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‘Temos uma forma de governo que em nada se sente inferior às leis dos nossos
vizinhos mas que, pelo contrário, é digna de ser imitada por eles. E chama-se democracia,
não só porque é gerida segundo os interesses não de poucos, mas da maioria, e também
porque, segundo as leis, no que respeita a disputas individuais, todos os cidadãos são iguais;
no que respeita a prestígio pessoal, quando alguém se distingue em alguma coisa, não é
preferido para honras públicas mais por posição de classe do que por mérito; por outro lado,
no que respeita a falta de riqueza pessoal, o cidadão que tem aptidão para servir a cidade
nunca, por causa da sua condição humilde, é impedido de alcançar a dignidade merecida’.
TUCÍDIDES, História da guerra do Peloponeso 2.37.1 (trad. R. M. ROSADO FERNANDES-M. G. P. GRANWEHR)
a) Bibliografia:
i) K. A. Raaflaub (2014), ‘Why Greek democracy? Its emergence and nature in context’, A
Companion to Greek democracy and the Roman Republic, Malden, MA, Oxford, Chichester,
23-43.
ii) J. Ober (2015), ‘Citizens and specialization before 500 BCE’, The rise and fall of Classical
Greece, Princeton, Oxford, 123-155.
iii) J. Ober (2015), ‘From tyranny to democracy, 550-465 BCE’, The rise and fall of Classical
Greece, Princeton, Oxford, 157-175.
iv) J. Ober (2015), ‘Golden age of Empire’ The rise and fall of Classical Greece, Princeton, Oxford,
191-222.
v) R. W. Wallace (2014), ‘The practice of politics in Classical Athens, and the paradox
of democratic leadership’, A Companion to Greek democracy and the Roman
Republic, Malden, MA, Oxford, Chichester, 241-256.
II.
A norma no mundo antigo era a de que grandes estados territoriais eram criados
por reis, não por repúblicas/cidades-estado; Roma é a enorme exceção. Isto está claro na
inscrição no túmulo do xá persa Dario I (520-483 a.C.), em Naqsh-i-Rustam, no sul do Irão:
“Eu sou Dario, o Grande Rei, rei dos reis, rei dos países de todos os tipos de homens, um rei
acima de muitos, um senhor acima de muitos, rei de toda a terra. . . Quando Ahura-Mazda, o
grande deus, viu que a terra estava em convulsão, depois disso Ele concedeu-a a mim e fez-
me rei [...]”. Os regimes monárquicos, portanto, eram famosos na antiguidade por imporem
ordem — ordem severa — à anarquia dominante.
No entanto, os estados territoriais pré-modernos criados por reis, a ordem criada
pela violência monárquica a partir da desordem prevalecente, eram eles próprios
inerentemente frágeis. O seu poder e legitimidade repousavam principalmente nas
capacidades pessoais dos governantes individuais de cada dinastia, como vemos no período
helenístico — e essas capacidades pessoais variavam. Aqui, também, Roma foi excepcional;
o grande estado territorial criado pelos romanos não foi primariamente obra de
personalidades titânicas isoladas, nem (por outro lado) era tão frágil como os grandes
impérios dinásticos. Resistiu a pressões e calamidades que teriam destruído um estado
dinástico: dezenas de derrotas no campo de batalha, incluindo catástrofes como Forcas
Caudinas e Laútulas contra os Samnitas (321 e 313), do rio Ália, de Camerino e de Arezzo às
mãos dos Celtas (390, 299 e 284), Heracleia e Ásculo contra os Gregos (280 e 279), Drepane
e o lago Trasimeno e Canas às mãos dos Cartagineses (249, 217 e 216) [conjunto de batalhas
que os Romanos perderam em Itália e no Mediterrâneo].
[Depois de Alexandre], a Grécia no período helenístico ainda viu a ascensão do poder
da Liga Aqueia e da Liga Etólia - como Roma, sistemas de alianças expansionistas [...]
baseados em cidades-estados; elas evoluíram em parte como esforços de cooperação entre
as poleis para equilibrar o poder [dominante do reino] da Macedónia. Nesse sentido, os
romanos não estavam totalmente sozinhos. Mas as Ligas Etólia e Aqueia não eram
dominadas por uma única cidade-estado; foram poucos os casos de cidadania
compartilhada entre as cidades-membro; eram politicamente bastante frágeis, tendendo
notavelmente à fragmentação por causa de conflitos de interesse entre cidades autónomas;
e nenhum deles pode se comparar em tamanho ou longevidade ao sistema estabelecido por
Roma. Roma, então, era de longe a maior, mais bem-sucedida e menos frágil dessas
entidades políticas, o único sistema de alianças na antiguidade fundado no domínio de uma
única cidade-estado que também teve sucesso a longo prazo.
A. M. ECKSTEIN (2006), Mediterranean anarchy, interstate war, and the rise of Rome, Berkeley-Los Angeles-London, 245-
246.
O currículo de Roma na construção do império foi único de várias maneiras.
Nenhum outro estado voltaria a governar quatro em cada cinco habitantes da Europa.
Nenhum outro estado voltaria a controlar toda a bacia do Mediterrâneo, bem como toda
a população das suas regiões costeiras. Nenhum outro império na história mundial que
tivesse surgido a considerável distância da grande estepe euroasiática era tão grande ou
duradouro quanto o imperium Romanum.
Essa singularidade estava enraizada nas circunstâncias igualmente únicas da
ascensão de Roma ao poder. A mobilização militar em massa e o republicanismo político,
praticados à escala na qual o estado romano e seus principais aliados actuavam, não
voltaram à Europa até a era moderna, num momento em que o polipolitismo competitivo
já se havia solidificado num sistema de estados imutavelmente estável. Em grande parte,
graças a séculos de campanhas romanas, as periferias sem estado recuaram para as
margens norte e leste da Europa. Como resultado, nenhum estado posterior na zona
temperada da Europa voltaria a desfrutar do privilégio de poder aumentar seus recursos e
capacidades militares sem se preocupar com interferência externa.
Nunca mais as condições geopolíticas foram tão favoráveis para a criação de
hegemonia naval, do "nosso mar" romano: até 241 a.C., duas potências amigáveis, Roma
e o império Ptolemaico, partilhavam o controle efectivo da maior parte do Mar
Mediterrâneo; este último império declinou rapidamente e logo se tornou demasiado
dependente do primeiro para que surgissem rivalidades sérias entre eles. Essa sequência
improvável de eventos permaneceu sem paralelo. Somente quando os vândalos e depois
os árabes encerraram o monopólio naval de Roma, o Mediterrâneo se tornou e
permaneceu uma arena para estados e piratas concorrentes. Somente nos tempos do
Almirante Nelson uma única potência rivalizou com a posição de supremacia marítima
de Roma. E nunca mais os excedentes do Levante, bem tributado, seriam utilizados para
a construção do estado na Europa.
Em resumo, as muitas vantagens de Roma, mesmo na medida em que teria sido
possível replicá-las, eram tão incomuns que era improvável que acontecessem novamente
mais tarde - e, na verdade, nunca aconteceram. Isso, por sua vez, nos ajuda a entender por
que nada como o império romano jamais regressou.
W. Scheidl (2019), Escape from Rome: The Failure of Empire and the Road to
Prosperity, Princeton, 122-123.
Estes textos comentam um mesmo problema. Qual a sua resposta a esse problema?
a) Bibliografia:
i. P. Cagniart (2007), ‘The late Republican army (146-30 BC)’, A companion to the
Roman army, Malden, MA, Oxford, Victoria, 80-95.
ii. D. J. Gargola (2006), ‘Mediterranean Empire (264-134)’, A companion to the Roman
Republic, Malden, Oxford, Victoria, 147-166.
iii. D. Potter (2004), The Roman Empire at Bay. AD 180-395 (1997), 100-112.
iv. K. A. Raaflaub (2006), ‘Between Myth and History: Rome’s Rise from Village to Empire (the
Eighth Century to 264)’, A companion to the Roman Republic, Malden, Oxford, Victoria, 125-
146.
v. W. Scheidl (2019), Escape from Rome: The Failure of Empire and the Road to
Prosperity, Princeton, 51-109.
A) MÉTODO
1. Ler a bibliografia toda;
esta leitura deve ser o mais close reading possível, palavra a palavra, frase a frase,
para poderem tirar toda a informação que vos for possível para responder à pergunta.
2. Tirar apontamento de tudo o que for relevante para responder à pergunta, num
caderno, numa ficha ou num documento de computador. Atenção: não se percam em coisas
laterais. Foquem-se apenas no que for relevante para responder à vossa pergunta.
3. Organizar o material. É fundamental que “etiquetem” e “classifiquem” o material
que vão recolhendo, quer na bibliografia quer nas fontes (como os arqueólogos fazem por
exemplo com a cerâmica, ou os biólogos com as experiências).
Dividam as informações das fontes em temas/sub-temas; e/ou cronologia; e/ou
espaços; e/ou personagens; e/ou acontecimentos; e/ou outros temas que sejam
relevantes para responder às perguntas.
4. Primeira revisão. No fim deste processo:
4.1 Tenho de repensar a pergunta? Voltar ao ponto 1.1
4.2 Tenho de redefinir a pergunta? Preciso de limitar a pergunta? Posso
fazê-lo. Limitar em termos temáticos (um tema mais curto; menos informação); em
termos cronológicos; em termos espaciais.
5. JÁ TENHO UMA RESPOSTA?
A. SIM: continua para o ponto 3.
B. NÃO: voltar ao ponto 1.
1 Qual é a pergunta e qual é a minha resposta? A vossa resposta tem de ser clara.
A minha pergunta é X – e a minha resposta a essa pergunta é Y.
2 Fazer uma lista dos vossos argumentos (“a minha resposta é X, porque...”).
É fundamental fazer uma lista objectiva.
A.
B.
C.
D.
E.g. “Por que razão Constantino mudou a capital para Constantinopla?
A. A secundarização de Roma como cabeça do Império;
B. A incapacidade de se afirmar em Roma uma ideologia de natureza
monárquica;
C. Vontade de afirmar uma nova realidade política e ideológica;
D. Motivos estratégicos;
b) Preencher os vossos argumentos com dados concretos. Nunca usar coisas vagas,
impressivas ou generalistas. Só dados concretos.
e.g. Carlos Magno favoreceu a recuperação da cultura escrita, mandando copiar livros.
Dados concretos: manuscritos copiados em Lorsch, Saint-Gall, Reichenau, que
remontam ao período carolíngio provam isto.
c) Se não têm dados concretos para os vossos argumentos?
- o argumento não é bom;
- desistem do argumento;
- apresentam-no apenas como hipótese “possível” mas “não provada”.
C) ESCREVER
1. O parágrafo inicial.
1.1 dizer qual é o vosso problema/pergunta: “Neste trabalho/artigo/livro procurarei
responder à pergunta X; “mostrarei como...”; “apresentarei as razões para...”.
(se limitaram ao pergunta – ver acima – façam vocês a vossa nova pergunta; não há
problema).
SEJAM CONCRETOS. TODOS COMEÇAM ASSIM O TRABALHO.
1.2 explicar brevemente como vão responder (ver 1.2): “Para responder a este
problema, usei os seguintes textos. SEJAM CONCRETOS.
1.3 Qual é a vossa resposta: enunciar no final do primeiro parágrafo qual é a vossa
resposta. “O meu objectivo é mostrar que Constantino mudou a capital para
Constantinopla por um conjunto de quatro razões: A, B, C, D”.
2. O vosso argumento.
Sigam rigorosamente o esquema que estabeleceram no Ponto 3.
“o meu primeiro argumento é X....” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
“o meu segundo argumento é Y...” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
“o meu terceiro argumento é Z...” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
Esta é a parte mais importante do vosso trabalho.
3. Conclusão
Retomam o parágrafo inicial, designadamente repetem: “Ao longo deste artigo, procurei
responder ao problema X”, etc; defendo que: “XXXX”.
O tom deve ser firme: devem ter um tom confiante de que vocês providenciaram de
facto a resposta certa ou adicionaram mesmo um dado novo ao conhecimento.
4. Bibliografia.
Fazer, no final, a lista de todas as fontes e de toda a bibliografia referida em nota de
rodapé. O que não é referido em nota, não vai para a bibliografia. Tudo o que é referido em
nota, vai para a bibliografia (ver em anexo normas).
D) REVER
1. Reler várias vezes;
2. Dar a alguém para ter feedback;
3. Coisas específicas a ter em conta:
3.1 Notas de rodapé. As vossas afirmações têm de ser suportadas por notas de rodapé.
Todas as vezes que usarem um texto da bibliografia;
Todos os dados concretos utilizados em 3.3/4.3.
As notas de rodapé devem ser curtas. Keep it simple.
Lista da Bibliografia
Livros
a) MOSSÉ, Cl. (1985), A Grécia Arcaica de Homero a Ésquilo, Lisboa.
APELIDO, nome abreviado (data), título, local de edição.
Revistas
a) ALBERTO, P. F. (1999), ‘Notes on Eugenius of Toledo’, Classical Quaterly 49.1, 304-
314.
APELIDO, nome abreviado (data), ‘título do artigo’, título da revista número da revista,
páginas do artigo.
Capítulo de livros
Monografias
a) MOSSÉ, 1985: 51. (e.g. veja-se o que defende MOSSÉ, 1985: 51).
Publicações Periódicas
a) ALBERTO, 1999: 304-305 (e.g. sobre este assunto, veja-se ALBERTO, 1999: 304-305).