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Os poemas de Safo e Horácio lançam mão do artifício da linguagem bélica para representar a noção

de grandiosidade. No de Safo, aos homens poderia lhes parecer que a guerra fosse o objeto que mais
representasse a força imbatível, gigantesca, que os faria maiores do que a própria natureza; mas não
para a poetisa. Safo assegura que o ser amado é muito mais maravilhoso e sublime do que todos
estes empreendimentos, e demonstra seu argumento lembrando que Helena, a rainha que superava
em beleza a todos, largou o grande rei espartano para seguir, encantada, o amor que lhe conquistara
mais do que as glórias guerreiras, sem remorso ou arrependimento. Tal qual Helena, Safo não se
impressiona com este objeto, com essa força que poderia aniquilar cidades inteiras; antes, deseja
rever sua amante Anactória, mais formosa para ela do que os exércitos que lutaram na lendária e tão
bem conhecida Guerra de Troia, onde muitos heróis se fizeram.

Horácio parte de um ponto em comum: a comparação com as forças da guerra. Mas aqui ele assume
um tom lamentoso, não pela ausência do ser amado, e sim pela glória perdida, o vigor, a
hombridade. As características que elevam os guerreiros, tão estimadas pelo eu lírico (como domar
os cavalos, não temer a navegação do grande Tibre), perdem-se frente ao amor de Síbaris por Lídia.
Interessante notar que estas duas cidades, das quais o poeta toma de empréstimo os nomes, são
renomadas no mundo antigo: Lídia por seus guerreiros, Síbaris por sua fortuna; colocá-las como
amantes pode significar que ao outrora próspero Síbaris já não lhe importa seu renome, já não
importam seus feitos heroicos, pois achara riqueza maior em Lídia. Assim, o eu lírico declara que o
amor minou as forças do soldado (já não traz os braços roxos do dardo e do disco), pois já não há
para este intenção de lutar, o que seria sua ruína. O citado guerreiro intenciona preservar-se como o
fez Aquiles, filho da nereida Tétis, e evita o conflito. Há um choque com a noção de masculinidade,
tão valorizada no campo da guerra, campo este onde o amor não cabe lugar: se para Safo o amor é
fortitude, para Horácio seria motivo de vexame.

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