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COMPREENSÃO
E PRODUÇÃO DE TEXTOS
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MARQUESI, S. C. A organização do texto descritivo em língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
Este livro está diretamente relacionado à experiência que a estudiosa
obteve como docente, garantindo a sua reflexão metodológica para o ensino de
redação e leitura nas séries de ensino fundamental e médio. Como reflexo desse
trabalho, Marquesi arrolou considerações que acabaram fazendo parte de sua
tese de doutorado.
Retomada tal reflexão, será possível tocarmos, enfim, ao eixo central que
contará com a nossa atenção para esta e a próxima aula: a compreensão leitora,
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ou, se preferirem, a leitura. Para dar conta de tal desafio e respeitando a nossa
abordagem didática, teremos a nossa aula organizada da seguinte maneira:
1. A importância da leitura;
2. Estratégias de leitura;
3. A leitura processual;
4. Interação e indeterminação;
5. A leitura, o texto e a metáfora do andaime;
CONTEXTUALIZANDO
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XX. Segundo Kleiman (1989), tal descompasso acaba explicando o fato de a
leitura ter sido relegada a um papel secundário na rotina de estudos, repercutindo
uma práxis que insiste em sistematizar a leitura como um ato cartesiano de
decodificação de palavras e não – como deveria se pressupor – uma manifestação
de um processo cognitivo de atribuição e construção de sentidos:
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Os resultados são ainda piores em outros setores. Construção civil ou
indústria tem só 3% no melhor nível de alfabetização. Comércio 10%. E
a área de saúde apenas 11%.
“Saúde e educação encontram até um percentual de profissionais
proficientes maior do que outros setores. Mas se você pensar
especificamente nos dois setores, na importância do letramento, do
alfabetismo, na saúde e principalmente na educação, o nível é baixo”,
diz Ana Lúcia Lima, coordenadora da pesquisa.
Quer ver um exemplo? Muita gente que vai prestar concurso corre atrás
de reforço.
“A maioria das questões não é você resolver o problema da matemática.
Conta qualquer um faz. Só que você tem que pegar a interpretação do
texto pra passar pra conta”, explica Alan Galvão, eletricista.
Mas como estamos falando de profissionais, já adultos e formados, os
pesquisadores garantem que a melhoria da escola não vai resolver o
problema desse pessoal. A ajuda tem que vir do próprio mercado.
Coisa que uma gigante do setor de vestuário já percebeu. Oferece para
os funcionários cursos, aulas, programas para estudar em casa. Foi um
bom negócio?
“Treinar é muito melhor do que trocar, não só pelo custo, pelo
desempenho. É um dos fatores de retenção muito claros da nossa
equipe”, diz Michel Sarkis, empresário. (G1, 2016)
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TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Lendo, certa vez, um livro chamado Why Johnny can’t read encontrei a
seguinte afirmação, que, embora exagerada, ainda me pareceu válida: o
autor, Rudolph Fresch, dizia que dedicava seu livro a pais e mães,
porque, assim como a guerra era um assunto muito grave para ser
deixado nas mãos dos generais, o ensino da leitura era um assunto
também importante demais para ser deixado apenas nas mãos dos
educadores. Concordo com o espírito da citação: o ensino da leitura
compete não a uns poucos, mas a todos nós. (Kleiman, 1989, p. 7,
grifo nosso)
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1. Obter uma informação precisa;
2. Seguir instruções;
3. Obter uma informação de caráter geral;
4. Aprender;
5. Revisar um escrito próprio;
6. Comunicar um texto a um auditório;
7. Praticar a leitura em voz alta;
8. Verificar o que se compreendeu;
9. Fruir.
Figura 1 – Charge
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Tentando não interpretar a charge da Figura 1 com base no texto verbal,
quais foram as hipóteses elencadas por você em uma primeira leitura? A que
poderia se referir essa charge? A representação do texto não verbal busca
representar que tipo de conversa? Por que o cartunista Kayser teria escolhido
reconstruir o diálogo entre duas pessoas a partir dos ícones de um grande grupo
de comunicação e da Constituição brasileira? Quais relações poderiam existir
entre o grupo e a Constituição? Por que o ícone que representa o grupo de
comunicação parece demonstrar certo descontentamento? A Constituição, por
sua vez, denota que tipo de reação diante do ícone do grupo de comunicação?
Acaso existiu, em algum contexto histórico, uma relação de questionamento entre
o grupo de comunicação e a Constituição Federal? Perceba que, sem ler a frase
atribuída ao ícone do grupo de comunicação, já foi possível, estrategicamente,
desenvolver distintas hipóteses para a construção da compreensão leitora. Todas
as possíveis respostas podem ajudar e ser decisivas para o processo de
construção e para a leitura global da charge.
De forma pragmática, o exercício realizado para a leitura da charge anterior
possibilita percebermos o quanto a estratégia de construção de hipóteses pode
ser decisiva para o adiantamento da construção de significados do texto estudado.
Se seguimos pensando nas estratégias observadas por Palincsar e Brown (1984),
partiremos para a fase de leitura do texto. Ao ler a frase atribuída ao ícone do
grupo de comunicação, será possível perceber que o texto verbal guarda uma
ambiguidade, afinal, não se trata apenas de um questionamento sobre a
identidade de quem pergunta, mas também uma insinuação de poder e de
coerção. Para os leitores que tenham um repertório prévio e detenham
informações sobre a questão, será possível cotejar o texto-charge com a
determinação do Grupo Globo, publicada em um documento de página inteira no
jornal O Globo de 1 de julho, no qual fica estabelecida a proibição de que os
jornalistas do grupo verbalizem diretamente qualquer relação com um candidato
político em suas redes sociais pessoais. Na condição de que o leitor tenha o
conhecimento prévio a respeito do posicionamento do grupo, o responsável pela
compreensão leitora certamente relacionará a charge com o caso, ironizando
como a imposição de uma empresa acaba fissurando o que é estabelecido na
própria Constituição Federal, ou seja, o direito à liberdade de expressão. Já na
hipótese de que tal contexto discursivo não faça parte do espectro e horizonte de
expectativas do leitor, é bem provável que a estratégia de elencar perguntas na
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fase pré-textual poderá ajudar a criar caminhos secundários para uma leitura
possível da charge (mesmo que sem a profundidade e complexidade crítica do
caso anterior).
Ao seguir refletindo sobre eventuais estratégias de leitura para a
construção de significados de um texto, Solé (1998) se aprofunda e passa a
viabilizar seis premissas para a construção da compreensão leitora. Diante da
relevância de tal contribuição, concentremo-nos atentamente na leitura das
estratégias da linguista na próxima página:
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TEMA 3 – A LEITURA PROCESSUAL
4.1 Interação
4.2 Indeterminação
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Com base no cotejo das duas frases, o leitor mais atento poderá perceber
que ambas apresentam a mesma sintaxe e praticamente as mesmas unidades
lexicais, excetuando os verbetes coberto e descoberto. Se pensamos em uma
esfera semântica, ou seja, de sentido, é possível afirmar que a grande diferença
entre as duas frases se dá pela diferença dos dois léxicos; no entanto,
problematizando as unidades em um nível sintático, vislumbraríamos mais
semelhanças, já que a diferença se limitaria à questão morfológica, apenas por
conta do sufixo “des”. Ainda no que diz respeito aos índices verbais do texto-
charge, em um segundo ou terceiro nível de leitura, por conta do conceito da
interação, seria possível perceber que os sinais gráficos e as pontuações
(reticências versus pontos de exclamação) alterariam, de alguma maneira, o nível
semântico do enunciado.
Pois bem, interagindo com o texto não verbal – as representações das duas
mulheres – poderíamos identificar e, depois, problematizar, as diferentes
representações e aspirações voltadas à figura da mulher. Do lado esquerdo, uma
mulher facilmente enquadrada em padrões ocidentais, ainda que, para alguns
contextos, particularizada por uma experiência pragmática (quem sabe, uma
mulher desfrutando de suas férias na praia). Já do lado direito, o reconhecimento
de uma vestimenta tipicamente ligada ao universo que entendemos como não
ocidental, relacionará a mulher de vestes negras ao contexto oriental
(provavelmente, para muitos leitores, para uma particular expressão do mundo
muçulmano). Em um nível discursivo, caberá à interação estimular que o leitor
perceba o quanto o texto problematiza as diferenças culturais existentes entre o
Ocidente e Oriente. Sob o mesmo eixo – a cultura machista – o texto fortalece a
polissemia assegurada pela ambiguidade da ideia de liberdade, demonstrando,
de maneira mais ampla, como a nossa percepção de mundo acaba por impedir a
autocrítica e uma perspectiva em prol da diversidade e da interculturalidade.
Na mesma charge, o conceito de indeterminação será responsável por
exemplificar como a charge será lida, em um primeiro momento, segundo as
lentes de uma experiência cultural ocidental. Apenas após a verificação da
ambiguidade e da crítica quanto às diferenças culturais, será possível ser
colocado no lugar do outro. De maneira interessante, pode-se perceber como o
texto, via linguagem, se fragmenta e se indetermina de acordo com o repertório e
o horizonte de expectativas de cada interlocutor.
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TEMA 5 – A LEITURA: O TEXTO E A METÁFORA DO ANDAIME
Figura 3 – Andaime
Fonte: Bannafarsai_Stock/Shutterstock.
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FINALIZANDO
LEITURA COMPLEMENTAR
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Saiba mais
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REFERÊNCIAS
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed.
São Paulo: Ática, 2007.
KAYSER. Você sabe com quem está falando? A Postagem, 4 abr. 2018.
Disponível em: <https://www.apostagem.com.br/2018/04/04/charge-voce-
sabe-com-quem-esta-falando-por-kayser/>. Acesso em: 22 set. 2022.
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MACEDO, W. Elementos para uma estrutura da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Presença Edições, 1976.
MUITOS brasileiros não entendem tudo o que leem, diz estudo. G1, 19 fev. 2016.
Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/02/
muitos-brasileiros-nao-entendem-tudo-o-que-leem-diz-estudo.html>. Acesso
em: 22 set. 2022.
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