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Pós-Graduação em Crise e Ação Humanitária

Unidade Curricular: Medicina e Saúde Pública na Ação Humanitária

Água

Aluna: Amanda Alves de Freitas


Docente: Abílio Antunes

5 de maio de 2022
No âmbito da Unidade Curricular de Medicina e Saúde Pública na Ação
Humanitária foi nos proposto a realização de um trabalho acerca de um dos temas
lecionados em aula. Neste sentido, escolhi apresentar uma pequena pesquisa acerca da
água, entre alterações climáticas, a escassez de água pelo mundo e as posteriores
doenças que possam surgir associadas a estas problemáticas.

1. Água e Alterações Climáticas


A água e os ecossistemas relacionados com a água desempenham um papel
fundamental na saúde do meio ambiente, prestando serviços às pessoas e comunidades
e combatendo os impactos das mudanças climáticas e de todas as atividades
económicas (UNEP, 2017 cit in. UNEP, 2022). A UNEP1 reconhece três crises planetárias
interligadas para compreensão, priorização e ação urgentes: as alterações climáticas; a
perda de natureza e biodiversidade; a poluição e resíduos. Os impactos dessas crises
planetárias inter-relacionadas são sentidos diretamente em corpos de água doce, que
são essenciais para a vida, subsistência e saúde das pessoas, economias e do planeta
(UNEP, 2022).

No mesmo estudo, Freshwater Strategic Priorities 2022–2025 to implement


UNEP’s Medium-Term Strategy, realizado pela UNEP, salientam-se algumas noções às
quais considero importante destacar (UNEP, 2022):

1. As deficiências nos recursos hídricos de um país e nos sistemas de gestão de águas


residuais afetam negativamente a diversidade do ecossistema e a capacidade de
proteger as populações contra os efeitos negativos de pandemias/epidemias. A
tomada de decisão inclusiva é necessária para melhorar o acesso e a gestão dos
recursos hídricos e abordar a poluição da água, tratamento de águas residuais, uso
e serviços de água, gestão de recursos hídricos, saúde do ecossistema de água doce
e melhorar a coordenação entre setores e partes interessadas em todos os níveis;
2. As doenças transmitidas pela água devido à contaminação viral ou bacteriana já são
uma causa significativa de morte e incapacidade em todo o mundo, agravadas por
poluentes novos e emergentes. Esses poluentes não são facilmente removidos pelas
tecnologias atuais de tratamento de águas residuais e são uma preocupação
crescente (incluem certos produtos farmacêuticos veterinários e humanos,
pesticidas, agentes antimicrobianos, retardadores de chama, metabólitos de
detergentes, microplásticos, microfibras e produtos químicos desreguladores
endócrinos). Seus impactos a longo prazo na saúde humana incluem
subdesenvolvimento fetal, neurodesenvolvimento infantil e infertilidade masculina.
3. Doenças e mortes humanas devido a infecções resistentes a antibióticos e
antimicrobianos aumentam crescentemente e devem se tornar a principal causa de
mortes em todo o mundo até 2050. Os antibióticos chegam ao ambiente aquático
de uma ampla variedade de fontes, incluindo resíduos humanos tratados e não
tratados, agricultura, pecuária e aquicultura. Bactérias resistentes a antibióticos

1
Programa das Nações Unidas voltado à proteção do meio ambiente e à promoção do desenvolvimento
sustentável (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA ou, em inglês, United Nations
Environment Programme, UNEP).
agora são encontradas tanto na água de origem quanto na água potável tratada em
todo o planeta.
4. A título de exemplo, através das diversas comunidades altamente vulneráveis
distribuidas pelo o mundo, a pandemia do COVID-19 mostrou afetar o frágil
progresso social e económico e exacerbando as vulnerabilidades existentes devido
à diminuição da qualidade da água e à redução do abastecimento de água.

2. Escassez de Água pelo Mundo


As crises hídricos estão cada vez mais no topo da agenda global e só se
agravarão dados os efeitos combinados do crescimento populacional, do crescimento
económico e das alterações climáticas (Strong, Kuzma, Vionnet, & Reig, 2020). Segundo
o relatório do World Resources Institute (WRI), habitantes de quase quatrocentas
regiões do planeta vivem sob condições de extremo estresse hídrico. Além dos inúmeros
problemas ambientais, sociais, políticos e económicos, há o inevitável conflito, a
instabilidade política e o risco de deslocamento de milhões de pessoas como refugiados
climáticos (Uchoa, 2019).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que uma pessoa precisa de


pelo menos 50 a 100 litros de água por dia para consumo e higiene básica. Em 2015,
mais de 800 milhões de pessoas não tinham sequer uma fonte básica de água potável a
15 minutos da sua casa, e apenas 40% da população mundial utiliza serviços de
saneamento geridos de forma segura, criando condições para doenças como cólera e
tifo para se espalharem (Resource Watch, 2022).

Figura 1: Falta de acesso a água por país

Fonte: Resource Watch (2022)

Quase metade das pessoas que bebem água de fontes desprotegidas vivem
na África Subsaariana sendo que, seis em cada dez pessoas não têm acesso a serviços
de saneamento com segurança. Estima-se que 2,1 mil milhões de pessoas não têm
acesso a serviços de água potável com segurança, 4,5 mil milhões de pessoas carecem
de serviços de saneamento com segurança, 1,5 milhões de crianças com menos de cinco
anos morrem todos os anos de doenças relacionadas com a diarreia, 80% das águas
residuais retornam ao ecossistema sem serem tratadas ou reutilizadas e cerca de dois
terços dos rios transfronteiriços do mundo não possuem uma estrutura de gestão
cooperativa (ONU, 2022).
3. Doenças
No seguimento do que foi lecionado em aula decidi apresentar duas, das
principais doenças que podem ser transmitidas através do contacto com a água.

3.1. Cólera
Cólera é uma doença, caracterizada por diarreia profusa e aquosa, causada
por certas formas produtoras de toxinas da bactéria chamada Cólera Vibrio. A cólera é
transmitida por ingerir (comer e beber) água ou alimento contaminado. As atividades
que podem aumentar o risco incluem beber água não tratada ou comer alimentos mal
cozidos (particularmente frutos do mar) em áreas onde os surtos estão a ocorrer. Os
viajantes que vivem em condições não sanitárias, incluindo trabalhadores humanitários
em zonas de catástrofe/refugiados, também estão em risco. A cólera pode ser leve ou
ocorrer sem sintomas em indivíduos saudáveis. Os sintomas incluem diarreia súbita,
profusa, aquosa com náuseas associadas e vómitos. Se não for tratada, a cólera pode
rapidamente provocar uma desidratação e choque graves; 50% dos que têm
complicações graves, morrem. Com um tratamento rápido e eficaz, o risco de morrer é
inferior a 1% (Travel Health Pro, 2022).

Para testar a cólera, os médicos devem recolher uma amostra de fezes ou


um cotonete retal e enviá-la para um laboratório para procurar a bactéria da cólera. A
cólera pode ser tratada de forma simples e bem sucedida através da substituição
imediata do fluido e dos sais perdidos através da diarreia. Os pacientes podem ser
tratados com solução de reidratação oral (ORS), uma mistura pré-embalada de açúcar e
sais que é misturada com 1 litro de água e embriagada em grandes quantidades. Esta
solução é usada em todo o mundo para tratar diarreia. Casos graves também requerem
substituição de fluido intravenoso. Com uma rápida reidratação apropriada, menos de
1% dos pacientes com cólera morrem. Os antibióticos encurtam o curso e diminuem a
gravidade da doença, mas não são tão importantes como a reidratação (Center for
Disease Control and Prevention, 2022).

Para prevenir é necessário estar ciente se os casos de cólera ocorreram


recentemente na área que se pretende visitar. No entanto, o risco de cólera é muito
baixo para as pessoas que visitam áreas com cólera epidêmica quando medidas simples
de prevenção são tomadas. Todos os visitantes ou residentes em áreas onde a cólera
está ocorrendo ou ocorreu devem seguir as seguintes recomendações para evitar
adoecer (Center for Disease Control and Prevention, 2022):

• Beba apenas água engarrafada, cozida ou quimicamente tratada e engarrafada ou


enlatada. Ao usar bebidas engarrafadas, certifique-se de que o selo não foi
quebrado. A água carbonada pode ser mais segura do que a água não carbonada.
Evite água da torneira, bebidas de fonte e cubos de gelo ( para desinfetar sua própria
água, escolha uma das seguintes opções: ferva por 1 minuto, ou filtre-o e adicione
1/2 um comprimido de iodo ou 2 gotas de alvejante doméstico por litro/litro de
água, ou use comprimidos comerciais de cloração de água de acordo com as
instruções do fabricante);
• Lave as mãos com frequência com sabão e água limpa, especialmente antes de
comer ou preparar comida e depois de usar o banheiro. Se não houver água e sabão
disponíveis, use um desinfetante para as mãos à base de álcool com pelo menos 60%
de álcool;
• Use água engarrafada, cozida ou tratada quimicamente para lavar pratos, escovar
os dentes, lavar e preparar alimentos e fazer gelo;
• Coma alimentos que são embalados ou que são recém-cozidos e servidos quentes;
• Não coma carnes cruas ou mal cozidas e frutos do mar, ou frutas cruas ou mal
cozidas e vegetais, a menos que sejam descascados;
• Descarte as fezes de forma sanitária para evitar a contaminação da água e das fontes
de alimentos.

3.2. Malária
A malária é uma infecção por parasitas grave que é transmitida pela picada
de mosquitos. Os parasitas são microscópicos e encontrados no sangue de pessoas
infectadas. Existem diferentes tipos de parasitas da malária, embora a infecção que
estes causam seja semelhante. A malária falciparum causa a infecção mais grave. Os
sintomas geralmente incluem uma alta temperatura (febre) acompanhada de tremores
e suor. São muitas vezes descritos como "parecidos com a gripe" e podem ser
acompanhados por uma variedade de outros sintomas, como dores musculares, dor de
cabeça ou vômitos. Os sintomas podem rapidamente se tornar graves se o tratamento
não for iniciado rapidamente (Fit For Travel, 2022). A forma mais segura para saber se
está infetado com malária é fazer um teste de diagnóstico onde uma gota de seu sangue
é examinada sob o microscópio para a presença de parasitas da malária (Centers of
Diseases Control and Prevention, 2022).

Não se pode ser vacinado contra a malária, mas há formas de se proteger


contra a doença, nomeadamente: ter consciência do risco (descubrir se há risco de
malária no país que pretende visitar); prevenção da mordida (certificar em proteger
contra picadas de mosquitos em todos os momentos do dia e da noite, através do uso
de repelentes de insetos de boa qualidade, vestir roupas adequadas para proteger a
pele de mordidas, uso uma rede de mosquitos reduzindo o número de mosquitos dentro
e ao redor d acomodação); quimioprofilaxia (tomar comprimidos de prevenção da
malária); diagnóstico e tratamento rápido (o diagnóstico rápido e o acesso ao
tratamento rápido para a malária salva vidas, sendo as formas mais graves de malária
se tornarem fatais dentro de 24 horas; tratamento de emergência para malária (se for
viajar para áreas remotas onde não exista acesso aos cuidados médicos rapidamente,
ou para uma área onde as instalações médicas disponíveis têm recursos limitados ou
oferecem baixos padrões de cuidado, pode ser aconselhado a realizar um curso de
tratamento de emergência em standby para malária) (Fit For Travel, 2022).

Conclusão
Concluindo, dentro deste cenário devemos apostar na coordenação política,
prevendo a melhoria do acesso à água por parte dos países afetados. No que diz respeito
ao papel da Ação Humanitária neste contexto foi muito importante conhecer as doenças
existentes, aprender como preveni-las e posteriormente como tratá-las.
Bibliografia

Center for Disease Control and Prevention. (13 de abril de 2022). Cholera. Obtido em 3
de maio de 2022, de Center for Disease Control and Prevention:
https://www.cdc.gov/cholera/general/index.html#one

Centers of Diseases Control and Prevention. (22 de março de 2022). Malaria. Obtido em
4 de maio de 2022, de Centers of Diseases Control and Prevention:
https://www.cdc.gov/malaria/about/faqs.html

Fit For Travel. (2022). Malaria. Obtido em 2 de maio de 2022, de Fit For Travel:
https://www.fitfortravel.nhs.uk/advice/malaria#symptoms

ONU. (2022). Água. Obtido em 3 de maio de 2022, de ONU Centro Regional de


Informação para a Europa Ocidental: https://unric.org/pt/agua/

Resource Watch. (2022). Water Supports Economy and Biodiversity. Obtido em 25 de


abril de 2022, de Resource Watch: https://resourcewatch.org/dashboards/water

Strong, C., Kuzma, S., Vionnet, S., & Reig, P. (2020). Achieving Abundance:
Understanding the Cost of a Sustainable Water Future. World Resources Institute .

Travel Health Pro. (2022). Cholera. Obtido em 3 de maio de 2022, de Travel Health Pro:
https://travelhealthpro.org.uk/disease-details.php?dis=32

Uchoa, P. (2019). Os países em que a água já é um recurso em falta. Obtido em 25 de


abril de 2022, de BBC News: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49243195

UNEP. (março de 2022). Freshwater Strategic Priorities 2022–2025 to implement UNEP’s


Medium-Term Strategy. UNEP.

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