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Programação Orçamentária e Financeira

Em cumprimento ao artigo 8º da LRF, o Poder Executivo, até

trinta dias após a publicação da LOA, publica o Decreto de

Programação Orçamentária e Financeira, que estabelece a

programação financeira e o cronograma de execução mensal de

desembolso. Com isso, é possível ajustar o ritmo de execução do

orçamento ao fluxo voluntário de recursos, de modo a garantir a

liberação automática e oportuna dos recursos necessários à

execução dos programas anuais de trabalho, em conformidade

com o Decreto-Lei nº 200/67.

De acordo com Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), adequar o

ritmo de pagamentos ao ritmo das receitas de recursos

financeiros da caixa (tesouraria) é um problema que se apresenta

aos administradores de qualquer organização, seja no setor

público ou no setor privado.

Assim, afirmamos que a realização de um “orçamento de caixa”

ou programação financeira permite ao gestor financeiro antecipar

disposições para garantir que sejam realizadas, nos prazos

estabelecidos, nos pagamentos aos fornecedores, aos credores e

aos trabalhadores da instituição.


Para entender melhor o funcionamento desse mecanismo,

devemos pontuar algumas características relacionadas à execução

orçamentária e financeira:

CRÉDITO RECURSO
CARACTERÍSTIC
(ORÇAMEN (FINANCEI
AS
TO) RO)

Execução Utilização Recolhime

dos nto de

créditos tributos e

autorizados demais

na LOA. receitas

para

pagamento

s de

despesas

autorizada

s na LOA.

Esse fluxo

ocorre no

âmbito da

conta
única da

União.

Etapas da Empenho e Pagamento

Despesa Liquidação. .

Sistema de Sistema Sistema

tecnologia da Integrado Integrado

informação de de

Planejamen Administra

to e ção

Orçamento Financeira

- SIOP. - SIAFI.

Órgão Secretaria Secretaria

Responsável de do Tesouro

Orçamento Nacional

Federal do do

Ministério Ministério

da da

Economia - Economia

SOF/ME. - STN/ME.

QUADRO 2 | Características de crédito e recurso.


É importante destacar que, embora com características diferentes,

os elementos das programas orçamentárias e financeiras se

complementam para viabilizar a gestão fiscal e a execução das

políticas públicas. Assim, o Decreto permite harmonizar essas

duas dimensões da gestão fiscal.

Ainda segundo Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), um bom

planejamento do fluxo de caixa [3] deve ser programado para que:

a) Eventuais insuficiências de caixa deixem de ocorrer.

b) Os recursos disponíveis não se mantêm ociosos.

c) Se possível, para atendimento de eventuais contingências,

uma reserva mínima de caixa estará disponível.

d) Programas em andamento não sejam paralisados ​por falta

de recursos.
e) A execução dos programas é mantida em ritmo regular,

em conformidade com o planejamento pertinente, com

elevado grau de eficiência.

f) Recursos de terceiros a serem utilizados sejam

previamente negociados, para que se obtenham as melhores

condições de crédito.

g) O mercado de crédito não seja de qualidade afetada pelo

não cumprimento das obrigações.

h) Problemas sociais que não sejam causados ​por atrasos nos

pagamentos de periodicidade.

[3] Fluxo efetivo de entradas e saídas de dinheiro da caixa de uma organização pública

ou privada.

2.3 Limitação de transferência e comprometimento


A preocupação de manter o equilíbrio entre receitas e despesas, no

momento da execução orçamentária, já constava na Lei nº 4.320,

de 1964, evitando a necessidade de estipular cotas trimestrais das

despesas que cada Unidade Orçamentária fosse autorizada a

utilizar. Esse mecanismo foi aperfeiçoado na LRF, que determina

não apenas a elaboração da programação financeira e do


cronograma mensal de desembolso, mas também a fixação de

limites de compromissos e entrega financeira, caso, ao final de

um bimestre, se verifique a realização da receita poderá não

comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou

condicional nominais no Anexo de Metas Fiscais.

Assim, o Poder Executivo, por meio das Secretarias de Orçamento

Federal e do Tesouro Nacional, elabora, bimestralmente, o

Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, que

fornece informações sobre as alterações das projeções de receitas

e despesas primárias. Verificada a frustração na arrecadação da

receita prevista, ou o aumento das despesas obrigatórias que

pretendem comprometer o alcance das metas fiscais, torna-se

necessária a adoção de mecanismos de ajuste entre receita e

despesa.

Nessa direção, a limitação dos gastos públicos, conhecida como

contingenciamento, é feita por meio de Decreto do Poder

Executivo, e por ato próprio dos demais Poderes, de acordo com as

regras inseridas na LDO de cada exercício, e consiste na

impossibilidade de execução de parte da programação de despesas

discricionárias ou não legalmente obrigatórias (investimentos e

custódia em geral) prevista na Lei Orçamentária em função da


insuficiência de receitas. No Poder Executivo, a alteração dos

valores autorizados para entrega, compromisso e pagamentos no

decorrer do exercício é realizada por meio de Portaria da

Secretaria Especial de Fazenda, tendo em vista autorização

prevista no Decreto de Programação Orçamentária e Financeira.

Em resumo, os objetivos desse mecanismo são:

1. Estabelecer normas específicas de execução orçamentária e


financeira para o exercício.
2. Estabelecer um cronograma de compromissos (empenhos) e de
liberação (pagamento) de recursos financeiros para o governo.
3. Cumprir a legislação orçamentária (LRF, LDO, etc.).
4. Assegurar o equilíbrio entre receitas e despesas, ao longo do
exercício financeiro, e proporcionar o cumprimento da meta de
resultado primário.

Assim, a utilização desse mecanismo visa adequar os valores

autorizados na Lei Orçamentária à realidade fiscal do exercício,

uma vez que o cenário econômico sofre alterações que impactam

as contas públicas.

Portanto, concomitantemente com as políticas competitivas,

creditícias e cambiais, o governo procura criar as condições

permitidas para a queda gradual do endividamento público líquido

em relação ao PIB, a redução das taxas de juros e a melhoria do

perfil da dívida pública [4] .


Ressalta-se que o limite de entrega e compromisso não se confunde com o limite

estabelecido pelo Novo Regime Fiscal, consagrado pela Emenda Constitucional nº

95, de 2016.

O contingenciamento relacionado às doações orçamentárias do exercício, tenha em

vista se referir à limitação de compromisso e transferência financeira, tendo em

vista cumprir com a meta de resultado fiscal do exercício exigido na LDO.

Já os limites estabelecidos pelo Novo Regime Fiscal (NRF), referem-se a limites

máximos para as despesas primárias, pagas no exercício, exercendo dupla função:

uma para elaboração e execução da lei orçamentária e outra para verificação do

cumprimento dos limites inicialmente estabelecidos para cada Poder e Órgão não

paga ao final do exercício.

Assim, pode-se dizer que, no momento, na União, coexistem dois mecanismos de

controle orçamentário e financeiro independente entre si: o NRF e o

contingenciamento. O primeiro se presta exclusivamente ao controle da despesa

primária, enquanto o último visa a um controle específico para fins de

cumprimento da meta de resultado fiscal do exercício.

Dessa forma, os órgãos e Poderes devem proceder às limitações de compromissos e

pagamentos financeiros, que incidem sobre as dotações do exercício em curso,

verificam os relatórios de avaliação das receitas e despesas e, paralelamente, aos

pagamentos do ano, cabendo ao gestor a permanente vigilância e controle, para

que não extrapolem o limite de despesas primárias ao final do exercício.


Para ilustrar, tomemos a seguinte situação hipotética:

Para o exercício de 2020, o Tribunal de Contas da União teve seu orçamento

planejado com a autorização de despesas primárias no valor de R$ 2.088,1 milhões,

valor equivalente ao limite previsto pelo Novo Regime Fiscal. Durante a execução

orçamentária do exercício, no relatório de avaliação bimestral de julho de 2020,

reforça-se a necessidade de proceder com um contingenciamento no valor de R$

28,1 milhões, de acordo com os critérios estabelecidos pela LDO-2020, tendo em

vista o cumprimento da meta de resultado fiscal exigida nessa mesma Lei.

Nessa situação, o TCU vê-se impossibilitado de executar a totalidade das despesas

autorizadas no seu orçamento vigente. Entretanto, tendo em vista que seu limite de

gastos com despesas primárias supera tal valor, o órgão poderá realizar o

pagamento de restos a pagar com esse saldo, não incorrendo em descumprimento

com os limites a que se submete.

Agora vamos analisar outras hipóteses, na qual o relatório de avaliação bimestral

demonstra que a diferença entre receitas e despesas primárias indica a

possibilidade de aumentar as despesas sem que incorra no descumprimento da

meta de resultado fiscal.

Nessa situação, embora haja espaço fiscal, o Órgão não poderá aumentar suas

despesas, tendo em vista que seu orçamento já se encontra no limite máximo

previsto pela NRF.

Diante do conteúdo apresentado, podemos verificar a importância

dos instrumentos de Programação Orçamentária e Financeira e de


Limitação de Empenho e Movimentação Financeira para as

finanças públicas do país.

[4] Dívida contraída pelo governo com o objetivo de financiar gastos não cobertos com

arrecadação de tributos.

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