Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ambientais envolvendo
participação popular
e cidadania
Nadja Janke
O
planejamento participativo já é uma realidade em muitos programas de políticas públicas.
Mas a participação popular não se resume a esse âmbito. A sociedade civil organizada tem
participado ativamente inclusive na estruturação de organizações não governamentais, de
grande influência no cenário político atual.
As razões são as mais variadas: o desmatamento, a pobreza, as doenças sexualmente transmis-
síveis, entre outras. As ONGs têm atuado em todos os âmbitos da experiência cotidiana, ajudando a
levantar questionamentos e resolvendo muita das questões que dificultam a vida e degredam o am-
biente natural e urbano.
198
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Experiências de ações ambientais envolvendo participação popular e cidadania
Além disso, as ONGs, nesses casos, configuram-se como única via de re-
cursos financeiros para esses ambientes esquecidos pela instituição pública, pois
recebem financiamentos do governo e de outras entidades públicas e privadas,
facilitando o acesso da população a alguns serviços. Além disso, o trabalho das
ONGs é muitas vezes catalisador das iniciativas democráticas por parte da comu-
nidade. Segundo Saragoussi (2001), a criação de associações de classe e de sindi-
catos na região amazônica foi uma das conquistas políticas da ação da sua ONG.
Quanto às muito frequentes críticas de que as ONGs são organismos de
atuação muito limitada, local, Saragoussi (2002) explica que esse problema pode
199
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Experiências de ações ambientais envolvendo participação popular e cidadania
ser resolvido com a criação de parcerias entre outras instituições e mesmo ou-
tras ONGs, procurando aumentar o número de trabalhos e projetos desenvolvidos,
além do aumento da área atendida por esses projetos. Isso também dá à organiza-
ção maior possibilidade de financiamentos e determina um processo de contínuo
trabalho, possibilitando a manutenção da ONG.
Para a autora, a principal qualidade de seu projeto está em favorecer um
grande espaço para a cidadania, além de estar também na descentralização do
poder e na possibilidade de fornecer a essas populações e a esse ambiente outras
formas de lidar com seus conflitos. Só assim o ambiente pode favorecer um es-
paço de reflorescimento das possibilidades individuais e coletivas para essa po-
pulação tão afastada da participação e das decisões sobre sua vida e seu futuro.
Exemplos institucionais
nas áreas da educação e da saúde
Muitas das políticas públicas atuais têm procurado inserir o indivíduo da
comunidade na resolução de seus problemas coletivos. A intenção, ao menos, deve
ser a de contribuir para que ele esteja consciente dos problemas do seu bairro, da
sua região, criando um vínculo maior entre a população e o ambiente.
No caso da educação, em relação às escolas, o mecanismo tem sido o de
trazer os pais e a comunidade para dentro do ambiente escolar, contribuindo para
a educação dos alunos, facilitando assim uma troca entre os conhecimentos de
fora da escola e aqueles apreendidos pelas crianças no ambiente escolar. É o caso,
com relação à rede escolar do estado de São Paulo, do programa Escola da Fa-
mília, pelo qual os pais e outros moradores do bairro, assim como os estudantes,
frequentam o ambiente escolar durante os fins de semana e têm a oportunidade
de realizar atividades diversas, promovidas pela própria comunidade ou pela es-
cola, como aulas de informática, esportes, recreação, entre outras. Esse tipo de
iniciativa aproxima a comunidade da escola, numa troca de conhecimentos e no
incentivo à possibilidade de lazer para a população do entorno escolar.
Porém, o que mais encontramos na literatura são as propostas de atividades
de aproximação entre a escola e a comunidade por meio da ação das universidades,
pela elaboração de projetos e de parcerias entre seus estudantes e a direção das es-
colas, ou mesmo por meio de representantes da comunidade do entorno da escola.
É o caso do projeto de Almeida (2005) e Janke (2005), que procuravam pro-
blematizar sobre a participação da comunidade na resolução de seus problemas am-
bientais. O trabalho foi desenvolvido na cidade de Bauru, São Paulo, e as pesqui-
sadoras propuseram a formação de um grupo de pesquisadores comunitários para
estudar a história de ocupação de seu bairro e os indicadores de qualidade de vida
mais significativos para aquela população. O envolvimento da comunidade na for-
mação do grupo foi significativo e os resultados da pesquisa coletiva foram sociali-
zados para os demais membros da comunidade por meio da atuação da escola. Nes-
se caso, especificamente, a comunidade procurou a escola para ensinar um pouco do
200
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Experiências de ações ambientais envolvendo participação popular e cidadania
que sabia às crianças. A ideia foi prontamente aceita pela diretoria da escola, que viu
nesse trabalho uma possibilidade de atuação da escola na comunidade do entorno, o
que facilitaria e propiciaria maior participação da escola na vida do bairro.
Dessa forma, os moradores foram incentivados a contar suas experiências
aos estudantes, trazendo novos conhecimentos sobre a história de vida da comu-
nidade e possibilitando a problematização sobre as questões de insatisfação que
poderiam ser alvo de reivindicação e melhorias por parte dos alunos e da comu-
nidade. Essa escola já possuía um histórico de atuação ambiental interessante,
pois, por meio de manifestações e abaixo-assinados, já havia conseguido que a
prefeitura resolvesse um problema antigo na tubulação de esgotos do bairro, que
estava poluindo o córrego que corta a região.
Nessa parceria, a escola ainda pôde entrar em contato com um outro grupo
de estudantes e professores da Faculdade de Arquitetura da cidade, possibilitando
a produção de outros projetos relacionados à construção das casas, praças e ruas
do bairro (ALMEIDA, 2005).
O resultado é uma atuação forte da comunidade e da escola em busca da
melhoria de sua qualidade de vida e na construção, cada vez mais democrática,
da participação de todos como ponto fundamental para a criação de uma comu-
nidade sustentável.
Em relação à saúde, os programas públicos mais abrangentes têm beneficiado
uma nova maneira de apresentar a questão para a população. É a promoção dos
agentes comunitários de saúde, que nasceu da necessidade de levar atenção a regiões
marginalizadas pelo atendimento ambulatorial ou hospitalar (SILVA, 2002). Segun-
do essa autora, a ideia é a de criar um elo entre a comunidade e o sistema de saúde,
no qual o papel do agente comunitário assume tanto uma dimensão técnica, relacio-
nada ao atendimento às famílias, como uma função política, no sentido de organiza-
ção da comunidade e de transformação das condições que causam as doenças.
Este é o caso de programas como o Saúde da Família, de 2001, e outros
programas que se assemelham a ele. A função é a de promover a saúde da comu-
nidade pela ação da própria comunidade, por meio da formação desses agentes
comunitários, em contato direto com a população. Essa é mais uma iniciativa que
vê na potencialidade da participação e da luta comunitária um princípio para a
construção e o aumento da cidadania.
Ser agente comunitário de saúde é, antes de tudo, ser alguém que se identifica, em todos
os sentidos, com a sua própria comunidade, principalmente na cultura, linguagem, costu-
mes; precisa gostar do trabalho. Precisamos lutar por outros fatores que são determinantes
para a saúde como: trabalho, salário justo, moradia, saneamento básico, terra para traba-
lhar, entre outros. (BRASIL, 1991, p. 6)
Nesse sentido, promover a saúde é muito mais do que cuidar da doença: é re-
alizar um trabalho educativo que incentive a participação na busca pela qualidade
de vida das populações humanas.
201
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Experiências de ações ambientais envolvendo participação popular e cidadania
Concluindo...
Mais uma vez, precisamos ressaltar que a participação é a grande responsá-
vel pelo estabelecimento de sociedades sustentáveis e harmônicas. Nos exemplos
citados anteriormente, a participação mostra sua importância, imprimindo ao ato
educativo, à promoção da saúde e à conservação do ambiente, uma efetividade
que jamais poderia ser conseguida sem a presença da comunidade.
Não precisamos esquecer, no entanto, que o incentivo à prática da cidadania
e da autonomia da população pela busca de mais qualidade de vida não exime o
Estado e as instituições públicas de seus deveres enquanto tais. Pelo contrário,
a busca é por um Estado cada vez mais democrático e atuante. O Estado possui
obrigações que são só suas e que não devem e não podem ser realizadas pela so-
ciedade civil organizada. Afinal, é papel do Estado promover a saúde, a educação,
a geração de empregos, a dissipação das desigualdades sociais, entre outros.
No entanto, uma população atuante e participativa pode ser um pilar de
sustentação da atuação do Poder Público. A comunidade consciente de seu papel
cidadão, de sua possibilidade de escolha, de seus direitos humanos e civis, realiza
um ato reivindicatório, de decisão, de atuação e de fiscalização muito mais demo-
crático, conhecedor e efetivo.
Esse é possivelmente o grande papel das organizações não governamen-
tais, da sociedade civil organizada, dos projetos de apoio à comunidade. Mais
do que empreender ações para resolver este ou aquele problema social, é sim
promover o conhecimento da importância da participação da comunidade frente
aos seus desejos e necessidades e a importância de enfrentar as situações adver-
sas com reivindicação e muita discussão democrática.
2. Discutam de que forma o grupo poderia se articular para solucionar um problema relacionado
ao tema na sua cidade (criar um projeto, discutindo metodologia, justificativa, objetivos etc.).
ALMEIDA, Isadora Puntel de. Recolorir o Presente pela Aquarela da Memória Ambiental: pes-
quisa-ação-participativa em um bairro de Bauru. Bauru, 2005. Dissertação. Mestrado em Ensino de
Ciências. Universidade Estadual Paulista.
202
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Experiências de ações ambientais envolvendo participação popular e cidadania
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de Agentes Comu-
nitários de Saúde. Manual do Agente Comunitário de Saúde. Brasília, 1991.
BRÜGGER, Paula. Educação ou Adestramento Ambiental? 2. ed. Florianópolis: Letras Contem-
porâneas, 1999.
INSTITUTO ECOAR PARA A CIDADANIA. Banco de Experiências. Disponível em: <www.eco-
ar.org.br/novo/educacao_projetos.asp>. Acesso em: 20 ago. 2005.
JANKE, Nadja. A Pesquisa-Ação-Participativa: compartilhando conhecimentos. Bauru, 2005. Dis-
sertação. Mestrado em Ensino de Ciências. Universidade Estadual Paulista.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Desenvolvimento Sustentável. Disponível em
<www.mre.gv.br>. Acesso em: 20 ago. 2005.
SARAGOUSSI, Muriel; LÉNA, Philippe. A atuação socioambiental de uma ONG ambientalista na
Amazônia: a Fundação Vitória Amazônica. Lusotopie, v. 1, p. 293-301, 2002.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21. Disponível em: <www.pr.gov.br/sema>. Acesso
em: 20 ago. 2005.
SILVA, Joana Azevedo; DALMASO, Ana SílviaWhitaker. O agente comunitário de saúde e suas atri-
buições: os desafios para os processos de formação de recursos em saúde. Interface, v. 6, n. 10, 2002.
203
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br