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DENGUE

A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

MARIANA VILLALÔBOS CABRAL


Serviço de Patologia Clínica do Hospital Dr. Nélio Mendonça
Caso clínico
52 anos 13/11:

social HEMOGRAMA
autónomo trombocitopénia (52.000/μl)
casado, 2 filhos leucopénia (1.200/μl)
natural do Funchal pesquisa plasmódio
residente em C. Lôbos 10/11: negativa
mialgias
epidemiológico cefaleias intensas QUÍMICA
embaixada de França febre aumento AST (94) e LDH
múltiplas viagens a países (505)
africanos, em trabalho malária/dengue?
10/10 a 11/11: Burkina Faso SEROLOGIA
nega uso de repelente artemether 80 + lufemantrine 480 Ac específicos negativos
provável picada de mosquito + paracetamol Ag NS1 positivo

vacinação: BM
febre amarela (2019) ZIKV e CHIKV negativos
11/11 DENV positivo (DENV-3)
Dengue
ARBOVIROSE
Vírus transmitidos por artrópodes
Flavivírus

VETOR
mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus
possível emergência em novas áreas na presença do
vetor com capacidade para transmitir o vírus

ECDC 2023
A. aegypti estabelecido na RAM
dengue
febre amarela
chikungunya
zika
vírus do Nilo Ocidental
A NOSSA REALIDADE
ECDC (maio 2023): A. aegypti estabelecido na RAM
Nº de casos notificados de dengue/100 000 habitantes,
agosto-outubro 2023

maioria dos casos: América do Sul e Central


África: subnotificado!
CHIKVD: 483 casos em África até out/2023
(++ Senegal, Gambia, Burkina-Faso e Mali)
DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA

Lista de doenças transmissíveis de notificação obrigatória


(Despacho nº 15385-A/2016 de 21 de dezembro)
Doenças de Declaração Obrigatória
Botulismo Doença Invasiva Pneumocócica Hepatite B Paralisia Flácida Aguda Tétano, excluindo Tétano Neonatal
Doença Invasiva por Haemophilus
Brucelose Hepatite C Parotidite Epidémica Tétano Neonatal
influenzae
Campilobacteriose Ébola Hepatite E Peste Tosse Convulsa
Infeção pelo novo Coronavírus (MERS-
Cólera Equinococose/Hidatidose Poliomielite Aguda Toxoplasmose Congénita
CoV)
Criptosporidiose Febre amarela Infeção por Bacillus anthracis Raiva Triquinelose
Infeção por Chlamydia trachomatis,
Dengue Febre Escaro-Nodular (Rickettsiose) Incluindo Linfogranuloma venéreo Rubéola Congénita Tuberculose

Difteria Infeção por Escherichia coli produtora Rubéola, excluindo congénita Tularémia
Febre Q
de Toxina Shiga ou Vero (Stec/Vtec)
Salmoneloses não Typhi e não
Doença de Creutzfeldt–Jakob (DCJ) Febre Tifoide e Febre Paratifoide Infeção por vírus do Nilo Ocidental Varíola
Paratyphi
Doença de Creutzfeldt -Jakob Febres hemorrágicas virais e febres VIH (Infeção pelo vírus da
Infeção por vírus ZIKA Sarampo
variante (vDCJ) por arbovírus imunodeficiência humana) /SIDA
Doença de Hansen (Lepra) Giardíase Leishmaniose Visceral Shigelose Yersiniose

Doença de Lyme (Borreliose) Gonorreia Leptospirose Sífilis Congénita Resistências aos antimicrobianos

Doença dos Legionários Gripe Não Sazonal Sífilis, excluindo Sífilis congénita
Listeriose
Doença Invasiva Meningocócica Hepatite A Síndroma Respiratória Aguda - SARS
Malária
PRINCIPAIS
CARATERÍSTICAS

AGENTE PATOGÉNICO TRANSMISSÃO INCUBAÇÃO


4 serotipos do vírus da Dengue picada de mosquito vetor 3-7 dias
(DENV): DENV-1, DENV-2, DENV- transmissão vertical (mãe-filho) rara pode prolongar-se até 14 dias
3, DENV-4 contacto com sangue

imunidade permanente para o serotipo envolvido


proteção cruzada transitória
evidência clara de que uma infeção por serotipo
heterólogo, resulta em casos mais graves de Dengue
LABORATORIALMENTE:
MANIFESTAÇÕES ≤
trombocitopénia ( 100.000/μl)
leucopénia ou discreta leucocitose
linfocitose com linfócitos atípicos (após a descida da febre)

hemoconcentração (aumento 20% Htc ou redução 20% ≥
após fluidotx)
hipoproteinémia
aumento AST (2-5x LSN)
aumento aPTT (- freq)
diminuição fibrinogénio (- freq)
DENGUE FEBRIL

FEBRE e ≥2 dos seguintes: DENGUE HEMORRÁGICA (DHF)/ SÍNDROME DE


cefaleias CHOQUE DA DENGUE (SCD)
dor ocular/retroorbitária aumento permeabilidade vascular - risco de
mialgias e/ou artralgias choque hipovolémico
rash clinicamente: derrame pleural, ascite, vómitos
manifestações hemorrágicas persistentes, agitação/letargia, febre,
leucopénia manifestações hemorrágicas
3 FASES
++ 2ª infeção DENV com
serotipo diferente da inf. FASE DE RECUPERAÇÃO
primária (>18 meses após a
primeira infeção)
1-2 dias após descida da febre
FASE FEBRIL melhoria rápida da
trombocitopénia
3-7 dias
resolução da hipovolémia
febre súbita FASE CRÍTICA estabilização dos sinais vitais
cefaleias 24-48H
mialgias e/ou artralgias
sintomas GI e respiratórios hipovolémia (hemoconcentração)
diminuição perfusão de orgãos
trombocitopénia
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
CLÍNICA TÍPICA + EXPOSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA RELEVANTE
primeiras manifestações Zika, Chikungunya e Dengue podem ser indistinguíveis!

Ac específicos reatividade cruzada (inf. recente ou vacinação com


flavivírus antigenicamente relacionado):
febre amarela
T. serológicos IgG e IgM zika
encefalite japonesa

virémias curtas
deteção molecular (1-5 dias após início sintomas)
sensibilidade 60-80% na inf.
secundária deteção da proteína NS1 do Ag viral (1-7 dias após início sintomas)
cultura viral resultados não disponíveis num período
de tempo clinicamente significativo
BIOLOGIA MOLECULAR
TIMELINE DA DENGUE
NAAT
5 dias

NS1
7 dias

virémia
5-6 dias

incubação sintomas
4-7 dias (3-14) 7 dias

1 2 3 4 5 6 7
10/11 13/11 16/11 alta contra parecer médico

IgM
SEROLOGIA

4º dia

IgG
4º - 7º dia
Na prática...

CLÍNICA SEROLOGIA BIOLOGIA MOLECULAR


+
CONTEXTO EPIDEMIOLÓGICO RT-PCR:
pesquisa molecular
IMUNOCROMATOGRAFIA DE
AMOSTRA (multiplex): DENV, CHIKV,
FLUXO LATERAL (IgM/IgG/NS1)
ZIKV
5mL sangue em tubo seco
subtipagem (teste reflexo):
ou 2mL soro
DENV1, DENV2, DENV3 e
LCR (se manifestações neurológicas)
DENV4
Na prática...
caso confirmado critérios laboratoriais
≥1 dos seguintes
ISOLAMENTO DO VÍRUS DETEÇÃO DO ANTIGÉNIO DETEÇÃO DE ÁCIDO
NUMA AMOSTRA VIRAL NUMA AMOSTRA NUCLEICO DO VÍRUS NUMA
BIOLÓGICA BIOLÓGICA AMOSTRA BIOLÓGICA

RESPOSTA DE IgM ESPECÍFICA


SEROCONVERSÃO EM
NUMA ÚNICA AMOSTRA DE
AMOSTRAS EMPARELHADAS Ac ESPECÍFICOS NUMA
SORO E CONFIRMAÇÃO POR
(10-14 dias) ÚNICA AMOSTRA DE SORO
NEUTRALIZAÇÃO

caso provável
INTERPRETAR DE ACORDO COM O ESTADO
VACINAL E EVENTUAL EXPOSIÇÃO PRÉVIA A
OUTRAS INFEÇÕES POR FLAVIVÍRUS
UPTODATE.COM

ECDC.EUROPA.EU

BIBLIOGRAFIA
DGS.PT
DENGUE
A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

MARIANA VILLALÔBOS CABRAL


Serviço de Patologia Clínica do Hospital Dr. Nélio Mendonça

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