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COMPREENSÃO
E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Olá! Seja bem-vindo à sexta aula da nossa disciplina. Tal como havíamos
acordado em nosso último encontro, para finalizarmos esta disciplina, daremos
continuidade à discussão sobre produção textual, ponderando como esse eixo
norteador está intimamente atrelado aos conceitos previamente abordados de
texto, discurso e enunciado – além, é claro, de se desenvolver paralelamente à
compreensão textual. Estudiosos como Ana Rossana Cláudio Alexandre
endossam como a “qualidade do texto de muitos dos que escrevem depende
diretamente da sua compreensão leitora” (Alexandre, 2015, p. 17). E, para falar
sobre o binômio produzir-ler, nada mais natural do que frisar um aspecto mais do
que relevante para a nossa rotina como sujeitos do discurso: a escrita (ou, se
preferirem, o ato de escrever).
Antes de voltarmos a nossa atenção para o que diz respeito à ação de
escrever, vale lembrar que todo nosso raciocínio parte da perspectiva da
Linguística Textual, área que, como explicamos em nossa primeira aula, “pode ser
definida como o estudo das operações linguísticas, discursivas e cognitivas
reguladoras e controladoras da produção, construção e processamento de textos
escritos ou orais em contextos naturais de uso” (Marcuschi, 2008, p. 73). A
preocupação em fazer tal ressalva se justifica justamente para que, aqui, as ideias
de produção escrita ou de ato de escrever não sejam limitadas, como mera ação
mecânica, como justaposição sistemática de orações. É preciso, pois, pensar a
escrita como um processo capaz de promover a coesão, a coerência e a
progressão temática na elaboração de textos de distintas naturezas, valorizando-
a como um ato reflexivo e cognitivo, recortado pelas dimensões social e
contextual. Vale sempre aludir às palavras de Vygostky, apontando como na
linguagem escrita “somos obrigados a criar a situação, mais precisamente a
representá-la em pensamento. Em certo sentido, o uso da escrita pressupõe uma
relação com a situação que é totalmente diferente daquela que existe no oral”
(Vygostky, 1985, p. 162).
E, para pensar nas particularidades da escrita, é fundamental partir do
pressuposto de que refletir sobre o ato de escrita
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conhecimento dos contextos onde o texto se irá inserir, entre outros
aspetos, de modo que a comunicação escrita seja eficaz. (Alexandre,
2015, p. 22-23)
CONTEXTUALIZANDO
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hipóteses criativas quando perante distintas tarefas que exigem, por
exemplo, competências linguísticas. (Alexandre, 2015, p. 23)
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e quase penitência na escola. Ao entender a escrita não como processo, mas
como produto, passamos a amargar posições de protagonismo, mas apenas nos
rankings de dificuldade em interpretar uma informação e (re)significá-la
textualmente (independentemente de qual gênero estejamos falando). Essa ideia
pode ser visualizada em pesquisas, reportagens ou ainda em charges, como a
seguinte.
Figura 1 – Charge
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Vamos agora versar a respeito de outro texto, desta vez uma reportagem.
Publicada no blog Mundo Educação, a matéria assinada por Sabrina Vilarinho
apresenta já no título uma espécie de verdade compactuada por todos os que
acompanham os seus argumentos: A redação e o bloqueio na escrita. Dispostos
a ler as possíveis explicações, os leitores encontrarão a seguinte ideia:
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constituída por níveis, que vão das representações à codificação e ao ajustamento
entre o que está escrito e o que é ouvido.
É fundamental valorizar que, inevitavelmente, a cultura da escrita acabou
consagrando a produção de textos, não somente como uma maneira de
construção de significados, mas, sem dúvida alguma, de instituição de poder e
legitimação de determinados valores (a tríade escola-escrita-norma, comentada
em nossa aula 5).
Ao falar sobre a relação imediata entre escrita e norma, é necessário saber
dosar todos os argumentos, evitando que o registro escrito se transforme em vilão,
em algo repulsivo – o equívoco de que a oralidade pode se valer sozinha ou que
é mais natural. Ao contrário: falamos de naturezas discursivas diferentes. A
constatação de que a produção textual pode usar a norma como parâmetro de
coesão e coerência é mais um estímulo para que possamos estudar os critérios
da textualidade e fazer de cada um deles uma ferramenta estratégica de
expressão. Da mesma maneira, reportagens como as do jornal Gazeta do Povo
não podem criar, de maneira alguma, a ideia equivocada de culpabilização
imediata dos professores, como se eles fossem os únicos responsáveis pela falta
de relação dos alunos com a produção escrita. Ao contextualizar a formação dos
profissionais de Letras, Maria do Rosário Valencise Gregolin ajuda a tensionar
algumas das razões para que a produção escrita acabe jazendo em uma mesmice
ou ganhe contornos puramente estruturalizantes:
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TEMA 1 – AFINAL, ESCREVER SE APRENDE?
Como pode ser observado, mais do que dominar o código verbal e uma
determinada norma, para escrever, pressupõe-se que um determinado
enunciador (cada um de nós, na posição de escritores de textos) saiba lidar com
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diferentes aspectos semânticos e pragmáticos, utilizando ainda o planejamento e
a relação entre o que está sendo escrito com o seu contexto de enunciação.
Escrever bem prevê treino, observação, seleção e revisão. É fundamental, por
isso, estar aberto, em termos discursivos e textuais, para transformações ao longo
da produção escrita, avaliando o que pode ser mais efetivo em um dado texto.
Segundo Alexandre,
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1987, o nome de Daniel Cassany1 passa a despontar como uma nova referência
para pensar a escrita, resultado de suas contribuições iniciais na defesa de um
trabalho em uma universidade catalã. De lá para cá, o teórico colecionou
diferentes reflexões sobre o tema, expandindo seus argumentos iniciais e
promovendo um novo alinhamento para a produção textual.
Daniel Cassany propõe uma ruptura na perspectiva da escrita como
produto – o mero ato ou ação mecânica – justamente por demonstrar que, ao
escrever, acabamos friccionando outros conhecimentos que transcendem a ideia
de domínio de código linguístico, uma vez que estão em xeque questões
extratextuais ou contextuais. Outrossim, ao vislumbrar a escrita como processo,
demarca-se o quanto um enunciador, para produzir qualquer texto, acaba
operando diversas seleções e construções de significados. Para ilustrar o olhar
do linguista, é relevante a leitura do excerto a seguir:
1 Para efeito de construção desta unidade didática, diferentes textos de Daniel Cassany foram
(re)lidos e organizados. Pontualmente, serão observadas citações da obra Describir el escribir,
uma edição em língua espanhola, publicada pela editora Paidós, no ano de 1995. Mais
informações, consultar as referências.
2 Citação original: “Creo que también se puede establecer esta distinción entre los procesos
No nosso âmbito, tal distinção tem uma correlação muito precisa, que foi
apresentada por Krashen (1984). Segundo ele, a competência é o código
escrito, o conjunto de conhecimentos de gramática e de língua que os
autores têm na memória; e o desempenho é a composição do texto, é o
conjunto de estratégias comunicativas que são utilizadas pelos autores
para produzir um escrito. A competência é o saber e o desempenho é o
saber fazer4. (Cassany, 1995)
3.1 Planificação
4 “En nuestro ámbito, dicha distinción tiene una correlación muy precisa, que ha sido planteada
por Krashen (1984). Según él, la competencia es el código escrito, es el conjunto de conocimientos
de gramática y de lengua que tienen los autores en la memoria; y la actuación es la composición
del texto, es el conjunto de estrategias comunicativas que son utilizadas por los autores para
producir un escrito. La competencia es el saber y la actuación es el saber hacer” (Cassany, 1995).
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materiais discursivos. O nome atribuído à fase é, além de transparente, bastante
pragmático: trata-se do momento de se planejar o que será escrito.
Nesta etapa reflexiva, anterior ao processo propriamente dito do escrever,
realizamos o que muitos linguistas chamam de rascunho mental. Caberá à fase
de planificação organizar, selecionar, reagrupar e escolher o que será dito ou
utilizado em nosso texto. Uma prática possível e bastante ilustrativa para tal fase
seria o que, na comunicação, alguns teóricos chamam de brainstorm ou nuvem
de ideias. Na área de Letras, uma prática semelhante é chamada de nuvem
semântica, ou seja, quando construímos – individualmente ou de maneira coletiva
– uma espécie de guarda-chuva que agrupa palavras que podem se referir a um
tema ou eixo principal, por exemplo. É comum esse tipo de atividade para as aulas
de língua estrangeira (no caso de expandir o conhecimento vocabular), ou mesmo
para as discussões pré-leitura nas disciplinas de Língua Portuguesa ou de
Literatura.
Sabe-se que, a partir da nuvem semântica, conseguimos apontar diferentes
frentes e argumentos semelhantes para estruturar um determinado raciocínio,
valorizando, paralelamente, saídas discursivas que transcendem a lógica
estrutural ou superficial. É certo que, para planejar um texto, devemos ir além de
uma nuvem de ideais, acionando outras posturas de discurso e selecionando
argumentos mais vigorosos. Segundo Ana Rossana Cláudio Alexandre (2015, p.
28), a planificação
planificar pode ser visto como uma competência cognitiva de alto nível
ou uma atividade mental movida pela memória (Akyurek, 1992), mas não
consiste unicamente na seleção de planos ou da informação contida na
memória a longo prazo. Pelo contrário, esta atividade pode ser definida
por conter procedimentos estratégicos movidos por objetivos que iniciam
a produção de um texto.
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3.2 Textualização
3.3 Revisão
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TEMA 4 – AS COMPETÊNCIAS DA ESCRITA
Como vimos até aqui, a produção textual não deve ser entendida como um
processo monológico ou único, mas fundamentalmente como uma dinâmica de
constantes trocas, uma perspectiva que é também coletiva (Marcuschi, 2008).
Além de ser constituída em fases (planificação, textualização e revisão), é
possível dizer que a escrita é constituída por diferentes competências. A primeira
delas é, sem dúvida, a competência linguística, atrelada ao domínio do código
linguístico por parte de um enunciador. Aqui, não está em jogo apenas o
conhecimento e o bom uso da norma (a língua como sistema), mas também
questões de ordem semântica (o sentido do texto a partir do estabelecimento de
enunciados coerentes, por exemplo).
No jogo da escrita, outras três competências podem ser enumeradas como
grandes forças: competência pragmática, competência textual e a própria
competência leitora. No primeiro caso, da competência pragmática, espera-se
que o responsável pela criação de um dado texto tenha consciência do registro e
do contexto com o qual o texto irá dialogar. Ainda que bem redigido sob o ponto
de vista gramatical, um texto pode se configurar como não adequado se for
diametralmente distinto da expectativa e do conhecimento dos seus leitores. Não
se escreve, por isso, uma tese de doutorado da mesma maneira que uma receita
para a nossa vizinha; tampouco é possível utilizar artifícios da oralidade em um
resumo científico.
Já a competência textual implica que um enunciador perceba as matizes
e características do gênero textual com o qual está trabalhando e que está
responsável por produzir. Ao escrever um e-mail para o nosso chefe ou uma carta
para um representante oficial, partimos de elementos-chave, que configuram o
gênero textual e o fazem imediatamente reconhecível por parte do destinatário.
Cabe à competência textual balizar a mensagem de acordo a natureza do texto e,
ao mesmo tempo, utilizar elementos particulares para desenvolver um dado
objetivo discursivo.
Por último, encontramos a competência leitora. Como é possível inferir,
em seu espectro, está a capacidade de um enunciador ler o texto antes, durante
e depois de sua produção. A estreita relação entre compreensão leitora e
produção textual se fundamenta, em grande parte, exatamente por tal
competência. É válido aclarar que dificilmente uma competência se constitui de
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maneira isolada, potencializando um tensionamento e uma (inter)relação entre as
competências linguística, pragmática, textual e leitora.
Figura 2 – Texto 1
Ao partir do Texto 1, você deverá criar o seu texto (Texto 2), uma carta de
opinião que deverá apresentar sua aprovação ou desaprovação em relação
à charge criada por Gilmar. Leve em consideração o gênero textual estipulado
para essa produção e também tenha em mente que o seu texto deverá conter, no
máximo, 20 linhas, uma vez que a edição do jornal que receberá o seu texto tem
uma limitação de caracteres. Para tanto, você deverá passar, declaradamente,
pelas três fases da produção escrita: a planificação, a textualização e a revisão.
Use, a seguir, as próximas páginas para desenvolver o seu texto.
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Planificação:
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Textualização:
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Revisão:
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FINALIZANDO
LEITURA COMPLEMENTAR
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed.
São Paulo: Ática, 2007.
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MACEDO, W. Elementos para uma estrutura da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Presença Edições, 1976.
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