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Sumário
1. Sumário ................................................................................................................................ 2
2. Introdução ............................................................................................................................ 3
3. Método Terapêutico ............................................................................................................4
4. Desintoxicação ..................................................................................................................... 6
5. Do tempo de desintoxicação e do tempo de permanência na casa de triagem ...................7
6. Da acolhida fraterna na casa de triagem ..............................................................................8
5.1 As triagens .........................................................................................................................9
5.2 Encaminhamento do “Filho” ............................................................................................ 11
5.3 Obrigatoriedades:.............................................................................................................11
5.4 Exames obrigatórios .........................................................................................................12
5.5 O trabalho formativo ........................................................................................................12
5.6 A vídeo-terapia .................................................................................................................13
5.7 O retiro de sexta-feira ......................................................................................................13
5.8 A atividade Física ..............................................................................................................14
5.9 Atividade Lúdica ...............................................................................................................15
5.10 Psicoterapia em grupo ou individual. .............................................................................15
5.11 O trabalho com as famílias ..........................................................................................16
7. Programa formativo dos “filhos”na casa de triagem ..........................................................18
8. Dependência Química I– Conceitos básicos .......................................................................19
9. Dependência Química II - O caminho da mudança............................................................. 21
10. A espiritualidade do dependente químico na casa de triagem ......................................25
11. O valor do trabalho no processo terapêutico .................................................................27
12. A oração: Nossa principal arma no combate ..................................................................31
13. O valor da disciplina .......................................................................................................33
14. Introdução à vida espiritual: a piedade. .........................................................................37
15. Fé, a resposta do homem a Deus ...................................................................................39
Anexo I ...................................................................................................................................43
Anexo II..................................................................................................................................48
2
1. Introdução
A Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, desde a sua inspiração fundante sempre
buscou atender o grito dos sofredores e aos apelos da Igreja. Desse modo, desde o início
entendeu como “Filhos Prediletos” os pobres de Deus, pois “quando fizestes isso a um
desses pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Em meio à realidade dos pobres
em seus múltiplos rostos, o primeiro grito que nossa pequena obra escutou foi o grito do
flagelado escravizado pelo uso abusivo das drogas. Passo a passo, baseado em outros
métodos e em nossas experiências, fomos aprendendo e desenvolvendo o nosso método
terapêutico.1
“Queremos ir ao encontro dos jovens marcados pelo flagelo das drogas e que
fizeram do prazer a finalidade última de suas vidas. Queremos ir ao encontro dos
jovens que, por causa de comportamentos inconsequentes ou pela falta de
oportunidade, se encontram nas “biqueiras”, nas “zonas”, nas ruas, nas cadeias etc.
A eles oferecemos um lar para recomeçar: casas de acolhida para ajudá-los na luta
contra os vícios; encontros de evangelização que possibilitem o encontro
misericordioso com a pessoa de Jesus e a vida nova inaugurada pelo derramamento
do Seu Espírito. A eles oferecemos também nosso tempo, para que através de um
diálogo acolhedor se sintam amados, valorizados e respeitados.” (NF 79)
1
Apostila Sede Sóbrios, p.6.
3
2. Método Terapêutico
2
De acordo com a espiritualidade de nosso método terapêutico o tripé: Oração, Disciplina e Trabalho, é
apresentado aos “filhos” nesta ordem. A finalidade de tal ordenamento é apresentar ao “filho” a autêntica
escala de valores com a qual ele deve sustentar sua sobriedade. A oração vem em primeiro lugar pois
trata-se do único meio de reaproximar o homem de Deus. É pela oração que o “filho” reconhece sua
dignidade filial. “Já não sois escravos, mas filhos. E se sois filhos sois também herdeiros, por Deus” (Gl 4,7)
De acordo com a tradição de nosso método “Tudo parte da oração”. Em seguida temos a Disciplina. Por
se tratar de uma virtude que ordena a vida do homem, ela o capacita para o trabalho e por concomitância
o auxilia a uma autêntica vida de oração. Em terceiro lugar, porém não menos importante, vemos o
trabalho. Ensinar o “filho” o valor do trabalho, é auxiliá-lo a construir uma vida digna para si e para os
seus.
4
interrupção do tratamento por iniciativa do dependente ou por avaliação
criteriosa do religioso responsável, quando se verificar situações que
prejudicam o desenvolvimento do processo terapêutico, o bom relacionamento
entre os internos e a harmonia da casa. A convivência é desenvolvida em um
ambiente harmonioso e acolhedor, primando pelo respeito mútuo, de forma
que haja uma preocupação com a recuperação individual e do grupo. Dessa
forma, a convivência acaba por se tornar relevante instrumento terapêutico,
viabilizando o resgate da cidadania do indivíduo através de reabilitação
psicológica, física, social e espiritual.3
3
Idem, p.10.
4
Em alguns casos o tempo de triagem poderá ser reduzido a 15 dias. Exemplo; A Fratérnitas São Tarcísio
que está localizada em um local de risco para o acolhido, situação como; está durante a refeição sentido
o cheiro da droga.
5
3. Desintoxicação
6
necessidade de um acompanhamento deste “filho” por parte dos cuidadores cada vez mais
próximo, usando aqui das virtudes da compaixão e misericórdia tão caras ao nosso
Carisma.
“A Maconha é uma das que mais demoram para sair do corpo, demorando de 7 a 30
dias. Já as drogas mais pesadas, como cocaína e heroína, podem desaparecer do corpo
em quatro dias, sem deixar nenhum rastro. O problema é quando as pessoas consomem
de maneira exagerada, não dando nem tempo para que o organismo elimine a
substância.
O álcool é uma substância que fica na urina por 3 a 5 dias, no sangue por 10 a
12 horas e no cabelo até 90 dias. Já as anfetaminas ficam na urina de 1 a 3 dias, no
sangue cerca de 12 horas, no cabelo até 90 dias. A Cannabis – maconha - fica no
organismo por 30 dias na urina, no sangue por duas semanas e no cabelo até 90 dias.
Em relação a cocaína, na urina se apresenta por 3 a 4 dias, no sangue de um a
dois dias, no cabelo até 90 dias. Já para heroína, o tempo que leva para desintoxicar o
organismo de drogas é de três a quatro dias na urina, no sangue 12 horas até e no cabelo
por 90 dias. O LSD de uns até três dias na urina, no sangue de 2 a 3 horas, e no cabelo
até 3 dias. Já para morfina, são 2 a 3 dias na urina, no sangue de 6 a 8 horas, no cabelo
até 90 dias.”6
De acordo com as experiências, tendo em vista o grau de complexidade maior
ou menor acerca das demandas de cada filho predileto, percebe-se a necessidade do
respeito do tempo limite.
Sendo assim fica determinado que o período da triagem é do no mínimo 30 dias e no
máximo 45 dias.7
Em anexo segue conteúdo sobre drogas importantes para uma boa abordagem e
compreensão do que é a dependência química.
6
https://www.clinicaderecuperacaobrasil.com/quanto-tempo-leva-para-desintoxicar-o-organismo-de-
drogas, acessado em 23 de maio de 2023.
7
Com exceções já apresentada no item, 2 Método terapêutico - Triagem, desintoxicação e adaptação
7
5. Da acolhida fraterna na casa de triagem
Neste quesito afirmamos que, se queremos que nossas casas de triagem sejam eficazes e
realmente iniciem um verdadeiro processo de tratamento e conversão dos nossos “filhos
prediletos”, faz-se necessário alimentar a atitude baseada em uma real atenção e parar
para estar com o “filho” e com ele fazer vida fraterna e convivência, entender que não
se trata de simples manipulação ou “frescura”, mas que realmente o “filho predileto”
está sofrendo com este período de adaptação no qual surgem diversas causas de
indisposição física e psíquica como abstinência (a falta da droga em seu organismo), a
falta de energia, a fome aumentada... Tudo isso exige atenção redobrada.
Nesta fase inicial duas posturas acolhedoras são essenciais: PROXIMIDADE E ESCUTA.
Nossa regra de vida afirma o seguinte:
Ex.: jogar dama, chamá-lo para ajudar-nos na cozinha, fazer uma tarefa da casa junto,
assistir uma palestra. Criar momentos para dar atenção e estar junto etc. Ao passar pelo
“filho”, converse com ele, olhe para ele, pergunte como está, se ele está precisando de
algo, o convide para ajudá-lo, não esperar que o chame, é preciso chama-lo e pedir
ajuda.
8
5.1 As triagens
8
Parte da medicina que estuda as causas das doenças.
9
O processo inicial de triagem quando a demanda vem da pastoral de rua possui
uma característica diferente. Parte de uma investigação dos motivadores para o tratamento
na própria abordagem. Buscar conhecer a história da pessoa, quanto tempo está na rua e
o que a mantém (mesmo que pareça óbvio, é necessário obter esta informação da própria
pessoa). É de suma importância de haver com o acolhido, o estabelecimento de um
vínculo suficientemente bom desde a pastoral de rua, pois facilitará a promoção da
necessidade intrapsíquica (interna) de tratamento.
Na história clínica9 devem conter o maior número de informação possível, como:
• Dados Pessoais: (Nome, Idade, Sexo, Estado Civil, Filhos, Naturalidade,
Nacionalidade, Religião, Cor, Escolaridade, Profissão);
• História do Encaminhamento;
• História Familiar;
• Genograma;
• História Pessoal;
• História Sexual/Conjugal;
• História Ocupacional;
• História Social;
• História Forense.
• História Médica/Psiquiátrica;
• História de atendimentos para problemas com drogas;
• História de uso;
• Problemas relacionados com a dependência (físicos, psicológicos e
sociais);
Após a coleta dos dados, estabelece-se uma hipótese diagnóstica, os fatores de
risco e de proteção e o plano de tratamento.
Como devemos coletar os dados? Devemos fugir do modelo objetivo “pergunta-
resposta”. É aconselhável que se faça uma entrevista semiestruturada na qual
realizaremos algumas “perguntas-chaves” em torno dos temas: gestação, infância,
adolescência, juventude, fase adulta; vida familiar; vida social; emprego; saúde geral;
início do uso de substância; progressão do uso; perdas pessoais, familiares, sociais;
expectativas e sonhos dentre outros fatores que influenciam consideravelmente em sua
história e na reabilitação, permitindo ao acolhido falar livremente e ao entrevistador
compor o histórico clínico.
Por exemplo: “Conta-me da sua infância... E como foi seu contato com as
drogas?”.
9
Temos em anexo o arquivo do histórico clínico.
10
5.2 Encaminhamento do “Filho”
5.3 Obrigatoriedades:
• Triagens completas
• Termos assinados
• CPF
• RG
• SUS
• Antecedentes criminais
• Pagamento da passagem de ida acompanhado do depósito/transferência
no valor da passagem de volta.
11
5.4 Exames obrigatórios
• Hepatite B e C
• Sífilis
• Tuberculose
• HIV
• Hemograma completo
• Fezes e urina (parasitológico)
• Glicemia (Diabetes)
12
5.6 A vídeo-terapia
10
Tempestade de ideias ou brainstorming é uma técnica usada em dinâmicas de grupo, sua principal
característica é explorar as habilidades, potencialidades e criatividade de uma pessoa, direcionado ao
serviço de acordo com o interesse.
13
Na prática o roteiro formativo se explica conforme a tabela abaixo:
11
A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA. Profa. MSc
Eliane Jany Barbanti.
14
Seria muito interessante que os responsáveis direto dos “filhos", pudessem
providenciar horário e local adequados para a manutenção da atividade física em vista do
bem-estar deles. Sobretudo os que sentem maior necessidade de atividade regular para
manterem-se no tratamento. E onde for possível, inserir os membros da missão – leigos e
jovens - para contribuir na interação do esporte/lazer dos filhos.
Individual:
A aceitação e a valorização do indivíduo é um
grande desafio, pois os dependentes químicos
ainda são taxados por estereótipos, sintomas e
classificações, produzindo condutas de
tratamento artificiais, generalizantes e, às
vezes, preconceituosas. É nesse sentido que a
postura de aceitação positiva incondicional e
a crença na tendência atualizante do usuário
são essenciais desde o início do tratamento, pois proporcionará uma conduta
terapêutica voltada para as potencialidades e para as necessidades daquele
indivíduo. Ao longo do processo, o interno vai percebendo a autenticidade do
terapeuta, sua real presença e sua disponibilidade para estar com ele,
característica de uma relação que é rara para o dependente químico, que teve suas
últimas relações baseadas no temor e na desconfiança, por parte dos familiares, e
em ameaça e em troca de favores por parte dos vendedores das substâncias
psicoativas. Portanto, a postura de congruência e a relação terapêutica
apresentam-se como uma grande novidade para o interno, que passa a explorar
15
novas faces de si através dessa relação de confiança. O interno aprende, através
desta relação, que se o terapeuta está ali de forma autêntica, ele pode também
estar. Não precisa mais fingir ser o que não é. Por fim, ao responder
empaticamente, o psicoterapeuta contribui para que o dependente químico, que
se sentia sozinho e incompreendido, sinta-se compreendido em sua experiência,
passando a valorizá-la.12
Em grupo:
12
Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios em uma comunidade
terapêutica, Rafaella Medeiros de Mattos BritoI; Tiago Monteiro SousaII. Disponível em:<<
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1809-68672014000100010>>.
13
A PSICOTERAPIA DE GRUPO NO ATENDIMENTO A DEPENDENTES QUÍMICOS - RELATO DE EXPERIÊNCIA
EM UM PROJETO. Martha Luciene Nogueira Barros Dantas1 , Jeiel Silva Dantas, Gessé de Souza Silva.
Disponível em
<http://periodicos.estacio.br/index.php/cienciaincenabahia/article/viewFile/5995/pdf5995>>
14
Apostila Sede Sóbrios, p. 89.
16
Os benefícios de engajar a família no processo terapêutico são diversos e
fecundos15:
15
Ibidem
16
Ibidem
17
6. Programa formativo dos “filhos”na casa de triagem
7. A vida de Piedade
a. O que é Piedade
b. Como a Fraternidade vive a vida de Piedade
c. O corpo ora: gestos e posturas. De joelho; de pé; prostração; mãos
justapostas 4ª Semana
8. A importância da fé no tratamento
a. O que é a fé. “Certeza do que não se vê”
b. A perseverança na Fé
c. Fé e conversão
17
Casa de Acolhida Filhos Prediletos
18
7. Dependência Química I– Conceitos básicos
A Sagrada Escritura diz: “quando me sinto fraco, é então que sou forte” (cf.
2Cor 12,10). É na nossa fraqueza que Deus age. Deus quer formar você para ser um
general no seu exército. E o primeiro passo para que um soldado vença a guerra conhecer
o seu campo de batalha. Vamos conhecer a nossa doença?
O que é dependência química?
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), dependência química, também
chamada de adicção ou drogadição, é o estado de submissão física ou psicológica a
respeito de uma determinada droga, resultante da absorção periódica ou repetida dela. A
diferença entre os dois tipos de dependência está na fase de abstinência. Na física
aparecem intensos transtornos, como a síndrome de abstinência. Na dependência
psicológica, a sensação de satisfação e prazer ou para evitar um mal-estar, torna periódico
o consumo.
• Vídeo: Adicção: definições, história e fatores de risco18
É um fenômeno de origem, curso e resultados biopsicossocial, ou seja, há um
componente biológico herdado, fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais.
O que é neurobiologia das drogas? A neurobiologia das drogas consiste no
aumento da concentração de dopamina, neurotransmissor envolvido nas sensações de
prazer. Esse mecanismo que dá o origem ao aprendizado associativo, que constitui a base
do condicionamento.19 Vamos ver o vídeo:
• Vídeo: Bases biológicas da adicção.20
Vamos ver agora a classificação dos níveis de uso:
1. USO – qualquer consumo de substâncias, seja para experimentar, seja
esporádico ou episódico;
2. ABUSO OU USO NOCIVO – é o consumo de substâncias já associado a
algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico e social);
3. DEPENDÊNCIA – é o consumo sem controle, geralmente associado a
problemas sérios para o usuário. Isso nos dá uma ideia de continuidade, com evolução
progressiva entre esses níveis de consumo – uso, uso nocivo e dependência.
Vamos continuar aprendendo os conceitos básicos sobre a nossa doença.
O que é tolerância?
Tolerância é a necessidade de tomar doses maiores de um medicamento para obter
o mesmo efeito, costuma acompanhar a dependência e pode ser difícil distinguir os dois.21
O que é Síndrome de abstinência?
O ato de renúncia (também chamada de abstinência) à droga pode causar sérias
perturbações ao organismo dependente, desde alterações comportamentais até
sensações físicas, a isso se dá o nome de Síndrome da Abstinência. O usuário
18
Disponível em: https://youtu.be/7pwiBwDceXA
19
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/dependencia-quimica-neurobiologia-das-drogas-
artigo/, acessado em 20 de fevereiro de 2022.
20
Disponível em: https://youtu.be/JtVnXr8AmG4
21
Disponível em: https://freemind.com.br/blog/diferenca-entre-os-termos-dependencia-tolerancia-e-
vicio/, acessado em 20 de fevereiro de 2022.
19
pode ter alucinações, hiperatividade, tremores, insônia, alucinações visuais,
táteis e auditivas, descontrole psicomotor e ansiedade. A Síndrome pode se
dividir em: SAA – Síndrome de Abstinência Aguda e a SAD – Síndrome de
Abstinência Demorada. A primeira pode ocorrer na ausência do composto
viciante entre 3 a 10 dias do último uso, já a segunda se difere nos sintomas,
que podem ser visualizados entre a sobriedade do indivíduo ocorrendo no
intervalo de meses ou até anos após o uso.22
Deus te ama muito para assistir calma e passivamente a sua atitude suicida de
tentar se destruir dia após dia na drogadição. Se você está aqui, não tenha dúvida: Deus
te chamou. Esta triste realidade da adicção precisa da iluminação da fé. Neste processo
de tratamento que a Fraternidade dos pobres de Jesus Cristo te propõe, compreenda que
Deus é capaz de fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). Pois “é para a liberdade que
Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). Deus não te fez para a escravidão do pecado e da
drogadição. Para essa liberdade, já no princípio do tratamento você precisa desenvolver
urgentemente a virtude da honestidade, uma mente aberta e boa vontade. Sem essas três
ferramentas é impossível corresponder a um bom tratamento.
Sem honestidade nós não podemos te ajudar. Com máscaras, mentiras,
manipulações, enganos e disfarces o trabalho terapêutico não anda, fica paralisado, ou
nem sequer começou um tratamento quem vive na mentira. Na verdade, quem assim vive,
vive sozinho. Solitário no meio de uma multidão. Sem mente aberta, fica completamente
fechado a aprender o novo. O novo da comunidade, o novo de Deus, o novo dos irmãos.
Sem boa vontade, o filho predileto torna-se um egoísta ensimesmado. Falta-lhe a
generosidade necessária para se abrir e se entregar à proposta da comunidade terapêutica.
A literatura do Narcóticos Anônimos já nos ensinou que a dependência química é
uma doença incurável, progressiva e fatal. Saber disso não pode nos desanimar. Saber
disso deve nos fazer encarar a vida com realismo, com os pés no chão. Eu preciso saber
que na vida louca que eu levava, certamente dois caminhos me aguardavam: cadeia ou
cemitério. Então coragem! Foi Jesus quem disse: “Nesse mundo tereis aflições, coragem,
eu venci o mundo” (Jo 16,33). E escute outra coisa: se você está aqui é por que a
misericórdia de Deus te alcançou, porque “onde abundou o pecado, superabundou a
graça.” (Rm 5, 20).
Qual deve ser nossa atitude? Aceitação. Eis o nosso primeiro passo. Aceitar quem
eu sou. Aceitar quem Deus é. Aceitar que Deus tem uma obra maravilhosa para mim.
Aceitar nossas fragilidades e uni-las à cruz de Cristo, deixando que sua graça nos
alcances. A Palavra de Deus testifica: “Assim diz o Senhor, aquele que abre um caminho
pelo mar, uma vereda por meio de águas impetuosas. Eis que farei uma coisa nova, ela
já vem despontando: não a percebeis? Com efeito, estabelecerei um caminho no deserto
e rios em lugares ermos.” (Is 43, 16.19) Este tempo de tratamento pode ser de fato, um
tempo para deixar que Deus faça em mim essa obra nova, que se traduz no início de uma
vida nova, vida em sobriedade, ou só será um período de descanso, de abstinência, onde
22
Disponível em https://www.infoescola.com/drogas/sindrome-de-abstinencia/, acessado em 20 de
fevereiro de 2022.
20
poderei tranquilizar minha consciência e dizer que “tentei, mas não deu certo”. A decisão
é sua, qual é a sua escolha?
“Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como
leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhes firmes na fé” (1Pd 5, 8-9a).
21
a agir e poderá permanecer nessa etapa por muito tempo se não resolverem suas dúvidas
em relação às mudanças. “Esse processo de conflitos interiores de pesagem de positivo e
negativo é chamado de ambivalência.” Exemplo: eu não acho que realmente tenha um
problema.
Com as drogas provavelmente eu bebo, mas não uso mais do que meus amigos.
Às vezes eu me sinto mal na manhã seguinte e me preocupa quando não consigo me
lembrar das coisas de vez em quando. Mas não sou usuário nem alcoólatra. “Posso parar
quando quiser e não sinto falta.”
Trabalhada essa ambivalência a pessoa pode passar para o terceiro estágio:
Preparação do qual está pronta para mudar compromissada com a mudança. Os seguintes
sinais nos ajudam a identificar as pessoas que estão prontas para mudar.
✓ As resistências para conversão, as argumentações, negações e objeções diminuem.
✓ Faz menos pergunta sobre o problema. Tem uma sensação de conclusão. Já tô bom.
✓ Mostra várias soluções, parece mais calmo, relaxado, aliviado ou acomodado.
✓ Faz reflexão de problemas (“acho que isso é sério”) abertura para mudança (“preciso
fazer alguma coisa”) e otimismo.
✓ Faz pergunta sobre o processo de mudança (“como posso mudar?” ou “o que posso
fazer para mudar”).
✓ Começa falar sobre como a vida deve ser depois da mudança, discute as vantagens
de mudar.
✓ Devemos ter cuidado nessa fase com toda essa sensação de suficiência e conclusão,
pois a ambivalência na grande maioria ainda acompanha nessa etapa.
22
Não podemos esquecer que existem habilidades a se desenvolver neste caminho
de mudança Autoconhecimento/Autoaceitação/Autoconfiança – Eu me conheço, eu me
aceito, eu me trabalho. Quem está no caminho de mudança só pode permanecer nele se
evitar – Situações/Pessoas/Lugares que o levem a pecar, recair e abandonar o projeto
de salvação pessoal.
23
➢ Agora registre, em breves palavras:
24
9. A espiritualidade do dependente químico na casa de
triagem
Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta. (...)
O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá
corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna. (Ef 5,25.6,7-8)
23
Guia Introdutório para Narcóticos Anônimos, p. 12.
24
Ibidem.
25
Ibidem.
25
espiritualidade é uma experiência: a experiência de Deus. A espiritualidade
é então, um modo ou uma forma pela qual buscamos estar ligados com Deus.26
Por que a oração da manhã e da noite, por que o terço das chagas, as orações antes
das refeições, o terço de Maria, a Missa no Domingo?
A resposta é simples: Tudo isso é para nos ligarmos a Deus. A primeira tarefa
do dependente químico após e mesmo durante o seu período de desintoxicação é a
vivência de uma espiritualidade ou pelo menos o começo desta vivência. Filho predileto
que não começa a se abrir para a vida espiritual já desde o começo não consegue ir longe
no tratamento. Sem ela tudo se transforma em regras a serem cumpridas. Com
espiritualidade cada elemento do tratamento vai começando a fazer sentido. O trabalho,
a oração e a disciplina se tornam queridos pelo filho, porque ele começa a entender o
porquê de cada coisa, o porquê de cada atividade que compõem o seu dia. Então nada é
desperdiçado. Tudo é aproveitado como lenha para ser queimada na fogueira do
tratamento terapêutico.
A espiritualidade é a força que vai lhe ajudar a dar sentido a tudo aquilo que você
vive dentro da realidade do tratamento. Pouco a pouco o filho predileto vai se enchendo
de fé, esperança, caridade, foco, determinação, alegria de mudar de vida. Vai desejando
nutrir em si uma verdadeira vida espiritual. Vai deixando as obras da carne, os
pensamentos da carne e se enchendo das obras do Espírito. (Ler Gl 1.13-16)
Agora poderíamos nos perguntar: o que eu preciso fazer para viver uma verdadeira
espiritualidade aqui na casa de triagem? Vamos responder com as palavras do Apóstolo
Paulo: “Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas
concupiscências enganadoras”. Também o próprio Jesus disse que a primeira coisa a se
fazer quando alguém diz que quer segui-lo é renunciar a si mesmo. Não dá para abraçar
uma vida sem deixar outra. E depois de renunciar o que fazer? Continua o apóstolo:
“Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo,
criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4, 23-24) Em outra
tradução, temos “renovai-vos pela transformação espiritual da vossa mente”27 Esse é o
objetivo da espiritualidade: a nossa continua conversão. Só se busca a Deus pelo caminho
da conversão. E só se converte quem se permite ser renovado pela transformação do seu
jeito de pensar. Qual é a prova de que um homem realmente decidiu mudar de vida e se
tornar um homem espiritual e não mais carnal? Quando seu pensamento, suas atitudes e
seus comportamentos começam a mudar. E S. Paulo continua:
“Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois
somos membros uns dos outros.26Mesmo em cólera, não pequeis. Não se
ponha o sol sobre o vosso ressentimento.27Não deis lugar ao
demônio.28Quem era ladrão não torne a roubar, antes trabalhe seriamente
por realizar o bem com as suas próprias mãos, para ter com que socorrer os
26
BOFF, Clodovis. A ESPIRITUALIDADE NA VIDA CONSAGRADA A 50 ANOS DO VATICANO II. Palestra no
Encontro dos Religiosos e Religiosas. Curitiba (PR), 30 de setembro de 2014.
27
Bíblia de Jerusalém.
26
necessitados.29Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil
para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem.” (Ef
4,25-29)
“
Empenhai a vossa honra em levar vida tranquila, ocupar-vos dos vossos
negócios, e trabalhar com vossas mãos, conforme as nossas diretrizes. Assim levareis
vida honrada aos olhos dos de fora, e não tereis necessidade de ninguém.” (1Tess 4,11-
12)
Comecemos nossa formação invocando o auxílio do grande modelo de homem
trabalhador, o glorioso são José:
“Glorioso São José, modelo de todos os que se dedicam ao trabalho, obtendo-
me a graça a graça de trabalhar com espírito de penitencia, para a expiação de meus
numerosos pecados; de trabalhar com consciência, pondo o culto do dever acima de
minhas inclinações; de trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma
honra empregar e desenvolver, pelo trabalho, os dons recebidos de Deus; de
trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o
cansaço e as dificuldades; de trabalhar sobretudo com pureza de intenção e com
desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que
deverei dar do tempo perdido, dos talentos inutilizados, do bem omitido e da vã
complacência no s sucessos, tão funesta à obra de Deus! Tudo por Jesus, tudo por
Maria, tudo à obra vossa imitação, ó Patriarca São José! Tal será a minha divisa na
vida e na morte. Amém (S. Pio X)
O trabalho dignifica o homem. A drogadição retirou de muitos o valor e o
gosto que tinham pelo seu trabalho. A destruição da adicção também prejudicou a nossa
vida profissional. Primeiro, usávamos a droga de preferência lá mesmo. Depois
começamos a dar desculpas para não trabalhar mais. Atestados falsos, desculpas
esfarrapadas, matamos pais, mães, tios, pegamos doenças imaginárias, tudo isso para
tentar enganar o chefe, até chegou o dia em que não dava mais, e abandonamos o nosso
trabalho. A maioria de nós passou por isso. Às vezes até conseguimos enganar o nosso
chefe, mas não conseguimos enganar a verdade. E a verdade é que eu perdi o controle da
minha vida. E já não tinha coragem mais de levantar-me para trabalhar nem para arrumar
dinheiro para comprar o pão para aquelas pessoas que eu dizia que eu mais amava.
Precisamos resgatar o valor do trabalho na nossa vida. Vamos começar
olhando para a vida de Jesus. Jesus trabalhou. E não foi pouco não. Durante trinta anos
trabalhou muito na carpintaria em sua terra natal. O povo de Nazaré até se admirava
quando ouvia o ensinamento de jesus e diziam: “Não é este o carpinteiro, o filho de
27
Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre
nós?”’ (Mc 6,3). Na época de Jesus, a profissão era passada de pai para filho, certamente
são José lhe ensinara o ofício, e o filho herda o ofício, as ferramentas e os clientes.
Seguramente Jesus era dedicado ao seu trabalho.
Após olhar o exemplo do Mestre que é pera nós modelo, nos questionemos: qual
a importância do trabalho para o tratamento em dependência química?
O trabalho no tratamento é aplicado a partir de um recurso terapêutico
chamado de laborterapia. Varia de fratérnitas para fratérnitas. Como aqui na casa de
triagem não há o trabalho de campo, resta o trabalho doméstico e o manual. O trabalho é
uma das colunas, além da disciplina e oração (espiritualidade) que fundamenta a proposta
da Comunidade Terapêutica. E qual a função da laborterapia (ou no nosso caso o ofício
ou trabalho manual)? A laborterapia pode ser compreendida como propósito de resgatar
a responsabilidade, a boa vontade e a dignidade do indivíduo, através de atividades
de manutenção e melhorias na casa em que estamos, como limpeza, jardinagem,
marcenaria, cuidado dos animais, reforma, cozinha etc. em busca do bem-estar comum
entre os todos os filhos prediletos.28
E como deve ser o trabalho de um filho predileto em tratamento?
A oração em honra a São José que rezamos no início da formação nos dá elementos bem
acertados.
Com espírito de penitência. Quer dizer, pelo trabalho eu reparo os meus
pecados, sobretudo aqueles que eu cometi por irresponsabilidade, e que me fizeram perder
o controle da minha vida. Pelo trabalho eu recupero a minha responsabilidade. Quem
trabalha com responsabilidade não se deixa levar pela preguiça, pelo relaxo, não “faz as
coisas de qualquer jeito”. Isso tudo é trabalhar com espírito de penitência, isto é, trabalhar
para combater meus defeitos, minhas más inclinações.
Com consciência. Quer dizer, com a compreensão e percepção do que é
certo e o que é errado dentro do meu trabalho, o que me é permitido e o que não é.
Trabalhar com bom senso.
Com recolhimento e alegria. Isto é, sem algazarra, sem bagunça, sem
exageros, sem atrasar o trabalho por brincadeiras fora de hora, mas ao mesmo tempo sem
perder a alegria, a descontração, a partilha amiga, a certeza de que pelo trabalho eu me
converto. Não deixar tornar o trabalho um fardo.
Com ordem. Ou seja, com disciplina, na medida certa, nos horários certos,
mantendo a ordem prescrita pelo cronograma. Com exatidão, sem perder tempo com
conversas furadas ou “enrolando no quarto”.
28
Disponível:
http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/601.%20trabalho%20e%20depe
nd%CAncia%20qu%CDmica.pdf
28
Com paz. Sem criar brigas, sem dividir a comunidade. Deus quer que o
nosso trabalho aconteça em meio a uma serenidade. O trabalho sem serenidade não traz
gosto.
Com moderação e paciência. Com autodomínio, com autocontrole, suportando as
dificuldades que possam acontecer. Tolerando o erro dos outros enquanto se é tolerado
pelos demais irmãos de comunidade. Escutemos as palavras dos Apóstolo Paulo que nos
exorta a trabalhar com tranquilidade:
29
➢ Agora registre, em breves palavras:
30
11. A oração: Nossa principal arma no combate
31
“Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. 10Pois todo
o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá. 11Quem de
vós, sendo pai, se o filho lhe pedir um peixe, em vez do peixe lhe dará uma
serpente?12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós,
que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do
Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,9-13).
Santo Agostinho dizia que “Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem”.
Parafraseando o bispo de Hipona, podemos dizer “quem sabe bem rezar, sabe também
viver bem o seu tratamento”. Agora nos indaguemos: como é rezar bem?
São Tomás de Aquino afirma que existem três condições essenciais para que
possamos rezar bem e assim assegurar a eficácia das nossas orações. São elas: a
humildade, a perseverança e a confiança. E claro, essas condições carecem da nossa
atenção enquanto nós rezamos.
Com humildade. Isto é: com recolhimento interior, com honestidade,
sinceridade, que se busque sinceramente arrepender-se dos seus pecados, isto é, sem
falsidade como faziam os fariseus. Por isso o salmista dizia: “Mas vós amais os corações
que são sinceros e na intimidade me ensinais sabedoria” (Sl 50,8). Assim orava o
publicano, que foi atendido: “Ó Deus tem piedade” (Lc 18,13), enquanto o orgulhoso
fariseu viu rejeitada a sua oração. O próprio Jesus nos dá razão disso: “Todo o que se
exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). Os seus discípulos
compreenderam-no perfeitamente e são Tiago diz-nos com insistência: “Deus resiste aos
soberbos, aos humildes, porém, dá sua graça” (Tg 4,6).
Com confiança. E assim a verdadeira humildade gera confiança. Quem se
humilha, só é capaz de se humilhar porque confia e espera em Deus. Como nos diz o
salmista: “Confia no Senhor e faze o bem, habita na terra e vive tranquilo, coloca tua
alegria no Senhor (...) Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele agirá” (Sl
37,3-5). Ensina a fé que Deus é misericórdia e que por esse motivo se inclina com tanto
mais amor para nós quanto mais reconhecemos as nossas misérias: porque a miséria atrai
a misericórdia de Deus. Invocá-lo com confiança é afinal honrá-lo, é proclamar que ele é
a fonte de todos os bens e nada tanto deseja como conceder nos. Nosso Senhor convida-
nos a orar com confiança.
Com perseverança. Sem desistir, sem negociar, sem fingir que reza quando está
na capela, quem finge que reza já desistiu de rezar. Muitos lá estão, mas não estão mais
em oração. Pensam em tudo menos em Deus. Dizia são João da cruz, “Quem foge da
oração, foge de todo o bem”. Santo Afonso dizia: “É preciso rezar sempre. Sendo
contínuas as tentações e os perigos de perdermos a amizade de Deus, contínuas também
devem ser as nossas orações.” (ver Mt 15, 24-28)
Mas a esta confiança perseverante é indispensável juntar a atenção, ou ao menos
um sério esforço para pensarmos no que dizemos a Deus. As distrações voluntárias, que
admitimos, aquelas que não repelimos senão frouxamente ou aceitamos sem combater o
mau pensamento são falta de respeito para com Deus. Será que não mereceríamos a
represália que Jesus Cristo dirigia aos fariseus: “Este povo me honra com os lábios, mas
o seu coração está longe de mim?” (Mt 15,8)
32
“É preciso que nos convençamos de que da oração depende todo o nosso bem.
Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende
conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna”. (Santo
Afonso de Ligório).
33
Por tanto, considerai necessária a observância da disciplina, por três motivos:
1- Como por uma espécie de contrato entre vós e os responsáveis, eles, para
vos formarem na virtude; e vós para vos deixardes formar.
2- Para serdes abençoados por Deus, receberdes com proveitos suas graças e
assim gozardes da verdadeira paz do coração, que emana do cumprimento do próprio
dever.
3- Porque o homem (a) que não se submete de bom grado a disciplina leva
uma vida infeliz.
Felizes vós que sabeis e podeis viver sob a disciplina! Se, por um lado, é certo que
ela amarra a vossa vontade e todas as vossas atividades, por outro, torna fácil e seguro o
caminho que conduz à perfeição, ajuda a manter a boa ordem da casa e o bem-estar. Não
vos esqueçais; quem rejeita a disciplina é um infeliz. Infeliz, porque nunca está contente,
nunca se sente em seu lugar. Pelo contrário quem observa com amor, goza de perfeita
paz. Por isso ao invés de desejardes coisas impossíveis, fazei o que tendes de fazer, fazei-
o com perfeição, no tempo, no lugar e da maneira que vos dizem; e não a intervalos
segundo o humor do momento, mas sempre, todos os dias e durante o dia inteiro. Eis a
disciplina! Se agíssemos sempre assim, como a comunidade caminharia bem!
É particularmente na vida cotidiana que sentires necessidade da disciplina, porque
lá, quem não estiver bem firmado nela, quem nunca aprendeu a observá-la por dever e
com amor é fácil que caia na desordem, onde não habita a sobriedade em todos os
sentidos. Os danos da indisciplina lá fora, na minha casa, são mais graves que na casa de
recuperação. Aqui ainda é possível remediar; lá nem sempre, estarei possivelmente “só”.
Um ato de indisciplina, segundo as circunstâncias em que se encontra a sua vida, pode
ser a gota d’água, ou seja, um ato de desordem, de erro fatal pode acarretar graves
consequências, com prejuízo difícil de ser reparado e aí corre se o risco de colocar tudo a
perder; pessoas trabalho confiança e é lógico, a sobriedade. Eu lhes pergunto, até que
ponto vale fazer minha vontade e do meu jeito?
Peçamos a Nosso Senhor, que nos faça compreender com justeza a necessidade
da disciplina e nos ensine a observá-la com mais cuidado para que não frustremos uma
vez mais a nós mesmos, e consequentemente quem está próximo a mim.
Pontualidade e exatidão
Um meio que ajuda a mante a disciplina e a ordem na casa é a pontualidade.
Quando não há pontualidade, especialmente na capela e no refeitório, perde-se tempo por
causa dos retardatários; é feio perder tempo e fazê-lo perder aos outros. Quero que a
comunidade caminhe com pontualidade e exatidão.
A exatidão consiste em não omitir voluntariamente nenhum dever, não o abreviar,
não cortar nenhuma parte, por pequena que seja. Quem chega atrasado aos atos
comunitários, acaba por fazê-los de pressa e, portanto, faz mal; ou não os faz
integralmente.
Sempre deve haver pontualidade, quer seja muito, quer pouco. Numa comunidade
formada por duas ou três pessoas, até parece quase inoportuno tocar o sino, parece
34
inoportuno levantar-se no horário, executar pontualmente as ações do dia... Parece
inoportuno, mas não é. Não importa o número; tudo deve funcionar da mesma maneira,
tanto numa comunidade de cem, como de cinquenta ou de cinco pessoas apenas. Porque
a ordem pode e deve existir sempre.
O sino é a voz de Deus que chama às diversas ocupações. É preciso executá-la
prontamente, suspendendo o trabalho no mesmo instante. Se, no horário de estudo, viesse
um anjo e vos mandasse à capela não deves ouvi-lo, porque naquele momento o vosso
dever é estudar.
Exatidão em tudo, portanto. Isto não significa, porém que se deva largar o trabalho
cinco ou dez minutos antes da hora, para ser pontual na ação seguinte... Quem é
previdente pode trabalhar até o último instante e ser pontual da mesma forma. É preciso
fazer tudo com pontualidade. Estas coisas são importantes aqui e na tua casa, onde você
estiver. Tudo deve proceder ordenadamente, segundo o horário marcado sem nada mudar.
Se for preciso fazer alguma modificação ou observação, apresente-se o caso a pessoa
responsável: Seja ele (a) a decidir. Ninguém se arrogue o direito de alterar a ordem da
casa ou das coisas. Isso não! É infração à disciplina, é causa de desordem.
Eis meus caros em que consiste a disciplina. Amai-a e observai-a por amor. Ela é
em relação a vós como a lei de Deus que vos acompanha todos os atos do dia. Está escrito:
“Muita paz goza os que amam a vossa lei” (Sl 118, 165).
Quem observa a disciplina apenas parcialmente, pode se dizer que ama a lei de
Deus? Não, este não ama, por isso não goza de muita paz. Sim, lembrai-vos de que a paz
abundante procede unicamente do amor, portanto da observância feita por amor.
“Ninguém, engajando-se no exército, se deixa envolver pelas questões da vida
civil, se quer dar satisfação àquele que o arregimentou. Do mesmo modo um atleta não
recebe a coroa se não lutou segundo as regras.” (2Tm 2,5)
“Pedi e dar-se-vos-á... porque tudo aquele que pede, recebe”
A formação desta semana nos trouxe a necessidade da oração para poder
cumprirmos o mandato de Jesus: “Ser perfeitos como o Pai Celeste é perfeito”.
Aprendemos que sem busca pela santidade não há sobriedade, e para esse caminho a vida
de oração é fundamental. Neste dia de retiro queremos ainda podermos aprofundar. Para
isso seremos motivados pela Palavra de Lucas 18, 1-8:
Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que
eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Ele disse: "Em certa cidade havia um juiz
que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma
viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o
meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo:
‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me
aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me importunar’.
E o Senhor continuou: "Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça
aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar?
Eu lhes digo: ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem
vier, encontrará fé na terra?"
35
➢ Agora registre, em breves palavras:
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13. Introdução à vida espiritual: a piedade.
"Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos
corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito,
para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o
que é perfeito" (Rm 12,1-2).
"O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito,
alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo." (1Tess 5,23).
Pela Palavra somos animados a oferecer todo nosso ser, incluindo nosso corpo, ao
Senhor. Um dia entregamos nosso corpo ao pecado, e isso trouxe consequências em nossa
vida. Hoje fizemos uma escolha, desejamos lutar pela nossa sobriedade, e portanto,
devemos entregar-nos a Deus: entregar-nos em TODO NOSSO SER.
A dependência química, como escravidão, cria uma necessidade, uma força quase
irresistível, um desejo incontrolável por usar tal o qual substância, independente do que
para isso tenha que fazer... a força do desejo é maior.
Temos consciência que essa FORÇA é capaz de alcançar qualquer coisa que se
propor, ela consegue com tal de poder usar. É tempo, então, de canalizar, reorientar essa
força que é viva e latente no interior. No processo de tratamento o primeiro passo, junto
com reconhecer que preciso de ajuda é LUTAR E PEDIR A GRAÇA DE MUDAR
MINHA MENTALIDADE. Precisamos, então, reconhecer. E cabe aqui uma pergunta:
Reconheço o anteriormente descrito em minha vida? Só após esse reconhecimento,
aparece a PIEDADE, como ferramenta, motor e alicerce da minha sobriedade.
A etimologia, a origem da palavra piedade, vem do latim pietas - atis. Significa
Demonstração de amor ou afeto pelas coisas religiosas; devoção. Virtude que possibilita
oferecer a Deus o culto que Ele merece.
Piedade como um dom do Espírito Santo exercita na nossa vontade um afeto filial
para com Deus, considerado como Pai, e um sentimento enquanto irmãos nossos e filhos
do mesmo Pai, que está nos céus. Deste modo, a piedade tem como primeiro objeto nossa
relação com Deus, e fruto dessa relação com Ele, somos colocados em relação com os
irmãos.
Vejamos como se desenvolvem estas verdades. A Palavra nos diz: “não sabeis
que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de
Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um
grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1Cor 6,19-20).
Como templo do Espírito nosso corpo é sagrado. E meu corpo pode oferecer-se a
Deus, pode rezar. Dessa forma eu posso entrar em relação filial com Ele. Posso unificar
minhas palavras ditas na oração, junto a meus sentimentos e desejos que se elevam a Deus
37
na minha postura corporal. A postura corporal FALA e me conscientiza sobre o que estou
vivendo. O Catecismo Jovem a Igreja Católica (YOUCAT) em resposta a questão: “O
que exprimem os cristãos com as suas posturas orantes?”, assim responde:
“Os cristãos apresentam a Deus sua vida através da linguagem corporal: eles
estendem-se diante de Deus, juntam as mãos em oração ou abrem-nas, dobram o joelho
ou ajoelham diante do Santíssimo Sacramento, ouvem o Evangelho de pé e meditam
sentados.”
38
14. Fé, a resposta do homem a Deus
29
Cat. §142.
30
Cat. §161.
39
do lamaçal do pecado e do vazio existencial para viver a vida ressuscitado que Cristo
conquistou do alto da cruz com o seu sangue derramado, “(...) agora, justificados por seu
sangue, seremos por ele salvos da ira.” (Rm 5,9)
Vamos ver agora as características da fé. A fé e uma graça. Quando Pedro
confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação
não lhe veio “da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus” (Mt 16, 17)
(16). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural dada por Ele a cada um de nós
que decidiu ser de Deus e lutar pela sobriedade. É preciso estar bem claro: quem dá a fé
é Deus. O merecimento não é nosso. É Dele. Viver esta adesão da fé, são necessários a
ajuda da graça divina e os auxílios interiores do Espírito Santo, o qual move e converte o
nosso coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em
aceitar e crer a verdade) “. Sem essa fé que gera clareza nós vivemos na mentira, na ilusão
e na falsidade.31 Devermos pedir sem cessar: “Senhor aumenta-nos a fé.” (Lc 17,5)
Mas além de um movimento da graça, a fé é também uma um ato humano. O ato
de fé, só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas também
é verdade que crer é um ato autenticamente humano. Crer em Deus não é contrário,
nem a liberdade nem a inteligência do homem, como dizem por aí. Mesmo nas relações
humanas, não é contrário a nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos
dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por
exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em mutua
comunhão.
Não dá para estar em relacionamento nenhum sem acreditar e confiar nessa
pessoa. O que vale para o relacionamento humano, nesse sentido, vale também para nossa
relação com Deus. Por isso, muito desistem do tratamento, porque ao invés de escolherem
o caminho da fé, entregando a Deus a sua liberdade por vontade própria, escolhem o
caminha da dúvida, da mentira, da incerteza e da confusão.32 Por isso, falando da
perseverança nesse caminho da fé, o Catecismo da Igreja Católica ensina que:
A fé é um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós podemos perder este dom
inestimável. Paulo adverte Timóteo a respeito dessa possibilidade: “Combate
o bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se afastarem desse
princípio e que muitos naufragaram na fé” (1Tm 1,18-19). Para viver, crescer
e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus.33
Terminemos falando sobre Nossa Senhora, nosso modelo de fé, ela é feliz por que
é aquela que acreditou (cf. Lc 1,45).
A Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a “obediência da fé”. Na fé,
Maria acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acreditando
que “a Deus nada e impossível” (Lc 1, 37) e dando o seu assentimento: “Eis a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Maria
nunca deixou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus. Por isso, a Igreja
venera em Maria a mais pura realização da fé.34
31
Cat. §153.
32
Cat. §154.
33
Cat. §162.
34
Cat. §148-149.
40
“Ofereçam seus corpos como sacrifício vivo e santo”
A formação desta semana nos trouxe a realidade de poder orar com nosso corpo,
levando o nome de piedade. Aprendemos sobre este tema e neste dia de retiro queremos
ainda podermos aprofundar. Para isso seremos motivados pela Palavra de Romanos 6,
17-23:"Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes
de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, vos
tornastes servos da justiça. Vou-me servir de linguagem corrente entre os homens, por
causa da fraqueza da vossa carne. Pois, como pusestes os vossos membros a serviço da
impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora os vossos membros a
serviço da justiça para chegar à santidade. Quando éreis escravos do pecado, éreis livres
a respeito da justiça. Que frutos produzíeis então? Frutos dos quais agora vos
envergonhais. O fim deles é a morte. Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de
Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna. Porque o salário do pecado
é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor".
41
Colaboradores
Edição:
42
Anexo I
43
administrativo da Casa de Acolhida (casadeacolhida@ocaminho.org) e para o Jurídico
(juridico@ocaminho.org). Não devemos encaminhar informação sobre os tratamentos
para terceiros (ainda que sejam familiares) sem antes falar com jurídico, pois o tratamento
tem caráter sigiloso e, se quebrarmos esse sigilo, ferindo a privacidade do(a) filho(a),
poderemos responder processo judicial por isso. Ainda, o Jurídico possui a forma mais
adequada de responder a esses órgãos;
6. Devemos ter cautela e bom senso no preenchimento dos documentos do
tratamento, evitando rasuras, bem como o uso de palavras pejorativas, preconceituosas,
vexatórias entre outros. Não podemos inserir nos documentos nosso juízo de valor
(exemplo: O filho é um estúpido e merece ser punido. Nesse caso, devemos escrever de
forma imparcial: O filho apresentou conduta agressiva, imprópria e, por essa razão,
sofrerá advertência disciplinar.);
7. O preenchimento de todos os documentos é OBRIGATÓRIO, isso porque
temos o DEVER de registrar a vida do(a) filho(a) na nossa Comunidade, com
detalhamento. Precisamos saber quem ele é, descrever como tem sido a evolução de seu
caso e qualquer outra situação que tenha ocorrido com ele dentro da casa. O(a) filho(a)
não é somente um(a) dependente químico(a), mas um ser humano cheio de
particularidades (como um paciente de um médico, de um cirurgião-dentista, de um
psicólogo), sua história é e sempre será muito relevante para definirmos os métodos do
tratamento, que variam de uma pessoa para outra;
8. Esses documentos devem ser preenchidos corretamente e de forma completa,
pois poderão, a qualquer tempo, ser solicitados por um juiz e precisaremos demonstrar
nossa organização e capacidade para desenvolver corretamente os serviços que
prestamos. A Casa de Acolhida recebe com frequência esse tipo de solicitação de juiz e,
muitas vezes, o que temos em mãos é um documento onde consta somente o nome do
acolhido e qual droga ele usou e quantas internações teve. Esse tipo de documento não é
o adequado e não pode ser chamado de prontuário;
9. Os documentos não são mera burocracia, mas uma NECESSIDADE para nos
dar a garantia de provar o que fazemos e como fazemos. Se um dia formos questionados
judicialmente ou de qualquer outra forma, teremos esses documentos para nos resguardar
juridicamente, para nos proteger de eventuais alegações inverídicas sobre aquilo que
fazemos ou que fizemos;
10. Além disso, com o preenchimento dos documentos teremos maiores e
melhores subsídios e informações sobre os tratamentos que realizamos, podendo utilizar
esses dados para melhoria de nosso processo formativo enquanto cuidadores e buscarmos
mais caminhos para atingir a vida dos filhos e filhas, em benefício da sobriedade e da
mudança de comportamento. Ainda, com os documentos poderemos produzir relatórios
estatísticos para nos autoavaliarmos sobre nosso método de tratamento e, a partir disso,
nos adequarmos no que for necessário. Pode ser a base de compreensão para religiosos e
membros cuidadores que nunca tenham tido contato com a dependência química, para,
na prática, orientá-los e facilitar esse envolvimento com o Sede Sóbrios.
Diante disso, encaminhamos, os seguintes documentos:
44
1. Triagem Sede Sóbrios - deve ser utilizado, obrigatoriamente, nas casas de
triagem. Com seu preenchimento adequado, teremos os dados do(a) filho(a) desde o
momento em que ingressou em nossa casa. Os documentos originais da triagem devem
ser mantidos na Fraternitas de triagem e, sempre que possível, ser digitalizado e mantido
em arquivo organizado. O ideal é que não haja a perda do documento físico (em papel),
pois ele é essencial e tem finalidade jurídica. A digitalização desses documentos será uma
segurança à mais para a Casa de Acolhida. Tanto o documento físico (em papel), quanto
o digital, devem ser mantidos em local apropriado e seguro, sem que terceiros tenham
acesso, pois temos o dever de sigilo das informações e, caso outras pessoas tenham acesso
à informações sigilosas compartilhadas pelo(a) filho(a), estaremos ferindo a privacidade
do(a) filho(a), ferindo a necessária confiança e deixando de cumprir com nossa obrigação
de sigilo e guarda segura dos documentos, o que pode nos trazer problemas judiciais.
Cópia da triagem deve ser encaminhada à casa de tratamento para onde o(a) filho(a) for
direcionado(a);
2. Termo de Adesão e Anexos - O(a) filho(a) predileto(a) que inicia um tratamento
não é um(a) voluntário(a) e, por isso, não assina termo de voluntariado. Na verdade, ele(a)
é um(a) acolhido(a) e, por isso, assina o Termo de Adesão ao Programa de Tratamento e
Recuperação em Dependência Química. Esse termo é uma espécie de contrato, onde
colocamos as obrigações de quem é acolhido(a) e as obrigações da Casa de Acolhida,
além de outras regras que tem o objetivo de nos proteger juridicamente. Esse termo de
adesão possui alguns anexos, como descrevemos a seguir:
a) Anexo I - MANUAL DE ROTINAS E PROCEDIMENTOS - Esse documento
apresenta as regras e rotinas do atendimento e acolhimento de dependentes químicos
(critérios de admissão, internação, transporte, gratuidade do acolhimento, explicações
sobre o programa de recuperação - fases do tratamento, alimentação, atendimento médico,
odontológico e psicológico, cronograma da casa, prontuário, lazer, sanções, visitas e
acompanhamento familiar);
b) Anexo II - REGULAMENTO - Apresenta normas disciplinares para os(as)
residentes ACOLHIDOS(AS) no Programa de Tratamento e Recuperação em
Dependência Química nas casas da Fraternidade O Caminho, sob o princípio da Oração,
Trabalho e Disciplina, contendo o que é PERMITIDO, OBRIGATÓRIO E PROIBIDO;
c) Anexo III - REGULAMENTO DO DIA DE VISITA PARA FAMILIARES -
Apresenta regras sobre as visitas de familiares.
d) Anexo IV - TERMO DE CESSÃO DE DIREITO DE USO DE IMAGEM E
VOZ - É importante que tenhamos autorização do(a) Acolhido(a) quanto ao uso de sua
imagem e voz nos nossos materiais de divulgação.
3. Ficha de Evolução - Nesse documento, quem acompanha o(a) filho(a), na casa
de triagem ou na casa de tratamento, deverá lançar, dia a dia, conforme seja realizada
alguma atividade com o(a) filho(a) (atendimento, escuta, partilha, preenchimento dos
documentos da triagem, história clínica, atendimento psicológico etc.), as informações
sobre o que aconteceu naquele dia com aquele(a) filho(a).
Exemplo:
45
01/06/20 - Realizado o preenchimento da 1ª triagem - Responsável pela
informação: Frei Tobias - Assinatura do filho
03/06/20 - Atendimento Psicológico - Filho relata sentir-se ansioso e depressivo.
Foi utilizada tal técnica durante a sessão. Observando melhora no comportamento x. -
Responsável pela informação: Priscila - Assinatura do filho
05/06/20 - Escuta - Filho procurou orientação sobre dificuldades que está tendo
no relacionamento dentro da casa. Manifestou sua insatisfação pela ausência de contato
familiar. Orientado a investir primeiramente em si, a se conhecer melhor, a praticar a
oração como forma de lhe trazer maior conforto nesse momento. Responsável pela
informação: Missionário Renato - Assinatura do Filho.
4. História Clínica - Sede Sóbrios - Esse documento é um dos mais delicados e
complexos. Deve ser aplicado na casa de tratamento e não na casa de triagem, diante da
necessidade de um relacionamento mais profundo com o(a) filho(a). Aqui há a
necessidade de conquistar a confiança do(a) filho(a), para que a partilha seja mais
próxima da verdade o possível. Esse documento é um dos mais importantes para definir
o acompanhamento terapêutico e seu plano de tratamento. É indicado que a história
clínica de um(a) filho(a), uma vez iniciada por determinada pessoa, seja por ela concluída.
Há a necessidade de sigilo total das informações, uma postura acolhedora ao que está
sendo partilhado, receptiva, sem julgamentos (Nossa, como você teve coragem de fazer
isso!?), uma escuta caridosa e misericordiosa. Disponibilizaremos material e formação
específica para preparar os cuidadores que farão a História Clínica.
5. Ficha de Encaminhamento - Esse documento deve ser utilizado sempre que
houver a transferência do(a) filho(a) para outra Fraternitas, seja da triagem para a casa de
tratamento, seja de uma casa de tratamento para outra. Cópia da ficha de encaminhamento
deve ser mantida na Fraternitas que está encaminhando o(a) filho(a) e o original deve ser
enviado juntamente com o(a) filho(a) para a Casa onde será acolhido(a). Caso o(a)
filho(a) desista na fase de triagem, essa informação poderá ser lançada nesse documento,
além de ter que ser assinado o termo de desistência em fase de triagem (vide abaixo). A
partir da ficha de encaminhamento podemos extrair estatísticas sobre a quantidade de
acolhimentos, transferências e desistência na fase da triagem.
6. Carta de Advertência Disciplinar - Deve ser aplicada todas as vezes que o(a)
filho(a) infringir alguma regra da Casa, seja quanto ao Manual de Rotinas e
Procedimentos, seja quanto ao Regulamento Interno.
7. Carta de Desligamento Voluntário e Carta de Desligamento Disciplinar - Esses
documentos são utilizados quando já foi assinado o Termo de Adesão. A carta de
desligamento voluntário deverá ser utilizada sempre que o(a) filho(a) quiser,
voluntariamente, interromper o tratamento. Já a carta de desligamento disciplinar deverá
ser utilizada quando o(a) filho(a) praticar algum ato que impeça sua permanência dentro
da casa, por ferir as normas do Manual ou do Regulamento.
8. Termo de Rescisão do Termo de Adesão - Esse documento deve ser preenchido
SEMPRE que o(a) filho(a) já assinou o termo de adesão e quiser deixar o tratamento,
voluntariamente ou a pedido da Casa de Acolhida. Deve ser acompanhado da Carta de
Desligamento Voluntário ou da Carta de Desligamento Disciplinar, dependendo do
motivo desse desligamento.
46
9. Carta de Desistência - Deve ser aplicada quando o(a) filho(a) desistir do
tratamento ainda na fase de triagem, antes da assinatura do termo de Adesão. Não deve
ser confundida com a Carta de Desligamento.
10. Interrupção de Triagem - Deve ser aplicada quando o(a) filho(a) praticar
algum ato que inviabilize sua permanência na casa, ainda em fase de triagem, antes da
assinatura do termo de Adesão. Não deve ser confundida com a Carta de Desligamento
ou Carta de Desistência. O acolhido será convidado a se retirar da Casa.
11. Certificado de Tratamento (feminino e masculino) - Documento que deverá
ser emitido ao término do tratamento do(a) Acolhido(a).
Freis e Freiras, é importante que os senhores e senhoras possam ler cada um dos
documentos, verificar dúvidas que possam surgir e dar uma devolutiva para nós, do Sede
Sóbrios, caso haja algum documento que precise ser adequado à sua Fraternitas ou que
precise ser criado.
Pedimos, mais uma vez, que os documentos enviados não sejam alterados e que
não sejam criados documentos sem o conhecimento do jurídico da Casa de Acolhida, bem
como que não seja utilizado o papel timbrado em documento que o administrativo e o
jurídico desconheçam, pois isso pode trazer problemas à Casa de Acolhida e sua diretoria.
Estamos totalmente à disposição para ajudá-los e orientá-los no que for preciso.
Somos um corpo e caminhamos juntos para ajudar, não para atrapalhar. Esperamos que
os senhores possam compartilhar conosco novas ideias, sugestões, críticas, dúvidas,
enfim... tudo o que for possível para que possamos crescer juntos e oferecer o melhor para
nossos filhos e filhas prediletos.
Queremos enfatizar que, a vida de um religioso e de uma religiosa é para nós,
filhos e filhas prediletos, sinal de salvação. Olhamos para os senhores, encontramos a
Deus, descobrimos que o processo de santidade é um caminho real e possível, nos
espelhamos no SIM que os senhores deram à Deus e aos mais necessitados para ofertar o
nosso SIM à Deus também e a nossa sobriedade à vocês como forma de gratidão. Dizemos
tudo isso, pois não há Sede Sóbrios distante da vida religiosa. Os senhores são muito
importantes nesse processo.
Por fim, entendemos que seja importante que esses documentos cheguem ao
conhecimento dos membros cuidadores de filhos e filhas prediletos de sua Fraternitas e
Região, sejam eles missionários, voluntários, equipe de família, leigos e jovens que fazem
parte do Sede Sóbrios.
Sugerimos que os religiosos responsáveis por triagem e tratamento de filhos e
filhas dependentes químicos possam se reunir em sua região e fraternitas com os demais
membros do Sede Sóbrios local, para conhecimento e partilha, sendo certo que a
comunicação é uma importante ferramenta para o entendimento e compreensão da
missão.
É importante que todos nós possamos falar a mesma língua, que todos possam
compreender a extensão do tratamento, as ações da Casa de Acolhida e como o Sede
Sóbrios deve ser aplicado.
Estamos à disposição de todos!
Contamos com as orações dos senhores.
47
Anexo II
COMPREENDENDO OS CONCEITOS
ADCÇÃO:
CID 10:
O termo CID-10 significa “Classificação Internacional de Doenças” e faz
referência à décima versão do documento. A primeira versão foi lançada em 1992 e, desde
então, é atualizada a cada 3 anos por diversos profissionais de nacionalidades
diferentes. A CID-10 foi aprovada em 1994 e dois anos depois passou a ser utilizada no
Brasil. Apesar de ter sido criada para ter um alcance mundial, hoje apenas 27 países
utilizam a classificação oficialmente. A principal função da CID-10 é ajudar no estudo
de doenças que afetam determinado local ou grupo de pessoas. Para que isso seja da forma
mais correta e simples possível, foi criado um padrão para classificar as patologias.
Sendo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde. Dentre as classificações temos:
48
Isso porque assuntos como saúde, enfermidade e drogas continuamente
estiveram ao longo da história, embora cada tempo ofereça uma maneira particular de
enfrentar e lidar com esses acontecimentos, de acordo com as informações e interesses de
cada época.
O diagnóstico, de acordo com o DSM-5, é fundamentado nas seguintes
evidências.
O critério A prevê um padrão problemático de uso de determinada substância.
Para isso, ela deve levar ao comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo,
percebido por pelo menos dois dos critérios a seguir. Esses critérios devem ocorrer pelo
período mínimo de 12 meses:
● A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por
um período maior do que o pretendido.
● Desejo persistente ou esforços malsucedidos na tentativa de reduzir ou controlar
o uso da substância.
● Muito tempo é gasto em atividades relacionadas à obtenção, utilização ou
recuperação dos efeitos do uso da substância.
● Fissura, desejo intenso ou mesmo necessidade de usar a substância.
● Uso recorrente da substância, resultando em fracassos no desempenho de papéis
em casa, no trabalho ou na escola.
● Uso contínuo da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais
persistentes ou recorrentes causados ou piorados por seus efeitos.
● Abandono ou redução de atividades sociais, profissionais ou recreativas
importantes ao indivíduo devido ao consumo de substâncias.
● Uso contínuo da substância mesmo em situações nas quais esse consumo
representa riscos à integridade física.
● O consumo é mantido apesar da consciência de se ter um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado por
esse uso.
● Tolerância, definida como: efeito acentuadamente menor com o uso continuado
da mesma quantidade de substância e/ou necessidade de quantidades
progressivamente maiores de substância para atingir o mesmo grau de
intoxicação.
● Abstinência manifestada por: síndrome de abstinência característica da
substância utilizada e/ou uso da substância ou de similares na intenção de evitar
os sintomas de abstinência.
Além dos níveis de consumo, há também seis critérios para a definição do estado
de dependência química, de acordo com a CID-10 - Classificação Internacional de
Doenças – Décima Edição (1993)36 - são eles:
● Um desejo forte ou compulsivo para consumir a substância;
36
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação de transtornos mentais e de
comportamento da CID-10. Porto Alegre. Artmed, 1993, p.7.
49
● Dificuldade para controlar o comportamento de consumo de substância, em
termos de início, fim ou níveis de consumo;
● Estado de abstinência fisiológica quando o consumo é suspenso ou reduzido,
evidenciado por: síndrome de abstinência característica; ou consumo da mesma
substância (ou outra muito semelhante) com a intenção de aliviar ou evitar
sintomas de abstinência;
● Evidência de tolerância, segundo a qual há a necessidade de doses crescentes da
substância psicoativa para obter-se os efeitos anteriormente produzidos com doses
inferiores;
● Abandono progressivo de outros prazeres, ou interesses devido ao consumo de
substâncias psicoativas, aumento do tempo empregado em conseguir ou consumir
a substância, ou recuperar-se dos seus efeitos;
● Persistência no consumo de substância, apesar de provas evidentes de
consequências manifestamente prejudiciais, tais como lesões hepáticas causadas
pelo consumo de álcool, humor deprimido consequentemente há um grande
consumo de substâncias, ou perturbação das funções cognitivas relacionadas com
a substância.
37
38
ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo. O tratamento da dependência química e
as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas. Artmed Editora, 2018.
39
Idem
50
NEUROTRANSMISSORES40
São elementos químicos que podem ser definidos como mensageiros neuronais, que
transportam, estimulam e equilibram a comunicação entre os neurônios, células nervosas
e outras células do nosso organismo.
Os neurotransmissores são substâncias químicas responsáveis por gerenciar nossas
funções:
● Físicas, como frequência cardíaca, sono, respiração e apetite;
● Psicológicas, influenciando nosso humor e regulando nossas emoções, como
medo, alegria, bem-estar, satisfação;
● E também os vínculos que criamos ao longo da vida com outras pessoas, como os
membros da família, amigos, colegas de trabalho, entre outros.
Neurotransmissores Características Funcionalidade
Ácido gama- Aminoácido inibitório responsável pelos possui função relaxante, auxilia no
aminobutírico (GABA) efeitos sedativos das substâncias combate à ansiedade, ao estresse e até
depressoras. ao medo
Glutamato O glutamato é o neurotransmissor mais Aminoácido excitatório importante
comum no sistema nervoso central; na modulação de várias substâncias
participa da regulação da excitabilidade psicoativas.
geral do sistema nervoso central, dos
processos de aprendizagem e da
memória.
Dopamina Intimamente envolvida com o Esse neurotransmissor está envolvido
aprendizado e a motivação e com processos como controle motor,
responsável pela gênese neurobiológica cognição, compensação, prazer,
da dependência da maioria das humor e algumas funções
substâncias psicoativas. endócrinas.
Noradrenalina Relacionada estruturalmente com a é também relacionada com nossa
dopamina e envolvida nas respostas a capacidade de ficar em alerta e ter
vigília e estresse. Produz efeitos uma boa memória.
estimulantes.
Serotonina Monoamina envolvida na regulação do Suas principais funções incluem a
humor, da vigília, da impulsividade, da regulação de: humor, sono, libido,
agressividade, do apetite e da ansiedade. ansiedade, apetite, temperatura
É responsável pelos efeitos de corporal, ritmo cardíaco e
substâncias alucinógenas e estimulantes. sensibilidade
Acetilcolina Tem papel importante na memória e no Regula o ciclo do sono, essencial
aprendizado. Os receptores de para o funcionamento muscular.
acetilcolina estão implicados na também é encontrada nos neurônios
dependência de nicotina e podem sensitivos e no sistema nervoso
contribuir para o surgimento dos efeitos autônomo, e tem um papel na
da cocaína e de anfetaminas. programação do “estado de sonho”
enquanto o indivíduo está dormindo
Opioides endógenos Controlam uma variedade de funções no São usados para aliviar a dor, mas
corpo. Estão relacionados com a também provocam uma sensação
modulação da dor e da ansiedade e exagerada de bem-estar.
podem produzir efeitos euforizantes.
Fonte: OMS, (modificada).41
40
https://supercerebro.com.br/funcao-dos-
neurotransmissores/#:~:text=Mas%2C%20afinal%2C%20voc%C3%AA%20sabe%20o,outras%20c%C3%A9
lulas%20do%20nosso%20organismo.
41
Organização Mundial de Saúde
51
TIPOS DE DROGAS E EFEITOS
Maconha Álcool
CRACK
Tabaco
Heroína SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS COCAINA
Ecstasy Fentanil
LSD
Ópio,
skank Dessa listagem, há outras
drogas recentemente
comercializadas no Brasil.
52
CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM OS EFEITOS DAS
SUBSTÂNCIAS
53
EFEITOS DO USO AGUDO E DO USO CRÔNICO E
SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA
▪ ÁLCOOL
O álcool é uma substância lícita que faz parte de uma variedade incontável de bebidas em
todo o mundo, obtidas por fermentação ou destilação da glicose presente em cereais,
raízes e frutas. O álcool é a substância química mais utilizada no mundo. Está presente na
maioria das festas e rituais religiosos. Em toda localidade onde o consumo é aceito, há
uma bebida típica da qual o povo se orgulha.
▪ Síndrome de Abstinência
A síndrome de abstinência inicia horas após a interrupção ou a diminuição do consumo,
Tremores de extremidades e lábios são os mais comuns, associados a náuseas, vômitos,
sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos graves evoluem para convulsões e estados
confusionais, com desorientação temporal e espacial, ilusões e alucinações auditivas,
visuais e táteis (delirium tremens).
▪ Complicações Clínicas
As complicações mais comuns são gastrites, úlceras, hepatite tóxicas, esteatose (acúmulo
de gordura no fígado), cirrose hepática, pancreatites, lesões cerebrais, demência, anestesia
e diminuição da força muscular etc.
54
▪ COCAÍNA E CRACK
A cocaína é produzida a partir de folhas de coca, e geralmente é um pó branco, mas com
outras formas de produção pode-se chegar à uma pedra (crack).
O crack é feito a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É uma
forma impura de cocaína e não um subproduto. O nome deriva do verbo "to crack", que,
em inglês, significa "quebrar", devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais
(as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
▪ Efeitos agudos e crônicos
▪ Síndrome de Abstinência
A abstinência é composta por três fases: o crash, a síndrome disfórica tardia e a
extinção. Essas fases representam a progressão de sinais e sintomas após a cessação do
uso. São elas:
● Fase I – Crash, ou seja, uma redução drástica no humor e na energia. Instala-se
cerca de 15 a 30 minutos após o uso da substância e persiste por aproximadamente
8 horas, podendo estender-se por até quatro dias. O usuário pode apresentar
depressão, ansiedade, paranoia e intenso desejo de voltar a usar a substância (i.e.,
craving ou fissura). A hipersonia e a aversão ao uso de mais cocaína se
estabelecem, e o indivíduo pode despertar para ingerir alimentos.
● Fase II – Síndrome disfórica tardia. Inicia em 12 a 96 horas depois de cessado o
uso e pode durar de 2 a 12 semanas. Nos primeiros quatro dias, são observados
sonolência e desejo pelo consumo da substância, anedonia, irritabilidade, déficits
55
de memória e ideação suicida. As recaídas frequentes são comuns para tentar
aliviar os sintomas disfóricos.
● Fase III – Extinção. Os sintomas disfóricos diminuem ou cessam por completo,
e o craving torna-se intermitente.
▪ MACONHA
▪ Síndrome de Abstinência
Os sintomas de abstinência da maconha são: fissura, irritabilidade, nervosismo,
inquietação, quadros depressivos, insônia, redução do apetite e cefaleia42.
▪ Complicações Clínicas
A maconha prejudica a atenção e a concentração, o que aumenta os riscos de acidentes, e
pode desencadear quadros agudos de pânico e paranoia. O uso em grandes quantidades e
por longos períodos pode deixar a pessoa menos concentrada, sem objetividade e
desmotivada. A maconha pode causar dependência, além de psicose em pessoas que já
têm predisposição para essa doença, câncer de pulmão, acidentes automobilísticos e
laborais.
42
Uma cefaleia é a dor em qualquer parte da cabeça, incluindo o couro cabeludo, pescoço superior, face
e o interior da cabeça
56
▪ ANFETAMINAS – Ecstasy, ice, cristal
Anfetamina é uma droga simpatomimética que têm a estrutura química básica da beta-
fenetilamina. Sob esta designação, existem três categorias de drogas sintéticas que
diferem entre si do ponto de vista químico. Algumas anfetaminas substituídas são
a dextroanfetamina e a metanfetamina. A anfetamina é uma droga estimulante do sistema
nervoso central, que provoca o aumento das capacidades físicas e psíquicas
▪ Síndrome de Abstinência
Fissura intensa, ansiedade, agitação, pesadelos, astenia43, cansaço, lentificação humor
depressivo.
▪ Complicações Clínicas
As anfetaminas podem causar dependência e síndrome de abstinência. A síndrome de
abstinência chega a atingir cerca de 80% dos usuários. Sintomas depressivos e exaustão
podem suceder períodos prolongados de uso ou abuso. Durante o consumo, problemas
cardíacos, como infarto do miocárdio, podem ocorrer.
O consumo de grandes quantidades pode causar convulsões, e o consumo frequente
durante vários meses pode levar a depressão, ansiedade, irritação, impulsividade e
cansaço.
43
Astenia consiste na condição de perda ou diminuição da força física
57
▪ NICOTINA – (cigarro eletrônico / Narguilé)
Tabaco é um produto agrícola processado a partir das folhas de plantas do género
Nicotina. É consumido como uma droga recreativa sob a forma de cigarro, charuto,
cachimbo, rapé, narguilé, charro ou fumo mascado. É usado em pesticidas sob a forma de
tartarato de nicotina. Também é usado em alguns remédios.
Efeitos agudos e crônicos
▪ Síndrome de Abstinência
Em um período que pode ser apenas alguns meses, alguns fumantes já começam a
apresentar os primeiros sintomas de abstinência, que podem persistir por meses e,
dependendo da gravidade, são poucos tolerados.
Entre os sintomas psicológicos relacionados à nicotina, estão humor disfórico ou
deprimido, insônia, irritabilidade, frustração, raiva, ansiedade e dificuldade de
concentração. Já os sinais físicos ligados à nicotina incluem taquicardia, hipertensão,
tremores e sudorese.
▪ Complicações Clínicas
Os prejuízos à saúde pelo cigarro, porém, não são devidos somente à nicotina. O cigarro
contém mais de 4.700 substâncias, algumas cancerígenas e outras diretamente tóxicas
para vários órgãos do corpo, especialmente aos pulmões, que sofrem patologias graves,
como insuficiência respiratória, asma, bronquite e câncer.
O consumo aumenta o risco de problemas cardíaco e circulatórios, como hipertensão,
tremores e sudorese.
58
➢ OPIOIDES
Opioides, uma classe de drogas derivadas da papoula do oriente (incluindo suas variações
sintéticas), são analgésicos altamente suscetíveis ao uso indevido. Os opioides são usados
para aliviar a dor, mas também provocam uma sensação exagerada de bem-estar e, se
usados em exagero, podem levar à dependência e ao vício.
▪ Síndrome de Abstinência
A síndrome de abstinência de opioides geralmente inclui sinais e sintomas de
hiperatividade do sistema nervoso central. O início e a duração da síndrome dependem
da droga específica e da sua meia-vida. Os sintomas podem aparecer tão precocemente
quanto 4 h após a última dose da heroína, pico com 48 a 72 h e persiste por cerca de uma
semana. Ansiedade e fissura pela droga são seguidas por aumento na frequência
respiratória de repouso (> 16 respirações/min), quase sempre com diaforese, bocejos,
lacrimejamento, rinorreia, midríase e cólicas estomacais. Posteriormente, piloereção
(arrepios), tremores, espasmos musculares, taquicardia, hipertensão, febre e calafrios,
anorexia, náuseas, vômitos e diarreia podem se desenvolver.
A abstinência de opioide não provoca febre, convulsões ou alteração do estado mental.
Embora possa ser incomodamente sintomática, a abstinência de opioide não é fatal.
▪ Complicações Clínicas
Um dos mais dramáticos quadros clínicos decorrentes do uso inadequado de opioides é a
intoxicação, que pode ser acidental ou intencional. A presença da tríade representada por
miose, depressão respiratória e como sugere superdosagem de opioides. Outros sintomas
físicos que podem surgir são edema pulmonar, hipoxia, hipotonias e morte.
59
INALANTES TRANQUILIZANTES (loló, lança-perfume)
Os inalantes são uma gama de produtos que produzem vapores que, quando inalados,
podem fazer com que a pessoa se sinta embriagada ou “alta”. Os inalantes são drogas
depressoras. Isso significa que eles diminuem a atividade do sistema nervoso central e as
mensagens que vão entre o cérebro e o corpo.
Efeitos agudos e crônicos
➢ K-9
Apesar de se chamada de maconha sintética, a droga - que também é conhecida
como spice, K4 e K2 - não leva nada da erva natural. É um canabinoide sintético,
derivado da maconha (cannabis) mas modificada em laboratório. A substância química
foi criada nos Estados Unidos, na década de 1990.
Os canabinoides sintéticos fazem parte de um grupo de drogas chamado novas
substâncias psicoativas (NPS, na sigla em inglês). Elas são substâncias não-
regulamentadas que alteram a mente, tornaram-se recentemente disponíveis no Brasil e
destinam-se a produzir os mesmos efeitos que as drogas ilícitas.
60
▪ Principais Efeitos
Referências bibliográficas
DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química:
prevenção, tratamento e políticas públicas. Artmed Editora, 2018.
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