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Leitura e aprendizado de matemática – Intersecções

1 INTRODUÇÃO

A leitura é uma ferramenta propriamente humana. Através dela, podemos


escrever a memória e, sem que haja a necessidade da voz do próprio autor, aquelas
ideias e sentimentos nos são passados “como mágicos”, diria Carl Sagan(09/11/1934 –
20/12/1996). O conhecimento matemático pode ser considerado uma linguagem, dado
sua intenção de levar ideias ao leitor de forma inambígua, que constitui uma de suas
mais evidentes características. Eco considera a interpretação como uma relação dialética
entre a mensagem e o receptor. Tanto a mensagem deve ter um sentido claro e uma
elaboração consonante com o sentido e o objetivo, quanto o receptor deve estar munido
das ferramentas para decodificar aquela mensagem. Segundo Freitag, o processo de
leitura pode ser compreendido, de forma simples, em dois passos, o primeiro sendo a
captura da mensagem “crua”, seus símbolos, significados e significantes e a segunda
parte, a interpretação desses dados, o que demanda um repertório prévio do leitor das
particularidades da mensagem ou texto, sendo ele de cunho científico ou não.
Dados os desafios dos estudantes de matemática em aprender seu conteúdo,
investigar as intersecções entre a habilidade de ler e a habilidade de resolver problemas
matemáticos é salutar para encontrarmos soluções realmente efetivas para o ensino de
matemática. Nesta revisão foram analisados seis artigos sob a luz do livro de Umberto
Eco “Os Limites da Interpretação”, na esperança de contribuir com este assunto de
tamanha urgência.

2 METODOLOGIA

Foi utilizada como metodologia a análise crítica dos arquivos e pontos relevantes
da obra de Umberto Eco “Os limites da Interpretação”, na medida em que nos auxiliam
a entender todo o fenômeno da interpretação semiológica.
3 A LEITURA COMO EXPERIÊNCIA HUMANA
A interpretação da mensagem por via do destinatário de uma obra literária pode
passar por várias camadas de pensamento e transformações antes do “produto final”, ou
seja, a mensagem decodificada toque a mente do leitor. Consideremos Eco:
A oposição entre enfoque gerativo (que prevê as regras de produção de um
objeto indagável independente dos efeitos que provoca) e enfoque
interpretativo não equivale a um outro tipo de oposição que circula no âmbito
dos estudos hermenêuticos, e que de fato se articula como tricotomia, isto é, a
oposição entre interpretação como pesquisa da intentio auctoris interpretação
como pesquisa da intentio operis e interpretação como imposição da intenctio
lectoris.
Podemos afirmar que a matemática pertence ao primeiro enfoque, o gerativo,
pois o texto matemático é de caráter inambíguo, e deve ser interpretado de uma única
forma, pretendida pelo autor da mensagem. Em seu estudo, Imam et al, dividiram a
habilidade de leitura em seis classes diferentes, e nos indica cada uma tem uma maior
ou menor correlação com a leitura de textos matemáticos, nos mostrando a
complexidade do assunto e a relevância das pesquisas comportacionais-cognitivas, no
progresso do ensino.
Ainda sobre a leitura, Ávila e Silva dizem que o letramento não é sujeita a
escrita, mas a utiliza como ferramenta, incorporando-a no conjunto de práticas sociais
que levarão ao desenvolvimento cognitivo-intelectual do sujeito. Como toda prática
humana, a leitura é histórico-social, e a formação do leitor está condicionada à sua
relação como cidadão-sujeito.
4 A interpretação textual na formação do estudante
Freitag conta uma pequena anedota em seu livro, onde uma estudante dedicada
de matemática não consegue extrair informação do seu livro-texto, pois não possui o
ferramental suficiente para a correta interpretação dos códigos próprios do texto. Em
seu estudo na Finlândia, Imam et al dividiram a competência da leitura em seis sub-
áreas, à seguir, em tradução livre: Entender o Vocabulário no Contexto, Entender a
Ideia Principal, Notar Detalhes, Fazer Inferências, Extrapolar e Extrair Conclusões.
A partir de testes de correlação, eles concluíram que a leitura melhora a
capacidade matemática do individuo, mas, principalmente, as competências Entender o
Vocabulário do Contexto, Entender a Ideia Principal e Fazer Inferências, mostraram
uma significativa correlação com o desempenho matemático, o que os autores
confirmam ser coerente com os achados os estudos mais antigos.
Isso, mais uma vez, nos mostra a necessidade de incorporar o vocabulário e a
semiótica matemática ao dia a dia do estudante, e equipa-lo com o ferramental para
entender problemas matemáticos. Também nos informa da necessidade da leitura ser um
lugar comum na vida estudantil, pois a mesma lhe permitirá o acesso aos conhecimentos
contido nos materiais escritos e o tornará um cidadão crítico, capaz de tomar decisões
baseadas em sua própria experiência e conhecimento. Negar a leitura é negar uma parte
importante da humanidade de uma pessoa, negar-lhe acesso a sua capacidade
fundamentalmente humana.

5 MATEMÁTICA E LEITURA

Até aqui, entendemos a importância da leitura e sua função como acesso ao


conhecimento. Quando estamos falando de matemática, temos ainda que, o aluno deve
ter equipado um arsenal de instrumentos capaz de faze-lo extrair conhecimento de um
texto matemático. Ardenghi a matemática escolar é uma prática cultural que dispõe os
seus próprios conteúdos semióticos. Essa semiologia também está atrelada ao
desenvolvimento tecnológico da nossa civilização, ou seja, o domínio dos códigos
matemáticos e as ferramentas para interpretá-los habilita o cidadão-sujeito ao acesso
direto ao conhecimento daquilo que está a volta de todos nós, mas a maioria sabe pouco.
O incentivo à leitura e ao aprendizado de matemática devem andar lado a lado,
pois um e o outro são manifestações da nossa capacidade única de externar memória e
conhecimento.

6 CONCLUSÃO

Pela análise dos estudos, entende-se a enorme importância da leitura para o


desenvolvimento do aluno em todos os aspectos e, sendo a matemática uma linguagem
universal, a leitura e o processamento dos códigos semióticos na mente do aluno é
grandemente beneficiado por uma capacidade de leitura capaz.

7 BIBLIOGRAFIA

Avila, M. A. E. de, & Silva, F. B. (2013). Os desafios da escola pública paranaense na


perspectiva do professor PDE. Título da Revista, v. 1, p. 1-23.

Ardenghi, M. V. Estratégias de leitura aplicadas à linguagem matemática: uma proposta


metodológica. Disponível em: educacao.pr.gov.brhttp://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
› ...PDFestratégias de leitura aplicadas à linguagem matemática. Acesso em:
Freitag, M. (1997). Reading and writing in the mathematics classroom. The
Mathematics Educator, v. 8, n. 1, p. 16–21.

Öztürk, M., Akkan, Y., & Kaplan, A. (2019). Reading comprehension, Mathematics
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Imam O. A., Mastura M. A., Jamil H. (2013). Correlation between reading


comprehension skills and students’ performance in mathematics. International Journal
of Evaluation and Research in Education, v. 2, n. 1, 1–8.

Lorensatti, E. J. C. (2019). Linguagem matemática e língua portuguesa: diálogo


necessário na resolução de problemas matemáticos. Conjectura , Caxias do Sul, v. 14, n.
2.

Eco, U. (1990). Os limites da interpretação. São Paulo: Editora Perspectiva.

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