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Bernardo Gutiérrez/Folhapress
Trabalhadores
rurais alvos de
operação da
Polícia Federal
que investiga
denúncias de
trabalho escravo,
em Tucuruí, PA.
AKG-Imagens/LatinStock
Friedrich Engels “sociedades sem Estado”
(1820-1895), teórico
revolucionário
alemão, principal As primeiras formas de organi-
colaborador de Karl zação social dos seres humanos se
Marx com o qual
fundou o marxismo.
caracterizaram quando deixaram de
ser nômades e se tornaram sedentários,
isto é, fixaram-se em um lugar para
cultivar a terra e praticar o pastoreio.
Nesse tipo de sociedade, os
homens trabalhavam coletivamente,
repartindo entre si o resultado da
pesca, da caça e da coleta de frutos e
de raízes. Não existia nenhuma forma
de propriedade privada e as relações
Segundo Engels:
de produção eram caracterizadas pela
ajuda mútua entre todos os membros
...para que esses antagonis-
da coletividade.
mos, essas classes com intereses
econômicos colidentes não se Não existia o Estado e a sociedade
devorem e não consumam a so- não era dividida em classes sociais,
ciedade numa luta estéril, faz-se mas nessas comunidades tem origem a
necessário um poder colocado especialização de funções: uns caçam,
aparentemente por cima da so- outros plantam, uns fabricam cestos,
ciedade, chamado a amortecer o outros dominam os ritos religiosos...
choque e a mantê-lo dentro dos
Apesar da utilização, por diver-
limites da “ordem”. Este poder,
nascido da sociedade, mas pos- sos autores, do termo “primitivo” em
to acima dela e se distancian- relação a essas sociedades, devemos
do cada vez mais, é o Estado. chamar a atenção para algumas ques-
(ENGELS, 2005, p. 191) tões importantes:
foram submetidos
à escravidão. o trabalho era a função que deveria
ser exercida por uma classe social
majoritária numericamente – neste
caso específico, formada por escravos
e camponeses –, que, dessa forma,
sustentava o Estado e aqueles que não
trabalhavam na produção, mas exerciam
outras funções – como era o caso dos
nobres, sacerdotes e guerreiros.
Essa produção de excedente em
benefício do Estado é que proporcionou
c) Sociedades “orientais” ou “asiáticas” a constituição de grandes exércitos
e de obras monumentais, tais como
As sociedades denominadas como pirâmides, templos, canais de irrigação...
“orientais” ou “asiáticas” também exis-
tiram na Antiguidade, predominando d) Sociedades feudais ou estamentais
na região da Mesopotâmia, entre os
rios Tigre e Eufrates (onde atualmente Característico do Japão até o
se encontra o Iraque), na China e na século XVIII e da Europa ocidental
Índia. Mas, apesar do uso dos termos durante toda a Idade Média, o modo
“asiático” ou “oriental”, esse tipo de de produção feudal ou feudalismo
organização socioeconômica também era baseado em relações servis de
prevaleceu em algumas regiões de produção (senhores feudais X servos) e
outros continentes, como a África (no na propriedade do senhor sobre a terra.
Egito antigo) e a América (entre os Diferentemente do escravo, o
astecas, no atual México, e os incas, na servo poderia trabalhar uma parte
região dos Andes). da terra do senhor em seu próprio
124 | Unidade 1 - Sociedade e Conhecimento Sociológico
benefício, mas era obrigado a pagar da força política, econômica e militar
diversos impostos ao senhor feudal e a dos senhores feudais, e do ritmo de
obedecer as leis que eles estabeleciam. desenvolvimento das formas de pro-
No caso da Europa ocidental, o maior dução capitalistas – como, por exemplo,
poder político e econômico na Idade o comércio e a nascente indústria
Média era exercido pela Igreja católica, –, assim como a força econômica e
proprietária da maior parte das terras. política que adquiria gradativamente a
nova classe burguesa.
O trabalho e as desigualdades:
estratificação social e
mobilidade social
Max Weber que, ao estudar sobre as divisões em classes, que podem ser
origens do capitalismo, revelou que a entendidas também como outras for-
Reforma protestante contribuiu para mas de classificação, existentes nos
a mudança na concepção de trabalho, distintos tipos de sociedades. A Socio-
influenciando, anos mais tarde, a logia denomina essas divisões de
própria concepção da Igreja católica. Na estratificação social.
visão do segmento protestante analisado
por Weber, o trabalho passa a não ser
mais fruto do pecado original, mas um Estratificação social é o
fundamento da vida humana interpre- modo como as diversas socie-
tado como uma virtude diante de Deus dades estão organizadas em “es-
e um dos “caminhos para a salvação”. tratos” ou “camadas” sociais. Em
Com o surgimento do capitalismo, Weber outras palavras, a forma como
os indivíduos estão localizados
afirmou que a Reforma protestante
numa determinada “posição”
contribuiu para que o trabalho e as em uma sociedade – ou ainda
profissões fossem encarados como os elementos de pertencimento
uma vocação, se contrapondo à pre- a um dado “grupo social”. Esses
guiça e à ociosidade. Realmente, se elementos podem se basear em
pensarmos neste sentido, veremos que critérios econômicos, políticos,
a visão sobre o trabalho passou a ser sociais e culturais. Para diversos
sociólogos, existiriam diferenças
uma das principais preocupações dos
marcantes entre os “sistemas de
pensadores iluministas (lembra-se das classes” modernos, como en-
aulas de História?), que caracterizavam tende Marx e, por exemplo, os
o trabalho (manual e intelectual), as “sistemas de castas”, encontra-
técnicas, a ciência e a mecânica como dos em sociedades organizadas
importantes atos humanos que ajudam a sob outra forma.
transformar a natureza.
As relações entre Retomemos Max Weber para exem-
Thales Stadler/ABCDigipress/Folhapress
Luiz Fernandes
reconhece a existência de castas, mas
Capítulo 8 - “Ganhava a vida com muito suor e mesmo assim não podia ser pior.” O trabalho e as desigualdades sociais na História das sociedades | 129
Interdisciplinaridade
J
á que falamos neste capítulo de trabalho, vamos Voltemos à questão inicial deste texto. Pensando
então conversar sobre arte e trabalho. pela ótica dos nossos indígenas, por exemplo, que há
Desde a pré-história, o homem sente a milhares de anos produzem seus adornos, armas etc.,
necessidade de se expressar esteticamente. Seja todos eles úteis e bonitos, que tinham e têm uma função
LIVRO DO PROFESSOR - VENDA PROIBIDA
pintando animais nas cavernas (provavelmente dentro da sua tribo. Logo, eles são:
acreditando numa forma mágica de dominar o predador
e transformá-lo em presa). Seja usando colares com Artesãos: pela sua habilidade e técnica. Mas,
dentes de animais que ele matou (uma medalha por sua nos dias de hoje, pela história de injustiças sociais de
força e destreza). Seja criando cestos, tapetes, armas que foram vítimas, necessitam da venda imediata para
etc. (se preocupando com a beleza desses instrumentos geração de renda;
que lhes eram úteis, logo não precisariam ser bonitos). Trabalhadores: pois contribuem para a história e
Estes seres humanos não estavam ainda fazendo arte satisfação pessoal e do seu grupo;
nem artesanato. Estavam simplesmente cumprindo com Artistas: em função do conjunto da obra ao longo de
suas obrigações e necessidades dentro do grupo, onde milhares de anos, seu trabalho é reconhecido como arte,
todos tinham que trabalhar. registrando uma sabedoria milenar através da geometria,
O artesanato contempla o belo, depende da das cores e da beleza.
técnica, de habilidades manuais e, com a formação das O importante nisso tudo é saber que artista pode
sociedades, da geração garantida e imediata de dinheiro. viver de arte, artesão pode ser artista e ambos devem
A arte contemporânea não tem prioritariamente essas exercer seus ofícios como um plano de vida. Além
preocupações, logo ela não consegue ser compreendida de pintura, desenho e outras artes, que apavoram
como uma das necessidades mais básicas do ser humano. os pais, por apresentarem pouca garantia de “futuro”
Consequentemente, a sociedade enxerga o artesão como para os filhos, existem profissões com grande oferta
trabalhador e muitas vezes, artista. E o artista, muitas de empregos, como ilustração, design, estilismo e
vezes, como desocupado, e até transgressor. É o caso cinema. Não importa. Transforme-o em trabalho.
dos grafiteiros (não raramente igualados a pichadores) Você deve estar se perguntando: mas o que é arte,
que, a duras penas, conquistaram o mercado artístico e exatamente? Se descobrir, me conta?
também outras paredes: as das galerias de arte. Mas aí,
cabe a pergunta: grafiteiro é um trabalhador? Rafael Kuwer é professor de Artes do município de Angra dos
Reis – RJ. Bacharel em Gravura pela Escola de Belas Artes
Geralmente, essa resposta só é positiva quando ele da UFRJ, Licenciado pela Uni-Bennett e Pós-graduado em
fica rico e famoso. Tais comparações não têm a função de Gestão e Produção Cultural pela Universidade Estácio de Sá.
eleger como um ofício mais nobre a arte ou o artesanato,
nem impossibilitar um artesão de ser chamado de artista,
nem tanto o de garantir que qualquer um que se aventure
pelo universo das artes seja um artista de fato. Uma
situação preocupante, que descreve bem isso, é quando
você apresenta alguma habilidade para desenho, por
exemplo, e já é convencido de que é um artista.
Revendo o capítulo
1– Compare as diversas sociedades no que diz respeito às relações de produção.
2– Quais são as diferenças existentes entre as sociedades “orientais” e escravistas?
3– O que significa estratificação social?
4– O que significa mobilidade social? E como ela pode ser classificada no sistema de classes?
2 – (ENEM, 2009)
Entre 2004 e 2008, pelo menos 8 mil brasileiros foram libertados de fazendas onde trabalhavam como
se fossem escravos. O governo criou uma lista em que ficaram expostos os nomes dos fazendeiros
flagrados pela fiscalização. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, regiões que mais sofrem com a
fraqueza do poder público, o bloqueio dos canais de financiamento agrícola para tais fazendeiros
tem sido a principal arma de combate a esse problema, mas os governos ainda sofrem com a falta de
informações, provocada pelas distâncias e pelo poder intimidador dos proprietários. Organizações
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não governamentais e grupos como a Pastoral da Terra têm agido corajosamente, acionando as
autoridades públicas e ministrando aulas sobre direitos sociais e trabalhistas.
Nos lugares mencionados no texto, o papel dos grupos de defesa dos direitos humanos tem sido
fundamental, porque eles:
(A) negociam com os fazendeiros o reajuste dos honorários e a redução da carga horária de trabalho.
(B) defendem os direitos dos consumidores junto aos armazéns e mercados das fazendas e carvoarias.
(C) substituem as autoridades policiais e jurídicas na resolução dos conflitos entre patrões e empregados.
(D) encaminham denúncias ao Ministério Público e promovem ações de conscientização dos
LIVRO DO PROFESSOR - VENDA PROIBIDA
trabalhadores.
(E) fortalecem a administração pública ao ministrarem aulas aos seus servidores.
Pesquisando e refletindo
Livros:
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 21. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1986.
Livro de leitura agradável que explica a História pelo estudo da teoria econômica e ao mesmo
tempo faz o contrário, isto é, explica a economia através do estudo da História.
PINSKI, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Atual, 1990. (Coleção Discutindo a História).
Este livro descreve de forma clara e objetiva as características das primeiras organizações sociais
e sociedades humanas na História.
Filmes:
A NÓS, A LIBERDADE (À Nous la Liberté, França, 1931). Direção: René Clair. Elenco: Henri
Marchand, Raymond Cordy, Rolla France. Duração:104 min.
O filme faz um paralelo entre o trabalho forçado numa prisão e numa fábrica.
A LENDA DA TERRA DOURADA (La legende de la terre dorée, Suíça, 2007). Direção: Stéphane
Brasey. Duração: 54 min.
Documentário-denúncia que aborda as condições de vida de centenas de migrantes que chegam
ao estado do Pará. Na região, conhecida como a mais violenta do Brasil, no que se refere a
questões agrárias, eles são aprisionados em grandes fazendas de gado e tratados como escravos.
O filme recolhe depoimentos de trabalhadores e de fazendeiros da região.
“MANGUE SOCIOLÓGICO”:
http://bit.ly/1gkuxzl
Interessante Blog, contendo uma página que descreve e explica os conceitos de estratificação
social e mobilidade social. Fazendo referência a sociólogos e autores estudados neste capítulo, traz
também um pequeno vídeo sobre mobilidade social. Acesso: fevereiro/2013.
Músicas:
Filme Destaque:
A GUERRA DO FOGO
International Cinema Corporation (ICC)/Jean-Jacques Annaud
FICHA TÉCNICA:
Direção: Jean-Jacques Annaud
Elenco: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman,
Nameer El Kadi
Duração: 97 min. (França, Canadá 1981)
SINOPSE:
O filme se passa nos tempos pré-históricos, em torno da
descoberta do fogo. A tribo Ulam vive em torno de uma fonte
natural de fogo. Quando este fogo se extingue, três membros
saem em busca de uma nova chama. Depois de vários dias
andando e enfrentando animais pré-históricos, eles encontram
a tribo Ivakas, que descobriu como fazer fogo.
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