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REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Review of Business Management
ISSN 1806-4892
DOI: http://dx.doi.org/10.7819/rbgn.v15i47.1353
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Estruturação do Campo Organizacional das Agroindústrias Exportadoras de Polpa de Açaí
similares umas às outras. Esse fenômeno é chama- do campo organizacional das agroindústrias
do por Dimaggio e Powell (2005) de isomorfismo exportadoras de polpa de açaí. Os resultados re-
organizacional. A teoria econômica e parte das latados no artigo estão divididos em três partes,
teorias das organizações trabalham com uma pers- além desta introdução e da conclusão.
pectiva neoclássica e funcionalista do ator racional
e buscam estudar como se diferenciam umas das
outras e se colocam em uma posição de destaque, 2 A ANÁLISE ORGANIZACIONAL A PARTIR
ao passo que uma vertente da teoria institucional DA ABORDAGEM DAS INSTITUIÇÕES
para análise organizacional busca compreender
de que forma as organizações se assemelham. A A teoria institucional empregada no
compreensão de instituições aqui utilizada tem estudo de organizações por meio da tradição so-
sua origem na vertente da história econômica que ciológica permite uma forma analítica de maior
demonstra as limitações da abordagem neoclássi- compreensão do desenvolvimento da organização
ca. Tal compreensão parte do princípio de que as empresarial, em termos das análises gerais de suas
instituições podem ser divididas em dois grupos: relações. As instituições são o centro das análises.
formais e informais: as primeiras, em sua maioria, Por instituições se entende o nível mais
têm origem estatal; as segundas são de origem básico da sociedade em que o quadro de relações
social e legitimadas socialmente (NORTH, 1993). é estabelecido (KNIGHT, 1992), funcionando
A matriz analítica institucional serviu de como regras do jogo nas relações (NORTH,
base para o estudo de um conjunto de organi- 1993) elaborando sistemas, construindo a história
zações (agroindústrias exportadoras de polpa de e percepções e conformando caminhos futuros
fruta), que participa de um mercado que vem (ESPINO, 1999; NORTH, 1993). Nas relações
crescendo (nacional e internacionalmente), a de troca, elas constroem um marco social, econô-
partir dos anos 1990 (ROGEZ, 2000). Essas mico e político, permitindo antecipar o compor-
organizações começam a se estruturar em torno tamento do agente, levando à redução de custo
do que Dimaggio e Powell (2005) denominaram de transação e impactando positivamente níveis
campo organizacional. Com base nesse contexto, de investimento, poupança, inovações, mudança
partiu-se das seguintes questões: a) Que institui- institucional e ações coletivas (ESPINO, 1999).
ções contribuíram para a estruturação do campo As instituições são categorizadas por North
organizacional das agroindústrias exportadoras (1993) em dois grupos: formais e informais. As
de polpa de açaí? b) De que forma as instituições formais são, em sua maioria, de origem estatal e
do campo organizacional das agroindustriais englobam regras, regulamentos e leis formuladas
exportadoras de polpa de açaí exerceram pressão pelos agentes para que problemas de coordenação
isomórfica sobre as organizações? no âmbito social, político e econômico sejam
A pesquisa foi dividida em quatro etapas: resolvidos. Sua aplicação e cumprimento são de
um levantamento de informações iniciais sobre caráter obrigatório. Esse tipo de instituição está
as organizações agroindustriais de processamen- no campo de domínio público. As informais não
to de polpa de açaí situadas no estado do Pará são imputadas ou prescritas em forma de lei, não
(em duas etapas); em seguida uma survey em 12 fazem parte do sistema normativo e legal e não
agroindústrias e posteriormente a seleção das duas possuem o caráter obrigatório. Elas possuem
que mais se adequaram aos objetivos da pesquisa origem social e vão ganhando forma ao longo do
para entrevista semiestruturada. tempo, por meio de usos, costumes, valores ou
Diante da perspectiva teórica, a pesquisa cultura local e são legitimadas socialmente.
teve dois objetivos: a) verificar de que forma se es- Berger e Luckmann (2007) demonstram
trutura o campo organizacional das agroindústrias que as instituições são resultantes de hábitos tipi-
exportadoras de polpa de açaí; b) identificar as ficados ao longo do tempo, difundidos e aceitos
instituições que contribuíram para a estruturação pelo grupo social, exercendo o controle sobre
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em relação à outra, maior será a semelhança entre ênfase acaba separando a estrutura formal de uma
elas, no que diz respeito à estrutura, ao ambiente organização (como sua hierarquia, cargos oficiais,
e ao foco comportamental. Também sugerem que planejamentos) da eficiência técnica, ou seja, uma
o isomorfismo será maior em um campo em que organização irá adotar determinada estrutura não
organizações interagem mais com agências do apenas porque isso contribuirá para a obtenção de
governo e quando dependem dos mesmos recursos melhores rendimentos técnicos, mas também por-
para sobreviver. que isso lhe dará legitimidade como atuante em um
b) processos miméticos: tipo de isomorfis- campo específico (DIMAGGIO; POWELL, 2005).
mo desencadeado pela incerteza como problemas Em função disso, os vínculos entre estas estruturas
de causas ambíguas, tecnologias mal compreen- formais e a atividade técnica das organizações são
didas, inserção em mercado desconhecido, posi- frágeis (MEYER; ROWAN, 1999).
cionamentos ou ações que induzem a imitação É possível distinguir, portanto, dois am-
de comportamentos e práticas que, na percepção bientes: o institucional e o ambiente técnico. O
das imitadoras, são modelos. Quanto menores as primeiro, conformado por normas e categorias
alternativas de modelos organizacionais, maio- socialmente definidas; o segundo trata da esfera do
res serão as manifestações de isomorfismo. Os mercado, maximização de lucro, minimização de
processos miméticos podem se apresentar como custos, de forma que a organização eficiente seja
soluções viáveis a um baixo custo e como difusores premiada por sua otimização (SCOTT, 1999). O
de inovações. ambiente técnico é aqui tratado de forma similar
c) pressões normativas: são impulsionadas ao conceito de estrutura institucional da perspec-
por processos de profissionalização, produzidos tiva econômica das instituições de North (1993).
em universidades, instituições de treinamento É possível perceber que, da forma que
profissional, associações profissionais e de pesqui- Meyer e Rowan (1999) tratam a questão, parece
sa. Essas instituições estão relacionadas à formação que os ambientes são mutuamente excludentes.
cognitiva do profissional, de redes profissionais e Nessa mesma direção, Dimaggio e Powell (2005)
por certa normalização de comportamentos. As apontam que a estrutura e a técnica das organiza-
pressões normativas também encontram fonte nas ções são mais adequadas em ambientes cuja com-
seleções de pessoal, quando empresas contratam petição é livre e aberta. Orru, Bigart e Hamilton
profissionais da mesma indústria ou de um mes- (1999) mostram que, do ponto de vista analítico,
mo centro de treinamento que são referência em não há motivos para que haja a separação entre os
determinadas habilidades, resultando em práticas dois ambientes. Na concepção de Scott (1999), os
comuns desenvolvidas por esses funcionários. O dois ambientes não são mutuamente excludentes,
isomorfismo ocorre por meio de um processo de mas são dimensões nas quais o ambiente varia,
socialização profissional e intensidade de profis- pois existem organizações que estão sob maiores
sionalização do campo. pressões técnicas do que institucionais; da mes-
Essa teoria apresenta-se como uma alterna- ma forma em que há organizações que recebem
tiva às análises que têm seu foco na concorrência maiores pressões institucionais do que técnicas.
e preocupação com o ambiente técnico em que as A questão interessante para a análise das
empresas se inserem, como a perspectiva da eco- organizações de um campo é saber se elas estão
logia populacional das organizações (HANNAN; priorizando legitimidade em detrimento de efici-
FREEMAN, 2005) e da dependência de recursos ência, como afirmam Dimaggio e Powell (2005)
(PFEFFER, 1993). A vertente da teoria insti- e Meyer e Rowan (1999), já que quando uma
tucional da análise organizacional se preocupa organização empresarial sacrifica o lucro em um
com o aspecto simbólico: as normas, as regras e período, no intuito de fazer adequações em sua
os rituais socialmente construídos e legitimados estrutura ou padrão de qualidade, por exemplo,
aos quais as organizações precisam responder não significa dizer que não esteja priorizando
(ORRU, BIGGART; HAMILTON, 1999). Essa eficiência, mas que a eficiência que ela tem
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priorizado está relacionada ao capital simbólico, são Belém (18) e Castanhal (12). Estes também
alvo de sua acumulação, expresso em honra e foram os que mais exportaram a polpa de açaí
reconhecimento. Assim, a acumulação de capital no ano de 2010 (últimos dados disponíveis). As
simbólico (BOURDIEU, 2006), no momento de 12 agroindústrias de Castanhal foram objeto de
um jogo estratégico, pode se traduzir em lucro em uma survey, em que foram levantadas informações
um período posterior, que é o objetivo principal sobre trajetória das agroindústrias, mercado de
da organização empresarial capitalista. atuação, principais clientes e fornecedores, pro-
Bourdieu (2006) defende que a questão cessos produtivo e tecnológico, fontes de finan-
central não é o embate entre eficiência e legiti- ciamento, produtos e percepção das instituições
midade, mas que a busca por legitimidade tam- que influenciam o desenvolvimento do campo
bém significa a busca por eficiência, porém de organizacional (questionário dividido em cinco
um capital específico no campo, que é o capital blocos com total de 48 perguntas semiabertas).
simbólico. Dessa forma, se para Scott (1999) as Etapa 3 - A partir da survey, foram sele-
organizações estão sob um ambiente dotado de cionadas duas agroindústrias para entrevistas com
dimensão técnica e simbólica que exercem pres- os gerentes e proprietários, ambas localizadas no
sões e recebem respostas específicas, para Bourdieu município de Castanhal. As empresas localizadas
(2006) trata-se da empresa se comportando dentro em Belém não atenderam a solicitação para en-
da expectativa da teoria econômica, ou seja, tendo trevista. Por isso, a seleção levou em consideração:
em vista a maximização da eficiência do capital, a) empresas que nas respostas do questionário
em suas múltiplas dimensões, contudo. prestassem maior quantidade de informação e
Estas são, em síntese, as principais con- expressassem interesse em colaborar com a pes-
tribuições dos autores clássicos da abordagem quisa; b) empresas que trabalhassem com mercado
institucional, em suas vertentes econômica e internacional (exportadoras de polpa de açaí);
sociológica, e dos principais autores que fizeram c) empresas que evoluíram de atividades tradi-
uma revisão dos conceitos. A próxima seção trata cionais de açaí (batedores artesanais) para o tipo
do detalhamento metodológico empírico para a organização agroindustrial.
análise da estruturação do campo organizacional Para a seleção também considerou-se o
das agroindústrias exportadoras de polpa de açaí “tempo de atuação” no mercado. Nesse quesito
em Castanhal-PA. foram selecionadas as agroindústrias com maior e
menor tempo. Esse procedimento justifica-se pela
capacidade de verificar a trajetória da agroindústria
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS e o papel das instituições em seu desenvolvimento
E CARACTERIZAÇÃO DAS e na estruturação do campo. Nessa etapa foram
ORGANIZAÇÕES ESTUDADAS realizadas entrevistas semiestruturadas com represen-
tantes (gerentes e proprietários) das duas empresas.
Para o desenvolvimento da pesquisa foram A entrevista foi a técnica considerada mais adequada
adotados os seguintes procedimentos metodológicos: para se ter acesso a informações delicadas e relevantes
Etapa 1 - Levantamento de informações para análises e explicar fatos importantes da pesquisa,
junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e da forma como propõe Phillips (1974).
Abastecimento (Mapa) no estado do Pará, quanto Etapa 4 - O conteúdo das entrevistas foi
a número, tipos e localização das agroindústrias selecionado, sendo retirados trechos cujo conteú-
processadoras de polpa de frutas. Foram iden- do fosse relevante para a explicação da abordagem
tificadas 77 agroindústrias, sendo 32 batedores institucional para estudos de organizações. Foram
artesanais (em nove municípios), que são as ativi- realizadas também observações nas dependências
dades de despolpa de fruto de açaí, com tecnologia das agroindústrias e conversas livres com pessoas
artesanal, e 45 agroindústrias (em 15 municípios), envolvidas (consultores de empresa, fornecedo-
com sistema de produção de padrão industrial. res, agentes reguladores etc.) no setor artesanal
Etapa 2 - Foi identificado que os mu- e industrial de processamento de polpa de açaí
nicípios com maior número de agroindústrias nos municípios pesquisados. Os procedimentos
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seguidos classificam esta pesquisa como explora- década de 1990 (identificada aqui como E1).
tória e descritiva (GIL, 2008). Recebeu recursos financeiros de um cliente do
Para apresentação dos dados e informa- Rio de Janeiro (identificado como C1). Em
ções foram usados nomes fictícios tanto para as 2006, adquiriu uma planta industrial (Planta B
organizações quanto para as pessoas envolvidas da Empresa P), além da que mantinha (Planta
na trajetória das empresas e citadas nas entrevis- A), sendo que na Planta B produzia polpa de
tas, a fim de preservá-los, a pedido dos próprios qualidade inferior. Após contrato de tercei-
entrevistados. Assim, trataremos as organizações rização com a Empresa E, intermediado pelo
respectivamente como “Empresa 1” e “Empresa Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados
2”. As duas agroindústrias selecionadas foram do Estado do Pará (Sindfrutas), as Plantas A
indicadas, pelos entrevistados como referências e B passaram por adequações e a Empresa E1
no mercado pela experiência, pioneirismo (a mais
mudou de nome, após uma fusão com a Em-
antiga), rápido crescimento e participação no
presa E2 em 2008.
mercado internacional (a mais nova).
Hoje as duas plantas (A e B) funcionam
com outro nome (não mais E1 nem P). Essa
empresa é a segunda maior exportadora do mu-
4 A ESTRUTURAÇÃO DO CAMPO
nicípio. Em 2009, a marca da Empresa E1 (que
ORGANIZACIONAL DAS
originou tudo) foi vendida junto com a marca da
AGROINDÚSTRIAS DE POLPA DE AÇAÍ
Empresa P. Uma síntese dessa trajetória e atuação
4.1 Dinâmica da Empresa 1 está no Quadro 1, que apresenta a capacidade
produtiva, número de empregados, fonte de fi-
A Empresa 1 surge da ampliação de um nanciamento, emprego de recursos.
negócio de processamento artesanal de açaí na
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certificação orgânica, financiada por um cliente Entre 2008 e 2009, por meio de finan-
americano (C2), além de outras (Kosher e Halaw), ciamento do mesmo cliente (C1), adquiriu
exigidas por clientes internacionais. marcas de empresas nacionais. Durante a crise
Da tentativa de relação entre as duas em- nos EUA, em 2009, aumentou sua participação
presas (1 e 2) resultou o treinamento dos profis- no mercado nacional. A trajetória em termos
sionais da Empresa 2. Em 2007 foi implantado de capacidade produtiva, empregados, finan-
o departamento de Pesquisa & Desenvolvimen- ciamentos e seus respectivos fins está resumida
to (P&D) e a Internacional Organization for no Quadro 2.
Standardization 22.000 (ISO 22.000).
Capacidade produtiva
Anos Empregados Financiamento Emprego de recursos
(ton./dia)
Máquinas e equipamentos;
2005 21 30 Financiamento de cliente
infraestrutura física
2006 35 38 Crédito bancário Máquinas e equipamentos
Máquinas e equipamentos;
2007 88,7 65 Crédito bancário
infraestrutura física
2008 112 120 Crédito bancário Máquinas e equipamentos
Financiamento de clientes Aquisição de planta de produção;
2009 112 120
e crédito bancário compra de marcas e caminhões
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segmentos que compõem a cadeia produtiva das agroindústrias (Sepof, 2011), como as de polpa
Indústrias de Frutas e Derivados, do plantio à de açaí. Embora não seja um produtor do fruto
distribuição; apoiar e dinamizar as transações (açaí), recentemente atraiu várias indústrias de
de compra e venda; incentivar padronização e processamento de polpa, numa dinâmica descrita
qualidade do produto; discutir e integrar propos- a seguir.
tas governamentais e não governamentais para No que se refere à estruturação do cam-
aumentar a produtividade e a competitividade po organizacional de agroindústrias, algumas
do setor no estado do Pará (Sindfrutas, 2010). das instituições contribuíram mais que outras,
A dinâmica do campo organizacional mostra, no especialmente para o fenômeno do isomorfismo
entanto, as fragilidades de coesão das organizações organizacional. As agências reguladoras interna-
afiliadas ao Sindicato. cionais foram as que mais se destacaram, princi-
g) Clientes Nacionais e Internacionais: são
palmente para a elevação do padrão de qualidade
empresas comerciais dos Estados Unidos, Canadá,
das empresas. A atuação do Mapa e da Anvisa
Inglaterra, Holanda, Eslováquia, Bélgica, Israel e
não demonstrou ação capaz de elevar o padrão
Japão. Já no mercado nacional estão as empresas
de qualidade na produção. As empresas que so-
de estados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste
freram ação direta de instituições internacionais
do país.
(por meio de visitas regulares de representantes)
h) Fornecedores de matéria-prima:
apresentaram os melhores produtos em termos de
são moradores de comunidades ribeirinhas e
qualidade, como informa um entrevistado:
produtores rurais. Com os primeiros, a relação
é informal, sendo mais comum estabelecerem
O ministério não exigiu nada, a vi-
acordo não escrito para venda da produção gilância não exigiu nada. Os clientes
(compromisso de compra) e, em alguns casos, exigiram e agente teve que se adequar
outras formas de relações se estabelecem. A co- [...] principalmente as normas in-
ternacionais [...] (Representante da
mercialização é realizada tanto com associações de Empresa 2).
produtores quanto com vendedores individuais.
Com os segundos, predominam relações formais
Embora com uma atuação mais restrita
de compra e venda de matéria-prima.
quanto à coerção no campo das exportadoras, as
j) Fornecedores de insumos: os fornecedo-
duas instituições contribuíram com um processo
res de insumos como tambores, bolsas plásticas,
disciplinar, que influenciou as agroindústrias que
frascos para amostras, produtos de limpezas e
atuam no mercado nacional a se igualarem umas
máquinas são oriundos respectivamente dos
às outras, desencadeando um processo isomor-
estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais e de
fismo como concebido por Dimaggio e Powell
outros municípios do Pará.
(2005). Também houve uma pressão dos clientes
internacionais para que as agroindústrias adotas-
5 CARACTERÍSTICAS DE ISOMORFISMO sem a pasteurização do produto a ser exportado.
NO CAMPO ORGANIZACIONAL DAS Nesse caso, as agências de regulação internacionais
AG RO I N D Ú S T R I A S D E AÇ A Í E M contribuíram para a similaridade das práticas de
CASTANHAL (PA) produção com um padrão de qualidade também
similar entre as exportadoras. Logo, duas institui-
O município de Castanhal está situado ções exerceram maior pressão: clientes e agências
na parte Nordeste do estado do Pará, distante reguladoras internacionais. A pressão ocorre
65 km da capital (Belém). Com uma população quando o cliente exige uma qualidade específica
de 173.149 (IBGE, 2010) e uma taxa de urba- do produto, a exemplo do açaí orgânico ou de
nização de 0,93, o município se destaca pelo estruturas específicas de produção, como relata o
elevado número de indústrias, especialmente de representante da Empresa 1:
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Somente as empresas que contam com e com a empresa responsável pela terceirização
clientes mais exigentes, em especial revela os elos que as tornam estruturalmente equi-
os do mercado internacional, é que
buscam se adequar para atender a valentes, na forma prevista por White, Boorman
necessidade destes clientes [...](Repre- e Breiger (1976), aspecto importante no processo
sentante da Empresa 1). de estruturação do campo organizacional.
Além disso, por ser um campo em estru-
[...], o que teve de crescimento, de
informação, foi tudo vindo de fora. turação, a busca de legitimidade é um dos funda-
Nada é daqui. Nenhuma consultoria, mentos para consolidação das organizações, por
nenhuma parceria, com universidade, isso elas evitam uma resposta inadequada, na for-
com nada. Tudo veio de fora [...] Tudo
ma como fundamentam Meyer e Rowan (1999).
o que aconteceu de mudança nas
indústrias foi por causa dos clientes A manifestação de isomorfismo miméti-
[...] teve muitas visitas de americanos co no campo estudado se dá quando o clima de
aqui, o estabelecimento do padrão que incerteza se manifesta. Dimaggio e Powell (2005)
eles queriam, inspeções, auditorias [...]
(Representante da Empresa 1). sustentam que as organizações empresariais são
encorajadas a imitarem aquelas que são consi-
A gente tinha um cliente específi- deradas modelo dentro do campo, desencade-
co, que só queria comprar produto ando processos miméticos. Nesse caso, CAMTA
nosso orgânico, então eles mesmos
financiaram [...] (Representante da (uma cooperativa já consolidada no campo das
Empresa 2). agroindústrias de processamento de polpa de
fruta) foi apresentada por um entrevistado como
Se clientes, mesmo que diferentes, deman- uma das empresas mais experientes. Embora hoje
dam produtos orgânicos, as empresas certificadas outras agroindústrias sirvam como “modelo” de
adotam padrões semelhantes, portanto se apre- eficiência técnica no campo das exportadoras, são
sentam como fonte de isomorfismo coercitivo. maiores as dificuldades para desenvolvimento de
Assim, o importador é fonte indireta de iso- práticas de mimetismo.
morfismo coercitivo, pois o produto importado
deve atender aos padrões mínimos de segurança (...) na época a empresa que tinha mais
referência era a CAMTA, e a Empresa
alimentar exigidos pelo país onde o importador 1, porque era uma empresa antiga no
reside. Nesse momento outra instituição surge: a mercado, mais forte (Representante
agência reguladora. da empresa 2).
Outro mecanismo de isomorfismo coer-
citivo foi o processo de terceirização pelo qual as Ao mesmo tempo que a imitação é desen-
empresas 1 e 2 passaram, embora a Empresa 2 não cadeada por uma tensão gerada pela incerteza, as
efetivasse contrato formal. Ambas tiveram uma empresas também buscam elementos institucio-
relação direta com a mesma empresa terceirizada. nalizados no campo para alcançarem legitimidade
Essa empresa treinou os funcionários das empresas e sobreviverem, tal como proposto por Meyer e
estudadas, ensinando seu processo de produção, Rowan (1999), ainda que essa prática não seja
que já estava nos padrões internacionais. Esse é garantia de melhoria de desempenho. Foi o que
um fenômeno comum e já se manifesta em outras aconteceu com a Empresa 2, quanto a alguns de
organizações agroindustriais que atuam no merca- seus certificados. Segundo o entrevistado, ter uma
do nacional e internacional; ele contribui para o certificação como Kosher e Halaw não expressava
aprendizado, influenciando o isomorfismo, por- uma necessidade imediata da empresa, nem lhe
que as empresas passam a adotar comportamentos conferia melhor desempenho:
organizacionais similares.
A relação que as empresas 1 e 2 mantêm quando eu cheguei lá eles já tinham fei-
to algumas pesquisas informais do que
com a Anvisa e o Mapa, com clientes, com as as grandes fábricas como a CAMTA e
instituições de regulação dos países importadores a Sambazom, na época eram referência
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e tinha certificado. E eles fizeram, por não é assim! [...] Ah, mais o Seu José
exemplo, pesquisa rápida de internet, fez desse jeito. [...] Aí eu disse assim:
o que Kosher, o que Halaw, e viram Quem te falou que Seu José tá todo
que seria interessante a gente ter [...] a certo? Aí ele: Ah tão trabalhando, é a
CAMTA e Sambazom era relacionado maior, é o exemplo nosso. É a maior, é
com certificação. Eles sabiam, todo a que produz mais [...] (Representante
mundo sabia. No sindicato de frutas, da Empresa 1).
a Sambazom, ela é de Macapá, mas
ela é associada ao sindicato daqui [...]
Então eles vinham pra reuniões etc.
O isomorfismo por mimetismo também
Então, nessas reuniões eles sabiam o é percebido quando é observada a semelhança
que basicamente tinha na CAMTA e entre as plantas das agroindústrias. Essa seme-
tudo mais, o químico que ficava lá. [...] lhança é atribuída à relação que o empresariado
Sabia que precisava de APPCC, que
é um tipo é um certificado, HACCP mantinha com agroindústrias mais antigas antes
que chama nos Estados Unidos e aqui de montarem suas fábricas, uma vez que se tra-
no Brasil APPCC. Antigamente era tava de atravessadores do fruto. Cerca de 80%
um pré-requisito, pra exportar. Tinha
de proprietários de agroindústria no município
que ter APPCC (Representante da
Empresa 2). de Castanhal eram atravessadores ou batedores
artesanais do fruto:
O trecho da entrevista do representante
O Seu João errou muito, mas a gente
da Empresa 2 revela a incorporação de estruturas já copiou fazendo os consertos [...].
formais, que se manifestam na forma de mitos e Eles usaram o exemplo do seu João,
cerimônias institucionalizados, tal qual concebido viram, mas já consertaram no processo
por Meyer e Rowan (1999). Nesse caso, o APPCC deles. Ficou 100%? Não! [...] Hoje em
dia eles passaram por mudanças pra
é um mito institucionalizado. A informação do melhorar ainda mais [...] mas pegaram
entrevistado demonstra também o papel do Sin- ele como exemplo (Representante da
dicato como fonte de acesso a informações, ele- Empresa 1)
mento importante na minimização de incertezas
Antigamente [...] era mercado nacio-
para tomada de decisão na forma como concebido nal só, não tinha o que eles escon-
por North (1993) e Dimaggio e Powell (2005). derem [...]. Por exemplo: O seu José
A incorporação de estruturas e práticas vendia frutos antes de ser indústria.
Então ele vendia frutos pro seu João.
observadas no campo se deu também em relação Ele entrava na indústria do seu João
a adoção de laboratório nas agroindústrias e a pra deixar o fruto, então ele verificava
contratação de técnicos especializados. Durante como era o processamento, andando
a entrevista com o representante da Empresa 1, por lá, caminhando [...] Na frente da
Planta A da Empresa 1, é uma família,
foram declaradas algumas experiências de outras também vendia fruto e hoje ela é a
agroindústrias do campo organizacional, que cópia da Planta A da Empresa 1 e a
demonstram as empresas 1 e 2 como agentes cópia da Empresa 2 [...] Então, eles
tinham mais liberdade porque antigos
institucionalizadores, em virtude do tempo e da
atravessadores se tornaram donos de
experiência no mercado que possuem. Além disso, indústrias, então via-se muito isso
a Empresa 2 é uma das maiores do campo orga- em Castanhal é uma cidade pequena
nizacional. Essas experiências demonstram como [...] cópia: linha de processo, segue
a mesma sequência, a forma que é
a economia de esforço e resposta concebida por
a recepção de Empresa 2 é a mesma
Berger e Luckmann (2007) se manifesta: forma de recepção da Empresa Açaí
[...] Quem mais inova e diferencia é
[...] eu disse: Joaquim, pra este ano ele Seu João. Ele quer ser diferente dos
fez uma câmara nova. Seu Joaquim, outros. Aí os outros quando tinha
porque você não fez a linha correta acesso a indústria dele, começaram a
de logística... Entrada de produtos, copiar ele. Hoje já não tem mais isso
saída de produto? Porque no Seu José (Representante da empresa 1).
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Estruturação do Campo Organizacional das Agroindústrias Exportadoras de Polpa de Açaí
Em um primeiro momento em que o cam- relações informais e próximas, o que eleva o fluxo
po se estrutura, as agroindústrias exportadoras, de informações no campo. Nos últimos quatro
por ânsia de aceitação e legitimidade, apresentam anos houve uma maior participação de outras
indícios de que estariam sofrendo maior influência instituições de ensino e pesquisa influenciando
institucional e menor pressão técnica, na forma na estruturação do campo.
como concebe Scott (1999), pois a percepção
era de que as mais antigas eram bem sucedidas, e Castanhal, por ser uma cidade peque-
na, como eu te digo, a maioria em
reproduzir suas estruturas trazia uma expectativa 2006 entrou Henrique na Empresa
de obter os mesmos resultados e aceitação, como 1, Planta A; Rosilene na Empresa 1,
defendem Meyer e Rowan (1999). Entretanto, Planta B; Pedro na Empresa 2; Bruno
quando o campo passa a se desenvolver, a efici- na Empresa Açaí, todos tecnólogos da
mesma turma, formados na mesma
ência técnica começa a exercer mais pressão sobre turma da UEPA. [...] Nessa época na
as agroindústrias exportadoras. turma tinha 11 de Castanhal. Então
É possível que esse comportamento das se a Rosilene arruma um emprego, e
eu sei que foi indústria de açaí. Eu tô
organizações e de seus responsáveis tenha justifica-
sabendo, o Pedro soube. Então todo
tiva na ausência de uma indústria de base (bens de mundo começou a entregar currículo
produção) e instituições de inovações tecnológicas em indústria de Açaí. Souberam que
para o setor industrial na região, já que se trata de contratou um tecnólogo, ele podia até
não saber pra que era, mas a empresa
um produto exclusivamente produzido em uma
que era modelo contratou eu vou
região com baixa taxa de inovação tecnológica. contratar, então cada um começou
No entanto, as agroindústrias já começam a a contratar [...] (Representante da
busca por eficiência técnica, escala de produção, Empresa 1).
aperfeiçoamento tecnológico, diversificação de
produtos e melhorias de gestão, o que demons- Por mais que a profissionalização do campo
tra uma alteração no papel das instituições que tenha se dado pela Universidade, a instituciona-
influenciam o campo. lização, no entanto, ocorreu tanto por pressões
As pressões normativas possuem como normativas como por processos miméticos, já
fonte principal os centros de formação técnica. demonstrados nos trechos das entrevistas, confor-
As universidades também se apresentam como mando o conhecimento tácito dos profissionais
fonte de conectividade entre as organizações. A com os conhecimentos técnicos representados pela
Universidade, contudo, não conseguiu ainda se participação das universidades e centros de pesquisa:
constituir numa grande instituição de suporte
Foi a prática que colocou a gente pra
técnico para o segmento agroindustrial. aprender, a entender o que o mercado
O fato de um conjunto de profissionais quer, a requisitos legais. A escola, a
ser formado em centros de treinamento da mes- universidade, este curso eles ajuda-
ram de uma certa forma, mas eles são
ma região torna semelhantes as suas formas de
muito voltados para o Brasil e o Brasil
tomada de decisão e postura, sendo uma força não é exigente. Os Estados Unidos são
que, ao longo do tempo, conduz as empresas que exigentes. A Rosilene já passou por
os contratam ao isomorfismo organizacional, já auditoria que o auditor trouxe um
espelho e uma espátula: O espelho
que elas são movidas pela busca de um padrão
para ele olhar se tava sujo por debaixo
elevado de qualidade em produtos e processos. das coisas e a espátula para onde tinha
Essa força se torna ainda mais intensa quando se abertura ele passava pra verificar se
verificou que a maioria dos tecnólogos agroindus- tinha alguma sujeira, porque esse é o
mercado de exportação. Essa semana
triais contratados pelas empresas do município de a gente tava com uma auditora [...],
Castanhal-PA de 2005 a 2009 foi formada na mes- procurando saber de tudo da fábrica,
ma Universidade, o que significa dizer que, além tudo! Como a gente cuida pra não
ter insetos dentro da fábrica, tudo!
da mesma formação, os profissionais mantinham
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Milton Cordeiro Farias Filho / José Welington Sousa
Então essa visão foi mesmo a prática contratações de funcionários com formação
que trouxe pra gente e cada vez que foi similar. Esse aspecto está relacionado com a legi-
passando, foi se aperfeiçoando mais
(Representante da Empresa 2). timidade organizacional. Em síntese, o Quadro
4 mostra a estrutura institucional que faz pressão
Os processos normativos são pressões iso- para o processo de isomorfismo organizacional
mórficas sobre as organizações e a resposta se dá no campo das agroindústrias exportadoras de
mais por sujeição, cujas práticas vão se tornando polpa de açaí.
semelhantes ao longo do tempo em função das
Mecanismos Resposta
Pressão Instituição/agente Mudanças
de isomorfismo estratégica
Agências reguladoras
Processos
nacionais e internacionais
Coercitivo Coerção Compromisso
Processos e
Clientes internacionais
estrutura
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