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PROTESTO – A AGRICULTURA É VIDA, DESENVOLVIMENTO,

RESPEITO E DIGNIDADE!

A FALTA DE UMA ESTRATÉGIA E DE POLÍTICAS PUBLICAS PARA A AGRICULTURA


ESTÁ A DESTRUIR O SETOR

É evidente que a atual política pública no âmbito dos programas de apoio é frágil e
insatisfatória, uma vez que apresenta limitações ao nível do impacto de tais políticas
a médio prazo e consequentemente da sua sustentabilidade!

Na realidade, não é possível continuar a ignorar o fenómeno crescente de abandono


dos terrenos agrícolas. A estrutura fundiária de várias regiões de Portugal, a baixa
produtividade do trabalho agrícola e o índice de envelhecimento dos agricultores
portugueses, conduzirão, inevitavelmente, ao desaparecimento de largas dezenas de
milhares de explorações agrícolas e pecuárias, nos próximos anos!

Zonas do país com solos pobres, como as de montanha, onde tradicionalmente


existe uma ancestral partilha comunitária local de gestão e pastoreio (baldio),
recorrendo a patrimónios genéticos únicos como a raças autóctones de baixo
rendimento mas essenciais para a preservação da paisagem, controlo da biomassa
e como consequência à prevenção de incêndios, são ainda assim, o sustento de
comunidades de pessoas que com resiliência ali habitam, mantendo e preservando
a cultura, a gastronomia, a paisagem e os aglomerados populacionais tão típicos e
valorizados pelo turismo.

A fraca competitividade da agricultura e a forma como é desprezada pelo poder


político e pela sociedade em geral, torna-a uma atividade pouco atrativa e por essa
razão, não assistimos a uma renovação do capital humano do setor.

A Legislação existente, nacional e comunitária, não tem em conta estas


especificidades, ora criando obstáculos ao seu cumprimento ou elegibilidade, ora
excluindo mesmo estes agricultores ao seu acesso. Promovendo deste modo a
desistência, o abandono e a pouca atratividade para as próximas gerações.

A agricultura e as atividades ligadas à terra no mundo rural são fundamentais para


a coesão social e territorial.

O êxodo das populações, designadamente dos jovens, coloca em causa o futuro das
regiões e afetam gravemente o seu dinamismo social e económico!
Sem uma agricultura robusta, moderna e competitiva não há abastecimento
alimentar.

Num mercado cada vez mais global esmagado pelo preço, a nossa agricultura não
pode desperdiçar o que tem de excecional, os seus patrimónios genéticos animal
ou vegetal, apostando na sua diferenciação e valor endógeno.

Cadeia de valor esta, com a certificação em Modo de Produção Biológico, marca tão
bem percecionada pelos consumidores europeus.

Sem agricultores não há gestão da paisagem rural e estas ficam mais expostas aos
incêndios rurais e aos fenómenos hidrogeológicos.

Os sucessivos governos nacionais têm retirado importância e meios ao ministério


da agricultura.

É imperativo devolver a importância e a dignidade ao setor e pensar uma estratégia


que lhe adicione competitividade e que resolva no imediato os maiores
constrangimentos às explorações agrícolas, sob pena de perdermos
irreversivelmente todo este tecido produtivo, com todas as consequências que daí
advêm.

OS DECISORES POLÍTICOS IGNORAM A REALIDADE DO MUNDO RURAL PORQUE O


SISTEMA ELEITORAL PRIVILEGIA OS GRANDES CENTROS URBANOS.
a) Distintas realidades agrícolas regionais, territoriais e locais;
b) A concorrência intrassectorial mais intensa, quando a agricultura portuguesa
se integra em espaços económicos cada vez mais alargados (mercados
externos, globalização);

c) A burocracia instalada na atividade agrícola, recorrendo ao digital como


recurso único em muitas situações.

a) INEXISTENTE → políticas públicas relativas à produção, à


multifuncionalidade, à extensificação, à conservação ambiental!

b) Riscos de Abandono da ATIVIDADE AGRÍCOLA SUPERIOR A 83% -- IDADE MÉDIA


DO AGRICULTOR – 55 ANOS (2015)!

A situação pode ser considerada muito preocupante, os agricultores para além de


terem um papel ativo na produção agrícola, na produção de alimentos (vegetal e/ou
animal), desempenham um papel muito importante na proteção do ambiente, na
preservação da paisagem e da biodiversidade, da ocupação dos territórios e na
coesão social e territorial!

Portugal destaca-se de forma muito negativa com a percentagem de 51,9% e situa-


se no primeiro lugar dos estados membros da UE.

Peso dos Produtores Agrícolas (2016) com mais de 65 anos (GPP, 2020).

OS LÍDERES POLÍTICOS TÊM QUE OUVIR OS AGRICULTORES E CUMPRIR COM O SEU


DEVER DE PRODUZIR POLÍTICAS PUBLICAS PARA UMA AGRICULTURA ROBUSTA,
COMPETITIVA E SUSTENTÁVEL!

A agricultura não é uma atividade fácil. Exige conhecimentos, competências

específicas e sacrifícios!

GRANDES BARREIRAS:
Acesso à terra. Os resultados de uma série de estudos realizados ao nível europeu,
confirmam que o acesso à terra é a barreira mais importante para os novos
agricultores. A disponibilidade de terrenos é escassa e os custos de aquisição são
demasiado elevados.

Elevados custos de instalação e dificuldade de acesso ao capital inicial. A entrada


no setor agrícola é dificultada por custos de instalação iniciais muito elevados,
necessários na fase inicial (para aquisição de máquinas e equipamentos,
infraestruturação, compra de animais, instalação de culturas temporárias ou
permanentes).
Barreiras burocráticas no acesso e execução dos programas de apoio à atividade
agrícola.

A perceção de piores condições de vida nas áreas rurais e menor nível de


rendimento resulta assim na falta de trabalhadores e mão de obra.

A REALIDADE - OS APOIOS AO INVESTIMENTO:


1. Os períodos de apresentação das candidaturas são inconstantes, não havendo
uma previsibilidade de datas, nem de critérios de seleção, nem de
transparência nas prorrogações que, ora ocorriam, ora não eram concedidas
ao longo deste PDR2020;

2. Apesar de ser bem mais difícil preparar uma candidatura do que analisá-la, a
duração dos períodos de apresentação de candidaturas tem sido
imensamente inferior ao tempo médio de análise das mesmas; (o tempo
médio de análise de candidaturas ultrapassa largamente os 6 meses e o
tempo médio para a apresentação situa-se nos 3 meses);

3. Só os beneficiários têm prazos determinados para responder à gestão do


PDR2020, não se verificando o contrário;

4. Os critérios de seleção das candidaturas são enredados em fórmulas com


ponderações que diluem os efeitos positivos para a obtenção de
determinados resultados; e obrigando os beneficiários a um arranjo de
classificação, que pode levar a inclusão de investimentos de que não necessitam
e omitir outros que seriam mais essenciais para resolver os estrangulamentos
das suas explorações;

5. A análise das candidaturas é determinada pela verificação dos aspetos


formais e verificáveis através de justificação ou documentação burocrática,
ignorando o contexto do projeto, assim como a análise, pressupostos de
adequação técnica e de valia e capacidade empresarial dos proponentes;

6. Falta de resposta pelas entidades competentes em prazo útil;

7. As aprovações e verificações de realização são determinadas pelo


cumprimento de condicionantes administrativas e burocráticas com
frequente ausência de verificação técnica.

Sabendo que a maioria dos projetos submetidos e aprovados se encontram localizados


no norte de Portugal, com parcelas muito fragmentadas, populações envelhecidas e
emigradas, devastadas pela desertificação, em vez de avançar para o
emparcelamento, cadastro, da responsabilidade de inúmeras entidades públicas que
até possuem os recursos para tal (Sistema de Informação Parcelar - SIP), é transferida
esta dificuldade (quase impossibilidade) para os agricultores, sejam jovens ou não.

Caderno reivindicativo
1. Reajustamento da cadeia de valor com maior valorização da produção

primária e rotulagem clara para o consumidor sobre preço pago ao produtor

e margens da distribuição.

2. Valorização de produtos endógenos e de cadeias curtas de abastecimento.

3. Estratégias claras de melhoria da atratividade da atividade agrícola e de

renovação do capital humano - Aumento do valor do prémio à primeira

instalação para jovens agricultores.

4. Pastagens permanentes em prática local:

4.1 - Revisão dos critérios de elegibilidade das áreas de baldio, de forma a

retomar a certificação em MPB dos animais que pastoreiam estas áreas,

interrompida abruptamente em 2023 pela DGADR com a sua leitura

redutora do REG 848/2018;

4.2 – Revisão do fator de redução das áreas elegíveis (atualmente 50%);4.3

- Revisão da definição de pastagem permanente no PEPAC de forma a incluir

as variedades que de facto servem de base à alimentação dos animais em

práticas locais. Não pode estar restringido à presenças de “Herbáceas”.

5 - Reposição do valor do prémio de vaca aleitante para níveis de 2015.

6 - Justa compensação do produtor pecuário pelo seu papel na conservação do Lobo

ibérico com o pagamento atempado de todos os prejuízos causados,

desburocratizando os pedidos, maior transparência no processo de elegibilidade

tendo em especial consideração os pequenos ruminantes, muitas vezes tão difíceis

de obtenção de vestígios que provem os ataques.


7 - Desburocratização administrativa dos licenciamentos REAP de classe 3 para

classe 2, permitindo a adaptação e o crescimento das atuais explorações e a

instalação de novas gerações de agricultores, com modelos de gestão modernos e

mais concorrenciais.

8 - Agilização da interoperacionalização do licenciamento REAP com regimes

conexos – APA e licenciamento municipal.

9 - Conclusão do procedimento de contratação pública para os laboratórios ligados

à sanidade animal para repor os planos de erradicação de doenças animais e

cumprir com as exigências da União Europeia e implementação de um plano de

erradicação da Doença Hemorrágica Epizoótica.

10 - Isenção do ISP, CRS, taxa de carbono e IVA para o gasóleo agrícola e isenção

de IVA em fertilizantes e fitofármacos.

11 - Fim da convergência do valor do ARB superior à média nacional.

12 – Bloqueio às importações de produtos alimentares extracomunitários que

tenham sido produzidos em tipos de produção que não estejam sujeitos às mesmas

normas de fitossanidade, proteção ambiental e de bem-estar animal da União

Europeia.

13 – Pagamento de indemnizações pelo ICNF pelos estragos em culturas, provocados

pelo javali.

14 – Fim da desclassificação de áreas agrícolas em áreas urbanas para construção,

equipamentos ou empreendimentos.

15 – Prémios à produção e à competitividade.

Os agricultores não recebem subsídios para não trabalhar. Recebem um


reduzido apoio para tornar a atividade possível e disponibilizar aos
consumidores produtos alimentares a um preço acessível!

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