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UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS


CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA E COMUNICACÃO
CADEIRA DE SOCIOLINGUÍSTICA

COLOCAÇÃ DOS PRONOMES ÁTONOS NO PORTUGUÊS


FALADO EM LUANDA: UM ESTUDO DAS FALAS DOS
UNIVERSITÁRIOS, MORADORES DE VIANA E SEQUELE

Integrantes do grupo:
Aida Acácio
Alice Martins
Carla Umba
Celita Lourenço
Érica Lopes
Estefânia Rochel
Evanilda Damião
Fernando Samba
Helena Barbosa
João Cabeto
Mariquinha Malhado
Nair Paulo
Nsamba Afonso
Luanda, 2024

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Aida Acácio
Alice Martins
Carla Umba
Celita Lourenço
Érica Lopes
Estefânia Rochel
Evanilda Damião
Fernando Samba
Helena Barbosa
João Cabeto
Mariquinha Malhado
Nair Paulo
Nsamba Afonso

COLOCAÇÃ DOS PRONOMES ÁTONOS NO PORTUGUÊS


FALADO EM LUANDA: UM ESTUDO DAS FALAS DOS
UNIVERSITÁRIOS, MORADORES DE VIANA E SEQUELE

Trabalho apresentado como requisito para a


avaliação parcial à cadeira de sociolinguística

Luanda, 2024

2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4
I. CARACTERIZAÇÃO ETNOLINGUÍSTICA DE LUANDA ............................ 5
O grupo etnolinguístico de Luanda ........................................................................... 6
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 7
Estudo dos pronomes pessoais ................................................................................... 7
Colocação pronominal ou pronominalização dos oblíquos átonos ............................... 7
Próclise ..................................................................................................................... 7
Ênclise .......................................................................................................................... 8
Mesóclise .................................................................................................................. 8
III. COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NO PORTUGUÊS
REALIZADO EM LUANDA ........................................................................................ 9
A influência das línguas nacionais na colocação pronominal do português de
Luanda: A particularidade do kimbundu .............................................................. 10
IV. METODOLOGIAS DE TRABALHO, ANÁLISE E TRATAMENTO DE
DADOS .......................................................................................................................... 13
Senário de pesquisa ................................................................................................... 13
Instrumento de pesquisa .......................................................................................... 13
População ................................................................................................................... 14
Amostragem............................................................................................................... 14
Análise dos dados aplicados ..................................................................................... 14
As frases colocadas foram: ....................................................................................... 14
Resultados .................................................................................................................. 15
V. CAUSAS DAS PECULIARIDADES NO PORTUGUÊS LUANDENSE: UMA
VISÃO LINGUÍSTICA E SOCIOLINGUISTICA ................................................... 16
A questão da interferência ....................................................................................... 17
CONCLUSÃO............................................................................................................... 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 20

3
INTRODUÇÃO

No presente trabalho abordaremos a questão da colocação dos pronomes átonos


no português falado na província de Luanda, capital de Angola. Nos escritos dispostos no
trabalho aqui apresentado pretendemos, de forma clara e objectiva, trazer os fenómenos
que contribuem para a formação peculiar do português realizado em Luanda,
particularizando a questão da colocação dos pronomes pessoas oblíquas átonas.

O grupo trará, dentre tantos outros assuntos, os principais fenómenos que


influenciam o tipo de português falado na capital e que têm resultado em uma forma de
colocação pronominal particular, diferente do lusitano, padrão que o país se presta desde
a “independência”, influenciado pelos cincos (V) séculos de colonização. Apontaremos,
de igual modo, como se processa e caracteriza este português diferenciados das demais
comunidades de fala do português.

O grupo considera este trabalho uma gota no oceano de assuntos a serem


discutidos quanto à questão da colocação pronomes pessoas oblíquos átonos do português
falado em Luanda, mas certificamos que este trabalho é de extrema importância para o
entendimento dos reais fenómenos que cercam as produções dos luandenses.

O trabalho está dividido em cinco capítulos, sendo que no primeiro trazemos uma
abordagem sobre a caracterização etnolinguística de Luanda. No segundo retratamos a
questão da fundamentação teórica. No terceiro discutimos sobre a colocação dos
pronomes átonos no português realizado em Luanda. No quarto trazemos as metodologias
de trabalho, tratamento e análise de dados. No quito e último capítulo discutimos as
causas das peculiaridades no português luandense, numa visão linguística e
sociolinguística.

Para a realização deste trabalho, o grupo recorreu a metodologias de pesquisas que


nos facilitaram a recolha de dados aqui dispostos, eles são nomeadamente: A pesquisa
bibliográfica, feita em livros e artigos científicos, o estudo de campo e o levantamento,
que foram feitos em estudantes universitários da Metodista e moradores do distrito urbano
do Sequele e do Município de Viana.

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I. CARACTERIZAÇÃO ETNOLINGUÍSTICA DE LUANDA
Luanda é a capital e a maior cidade de Angola. Localizada na costa do Oceano
Atlântico, é também o principal porto e centro económico do país. É ainda, de igual modo,
a capital da província homónima. Foi fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo explorador
português Paulo Dias de Novais, sob o nome de "São Paulo da Assunção de Loanda".

Luanda é a cidade que apresenta maior crescimento económico, em particular desde


que Angola alcançou uma situação de paz e estabilidade política e social. Os vultuosos
investimentos, nacionais ou em parceria com financiadores internacionais privados e
institucionais, particularmente na área da construção civil e das telecomunicações, fazem
da cidade e do município uma metrópole em crescimento acelerado.

Este crescimento que a cada dia vive a capital do país é o principal motivo da
miscigenação de grupos étnicos na cidade, todos a procura de melhores condições de vida.
Esta junção, no campo linguista, tem influenciado na forma particular do português que
é falado em Luanda.

Mapa da província de Luanda

Fonte: Instituto de Geodesia e Cartografia de Angola

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O grupo etnolinguístico de Luanda

De acordo com Pélissier (1986), o grupo etnolinguístico Ambundu, falantes da língua


kimbundu , aqui incluímos também a província de Luanda, foi o grupo étnico que, no seu
centro, teve com o mundo europeu contactos mais intensos.

O grupo Ambundu é um grupo étnico bantu que vive em Angola, estendendo-se


desde Luanda, Malange, Cuanza Sul e Norte. A sua língua é o Kimbundu. O grupo
ambundu é o segundo maior grupo étnico angolano, representando cerca da quarta parte
da população do país. Os seus subgrupos mais importantes são os songos, imbangola,
xinji. Kibala, e outros.

No presente trabalho, focar-nos-emos apenas à província de Luanda, que como já


referimos acima, é uma província onde habita inúmeras etnias. Neste contexto, o nosso
trabalho não se comprime ao grupo ambundu, mas sim aos estudantes da Universidade
Metodista de Angola, aos moradores do distrito urbano do Sequele e aos do município de
Viana.

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II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Estudo dos pronomes pessoais

Os pronomes pessoais são palavras que podem ser usadas no discurso oral ou
escrito para indicar: a pessoa que fala (eu, me, mim, comigo, nós, nos, connosco), a
pessoa para quem se fala (tu, te, ti, contigo, vós, vos, convosco;), a pessoa de
quem se fala (ele, ela, o, a, lhe, se, si, consigo, eles, elas, os, as, lhes).

Podem variar em: número (singular e plural), género (masculino e feminino),


pessoa (1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular; 1ª, 2ª e 3ª pessoa do plural). Os pronomes
pessoais desempenham ainda a função sintático de rectos (sujeito) e oblíquos
(complemento direto, indireto, circunstancial e agente da passiva). Quanto à
acentuação, podem ser pronomes átonos, que é o que nos interessa, ou clíticos e
tônicos. (Gramática do Português - Ensino Secundário, 2016)

Colocação pronominal ou pronominalização dos oblíquos átonos

É a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação


ao verbo a que se referem. Os pronomes átonos são aqueles que ocupam as posições de
complementos. Schlee (2016). São ele:

Singular 1ª pessoa - me
2ª pessoa - te
3ª pessoa - o, a, lhe
Plural 1ª pessoa - nos
2ª pessoa - vos
3ª pessoa - os, as, lhes

Segundo nos informa a gramatica de Magda Scchlee, a colocação pronominal, quanto a


sua posição, ela pode ser:
Próclise
O pronome é colocado antes do verbo.
Usa-se a próclise:
• Quando o verbo estiver precedido de pronomes.
Ex.: Estes são os rapazes que se candidataram.
• Quando o verbo estiver precedido de advérbios.

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Ex.: Nunca te esquecerei.
• Quando o verbo estiver precedido de conjunções subordinativas.
Ex.: Espero que lhe dêem o cargo.
• Nas orações optativas (que exprimem desejo).
Ex.: Deus te abençoe.
• Com o gerúndio precedido da preposição em:
Ex.: Em se tratando de relógios, prefiro os suíços.
• Com o infinitivo pessoal.
Ex.: Por se encontrarem no local, foram acusados.
Ênclise
O pronome aparece depois do verbo.

Usa-se a ênclise:

• Quando o verbo iniciar a oração.

Ex.: Expliquei-lhe o motivo.

• Quando houver pausa antes do verbo:

Ex.: Já que insistes, entrego-lhe a chave.

• O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da preposição "a".

Ex.: Passaram a cumprimentar-se mutuamente.

Mesóclise
Quando o pronome está no meio do verbo. Normalmente é usado em casos que se
referem ao futuro.
Usa-se a mesóclise:
• Com o futuro do presente.
Ex.: Lembrar-me-ei o motivo.
• Com o futuro do pretérito.
Ex.: Dir-se-ia ser coisas de crianças.

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III. COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NO
PORTUGUÊS REALIZADO EM LUANDA

O português não é a língua materna de todos os angolanos como já é sabido. Falando


especificamente de Luanda, não obstante ao facto de o português ser a única língua na
educação pública entre as demais línguas nacionais de Angola, boa parte das famílias,
sobretudo aqueles que nasceram nos anos de 1975, como aponta Miguel (2003: 28), não
têm o português como língua materna.

Neste contexto, o falar do luandense é, quase sempre, interferido pelas línguas


autóctones do país, pois, sabe-se que o primeiro contacto da criança com o mundo
acontece da mãe para o bebê e posteriormente da família para escola. Assim, os traços da
língua materna da família aparecem na língua materna dos filhos, interferindo em muitos
casos.

Essa interferência que fizemos referencia é um fenómeno que ocorre em muitos


casos, mas aqui nos interessa apenas a interferência refletida apenas na colocação
pronominal. Por estes e outros fenómenos que têm vindo a se detectar nesta língua
peculiar, alega-se que o português falado em Angola encontra-se numa fase que se
apelidaria de crise normativa entre a norma do ensino e aquela que é falada ou do
quotidiano.

Neste sentido, ao falar do Português Angolano (PA) não há dúvidas de que se vai
demarcando, em muitos aspectos, do Português Europeu (PE). Tais diferenças também
são notáveis em relação à distribuição dos pronomes átonos, em especial no que tange à
distribuição próclise/ênclise: diferentemente do PE, por exemplo, no PA falado há uma
instabilidade, com tendência para a generalização da próclise em todos os contextos
(Chavegne,2005), embora na escrita a ênclise ainda seja recorrente. Mas é possível
constatar também na escrita as marcas do PA falado, como poderemos mostrar neste
trabalho.

Na realização do português falado em Luanda é, facilmente, notável a existência


de uma grande disparidade com a norma padrão, que é a europeia PE, ou seja, há muita
instabilidade quanto à colocação dos pronomes átonos. Muitas vezes, o falante luandense
aplica a próclise em contextos de ênclise, ocorrência que a gramatica normativa reprova.

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Por exemplo, o falante angolano diria: “Me telefonou ontem”. Essa construção,
segundo a norma, é agramatical, pois não se inicia uma frase com um pronome oblíquo
átono. Nesse caso, para que a frase esteja em conformidade com a norma padrão, seria:
“Telefonou-me ontem”.

Neste contexto, podemos notar as formas diferenciadas do emprego dos pronomes


átonos. Não só nos casos apresentados acima, mas sim em muitos outros também.
Verifica-se também a ocorrência da próclise ou ênclise em contexto de mesóclise e
imensas dificuldades na contracção de clíticos OI e OD. Um fenómeno que muito
sobressai é o emprego do clítico dativo (lhe) pelo acusativo (o).

Por exemplo, é muito comum entre os falantes luandenses, e isso também notamos
quando conversamos com muito dos nossos inqueridos, um enunciado assim: “Lhe vi a
passar por aqui”, ao invés de: “Vi-o a passar por aqui.” Nos enunciados supracitados, os
pronomes que fizemos menção são os dois pronomes átonos da terceira pessoa, porém,
segundo as gramáticas normativas, eles são usados em contexto diferentes.

Informa-nos a gramática de Schlee (2016), que o pronome pessoal oblíquo átono


da terceira pessoa “lhe” é usado para substituir os complementos indirectos (c. ind.), isso
na sua forma dativa. Já o pronome “a” é usado para substituir o complemento directo ( c.
d.).

A influência das línguas nacionais na colocação pronominal do português de


Luanda: A particularidade do kimbundu

Nesta abordagem o grupo traz uma visão de Maria Helena Miguel, no seu estudo
intitulado “Dinâmica da pronominalização no português de Luanda”, de 2003. Aqui
ilustraremos, de forma objectiva, as interferências que a língua nacional kimbundu exerce
sobre o português realizado na capital de Angola.

Segundo nos informa Miguel (2003: 55), em Kimbundu há um tipo de pronomes


denominados “infixos objetivos”, que servem de complemento directo e indirecto: estes
pronomes que equivalem aos átonos em português são sempre colocados depois das
partículas formativas, mas imediatamente antes do radical verbal. Eles são:

Singular plural:

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1ª pessoa 2ª pessoa
-ngi- -Ku-

-tu- -mi-
Temos como exemplos:
1. Eye u-ngi-zola. (Tu amas-me)
2. Mukaji ami wa-ngi-xingile. (A mulher insultou-me)
3. Diyálá wámùbhútú myézú. (O homem cortou-lhe a barba)
4. Mwene ka ku-zolé. (Ele não te ama)

Miguel (2003: 55) nos mostra ainda que os pronomes pessoais oblíquos átonos de
complementos directos (o, a, os, as) e indirectos (lhe, lhes) do português têm como
equivalente em kimbundu uma mesma e única forma: -mu- para o singular e -a- para o
plural.

Temos como exemplos:

1. Kàbhúlú wámùbhitíle. (A lebre ultrapassou-o)


2. Mwene Kenyoku mu-betê. (Ele não costuma bater-lhe)

O autor continua dizendo que o infixo reflexivo - di- é invariável e serve para todas
as pessoas do singular e do plural. Coloca-se imediatamente antes do radical verbal.

Eme ngi-di-sukula. (Eu lavo-me)


Eye u-di-sukula. (Tu lavas-te)
Enu nu-di-zola. (Vós amai-vos)
O autor observa ainda que na língua nacional kimbundu não há contexto frásico
que interfira na posição dos infixos objectivos reflexivos e recíprocos em serem pré-
verbais (2004: 56),
Temos como exemplos:
a) Frases afirmativas
Émé ngamitélá sabhú. (Eu contei-vos uma fábula)
Umw àmbátà kù bhátà dyà mànyà. (Leva-o a casa da mãe)
b) Frases negativas
Eye ku-ngi-zolami. (Tu não me amas)
Ene ka mwambela kima. (Eles não lhe disseram nada)
c) Oração subordinada

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Kixima kiki eme ngakikándè. (Este poço fui eu que o cavei)
Kyoso Kyusakana ungitangela. (Quando te casares, avisa-me)

Segundo ainda Miguel (2003: 57), na locução verbal, a anteposição do infixo ao


verbo principal é permanente, independentemente de alternâncias frásicas que possam
ocorrer, como negativa.

Tomemos como exemplo.

a) Frases interrogativas:
Mukuani waka-kú-dimina o dibya? (Quem te há de cultivar o campo?)
Eye wa-ngi-tangela yahe? (Por que me dizes isso?)
b) Frases com pronomes ou advérbios que, em português, obrigam à próclise
verbal:
Etu twatakajanene. (Já nos encontramos)
A-ngisombola. (Alguém me insultou)

Portanto, depois dos argumentos baseados em estudos feito por Miguel, pode-se,
naturalmente, alegar que a grande disparidade entre as línguas nacionais e a língua
portuguesa, no que toca a colocação pronominal átono ou pronominalização é um dos
principais factores de interferências quanto a aplicabilidade dos mesmos pronomes.
Referimo-nos às línguas nacionais no geral porque segundo nos informa Greemberg
(1963), as línguas nacionais angolanas fazem parte do grupo de família de línguas Kongo-
Kardofaniana, onde, dentro da subfamília Niger-Kongo, encontramos o grupo de línguas
bantu.

Relactivamento ao grupo bantu, apraz-nos ressaltar que não se trata de um grupo


só de línguas, mas sim de toda uma cultura e filosofia de vida, por isso eles apresentam
inúmeras semelhantes, e isso se reflete na semelhança linguística, quer seja sintáctica,
morfológica, fonológica, semântica e outras.

Nesse contexto, como exemplo da semelhança existente entre as línguas nacionais


tomemos as palavras mweyo (vida), zambi (Deus), kalunga (praia) que em Kimbundu,
umbundu, e kikungo têm os mesmos significados.

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IV. METODOLOGIAS DE TRABALHO, ANÁLISE E
TRATAMENTO DE DADOS

A nossa pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, sendo que numa primeira fase se
fez a pesquisa bibliográfica e documental e, em seguida, numa a segunda, fez-se uma
pesquisa de campo.

A pesquisa bibliográfica, que segundo nos diz Carvalho (2012, p 58), “[…] é feita
por meio de leituras de livros, revistas etc. a fim de coletar o maior número possível de
informações a respeito do tema estudado, foi-nos muito útil na reunião de conteúdos. Esta
pesquisa permitiu também um maior preparo para o processo de pesquisa de campo que
veio posteriormente.

Recorremos também a pesquisa documental, esta pesquisa, segundo destaca Gil


(2008), “[…] é uma pesquisa realizada em materiais que não receberam ainda tratamentos
analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”.”

Recorremos, de igual modo, a pesquisa de campo, e desta pesquisa resultou dois


inquéritos.

Senário de pesquisa

O campo de pesquisa foi a província de Luanda, mas o grupo restringiu a zona de


estudo para a Universidade Metodista de Angola, o município de Viana e o distrito urbano
do Sequele.

Instrumento de pesquisa

O objecto da pesquisa foi a colocação dos pronomes átonos no português falado


em Luanda, com efeito, usamos como instrumento o inquérito que vem em anexo.

O instrumento foi um inquérito (em anexo) que visou, fundamentalmente,


diagnosticar a situação linguística quanto a colocação dos pronomes átonos na província
de Luanda, propriamente entre os universitários da Metodista, moradores do Sequele e
do Viana.

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População

A nossa população compreendeu 60 indivíduos residentes em Luanda, sendo 30


estudantes da Universidade Metodista de Angola, 10 trabalhadores do município de Viana
e 20 trabalhadores do distrito urbano do Sequele.

Amostragem

Dos 60 alunos e trabalhadores inquiridos, analisámos todos os resultados, seguindo o


critério aleatório simples. Alguns dos conteúdos dos inqueridos aplicados, podem ser
verificados no anexo.

Análise dos dados aplicados

O inquérito feito por nós incluiu 10 opções de preenchimento. O inquérito foi dividido
em dois grupos com frases diferentes, contendo, deste modo, cinco frases para cada
inquérito.

O inquérito dispunha de frases com a colocação dos pronomes átonos segundo a


norma padrão e outras com frases com a colocação conforme é realizado na fala angolana.
Os inqueridos, deveriam apontar, dentre as cinco frases que cada inquérito tinha, a que
correspondia a forma realizada com maior frequente no seio da comunidade de fala em
que o indivíduo está inserido. Nesse contexto, os inqueridos, ao verem as frases com que
mais se familiarizavam logo, consciente de que é assim que se fala, foram marcando os
espaços suposto. As escolhas das frases, muitas vezes, foram motivadas pelo meio social,
escolaridade, língua materna e outros.

As frases colocadas foram:

Para o primeiro inquérito:


1- Mãe, amo-te!
Mãe, te amo!

2- Dar-te-ei os livros quando estiver na cidade.


Te darei os livros quando estiver na cidade.

3- A Carla disse-nos alguma coisa.


A Carla nos disse alguma coisa.

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4- Que Deus te abençoe!
Que Deus abençoe-te!

5- Será que o professor se manifestou ontem?


Será que o professor manifestou-se ontem?

Para o segundo inquérito:


1- Acho melhor abstermo-nos dessas práticas.
Acho melhor nos abster dessas práticas.

2- A mãe deu-lhe uma surra.


A mãe lhe deu uma surra.

3- Coloca-se no seu lugar.


Se coloca no seu lugar.

4- O João disse-me que veio hoje.


O João me disse que veio hoje.

5- Desculpa-me pelo sucedido.


Me desculpa pelo sucedido.
Resultados
Apresentado, em seguida, os resultados do inquérito realizado.

Resposta Frequência Percentagem


Acertaram 20 10%
Não acertaram 40 80%
Total 60 100%

Os dados dispostos na tabela mostram que dos 60 indivíduos inqueridos apenas


10% porcento fez o uso correcto dos pronomes átonos, sendo que a maioria esmagadora,
ou seja, 80% não foi capaz de selecionar as frases que correspondem à norma padrão.

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V. CAUSAS DAS PECULIARIDADES NO PORTUGUÊS
LUANDENSE: UMA VISÃO LINGUÍSTICA E
SOCIOLINGUISTICA

Neste capítulo, a prior, apraz-nos salientar que a peculiaridade a que nos referimos
é a questão da colocação pronominal no Português de Angola (PA). Aqui, mais
claramente possível, o grupo pretende desmistificar as questões referente aos principais
factores que motivam as particularidades quanto a colocação pronominal átono no
português falado em Luanda, mas em dois campos que tratam da língua em uso real, ou
seja, num âmbito descritivo, sem nenhum juízo de valor.

Assim, entrando já para as duas áreas, para a Sociolinguística, que é uma área que
estuda a língua em uso real, levando em consideração as relações existentes entre a
estrutura linguística e os aspectos sociais e culturas da produção linguística, a língua é
uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autónoma,
independente do contexto situacional, da cultura e da historia das pessoas que a utilizam
como meio de comunicação. Por isso, ao analisarmos o discordo do luandense, oral ou
escrito, os desvios cometidos por eles, ao ver sociolinguístico não constituem erros, mas
sim variação, fenómeno que é muito comum entre regiões e falantes distintos.

Neste contexto, não há língua certa nem errada, mas sim diferentes formas de
realização da mesma língua, pois cada comunidade linguística emprega a língua segundo
a sua necessidade comunicativa.

O português de um académico angolano não é mais bonito ou melhor em relação


a de um porteiro angolano com um baixo nível de escolarização, o que ocorre, na verdade,
é aquilo que Noam Chomsky chama de competência e performance. Os dois têm a mesma
competência de fazerem o uso da língua portuguesa, porém não terão a mesma
performance. Para Chomsky, competência é o conhecimento mental que um falante tem
de sua língua, neste caso, todos a temos. Por outro lado, segundo ainda o teórico, a
performance é o uso concreto da língua.

Portanto, os dois têm a capacidade de fazerem o uso da língua, todavia, não a


empregam da mesma maneira, pois são seres que vêm de realidades diferentes. Essa
realidade distinta a que fizemos menção são os locais ou instituições a que cada um teve

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acesso durante seus processos formativos ou evolutivos. É, certamente, obvio que o
académico vem de uma classe social mais alta em relação ao porteiro que, provavelmente,
tenha vindo de uma classe social desprestigiada e marginalizada, onde não houve acesso
à educação e aos bens culturais da elite, e por isso a língua deste indivíduo apresenta
inúmeras disparidade quando a norma padrão, visto que ele não teve acesso aos locais
onde reina essa norma.

A questão da interferência

Segundo Mota (1996), a coabitação de duas ou mais línguas no mesmo


espaço geográfico concorre para um contacto entre si, do qual podem advir
consequências. Essas consequências, neste caso, são as formas diferenciadas na
realização do português de Luanda.

Polo facto da maior parte dos angolanos saírem de um contexto onde se empregava
uma língua nacional, fez e faz com que ao se depararem com o português, língua que
porventura é muito distante das suas, ocorresse o fenómeno de variação. Essa variação é
a que podemos chamar diatópica sintáctica, pois se reflete na construção frásica, quer seja
oral ou escrita.

Os universitários e outos individuo inqueridos, ao apresentarem as frases com


erros de colocação pronominal átonos, que preferimos chamar desvio à norma, não o
fizeram porque assim o queriam, muitas vezes eles aprenderam o uso correcto na escola,
mas, segundo nos informa Sassuco: “por mais que nos esforcemos para falar com
perfeição a língua portuguesa, será impossível, porque a força da cultura é intrínseca
quanto à nossa oralidade” […] Sassuco (2018: 7).

Por conseguinte, o angolano não emprega, por exemplo, a próclise em lugar da


ênclise ou mesóclise em lugar de uma das duas por vontade, mas sim por força das
línguas nacionais que, apesar de muitos não serem falantes, eles vivem rodeadas de
pessoas que são e essa miscigenação de falares distintos cria uma situação de influencia
reciproca que resulta no fenómeno “interferência”.

Nas línguas autóctones de Angola não existe, até aqui, o processo chamado
pronominalização por ênclise, próclise e mesóclise tal qual a conhecemos em português,

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por isso, a aquisição destas normas constitui uma enorme dificuldade entre os angolanos,
até os mais letrados.

Por isso, não estaria a errar quando o falante atesta, por exemplo:
Me dá o livro, por favor, senhor professor! Uso da próclise em lugar da ênclise) ou:
Não manifestou-se sobre o assunto. Uso da ênclise em lugar da próclise), ou ainda:
Ninguém expressar-se-ia desse modo. Uso da mesóclise em lugar da próclise. No campo
linguístico, este falante não estaria a atropelar a gramatica, mas sim a fazer o uso da língua
segundo as informações linguísticas que o falante tem até então.

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CONCLUSÃO

O nosso trabalho procurou analisar o uso dos pronomes pessoas oblíquas átonas
entre os luandenses, mas, restritamente entre os estudantes da Universidade Metodista de
Angola, os moradores do município de Viana e do distrito urbano do Sequele.
Comparamos, de igual modo, as ocorrências dos pronomes pessoais oblíquos átonos do
Português de Angola (PA) com a Norma Europeia (PE), que constitui a norma a que
seguimos, tudo com base em frases dispostas em dois inquéritos.

O grupo percebe que os pronomes pessoas oblíquos átonos, na frase, são aqueles
que desempenham as funções de complemento directo ou indirecto. Além disso,
compreende que estes pronomes são muito essenciais no discurso escrito ou falado, por
este motivo, acha que se faz necessário saber as suas colocações, pois é exigido o seu
correcto emprego em muitas questões oficiais.

No entanto, o grupo atesta que a não aquisição destas normais pelos angolanos,
em particular os luandenses, não constitui um “crime”, se assim pode-se dizer, visto que
são inúmeros os factores que estão na base desses desvios à norma por parte do falante.
Deste modo, o grupo declara que uma visão de “língua errada” diante de um falante que
troca a posição dos pronomes átonos, na prespectiva linguística, constituiria preconceito
linguístico, pois isso seria uma visão erronia da língua e um acto de homogeneização da
língua, como se existisse uma única forma de falar uma língua.

Neste caso, o grupo atesta que para se acabar com os problemas de língua certa e
errada no seio não só dos luandenses, como também de todo angolano em geral, seria
necessário a legitimação da Variante do Português de Angola (VAP). Esta variante é um
português não constrangido pela norma portuguesa, ou seja, a norma linguística de
Portugal que até aqui é lecionado nas instituições de ensino em Angola.

Portanto, o grupo alerta que no território angolano se faz necessário, por força da
grande classe de intelectuais existente no país e dos inúmeros trabalhos já feito sobre o
assunto (Português de Angola), a “nacionalização” do português. Deve-se aceitar o facto
da apropriação do português. Neste sentido, este português seria, como já é, aquele
miscigenado com a cultura angolana e incorporará, como já tem incorporado, os termos
das línguas nacionais, estes não mais serão empréstimos, pois farão parte do português de
Angola.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Chavagne, Jean-Pierre (2005). La langue portugaise d’Angola: étude des


écarts par rapport à la norme européenne du portugais. Tese de doutoramento. Université
Lumière Lyo.
Chomsky, Noam (2008). “Gramática Gerativa”. In Evani Viotti, “Introdução aos
Estudos Linguísticos”,35.
Gil (2008), citado por: Prodanov, Cleber (2023). “Metodologia do Trabalho
Cientifico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico” 2ª ed., Rio Grande
Hagemeijer, Tjerk (2016). “O português em contacto em África”. In Ana Maria
Martins e Ernestina Carrilho (eds.), Manual de Linguística Portuguesa, Berlin/Boston: De
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Fontes:
Greemberg (1963)
Instituto de Geodesia e Cartografia de Angola
Gramática do Português - Ensino Secundário (2016)

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ANEXOS

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