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Experiências de ações

ambientais nas políticas


públicas locais
Nadja Janke

E
m geral, um dos grandes problemas das políticas públicas é que elas sempre trataram separada-
mente da questão do desenvolvimento econômico, da desigualdade social, da conservação da
natureza, entre outras. Esse pode ser considerado um dos motivos do insucesso dessas políticas
com relação à degradação, já que nunca se pensou em crescimento com proteção ambiental.
A expressão políticas públicas tem sido amplamente usada no tratamento das questões relati-
vas ao desenvolvimento sustentável. Porém, não existe uma definição única para essa expressão na
literatura acadêmica, mas algumas alternativas possibilitam certo esclarecimento.
Para Vianna Jr. (1994), uma política pública é uma tentativa de alcançar determinada finalidade
por uma ação planejada de processos que vão desde a elaboração dessas finalidades até o planejamento
do método de ação, de análise, de controle dos resultados. Para esse autor, no entanto, as ações coorde-
nadas nem sempre são realizadas por um mesmo organismo governamental: muitas vezes, esses órgãos
nem mesmo são articulados. O que fica claro é que as políticas públicas são fruto de muito planejamen-
to e de estudos complexos para definir as diretrizes de atuação.
A origem da política é que a define como pública. Isso é ressaltado na definição de Demo
(2001), que diz que nem toda política social é uma política pública porque uma política social
pode ser o trabalho de organizações não governamentais, da sociedade civil, entre outras. Já
a política pública, para este autor, é toda política de autoria e de responsabilidade do Estado.
Porém, é preciso distinguir entre políticas e simples decisões, já que estas são tomadas todos
os dias e não possuem o caráter de planejamento elaborado das políticas públicas. Para Moraes
(1994), as políticas públicas podem ser de ordem econômica, de ordem social (educação, saúde
etc.) e de ordem territorial (urbanização, meio ambiente).
Muitas dessas políticas públicas setoriais, como as de energia, ciência e educação, estão rela-
cionadas à questão ambiental, muitas vezes causando impactos para o ambiente, como é o caso da
construção de usinas hidrelétricas, que inundam grandes áreas, ocasionando uma irreparável perda
de biodiversidade (BRASIL, 1991). Esses problemas geralmente são tratados com outras políticas
que tentam amenizar o problema.
A Agenda 21 trouxe um novo olhar para as políticas públicas. Propôs que as ações fossem
tratadas de forma sistêmica, ou seja, todas as questões devem ser analisadas ao serem implantadas
políticas públicas nos estados, tanto as questões sociais, políticas, como as ambientais, econômicas,
culturais, entre outras. O próprio planejamento da política já deve ser amparado por essa perspectiva,
assim facilitando o entendimento dos problemas e as formas de resolução. Segundo Veiga (1998), as
políticas agrárias de assentamento de agricultores sem-terra, por exemplo, devem ser acompanhadas

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de ações em outras áreas, como a educacional, buscando introduzir os indivíduos


nas questões da conservação da biodiversidade e da utilização racional da terra.

Políticas públicas
em unidades de conservação
Em geral, embora as políticas públicas sejam de base governamental, muitas
dependem da participação não só dos órgãos públicos mas também da população
local. É preciso que se construa um planejamento participativo para a elaboração
e a consolidação desses planos de conservação. No planejamento participativo,
as necessidades das populações são ressaltadas durante a elaboração dos planos
de ação de longo prazo. A população elege as questões prioritárias para alcançar
a sustentabilidade, o que envolve aspectos ambientais, mas também econômicos
e sociais. Desse processo, também participam instituições públicas e não gover-
namentais. É o caso da implementação de reservas extrativistas na Amazônia.
Anteriormente, as unidades de conservação ambiental não respeitaram as comu-
nidades que habitavam essas áreas e muitos habitantes perderam o direito sobre
suas terras e mesmo os que puderam ficar foram impedidos de extrair os recursos
da mata para sobreviver. Atualmente, o conceito de reserva extrativista tem sido
um contraponto a esse modelo de gestão. Um exemplo é a Reserva Extrativista
Chico Mendes, no Acre, criada 1990. As terras pertencem à União, que, em vez
de implantar projetos agroflorestais, de mineração, madeireiros ou agropecuários,
criou planos de manejo, em conjunto com representantes do governo, da socieda-
de civil e das comunidades favorecidas. Isso possibilitou que a população local
pudesse usufruir o ambiente, desde que obedecesse ao plano de manejo.
Outros exemplos, em âmbito federal, podem ser encontrados no site do
Ibama (www.ibama.gov.br), no qual estão expostas várias iniciativas no manejo e
proteção da biodiversidade em unidades de conservação. É o caso da reserva do
Parque Cabo Orange, localizado no extremo norte do Brasil, na costa do estado
do Amapá. Foi um dos primeiros parques criados na Amazônia. Segundo o site
do Ibama, uma equipe composta por técnicos do órgão, de universidades e de
institutos de pesquisa do Amapá e do Pará vai percorrer o parque para levantar
dados biológicos e arqueológicos e encaminhar a elaboração do plano de manejo
da área protegida. Esse plano de manejo vai determinar como deve ser a utilização
e o funcionamento do parque.
Essa iniciativa faz parte das ações do Arpa, o programa Áreas Protegidas
da Amazônia, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado pelo
Ibama e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Esse programa,
além de criar novos parques e reservas na Amazônia, está investindo na consoli-
dação de áreas protegidas já criadas. É claro que o Ibama tem muitos problemas
estruturais e de funcionamento, o que nem sempre possibilita uma boa atuação e a
implantação das políticas públicas em áreas muito afastadas. É o caso das reservas

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na Amazônia, por exemplo, que sofrem muito com o desmatamento, e que por
sua longa extensão e a distância nem sempre são bem monitoradas pelos agentes
do Ibama, que são poucos e ainda sofrem ameaças das madeireiras. O processo é
complicado e vai além da aplicação das políticas públicas, requerendo um efetivo
de fiscalização e monitoramento muito maior.
Como exemplo de implantação de política pública em ordem estadual, pode-
mos citar o caso de São Paulo. Em 1995, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado
de São Paulo criou o Programa para a Conservação da Biodiversidade (Secretaria
do Meio Ambiente, 1997). O objetivo era implantar ações de proteção e utilização
da biodiversidade do estado de acordo com a Convenção de Diversidade Biológica
(CDB). As unidades de conservação do estado, sob responsabilidade da Secretaria
do Meio Ambiente, são predominantemente da Mata Atlântica, ecossistema muito
ameaçado pela expansão das cidades. Além disso, a maior parte da reserva está
contida em propriedades privadas, o que aumenta a dificuldade de conservação.
Para lidar com esses problemas, a Secretaria criou uma série de programas – como
o Probio-SP, uma rede de geração de informações, produção de estudos e de dados,
reunião e sistematização de dados, projetos, eventos, assessoria técnica e científi-
ca, subsídios para políticas públicas – que visam ao diagnóstico participativo da
situação atual da biodiversidade e sua conservação, à proposição de alternativas
para a sua manutenção e utilização sustentável e justa (Secretaria do meio
ambiente, 1998).
Das políticas públicas locais, muitas ações são realizadas em parceria com a
comunidade local e universidades e com o apoio de empresas e ONGs da área am-
biental e socioambiental, criando uma rede muito maior de informações e ações
na implementação das políticas públicas.
É o caso do projeto de Construção da Agenda 21 do Município de Taiaçu-
peba, em Mogi das Cruzes, vizinha ao parque do Pico da Neblina, que trabalhou
em parceria com a Associação de Moradores, a ONG Instituto Ecofuturo e a sub-
prefeitura do distrito. O objetivo era criar um plano de desenvolvimento local sus-
tentável em parceria com toda a comunidade, com diagnósticos socioambientais,
eventos, oficinas e discussões sobre a sustentabilidade do ambiente da cidade e do
entorno (ECOAR, 2005).

Políticas públicas e desenvolvimento rural


O crescente quadro de exclusão social e o fortalecimento dos movimentos sociais
rurais são o pano de fundo para a implantação de políticas públicas no fortalecimento
do desenvolvimento rural, principalmente no que diz respeito à agricultura familiar.
Também a sociedade urbana – com o crescimento da miséria, da violência e da insegu-
rança nas grandes cidades – parece apoiar as políticas de valorização do meio rural.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretaria de Agri-
cultura Familiar, classifica os agricultores em três grupos:

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os capitalizados, integrados ao mercado;


os descapitalizados ou em transição, com algum nível de produção desti-
nada ao mercado;
os assalariados agrícolas e não agrícolas, com produção voltada quase
que exclusivamente para o autoconsumo.
Segundo cálculos da secretaria, a maioria dos produtores rurais não está
inserida no mercado e consegue apenas produzir para a sobrevivência (Ministério
do Desenvolvimento Agrário, 2005).
Para Abramovay (2000), o resultado dessa disparidade está justamente no
tipo de produção agrícola incentivada no país. Segundo esse autor, os países cuja
evolução da produção rural se deu em base familiar, e não patronal, prosperaram
na agricultura. Já os países que trabalharam a agricultura de forma patronal, dife-
renciando gestão de trabalho, causaram uma relação de imensa desigualdade.
O resultado é que grande parte das propriedades que produzem para o mer-
cado é do tipo patronal. No entanto, a maioria das pequenas propriedades, de es-
trutura familiar, sofre uma situação de pobreza e descaso, não conseguindo entrar
no mercado com a pouca produção que apresentam. Por essa razão, grande parte
das políticas públicas agrárias é localizada nesse tipo de propriedade rural, numa
tentativa de diminuir as disparidades.
Para Castilhos (2002), o desenvolvimento dos territórios rurais depende da
dinamização da agricultura familiar, da diversificação das economias, da capa-
cidade de criação de ocupações geradoras de novas fontes de renda agrícola ou
não agrícola. Porém, para o autor, o Estado deve atuar com mais força quando se
trata de promover o desenvolvimento, organizando ações para induzir a constru-
ção de relações sociais mais efetivas entre os agricultores familiares, entre estes
e outros espaços sociais fora dos seus municípios e entre estes agricultores fami-
liares e o Poder Público municipal, definindo estratégias com essa intenção.
No caso das políticas públicas rurais, um bom exemplo é o Programa Na-
cional da Agricultura Familiar (Pronaf), que surgiu em 1996, a partir da luta dos
trabalhadores rurais por uma política pública específica e diferenciada para a agri-
cultura familiar.
O Pronaf atua com linhas de crédito, na melhoria da infraestrutura e dos servi-
ços aos municípios, assistência técnica e extensão rural, capacitação e pesquisa. Em
2002, a linha de capacitação lançou um programa com 11 temas prioritários (coopera-
tivas de crédito, experiências inovadoras de assistência técnica, uso de tecnologias al-
ternativas, mulheres rurais, escolas com regime de alternância, agroecologia, agências
regionais de comercialização, agroindústria familiar rural, associativismo e coopera-
tivismo, atividades não agrícolas no meio rural, certificação de produtos de origem
familiar) em que organizações governamentais e não governamentais apresentaram
projetos (Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005).
Ao analisar a infraestrutura do Pronaf, Castilhos (2001) conclui que, para
serem efetivas, as políticas públicas descentralizadas e voltadas para grupos so-

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ciais mais empobrecidos necessitam da presença constante de funcionários públi-


cos dos governos centrais, que orientem na formação da autonomia desses grupos
sem que eles sofram qualquer tipo de dominação pelos interesses dos governos
locais.
Uma boa alternativa para os produtores rurais, e com grande incentivo pe-
las políticas públicas, é a criação de cooperativas de produção, que aumentam o
poder dos associados nas negociações e no acesso ao crédito. As cooperativas
facilitam a atuação dos agricultores porque, sendo por eles geridas, podem lidar
melhor com as dificuldades da comunidade rural, facilitando o conhecimento das
necessidades desse público e da concessão de créditos rurais por parte das ins-
tituições financeiras. A inserção de políticas públicas na agricultura deve estar
amparada pelo conhecimento das diferenças regionais do país, buscando apoiar as
regiões que possuem menos incentivos e, portanto, são mais pobres.
Outra possibilidade de política pública rural são os assentamentos promovi-
dos pela reforma agrária. Segundo Gehlen (2004, p. 103),” a reforma agrária, por
essência, é política pública com forte impacto social, sem diminuir os argumentos
econômicos de aumentar a produção e de inclusão de parcela da população no
circuito do mercado de produtores e de consumidores”.
Porém, para o autor, uma correta reforma agrária deve instruir o produtor,
dando a ele condições de usufruir de novas tecnologias, incentivos financeiros, um
sistema gestor eficiente. Assim, a política pública de reforma agrária não precisa
necessariamente ser complementada por políticas sociais. Ela, por si só, consegue
organizar a realidade rural de forma a alcançar a sustentabilidade.
Nas localidades paulistas de Ibiúna, Piedade e Pilar do Sul, através do Pronaf, o
governo está financiando cerca de 300 projetos técnicos para a agricultura familiar, com
o apoio da Associação Ecoar Florestal. O projeto procura incorporar um sistema flo-
restal às unidades produtivas de agricultura familiar da região (ECOAR, 2005). Nesse
caso, a política pública conta com o apoio da sociedade civil para ser implementada.

Políticas públicas em educação


As políticas públicas em educação têm uma grande abrangência. Toda po-
lítica de reformulação das bases da educação infantil, fundamental, entre outras,
é uma política pública. Quando se referem à questão da sustentabilidade, os pro-
gramas procuram inserir a Educação Ambiental nas escolas de forma a incentivar
um olhar transdisciplinar das questões ambientais.
Nessa área, as políticas públicas têm um papel fundamental porque a edu-
cação precisa ser democratizada. Segundo Martins (2001, p. 28-48), a grande di-
ficuldade está em estabelecer políticas que não privilegiem os interesses privados,
como em geral tem acontecido. Para essa autora, a necessidade é de uma descen-
tralização das políticas públicas, abarcando as necessidades locais das escolas, de
modo a diversificar essas políticas. Isso é um problema, porque muitas vezes tais
políticas estão vinculadas a capital externo para serem efetivadas.

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Em geral, o que se documenta é que o Estado se compromete pouco com


a criação de políticas públicas inovadoras, cabendo à sociedade civil organizada
efetivar ações que incrementem as políticas locais. Além disso, os professores
sentem grande necessidade de implementar ações em Educação Ambiental, mas
não se sentem capazes ou preparados para fazê-lo.
Por esse motivo, a maioria das atividades de Educação Ambiental que têm
ocorrido nas escolas reflete muito superficialmente a questão e está pouco com-
prometida com a formação complexa do cidadão. Na maioria das vezes, são feitas
semanas de reciclagem nas quais os alunos enviam latas e garrafas de refrigeran-
tes para serem recolhidas e recicladas, sem muita problematização sobre a questão
do consumo ou mesmo da reutilização.
As políticas públicas precisam se basear, portanto, na capacitação dos pro-
fessores para trabalharem com temas ambientais complexos. Não basta que os
professores fiquem atentos apenas às questões ecológicas. Também não basta que
somente o professor de biologia inicie um trabalho de Educação Ambiental. A
escola, como um todo, precisa estar inserida no contexto e trabalhando de forma
transdisciplinar para alcançar uma compreensão sistêmica do assunto.
Por esse motivo, muitas vezes as escolhas trabalham com o auxílio de ONGs ou
pesquisadores de universidades na elaboração de programas de Educação Ambiental.
O problema é que, quando o projeto acaba, as escolas que não conseguiram implantar
um programa efetivo e duradouro acabam perdendo a oportunidade de continuar tra-
balhando com os temas ambientais de forma complexa e transdisciplinar.
Na estrutura do Ministério da Educação (MEC), a Coordenação Geral de Edu-
cação Ambiental (CGEA) está estruturada na Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (Secad), por meio do Programa Nacional de Educação
para a Diversidade, a Sustentabilidade e a Cidadania. Segundo o site do MEC, esse
programa possui as determinações abaixo (Ministério da Educação, 2005).

Eixos Subeixos Objetivos


I – Fortalecimento da – Comissão de Meio Ambiente e – Fortalecer o Programa Nacional
Política Nacional de Qualidade de Vida nas Escolas de Educação Ambiental
Educação Ambiental – – Rede de Juventude para a – Promover a mobilização para a
Lei 9.795/99 Sustentabilidade 2.a Conferência Infantojuvenil pelo
– Representação em Conselhos Meio Ambiente
Órgão Gestor
II – Formação Continuada – Formação de Formadores I – Implantar na educação formal
na Educação Básica – Formação de Formadores II a dimensão ética, política,
– Formação de 32 mil professores e 32 científica, pedagógica e estética
mil alunos da Educação Ambiental
– Produção de material impresso e na – Incentivar a formação
internet continuada de novas lideranças
III – Projetos e – Implementação da Agenda 21 – Incentivar projetos de ação
Experiências de EA Escolar transformadora regional
– Fomentar projetos de ONGs com
grupos de escolas

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Eixos Subeixos Objetivos


IV – Comunicação/eventos Comunicação Interna – MEC – Divulgar as ações da Coea
Divulgação para escolas – Apoiar eventos nacionais e
Produção de eventos internacionais de EA
V – EA no Ensino Superior Incentivo a programas de – Ampliar os programas e
pós-graduação em Educação projetos de EA no Ensino
Ambiental– Capes Seminário Superior – Graduação e Pós-
Universidade e Meio Ambiente -graduação

Os três primeiros eixos correspondem ao programa Vamos Cuidar do Brasil


com as Escolas, cujo objetivo foi discutir as questões ambientais com as crianças
e os jovens das escolas, os professores e a comunidade. Também participaram es-
colas indígenas, comunidades quilombolas e da área rural. A fase seguinte foi um
processo de formação dos profissionais da rede escolar com base nas determina-
ções discutidas dentro dessa primeira conferência com os alunos. Essa fase incluiu
a formação continuada de professores nas questões ambientais com o objetivo de
criar uma Agenda 21 Escolar.
Outro projeto vinculado a essa Conferência Nacional Infantojuvenil pelo
Meio Ambiente é o Educação de Chico Mendes, que prevê apoio financeiro às
escolas que implantarem projetos na área ambiental. A meta é incentivar projetos
que apoiem a sustentabilidade na escola e na comunidade do entorno, de forma
participativa e democrática.
Como vimos nesta aula, as políticas públicas representam toda a ação po-
lítica sob o ponto de vista governamental. Por essas características, nem sempre
essas políticas tratam de questões sociais, estando muitas vezes associadas ao
âmbito econômico e à questão do desenvolvimento, entre outras.
Esse é o principal problema relacionado às políticas públicas: a falta de articu-
lação entre os diversos temas sociais, econômicos, políticos, culturais, entre outros,
gerando uma atuação extremamente pontual sobre a realidade, e muitas vezes de re-
sultados pouco satisfatórios. Ou seja, essa falta de articulação pode ser responsável
por uma total ineficiência dessas políticas, mesmo que muitas vezes elas tenham sido
criadas com o único intuito de se transformarem em máquina de propaganda da ação
governamental.
O fato é que, dessa maneira, tais políticas representam a desvinculação do
Poder Público em relação ao compromisso urgente de criar melhorias para as
populações humanas. Melhorias estas que estejam balizadas pela necessária qua-
lidade de vida, atingindo assim questões econômicas, sociais, ambientais, entre
outras. Essas políticas, por definição, deveriam tratar essas questões por meio da
articulação radical com a realidade socioambiental.
É por isso que as propostas de sustentabilidade surgem nas políticas públi-
cas como uma maneira de retomar a visão sistêmica, do todo, inclusive na atua-
ção pública. Dessa maneira, é preciso então que haja um convite cada vez maior
a toda a sociedade para participar da elaboração dessas políticas. Só por meio
da participação social pode-se compreender as necessidades relacionadas a essa
realidade sistêmica, sob o ponto de vista de quem vivencia tais realidades, assim
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contribuindo em políticas e ações efetivas na melhoria da qualidade de vida da po-


pulação. O convite é, portanto para um engajamento cada vez maior da sociedade
na construção mais harmoniosa de seu próprio projeto de vida. Isso não significa
dizer que o Estado deve estar ausente da questão, nem mesmo que devam ser lan-
çadas unicamente nas mãos da população as responsabilidades pela melhoria am-
biental desejada. A responsabilidade do Estado é preponderante e é dele a grande
responsabilidade pela manutenção do modo de vida social. Mas a incorporação de
toda a sociedade no planejamento de sua própria vida social cria possibilidades de
inserção, tanto na atuação como na reivindicação por melhorias.
Nesse sentido, é preciso deixar claro que, sob o ponto de vista da qualidade de
vida, todas as questões ambientais conflitantes podem ser expostas e problematiza-
das. Só assim podemos perceber que o ambiente é importante, tanto o natural como
o construído, urbano; tanto o ecológico como o cultural – entre outros.
Dessa forma, as políticas públicas podem apoiar ações que sejam efetivas
tanto para as populações humanas como também, e de forma refletida, para a con-
servação da biodiversidade, dos ambientes naturais, atendendo à necessidade de
garantirmos vida a todos os seres do planeta.

1. Quais as dificuldades atuais para a implantação de políticas públicas ambientais?

2. Qual a importância da participação da comunidade no processo das políticas públicas?

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