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1. Introdução
Dentre os processos de separação empregados na indústria química, a destilação é
considerado como um dos mais importantes. A separação dos componentes de uma mistura
nestes processos requer um íntimo conhecimento do comportamento das fases líquida e vapor
em equilíbrio. Uma etapa cada vez mais necessária aos processos se refere à modelagem e
simulação dos mesmos, eliminando operações onerosas no desenvolvimento industrial.
A modelagem e simulação, bem como o projeto de uma planta, requerem propriedades
termodinâmicas, como coeficientes de atividade, que permitam caracterizar e descrever o
comportamento do sistema como um todo. Para que essa etapa ocorra de modo satisfatório é
de suma importância que todas as suas análises e decisões se baseiem em dados da maior
confiança, onde podemos citar os obtidos através do Equilíbrio Líquido-Vapor (ELV).
A obtenção deste tipo de informação é, na maioria das vezes, demorada e bastante
onerosa. Ainda assim, a aquisição de grandezas termodinâmicas obtidas à partir de dados de
equilíbrio líquido-vapor torna-se um processo necessário e, por mais dados catalogados que se
obtenham, dificilmente será um tarefa considerada dispensável.
Os equipamentos necessários para a coleta destes dados são denominados ebuliômetros
que podem tanto operar a temperatura como pressão constantes. As técnicas de ebuliometria
datam deste início de século. Vários métodos e equipamentos foram desenvolvidos, cada qual
com suas vantagens e desvantagens. No experimento a ser realizado será empregado o
ebuliômetro “Fischer”, que trabalha à pressão constante (atmosférica).
2. Objetivo
Determinar dados de equilíbrio líquido-vapor (composição da fase líquida e vapor) de
uma mistura binária (tolueno-ciclo-hexano) através de um ebuliômetro “Fischer”. Avaliar a
consistência termodinâmica dos dados obtidos. Calcular, a partir dos dados experimentais, os
parâmetros de interação binária para o cálculo do coeficiente de atividade. Determinar a curva
de equilíbrio líquido-vapor do sistema estudado.
2
3. Teoria
As equações de equilíbrio líquido-vapor para um sistema fechado à temperatura (T) e
pressão (P) constantes, contendo C componentes, são dadas pela igualdade das pressões, das
temperaturas e dos potenciais químicos para todos os componentes em ambas as fases:
PV = P L equilíbrio mecânico
TV = T L equilíbrio térmico (1)
µiV = µiL equilíbrio termodinâmico
f iV = f i L i = 1,... C (2)
onde yi é a fração molar do componente i na fase vapor, φˆiV é o coeficiente de fugacidade na fase
economia de energia e gastos com equipamentos. Para se ter uma idéia, 40-50% dos gastos de
uma planta química se referem a equipamentos de separação, e 70% dos custos de energia são
empregados nestes processos; desta energia gasta, 95% vão para operações de destilação.
P
lnφˆiV = 2∑ y j Bij − Bm (4)
RT j
com B, o segundo coeficiente do virial para o componente puro, dado pela correlação de
Tsonopoulos:
BPc
= B ( 0) + ωB (1) + B ( 2) (5)
RTc
0.422 .
0172 a b
B ( 0) = 0.083 − B (1) = 0139
. − B (2) = − (6)
Tr 1.6 Tr 4.2 Tr 6 Tr 8
e o segundo coeficiente do virial cruzado Bij, é dado pelas mesmas equações de Tsonopoulos
para B, porém, com as propriedades críticas da mistura:
3
Vci1/ 3 + Vcj1/ 3 Z ci + Z cj
Tcij = Tci Tcj (8) Vcij = (9) Z cij = (10)
2 2
ωi + ω j Z cij RTcij
ω ij = (11) Pcij = (12)
2 Vcij
4
Bii Pi sat
ln φ isat = (13)
RT
Coeficiente de atividade
A prática usualmente empregada para o cálculo dos coeficientes de atividade da fase
líquida, faz uso de modelos derivados de expressões dadas para a energia livre de Gibbs
excedente, que relacionam-se com a composição e temperatura através da expressão:
1 ∂ GE
ln γ i = (14)
RT ∂ ni T , P ,n j ≠i
Modelos para a energia livre de Gibbs excedente podem ser encontrados na literatura
(Reid et all, 1988). Muitos deles são empíricos, alguns possuindo certo embasamento teórico.
A uma dada temperatura, a energia livre de Gibbs excedente de uma mistura depende da
composição e, em menor grau, da pressão do sistema. A baixas e médias pressões é aceitável
desprezar a dependência da energia de Gibbs em relação a pressão, já que o efeito é
suficientemente pequeno. Dessa forma, os modelos adotados para a representação do
coeficiente de atividade da fase líquida, também ficam como função da temperatura e
composição. Estes modelos levam em consideração a energia de interação entre as moléculas,
expressa na forma de parâmetros de interação binários. Alguns modelospara coeficiente de
atividade são Wilson, UNIQUAC e NRTL. Suas expressões foram retiradas de Gmehling
(1977) e são mostradas na Tabela1.
5
V
L
λij − λ ji m m
x Λ
Λ ij = exp−
j
1)
− ln ∑ x j Λ ij + 1 − ∑ m k ki
j =1
∑ x j Λ kj
L
Wilson Vi RT k =1
Λ ii = Λ jj = 1 j =1
( g ji − g ii ) m
m
τ ji = ∑τ ji G ji x j m x G
j ij
∑ x nτ nj Gnj
RT j =1
+∑ τ − m
n =1
G ji = exp(− α jiτ ji ) 2) m ij
NRTL
τ ii = τ jj = 0
∑Gl =1
li xl j =1 Gij x j
∑
l =1
G jl xl
Gii = G jj = 1
ln γ iC + ln γ iR
ϕ z ϑ ϕ
ln γ iC = ln i + q i ln i + li − i
xi 2 ϕi xi
∑x lj j
u ji − uii j
τ ji = exp −
UNIQUAC RT 3)
m m ϑ j τ ij
τ ii = τ jj = 1 ln γ iR = q i 1 − ln ∑ ϑ j τ ji − ∑ m
j =1 j =1
∑ ϑk τ kj
k =1
li =
z
(r − qi ) − (ri − 1)
2 i
z = 10
sendo,
1) V iL ≡ volume molar do componente i líquido
ri xi
ϕi = ≡ fração volumétrica do componente i
∑ rj x j
j
Φ z θ r τ21 τ12
lnγ 1 = ln 1 + q1 ln 1 + Φ2 l1 − 1 l 2 − q1 ln(θ1 + θ2τ 21) + θ2q1 − (15)
x1 2 Φ1 r2 θ1 + θ2τ 21 θ2 + θ1τ12
z x1r1
l1 = (r1 − q1 ) − (r1 − 1) (16) Φ1 = (17)
2 x1r1 + x 2 r2
x1q1 ∆u
θ1 = (18) τ 12 = exp − 12 (19)
x1q1 + x 2 q2 RT
Z RA[1+(1− Tr ) ]
RTc 2/7
VL = (20)
Pc
Pressão de vapor
Existem na literatura vários tipos de correlação para cálculo de pressão de saturação em
função da temperatura, como pode ser visto em Reid et all (1988). Algumas correlações são a
DIPPR, Antoine e Antoine estendido. A equação DIPPR permite representar faixas de
temperatura maiores, bem como permite extrapolações mais seguras. Ela possui a forma:
B
ln P sat = A + + C ln T + DT E (21)
T
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O equipamento empregado para a obtenção dos dados de equilíbrio líquido-vapor será
um ebuliômetro “Fischer” modelo 0602 acoplado a um controlador “M101”. Para a
determinação da composição das fases em equilíbrio (líquida e vapor condensada) será
utilizado um refratômetro, operando a temperatura de 20°C.
4.2 REFRATÔMETRO
O refratômetro mede a composição de uma amostra através do valor do índice de
refração da mesma a uma temperatura constante, que é comparado com uma curva de
calibração padrão do sistema.
No nosso experimento, a curva de calibração para o sistema ciclo-hexano-tolueno foi
obtida a 20°C e pode ser vista na Figura 2 abaixo:
9
0.8
0.6
0.4
Y = -14.313*X + 21.4197
0.2
Y = fração molar do ciclohexano
X = índice de refração medido
♣
Quando a temperatura de ebulição da mistura estiver muito próxima, ou até acima, da
temperatura de aquecimento imposta pelo controlador, deve-se escolher uma nova temperatura
para o controlador cuja diferença fique em torno de 10°C da temperatura de ebulição da
mistura.
12
mesmo tempo. Para tanto, é extremamente necessário que a fase vapor e, principalmente
a fase líquida, estejam recirculando com um fluxo constante.
10. Apertar a tecla “stop” no controlador e abrir as válvulas (1.10) e (1.19).
11. Retirar os frascos de amostras (5) e (5.1) e analisar suas composições através do
refratômetro.
12. Esperar que a mistura para de “ferver” no frasco de aquecimento (1.3) e repetir os itens 5,
6, 7, 8, 9, 10 e 11 até que se obtenha praticamente o tolueno (ou ciclo-hexano) puro no
frasco de mistura.
OBSERVAÇÕES:
i. As substâncias empregadas neste experimento são tóxicas. Durante o manuseio das
mesmas ou se permanecer à frente do equipamento, utilize sempre óculos de segurança,
máscara contra gases e luvas.
ii. NUNCA abra a válvula de descarga (1.4) com o controlador no modo de aquecimento
(tecla “start” ativa)
iii. SEMPRE verificar a velocidade de agitação da mistura pelo agitador magnético. A
mistura deverá sempre conter um pequeno vórtice e a agitação deverá ser constante e
suave.
iv. Qualquer dúvida sobre o modo de operação do equipamento procurar o
monitor/professor da disciplina.
110
Ciclohexano(1) - Tolueno(2)
105 P = 716 mmHg
Fase líquida
Fase Vapor
Calculado (UNIQUAC)
100
T (° C)
95
90
85
80
♣
Parâmetros de não aleatoriedade. Se I=J, o parâmetro tem valor nulo.
15
m A = x A * PM A (6.1a) VA = m A (6.1b)
ρA
m B = x B * PM B (6.1c) VB = m B (6.1d)
ρB
VT = VA + VB (6.1e)
onde,
m i ≡ massa do componente i
x i ≡ fração molar do componente i
PM i ≡ peso molecular do componente i
Vi ≡ volume do componente i
VT ≡ volume total
Logo,
VB' = (250 * VB ) V
VA ' = 250 − VB'
tem-se assim os volumes de A e B para cada concentração, num volume total de 250 ml
6.2. Preparando uma amostra a partir de uma outra solução de concentração conhecida
Para exemplificar, será desenvolvido o procedimento para a obtenção de uma solução com
concentraão xA=0.9 a partir de uma solução de concentração incial xA=0.95
Componente Reagente PM ρ
A Ácido acético 60 1,05
16
Partindo das equações 6.1a, 6.1b, 6.1c, 6.1d, 6.1e e calculando o volume dos reagentes
presentes no frasco de aquecimento (esse procedimento nos dá apenas uma aproximação dos
volumes presentes)
m A1 = 0,95 * 60 = 57 gr VA 1 = 57 = 54,3 ml
1,05
m B1 = 0,05 * 132 = 6,6 gr VB1 = 6,6 = 6,8 ml
0,97
VB ' = 27,8 ml
1
VA ' = 222,2 ml
1
VA ' = 220 ml
1
Partindo das equações 6.1a, 6.1b, 6.1c, 6.1d, 6.1e e calculando o volume dos reagentes
necessários
m A 2 = 0,90 * 60 = 54 gr VA 2 = 54 = 51,4 ml
1,05
m B 2 = 0,10 *132 = 13,2 gr VB 2 = 13,2 = 13,6 ml
0,97
VB' = 52,3 ml
2
VA ' = 197,7 ml
2
Na segunda solução tem que se retirar uma certa quantia “Q” da mistura inicial e
colocar a mesma quantia do componente B puro.
Assim:
REID, R. C., PRAUSNITZ, J. M.; POLING, B. E. The properties of gases and liquids. 4.ed. New
York: McGraw-Hill, 1988.
19
APÊNDICES
C. Operação do Controlador
O controlador “M101” do ebuliômetro “Fischer” será utilizado para regular o
aquecimento da mistura e ler as temperaturas de equilíbrio do sistema. O aparelho controlador
se encontra localizado abaixo do ebuliômetro (Figura 4). Ele consiste de uma chave geral
on/off (O ou I), um visor de cristal líquido e teclas funcionais e numéricas. Quando o aparelho
requisitar a entrada de valores numéricos, as teclas numéricas (canto inferior direito das
teclas) são habilitadas automaticamente. Caso contrário elas passam a se utilizar das funções
descritas nas mesmas.
Ao se ligar o controlador, acionando a tecla (O/I), aparecerá inicialmente no visor a tela
indicada na Figura 4. Após alguns instantes irá surgir a tela com o menu principal (Figura 5).
As opções do menu principal, bem como as dos menus subsequentes, podem ser selecionadas
utilizando-se as tecla UP e DOWN. Entretanto, a única opção a ser empregada durante o
experimento será a primeira (item 1 – meas.points). Neste item poderá ser regulada a
temperatura da manta de aquecimento da mistura, além de se obter a temperatura de equilíbrio
do sistema. Para selecionar esta opção, deixe as setas sobre o item desejado e tecle ENTER.
21
valor escolhido como temperatura máxima aceita para segurança do aparelho. ATENÇÃO:
NUNCA TOME A TEMPERATURA INDICADA NO MENU DA MANTA (2 mantle)
COMO SENDO A DE EQUILÍBRIO. Ela indica apenas a temperatura de ebulição da
mistura.
Após registrada a temperatura de equilíbrio, pode-se desligar o aquecimento através da
tecla STOP, para que a mistura resfrie e se possa mudar a composição da mesma. Após
modificada a composição da mistura, repete-se todo o processo descrito acima.
NOTAS:
• Sempre que se “perder” nos menus, basta apertar a tecla MAIN para voltar ao menu
principal
• Para voltar a um nível anterior de menus, aperte a tecla MEN-.
• Qualquer dúvida, procurar o monitor/professor da disciplina.