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724/2019-1
RELATÓRIO
17. Considerando o objetivo da auditoria, assim como os resultados das técnicas de diagnóstico de
auditoria desenvolvidas (vide seção 1.5 Métodos utilizados), foi definido o escopo do trabalho, o
problema e as questões de auditoria, apresentados no Quadro 1, a seguir:
Figura 3 - Problema e Questões de Auditoria
1.4 Critérios
18. Os critérios gerais utilizados para fundamentar a opinião da equipe foram o arcabouço legal
aplicável ao FCVS, o Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas, elaborado
pelo Tribunal de Contas da União, e os princípios aplicáveis à administração pública.
1.5 Metodologia
19. Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do Tribunal de
Contas da União (Portaria - TCU 280/2010) e com observância aos princípios e padrões
estabelecidos pelo TCU no Manual de Auditoria Operacional. Nenhuma restrição foi imposta aos
exames.
20. Durante a fase de planejamento da auditoria, foram viabilizadas apresentações de servidores
dos órgãos intervenientes à equipe de auditoria por meio de videoconferência, com o intuito de
informar, sob a ótica dos órgãos, as principais dificuldades enfrentadas na implementação do
processo de novação do FCVS. Além disso, foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas, reuniões
com gestores dos órgãos envolvidos e entrevistas com representantes de associações de apoio aos
credores do FCVS (Abecip e ABC Habitações).
21. Ademais, como forma de aprofundar os conhecimentos sobre o tema objeto de estudo e com o
objetivo de levantar os principais problemas que poderiam requerer maior atenção da equipe de
auditoria e o aprofundamento da investigação, foram executadas, ainda, as seguintes técnicas de
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diagnóstico de auditoria: análise dos stakeholders, análise Swot, diagrama de verificação de risco
(DVR) e matriz de riscos e controles.
22. Para obtenção das informações necessárias à execução dos trabalhos, a equipe de auditoria
encaminhou ofícios de requisição aos órgãos (peças 4, 5, 8-11, 15-19 e 67-69), compulsou os autos
das auditorias anteriores (TC 006.013/2001-4 e TC 025.422/2010-3), para verificar quais
recomendações, determinações e ciências foram emitidas e se já haviam sido atendidas.
23. Na fase de execução do trabalho, foram realizadas entrevistas com gestores e servidores
envolvidos no processo de novação. As informações obtidas foram submetidas à análise e suscitaram
o preenchimento da matriz de achados. Após a elaboração da matriz de achados (peça 122), foi
realizado painel de referência com representantes dos órgãos intervenientes, com o objetivo de
discutir a consistência dos achados das conclusões preliminares da equipe de auditoria.
1.6 Organização do Relatório
24. O relatório encontra-se estruturado em quatro capítulos, além da introdução e da proposta de
encaminhamento. No Capítulo 2, apresenta-se uma visão geral do Fundo de Compensação das
Variações Salariais (FCVS), em que o tema é contextualizado, expondo os intervenientes e aspectos
orçamentários e financeiros relacionados à matéria. O Capítulo 3 discorre sobre as principais
constatações relacionadas à eficiência e tempestividade do processo de novação, bem como sobre a
inter-relação do FCVS com outras políticas públicas. O Capítulo 4 destina-se ao registro e a análise
dos comentários oferecidos pelos gestores. O relatório é finalizado pelos capítulos que trazem a
conclusão e a proposta de encaminhamento.
2. Visão Geral
2.1 Contextualização
25. O FCVS foi criado por meio da Resolução n. 25 do Conselho de Administração do extinto
Banco Nacional da Habitação (BNH), de 16/6/1967 e ratificado pela Lei n. 9.443, de 14/3/1997.
Trata-se de um fundo público de natureza contábil e financeira, sujeito às normas aplicáveis aos
fundos da administração direta, criado no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
26. O FCVS foi extinto dois anos após a publicação da Constituição de 1988, em respeito ao art.
36 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Leis que trataram de Planos
Plurianuais (Lei 8.173/1991, art. 6º; e Lei 9.276/1996, art. 4º) recriaram, temporariamente, o FCVS.
Foi ainda editada a MP 1.247, de 14/12/1995, que sofreu várias reedições até culminar na Lei 9.443,
de 14/3/1997, com o objetivo de manter o FCVS.
27. O Fundo de Compensações das Variações Salariais foi criado com a finalidade de garantir o
limite de prazo originalmente estabelecido para amortização da dívida aos adquirentes de habitações
financiadas pelo Sistema Financeiro da Habitação.
28. Ao longo do tempo, outros fins foram incorporados ao fundo:
a) assumir, em nome do mutuário, os descontos concedidos nas liquidações antecipadas e nas
transferências de contratos de financiamento habitacional, observada a legislação de regência;
b) garantir o equilíbrio da Apólice de Seguro Habitacional do SFH; e
c) liquidar as operações remanescentes do extinto Seguro de Crédito.
29. A partir de 25/4/1993, estatuiu-se a não aplicação do FCVS para novos contratos de
financiamento habitacional.
pelos agentes financeiros ao Fundo e créditos decorrentes dos resíduos apurados dos contratos,
condicionado, ainda, ao pagamento das demais dívidas no âmbito do SFH.
41. Ficou estabelecido que, por meio da novação, o pagamento da dívida do FCVS será efetuado
no prazo de 30 anos, contados a partir de 1/1/1997, havendo:
a) 8 anos de carência para o pagamento dos juros, calculados a 6,17% a.a. (operações com
recursos próprios) ou a 3,12% a.a. (operações lastreadas com recursos do FGTS);
b) 12 anos para o pagamento do principal, mediante a formalização de contratos entre a
União e os agentes financeiros.
42. Os principais instrumentos legais e infra legais que têm regulado o processo de novação desde
o seu início, cujos exemplos mais relevantes são mencionados neste subtítulo, estão listados no
Apêndice A.
2.2 Processo de novação
43. Diante do cenário da existência do passivo do FCVS, a União optou pela novação dos créditos
contra o FCVS, que consiste em uma operação jurídica do Direito das obrigações que permite criar
uma nova obrigação, a partir da substituição e extinção da obrigação anterior e originária.
44. O art. 3º, da Lei 10.150/2000, elenca os requisitos para a formalização da novação, conforme
discriminado a seguir:
I - prévia compensação entre eventuais débitos e créditos das instituições
financiadoras junto ao FCVS;
II - prévio pagamento das dívidas vencidas, abaixo definidas, apuradas com base nos
saldos existentes nas datas previstas no § 5o do art. 1o desta Lei, ainda que a
conciliação entre credor e devedor, do valor a ser liquidado, se efetue em data
posterior:
a) das instituições financiadoras do SFH junto à CEF, na qualidade de Agente
Operador do FGTS, decorrentes de operações vinculadas a financiamentos
habitacionais, efetuadas no âmbito do SFH;
b) das instituições financiadoras do SFH junto ao Fundo de Assistência Habitacional
- FUNDHAB, ao Fundo de Garantia de Depósitos e Letras Imobiliárias - FGDLI ou
de seu sucessor e aos demais fundos geridos pelo extinto Banco Nacional de
Habitação - BNH;
III - requerimento da instituição credora, em caráter irrevogável e irretratável,
dirigido ao Ministro de Estado da Fazenda, por intermédio da CEF, aceitando todas
as condições da novação estabelecidas por esta Lei, instruído com a relação de seus
créditos caracterizados, previamente homologados, bem assim com a comprovação
da regularização dos débitos a que se refere o inciso II deste artigo;
IV - requerimento instruído com a relação dos contratos de responsabilidade do
FCVS, não caracterizados, para os fins do disposto no § 8º do art. 1º desta Lei;
V - manifestação da CEF, na qualidade de Administradora do FCVS, reconhecendo a
titularidade, o montante, a liquidez e a certeza da dívida caracterizada;
VI - declaração do credor, firmada por dois de seus representantes legais, quanto ao
correto recolhimento das contribuições mensais e trimestrais ao FCVS, e das
contribuições ao FUNDHAB, no montante e forma estipulados pela legislação
pertinente, bem como sobre a informação, na habilitação de seus créditos ao FCVS,
da origem de recursos, da data e tipo de evento dos financiamentos concedidos aos
mutuários finais;
VII - parecer da Secretaria Federal de Controle, sobre o disposto no inciso V;
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Quantidade
Novados/Baixados 1.537.269
Homologados com valor 1.241.402
Auditados 1.034.412
Não-auditados 206.990
Homologados sem valor 519.864
Habilitados e não homologados 95.054
Dossiês entregues 78.631
Dossiês não entregues 16.423
Deduzidos por antecipação 7.959
Não habilitados 409.802
Inativos 379.715
Ativos 30.087
Total de contratos com previsão de cobertura do FCVS 3.811.350
Fonte: Caixa (peça 63, p. 13).
Nota: Posição em 1/6/2019.
2.3 Principais órgãos intervenientes
57. Vários órgãos intervêm para formalizar o processo de novação: Caixa, CGU, STN, PGFN, ME
e BCB, cujas atribuições estão delineadas na Lei 10.150/2000 e no MNPO.
Figura 5: Stakeholders (intervenientes) e fiscalizadores do processo de novação
10
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72. Os dados levantados durante a auditoria demonstraram que o processo de novação não vem
sendo executado de modo eficiente pelos órgãos responsáveis.
73. A questão aqui tratada buscou analisar a eficiência do processo de novação com base em
indicadores que refletissem os resultados alcançados pela política pública desde o início de sua
execução.
74. A eficiência ganha destaque porque a novação dos créditos contra o FCVS possui prazo para
finalização estabelecido pela Lei 10.150/2000. O não encerramento da política dentro do prazo
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previsto, por conseguinte, está associado a riscos sistêmicos com impacto nas finanças do Tesouro
Nacional e na organização do Sistema Financeiro Nacional, conforme será detalhado adiante no
presente relatório.
75. A eficiência, princípio de envergadura constitucional, é definida pelo Manual de Auditoria
Operacional do TCU como a relação entre os produtos (bens e serviços) gerados por uma atividade e
os custos de insumos empregados para produzi-los, em certo período de tempo, com manutenção dos
padrões de qualidade.
76. Pode-se afirmar que a dimensão de eficiência possui afinidade com a de economicidade, sendo
examinada sob duas perspectivas: redução dos custos totais para produção da mesma quantidade e
qualidade do produto; ou otimização do uso de insumos para maximizar o produto quando o gasto
total já está fixado previamente.
77. Nessa perspectiva, inicialmente, constatou-se uma queda significativa do volume de créditos
novados após o exercício financeiro de 2011, tendo um ligeiro aumento em 2015, em conformidade
com a resposta da Secretaria do Tesouro Nacional (peça 50, p. 2) à diligência da equipe de auditoria.
Do período de 2012 a 2018, a média anual de novação alcançou R$ 2 bilhões, ao passo que, de 2005
a 2011, a média foi de R$ 5,6 bilhões, sendo de R$ 16,6 bilhões de 1998 a 2004 (peça 85).
78. O gráfico a seguir reflete os valores novados anualmente desde o início da política.
Gráfico 2 – Valores novados em cada exercício – R$ bilhões
50,6
37,1
20,6
11,3
9,2 9,3
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
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2010. A partir de 2011, a aludida despesa apresentou valores crescentes, exatamente no período em
que houve a redução dos valores novados, o que mostra um abalo à eficiência do processo.
83. De 2012 a 2018, conforme informações à peça 88, foram pagos à Caixa R$ 978,9 milhões,
sendo novados R$ 14,5 bilhões neste período. Assim, o valor da remuneração da Caixa foi
equivalente a 7% dos valores novados. Esse percentual é superior ao que se observou em relação aos
períodos de 2005-2011 (2% - R$ 641,6 milhões para R$ 39,4 bilhões novados) e de 1998-2004 (1% -
652,2 milhões para R$ 116,3 bilhões novados).
84. Feita igual análise para os anos de 2017 e 2018, nos quais houve queda de mais de 70% do
valor novado em comparação com os anos de 2015 e 2016, verificou-se que a relação entre a taxa de
administração e o valor novado foi de 16% e 12% respectivamente. Foi observado ainda situação
atípica ocorrida nos anos de 2013 e 2014. No primeiro, o gasto com taxa de administração foi maior
que o valor novado. Em 2014, por sua vez, foram gastos R$ 128,4 milhões de remuneração à Caixa,
sendo nulo o volume de novação no ano, conforme demonstra o gráfico a seguir:
Gráfico 3: Valor novado versus taxa de administração
Indicador da Qualidade das Análises Realizadas (IQAR): do tipo quanto menor 2015 – 0,037
é melhor, é a relação entre a quantidade de reanálises realizadas e a quantidade
2016 – 0,32
de contratos analisados e revisados, sendo que sua deterioração explica, em
grande medida, o aumento do custo por análise
14
2017 – 0,485
2018 – 0,152
Indicador de Viabilização de Novação do FCVS (IVNF): do tipo maior é melhor, 2015 – 0,6376
é o quociente entre o valor correspondente aos processos de novação
2016 – 0,0292
encaminhados à STN e o valor total de contratos homologados, validados e
auditados (aptos à novação em tese). 2017 – 0,0332
2018 – Não foi possível calcular
Fonte: Caixa
86. O Indicador de Custo por Análise, por exemplo, mostra que houve elevação de 76% do custo
médio para apurar os saldos dos contratos entre os anos de 2015 e 2018 (R$ 348,64 para R$ 616,69).
Convém esclarecer que a melhora do Indicador da Qualidade das Análises Realizadas em 2018
ocorreu porque a auditoria efetuada pela Caixa nos contratos deixou de ser por amostragem
passando a ser análise censitária (auditoria realizada individualmente em cada contrato), ante a
recomendação da CGU para reformular o plano amostral, e não em virtude do aperfeiçoamento dos
procedimentos de exame dos créditos.
87. É importante anotar que na auditoria censitária, a auditoria interna da Caixa não devolve o
lote de contratos a serem novados para reanálise, uma vez que, caso haja quaisquer inconformidades,
o contrato é retirado do lote, e se possível substituído por outro, de modo a continuar o processo de
novação, com impacto direto no IQAR.
88. Salienta-se que a análise censitária demandou, por óbvio, um maior esforço da Caixa para
verificação da titularidade e liquidez dos créditos, tendo como consequência direta a redução da
quantidade de contratos analisados.
89. A ineficiência do processo de novação, aspecto verificado especialmente a partir do exercício
de 2012, está associada, entre outros aspectos, tanto à insuficiência de sistemas informatizados
quanto a conflitos de entendimento entre os órgãos envolvidos a respeito da condução dos
procedimentos. Um desses conflitos foi gerado a partir de apontamentos realizados pela CGU, em
2017, acerca da validade do plano amostral utilizado pela Auditoria da Caixa, cujos desdobramentos
acabaram levando a uma forte redução no ritmo das novações (tema tratado com mais detalhes no
Subtítulo 5.2 Falta de articulação sinérgica entre os órgãos intervenientes na novação do FCVS).
90. Foi observado ainda, no âmbito dos procedimentos executados pela Caixa Econômica, que há,
desde 2016, um elevado número de reanálises demandadas pela auditoria interna da entidade, sendo
que, em alguns casos, a quantidade de reanálises foi superior ao número de contratos homologados
no exercício, conforme exposto no gráfico seguinte. Esse quadro, certamente, contribui para a perda
de eficiência final do processo.
Gráfico 4 – Reanálises de contratos demandadas pela Auditoria Interna da Caixa
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16
17
Fonte: Caixa
107. No Relatório de Gestão de 2018 da Caixa, é registrado que o resultado desse ano é impactado
pela diminuição do número de reanálises de contratos por determinação da auditoria interna, devido
à suspensão das auditorias amostrais de contratos no processo de novação de dívidas do FCVS, para
elaboração de novo modelo amostral recomendado pela CGU (peça 90, p. 44).
108. Os últimos três exercícios, a despeito de 2018 atípico, apresentaram alta ineficiência na
execução das tarefas de homologação de contratos. O nível de retrabalho aferido nos últimos três
exercícios demonstra a baixa qualidade dos serviços de homologação.
109. A Caixa no Relatório de Gestão do FCVS 2017 (peça 91, p. 68) reconhece a necessidade de
atualizações e melhorias estruturais das funcionalidades do FCVSCONT, informando trabalhar pela
substituição deste sistema pelo Sistema de Controle da Arrecadação do FCVS (SICTR). Essa
substituição só veio a ocorrer em agosto/2019, conforme informado no Ofício 382/2019/CECVS/SP,
de 5/9/2019 (peça 64, p. 6, alínea “n”).
110. Além disso, durante os trabalhos de auditoria, os órgãos envolvidos no processo de novação
demonstraram estar encontrando dificuldades para solucionar problemas detectados na execução dos
trabalhos. Em razão disso, o encaminhamento de soluções dos problemas é prejudicado por essas
dificuldades e pela falta de articulação entre os órgãos. Esse tema é objeto do capítulo seguinte.
111. Há que se considerar, entretanto, que o coração dos trabalhos de novação está nas atividades
de homologação e novação, no âmbito da CECVS, a quem incumbe exercer o papel de administrador
do FCVS. A qualidade dos trabalhos ali executados condiciona a atuação dos demais atores do
processo.
112. As falhas detectadas precisam de ação mais eficaz do CCFCVS e da Caixa, na condição de
administrador do FCVS, para melhor executar as atividades. O grave nível de falhas verificado e a
escala crescente de erros faz supor que a Caixa não acumulou experiência no decorrer de anos de
execução da atividade, como também não tem gerado a necessária retroalimentação do sistema de
operação, visando ao aperfeiçoamento dos trabalhos.
113. As repetidas referências nos documentos de monitoramento à necessidade de treinamento e de
providências para adequar a estrutura tecnológica e de apoio para o bom desempenho da atividade
levam a concluir que ou as providências não foram adotadas ou não foram adequadas a solucionar o
baixo desempenho.
114. Por outro lado, faltando sete anos dos trinta fixados em lei para a conclusão dos trabalhos, a
urgência para se obter elevação dos padrões dos serviços de homologação/novação impõe um
enfrentamento das falhas vigoroso, de modo a que os resultados na atuação da Caixa sejam,
prontamente, percebidos.
115. O Relatório de Avaliação Atuarial, de 30/11/2018, estima que ainda existam 503.162 contratos
pendentes de homologação, incluindo os habilitados, mas não homologados, os liquidados em poder
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dos agentes financeiros e os contratos ativos com valor residual, representando um total de R$
15.909,9 milhões (peça 46, p. 3-4, 6-8, 9-10).
116. Mesmo que as reanálises sejam desprezadas nos cálculos, esse volume de contratos pendentes
de homologação demandaria mais de onze anos e cinco meses para serem homologados. Contando de
2020, faltam apenas sete anos para expirar o prazo legal (01/01/2027).
117. É certo que, a cada ano que se aproxima do fim do prazo legal, torna-se mais evidente a perda
de um dos principais pressupostos da edição da Lei 10.150/2000: o parcelamento em longo prazo, de
modo a ajustar os desembolsos à programação financeira da União. Paralelamente, aumenta-se o
impacto financeiro da novação, haja vista que, com a emissão de títulos públicos para extinguir a
dívida anterior, a União é forçada a efetuar expressivos desembolsos em dinheiro correspondentes
aos anos vencidos de juros e amortização, na oportunidade da emissão dos títulos CVS.
118. O curto prazo disponível para concluir as novações não se concilia com propostas que exijam
muito tempo para que sejam implementadas. Urge que a solução seja engenhosa e de rápida
aplicabilidade, para que possa incorporar ganhos de produção e de produtividade ao processo de
novação.
119. Diante do quadro observado, considera-se pertinente recomendar à Caixa Econômica Federal
que, no prazo de 180 dias, elabore plano para equacionar o elevado índice de falhas na homologação
e novação dos créditos, considerando a necessidade de este plano de ação ser colocado em operação
em curto prazo, de modo a viabilizar a conclusão das atividades antes de 01/01/2027, contemplando:
a) a definição de conjunto de competências a serem preenchidas pelos empregados
alocados nas atividades de homologação/novação, adotando providências no sentido de direcionar os
programas de capacitação para a satisfação dos requisitos fixados;
b) a revisão dos procedimentos e rotinas desde a habilitação até a novação, incluindo
as atividades de controle, com o objetivo de obter ganho de qualidade e de agilidade no processo e
melhor alinhamento de atuação entre as áreas de operação e de controle, para imediata e segura
correção das falhas identificadas, e pronta correção dos métodos e normas aplicáveis.
c) reavaliação da infraestrutura operacional, de modo a responder, adequadamente,
aos desafios de produção de trabalhos com menor nível de erros, tendo em mira o prazo para a
conclusão das novações, em particular a otimização da infraestrutura computacional mediante maior
integração dos diversos sistemas.
120. Cabe recomendar, ainda, à auditoria interna da entidade que inclua, no Plano de Auditoria
2020, ação operacional para fiscalizar e acompanhar as ações em desenvolvimento na Caixa,
especialmente quanto à eficiência, à qualidade e à tempestividade do processo de
análise/homologação e instrução do processo de novação dos créditos contra o FCVS, informando, se
possível, indicadores de resultado aptos à solucionar as causas e os problemas identificados, e, após
a conclusão dos trabalhos, remeta ao Tribunal, no prazo de 90 dias, os resultados obtidos.
121. Com a adoção dessas medidas, espera-se que ocorra uma redução de erros no processo de
homologação e novação; aumento de produtividade; incremento do nível de segurança na aferição da
titularidade, montante, certeza e liquidez dos créditos; e economia com taxa de administração paga
ao administrador do FCVS pelo ganho de eficiência no processo.
123. Constatou-se que os órgãos intervenientes não vêm se articulando de maneira sinérgica, o que
tem prejudicado a celeridade, a eficácia e a eficiência do processo de novação.
124. O Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas, elaborado pelo Tribunal
de Contas da União, é expresso no sentido de que as políticas públicas devem ser integradas, de
forma que as ações e os objetivos específicos das intervenções empreendidas pelas diversas partes
interessadas sejam alinhadas para se reforçar mutuamente. Espera-se a institucionalização e reforço
dos mecanismos de coordenação a fim de criar condições para a atuação conjunta e sinérgica.
125. O exame aqui empreendido mostrou que o relacionamento entre os órgãos apresenta
embaraços, como a divergência de entendimento a respeito de ações e procedimentos inerentes ao
processo e dificuldades para solução dos conflitos gerados. Como consequência, resta claro o
prejuízo à eficácia e à eficiência do processo de novação.
126. A Lei 10.150/2000 estabeleceu claramente que o processo de novação dos créditos FCVS é
composto por cinco etapas a serem desempenhadas por distintos órgãos. O processo se inicia com a
apresentação dos títulos à Caixa Econômica para análise da titularidade, liquidez e certeza da
dívida, e encerra-se com a autorização do Ministro da Economia para emissão dos títulos, sendo
assim consolidada a novação dos créditos, com a extinção da obrigação anterior entre o agente
financeiro credor e o FCVS, sendo estabelecida nova obrigação entre o credor e a União, nos moldes
previstos na Lei 10.150/2000.
Figura 6 – Representação simplificada do processo de novação
20
quando da reformulação do plano amostral, com os ajustes das premissas consideradas frágeis, esse
deveria ser aplicado aos contratos homologados com intuito de mensurar o grau de confiabilidade da
avaliação anterior. A partir disso, a gestão do Fundo teria base para decidir sobre o destino dos
créditos homologados, com base no apetite a risco, custos e benefícios (peça 71, p. 1).
140. Quanto à eventual necessidade de aprovação do novo plano, a CGU salientou que não há
competência normativa prevista nesse sentido, e que a decisão, da mesma forma que os créditos
homologados, cabe à gestão do fundo. Aduz que a recomendação para reformulação do plano foi
atendida, o que reforçaria a ideia de que os órgãos de gestão fundo devem decidir acerca de sua
utilização.
141. A Caixa, no entanto, diante da situação, elaborou uma proposta para dar um tratamento
diferenciado ao novo plano amostral e às revisões dos processos já homologados, com previsão de
flexibilização das margens de erro previstas para os contratos de valor inferior e buscou a anuência
da CGU, por meio do Oficio 088/2019/VIFUG/DEFUS/SUFUS, de 5/8/2019 (peça 63).
142. Além disso, entendia que a CGU deveria aprovar o plano e que os créditos homologados não
devem passar pelo crivo do novo plano. Inclusive, a Caixa enviou o Ofício
088/2019/VIFUG/DEFUS/SUFUS (peça 63) ao Ministro da CGU justamente para que houvesse
aprovação do plano e para que fosse reconsiderado o posicionamento no que tange aos créditos já
auditados.
143. Esse entendimento, conjugado com as interpretações distintas dos órgãos intervenientes do
processo em relação a pontos que envolvem o seu andamento, bem como com as dificuldades de
articulação existentes levaram ao impasse e à quase paralisação do processo de novação.
144. Como consequências desse quadro, é relevante apontar a substancial queda na eficiência no
processo e, também, a perda de oportunidade de utilização dos créditos orçamentários consignados
para a novação de contratos (mais de 85% do crédito orçamentário previsto em 2017 e 2018 não foi
utilizado).
145. Diante dos conflitos relacionados ao plano amostral e de outros que motivaram a baixa
novação nos últimos exercícios financeiros, o Poder Executivo mobilizou-se para negociar com o
Poder Legislativo emendas à Medida Provisória 889/2019. Essa medida trata, entre outros pontos, da
remuneração, escrituração de dados e movimentação de contas do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS).
146. Como a novação de créditos contra o FCVS implica um maior direcionamento de recursos ao
FGTS, as emendas buscaram incluir dispositivos da Lei 10.150/2000 a fim de resolver problemas
enfrentados na novação dos créditos do FCVS. Como exemplo, foram incluídas as seguintes
alterações na Lei 10.150/2000 (peça 107, p. 60-65):
(i) taxa de juros de 3,12% ao ano para operações realizadas com recursos oriundos do
FGTS ou cuja origem não possa ser evidenciada (essa inovação legislativa propõe solucionar a
dificuldade existente de comprovação da origem dos recursos, que definia a taxa de remuneração do
título novado -3,12% a.a. ou 6,17% a.a. - na nova sistemática, caso não haja a comprovação da
origem, será adotada a menor taxa);
(ii) dispensa de comprovação de recolhimento de contribuições no caso de contratos
assinados no período de 16/6/1967 a 31/12/1977;
(iii) estabelecimento de margem de erro decrescente conforme faixas crescentes de
valores para os contratos;
(iv) critérios de remuneração dos títulos emitidos;
(v) contratos já homologados até 31/8/2017 integrarão processo de novação conforme
constam dos registros, não podendo ser reavaliados;
22
(vi) contratos já novados são irrevogáveis, não podendo ser alterados em vista de
mudança posterior de entendimento aplicado à época.
147. Um outro exemplo de falta de articulação entre os órgãos envolvidos no processo para
definirem a melhor forma de operacionaliza-lo diz respeito à atuação do Banco Central no
atendimento do comando do §5º do art. 3º, da Lei 10.150/2000, que trata da aferição da veracidade
da declaração dos credores quanto ao correto recolhimento das contribuições ao FCVS.
148. A CGU, por meio da Nota de Auditoria n. 51, de 9/7/2017 (peça 26, p. 32), fez três
recomendações ao Banco Central, por entender que a atuação da autarquia “carece de formalização
de procedimentos institucionais e aprimoramentos no que se refere à extensão e à profundidade dos
escopos de sua atuação”.
149. A seu turno, as recomendações da CGU foram objeto de debate pelas áreas técnicas do Banco
Central, tendo sido elaborado o Parecer Jurídico 493/2017-BCB/PGBC, de 24/7/2017 (peça 26, p.
32-54). Entre as conclusões do parecer, expõe-se o entendimento de que cabe ao Banco Central
aferir as declarações dos agentes credores do FCVS, de acordo com parâmetros técnicos adotados
nas fiscalizações das demais atividades exercidas no âmbito do sistema financeiro.
150. Diante do que foi apurado, considera-se necessário recomendar ao Conselho Curador do
FCVS, de forma a bem cumprir o que preceitua o art. 1º, incisos II e III do Decreto 4.378/2002, que
promova, no âmbito do Conselho e entre os órgãos com assento no CCFCVS, a discussão de medidas
necessárias para a adequada retomada do processo de novação, a solução de conflitos de
entendimentos entre os órgãos integrantes do processo, bem como para a melhoria de articulação
entre esses órgãos.
151. Ademais, considera-se que, conforme faculta o § 5º do art. 4º do Decreto 4.378/2002, devam
participar dessas discussões, também, outros órgãos com papel relevante no processo como
convidados, como a CGU e o Bacen.
152. Espera-se que a adoção dessas medidas contribua para a normalização do processo de novação
e para a mitigação dos riscos decorrentes do não atendimento do prazo legal previsto na Lei
10.150/2000 para conclusão do processo, questão tratada com mais profundidade nos dois capítulos
seguintes.
23
157. Considerando o período faltante para terminar o prazo legal (1/1/2027), mantido o último ritmo
de atividade apurado, serão novados mais 128.769 contratos de um estoque de 1.867.821, ou 6,91%
do total. Ou seja, mantido o ritmo de novações dos últimos exercícios financeiros não haverá tempo
hábil à securitização.
158. Para que a execução da novação de todos os contratos seja considerada viável de se executar
dentro do prazo, o ritmo de novações teria que ser superior a 18.103 contratos por mês ou 14,5 vezes
o ritmo observado mais recentemente.
159. Além disso, os valores consignados na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) de 2019 para a
novação também são incompatíveis com o cumprimento do prazo de conclusão dos trabalhos (Lei
13.707/2018 - LDO 2019), Anexo V, Riscos Fiscais, item 3.1.6.1).
160. Considerando o valor total de contratos não-habilitados, habilitados e homologados, de
R$ 107,6 bilhões (peça 46, p. 3, 4, 8 e 10), e o prazo de sete anos disponível para concluir o processo
de novação, o ritmo de novações teria que ser superior a R$ 15 bilhões ao ano para que a política
fosse 100% implementada. Entretanto, nos anos mais recentes, desde 2015, vem sendo consignados
no orçamento os valores de R$ 12,5 bilhões a cada ano.
161. Para se obter maior precisão, pode-se utilizar os valores de contratos homologados com valor
(item 1.2 do quadro de Grandes números do FCVS, anexo da NT 001/2018, peça 61, p. 16) para
estimar o saldo residual médio a ressarcir de responsabilidade do FCVS por contrato. Chega-se a R$
72.801,00. Se o fluxo anual de contratos para novação observar o mínimo de desempenho esperado, o
valor do saldo médio contratual, multiplicado pela quantidade de contratos a novar (1.744.564),
deduzida a execução orçamentária de 2018 (R$ 1,68 bilhões) e calculando o saldo a contar de 2020,
a execução orçamentária, anual deverá manter comportamento mínimo de R$ 17,9 bilhões por ano.
162. Como já informado, entre 2015 e 2019, a Lei de Diretrizes Orçamentárias tem inserido previsão
de novação de R$ 12,5 bilhões. Sendo assim, essa previsão orçamentária terá que se expandir em
quase 44% para atingir os valores anuais necessários.
163. A equipe da STN informou em reunião com a equipe de auditoria no dia 28/11/219 que
ocorreria uma expansão do valor alocado no orçamento de R$ 12,5 bilhões para R$ 15 bilhões nos
próximos orçamentos. Entretanto, essa alocação de recursos orçamentários ainda é inferior à
estimativa de cerca de R$ 18 bilhões ao ano, para fazer face ao volume de novações necessário para
concluir o processo dentro do prazo fixado em lei.
164. É importante considerar que a STN reconheceu na Nota Técnica SEI
n. 5/2018/GEREL/COPEC/SUPOF/STN-MF, 19/3/2018, que “o desempenho do processo de novação
tem sido insuficiente para atingimento dos prazos previstos na Lei acima citada” (peça 50, p. 1). A
STN levantou preocupações que demandam atenção e envolvimento de instâncias superiores do
governo e apontou que as tratativas administrativas não têm prosperado.
165. Informações contidas no Relatório de Avaliação Atuarial de 30/11/2018 estimam que existiam
503.162 contratos ainda pendentes de homologação, incluindo os habilitados, mas não homologados,
os liquidados em poder dos agentes financeiros e os contratos ativos com valor residual,
representando um total de R$ 15,9 bilhões (peça 46, p. 3-4, 6-8, 9-10).
166. Conforme indicadores informados pela Caixa, mesmo que as reanálises sejam desprezadas nos
cálculos, esse volume de contratos demandará mais de onze anos e cinco meses para serem
homologados, considerando os dados de produtividade média anual e a média de analistas nas
atividades de homologação observados em 2018 (peça 64).
167. Destaque-se que o prazo calculado corresponde apenas à atividade de homologação dos
contratos. Depois dessa etapa, esse montante de contratos deverá ser submetido à certificação por
parte da Auditoria da Caixa.
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168. Além dos contratos a homologar, existiam, ainda, 1.241.402 contratos já homologados, na
posição de 1/6/2018. Desse total, 1.034.412 já haviam sido auditados, mas 206.990 ainda não. Os
auditados estavam em condições de continuar processo de novação (peça 61, p. 16). Somando os
contratos homologados e não auditados aos ainda por homologar, existiam 710.152 que ainda serão
submetidos à Auditoria da Caixa para certificação.
169. A Auditoria da Caixa estimou como meta anual alcançar capacidade de auditoria entre 2.300 e
3.350 contratos por ano, para conseguir concluir o processo no âmbito da Caixa até 2027 (peça 61,
p.12). Essas estimativas consideram o aproveitamento de legado, que envolvia contratos já auditados
pelo plano amostral anterior. Portanto, a sanção da Lei 13.932, de 11/12/2019, que desobriga a
realização de novas auditorias para contratos marcados como já auditados na posição de 31/8/2017
diminuiu o volume de contratos a serem analisados, o que permitirá a conclusão dos trabalhos de
auditoria com um nível menor de produção (ou produtividade).
170. É importante ressaltar que a auditoria Interna da Caixa participa de uma última fase, de
emissão de Parecer (Portaria MF 351/2013, art. 4º, X), para posterior expedição dos lotes de
contratos à Controladoria-Geral da União (CGU) para continuidade do processo de novação.
171. Conforme estabelece a Portaria CGU n. 1.040/2019, a CGU tem prazo de até noventa dias para
emissão do parecer e encaminhamento do processo de novação de dívida do FCVS ao Ministério da
Economia, contados a partir do recebimento do processo. Entretanto, a CGU informou que, até o
exercício de 2019, não havia controle que permitisse o monitoramento, de forma estruturada, dos
prazos utilizados pela CGU para análise dos processos de novação (peça 76, p. 3-4).
172. Em seguida, os processos seguem para o Ministério da Economia. A Portaria 251/2005 do
Ministério da Fazenda (art. 2º) estabelece prazo de até dezoito meses para a conclusão do processo
de novação no âmbito daquele Ministério, que é compartilhado com a Secretaria do Tesouro
Nacional.
173. A PGFN, por sua vez, informou por meio do Parecer SEI n. 326/2019/CAF/PGACFFS/PGFN-
ME, de 1/8/2019, que não há especificação de prazo para a sua atuação (peça 25, p. 8).
174. Considerando a atuação de todos esses intervenientes, as atividades precisam ser articuladas e
coordenadas para que o fluxo não seja comprometido.
175. A dificuldade de conclusão do processo no prazo definido explica-se, principalmente, pela
queda observada no volume produzido a cada ano. Os gráficos na sequência demonstram que tanto a
produtividade quanto a quantidade de analistas alocados nas atividades de homologação e novação
têm caído ano a ano. Essa tendência está alinhada com a correspondente curva declinante da
quantidade de contratos analisados (peça 64, p. 4-5).
176. Este quadro de queda da capacidade de produção é agravado pela conjugação com o gráfico
de reanálises, pois demonstra que, a despeito de o número de contratos analisados diminuír, a
qualidade dos trabalhos tem se deteriorado.
Gráfico 6: Quantidade de contratos analisados x quantidade de analista versus produtividade
25
necessidade de elaboração de novo plano amostral para a realização de auditorias por parte da
Auditoria Interna da Caixa. Na Nota Técnica AUDIT/AUDAT 0001/2018 (peça 61, item 3 e 4, p. 5-
15), a Caixa relatou a inviabilidade de cumprir o prazo fixado na Lei 10.150/2000, se tivesse que
refazer a auditoria dos contratos com base no novo plano amostral e propunha encaminhamentos
para o enfrentamento do problema.
179. Nessa situação, a Caixa elaborou proposta de aproveitamento dos contratos auditados, mas
pendentes de novação, na tentativa de reanalisar o mínimo de créditos possível, a partir da aplicação
do novo plano amostral. Para tanto, cogitava aumentar o número de contratos por lote de 3.000 para
10.000, para acelerar os trabalhos. Para tornar viável a formação do lote, mudaria o critério de
matrícula para agente financeiro credor, assim reduziria a pulverização de lotes vinculados ao
mesmo credor, viabilizando a conclusão das auditorias no prazo previsto (peça 61, p. 10).
180. Ademais, a Caixa estimou meta de produção de homologações de contratos entre 71 e 116 mil
contratos por ano, para conseguir concluir os trabalhos até 2027. Com um desempenho mensal entre
6 e 10 mil contratos, seriam elaborados dois lotes de até 5.000 contratos para avaliação da Auditoria
(peça 61, p. 10).
181. Cogitou, ainda, a flexibilização no intervalo de confiança de 95% para 90%, para permitir o
incremento da produtividade da Auditoria (peça 61, p. 11). Adicionalmente, elaborou um cenário de
aproveitamento de créditos auditados, de modo que, com um desempenho entre 2.300 e 3.350
auditados por ano, conseguiria concluir o processo de homologação e auditoria no âmbito da Caixa
dentro do prazo (peça 61, p. 12).
182. Em síntese, em 2018, a Caixa propôs as seguintes mudanças na metodologia de avaliação dos
contratos, como meio de melhorar a gestão do estoque dos contratos (peça 61):
Tabela 4: Síntese da metodologia proposta pela Caixa para avaliação dos contratos
Parâmetro Vigente Proposta
Legado (contratos Qualidade
homologados)
População Contratos homologados com
Contratos homologados até 2018 Contratos homologados a partir de 2019
participação do FCVS maior que
0%.
- Matrícula do agente
- Grupo de agentes financeiros
- Grupo de agentes financeiros (habilitação);
(habilitação); (habilitação);
Segregação da - Contratos homologados com valor;
- Situação de validação (RCV); - Faixa de valor;
população (população
alvo)
- Reanálise (rejeitados) e primeira
- Contratos homologados com valor;
auditoria.
- Situação de validação (RCV).
Não há segregação por faixa 1) R$0,00 a R$100 mil Não há segregação por faixa.
Faixa de Valor 2) R$100 mil a R$300 mil
3) Acima de R$300 mil
Tamanho máximo 3.000
de contratos 10.000 contratos 5.000 contratos
lote
- Sistemática - Estratificada com alocação ótima; - Estratificada com alocação ótima;
Amostragem - 2% da população amostrada -ouConforme fórmula definida no plano
- - Conforme fórmula definida no plano
no mínimo de 30 itens amostral; amostral;
- Possível até dois complementos
- Possível complemento amostral. - Possível complemento amostral.
amostrais.
Nível de confiança 95% 90% 90%
Margem de erro 3% 2% a 5% 3%
Fonte: Caixa
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§ 19. Para fins de comprovação de regularidade de recolhimento das contribuições ao FCVS até 31
de dezembro de 2018, serão considerados os valores registrados nos sistemas e controles da CEF até
a referida data, não aplicado, nesses casos, o disposto no § 13 do art. 3º desta Lei.
190. Outrossim, o volume de novações no período de 2012 a 2015 foi reduzido, em decorrência dos
seguintes fatores: (i) entendimento firmado pela CGU quanto ao conceito de instituição
financeira/entidade credora, solucionada com a edição da Portaria MF 351/2013, com retomada da
instrução das novações em 2014; e (ii) apontamentos da CGU, em 2014, de lacunas normativas
relativas ao critério de correção dos títulos CVS lastreados em recursos não oriundos do FGTS, ao
critério de apuração das dívidas nos casos de cessão de créditos e à forma de comprovação do
recolhimento das contribuições mensais ao FCVS, todos equacionados com a edição da Lei
13.043/2014 (item 1.5 do Ofício 109/2019/DEFUS/SUFUS, de 31/7/2019, peça 39, p. 6; alínea “g”
do Ofício 382/2019/CECVS/SP, de 5/9/2019, peça 64, p. 3).
191. Entre os possíveis efeitos do retardamento da finalização do processo de novação para além do
prazo definido em lei, merece destaque o risco de aumento considerável de judicialização dos
processos. A judicialização traz consigo o risco de aumento dos custos para o erário, em razão de
eventual aplicação das regras contratuais anteriores, como também de concentração do desembolso da
despesa para a União em curto intervalo de tempo.
192. Deve-se ressaltar ainda que, apesar de o § 6o do art. 1º da Lei 10.150/2000 prescrever que a
novação das dívidas do FCVS far-se-á, anual ou semestralmente, a partir de 1o de janeiro de 1997, de
acordo com cronograma a ser estabelecido em portaria do Ministro de Estado da Fazenda (atual
Ministério da Economia), não existe portaria ministerial com o cronograma das novações (peça 116).
193. Nesse sentido, diante da importância de que seja assegurada a finalização do processo de
novação dentro do prazo legal, propõe-se determinar ao Ministro da Economia que edite a portaria
contendo o cronograma das novações do FCVS, de modo a garantir o cumprimento do prazo
legalmente previsto.
194. Também é importante dirigir recomendação ao Conselho Curador do FCVS, ao Ministério da
Economia, ao Banco Central do Brasil, à Secretaria do Tesouro Nacional, à Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional e à Caixa Econômica Federal, para que, no prazo de 90 dias, elaborem plano de
trabalho, individualmente, a partir das discussões e decisões do CCFCVS e do cronograma definido
pelo Ministro da Economia, com o objetivo de assegurar que a conclusão dos trabalhos ocorra dentro
do prazo e observando as diretrizes nele dispostas, que deverá contemplar:
a) cronograma de novação dos créditos contra o FCVS até o prazo final legal;
b) fixação de metas anuais;
c) alinhamento do ritmo de novações às diretrizes fixadas para os desembolsos
financeiros, de modo a minimizar os impactos sobre o Caixa, especialmente nos últimos anos;
d) adequação da sua capacidade operacional, de modo a bem cumprir o plano
aprovado, abrangendo infraestrutura de tecnologia, quadro de pessoal, conjunto de normas de
referência, entre outros.
195. Espera-se que a adoção das medidas propostas possa contribuir para assegurar a conclusão do
processo dentro do prazo definido, evitando, assim, a elevação dos custos da União com a
manutenção da estrutura ora mobilizada para conduzir a atividade e com o pagamento de sentenças
judiciais mais onerosas.
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ótica do Banco Central, em reforço imediato das provisões do Bacen para prejuízos, em mais de R$
25 bilhões, com impacto no seu resultado, a ser transferido para o Tesouro Nacional.
214. Além disso, as instituições devedoras não possuem outros ativos significativos para satisfação
dos seus débitos, o que poderá levar a dívida à execução judicial pelo Banco Central, para se obter a
penhora do FCVS dado em garantia (peça 26).
215. Desse modo, o insucesso de muitas instituições credoras do FCVS, que se encontram
envolvidas no Proer/Refis das Autarquias no processo de novação, teria reflexos diretos nos
resultados do Banco Central, cuja responsabilidade recai à União (Tesouro Nacional).
216. Outro programa governamental que pode ser afetado pela falta de tempestividade do processo
de novação é o Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (Proef),
estabelecido pela Medida Provisória n. 2.155, de 22/6/2001. Após sucessivas reedições, teve seu
regramento consolidado na Medida Provisória n. 2.196-3, de 24/8/2001, tocando a execução à
Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e à Empresa Gestora de Ativos (Emgea).
217. O Proef procurou atender à necessidade de explicitação dos subsídios concedidos nos
programas de desenvolvimento econômico e social operacionalizados por intermédio de instituições
financeiras federais, com previsão de alocação dos recursos correspondentes na proposta de lei
orçamentária encaminhada à deliberação do Congresso Nacional, objetivando com isso oferecer
remuneração apropriada a essas instituições.
218. O programa teve por objetivo o fortalecimento dos bancos federais, também atingidos pelas
mudanças decorrentes do Plano Real, de modo a promover a sua adequação patrimonial a padrões
estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
219. O fortalecimento era necessário devido à materialidade dos créditos de baixa remuneração e de
difícil recuperação. Além disso, essas instituições foram afetadas pela existência de subsídios
vinculados às operações de crédito nas áreas de saneamento, habitação, agricultura, pequenos e
médios produtores e financiamentos de programas de desenvolvimento regional.
220. A restruturação dos bancos federais realizada pelo Proef focou quatro instituições: Banco do
Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (Caixa), Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste
(BNB). As características do programa foram as seguintes: a) a transferência de empréstimos
vencidos para uma empresa especial (Emgea); b) a troca de ativos ilíquidos por títulos de maior
rendimento, normalmente pagando taxas de juros de mercado; c) um aporte de capital em três desses:
Caixa Econômica Federal (Caixa), Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste (BNB) (o Banco
do Brasil (BB) já havia sido capitalizado em 1995); d) troca de ativos de pouca liquidez e baixa
remuneração por ativos líquidos, remunerados à taxa de mercado; e) no Banco do Brasil, a permuta
dos títulos emitidos pela República Federativa do Brasil no exterior (brady bonds) por títulos da
dívida interna de emissão do Tesouro; f) a observação de índices de necessidades de capital mais
conservadores, cujo impacto sobre a dívida líquida do setor público foi R$ 12,55 bilhões, e o
montante da emissão líquida de títulos do Tesouro Nacional foi de R$ 29,84 bilhões, dos quais cerca
de 70% para a Caixa Econômica Federal, tendo como destinatária a Emgea.
221. A implementação do Proef possibilitou adequar os bancos federais aos padrões de
capitalização e de provisão de riscos de crédito estabelecidos pelo Acordo de Basileia. O resultado
do programa foi exitoso à Caixa, que teve seu capital aumentado e trocou ativos de pouca liquidez e
baixa qualidade (FCVS decorrentes de empréstimos imobiliários) por ativos mais líquidos e
remunerados a taxas de mercado (títulos públicos).
222. É importante ressaltar a criação da Emgea na essência do programa, cujas atribuições
englobavam a administração de contratos concedidos a construtoras, a empresas públicas estaduais e
municipais de construção de moradias para a população de baixa renda e a outros empreendimentos.
34
Assim, a Emgea pode ser considerada uma inovação de modelagem econômico-administrativa para
adequar os bancos federais a parâmetros internacionais (Acordo de Basileia).
223. Isso porque a Emgea foi criada para permitir a recuperação e alienação de ativos mobiliários
e imobiliários, na condição de prestadora de serviços, principalmente da Caixa, tendo em vista que a
quase totalidade dos bens, direitos e obrigações da Emgea provém dessa instituição. Cabe considerar
que a Caixa transferiu sua carteira de crédito imobiliário de contratos problemáticos, com e sem
cobertura do FCVS, com a finalidade de sanear sua carteira de créditos habitacionais.
224. Nesse sentido, a intempestividade de novação provocaria novos custos ao erário.
225. Em primeiro lugar, porque a União teria que aportar capital para sanear a situação atual da
Emgea, que vem suportando uma diminuição das receitas operacionais.
226. A título de exemplo, na Relatório de Gestão 2018, a Emgea projetou fluxo de caixa, para três
cenários, todos envolvendo transações com créditos contra o FCVS para pagamento das dívidas do
FGTS:
Figura 7: Projeção do plano de ação da Emgea para 2019
35
determinada pela Diretoria foi agendar, para o início do terceiro trimestre de 2019,
reuniões com representantes do FGTS, a fím de solicitar a prorrogação da carência,
por mais 18 meses, do pagamento da parcela de R$ 208 milhões vencível em
fevereiro de 2020.
235. O segundo fator que pode envolver custos ao erário é que, conforme análise feita pelo Banco
Central (peça 26, p. 3-54 - Nota Técnica n. 261/2019- BCB/DERAD, de 12/7/2019) o balanço das
instituições do SFN pode ser afetado pelo aumento de provisionamentos, caso a situação de
instabilidade no processo de novação dos créditos contra o FCVS gere a percepção de risco de não
pagamento pela União.
236. Ademais, como a maioria dos créditos FCVS foi cedida para as instituições devedoras do
Proer, que os ofereceram em garantia ao Banco Central na forma da legislação então vigente, ou se
encontra nas carteiras de instituições públicas federais, tanto financeiras quanto não financeiras,
impactos nos balanços desses entes irão refletir, ao final, nas contas públicas.
237. O terceiro fator que pode comprometer recursos do erário é o possível impacto da
intempestividade do processo de novação nas contas da Caixa. Esse impacto pode estar relacionado à
necessidade de ajustes no valor de seus ativos pelo agravamento do risco de crédito, bem como pelo
risco contingente das ações judiciais que poderá vir a responder em decorrência da frustração dos
créditos dos agentes privados, que esperam a conclusão do processo de novação para reaver os
recursos aportados no Sistema Financeiro de Habitação (SFH).
238. Segundo análise do Banco Central, “tal cenário, caso não acompanhado de tempestiva
intervenção do Estado para recapitalizar a importante instituição, pode resultar em risco de imagem
que comprometeria a estabilidade de todo o SFN” (peça 26, p. 3-54).
239. A situação observada com o processo de novação também impacta as Companhias
Habitacionais (Cohabs) que possuem créditos oriundos dos contratos de imóveis populares
construídos com financiamento do FGTS, através do Banco Nacional de Habitação (BNH) nas
décadas de 1960, 1970 e 1980.
240. Segundo informações da Associação Brasileira de Cohabs e Agentes Públicos de Habitação
(ABC Habitações), em apresentação realizada à equipe de auditoria, diferente do perfil dos créditos
dos demais credores do FCVS, o montante detido pelas Cohabs é da ordem de R$ 5 bilhões e o saldo
residual médio dos contratos fica em torno de R$ 14 mil. Segundo a entidade, o recebimento dos
valores do FCVS é crucial para que as Cohabs, Estados e Municípios possam voltar a investir com
mais intensidade nos financiamentos, prestando o atendimento à população de baixa renda, que não é
o foco dos bancos. Segundo foi informado, enquanto aguardam o ressarcimento dos créditos junto ao
FCVS, de responsabilidade do Tesouro Nacional, as Cohabs ainda se veem impedidas de quitarem
suas dívidas junto ao FGTS.
241. Deve-se ter em conta, ainda, que (1) como o FGTS é o maior credor individual do FCVS
(cerca de R$ 32,3 bilhões); (2) como o FCVS é garantido pela União; (3) como as dívidas do FGTS
são garantidas, em última instância, pela União, pode-se concluir que a União garante tanto o credor
(FGTS) quanto o devedor (FCVS) nesse processo.
242. Nesse contexto, a falta de regularidade no processo de novação do FCVS inviabiliza a
implementação de novos programas habitacionais e de projetos de infraestrutura urbana,
contribuindo, assim, para o aumento do déficit habitacional e a deterioração da qualidade de vida
urbana.
243. Portanto, existe uma conexão entre as dificuldades observadas no processo de novação com
outras políticas públicas, o que tem prejudicado o alcance dos objetivos destas últimas. Entretanto, a
teor do Referencial para Avaliação de Governança em Políticas Públicas do TCU, as diversas
políticas públicas deveriam ser integradas, tanto interna quanto externamente, de forma a criar
37
condições para a atuação conjunta e sinérgica entre os diversos atores envolvidos, evitando assim
superposições ou esforços mutuamente contraproducentes, em busca do alcance dos objetivos
definidos.
244. Deve-se anotar que diversos fatores contribuem para que políticas interconectadas com o
processo de novação não alcancem seus objetivos. Aponta-se como causa principal a falta de
eficiência e tempestividade do processo de novação, comprometendo a securitização do FCVS, com
alcance direto e indireto em políticas públicas já apontadas nos tópicos acima.
245. Como efeitos negativos dessa situação destacam-se o possível comprometimento de recursos
orçamentários em decorrência do impacto nos balanços de instituições públicas federais credoras do
FCVS, uma vez que a União poderá ter que aportar recursos para não impactar o cumprimento do
Acordo de Basileia.
246. É importante considerar que esse comprometimento do orçamento governamental poderá ter
impactos na política fiscal governamental e prejudicar o equilíbrio fiscal.
247. Nessa conjuntura, considerando a dependência que a Emgea tem dos créditos contra o FCVS,
pode haver desvalorização do seu valor de mercado ante o possível processo de privatização,
consoante Decreto 10.008, de 5 de setembro de 2019, no qual qualifica a Emgea no Programa de
Parceiras de Investimentos (PPI) e inclusão no Programa Nacional de Desestatização (PND).
248. Atualmente, a Emgea possui R$11,1 bilhões de créditos contra o FCVS homologados e
auditados. Caso esses créditos não sejam novados, a empresa pode ser alienada por valor inferior ao
dos créditos contra o FCVS e, logo em seguida, o arrematante conseguir novar esses créditos. Em
síntese, há risco de perda de ativos da União.
249. Além disso, é importante considerar que a falta de tempestividade do processo de novação tem
levado a crescente judicialização para recebimento desses créditos, implicando aumento de custos
para a União.
250. Por fim, há que se considerar os riscos sistêmicos que o quadro observado pode levar ao
Sistema Financeiro Nacional, a teor da Nota Técnica 261/2019- BCB/DERAD, de 12/7/2019 (peça
26, p. 3-54), de lavra da área técnica do Banco Central, na qual expõe-se a repercussão da falta de
êxito da novação do FCVS, conclui:
Passados mais de 50 anos da criação do FCVS e quase 30 anos da sua extinção, já
tendo sido novados R$177 bilhões de seu passivo, de 1996 a 2018, restam a ser
novados R$106,2 bilhões, dos quais R$78,8 bilhões já foram homologados e
auditados, sendo 80% desse valor devido direta ou indiretamente a entes públicos.
Depois de todo o esforço para o equacionamento de seu gigantesco passivo na
década de 1990, mediante soluções que conseguiram mitigar com sucesso os riscos
tanto sob a ótica fiscal quanto de estabilidade financeira, eventual revisão de prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público adotada pelo
administrador do FCVS trará graves efeitos para o BCB e para o SFN, motivo pelo
qual entendemos necessária a avaliação das seguintes providências conjuntas:
I - para mitigação do risco conjuntural imediato de rescisão do bem-sucedido Refis do
Banco Nacional junto ao BCB, em face da possibilidade iminente de inadimplemento
de três parcelas ao final do agosto de 2019, é imprescindível a novação do lote de
aproximadamente R$1,4 bilhões que atualmente tramita na STN, devendo ser
sopesada a ressalva contida no Parecer da CGU – não específica para o caso
concreto – ante o prejuízo maior da não novação; e
II - para mitigação do risco sistêmico para o SFN e para as contas públicas
decorrente de eventual invalidação de processos de auditoria plenamente
constituídos, em face de nova orientação administrativa que, na prática, importaria
38
processo complexo, que vem sendo desenvolvido ao longo de vários anos, e que, naturalmente, passa
por alterações procedimentais na sua forma de execução, não seria possível estruturar a análise da
eficiência com a preocupação de assegurar a imutabilidade dos procedimentos executados, mantendo
estritamente fixos os padrões de qualidade.
259. Os comentários da CGU esclareceram que as recomendações propostas que mencionam a
necessidade de atuação mais eficaz do CCFCVS e melhor planejamento e monitoramento por parte
da Caixa guardam forte relação com proposições apresentadas em relatório de auditoria daquela
Controladoria.
260. Contudo, a posição da CGU é de que não há ausência de interlocução entre os atores, mas uma
dificuldade de compreensão de qual o papel de cada ator e uma lacuna no tratamento de conflitos,
com ausência de um líder ou hierarquia para tomada de decisão. Esse entendimento não se
compatibiliza com o que foi levantado pela auditoria. Entende-se que os papéis dos intervenientes do
processo estão descritos nos normativos em vigor. A própria Nota Técnica
2326/2019/DIRED/CGPEC/DE/SFC, encaminhada pela CGU juntamente com seus comentários,
rememora os papéis de cada um dos atores envolvidos. Ademais, o CCFCVS é um órgão de
deliberação colegiada que conta com a participação dos principais agentes intervenientes do
processo e que tem por finalidade disciplinar as condições gerais de atuação do Fundo.
261. A CGU também manifestou discordância em relação à proposta que previa sua participação em
grupo técnico no âmbito do CCFCVS e sua inclusão em plano de trabalho a ser elaborado pelo
CCFCVS, por, entre outros fatores, entender que exerce papel meramente opinativo e não vinculante
ao gestor. No mesmo sentido, a CGU argumentou que a maioria das divergências entre os órgãos
envolvidos foi sanada pela alteração legislativa produzida pela Lei 13.932/2019, o que tornaria a
proposta mencionada pouco efetiva.
262. Mesmo assim, em essência, as propostas de medidas visando à melhoria da articulação entre os
órgãos envolvidos foram mantidas. Contudo, levando em conta essa e outras manifestações dos
gestores, foram reformuladas, de tal sorte que a CGU deverá ser convidada a participar das
discussões que vierem a ser promovidas nessa condição de convidada. Entende-se que a natureza
singular da CGU não diminui a importância de que o órgão possa sentar-se à mesa com os demais
integrantes do processo de novação de forma a dar a sua contribuição para articular medidas
visando à melhoria da eficiência e da tempestividade desse processo.
263. Os argumentos apresentados pelos gestores do Banco Central (peça 113), exceto quanto à
proposta de encaminhamento para o achado sobre a ausência de articulação entre os órgãos
participantes do processo de novação dos créditos contra o FCVS, vão ao encontro dos achados de
auditoria, suas conclusões e encaminhamentos. Nesse ponto específico, a proposta de
encaminhamento foi revisada, conforme já mencionado.
264. Os gestores do Bacen também discordaram da forma como o papel do Bacen foi tratado no
fluxograma do processo, o que foi corrigido por meio da exclusão do Banco Central da ilustração, em
razão de que o disposto no § 5º do art. 3º da Lei 10.150/2000 não define a sua atuação concomitante
com o processo de novação.
265. A manifestação dos gestores da Caixa inicia-se pela manifestação de concordância com o
achado que associa a ineficiência do processo de novação à existência de conflitos de entendimento
entre os órgãos envolvidos a respeito da forma de condução dos procedimentos (peça 114). Os
gestores reconheceram, ainda, que a falta de consenso apontada pode adiar a data limite para
conclusão do processo de novação prevista na Lei 10.150/2000.
266. Quanto às propostas de recomendações dirigidas àquela empresa, os gestores da Caixa
informaram que foi iniciado, em 2018, o desenvolvimento de solução para possibilitar a
automatização e a otimização do processo de reconhecimento da dívida relativa aos contratos
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283. Espera-se que a implementação dessas medidas possa contribuir para a melhoria da
qualidade da eficiência e da tempestividade do processo de novação, de forma a assegurar a
normalização do andamento do processo e o cumprimento dos prazos instituídos para a finalização
da etapa de securitização.
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45
8. Em resposta a tal dilema, em sua Nota Técnica AUDIT/AUDAT 0001/2018 (Peça 61, item
3 e 4, p. 5-15), a Caixa relatou a inviabilidade de cumprir o prazo fixado na Lei 10.150/2000, se
tivesse que refazer a auditoria dos contratos com base no novo plano amostral e propôs
encaminhamentos para o enfrentamento do problema.
15. Assim, um dos principais pontos que resultou na mora do processo de novação estaria
finalmente solucionado, conferindo aos atores envolvidos a segurança jurídica necessária à fluidez do
processo, ou seja, reconheceu-se a necessidade de melhorar, doravante, a metodologia de auditoria
necessária para a novação dos créditos, sem, no entanto, conferir insegurança jurídica aos créditos
até então auditados pela Caixa.
16. E, ainda, conferiu-se legalidade estrita aos “créditos com valor já apurado e marcados
como auditados nos sistemas e controles da Caixa Econômica Federal na posição de 31 de agosto de
2017”, que foram auditados segundo a metodologia crivada pelo relatório técnico da CGU. Não
obstante, “integrarão processos de novação considerando a titularidade e montante constantes nestes
registros”.
17. Não obstante a manifestação legislativa, a qual, em última instância constitui a
materialização do interesse público – e em um juízo matricial e complexo de valores envolvidos no
processo – é imperioso ressaltar que a eventual constatação de fraude e/ou erro inescusável
envolvendo créditos, já auditados, anteriores ao período mencionado pela lei, 31 de agosto de 2017,
poderá ser objeto de apuração e eventual responsabilização subjetiva pelo Tribunal ou demais
agentes responsáveis pelo controle difuso da regularidade dos gastos públicos.
18. Finalmente, sobre o juízo de boa-fé objetiva dos responsáveis últimos pela novação, em
régua de exigibilidade de conduta de um agente médio e diligente, inexistindo apontamento concreto
e objetivo acerca de eventual irregularidade específica em contrato, considerando o mandamento
do art. 3º-A da (agora) novíssima Lei 10.150/2000, alterada pela Lei 13.932/2019, não se alberga
como irregular, ex ante, a novação e pagamentos respectivos.
19. Tal reconhecimento é necessário em face do principal objetivo da presente auditoria:
avaliar a gestão governamental quanto à eficiência e à tempestividade do processo de novação dos
créditos com vistas a propor melhorias que o tornem o processo mais célere e efetivo.
20. Diante do exposto, essa diretoria anui integralmente com a proposta da equipe de
auditoria.”
É o Relatório.
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VOTO
I - INTRODUÇÃO
Inicialmente, anoto que atuo neste feito em decorrência de sorteio promovido pela
Secretaria das Sessões, em virtude de conflito de competência, nos termos do art. 34 da Resolução-
TCU 175/2005, conforme consta do TC-013.559/2019-1.
2. Feito esse registro, informo tratar-se de exame por este Colegiado de Auditoria
Operacional no Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS), tendo como foco o
processo de novação de créditos contra o Fundo, que foi realizada junto aos órgãos intervenientes
do processo de novação, Caixa Econômica Federal (Caixa), Controladoria Geral da União (CGU),
Banco Central do Brasil (BCB) e Secretaria do Tesouro Nacional (STN), com o propósito de
avaliar a gestão governamental quanto à eficiência e à tempestividade do processo de novação
desses créditos, com vistas a propor melhorias que o tornem mais célere e efetivo.
II - DEFINIÇÕES
FCVS. Após essa etapa, a Caixa analisa a titularidade e a certeza e liquidez do crédito,
encaminhando o processo para receber parecer pela CGU.
10. O passo seguinte é o envio do processo à STN, a quem cabe elaborar minuta do
contrato de novação e emitir parecer sobre a conveniência e oportunidade da operação. O processo
segue, então, para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que deve emitir parecer
sobre a legalidade da operação.
11. O processo é finalizado com o seu encaminhamento para STN para a emissão dos
títulos CVS.
IV - ACHADOS DE AUDITORIA
“275. Os principais resultados da análise efetuada indicam que o processo de novação não vem
sendo executado de modo eficiente pelos órgãos responsáveis, o que é evidenciado pela queda
sucessiva do volume de novação a partir de 2012. Como consequência, mais de 85% do crédito
orçamentário disponível para novação nos exercícios de 2017 e 2018 não foi aproveitado.
276. Igualmente verificou-se que ocorrem falhas em nível relevante na aplicação da sistemática
operacional definida para o processo de homologação e novação, que tem impactado o
resultado da política pública, elevando a necessidade de reanálises e gerando atraso no fluxo de
novações, o que pode, inclusive, comprometer o cumprimento dos prazos legais para o término
da securitização.
277. Além disso, observou-se que os órgãos intervenientes não vêm atuando de forma
articulada e de maneira sinérgica, o que provocou a quase paralisação do processo, em função
de impasses na sua condução, prejudicando a sua celeridade, eficácia e eficiência.
(...)
280. Outrossim, constatou-se que mantido o ritmo atual observado do processo de novação, há
indicativo de que não deverá ser cumprido o prazo definido no art. 1º, § 2º, inciso I da Lei
10.150/2000 para encerramento do processo de securitização, com risco de aumento
considerável de judicialização dos processos de novação, com maiores custos para o erário.
281. Por sua vez, a reconhecida intempestividade do processo de novação do FCVS pode
comprometer o pagamento dos empréstimos realizados pelo Banco Central a agentes
financeiros, no âmbito do Proer e dos parcelamentos do Refis das Autarquias. Além disso, afeta
o resultado operacional da Emgea e o pagamento ao FGTS de valores que lastrearam operações
de crédito habitacionais nas Cohabs, podendo implicar, ainda, risco sistêmico de solvência para
o Sistema Financeiro Nacional.”
16. A CGU também manifestou discordância em relação à proposta que previa sua
participação em grupo técnico no âmbito do CCFCVS e sua inclusão em plano de trabalho a ser
elaborado pelo CCFCVS, por, entre outros fatores, entender que exerce papel meramente opinativo
e não vinculante ao gestor.
17. No mesmo sentido, a CGU argumentou que a maioria das divergências entre os órgãos
envolvidos foi sanada pela alteração legislativa produzida pela Lei 13.932/2019, o que tornaria a
proposta de deliberação mencionada pouco efetiva.
18. O Banco Central, exceto quanto à proposta de encaminhamento para o achado sobre a
ausência de articulação entre os órgãos participantes do processo de novação dos créditos contra o
FCVS, mostra-se de acordo com os achados de auditoria, suas conclusões e encaminhamentos.
19. A Caixa manifesta-se em concordância com o achado que associa a ineficiência do
processo de novação à existência de conflitos de entendimento entre os órgãos envolvidos a
respeito da forma de condução dos procedimentos. Os gestores reconheceram, ainda, que a falta de
consenso apontada pode adiar a data limite para conclusão do processo de novação prevista na Lei
10.150/2000.
20. Além disso, os gestores ressaltaram que também se encontram em curso diversas ações,
o que dispensaria o envio de plano de equacionamento ao TCU.
21. A STN destaca que a auditoria teria identificado corretamente os gargalos no processo
de novação, notadamente na fase de homologação e novação dos créditos, que foram acentuados
pela baixa sinergia entre os atores que participam do processo, e comenta: i) os benefícios
esperados com edição da Lei nº 13.932/2019 na solução de conflitos de entendimento entre os
órgãos integrantes do processo de novação; ii) o CCFCVS tem papel na gestão do FCVS e não
sobre o processo de novação, não havendo relação de hierarquia entre o Conselho e os órgãos
participantes do processo; iii) limitações contidas no Decreto nº 9.759/2019 à criação de
colegiados interministeriais.
22. Feita essa breve contextualização, passo à discussão de mérito da matéria.
31. Uma outra causa apontada pela equipe de fiscalização para a ineficiência do processo
da novação residiria em deficiências do sistema informatizado de processamento que suportaria as
novações. Entretanto, consta igualmente dos autos a informação de que esse sistema estaria sendo
substituído, uma vez que a Caixa teria recebido esse novo sistema em agosto de 2019, para
imediata colocação em operação, entretanto, igualmente, não se tem notícia nos autos sobre os
efeitos efetivos ou potenciais decorrentes dessa medida no processo de novação:
"109. A Caixa no Relatório de Gestão do FCVS 2017 (peça 91, p. 68) reconhece a necessidade
de atualizações e melhorias estruturais das funcionalidades do FCVSCONT, informando
trabalhar pela substituição deste sistema pelo Sistema de Controle da Arrecadação do FCVS
(SICTR). Essa substituição só veio a ocorrer em agosto/2019, conforme informado no Ofício
382/2019/CECVS/SP, de 5/9/2019 (peça 64, p. 6, alínea ‘n’)”.
margens de erro variáveis para apuração dos valores dos créditos; vedação à revisão dos contratos
já novados; vedação à reavaliação dos créditos já marcados como auditados em 31/8/2017, entre
outras, todas no sentido de simplificar e racionalizar o processo de novação ou de adaptá-lo às
circunstâncias prevalecentes.
34. Tendo em conta que a Lei que promoveu essas alterações foi publicada em dezembro
de 2019, também não foi possível à equipe de auditoria aferir objetivamente os seus impactos no
processo de novação, sendo certo que parte expressiva dos gargalos apontados pela equipe de
fiscalização foi contemplada pela norma.
35. Não obstante, considero que tais circunstâncias não desqualificam o diagnóstico
realizado, apenas se apresentam como condições mais alvissareiras no sentido de melhorar a
eficiência do processo de novação e, consequentemente, minimizar os prognósticos expressos pela
equipe, motivo pelo qual endosso as conclusões do relatório de fiscalização.
36. Nesse contexto, acolho a proposta de encaminhamento da equipe de auditoria, com os
ajustes formais que considero pertinentes para ajustá-lo às novas orientações do Tribunal
consignadas na Resolução-TCU 315/2020, e pugno que a unidade técnica do Tribunal acompanhe
os desdobramentos das providências propostas, inclusive no que tange às recomendações exaradas,
por ocasião do monitoramento desta deliberação.
37. Da mesma forma, concordo integralmente com o exame técnico quando aponta a
inexistência de cronograma das novações, em descumprimento da Lei 10.150/2000, motivo pelo
qual endosso a proposta de determinação ao Ministério da Economia, pelos fundamentos expostos
no relatório de auditoria:
de 31/7/2019, peça 39, p. 6; alínea “g” do Ofício 382/2019/CECVS/SP, de 5/9/2019, peça 64,
p. 3).”
“288. De toda sorte, a exposição desse achado envolve várias matérias cujos riscos nas
contas do governo são objetivamente examinados pela Secretaria de Macroavaliação
Governamental (Semag), especificamente o Anexo de Riscos Fiscais, razão pela qual infere-se
ser oportuno o envio deste relatório à especializada, sem prejuízo de se também fazê-lo chegar
a Casa Civil da Presidência da República e ao Ministério da Economia, de forma que sejam
alertados sobre os riscos fiscais associados à mora das novações e do pagamento dos títulos,
com potencial de impactar a análise das contas dos respectivos responsáveis ministeriais.
1. Igualmente, para conhecimento da situação constatada, entende-se importante dar ciência à
Secretaria-Geral da Presidência da República sobre os potenciais riscos da intempestividade da
novação dos créditos contra o FCVS nas contas de governo, tendo em vista o impacto desse
passivo contingente em fase de securitização em outras políticas públicas, e consequentemente,
na política fiscal”.
42. Ante o pleito da Caixa (peça 128), concordo que o momento de pandemia e a
complexidade do processo justificam o ajuste no prazo das recomendações expressas na proposta
de encaminhamento, e acolho o prazo sugerido de 180 dias como referência para orientar o
Tribunal nas medidas de monitoramento, desnecessário, portanto, registrá-lo na parte dispositiva da
deliberação
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 24 de junho de
2020.
1. Processo nº TC 018.724/2019-1.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Relatório de Auditoria
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgãos/Entidades: Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS); Banco Central do
Brasil; Caixa Econômica Federal; Controladoria-Geral da União; Secretaria do Tesouro Nacional;
Empresa Gestora de Ativos.
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo do Sistema Financeiro Nacional e dos Fundos de
Pensão (SecexFinanças).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Auditoria Operacional no Fundo de
Compensação das Variações Salariais (FCVS), tendo como foco o processo de novação de créditos
contra o Fundo, que foi realizada junto aos órgãos intervenientes do processo de novação, Caixa
Econômica Federal (Caixa), Controladoria Geral da União (CGU), Banco Central do Brasil (BCB) e
Secretaria do Tesouro Nacional (STN), com o propósito de avaliar a gestão governamental quanto à
eficiência e à tempestividade do processo de novação desses créditos, com vistas a propor melhorias
que o tornem mais célere e efetivo,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do
Plenário, ante as razões apresentadas pelo Relator, em:
9.1. com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 e no art. 250, inciso II, do
Regimento Interno do TCU, determinar ao Ministro da Economia que, no prazo de 90 (noventa) dias,
edite a portaria do cronograma das novações do Fundo de Compensações de Variações Salariais, de
modo a garantir o cumprimento do prazo legal previsto, conforme § 6o do art. 1º, da Lei 10.150/2000;
9.2. com fulcro no art. 250, inciso III, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União, recomendar à Caixa Econômica Federal que elabore plano de ação para equacionar o elevado
índice de falhas na homologação e novação dos créditos contra o FCVS, bem como para melhorar e
eficiência desses processos, considerando a necessidade desse plano ser colocado em operação em
curto prazo, de modo a viabilizar a conclusão das atividades antes de 01/01/2027, contemplando:
9.2.1. a definição de conjunto de competências a serem preenchidas pelos empregados
alocados nas atividades de homologação/novação, adotando providências no sentido de direcionar os
programas de capacitação para a satisfação dos requisitos fixados;
9.2.2. a revisão dos procedimentos e rotinas desde a habilitação até a novação, incluindo
as atividades de controle, com o objetivo de obter ganho de qualidade e de agilidade no processo e
melhor alinhamento de atuação entre as áreas de operação e de controle, para imediata e segura
correção das falhas identificadas, e pronta correção dos métodos e normas aplicáveis;
9.2.3. a reavaliação da infraestrutura operacional, de modo a responder, adequadamente,
aos desafios de produção de trabalhos com menor nível de erros, tendo em mira o prazo para a
conclusão das novações, em particular a otimização da infraestrutura computacional mediante o
desenvolvimento de soluções que viabilizem melhor integração dos diversos sistemas e aplicativos
utilizados e a redução de procedimentos executados de modo manual na análise dos contratos pela
Centralizadora.
9.3. com fulcro no art. 250, inciso III, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União, recomendar ao Conselho Curador do Fundo de Compensações de Variações Salariais, de forma
a bem cumprir o que preceitua o art. 1º, incisos II e III do Decreto 4.378/2002, que promova, no
âmbito do Conselho, com a participação dos órgãos e entidades que o integram e, ainda, de outros
com papel relevante no processo, como convidados, conforme autoriza o § 5º, art. 4º do Decreto
4.378/2002, a discussão de medidas necessárias para a adequada retomada do processo de novação;
9.4 com fulcro no art. 250, inciso III, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União, recomendar ao Ministério da Economia, ao Banco Central do Brasil, à Secretaria do Tesouro
Nacional, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, ao Conselho Curador do Fundo de
Compensações de Variações Salariais e à Caixa Econômica Federal que elaborem plano de ação, com
o objetivo de assegurar que a conclusão das medidas a seu cargo relacionadas ao processo de novação
do FCVS estejam harmonizadas com o prazo consignado na Lei 10.150/2000, art. 1º, § 2º, inciso I, e
observando as diretrizes nele dispostas, que deverá contemplar:
9.4.1. cronograma das medidas a serem adotadas no âmbito do processo de novação dos
créditos contra o FCVS até o prazo final legal;
9.4.2. fixação de metas anuais;
9.4.3. alinhamento do ritmo das medidas a serem adotadas no âmbito do processo de
novação às diretrizes fixadas para os desembolsos financeiros, de modo a minimizar os impactos
orçamentário e financeiro, especialmente nos últimos anos;
9.4.4. adequação da capacidade operacional, de modo a bem cumprir o plano aprovado,
abrangendo infraestrutura de tecnologia, quadro de pessoal, conjunto de normas de referência, entre
outros.
9.5. com fulcro no art. 250, inciso III do Regimento Interno do TCU, recomendar à
auditoria interna da Caixa Econômica Federal que:
9.5.1. inclua no Plano de Auditoria 2020, ação operacional para fiscalizar e acompanhar as
ações adotadas ou em desenvolvimento na Caixa, especialmente quanto à eficiência, à qualidade e à
tempestividade do processo de análise/homologação e instrução do processo de novação dos créditos
contra o FCVS, informando, se possível, indicadores de resultado aptos à solucionar as causas e os
problemas identificados;
9.5.2. caso leve a efeito a ação operacional de que trata o subitem precedente, remeta ao
Tribunal, no prazo de até 90 dias após a conclusão dos trabalhos, os resultados obtidos;
9.6. objetivando dar conhecimento dos potenciais riscos da intempestividade do processo
de novação dos créditos contra o FCVS, encaminhar este Acórdão, destacando que o relatório e o voto
que o fundamentam podem ser acessados por meio do endereço eletrônico www.tcu.gov.br/acordaos,
às seguintes autoridades:
9.6.1. Ministro-Chefe da Casa Civil;
9.6.2. Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República;
9.6.3. Ministro da Economia;
9.6.4. Ministro da Controladoria-Geral da União;
9.6.5. Procurador-Geral da Fazenda Nacional;
9.6.6. Presidente do Banco Central do Brasil;
9.6.7. Presidente da Caixa Econômica Federal;
9.6.8. Secretário do Tesouro Nacional;
9.6.9. Presidente da Empresa Gestora de Ativos (Emgea);
9.6.10. Presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e
Poupança (Abecip);
9.6.11. Presidente da Associação Brasileira de Cohabs – ABC Habitações.
9.7. tendo em vista os possíveis riscos fiscais decorrentes da mora no processo de novação
dos créditos contra o FCVS, encaminhar o presente Acórdão, bem como o Relatório da Unidade
Técnica, à Secretaria de Macroavaliação Governamental deste Tribunal para, dentro de sua
conveniência e oportunidade, avaliar o efeito fiscal do represamento das novações nos próximos
exercícios, assim como a possível repercussão de eventual omissão dos atores envolvidos nas contas
de governo;
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral