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CENTRO DE ADESTRAMENTO ALMIRANTE MARQUES DE LEÃO

FASE A DISTÂNCIA DOS CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO DE


OPERADOR RADAR E OPERADOR SONAR
DISCIPLINA: TRAUMA
UE2 – HEMORRAGIA
Aula 2

UE2 – HEMORRAGIA - Aula 2

Olá, aluno (a)!

Chegamos na Unidade de Ensino 2 – Aula 2, essa aula trata em sua generalidade


do mais comum emprego das técnicas de primeiros socorros relativos ao controle de
Hemorragias, importante tema no atendimento pré-hospitalar. Nos textos a seguir você
aprenderá muita coisa interessante sobre esse tema. Vamos lá?

Objetivo da Aprendizagem:

– Conceituar Hemorragia;
– Classificar Hemorragia; e
– Citar as condutas, frente a Hemorragia.

2.1 – CONCEITO
É o extravasamento de sangue (plasma e elementos figurados) dos vasos
sanguíneos ou das cavidades cardíaca para o meio extravascular, podendo acarretar
repercussões clínicas ou laboratoriais.

2.2 – CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS

2.2.1 Quanto à localização:


a) Hemorragia externa: extravasamento sanguíneo para o “exterior a meio
extracorpóreo”; é facilmente visualizada. Pode ser oriunda de estruturas superficiais, ou
mesmo de áreas mais profundas através de aberturas ou orifícios artificiais (comuns nos
traumas). Normalmente pode ser controlada utilizando-se técnicas de primeiros socorros
(figura1).

Figura 1 – Hemorragia externa em punho do membro superior.


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a) Hemorragia interna: ocorre quando há lesão de um órgão interno e o sangue se


acumula em uma cavidade interna do organismo, como: peritônio (cavidade abdominal),
pleura (reveste o pulmão), pericárdio (reveste o coração), meninges (reveste o cérebro) ou
se difunde nos interstícios dos tecidos. Pode ser oculta (figura 2A) ou exteriorizada (figura
2B), mas geralmente não é visível. A hemorragia interna é mais grave devido ao fato de
não podermos visualizá-la, o que faz com que não saibamos a extensão das lesões. O
tratamento necessariamente deve ser realizado em ambiente hospitalar, cabendo ao
socorrista apenas algumas manobras que visam evitar que o estado de choque se instale.
Existem alguns tipos de hemorragias internas exteriorizadas, abaixo encontra-se
algumas:
Epistaxe: hemorragia nasal, considerada a mais comum entre adultos e crianças,
geralmente de pouca gravidade (figura 2 B).
Hematêmese: hemorragia de origem gástrica, apresentando náuseas, vômito de sangue
na cor vermelho vivo ou escuro.
Melena: hemorragia do trato intestinal, podendo ainda ocorrer evacuações escuras e
fétidas.
Hemoptise: hemorragia dos pulmões, caracterizada por apresentar sangue vermelho vivo
com aspecto espumoso, que geralmente sai pela boca e nariz acompanhado de tosse.
Metrorragia: hemorragia pela vagina, caracterizada pela perda anormal de sangue pela
vagina, desconsiderando os períodos menstruais, devido a situações diversas, como
aborto, gravidez nas trompas (ectópica), violência sexual, acidentes, tumores, retenção de
membranas placentárias no parto, ruptura uterina no parto, traumatismo vaginal no parto.
Hematúria: presença de sangue na urina.

Figura 2 – Hemorragias internas – Em A é observado hemorragia interna oculta; e em B


observamos epistaxe, hemorragia interna exteriorizada.

2.2.2 Quanto ao tipo de vaso lesado (figura 3):


Hemorragia arterial: o sangramento acontece em jatos intermitentes (pulsátil), no mesmo
ritmo das contrações cardíacas. Sua coloração é vermelho claro. A pressão arterial torna
este tipo de hemorragia mais grave que um sangramento venoso devido à velocidade da
perda sanguínea.
Hemorragia venosa: o sangramento contínuo de coloração vermelho-escuro, pobre em
oxigênio e rico em gás carbônico. - Hemorragia capilar: sangramento contínuo com fluxo
lento e em pequena quantidade, como visto em arranhões e cortes superficiais da pele.

Observação: considerando que as artérias estão localizadas mais


profundamente na estrutura do corpo, as hemorragias venosa e capilar são mais
comuns do que a do tipo arterial

Figura 3 – Classificação das hemorragias quanto ao tipo de vaso lesado.


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Os sinais e sintomas da hemorragia, apresentados por uma vítima, variam com a


sua classificação, quantidade perdida de sangue, velocidade do sangramento, estado
prévio de saúde e idade da vítima. As principais manifestações clínicas relacionadas com a
quantidade perdida de sangue foram esquematizadas na figura abaixo (figura 4).

Figura 4 – Sinais e sintomas da hemorragia relacionados com o quantitativo de perda


volêmica.

2.3 CONDUTA

O tratamento de uma hemorragia consiste na realização da hemostasia


(processo de interrupção de um sangramento).

Mecanismos naturais de hemostasia

oContração da parede dos vasos sanguíneos: os vasos podem contrair a camada


muscular de sua parede, diminuindo assim o tamanho da artéria por onde o sangue está
escapando.

oCoagulação do sangue: inicia-se pela aderência das plaquetas, corpúsculos que fazem
parte da porção sólida do sangue, sobre a lesão da parede do vaso. Em seguida, ocorre
uma série de reações químicas, que formam o trombo (coágulo), bloqueando o escape de
sangue.

Condutas na hemorragia interna


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Como descrito anteriormente, pouco pode ser feito pelo socorrista no caso de
haver uma hemorragia interna. O transporte rápido para uma unidade médica é
fundamental, cabendo ao socorrista à realização de manobras que venham prevenir
ou retardar a instalação do estado de choque, assunto abordado em um capítulo
próprio. Ressaltando que essa urgência não exclui a necessidade de um
atendimento pré-hospitalar; isso significa que ele deve ser feito de maneira rápida,
eficiente e a caminho do hospital.

Condutas na hemorragia externa

As medidas abordadas nesta hemostasia são de tal relevância que


novas diretrizes no atendimento pré-hospitalar estabelecem como a primeira
prioridade no atendimento inicial ao politraumatizado o controle de grandes
hemorragias externas (exsanguinante). O reconhecimento precoce e o controle
dessas hemorragias ajudam a preservar o volume sanguíneo da vítima, garantem
boa perfusão e não compromete a eficácia da reanimação cardiopulmonar, caso se
aplique. Dessa forma, as medidas de controle das hemorragias externas são os
principais alvos do socorrista visto que sua abordagem é simples, não invasiva e
facilmente aplicada, mesmo para leigo, com importante impacto na sobrevida da
vítima quando realizado de forma correta. São estabelecidos cinco principais
métodos de contenção das hemorragias externas onde sua eficácia estará
relacionada ao tipo de lesão a ser aplicada e sua localização anatômica, devendo o
socorrista ficar atento para sua correta aplicabilidade.

oPressão direta ou local: como o próprio nome sugere, consiste na aplicação de pressão
(compressão) no local da hemorragia (figura 5A). Consegue-se isso aplicando um curativo
(gazes estéreis ou panos limpos) ou compressas cirúrgicas diretamente sobre o ferimento
e realizando pressão manual no local (figura 5B). A aplicação e a manutenção da pressão
direta exigem atenção total do socorrista, ficando indisponível para participar de outros
aspectos do atendimento do doente. No entanto, se a ajuda for limitada, é possível
improvisar um curativo compressivo, usando para isto, compressa de gazes e bandagem
(figura 5C). Caso a compressa fique encharcada de sangue, não retirá-la e colocar uma
nova por cima. Esta compressão não deve ser interrompida até a coagulação, o que pode
ocorrer de 6 a 8 minutos nas hemorragias mais intensas. Caso seja interrompida
precocemente, poderá ocorrer a remoção do coágulo semiformado iniciando novamente a
hemorragia.

Figura 5 – Formas de hemostasia. É observado hemostasia por pressão direta ou local (A),
com uso de gaze (B), bandagem (C) e torniquete comercial pré-fabricado (D).
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Observações: ao realizar uma pressão direta ou local, sempre fazer o uso de luvas
de procedimentos, evitando assim o contato direto com o sangue da vítima. Atente também
para o pulso distal para que a compressão não venha comprometer a circulação dos
tecidos vizinhos ou provocar isquemia. Caso isto ocorra, a compressão exercida deverá
ser diminuída.

oTorniquetes: consiste num dispositivo de constricção ou compressão usada para


controlar o fluxo sanguíneo arterial ou venoso para uma porção de uma extremidade por
período de tempo. Eles têm sido frequentemente descritos no passado como a técnica de
último recurso, contudo, experiências militares no Afeganistão e no Iraque, além do uso
rotineiro e seguro de torniquetes por cirurgiões, levou à reconsideração dessa abordagem.
Os torniquetes são muito eficazes no controle de hemorragias graves (arterial),
exsanguinantes ou em casos de risco de vida e devem ser usado como tratamento de
primeira linha para estes tipos de sangramento; já nos casos de hemorragias menos
graves como capilares, outros métodos podem ser utilizado como primeira linha,
restringindo o uso do torniquete para o caso de falha na hemostasia eleita. Atualmente há
uma grande variedade comercial (pré-fabricado) de torniquetes (figura 5D), contudo suas
disponibilidades e usos no Brasil ainda são limitados, fazendo com que seu uso seja feito
de maneira improvisada (figura 6), conforme descrito no quadro abaixo (quadro 1). Os
torniquetes são usados com segurança durante um período de 120 até 150 minutos no
ferimento sem um dano significativo a um nervo ou a um músculo. Em geral, após sua
aplicação em ambiente pré-hospitalar deve permanecer no local até que a vítima receba
um tratamento definitivo no hospital adequado mais próximo. No passado era
frequentemente recomendado que um torniquete ficasse frouxo a cada 10 a 15 minutos
para permitir que um pouco de sangue retornasse para a extremidade lesada, contudo
essa prática foi abolida, pois foi verificado aumento na perda de sangue por contiguidade e
eventos trombóticos.

Quadro 1 – Confecção de torniquete improvisado utilizando material de infortuno.


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oElevação de membros: como o próprio nome sugere, consiste na suspensão do


membro com ferimento para que a ação da força da gravidade haja sobre a hemorragia,
reduzindo o sangramento (figura 7). Essa técnica é frequentemente usada combinada com
a pressão direta em hemorragias em membros, desde que não haja suspeita de fraturas. O
ferimento deve ficar acima do nível do coração para que os efeitos desejados sejam
alcançados.
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Observação: conforme referências atualizadas sobre o tema, o uso da elevação de


membro e pressão indireta não são recomendados devido a dados insuficientes que
sustentam sua efetividade.

oPressão indireta ou à distância: esta técnica consiste em comprimir um vaso


(geralmente artéria) que irriga uma determinada área em hemorragia (figura 8). Para tanto,
há necessidade de conhecimento anatômico, ou seja, saber por onde passa o vaso a ser
comprimido. O corpo humano possui vários pontos para compressão de vasos que podem
ser usados para controlar o sangramento; observar esses pontos no capítulo
correspondente.

RESUMO DA AULA

Na aula de hoje tratamos sobre hemorragia, conhecemos os diversos tipos de he-


morragias, bem como as formas de lidarmos em um trauma que evidenciamos a presença
de extravasamento sanguíneo. Esperamos que o conteúdo tenha possibilitado uma com-
preensão grande para enriquecimento de seu conhecimento. Até mais!

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