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RBGN

© FECAP
REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Review of Business Management
ISSN 1806-4892

DOI: http://dx.doi.org/10.7819/rbgn.v15i47.1353

Área Temática: Estratégia e Comportamento Organizacional

Estruturação do Campo Organizacional das Agroindústrias


Exportadoras de Polpa de Açaí *
Structuring of the Açai Pulp Exporting Agribusiness’ Organizational Field

Estructuración del Campo Organizacional de las Agroindustrias


Exportadoras de Pulpa de Açaí
Milton Cordeiro Farias Filho1
José Wellington Sousa2

Recebido em 25 de junho de 2012 / Aprovado em 25 de abril de 2013


Editor responsável: João Maurício Gama Boaventura, Dr.
Processo de avaliação: Double Blind Review

RESUMO agroindústrias exportadoras de açaí em processo


Este artigo trata da estruturação do campo das de isomorfismo. Conclui que as fontes de iso-
agroindústrias exportadoras de polpa de açaí. morfismo são as agências reguladoras, clientes,
Trata-se de uma indústria que vem crescendo a profissionais contratados e sindicato das empresas
partir de pequenas unidades artesanais de pro- agroindustriais, que facilitam o fluxo de informa-
cessamento para fábricas que incorporam tecno- ções entre as empresas.
logias de produto, processo e gestão atuando no
mercado nacional e internacional. A pesquisa tem Palavras-chave: Agroindústrias. Organizações.
como referencial analítico a teoria institucional Campo organizacional. Isomorfismo.
para o estudo das organizações. É uma pesquisa
do tipo exploratória e descritiva com abordagem ABSTRACT
qualitativa, complementada com entrevista se- This article deals with the structuring of the açai
miestruturada em duas empresas localizadas no pulp exporting agribusinesses’ field. This industry
município de Castanhal (PA), escolhidas por has expanded from small artisanal processing
suas trajetórias e pela quantidade de informações plants to factories that include product, processing
fornecidas. Os resultados demonstram que está and management technologies functioning in
sendo estruturado um campo organizacional das national and international markets. The analytical

* Os autores agradecem as contribuições dos avaliadores


1. Doutor em Desenvolvimento Socioambiental pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da Universidade da
Amazônia (Unama) e da UFPA [mcffarias@gmail.com].
2. Mestre em Administração pela Universidade da Amazônia (Unama) [josewsousa@gmail.com].
Endereço dos autores: Rua dos Mundurucus, 4487, Belém – PA - CEP 66073-000 – Brasil

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framework of this research is institutional theory 1 INTRODUÇÃO


for the study of organizations. It is exploratory
and descriptive research, with a qualitative Estudos desenvolvidos na Amazônia so-
approach, complemented by semi-structured bre organizações empresariais têm contemplado
interviews within two companies based in the aspectos de eficiência, seja sobre as vantagens
town of Castanhal (in the Brazilian state of Pará), competitivas adquiridas mediante a gestão de
chosen due to their history and to the amount custos, especialmente do segmento agroindustrial
of information provided. Results show that an (SANTANA, 2004, 2007), tratando das vanta-
açai pulp exporting agribusiness organizational gens que empresas possuem a partir de fatores
field is being structured through a process of locacionais (COSTA; ANDRADE; SILVA, 2004)
isomorphism. The article concludes that sources of ou mostrando a capacidade de instituições locais
isomorphism are regulatory agencies, customers, desencadearem processos de aprendizagem e ino-
contractors and the agribusiness companies’ trade vação empresarial (SANTOS; BASTOS, 2008).
union, which all ease the flow of information Alguns desses estudos são orientados
between companies. por uma perspectiva neoclássica do pensamento
econômico, partindo da perfeita racionalidade
Keywords: Agribusiness. Organizations. dos atores e do comportamento maximizador da
Organizational field. Isomorphism. empresa (SANTANA, 2004), e mesmo quando
mostram uma compreensão mais heterodoxa,
RESUMEN como a abordagem de arranjos produtivos locais,
Este artículo aborda la estructuración del campo de tendo em vista as imperfeições dos mercados e a
las agroindustrias exportadoras de la pulpa de açaí. racionalidade limitada dos atores - e, portanto, a
importância das instituições -, nestes trabalhos os
Se trata de una industria que está creciendo desde
agentes empresariais ainda se comportam em fun-
pequeñas unidades artesanales de procesamiento
ção da eficiência da firma (COSTA; ANDRADE;
hacia fábricas que incorporan tecnologías de
SILVA, 2004; SANTOS; BASTOS, 2008).
producto, proceso y gestión, que operan en el
Se as “lentes” teóricas fossem trocadas
mercado nacional e internacional. El estudio tiene
para uma perspectiva sociológica da teoria
como referencial analítico la teoría institucional
institucional, no entanto, se poderia ver que a
para el estudio de las organizaciones. Es un estudio
eficiência técnica não é a única força motora das
de tipo exploratorio y descriptivo con enfoque
organizações e que muitas incorporam novas
cualitativo, complementado con una entrevista
tecnologias, contratam diferentes perfis de pro-
semiestructurada en dos empresas localizadas en
fissionais, modificam planta de produção, além
el municipio de Castanhal-PA, elegidas por sus
de outras iniciativas, não por eficiência, mas
trayectorias y por el volumen de las informaciones
por esses elementos estarem institucionalizados
facilitadas. Los resultados indican que se está
nos setores ou campos organizacionais em que
estructurando un campo organizacional de las atuam na forma como sugerem os trabalhos de
agroindustrias exportadoras de açaí en proceso Scott (1999) e Meyer e Rowan (1999). Assim,
de isomorfismo. Finalmente, el estudio sostiene elementos institucionalizados, quando assumidos
que las fuentes de isomorfismo son las agencias pelas organizações de um determinado campo,
reguladoras, clientes, profesionales contratados y as tornam legítimas, prolongando ou ampliando
el sindicato de las empresas agroindustriales, los a capacidade de sobrevivência, mesmo que isso
que facilitan el flujo de informaciones entre las não resulte necessariamente em eficiência técnica
empresas. (MEYER; ROWAN, 1999).
O campo em que estão inseridas tais or-
Palabras clave: Agroindustrias. Organizaciones. ganizações empresariais exerce pressão para que
Campo organizacional. Isomorfismo. elas adotem estruturas que as levam a se tornarem

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similares umas às outras. Esse fenômeno é chama- do campo organizacional das agroindústrias
do por Dimaggio e Powell (2005) de isomorfismo exportadoras de polpa de açaí. Os resultados re-
organizacional. A teoria econômica e parte das latados no artigo estão divididos em três partes,
teorias das organizações trabalham com uma pers- além desta introdução e da conclusão.
pectiva neoclássica e funcionalista do ator racional
e buscam estudar como se diferenciam umas das
outras e se colocam em uma posição de destaque, 2 A ANÁLISE ORGANIZACIONAL A PARTIR
ao passo que uma vertente da teoria institucional DA ABORDAGEM DAS INSTITUIÇÕES
para análise organizacional busca compreender
de que forma as organizações se assemelham. A A teoria institucional empregada no
compreensão de instituições aqui utilizada tem estudo de organizações por meio da tradição so-
sua origem na vertente da história econômica que ciológica permite uma forma analítica de maior
demonstra as limitações da abordagem neoclássi- compreensão do desenvolvimento da organização
ca. Tal compreensão parte do princípio de que as empresarial, em termos das análises gerais de suas
instituições podem ser divididas em dois grupos: relações. As instituições são o centro das análises.
formais e informais: as primeiras, em sua maioria, Por instituições se entende o nível mais
têm origem estatal; as segundas são de origem básico da sociedade em que o quadro de relações
social e legitimadas socialmente (NORTH, 1993). é estabelecido (KNIGHT, 1992), funcionando
A matriz analítica institucional serviu de como regras do jogo nas relações (NORTH,
base para o estudo de um conjunto de organi- 1993) elaborando sistemas, construindo a história
zações (agroindústrias exportadoras de polpa de e percepções e conformando caminhos futuros
fruta), que participa de um mercado que vem (ESPINO, 1999; NORTH, 1993). Nas relações
crescendo (nacional e internacionalmente), a de troca, elas constroem um marco social, econô-
partir dos anos 1990 (ROGEZ, 2000). Essas mico e político, permitindo antecipar o compor-
organizações começam a se estruturar em torno tamento do agente, levando à redução de custo
do que Dimaggio e Powell (2005) denominaram de transação e impactando positivamente níveis
campo organizacional. Com base nesse contexto, de investimento, poupança, inovações, mudança
partiu-se das seguintes questões: a) Que institui- institucional e ações coletivas (ESPINO, 1999).
ções contribuíram para a estruturação do campo As instituições são categorizadas por North
organizacional das agroindústrias exportadoras (1993) em dois grupos: formais e informais. As
de polpa de açaí? b) De que forma as instituições formais são, em sua maioria, de origem estatal e
do campo organizacional das agroindustriais englobam regras, regulamentos e leis formuladas
exportadoras de polpa de açaí exerceram pressão pelos agentes para que problemas de coordenação
isomórfica sobre as organizações? no âmbito social, político e econômico sejam
A pesquisa foi dividida em quatro etapas: resolvidos. Sua aplicação e cumprimento são de
um levantamento de informações iniciais sobre caráter obrigatório. Esse tipo de instituição está
as organizações agroindustriais de processamen- no campo de domínio público. As informais não
to de polpa de açaí situadas no estado do Pará são imputadas ou prescritas em forma de lei, não
(em duas etapas); em seguida uma survey em 12 fazem parte do sistema normativo e legal e não
agroindústrias e posteriormente a seleção das duas possuem o caráter obrigatório. Elas possuem
que mais se adequaram aos objetivos da pesquisa origem social e vão ganhando forma ao longo do
para entrevista semiestruturada. tempo, por meio de usos, costumes, valores ou
Diante da perspectiva teórica, a pesquisa cultura local e são legitimadas socialmente.
teve dois objetivos: a) verificar de que forma se es- Berger e Luckmann (2007) demonstram
trutura o campo organizacional das agroindústrias que as instituições são resultantes de hábitos tipi-
exportadoras de polpa de açaí; b) identificar as ficados ao longo do tempo, difundidos e aceitos
instituições que contribuíram para a estruturação pelo grupo social, exercendo o controle sobre

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o próprio grupo, construindo a realidade. Os POWELL, 2005, p. 86) em equivalência estru-


hábitos funcionam como economia de esforço e tural (WHITE; BOORMAN; BREIGER, 1976),
reduzem as várias maneiras de fazer determinada também chamada de afinidade estrutural (MAOZ
ação, o que torna restrita a tomada de decisão e et al., 2006), conceituada como a semelhança que
reduz a tensão e o esforço de resposta, bem como um ator mantém com outro, seja em suas relações,
as incertezas que circundam o sistema social. Esses atitudes, traços ou características.
hábitos sedimentados, compartilhados socialmen- Na concepção de Dimaggio e Powell
te, dão ordem ao sistema, estabelecendo padrões (2005), a equivalência existe quando organizações
de comportamento, garantido legitimidade e mantêm vínculos similares com outros grupos de
aceitação aos atores que a eles se submetem e organizações, mesmo que não mantenha relação
punições aos que resistem. entre si, como o caso de empresas distintas, que
As organizações, como agentes sociais, e contratam a mesma prestadora de serviços para
consequentemente inseridas em um sistema social realizar, por exemplo, o recrutamento e a seleção
ou ambiente, sofrem influência desse conjunto de pessoal. O campo organizacional se constitui
de hábitos institucionalizados ao mesmo tempo em unidade de análise determinada empiricamen-
que são agentes criadores em potencial de novas te e definida institucionalmente a partir de quatro
estruturas institucionais. Estas são um conjunto elementos: a) intensidade das relações interorga-
de ações que representam sucessivas soluções de nizacionais; b) padrões de coalizão e dominação
sucesso a problemas específicos, que difundidas definidos entre as organizações; c) aumento da
socialmente passam a ser um comportamento quantidade de informação com as quais as orga-
padrão, tido como certo e dotado de significados nizações precisam lidar; d) o entendimento de que
(TOLBERT; ZUCKER, 1999). participam de um negócio.
Para essas abordagens, a organização passa a Uma vez que um campo passa a ser es-
ser estruturada para estar em conformidade com as truturado, as organizações são pressionadas a se
expectativas do ambiente institucional em que está assemelharem uma às outras. Isso ocorre porque
inserida, deixando em segundo plano a eficiência as organizações estão sofrendo ação das mesmas
técnica. A esse ambiente institucional, Dimaggio condições ambientais. Esse processo de homo-
e Powell (2005, p. 76) chamam de campo or- geneização recebe o nome de isomorfismo e se
ganizacional, formado por “fornecedores-chave, manifesta por meio de três mecanismos no campo
consumidores de recursos e produtos, agências que conduz tais organizações a mudança isomór-
reguladoras e outras organizações que produzam fica (DIMAGGIO; POWELL, 2005). São eles:
serviços e produtos similares”. Tais características a) isomorfismo coercitivo: resulta da
definem a fronteira pelas quais organizações atuam adequação de organizações a pressões exercidas
competindo, influenciando, coordenando e de por outras organizações e pela sociedade das
onde as inovações interorganizacionais emergem. quais dependem, seja por coerção, persuasão e/
O campo se define por um conjunto ou conluio. Trata-se do ambiente legal em que a
de organizações, de redes formais e infor- organização se insere. Imposições governamentais
mais que se conectam entre si (DIMAGGIO; podem se manifestar em corporações, homogenei-
POWELL, 2005). Trata-se da totalidade de zando procedimentos operacionais e estruturas
atores relevantes, o que abrange a ideia de redes (DIMAGGIO; POWELL, 2005). A coerção acon-
ou nós ligados por um conjunto de relações tece também por mitos e cerimônias instituciona-
(LAUMANN; GALASKIEWICZ; MARSDEN, lizados socialmente (MEYER; ROWAN, 1999),
1978), como“relações contratuais formais, par- coagindo organizações a segui-los e adotá-los,
ticipação de pessoal em empresas comuns como em busca da legitimidade no campo em que estão
associações profissionais, sindicatos ou conselho atuando (DIMAGGIO; POWELL, 2005).
de diretores, ou vínculos informais no nível orga- Dimaggio e Powell (2005) sugerem que
nizacional como fluxo de pessoas” (DIMAGGIO; quanto maior a dependência de uma organização

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em relação à outra, maior será a semelhança entre ênfase acaba separando a estrutura formal de uma
elas, no que diz respeito à estrutura, ao ambiente organização (como sua hierarquia, cargos oficiais,
e ao foco comportamental. Também sugerem que planejamentos) da eficiência técnica, ou seja, uma
o isomorfismo será maior em um campo em que organização irá adotar determinada estrutura não
organizações interagem mais com agências do apenas porque isso contribuirá para a obtenção de
governo e quando dependem dos mesmos recursos melhores rendimentos técnicos, mas também por-
para sobreviver. que isso lhe dará legitimidade como atuante em um
b) processos miméticos: tipo de isomorfis- campo específico (DIMAGGIO; POWELL, 2005).
mo desencadeado pela incerteza como problemas Em função disso, os vínculos entre estas estruturas
de causas ambíguas, tecnologias mal compreen- formais e a atividade técnica das organizações são
didas, inserção em mercado desconhecido, posi- frágeis (MEYER; ROWAN, 1999).
cionamentos ou ações que induzem a imitação É possível distinguir, portanto, dois am-
de comportamentos e práticas que, na percepção bientes: o institucional e o ambiente técnico. O
das imitadoras, são modelos. Quanto menores as primeiro, conformado por normas e categorias
alternativas de modelos organizacionais, maio- socialmente definidas; o segundo trata da esfera do
res serão as manifestações de isomorfismo. Os mercado, maximização de lucro, minimização de
processos miméticos podem se apresentar como custos, de forma que a organização eficiente seja
soluções viáveis a um baixo custo e como difusores premiada por sua otimização (SCOTT, 1999). O
de inovações. ambiente técnico é aqui tratado de forma similar
c) pressões normativas: são impulsionadas ao conceito de estrutura institucional da perspec-
por processos de profissionalização, produzidos tiva econômica das instituições de North (1993).
em universidades, instituições de treinamento É possível perceber que, da forma que
profissional, associações profissionais e de pesqui- Meyer e Rowan (1999) tratam a questão, parece
sa. Essas instituições estão relacionadas à formação que os ambientes são mutuamente excludentes.
cognitiva do profissional, de redes profissionais e Nessa mesma direção, Dimaggio e Powell (2005)
por certa normalização de comportamentos. As apontam que a estrutura e a técnica das organiza-
pressões normativas também encontram fonte nas ções são mais adequadas em ambientes cuja com-
seleções de pessoal, quando empresas contratam petição é livre e aberta. Orru, Bigart e Hamilton
profissionais da mesma indústria ou de um mes- (1999) mostram que, do ponto de vista analítico,
mo centro de treinamento que são referência em não há motivos para que haja a separação entre os
determinadas habilidades, resultando em práticas dois ambientes. Na concepção de Scott (1999), os
comuns desenvolvidas por esses funcionários. O dois ambientes não são mutuamente excludentes,
isomorfismo ocorre por meio de um processo de mas são dimensões nas quais o ambiente varia,
socialização profissional e intensidade de profis- pois existem organizações que estão sob maiores
sionalização do campo. pressões técnicas do que institucionais; da mes-
Essa teoria apresenta-se como uma alterna- ma forma em que há organizações que recebem
tiva às análises que têm seu foco na concorrência maiores pressões institucionais do que técnicas.
e preocupação com o ambiente técnico em que as A questão interessante para a análise das
empresas se inserem, como a perspectiva da eco- organizações de um campo é saber se elas estão
logia populacional das organizações (HANNAN; priorizando legitimidade em detrimento de efici-
FREEMAN, 2005) e da dependência de recursos ência, como afirmam Dimaggio e Powell (2005)
(PFEFFER, 1993). A vertente da teoria insti- e Meyer e Rowan (1999), já que quando uma
tucional da análise organizacional se preocupa organização empresarial sacrifica o lucro em um
com o aspecto simbólico: as normas, as regras e período, no intuito de fazer adequações em sua
os rituais socialmente construídos e legitimados estrutura ou padrão de qualidade, por exemplo,
aos quais as organizações precisam responder não significa dizer que não esteja priorizando
(ORRU, BIGGART; HAMILTON, 1999). Essa eficiência, mas que a eficiência que ela tem

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priorizado está relacionada ao capital simbólico, são Belém (18) e Castanhal (12). Estes também
alvo de sua acumulação, expresso em honra e foram os que mais exportaram a polpa de açaí
reconhecimento. Assim, a acumulação de capital no ano de 2010 (últimos dados disponíveis). As
simbólico (BOURDIEU, 2006), no momento de 12 agroindústrias de Castanhal foram objeto de
um jogo estratégico, pode se traduzir em lucro em uma survey, em que foram levantadas informações
um período posterior, que é o objetivo principal sobre trajetória das agroindústrias, mercado de
da organização empresarial capitalista. atuação, principais clientes e fornecedores, pro-
Bourdieu (2006) defende que a questão cessos produtivo e tecnológico, fontes de finan-
central não é o embate entre eficiência e legiti- ciamento, produtos e percepção das instituições
midade, mas que a busca por legitimidade tam- que influenciam o desenvolvimento do campo
bém significa a busca por eficiência, porém de organizacional (questionário dividido em cinco
um capital específico no campo, que é o capital blocos com total de 48 perguntas semiabertas).
simbólico. Dessa forma, se para Scott (1999) as Etapa 3 - A partir da survey, foram sele-
organizações estão sob um ambiente dotado de cionadas duas agroindústrias para entrevistas com
dimensão técnica e simbólica que exercem pres- os gerentes e proprietários, ambas localizadas no
sões e recebem respostas específicas, para Bourdieu município de Castanhal. As empresas localizadas
(2006) trata-se da empresa se comportando dentro em Belém não atenderam a solicitação para en-
da expectativa da teoria econômica, ou seja, tendo trevista. Por isso, a seleção levou em consideração:
em vista a maximização da eficiência do capital, a) empresas que nas respostas do questionário
em suas múltiplas dimensões, contudo. prestassem maior quantidade de informação e
Estas são, em síntese, as principais con- expressassem interesse em colaborar com a pes-
tribuições dos autores clássicos da abordagem quisa; b) empresas que trabalhassem com mercado
institucional, em suas vertentes econômica e internacional (exportadoras de polpa de açaí);
sociológica, e dos principais autores que fizeram c) empresas que evoluíram de atividades tradi-
uma revisão dos conceitos. A próxima seção trata cionais de açaí (batedores artesanais) para o tipo
do detalhamento metodológico empírico para a organização agroindustrial.
análise da estruturação do campo organizacional Para a seleção também considerou-se o
das agroindústrias exportadoras de polpa de açaí “tempo de atuação” no mercado. Nesse quesito
em Castanhal-PA. foram selecionadas as agroindústrias com maior e
menor tempo. Esse procedimento justifica-se pela
capacidade de verificar a trajetória da agroindústria
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS e o papel das instituições em seu desenvolvimento
E CARACTERIZAÇÃO DAS e na estruturação do campo. Nessa etapa foram
ORGANIZAÇÕES ESTUDADAS realizadas entrevistas semiestruturadas com represen-
tantes (gerentes e proprietários) das duas empresas.
Para o desenvolvimento da pesquisa foram A entrevista foi a técnica considerada mais adequada
adotados os seguintes procedimentos metodológicos: para se ter acesso a informações delicadas e relevantes
Etapa 1 - Levantamento de informações para análises e explicar fatos importantes da pesquisa,
junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e da forma como propõe Phillips (1974).
Abastecimento (Mapa) no estado do Pará, quanto Etapa 4 - O conteúdo das entrevistas foi
a número, tipos e localização das agroindústrias selecionado, sendo retirados trechos cujo conteú-
processadoras de polpa de frutas. Foram iden- do fosse relevante para a explicação da abordagem
tificadas 77 agroindústrias, sendo 32 batedores institucional para estudos de organizações. Foram
artesanais (em nove municípios), que são as ativi- realizadas também observações nas dependências
dades de despolpa de fruto de açaí, com tecnologia das agroindústrias e conversas livres com pessoas
artesanal, e 45 agroindústrias (em 15 municípios), envolvidas (consultores de empresa, fornecedo-
com sistema de produção de padrão industrial. res, agentes reguladores etc.) no setor artesanal
Etapa 2 - Foi identificado que os mu- e industrial de processamento de polpa de açaí
nicípios com maior número de agroindústrias nos municípios pesquisados. Os procedimentos

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Estruturação do Campo Organizacional das Agroindústrias Exportadoras de Polpa de Açaí

seguidos classificam esta pesquisa como explora- década de 1990 (identificada aqui como E1).
tória e descritiva (GIL, 2008). Recebeu recursos financeiros de um cliente do
Para apresentação dos dados e informa- Rio de Janeiro (identificado como C1). Em
ções foram usados nomes fictícios tanto para as 2006, adquiriu uma planta industrial (Planta B
organizações quanto para as pessoas envolvidas da Empresa P), além da que mantinha (Planta
na trajetória das empresas e citadas nas entrevis- A), sendo que na Planta B produzia polpa de
tas, a fim de preservá-los, a pedido dos próprios qualidade inferior. Após contrato de tercei-
entrevistados. Assim, trataremos as organizações rização com a Empresa E, intermediado pelo
respectivamente como “Empresa 1” e “Empresa Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados
2”. As duas agroindústrias selecionadas foram do Estado do Pará (Sindfrutas), as Plantas A
indicadas, pelos entrevistados como referências e B passaram por adequações e a Empresa E1
no mercado pela experiência, pioneirismo (a mais
mudou de nome, após uma fusão com a Em-
antiga), rápido crescimento e participação no
presa E2 em 2008.
mercado internacional (a mais nova).
Hoje as duas plantas (A e B) funcionam
com outro nome (não mais E1 nem P). Essa
empresa é a segunda maior exportadora do mu-
4 A ESTRUTURAÇÃO DO CAMPO
nicípio. Em 2009, a marca da Empresa E1 (que
ORGANIZACIONAL DAS
originou tudo) foi vendida junto com a marca da
AGROINDÚSTRIAS DE POLPA DE AÇAÍ
Empresa P. Uma síntese dessa trajetória e atuação
4.1 Dinâmica da Empresa 1 está no Quadro 1, que apresenta a capacidade
produtiva, número de empregados, fonte de fi-
A Empresa 1 surge da ampliação de um nanciamento, emprego de recursos.
negócio de processamento artesanal de açaí na

Capacidade Capacidade Capacidade


Empregados Emprego de
Anos produtiva A produtiva B produtiva total Financiamento
AeB recursos
(ton./dia) (ton./dia) (ton./dia)
Financiamento Máquinas e
Dez. 1990 14 --- 14 60
de cliente equipamentos
Financiamento Máquinas e
2006 42 14 56 60
de cliente equipamentos
Financiamento Infraestrutura
2008 70 14 84 60
de cliente física em B
2009 - 14 14 60 --- ---

Quadro 1 – Capacidade produtiva, número de empregados, fomento e destino de recursos da Empresa 1


Fonte: dos autores, com base em resultados obtidos na pesquisa de campo.

4.2 Dinâmica da Empresa 2 qualidade, laboratórios para análise físico-química


e microbiológica, rastreabilidade do produto e
Iniciou suas atividades em 2005, por meio compra de um pasteurizador para ter acesso ao
de financiamento do mesmo cliente que finan- mercado dos Estados Unidos.
ciou a Empresa 1 (C1). Ingressou no mercado Em 2006, contratou um tecnólogo
internacional em 2006, intermediado por uma agroindustrial, no intuito de gerenciar a quali-
funcionária da empresa. Implantou controle de dade da produção. Nesse ano, a empresa recebeu

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certificação orgânica, financiada por um cliente Entre 2008 e 2009, por meio de finan-
americano (C2), além de outras (Kosher e Halaw), ciamento do mesmo cliente (C1), adquiriu
exigidas por clientes internacionais. marcas de empresas nacionais. Durante a crise
Da tentativa de relação entre as duas em- nos EUA, em 2009, aumentou sua participação
presas (1 e 2) resultou o treinamento dos profis- no mercado nacional. A trajetória em termos
sionais da Empresa 2. Em 2007 foi implantado de capacidade produtiva, empregados, finan-
o departamento de Pesquisa & Desenvolvimen- ciamentos e seus respectivos fins está resumida
to (P&D) e a Internacional Organization for no Quadro 2.
Standardization 22.000 (ISO 22.000).

Capacidade produtiva
Anos Empregados Financiamento Emprego de recursos
(ton./dia)
Máquinas e equipamentos;
2005 21 30 Financiamento de cliente
infraestrutura física
2006 35 38 Crédito bancário Máquinas e equipamentos
Máquinas e equipamentos;
2007 88,7 65 Crédito bancário
infraestrutura física
2008 112 120 Crédito bancário Máquinas e equipamentos
Financiamento de clientes Aquisição de planta de produção;
2009 112 120
e crédito bancário compra de marcas e caminhões

Quadro 2 – Capacidade produtiva, número de empregados, fomento e destino de recursos da Empresa 2


Fonte: dos autores, com base em resultados obtidos na pesquisa de campo.

A demanda internacional e nacional pela pressionadas pela mudança (SANTANA, 2003),


polpa de açaí tem representado uma oportunidade o que revela o fato de muitas agroindústrias esta-
de negócio na Amazônia, em especial no estado rem investindo no mix de polpa e outras formas
do Pará. Tem havido um aumento da concorrên- para ampliar a atuação no mercado internacional
cia e mudança nos hábitos dos consumidores. (SANTANA, 2007).
Esse cenário tem levado as empresas a melhorar Esse processo gerou uma reorganização
produtos e processos (design, diversificação e mis- no segmento de processamento de polpa de
turas) e gestão (especialmente por meio de gestão açaí na região, de tal forma que é possível fazer
estratégica da produção e custos). uma estratificação a partir de fatores como in-
Iniciativas como Análise de Perigos e corporação de tecnologias, melhorias de gestão,
Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Boas especialização em determinados mercados (in-
Práticas de Fabricação (BPF) aparecem mais ternacional, nacional, local). O Quadro 3 expõe
frequentemente. Tais práticas, no entanto, não de forma resumida algumas características dessa
se estendem à maioria das agroindústrias, fragili- segmentação a partir do mercado, processos,
zando a sustentabilidade dessas empresas que são produtos e formas de atuação.

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Estruturação do Campo Organizacional das Agroindústrias Exportadoras de Polpa de Açaí

Tipos Características Atuação


Investiram em tecnologia, contratação de profissionais especializados, programas de qualidade e
certificações, adequações às normas legais dos órgãos nacionais e internacionais; contaram com
Mercado
Tipo 1 financiamento próprio e/ou de clientes e/ou de instituições bancárias; buscaram ampliar mercados
internacional
usando os contatos da instituição representativa (sindicato), ou de empresas contratadas para fazer
a comercialização no mercado internacional.
Investiram na contratação de profissionais especializados; buscaram financiamento; fizeram ade-
Mercado
quações para atender aos padrões do mercado nacional e internacional exigidos pelos clientes;
Tipo 2 nacional e
investiram em tecnologias e em certificações. Saíram do mimetismo no qual tiveram origem e
internacional
começaram a buscar melhorias na produção.
Buscaram reduzir custos com tecnologias, contrataram profissionais especializados, praticando o
mimetismo de empresas institucionalmente legitimadas no campo organizacional. Fizeram ade- Mercado
Tipo 3
quação para atender aos padrões do mercado nacional, mas não cumpriram em sua plenitude, em nacional
virtude da frágil fiscalização das instituições reguladoras.
Melhoraram a produção, mas ainda não alcançaram um papel de destaque; por não usarem a tec- Mercado
Tipo 4 nologia disponível, restringindo seu papel no campo, ainda não se legitimaram socialmente no nacional
campo. e local

Quadro 3 – Caracterização das agroindustriais de polpa de açaí


Fonte: dos autores, com base em resultados obtidos na pesquisa de campo.

De forma geral a estruturação do campo no país, garantir a segurança alimentar e de


organizacional das agroindústrias exportadoras medicamentos humanos e veterinários, produtos
de polpa de açaí se deu a partir das seguintes biológicos, cosméticos, produtos que emitem ra-
instituições: diação (UNITED STATES FOOD AND DRUG
a) Ministério de Agricultura, Pecuária e ADMINISTRATION, 2001). O FDA apresenta-se
Abastecimento (Mapa): Tem o objetivo de esti- aqui como representante das agências regula-
mular, fomentar e regular a agropecuária e servi- doras dos Estados Unidos, principal cliente das
ços associados ao setor. Estabelece, entre outras empresas exportadoras pesquisadas; juntamente
coisas, a classificação da polpa de açaí em função com o Codex Alimentarius Commission, criado
da adição de água, tendo-se então, a partir da pela Food and Agriculture Organization (FAO)
Instrução Normativa nº 1/2000: açaí grosso ou e World Health Organization (WHO) (CODEX
especial (tipo A: acima de 14% de sólidos totais); ALIMENTARIUS, 200-?). Além disso, também
médio ou regular (tipo B: entre 11% e 14% de há as exigências internacionais no que se refere
sólidos totais); e fino ou popular (tipo C: entre às boas práticas de fabricação e pasteurização do
8% e 11% de sólidos totais) (BRASIL, 2000). produto, buscando assegurar 12% de matéria-
b) Agência de Vigilância Sanitária (An- -prima seca.
visa): Vinculada ao Ministério da Saúde, realiza e) Universidade do Estado do Pará (UEPA)
o controle sanitário dos produtos no intuito de e Universidade Federal do Pará (UFPA): respon-
proteger a saúde pública. Tem a função de regu- sáveis pela formação dos profissionais da área
lação das empresas que produzem alimentos no de agroindústria na região estudada, onde estão
Brasil (Anvisa, 1999). instaladas as empresas 1 e 2.
c) Agência de Defesa Agropecuária do Pará f ) Sindicato de Frutas do Estado do Pará
(Adepará): Responsável pela fiscalização e controle (Sindfrutas): tem como um de seus objetivos
da produção agropecuária no estado do Pará. facilitar o acesso a informações e pesquisas;
d) United States Food and Drug Admi- representar os produtores perante autoridades;
nistration (FDA): Vinculado ao departamento celebrar contratos e mediar as relações entre tra-
de saúde e serviços humanos dos Estados Uni- balho e produção; prestar serviços de assistência
dos, é responsável por proteger a saúde pública jurídica; promover a articulação entre os diversos

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segmentos que compõem a cadeia produtiva das agroindústrias (Sepof, 2011), como as de polpa
Indústrias de Frutas e Derivados, do plantio à de açaí. Embora não seja um produtor do fruto
distribuição; apoiar e dinamizar as transações (açaí), recentemente atraiu várias indústrias de
de compra e venda; incentivar padronização e processamento de polpa, numa dinâmica descrita
qualidade do produto; discutir e integrar propos- a seguir.
tas governamentais e não governamentais para No que se refere à estruturação do cam-
aumentar a produtividade e a competitividade po organizacional de agroindústrias, algumas
do setor no estado do Pará (Sindfrutas, 2010). das instituições contribuíram mais que outras,
A dinâmica do campo organizacional mostra, no especialmente para o fenômeno do isomorfismo
entanto, as fragilidades de coesão das organizações organizacional. As agências reguladoras interna-
afiliadas ao Sindicato. cionais foram as que mais se destacaram, princi-
g) Clientes Nacionais e Internacionais: são
palmente para a elevação do padrão de qualidade
empresas comerciais dos Estados Unidos, Canadá,
das empresas. A atuação do Mapa e da Anvisa
Inglaterra, Holanda, Eslováquia, Bélgica, Israel e
não demonstrou ação capaz de elevar o padrão
Japão. Já no mercado nacional estão as empresas
de qualidade na produção. As empresas que so-
de estados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste
freram ação direta de instituições internacionais
do país.
(por meio de visitas regulares de representantes)
h) Fornecedores de matéria-prima:
apresentaram os melhores produtos em termos de
são moradores de comunidades ribeirinhas e
qualidade, como informa um entrevistado:
produtores rurais. Com os primeiros, a relação
é informal, sendo mais comum estabelecerem
O ministério não exigiu nada, a vi-
acordo não escrito para venda da produção gilância não exigiu nada. Os clientes
(compromisso de compra) e, em alguns casos, exigiram e agente teve que se adequar
outras formas de relações se estabelecem. A co- [...] principalmente as normas in-
ternacionais [...] (Representante da
mercialização é realizada tanto com associações de Empresa 2).
produtores quanto com vendedores individuais.
Com os segundos, predominam relações formais
Embora com uma atuação mais restrita
de compra e venda de matéria-prima.
quanto à coerção no campo das exportadoras, as
j) Fornecedores de insumos: os fornecedo-
duas instituições contribuíram com um processo
res de insumos como tambores, bolsas plásticas,
disciplinar, que influenciou as agroindústrias que
frascos para amostras, produtos de limpezas e
atuam no mercado nacional a se igualarem umas
máquinas são oriundos respectivamente dos
às outras, desencadeando um processo isomor-
estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais e de
fismo como concebido por Dimaggio e Powell
outros municípios do Pará.
(2005). Também houve uma pressão dos clientes
internacionais para que as agroindústrias adotas-
5 CARACTERÍSTICAS DE ISOMORFISMO sem a pasteurização do produto a ser exportado.
NO CAMPO ORGANIZACIONAL DAS Nesse caso, as agências de regulação internacionais
AG RO I N D Ú S T R I A S D E AÇ A Í E M contribuíram para a similaridade das práticas de
CASTANHAL (PA) produção com um padrão de qualidade também
similar entre as exportadoras. Logo, duas institui-
O município de Castanhal está situado ções exerceram maior pressão: clientes e agências
na parte Nordeste do estado do Pará, distante reguladoras internacionais. A pressão ocorre
65 km da capital (Belém). Com uma população quando o cliente exige uma qualidade específica
de 173.149 (IBGE, 2010) e uma taxa de urba- do produto, a exemplo do açaí orgânico ou de
nização de 0,93, o município se destaca pelo estruturas específicas de produção, como relata o
elevado número de indústrias, especialmente de representante da Empresa 1:

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Somente as empresas que contam com e com a empresa responsável pela terceirização
clientes mais exigentes, em especial revela os elos que as tornam estruturalmente equi-
os do mercado internacional, é que
buscam se adequar para atender a valentes, na forma prevista por White, Boorman
necessidade destes clientes [...](Repre- e Breiger (1976), aspecto importante no processo
sentante da Empresa 1). de estruturação do campo organizacional.
Além disso, por ser um campo em estru-
[...], o que teve de crescimento, de
informação, foi tudo vindo de fora. turação, a busca de legitimidade é um dos funda-
Nada é daqui. Nenhuma consultoria, mentos para consolidação das organizações, por
nenhuma parceria, com universidade, isso elas evitam uma resposta inadequada, na for-
com nada. Tudo veio de fora [...] Tudo
ma como fundamentam Meyer e Rowan (1999).
o que aconteceu de mudança nas
indústrias foi por causa dos clientes A manifestação de isomorfismo miméti-
[...] teve muitas visitas de americanos co no campo estudado se dá quando o clima de
aqui, o estabelecimento do padrão que incerteza se manifesta. Dimaggio e Powell (2005)
eles queriam, inspeções, auditorias [...]
(Representante da Empresa 1). sustentam que as organizações empresariais são
encorajadas a imitarem aquelas que são consi-
A gente tinha um cliente específi- deradas modelo dentro do campo, desencade-
co, que só queria comprar produto ando processos miméticos. Nesse caso, CAMTA
nosso orgânico, então eles mesmos
financiaram [...] (Representante da (uma cooperativa já consolidada no campo das
Empresa 2). agroindústrias de processamento de polpa de
fruta) foi apresentada por um entrevistado como
Se clientes, mesmo que diferentes, deman- uma das empresas mais experientes. Embora hoje
dam produtos orgânicos, as empresas certificadas outras agroindústrias sirvam como “modelo” de
adotam padrões semelhantes, portanto se apre- eficiência técnica no campo das exportadoras, são
sentam como fonte de isomorfismo coercitivo. maiores as dificuldades para desenvolvimento de
Assim, o importador é fonte indireta de iso- práticas de mimetismo.
morfismo coercitivo, pois o produto importado
deve atender aos padrões mínimos de segurança (...) na época a empresa que tinha mais
referência era a CAMTA, e a Empresa
alimentar exigidos pelo país onde o importador 1, porque era uma empresa antiga no
reside. Nesse momento outra instituição surge: a mercado, mais forte (Representante
agência reguladora. da empresa 2).
Outro mecanismo de isomorfismo coer-
citivo foi o processo de terceirização pelo qual as Ao mesmo tempo que a imitação é desen-
empresas 1 e 2 passaram, embora a Empresa 2 não cadeada por uma tensão gerada pela incerteza, as
efetivasse contrato formal. Ambas tiveram uma empresas também buscam elementos institucio-
relação direta com a mesma empresa terceirizada. nalizados no campo para alcançarem legitimidade
Essa empresa treinou os funcionários das empresas e sobreviverem, tal como proposto por Meyer e
estudadas, ensinando seu processo de produção, Rowan (1999), ainda que essa prática não seja
que já estava nos padrões internacionais. Esse é garantia de melhoria de desempenho. Foi o que
um fenômeno comum e já se manifesta em outras aconteceu com a Empresa 2, quanto a alguns de
organizações agroindustriais que atuam no merca- seus certificados. Segundo o entrevistado, ter uma
do nacional e internacional; ele contribui para o certificação como Kosher e Halaw não expressava
aprendizado, influenciando o isomorfismo, por- uma necessidade imediata da empresa, nem lhe
que as empresas passam a adotar comportamentos conferia melhor desempenho:
organizacionais similares.
A relação que as empresas 1 e 2 mantêm quando eu cheguei lá eles já tinham fei-
to algumas pesquisas informais do que
com a Anvisa e o Mapa, com clientes, com as as grandes fábricas como a CAMTA e
instituições de regulação dos países importadores a Sambazom, na época eram referência

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e tinha certificado. E eles fizeram, por não é assim! [...] Ah, mais o Seu José
exemplo, pesquisa rápida de internet, fez desse jeito. [...] Aí eu disse assim:
o que Kosher, o que Halaw, e viram Quem te falou que Seu José tá todo
que seria interessante a gente ter [...] a certo? Aí ele: Ah tão trabalhando, é a
CAMTA e Sambazom era relacionado maior, é o exemplo nosso. É a maior, é
com certificação. Eles sabiam, todo a que produz mais [...] (Representante
mundo sabia. No sindicato de frutas, da Empresa 1).
a Sambazom, ela é de Macapá, mas
ela é associada ao sindicato daqui [...]
Então eles vinham pra reuniões etc.
O isomorfismo por mimetismo também
Então, nessas reuniões eles sabiam o é percebido quando é observada a semelhança
que basicamente tinha na CAMTA e entre as plantas das agroindústrias. Essa seme-
tudo mais, o químico que ficava lá. [...] lhança é atribuída à relação que o empresariado
Sabia que precisava de APPCC, que
é um tipo é um certificado, HACCP mantinha com agroindústrias mais antigas antes
que chama nos Estados Unidos e aqui de montarem suas fábricas, uma vez que se tra-
no Brasil APPCC. Antigamente era tava de atravessadores do fruto. Cerca de 80%
um pré-requisito, pra exportar. Tinha
de proprietários de agroindústria no município
que ter APPCC (Representante da
Empresa 2). de Castanhal eram atravessadores ou batedores
artesanais do fruto:
O trecho da entrevista do representante
O Seu João errou muito, mas a gente
da Empresa 2 revela a incorporação de estruturas já copiou fazendo os consertos [...].
formais, que se manifestam na forma de mitos e Eles usaram o exemplo do seu João,
cerimônias institucionalizados, tal qual concebido viram, mas já consertaram no processo
por Meyer e Rowan (1999). Nesse caso, o APPCC deles. Ficou 100%? Não! [...] Hoje em
dia eles passaram por mudanças pra
é um mito institucionalizado. A informação do melhorar ainda mais [...] mas pegaram
entrevistado demonstra também o papel do Sin- ele como exemplo (Representante da
dicato como fonte de acesso a informações, ele- Empresa 1)
mento importante na minimização de incertezas
Antigamente [...] era mercado nacio-
para tomada de decisão na forma como concebido nal só, não tinha o que eles escon-
por North (1993) e Dimaggio e Powell (2005). derem [...]. Por exemplo: O seu José
A incorporação de estruturas e práticas vendia frutos antes de ser indústria.
Então ele vendia frutos pro seu João.
observadas no campo se deu também em relação Ele entrava na indústria do seu João
a adoção de laboratório nas agroindústrias e a pra deixar o fruto, então ele verificava
contratação de técnicos especializados. Durante como era o processamento, andando
a entrevista com o representante da Empresa 1, por lá, caminhando [...] Na frente da
Planta A da Empresa 1, é uma família,
foram declaradas algumas experiências de outras também vendia fruto e hoje ela é a
agroindústrias do campo organizacional, que cópia da Planta A da Empresa 1 e a
demonstram as empresas 1 e 2 como agentes cópia da Empresa 2 [...] Então, eles
tinham mais liberdade porque antigos
institucionalizadores, em virtude do tempo e da
atravessadores se tornaram donos de
experiência no mercado que possuem. Além disso, indústrias, então via-se muito isso
a Empresa 2 é uma das maiores do campo orga- em Castanhal é uma cidade pequena
nizacional. Essas experiências demonstram como [...] cópia: linha de processo, segue
a mesma sequência, a forma que é
a economia de esforço e resposta concebida por
a recepção de Empresa 2 é a mesma
Berger e Luckmann (2007) se manifesta: forma de recepção da Empresa Açaí
[...] Quem mais inova e diferencia é
[...] eu disse: Joaquim, pra este ano ele Seu João. Ele quer ser diferente dos
fez uma câmara nova. Seu Joaquim, outros. Aí os outros quando tinha
porque você não fez a linha correta acesso a indústria dele, começaram a
de logística... Entrada de produtos, copiar ele. Hoje já não tem mais isso
saída de produto? Porque no Seu José (Representante da empresa 1).

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Em um primeiro momento em que o cam- relações informais e próximas, o que eleva o fluxo
po se estrutura, as agroindústrias exportadoras, de informações no campo. Nos últimos quatro
por ânsia de aceitação e legitimidade, apresentam anos houve uma maior participação de outras
indícios de que estariam sofrendo maior influência instituições de ensino e pesquisa influenciando
institucional e menor pressão técnica, na forma na estruturação do campo.
como concebe Scott (1999), pois a percepção
era de que as mais antigas eram bem sucedidas, e Castanhal, por ser uma cidade peque-
na, como eu te digo, a maioria em
reproduzir suas estruturas trazia uma expectativa 2006 entrou Henrique na Empresa
de obter os mesmos resultados e aceitação, como 1, Planta A; Rosilene na Empresa 1,
defendem Meyer e Rowan (1999). Entretanto, Planta B; Pedro na Empresa 2; Bruno
quando o campo passa a se desenvolver, a efici- na Empresa Açaí, todos tecnólogos da
mesma turma, formados na mesma
ência técnica começa a exercer mais pressão sobre turma da UEPA. [...] Nessa época na
as agroindústrias exportadoras. turma tinha 11 de Castanhal. Então
É possível que esse comportamento das se a Rosilene arruma um emprego, e
eu sei que foi indústria de açaí. Eu tô
organizações e de seus responsáveis tenha justifica-
sabendo, o Pedro soube. Então todo
tiva na ausência de uma indústria de base (bens de mundo começou a entregar currículo
produção) e instituições de inovações tecnológicas em indústria de Açaí. Souberam que
para o setor industrial na região, já que se trata de contratou um tecnólogo, ele podia até
não saber pra que era, mas a empresa
um produto exclusivamente produzido em uma
que era modelo contratou eu vou
região com baixa taxa de inovação tecnológica. contratar, então cada um começou
No entanto, as agroindústrias já começam a a contratar [...] (Representante da
busca por eficiência técnica, escala de produção, Empresa 1).
aperfeiçoamento tecnológico, diversificação de
produtos e melhorias de gestão, o que demons- Por mais que a profissionalização do campo
tra uma alteração no papel das instituições que tenha se dado pela Universidade, a instituciona-
influenciam o campo. lização, no entanto, ocorreu tanto por pressões
As pressões normativas possuem como normativas como por processos miméticos, já
fonte principal os centros de formação técnica. demonstrados nos trechos das entrevistas, confor-
As universidades também se apresentam como mando o conhecimento tácito dos profissionais
fonte de conectividade entre as organizações. A com os conhecimentos técnicos representados pela
Universidade, contudo, não conseguiu ainda se participação das universidades e centros de pesquisa:
constituir numa grande instituição de suporte
Foi a prática que colocou a gente pra
técnico para o segmento agroindustrial. aprender, a entender o que o mercado
O fato de um conjunto de profissionais quer, a requisitos legais. A escola, a
ser formado em centros de treinamento da mes- universidade, este curso eles ajuda-
ram de uma certa forma, mas eles são
ma região torna semelhantes as suas formas de
muito voltados para o Brasil e o Brasil
tomada de decisão e postura, sendo uma força não é exigente. Os Estados Unidos são
que, ao longo do tempo, conduz as empresas que exigentes. A Rosilene já passou por
os contratam ao isomorfismo organizacional, já auditoria que o auditor trouxe um
espelho e uma espátula: O espelho
que elas são movidas pela busca de um padrão
para ele olhar se tava sujo por debaixo
elevado de qualidade em produtos e processos. das coisas e a espátula para onde tinha
Essa força se torna ainda mais intensa quando se abertura ele passava pra verificar se
verificou que a maioria dos tecnólogos agroindus- tinha alguma sujeira, porque esse é o
mercado de exportação. Essa semana
triais contratados pelas empresas do município de a gente tava com uma auditora [...],
Castanhal-PA de 2005 a 2009 foi formada na mes- procurando saber de tudo da fábrica,
ma Universidade, o que significa dizer que, além tudo! Como a gente cuida pra não
ter insetos dentro da fábrica, tudo!
da mesma formação, os profissionais mantinham

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Então essa visão foi mesmo a prática contratações de funcionários com formação
que trouxe pra gente e cada vez que foi similar. Esse aspecto está relacionado com a legi-
passando, foi se aperfeiçoando mais
(Representante da Empresa 2). timidade organizacional. Em síntese, o Quadro
4 mostra a estrutura institucional que faz pressão
Os processos normativos são pressões iso- para o processo de isomorfismo organizacional
mórficas sobre as organizações e a resposta se dá no campo das agroindústrias exportadoras de
mais por sujeição, cujas práticas vão se tornando polpa de açaí.
semelhantes ao longo do tempo em função das

Mecanismos Resposta
Pressão Instituição/agente Mudanças
de isomorfismo estratégica
Agências reguladoras
Processos
nacionais e internacionais
Coercitivo Coerção Compromisso
Processos e
Clientes internacionais
estrutura

Mimético Incerteza Empresas de referência e sindicato Compromisso Processos


Universidades e centros
Normativo Profissionalização Sujeição Processos
de formação técnica

Quadro 4 – Síntese dos mecanismos de isomorfismo


Fonte: dos autores, com base em resultados obtidos na pesquisa de campo.

6 CONCLUSÃO entanto, destacam-se por incorporarem aperfei-


çoamento tecnológico e de gestão, diversificação
Os resultados da pesquisa demonstram de produtos, dando uma nova configuração na
um campo organizacional em estruturação no estrutura do campo, o que demonstra a convi-
segmento de agroindústria exportadora de polpa vência dos dois padrões institucionais (técnico e
de açaí, pois: a) foi constatada a interação entre simbólico).
as empresas do campo, por meio de relações O isomorfismo organizacional está presen-
informais que gerentes mantêm, o que remete à te no campo por meio de mecanismos coercitivos,
ideia de conectividade, com a consciência de que por parte das agências reguladoras e certificadoras,
participam de mesma atividade; b) foi verificada a terceirização e clientes internacionais. Entretanto,
presença de fornecedores-chave, clientes e agências a dinâmica do campo atualmente se dá com rees-
reguladoras com padrões similares de atuação. truturação, fusão e aquisição de empresas, o que
Os processos miméticos verificados, diante evidencia um campo em construção e mudanças
da incerteza, têm como fundamento as organi- no fenômeno de isomorfismo por mimetismo.
zações tidas como referências no campo. Esse A profissionalização do campo também é
fenômeno se manifesta também pelo fato de os uma manifestação de mudança isomórfica, sendo os
empresários apresentarem relação tradicional com centros de formação profissional também elemen-
o produto, o que levou a copiarem os modelos das tos de conectividade entre as organizações e uma
outras empresas, desde a construção das plantas manifestação de busca por eficiência técnica como
industriais até as estratégias de comercialização, forma de ampliar a participação nos mercados.
mesmo que sem a certeza de sua eficiência técni- O produto em torno do qual o campo
ca. Organizações que foram influenciadas pelas organizacional vem se estruturando oferece ainda
instituições de eficiência técnica atualmente, no os seguintes desafios a serem enfrentados pelas

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agroindústrias: a) a mudança atual no cenário, novos estudos em segmentos empresariais, em que


com aumento da demanda no mercado nacio- o fomento técnico, tecnológico e à gestão pode se
nal, exige novas estratégias; b) o aumento da constituir em estratégia para o desenvolvimento
participação da matéria-prima, de origem não empresarial e regional.
extrativa, em função do desenvolvimento de novas
pesquisas agronômicas e maiores investimentos,
altera as formas de negociação com fornecedores; REFERÊNCIAS
d) reorganização das agroindústrias em função das
aquisições, fusões e novas empresas, o que poderá AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
reduzir o número de organizações no campo. SANITÁRIA - ANVISA. A Agência. 2010. Dis-
O fato de informações mais detalhadas ponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/
se restringirem às duas empresas apresenta, no anvisa/anvisa/agencia>. Acesso em: 09 out. 2011.
entanto, uma limitação empírica para verificação
teórica de forma mais ampla, embora a presença BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção
de características de isomorfismo fosse verificada social da realidade: tratado de sociologia do conhe-
nas mudanças recentes para o conjunto das agroin- cimento. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
dústrias exportadoras, assim como as instituições
BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
que influenciam a formação de um campo ainda
Instrução Normativa nº 1, de 7 de janeiro de 2000.
prevalecem. Somado a isso, o foco da pesquisa
Regulamento técnico geral para fixação dos pa-
esteve sobre as características de isomorfismo,
drões de identidade e qualidade para polpa de
deixando de aprofundar, por exemplo, questões
frutas. Diário Oficial da União, n. 6, Brasília,
como eficiência técnica. Esses limites apontam
10 jan. 2000.
para o desafio de novas pesquisas nas quais mais
agroindústrias possam ser incorporadas na análise BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa:
e questões teóricas, aprofundadas. DIFEL, 2006.
Apesar de o campo ter estratificado as or-
ganizações exportadoras a partir de um padrão de CODEX ALIMENTARIUS. [200-?]. Dispo-
qualidade e tecnologia, há uma tendência recente nível em: <http://www.codexalimentarius.net/web/
de se assemelharem, por causa do aumento do index_en.jsp>. Acesso em: 11 out. 2011.
número de clientes exigindo os mesmos padrões
de qualidade do produto, o que aumenta as ca- COSTA, F. A; ANDRADE, W. D. C.; SILVA, F.
racterísticas de isomorfismo. A resposta a essas C. F. O processamento de frutas no Nordeste
Paraense e região metropolitana de Belém: um
circunstâncias tem sido a tentativa de inovar ou
arranjo produtivo emergente. 2004. Relatório de
de fazer aperfeiçoamento técnico por parte dos
atividades da expansão da RedeSist. Disponível
dirigentes das empresas.
em: <http://www.redesist.ie.ufrj.br/P9/pdfs/Fruticul-
Apesar da estruturação do campo estar em
tura%20Nordeste%20do%20Para.pdf>. Acesso em:
andamento, os bancos de fomento às atividades
21 ago. 2009.
agroindustriais tiveram papel reduzido. Somado
a isso, instituições como Embrapa (apoio à pro- DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. A gaiola
dução) tiveram um papel mais destacado, porém de ferro revisitada: isomorfismo institucional e
isso se deu mais recentemente (últimos quatro racionalidade coletiva nos campos organizacio-
anos), em suas pesquisas para busca de aumento nais. Revista de Administração de Empresas,
de produtividade e melhoria da qualidade do açaí. São Paulo, v. 45, n.2, p.74-89, 2005.
Já outras instituições de apoio à gestão
(como o Sebrae) não foram relevantes na estrutu- ESPINO, A. J. Instituciones y economía: una
ração do campo das agroindústrias exportadoras introducción al neoinstitucionalismo económico.
de polpa açaí. Esse é outro foco que se abre para México: Fondo de Cultura Económica, 1999.

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Milton Cordeiro Farias Filho / José Welington Sousa

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