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DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL E

Júlia Beatriz Lopes Silva


Psicóloga
Mestre e Doutora em Saúde da

DA LINGUAGEM Criança e do Adolescente – Faculdade


de Medicina UFMG
Professora Adjunta Psicologia UFMG
REVISÃO DESENVOLVIMENTO
CONCEITUAL
ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR
• Se não consegue encontrar, age como se não
4-8 meses existisse

• Procurará objeto no lugar onde o encontrou pela


8-12 meses primeira vez

• Procurará objeto no último lugar em que o viu


12-18 mese escondido
6-8 meses: se deixar um pedaço do objeto aparecendo, bebê irá buscar
8-12 meses: já buscam objetos completamente encobertos

Noção de permanência do objeto importante para o desenvolvimento do apego


(Flavell, 1985)
ESTÁGIO SENSÓRIO MOTOR DE PIAGET
Aprendem a noção de permanência do objeto

Erro A-não-B
10 meses cometem erro
12 meses não cometem
DIFERENÇAS CULTURAIS PERMANÊNCIA DO
OBJETO
Bebês zambianos são carregados até aproximadamente 6
meses

9-12 meses, desempenho inferior aos americanos, mas


dificuldade de testagem,

Mas até 18 meses, trajetórias semelhantes


DESENVOLVIMENTO SIMBÓLICO
19 meses: apontam pra uma foto de urso e nomeiam (Pierroutsakos & Deloache,
2003)

2 anos: entendem que uma imagem é um objeto e um símbolo (Preissler & Bloom,
2007)

HIPÓTESE DA DUPLA REPRESENTAÇÃO: crianças com menos de 3 anos têm


dificuldade para entender relações espaciais devido à necessidade de manter mais
de uma representação mental ao mesmo tempo
PERÍODO PRÉ-CONCEITUAL (2 A 4 ANOS)
Surgimento da função simbólica

Curiosidade de colocar a mão em tudo

Conseguem usar palavras para representar experiências, capazes de reconstruir o


passado

Uma criança de 3 anos e um adulto de 21 são mais semelhantes intelectualmente do


que uma criança de 3 anos e um bebê de 12 meses (manipulação de símbolos mentais)
COGNIÇÃO NUMÉRICA
ESTÁGIO OPERACIONAL CONCRETO (7-11 anos)
Contagem

Cálculo mental

Problemas aritméticos
COGNIÇÃO NUMÉRICA
ESTÁGIOS DA AQUISIÇÃO DE NUMÉRO:
1º não conseguem estabelecer correspondência um pra um entre dois conjuntos de 2 itens
2º correspondência intuitiva um-pra-um, mas julgamento de equivalência não permanece
(linha que contem a mesma quantidade que linha acima é entendida, elementos são
posicionados de forma mais separada, crianças tendem a dizer que a linha mais longa
contem mais elementos)
3º (estágio das operações concretas): número de elementos não muda quando uma fileira é
alongada
PRÍNCIPIOS DE CONTAGEM (GELMAN & GALLISTEL)
a) um-a-um: cada item num conjunto é associado a um nome numérico, como “dois”
b) estabilidade da ordem: nomes numéricos devem estar numa ordem estável,
repetível
c) cardinalidade: o último número de uma série representa a quantidade do conjunto
d) abstração: os primeiros 3 princípios podem ser aplicados para qualquer tipo de
conjunto de elementos físico ou não-físico (ideias)
e) irrelevância da ordem: a ordem que as coisas são contadas é irrelevante

*3 PRIMEIROS OBSERVADOS EM CRIANÇAS DE 2 ANOS E MEIO


Habilidades de contagem
na pré-escola predizem
desempenho na aritmética
formal no ensino
fundamental
LINGUAGEM EM BEBÊS
DESENVOLVIMENTO COMUNICACIONAL
0 – 6 meses 7 - 12 meses
13 – 18 months
• Diz “não” com significado
Responde à expressões • Mostra compreensão em • Combina voz e gesto.
faciais relação à gestos e • Uso espontâneo de
Choro varia em relação à palavras aproximadamente 10-15
diração. • Balbucia em resposta à palavras
boz humana • Usa o próprio nome como
Responde à sons da fala
por vocalização • Diz “mama” e “papa” referência a si mesmo
com significado • Imita frases curtas
Vocaliza para expressar • Começa a produzir frases
raiva e alegria. • Começa a cantar
de uma palavra
Responde ao ouvir seu
nome
Arrulhos entre 1-4 meses
e balbucios a partir dos
6
DESENVOLVIMENTO COMUNICACIONAL

19 – 24 meses 25 - 30 meses 31 – 36 meses


• Usa plural • Frases de cinco palavras
• Frases de duas palavras. • Refere a si próprio com uso • Faz bastante perguntas “o
• Usa substantivos e verbos de pronome que, quando, onde, etc.
• Sente-se frustrado quando • Vocabulário expressivo com
• 65% da fala é inteligível não é compreendido mais de 800 palavras
• Aos 2 anos, tem um • Sabe dizer o nome completo
vocabulário expressivo de
200-330 palavras
• Responde perguntas
DESENVOLVIMENTO COMUNICACIONAL
Depois dos 5 anos
4 anos 5 anos • Crescimento rápido do
vocabulário (influência da
• Vocabulário expressivo com escolarização)
Vocabulário expressivo com mais de 2000 palavras
mais de 1500 palavras • Vocabulário receptivo cresce mais
• Entende conceitos abstratos,
rapidamente que o expressivo
Pergunta MUITO como “antes” e “depois”
• Adquiriu 90% do seu •ex: uma criança de 6 anos usa + -
Usa frases mais complexas. conhecimento gramatical 2600 palavras e entende 20000
Conta histórias de passsado •aos 12 anos, espera-se que a
recente crianla compreendar
Usa palavras para expressar aproximadamente 50000 palavras
sentimentos •VOCÊ tem um vocabulário
Usa preposições: “em cima” receptivo de 80000 palavras.
SUPEREXTENSÃO
Uso de uma única palavra para uma categoria inteira de objetos

Desejo de comunicação e falta de vocabulário

Dificuldade em realizar discriminações específicas


“todo indivíduo normal adquire a linguagem de uma maneira semelhante”
Especialização hemisférica para os sons
Melhor discriminação de sons quando são apresentados na orelha direita
ESPECIALIZAÇÃO DO HEMISFÉRIO DIREITO PARA PROSÓDIA EM BEBÊS DE 3 MESES
PERCEPÇÃO DE FONEMAS
existem aproximadamente 200 fonemas ao redor do mundo

/r/ e /l/
4 meses: discriminam
6 meses: preferência
12 meses: não diferenciam mais
TEORIAS AMBIENTAIS
CRÍTICA TEORIAS DE APRENDIZAGEM: Importância teórica inicial da aprendizagem
por imitação – mas não explica neologismos e “eu foi”
Pais não ficam fazendo condicionamento operante – reforços baseados na
veracidade do conteúdo, e não, na forma da frase

MANHÊS – FALA DIRIGIDA AO BEBÊ


Tom de voz mais agudo e ritmo mais lento
Frases curtas, vocabulário concreto
Repetições
Remodelação – repetição da frase do bebê com correções
TEORIAS NATIVISTAS

CHOMSKY – gramática
universal

SLOBIN – capacidade inata


da linguagem (atenção a início
e fim de cadeias de sons)
TEORIAS CONSTRUTIVISTAS
“Desenvolvimento cognitivo e da linguagem como processos interdependentes”

SOLUÇÃO DE COMPROMISSO: algumas tendências inatas para dirigir a atenção,


mas modifica estratégias e esquemas quando recebe informações novas.
DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO Idade pré-escolar
VOCABULÁRIO
Com o auxílio de ensino formal, o vocabulário passivo ou receptivo de uma criança
(palavras que consegue compreender) aumentará em quatro vezes, atingindo cerca
de 80 mil palavras na época de ingresso no ensino médio (Owens, 1996).

Mapeamento baseado no contexto


28 meses 35 meses 38 meses

• Alguém lápis • Dexa eu fazê • Eu gosto de


• Chão de novo carro de
• Onde totó • Por que corrida
foi? bolacha não • A mamãe
• Fiz feo fala? não me
• Aqueles são deixou
meu comprar
• Vou derrubar • Por que não
pato dentro está
do caminhão funcionando?
• Quebrei meu
carro

Adaptado de McNeil, 1970


DESENVOLVIMENTO GRAMATICAL
MORFEMAS
Utilização de morfemas por volta de 3 anos de
idade

Ordem de aprendizagem dos morfemas depende


da complexidade semântica
(por ex: presente contínuo aparece antes do
passado, em inglês)
DESENVOLVIMENTO GRAMATICAL
SUPER-REGULARIZAÇÃO
Eu comi dois pãos

Tende a desaparecer sozinha


DESENVOLVIMENTO SEMÂNTICO
Entre 2 e 5 anos começam a entender e a expressar contrastes relacionais
(pequeno/grande, muito/pouco)
DESENVOLVIMENTO SEMÂNTICO
1. A menina bateu no menino
2. O menino apanhou da menina

Crianças com menos de 4 ou 5 anos entendem erroneamente frases passivas


Geralmente adultos usam forma ativa ao falar com elas
DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES COMUNICATIVAS E PRAGMÁTICAS

Crianças de 3 a 5 anos já estão aprendendo a adaptar as mensagens de acordo


com o interlocutor
DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES COMUNICATIVAS E PRAGMÁTICAS

Já gesticulam

Ainda apresentam dificuldade em manter uma conversa sem mudar de assunto


FALA PRIVADA
Fala privada é responsável por 20 a 50% do que as crianças falam
*Piaget: egocêntrica; sinal que função simbólica ainda não está completamente desenvolvida
*Vygotsky: transição para a internalização do controle do comportamento de origem social

Importante para a auto-regulação

NÍVEIS:
1. fala puramente auto-expressiva
2. declarações vocais relativas à tarefa
3. sinais externos da fala interna dirigida à tarefa
Regiões temporoparietais do
hemisfério esquerdo produzem
padrões diferentes de ativação em
relação à substantivos e verbos
comparados à preposições e
conjunções

*a partir de 3 anos de idade


ATRASO NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
3% de pré-escolares apresentam
atraso, mesmo com inteligência normal

Meninos tem maior propensão que


meninas
ATRASO NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Otite média

Problemas de mapeamento: podem precisar ouvir


uma nova palavra com mais frequência antes de
conseguir incorporá-la ao vocabulário

Hereditariedade – 80% em gêmeos monozigóticos


LEITURA DIALÓGICA
Perguntas com pronomes interrogativos

Repetir e expandir o que a criança diz

Fazer elogios e encorajar

Relacionar a história com a experiência


ESTILOS DE LEITURA PARA CRIANÇAS

descrição compreensão orientado ao


desempenho
PREPARAÇÃO PARA A ALFABETIZAÇÃO
As crianças para as quais se lê em tenra idade aprendem que a leitura e a escrita
vão da esquerda para a direita e de cima para baixo, e que as palavras são
separadas por espaços (Siegler, 1998)

Aprender letras e fonemas


LINGUAGEM E LEITURA Idade escolar
ETAPAS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA

1. Fase pré-alfabética
Crianças parecem não prestar atenção às letras das grafias

Linnea Ehri
2. Fase alfabética parcial
Compreensão que letras representam sons
MAS....
Relação letra-som apenas em algumas letras

*NATUREZA VISUOFONOLÓGICA

BALA x BOLA

Dificuldade com palavras novas


ABREU & CARDOSO-MARTINS (1998)
CRVA

XqKo

Crianças de 4 e 5 anos:
Quem conhece os nomes das letras, apresenta facilidade em
aprender grafias fonéticas
2. Fase alfabética completa
Leitura através da relação letra-som

Representações da grafia das palavras da memória

Capacidade de ler palavras desconhecidas

✓ BALA x BOLA
2. Fase alfabética consolidada
Aumento do vocabulário visual

Letra -> sílabas


ETAPAS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA

1. Fase logográfica:
5-6 anos

sistem visual reconhece as palavras da mesma forma


que outros objetos: exploração de cor, forma, etc

*pseudoleitura
2. Fase fonológica:
6-7 anos

associa cada cadeia de letras a sua pronúncia

*não é automático
3. Fase ortográfica:
aumento do reconhecimento de palavras

*o tempo que criança demora a ler uma palavras


não está associado com o número de letras
Condições de aprendizagem

Morais, Leite & Kolinsky (2013)


1ª CONDIÇÃO: DESCOBRIR O PRINCÍPIO ALFABÉTICO

❖Alfabeto representa fonemas

❖Correspondência grafema-fonema

❖Análise introspectiva da fala combinada à identificação de letras

❖Importância do ensino formal


2ª CONDIÇÃO: ADQUIRIR PROGRESSIVAMENTE O CONHECIMENTO DO CÓDIGO
ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA E O DOMÍNIO DO PROCEDIMENTO DE DECODIFICAÇÃO

❖Conhecimento do conjunto de regras de correspondência grafofonológica historicamente


constituído para a língua em questão

❖Decodificação baseia-se no código ortográfico e é intencional, controlada e progride ao


longo das palavras

• Decodificação permite a leitura de quase


1º ano todas as palavras

• Decodificação suficientemente efetiva para


2º ano permitir a leitura com fluência e compreensão
3ª CONDIÇÃO: CONSTITUIR O LÉXICO MENTAL ORTOGRÁFICO

❖Léxico mental ortográfico é o conjunto das representações mentais estruturadas da


ortografia das palavras que conhecemos da língua e armazenamos. MLP

❖3º ano: leitura predominantemente lexical


QUESTÕES
AULA ANTERIOR:
1. Cite as duas possíveis explicações para o viés de atratividade observado em
bebês?
2. Como é o padrão de percepção de faces do recém-nascido?

AULA DE HOJE:
1. De acordo com Piaget, quando as crianças desenvolvem o conceito de número?
Quais operações mentais estão relacionadas à essa aquisição?
2. Apresente argumentos das teorias de aprendizagem e inatista em relação a
aquisição da linguagem oral

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