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Curso online

ENFERMAGEM
DO TRABALHO

DISPONÍVEL 24 HORAS LÍDER EM CUSTO EM CONFORMIDADE


POR DIA BENEFÍCIO COM AS LEIS VIGENTES
SUMÁRIO
História da Enfermagem do Trabalho e Principais Procedimentos ....................... 2
A equipe de Enfermagem doTrabalho: suas funções e responsabilidades .......... 3
Área física e equipamentos necessários para o SESMT ......................................... 5
Elaboração de manuais de ocupação ....................................................................... 6
Organização de arquivos e prontuários ................................................................... 7
Atuação do enfermeiro do trabalho e perspectivas de mercado .......................... 8
Equipamentos de Proteção Individual ...................................................................... 10
Biossegurança ............................................................................................................ 11
Histórico da biossegurança ....................................................................................... 12
Práticas e legislação ................................................................................................... 13
Agentes Causadores de Infecções ........................................................................... 14
Medidas de Prevenção para Promoção da Saúde .................................................. 15
Doenças infecciosas e Saúde Pública ...................................................................... 16
Malária, leishmanioses e doença de Chagas ........................................................... 17
Tuberculose: Um Desafio à Saúde Pública Brasileira ............................................. 19
Micobactérias ............................................................................................................. 20
Hantaviroses ............................................................................................................... 21
Doenças infectocontagiosas ..................................................................................... 22
Panorama atual das doenças infectocontagiosas no Brasil ................................... 22
Aids: Desafios e Controle no Brasil ........................................................................... 24
Cólera: Desafios e Controle no Brasil ....................................................................... 24
Dengue: Desafios e Controle no Brasil ..................................................................... 26
MDR - Microrganismos Multidrogas Resistentes .................................................... 27
Infecção Hospitalar: Controle e Desafios Contínuos ............................................. 29
Referências ................................................................................................................ 31
História da Enfermagem
do Trabalho e Principais Procedimentos
A Enfermagem do Trabalho faz parte da área da Enfermagem em
Saúde Pública e, como tal, emprega os mesmos métodos e
técnicasutilizados na Saúde Pública, com o objetivo de promover
a saúdedos trabalhadores, protegê-los contra os riscos
decorrentes de suas atividades laborais e oferecer proteção
contra agentes químicos, físicos, biológicos e psicossociais.

Algumas informações relevantes sobre a história da Enfermagem do Trabalho são


as seguintes:

A profissão de enfermagem surgiu na Inglaterra durante o século XIX.

No Brasil, a primeira escola de enfermagem foi estabelecida em 1880 no


Hospício de Pedro II, atualmente conhecido como UNI-RIO.
A regulamentação da enfermagem no Brasil ocorreu em 1931.

Em 1955, foi aprovada a Lei que regulamenta o exercício profissional da


Enfermagem no país.
Em 1959, ocorreu uma Conferência Internacional do Trabalho que introduziu o
conceito de medicina do trabalho, porém limitado às intervenções médicas.
Em 1963, o ensino de Medicina do Trabalho foi incluído nos cursos de
medicina.
Em 1964, a Escola de Enfermagem da UERJ passou a oferecer a disciplina de
Saúde Ocupacional em seu currículo de graduação.
Em 1972, por meio da portaria n. 3.237 do Ministério do Trabalho, o Auxiliar de
Enfermagem do Trabalho foi incorporado à equipe de Saúde Ocupacional.
Em 1973, foram criados o COFEN (Conselho Federal de Enfermagem) e os
CORENs (Conselhos Regionais de Enfermagem).
Em 1974, ocorreu o primeiro curso de Especialização em Enfermagem do
Trabalho no Rio de Janeiro.
Em 1975, por meio da portaria n. 3.460 do MTE (Ministério do Trabalho e
Emprego), o Enfermeiro do Trabalho foi incluído na equipe de Saúde
Ocupacional.
Nesse mesmo ano, foi criado o código de Deontologia de Enfermagem e, no
ano seguinte, estabeleceu-se o primeiro Sindicato de Enfermagem no Rio
Grande do Sul.

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A equipe de Enfermagem doTrabalho:
suas funções e responsabilidades
A equipe de Enfermagem do Trabalho é composta por
profissionais especializados, o Técnico de Enfermagem
do Trabalho e o Enfermeiro do Trabalho. O Enfermeiro
do Trabalho é um profissional que possui um certificado
de conclusão de curso de Especialização em Enfermagem
do Trabalho, em nível de Pós-Graduação. Sua função é
assistir os trabalhadores, promovendo e cuidando de sua
saúde, prevenindo doenças ocupacionais e acidentes de
trabalho, além de fornecer cuidados aos doentes e
acidentados, visando seu bem-estar físico e mental.

O Técnico de Enfermagem do Trabalho, por sua vez,


é um profissional registrado no COREN, que concluiu
o curso de Enfermagem nos termos da lei 7.498, de
25 de junho de 1986 e do decreto n. 94.406 de 8 de
junho de 1987. Após sua formação, ele realiza o curso
de Enfermagem do Trabalho, conforme estabelecido
na NR-4 da portaria n. 3.214 do MTE. O Técnico de
Enfermagem do Trabalho desempenha um papel
importante na assistência e cuidados de enfermagem
aos empregados, promovendo a saúde e
protegendo-os contra os riscos ocupacionais. Ele
também auxilia no atendimento aos doentes e
acidentados, trabalhando em conformidade com a
legislação reguladora do exercício profissional.

As atividades do Enfermeiro do Trabalho englobam diversas atribuições, incluindo:

Atividades Assistenciais: proporcionar assistência e cuidados de enfermagem


aos trabalhadores, visando seu bem-estar físico e mental.
Atividades Administrativas: planejar, organizar, dirigir, coordenar, controlar e
avaliar as atividades de assistência de enfermagem, de acordo com a
legislação vigente.
Atividades Educativas: realizar atividades educativas com os trabalhadores,
sindicatos e empresas, promovendo a conscientização sobre saúde
ocupacional e prevenção de acidentes e doenças.

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Atividades de Integração: participar de atividades de integração entre os
diversos membros da equipe de saúde do trabalho.
Atividades de Pesquisa: conduzir pesquisas relacionadas à saúde ocupacional,
buscando o aprimoramento dos cuidados oferecidos.

A equipe de saúde Médica do Trabalho também possui atribuições específicas,


incluindo:

Prover assistência médica aos trabalhadores que apresentam suspeita de


doenças relacionadas ao trabalho, encaminhando-os para especialistas ou
para a rede assistencial apropriada, quando necessário.
Realizar entrevistas laborais e análises clínicas para estabelecer a relação
entre o trabalho e o agravo à saúde investigado.
Programar e executar ações de assistência básica e vigilância à saúde do
trabalhador.
Realizar inquéritos epidemiológicos nos ambientes de trabalho e colaborar
com outros órgãos e entidades envolvidos na saúde do trabalhador.
Notificar acidentes e doenças do trabalho, seguindo os procedimentos e
instrumentos de notificação estabelecidos pelo setor saúde.
Participar de atividades educativas em conjunto com os trabalhadores,
sindicatos e empresas.

As atividades de Enfermagem do Trabalho abrangem diferentes níveis de atuação,


tais como:

Prevenção Primária: envolve ações que visam evitar a ocorrência de doenças


ocupacionais e acidentes de trabalho, por meio da promoção de medidas de
prevenção e conscientização.
Prevenção Secundária: refere-se à identificação precoce de doenças
ocupacionais e acidentes de trabalho, por meio de exames periódicos e
monitoramento da saúde dos trabalhadores.
Prevenção Terciária: concentra-se na reabilitação e reintegração dos
trabalhadores afetados por doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho,
visando melhorar sua qualidade de vida e capacidade de retorno ao trabalho.

Em resumo, a equipe de Enfermagem do Trabalho desempenha um papel


essencial na promoção da saúde e segurança dos trabalhadores, através de
ações de prevenção, assistência e cuidados, em colaboração com outros
profissionais da área da saúde.

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Prevenção primária:

Promover o ajustamento do trabalhador ao ambiente de trabalho.

Promover a aquisição de hábitos saudáveis. A intervenção é mais eficaz ao


identificar e classificar os estressores, propondo medidas educativas e de
controle dos fatores de risco. Isso inclui impedir ou reduzir a exposição desses
fatores até o limite de resistência, fortalecendo as defesas do trabalhador.

Prevenção Secundária:

Melhorar as condições sanitárias no ambiente de trabalho.

Oferecer assistência imediata a doenças e problemas de saúde causados por


condições prejudiciais no trabalho.

Fornecer assistência contínua para lidar com as consequências dos problemas


de saúde e doenças relacionados às condições de trabalho prejudiciais. A
intervenção concentra-se em ações corretivas de enfermagem, incluindo
sintomatologia e tratamento, com o objetivo de reduzir os efeitos nocivos
identificados.

Prevenção Terciária:

Prestar assistência aos trabalhadores com sequelas causadas pelas condições


de trabalho. Isso envolve readaptação das habilidades funcionais do
trabalhador, realocação de funções, entre outros, utilizando recursos do
sistema e do ambiente para fortalecer a resistência.

Área física e equipamentos necessários para o SESMT


A área física do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT) dependerá do tipo e tamanho da organização, bem como do
número de profissionais que farão parte do serviço. O SESMT deve contar com os
seguintes espaços: local para arquivos, ambulatório, área para procedimentos de
urgência e enfermagem, sala para provas funcionais e consultórios.

Os equipamentos básicos necessários para o funcionamento do Setor de Saúde


Ocupacional são os seguintes:

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Balança antropométrica

Aparelho de esterilização

Nebulizador

Esfigmomanômetro

Estetoscópio

Otoscópio

Termômetro

Elaboração de manuais de ocupação


Os manuais são instrumentos que reúnem normas, rotinas, procedimentos e
outras informações necessárias para a execução das atividades do serviço. Essas
informações podem ser agrupadas em um único manual ou divididas de acordo
com a finalidade, como coletânea de normas (rotinas, procedimentos, fluxo de
atendimentos), manual de educação em serviço e manual do funcionário.

O manual deve esclarecer dúvidas e orientar a execução das ações, sendo um


instrumento de consulta. Deve passar por análises críticas e ser atualizado
quando necessário. Além disso, deve estar facilmente acessível e ser conhecido
por todos os usuários.

É importante ressaltar que o manual deve refletir as diretrizes e normas da


organização, não as impor, para que os usuários possam crescer e se adaptar a
mudanças. Portanto, o manual deve ser um facilitador, não um obstáculo para as
iniciativas e críticas.

Os manuais podem ser elaborados na fase de


organização de um serviço, ou quando ele já está em
funcionamento e requer atualização de normas e
procedimentos. O fluxo de atendimento deverá fazer
parte do manual do serviço, pois as particularidades de
cada serviço variam de empresa para empresa.

Conforme a Portaria n. 24 de 19/12/1994, que altera a


redação da NR7 – Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional – PCMSO, os serviços de saúde do
trabalhador devem ter um prontuário pessoal e
confidencial de cada trabalhador.

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Organização de arquivos e prontuários

O prontuário é aberto no momento do exame admissional e deve conter registros


sistemáticos de todas as ocorrências relacionadas à saúde do trabalhador. Os
prontuários devem incluir:

Exames de saúde ocupacional

Acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho

Consultas clínicas

Absenteísmo

Tratamentos e procedimentos realizados

Os prontuários devem ser organizados de forma numérica ou alfabética para


facilitar a localização e manuseio, e devem ser armazenados em um arquivo
fechado devido às informações confidenciais. Esses registros devem ser mantidos
por pelo menos 20 anos após o desligamento do trabalhador.

NR4 - Serviços especializados em Engenharia de Segurança e


em Medicina do Trabalho

A NR4 estabelece os requisitos para os Serviços Especializados em Engenharia de


Segurança e em Medicina do Trabalho. O dimensionamento desses serviços
depende da avaliação do risco da atividade principal e do número de funcionários
da empresa.

Os profissionais desses serviços têm as seguintes responsabilidades:

Aplicar conhecimentos de engenharia de segurança e medicina do trabalho


para identificar e eliminar ou reduzir os riscos à saúde dos trabalhadores,
incluindo máquinas e equipamentos.
Determinar o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) quando todos
os meios conhecidos para eliminar o risco forem esgotados e o risco persistir,
desde que a concentração, a intensidade ou a característica do agente exijam.
Colaborar nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e
tecnológicas da empresa, aplicando seus conhecimentos e habilidades.
Orientar o cumprimento das normas regulamentadoras aplicáveis às atividades
da empresa.

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Manter uma relação próxima com a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes), apoiando, treinando e atendendo conforme exigido pela NR 5.
Realizar atividades de conscientização, educação e orientação dos
trabalhadores para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, por meio de campanhas e programas contínuos.
Conscientizar os empregadores sobre acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, incentivando-os a adotar medidas preventivas.
Analisar e registrar todos os acidentes de trabalho e casos de doenças
ocupacionais ocorridos na empresa, descrevendo detalhadamente suas
características, fatores ambientais, agentes envolvidos e condições dos
indivíduos afetados.
Registrar mensalmente dados atualizados sobre acidentes de trabalho,
doenças ocupacionais e agentes insalubres, preenchendo os formulários
específicos. A empresa deve enviar um relatório anual desses dados à
Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho até 31 de janeiro, por meio do
órgão regional do Ministério do Trabalho.
Manter os registros de acidentes e doenças ocupacionais na sede dos
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho, ou em local de fácil acesso a partir dessa sede. A empresa tem
liberdade para escolher o método de arquivamento, desde que as condições
de acesso e compreensão dos registros sejam garantidas.
As atividades dos profissionais desses serviços são principalmente
preventivas, embora também possam prestar atendimento de emergência
quando necessário. Além disso, devem elaborar planos de controle para
efeitos de catástrofes, combate a incêndios, salvamento e ações imediatas.

Atuação do enfermeiro do trabalho e perspectivas de mercado

A atuação do enfermeiro do trabalho envolve diferentes contextos e


configurações profissionais. Ele pode trabalhar tanto em empresas públicas como
em empresas privadas, exercendo suas funções sob diferentes regimes jurídicos,
seja estatutário ou regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Além disso, há também a possibilidade de atuação como profissional autônomo.


No ambiente de trabalho, o enfermeiro do trabalho integra o Serviço Especializado
em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Ele é
responsável por programas importantes, como o Programa de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), o Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO).

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Além disso, o enfermeiro do trabalho desempenha um papel fundamental na
implantação e administração de outras iniciativas de segurança, como a Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), a Semana Interna de Prevenção de
Acidentes de Trabalho (SIPAT), o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e
realiza campanhas de vacinação para funcionários e estudantes, entre outras
atividades.

As doenças ocupacionais são uma preocupação relevante nessa área, e as


campanhas preventivas de segurança do trabalho têm como objetivo
conscientizar os funcionários sobre a importância do uso dos Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs). O uso do EPI é tanto uma recomendação técnica
quanto uma exigência legal, conforme a Norma Regulamentadora NR-6.
Infelizmente, a falta do uso adequado dos EPIs é comum e contribui para a
ocorrência de acidentes de trabalho e o desenvolvimento de doenças
ocupacionais.

Entre as doenças ocupacionais mais comuns, destacam-se a perda auditiva


induzida por ruído (PAIR), a lesão por esforço repetitivo (LER) e as doenças da
coluna. A PAIR é uma alteração neurossensorial progressiva dos limiares auditivos
causada pela exposição contínua a níveis elevados de pressão sonora. Essa
condição afeta as células sensoriais do órgão de Corti e é irreversível. Além disso,
a PAIR pode ser bilateral e levar a uma intolerância a sons intensos. O diagnóstico
da PAIR requer a identificação e a quantificação da perda auditiva, comprovando a
exposição do trabalhador a níveis elevados de pressão sonora.

As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) são enfermidades que afetam tendões,
articulações, músculos, nervos e ligamentos, geralmente nos membros superiores.
Elas são causadas pelo uso repetitivo ou forçado de grupos musculares e postura
inadequada. As LERs foram reconhecidas como doenças do trabalho e têm sido
relatadas em diversos setores, como digitação, teleatendimento, metalurgia e
linha de montagem.
É fundamental estabelecer protocolos de procedimentos médico-periciais para o
diagnóstico de doenças profissionais e do trabalho. A caracterização de uma
doença profissional ou do trabalho ocorre quando há intoxicação ou afecção
associada à atividade laboral, estabelecendo-se um nexo causal. Os manuais de
procedimentos médico-periciais em doenças profissionais e do trabalho fornecem
diretrizes para estabelecer a relação entre a doença e a atividade exercida pelo
trabalhador.

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Existem cerca de 188 doenças relacionadas ao trabalho, distribuídas em 14
categorias principais. Essas doenças abrangem desde infecções e neoplasias até
doenças do sistema circulatório, respiratório, digestivo, ósteo-musculares,
urinário, entre outros sistemas do corpo humano.
O enfermeiro do trabalho desempenha um papel fundamental na prevenção,
identificação e tratamento dessas doenças ocupacionais. Seu trabalho contribui
para a promoção de um ambiente de trabalho saudável e seguro, visando à
preservação da saúde e bem-estar dos trabalhadores.

Equipamentos de Proteção Individual

São dispositivos destinados à proteção pessoal, com o objetivo de preservar a


saúde e integridade física dos trabalhadores. No Brasil, o uso dos Equipamentos
de Proteção Individual (EPIs) é regulamentado pela Norma Regulamentadora NR-
6, presente na Portaria 3214 de 1978, emitida pelo Ministério do Trabalho e
Emprego.

As instituições de saúde têm a


responsabilidade de adquirir e fornecer EPIs
novos e em perfeitas condições aos seus
funcionários, sem qualquer cobrança por esse
fornecimento. Além disso, é essencial que
essas instituições ofereçam treinamento
adequado para garantir o uso correto dos
dispositivos. Caso um trabalhador se recuse a
utilizar os EPIs, é necessário que ele assine um
documento em que reconheça e compreenda
os riscos aos quais estará exposto (SKRABA,
2004).

Para assegurar a eficácia e durabilidade dos EPIs, é fundamental que sejam


cuidadosamente conservados, descontaminados e higienizados regularmente. No
caso de EPIs descartáveis, nunca devem ser reutilizados.
É crucial que os EPIs sejam fabricados de forma a evitar provocar alergias ou
irritações, proporcionando conforto ao usuário e sendo atóxicos.

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BIOSSEGURANÇA
De acordo com Costa, a biossegurança pode ser compreendida sob diferentes
perspectivas: como um módulo, uma vez que não possui identidade própria, mas
sim uma interdisciplinaridade que se reflete nas matrizes curriculares de cursos e
programas relacionados. Como processo, visto que a biossegurança é uma
abordagem educativa. Nesse sentido, podemos considerá-la como um processo
de aquisição de conhecimentos e habilidades, com o objetivo de preservar a
saúde humana e do meio ambiente. E como conduta, quando a encaramos como
um conjunto de conhecimentos, hábitos, comportamentos e sentimentos que
devem ser incorporados ao indivíduo, para que este exerça sua atividade
profissional de forma segura.

As ações de padronização, prevenção e cautela durante atividades na área da


saúde são denominadas biossegurança, um campo do conhecimento que busca
reduzir os riscos inerentes às diversas áreas da saúde. De forma mais abrangente,
a biossegurança consiste em ações voltadas para a prevenção, minimização ou
eliminação de riscos associados à pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento
tecnológico e prestação de serviços, com foco na saúde humana, animal, na
preservação do meio ambiente e na qualidade dos resultados.

Portanto, esse campo do conhecimento abrange um amplo espectro de atividades


e instituições e está relacionado a aspectos históricos, humanos, sociais e a
conceitos de ética, economia, política, meio ambiente e desenvolvimento. Essas
definições destacam que a biossegurança envolve a interação entre tecnologia,
risco e ser humano, uma vez que o risco biológico é resultado de diversos fatores
e, portanto, seu controle requer ações em várias áreas, priorizando o
desenvolvimento e disseminação de informações, bem como a adoção de
procedimentos que promovam boas práticas de segurança para profissionais,
pacientes e meio ambiente, a fim de controlar e minimizar os riscos nas atividades
de saúde.

É importante ressaltar que os conceitos científicos são provisórios, devido à


constante evolução da ciência, e a biossegurança deve se adaptar ao contexto do
desenvolvimento científico e tecnológico das sociedades humanas. Especialmente
ao considerar as ações que embasam os princípios de biossegurança, o avanço
científico foi essencial para o desenvolvimento das práticas necessárias ao
controle de riscos ocupacionais, que têm evoluído progressivamente,
acompanhando a preocupação com a segurança no trabalho e o bem-estar dos
trabalhadores.

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Portanto, o princípio fundamental da biossegurança é promover a expansão do
conhecimento científico, buscando o desenvolvimento de tecnologias e processos
tecnológicos avançados. Essas ações devem se basear nos princípios específicos
das atividades para as quais foram concebidas, com o objetivo de proteger a
saúde humana, animal e o meio ambiente. Nesse contexto, o trabalhador
desempenha um papel crucial, pois o principal objetivo da biossegurança é
minimizar riscos, o que está diretamente relacionado ao campo de atuação e o
coloca em vários contextos, refletindo a diversidade das áreas de atuação da
biossegurança.

Histórico da biossegurança

Nos anos 1960 e 1970, o desenvolvimento da biossegurança foi impulsionado pela


indústria, que buscava normas de segurança no trabalho. Para minimizar os riscos,
começaram a ser aplicados procedimentos de biossegurança. Nessa época,
práticas específicas, como a atenção ao ambiente de trabalho e a minimização
dos riscos biológicos ocupacionais, foram estabelecidas. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) direcionou seus esforços para "práticas preventivas para o
trabalho em contenção em laboratórios, com agentes patogênicos para o homem",
alinhando suas políticas de ação com o avanço científico.

Atendendo às demandas sociais, a OMS desenvolveu métodos de ação para


abordar os riscos periféricos em ambientes laboratoriais que trabalhavam com
agentes patogênicos para o homem, como riscos químicos, físicos, radioativos e
ergonômicos. Essas medidas foram fundamentais para reduzir acidentes
ocupacionais, que historicamente estavam relacionados às atividades
econômicas, proporcionando maior segurança aos trabalhadores.

Na década de 1990, houve avanços significativos na biossegurança,


especialmente ao incorporar os princípios relacionados ao desenvolvimento da
engenharia genética e organismos transgênicos. Essa década consolidou o que
havia sido iniciado nos anos 1970, quando as discussões sobre os impactos da
engenharia genética na sociedade começaram a surgir.

A biotecnologia, sempre presente na vida cotidiana da população, é o foco de


atenção em diversos setores, como indústrias, hospitais, laboratórios de saúde
pública, laboratórios de análises clínicas, hemocentros e universidades. O objetivo
é prevenir riscos gerados por agentes químicos, físicos e ergonômicos, garantindo
um ambiente de trabalho mais seguro.

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Nesse contexto, certificações se tornaram essenciais e despertaram interesse das
organizações. Normas como a ISO da série 9000 e 14000 e, mais recentemente, a
OHSAS (Organization for Health and Safety Assessment Series) série 18000 têm
desempenhado um papel fundamental nos processos de segurança ocupacional.

Práticas e legislação

Ações de biossegurança vão além das práticas tradicionais, englobando


processos onde o risco biológico é presente ou potencial, visando otimizar a
segurança no trabalho, a saúde do trabalhador, a higiene industrial, a engenharia
clínica e outros aspectos. Para garantir os padrões de biossegurança, é essencial
preparar profissionais de diferentes setores, uma vez que a área envolve
atividades que possam afetar a saúde humana.

A responsabilidade das empresas em relação à biossegurança requer uma


constante preparação dos profissionais, especialmente nas atividades de maior
risco. A formação deve abranger diversas áreas da saúde, segurança do trabalho
e questões ambientais, tanto em âmbitos legais quanto práticos. Destacam-se
instituições como a Escola Nacional de Saúde Pública e a Fundação Oswaldo
Cruz, no Rio de Janeiro, pioneiras no desenvolvimento de conceitos e práticas
específicas para profissionais como engenheiros de segurança, médicos do
trabalho e técnicos de segurança.

Apesar dos avanços alcançados, ainda existe uma carência na capacitação


contínua dos profissionais nessa área, o que pode prejudicar o desenvolvimento
das atividades, principalmente em locais que não contavam com tais profissionais
anteriormente. A implementação de políticas voltadas à biossegurança é
fundamental para garantir a minimização de riscos em diferentes setores, como a
segurança do trabalho, meio ambiente e saúde ocupacional.

A regulamentação da biossegurança é embasada em princípios estabelecidos pela


Lei de Biossegurança (Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005), que trata de
organismos geneticamente modificados e pesquisas científicas com células-
tronco embrionárias. A legislação é gerida pela Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), composta por profissionais de diversos ministérios e
indústrias biotecnológicas.

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Agentes Causadores de Infecções
Os organismos infectantes, como bactérias, vírus, fungos e protozoários, possuem
alta capacidade de desenvolvimento e reprodução em diversas condições, o que
resulta em processos infecciosos nos seus hospedeiros. Eles podem provocar
alterações orgânicas caracterizando a infecção, além de desencadear reações
fisiológicas, como a produção de toxinas. O corpo do hospedeiro serve como
território para esses agentes se multiplicarem e continuarem seu poder infectante.

Os casos infecciosos costumam manifestar-se


através de febre, dor e irritabilidade emocional,
além de vermelhidão local. Os sintomas incluem
rubor, calor local, dor ao movimento e ao toque,
acúmulo de líquidos causando edema e rigidez
nas articulações. Em infecções articulares, por
exemplo, as crianças podem ter dificuldade em
mover a articulação infectada devido à dor
intensa. Já em casos de infecções bacterianas ou
virais em crianças mais velhas e adultos, os
sintomas costumam iniciar de forma súbita.

Diversos organismos podem ser considerados agentes causadores de infecções,


atingindo a circulação sanguínea através de várias formas de contaminação, como
pelo ar, água, alimentos, zoonoses, feridas abertas, relações sexuais e
reservatórios presentes em animais. O desenvolvimento e abrangência de uma
infecção são determinados pela sua porta de entrada, que pode variar
dependendo do tipo de infecção. Por exemplo, infecções articulares podem ser
provocadas por diferentes bactérias, cuja incidência pode variar conforme as
características físicas da pessoa.

Algumas das bactérias mais severas incluem


estafilococos, Hemophilus influenzae e bacilos
gram-negativos, comuns em crianças e jovens.
Gonococos, que causam gonorreia, assim como
estafilococos e estreptococos, são mais
frequentes em crianças mais velhas e adultos. Já
os vírus, como o HIV, parvovírus, rubéola, papeira
e hepatite B, podem infectar as articulações de
pessoas de qualquer idade. Por fim, infecções
articulares crônicas são frequentemente
associadas à tuberculose ou a fungos.

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Medidas de Prevenção para Promoção da Saúde
A higiene das mãos, muitas vezes considerada simples e pouco eficiente, é, na
verdade, uma ferramenta essencial de biossegurança para prevenir infecções.
Com baixo custo e alto impacto, a lavagem e desinfecção das mãos devem ser o
primeiro método de controle incentivado pelas políticas públicas de saúde.

Além disso, outras medidas preventivas individuais e coletivas devem ser


adotadas para garantir um ambiente seguro e saudável:

1. Manter ambientes limpos e ventilados.


2. Lavar as mãos regularmente com água e sabão, especialmente após tossir,
espirrar, usar o banheiro, antes das refeições e ao tocar olhos, boca e nariz.
3. Cobrir a boca e o nariz com um lenço de papel ao tossir ou espirrar. Caso não
haja lenço, usar a dobra interna do cotovelo.
4. Evitar tocar olhos, nariz ou boca após contato com superfícies.
5. Em caso de febre, tosse e/ou dor de garganta, procurar imediatamente um
médico.
6. Seguir as orientações médicas e tomar os medicamentos prescritos
corretamente.
7. Repousar, ter uma alimentação balanceada e ingerir líquidos em caso de
doença, evitando sair de casa até 5 dias após o início dos sintomas.
8. Garantir condições ambientais adequadas, como boa ventilação, em locais de
utilização pública.
9. Incentivar o uso de preservativos em todas as relações íntimas para prevenir
doenças sexualmente transmissíveis.
10. Promover a vacinação contra doenças como hepatite B, HPV, sarampo,
tuberculose, varicela, gripe, entre outras.
11. Controlar fontes de zoonoses para prevenir a transmissão por picadas de
insetos ou mordidas de animais.

A correta manipulação de alimentos e bebidas,


juntamente com boas condições sanitárias, é
fundamental para prevenir doenças de transmissão
fecal-oral. Esses hábitos devem ser incentivados desde
a infância em ambientes domésticos, escolares e no
ambiente de trabalho.

Apesar de algumas medidas demandarem incentivo para sua adoção social, como
o uso de preservativos, é importante respeitar as crenças individuais e religiosas,
buscando sempre uma abordagem educativa e sensível.

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A promoção dessas práticas preventivas é essencial para evitar surtos de
doenças, como a gripe A, que podem ser relacionadas a hábitos cotidianos difíceis
de modificar rapidamente. É fundamental incentivar o consumo de água filtrada ou
fervida, bem como a higienização adequada dos alimentos e o correto
acondicionamento e temperatura dos mesmos.

Ao adotarmos essas medidas de prevenção, estaremos contribuindo para a


promoção da saúde e o bem-estar de todos, tornando nossa comunidade mais
segura e protegida contra doenças infecciosas.

Doenças infecciosas e Saúde Pública

As doenças transmissíveis continuam sendo um dos principais desafios de saúde


pública em todo o mundo, variando de acordo com as condições sociais,
sanitárias e ambientais. Doenças antigas ressurgem com novas características e
novas doenças se espalham a uma velocidade impensável algumas décadas atrás.

Nos Estados Unidos, conforme os dados do Centers for Disease Control and
Prevention de Atlanta (EUA) para o ano de 2003, observa-se um total de 1.588
casos de doença meningocócica. No início da década passada, quando ainda era
obrigatória a notificação, uma média anual de 10 mil casos de meningite asséptica
(geralmente causada por vírus) foi registrada. A Aids tem sido um dos exemplos
mais emblemáticos desse fenômeno conhecido como o surgimento de doenças
infecciosas, desde seu aparecimento no início dos anos 1980. Mais recentemente,
uma doença originada na África e transmitida por mosquitos, a febre do Nilo
Ocidental, tem gerado surtos com um alto número de casos e óbitos desde sua
introdução em Nova York em 1999, sendo registrados 1.933 casos somente no
último ano.

Na Europa, em 1998, a Dinamarca apresentou uma


incidência de 3,1 casos de doença meningocócica por
100 mil habitantes, semelhante à do Brasil. Na
Inglaterra, entre 1984 e 1999, a incidência da doença
meningocócica atingiu 2.967 casos em 1999, reduzindo
para 2.778 casos no ano 2000. Embora algumas
doenças, como o sarampo, já tenham sido eliminadas
em todo o continente americano, ainda são transmitidas
em vários países europeus, representando um risco
constante de disseminação para os países que
alcançaram a eliminação.

16
Esses dados ajudam a compreender a situação atual das doenças transmissíveis.
O sucesso significativo na prevenção e controle de várias dessas doenças, que
agora ocorrem em proporções mínimas em comparação com décadas passadas,
não significa que todas tenham sido erradicadas. Essa percepção equivocada e a
expectativa irreal de que todas as doenças transmissíveis desapareceriam
naturalmente contribuíram para subestimar no passado as ações de prevenção e
controle, prejudicando o desenvolvimento de uma capacidade de resposta
governamental adequada e resultando na perda de oportunidades para a tomada
de decisões sobre medidas que poderiam ter um impacto positivo nessa área.

Malária, leishmanioses e doença de Chagas: Desafios


Contínuos na Saúde Global
Doenças como malária, leishmanioses, doença de Chagas, tuberculose, entre
outras, têm apresentado aumento em diversas regiões do mundo, principalmente
devido ao empobrecimento populacional. Embora a Organização Mundial de
Saúde tenha considerado algumas delas em fase de erradicação décadas atrás,
essas doenças parasitárias, como a malária, têm ressurgido recentemente. A
malária é endêmica no continente africano, concentrando-se em mais de 90% dos
casos mundiais na região subsaariana, afetando bilhões de pessoas e causando
de 1 a 2 milhões de óbitos anuais, especialmente em crianças (WHO, 1997). O
Brasil também enfrenta desafios com a malária, com aproximadamente 70 mil
casos por ano na década de 1970, aumentando para cerca de 610 mil casos em
1999, de acordo com a FUNASA.

Os óbitos relacionados à malária totalizam cerca de 10


mil mortes por ano, principalmente devido ao P.
falciparum, a espécie mais virulenta entre as quatro que
afetam os seres humanos, e que tem mostrado
crescente resistência aos medicamentos disponíveis.
Apesar de alguns testes terem sido realizados em
voluntários, em ensaios pré-clínicos e em áreas
endêmicas, ainda não existem vacinas disponíveis para
a malária.

Outra preocupação é o aumento das leishmanioses, protozooses que têm se


tornado mais prevalentes globalmente, incluindo no continente europeu.
Anteriormente, tanto a forma tegumentar quanto a forma visceral dessas doenças
eram consideradas zoonoses ou antroponoses restritas a condições
epidemiológicas específicas.

17
Contudo, agora a transmissão ocorre mesmo nas periferias das grandes cidades,
como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, com estimativas de
cerca de 400 casos agudos em aproximadamente seis anos apenas em Belo
Horizonte.

A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é outra


importante endemia humana na América Latina, que também circula entre animais
silvestres na América do Norte, incluindo o sul dos Estados Unidos, onde raros
casos de infecção humana foram identificados. Estima-se que só no Brasil existam
cerca de 6 milhões de casos crônicos da doença, muitos dos quais evoluirão para
patologias graves, como cardiopatias ou megalopatias (megaesôfago e
megacólon). Além das formas conhecidas de transmissão, a doença também pode
ser transmitida através de transfusão sanguínea, ingestão de carnes ou outros
alimentos contaminados (via oral ou mucosa bucal), transmissão congênita e
acidental.

Como outras zoonoses, essas doenças ocorrem


entre numerosas espécies de vertebrados
domésticos e selvagens, geralmente de forma
crônica assintomática. A principal forma de
transmissão do T. cruzi é o contato com
tripomastigotas, presentes nas fezes de insetos
triatomíneos hematófagos, que são naturalmente
infectados. Embora a transmissão vetorial,
denominada contaminativa, tenha sido interrompida
em alguns países, incluindo o Brasil e a Argentina,
de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a
doença de Chagas, assim como outras endemias,
ainda carece de vacina e tratamentos ideais,
mesmo para as infecções agudas.

Os profissionais de saúde enfrentam o desafio de utilizar drogas tóxicas e de


baixa eficácia nos tratamentos, o que torna o processo complexo. Isso muitas
vezes leva ao abandono do tratamento pelos pacientes, pois os resultados
demoram a ser percebidos e há sintomas colaterais causados pelos
medicamentos.

As drogas disponíveis para essas doenças são frequentemente pouco eficazes na


fase crônica, com baixa tolerância ou apresentando elevada toxicidade. No caso
da malária causada pelo P. falciparum, responsável pela chamada "febre terçã
maligna", a maioria dos parasitas tem se mostrado resistente aos medicamentos
atualmente disponíveis.

18
Além disso, os mecanismos de morbidade e as bases da imunidade adquirida
nessas parasitoses, especialmente na fase crônica, ainda são pouco conhecidos.

Diante desses desafios, é crucial que a comunidade científica, organizações de


saúde e governos continuem a investir em pesquisa, prevenção e tratamento
dessas doenças parasitárias. Somente com esforços coordenados e recursos
adequados poderemos alcançar avanços significativos na luta contra essas
enfermidades que continuam a afetar milhões de pessoas em todo o mundo.

Tuberculose: Um Desafio à Saúde Pública Brasileira

A tuberculose (TB) representa uma questão prioritária de saúde no Brasil, que,


juntamente com outros 21 países em desenvolvimento, concentra 80% dos casos
mundiais dessa doença. Estima-se que cerca de um terço da população mundial
esteja infectada com a bactéria Mycobacterium tuberculosis, ficando exposta ao
risco de desenvolver a enfermidade. Anualmente, são registrados cerca de 8
milhões de novos casos e quase 3 milhões de mortes em decorrência da
tuberculose.

Nos países desenvolvidos, a TB é mais comum


entre idosos, minorias étnicas e imigrantes
estrangeiros. Já nos países em desenvolvimento,
estima-se que ocorram 95% dos casos e 98%
das mortes relacionadas à doença, ou seja, mais
de 2,8 milhões de óbitos e 7,5 milhões de novos
casos, afetando todas as faixas etárias, com
maior incidência entre os indivíduos
economicamente ativos (15 a 54 anos).

No Brasil, os homens têm duas vezes mais chances de adoecer em relação às


mulheres. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas no país estejam
infectadas pelo M. tuberculosis, com aproximadamente 80 mil casos novos a cada
ano. O número de mortes anuais por tuberculose no Brasil é de 4 a 5 mil.

Apesar da introdução de novos esquemas de tratamento de curta duração na


década de 1980, a tuberculose continua apresentando uma média anual de 85 mil
casos novos nos últimos anos. O modelo atual de controle da doença,
caracterizado pela excessiva centralização da assistência e pelos longos períodos
de tratamento (no mínimo seis meses), juntamente com o adensamento
populacional nas periferias das grandes cidades sem adequadas condições
sanitárias, são alguns dos fatores que contribuem para essa situação.

19
Outro fator que impulsiona o crescimento da tuberculose em todo o mundo é a
associação com a Aids. No Brasil, cerca de 25,5% dos casos de Aids têm a
tuberculose como doença associada. Desde o surgimento da síndrome da
imunodeficiência adquirida (Aids) em 1981, tem sido observado um aumento nos
casos de tuberculose em pessoas infectadas pelo vírus HIV, tanto em países
desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. A associação HIV/TB
representa, atualmente, um sério problema de saúde pública, podendo levar ao
aumento da morbidade e mortalidade pela TB em muitos países.

Felizmente, a tuberculose tem sido alvo de ações e investimentos recentes por


parte do Ministério da Saúde e outras instituições do Sistema Único de Saúde
(SUS). Essas iniciativas visam descentralizar o atendimento e adotar novas formas
de garantir a continuidade do tratamento, ampliar a capacidade de detecção de
novos casos e aumentar o percentual de cura. Essa estratégia inclui o repasse de
recursos financeiros para a ampliação da detecção de casos, aumento da taxa de
cura e redução do abandono do tratamento, buscando produzir um impacto
positivo nos próximos anos.

Micobactérias: Uma Abordagem Terapêutica para o Controle


da Tuberculose
As micobactérias são agentes causadores de infecções notáveis, pertencentes à
ordem Actinomycetales e à família Mycobacteriaceae, que abrange um único
gênero denominado Mycobacterium (fungo bacteriano). O termo foi proposto por
Lehmann e Neumann em 1896, devido à semelhança da película formada pelo
Mycobacterium tuberculosis em meios líquidos com aquelas produzidas por
alguns fungos.

O gênero Mycobacterium (micobactéria) é


altamente patogênico, estando associado a duas
doenças comuns - lepra e tuberculose - e
também a uma doença mais rara, a úlcera de
Buruli. As micobactérias podem permanecer em
estado de latência ou dormência, podendo
reativar-se e manifestar a doença em indivíduos
com imunossupressão. Nesse contexto, a terapia
gênica tem sido uma abordagem analisada para
combater esse estado latente.

20
Um modelo experimental em camundongos foi desenvolvido para mimetizar as
condições observadas no desenvolvimento da doença em humanos com
imunossupressão. Nos grupos de animais controle, que não receberam a vacina
de DNA, observou-se a reativação da infecção e o estabelecimento da doença
após a infecção, tratamento com fármacos antibacterianos e imunossupressão
com corticosteroides.

Por outro lado, nos grupos experimentais que foram tratados com a vacina de
DNA, não foram observadas reativações nem desenvolvimento da doença,
especialmente quando administradas três doses da vacina. A vacina de DNA
mostrou-se capaz de eliminar as bactérias dormentes, o que pode ter benefícios
significativos para o controle da tuberculose e até mesmo a sua erradicação.

A abordagem da vacina gênica difere das vacinas convencionais, que são voltadas
apenas para a prevenção da doença. A vacina de DNA, além de ser profilática,
também possui atividade terapêutica, curando a infecção e a doença já
estabelecida, e prevenindo a reativação futura. Seus benefícios práticos e
estratégicos são inúmeros: é segura, eficaz, pode ser administrada em uma única
dose, estimula amplamente a resposta imunológica e possui efeito protetor
duradouro. Tudo isso pode contribuir significativamente para reduzir a incidência
da doença e, possivelmente, até mesmo erradicá-la.

Hantaviroses
As hantaviroses são uma doença emergente que apresenta duas formas clínicas
principais: a renal e a cardiopulmonar. A forma renal é mais comum na Europa e na
Ásia, enquanto a forma cardiopulmonar ocorre exclusivamente no continente
americano. Essa doença está presente em quase todos os países da América do
Norte e da América do Sul, sendo que Argentina e Estados Unidos registram o
maior número de casos. Na América Central, apenas o Panamá relatou casos até o
momento. A infecção em humanos ocorre principalmente pela inalação de
aerossóis formados a partir das secreções e excreções dos roedores silvestres,
que são os reservatórios.

No Brasil, os primeiros casos foram detectados em 1993, em São Paulo, e a


doença tem sido principalmente identificada na região Sul, além dos estados de
São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. Desde o início da detecção de casos no
país, foram registradas 338 ocorrências em 11 estados até 2003, com uma taxa
média de letalidade de 44,5%.

21
O Ministério da Saúde adotou medidas que
possibilitaram a implantação da vigilância
epidemiológica da doença, o desenvolvimento da
capacidade laboratorial para o diagnóstico, a
divulgação das medidas adequadas de tratamento
para reduzir a letalidade e o conhecimento sobre a
circulação de alguns hantavírus nos roedores
silvestres brasileiros, o que tem sido objeto de ações
de vigilância ecoepidemiológica.

Essas ações aumentaram a capacidade de detecção, proporcionando um


panorama mais preciso da realidade epidemiológica das hantaviroses em nosso
país, bem como a adoção de medidas apropriadas para prevenção e controle da
doença.

DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS
Panorama atual das doenças infectocontagiosas no Brasil
Segundo a ANVISA, o cenário epidemiológico no Brasil passou por mudanças
significativas ao longo do tempo, com avanços notáveis no controle de doenças e
promoção da saúde da população. Na década de 1930, as doenças transmissíveis
eram a principal causa de morte nas capitais brasileiras, sendo responsáveis por
mais de um terço dos óbitos registrados nessas regiões, e provavelmente ainda
mais prevalentes nas áreas rurais, onde os registros não eram adequados.
Contudo, as melhorias em saneamento, o desenvolvimento de tecnologias como
vacinas e antibióticos, o acesso ampliado aos serviços de saúde e as medidas de
controle alteraram significativamente esse quadro até os dias atuais.

A implementação de políticas públicas de vacinação foi


fundamental para o controle de doenças no Brasil,
levando até mesmo à erradicação de algumas
enfermidades tradicionalmente incidentes no país.
Atualmente, o calendário básico de vacinação do país
inclui todas as vacinas recomendadas por organismos
internacionais, como a Organização Pan-Americana da
Saúde (Opas) e a Organização Mundial da Saúde
(OMS). Desde 1998, o Brasil alcançou níveis adequados
de cobertura vacinal na maioria das vacinas de rotina
para menores de 1 ano.

22
Esses avanços nas coberturas vacinais do Programa Nacional de Imunizações
(PNI) foram essenciais para as importantes conquistas no controle e erradicação
de doenças preveníveis por imunização. Nos últimos cinco anos, o PNI introduziu
novas vacinas em todo o território nacional, como a anti-hepatite B, a vacina
contra Haemophilus influenzae tipo B, a vacina tetravalente (DTP + Hib) e a vacina
tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) para crianças de 12 meses, além da
vacinação do idoso contra gripe, tétano e pneumonia pneumocócica.

Em 2001 e 2002, também foram realizadas campanhas para controle da rubéola


congênita em mulheres em idade fértil, atingindo uma cobertura de 95,68% nesta
faixa etária. A vacinação contra o tétano para esse grupo populacional também
tem sido uma prioridade, visando à eliminação do tétano neonatal. Essas
campanhas de vacinação têm desempenhado um papel fundamental nas políticas
públicas de saúde e controle de doenças.

Embora a redução da importância relativa das doenças


transmissíveis tenha dado a impressão de que algumas
delas estariam quase extintas no Brasil, a realidade é
diferente, não apenas no país, mas também em nações
mais desenvolvidas. Em regiões com situações
precárias de saneamento, infecções parasitárias ainda
são frequentes no Brasil, e nas últimas décadas, tem
havido um aumento global na prevalência de doenças
endêmicas e infecções parasitárias.

Isso é resultado do crescimento populacional, migrações de áreas rurais para


centros urbanos densamente povoados e das mudanças climáticas, que
favorecem a proliferação de vetores de doenças.A falta de acesso adequado à
assistência médica em condições precárias também contribui para o aumento do
número de pessoas imunossuprimidas, inclusive aquelas que vivem com o vírus
HIV, o que pode levar ao ressurgimento de doenças crônicas controladas pelo
sistema imunológico, incluindo infecções por protozoários, bactérias e vírus.

O atual cenário das doenças infectocontagiosas no Brasil reflete um histórico de


séculos de medidas de controle e avanços em pesquisas. No entanto, um conjunto
de doenças ainda persiste, seguindo a tendência mundial de emergência e
reemergência de doenças transmissíveis. Um exemplo notável é a varíola, que
continua a ser um problema exclusivo do Brasil em escala global. Nas últimas
décadas, o país também enfrentou a chegada da AIDS no início da década de
1980, a reintrodução da cólera a partir do Peru em 1991 e a epidemia de dengue,
que se tornou uma das maiores prioridades de saúde pública no continente e no
país a partir do final da década de 1990.

23
Aids: Desafios e Controle no Brasil
A Aids no Brasil teve seu primeiro registro em 1980, e seu número de casos
aumentou significativamente até 1998, quando 25.732 novos casos foram
registrados, com um coeficiente de incidência de 15,9 casos/100 mil habitantes.
Após esse período, observou-se uma desaceleração nas taxas de incidência da
doença em todo o país, embora as principais tendências da epidemia - como a
heterossexualização, feminização, envelhecimento e pauperização dos pacientes
- tenham continuado, aproximando-a cada vez mais do perfil socioeconômico
médio brasileiro.

Do início da década de 1980 até setembro de 2003, o


Ministério da Saúde notificou um total de 277.154 casos
de Aids no Brasil, sendo 197.340 em homens e 79.814
em mulheres. No ano de 2003, foram notificados 5.762
novos casos da doença, sendo 3.693 em homens e
2.069 em mulheres, mostrando que a epidemia tem
crescido mais entre as mulheres atualmente.

Uma preocupação adicional é o aumento da incidência da Aids entre adolescentes


do sexo feminino, na faixa etária de 13 a 19 anos. Esse fato é explicado pelo início
precoce da atividade sexual, frequentemente com parceiros mais experientes e
com maior risco de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis e pelo
HIV.

Quanto às principais formas de transmissão da doença entre homens, as relações


sexuais respondem por 58% dos casos, com prevalência nas relações
heterossexuais (24%). Entre as mulheres, a transmissão do HIV também ocorre
predominantemente através do sexo (86,7%). Outras formas de transmissão, com
menor impacto na epidemia, incluem transfusão, transmissão materno-infantil ou
casos não informados pelos pacientes de ambos os sexos.

Cólera: Desafios e Controle no Brasil


A cólera, uma doença reemergente, chegou ao continente americano e ao
território brasileiro em 1991, marcando a sétima pandemia que a humanidade
enfrentou e sendo a primeira causada pelo Vibriocholerae El Tor. Apesar do
conhecimento acumulado, essa doença ainda representa um desafio significativo,
não apenas devido às características do agente causador, mas principalmente
pela vulnerabilidade de uma grande parcela da população mundial que vive em
condições de extrema pobreza.

24
No Brasil, a sétima pandemia teve seu impacto a partir de 1991, atingindo todas as
regiões do país até 2001, resultando em um total de 168.598 casos e 2.035 óbitos,
com destaque para grandes epidemias no Nordeste. O coeficiente de incidência
de cólera em 1993, o ano com o maior número de casos, foi de 39,81 por 100 mil
habitantes, com 670 óbitos e uma taxa de letalidade de 1,11%.

A magnitude da doença no território brasileiro esteve relacionada principalmente


às condições precárias de vida da população, especialmente nas regiões Norte e
Nordeste, onde a disseminação encontrou terreno fértil. No entanto, a
vulnerabilidade à doença também foi observada em áreas mais desenvolvidas do
país, principalmente nas periferias dos centros urbanos, onde bolsões de pobreza
persistem.

Apesar da intensidade com que a doença afetou


principalmente o Nordeste entre 1992 e 1994, os
esforços do sistema de saúde conseguiram reduzir
drasticamente os casos a partir de 1995, com apenas
sete casos confirmados registrados em 2001 (quatro
no Ceará e um em Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Em
2002 e 2003, não foram detectados casos confirmados
de cólera no Brasil. No entanto, o risco de reintrodução
da doença em áreas já afetadas ou ainda não atingidas
permanece presente, devido às baixas coberturas de
saneamento.

As equipes técnicas de vigilância epidemiológica e ambiental dos três níveis de


governo têm se dedicado a atividades de prevenção, como a investigação de
casos suspeitos, envolvendo a coleta de amostras clínicas e de água e meio
ambiente, especialmente nos mananciais que fornecem água para consumo
humano.

A Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA), atualmente presente em


4.227 municípios do país, representa a estratégia mais importante para a
detecção precoce de casos de cólera. A manutenção desse sistema de vigilância
epidemiológica integrado e o fortalecimento do sistema de controle da qualidade
da água para consumo humano são as principais ações que garantirão que essa
doença continue controlada no país.

25
Dengue: Desafios e Controle no Brasil

A luta contra a dengue tem sido uma das maiores campanhas de saúde pública em
nosso país. O Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, que havia sido
erradicado de várias nações no continente americano durante as décadas de 1950
e 1960, ressurgiu nos anos 1970 devido a falhas na vigilância epidemiológica e às
mudanças sociais e ambientais decorrentes do rápido processo de urbanização.

Atualmente, o mosquito transmissor é encontrado em uma ampla faixa do


continente americano, estendendo-se desde o Uruguai até o sul dos Estados
Unidos, com registros de surtos importantes de dengue em países como
Venezuela, Cuba, Brasil e Paraguai. Erradicar um mosquito domiciliado tem se
mostrado desafiador, demandando um esforço substancial do setor de saúde,
com um gasto estimado de quase R$ 1 bilhão por ano, levando em conta todos os
custos dos dez componentes do Programa Nacional de Controle da Dengue.
Essas dificuldades são provenientes da capacidade do mosquito de se reproduzir
em diversos recipientes que podem armazenar água, especialmente aqueles
encontrados em áreas urbanas, como garrafas, latas, pneus e vasos de plantas
nos domicílios.

Para combater a dengue, as atividades de prevenção


precisam ser integradas a outras políticas públicas,
incluindo a limpeza urbana, além de contar com uma
conscientização e mobilização social mais efetivas
sobre a importância de manter o ambiente livre do
mosquito. Entre os anos de 1999 e 2002, registrou-se
um aumento na incidência de dengue, com 794.219
casos notificados em 2002. Porém, em 2003, houve
uma redução de 56,6% no total de casos notificados
em relação ao ano anterior, resultado, em parte, da
intensificação das ações para controlar a doença.

Dentre os fatores que influenciam a incidência da dengue, destaca-se a


introdução recente de um novo sorotipo, o DEN 3, para o qual uma grande parcela
da população ainda permanece suscetível. Por esse motivo, o Ministério da Saúde,
em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, tem realizado
um conjunto de ações, incluindo:

Intensificação das ações de combate ao vetor, concentrando-se nos


municípios com maior incidência de casos;

26
Fortalecimento das atividades de vigilância epidemiológica e entomológica
para melhor responder ao risco de surtos;
Integração das ações de vigilância e educação sanitária com o Programa de
Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde;
Mobilização social e campanhas informativas para garantir a efetiva
participação da população. Além disso, tem-se priorizado o aprimoramento na
detecção de casos de dengue hemorrágica, visando reduzir a letalidade dessa
forma grave da doença.

MDR - Microrganismos Multidrogas Resistentes


Um dos princípios fundamentais da Saúde Pública estabelece que a gravidade de
uma doença define o seu risco, bem como o estado de saúde do paciente,
incluindo condições nutricionais, a natureza de procedimentos diagnósticos ou
terapêuticos, tempo de internação, entre outros fatores.

O avanço no desenvolvimento tecnológico tem desempenhado um papel crucial


nos procedimentos de saúde, especialmente no último século. Esse progresso
científico e tecnológico teve um impacto significativo na saúde pública, criando
um novo cenário no cuidado à saúde. No entanto, esse progresso também trouxe
consigo desafios, como o reconhecimento cada vez maior de novos agentes
infecciosos e o ressurgimento de infecções que antes estavam controladas.
Muitos desses casos estão associados ao empobrecimento da população, mas
também ao aumento das instituições de saúde, o que, apesar de parecer
paradoxal, tem sido observado. Especialmente em centros urbanos, a infecção
hospitalar é comum, com a unidade de terapia intensiva (UTI) apresentando um
problema mais sério. Nesse ambiente, os pacientes estão mais expostos ao risco
de infecções devido à sua condição clínica e à variedade de procedimentos
invasivos rotineiramente realizados. Vale ressaltar que na UTI, os pacientes têm
de 5 a 10 vezes mais probabilidade de contrair infecções, representando cerca de
20% do total das infecções hospitalares.

Em diversas regiões do mundo, esses centros de tratamento têm enfrentado altos


índices de infecção hospitalar, incluindo a presença de microrganismos
multirresistentes, o que representa uma ameaça à sociedade e um grande desafio,
especialmente para a indústria farmacêutica, que se depara com a falta de
respostas terapêuticas efetivas. No contexto das doenças causadas por
microrganismos multidrogas resistentes, a tuberculose merece destaque devido à
sua frequente ocorrência.

27
Um dos problemas mais graves relacionados ao controle da tuberculose é o
surgimento de bacilos que apresentam resistência a vários medicamentos
utilizados no tratamento, como a isoniazida, a pirazinamida, a estreptomicina e a
rifampicina, entre outros. Bacilos que são resistentes não apenas a um desses
medicamentos, mas também a combinações de dois, três ou mesmo todos ao
mesmo tempo já foram isolados. Recentemente, surgiram na África os bacilos
extremamente resistentes, causando grande preocupação nos órgãos
responsáveis pelo controle da tuberculose. Pacientes portadores desses bacilos
denominados multidrogaresistentes têm poucas alternativas de tratamento e, às
vezes, nenhuma opção. Estudos recentes demonstraram que animais infectados
com bacilos resistentes a essas drogas também foram curados pela administração
da vacina gênica.

Além disso, é comum ocorrer um alto grau de


adaptação dos bacilos ao ser humano. A infecção
normalmente ocorre após a inalação dos bacilos e sua
entrada nas células de defesa do organismo.
Especialmente ao estudar células de defesa com alto
potencial microbicida, como os macrófagos, foi
descoberto que os bacilos têm a habilidade de
desativar os sistemas de defesa dessas células e,
assim, conseguem sobreviver e se multiplicar no seu
interior.

O sistema de defesa imune do ser humano reconhece a presença dos bacilos e


estabelece uma resposta contra eles, caracterizada por uma reação inflamatória
crônica e granulomatosa, cuja finalidade é circunscrever e delimitar a infecção.
Nesse estado, os bacilos podem permanecer em estado de latência ou dormência
por anos, e o indivíduo infectado pode não manifestar a doença.

O desenvolvimento da doença ocorre quando há um desequilíbrio nessa relação


mútua e está frequentemente associado a estados de supressão da resposta
imunológica. Dentre os casos mais comuns de imunossupressão associados à
tuberculose estão os indivíduos com síndrome da imunodeficiência adquirida
(Aids), pessoas estressadas, indivíduos que utilizam fármacos imunossupressores,
dependentes químicos (como dependentes de álcool) e desnutridos, entre outros.

28
Infecção Hospitalar: Controle e Desafios Contínuos

A infecção hospitalar, também conhecida como infecção nosocomial, refere-se a


qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada do paciente em um hospital ou
após sua alta, quando essa infecção está diretamente relacionada à internação ou
procedimento hospitalar, como cirurgias. Ao longo das décadas, o controle das
infecções hospitalares evoluiu significativamente, reduzindo a ocorrência de
complicações graves, como septicemia e infecções generalizadas, termos que se
tornaram comuns.

Apesar dos avanços, a infecção hospitalar continua a ser um desafio mundial na


área da saúde, com nenhum país tendo controle absoluto sobre ela; apenas
alguns apresentam números mais baixos de contaminação. O ambiente hospitalar
abriga diversos micróbios patogênicos no ar, em objetos e sobre a pele, porém,
em condições normais, esses micróbios não causam infecções devido às barreiras
naturais do organismo.

A pele desempenha um papel crucial como a barreira


mais importante contra germes ambientais. Quando
integra, a pele, juntamente com as secreções
gordurosas e o suor, evita a penetração de micróbios
no organismo. Contudo, se a pele for rompida ou
alterada, as bactérias que normalmente residem nela
podem causar infecções.

Além dos ferimentos superficiais, a via respiratória é uma das principais portas de
entrada para germes, especialmente em indivíduos com hábitos prejudiciais, como
o consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo. A infecção também pode ocorrer
pelo aparelho digestivo, principalmente em casos de lesões. Infecções do trato
respiratório, sejam de origem bacteriana ou viral, são a principal causa de
consultas médicas, afastamentos do trabalho e da escola, além de representarem
um fator significativo para a morbi-mortalidade e demanda por serviços de saúde.

O tratamento das infecções hospitalares é complexo, envolvendo desafios


relacionados ao diagnóstico médico preciso e à assistência hospitalar adequada. É
comum a prescrição de antimicrobianos, mesmo quando a infecção é de origem
viral, embora esse tipo de tratamento não seja benéfico.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão vinculado ao Ministério


da Saúde, desenvolveu um curso para o controle de infecções hospitalares, com o
objetivo de treinar adequadamente os profissionais de saúde.

29
A Portaria MS nº 196, de 24 de junho de 1993, foi essencial para o
desenvolvimento do controle de infecção hospitalar no Brasil, determinando a
implantação de Comissões de Controle de Infecções Hospitalares em todos os
hospitais do país, independentemente de sua natureza jurídica.

Atualmente, a ANVISA delineia as diretrizes gerais para o Controle das Infecções


em Serviços de Saúde, reforçando o enfrentamento das infecções relacionadas à
assistência. O treinamento adequado dos profissionais de saúde é essencial para
enfrentar esse grave problema de saúde pública, que acarreta custos sociais e
econômicos elevados.

Para progredir nessa luta, investimentos em conhecimento e conscientização


sobre os diversos riscos de transmissão de infecções, as limitações dos
processos de desinfecção e esterilização, bem como as precauções necessárias
são imprescindíveis. Além disso, é fundamental padronizar e divulgar o
conhecimento, especialmente sobre métodos de proteção anti-infecciosa, para
que os profissionais possam manipular artigos com os devidos cuidados,
minimizando o risco de transmissão de infecções tanto para os pacientes quanto
para si mesmos.

30
REFERÊNCIAS
CRUZ, J. L. A. Manual de biossegurança em laboratórios. São Paulo: Atheneu,
2010.
SILVA, M. P. S. Gestão de resíduos sólidos: fundamentos e práticas. Rio de
Janeiro: LTC, 2015.
COSTA, A. B.; FERREIRA, L. M. Enfermagem em saúde do trabalhador. Porto
Alegre: Artmed, 2018.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Brasília: MMA, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15475. Resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos – Requisitos para projeto e implantação de
sistema de gestão. Rio de Janeiro, 2019.
MONTEIRO, C. A.; CANNON, G. Manual de nutrição e alimentação saudável. São
Paulo: Manole, 2018.
RAMALHO, J. M. Higiene e segurança no trabalho. Lisboa: Sílabo, 2016.
SOUZA, R. H. B.; SANTOS, L. L. M. Manual de biossegurança e controle de
infecção em hospitais. São Paulo: Roca, 2017.
VASCONCELLOS, P. C. V.; LIMA, A. F. Gestão de resíduos em unidades de saúde.
São Paulo: Atheneu, 2019.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n. 222, de 28 de março de
2018. Dispõe sobre o regulamento técnico de boas práticas de gerenciamento dos
resíduos de serviços de saúde.

31
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