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Soluções para

água potável
em áreas remotas
da Amazônia
Soluções para
água potável
em áreas remotas
da Amazônia

Fundação Amazonas Sustentável


Manaus
2019

1
Ficha técnica

Coordenação geral
Virgilio Viana
2 Água, saneamento e higiene no mundo
Coordenação executiva
Valcleia Solidade e Felipe Irnaldo

Texto e edição
Sérgio Adeodato
6 O Brasil e o desafio da igualdade no acesso
ao recurso hídrico
Colaboração/texto
Magali Cabral

Design 12 O mito da abundância e a realidade da


Walkyria Garotti Amazônia profunda
Fotos
Bruno Kelly
Clovis Miranda
Dirce Quintino 18 Soluções no contexto do desenvolvimento
Michael Dantas sustentável
Caio Palazzo
André Pessoa
Sérgio Adeodato

2 3
1 Água, saneamento N o mundo, segundo dados
da Organização das Na-
tade em 25 anos3. O problema
atinge nove em cada 10 pesso-

e higiene no mundo ções Unidas (ONU), 663 milhões


de pessoas vivem sem água po-
as em áreas mais isoladas dos
centros urbanos. No total, 71%
tável e 2,4 bilhões – principal- da população hoje sem sanea-
mente a população mais pobre mento está no meio rural, onde
da zona rural – não têm sanea- 159 milhões de pessoas captam
mento adequado com coleta e água diretamente nos rios para
tratamento de esgoto1. o sustento diário, evidenciando
Nas últimas décadas, ocorre- a necessidade de soluções vi-
ram avanços em função dos es- sando a melhoria da qualidade
forços associados aos Objetivos e a redução das desigualdades
do Milênio, propostos pela ONU
no horizonte de 2000-2015. Os
números mostram conquistas
quanto ao acesso à água para
beber, cozinhar e produzir, mas
a questão da qualidade ainda
permanece negligenciada e
representa um grande desafio:
80% do recurso hídrico usado
pela população mundial é des-
carregado no meio ambiente
sem qualquer forma de trata-
mento, poluição que afeta o
bem-estar do próprio ser huma-
O acesso à água limpa, saneamento e práticas
no e a biodiversidade da qual
de higiene é crucial à saúde e bem-estar humano.
depende para viver2.
Constitui elemento estratégico para a produção Cerca de 1 bilhão de habitan-
e subsistência, educação escolar e dignidade de tes não possuem banheiro e
populações que buscam resiliência em ambientes defecam a céu aberto, o que
saudáveis. É, desta forma, condição básica eleva o risco de contaminação
ao desenvolvimento sustentável. da água e de doenças, mesmo
o déficit tendo caído pela me-

4 5
no acesso a esse recurso vital4. vimento, 88% dos casos são as- Doenças de Emergência para a Infância
No mundo, oito em cada 10 indi- sociados à falta de saneamento relacionadas à água das Nações Unidas (UNICEF), o
víduos ainda sem água potável e abastecimento de água. Além e saneamento são mundo poderia economizar US$
vivem longe das cidades. disso, as repetidas infecções in- uma das principais 263 bilhões por ano com a ofer-
Mesmo entre as pessoas com testinais implicam em quadros causas de morte em ta de condições adequadas de
abastecimento hídrico, 1,2 bi- de desnutrição, formando um abastecimento hídrico e sanea-
crianças menores de
lhão têm como fonte manan- ciclo vicioso que dificulta o de- mento. No caso do acesso uni-
cinco anos
ciais sob risco sanitário. Desta senvolvimento infantil com re- versal a esses serviços, apenas a
forma, pelo menos um em cada flexo em distúrbios capazes de redução da diarreia representa-
quatro habitantes do planeta influenciar a qualidade de vida no total ocorram 3,5 milhões de ria US$ 11,6 bilhões a menos de
bebe água contaminada por na idade adulta5. mortes por ano por problemas custos com saúde por ano6.
coliformes fecais, o que resul- Dentre as doenças que po- relacionados à água, esgoto Há diferentes referências
ta em doenças. A diarreia mata dem ser evitadas por meio de e falta de higiene, no mundo, apontando a relação custo-be-
2,2 milhões de indivíduos por um melhor saneamento básico com impactos econômicos nefício dos investimentos no se-
ano no mundo, em especial estão ainda a esquistossomose, devido aos custos hospitalares tor. A UNICEF estima que cada
crianças com menos de cinco cólera, hepatite A, malária, fila- e de afastamento do trabalho. US$ 1 investido gera US$ 8 em
anos – nos países em desenvol- riose e tracoma. Estima-se que Segundo o Fundo Internacional benefícios gerados para além

Custos e benefícios do investimento em água,


saneamento e higiene/mundo (2019-2023)

Investimento Benefícios Expectativa Retorno do


total à saúde de ganho investimento
(vidas salvas, econômico
milhões) no período

Água, US$ 38 bilhões 2,3 US$ 126 3,9


saneamento bilhões
e higiene

Controle de US$ 26 bilhões – US$ 79 – 353 2,9 – 13


resistência bilhões
antimicrobiana
(AMR)

Resiliência US$ 7 bilhões 0,1 – 3,9


climática

Fonte: OMS/WHO Water, Sanitation and Hygiene Strategy 2018-2025

6 7
Globalmente, três vezes o investimento em
mulheres e crianças políticas de água, saneamento
gastam cerca de 200 e higiene, além evitar a perda
milhões de horas todos de 1 milhão de vidas devido ao
déficit nesse setor, entre 2019 e
os dias, recolhendo
20237. O balanço positivo pode-
água em mananciais
rá ser maior, com a integração
distantes das casas
desses investimentos a pro-
gramas específicos de saúde,
da saúde e da redução da mor- como o controle da resistência
talidade, incluindo os ganhos antimicrobiana (AMR), além da
com a educação e a maior pro- atenção à resiliência climática
dutividade da economia. (veja tabela na pág. 6).
A Organização Mundial da A estratégia ganha dimensão
Saúde (OMS) tem como meta ainda maior em linha com os
alcançar retorno financeiro de Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS), estabeleci- ciente e sustentável de água,


dos pela ONU em 2015 com me- reduzindo o número de pes-
tas ambientais, sociais e econô- soas em situação de escassez.
micos no horizonte de 20308. O objetivo inclui a restauração
O ODS 6 visa assegurar nes- e proteção de ecossistemas
te período a disponibilidade de naturais relacionados à água;
água e saneamento para todos, a gestão integrada de manan-
com melhoria da qualidade e ciais, inclusive via cooperação
redução da poluição. Entre as transfronteiriça; e o apoio e for-
metas, está diminuir pela meta- talecimento das comunidades
de a atual proporção de águas locais para o alcance de maior
residuais não tratadas e aumen- acesso e melhor qualidade do
tar o reuso em níveis seguros. recurso hídrico.
Até 2030, a agenda preten- O tema da água e sanea-
de garantir a captação ef i- mento básico é central à agen-

8 9
da global de desenvolvimento A água na agenda 2030
sustentável. Tem interface com A educação tem o
outros objetivos, como a erradi- papel de potencializar 6.1
cação da pobreza, redução das avanços no Acesso
universal
desigualdades, educação de saneamento básico à água
potável
qualidade, consumo e produ- para ganhos 6.5
Gestão
6.2
Saneamento
ção responsáveis, e adaptação à também na saúde integrada e higiene
do recurso para
mudança global do clima, além hídrico todos
ODS 6
da igualdade de gênero. ÁGUA POTÁVEL
No Brasil, uma em cada sete E SANEAMENTO
mulheres não tem o recurso na que a universalização dos ser- 6.6 6.3
Proteção e Melhoria
torneira e para obtê-lo gastam viços de saneamento no Brasil restauração de da qualidade
ecossistemas da água
na tarefa o tempo que poderia tiraria imediatamente 630 mil
6.4
ser utilizado em atividades de mulheres da pobreza, a maior Uso
eficiente
educação ou trabalho. Esti­ma-se parte delas negras e jovens9. da água

10 11
2 O Brasil e o desafio S egundo o Instituto Trata Bra-
sil, a parcela da população
soas não têm banheiro ou qual-
quer forma de esgotamento

da igualdade no acesso brasileira com coleta de esgoto


pulou de 38,4% para 51,92% entre
sanitário, índice que coloca o
Brasil acima de outros 118 países

ao recurso hídrico
2004 e 2016, enquanto no mes- quanto ao número de habitan-
mo período o acesso a serviços tes nessas condições.
de distribuição de água tratada Pelos dados do Sistema Na-
aumentou de 80,6% para 83,5%, cional de Informações sobre
mas em proporções desiguais Saneamento (SNIS – 2016), do
conforme a região do País. No volume total de esgoto cole-
total, 100 milhões de brasilei- tado no Brasil, apenas 44,9%
ros não possuem saneamen- é efetivamente tratado. O res-
to adequado e 35 milhões não tante polui solos, mananciais de
têm água tratada em suas casas. água e mares, o que demanda
Desse total, 20 milhões estão em parcerias para investimentos
áreas rurais e remotas10. e inovações na busca de uma
Cerca de 4,4 milhões de pes- nova realidade11.

O Brasil está atrás de 105 países


no acesso ao saneamento básico
País Acesso Acesso ao serviço
à água de esgoto

Brasil 83,3% 51,9%

Jordânia 96,9% 98,6%

Iraque 88,6% 86,5%


Nas últimas décadas, os índices de acesso à Marrocos 85,4% 76,7%
água melhoraram no País, mas a realidade da África do Sul 93,2% 66,4%
coleta e tratamento de esgoto e do descarte de China 95,5% 76,5%
resíduos permanece como um dos principais Bolívia 90% 50,3%
desafios socioambientais, com implicações para Chile 99% 99,1%
o desenvolvimento econômico e o bem-estar da México 96,1% 85,2%

população, em especial nas áreas mais pobres e Peru 86,7% 76,2%

isoladas dos grandes centros Fonte: Instituto Trata Brasil/Benefícios Econômicos e Sociais
da Expansão do Saneamento Brasileiro 2018

12 13
Como alternativa de captação O cenário de poluição se reflete R$ 5,8 bilhões de
hídrica, grande parte dos muni- na incidência de doenças associa- renda do trabalho
cípios brasileiros é abastecida das à água. Em 2013, o Ministério deixaram de ser
por água subterrânea. São 2,5 da Saúde notificou 390 mil inter- gerados por conta da
milhões de poços artesianos, nações decorrentes de diarreias degradação ambiental
88% clandestinos, muitos ex- no Sistema Único de Saúde (SUS),
de áreas por falta de
postos ao risco de contamina- ao custo de R$ 125 milhões, sem
saneamento básico
ção: o subsolo do País recebe contar o prejuízo com as horas
em 201514
cerca de 4,3 milhões de metros não trabalhadas devido ao afas-
cúbicos por ano de esgoto, pro- tamento do trabalho. Em 2015,
venientes das diversas fontes12. esse valor foi de R$ 872 milhões13. Estudo do Trata Brasil estima
que, em duas décadas (2016-
2036), já descontando os cus-
Custos e benefícios da expansão do tos da universalização do sane-
saneamento no Brasil – 2016 a 2036 amento, os ganhos econômicos
e sociais trazidos pela expansão
em R$ bilhões* dos serviços de água e esgoto
Custos e benefícios
por ano 2016 – 2036 alcançariam R$ 1,125 trilhão.
Redução dos custos com a saúde 0,297 5,949 Além da redução de custos
Aumento da produtividade do trabalho 9,519 190,374 com saúde, investir em soluções
Renda da valorização imobiliária 22,373 447,457 para o saneamento gera ganhos
Renda do turismo 2,143 42,860
econômicos paralelos devido à

Subtotal externalidades (A) 34,332 686,641


maior longevidade da popula- CRIANÇAS E
ção, à melhoria da produtivida- ADOLESCENTES/
Renda gerada pelo investimento 15,097 301,933
de e escolaridade, à valorização BRASIL
Renda gerada pelo aumento de operação 24,496 489,920
imobiliária e ao desenvolvimento
Impostos ligados à produção** 2,141 42,825
de atividades como o turismo.
Subtotal de renda (B)

Total de benefícios (C=A+B)


41,734

76,066
834,679

1.521,319
De acordo com o estudo, traba- 14,3% não têm
lhadores que moravam em áreas acesso à água potável
Custo do investimento -12,063 -241,269 sem acesso aos serviços de cole-
Aumento de despesas das famílias -7,716 -154,314 ta de esgoto tinham salários em
Total de custos (D) -19,779 -395,582 média 6,8% menores em compa- 3,1% não possuem
Balanço (E=C+D) 56,287 1.125,737 ração aos residentes em lugares banheiro em casa
Fonte: Instituto Trata Brasil/Benefícios Econômicos e Sociais da Expansão do Saneamento Brasileiro 2018 com saneamento.

14 15
Rede de água Retrato do saneamento no Brasil
Média da Amazônia Números da Amazônia indicam a desigualdade
Restante do Brasil RR PA AP TO MA PI
83,08% 80,79 72,88 45,72 6,27 37,07 13,02 80,62 30,81 52,07 9,18 76,3 11,37
41,79 75,35 6,29 40 6,59 66,19 25,09 34,20 11,56 59,77 10,24 48,12
62,26% CE
0/100 mil hab. 9.17/100 mil hab. 1.3/100 mil hab. 5.6/100 mil hab. 32.02/100 mil hab.
0/100 mil hab. 0.75/100 mil hab. 0.74/100 mil hab. 0.14/100 mil hab. 0.13/100 mil hab. 63,28 37,26
25,76 45,51
AM RN
79,66 43,59 77,87 29,71
9,37 68,92 23,37 49,75
1.77/100 mil hab. PB
Coleta de esgoto 0.74/100 mil hab. 73,69 38,10
35,77 37,89
43,66% AC PE
49,09 18,98 73,13 31,01
10,07 60,01 27,73 52,01
3.55/100 mil hab. AL
16,36% 4.62/100 mil hab. 74,35 20,04
16,85 44,92
RO SE
47,67 7,97 85,33 30,86
4,05 55,75 22,99 47,65
0.82/100 mil hab. BA
0.39/100 mil hab. 79,69 50,42
37,56 36,77
MT
ES
88,29 33,23
79,89 41,77
32,49 45,96
52,23 38,58
0.9/100 mil hab. RJ
0.03/100 mil hab. 92,48 33,64
65,81 31,01
MS MG
85,73 42,46 81,76 37,88
47,10 32,58 69,99 35,60
GO DF RS SC PR SP
88,86 47,95 98,71 84,42 86,14 25,82 88,34 28,01 93,74 71,58 96,25 64,56
52,25 26,37 85,10 33,75 31,08 38,19 22,96 36,64 69,53 34,53 89,65 35,26

Rede de Água: Índice de atendimento Tratamento de esgoto: Índice de esgoto


total de água (%) tratado referido à água consumida (%)
Coleta de Esgoto: Índice de atendimento Perdas de água: Índice de perdas na
total de esgoto referido aos municípios distribuição (%)
atendidos com água (%)

AMAZÔNIA LEGAL: DOENÇAS RELACIONADAS À FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO

Amebíase: Medição por internações por 100 mil habitantes


Leptospirose: Medição por internações por 100 mil habitantes

Instituto Trata Brasil/Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2017)/Visagua - InfoAmazônia

16 17
3 O mito da abundância N a Região Norte, nove em
cada 10 pessoas não têm
sa em indicadores sociais e eco-
nômicos inferiores ao restante

e a realidade da coleta de esgoto nas residên-


cias. Apenas 57,5% da população
do Brasil. De acordo com o Índi-
ce de Progresso Social (IPS), que

Amazônia profunda
é abastecida por água tratada agrega dados na dimensão “Ne-
e quase a metade do volume cessidades Humanas Básicas”,
produzido é desperdiçada15. “Fundamentos de Bem-Estar”
Com 27,5 milhões de habitan- e “Oportunidades”, o panora-
tes, a Amazônia expõe dife- ma da maior floresta tropical
rentes realidades ambientais, do mundo piorou entre 2014 e
econômicas, sociais e culturais 2018. No quesito “água e sanea-
– um território de superlativos e mento”, o índice amazônico cor-
contrastes, também no quesito responde a menos da metade
“água e saneamento”. da média nacional18.
Trata-se do maior sistema hi-
drográfico do planeta, respon-
sável por 15% de toda água doce
que chega aos oceanos16. Só o rio
Amazonas, com seus 6.992 km
e mais de 1 mil afluentes, lança
209 mil metros cúbicos por se-
gundo no Atlântico. Além disso,
a floresta da região transpira 20
bilhões de toneladas de água
por dia17, em cenário de áreas
naturais que abriga metade
Se no Brasil como um todo a oferta de água
da biodiversidade do planeta.
limpa e saneamento básico exige atenção
E também é morada de ribeiri-
especial de governos, empresas, organizações nhos, indígenas e demais povos
não governamentais e cidadãos, em lugares tradicionais, além da população
mais remotos e distantes dos principais centros urbana crescente.
econômicos – como a Amazônia – o quadro Apesar da riqueza natural, a
é ainda mais desafiador. Amazônia convive com uma
baixa qualidade de vida, expres­

18 19
O problema se integra a um ção e terras indígenas, apenas No período de seca, a beirada Moradores de áreas
quadro que combina degrada- 9,37% da população tem coleta dos rios se afasta das comuni- sem acesso à rede de
ção ambiental, principalmente de esgoto – e, neste caso, quase dades, dificultando a captação distribuição de água e
devido ao desmatamento; si- a totalidade das pessoas está nas hídrica – e a contaminação por de coleta de esgotos
tuação social precária e pouca cidades. No total, 79,6% possuem esgoto, animais mortos e outros têm um maior atraso
geração de riqueza. E constitui rede de água, porém sob a ame- agentes se torna exposta, sobre-
de escolaridade
uma das principais barreiras a aça de contaminação devido à tudo em locais sem qualquer
que se reflete na
serem vencidas na busca pelo poluição e a outros fatores asso- tipo de estrutura sanitária.
perda de produtividade
desenvolvimento sustentável, ciados às peculiaridades da geo- A falta de energia elétrica im-
e de remuneração das
com redução de desigualda- grafia e da hidrologia da região19. pede a captação no rio e o bom-
des e combate à pobreza, em O regime das águas que ga- beamento para reservatórios e,
gerações futuras. O custo
especial quando se olha para a rante a locomoção, escoa a nas regiões de várzea, a situação
desse déficit devido à
realidade das áreas remotas da produção e rege a vida na Ama- é mais complexa: nessas áreas
falta de saneamento
chamada “Amazônia profunda”. zônia está também associado inundáveis, as casas são cons-
alcançou R$ 16,6 bilhões
No Estado do Amazonas, com às dificuldades do acesso ao truídas sobre a água, e como em 2015, no Brasil21
50,6% do território protegido saneamento e abastecimento não é possível perfurar poços
como unidades de conserva- hídrico de qualidade. No perío- artesianos, os moradores fazem dificuldade logística das longas
do da cheia, durante seis meses a captação hídrica nos mesmos distâncias, alto custo e falta de
no ano, áreas onde as comuni- locais que recebem o esgoto do- prioridade na agenda pública.
dades mantêm as fossas sép- méstico por eles gerados. A abundância dos rios escon-
ticas e criam galinha e porco, Apesar de melhorias em al- de o paradoxo que envolve os
por exemplo, são inundadas. gumas áreas, em muitas os problemas do baixo saneamen-
banheiros precários persistem to e acesso à água de qualida-
(foto à esquerda). de, com aumento dos riscos de
O Censo Escolar da Floresta, diarreia infantil e outras doen-
realizado pela FAS em parceria ças. O trabalho dos agentes co-
com a UNICEF, apontou que munitários de saúde, como no
70% das escolas amazonenses programa Primeira Infância Ri-
não tinham banheiro dentro do beirinha, mantido pela FAS, tem
prédio. Em 99% não havia tra- contribuído na prevenção de
tamento de esgoto adequado forma que as crianças de hoje se
e apenas 24% possuíam água tornem futuros adultos sadios,
tratada20. Além disso, a coleta aptos a usar a floresta com inte-
seletiva de resíduos enfrenta a ligência, sem derrubá-la.

20 21
Estoque amazônico é estratégico no
cenário de escassez global

A demanda mundial de água deverá crescer 55% até 2050,


quando 40% da população do planeta estará vivendo em áreas
A floresta, o saneamento As projeções do Painel Inter- com escassez do recurso, segundo a ONU. O quadro aponta para
básico e a mudança do governamental sobre Mudan- o aumento da disputa entre os diferentes usos dos mananciais:
clima global ças Climáticas (IPCC) indicam abastecimento público, agricultura, geração de energia e produção
As mudanças climáticas glo- a possibilidade de redução das industrial. A tendência é influenciada pelo crescimento da popu-
bais, que interferem regional- chuvas de 40% a 45%, com a lação, urbanização, políticas de segurança alimentar e energética,
mente no regime de chuvas intensificação da estação seca mudanças na dieta e processos macroeconômicos, como a globali-
com risco à manutenção da na Amazônia, até o final des- zação do comércio. Nesse contexto, o gigantesco estoque hídrico
biodiversidade e da qualidade te século23. Em 2005, a região da Amazônia – associado à importância da floresta para o meio
de vida principalmente entre sofreu o impacto da estiagem ambiente global – poderá representar um diferencial competitivo
os mais pobres, também repre- mais severa em um século. Cin- estratégico ao País.
sentam um desafio ao acesso co anos depois, em 2010, a seca A desigualdade no acesso, com conflitos pelo uso da água, tem
à água limpa e saneamento na foi ainda mais intensa, expondo o potencial de impactar significativamente as economias locais e
Amazônia. O desmatamento rochas do fundo do rio Negro o bem-estar humano, o que requer soluções de governança e tec-
intensif ica a vulnerabilidade com pinturas rupestres feitas nologias para se chegar a novos modelos de utilização do recurso
quanto aos impactos do aque- durante a era glacial, há milha- natural. Estima-se que cerca de 20% dos aquíferos do mundo estão
cimento global à Amazônia, que res de anos24. A busca por novas sobre-explorados e a expansão das cidades, o desmatamento, as
reúne 73% dos recursos hídricos tecnologias e soluções para o práticas produtivas inadequadas e a poluição ameaçam a capaci-
superficiais do País, o triplo da acesso à água e saneamento dade da natureza de fornecer serviços vitais à humanidade como
vazão média das demais regiões em áreas remotas do bioma a provisão de água limpa.
hidrográficas brasileiras22. deve considerar esses fatores.

22 23
4 Soluções para a
E m conjunto com outros in-
vestimentos, as ações de
água e saneamento melhoram
A troca de
experiências é
essencial à melhoria
Amazônia profunda
a qualidade de vida e estimulam do acesso à água
ribeirinhos a permanecer na flo-
resta, sem a necessidade de mi-
grar para as cidades em busca
de alternativas. São tecnologias
simples, colaborativas e de baixo A complexidade e a dimensão
custo, condizentes com a cultura dos desafios socioambientais
e o modo de vida local. Além da neste campo são tão grandes
saúde, ganham também a renda que dificilmente se conseguirá
das famílias, a educação escolar gerar impacto significativo iso-
e o exercício da cidadania. ladamente.
O trabalho empreendido até Em dezembro de 2015, o direi-
agora em áreas remotas da to humano à água e saneamen-
Amazônia indica que existem to foi reconhecido pela ONU
diversas soluções para o acesso como indispensável para prover
à água de qualidade e sanea- meios de subsistência saudáveis
mento, com diferentes custos e fundamentais à dignidade de
e benef ícios. A expectativa é todos os seres humanos. O tema
de que as experiências sirvam foi abraçado pelo Papa Francis-
como referência para políticas co como um dos destaques da
públicas e, desta forma, sejam Encíclica Laudato Si, inspirando
replicadas na Amazônia. Em fóruns internacionais promovi-
sinergia com esses objetivos dos pela Igreja Católica.
De sistemas de captação e tratamento movidos a
e ações, um conjunto de insti- Em fevereiro de 2017, a FAS
energia solar à coleta de água da chuva, perfuração de
tuições da região tem desen- representou o Amazonas no
poços artesianos e distribuição de sachês purificadores, volvido iniciativas relevantes, workshop “Direito Humano à
as iniciativas articuladas pela Fundação Amazonas somando esforços rumo a uma Água”, realizado na Pontifícia
Sustentável (FAS) no âmbito do PROCOMUNIDADES nova realidade. O intercâmbio Academia do Vaticano para dis-
estão associadas à melhoria da qualidade de vida de conhecimento se mostra es- cutir o assunto no contexto da
e ao empoderamento social, como estratégia de tratégico para o alcance de uma conexão entre o acesso a esse
valorizar a floresta mantida em pé. maior amplitude de resultados. recurso vital e a paz.

24 25
Na época do tempo seco, como não havia bomba para puxar água do Com a expansão da comunidade para abrigar os filhos dos moradores
rio, a gente a carregava no pote sobre a cabeça e depois coava no pano que se casavam e precisavam de moradia, a solução de baixo custo de
para tirar a sujeira. Hoje captamos a água por meio de um sistema de acesso à água foi a instalação de um poço artesiano associado a um
energia solar que também faz o tratamento com raio ultravioleta (400 sistema híbrido (energia solar e da rede elétrica) para o tratamento
litros por hora). A comunidade tem um reservatório de 5 mil litros para antes da distribuição até as casas. A alternativa chegou em março
acesso à água potável para beber e cozinhar. Já a água não tratada, que de 2019. A comunidade criou um regulamento pelo qual as famílias
serve para lavar roupa e limpar a casa, chega às torneiras por meio de se reversam a cada dois meses na manutenção do sistema, porque
uma rede de distribuição. Nestes dois anos, após a instalação do sistema, precisamos zelar pelo que é nosso. Foi uma conquista importante:
os casos de diarreia e malária diminuíram muito e periodicamente antes era necessário atravessar o igarapé de barco para pegar água no
temos recebido a visita de grupos de estudantes interessados em poço que fica muito distante, na parte da frente da comunidade, o que
conhecer o nosso modelo. no período de cheia se tornava um problema ainda maior maior.

Francimar de Oliveira, responsável pela manutenção Carlos Alves da Costa Júnior,


do sistema de água na comunidade São Francisco do Solimõezinho, presidente da associação da comunidade
Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Puranga-Conquista. Nossa Senhora Perpétuo Socorro, RDS Rio Negro.

26 27
P&G Sachet

Pó que purifica
Uma alternativa simples e de baixo custo que faz a diferença na
qualidade de vida em regiões remotas da Amazônia

Estar rodeado de rios e igara- desde 2017, pelo menos nove


pés, em umas das regiões mais mil famílias residentes em 16
ricas em recursos hídricos do Unidades de Conservação (UC)
planeta, e não ter água tratada passaram a receber sachês puri-
para prover o consumo da fa- ficadores de água (P&G Sachet),
mília é tão contraditório quanto uma tecnologia de baixo custo
cruel. Essa tem sido a realidade que torna potável a água con-
de moradores de áreas remo- taminada do entorno.
tas da região Amazônica. Mas, Cada sachê contendo quatro

gramas de pó purificador trata do PROCOMUNIDADES, com


até 10 litros de água e isso signi- apoio das associações locais de
fica muito na vida dessas famí- moradores e dos agentes comu-
lias ribeirinhas. Quando não tra- nitários de saúde da região.
tada, a água poluída oriunda de Entre as populações beneficia-
rios e igarapés acarreta doenças das estão cerca de 200 famílias
em adultos e crianças como di- residentes na Reserva Extrativis-
senteria, amebíase, hepatite A, ta (Resex) do Rio Gregório. Situ-
cólera e verminoses. ados bem no centro da maior
A Fundação Amazônia Susten- bacia de água doce do planeta,
tável (FAS), em parceria com a a última coisa que se poderia
Procter & Gamble (P&G) - multi- pensar é que havia ali um sé-
nacional que desenvolveu o pro- rio problema de falta de água
duto - coordena a distribuição de qualidade, sem mencionar
dos sachês nas comunidades que as pessoas adoecidas ainda
ribeirinhas da região, por meio sofriam com a ausência de uni-

28 29
dades de saúde perto. Na loca- afetando todos os moradores. pó purificador contidos no sa- buscava o reaproveitamento
lidade, o uso do pó purificador é A quantidade de sachês dis- chê em um recipiente com até da água suja usada na lavagem
ainda mais essencial devido ao tribuída até agora nesta e nas dez litros de água, mexer inin- de roupas, mas o resultado saiu
vaivém das águas: no período demais UC já foi suficiente para terruptamente durante cinco melhor que a encomenda. A
da cheia, o Rio Gregório sobe e purificar até 480 mil litros de minutos e, em seguida, deixar invenção, que atende às nor-
inunda os terrenos das comu- água de igarapé, de rio ou de o líquido em repouso por ou- mas da Organização Mundial
nidades, áreas onde existem chuva. A utilização do produto tros cinco minutos. Depois de de Saúde, permitiu que pesso-
criações de galinha, porco e boi. é muito simples. É só atentar filtrar utilizando um pano limpo as em mais de 75 países puri-
E pior, onde ficam as fossas sép- para a dosagem certa de pó e e esperar 20 minutos, o líquido f icassem água contaminada
ticas das casas. Historicamente de água e para as instruções estará pronto para o consumo: de forma simples, econômica
sempre foi no período das en- de uso, que é de fácil assimi- potável, insípido, inodoro e e segura.
chentes dos rios que se regis- lação, podendo ser preparada transparente.
travam o maiores os índices de pelas próprias famílias usuárias. A tecnologia do sachê P&G foi
doenças de veiculação hídrica, Basta despejar os 4 gramas de desenvolvida pelos cientistas da
2015 a 2019
multinacional, em colaboração
com o U.S. Centers for Disease 5.494 caixas
Control and Prevention (CDC). 1.318.609 sachês
Originalmente, o experimento

Ano 2018

Unidade de Caixas Sachês Famílias


Conservação

Canumã 100 24.000 432

Cujubim 20 4.800 42

Madeira 50 12.000 1.097

Mamirauá 60 14.400 2.067

Piagaçu Purus 280 67.200 985

Total 510 122.400 4.623

30 31
Rio limpos para mares limpos

Desde o lançamento da ini- O desafio de acabar com a


Reciclagem e descarte correto ciativa de combate à poluição poluição do plástico nos mares
plástica, a capital amazonense começa nos rios, muito mais do
A mobilização contra o despejo de lixo nos rios amazônicos continua sendo palco de uma que nas praias. Plásticos lança-
evita a poluição também dos mares série de atividades de mobiliza- dos nas margens são carregados
ção em prol da conservação dos a longas distâncias, poluindo os
Quase toda a poluição dos as populações sobre os danos afluentes e igarapés da região, próprios rios e os oceanos de
oceanos, ou pelo menos 80%, à saúde e aos ecossistemas promovidas pela Fundação todo o mundo. O microplástico
é produzida em terra. Cursos fluviais e marinhos, as Nações Amazonas Sustentável (FAS) que entra na carne do peixe é
de água doce conduzem cerca Unidas para o Meio Ambiente em parceria com a ONU Bra- ingerido pelas pessoas e tem
de 13 milhões de toneladas de lançaram em julho de 2018 a sil e com a Secretaria do Meio efeitos extremamente preocu-
plástico – sem falar em esgotos, campanha “Rios Limpos para Ambiente do Amazonas (SEMA). pantes na saúde humana e no
metais pesados, pesticidas, en- Mares Limpos”, em Manaus Palestras com especialistas, ro- ecossistema aquático e terrestre.
tre outros poluentes –, todos os (AM), cidade banhada em parte das de conversa e intervenções A campanha está alinhada a
anos, desde o interior dos terri- por um dos mais emblemáticos artísticas em áreas da capital dois dos Objetivos de Desen-
tórios até os mares. Para alertar rios do mundo, o Amazonas. integram as programações. volvimento Sustentável das Na-

32 33
ções Unidas (ODS): o de número ou em pranchas de stand up ção dos igarapés, rios e mares, selheiro da FAS, representou a
6, que quer assegurar a disponi- paddle, para coleta de resíduos realizada no Dia Mundial dos Cobra Honorato; a performer e
bilidade e gestão sustentável da sólidos. Em uma das edições, foi Rios, foi um ensaio fotográfico, drag amazônica Uýra Sodoma, a
água e saneamento para todas apresentado o aplicativo Littera- que reuniu, do lado de cá da energia do caos; e a professora,
e todos; e o 14, que visa garantir ti, que rastreia o lixo em tempo lente, quatro fotógrafos reno- artesã e líder ribeirinha Izolena
a conservação e uso sustentável real, geolocalizando, qualifican- mados – Bruno Kelly, Rodrigo Garrido, a Mãe D’Água.
dos oceanos, dos mares e dos do e identificando de que mar- Tomzhinsky, Maiara Gonçal- A finalidade de toda essa mobi-
recursos marinhos para o de- ca provém. Criado pelo empre- ves e Matheus Belém – e, do lização em torno do descarte cor-
senvolvimento sustentável. endedor norte-americano Jeff lado de lá, um time de quatro reto do lixo plástico pode ser resu-
Na iniciativa, vale destacar a Kirschner, o aplicativo, gratuito modelos ativistas, também de mida em uma ideia: é importante
intervenção do Grito D’água, e disponível para Android e iOS, peso, encarnando seres místi- entender que no ato de jogar o
uma ação ambiental voluntá- busca mobilizar seus usuários cos e encantados da Amazônia lixo fora, não existe o “fora”. Vive-
ria que periodicamente reúne acerca da responsabilidade que profunda: A Miss Brasil 2018, a -se na Terra, um sistema fechado,
dezenas de pessoas para limpar todos têm com o lixo que geram. amazonense Mayra Dias, foi a onde tudo permanece onde está.
o Lago Tarumã, na Zona Oeste Outra ação de impacto de Ninfa do Rio Negro; o ator e am- “Jogar fora” é o mesmo que varrer
de Manaus, a bordo de lanchas conscientização contra a polui- bientalista Victor Fasano, con- a sujeira para debaixo do tapete.

34 35
Aliança Água+Acesso

O poder do sol
Sistema abastecido por energia fotovoltaica despolui água para
consumo humano em áreas isoladas na região

Girar o registro e ver água po- abundância de recursos hídri-


tável escorrendo da torneira é cos, como na Amazônia.
algo tão corriqueiro nas grandes Em 2017, para atender a de-
cidades que o valor intrínseco a manda de uma tribo indígena
esse simples gesto passa des- de etnia Deni, com registros de
percebido na correria do dia a graves problemas de saúde re-
dia. No entanto, segundo o Ins- lacionados à ingestão de água
tituto Trata Brasil, 35 milhões de poluída, pesquisadores do Ins-
brasileiros ainda não têm acesso tituto Nacional de Pesquisa da
a essa experiência, ou a esse di- Amazônia (Inpa) desenvolveram
reito fundamental, e uma parte uma tecnologia nomeada “Eco-
deles reside em regiões onde há lágua” (anteriormente era cha-
mada de Água Box) que utiliza
raios ultravioleta (UVB) para pu- de raios ultravioleta tipo C, for- a iniciativa foi implementada
rificar água de rios tornando-a necidos por energia solar, que pela FAS, dentro do PROCOMU-
potável em poucos segundos. retiram dos microrganismos a NIDADES, que apoia comunida-
O Ecolágua purifica até 400 li- capacidade de se multiplicarem des ribeirinhas de unidades de
tros de água por hora e vem sen- por meio de um dano fotoquí- conservação com infraestrutura
do implementado em comuni- mico em sua estrutura. e atividades de geração de renda
dades ribeirinhas e indígenas A replicação da tecnologia foi para a manutenção da floresta
em Unidades de Conservação, viabilizada por meio da Aliança em pé.
(UC) apoiadas pela Fundação Água+Acesso, programa articu- Conforme as características e
Amazônia Sustentável (FAS), lado e financiado pelo Instituto a demanda da área, a tecnolo-
como alternativa à ausência Coca-Cola Brasil e Instituto Avina gia de acesso ao recurso hídri-
de serviços de abastecimento. junto a parceiros, em diferentes co pode ser a captação direta-
A método consiste na difusão regiões brasileiras. No Amazonas, mente no rio ou a construção

36 37
de poço artesiano, com o tra- to por meio da energia solar. longa distância. Nos treinamen-
tamento da água por UVB, em Como resultado, as comuni- tos, os moradores são orienta- ÁGUA+ACESSO
alguns casos utilizando sistema dades passaram a ter forneci- dos a cuidar da manutenção 2017-2019/AMAZONAS
híbrido de energia (solar e gera- mento de água com qualidade dos equipamentos.
dor ou rede elétrica). e de forma constante, ficando Em 2017, o Água+Acesso inves- Sistema de captação direta do
rio – Modelo 1
A inovação tem se mostrado menos propensas às doenças tiu cerca de R$ 1,5 milhão no Eco-
bastante apropriada à Região de veiculação hídrica. E não é lágua, em poços artesianos com 3 unidades de conservação
Amazônica e às condições das só isso. A instalação dos equi- sistema de tratamento e gera- 5 comunidades
comunidades ribeirinhas por ser pamentos facilitou a vida de dores movidos a energia solar,
36 famílias
um sistema livre de produtos famílias que não mais terão de impactando 15 comunidades e 4
químicos, com funcionamen- carregar baldes com água por mil pessoas no Amazonas, Pará
1.210 metros de rede
e Ceará. Em 2018, o programa R$ 191.323 investidos
foi ampliado de três para oito
estados, e de 15 para 100 comu- Sistema híbrido de captação e
tratamento UVB – Modelo 2
nidades, atendendo a 50 mil pes-
soas com acesso à água segura 3 unidades de conservação
de forma sustentável também 4 comunidades
em Minas Gerais, Espírito Santo,
143 famílias
Pernambuco, Bahia e Piauí.
O objetivo do Aliança Água+ 1.660 metros de rede
Acesso é justamente unir as R$ 324.240 investidos
principais organizações que
atuam no acesso à água no Bra- Sistema de poço artesiano e
tratamento UVB – Modelo 3
sil para buscar soluções inova-
doras, com impacto relevante 2 unidades de conservação
e duradouro. No Amazonas, até
5 comunidades
maio de 2019, a iniciativa bene-
ficiou mais de 400 famílias de
223 famílias
comunidades das Reservas de 4.210 metros de rede
Desenvolvimento Sustentável R$ 254.000 investidos
(RDS) Mamirauá, Puranga Con-
quista e Rio Negro. Fonte: FAS

38 39
Escola D´Água Swarovski

Durante a estação seca, a dis- para enfrentar os desafios hídri-


Os alunos, a escola e a água ponibilidade hídrica é reduzida, cos que se apresentam com a
pois a água torna-se lamacenta mudança climática. Para isso,
Professores e alunos da Amazônia profunda (com muitos sedimentos de ar- o projeto Escola D’água traz as
são apresentados a metodologia que desperta para a gila) e os resíduos sólidos ficam seguintes premissas: ensinar
importância da conservação dos rios
aparentes. Algumas das taxas dos princípios da gestão sus-
de doenças relacionadas à água, tentável da água; permitir que
A fim de preparar as novas truir uma resiliência estrutural que já são altas, aumentam ain- as próprias comunidades resol-
gerações para a compreensão de longo prazo, investindo em da mais nessa época do ano. As vam seus desafios; contribuir
e prática do uso sustentável meios de subsistência susten- comunidades estão geografica- para um mundo onde todos
da água diante de um cenário táveis, inf raestrutura social e mente isoladas, só alcançadas tenham acesso a água segura e
hídrico cada vez mais desafia- empoderamento local. de barco. A mais distante fica a confiável, além de saneamento
dor, com taxas crescentes de Juntas, as comunidades en- três dias de viagem até a área adequado. O método também
inundações e secas intensas, a volvidas somam 8 mil quilôme- urbana mais próxima. aborda questões ecológicas,
Fundação Amazônia Sustentá- tros quadrados em uma área A estratégia do programa é econômicas, sociais e culturais
vel (FAS) e a Fundação Swaro- crucial de atenção à proteção de capacitar crianças de 8 a 15 anos que afetam a água em nível lo-
vski Waterschool associaram- golfinhos e do peixe-boi amazô- com conhecimento e recursos cal e global.
-se em 2016 para levar o projeto nico. O principal rio da RDS é o
Escola D’água às 52 pequenas Purus, que se une ao Solimões e,
comunidades que compõem a mais adiante, ao Rio Amazonas.
Reserva de Desenvolvimento Sua área engloba o maior lago
Sustentável (RDS) Piagaçu-Pu- da Amazônia, o Lago Amanã.
rus. A ideia do projeto é cons- Os ciclos anuais de inundação
na RDS Piagaçu-Purus influen-
ciam profundamente a dinâ-
10 comunidades mica de vida das comunidades
52 professores locais. Em várias delas, devido
558 alunos às cheias, não há possibilidade
de cavar poços e, portanto, a
376 membros de
água consumida provém dire-
comunidades com
tamente do rio, com pouco ou
participação nas oficinas nenhum tratamento.

40 41
O primeiro pilar do programa multiplicadores do conteúdo
– “A Água e Eu” – diz respeito ao no ensino de crianças entre 8 e
acesso à água potável e busca 15 anos. Eles devem estimular
engajar as comunidades no cui- diálogos com os alunos sobre
dado com as fontes de água e o uso da água no dia a dia. As
apresentar práticas corretas de atividades contidas nesse mó-
armazenamento e tratamento. dulo procuram valorizar as boas
O objetivo é provocar reflexões práticas de uso e conservação
sobre a importância água na do recurso hídrico no ambiente
vida pessoal dos alunos. Espe- escolar a partir, por exemplo, de
ra-se, por exemplo, que os estu- uma pergunta básica: de que
dantes assimilem os efeitos po- modo a higiene pessoal e a
sitivos de hábitos simples como destinação correta dos resíduos
lavar as mãos regularmente e contribuem para a saúde cole-
beber água limpa. tiva dos alunos e professores? cursos hídricos, isto é, aumentar comunidades da RDS. Após a
O segundo pilar, “A Água e a O impacto pretendido pela Es- o valor percebido no cotidiano primeira etapa do projeto, iden-
Escola”, leva treinamento aos cola D’água é mudar a percep- da comunidade. Para isso, apli- tificaram-se mudanças nas ati-
professores para que sejam ção sobre a importância dos re- ca-se a Teoria da Mudança, que tudes das comunidades em
é o exercício do pensamento e relação à água, com destaque
Mudança média das comunidades nas práticas da capacidade descritiva de para o cuidado e respeito pelas
relacionadas com a água em cada pilar como as ações constroem um fontes hídricas. Além disso, au-
caminho em direção a resul- mentou a percepção quanto à
PILAR 3 - Acesso a estrutura de 2,8 tados ligados à transformação necessidade de novos hábitos
saneamento (e melhora de hábitos de
higiene) que se deseja. em relação aos resíduos de bar-
PILAR 2 - Educação sobre água: 2,7 Em 2016, a Escola D’água Pu- cos regionais.
cuidando e respeitando nossas fontes
de água rus acolheu 10 comunidades, A Fase 2, que está em cur-
PILAR 1 - Acesso a água potável: 3,4 que foram selecionadas para so, envolve o treinamento de
tratamento de água
integrar uma rede global com jovens e formação de grupos
PILAR 1 - Acesso a água potável: 3 o desafio de, ao se tornarem de ação. A previsão é formar
abastecimento de água e
armazenamento adequados pioneiras das novas práticas, 1,7 mil pessoas na metodologia
Depois da Fase 1 (2018), média
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 expandirem, posteriormente, do Escola D’água em 2019 no
Linha de base (2016), média 0: Pior cenário 5: Melhor cenário o aprendizado para as demais Amazonas.

42 43
Referências bibliográficas
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handle/20.500.11822/21428/WorldBank_SDGAtlas_06_clean_water_sanitation.pdf?sequence=1&isAllowed=y

4 OMS. Progress on Sanitation and Drinking-Water 2015. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/


saneamento/principais-estatisticas

5 UNICEF. Water, Sanitation and Hygiene. Disponível em https://www.unicef.org/wash/3942_statistics.html

6 UNICEF. Water, Sanitation and Hygiene. Disponível em https://www.unicef.org/wash/3942_statistics.html

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9 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/pesquisa-mulher/


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10 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-estatisticas

11 Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Disponível em


http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2017

12 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-estatisticas/no-


brasil/agua

13 Instituto Trata Brasil. Custos e Benefícios da Expansão do Saneamento no Brasil – 2016 a 2036. Disponível
em http://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/beneficios/Press_Release_-_Benef%C3%ADcios_do_
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14 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-estatisticas/


principais-areas-afetadas/turismo

15 Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/


saneamento/principais-estatisticas/no-brasil/dados-regionais

16 SDSN. Disponível em https://www.sdsn-amazonia.org/pt

17 NOBRE, A. O Futuro Climático da Amazônia. ARA/INPE/INPA. Disponível em file:///C:/Users/Sergio/


Downloads/Futuro-Climatico-da-Amazonia%20(2).pdf

18 IPS Amazônia 2018. Disponível em https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/ipsx.tracersoft.com.br/


documents/2018/publicacoes/Resumo-Executivo-V12.pdf

19 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-estatisticas/no-


brasil/dados-regionais

20 Portal da Amazônia. Disponível em http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/panorama-das-aguas/divisoes-


hidrograficas/rios-do-brasil/rio-amazonas/rio-amazonas

21 Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-estatisticas/


principais-areas-afetadas/educacao

22 Agência Nacional de Águas. Disponível em http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/as-12-regioes-hidrograficas-


brasileiras/amazonica

23 Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Disponível em file:///C:/Users/Sergio/Downloads/GT2_sumario_


portugues_v2.pdf

24 Nobre, A. O Futuro Climático da Amazônia. Disponível em https://www.socioambiental.org/sites/blog.


socioambiental.org/files/futuro-climatico-da-amazonia.pdf

44
Realização:

Parceiros em projetos de água:

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