunitárias,
Organizações Não Governamentais (ONG) e a busca ativa, cadastramento e
acompanhamento das famílias (BRASIL, 2006a).

7 No censo de UBS do PMAQ-AB, utilizados na pesquisa, foram consideradas como UBS: unidades de saúde da família,
postos de saúde, centros de saúde, unidades básicas de saúde e postos avançados registrados no Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde (CNES) em 2012 (BOUSQUAT et al., 2017, p.3).

29
CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Como dito anteriormente, as mudanças em implementação no


financiamento da APS poderão acabar privilegiando a realização de ações que
comporão os indicadores de desempenho em detrimento de outras. De acordo
com o MS, as ações que comporão os indicadores serão aquelas relativas a:
Gestantes, Saúde da Mulher, Saúde da Criança, Doenças Crônicas, Infecções
Sexualmente Transmissíveis (IST), Tuberculose, Saúde Bucal, Saúde Mental,
Indicadores Globais (BRASIL, 2019b).

1.4 Considerações finais

Em linhas gerais, a necessidade de adequação e reestruturação da APS


coincide com os resultados dispostos nos capítulos 2, 3 e 4, quanto à
importância de melhorias na gestão em saúde, na estabilidade e no vínculo
empregatício dos profissionais e trabalhadores da saúde, e na capacitação dos
Recursos Humanos em Saúde (RHS).

Reconhecemos os limites desse estudo, pois considerou apenas as UBS


com eSF e se baseou somente nas informações fornecidas pelos respondentes
no preenchimento do formulário. Entendemos que os déficits encontrados,
muito provavelmente, sinalizam um contexto geral de dificuldades
compartilhadas pelas outras UBS e pelos PA, em especial, as instalações rurais,
que fragilizam a APS num município de grandes vulnerabilidades e iniquidades,
principalmente, econômicas e de saneamento básico.

Os problemas encontrados na estrutura das UBS investigadas,


especialmente no aspecto organizacional, como a falta de informações sobre a
população adscrita, indicam um grande desafio a ser enfrentado para a
melhoria da APS. Tal condição pode se maximizar diante de mudanças políticas
em curso que tendem a valorizar cada vez mais procedimentos clínicos, como
consultas e exames, em detrimento das ações nos territórios, que permitem
conhecer melhor as condições de vida e as necessidades de saúde das famílias
e promovem maior resolutividade.

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Referências

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trabalho em um hospital público com serviço de urgência. In: SANTOS-FILHO
SB E BARROS MEB (org.). Trabalhador da Saúde: Muito Prazer!
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Editora Unijuí, 2007. p. 185-202.
BEZERRA, Merielly Mariano; MEDEIROS, Katia Rejane de. Limites do programa
de melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica (PMAQ-AB): em foco,
a gestão do trabalho e a educação na saúde. Saúde debate, Rio de Janeiro, v.
42, n. spe2, p. 188-202, out. 2018. https://doi.org/10.1590/0103-
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
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BOUSQUAT, Aylene et al. Tipologia da estrutura das unidades básicas de
saúde brasileiras: os 5 R. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, p. e00037316,
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Ministério da Saúde, 2012.
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BRASIL. Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica,
estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção

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CAPÍTULO 1 - Unidades básicas de saúde: estrutura e necessidades no interior de Sergipe
Márcia Schott

Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) 2017. 2017b. Disponível


em:
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Programa Previne Brasil, que estabelece novo modelo de financiamento de
custeio da Atenção Primária à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde,
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34
CAPÍTULO 2 Sem receitas para o SUS, mas
com indicações. Qualquer
tentativa de receita para a
GESTORES DA ATENÇÃO gestão em saúde terá de
PRIMÁRIA À SAÚDE: da enfrentar a tensão constitutiva
desse campo nos terrenos da
indicação política para o política e do processo de
cargo às condições de trabalho, que conformam as
bases para o conjunto das
trabalho e de saúde organizações de saúde, onde se
opera cotidianamente a
produção dos modelos de
atenção, e reconhecer que a
saúde é um território de
práticas em permanente
estruturação, ontologicamente
conflitivo, conforme os sujeitos
coletivos em cena (MERHY,
2007, p. 176)
Luiz Eduardo Oliveira Matos
Renata Jardim
Luís Felipe de Souza Sales
Daniela Souza da Silva

2.1 Introdução

O debate por uma Saúde Pública mais inclusiva intensificado nos anos de
1980, gerado e exercitado pelo movimento sanitário, em especial a VIII
Conferência Nacional de Saúde em 1986, não eximiu o cuidado e atenção à
Saúde dos Trabalhadores (ST). Após a Assembleia Constituinte de 1988, que
originou a atual Constituição do Brasil, outras legislações como a Lei 8.080 de
19 de setembro de 1990, a qual versa acerca dos princípios do Sistema Único de
Saúde (SUS) e a Norma Operacional Básica de Saúde do Trabalhador, foram
criadas a fim de orientar e operacionalizar as ações e serviços de saúde, tanto
para a população como para os trabalhadores (AUGUSTO, 2011; GOMEZ, 2018).

No processo de implementação do SUS, um sistema ainda em


construção, a APS tem apresentado papel fundamental na organização e na
coordenação do cuidado em saúde (LAVRAS, 2011). Ainda durante a década de
1990, o Ministério da Saúde (MS) fortaleceu as ações de prevenção de agravos

35
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

e doenças, e de promoção, reabilitação e proteção da saúde, aprimorando a


estruturação da APS, principalmente através do investimento em programas,
como o Programa Saúde da Família (PSF), estimulado pela Norma Operacional
Básica em 1996 (NOB/96). O estímulo ao PSF, principalmente no processo de
municipalização da saúde, resulta no fortalecimento de princípios como a
participação social e a integralidade do cuidado

Posteriormente, em 1997, com o objetivo de acentuar a universalização da


assistência à saúde, o PSF foi reformulado como ESF, a fim de reorientar o modelo
de assistência à saúde no país. Desde então, a implementação dessa estratégia
ocorreu de variadas formas em todo o país e progressivamente se reconhece a
importância e o perfil da gestão dos serviços de saúde, em face às diferentes
demandas surgidas nos territórios e à articulação com a RAS (GIOVANELLA, 2012).

É reconhecido que a APS apresenta papel importante na organização do


SUS e na coordenação do cuidado em saúde (LAVRAS, 2011). Nesse enfoque, o
gestor de saúde, assume papel de destaque na atenção à saúde. Diversos
autores (ANDRÉ; CIAMPONE; SANTELLE, 2013; FLEURY, 2014) discutem acerca
do perfil ideal e as responsabilidades dos gestores em saúde para melhorar o
serviço prestado à população adscrita. Dentre as responsabilidades de um
gestor público de saúde está a necessidade de conhecer os problemas do seu
território, definindo estratégias de enfrentamento de maneira ágil e flexível
articulando ações inter, trans e multidisciplinares, interprofissionais, intra e
intersetoriais (MARTINS; WACLAWOVSKY, 2015).

Dos profissionais de saúde, anseia-se que conheçam mais sobre


comportamentos salutares e as consequências de hábitos inadequados em
longo prazo. Também se espera que atuem como modelos, pois se acredita que
seus comportamentos de saúde podem influenciar os usuários e (des)motivá-
los a fazer mudanças no estilo de vida (WHILE, 2015; PROFIS; SIMON-TUVAL,
2016; SIQUEIRA et al., 2019).

Condições de trabalho e de saúde precárias entre os profissionais de


saúde são relatadas em investigações nacionais e internacionais, explicando
por qual motivo e como os profissionais de saúde acabam adoecendo no

36
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

processo de cuidar da saúde de outras pessoas (BROTTO; DALBELLO-ARAUJO,


2012; MARTINS; SILVA; CORREIA, 2012; LELIS et al., 2012; MUNABI et al., 2014).
Tal constatação, ainda atual, levou à grande preocupação mundial com a
aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equipamentos de
Proteção Coletiva (EPC) para as equipes de saúde em todo mundo no
enfrentamento à pandemia causada pelo Novo Coronavírus, Severe Acute
Respiratory Syndrome Coronavírus 2 (SARS-CoV-2) (QUEIROZ et al., 2020).

A emergência de ações para conter a infecção pelo SARS-CoV-2, agente


etiológico da Coronavirus disease (COVID-19), a partir do ano 2020 no Brasil,
tem colocado em evidência a importância da gestão da Saúde Pública,
principalmente dos recursos humanos e da organização dos serviços. Ademais,
comportamentos inadequados dos trabalhadores de saúde podem impactar
negativamente a prestação de cuidados em saúde (WHILE, 2015; PROFIS;
SIMON-TUVAL, 2016; SIQUEIRA et al., 2019).

A forma como o Sistema de Saúde encara as necessidades de seus


trabalhadores influenciará na qualidade do cuidado à saúde das populações.
Nesse contexto, são desejáveis pesquisas que sinalizem a realidade das
condições de trabalho e de saúde tanto de profissionais quanto dos demais
trabalhadores da saúde. Este estudo objetivou conhecer as condições de
trabalho e de saúde de gestores de UBS, em um município do interior de
Sergipe, região Nordeste do Brasil, território com indicadores de saúde piores
do que regiões do Sul e Sudeste do país (VIACAVA; BELLIDO, 2016).

2.2 Perfil socioeconômico dos participantes

Todos os gestores (n=15) das UBS com eSF do município investigado


participaram deste estudo: 67% (10) era do sexo feminino; a média de idade era
de 37 anos e a mediana 36 anos (20-53 anos); 53% (n=8) residia em zona rural e
47% (n=7) em zona urbana; 87% (n=13) se autodeclarou negro (preto ou pardo
ou moreno) e 23% (n=2) branco.

Quanto à situação conjugal, 54% (8) dos gestores era casado/união


estável, 33% (5) solteiro e 13% (2) divorciado/separado. A respeito da

37
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

escolaridade, 60% (9) dos gestores possuía o ensino médio ou técnico. A


maioria 52% (n=8) pertencia à classe econômica B1 e B2; 34% (n=5) era da classe
C1 e C2; 7% (1) era da classe D-E e 7% (1) da classe A (Tabela 1).

Tabela 3. Perfil sociodemográfico dos gestores de Unidades Básicas de Saúde


de um município sede de uma Região de Saúde no estado de Sergipe,
Brasil (2017).
Variáveis sociodemográficas n %
SEXO
Feminino 10 67
Masculino 05 33
IDADE (em anos)
20 a 30 04 27
31 a 40 05 33
41 a 50 05 33
51 a 60 01 7,0
COR DA PELE
Branco(a) 02 13
Pardo(a)/Moreno(a)/Mulato(a) 13 87
ESCOLARIDADE (Último grau concluído com aprovação)
Ensino fundamental (8ª série/9º ano) 01 7,0
Ensino médio 03 20
Ensino técnico 06 40
Ensino superior 04 26
Pós-graduação 01 7,0
ESTADO CIVIL
Casado(a)/Parceiro(a)/União estável 08 53
Solteiro(a) 05 33
Separado(a)/Divorciado(a) 02 14
RESIDÊNCIA
Área rural 08 53
Área urbana 07 47
CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA (ABEP)
Classe A 01 7,0
Classe B1 04 26
Classe B2 04 26
Classe C1 03 20
Classe C2 02 14
Classe D-E 01 7,0
Fonte: elaboração própria.

38
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

O perfil da maioria dos gerentes era composto de mulheres negras que


moravam na zona rural, corroborando com a pesquisa de Coelho et al. (2015)
que também encontraram na cidade de São Luís (MA) uma presença maior de
mulheres (59%) em cargos de gestão dos serviços de saúde públicos. A
feminização encontrada entre os profissionais da eSF coincide com a
feminização das profissões da área da saúde (PINTO; MENEZES; VILLA, 2010;
COSTA et al., 2013).

Destaca-se que o persistente desequilíbrio das relações de gênero no


trabalho doméstico leva as trabalhadoras à exposição de fatores de risco
ocupacionais e domésticos. Desfavorecidas pelas relações de gênero, as
mulheres ficam encarregadas pelas tarefas domésticas e têm menos tempo
para o lazer. Com menor descanso, a recuperação do organismo fica difícil e
aumenta o risco de adoecimento, desencadeados nas atividades laborais
(ASSUNÇÃO, 2011).

A elevada prevalência de negros na gestão da APS do município


investigado (87%) pode estar relacionada ao fato da forte presença das
comunidades quilombolas no estado. Alguns municípios de Sergipe chegam a ter
80% de negros na sua composição populacional (LACERDA, 2017). O racismo
permeia as relações entre usuários, profissionais e gestores de serviços públicos
e impõe fatores de risco extra biológicos às pessoas sobreviventes do processo
de exclusão (BRASIL, 2011). No capítulo 5 o tema do racismo será mais discutido.

O estado civil dos gestores pode ter influência no grau de comprometimento


com as suas atividades (FONTELENE JUNIOR, 2002). Januário (2009), ao avaliar os
fatores que podem influenciar nos indicadores de gestão hospitalar, indica que os
casados são os mais propensos a desenvolver o comprometimento à gestão.
Estudos com amostras maiores teriam que ser realizados para aprofundar a relação
do estado civil com a gestão do trabalho na saúde.

Quanto à moradia dos gestores serem majoritariamente rural, essa


realidade pode refletir a distribuição populacional do município investigado,
que apresenta 51% de seus moradores residindo na zona rural (BRASIL, 2017).
Atributos relacionados ao território, como a sua localização, contribuem para a

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Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

disponibilidade de serviços, de modo a influenciar na perspectiva das condições


de vida e saúde vivenciadas pelas populações interioranas (McGRAIL
WINGROVE; PETTERSON, 2017).

A maior prevalência da formação de nível médio ou técnico no grupo


estudado corrobora com estudos que demonstram um maior número de
gerentes de UBS sem curso superior em cidades do interior do que nas capitais
(NUNES, 2017; BLOISE, 2015). Falcão e Sousa (2011) e Nunes (2017) também
encontraram parcela significativa de profissionais de nível técnico exercendo a
função, em Patos (PB) e em municípios do centro-oeste paulista,
respectivamente. Bloise (2015) encontrou somente profissionais com nível
superior ocupando este cargo na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e o mesmo se
deu com Alves, Penna, Brito (2004) em estudo em Belo Horizonte (MG).

Quanto à renda, foi constatado que a maioria dos gestores pertencia à


classe econômica B1 e B2 (52%). Esse resultado é semelhante ao encontrado
por Corrêa et al. (2012) em enfermeiros da APS (57% era da classe B1-B2). Os
autores também discorrem que o poder aquisitivo de enfermeiros da APS é
relativamente alto, 57% da amostra na classe B1-B2, achado justificado pelos
autores por uma possível composição de renda com o (a) cônjuge; a existência
de mais de um vínculo empregatício; bem como a constatação de que parcela
significativa não tinha filhos (41,8%).

2.3 Condições de Trabalho

A metade dos gestores exercia a função de gerência em saúde há 6


meses. A média de tempo era de 5 anos (4 a 33 anos) e a mediana 6 meses; a
gestão na UBS atual coincidia com o tempo em que a maioria exercia a função
de gestão (75%; 6 meses). Apenas dois gestores estavam acima de 7 meses na
UBS atual (3,6 e 11 anos). A forma de ingresso na gestão atual, para a maioria
dos entrevistados (93%; n=14), foi indicação política. Com exceção do único
gestor que referiu ocupar a função devido ao concurso público, o tempo de
trabalho na gestão na UBS atual coincidia com a mudança da gestão municipal
via eleição pública. No entanto, salienta-se que o gestor foi concursado a outro
cargo, não especificamente ao cargo de gestão.

40
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

Acerca do principal meio de deslocamento para o local de trabalho (UBS),


metade referiu ir a pé e metade relatou utilizar transporte próprio. Sobre o
tempo de deslocamento, 90% (n=9) relatou gastar entre 1-10 minutos.
Considerando uma escala de 1 a 5 para a distância entre a residência do gestor
e a unidade de trabalho (1 para muito perto e 5 para muito longe), 57% (n=8)
referiu ser muito perto.

Sobre o vínculo empregatício, 66% (n=10) dos gestores era empregado


contratado sem carteira de trabalho assinada, 20% (n=3) possuía regime
estatutário municipal, 7% (n=1) regime estatutário federal e 7% (n=1) não quis
responder esta questão (Tabela 2).

Dentre as atribuições de um gestor da saúde, foram citadas:


acolhimento, atendimento clínico, parte administrativa e burocrática,
organização e reivindicação:

● “Atender a população com carinho, amor e apoiar os profissionais


que trabalham no posto” (G2).

● “Administrar a unidade, direcionar no caso, as pessoas” (G7).

● “Procedimento de enfermagem, verificação de pressão, peso” (G6).

● “Reivindicar melhorias na Secretaria Municipal de Saúde” (G8).

● “Eu fico muito aqui na parte burocrática, mas a gente acaba se


envolvendo com um todo” (G10).

● “Coordenar e administrar, não deixar faltar materiais, medicamentos


e fazer com que a unidade funcione” (G15).

41
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

Tabela 4. Características da gestão na APS num município sede de uma Região


de Saúde no estado de Sergipe, Brasil (2017).
Variáveis selecionadas n %
TEMPO DE ATIVIDADE DE GESTÃO EM SAÚDE (em anos)
0,6-0,7 09 60
1-5 03 20
6-10 01 7
10-33 02 13
TEMPO DE GESTÃO NA UBS ATUAL (em anos)
0,6-0,7 12 80
1-5 02 13
11 01 7,0
FORMA DE INGRESSO NO CARGO DE GESTÃO DA UBS
Indicação política 14 93
Concurso público* 01 7,0
VÍNCULO EMPREGATÍCIO ATUAL
Empregados remunerados contratados sem carteira de trabalho 10 66
assinada
Regime estatutário municipal 03 20
Regime estatutário federal 01 7,0
Não soube ou não quis responder 01 7,0
TOTAL 15 100
*
Trata-se de um profissional concursado da APS, mas que não havia feito concurso para
o cargo de gestão, pois, no município tal prática não acontece.
Fonte: elaboração própria.

A precarização do trabalho revela-se no vínculo empregatício precário,


visto que 66% (10) dos gestores referiu ser empregado remunerado
contratado, sem carteira de trabalho assinada. Quase todos os gestores (93%)
assumiram o cargo por indicação política e o tempo de gestão na UBS atual
coincidia com a mudança da gestão municipal, via eleição pública. No entanto,
Santini et al. (2011) observaram o contrário: a menor parte dos trabalhadores
(27,98%) estava em condições precárias e a maioria (71,98%) era de
profissionais contratados através de vínculo empregatício que preserva
garantias trabalhistas (18,97% era estatutário e 53,01% celetista).

No caso em análise, 93% dos profissionais assumiu o cargo por indicação


política. Nessa óptica, a contratação temporária serve à indicação política,
ferramenta utilizada para seleção e ingressão de profissionais e trabalhadores
de saúde para preenchimento dos cargos de forma arcaica entranhada no

42
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

empreguismo e patrimonialismo, fragilizando a efetivação de vários princípios


do SUS, dentre eles, o estabelecimento de vínculo e a longitudinalidade do
cuidado (VILELA; MAFRA, 2015). Frequente, principalmente em municípios de
pequeno porte no Brasil, a prática da indicação política desvinculada da
capacitação técnica para o cargo preocupa, pois a predominância da prática
clientelista favorece o controle privado dos bens públicos e a nomeação de
amigos e parentes para cargos, além do favoritismo e o desenvolvimento de
uma rede de troca de favores que influencia no acesso aos serviços públicos em
função de interesses político-eleitorais em detrimento dos direitos de
cidadania (BORGES, 2010).

É importante frisar que essa precarização do trabalho vai além da forma


de seleção e ingresso na gestão do serviço de saúde, como a baixa remuneração
e pouca ou ausente motivação e desempenho para a eSF. Ainda, foi possível
notar através da escolaridade que a maior parte dos gestores possuía baixa
qualificação para o trabalho. Todas essas condições podem influenciar em
aspectos importantes para a gestão, como a qualidade e satisfação com a
assistência prestada e na sobrecarga de trabalho, inclusive para a eSF.

Observaram-se atribuições diversas nas atividades gerenciais. Para


Motta (2003), o trabalho gerencial é diferente de outras atividades técnicas
administrativas e pode ser descrito como a arte de pensar, decidir e de agir e
obter resultados em uma interação humana constante. Apesar dessa definição
inclusiva e generalista encontrada na literatura, acreditamos que algumas
atribuições citadas extrapolam a função gerencial, tal como procedimento de
aferição de pressão e peso. As atribuições citadas são, algumas vezes,
provocativas visto que parecem indicar um acúmulo e desvios de função. O caso
mais recente e apontado como acúmulo e desvio de função é encontrado na
Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2017), onde é determinado que os
ACS realizem atividades típicas dos técnicos de enfermagem, como a aferição
de pressão e mensuração da glicemia capilar. Tais determinações são criticadas
por órgãos como o Conselho Federal de Enfermagem. No entanto, não pode
mais ser caracterizado como desvio de função devido à instituição oficial
recente do Programa Saúde com Agente, pela Portaria nº 3.241, de 7 de
dezembro de 2020.

43
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

É possível notar de forma nítida que a seleção e contratação dos


gestores da APS não possuem amparo legal frente a precarização do trabalho,
podendo levar a prejuízos e influências negativas na gestão dos serviços,
assistência e cuidado à saúde fornecidos pelo SUS, como no planejamento,
execução e avaliação de programas, projetos e políticas públicas, com efeitos,
muita das vezes, prejudiciais ao SUS. Tais condições de trabalho são ainda mais
preocupantes frente a crescente iniquidade social na sociedade brasileira,
ressaltadas com as reformas trabalhistas e econômicas e evidenciadas frente
ao impulso gerado pela pandemia de COVID-19, que acentuaram a desproteção
social e prejuízos na assistência à saúde. Dessa forma, torna-se imprescindível
a discussão e estabelecimento de critérios para a seleção e contratação de
gestores, inclusive considerando a necessidade de profissionalizar a gestão dos
serviços de saúde no Brasil.

André e Ciampone (2007) propõem que a ascensão por avaliação das


competências, habilidades e formação em gestão seria uma proposta mais
correta para investidura ao cargo, pois o despreparo técnico pode ser um
grande entrave ao exercício profissional principalmente numa área complexa
como a saúde e que lida diretamente com o bem maior que é a vida. A
necessidade de valorizar os cargos de gestão na APS está posto na nova PNAB
(2017) ao recomendar que o(a) Gerente de APS seja um(a) profissional
qualificado(a) preferencialmente com nível superior e experiência na APS, e não
integre Equipes vinculadas à UBS (BRASIL, 2017).

O modelo de seleção e o vínculo trabalhista que se estabelece com os


profissionais são estratégias que influenciam diretamente o desempenho da
função gerencial (BLOISE, 2015). Coelho et al. (2015) encontraram que 81% (26)
dos gestores das UBS informou ter sido indicado por político para a
administração da Unidade. Já Alves, Penna e Brito (2004) verificaram que 44%
dos gerentes havia sido escolhido por seleção interna e apenas 8% por indicação
política na capital estudada, ratificando que a questão clientelista é maior em
municípios do interior. No entanto, os autores inferiram que a maioria (63%)
afirmou não haver pré-requisito para o cargo (ALVES; PENNA; BRITO, 2004).

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Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

2.4 Condições de saúde e impactos da precarização do trabalho.

Um quinto dos gestores autoavaliaram sua saúde como regular (20%;


n=3); a grande maioria (80%; n=12) referiu que a saúde era muito boa ou boa;
64% (n=9) estavam acima do peso. Desses, 14% (n=2) tinha obesidade grau I
(IMC entre 30 e 34,99). Quando considerada a prevalência da inatividade física
entre os gestores, de acordo com os aspectos da atividade física (frequência,
duração e intensidade do exercício), analisadas de forma mais detalhada no
tópico seguinte, 79% (n=11) foi classificado como insuficientemente ativo e
21% (n=3) regularmente ativo; 73% (n=8) não realizava nenhum tipo de
exercício físico e 27% (n=3) dos gestores insuficientemente ativos realizava
caminhada, com média de 2 vezes por semana, aproximadamente 50 minutos
em cada caminhada.

Quando analisada a Morbidade Referida (MR), 87% dos gestores (n=13)


apresentou ao menos uma morbidade. As morbidades mais frequentes foram
infecção urinária (33%; n=5), Problemas na coluna, gastrite e enxaqueca (20%;
n=3) e hipertensão (13%; n=2). Um quinto dos gestores (20%; n=3) apresentou
transtornos decorrentes do uso de álcool para o Questionário CAGE (ponto de
corte igual a 2). A Análise do inventário Beck demonstrou que 7% (n=1) dos
gestores com transtorno positivo para uso crônico de álcool possuía depressão
leve (p =0.047).

Destacam-se ainda a elevada prevalência de sobrepeso (67%); 87% com


relato de ao menos uma morbidade referida, com destaque para as Doenças e
Agravos Não Transmissíveis (DANT: 67%; n=10) e transtornos decorrentes do
uso de álcool para o CAGE (20%). A prevalência das DANT foi superior à
encontrada entre os profissionais da Saúde de Pelotas-RS (35%) e com
trabalhadores de um Hospital Universitário de Belo Horizonte (MG) (9%)
(ASSUNÇÃO, 2011). No entanto, a prevalência de transtorno decorrente do uso
de álcool para o CAGE foi maior do que a encontrada em dois estudos realizados
com profissionais de enfermagem de hospitais 4% e 8% (SOUZA; MARTINS-
JUNIOR; VIEIRA, 2011; MACHADO et al., 2014; respectivamente).

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Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

Nessa perspectiva, sabe-se que o sobrepeso e a obesidade tornaram-se


um problema de Saúde Pública mundial considerando a elevada prevalência e os
riscos para a saúde (NG et al., 2014). Investigações encontraram prevalência
elevada de sobrepeso em trabalhadores de saúde (CRUZ-DOMÍNGUES et al.,
2015). Patrocinio (2017) discorre sobre a influência de fatores biológicos do
estresse, sendo esse resultante em certos níveis das condições de trabalho, para
o ganho de peso, como a perda da sensibilidade para hormônios como cortisol e
leptina, que podem levar a obesidade. Além disso, a autora (PATROCINIO, 2017)
refere que algumas condições de trabalho também influenciam o
comportamento sedentário ou de inatividade física e o comportamento
alimentar, influenciando na obesidade e sobrepeso. Rocha (2010) aponta para a
inter-relação entre sobrepeso ou obesidade, inatividade física ou sedentarismo
e condições como morbimortalidade e qualidade de vida.

Ainda no sentido do reconhecimento do trabalho como fator


determinante no processo saúde-doença, e que esses (trabalho e saúde) estão
intimamente articulados em relação mútua, tem se tornado consistente o
estudo das práticas de atividade física e a sua relação com o trabalho, dada sua
importante relação com eventos de saúde e qualidade de vida em jovens,
adultos e idosos (OMS, 2010). Assim, o trabalho se caracteriza como um fator
psicossocial, inclusive para o etilismo crônico, considerando aspectos também
da precarização de trabalho e diversos outros fatores que influenciam no uso
crônico de álcool.

Os dados referentes especialmente a MR evidenciam também o impacto


da precarização do trabalho nas condições de saúde, visto que a intensificação
e precarização do trabalho, encontrada também neste estudo, influenciam
podem contribuir com o surgimento de DANT (AZEVEDO, 2011)

É conhecida a relação entre trabalho e etilismo, onde determinadas


condições, apresentadas pelos gestores, por exemplo, podem promover ou
acentuar o uso ou abuso de drogas. Algumas dessas condições são o indicativo
de desvio/acúmulo de função, deslocamento acentuado para o local de
trabalho (43%). Num recorte por sexo, é comum que as mulheres (com maior
frequência de participação nesse estudo) refiram o consumo de álcool. Tal fato

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é devido, comumente, à situações de violência, como a verbal e psicológica, e a


discriminação de gênero no local de trabalho (FÉLIX JUNIOR et al., 2016).
Também há uma sinalização apontando que dentre os profissionais de saúde,
álcool, cigarro e ansiolíticos são as substâncias psicotrópicas frequentemente
mais utilizadas. No entanto, é importante frisar que a relação entre álcool e
trabalho não está precisamente e diretamente ligada ao trabalho, mas sabe-se
que a busca pelo álcool tem característica como estratégia de defesa frente a
experiências e vivências no ambiente de trabalho, ao passo que há uma relação
complexa interligada às subjetividades e outras nuances da vida do trabalhador
(JÚNIOR et al., 2016).

2.4.1 Sedentarismo e inatividade Física: ampliando a análise dos


resultados para as condições de saúde

O comportamento sedentário deve ser compreendido como o


desempenho de atividades realizadas na posição deitada ou sentada e que não
aumentam o gasto energético acima dos níveis de repouso (AINSWORTH et al.,
2000; PATE; NEIL; LABELO, 2008). Assim, a simples posição em pé, mesmo sem a
realização de alguma atividade, não é considerada como comportamento
sedentário, devido às contrações musculares e consumo energético acima dos
níveis de repouso (HAMILTON; HAMILTON; ZDERIC, 2007; HAMILTON et al., 2008).

Devido à complexidade gerada para a compreensão da palavra


sedentário, é sugerido que esse vocábulo não seja utilizado com a finalidade de
caracterização de indivíduos que não atingem os níveis de prática de atividade
física, sugerindo a utilização do termo insuficientemente ativo para tal
caracterização (MENEGUCI JOILSON et al., 2015).

A importância desse debate tem relação com a etiologia das Doenças


Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), as quais compartilham vários fatores de
riscos modificáveis como o sedentarismo, a atividade física de forma insuficiente,
o tabagismo, a alimentação inadequada, a obesidade e o consumo de álcool. No
Brasil, as DCNT são responsáveis por uma parcela grande e crescente da carga de
doenças (HALLAL et al., 2003; WHO, 2005; MALTA et al., 2006).

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É reconhecida uma relação inversa entre a atividade física com DANT,


corroborando com a proposição acerca da prática regular de atividade física e
seu efeito positivo na promoção de qualidade de vida e saúde dos indivíduos.
Diante do exposto é que vimos à importância de se aprofundar o debate entre
a prevalência do sedentarismo e inatividade física em gestores da APS e as
condições de saúde. Uma limitação importante do estudo é o tamanho da
amostra, no entanto os resultados aqui trazidos sinalizam para a importância
de se desenvolver mais estudos na área e ampliar políticas públicas de saúde
voltadas para a saúde do trabalhador.

2.4.1.1 Detalhamento metodológico de análise

A prevalência de sedentarismo foi analisada segundo três eixos


investigados: sociodemográfico, saúde e gestão. No eixo sociodemográfico,
analisaram-se as seguintes variáveis independentes: (a) sexo; (b) faixa-etária (20 a
30 anos, 31 a 49 anos e 55 anos); (c) cor da pele; (d) escolaridade (fundamental
incompleto, fundamental completo, médio incompleto, médio completo, técnico
incompleto, técnico completo, superior incompleto, superior completo e pós-
graduação); (e) situação conjugal. No eixo saúde, investigou-se: (a) tabagismo (não
fumante, ex-fumante e atual fumante); (b) autoavaliação de saúde (muito ruim, ruim,
regular, boa, muito boa), (c) DCNT referida por um profissional de saúde
(considerando-se hipertensão arterial, diabetes, doença cardiovascular,
tumor/câncer, reumatismo/artrite/artrose, osteoporose, asma/bronquite/enfisema,
tendinite/Lesão por Esforço Repetitivo (LER)/Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT), problemas circulatórios e outros) e (d) IMC. No
eixo da gestão: (a) horas de trabalho cumpridas na UBS (até 20 horas, de 21 horas
a 40 horas, e 40 horas ou mais).

Os dados quantitativos foram processados por meio do software Excel


(Microsoft®). Para a análise estatística da associação do sedentarismo e
inatividade física com as variáveis: sexo e estado civil foi adotado o teste qui-
quadrado, com Intervalo de Confiança de 95%. Para a análise dos dados obtidos
nesse estudo, foi adotado um consenso obtido entre o Centro de Estudos do
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) e o Centers

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for Disease Control and Prevention (CDC) em 2012 considerando os critérios de


frequência, duração e tipo de atividade física realizada pelo indivíduo
(FONSECA, 2012). Dessa forma, a amostra foi classificada em “muito ativos”,
“ativos”, “irregularmente ativos” e “sedentários”. Segundo a metodologia
adotada neste estudo, os “Irregularmente ativos” e “Sedentários”, em
conjunto, formaram o grupo dos Insuficientemente Ativos (IA). O grupo dos
“muito ativos” e “ativos” formaram o grupo dos Regularmente Ativos (RA)
(FONSECA, 2012).

2.4.1.2 Sedentarismo e inatividade física: resultados em detalhes

A prevalência da inatividade física foi de 79% (n=11). A grande maioria


dos gestores não realizava nenhum tipo de exercício físico (57%; n=8). Apenas
21% (n=3) era regularmente ativo (Tabela 4).

Tabela 5. Classificação do nível de atividade física de gestores da Atenção


Primária à Saúde de um município sede de uma Região de Saúde no
estado de Sergipe, Brasil (2017).
Nível de atividade física dos gestores das UBS n %
Sedentário* 8 57,2
Irregularmente ativo* 3 21,4
Regularmente ativo 3 21,4
* De acordo com a metodologia de Matsudo et al. (2002) os gestores sedentários e
irregularmente ativos formam o grupo de gestores insuficientemente ativos.
Fonte: Elaboração própria.

Quando analisada a disponibilidade de locais de realização ou de possível


execução de atividades física, observou-se que 93% (n=13) dos gestores
afirmou existir algum local próximo de casa para a realização de atividades
físicas; 856% (n=11) desses locais era público; a maioria dos locais públicos eram
parques e praças (73%; n=8 em 11).

O perfil dos gestores insuficientemente ativos demonstrou que 55,5%


(n=6) era mulheres, entretanto, todos os gestores do sexo masculino (n=5) era
insuficientemente ativo; 73% (n=9) apresentava idade entre 30 a 49 anos; 85%
era negro; 63,6% possuía Ensino Médio/Técnico; 75% (5 em 7) referiu que a
saúde era regular; 86% tinha ao menos uma MR e 83% dos que possuíam MR

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era insuficientemente ativo; 67% dos que disseram fazer uso de medicamento
era IA; 27% tinha problema de uso crônico de álcool, segundo o CAGE e eram
fumantes atuais ou ex-fumantes. Todos os regularmente ativos nunca fumaram
e não tinham problema crônico com álcool. Em relação à depressão, mensurada
pela Escala de Beck, 60% (n=3) dos gestores triados como depressivos era
insuficientemente ativo (Tabela 5).

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Tabela 6. Perfil de gestores da Atenção Primária à Saúde Insuficientemente


Ativos e Regularmente ativos em um município sede de uma Região
de Saúde no estado de Sergipe, Brasil (2017).
Regularmente
Insuficientemente ativos Total p
Variáveis ativos
n % n % n %

Sexo 0.145
Masculino 5 45,5 - - 5 35,7
Feminino 6 55,5 3 100 9 64,3
Idade 0.441
20 - 30 2 18,1 1 33,33 3 21,4
31 - 40 4 36,4 1 33,33 5 35,7
41 – 50 4 36,4 1 33,33 5 35,7
55 anos 1 9,10 - - 1 7,2
Cor da pele 0.519
Branco (a) 1 9,10 1 33,33 2 14,2
Negra 10 92,9 2 66,66 12 85,7
Escolaridade 0.466
E. Fundamental 1 9,10 - - 1 7,2
E. Médio/técnico 7 63,6 3 100 10 71,4
E. Superior 3 27,3 - - 3 21,4
Autoavaliação de Saúde 0.459
Muito boa 4 36,4 - - 4 28,6
Boa 5 45,45 2 66,66 7 50,00
Regular 2 18,1 1 33,33 3 21,4
Morbidade Referida 0.257
0 1 9,10 1 33,33 2 14,3
1-2 9 81,8 1 33,33 10 71,4
3 ou mais 1 9,10 1 33,33 2 14,3
Depressão 0.047
Sem depressão 11 100 2 66,66 13 92,9
Depressão leve - - 1 33,33 1 7,10
Uso de Medicamentos 0.347
Sim 4 36,4 2 66,66 6 42,80
Não 7 63,6 1 33,33 8 57,20
IMC 0.363
Normal 4 36,4 1 33,33 5 35,7
Sobrepeso 5 45,45 2 66,66 7 50,0
Obesidade 2 18,2 - - 2 14,3
Dor interferindo no trabalho 0.026
Nenhum pouco 4 36,4 - - 4 28,6
Um pouco 5 45,45 1 33,33 6 42,8
Moderadamente 2 18,2 - - 2 14,3
Bastante - - 2 66,66 2 14,3
Uso Crônico de Álcool/etilismo 0.308
Sim 3 27,3 - - 3 21,4
Não 8 72,7 3 100 11 78,6
Tabagismo 0.594
Ex-fumante 2 18,1 - - 2 16,7
Fumante atual 1 9,10 - - 1 8,30
Não fumante 8 72,7 3 100 12 75,0
Fonte de Água 0.217
Poço ou nascente 4 36,4 - - 4 25,6
Rede geral 7 63,6 3 100 10 71,4
Trecho da rua 0.571
Asfalto/
9 81,8 2 66,66 11 78,6
pavimento
Terra/cascalho 2 18,2 1 33,33 3 21,4
Total Geral 11 100 3 100 14 100
Fonte: elaboração própria.

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A única variável associada de maneira estatisticamente significativa com


inatividade física, foi referente em quanto a dor atrapalhou seu trabalho
durante as últimas 4 semanas (p=0,026): 64% dos gestores insuficientemente
ativos relatou interferência da dor em seu trabalho. Em relação ao IMC, 64%
apresentou IMC acima do recomendável e 100% dos obesos (n=2) era IA.
Quanto aos Determinantes Sociais de Saúde (DSS), notou-se que todos os
gestores que possuíam água no domicílio proveniente de poço ou nascente ou
que relataram ter tido algum episódio de agressão ou ameaça no serviço, nos
últimos 12 meses, eram IA (18%; n=2). Verificou-se também que 67% dos
gestores (2 em 3) que afirmaram que o trecho da rua do domicílio era de terra
ou cascalho era IA (Tabela 5).

Tabela 7. Doenças crônicas não transmissíveis diagnosticadas por profissionais


de saúde nos gestores Insuficientemente Ativos da Atenção Primária
à Saúde de um município sede de uma Região de Saúde no estado de
Sergipe, Brasil (2017).
Doenças crônicas não transmissíveis n %
Afecções cardiovasculares 5 50
Distúrbios de sono 1 10
Doenças na coluna 1 10
Doenças respiratórias 1 10
Gastrite 1 10
LER/DORT 1 10

Total 10 100
Fonte: elaboração própria.

Quando analisada a MR, 86% dos gestores (n=12) apresentou ao menos


1 morbidade. A prevalência de MR nos gestores IA foi de 90% (10 em 11),
enquanto para os gestores suficientemente ativos foi de 67% (2 em 3). A
descrição das doenças referidas pelos gestores IA está na Tabela 4. Dos RA,
tivemos ⅓ (n=1) desses gestores com ao menos uma MR, a mesma quantidade
sem nenhuma doença e com comorbidades. Entre os IA, 82% (n=9) apresentou
1 a 2 MR, 9% (n=6) apresentou 3 ou mais MR e 9% (n=1) não apresentou
nenhuma doença.

Os resultados de sobrepeso, sedentarismo e referentes também ao


transtorno decorrente do uso de álcool demonstram a necessidade de

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implementação de medidas relacionadas à promoção da saúde e do bem-estar


em ambientes de trabalho na APS, estimulando a equipe na adoção de estilos
de vida saudáveis, o que contribui para a Saúde Pública (WHILE, 2015; PROFIS;
SIMON-TUVAL, 2016).

A atividade física insuficiente observada (78,6%%; n=11) é coerente com os


dados da elevada prevalência de Inatividade Física (IF), especialmente no Nordeste
e em outras regiões menos desenvolvidas do país (BUSS; PELLEGRINI, 2007).

A prevalência de IF observada nos gestores do presente estudo corrobora


os dados nacionais, porém, está bem acima da encontrada em outros estudos. O
Brasil apresenta elevada prevalência de IF, especialmente nas regiões menos
desenvolvidas como o Nordeste (31%). Para os idosos, as prevalências de IF
foram de 36% e 42%, para o Sul e Nordeste, respectivamente (FUSCALDO, 2002).
Para os profissionais de saúde da região Nordeste e Sul, estudo demonstrou
prevalência de 27% para ambas as regiões (SIQUEIRA et al., 2009).

No geral, o perfil dos gestores insuficientemente ativos, demonstrou ser


menos saudável do que os suficientemente ativos: a maior parte (90,1%) tinha
ao menos uma Morbidade Referida, referia que a saúde era regular (71%),
relatou interferência da dor em seu trabalho e apresentou IMC acima do
recomendável (64%); 67% dos que disseram fazer uso de medicamento era IA;
27% tinha problema de uso crônico de álcool e era fumante atual ou ex-fumante.

Os dados mencionados anteriormente refletem a importância da


atividade física na melhoria das condições de saúde dos indivíduos e da
coletividade (BARENGO et al., 2017; MORA et al., 2007). Também refletem a
coexistência de fatores de risco modificáveis que respondem pela grande
maioria das mortes e por fração importante da carga de doenças devido às
DANT (OPAS, 2003; WHO, 2010) dentre esses destacam-se as doenças
cardiovasculares que metade dos gestores relatou apresentar.

Outro aspecto evidenciado na corrente investigação foi quanto à


determinação social relacionada aos comportamentos de saúde. Notou-se maior
prevalência de piores condições de moradia e de experiência de violência no
trabalho entre os gestores insuficientemente ativos. Condições precárias de

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moradia e experiência de violência no trabalho podem ser proxies das condições


de vida e de trabalho (CDSS, 2010; BORDE; HERNNDEZ-ALVAREZ; PORTO, 2015).

A integralidade na compreensão das condições de saúde para os gestores


de um serviço de tamanha importância, salutar para as comunidades, evoca a
necessidade de considerar também aquele que sofre de violência, que vive em
condições precárias de trabalho (GARBOIS; SODRÉ; DABELLO-ARAÚJO, 2017).

Os resultados encontrados indicam a necessidade de intervir para


melhorar a saúde de quem gere a saúde de quem cuida e recebe o cuidado,
porém deve-se evitar, sob o pretexto de melhorar a saúde dos indivíduos,
aprofundar a sua responsabilidade na gestão de seus problemas de saúde
(NEDEL; BASTOS, 2020).

Ainda sob o prisma dos mesos e macros determinantes sociais, estudos


demonstram que a escolaridade elevada estaria associada a um estilo de vida
mais saudável. A maior escolaridade está associada à melhor rendimento,
reconhecimento social e vivência em contextos sociais e de vizinhança mais
acessíveis à prática de atividades físicas e à compra de alimentos saudáveis
(PEREIRA; GONZAGA; LYRA, 2019; CAMELO et al., 2016).

Também houve uma prevalência de 75% da prática insuficiente de


atividade física entre a faixa-etária de 30 a 49 anos nos gestores (p=0.441).
Apesar de o estudo não apresentar significância estatística, a idade está
diretamente associada com o sedentarismo no Nordeste, já que nessa região
do Brasil os profissionais mais velhos do referido estudo apresentaram uma
chance 46% maior de sedentarismo em comparação aos profissionais mais
jovens (SIQUEIRA et al., 2009).

É importante salientar que, de fato, ocorre um declínio acentuado na


prática de atividade física após os trinta anos de idade. O aumento no nível de
sedentários a partir dessa idade se dá pela adoção de estilo de vida sedentário
com o envelhecimento, junto com uma diminuição da aptidão física, que por sua
vez é agravada pela própria inatividade (HOLLMANN, 2007).

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Não houve associação entre prática insuficiente de exercícios físicos e


sexo (p= 0,145), apesar, que todos os homens eram IA e todos os gestores
regularmente ativos eram mulheres. A ausência de significância estatística é
semelhante ao resultado de outros estudos brasileiros, em que a IF não foi
estatisticamente associada com o sexo em profissionais de saúde do Nordeste,
não havendo associação positiva entre sexo e prática insuficiente de atividade
física (SIQUEIRA et al., 2009; GONDIM; LESSA, 2005). Talvez essa falta de
associação direta entre sexo e IA possa ser uma confirmação da soberania dos
macrodeterminantes nesse comportamento de risco, em comparação aos
fatores individuais.

Outro dado que reforça a presença de determinantes que influenciam


fortemente o hábito da atividade física, foi em relação aos gestores ativos.
Todos os gestores suficientemente ativos (2 em 3) que possuíam morbidades
ou comorbidades referidas eram do sexo feminino e com baixa escolaridade
(ensino fundamental). Observando as diferenças entre o perfil de morbidade
entre os gestores suficientemente ativos e insuficientemente ativos, as
doenças dos gestores suficientemente ativos não estão relacionadas à
inatividade física, mas aos DSS individuais (BUSS; PELLEGRINI, 2007), nesse
caso, sexo e escolaridade.

As mulheres, normalmente, apresentam mais comorbidades, já que


utilizam mais os serviços de saúde, tanto em consultas quanto em internações,
sendo mais passíveis de diagnósticos de DANT. Além disso, estudos
demonstram que se encontra uma maior prevalência de DCNT em populações
menos escolarizadas, como acontece entre os gestores suficientemente ativos.
Tais relações entre sexo, escolaridade e morbidade referida explicam a alta
prevalência de MR em gestores, mesmo que suficientemente ativos (BARROS
et al., 2006; PINHEIRO et al., 2002).

Observou-se ainda que metade dos gestores IA tinham escolaridade até


o ensino médio/técnico (p=0.466). Nossa amostra não permite avaliar a direção
da relação entre a escolaridade ou anos de estudo com a inatividade física e o
sedentarismo. No entanto, sabe-se que existem divergências na literatura

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acerca da relação entre inatividade física/sedentarismo e escolaridade/anos de


estudo (SIQUEIRA et al., 2009; HOLLMANN, 2007).

Foi visto que 58% (n=7) dos gestores IA possuía o IMC acima do
recomendável e que 85% (n=11) dos gestores IA deles possuía ao menos uma
DCNT. Salienta-se que 45% dos gestores IA (5 em 11) sofria de afecções
cardiovasculares, a MR mais prevalente dentre os IA. Esses resultados
corroboram a relação das DCNT com o sedentarismo (principalmente com os
agravos cardiovasculares). Dessa forma, fica clara a relação entre inatividade
física e IMC acima do saudável, uma vez que estudos mostram que o excesso de
adiposidade corpórea associada à atividade física insuficiente apresenta grande
prevalência entre os fatores de risco para as doenças cardiovasculares
(NAVARRO et al., 2001; COUTINHO; BENCHIMOL, 2003; CASTRO et al., 2004;
MARTINS et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010).

Em estudo brasileiro, foi vista uma associação direta entre a prevalência


de sedentarismo e a situação conjugal (casado/parceiro) (PITANGA; LESSA,
2005). Foi identificado nesse estudo que 50% dos insuficientemente ativos se
encontrava nessa situação conjugal. Um estudo europeu também destacou que
existe uma associação positiva entre o sedentarismo e o estado civil casado
(MARTINEZ-GONZALEZ, 2001).

Estudo realizado para avaliar qualitativamente o PSF a partir das crenças


dos profissionais da eSF demonstrou que o regime precário no PSF é
apresentado como um dos fatores influenciadores da prática irregular de
atividade física, uma vez que os profissionais da ESF avaliaram negativamente
o PSF acerca da condições de trabalho vivenciadas e as poucas ou ausentes
capacitações dos trabalhadores e profissionais de saúde, apontando assim para
uma sobrecarga de trabalho que resulta na inatividade física. Observou-se
também que as avaliações negativas corroboram com o discurso dos
profissionais das eSF quanto às precárias condições de trabalho das unidades
do PSF (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2008).

Parte da prevalência elevada de IA nos gestores investigados pode ser


decorrente das condições de trabalho, o que corrobora o encontrado em

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relação ao fato de que todos os gestores que relataram ter tido algum episódio
de agressão ou ameaça no serviço nos últimos 12 meses eram IA (18%; n=2).

As únicas variáveis associadas de maneira estatisticamente significativa


com inatividade física, foi referente à quanto a dor atrapalhou seu trabalho
durante as últimas quatro semanas (p=0.03) e à depressão (p=0.047).

Em relação à dor, 64% dos gestores IA relatou interferência da dor em


seu trabalho. Sabe-se que atividades físicas em geral são usadas como um
componente no controle da dor. A associação entre tipo e tempo de exercício,
no controle melhor de dor, é variável de acordo com a condição álgica e
tolerância a exercícios pelo indivíduo. No entanto, existem evidências de que a
realização de atividade física reduz a intensidade da dor e auxilia na melhora da
função física, além de ter um efeito variável em aspectos de qualidade de vida
e psicológicos (FOSTER et al.; HAYDEN et al., 2005; TURLEY et al.; VERHAGEN
et al., 2013; WOLFENDEN, et al., 2016; GENEEN et al.; HARVEY et al., 2017).

A variabilidade da relação entre exercício e aspectos de vida e qualidade


é resultante das diferenças entre tipos de atividade física usados nos estudos
em geral, e a intensidade da dor de cada indivíduo. Devido a esses aspectos
variantes, ainda não são conhecidos aspectos adequados de tempo, duração e
frequência para melhoria de diversas condições de dor. A recomendação geral
para pessoas com dores é que se mantenham ativas, pois isso pode melhorar a
dor ou outros problemas associados (FOSTER et al.; HAYDEN et al., 2005;
TURLEY et al.; VERHAGEN et al., 2013; WOLFENDEN, et al., 2016; GENEEN et al.;
HARVEY et al., 2017). Uma hipótese biológica correlacionou a realização de
atividade física com a liberação de endorfinas, neurotransmissor que pode
reduzir a sensação de dor, por exemplo (OLIVEIRA, 2014).

A atividade física pode ser clinicamente relevante também, visto que pode
servir como estratégia não farmacológica para os gestores (considerando que 86%
dos gestores tinha ao menos uma MR, e 43% referiu utilizar medicamentos).

Como explicado por Da Silva et al. (2017), existe a hipótese de que a


percepção dos usuários em relação ao ambiente seja um determinante
socioambiental para a prática de exercícios físicos. Nesse sentido, o ambiente

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Matos, Jardim, Sales e Silva

onde se realizam as atividades físicas contribui como um fator influenciador (de


forma positiva ou negativa) nos aspectos de frequência e tempo da atividade, bem
como um estímulo para o uso de espaços urbanos, por exemplo. No nosso estudo,
aproximadamente 93% (n=13) dos gestores afirmaram possuir um local próximo à
sua residência para realizar atividades físicas; 84,6% desses locais era público.

Ainda assim, retomamos que mesmo diante da facilidade de acesso,


78,5% (n=11) dos gestores era IA. Considerando o espaço de realização de
atividades físicas um fator socioambiental para a realização dessas atividades,
sugere-se que a qualidade estrutural dos espaços públicos pode estar associada
ao desinteresse dos usuários, como os gestores (SILVA, 2016). Outra hipótese
refere que experiências anteriores vivenciadas não associadas ao estado de
lazer, como aulas de educação física, acabam resultando em afastamento da
prática física na idade adulta (SILVA, 2018).

Nesse prisma, Klein et al. (2018), expuseram que muitas das ações e
atividades físicas desenvolvidas pelo Programa Academia da Saúde (PAS) são
direcionados para indivíduos adultos ou idosos, com realização de grupos de
enfoque em agravos e condições de saúde-doença específicos. Assim, o
programa acaba sendo pouco atrativo e efetivo quando se tratam de jovens,
crianças, e até mesmo adultos e idosos saudáveis.

É possível perceber que quanto mais opções e qualidade de espaços para


a execução de atividades físicas, maior será o interesse da população em
frequentar esses ambientes. Destacamos que no município investigado
somente 10,2% das moradias urbanas está em vias públicas com urbanização
adequada, como a “presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio”
(BRASIL, 2017), o que certamente dificulta atividades de caminhada ou corrida,
por exemplo.

No caso da depressão e sua relação com a inatividade física, observou-se


que 33,33% (n=1) dos gestores RA apresentou sinais de depressão leve. Alguns
autores (COSTA; SOARES; TEIXEIRA, 2007; GONÇALVES, 2018) demonstraram
que, apesar do tratamento padrão para depressão (psicoterapia e tratamento
farmacológico), a prática de atividade física é uma terapia adjuvante altamente

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Matos, Jardim, Sales e Silva

benéfica. Existem duas hipóteses para essa relação: a psicossocial e a biológica.


Dentre os fatores psicossociais, a atividade física surge como distração dos
eventos estressores e com ganho de capital social pela interação, por exemplo.

A prática regular de exercícios pode acarretar inúmeros benefícios


psicológicos como a sensação de bem-estar, a distração, o afastamento de
pensamentos negativos, o humor e a autoestima. E também, benefícios sociais,
como uma maior interação pela convivência nos exercícios em grupo, por
exemplo. Todos esses fatores parecem resultar na redução da ansiedade,
tensão e depressão (GONÇALVES, 2018).

A depressão também está relacionada a uma neurotransmissão


prejudicada de monoaminas (Teoria Monoaminérgica da Depressão - TMD). A
hipótese biológica do exercício físico e da depressão promove melhora da
alteração de uma ou de todas as monoaminas cerebrais (como a serotonina e
noradrenalina), uma vez que esses são neurotransmissores (assim como a
dopamina e a endorfina). Esses neurotransmissores, em geral, estão
relacionados fisiologicamente com as sensações de prazer, humor, satisfação,
entre outros (GONÇALVES, 2018).

2.5 Considerações finais

Algumas limitações do estudo devem ser consideradas, sendo a principal


o pequeno universo e amostra de gestores devido ao número de UBS do
município que atenderam ao critério de inclusão na pesquisa. No entanto,
algumas vantagens do estudo é o caráter investigativo com a população alvo
de gestores da área de saúde, tema que demonstrou ser escasso na literatura
brasileira, bem como, a comparação com profissionais de saúde presentes em
outros estudos nacionais e internacionais, incluindo estudos que realizaram
uma análise estratificada por regiões do Brasil.

Considerando a centralidade da Atenção Primária à Saúde, a maior


vulnerabilidade da região onde o estudo foi realizado, comparado a estados do
Sudeste e Sul do Brasil e a importância da gestão em saúde, os resultados
encontrados demonstram a necessidade de maior atenção à gestão em saúde.

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Matos, Jardim, Sales e Silva

Essa atenção deve enfocar tanto a seleção quanto a capacitação dos gestores,
assim como a necessidade de intervenções que promovam melhores condições
de trabalho e de saúde para os profissionais responsáveis por gerenciar as
Unidades Básicas de Saúde que são o espaço fundamental na APS brasileira
para promoção da saúde e prevenção de doenças.

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67
Capítulos 2 - Gestores da atenção primária à saúde: da indicação política para o cargo às condições de trabalho e de saúde
Matos, Jardim, Sales e Silva

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eating, physical activity and obesity prevention policies, practices or
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68
CAPÍTULO 3 Uma concepção oposta
efetivamente articulada para
EDUCAÇÃO além do capital não pode ser
confinada a um limitado número
PERMANENTE DA de anos na vida dos indivíduos,
GESTÃO DA ATENÇÃO mas, devido a suas funções
radicalmente mudadas, abarca-os
PRIMÁRIA À SAÚDE a todos. [...] O mesmo vale para as
práticas educacionais que
habilitem o indivíduo a realizar
essas funções na medida em que
sejam redefinidas por eles
próprios, de acordo com os
requisitos em mudança dos quais
eles são agentes ativos. A
educação, nesse sentido, é
verdadeiramente uma educação
continuada (MÉSZÁROS, 2005,
p.74s).

Márcia Schott
Luís Felipe de Souza Sales
Paulo Yure Nascimento Silva

3.1 Introdução

Desde 2004, o MS brasileiro tem implementado a PNEPS. Novas


diretrizes foram definidas com a Portaria 1996, de 20 de agosto de 2007, no
sentido de tentar efetivar a EPS nos serviços de saúde (BRASIL, 2007).

Passados mais de dez anos, torna-se imprescindível investigar se tais


modificações promoveram práticas educativas para os trabalhadores do SUS
contribuindo, assim, com o debate sobre os caminhos para educação dos
Recursos Humanos em Saúde (RHS)8.

A EPS foi proposta há pelo menos quarenta anos pela Organização Pan
Americana de Saúde (OPAS) como um dos pilares da gestão do trabalho em
saúde. É importante destacar que Ramos (2010, p. 65) considerou que a “ideia
de educação permanente difundida pela OPAS/OMS é tributária de propósitos

8 No capítulo 4, há uma maior discussão sobre a definição de Recursos Humanos em Saúde (RHS).

69
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

transformadores próprios ao setor saúde” e que no Brasil também se ganhou


contornos de centralidade para concretização da reforma sanitária que seria
dependente “de sujeitos sociais capazes de efetivar as mudanças propostas”
(RAMOS, 2010, p. 66). Ou seja, há um pressuposto de que a EPS seria um
instrumento mais de implementação de reformas na saúde que propriamente
de uma ação humanista em prol dos profissionais e trabalhadores do setor.

Mas consideramos que esse debate não retira da EP o caráter formador


e inclusivo que vem da educação de adultos expressa na Declaração de
Hamburgo9 de 1997:

[...] conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não, graças ao


qual as pessoas consideradas adultas pela sociedade a que pertencem
desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos,
e melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou as
reorientam de modo a satisfazerem as suas próprias necessidades e as
da sociedade (UNESCO, 1998, p. 7).

A EP é um pressuposto central de uma educação para a vida que


privilegia a dinâmica social como espaço de aprendizado contínuo e, neste
sentido, deve partir da experiência individual e coletiva dos trabalhadores
(SCHOTT, 2013). Compreendemos assim que a EPS vista como uma proposta
baseada no processo de trabalho para educação do trabalhador da saúde
poderia então, ser um dos instrumentos de fortalecimento da gestão no SUS.

A mudança na Política de EP ocorrida em 2007 manteve a centralidade


da locorregionalização das ações de EP dando aos Colegiados de Gestão
Regional (CGR) um papel condutor, com a participação das Comissões
Permanentes de Integração Ensino-Serviço (CIES). No estado de Sergipe (SE),
nordeste brasileiro, a CIES atua em parceria com a Fundação Estadual de Saúde
(FUNESA) criada em 2008 para coordenar as ações de Educação Permanente,
Educação Profissional, Pós-graduação e a elaboração de material didático
(SANTOS; TENÓRIO; KICH, 2011; MENEZES et al., 2016).

As ações de educação para os RHS devem prever as diversas áreas de


conhecimento necessárias para a realização das atividades profissionais e

9 Esta declaração resulta da V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (CONFINTEA), realizada em
Hamburgo, em julho de 1997, que teve como tema central “Aprender em Idade Adulta: uma chave para o Séc. XXI”.

70
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

também pessoais dos sujeitos envolvidos guardando o sentido precípuo da EP


que é a educação ao longo da vida que faça sentido para esse trabalhador que
necessariamente já é um indivíduo adulto. A EPS se inviabiliza se não fizer
sentido para esse indivíduo ainda que lhe seja necessária vis-à-vis sua inserção
no mundo. Lengrand (1981), em uma introdução ao tema da educação
permanente apontava:

Para o adulto, é completamente diferente. Excepto em certas


circunstâncias excepcionais, nenhuma autoridade exterior intervém
para o obrigar a estudar, a aperfeiçoar-se, a tornar-se um cidadão
melhor ou um pai de família mais bem informado e mais
compreensivo. Desde que não tenha compreendido bem o interesse
específico que para ele apresenta um certo tipo de esforço, no
domínio profissional, cívico ou cultural, abster-se-á. E mesmo quando
o inicia, é-lhe sempre possível desistir (LENGRAND, 1981, p. 54).

Ainda segundo o autor,

[...] para que a educação se encontre em condições de auxiliar os


homens a viver, tem ela própria de ser viva. O que em geral, desvia os
homens dos caminhos da educação não é somente o facto de exigir
esforços, trabalhos, uma aplicação persistente, mas também o não ter
sabido, até agora, salvo raras excepções, alimentar-se nas fontes da
vida e responder às suas exigências (LENGRAND, 1981, p. 64).

Considerando uma discussão histórica sobre a educação para os adultos


e a partir dela, entendemos que a EPS precisa trazer para os serviços, temas de
interesse e relevância, individuais e/ou coletivos, que talvez o trabalhador e,
mesmo o profissional em sua formação técnica ou superior, não tenha tido
sequer ainda oportunidade de conhecer, como conhecimentos sobre artes,
cultura, economia, relações humanas; e também aqueles temas mais
específicos do trabalho e imprescindíveis para melhoria da atenção à saúde
como governança, epidemiologia, DSS, violência doméstica, assistência social,
discriminação (racial, de gênero, social, religiosa, cultural e demais tipos), saúde
do trabalhador, segurança e vários outros.

Dentre tantos assuntos fundamentais para a APS, fazemos aqui um


recorte sobre a questão do impacto da discriminação histórica na saúde da
população negra que enfim levou à aprovação, em 2007, da PNSIPN, resultado
da luta dos movimentos sociais negros, principalmente a partir da década de
1980, pela melhoria das condições de vida a partir do combate ao racismo e

71
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

pelo fim das desigualdades raciais. Promulgada em 2009 pelo MS, a PNSIPN tem
como objetivo primordial a promoção da equidade racial no Brasil.

“A construção injusta e desigual da sociedade brasileira, estruturada sob


a exploração da mão-de-obra escrava de africanos e seus descendentes,
durante mais de três séculos, produziu marcas profundas. A abolição da
escravatura não representou reparação e muito menos equiparação social visto
que aos afrodescendentes não houve a compensação necessária para minimizar
os cruéis e intergeracionais efeitos da escravidão” (LACERDA, 2017, p. 27)

Justamente pelo exposto acima é que nessa pesquisa também se


investigou o racismo ou a discriminação devido à cor da pele na APS, e nesse
caso, a capacitação dada aos gestores sobre o tema. A visão dos gestores do
SUS sobre as Políticas de educação e capacitação dos RHS é essencial para
entender possíveis entraves existentes e adotar estratégias viáveis de ensino-
aprendizagem nos serviços de saúde em todos os níveis de atenção até pelo
argumento de ser a EPS também uma estratégia de gestão.

Nesse momento de grandes desafios tanto para a sustentabilidade


quanto para os avanços da Saúde Pública no Brasil e no mundo, ressaltados
mediante a epidemia da COVID-19, trazemos os resultados desse estudo que
objetivou conhecer a percepção de gestores de UBS sobre a EP e questões
relativas à discriminação e à saúde da população negra.

3.2 Gestão da saúde

Dentre as atribuições de um gestor da saúde foram citadas: acolhimento


e atendimento, parte administrativa e burocrática, organização e reivindicação:

● “Atender a população com carinho, amor e apoiar os profissionais


que trabalham no posto” (G2).

● “Administrar a unidade, direcionar no caso, as pessoas” (G7).

● “Reivindicar melhorias na Secretaria Municipal de Saúde” (G8).

72
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

● “Eu fico muito aqui na parte burocrática, mas a gente acaba se


envolvendo com um todo” (G10).

As principais dificuldades encontradas para a gestão mencionadas


foram principalmente aquelas que envolvem a relação profissional e as
questões políticas:

● “As principais dificuldades são com relação ao grupo de


funcionários [...] a maior dificuldade é você lidar com a equipe “(G4).

● “Às vezes, o gestor, no caso a nossa gestão hoje, é certo prefeito


que ganhou, aí a gestão anterior era de um outro prefeito, então
essas pessoas da gestão anterior têm certa rivalidade” (G10).

Ainda em relação às dificuldades entre profissionais, ficou evidente


também problemas referentes a concursados antigos por falta de
compreensão e resistência a mudanças:

● “Muitas pessoas aqui são concursadas antigas, próximo de se


aposentar e às vezes falta um pouco de comprometimento destes
funcionários” (G10).

Outra dificuldade relatada foi sobre a falta de recursos humanos e materiais:

● “Outra dificuldade é a demanda, porque a população que atendemos


é muito grande e acaba faltando recursos materiais” (G2).

Para melhoraria da gestão foi apontado maior investimento em recurso


material e humano:

● “Questão de investimento [...] às vezes falta material, às vezes


espera aquele tempo para fazer a licitação, quando essa licitação
vem essa demanda já aumentou” (G10).

Embora alguns dados sobre a gestão tenham sido também apresentados


no capítulo 1, reiteramos aqui algumas questões que consideramos mais
relacionadas à discussão da EPS. Na análise realizada, quanto ao vínculo
empregatício, 66% (n=10) referiu que são empregados remunerados

73
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

contratados sem carteira de trabalho assinada. Ao mesmo passo, 93% dos


profissionais assumiu o cargo por indicação política exercendo a função apenas
desde a nova gestão da prefeitura, somente um gestor disse ocupar a função
devido ao concurso público. Ressalta-se ainda que a imensa maioria dos
gestores 73% (n=11) referiu estar na gestão da UBS há menos de seis meses e
apenas 7% (n=1) disse estar há 7 meses, o que se justifica pelo fato de sua
entrevista ter sido realizada um mês após os demais gestores. Parte expressiva
(40%) sinalizou que não recebeu capacitação para investidura no cargo e
exercício da função (dados apresentados na tabela 2 do capítulo 2, e discutidos
também no mesmo capítulo).

Como discorrido no capítulo 2, a contratação temporária serve à


indicação política para preenchimento dos cargos e o clientelismo político é
considerado um nó crítico para a gestão do SUS (PAIM, 2007). Entendemos que
a alternância da gestão pode ser muito ruim para os serviços num cenário de
baixa escolaridade, pouca capacitação e interferências políticas principalmente
no âmbito do SUS, notadamente na APS, em que o trabalho interprofissional e
os vínculos com a comunidade e com os territórios são alicerces do cuidado em
saúde e da articulação ensino-serviço-comunidade tanto para formação quanto
para Educação Permanente que são, nessa perspectiva, indissociáveis (FORTE
et al., 2016; SCHOTT, 2018).

Corroborando com as questões suscitadas no capítulo 2 sobre as


condições de trabalho, também retomadas aqui, está o fato de poucos gestores
demonstrarem algum conhecimento sobre a EPS. Tal constatação agrava a
situação da educação nos serviços quando também a maioria dos entrevistados
declara desconhecer a CIES, instância criada para condução da PNEPS.

3.3 Educação permanente

Grande parte (40%; n=6) afirmou não ter recebido nenhuma capacitação
da SMS para o exercício da gestão. A maioria parece não ter compreensão sobre
a EPS, sendo que 33% (n=5) não soube responder. Dentre os gestores que
responderam, 33% (n=5) deu resposta bastante vaga:

74
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

● “Educação permanente seria a continuidade de tudo que se faz,


que se faz no dia a dia” (G15).

● “Educação permanente é uma área que na verdade tá muito longe


ainda de ser, por que a educação permanente vai depender dos
profissionais e dos usuários. [...] É muito bom chegar e dizer: é
educação permanente. Sim, e aí?” (G1).

Outros 14% (n=2) confundiu EPS com Educação Popular em Saúde:

● “Eu acho que está relacionado com as ações de educação em


saúde que são feitas pelas equipes de saúde da família,
principalmente pelos enfermeiros e Agentes Comunitários de
Saúde visando melhorar a qualidade de vida da população que
atendemos” (G2).

Alguns entrevistados aproximaram-se do conceito de EP, embora


apontando o sentido semântico do termo (20%; n=3):

● “[...] Pra mim seria isso, uma educação contínua” (G10).

● “[...] educação que acontece no decorrer do tempo e que sempre


vai acontecer” (G5).

Quando foi feita a pergunta sobre a PNEPS, nenhum entrevistado


(100%) soube falar a respeito. Alguns afirmaram conhecer, mas não
discorreram nada e outros realmente disseram desconhecer.

Sobre qual seria o público-alvo da PNEPS, somente um entrevistado (7%)


respondeu que seriam os profissionais de saúde:

● “Os profissionais da área de saúde [...] Por que assim, um


profissional de saúde, ele com essa política, acredito que ele vai
olhar ao próximo com mais diferencial” (G1).

Respostas que não condiziam com a Política foram as mais registradas,


havendo confusão entre quem é o público-alvo do serviço de saúde e quem
seriam os sujeitos da PNEPS:

75
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

● “A pobreza, as pessoas mais necessitadas” (G8).

● “Os adolescentes, né não? Os idosos [...]” (G7).

● “Os usuários, principalmente os que residem em locais mais


distantes e que apresentam uma situação de maior vul-
nerabilidade social” (G2)

● “Gestante é um público-alvo [...]” (G14).

Sobre a participação da SMS na EPS, 47% (n=7) a considerava boa, 20%


(n=3) excelente, 20 % (n=3) não soube responder e 13% (n=2) achou que
poderia melhorar.

● “Poderia melhorar, pois faltam muitos recursos humanos e


materiais e, na maioria das vezes, os profissionais custeiam” (G2).

● “Excelente, eles incentivam muito, no entanto, a gente precisa de


mais recursos materiais” (G5).

Sobre a CIES, 80% (n=12) dos gestores desconhecia sua existência, e


apenas 20% (n=3) disse ter ouvido falar sim dessa instância. Já sobre a FUNESA
foi ao contrário, 80% (n=12) afirmou já ter ouvido falar da instituição e 20%
(n=3) disse desconhecer.

É importante resgatar nesta discussão que na primeira fase do Projeto


Educar, do qual faz parte este estudo, ocorrida entre 2014 e 2016, Menezes et al.
(2016), Neves et al. (2016) e Jesus et al. (2016) identificaram que a alteração da
Política, em 2007, levou à criação de uma CIES em SE que realiza em conjunto com
a FUNESA, o Colegiado Intergestores Estadual, os Colegiados Intergestores
Regionais (CIR) e a SES, a articulação da EP nas sete Regiões de Saúde do estado.

A FUNESA era responsável pelas ações de formação profissional e EP e


realizava suas atividades pactuando-as junto a CIES (MENEZES et al., 2016). Foi
constatado que havia pouca interlocução da CIES e da FUNESA com o CIR da
Região Centro-Sul de SE (MENEZES et al., 2016). Observou-se ainda que as
atribuições da área de EPS da SMS do município aqui investigado diziam respeito

76
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

apenas a estágios supervisionados de universidades e emissão certificados sem


interlocuções com a CIES, a FUNESA ou a APS (JESUS et al., 2016).

Esses achados subsidiam os dados encontrados no presente estudo em


que se observa na fala dos gestores da APS maior conhecimento da FUNESA
que da CIES, mostrando que a instância prevista pela Política parece ser
secundária na sua condução no estado. A criação de uma Fundação para a
gestão da educação no âmbito do SUS é uma peculiaridade de SE que vai ao
encontro de um movimento que tem ocorrido em outros estados e alguns
municípios de compartilhar a gestão do SUS com Fundações Públicas de poder
público ou mesmo de direito privado como é o caso da FUNESA, da Fundação
Hospitalar de Saúde (FHS) e da Fundação de Saúde Parreiras Horta (FSPH)
criadas em SE (SANTOS; TENÓRIO; KICH; 2011; PAES, 2009; SANTOS;
AMARANTE, 2011).

Essa inovação na gestão da Saúde Pública tem sido objeto de grande


controvérsia que extrapola as questões da natureza jurídica e se preocupam
com uma nova governança do Estado sob a égide de operacionalização das
políticas públicas (SILVA; LIMA; TEIXEIRA, 2015).

Não obstante, as três Fundações Públicas criadas em SE para gestão da


saúde tem sido alvo de questionamentos junto ao poder público e tem
funcionado até mesmo sob acordo judicial, no caso da Fundação Hospitalar de
Saúde (SES/SE, 2015; MP, 2016).

3.4 Atenção à saúde da população negra

Perguntados se conheciam a PNSIPN, 87% (n=13) disse desconhecer,


13% (n=2) afirmou que já ouvira falar ou que tinha conhecimento.

Todos os gestores (100%; n=15) afirmaram não ter recebido qualquer


capacitação sobre a PNSIPN.

● “Não. Acho que essas capacitações só existem em Unidades com


população quilombola” (G 2).

77
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

● “Não, não é qualificado sobre cor, raça ou posicionamento social.


Não me recordo” (G3).

● “Até o momento que eu entrei não. Têm cinco meses só que eu


estou atuando, então até esse momento ainda não” (G10).

A falta de capacitação para atuação na gestão e sobre a EP é bastante


preocupante, agravada pela constatação do desconhecimento da PNSIPS pela
maioria dos gestores e pela total falta de capacitação para atenção à saúde da
população negra nas UBS participantes da pesquisa. Vale destacar que, nesse
estudo, os gestores majoritariamente se autodeclararam negros (87%), indo ao
encontro da prevalência de pessoas negras no Brasil, conforme apontam os
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua), de 2018, em que 9,3% da população era preta e 46,5% parda,
perfazendo um total de aproximadamente 56% de negros (BRASIL, 2019).

Em estudo acerca do conhecimento da população em relação à PNSIPN


no município de Juiz de Fora (MG), Neto (2010) observou que a maioria
(90,5%) da amostra de profissionais analisada não conhecia a PNSIPN. Essa
realidade aponta que mesmo tendo avanços na legislação brasileira, o poder
executivo tem grande dificuldade em efetivar políticas públicas, visto que
atores cruciais como gestores e profissionais da APS não possuem
conhecimento sobre a existência de políticas basilares para atuação profis-
sional e a promoção da equidade.

Entendemos que a qualificação dos recursos humanos em saúde


inclusive da gestão tem que ser uma prioridade para o enfrentamento dos
desafios estruturais e cotidianos do SUS principalmente em um momento
histórico de fortalecimento do neoliberalismo no país que põe em riscos
direitos sociais já conquistados (LEMOS, 2016).

3.5 Considerações finais

Percebe-se que a capacitação dos recursos humanos em saúde ainda é


deficiente mesmo diante de Políticas instituídas pelo MS como a PNEPS e a

78
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

PNSIPN. No caso estudado, a educação dos profissionais e trabalhadores a


partir do trabalho para reorganização das práticas é muito pouco conhecida e
utilizada como estratégia para gestão do trabalho mesmo contando com uma
Fundação para este fim. E nesse contexto é premente a reflexão sobre a
avaliação dessas instituições que cada vez mais estão assumindo a gestão da
Saúde Pública no país.

Nota-se que a indicação política para o cargo e ainda sem capacitação


para o exercício profissional, pode manter a fragilidade na superação das
iniquidades em saúde dificultando a implementação de novas diretrizes
nacionais ou mesmo de propostas locais para gestão do trabalho e da atenção
à saúde de grupos historicamente mais vulneráveis como a população negra.

Diante das exigências requeridas dos RHS e dos serviços públicos e


privados ainda mais evidentes pelo advento da COVID-19, mais pesquisas e
esforços serão necessários para melhor compreender as necessidades da
gestão da saúde e propor estratégias de EPS.

79
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

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estudos e parecer. Campinas: Saberes, 2009. p. 123-186.

81
Capítulos 3 - Educação permanente da gestão da atenção primária à saúde
Schott, Sales, Silva

PAIM, Jairnilson Silva; TEIXEIRA, Carmen Fontes. Configuração institucional e


gestão do Sistema Único de Saúde: problemas e desafios. Ciência & saúde
coletiva, v. 12, p. 1819-1829, 2007.
RAMOS, Marise Nogueira et al. Trabalho, educação e correntes pedagógicas
no Brasil: um estudo a partir da formação dos trabalhadores técnicos da
saúde. EPSJV, 2010.
SANTINI, Stela Maris Lopes et al. Perfil dos profissionais das equipes de saúde
da família em municípios de pequeno porte de uma regional de saúde do
Paraná e suas condições de trabalho. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO
PÚBLICA, 3., 2011, Brasília. Anais [...]. Brasília: Conselho Nacional de
Secretários de Estado da Administração, 2011.
SANTOS, Cláudia Menezes; TENÓRIO, Flavia Priscila Souza; KICH, Francis Deon.
Educação permanente em saúde no estado de Sergipe: saberes e
tecnologias para implantação de uma política. Aracaju: Funesa, 2011.
SANTOS, Nelson Rodrigues dos; AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho.
Gestão pública e relação público privado na saúde. 2011. p. 300.
SCHOTT, Márcia. Articulação ensino-serviço: estratégia para formação e
educação permanente em saúde. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no
Contexto Social, v. 6, n. 2, p. 264-268, 2018.
SCHOTT, Márcia; BAGNATO, Maria Helena Salgado. Educação permanente
em saúde-implementação da Política no estado de São Paulo. 2013. Tese
(Doutorado em Educação), Universidade de Campinas, São Paulo.
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE. Conselho Estadual de Saúde. Ofício CES
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SILVA, V. M. da; LIMA, S. M. L.; TEIXEIRA, M. Organizações Sociais e Fundações
Estatais de Direito Privado no Sistema Único de Saúde: relação entre o público
e o privado e mecanismos de controle social. Saúde debate, v. 1 n. 39, p. 145-
159, ago. 2015.

82
CAPÍTULO 4 Cumpre lembrar que o SUS é
movido de gente. E não tem sido
RECURSOS HUMANOS dessa forma cuidadosa que as
áreas econômicas e os ministérios
DA ATENÇÃO PRIMÁRIA e secretarias sistêmicos de
À SAÚDE: vínculos de governos têm tratado as pessoas
que trabalham no SUS. Enquanto
trabalho, inatividade a questão das pessoas que nele
trabalham e nele se realizam
física e morbidades como sujeitos não for
referidas equacionada, não haverá milagres
na gestão, na gerência e na
prestação de serviços (PAIM,
2009, p. 130).
Renata Jardim
Luiz Eduardo Oliveira Matos
Daniela Souza da Silva

4.1 Introdução

Tanto trabalhadores quanto profissionais do setor saúde são


comumente tratados como Recursos Humanos em Saúde (RHS). Essa área
compreende dimensões diversas:

[...] composição e distribuição da força de trabalho, formação,


qualificação profissional, mercado de trabalho, organização do
trabalho, regulação do exercício profissional, relações de trabalho,
além da tradicional administração de pessoal (VIEIRA, 2008, p. 343).

De acordo com Machado (1995), a profissão pode ser entendida como


uma ocupação,

[...] cujas obrigações criam e utilizam de forma sistemática o


conhecimento geral acumulado na solução de problemas
postulados por um cliente (tanto individual como coletivo) [...] a
autoridade profissional é centrada no profissional que detém o
conhecimento especializado para o problema específico do cliente.
Diferencia-se de atividade profissional que seria “um conjunto de
conhecimentos novos mais fortemente relacionados à esfera
ocupacional (MACHADO, 1995, p. 18).

O MS considera que o profissional de saúde é aquele:

“[...] que, estando ou não ocupado no setor da Saúde, detém formação


profissional específica ou qualificação prática ou acadêmica para o

83
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

desempenho de atividades ligadas diretamente ao cuidado ou às ações de


saúde” (BRASIL, 2009, p. 36).

Já o trabalhador de saúde não detém formação específica neces-


sariamente na área da saúde, “mas se insere direta ou indiretamente na
prestação de serviços de saúde [...]” (BRASIL, 2009, p. 49). Entende-se, portanto,
que profissionais e demais trabalhadores que atuam no setor saúde são
considerados RHS.

A Força de Trabalho em Saúde (FTS) tem sido cada vez mais entendida
como um nó crítico para melhorias da atenção à saúde no mundo,
principalmente, em países menos desenvolvidos (PORTELA et al., 2017). Em
2020, o quantitativo de RHS bem como sua capacitação e condições de
trabalho, ganharam centralidade no debate mundial a respeito do
enfrentamento da COVID-19. Nesse contexto, para além da importância dos
profissionais da alta complexidade, tem-se também questionado o devido
preparo da APS em um momento tão crítico, uma vez que é a porta de entrada
na RAS. Vivendo ou não uma situação de calamidade na Saúde Pública, faz-se
necessário destacar a importância de se valorizar seus profissionais e
trabalhadores dando as condições necessárias para o acolhimento das famílias
e indivíduos dos territórios adscritos.

Vale lembrar, no contexto desse estudo, que na APS a ESF pode ser
entendida como uma abordagem de prestação de cuidados primá-
rios/essenciais às populações por meio de eSF compostas por, no mínimo, um(a)
médico(a) (de preferência com especialidade em Medicina da Família e
Comunidade), um(a) enfermeiro(a) (preferencialmente com especialização em
Saúde da Família), técnico e/ou auxiliar de enfermagem e ACS. Os profissionais
de Saúde Bucal, como cirurgião-dentista (preferencialmente com especializa-
ção em Saúde da Família) e ACE podem estar presentes nas eSF.

As ações de Saúde do Trabalhador (ST) presentes no SUS são diversas,


desde ações de vigilância dos riscos existentes nos ambientes e condições de
trabalho, dos agravos à saúde e da organização e prestação de assistência aos
trabalhadores, à disponibilização de procedimentos de diagnóstico, tratamento e

84
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

reabilitação, dispostos na Lei 8.080/90, objetivando a promoção e proteção da


saúde (ORTIGA et al., 2011).

Em 2012, o MS do Brasil instituiu a Política Nacional de Saúde do


Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), definindo os princípios, as diretrizes e
as estratégias a serem observados pelas três esferas da gestão dos serviços de
Saúde Pública (BRASIL, 2012). Essa política surge com o objetivo de fortalecer
a ST no SUS e servir de instrumento de operação das mesmas, pressupondo que
as ações sejam desenvolvidas na APS e, principalmente, em aos outros níveis de
atenção à saúde.

É reconhecido que o profissional de saúde também está em processo de


adoecimento e, muitas vezes, não recebe a devida atenção para cuidar de si
mesmo. Desta forma, diminui-se o poder de cuidar melhor do outro,
demonstrando a necessidade do reconhecimento e compreensão do trabalhador
e profissional de saúde, como usuários dos serviços de saúde e do trabalho
enquanto determinante do processo saúde-doença (COSTA et al., 2013).

Estudos demonstram que os problemas de inserção da ST no SUS podem


ser observados em todos os níveis de atenção (primário, secundário e terciário),
principalmente, na assistência e vigilância à saúde, na gestão dos serviços e na
condução de políticas locais e programáticas. Em tais estudos, também é
mencionado acerca da marginalização da ST no SUS ao longo dos anos
(VASCONCELLOS; MACHADO, 2011; DIAS, 2013).

A invisibilidade desses fatores nos serviços públicos de saúde, em


especial na APS, contribui de forma significativa para que o trabalhador,
enquanto usuário permaneça desassistido e marginalizado (SILVA et al.,
2016). É fundamental compreender que a qualidade do serviço de saúde e do
cuidado em saúde, estão intrinsecamente atrelados às condições de trabalho
dos RHS (DAU, 2012).

Diante da relevância de se conhecer e atentar para as condições de


trabalho e saúde da FTS, principalmente das eSF, o presente capítulo apresenta
resultados de uma pesquisa na qual se objetivou analisar as condições de

85
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

trabalho e de saúde de Recursos Humanos da APS de um município no interior


do nordeste brasileiro.

4.2 Perfil sociodemográfico dos participantes – profissionais e


trabalhadores da APS

Dentre os trabalhadores e profissionais da APS do município investigado


(n=495), a maioria 53% (n=260) participou deste estudo10. Entre os
participantes, 83,8% (n=218) era do sexo feminino, 15,7% (n=41) do sexo
masculino, e 0,5% (n=1) transexual. Quanto à identidade de gênero, 83,5%
(n=213) se autodeclou do sexo feminino e 16,5% (n=42) masculino. A média e
mediana de idade dos participantes foi de 35 anos (19 – 60 anos).

Sobre a orientação sexual, 97,8% (n=223) declarou ser heterossexual,


1,7% (n=4) homossexual, 0,5% (n=1) bissexual. Quanto à cor da pele, 84%
(n=215) dos entrevistados se autodeclarou negro (80%; n=205 pardos e 4%;
n=10 pretos), 13% (n=34) branco e 3% (n=7) amarelo.

Quanto ao local de moradia, 55% (n=135) dos participantes residia na


zona urbana e 45% (n=110) em zona rural. Em relação à situação conjugal,
43,5% (n=112) estava casado, 41% (n=105) solteiro, 8,5% (n=22) em união
estável, por período acima de 6 meses e, 7% (n=18) separado ou divorciado.

Quanto à escolaridade, 50% (n=122) tinha Ensino Médio, 26% (n=64)


Superior, 9,8% (n=24) Técnico, 9,8% (n=24) Especialização, 3,6% (n=9)
Fundamental e 0,8% (n=2) Mestrado.

Quando questionados acerca da religião, 71% (n=182) se declarou


católico, 16% (n=40) evangélico e 4% (n=11) espírita. Além disso, 7% (n=18)
afirmou não ter uma religião e 2% (n=5) relatou seguir uma denominação
religiosa diferente das apresentadas (Católica, Evangélica e Espírita), sem
especificá-la (Tabela 1).

10 Trata-se da amostra obtida no Fórum descrito na Apresentação.

86
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Tabela 8. Distribuição sociodemográfica de profissionais e trabalhadores da


Atenção Primária à Saúde de um município sede de uma Região de
Saúde no estado de Sergipe, Brasil (2017).
Dados sociodemográficos n %

Sexo

Feminino 218 84,0

Masculino 041 16,0

Gênero

Feminino 213 83,5

Masculino 042 16,5

Orientação sexual

Heterossexual 223 97,0

Homossexual 004 2,00

Bissexual 001 0,50

Idade (em anos)

19 - 29 072 29,0

30 - 39 097 39,0

40 – 49 065 28,0

50 - 60 016 6,00

Cor

Branco(a) 034 13,0

Preto(a) 010 4,00

Amarelo(a) 007 7,00

Moreno/pardo 205 80,0

Escolaridade

Ensino Fundamental 009 3,60

Ensino médio 122 50,0

Ensino técnico 024 9,80

Ensino superior 064 26,0

Especialização 024 9,80

Mestrado 002 0,80

Estado civil

Casado(a)/Parceiro(a) 112 43,5


União estável 022 8,50
Solteiro(a) 105 41,0

Separado(a)/Divorciado(a) 018 7,00

Residência

Área rural 135 55,0

Área urbana 110 45,0

Religião

Sem religião 018 7,00

Católica 182 71,0

Evangélica 040 16,0

Espírita 011 4,00

Outra 005 2,00

Total 260 100


Fonte: Elaboração própria.

87
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

No presente estudo, foi notado que a maioria dos participantes (84%;


n=218) era do sexo feminino. Outros estudos também encontram resultados
semelhantes (TOMASI et al., 2008; SANTOS, 2012; PINTOM et al., 2015; MOREIRA
et al., 2016). Tal situação pode ser entendida através da compreensão da
feminização das profissões de cuidado, resultando nessa maior predominância do
sexo feminino entre trabalhadores e profissionais da APS e da eSF.

A média e mediana de idade dos participantes foi de 35 anos (19-60


anos), com maior concentração entre 30 a 39 anos (39%; n=97), seguido de 28%
(n=65) de indivíduos entre 40-49 anos. Tomasi et al. (2008) demonstraram que
a média de idade foi de 38 anos para a região Nordeste, e 37 para a região Sul.
Em pesquisa realizada por Santos (2012), a maior prevalência também foi de
trabalhadores entre a faixa etária de 30 a 39 anos.

A maior parcela (80%; n=205) dos participantes se autorreferiu como


parda. Como exposto no Capítulo 3, a elevada prevalência de negros entre
profissionais da APS pode estar relacionada também à forte presença de
comunidades quilombolas no estado (LACERDA, 2017).

Notou-se que 55% dos profissionais mora na zona urbana, onde reside
52% da população do município (BRASIL, 2017). Conforme descrito na
apresentação, contando com aquelas UBS que não tem eSF permanente, a APS
conta com um total de 9 UBS urbanas e 14 UBS rurais; a SMS utiliza veículos
próprios para levar os profissionais e trabalhadores aos locais de atendimento
conforme agenda mensal. Ressalva é feita quanto aos ACS que geralmente
residem na microárea ou proximidades; e, mesmo que atenda uma população
mais distante, sua locomoção se dá por conta própria.

A dificuldade de locomoção dos trabalhadores para atendimento de


populações mais isoladas é um entrave na atenção e faz parte da precarização do
trabalho em saúde. Pessoa, Almeida, Carneiro (2018) alegam que há um déficit
mundial de RHS nas áreas rurais e que as eSF precisam realizar atendimentos
domiciliares para amenizar a dificuldade de acesso dos usuários às UBS; e, se esse
trabalho não for devidamente realizado, as comunidades irão fazer o caminho
inverso, ou seja, irão enfrentar estradas ruins e a falta de transportes em situações

88
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

de adoecimento para conseguirem um atendimento que, nessas condições, acaba


sendo fora da APS, geralmente na emergência hospitalar.

Em relação à escolaridade, 50% (n=122) possuía ensino médio, e


aproximadamente 11% (n=26) tinha algum tipo de especialização. Estudo de
Tomasi et al. (2008) demonstraram 86,8% de especialização entre os
profissionais de saúde. No entanto, Pintom et al. (2015) apresentaram um
resultado semelhante ao presente estudo. Nesse prisma, sugere-se a
necessidade de a gestão municipal incentivar a EPS tanto no seu aspecto
formal, quanto nas ações de educação, no cotidiano dos serviços.

O tema da educação dos trabalhadores da saúde, também já foi


investigado no município de Lagarto (Capítulo 4), onde identificou-se que havia
dificuldades na interlocução das instâncias responsáveis pela EPS tanto no
estado, quanto no município dificultando assim as ações de capacitação dos
recursos humanos em todos os níveis da atenção, principalmente na APS.

4.3 Condições de trabalho

Observou-se uma elevada rotatividade dos trabalhadores nas Unidades


de Saúde: 44% dos participantes referiu tempo de trabalho inferior a 12 meses.
Apenas 35% da amostra apresentava tempo igual ou maior do que 5 anos
(P65=60 meses). A mediana do tempo de trabalho na Unidade atual foi de 40
meses, a média 74 meses, com variação expressiva entre o menor e maior valor:
1 a 360 meses (Tabela 2).

Quase a metade dos entrevistados era ACS (n=111; 46%). A segunda


maior representatividade foi de Técnicos de Enfermagem (n=25; 10%), seguida
de Enfermeiros (as) (n=17; 6%). A prevalência de outras ocupações pode ser
observada na Tabela 2.

Vínculo empregatício precário foi observado em 44% dos trabalhadores


(contratos e terceirização). Quase um terço dos assalariados relatou algum grau de
insatisfação com o trabalho (31%); 39% demonstrou insatisfação com a qualidade
de vida no trabalho e 45% referiu menor motivação para o trabalho (Tabela 2).

89
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Tabela 9. Distribuição dos profissionais e trabalhadores da Atenção Primária à


Saúde e de suas condições de trabalho, em um município sede de
uma Região de Saúde, no estado de Sergipe, Brasil (2017)
Dados ocupacionais n %
Ocupação
Agente administrativo 007 3,00
Agente Comunitário de Saúde 111 46,4
Agente socioeducativo 001 0,40
Assistente social 001 0,40
Coordenador (a) 008 3,50
Digitador (a) 004 2,00
Enfermeiro (a) 017 7,00
Estudante 013 5,50
Fisioterapeuta 001 0,40
Gerente 005 2,00
Médico (a) 007 3,00
Profissional da farmácia (setor) 002 0,80
Recepcionista 018 7,50
Serviços gerais 009 4,00
Técnico (a) de Enfermagem 025 10,0
Técnico (a) em saúde bucal 006 2,50
Vigilante 004 1,60
Tempo de trabalho na Unidade atual (meses)
1 - 12 112 48,0
13 - 60 041 18,0
61 - 360 080 34,0
Vínculo empregatício
Concurso 136 56,0
Contrato 106 43,5
Terceirização 001 0,50
Satisfação com o trabalho
Plenamente satisfeito/Satisfeito 173 69,0
Relativamente Satisfeito 064 25,0
Insatisfeito/Muito insatisfeito 014 6,00
Motivação para trabalhar
Alta/Muito alta 136 55,0
Regular 082 33,0
Baixa/Muito baixa 028 12,0
Qualidade de vida no trabalho
Plenamente satisfeito/Satisfeito 151 61,0
Relativamente satisfeito 072 29,0
Insatisfeito/Muito insatisfeito 024 10,0
Fonte: elaboração própria.

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Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Na amostra estudada, quase metade dos entrevistados era ACS (n=111;


46%). A prevalência e o protagonismo dos ACS na APS podem ser observados
em outros estudos (KNOB PINTOM et al., 2015; MOREIRA et al., 2016). É
importante frisar que o ACS desempenha um importante papel na
integralidade do cuidado, visto que, pode ser entendido como um símbolo de
vínculo entre eSF e a comunidade, já que supera a dicotomia e hierarquização
entre “ser da comunidade” e “ser da Equipe de Saúde” (MACIAZEKI-GOMES et
al., 2016; BARBOSA et al., 2019).

O vínculo empregatício precário foi observado em 44% dos trabalhado-


res (contratos e terceirização). Quase um terço dos assalariados relatou algum
grau de insatisfação com o trabalho (31%); 39% demonstrou insatisfação com
a qualidade de vida no trabalho e 45% referiu menor motivação para o trabalho.
Também se notou uma elevada rotatividade nas Unidades de Saúde: 44% dos
participantes referiu tempo de trabalho inferior a 12 meses. No Sul, Moreira et
al. (2016) observou 61,4% (n=51) de rotatividade entre profissionais,
considerando o tempo entre seis meses a cinco anos.

A alta rotatividade de profissionais de saúde na APS é um fator relevante


de não sustentabilidade do PSF e da ESF e pode contribuir com o aumento do
índice de precarização do trabalho, descompromisso e insatisfação dos
profissionais com a instituição de saúde e com a qualidade de cuidado
desenvolvido, o que resulta numa pior assistência à saúde prestada. O alto nível
de rotatividade expressado no estudo também demonstra a forma que os
profissionais de saúde do município são afetados pela instabilidade político-
administrativa e partidária, acentuando a precarização do trabalho, e
desestabilizando a contínua Reforma Sanitária no Brasil (JUNQUEIRA et al., 2010).

4.4 Condições de Saúde

A autoavaliação de saúde negativa foi referida por 39% dos assalariados;


mais de um terço dos participantes tinham morbidades referidas, sendo as
afecções cardiovasculares as mais prevalentes (Tabela 3).

91
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

A disfonia nos últimos 15 dias anteriores à pesquisa esteve presente em


36% dos assalariados e o Índice de Massa Corporal (IMC) inadequado em 50%
da amostra. Considerando aspectos do estilo de vida, a prevalência da
suspeição de uso crônico de álcool foi de 8%; da inatividade física 74% e do
tabagismo, atual ou passado, 8% (Tabela 3).

92
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Tabela 10. Condições de saúde e estilo de vida de profissionais e trabalhadores


da Atenção Primária à Saúde de um município sede de uma Região
de Saúde, no estado de Sergipe, Brasil (2017)
Condições e estilo de vida n %
Autoavaliação de saúde
Muito boa/boa 156 61,0
Regular 089 34,0
Ruim/Muito ruim 012 5,00
Morbidades Referidas
Não 171 66,0
Sim 089 34,0
Perfil de Morbidades Referidas
Diabetes 006 5,00
Afecções Cardiovasculares 038 33,7
Lesões por Esforços Repetitivos/DORT 036 32,0
Síndrome de Burnout 002 1,80
Depressão 013 11,5
Outras 018 16,0
Depressão (Beck clássica)
Sem depressão 245 94,0
Com depressão 015 6,00
Depressão (Beck APS)
Sem depressão 225 87,0
Com depressão 035 13,0
Disfonia
Sem disfonia 162 64,0
Com disfonia 090 36,0
IMC
Adequado 102 50,0
Inadequado* 102 50,0
Estilo de vida
Atividade física (IPAQ) 068 26,30
Regularmente ativo 191 73,70
Insuficientemente ativo 012 4,90
Tabagismo
Não fumante 237 92,0
Ex-fumante 010 04,0
Fumante atual 011 04,0
Suspeição de uso crônico de álcool (CAGE)
Não 093 60,0
Sim 014 08,0
Total 246 100
Fonte: Elaboração própria.
Obs.: Existiam apenas 3 trabalhadores abaixo do peso (1%), o restante tinha sobrepeso
(38%) ou obesidade (11%).

93
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Quanto às condições de saúde, o estudo evidenciou que pouco mais de


um terço (34%; n=89) dos profissionais tinha morbidades referidas, sendo as
afecções cardiovasculares as mais prevalentes (33,7%; n=38). Como se sabe,
devido à transição epidemiológica no Brasil, mesmo com natureza não
unidirecional ou de contra transição epidemiológica, os dados demonstram
aumento das doenças crônico degenerativas, como as afecções
cardiovasculares (SCHARAMM et al., 2004).

Os resultados de Morbidade Referida nos profissionais de saúde


demonstram, de forma clara, que o Estado não é capaz de desenvolver e/ou
aplicar estratégias realmente efetivas da inserção da Saúde do Trabalhador e
Trabalhadora no SUS, tornando a prevenção dessas doenças e agravos ineficaz,
o que pode levar a complicações de saúde entre os trabalhadores e
profissionais, reduzindo, por exemplo, a qualidade de vida. A autoavaliação de
saúde negativa, por exemplo, foi referida por 39% dos assalariados.

Considerando os aspectos do estilo de vida, a prevalência da suspeição


de uso crônico de álcool e do tabagismo atual ou passado foi de 8%.
Investigação de Pintom et al. (2015) demonstraram prevalências semelhantes
com relação ao tabagismo e etilismo. Segundo os autores:

A condição econômica é determinante para a sustentabilidade de


hábitos de vida saudáveis, investimento em práticas de exercício
físico, regular acompanhamento médico e atividades de lazer e
investimento na capacitação profissional (PINTOM et al., 2015, p. 7).

A inatividade física foi prevalente em 74% dos profissionais, e


aproximadamente 84% era do sexo feminino. A inatividade física pode ser
compreendida também pelo processo de feminização. Devido às duplas e
terceiras jornadas de trabalho, que compreendem os trabalhos domésticos, as
mulheres possuem tempo inexistentes ou reduzidos para a atividade física no
lazer. Também existem outros fatores relacionados à inatividade física, como
foi apresentado no Capítulo 1 anteriormente.

É importante relacionar também a elevada prevalência de afecções


cardiovasculares, que podem estar associadas a maior prevalência de IF, e
assim, com a predominância de IMC inadequado. Como explicitado no Capítulo

94
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

3, existe uma relação entre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (em


especial os agravos cardiovasculares), a inatividade física, e o IMC acima do
saudável (pois o excesso de adiposidade é um fator de risco para as doenças
cardiovasculares) (ASSUNÇÃO, 2012).

Entende-se assim que o incentivo à adoção de atividades físicas implicará


justamente na redução das doenças relacionadas ao sedentarismo, o que
melhora a qualidade de vida do trabalhador e, também, reduz custos
assistenciais no presente, pois, o trabalhador se sente melhor para
desempenhar suas atividades e, no futuro, evitam-se afastamentos e
tratamentos mais complexos (ASSUNÇÃO, 2012). A promoção da atividade
física e da alimentação balanceada entre os trabalhadores da saúde precisa
estar na agenda das SMS e nas políticas elaboradas pelo MS.

Em relação à Saúde Vocal, encontrou-se prevalência de 36% de disfonia


entre os investigados. Essa prevalência foi similar aos registros em outras
categorias profissionais, tais como, em docentes (33%; ASSUNÇÃO et al., 2012)
e em cobradores e motoristas de ônibus urbanos (29%), na cidade de Belo
Horizonte (ASSUNÇÃO et al., 2013) e na mesma região (MEDEIROS et al., 2008).
Também foi relativamente próxima à encontrada em investigação realizada
com 65 ACS de São Paulo (rouquidão: 33% e cansaço ao falar: 32%) (CIPRIANO
et al., 2013). Entretanto, a taxa encontrada foi mais elevada do que a observada
em cantores (23%) (WILLIAMS, 2003).

Cerca de um terço das profissões têm a voz como ferramenta básica de


trabalho (VILKMAN, 2004; FORTES et al. 2007), e, os profissionais de saúde,
estão incluídos entre os profissionais da voz (BRASIL, 2018). Os distúrbios
Vocais Relacionados ao Trabalho (DVRT) são multicausais e estão associados a
diversos fatores que podem desencadear ou agravar o quadro de alteração
vocal do trabalhador. Fatores ambientais e organizacionais do trabalho e
aspectos individuais atuam como determinantes sociais ou fatores de risco para
os DVRT (BRASIL, 2018). Os DVRT estão associados a absenteísmo e outras
comorbidades e, por isso, suscita investigações e intervenções devido aos
impactos sociais e econômicos (FERREIRA, 2003; GIANNINI, 2013).

95
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

Ressalta-se também, que os DVRT podem estar associados a sofrimentos


psíquicos, relacionados às exigências e demandas do trabalho (BRASIL, 2018),
tais como: atender as necessidades profissionais, mesmo frente às condições
de trabalho inadequadas, medo do desemprego, falta de informação ou clareza
na definição das atividades e dos resultados esperados ou o estabelecimento
de objetivos que excedem as capacidades do trabalhador etc.

Essas situações são possivelmente vivenciadas pelos trabalhadores e


profissionais da saúde investigados, conforme demonstrado nas condições de
trabalho pesquisadas: vínculo empregatício precário (44%), insatisfação com o
trabalho (31%), insatisfação com a qualidade de vida no trabalho (39%), menor
motivação para o trabalho (45%), alta rotatividade nas UBS (44%).

A depressão foi positiva em 6% dos participantes e em 13%, quando


utilizado metodologia de análise de escore com melhor sensibilidade para
profissionais da APS (Beck Depression Inventory – Primary Care). Destaca-se
também que 11,5% dos participantes referiu a depressão entre as morbidades.

O Transtorno Depressivo (TD) pode ser entendido como um


prolongamento de sintomatologia depressiva e instabilidade no humor. Sua
patogenia passou a ser mais entendida quando, entre 1940 e 1950, os fármacos
que interferem no Sistema Monoaminérgico Central da Serotonina (5-HT) e da
Norepinefrina demonstraram melhora ou reversão em pacientes com
sintomatologia depressiva. Assim, surgiu a Teoria Monoaminérgica da
Depressão (TMD). A TMD disserta sobre a diminuição patológica de longo prazo
da neurotransmissão das monoaminas. Apesar de aceita, a TMD apresenta
limitações para explicar a patogenia do TD, principalmente a demora não
explicada no início de ação de fármacos antidepressivos (GOLAN, 2014).

Apesar da TMD, sabe-se que a saúde mental não é apenas um efeito de


ordem individual e exclusivamente biológica. De acordo com o Draft
Comprehensive Mental Health Action Plan 2013-2020, publicado pela OMS em
2013, a saúde mental é influenciada pela coexistência e influência mútua entre
fatores biológicos, genéticos, sociológicos, psicológicos, culturais e ambientais,
além da qualidade e condições de vida relativas à renda, emprego, habitação,

96
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

transporte, educação, assistência social e outros, sendo todos esses fatores,


importantes indicadores que resultam em impactos diretos e indiretos na
saúde mental e na qualidade de vida (OMS, 2013) dos indivíduos. Assim a
publicação da OMS retoma a relação entre desenvolvimento ou agravo de
transtornos mentais, como o TD e a Determinação Social de Saúde (DSS).

Nesse contexto, sabe-se que o TD é de ocorrência multifatorial, como


alterações fisiopatológicas nas monoaminas (GOLAN, 2014), polimorfismos
genéticos específicos na região promotora do gene transportador de
serotonina (SLC6A4), bem como decorrente de demandas psíquicas
emocionais, como o estresse, perda de genitores na infância, abandono
parental e emocional, divórcio, abusos (físico e sexual) e outros traumas. A
vivência de estressores se associa com o maior risco de transtornos de humor,
ansiedade e de personalidade na idade adulta (MELLO et al., 2003).

Os fatores sociais são os principais promotores do TD. Estudo de Mello et


al. (2007) mostrou que pacientes com TD apresentam concentrações aumentadas
de cortisol em fluidos biológicos. Essa nova perspectiva sobre a hipercortisolemia
e o TD se converge a uma direção: os casos de TD dependem do tipo e gravidade
da doença, do genótipo do paciente, do seu histórico de traumas, rotina (estresse
e trabalho) e outros fatores, levando à crença de que existem fatores sociais e
biológicos que resultam em vulnerabilidade à depressão.

As condições de trabalho influenciam no desenvolvimento da depressão.


O estresse e as demandas psíquicas vivenciadas nos ambientes de trabalho por
profissionais e trabalhadores de saúde também funcionam como agentes
vulnerabilizantes, assim como condições de trabalho difíceis e a falta de
reconhecimento profissional. O sentimento de culpa e proximidade da morte e
demais dificuldades presentes nos âmbitos de saúde são fatores fragilizantes
mais prevalentes (MERLO; SILVA, 2004; CARVALHO, 2004). Em adição, alguns
estudos mostram que as graduações em ciências de saúde não contribuem para
o suporte psicológico necessário durante a atuação profissional, esquecendo
de que quem cuida também precisa de cuidado. As instituições focam em
tecnicismo, currículo, objetividade e racionalidade (GOMES; OLIVEIRA, 2013;
GOMES et al., 2015; SILVA et al., 2015). Conclui-se assim que o estresse e as

97
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

demandas psíquicas emocionais, as quais os profissionais e trabalhadores de


saúde são submetidos, podem contribuir para o desenvolvimento de doenças
psiquiátricas relacionadas ao ambiente de trabalho.

Assunção (2012) destacou que a atividade física é protetora da saúde do


trabalhador, pois, previne uma série de doenças, inclusive, a depressão e
ansiedade. Vale a pena retomar a elevada prevalência da inatividade física
(74%) na amostra, principalmente, entre o sexo feminino. Estudo realizado por
Siqueira et al. (2009) encontrou prevalência de 21,8% de sedentarismo entre
profissionais da saúde da região Nordeste em municípios com menos de 200
mil habitantes.

Silva et al. (2015) descreveram que os profissionais da enfermagem


estão entre aqueles mais propensos à problemas de saúde mental como a
depressão que é uma das doenças mais referidas por esses trabalhadores. O
estudo revelou associação do risco de suicídio à presença de depressão, baixa
realização pessoal e Síndrome de Burnout.

Embora a Síndrome de Burnout tenha sido referida por apenas 2% da


amostra, as LER/DORT foram referidas por 32% dos participantes. Estudo
realizado por Caetano, Cruz, Leite (2010) com trabalhadores com LER/DORT
identificou que, na avaliação clínica, 55% relatou apresentar algum problema
de saúde, 24% apresentou episódios combinados (depressão, gastrite, doenças
cardiovasculares, diabetes, dentre outros) e 18% doenças cardiovasculares. LER
e DORT são as doenças que mais afetam os trabalhadores brasileiros sendo que
de 2007 a 2016 houve um aumento de 184% no número de casos notificados
(BRASIL, 2019).

4.5 Considerações finais

Esse estudo sinalizou o desafio de se realizar uma pesquisa com


profissionais e trabalhadores da saúde em municípios em que a APS cobre
extensas áreas rurais. Uma grande mobilização foi necessária para se conseguir
realizar essa investigação com parte dos RHS, os dados apontaram para a
necessidade de melhorias nas condições de trabalho e de saúde daqueles que

98
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
Jardim, Matos, Silva

estão na linha de frente da prevenção e da promoção da saúde da população.


O grupo estudado apresentou vínculos precários de trabalho, inatividade física
e morbidades que colocam em destaque a importância da Saúde do
Trabalhador como uma área que precisa ser priorizada na gestão do SUS.

Diante dos resultados encontrados é importante destacar o papel


fundamental dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador - CEREST,
por esses possuírem a prerrogativa de promoverem ações para melhorar as
condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador por meio da
prevenção e vigilância, sendo um articulador das ações intra e intersetoriais no
âmbito da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)
(BRASIL, 2012).

99
Capítulo 4 – Recursos humanos da atenção primária à saúde: vínculos de trabalho, inatividade física e morbidades referidas
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104
CAPÍTULO 5 [...] o racismo, em suas variantes
institucional e interpessoal,
persiste nas sociedades
RACISMO: debate contemporâneas racializadas de
necessário para o acesso todo o mundo, e pode ter
impactos adversos importantes
universal e atenção sobre a saúde (WILLIANS &
integral no SUS11 PRIEST, 2015, p.124).

Ana Lúcia Oliveira Souza


Paulo Yure Nascimento Silva
Roberto Lacerda

5.1 Introdução

A discriminação nas relações sociorraciais no Brasil ocorre silenciosa-


mente, pois a maioria dos brasileiros considera o racismo como um tabu
acreditando que vivem em uma democracia racial. No entanto, esse silêncio
ratifica a injustiça cometida com a população negra (CHOR, 2013). No Brasil, há
historicamente uma perpetuação do racismo colocando principalmente negros
e indígenas em uma posição de inferioridade em relação aos brancos.

A discriminação étnica é oriunda do regime escravagista trazido pela


colonização portuguesa, o qual era fundamentado no modelo econômico
capitalista (AMARAL, 2011). Trata-se de um construto social que faz
diferenciação étnica com o favorecimento da cor de pele branca. Para Eurico
(2013), a noção de raça/etnia compreende o grupo étnico com características
comuns de certos grupos sociais que partilham práticas e costumes e constrói-
se dentro de um contexto sociopolítico, sem fundamentação científica que
comprove uma diferença racial orgânica inata. O racismo institucional
manifesta-se nos diferentes setores da sociedade (BARATA, 2009).

11 A elaboração do capítulo contou com a efetiva participação dos organizadores que não foram citados devido à
limitação de autoria regida pelas normas editoriais.

105
Epílogo

Os atos discriminatórios são demonstrados no cotidiano das orga-


nizações por meio de atitudes que demonstram desprezo como falta de
atenção, ignorância e desconfiança (KALCKMANN et al., 2007). A discriminação
dentro das instituições contribui com a desigualdade racial devido à
desvantagem do acesso a bens e serviços que são fundamentais como:
educação, saúde, previdência social, habitação e informação (JOCCOUD, 2009).

O racismo institucional favorece a naturalização do processo de


iniquidades originadas de uma construção social. Para o enfrentamento do
racismo institucional no Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de diminuir a
desigualdade racial com a inclusão de ações de saúde universais que respeitem
o negro e valorizem a sua cultura, foi instituída a Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra (PNSIPN), pela lei 12.288/10. Esta política foi
baseada nos princípios e diretrizes do SUS, com vistas à promoção da equidade
social na Atenção Primária à Saúde.

O presente estudo propõe uma reflexão sobre o racismo institucional


nos serviços de saúde, a partir da percepção de recursos humanos em saúde
que trabalham na APS.

5.2 A percepção dos gestores (100%; n=15)

Considerando a vivência ou identificação de racismo como qualquer


discriminação em virtude da cor, cultura e/ou raça de pessoas ou grupos, em
sua prática profissional, segundo a PNSIPN, 60% dos 15 gestores entrevistados
disse que nunca presenciou algum tipo de racismo e 40% relatou já ter
presenciado algum tipo de racismo em suas Unidades de Saúde.

Duas gestoras disseram ter sofrido racismo. Uma, por pacientes, e


afirmou ser “uma coisa cruel” (G12) e outra, enquanto paciente, em um
atendimento hospitalar (G6).

Já, comigo mesmo. Meu filho no hospital regional, há 6 anos atrás [...]
quando entrei na sala ela me disse coisa horrível [...] doutora eu tô
aqui porque meu filho tá precisando de seu atendimento, meu esposo
não é marginal, meu esposo não é traficante, meu esposo é um pai de
família cansado, isso já tá por volta quase da meia noite, a gente já tá
aqui há muito tempo, eu só quero que a senhora atenda meu filho que

106
Epílogo

ele tá com febre e ela começou a falar, começou falar, me disse tanta
da coisa, que eu não sabia nem se eu respondia ela ou olhava para o
menino. Fiquei doente, meu esposo ficou doente, a gente ficou
traumatizado, a gente ficou com medo até de procurar o hospital
depois, prestou atendimento com muita ignorância (G6).

Os gestores informaram também que identificam discriminação racial


como desrespeito, humilhação ou maus tratos devido à cor da pele, sendo as
vítimas tanto pacientes quanto profissionais.

● “Pessoa física, você olhar pra um profissional e pensar que o


profissional não é capacitado por causa das condições físicas” (G1).

● Discriminação, desrespeito, a humilhação (G6)

● “Assim, o racismo acho que é uma falta de humanismo, né, da


própria pessoa que faz isso com alguém, inclusive, não nessa
instituição, mas em outra eu já vi situação do profissional mesmo
da área da saúde desfazer de alguém pelo tom, pela cor da pele.
Eu acho assim falta de humanidade, de respeito, que por sinal é
crime, é, a coisa terrível” (G10).

● “Através de comentários acerca das diferentes cores” (G11).

● “Falta de respeito em respeitar as diferenças do próximo, as


desigualdades” (G13).

Sobre o preenchimento do quesito cor da pele nas fichas e prontuários,


segundo a classificação do IBGE, 40% dos gestores disse não haver esse
preenchimento na UBS e 60% disse que a Unidade não verifica o preenchimento.

Sobre queixas de racismo nas UBS em que trabalhavam, 100% afirmaram


que nunca receberam queixas durante o período em que estão como gestores.
Se o(a) gestor(a) já se sentiu discriminado (a) ou tratado (a) pior do que outras
pessoas no serviço de saúde por algum médico ou outro profissional, 53% disse
não, 20% sim e 27% não sabia. Aqueles que afirmaram já terem sido
discriminados indicaram as seguintes causas pelo tratamento diferenciado:
classe social (duas gestoras), ocupação (um gestor), raça/cor (uma gestora). A
maioria dos profissionais e trabalhadores da saúde investigados era negra (84%).

107
Epílogo

Um terço dos gestores (33%) relatou perceber tratamento diferenciado


nos serviços de saúde por causa da cor de pele, sofrido por outras pessoas, 40%
disse não perceber e 27% não soube informar.

5.3 A percepção dos profissionais e trabalhadores (n=260)

A ocorrência de fatos discriminatórios nos serviços de saúde, devido à


cor da pele, foi relatada por 16% a 23% dos trabalhadores. Observou-se que
16% referiu que pessoas negras são tratadas com menos gentileza; 23% relatou
que pessoas negras são tratadas com menos respeito do que outras pessoas;
19% declarou que pessoas negras são tratadas como se seus problemas de
saúde não tivessem importância; e 22% disse que pessoas negras recebem
serviços inferiores àqueles que outras pessoas recebem. Quanto à natureza do
local da ocorrência do racismo, a maioria referiu que os eventos aconteceram
no setor público (60 a 63% dos casos relatados) (Tabela 1).

Tabela 11. Frequência da ocorrência de fatos discriminatórios, devido à cor da


pele, segundo a percepção de trabalhadores da Atenção Primária à
Saúde. Lagarto, Sergipe, Brasil, 2017 (n=260*).
Frequência do fato discriminatório Natureza da instituição
Fatos Quase Quase
Nunca Às Vezes Sempre Púb. Privado Ambos
discriminatórios Nunca Sempre
Pessoas negras são
tratadas com 219 10 25 5 1 165 4 28
menos gentileza (84%) (3,8%) (9,6%) (1,9%) (0,3%) (63%) (1,5%) (10,7%)
que outras.
Pessoas negras são
tratadas com 199 8 23 7 3 157 5 27
menos respeito do (76,5%) (3,0%) (8,8%) (2,6%) (1,1%) (60,3%) (1,5%) (10,3%)
que outras pessoas.
Pessoas negras são
tratadas como se
210 10 16 3 2 157 1 28
seus problemas de
(80,7%) (3,8%) (6,1%) (1,1%) (0,7%) (60,3%) (0,3%) (10,7%)
saúde não tivessem
importância.
Pessoas negras
recebem serviços
203 8 21 5 1 156 3 23
inferiores aos que
(78%) (3,0%) (8,0%) (1,9%) (0,3%) (60%) (1,1%) (8,8%)
as outras pessoas
recebem.
Fonte: Elaboração própria.
*
Obs: valores totais variam conforme quantidade de respostas válidas por questão.

108
Epílogo

Quando questionados sobre se os trabalhadores e profissionais de saúde


agiam como se fossem pessoas melhores do que pessoas negras, 19%, 18% e
21% relataram que médicos, profissionais de enfermagem e recepcionistas
procedem desse modo, respectivamente (Tabela 2).

Quanto à ocorrência em que trabalhadores e profissionais de saúde


agiam como se pessoas negras não fossem inteligentes, 19% informou que
médicos, profissionais de enfermagem e recepcionistas comportaram-se dessa
forma. Em relação ao fato de que profissionais ou trabalhadores da saúde
agiam como se tivessem medo de pessoas negras, 18%, 16% e 21% men-
cionaram que médicos, profissionais da enfermagem e recepcionistas atuaram
dessa maneira, respectivamente.

Tabela 12. Frequência da ocorrência de fatos discriminatório devido à cor da


pele, por categoria profissional, segundo a percepção de tra-
balhadores da Atenção Primária à Saúde. Lagarto, Sergipe, Brasil,
2017 (n=260*).

Categoria Frequência do fato discriminatório Natureza da instituição


Fato
discriminatório
profissional
investigada Quase Às Quase
Nunca Sempre Púb. Priv. Ambos
Nunca Vezes Sempre
211 6 16 5 1 158 0 25
Agem como Médicos
(81%) (2,5%) (6%) (2%) (0,5%) (60%) (0%) (9,5%)
se fossem
Profissionais da 210 15 1 3 0 160 1 23
melhores do
enfermagem (81%) (6%) (5%) (1,5%) (0%) (61%) (0,5%) (9%)
que pessoas
negras 206 9 21 7 1 159 2 30
Recepcionistas
(79%) (3,5%) (8%) (3%) (0,5%) (61%) (1%) (11%)
213 12 16 2 0 161 4 22
Agem como Médicos
(81%) (5%) (6%) 1%) (0%) (61%) (1,5%) (6,5%)
se pessoas
Profissionais da 210 15 12 3 0 160 1 25
negras não
enfermagem (81%) (6%) (5%) (1,5%) (0%) (61%) (0,5%) (10%)
fossem
inteligentes 210 12 19 3 0 158 2 29
Recepcionistas
(81%) (5%) (7,5%) (1,5%) (0%) (60%) (1%) (11%)
Médicos 214 8 16 1 2 157 2 28
Agem como (82%) (3%) (6%) (0,5%) (1%) (60%) (1%) (10%)
se tivessem
Profissionais da 219 9 12 3 1 163 2 24
medo de
enfermagem (84%) (3,5%) (5%) (1,5%) (0,5%) (62%) (1%) (10%)
pessoas
negras 210 12 15 3 1 159 1 23
Recepcionistas
(81%) (5%) (6%) (1,5%) (0,5%) (61%) (0,5%) (9%)

Fonte: Elaboração própria.


*Obs.: valores totais variam conforme quantidade de respostas válidas por questão.

109
Epílogo

5.4 Análise ampliada dos resultados

Quando os trabalhadores foram questionados quanto ao fato das


pessoas negras serem tratadas como se seus problemas de saúde não tivessem
importância, 21% relatou que isso ocorria. Figueiró e Ribeiro (2017) afirmaram
que pessoas negras, com doença falciforme, acometidas por crise de dor,
recebiam menos anestesias e até, em alguns casos, não recebiam a prescrição
do medicamento anestésico. Demonstraram também que o problema de saúde
do negro foi tratado com descaso pelos profissionais de saúde, que não davam
a devida importância para o sintoma da sua doença.

Oliveira et al. (2012) referem que mulheres negras realizam menos


exames que as mulheres brancas durante consultas de pré-natal e, na hora do
parto, mulheres negras recebem menos anestésicos comparado as brancas, por
causa do mito que a mulher negra é mais resistente à dor. O número de
mulheres negras que morrem durante o parto também é bem maior comparado
ao das mulheres brancas. A discriminação etnorracial é um tema relevante para
ser tratado e analisado nos serviços de saúde, pois o racismo é um
Determinante Social da Saúde adverso para a população negra e mantém-se
por meio de uma cultura que estereotipa e estigmatiza a população negra
(BATISTA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2013).

De acordo com Cruz e Monteiro (2018), 70% dos usuários do Sistema


Único de Saúde (SUS) é de família negra. Sabendo que a APS deve ser centrada
na pessoa e na família e a maioria do público é formada por negros, os
profissionais e gestores precisam discutir as questões raciais a fim de tratar
todos sem distinção, pois o tratamento discriminatório vai de encontro a uma
atenção universal.

Quando o tema adentra as instituições de saúde, principalmente as


públicas, este assunto torna-se mais cuidadoso ainda, já que nesses
estabelecimentos permeiam princípios do SUS como igualdade e universalidade.

Tavares, Oliveira e Lages (2013) encontraram uma absoluta ausência de


percepção de racismo institucional, pois o reconhecimento do racismo é
complexo e encontra-se subestimado. Quase um terço dos respondentes do

110
Epílogo

presente estudo não respondeu às questões de fatos discriminatórios (22% a


29%). A percepção do racismo pode estar intrinsecamente relacionada à negação
de sua existência e à perpetuação de um racismo velado (ALMEIDA, 2018).

5.5 Considerações finais

A frequência da ocorrência de fatos discriminatórios encontrados foi


muito provavelmente subestimada, e indica a necessidade de se debater sobre
a existência e/ou perpetuação do racismo institucional desde a formação dos
trabalhadores e profissionais de saúde, até os locais de assistência à população,
em todos os níveis de atenção, de natureza pública ou privada. Evoca também
a necessidade de novas pesquisas sobre esse tema na tentativa de efetivar
ações de combate ao racismo previstas na PNSIPN e assim, universalizar o
acesso à saúde integral, humanizada e resolutiva para toda a população
brasileira independente de questões étnicas.

Referências

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG):
Letramento, 2018.
AMARAL, S. P. Famílias, terreiros e irmandades. In: ALBUQUERQUE, Wlamyra
R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Brasília:
Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade; Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2011. Disponível em:
http://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/publicacoes/historia_educacao_ne
gro.pdf. Acesso em: 12 de maio de 2020.
BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal
à saúde. FIOCRUZ, 2009.
BATISTA, Luís Eduardo; MONTEIRO, Rosana Batista; MEDEIROS, Rogério
Araujo. Iniquidades raciais e saúde: o ciclo da política de saúde da população
negra. Saúde em Debate, v. 37, p. 681-690, 2013.
CHOR, Dóra. Desigualdades em saúde no Brasil: é preciso ter raça. Cadernos
de Saúde Pública, v. 29, n. 7, p. 1272-1275, 2013.
CRUZ, Isabel Cristina Fonseca da; MONTEIRO, Maria do Carmo Sales.
Contextualizando a saúde da população negra, 2016.

111
Epílogo

DE OLIVEIRA, Roberta Andrea et al. Equidade só no papel? Formas de


preconceito no Sistema Único de Saúde e o princípio de equidade. Revista
Psicología para América Latina, v. 23, p. 47-64, 2012.
EURICO, Márcia Campos. A percepção do assistente social acerca do racismo
institucional. Serviço Social & Sociedade, n. 114, p. 290-310, 2013.
FIGUEIRÓ, Alessandra Varinia Matte; RIBEIRO, Rosa Lúcia Rocha. Vivência do
preconceito racial e de classe na doença falciforme. Saúde e Sociedade, v. 26,
p. 88-99, 2017.
JACCOUD, Luciana. A construção de uma política de promoção da igualdade
racial: uma análise dos últimos 20 anos. In: A Construção de uma política de
promoção da igualdade racial: uma análise dos últimos 20 anos. 2009. p. 233-
233.
KALCKMANN, Suzana et al. Racismo institucional: um desafio para a equidade
no SUS?. Saúde e sociedade, v. 16, n. 2, p. 146-155, 2007.
MIRANDA, Roseane Souza. Racismo no contexto da saúde: um estudo
psicossociológico. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Paraíba.
Paraíba, 2015.
TAVARES, Natália Oliveira; OLIVEIRA, Lorena Vianna; LAGES, Sônia Regina
Corrêa. A percepção dos psicólogos sobre o racismo institucional na Saúde
Pública. Saúde em Debate, v. 37, p. 580-587, 2013.
WILLIAMS, David R; PRIEST, Naomi. Racismo e saúde: um corpus crescente de
evidência internacional. Sociologias, Porto Alegre, v. 17, n. 40, 2015.

112
CONCLUSÃO Epílogo

Conclusão
No contexto pandêmico em que finalizamos esse trabalho, faz-se
necessário destacar ainda questões pertinentes à importância da APS na
saúde brasileira. Desde 2009, com a primeira declaração feita pela
Organização Mundial da Saúde, de Emergência em Saúde Pública com o vírus
H1N1 e, atualmente, com o SARS-CoV-2 (sexta emergência em Saúde Pública
no século XXI), o SUS está à frente de todas essas situações emergenciais
internacionais além de outras epidemias enfrentadas no país como de
dengue, chikungunya, zika, sarampo e, mais recentemente, o surto de
influenza A (cepa Darwin – H3N2). Em todos esses cenários, tem sido possível
perceber o protagonismo da APS, pois, seus serviços são fundamentais para
o cuidado e reabilitação em saúde, tanto nas orientações comunitárias para
prevenir infecções e doenças, na continuidade do cuidado para os usuários
do SUS, quanto nas demais responsabilidades referentes à atenção na RAS.

A negligência do poder público, como mostrou a CPI da COVID 12,


através de orientações de uso de medicamentos ineficazes, do fraco
desenvolvimento de políticas sociais de enfrentamento aos impactos
econômicos e da promoção do negacionismo científico, teve papel
importante no elevado número de casos e de mortes por COVID-19 no Brasil.

A APS é caracterizada como a porta de entrada do SUS, nível de


atenção que se mostrou imprescindível na resposta à pandemia por SARS-
CoV-2. Considerando que: I) casos levemente sintomáticos com síndromes
gripais e sem complicações e/ou sem comorbidades de risco são a maior
parcela dos infectados, II) que a APS possui caráter resolutivo de até 80%
dos casos e III) que esse é o nível de rede responsável, em grande parte, pelas
campanhas de vacinação, a APS foi fundamental para a redução do colapso

12ComissãoParlamentar de Inquérito realizada pelo Congresso Nacional brasileiro investigou erros de gestão na
condução do enfrentamento da Covid-19 no Brasil por agentes públicos.

113
Epílogo

do Sistema de Saúde no Brasil e mitigação da pandemia, quando alinhado a


outras medidas de prevenção, como o distanciamento e/ou isolamento
social, lockdown, ampla testagem, distribuição e uso de máscaras adequadas,
higienização das mãos, etiqueta respiratória, telemedicina e outras ações.

De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, 81% das pessoas


com COVID-19 pode ter manejo clínico na APS e 19% em ambiente
hospitalar, sendo essa última percentagem uma soma dos indivíduos que
necessitam de internação hospitalar e dos que necessitarão de leitos de
Unidade de Terapia Intensiva – UTI13.

A APS é fundamental também para a longitudinalidade do cuidado


e integração e organização de toda a RAS, assim, esse nível de atenção
tem papel importante também na identificação precoce de casos modera-
dos e graves, que devem ser referenciados a outros serviços em outros
níveis de atenção.

No sentido da municipalização da saúde e no contexto de transmissão


viral comunitária, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da
Família (USF) – e demais serviços da APS, passaram a ser adaptados para
Centros de Referência em Síndromes Gripais e Respiratórias, ou seja,
focados em abordagens sindrômicas. Para reforçar a resposta da APS à
COVID-19, o Ministério da Saúde publicou duas portarias (Portaria nº 397 de
16 de março de 2020 e Portaria nº 430 de 19 de março de 2020) que se
referem ao funcionamento estendido das UBS e USF, com objetivo de
ampliar o acesso da população à APS.

Os resultados expostos em todo o livro reafirmam a necessidade de


fortalecimento e reestruturação da Atenção Primária à Saúde e trazem
reflexões sobre a necessidade de investimentos em Saúde Pública de forma
estável – não apenas em tempos de pandemia. Desde 2018, com a efetivação
do “teto de gastos”, o investimento em saúde só aumentará de acordo com

13JÚNIOR, N.B. et al. Guia Orientador para o enfrentamento da pandemia COVID-19 na Rede de Atenção à
saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília,
2020.

114
Epílogo

a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor


Amplo (IPCA), com redução gradual dos gastos a cada ano, até 2027 (onde
ocorrerá a decisão da adoção ou não de mais 10 anos de investimentos em
saúde congelados). Considerando a importância dos repasses de verba
também do Ministério da Educação (MEC) para a manutenção das
Instituições Federais de Ensino Superior, também reduzidos pelo teto de
gastos, existe ainda o risco de sucatear as IFES. O subfinanciamento resulta
em prejuízos diretos nos serviços de saúde, os quais são fortalecidos,
auxiliados e até mesmo mantidos pelas IFES, como laboratórios, hospitais,
centros de atendimento especializados, dentre outros, importantes para o
estabelecimento e manutenção das Redes Municipais e inclusive as micro e
macrorregiões de Saúde. Dessa forma, essa medida de austeridade
econômica compromete de forma acentuada o investimento em saúde e
pode desencadear grave sucateamento da Saúde Pública – além do ensino
superior público – nos próximos anos14.

Pondera-se também sobre a importância do fortalecimento da


Educação Permanente em Saúde, inclusive frente a capacitação contínua dos
profissionais para enfrentamento à COVID-19 e outras demandas. A
necessidade de ações mais efetivas na Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora da Saúde, do combate à determinação social no processo
saúde-doença e da maior inserção de equipes multiprofissionais na APS são
urgentes. Paradoxalmente, em 2020, a Estratégia Saúde da Família perdeu o
modelo de Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-
AB). A mudança foi publicada por Nota Técnica nº 3, através do
Departamento de Saúde da Família, vinculado à Secretaria de Atenção
Primária à Saúde, do Ministério da Saúde. Tal medida acaba com o processo
de referenciamento da Atenção Básica para o NASF, excluindo-o da RAS.

As atualizações feitas na PNAB em 2017 e 2019 também merecem


destaque frente as diversas mudanças instituídas na APS no Brasil, como o

14Ministério da Fazenda. Teto de gastos: o gradual ajuste para o crescimento do país. Relatório. Brasília. 2018.
Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/analises-e-
estudos/arquivos/2018/teto-de-gastos-o-gradual-ajuste-para-o-crescimento-do-pais.pdf

115
Epílogo

Programa Previne Brasil. Esse novo modelo de financiamento da APS no


Brasil possivelmente resultará em desafios para cidades em que a eSF possui
dificuldades de efetivação, como no caso aqui investigado. Ainda assim, o
sucateamento – em partes – é compreendido através de outras mudanças
relacionadas ao financiamento da APS e ESF, sem o encaminhamento de
financiamento específico ao NASF-AB, a partir de 2019, como um
encorajamento, por exemplo, a reduções de RHS nas equipes multi-
profissionais, embora os gestores possam, segundo as demandas dos
serviços, incluir os diferentes profissionais em eAB, através do apoio
matricial ou cuidado compartilhado.

Apesar da retirada do financiamento específico do NASF-AB, que


previa a inclusão de especialidades médicas voltadas para o cuidado
materno-infantil e demais profissionais/especialidades, no início do ano de
2022, o Ministério da Saúde anunciou a criação do Programa Cuida Mais
Brasil. Tal programa prevê a inclusão de especialidades médicas voltadas
para o cuidado materno-infantil, como ginecologia, obstetrícia e pediatria
na ESF, especificamente nos postos de saúde e eSF, não mais nas equipes
do apoio matricial ou cuidado compartilhado. É importante ponderar que
embora o programa possa contribuir com a presença de mais médicos num
contexto de escassez dessa categoria profissional na ESF, a inclusão dessas
especialidades médicas acentua a lógica da saúde médico-centrada,
favorecendo a inversão da lógica da medicina de família e comunidade,
privilegiando a clínica especializada – e potencialmente diminuindo a
resolutividade da APS. Todas essas mudanças nas políticas de financia-
mento, planejamento e execução das ações e serviços de saúde, mais
especificamente na APS, possuem um efeito sinérgico de influência
negativa no estabelecimento da Saúde Pública mais ampla, fortalecida,
efetiva e eficiente.

Mais do que nunca, precisamos ter práticas bem estabelecidas no


Sistema de Saúde, garantir estruturação adequada, estimular a eficiente
gestão de recursos no SUS, respeitar e ampliar o processo de
territorialização e suas particularidades, expandir horários dos serviços,
facilitar o acesso a medicamentos essenciais, garantir que os profissionais

116
Epílogo

sejam protegidos, valorizados e capacitados, bem como promover equidade


social. Ao mesmo passo devemos estar em busca de inovação, tecnologias,
manutenção e garantia do desenvolvimento das pesquisas científicas. É
preciso aprofundar políticas, programas, projetos, ações e estratégias de
saúde. É imprescindível fortalecer a APS. É um dever e uma necessidade
valorizar o SUS!

Luiz Eduardo Oliveira Matos


Márcia Schott
Renata Jardim
Organizadores

117
Apêndice

APÊNDICE A
CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE
(Deve ser preenchida uma ficha por unidade de saúde participante da pesquisa)

Data:____/_____/____
Pesquisador(a):________________________________________
1. Unidade de Saúde:______________________________________________
2. Endereço:______________________________________________________
3. Natureza: Pública ( ) Privada ( )
4. Estrutura física: ( ) Construída ( ) Alugada ( ) Própria Adaptada
5. ESF ( ) (Preencha com o número de Equipes)
6. PACS ( ) (Preencha com o número de Profissionais)
7. Número de profissionais da unidade: __________ (Todos os trabalhadores)

8. Profissionais (Colocar a quantidade de cada profissional):


( ) Agente Comunitário de Saúde
( ) Agente de Controle de Endemias (é o mesmo de zoonoses)
( ) Agente de Vigilância em Saúde
( ) Assistente Social
( ) Auxiliar de Banco de Sangue
( ) Biólogo
( ) Enfermeiro
( ) Farmacêutico
( ) Fisioterapeuta
( ) Fonoaudiólogo
( ) Instrumentador de Cirurgia
( ) Massagista/ Massoterapeuta
( ) Médico
( ) Médico Veterinário
( ) Nutricionista
( ) Odontólogo (Dentista)
( ) Psicanalista
( ) Psicólogo
( ) Profissional de Educação Física
( ) Técnico em Enfermagem
( ) Técnico em Laboratório de Análises Clínicas
( ) Técnico em Nutrição e Dietética
( ) Técnico em Prótese Dentária
( ) Técnico em Radiologia
( ) Técnico em Saúde Bucal
( ) Técnico em Segurança do Trabalho
( ) Terapeuta Ocupacional
( ) Outros

118
Apêndice

9. Serviços oferecidos:
( ) Acompanhamento nutricional
( ) Acompanhamento psicológico
( ) Atendimento a animais
( ) Cirurgias
( ) Consultas (profissionais e trabalhadores de saúde em geral)
( ) Educação em saúde
( ) Exame de lâmina
( ) Farmácia
( ) Fisioterapia
( ) Partos
( ) Prática de exercícios físicos
( ) Práticas Integrativas (massagem, acupuntura, Reiki etc)
( ) Realização de exames laboratoriais
( ) Urgência e Emergência
( ) Serviços de Imagem
( ) Serviços odontológicos
( ) Vacinação
( ) Outros

10. População adscrita:


(Neste espaço você escreve a população adscrita a essa Unidade, a população de cujo território
essa Unidade é responsável pela atenção à saúde).
Total:______________
Homens:____________
Mulheres:__________
Crianças:___________
Hipertensos:_________
Diabéticos:__________
Negros (pardos e pretos): _________
Brancos: _________

11. População atendida:_________________________________________


Objetiva-se conhecer a população que de fato recebe atendimento na Unidade e também
atenção domiciliar. Pode ser uma estimativa mensal se o serviço tiver ou anual. Se a unidade
dispor de informações detalhadas como número de consultas, de visitas, de atendimento
“hiperdia” e outras, então anote o que encontrar. Se houver formulários da unidade disponíveis
e for concedida cópia pode anexar a essa ficha para complementar ou servir de suporte para
consulta.
12. Qual o material que predomina na construção das paredes externas desta unidade?

( ) Alvenaria com revestimento


( ) Alvenaria sem revestimento
( ) Madeira apropriada para construção 4.
( ) Taipa não revestida
( ) Palha

119
Apêndice

( ) Outro material (Especifique:__________________________ )


13. Qual o material que predomina na cobertura (telhado) desta unidade?

( ) Telha
( ) Laje de concreto
( ) Madeira apropriada para construção
( ) Madeira aproveitada
( ) Zinco ou chapa metálica
( ) Palha
( ) Outro material (Especifique:_____________________________)
14. Qual o material que predomina no piso desta unidade?

( ) Carpete
( ) Cerâmica
( ) Cimento, lajota ou pedra
( ) Madeira aproveitada
( ) Outro material (Especifique:______________________________)
( ) Tacos ou tábua corrida
( ) Terra

15. Qual é a principal forma de abastecimento de água desta unidade?

( ) Água da chuva armazenada de outro modo


( ) Água da chuva armazenada em cisterna
( ) Carro-pipa
( ) Outro material (Especifique: ___________________________)
( ) Poço ou nascente fora da propriedade
( ) Poço ou nascente na propriedade
( ) Rede geral de distribuição
( ) Rios, lagos e igarapés

16. Além da principal, que outra forma de abastecimento de água é utilizada nesta unidade?

( ) Água da chuva armazenada de outro modo


( ) Água da chuva armazenada em cisterna
( ) Carro-pipa
( ) Nenhuma
( ) Poço ou nascente fora da propriedade
( ) Poço ou nascente na propriedade
( ) Rede geral de distribuição
( ) Rios, lagos e igarapés

17. Outras informações relevantes:


________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

120
Apêndice

APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA PROFISSIONAIS E GESTORES

ATENÇÃO: Essa parte da entrevista deve ser gravada havendo a prévia autorização do (a)
entrevistado (a) conforme explicitado no termo de consentimento livre esclarecido (TCLE)
apresentado e assinado no início. ANTES DE INICIAR AS PERGUNTAS,
REGISTRE EM ÁUDIO OS DADOS INICIAIS DO QUESTIONÁRIO:
APRESENTAÇÃO
Bom dia/Boa tarde! Meu nome é (Nome do entrevistador) sou entrevistador(a) de um
estudo sobre Educar e Nascer realizado pela Universidade Federal de Sergipe e gostaria de
fazer algumas perguntas. Suas respostas auxiliarão a melhorar a atenção à saúde na região de
Lagarto.
Informo que todos os dados serão mantidos em segredo e que seu nome não será
divulgado em nenhum momento. Você será identificado por um número.
Agradeço sua participação. Esclareço que não existe resposta certa ou errada. Por
favor, responda todas as perguntas. Caso não tenha certeza sobre a resposta, escolha a opção
que considera mais adequada. Podemos começar? Muito obrigado(a)!

Data da entrevista: _____/_____/______Entrevistador (a)____________________


Local da entrevista: _________________________________ (Nome da Unidade)
1 ( ) Unidade de Saúde
2 ( ) Maternidade
3 ( ) Outro: ___________________________
Horário:________________ às_______________

Vamos começar com algumas perguntas sobre educação permanente.


1) O que é educação permanente para você?

2) Você já ouviu falar da política de Educação Permanente em Saúde do Ministério da


Saúde? Caso sim, o que pode dizer sobre esse assunto?

3) Na sua concepção qual seria o público-alvo da educação permanente em saúde?

4) Acontece educação permanente no seu trabalho?

Se sim, você participa? O que o (a) leva a participar?

Se não acontece educação permanente no seu trabalho, você participaria caso houvesse aqui no
seu serviço? Por quê?

121
Apêndice

Se acontece, mas não se sente motivado (a) a participar, qual (is) o(s) motivo(s)?
5) Com qual frequência acontecem ações de educação para os trabalhadores aqui no seu local de
trabalho?
1 ( ) Todos os dia
2 ( ) Semanalmente
3 ( ) Quinzenalmente
4 ( ) Mensalmente
5 ( ) Anualmente
6 ( ) Outra frequência
7 ( ) Nenhuma (VÁ PARA O ITEM 8)

6) Quais seriam essas ações de educação permanente? (ATENÇÃO: HAVENDO DÚVIDA POR
PARTE DO ENTREVISTADO PODEM SER DADOS OS SEGUINTES EXEMPLOS DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE: RODAS DE CONVERSA, PALESTRAS, REUNIÕES DE DISCUSSÃO DE EQUIPE, CURSOS,
LEITURAS DIRIGIDAS, OUTRAS)

7) O serviço disponibiliza algum tempo livre para que você participe de atividades
educativas?
( ) Sim 2 ( ) Não
Onde?
1
( ) Dentro da unidade 2 ( ) Fora da unidade
Qual? ______________________________________________________
Como ocorre? ________________________________________________
Frequência:
1 ( ) Todos os dia
2 ( ) Semanalmente
3 ( ) Quinzenalmente
4 ( ) Mensalmente
5 ( ) Anualmente
6 ( ) Outra frequência
7 ( ) Nenhuma

8) Você participa de alguma atividade de educação à distância? Qual?


9) Na sua opinião, quais são as contribuições da Educação Permanente para o seu
crescimento pessoal e profissional?

10) Quais ações de atenção à saúde da mulher existem nessa unidade?

11) Pensando ainda nas ações de atenção à saúde da mulher realizadas nessa
unidade, você considera que as ações são?
1 ( ) Muito Insatisfatórias

122
Apêndice

2( ) Insatisfatório
3( ) Regular
4( ) Satisfatório
5( ) Muito Satisfatório

12) Se pudesse fazer algo, qual a primeira coisa que você faria para que a vida de todas
as mulheres melhorasse?

13) Quais ações de atenção à saúde da gestante existem nessa unidade?

14) Em relação às ações de atenção à saúde da gestante realizadas nessa unidade, você
considera que as ações são:
1( ) Muito Insatisfatórias
2( ) Insatisfatório
3( ) Regular
4( ) Satisfatório
5( ) Muito Satisfatório

SÓ PARA GESTORES
15) Há quanto tempo você exerce atividade na gestão em saúde?
16) Há quanto tempo você exerce atividade de gestor nesta unidade?
17) Como se tornou gestor (a) desta unidade?
18) Existe algum tipo de capacitação fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde para
a gestão?
19) Quais as principais atribuições de um gestor de saúde nessa instituição?
20) Quais as principais dificuldades que você encontra para exercer sua função de
gestor (a)?
21) Na sua opinião o que poderia ser feito para melhorar a gestão em saúde?
22) Nessa unidade são realizadas ações em parceria com instituições de ensino? Se sim, de que
maneira? Com quais instituições?
(ATENÇÃO: HAVENDO DÚVIDA POR PARTE DO ENTREVISTADO PODEM SER DADOS OS SEGUINTES
EXEMPLOS DE AÇÕES EM PARCERIA COM INSTITUIÇÕES DE ENSINO: DISCIPLINA, AÇÃO DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA, AÇÃO DE PESQUISA, INTERNATO, RESIDÊNCIA, ESTÁGIO, PALESTRAS, CURSOS, MUTIRÕES,
OUTRAS. ESPECIFIQUE AO MÁXIMO: PESSOAS ENVOLVIDAS, RESPONSÁVEIS, CICLO, CURSO ETC.).

23) Posteriormente poderia oferecer mais detalhes sobre essas ações?


1 ( ) Sim 2 ( ) Não
(PREENCHER FORMULÁRIO EM ANEXO)
24) Qual a frequência das ações de articulação ensino-serviço nessa instituição?
1 ( ) Todos os dias
2 ( ) Semanalmente
3 ( ) Quinzenalmente
4 ( ) Mensalmente
5 ( ) Anualmente
6 ( ) Outra frequência
7 ( ) Nenhuma

123
Apêndice

25) Você tem informações sobre a elaboração dessas ações? Há envolvimento dos
profissionais dos serviços? Como eles contribuem no planejamento e na execução?
26) Na sua opinião, quais as contribuições da articulação ensino-serviço para a
instituição, estudantes, profissionais e trabalhadores da saúde e comunidade?
27) Quais dificuldades você pode identificar para a articulação ensino-serviço em saúde
no município?
28) Há sugestões para melhorar a articulação ensino-serviço que gostaria de fazer ou
julgue importantes para esta pesquisa?
29) Na sua opinião, como tem sido a participação da Secretaria Municipal de Saúde na
Educação Permanente em Saúde?
30) Na sua opinião, como tem sido a participação da Secretaria Municipal de Saúde na
articulação ensino-serviço?
31) Você conhece a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra?
32) Nos últimos 12 meses essa unidade promoveu capacitação, para os trabalhadores, enfocando
a saúde da população negra?
33) Na sua prática profissional, você já identificou/vivenciou a ocorrência de racismo na rede
pública de saúde de Lagarto?
34) A instituição realiza ações para identificar a presença e racismo? Quais?

35) O quesito raça/cor é preenchido em fichas/prontuários, de acordo com as classificações do


instituto Brasileiro de Geografia e estatística - IBGE?
36) A unidade de saúde verifica se há um correto preenchimento nos quesitos raça/cor?
37) Na unidade de saúde em que você trabalha, há queixas de racismo institucional?
AGORA VAMOS FAZER ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE VOCÊ
PERFIL DO ENTREVISTADO(A)
DADOS PESSOAIS

38) Qual é o seu nome?

39) Qual é o nome da sua mãe?

40) Contatos (TELEFONE, EMAIL, FACEBOOK ETC.)

41) Qual é o seu endereço?

42) Em que cidade você nasceu?

43) Qual é o seu sexo? 1. ( ) M 2. ( ) F 44) Qual é sua orientação Sexual?

124
Apêndice

1. ( ) Heterossexual 2. ( ) Homossexual
3. ( ) Bissexual 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA

45) Qual é o seu estado civil atual (LER AS OPÇÕES)?


1. ( ) Solteiro(a) 2. ( ) Casado(a)/Parceiro(a) 3. ( ) Separado(a)/divorciado(a) 4. ( ) Viúvo (a)

46) Vou fazer algumas perguntas sobre o seu nível educacional e sua família:
46.1 Você sabe ler e escrever? 1 ( ) Não 2 ( ) Sim

46.2 Qual foi o último grau de escolaridade que VOCÊ cursou?

1 ( ) Nenhum (VÁ PARA O ITEM 47)


2 ( ) Ensino Fundamental (1º grau) (VÁ PARA O ITEM 46.3)
3 ( ) Ensino Médio (2º grau) (VÁ PARA O ITEM 46.4)
4 ( ) Ensino Superior (3º grau) (VÁ PARA O ITEM 46.5)
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

46.3 Última série do ensino fundamental que VOCÊ concluiu/concluirá na escola?

46.4 Última série do ensino médio que VOCÊ concluiu/concluirá na escola?

46.5 Último ano do ensino superior que VOCÊ concluiu/concluirá?

47) Qual foi o último grau de escolaridade que O(A) CHEFE DA FAMÍLIA cursou?
1 ( ) Nenhum (VÁ PARA O ITEM 48)
2 ( ) Ensino Fundamental (1º grau) (VÁ PARA O ITEM 47.1)
3 ( ) Ensino Médio (2º grau) (VÁ PARA O ITEM 47.2)
4 ( ) Ensino Superior (3º grau) (VÁ PARA O ITEM 47.3)
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

47.1 Última série do ensino fundamental que o(a) chefe da família concluiu na escola?
47.2 Última série do ensino médio que o(a) chefe da família conclui na escola?
47.3 Último ano do ensino superior que o(a) chefe da família concluiu/concluir?

48) O instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) classifica as cores e raças da população
brasileira em: branca, preta, amarela, parda ou indígena. De acordo com essa classificação, você se
considera como:

125
Apêndice

1. ( ) Branco(a)
2. ( ) Preto(a)
3. ( ) Amarelo(a)/ Oriental
4. ( ) Pardo(a)/ Moreno(a)/Mulato(a)
5. ( ) Indígena
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

49) COMO VOCÊ(ENTREVISTADOR) CLASSIFICA A COR DO ENTREVISTADO?


1. ( ) Branco(a)
2. ( ) Preto(a)
3. ( ) Amarelo(a)/ Oriental
4. ( ) Pardo(a)/ Moreno(a)/Mulato(a)
5. ( ) Indígena
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA
50) Onde você mora?
1 ( ) Área rural 2 ( ) Área Urbana 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA

51) Qual a sua religião? (CASO A PESSOA DIGA QUE NÃO SAIBA, OU RESPONDA ALGO DIFERENTE, LEIA AS OPÇÕES E
PEÇA PARA ELA ESCOLHER A OPÇÃO QUE CONSIDERA MAIS ADEQUADA)

1 ( ) Protestante
2 ( ) Candomblé
3 ( ) Católica
4 ( ) Evangélica
5 ( ) Espírita
6 ( ) Umbanda
7 ( ) Sem religião
8 ( ) Outra.
Especifique:_______________ 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA

52) Atualmente, qual sua principal ocupação (DESCREVER)?


(Se houve mudança na trajetória ocupacional, especificar a ocupação anterior, por quanto tempo
trabalhou e há tempo mudou)
53) Qual é o seu vínculo empregatício? LEIA AS OPÇÕES

1 ( ) Empregado (a) remunerado (a) com carteira assinada (CLT)


2 ( ) Empregado (a) remunerado (a) contratado sem carteira de trabalho assinada)
3 ( ) Autônomo (a) trabalhador (a) por conta própria)
4 ( ) Dono (a) de casa
5 ( ) Desempregado (a)
6 ( ) Estudante (especificar)____________________________
7 ( ) Estatutário municipal
8 ( ) Estatutário estadual

126
Apêndice

9 ( ) Estatutário federal
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

54) Quantas pessoas moram com você? Inclua filhos, irmãos, parentes e amigos (MARQUE A OPÇÃO
CORRESPONDENTE)
1 ( ) Moro(a) sozinho(a)
2 ( ) Uma a três
3 ( ) Quatro a sete
4 ( ) Oito a dez
5 ( ) Mais de dez
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

55) Quantos dormitórios existem em sua casa? (Dormitório: quarto, sala ou outro local onde as pessoas
dormem)
1 ( ) Sim, um.
2 ( ) Sim, dois.
3 ( ) Sim, três ou mais.
4 ( ) Não tem.
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA

56) Somando a sua renda com a renda das pessoas que moram com você, quanto é, aproximadamente,
a renda familiar mensal?
1 ( ) Até 1 salário mínimo. (até R$ 945,80)
2 ( ) Mais de 1 salário a 2 salários mínimos ( Mais de R$ 945,80 e R$ 1891, 60)
3 ( ) Mais de 2 salários a 3 salários mínimos (Mais de R$1891,60 e R$ 2836,60)
4 ( ) Mais de 3 salários mínimos
5 ( ) Sem rendimentos
6 ( ) Não declarado
88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
SAÚDE

Agora vamos fazer algumas perguntas sobre sua saúde


57) Atualmente, como você avalia sua Saúde (LER AS OPÇÕES)?

1 ( ) Muito boa 2 ( ) Boa 3 ( ) Regular 4 ( ) Ruim 5 ( ) Muito ruim 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA


58) Algum profissional de saúde, inclusive o 60.2) Você já foi vacinado contra DT (Tétano e
médico, já disse que você tem alguma doença? Difteria) ou Tríplice bacteriana (Tétano, Difteria e
1 ( ) Diabetes Mellitus coqueluche)?
2 ( ) HAS

127
Apêndice

3 ( ) Doença neurológica (especificar): 1( ) Não 2 ( )Sim ( ) 1ª dose ( ) 2ª dose ( )3ª dose


__________________________ 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
4 ( ) Doença respiratória (especificar):
60.3) Você já foi vacinado contra Tríplice viral
__________________________
(sarampo/caxumba/rubéola)?
5 ( ) Doença psiquiátrica (especificar):
_________________ 1( ) Não 2 ( ) Sim ( ) 1ª dose ( ) 2ª dose 88 ( )
6 ( ) Infecção Urinária NS/NR 99 ( ) NSA
7 ( ) Outras
88 ( ) NS/NR 60.4) Você já foi vacinado contra Influenza?
99 ( ) NSA 1 ( ) Não 2 ( ) Sim 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
61) Considerando como fumante alguém que já
59) Você faz uso de algum medicamento? fumou 100 cigarros ao longo da vida, ATUALMENTE,
1 ( ) Não 2 ( ) Sim. Qual? _________ você se considera como?

88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA 1 ( ) Não fumante


2 ( ) Ex-fumante
60) Vacinas 3 ( ) Fumante atual
88 ( ) NS/NR
60.1) Você já foi vacinado contra Hepatite B?
99 ( ) NSA
1( ) Não 2 ( ) Sim Quantas doses. ( ) 1ª dose 62) CAGE, uso de álcool
( ) 2ª dose ( )3ª dose 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
62.2) Já ficou aborrecido quando outra(s) pessoa(s)
62.1) Alguma vez sentiu que deveria diminuir a criticou (criticaram) seu hábito de beber? ( )1
quantidade de bebida alcoólica ou parar de - Sim ( ) 2 – Não 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
beber?
62.3) Alguma vez se sentiu mal ou culpado, por
( ) 1 - Sim ( ) 2- Não 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA causa do seu hábito de beber?
( ) 1 - Sim () 2 – Não 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA
62.4) Costuma tomar bebida alcoólica pela manhã
para diminuir o nervosismo ou a ressaca?
( ) 1 - Sim ( ) 2 – Não 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA

63) De acordo com a OMS (2002), a violência é definida como o uso intencional da força ou poder em
forma de ameaça, contra si mesmo, outra pessoa, grupo, ou comunidade, que ocasiona lesão, morte,
danos psíquicos, alterações do desenvolvimento ou privações. Sabendo disso, nos últimos 12 meses,
você sofreu algum tipo de violência no serviço de saúde de lagarto?
64) Nos últimos 12 meses, você sofreu algum tipo de violência nesse posto de saúde?

65) Durante as últimas 4 semanas, o(a) sr.(a.) teve algum dos seguintes problemas, como por exemplo:
deixou de fazer seu trabalho ou outras atividades cuidadosamente, como de costume, por causa de
problemas emocionais?
1 ( ) Nenhum pouco do tempo
2 ( ) Uma pequena parte do tempo
3 ( ) Alguma parte do tempo
4 ( ) Uma boa parte do tempo
5 ( ) A maior parte do tempo

128
Apêndice

6 ( ) Todo o tempo
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA
66) Durante as últimas 4 semanas, alguma dor atrapalhou seu trabalho normal (tanto o trabalho de
casa como o de fora de casa)?
1 ( ) Nenhum pouco
2 ( ) um pouco
3 ( ) moderadamente
4 ( ) bastante
5 ( ) extremamente
88 ( ) NS/NR
99 ( ) NSA
67) Durante as últimas 4 semanas, VOCÊ teve algum dos seguintes problemas com o seu trabalho ou em suas
atividades do dia a dia, como por exemplo: fez menos do que gostaria OU sentiu-se com dificuldade no trabalho
ou em outras atividades, por causa de sua saúde física?
1( ) Nenhum pouco do tempo
2( ) Uma pequena parte do tempo
3( ) Alguma parte do tempo
4( ) Uma boa parte do tempo
5( ) A maior parte do tempo
6( ) Todo o tempo 88 ( ) NS/NR 99 ( ) NSA

OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO!

129
Apêndice

APÊNDICE C
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – CAMPUS LAGARTO
NÚCLEO TRANSDISCIPLINAR DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA – NUTESC

Prezado(a) trabalhador, por gentileza, responda as questões abaixo. Não existem


respostas certas ou erradas. Todas as respostas serão mantidas em segredo e não será possível
fazer a sua identificação. É muito importante a sua participação!

Data do preenchimento: _____/_____/_______ Data de Nascimento: _____/_____/_________

Você trabalha em qual unidade? ________________ há quanto tempo? ____________


Qual sua função?______________
Em qual município você mora? _______________________________
Qual sua zona de moradia? ( ) Rural ou ( ) Urbana
1. Qual sua profissão/categoria profissional atual?
1.( ) Agente Comunitário de Saúde 2.( ) Enfermeiro(a) 3.( ) Técnico de Enfermagem
4. ( ) Médico(a) 5.( ) Odontólogo(a) 6.( ) Técnico de Saúde Bucal 7.( ) Recepcionista
8.( ) Profissional da Limpeza 9. ( ) Serviços Gerais 10.( ) Profissional da Farmácia/Farmacêutico(a) 9.(
) Outra (especifique): ____________

2. Qual seu vínculo empregatício?


1.( ) Efetivo(a)/Concursado(a) 2.( ) Contratado(a) 3. ( ) Terceirizado

3. Qual seu sexo?


1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino

4. Qual sua identidade de gênero?


1. ( ) Homem 2. ( ) Mulher

5. Qual sua orientação sexual?


1. ( ) Heterossexual 2. ( ) Homossexual 3. ( ) Bissexual 4. ( ) Transexual

6. Qual sua maior escolaridade completa?


1.( ) Nenhuma 2.( ) Ensino Fundamental 3.( ) Ensino Médio 4.( ) Ensino Superior. Qual o curso?
_________________ 5. ( ) Ensino Técnico 6. ( ) Especialização 7. ( ) Mestrado
8. ( ) Doutorado 9. ( ) Pós-doutorado

7. Qual sua situação conjugal?


1.( ) Solteiro(a) 2.( ) Casado(a) 3.( ) Tem união estável há mais de seis meses 4.( ) Viúvo(a) 5.( ) Separado(a)
ou Divorciado(a)

8. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica a cor da pele em branca, preta, amarela,
parda ou indígena. De acordo com essa classificação, qual a cor da sua pele?
1.( ) Preta 2.( ) Parda/Morena/Mulata 3. ( ) Amarela 4. ( ) Branca 5. ( ) Indígena

9. Qual a sua opção religiosa?


1.( ) Católico(a) Apostólico(a) Romano(a) 2.( ) Evangélico(a) 3.( ) Espírita 4.( ) Sem religião 5.( )
Outra:____________

10. Atualmente, o(a) sr.(a) fuma? 1.( ) Sim, diariamente 2.( ) Sim, mas não diariamente 3.( ) Não

11. No passado, o(a) sr.(a) já fumou?


1.( ) Sim, diariamente 2.( ) Sim, mas não diariamente 3.( ) Não

130
Apêndice

12. O(a) sr.(a) sabe seu peso (mesmo que seja valor aproximado)?
Se sim, favor informar. 1.( ) Sim:____kg 2.( ) Não sei

13. O(a) sr.(a) sabe sua altura? Se sim, favor informar.


1.( ) Sim:_____ m _____cm 2.( ) Não sei

14.1. Você já tentou diminuir ou cortar a bebida alcoólica? 1.( ) Sim 2.( ) Não

14.2. Você já ficou incomodado(a) ou irritado(a) com outros porque criticaram seu jeito de beber? 1.( ) Sim 2.(
) Não

14.3. Você já se sentiu culpado(a) por causa do seu jeito de beber? 1.( ) Sim 2.( ) Não

14.4. Você já teve que beber para diminuir o nervosismo ou a ressaca? 1.( ) Sim 2.( ) Não

15. Com relação à atividade que você desempenha no seu trabalho, você se sente:
1. ( ) Plenamente satisfeito 2. ( ) Relativamente satisfeito 3. ( ) Satisfeito 4. ( ) Insatisfeito 2.( ) Muito
insatisfeito

16. Em que medida você avalia sua motivação para trabalhar? 1.( ) Muito baixa 2. ( ) Baixa 3.( ) Média
4.( ) Alta 5.( ) Muito alta

17. O quanto você está satisfeito com a sua qualidade de vida no trabalho?
1. ( ) Plenamente satisfeito 2. ( ) Relativamente satisfeito 3. ( ) Satisfeito 4. ( ) Insatisfeito 2.( ) Muito
insatisfeito

18. Você costuma praticar regularmente alguma atividade física?


1. ( ) Não 2. ( ) Sim, 1 a 2 vezes por semana 3. ( ) Sim, 3 a 4 vezes por semana
4. ( ) Sim, 5 a 7 vezes por semana

19. De um modo geral, como você avalia sua saúde?


1. ( ) Muito boa 2. ( ) Boa 3. ( ) Regular 4. ( ) Ruim 5. ( ) Muito ruim

20. Algum médico ou outro profissional de saúde já disse que você tem algum(uns) desses problemas?
1.( ) Diabetes 2.( ) Hipertensão Arterial 3.( ) Depressão 4.( ) Síndrome de burnout 5.( ) Lesão
por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho- LER/DORT 6.( )
Outra(s):________________________________________________ _________________________

21. Nos últimos 15 dias, você tem sentido cansaço para falar? 1. ( ) Não 2. ( ) De vez em quando 3. ( )
Diariamente

22. Nos últimos 15 dias, você percebeu piora na qualidade de sua voz? 1. ( ) Não 2. ( ) De vez em quando 3. ( )
Diariamente

Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente


cada grupo, marque um X em uma ou mais da(s) opção(ões) que melhor descreve(m) a maneira
como tem se sentido na última semana, incluindo hoje. Você pode marcar mais de uma opção em
cada grupo.

1 1 Não me sinto triste 2 1 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro


2 Eu me sinto triste 2 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro
3 Estou sempre triste e não consigo sair disto 3 Acho que nada tenho a esperar
4 Estou tão triste ou infeliz que não consigo 4 Acho o futuro sem esperanças e tenho a impressão de
suportar que as coisas não podem melhorar

131
Apêndice

3 1 Não me sinto um fracasso 4 1 Tenho tanto prazer em tudo como antes


2 Acho que fracassei mais do uma pessoa comum 2 Não sinto mais prazer nas coisas como antes
3 Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que 3 Não encontro um prazer real em mais nada
o posso ver é um monte de fracassos. 4 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo
4 Acho que, como pessoa, sou um completo
fracasso.

5 1 Não me sinto especialmente culpado 6 1 Não acho que esteja sendo punido
2 Eu me sinto culpado grande parte do tempo 2 Acho que posso ser punido
3 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo 3 Creio que vou ser punido
4 Eu me sinto sempre culpado 4 Acho que estou sendo punido

7 1 Não me sinto decepcionado comigo mesmo 8 1 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros
2 Estou decepcionado comigo mesmo 2 Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas
3 Estou enjoado de mim 3 Eu me culpo sempre por minhas falhas
4 Eu me odeio 4 Eu me culpo por tudo de mal que acontece

9 1 Não tenho quaisquer ideias de me matar 10 1 Não choro mais que o habitual
2 Tenho ideias de me matar, mas não as executaria 2 Choro mais agora do que costumava
3 Gostaria de me matar 3 Agora, choro o tempo todo
4 Eu me mataria se tivesse oportunidade 4 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo,
mesmo que o queira

11 1 Não sou mais irritado agora do que já fui 12 1 Não perdi o interesse pelas outras pessoas
2 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do 2 Estou menos interessado pelas outras pessoas do que
que costumava costumava estar
3 Agora, eu me sinto aborrecido o tempo todo 3 Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras
4 Não me irrito mais com coisas que costumavam 4 pessoas
me irritar Perdi todo o interesse pelas pessoas

13 0 Tomo decisões tão bem quanto antes 14 0 Não acho que de qualquer modo pareço pior do que
1 Adio as decisões mais do que costumava 1 antes
2 Tenho mais dificuldade de tomar decisões do que 2 Estou preocupado em estar parecendo velho ou sem
3 antes 3 atrativo
Absolutamente não consigo mais tomar decisões Acho que há mudanças permanentes na minha
aparência
Acredito que pareço feio

15 0 Posso trabalhar tão bem quanto antes 16 0 Consigo dormir tão bem como habitual
1 Preciso de esforço extra para fazer alguma coisa 1 Não durmo tão bem como costumava
2 Preciso me esforçar muito para fazer alguma 2 Acordo 1 a 2 horas mais cedo do que habitualmente e
3 coisa acho difícil voltar a dormir
Não consigo mais fazer qualquer trabalho 3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não
consigo voltar a dormir

17 0 Não fico mais cansado do que o habitual 18 0 Meu apetite não está pior do que o habitual
1 Fico cansado mais facilmente que antes 1 Meu apetite não é tão bom como costumava
2 Fico cansado em fazer qualquer coisa 2 Meu apetite é muito pior agora
3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa 3 Absolutamente não tenho mais apetite

19 1 Não tenho perdido muito peso, se é que perdi 20 0 Não estou mais preocupado com a minha saúde do que o
algum recentemente 1 habitual
2 Perdi mais do que 2 quilos e meio Estou preocupado com problemas físicos, tais como dores,
3 Perdi mais do que 5 quilos 2 indisposições do estômago ou constipação
3 Perdi mais do que 7 quilos Estou muito preocupado com problemas físicos é difícil
4 Estou tentando perder peso de propósito, pensar em outra coisa
3
comendo menos: ( ) Sim ( ) Não Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não
consigo pensar em qualquer outra coisa

132
Apêndice

21 0 Não notei qualquer mudança recente no meu


interesse por sexo
1 Estou menos interessado por sexo que antes
2 Estou muito menos interessado por sexo agora
3 Perdi completamente o interesse por sexo

Por favor, leia atentamente cada um dos itens a seguir e marque um “x” na frequência
em que cada acontecimento costuma ocorrer no(s) serviço(s) de saúde em que você trabalha. Não
existem respostas certas ou erradas e não haverá nenhum dado que possa lhe identificar.
Nº Com que frequência
cada acontecimento
costuma ocorrer Quase Qual o tipo de
Nunca Quase Nunca Às vezes Sempre
no(s) serviço(s) de Sempre serviço?
saúde em que você
trabalha?
1 Pessoas negras
são tratadas com ( ) Público /SUS
menos gentileza ( ) Privado
do que outras ( ) Ambos
pessoas.
2 Médicos agem
( ) Público/SUS
como se pessoas
( ) Privado
negras não fossem
( ) Ambos
inteligentes.
3 Profissionais de
enfermagem ( ) Público/SUS
atuam como se ( ) Privado
tivessem medo de ( ) Ambos
pessoas negras.
4 Recepcionistas ou
atendentes agem
( ) Público/SUS
como se fossem
( ) Privado
pessoas melhores ( ) Ambos
do que as pessoas
negras.
5 Pessoas negras
são tratadas com ( ) Público/SUS
menos respeito ( ) Privado
do que as outras ( ) Ambos
pessoas.
6 Médicos agem
( ) Público/SUS
como se tivessem
( ) Privado
medo de pessoas ( ) Ambos
negras.
7 Profissionais de
enfermagem
atuam como se ( ) Público/SUS
fossem pessoas ( ) Privado
melhores do que ( ) Ambos
as pessoas
negras.
8 Recepcionistas ou
( ) Público/SUS
atendentes agem
( ) Privado
como se pessoas ( ) Ambos
negras não

133
Apêndice

fossem
inteligentes.
9 Pessoas negras
são tratadas
( ) Público/SUS
como se seu
( ) Privado
problema de ( ) Ambos
saúde não tivesse
importância.
10 Médicos agem
como se fossem ( ) Público/SUS
pessoas melhores ( ) Privado
do que as pessoas ( ) Ambos
negras.
11 Profissionais de
enfermagem
( ) Público/SUS
atuam como se
( ) Privado
pessoas negras ( ) Ambos
não fossem
inteligentes.
12 Recepcionistas ou
atendentes agem ( ) Público/SUS
como se tivessem ( ) Privado
medo de pessoas ( ) Ambos
negras.
13 Pessoas negras
recebem serviços ( ) Público/SUS
inferiores ao que ( ) Privado
as outras pessoas ( ) Ambos
recebem.

Obrigado(a) pela colaboração!

134
SOBRE OS AUTORES

Renata Jardim

Fonoaudióloga pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.


Mestre e Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Vinculada ao Projeto de Pesquisa Política de Educação Permanente em Saúde:
Recursos Humanos e Articulação Ensino-Serviço no Cenário das Redes de Atenção
à Saúde no Estado do Sergipe, Coordenadora do Projeto de Pesquisa “As
condições de vida e saúde de comunidades rurais do interior de Sergipe, Brasil”.
Líder do Grupo de pesquisa Núcleo Transdisciplinar de Estudos em Saúde Coletiva
da UFS, campus Lagarto. Tem experiência em Saúde Pública, Epidemiologia,
Atenção Primária à Saúde, Saúde do Trabalhador, Educação Permanente e
Fonoaudiologia. Atualmente, é professora adjunta no Departamento de Educação
em Saúde da Universidade Federal de Sergipe, ministrando o módulo Prática de
Ensino na Comunidade. E-mail: renatajardim.m@gmail.com.

Márcia Schott

Professora Adjunta do Departamento de Educação em Saúde, da


Universidade Federal de Sergipe, campus Lagarto, desde 2014. Doutora em
Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2013). Mestre em Saúde
Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz (2008). Possui
Especialização em Educação Profissional em Saúde pela Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz (2007). Graduada em Nutrição pela
Universidade Federal de Viçosa/MG (2004). Desenvolve pesquisas na área da
Saúde Coletiva com ênfase na Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. E-
mail: marciaschott@hotmail.com.

135
Luís Eduardo Oliveira Matos

Farmacêutico pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialista em


Saúde Coletiva e MBA Executivo em Gestão de Farmácias e Drogarias. Esteve
vinculado ao Projeto Integra (FioCruz) com o objetivo de desenvolver e articular
uma rede de integração de políticas públicas de saúde e práticas de assistência
farmacêutica, vigilância em saúde, ciência, tecnologia e inovação em saúde. Atuou
como colaborador no Centro de Informações sobre Medicamentos no prisma da
produção de informações técnico-científicas para a tomada de decisões
terapêuticas. Pesquisador do Núcleo Transdisciplinar de Estudos em Saúde
Coletiva da UFS-Lagarto. Investiga e desenvolve pesquisas nas grandes áreas de
saúde pública e coletiva, com ênfase em políticas públicas de saúde, saúde do
trabalhador, condições de vida e saúde em diferentes dinâmicas territoriais, assim
como nas áreas de assistência farmacêutica, farmácia clínica e hospitalar.
Atualmente, é bolsista do Ministério da Educação vinculado ao Programa
Multiprofissional de Atenção Hospitalar à Saúde pelo Hospital Universitário de
Lagarto (HUL/UFS/EBSERH). E-mail: eduardooliveiramattos@gmail.com

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