Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Único
Altamira, 2023
Dir. da Faculdade de Letras Dalcídio Jurandir
Prof. MSc. Adelson Bayma da Silva
Curso de Especialização em Letras: Linguagem e Ensino| Volume Único – Teorias Linguísticas: implicações para o ensino.
Campus Altamira - 1638 - R. Cel. José Porfírio, 2515 - São Sebastiao, Altamira - PA,
68371-040.
Telefone: (93) 3515-1079. http://altamira.ufpa.br/
Capa
Robert Neubecker
“Civics Education” in <https://www.slj.com/binaries/content/gallery/Jlibrary/2018/08/assets_27956.jpg >
Impressão e acabamento
Livraria Virtual Gráfica
Linguística Sistêmico-Funcional
Análises do Discurso
VOESE, I. A mediação: a língua como reflexo e o discurso como refração. In: ______.
Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cortez Editora, 2004,
p. 62-73.
.................................................................................................................. 59
g
g
H
Stella Marés Bortoni-Ricardo
e a heterogeneidade linguística, inerente e sistemática(cf. Bortoni- a variedade do inglês que era a língua materna dos alunos em ques-
Ricardo, 1 997). Nos próximos capítulos, discutirem com detalhes tão e o chamado inglês padrão, falado e ensinado na escola (Labov,
essas premissas. 1969; 1972). Nesses tempos em que se firmavam as raízes da Socio-
O relativismo cultural é uma postura adorada nas ciências linguística, essa ciência voltou-se prioritariamente para a descrição da
sociais, inclusive na Linguística, segundo a qual uma manifestação variação e dos Henâmenos em processo de mudança, inerentes à língua,
de cultura prestigiada na sociedade não é intrinsecamente superior expandindo-se depois para outras dimensões da linguagem humana.
a outras (cf. Bortoni-Ricardo, 2008). É uma herança da antropolo- É o que nos mostrou, em 1996, John Gumperz [1922-2013].
gia cu]tura], que se originou da pesquisa de Franz Boas ] 1 858-1 942]
Desde meados dos anos 1960, quando o termo sociolinguística
(] 974/19il) sobre as línguas ameríndias. Para case autor teuto-ame-
apenas começava a ser aceito, essa disciplina vem ampliando
ricano, nenhum padrão de uma cultura ou de uma língua deveria ser
seus objetivos iniciais de investigação, muito além da explicação
considerado inferior, ainda que seja apropriado postular distinções
dos processos de mudança e difusão liílguísticos. Na atualida-
funcionais entre ele e seus congêneres. Inicialmente, essa premissa
de, especialmente durante a última década, converteu-se enl
relativista aplicou-sc a comparações entre línguas, mas, com o adven-
uma disciplina centra], preocupada com todos os aspectos da
to da crença na heterogeneidade ordenada e do reconhecimento da comunicação verbal nas sociedades humanas. Em particular,
existência de muitas variedades no âmbito de qualquer língua natu- com as formas como a comunicação influi e reflete as relações
ral, linguistas nos Estados Unidos e na Europa ampliaram o escopo de poder e dominação, com o papel que a linguagem joga na
da premissa relativista para a comparação entre variedades de uma formação e perpetuação de instituições sociais, assim como,
língua, ou, até mesmo, entre os estilos no repertório de um falante. com a transmissão da cultura.
Vcr, a propósito, o capítulo "A herança da Linguística Estruturalista:
o tratamento da variação linguística' Nessas múltiplas incursões da disciplina, há que se distinguir,
Na sua infância, a pesquisa sociolinguística foi motivada peia ainda conforme John Gumperz, aspectos analíticos micros e macros
constatação de que crianças oriundas de grupos linguísticos minoritá- (ver capítulo "A Micro e a Macrossociolinguística"). A Macrossocio-
os apresentavam desempenho escolar muito inferior ao das crianças linguística equivale, groií0 7 0do, ao que Fishman (1 972a; 1 972b) dc
provenientes de classe média e classe alta. Hoje podemos explicar nonlinou Sociologia da linguagem. FasoJd (1984; 1 990) publicou dois
essas diferenças com base no grau de letramento com que as crianças volumes para tratar desses dois níveis: Zbe Spf/o#ngzzjj//cs ofSoc/eq e
convivem em seu ambiente familiar. Na década de 1960, quando fBr Safio//ngwisf/cs (fZ z/zgz/age (respectivamen te: A Sociolinguística
os primeiros sociolinguistas buscavam no repertório linguístico das da sociedade eA Sociolinguística da língua, em tradução livre). No
crianças as explicações para o seu melhor ou pior ajustamento à cultura primeiro, acolheu temas como multilinguismo, bilinguismo, diglossia,
escolar, ainda pouco se discutia o impacto da cultura letrada sobre atitudes linguísticas, manutenção e mudança linguística, bem como
grupos sociais ou nacionais. planejamento e estandardização da língua vernácula. No segundo,
Liderados por William Labov, os sociolinguistas pioneiros, nos incluiu a Ernograf]a da comunicação, o discurso, a ]inguagen} e o
Estados Unidos, desenvolveram intensivas análises conrrasrivas entre sexisnlo, a pragmática linguística, as implicaturas conversacionais, as
} 4 Manual de Soclolinguística A Sociolinguística : 1 5
línguas .p/óikíni e crioulas, a variação linguística e as múltiplas aplica- grandes centros urbanos, motivados principalmente pelo fraco de-
ções da disciplina. Todos esses temas serão discutidos nos próximos sempenho escolar de crianças de grupos étnicos e sociais minoritários,
capítulos. particularmente, os Edantes do vernáculo abro-americano.z Entre eles
A Sociolinguística, como uma disciplina independente, é cauda- estavam William Labor Vale Wolfram, Ralph Fasold e Charles-games
tária do conceito de competência comunicativa do linguista norte-ame- Bailey, cujos trabalhos pioneiros podem ser recuperados na coletânea
ricano De[[ Hymes [1927-2009], que se seguiu à introdução da teoria organizada por Wo[fram e Faso]d ( ] 972): ZÉe S d7 a/'Sor/a/ /)iaZecn
linguística hegemónica de Noam Chomsky, iniciada no livro SWm/.zífíf in American Englisb.
S)mc/ rri (1 957), no qual ele retoma a dicotomia saussureana, língua e
eda, reanalisados como competência e desempenho, e consolidadas em Os esforços dos sociolinguistas variacionistas em relação ao
sua obra seguinte Apeczs afiar ZBraT afSW/z/ (1 965) (cf Bortoni- vernáculo abro-americano àquela aJttira seguiam duas tendên-
cias inter-re]acionadas: ]) rejeitar veementemente o modelo
Ricardo, 2004, capítulo 6; e Bortoni-Ricardo, 2005, capítulo 6).
de déficit linguístico que se atribliía aos estudantes com fraco
A língua para o suíço Ferdinand de Saussure ]i8S7-19i3] é um
desempenho escolar e a política educacional compensatória que
sistema abstrato partilhado pelos falantes que Ihe dão concretude no
âmbito da fala. emergira desse modelo; e 2) explorar a relação entre língua c
feitura, propondo novas abordagens para o ensino da ]eitura [.-] .
Para Chomsky, o conhecimento que os falantes têm da língua é
O pressuposto que partilhavam era o de que os problemas de
a competência, que se materializa no que ele denominou desempenho
leitura tinham origem nas diferenças entre o sistema linguístico
ou performance. Hymes (1 966) reinterpretou o conceito chomskyano
do vernáculo abro-americano e do inglês padrão e no desencon-
de competência, acrescentando-lhe a noção de adequação na produção
tro entre a orientação cultural das crianças abro-americanas e
linguística, isto é, o conhecimento que permite ao Falante produzir H expectativas da escola. Labov (] 969) estabelecia uma clara
infinitas sentenças, de acordo com o sistema da língua, inclui também
distinção entre conflitos estruturais, originários das diferenças
a capacidade que o falante tem de adequar seu discurso ao interlocutor entre estruturas linguísticas, e conflitos fiincionais, que crain
e às circunstâncias que presidem à sua enunciação. Essa reinterpretação, um fenómeno transcultural. Para ele, os problemas de leitura
quc valorizava as condições de produção da fala, é afim aos princípios das crlançn do gueto estavam enraizados iiuíi].l situação de ig-
sociolinguísticos, já que estes trouxeram as dimensões sociais para o norância recíproca: professores e alunos ignorando mutuamente
âmbito dos estudos da linguagem. os sistemas linguísticos uns dos outros. Ele reconlentava for-
Segundo narrativa de Camacho (2013), em maio de 1964, tcmente que os professores aprendessem a fazer unia distinção
encontraram-se 25 pesquisadores na Universidade da California em entre diferenças [dialetais] de pronúncia e gramática e erros de
Los Angeles (ucm) para uma conferência sobre Sociolinguística, pro- [eitura. (Bortoni-Ricardo, ] 997: 6 1; tradução da autora)
movida por William Bright. Por esse ten)po, vários linguistas reunidos
no Center For Applied Linguistics e na Universidade de Georgetown, O conceito de relativismo cultural, avançado por Franz Boas,
em Washington D.C., buscavam construir metodologias, de caráter 6oi introduzido neste primciro capítulo porque não se pode ler sobre
+
variacionista, que dessem conta da heterogeneidade linguística nos Sociolinguística nem entender as premissas em que essa disciplina se
] 6 Manual de Sociolínguística A SociolinguÍstica : ; 1 7
assenta sem que se perceba o alcance epistemológico da noção de relativis- pensamento sobre o tema em outros países. O foco dos estudos de
mo cu]tura]. Da mesma forma, há que se ter claro o conceito de letramento letramento eram as mudanças sociopolíticas e denlográGlcas que se
antes de avançarmos na reflexão mais específica sobre Sociolinguística. seguiram ao uso extensivo da escrita. Daí o interesse progrediu para a
Letramento é uma tradução feliz do inglês que se propôs no análise do desenvolvimento da tecnologia da escrita em grupos nacio-
Brasi[ para a palavra "/írexag", que ainda náo aparece no Nrm ]#w/xafe# nais ou sociais, em sociedades não industrializadas. É oportuno lembrar
WêZlífn} Z)/a/o ZT na edição de 1 992. O mesmo dicionário, contudo, que 6oi depois da invenção da imprensa por Gutenberg 1] 398-1468]
à página 571 , define msim a palavra "#/rnu/e". adj.l . /zZ'& /a reúd,znZ que os países europeus passaram a íàzer uso disseminado da leitura e
frite. 2. Haping a knowledge o.FLetters or !iterature: educated n. \. da escrita, antes circunscritas aos mosteiros.
'4n7ome .zóZr fo reízz/ /znz/ mr//e [. . .] [<]itteratus <]ittera -- ]etter] . Ainda segundo Kleiman (i995: 22), a lógica subjacente ao
O dicionário l)ilíngue inglês-português prós/rr}, editado primeiro modelo dos estudos de letramento previa correlação entre
por Antânio Houaiss, em t983, traz a seguinte definição para aquisição da escrita e desenvolvimento cognitivo; a dicotornização
://ferzr7": "s capacidade de ler c escrever; alfabetização, instrução entre oralidade e escrita e o reconhecimento de poderes intrínsecos à
(esp. de ]' grau): escrita e aos que a detinham (cf. Olson, 1983; Ong, 1982).3
Em inglês, a palavra "#í?xug" é mais usada no sentido de alfa- Essas posturas foram sendo revistas, contudo. Na década de
betização. Vejamos o que dizem Robert Fisher e Mary Williams na 1980, particularmente importante 6oi a constatação de que muitos
introdução de um guia para professores. dos processos cognitivos considerados como consequência da escrita
decorrem de fato de práticas escolares. É o treinamento escolar, e não
Um dos propósitos cennais da educação é ajudar os aluitos a a escrita.per ie, que molda certos modos de processar o pensamento
[er e escrever. Para muitas crianças [...] aprender a se tornar lógico. Uma relevante reanálise que veio influenciar os novos estudos
letrado é uma luta, à medida que elas c' seus professores bus- de letramento foi avançada por Brian Street ( 1 984), que identificou
cam a chave que vai desbravar os mistérios de aprender a ler duas maneiras de se conceber o letramento: atribuindo-lhe um caráter
e .l cscrevcr. Neste livro exploramos modos de como ajlidar
autónomo ou analisando-o de uma perspectiva ideológica.
a$ crianms a desenvolverem suas habilidades de alfabetização
No chamado modelo autân( mo de letramento, segundo a dico-
l/írenaQ'l, pensando e aprendendo. Tentamos rílostrar como n
tomia proposta por Street, atribui-se imaneiltemente à escrita, e por
ensino da a]fabelização ]/ií/rxz/W], incluindo a hora diária de
a[fabetização ]Z//rxaq], realizada todas as manhãs nas escolas
consequência também à leitura, o apanágio de habilitar o indivíduo a
realizar operações cognitivas complexas, independentemente de seus
inglesas, pode ser usada criativa c imaginativanlente a flm de
antecedentes ou de seu contexto. Um corolário desse entendimento
desenvolx er habilidades de leitura, escrita, fala e compreensão
oral com crianç;ts de todas as idades e habilidades. (Fisher e é uma perversa distinção entre indivíduos que sabem ler e escrever, e,
Williams, 2000: vii; tradução da aurora) portanto, estão aptos a desenvolver raciocínios complexos, e indiví-
duos incapazes de tais raciocínios, dotados de uma mente pré-lógica.
Segundo lqeiman (1995), o conceito de letramento começou Percebe-se aí a replicaçáo de noções preconceituosas e discriminatórias,
a ser usado no Brasil nos anos 1980, acompanhando os avanços do que porltuam a história do pensamento humano.
1 8 Manual de Socíolinguística A;Sociolinguística; : lg
Walter Olson que, em um primeiro momento, aderiu a essa Essas conclusões vão ao encontro do modelo ideológico de Street,
visão de letramento, em 1985, se perguntava: para quem as práticas letradas são plurais e culturalmente determina-
das. Observe-se que o autor, segundo ele próprio esclarece, não usou
É o letramento, incluindo a invenção dos sistemas de escrita o termo fz&aZóKíco no sentido marxista estrito.
e o desenvolvimento da impressão gráfica, un) Eator decisivo Na perspectiva sociolinguística que este livro adota, é sensa-
na mudança histórica e cultural? to pensarmos em duas versões do modelo ideológico. A mais fraca
O letramento altera a vida dos indivíduos social e mental- postula a pluralidade de práticas letradas, que se consubstanciam em
mente? Em caso aGlrmativo, como isso se dá? eventos [etrados, inc]usive eventos locais de ]erramento pertencentes
O que há no letramento que é decisivo para produzir essas a culturas náo hegemónicas, como veremos no capítulo "A herança da
mudanças sociais e pessoais? É a tecnologia da escrita? É o Antropologia cultural 1 : a Etnografia da comunicação", sobre práticas
desenvolvimento das formas de arquivamento? É o domínio e exemplos de Etnografia.
da informação preservada nessas formas de arquivo? É o A mais corte advoga que não haveria uma relação causal entre
crescimento de um pút)lico leitor? Ê o grau de letramento letramento e progresso tecnológico. Essa segunda tese é de difícil
que é significativo? Há uma homologia entre letramento e a comprovação empírica, pois as nações mais adiantadas, e consequen-
temente mais poderosas, são as que desenvolveram práticas letradas
mudança histórica e cultural, por um lado, e as habilidades
extensivas e impressas, há mais tempo, e têm baixíssimos índices de
letradas e mudanças cognitivas em crianças que crescem em
analfabetismo, inclusive analfabetismo funcional (cf. Moreíra, 2003,
uma sociedade letrada, por outro? ]...]
na questão do analfabetismo funcional).
Finalmente, há diferenças importantes entre a linguagem oral
Comentando o modelo ideológico de letramento de Street,
e a escrita? (Olson, 1985: 4 ss.; tradlição da autora)
Marcuschi(2001 : 28) propõe um contínuo de práticas sociais e ati-
vidades comunicativas:
Para depois concluir que praticamente tudo quc pode ser escrito
pode ser falado, as diferenças f\cam apenas nas opções linguísticas O modelo que pretendo stJgerir como adequado para [ratm dos
referentes aos recursos próprios das duas modalidades. Conclui .linda problemas de letrmtlcnto é o que parte da observação dm relações
que as convenções relativas à escrita estão associadas a maior prestígio entre a oralidade e o letrunento na perspectiva do contínuo das
e autoridade. Como conclusão final, ele assevera: práticas sociais e atividades comunicativas enl olvendo parcialmente
o n)odeio ideológico (em especial o aspecto da inserção da EJa e da
O letramento não causa mudança social, modernização ou escrita no contexto da cultura e da vida social) e observando a or-
industrialização. Mas ser capaz de ler e escrever pode ser \ irai ganização das fiormas linguísticas no contínuo dos géneros textuais.
para desempenhar certos papéis numa sociedade i ndusrríalizada.
[..-] O que interessa é o que as pessoas Eazcm com o ]etramento Antes de concluirmos o capítulo, vamos nos deter um pouco na
e não o que o lerramento Eaz com as pessoas. (O]son, 1 985: ] 3; questão n' 4, que David Olson se colocou: "Há diferenças importantes
tradução da autora)
entre a ]inguagem oral e a escrita?". Em diversas passagens deste livro,
'\
Manual de :Sociolínguística A Sociolinguística 21
veremos as distinções entre a modalidade escrita e a modalidade oral Discutiu-se também a motivação dos pioneiros z/fs-.à-uh o baixo
da língua. Antecipei algumas delas, com o propósito de deixar mais rendimento escolar de crianças de grupos minoritários e o surgimento
claras as noções relativas aos tipos de letramento. Essa reflexão nos de uma área dedicada aos estudos de letramento.
ajuda também a rejeitar posturas discriminatórias, mais propriamente
juízos de valor relativos a tipos de letramento ou a eventos de escrita
e de oralidade, que resvalam para preconceitos sociais e linguísticos. Exercícios
A oralidade é, por excelência, uma atividade localmente construída
e muito sujeita às contingências do momento da enunciação. De Eito, Questão 01
sabemos que a comunicação oral é coconstruída, pelos interagentes. O
Êdante recebe de seus ouvintes sinais de retorno que o ajudam a produzir 1 .1 Faça uma relação de todos os sociolinguistas citados neste capí-
e a modular a sua fuja. O ouvinte pode, pois, ser considerado o principal tulo. Para os que não são contemporâneos, acrescente ao nome
elemento do contexto que condiciona a EHa de seu interlocutor. Ou sqa, o o período em que viveram.
in teragente é contexto para o Edan te. Voltarei a esse tema oportu namen [e. 1 .2 Com base na lista do item anterior, faça uma descrição sucinta
Além dos ouvintes, os edantes também dispõem de muitos outros da contribuição do autor para o avanço da Sociolinguística.
apoios contextuais, particularmente os recursos dêiticos, que apontam
mais do que nomeiam, por exemplo: "este aqui", "aquele lá", "agora", Questão 02
"depois" etc. Na escrita, como normalmente os interlocutores não estão 2.1 Refeita sobre o conceito de letramento, considerando as duas
partilhando do mesmo contexto imediato, esses recursos não estão dis-
perspectivas propostas por Brian Street: letramento autónomo e
poníveis. Podemos mesmo dizer que, quanto mais apoio contextual tem
letramento ideológico. En) relação ao letramento ideológico, re-
um Edante, menos necessidade esse Edante terá de precisão lexical, e a
flira sobre a possibilidade de se ter vários tipos de letramento, tais
recíproca é verdadeira.
como letramentos locais e letramentos hegeriiânicos associados
A necessidade de maior precisão lexical na escrita resulta nor-
a instituições sociais, como igrejas, burocracia estatal, cartórios
malmente em maior formalidade e requer mais planejamento. No
entanto, não devemos tratar oralidade e escrita como duas entidades c órgãos do Poder Judiciário. Finalmente, pense' nas caracterís-
ticas que marcam a modalidade oral e a modalidade letrada da
dicotâmicas. Um tratamento mais adequado é o de um contínuo, com
as extremidades marcadas, respectivamcntc, pelos eventos de oralidade língua. Todos esses conceitos apresentados no capítulo devem
e de letramento (cf. Bortoni-Ricardo, 2005, cap. 4). integrar-se de modo a tornar a compreensão de conceitos mais
Este capítulo introdutório dedicou-se à descrição do estado da abstraros, como o re]ativismo cu]rura] e o leíramcitto ideológico
e autónomo, mais eâetiva.
arte dos estudos da linguagem quando a Sociolinguística surgiu como
uma disciplina autónoma. Foram mencionados os dois pressupostos
que constituem as raízes da Sociolinguística e também alguns teóricos 2.2 Discuta com seus colegas sobre o tratamento discriminatório
que a precederam, mas que já valorizavam as características dos falantes que a sociedade em geral confere a eventos de letramenro locais
e as circunstâncias da enunciação. e não hegemânicos.
T 56 Manual de Sociolinguística
Exercícios
Questão O l
Questão 03
Denominei Sociolinguística cducaciond o esforço de aplicação para perceber, relacionar e interpretar o que as cerca. nos
No
dos resultados das pesquisas sociolinguísticas na solução de problemas Brasil, a gramática herdada de Portugal e descrita
educacionais e em propostas de trabalho pedagógico mais e6etivas. Para compendios escolares é socialmente muito valorizada e
isso, o paradigma incorpora resultados de estudos sociolinguísticos está r'rasgada na mente dos brasileiros, condicionando
quantitativos e qualitativos, enriquecendo-os com subsídios oriundos suas interpretações.
de áreas afins, como a pragmática, a linguística do texto, a linguística
aplicada e a análise do discurso. São comuns, nas redes sociais da internet, críticas ao que a
O Brasil, além dos problemas seculares dc deficiência na educação, sociedade em geral considera "erros de português". Vejamos uma
desenvolveu novos problema decorrentes de eHácias construídas por leitu- dessas críticas:
ras aligeiradas dos próprios textos técnicos da área de Sociolinguística.
A atroz, fulana de tal, irmã de dois cantores, utilizou sua conta
A principal delas é a crença de que não deveriam os professores intervir
na rede de comparlilhamento de fotos ]nstagram para postar
na correção dos chamados erros gramaticais (cf. Bortoni-Ricardo e uma mensagem na noite deste sábado (9). Porém, a frase possuía
Oliveira, 2013: 45-62). Os linguistas diziam: as variantes não padrão erros de português. " Depois de um conserto, por m'is que nao
presentes na língua não são erros, mas, sim, diferenças, mais produ- veja, a cola esta lá (sic)", escreveu
tivas na modalidade oral da língua e en] estilos não monitorados. A
escola concluiu erroneamente que, não sendo essas variantes erros, não Os alunos que não receberem avaliação de seus professores
deveriam ser corrigidas sob pena de se criar insegurança linguística
nos alunos. Esse raciocínio, que se generalizou na escola brasileira,
desconhece que:
O estágio da percepção social iniciado na adolescência, 5 A descrição da variação da Sociolinguística Educacional não
deve ser dissociada da análise etnográfica de sala de aula, que
quando o significado social do dialeto dos amigos torna-se
mais evidente; permite avaliar o signiâcado que a variação assume para os
O estágio da variação estilística, quando o indivíduo comem amores naquele domínio, particulumente a postura do pro-
a aprender a modificar sua eHa cm direção ao standard de fessor diante de regras não padrão da língua;
educacionais, Bortoni-Ricardo (2005: 130-3) elaborou alguns prin- país, e intenso às diversas campanhas de alfabetização que surgiram
cípios que reproduzo aqui:
gunda metade do século xx. A taxa de alfabetização no Brasil é uma
A influência da escola não deve ser procurada em estilos das mais baixas do mundo, mesmo considerando apenas os países do
coloquiais e espontâneos dos falantes, mas em seus estilos Hemisfério Sul, conforme veremos a seguir.
mais monitorados; O Relatório de Desenvolvimento Humano de 200 1 das Nações
A escola deve ocupar-se principalmente das regras variáveis Unidas informa que 55% dos países do mundo apresentam melhor
que recebem avaliação negativa na sociedade, enfatizando as desempenho na alfabetização que o Brasil. Na América Latina, 72%
que são mais salientes; dos estados nacionais têm taxa de analfabetismo menor que a brasileira.
O estudo da variação sociolinguística no Brasil, por não estar Em janeiro de 201 0, a Unesco divulgou o índice de desenvol-
essa variação associada basicamente à etnicidade, exceto no vimento da educação de 128 países, no qual o Brasil ocupa a 88'
caso das comunidades indígenas bilíngues, não tem o poten- posição, perto de Honduras, Equador e Bolívia e longe dos vizinhos
cial de conflito interétnico que assume em outras sociedades. Argentina(38'), Uruguai(39') e Chile(51')-
Conduzido com sensibilidade e respeito esse estudo pode ser Segundo o censo de 201 1 do IBGE, quase 30% dos brasileiros
muito positivo; com mais de 65 anos não sabem ler ncm escrever. É um problema
Os estilos monitorados da língua devem ser reservados que atinge 14,6 milhões de posso's. Seguem-se quadros abrangendo
à realização de eventos de letranaento em sala de aula. todas as faixas etárias, a partir dos dez anos, com os resultados de
Eventos de oralidade podem ser conduzidos em estilos 2000 e 20] 0.
mais casuais;
'-~.
O impacto da Sociolinguística na educaç:ão 63
62i: Manual de Sociolinguística
1
1
Analfabetos no Brasi] com ]O anos Para concluir o capítulo, vamos arrojar tarefas voltadas para o
ou mais (%) por área de residência ensino de português como língua materna, na educação básica desde
2000 2010 as séries iniciais. Essas tareem podem ser subsidiadas pelos estudos da
] .6 Relacionar a alo6onia das vogais médias /e/ e /o/ ao padrão 3. Tarefas vo]tadas ao desenvolvimento da competência reitora
acentuam dos vocábulos fonológicos e grupos de força; (cf Bortoni-Ricardo; Machado e Castanheira, 201 0).::
1 .7 Relacionar a tendência a sílabas abertas na língua oral
à perda das letras equivalentes aos segmentos conso-- Bloco 1 : Recuperação de informação
nânticos em posição pós-vocálica na escrita, inclusive 1 . Localizar inGormaçóes literais em textos contínuos (narração,
a desnasalização (cf. Bortoni-Ricardo, 2004, cap. 7); exposição, descrição, argumentação, instrução, hipertexto
1.8 Identificar vogais e ditongos nasais e nasalizados e etc.) e não contínuos (gráElcos e quadros, tabelas, diagramas,
relacionar convenções na grafia de ditongos nasais ao mapas, formulários, folhetos de informação, peças publici-
padrão acenrual da palavra; particularmente no caso tárias, comprovantes, certificados etc.);
do ditongo /ãw/; 2. Localizar informações explícitas em textos contínuos e não
1 .9 Identificar fonemas consonânticos e vocálicos que têm contínuos, reconhecer o assunto do texto, reconhecer a
duas ou mais representações gráficas /s/; /e/ e identif\car finalidade do texto, identificar textos de circulação social,
letras que representam mais de um fonema "x"; "c"; realizar inferências de pouca complexidade;
1 . 1 0 Distinguir entrc as regras variáveis no repertório dos 3. Integrar informações entre texto contínuo c texto não
alunos as que têm caráter regional das que têm caráter con tlnuo;
idiossincrático e elaborar estratégias pedagógicas para 4. Integrar informações entre dois textos não contínuos;
o trabalho com a variação linguística: regional; social 5. Integrar in6ormaçóes entre dois ou mais textos contínuos;
e funcional; 6. Reconhecer a organização de informações em textos contí-
2 Tarefas para professores do ensino básico: estratégias para nuos e nao contínuos;
trabalhar as seguintes regras variáveis que têm conse- 7. Relacionar informação dentro de um mesmo texto;
quências na coesão textual. 8. Encontrar informações para contrastar informações forneci-
2. 1 Mecanismos dc coesão frásica da ]íngua oral c da língua das no tcxto com a visão pessoa! de mundo.
escrita (topicalização do sujeito; verbos haver e fazer im-
pessoais; regras variáveis de regência verbal e de concor- Bloco 2: interpretação
dância nominal e verbal; regras variáveis de interrogação 1. 1n$erir um ponto de vista;
e do uso de relativas); 2. Ingerir uma relação intencional;
2.2 Mecanismos de coesão temporal e referencial (simplifi- 3. Entender a função dos elementos em textos não contínuos
cação da flexão modo-temporal; variação na morfologia (diagrama, gráfico, tabela);
verbal; neutralização dos pronomes sujeitos e objctos; 4. Identificar o objetivo de um autor em um texto;
apagamento do pronome objeto; supressão dos clínicos; 5 . Estabe]ecer relações lógico-discursivas;
formar variantes do pronome dc primeira pessoa do 6. Identificar a intenção do autor em texto argumentativo;
plural'jMgtrução de cadeias anafóricas). 7. 19ti;i!!nguir Fato de opinião;
O impacto da Sociolinguística na educação 1 67
li66 :' Manual de Sociolinguística
8. Desenvolver uma hipótese coerente com a informação dada; Preparar a produção de texto com leituras e discussões orais;
9: Comparar textos; Incentivar os alunos a produzir textos orais anteriores
10 Reconhecer o cenário de uma história; aos escritos;
11 Deduzir o significado do titulo de um texto literário a partir Estimular a intertextualidade, variando os gêneros tex-
do contexto; tuais que serão produzidos;
12 Dar uma opinião sobre as atitudes de um personagem no Incentivar a avaliação pelos pares;
texto ejustiGlcá-la; Divulgar os textos escritos na escola e buscar outros leitores;
13 Identif\car a motivação/intenção de um personagem; [)iscutir com os autores as correções feitas;
14 Perceber nuances na linguagem que realçam a interpretação; Incentivar os alunos à redacção pós-correção.
15 Identificar elementos que sustentem um ponto de vista;
16 Entender a ideia principal dc um tcxto; Introduzi neste capítulo a Sociolinguística educacional; conside-
17 Entender a ideia principal de parte dc um texto; rando-a como uma macroárea comprometida com o aperfeiçoamento
18 Inferir a relação entre uma sequência de fatos; das práticas linguísticas escolares. Examinei problemas decorrentes de
19 Reconhecer a ideia principal de um texto quando as ideias uma leitura malguita de textos socioli nguísticos, trouxe dados atualiza-
estão contidas nos subtítulos; dos sobre o problema do analfabetismo no país e, finalmente, reproduzi
20 Inferir a razão para uma decisão do autor; algumas matrizes de habilidades a scrcrn desenvolvidas pelo professor,
21 Distinguir ideia principal das secundárias; capacitando-o à aplicação de tareEm produtivas em sala de aula.
22 Integrar várias partes do texto;
23 Aplicar critérios dados em um texto a outros casos;
24 Reconhecer o objetivo de um texto;
Exercício
25 . Formar generalizações;
26 .Integrar notas com texto principal. Questão O l
27 Utilizar o conhecimento e a experiência pessoal para formular
Analise as matrizes de tarefas( ia 'i) propostas no capítulo c procure
uma hipótese que seja coerente com informações fornecidas aperfeiçoa-las ou amplia-las, discutindo o tema com seus colegas
por um texto; e professores.
28 .Associar informações e chegar a conclusões.
1. Introdução
Há, entre aqueles que se preocupam com o ensino de Língua Portuguesa como língua
materna na escola básica, o entendimento de que o foco do trabalho na sala de aula não pode
ser mais a gramática com objetivo e fim em si mesma. Busca-se, hoje, ampliar a competência
comunicativa dos alunos, o que representa uma mudança de perspectiva. Tal mudança está
sendo possível por conta da concepção que se passou a assumir em relação à língua,
considerando-a como um instrumento de comunicação e de ação e privilegiando sua
funcionalidade.
Com base nessa visão, pesquisadores que se dedicam a pensar as práticas pedagógicas
de ensino de língua na escola básica têm trazido, para o centro de suas discussões, a
abordagem funcionalista da linguagem.
A partir dos pressupostos teóricos da Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY,
2004), entende-se que o trabalho com a gramática na escola é necessário – ao contrário do que
defendem alguns – e que o conhecimento gramatical é imprescindível para que o aluno possa
desenvolver suas habilidades de leitura e de escrita, atingindo uma maior proficiência verbal.
A ênfase dada hoje ao trabalho com os textos na escola – presente nos documentos
oficiais que apontam diretrizes para o ensino – vem ao encontro do que propõe a abordagem
sistêmico-funcional, que estabelece uma estreita relação entre os fatos gramaticais e a
constituição dos textos.
Anais do SILEL. Volume 2, Número 2. Uberlândia: EDUFU, 2011.
2
ABORDAGEM ABORDAGEM
FORMALISTA FUNCIONALISTA
LÍNGUA
Sistema autônomo de códigos Ferramenta para a interação social
3. Linguística Sistêmico-Funcional
A exploração das formas da língua tem como fim, então, a compreensão e a construção
de textos. A análise linguística é meramente meio para se chegar à construção dos sentidos do
texto, objetivo que deve ser perseguido nas aulas de língua. Na escola, a unidade básica da
análise linguística é o texto, entendido como uma possibilidade realizada a partir do potencial
total de significados da língua. E é nessa perspectiva que se dimensiona o lugar da gramática:
Quando fazemos uso da língua, produzimos textos que constroem sentido a partir de
nossa experiência, e interagimos socialmente, ligando o mundo da linguagem (léxico-
gramática) ao mundo que existe fora da linguagem (o mundo dos fatos, dos acontecimentos,
dos processos sociais, dos processos mentais). É desse modo que a Linguística Sistêmico-
Funcional busca compreender a natureza e a dinâmica do sistema semiótico como um todo.
A partir da concepção sistêmico-funcional, a língua é vista como um sistema aberto e
sempre sujeito a mudanças orientadas por fatores sociais. Ela se estrutura com base em três
dimensões de significados realizados simultaneamente nos textos: o ideacional, o interpessoal
e o textual, que são a base das metafunções ideacional, interpessoal e textual.
Essas três dimensões compõem a estrutura semântica do texto e o constroem,
respectivamente, como representação – um processo da experiência humana –, como troca –
Anais do SILEL. Volume 2, Número 2. Uberlândia: EDUFU, 2011.
5
Rude e doloroso
O autor desse texto tem diante de si uma tarefa profissional de escrita. Essa tarefa
impõe um gênero textual específico (um texto de opinião), com espaço garantido em certa
seção do jornal (Seção Opinião). O gênero e o suporte impõem certas restrições e certas
liberdades de que o autor lançará mão para cumprir sua tarefa profissional e sua intenção
comunicativa.
A temática de que trata o texto (o Novo Acordo Ortográfico), por exemplo, poderia ser
abordada por outros gêneros, entretanto, a opção pelo texto de opinião se dá justamente pelas
restrições já mencionadas. Não se espera que o autor apresente, ao seu editor, um poema ou
um artigo científico para figurar no espaço destinado ao texto de opinião no suporte jornal. O
gênero selecionado exige um formato e uma estrutura característicos, deixando, ao autor, uma
margem relativamente pequena de liberdade no que se refere a sua superestrutura.
Diante da situação comunicativa que se apresenta, o autor assume a imagem de
alguém que questiona um fato que inquieta a sociedade, assumindo sua voz. Ao mesmo
tempo, vê como seus prováveis interlocutores, por um lado, representantes dessa mesma
sociedade, que se sentirão – imagina ele – representados por sua fala; por outro, os mentores
da suposta unificação proposta para o português, que terão um retorno de como sua ação vem
se refletindo entre os falantes da língua no Brasil.
No que se refere às variedades de língua, o autor opta por utilizar, em seu texto a
norma padrão em seu registro formal. Essa opção também se dá por força da situação
comunicativa que a ele se impõe. O gênero texto de opinião e o jornal onde será publicado o
texto impedem, por exemplo, a utilização de um registro informal distenso.
Esses são aspectos relevantes que determinaram que o texto produzido por Veríssimo
fosse esse e não outro. São as escolhas que o sistema disponibiliza. Cabe ao falante escolher o
que mais adequadamente cumprirá sua intenção comunicativa em consonância com o
contexto de situação e o contexto de cultura (HALLIDAY, 2004). São esses aspectos, então,
que devem fazer parte da discussão em torno da escrita na escola, além dos aspectos
linguísticos propriamente ditos.
Como já dito anteriormente, o componente semântico do sistema linguístico configura-
se como um sistema de escolhas à disposição do falante. Considerando-se as formas léxico-
gramaticais usadas no texto analisado, focaremos nossa atenção em dois aspectos específicos,
em função de seus efeitos de sentido no contexto: o emprego de termos e a organização do
período.
No trecho do texto analisado, o autor emprega os seguintes termos: talvez, pode-se
prever, aumentaria, que marcam uma posição de não comprometimento com o que está
sendo dito. O autor “protege sua face”, não assegurando ao leitor que o acordo não vale o
trabalho que dará, que as mudanças levarão tempo para “pegar” (a oração condicional se
vierem reforça isso) e que a unificação do idioma aumentará o mercado em potencial para os
livros dos escritores de língua portuguesa. Essa escolha do autor tem razão de ser: ele busca
negociar com seu interlocutor a validade de suas proposições num momento ainda de
indefinição sobre os rumos que os países envolvidos dariam ao Acordo – sentido interpessoal.
Quanto à organização do período, analisaremos a composição do seguinte trecho:
(d) ...(a Espanha) perdeu seu império americano, embora tenha deixado um imenso
mercado para o Garcia Marques e o Vargas Llosa,...)
A percepção dessas e de outras sutilezas nos textos é uma habilidade de leitura a ser
desenvolvida pela escola, assim como também é uma habilidade saber empregá-las
conscientemente nos textos que se produzem. As escolhas linguísticas (não só lexicais, mas de
arranjos estruturais) feitas pelo locutor é que delinearão o texto que ele produzirá,
determinando o(s) sentido(s) nele construído(s), assim como guiarão o interlocutor na busca
desse(s) sentido(s), auxiliando-o no reconhecimento da intenção comunicativa do autor.
5. Considerações finais
Sendo a escrita uma prática social, o professor que pretende ensinar a escrever deve ter
como referência fundamental os conteúdos envolvidos nas práticas sociais da escrita. É
preciso desenvolver nos alunos o chamado comportamento escritor – ao lado do
comportamento leitor –, algo que se conquista por meio da familiarização com os textos e
com a prática da escrita de diferentes gêneros. Planejar o que se vai dizer, textualizar a
intenção que se tem, revisar mais de uma vez a escrita são os comportamentos de quem
escreve que a escola precisa desenvolver. Tais comportamentos são etapas de que depende o
sucesso da escrita de nossos alunos, pelo qual nós, professores, somos diretamente
responsáveis.
6. Referências bibliográficas
O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS entre elementos verbais e não verbais na análise de uma materialidade
que representa as mil faces do Brasil presente no livro didático de Língua
SOBRE AS FACES DO BRASIL EM UM LIVRO Portuguesa da Coleção Diálogo.
DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA A linguagem pressupõe o silêncio porque quando se diz algo, silen-
cia-se outra coisa. Aliás, a falta é característica da própria língua e é pela
incompletude que se pode compreender que o silêncio significa por-
PALMIRA VIRGÍNIA BAHIA HEINE ALVAREZ que não se pode dizer tudo, porque para se dizer algo é preciso recor-
Grupo de Estudo e Pesquisa em Análise de Discurso/Universidade Estadual de Feira de Santana tar sentidos, é preciso se inserir nas zonas do interdiscurso e retomar da
multiplicidade dos sentidos o que pode ser enunciado a partir de uma
determinada formação discursiva. Pensando na inserção do sujeito no
FLÁGIA MARINHO interdiscurso e no fato de que para dizer, ele precisará recortar sentidos
Universidade Estadual de Feira de Santana e falar algo para silenciar outra coisa, podemos dizer que o silenciamen-
to é matéria significante. É este ponto que nos interessa. Pensando a
partir do que propõe Orlandi (2007, p.68), dizemos que:
PALAVRAS INICIAIS não é do silêncio em sua qualidade física que falamos aqui, mas
do silêncio como sentido, como história (silêncio humano), como
O silêncio não é o vazio de sentidos, e também não é apenas o com- matéria significante. O silêncio de que falamos, é o que instala o
plemento da linguagem. Da perspectiva teórica da qual falaremos neste limiar do sentido. O silêncio físico não nos interessa, assim como,
capítulo, ou seja, a partir do viés da Análise de discurso de vertente pe- para o linguista, o ruído enquanto matéria física não se coloca
como objeto de reflexão.
cheutiana, que problematiza as relações entre o dizer e o não dizer, uma
vez que o sentido não está nunca no “já-lá” da palavra, mas está na con-
É no jogo permanente entre o dizer e o não dizer que os sentidos
junção entre língua, história e ideologia, entre o que se diz e o que não
se constituem e, como analistas do discurso é preciso saber que a sig-
é dito, é possível dizer que é preciso que haja silêncio para que se possa
nificação só pode ser múltipla porque há o funcionamento do silêncio.
significar. Assim, o silêncio significa na e pela linguagem. O silêncio pos-
Quando o sujeito recorta o silêncio, a partir de uma posição que ocupa
sui uma dimensão histórica que indica que a linguagem é apenas uma
na esfera discursiva, o que ele não diz já indica um funcionamento da
parte do sentido. Se o silêncio atravessa as palavras, ele também atra-
ideologia. O não dizer é também uma marca da relação entre discurso
vessa as imagens. Se pensamos a imagem como discurso, como dotada
e ideologia.
também da opacidade que rompe a transparência dos sentidos, pode-
É possível retomarmos os pressupostos da Análise de discurso
mos afirmar que o que se representa numa imagem é uma parte do sen-
que já nos indicam que os sentidos não estão e nem derivam da língua
tido ligada à posição que o sujeito ocupa no discurso. É pensando nessa
enquanto estrutura puramente formal, mas incidem sobre a estrutura
relação do silêncio com a linguagem, com as palavras, com a imagem,
linguística concebida como um sistema relativamente autônomo, que
com o que se diz e com o que não se diz. que propomos neste trabalho
não tem um funcionamento puramente linguístico, mas que funciona
uma reflexão sobre o que se diz e o que não se diz, a partir da injunção
pela história e pela ideologia. Assim, a língua não é puro e simples
“instrumento de comunicação”, ela não existe fora do sujeito como um Consoante Orlandi (2007) o silêncio constitutivo:
instrumento usado para comunicar algo. Ao contrário, Pêcheux critica
esta noção de língua como instrumento de comunicação, já apontando Representa a política do silêncio como um efeito de discurso
também para o funcionamento do silêncio na sua relação com o sentido que instala o anti-implícito: se diz “x” para não (deixar) dizer “y”,
este sendo o sentido a se descartar do dito. É o não-dito neces-
quando ressalta que “esse instrumento permite, ao mesmo tempo, a
sariamente excluído. Por ai se apagam os sentidos que se quer
comunicação e a não-comunicação” (PECHEUX, 2009, p. 82). Assim, a
evitar, sentidos que poderiam instalar o trabalho significativo
partir dessa ideia pecheutiana, ressalta-se que através da língua pode-se
de uma “outra” formação discursiva, uma “outra” região de senti-
dizer, mas também é possível não dizer. dos. O silêncio trabalha assim os limites das formações discursi-
Segundo Pêcheux e Fuchs (1997, p. 166), devemos conceber o dis- vas, determinando consequentemente os limites do dizer. (OR-
curso como “um dos aspectos materiais do que chamamos de materia- LANDI, 2007, p. 73-74).
lidade ideológica”. Assim, o discurso não existe fora da ideologia, ele é
um dos aspectos da materialidade ideológica, o que nos leva a enunciar Segundo Orlandi (2007), o silêncio local é exemplificado pela proi-
que o funcionamento do silêncio relaciona-se diretamente com o fun- bição do dizer, pela censura, ou seja é o sentido proibido que não pode
cionamento do discurso e, a partir do que não se diz é possível buscar aparecer em determinada conjuntura. A censura produz materialidades,
compreender os modos de funcionamento da ideologia a partir da com- pois o que não se pode dizer pela censura deixa também marcas. Assim,
preensão do silêncio como materialidade significante, pois o que não se a censura instaura pela força um proibido, um impossível. A censura ba-
diz indica um posicionamento do sujeito e deixa marcas do funciona- seia-se na proibição de certos sentidos: proíbem-se determinadas pala-
mento ideológico. vras para que certos sentidos não possam vir à tona. Segundo Orlandi
(2007, p. 76), “a censura proíbe ao sujeito ocupar certos lugares”
1. CATEGORIZANDO O SILÊNCIO Ressaltamos, no entanto, que a proibição de sentidos nem sempre
se liga a mecanismos explícitos regulados por decretos, leis ou instru-
Orlandi (2007) propõe categorizar o silêncio a partir de um viés ções, defendendo a ideia de que há mecanismos de interdição de senti-
discursivo, concebendo-o de diferentes modos. Assim, ela o divide em dos regulados por determinadas formações discursivas, sendo essas últi-
duas grandes categorias: o silêncio fundador e a política do silêncio. O mas que fornecem as fronteiras entre o que se pode ou não dizer. Assim,
silêncio fundador é, segundo a autora, a matéria significante por exce- se não ocorre explicitamente uma proibição de sentidos, há, de certo
lência, é o fundo sobre o qual se ergue a linguagem, é aquele que existe modo, um mecanismo de controle de sentidos gerado pela inserção do
nas palavras, produzindo condições para instaurar o significar. sujeito em determinadas formações discursivas que regulam os sentidos
A política de silêncio por sua vez, subdivide-se em silêncio local e possíveis de serem gerados em determinada conjuntura.
constitutivo. O silêncio local representa a censura e o silêncio constitu- Se pensarmos que a interdição nem sempre se apresenta explicita-
tivo indica que quando se diz algo, outra coisa é silenciada. Neste últi- mente a partir de regras ou mecanismos explícitos que impedem a pro-
mo ocorre o entrelaçamento do dizível e o do não dizível, que acontece dução de um sentido, podemos perceber que ela se liga também aos
dentro da conjuntura sócio- histórico- ideológica, portanto quando se modos de inserção do sujeito nas zonas de sentido e, por conseguinte,
enuncia algo necessariamente apagam-se outros sentidos possíveis, es- aos modos como o sujeito é levado a ocupar posições na esfera discur-
tes que podem ser indesejáveis no discurso em dada situação. siva a partir do silêncio.
O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS 53 54 O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS
FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
ANÁLISE DO DISCURSO E MATERIAIS DE ENSINO Palmira Virgínia Bahia Heine Alvarez; Flágia Marinho
Orlandi (2007) indica que o silêncio é a base para a constituição da pelo impossível, na medida em que o dizível é limitado ao disponível no
linguagem, sendo, portanto, condição necessária para a mesma. Tfouni interdiscurso e nas formações discursivas.”.
(2008) argumenta que o silêncio é condição necessária, mas não sufi- O interdito se relaciona também com a posição do sujeito no discur-
ciente para a linguagem, uma vez que para que seja possível enunciar, é so: de que (entre)lugar ele fala? Constituído pela ideologia, o indivíduo
necessário o corte do interdito, aí compreendido como o impedimento interpelado em sujeito, diz algo e silencia outra coisa, mas há sentidos
do dizer. Assim, o impedimento do dizer não está apenas no nível da que, dentro da formação discursiva a partir da qual fala, não podem ser
censura, mas no jogo entre o poder e o não poder dizer. Desse modo, gerados. Nesta direção que iremos analisar uma materialidade presente
o interdito, o não poder dizer seria o elemento fundador da linguagem, num livro didático de Língua Portuguesa. O que está interditado pela
assim como o silêncio. Segundo o pesquisador: formação discursiva em que se inserem os dizeres sobre as mil faces do
Brasil? De que modo o silêncio e o interdito se entrecruzam na atribui-
o interdito é fundamental para a existência da linguagem. É ele ção de sentidos a partir desta materialidade?
que mantém o campo da enunciação aberto, justamente por
impedir que se diga tudo. Ele é então condição de possibilidade
2. O INTERDITO E O SILÊNCIO: AS FACES DO BRASIL NUM LIVRO
da linguagem, o que atesta seu estatuto fundador e constitutivo.
(TFOUNI, 2008, p.363)
DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Após o estágio inicial em que havia o silêncio, antes da linguagem, O livro sobre o qual vamos nos debruçar é o de Língua Portuguesa
foi preciso um corte, segundo Tfouni (2008), o corte do interdito. Isso da Coleção diálogos que circulou na rede pública de ensino da Bah-
porque o silêncio que havia antes da linguagem era silêncio por si mes- ia entre 2013 e 2016. Debruçaremos-nos mais propriamente em uma
mo, não havendo necessidade ainda do dizer. Porém, quando surge a materialidade imagética-verbal que está na abertura do módulo 3 do
linguagem, faz-se necessária a intervenção do interdito inaugurando livro do nono ano. No referido módulo, cujo tema é: “As mil faces do
um poder e um não poder dizer. Brasil”, o livro procurou trabalhar a constituição histórica do Brasil e
Tfouni (2008) ainda propõe uma diferença entre o interdito e a cen- a miscigenação que tem o seu povo, por isso, nessa seção, todos os
sura. Enquanto a censura é a proibição do dizer devido a uma dada cons- textos pretendiam de algum modo fazer referência a essa temática.
tituição sócio-cultural e histórica, a interdição é o que delimita o que Observando os textos que constituem este módulo, já é possível ob-
se pode dizer do que não se pode dizer, sendo, portanto, um elemento servar por meio do silencio constitutivo (que diz x para não dizer y)
estrutural. que o negro foi silenciado, pois os textos tidos como principais que são
Com base nas ideias de Tfouni (2008), é possível afirmar que o in- da seção “Texto” focalizam o papel do imigrante (texto 1) e do indíge-
terdito não é a proibição do dizer devido a uma conjuntura política, mas na (texto 2), enquanto que ao negro dedica-se, apenas, um pequeno
uma interdição que recorta o dito do não dito. Assim, tomando como texto titulado “Guardiã do divino” com foco para o aspecto religioso
base a noção de interdito proposta pelo referido pesquisador, salienta- buscando explorar questões gramaticais.
mos que o interdito tem relação primeira com a formação discursiva a Assim, ao tratar das mil faces do Brasil, o módulo privilegia textos
partir da qual se enuncia, que faz com que haja sentidos que podem ser que falem sobre índios e imigrantes e silencia os negros, indicando uma
gerados e outros que não podem. Segundo Tfouni (2008, p.367): “o inter- contradição entre o que se diz (mil faces) e o que não se diz: a importân-
discurso e as formações discursivas podem ser vistos como estruturados cia do povo negro na constituição do Brasil.
O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS 55 56 O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS
FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
ANÁLISE DO DISCURSO E MATERIAIS DE ENSINO Palmira Virgínia Bahia Heine Alvarez; Flágia Marinho
A seguir, colocaremos a capa do módulo. está o negro simbolizado por uma criança e ao lado esquerdo, de perfil,
aparece o índio. O negro com a face pela metade, e o índio de perfil, se
Exemplo: contrapõem ao branco colocado ao centro, olhando para a frente. É pos-
sível observar na imagem que próximo ao índio existem alguns elemen-
tos da natureza como: árvores, folhas e pássaros, atrelando-o a esse es-
paço natural. O negro aparece próximo a algemas, cadeados, correntes
e o seu rosto marcado pela luminosidade dando um efeito e sentido de
vida sofrida, em referência à luta e a dor da escravidão, retratados, inclu-
sive, pelo seu olhar de lamúria. O imigrante surge ao centro e próximo
dele há um retrato de família dando um efeito de sentido de saudade já
que muitos deixavam suas famílias e sua terra natal para virem ao Brasil,
também há próximo a ele a imagem de uma roda simbolizando, dentre
outras coisas, o progresso.
Como a língua não é inocente e o sujeito é sempre interpelado por
ideologias, podemos, por meio do aporte teórico metodológico da AD,
perceber modos de funcionamento desses discursos. Nesse sentido
cabe perguntarmos, então, por que o índio e o negro estão à margem?
Fonte: Livro didático de Língua Portuguesa, Coleção Diálogo 9º ano, p. 99
Há o funcionamento de uma dada ideologia: a de que o homem bran-
co europeu representou o verdadeiro avanço da construção do Brasil e
Refletindo sobe o enunciado: “As mil faces do Brasil”, podemos per- que, portanto, o europeu é superior aos outros povos representados na
ceber que esse promove uma retomada da memória discursiva de que, capa da unidade. Portanto, essa materialidade que ora analisamos, gera
apesar da base formativa do Brasil ter sido: índios, africanos e portugue- sentidos a partir da formação discursiva do colonizador. E é a partir des-
ses, outros povos também fizeram parte desse processo de formação ta formação discursiva que poderemos perceber o funcionamento do
do país, inclusive, diversos imigrantes que por aqui passaram e tantos silêncio e do interdito. Aqui ressaltamos o funcionamento do interdito
outros que aqui ficaram. Todos, excepcionalmente, deixaram sua contri- a partir dos limites da FD do colonizador. Há aí uma interdição: a de não
buição na formação cultural do Brasil. se possível relatar o negro ou o índio ao centro, e um funcionamento da
No entanto, apesar de se referir a mil faces, o LD elege a tríade base ideologia que conduz os sentidos a funcionarem de maneira a se natu-
da formação do Brasil para representar esse processo histórico. Ou seja, ralizar o fato de que ao negro, colocado à margem, cabiam as correntes,
o índio, o branco (representando o português) e o negro. As imagens enquanto aos índios, cabia a vida natural e aos brancos, o progresso.
que compõem a abertura do módulo foram distribuídas de forma a tra- A partir do silêncio constitutivo, é possível perceber que a impor-
zer à tona elementos da memória discursiva e histórica que ancora a tância do negro e do índio é colocada à margem, sobretudo, no que
ideia da formação do Brasil representada no livro. concerne ao trabalho dignificante na construção do Brasil, pois, apesar
Na opacidade da imagem, temos, ao centro a figura que representa desses povos fazerem parte dos elementos da capa aqui representada
o colonizador. Ao lado direito e com apenas metade do rosto à mostra, na materialidade analisada, estes vêm atrelados ao processo histórico
O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS 57 58 O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS
FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
ANÁLISE DO DISCURSO E MATERIAIS DE ENSINO Palmira Virgínia Bahia Heine Alvarez; Flágia Marinho
de escravidão e da vida na natureza, aparecem à margem. O negro tem a construção de um país. Informações sobre o negro aparecem no de-
sua fisionomia representada pela metade, e o índio vem representado correr do módulo, apenas, na seção intitulada Trabalhando a gramática
de perfil e eles não são colocados ao centro. Dessa forma, a imagem, a partir do texto Guardiã do divino focando a crença religiosa e a simpli-
atravessada pelo silêncio faz circular discursos que mostram apenas em cidade da cultura africana, mas silenciando a efetiva participação desse
segundo plano a participação de negros e índios para a constituição das povo na formação do Brasil com trabalho e suor. Temos aí o silêncio
faces do Brasil. constitutivo (se diz A para não se dizer B), se diz sobre o índio e o sobre
O silêncio constitutivo e o interdito atravessam não só a imagem o europeu para não se dizer sobre o negro. Há também uma interdição
da capa, mas os textos escolhidos para comporem o módulo que fala que instaura o não poder dizer margeado pela formação discursiva uma
sobre as faces do Brasil. O referido módulo traz os seguintes textos 1. vez que: dentro da formação discursiva colonialista não se pode dizer
Histórias de mãe e filho- nesse texto, apresentado como um conto, con- que o negro contribuiu para construir o país, pois dentro desta FD, o
ta-se a história da família de Raquel (uma imigrante) e mostra-se ba- símbolo do progresso seria o homem europeu.
sicamente o percurso que esta família de imigrantes faz até se fixar na
cidade São Paulo, no Brasil. O texto traz discursos oriundos das relações ÚLTIMAS PALAVRAS
familiares, do amor, da importância da leitura e do trabalho; 2 As leitu-
ras indígenas- que é um depoimento do indigenista Orlando Villas Bôas No funcionamento do silêncio, entre o dizer e o não dizer, entre o
que narra um pouco de sua convivência com os indígenas durante a ex- poder dizer e o não poder dizer, há a produção de sentidos. Sempre es-
pedição Roncador-xingu. Como o próprio título sugere, o texto foca na tamos sendo levados a produzir sentidos, somos coagidos a interpretar.
capacidade que a comunidade indígena tem de realizar outras formas No entanto, na quebra do cheio de sentidos, e da possibilidade de tudo
de leituras diferentes das que os não índios realizam, explorando outros dizer, está a linguagem que rompe o silêncio, fazendo ecoar sentidos re-
códigos e não apenas o código verbal. No decorrer do texto, o indige- tomados do interdiscurso, indicando o trabalho complexo da ideologia
nista expõe vários casos que ratificam seu depoimento mostrando como na constituição de sentidos.
os indígenas são capazes ler, por exemplo: a leitura dos regimes dos ven- Durante o capítulo foi possível perceber o funcionamento do silên-
tos, o tempo, o comportamento dos animais, dentre outros. E mostra-se cio e da interdição num livro didático a partir da análise de uma mate-
encantado com a sabedoria e a cultura da comunidade indígena. rialidade verbo-visual que abriu o módulo 3 do livro do nono ano cujo
Notamos que os textos presentes no módulo foram direcionados tema era “as mil faces do Brasil”. No entanto, apesar de se utilizar a expres-
para duas culturas, quais sejam: a do imigrante e a do indígena que rece- são mil para indicar as faces do Brasil, dando a ideia de heterogeneida-
bem maior destaque dentro da seção intitulada Texto direcionada para o de cultural na constituição do país, apenas os três povos basilares são
trabalho de leitura e interpretação. Com isso, os demais textos, que tam- representados na capa do módulo e tal representação é feita de manei-
bém procuram abordar a temática, ficam apenas a título de ilustração ra bastante diversa: enquanto o representante do colonizador vem ao
para que as outras seções como: trabalhando a gramática, trabalhando centro e a imagem do mesmo está ligada ao trabalho e ao desenvolvi-
a linguagem, dentre outras, possam dar conta do trabalho com a estru- mento, o negro e o índio vêm à margem e a representação dos mesmos
tura da língua. Dessa forma, temos o silenciamento da figura do negro vem ligada à escravidão e à vida em natureza. Tais representações não
e da sua importância para a constituição do Brasil. Entre o dizer e o não são aleatórias, mas, ao contrário disso, indicam um certo funcionamen-
dizer, silencia-se que o negro contribuiu com arte, trabalho, sangue para to ideológico que se insere na formação discursiva do colonizador sem
O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS 59 60 O NÃO DIZER E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS SOBRE AS
FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA FACES DO BRASIL EM UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
CAPITULO 4
ANÁLISE DO DISCURSO E MATERIAIS DE ENSINO
romper com ela. Na materialidade analisada, o silêncio funciona geran- O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA INGLESA:
do sentidos sobre a formação do Brasil, uma vez que a contribuição de
negros e índios com trabalho para tal formação é silenciada.
LEGITIMAÇÃO DO PODER/SABER
Foi possível observar também o funcionamento do interdito na es-
colha dos textos que compuseram o módulo, na seção de interpreta-
ção de texto. Apenas um texto sobre imigrantes e um sobre os índios AMISA DAYANE LIMA DE GOIS
foi escolhido, apesar de se falar das mil faces do Brasil. O texto sobre o Universidade Federal de Sergipe (UFS)
povo negro veio apenas como ponte para se trabalhar com questões de
gramática, e fora da seção de interpretação de texto.
MARIA EMÍLIA DE RODAT DE AGUIAR BARRETO BARROS
Os estudos do discurso de vertente pecheutiana têm contribuído
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
muito para pensar nos modos de funcionamento do silêncio a partir de
diversas materialidades, inclusive daquelas que circulam nos livros didá-
ticos e contribuem para a circulação de sentidos diversos. O silêncio é
matéria significante e a base para a geração de sentidos na linguagem. PALAVRAS INICIAIS
2014, 2015, 2016), escolhemos Vontade de Saber Inglês, editado pela FTD, ção teórica e metodológica, levamos em conta os estudos de Foucault
por ser o LD mais adotado pela rede oficial de ensino, no município de (1997, 2003). Quanto à Análise do Discurso, de orientação francesa, uti-
Moita Bonita, Sergipe. Para este capítulo, recortamos duas análises do 6º lizamos os ensinamentos de Orlandi (2002), segundo a qual analisar dis-
ano, a partir das quais observamos a supervalorização das habilidades curso demanda observar o sujeito, a situação, a memória. Diante dessa
de escrita, numa perspectiva da Gramática Normativa (GN), apenas bus- orientação teórica, compreendemos que o nosso trabalho está na inter-
cando associação entre a língua materna e a língua a ser adquirida que face da Linguística Aplicada, da Análise do Discurso (de linha francesa),
diverge em muitos sentidos, tal como a estrutura sintática. Por conta da Análise Arqueológica do Discurso.
dessa abordagem, os professores desconsideram a oralidade, voltando- E, para a realização das análises, elaboramos as seguintes pergun-
-se para a memorização de diálogos, pontos gramaticais, sem atentarem tas de pesquisa: quais discursos estão em circulação no LD de LI? Quais
para o contexto real de uso da língua. Em decorrência dessa prática, os abordagens os autores fazem desses discursos? De qual lugar (social,
alunos se constituem meros repetidores, dependentes, sem autonomia institucional) enuncia o autor/locutor do LD de LI? Que ideologias são
na aprendizagem de uma segunda língua. perpassadas nesses/por esses discursos? Para respondermos a essas
Por a nossa pesquisa estar circunscrita à análise arqueológica do questões norteadoras, lançamos mão das contribuições de Orlandi
discurso (FOUCAULT, 1997), fazemos uma abordagem histórica do ensi- (1984), procedendo a dois recortes discursivos no referido livro: discur-
no de inglês nas escolas brasileiras; problematizamos, por conseguinte, so de/sobre a sociedade e discurso da/sobre a gramática. Consoante
o livro didático com poucos acréscimos quanto ao desenvolvimento da Orlandi (1984, p. 14): “Os recortes são feitos na (e pela) situação de
competência comunicativa. Nessa esteira de discussões, no que concer- interlocução, aí compreendido um contexto (de interlocução) menos
ne às questões do LD de LI4, referimo-nos à pesquisa de Souza (1999), imediato: o da ideologia”.
segundo a qual os seus autores, ao controlarem a interpretação, regu- Quanto às análises, a partir dos recortes discursivos (RD), refletimos
lando-a através de perguntas capazes de encerrarem as possibilidades acerca das relações de poder/saber, de silenciamento dos sujeitos. Ob-
de desenvolvimento do senso crítico, provocam o silenciamento dos servamos ainda o lugar do qual as autoras do LD enunciam, quais ima-
agentes da educação: aluno, professor. gens fazem dos seus interlocutores, do aluno de língua inglesa. Além
Estudamos ainda os PCN de LI, por ser um documento norteador desses aspectos, observamos quais ideologias afetam os discursos cir-
do ensino no Brasil, enquanto matriz de referência para esse ensino. Se- culados no/pelo LD de LI.
gundo esses parâmetros, o ensino de Inglês se inicia no terceiro ciclo Quanto à organização, este capítulo está dividido em dois itens, afo-
escolar do Ensino Fundamental; e, apontando para uma abordagem so- ra estas palavras iniciais e as considerações finais. Dando continuidade
ciointeracionista, afirmam ser importante que o aprendiz relacione a sua ao nosso texto, como mencionado, fazemos uma abordagem histórica
cultura (nacional) e a do outro (estrangeiro). do ensino de LI.
Afora esse documento oficial norteador do ensino de língua, in-
vestigamos o PNLD, cuja finalidade é a distribuição de livros didáticos, 1. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LÍNGUA INGLESA NAS ESCOLAS
gratuitamente, a escolas das redes municipal e estadual, nas séries de BRASILEIRAS
ensino fundamental e médio. Ainda no que diz respeito à fundamenta-
Como bem defende Foucault (1997), uma abordagem histórica nos
possibilita a compreensão do presente, objetivando fazer a crítica dele.
4 Língua Inglesa.
Tentamos, assim, realizar um estudo da instauração desse ensino, obser- das escolas, através de realização de novas reformas de ensino. Mas, a
vando uma possível historicização das experiências, das relações entre partir de 1892, o ministro Amaro Cavalcanti faz as línguas estrangeiras
práticas, e, finalmente, tentando compreender como esse saber sobre reaparecerem nos currículos; em 1911, o Colégio Pedro II incorpora as
o ensino de LI pôde se constituir, como determinados discursos (e não novas ideologias de Estado, objetivando a profissionalização. Somente
outros) foram cristalizados (GREGOLIN, 2016). a partir da década de 1930, com a criação do Ministério da Educação
Consoante Lima (2008), a LI foi trazida ao Brasil pelos ingleses, con- e Saúde Pública, da Reforma Francisco de Campos, em 1931, é que as
siderada de alta relevância nas escolas de ensino básico. Na década de mudanças relacionadas ao ensino de línguas estrangeiras também são
1990, foi incluída nos PCN. Mas sua introdução na vida escolar dos bra- concretizadas nos planos do conteúdo, da metodologia.
sileiros não foi por acaso, pois, desde 1530, nossa história com a língua Ainda consoante Lima (2008), com o advento da 2ª Guerra Mun-
inglesa se confunde com a própria história do nosso país. Ainda de acordo dial, os ingleses perdem prestígio, mas os Estados Unidos ascendem no
com Lima (2008), o surgimento ocorreu devido ao contato do Brasil com a mercado ganhando reconhecimento, elevando a LI para a categoria de
Inglaterra, provavelmente a partir de 1530, quando William Hawkins, um língua essencial para a comunicação internacional. Nesse contexto de
aventureiro, veio ao Brasil, motivando a vinda de outros ingleses. Mas um guerra, institui-se método Direto de ensino, introduzido, no Brasil, por
maior contato com a LI surge após o Bloqueio Continental no século XIX, Carneiro de Leão o método. Além disso, ocorreram reformas, tais como
momento em que D. João VI foge para o Brasil, apoiado pelos ingleses. a divisão de turmas, a seleção de profissionais, a preparação de mate-
Com efeito, os portugueses passam a manter maiores relações, princi- riais melhores, mais voltados ao ensino prático da língua. Nesses termos,
palmente, comerciais, aqui no Brasil, corroborando o aumento do poder houve, então, a institucionalização da LI, a partir dos eixos dos Estados
econômico da Inglaterra, de sua influência no nosso país, já que muitas Unidos e Inglaterra, comprovando a relação de poder5 com a língua e a
foram as mudanças ocorridas, como a criação de várias casas comerciais. sua consequente popularização no Brasil.
Essas relações comerciais também iniciaram o progresso industrial, Em 1942, durante o governo Vargas, o ministro Gustavo Capanema
contribuindo para o surgimento de empregos, porém os candidatos dividiu o ensino da escola básica em Ginásio e Científico, reforçando a
precisavam receber as instruções em inglês, revelando a necessidade de ideia de um ensino apenas instrumental. Ainda conforme Lima (2008),
aprender essa língua, cuja finalidade era o trabalho. D. João VI insistiu, com essa divisão, o ensino de línguas apresentava fins educativos e cul-
então, para que escolas de ensino dessa língua fossem criadas. A partir turais, voltando-se muito para a leitura. Entre os anos de 1942 e 1961,
desse momento, o ensino de LI no Brasil torna-se oficial; surgem os pri- esse ensino foi reduzido apenas para a aquisição da leitura, porém foi
meiros professores e alunos. Entretanto, eles sentiam apenas a necessi- um período em que todos estudavam latim, francês, inglês e espanhol.
dade de se comunicarem oralmente em Língua Inglesa, pois queriam Consoante Leffa (1999): “Visto de uma perspectiva histórica, as décadas
apenas uma capacitação para comunicação oral (LIMA, 2008). E, embora de 40 e 50, sob a Reforma Capanema, formam os anos dourados das
o passo dado em relação ao ensino de LE no Brasil tenha sido impor- línguas estrangeiras no Brasil”.
tante, houve grandes problemas, na época, principalmente os concer- A LDB de 1961 transformou os antigos ciclos de ensino ginasial e
nentes à falta de metodologia, à má administração do colégio, à falta de científico em 1º e 2º graus, tornando o ensino de uma LE moderna obri-
profissionais competentes para o ensino.
Lima (2008) afirma que, após a Proclamação da República, em 1889,
5 Para Foucault, autor com o qual trabalhamos, o poder é “positivo”. Isso porque o poder “pro-
o ministro Benjamin Constant excluiu o Inglês do currículo obrigatório
duz” sujeitos, discursos, formas de vida, através da transformação técnica dos indivíduos.
gatório, quando sua inclusão fosse possível, na escola. Além disso, foi dividido em 4 ciclos; é no 3° (terceiro) e no 4° (quarto) ciclos que as ques-
criado o Conselho Nacional de Educação, na época, o principal órgão tões de língua estrangeira são abordadas.
responsável pelas decisões relacionadas ao ensino de línguas. Novos ru- Como mencionado, para os PCN (1999, p. 07), é importante que o
mos começam a ser tomados para o ensinamento de línguas, após a LDB aprendiz relacione a sua cultura (nacional) e a do outro (estrangeiro): “[...]
de 1961, pois, mesmo com uma obrigatoriedade imposta, esse ensino conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro,
ainda era reduzido. bem como os aspectos socioculturais de outros povos”. Nesse sentido,
Com a LDB de 1971, o ensino da escola básica conta com 11 (onze) numa relação de apropriação de outras culturas, adquire-se uma LE,
anos, dentre os quais, 8 (oito) anos destinados ao 1º grau (no lugar do participando da vida do outro (estrangeiro), tanto social, histórica como
primário e do ginásio, antigos ciclos de ensino básico); 3 (três), para o economicamente. Adquirir a LE, então, significa também adquirir a cul-
2º (antigo científico). Essa nova face da escolaridade agrava a situação tura do outro. Nesse contexto de apropriação, entendemos que o sujeito
do ensino de LE, pois reduz enormemente o seu número de horas-au- aprendiz da LI, na medida em que dialoga com essa cultura, dispõe-se
la. Leffa (1999) acrescenta que tanto a LDB de 1961 quanto a de 1971 a emitir um juízo de valor sobre as culturas em jogo. Consequentemen-
não valorizaram a LE como deveriam. Em 1996, com a nova LDB, o 1º e te, há uma possibilidade de supervalorizar não só a cultura do outro (o
2º graus são renomeados para Fundamental e Médio, respectivamente, estrangeiro), como a sua língua, o seu modo de vida, haja vista a forma
apontando a necessidade de uma LE no currículo. Segundo a LDB de como tudo isso é apresentado ao estudante, via livro didático.
1996, a escolha da língua a ser ensinada nas salas de aula deveria ser fei- Os PCN de língua estrangeira, entretanto, não propõem uma me-
ta através da comunidade escolar, a depender da existência de professor todologia específica de ensino, mas é claro quanto à importância do
disponível. Para o ensino Médio, uma língua estrangeira é obrigatória; desenvolvimento da leitura, de uma abordagem sociointeracionista
poderia haver uma outra, optativa, a depender das condições de oferta (como observado), para que o aluno desenvolva a habilidade de leitura,
de cada instituição. em um contexto social imediato. Como anteriormente mencionado, a
Ainda conforme Leffa (1999), o método Direto, outrora utilizado no escolha de uma língua estrangeira deveria depender das comunidades
contexto de 2ª guerra, foi completamente abandonado, abrindo espaço locais, consoante a sua história e tradição; deveria igualmente garantir
para um novo contexto, em que a língua não pode ser ensinada com ao aluno a capacidade de ele se envolver nos eventos comunicativos.
base em um método, considerado correto, visto que cada aluno aprende Em outras palavras, o aluno deveria se envolver no processo social para
à sua maneira. Com os PCN de 1999, é adicionado um complemento de produzir sentidos, a partir de uma situação concreta de comunicação.
suma importância para a LDB de 1996: a abordagem sociointeracionista, Nessa direção, deveria observar o contexto histórico-social, em que está
proposta para o ensino e desenvolvimento da leitura em LE. Para essa inserido, constituindo-se sujeitos do discurso (BAKHTIN, 1997).
abordagem, os sujeitos (professor, alunos) são de muita importância Como igualmente observado, todos os alunos têm direito de estu-
para a construção do conhecimento linguístico. Essa perspectiva é cons- dar uma LE, conforme a LDB (1996). E, na medida em que isso é coloca-
tantemente reiterada nos dias de hoje, nos livros didáticos de Língua do, entendemos que eles têm o direito de ter o acesso à língua escolhi-
Estrangeira. da em suas múltiplas habilidades (ouvir, falar, ler, escrever). No entanto
No que diz respeito aos PCN, este é um documento de referência o ensino tem sido cada vez mais voltado para a leitura, compreensão
para o ensino no Brasil, serve de suporte para uma padronização nacio- textual, a chamada compreensão leitora de uma LE. A essa ideia subjaz
nal do ensino. Foi criado em 1999, complementando a LDB de 1996. Está uma outra: a de que o ensino da oralidade não precisa acontecer na
escola. Decorre daí que apenas a habilidade comunicativa de leitura Além disso, considerou-se que aprender uma língua estrangeira tem
é desenvolvida nas escolas. Essa habilidade, como mencionado, pode como princípios: proporcionar o acesso a sentidos relacionados a
ser usada no contexto social imediato; por esse motivo, há uma ên- outros modos de compreender e expressar-se no e sobre o mundo;
fase na abordagem sociointeracionista, perspectiva suporte dos PCN e articular ações que permitam romper estereótipos, superar pre-
conceitos, criar espaços de convivência com a diferença, que vão
de Língua Estrangeira. Em decorrência da prioridade dessa habilidade,
auxiliar na promoção de novos entendimentos das nossas próprias
a maioria dos livros didáticos propostos nas escolas têm como eixo e
formas de organizar, dizer e valorizar o mundo (PNLD,2013, p. 11).
norte a leitura, como os próprios PCN apontam. Entendemos que, em-
bora tal habilidade seja de grande importância, para a aquisição de Conforme essas considerações é que a ficha de avaliação foi elabora-
uma LE, outras habilidades (ouvir, falar, escrever) podem ser trabalha- da. A ficha de avaliação, a partir da qual o professor se baseia é dividida em
das na sala de aula. Porém é preciso que a escola propicie condições duas partes: A e B. A parte A está relacionada aos critérios teórico-metodo-
que garantam o desenvolvimento delas nos alunos de LE. lógicos gerais da Língua Estrangeira; na parte B do guia, devem ser anali-
Afora esses parâmetros, como mencionado, há o PNLD, cuja finali- sados os critérios legais, éticos e democráticos, objetivando o atendimen-
dade é a análise e a consequente distribuição de livros didáticos, gratui- to da legislação, diretrizes e normas oficiais. As fichas de avaliação devem
tamente, a escolas das redes municipal e estadual, nas séries de ensino ser muito bem observadas pelo professor, pois elas norteiam a escolha do
fundamental e médio. Consoante o site do INEP, após muitas avaliações, livro didático para os 3 (três) anos seguintes de ensino.
o Ministério da Educação (MEC) disponibiliza um guia de LD, conside- Segundo a tabela que mostra o quão os livros atendem aos critérios
rando os melhores livros, em conteúdo didático. Após essa divulgação, do edital, o livro em questão é o 3º numa lista de 3 aprovados para o
os professores e coordenadores das escolas escolhem o LD que melhor guia. De acordo com a resenha do livro em análise: “A coleção se carac-
atende os seus projetos político-pedagógicos. Esse processo é realizado teriza por uma combinação entre texto e imagem que favorece o apro-
a cada três anos, e esses livros são reutilizados por outros alunos nos fundamento de uma discussão sobre temas sensíveis à vida social, como
anos subsequentes à sua escolha. por exemplo, o respeito à diversidade”.
O PNLD, entretanto, deve ter como base a LDB e, juntos, contem- O livro escolhido para o presente estudo é dividido em 8 unidades
plam os PCN, constituindo o subsídio de todo o processo de avaliação que, por sua vez, são divididas em seções e, ao final do livro, encontra-
(SAEB). Os livros são escolhidos pelos professores com base em uma lista mos dicionário, apêndix, referência e uma seção para melhorar a leitura.
contendo as coleções selecionadas que atendem melhor aos critérios Os capítulos do livro didático do 6º ano, a partir dos quais fazemos os
propostos pelo MEC. Como afirmado, o livro didático em questão, Von- recortes discursivos para este capítulo, são assim divididos.
tade de Saber Inglês, faz parte do PNLD 2014. • Greetings (Saudações)
O guia de livros didáticos de Língua Estrangeira PNLD-2014 apresen- • Meeting people (Conhecendo pessoas)
ta 21 coleções de Inglês inscritas, sendo 5 do tipo 1 (livro e CD) e 16 do tipo • Around the world (Ao redor do mundo)
2 (livro, CD e DVD). Porém os DVDs não foram aprovados, sendo excluídas • School is cool! (Escola é legal!)
as 16 de tipo 2 e mais duas do tipo 1, restando apenas 3 do tipo 1. Fato- • The animal world (O mundo animal)
res como a coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica • Nutrition (Nutrição)
foram essenciais como critérios para a eliminação dos livros, bem como a • Families (Famílias)
observação aos documentos que norteiam o Ensino Fundamental. • Music is all around (Música está em toda parte)
Apesar de, aparentemente, as unidades sugerirem situações concre- sendo ensinada como pouca ou nenhuma função de uso. Isso revela que
tas de comunicação, neste LD, a maioria das questões consiste em repeti- o ensino de LI, nas escolas, apenas vislumbra o acúmulo de conteúdo
ção, em complementação de lacunas, em análise de informações especí- para avaliações com função de aprovação (ou não) do aluno, retirando a
ficas nos textos, múltipla escolha, dentre outras abordagens de igual teor. obrigação de os professores saberem usá-la. Tal perspectiva igualmen-
Esse tipo de questão não permite muitas vezes que os alunos exponham te reforça a ideia de que só é possível aprender recorrendo a cursos de
suas ideias com criticidade, apenas dão atenção ao léxico, às estruturas idioma, visto que, na escola, não se consegue aprender a usar a LI efeti-
gramaticais. As questões limitam os leitores e os instruem através de enun- vamente, nas situações de interação verbal.
ciados a serem seguidos. Consoante Souza (1999), as questões do LD de Tal como observamos, a Língua Inglesa, enquanto uma LE, está
LI provocam um silenciamento do aluno, do professor, fechando o espaço sendo ensinada na escola com práticas pautadas em regras gramaticais
para a reflexão crítica, na medida em que impõem discursos preestabe- (contrapondo-se ao que os linguistas defendem), selecionando, dessa
lecidos. Além disso, a interpretação é regulada através de perguntas que forma, os estudantes, de acordo com sua capacidade linguística, con-
fecham as possibilidades de desenvolvimento do senso crítico, tornando soante a Gramática Normativa (doravante, GN). Esta, por sua vez, pa-
os discursos circulados como legítimos, retirando até mesmo o papel do droniza a língua, fornecendo apenas uma forma como correta. O uso do
professor como mediador do processo educativo. Nesse sentido, Souza texto nas escolas é, pois, voltado para a GN, por meio de questões meca-
(1999, p. 102) faz a seguinte advertência: nicistas que visam à estrutura (seguindo regras gramaticais), focalizam
pouco a funcionalidade da língua na situação comunicacional concreta
Acreditamos que seja também da responsabilidade do professor (BAKHTIN, 1997).
de língua estrangeira criar condições que favoreçam o processo Abaixo apresentamos algumas análises do LD de 6º ano.
de desenvolvimento da habilidade crítica do aluno. Entretanto,
isso não será possível se não houver iniciativa e disposição do
2. ANÁLISE DISCURSIVA EM FOCO
professor para questionar e tentar transformar, na medida do
possível, o círculo vicioso texto-perguntas sobre o texto-respos-
tas no texto-via professor-via livro didático. Conforme mencionamos, nosso objetivo é analisar os discursos
em circulação no LD de língua inglesa, adotado pelas escolas de Moi-
Os textos do livro de LI, por sua vez, são usados como pretexto para ta Bonita (Sergipe). E, para a realização dessa investigação, no presente
ensinar gramática. Eles são produzidos para trabalharem os pontos gra- trabalho, usamos o LD Vontade de Saber Inglês (do 6º ano), das autoras
maticais; poucos priorizam a compreensão textual. Mariana Killner e Rosana Amancio, por ser o mais adotado nas três esco-
Afora os aspectos acima relacionados acerca da formulação do LD, é las da rede pública do referido município. Como afirmado, essa escolha
importante ressaltar que, nas escolas, torna-se difícil o ensino de línguas, se deve ao fato de termos trabalhado com tal LD, de 2015 a 2016, tempo
visto que nelas as aulas são ministradas na língua nativa, tampouco con- em que estávamos definindo nosso objeto de pesquisa. Após a escolha
tam com subsídios para o seu ensino. Como defendem Savedra e Day do nosso corpus, examinamos toda a coleção (do 6º ao 9º ano), verifican-
(2015, p. 563): “O ensino de LE na escola brasileira centra-se no aprender do a incidência dos discursos circulados nela/por ela. Em seguida, reali-
sobre a língua e não em aprender a usar a língua”. zamos cinco recortes discursivos, consoante os ensinamentos de Orlandi
Entendemos que a preocupação em ensinar a LI para seu uso de- (1984), para quem os recortes discursivos constituem unidades discursi-
veria ser função fundamental do ensino, porém presenciamos a língua vas, fragmentos de situações discursivas: o discurso da/sobre a socieda-
de, o discurso da/sobre a gramática, o discurso publicitário, o discurso A unidade 7, “Families” (famílias), do LD de língua inglesa expõe um
da/sobre a juventude, o discurso da/sobre a escola. Mas, como afirmado, texto, formado por imagens de diferentes famílias para serem obser-
para este capítulo, trazemos à baila as análises de dois primeiros recortes vadas e, consequentemente, embasar as perguntas relacionadas a ele.
discursivos do LD de 6º ano. À luz desses recortes, tentamos responder Abaixo, repetimos tais perguntas, com o fim de facilitar a leitura:
às perguntas de pesquisa.
Talk to your teacher and classmates about these questions. (Converse com
2.1 Discurso de/sobre a sociedade (RD1) seu professor e colegas de classe sobre essas questões.)
problemas. Diante desse retrato de felicidades, colocamos a relação lo- 2.2 Discurso da Gramática (RD2)6
cutor/interlocutor. Como observado, o texto está sendo veiculado no
livro de 6º, para estudantes na faixa etária entre 09 (nove) e 12 (doze)
anos. Além disso, levamos em conta que tal livro é circulado nas escolas
públicas de município sergipanos. Nesse contexto, entendemos que a
imagem de felicidade perpassada pelo texto não verbal não corresponde
à situação real na vida da maioria dos alunos dessa escola. As perguntas
das letras b e d (Você se identifica com algumas dessas fotos? Por quê?
Como você descreveria sua família?) podem levar os alunos a ocultarem
informações relacionadas às suas famílias, tais como apertos financeiros,
problemas relacionados aos pais, aos avós, a irmãos. Demais, pode se
constituir um problema para crianças, nessa faixa etária, a ocultação de
imagens que denotem pobreza, caso algumas não sejam advindas de
famílias como as das fotos. Afora as diferenças socioeconômicas, consta-
tamos a total ausência de famílias formadas por casal homossexual, com
filhos, situação já recorrente nos dias de hoje. Ou seja, essas imagens
correspondem a discursos cristalizados de família.
Em outras palavras, pode haver uma grande lacuna entre as imagens
veiculadas e a realidade dos estudantes. Diante disso, questionamos a
praticidade / utilidade do texto em questão. Ademais, compreendemos
que os discursos, segundo os quais há, entre famílias, diferenças sociais, Figura 2: LD do 6º ano.
Fonte: KILLNER, M.; AMANCIO, R. Vontade de Saber Inglês, 6º ano. 1ª Ed. São Paulo: FTD, 2012, p.43.
econômicas, de orientação sexual são interditados na/pela escola. Nesse
sentido, a escola não é o lugar para discussão acerca de diferenças.
O exercício 5, na página 43, do LD do 6º ano, é baseado nos diálogos
Além disso, o fato de as autoras do LD apresentarem imagens de fa-
ocorridos na seção denominada listening, anterior às questões. Essa se-
mílias, consideradas normais para a sociedade (pai, mãe e filhos), permi-
ção consiste nas apresentações das nacionalidades de crianças advindas
te-nos a leitura de que os lugares sociais em que os filhos (ou até mesmo
de diferentes países. A proposta é a seguinte:
netos) são criados por um casal são fixados através das imagens, reite-
rados pela memória discursiva. Ou seja, há um espaço historicamente
determinado. Há, assim, uma perpetuação dos papéis, uma construção
da imagem do lugar social através da memória discursiva.
6 - Meu nome é Maria. Eu sou da cidade do México, no México.
- Eu sou Paul. Eu sou de Sidney, na Austrália.
- Nós somos Patty e Beth. Nós somos de Nova York, nos EUA.
- Nós somos Guilherme e Vinícius. Nós somos de São Paulo, no Brasil.
- Eu sou Penélope. Eu sou de Madri, na Espanha.
- Eu sou Baltazar. Eu sou de Cairo, no Egito.
do pelos PCN e PNLD. Nesse contexto, o LD é considerado portador de ______ . A Ordem do Discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Pau-
verdades, apresentando o certo a ser seguido por professor e alunos. A lo: Edições Loyola, 2003.
partir de tais considerações, compreendemos o LD como um documento GREGOLIN, M. do R. V. Discurso, história e a produção de identidades na mídia,
histórico, nos termos de Foucault (1997). 2016. Disponível em: http://geadaararaquara.blogspot.com.br/2016/04/discur-
Entendemos ainda que o LD consiste em um subsídio do profes- so-historia-e-producao-de.html (Acessado em 09/7/2017, às 02h04min).
sor, capaz de silenciar os alunos, pois está sob o jugo do um sistema de Guia de livros didáticos: PNLD 2014: língua estrangeira moderna: ensino fun-
avaliação educacional brasileiro (SAEB)7, o qual impõe o que deve ser damental anos finais- Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação
aprendido pelos estudantes, nas escolas. E, na medida em que o autor Básica, 2013.
do LD dá uma resposta a esse sistema, subjuga, de igual forma, os outros KILLNER, M. E AMANCIO, R. Vontade de Saber Inglês. 6º ano, 1ª Ed. São Paulo:
agentes da educação: professor, aluno. FTD, 2012.
Compreendemos, entretanto, que, para o ensino de LE, é importan- KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Ática, 1995
te uma abordagem voltada para a interpretação/significação, capaz de
LEFFA, V. J. O Ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Contex-
acionar a memória discursiva, fazendo com que os estudantes possam
turas, APLIESP, 1999.
ressignificar discursos, constituindo-se sujeitos do processo de ensino/
aprendizagem. LIMA, G. P.; QUEVEDO-CAMARGO, G. Breve trajetória da língua inglesa e do livro
didático de inglês no Brasil. In: VI SEPECH Seminário de Pesquisas em Ciên-
cias Humanas, 2008, Londrina. Anais do VI Seminário de Pesquisas em Ciências
Humanas, 2008. p. 1-7.
REFERÊNCIAS
NORTON, B. Identity. In: The Routledge handbook of applied linguistics.
Routledge, 2010
BAKHTIN. M. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Perei-
ra. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ORLANDI, E. P. Segmentar ou recortar. In: Linguística: questões e controvérsias.
Série Estudos 10. Uberaba, Minas Gerais, 1984. p. 9 – 26.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacio-
nais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira / _____ . Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas, São Paulo:
Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: Pontes, 2002.
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_estrangeira.pdf (Acessado em SOUZA, D. M. de. Livro didático: arma pedagógica? In: CORACINI, M. J. (Org.). In-
10/8/2017, às 23h40min). terpretação, autoria e legitimação do livro didático: língua materna e língua
CORACINI, M. J. (Org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático: estrangeira. Campinas: Pontes, 1999.
língua materna e língua estrangeira. Campinas: Pontes, 1999.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de
Janeiro: Forense, 1997.
INTRODUÇÃO
conceitos provenientes da AD, área na qual esse artigo se inscreve, podem trazer
contribuições para o processo de ensino-aprendizagem de língua materna, no sentido de
instrumentalizar o professor com procedimentos didáticos que possam desenvolver a
competência discursiva nos alunos.
Os aportes teóricos provenientes da Análise do Discurso criaram dispositivos de
análise que nos possibilitam acessar a dimensão ideológica e conflituosa da linguagem
materializada nos textos. Diante disso, no presente estudo, almejamos demonstrar algumas
possíveis contribuições da Análise do Discurso para o ensino de leitura, propondo como
entrada no texto a noção de interdiscurso, tendo em vista uma concepção dialógica de
texto, ou seja, compreendendo-o como o lugar de constituição e de interação de sujeitos
sociais.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), assim como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), assumem a concepção enunciativo-discursiva de
linguagem para prescrever as competências e as habilidades que devem ser trabalhadas na
disciplina de Língua Portuguesa. Percebe-se, portanto, que, ao menos do ponto de vista
institucional, se reconhece a necessidade de se estabelecer uma relação entre a AD e o
ensino de língua portuguesa.
Apesar dos estudos da AD já terem se propagado pelo Brasil, desde os anos 1960,
e do reconhecimento institucional que essa área do conhecimento possui, ainda é comum
se identificar práticas em sala de aula que só reconhecem a função instrumental da
linguagem, mantendo a noção de que ensinar uma língua é apenas dotar o aluno com
regras específicas para que ela funcione como um instrumento efetivo de comunicação.
Com essa afirmação, não estamos negando o caráter instrumental da linguagem, mas
acreditamos que devem ser adotadas concepções teóricas e procedimentos didáticos que
possam trabalhar essa dimensão conflituosa e ideológica da linguagem cujas noções são
provenientes da AD.
Fundamentada em estudos discursivos sobre aulas de língua materna e estrangeira,
que tomam textos como objeto de estudo, Coracini (1995) indica que o texto constitui, na
escola, o lugar instituído do saber, funcionando, pedagogicamente, como objeto onde se
inscreve, objetivamente a verdade, que parece atemporal e definitiva que deve ser
decifrada e assimilada pelo aluno. As considerações da autora indicam que o leitor é
afixado na porta de uma delegacia, é preciso ter acesso aos conhecimentos linguístico,
enciclopédico e interacional mobilizados para a construção desse enunciado, desde o
estabelecimento de regras morfossintáticas acionadas para a construção de sintagmas
possíveis em língua portuguesa ao estabelecimento de regras semânticas e pragmáticas
mobilizadas para que o texto faça sentido.
Além dos aspectos linguísticos, enciclopédico e interacional envolvidos na
construção do texto, ele só produz os efeitos de sentidos esperados quando o leitor
compreende o enunciado de maneira situada, ou seja, envolvendo-se no jogo de linguagem
que reconhece as regras coletivas sócio-historicamente construídas para que essa atividade
de linguagem faça sentido. Dessa maneira, compreender o conceito do que é proibição,
compreender quem pode proibir, quem deve ser proibido, bem como as punições do não
cumprimento da proibição são aspectos tão pertinentes para a compreensão do enunciado
quanto os envolvidos na construção linguística.
Tanto texto como discurso são um todo organizado de sentido, pois tanto um
quanto o outro supõem uma organização transfrástica, o que significa que mesmo quando
o discurso tem a dimensão de uma frase, ele mobiliza estruturas de ordem diferente das da
frase, mas há diferenças entre texto e discurso, uma vez que o primeiro é da ordem da
manifestação e o segundo do domínio da imanência (FIORIN, 2012).
O termo manifestação é tomado na acepção de presentificação da forma em uma
dada substância, o que significa que o discurso é do plano do conteúdo, ao passo que o
texto é do plano da expressão. O texto é a manifestação do discurso, o texto pressupõe
logicamente um discurso que o sustenta, sendo anterior a ele.
Teorias do texto levam em conta os conhecimentos prévios dos locutores e
compartilhados entre interlocutores, mas os consideram em um quadro que supõe,
exatamente, o leitor/ouvinte como suporte de conhecimento como o agente que assim
produz a coerência do texto (MARCUSCHI, 2008). Para a AD, ao contrário, um texto faz
sentido não por sua relação com um contexto ou em decorrência de conhecimentos que o
leitor tenha estocado ou que rememora e coloca em funcionamento ao ler/ouvir, mas por
sua inserção em uma formação discursiva, em função de uma memória discursiva, do
interdiscurso, que o texto remonta e do qual é parte, ou seja, não há propriamente texto,
concebido como uma unidade, o que há são linearizações concretas de discursos.
uma espécie de axioma que atravessa diferentes aspectos das teorias relacionadas ao
discurso. Tal axioma coloca a enunciação como o centro de referência dos fenômenos
linguísticos, o evento que institui o sujeito na interação viva com as vozes sociais, não
concebendo o estudo da língua a não ser na enunciação.
Conforme expressa Bakhtin (1992), as relações dialógicas não ocorrem a partir dos
elementos do sistema linguístico considerados somente de maneira autônoma, tanto a
partir das palavras em si como também dos próprios elementos que compõem os textos,
pois as relações dialógicas possuem um caráter essencialmente extralinguístico, ao mesmo
tempo em que não podem ser desassociadas do campo discursivo, ou seja, dos elementos
linguísticos. Para os estudos discursivos, ao analisar um texto como enunciados concretos,
é necessário considerar a posição social, histórica e ideológica dos interlocutores, além de
verificar as condições de produção dessa interação e os demais discursos que entram em
relação dialógica com o enunciado.
O signo, enquanto objeto significativo mínimo de todos os enunciados, é visto
como ideológico, isto é, como necessariamente já habitado por outros pontos de vista, mas
também e, consequentemente, de significação sempre inacabada e, por isso, sempre sujeito
à disputa pelas forças sociais que o utilizam. O signo ideológico disputa um território onde
confrontam-se índices de valor contraditórios. A consequência dessa associação será uma
concepção semiótico-ideológica de texto em que essas dimensões, semiótica e ideológica,
funcionam como um princípio regulador da produtividade na visão social, relacionado a
sujeitos social e culturalmente construídos.
Ainda na esteira do entendimento da concepção dialógica da linguagem, o texto,
enquanto construto histórico e social, é lugar de interação entre sujeitos sociais que se
constituem na sua relação com os outros, das palavras dos outros, pois tudo o que pertence
à consciência chega a ela através da palavra do outro. O sujeito não é autônomo, nem
cuidador da sua própria linguagem, ao contrário, ele se constitui na relação com os outros
indivíduos que é atravessado por diferentes usos da linguagem de acordo com a esfera
social na qual ele se inscreve.
A dimensão dialógica da linguagem também é constitutiva dos discursos, na
medida em que um discurso legitima a sua identidade somente quando posto em relação
com outros discursos que ele cita, parodia, estiliza, relativiza, etc. Em termos de gênese, os
discursos não se constroem independentes uns dos outros para somente depois serem
postos em relação, uma vez que eles se originam de maneira regulada no interior do
interdiscurso. Nessa perspectiva, pode-se considerar que todo discurso é atravessado pela
interdiscursividade, tem a propriedade de estar em relação multiforme com outros
discursos (FIORIN, 2012).
Por serem dialógicos é que os discursos são objetos históricos, mas essa
historicidade não pode ser considerada como produto de fatos externos que têm como
referência certos acontecimentos de uma época. Ela é captada no próprio movimento
semiótico e interdiscursivo da sua constituição, pois é na percepção que perpassa os
discursos dos outros a partir de reprovações, aprovações, polêmicas, adesões e recusas que
se constitui essa historicidade.
De acordo com Fiorin (2012), como o texto é uma unidade de manifestação do
discurso, não é necessário que ele mantenha necessariamente relações dialógicas com
outros textos, não sendo, portanto, a intertextualidade uma relação necessária, porém
possível. Assim, denomina-se intertextualidade os casos em que a relação entre discursos é
materializada em textos. Isso significa que a intertextualidade pressupõe sempre uma
interdiscursividade, mas que o contrário não é verdadeiro.
Quando a relação dialógica não se manifesta no texto, temos interdiscursividade,
mas não intertextualidade. No entanto, é preciso verificar que nem todas as relações
dialógicas no texto devem ser consideradas intertextuais. A intertextualidade diz respeito à
relação entre mais de um texto, pois ocorre quando um texto se relaciona dialogicamente
com outro texto já construído, quando um texto se encontra com outro, quando duas
materialidades se cruzam, quando duas manifestações discursivas se atravessam.
O dialogismo bakhtiniano, ao conceber a linguagem como uma atividade humana
constitutivamente heterogênea, interativa, social e plurilinguística em que a relação com o
outro é a base da discursividade, abre um horizonte teórico fundador para diversos outros
desenvolvimentos teóricos. Ao se pensar em uma competência discursiva para o ensino de
leitura, focalizada neste artigo, temos a consciência da necessidade e do desafio de mostrar
caminhos para que o professor aborde os diversos gêneros do discurso a partir dessa
perspectiva, fazendo com que o aluno perceba que os discursos se constroem para além
dos textos particulares nos quais eles se manifestam, uma vez que os discursos são
O INTERDISCURSO
selecionadas pelo próprio analista para serem colocadas em relação, de acordo com o seu
propósito.
O autor supracitado também destaca a dimensão polêmica que caracteriza o campo
discursivo. Nesse sentido, as polêmicas em que as formações discursivas estão envolvidas
são a própria atualização do processo de delimitação recíproca que as constitui. Nessa
perspectiva, partindo de um enunciado como “Lugar de mulher é onde ela quiser” há uma
série de forças ideológicas que atravessam esse enunciado, estando associadas à formação
discursiva específica que, no caso, são os posicionamentos do feminismo que emprega a
igualdade de direitos entre homens e mulheres, encontrando-se em oposição aos
posicionamentos advindo da formação discursiva do patriarcado, que prevê o cerceamento
de liberdades às mulheres.
Para Análise do Discurso de matriz francesa, de base pecheutiana, isto é, a que
está fortemente baseada em uma perspectiva materialista histórica da linguagem,
interdiscurso é uma noção-conceito analisável, uma vez que em todo discurso é possível se
reconhecer o interdiscurso como "o complexo dominante" (PEUCHÊX, 2006). Ou seja, o
interdiscurso é um pressuposto teórico básico para se entender um discurso em relação a
outro discurso. Desse modo, o interdiscurso, assim como o intradiscurso, é aquilo que
engendra todo o método discursivo de compreensão dos objetos do discurso a serem
descritos, analisados e interpretados.
A AD contribui para pensar o ensino de leitura na perspectiva de formação de um
leitor crítico, pois se trabalha na ótica de que o discurso se constitui nas relações
estabelecidas com os outros discursos, mostrando que os sentidos estão sempre à deriva,
pois podem ser compreendidos a partir da identificação das formações discursivas que
estão em jogo. Ao considerarmos todos estes conceitos advindos da AD, torna-se possível
afirmar que a noção de interdiscurso funciona como elemento de reconhecimento
ideológico. Conceber as relações interdiscursivas como objeto de ensino é trabalhar a
dimensão conflituosa, opaca e polêmica materializadas em um dado texto, seja ele escrito,
falado ou imagético. É também buscar entender o texto enquanto um objeto linguístico-
histórico e como ele materializa a interdiscursividade que o constitui.
Na próxima seção do nosso texto, apresentaremos uma atividade de leitura,
propondo como entrada no texto o conceito de interdiscurso, a partir da análise de um
Texto 1:
mulheres nos muros do castelo. Nele podemos observar o príncipe sozinho e impotente
onde se encontra a inscrição “Foda-se o príncipe machista” e, além da frase, há o desenho
associado à luta coletiva das mulheres que passaram a se identificar como um grupo social
oprimido pelas amarras do sistema patriarcal.
Nesse sentido, a relação de oposição entre os posicionamentos advindos das
formações discursivas em que se encontram o discurso feminista e o discurso patriarcal no
campo político é a própria atualização do processo de delimitação recíproca que os
constitui. Assim, o discurso feminista se instaura na contramão dos posicionamentos
específicos da formação discursiva em que se encontra o discurso patriarcal.
O patriarcado representa um pacto social entre homens que tem encontrado forte
resistência do grupo que esse sistema deseja oprimir e explorar: as mulheres (PRÁ, 2013).
Como o movimento da história tem nos demonstrado, sempre que há relações de
dominação e exploração, há resistência, luta e conflitos, que se expressam, no caso do
texto sob análise, pela sabotagem e pela união das mulheres em prol de uma luta. De
acordo com Fiorin (2012), os discursos são considerados históricos pelo fato de serem
dialógicos, sendo essa historicidade compreendida pelo movimento interdiscursivo que a
constitui e é constituído por ela. É na percepção que perpassa os discursos dos outros a
partir de reprovações, aprovações, polêmicas, adesões e recusas que se constitui essa
historicidade.
As ideologias constituem um relevante elemento de reificação e de alienação,
sendo agrupadas em formações ideológicas, as quais correspondem determinadas
formações discursivas, sendo interiorizadas pelos indivíduos no decorrer da sua vida. O
discurso considerado como um construto social é, primeiramente, o lugar de apropriação
antes de ser o da criação, pois ele é o lugar de manifestação dessas formações ideológicas
que se constroem a partir de relações interdiscursivas (FIORIN, 2007). No primeiro texto
em análise, percebemos que a relação interdiscursiva entre as formações ideológicas
atualizadas pelo discurso feminista e pelo discurso patriarcal se deu em uma perspectiva
de ruptura.
A Formação Discursiva a qual o sujeito está circunscrito nos permite compreender
que o discurso machista e patriarcalista não está apenas no que é linguístico, mas também
repousa nas imagens, nesse caso de moças ingênuas e recatadas, nas cores discretas de
suas roupas e nas letras grande e em vermelho que formam o texto escrito que protesta
quanto à atitude do príncipe. Perceber essas marcas nada inocentes no texto deve ser algo
desejado por aqueles que conduzem os leitores. Como estamos tratando de ensino, nesse
caso, os alunos poderiam perceber todos os elementos do texto como um ponto de chegada
e nunca de partida, certamente, o professor precisa conduzir o leitor a um caminho nada
inocente nos sentidos do texto.
O texto 2 que analisaremos também traz esse jogo interdiscursivo. Entre as
formações discursivas do feminismo e do patriarcado, no entanto, ele se dá em uma
perspectiva de relativização do discurso patriarcal a partir do discurso publicitário.
Vejamos o texto abaixo:
Texto 2:
O texto em questão é uma peça publicitária da marca O Boticário que está inserida
em uma série cujo caráter intertextual se dá a partir de semelhanças com alguns contos de
fada. Nessa série, a marca vende um conceito: as mulheres que consomem a sua marca
têm maior poder para seduzir os homens. No texto em questão, a relação intertextual
também se dá com o conto da Cinderela, pois, na imagem, podemos ver vários homens
oferecendo um sapatinho de cristal que, na história original, é o instrumento utilizado pelo
príncipe para reconhecer a amada.
O texto da peça diz: Gabriela vivia sonhando com seu príncipe encantado. Mas,
depois que ela começou a usar O Boticário, foram os príncipes que perderam o sono.
Percebemos que há um distanciamento do conto original, pois na peça publicitária a
mulher passa a ter o poder de escolher o seu príncipe encantado, caso ela consuma os
produtos da marca. O texto apresenta relação interdirscursiva entre as formações
ideológicas do discurso feminista e do discurso patriarcal, no entanto, diferentemente do
texto anteriormente analisado, essa relação se dá por meio da relativização do discurso
patriarcal através da sedução para o consumo, inerente ao discurso publicitário, pois a
figura da mulher ainda está associada a de um homem não a considerando como um ser
autônomo, pois esta, mesmo agora tendo o poder de escolher, ainda está à procura de um
príncipe encantado.
De acordo com Saffioti (2004), no patriarcado, implantou-se uma hierarquia entre
homens e mulheres, com primazia da figura masculina. A partir dos valores dessa
formação ideológica, foi inserida a ideia de que o homem é um ser essencial, já a mulher
não o é, sendo o primeiro considerado sujeito à mulher, por sua vez, é o outro, adquirindo
um maior valor perante a sociedade se estiver em uma relação romântica com um homem,
relegando a mulher à exploração-dominação masculina.
As formações ideológicas que sustentam as bases do patriarcado foram
construídas especialmente para justificar uma estrutura de poder que situa as mulheres
muito abaixo dos homens em todas as áreas da convivência humana, situando a primazia
masculina como o preceito natural, não como um conceito de ordem social que, por sua
vez, traz implicações políticas. O objetivo das feministas consiste em transformar a
sociedade, eliminando as desigualdades e as injustiças. Essa ruptura também se dá no
campo discursivo, que é também espaço de disputas ideológicas.
Depois de realizada essa etapa, é necessário que os alunos entrem em contato com
o texto, realizando uma leitura com objetivos. Após ter sido realizada a leitura, é
necessário que o professor proponha questões que tenham o objetivo de explorar o aspecto
selecionado. Em se tratando do conceito de interdiscurso, entrada linguística selecionada
por nós, que tem o objetivo de demonstrar a relação necessária e recíproca entre os
diversos discursos que permeiam a sociedade, é necessário que o professor lance questões
que façam com que os alunos reconheçam as formações discursivas que estão postas em
relação nos textos, no caso a feminista e a patriarcal, e entendam a diferença de
posicionamento construída nos dois textos.
Como sugestões de questão, teríamos:
tornando possível o acesso por parte dos educandos aos posicionamentos políticos e
ideológicos que não são construídos de forma individual, uma vez que estão organizados
em formações que mantêm entre si relações de antagonismo, de aliança, de relativismo ou
de dominação.
Trazer a noção de interdiscurso para o âmbito do ensino de leitura nas escolas pode
ser bastante produtivo, no sentido de proporcionar aos alunos uma reflexão acerca dos
fatores sócio-históricos e ideológicos que constituem os sentidos do texto, trazendo os
embates e as disputas que se cristalizam no interior do interdiscurso. Entendemos que é na
tensão motivada pela disputa de sentidos produzidos entre formações discursivas distintas
que o texto vai sendo impregnado de índices valorativos contraditórios e, por isso mesmo,
ele materializa traços da luta ideológica e de classes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
_______. Da necessidade da distinção entre texto e discurso. In: BRAIT, B.; SOUZA-E-
SILVA, M. C. Texto ou discurso? São Paulo: Contexto, 2012, p. 145-165.
Pontes, 2005.
CHAPTER 10 tributed articles to a special edition of Discourse and Society, in 1993, entitled Critical Discourse
Analysis. That being said, it is important to emphasise that CDA has never been a ‘school’ in the
strict sense of the term, each member of the group following his or her own approach.
Critical Discourse Analysis Many social theorists, such as Bernstein, Bourdieu, Derrida, Gramsci, Foucault, Giddens and
Habermas, have drawn attention to the key role of language in society. However, as Fairclough
(2003a: 2), probably the most prominent theoretician in CDA, has pointed out, these theorists have
not examined the linguistic features of text. CDA, on the other hand, has sought to bring together
social theory and textual analysis. As in mainstream critical social theory, the aim of CDA is to
uncover hidden assumptions (in the case of the latter, in language use) and debunk their claims to
authority. Following Hegel, however, criticism is not simply a negative judgement, but has a positive
emancipatory function. CDA thus has a specific agenda in bringing about social change, or at least
supporting struggle against inequality (van Dijk, 2001a).
CDA views language (and other semiotic systems) as a form of social practice (Fairclough,
10.1 INTRODUCTION 1989; Fairclough & Wodak, 1997; Wodak, 2001a). According to Fairclough (1989), ‘using lan-
guage is the commonest form of social behaviour’. If language is a form of social behaviour, then
Critical Discourse Analysis (CDA) is a transdisciplinary approach to discourse, drawing on social as there is a need to relate theories of society to theories of language. As Chouliaraki and Fairclough
well as linguistic theory. It has been influential not only in language studies, but also in other fields (1999: 16) put it:
such as business, public health, organisational studies, media studies, accounting, and even tourism.
It focuses on the ways social power is enacted through spoken and written text (and, more recently, We see CDA as bringing a variety of theories into dialogue, especially social theories on the
through visual images, sound and other forms of semiosis), with a special emphasis on dominance, one hand and linguistic theories on the other, so that its theory is a shifting synthesis of other
exploitation and resistance in various social contexts. theories, though what it itself theorises in particular is the mediation between the social and
The approach followed by CDA differs from the other approaches dealt with in this book the linguistic …
in that the starting point is a specific social issue or problem rather than particular linguistic fea-
tures or phenomena. It investigates how such issues – for example, institutional power relations, Fairclough sees every instance of discourse as having three interrelated dimensions: as a text (spo-
racism, sexism, political exploitation – are instantiated in discourse, whatever form that discourse ken or written); as an interaction between people involving processes of producing and interpreting
might take. the text; and as part of a piece of social action. These three dimensions are seen as interacting
As mentioned in Chapter 1, in CDA, the term discourse may be used in a different way to that (Figure 10.1).
of the other chapters in this book. In previous chapters, we have used the term discourse to refer Fairclough (1992a:10–11) writes with regard to a later version of this diagram that:
to language use in general. In CDA, the term discourse may be used to refer to a specific set of
meanings expressed through particular forms and uses which give expression to particular institu- The relationship between social action and text is mediated by interaction: that is, the nature
tions or social groups (Kress, 1989a). We can thus talk about ‘the discourse of managerialism’ or of the interaction, how texts are produced and interpreted, depends upon the social action in
‘the discourse of advertising’ or ‘gay discourse’ or ‘Christian discourse’. This meaning derives from
the work of the French philosopher, Michel Foucault (1982), for whom discourse refers more to a
set of ideas or beliefs than to specific instances of language. Discourse is what could be said about SOCIAL PRACTICE
something rather than what is said about it, according to Foucault. Following this reading, discourse
comes close to ideology. In this meaning, discourse is a count noun and can be used in the plural; DISCURSIVE PRACTICE
we can talk about different discourses. As mentioned in Chapter 1, again, this understanding of the (production, distribution, consumption)
term discourse is referred to by Gee (2011a) as big ‘D’ discourse, as opposed to the other meaning,
which he labels with a little ‘d’. TEXT
The antecedents of CDA are usually said to lie in Critical Linguistics, a movement developed
at the University of East Anglia during the 1970s. Scholars working in this group, led by Fowler
(for example, Fowler, 1991, 1996a), but also including names such as Kress, Hodge and Trew (for
example, Fowler et al., 1979) were concerned to develop a social approach to linguistics which
recognised power relationships as a central theoretical issue and text as its main unit of analysis
(Kress, 1989a). Five figures are generally seen as key in CDA: Norman Fairclough, Gunther Kress,
Teun van Dijk, Theo van Leeuwen and Ruth Wodak, although Kress and van Leeuwen have not
emphasised the critical element in their more recent work, having been more active in other areas,1
particularly in Multimodal Discourse Analysis (for example, Kress & van Leeuwen, 1996). According
to Wodak (2001a), this group of researchers came together at a meeting in 1991 organised by van
Dijk in Amsterdam and which was seen as the ‘formal’ initiation of CDA. In addition, the group con- Figure 10.1 Fairclough’s three-dimensional view of discourse (Fairclough, 1989: 25, adapted)
180 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 181
which they are embedded; and the nature of the text, its formal and stylistic properties, on the 10.2 SOME MAJOR PROPONENTS
one hand depends upon and constitutes ‘traces’ of its process of production, and on the other
hand constitutes ‘cues’ for its interpretation. 10.2.1 Fairclough
In addition to the above, CDA has a number of other commonly shared precepts. First, as already Fairclough has focused on discourse and power (Fairclough, 2001), on discourse and social change
suggested, CDA views discourse and society as mutually constitutive, that is to say, a society is not (globalisation, neoliberalism, knowledge economy) and on media discourse. He takes a theoretical
possible without discourse and discourse cannot exist without social interaction. That is not to say, approach, usually examining relatively small extracts of text in order to illustrate concepts such as
however, that all action is discursive. On the contrary, CDA allows for the interplay of discursive and orders of discourse, intertextuality, hybridity and voice. On the social side, he is influenced by the
material action (van Leeuwen [1996], in particular, emphasises this point). work of Foucault and the political economists Laclau and Mouffe (1985/2001), among others. In
Another precept of CDA is that, because it is interested in power relations and is emancipa- terms of political engagement, his book, New Labour, New Language? (Fairclough, 2000), is an
tory in nature, it typically examines specific discursive situations where dominance and inequal- attempt at a more popular contribution aimed at the general public, while his earlier edited collection
ity are to the fore. Analysis does not view discursive interaction as necessarily a question of Critical Language Awareness (Fairclough, 1992b) has argued for a systematic critical approach to
heroes and villains (van Dijk, 1993; Wodak, 1999), however. Participants may not be aware of language that can be carried over into schools and to the public at large.
how powerful or powerless they are in discourse terms. Indeed, it is the role of CDA to reveal these A summary of one of Fairclough’s later papers (2005) gives an idea of his approach. In this
relationships. paper, Fairclough makes it clear that his is a specific version of CDA
In fact, CDA may play a role in bringing about change in social practices and relationships
in, for example, teacher development, the design of guidelines for non-sexist language or proposals which is characterized by a realist and dialectical-relational theory of discourse, a methodology
to increase the intelligibility of news and legal texts (Titscher et al., 2000). The related movement which is oriented to constructing objects of research through theorizing research topics in dia-
of Critical Language Awareness (CLA), developed by Fairclough and his associates at the logue with other areas of social theory and research, and selecting methods which are in part
University of Lancaster (Fairclough, 1992b) (see more on this below), argues for a systematic inherent to this version of CDA and in part dependent upon the particular object of research.
application of a critical approach to language along the lines of CDA in schools and in society
at large. In this particular study, Fairclough focuses on elements of political transition in Romania – the
A further commonly held precept is that CDA is open to multiple readings (although this has ‘knowledge-based economy’ – focusing on one discourse phenomenon – recontextualisation – how
been critiqued: for example, Blommaert, 2005; Widdowson, 2004), as indicated by the following an element of discourse may be taken from a particular context and incorporated into another one,
quotations from Fairclough (2003a: 14–15): with a consequent change of meaning.
we should assume that no analysis of a text can tell us all there is to be said about it – there is
no such thing as a complete and definitive analysis of a text … 10.2.2 Wodak
Textual analysis is also inevitably selective: in any analysis, we choose to ask certain questions In common with Fairclough, Wodak’s research agenda focuses on the development of theoretical
about social events and texts, and not other possible questions. … There is no such thing as approaches to CDA. She combines elements of ethnography, argumentation theory, rhetoric and
an ‘objective’ analysis of a text, if by that we mean an analysis which simply describes what is functional systemic linguistics, focusing on gender, language in politics, prejudice and discrimination.
‘there’ in the text without being ‘biased’ by the ‘subjectivity’ of the analyst. She is best known for her work on political discourse to do with antisemitism in Austria, where she
developed, with colleagues, her discourse-historical method. She has also studied the discourse
However, readings will be more plausible if grounded in the interplay of text and context (Fairclough and politics of the European Union, focusing on issues including unemployment, NATO and neutral-
et al., 2011). Analysis involves a continual shunting between the microanalysis of texts and the ity in Austria and Hungary, the discursive construction of European identities, racism ‘at the top’ and
macroanalysis of social structures and formations and power relations. parliamentary debates on immigration. In general, Wodak’s approach is much more ethnographic
Contextual analysis may or may not include ethnographic analysis. Although Fairclough (2003a: than Fairclough’s. She is also interested in the role of history in discourse (Martin & Wodak, 2003),
15) allows for an ethnographic dimension, this is not part of his personal practice. For Wodak, on the labelling her approach the ‘discourse historical method’ (Wodak, 2001b).
other hand, ethnography is essential to her method (see below; see also Blommaert, 2005). For both
Fairclough and Wodak (Fairclough et al. 2011), an important dimension of context is intertexuality
(Kristeva, 1980, following Bakhtin, 1986), how one text interrelates with other texts. 10.2.3 van Dijk
In the study of context, Fairclough et al. (2011) refer to the historical dimension – understand-
ing the historical sociopolitical situation in which a text is produced. They use an analysis of an Developing earlier work in the 1970s on the psychology of text processing with Walter Kintch (van
extract of an interview with Margaret Thatcher as an example of the importance of an understanding Dijk, 1977b), van Dijk’s contribution to CDA has been in developing a sociocognitive model, with a
of this historical dimension – in this case, of what was going on in Britain in the 1940s. focus on the discursive reproduction of racism, in particular, by politicians, journalists, scholars and
As well as being historical, CDA can be historiographic, that is to say, it can play a part in the writers (which he refers to as the ‘symbolic elites’), and in printed news media. van Dijk’s sociocogni-
writing of history (Fairclough, 2001; Flowerdew, 2012a; Fowler, 1996b). Indeed, history is one of tive approach attempts to bridge the gap between society and discourse. Working from a mental
the most obvious disciplines which might make use of CDA as an analytical method (see articles in models approach, van Dijk sees discourse, processed via long- and short-term memory, as shap-
Martin & Wodak, 2003). ing our perceptions and understandings. Stereotypes and prejudice can occur when such models
182 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 183
become overgeneralised. In relation to this work, van Dijk has been interested in developing theories When applied to the analysis of social inequality, CDA accounts for how discourse structures –
of ideology and context. He founded the leading journal devoted to CDA, Discourse and Society, which are established through various linguistic patterns and structures – work in their specific ways
which he still edits. to convey social cognitions (how people think) – which, in turn, contribute to the development of the
social structures of inequality and injustice of power in society. The relationship between power and
language is not seen as deterministic, however, but as variable, power influencing language and
10.2.4 Kress language affecting power. It is not possible, therefore, to ‘read’ power relations ‘off the page’ or text.
That being said, particular linguistic forms may typically be used in the expression of power. An early
Although, as already mentioned, in his later work, Kress has moved away from CDA, as one of the insight is the distinction in many European languages between first and second pronouns (tu/vous)
founding members of the group, his is an important contribution. Already, in earlier work, with Fowler of Brown and Gilman (1960), whereby the tu form may be used by the more powerful person, but
(Fowler et al., 1979) and Hodge (Hodge & Kress, 1979/1989), he was a leading theoretician for the vous form is required by the less powerful.
critical linguistics, focusing on ideology in news discourse. His later book, Linguistic Processes Access to specific forms of discourse – for example, those of politics, the media, science or
in Sociocultural Practice (Kress, 1989a), is significant in setting out some important principles education – is itself a power resource. Different resources are employed to exert different kinds
for CDA, as is his contribution to the special edition of Discourse and Society, referred to above, of power. The military exerts power through force or the threat of it; the rich exert power through
‘Against Arbitrariness: The Social Production of the Sign as a Foundational Issue in Critical Dis- money; while parents and teachers exert power through authority or knowledge (van Dijk, 2008).
course Analysis’. In this paper, as in his other contributions, Kress (1989b) argues that a fundamen- Whatever type of power is at stake, however, it will be exercised, to a greater or lesser degree,
tal understanding for a critical approach to discourse is the ‘motivated’ relation of the signifier and through discourse.
the signified, how producers and readers of signs are motivated by their backgrounds and social
histories which make up the relevant context, including the social structures and the power relations
existing therein. He also argues that a focus on ‘bland’ texts might be more productive than texts 10.3.2 Hegemony
which are less obviously ideologically marked and for the intrinsically multimodal nature of texts.
Fairclough (2003a) relates CDA to Gramsci’s (1971) notion of hegemony. Gramsci used the term
‘hegemony’ to refer to the exertion of power through implicit means rather than military force. This
10.2.5 van Leeuwen may be achieved through application of laws, rules and habits or may just be a matter of general
consensus (van Dijk, 2008). For Fairclough (2003a: 92), hegemony is ‘leadership as much as
van Leeuwen is influenced by his background in film and television and emphasises the overall domination across the economic, political, cultural and ideological domains of a society’. Hegem-
semiotic nature of discourse (van Leeuwen, 2004), considering not just text, but acoustic and visual onic struggle can be related to discourse in so far as social structures and discursive structures
elements of discourse, as well as material action. With regard to CDA, and in accordance with his are in a mutually defining relationship. Social structure is manifested in its discursive practices and
overall semiotic approach, van Leeuwen (1996: 33) has stated that: discursive practices are constitutive of social structure, in society’s norms, conventions, relations,
identities and institutions (Fairclough, 2003a: 64). This means that changes in society are reflected
[t]here is no neat fit between sociological and linguistic categories and if Critical Discourse Anal- in changes in discursive practice and vice versa. In bringing hegemony and discourse together,
ysis, in investigating for instance the representation of agency, ties itself in too closely to specific one can talk of discursive hegemony. By this is meant, as Fairclough (2003a: 218) defines the
linguistic operations or categories, many relevant instances of agency might be overlooked. term, ‘the dominance and naturalisation of particular representations’, how certain discourses
come to prevail in given sociopolitical contexts, as a result of a struggle between the relevant politi-
van Leeuwen is well known for a large-scale project studying globalisation and discourse (Machin cal actors.
& van Leeuwen, 2003) and for his 2008 book Discourse and Practice: New tools for CDA (van
Leeuwen, 2008).
10.3.3 Identity
10.3 SOME KEY ISSUES Another important concept in CDA is that of identity. Identity is a fluid construct that is subject to
change. The person who I am now is different to the person I was ten years ago or even last week,
10.3.1 Language and power or indeed yesterday, for that matter. At the same time, identity may be multiple. I have an identity as
a man, as a professor, as a father, and as a husband, for example. Burgess and Ivanic (2010: 240)
Indicative of the central role of power in CDA is the title of Fairclough’s (1989) seminal collection of describe how identities in educational contexts are usually transitory.
papers where he first published his ideas on CDA, Language and Power. CDA enables us to look
into the discourse dimensions of power abuse, which leads to injustice and inequality. As one of For most students, identities in education are transitory, mediating identities; hence, the prac-
the essential functions of text and talk is to persuade others to one’s point of view, it is possible to tices in which they engage while attending courses may be for extrinsic purposes, not part of
analyse the linguistic structures and the discursive strategies of a discourse in order to uncover the the identities to which they aspire for the rest of their lives. Students may be in an ambivalent
power struggle, social inequality and other forms of social and political problems at issue (van Dijk, relation with this identity: partially desiring and partially resisting being constructed as ‘some-
1993). It follows, therefore, that the social, political and cultural organisation of dominance in the one in education’. In the immediate present, however, this is an aspect of their identity that they
language structures of a discourse is constitutive of a hierarchy of power. cannot ignore.
184 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 185
Identity is important in discourse terms because one’s identity is manifested in one’s social practice, 2. What positive or negative traits, qualities and features are attributed to the linguistically con-
an important part of which is discursive practice. As well as individuals constructing their own identi- structed social actors (predication)?
ties, a large part of identity is constructed by others; by how we are perceived. Identity is therefore 3. Through what arguments and argumentation schemes do specific persons or social groups try
a binary construction. Kress (1989a) refers to this as ‘projecting’ identity on to others. He gives to justify or delegitimise claims containing specific nominations and predications (for example,
the example of the political leader whose role is to give definition to an entirely new group. It is the claims of discrimination of others)?
leader’s role in such a situation to produce texts which bring together hitherto disparate discourses 4. From what perspective or point of view are these nominations, predications and argumenta-
in a unified, coherent manner (Kress, 1989a: 15). In my book on the discourse of Hong Kong’s tran- tions expressed (perspectivation)?
sition from British to Chinese sovereignty (Flowerdew, 2012a), I showed how the outgoing British 5. Are the respective utterances (nominations, predications, argumentations) articulated overtly,
Governor projected a rather ‘British’ identity on to the Hong Kong people, while the incoming Hong are they intensified or are they mitigated (mitigation versus intensification)?
Kong Chinese Chief Executive projected a much more ‘Chinese’ identity on to these same Hong
Kong citizens. In line with its eclectic approach, various other practitioners have presented ‘toolkits’ for doing CDA.
Given the foregoing, identity is constructed through space and time (Flowerdew, 2012a). In dis- The term ‘toolkit’ might not sound very scientific, but it is appropriate, given that the lists of features
course analytic terms, this means that an individual or a group’s identity will to an important degree to look for in analysis are presented as suggestive rather than prescriptive, exhaustive taxonomies.
depend on the situational and historical context in which they are located. The situational aspect Examples of these can be found in various sources.
of context with regard to discourse identity is emphasised by Blommaert (2005). Blommaert notes To start with a simple one, van Dijk (2001c: 99) has suggested the following as features of
how, as people shift from place to place, ‘they frequently, and delicately, and each time in very mini- text to examine:
mal ways, express different identities’ (Blommaert, 2005: 224). Wodak and colleagues (Wodak et
al. 1999) have demonstrated the importance of place in the creation of national identity, how people • stress and intonation;
identify with a particular country. Although identities are partly created by others and projected on to • word order;
groups or individuals, there is no guarantee that the projected identities will be taken up by individu- • lexical style;
als. To quote Chiapello and Fairclough (2002: 195), ‘a new discourse may come into an institution • coherence;
or organisation without being enacted or inculcated’. • local semantic moves such as disclaimers;
• topic choice;
• speech acts;
10.4 METHODS AND TOOLKITS FOR CDA • schematic organisation;
• rhetorical figures;
In terms of methodology, Reisigl (2008) has listed a sequence of steps for the systematic critical • syntactic structures;
analysis of political discourse (but which can equally be applied to other fields), as follows: • propositional structures;
• turn-taking;
1. Consult previous knowledge about the sociopolitical problem that possesses linguistic • repairs;
aspects. • hesitation.
2. Collect (triangulated) discursive data for analysis.
3. Prepare and select specific data for analysis. In his early Language and Power, in Chapter 5, ‘Critical discourse in practice: description’, Fair-
4. Formulate research questions and hypotheses based on rapid checking of data or part of it. clough (1989) presented what he called a ‘mini reference manual’ (p. 106) in the form of a list of
5. Pilot the analysis to adjust analytical instruments and further spell out research questions. questions and subquestions to ask in a CDA study. The major divisions are as follows:
6. Develop detailed case studies; these can operate at macro or micro linguistic levels or at the
1. What experiential values do words have?
level of context; they lead to an overall interpretation of the results of analysis, taking into
2. What relational value do words have?
account the social, historical and political context of the analysed data.
3. What expressive values do words have?
7. Formulate critique to reveal problematic discursive strategies, solve specific problems of com-
4. What metaphors are used?
munication, or improve communication; this is based on ethical principles such as democratic
5. What experiential value do grammatical features have?
norms and human rights; it focuses on opaque, contradictory and manipulative relations among
6. What relational values do grammatical features have?
power, language and social structures and commits itself to cognitive and political emancipa-
7. What expressive values do grammatical features have?
tion (and improvement of communication).
8. How are (simple) sentences linked together?
8. Apply results, for example, publication of a book/articles and/or more widely disseminated
9. What interactional conventions are used?
outlets.
10. What larger-scale structures does the text have?
As well as his broad methodology, Reisigl (2008) lists a set of analytical categories: Each of these questions has a set of subquestions. For example, question 5 has the following:
1. How are social actors – either individual persons or groups – linguistically constructed by being 1. What types of process and participant predominate?
named (nomination)? 2. Is agency unclear?
186 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 187
Another list is that of Huckin (2005), entitled ‘Some useful tools and concepts for Critical Discourse Finally, Jäger (2001: 55–56) has a further toolkit/list and Gee (2011b), who has much in common
Analysis’. with CDA, although not normally being included in the group, has a whole book along the lines of a
toolkit.
Word/phrase level What all of these lists have in common is their emphasis on their indicative – as opposed to
• Classification, including names, labels; comprehensive – nature. One problem that they have, however, is that, although some of them
• Connotations, code words; include context, in their emphasis on textual features, they carry the danger of the user putting too
• Metaphor; much emphasis on textual features at the expense of context (see Blommaert, 2005, for a critique
• Lexical presupposition; of CDA’s heavy emphasis on text at the expense of context). Perhaps what is also needed is a toolkit
• Modality; to help in the analysis of context.
• Register, including synthetic personalisation;
• Politeness.
10.5 CDA AND SYSTEMIC FUNCTIONAL LINGUISTICS
Sentence/utterance level
• Deletion, omission: A number of CDA practitioners have claimed allegiance to Systemic Functional Linguistics (SFL)
• through nominalisation; and a number of commentators have claimed it to be a preferred method. Fowler (1996a: 12),
• through agentless passive; for example, advocates a simplified model of Halliday’s grammar (supplemented by concepts from
• Transitivity / agent–patient relations; Pragmatics). Fairclough (2003a: 5–6) adopts a similar approach, also mentioning the possible use
• Topicalisation/foregrounding; of Pragmatics, Conversation Analysis and Corpus Linguistics. Wodak (2001a: 8), although not mak-
• Presupposition; ing consistent use of the model in her own work (see above), has stated as follows:
• Insinuation, inferencing;
• Heteroglossia. Whether analysts with a critical approach prefer to focus on microlinguistic features, macrolin-
guistic features, textual, discursive or contextual features, whether their angle is primarily philo-
Text level
sophical, sociological or historical – in most studies there is reference to Hallidayan systemic
• Genre conventions;
functional grammar. This indicates that an understanding of the basic claims of Halliday’s gram-
• Discursive differences;
mar and his approach to linguistic analysis is essential for a proper understanding of CDA.
• Coherence;
• Framing;
Of the commentators, we can cite Renkema (2004: 284):
• Foregrounding/backgrounding;
• Textual silences;
In Critical Discourse Analysis more and more attempts are being made to ground analyses and
• Presupposition;
interpretations of power relations on systematic descriptions of discourse. A promising perspec-
• Extended metaphor;
tive was developed by the founding father of the socio-semiotic approach … Michael Halliday.
• Auxiliary embellishments.
General As we saw in Chapter 2, according to Halliday’s SFL (Halliday & Matthiessen, 2004), language is con-
• Central versus peripheral processing; ceived of as a resource for communication and making meaning rather than as a formal system, as
• Use of heuristics; is the case in many other forms of linguistics. Linguistic structures, in this model, are viewed as inter-
• Ideology; related choices (systems) which are available for the expression of meanings in situational contexts.
• Reading position; Any utterance will simultaneously express meanings according to the three ‘macro-functions’: the
• Naturalisation, ‘common sense’; ideational function (language as an expression of the individual’s experience of the world); the inter-
• Reproduction–resistance–hegemony; personal function (how individuals relate to each other through language at the social level); and the
• Cultural models and myths; master narratives; textual function (how linguistic forms are used to relate to each other and to the situational context).
• Intertextuality; The case for SFL in CDA is put by Martin and Wodak (2003: 8):
• Context; contrast effects;
• Communicator ethos; SFL provides critical discourse analysts with a technical language for talking about language
• Vividness; – to make it possible to look very closely at meaning, to be explicit and precise in terms that can
• Repetition; be shared by others, and to engage in quantitative analysis where this is appropriate.
188 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 189
There is no doubt there are many very good studies which make use of SFL (many of the analyses 10.7 POSITIVE DISCOURSE ANALYSIS
by Fairclough, for example, or the studies collected in Martin and Wodak [2003], or Martin’s [2000]
exemplificatory paper on how SFL can be used in CDA) and some of the systems and concepts As a complement, or, indeed, antidote to CDA, Martin (1999), has suggested ‘PDA’, or Positive Dis-
within Halliday’s framework, such as transitivity (categories of processes and participant roles), course Analysis, as a possible development. ‘The approach exemplifies a positive style of Discourse
modality, thematic development and grammatical metaphor have been used in CDA studies in the Analysis that focuses on hope and change, by way of complementing the deconstructive exposé
‘precise and explicit’ way that Martin and Wodak describe. associated with Critical Discourse Analysis’ (Martin, 1999: 29). In a later paper Martin (2004: 197)
However, there would be a number of problems with this approach if it were to be adopted as has stated:
the only framework for CDA (which, as already should be clear, is not the case). First of all, to under-
stand the grammar fully, a lot of work is required. For example, in a talk a few years ago, Halliday I suppose it would be going too far to propose a 10 year moratorium on deconstructive CDA,
(2006) stated that some 17,000 systems would be required to analyse fully the meaning potential of in order to get some constructive PDA off the ground. But we do need to move beyond a pre-
just one transitive verb. Similarly, Halliday’s best-known work, An Introduction to Functional Gram- occupation with demonology, beyond a singular focus on semiosis in the service of abusive
mar (Halliday & Matthiessen, 2004), extends to nearly 700 pages. This is why Fowler (1996a) states power – and reconsider power communally as well, as it circulates through communities, as
that this work ‘offers both more and less than is required’, ‘more’ in the sense that there is too much they re-align around values, and renovate discourses that enact a better world. Good question,
to absorb and ‘less’ in that it is not comprehensive enough to handle all the aspects of a text that of course, what better is! And how to achieve it? We can start to ask.
one might want to analyse. Another problem with the SFL approach is that it is not designed to deal
with pragmatic phenomena such as indirect speech acts and implicature. A third problem is that the Instead of deconstructing a speech by Australian Conservative Prime Minister John Howard, Martin
model of context in SFL is relatively unexplored. None of these problems, however, implies that SFL argues, work could be directed to the Australian Sorry Day and analysis could focus on Aboriginal
cannot be employed in CDA along with other approaches. The other approaches may be desirable, Elders, the impact of their stories of being taken from their families, and its effect in turn on migrant
however, because SFL is concerned with developing a systematic linguistic description according to children and their families.
a set of formal categories, but in any given text, there may be structures and functions which do not In a similar vein, Luke (2002: 106) has also called for an emancipatory form of Discourse
fit neatly into these categories (see van Leeuwen, 1996, for further discussion on this). Analysis.
I have argued that to move beyond a strong focus on ideology critique, CDA would need to
10.6 CDA AND CORPUS LINGUISTICS begin to develop a strong positive thesis about discourse and the productive uses of power.
To paraphrase Marcuse (1971), we would need to begin to capture an affirmative character of
Although slow to take off, critical discourse analysts are starting more and more to use corpus tools. culture where discourse is used aesthetically, productively, and for emancipatory purposes.
Hunston (2002: 109–123) gives a summary of earlier CDA corpus-based work, while Baker (2006)
and L. Flowerdew (2012) have more recent overviews. Probably the first CDA article to take a cor- One danger of proposals such as those of Martin and Luke, however, would be that of the enterprise
pus approach was that of Hardt-Mautner (1995; see also Mautner, 2009a, b), while Morrison and turning into a form of propaganda on behalf of the status quo. Another argument against PDA is
Love (1996) and Flowerdew (1997) gave other early applications. More recent empirical studies of that it sets up a false opposition with CDA. The term ‘critical’ incorporates both negative and positive,
note are those of Baker et al. (2008) and Morley and Bayley (2009). deconstruction and construction. One might argue, therefore, that, in arguing for a better world, CDA
Hardt-Mautner (1995) lists four advantages of a corpus approach for CDA. First, a corpus already incorporates a positive element.
approach allows the researcher to examine syntactic and semantic properties of key lexical items
exhaustively. Second, it can serve as a heuristic, providing ideas for further qualitative investigation.
Third, it produces ‘results’ in its own right; frequency of a certain form or of certain collocates may 10.8 CRITIQUE
in itself be relevant for a critical point of view. Fourth (although perhaps this should come first), at
the most fundamental level, the concordance is an extremely useful research tool, assisting the Perhaps ironically, given its name, CDA has attracted rather a lot of criticism (in the negative sense
researcher in analysing the data more efficiently than would otherwise be the case. of the word) as an approach and method for Discourse Analysis. These critiques are too numerous
Hardt-Mautner (1995) rightly emphasises that a corpus approach does not replace the more to review fully, but we can mention some of them. Perhaps the most common criticism is that CDA
traditional qualitative analysis of CDA, but, instead, is a useful support. A further advantage of a is biased. Blommaert (2005: 31–32), for example, talks about what he calls ‘the predominance of
corpus approach is that it may help to overcome criticisms of bias in more qualitative CDA analysis. biased interpretations’ in CDA, arguing that this raises questions about ‘representativeness, selectiv-
Corpus findings may be based on large bodies of data, thereby making findings more representative ity, partiality, prejudice and voice (can analysts speak for the average consumer of texts?)’.
and systematic (Baker, 2006). Another criticism of CDA is that it is too deterministic in its interpretations. According to Ham-
While early corpus applications to CDA used quite simple concordancing techniques, more mersley (1997: 244–245), CDA ‘often involves the adoption of a macro-sociological theory in which
recent studies have used more sophisticated search and display tools, annotation systems and sta- there are only two parties – the oppressors and the oppressed – and only one relationship between
tistics, reflecting advances in mainstream corpus studies (Baker, 2006). them: dominance’.
While, as we have seen in Chapter 9, teachers have embraced corpus techniques and devel- A third criticism is that the interpretation of the lay reader is ignored (see, for example, Stubbs,
oped data-driven learning, to date, reports are lacking of data-driven learning projects developed 1994). Analysts may have different readings from the actual consumers of the texts analysed. This
from a specifically critical perspective. No doubt such accounts will appear at some point, as this is Blommaert’s (2005: 32) point in the above quotation, ‘can analysis speak for the average con-
would seem to be a logical development. sumer of texts?’
190 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 191
Each of these criticisms has been responded to by various CDA practitioners, although there Language Education and language awareness at the time. His main target was Hymes’s conception of
is not space here to enter into this debate. The following, however, are relevant references for both communicative competence, as referred to in Chapter 1 of this volume, and Hymes’s view that:
sides of the argument (Billig, 2008; Blommaert, 2005; de Beaugrande, undated; Fairclough, 1996,
2008; Flowerdew, 1999/2007; Stubbs, 1997; Widdowson, 1995a, b, 1996, 1998a, 2004). [w]e have to account for the fact that a normal child acquires knowledge of sentences, not only
as grammatical, but also as appropriate. He or she acquires competence as to when to speak,
when not, and as to what to talk about, with whom, when and in what manner… There are rules
10.9 APPLICATION TO PEDAGOGY of use without which the rules of grammar would be useless (Hymes, 1974: 15).
When it comes to application to pedagogy, CDA is more concerned with raising general awareness
For Fairclough, this view was normative; imposing the ‘rules of use’ was to perpetuate the social
on the part of learners of the role of language in society than directly improving their proficiency
status quo, a status quo which was tied to relations of domination and subordination. Hymes’s notion
in the use of the language. In addition to learner awareness, CDA has an important role to play in
of communicative competence, as taken up by educationists, was a reification and naturalisation of
teacher education and can be applied to the analysis of learning materials in order to analyse their
these unequal power relations in society, Fairclough argued. Because such a notion of appropriate-
ideological underpinnings; are the materials politically biased, sexist, and so forth?
ness was widely taken up in educational contexts – unthinkingly, as common sense, in Fairclough’s
view – it was an important obstacle for CLA to overcome. The view of CLA put forward by Fair-
10.9.1 Critical Language Awareness clough and colleagues ‘stresses the mutually reinforcing development of critical understanding of
the sociolinguistic order, and practice, including the creative practice of probing and shifting existing
CLA is a concept developed by Fairclough (1992b) and colleagues, building on the Language conventions’ (Fairclough, 1992d: 53). Language awareness ‘should not push learners into oppo-
Awareness movement, which was itself started earlier by Hawkins (1984). CLA presupposes a sitional practices which condemn them to disadvantage and marginalization; it should equip them
critical conception of education and schooling (Fairclough, 1992c: 2) and, as such, can be related to with the capacities and understanding which are preconditions for meaningful choice and effective
the more familiar parallel movement of critical pedagogy, based on the work of Freire (1985). citizenship in the domain of language’ (Fairclough, 1992d: 54).
Fairclough’s case for CLA was based on three arguments (Fairclough, 1992c: 3). First, in the One of the examples Fairclough uses to illustrate what he refers to as ‘sociolinguistic hegem-
place where and at the time when it was developed (the UK in the late 1980s and early 1990s), ony’ is that of standard English and ‘doctrines of correctness’ (p. 51). It is a case of saying that only
there were changes taking place in the ways in which power and social control were exercised, standard English is acceptable and other varieties are inappropriate. Fairclough had in mind the situ-
changes in which language was deeply imbricated. Second, there were changes in the role of lan- ation in the UK, but a similar argument is valid in countries where English in not the mother tongue
guage in various types of work and in professional–client relationships, with a larger service sector and where governments and educational institutions impose standard English as the target second
and smaller manufacturing sector and quality of communication coming to be seen as part of the language and, in so doing, reject available local varieties.
quality of service. Third, there were changes in language practices as an important element of the
imposition of change, with language becoming less formal and professionals having to adapt their
communicative styles to clients rather than vice versa. 10.9.2 Some examples of the application of Critical Language Awareness
As a consequence of these three changes, Fairclough claimed that ‘people commonly have
problems knowing how to act as professionals, clients, parents, children, managers, employees, col- It might seem that CLA is an activity more suited to L1 than L2 education, but this need not be the
leagues; and part of the problem is not being quite sure how to talk, write, or interpret what others case, as some of the examples in this section will demonstrate.
say or write’ (p. 6). In my own work (with Lindsay Miller) (Flowerdew & Miller, 2005), we have argued for a critical
Based on these premises, Fairclough argued that CLA was an urgently needed element in component to be incorporated into the second-language syllabus (specifically related to listening,
Language Education, ‘a prerequisite for effective democratic citizenship’ and that CLA should be ‘an but the same would apply to comprehension in general, including both listening and reading) for two
entitlement for citizens, especially children developing towards citizenship in the educational system’ reasons. First, such a component introduces a level of sophistication to language learning, where
(p. 3, original emphasis). there is often a danger of trivialisation. Comprehension questions, particularly at the beginner’s
Fairclough recommended that CLA should be developed using the same tools as those identi- level, are very often at a rather inconsequential, surface level. Encouraging learners to be critical
fied in Figure 10.1 above for CDA, namely description of formal aspects of language in texts; inter- is more likely to exercise their analytical abilities and, at the same time, to be motivational. Second,
pretation of interaction, that is what conventions are employed and how; and explanation of how echoing CLA, with a critical approach, language teaching has the opportunity of preparing learners
processes of interaction relate to social action. for responsible citizenship. English is increasingly becoming an international lingua franca and it is
Elsewhere in the 1992 volume, Janks and Ivanic (1992) argued that simple ‘language aware- appropriate that the learning of English should incorporate a (critical) international perspective on
ness’, or ‘raised consciousness’, is not enough if CLA is to be truly emancipatory. They argue: the world.
One example that Flowerdew and Miller (2005) use to illustrate how this might work, even at
It is a central tenet of this chapter that ‘language awareness’ or ‘raised consciousness’ is not
a beginner’s level, is a television advertisement for Thai International Airlines. In this advertisement,
liberatory enough. Only if CLA empowers people to successfully contest the practices which
a voice whispers the words ‘smooth as silk’. This phrase is a commonly used idiom in English, but
disempower them would we claim that it is emancipatory. Awareness needs to be turned into
when used in this particular context it takes on a new meaning; smoothness does not refer to a
action (Janks and Ivanic, 1992: 305).
surface here, but to the smooth ride one has with this particular airline and the smooth service – a
In his main contribution to the original volume on CLA – a chapter entitled ‘The appropriacy of distinctive feature of certain South-East Asian airlines – that is offered. If we consider the context
“appropriateness”’ – Fairclough (1992d) critiqued the notion of appropriateness underlying thinking on of airline service, we may realise that this utterance has a political dimension that may not strike us
192 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 193
on first hearing. ‘Smooth as silk’, in the context of the television advertisement, is accompanied by • Read between the lines, that is, understand the hidden messages of written texts.
an image of a beautiful young female cabin crew member attending to a male passenger. It is not • Understand some of the cultural meanings in written texts.
unreasonable to ‘read’ this image as suggesting that it is the woman, or one of her peers, who will • See how texts persuade us to behave or think in particular ways.
make travel with Thai airways ‘smooth’. There are gendered inequalities of power here in the sug- • Appreciate the ways in which texts are written for different audiences.
gestion that the female cabin crew member is expected to smoothen one’s (men’s) travel. What this • See how texts may be read in different ways by different people.
might suggest for a model of listening (or reading) is a critical component that encourages learners
to analyse the context within which what they hear is created and thereby deconstruct it so as to The course included a wide range of different texts, including advertisements, newspaper texts,
reveal the inequalities of power that the text reproduces. This may seem a demanding requirement leaflets and forms, textbooks and magazines.
best left to advanced students, but if we think about it, the utterance ‘Smooth as silk’, from a strictly Wallace claims that there is a need to go beyond expert exegesis in CDA and examine how it
linguistic point of view at any rate, is hardly complex. As such it could quite appropriately be used in might become an activity in which social groups can participate, with its potential to empower par-
teaching at the most elementary levels. ticipants both in educational settings and in everyday life. This, she claims, is the great advantage of
Turning now to other approaches to application, an early account of the application of CLA is CLA, in so far as it can take place in a classroom, with ‘a ready-made interpretative community’ (p.
that of Wallace (1992), who describes how she applied CDA to reading materials, arguing that a 99). Another advantage of this group approach is that interpretation becomes negotiable, where in
critical element is generally missing from textbooks, selected texts being on bland topics unlikely the CDA literature it is usually the work of ‘the lone armchair critic’ (Stubbs, 1994: 99), a complaint
to be controversial, often in order to exemplify linguistic structures. Wallace developed a reading of critics of CDA, as noted above.
methodology which involves the questioning of ideological assumptions as well as ‘general’ reading A very practical approach to using CDA in the language classroom is presented by Cots (2006).
comprehension. In this methodology, rather than emphasising right and wrong answers, question- Cots does not use the term CLA, instead locating his approach in CDA theory, but it clearly is an
ing encourages a critical reading and asks learners to use language to explore and explain a text’s instance of CLA. Cots (2006) contrasts what he considers to be two different approaches to dis-
ideological positioning. course: a non-critical view and a critical view, as follows.
In further early work, Clark and Ivanic (1997) developed a CLA approach to English for Aca-
demic Purposes courses at university level in writing. Their approach is summarised as asking stu- A non-critical view of discourse:
dents constantly to answer the following questions: ‘Why are conventions/practices the way they • a stretch of language perceived to be meaningful, unified, and purposive;
are?’, ‘In whose interests do they operate?’, ‘What views of knowledge and representations of the • different ways of talking / writing about (and structuring) areas of knowledge or social practice
world do they perpetuate?’ and ‘What are the possible alternatives?’ (Clark & Ivanic, 1999: 66). Clark (for example, medical discourse, ecological discourse).
and Ivanic (1997: 217) seek to ‘empower learners by providing them with a critical analytical frame-
work to help them reflect on their own language experiences and practices, the language practices A critical view of discourse:
of others in the institutions of which they are a part, and the wider society within which they live’. • ideologically determined ways of talking or writing about persons, places, events or phenom-
Janks (1999) discusses the use of student journals as a means of assessing the development ena;
of students engaged in a postgraduate course in CLA in South Africa. Janks demonstrates the • a mode of social practice that is both structured by society and, at the same time, contributes
multiple identities that are revealed through the journals and how these identities are transformed or to structuring that same society.
conserved as learners enter a new discourse community. In addition, Janks raises the difficult ques-
tion as to whether CLA increases students’ agency and leads to transformative action or not.2 This is followed by a comparison of critical and non-critical views of Discourse Analysis, as
In a later development of her earlier work, Wallace (2009) describes an advanced reading follows.
course for foreign-language learners in London which allowed her to examine some key principles
of CLA. Wallace argues for the need of a course such as the one she describes to draw attention to A non-critical view of Discourse Analysis:
the ideological bases of discourses as they circulate both in everyday life and within specific texts. • description of natural spoken or written discourse;
The course Wallace describes: • study of what gives a stretch of language unity and meaning.
directed students’ attention to the manner in which literacy practices offer insight into power A critical view of Discourse Analysis:
relations in everyday life, as well as, at the micro level, examining the manner in which specific • analysis of how texts work within specific sociocultural practices;
texts reinforce or challenge relations of power through the patterning of linguistic choices (pp. • explanation of how discourse is shaped by relations of power and ideology and, at the same time,
98–99). is used to construct social identities, social relations, and systems of knowledge and belief.
Wallace’s course description included the following goals for students (p. 109): Cots relates his pedagogical approach to Fairclough’s model of CDA, as was shown above, with the
stages slightly modified as social practice, discourse practice and textual practice.
• Do you want to improve your critical reading skills in English?
• Do you feel that you would like a fuller understanding of the written texts which you From an analytical point of view, the model of CDA proposed by Fairclough (1989, 1992b)
encounter in your day-to-day life in Britain? considers discourse as the result of three different types of practice: social, discursive, and
textual. At the level of social practice, the goal is to discover the extent to which discourse
This class aims to help you: is shaped by and, at the same time, influences social structures and the nature of the social
194 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS 195
activity of which it forms part. The discursive practice dimension acknowledges the specifi- The third stage, the textual stage, focuses on the salient formal and semantic features of text
city of the communicative situation, taking into account both material and cognitive aspects construction. The following example questions focus on connectors, modality and vocabulary,
related to the conditions of textual production and interpretation (for example, intertextuality, respectively:
presuppositions, etc.). Finally, the textual practice dimension focuses on formal and semantic
features of text construction, such as grammar or vocabulary, which contribute to conveying/ 1. What linking words connect the following ideas in the text:
interpreting a specific message (p. 339).
Living near New York < > Lifestyle of the Amish
When this model is applied to language users or learners: Using banks and going to the doctor’s < > Having phones
Playing baseball and eating hot dogs < > Having TVs, radios, carpets …
[t]he ‘critical’ nature of the model is that it relies on the users’/learners’ capacity to interpret a Having churches < > Being very religious
text within a specific communicative, social, and ideological context and react to it taking into
account their personal experience and values. 2. Are the ideas on both sides presented as paradoxical or contradictory?
3. Look for examples in the text containing the verb can/can’t. What can the Amish do? What
Pedagogical exploitation of a given text, as exemplified by a piece about the Amish religious com- can the Amish not do? Next look for examples containing the verbs have to and allow,
munity in North America, follows the three stages of Fairclough’s model. In the social practice phase expressing obligation. What are the Amish obliged to do?
of the activity, learners reflect upon the following aspects: 4. Fill in the ‘you’ column in the table below and say in each case if the word/phrase in ques-
tion has a positive (+) or a negative (–) meaning for you. When you have finished, do the
1 how the text contributes to a particular representation of the world and whether this rep- same to fill in the ‘Amish’ column according to what the text says.
resentation comes into conflict with readers’ own representations;
2 how the textual representation is shaped by the ideological position of its producer(s); Cots concludes his article with a checklist of questions for teachers (a) to approach language use
3 how the text contributes to reinforcing or changing the ideological position of its readers. with a ‘critical’ attitude, and (b) as a reference framework to plan how to present language use to
learners. The list is as follows:
The following set of questions is suggested to help learners in their analysis in this social practice
stage: A Social practice
A.1 What social identities does/do the author(s) of the text represent?
1. Are the Amish typical American people? Why? A.2 What is the relationship between the social identities the author(s) represent(s)?
2. In your opinion, who wrote the text? An Amish or a non-Amish person? Try to justify your A.3 What is/are the social goal(s) the author(s) has/have with the text?
answer. A.4 To what extent is the text necessary to accomplish the goal(s)?
3. What do you think of the Amish after reading the text? Would you like to be an Amish? A.5 In what kind of social situation is the text produced? How conventional is it?
A.6 Does/do the author(s) represent or appeal to particular beliefs?
The discourse practice phase of the activity centres on the specificity of the communicative situation A.7 What are/may be the social consequences of the text?
of the text, taking into account material and cognitive circumstances such as the following:
B Discourse practice
1. the discourse type or genre that the text can be classified into and the intertextual chains B.1 How conventional is the text taking into account its situation of use?
it enters into; B.2 Does it remind us of other texts we have encountered either in its form or in its content?
2. the contribution of the different propositions in the text to the overall impression of B.3 Can we classify it as representative of a specific type?
coherence; B.4 Is the text more or less accessible to different kinds of readers?
3. the readers’ knowledge of the world and experience of other texts that the author draws B.5 Does it require us to ‘read between the lines’?
upon. B.6 Does it presuppose anything?
B.7 Who are the producer(s) and intended receiver(s) of the text?
The following are suggested facilitating questions for learners for this discourse practice stage:
C Textual practice
1. Where can you find a text like this? What kind of readers is it addressed to? Is it written for C.1 If the text is co-operatively constructed (for example, a conversation), is it obvious in any
Amish or non-Amish people? way that one of the participants is more in control of the construction than the others?
2. What is the ‘point’ of the text? What is the author trying to tell us? What do you remember C.2 How are the ideas represented by utterances, sentences, or paragraphs connected in the
from the Amish after reading the text? text?
3. What do you know about New York or the USA? The Amish live near New York. Are they C.3 Does/do the author(s) follow any rules of politeness?
really ‘an unusual community’? How does the author of the text try to show us that they are
‘unusual’? The examples from Flowerdew and Miller, Wallace, Clark and Ivanic, Janks and Cots presented in
this section are quite varied in their approaches. What they all have in common, however, is the goal
196 CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS
of raising awareness on the part of learners of societal inequalities as argued for by Fairclough and
what he claims as ‘a prerequisite for effective democratic citizenship’ and as ‘an entitlement for citi-
zens, especially children developing towards citizenship in the educational system’, as cited above.
Find a text or texts which might be suitable for such an analysis. Then apply the stages that
Wallace suggests to the text. How effective do you think this approach would be with a group
of learners with whom you are familiar?
Cots, 2006; Fairclough, 1992b, 2003a, b; Fairclough et al., 2011; Wodak, 2001a; Wodak and
Meyer, 2001.