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O espaço geográfico só pode existir se existe uma apropriação do mesmo pela

sociedade que nele habita. Dessa forma, o espaço reproduz as relações


sociais construídas pelos indivíduos, grupos, classes e setores que compõem a
compõem.

Um dos exemplos mais significativos dessa concepção está presente nas


grandes cidades brasileiras. Ao analisarmos a questão da moradia, por
exemplo, fica visível como a desigualdade existente na sociedade se manifesta
de maneira inequívoca: metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte, consideradas como cidades do topo da hierarquia urbana brasileira,
apresentam moradias irregulares e improvisadas nas áreas periféricas de suas
malhas urbanas. Em geral, elas foram construídas de modo desorganizado,
atendendo a demanda dos migrantes nordestinos que abandonaram seus
estados de origem em busca de melhores oportunidades profissionais na
região Sudeste. Formadas já no início do século XX, elas ganharam o nome de
favelas, em referência a uma planta típica de encostas de morros na região do
Nordeste. Desde suas origens até hoje, estas formas de moradia sempre
estiveram associadas a população mais pobre e carente, pois se localizam em
áreas de risco, afastadas do centro urbano, ou de baixo valor imobiliário, com
uma enorme carência de serviços básicos (água encanada, rede de esgoto,
acesso à energia elétrica, etc.). Tais condições são fruto da ausência de
políticas habitacionais capazes de dar conta das necessidades destes grupos –
ou de políticas tímidas e insuficientes neste setor. Mas por outro lado, existem
bairros com enormes construções residenciais e condomínios que lembram
verdadeiras fortalezas. Além de extremamente luxuosas, possuem grande valor
imobiliário. Estas construções são destinadas aos grupos mais abastados da
sociedade. Além disso, são associados com o melhor que o mercado
imobiliário tem a oferecer em termos de segurança nos centros urbanos, e são
localizadas em áreas estratégicas na cidade, com fácil acesso às outras
regiões e localidades da cidade. Dessa forma, temos uma relação de oposição
entre as moradias da periferia da cidade e as moradias dos chamados “bairros
nobres”, na linguagem popular: os primeiros representando a população mais
pobre, áreas associadas à criminalidade e às drogas, carentes de serviços, de
pouco valor imobiliário; os segundos, associados à elite urbana, ao luxo, ao
exercício do poder econômico urbano.

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