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Introdução à Epistemologia
DISCIPLINA
EPISTEMOLOGIA DA TEOLOGIA
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Epistemologia da Teologia |
Sumário
Sumário
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1 Introdução à Epistemologia ---------------------------------------------------------------------- 4
2 Tipos de Conhecimento ---------------------------------------------------------------------------- 4
3 A Natureza do Conhecimento Proposicional ------------------------------------------------- 7
3.1 A Condição de Crença-------------------------------------------------------------------------------------------- 8
3.2 A Condição de Verdade --------------------------------------------------------------------------------------- 10
3.3 A Condição de Justificação ----------------------------------------------------------------------------------- 11
4 Falibilidade e Ceticismo --------------------------------------------------------------------------- 14
5 A Epistemologia da Teologia e da Religião -------------------------------------------------- 15
6 Uma Breve História da Fé e da Razão --------------------------------------------------------- 17
7 O Fideísmo -------------------------------------------------------------------------------------------- 20
8 O Evidencialismo ------------------------------------------------------------------------------------ 27
9 O Conhecimento Religioso e suas Implicações Epistemológicas ----------------------- 29
9.1 A Crença Religiosa e os Princípios Orientadores da Filosofia Iluminista ------------------------- 30
9.2 A Analogia Perceptual e a Possibilidade do Conhecimento Teísta Direto ----------------------- 34
9.3 Problemas da Abordagem Experiencialista -------------------------------------------------------------- 36
9.4 Justificação e Racionalidade --------------------------------------------------------------------------------- 38
10 Aceitação, Presunção e Fé -------------------------------------------------------------------- 40
11 A falácia da composição ----------------------------------------------------------------------- 41
12 Explicando as Partes de um Todo Explica o Todo em Si Mesmo -------------------- 41
13 Quem causou deus a existir? ----------------------------------------------------------------- 42
14 Duas Supostas Evidências Científicas Para o Início do Universo -------------------- 43
14.1 Evidência 1: A Segunda Lei da Termodinâmica --------------------------------------------------------- 44
14.2 Evidência 2: A Teoria do Big Bang -------------------------------------------------------------------------- 45
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Sumário
21 Referências ---------------------------------------------------------------------------------------- 62
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Introdução à Epistemologia
1 Introdução à Epistemologia
A epistemologia, em uma perspectiva ampla, pode ser caracterizada como o
estudo do conhecimento. Dentro da disciplina da filosofia, a epistemologia é o estudo
da natureza do conhecimento e da justificação. Em particular, é o estudo do
conhecimento e da justificação em três aspectos: seus componentes definidores, suas
condições ou fontes substantivas, e os seus limites. Todavia, para simplificar a série de
tarefas com que os epistemólogos se preocupam, podemos classificar em duas
categorias.
2 Tipos de Conhecimento
O termo "epistemologia" vem do grego episteme, que significa "conhecimento",
e do termo logos, que significa, aproximadamente, "palavra escrita ou falada, razão
ou explicação". Logos é utilizada como a raiz de termos como psicologia,
antropologia, teologia e lógica, e tem muitos outros significados relacionados, mas
nestes contextos indica um âmbito do saber racional (NORRIS, 2007; FUMERTON,
2014).
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Tipos de Conhecimento
não iria chover, mas depois choveu." Embora isso possa ser um uso apropriado,
filósofos tendem a usar a palavra "conhecer" em um sentido factivo, de modo que não
se pode conhecer algo que não é o caso.
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Tipos de Conhecimento
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visão tradicional proeminente, sugerida por Platão e Kant, entre outros, é que o
conhecimento proposicional (de que algo é assim) tem três componentes
individualmente necessários e conjuntamente suficientes: crença, verdade e
justificação. Nesta visão, o conhecimento proposicional é, por definição, uma crença
verdadeira justificada. Esta é a definição tripartida que passou a ser chamada de
análise padrão. Podemos esclarecê-la atendendo brevemente a cada uma de suas três
condições.
Por exemplo, suponha que eu deseje que me seja dado um aumento salarial, e
que eu pretendo fazer o que eu possa para ganhar. Suponhamos, além disso, que eu
duvide que realmente me seja dado um aumento, devido à complexidade do
orçamento da empresa onde trabalho. Dado que eu não acredito que vai ser me dado
um aumento, não se pode dizer que eu sei que vou receber o aumento. Só se eu
estiver inclinado a acreditar em alguma coisa, posso conhecê-la. Da mesma forma, os
pensamentos que um indivíduo nunca tenha pensado não estão entre suas crenças,
e, portanto, não podem ser incluídos em seu corpo de conhecimento.
Deste modo, a condição de crença exige que qualquer pessoa que saiba que
(onde “p” representa qualquer proposição ou declaração) deve acreditar que p. Se,
portanto, você não acredita que as mentes são cérebros (digamos, porque você nunca
chegou a considerar o assunto), então você não sabe que as mentes são cérebros. Um
conhecedor deve estar psicologicamente relacionado de alguma forma a uma
proposição que é objeto de conhecimento para aquele conhecedor. Os defensores da
análise padrão sustentam que somente a crença pode fornecer a relação psicológica
necessária (MIGUENS, 2009). Os filósofos não compartilham uma explicação uniforme
da crença, mas algumas considerações fornecem um terreno comum. As crenças não
são ações de assentimento para uma proposição. Elas são estados psicológicos
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Além disso, podemos observar que algumas crenças, aquelas que o indivíduo
ativamente processa, são chamadas de crenças ocorrentes. A maioria das crenças de
um indivíduo são não ocorrentes. Estas são crenças que o indivíduo tem como plano
de fundo, mas não são alvo de atenção em um determinado momento.
Correspondentemente, a maioria de nosso conhecimento é não ocorrente. Apenas
uma pequena quantidade do nosso conhecimento está sempre ativamente em nossa
mente (EYSENCK; KEANE, 2017).
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Esta condição de verdade da análise padrão não atraiu para si nenhum desafio
sério. A controvérsia sobre ela se concentrou, em vez disso, na pergunta veemente de
Pilatos: “O que é a verdade?” (BÍBLIA, João, 18, 38). Esta questão diz respeito sobre o
que a verdade consiste e não sobre o nosso modo de descobrir o que é verdadeiro.
As respostas influentes provêm de, pelo menos, três abordagens: a verdade como
correspondência (ou seja, o acordo, de algum tipo especificado, entre uma proposição
e uma situação real); a verdade como coerência (isto é, a interconexão de uma
proposição com um sistema especificado de proposições); e a verdade como valor
cognitivo pragmático (ou seja, a utilidade de uma proposição para atingir certos
objetivos intelectuais) (KIRHAM, 2003). Sem avaliar essas abordagens proeminentes,
devemos reconhecer, de acordo com a análise padrão, que nosso conceito de
conhecimento parece ter uma exigência factual: sabemos genuinamente que somente
se é o caso que. A noção pertinente de "ser o caso" parece equivalente à noção de
"como a realidade é" ou "como as coisas realmente são". Esta última noção parece
essencial à nossa noção de conhecimento, mas está aberta à controvérsia sobre sua
explicação.
Podemos dizer, então, que o propósito mais típico das crenças é descrever ou
apreender a maneira como as coisas realmente são. Isto é, quando se forma uma
crença busca-se uma correspondência entre a mente de alguém e o mundo
(BLACKBURN, 2006). Às vezes, é claro, formamos crenças por outras razões – criar uma
atitude positiva, enganar a nós mesmos, e assim por diante –, mas quando buscamos
o conhecimento, estamos tentando fazer as coisas de um modo específico. Contudo,
às vezes não conseguimos alcançar tal correspondência. Algumas de nossas crenças
não descrevem a maneira como as coisas realmente são.
Observe que estamos assumindo aqui que existe uma coisa como a verdade
objetiva, de modo que é possível que as crenças correspondam ou não correspondam
à realidade. Ou seja, para que alguém conheça algo deve haver algo sobre o qual se
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Qual é, então, o caminho certo para chegar às crenças? Além da verdade, quais
outras propriedades uma crença deve ter para constituir o conhecimento? Podemos
começar observando que o raciocínio sadio e a evidência sólida parecem ser a maneira
de adquirir o conhecimento. Em contrapartida, um palpite de sorte não pode constituir
conhecimento. Da mesma forma, a desinformação e o raciocínio falho não parecem
uma receita para o conhecimento, mesmo se eles levam a uma crença verdadeira. Diz-
se que uma crença é justificada se for obtida da maneira correta (NORRIS, 2007).
Embora a justificação pareça, à primeira vista, ser uma questão de uma crença estar
baseada na evidência e no raciocínio, e não na sorte ou na desinformação, veremos
que há muito desacordo quanto à forma de especificar os detalhes.
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que são verdadeiras unicamente pela sorte encontra-se um espectro de crenças com
relação ao qual nós temos alguma razão revogável para acreditar que elas sejam
verdadeiras. Por exemplo, se eu ouvi o meteorologista dizer que há uma chance de
90% de chuva, e como resultado eu formo a crença de que vai chover, então a minha
crença verdadeira de que iria chover não era verdadeira puramente por sorte. Mesmo
que houvesse alguma chance de que minha crença pudesse ter sido falsa, havia uma
base suficiente para que essa crença constituísse o conhecimento. Esta base é referida
como a justificação para essa crença. Podemos então dizer que, para constituir
conhecimento, uma crença deve ser verdadeira e justificada.
Observe que por causa da sorte, uma crença pode ser injustificada, mas
verdadeira. E por causa da falibilidade humana, uma crença pode ser justificada, mas
falsa (GRECO; SOSA, 2008). Em outras palavras, a verdade e a justificação são duas
condições independentes das crenças. O fato de uma crença ser verdadeira não nos
diz se ela é ou não justificada. Isso depende de como chegamos a esta crença. Assim,
duas pessoas podem ter a mesma crença verdadeira, mas por razões diferentes, de
modo que uma delas é justificada e a outra é injustificada. Da mesma forma, o fato de
que uma crença é justificada não nos diz se é verdadeira ou falsa. É claro que uma
crença justificada presumivelmente será mais provável de ser verdadeira do que falsa,
e crenças justificadas presumivelmente serão mais prováveis de serem verdadeiras do
que crenças injustificadas (GOLDMAN, 1979).
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Falibilidade e Ceticismo
4 Falibilidade e Ceticismo
Podemos então dizer que até mesmo as crenças bem fundamentadas podem
estar equivocadas. Podemos ser enganados pelos nossos sentidos. Somos falíveis em
questões perceptivas como em nossas memórias, em nosso raciocínio e em outros
aspectos. Poderíamos então nos perguntar, como fazem os céticos, se sabemos
mesmo que é improvável que agora estejamos enganados pelos nossos sentidos.
Se não, como podes estar justificado em acreditar o que parecem ser verdades
muito menos óbvias, como que a sua casa é segura contra tempestades, que seu carro
é seguro para dirigir, e que sua comida não está envenenada? E como podes saber as
muitas coisas que precisas saber na vida, como que sua família e amigos são dignos
de confiança, que você pode controlar seu comportamento e, assim, podes determinar
parcialmente o seu futuro. São questões difíceis e importantes.
Uma vez que procedemos nesta suposição do senso comum é fácil ver que há
muitos tipos diferentes de circunstâncias em que as opiniões se levantam de tal
maneira que são aparentemente justificadas e constituem o conhecimento. Ao
considerar essa variedade de circunstâncias que dão justificação e conhecimento,
podemos explorar como as crenças estão relacionadas à percepção, à memória, à
consciência, à razão e ao testemunho.
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O fundacionalismo, que afirma que algumas crenças que apoiam outras crenças
são fundamentais e não necessitam de justificação por outras crenças (autojustificação
ou crenças infalíveis ou baseadas na percepção ou em certas considerações a priori)
(MIGUENS, 2009). O Instrumentalismo, que é a visão metodológica de que conceitos
e teorias são meramente instrumentos úteis, e seu valor é medido pelo quão eficaz
eles são na explicação e previsão de fenômenos. O instrumentalismo, portanto, nega
que as teorias sejam verdadesavaliáveis (NORRIS, 2007). O pragmatismo, que é um
conceito semelhante, que sustenta que algo só é verdadeiro na medida em que
funciona e tem consequências práticas (VIDAL; CASTRO, 2006). O infinitismo, que
tipicamente leva a série infinita a ser meramente potencial, e um indivíduo precisa
apenas ter a capacidade de apresentar as razões relevantes quando surge a
necessidade. Portanto, ao contrário da maioria das teorias tradicionais de justificação,
o infinitismo considera uma regressão infinita como uma justificação válida (BRADLEY,
2015). O coerentismo, que sustenta que uma crença individual é justificada
circularmente pelo modo como ela se encaixa (em coerência) com o resto do sistema
de crenças de que faz parte, de modo que a regressão não procede de acordo com
um padrão de justificação linear. E o funderentismo, termo criado por Susan Haack
(1997), é outra posição que se destina a ser uma unificação do fundacionalismo e
coerentismo evitando seus problemas (OLIVA, 2011).
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parece credível em seus próprios termos, e (ii) deriva de uma fonte confiável ou
fidedigna”.
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humano. Entre estas reflexões não podemos esquecer de Tomás de Aquino em sua
Summa Theologica (2001), que sustentou que era conveniente e necessário que
acreditássemos nas coisas prováveis pela razão com base na revelação. Ele afirmava
que mesmo no que diz respeito às verdades sobre Deus que a razão humana poderia
ter descoberto, era necessário que o homem fosse ensinado por uma revelação divina,
porque a verdade sobre Deus como a razão poderia descobrir, só seria conhecida por
poucos, depois de muito tempo, com muita análise, e ainda assim com muitos erros.
Para uma boa exposição da visão de Locke, veja a obra “John Locke and the ethics
of belief”, de Nicholas Wolterstorff (1996), especialmente as páginas 88-133. Assim
como a obra “Moral e história em John Locke”, de Edgar José Jorge Filho (1992).
Locke (1999) pensava que Deus poderia iluminar as mentes das pessoas e lhes
revelar diretamente verdades, mas ele não achava que isso acontecesse de fato. A
visão de Locke, muitas vezes chamada de "visão iluminista" ou algo semelhante,
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emparelhada com a visão de que o argumento para a existência de Deus não é forte
o suficiente para fazer a crença de que Deus existe racional – ou pelo menos não é
forte o suficiente para torná-la racional para alguém acreditar com a convicção da
qual a fé exige – é o que os epistemólogos reformados chamam de “o desafio
evidencialista" à crença religiosa (PLANTINGA; WOLTERSTORFF, 1983;
WOLTERSTORFF, 2008).
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O Fideísmo
Dado que os três principais pontos de vista no debate não são mutuamente
exclusivos (na verdade, C. Steven Evans transita em cada categoria pelo menos uma
vez), não deve ser surpreendente descobrir que muitos aderentes de um lado do
debate igualmente mantêm uma posição suficiente para colocá-los em um dos outros
lados também. No entanto, os adeptos de uma posição muitas vezes rejeitam a
adesão aos outros lados do debate. Isto é frequentemente devido a diferenças de
ênfase que resultam de muitas influências diferentes, às vezes incluindo o contexto
histórico. Nas próximas três seções, descreveremos o fideísmo, o evidencialismo
(epistêmico) e a epistemologia reformada, respectivamente, com mais detalhes, então
diremos algo sobre como as visões interagem.
7 O Fideísmo
O fideísmo, em sua forma extrema, é a visão de que alguém pode racionalmente
manter certas crenças teístas contrárias ao que sua evidência suporta ou sem qualquer
evidência de apoio (HELM, 2008). Alguns, como John Greco (2007), definem o fideísmo
como a visão de que a fé se opõe à razão, mas a natureza dessa oposição não é clara,
e assim, definir o fideísmo dessa maneira é inútil. O fideísmo é mantido também por
Wittgenstein (1998), de acordo com D. Z. Phillips. Phillips (2016) que, por exemplo,
afirma que as crenças religiosas têm critérios de aceitabilidade que outros tipos de
crenças não possuem.
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O Fideísmo
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O Fideísmo
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O Fideísmo
prática. Uma vez que o discurso religioso está entrelaçado com a linguagem religiosa,
não há possibilidade de ficar fora dela e de criticar ou apoiar a religião com base, por
exemplo, em fatos externos. A religião é sobre inteligibilidade e ininteligibilidade em
vez de veracidade ou falsidade. A partir daí, é um pequeno passo para o relativismo
religioso ou mesmo para o ceticismo. Uma religião específica não pode mais ser
universal ou objetivamente verdadeira, porque sua linguagem é relativa à prática e as
ideias não podem ser acessadas empiricamente. O significado do mundo religioso
depende unicamente do seu uso na linguagem religiosa.
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O Fideísmo
Talvez a crítica mais óbvia ao fideísmo wittgensteiniano seja que, mesmo que se
conceda a teoria subjacente das formas de vida e dos jogos de linguagem, é um fato
histórico, justificado pelos critérios do "jogo" da história, que a maioria dos judeus,
cristãos e muçulmanos pertencem a uma forma de vida com fortes compromissos
metafísicos, e em que declarações tais como "Há um Deus" são intencionadas tanto
como "Há uma estrela com dez vezes a massa do Sol", assim como "Há esperança".
Portanto, o fideísmo wittgensteiniano seria apenas apropriado para religiões como o
Zen Budismo e para algumas vertentes relativamente recentes e liberais do judaísmo
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O Fideísmo
Bisho (2007) endossa uma versão moderada do fideísmo que ele chama de
"fideísmo jamesiano modesto", segundo o qual às vezes é moralmente (e talvez
epistemicamente) permitido que alguém assuma uma proposição como verdadeira
mesmo quando ela julga corretamente que a proposição não está adequadamente
apoiada por sua evidência total. Parece que Bisho sustenta que a justificação
epistêmica é subsumida sob justificação moral. “A questão da justificabilidade como
aplica-se às crenças de fé é, em última instância, uma questão de justificabilidade
moral [...]". Esta questão de justificabilidade é sobre a justificabilidade epistêmica.
Bisho argumenta assim: nós nos preocupamos com a justificabilidade epistêmica das
crenças de fé porque nós "devemos ter a intenção de, em todas as nossas crenças,
apreender a verdade e evitar o erro", e temos essa intenção por causa das
consequências práticas de nossas crenças (BISHOP, 2007, p. 33).
Vejamos como Bisho afirma isso: A evidência [para o Deus teísta clássico] é
"aberta" no sentido de que ela não mostra a verdade da afirmação de que Deus existe
nem a verdade de que sua negação é significativamente mais provável do que não. A
tese descreve ainda esta situação de evidência aberta como "ambiguidade", fazendo
a afirmação de que a evidência total disponível está sistematicamente aberta a duas
interpretações competitivas viáveis - num sentido de "viável" que é difícil de torná-las
totalmente precisas, mas pode ser comparado por analogia com o sentido em que o
desenho do pato-coelho [...] está aberto a duas Gestalts perceptivas viáveis. (2007, p.
71)
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O Fideísmo
Fonte: JASTROW, Joseph. The mind’s Eye. Popular Science Monthly. v. 54, p. 299-231, 1899.
Eis porque Bisho não pode estar vendo a si mesmo como opondo ao
evidencialismo. Bisho argumenta contra o "evidencialismo moral" (2007, p. 62), que é
a conjunção do evidencialismo, como mencionado anteriormente, mais o princípio da
conexão moral: alguém é moralmente permitido manter uma crença como verdadeira
apenas se estiver justificada por sua evidência. Bisho parece estar negando o princípio
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O Evidencialismo
C. Stephen Evans (1998) endossa uma versão fraca do fideísmo, uma visão que
ele chama de "fideísmo responsável". De acordo com essa visão, os processos de
raciocínio humano têm a tendência de errar em certos aspectos como resultado do
pecado, e esse erro só pode ser melhorado pela fé. Alguém que tem fé pode
apropriadamente ter uma crença que parece ser irracional por aqueles que não têm
fé, mas isso é de se esperar, e a pessoa que tem fé é, de fato, razoável.
8 O Evidencialismo
O evidencialismo epistêmico é a visão de que um sujeito está justificado em
acreditar em uma proposição somente se estiver adequadamente apoiada por
evidências. O evidencialismo epistêmico é tipicamente formulado em termos de
justificação proposicional. Isso pode ser descrito por condicionais cujos antecedentes
descrevem as experiências do sujeito (amplamente interpretadas) e cujos resultados
indicam que alguma proposição tem algum status epistêmico positivo para essa
pessoa (CHISHOLM, 1974). Alternativamente, ele pode ser descrito por relações de
apoio epistêmicas entre uma proposição-alvo e uma proposição conjuntiva
descrevendo as experiências do sujeito ou crenças básicas ou o conhecimento
(SWINBURNE, 2001). O que não está incluído na justificação proposicional é que um
sujeito realmente acredita na proposição-alvo. Enquanto a justificação proposicional
é uma relação entre proposições ou uma função das experiências para o status
epistêmico, a justificação doxástica é uma propriedade de crenças em que o conteúdo
proposicional da crença é justificado pela evidência do sujeito e, além disso, o sujeito
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O Evidencialismo
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O Cristianismo e o Islã são religiões doutrinárias cuja prática torna certas crenças
cruciais, enquanto o Budismo é muito menos focado em exigir a crença como parte
da prática. No entanto, uma maneira importante de distinguir uma religião de outra
religião está nas crenças que são características das diferentes tradições religiosas.
Também pode haver crenças que distinguem aqueles que praticam a religião daqueles
que não praticam nenhuma, mas essa diferença é mais difícil de identificar.
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Os filósofos quase sempre concordam que você não pode conhecer algo a
menos que seja verdade, mas pode ser razoável para você acreditar em algo mesmo
que seja falso. Por exemplo, pode ser perfeitamente razoável para você acreditar que
o colesterol alto aumenta suas chances de contrair doenças cardíacas, mas se a crença
for falsa, você não a conhece. Assim, acreditar razoavelmente não garante que você
obtenha a verdade, e por isso não garante o conhecimento, como vimos
anteriormente nos casos de tipo-Gettier (GETTIER, 1963).
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Temos herdado uma outra ideia do Iluminismo que afeta o modo como
abordamos o conhecimento religioso: o igualitarismo intelectual (ZAGZEBSKI, 2012).
Supõe-se comumente que todos nós somos aproximadamente iguais em nossas
capacidades epistêmicas. Qualquer experiência que fundamenta a crença deve ser
uma experiência que qualquer pessoa pode ter. Além disso, supõe-se que ninguém é
especialmente sábio ou, se há pessoas sábias, não podemos identificá-las de uma
forma que seria útil para nós mesmos. Benedito Nunes expressa bem essa herança ao
afirmar que o Iluminismo se caracteriza pela:[...] uniformidade da razão, que ligou
entre, numa só matriz filosófica, essa mesma ideia de Razão – o bom senso cartesiano,
igualmente compartilhado por todos os homens – e a ideia de Natureza – o conjunto
daquelas disposições que, acessíveis ao livre exame analítico, seriam iguais em toda
parte, escapando à força do hábito, ao prestígio da autoridade, às tradições e aos
caprichos das circunstâncias históricas, bem como à influência, considerada
perturbadora, das paixões e dos hábitos [...] também decorreram dela o consensus
gentium, como instância coletiva da razão uniforme, o cosmopolitismo abstrato,
nivelador de todas as diferenças nacionais e todas as particularidades locais, e o
igualitarismo intelectual, que se completou por uma curiosa tendência anti-
intelectualista, que defendia a posse pacífica, pela simples aplicação do bom senso,
de verdades essenciais, acessíveis, em igual medida, aos cidadãos civilizados europeus
e aos selvagens [...] (NUNES, 1985, p. 56)
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Mas, se ao ver o fluxo não estamos vendo seu infinito, então como isso pode ser
visto como base para saber que o fluxo é infinito? Da mesma forma, se Deus é
experienciado, como a experiência pode revelar que é Deus que está sendo
experienciado? O problema não é que Deus é não físico. O não físico pode ser
facilmente experienciado, e de fato de forma direta. Assim, minha experiência de meu
próprio pensamento presumivelmente não precisa ser de algo físico, mesmo que de
fato seja de algo físico, digamos um processo cerebral. E mesmo que deva ser físico,
por causa de alguma conexão necessária que pode conter entre o mental e o físico,
esta experiência não é de meus pensamentos como sendo físicos.
O problema, então, não é que não possa haver experiência, até mesmo
experiência não mística de Deus. É, ao menos em parte, que se for possível alguém
experienciar, digamos, o falar de Deus, não estaria claro como este alguém poderia
saber (ou crer justificadamente) que é Deus falando. Como alguém saberia que não
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estava tendo uma experiência meramente interna, como falar a si mesmo numa voz
que se pensa ser de Deus, ou até mesmo alucinar uma voz divina?
Aqui é importante recordar a analogia perceptual. Por que seria menos provável
que fosse alucinatória minha experiência de olhar para o campo verde? É verdade que
há uma diferença: podemos, com todos os outros sentidos, verificar que vemos um
campo gramado, enquanto que Deus parece perceptualmente acessível, no máximo,
à visão e à audição – presumivelmente indiretamente, já que Deus é visto em coisas
apropriadas e ouvido através de vozes ouvidas, quem sabe por vozes internas, que
não são literalmente a voz de Deus (pelo menos se a voz de um ser deve estar
fisicamente fundamentada em uma incorporação física, embora, mesmo nesse caso,
alguns diriam que a voz de Deus estava fisicamente incorporada em Cristo).
Mesmo se Deus for acessível à visão e à audição apenas indiretamente, não segue
disso que o conhecimento e a crença sobre Deus sejam indiretos. Como podemos ver
na teoria do sense-datum (dados sensoriais), podemos saber uma coisa através de
outra sem inferir fatos sobre a primeira de fatos sobre a segunda (RUSSELL, 2008).
Assim, a força dessa diferença entre a possível acessibilidade perceptual de Deus e
aquela dos objetos físicos pode ser exagerada.
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melhor das hipóteses, é muito difícil estabelecer restrições absolutas sobre quais tipos
de crenças podem ser justificadas diretamente (SWEETMAN, 2013). Isso vale até
mesmo se a única maneira pela qual as crenças podem ser justificadas diretamente
seja em virtude de sua fundamentação nas fontes básicas de justificação (LUZ, 2013).
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Aceitação, Presunção e Fé
10 Aceitação, Presunção e Fé
Não precisamos explorar a justificação ou a racionalidade nesse domínio apenas
em termos de crença. A crença tem sido absolutamente dominante na maioria das
discussões epistemológicas da cognição, mas não é a única atitude cognitiva que
levanta questões epistemológicas ou é avaliável em relação à justificação ou
fundamentos de apoio. Há atitudes mais fracas do que a crença no grau de convicção
que elas implicam, mas suficientemente fortes nessa dimensão psicológica para guiar
o pensamento e a ação. Alguns filósofos consideram a aceitação desta maneira
(STUMP, 1993). Aceitar uma hipótese científica, nessa terminologia não implica
acreditar nela, mas pode levar alguém a comprometer-se a usar a hipótese – digamos,
como a hipótese de que determinada doença é causada por uma química em
particular.
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A falácia da composição
principal ainda se aplica: quaisquer que sejam os fundamentos necessários para uma
crença teísta justificada, fundamentos mais fracos bastarão para a fé teísta com o
mesmo conteúdo.
11 A falácia da composição
À medida que o debate continuou, Russell acusou Copleston de cometer uma
falácia lógica – a falácia da composição. Veja como a objeção é feita: só porque as
partes de um todo têm um atributo específico (tais como ser contingente), não segue
daí que o todo também tenha esse atributo. Vários exemplos podem ser citados para
demonstrar o ponto. Por exemplo, apesar de todas as pedras que formam a parede
de um castelo medieval sejam pequenas, não segue disso que a parede do castelo
medieval também seja pequena. Assim também com o universo, argumenta-se, só
porque cada parte que o compõem é contingente, e, portanto, em necessidade de
uma explicação causal, não segue disso que o todo é contingente e, portanto, em
necessidade de uma explicação causal.
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Hume está certamente correto que por vezes é o caso que uma explicação sobre
as partes de uma coisa explica o todo do qual as partes consistem, pelo menos em
um nível. Usando o seu próprio exemplo referindo-se a um reino particular, uma
explicação para "Por que isso é um reino?" Poderia ser "Porque há várias províncias
unidas". Mas, é claro, em outro nível esta resposta é incompleta. Pode-se também
buscar razoavelmente a causa por que as províncias foram, de fato, unidas umas às
outras para formar o reino, pois os reinos são os tipos de coisas que envolvem a união
de províncias por razões específicas. Portanto, esta analogia, bem como a que ele usa
sobre os membros de um corpo, não parecem funcionar no modo como Hume havia
imaginado.
Para que possamos afirmar que o universo como um todo não precisa de uma
causa, parece que teríamos de afirmar que os indivíduos contingentes do qual a série
consiste também não precisam de causas. Mas isso seria simplesmente afirmar que
eles não são contingentes afinal de contas. De fato, alguns sustentam a visão de que
não existem seres contingentes, e o fazem isso por várias razões. Uma destas razões
oferecidas é que os termos “contingente” e “necessário” carecem de sentido.
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de uma causa. Isso significa que, por definição, Deus é a causa não causada que explica
a série contingente que compõe o universo. Se Deus realmente existe ou não é uma
questão separada desta resposta à objeção; ela só está afirmando uma definição
comumente aceita de Deus, e, em seguida, observando que tal definição, de fato,
fornece uma explicação fundamentadora para a série que de outra forma seria
inexplicável.
O universo de 100 anos atrás era simples: eterno, imutável, consistindo de uma
única galáxia, contendo alguns milhões de estrelas visíveis. A imagem hoje é mais
completa e muito mais rica. O cosmos começou há 13,7 bilhões de anos atrás com o
Big Bang. Uma fração de segundo após o início, o universo era uma sopa quente e
sem forma das partículas, quarks e léptons mais elementares. À medida que expandiu
e arrefecia, camada em camada de estrutura desenvolveu: nêutrons e prótons, núcleos
atômicos, átomos, estrelas, galáxias, aglomerados de galáxias e, finalmente,
superaglomerados. A parte observável do universo está agora habitada por 100
bilhões de galáxias, cada uma contendo 100 bilhões de estrelas e provavelmente um
número similar de planetas. As próprias galáxias são mantidas unidas pela gravidade
da misteriosa matéria escura. O universo continua a se expandir e, de fato, o faz em
um ritmo acelerado, impulsionado pela energia escura, uma forma de energia ainda
mais misteriosa, cuja força gravitacional repele em vez de atrair.
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Considere a seguinte analogia. Suponha que você entra em uma sala e vê uma
xícara de café expresso posta sobre a mesa perante de você. Você pondera quanto
tempo ela está posta ali e então, enquanto ninguém está olhando, você toma um gole.
Você descobre que o café ainda está quente. Você, então, concluiria que a xícara de
café estava ali por meses, semanas ou até mesmo dias? Claro que não. Por que não?
Por causa da segunda lei da termodinâmica e da entropia; a energia térmica no café
não foi totalmente dissipada, e por isso não poderia ter estado lá por muito tempo.
Uma vez que o universo ainda está "quente" (note a estrela quente no nosso próprio
sistema solar, por exemplo – o sol), ele não poderia ter existido para sempre ou ele
também já teria "esfriado" há muito tempo. Portanto, o universo não poderia ter
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existido para sempre; ele deve ter um começo. Nem todos concordam com esta
conclusão, é claro.
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Ajuste Fino
16 Ajuste Fino
Alguns estudiosos que acreditam que as estruturas meios-para-fins,
aparentemente propositais no reino da biologia, podem ser totalmente explicadas por
processos evolutivos naturais, também sustentam que certos aspectos não biológicos
ou inorgânicos do universo são mais bem explicados por meio de um designer
inteligente. Alguns argumentaram que as leis fundamentais e os parâmetros da física
e as condições iniciais do universo são extraordinariamente equilibradas – ou
"ajustadas finamente" – com as condições precisas e ideais para a vida ocorrer e
florescer. Robin Collins (2013), por exemplo, um dos defensores mais importantes do
argumento teleológico do ajuste fino, afirma que "as condições iniciais do universo
são equilibradas no ‘fio de uma navalha’” para a existência da vida. Dezenas de tais
parâmetros e condições foram propostos, incluindo os seguintes, descritos por Collins
(1999):
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Ajuste Fino
opções explicativas são basicamente limitadas a três: o ajuste fino dos parâmetros e
condições ocorreram por acaso, por necessidade, ou por design inteligente.
Eles também observam uma característica central que emerge deste princípio:
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sequestrador, que agora aparece, lança dúvidas sobre esta sugestão. "Não é de
surpreender", diz ele, "que a máquina sacou apenas ases de copas. Você não poderia
possivelmente ver qualquer outra coisa. Por que você não estaria aqui para ver
qualquer coisa, se qualquer outra carta tivesse sido sacada”. Mas é claro que a vítima
está certa e o sequestrador está errado. Há algo extraordinariamente na necessidade
de uma explicação no fato dos dez ases serem sacados. O fato de que esta ordem em
particular é uma condição necessária do sorteio a ser percebido, em absoluto torna o
que é percebido menos extraordinário ou sem a necessidade de explicação
(SWINBURNE, 1979, p. 138).
Não teríamos iguais razões para buscar a origem desse mundo ideal em outro
mundo ideal, ou princípio intelectivo? Mas, se nos detemos em algum ponto e não
avançamos mais, de que serve ter avançado até aí? Como poderíamos nos dar por
satisfeitos sem avançar in infinitum? E que satisfação, afinal, encontraríamos nessa
progressão infinita? Recordemo-nos da história do indiano e seu elefante [o filósofo
indiano disse que o mundo estava descansando na parte traseira de um elefante, e o
elefante estava descansando na parte traseira de uma grande tartaruga, e a tartaruga
na parte traseira de algo que não sabia o quê]: ela nunca foi tão adequada como ao
presente assunto. Se o mundo material repousa sobre um mundo ideal semelhante,
este mundo ideal deve repousar sobre algum outro, e assim indefinidamente. Seria
melhor, portanto, jamais lançar os olhos para além do mundo material presente. Ao
supor que ele contém em si mesmo o princípio de sua própria ordem, estamos, na
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Problemas do Mal
realidade, afirmando que ele é Deus; e quanto antes chegarmos àquele Ser Divino,
tanto melhor para nós. Quando você dá um passo além do sistema mundano, apenas
excita uma disposição inquisitiva que jamais poderá ser satisfeita (HUME, 1992, IV, p.
64).
18 Problemas do Mal
De certa forma, parece que nosso mundo ficou melhor ao longo das eras desde
o surgimento do primeiro Homo sapiens no planeta Terra. De fato, tem havido
progressos sólidos, especialmente no aproveitamento da natureza. E grande parte da
barbárie dos tempos antigos parece ter diminuído em geral. Veja, por exemplo, a
pesquisa de Steven Pinker (2013), publicada em sua excelente obra Os anjos bons da
nossa natureza: porque a violência diminuiu. O mundo certamente não é uma utopia,
ainda não o é, de qualquer maneira. O século XX experimentou terríveis atrocidades
humanas. Nesse século, por exemplo, perto de meio bilhão de pessoas morreram de
varíola; mais de 200 milhões de vidas foram desperdiçadas na guerra e no democídio
(RUMMEL, 1998), o assassinato de pessoas por um governo; e cerca de 12 milhões
morreram de AIDS – a maioria deles nos últimos 15 anos do século XX. As palavras do
filósofo Hegel sintetizam o último século: “A história aparece então como o ‘patíbulo
onde foram sacrificadas a felicidade dos povos, a sabedoria dos Estados, a virtude dos
indivíduos’” (MARCUSE, 2004, p. 202).
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Problemas do Mal
Espera! Muitos acreditam que há alguém que tem não só o desejo, mas o
conhecimento e o poder para remover para sempre o mal e o sofrimento que existe
no mundo. Para a maioria dos teístas, há um Deus que existe como um ser todo-
poderoso, todo conhecedor e totalmente bom. Certamente, se este tipo de ser existe,
ele/ela destruiria o mal e o sofrimento. Então, por que persistem? O filósofo cético
David Hume reconheceu este problema e expressou isso de forma concisa: “A
Divindade quer evitar o mal, mas não é capaz disso? Então ela é impotente. Ela é capaz,
mas não quer evitá-lo? Então ela é malévola. Ela é capaz de evitá-lo e quer evitá-lo?
De onde, então, provém o mal?” (HUME, 1992, p. 136).
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Problemas do Mal
Mal natural: o mal que resulta de fenômenos naturais e não é provocado pelo
livre-arbítrio de um agente moral. Ele inclui desastres naturais e determinadas doenças
humanas.
Mal moral: o mal que resulta de um agente moral ao abusar de seu livre-arbítrio
de tal forma que o agente é condenável por ele. Ele inclui ações humanas, bem como
traços de caráter.
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Problemas do Mal
O Caso Sue (mal horrendo): nas primeiras horas do dia de Ano Novo de 1986,
uma menina foi brutalmente espancada, estuprada e depois estrangulada em Flint,
Michigan. A mãe da menina estava morando com o namorado e um outro homem
que estava desempregado, além de seus três filhos, incluindo um bebê de nove meses
de idade, filho de seu namorado. Na véspera de Ano Novo, todos os três adultos foram
beber em um bar perto da casa da mulher. O namorado, que estava usando drogas e
bebendo muito, foi convidado a se retirar do bar às 20h. Depois de várias reaparições,
ele finalmente deixou de fato o bar cerca de 21h30. A mulher e o homem
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6) O mal existe.
Para uma visão geral destes problemas, verifi que a obra de Sweetman (2013),
especialmente as páginas 91-93. Para compreender melhor as críticas e refutações ao
problema lógico do mal, veja o artigo O desafio do Deus Malévolo, de Stephen Law
(2010), disponível em: <https://rebeldiametafi sica.wordpress.com/ tag/problema-
logico-do-mal/>, e o artigo O problema lógico do mal,
Podemos até imaginar casos em que algum mal possa ser necessário para que o
bem possa resultar. Por exemplo, mostrar o perdão a alguém que tenha o prejudicado
maldosamente e que esteja arrependido, ou mostrar coragem perante a tortura,
ambos exigem logicamente que eu estivesse ferido e torturado. Se estes são bons
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exemplos não vem ao caso, pois é logicamente possível que certos bens justificam
certos males, e é impossível provar o contrário.
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As Três Teodiceias
Se ela, em seguida, faz uma pausa e pede à sua filha, "Você entende, querida?",
não se surpreenda se a menina respondesse: "Sim, mamãe, mas ainda dói!". Toda a
explicação, naquele momento, não impede a sua dor. A criança não precisa de um
discurso; ela precisa de abraços e beijos de sua mãe. Haverá um tempo para o discurso
mais tarde; agora ela precisa de conforto.
20 As Três Teodiceias
Enquanto o cuidado pastoral pode muito bem ser um elemento importante na
resposta àqueles que experimentam dor e sofrimento, ele não faz nada para resolver
os problemas teóricos remanescentes observados acima. Existem maneiras de
realmente explicar por que Deus permitiria o mal no mundo? Há, de fato. Houve uma
série de tentativas de justificar a Deus e os caminhos de Deus dada a realidade do mal.
Tais respostas são chamadas teodiceias, e a seguir vamos examinar as três mais
importantes.
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As Três Teodiceias
Esta tem sido a teodiceia mais utilizada no Ocidente desde o século V da era
comum, e ela ainda é amplamente utilizada hoje, por exemplo, na excelente obra de
Richard Swinburne (1998).
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As Três Teodiceias
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As Três Teodiceias
certa. Infelizmente, elas não podem ser sempre atraídas, e às vezes elas fazem as
escolhas erradas; às vezes elas fazem coisas más. Todas as entidades, incluindo Deus,
continuam a evoluir, e a esperança é que, eventualmente, todo o mal será erradicado
na medida em que as criaturas livres aprendam com as experiências anteriores (suas
próprias e aquelas da história) o que é, em última análise, bom e certo. Podemos
delinear a teodiceia do processo como exposta no Quadro, a seguir.
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As Três Teodiceias
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Referências
21 Referências
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Cornell University Press, 2000.
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Paulo: Nova Cultural, 1996.
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Petrópolis: Vozes; São Paulo: Fundação Agostiniana Brasileira, 1990.
BEEBE, James R. O problema lógico do mal. Trad. Gilmar Pereira dos Santos. 2011.
Disponível em: <https://rebeldiametafi sica.wordpress. com/2011/06/24/o-problema-
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HUME, David. Diálogos sobre a religião natural. Trad. José Oscar de Almeida Marques.
São Paulo: Martins Fontes, 1992.
LAW, Stephen. O desafio do Deus malévolo. Trad. Gilmar Pereira dos Santos. Religious
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MACKIE, J. L. Mal e onipotência. In: BONJOUR, Laurence; BAKER, Ann. Filosofia: Textos
Fundamentais Comentados.
MIRANDA, Sergio (Ed.). O Problema do Mal: uma antologia de textos filosóficos. Maríl
ia: Poiesis, 2013.
PINKER, Steven. Os anjos bons da nossa natureza: por que a violência diminuiu. Trad.
Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
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Referências
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edu. 1998. Disponível em: <http://
traducoesessenciais.blogspot.com.br/2009/03/democidio-versusgenocidio-qual-e-o-
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SWINBURNE, Richard. Providence and the problem of evil. Oxford: Claredon Press,
1998.
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