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MANIPULAÇÃO DO TECIDO CONECTIVO E ROLAGEM DE PELE

A Manipulação do Tecido Conectivo (MTC) é uma terapia reflexa manual que estimula reflexos cutâneos viscerais,
desencadeando respostas autônomas. O terapeuta utiliza o terceiro dedo ou polegar para realizar manobras de elevação
em cada camada da pele, criando força de cisalhamento. A técnica comum é o de rolagem de pele, aplicada
principalmente nas camadas superficiais, buscando efeitos autonômicos mais intensos. A MTC pode ser usada sozinha
ou combinada com outras técnicas, como massagem clássica, liberação miofascial e terapia de pontos-gatilho. Apesar
de evidências limitadas, há sugestões de benefícios na pressão arterial, fluxo sanguíneo e alívio da dor. A eficácia da
técnica depende da força aplicada e da combinação com outras ferramentas terapêuticas, e a sensação de tensão ao
final do movimento indica efeitos relaxantes ou de alongamento mecânico.
A MTC mostra eficácia em quatro categorias de problemas: dor pós-operatória e questões viscerais, sintomas
hormonais (SPM e menopausa), dor musculoesquelética (local, mecânica ou relacionada a eventos viscerais) e
situações específicas (canelite, cicatrizes espessas e desequilíbrios posturais). A técnica de rolagem de pele de grau 3 é
aplicada em casos de fadiga, irritabilidade e insônia, aliviando desequilíbrios autonômicos. O tratamento busca reduzir
dor, aumentar circulação, normalizar tecidos em áreas zonais e dermátomos, e equilibrar os componentes simpático e
parassimpático do SNA. A rolagem de pele varia de suave e relaxante (grau 1), alongamento da fáscia (grau 2) até
estimulante do SNA para equilíbrio autonômico (grau 3).
A MTC é eficaz em casos musculoesqueléticos em pacientes que procuram tratamentos fisioterápicos, osteopáticos ou
quiropráticos. Indicada para sintomas fora do padrão dermátomo, mudanças cutâneas autonômicas, agravamento
durante constipação ou menstruação, início após cirurgia ou infecção, desequilíbrio autonômico geral e resistência a
métodos convencionais. Durante a avaliação, a identificação de alterações na pele e tecido subcutâneo nas zonas do
TC é crucial para confirmar a contribuição significativa do desequilíbrio autonômico. O método envolve posicionar o
paciente de forma específica para observar mudanças teciduais ao longo do tempo, identificando tensão fascial crônica
e modificações agudas.
A MTC produz efeitos mecânicos e reflexos, diferenciando-se das massagens tradicionais. Seu impacto imediato no
edema é local, mas os principais mecanismos de ação estão relacionados a estímulos neurofisiológicos no SNA,
especialmente nas interfaces fasciais. Problemas nas zonas de TC são vistos como responsáveis por alterar a
frequência de descarga neuronal, desencadeando alertas químicos na medula espinal e resultando em sinapses
"irritadas" com limiares de transmissão reduzidos. A MTC busca normalizar desequilíbrios, geralmente aumentando a
saída parassimpática e reduzindo a saída simpática. Essa técnica aproveita os plexos vasculares inervados pelas
extremidades nervosas autonômicas. Devido à densa inervação da fáscia, ela contribui significativamente para os
efeitos terapêuticos da MTC. A força de cisalhamento estimula reflexos cutâneo-viscerais nos plexos circulatórios
horizontais, impactando o SNA. Inicialmente proposto via sistema nervoso simpático nos plexos vasculares, o
entendimento crescente da fáscia sugere a estimulação de uma variedade mais ampla de receptores, incluindo
mecanorreceptores fasciais ou cutâneos.
A MTC produz efeitos gerais, como relaxamento, melhora na energia e padrões de sono, com a liberação de
endorfinas sendo o impacto mais significativo. O efeito segmentar é crucial, melhorando o funcionamento dos tecidos
conectados pelo mesmo segmento espinhoso tratado, resultando em benefícios como hidratação da pele, aumento da
circulação, aprimoramento do tônus muscular e função visceral. Além disso, alivia a dor e reduz a rigidez tecidual,
possivelmente devido à distribuição mais ampla do líquido tecidual na derme com o relaxamento dos fibroblastos
cutâneos.
No entanto, há carência de evidências científicas significativas para respaldar os mecanismos propostos. Existem
notáveis diferenças fisiológicas entre as técnicas fasciais e de flashige preparatórias, como a vermelhidão e aumento
de temperatura cutânea observados na técnica fascial. Contraindicações incluem inflamação aguda, infecção ativa,
malignidade, condições cardíacas instáveis, hemorragia, gravidez em estágios iniciais ou finais, forte fluxo menstrual
indesejável e uso de medicamentos ansiolíticos. O terapeuta deve escolher uma das três manobras preparatórias:
técnica de pele (haut) para reduzir a sensibilidade cutânea, técnica plana/superficial (flashige) antes das manobras
fasciais, e técnica subcutânea (unterhaut) para reduzir a tensão na pele
Na execução envolve o contato do coxim do dedo médio com a pele, flexionando a articulação interfalângica distal até
a ponta do dedo (sem a unha). Os tecidos são elevados contra a gravidade até a sensação de final do movimento, sem
causar dor, sendo repetido até seis vezes seguindo um padrão para acessar a fáscia superficial. Os princípios
fundamentais incluem deslocar a pele para criar força de cisalhamento, estimulando mecanorreceptores e ativando a
secreção de células mastoides. A manobra busca gerar uma reação tripla de vermelhidão e edema em uma linha.
Trabalhar da direção caudo-cranial, começando no ápice do sacro, evita reações indesejadas, e podem ser reprimidas
desensibilizando a "zona da bexiga" para reduzir a atividade simpática.
A abordagem de tratamento inicia-se da superfície para o interior, aplicando força de cisalhamento na interface entre a
fáscia profunda, o tecido-alvo e a pele para obter um efeito autonômico potente. Deve-se evitar a dor, pois ela pode
aumentar a atividade simpática, prejudicando os resultados. O uso de manobras preparatórias é essencial para remover
líquido tecidual e tensão, maximizando a eficácia. Os efeitos não são imediatamente observados, sendo mais eficazes
com tratamentos espaçados em três dias consecutivos inicialmente. Após essa fase, duas sessões por semana são
consideradas aceitáveis, com melhorias perceptíveis por volta do terceiro tratamento. Se não houver melhora, é
recomendável interrompê-lo.
Na técnica de rolagem de pele, a direção varia contra as linhas de tensão para otimizar a mobilidade de pele, músculos
e tendões. Categorizada em graus (1, 2, 3), o grau 1 atua suavemente na pele, o grau 2 vai mais fundo nos tecidos, e o
grau 3 foca na sensação de final do movimento entre a pele e a fáscia, evitando dor e atentando aos efeitos
autonômicos. Ao rolar o músculo, a técnica é mais profunda, agarrando o ventre muscular e a fáscia, com progressão
determinada pelos sintomas, é aplicada em várias situações, como cicatrizes, áreas rígidas, recuperação de lesões ou
massagem relaxante, adaptando-se conforme necessário.
A MTC, incluindo a rolagem de pele de grau 3, busca precisão na interação entre camadas teciduais e manobras
fasciais, influenciando o SNA. Apesar da falta de comprovações dos efeitos na fáscia, teorias apontam que o
alongamento em uma parte da rede fascial pode impactar outras áreas, otimizando a transmissão de força. O modelo
de biotensegridade diz que mudanças de tensão em partes da rede fascial pode aprimorar a transmissão de força e
melhorar o movimento global do tecido. Estímulos mecânicos atuariam sobre miofibroblastos fasciais, reduzindo a
rigidez tecidual. O aumento da circulação na interface fáscia-pele teria efeitos anti-inflamatórios sobre os
miofibroblastos, possivelmente promovendo redução do tônus fascial. Forças de cisalhamento sobre vasos sanguíneos
poderiam liberar óxido nítrico, relaxando miofibroblastos. Ao equilibrar o SNA em direção parassimpática, a MTC
pode reduzir a atividade simpática, diminuindo os níveis de TGF-B1, potencialmente resultando em relaxamento e
frouxidão na fáscia.

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