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Confecção de solenoide para geração de campos magnéticos

Technical Report · January 2020

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José Augusto Devienne


Peking University
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Confecção de solenoide para geração
de campos magnéticos

Autor: José Augusto Proença Maia Devienne


Orientador: Prof. Dr. Giancarlo Scardia

Rio Claro
2020
Sumário

1 Introdução 3

2 Fundamentos teóricos 4
2.1 Lei de Biot-Savart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

3 Confecção do solenoide 8
3.1 Testes iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

4 Conclusões 10

Referências bibliográficas 10

2
1 | Introdução

Neste relatório será apresentado o protocolo de projeção e construção de sole-


noide para geração de campos magnéticos. Antes de apresentar o procedimento de
confecção será feita uma breve introdução teórica sobre a física dos solenoides, a fim
de justificar as escolhas, tanto geométricas quanto de materiais, para a construção
do equipamento.

3
2 | Fundamentos teóricos

2.1 Lei de Biot-Savart

A lei de Biot – Savart é uma equação empírica, proposta pelos franceses Jean
Baptiste Biot e Félix Savart, que descreve o campo magnético B gerado por um fio
que transporta corrente elétrica i,

r − r0
I
µ0
B= idll × (2.1)
4π |rr − r0 |3
onde dl é um incremente infinitesimal de comprimento do fio, r marca a distância
da fonte de campo (i.e., a corrente i que é transportada no incremente dl ) e r’ a
posição onde deseja-se determinar o valor do campo.

Figura 2.1: Um fio qualquer e os elementos dl transportando corrente i, r e r’ cuja


determinação permite obter expressões para campos magnéticos dB. [1]

A lei de Biot – Savart é sempre válida, embora exija que o sistema em estudo
seja dotado de uma geometria que permita a solução analítica da equação 2.1. Con-
siderando um fio condutor de corrente elétrica enrolado em forma de espira com
raio R (Figura 2.2), a adequação dos parâmetros da equação 2.1 para o sistema de
coordenadas polares permite determinar uma expressão para o campo magnético
produzido pelo arranjo:

4
dll = Rdθθθ (2.2a)
r = zkk (2.2b)
r0 = R cos θii + R sin θjj (2.2c)
r − r0 = zkk − R cos θii − R sin θjj (2.2d)

|rr − r0 | = z 2 + R2 (2.2e)

Figura 2.2: Enrolamento em forma de espira transportando corrente i. [1]

Levando as considerações apresentadas nas equações 2.5 na equação 2.1, o re-


sultado obtido é dado por:

Z 2π
µ0 iR
Besp = [z cos θii + z sin θjj + Rkk ]dθ (2.3)
4π(z + R2 )3/2
2
0

onde i . j e k são os versores normais a x, y e z respectivamente, e θ o ângulo entre


o vetor r e o eixo x.
A resolução da equação 2.3 pode ser feita analisando separadamente as compo-
nentes i, j e k da integração. Esse procedimento permite inferir que Bx = By = 0,
restando apenas a componente k para o campo total gerado pela espira.

µ0 iR2
Bz = Besp = k (2.4)
2(z 2 + R2 )3/2
Um solenoide consiste em um enrolamento de formato cilíndrico de raio R,

5
Figura 2.3: Linhas do campo magnético (em azul) produzido pelo solenoide [2] à
esquerda e, à direita, representação geométrica de um solenoide com N espiras, de
comprimento L. A determinação do campo no ponto P pode ser obtida pela lei de
Biot–Savart. [1]

formando por N espiras uniformemente distribuídas ao longo de um comprimento


L. Esse tipo de equipamento tem a propriedade produzir campos magnéticos cuja
direção de atuação jaz ao longo do eixo do cilíndro.
A geometria cilíndrica do solenoide exige que os parâmetros da equação 2.1 sejam
reescritos da seguinte maneira:

dll = Rdθθθ (2.5a)


r = zkk (2.5b)
r0 = R cos θii + R sin θjj + z 0k (2.5c)
r − r0 = (z − z 0 )kk − R cos θii − R sin θjj (2.5d)
p
|rr − r0 | = (z − z 0 )2 + R2 (2.5e)

Portanto, o campo gerado pelo solenoide exige, tal como no caso da espira, que
seja realizada a integração nas componentes i, j e k separadamente.

L 2π
dz 0
Z Z 
N µ0 iR 0 0
Bs = p [(z − z ) cos θii + (z − z ) sin θjj + Rkk ]dθ
4πL 0 (z − z 0 )2 + R2 0
(2.6)
A integração entre chaves é semelhante à realizada no caso da espira. Nova-
mente, Bx = By = 0 e apenas a componente k contribui para o campo produzido
pelo solenoide:

6
L
N µ0 iR2 dz 0
Z
Bz = Bsol = k (2.7)
2L 0 [(z − z 0 )2 + R2 ]3/2
Definindo os ângulos ψ1 e ψ2 conforme indicado na Figura 2.4, o resultado da
interação da equação 2.7 representa o campo magnético produzido no ponto P1 no
centro do solenoide.

N µ0 i
Bsol = (sin φ2 − sin φ1 )kk (2.8)
2L

Figura 2.4: Ângulos ψ1 e ψ2 para o cálculo do campo gerado por um solenoide no


ponto P1 sobre o eixo no interior do equipamento. Adaptado [3].

Um resultado importante pode ser obtido considerando o caso em que o sole-


noide é longo (i.e., L → ∞) ou quando o comprimento L é muito maior do que o raio
R (L >> R). Para esses casos, a equação pode ser expandida em série de Taylor
e, considerando o termo de menor ordem, o campo em P1 pode ser reescrito como
segue:

Bsol = nµ0 ikk (2.9)

que mostra que no interior do solenoide, o campo produzido no centro do equipa-


mento não depende das propriedades geométricas do mesmo, mas apenas da corrente
que circula no equipamento. Nesse caso, n = N/L representa a densidade de espiras
por unidade de comprimento.

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3 | Confecção do solenoide

Para o enrolamento do solenoide (Figura 3.1) foi utilizado fio de cobre no 10


de acordo com a classificação AWG. A Tabela 1 mostra valores do diâmetro, da
área de secção reta, a densidade de massa por comprimento, a resistência elétrica
e a capacidade máxima de corrente suportada para fios AWG 0000 a AWG 10. Os
valores expostos na Tabela 3.1 foram utilizados para o cálculos de estimativa da
potência dissipada.

Figura 3.1: esquema do solenoide projetado: d representa o diâmetro do fio, A a área


da secção reta do solenoide e L seu comprimento. [4]

O comprimento do solenoide foi projetado para 1 m, ou seja, longo o suficiente


para que uma grande porção do equipamento apresentasse campo praticamente cons-
tante. Esse fato permitirá que um maior número amostras possa ser estudado ao
mesmo tempo.
O diâmetro do equipamento projetado foi de 10 cm. A partir do valor de diâ-
metro para o fio no 10 dado na Tabela 3.1, a densidade de espiras por centímetro foi
calculada em aproximadamente 3 espiras/cm, de modo que o solenoide apresentasse
300 espiras distribuídas ao longo do comprimento total.
Cada espira do solenoide apresenta raio igual à 5 cm e, conhecido o número total
de espiras esperadas, foi possível determinar o comprimento total de fio necessário
para a confecção do equipamento. O total de fio utilizado foi de 40 m, pouco além
do necessário para que pudessem serem feitas as ligações elétricas que alimentariam
o equipamento.

8
Tabela 3.1: Tabela de fios AWG. [5]

Número Diâmetro Secção Resistência Corrente


2 kg/km
AWG (mm) (mm ) (ohms/km) (A)
0000 11,86 107,2 0,158 319
000 10,4 85,3 0,197 240
00 9,226 67,43 0,252 190
0 8,252 53,48 0,317 150
1 7,348 42,41 375 1,4 120
2 6,544 33,63 295 1,5 96
3 5,827 26,67 237 1,63 78
4 5,189 21,15 188 0,8 60
5 4,621 16,77 149 1,01 48
6 4,115 13,3 118 1,27 38
7 3,665 10,55 94 1,7 30
8 3,264 8,36 74 2,03 24
9 2,906 6,63 58,9 2,56 19
10 2,588 5,26 46,8 3,23 15

3.1 Testes iniciais


O equipamento teste construído em Setembro de 2017 seguindo esse protocolo
apresentou resultados satisfatórios durante a etapa inicial de testes. Com o auxílio
do teslômetro axial da marca Phywe modelo 13610-01, fornecido pelo Depto. de
Fìsica da Unesp/Rio Claro, os primeiros testes do solenoide buscaram avaliar se o
equipamento era capaz de gerar os campos esperados (da ordem de µT até apro-
ximadamente 10 mT). Para regiões próximas ao centro do equipamento, a relação
entre o campo gerado e a corrente que circulava o equipamento era praticamente
linear, como era esperado conforme proposto pela equação 2.9.

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4 | Conclusões

Neste relatório foi apresentado o protocolo de projeção e construção de sole-


noide para geração de campos magnéticos contínuos e alternados. Equipamentos
desse tipo são amplamente empregados para fins científicos, sendo a motivação da
elaboração desse protocolo o interesse em utilizar-se de fontes de campos magnéticos
para o estudo de propriedades magnéticas de rochas.
Os testes iniciais realizados no equipamento teste confeccionado em Setembro
de 2017 mostraram-se de acordo com as previsões teóricas. Quando alimentado por
fontes de corrente contínua, o equipamento foi capaz de gerar campos cuja resposta
era essencialmente linear com a corrente induzida. Esse resultado corrobora com o
exposto na equação 2.9 e confirma, portanto, a viabilidade de seguir a metodologia
exposta para a confecção de equipamentos dessa natureza.
Esse projeto contou com o apoio financeiro da CAPES (no 42186 - PIBIC/PIBIT
2017/2018) em forma de bolsa de iniciação científica (IC) durante o período entre
Agosto/2017 a Dezembro/2017.

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Referências Bibliográficas

[1] Machado, K. D., Teoria do eletromagnetismo - Volume II. Editora UEPG,


Ponta Grossa (2002).

[2] HyperPhysics, Solenoid. Disponível em: http://hyperphysics.phy-astr.


gsu.edu/hbase/magnetic/solenoid.html.

[3] Birk, F. T., Campo magnético de um solenoide. Relatório final de


atividades (F-809 - Instrução para o ensino), Unicamp. Disponível
em: https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/
F809/F809_sem2_2004/004910_Felipe-Pudenzi_RF_II.pdf

[4] Wayne, T., ’Mrs. Wayne’s Physics Classes’ Resource Site. Disponível em:
http://www.mrwaynesclass.com/magnetism/reading/index07.html

[5] Novacon, Tabela de Fio AWG. Disponível em: http://www.novacon.com.br/


audiotabawg.htm

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