Você está na página 1de 3

INTRODUÇÃO

A introdução destaca os avanços significativos ocorridos na primeira década do século


XXI no campo do conhecimento aplicado ao futebol, impulsionados pelo
desenvolvimento das ciências do esporte. No entanto, aponta-se uma lacuna no que
diz respeito às metodologias de ensino-aprendizagem, algumas das quais tendem a
valorizar excessivamente a formação de "super-homens" em detrimento da
compreensão da natureza tática do jogo.

A falta de uma metodologia unificadora nos clubes resulta em uma miscelânea de


ideias nos departamentos de futebol de base. Muitos clubes e treinadores optam por
concepções convencionais por serem mais fáceis de compreender, organizar e aplicar,
em contraste com a complexidade exigida pela organização tática do futebol.

Destaca-se a importância do aprendizado tático como chave para o processo de


formação, contrastando o excesso de exercícios com a falta de compreensão do jogo
em equipe. O artigo propõe um estudo bibliográfico reflexivo-propositivo com o objetivo
de apresentar os conteúdos para sustentação de um processo de ensino-
aprendizagem baseado na dimensão tática, destacando a inter-relação entre
metodologia de treino, princípios de jogo e modelo de jogo.

2 METODOLOGIA DE COMPREENSÃO TÁTICA

O texto discute a evolução do ensino do futebol, destacando uma mudança de foco


das dimensões física e técnica para a dimensão tática. Inicialmente, é ressaltada a
tradição no processo de ensino, que historicamente tem se concentrado na dimensão
física e técnica do jogo, levando os jogadores a entenderem pouco sobre o jogo em si
e reproduzirem apenas situações pré-determinadas pelos treinadores (Ho, 2003;
Mitchell, Oslin, Griffin, 2006).

Para superar essa abordagem tradicional, estudiosos como Bayer (1994), Garganta
(1997), Oliveira (2004) e Lago (2006) defendem que a dimensão tática deve ser o
principal norte do processo de ensino do futebol. Gomes (2008) destaca que a
dimensão tática deve ser entendida através da ótica da complexidade, conectando
comportamentos e interações dos jogadores e desenvolvendo uma dinâmica coletiva.
Isso influencia tanto a concepção quanto a escolha dos procedimentos metodológicos
adequados para o desenvolvimento de jogadores pensantes (Bota, Colibaba-Evulet,
2001; Garganta, 2007).

Avanços recentes na pedagogia do esporte têm contribuído para novas propostas de


ensino-aprendizagem, com base em teorias como a cognitivista (Greco, Benda, 1998;
Kröger, Roth, 2002), interacionista (Freire, 2003; Paes, Balbino, 2005), ecológica
(Araújo, Davids, Hristovski, 2006) e complexa e sistêmica (Bunker, Thorpe, 1982;
Scaglia, 2003; Reverdito, Scaglia, 2007). Essas propostas teóricas são fundamentadas
em referenciais metodológicos como o Teaching Games for Understanding, Teoria dos
Jogos Desportivos Coletivos, Jogo Possível, Jogos Situacionais e Pedagogia das
Intenções (Maçãs, Brito, 1998; Mesquita, Pereira, Graça, 2009; Reverdito, Scaglia,
2009).

A abordagem para o ensino pela compreensão, sustentada pela tática do jogo e no


entendimento crítico do contexto, é detalhada em três dimensões, conforme proposto
por Bunker e Thorpe (1982), Mombaerts (1999) e Mitchell, Oslin, Griffin (2006). Essa
abordagem visa desenvolver jogadores autônomos, capazes de responder
eficazmente aos desafios do jogo, promovendo o pensamento crítico, a comunicação e
a habilidade para resolver problemas em equipe (Werner, Bunker, Thorpe, 1996;
Gallagher, 1997; Stepien, Pike, 1997; Casarin, Oliveira, 2010).

Experiências autênticas em situações de jogo, conforme discutido por Kirk e MacPhail


(2002), são destacadas como promotoras de aprendizagem e motivação, pois os
jogadores estão buscando soluções reais. A estruturação de jogos, com modificações
de diversos elementos como espaços, número de jogadores e duração das partidas,
permite uma maior avaliação do jogo e o desenvolvimento da criatividade dos
jogadores (Griffin, Mitchell, Oslin, 1997; Hopper, Bell, 2000). A progressão tática e a
modificação do jogo são princípios pedagógicos cruciais, segundo Garganta (2002) e
Gréhaigne, Wallian, Godbout (2005).

Em síntese, o processo de ensino do futebol implica em uma mudança de foco para a


dimensão tática, promovendo o desenvolvimento de jogadores pensantes e
autônomos, capazes de tomar decisões em situações reais de jogo. Essa abordagem
é sustentada por avanços na pedagogia do esporte e baseada em teorias e
referenciais metodológicos específicos, visando proporcionar experiências autênticas e
significativas aos jogadores.

3 PRINCÍPIOS DE JOGO
O futebol é uma sequência de situações problema organizadas em torno de regras e
princípios, conforme destacado por Garganta (1997; 2007). Esses princípios, segundo
Castelo (1996), funcionam como um quadro de referência para orientar o
comportamento tático dos jogadores, visando à resolução eficaz dos diversos
acontecimentos do jogo. São padrões de comportamentos táticos esperados em
diferentes momentos do jogo, como defendido por Oliveira (2008), e dividem-se em
globais e específicos, conforme Garganta e Pinto (1994). São fundamentais para uma
organização eficaz da equipe e proporcionam soluções táticas para os problemas
enfrentados durante o jogo, como ressaltado por Teodorescu (1984), Bayer (1994) e
Bota e Colibaba-Evulet (2001). A compreensão e aplicação desses princípios são
essenciais para jogar um futebol de qualidade, como destacado por Gomes (2008), e
os jogadores só conseguirão realizá-los corretamente se os compreenderem e os
identificarem como compatíveis com a realidade e as necessidades individuais e da
equipe, conforme Oliveira (2004) e Gomes (2008).

4 MODELOS DE JOGO

O modelo de jogo no futebol, segundo Garganta (1997; 2004), busca proferir


sentido ao desenvolvimento do processo, delineando os caminhos a serem
seguidos e orientando os comportamentos dos jogadores nos diferentes
momentos do jogo. Gomes (2008) ressalta que não existe um modelo único,
pois cada clube possui sua própria cultura de jogo e cada treinador suas
adaptações a essa cultura. Assim, o modelo de jogo deve ser flexível e
adaptável às contingências das interações entre os diversos agentes
envolvidos, como apontado por Oliveira (2004) e Tamarit (2007). Durante o
processo de formação, é importante proporcionar estímulos para os jovens se
adaptarem às adversidades do jogo e desenvolverem sua criatividade dentro
de um sistema dinâmico, conforme destacado por Garganta (2007) e Gomes
(2008). O processo de ensino-aprendizagem orientado pelo modelo de jogo
busca construir uma compreensão dos problemas próprios ao contexto do jogo
e valorizar a capacidade dos jogadores de responder às suas emergências de
forma inteligente e criativa, como ressaltado por Marina (1995).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações finais do texto, com base nos autores mencionados,


destacam a necessidade de fornecer subsídios para pesquisadores,
professores de Educação Física e treinadores envolvidos no processo de
formação e ensino/aprendizagem do futebol. O objetivo é desafiar os jogadores
a resolverem problemas táticos, concebendo uma filosofia orientadora baseada
nos pressupostos da complexidade, articulando metodologia da compreensão
tática, princípios de jogo e modelo de jogo. Essa abordagem busca aprofundar
o entendimento, abrir espaço para novas ideias e promover uma ruptura
ideológica e paradigmática nos procedimentos pedagógico-metodológicos do
futebol. Autores como Garganta (1997; 2007), Oliveira (2004), Gomes (2008) e
outros fundamentam essa proposta, ressaltando a importância de situar o
processo de ensino-aprendizagem em situações jogadas, modificando
parâmetros específicos e sustentando-o por princípios, visando a construção
de novos saberes para a pedagogia do esporte.

Você também pode gostar