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ENSAIOS

HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

1. Escolha apenas UM tema.


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‘Temos uma forma de governo que em nada se sente inferior às leis dos nossos
vizinhos mas que, pelo contrário, é digna de ser imitada por eles. E chama-se democracia,
não só porque é gerida segundo os interesses não de poucos, mas da maioria, e também
porque, segundo as leis, no que respeita a disputas individuais, todos os cidadãos são iguais;
no que respeita a prestígio pessoal, quando alguém se distingue em alguma coisa, não é
preferido para honras públicas mais por posição de classe do que por mérito; por outro lado,
no que respeita a falta de riqueza pessoal, o cidadão que tem aptidão para servir a cidade
nunca, por causa da sua condição humilde, é impedido de alcançar a dignidade merecida’.
TUCÍDIDES, História da guerra do Peloponeso 2.37.1 (trad. R. M. ROSADO FERNANDES-M. G. P. GRANWEHR)

‘Até à morte de Péricles as classes superiores haviam estado sempre à frente da


vontade popular. Assim acontecera de facto desde o início: Sólon havia sido o primeiro chefe
do povo, Pisístrato o segundo – e ambos pertenciam ao grupo dos aristocratas e dos
notáveis; com o derrube da tirania, foi a vez de Clístenes, da família dos Alcmeónidas [...];
Em seguida, Xantipo [aparentado com os Alcmeónidas] foi o dirigente popular e Milcíades
[Filaída] o chefe dos aristocratas; [...] a seguir a estes, Efialtes esteve à frente do povo e
Címon, filho de Milcíades, chefiou a classe dos ricos; finalmente, coube a Péricles a liderança
popular e a Tucídides [não confundir com o historiador], parente de Címon, a da outra
facção’.
ARISTÓTELES, Constituição dos Atenienses 28.1-2 (trad. D. F. LEÃO)

Estes textos parecem contradizer-se. Como resolve esta contradição? Desenvolva a


sua argumentação.

a) Bibliografia:
i) K. A. Raaflaub (2014), ‘Why Greek democracy? Its emergence and nature in context’, A
Companion to Greek democracy and the Roman Republic, Malden, MA, Oxford, Chichester,
23-43.
ii) J. Ober (2015), ‘Citizens and specialization before 500 BCE’, The rise and fall of Classical
Greece, Princeton, Oxford, 123-155.
iii) J. Ober (2015), ‘From tyranny to democracy, 550-465 BCE’, The rise and fall of Classical
Greece, Princeton, Oxford, 157-175.
iv) J. Ober (2015), ‘Golden age of Empire’ The rise and fall of Classical Greece, Princeton, Oxford,
191-222.
v) R. W. Wallace (2014), ‘The practice of politics in Classical Athens, and the paradox
of democratic leadership’, A Companion to Greek democracy and the Roman
Republic, Malden, MA, Oxford, Chichester, 241-256.

II.

A norma no mundo antigo era a de que grandes estados territoriais eram criados
por reis, não por repúblicas/cidades-estado; Roma é a enorme exceção. Isto está claro na
inscrição no túmulo do xá persa Dario I (520-483 a.C.), em Naqsh-i-Rustam, no sul do Irão:
“Eu sou Dario, o Grande Rei, rei dos reis, rei dos países de todos os tipos de homens, um rei
acima de muitos, um senhor acima de muitos, rei de toda a terra. . . Quando Ahura-Mazda, o
grande deus, viu que a terra estava em convulsão, depois disso Ele concedeu-a a mim e fez-
me rei [...]”. Os regimes monárquicos, portanto, eram famosos na antiguidade por imporem
ordem — ordem severa — à anarquia dominante.
No entanto, os estados territoriais pré-modernos criados por reis, a ordem criada
pela violência monárquica a partir da desordem prevalecente, eram eles próprios
inerentemente frágeis. O seu poder e legitimidade repousavam principalmente nas
capacidades pessoais dos governantes individuais de cada dinastia, como vemos no período
helenístico — e essas capacidades pessoais variavam. Aqui, também, Roma foi excepcional;
o grande estado territorial criado pelos romanos não foi primariamente obra de
personalidades titânicas isoladas, nem (por outro lado) era tão frágil como os grandes
impérios dinásticos. Resistiu a pressões e calamidades que teriam destruído um estado
dinástico: dezenas de derrotas no campo de batalha, incluindo catástrofes como Forcas
Caudinas e Laútulas contra os Samnitas (321 e 313), do rio Ália, de Camerino e de Arezzo às
mãos dos Celtas (390, 299 e 284), Heracleia e Ásculo contra os Gregos (280 e 279), Drepane
e o lago Trasimeno e Canas às mãos dos Cartagineses (249, 217 e 216) [conjunto de batalhas
que os Romanos perderam em Itália e no Mediterrâneo].
[Depois de Alexandre], a Grécia no período helenístico ainda viu a ascensão do poder
da Liga Aqueia e da Liga Etólia - como Roma, sistemas de alianças expansionistas [...]
baseados em cidades-estados; elas evoluíram em parte como esforços de cooperação entre
as poleis para equilibrar o poder [dominante do reino] da Macedónia. Nesse sentido, os
romanos não estavam totalmente sozinhos. Mas as Ligas Etólia e Aqueia não eram
dominadas por uma única cidade-estado; foram poucos os casos de cidadania
compartilhada entre as cidades-membro; eram politicamente bastante frágeis, tendendo
notavelmente à fragmentação por causa de conflitos de interesse entre cidades autónomas;
e nenhum deles pode se comparar em tamanho ou longevidade ao sistema estabelecido por
Roma. Roma, então, era de longe a maior, mais bem-sucedida e menos frágil dessas
entidades políticas, o único sistema de alianças na antiguidade fundado no domínio de uma
única cidade-estado que também teve sucesso a longo prazo.
A. M. ECKSTEIN (2006), Mediterranean anarchy, interstate war, and the rise of Rome, Berkeley-Los Angeles-London, 245-
246.
O currículo de Roma na construção do império foi único de várias maneiras.
Nenhum outro estado voltaria a governar quatro em cada cinco habitantes da Europa.
Nenhum outro estado voltaria a controlar toda a bacia do Mediterrâneo, bem como toda
a população das suas regiões costeiras. Nenhum outro império na história mundial que
tivesse surgido a considerável distância da grande estepe euroasiática era tão grande ou
duradouro quanto o imperium Romanum.
Essa singularidade estava enraizada nas circunstâncias igualmente únicas da
ascensão de Roma ao poder. A mobilização militar em massa e o republicanismo político,
praticados à escala na qual o estado romano e seus principais aliados actuavam, não
voltaram à Europa até a era moderna, num momento em que o polipolitismo competitivo
já se havia solidificado num sistema de estados imutavelmente estável. Em grande parte,
graças a séculos de campanhas romanas, as periferias sem estado recuaram para as
margens norte e leste da Europa. Como resultado, nenhum estado posterior na zona
temperada da Europa voltaria a desfrutar do privilégio de poder aumentar seus recursos e
capacidades militares sem se preocupar com interferência externa.
Nunca mais as condições geopolíticas foram tão favoráveis para a criação de
hegemonia naval, do "nosso mar" romano: até 241 a.C., duas potências amigáveis, Roma
e o império Ptolemaico, partilhavam o controle efectivo da maior parte do Mar
Mediterrâneo; este último império declinou rapidamente e logo se tornou demasiado
dependente do primeiro para que surgissem rivalidades sérias entre eles. Essa sequência
improvável de eventos permaneceu sem paralelo. Somente quando os vândalos e depois
os árabes encerraram o monopólio naval de Roma, o Mediterrâneo se tornou e
permaneceu uma arena para estados e piratas concorrentes. Somente nos tempos do
Almirante Nelson uma única potência rivalizou com a posição de supremacia marítima
de Roma. E nunca mais os excedentes do Levante, bem tributado, seriam utilizados para
a construção do estado na Europa.
Em resumo, as muitas vantagens de Roma, mesmo na medida em que teria sido
possível replicá-las, eram tão incomuns que era improvável que acontecessem novamente
mais tarde - e, na verdade, nunca aconteceram. Isso, por sua vez, nos ajuda a entender por
que nada como o império romano jamais regressou.
W. Scheidl (2019), Escape from Rome: The Failure of Empire and the Road to
Prosperity, Princeton, 122-123.

Estes textos comentam um mesmo problema. Qual a sua resposta a esse problema?

a) Bibliografia:
i. P. Cagniart (2007), ‘The late Republican army (146-30 BC)’, A companion to the
Roman army, Malden, MA, Oxford, Victoria, 80-95.
ii. D. J. Gargola (2006), ‘Mediterranean Empire (264-134)’, A companion to the Roman
Republic, Malden, Oxford, Victoria, 147-166.
iii. D. Potter (2004), The Roman Empire at Bay. AD 180-395 (1997), 100-112.
iv. K. A. Raaflaub (2006), ‘Between Myth and History: Rome’s Rise from Village to Empire (the
Eighth Century to 264)’, A companion to the Roman Republic, Malden, Oxford, Victoria, 125-
146.
v. W. Scheidl (2019), Escape from Rome: The Failure of Empire and the Road to
Prosperity, Princeton, 51-109.

A) MÉTODO
1. Ler a bibliografia toda;
esta leitura deve ser o mais close reading possível, palavra a palavra, frase a frase,
para poderem tirar toda a informação que vos for possível para responder à pergunta.
2. Tirar apontamento de tudo o que for relevante para responder à pergunta, num
caderno, numa ficha ou num documento de computador. Atenção: não se percam em coisas
laterais. Foquem-se apenas no que for relevante para responder à vossa pergunta.
3. Organizar o material. É fundamental que “etiquetem” e “classifiquem” o material
que vão recolhendo, quer na bibliografia quer nas fontes (como os arqueólogos fazem por
exemplo com a cerâmica, ou os biólogos com as experiências).
Dividam as informações das fontes em temas/sub-temas; e/ou cronologia; e/ou
espaços; e/ou personagens; e/ou acontecimentos; e/ou outros temas que sejam
relevantes para responder às perguntas.
4. Primeira revisão. No fim deste processo:
4.1 Tenho de repensar a pergunta? Voltar ao ponto 1.1
4.2 Tenho de redefinir a pergunta? Preciso de limitar a pergunta? Posso
fazê-lo. Limitar em termos temáticos (um tema mais curto; menos informação); em
termos cronológicos; em termos espaciais.
5. JÁ TENHO UMA RESPOSTA?
A. SIM: continua para o ponto 3.
B. NÃO: voltar ao ponto 1.

B) ORGANIZAR OS MEUS ARGUMENTOS

1 Qual é a pergunta e qual é a minha resposta? A vossa resposta tem de ser clara.
A minha pergunta é X – e a minha resposta a essa pergunta é Y.

2 Fazer uma lista dos vossos argumentos (“a minha resposta é X, porque...”).
É fundamental fazer uma lista objectiva.

Para responder à minha pergunta vou utilizar os seguintes argumentos:

A.
B.
C.
D.
E.g. “Por que razão Constantino mudou a capital para Constantinopla?
A. A secundarização de Roma como cabeça do Império;
B. A incapacidade de se afirmar em Roma uma ideologia de natureza
monárquica;
C. Vontade de afirmar uma nova realidade política e ideológica;
D. Motivos estratégicos;

b) Preencher os vossos argumentos com dados concretos. Nunca usar coisas vagas,
impressivas ou generalistas. Só dados concretos.
e.g. Carlos Magno favoreceu a recuperação da cultura escrita, mandando copiar livros.
Dados concretos: manuscritos copiados em Lorsch, Saint-Gall, Reichenau, que
remontam ao período carolíngio provam isto.
c) Se não têm dados concretos para os vossos argumentos?
- o argumento não é bom;
- desistem do argumento;
- apresentam-no apenas como hipótese “possível” mas “não provada”.

C) ESCREVER
1. O parágrafo inicial.
1.1 dizer qual é o vosso problema/pergunta: “Neste trabalho/artigo/livro procurarei
responder à pergunta X; “mostrarei como...”; “apresentarei as razões para...”.
(se limitaram ao pergunta – ver acima – façam vocês a vossa nova pergunta; não há
problema).
SEJAM CONCRETOS. TODOS COMEÇAM ASSIM O TRABALHO.
1.2 explicar brevemente como vão responder (ver 1.2): “Para responder a este
problema, usei os seguintes textos. SEJAM CONCRETOS.
1.3 Qual é a vossa resposta: enunciar no final do primeiro parágrafo qual é a vossa
resposta. “O meu objectivo é mostrar que Constantino mudou a capital para
Constantinopla por um conjunto de quatro razões: A, B, C, D”.

2. O vosso argumento.
Sigam rigorosamente o esquema que estabeleceram no Ponto 3.
“o meu primeiro argumento é X....” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
“o meu segundo argumento é Y...” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
“o meu terceiro argumento é Z...” e desenvolvem com base na vossa análise das fontes;
Esta é a parte mais importante do vosso trabalho.

3. Conclusão
Retomam o parágrafo inicial, designadamente repetem: “Ao longo deste artigo, procurei
responder ao problema X”, etc; defendo que: “XXXX”.
O tom deve ser firme: devem ter um tom confiante de que vocês providenciaram de
facto a resposta certa ou adicionaram mesmo um dado novo ao conhecimento.

4. Bibliografia.
Fazer, no final, a lista de todas as fontes e de toda a bibliografia referida em nota de
rodapé. O que não é referido em nota, não vai para a bibliografia. Tudo o que é referido em
nota, vai para a bibliografia (ver em anexo normas).

D) REVER
1. Reler várias vezes;
2. Dar a alguém para ter feedback;
3. Coisas específicas a ter em conta:
3.1 Notas de rodapé. As vossas afirmações têm de ser suportadas por notas de rodapé.
Todas as vezes que usarem um texto da bibliografia;
Todos os dados concretos utilizados em 3.3/4.3.
As notas de rodapé devem ser curtas. Keep it simple.

3.2 Citações/transcrições das fontes ou da bibliografia:


- usar apenas quando for importante; normalmente 4-5 palavras e nunca mais de 4-5 linhas;
- normalmente não é preciso citar/transcrever; basta pôr, na nota de rodapé, a referência
do texto que vocês estão a utilizar;
- lembrem-se: uma citação nunca substitui o vosso argumento. Por exemplo, nunca se faz
o seguinte: “o autor A disse: ‘blá blá blá (citam o autor)’; mas, o autor B disse: ‘blá blá blá’(e
citam o autor B); e assim por diante.
- utilizem as vossas palavras para descrever os textos que lemos. Temos de referenciar
sempre em nota de rodapé; MAS citar/transcrever o texto de outros autores, só quando for
muito relevante.

3.3 Elementos a ter em conta.


- não ter erros ortográficos; não ter erros de sintaxe;
- usar frases curtas e directas; mais do que 3 linhas para uma frase é demais. Cortem
as frases; usem pontos finais;
- Não usar palavras ou construções apenas por serem eruditas. A realidade já é
suficientemente complicada. Keep it simple.
- mudem frequentemente de parágrafos, de acordo com as partes do texto e os vossos
argumentos;
- não usem palha: tudo o que não servir para responder ao problema, é informação
inútil. Serve para o argumento? Fica; Não serve? Apaguem.
- não tenham graça. Um trabalho académico não é para fazer rir.
- não dêem a vossa opinião. Num trabalho académico, ninguém quer saber a
nossa opinião. E.g. não interessa saber se vocês acham bem ou mal que Constantino
tenha fundado Constantinopla.
- NUNCA COPIEM NADA SEM INDICAÇÃO, SEJA DE QUE SÍTIO FOR (NET, ETC). A
isso chama-se plágio e implica a eliminação do vosso trabalho.
- Um site da Internet ou um vídeo de YouTube, só em casos especiais é que é
fiável. Por princípio, em trabalhos académicos não se usam sites da internet como a
WIKIPEDIA ou piores. Podem usar-se coisas da net, mas que sejam artigos, livros,
textos científicos. Um texto de um site ou blog, ou um vídeo de um tipo qualquer do
YouTube, ou um texto da Facebook não são normalmente utilizáveis.
- Não usem bonecos, desenhos, imagens, fotografias, só para encher ou
enfeitar o trabalho. Se não é importante para o vosso argumento, não é para usar!

NORMAS BÁSICAS PARA A APRESENTAÇÃO DA BIBLIOGRAFIA.

Lista da Bibliografia

Livros
a) MOSSÉ, Cl. (1985), A Grécia Arcaica de Homero a Ésquilo, Lisboa.
APELIDO, nome abreviado (data), título, local de edição.

Revistas
a) ALBERTO, P. F. (1999), ‘Notes on Eugenius of Toledo’, Classical Quaterly 49.1, 304-
314.
APELIDO, nome abreviado (data), ‘título do artigo’, título da revista número da revista,
páginas do artigo.

Capítulo de livros

a) FEDELI, Paolo (2002), ‘Griegos y Romanos frente a frente’, De Augusto a Adriano.


Actas do Colóquio de Literatura Latina, Lisboa, 7-18.
APELIDO, nome abreviado (data), ‘título do capítulo’, título do livro, local de edição,
páginas do capítulo.

Referência ou Citação em Nota de Rodapé

Monografias
a) MOSSÉ, 1985: 51. (e.g. veja-se o que defende MOSSÉ, 1985: 51).

Publicações Periódicas
a) ALBERTO, 1999: 304-305 (e.g. sobre este assunto, veja-se ALBERTO, 1999: 304-305).

N.B.: Os restantes casos seguem estes exemplos.

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