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ISSN: 1887-2417
eISSN: 2386-4362
Resumo
Este trabalho aborda a realização de uma ecoformação-pesquisa desenvolvida com
professorase crianças em uma escola públicade ensino fundamental pública situada em
Brasília –Distrito Federal, Brasil. O princípio da solidariedade entre as comunidades de vida
articulou as atividadesdurante a pesquisa, em que entrelaçamos a educação ambiental,
linguagem poética e ecologia humana na formação humana. A ecoformação foi uma
das estratégias utilizadas para criar coletivamente um espaço educador sustentável,
bem como, um processo intersubjetivo de produção de conhecimento enraizado na
experiência e construído de forma cooperativa, afetiva e lúdica. Essa relação deu relevância
ao conhecimento produzido e articulado na interação e integração dos seus autores. A
experiência estética e a afetividade facilitaram a mobilização dos participantes da pesquisa
na identificação dos problemas da sua comunidade a partir de uma observação atenta
sobre os ambientes natural/construído da escola, de relações interpessoais harmônicas e
da adoção de uma atitude responsável para com o seu território. A partir do conhecimento
vivencial da Carta da Terra foi instalado um processo de conscientização e reflexão sobre os
espaços educativos, considerando a noção de cuidado como forma humana de sustentação
da vida e o agir local para pensar o agir global.
Astract
This paper deals with the realization of an eco-formation-research developed with teachers
and children in a public elementary school located in Brasilia -Distrito Federal, Brazil. The
principle of solidarity between the living communities guided the activities during the
research, in which are joint environmental education, poetic language and human ecology
in human development. The eco-formation was one of the strategies used to collectively
create a sustainable educative space as well as an inter-subjective process of knowledge
production rooted in experience and built upon cooperative, affectionate and playful
modes. This relationship added relevance to the knowledge produced and articulated in the
interaction and integration of their authors. The aesthetic experience and affection facilitated
the mobilization of the research participants in identifying their community’s problems
starting from a close observation of the school`s natural/built environment, the harmonic
interpersonal relationships and the adoption of a responsible attitude towards their territory.
From the experiential knowledge of the Earth Charter, it was settled a process of awareness
and reflection on the educational spaces, considering the notion of care as a human form of
life support and a way of acting locally to think the global acting.
Palavras chave
Educação ambiental, Escola sustentável, Formação Humana.
Key-words
Environmental Education, Sustainable School, Human Development.
Existencial (BARBIER, 2002) que re-habi- gem e uma compreensão de cada situação
lita o sensível e a reintroduz o sujeito na em sua singularidade. Cada fenômeno é
construção do conhecimento. Ela promo- único e deve ser observado como tal. Ao
ve um movimento dialógico que reúne for- mesmo tempo, o fenômeno acontece em
ma e conteúdo, tendo como foco o pro- um contexto e não está isolado, não pode
cesso na criação de eixos que fortalecem ser generalizado, mas ele carreia situa-
o pensar junto e a leitura de mundo como ções dialógicas e dialéticas. As situações
prática da realidade, que implica em reco- da pesquisa na perspectiva existencial re-
nhecer nosso lugar no contexto coletivo. querem um desenvolvimento no/do coleti-
vo. Pois, “as partes estão coerentemente
A Pesquisa-ação está ligada à problemática ligadas, de uma maneira multidimensional e
da abordagem Transversal, sendo assim: multirreferencial” (Idem, 2003, p. 45).
[...]esta abordagem de pesquisa rom- BARBIER diz que cada sujeito está ligado
pe com a dicotomia sujeito/objeto na a si e ao seu corpo, às suas emoções e
investigação dos fenômenos. Quebra
aos seus desejos, às suas memórias e aos
com a imparcialidade no percurso da
seus universos de significações internas, a
pesquisa, pois, o observador no ato
de observar já está intervindo. Esta cada detalhe da vida e a tudo que faz sen-
abordagem metodológica fertiliza- tido para ele. “A pessoa está igualmente li-
-se na transversalidade, que sinaliza a gada em uma relação ou a vários grupos (a
autoria, a inventividade e a autonomia qual pertence ou de referência)”. É com o
nos processos educativos, pois, privi-
grupo que o sujeito, em sua singularidade,
legia a corporeidade, a arte, a discus-
desenvolve “a estratégia coletiva, o jogo
são e reflexão dos temas propostos na
perspectiva de uma educação integral. das alianças e das lideranças, os efeitos
(SILVA, 2008, p. 41,42) das artimanhas e dos desafios”. É na rela-
ção com o grupo que operacionalizamos
Portanto, “o espírito da criação está no “mecanismos” de cuidado, de sentidos,
cerne da Pesquisa-ação Existencial”. Ela “de defesa individuais e coletivos”. Por-
favorece maior interação com outras possi- tanto, “estar situado” é uma outra forma
bilidades metodológicas e viabiliza a estru- de falar sobre implicação (ibid., p. 46).
tura e organização de estratégias concretas
de atuação. A Pesquisa-ação Existencial Essa reflexão coopera com a noção de
expressa-se “como uma arte de rigor clí- implicação, que é essencial à metodologia
nico, desenvolvida coletivamente, com o adotada, sobretudo, ela nos ajudou a pen-
objetivo de uma adaptação relativa de si ao sar as outras estratégias fundamentais da
mundo” (BARBIER, 2002, p. 67,68). Esta Pesquisa-ação existencial: a formação do
arte de rigor clínico configura uma aborda- grupo de pesquisador coletivo e a escuta
sensível. Estas duas estratégias estrutura- 109) para pensar a prática docente com
ram a metodologia. as contribuições da linguagem poética
como instrumento fundamental para que a
O trabalho de campo foi realizado na Es- sensibilidade se abra, não somente para o
cola Classe Granja do Torto, envolvendo os conhecimento, mas para uma ação impli-
educandos e os seus professores em uma cada e concreta em educação ambiental.
diversidade de atividades artísticas/cultu-
rais e estratégias auto-eco-coformativas. A abertura ao sensível é, também, a aber-
O curso de ecoformação teve carga ho- tura para um olhar mais ecológico do meio
rária de 40h como estratégia de pesquisa e das relações entre espécies, pensan-
para a composição do grupo de pesquisa- do a vida e a educação com toda a sua
dor coletivo. As oficinas ecopedagógicas complexidade. A escuta sensível faz essa
foram o espaço de convivialidade, onde mediação como estratégia na pesquisa.
as expressões criativas e simbólicas fe- A escuta sensível é a presença integral,
cundaram um processo para os sentidos e revela-se como a articulação da audição
significados, uma abertura epistemológica <> olhar <> pele <> olfato <> paladar em
qualitativa para ampliar a nossa compre- sintonia com o intelecto<>sensibilidade.
ensão das complexidades sujeito-objeto. Esta estratégia é de caráter clínico, pois,
Todo o trabalho era iniciado e encaminha- percebe, com todos os sentidos, as situa-
do com rodas de conversa, no sentido de ções e suas singularidades. Temos ainda,
potencializar a escuta sensível. um sentido meditativo em que “o pesqui-
sador deve saber sentir o universo afetivo,
Portanto, a ecoformação foi tomada como imaginário e cognitivo do outro para ‘com-
o ambiente favorável para a composição preender do interior’ as atitudes e compor-
do pesquisador coletivo. A intenção foi tamentos, o sistema de ideias, de valores,
despertar uma ideia força que atraísse as de símbolos e de mitos” (BARBIER, 2002,
pessoas pela compreensão de que educa- p. 94). A compreensão desde o interior é
ção se faz no plural com os sujeitos e seus definida como existencialidade interna e
desejos cambiantes, na qual todos somos por meio desta, podemos trabalhar com
aprendentes. A ecoformação foi o nicho um grupo na aceitação do outro, de seus
ecológico de relações, onde pudemos nos sistemas de crenças e valores. Pois, a
aproximar e criar laços de confiança. Tra- escuta sensível acolhe “multirreferenciali-
balhamos portanto, na perspectiva da au- dade” (ARDOINO, 1998), é preciso “saber
to-eco-organização denominada por MO- escutar o ‘lugar’ diferencial de cada um no
RIN (1997), incluindo o “cuidado político, campo das relações sociais para poder es-
ético, estético e cultural como transversa- cutar sua palavra ou sua capacidade cria-
lidades irredutíveis” (MACEDO, 2012, p. dora” (BARBIER, 2002, p. 95).
A partir de tudo que foi dito, agregamos à plexa ou sistema, dotada de qualidades
espiral as contribuições da complexidade, desconhecidas ao nível dos componentes
em seus vários princípios - auto-organiza- ou indivíduos. De acordo com MORIN, as
ção, recursividade, realimentação, aleato- ideias de organização e sistema ainda es-
riedade, espontaneidade e bifurcações. tão dissociadas. O sistema é o caráter fe-
nomênico e global das inter-relações cuja
Para MORIN, a dialógica ordem/desordem/ disposição constitui a sua organização. O
organização e sua complexidade surgem que liga os dois conceitos é o conceito de
ao se verificar “empiricamente que fenô- interrelação que dotada de estabilidade ou
menos desordenados são necessários, em regularidade toma um caráter organizacio-
certas condições, em certos casos, para a nal e produz um sistema. Temos a partir do
produção de fenômenos organizados, que conceito trinitário:
contribuem para o aumento da ordem”
(2011: 92). O princípio dialógico por meio
de inúmeras inter-retroações está presen-
te e em ação no mundo biológico, físico
e antropossocial. Para a compreensão
dessas inter-retroações, faz-se necessá-
Figura 1: conceito trinitário. Fonte: MORIN
ria a reintrodução do sujeito na produção
(1997, p. 101)
do conhecimento, rearticulando a relação
indivíduo-sociedade-espécie, adentrando
Um sistema na perspectiva moriniana diz
o sentido de sistema e organização.
respeito à unidade complexa do todo
inter-relacionado, portanto as partes po-
O sistema é concebido como unidade or-
dem também constituir-se sistemas em
ganizada de inter-relações entre elemen-
uma outra estrutura de organização.
tos, ações ou indivíduos. Essa interação
da organização e do sistema são três
Para tratar da complexidade do real, MO-
faces de um único fenômeno, o conceito
RIN propõe o paradigma da distinção-
trinitário que pode ser compreendido
-conjunção-multidimensionalidade para
como um conceito em três, três concei-
superar o paradigma da disjunção-redu-
tos em um. Está no átomo, na molécula,
ção–unidimensionalidade. Não se trata de
na sociedade, nas estrelas e é um modo
abandonar e sim integrar “a unidade abs-
organizacional de pensar a realidade (MO-
trata do alto (holismo) e do baixo (reducio-
RIN, 1997: 102). A organização transforma,
nismo)” (2011: 22). O autor propõe ainda
produz, liga, mantém, ou seja, é a dispo-
o princípio da “recursão organizacional”
sição de relações entre componentes ou
como um processo em que os produtos
indivíduos, que produz uma unidade com-
nossas águas, mas tal qual o barro foram ciou o cotidiano da escola, novamente, e
a modelagem com o ar, a terra e o fogo na que era necessária outra mudança no pla-
queima que retroalimenta a cultura. nejamento. Com rapidez, eu respondi às
colegas que poderíamos adiantar a “eco
auditoria” para um diagnóstico participa-
sentido e decantar a
Segundo GADOTTI (2010), para uma
experiência coletiva ação coletiva concreto é preciso realizar
uma “eco auditoria” para descobrir as
situações dentro do ecossistema escola,
Com base em tudo o que foi dito, a eco-
nas quais estamos sendo insustentáveis.
formação nos possibilitou a concretização
Assim, precisamos mapear tudo nos es-
de ações coletivas interdependentes em
paços das relações e no espaço físico. É
um trabalhou que se constituiu durante
bem típico do outono uma situação como
um semestre letivo e com a força do co-
esta: a disposição para a mudança e a re-
letivo, ele foi se alterando no caminho. A
flexão refinada das pessoas ao demons-
formação seguiu seu trajeto, fazendo a
trarem uma observação dos movimentos
escuta do cotidiano da escola nos encon-
e suas relações.
tros, nas conversações e na coordenação
pedagógica. Eis que um dia, na porta de
E foi assim que em um dia lindo de outono,
entrada da Escola as diretoras da escola
que abrimos o trabalho de eco-auditoria
perguntaram-me se seria ético mostrar no
com a atividade corporal: “caminhar com
Projeto Político Pedagógico, por meio de
sentido3”:
fotos, a situação da escola. Isto porque,
elas gostariam de evidenciar a situação Ao som de palmas andar livremente
real, mas queriam fazer da forma mais éti- pelo espaço;
ca possível. Eu considerei a atitude como Encontrar um ponto e caminhar em di-
uma forma de manifestar confiança, pois, reção a ele, quando chegar;
Encontrar outro foco;
já havia conversas anteriores da ecodor-
Repetir a caminhada até um ponto de-
mação-pesquisa percolar o PPP. Também,
um gesto político que prima por resolver
3 Caminhar com sentido é uma vivência
a situação sem mascarar a realidade, mas corporal elaborada por Vera CATALÃO, Yara
MAGALHÃES e Joselita SANTOS a partir dos en-
preservando a relação com a hierarquia.
sinamentos de Rolf GELEWSK. A atividade está
publicada em Roteiros de um Curso D’Água:
Água como matriz ecopedagógica, Educação e
Ali mesmo, na porta de entrada, uma in-
Gestão sustentável das águas no Cerrado. Vera
tuição forte me veio e com clareza enun- LESSA CATALÃO e Maria do Socorro RODRI-
GUES (orgs).
finido pelo grupo, quando chegar; estimulador, foi algo que nunca tinha
Encontrar outro foco em grupo; vislumbrado. Em nosso cotidiano es-
Repetir a caminhada andando em zig colar, estamos muito preocupados
zag, curva, etc. com a parte pedagógica voltada para
Refletir sobre a caminhada individual e assimilação dos conteúdos e desen-
em grupo. volvimento das habilidades trabalha-
das e não nos damos conta de como
anda o nosso espaço físico, a estrutura
Após esse momento, o grupo expressou
destinada às aprendizagens mútuas.
alguns sentidos da atividade, especial-
Durante nossa auditoria foi possível
mente, o quão ele nos permite estar pre-
identificar inúmeros problemas na es-
sentes; percepção do espaço e do outro trutura física da escola. Observamos
na convivência; atenção à respiração; au- que, alguns problemas são fáceis de
tocentramento e que a objetividade pode serem solucionados, penso que são
vir embebida da leveza. Assim, para o sustentáveis, pois não provocam risco
imediato ao ambiente, como reposição
grupo significou “Compartilhar sentidos,
de lâmpadas, colocação de suporte
impregnar de sentido as práticas da vida
para papel higiênico nos banheiros,
cotidiana e compreender o sem sentido pintura de paredes e portas entre ou-
de muitas outras práticas que aberta ou tras coisas. No entanto, outros proble-
solapadamente tratam de impor-se e so- mas, não dependem da equipe esco-
brepor-se a nossas vidas cotidianamente” lar, pois vão além das possibilidades
da instituição, sem auxílio de pessoal
(GADOTTI, 2010, p. 78). O nosso caminhar
especializado, como por exemplo, re-
com sentido adentrou esse pensamento e,
tirada de entulhos, poda de árvores e
assim, foi proposto o roteiro da Eco audi-
reparos na parte elétrica e de alvenaria,
toria: 1) organizar dois pequenos grupos; tornando o problema insustentável, já
2) caminhar com sentido; 3) identificar que provoca risco de acidente para as
problemas estruturais, fotografar e relatar crianças e funcionários. Foi observado
o processo; 4) refletir sobre ações que po- a necessidade urgente de se retirar so-
bras de materiais de construção loca-
dem modificar a situação. O roteiro foi tra-
lizadas atrás da sala dos professores,
balhado com toda a escola. As reflexões
pois as crianças podem se ferir durante
do pesquisador evidenciam: o recreio. No parquinho, há estacas de
concreto que precisam ser retiradas,
A experiência foi muito interessante, pois em caso de queda de algum aluno
foi um novo olhar sobre os ambien- sobre as mesmas os ferimentos podem
tes onde estamos inseridos todos os ser graves. Há ainda, entulhos, tan-
dias. Pensar o espaço educador com to de construção, quanto de poda da
um olhar crítico, observando o que é área verde, que precisam ser retirados
sustentável e insustentável para um como forma de prevenção à infestação
ambiente eco pedagógico seguro e de bichos peçonhentos. Observarmos
que há alguns espaços ociosos na E foi assim que o olhar distinto e intencio-
área externa da escola que podem ser
nal para com a escola proporcionou diálo-
otimizados para uso dos alunos nos
gos sobre uma árvore imensa e seca, bem
momentos de lazer. (...) Que existe um
espaço comum de convivência, seja
ao lado do prédio. A preocupação era que
ele nossa casa, nossa rua, nosso bair- se ela caísse colocaria todos em perigo.
ro, nossa escola, nossa cidade, nosso Ao passar pelo local com todas as turmas,
estado, nosso país, nosso continente, ficamos bem em frente ao Guapuruvu, ár-
nosso planeta. (Depoimento de profes- vore que morreu já adulta na escola e ga-
sores)
nhou histórico em nossa auditoria.
Figura 4: caminhar com sentido. Fonte: acervo Essa perspectiva “para o acompanhamen-
coletivo de imagens. Brasília, outono de 2014. to do processo auto-eco-co-formativo em
seus diferentes níveis de realidade prática, com as pessoas a se tornarem mais “cons-
ética e teórica” (...) e “o paradoxo da co- cientes e entenderem melhor a importância
-construção de sistemas de conhecimen- da biodiversidade, dos processos naturais e
tos”. (GALVANI, 2008, p. 3). Macrocon- dos serviços de ecossistema proporciona-
ceitos que aprendemos no percurso com dos a todos os seres vivos”.
as crianças tão presentes e pensantes
que nos tiraram do lugar comum ... ex- CATALÃO (2005, p. 06) partilha conosco
pressivas e sensíveis nos emocionaram e que “a partir da observação da teia da
transformaram nossa humanidade. Foram vida é possível perceber como uma ação
ativas na concepção dos espaços e ins- produz uma corrente de reações e assim
piraram cada detalhe do trabalho. Assim, reconhecer no princípio da reciprocidade
o patrimônio da escola aumentou, prenhe a base da sustentabilidade da vida”. Essa
do afeto de cada pessoa da escola, e onde relação do humano com os valores e a
emerge a atitude de cuidado essencial vida revela que ciência buscamos cons-
para a sustentabilidade. truir no diálogo arte/educação/ecologia e
formação. Também, uma ciência que ar-
Durante o período de decantação da nossa ticule uma educação criativa e insurgente
experiência comum, surgiram os espaços e em seus diversos ambientes educativos.
produtos que pensamos e criamos juntos. É Compreender o ser humano e sua arque-
a partir desse laço vital que a Carta da Terra ologia bio/cultural na perspectiva anuncia-
foi tomada como manifesto da Ecologia Hu- da é reconhecer a ecologia humana como
mana para a criação de ambientes éticos, a ciência que:
estéticos e ecológicos na Escola Classe
Granja do Torto. O princípio “Comunidade [...] debruça-se sobre a trama de rela-
de vida” foi um tema que esteve presente ções do ser humano com outros seres
e seu ambiente, tecendo um novo olhar
na fundamentação filosófica do Projeto Po-
que desenha no campo do imaginário
lítico Pedagógico de 2014. A compreensão
um outro paradigma para religação dos
de que todo ser humano deveria se encon- saberes proposta por Edgar Morin. A
trar e comungar com todas as formas de ecologia humana percebe a realidade
vida nos traz a dinâmica de uma vivencia de forma mais holística. O mundo é
ética, vitalmente social, econômica, na- visto de forma integrada e não como
superposição de partes desconecta-
tural e cultural. Uma vez que precisamos
das, sem interação. A visão holística,
evidenciar a ecologia humana como uma
complexa e dialógica constitui a base
contribuição concreta e articuladora de me- de sustentação da ecologia humana.
todologias em ciências humanas. Segundo A interdisciplinaridade e a transdisci-
GADOTTI (2010, p. 91), ao encorajar uma plinaridade orientam a construção de
visão biossensível estaremos cooperando conhecimentos. (Idem, 2009, p. 263)
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