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INTRODUÇÃO: No futebol, várias decisões são tomadas pelos jogadores durante o jogo
levando os pesquisadores a tentar compreender quais são os processos envolvidos nestas
tomadas de decisão e como eles influenciam na qualidade das decisões e na velocidade
da mesma (WILLIAMS; DAVIDS, 1998; ROCA; WILLIAMS; FORD, 2012).
Uma das medidas que auxilia a compreensão desse fenômeno são as estratégias
de busca visual. As estratégias de busca visual dizem respeito à capacidade do indivíduo
em selecionar através da visão central, informações pertinentes do ambiente de jogo, de
modo a consubstanciar suas tomadas de decisões (WARD; WILLIAMS, 2003). Em um
estudo desenvolvido por Roca e colaboradores (2011) os autores observaram que através
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MÉTODOS
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O teste é composto por 11 cenas de vídeo de ações ofensivas de jogos de futebol 11 contra
11, gravadas e assistidas em uma perspectiva de terceira pessoa (câmera de TV)
projetadas em uma tela, com duração entre 5 e 13 segundos cada cena (MANGAS, 1999).
Durante o experimento foram apresentadas as 11 sequências de vídeo, sendo pausadas
em um momento que antecede o final de uma ação. Assim que o vídeo era pausado o
avaliado estava instruído a responder o mais rápido possível “o que o portador da bola
deveria fazer” naquele momento.
Após a gravação das respostas do teste o material de áudio obtido foi transcrito para
formato digital em documentos de Word®, em um computador portátil (POSITIVO modelo
T 3300 processador Intel Core™ i3). Os dados transcritos foram analisados e comparados
junto ao painel de peritagem oficial do teste desenvolvido por Mangas (1999). Apenas as
respostas corretas foram consideradas para análise.
Definição dos grupos: A variável “tempo de decisão” avaliada através do teste de tomada
de decisão foi medida em segundos. Os dados foram divididos em três grupos: rápidos,
intermediários e lentos. Apenas os grupos “rápidos” (n = 30, média = 1,67 segundos, DP =
0,32) e “lentos” (n = 28, média = 5.91 segundos, DP = 1,83) foram usados na análise. O
grupo intermediário (n= 28, média =2.66 segundos, DP =0,47) foi excluído das análises.
As análises das taxas de busca visual neste experimento foram realizadas seguindo
os procedimentos propostos por Williams e Davids (1998). Esta medida está relacionada à
utilização da visão central durante os vídeos. Duas medidas foram examinadas como
variáveis: i) número de fixações por cenas; e ii) duração média de fixação (em
milissegundos). A fixação foi analisada usando o Mobile Eye Tracking-XG e definida como
a condição em que o olho permaneceu estacionário por aproximadamente 1,5 graus de
tolerância de variação e por um período igual ou superior à 120ms. ou três quadros de vídeo
(WILLIAMS, M; DAVIDS, 1998).
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Tabela 1: Valores descritivos e inferenciais dos grupos “rápidos” e “lentos” para o tempo de
decisão
Rápidos Lentos
Taxa de Busca Visual p
Média(DP) Média(DP)
Número de Fixações por cena 21,50 (10,68) * 16,40 (5,12) <0,001
Duração das Fixações (ms) 569,13 (101,68) 601,16 (122,61) 0,561
*Diferenças significativas entre os grupos (rápidos e lentos no tempo de início de resposta correta) no
teste T.
Nível de significância adotado p<0,05
.
Em relação ao número de fixações por cena, os resultados do teste t aponta para
diferença significativa entre os jogadores “rápidos” e “lentos” em relação ao tempo de
decisão correta; t (58) = 2,38, p = 0,000. Para a duração das fixações, embora o grupo
“rápidos” apresente uma média no tempo de duração menor em relação aos “lentos”, não
foi observada diferença significativa entre os grupos t (58) = -1,22, p = 0,561.
Sobre o tempo de decisão, pesquisas com jogadores de futebol identificaram que
jogadores mais experientes são mais rápidos para tomar decisões, com um tempo de
resposta menor em comparação aos menos experientes (WILLIAMS; DAVIDS, 1998;
VAEYENS et al., 2007). Essa velocidade de resposta se deve, assim como no presente
estudo, ao maior número de fixações onde o jogador retira as informações necessárias do
jogo.
Em relação às estratégias de busca visual, nossos achados vão ao encontro de
outros estudos que envolveram a participação de jogadores de futebol habilidosos e menos
habilidosos, no qual os mais habilidosos utilizam um número maior de fixações de curtas
durações em comparação aos menos habilidosos (VAEYENS et al., 2007; ROCA et al.,
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2011). Essas fixações são direcionadas a vários locais do campo, variando entre os
estímulos de maior importância, onde o jogador consegue recolher mais informações do
ambiente. A partir do maior número de fixações no campo de jogo, o jogador identifica
melhor as situações, e de forma rápida toma as decisões certas em um tempo menor.
No entanto, em relação à duração das fixações, embora estes estudos apontem que
os jogadores mais rápidos gastem menos tempo em cada fixação, não foram encontradas
diferenças significativas em relação ao tempo de decisão. Talvez isto possa ser explicado
pela diferente disposição de vídeo apresentado no teste utilizado neste estudo em relação
aos anteriores, como a utilização de testes em situações de ataque ou defesa; diferenças
na composição do número de jogadores e nas perspectivas de apresentação do vídeo,
frontal, lateral ou primeira pessoa.
CONCLUSÃO: É possível concluir que as estratégias de busca visual exercem influência
sobre o tempo de decisão correta do jogador de futebol, sendo que os jogadores que
realizam um maior número de fixações são mais rápidos para tomar decisões corretas.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho teve o apoio da SEEJMG através da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, da
FAPEMIG, da CAPES, do CNPQ, da FUNARBE, da Reitoria, Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal
de Viçosa.
REFERÊNCIAS
ROCA, A.; FORD, P. R.; McROBERT, A. P.; WILLIAMS, A. M.. Identifying the processes
underpinning anticipation and decision-making in a dynamic time-constrained task.
Cognitive Processing v. 12, n. 3, p. 301–310 , 2011.
ROCA, A.; WILLIAMS, A. M.; FORD, P. R. Developmental activities and the acquisition of
superior anticipation and decision making in soccer players. Journal of Sports Sciences
v. 30, n. 15, p. 1–10 , 2012.
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WARD, P.; WILLIAMS, A.M. Perceptual and Cognitive Skill Development in Soccer : The
Multidimensional Nature of Expert Performance. Journal of sport & exercise
psychology v. 25, p. 93–111 , 2003.
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