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instrumento de superação da
insustentabilidade
Nadja Janke
E
ducação Ambiental talvez não seja a expressão mais correta. Não deve haver apenas um único
conceito para um ato tão amplo como educar. Digo educar porque me parece óbvio que Edu-
cação Ambiental e educação representam, em síntese, epistemologicamente, a mesma ação:
educar.
Aliás, quando falamos em Educação Ambiental, temos a é possível educar fora de
nítida impressão de que estamos lidando com uma expressão um ambiente, de um
redundante... Afinal, é possível educar fora de um ambiente, de
espaço, de uma cultura?
um espaço, de uma cultura? A impossibilidade é visível, mas a
expressão Educação Ambiental se justifica, afinal, pelo simples
fato de que serve para destacar dimensões esquecidas pelo fazer educativo, no que se refere ao enten-
dimento da vida e da natureza, em suas dimensões físicas, históricas, políticas, culturais etc.
Portanto, para entendermos Educação Ambiental, nosso primeiro olhar deve estar voltado à
educação. Afinal, qual o papel da educação? Saviani (1997) explica que o homem de hoje é resultado
daquilo que criou como espécie, mas, sobretudo, como ser histórico. Ou seja, ao transformar a na-
tureza para criar a humanidade em si, o homem construiu uma série de manifestações, de conheci-
mentos e técnicas cuja apropriação tornou-se imprescindível à adequação dos indivíduos no conjunto
da sociedade, para sobreviver no ambiente. Podemos entender essa apropriação, essa transmissão de
conhecimentos de geração a geração como um ato educativo.
Assim, a educação tem como objetivo a identificação da cultura, que deve ser apropriada para
que nos tornemos humanos. O fato de transcendermos as possibilidades de cada época, de modo que
novos conhecimentos e atitudes sejam criados e repassados a outros indivíduos, faz com que nossa ca-
pacidade de transformação seja intensa e constante e demonstra nossa dependência do ato educacio-
nal. Ademais, do ponto de vista sociopolítico, todos têm direito à apropriação desses conhecimentos,
fruto do trabalho histórico, para que se desenvolvam e estejam seguros quanto aos constrangimentos
e discriminações que a falta desses mesmos instrumentos possa ocasionar. Daí a importância e o valor
da educação.
Em suma, a educação corresponde aos processos de transmissão/assimilação de conhecimentos, va-
lores, condutas e práticas produzidos historicamente, necessários à compreensão das estruturas individu-
ais e coletivas, sem as quais o ser humano jamais se produziria como tal. Educar é possibilitar a apreensão
fundamental para a construção histórica humana em cada indivíduo.
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“[...] o trabalho educativo é Onde fica o ambiente nesse contexto? O ambiente sempre
o ato de produzir, direta e existiu do ponto de vista educacional. Afinal, o próprio saber/
intencionalmente, em cada fazer humano só existe em consequência da transformação/
construção/entendimento desse ambiente. Ambiente é o lugar
indivíduo singular,
onde vivemos, suas dimensões naturais, tanto quanto a cons-
a humanidade que é truída pelo ser humano, individual e coletivamente, expressa
produzida histórica e fisicamente, culturalmente, simbolicamente, em termos de re-
coletivamente pelo lações.
conjunto dos homens” A educação nos ajudou, de certa forma, a construir nossa
(Saviani, 1997, p. 17). atual relação com o ambiente. Afinal, do ponto de vista históri-
co, podemos observar a existência de uma relação direta entre a
educação e o ambiente, o que torna possível um melhor entendimento dos proble-
mas ambientais com que hoje nos deparamos. Pois, se construímos ao longo dos
anos uma relação de exploração com o ambiente, a educação repassou esse tipo de
relação, construída historicamente, até os dias de hoje.
Saviani (1997) nos explica melhor essa relação ao abordar o conceito de
trabalho. Para esse autor, o homem, diferentemente dos demais animais, necessita
produzir continuamente sua existência para garantir a continuidade de sua espé-
cie. Para tanto, ele transforma a natureza, adaptando-a a sua realidade, e o faz por
meio do trabalho. Constrói assim atividades de ação intencional, transformando a
natureza de forma a criar um ambiente humano, o ambiente da cultura. Comple-
ta a ocupação humana do espaço em que o ambiente não é mais o natural e sim
aquele construído pelos homens, para os homens. Danosa ou não, essa ocupação
humana do espaço é transmitida de geração a geração, pela necessidade de manu-
tenção do modo de vida construído historicamente. Visto dessa forma, fica claro
como a evolução histórica desse conceito de trabalho, e a própria organização do
trabalho em nossa sociedade, transformou a natureza a ponto de colocar em risco
o planeta e todos os seres que o habitam.
Porém, se é possível reconhecermos a fonte desse problema em nossa cultura
e nos princípios educacionais que nos fazem repassar, continuamente, essa forma
de atuação humana que nos têm causado tantos problemas, é possível também en-
contrarmos parâmetros para as mudanças desses paradigmas e a consolidação de
uma forma de atuação mais respeitosa para com o ambiente. É nesse sentido que a
Educação Ambiental tornou-se uma necessidade indiscutível, uma das principais
formas participativas de incentivo às novas gerações para que estejam cientes e
atuem criticamente na manutenção dos ambientes, possibilitando uma melhoria
na qualidade de vida.
No processo educacional, em função da situação do ambiental atual, a
emergência de novas ideias e valores tornaram necessária a inclusão de uma
Educação Ambiental que se comprometa em formar indivíduos ambientalmen-
te mais conscientes. No entanto, não se pode dizer que a ação da Educação
Ambiental esteja ligada à questão educacional unicamente como uma forma de
transmissão de conhecimentos, sem qualquer atuação prática. É preciso lembrar
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que os problemas ambientais não são resultado apenas da nossa “falta de conhe-
cimentos” mas também decorrem do tipo de interação, exploração e ocupação
que o homem faz do ambiente e que tem impedido as possibilidades de recons-
trução desse ambiente.
Segundo Rousset (2000), a origem da crise ecológica contemporânea está
no produtivismo e, portanto, as soluções devem se basear na modificação do fun-
cionamento ou produção das sociedades humanas, responsável pelas poluições,
contaminação das águas, escassez de matérias-primas e recursos, destruição de
ecossistemas naturais, além dos fatores sociais e políticos, todos intimamente li-
gados à desigualdade social, responsável por outra série de repercussões nas rela-
ções sociais e ambientais do nosso modo de vida.
Nesse contexto, é preciso que a educação forneça algo mais do que a forma-
ção da individualidade, sendo importante, dessa maneira, reformular parâmetros
para uma educação cidadã. Segundo Porto-Gonçalves (1990), o modo como co-
nhecemos e identificamos a natureza se reflete nas relações sociais e na cultura
de nossa sociedade, servindo de suporte ao nosso modo de vida e de produção.
Assim, a solução para os problemas ecológicos atuais está contida determinan-
temente na reformulação de nossos parâmetros de sociabilidade. Assim, não faz
sentido separar a problemática ecológica da social. “A Educação Ambiental surge
como uma necessidade quase inquestionável pelo simples fato de que não existe
ambiente na educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos educados e edu-
cássemos fora de um ambiente” (Grün, 1996, p. 21).
O próprio movimento ambientalista surgiu a partir de um questionamento
sobre uma série de valores da sociedade capitalista. O consumismo exagerado, as
guerras e a destruição da natureza fizeram com que os homens se questionassem
sobre a relação intrínseca entre conservar e sobreviver.
É preciso entender, no entanto, que a ação frente aos problemas ambientais
demorou a se estruturar por depender, intrinsecamente, da concepção da relação
entre homem e natureza, fator determinante para o tipo de interação que o ser hu-
mano manteve com o ambiente ao longo dos anos. Lembremos que a organização
da sociedade moderna, inclusive na política, nas ciências e nas artes, foi marcada
pelo cartesianismo, o dualismo entre homem e natureza. Nesse contexto, a nature-
za era vista apenas como um objeto de estudo, já que o homem era o único “sujei-
to” em relação ao conhecimento. Essa característica representa um dos princípios
do antropocentrismo, do humanismo, pelo qual o homem configura o centro de
todas as relações. O homem era o sujeito do estudo ambiental e contemplava o
ambiente como algo externo a si. No entanto, a preocupação com a conservação
do ambiente foi se tornando forte demais. Atrelada a ela, vinha a necessidade de
se abandonar esse modelo maniqueísta, que distanciava o homem do ambiente nas
ciências e na sociedade de uma forma geral. Ao final dos anos 1980 e início dos
anos 1990, a preocupação da Educação Ambiental era trabalhar em integração
com a natureza. O homem é parte do ambiente e por isso reproduz em si toda a
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médio, podendo ser adotada, somente quando necessário, apenas no Ensino Su-
perior. O caráter da EA deve ser sistêmico e integrador, e não acomodado a uma
disciplina (CARVALHO, 2004).
Sato (2003) ressalta ainda outra característica ou princípio da EA no que
se refere ao currículo escolar. A EA deve favorecer a ludicidade, a brincadeira, o
dinamismo, como método para o favorecimento do engajamento e da participação
na discussão ambiental. Nesse sentido, a autora ressalta que a inclusão da temática
ambiental nos currículos escolares deve acontecer a partir de atividades diferencia-
das que possam conduzir os alunos a serem agentes ativos no processo de formação
de conceitos. Sendo o professor o mediador do processo de ensino e aprendizagem,
cabe a ele propor novas metodologias que favoreçam a implementação da EA.
Nessa perspectiva, o uso de materiais sobre os temas ambientais em sala de
aula no processo de ensino e aprendizagem pode servir como fonte de informa-
ção. No entanto, não devem ser utilizados com exclusividade. A diversidade entre
esses materiais deve ser a mais ampla possível. A utilização de materiais diversi-
ficados como revistas, jornais, propagandas, filmes, faz com que o aluno sinta-se
inserido no mundo a sua volta (BRASIL, 1997).
Além disso, é preciso dizer que os conteúdos devem ser discutidos e traba-
lhados de forma coletiva, buscando conhecimentos não somente do professor, que
também possui uma leitura individual do mundo, mas também dos educandos,
como nos sugere Meyer (1991, p. 42):
Reconhecendo que a escola não é o único local de aprendizado e que o processo educativo
não se inicia nem se esgota no espaço escolar, torna-se fundamental dialogar com o conhe-
cimento que as pessoas têm acerca do ambiente, aprendido informalmente e empiricamente
em sua vivência e prática social, respeitando-as, questionando-as, levando-as a repensarem o
aprendido. Enfim, possibilitando que elas formulem e expressem suas ideias e descobertas, e
elaborem os seus próprios enunciados e propostas.
Educação Ambiental
em espaços não formais
Sabemos que educar não é exclusividade do ensino escolar. Todas as pes-
soas possuem uma leitura de mundo que é anterior e ulterior àquela do ambiente
escolar: as vivências práticas, do cotidiano, do mundo do trabalho, da espiritua-
lidade, que complementam o ser humano em todos os âmbitos de sua vida e de
sua relação com o ambiente. A Educação Ambiental, nesse sentido, pode ser uma
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