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(título provisório)
Janeiro de 2014
Rio de Janeiro
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APRESENTAÇÃO
começa nos DIAS ATUAIS com a apresentação do protagonista e sua filha - que
tem este nome – e a luta do homem que o criou para conter a ânsia dos filhos e
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SINOPSE
suas conversas, descobriu tudo. José Alfredo escreve a carta e deixa a casa de mala e cuia para
entregá-la no local onde trabalha Evaldo. De lá seguirá rumo à rodoviária, onde ficará à espera da
mulher de sua vida. Esta, no entanto, não irá... Pois sofrerá uma náusea e uma vertigem repentinas,
e Cora, mais experiente nas coisas da vida que ela, descobrirá a razão disso: a irmã está grávida.
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Aproveitando a confusão de Eliane sobre qual dos dois irmãos seria o pai da criança,
“E mesmo que não fosse” – ela diz -. “José Alfredo não tem onde cair morto, vocês
não têm a menor ideia sequer de um lugar para onde possam fugir e se esconder... E ainda
mais grávida! Que vida vai levar com aquele rapaz desempregado, sem eira nem beira,
como vai fazer para ter e depois criar o filho escondido do pai dele?”
Eliane cai em si. Não está mais só, tem uma criança no ventre que depende
dela... E que, pelas contas feitas por Cora, só pode ser do seu marido. Ela pede à irmã
que vá atrás de José Alfredo, explique o que aconteceu e o impeça de entregar a carta
no trabalho de Evaldo. Cora promete que vai fazer isso... Mas não cumpre a promessa.
Primeiro se certifica de que a carta foi entregue. E depois vai até a rodoviária e diz a
José Alfredo que traz um recado da irmã, que é: “Ela desistiu de fugir contigo”.
Desesperado, José Alfredo quer voltar atrás para fazer Eliane mudar de idéia, mas Cora
usa de todos os argumentos para convencê-lo do contrário: “A essa altura teu irmão já leu tua
carta, se você voltar pode acontecer o pior – ele faz uma desgraça contigo e com Eliane!”
Mesmo assim José Alfredo insiste em voltar. E então Cora usa o argumento que
guardara para o final. Ela diz que Eliane pediu para não lhe contar, mas ele não pode ir embora
sem saber a verdadeira razão da desistência: “Não é que ela não te ame, o problema é que
está esperando um filho, fez as contas e descobriu que a criança só pode ser do marido!”
José Alfredo ainda quer ir atrás de Eliane, mas Cora é dura com ele: "Você não tem o
direito de ofender seu irmão dessa maneira, a mulher é dele, e o filho que ela espera também!"
E então José Alfredo cai em si. Tomado pela dor, desiste de lutar pela amada e promete a
Cora que, para o bem de Eliane e pela honra do irmão, vai “sumir no mundo”. Cora deixa-o na
rodoviária no maior desespero e corre de volta para casa aonde quer chegar antes de Evaldo para
cumprir o resto do seu plano. Lá ela convence a Eliane a mentir; dizer que na verdade José Alfredo
a assediou várias vezes, mas ela o repudiou sempre... Até que não suportou mais o as-sédio e
exigiu que a deixasse em paz de uma vez por todas, pois estava grávida do marido. Por isso ele
fora embora, mas antes escrevera aquela carta só para se vingar do seu repúdio.
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sem deixar rastro mostra o quanto José Alfredo é culpado.
Tudo fica bem entre Evaldo e a mulher, que, amparada pela irmã, consegue esconder do
marido o quanto está sofrendo. Os meses passam, a criança nasce – uma menina, batizada co-
mo CRISTINA. Eliane continua a suspirar pelo cunhado – de quem nunca mais se soube nada -
e a fingir que ama Evaldo. Dezoito meses depois tem outro filho, um menino, cujo nome será
uma junção dos nomes dos pais: ELIVALDO. A partir daí tudo parece correr bem na casa de
Evaldo. Mas esta simulação de felicidade não dura muito. Um ano após o nascimento daquele
que seria o seu segundo filho, ele morre num acidente de trabalho.
Sempre apaixonada por José Alfredo, e sem perder a esperança de que um dia ele
volte ou pelo menos dê notícias, Eliane decide que nunca mais terá outro homem. Assim,
caberá a ela e a irmã a tarefa de criar o casal de filhos do melhor modo possível, mesmo
que para isso tenham que se submeter a todo tipo de sacrifícios. Para tanto montam uma
barraca de camelô na Rua São José, e alguns anos depois conseguem um quiosque no
Camelódromo da Central, que no presente será administrado por Elivaldo.
Mas... E quanto a José Alfredo?
Voltemos à Rodoviária, onde Cora o deixou no maior desespero. Um homem chamado
SEBASTIÃO FELICIANO o vê a chorar num canto e lhe pergunta o que está acontecendo.
Louco para desabafar, o outro lhe conta tudo, e arremata: não pode voltar para a casa de
Evaldo e muito menos procurar a família em Pernambuco, pois, por conta da carta que
escreveu para o irmão, da qual seus parentes tomarão conhecimento, lá também seria
execrado. Tem dinheiro suficiente para sobreviver apenas alguns dias – em sua loucura
convencera Eliane de que mal chegasse num local seguro a sorte o bafejaria e logo ele
arranjaria emprego... Mas o que lhe sobreveio foi a desgraça e ele não sabe o que fazer agora.
É então que Sebastião lhe faz uma proposta: “Por que não viaja comigo a meu serviço?”
E ele diz o que faz: trabalha para uma empresária portuguesa, que mora na Suíça, onde
negocia com pedras preciosas brasileiras que ele busca nos garimpos e depois transporta para a
Europa de forma, digamos, irregular. Dessa vez irá buscá-las no ponto mais remoto do Brasil – o
Monte Roraima. Lá, dentro da cratera de um vulcão extinto, trabalhando em condições muito
terceira vez que vai lá. Acabou de chegar de ônibus vindo de São Paulo, pois anda cansado de
andar de avião. Mas agora terá de pegar um avião particular e depois um helicóptero até
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chegar ao monte, numa viagem muito cansativa da qual não se queixa, pois a cada
uma que faz fica mais perto de garantir pra si mesmo um belo futuro.
Por que precisa de companhia? Simples: a viagem é longa, cansativa e cheia de
percal-ços, e ele não gosta de fazê-la sozinho. Mas não pode levar qualquer um consigo
- a carga que traz de volta é preciosa demais para isso. Então – pergunta José Alfredo -
por que confiou nele, que é apenas um desconhecido? E Sebastião responde: “Porque
sou apenas um desconhecido, mas você confiou em mim e se abriu comigo”.
O que ele receberá em troca? O pagamento em pedras preciosas que poderá vender,
e a promessa de fazer outras viagens com o novo patrão que lhe renderão mais que
qualquer em-prego. Os dois acertam os detalhes e José Alfredo aceita a proposta que o
aventureiro Sebastião lhe fez, sem imaginar que, no momento em que botar os pés no
Monte Roraima, sua vida agora sem nenhuma perspectiva tomará um rumo tão inesperado
que logo ele se tornará aquele que é hoje: o ilustríssimo Comendador José Alfredo
Medeiros, casado com a aristocrata Maria Marta de Mendonça e Albuquerque, pai de três
filhos, proprietário de uma cadeia de joalherias e um homem muitas vezes milionário.
UM SOLDADO DA FORTUNA
M as não, nossa história não começa no final da década de 80, como parece
indicar este prólogo, e sim nos dias de hoje - num helicóptero em pleno
vôo e com o cume do Monte Roraima a surgir de um ninho de nuvens à
sua frente. Nele o Comendador Medeiros segue para sua peregrinação ao local que, de todos
em que esteve, considera o mais sagrado: o cume do monte, e no centro dele um buraco com
água pela metade, onde jazem instalações e máquinas enferrujadas e carcomidas pelo tempo.
Foi ali que durante alguns anos muitos homens labutaram num garimpo primeiro sob suas
ordens e depois a seu serviço e é de lá que saiu o fundamento de sua fortuna.
Dessa vez, ao contrário de muitas outras ao longo de dez anos ele não vai só
com JOSUÉ, o piloto do helicóptero e homem de sua absoluta confiança. Leva
consigo MARIA CLARA, dos seus três filhos a do meio – aquela que escolheu para
sucedê-lo se, como diz, “algum dia chegar a hora de abdicar do meu império”.
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A escolha da moça para sua futura sucessão não foi sentimental – desde que se viu
sozinho na rodoviária naquele dramático episódio de muitos anos atrás o Comendador
Medeiros nunca mais se deixou levar pelos sentimentos. Mas se deu por conta de sua intuição
de que Maria Clara, tão interessada nos negócios do pai que muito cedo se tornou uma
badalada designer de joias, detentora de vários prêmios no Brasil e no exterior, está mais apta
a assumir o trono que seus dois filhos homens. O mais velho é JOSÉ PEDRO, casado com a
fútil, mas lindíssima DANIELLE e pai adotivo de BRUNA a filha desta. Ele é o preferido da mãe
MARIA MARTA, a aristocrata semifalida a quem resgatou de uma vida de aparência através do
casamento; e JOÃO LUCAS, o problemático caçula cujo apego ao pai não impede que este
detecte nele todos os sinais de um caráter fraco, indolente e irresponsável.
A animação da filha por conta da viagem é um deleite para o pai, que a convidou
apenas algumas horas antes da partida – sua presença na peregrinação deste é
desconhecida pelos ir-mãos, pois estes acabariam por denunciá-la a Maria Marta, e esta
não descansaria enquanto não descobrisse um jeito de estragar o passeio do marido.
O Comendador Medeiros, muito antes de ostentar este título, conheceu Maria Marta
nu-ma das primeiras viagens que fez à Suíça. Depois de tentar em vão um up grade para a
primei-ra classe, ela acabou por sentar na classe turística ao seu lado. Embora ela lhe
parecesse, como comentou depois, "muito da metida a besta", os dois acabaram por
entabular conversa e, quan-do desembarcaram em Zurich já sabiam muito a respeito um do
outro; ela, que ele não tinha berço nem educação... Mas tinha dinheiro e era extremamente
ambicioso. Ele, que ela fora e-ducada para ser uma mulher fina, elegante e rica, mas sua
família perdera tudo e não lhe restara nada além das aparências.
Naquela noite mesmo ela o convidou para jantar, e no restaurante deixou claro
o quanto era de bom tom que o homem pagasse todas as contas. Do restaurante,
após um farto consumo de champanhe ordenado por ela, partiram direto para o hotel
onde ele se hospedava - e lá ter-minaram na cama.
Era o que parecia apenas um caso. Mas Maria Marta precisava garantir seu futuro, já que seu
único patrimônio era o sobrenome aristocrata. Os parentes que lhe restavam já tinham fali-do há
muito tempo e ela mesma já tinha saído de dois casamentos sem praticamente nada "além das
decepções" graças às artimanhas dos advogados contratados pelos ex-maridos. Quanto a José
Alfredo a essa altura ele já alimentava planos de se tornar um homem reconhecido e ilus tre. E para
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isso nada melhor do que ter como esposa "uma mulher fina e de excelente família". Depois de
alguns meses de caso ele propôs, ela aceitou, e os dois casaram. E ficou decidido que, se ela
lhe desse herdeiro, o sobrenome deles seria: Medeiros de Mendonça e Albuquerque, ou seja,
Claro, não havia apenas interesse na relação. Durante alguns anos os dois se deram
muito bem na cama e na vida, e foi neste período que lhes nasceram os três filhos.
Esta fase do que poderia ser chamado de paixão, no que diz respeito a ele, não foi além
do entusiasmo inicial e dos primeiros tempos de rotina... E então ele se mostrou desinteressado
e passou a procurar outras. Mas Maria Marta, embora não o confesse jamais, ainda é apaixona-
da pelo marido, embora a rejeição dele a tenha transformado no que hoje ela chama de sua “i-
nimiga íntima”. Seu sonho, quase uma obsessão de ter participação ativa nos negócios do Co-
mendador e até, quem sabe, tomar a frente deles, acabou por afastá-los ainda mais. Porém os
interesses comuns aos dois, todos relacionados com os negócios, não permitem que se
separem de modo oficial – teriam que enfrentar uma disputa judicial que, ambos reconhecem,
enfraque-ceria os dois e o próprio Império que, só na opinião dela, montaram juntos.
cessos de temperamento e ressaltar o fato de que ele só se veste de preto), homem de linguagem
direta e rude, um tanto excêntrico em sua preferência por palavras da língua inglesa (principal-
mente os palavrões) – que fala com direito a sotaque, o Comendador Medeiros mantém sem que
ninguém saiba uma jovem amante. É MARIA ISIS, moça pobre a quem ele deu muitos luxos, a
quem não ama, mas com quem se diverte, e que tem verdadeira adoração por ele. E embora
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seus olhos ainda brilhem diante da possibilidade de ganhar mais dinheiro, depois de
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viria a morrer, assumiu de uma vez por to-das o quiosque no camelódromo.
Pode-se dizer que a necessidade uniu o lado pobre da família Medeiros. Cristina e
Eli-valdo são profundamente apegados e Victor é o xodó de ambos. Como o pai dele não foi
um bom aluno - mal completou o ensino fundamental deixou a escola - é ela quem incentiva
e aju-da Victor, que está começando nos estudos. A não ser pelas mesquinharias e fofocas
de Cora, e pela doença de Eliane, tudo corre na santa paz em suas vidas. Até que...
Mas antes precisamos responder a uma pergunta que nossos atentíssimos leitores a
essa altura farão: “se José Alfredo Medeiros transformou-se no Comendador multimilionário
e tão querido da mídia como é possível que Eliane e Cora nunca tenham ouvido falar dele”?
Claro que não é possível – elas ouviram sim... E leram muito a respeito dele. Primeiro foi
Cora, cujo costume de folhear e ler jornais em plena banca a tornou inimiga número um dos
jornalei-ros do bairro e especialista em repetir as notícias apenas pela metade... Até mudá-
las de acordo com sua vontade. Foi assim quando leu que o Comendador tinha comprado
uma casa no bairro do Castelo em Lisboa: o que ela disse a Eliane é que José Alfredo tinha
– “imagina!” – com-prado um castelo em Portugal, de tão rico que se tornara.
Foi a partir desta notícia que Cora mudou seu comportamento nas bancas de revistas.
Em vez de apenas folhear e ler as publicações passou a comprá-las, desde que trouxessem
notícias sobre o Comendador, que ela recortava e guardava compulsivamente... Não sem antes
mostrá-las a Eliane e comentá-las até que esta lhe pedisse “pelo amor de Deus” para mudar de
assunto. Pois cada notícia fortalecia em Eliane uma certeza: José Alfredo, o grande amor de
sua vida, a esquecera. Se não, como teria casado com outra de nariz em pé e nome pomposo e
tido com ela três filhos? E como, nestes anos todos, nunca pensara em dar notícia ao irmão e à
família no Nordeste, ou em ajudá-los de alguma forma depois que se tornara rico?
“Este homem que sai nos jornais todo dia não é aquele que eu conheci” – ela dizia à irmã
tentando sepultar de vez o assunto. Mas Cora insistia; até que, numa dessas vezes, deixou cair a
bomba sobre Eliane ao dizer: “não esqueça que ele pode ser o pai de sua filha”. Eliane reagiu a isso
furiosa: “como ele pode ser pai de Cristina se naquela época você me provou por A mais B
justamente o contrário?” E proibiu a irmã de tocar neste assunto na sua frente de novo, e nunca
– jamais mesmo – falar com os dois filhos sobre essa história do seu passado... “Ou
esqueço que você é minha irmã e a expulso da minha casa”.
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Tão veemente foi Eliane que Cora, pela primeira vez na sua vida de fofoqueira e maledi-
cente, se viu tolhida. E, embora continuasse a colecionar num álbum todas as notícias sobre
José Alfredo, nunca mais tocou no nome dele na frente de Eliane ou quem quer que seja...
Até que TUANE, a mãe de Victor, entrou de novo em cena. Agora com 27 anos, muito
bem casada com REGINALDO, um homem de 60 anos de boa situação financeira, mas que,
por razões que não vêm ao caso, não pode ter filhos, ela veio reivindicar a posse do que teve
com Elivaldo. E deixa claro que, para isso, está disposta a brigar com ele na Justiça "até o últi-
mo centavo do meu marido, que, aliás, tem muitos!". A ameaça de perder Victor desestabiliza o
rapaz de tal modo que ele se entrega à bebida e se torna irresponsável no trabalho. E é numa
dessas bebedeiras que supostamente provoca um incêndio no camelódromo no qual morrem
duas pessoas, é acusado de homicídio doloso e acaba preso.
A volta de Tuane “com seu marido cheio da grana” – como Cora fica repetindo – e a pri-
são de Elivaldo acabam de vez com a combalida saúde de Eliane (do que ela sofre? A pesqui-
sar). Ela sabe que a família não tem como brigar na Justiça para barrar as pretensões de Tuane
e conseguir libertar Elivaldo, ainda mais agora que perderam o ganha-pão – o quiosque no
came-lódromo, que foi destruído no incêndio. E é então que Cora toma coragem e volta ao
assunto do qual fora proibida de falar – a possibilidade de o Comendador ser o pai de Cristina.
Com a irmã já no chamado leito de morte, Cora a convence a escrever uma carta
à filha na qual relata esta suspeita. Seu argumento é que esta seria a única maneira de
Cristina obter o amparo de que precisa para manter o sobrinho na família e conseguir
libertar Elivaldo. Eliane acaba por concordar com a irmã e escreve a carta, mas com
uma condição: que Cora só a entre-gue a Cristina depois de sua morte, que é iminente.
Cora promete. O que ela não diz é que, para fortalecer o que está escrito na carta,
acrescentará a esta o álbum sobre o multimilionário José Alfredo e dirá a Cristina que foi
a mãe dela quem colecionou aquelas notícias todas ao longo dos anos.
A gora voltemos ao ponto mais alto do Monte Roraima, ali onde o Brasil começa –
ou termina, a depender do ponto de vista de quem o olha.
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Enquanto Maria Clara, guiada por Josué - que já esteve lá várias vezes com o patrão – se
extasia com a paisagem, o Comendador se recolhe às suas reflexões no antigo garimpo, hoje uma
ruína, e relembra em que circunstâncias chegou - e conseguiu sair dali - na primeira vez.
Quando desceu lá junto com Sebastião Feliciano o ambiente era outro. Algumas dezenas
de homens viviam isolados no garimpo, em permanente azáfama, à cata dos diamantes que e-
xistiam à farta. A comandá-los com mão de ferro e arma sempre à cintura estava um sujeito de
péssima aparência e visíveis maus bofes conhecido apenas como BIGODE. Sebastião já alerta-
ra José Alfredo sobre ele: era homem pouco dado a cumprir com a própria palavra, e por isso
traiçoeiro e perigoso. A negociação com Bigode na compra dos diamantes era sempre tensa e o
resultado imprevisível. Por isso José Alfredo teria que ficar de olho nele.
Depois que ele e Sebastião desceram lá o helicóptero partiu para voltar só na manhã
se-guinte, quando traria suprimentos para o garimpo e os levaria de volta já com as pedras
precio-sas. Segundo Sebastião, era esta a rotina de todas as viagens. Mas dessa vez
Bigode tinha ou-tros planos - matar Sebastião na calada da noite, roubar os milhares de
dólares que este trouxera para negociar e na manhã seguinte obrigar o piloto do helicóptero
a levá-lo para bem longe com o dinheiro e as pedras preciosas. O fato de que Sebastião
trouxera uma espécie de "segurança" não alterou os planos de Bigode, que não viu em
José Alfredo uma ameaça – para ele o outro era “apenas um garoto”.
Depois que anoiteceu, e após se servirem da comida parca e mal cheirosa,
Sebastião e José Alfredo se recolheram a uma barraca improvisada. Lá o primeiro
entregou uma arma ao segundo, pediu que ficasse de olho e avisou: "eu tenho o sono
pesado". Mas, cansado da via-gem, José Alfredo também adormeceu, e só acordou
quando ouviu um barulho dentro da barra-ca - Bigode acabara de esfaquear Sebastião
e já investia contra ele de facão em punho. José Al-fredo só teve tempo de puxar a
arma, que estava sob sua mochila, e dar dois tiros no agressor, que caiu morto.
Segundos depois os outros garimpeiros tentaram invadir a barraca, mas José Alfredo, de
arma em punho, avisou: "se alguém entrar morre". Os garimpeiros recuaram e ele, sempre de arma
em punho, tentou socorrer Sebastião, que estava nas últimas, mas antes de morrer lhe dis-se como
fazer para entregar os diamantes - e os dólares - a quem de direito na Suíça, pois no Brasil não
teria como vendê-los, a não ser por um preço muito baixo. "Faça isso e, se cair nas boas graças
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da pessoa em questão, em breve estará rico" - foram suas últimas palavras.
Depois que Sebastião morreu, José Alfredo foi para a porta da barraca e lá ficou de arma
em punho, com o bando amontoado num canto, até que amanheceu, o helicóptero chegou, e
ele partiu levando os diamantes e os dólares com os quais estes deviam ter sido pagos.
José Alfredo fez o que Sebastião lhe mandara: tirou o passaporte, comprou passagem
pa-ra Zurich e viajou para a Suíça com as pedras preciosas no fundo falso de sua mala. Lá
conhe-ceu MARIA JOAQUINA, a portuguesa a quem devia entregar as pedras. Era ela quem
com-prava os diamantes ilegalmente saídos do Brasil e os remetia para uma lapidação de sua
propri-edade em Bruxelas. Depois que José Alfredo lhe contou o que acontecera ela teve uma
reação para ele inesperada: ficou com as pedras, mas deu a ele os dólares que não foram
utilizados pa-ra comprá-las, pois - disse – “ele fizera por merecê-los”.
A partir daí ele tornou-se o comprador oficial de Maria Joaquina, que alguns
anos depois ensinaria a ele como entrar no ramo das joalherias quando a consultou
sobre como investir o dinheiro que ganhara. Assim os dois, que já eram amigos, se
tornaram sócios em alguns empre-endimentos, até que Maria Joaquina se
aposentou do negócio dos diamantes, vendeu sua parte nas sociedades a ele e foi
viver uma vida de luxo em Paris, onde o Comendador a visita de vez em quando.
Antes de tudo isso José Alfredo teve que voltar muitas vezes ao Monte Roraima, sempre
armado e precavido. Porém nunca mais teve nenhum problema - após a morte de Bigode, que
os explorava e quase escravizava, os garimpeiros se organizaram numa cooperativa, e esta
fun-cionou até que foram expulsos de lá por tropas do Exército encarregadas de acabar de uma
vez por todas com o garimpo considerado ilegal naquela área.
Quando isso aconteceu José Alfredo já tinha dinheiro suficiente para seguir os conselhos e
aceitar a sociedade de Maria Joaquina e se tornar um homem rico. O título de Comendador lhe veio
anos depois, fruto de uma medalha dada pelo Governo, quando já casara com Maria Marta e seus
três filhos eram crescidos. A essa altura, seu tino para os negócios já era do co-nhecimento de
todos que atuavam no ramo, e graças a ele a rede de joalherias se expandira primeiro por várias
cidades do país, e depois pelos países próximos, até ocupar alguns pontos chaves nos aeroportos
da Europa e dos Estados Unidos. Ao negócio das jóias ele acrescentou o da lapidação que, além
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negócio como uma talentosa designer de jóias foi outro ganho.
Depois de tudo isso ele apagara de sua memória o modo como tudo realmente começara
- a paixão pela esposa do irmão e a fuga frustrada com esta - e elegera o dia em que pôs os
pés pela primeira vez no Monte Roraima como o real começo de sua vida. Por isso voltava lá
todos os anos, como faz agora, enquanto contempla a paisagem infindável lá embaixo: para
reafirmar a si mesmo que fora longe demais, alcançara muito mais do que jamais sonhara ou
que a vida lhe destinara... E que só chegara aonde chegou porque tivera coragem de tomar
decisões, sou-bera agir na hora certa, deixara os escrúpulos de lado quando isso fora
necessário, não permitira que os sentimentos o fizessem fraquejar, jamais recuara diante das
dificuldades e, para obter o que desejava, nunca medira nenhum esforço.
Por ter planejado meticulosamente cada passo que deu na vida desde que
deixou o Mon-te Roraima pela primeira vez há 28 anos, o Comendador José Alfredo
Medeiros, que se orgulha de nunca ter se deixado abalar por nada, sofrerá um
grande abalo quando Cristina surgir do na-da, ou daquela parte do seu passado que
ele havia apagado da memória, para reivindicar dele sua condição de filha.
Amorte da mãe, e a revelação de que não era filha de Evaldo – Cora lhe disse isso logo
depois do enterro de Eliane – deixa Cristina abalada... E em dúvida: deve ou
não fazer o que a tia lhe aconselha, que é: procurar o verdadeiro pai e
exigir dele os seus direitos? “Ele é multimilionário”, diz Cora, querendo tentá-la. Mas
para Cristina este excesso de riqueza do suposto pai pode ser um empecilho caso ela
resolva reivin-dicar a paternidade. E se ele rejeitá-la? E se conseguir, por conta do
poder que exerce, manipu-lar a Justiça, anular suas pretensões e até puni-la por isso?
Ela vai ao presídio pedir a opinião do irmão sobre o assunto. Mas Elivaldo não está em
condições de ajudá-la – ela o encontra no maior desespero. É que Tuane também fora lá, e con-
seguira visitá-lo - depois de se apresentar como sua “ex-companheira” - só para lhe dizer que seu
marido Reginaldo contratara um excelente advogado e ela já entrara na Justiça pedindo a guarda de
Victor. Preso como está, acusado de incendiário e homicida, se tiver que enfrentar um processo
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numa Vara de Família, Elivaldo não terá a menor chance. Por isso, em vez de aju-
dar Cristina em sua dúvida, ele reitera com ênfase ainda maior o pedido que já lhe
fizera antes: “Me tira daqui minha irmã! Se continuar preso vou perder meu filho, e
Não, Cristina não podia ter chegado diante do seu suposto pai em pior hora.
Enquanto o Comendador e sua filha predileta estavam lá, isolados no alto do Monte
Roraima sem nenhum acesso ao resto do mundo, Maria Marta, no seu exílio em
Petrópolis recebera um telefonema do filho João Lucas, que lhe dissera simplesmente:
“Diga ao meu pai que ele nunca mais vai me ver!”. Após o que, desligara.
Em pânico por conta das muitas confusões que João Lucas aprontara em surtos
anterio-res, e incentivada pela amiga Helena Abrantes, Maria Marta tenta falar com José
Alfredo na sede da empresa, mas não consegue. E quando pergunta sobre o paradeiro
dele as respostas que lhe dão são as mais vagas. Ela então telefona para o filho José
Pedro, e ele lhe diz qual a causa do surto do irmão: "João Lucas descobriu que o pai
levou Maria Clara para o Monte Roraima. E como ele nunca fez isso com nenhum de
nós, isso confirma aquilo que todos nós já suspeitá-vamos – ela é a favorita dele!”.
No caso de José Pedro, ser a favorita não significa ser a mais querida e sim quem será
escolhida pelo pai para comandar o Império da família, o que é motivo de profunda decepção
para ele, o mais velho dos três filhos. Mas para João Lucas o significado é outro – se o pai fez
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com Maria Clara o que nunca fez com nenhum deles e a levou ao Monte Roraima, isso para ele
tem o sentido de uma profunda rejeição, ou seja – significa que o pai não o ama
tanto quanto ama a filha caçula.
Maria Marta sabe o que este sentimento de rejeição pode causar no filho, e por isso toma
uma decisão drástica: manda Helena entrar em contato com uma empresa de táxis aéreos e
meia hora depois já está a caminho de Roraima. Lá, ainda por artes da amiga, um helicóptero já
a espera, e assim, antes do anoitecer daquele dia, para espanto de Maria Clara e indignação do
Comendador, a “Rainha Exilada” - como a chama Téo Pereira em sua coluna - desembarca no
solo que o Comendador considera sagrado e para o qual nunca pensou em levá-la.
Tão furioso ele fica com a chegada intempestiva da mulher que tenta impedi-la de
descer do helicóptero e quer obrigar o piloto a fazer meia volta. Mas desiste quando Maria
Marta diz que só veio pela urgência absoluta do assunto: “João Lucas descobriu que você
trouxe Maria Clara ao seu santuário, surtou de inveja e despeito e sumiu de novo!”.
Diante dessa notícia terrível José Alfredo esquece que Maria Marta cometeu uma
falta gravíssima ao ir ao monte durante o seu retiro e, com o apoio de Maria Clara, decide
voltar i-mediatamente ao Rio de Janeiro. Sua idéia inicial era passar ali a noite com a filha.
Tanto que para isso encomendara provisões - na verdade um requintado jantar regado a
bons vinhos, que o piloto mantém no helicóptero devidamente refrigerado. Mas, quando já
estão prontos para vol-tar – Maria Marta irá com eles e o helicóptero em que ela veio
seguirá sozinho – ocorre o ines-perado: o vento muda de direção e a corrente de ar que de
vez em quando sopra em torno do monte torna impossível que levantem vôo.
Josué ainda tenta falar com a base mais próxima, porém tudo que consegue
ouvir é a confirmação de que não podem sair de onde estão. Como vai escurecer
daqui a pouco, e o ven-to não dá sinais de mudar a direção de novo, não há outra
saída para eles senão passar ali a noi-te.
No Rio, na sede da empresa, José Pedro recebe a confirmação de que o pai, a mãe e a ir-mã
terão que passar a noite no Monte Roraima, e trata de assumir o comando. É que está quase tudo
pronto para a apresentação da nova coleção das JOALHERIAS IMPÉRIO (desenhada por Maria
Clara) e todos os detalhes da festa precisam ser resolvidos até o final do dia. Um deles é a lista de
jornalistas convidados para a entrevista coletiva do Comendador José Alfredo de Me-deiros sobre a
nova coleção - a única vez no ano em que ele desce do seu pedestal para falar com os jornalistas,
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incluindo aqueles especialistas em celebridades, que passam boa parte do seu tempo falando a
respeito dele. Dentre os que tentam se credenciar figura o nome do colu-nista de fofocas TÉO
PEREIRA, que, por ordem expressa do Comendador, nunca teve acesso a tais eventos... Mas
dessa vez terá. Pois José Pedro, sabendo o quanto o pai o detesta, mandará que dêem uma
credencial a ele, o que fornecerá ao jornalista um prato cheio: após presenciar o traumático
A PEDRA FUNDAMENTAL
No monte, o jantar é servido. Os dois pilotos comem à parte, enquanto os ou-tros três
fingem viver no melhor dos mundos. Maria Clara ainda tenta falar sobre João
Lucas: onde ele pode estar? Maria Marta diz que esta é uma boa
questão... Mas José Alfredo lhes pede que mudem de assunto. Pergunta se a filha
acha que será outra vez premiada com a nova coleção, e ela diz que não a
desenhou pensando nisso e sim em fazer o melhor possível para honrar o nome da
empresa e da família. Ou seja, a conversa é tri-vial. Mas a tensão que a presença de
Marta e a notícia que ela trouxe provocaram no Comenda-dor é evidente.
Terminado o jantar, já noite muito alta, com o ruído dos bichos a se sobrepor em
torno, Maria Clara se recolhe à tenda armada por Josué, enquanto o pai ainda fica ali a
saborear um vinho do Porto. Para Maria Marta é a ocasião de terem uma conversa da qual
– quem sabe? – sairão apascentados. Isso parece que vai acontecer quando ela lembra o
dia em que se conhece-ram no avião em que tentara inutilmente um up grade: “Você era a
mulher mais arrogante que eu já vira em toda a minha vida!” – ele comenta, e os dois riem
muito. Mas logo depois ela dá um passo em falso quando lhe pergunta: “Nós nos dávamos
tão bem, éramos tão unidos... Co-mo é que pudemos nos afastar tanto?”
E aí ele reage secamente. Lembra a ela que o passado é passado, que nunca
mais serão os mesmos e, portanto, não vale nem a pena falar sobre isso. Ela ainda
quer insistir, mas ele não lhe deixa margem para tanto: “É claro que você não veio
até aqui por causa do sumiço do nosso filho, mas sim para mostrar que ainda pode
interferir em minha vida... Mas está muito engana-da quanto a isso”.
Depois disso não há mais clima para conversa entre os dois, e Maria Marta vai
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se reco-lher junto à filha na tenda.
José Alfredo fica ainda um tempo ali fora a bebericar seu Porto sob a luz da lua
cheia que clareia tudo. Depois, quando acha que todos já estão dormindo, se
afasta... Sem saber que Maria Marta apenas fingia dormir, viu quando ele saiu e foi
atrás sem ser notada, até o ponto em que o vê acender uma lanterna e entrar numa
espécie de gruta e então não tem mais como segui-lo.
Dentro da gruta, José Alfredo ilumina com a lanterna uma de suas paredes enquanto se
aproxima. Com o maior cuidado, desloca do lugar uma pequena rocha que parecia estar presa,
revelando uma espécie de reentrância oca de uns trinta centímetros de profundidade. Ele a ilu-
mina e então se vê o que está guardado lá dentro: um belíssimo diamante cor-de-rosa ainda por
lapidar, mas que brilha de modo quase fantástico ao refletir a luz da lanterna.
Fora da gruta, Maria Marta meio que pressente aquele brilho extremo. Dá um
passo adi-ante e consegue ver apenas José Alfredo de costas diante da parede, a
iluminar com a lanterna na parede da gruta alguma coisa que reverbera poderosamente.
Assustada diante da possibili-dade de ser descoberta, depois de olhar em torno e
marcar bem o lugar, recua e vai embora. Até chegar ao local onde pousam os
helicópteros, ela tira várias fotos com o celular, como se qui-sesse mapear o caminho...
E então entra na tenda, onde a filha dorme, como se nada tivesse a-contecido.
Lá na gruta, o Comendador toca com a ponta dos dedos naquela maravilha
que é o dia-mante cor-de-rosa de muitíssimos quilates, fecha os olhos por um
instante como se orasse... E depois coloca a rocha de novo no lugar, certifica-se de
que está tudo exatamente como dantes e vai embora.
Enquanto isso, no Rio, João Lucas está entregue à sua própria loucura. Chega no seu
car-ro esporte importado numa discoteca, entra lá, bebe muito, mete-se numa confusão, briga,
é expulso, pega o carro e sai a mil por hora, toma o rumo de Petrópolis, atropela um homem
que, visivelmente bêbedo, ia atravessando a estrada em ziguezague, pára, dá marcha-ré, vai
até o homem e vê que ele está morto, e então, tomado pelo pavor, recua, liga o motor e vai
embora a toda... Sem perceber que uma mulher, escondida no mato, anotou a placa do carro.
Meia hora depois ele está no portão da mansão na Avenida Koeller a chamar pela
mãe no maior desespero. Mas Silviano vem até ele, diz que ela não está, viajou. O
mordomo abre o portão para João Lucas entrar, mas ele se recusa. Em vez disso
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entra no carro, vai embora outra vez e se perde na noite.
Quando amanhece no Monte os pilotos anunciam: o vento mudou de direção de
novo, a corrente de ar não está mais soprando para o lado perigoso, e assim já podem ir
embora. Na base onde descem para entrar nos jatinhos que os levarão de volta ao Rio,
o Comendador se comunica por rádio com José Pedro e este lhe diz que, quanto à festa
de lançamento da nova coleção, tomou as providências necessárias e já está tudo
pronto... Mas não há nenhum sinal de João Lucas até agora.
Mal chegam ao Rio o Comendador, Maria Marta e Maria Clara só têm tem-po de tomar
banho, mudar de roupa e correr para a sede das empresas. A entrevista
coletiva dele é o primeiro momento da festa de lançamento da
nova coleção das Joalherias Império. O desfile ocorrerá logo depois numa tenda
armada nos jardins, que acolherá o pessoal da mídia, convidados especiais e,
principalmente, compradores de jóias e pedras preciosas, que vêm do mundo inteiro.
Quando faz sua revelação, Cristina deixa o Comendador desnorteado... Mas só por um
momento. Ele faz sinal para Helena Abrantes que, como uma concessão dele a Maria Marta,
faz as vezes de cerimonialista na festa. Esta na verdade foi organizada por CLÁUDIO BOL-
GARI
“Quem quer que seja você, e o que quer que pretenda, é bom que saiba: esta não é a ho-
ra” – diz a Cristina, sem piscar sequer um cílio, um Comendador novamente frio e seguro de si.
Ela ainda tenta argumentar, mas fica desnorteada quando um fotógrafo, a mando de
Téo Pereira, faz uma foto sua. E então Helena muito gentil e carinhosamente consegue
afastá-la. O Comendador ainda faz uma piada para desanuviar o ambiente: “Isso me
acontece todo santo dia, não reparem... Se fosse adotar todos teria dezenas de filhos”.
Ele convida todos a tomar seus lugares dentro da tenda onde a nova coleção será mostra-da.
O desfile é um sucesso. Maria Clara recebe todas as honras. Enrico chega, diz que a mãe está bem
e, orgulhoso do triunfo da noiva, corre até ela e trata de beijá-la. Maria Marta e João Pedro notam
que o Comendador, embora faça o possível para disfarçar – chega até a fazer um breve speech –
parece um tanto alheado. Acham que é por causa do sumiço de João Lucas, de quem, graças a
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um telefonema de Silviano à patroa, só se sabe que anda - ou andou - por Petró-polis. Mas
Helena, que chega a tempo de ouvir essa conversa, diz que não é por causa de João Lucas
que o Comendador está perturbado e sim por causa de uma louca que apareceu no meio da
entrevista coletiva e disse que era filha dele. José Alfredo, que se aproximava enquanto isso e
ouviu o comentário de Helena, lhe pergunta: “onde ela está?” Ela responde: no escritório dele.
Ele resolve ir até lá falar com a moça. Mas quando entra no escritório não há lá ninguém... E
sua secretária lhe diz que a moça foi embora.
Já em casa, Cristina diz a Cora o quanto se sentiu mal ao fazer aquilo... E, apesar
da in-sistência da tia, jura que nunca mais vai querer ficar na frente daquele homem de
novo. Neste momento chega Tuane querendo ver o filho. Diz que o juiz lhe deu esse
direito e ela não vai abrir mão dele... Por isso vai buscá-lo na escola. Ela sai, Cora volta
ao ataque. “Se você não conseguir tirar Elivaldo da cadeia ele nunca vai te perdoar. E
ainda pior, se perder o filho por causa disso: vai se tornar teu inimigo!”.
Na casa de Maria Isis, que o enche de carinho até que desiste por vê-lo tão alheio, José
Alfredo pensa no que Cristina lhe disse. Em casa, Cristina lembra o quanto ele foi brusco de-
pois de ouvi-la. Em Petrópolis, a beber cachaça junto com um bando de desabrigados, José Lu-
cas, chamado de “riquinho” e desafiado, assina o recibo de venda do carro em nome de um de-
les, vai até o cartório, manda reconhecer a firma e entrega as chaves ao novo proprietário do
carro. Depois vai bater de novo no portão da casa da mãe, que o recebe, trata de lhe dar
banho, o põe para dormir, e só então liga para o marido e anuncia: “João Lucas está conosco
de novo”. No ponto dos desabrigados, os policiais chegam, perguntam de quem é aquele carro
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e ainda publica sua foto. E segundo porque o próprio Comendador manda Josué,
seu homem de confiança, descobrir quem é a moça e onde ela mora, missão que o
eficiente fac totum cumprirá com toda brevidade e sem maiores problemas.
A notícia de que ela está nas colunas de fofocas da internet chega a Cristina através de
FERNANDO, o namorado dela. Recém formado em Direito o rapaz, por causa da ligação com a
irmã de Elivaldo é quem tenta relaxar a prisão deste, até agora sem sucesso. Naquela noite,
quando Cristina chega à faculdade onde estuda ele já está à porta a sua espera. E como ela
ain-da não sabe que virou notícia, ele mostra no smartphone a foto dela diante do
Comendador, que aparece estampada na coluna on line de Téo Pereira sob um texto irônico.
“Filha de milionário e nunca me disse nada?” – brinca Fernando, após o quê pede expli-
cações à namorada. Cristina lhe faz um relato da história, mas sem dar maiores detalhes – fala
da carta que a mãe lhe deixou apenas por alto. Lamenta o mico que pagou indo atrás do
Comendador e reafirma sua jura, feita diante da tia Cora, de nunca mais repetir a proeza. Fernando
ainda tenta argumentar: “se sua mãe deixou isso por escrito...”. Ele acha que ela devia pelo me-nos
pedir um teste de DNA para que não restassem dúvidas sobre qual dos dois irmãos era o pai dela,
mas Cristina reitera que não quer mais falar sobre isso e declara o assunto encerrado.
No entanto um acontecimento trágico a fará mudar de idéia: acontece uma tentativa de
fuga no presídio. Elivaldo se recusa a participar e, hostilizado pelos companheiros de cela, aca-
ba ferido. De novo incentivada pela incansável Cora, e agora também aconselhada por Fernan-
do, ela volta atrás e decide procurar de novo o Comendador. Dessa vez não mais
pessoalmente, mas através do namorado, que a representará como advogado.
Só que, antes dela fazer isso, Josué descobre seu paradeiro e diz ao Comendador onde ela
pode ser encontrada - na mesma casa, lá em Santa Teresa, onde moravam Eliane, Evaldo e Co-ra,
e onde o próprio José Alfredo viveu sua paixão com a cunhada. E é este quem a procura.
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Na verdade Josué já percebeu qual o verdadeiro interesse de Maria Marta no caso dele
com Helena. E nada revela que possa comprometer o patrão, embora alimente na amante a es-
perança de que um dia irá fazê-lo. Ardiloso, fiel a quem paga o seu salário, mas disposto a con-
siderar uma oferta de quem lhe pague mais, depois de seguir Cristina durante algum tempo Jo-
sué vai se apaixonar por ela, e então, quando a moça entrar na família do Comendador e se tor-
nar uma de suas herdeiras ele vai... Não, melhor não adiantar muito a respeito.
Ao ler o relatório de Josué sobre aquela que se apresentou como sua filha o Comendador
descobre que, enquanto ele viveu tantas aventuras e se tornou um homem do mundo e muitas
vezes milionário, Eliane, a mulher por quem se apaixonou perdidamente na juventude, passou
privações e nunca sequer mudou de casa até morrer. De acordo com o relatório de Josué é lá,
naquele mesmo endereço de onde ele próprio saiu há 28 anos, que Cristina mora com a detestá vel
Cora, um irmão que agora está preso e o filho deste... E é lá que ele vai
Deus sabe que lembranças lhe vêm nos instantes em que fica dentro do carro
a olhar para a casa. Mas o fato é que, quando decide sair e bater à porta da casa ele
já tem certeza de uma coisa: mais uma vez será pragmático e objetivo, e sob
nenhuma hipótese se deixará levar pelos sentimentos diante da moça.
O Comendador escolhera aquela hora do dia para procurar Cristina porque
Josué lhe dera certeza de que ela estaria em casa. Mas antes mesmo de abrir a
porta do carro vê quando uma mulher chega apressada, bate lá aflita até que
Cristina surge e anuncia: “ta acontecendo uma revolta no presídio!”. Cristina só tem
tempo de murmurar o nome do irmão: “Elivaldo!”. E as duas saem correndo.
Vamos deixar o Comendador diante da casa que foi do irmão e Eliane e de on-de ele
saiu há 28 anos, para dizer quem é essa mulher que acabou de entrar na
nossa história de modo tão aflito. O nome dela é JULIANE MATOS. Famosa
passista de uma escola de samba, premiada com dois Estandartes de Ouro, ela deixou de
desfi-lar quando, para surpresa de todos, casou com ORVILLE NETO, um famoso artista
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plástico, e tornou-se “apenas uma dona de casa”. Juliane teve um filho, Júnior, agora com
dez anos. Ela, o marido e o filho viviam no melhor dos mundos na casa, lá em Santa
Teresa, que também servia de ateliê a Orville, até o momento em que ele foi preso e
condenado sob a acusação de perten-cer a uma quadrilha que falsificava quadros de
artistas brasileiros já mortos para vendê-los em leilões no Rio e em São Paulo.
Esposa amantíssima, Juliane tornou-se fiel mulher de bandido. Como tal, visita
o marido todos os domingos no presídio, faz tudo que ele lhe pede sem medir
sacrifícios e só pensa em abreviar sua pena. Para ela o dia mais feliz de sua vida
será aquele em que Orville sair da prisão sem dever nada à Justiça, para que os
dois possam retomar tranquilamente sua vida juntos e ser felizes de novo “aqui fora”.
Juliane mora a apenas algumas quadras de Cristina. E como esta visita religiosamente o
irmão aos domingos, as duas, de tanto se cruzar na fila do presídio e depois no ônibus ou no
bonde de volta ao bairro, acabaram por se tornar não apenas companheiras de infortúnio,
mas também amigas. Disposta a fazer quaisquer sacrifícios para que o marido cumpra sua
pena do modo menos traumático possível, Juliane primeiro tenta colocar alguns quadros de
Orville em galerias de arte e leilões. Mas, depois do escândalo das falsificações, ele como
artista está des-moralizado. Por isso ela passa a trabalhar como costureira.
Não só deixou para trás a vida de passista, como nem freqüenta mais a escola
de samba. Seu ANTONINHO, o presidente da mesma, ainda insiste com ela durante
algum tempo, mas depois desiste. Embora pretendentes não lhe faltem, Juliane faz
questão não apenas de parecer, mas de ser a mais virtuosa das esposas. E acha
que o marido, a quem ama demais, só tem razão para sentir orgulho dela...
Até o dia, no decorrer da nossa história, em que chega para visitá-lo e descobre que sua
entrada no presídio foi proibida por ele... Pois Orville, na verdade um mau caráter ingrato, se
apaixonou pela advogada a quem Juliane paga quase com o suor do seu rosto e viu sua paixão
correspondida. A advogada CARMEN GODINHO, ou “Dra. Carmen”, como Juliane a chama,
não só disse a Orville como fazer para proibir as visitas da mulher, mas também impôs o afas-
tamento imediato dela como condição para ficar com ele quando sair da prisão.
Enganada e humilhada, depois de passar por muitos percalços, Juliane decide dar
a volta por cima, voltando a ser o que era antes – a passista famosa e premiada. Para
isso, no entanto, terá que passar por toda uma história de superação, já que outras mais
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jovens tomaram o seu lugar, e ela não tem como pagar a academia de ginástica e todo
o aparato necessário – e carís-simo – para fazê-la voltar a antiga forma. O modo como
ela supera suas limitações de forma pessoal e criativa – “sem aceitar favor de ninguém,
ainda mais se for homem” – será mostrado passo a passo, até que seu esforço será
recompensado: ela se torna de novo a passista famosa e premiada e no final ainda terá
direito a felicidade, pois casa com um dos personagens da nossa história.
A situação no presídio dá panos para as mangas. Cristina e Juliane, em meio aos parentes
dos outros presos, vivem momentos de tensão do lado de fora dos portões, até que a revolta é
abafada e elas são informadas do que aconteceu ali fora. Quanto a Orville tudo bem, ele não sofreu
nada. Mas Elivaldo, incitado pelos revoltosos a participar, não quis aderir a eles. Por isso apanhou
muito e foi hospitalizado. Quando consegue visitá-lo no hospital – graças aos esforços de
Fernando -, Cristina ouve do irmão o mais veemente dos apelos: agora ele tem inimigos
fer-renhos no presídio e ela não tem outra saída: ou o tira de lá ou ele morre.
Asaída intempestiva de Cristina com a mulher que veio chamá-la torna inútil a presença
do Comendador diante da casa. Dentro do carro, ele chega a ligar o motor
para ir embora quando uma voz de mulher o chama pelo nome ali do
lado. Ele se volta, pois reconheceu a voz de quem o chama: é a detestável Cora. Por
um instan-te ele a vê como era há 28 anos, mas é apenas um instante, pois logo
percebe o quanto ela mu-dou – é agora uma senhora.
Se soubesse o quanto Cora interferiu na sua ligação com Eliane, talvez a tratasse
de for-ma mais rude. Porém é apenas frio enquanto ela, falsa como é, tenta se mostrar
calorosa e feliz por revê-lo. Sem querer maiores papos, ele lhe diz que veio só para falar
com a filha de Eliane. “Você quer dizer Cristina, sua filha”, Cora alfineta.
Diz que a sobrinha vai demorar, pois ligou para ela há pouco e contou que está na
porta do presídio, a espera de notícias do irmão, que está lá preso e no meio de uma
revolta. Mas se ele quer saber por que Cristina disse que é filha dele, ela mesma pode
fazer isso e apresentar as provas... E assim consegue introduzir José Alfredo na casa.
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Na sala, enquanto Cora vai buscar as provas que diz possuir sobre a real paternidade
de Cristina, o Comendador dá vazão às suas lembranças daquela casa. Mas não por muito
tempo, pois a outra volta com “a carta que Eliane escreveu antes de morrer e o álbum de
recortes sobre ele que ela juntou durante toda a vida. Minha irmã nunca teve outro homem
além de Evaldo e você... E até morrer nunca deixou de me dizer o quanto te amava”. Cora
acrescenta que soube muito antes da irmã escrever aquela carta que Cristina era filha
dele... No instante em que ela lhe confessou que estava grávida.
“Então por que foi naquele dia na rodoviária dizer que o filho era do meu irmão
Eval-do?” – José Alfredo lhe pergunta. E ela responde que a própria Eliane lhe pediu
para fazer isso: “ela sabia que, fugindo daquela maneira, sem eira nem beira como
estavam vocês dois não teri-am a menor condição de ter uma criança!”.
O Comendador é cético. Diz que, a essa altura, mesmo que ouvisse tudo aquilo da pró-
pria Eliane ele duvidava. Cora insiste: então por que não faz o teste de DNA para acabar com a
dúvida? Ele responde que, levando em conta o fato de ser irmão de Evaldo, mesmo que a moça
seja filha deste a possibilidade de o teste dar positivo seria altíssima, ou seja, a dúvida ainda
permaneceria. E então Cora arremata: caso isto aconteça, neste caso a questão será entre ele
e sua consciência: “sobrinha ou filha? Cabe a você decidir o destino de Cristina”.
Só quando sai da casa e se vê sozinho dentro do carro o Comendador José Alfredo Me-
deiros, conhecido por sua frieza na vida e nos negócios, dá mostras do quanto a conversa com
Cora o deixou abalado. No mesmo instante em que deixou a rodoviária do Rio há 28 anos, de-
pois de ser supostamente rejeitado por Eliane, ele a apagou de sua memória. E agora o
fantasma dela está de volta e lhe apresenta o seu legado: uma filha que pode ser sua!
Neste momento o seu celular toca, ele olha no visor e vê que é Maria Marta e então o
desliga. A seguir percebe que a bisbilhoteira Cora o observa através da porta entreaberta
da ca-sa e trata de ir embora. Resolve sumir de circulação por algumas horas e ir para a
casa de Maria Isis... E aqui vamos fazer uma pausa para falar sobre esta.
Quando o Comendador a conheceu Maria Isis já tinha dezoito anos, mas parecia uma
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criança. Desde que ela se atravessou literalmente no seu caminho – os dois se
deram um esbarrão diante da matriz das Joalherias Império de onde ele saía
naquele instante, e o choque foi tão violento que ela quebrou o salto do sapato – os
dois ficaram juntos e assim estão há quatro anos. Ele montou um apartamento para
ela não muito longe de sua própria casa em Copacabana e é lá, para alegria da
moça, que, com uma freqüência cada vez maior, ele a visita.
Maria Isis é sincera quando diz ao Comendador que o ama. Nunca em sua vida de meni-na
pobre, saída de São Fidélis, uma cidade da região serrana do Rio de Janeiro, para vir tentar a sorte
como modelo no Rio, ela imaginou que cruzaria – e se relacionaria – com um homem tão poderoso.
Sim, o esbarrão entre os dois foi mesmo casual e não planejado como alguém pode pensar. E ela
se conformaria com o que ele já lhe deu, que foi muito... Não fosse o fato de que seus pais
engravidar do amante e, caso este assim o exija, se recusar a tirar o filho. Para conseguir este
intento a mãe ensina à filha vários truques, em geral baseados, segundo ela, na “medicina ín-
dia”, que Maria Isis é obrigada a por em prática... E o casal se desespera quando
nenhum deles dá certo.
Maria Isis é uma pessoa do bem. Quatro anos depois de conhecer o Comendador, e
já um mulherão adulto, ainda tem um jeitinho infantil que a faz parecer um tanto
descompensada. Profundamente dividida – quer ser fiel aos pais, mas ao mesmo tempo se
sente miserável por permitir que estes conspirem contra o seu amante -, ela seria patética
se não fosse tão gostosona e bonita. E é justamente este lado naif dela, no gênero do tipo
que Marilyn Monroe fazia, que a torna interessante aos olhos de José Alfredo.
Só que, a certa altura, ele descobrirá que Maria Isis costuma sair de casa na
sua ausência e fazer visitas misteriosas a um prédio Balança-mas-não-Cai da Rua
Aires Saldanha... E nele a um certo apartamento. O Comendador pede a Josué que
entre em ação, siga a moça para ver o que está acontecendo, e o fac totum
descobre que não é outro homem que a moça visita, mas sim os parentes.
Se tem uma coisa que o Comendador não suporta é a mentira. E se tem outra que contri-
buiu para que chegasse aonde chegou foi sua permanente desconfiança em relação a quase
tu-do. Por isso, depois de ouvir o relato que Josué lhe faz, ele não tem dúvidas: tem alguma
coisa errada nessa história. O que seria? É o que ele pergunta à própria Maria Isis. E esta lhe
dá uma resposta que não tem nada a ver com a pergunta, mas mesmo assim lhe diz tudo:
“Estou grávida”.
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O que acontece a partir daqui com Maria Ísis e sua família? Melhor passar por cima dos
detalhes e deixar essa trama em suspenso. Basta dizer que naquele dia, após visitar a casa de
Cristina e falar com Cora, o Comendador sumiu e deixou o celular desligado. Por isso não re-
cebeu as dezenas de chamadas de Maria Marta, José Pedro e Maria Clara... E assim só foi in-
formado muito tarde do que estava acontecendo com João Lucas, seu filho caçula.
ele a direção do Império da família no dia em que o pai se aposentasse. Casado com a
belíssima DANIELLE - ex “moça do tempo” da televisão, quatro anos mais velha que ele
e já com uma filha, BRUNA, de dez anos, que ele adotou -, faz o possível para dar a
impressão de que é um homem sério... E realmente o é no trabalho... Mas não em casa,
aonde a mulher o domina intei-ramente e o obriga a fazer o que ele quer.
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e atormentada Maria Isis, e aí... O futuro dessas duas criaturas, tão frágeis quanto
bichinhos de cristal, a Deus perten-ce.
Para anular o estrago involuntariamente provocado por Maria Marta, o Império contra-
ataca com ISMAEL, ex-marido de Lorraine, o qual dá uma entrevista na qual diz que
naquela noite, pouco antes de ser atropelado, Gilberto bebera com ele numa birosca em
Xerém, distrito de Caxias, “até quase cair de quatro", e apesar dos seus apelos insistira em
atravessar a estrada ali mesmo, embora metros adiante houvesse uma passarela.
Claro, João Lucas ficará na cadeia apenas o tempo necessário para fazer um balanço
de sua vida inútil até agora... E decidir que assim está de bom tamanho e ele não vai
mudar. Logo será solto por conta das artes jurídicas do Dr. Merival Porto, artes que ele terá
que usar muitas vezes ao longo dessa história em favor do Comendador e sua família.
Eé assim, neste momento de crise no Império, que o teste de DNA feito pelo
mente e, incentivado por Danielle, não tem o menor problema em chamá-la cara a cara de “in-trusa
e vigarista”. Maria Clara disfarça com indiferença o ciúme que sente por ver o pai tão in-teressado
nela. Só João Lucas se mostra fascinado pela moça. Tanto que, para desespero da mãe, de vez em
quando e sem motivo aparente passa a visitá-la na velha casa de Santa Teresa.
Já Maria Marta não é de meias palavras. Odeia Cristina desde o primeiro instante
e diz que, se dependesse dela, a outra sumiria no ar ou se desintegrava. Sua vontade
de destruir aque-la a quem chama de "a falsa bastarda" é tanta que, na tentativa de
descobrir o ponto fraco da moça, ela faz o impensável: se aproxima de Cora. Esta,
devidamente recompensada com uma bela aposentadoria, acaba confessando que
obrigou a irmã a escrever aquela carta no leito de morte. E quanto ao álbum, Eliane
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nunca soube nada a respeito dele, pois foi ela quem reuniu aqueles recortes todos.
Fartíssima munição, que Maria Marta saberá como usar em seus próxi-mos ardis.
Durante suas visitas à casa da nova família, Cristina conhece Enrico Bolgari. O rapaz,
revoltado com o romance quase desavergonhado de Maria Clara com Vicente, o auxiliar de co-
zinha que seu pai - o verdadeiro dono do restaurante - promoveu a chef, quer reconquistá-la a
qualquer preço (a essa altura Cláudio também já mudou o nome do restaurante – de “Enrico”
para “Família Bolgari”).
dor fizessem o teste de DNA, por ser o primeiro filho do irmão do segundo haveria mais de 90%
de chances de o resultado ser positivo. Em troca de mais dinheiro, cabe a Cora providen-ciar
uma mecha dos cabelos de Elivaldo. Maria Marta obtém outra do Comendador, o teste é feito
sem que os dois saibam... E o resultado é positivo. Ou seja: se não é possível que Elivaldo seja
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José Pedro a partir da “confissão” de uma Cora falsamente arrependida, mas na verdade
regiamente paga para fazê-lo. Para os outros membros da família a dúvida ainda continua.
Mas não para Cristina. Ela, que nunca se sentira bem naquela sua nova condição, manda
suspender o processo de reconhecimento, que na Justiça ainda está em andamento, trata
de esquecer os Medeiros de Mendonça e Albuquerque e voltar à sua antiga vidinha. Mas
tem alguém que não quer esquecê-la, e lhe diz isso pessoalmente: é o Comendador, que a
quer em sua família, não importa se como filha ou sobrinha. Ele usa um argumento forte na
tentativa de convencê-la: “Sem contar com sua tia Cora, que se tornou sua inimiga, eu sou
a única pessoa que resta dos seus antigos parentes”.
Se Cristina aceitará este argumento e voltará ao seio da família do tio é algo
que preferimos não esclarecer agora... Assim como não diremos se ela ficará com o
honesto e trabalhador Fernando ou com o egoísta e problemático Enrico – mesmo
que este mude e faça as pazes com o pai.
Já Maria Clara morrerá de saudades depois que o rude Vicente partir para um curso de
seis meses numa famosa escola de hotelaria e restauração na Suíça, de onde voltará, após
uma passagem de tempo, como Sabrina, a filha do motorista, voltou de Paris no filme: finíssimo
e elegante, além de um chef talentoso e criativo.
A gravidez de Maria Isis se revelará histérica (psicológica), razão suficiente para o
Co-mendador romper com ela. Os pais dela, sem a galinha dos ovos de ouro, a abandonam
à pró-pria sorte e voltam para São Fidélis, sem Roberto, que não só arruma um emprego,
como ajuda Juliane – “à custa de muitos beijos”, como ele diz – a readquirir a forma
necessária para voltar não só a ser passista, mas também madrinha de bateria da escola
de samba do seu Antoninho, o que lhe dará mais um Estandarte de Ouro.
Abandonada pelo amante, Maria Isis será adotada pelo filho deste. João Lucas passa a
namorar com ela e em breve anunciam casamento – para mal estar do pai e indignação da mãe,
segundo a qual seus filhos “só gostam de gente pobre e insignificante”. A pressa se justifica, pois
Maria Isis está grávida de novo... E dessa vez a gravidez é verdadeira. Magnólia e Severo tentam
se reaproximar de Maria Isis para tirar proveito do seu casamento, porém são
rechaça-dos por ela, que “apanhou muito da vida, mas finalmente se tornou adulta”.
O Comendador, numa reunião familiar, diz que não é sua intenção se afastar dos negócios
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por enquanto, mas quando o fizer já sabe quem irá substituí-lo: é Maria Clara. A oficialização da
notícia, da qual todos suspeitavam, cai sobre os Medeiros de Mendonça e Albuquerque como uma
bomba. José Pedro, orientado pela mãe, exige sua parte na empresa, pois prefere se afastar dela
de uma vez por todas e cuidar ele mesmo da sua própria vida do que "esquentar o assento pra
minha irmã". Maria Marta faz o mesmo: exige os 50% a que tem direito de tudo...
“E tem que ser agora!” O Comendador vê o Império sob ameaça e toma medidas
drásticas. Demite José Pedro e corta todos os privilégios de Maria Marta. Os dois,
novamente aliados a Téo Pereira, fomentam a notícia de que ele está louco e tentam
interditá-lo... Mas, após uma dolorosa lavagem de roupa suja em público, fracassam.
Derrotada, a Maria Marta só resta a saída que o Comendador lhe permite: se
afastar de uma vez por todas da empresa e da família e partir para o exílio dourado
num local ainda mais distante – a Europa. Para espanto dele, ela aceita... Mas antes
de partir lhe aplicará um último e terrível golpe.
Lembram-se do prodigioso diamante cor de rosa que ele guarda lá no alto do Monte
Roraima, na reentrância da rocha numa caverna? A certa altura, durante uma visita a
Cristina, ele confessará que tem uma pedra da sorte: um prodigioso diamante cor de rosa o
qual, segundo sua superstição, lhe deu tudo, e lhe dará ainda mais enquanto não for
vendido. Por isso ele o mantém longe dali, no lugar mais seguro de todos – Monte Roraima.
Enquanto ele fala com Cristina sobre isso alguém escuta às escondidas: é Cora. E essa
informação ela vai vender a “Rainha no Exílio” quando esta, depois da última e definitiva briga
com o Comendador pelo poder no Império, finalmente se considerar derrotada. Para Maria
Marta, que esteve no Monte Roraima naquela noite, não é difícil juntar as pontas. Ela seguiu
José Alfredo, viu quando ele entrou na caverna, entreviu o brilho prodigioso que por alguns
instantes saiu lá de dentro, desconfiou que lá havia alguma coisa de importante, fotografou o
caminho de volta com o celular para se garantir de que poderia refazê-lo se fosse o caso... Por
isso sua ordem é imediata – ela pede a Helena que providencie um jatinho e depois um helicóp-
tero lá em Roraima... “E sob nenhuma hipótese fale sobre isso com Josué”.
E então, sob o letreiro: DOIS MESES DEPOIS, vemos outra vez a imagem que
abre a nossa história: um helicóptero em pleno vôo, com o cume do Monte Roraima
a surgir de um ninho de nuvens à sua frente.
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O helicóptero desce do alto do monte, e dele saem os mesmos passageiros
daquela primeira viagem – o Comendador, Maria Clara e o piloto Josué. Enquanto este
fica a cuidar do helicóptero, o Comendador e a filha saem a pé e seguem em frente...
E assim chegam diante da gruta. Maria Clara estranha, pergunta o que ele vai lhe
mostrar ali dentro e ele diz: “a minha pedra da sorte. Aquela que pra mim nos deu tudo, e que
por isso eu mantenho aqui, em segurança, neste lugar sagrado... E da qual você será a guardiã
quando assumir nosso Império.”. Eles entram na gruta. Lá dentro, sob a luz forte de uma
lanterna, o Comendador vai até o esconderijo, retira a pedra que esconde o buraco na rocha e o
ilumina... E vê que tem um papel lá dentro. Ele o retira, lê o que está escrito nele - “você perdeu
sua força, seu talismã está comigo”. Ele reconhece a letra: “Maria Marta!” Faz menção de sair
dali, mas não consegue fazê-lo, pois sente uma dor extrema no lado esquerdo do peito, solta a
lanterna, leva a mão até lá. Maria Clara percebe que alguma coisa está errada, grita de pavor...
E o Co-mendador cai no chão desacordado. Maria Clara sai correndo, imagens do seu
passado, como se fosse um último balanço de sua vida, vêm à mente do Comendador caído...
Até que Maria Clara entra com Josué, os dois tratam de levá-lo consigo...
Até que vira apenas um ponto distante e some. E então, tudo o que resta ali ao redor
é a mais absoluta solidão.
Não, nossa história não termina aqui, mas dessa vez não cometeremos o erro
de ser tão explícitos em nossa sinopse... Por isso não diremos como ela termina,
diremos apenas que este aqui não é o
FIM.
36
DRAMATIS PERSONAE
O casal:
ressalta a sua cabeleira branco-prateada à custa de produtos químicos. E tem o cacoete de inter-
calar palavras e até frases em inglês nas suas conversas. Não que saiba falar o idioma à maneira
dos leitores de Shakespeare no original. O que sabe do inglês aprendeu no trabalho, algumas vezes
em lugares remotos: África do Sul, a antiga Rodésia... Sempre em busca do melhor negó-cio, esteve
em trânsito em meio a revoltas e revoluções. Tem marcas no corpo, cicatrizes sobre as quais
também não revela nem uma palavra. Pelo menos uma dá para perceber que foi de tiro.
37
Deve ter sofrido muito, acha sua amante, a quase infantil Maria Isis. Um dia ele
afinal confir-ma: sofreu sim, mas isso foi bom, porque serviu para torná-lo ainda mais
forte. "Não existe vi-tamina melhor que o sofrimento": é uma de suas frases.
Sim, até chegar aonde chegou fez e aconteceu, mas não, ele não se
arrepende de nada. O que sente de mais notável é um orgulho enorme de ter
tomado e conduzido as rédeas do próprio destino.
O comendador se vê como uma espécie de sol em torno do qual o mundo inteiro orbita.
Nunca pensou sobre isso, mas os que tentam enquadrá-lo em algum tipo descobrem
rapidamen-te que, para ele, os outros só existem para obedecer às suas ordens e servi-lo.
Claro, nem sem-pre é assim que acontece - o mundo, por mais que tente moldá-lo à sua feição,
não é perfeito e às vezes tudo ao seu redor entra em crise independente do que faça para evitar
isso. Mas nada altera a sua postura em relação ao seu mundo: é ele quem continua mandando.
Não tem pontos fracos, ou pelo menos os esconde muito bem... Até que surge em
sua vi-da o que resultou daquele grande amor da adolescência: Cristina, a filha da cunhada
já morta, que agora diz ser sua filha, e não do irmão dele. Será mesmo? O fato é que o
surgimento da moça vai alterar a co-relação de forças no Império. O próprio comendador
ver-se-á abalado, ainda mais depois que perder aquilo que considera seu talismã absoluto:
um brutal, enorme di-amante cor-de-rosa, para ele sem preço e inegociável, que mantém
nas entranhas da terra, num lugar que considera seguro, até que um dia...
O talismã - uma espécie de coroa do Imperador - troca de mãos, e o Comendador José
Alfredo Medeiros vai ter que lutar muito para achá-lo de novo e reconquistar o seu Império.
Sim, porque Maria Marta e o Comendador, durante alguns anos depois de casar,
tiveram seus grandes momentos. Ela, que sempre vivera na mais absoluta segurança,
até que casou duas vezes e duas vezes se viu divorciada e sem um puto, voltara a se
sentir segura de novo e ainda se sente mesmo agora, quando os dois já mal se falam e,
por exigência dele, até vivem em ci-dades diferentes. Pois o Comendador, mesmo sem
suportá-la mais, continua a tratá-la como sua Rainha, ainda que no exílio.
Mas para Maria Marta o luxo que ele lhe proporciona à distância não basta. Ela quer o
seu amor. E como sabe que nunca mais o terá de volta, pois a paixão dele por ela virou cinzas,
decide seguir o caminho contrário - terá que destruí-lo. Para isso conta com a cumplicidade do
filho mais velho, José Pedro, que se sente tão rejeitado pelo pai como ela. Maria Marta é uma
espécie de Penélope, sempre a tecer no alto do seu rochedo não bordados, mas intrigas.
Tão concentrada está no seu intento que não tem tempo para outros homens - o que ela
considera o seu "ódio" pelo Comendador é o que a satisfaz... Mesmo que na verdade este "ó-
dio" seja apenas um grande, imenso amor não mais correspondido. Maria Marta aprendeu com
os de sua classe a dar extremo valor ao egoísmo. Só ela é que conta, e contam um pouco
menos aqueles de quem gosta... E o resto é o resto. Dentre os que ela gosta está o filho mais
novo, Jo-ão Lucas, segundo ela um "fraco e problemático que deve ser protegido".
3 - JOSÉ PEDRO, 27 anos, o filho mais velho. Homem bonito, mas do tipo sólido,
daqueles que parecem ter amadurecido e encorpado mais cedo. Na verdade, encorpou,
mas não amadureceu... Ou discordaria da mãe quando ela lhe diz que foi talhado para
tomar nas mãos a coroa do Império, pois ele não está pronto para vôo tão alto.
Ele tinha um fraco - as mulheres. E queria todas, dedicava-se de modo obsessivo
a conquistá-las. Era um "playboy" no jargão ainda vigente na mídia... Até que surgiu
diante dele Da-nielle Meira, que lhe deu o que Téo Pereira, o colunista de fofocas,
chama "uma chave de co-xas". Os dois casaram após um namoro fulminante, e apesar
da oposição de Maria Marta, que via como principal defeito de Danielle o fato de ela ter
uma filha de pai desconhecido. Mas Jo-sé Pedro não levou isso em conta e resolveu o
problema adotando a criança. Deixou para trás a compulsão pelas mulheres, e diz,
quando perguntado sobre isso, que aquela que escolheu vale por todas.
Agora é o que se pode chamar de "um homem sério". Tentações não lhe
faltam, algumas saídas do seu passado de conquistador inveterado. Mas José Pedro
resiste a todas. Ele, Danielle e Bruna (a filha desta), formam uma família feliz. Ainda
mais porque a esposa sabe como levá-lo a fazer o que ela quer, e José Pedro, se o
percebe, não reclama. A mãe dele não morre de amores pela nora, mas reconhece
que num ponto a influência dela sobre o marido é positiva: graças a ela ele se tornou
mais focado, e o foco é a sua ascensão ao comando das empresas da família.
José Pedro, segundo a opinião dos que o cercam, é um homem bom e quase
sempre jus-to. Mas a certeza de que o pai escolheu não ele, mas a irmã do meio
para assumir o comando das Joalherias Império, vai fazer com que revele seu
verdadeiro caráter... E, sempre incentivado pela mãe e pela esposa, Deus sabe do
que será capaz, para impedir que Maria Clara ocupe o posto.
No processo para derrubar a irmã, José Pedro acabará por se tornar um pai e
esposo me-nos amantíssimo... E, para desespero de Danielle, talvez lhe volte a
antiga compulsão em rela-ção às mulheres. É possível até que surja outra em sua
vida de importância igual à dela. Mas isso são futuras histórias.
O importante é que José Pedro nunca desistirá, a qualquer preço, de provar
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que é o mais capaz dos três filhos, embora o pai dele pense o contrário.
4 - DANIELLE, 30 anos, esposa de José Pedro. Não apenas linda, mas lindíssima. Esta é sua
qualidade, e ela é suficiente para esconder seus muitos defeitos, dentre os quais os mais notá-
veis são: ela é fútil, consumista e gastadeira. Cometeu um erro aos 20 anos - se apaixonou por
um homem mais velho e engravidou. Ele sumiu quando ela lhe deu a notícia. Mas Danielle cos-
tuma dizer que a decepção foi compensada pelo fato de que teve Bruna, dez anos, uma filha
que, pelo menos fisicamente, puxou apenas à mãe e é igualmente linda.
Sua paixão por José Pedro é sincera. Mas a mãe deste acha que ela seria menos intensa
se seu filho não fosse um homem rico. Cabe a ela cuidar do estresse permanente em que vive
o marido por causa dos problemas sobre quem assumirá a empresa quando o comendador se
apo-sentar. E o remédio que ela usa para isso é infalível: muito carinho e muito sexo.
Danielle se comporta em relação a José Pedro quase como uma gueixa. Diz, com certo
orgulho, que esta é a única função digna da mulher - agradar ao seu homem, fazer só o que ele
gosta. Cada vez que ouve isso de Danielle sua cunhada Maria Clara se declara "horrorizada" e
profetiza: "um dia você vai descobrir que gastou suas energias à toa e desperdiçou seu tempo".
Já vimos no perfil de José Pedro que nem sempre a vida familiar dele será um mar de
rosas. É possível que as mudanças pelas quais ele passará atuem sobre Danielle de
modo que ela tam-bém mude. De que modo? Da maneira como as mulheres-gueixas
costumam reagir quando seus mundinhos perfeitos se estilhaçam: virando uma megera.
5 - BRUNA, 10 anos, filha de Danielle, adotada por José Pedro quando casou com esta.
É a menina perfeita. Bonita, bem educada, estudiosa, prática... Mas com um lado que só
ela conhe-ce, já que o exerce em segredo: é interessada em bruxarias. Lê livros a
respeito, faz experiên-cias esotéricas... Tudo de brincadeirinha é claro. Por causa disso
o tio João Lucas, num momen-to em que estava pra lá de Bagdá por conta de alguma
substância proibida, lhe pôs um apelido absurdo que é: Maganínima. Quando conhece
Victor, o sobrinho de Cristina, passa a usá-lo como cobaia, e ele aceita isso porque não
leva aquilo a sério. Mas um dia alguma coisa aconte-ce e aí... Victor some! Desaparece
no ar! E Bruna descobre que não está apenas brincando - na verdade ela tem poderes.
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6 - MARIA CLARA, 26 anos, a filha do meio, a preferida do Comendador para substituí-lo,
ainda sem data marcada, à frente dos negócios. Começou muito cedo como designer de
jóias, e logo se tornou uma profissional emérita. Várias vezes premiada, inclusive no
exterior, desenha coleções cada vez mais elaboradas e originais que, uma vez expostas
nas vitrines das Joalherias Império, tornam-se grandes sucessos de venda. É independente
e decidida, embora, como os outros irmãos, viva na mansão do pai. Mas faz isso "só para
não contrariá-lo", porque ele insis-te em ter todos os filhos por perto.
Namorou muito antes de conhecer Enrico Bolgari, o famoso chef de cuisine. E aí come-
teu o erro de achar que ele seria o homem de sua vida. Após alguns meses em que ficaram "a-
penas se conhecendo", oficializaram o noivado e agora já estão de casamento marcado. A ceri-
mônia não se realizará.. E ela provará o quanto é decidida ao escolher um substituto para o
noivo ainda durante a festa.
Até o Comendador se surpreende com a escolha de Maria Clara. Por isso não é de admi-
rar que Maria Marta a considere desastrosa. O escolhido - um nordestino humilde que trabalha
no restaurante de Enrico como ajudante de cozinha - é o oposto do que pretende para a filha.
Por isso ela decide que fará tudo que estiver ao seu alcance para que o romance não progrida.
O surgimento de Cristina, a suposta nova irmã, também vai contribuir para tirar
do eixo a vida já estabelecida de Maria Clara, pois a certa altura as duas estarão
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disputando o amor do mesmo homem - o pai delas.
7 - JOÃO LUCAS, 22 anos, o filho mais novo. É o irresponsável da família ou, como diz Silvi-
ano, o mordomo de Maria Marta, "o maluquinho". Mas ele é muito mais do que isso. João Lu-
cas viu os irmãos crescerem à sombra dos pais. José Pedro é o preferido da mãe, Maria Clara
a escolhida do pai... E para ele não sobra nada. Mesmo que lhe dêem tudo que pede - inclusive
um carro esporte importado e caríssimo, João Lucas acha que lhe falta o amor dos pais; e em-
bora não seja capaz de verbalizar isso, é a única coisa que ele realmente deseja.
A rejeição que sente por causa do que ele considera indiferença dos pais é muito forte...
E ele a expressa através da revolta. Faz tudo o que acha que eles não aprovam e
que lhes dará trabalho extra. Por isso está sempre metido em encrencas. Bebe,
fuma, briga, se mete com quem - e com que - não deve, anda em alta velocidade
pela Rio-Petrópolis como se ela fosse seu circuito pessoal de corridas, bate com o
carro... E um dia atropela e mata alguém e acaba preso.
João Lucas é um caso extremo de rebeldia sem causa. Seu futuro estará sempre por um
fio, até o dia em que ele conhece Maria Isis, a amante do pai, que fingiu uma gravidez para
prendê-lo e acabou por ser rejeitada. O seu fascínio pela moça, que é de uma fragilidade quase
doentia, faz com que ele mude. E a mudança pode ser tão radical que talvez - eu disse talvez -
no final da história seja ele e não Maria Clara o escolhido pelo pai para assumir o Império.
Os parentes:
8 - CRISTINA, 28 anos, filha de Eliane e Evaldo... Ou dela com o irmão deste, ninguém menos que
o hoje Comendador José Alfredo Medeiros. Nascida numa família de trabalhadores, levou uma vida
humilde, mas nunca se abateu. Pois sempre achou que podia melhorar e nunca teve dúvidas de que
para isso pessoas como ela só tinham um caminho: estudar muito. Foi o que fez - enquanto
trabalhava, cuidava da mãe doente e do sobrinho abandonado pela mãe logo após o nascimento:
estudou e estudou... E ainda o faz até hoje. Todos os seus planos para o futuro têm a ver com a
educação e o trabalho. E ela os divide com o namorado, o advogado Fernando: quer se formar
primeiro em Direito, fazer estágio, depois se inscrever num concurso para Juiz...
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Não pelo salário, mas pela vocação, pois para ela não deve haver alegria maior do
que se fazer justiça a quem precisa desta.
O que não sabe é que ela própria é uma injustiçada, já que, ao contrário de José Pedro,
Maria Clara e João Lucas, seus supostos irmãos, não teve a vida que por direito merecia.
Cristina não conheceu o pai, que morreu quando tinha dois anos. Mas mantém um retrato dele
sobre a cômoda do seu quarto e sempre o reverenciou... Até descobrir que seu verdadeiro pai
pode ser o irmão dele. Órfã, apegou-se ao irmão Elivaldo, menos de dois anos mais novo que
ela, assim como se apegou ao filho dele, Victor, hoje com dez anos. Junto com a mãe Eliane, e
mesmo com a fofoqueira e rancorosa tia Cora, ela sabe que formam uma família e, como tal - e
apesar de todas as dificuldades - devem permanecer unidos. Ainda mais depois que a mãe
mor-re e ela, por ser a mais velha, passa a se considerar a responsável por todos.
Quando o irmão é acusado de um crime que não cometeu e acaba preso, ela vai à luta
por ele disposta a todos os sacrifícios. Um deles é se apresentar àquele que é seu suposto pai
e rei-vindicar seus direitos. Ela o faz porque tem motivos muito fortes para tanto; mas não se
sente feliz nem satisfeita com isso. Na casa do Comendador, onde chega a morar por exigência
deste, ela se acha uma estranha no ninho... E que ninho! A hostilidade dos irmãos e da mãe
destes é constante e contribui para reforçar ainda mais esta sensação de estranheza.
Mas o incômodo de sua nova situação não causa maiores perturbações em Cristina.
Trabalhadora e estudiosa, focada em sua família (a que ela considera "verdadeira") ela não
tem tempo para outros assuntos. Por ser tão ocupada o seu namoro com Fernando é
mantido quase em banho-maria, sem maiores arroubos... O que facilitará a vida de Enrico
quando este, definitivamente afastado por Maria Clara, se interessar por ela.
Por tudo isso, a passagem de Cristina pela casa do Comendador será uma prova a ser
vencida. A cada passo que dá, ela se vê na iminência de mudar seus conceitos em relação à vi-
da. O dilema que lhe apresentam é: deve se realizar através do estudo e trabalho, ou fruir da
riqueza que não custou nenhum esforço a quem a frui e por isso talvez não seja merecida?
9 - ELIVALDO, 27 anos, irmão de Cristina e - sim! - filho de Evaldo e Eliane. Nunca teve
maiores ambições na vida, o que foi sempre fruto de preocupações de sua mãe, e depois da ir-
mã quando esta se tornou adulta. Largou os estudos muito cedo, não se preocupou em arranjar
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
trabalho, aos 16 anos parecia prestes a enveredar por caminhos escusos... Quando engravidou
Tuane, uma moça da vizinhança. À revelia dos pais os dois teimaram em ter a criança. Mas
quando esta nasceu Tuane a entregou a Elivaldo e simplesmente sumiu no mundo.
A chegada do bebê, a que deu o nome de Victor, fez Elivaldo mudar da água para
o vi-nho. Tão responsável se sentiu pelo filho que resolveu ajudar a mãe no quiosque
administrado por ela no Camelódromo da Central... E lá se destacou de tal modo entre
os demais trabalhado-res que em pouco tempo se tornou um dos seus líderes.
A partir daí sua vida pareceu entrar nos eixos e sua rotina era bem simples. Consistia
em trabalhar e depois ir pra casa cuidar do filho. Compromisso sério com mulheres não quis
mais. Sempre que uma delas ameaçava entrar na sua vida ele refugava... Mas em geral,
para que elas desistissem, bastava lembrar sua condição de pai solteiro. "Quebra-galhos",
como ele as cha-mava, tinha muitos. Mas não passava pela sua cabeça ir além disso.
Tudo estava bem para o pouco ambicioso Elivaldo quando Tuane surgiu, casada com
"um velho rico" e disposta a conseguir a posse do filho. O modo agressivo e seguro como ela
anunciou isso desestabilizou Elivaldo e o fez entrar em desespero. Sem condições de lutar em
igualdade de condições com a ex-namorada, que estava muito bem bancada, ele entrou em de-
sespero e buscou refúgio na bebida. "Cheio de cachaça" segundo testemunhas, deixou um boti-
jão de gás aceso no quiosque e este pegou fogo. O incêndio se alastrou, tomou toda uma ala
do camelódromo, e duas pessoas morreram tentando apagar o fogo.
Elivaldo, retirado pelos colegas do quiosque em chamas porque não tinha nem
condições de caminhar de tão bêbedo, foi responsabilizado pelo incêndio, preso e
processado por homicí-dio doloso. Sua mãe Eliane, que já andava muito doente e
perdeu tudo no incêndio, morreu lo-go depois, segundo sua irmã Cora, "de desgosto".
Na prisão Elivaldo vai se meter em mais confusões, para desespero da irmã
Cristina, que não o julga, apenas o ama, e quer arrancá-lo da cadeia a qualquer preço.
Por causa disso é que ela ouvirá os conselhos da tia para que se apresente ao
Comendador e "exija o que é seu de di-reito". No amor e na vida Elivaldo é o que
chamariam de "um perdedor". Mas como o mundo dá muitas voltas, e as tramas de uma
novela dão mais ainda, é o caso de se perguntar sobre ele: perdedor até quando?
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10 - ELIANE: 22 anos na primeira fase da história, 50 na segunda. Casada com Evaldo,
vive uma história de amor radical com o irmão deste, José Alfredo, que veio tentar a vida no
Rio e foi morar com o casal. Era desvairadamente romântica quando jovem, e é amarga e
muito do-ente nos dias de hoje. A doença lhe veio menos pelas atribulações, e mais por se
remoer dia e noite por não ter seguido seu coração e fugido com José Alfredo. Desistiu
porque descobriu que estava grávida, e a irmã Cora usou essa gravidez como argumento
para convencê-la a não fazê-lo. Mas Eliane não a culpa por ter, como diz a si mesma,
"deixado de ser feliz com o único ho-mem a quem amou no mundo".
A única coisa que a consola é que Evaldo nunca soube de sua traição, e assim
pôde mor-rer em paz com ela.
Totalmente voltada para o trabalho árduo e a criação dos filhos, Eliane não sabe
que "o amor de sua vida", embora tenha sumido no mundo como prometeu a Cora que
o faria, enri-queceu e hoje vive na mesma cidade que ela... A não ser quando Cora acha
que é a hora certa de lhe contar isso. Os recortes de jornais e revistas sobre José
Alfredo que a outra colecionou e lhe mostra dão a Eliane uma certeza: ele vive em outro
mundo, agora é outra pessoa que não tem mais nada a ver com ela.
A carta que, a mando da irmã, ela escreve para a filha pouco antes de morrer não deixa
margem à dúvida que Eliane tem até hoje. Quem seria o verdadeiro pai de Cristina? Pois o fato é
que até morrer ela nunca soube com certeza qual dos dois irmãos a engravidara - se Evaldo ou
José Alfredo. E é essa dúvida a herança que ela vai deixar para o dono das Joalherias Império.
11 - CORA, 27 anos na primeira fase, 55 na segunda... E ontem como hoje uma grande
megera. Não casou. Não porque não quisesse como sempre diz, mas porque, de tão ruim
que é, todos os pretendentes fugiram dela. Maledicente, fofoqueira e - quando encontra
pela frente alguém mais fraco como é o caso de Eliane – manipuladora, Cora se ocupa da
vida de todos e só não vê defeitos em si mesma. É odiada na vizinhança, mas todos
escondem que a odeiam e a tratam do melhor modo possível porque têm medo dela.
Se lhe perguntassem por que impediu a irmã de fugir com o amante no
passado, ela diria que o fez em nome do bom nome da família, já que, antes de
enlouquecer de amor pelo cunha-do, ela era "muito bem casada". Mas a verdade é
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outra. Ela o fez porque não suportaria ver a irmã feliz e livre de sua influência.
Sua figura hoje lembra a de Olívia Palito (se é que alguém ainda sabe quem é esta). Na
fase antiga ainda se dava ao luxo de usar alguma peça colorida: um xale, a gola de uma blusa...
Agora se veste como uma viúva siciliana, e muitos acham que ela o é: não siciliana, mas
viúva. Cora não se conforma apenas em se satisfazer à custa da desgraça alheia; ela quer
ser a autora ou pelo menos a porta-voz dessa desgraça. Não pode ver ninguém feliz e já
começa a tramar alguma coisa. É seca de tão má, embora coma muito mais do que precisa.
Quando conhece Maria Marta e é arregimentada por esta, acha que encontrou sua
alma gêmea. O que não sabe é que a outra sente por ela o maior desdém e quer apenas
usá-la. Cora será má até o último alento, e se puder voltará do além-túmulo para continuar
a sê-lo. Por isso nossa história não terá um bom final se ela não sofrer um castigo à altura.
12 - VICTOR, 10 anos, o filho de Elivaldo e Tuane, amigo de primeira hora de Bruna, filha de
José Pedro e Danielle e sua quase-prima. Carinhoso com o pai e a tia, curioso quando conhece
a mãe e quer saber melhor quem é ela. É uma criança adorável, que tem uma característica e-
naltecida por toda a família: nunca chora. Só Cora vê nisso algum problema, mas até ela às ve-
zes se deixa levar pelo bom caráter do menino. Quando Bruna, com seus bruxedos canhestros,
faz ele desaparecer, bem... Eu não me espantaria nada se ele reaparecesse nas mãos da
ardilosa Tuane... E nesse caso talvez a bruxa não seja Bruna, mas ela.
13 – FERNANDO, 32 anos, advogado, namorado de Cristina. Mora em Santa Teresa como ela.
Já se conhecem há anos, e namoram há quase tanto, mas ao contrário dele a moça não quer
nem falar em casamento por enquanto. Diz que primeiro deve acabar os estudos, ou seja, se
formar em Direito, fazer estágio num bom escritório e depois se candidatar a Juíza. Fernando
brinca: "desse jeito, quando a gente casar eu já terei passado dos 50". Ele a ama, talvez mais
do que ela a ele... Mas o fato é que os dois se dão muito bem, e talvez por isso estejam juntos.
Ele diz de Cristina que ela não é nada romântica, ela responde que é porque não
tem tempo pra isso. Quando Cristina conhecer Enrico e este resolver apostar nela todas
as suas car-tas, Fernando não entregará os pontos - pelo contrário, mostrará uma força
enorme quando de-cidir que vai lutar até o fim pela mulher a quem ama.
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14 - TUANE, 27 anos. Desculpem, mas não consigo vê-la de outro modo - é uma ordinária.
Primeiro engravidou aos 16 anos. Depois anunciou que iria ter o filho... E quando o teve
tratou de entregá-lo ao pai Elivaldo e sumiu no mundo. Agora volta, dez anos depois,
casada com um homem 33 anos mais velho que ela, porém cheio da grana... E anuncia
com a maior cara de pau: "quero meu filho de volta"! Diz Elivaldo: "você só o teve enquanto
ele estava na sua barri-ga, tratou de se livrar do menino mal ele pulou pra fora!"
Mas Tuane não esquenta com as ofensas que o ex-namorado lhe dirige, nem quer jogar
conversa fora. Ela sabe que o dinheiro de Reginaldo, disposto a pagar um bom advogado para
que ela tenha o filho de novo, deixa o pobretão do Elivaldo em desvantagem.
Se há alguma possibilidade dos dois se acertarem outra vez e ficar juntos? Mas nem
a mínima! Elivaldo odeia Tuane, e esta não quer saber de homem pobre. Assim, só
existe uma saída para os dois é brigar feio pelo filho.
Se Tuane consegue seu intento? Claro que sim - não é a toa que a justiça é cega. Um
juiz leva em conta que Elivaldo foi acusado de incêndio proposital e homicídio doloso e dá a ela
ganho de causa. Se ela vai embora com Victor e some da nossa história, ou se acaba entrando,
com filho e tudo, em outra trama é uma possibilidade sobre a qual preferimos não falar agora.
15 - REGINALDO, 60 anos apregoados, talvez um pouco mais - que ele disfarça murchando a
barriga e caprichando na tinta do cabelo. Tuane diz que o conheceu quando viajava num trem
Deus sabe para onde, e mal se olharam os dois tiveram um clic: "foi amor à primeira vista, que-
rido"! É o que ela diz à Xana Summer, o rapaz que cuida das cabeleiras das garotas do bairro.
Reginaldo mesmo não diz quase nada, a não ser que "é homem de falar pouco". Talvez para
não se trair, pois embora tenha casado de papel passado com Tuane, já era casado antes. E
pode ser que não seja casado apenas duas, mas três vezes, como se saberá quando ele fugir
16 - JUREMA, 60 anos, a primeira mulher de Reginaldo (pelo menos é assim que ela se apre-senta
e a fuga dele confirma), que aparece quando Tuane já conseguiu a guarda de Victor e está
preparando uma grande festa no pedaço na qual proclamará e cantará sua vitória. Jurema tem dois
filhos já adultos de Reginaldo - JAIRO E OTONIEL. E os traz consigo, bem como a certi-dão de
casamento - e de nascimento dos dois - para que não reste a menor dúvida. A fuga de
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
Reginaldo se dá depois que ela chega, descobre que o marido casou com Tuane e
presta queixa na polícia, pois quer ver o bígamo preso.
talvez 60 se tirasse a peruca e a maquilagem toda. Mas ninguém nunca o viu "des-montado". Dono
do salão de beleza onde as moças do bairro batem ponto. Amigo e fã número um de Juliane Matos,
sua "eterna musa" e fiel depositário dos segredos que esta lhe conta, além dos seus sofrimentos e
mágoas. Morrerá de ciúmes quando ela se tornar amiga de Cristina e também transformá-la em sua
Elivaldo! É do bem, daqueles que faz festa no dia de Cosme e Damião e no Natal se veste de
Mamãe Noel para dar presentes às crianças do bairro, que o adoram. É de tanta confiança que
as mulheres não hesitam em lhe pedir conselhos e lhe contar as histórias mais cabeludas, inclu-
sive dos maridos... Que ele guarda para sempre como se fosse um túmulo. Quando lhe dizem
que não tem vida própria ele argumenta que tem sim... "Minha vida são vocês todos!"
Os aderentes:
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
ao longo da nossa história. Pode se tornar - ou não - um problema para quem paga o seu
salário. Encarregado de procurar Cristina - quando esta se apresenta diante do suposto pai e
depois so-me - vai ser mais um homem a se interessar por ela. Possui aquela virilidade quase
portentosa que alguns gaúchos têm, mas ao contrário da maioria destes não a alardeia.
21 - HELENA ABRANTES, 45 anos. Maior amiga de Maria Marta... E também sua digamos, dama
de companhia. Outra que nasceu numa família aristocrática - só que de São Paulo - cujos
descendentes esbanjaram e perderam tudo. Seria assim tipo uma bisneta na peça “Os Ossos do
quando este realiza alguma festa. É fina, chique, antenada, mas discreta. Como não gasta muito,
pois mora com a amiga - seus aposentos ficam num anexo da casa -, tem sua vida estabilizada.
Seu ponto fraco é o gauchão Josué. Toda a discrição de Helena vai por água abaixo
quando está na cama com ele - seu jeito de fazer amor como se estivesse não com uma
mulher, mas com uma égua (chega a chamá-la de "potranca") a tira do sério. As noites dos
dois são quentes, embora sejam raras, não porque ela não queira, mas porque ele, sempre
às voltas com as ordens do Comendador, não tem muito tempo para relax and enjoy.
A entrada de Cora na mansão petropolitana da Avenida Koeller, onde ela mora
com Ma-ria Marta, vai provocar mudanças em sua vida tão equilibrada. As duas se
tornarão rivais e ini-migas... O que talvez leve Helena a se bandear para o outro lado.
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22 - SILVIANO, 65 anos, ex-mordomo da antiga família de Maria Marta, que ela tratou de tra-zer
de volta quando casou com José Alfredo e viu que logo este se tornaria milionário. Não é gay -
é bom que se diga logo. Está mais para o mordomo de Downton Abbey. Nunca teve vida
própria, já que a trocou pela vida dos patrões. É fiel a estes até a morte. Dá um valor
extremo à sua profissão, e trata de valorizá-la ainda mais no dia a dia das casas em que
trabalha. Tudo tem que estar, mesmo em meio às maiores crises, em perfeitas condições.
Adora Maria Marta - que conheceu quando ela ainda era uma criança -, mas discreto como
é nunca deixa que suas emo-ções extravasem. Ela sabe desta adoração, mas respeita a
discrição do mordomo e, bem educa-da como é, finge que não a percebe.
Silviano gosta quando a patroa é convocada pelo Comendador para passar alguns dias
na mansão da família, e sempre a acompanha. Nestas ocasiões, aproveita para "botar a casa
do chefe da família em ordem". Tem sob suas ordens duas empregadas - ISA, a cozinheira e
MA-DALENA, a arrumadeira - sobre as quais faz valer sua autoridade. É uma figura rara - entre
outras coisas porque não existem mais serviçais como ele, o que, segundo Maria Marta, "para
as pessoas de classe, que são cada vez mais raras, é uma profunda perda”.
23 - MARIA ISIS, 24 anos, mas aparenta menos por causa do seu ar de criança. Linda, mas,
como um daqueles bichinhos de cristal da peça de Tenessee Williams: extremamente frágil.
Dividida entre a fidelidade à família de aproveitadores e o amor sincero que sente pelo Comen-
dador, estará sempre à beira de uma crise. Disfarça como pode. Não é uma neurótica - pelo a-
mor de Deus! - apenas é muito sensível. Tem pesadelos terríveis, dos quais acorda com medo
de perder tudo - a família e o conforto que o amante lhe proporciona.
Não é interesseira, tem a alma pura demais para isso, mas, a mando da mãe e
do pai pode fazer coisas horríveis. Uma delas é dizer que está grávida para obter do
Comendador um com-promisso mais definitivo. Ela não está, e o plano dos seus pais
não dá certo, porque ela se recu-sa a engravidar de outro homem “para ganhar
tempo e arrancar uma grana do ricaço”, como os dois exigem.
Rejeitada pelo Comendador por causa da falsa gravidez, Maria Isis dá um
basta nos pla-nos mirabolantes dos pais para que arranje outro homem rico. Eles a
rejeitam por causa disso e ela se vê só no mundo, que não passa de um abismo
diante dos seus pés... Até que lhe surge ninguém menos que João Lucas, o filho do
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homem que até ali tinha sido seu amante, e que é igualmente uma criatura frágil. Os
dois se descobrem almas gêmeas... E em pouco tempo esta-rão apaixonados.
Mas a resistência do pai de João Lucas ao romance, e as tentativas dos pais
de Maria Isis de tirar vantagens do rapaz farão com que os dois vivam momentos
muito atribulados... E não se pode dizer com certeza se finalmente alcançarão a paz
e chegarão a bom termo... Ou se terão um final trágico.
24 - MAGNÓLIA, 48 anos, mãe de Maria Isis. Interesseira, aproveitadora, sem qualquer noção
de ética, capaz de explorar sexualmente a filha e até de vendê-la se for preciso. Tanto que, de-
pois de ver um discreto anúncio num jornal, chega até a sugerir que ela aceite um emprego de
bailarina num lugar qualquer da Europa, mesmo sabendo que sua função lá será outra... Tudo
isso para não ter que trabalhar nem ganhar a própria vida. Suas maquinações, todas destinadas
a explorar a filha, atingem as raias do absurdo. E nunca dão certo é claro.
Tem no marido Severo um cúmplice à altura. Os dois são tão ruins que se bastam...
Mas ainda contam com a ajuda do filho Roberto, que é bonitão, mas ordinário. No meio
desse ambi-ente sórdido Maria Isis é uma verdadeira flor do pântano. Magnólia terá um fim
bem merecido no final da nossa história, mas não diremos qual será ele - é muito cedo.
25 - SEVERO, 53 anos, pai de Maria Isis. Menos inteligente que a mulher, é seu cúmplice fiel
nas armações mais absurdas. Falastrão, dado a rompantes com os mais fracos, porém covarde
quando se vê diante de alguém do seu porte, Severo em priscas eras já trabalhou como funcio-
nário público, mas conseguiu o quase impossível - foi demitido a bem do serviço. Nunca traiu
Magnólia, não porque não quisesse, mas por medo que ela descobrisse. É menos duro com a
filha que a mulher, mas como faz o que Magnólia quer, sempre acaba magoando Maria Isis.
26 - ROBERTO, 28 anos, filho de Magnólia e Severo, irmão de Maria Isis. O que tem de boni-tão - e
bota bonitão nisso, gente! - tem de ordinário. Preguiçoso, daqueles para os quais só exis-tem dois
lugares bons no mundo - o sofá ou a cama, e está sempre deitado num ou noutra. Liga a televisão,
mas não acompanha o que está passando - a preguiça não deixa -, a não ser quando aparece na
telinha a lindíssima e talentosa Isis Valverde. É incapaz de ler uma revista ou um jornal. Um livro
então... De vez em quando frequenta o botequim mais próximo, não com o intuito de beber, mas sim
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de "se apresentar ao seu público": as mulheres, em geral de meia ida-de, que quase desfalecem
quando ele lança sobre elas seu olhar de mormaço. Um dia, pensa ele, alguma delas vai levá-lo
para casa e tratá-lo a pão de ló para o resto da vida. Na verdade, várias já fizeram
isso... Mas, porque Roberto é preguiçoso até para fazer sexo, logo o expulsaram. Este
homem inútil, que nunca fez nada que valesse a pena em sua vida, um dia vai cruzar
com a mulher que o salvará - ninguém menos que Juliane Matos. Por causa dela ele
27 - DR. MERIVAL PORTO, advogado, 50 anos, o campeão das causas perdidas, que trabalha
praticamente com exclusividade para o Comendador José Alfredo e suas empresas. Não tem
uma vida própria fora das portas do seu escritório. É lá que sempre está, a qualquer hora do dia
ou da noite, trabalhando ou à espera que precisem dele - e o Comendador sempre precisa. Ele
é que estará à frente de todos os casos jurídicos da nossa trama, inclusive o de Elivaldo, a
Os dependentes:
28 - TÉO PEREIRA, 50 anos, mas não parece por causa de sua eterna cara de garoto.
Magro e elegante, segundo dizem tem a língua muitas vezes maior que o resto do corpo...
O que deve ser verdade, a julgar pelas notas maldosas que publica em sua coluna num
jornal e num blog ao qual diariamente acorrem milhares de leitores. Não é muito amante da
verdade, por isso de vez em quando apela para o "segundo me contaram" e publica uma
notícia mentirosa. Daí a razão dos vários processos a que responde.
É gay, mas o sexo para ele não é um fato relevante. Do que ele gosta é de destilar
veneno nas notícias que publica, e é quando as relê depois de publicadas que atinge um
tipo muito pes-soal de satisfação plena... E que não deixa de ser uma espécie de orgasmo.
Puxa-saco de Maria Marta, a quem apelidou de "Rainha no Exílio", Téo é visto com pés-
simos olhos pelo Comendador, para quem não passa (em inglês, é claro) "de um merda". Cons-
ciente da antipatia daquele a quem chama de "o Todo Poderoso", Téo não perde a chance de
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"alfinetá-lo", ou "cutucá-lo", para usar o jargão dos maledicentes da net.
30 - BEATRIZ BOLGARI, 48 anos, esposa de Cláudio. Foi Miss Brasil aos dezoito anos
repre-sentando o Estado de Santa Catarina. Era deslumbrante quando casou e hoje ainda é
uma mu-lher linda. Orientada pelo marido refinou-se e hoje é uma das damas mais chics e
classudas do pedaço.
31 - ENRICO BOLGARI, 28 anos, filho de Cláudio e Beatriz. Enrico foi criado pelos pais para
ser um homem fino e muito bem preparado. Mal demonstrou interesse pela gastronomia foi
enviado por eles para a melhor escola da Suíça. De lá foi fazer um estágio num famoso restau-
rante em Paris cujo dono é velho conhecido de Monsieur Claudiô e – marravilha! – voltou de
lá chef. O pai usou suas conexões para que o filho montasse o restaurante que leva o seu
nome, e o Enrico rapidamente se tornou o ponto de encontro preferido dos ricos e antenados.
Foi lá que ele e Maria Clara se conheceram – ela foi almoçar um dia com um grupo de amigas e
o chef as serviu pessoalmente; lá floresceu o namoro dos dois, que logo se transformou em
noi-vado... E agora os dois já estão de casamento marcado.
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
Enrico deve tudo aos pais – a Cláudio e suas conexões principalmente. É um rapaz
sério, realmente se aprimorou e sabe o que faz... Mas a verdade é que nunca faz, já que,
como a maio-ria dos chefs, se vê obrigado a ficar circulando pelo salão a fazer relações
públicas de si mes-mo, e deixa a comida a cargo de um auxiliar de talento, mas obrigado a
se esconder sob a sua sombra. No caso de Enrico este auxiliar - em cuja carteira de
trabalho está escrito: ajudante de cozinha – é Vicente Ferreira da Silva, um nordestino de
prodigiosos pendores para a gastrono-mia e que, se tivesse as mesmas oportunidades que
o patrão, sem dúvida se tornaria um chef ainda mais renomado que ele.
Enrico é um bom sujeito aos olhos dos que o conhecem, mas tem um problema que ele
nunca precisou revelar – “detesta viados”. Ou seja: é aquilo que chamam de “homofóbico.
Após brigar romper com os pais , Enrico fica na pior. Vai trabalhar em outro
restaurante como empregado, mas como é daqueles chefs gastadores, que não está
nem aí para a economia, lá não dura muito. Tenta re-conquistar Maria Clara, mas
descobre que ela já está em outra – ou em outro... E o outro é nin-guém menos que
Vicente. Sofre um acidente grave, precisa de um doador de sangue, (o seu é raro).
32 - BIANCA BOLGARI, 18 anos, filha mais nova de Beatriz e Cláudio. Assim como o filho foi
criado para ser um príncipe, ela o foi para ser uma princesa... E o é. Estudiosa e aplicada, tem
uma paixão que a maioria das pessoas considera exótica: a matemática... E outra paixão, que
alguns diriam ser “apenas uma paixonite” por João Lucas, o filho mais novo e mais pro-
blemático do Comendador José Alfredo.
33 - LEONARDO DE SOUSA, 35 anos. Queria ser ator. Foi com este intento que veio do inte-rior de
Santa Catarina para o Rio, lá se vão 15 anos. Naquela época só pensava numa coisa va-guíssima
que chamava de “minha carreira”. Hoje pensa menos nisso, já que enveredou por ou-tro caminho.
Entre uma decepção e outra por conta dos testes que fez e nos quais não passou, conheceu “um
homem que o ajuda”. Com quem tem uma agradável e estável relação secreta e íntima. Claro, a
“carreira” ainda lhe vem à cabeça de vez em quando, e nessas ocasiões ele cobra do amante que
mobilize seus conhecimentos para lhe conseguir um papel na televisão, por menor que seja...
Embora ele sonhe que um dia vai traba-lhar numa novela “como o namorado de Carolina
Dieckmann”.
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34 - VICENTE FERREIRA DA SILVA, 32 anos. Dêem-lhe um quilo de quiabos e ele con-
quistará o mundo... pela boca! Este nordestino nascido em Carpina, Pernambuco, que brincava
de cozinhar quando era menino, e por isso teve que dar muita surra em coleguinhas que o cha-
mavam de “frango” – o equivalente a “veado” em Pernambuco, tanto cozinhou de brincadeira
que acabou aprendendo a fazê-lo a sério... E se tornou na cozinha um mestre do improviso. De-
pois de passar pelos quiosques do cais de Santa Rita, em Recife, onde aprendeu os segredos
dos mestres da cozinha rústica que lá exercitam seus pendores, veio para o Rio, onde trafegou
do bar ao botequim até chegar ao restaurante estrelado... Mas sempre como ajudante.
Foi num deles que o chef do futuro Enrico o conheceu ao comer um prato
especialmente ela-borado. Foi à cozinha, perguntou quem era o responsável por ele,
Vicente se apresentou já es-perando uma bronca do cliente... Mas este se identificou
e arrematou de forma que não restasse a menor dúvida: “você vai trabalhar comigo”.
E agora é o que Vicente faz. E tanto faz que não tem tempo para nada, além de
cair na cama e dormir quando chega, de madrugada, no sobrado em que aluga em
Santa Teresa. Namo-rada não tem, não porque não as deseje, mas por falta de tempo
para cortejá-las. Compensa a carência afetiva e a solidão com a leitura... De livros sobre
culinária que compra em sebos e barracas. Cozinhar é para ele quase uma religião, a
única coisa na vida que o completa. Suas invenções, sempre marravilhosas, são
imediatamente adotadas pelo chef, que recebe todo o mérito sem se preocupar em dar
algum a Vicente, ou pelo menos promovê-lo de auxiliar a co-zinheiro.
E Vicente se conforma com esta situação – o simples fato de ter toda liberdade
para criar na cozinha do outro já lhe parece o bastante. Claro, de vez em quando
sonha em ter seu próprio restaurante. Mas isso é apenas um sonho, uma ilusão,
uma fantasia que, ele acha, nunca se transformará em realidade. Até o dia em que
Enrico fugir da própria festa de casamento e Ma-ria Clara descobrir que é Vicente o
responsável pela cozinha criativa, original e deliciosa do noivo.
A trajetória de Vicente rumo ao sucesso e à vitória serão acompanhados por
nós passo a passo, e já podemos dizer que ele chegará ao final dela vitorioso.
Quanto ao romance com Ma-ria Clara, bem... Esta é apenas a sinopse do novela, e
novela, vocês sabem, é um novelo, que ao seu autor cabe apenas ir desenrolando.
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Os deserdados da sorte:
35 - JULIANE MATOS, 36 anos, linda e com as coxas dignas de uma daquelas deusas
estela-res desenhadas por Boris Vallejo. De família humilde, ascendeu ao entrar para a
União de San-ta Teresa e se tornar a passista mais premiada do pedaço. Com suas
aparições prodigiosas nas divisões de acesso, foi uma arma decisiva na escalada que
levou sua escola de samba ao pri-meiro grupo. Em poucos anos de samba virou mito.
Era a Juju Popular, como a chamavam na quadra, a queridinha de todos - aquela que a
comunidade inteira adorava. Ganhou duas vezes o Estandarte de Ouro, e ainda tinha
muitos anos de glória pela frente quando conheceu o famoso pintor Orville Neto, que um
dia foi à escola pintar alguns painéis do enredo alusivo à Semana de Arte de 1922.
Foi amor à primeira vista. Orville, cujo ateliê era em Santa Teresa, praticamente seqües-
trou Juju da escola, e a fez abandonar tudo – o samba, a comunidade, as muitas apresentações
pelo Brasil e em viagens ao exterior já acertadas – para se tornar apenas uma dona de casa.
Fascinada pelo artista, e pelo homem de forte, de personalidade que era Orville, ao
se dedicar apenas a ele Juju dizia a quem lhe perguntava que o seu passado era
passado e ela não sentia falta de nada. A única pessoa que nunca acreditou nela foi
seu Antoninho, o presidente da Uni-ão de Santa Teresa, que sempre dizia quando a
encontrava: “o samba ta no teu sangue morena. Um dia você volta”.
Mas Juju Popular não voltou. Virou dona Juliane, a mulher de Orville, e até teve um fi-
lho com ele, Orville Júnior, agora com dez anos. A vida dos três corria às mil maravilhas,
até o dia em que estourou o escândalo: um leiloeiro paulista foi preso sob a acusação de
vender qua-dros falsos de pintores brasileiros já mortos, e logo identificou o autor das
falsificações: era Or-ville Neto. Dezenas de quadros falsos foram encontrados no seu ateliê,
e ele também foi preso, julgado e, como todos os membros da quadrilha, condenado.
Esposa fiel nos tempos de bonança, Juliane Matos revelou-se mais fiel ainda na
desgraça. A essa altura, por conta de sua condição de falsário, as obras assinadas por
Orville tinham per-dido todo o valor de mercado. Para mantê-lo de forma digna e segura
no presídio, ela não me-diu sacrifícios. Foi o amparo e o esteio do marido... Até que
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surgiu a Dra. Carmen Godinho, a advogada dele. Os dois se apaixonaram e, por
exigência desta, Orville cortou relações com Ju-liane e a expulsou de sua vida.
Desiludida e abandonada, Juliane entrou em depressão... Mas por pouco tempo –
logo acordou um dia pensando em dar a volta por cima... E aí pensou na frase de seu
Antoninho: “um dia você volta.” Mas como? Recuperar a antiga forma e a beleza
explosiva de passista é um processo que iria lhe custar muito caro, e ela não tem como
pagá-lo... A não ser que impro-vise, e em vez de freqüentar academia, salão de beleza
e o mais necessário, faça tudo em casa: que tal subir e descer as escadas do ateliê 50
vezes por dia carregando um pesado saco de arroz em cada braço?
Sim, Juliane é outro exemplo de superação em nossa história: ela faz seu
próprio plano de trabalho para chegar à antiga forma e, com a ajuda do amigo Xana
Summer torna-se ainda mais linda... E claro, não só volta a desfilar como triunfa,
ganha outro Estandarte de Ouro, e talvez tenha direito até a um novo amor, ninguém
menos que o bonitão Roberto, do qual já fa-lamos... Desde, é claro, que ele tome
vergonha na cara de galã de novela, deixe de ser preguiço-so e arranje um trabalho.
Dias, Vicente do Rego Monteiro, Djanira, Pancetti, Tarsila... Qualquer um dos nossos pintores
cujos quadros valham muito dinheiro. Por conta deste talento é cooptado por uma quadrilha
dedicada à arte de vender quadros falsos... Que um dia é descoberta e tem todos os seus
mem-bros presos. Na cadeia Orville passa a depender da mulher, Juliane Mattos, ex-passista
de uma escola de samba, que faz todos os sacrifícios por ele... Até que ele mostra o quanto é
mau cará-ter ao se apaixonar pela própria advogada e renegar Juliane. Vai sair da cadeia um
dia, porém como pintor nunca mais será levado a sério. Finalmente abandonado pela
advogada, ele acha que ainda tem condições de voltar às boas com Juliane, porém...
37 - JÚNIOR, dez anos, filho de Juliane e Orville, tem um sonho na vida: quer ser
compositor de escola de samba “e ganhar muitos prêmios”. Mas a mãe não lhe dá a
menor colher de chá por causa disso, e lhe diz que, para ser compositor de escola de
samba ou qualquer outra coisa na vida antes ele vai ter que estudar muito. Amigo de
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Victor, através deste vai chegar a Bruna, neta do Comendador e filha de José Pedro e
Danielle, de quem passará a frequentar a casa. A presença dos dois merecerá um
comentário ácido de Maria Marta: “isso aqui está parecendo uma creche da periferia!”
homem e sambista a moda antiga, aquele que dá tudo por sua escola, incluindo a camisa.
Homem bom... Mas de passado nebuloso, que só será descoberto no devido tempo, e que tem
40 – LORRAINE, 30 anos, irmã de Gilberto, o bebum que logo no começo da história João
Lucas atropela com seu carro esporte importado. Quer sair do Bolsa-Família da melhor maneira
possível – arrancando uma bela grana da família do atropelador. Orientada pela Dra. Carmem
Godinho consegue isso, mas descobre que pode conseguir muito mais e aí, como diz o provér-
bio popular, quem quer demais tudo perde... É o que pode acontecer com ela.
41 – ISMAEL, 40 anos, marido de Lorraine – mas, para ficar com o dinheiro todo do
Bolsa-Família ela o jogou para escanteio. Nessa história do atropelamento vai se
colocar contra a ex-mulher, que chora lágrimas de crocodilo por causa do irmão
atropelado, mas só pensa mesmo é em tirar vantagens da morte dele.
Os de 28 anos antes:
42 - EVALDO, 26 anos, irmão de José Alfredo e marido de Eliane. Homem simples, quase
rude trabalhador e muito sério. Passa a odiar o irmão quando, por conta das artimanhas de
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Cora, acredita que ele assediou sua esposa Eliane e foi rechaçado por esta, por isso fugiu
de sua casa sem deixar rastros. Morre dois anos depois do fato com esta certeza, sem
saber que entre José Alfredo e Eliane a paixão foi mútua e devastadora.
em Zurich, onde comanda uma empresa especializada na compra de diamantes, que naquela
época podiam ser comercializados sem que sua origem, legal ou não, fosse objeto de dúvidas
ou perguntas. Figura importante na vida de José Alfredo – com quem pode ter tido um caso que
ele não revela – ela o ajudou e orientou, foi sua sócia nos primeiros negócios, e contribuiu de
modo decisivo para que ele tivesse o seu lugar próprio e permanente na roda da fortuna.
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ELENCO DE APOIO
designer
11. DU, ou EDUARDO, 23 anos: amigo porra-louca de João Lucas, orelha dele
12. ARIOVALDO, 30 anos: colega de camelódromo de Elivaldo, orelha dele
13. CREUZA, 50 anos: vizinha com quem Cora implica
14. PIETRO, 40 anos: jornaleiro de Santa Teresa
15. VALÉRIO, 35 anos: advogado amigo de Fernando, orelha dele
16. NANÁ, 40 anos: assistente de Xana Summer no salão de cabeleireiros, orelha dela
17. ODINEY: segurança da mansão de Maria Marta, orelha de Josué
18. BATISTA, 40 anos: porteiro do flat de Maria Ísis, eventualmente orelha dela
19. ÉRIKA: fotógrafa de Téo Pereira, orelha dele
20. MARINA: colega de Cristina na faculdade de direito
21. GERALDO: carcereiro do presídio
22. XÊNIA: passista substituta da escola de samba
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CENÁRIOS E LOCAÇÕES
Cenários e Cenografia
É praticamente um palacete imperial. Uma mansão com toda pompa que uma descendente da
aristocracia merece. Possui dois andares, grandes espaços, cômodos amplos com decoração
clássica, onde o rococó e o barroco prevalecem. Há quem diga que a mansão poderia ser uma
extensão do museu imperial. O fato é que bom gosto não sai de moda e disso Maria Marta não
abre mão. Diante da casa fica o exuberante jardim, aos fundos uma piscina, espreguiçadeiras,
mesas e ombrelones. Na garagem cabem cinco, quiçá seis, automóveis. Apesar de solar, a
man-são tem ar melancólico, talvez por conta da cerca viva que encobre o muro. No interior, o
re-quinte clássico contrasta com os arranjos e flores que dão leveza ao local de exílio da rainha.
- Hall de entrada amplo
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- Sala luxuosa, obras de arte emolduram o ambiente, e como não poderia faltar
numa novela minha: uma grande escadaria que conduz ao segundo andar.
- Sala de Jantar
- Escritório
- Cozinha
- Quarto de Silviano, o fiel mordomo.
No segundo andar,
- A escada desemboca no Mezanino, onde há uma pequena biblioteca, uma
pequena lareira e poltrona de leitura, onde a “Rainha Exilada” passa seu tempo livre.
- O corredor que conduz aos quartos
- Suíte de Maria Marta: quase um apartamento. A cama king size, impecavelmente arrumada,
está sempre à espera de um José Alfredo que nunca a utiliza. Um closet colossal e espelhado,
banheiro espaçoso com balcão só para maquiagem, hidromassagem, piso aquecido.
- Quartos de hóspedes: são dois, eventualmente utilizado pelos filhos,
principalmente por João Lucas, quando visitam a mãe.
- Anexo no jardim, que serve de casa para Helena Abrantes. Originalmente pode ter
sido a co-cheira, que depois foi devidamente reformada:
- Sala bem decorada, mas pequena.
- Suíte de Helena
BARRACO DE LORRAINE
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- Sala (e quarto) onde dormem Lorraine e Gilberto.
No Rio de Janeiro – RJ
Bairro de Santa Teresa:
CASA DE EVALDO/CRISTINA
Nos anos 80
Casa de cor vívida, recém pintada por Evaldo. Simples, decoração por vezes cafona, funcional.
- A porta de entrada dá para a sala que tem um estofado de braços de madeira e de
corino ama-relo, um horror. Marca presença uma cristaleira pequena e acima desta
uma foto pintada a mão, como se fazia antigamente, dos pais de Evaldo e dos sete
filhos ainda crianças. Entre eles, E-valdo e José Alfredo.
- A cozinha é separada da sala por uma cortina de miçangas.
- Quarto de Evaldo e Eliane
- Quarto de Cora
- Quartinho de costura de Eliane e Cora
- Quarto de hóspedes, onde José Alfredo se instala
- Banheiro pequeno
A casa recebeu várias pinturas nesses anos, mas o descascado aparente revela as
várias cores que nela foram aplicadas. O mofo também é visível, principalmente
próximo do chão. Esse ar cinzento causado pela descascar da pintura e do
descolamento de partes do reboco realça o as-pecto de envelhecimento da
residência e também das condições financeiras limitadas de seus moradores.
- A sala tem um sofá melhor, mais discreto. A cristaleira ainda está lá, agora com
uma pintura em pátina, de novidade uma televisão de plasma de poucas polegadas.
A foto de Evaldo, seus irmãos e pais permanece no mesmo lugar.
- A cozinha não tem mais cortina
- Quarto de Eliane
- Quarto de Cora
- Quarto de Cristina (o antigo quarto de hóspedes que José Alfredo utilizou)
- Quarto de Elivaldo e Victor (o antigo quartinho de costura)
- Banheiro pequeno
Fica ao lado do seu salão de beleza. Antigo, de dois andares, foi uma antiga casa de
tolerância, um lupanar que teve seus tempos áureos entre os anos 60/70 em Santa
Teresa. Comprado com o suor de seu megahair, o sobrado é seu xodó.
No térreo fica a residência de Xana. -
Sala extremamente colorida e alegre
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- Quarto todo cor-de-rosa
O segundo andar é alugado. Nele primeiro estará hospedado o nordestino Vicente.
Depois que ele se mudar, quem ocupará o local é Jurema e seus filhos, Otoniel e Jairo.
- Sala com varanda.
- Quartos
APÊ DE FERNANDO
CASA DE JULIANE
Casa antiga, grande. Atrás uma edícula transformada em ateliê e sobre ele uma pequena laje,
onde Juliane toma banho de sol e faz exercícios quando tenta voltar a antiga forma física.
- Sala
- Quarto de Juliane e Orville
- Quarto de Júnior
- Cozinha
- Banheiro
- Ateliê de Orville, repleto de cavaletes, uma mesa grande, toda respingada de tintas,
um carri-nho com tubos de tintas variadas.
Bairro de Copacabana:
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APÊ DE MAGNÓLIA, SEVERO E ROBERTO
Apartamento em prédio tipo “balança, mas não cai”, antigo, envelhecido, sem elevador.
- Quarto de Magnólia e Severo
- Quarto de Roberto
- Sala com cozinha americana. A única janela dá para o fosso do prédio tomado de pombas,
sempre a arrulhar num barulho insuportável, só amenizado pelo som do ar condicionado.
- Banheiro
- Sala pequena com mesa ampla com divisórias (baias), laptops e telefones
Locações
JOALHERIA IMPÉRIO
Sede e fábrica de jóias da Joalheria Império. Ainda há uma loja modelo, com vitrine
com amplo aparato de segurança que exibe algumas jóias da coleção.
- Loja Modelo, pequena sala de vendas com balcão expositor de jóias, cofre e catálogos.
- Recepção
No escritório:
- Sala da secretária
- Sala de José Alfredo
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- Sala de José Pedro
- Sala e Ateliê de Maria Clara
- Sala de reuniões
- Área de gravação para canal de compras na internet e TV paga nas
madrugadas. No chão de fábrica:
- Laboratório
- Ourivesaria
- Oficina de Lapidação e entalhe de pedras
- Polição
- Linha de montagem de jóias
- Sala de aula
- Cantina
- Corredor
- Recepção e bar
- Salão com mesas
- Cozinha
PRESÍDIO
- Cela tipo cadeia de São Luís do Maranhão onde ficará Elivaldo e Orville
- Sala de Vistoria
- Refeitório
- Pátio de Banho de Sol e reservado com divisória de farrapos para visita íntima
ESCOLA DE SAMBA
- Quadra da Escola
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- Barracão onde Juliane, quando a situação piorar, vai confeccionar fantasias e
adereços para seu próprio sustento e de seu filho.
- Sala de Seu Antoninho
- Terminal de embarque
- Barraquinhas perto do Largo da Carioca, na rua São José, onde era a praça Melvin
Jones (atu-al praça Mario Lago).
MONTE RORAIMA
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also Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
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BAIRRO DE SANTA TERESA – RIO DE JANEIRO
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
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Falso Brilhante – Sinopse de novela de Aguinaldo Silva
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“I don't need love,
For what good will love do
me? Diamonds never lie to
me, For when love's gone,
They'll lustre on.”
FIM
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