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Sumário
1. Sumário ................................................................................................................................ 2
2. Introdução ............................................................................................................................ 3
3. Método Terapêutico ............................................................................................................4
4. Desintoxicação ..................................................................................................................... 6
5. Do tempo de desintoxicação e do tempo de permanência na casa de triagem ...................7
6. Da acolhida fraterna na casa de triagem ..............................................................................8
5.1 As triagens .........................................................................................................................9
5.2 Encaminhamento do “Filho” ............................................................................................ 11
5.3 Obrigatoriedades:.............................................................................................................11
5.4 Exames obrigatórios .........................................................................................................12
5.5 O trabalho formativo ........................................................................................................12
5.6 A vídeo-terapia .................................................................................................................13
5.7 O retiro de sexta-feira ......................................................................................................13
5.8 A atividade Física ..............................................................................................................14
5.9 Atividade Lúdica ...............................................................................................................15
5.10 Psicoterapia em grupo ou individual. .............................................................................15
5.11 O trabalho com as famílias ..........................................................................................16
7. Programa formativo dos “filhos”na casa de triagem ..........................................................18
8. Dependência Química I– Conceitos básicos .......................................................................19
9. Dependência Química II - O caminho da mudança............................................................. 21
10. A espiritualidade do dependente químico na casa de triagem ......................................25
11. O valor do trabalho no processo terapêutico .................................................................27
12. A oração: Nossa principal arma no combate ..................................................................31
13. O valor da disciplina .......................................................................................................33
14. Introdução à vida espiritual: a piedade. .........................................................................37
15. Fé, a resposta do homem a Deus ...................................................................................39
Anexo I ...................................................................................................................................43
Anexo II..................................................................................................................................48

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1. Introdução

A Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, desde a sua inspiração fundante sempre
buscou atender o grito dos sofredores e aos apelos da Igreja. Desse modo, desde o início
entendeu como “Filhos Prediletos” os pobres de Deus, pois “quando fizestes isso a um
desses pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Em meio à realidade dos pobres
em seus múltiplos rostos, o primeiro grito que nossa pequena obra escutou foi o grito do
flagelado escravizado pelo uso abusivo das drogas. Passo a passo, baseado em outros
métodos e em nossas experiências, fomos aprendendo e desenvolvendo o nosso método
terapêutico.1
“Queremos ir ao encontro dos jovens marcados pelo flagelo das drogas e que
fizeram do prazer a finalidade última de suas vidas. Queremos ir ao encontro dos
jovens que, por causa de comportamentos inconsequentes ou pela falta de
oportunidade, se encontram nas “biqueiras”, nas “zonas”, nas ruas, nas cadeias etc.
A eles oferecemos um lar para recomeçar: casas de acolhida para ajudá-los na luta
contra os vícios; encontros de evangelização que possibilitem o encontro
misericordioso com a pessoa de Jesus e a vida nova inaugurada pelo derramamento
do Seu Espírito. A eles oferecemos também nosso tempo, para que através de um
diálogo acolhedor se sintam amados, valorizados e respeitados.” (NF 79)

1
Apostila Sede Sóbrios, p.6.

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2. Método Terapêutico

Respondendo a esse grito, nossa Fraternidade tem se dedicado à salvação das


almas dos nossos “filhos prediletos” pelo processo de acolhida e reinserção social que vai
desde o trabalho de abordagem (pastoral de rua),
acolhimento (casa de triagem), recuperação (comunidade
terapêutica) e ressocialização. E para que os filhos
prediletos encontrem, ao regressarem para seus lares, um
ambiente familiar sadio, também se desenvolveu o
trabalho de apoio aos seus familiares. Os filhos passam
cerca de nove meses em tratamento, cujo alicerce
metodológico é cimentado em quatro pilares
fundamentais que se desenvolveram a partir das
inspirações de Deus ao nosso Carisma ao longo dos anos:

1- Comunhão fraterna - Queremos dar aos nossos “filhos prediletos” uma


família.
2- ODT2 - O tripé: Oração, Disciplina e Trabalho.
3- Formação - Formamos e reeducamos nossos “filhos prediletos” para que se
tornem bons homens, bons cidadãos, bons cristãos e bons soldados de Cristo.
Os 12 passos - Seguindo as diretrizes do livro os “Passos para os cristãos -
uma jornada para o amor exigente”

O tratamento funciona em um regime de internação voluntária e o processo


terapêutico tem a duração de aproximadamente nove meses. Respeitando a
liberdade do indivíduo e observando a necessidade de colaboração para
obtenção de resultados positivos durante o tratamento, poderá ocorrer a

2
De acordo com a espiritualidade de nosso método terapêutico o tripé: Oração, Disciplina e Trabalho, é
apresentado aos “filhos” nesta ordem. A finalidade de tal ordenamento é apresentar ao “filho” a autêntica
escala de valores com a qual ele deve sustentar sua sobriedade. A oração vem em primeiro lugar pois
trata-se do único meio de reaproximar o homem de Deus. É pela oração que o “filho” reconhece sua
dignidade filial. “Já não sois escravos, mas filhos. E se sois filhos sois também herdeiros, por Deus” (Gl 4,7)
De acordo com a tradição de nosso método “Tudo parte da oração”. Em seguida temos a Disciplina. Por
se tratar de uma virtude que ordena a vida do homem, ela o capacita para o trabalho e por concomitância
o auxilia a uma autêntica vida de oração. Em terceiro lugar, porém não menos importante, vemos o
trabalho. Ensinar o “filho” o valor do trabalho, é auxiliá-lo a construir uma vida digna para si e para os
seus.

4
interrupção do tratamento por iniciativa do dependente ou por avaliação
criteriosa do religioso responsável, quando se verificar situações que
prejudicam o desenvolvimento do processo terapêutico, o bom relacionamento
entre os internos e a harmonia da casa. A convivência é desenvolvida em um
ambiente harmonioso e acolhedor, primando pelo respeito mútuo, de forma
que haja uma preocupação com a recuperação individual e do grupo. Dessa
forma, a convivência acaba por se tornar relevante instrumento terapêutico,
viabilizando o resgate da cidadania do indivíduo através de reabilitação
psicológica, física, social e espiritual.3

A seguir, temos a exposição das fases do processo terapêutico:

1. Triagem, desintoxicação e adaptação (30 a 45 dias)4 - Pré-tratamento;


2. Tratamento inicial (1 a 3 meses);
2.1. Início dos 12 passos
• Passos da desconstrução (1º ao 4º passo)
• Continuação da desintoxicação e adaptação
2.2. Conscientização (3 a 6 meses)
• Passos da conscientização (5º ao 8º passo)
• Tomada de real consciência acerca do tratamento
• Conhecimento dos defeitos de caráter
• Definição de plano de tratamento a partir do inventário moral
2.3. Reintegração (6 a 9 meses)
• Passos da reintegração (9º ao 12º)
• Todas as atividades da Fase Anterior
• Prevenção de Recaída
• Treinamento de Estratégias e Habilidades de Enfrentamento das Situações
de Risco
3. Ressocialização (após o término do tratamento)
• Voluntariado
• Presença no Sede Sóbrios, Formações, Sala de Apoio
• Vida de Oração, Vida Fraterna, Disciplina e Trabalho
• Vida de Comunidade (pastorais, atividades recreativas, formações, retiros
etc.)

3
Idem, p.10.
4
Em alguns casos o tempo de triagem poderá ser reduzido a 15 dias. Exemplo; A Fratérnitas São Tarcísio
que está localizada em um local de risco para o acolhido, situação como; está durante a refeição sentido
o cheiro da droga.

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3. Desintoxicação

“A desintoxicação de drogas é o processo


de remoção das substâncias do organismo de uma
pessoa dependente. As intervenções variam de
pessoa para pessoa e devem ser indicadas por
médicos experientes em um ambiente preparado.”5
Nas primeiras semanas o filho predileto
ainda está sob o efeito do álcool ou de outras
substâncias psicoativas. Nesse processo de
desintoxicação é fundamental o acolhimento e
reconhecimento das necessidades fisiológicas, farmacológicas, psicoemocionais e
espirituais das quais os filhos sentem necessidade de ajuda.
É necessária atenção redobrada do cuidador (sobretudo do religioso que convive
diretamente com os “filhos”) para evitar a desistência, sendo certo que o “filho predileto”
passará por momentos e pensamentos de ambivalência, ora acreditando nos prejuízos que
a substância lhe causa, ora desejando os prazeres da droga.
Neste período é aconselhável a primeira consulta médica e psiquiátrica para
garantir o mínimo de sofrimento durante as crises de abstinência, visto que as substâncias
psicoativas causam alterações farmacológicas no sistema nervoso central, causando desse
modo a necessidade de, em muitos casos, fazer uso do auxílio medicamentoso para que
haja a estabilização (lembrando que esse auxílio deve ser temporário).
Porém isso em casos muitos específicos, pois nosso carisma não faz uso de
substâncias psicoativas sem um problema vigente; ou ao menos uma constatação da real
necessidade medicamentosa. (É fato que muitos “filhos” sobre tudo os que vêm a nós
encaminhados pelo CAPS, chegam com prescrição medicamentosa que desfavorece
muitas vezes a assimilação do real tratamento, pois seus medicamentos foram pensados
para um adicto em convivência urbana, muitas das vezes em um ambiente hostil familiar;
ou seja o médico olha o indivíduo dentro dessa realidade e não dentro de uma realidade
terapêutica, por isso é importante termos um psiquiatra que conheça os nossos trabalhos
para que quando for necessário, nos ajude.

A abstinência gerará no organismo respostas biológicas que causarão profunda


dor e sentimento de que a opção pelo tratamento é algo que deverá ser abandonado. A
sensação é de que tudo o que está sendo feito lhe causa maior sofrimento do que a
permanência no uso da substância. “O filho predileto” tem a sensação de que sua decisão
é errada, que a dor não passará e que o tratamento não está lhe proporcionando sucesso e
tampouco lhe trazendo melhorias e consequente felicidade. Essas impressões são
obviamente falsas e o leva a más interpretações, daí mais uma vez se percebe a urgente
5
Disponível em https://hospitalsantamonica.com.br/conheca-as-fases-da-desintoxicacao-do-
dependente-quimico acessado em 23 de maio de 2023.

6
necessidade de um acompanhamento deste “filho” por parte dos cuidadores cada vez mais
próximo, usando aqui das virtudes da compaixão e misericórdia tão caras ao nosso
Carisma.

4. Do tempo de desintoxicação e do tempo de permanência


na casa de triagem

Quanto tempo a droga fica no organismo?

“A Maconha é uma das que mais demoram para sair do corpo, demorando de 7 a 30
dias. Já as drogas mais pesadas, como cocaína e heroína, podem desaparecer do corpo
em quatro dias, sem deixar nenhum rastro. O problema é quando as pessoas consomem
de maneira exagerada, não dando nem tempo para que o organismo elimine a
substância.
O álcool é uma substância que fica na urina por 3 a 5 dias, no sangue por 10 a
12 horas e no cabelo até 90 dias. Já as anfetaminas ficam na urina de 1 a 3 dias, no
sangue cerca de 12 horas, no cabelo até 90 dias. A Cannabis – maconha - fica no
organismo por 30 dias na urina, no sangue por duas semanas e no cabelo até 90 dias.
Em relação a cocaína, na urina se apresenta por 3 a 4 dias, no sangue de um a
dois dias, no cabelo até 90 dias. Já para heroína, o tempo que leva para desintoxicar o
organismo de drogas é de três a quatro dias na urina, no sangue 12 horas até e no cabelo
por 90 dias. O LSD de uns até três dias na urina, no sangue de 2 a 3 horas, e no cabelo
até 3 dias. Já para morfina, são 2 a 3 dias na urina, no sangue de 6 a 8 horas, no cabelo
até 90 dias.”6
De acordo com as experiências, tendo em vista o grau de complexidade maior
ou menor acerca das demandas de cada filho predileto, percebe-se a necessidade do
respeito do tempo limite.
Sendo assim fica determinado que o período da triagem é do no mínimo 30 dias e no
máximo 45 dias.7
Em anexo segue conteúdo sobre drogas importantes para uma boa abordagem e
compreensão do que é a dependência química.

6
https://www.clinicaderecuperacaobrasil.com/quanto-tempo-leva-para-desintoxicar-o-organismo-de-
drogas, acessado em 23 de maio de 2023.
7
Com exceções já apresentada no item, 2 Método terapêutico - Triagem, desintoxicação e adaptação

7
5. Da acolhida fraterna na casa de triagem

Neste quesito afirmamos que, se queremos que nossas casas de triagem sejam eficazes e
realmente iniciem um verdadeiro processo de tratamento e conversão dos nossos “filhos
prediletos”, faz-se necessário alimentar a atitude baseada em uma real atenção e parar
para estar com o “filho” e com ele fazer vida fraterna e convivência, entender que não
se trata de simples manipulação ou “frescura”, mas que realmente o “filho predileto”
está sofrendo com este período de adaptação no qual surgem diversas causas de
indisposição física e psíquica como abstinência (a falta da droga em seu organismo), a
falta de energia, a fome aumentada... Tudo isso exige atenção redobrada.
Nesta fase inicial duas posturas acolhedoras são essenciais: PROXIMIDADE E ESCUTA.
Nossa regra de vida afirma o seguinte:

“Na vivência da Koinonia (comunhão) queremos que os pobres experimentem através


da nossa vida fraterna o quanto são amados, acolhidos e compreendidos em suas dores
e lutas. Para que isso aconteça, porém, é necessário que ela seja vivida num clima de
família e de mútua responsabilidade onde os pobres partilham da nossa vida espiritual,
missionária e dos mais diversos serviços cotidianos.” (NF 74-75)

Ex.: jogar dama, chamá-lo para ajudar-nos na cozinha, fazer uma tarefa da casa junto,
assistir uma palestra. Criar momentos para dar atenção e estar junto etc. Ao passar pelo
“filho”, converse com ele, olhe para ele, pergunte como está, se ele está precisando de
algo, o convide para ajudá-lo, não esperar que o chame, é preciso chama-lo e pedir
ajuda.

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5.1 As triagens

Neste contexto, a seguinte cartilha se predispõe a trazer


uma alternativa prática para o primeiro período do tratamento:
a triagem. O procedimento característico do período de triagem
é a coleta do histórico clínico. Este instrumento nos possibilita
conhecer o contexto dentro do qual a dependência se
desenvolveu, além de identificar os fatores que favoreceram a
instalação e a manutenção da dependência, os fatores de
proteção, estabelecer uma hipótese diagnóstica e o plano de
tratamento individualizado.
Tendo em vista que a casa de triagem é essencialmente necessária para a melhor
realização do plano terapêutico, vale salientar que nas missões onde for possível a casa
de triagens deve-se ocupar também das seguintes resoluções e observações:
a) Observação Clínica: Nesse período é necessário observar se o “filho” tem
a real condição de assimilar o nosso tratamento terapêutico; se possível levar
para uma consulta psiquiátrica caso observemos uma não correspondência
do mesmo para que diante de uma ajuda profissional possamos melhor
antever se á ou não a condição da correspondência.
b) Encaminhamento e solicitação de exames: Haja vista que, nossas casas
terapêuticas em sua maioria são distantes das respectivas cidades é
importante que façamos exames básicos, como DST (Sífilis, HIV),
Tuberculose, Diabetes, hipertensão e qualquer outra doença pandêmica que
seja necessário (como por exemplo como foi o caso da COVID-19), sendo
assim conseguiremos melhor cuidar e zelar pela saúde do filho no período
das triagens e posteriormente na fase seguinte.
c) Documentação: É extremamente importante que providenciemos no
período de triagens ao menos RG e cartão do SUS, uma vez que consta em
regulamento que faremos uso do Sistema Único de Saúde. (É comum em
muitos lugares que não consigamos atendimentos para os filhos sem essa
documentação)
d) Antecedentes Criminais: Fase importante nesse período resolvermos ou ao
menos encaminhamos as pendências ante ao ministério público dos nossos
“filhos” sobre tudo as que venham a de alguma forma atrapalhar ou requerer
inúmeras ausências do plano terapêutico.

Tendo em consideração o supracitado, o objetivo do presente trabalho é:


Propiciar um adequado período de adaptação nos filhos acolhidos durante a
triagem, sendo inseridos na dinâmica de tratamento terapêutico proposto pela Casa
de Acolhida Filhos Prediletos. A triagem visa conhecer sua etiologia8, bem como seu
nível de envolvimento com substâncias psicoativas.

8
Parte da medicina que estuda as causas das doenças.

9
O processo inicial de triagem quando a demanda vem da pastoral de rua possui
uma característica diferente. Parte de uma investigação dos motivadores para o tratamento
na própria abordagem. Buscar conhecer a história da pessoa, quanto tempo está na rua e
o que a mantém (mesmo que pareça óbvio, é necessário obter esta informação da própria
pessoa). É de suma importância de haver com o acolhido, o estabelecimento de um
vínculo suficientemente bom desde a pastoral de rua, pois facilitará a promoção da
necessidade intrapsíquica (interna) de tratamento.
Na história clínica9 devem conter o maior número de informação possível, como:
• Dados Pessoais: (Nome, Idade, Sexo, Estado Civil, Filhos, Naturalidade,
Nacionalidade, Religião, Cor, Escolaridade, Profissão);
• História do Encaminhamento;
• História Familiar;
• Genograma;
• História Pessoal;
• História Sexual/Conjugal;
• História Ocupacional;
• História Social;
• História Forense.
• História Médica/Psiquiátrica;
• História de atendimentos para problemas com drogas;
• História de uso;
• Problemas relacionados com a dependência (físicos, psicológicos e
sociais);
Após a coleta dos dados, estabelece-se uma hipótese diagnóstica, os fatores de
risco e de proteção e o plano de tratamento.
Como devemos coletar os dados? Devemos fugir do modelo objetivo “pergunta-
resposta”. É aconselhável que se faça uma entrevista semiestruturada na qual
realizaremos algumas “perguntas-chaves” em torno dos temas: gestação, infância,
adolescência, juventude, fase adulta; vida familiar; vida social; emprego; saúde geral;
início do uso de substância; progressão do uso; perdas pessoais, familiares, sociais;
expectativas e sonhos dentre outros fatores que influenciam consideravelmente em sua
história e na reabilitação, permitindo ao acolhido falar livremente e ao entrevistador
compor o histórico clínico.
Por exemplo: “Conta-me da sua infância... E como foi seu contato com as
drogas?”.

9
Temos em anexo o arquivo do histórico clínico.

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5.2 Encaminhamento do “Filho”

Após o período pré-determinado e sendo constatada a correspondência do filho ao


método terapêutico proposto para a casa de triagem, ele será encaminhado para a
comunidade terapêutica, levando em consideração que para isso existem alguns
documentos e exames que são obrigatórios.
Também nesse processo se vê a importância de exames médicos para que se possa
prevenir possíveis doenças, iniciar um acompanhamento ou dar continuidade em algum
que já se faz. O diagnóstico precoce é para salvar vidas e ainda economizar em
tratamentos, “diagnosticar antes para tratar melhor”
Outra demanda importante diz respeito ao encaminhamento de “filhos” para
outras localidades. Por experiências passadas constatamos que enviar um “filho” sem o
dinheiro em conta reservado para a passagem de volta não é viável. Pois na maioria das
vezes as desistências são acompanhadas de movimentos impulsivos por parte dos filhos,
e quando não há a possibilidade de regresso imediato para sua localidade anterior ao
tratamento, ele pode tomar a decisão de viver na rua na mesma cidade em que está, e em
outros casos acabam se envolvendo com a criminalidade local.
Os riscos que daí decorrem são inúmeros: envolvimento em drogadição pior do
que vivia antes (ex.: antes, no interior usava somente maconha e álcool, agora usa crack
e rouba para manter o vício em uma grande capital); envolvimento no crime organizado,
perigo de morte por não conhecer a atual cidade nem suas facções etc. Esses são alguns
dos possíveis riscos que a demora no envio do “filho” de volta para a sua região pode
ocasionar.

5.3 Obrigatoriedades:

• Triagens completas
• Termos assinados
• CPF
• RG
• SUS
• Antecedentes criminais
• Pagamento da passagem de ida acompanhado do depósito/transferência
no valor da passagem de volta.

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5.4 Exames obrigatórios
• Hepatite B e C
• Sífilis
• Tuberculose
• HIV
• Hemograma completo
• Fezes e urina (parasitológico)
• Glicemia (Diabetes)

5.5 O trabalho formativo

Para alcançar este objetivo, se propõe


durante o período de estadia na casa de triagem,
um bloco formativo cíclico, que é conformado
por uma formação teórica que orientará o tema
da semana, mais a vídeo-terapia e o retiro da
sexta-feira, relacionados com a formação da
semana. Para isso acontecer, se estabeleceu para
cada semana um valor a trabalhar que será
transversal tanto para a formação, quanto para a vídeo-terapia e o retiro. Ao afirmarmos
cíclico quer dizer que dada a quarta formação, volta-se à primeira e assim continua. No
período que o filho está na casa de triagem deve-se viver as oito formações (duas por
semana).
Estes três momentos formativos constituem-se ferramentas de grande valia, pois
dá ao “filho” a possibilidade de uma maior apreensão e compreensão do conteúdo teórico,
favorece a reflexão pessoal e propicia a partilha, que enriquece a experiência introdutória
ao tratamento, e permite à comunidade responsável pela triagem maior proximidade com
os “filhos” e obter um retorno (feedback).
Aqui vale uma ressalva. O método terapêutico sem seus quatro aspectos principais
(Comunhão, formação, 12 passos e ODT) devem ser critério formativos para que os
“filhos” comecem a viver esses elementos desde que se recuperam do mal-estar
provocado pelo uso abusivo. Por isso devem ser formados para docilidade, para a
formação, para a vida fraterna e para a abertura à admissão que já é o primeiro passo.
Obs.: Acerca dos “filhos” que são analfabetos ou semianalfabetos, é importante
que não fiquem sem esta tarefa. Que o responsável possa designar algum frade, voluntário
ou missionário para a tarefa de auxiliá-los a vivenciarem a dinâmica do retiro. Estes
poderiam ler para ele o conteúdo, bem como recolher seus pensamentos, e partilhá-los,
selecionando é claro o que deve/pode ser dito em partilha comunitária.

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5.6 A vídeo-terapia

O Cine-Cristo ou filme temático (aqueles que


abordam temas específicos sobre assuntos relacionados à
dependência química) que se propõe seja passado antes ou
depois da formação teórica, servindo de introdução ou
complemento à mesma. A sugestão é que sirva como uma
abordagem audiovisual ao valor que será trabalhado
durante a semana. Uma boa experiência seria antes do filme, iniciar com uma chuva-de-
ideias (brainstorm)10 relacionada ao valor da semana e/ou com o conteúdo da formação,
de modo que o “filho” assista ao filme interessado em reconhecer aqueles valores diante
do enredo cinematográfico. A partilha, deve ser direcionada pelo responsável propiciando
uma ativação de conhecimentos prévios por parte dos “filhos” (para isso serve de ajuda
os resultados da brainstorm), e que a partir do que eles sabem sobre o tema possam
comentar algumas cenas do filme que mais chamaram sua atenção. Em algumas casas,
pessoas ou mesmo casais foram convidados para conduzir este momento de partilha,
enriquecendo assim a vídeo-terapia.

5.7 O retiro de sexta-feira

O retiro da sexta-feira é o dia da


Palavra, para isso trabalhar-se-á com a estrutura
da Lectio Divina. A Palavra de Deus tem poder
de recriar, de fazer uma Obra Nova: “Fostes
regenerados, não de uma semente corruptível,
mas incorruptível, mediante a Palavra viva de
Deus, a qual permanece para sempre” (1Pe
1,23). Na prática, após o desvelamento da cruz,
os “filhos” permanecem na capela e o
responsável introduz o retiro por meio de uma oração, seguido da leitura do primeiro
parágrafo da folha do retiro (ver anexos) e da Palavra que será meditada no dia. Um
comentário à Palavra é opcional. Depois da leitura da Palavra, são dadas as orientações
práticas do retiro: silêncio e recolhimento; se faz o passo a passo da Lectio Divina e se
fala da importância do jejum/abstenção lícita de alimentos (no caso dos “filhos”, abstém-
se somente da carne neste dia durante o almoço), vinculado à virtude da temperança. Após
o velamento da cruz, se faz a partilha da experiência feita com a Palavra de Deus. Nesta
partilha o centro deve ser a experiência com a Palavra de Deus e de como alcança o
coração, deve-se tomar o cuidado para a experiencia de drogadição não tome o centro da
reflexão.

10
Tempestade de ideias ou brainstorming é uma técnica usada em dinâmicas de grupo, sua principal
característica é explorar as habilidades, potencialidades e criatividade de uma pessoa, direcionado ao
serviço de acordo com o interesse.

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Na prática o roteiro formativo se explica conforme a tabela abaixo:

Semana Valor Tema formação Videoterapia Retiro


Primeira Conversão 1.Dependência 28 dias, Poder além da Is 43,16-
Honestidade Química 1 vida, Paulo Apóstolo de 21
Aceitação 2.Dependência Cristo (2018)
Química 2
Segunda Vida Espiritual 3.Espiritualidade Harriet, Até o último Lc 18,1-8
Moderação 4.Trabalho homem,
Renúncia
Terceira Disciplina 5. Oração Escritores da liberdade, Gl 5,25
Humildade 6. Disciplina Homens de honra
Confiança
Quarta Fé 7. Piedade O milagre da fé; A Rm 6, 17-
Amor 8. Fé procura da felicidade. 23
Perseverança

5.8 A atividade Física

Sabemos que a adicção é, entre outros aspectos,


uma doença neurobiológica. Então, é inegável verdade
que o sedentarismo não ajuda o organismo do
dependente químico na sua recuperação. Logo, pode
afetar também a sua luta pela sobriedade na casa de
acolhida. Por experiência, já sabemos o quão
importante e benéfico é para os “filhos” a manutenção
de atividade física desde o começo do tratamento. Uma
publicação da profª Elaine Jany Barbanti, pesquisadora
da USP, aponta que

O exercício físico quando bem direcionado e embasado em parâmetros


científicos, atua como um elo terapêutico importante por intervir no corpo do
paciente durante todo o processo de recuperação. As transformações pelas
quais passa o físico têm relação direta com a autoestima melhorada, uma
liberação durante e após os exercícios de substâncias responsáveis pela
sensação de prazer assim como, melhora o humor. A dependência química
(DQ) provoca destruição no bem-estar emocional e físico. De um modo geral,
aqueles que abusam das drogas tendem a negligenciar seus corpos, e
componentes importantes da saúde diariamente, inclusive alimentação
adequada e exercícios essenciais, são deixados de lado. Parte do tratamento é
reparar a ligação danificada entre corpo-mente e investir nos aspectos físicos e
psicológicos. No tratamento da dependência química o exercício serve para
muitos propósitos, mas existem alguns benefícios principais tais como: o alívio
e redução do estresse; a liberação de endorfinas; melhora no humor e aspecto
social.11

11
A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA. Profa. MSc
Eliane Jany Barbanti.

14
Seria muito interessante que os responsáveis direto dos “filhos", pudessem
providenciar horário e local adequados para a manutenção da atividade física em vista do
bem-estar deles. Sobretudo os que sentem maior necessidade de atividade regular para
manterem-se no tratamento. E onde for possível, inserir os membros da missão – leigos e
jovens - para contribuir na interação do esporte/lazer dos filhos.

5.9 Atividade Lúdica

É muito importante salientar a importância dos momentos lúdicos nessa fase


inicial. Filmes temáticos, brincadeiras, dominó, dama etc. Promover momentos diferentes
com ou aproveitar de intervalos durante o dia, no fim da tarde por exemplo. Aqui a
criatividade, fruto de pessoas zelosas e espirituais pode ajudar a promover este tipo de
momento de gratuidade. Deste modo, fazer uma pipoca, convidar um deles mais
habilidoso para fazer um bolo, ou algo parecido, vai propiciar um momento gratuito fora
do cronograma, sendo esse muito útil para quebrar o estresse e diminuir os efeitos das
dificuldades, dores, ambivalências e demais transtornos psicoemocionais próprios desta
fase.

5.10 Psicoterapia em grupo ou individual.

As experiências dos atendimentos psicológicos (seja em grupo ou individual)


desde a casa de triagem ao longo do tratamento costumam ser positivas por isso é de suma
importância que haja a promoção destas atividades. Sobretudo quando acontece mediante
o acompanhamento dos frades e voluntários juntos aos profissionais. Segue-se abaixo
recortes de dois estudos sobre o tema, o primeiro refere-se à terapia individual, o segundo,
terapia em grupo.

Individual:
A aceitação e a valorização do indivíduo é um
grande desafio, pois os dependentes químicos
ainda são taxados por estereótipos, sintomas e
classificações, produzindo condutas de
tratamento artificiais, generalizantes e, às
vezes, preconceituosas. É nesse sentido que a
postura de aceitação positiva incondicional e
a crença na tendência atualizante do usuário
são essenciais desde o início do tratamento, pois proporcionará uma conduta
terapêutica voltada para as potencialidades e para as necessidades daquele
indivíduo. Ao longo do processo, o interno vai percebendo a autenticidade do
terapeuta, sua real presença e sua disponibilidade para estar com ele,
característica de uma relação que é rara para o dependente químico, que teve suas
últimas relações baseadas no temor e na desconfiança, por parte dos familiares, e
em ameaça e em troca de favores por parte dos vendedores das substâncias
psicoativas. Portanto, a postura de congruência e a relação terapêutica
apresentam-se como uma grande novidade para o interno, que passa a explorar

15
novas faces de si através dessa relação de confiança. O interno aprende, através
desta relação, que se o terapeuta está ali de forma autêntica, ele pode também
estar. Não precisa mais fingir ser o que não é. Por fim, ao responder
empaticamente, o psicoterapeuta contribui para que o dependente químico, que
se sentia sozinho e incompreendido, sinta-se compreendido em sua experiência,
passando a valorizá-la.12

Em grupo:

No processo terapêutico, o indivíduo se identifica como


parte, não importa a etnia, credo, nacionalidade, os
homens interagem, o grupo é parte do ser social, o
homem enquanto ser social é um ser para o grupo. O
grupo deve ter um objetivo e é este objetivo que se faz
a “liga” do grupo, o intuito definido, a meta estabelecida, que no caso dos grupos,
é a remissão dos sintomas causados pelo uso de substâncias psicoativas, o alívio
de memórias dolorosas pelas vivências causadas pela situação de rua e
possivelmente dentro da experiência de cada um o abandono da drogadição. No
grupo não há só espaço para a dor, nele manifesta-se o sorriso, a esperança,
aparece a graça, as façanhas, as boas memórias emergem também dos
participantes, elas são muito bem-vindas ao grupo, as boas reminiscências são
terapêuticas, pois fazem acordar sentimentos que os ajudam a enfrentar o dia a
dia no processo de convivência consigo mesmo e com o outro e questões relativas
ao desmame como crises de abstinência, dentro do tratamento.13

5.11 O trabalho com as famílias

Outro trabalho que se mostra muito eficaz quando se


faz desde o início do tratamento é o trabalho de apoio às
famílias. As intervenções buscam a participação da família
no processo de tratamento, através do engajamento nos
processos de construção da mudança pessoal tanto do “filho
predileto” quanto do próprio seio familiar. Busca-se o
fortalecimento de vínculos, focando a mudança das relações
entre os componentes do sistema pela reorganização da
comunicação.14

12
Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios em uma comunidade
terapêutica, Rafaella Medeiros de Mattos BritoI; Tiago Monteiro SousaII. Disponível em:<<
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1809-68672014000100010>>.
13
A PSICOTERAPIA DE GRUPO NO ATENDIMENTO A DEPENDENTES QUÍMICOS - RELATO DE EXPERIÊNCIA
EM UM PROJETO. Martha Luciene Nogueira Barros Dantas1 , Jeiel Silva Dantas, Gessé de Souza Silva.
Disponível em
<http://periodicos.estacio.br/index.php/cienciaincenabahia/article/viewFile/5995/pdf5995>>
14
Apostila Sede Sóbrios, p. 89.

16
Os benefícios de engajar a família no processo terapêutico são diversos e
fecundos15:

• Engajamento do dependente e manutenção do tratamento;


• Uma intervenção consistente para os estágios de mudança iniciais do membro em
tratamento;
• Melhora de resultados quanto ao uso da substância relacionada;
• Melhor funcionamento familiar e da comunicação ativa e reflexiva;
• Redução do impacto e dos danos da dependência (psicológicos, físicos e sociais)
em todos os membros da família;
• Levam em consideração outros fatores além da dependência propriamente dita;
• Família se vê como coautora do problema versus coautora da solução;
• Cura de núcleos de conflitos;
• Vivência ativa da afetividade.

Daí, conclui-se que é muito importante que já na casa de


triagem seja criada (se ainda não existe) uma equipe de
cuidadores dos familiares. Que possam entrar em contato, dar
informações, coletar dados, caso necessário, bem como executar
os cuidados deles, pois na maioria dos casos os familiares são tão
doentes e carentes de cuidado e de espiritualidade quanto o “filho
predileto”.
Durante os encontros promovidos pela Fraternidade (12
passos para a família, formações, psicoterapia em grupo, grupo
de autoajuda etc.), a família pode se beneficiar do conhecimento técnico sobre como lidar
com a dependência química, além de poderem englobar seus núcleos conflituosos nas
diversas modalidades terapêuticas, identificando os padrões familiares, aceitando que não
é apenas o membro usuário que necessita de ajuda, mas o núcleo familiar inteiro e o
engajamento do processo de reabilitação.16

15
Ibidem
16
Ibidem

17
6. Programa formativo dos “filhos”na casa de triagem

1. Dependência Química 1 – Conceitos básicos


a. O que é Dependência Química/adicção/drogadição
(Desintoxicação/Fisiologia e Funcionamento da DQ no
cérebro/distinções de tipos de Uso).
b. Características da doença – Incurável/Progressiva/Fatal
c. Virtudes a se praticar – Mente aberta/Boa vontade/Honestidade
2. Dependência Química 2 – O caminho da mudança. 1ª Semana
a. Metanoia/Conversa/Mudança de mentalidade.
b. Os cinco estágios psicológicos da mudança
c. Autoconhecimento/Autoaceitação/Autoconfiança – Eu me conheço,
eu me aceito, eu me trabalho
d. Salvar-se é evitar –Lugares/Pessoas/ Situações

3. A espiritualidade do dependente químico.


a. O que é espiritualidade
b. Homem carnal x espiritual
c. Quais são as obras da carne
d. Quais são as obras do Espírito 2ª Semana
4. Método terapêutico CAFP 1 – O valor da Oração
a. O valor da oração
b. As virtudes da oração
c. A importância da oração no tratamento

5. Método terapêutico CAFP 2 – O valor da Disciplina


a. O valor da disciplina
b. O que é disciplina
c. O sino é voz de Deus 3ª Semana
6. Método terapêutico CAFP17 3 – O valor do Trabalho
a. O valor do trabalho
b. A dignidade do trabalho
c. As virtudes do trabalhador sóbrio

7. A vida de Piedade
a. O que é Piedade
b. Como a Fraternidade vive a vida de Piedade
c. O corpo ora: gestos e posturas. De joelho; de pé; prostração; mãos
justapostas 4ª Semana
8. A importância da fé no tratamento
a. O que é a fé. “Certeza do que não se vê”
b. A perseverança na Fé
c. Fé e conversão

17
Casa de Acolhida Filhos Prediletos

18
7. Dependência Química I– Conceitos básicos

A Sagrada Escritura diz: “quando me sinto fraco, é então que sou forte” (cf.
2Cor 12,10). É na nossa fraqueza que Deus age. Deus quer formar você para ser um
general no seu exército. E o primeiro passo para que um soldado vença a guerra conhecer
o seu campo de batalha. Vamos conhecer a nossa doença?
O que é dependência química?
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), dependência química, também
chamada de adicção ou drogadição, é o estado de submissão física ou psicológica a
respeito de uma determinada droga, resultante da absorção periódica ou repetida dela. A
diferença entre os dois tipos de dependência está na fase de abstinência. Na física
aparecem intensos transtornos, como a síndrome de abstinência. Na dependência
psicológica, a sensação de satisfação e prazer ou para evitar um mal-estar, torna periódico
o consumo.
• Vídeo: Adicção: definições, história e fatores de risco18
É um fenômeno de origem, curso e resultados biopsicossocial, ou seja, há um
componente biológico herdado, fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais.
O que é neurobiologia das drogas? A neurobiologia das drogas consiste no
aumento da concentração de dopamina, neurotransmissor envolvido nas sensações de
prazer. Esse mecanismo que dá o origem ao aprendizado associativo, que constitui a base
do condicionamento.19 Vamos ver o vídeo:
• Vídeo: Bases biológicas da adicção.20
Vamos ver agora a classificação dos níveis de uso:
1. USO – qualquer consumo de substâncias, seja para experimentar, seja
esporádico ou episódico;
2. ABUSO OU USO NOCIVO – é o consumo de substâncias já associado a
algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico e social);
3. DEPENDÊNCIA – é o consumo sem controle, geralmente associado a
problemas sérios para o usuário. Isso nos dá uma ideia de continuidade, com evolução
progressiva entre esses níveis de consumo – uso, uso nocivo e dependência.
Vamos continuar aprendendo os conceitos básicos sobre a nossa doença.
O que é tolerância?
Tolerância é a necessidade de tomar doses maiores de um medicamento para obter
o mesmo efeito, costuma acompanhar a dependência e pode ser difícil distinguir os dois.21
O que é Síndrome de abstinência?
O ato de renúncia (também chamada de abstinência) à droga pode causar sérias
perturbações ao organismo dependente, desde alterações comportamentais até
sensações físicas, a isso se dá o nome de Síndrome da Abstinência. O usuário

18
Disponível em: https://youtu.be/7pwiBwDceXA
19
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/dependencia-quimica-neurobiologia-das-drogas-
artigo/, acessado em 20 de fevereiro de 2022.
20
Disponível em: https://youtu.be/JtVnXr8AmG4
21
Disponível em: https://freemind.com.br/blog/diferenca-entre-os-termos-dependencia-tolerancia-e-
vicio/, acessado em 20 de fevereiro de 2022.

19
pode ter alucinações, hiperatividade, tremores, insônia, alucinações visuais,
táteis e auditivas, descontrole psicomotor e ansiedade. A Síndrome pode se
dividir em: SAA – Síndrome de Abstinência Aguda e a SAD – Síndrome de
Abstinência Demorada. A primeira pode ocorrer na ausência do composto
viciante entre 3 a 10 dias do último uso, já a segunda se difere nos sintomas,
que podem ser visualizados entre a sobriedade do indivíduo ocorrendo no
intervalo de meses ou até anos após o uso.22
Deus te ama muito para assistir calma e passivamente a sua atitude suicida de
tentar se destruir dia após dia na drogadição. Se você está aqui, não tenha dúvida: Deus
te chamou. Esta triste realidade da adicção precisa da iluminação da fé. Neste processo
de tratamento que a Fraternidade dos pobres de Jesus Cristo te propõe, compreenda que
Deus é capaz de fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). Pois “é para a liberdade que
Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). Deus não te fez para a escravidão do pecado e da
drogadição. Para essa liberdade, já no princípio do tratamento você precisa desenvolver
urgentemente a virtude da honestidade, uma mente aberta e boa vontade. Sem essas três
ferramentas é impossível corresponder a um bom tratamento.
Sem honestidade nós não podemos te ajudar. Com máscaras, mentiras,
manipulações, enganos e disfarces o trabalho terapêutico não anda, fica paralisado, ou
nem sequer começou um tratamento quem vive na mentira. Na verdade, quem assim vive,
vive sozinho. Solitário no meio de uma multidão. Sem mente aberta, fica completamente
fechado a aprender o novo. O novo da comunidade, o novo de Deus, o novo dos irmãos.
Sem boa vontade, o filho predileto torna-se um egoísta ensimesmado. Falta-lhe a
generosidade necessária para se abrir e se entregar à proposta da comunidade terapêutica.
A literatura do Narcóticos Anônimos já nos ensinou que a dependência química é
uma doença incurável, progressiva e fatal. Saber disso não pode nos desanimar. Saber
disso deve nos fazer encarar a vida com realismo, com os pés no chão. Eu preciso saber
que na vida louca que eu levava, certamente dois caminhos me aguardavam: cadeia ou
cemitério. Então coragem! Foi Jesus quem disse: “Nesse mundo tereis aflições, coragem,
eu venci o mundo” (Jo 16,33). E escute outra coisa: se você está aqui é por que a
misericórdia de Deus te alcançou, porque “onde abundou o pecado, superabundou a
graça.” (Rm 5, 20).
Qual deve ser nossa atitude? Aceitação. Eis o nosso primeiro passo. Aceitar quem
eu sou. Aceitar quem Deus é. Aceitar que Deus tem uma obra maravilhosa para mim.
Aceitar nossas fragilidades e uni-las à cruz de Cristo, deixando que sua graça nos
alcances. A Palavra de Deus testifica: “Assim diz o Senhor, aquele que abre um caminho
pelo mar, uma vereda por meio de águas impetuosas. Eis que farei uma coisa nova, ela
já vem despontando: não a percebeis? Com efeito, estabelecerei um caminho no deserto
e rios em lugares ermos.” (Is 43, 16.19) Este tempo de tratamento pode ser de fato, um
tempo para deixar que Deus faça em mim essa obra nova, que se traduz no início de uma
vida nova, vida em sobriedade, ou só será um período de descanso, de abstinência, onde

22
Disponível em https://www.infoescola.com/drogas/sindrome-de-abstinencia/, acessado em 20 de
fevereiro de 2022.

20
poderei tranquilizar minha consciência e dizer que “tentei, mas não deu certo”. A decisão
é sua, qual é a sua escolha?
“Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como
leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhes firmes na fé” (1Pd 5, 8-9a).

8. Dependência Química II - O caminho da mudança

“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e credes


no Evangelho”. (Mc 1,15)
O princípio da mudança não é na atitude. É na mente. Ninguém pode mudar o seu
comportamento autenticamente se não muda por primeiro o seu jeito de pensar. No
Evangelho, o termo na língua original, o grego, que se destina a descrever toda e qualquer
conversão é metanóia. Meta = além + Nous = idéia, pensamento. Mudar de vida é mudar
de idéia, mudar de pensamento. É mudar o modo de ver a vida, mudar as prioridades, é
tomar decisões internas. Quem tenta mudar de vida por fora, desprezando o interior,
certamente não vai colher uma mudança duradoura e muito menos verdadeira, não passará
de aparência de convertido.
É sobre esse processo que esta formação se debruçará. A Fraternidade dos pobres
de Jesus Cristo quer a mudança por completo de cada filho predileto que a nós se
apresenta. Corpo, alma e espírito precisam ser redimidos dos trágicos efeitos da
drogadição.
Na área das dependências, até alguns anos atrás, a motivação era vista como um
traço da personalidade da pessoa dependente, que negava grande parte dos problemas que
enfrentava. Esse traço seria o grande resultado de uma falha em seu desenvolvimento
emocional. E, portanto, a melhor abordagem terapêutica seria quebrar suas resistências
para que pudesse enxergar a realidade.
A palavra motivação vem da raiz latina que significa “mover” (se) a uma tentativa
de compreender o que nos movimenta ou porque o fazemos. É uma série de processos
que fazem com que uma pessoa se mova em direção a um objetivo específico.
Um modelo do processo de mudança foi desenvolvido pelos psicólogos
americanos James Prochaska e Carlo Diclemente, que descrevem o processo de cinco
estágios:
Pré-contemplação. “No meu ponto de vista, eu não tenho nenhum problema que
precise mudar.” É o primeiro estágio e nele a pessoa se quer considerar a mudança, uma
que não encara seu comportamento como problemático. As pessoas nesse estágio podem
procurar ajuda para o tratamento por estarem sendo pressionados por um parceiro, pela
família, por alguma fuga... A pessoa pode permanecer nessa etapa por anos. O usuário de
álcool e drogas em pré-contemplação raramente são vistos em ambiente de tratamento,
em virtude da reação negativa que em geral encontram nesses lugares.
O estágio seguinte é chamado de Contemplação. O contemplador considera
mudança ao mesmo tempo em que a rejeita, nesse estágio ainda não se comprometeram

21
a agir e poderá permanecer nessa etapa por muito tempo se não resolverem suas dúvidas
em relação às mudanças. “Esse processo de conflitos interiores de pesagem de positivo e
negativo é chamado de ambivalência.” Exemplo: eu não acho que realmente tenha um
problema.
Com as drogas provavelmente eu bebo, mas não uso mais do que meus amigos.
Às vezes eu me sinto mal na manhã seguinte e me preocupa quando não consigo me
lembrar das coisas de vez em quando. Mas não sou usuário nem alcoólatra. “Posso parar
quando quiser e não sinto falta.”
Trabalhada essa ambivalência a pessoa pode passar para o terceiro estágio:
Preparação do qual está pronta para mudar compromissada com a mudança. Os seguintes
sinais nos ajudam a identificar as pessoas que estão prontas para mudar.
✓ As resistências para conversão, as argumentações, negações e objeções diminuem.
✓ Faz menos pergunta sobre o problema. Tem uma sensação de conclusão. Já tô bom.
✓ Mostra várias soluções, parece mais calmo, relaxado, aliviado ou acomodado.
✓ Faz reflexão de problemas (“acho que isso é sério”) abertura para mudança (“preciso
fazer alguma coisa”) e otimismo.
✓ Faz pergunta sobre o processo de mudança (“como posso mudar?” ou “o que posso
fazer para mudar”).
✓ Começa falar sobre como a vida deve ser depois da mudança, discute as vantagens
de mudar.
✓ Devemos ter cuidado nessa fase com toda essa sensação de suficiência e conclusão,
pois a ambivalência na grande maioria ainda acompanha nessa etapa.

Quarto estágio. O estágio da Ação é o que as pessoas se engajam em ações


especificas para alcançar a mudança. O objetivo, durante esse estágio, é produzir uma
mudança em alguma área problemática e aprofundar a decisão, atingir uma mudança,
entretanto, não garante que ela será mantida, até mesmo porque a ambivalência, ou seja,
o pensamento se vale a pena ou não, fazer essa mudança continua de forma muito sutil.
Quinto Estágio. Aquelas pessoas que tiveram sucesso nas suas tentativas de
mudar entrarão no estágio da Manutenção e poderão chegar ao término do tratamento
terapêutico. Porém é mais provável que muitos recaiam (mas não precisa ser o seu caso,
há muito que terminaram seu tratamento e nunca mais recaíram) e tipicamente, passem
pelos estágios várias vezes antes de atingir a manutenção em longo prazo.
Cito a recaída nesse processo não porque ela seja determinante para todas as
pessoas, mas nos casos em que acontecer recaídas nesse processo de mudança, deve ser
vista como parte do processo para que a pessoa possa aprender com a experiência e
recomeçar de forma mais consciente e determinado.
Apresentaremos alguns reforços para manutenção:
• Serviço voluntário
• Participação de grupo de autoajuda “Sedes Sóbrios”.
• Estabelecimentos de metas - diretor espiritual/acompanhamento/Ministérios da
comunidade/ Responsabilidades junto à Fratérnitas local.

22
Não podemos esquecer que existem habilidades a se desenvolver neste caminho
de mudança Autoconhecimento/Autoaceitação/Autoconfiança – Eu me conheço, eu me
aceito, eu me trabalho. Quem está no caminho de mudança só pode permanecer nele se
evitar – Situações/Pessoas/Lugares que o levem a pecar, recair e abandonar o projeto
de salvação pessoal.

“Eis que farei uma coisa nova...”


A formação desta semana nos trouxe a realidade da dependência química, vimos
a necessidade que temos de aceitar nossa verdade e pedir ajuda. A infinita misericórdia
de Deus nos alcança, disso não temos dúvidas. Aprendemos um pouco sobre este tema e
neste dia de retiro queremos ainda podermos aprofundar na Obra Nova que o Senhor quer
fazer em nós. Para isso seremos motivados pela Palavra de Isaías 43,16-21:
“Assim diz o Senhor, aquele que fez um caminho pelo mar, uma vereda pelas
águas violentas, que fez saírem juntos os carros e os cavalos, o exército e seus reforços,
e eles jazem ali, para nunca mais se levantarem, exterminados, apagados como um
pavio: Esqueçam o que se foi; não vivam no passado. Vejam, estou fazendo uma coisa
nova! Ela já está surgindo! Vocês não a reconhecem? Até no deserto vou abrir um
caminho e riachos no ermo. Os animais do campo me honrarão, os chacais e as corujas,
porque fornecerei água no deserto e riachos no ermo, para dar de beber a meu povo,
meu escolhido, ao povo que formei para mim mesmo a fim de que proclamasse o meu
louvor”.

23
➢ Agora registre, em breves palavras:

Que disse o texto?

Que me disse texto?

Que respondo a Deus?

Qual é a Palavra que inflama meu coração?

Qual é minha resolução à luz da Palavra?

24
9. A espiritualidade do dependente químico na casa de
triagem

Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta. (...)
O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá
corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna. (Ef 5,25.6,7-8)

A dependência química é uma doença física, psíquica e espiritual. Portanto, a


adicção afeta todas as áreas da vida de um adicto23. Principalmente a parte espiritual. A
adicção causa uma enorme destruição espiritual na vida de um filho predileto. Lhe ataca
diretamente sua fé, esperança e caridade, lhe tornando uma pessoa egocêntrica. Destrói
valores, princípios, virtudes (sejam elas morais ou teologais). Alguns chegam apensar que
que sequer seriam capazes de serem perdoado por Deus, ou dignos do seu amor.
O aspecto físico da doença é o uso compulsivo de drogas: a incapacidade de parar
uma vez que se tenha começado, também faz parte deste aspecto o dano físico que o corpo
humano sofre, por conta do uso nocivo (o cérebro e o sistema nervoso se tornam
dependentes e lesados pelo uso). O aspecto mental é a obsessão ou o desejo incontrolável
que nos leva a usar, mesmo destruindo nossas vidas. A parte espiritual da nossa doença é
o total egocentrismo e o distanciamento da vida de fé e de Deus que a adicção provoca.24
Muitos tinham ou tem vergonha de Deus. Vergonha do que fizeram, do buraco em
que se meteram. No começo, pensava-se que podia parar quando quisesse, apesar de todas
as evidências em contrário. Negação, substituição, racionalização, justificação,
desconfiança dos outros, culpa, vergonha, desleixo, degradação, isolamento e perda de
controle são alguns resultados da nossa doença. Nossa doença é progressiva, incurável e
fatal. Para a maioria de nós, é um alívio descobrir que temos uma doença, e não uma
deficiência moral. Precisamos de um poder superior a nós. Precisamos do poder de Deus
para vencer essa guerra.25 Precisamos de uma espiritualidade. Mas o que é
espiritualidade?
Em primeiro lugar, precisamos entender o que ela é. Espiritualidade tem a ver com
o cultivo da vida espiritual e a sua consequente união com Deus.

A rigor, espiritualidade é o cultivo de nossa vida espiritual, a vida do


Espírito em nosso espírito, a vida de união com Deus pelo amor. Em suma,
espiritualidade não é senão a própria a fé, mas agora vivida de modo consciente
e intenso. Espiritualidade não é, em primeiro lugar, relação com o próprio ego,
com os outros ou com o mundo. É antes relação direta com o Mistério de
Deus. É, portanto, uma relação vertical, teologal, religiosa. É “religar-se”
pessoal e intimamente a Deus. Sendo relação imediata com o Mistério, a

23
Guia Introdutório para Narcóticos Anônimos, p. 12.
24
Ibidem.
25
Ibidem.

25
espiritualidade é uma experiência: a experiência de Deus. A espiritualidade
é então, um modo ou uma forma pela qual buscamos estar ligados com Deus.26

Por que a oração da manhã e da noite, por que o terço das chagas, as orações antes
das refeições, o terço de Maria, a Missa no Domingo?

A resposta é simples: Tudo isso é para nos ligarmos a Deus. A primeira tarefa
do dependente químico após e mesmo durante o seu período de desintoxicação é a
vivência de uma espiritualidade ou pelo menos o começo desta vivência. Filho predileto
que não começa a se abrir para a vida espiritual já desde o começo não consegue ir longe
no tratamento. Sem ela tudo se transforma em regras a serem cumpridas. Com
espiritualidade cada elemento do tratamento vai começando a fazer sentido. O trabalho,
a oração e a disciplina se tornam queridos pelo filho, porque ele começa a entender o
porquê de cada coisa, o porquê de cada atividade que compõem o seu dia. Então nada é
desperdiçado. Tudo é aproveitado como lenha para ser queimada na fogueira do
tratamento terapêutico.
A espiritualidade é a força que vai lhe ajudar a dar sentido a tudo aquilo que você
vive dentro da realidade do tratamento. Pouco a pouco o filho predileto vai se enchendo
de fé, esperança, caridade, foco, determinação, alegria de mudar de vida. Vai desejando
nutrir em si uma verdadeira vida espiritual. Vai deixando as obras da carne, os
pensamentos da carne e se enchendo das obras do Espírito. (Ler Gl 1.13-16)
Agora poderíamos nos perguntar: o que eu preciso fazer para viver uma verdadeira
espiritualidade aqui na casa de triagem? Vamos responder com as palavras do Apóstolo
Paulo: “Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas
concupiscências enganadoras”. Também o próprio Jesus disse que a primeira coisa a se
fazer quando alguém diz que quer segui-lo é renunciar a si mesmo. Não dá para abraçar
uma vida sem deixar outra. E depois de renunciar o que fazer? Continua o apóstolo:
“Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo,
criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4, 23-24) Em outra
tradução, temos “renovai-vos pela transformação espiritual da vossa mente”27 Esse é o
objetivo da espiritualidade: a nossa continua conversão. Só se busca a Deus pelo caminho
da conversão. E só se converte quem se permite ser renovado pela transformação do seu
jeito de pensar. Qual é a prova de que um homem realmente decidiu mudar de vida e se
tornar um homem espiritual e não mais carnal? Quando seu pensamento, suas atitudes e
seus comportamentos começam a mudar. E S. Paulo continua:
“Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois
somos membros uns dos outros.26Mesmo em cólera, não pequeis. Não se
ponha o sol sobre o vosso ressentimento.27Não deis lugar ao
demônio.28Quem era ladrão não torne a roubar, antes trabalhe seriamente
por realizar o bem com as suas próprias mãos, para ter com que socorrer os

26
BOFF, Clodovis. A ESPIRITUALIDADE NA VIDA CONSAGRADA A 50 ANOS DO VATICANO II. Palestra no
Encontro dos Religiosos e Religiosas. Curitiba (PR), 30 de setembro de 2014.
27
Bíblia de Jerusalém.

26
necessitados.29Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil
para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem.” (Ef
4,25-29)

O tratamento da dependência química aqui na Fraternidade não quer somente lhe


tirar das drogas. Quer te transformar em um homem espiritual. Em um homem de Deus.
Permita-se hoje revestir-se do homem novo que Deus quer fazer em você.

10. O valor do trabalho no processo terapêutico


Empenhai a vossa honra em levar vida tranquila, ocupar-vos dos vossos
negócios, e trabalhar com vossas mãos, conforme as nossas diretrizes. Assim levareis
vida honrada aos olhos dos de fora, e não tereis necessidade de ninguém.” (1Tess 4,11-
12)
Comecemos nossa formação invocando o auxílio do grande modelo de homem
trabalhador, o glorioso são José:
“Glorioso São José, modelo de todos os que se dedicam ao trabalho, obtendo-
me a graça a graça de trabalhar com espírito de penitencia, para a expiação de meus
numerosos pecados; de trabalhar com consciência, pondo o culto do dever acima de
minhas inclinações; de trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma
honra empregar e desenvolver, pelo trabalho, os dons recebidos de Deus; de
trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o
cansaço e as dificuldades; de trabalhar sobretudo com pureza de intenção e com
desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que
deverei dar do tempo perdido, dos talentos inutilizados, do bem omitido e da vã
complacência no s sucessos, tão funesta à obra de Deus! Tudo por Jesus, tudo por
Maria, tudo à obra vossa imitação, ó Patriarca São José! Tal será a minha divisa na
vida e na morte. Amém (S. Pio X)
O trabalho dignifica o homem. A drogadição retirou de muitos o valor e o
gosto que tinham pelo seu trabalho. A destruição da adicção também prejudicou a nossa
vida profissional. Primeiro, usávamos a droga de preferência lá mesmo. Depois
começamos a dar desculpas para não trabalhar mais. Atestados falsos, desculpas
esfarrapadas, matamos pais, mães, tios, pegamos doenças imaginárias, tudo isso para
tentar enganar o chefe, até chegou o dia em que não dava mais, e abandonamos o nosso
trabalho. A maioria de nós passou por isso. Às vezes até conseguimos enganar o nosso
chefe, mas não conseguimos enganar a verdade. E a verdade é que eu perdi o controle da
minha vida. E já não tinha coragem mais de levantar-me para trabalhar nem para arrumar
dinheiro para comprar o pão para aquelas pessoas que eu dizia que eu mais amava.
Precisamos resgatar o valor do trabalho na nossa vida. Vamos começar
olhando para a vida de Jesus. Jesus trabalhou. E não foi pouco não. Durante trinta anos
trabalhou muito na carpintaria em sua terra natal. O povo de Nazaré até se admirava
quando ouvia o ensinamento de jesus e diziam: “Não é este o carpinteiro, o filho de

27
Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre
nós?”’ (Mc 6,3). Na época de Jesus, a profissão era passada de pai para filho, certamente
são José lhe ensinara o ofício, e o filho herda o ofício, as ferramentas e os clientes.
Seguramente Jesus era dedicado ao seu trabalho.
Após olhar o exemplo do Mestre que é pera nós modelo, nos questionemos: qual
a importância do trabalho para o tratamento em dependência química?
O trabalho no tratamento é aplicado a partir de um recurso terapêutico
chamado de laborterapia. Varia de fratérnitas para fratérnitas. Como aqui na casa de
triagem não há o trabalho de campo, resta o trabalho doméstico e o manual. O trabalho é
uma das colunas, além da disciplina e oração (espiritualidade) que fundamenta a proposta
da Comunidade Terapêutica. E qual a função da laborterapia (ou no nosso caso o ofício
ou trabalho manual)? A laborterapia pode ser compreendida como propósito de resgatar
a responsabilidade, a boa vontade e a dignidade do indivíduo, através de atividades
de manutenção e melhorias na casa em que estamos, como limpeza, jardinagem,
marcenaria, cuidado dos animais, reforma, cozinha etc. em busca do bem-estar comum
entre os todos os filhos prediletos.28
E como deve ser o trabalho de um filho predileto em tratamento?
A oração em honra a São José que rezamos no início da formação nos dá elementos bem
acertados.
Com espírito de penitência. Quer dizer, pelo trabalho eu reparo os meus
pecados, sobretudo aqueles que eu cometi por irresponsabilidade, e que me fizeram perder
o controle da minha vida. Pelo trabalho eu recupero a minha responsabilidade. Quem
trabalha com responsabilidade não se deixa levar pela preguiça, pelo relaxo, não “faz as
coisas de qualquer jeito”. Isso tudo é trabalhar com espírito de penitência, isto é, trabalhar
para combater meus defeitos, minhas más inclinações.
Com consciência. Quer dizer, com a compreensão e percepção do que é
certo e o que é errado dentro do meu trabalho, o que me é permitido e o que não é.
Trabalhar com bom senso.
Com recolhimento e alegria. Isto é, sem algazarra, sem bagunça, sem
exageros, sem atrasar o trabalho por brincadeiras fora de hora, mas ao mesmo tempo sem
perder a alegria, a descontração, a partilha amiga, a certeza de que pelo trabalho eu me
converto. Não deixar tornar o trabalho um fardo.
Com ordem. Ou seja, com disciplina, na medida certa, nos horários certos,
mantendo a ordem prescrita pelo cronograma. Com exatidão, sem perder tempo com
conversas furadas ou “enrolando no quarto”.

28
Disponível:
http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/601.%20trabalho%20e%20depe
nd%CAncia%20qu%CDmica.pdf

28
Com paz. Sem criar brigas, sem dividir a comunidade. Deus quer que o
nosso trabalho aconteça em meio a uma serenidade. O trabalho sem serenidade não traz
gosto.
Com moderação e paciência. Com autodomínio, com autocontrole, suportando as
dificuldades que possam acontecer. Tolerando o erro dos outros enquanto se é tolerado
pelos demais irmãos de comunidade. Escutemos as palavras dos Apóstolo Paulo que nos
exorta a trabalhar com tranquilidade:

“Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: Quem


não quiser trabalhar, não tem o direito de comer. Entretanto, soubemos que
entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-
se em assuntos alheios. A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se
dediquem tranquilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que
comer.” (2Tess 3, 10-12).

“O zelo pela tua casa me devora...”

A formação desta semana expusemos a necessidade do valor da espiritualidade e


do trabalho, manifesto no zelo externo pela nossa casa. Aprendemos que diante da vida
desregrada que vivíamos, o valor da vida espiritual se torna indispensável, absolutamente
necessário e fundamental. Neste dia de retiro queremos ainda podermos aprofundar. Para
isso seremos motivados pela Palavra de São Paulo (Ef 5,25.6,7-8)
“Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta.
(...) O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne
colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna.”

29
➢ Agora registre, em breves palavras:

Que disse o texto?

Que me disse texto?

Que respondo a Deus?

Qual é a Palavra que inflama meu coração?

Qual é minha resolução à luz da Palavra?

30
11. A oração: Nossa principal arma no combate

“Irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da


armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Tomai, por tanto,
a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis
no cumprimento do vosso dever. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em
toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por
todos os cristãos.” (Ef 6,10-11.18)
Vocês estão num tempo de forja. Deus quer-lhe forjar como um homem de Deus.
Já viram como se forja uma arma de ferro? Para forjar uma arma de ferro, o ferreiro
precisa levar o metal ao fogo, esquentá-lo em temperaturas altíssimas para que fique mole
e capaz de ser moldado, e só assim pode golpeá-lo para formar a arma que ele quer. Uma
faca, uma espada, um escudo. Tudo vai depender o quão mole o metal fica depois de ser
levado ao fogo.
No tratamento da dependência química você vai receber golpes, marteladas, vai
doer. O fogo é o sofrimento. O ferreiro é Deus. A arma forjada é você. Deus está te
forjando. Você precisa deixar Deus fazer a obra dele em você. A primeira arma no
combate para vencer os vícios e os defeitos de caráter é a oração. No tripé trabalho, oração
e disciplina, a oração é sem dúvida alguma a mais importante coluna do tratamento. Pois
é ela que nos dá motivação e força de vontade para viver todo o restante. É impossível
crescer no caminho de Deus sem oração. Na vida velha havíamos abandonado a oração,
agora é a hora de nos revestirmos da armadura de Deus. E só podemos fazer isso na
oração, pois “a oração é a mais sólida e indestrutível base de todas as obras”. (São Pio).
Quando tomei a decisão: “vou buscar ajuda”, não resta dúvida, a mão de Deus
desceu sobre você. Deus ouviu o seu pedido de ajuda e se inclinou para você. Como nos
diz o salmista: “Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim,
ouviu meus brados.” (Sl 39,2). Ao se inclinar, de imediato, o Senhor derramou a sua
graça sobre você e te deu forças para que você chegasse até aqui. Porque Deus desejou a
sua sobriedade antes mesmo de você. A sobriedade de um dependente químico é o desejo
de Deus. Ele se alegra por um pecador que se converte, por cada filho seu que decide
deixar as drogas e mudar de vida. Mas estamos começando a entender que não dá para
mudar sozinho. Eu preciso de ajuda
Para alcançar a tão sonhada sobriedade, precisamos de ajuda divina, essa ajuda é
a graça de Deus. Jesus disse: “aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível”
(Mt 19, 26). Sem a graça de Nosso Senhor, nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5). Com a
graça, nós podemos tudo (cf. Fl 4, 13). Às vezes, Deus se antecipa aos nossos desejos e
nos concede a graça antes que o peçamos. Mas nem sempre é assim. Na verdade quase
nunca é assim. Jesus disse que, mesmo o Pai sabendo do que precisamos, nós devemos
pedir assim mesmo (cf. Mt 6, 6-8) Então fica claro o que devemos fazer para continuar
recebendo a graça: “Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda
circunstância, pelo Espírito” (Ef 6.18), por isso Jesus ensinou o seguinte:

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“Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. 10Pois todo
o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá. 11Quem de
vós, sendo pai, se o filho lhe pedir um peixe, em vez do peixe lhe dará uma
serpente?12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós,
que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do
Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,9-13).

Santo Agostinho dizia que “Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem”.
Parafraseando o bispo de Hipona, podemos dizer “quem sabe bem rezar, sabe também
viver bem o seu tratamento”. Agora nos indaguemos: como é rezar bem?
São Tomás de Aquino afirma que existem três condições essenciais para que
possamos rezar bem e assim assegurar a eficácia das nossas orações. São elas: a
humildade, a perseverança e a confiança. E claro, essas condições carecem da nossa
atenção enquanto nós rezamos.
Com humildade. Isto é: com recolhimento interior, com honestidade,
sinceridade, que se busque sinceramente arrepender-se dos seus pecados, isto é, sem
falsidade como faziam os fariseus. Por isso o salmista dizia: “Mas vós amais os corações
que são sinceros e na intimidade me ensinais sabedoria” (Sl 50,8). Assim orava o
publicano, que foi atendido: “Ó Deus tem piedade” (Lc 18,13), enquanto o orgulhoso
fariseu viu rejeitada a sua oração. O próprio Jesus nos dá razão disso: “Todo o que se
exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). Os seus discípulos
compreenderam-no perfeitamente e são Tiago diz-nos com insistência: “Deus resiste aos
soberbos, aos humildes, porém, dá sua graça” (Tg 4,6).
Com confiança. E assim a verdadeira humildade gera confiança. Quem se
humilha, só é capaz de se humilhar porque confia e espera em Deus. Como nos diz o
salmista: “Confia no Senhor e faze o bem, habita na terra e vive tranquilo, coloca tua
alegria no Senhor (...) Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele agirá” (Sl
37,3-5). Ensina a fé que Deus é misericórdia e que por esse motivo se inclina com tanto
mais amor para nós quanto mais reconhecemos as nossas misérias: porque a miséria atrai
a misericórdia de Deus. Invocá-lo com confiança é afinal honrá-lo, é proclamar que ele é
a fonte de todos os bens e nada tanto deseja como conceder nos. Nosso Senhor convida-
nos a orar com confiança.
Com perseverança. Sem desistir, sem negociar, sem fingir que reza quando está
na capela, quem finge que reza já desistiu de rezar. Muitos lá estão, mas não estão mais
em oração. Pensam em tudo menos em Deus. Dizia são João da cruz, “Quem foge da
oração, foge de todo o bem”. Santo Afonso dizia: “É preciso rezar sempre. Sendo
contínuas as tentações e os perigos de perdermos a amizade de Deus, contínuas também
devem ser as nossas orações.” (ver Mt 15, 24-28)
Mas a esta confiança perseverante é indispensável juntar a atenção, ou ao menos
um sério esforço para pensarmos no que dizemos a Deus. As distrações voluntárias, que
admitimos, aquelas que não repelimos senão frouxamente ou aceitamos sem combater o
mau pensamento são falta de respeito para com Deus. Será que não mereceríamos a
represália que Jesus Cristo dirigia aos fariseus: “Este povo me honra com os lábios, mas
o seu coração está longe de mim?” (Mt 15,8)

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“É preciso que nos convençamos de que da oração depende todo o nosso bem.
Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende
conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna”. (Santo
Afonso de Ligório).

12. O valor da disciplina

“Aplica o teu à disciplina e os teus ouvidos à palavra de conhecimento” (Pv


23,12)
Somos um povo em ordem de batalha. São Miguel Arcanjo, nosso protetor, o
vencedor das forças do mal, é o chefe e príncipe do exército angelical. Nós também somos
parte desse exército. Um exército que luta pela sobriedade, pela vida nova. “Se, pois,
ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita
de Deus. 2Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, 3pois morrestes e a vossa vida
está escondida com Cristo em Deus.” (Col 3, 1-3)
É impossível um soldado vencer uma guerra sem disciplina. Disciplina é a regra,
o modo de viver segundo as leis e os costumes de um instituto ou de uma profissão. Assim
é a disciplina de um colégio, de um seminário, de uma casa religiosa, de uma comunidade
terapêutica; a disciplina é uma arte. Aqui na casa de triagem, nós também temos a nossa
disciplina: destina-se a formar bons homens, capazes de dialogar com todos. Nossa
disciplina tem o desejo de formar homens de Deus, bons soldados do exército de Cristo.
Resulta por isso, que a disciplina é indispensável nas comunidades, tanto para o
bom funcionamento da casa, como para a formação dos indivíduos. Não deve ser apenas
observada, mas amada. Se não amarmos será quase impossível que o filho predileto
consiga amoldar a ela as suas ações com um ânimo alegre e vontade constante. Acontece
que todos executam as mesmas coisas; mas enquanto alguns se regozijam, porque à
presença da graça no que fazem por amor, outros, executando-as apenas porque tem que
ser feito, logo ao sair da casa vai deixá-la, porque não conseguiu transformar a disciplina
em um verdadeiro valor, isso é um perigo, pois, estes vão colocar sua sobriedade em risco
assim que deixarem a comunidade terapêutica.
Não se pode dizer de fato, que a observância da disciplina não custe. É preciso
dobrar continuamente a própria vontade, mortificar todos os caprichos e inclinações;
enfim, renunciar incessantemente a nós mesmos. Como nos diz a Sagrada Escritura:
“Mortificai, pois, os vossos membros no que tem de terreno.” (Col 3,5) Tudo isso custa,
mas o amor adoça e suaviza o jugo e o peso de ter responsabilidade com o meu tratamento.
Nós não queremos e nem pretendemos que chegueis a perfeita observância num instante.
Requer-se, como acontece com todas as virtudes, tempo e treino para adquirir o hábito.
Considere-se, além do mais, que o campo da disciplina é vasto; vai da educação à
observância das regras, da obediência aos responsáveis, da pontualidade do horário, do
cumprimento dos próprios deveres nos diversos setores. E tem como finalidade os bons
costumes da casa.

33
Por tanto, considerai necessária a observância da disciplina, por três motivos:
1- Como por uma espécie de contrato entre vós e os responsáveis, eles, para
vos formarem na virtude; e vós para vos deixardes formar.
2- Para serdes abençoados por Deus, receberdes com proveitos suas graças e
assim gozardes da verdadeira paz do coração, que emana do cumprimento do próprio
dever.
3- Porque o homem (a) que não se submete de bom grado a disciplina leva
uma vida infeliz.

Felizes vós que sabeis e podeis viver sob a disciplina! Se, por um lado, é certo que
ela amarra a vossa vontade e todas as vossas atividades, por outro, torna fácil e seguro o
caminho que conduz à perfeição, ajuda a manter a boa ordem da casa e o bem-estar. Não
vos esqueçais; quem rejeita a disciplina é um infeliz. Infeliz, porque nunca está contente,
nunca se sente em seu lugar. Pelo contrário quem observa com amor, goza de perfeita
paz. Por isso ao invés de desejardes coisas impossíveis, fazei o que tendes de fazer, fazei-
o com perfeição, no tempo, no lugar e da maneira que vos dizem; e não a intervalos
segundo o humor do momento, mas sempre, todos os dias e durante o dia inteiro. Eis a
disciplina! Se agíssemos sempre assim, como a comunidade caminharia bem!
É particularmente na vida cotidiana que sentires necessidade da disciplina, porque
lá, quem não estiver bem firmado nela, quem nunca aprendeu a observá-la por dever e
com amor é fácil que caia na desordem, onde não habita a sobriedade em todos os
sentidos. Os danos da indisciplina lá fora, na minha casa, são mais graves que na casa de
recuperação. Aqui ainda é possível remediar; lá nem sempre, estarei possivelmente “só”.
Um ato de indisciplina, segundo as circunstâncias em que se encontra a sua vida, pode
ser a gota d’água, ou seja, um ato de desordem, de erro fatal pode acarretar graves
consequências, com prejuízo difícil de ser reparado e aí corre se o risco de colocar tudo a
perder; pessoas trabalho confiança e é lógico, a sobriedade. Eu lhes pergunto, até que
ponto vale fazer minha vontade e do meu jeito?
Peçamos a Nosso Senhor, que nos faça compreender com justeza a necessidade
da disciplina e nos ensine a observá-la com mais cuidado para que não frustremos uma
vez mais a nós mesmos, e consequentemente quem está próximo a mim.

Pontualidade e exatidão
Um meio que ajuda a mante a disciplina e a ordem na casa é a pontualidade.
Quando não há pontualidade, especialmente na capela e no refeitório, perde-se tempo por
causa dos retardatários; é feio perder tempo e fazê-lo perder aos outros. Quero que a
comunidade caminhe com pontualidade e exatidão.
A exatidão consiste em não omitir voluntariamente nenhum dever, não o abreviar,
não cortar nenhuma parte, por pequena que seja. Quem chega atrasado aos atos
comunitários, acaba por fazê-los de pressa e, portanto, faz mal; ou não os faz
integralmente.
Sempre deve haver pontualidade, quer seja muito, quer pouco. Numa comunidade
formada por duas ou três pessoas, até parece quase inoportuno tocar o sino, parece

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inoportuno levantar-se no horário, executar pontualmente as ações do dia... Parece
inoportuno, mas não é. Não importa o número; tudo deve funcionar da mesma maneira,
tanto numa comunidade de cem, como de cinquenta ou de cinco pessoas apenas. Porque
a ordem pode e deve existir sempre.
O sino é a voz de Deus que chama às diversas ocupações. É preciso executá-la
prontamente, suspendendo o trabalho no mesmo instante. Se, no horário de estudo, viesse
um anjo e vos mandasse à capela não deves ouvi-lo, porque naquele momento o vosso
dever é estudar.
Exatidão em tudo, portanto. Isto não significa, porém que se deva largar o trabalho
cinco ou dez minutos antes da hora, para ser pontual na ação seguinte... Quem é
previdente pode trabalhar até o último instante e ser pontual da mesma forma. É preciso
fazer tudo com pontualidade. Estas coisas são importantes aqui e na tua casa, onde você
estiver. Tudo deve proceder ordenadamente, segundo o horário marcado sem nada mudar.
Se for preciso fazer alguma modificação ou observação, apresente-se o caso a pessoa
responsável: Seja ele (a) a decidir. Ninguém se arrogue o direito de alterar a ordem da
casa ou das coisas. Isso não! É infração à disciplina, é causa de desordem.
Eis meus caros em que consiste a disciplina. Amai-a e observai-a por amor. Ela é
em relação a vós como a lei de Deus que vos acompanha todos os atos do dia. Está escrito:
“Muita paz goza os que amam a vossa lei” (Sl 118, 165).
Quem observa a disciplina apenas parcialmente, pode se dizer que ama a lei de
Deus? Não, este não ama, por isso não goza de muita paz. Sim, lembrai-vos de que a paz
abundante procede unicamente do amor, portanto da observância feita por amor.
“Ninguém, engajando-se no exército, se deixa envolver pelas questões da vida
civil, se quer dar satisfação àquele que o arregimentou. Do mesmo modo um atleta não
recebe a coroa se não lutou segundo as regras.” (2Tm 2,5)
“Pedi e dar-se-vos-á... porque tudo aquele que pede, recebe”
A formação desta semana nos trouxe a necessidade da oração para poder
cumprirmos o mandato de Jesus: “Ser perfeitos como o Pai Celeste é perfeito”.
Aprendemos que sem busca pela santidade não há sobriedade, e para esse caminho a vida
de oração é fundamental. Neste dia de retiro queremos ainda podermos aprofundar. Para
isso seremos motivados pela Palavra de Lucas 18, 1-8:
Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que
eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Ele disse: "Em certa cidade havia um juiz
que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma
viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o
meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo:
‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me
aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me importunar’.
E o Senhor continuou: "Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça
aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar?
Eu lhes digo: ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem
vier, encontrará fé na terra?"

35
➢ Agora registre, em breves palavras:

Que disse o texto?

Que me disse texto?

Que respondo a Deus?

Qual é a Palavra que inflama meu coração?

Qual é minha resolução à luz da Palavra?

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13. Introdução à vida espiritual: a piedade.

"Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos
corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito,
para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o
que é perfeito" (Rm 12,1-2).
"O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito,
alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo." (1Tess 5,23).
Pela Palavra somos animados a oferecer todo nosso ser, incluindo nosso corpo, ao
Senhor. Um dia entregamos nosso corpo ao pecado, e isso trouxe consequências em nossa
vida. Hoje fizemos uma escolha, desejamos lutar pela nossa sobriedade, e portanto,
devemos entregar-nos a Deus: entregar-nos em TODO NOSSO SER.
A dependência química, como escravidão, cria uma necessidade, uma força quase
irresistível, um desejo incontrolável por usar tal o qual substância, independente do que
para isso tenha que fazer... a força do desejo é maior.
Temos consciência que essa FORÇA é capaz de alcançar qualquer coisa que se
propor, ela consegue com tal de poder usar. É tempo, então, de canalizar, reorientar essa
força que é viva e latente no interior. No processo de tratamento o primeiro passo, junto
com reconhecer que preciso de ajuda é LUTAR E PEDIR A GRAÇA DE MUDAR
MINHA MENTALIDADE. Precisamos, então, reconhecer. E cabe aqui uma pergunta:
Reconheço o anteriormente descrito em minha vida? Só após esse reconhecimento,
aparece a PIEDADE, como ferramenta, motor e alicerce da minha sobriedade.
A etimologia, a origem da palavra piedade, vem do latim pietas - atis. Significa
Demonstração de amor ou afeto pelas coisas religiosas; devoção. Virtude que possibilita
oferecer a Deus o culto que Ele merece.
Piedade como um dom do Espírito Santo exercita na nossa vontade um afeto filial
para com Deus, considerado como Pai, e um sentimento enquanto irmãos nossos e filhos
do mesmo Pai, que está nos céus. Deste modo, a piedade tem como primeiro objeto nossa
relação com Deus, e fruto dessa relação com Ele, somos colocados em relação com os
irmãos.
Vejamos como se desenvolvem estas verdades. A Palavra nos diz: “não sabeis
que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de
Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um
grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1Cor 6,19-20).
Como templo do Espírito nosso corpo é sagrado. E meu corpo pode oferecer-se a
Deus, pode rezar. Dessa forma eu posso entrar em relação filial com Ele. Posso unificar
minhas palavras ditas na oração, junto a meus sentimentos e desejos que se elevam a Deus
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na minha postura corporal. A postura corporal FALA e me conscientiza sobre o que estou
vivendo. O Catecismo Jovem a Igreja Católica (YOUCAT) em resposta a questão: “O
que exprimem os cristãos com as suas posturas orantes?”, assim responde:
“Os cristãos apresentam a Deus sua vida através da linguagem corporal: eles
estendem-se diante de Deus, juntam as mãos em oração ou abrem-nas, dobram o joelho
ou ajoelham diante do Santíssimo Sacramento, ouvem o Evangelho de pé e meditam
sentados.”

• De pé. É a postura do ressuscitado. Expressa atenção respeitosa e ativa. Diante de


Deus exprime-se respeito, e disponibilidade (estamos prontos para ouvir e servir). Aqui,
o orante assume o gesto original do louvor quando estende as mãos para louvar Deus.
• Sentado. É uma posição cômoda que favorece a catequese e a meditação sobre a
Palavra que está sendo recebida. Expressa atenção, concentração e disposição para escuta.
Diante de Deus, o cristão escuta o seu interior e põe no seu coração a Palavra em
movimento, contemplando-a (cf. Lc 2,51).
• De joelhos (com os dois joelhos no chão). Gesto de adoração. Declaramos nossa
adoração e total submissão a Deus e à Sua vontade; A pessoa faz-se pequena, diante da
grandeza de Deus, reconhecendo que depende da sua graça.
• Genuflexão (um só joelho no chão). Gesto de adoração a Jesus Eucarístico.
expressa humildade e reconhecimento de nossa inferioridade e da grandeza de Deus.
• Prostrando-se (dois joelhos dobrados e cabeça inclinada até o chão/deitado:
estendido no chão com a fronte voltada para a terra). A pessoa adora Deus.
• Unindo as mãos (ou mãos justapostas). Significa recolhimento interior. A
pessoa abandona a dispersão e concentra-se, unindo-se a Deus. Mostra fé, súplica e
confiança. É atitude de profunda piedade;
• As mãos levantadas. Significam súplica e entrega a Deus. É a atitude dos orantes;
Uma vez perguntaram ao Santo Cura de Ars como se podia chegar à fé em Deus,
e ele respondeu: “Comece sobretudo por se ajoelhar”.
“O princípio do orgulho humano é abandonar o Senhor e ter o coração longe
do Criador. O orgulho não foi feito para o homem, nem o furor para os nascidos de
mulher.” (Ecl 10,12.18) A piedade tem a capacidade de nos aproximar de Deus e
quebrantar o orgulho.
É necessário saber que piedade não é pietismo ou hipocrisia. A piedade que
vivemos não pode ser rebaixada a simples aparência que não tem frutos, ao contrário,
além de nos ser pedido uma piedade frutuosa e alicerçada, deve ser uma piedade que tenha
fundamento teologal (o culto a Deus), moral (eu preciso para mudar) e espiritual (o
Espírito age em mim no meu espírito transformando-me), assim não seremos acometidos
de exagero, escândalos e escrúpulos espirituais.
“Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado,
obedecestes de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados
do pecado, vos tornastes servos da justiça. Vou me servir de linguagem corrente entre
os homens, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois, como pusestes os vossos
membros a serviço da impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora
os vossos membros a serviço da justiça para chegar à santidade.” (Rm 6,17-19).

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14. Fé, a resposta do homem a Deus

“Combate o bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se afastarem


desse princípio e que muitos naufragaram na fé.” (1Tm 1,18-19)
Pelo ingresso no tratamento terapêutico, eu decidi assumir um novo modo de ver
a vida. Eu decidi viver uma nova vida. A espiritualidade, como já aprendemos possui
importância fundamental nesse processo. Não é possível vivermos uma vida espiritual
sem uma virtude básica: a fé.
Mas o que é a fé? A carta aos Hebreus nos diz que a fé é o “fundamento da
esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.”. Fé, portanto, é uma certeza, uma
convicção. No início de nosso tratamento, sequer sabíamos dizer se realmente
acreditávamos em nós, quem dera em Deus. Mas por meio de Jesus, Deus Pai nos buscou,
e sacrificou o seu Filho amado como diz a Palavra: “Deus amou tanto o mundo, que
entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para
que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16)
E mais, Deus nos buscou e de alguma forma misteriosa ele se revelou a nós, e nos
mostrou seu amor, lá na realidade de drogadição à qual nós estávamos, e mesmo sem
saber já estávamos sendo “pescados” por ele. A doutrina nos ensina que pela sua
revelação a nós, o Deus invisível, cheio de misericórdia, na riqueza do seu amor, fala aos
homens como a amigos e convive com eles, para os convidar e admitir a comunhão com
Ele. Diante desse amor, a resposta adequada a este convite é a fé.29
Qual a necessidade da fé? Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus
Cristo e n'Aquele que O enviou para nos salvar. Porque “sem a fé é impossível agradar
a Deus” (Hb 11,6) e chegar a partilhar a condição de filhos seus; ninguém que não
“persevere nela até ao fim” (Mt 10,22; 24,13) poderá alcançar a vida eterna.30
Quando o tratamento nos pede par vivermos uma vida de fé, ele nada mais nos
pedindo que vivamos a obediência da fé. Pois pela fé, o homem submete completamente
a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá permissão a Deus.
Sim, permissão, Deus não invade. “De fato, Cristo convidou a fé e a conversão, mas de
modo nenhum constrangeu alguém. Deu testemunho da verdade, mas não a impôs pela
forca(...). O seu Reino (...) dilata-se graças ao amor, pelo qual, levantado na cruz, Cristo
atrai a Si todos os homens.” (Cat. §160) Deus espera o nosso sim livre e generoso para
segui-lo e servi-lo. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a
porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). A Sagrada
Escritura chama “obediência da fé” (cf. Rm 1,5) a esta resposta do homem ao Deus
revelador que o chamou para a vida nova.
Viver autenticamente, isto é, sem negociações e falsidade, o tripé oração, trabalho
e disciplina é dar uma resposta ao amor de Deus. Amor que que arrancou o filho predileto

29
Cat. §142.
30
Cat. §161.

39
do lamaçal do pecado e do vazio existencial para viver a vida ressuscitado que Cristo
conquistou do alto da cruz com o seu sangue derramado, “(...) agora, justificados por seu
sangue, seremos por ele salvos da ira.” (Rm 5,9)
Vamos ver agora as características da fé. A fé e uma graça. Quando Pedro
confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação
não lhe veio “da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus” (Mt 16, 17)
(16). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural dada por Ele a cada um de nós
que decidiu ser de Deus e lutar pela sobriedade. É preciso estar bem claro: quem dá a fé
é Deus. O merecimento não é nosso. É Dele. Viver esta adesão da fé, são necessários a
ajuda da graça divina e os auxílios interiores do Espírito Santo, o qual move e converte o
nosso coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em
aceitar e crer a verdade) “. Sem essa fé que gera clareza nós vivemos na mentira, na ilusão
e na falsidade.31 Devermos pedir sem cessar: “Senhor aumenta-nos a fé.” (Lc 17,5)
Mas além de um movimento da graça, a fé é também uma um ato humano. O ato
de fé, só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas também
é verdade que crer é um ato autenticamente humano. Crer em Deus não é contrário,
nem a liberdade nem a inteligência do homem, como dizem por aí. Mesmo nas relações
humanas, não é contrário a nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos
dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por
exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em mutua
comunhão.
Não dá para estar em relacionamento nenhum sem acreditar e confiar nessa
pessoa. O que vale para o relacionamento humano, nesse sentido, vale também para nossa
relação com Deus. Por isso, muito desistem do tratamento, porque ao invés de escolherem
o caminho da fé, entregando a Deus a sua liberdade por vontade própria, escolhem o
caminha da dúvida, da mentira, da incerteza e da confusão.32 Por isso, falando da
perseverança nesse caminho da fé, o Catecismo da Igreja Católica ensina que:
A fé é um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós podemos perder este dom
inestimável. Paulo adverte Timóteo a respeito dessa possibilidade: “Combate
o bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se afastarem desse
princípio e que muitos naufragaram na fé” (1Tm 1,18-19). Para viver, crescer
e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus.33

Terminemos falando sobre Nossa Senhora, nosso modelo de fé, ela é feliz por que
é aquela que acreditou (cf. Lc 1,45).
A Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a “obediência da fé”. Na fé,
Maria acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acreditando
que “a Deus nada e impossível” (Lc 1, 37) e dando o seu assentimento: “Eis a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Maria
nunca deixou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus. Por isso, a Igreja
venera em Maria a mais pura realização da fé.34

31
Cat. §153.
32
Cat. §154.
33
Cat. §162.
34
Cat. §148-149.

40
“Ofereçam seus corpos como sacrifício vivo e santo”

A formação desta semana nos trouxe a realidade de poder orar com nosso corpo,
levando o nome de piedade. Aprendemos sobre este tema e neste dia de retiro queremos
ainda podermos aprofundar. Para isso seremos motivados pela Palavra de Romanos 6,
17-23:"Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes
de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, vos
tornastes servos da justiça. Vou-me servir de linguagem corrente entre os homens, por
causa da fraqueza da vossa carne. Pois, como pusestes os vossos membros a serviço da
impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora os vossos membros a
serviço da justiça para chegar à santidade. Quando éreis escravos do pecado, éreis livres
a respeito da justiça. Que frutos produzíeis então? Frutos dos quais agora vos
envergonhais. O fim deles é a morte. Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de
Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna. Porque o salário do pecado
é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor".

➢ Agora registre, em breves palavras:

Que disse o texto?

Que me disse texto?

Que respondo a Deus?

Qual é a Palavra que inflama meu coração?

Qual é minha resolução à luz da Palavra?

41
Colaboradores
Edição:

Frei Adonias do Sumo Bem


Frei Alberto do Santo Cenáculo,
Frei Agostinho Fortaleza dos Mártires
Frei Francesco Alegria dos Pobres
Frei Félix Cativo de Jesus Hóstia
Frei Paulo Amante da Cruz
Frei Phanuel Filho da Misericórdia
Jaury de Toledo Júnior
Luiza Souza Freitas

42
Anexo I

Orientações sobre o preenchimento das triagens

Translitero aqui, o e-mail acerca das diretrizes e normativas documentais e jurídicas,


enviado pelo Jaury, enquanto coordenador da missão Sede Sóbrios de São Paulo, sob a
então responsabilidade religiosa do frei Paulo, a 2 de junho de 2020.
“Paz e bem!
Conforme informado anteriormente, encaminhamos, anexo, os documentos
oficiais da Missão Sede Sóbrios que se referem a todas as fases do tratamento em nossa
Comunidade. Encaminhamos, ainda, para conhecimento e entendimento mais apropriado
sobre o que tem sido discutido, a Ata da última reunião realizada entre as Fraternitas do
núcleo São Paulo (cidade de São Paulo, Mogi das Cruzes, Santo André e Baixada
Santista), sob a responsabilidade e acompanhamento religioso do Frei Paulo.
O material que ora encaminhamos passou por avaliação de toda equipe, dos Freis
que atuam com a dependência química desde o início da Obra, da Priscila (psicóloga) e
da Roberta, nas questões jurídicas.
Conforme orientação do jurídico, pontuamos algumas questões:
1. Esses documentos são exclusivos para filhos(as) prediletos(as) em tratamento,
ou seja, não abrange filhos(as) que terminaram o tratamento e estão agora conosco como
missionários(as) ou voluntários(as);
2. Para os(as) missionários(as) e para os(as) voluntários(as) (que possuem função
diferente um do outro), como administrativo da Casa de Acolhida (e não como Sede
Sóbrios) enviamos a informação, do e-mail da Casa de Acolhida
(casadeacolhida@ocaminho.org), de que os(as) mesmos(as) assinarão um termo de
voluntariado, que a Roberta (jurídico) encaminhará para cada casa já preenchido, com as
informações que os(as) senhores(as) repassaram por mensagem eletrônica. Pedimos que
aguardem, assim, o retorno do Jurídico para a questão dos(as) missionários(as) e dos(as)
voluntários(as);
3. Encaminhamos os documentos oficiais do Sede Sóbrios em arquivo PDF,
exatamente para que não haja alteração dos termos ali inseridos, sendo que, o
preenchimento deverá ocorrer na forma escrita (manualmente) e legível;
4. Cada palavra e cada regra constante nos documentos passou por uma séria
avaliação, visando proteger a Casa de Acolhida (Entidade) e a comunidade religiosa, para
que não tenhamos problemas jurídicos e alegações de práticas de crimes, como o de
preconceito, assédio moral, entre outros;
5. Eventual solicitação de informação sobre o tratamento de filhos(as)
prediletos(as), enviada por familiares, juízes, delegacia de polícia, promotores de justiça,
conselho tutelar e outros órgãos, deve, OBRIGATORIAMENTE, ser direcionada ao

43
administrativo da Casa de Acolhida (casadeacolhida@ocaminho.org) e para o Jurídico
(juridico@ocaminho.org). Não devemos encaminhar informação sobre os tratamentos
para terceiros (ainda que sejam familiares) sem antes falar com jurídico, pois o tratamento
tem caráter sigiloso e, se quebrarmos esse sigilo, ferindo a privacidade do(a) filho(a),
poderemos responder processo judicial por isso. Ainda, o Jurídico possui a forma mais
adequada de responder a esses órgãos;
6. Devemos ter cautela e bom senso no preenchimento dos documentos do
tratamento, evitando rasuras, bem como o uso de palavras pejorativas, preconceituosas,
vexatórias entre outros. Não podemos inserir nos documentos nosso juízo de valor
(exemplo: O filho é um estúpido e merece ser punido. Nesse caso, devemos escrever de
forma imparcial: O filho apresentou conduta agressiva, imprópria e, por essa razão,
sofrerá advertência disciplinar.);
7. O preenchimento de todos os documentos é OBRIGATÓRIO, isso porque
temos o DEVER de registrar a vida do(a) filho(a) na nossa Comunidade, com
detalhamento. Precisamos saber quem ele é, descrever como tem sido a evolução de seu
caso e qualquer outra situação que tenha ocorrido com ele dentro da casa. O(a) filho(a)
não é somente um(a) dependente químico(a), mas um ser humano cheio de
particularidades (como um paciente de um médico, de um cirurgião-dentista, de um
psicólogo), sua história é e sempre será muito relevante para definirmos os métodos do
tratamento, que variam de uma pessoa para outra;
8. Esses documentos devem ser preenchidos corretamente e de forma completa,
pois poderão, a qualquer tempo, ser solicitados por um juiz e precisaremos demonstrar
nossa organização e capacidade para desenvolver corretamente os serviços que
prestamos. A Casa de Acolhida recebe com frequência esse tipo de solicitação de juiz e,
muitas vezes, o que temos em mãos é um documento onde consta somente o nome do
acolhido e qual droga ele usou e quantas internações teve. Esse tipo de documento não é
o adequado e não pode ser chamado de prontuário;
9. Os documentos não são mera burocracia, mas uma NECESSIDADE para nos
dar a garantia de provar o que fazemos e como fazemos. Se um dia formos questionados
judicialmente ou de qualquer outra forma, teremos esses documentos para nos resguardar
juridicamente, para nos proteger de eventuais alegações inverídicas sobre aquilo que
fazemos ou que fizemos;
10. Além disso, com o preenchimento dos documentos teremos maiores e
melhores subsídios e informações sobre os tratamentos que realizamos, podendo utilizar
esses dados para melhoria de nosso processo formativo enquanto cuidadores e buscarmos
mais caminhos para atingir a vida dos filhos e filhas, em benefício da sobriedade e da
mudança de comportamento. Ainda, com os documentos poderemos produzir relatórios
estatísticos para nos autoavaliarmos sobre nosso método de tratamento e, a partir disso,
nos adequarmos no que for necessário. Pode ser a base de compreensão para religiosos e
membros cuidadores que nunca tenham tido contato com a dependência química, para,
na prática, orientá-los e facilitar esse envolvimento com o Sede Sóbrios.
Diante disso, encaminhamos, os seguintes documentos:

44
1. Triagem Sede Sóbrios - deve ser utilizado, obrigatoriamente, nas casas de
triagem. Com seu preenchimento adequado, teremos os dados do(a) filho(a) desde o
momento em que ingressou em nossa casa. Os documentos originais da triagem devem
ser mantidos na Fraternitas de triagem e, sempre que possível, ser digitalizado e mantido
em arquivo organizado. O ideal é que não haja a perda do documento físico (em papel),
pois ele é essencial e tem finalidade jurídica. A digitalização desses documentos será uma
segurança à mais para a Casa de Acolhida. Tanto o documento físico (em papel), quanto
o digital, devem ser mantidos em local apropriado e seguro, sem que terceiros tenham
acesso, pois temos o dever de sigilo das informações e, caso outras pessoas tenham acesso
à informações sigilosas compartilhadas pelo(a) filho(a), estaremos ferindo a privacidade
do(a) filho(a), ferindo a necessária confiança e deixando de cumprir com nossa obrigação
de sigilo e guarda segura dos documentos, o que pode nos trazer problemas judiciais.
Cópia da triagem deve ser encaminhada à casa de tratamento para onde o(a) filho(a) for
direcionado(a);
2. Termo de Adesão e Anexos - O(a) filho(a) predileto(a) que inicia um tratamento
não é um(a) voluntário(a) e, por isso, não assina termo de voluntariado. Na verdade, ele(a)
é um(a) acolhido(a) e, por isso, assina o Termo de Adesão ao Programa de Tratamento e
Recuperação em Dependência Química. Esse termo é uma espécie de contrato, onde
colocamos as obrigações de quem é acolhido(a) e as obrigações da Casa de Acolhida,
além de outras regras que tem o objetivo de nos proteger juridicamente. Esse termo de
adesão possui alguns anexos, como descrevemos a seguir:
a) Anexo I - MANUAL DE ROTINAS E PROCEDIMENTOS - Esse documento
apresenta as regras e rotinas do atendimento e acolhimento de dependentes químicos
(critérios de admissão, internação, transporte, gratuidade do acolhimento, explicações
sobre o programa de recuperação - fases do tratamento, alimentação, atendimento médico,
odontológico e psicológico, cronograma da casa, prontuário, lazer, sanções, visitas e
acompanhamento familiar);
b) Anexo II - REGULAMENTO - Apresenta normas disciplinares para os(as)
residentes ACOLHIDOS(AS) no Programa de Tratamento e Recuperação em
Dependência Química nas casas da Fraternidade O Caminho, sob o princípio da Oração,
Trabalho e Disciplina, contendo o que é PERMITIDO, OBRIGATÓRIO E PROIBIDO;
c) Anexo III - REGULAMENTO DO DIA DE VISITA PARA FAMILIARES -
Apresenta regras sobre as visitas de familiares.
d) Anexo IV - TERMO DE CESSÃO DE DIREITO DE USO DE IMAGEM E
VOZ - É importante que tenhamos autorização do(a) Acolhido(a) quanto ao uso de sua
imagem e voz nos nossos materiais de divulgação.
3. Ficha de Evolução - Nesse documento, quem acompanha o(a) filho(a), na casa
de triagem ou na casa de tratamento, deverá lançar, dia a dia, conforme seja realizada
alguma atividade com o(a) filho(a) (atendimento, escuta, partilha, preenchimento dos
documentos da triagem, história clínica, atendimento psicológico etc.), as informações
sobre o que aconteceu naquele dia com aquele(a) filho(a).
Exemplo:

45
01/06/20 - Realizado o preenchimento da 1ª triagem - Responsável pela
informação: Frei Tobias - Assinatura do filho
03/06/20 - Atendimento Psicológico - Filho relata sentir-se ansioso e depressivo.
Foi utilizada tal técnica durante a sessão. Observando melhora no comportamento x. -
Responsável pela informação: Priscila - Assinatura do filho
05/06/20 - Escuta - Filho procurou orientação sobre dificuldades que está tendo
no relacionamento dentro da casa. Manifestou sua insatisfação pela ausência de contato
familiar. Orientado a investir primeiramente em si, a se conhecer melhor, a praticar a
oração como forma de lhe trazer maior conforto nesse momento. Responsável pela
informação: Missionário Renato - Assinatura do Filho.
4. História Clínica - Sede Sóbrios - Esse documento é um dos mais delicados e
complexos. Deve ser aplicado na casa de tratamento e não na casa de triagem, diante da
necessidade de um relacionamento mais profundo com o(a) filho(a). Aqui há a
necessidade de conquistar a confiança do(a) filho(a), para que a partilha seja mais
próxima da verdade o possível. Esse documento é um dos mais importantes para definir
o acompanhamento terapêutico e seu plano de tratamento. É indicado que a história
clínica de um(a) filho(a), uma vez iniciada por determinada pessoa, seja por ela concluída.
Há a necessidade de sigilo total das informações, uma postura acolhedora ao que está
sendo partilhado, receptiva, sem julgamentos (Nossa, como você teve coragem de fazer
isso!?), uma escuta caridosa e misericordiosa. Disponibilizaremos material e formação
específica para preparar os cuidadores que farão a História Clínica.
5. Ficha de Encaminhamento - Esse documento deve ser utilizado sempre que
houver a transferência do(a) filho(a) para outra Fraternitas, seja da triagem para a casa de
tratamento, seja de uma casa de tratamento para outra. Cópia da ficha de encaminhamento
deve ser mantida na Fraternitas que está encaminhando o(a) filho(a) e o original deve ser
enviado juntamente com o(a) filho(a) para a Casa onde será acolhido(a). Caso o(a)
filho(a) desista na fase de triagem, essa informação poderá ser lançada nesse documento,
além de ter que ser assinado o termo de desistência em fase de triagem (vide abaixo). A
partir da ficha de encaminhamento podemos extrair estatísticas sobre a quantidade de
acolhimentos, transferências e desistência na fase da triagem.
6. Carta de Advertência Disciplinar - Deve ser aplicada todas as vezes que o(a)
filho(a) infringir alguma regra da Casa, seja quanto ao Manual de Rotinas e
Procedimentos, seja quanto ao Regulamento Interno.
7. Carta de Desligamento Voluntário e Carta de Desligamento Disciplinar - Esses
documentos são utilizados quando já foi assinado o Termo de Adesão. A carta de
desligamento voluntário deverá ser utilizada sempre que o(a) filho(a) quiser,
voluntariamente, interromper o tratamento. Já a carta de desligamento disciplinar deverá
ser utilizada quando o(a) filho(a) praticar algum ato que impeça sua permanência dentro
da casa, por ferir as normas do Manual ou do Regulamento.
8. Termo de Rescisão do Termo de Adesão - Esse documento deve ser preenchido
SEMPRE que o(a) filho(a) já assinou o termo de adesão e quiser deixar o tratamento,
voluntariamente ou a pedido da Casa de Acolhida. Deve ser acompanhado da Carta de
Desligamento Voluntário ou da Carta de Desligamento Disciplinar, dependendo do
motivo desse desligamento.

46
9. Carta de Desistência - Deve ser aplicada quando o(a) filho(a) desistir do
tratamento ainda na fase de triagem, antes da assinatura do termo de Adesão. Não deve
ser confundida com a Carta de Desligamento.
10. Interrupção de Triagem - Deve ser aplicada quando o(a) filho(a) praticar
algum ato que inviabilize sua permanência na casa, ainda em fase de triagem, antes da
assinatura do termo de Adesão. Não deve ser confundida com a Carta de Desligamento
ou Carta de Desistência. O acolhido será convidado a se retirar da Casa.
11. Certificado de Tratamento (feminino e masculino) - Documento que deverá
ser emitido ao término do tratamento do(a) Acolhido(a).
Freis e Freiras, é importante que os senhores e senhoras possam ler cada um dos
documentos, verificar dúvidas que possam surgir e dar uma devolutiva para nós, do Sede
Sóbrios, caso haja algum documento que precise ser adequado à sua Fraternitas ou que
precise ser criado.
Pedimos, mais uma vez, que os documentos enviados não sejam alterados e que
não sejam criados documentos sem o conhecimento do jurídico da Casa de Acolhida, bem
como que não seja utilizado o papel timbrado em documento que o administrativo e o
jurídico desconheçam, pois isso pode trazer problemas à Casa de Acolhida e sua diretoria.
Estamos totalmente à disposição para ajudá-los e orientá-los no que for preciso.
Somos um corpo e caminhamos juntos para ajudar, não para atrapalhar. Esperamos que
os senhores possam compartilhar conosco novas ideias, sugestões, críticas, dúvidas,
enfim... tudo o que for possível para que possamos crescer juntos e oferecer o melhor para
nossos filhos e filhas prediletos.
Queremos enfatizar que, a vida de um religioso e de uma religiosa é para nós,
filhos e filhas prediletos, sinal de salvação. Olhamos para os senhores, encontramos a
Deus, descobrimos que o processo de santidade é um caminho real e possível, nos
espelhamos no SIM que os senhores deram à Deus e aos mais necessitados para ofertar o
nosso SIM à Deus também e a nossa sobriedade à vocês como forma de gratidão. Dizemos
tudo isso, pois não há Sede Sóbrios distante da vida religiosa. Os senhores são muito
importantes nesse processo.
Por fim, entendemos que seja importante que esses documentos cheguem ao
conhecimento dos membros cuidadores de filhos e filhas prediletos de sua Fraternitas e
Região, sejam eles missionários, voluntários, equipe de família, leigos e jovens que fazem
parte do Sede Sóbrios.
Sugerimos que os religiosos responsáveis por triagem e tratamento de filhos e
filhas dependentes químicos possam se reunir em sua região e fraternitas com os demais
membros do Sede Sóbrios local, para conhecimento e partilha, sendo certo que a
comunicação é uma importante ferramenta para o entendimento e compreensão da
missão.
É importante que todos nós possamos falar a mesma língua, que todos possam
compreender a extensão do tratamento, as ações da Casa de Acolhida e como o Sede
Sóbrios deve ser aplicado.
Estamos à disposição de todos!
Contamos com as orações dos senhores.

Jaury de Toledo Júnior

47
Anexo II

COMPREENDENDO OS CONCEITOS

ADCÇÃO:

Adicção é um vício que, normalmente, está associado ao consumo abusivo de


álcool e outras drogas. No entanto, o conceito também pode estar relacionado a qualquer
compulsão ou dependência psicológica, seja por comida, videogames, sexo ou outro
nicho.

CID 10:
O termo CID-10 significa “Classificação Internacional de Doenças” e faz
referência à décima versão do documento. A primeira versão foi lançada em 1992 e, desde
então, é atualizada a cada 3 anos por diversos profissionais de nacionalidades
diferentes. A CID-10 foi aprovada em 1994 e dois anos depois passou a ser utilizada no
Brasil. Apesar de ter sido criada para ter um alcance mundial, hoje apenas 27 países
utilizam a classificação oficialmente. A principal função da CID-10 é ajudar no estudo
de doenças que afetam determinado local ou grupo de pessoas. Para que isso seja da forma
mais correta e simples possível, foi criado um padrão para classificar as patologias.
Sendo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde. Dentre as classificações temos:

O CID F19 indica que o paciente teve seu estado


CID 10 mental comprometido pelo uso de duas ou mais
substâncias psicoativas diferentes.

Hoje ao falarmos de dependência química como doença ou qualquer outro


transtorno metal, estamos no norteando em dois principais órgãos responsáveis pelo
critério avaliação de doenças, são eles o Manual diagnóstico e estatísticos de transtornos
mentais (DSM) e Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à
saúde (CID). Tais manuais são atualizados de tempos e tempos para uma melhor
adequação aos novos conhecimentos e às mudanças sociais e culturais.
De acordo com o Manual de Transtorno Mentais35 (2014) a característica
essencial de um transtorno por uso de substâncias consiste na presença de um
agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso
contínuo pelo indivíduo apesar de problemas significativos relacionados à substância,
mesmo assim o indivíduo continua fazendo uso. A dependência química na atualidade
corresponde a um fenômeno amplamente divulgado e discutido, uma vez que o uso
abusivo de drogas se tornou um grave problema social e de saúde pública.
35
O DSM-5 é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Através dele é possível
classificar alguns transtornos por meio de códigos. Por meio disso, consegue-se até mesmo enquadrar
um transtorno em uma categoria ou gravidade específicas.

48
Isso porque assuntos como saúde, enfermidade e drogas continuamente
estiveram ao longo da história, embora cada tempo ofereça uma maneira particular de
enfrentar e lidar com esses acontecimentos, de acordo com as informações e interesses de
cada época.
O diagnóstico, de acordo com o DSM-5, é fundamentado nas seguintes
evidências.
O critério A prevê um padrão problemático de uso de determinada substância.
Para isso, ela deve levar ao comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo,
percebido por pelo menos dois dos critérios a seguir. Esses critérios devem ocorrer pelo
período mínimo de 12 meses:
● A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por
um período maior do que o pretendido.
● Desejo persistente ou esforços malsucedidos na tentativa de reduzir ou controlar
o uso da substância.
● Muito tempo é gasto em atividades relacionadas à obtenção, utilização ou
recuperação dos efeitos do uso da substância.
● Fissura, desejo intenso ou mesmo necessidade de usar a substância.
● Uso recorrente da substância, resultando em fracassos no desempenho de papéis
em casa, no trabalho ou na escola.
● Uso contínuo da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais
persistentes ou recorrentes causados ou piorados por seus efeitos.
● Abandono ou redução de atividades sociais, profissionais ou recreativas
importantes ao indivíduo devido ao consumo de substâncias.
● Uso contínuo da substância mesmo em situações nas quais esse consumo
representa riscos à integridade física.
● O consumo é mantido apesar da consciência de se ter um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado por
esse uso.
● Tolerância, definida como: efeito acentuadamente menor com o uso continuado
da mesma quantidade de substância e/ou necessidade de quantidades
progressivamente maiores de substância para atingir o mesmo grau de
intoxicação.
● Abstinência manifestada por: síndrome de abstinência característica da
substância utilizada e/ou uso da substância ou de similares na intenção de evitar
os sintomas de abstinência.

Vídeo 01 (como alguém se vicia em Drogas?):


https://www.youtube.com/watch?v=bqh-lsjcNY&t=8s&ab_channel=Cientificando

Além dos níveis de consumo, há também seis critérios para a definição do estado
de dependência química, de acordo com a CID-10 - Classificação Internacional de
Doenças – Décima Edição (1993)36 - são eles:
● Um desejo forte ou compulsivo para consumir a substância;

36
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação de transtornos mentais e de
comportamento da CID-10. Porto Alegre. Artmed, 1993, p.7.

49
● Dificuldade para controlar o comportamento de consumo de substância, em
termos de início, fim ou níveis de consumo;
● Estado de abstinência fisiológica quando o consumo é suspenso ou reduzido,
evidenciado por: síndrome de abstinência característica; ou consumo da mesma
substância (ou outra muito semelhante) com a intenção de aliviar ou evitar
sintomas de abstinência;
● Evidência de tolerância, segundo a qual há a necessidade de doses crescentes da
substância psicoativa para obter-se os efeitos anteriormente produzidos com doses
inferiores;
● Abandono progressivo de outros prazeres, ou interesses devido ao consumo de
substâncias psicoativas, aumento do tempo empregado em conseguir ou consumir
a substância, ou recuperar-se dos seus efeitos;
● Persistência no consumo de substância, apesar de provas evidentes de
consequências manifestamente prejudiciais, tais como lesões hepáticas causadas
pelo consumo de álcool, humor deprimido consequentemente há um grande
consumo de substâncias, ou perturbação das funções cognitivas relacionadas com
a substância.

- Vídeo 2 (como funcionam as Drogas no cérebro humano):


https://www.youtube.com/watch?v=h9XtI7xIP9c

CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIA PSICOATIVAS

As substâncias apresentam capacidades distintas de produzir efeitos agradáveis


nos indivíduos, e, quanto mais imediato e intenso é o efeito reforçador de determinada
droga, maior é a probabilidade de ela produzir um hábito de repetição. Essas propriedades
reforçadoras dependem da capacidade de determinadas substâncias de aumentar os níveis
de neurotransmissores37 em áreas críticas do cérebro. A Tabela abaixo lista os principais
neurotransmissores e suas características.38
Em 1971, Benjamin Rush afirmou, em uma frase que viria a instituir as bases do
conceito atual de dependência, que “beber começa como um ato de vontade, caminha para
um hábito e finalmente afunda na necessidade”. Se analisarmos a célebre frase de Rush
do ponto de vista neurobiológico, podemos dizer que a dependência inicia como um
impulso e se transformar em uma compulsão.39

37
38
ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo. O tratamento da dependência química e
as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas. Artmed Editora, 2018.
39
Idem

50
NEUROTRANSMISSORES40
São elementos químicos que podem ser definidos como mensageiros neuronais, que
transportam, estimulam e equilibram a comunicação entre os neurônios, células nervosas
e outras células do nosso organismo.
Os neurotransmissores são substâncias químicas responsáveis por gerenciar nossas
funções:
● Físicas, como frequência cardíaca, sono, respiração e apetite;
● Psicológicas, influenciando nosso humor e regulando nossas emoções, como
medo, alegria, bem-estar, satisfação;
● E também os vínculos que criamos ao longo da vida com outras pessoas, como os
membros da família, amigos, colegas de trabalho, entre outros.
Neurotransmissores Características Funcionalidade

Ácido gama- Aminoácido inibitório responsável pelos possui função relaxante, auxilia no
aminobutírico (GABA) efeitos sedativos das substâncias combate à ansiedade, ao estresse e até
depressoras. ao medo
Glutamato O glutamato é o neurotransmissor mais Aminoácido excitatório importante
comum no sistema nervoso central; na modulação de várias substâncias
participa da regulação da excitabilidade psicoativas.
geral do sistema nervoso central, dos
processos de aprendizagem e da
memória.
Dopamina Intimamente envolvida com o Esse neurotransmissor está envolvido
aprendizado e a motivação e com processos como controle motor,
responsável pela gênese neurobiológica cognição, compensação, prazer,
da dependência da maioria das humor e algumas funções
substâncias psicoativas. endócrinas.
Noradrenalina Relacionada estruturalmente com a é também relacionada com nossa
dopamina e envolvida nas respostas a capacidade de ficar em alerta e ter
vigília e estresse. Produz efeitos uma boa memória.
estimulantes.
Serotonina Monoamina envolvida na regulação do Suas principais funções incluem a
humor, da vigília, da impulsividade, da regulação de: humor, sono, libido,
agressividade, do apetite e da ansiedade. ansiedade, apetite, temperatura
É responsável pelos efeitos de corporal, ritmo cardíaco e
substâncias alucinógenas e estimulantes. sensibilidade
Acetilcolina Tem papel importante na memória e no Regula o ciclo do sono, essencial
aprendizado. Os receptores de para o funcionamento muscular.
acetilcolina estão implicados na também é encontrada nos neurônios
dependência de nicotina e podem sensitivos e no sistema nervoso
contribuir para o surgimento dos efeitos autônomo, e tem um papel na
da cocaína e de anfetaminas. programação do “estado de sonho”
enquanto o indivíduo está dormindo
Opioides endógenos Controlam uma variedade de funções no São usados para aliviar a dor, mas
corpo. Estão relacionados com a também provocam uma sensação
modulação da dor e da ansiedade e exagerada de bem-estar.
podem produzir efeitos euforizantes.
Fonte: OMS, (modificada).41

40
https://supercerebro.com.br/funcao-dos-
neurotransmissores/#:~:text=Mas%2C%20afinal%2C%20voc%C3%AA%20sabe%20o,outras%20c%C3%A9
lulas%20do%20nosso%20organismo.
41
Organização Mundial de Saúde

51
TIPOS DE DROGAS E EFEITOS

Uma substância psicoativa, substância psicotrópica, droga psicotrópica ou simplesmente


psicotrópico é uma substância química que age principalmente no sistema nervoso
central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o
comportamento e a consciência.

Maconha Álcool

CRACK
Tabaco

Heroína SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS COCAINA

Ecstasy Fentanil
LSD
Ópio,
skank Dessa listagem, há outras
drogas recentemente
comercializadas no Brasil.

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CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM OS EFEITOS DAS
SUBSTÂNCIAS

Classificar as substâncias de acordo com seus efeitos comportamentais nem


sempre é uma tarefa fácil, tendo em vista que os efeitos de uma mesma substância variam
em um mesmo indivíduo.
No entanto, é de extrema importância para o terapeuta saber os efeitos
comportamentais mais comuns associados a cada classe de substâncias psicoativas. A
Tabela abaixo resume as principais classes de substâncias psicoativas, de acordo com seus
efeitos comportamentais mais comuns.

Classe Exemplos Efeitos comportamentais mais


comuns

Estimulantes Cocaína Estimulação, vigília, aumento da


Anfetaminas energia e da concentração, diminuição
Ecstasy do apetite, aumento da frequência
Nicotina cardíaca e da respiração, paranoia,
Catinonas pânico
Depressores Álcool Relaxamento, desinibição, prejuízos
Sedativos/hipnóticos motor, de memória e cognitivo,
Sedativos voláteis diminuição da ansiedade
Alucinógenos Dietilamida do ácido lisérgico Alucinação, aumento da percepção
(LSD) sensorial, déficits motores e
Psilocibina/mescalina cognitivos
Fenciclidina
Canabinoides
Opioides Morfina Euforia, analgesia, sedação
Heroína
Fonte: OMS, 2007 (modificada)

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EFEITOS DO USO AGUDO E DO USO CRÔNICO E
SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA

▪ ÁLCOOL
O álcool é uma substância lícita que faz parte de uma variedade incontável de bebidas em
todo o mundo, obtidas por fermentação ou destilação da glicose presente em cereais,
raízes e frutas. O álcool é a substância química mais utilizada no mundo. Está presente na
maioria das festas e rituais religiosos. Em toda localidade onde o consumo é aceito, há
uma bebida típica da qual o povo se orgulha.

Efeitos agudos e crônicos

▪ Síndrome de Abstinência
A síndrome de abstinência inicia horas após a interrupção ou a diminuição do consumo,
Tremores de extremidades e lábios são os mais comuns, associados a náuseas, vômitos,
sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos graves evoluem para convulsões e estados
confusionais, com desorientação temporal e espacial, ilusões e alucinações auditivas,
visuais e táteis (delirium tremens).
▪ Complicações Clínicas
As complicações mais comuns são gastrites, úlceras, hepatite tóxicas, esteatose (acúmulo
de gordura no fígado), cirrose hepática, pancreatites, lesões cerebrais, demência, anestesia
e diminuição da força muscular etc.

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▪ COCAÍNA E CRACK
A cocaína é produzida a partir de folhas de coca, e geralmente é um pó branco, mas com
outras formas de produção pode-se chegar à uma pedra (crack).
O crack é feito a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É uma
forma impura de cocaína e não um subproduto. O nome deriva do verbo "to crack", que,
em inglês, significa "quebrar", devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais
(as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
▪ Efeitos agudos e crônicos

▪ Síndrome de Abstinência
A abstinência é composta por três fases: o crash, a síndrome disfórica tardia e a
extinção. Essas fases representam a progressão de sinais e sintomas após a cessação do
uso. São elas:
● Fase I – Crash, ou seja, uma redução drástica no humor e na energia. Instala-se
cerca de 15 a 30 minutos após o uso da substância e persiste por aproximadamente
8 horas, podendo estender-se por até quatro dias. O usuário pode apresentar
depressão, ansiedade, paranoia e intenso desejo de voltar a usar a substância (i.e.,
craving ou fissura). A hipersonia e a aversão ao uso de mais cocaína se
estabelecem, e o indivíduo pode despertar para ingerir alimentos.
● Fase II – Síndrome disfórica tardia. Inicia em 12 a 96 horas depois de cessado o
uso e pode durar de 2 a 12 semanas. Nos primeiros quatro dias, são observados
sonolência e desejo pelo consumo da substância, anedonia, irritabilidade, déficits

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de memória e ideação suicida. As recaídas frequentes são comuns para tentar
aliviar os sintomas disfóricos.
● Fase III – Extinção. Os sintomas disfóricos diminuem ou cessam por completo,
e o craving torna-se intermitente.
▪ MACONHA

Droga alucinógena e natural é uma das drogas mais populares, a maconha é


consumida por meio de um enrolado de papel contendo a substância. É feita a partir da
planta Cannabis Sativa.
▪ Efeitos agudos e crônicos

▪ Síndrome de Abstinência
Os sintomas de abstinência da maconha são: fissura, irritabilidade, nervosismo,
inquietação, quadros depressivos, insônia, redução do apetite e cefaleia42.
▪ Complicações Clínicas
A maconha prejudica a atenção e a concentração, o que aumenta os riscos de acidentes, e
pode desencadear quadros agudos de pânico e paranoia. O uso em grandes quantidades e
por longos períodos pode deixar a pessoa menos concentrada, sem objetividade e
desmotivada. A maconha pode causar dependência, além de psicose em pessoas que já
têm predisposição para essa doença, câncer de pulmão, acidentes automobilísticos e
laborais.

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Uma cefaleia é a dor em qualquer parte da cabeça, incluindo o couro cabeludo, pescoço superior, face
e o interior da cabeça

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▪ ANFETAMINAS – Ecstasy, ice, cristal
Anfetamina é uma droga simpatomimética que têm a estrutura química básica da beta-
fenetilamina. Sob esta designação, existem três categorias de drogas sintéticas que
diferem entre si do ponto de vista químico. Algumas anfetaminas substituídas são
a dextroanfetamina e a metanfetamina. A anfetamina é uma droga estimulante do sistema
nervoso central, que provoca o aumento das capacidades físicas e psíquicas

▪ Efeitos agudos e crônicos

▪ Síndrome de Abstinência
Fissura intensa, ansiedade, agitação, pesadelos, astenia43, cansaço, lentificação humor
depressivo.
▪ Complicações Clínicas
As anfetaminas podem causar dependência e síndrome de abstinência. A síndrome de
abstinência chega a atingir cerca de 80% dos usuários. Sintomas depressivos e exaustão
podem suceder períodos prolongados de uso ou abuso. Durante o consumo, problemas
cardíacos, como infarto do miocárdio, podem ocorrer.
O consumo de grandes quantidades pode causar convulsões, e o consumo frequente
durante vários meses pode levar a depressão, ansiedade, irritação, impulsividade e
cansaço.

43
Astenia consiste na condição de perda ou diminuição da força física

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▪ NICOTINA – (cigarro eletrônico / Narguilé)
Tabaco é um produto agrícola processado a partir das folhas de plantas do género
Nicotina. É consumido como uma droga recreativa sob a forma de cigarro, charuto,
cachimbo, rapé, narguilé, charro ou fumo mascado. É usado em pesticidas sob a forma de
tartarato de nicotina. Também é usado em alguns remédios.
Efeitos agudos e crônicos

▪ Síndrome de Abstinência
Em um período que pode ser apenas alguns meses, alguns fumantes já começam a
apresentar os primeiros sintomas de abstinência, que podem persistir por meses e,
dependendo da gravidade, são poucos tolerados.
Entre os sintomas psicológicos relacionados à nicotina, estão humor disfórico ou
deprimido, insônia, irritabilidade, frustração, raiva, ansiedade e dificuldade de
concentração. Já os sinais físicos ligados à nicotina incluem taquicardia, hipertensão,
tremores e sudorese.
▪ Complicações Clínicas
Os prejuízos à saúde pelo cigarro, porém, não são devidos somente à nicotina. O cigarro
contém mais de 4.700 substâncias, algumas cancerígenas e outras diretamente tóxicas
para vários órgãos do corpo, especialmente aos pulmões, que sofrem patologias graves,
como insuficiência respiratória, asma, bronquite e câncer.
O consumo aumenta o risco de problemas cardíaco e circulatórios, como hipertensão,
tremores e sudorese.

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➢ OPIOIDES
Opioides, uma classe de drogas derivadas da papoula do oriente (incluindo suas variações
sintéticas), são analgésicos altamente suscetíveis ao uso indevido. Os opioides são usados
para aliviar a dor, mas também provocam uma sensação exagerada de bem-estar e, se
usados em exagero, podem levar à dependência e ao vício.

▪ Síndrome de Abstinência
A síndrome de abstinência de opioides geralmente inclui sinais e sintomas de
hiperatividade do sistema nervoso central. O início e a duração da síndrome dependem
da droga específica e da sua meia-vida. Os sintomas podem aparecer tão precocemente
quanto 4 h após a última dose da heroína, pico com 48 a 72 h e persiste por cerca de uma
semana. Ansiedade e fissura pela droga são seguidas por aumento na frequência
respiratória de repouso (> 16 respirações/min), quase sempre com diaforese, bocejos,
lacrimejamento, rinorreia, midríase e cólicas estomacais. Posteriormente, piloereção
(arrepios), tremores, espasmos musculares, taquicardia, hipertensão, febre e calafrios,
anorexia, náuseas, vômitos e diarreia podem se desenvolver.
A abstinência de opioide não provoca febre, convulsões ou alteração do estado mental.
Embora possa ser incomodamente sintomática, a abstinência de opioide não é fatal.
▪ Complicações Clínicas
Um dos mais dramáticos quadros clínicos decorrentes do uso inadequado de opioides é a
intoxicação, que pode ser acidental ou intencional. A presença da tríade representada por
miose, depressão respiratória e como sugere superdosagem de opioides. Outros sintomas
físicos que podem surgir são edema pulmonar, hipoxia, hipotonias e morte.

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INALANTES TRANQUILIZANTES (loló, lança-perfume)

Os inalantes são uma gama de produtos que produzem vapores que, quando inalados,
podem fazer com que a pessoa se sinta embriagada ou “alta”. Os inalantes são drogas
depressoras. Isso significa que eles diminuem a atividade do sistema nervoso central e as
mensagens que vão entre o cérebro e o corpo.
Efeitos agudos e crônicos

➢ K-9
Apesar de se chamada de maconha sintética, a droga - que também é conhecida
como spice, K4 e K2 - não leva nada da erva natural. É um canabinoide sintético,
derivado da maconha (cannabis) mas modificada em laboratório. A substância química
foi criada nos Estados Unidos, na década de 1990.
Os canabinoides sintéticos fazem parte de um grupo de drogas chamado novas
substâncias psicoativas (NPS, na sigla em inglês). Elas são substâncias não-
regulamentadas que alteram a mente, tornaram-se recentemente disponíveis no Brasil e
destinam-se a produzir os mesmos efeitos que as drogas ilícitas.

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▪ Principais Efeitos

Referências bibliográficas
DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química:
prevenção, tratamento e políticas públicas. Artmed Editora, 2018.

ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo. O tratamento da dependência química e as


terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas. Artmed Editora, 2018.

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