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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO CURRICULAR E INTERDISCIPLINAR
1. Introdução
O mundo está em constante transformação pelas relações entre natureza e sociedade. A
natureza em primeira instância pode ser classi cada como um ambiente composto de elementos
que estão em equilíbrio por diferentes ciclos. A humanidade é natureza e faz parte dela, mas
gradualmente ganha relativa “independência” ao criar técnicas que fazem dos elementos naturais
recursos que produzem interações e um meio com características próprias, ao qual chamamos de
social.
A sociedade e suas organizações políticas, econômicas e culturais constituem íntimas
relações que formulam o espaço geográ co, com dinâmicas que são integradas ao meio ambiente,
consequentemente, a paisagem. Nas abordagens culturais da Geogra a, a paisagem é concebida
pelas análises que buscam interpretar os aspectos visíveis e invisíveis das relações natureza-
sociedade, possibilitando diversas re exões no sentido material e simbólico dos fenômenos
estudados.
Nesta perspectiva, a compreensão de meio ambiente natural estabelecida não se resume
à concepção física, mas também se ergue por meio das relações e percepções sociais para
com ele. São percepções que ocorrem de forma inata pelo simples olhar e ouvir da paisagem,
se caracterizando em atividade comum ao dia a dia das pessoas que, por vezes, registram suas
vivências e guardam em fotogra as suas memórias.
Fotogra as registradas por celulares ou câmeras digitais, imagens feitas por drones e
satélites podem ser exploradas pelo conhecimento geográ co. Elas são ferramentas de análise
da organização espacial, assim, tanto os saberes ditos cientí cos quanto os populares contribuem
para estudar as paisagens de modo mais amplo e integrado. A escola, por ser um espaço de
con uência dos saberes, é o melhor ambiente para promover a consciência socioambiental
a partir da re exão crítica promovida pelo Ensino de Geogra a, considerando sua capacidade
associativa entre temáticas de estruturas físicas e sociais, bem como, sua abertura para as demais
áreas do conhecimento.
Neste sentido, no âmbito rural ou urbano, estratégias metodológicas de ensino que
trabalhem as questões ambientais em diferentes escalas precisam ser incorporadas às múltiplas
realidades, principalmente a dos alunos. Assim, quando pensamos em um caminho geográ co
na direção da educação ambiental, apostamos não só na fotogra a e suas possibilidades de
análise da paisagem, mas também na arte de fotografar. O ato não registra na íntegra a realidade
fotografada, mas conduz a diferentes interpretações de percepções e vivências que revelam
aspectos socioambientais e suas relações con ituosas.
A fotogra a, enquanto ferramenta metodológica, se fortalece como facilitadora do ensino
de Geogra a mediante o contexto pandêmico. Provocado pelo vírus Sars-CoV-2/Novo coronavírus
que iniciou no nal de dezembro de 2019 em Wuhan, na China, se propagou rapidamente por todo
o mundo e foi detectada no Brasil pela primeira vez no dia 26 de fevereiro de 2020, contabilizando
altos índices de contágios e óbitos (SOUZA, 2020).
Em 22 de fevereiro de 2021 o país chegou a atingir a marca de 10.195.160 casos con rmados,
somando 247.143 óbitos de acordo com o painel coronavírus-Brasil (2021), site de monitoramento
do Ministério da Saúde e a marca segue batendo recordes a cada semana. Tal situação intensi ca
os debates sobre medidas mais severas, indicando a quarentena, principalmente aos grupos de
risco, e distanciamento social da população, enquanto a compra e a distribuição da vacina contra
o covid/19 ainda representam um desa o político-administrativo.
Estas medidas exigiram uma forma emergencial de organização educacional, pautada no
modelo remoto de ensino por meios tecnológicos. Assim, professores e professoras necessitaram
de maiores estudos e um intenso movimento criativo na con guração do ensino e aprendizagem,
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visto que, o espaço escolar agora se estende diretamente à casa dos alunos e nem sempre as
condições ambientais são favoráveis. Por isso, a fotogra a com sua exível produção e in nidade
interpretativa, enriquece a prática docente mesmo com as inúmeras di culdades sociais,
econômicas comunicacionais evidenciadas agora.
Desse modo, objetivamos através das re exões neste artigo, contribuir para a sensibilização
ambiental a partir do olhar fotográ co da paisagem. Para tanto, metodologicamente este estudo
se baseia em uma revisão bibliográ ca, articulada por conceitos e preposições acerca do Ensino de
Geogra a, a paisagem e a fotogra a em seus desdobramentos no processo educativo ambiental.
Apresentamos nas seções seguintes duas propostas em função da temática: a primeira trabalhada
com as fotogra as através do “olhar pela janela” e a segunda pensada a partir das imagens de
satélite com uso do Google Maps Earth. Além das propostas, mostramos a experiência do projeto
“A paisagem do olhar alheio”, desenvolvido na EEF João Paulino, no município de Viçosa do Ceará/
CE, em 2020.
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(1998) considera que a paisagem é uma forma de ver, de constituir e de harmonizar o mundo
externo numa “cena”, sendo necessário entender que essa cena não é estática, mas fruto de um
determinado contexto histórico, social e cientí co em voga.
Na visão mais direcionada às questões ambientais, Bertrand (2004) contribuiu com o nosso
estudo ao a rmar que as paisagens denominadas “físicas”, são frequentemente remodeladas
pelo homem, adaptando-se às condições do meio natural. Trata-se de um sistema de evolução
da paisagem que é caracterizado por um encadeamento de agentes e/ou processos. Para Sauer
(1925), na ideia de morfologia ou formas, a paisagem é um organismo complexo, que precisa ser
observado, analisado e sentido por aqueles que acompanham as transformações que acontecem
rotineiramente aos seus arredores.
As percepções são fundamentais para analisar os valores, a imaginação e os sentimentos
que a sociedade expressa nas formas da paisagem. A subjetividade do indivíduo é uma aliada
na compreensão dos signi cados das relações natureza-sociedade e sua dinâmica na paisagem
(SOUZA, 2014). O homem é um dos principais agentes transformadores da paisagem e a sua
in uência sobre o ambiente natural é uma das maiores preocupações socioambientais. Igualmente,
à medida que as paisagens se modi cam, com surgimentos e desaparecimentos, a sociedade
se apropria delas de forma diferenciada, pois cada indivíduo entende, percebe, reage e atua no
espaço a partir das suas percepções e seus processos cognitivos.
Neste sentido, é por meio da percepção do ambiente que o indivíduo concebe o
conhecimento a respeito de cada um dos grupos sociais do espaço e externalizam em
representações e interpretações paisagísticas suas fontes de satisfação e insatisfação. De acordo
com Freire (1995), estas representações são percepções materializadas formadas por diferentes
visões e imaginários de um mesmo objeto ou paisagem que em conjunto retratam a memória
coletiva. A partir desta memória podemos investigar a cidade e seus arredores enquanto artefato,
e direcionar nosso olhar para seu aspecto físico em seus elementos topográ cos e para seu
aspecto social através das forças de interação, de ideias e expectativas de valores socioambientais
(FREIRE, 1995).
Desse modo, não podemos dissociar o natural do social para interpretar as questões
ambientais locais e globais que fazem parte do questionamento cotidiano da manutenção da
vida e que precisam ser discutidas nos espaços educacionais. O Brasil que possui uma grande
diversidade natural sofre constantemente com a degradação de suas áreas orestais, dos rios e
mares, dos solos que, consequentemente, colocam em risco a vida animal e humana. Além dos
crimes ambientais tais como: queimadas, desmatamento, trá co de animais e plantas, descarte
de lixo e esgoto em áreas impróprias, a utilização indiscriminada dos elementos naturais como
recursos e o avanço da urbanização com seu modo de produção espacial sobre áreas naturais são
alguns dos principais problemas ambientais brasileiros.
A falta de investimento governamental na preservação das áreas naturais, nos estudos e
pesquisas sobre a biodiversidade são fatores que di cultam a scalização, o acompanhamento e a
proteção da ora e fauna do Brasil. Associada a esta questão, temos uma população em sua maioria
socioeconomicamente carente, com pouco acesso à moradia, transporte e alimentação digna,
fazendo com que áreas que já apresentam fragilidade física sejam ocupadas por esta população,
resultando em diversos cenários de vulnerabilidade socioambiental (ZANELLA, 2012). Com a
pandemia do covid/19 este cenário se tornou ainda mais dramático, pois além dos desmatamentos
na oresta Amazônica e das queimadas no Pantanal terem crescido consideravelmente, a forma
inadequada do manejo com lixo produzido pelo desgaste dos equipamentos de proteção, como
a máscara, e os resíduos hospitalares que cresceram intensamente em função da necessidade de
atendimentos, agravaram a problemática ambiental e revelaram, ainda mais, as de ciências do
setor político-administrativo do país (SOUZA, 2020).
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O isolamento social, uma das medidas essenciais para conter a proliferação do novo
coronavírus, teve forte impacto em vários setores sociais, na educação, por exemplo, o Ensino
passou a ser a distância em um modelo que podemos caracterizar como remoto emergencial.
Professores de escolas públicas e privadas tiveram que adaptar suas metodologias ao mundo
virtual e procurar maneiras criativas de aproximar os alunos das re exões conceituais e cotidianas,
mesmo com as di culdades econômicas, tecnológicas e sanitárias. O espaço escolar agora se
estende a casa dos seus sujeitos, fazendo com que alunos e professores tenham que lidar com
as limitações individuais. No entanto, se buscamos uma educação e um Ensino de Geogra a
mundanos, o mundo fora e dentro das telas do computador continuam nos proporcionando
possibilidades de percebê-lo, representá-lo e questioná-lo.
Portanto, sabendo que os indivíduos percebem, reagem e atuam de forma diferente sobre
o meio em que vivem, a fotogra a se apresenta como um dos mecanismos utilizados para a
materialização da consciência humana, é possível utilizá-la para a compreensão das transformações
na paisagem, haja vista que esta pode ser entendida como “uma modalidade artística capaz de
estimular a integração de indivíduos com o meio ambiente de maneira lúdica, criativa e atraente”
(BARBOSA & PIRES, 2011, p. 75). Outrossim, o ato de fotografar e o ato de produzir imagens fazem
parte da percepção que o indivíduo tem do espaço, e por isso, se encaixa no ensino de Geogra a
seja ele no modelo presencial ou remoto.
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4. Considerações nais
Construir uma Educação Ambiental efetiva é um desa o constante para professores e alunos
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6. Referências
AZEVEDO, Rodrigo Medeiros de; STEINKE, Valdir Adilson; LEITE, Cristina Maria Costa. A Fotogra a
como recurso lúdico para o ensino de Geogra a. IN: STEINKE, Valdir Adilson; REIS JUNIOR,
Dante Flávio; COSTA, Everaldo Batista (org.). Geogra a e fotogra a: apontamentos teóricos e
metodológicos. Brasília: Laboratório de Geoiconogra a e Multimídias – LAGIM, Universidade
Nacional de Brasília (UnB), 2014. p. 157-185.
BARBOSA, Leila Cristina Aoyama; PIRES, Dario Xavier. O uso da fotogra a como recurso didático
para a educação ambiental: uma experiência em busca da educação problematizadora.
Experiência em ensino de ciências, [s.l.], v. 6, p. 69-84, 2011. Universidade Federal do Mato Grosso.
Disponível em: http://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID133/v6_n1_a2011.pdf. Acesso em: 26 fev.
2021.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas
I. São Paulo: Brasiliense, 1975.
BRASIL, painel coronavírus-Brasil. disponível em: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em 22
de fev. de 2021.
BERTRAND, Georges. Paisagem e geogra a física global. Esboço metodológico. Raega - O
Espaço Geográ co em Análise, [s.l.], v. 8, p. 141-152, 31 dez. 2004. Universidade Federal do Parana.
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