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TOMADA DE DECISÃO NO FUTEBOL: A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS DE


BUSCA VISUAL SOBRE O TEMPO DE DECISÃO

João Vítor de Assis/ NUPEF-UFV


Guilherme Machado/ NUPEF-UFV

Felippe Cardoso/ NUPEF-UFV


Israel Teoldo/ NUPEF-UFV

jv_assis@yahoo.com.br

RESUMO: O objetivo do presente estudo é identificar se as estratégias de busca visual


exercem influência sobre o tempo de decisão em jogadores de futebol das categorias de
base. Foram avaliados 86 jogadores de futebol com média de idade de 16,69±3,11 anos.
Para a coleta de dados recorreu-se a utilização de testes de simulações de vídeo com a
utilização do Mobile Eye Tracking-XG para avaliação das capacidades perceptivo-
cognitivas. Os jogadores avaliados foram divididos em três grupos de acordo com o tempo
de decisão: rápidos, lentos e intermediários este último foi excluído da amostra. Para a
avaliação das estratégias de busca visual foram utilizados as seguintes medidas: número
de fixações por cena e duração da fixação. Os resultados sugerem que as estratégias de
busca visual influenciam no tempo de decisão, sendo que os jogadores que realizam um
maior número de fixações de curta duração são mais rápidos para tomar decisões corretas.
Palavras Chave: Tempo de decisão; Busca visual, Futebol.

INTRODUÇÃO: No futebol, várias decisões são tomadas pelos jogadores durante o jogo
levando os pesquisadores a tentar compreender quais são os processos envolvidos nestas
tomadas de decisão e como eles influenciam na qualidade das decisões e na velocidade
da mesma (WILLIAMS; DAVIDS, 1998; ROCA; WILLIAMS; FORD, 2012).
Uma das medidas que auxilia a compreensão desse fenômeno são as estratégias
de busca visual. As estratégias de busca visual dizem respeito à capacidade do indivíduo
em selecionar através da visão central, informações pertinentes do ambiente de jogo, de
modo a consubstanciar suas tomadas de decisões (WARD; WILLIAMS, 2003). Em um
estudo desenvolvido por Roca e colaboradores (2011) os autores observaram que através

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das estratégias de busca visual, os melhores jogadores, conseguem retirar o máximo de


informações pertinentes do jogo para tomar decisões de forma mais rápida e qualificada.
Outro fator importante no processo de tomada de decisão é o tempo de decisão.
Devido à complexidade de ações presentes no futebol, é necessário que os jogadores
respondam às ações do jogo e tomem decisões de maneira adequada em períodos de
tempo cada vez mais curtos (WILLIAMS, et al. 2011).
Com base no que foi destacado, faz-se necessário investigar como as estratégias de
busca visual influenciam nas capacidades decisionais dos jogadores de futebol, sobretudo
no que diz respeito ao tempo de decisão destes jogadores. Assim o objetivo do presente
estudo, consiste em identificar se as estratégias de busca visual exercem influência sobre
o tempo de decisão em jogadores de futebol das categorias de base.

MÉTODOS

Participantes: Participaram do estudo 86 jogadores de futebol do sexo masculino das


categorias de base de um clube da primeira divisão do Brasil com média de idade
16,69±3,11 anos. Como critério de inclusão, todos os jogadores deveriam participar de
treinamentos sistematizados, com no mínimo três sessões semanais de 1h e 30 min de
duração cada e participarem de competições de nível nacional e/ou internacional.
Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido informando
estarem cientes de sua participação na pesquisa. Todos os procedimentos da pesquisa
foram conduzidos de acordo com as normas estabelecidas pela Resolução do Conselho
Nacional de Saúde (466/2012) e pelo tratado de Ética de Helsinque (1996) para pesquisas
realizadas com seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisas
com seres humanos da Universidade Federal de Viçosa (Nº 412.816-08/10/2013).

Procedimentos: Para a avaliação da tomada de decisão e da eficiência cognitiva foi


utilizado um teste de vídeo (vídeo based) proposto por Mangas (1999) com utilização do
Mobile Eye Tracking-XG (Applied Science Laboratories, Bedford, MA, EUA). O teste avalia
as tomadas de decisão dos jogadores a partir de suas capacidades perceptivo-cognitivas e
da utilização da memória de trabalho em identificar determinadas pistas ambientais nas
situações de jogo e dessa forma deliberarem sobre quais são as melhores opções de ação.

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O teste é composto por 11 cenas de vídeo de ações ofensivas de jogos de futebol 11 contra
11, gravadas e assistidas em uma perspectiva de terceira pessoa (câmera de TV)
projetadas em uma tela, com duração entre 5 e 13 segundos cada cena (MANGAS, 1999).
Durante o experimento foram apresentadas as 11 sequências de vídeo, sendo pausadas
em um momento que antecede o final de uma ação. Assim que o vídeo era pausado o
avaliado estava instruído a responder o mais rápido possível “o que o portador da bola
deveria fazer” naquele momento.

Após a gravação das respostas do teste o material de áudio obtido foi transcrito para
formato digital em documentos de Word®, em um computador portátil (POSITIVO modelo
T 3300 processador Intel Core™ i3). Os dados transcritos foram analisados e comparados
junto ao painel de peritagem oficial do teste desenvolvido por Mangas (1999). Apenas as
respostas corretas foram consideradas para análise.

Definição dos grupos: A variável “tempo de decisão” avaliada através do teste de tomada
de decisão foi medida em segundos. Os dados foram divididos em três grupos: rápidos,
intermediários e lentos. Apenas os grupos “rápidos” (n = 30, média = 1,67 segundos, DP =
0,32) e “lentos” (n = 28, média = 5.91 segundos, DP = 1,83) foram usados na análise. O
grupo intermediário (n= 28, média =2.66 segundos, DP =0,47) foi excluído das análises.

As análises das taxas de busca visual neste experimento foram realizadas seguindo
os procedimentos propostos por Williams e Davids (1998). Esta medida está relacionada à
utilização da visão central durante os vídeos. Duas medidas foram examinadas como
variáveis: i) número de fixações por cenas; e ii) duração média de fixação (em
milissegundos). A fixação foi analisada usando o Mobile Eye Tracking-XG e definida como
a condição em que o olho permaneceu estacionário por aproximadamente 1,5 graus de
tolerância de variação e por um período igual ou superior à 120ms. ou três quadros de vídeo
(WILLIAMS, M; DAVIDS, 1998).

Procedimentos Estatísticos: A distribuição dos dados foi analisada através do teste de


Shapiro-Wilk. Para a comparação dos grupos “rápidos” e “lentos”, recorreu-se ao teste t
para amostras independentes. Utilizou-se o teste Kappa de Cohen e um valor de 12,72%
das fixações referentes à primeira avaliação. Os valores de confiabilidade das avaliações

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foram de 92,09% para intra-avaliadores e 88,44% para inter-avaliadores. Os procedimentos


estatísticos foram realizados através do software SPSS 18.0 e o nível de significância
adotado foi de p<0,05.

RESULTADOS: Os valores de média e desvio padrão para a taxa de busca visual, em


relação ao Número de fixações por cena e Duração das fixações entre os grupos estão
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Valores descritivos e inferenciais dos grupos “rápidos” e “lentos” para o tempo de
decisão

Rápidos Lentos
Taxa de Busca Visual p
Média(DP) Média(DP)
Número de Fixações por cena 21,50 (10,68) * 16,40 (5,12) <0,001
Duração das Fixações (ms) 569,13 (101,68) 601,16 (122,61) 0,561

*Diferenças significativas entre os grupos (rápidos e lentos no tempo de início de resposta correta) no
teste T.
Nível de significância adotado p<0,05

.
Em relação ao número de fixações por cena, os resultados do teste t aponta para
diferença significativa entre os jogadores “rápidos” e “lentos” em relação ao tempo de
decisão correta; t (58) = 2,38, p = 0,000. Para a duração das fixações, embora o grupo
“rápidos” apresente uma média no tempo de duração menor em relação aos “lentos”, não
foi observada diferença significativa entre os grupos t (58) = -1,22, p = 0,561.
Sobre o tempo de decisão, pesquisas com jogadores de futebol identificaram que
jogadores mais experientes são mais rápidos para tomar decisões, com um tempo de
resposta menor em comparação aos menos experientes (WILLIAMS; DAVIDS, 1998;
VAEYENS et al., 2007). Essa velocidade de resposta se deve, assim como no presente
estudo, ao maior número de fixações onde o jogador retira as informações necessárias do
jogo.
Em relação às estratégias de busca visual, nossos achados vão ao encontro de
outros estudos que envolveram a participação de jogadores de futebol habilidosos e menos
habilidosos, no qual os mais habilidosos utilizam um número maior de fixações de curtas
durações em comparação aos menos habilidosos (VAEYENS et al., 2007; ROCA et al.,

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2011). Essas fixações são direcionadas a vários locais do campo, variando entre os
estímulos de maior importância, onde o jogador consegue recolher mais informações do
ambiente. A partir do maior número de fixações no campo de jogo, o jogador identifica
melhor as situações, e de forma rápida toma as decisões certas em um tempo menor.
No entanto, em relação à duração das fixações, embora estes estudos apontem que
os jogadores mais rápidos gastem menos tempo em cada fixação, não foram encontradas
diferenças significativas em relação ao tempo de decisão. Talvez isto possa ser explicado
pela diferente disposição de vídeo apresentado no teste utilizado neste estudo em relação
aos anteriores, como a utilização de testes em situações de ataque ou defesa; diferenças
na composição do número de jogadores e nas perspectivas de apresentação do vídeo,
frontal, lateral ou primeira pessoa.
CONCLUSÃO: É possível concluir que as estratégias de busca visual exercem influência
sobre o tempo de decisão correta do jogador de futebol, sendo que os jogadores que
realizam um maior número de fixações são mais rápidos para tomar decisões corretas.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve o apoio da SEEJMG através da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, da
FAPEMIG, da CAPES, do CNPQ, da FUNARBE, da Reitoria, Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal
de Viçosa.

REFERÊNCIAS

MANGAS, J. C. Conhecimento Declarativo no Futebol: Estudo comparativo em


praticantes federados e não-federados, do escalão de Sub-14. Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto, Porto, 1999. 98 p.

ROCA, A.; FORD, P. R.; McROBERT, A. P.; WILLIAMS, A. M.. Identifying the processes
underpinning anticipation and decision-making in a dynamic time-constrained task.
Cognitive Processing v. 12, n. 3, p. 301–310 , 2011.

ROCA, A.; WILLIAMS, A. M.; FORD, P. R. Developmental activities and the acquisition of
superior anticipation and decision making in soccer players. Journal of Sports Sciences
v. 30, n. 15, p. 1–10 , 2012.

VAEYENS, R.; LENOIR, M.; WILLIAMS, A. M.; PHILIPPAERTS, R. M. Mechanisms


underpinning successful decision making in skilled youth soccer players: an analysis of
visual search behaviors. Journal of Motor Behavior v. 39, n. 5, p. 395–408 , 2007.

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WARD, P.; WILLIAMS, A.M. Perceptual and Cognitive Skill Development in Soccer : The
Multidimensional Nature of Expert Performance. Journal of sport & exercise
psychology v. 25, p. 93–111 , 2003.

WILLIAMS, A. M; DAVIDS, K. Visual search strategy, selective attention, and expertise in


soccer. Research quarterly for exercise and sport v. 69, n. 2, p. 111–128 , 1998.

WILLIAMS, A. M; FORD, P.R.; ECCLES, D.W.; WARD, P. Perceptual-cognitive expertise


in sport and its acquisition: Implications for applied cognitive psychology. Applied
Cognitive Psychology v. 25, n. 3, p. 432–442 , 2011.

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