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ATUALIDADES DO MERCADO FINANCEIRO

As transformações no sistema bancário brasileiro


Com a internacionalização da economia e os avanços tecnológicos dos últimos
anos, visando atender às necessidades de compartilhamento de recursos de
produção, de conhecimento e, até mesmo, de dinheiro, propiciaram o surgimento de
um novo paradigma de consumo, com um novo perfil de clientes: o consumidor digital.
Com clientes buscando cada vez mais facilidades e serviços mais baratos, surgem
“startups” de tecnologia financeira (conhecidas como fintechs), que acirraram a
concorrência no mercado financeiro, especializando-se em diversos segmentos que
antes eram apenas de domínio dos bancos. Estes, agora, se veem na obrigação de
reagir e adentrar a esse mundo digital, absorver esses desenvolvimentos e diversificar
seus produtos e formas de atendimento, sem perder espaço para os iniciantes no
mercado.
Diante disso, o Banco Central do Brasil (BCB) deu os primeiros passos no
sentido de regular esse novo mercado e, com isso, preservar a estabilidade do
sistema financeiro nacional. O “Marco Regulatório dos Pagamentos Eletrônicos” deu-
se a partir da aprovação da Lei 12.865 de 2013, a qual foi determinante para a
expansão das fintechs no país e para todas as transformações pelas quais os bancos
passaram desde então. Os bancos caminham no sentido de se transformarem em
plataformas de serviços digitais.
Com a popularização da internet e o desenvolvimento do comércio eletrônico
surgiram inúmeras oportunidades para as empresas e, em especial, para os bancos.
As novas plataformas remotas de vendas de produtos e serviços, com baixo custo, a
evolução dos meios de pagamento e a digitalização da moeda “desenharam” novos
modelos de negócios. Esse novo cenário permitiu ampliar os canais de atendimento
bancário e, para o consumidor, o acesso a serviços sem necessidade de ir até uma
agência.
No mercado financeiro, a concorrência se acirra e os grandes bancos
necessitam rapidamente reagir, moldando-se ao mundo digital, aos novos
consumidores e, também, à crescente ascensão das fintechs. Grande parte dos
consumidores dos serviços bancários tradicionais transformou-se em consumidor
digital, fazendo uso, principalmente, de aplicativos de celulares, realizando
pagamentos, transferências, entre outras atividades bancárias por esse novo canal.
Diante dessa perspectiva e preocupado com a qualidade dos serviços
financeiros, o Banco Central do Brasil (BCB) aprimorou diversos normativos,
garantindo ao consumidor o direito de escolha, como, por exemplo, da portabilidade
dos salários, dos seus dados cadastrais e do crédito, dando os primeiros sinais de
inovação no setor de pagamentos.
Em novembro de 2011, o BCB lançou o projeto “Parceria Nacional para
Inclusão Financeira (PNIF)” e, em maio de 2012, o “Plano de Ação para o
Fortalecimento do Ambiente Institucional” que, por sua vez, levou a aprovação da Lei
nº 12.865, em 9 de outubro de 2013. Essa Lei remete ao BCB a incumbência de definir
e regulamentar os critérios de um marco regulatório sobre os meios de pagamentos
eletrônicos e definiu novos integrantes para o Sistema Brasileiro de Pagamentos
(SBP4), dentre os quais estão:
i) Arranjo de pagamento é o conjunto de regras e procedimentos que disciplina a
prestação de determinado serviço de pagamento em público, aceito por mais de um
recebedor, mediante acesso direto pelos usuários finais, pagadores e recebedores;
ii) Instituidor de arranjo de pagamento é a pessoa jurídica responsável pelo arranjo
de pagamento e, quando for o caso, pelo uso da marca a ele associada;
iii) Conta de pagamento é a conta de registro detida em nome de usuário final de
serviços de pagamento, utilizada para a execução de transações de pagamento;
iv) Instrumento de pagamento é o dispositivo ou conjunto de procedimentos
acordado entre o usuário final e seu prestador de serviço de pagamento, utilizado para
iniciar uma transação de pagamento;
v) Moeda eletrônica são recursos armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico
que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento (Lei nº 12.865/2013 -
BCB).
A partir dessa parceria, permitiu-se ao setor de telecomunicações a
participação na oferta de serviços de pagamentos, mediante o fornecimento das
plataformas tecnológicas necessárias a essas operações. Entretanto, antes mesmo da
aprovação da lei, os principais bancos do país já tinham se unido com as operadoras
de telefonia móvel e as bandeiras de cartões para desenvolver projetos-piloto e testar
a oferta de serviços P2P (do inglês – peer to peer - pessoa a pessoa) por meio de
pagamentos móveis (os arranjos de pagamento).
Esses projetos utilizavam uma tecnologia que poderia ser aplicada em qualquer
tipo de celular, desde os mais simples. Pagamentos e transferências seguiriam como
mensagens de texto, passando pelo canal de voz dos aparelhos (tecnologia USSD),
de modo que não fique gravado nenhum dado sigiloso nos telefones móveis dos
usuários. Apenas as confirmações das transações ficam registradas nos aparelhos na
forma de SMS. Buscou-se, assim, atender a parcela mais carente da população, sem
acesso a bancos.
Uma das justificativas para o modelo proposto pelo BCB é o crescimento do
número de celulares nas mãos dos brasileiros: segundo a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel), em março de 2017, o número de celulares ativos no Brasil
chegou próximo a 243 milhões de aparelhos, sendo 162,3 milhões pré-pagos (67%).
Isso representava 117 aparelhos para cada 100 habitantes, ou seja, mais celulares
que habitantes no país.
A Lei 12.865/13 democratizou o acesso dos brasileiros a diversos serviços,
viabilizando a inclusão financeira no país. Mesmo sem conta corrente, pessoas podem
fazer pagamentos e transferências por meio de outras empresas, fazendo uso dos
seus telefones celulares. Por essa razão, pode-se dizer que o que ocorreu foi um
processo de financeirização (acesso a serviços financeiros) e não de bancarização
(acesso aos bancos).
Mas, para além da questão da inclusão financeira, o BCB está interessado,
também, na redução do papel-moeda em circulação e, consequentemente, os custos
gerados em sua produção e manutenção, pois, “a migração total dos instrumentos
baseados em papel para os eletrônicos economizaria o equivalente 0,7% do PIB
nacional” (BCB, 2012)
Instituições de pagamento
1. As instituições de pagamento são classificadas nas seguintes modalidades,
de acordo com os serviços de pagamento prestados: emissor de moeda eletrônica,
emissor de instrumento de pagamento pós-pago, credenciador e iniciador de
transação de pagamento.
2. Emissor de moeda eletrônica é a instituição de pagamento que gerencia
conta de pagamento de usuário final, do tipo pré-paga, disponibiliza transação de
pagamento que envolva o ato de pagar ou transferir, com base em moeda eletrônica
previamente aportada nessa conta, converte tais recursos em moeda física ou
escritural, ou vice-versa, podendo habilitar a aceitação da moeda eletrônica com a
liquidação em conta de pagamento por ela gerenciada.
2.1 Considera-se moeda eletrônica os recursos em reais armazenados em
dispositivo ou sistema eletrônico que permitam ao usuário final efetuar transação de
pagamento.
2.2 Conta Correspondente a Moeda Eletrônica (CCME) é a conta específica
mantida no Banco Central do Brasil, de titularidade das instituições de pagamento, das
instituições financeiras e das demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central do Brasil, quando emissoras de moeda eletrônica, destinada exclusivamente à
manutenção dos recursos em espécie correspondentes ao valor de moedas
eletrônicas mantidas em conta de pagamento prepaga por elas gerenciadas, acrescido
dos saldos de moedas eletrônicas em trânsito entre contas de pagamento na mesma
instituição de pagamento.
2.3 As instituições emissoras de moeda eletrônica devem manter recursos
líquidos correspondentes aos saldos de moedas eletrônicas mantidas em contas de
pagamento, apurados no fechamento da grade regular de operações dos participantes
no Sistema de Transferência de Reservas (STR), acrescidos de:
I - saldos de moedas eletrônicas em trânsito entre contas de pagamento na
mesma instituição;
II - valores recebidos pela instituição para crédito em conta de pagamento,
enquanto não disponibilizados para livre movimentação pelo usuário final titular da
conta de pagamento destinatária.
2.3.1 Os recursos apurados devem ser alocados exclusivamente em:
i - espécie, no Banco Central do Brasil; ou
ii - títulos públicos federais, registrados no Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia (Selic).
3. Emissor de instrumento de pagamento pós-pago é a instituição de
pagamento que gerencia conta de pagamento de usuário final pagador, do tipo pós-
paga, e disponibiliza transação de pagamento com base nessa conta.
4. Credenciador é a instituição de pagamento que, sem gerenciar conta de
pagamento:
a) habilita recebedores para a aceitação de instrumento de pagamento emitido
por instituição de pagamento ou por instituição financeira participante de um mesmo
arranjo de pagamento;
b) participa do processo de liquidação das transações de pagamento como
credor perante o emissor, de acordo com as regras do arranjo de pagamento.
5. Iniciador de transação de pagamento é a instituição de pagamento que
presta serviço de iniciação de transação de pagamento:
a) sem gerenciar conta de pagamento;
b) sem deter em momento algum os fundos transferidos na prestação do
serviço.
5.1 Considera-se Iniciação de Transação de Pagamento o serviço que inicia
uma transação de pagamento ordenada pelo usuário final, relativamente à conta de
depósito ou de pagamento, comandada por instituição não detentora da conta à
instituição que a detém.
5.1.1 Em outras palavras, o Iniciador de Transação de Pagamento possibilita
que a Instituição Financeira em que é correntista realize o pagamento diretamente a
quem o ordenar, sem a necessidade de acessar o aplicativo, com débito em sua
conta.
5.2 O Iniciador de Transação de Pagamento não poderá:
(i) armazenar dados relacionados com as credenciais dos usuários finais
utilizadas para autenticar a transação de pagamento perante a instituição detentora da
conta;
(ii) exigir do usuário final quaisquer outros dados além dos necessários para
prestar o serviço de iniciação da transação de pagamento;
(iii) utilizar, armazenar ou acessar os dados para outra finalidade que não seja
a prestação do serviço de iniciação de transação de pagamento expressamente
solicitado pelo usuário final;
(iv) alterar o montante ou qualquer outro elemento da transação de pagamento
autorizada pelo usuário final;
(v) - iniciar transação de pagamento envolvendo conta de pagamento mantida
por instituição não integrante do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
5.2.1 As vedações referidas acima não se aplicam aos serviços de
processamento e armazenamento de dados e de computação em nuvem quando
prestados por instituição iniciadora de transação de pagamento a instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.
6. A instituição de pagamento deve solicitar autorização ao Banco Central do
Brasil para iniciar a prestação de serviço de pagamento nas modalidades de:
I - emissor de moeda eletrônica;
II - iniciador de transação de pagamento.
7. A instituição de pagamento deve ser constituída como sociedade empresária
limitada ou anônima e ter por objeto social principal uma das seguintes atividades:
a) disponibilizar serviço de aporte ou saque de recursos mantidos em conta de
pagamento;
b) executar ou facilitar a instrução de pagamento relacionada a determinado
serviço de pagamento, inclusive transferência originada de ou destinada a conta de
pagamento;
c) gerir conta de pagamento;
d) emitir instrumento de pagamento;
e) credenciar a aceitação de instrumento de pagamento;
f) executar remessa de fundos;
g) converter moeda física ou escritural em moeda eletrônica, ou vice-versa,
credenciar a aceitação ou gerir o uso de moeda eletrônica; e
h) outras atividades relacionadas à prestação de serviço de pagamento,
designadas pelo Banco Central do Brasil.
7.1 É vedada às instituições de pagamento a realização de atividades
privativas de instituições financeiras, sem prejuízo do desempenho das atividades
previstas acima.
8. Os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento observarão os
seguintes princípios, conforme parâmetros a serem estabelecidos pelo Banco Central
do Brasil, observadas as diretrizes do Conselho Monetário Nacional:
I - interoperabilidade ao arranjo de pagamento e entre arranjos de pagamento
distintos;
II - solidez e eficiência dos arranjos de pagamento e das instituições de
pagamento, promoção da competição e previsão de transferência de saldos em
moeda eletrônica, quando couber, para outros arranjos ou instituições de pagamento;
III - acesso não discriminatório aos serviços e às infraestruturas necessários ao
funcionamento dos arranjos de pagamento;
IV - atendimento às necessidades dos usuários finais, em especial liberdade de
escolha, segurança, proteção de seus interesses econômicos, tratamento não
discriminatório, privacidade e proteção de dados pessoais, transparência e acesso a
informações claras e completas sobre as condições de prestação de serviços;
V - confiabilidade, qualidade e segurança dos serviços de pagamento; e
VI - inclusão financeira, observados os padrões de qualidade, segurança e
transparência equivalentes em todos os arranjos de pagamento.
9. O Banco Central do Brasil, o Conselho Monetário Nacional, o Ministério das
Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estimularão, no
âmbito de suas competências, a inclusão financeira por meio da participação do setor
de telecomunicações na oferta de serviços de pagamento e poderão, com base em
avaliações periódicas, adotar medidas de incentivo ao desenvolvimento de arranjos de
pagamento que utilizem terminais de acesso aos serviços de telecomunicações de
propriedade do usuário.
10. O Sistema de Pagamentos e Transferência de Valores Monetários por meio
de Dispositivos Móveis (STDM), parte integrante do SPB, consiste no conjunto
formado pelos arranjos de pagamento que disciplinam a prestação dos serviços de
pagamento, baseado na utilização de dispositivo móvel em rede de telefonia móvel, e
pelas instituições de pagamento que a eles aderirem.
11. Compete ao Banco Central do Brasil, conforme diretrizes estabelecidas
pelo Conselho Monetário Nacional:
I - disciplinar os arranjos de pagamento;
II - disciplinar a constituição, o funcionamento e a fiscalização das instituições
de pagamento, bem como a descontinuidade na prestação de seus serviços;
III - limitar o objeto social de instituições de pagamento;
IV - autorizar a instituição de arranjos de pagamento no País;
V - autorizar constituição, funcionamento, transferência de controle, fusão,
cisão e incorporação de instituição de pagamento, inclusive quando envolver
participação de pessoa física ou jurídica não residente;
VI - estabelecer condições e autorizar a posse e o exercício de cargos em
órgãos estatutários e contratuais em instituição de pagamento;
VII - exercer vigilância sobre os arranjos de pagamento e aplicar as sanções
cabíveis;
VIII - supervisionar as instituições de pagamento e aplicar as sanções cabíveis;
IX - adotar medidas preventivas, com o objetivo de assegurar solidez, eficiência
e regular funcionamento dos arranjos de pagamento e das instituições de pagamento,
podendo, inclusive:
a) estabelecer limites operacionais mínimos;
b) fixar regras de operação, de gerenciamento de riscos, de controles internos
e de governança, inclusive quanto ao controle societário e aos mecanismos para
assegurar a autonomia deliberativa dos órgãos de direção e de controle; e
c) limitar ou suspender a venda de produtos, a prestação de serviços de
pagamento e a utilização de modalidades operacionais;
X - adotar medidas para promover competição, inclusão financeira e
transparência na prestação de serviços de pagamentos;
XI - cancelar, de ofício ou a pedido, as autorizações;
XII - coordenar e controlar os arranjos de pagamento e as atividades das
instituições de pagamento;
XIII - disciplinar a cobrança de tarifas, comissões e qualquer outra forma de
remuneração referentes a serviços de pagamento, inclusive entre integrantes do
mesmo arranjo de pagamento; e
XIV - dispor sobre as formas de aplicação dos recursos registrados em conta
de pagamento.
12. As instituições de pagamento sujeitam-se ao regime de administração
especial temporária, à intervenção e à liquidação extrajudicial, nas condições e forma
previstas na legislação aplicável às instituições financeiras.
13. O Banco Central do Brasil é autorizado a acolher depósitos de entidades
não financeiras integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
Transformação digital no Sistema Financeiro
Bancos ao redor do mundo têm percebido que investimentos em tecnologias
digitais são uma das formas de beneficiar a aquisição de novos clientes, bem como
conquistar a satisfação. O setor bancário está em desenvolvimento de melhorias de
suas capacidades digitais em atividades front office e para muitas instituições de
varejo, os canais virtuais e móveis se tornaram tão importantes quanto agências e
caixas eletrônicos.
A transformação digital tem se tornado uma realidade para empresas de diversos setores
que têm desenvolvido nos últimos anos uma série de iniciativas para a utilização de novas
tecnologias digitais e consequentemente usufruírem de seus benefícios, seja pelo aumento da
satisfação dos seus clientes ou pelo ganho de eficiência.
O setor bancário está inserido nesse contexto, motivado pelo alcance da
satisfação dos clientes e aspectos financeiros, tais como o aumento de receita e a
redução de custos operacionais. Esta é uma missão desafiadora para os bancos já
estabelecidos que precisam conciliar sua capacidade de inovação e digitalização com
seus sistemas e processos legados, tendo em vista que a transformação digital
abrange, além da implementação de tecnologias, a revisão de questões relativas à
gestão, ao negócio, às pessoas e à eficiência operacional.
Em termos gerais, verifica-se que as principais iniciativas que suportam a
transformação digital dos grandes bancos tradicionais estão voltadas para o fortalecimento dos
canais digitais, tais como mobile e internet banking, para o fomento da inovação por meio de
espaços dedicados a implementação de novas ideias em parceria com entes externos à
organização, assim como para melhoria e otimização dos recursos internos, como por exemplo,
a adoção de cloud computing e inteligência artificial.
Um exemplo de instituição financeira que implantou seu espaço de inovação é
o BB, que possui um espaço em Brasília-DF para testar ideias propostas pelos
próprios funcionários. Formam-se ali grupos de profissionais de áreas distintas para
discutirem os projetos (processo conhecido como “mesas ágeis”). Os que se destacam
nessa etapa passam um período no Vale do Silício para aprimorarem seus projetos,
que farão parte do portfólio do banco e oferecido aos clientes, posteriormente.
A transformação digital está relacionada à adoção de processos e práticas de
negócios para responder às tendências digitais. É necessário se adaptar a como os
clientes, parceiros, funcionários e concorrentes usam as tecnologias digitais, para
ajudar a organização a competir de forma efetiva. Desta forma, a transformação
digital representa uma mudança organizacional induzida pelos avanços
tecnológicos.
Canais de operações financeiras
As diversas transações bancárias são feitas pelos canais tradicionais, digitais e
POS – points of sale ou ainda pela otimização da operação (pontos de venda). De acordo
com a classificação feita pela FEBRABAN:
• os canais tradicionais são aqueles majoritariamente utilizados antes dos
meios digitais se tornarem acessíveis. Tratam-se das agências bancárias com ponto
fixo e de livre acesso dos clientes e usuários; das máquinas de autoatendimento (ATM
- Automated Teller Machine); das centrais de atendimento telefônico (contact centers)
e dos correspondentes bancários (empresas terceirizadas, vinculadas ao comércio
que por meio de convênio, prestam serviços bancários);
• os canais digitais estão ancorados no uso de:
a) smartphones ou tablets, nominados de mobile banking e
b) computador pessoal, nominado de internet banking;
• os POS estão distribuídos nos mais diversos negócios e são popularmente
chamados de “maquininha” de débito e crédito.
Os correspondentes bancários consistem em parcerias estabelecidas entre as
Instituições Financeiras e empresas do setor do comércio, sobretudo varejista, assim
como dos Correios, lotéricas e imobiliárias. Estas empresas comercializam produtos e
serviços bancários e executam operações transacionais, sem a intermediação direta
de um trabalhador bancário. Esse fenômeno já está consolidado no país e apresentou
significativo crescimento desde o ano 2000.
Tecnologias

A pesquisa “CIAB Febraban 2020” traz algumas informações importantes para


analisarmos as transformações no setor. Consta, por exemplo, que o smartphone já é
o principal canal de intermediação financeira no país.
Ao mesmo tempo em que crescem significativamente as interações pelos
canais digitais de atendimento, os bancos reduzem seus pontos de atendimento
físicos. As interações via Chatbot, por exemplo, cresceram quase 3000%. Chatbots
tratam-se de programas baseados em uma inteligência artificial cada vez mais
aperfeiçoada, para imitar humanos em conversas com os usuários de diversas
plataformas e aplicativos. Um exemplo de chatbot que ganhou muito espaço, inclusive
na mídia, é a BIA (Bradesco Inteligência Artificial). A BIA é uma solução de inteligência
artificial da IBM (de nome Watson) que se tornou a assistente virtual do Banco
Bradesco. A BIA é o primeiro caso de utilização do Watson em língua não inglesa.
De olho nessas transformações, os bancos realizam significativos
investimentos em tecnologia. Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária
(2019), os bancos representam o segundo setor que mais investe em tecnologia, no
Brasil e no mundo, representando cerca de 14% do total dos dispêndios (despesas e
investimentos), perdendo apenas para o setor governamental. Entre 2011 e 2018,
foram gastos mais de R$ 155 bilhões nas novas tecnologias, em média, 19,4 bilhões
ao ano (vide tabela abaixo).
Gastos dos Bancos em Tecnologia – Brasil 2011 a 2018 (em R$ bilhões)
Ano Investimentos Despesas Total
2011 5,8 11,8 17,6
2012 7,2 12,1 19,3
2013 7,0 13,8 20,8
2014 7,9 13,5 21,4
2015 5,4 13,7 19,1
2016 5,3 13,3 18,6
2017 5,8 13,2 19,0
2018 5,7 13,9 19,6
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2019.

Dentre as prioridades de investimentos nos bancos destacam-se as principais


tecnologias da “Indústria 4.0” (a chamada “Quarta Revolução Industrial”): Big Data e
Analytics; inteligência artificial e computação cognitiva; Blockchain, robótica e open
banking. A estratégia dos bancos está baseada na análise de dados. Graças à internet
e às redes sociais, nunca se produziu tantos dados no mundo como na atualidade.
Com a crescente digitalização, dados se tornaram matéria-prima para os negócios.
Outro movimento que vem sendo observado desde que o BCB deu início ao
PNIF é o crescimento das transações financeiras realizadas pelos canais virtuais dos
bancos. Como pode ser observado na tabela 2, as transações realizadas pelo celular
(mobile) só começam a ser observadas em 2012, representando apenas 1% do total.
Todavia, em 2018, já representavam 40% das transações. Somando-se com as
transações por internet, o uso dos canais virtuais dos bancos superou o uso dos
canais tradicionais já em 2015.
Tabela 2: Transações Bancárias por canal - Brasil 2011 a 2018 (em % do total)
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Mobile Banking 0 1 4 10 20 28 35 40
Internet Banking 38 39 41 37 32 24 22 20
ATM 26 25 23 21 18 16 14 12
POS 16 16 16 15 14 15 15 16
Agencias 12 11 10 10 8 8 7 5
Correspondentes 4 4 3 4 6 7 5 5
Contact Center 4 4 4 3 2 2 2 2
Em 2018, das transações com movimentação financeira, aquelas feitas via
POS (máquinas de cartão de crédito ou débito) superaram as realizadas pelos canais
tradicionais (agências, correspondentes, ATM’s e contact center). Foram 12,6% do
total das transações contra 11,6%, demonstrando a predominância dos pagamentos
eletrônicos frente aos pagamentos em espécie (FEBRABAN, 2019). Muitas pessoas
perderam o costume de carregar dinheiro consigo, enquanto outras, que não o tem,
muitas vezes, fazem uso de crédito na forma de cartão ou cheque especial em suas
operações, o que pode ser prejudicial, pois o consumidor corre o risco de perder o
controle sobre suas finanças.
Tecnologias emergentes no setor financeiro e suas aplicações

Big Data e Analytics – os dados captados pelas instituições são tratados para
direcionar o atendimento, proporcionando maior segmentação.
Inteligência Artificial e Computação Cognitiva – dentre as aplicações mais
conhecidas se destaca aquelas viabilizadas pelos chatbots (robôs de conversão em
linguagem natural com clientes que podem ser por meio de texto ou voz), análise de
proposta de empréstimos, dentre outras.
Blockchain –trata-se de “tecnologia de registro distribuído que visa a
descentralização como medida de segurança” e que, no mercado financeiro, promove
o barateamento das operações bem como automatiza e garante mais segurança a
esses processos. Esta tecnologia permite maior agilidade em transações que exigem
segurança e transparência. Devido a possibilidade de inalterabilidade e rastreabilidade
do que se denomina “livro digital” ou “cadeia de blocos” é possível enviar uma ordem
de pagamento e ter a mesma validada em duas horas, sendo que antes poderia levar
dois dias. Mais à frente, aprofundaremos o entendimento acerca do blockchain.
Robótica – o uso de softwares que realizam a automação robótica de
processos em escritórios tem ainda espaço para crescer. Os robôs podem atuar
associados às tecnologias da inteligência artificial.
Open Banking – é uma plataforma aberta que permite interconexão de
bancos, fintechs, big techs e empresas de diversos ramos ou lojas, disponibilizando a
exploração de dados e informações dos clientes e consumidores. Mais adiante,
aprofundaremos o estudo do open banking.
Tendo em vista as iniciativas divulgadas pelo Banco do Brasil, identifica-se que o
banco vê na simplificação de processos e na transformação digital indutores para a melhoria da
produtividade e ganho de eficiência, investindo desta forma, em soluções de mobilidade e
integração tecnológica.
Fintechs
A Lei 12.865/13 foi determinante, também, para a diversificação dos serviços
financeiros e para a expansão das Fintechs1 – “empresas que usam tecnologia de
forma intensiva para oferecer produtos na área de serviços financeiros de uma forma
inovadora, sempre focada na experiência e necessidade do usuário” (ABFintechs) .
Numa definição sucinta, Fintechs são organizações que combinam modelos de
negócios e tecnologia inovadoras para ofertar serviços financeiros a empresas e
pessoas. Um dos grandes diferenciais dessa modalidade de negócio, observáveis em
outros lugares do mundo, é que o conjunto de serviços financeiros disponíveis não se
1
As Fintechs são startups. Startups são companhias e empresas que estão iniciando suas atividades e
que buscam explorar atividades inovadoras em qualquer área ou ramo de atividade, procurando
desenvolver um modelo de negócio escalável e que seja repetível, ou seja, capaz de entregar o mesmo
produto novamente em escala potencialmente ilimitada
baliza pelas exigências tradicionais, com contrapartidas rígidas, garantias por ativos ou
recebíveis, dentre outros. Sua funcionalidade deriva de um sistema de pontuação
semelhante às plataformas de entrega ou transporte e a “nota” de cada indivíduo
garante a disponibilidade de um novo empréstimo.
O consumidor é atraído pela facilidade e rapidez com que os serviços são
executados por essas empresas, enquanto, o banco tradicional mantém processos
extremamente burocráticos, caros e, para muitos, inacessíveis.
O Brasil é hoje o destaque em investimentos na América Latina e, entre 2014 e
2019, viu o total de fintechs saltar de 295 para 742, crescimento de 150%. Quando se
observa o crescimento do número de fintechs especializadas nos mais diversos
segmentos bancários, o que parecia ser uma ameaça de maior concorrência no
mercado tornou-se uma oportunidade aos bancos de transformarem seus sistemas e
tornarem-se plataformas digitais, por meio de parcerias com muitas dessas startups.
Os grandes bancos estão se aproximando cada dia mais do universo das
Fintechs, abrindo espaço para estas desenvolverem suas ideias e produtos e
absorvendo para dentro de seus sistemas o que entendem que trará mais eficiência e
competitividade para eles.
Contudo, a proliferação de fintechs chamou a atenção dos órgãos reguladores,
tendo em vista que, ao captarem, intermediarem ou aplicarem recursos financeiros de
terceiros, seja por transferência de valores, circulação da moeda ou com qualquer
outra atividade financeira, ainda que por meio de operações em plataformas digitais,
elas não podem deixar de atender a normas e regulamentos, de forma a preserva a
ordem econômica.
Sob o discurso da inclusão financeira e bancarização, o BCB iniciou um
processo de regulamentação desse novo mercado. Nesse sentido, o Conselho
Monetário Nacional (CMN), em 2018, aprovou a Resolução 4.656/18, que definiu a
existência de dois novos tipos de instituições financeiras: as Sociedades de Crédito
Direto (SCD) e as Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP).
A SCD (Sociedade de Crédito Direto) é instituição financeira que tem por
objeto a realização de operações de empréstimo, de financiamento e de aquisição de
direitos creditórios exclusivamente por meio de plataforma eletrônica, com utilização
de recursos financeiros que tenham como única origem capital próprio. Além dessas
operações, a SCD pode prestar apenas os seguintes serviços:
I - análise de crédito para terceiros;
II - cobrança de crédito de terceiros;
III - atuação como representante de seguros na distribuição de seguro
relacionado com as operações mencionadas por meio de plataforma eletrônica;
IV - emissão de moeda eletrônica, nos termos da regulamentação em vigor; e
V - emissão de instrumento de pagamento pós-pago, nos termos da
regulamentação em vigor.
É vedado à SCD:
I - captar recursos do público, exceto mediante emissão de ações; e
II - participar do capital de instituições financeiras.
A SCD pode financiar as operações de crédito a que está autorizada
exclusivamente por intermédio da:
I - realização da venda ou da cessão dos créditos relativos a essas mesmas
operações apenas para:
a) instituições financeiras;
b) fundos de investimento cujas cotas sejam destinadas exclusivamente a
investidores qualificados, conforme definição da regulamentação da Comissão de
Valores Mobiliários; ou
c) companhias securitizadoras que distribuam os ativos securitizados
exclusivamente a investidores qualificados, conforme definição da regulamentação da
Comissão de Valores Mobiliários; ou
II - obtenção de recursos para concessão de créditos, em conformidade com
seu objeto social, em operações de repasses e de empréstimos originários do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas) é instituição financeira
que tem por objeto a realização de operações de empréstimo e de financiamento entre
pessoas exclusivamente por meio de plataforma eletrônica. Além de realizar as
operações mencionadas, a SEP pode prestar apenas os seguintes serviços:
I - análise de crédito para clientes e terceiros;
II - cobrança de crédito de clientes e terceiros;
III - atuação como representante de seguros na distribuição de seguro
relacionado com as operações mencionadas no caput, nos termos da regulamentação
do CNSP; e
IV - emissão de moeda eletrônica, nos termos da regulamentação em vigor.
As operações de empréstimo e de financiamento entre pessoas por meio de
plataforma eletrônica são operações de intermediação financeira em que recursos
financeiros coletados dos credores são direcionados aos devedores, após negociação
em plataforma eletrônica. Os credores podem ser:
I - pessoas naturais;
II - instituições financeiras;
III - fundos de investimento cujas cotas sejam destinadas exclusivamente a
investidores qualificados, conforme definição da regulamentação da Comissão de
Valores Mobiliários;
IV - companhias securitizadoras que distribuam os ativos securitizados
exclusivamente a investidores qualificados, conforme definição da regulamentação da
Comissão de Valores Mobiliários; ou
V - pessoas jurídicas não financeiras, exceto companhias securitizadoras que
não se enquadrem na hipótese do inciso IV.
Os devedores podem ser pessoas naturais ou jurídicas, residentes e
domiciliadas no Brasil.
É vedado à SEP:
I - realizar operações de empréstimo e de financiamento com recursos
próprios;
II - participar do capital de instituições financeiras;
III - coobrigar-se ou prestar qualquer tipo de garantia nas operações de
empréstimo e de financiamento, exceto na hipótese do art. 10, parágrafo único, da
Resolução 4.656/2018;
IV - remunerar ou utilizar em seu benefício os recursos relativos às operações
de empréstimo e de financiamento;
V - transferir recursos aos devedores antes de sua disponibilização pelos
credores;
VI - transferir recursos aos credores antes do pagamento pelos devedores;
VII - manter recursos dos credores e dos devedores em conta de sua
titularidade não vinculados às operações de empréstimo e de financiamento; e
VIII - vincular o adimplemento da operação de crédito a esforço de terceiros ou
do devedor, na qualidade de empreendedor.
As Fintechs e o sistema de inovação

O surgimento das fintechs ao redor do mundo foi impulsionado pelos esforços


para desconstruir e repensar os modelos de negócios incorporados aos serviços
financeiros. Por essa razão, tais tecnologias são chamadas de disruptivas (elas visam
romper com os padrões e processos burocráticos, caros e excludentes dos bancos
atuais). As fintechs podem gerar diversos impactos sociais, em função de sua
especialização, desburocratização e dos baixos custos de transação obtidos com a
aplicação intensiva das plataformas digitais.
Participam do sistema de inovação financeira os reguladores do sistema
financeiro, que são: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BCB e a
Superintendência dos Seguros Privados (SUSEP), nesse caso, regulando a atuação e
o funcionamento das insurtechs2. Existem também algumas associações de fintechs,
tais como a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintech), a Associação Brasileira de
Crédito Digital (ABCD) e o Laboratório de Inovação Financeira (LAB), que foi criado
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a CVM, visando promover o
debate e compartilhamento de inovações que contribuam com o desenvolvimento
sustentável do país entre os mais diversos setores.
Além dos reguladores, tem-se ainda, os investidores, as bandeiras (de
cartões), as aceleradoras de startups e os hubs de inovação.
Os hubs de inovação são espaços em que se reúnem as startups, com
médias e grandes empresas além de potenciais investidores, ou seja, conectam
diversas partes do sistema, visando a geração de negócios. Os hubs podem gerar
alguns impactos positivos, tais como:
i) apoiar as startups na estruturação de seu negócio e em sua conexão com clientes e
investidores, contribuindo para aumentar a taxa de sucesso dos pequenos
empreendimentos inovadores;
ii) auxiliar na geração de empregos qualificados;
iii) facilitar a criação e exploração de novas tecnologias e modelos de negócio; e,
iv) fomentar um ambiente empreendedor mais inclusivo.
Por sua vez, as aceleradoras, em geral, são entes privados com capacidade
própria para investimento que agregam empreendedores, investidores, pesquisadores,
2
Insurtechs são startups, pequenas empresas focadas no cliente das seguradoras, buscando desenvolver
sistemas digitais que simplifiquem todo o processo burocrático na contratação de um seguro.
empresários, mentores de negócio e fundos de investimento. Sem burocracia, elas
apostam em uma boa ideia e oferecem uma série de serviços orientados ao
desenvolvimento de startups, tais como, infraestrutura física, assessoria jurídica e
contábil, além de acesso ao mercado.
Os grandes bancos estão se aproximando das fintechs, absorvendo parte dos
desenvolvimentos tecnológicos em seus próprios sistemas, na forma de aceleradoras
ou construindo hubs de inovação e, até mesmo, como investidores. Por exemplo, o
Next, banco 100% digital do Bradesco, surgiu dessa aproximação de banco e fintechs.
Big techs
As Big Techs são as grandes empresas de tecnologia que dominaram o
mercado nos últimos anos. Inicialmente pequenas startups, essas organizações,
geralmente localizadas no Vale do Silício, criaram serviços inovadores e disruptivos se
utilizando de um modelo de negócios escalável, dinâmico e ágil. Muitas vezes
gratuitos, esses produtos passaram a fazer parte do dia a dia de várias pessoas, como
é o caso dos serviços do Google, da Uber, da Netflix, do Facebook, da Amazon, entre
outras, que dominam grande conjunto de informações e dados dos clientes no mundo
contemporâneo. Por exemplo, o WhatsApp, do Facebook, abarca sob seu domínio 120
milhões de usuários no País, que passam, em média, 1h30 por dia no aplicativo.
O principal motor das Big Techs é a inovação. Justamente por isso, o lema
“move fast and break things” (mova-se rápido e quebre coisas) é comum nessa área.
Essas companhias precisam definir novas tecnologias e serviços continuamente,
atualizando produtos e dispositivos para atenderem às demandas e se manterem
relevantes. Por isso, é comum que a cada ano as empresas desse setor promovam
conferências para anunciar os seus próximos passos: nesse evento, o negócio permite
que a comunidade de desenvolvedores se prepare e trabalhe lado a lado com ele para
atuar junto na criação das novidades.
Como as Big Techs se relacionam com o mercado bancário atual?

Para se manterem inovadoras e lucrativas, as empresas de tecnologia estão


direcionando os seus serviços para várias áreas. O mercado bancário não é diferente.
Focando no potencial comercial e na possibilidade de gerar disrupção em um campo
normalmente conhecido como rígido, muitos empreendedores estão voltando os seus
projetos para esse ramo.
O Facebook, por exemplo, quer investir em pagamentos online com o apoio do
blockchain. A ferramenta já chegou ao Whatsapp, com o WhatsApp Pay, e promete
facilitar as transações comerciais no país. Esse é apenas um exemplo sobre os
motivos para o mercado financeiro se manter atento e utilizar essa mudança como
uma oportunidade de otimizar os seus processos e ser mais inovador.
WhatsApp Pay: nova função do aplicativo

O WhatsApp divulgou recentemente no Brasil o lançamento do recurso de


pagamentos por meio do aplicativo (para celulares Android e iOS), inclusive no
WhatsApp Business. A nova função permite que os usuários enviem e recebam
dinheiro dentro do aplicativo, seja para pagar por produtos e serviços ou transferir
dinheiro para parentes e amigos. O Brasil é o primeiro país a receber a ferramenta que
promete facilitar as transações comerciais no país.
Para utilizar o novo recurso sem taxas de serviços basta habilitar um cartão
parceiro no Facebook Pay. Em seguida, abra a conversa do contato que deseja enviar
o dinheiro e, depois, pressione em “Anexar” e em “Pagamento”. Para prosseguir, insira
o valor e uma mensagem para descrever o pagamento e toque em “PAGAR”.
Já o WhatsApp Business não possui limite de transações para o comerciante
receber pagamentos por vendas de produtos ou serviços, basta habilitar a opção. Para
isso, o empreendedor precisa criar uma conta Cielo ou conectar uma conta existente
da empresa para receber pagamentos por vendas. Para eles é cobrada uma taxa de
3,99% em cada pagamento dos clientes pelo aplicativo normal.
Acerca da segurança da plataforma, o WhatsApp afirma possuir um sistema
avançado de armazenamento de dados e a criptografia que coleta os números dos
cartões em uma rede separada e segura. Os usuários recebem um código de
confirmação do WhatsApp, o PIN do Facebook Pay e o código de verificação, para
utilizar o recurso de forma segura. Apesar disso, o novo recurso não utiliza criptografia
de ponta-a-ponta, pois os bancos precisam receber as informações sobre cada
pagamento.
Blockchain
De forma resumida, blockchain é um sistema que permite rastrear o envio e
recebimento de alguns tipos de informação pela internet. Blockchain é, em suma, uma
cadeia de blocos de informação digital eletrônica, onde cada bloco contém um arquivo
e um hash3, o que garante que as informações desse bloco de dados não foram
violadas. Todo bloco criado contém sua hash e a do bloco anterior, criando uma
conexão entre os blocos. É dessa ligação que surge o nome blockchain (corrente de
blocos, em português).
Os blocos são dependentes um dos outros e formam uma cadeia de blocos
(por isso o nome: blockchain). Isso torna a tecnologia perfeita para registro de
informações que necessitam de confiança. Por isso a tecnologia blockchain é tão
importante hoje no sistema financeiro.
A blockchain registra informações como: a quantia transacionada, quem
enviou, quem recebeu, quando essa transação foi feita e em qual lugar do livro ela
está registrada. Ela armazena as informações de um grupo de transações em blocos,
marcando cada bloco com um registro de tempo e data. A cada período de tempo (10
minutos no blockchain), é formado um novo bloco de transações, que se liga ao bloco
anterior.
Ou seja: em última instância, a tecnologia Blockchain nada mais é do que um
livro de razão pública (ou livro contábil) que faz o registro de uma transação, de forma
que esse registro seja confiável e imutável. Essa tecnologia é especialmente usada
nas transações com criptomoedas como o bitcoin; mas, além das criptomoedas, a
blockchain também pode ser usada para validação de documentos – como contratos e
troca de ações –, transações financeiras diversas e diversas outras finalidades que
necessitem de validação e confirmação de dados e identificação das partes
envolvidas.
Bitcoin e criptomoedas

3
Hash é uma função matemática que pega uma mensagem ou arquivo e gera um código com letras e
números que representa os dados enviados.
O que são criptomoedas? Genericamente, uma criptomoeda é um tipo de
dinheiro – como outras moedas com as quais convivemos cotidianamente – com a
diferença de ser totalmente digital e não ser emitida por nenhum governo (as moedas
convencionais são todas de emissão privativa do Estado).
Mas isso é possível? Para explicar que sim, Fernando Ulrich, autor do livro
Bitcoin: A moeda na era digital, faz uma analogia bem simples: “O que o e-mail fez
com a informação, o Bitcoin fará com o dinheiro”. Antes da internet, as pessoas
dependiam dos correios para enviar uma mensagem a quem estivesse em outro lugar.
Era preciso um intermediário para entregá-la fisicamente – inimaginável para quem
tem acesso a e-mail e outros serviços de mensageria.
Algo semelhante acontecerá com as moedas virtuais no futuro. “Com o Bitcoin
você pode transferir fundos de A para B em qualquer parte do mundo sem jamais
precisar confiar em um terceiro para essa simples tarefa”, explica Ulrich no livro.
Embora o Bitcoin seja a moeda digital mais conhecida, o conceito de
criptomoeda é anterior a ele. Segundo o site Bitcoin.org, mantido pela comunidade
ligada ao Bitcoin, as criptomoedas foram descritas pela primeira vez em 1998 por Wei
Dai, que sugeriu usar a criptografia para controlar a emissão e as transações
realizadas com um novo tipo de dinheiro. Isso dispensaria a necessidade da existência
de uma autoridade central, como acontece com as moedas convencionais.
Para que servem

As criptomoedas podem ser usadas com as mesmas finalidades do dinheiro


físico em si. As três principais funções da moeda convencional são: servir como meio
de troca, facilitando as transações comerciais; reserva de valor, para a preservação do
poder de compra no futuro; e ainda como unidade de conta, quando os produtos são
precificados e o cálculo econômico é realizado em função dela.
As criptomoedas são cada vez mais aceitas como meio de troca: em vários
lugares já se pode pagar a aquisição de produtos e serviços com bitcoin, por exemplo.
Já a função de reserva de valor é mais conceituada em termos de investimento de
risco, devido à grande volatilidade das cotações das criptomoedas. Pela mesma razão
- volatilidade das cotações - as criptomoedas não são utilizadas como unidade de
conta.
O que é mineração?

Para entender o que é mineração, é preciso saber que as moedas digitais –


como o Bitcoin – representam um código complexo que não pode ser alterado. As
transações realizadas com elas são protegidas por criptografia.
Como não há uma autoridade central que acompanhe essas transações, elas
precisam ser registradas e validadas uma a uma por um grupo de pessoas, que usam
seus computadores para gravá-las no chamado blockchain.
Como já vimos, o blockchain é um enorme registro de transações. Segundo
Ulrich, o conceito de blockchain aplicado às criptomoedas consiste em um banco de
dados público onde consta o histórico de todas as operações realizadas com cada
unidade de Bitcoin (outras moedas digitais se baseiam nessa mesma tecnologia).
Cada nova transação – uma transferência entre duas pessoas, por exemplo – é
verificada contra o blockchain, para assegurar que os mesmos Bitcoins não tenham
sido previamente usados por outra pessoa.
Quem registra as transações no blockchain são os chamados mineradores.
Eles oferecem a capacidade de processamento dos seus computadores para realizar
esses registros e conferir as operações feitas com as moedas – em troca disso, são
remunerados com novas unidades delas. Bitcoins são criados conforme os milhares
de computadores que formam essa rede conseguem resolver problemas matemáticos
complexos que verificam a validade das transações incluídas no blockchain.
O minerador só pode adicionar uma transação no bloco se uma maioria
simples (50%+1) da rede concordar que aquela transação é legítima e correta. O
nome disso é o consenso da rede blockchain. No caso do Bitcoin, o consenso é
medido através do poder computacional. Duas cadeias de blocos podem ser formadas
ao mesmo tempo, o impasse será resolvido quando a rede precisar escolher uma das
cadeias. No final, ganha a cadeia que tiver a maior quantidade de trabalho.
Em outras palavras, a mineração representa a criação de novas unidades de
alguns tipos de moedas digitais. Se mais computadores passam a ser usados para
aumentar a capacidade de processamento voltada à mineração, os problemas
matemáticos que precisam ser resolvidos se tornam mais difíceis. Isso acontece
exatamente para limitar o processo de mineração.
Como o processo de criação das criptomoedas vai se tornando
progressivamente mais complexo, trabalhoso e consumidor de energia e capacidade
computacional, as criptomoedas passam a ser um ativo cuja demanda ultrapassa a
capacidade de oferta de novas criptomoedas - daí a perspectiva de valorização.
Criptomoedas
Embora o Bitcoin seja a moeda digital mais conhecida – as duas palavras muitas
vezes tidas como sinônimos – existe uma variedade de outros tipos, com
características distintas. Abaixo as principais criptomoedas disponíveis no mercado:
Bitcoin
Bitcoin (BTC) é a mais conhecida das moedas digitais. Trata-se do primeiro sistema de
pagamentos global totalmente descentralizado. Foi desenhado em 2008, em meio à
crise financeira global iniciada no mercado americano de hipotecas, com o objetivo de
substituir o dinheiro de papel, além de eliminar a necessidade da presença de bancos
para intermediar operações financeiras.
Segundo o site Bitcoin.org, a primeira especificação do Bitcoin e prova de conceito
foram publicados em um artigo assinado por Satoshi Nakamoto, pseudônimo de um
programador (ou grupo de programadores) até hoje não identificado. Ele inventou a
lógica de funcionamento do blockchain, sistema que possibilitou a existência do
Bitcoin.
No artigo, Nakamoto estabeleceu que haverá no máximo 21 milhões de bitcoins em
circulação. Estima-se que a última moeda será minerada no ano de 2140.
Bitcoin Cash
O Bitcoin Cash (BCH) é uma nova versão do Bitcoin original, criada mais
recentemente – em agosto de 2017. Ela foi desenvolvida numa tentativa de
aperfeiçoar a primeira moeda, que conta com taxas consideradas elevadas e demanda
um tempo grande de processamento de cada operação.
A principal diferença é que o Bitcoin Cash possui um limite de tamanho de bloco de 8
MB, bem maior que o de 1 MB do Bitcoin original. Com isso, as confirmações das
transações podem acontecer de maneira mais rápida e também com taxas mais
baixas. Isso garante a ela uma escala ainda maior que a da sua predecessora.
Quem tinha Bitcoins recebeu em suas carteiras a mesma quantidade de Bitcoin Cash
quando foi criada. As regras de funcionamento são semelhantes às do ativo original,
também com um limite de 21 milhões de moedas.
Ethereum
Existem algumas semelhanças, mas também diferenças, entre o Bitcoin e o Ethereum
(ETH). A moeda digital original, na verdade, se chamava Ether. Em 2016, no entanto,
um hacker encontrou uma falha no sistema e, a partir dela, conseguiu roubar o
equivalente a US$ 50 milhões em Ether. Diante de dúvidas sobre o que seria do futuro
da moeda, a comunidade que a mantinha optou por criar uma nova rede.
O Ether original – alvo do roubo – passou a ser chamado de Ethereum Classic e a
moeda que começou a circular na nova rede ganhou o nome de Ethereum. Com o
apoio da comunidade, ela vale mais que a sua primeira versão.

Originalmente, o Ether não foi criado para ser uma moeda digital como o Bitcoin. A
ideia era que se tornasse um ativo para recompensar os desenvolvedores pelo uso da
plataforma Ethereum em seus projetos. Trata-se de uma plataforma descentralizada
utilizada para executar “contratos inteligentes”, que são operações realizadas
automaticamente quando certas condições são cumpridas.
O blockchain também é a base para a validação das transações com Ethereum, para
garantir a segurança e ainda evitar fraudes. Assim como no caso do Bitcoin, a criação
de novas moedas também se baseia no processo de mineração. Hoje, o Ethereum
está entre as criptomoedas mais negociadas do mundo.
Tether
Ao contrário do Bitcoin e outras moedas digitais, o Tether (USDT), lançado em 2014
por uma empresa de mesmo nome, é uma stablecoin, porque tem lastro em uma
moeda física. A proposta dessa criptomoeda é de manter uma paridade com o dólar
americano. Ou seja, para cada Tether emitido é preciso haver um dólar equivalente
em caixa.
Desde que a criptomoeda foi criada, no entanto, especialistas questionam a paridade,
já que a empresa não oferecia transparência sobre como fazia para segui-la. Em 2019,
foi anunciado que nem todo Tether está realmente lastreado em um dólar. Segundo a
empresa, 100% deles são garantidos, mas não apenas por moeda tradicional, como
também por equivalentes de caixa e outros ativos ou recebíveis de empréstimos feitos
pela Tether a terceiros.
A característica do Tether é ser uma moeda estável que representa moedas físicas no
mundo digital. Devido à menor volatilidade, ele se tornou uma boa opção para realizar
transferências entre sistemas e com diferentes criptomoedas. Assim, investidores se
protegem das variações de preço de outros ativos e evitam o risco de ter perdas
significativas durante essas operações.
O Tether é predominantemente negociado na Bitfinex, uma grande bolsa de
criptomoedas, que tem acionistas e executivos em comum com a Tether (a empresa
controladora da moeda). Embora possua algumas vantagens em relação a outros
ativos digitais, já esteve envolvido em grandes polêmicas.
Já houve, por exemplo, uma acusação da Procuradoria Geral de Nova York de que a
Bitfinex teria usado reservas do Tether para cobrir um rombo de US$ 850 milhões nas
suas contas a partir de 2018. Outra suspeita é de que a moeda tenha sido utilizada por
um especulador em operações para manipular o preço do Bitcoin no mercado, com
conhecimento ou até envolvimento da Bitfinex. São acontecimentos ainda por
esclarecer.
Ripple
O Ripple (XRP) é um protocolo de pagamento distribuído criado em 2011, e a moeda
desse sistema é a XRP. Uma característica da plataforma Ripple é suportar na sua
rede outros tokens representando moedas tradicionais e até outros bens. A ideia é que
o sistema permita realizar pagamentos seguros e instantâneos.
Idealizado pelo desenvolvedor Ryan Fugger, o empresário Chris Larsen e o
programador Jed McCaleb, o Ripple foi criado em 2012. Não se trata apenas de uma
moeda, mas de um sistema em que qualquer moeda – incluindo a criptomoeda mais
conhecida, o Bitcoin – possa ser negociada. Em certa medida, o funcionamento Ripple
se assemelha em algum grau ao dos bancos, por aceitar vários ativos e facilitar a
realização das transações.
Justamente por isso, o Ripple vai na contramão do discurso sobre as moedas digitais
em geral, que têm como ideal a não dependência do sistema financeiro tradicional
para realizar operações. Outra característica diferente do sistema é que não há um
processo de mineração, como no caso do Bitcoin e do Ethereum.
Litecoin
O Litecoin (LTC) foi criado em 2011 por um ex-funcionário do Google chamado Charlie
Lee e tem muitas características semelhantes ao Bitcoin. A principal diferença está no
processo de mineração, que busca reduzir o tempo necessário para confirmar
transações feitas com a moeda. A intenção é de que seja mais fácil para qualquer
pessoa participar do processo de criação de novos Litecoins.
Por conta do processamento mais rápido de transações, o Litecoin é considerado uma
alternativa melhor para a realização de operações no dia a dia. O Bitcoin, por sua vez,
funcionaria melhor como uma reserva de valor. O Litecoin foi projetado para produzir
mais unidades, com um limite de 84 milhões de moedas, contra 21 milhões do Bitcoin.
Pix
O nome “Pix” não é nenhuma sigla, mas um termo, escolhido pelo Banco
Central, que remete a conceitos como tecnologia, transação e pixel.
O Pix é um novo meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central,
que representa uma opção ao lado de TED, DOC e cartões para que pessoas e
empresas façam transferências de valores, realizem ou recebam pagamentos. Com o
Pix, as pessoas físicas e jurídicas podem realizar essas transações em menos de 10
segundos, usando apenas aplicativos de celular.
Uma curiosidade interessante: apesar de similar – e de “ter o mesmo espírito” –
da tecnologia blockchain, o Pix não é uma aplicação da blockchain. Por que não?
Pelo seguinte: a blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que visa a
descentralização como medida de segurança, enquanto que o Pix utiliza um banco
de dados centralizado, de propriedade e operado pelo Banco Central do Brasil.
Segundo o Cointelegraph Brasil, no período de estudos e análises o BCB inicialmente
considerou a tecnologia blockchain para o sistema, mas optou por usar o certificado
digital ICP Brasil, a infraestrutura de chave pública brasileira que já é usada no
Sistema Nacional de Pagamentos.
Apesar de criado pelo Banco Central, são as instituições financeiras (bancos
tradicionais, bancos digitais, fintechs, cooperativas de crédito e afins) que oferecem
este serviço. Por determinação do Bacen, o Pix é gratuito para pessoas físicas,
inclusive MEIs (microempreendedores individuais). Por sua vez, entre as instituições e
atores mais impactados estão: bancos, bandeiras de cartão, adquirentes, empresas,
estabelecimentos comerciais, consumidores, fintechs, startups.
O Pix está disponível aos clientes 24 horas por dia, 7 dias da semana. Para
usar o serviço, o cliente precisa ter uma conta corrente, conta poupança ou uma
carteira digital de uma instituição financeira com cadastro no Pix. A opção está dentro
do aplicativo bancário e no internet banking do cliente, assim como já estão outras
funcionalidades, como DOC e TED. Para aderir ao Pix, o cliente deve criar a “chave
Pix”. Para isso, a pessoa deve usar os canais de atendimento do banco ou instituição
financeira onde tem conta.
Na avaliação de analistas, quem sai na frente com o Pix são as fintechs, que
devem ganhar uma boa quantidade de novos clientes dispostos a se bancarizar para
utilizá-lo, mas não estão dispostos aos custos e às burocracias dos bancos
tradicionais. As fintechs ganham também porque podem apresentar novas soluções
para a bancarização. Outra atividade que deve se beneficiar com o Pix é a do e-
commerce, que contará com um meio de pagamento mais simples e condizente com o
mundo virtual.
O Pix traz às instituições financeiras a necessidade de reforçar a segurança
digital, especialmente porque associa ao movimento das contas correntes tradicionais
informações como CPF, e-mail e telefone.
Matéria do Valor Econômico, de 7/10/2020, relata que o Pix deverá reduzir as
receitas com tarifas dos bancos brasileiros, de acordo com relatório do Moody’s. A
partir de levantamento dos dados de 12 meses até junho de 2020, a agência estimou
que os bancos possam perder até 8% de suas receitas de tarifas devido à perda das
taxas de transferências do TED - essas transações cresceram 31% em média desde
2017 no Brasil.
Open banking
Open Banking, banco aberto, ou sistema bancário aberto ou compartilhamento
de dados bancários pessoais, é um termo da área de serviços financeiros relativo a
um conjunto de regras sobre o uso e compartilhamento de dados e informações
financeiras entre instituições, que consiste em:
1) Uso de I.P.A.s4 abertas que permitem a outros desenvolvedores (empresas, etc.) a
criação de aplicações e serviços à volta de uma instituição financeira;
2) Mais opções de transparência financeira para os correntistas, de dados abertos a
dados privativos (por exemplo, os correntistas poderão aprovar que instituições
terceiras tenham acesso a seus dados bancários e, com isso, poder-se-á concentrar
toda a gestão das finanças num só aplicativo, site ou plataforma);
3) Uso da técnica de código aberto para alcançar os objetivos supracitados.
O princípio fundamental do Open Banking é o consentimento do usuário, ou
seja, as empresas deverão, obrigatoriamente, compartilhar informações de um cliente
(seja pessoa física ou jurídica), se ele solicitar e autorizar a transmissão dos dados
para outra instituição.
Não é um aplicativo que vai permitir o compartilhamento, nem um produto. Os
clientes poderão pedir para suas instituições financeiras compartilharem seus dados,
se assim desejarem, por meio dos aplicativos já existentes das respectivas
instituições.
No Brasil, está previsto o compartilhamento de dados cadastrais, usados para
abrir uma conta em banco, tais como: dados pessoais (nome, CPF/CNPJ, telefone,
endereço, etc.); dados transacionais (informações sobre renda, faturamento no caso
de empresas, perfil de consumo, capacidade de compra, conta corrente, entre outros);
e dados sobre produtos e serviços que o cliente usa (informações sobre empréstimos
pessoais, financiamentos, etc). Tudo sempre com o consentimento do usuário.
No Brasil, apenas instituições financeiras que funcionam sob algum tipo de
regulação oficial do BC poderão participar, sendo que as instituições financeiras
classificadas como S1 (instituições que possuem porte igual ou superior a 10% do PIB
ou que tenham atividade internacional relevante) e S2 (instituições de porte entre 1% e
10% do PIB) serão obrigadas a participar do Open Banking. São elas: Banco do Brasil,
Bradesco, Caixa Econômica, Itaú, Santander, BNDES, Citibank, Credit Suisse, entre
outros.
As demais instituições têm adesão voluntária ao Open Banking. Instituições de
pagamentos, como Pic Pay, Mercado Pago, Nubank, etc., poderão escolher se vão
participar ou não do novo ecossistema. Especialistas afirmam que a tendência é que
grande parte das instituições reguladas participem.
Embora a participação compulsória não valha para todas as empresas, uma
característica importante do Open Banking é a reciprocidade. Ou seja, todas as
empresas que aderirem terão o direito de receber dados de seus concorrentes, mas
também serão obrigadas a compartilhar os dados de suas respectivas bases – quando
os clientes consentirem.
Portanto, se uma fintech ou outra instituição, que tem participação voluntária,
quiser entrar no Open Banking, deverá obrigatoriamente compartilhar os dados de
seus clientes, caso eles peçam, com qualquer outro banco ou fintech participante do
Open Banking.

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Interface de Programação de Aplicação, cuja sigla API provém do Inglês Application Programming
Interface, é um conjunto de rotinas e padrões estabelecidos por um software para a utilização das suas
funcionalidades por aplicativos que não pretendem envolver-se em detalhes da implementação do
software, mas apenas usar seus serviços.
As instituições receptoras dos dados terão um prazo máximo de 12 meses para
acessar os dados, segundo as regras do Banco Central. Depois disso, o cliente
precisará renovar o consentimento.
Quais as vantagens do Open Banking?
O Open Banking parte do princípio que os dados do consumidor são de sua
propriedade e não do banco ao qual ele está vinculado.
Hoje, o Brasil enfrenta uma grande assimetria de informações. Para
exemplificar: se um cliente tem conta no banco A, essa instituição detém o histórico de
crédito desse cliente, que indica, por exemplo, se ele é ou não um bom pagador.
Mas se o cliente deseja pedir um empréstimo no banco B, no qual não possui
conta aberta, ele terá dificuldade. Isso acontece porque o banco B não tem dados
suficientes para aferir a capacidade de pagamento da pessoa para liberar ou não o
crédito porque é o banco A que tem essas informações. Assim, a operação se torna
mais arriscada para o banco B e ele tende a não conceder o crédito. O cliente fica,
então, dependente da instituição na qual tem conta e sujeito às suas taxas, o que
incentiva ainda mais a já alta concentração bancária no país.
O Open Banking pretende reduzir essa barreira de entrada, democratizando
não só os empréstimos, mas diversos tipos de produtos financeiros, para que os
bancos, fintechs, instituições de pagamentos, possam compartilhar as informações
entre eles e o cliente tenha o direito de escolher qual instituição oferece as melhores
condições para cada serviço financeiro.
O que muda com o Open Banking?

Com o cliente tendo controle do compartilhamento de seus dados, fica muito


mais fácil abrir contas e adquirir produtos e serviços em diferentes instituições ao
mesmo tempo.
Do lado das empresas, a corrida será pela atenção do consumidor. Isso
porque, mesmo tendo conta na instituição, nada garante que o cliente vai consumir e
utilizar os serviços dela. Por isso, o banco ou a fintech que oferecer a melhor
experiência em serviços financeiros tende a conquistar os clientes.
Os bancos tradicionais, que hoje possuem uma gama grande de produtos,
precisarão investir mais na experiência do cliente, enquanto as fintechs, que hoje
oferecem uma melhor experiência, precisarão aumentar o portfólio de produtos e
serviços. O Open Banking vai incentivar esse equilíbrio entre os participantes do
sistema financeiro.
A tendência é o surgimento de novos modelos de negócios e mais
concorrência entre as empresas, o que vai beneficiar os consumidores, que terão mais
opções disponíveis e, provavelmente, produtos mais baratos. Por isso, especialistas
afirmam que o Open Banking incentiva a inovação e a criação de novos produtos,
além de ampliar a distribuição e concorrência.
O site do BB traz as seguintes informações acerca do open banking:
“Com o Open Banking, o compartilhamento de dados e do histórico financeiro entre
bancos com os quais você se relaciona pemitirá mais personalização dos serviços.
Isso significa que, ao compartilhar com o BB mais informações sobre suas finanças,
você terá ofertas cada vez aderentes ao seu perfil e às suas necessidades, além de
dar autonomia a você, que decidirá quando e com quem compartilhar as informações.
Serviços personalizados - Soluções pensadas exclusivamente para as suas
necessidades.
Liberdade para as suas escolhas - você é o dono dos seus dados. Por isso, decidirá
quais serão as informações e com quem elas serão compartilhadas.
Segurança dos seus dados - apenas as instituições escolhidas por você terão acesso
aos seus dados.”
Percebe-se, portanto, que o open banking possibilita o compartilhamento de
informações financeiras do cliente com outras instituições financeiras, tudo em função
da escolha do cliente bancário.
Marketplace
O marketplace é um e-commerce, mediado por uma empresa, em que vários
lojistas se inscrevem e vendem seus produtos. Essa loja virtual funciona de forma que
o cliente pode acessar um site e comprar itens de diferentes varejistas, pagando tudo
junto, em um só carrinho. Essa plataforma pode ser vista como várias vitrines de um
shopping center, vendendo as mais diversas categorias.
Por um lado, o e-commerce oferece sua plataforma de vendas com uma marca
que já engaja muitos clientes. E, do outro, o lojista pode utilizar essa estrutura pronta
de vendas para atrair clientes para si e por vezes sem investimento inicial, já que na
maioria dos casos é cobrado apenas um comissionamento sobre vendas.
Existem diversos formatos de marketplaces: para a venda de produtos novos,
usados, serviços, para CPFs, CNPJs, focados em nichos ou em várias categorias.

Tipos de Marketplace
B2C (Business to Consumer)
Este é o tipo mais comum de marketplace. É a venda direta para o cliente final.
Normalmente, é uma venda operada por um varejista, mas que, como falamos no
início do texto, também pode ser operada por um distribuidor ou fabricante, sem incluir
um intermediário do processo de compra.
B2B (Business to Business)
Enquanto no B2C há uma empresa que vende um produto para o cliente final, o B2B
trata de um modelo de venda entre duas empresas. A finalidade de quem compra
costuma ser para reposição de estoque e revenda ou mesmo para a aquisição de
matéria-prima que entra em linha de produção para gerar um produto final.[4] Um
exemplo é o site Americanas Empresas, do grupo B2W Marketplace.
É importante lembrar que, na negociação entre empresas, existem questões mais
complexas que não aparecem na compra B2C, por exemplo, como descontos maiores
em função do volume da compra, vendas faturadas com limite de crédito, impostos
diferentes dependendo do estado ou tipo de empresa, entre outros aspectos.
C2C (Consumer to Consumer)
Sites como o Mercado Livre são exemplos de marketplace C2C. É uma negociação
feita de consumidor para consumidor, intermediada pelo site. Afinal, as pessoas não
compram produtos do Mercado Livre exatamente, mas, sim, de outras pessoas que
anunciam por lá – é claro que, com a expansão deste tipo de modelo, as empresas
também já usam o site para fechar negócio.
B2B2C (Business to Business to Consumer)
Quando uma empresa faz negócios com outra visando uma venda para o cliente final.
Uma loja de informática pode fazer uma venda para seu cliente final utilizando o
próprio sistema do distribuidor, que fatura direto para o cliente, porém sendo
intermediado pelo lojista, que não precisa ter estoque, risco de crédito nem logística.
B2G (Business to Government)
Este modelo de negócio se refere a transações entre empresas e governo, como
companhias que prestam serviços ou fornecem material para órgãos governamentais.
Os negócios B2G envolvem um processo de licitação ou contratos especiais, afinal, ao
vender para o governo, seja federal, estadual ou municipal, há diversas
particularidades e processos que devem ser seguidos, conforme a legislação que
regula as compras e vendas do poder público.

Vantagens do marketplace
Visibilidade
Uma grande vantagem que o marketplace traz para os participantes é a visibilidade,
logo que, poderá instigar os consumidores de outra empresa, com sua vitrine virtual, a
comprar em sua loja.[6]
Tecnologia
Os marketplaces já possuem uma plataforma de e-commerce pronta, com público
consolidado, investimentos em segurança (SSL, antifraude, etc.) e meios de
pagamento. Com isso, a loja parceira precisa apenas cadastrar sua marca e produtos
para utilizar essa tecnologia.
Confiança
Imagine que você é um consumidor e está acostumado a comprar em uma certa loja.
Ao entrar em um marketplace, a qual a loja que gosta é participante, percebe que
outra empresa vende um produto que você precisa a um preço bom, em seu
pensamento se aquela empresa está vinculada à aquela que possui sua confiança,
então o produto dela é bom, por isso é uma empresa confiável e você se arrisca a
comprar.
Lucro e aumento de vendas
Após ler as duas vantagens anteriores, pode-se perceber que haverá um maior fluxo
de clientes a comprar em sua loja, logo aumentará os lucros de sua empresa e a
quantidade de clientes fiéis.
SEO
SEO, ou Search Engine Optimization, são maneiras para aumentar a otimização de
sites e o markeplace traz essa vantagem de otimização para você, afinal sua empresa
será mais conhecida.
Marketing
Além de SEO, os marketplaces investem em diferentes canais de marketing para
amplificar a divulgação dos produtos cadastrados ali. Qualquer oferta competitiva pode
ter boas chances de aparecer nestas ações e gerar mais vendas.
Público abrangente
Essa vantagem remete a diversidade do público que a empresa atingirá, como foi
mostrado nas vantagens anteriores.
Facilidade
Os clientes, quando entram em uma plataforma marketplace, conseguem comprar
vários produtos diversos juntos, ou seja, não precisam visitar vários sites e levar o
tempo que levariam nessa busca.
Custo x benefício
Os marketplaces não possuem custo inicial para outras lojas venderem neles. Em
geral, eles costumam apenas cobrar uma margem de comissão sobre as vendas
fechadas na plataforma. Dessa maneira, muitos varejistas conseguem explorar as
possibilidades de vender digitalmente sem correr grandes riscos e nem com altos
investimentos.
Desvantagens do maketplace
Dependência
Essa desvantagem reflete a empresa administradora dos marketplaces, afinal, cada
marketplace possui uma empresa que faz a união entre as lojas e organiza todo o site.
Com isso, pode-se perceber que ela tem o controle da plataforma, ou seja, ela dita o
preço do "aluguel", que é feito por uma porcentagem a cada venda, ela escolhe qual
loja deve aparecer mais do que outras. Dessa maneira, as lojas participantes ficam a
mercê das escolhas dessa empresa administradora e precisam seguir de acordo com
as regras dela.
Identidade da marca
Os marketplaces ajudam muito com aumento das vendas, todavia, muitas empresas
que não possuem uma marca conhecida perdem um público fiel justamente porque há
muitas lojas para ver em um único site e os consumidores não prestam atenção em
conhecer novas marcas, apenas comprar por preços mais baratos. Então, se uma
empresa espera utilizar o marketplace para crescer sua marca, não é recomendado
que o faça, mas sim que comece com um e-commerce e depois que tenha adquirido
um bom público insira o marketplace em seus planos.
Grande concorrência
Como foi citado na segunda desvantagem, os clientes se preocupam muito em achar
produtos com preços baixos. Logo se algumas empresas vendem o mesmo produto, a
que tiver o menor preço ficará com os consumidores. Dessa forma, uma grande
competitividade é gerada entre as lojas participantes e, com isso, uma preocupação,
até porque nem todas as lojas conseguem vender um produto "x" em um valor "y"
muito baixo sem falir, logo, é preciso saber o limite de sua loja antes de abaixar muito
os preços.
Serviços que os marketplaces podem oferecer
Alguns canais de marketplace podem oferecer serviços auxiliares como:
 Logística de entrega para coleta e entrega do item para o cliente;
 Logística fulfillment (armazenagem, envio e pós-venda);
 Ads (anúncios patrocinados dentro da plataforma de vendas);
 Crédito (soluções de crédito com taxas competitivas para quem deseja investir na
loja);
 Produção de conteúdo (agências que ajudam na criação de texto, fotos, vídeos e
páginas especiais para a divulgação de produtos com anúncios mais atraentes);
 Treinamentos (materiais especiais e treinamentos para os lojistas operarem a
plataforma de vendas e até terem insights administrativos para aplicar no próprio
negócio).
Shadow banking
Shadow Banking, sistema bancário paralelo ou bancos-sombra, é um sistema
financeiro informal, não regulamentado, que fornece uma importante fonte de crédito
para aqueles que não têm acesso ao financiamento regular, ou que não se qualificam
para empréstimos em bancos regulares.
A origem do termo "sistema bancário paralelo" tem sido atribuída a comentários
do economista Paul McCulley em 2007 para descrever um grande segmento de
intermediação financeira, que é conduzido fora dos balanços dos bancos comerciais
regulados e outras instituições depositárias. Bancos-sombra são definidos como
intermediários financeiros que realizam funções de banca "sem acesso à liquidez do
banco central ou garantias de crédito do setor público."
A discussão acerca do shadow banking se intensificou a partir da crise
financeira de 2007/2008: constatou-se que, no sistema financeiro norteamericano,
participantes de peso não estavam sujeitos à fiscalização do FED (o Banco Central) e
assumiram riscos muito além da sua capacidade financeira de suportar perdas – os
exemplos mais eloquentes foram os bancos de investimento (com destaque para o
Lehman Brothers, cuja quebra foi o ”evento detonador” da crise) as companhias
hipotecárias, a seguradora AIG e o conglomerado financeiro Citycorp.
Shadow banking no Brasil

Duas métricas são propostas para se avaliar o tamanho do SBS (“Shadow


Banking System”) no Brasil, uma estrita e uma ampla:
- Ampla: ativos financeiros de entidades não-bancárias que fazem intermediação de
crédito;
- Estrita: ativos financeiros relacionados a atividades que tipicamente incorrem em
riscos de SBS e que estejam off the balance sheet5.
Muitas empresas tradicionais fazem parte do shadow banking — o que não
quer dizer que elas não representem um problema tanto para os bancos tradicionais,
como para a própria economia, já que são processos próprios e sem o devido
acompanhamento que os bancos recebem.
O que configura uma empresa nessa categoria é, como vimos, a atuação de
modo paralelo ao que temos hoje em dia como sistema bancário tradicional. A seguir,
listamos alguns dos principais tipos de empresas que formam o grupo shadow
banking:

● Fundos de investimentos

● Fundos de investimento imobiliário

● Companhias de securitização

● Factorings

No Brasil este percentual de SBS ainda é muito baixo, correspondendo a


apenas 2% do mercado, sendo que 79% deste percentual no Brasil é formado por
Fundos de Investimentos.
No ano de 2014, houve, dentro da medida estrita, um crescimento de 15,0% no
SBS no Brasil. Em 2013 o total era de R$ 338,38 bilhões e em 2014 o total alcançou
5
“Off the balance sheet” (em português, fora do balanço) significa um ativo ou dívida ou atividade de
financiamento que não está no balanço da empresa.
R$ 389,13 bilhões. A distribuição por função econômica das entidades que detém
estes ativos está especificada no gráfico abaixo:

De posse destas estimativas, relatório do Banco Central conclui que o SBS


ainda é pouco relevante e não apresenta riscos para a estabilidade do sistema
financeiro nacional. Contudo, as conexões entre o SBS e as instituições bancárias se
aprofundaram. A tabela de interconectividade abaixo demonstra que, entre entidades
do SBS estrito, há uma grande interdependência. Não há uma aferição de
interconectividade com instituições no exterior.

Um shadow banking realmente traz riscos ao mercado financeiro?

A criação de um shadow banking passa muito pelo que você viu no tópico
anterior. As exigências previstas na regulamentação do sistema bancário trazem uma
série de complicações aos empreendedores do segmento de finanças.
Como muitas dessas empresas intermediadoras são voltadas para a tecnologia
e inovação, cumprir todas essas questões praticamente inviabilizam o negócio. Assim,
elas acabam migrando para um sistema paralelo e trabalhando a oferta de crédito à
sua maneira.
O grande ponto de discussão entre um shadow banking e o mercado financeiro
é o risco que proporciona à economia. Parte disso deve-se ao fato de muitas dessas
empresas atuarem alavancadas, isto é, proporcionalmente com dívidas superando os
seus ativos de garantia.
Naturalmente que, fora do mercado tradicional, as organizações desse grupo
não recebem a mesma quantidade de depósitos e entradas de recursos do que
instituições regulamentadas. Com isso, cresce bastante o risco — especialmente de
crédito e liquidez.
O Bacen concluiu que, no presente momento, o maior risco apresentado pelo
SBS no Brasil é o risco de liquidez. É conhecida a dificuldade em se prover liquidez ao
mercado secundário nacional de ativos – em especial de emissão particular, como
debêntures – e é para evitar riscos de corrida bancária que a regulação atua
fortemente neste setor: “Como exemplo [das regras impostas pela CVM], é possível
citar os mecanismos de gestão de risco de liquidez, incluindo-se a realização de testes
de estresse de liquidez, a marcação a mercado de cotas e de ativos e a suspensão de
resgates em situações de estresse de liquidez. ” (BCB, 2015: 40)
O SBS no Brasil estaria fadado a ser um fenômeno de importância marginal? O
crescimento do mercado de capitais nas últimas duas décadas é uma evidência de
que novos tipos de intermediação financeira são possíveis mesmo em uma economia
periférica. Alguns autores, no entanto, acreditam que este modelo não pode ocorrer a
não ser nos países do centro, onde a experiência do surgimento de mercados de
capitais complexos e bem desenvolvidos ocorreu originariamente:
“O fato histórico é que aqui se constituiu, de maneira dominante, “economia de
endividamento”, e não “economia de mercado de capitais”. Ainda não houve no mundo
nenhuma experiência que tenha convertido a primeira nessa última, típica dos países
anglo-saxões. Esse modelo institucional de mercado financeiro não pode ser copiado
senão como uma caricatura. ” (FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA, 2009: 22)
Nesta linha de interpretação histórica-institucional, não devemos ter um
desenvolvimento no SBS como houve, sem controle, nos EUA e na Europa nos
últimos anos. No entanto, a própria decisão do Banco Central de incluir estudos e
dados sobre o SBS nos Relatórios de Estabilidade Financeira demonstram que as
autoridades estão atentas a este movimento.
A experiência brasileira ainda serve de exemplo internacional. Como apontado
por Farhi e Cintra, a falta de regulamentação no mercado OTC 6 é um traço distintivo
no exterior, enquanto aqui, o BCB redobra suas atenções sobre este tema.
Segmentação e interações digitais
O que é segmentação de clientes? Segmentar clientes nada mais é que
separar em diferentes grupos pessoas com características parecidas para, assim,
pensar em ações estratégicas para se comunicar melhor com cada uma delas. Tais
agrupamentos podem ser norteados pelas mais variadas características, como idade,
gênero, localidade, classe socioeconômica ou mesmo hábitos.
Dentre os principais tipos de segmentação estão:
Segmentação demográfica
Aquela que leva em consideração algumas informações mais básicas sobre os
clientes. É capaz de os dividir em grupos mais amplos, como gênero, estado civil, faixa
etária, profissão, formação, classe social, entre outras.
Segmentação geográfica
Esse tipo de segmentação leva em consideração aspectos geográficos das
pessoas. É muito utilizada quando essas informações são passíveis de determinar o
ato da compra. Por exemplo: bairro onde mora, cidade, estado, região, país e
continente.
Segmentação psicográfica
É norteada por informações um pouco mais subjetivas, como estilo de vida,
valores, ideologias e ou mesmo personalidade.

6
OTC derivatives (“over-the-counter”) são os chamados derivativos de balcão: são contratos para
liquidação futura que são negociados em privado diretamente entre duas partes, sem passar por uma
Bolsa ou outro intermediário.
Segmentação comportamental
Muito importante para a área de vendas, esse tipo de segmentação leva em
consideração comportamentos, hábitos, preferências, histórico de atividades (como o
de compras) e muitos outros aspectos.
Identificar os interesses e as características dos clientes e escolher as
melhores mídias para estabelecer contato com consumidores são alguns dos passos
para personalizar a comunicação no ambiente online. Segundo Alex Pinhol, fundador
da agência de marketing digital Webfoco, “não ter segmentação no marketing digital é
como sair de olhos vendados, tentando cruzar uma cidade que você nem conhece”.
As grandes empresas, dentre elas as instituições financeiras, estão cada vez
mais utilizando as ferramentas de Big Data e Analitcs para obter informações de seus
clientes. Como assinalamos anteriormente, a estratégia dos bancos está baseada na
análise de dados. Graças à internet e às redes sociais, nunca se produziu tantos
dados no mundo como na atualidade. Com a crescente digitalização, dados se
tornaram matéria-prima para os negócios: por meio da tecnologia Big Data e Analytics,
os dados captados pelas instituições são tratados para direcionar o atendimento,
proporcionando maior segmentação.
Com base em todas informações sobre o público desejado, pode-se
personalizar a comunicação dos anúncios, landing page, site ou e-commerce: já
existem tecnologias que mudam a homepage inteira de um site, conforme o seu perfil
de compra, interesse e até hobbies.
As ferramentas digitais permitem que as empresas segmentem clientes por
assuntos de seu interesse – o que comentamos acima como segmentação
comportamental. Isso evita que as pessoas se distanciem da marca ao receber
conteúdos que não são relevantes para elas naquele momento e as instiga a interagir
mais com a empresa como resultado do atendimento personalizado.
Por exemplo: suponhamos que a empresa tenha um público-alvo cuja
característica geral é o interesse em marketing. A partir de uma segmentação precisa,
a empresa poderá filtrar, em grupos de interesses mais específicos e comuns, a
parcela de clientes ou potenciais clientes que busca impactar. Assim, é formado um
grupo com interesse mais voltado para o marketing digital, outro que tem como
objetivo inteirar-se sobre marketing de conteúdo, e assim por diante.
Uma das ferramentas mais utilizada para esse fim é o e-mail. As ferramentas
de e-mail personalizado têm a capacidade de registrar os cliques dos clientes; quais
tipos de e-mails eles abrem mais; e até mesmo qual tipo de comunicação dá mais
certo para um perfil determinado de consumidor. Tudo isso ocorre em formato de
métrica, que permite às empresas entenderem melhor como se comunicar com cada
grupo de cliente.
Outra ferramenta que ajuda a entender a posição do cliente em relação à
empresa é o chatbot. O software, por meio de interações com os usuários, consegue
identificar o estágio de relacionamento do cliente com a empresa. Além disso, ele
compreende se o cliente precisa de suporte, se pretende adquirir algum produto,
trabalhar na empresa ou apenas conhecer sua marca.
Por último, mas não menos importante, temos como ferramenta de marketing
digital segmentado a atuação das empresas nas redes sociais. Cada vez mais as
empresas buscam promover o seu negócio nas redes sociais, tendo como foco
conteúdos que estimulem interações e compartilhamentos de seu produto/serviço.
Propagandas e patrocínios, bem planejados e relevantes, entregam ao consumidor
opções relacionadas ao que ele precisa/deseja, por meio dos chamados “Ads”7 (Social
Ads, Busca, Display, Multimídia, Mídia Programática, entre outras ferramentas).
O objetivo final da segmentação de clientes é encantar os consumidores e,
com isso, impulsionar as vendas. Localizando o público-alvo de maneira mais precisa,
a segmentação digital contribui com um processo de fidelização dos clientes, pois, ao
ter suas demandas atendidas de forma customizada, eles acabam criando uma
identificação com o produto que a empresa está oferecendo.

7
Social Ads são anúncios que se aproveitam das características sociais da internet para atingir uma
determinada audiência. A forma mais comum de fazer isso é pelas redes sociais, como Facebook,
Instagram, LinkedIn e Twitter, e também pelas plataformas do Google, inclusive o YouTube. Cada uma
delas tem seus próprios tipos de Social Ads. Mídia programática é uma forma automatizada de comprar
espaços publicitários na internet.

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