Você está na página 1de 51

A gatinha e o corujão

&
O pato e
o canguru

Versinhos absurdos
de
Edward Lear
Ilustrações de

William Foster
(1853-1924)

e
L. Leslie Brooke
(1862-1940)

Edição Bilíngue
EDIÇÃO, PREFÁCIO DO EDITOR,
NOTAS E SELEÇÃO DAS
ILUSTRAÇÕES © 2021
Texto de
Edward Lear
(1812-1888)

Capa da edição original com ilustrações de William Foster


A gatinha
e
o corujão
O pato
e
o canguru

Versão em português:
Henrique Guerra
© 2021
Sumário
SÉRIE GATOS NA LITERATURA
O nonsense de Edward Lear
PREFÁCIO DOS EDITORES DA OBRA ORIGINAL
PREFÁCIO DO EDITOR DO E-BOOK
A gatinha e o corujão
O pato e o canguru
Edward Lear é o primeiro na minha lista de 100 melhores autores
THE OWL AND THE PUSSY-CAT.
THE DUCK AND THE KANGAROO.
SÉRIE GATOS NA LITERATURA

Os gatos incríveis de autores (quase) tão gatófilos quanto


você.

Lançamentos:
Tobermory – Saki
A gatinha e o corujão – Edward Lear
A história de um gato – Émile de La Bédollière
O nonsense de Edward Lear
Nome do autor: Edward Lear (1812-1888)

Poema 1: The Owl and the Pussycat


Ano da publicação original: 1871 – Nonsense Songs,
Stories, Botany, and Alphabets, com ilustrações do autor.
Republicado como Lear’s Nonsense Drolleries (1889), com
ilustrações de William Foster, e como The Jumblies and
Other Nonsense Verses, com ilustrações de Leslie Brooke.
País da publicação original: Inglaterra

Sinopse: Este famoso poema resume a arte


nonsense de Edward Lear, considerado pelo crítico
John Ruskin como um dos mais importantes escritores
da literatura mundial. Com vigor e musicalidade Lear
cria um romance inusitado repleto de detalhes
curiosos, personagens desconcertantes e, claro,
situações absurdas, temperadas com humor. de
quebra, o poema transmite uma mensagem profunda de
conexão e amor verdadeiros, sem quaisquer
preconceitos.
Poema 2: The Duck and The kangaroo
Ano da publicação original: 1871 – Nonsense Songs,

Stories, Botany, and Alphabets, com ilustrações do autor.

Republicado como Lear’s Nonsense Drolleries (1889), com


ilustrações de William Foster, e como The Jumblies and

Other Nonsense Verses, com ilustrações de Leslie Brooke.


País da publicação original: Inglaterra

Sinopse: História de uma amizade surpreendente que


enfatiza como é importante sermos sinceros e termos a

capacidade de ceder para o bom convívio. Nos dias de hoje


pode ser ressignificada como símbolo de tolerância e

cooperação.
PREFÁCIO DOS EDITORES DA OBRA ORIGINAL

O desejo quase generalizado de ver A coruja e o gatinho e O pato e o


canguru em outro formato que não aquele da edição original dos Versinhos

Absurdos do Sr. Lear, nos motivou a publicá-los separadamente com


Ilustrações Originais.

1889
PREFÁCIO DO EDITOR DO E-BOOK

O desejo quase generalizado de ver em português A gatinha e o

corujão e O pato e o canguru, esses Versinhos adoravelmente Absurdos do


Sr. Lear, com as Ilustrações absurdamente Adoráveis de William Foster e L.
Leslie Brooke, nos motivou a traduzi-los para esta edição especial, com o
bônus absurdo do texto e ilustrações originais de Edward Lear.

2021
A gatinha e o corujão

[1]
I

A gatinha e o corujão em alto-mar


Num brinco de bote verde-ervilha!
Um pouco de mel, e que maravilha:
Uma boa grana se precisar.
Ao brilho estelar o corujão dedilhou
O violãozinho e soltou o canto:
– Ó gatinha, você é uma graça!
Uma gata de muito encanto,
Uma graça,
Uma graça,
Uma graça que ninguém ultrapassa!
II

A gata disse ao corujão: – Elegante ave!


E como canta suave!
Ah, vamos nos casar! Sem mais tardança
Só nos falta a aliança.
E por um ano e um dia de bonança
Velejaram ao país onde cresce o pé
De Bong, e lá estava um porco em pé
E adivinha o que ele tinha no focinho?
Uma aliança,
Uma aliança,
Ele tinha uma aliança no focinho.
III

– Porquinho, por um níquel está a fim


De vender seu anelzinho? – E o Porco disse: – Sim!
Então levaram e se casaram no outro dia
Lá no Peru, que vivia
Na colina. E o menu?
Guisado com marmelo! Com que talher?
Com a roncival colher
E de mãos dadas no litoral
Ao luar dançaram o luau
Ao luar
Ao luar
Ao luar dançaram o luau.
O pato e o canguru
I

O Pato disse ao Canguru:


– Puxa, você pula pra chuchu!
Nos campos e nas aguadas
Sem sequer fazer paradas!
Minha vida no lago é um tédio
Viajar pelo mundo é o remédio!
– Eu só queria pular como tu, meu guru! –
Falou o Pato ao Canguru.
II

– Me dá uma carona na cacunda!


Não dou “Quac” ou “Bu”
Nem faço barafunda! –
Falou o Pato ao Canguru.
– Vamos visitar Omar e Guiomar,
Pela terra e pelo mar;
Dá uma carona, meu guru! –
Falou o Pato ao Canguru.
III

O Canguru disse ao Pato:


– Tenho que refletir só
Um pouco. Talvez de fato
Sorte me traga. E o quiproquó?
Vou ser sincero contigo:
Teus pés são gelados, amigo,
E molhados! Vou ficar reumático.
Disse o canguru simpático.
Respondeu o pato: – Vou me sentar
Na rocha e analisar...
Já sei! Compro meias de lã penteada
4 pares de uma só tacada.
Espanto o frio comprando um bruto
Dum capote e todo dia fumo charuto:
Tudo pra não deixar jururu
O meu amigão Canguru!
V

E o Canguru: – Estou pronto, ao fim e ao cabo!


Tudo ao luar é branco
E vê se cuida o solavanco!
Fica bem firme aí no meu rabo!

E lá se foram ricocheteando
Dar 3 voltas ao mundo saltando
E quem é tão feliz, ó meu guru
Quanto o pato e o canguru?
Edward Lear é o primeiro na minha lista de 100 melhores autores

John Ruskin, em sua Lista dos Cem Melhores Autores,


afirmou: “Certamente o mais benéfico e inocente de todos os livros
já feitos é A Book of Nonsense (1846), com suas inimitáveis e
revigorantes cantigas em ritmo perfeito. Não conheço outro autor a
quem sou tão grato quanto a ele”.
[2]
THE OWL AND THE PUSSY-CAT.
I.
The Owl and the Pussy-Cat went to sea
In a beautiful pea-green boat:
They took some honey, and plenty of money
Wrapped up in a five-pound note.
The Owl looked up to the stars above,
And sang to a small guitar,
“O lovely Pussy, O Pussy, my love,
What a beautiful Pussy you are,
You are,
You are!
What a beautiful Pussy you are!”
II.
Pussy said to the Owl, “You elegant fowl,
How charmingly sweet you sing!
Oh! let us be married; too long we have tarried:
But what shall we do for a ring?”
They sailed away, for a year and a day,
To the land where the bong-tree grows;[3]
And there in a wood a Piggy-wig stood,
With a ring at the end of his nose,
His nose,
His nose,
With a ring at the end of his nose.
III.
“Dear Pig, are you willing to sell for one shilling
Your ring?” Said the Piggy, “I will.”
So they took it away, and were married next day
By the Turkey who lives on the hill.
They dined on mince and slices of quince,
Which they ate with a runcible[4] spoon;
And hand in hand, on the edge of the sand,
They danced by the light of the moon,
The moon,
The moon,
They danced by the light of the moon.
THE DUCK AND THE KANGAROO.
I.
Said the Duck to the Kangaroo,
“Good gracious! how you hop
Over the fields, and the water too,
As if you never would stop!
My life is a bore in this nasty pond;
And I long to go out in the world beyond:
I wish I could hop like you,
“Said the Duck to the Kangaroo.
II.
“Please give me a ride on your back,”
Said the Duck to the Kangaroo:
“I would sit quite still, and say nothing but ‘Quack’
The whole of the long day through;
And we ‘d go the Dee, and the Jelly Bo Lee,[5]
Over the land, and over the sea:
Please take me a ride! oh, do!”
Said the Duck to the Kangaroo.
III.
Said the Kangaroo to the Duck,
“This requires some little reflection.
Perhaps, on the whole, it might bring me luck;
And there seems but one objection;
Which is, if you’ll let me speak so bold,
Your feet are unpleasantly wet and cold,
And would probably give me the roo-
Matiz,” said the Kangaroo.
IV.
Said the Duck, “As I sat on the rocks,
I have thought over that completely;
And I bought four pairs of worsted socks,
Which fit my web-feet neatly;
And, to keep out the cold, I’ve bought a cloak;
And every day a cigar I’ll smoke;
All to follow my own dear true
Love of a Kangaroo.”
V.
Said the Kangaroo, “I’m ready,
All in the moonlight pale;
But to balance me well, dear Duck, sit steady,
And quite at the end of my tail.”

So away they went with a hop and a bound;


And they hopped the whole world three times round.
And who so happy, oh! who,
As the Duck and the Kangaroo?
[1] Uma questão curiosa tem a ver com o gênero dos protagonistas. Coruja macho ou
fêmea? Gato macho ou fêmea? O texto original é neutro e deixa isso ambíguo, e cada
leitor pode imaginar seu tipo de casal ideal. Na visão do ilustrador William Foster, o gato é
desenhado em atitude protetora e, na cena do casamento, quem está de noiva é a coruja!
Já na visão do ilustrador L. L. Brooke, o elemento felino é mais delicado, e o pássaro, mais
“másculo”. No artigo “Uma breve análise de The Owl and The Pussycat, de Edward Lear”,
Oliver Tearle conta que Lear fez uma sequência para o poema na qual ficamos sabendo
que a coruja é macho, o gato é fêmea. Disponível em
https://interestingliterature.com/2016/12/a-short-analysis-of-edward-lears-the-owl-and-the-
pussycat/ . Consultado em 03 set 2021. (N. do E. do e-book)

[2] Caso o leitor queira ouvir uma declamação do poema na língua original, existem várias
versões disponíveis. A que eu mais gostei foi esta. (N. do E. do e-book)
[3]
Esta árvore surgiu na literatura ficcional em 1871 no poeminha, The Owl and The
Pussycat, de Edward Lear, que se tornou um dos poemas mais populares da literatura
inglesa. Em 1964, foi publicado um relato não ficcional de James Ramsey Ullman, intitulado
“Where the Bong Tree Grows”, sobre as aventuras do autor no Havaí, Fiji, Guam,
Micronésia e Polinésia (Tonga, Samoas, Cook Islands). No mundo botânico, as Yang Bong
Trees são árvores da família das lauráceas, com ocorrência em Java, Laos, Sumatra,
Bornéu, Filipinas e Vietnã. Abrangem um leque de espécies cuja casca tem valor
econômico por conter goma e óleos aromáticos usados no fabrico de incensos para
templos, entre elas, Notaphoebe umbellifera, identificada por Blume em 1851, e Machilus
kurzii (sinônimo: Persea kurzii). Em Laos, plantações da árvore Bong estão melhorando a
renda de pequenos produtores de arroz. Disponível em:
https://www.phakhaolao.la/en/kb/0000016; https://www.ifad.org/en/web/latest/-/story/bong-
tree-farming-raises-income-of-former-rice-farmers-in-laos. Consultado em 03 set 2021. (N.
do E. do e-book)
[4]
A etimologia desta palavra é incerta. Dicionários concordam em afirmar que o termo foi
cunhado pelo próprio Edward Lear. Entre as descrições encontradas estão: um garfo de
três pontas curvado como colher; talvez aliteração da palavra francesa “rounceval”, que
pode significar mulher grande, ervilha grande, verruga, monstro, coisa imensa, a partir de
Roncevaux (Roncesvalles), sítio paleontológico onde ossadas gigantescas foram
encontradas. (N. do E. do e-book)
[5]
Locais imaginários sem referência no mundo real, provavelmente influência de gírias
australianas. (N. do E. do e-book)

Você também pode gostar