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Experiências de ações

ambientais envolvendo
participação popular
e cidadania
Nadja Janke

O
planejamento participativo já é uma realidade em muitos programas de políticas públicas.
Mas a participação popular não se resume a esse âmbito. A sociedade civil organizada tem
participado ativamente inclusive na estruturação de organizações não governamentais, de
grande influência no cenário político atual.
As razões são as mais variadas: o desmatamento, a pobreza, as doenças sexualmente transmis-
síveis, entre outras. As ONGs têm atuado em todos os âmbitos da experiência cotidiana, ajudando a
levantar questionamentos e resolvendo muita das questões que dificultam a vida e degredam o am-
biente natural e urbano.

Exemplos de construção da Agenda 21


O Paraná possui um exemplo interessante de construção da Agenda 21 do estado. Nele, a par-
ticipação popular foi intensamente trabalhada e o resultado é uma Agenda 21 construída por meio do
planejamento participativo, baseado na opinião da população.
Esse estado iniciou a construção de sua Agenda 21 no ano 2001, com um grande debate entre
representantes do governo e da sociedade civil organizada sobre as estratégias e ações a serem priori-
zadas. Em 2002, o governador assinou o decreto que instituiu uma comissão governamental composta
por representantes de cada um dos órgãos e instituições, com o intuito de acompanhar a preparação e
a realização dos debates do processo de elaboração da sua agenda e efetuar as articulações necessárias
para a instalação do Fórum Estadual para a Agenda 21 Paraná, identificando e indicando a representação
dos diferentes segmentos da sociedade que deveriam participar do Fórum (Secretaria do Meio
Ambiente, 2005).
Foram realizados vários debates preparatórios, anteriormente à criação do Fórum Permanente.
O intuito era preparar os envolvidos nas discussões, além de produzir um material que pudesse orien-
tar as discussões do Fórum.
Nos seminários preparatórios, foram realizadas palestras de integrantes da Comissão Nacional
da Agenda 21 e de especialistas em meio ambiente, além de muitos trabalhos em grupos de discussão.
O resultado desses debates, que eram separados em função de temas específicos, era apresentado em
plenária para ser socializado para os demais grupos. Essa metodologia de discussão permitiu a efetiva
participação popular no processo de construção da Agenda 21 Paraná.
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Após o evento, a comissão governamental publicou o documento produzi-


do pelos seminários como forma de socializar as informações e as propostas da
Agenda 21, além de contribuir para a descentralização das ações propostas pela
Agenda, bem como para orientar as discussões quando da instalação do Fórum
Permanente Agenda 21 Paraná (Secretaria do Meio Ambiente, 2005).
Esse documento expressa, principalmente, as prioridades de ação identificadas
pelos mais diversos setores da sociedade paranaense que participaram dos se-
minários, num registro documental de fitas de vídeo e de produção escrita dos
grupos de trabalho.
As questões colocadas para esses grupos se referiam às necessidades princi-
pais para o estado, dentro dos temas de discussão ambiental, o que permitiu que se
construísse um processo tanto de participação como de real conhecimento sobre
a realidade do estado e suas necessidades. Permitiu ainda que um grande núme-
ro de pessoas, representativas dos mais diversos segmentos da sociedade civil
organizada, pudesse, de maneira participativa, contribuir na discussão de temas
específicos, apresentando resultados em um tempo curto.
Para incentivar a participação, houve um grande esforço de mobilização
para a distribuição de convites, a propaganda e o próprio resumo da Agenda 21,
como forma de incentivar a população a participar do processo de discussão. O
Fórum Permanente é uma segunda etapa do processo e procura manter os debates,
implementando ações concretas de curto, médio e longo prazo.
No site do Ministério das Relações Exteriores (MRE), encontramos uma série
de links referentes aos projetos de Agenda 21 em diferentes municípios do País.
No caso de Curitiba, por exemplo, a Secretaria Municipal do Meio Ambien-
te, por meio da administração dos recursos hídricos, procurou difundir e implan-
tar um programa de Educação Ambiental e de monitoramento e gestão partici-
pativa dos recursos naturais (Ministério das Relações Exteriores,
2005). O programa, que aconteceu do ano de 1995 a 1997, contou com recursos da
própria prefeitura e do Banco Mundial (BIRD).
Para viabilizar parcerias para a proteção das águas contra a poluição e o uso
inadequado deste recurso, o programa contou com a participação comunitária no
monitoramento e na gestão dos recursos hídricos, o que está em sintonia com os
objetivos e métodos propostos pela Agenda 21 para sociedades sustentáveis. O
trabalho foi uma realização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, das asso-
ciações de moradores, dos conselhos locais de saúde, entre outros (Ministério
das Relações Exteriores, 2005).
Outro caso interessante aconteceu na cidade de Santos, no estado de São
Paulo. O processo de elaboração da Agenda do município também foi baseado
nos métodos elaborados pela Agenda 21 Internacional. Segundo o site do MRE
(2005), a princípio o governo local promoveu a realização do debate com a comu-
nidade para discutir as formas de condução do programa e identificar os temas
prioritários para elaboração dos projetos, tendo sido selecionados alguns deles,
como geração de emprego, renda e educação, recursos naturais, entre outros, além
do Plano Diretor do Município.
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O desenvolvimento dos temas anteriores produziu uma série de projetos, de


parcerias entre a prefeitura e a sociedade civil. Para discutir e executar as ações,
foram formados dois grupos. Um deles, chamado grupo de sustentação, integrado
por ONGs e integrantes da administração municipal, representava os interesses da
sociedade civil e tinha como função garantir a continuidade do programa, no caso
de mudança da administração municipal, com mandato oficial. Este primeiro gru-
po possuía caráter consultivo. O segundo grupo é a equipe de projetos, de caráter
deliberativo. Este segundo grupo, formado pela administração e pela sociedade
civil, decide e supervisiona a implantação dos projetos da Agenda (Ministério
das Relações Exteriores, 2005).
Em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a criação da Agenda 21 foi um traba-
lho posterior. Anteriormente, por meio do Plano Diretor Municipal, foi criado
o Conselho Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Cmuma), responsável
por decidir sobre as questões relativas à ocupação de solo e políticas ambientais
e urbanas. Esse foi um primeiro momento em que a população pode participar
das decisões e das políticas a serem empreendidas no município. O resultado
foi a implantação de um processo democrático de tomada de decisões, pelo
qual a população, além de participar mais ativamente das decisões, pôde ser
mais bem informada sobre a situação ambiental do seu município. Nesse momento,
segundo o MRE (2005), algumas das questões problemáticas e polêmicas sobre o
ambiente do município foram enfrentadas, tais como o desmatamento das encostas
provocado pelos assentamentos urbanos, a privatização de praias e ilhas para a
construção de empreendimentos imobiliários e de lazer, entre outros.
As estruturas formais de deliberação e fiscalização das ações ambientais já
foram criadas, contando com a participação da sociedade civil e de membros da
administração local. Agora, para a implementação de uma Agenda 21 no municí-
pio, falta muito pouco.
O que é preciso ser feito, no caso de implantação de uma Agenda 21 nos mu-
nicípios, é garantir que a seriedade do processo seja efetiva, seguindo-se os passos
propostos pelas Agendas 21 internacional e nacional. O passo mais importante,
que garante a sustentabilidade do ambiente – mas também, e em primeiro lugar,
do grupo de elaboração da Agenda – é a participação da comunidade civil nas
deliberações e consultas e a fiscalização dos planos de gestão da Agenda.
É preciso um grande esforço de planejamento participativo para que o processo
seja efetivo, de forma sustentável. Para isso, os municípios precisam investir fortemente
na formação dos grupos, na propaganda extensiva para informar as pessoas da impor-
tância desses conselhos, da própria Agenda 21 e principalmente da participação popu-
lar para que o desenvolvimento chegue de forma democrática a toda a população.
As iniciativas, a partir do planejamento participativo, começam justamen-
te da formulação das necessidades primordiais da comunidade, principalmente
aquelas com menores condições de qualidade ambiental, beneficiando, assim, a
qualidade de vida de todos. O papel desses grupos de trabalho e discussão é tam-
bém definir as principais metas para o município, traçando os caminhos, o custo
e a fiscalização dessas metas.
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Essa é uma forma participativa de conhecer e opinar sobre a utilização dos


impostos pagos pela população ao município, aumentando a possibilidade de que
ele seja revertido em benefício da população e de seu ambiente. Precisamos re-
lembrar que tudo o que reverta em qualidade de vida para as populações humanas
reflete em melhorias ambientais, visíveis, tanto nas áreas urbanas como em am-
bientes naturais. E é essa a intenção da construção das propostas da Agenda 21.

Exemplos de ONGs da área socioambiental


No planejamento participativo, as necessidades das populações favorecidas
são privilegiadas durante a elaboração de planos de ação estratégicos que têm, em
geral, resultados de longo prazo. São eles que elegem as questões prioritárias para
alcançar a sustentabilidade, a qual não envolve apenas aspectos ambientais mas
também econômicos e, em especial, sociais. Desse processo, também participam
instituições públicas e não governamentais.
As ONGs são particularmente importantes no que se refere ao enfrentamen-
to dos problemas ambientais e o número delas aumenta gradativamente. Muitas
vezes, elas recebem o apoio de empresas, de órgãos públicos, firmando parcerias
em projetos em todas as áreas. No site do Instituto Ecoar para a Cidadania (www.
ecoar.org.br), podemos encontrar uma série de exemplos de projetos de ONGs na
área ambiental, preocupados em melhorar a qualidade de vida das populações
humanas por meio do cuidado com o ambiente.
É o caso do projeto Sementes do Futuro, cuja intenção é contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da comunidade do município de Ribeirão Grande,
São Paulo (ECOAR, 2005). A coleta de sementes florestais nativas é o processo
inicial de incentivo à geração de trabalho e renda, por meio da produção de artigos
de artesanato. São realizadas diversas atividades de capacitação buscando a auto-
nomia e a participação da comunidade de forma continuada.
Outro projeto interessante é o Programa de Sequestro de Carbono, também
do Instituto Ecoar: tem como objetivos a melhoria da qualidade de vida por meio
da implantação de sociedades sustentáveis e a conservação e a recuperação do am-
biente e do patrimônio genético. Além disso, procura diminuir o efeito dos gases
nocivos sobre o meio ambiente, implantando maciços verdes. Para isso, conta com
subprogramas específicos: Subprograma Empresa Planetária, Subprograma Esfrie
o Tanque, Subprograma Saber Legal, Subprograma Poupança Limpa, Subprograma
Sou Dono do meu Nariz (ECOAR, 2005). A ideia de implementar vários subpro-
gramas garante que todas as questões relacionadas ao efeito estufa sejam atendidas,
assim como vários atores sociais poderão se envolver no projeto, assim aumentando
o grau de participação da população.
O projeto Brasil Alternativo representa outra parceria entre as ONGs. O ob-
jetivo foi o de mapear e divulgar as experiências de sucesso de geração de renda e
Educação Ambiental nas áreas urbanas e rurais do país. Uma equipe percorreu o
Brasil registrando essas experiências, detectando a relação das comunidades com o

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ambiente e o resultado foi a produção de um vídeo, distribuído entre as ONGs, com


o intuito de socializar as experiências e iniciativas que deram certo promovendo
um intercâmbio de ideias. O vídeo também pôde ser conferido em tevê aberta gra-
ças ao projeto de parceria com a TV Cultura de São Paulo (ECOAR, 2005).
Saragoussi (2002) relata algumas das dificuldades de fundação e estrutura-
ção de ONGs no país. A autora é fundadora de uma ONG, a Vitória Amazônica,
criada pouco antes da Eco-92 – portanto, num momento em que as questões so-
ciais e ambientais ainda não haviam sido consideradas de forma sistêmica, como
aconteceu após a conferência.
Isso demonstra a evolução do papel das ONGs no país e a própria introdu-
ção do pensamento ecológico e da sustentabilidade na atuação da sociedade civil
organizada. Após a Eco-92, a Vitória Amazônica passou a reconhecer a impor-
tância do desenvolvimento sustentável para as populações locais, agindo de forma
a garantir que essa comunidade amazônica, do entorno de parques de conserva-
ção, pudesse participar do processo de sustentabilidade.
Segundo Saragoussi (2002), as populações amazônicas são, em geral, es-
quecidas pelas autoridades públicas. Na maioria das vezes, elas nem existem de
forma oficial, porque não possuem documentos. São regiões onde o Estado só
está presente nas grandes cidades e, portanto, muitas populações do interior ficam
praticamente isoladas das políticas e práticas públicas. Nesses lugares, as ONGs
têm um papel fundamental para as populações locais, porque representam a única
forma de acesso a informações, recursos e possibilidade de participação em um
processo democrático. Não que essas entidades sejam representativas do poder do
Estado. Segundo Saragoussi (2001, p. 301), de fato não o são:
Não somos representativos, mas lutamos para instalar um Estado de direito onde direitos
difusos também sejam respeitados, como, por exemplo, o direito a um meio ambiente
saudável, garantido na Constituição brasileira. No caso das ONGs ambientalistas e socio-
ambientais, temos tido um papel catalisador e esclarecedor junto aos Movimentos Sociais
e à opinião pública e um papel propositivo, de exemplo de implementação de propostas
inovadoras, de piloto de experimentação, papel que buscamos ampliar ao tentar influen-
ciar políticas públicas. Por isso é tão importante o papel das redes e alianças entre ONGs
e movimentos sociais, pois junta as perspectivas e experiências dos dois grupos, dando
legitimidade e base social às propostas. É dessa forma que somos interlocutores legítimos
no debate sobre desenvolvimento sustentável, e não quando atuamos isolados.

Além disso, as ONGs, nesses casos, configuram-se como única via de re-
cursos financeiros para esses ambientes esquecidos pela instituição pública, pois
recebem financiamentos do governo e de outras entidades públicas e privadas,
facilitando o acesso da população a alguns serviços. Além disso, o trabalho das
ONGs é muitas vezes catalisador das iniciativas democráticas por parte da comu-
nidade. Segundo Saragoussi (2001), a criação de associações de classe e de sindi-
catos na região amazônica foi uma das conquistas políticas da ação da sua ONG.
Quanto às muito frequentes críticas de que as ONGs são organismos de
atuação muito limitada, local, Saragoussi (2002) explica que esse problema pode

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ser resolvido com a criação de parcerias entre outras instituições e mesmo ou-
tras ONGs, procurando aumentar o número de trabalhos e projetos desenvolvidos,
além do aumento da área atendida por esses projetos. Isso também dá à organiza-
ção maior possibilidade de financiamentos e determina um processo de contínuo
trabalho, possibilitando a manutenção da ONG.
Para a autora, a principal qualidade de seu projeto está em favorecer um
grande espaço para a cidadania, além de estar também na descentralização do
poder e na possibilidade de fornecer a essas populações e a esse ambiente outras
formas de lidar com seus conflitos. Só assim o ambiente pode favorecer um es-
paço de reflorescimento das possibilidades individuais e coletivas para essa po-
pulação tão afastada da participação e das decisões sobre sua vida e seu futuro.

Exemplos institucionais
nas áreas da educação e da saúde
Muitas das políticas públicas atuais têm procurado inserir o indivíduo da
comunidade na resolução de seus problemas coletivos. A intenção, ao menos, deve
ser a de contribuir para que ele esteja consciente dos problemas do seu bairro, da
sua região, criando um vínculo maior entre a população e o ambiente.
No caso da educação, em relação às escolas, o mecanismo tem sido o de
trazer os pais e a comunidade para dentro do ambiente escolar, contribuindo para
a educação dos alunos, facilitando assim uma troca entre os conhecimentos de
fora da escola e aqueles apreendidos pelas crianças no ambiente escolar. É o caso,
com relação à rede escolar do estado de São Paulo, do programa Escola da Fa-
mília, pelo qual os pais e outros moradores do bairro, assim como os estudantes,
frequentam o ambiente escolar durante os fins de semana e têm a oportunidade
de realizar atividades diversas, promovidas pela própria comunidade ou pela es-
cola, como aulas de informática, esportes, recreação, entre outras. Esse tipo de
iniciativa aproxima a comunidade da escola, numa troca de conhecimentos e no
incentivo à possibilidade de lazer para a população do entorno escolar.
Porém, o que mais encontramos na literatura são as propostas de atividades
de aproximação entre a escola e a comunidade por meio da ação das universidades,
pela elaboração de projetos e de parcerias entre seus estudantes e a direção das es-
colas, ou mesmo por meio de representantes da comunidade do entorno da escola.
É o caso do projeto de Almeida (2005) e Janke (2005), que procuravam pro-
blematizar sobre a participação da comunidade na resolução de seus problemas am-
bientais. O trabalho foi desenvolvido na cidade de Bauru, São Paulo, e as pesqui-
sadoras propuseram a formação de um grupo de pesquisadores comunitários para
estudar a história de ocupação de seu bairro e os indicadores de qualidade de vida
mais significativos para aquela população. O envolvimento da comunidade na for-
mação do grupo foi significativo e os resultados da pesquisa coletiva foram sociali-
zados para os demais membros da comunidade por meio da atuação da escola. Nes-
se caso, especificamente, a comunidade procurou a escola para ensinar um pouco do
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que sabia às crianças. A ideia foi prontamente aceita pela diretoria da escola, que viu
nesse trabalho uma possibilidade de atuação da escola na comunidade do entorno, o
que facilitaria e propiciaria maior participação da escola na vida do bairro.
Dessa forma, os moradores foram incentivados a contar suas experiências
aos estudantes, trazendo novos conhecimentos sobre a história de vida da comu-
nidade e possibilitando a problematização sobre as questões de insatisfação que
poderiam ser alvo de reivindicação e melhorias por parte dos alunos e da comu-
nidade. Essa escola já possuía um histórico de atuação ambiental interessante,
pois, por meio de manifestações e abaixo-assinados, já havia conseguido que a
prefeitura resolvesse um problema antigo na tubulação de esgotos do bairro, que
estava poluindo o córrego que corta a região.
Nessa parceria, a escola ainda pôde entrar em contato com um outro grupo
de estudantes e professores da Faculdade de Arquitetura da cidade, possibilitando
a produção de outros projetos relacionados à construção das casas, praças e ruas
do bairro (ALMEIDA, 2005).
O resultado é uma atuação forte da comunidade e da escola em busca da
melhoria de sua qualidade de vida e na construção, cada vez mais democrática,
da participação de todos como ponto fundamental para a criação de uma comu-
nidade sustentável.
Em relação à saúde, os programas públicos mais abrangentes têm beneficiado
uma nova maneira de apresentar a questão para a população. É a promoção dos
agentes comunitários de saúde, que nasceu da necessidade de levar atenção a regiões
marginalizadas pelo atendimento ambulatorial ou hospitalar (SILVA, 2002). Segun-
do essa autora, a ideia é a de criar um elo entre a comunidade e o sistema de saúde,
no qual o papel do agente comunitário assume tanto uma dimensão técnica, relacio-
nada ao atendimento às famílias, como uma função política, no sentido de organiza-
ção da comunidade e de transformação das condições que causam as doenças.
Este é o caso de programas como o Saúde da Família, de 2001, e outros
programas que se assemelham a ele. A função é a de promover a saúde da comu-
nidade pela ação da própria comunidade, por meio da formação desses agentes
comunitários, em contato direto com a população. Essa é mais uma iniciativa que
vê na potencialidade da participação e da luta comunitária um princípio para a
construção e o aumento da cidadania.
Ser agente comunitário de saúde é, antes de tudo, ser alguém que se identifica, em todos
os sentidos, com a sua própria comunidade, principalmente na cultura, linguagem, costu-
mes; precisa gostar do trabalho. Precisamos lutar por outros fatores que são determinantes
para a saúde como: trabalho, salário justo, moradia, saneamento básico, terra para traba-
lhar, entre outros. (BRASIL, 1991, p. 6)

Nesse sentido, promover a saúde é muito mais do que cuidar da doença: é re-
alizar um trabalho educativo que incentive a participação na busca pela qualidade
de vida das populações humanas.

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Concluindo...
Mais uma vez, precisamos ressaltar que a participação é a grande responsá-
vel pelo estabelecimento de sociedades sustentáveis e harmônicas. Nos exemplos
citados anteriormente, a participação mostra sua importância, imprimindo ao ato
educativo, à promoção da saúde e à conservação do ambiente, uma efetividade
que jamais poderia ser conseguida sem a presença da comunidade.
Não precisamos esquecer, no entanto, que o incentivo à prática da cidadania
e da autonomia da população pela busca de mais qualidade de vida não exime o
Estado e as instituições públicas de seus deveres enquanto tais. Pelo contrário,
a busca é por um Estado cada vez mais democrático e atuante. O Estado possui
obrigações que são só suas e que não devem e não podem ser realizadas pela so-
ciedade civil organizada. Afinal, é papel do Estado promover a saúde, a educação,
a geração de empregos, a dissipação das desigualdades sociais, entre outros.
No entanto, uma população atuante e participativa pode ser um pilar de
sustentação da atuação do Poder Público. A comunidade consciente de seu papel
cidadão, de sua possibilidade de escolha, de seus direitos humanos e civis, realiza
um ato reivindicatório, de decisão, de atuação e de fiscalização muito mais demo-
crático, conhecedor e efetivo.
Esse é possivelmente o grande papel das organizações não governamen-
tais, da sociedade civil organizada, dos projetos de apoio à comunidade. Mais
do que empreender ações para resolver este ou aquele problema social, é sim
promover o conhecimento da importância da participação da comunidade frente
aos seus desejos e necessidades e a importância de enfrentar as situações adver-
sas com reivindicação e muita discussão democrática.

1. Escolham um tema, um assunto relacionado à qualidade de vida.

2. Discutam de que forma o grupo poderia se articular para solucionar um problema relacionado
ao tema na sua cidade (criar um projeto, discutindo metodologia, justificativa, objetivos etc.).

BRÜGGER, Paula. Educação ou Adestramento Ambiental? 2. ed. Florianópolis: Letras Contem-


porâneas, 1999.

ALMEIDA, Isadora Puntel de. Recolorir o Presente pela Aquarela da Memória Ambiental: pes-
quisa-ação-participativa em um bairro de Bauru. Bauru, 2005. Dissertação. Mestrado em Ensino de
Ciências. Universidade Estadual Paulista.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de Agentes Comu-
nitários de Saúde. Manual do Agente Comunitário de Saúde. Brasília, 1991.
BRÜGGER, Paula. Educação ou Adestramento Ambiental? 2. ed. Florianópolis: Letras Contem-
porâneas, 1999.
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JANKE, Nadja. A Pesquisa-Ação-Participativa: compartilhando conhecimentos. Bauru, 2005. Dis-
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MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Desenvolvimento Sustentável. Disponível em
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Amazônia: a Fundação Vitória Amazônica. Lusotopie, v. 1, p. 293-301, 2002.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21. Disponível em: <www.pr.gov.br/sema>. Acesso
em: 20 ago. 2005.
SILVA, Joana Azevedo; DALMASO, Ana SílviaWhitaker. O agente comunitário de saúde e suas atri-
buições: os desafios para os processos de formação de recursos em saúde. Interface, v. 6, n. 10, 2002.

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