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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO CURRICULAR E INTERDISCIPLINAR

A PAISAGEM PELA A ARTE DE FOTOGRAFAR:


O ENSINO DE GEOGRAFIA TRAÇANDO
REFLEXÕES EM PROL DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

MARIA AURISLANE CARNEIRO DA SILVA


JOÃO MARCOS TAVARES CABRAL
ANTONIO JARBAS BARROS DE MORAES
MARIANA AMÂNCIO DE SOUSA MORAES
Resumo Abstract
O presente trabalho objetiva contribuir para The present paper aims to contribute to en-
a sensibilização ambiental a partir do olhar vironmental awareness through a photogra-
fotográ co da paisagem. A relação entre so- phic look of landscape. The relation between
ciedade e natureza é complexa, dinâmica e society and nature is complex, dynamic and
está em constante transformação. A histó- constantly changing. The history is marked
ria é marcada por um conjunto de técnicas by a bunch of techniques that characterize
que a caracteriza, resultando em diferentes it, resulting on di erent ways of human in-
formas de intervenções humanas sobre a tervention in the environment. In Geogra-
natureza. Na Geogra a, o conceito de paisa- phy, the concept of landscape potentiates
gem potencializa essa relação, visto que suas this relation, since its appearances and forms
aparências e formas resultam de diferentes results in di erent economics, politics, cul-
contextos econômicos, políticos, culturais tural and environmental contexts. Besides
e ambientais. Além da pesquisa bibliográ - the bibliographic research of the topic, the
ca sobre a temática, a análise da fotogra a analyses of photography helped in the cre-
ajudou na proposição de atividades de Edu- ation of activities of Environmental Educa-
cação Ambiental com o uso da metodolo- tion with the methodology, both in physical
gia, tanto no espaço físico da escola quanto and virtual space of the school. The context
no espaço virtual. O contexto da pandemia of global pandemic of the Sars-Cov-2 virus
global decorrente do vírus Sars-CoV-2 co- put in evidence the structural and human
locou em evidência as fragilidades estrutu- fragility amongst school, same way that be-
rais e humanas da escola, da mesma forma came even more challenging the act of tea-
que tornou ainda mais desa ador o ato de ching. Think about Geography Teaching and
ensinar. Pensar o Ensino de Geogra a e os its concepts of this science, associated with
conceitos dessa ciência, aliados à fotogra a photography for Environmental Education,
em prol da Educação Ambiental, mostrou-se showed up to be useful as alternative and
profícuo à medida que metodologias alter- creative methodologies encouraging ima-
nativas e criativas mobilizam a imaginação e gination and making dynamic classes, in-
possibilitam a dinamicidade das aulas, refor- creasing the need to make a society worried
çando a necessidade da construção de uma about natural life and human diversity.
sociedade preocupada com a diversidade da
vida natural e humana. Keywords: Environmental education; Pho-
Palavras-Chave: Educação ambiental; Foto- tography; Landscape; Geography teaching.
gra a; Paisagem; Ensino de Geogra a.

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1. Introdução
O mundo está em constante transformação pelas relações entre natureza e sociedade. A
natureza em primeira instância pode ser classi cada como um ambiente composto de elementos
que estão em equilíbrio por diferentes ciclos. A humanidade é natureza e faz parte dela, mas
gradualmente ganha relativa “independência” ao criar técnicas que fazem dos elementos naturais
recursos que produzem interações e um meio com características próprias, ao qual chamamos de
social.
A sociedade e suas organizações políticas, econômicas e culturais constituem íntimas
relações que formulam o espaço geográ co, com dinâmicas que são integradas ao meio ambiente,
consequentemente, a paisagem. Nas abordagens culturais da Geogra a, a paisagem é concebida
pelas análises que buscam interpretar os aspectos visíveis e invisíveis das relações natureza-
sociedade, possibilitando diversas re exões no sentido material e simbólico dos fenômenos
estudados.
Nesta perspectiva, a compreensão de meio ambiente natural estabelecida não se resume
à concepção física, mas também se ergue por meio das relações e percepções sociais para
com ele. São percepções que ocorrem de forma inata pelo simples olhar e ouvir da paisagem,
se caracterizando em atividade comum ao dia a dia das pessoas que, por vezes, registram suas
vivências e guardam em fotogra as suas memórias.
Fotogra as registradas por celulares ou câmeras digitais, imagens feitas por drones e
satélites podem ser exploradas pelo conhecimento geográ co. Elas são ferramentas de análise
da organização espacial, assim, tanto os saberes ditos cientí cos quanto os populares contribuem
para estudar as paisagens de modo mais amplo e integrado. A escola, por ser um espaço de
con uência dos saberes, é o melhor ambiente para promover a consciência socioambiental
a partir da re exão crítica promovida pelo Ensino de Geogra a, considerando sua capacidade
associativa entre temáticas de estruturas físicas e sociais, bem como, sua abertura para as demais
áreas do conhecimento.
Neste sentido, no âmbito rural ou urbano, estratégias metodológicas de ensino que
trabalhem as questões ambientais em diferentes escalas precisam ser incorporadas às múltiplas
realidades, principalmente a dos alunos. Assim, quando pensamos em um caminho geográ co
na direção da educação ambiental, apostamos não só na fotogra a e suas possibilidades de
análise da paisagem, mas também na arte de fotografar. O ato não registra na íntegra a realidade
fotografada, mas conduz a diferentes interpretações de percepções e vivências que revelam
aspectos socioambientais e suas relações con ituosas.
A fotogra a, enquanto ferramenta metodológica, se fortalece como facilitadora do ensino
de Geogra a mediante o contexto pandêmico. Provocado pelo vírus Sars-CoV-2/Novo coronavírus
que iniciou no nal de dezembro de 2019 em Wuhan, na China, se propagou rapidamente por todo
o mundo e foi detectada no Brasil pela primeira vez no dia 26 de fevereiro de 2020, contabilizando
altos índices de contágios e óbitos (SOUZA, 2020).
Em 22 de fevereiro de 2021 o país chegou a atingir a marca de 10.195.160 casos con rmados,
somando 247.143 óbitos de acordo com o painel coronavírus-Brasil (2021), site de monitoramento
do Ministério da Saúde e a marca segue batendo recordes a cada semana. Tal situação intensi ca
os debates sobre medidas mais severas, indicando a quarentena, principalmente aos grupos de
risco, e distanciamento social da população, enquanto a compra e a distribuição da vacina contra
o covid/19 ainda representam um desa o político-administrativo.
Estas medidas exigiram uma forma emergencial de organização educacional, pautada no
modelo remoto de ensino por meios tecnológicos. Assim, professores e professoras necessitaram
de maiores estudos e um intenso movimento criativo na con guração do ensino e aprendizagem,

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V CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL AAPLICADA E GESTÃO TERRITORIAL


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visto que, o espaço escolar agora se estende diretamente à casa dos alunos e nem sempre as
condições ambientais são favoráveis. Por isso, a fotogra a com sua exível produção e in nidade
interpretativa, enriquece a prática docente mesmo com as inúmeras di culdades sociais,
econômicas comunicacionais evidenciadas agora.
Desse modo, objetivamos através das re exões neste artigo, contribuir para a sensibilização
ambiental a partir do olhar fotográ co da paisagem. Para tanto, metodologicamente este estudo
se baseia em uma revisão bibliográ ca, articulada por conceitos e preposições acerca do Ensino de
Geogra a, a paisagem e a fotogra a em seus desdobramentos no processo educativo ambiental.
Apresentamos nas seções seguintes duas propostas em função da temática: a primeira trabalhada
com as fotogra as através do “olhar pela janela” e a segunda pensada a partir das imagens de
satélite com uso do Google Maps Earth. Além das propostas, mostramos a experiência do projeto
“A paisagem do olhar alheio”, desenvolvido na EEF João Paulino, no município de Viçosa do Ceará/
CE, em 2020.

2. Por uma educação mundana: a paisagem e suas percepções no debate


geográ co das questões socioambientais
Educar é uma tarefa complexa, quando pensamos em mecanismos educativos de ensinar e
de promover a aprendizagem sempre nos remetemos à escola. Desde a sua criação, esta instituição
é produtora de conhecimento e das dinâmicas necessárias para a convivência em sociedade. Os
moldes de organização escolar reproduzem regras e relações que, muitas vezes, são associadas
ao mercado de trabalho, e cumprem seu papel no sentido de moldar as atitudes humanas. Esta
é uma das perspectivas tradicionais de ensino mais aceitas na sociedade que percorreu séculos
deixando vestígios ainda notáveis na educação contemporânea.
De fato, podemos considerar a escola como extensão da sociedade e responsável de
in uenciar diretamente no seu movimento, pois o contexto escolar é formado por pessoas que
dialogam e se apropriam dos conhecimentos sejam eles singulares ou plurais. É justamente por
esta diversidade que a escola precisa ser um espaço acolhedor e promotor de múltiplos debates,
gerando re exões coletivas questionadoras dos principais problemas socioambientais.
O Ensino de Geogra a oferece contribuições para o conhecimento em múltiplas dimensões
da realidade social, natural e histórica, favorecendo a promoção da educação crítica para com
alunos e professores na busca do melhor entendimento do mundo em suas transformações
(PONTUSCHKA, PAGANELLI, CACETE, 2007). Existe, então, a possibilidade mais estreita de discussão
sobre a sociedade e, consequentemente, de pensar e agir em relação a ela. A formação cidadã,
inclusa no Ensino de Geogra a, é estabelecida na escola de modo direto e disciplinar por meio dos
conteúdos e conceitos. Para tanto, é necessário articulação entre eles.
Oliveira (2010) alerta sobre as limitações de uma Geogra a pautada nos conteúdos
repetitivos, que se moldam ao ensino em função da descrição de um lugar e suas relações ou,
até mesmo, relatam a diversidade do mundo, mas não cria uma autonomia diante dos demais
discursos das ciências humanas ou naturais. Ele entende que para enxergar uma educação, um
Ensino de Geogra a mundano, este precisa ser quase indisciplinar, deve se basear no confronto de
ideias, de culturas e fazer do mundo o seu lugar de ensino. Deste modo, a escola pode ser o espaço
de mediação do conhecimento com mais evidência estrutural, mas os museus, as manifestações
culturais, as praças, as ruas, as pequenas casas e os condomínios, os córregos, as lagoas e as áreas
orestais também são espaços de ensino e aprendizagem geográ cas diversas.
Esses espaços compõem elementos educativos que se re etem nos signi cantes e
signi cados das paisagens formadas por fenômenos sociais e suas interações naturais, sendo um
conceito geográ co interessante para compor os múltiplos entendimentos do mundo. Cosgrove

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(1998) considera que a paisagem é uma forma de ver, de constituir e de harmonizar o mundo
externo numa “cena”, sendo necessário entender que essa cena não é estática, mas fruto de um
determinado contexto histórico, social e cientí co em voga.
Na visão mais direcionada às questões ambientais, Bertrand (2004) contribuiu com o nosso
estudo ao a rmar que as paisagens denominadas “físicas”, são frequentemente remodeladas
pelo homem, adaptando-se às condições do meio natural. Trata-se de um sistema de evolução
da paisagem que é caracterizado por um encadeamento de agentes e/ou processos. Para Sauer
(1925), na ideia de morfologia ou formas, a paisagem é um organismo complexo, que precisa ser
observado, analisado e sentido por aqueles que acompanham as transformações que acontecem
rotineiramente aos seus arredores.
As percepções são fundamentais para analisar os valores, a imaginação e os sentimentos
que a sociedade expressa nas formas da paisagem. A subjetividade do indivíduo é uma aliada
na compreensão dos signi cados das relações natureza-sociedade e sua dinâmica na paisagem
(SOUZA, 2014). O homem é um dos principais agentes transformadores da paisagem e a sua
in uência sobre o ambiente natural é uma das maiores preocupações socioambientais. Igualmente,
à medida que as paisagens se modi cam, com surgimentos e desaparecimentos, a sociedade
se apropria delas de forma diferenciada, pois cada indivíduo entende, percebe, reage e atua no
espaço a partir das suas percepções e seus processos cognitivos.
Neste sentido, é por meio da percepção do ambiente que o indivíduo concebe o
conhecimento a respeito de cada um dos grupos sociais do espaço e externalizam em
representações e interpretações paisagísticas suas fontes de satisfação e insatisfação. De acordo
com Freire (1995), estas representações são percepções materializadas formadas por diferentes
visões e imaginários de um mesmo objeto ou paisagem que em conjunto retratam a memória
coletiva. A partir desta memória podemos investigar a cidade e seus arredores enquanto artefato,
e direcionar nosso olhar para seu aspecto físico em seus elementos topográ cos e para seu
aspecto social através das forças de interação, de ideias e expectativas de valores socioambientais
(FREIRE, 1995).
Desse modo, não podemos dissociar o natural do social para interpretar as questões
ambientais locais e globais que fazem parte do questionamento cotidiano da manutenção da
vida e que precisam ser discutidas nos espaços educacionais. O Brasil que possui uma grande
diversidade natural sofre constantemente com a degradação de suas áreas orestais, dos rios e
mares, dos solos que, consequentemente, colocam em risco a vida animal e humana. Além dos
crimes ambientais tais como: queimadas, desmatamento, trá co de animais e plantas, descarte
de lixo e esgoto em áreas impróprias, a utilização indiscriminada dos elementos naturais como
recursos e o avanço da urbanização com seu modo de produção espacial sobre áreas naturais são
alguns dos principais problemas ambientais brasileiros.
A falta de investimento governamental na preservação das áreas naturais, nos estudos e
pesquisas sobre a biodiversidade são fatores que di cultam a scalização, o acompanhamento e a
proteção da ora e fauna do Brasil. Associada a esta questão, temos uma população em sua maioria
socioeconomicamente carente, com pouco acesso à moradia, transporte e alimentação digna,
fazendo com que áreas que já apresentam fragilidade física sejam ocupadas por esta população,
resultando em diversos cenários de vulnerabilidade socioambiental (ZANELLA, 2012). Com a
pandemia do covid/19 este cenário se tornou ainda mais dramático, pois além dos desmatamentos
na oresta Amazônica e das queimadas no Pantanal terem crescido consideravelmente, a forma
inadequada do manejo com lixo produzido pelo desgaste dos equipamentos de proteção, como
a máscara, e os resíduos hospitalares que cresceram intensamente em função da necessidade de
atendimentos, agravaram a problemática ambiental e revelaram, ainda mais, as de ciências do
setor político-administrativo do país (SOUZA, 2020).

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O isolamento social, uma das medidas essenciais para conter a proliferação do novo
coronavírus, teve forte impacto em vários setores sociais, na educação, por exemplo, o Ensino
passou a ser a distância em um modelo que podemos caracterizar como remoto emergencial.
Professores de escolas públicas e privadas tiveram que adaptar suas metodologias ao mundo
virtual e procurar maneiras criativas de aproximar os alunos das re exões conceituais e cotidianas,
mesmo com as di culdades econômicas, tecnológicas e sanitárias. O espaço escolar agora se
estende a casa dos seus sujeitos, fazendo com que alunos e professores tenham que lidar com
as limitações individuais. No entanto, se buscamos uma educação e um Ensino de Geogra a
mundanos, o mundo fora e dentro das telas do computador continuam nos proporcionando
possibilidades de percebê-lo, representá-lo e questioná-lo.
Portanto, sabendo que os indivíduos percebem, reagem e atuam de forma diferente sobre
o meio em que vivem, a fotogra a se apresenta como um dos mecanismos utilizados para a
materialização da consciência humana, é possível utilizá-la para a compreensão das transformações
na paisagem, haja vista que esta pode ser entendida como “uma modalidade artística capaz de
estimular a integração de indivíduos com o meio ambiente de maneira lúdica, criativa e atraente”
(BARBOSA & PIRES, 2011, p. 75). Outrossim, o ato de fotografar e o ato de produzir imagens fazem
parte da percepção que o indivíduo tem do espaço, e por isso, se encaixa no ensino de Geogra a
seja ele no modelo presencial ou remoto.

3. As paisagens da fotogra a: potencialidades metodológicas e


contribuições educativas ambientais
Historicamente, a Geogra a tem se preocupado com a representação do mundo e suas
nuances por meio da linguagem visual, utilizando mapas, pinturas, imagens, desenhos e demais
produtos iconográ cos. Diante da relevância do aspecto visual na ciência geográ ca, a utilização
da fotogra a é uma possibilidade para a apreensão da paisagem e de suas transformações a
partir da relação sociedade-natureza, visto que as imagens fotográ cas exprimem informações
ambientais e sociais.
No contraste com o ideário comum do surgimento da fotogra a ou técnica neutra, capaz
de revelar a realidade espacial isenta das subjetividades humanas, percebemos a existência
de uma intencionalidade e uma objetividade no ato de fotografar. Sousa Neto (2000) mostra a
intencionalidade da produção “geoimagética”. Ele a rma ter sido através da manipulação que a
imagem do Brasil, enquanto país de recursos in nitos, de natureza esplêndida e ausente de lutas
sociais sangrentas, foi sendo passada por gerações. Até hoje, lutas sociais pautadas em extrema
violência, tanto física quanto psicológica, não tomam real forma nos principais meios midiáticos
que recorrem produtos visuais.
O trabalho com a fotogra a na Geogra a, especialmente no ensino sobre ela, a
análise das transformações espaciais e a desmisti cação de mitos se faz necessário. O uso de
aparelhos eletrônicos que possuem a capacidade de fazer registros fotográ cos, a exemplo dos
smartphones que estão cada vez mais acessíveis aos estudantes, representa uma potencialidade
do fazer geográ co, tanto no espaço escolar presencial quanto no meio virtual, pois “se a leitura
do mundo implica um processo permanente de decodi cação de mensagens, de articulação/
contextualização das informações, cabe à escola ensinar o aluno a lê-lo” de modo crítico e
questionador (PONTUSCHKA, PAGANELLI, CACETE, 200, p.262 ).
As fotogra as são capazes de exprimir muitas relações inerentes a uma sociedade. O
desenvolvimento da prática fotogeográ ca (AZEVEDO; STEINKE; LEITE, 2014) se deu de forma
concomitante com o conceito de paisagem. Vale ressaltar que a paisagem fotografada, não
revela “toda” autenticidade vivida, visto que as técnicas de reprodução escondem e revelam

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detalhes (BENJAMIN, 1975). A fotogra a se ajusta ao interesse de quem lê e é sempre possível


reinterpretá-la. Diante dessa liberdade interpretativa e criativa, a imagem e a Educação Ambiental
inclusa no Ensino de Geogra a, parceiras na construção de um olhar compartilhado, educam
sustentavelmente para a vida.
Na busca por metodologias alternativas capazes de tornar as aulas mais dinâmicas mediante
ao contexto pandêmico vivenciado, comentado nas seções anteriores, em que os alunos têm
aula à distância e, por consequência, muitas vezes se mostram desestimulados, apresentamos
duas possibilidades para re etir sobre as questões ambientais e sociais a partir do conceito de
paisagem aliado à fotogra a, tendo em vista a viabilidade de tais atividades.
A primeira atividade se estabelece a partir do “olhar pela janela”. Com a intensi cação do
novo coronavírus, andar pela cidade se tornou algo perigoso à saúde, em função do alto contágio
desta doença em ambientes de grandes aglomerações, por isso, o isolamento social se tornou
uma medida essencial para conter o número de casos e vítimas. Seria este o m do contato
com a paisagem? Em casa, olhar a paisagem pela varanda, portas e janelas se tornou uma das
mais simples formas de se conectar com o mundo real. É uma boa alternativa para o professor
de Geogra a pedir fotogra as feitas pelos alunos a partir da abertura da janela de suas casas, e
depois que descrevam textualmente o que foi percebido/compreendido dos componentes da
paisagem. Em sala virtual ou presencial, esperamos que, com a mediação do professor, os alunos
interajam e, ainda, observem criticamente as in nitas variantes construtoras da paisagem do local
ao global, bem como, sua relevância no meio físico e social.
A segunda atividade é formada por uma associação de fotogra as tiradas pelos alunos,
com imagens de satélite de áreas delimitadas por eles. Navegar pelo Google Maps Earth no modo
street view, se aproximando do real, das imagens em três dimensões no Brasil e no mundo, conduz
a uma re exão ampla da paisagem e também podem compor parte desta proposta didática. Com
isso, o aluno, analisando as transformações paisagísticas, ao longo do tempo, poderá questionar
a ação humana sobre a natureza, averiguar os principais problemas socioambientais e apontar
possíveis soluções, contribuindo lentamente para uma formação educativa ambiental, por meio
de uma série de discussões construtivas.
A exemplo da utilização da fotogra a enquanto ferramenta metodológica já aplicadas no
contexto escolar, podemos citar o projeto “A paisagem do olhar alheio”, desenvolvido pela EEF João
Paulino, em 2020, que consistiu na montagem de uma página online com fotogra as, em diferentes
perspectivas, capturadas pelos professores nos seus cotidianos, desde casa a viagens. O material
foi disponibilizado para o corpo docente da escola, que após avaliar e aprimorar, sugeriu o uso
coletivo do recurso didático. A paisagem expressa do ponto de vista coletivo, ajudou nas re exões
diversi cadas da Educação Ambiental. Na aula de Geogra a, o reconhecimento de algumas
paisagens pelas turmas do sexto ano do ensino fundamental da mesma instituição, apesar da
realidade do ensino remota, proporcionou o desdobramento de questões socioambientais para
direções que superaram o planejamento. Os desmatamentos, despejo de esgotos, construções
irregulares, lixo e incêndios são exemplos de temáticas que foram discutidas.
As metodologias aqui descritas, pensadas como alternativas que resgatem a dinamicidade
das aulas remotas, têm potencial de replicação em diversos cenários, bem como, ser adaptada aos
diferentes contextos onde a turma possa estar inserida. Cabe ao professor interpretar a e cácia
das metodologias, devido aos fatores de múltiplas ordens sociais envolvidos, como idade dos
alunos, tamanho da turma e acesso aos equipamentos eletrônicos.

4. Considerações nais
Construir uma Educação Ambiental efetiva é um desa o constante para professores e alunos

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em diversas áreas do Ensino. A Geogra a e seus conceitos, quando associados a metodologias


re exivas e criativas, são relevantes contribuições para a formação de sujeitos críticos e conscientes
do seu papel no mundo. A abrangência das discussões leva a Educação Ambiental a um patamar
de criticidade voltada à realidade vivida e ao contexto geográ co fora dela. Estudar a problemática
ambiental, colaborando para a construção de uma sociedade saudável, é uma responsabilidade
coletiva e a prática docente não pode ser arredia aos desa os que aparecem, frequentemente, na
escola.
A pandemia reforçou a responsabilidade da busca por meios capazes de amenizar as
fragilidades estruturais e humanas da escola. E o estudo da Educação Ambiental mediado pela
percepção fotográ ca é possível graças à vinculação do aluno ao cotidiano ou, por que não
dizer, a paisagem. A nal, é ali que eles estão envoltos por dinâmicas sociais que lhes afetam
intensamente como, por exemplo, a imagens virtuais, fotografadas por eles ou não, compreendem
um aglomerado de importantes signi cados ambientais que educam tão quanto o caminho de
casa a escola.
Mostramos algumas considerações e experiências teórico-práticas no ensino de Geogra a
em parceria com a Educação Ambiental, apostando na perspectiva da produção contínua de um
conhecimento mais signi cativo sobre o meio ambiente, reconhecendo também a necessidade
de projetar ações mais voltadas à preservação dos recursos naturais para gerações futuras. É
percebendo, sentindo e sendo afetada pelas dinâmicas pertinentes a paisagem que a educação
reforça seu papel social na construção de uma sociedade mais preocupada com a diversidade da
vida natural e humana.
Neste trabalho reunimos apenas alguns motes re exivos para situar a pesquisa, que
iluminada pelo uso da fotogra a, abre possibilidades futuras de ampliação do presente trabalho.
Com isso, o conceito fotográ co ou simplesmente a arte de fotografar inspira diferentes
interpretações, podendo, inclusive, ser um conceito que compara diferentes temporalidades,
realidade passada com a presente, e quem sabe motivar práticas de Educação Ambiental, assim
como as citadas na seção anterior, com re exo no futuro.

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