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Sinopse
Todo conto de fadas existia um vilão, e esse modo de vida era o nosso. Vir
do nada e ganhar alguma coisa é muita coisa para lidar. Eles podem aguentar
isso?
Um ano depois de morarem juntos no lote 62, Devon e Maddox têm uma
dinâmica totalmente nova para se ajustar: a coabitação. Fundir suas
personalidades e energias em um pequeno trailer é muito difícil, mas o
relacionamento deles também. É provável que haja algumas dificuldades
iniciais, e esses dois estão prestes a superar todas elas. Enquanto se esforçam
para firmar seu relacionamento, eles também enfrentam uma horda de
problemas. Jim saiu da prisão com um novo plano. Devon é produto de sua
educação e nem sempre toma as decisões mais inteligentes. Maddox
interfere enquanto sofre as consequências de sua realidade. Com ameaças à
sua porta, Maddox e Devon aprendem como priorizar da maneira mais
difícil. Tudo o que importa é que eles estão juntos e farão tudo para garantir
que estejam. O futuro pode parecer sombrio, mas o vínculo entre eles e o
amor que compartilham terão que levá-los através da escuridão até o futuro
com o qual sonham.
aos oprimidos do mundo.
nós vemos você.
Mas primeiro!
Um lembrete de que este é o livro 2 da série From Nothing! Garron Park
(livro 1) deve ser lido primeiro.
O Lot 62 é um pouco mais terrível em algumas partes do que Garron Park.
Final Feliz garantido!
Maddox e Devon são um produto de sua educação, o que os torna
irracionais, não tão maduros quanto deveriam ser, se debatendo sem bons
modelos e duros. As situações que eles enfrentam em Lot 62 são brutais, e às
vezes eles não reagem da melhor maneira. Eles provavelmente não
respondem às situações da maneira que você faria, então tenha isso em
mente se tiver um gatilho/experiência perturbadora.
Não desejo retratar o relacionamento deles como uma diretriz para
relacionamentos saudáveis. Eles são agressivos e físicos, o que é
problemático fora dos livros. Sua dinâmica é puramente fictícia.
Novamente, Garron é uma cidade fictícia. Garron Park é um parque de
trailers fictício. Não se destina a representar nenhum outro parque de trailers
ou os cidadãos e comunidades dentro dos parques de trailers.

Possíveis temas de gatilhos e/ou avisos de conteúdo:


 relatos de lutas no relacionamento
 pobreza e dificuldades financeiras
 um tribunal/julgamento
 alguma violência, assassinato, armas de fogo, tentativa de
homicídio
 um policial corrupto
 uso de drogas e álcool
 muitos palavrões
 cenas de sexo explícito, incluindo pequenas torções
 estar frustrado com os personagens
 perda de posses
 dor emocional e física

O Lot 62 está escrito em inglês canadense. Pesado nas letras extras dentro
das palavras, com mais Zs do que Ss em comparação com o inglês britânico,
e colocamos algumas palavras em francês apenas para diversão.
nosso conto de fadas
A vida foi um inferno por muito tempo. Então Maddox aconteceu, e ele
estragou tudo de um jeito bom. Da melhor maneira.
Minha vida inútil e esfarrapada ganhou algum tipo de incentivo. Meu
maior rival se transformou em meu maior amor e, apesar de ainda lutarmos
regularmente, o fogo por trás disso era diferente. Melhor. Queimava mais
feroz. Maddox Kane apareceu e abalou tudo o que eu achava que sabia, e
por mais orgulhoso que eu fosse, era muito difícil mudar meu modo de agir.
Nossa briga cheia de ódio se transformou em uma viagem agressiva e
cheia de tensão para a danação, e eu jurava, foda-se, eu nunca estive tão
ansioso para me condenar. Por ele. Ele era tudo para mim. Ele salvou minha
vida tantas vezes que eu tinha uma lista de dívidas com ele mais longa do
que jamais seria capaz de pagar, mas ele me ajudou a não me sentir tão
culpado por isso batendo em mim, mesmo quando estava me salvando. Em
que mundo lógico isso fazia sentido, eu não sabia, mas funcionou para mim.
Porque Maddox me salvou tanto quanto me derrotou e, apesar de tudo,
permaneceu o mesmo adversário digno que sempre tive. Igualou-se com
minha energia, nunca deixou de enfrentar o desafio e me deixou irritado em
um nível de habilidade que só ele tinha. Em algum lugar ao longo da vida,
ele tomou a decisão certa; aquela que abriu meu coração cínico e deixou o
amar.
Não era surpresa que nossa história de amor tenha começado sangrenta.
Literalmente. Um dia depois que ele me fez sangrar em uma briga, ele me
ajudou a me curar de uma surra que meu pai me deu. Ele ainda me fazia
sangrar mesmo um ano depois, mas isso não iria mudar. Ser rivais deve ser
nossa torção porque, caramba, tornou-se minha dinâmica favorita.
Morar juntos não era tarefa fácil. Por mais que eu o quisesse, às vezes eu
queria matá-lo mais. Relacionamentos eram novidades para nós dois, e nós
estragamos tudo mais do que ajudamos, mas continuou emocionante. E
irritante. E malditamente sexy. Nós crescemos como um casal, brigamos
mais do que nunca, continuamos nos desafiando e descobrimos como
mesclar nossas personalidades em um trailer como uma caixa quente. Foi
preciso alguns olhos roxos e lábios rachados, mas chegamos juntos no final.
Porque tudo o que realmente importava era que nós dois estávamos juntos,
vivendo e lutando na mesma vida – pela mesma vida. Juntos.
Mas todos os contos de fadas tinham um vilão, e essa merda de vida era
nossa.
1

-Devon-
Com os olhos revirados, minha cabeça caiu contra a parede atrás do balcão
da recepção. A loja ainda não estava aberta, mas meus lábios sim. Prendi a
respiração, engasgando-me com o ar e passei meus dedos pelo cabelo de
Maddox, não para controlá-lo, mas para incentivá-lo a continuar fazendo
exatamente o que estava fazendo.
Sua língua agora habilidosa deslizou pelo meu eixo, os lábios sugando ao
meu redor como se me chupar fosse a força motriz para começar bem o seu
dia. Porra, Maddox. O cara era um aprendiz rápido, e merda, ele podia chupar
um pau. Meu pau.
Este era um daqueles momentos. Um raro, onde tudo parecia bom por
uma fração de tempo porque ele fazia com que se sentisse bem. Maddox
controlava o ar ao seu redor tanto quanto me controlava, e mesmo que isso
fosse uma espécie de boquete por despeito, ele garantiu que eu me tornasse
um prisioneiro de seu prazer.
Eu não tinha chegado em casa ontem à noite, e Maddox não gostou disso.
A loja que eu possuía com Nate e Xavi estava muito mais movimentada do
que havíamos planejado, e eu perdi a noção do tempo e fiquei aqui
trabalhando a noite toda. Então, com sua boca no meu pau e suas mãos
apertando em meus quadris, sua fúria bloqueou o mundo e me manteve
presente apenas neste momento. Sua boca e sua energia desligaram meu
cérebro apenas o suficiente para esquecer todas as minhas responsabilidades
e aproveitar isso pelo que era. Um boquete de raiva às 6:00 da manhã.
— Foda-se, Madd — eu gemi, puxando seu cabelo.
Ele me ignorou, continuando a me chupar como queria. Ele tinha que estar
no trabalho em meia hora, mas eu o amei por ter vindo aqui primeiro. Ele
era suave sob aquela casca dura. Eu o amava por isso também.
A porta lateral da loja se abriu, mas Maddox não parou. Estava quase
escondido atrás da mesa, então Nate, entrando com olheiras e uma caneca
de café na mão, não podia vê-lo.
— É melhor que seja Madd de joelhos — Nate brincou. — E é melhor ele
se apressar porque Paul estará aqui em dez minutos para pegar seu barco.
Mostrei o dedo ao meu irmão enquanto ele caminhava pela loja até o
apartamento dos fundos. Paul sempre chegava cedo, mas não importava
porque Maddox não me deixaria durar mais dez minutos. Ele levou meu pau
tão fundo em sua garganta que se engasgou, mas apertou meus quadris para
me puxar para frente de qualquer maneira. A compressão de sua garganta
engasgada fez meus joelhos enfraquecerem e meus dedos em seu cabelo
apertarem.
— Ah, foda-se — eu gemi, perdendo a cabeça. Meu corpo ficou tenso,
meu pau latejou e gozei ao comando de Maddox. Direto na sua garganta em
uma onda de intenso prazer, Maddox pegou tudo e não apressou o final.
Bem, isso me acordou.
Maddox lambeu os lábios enquanto eu o colocava de pé, puxando minha
calça para cima e beijando os restos de mim em seus lábios brilhantes. A loja
estava quente como o inferno, mas Maddox era mais quente. Porra, esse cara
era sexy em suas roupas de construção. Sorri quando ele limpou os lábios.
Ele melhorou em engolir, mas apenas se não enchesse a boca. Eu tinha que
entrar no fundo de sua garganta ou essa cadela certinha iria engasgar-se e
cuspir.
— Se isso é punição, vou te irritar com mais frequência — eu ri, beijando-
o novamente.
— Você me irrita pelo menos três vezes por dia, idiota. Não force. — Ele
queria muito que eu pressionasse, mas não desse jeito. Não sobre isso. Ele
agarrou meu queixo com força. — Você está voltando para casa esta noite.
Entendeu?
Culpa. Porra. — Entendo — eu prometi. — Tão carente.
Maddox rosnou para mim, voltando a ficar com raiva. — Não me faça
admitir que sinto sua falta, Devon. Eu não estou a fim dessa merda.
Revirei os olhos para ele, mas meu coração batia forte com o tipo de amor
que jogava em mim. Era duro e honesto, e pensei que poderia ser o melhor
tipo de amor que já existiu. — Estarei em casa.
— Vou chutar o traseiro dele daqui às seis, Madd — Nate disse, voltando
para a loja. — Você tem quinze minutos para começar a trabalhar.
— Merda — Maddox amaldiçoou, roubando meu café. — Vejo você à
noite. — Ele me beijou mais uma vez, sexy e rápido, e então correu para a
porta.
Admirei sua bunda em sua calça de trabalho quando ele saiu, esbarrando
em Xavi no caminho. Eles trocaram um rápido 'oi, tchau', e então ele se foi.
Fora para trabalhar em outro longo dia. Eu realmente sentia falta dele. Nós
dois estávamos trabalhando tanto que não tínhamos tempo para nos ver ou
estávamos cansados demais para fazer qualquer coisa quando estávamos
juntos em casa. Nós nos esforçamos para trabalhar em tempo integral desde
sempre, e agora eu odiava um pouco. Mas essa merda precisava mudar,
porque eu me recusava a perder Maddox por trabalho e dinheiro. Já
havíamos sobrevivido sem isso antes, e poderíamos fazê-lo novamente.
— Vá para casa e tenha seu pau chupado, Dev. Vocês moram juntos. A
loja é para o trabalho. — Nate me deu um olhar que era uma tentativa de ser
maternal, mas falhou muito.
Eu levantei uma sobrancelha acusadora. — Oh sim? Como se você e Xavi
não transassem por aqui o tempo todo?
— No apartamento! — Nate defendeu. Nate e Xavi ainda moravam na
sala dos funcionários, transformada em apartamento nos fundos da loja.
Aquele lugar sempre guardaria boas lembranças da noite em que saí da
prisão e vim para cá com Maddox, mas estava feliz por não estar mais
morando com eles. Eles eram um pouco demais para mim. Muito felizes.
Muito fofos e risonhos. Positivos demais.
— Eu vi Xav dobrar uma garota sobre aquele guindaste há uns três dias
— eu disse a ele. — Desça do ego.
— Foi uma vez — Xavi riu, nem um pouco arrependido.
— Ok, certo. Tenho certeza de que vi aquela mesma garota te dar um
boquete ontem — eu ataquei Nate. — Ali. — Apontei para a porta da frente
da loja. — Então não jogue sua besteira sobre a loja ser lugar de trabalho para
mim, idiotas. Eu não sou estúpido. Vocês dois podem transar aqui, eu
também. — Terminei meu discurso assim que Paul entrou pela porta da
frente.
— Isso está pronto? — ele perguntou, apontando para o barco.
— Está pronto. — Eu o conduzi até lá.
Ainda não conseguia acreditar que realmente conseguimos isso.
Tínhamos a loja que sempre sonhamos. A vida era boa pra caralho, mas na
minha experiência, isso normalmente significava que a merda estava prestes
a atingir o ventilador. Quando isso acontecesse, eu só tinha que ter certeza
de que não tinha nada a ver comigo e com o idiota do meu namorado.
2

-Maddox-
Passei todos os meus vinte anos, e até grande parte da minha adolescência,
esperando um trabalho em tempo integral. A estabilidade financeira sempre
pareceu um sonho, como se eu a conseguisse, tudo na vida seria melhor. Mas
agora que eu tinha, me ressentia disso.
Fiquei tão focado na parte financeira das coisas que esqueci de considerar
todo o resto. Eu queria uma renda estável para não ter que me preocupar em
pagar contas ou aluguel, mas nunca parei para pensar no que perderia ao
obter independência financeira.
Eu estava muito cansado para aproveitar os fins de semana na pista como
costumava fazer. Estava muito exausto fisicamente depois do trabalho para
colocar a quantidade certa de foco e energia para manter uma ótima vida
sexual com Devon. No final de semana do trabalho, eu estava tão exausto
que acabamos brigando metade dele. E não a briga em que prosperamos,
mas o tipo que deixava um ou ambos feridos. Eu odiava isso. Foi por isso
que fiz um esforço extra para ir ver aquele workaholic1 esta manhã. Eu
estava desejando-o, sentindo falta dele, mas chateado com ele por não ter
voltado para casa ontem à noite, então fui para o seu pau como um cachorro
na coleira.
Valeu a pena, no entanto. Ele fica gostoso quando goza, e eu não me
importo de me sentir presunçoso sobre isso.

1 Trabalhador compulsivo ou workaholic é uma pessoa que trabalha compulsivamente. Enquanto o termo
geralmente implica uma pessoa que gosta de seu trabalho, ele também pode implicar que ela simplesmente se
sente obrigada a fazê-lo.
— Você vai para a pista neste fim de semana, Madd? — Tom, um dos
caras mais novos da Garron Construction, perguntou enquanto nos
arrumávamos para sair.
— Sim. — Tirei meu colete refletivo e virei meu pescoço, dolorido pra
caralho. — Você?
— Sim. Mal posso esperar para festejar. — Tom era seis anos mais novo
do que eu. Ele tinha vinte anos, vivia em seus dias de festa e mal dava a
mínima para o motocross. Só gostava de beber, tentar transar e brincar. Ele
era péssimo porque era estranho e desajeitado, mas tanto faz. Era bom
querer essa merda, mas mesmo quando eu tinha vinte anos, os fins de
semana na pista eram sobre atrapalhar Devon e vencê-lo na corrida. Era tudo
sobre motocross para mim. Ainda era assim, mas estava cansado demais
para colocar a energia como costumava fazer.
— Legal. — Eu era péssimo em conversas.
— Jeff disse que você está em um relacionamento. Posso conhecer essa
garota no fim de semana? — Tom perguntou.
— Claro, mas ela tem um pau. — Eu mal podia esperar para sair daqui.
— Você é gay?
— Por ele. — Eu achava que realmente não tinha um rótulo. Não tive
muito tempo para sequer pensar sobre isso. Era apenas Devon. Simples
assim.
— Bem, mal posso esperar para conhecê-lo — disse Tom. — Vejo você
amanhã.
— Até logo. — Peguei minha marmita e fui para o estacionamento. Eu
precisava de um banho, uma soneca e Devon.
Claro, Devon não estava em casa quando voltei para nosso trailer no lote
62. Então tomei um banho, comi um donut velho de ontem de manhã e caí
no sofá para uma soneca rápida. Estava quente e abafado lá dentro, então o
tecido áspero do sofá grudou na minha pele, mas pelo menos a energia
estava ligada e o ventilador soprava ar morno em mim.
Nas noites de sexta, íamos jantar na casa da minha mãe. Ela era péssima
em cozinhar e geralmente saíamos com mais fome do que quando
chegávamos, mas tanto faz. Era a novidade dela, e todos nós estávamos nos
esforçando. Hoje à noite, tudo que eu queria fazer era estar com Devon.
Fodendo, brigando, discutindo, ou apenas sentados fofocando, eu não me
importava.
Quase um ano depois, eu ainda não conseguia acreditar que estava
namorando com ele. Devon maldito Sawyer? Sim, nunca vi essa merda
acontecendo. Mas aqui estávamos nós, morando juntos, em um
relacionamento, brigando como se fosse nossa vocação, fazendo o melhor
sexo da minha vida quando encontramos tempo para fazê-lo e ainda felizes.
Nosso relacionamento era difícil, na melhor das hipóteses, mas para mim,
parecia muito perfeito.
Devon ainda era mais um lixo de trailer do que eu, mas puta merda eu o
amava. Tipo, coração completamente consumido, queria ele para o resto da
vida, amor do tipo ficar ou morrer por ele. Ele era meu e eu era dele, e mesmo
que estragássemos tudo com muita frequência, eu não conseguia imaginar
passar por essa merda de vida sem ele agora.
Eu disse a ele que o amava um dia e ele me deu um soco na boca por isso,
alegando que eu só tinha que dizer primeiro como se fosse uma competição.
Ele basicamente colocou a confissão de volta na minha boca e depois disse
ele mesmo. Ele pensou que tinha vencido aquela luta, mas fiquei feliz o
suficiente para deixá-lo pensar isso. Nós nos amamos. Nós dissemos isso.
Não precisava ser tão grande. Foi dito.
Mas agora eu odiava como nossas vidas nos atrapalhavam. Todo mundo
lidava com essa merda? A vida e todas as suas exigências foram a razão pela
qual tantos casais se separaram? Ou apenas tínhamos um intervalo de tempo
entre nós porque trabalhamos muito? Quero dizer, Garron Park estava cheio
de casais divorciados, viúvas ou cônjuges que viviam sozinhos porque o
parceiro estava na prisão, mas seria esse o nosso futuro? Eu com certeza
esperava que não. Não queria que o estresse da vida nos separasse, mas, a
essa altura, não sabia como fazer isso parar.
Pensar nisso fez meu peito apertar, arruinando minha tentativa de tirar
uma soneca. Pulei do sofá, andando pelo trailer duplo que chamávamos de
lar, esperando Devon voltar do trabalho. Quando deu sete horas, fiquei
chateado. Nate disse que o expulsaria às seis e ele ainda não estava em casa?
Foda-se, Devon.
Cansei de ficar com raiva, então só para irritá-lo, fui embora. Atravessei o
parque com os punhos cerrados e abri a porta do trailer da minha mãe.
E vi Devon.
— Foda-se, Maddox — Devon me amaldiçoou. — Pensei que nos
encontraríamos aqui, seu imbecil. Eu estive esperando. — Ele tinha um prato
meio comido de uma caçarola de merda que minha mãe fez na frente dele.
Meu primeiro instinto foi bater nele por me irritar, mas vê-lo aqui,
sabendo que veio me procurar na casa da minha mãe, bem, isso acalmou um
pouco meus punhos. Ele se levantou para pegar um prato para mim
enquanto minha mãe dizia olá, mas eu não o deixei ir. Eu agarrei seu pulso,
senti-o tenso para um soco que ele pensou que iria levar, e puxei-o para um
abraço.
— Seu fodido molenga — ele brincou contra o meu pescoço, envolvendo
os braços em volta da minha cintura.
Eu não disse nada porque não havia nada a dizer. Apenas sentir. Sim, eu
sentia falta dele, e estava cansado de sentir isso, mas agora não era o
momento para essa conversa.
— Querido, sente-se! — Mamãe interrompeu. — Eu fiz... uh, alguma
coisa. — Ela apontou para uma caçarola que honestamente parecia nojenta.
— É melhor que a anterior — Devon sussurrou em meu ouvido. Ele me
pegou um prato e nos sentamos.
Mamãe ainda usava seu uniforme de limpeza do hospital e jogou muito
daquela caçarola no meu prato. Ela estava indo bem, fazia a maior parte de
seus turnos, conseguia fazer esses jantares horríveis às sextas-feiras e não
tinha se metido em muitos problemas ultimamente. Ainda era uma bêbada,
mas havia diminuído o ritmo com os analgésicos. Ou isso ou ela era melhor
em esconder de mim agora que eu não morava mais com ela. Provavelmente
isso.
— Como foi o trabalho? — Mamãe perguntou, ignorando seu jantar, mas
girando seu vinho.
— O mesmo que todos os dias — respondi. — Você conseguiu mais
turnos no hospital? — Eu balancei a cabeça para seu uniforme.
— Estou apenas substituindo uma garota que está de licença. — Mamãe
acenou como se não fosse grande coisa. Era algo grande porque a antiga ela
nunca teria feito turnos extras, muito menos aparecia por conta própria. A
única razão pela qual ela ainda tinha um emprego lá era porque eles estavam
tão desesperados por pessoal de limpeza. Eu estava orgulhoso dela, e ela
sabia disso, mas não queria reconhecer para não a pressionar e fazê-la
fracassar. Eu poderia respeitá-la.
Dei uma mordida na caçarola e quase me engasguei. — O que é isso? —
Mastiguei devagar, tentando engolir bem rápido ou não engolir. — Isso é
atum e... molho de espaguete? — Jesus.
— Eu não tinha carne de hambúrguer! Achei que o atum funcionaria. Não
é tão ruim! — Ela abriu os braços como se eu estivesse ofendendo seu esforço
de jantar, embora seu próprio prato estivesse praticamente intocado na
frente dela. Alguns dos macarrões foram empurrados estrategicamente para
fazer parecer que ela comeu mais.
Oh, definitivamente era tão ruim, mas Devon comeu mesmo assim. Nate
e Xavi apareceram, brigando sobre algo como velhas esposas, mas isso
deixou mamãe feliz, então eu fui totalmente a favor. Puxei Devon para longe
e disse a ele que estávamos indo embora. Ele não discutiu, mas acendeu um
cigarro enquanto caminhávamos para casa. Vinha fazendo isso ultimamente,
e eu meio que odiava porque era outra despesa que não precisávamos.
— Steven Patterson veio à loja hoje — disse Devon. — Aquele cara é um
pedaço de merda que tentou comprar o prédio de volta por três vezes o que
pagamos por ele.
Eu olhei para ele e fiz uma careta. Dinheiro não valia sonhos, mas era uma
bela moeda. — Vocês vão fazer isso?
— Foda-se não. Eu não venderia um rim para aquele babaca nem por um
milhão de dólares.
— Você tem dois rins, e um milhão de dólares seria bom — eu ri. Mas sim,
Steven Patterson, o dono da loja original, era um dos maiores idiotas que eu
conhecia. Bem, além do pai de Devon, mas não falamos sobre isso porque os
punhos geralmente voavam.
— Sabe o que seria ainda melhor? — Devon perguntou, olhando para
mim com um sorriso doentio no rosto. — Se você me contasse o que está
acontecendo com você e seu trabalho ultimamente. Desembuche, Madd. Eu
sei que você não está feliz.
Eu achava que ele queria falar sobre isso agora. — Não é sobre o trabalho.
É só... — Por que isso era tão difícil? Por que me sinto uma cadela chorona
por admitir que sinto falta dele? — Estamos ocupados o tempo todo e isso é
uma merda. — Bom o bastante.
— Eu sei — Devon concordou. — Estamos bem, certo? Como nós?
Estamos firmes?
Sim, estávamos firmes durante as três horas por semana em que
conseguíamos ficar acordados um com o outro. Eu balancei a cabeça em
resposta, mas isso não era bom o suficiente para Devon. Ele soprou sua
fumaça, colocou a mão no meu peito e fisicamente me forçou a parar de
andar.
— Não me exclua, Madd. Diga-me seus pensamentos porra.
Mas como? Como eu dizia a ele que gostaria que ele trabalhasse menos,
tivesse mais tempo para mim e não gastasse toda a sua energia na loja
quando esse era seu sonho? Eu não poderia tirar isso dele só porque eu era
um namorado carente. Queria que ele vivesse seu sonho. Acho que pensei
que eu também seria o sonho dele. Me sentia patético só de pensar nisso,
então balancei a cabeça e dei de ombros.
— Apenas sinto sua falta. Das vezes em que costumávamos fazer merda
juntos. — Muito sentimental, então acrescentei: — E eu te odeio por me fazer
dar a mínima para onde você está. — Pronto. Todo crédito.
Devon sorriu para mim. — Também sinto saudade. Vamos. Consegui algo
para ajudar com isso e devo a você um boquete por esta manhã. — Ele me
arrastou de volta ao lote 62.

Sempre existia essa sensação de poder por ser o passivo. Com Devon me
fodendo forte e profundamente, meu corpo ficou muito consciente do que
isso fazia com ele. Ele me queria tanto que literalmente não conseguia se
conter, e essa merda era boa. Ele enfiou seu pau duro dentro de mim, olhos
revirados, gemidos desenfreados escapando de seus lábios e uma camada
de suor em seu peito. Eu. Eu fiz isso com ele. E eu estava muito orgulhoso
disso.
— Foda-se, você se sente bem, Madd — ele murmurou para mim. — Eu
queria foder essa bunda o dia todo.
— Então foda — eu rebati, ficando impaciente.
Devon alcançou entre nossos corpos e envolveu sua mão em volta da
minha garganta. — Você está falando mal de mim enquanto eu estou
fodendo você? — Diminuiu o ritmo, mas aumentou a profundidade. Não
pude evitar o gemido de satisfação que veio com isso. — Porra, eu possuo
você agora, Maddox. — Ele balançou nossos corpos juntos, me fodendo sem
fricção real. Apenas movimento, e puta merda, ele ia ganhar essa luta.
— Foda-se — eu ofegava, amando cada minuto disso. Quando Devon
ficava mandão, eu me deliciava com suas exigências.
— Você é meu, Maddox — ele repetiu, empurrando em mim. — Foda-se,
você é meu. — Nossos olhos se conectaram enquanto ele falava aquela
besteira possessiva que eu amava. Minha cabeça se encheu com a pressão de
seu aperto na minha garganta, mas fez o resto do meu corpo ganhar vida.
Agarrei seus quadris, controlando-o tanto quanto ele me controlava. —
Foda-se, Madd. Goze comigo.
Acariciei meu pau algumas vezes, e então nós dois estávamos gemendo e
respirando com dificuldade, atingindo o pico juntos. Nem sempre gozamos
ao mesmo tempo, mas quando gozávamos, parecia diferente. Profundo.
Uma conexão melhor. Uma fração de tempo parado onde nada mais
importava exceto nós dois e a tensão que criávamos.
Eu acendi com eletricidade e a testa de Devon bateu na minha com muita
força. Ele gozou dentro de mim, gemendo na minha cara, e eu prendi a
respiração, gozando em seu abdômen. Quando sua cabeça escorregou da
minha, batendo no meu ombro, eu agarrei seu cabelo e trouxe sua boca para
a minha.
— Eu te amo — ele ofegou, os pulmões de fumante tomando conta. — Eu
não estou perdendo você por besteiras de trabalho, Madd. Merda. Eu te amo.
Nunca me cansaria de ouvi-lo dizer isso. A maneira como ele disse foi
agressiva, socando essas palavras direto na minha corrente sanguínea para
bombear através do meu coração. — Amo você. Nós vamos resolver isso. —
Mordi seu lábio inferior.
— É melhor — disse ele, dando-me mais um beijo antes de sair. Ele soltou
seu habitual gemido de admiração, observando seu gozo pingar da minha
bunda. Com o dedo, ele o empurrou de volta e rosnou. — Me faz querer te
foder de novo.
— Em vez disso, tome banho comigo. — Levantei-me, agarrando sua
mão.
Tomamos banho, mal cabendo lá juntos, ficamos sem água quente depois
de míseros oito minutos, brigamos por uma única toalha e nos sentamos no
deque da frente para nos refrescar. Ainda estava quente, mas pelo menos a
umidade havia diminuído durante a noite.
— Não tire sarro de mim por isso — Devon começou, colocando uma
sacola em seu colo. — Mas pensei que isso poderia ajudar durante o dia. —
Ele passou para mim.
Olhei para dentro e encontrei duas caixas. — Você comprou telefones para
nós? — Eu ri. — Que porra é essa, Devon? Não precisamos disso. Nós temos
os compartilhados.
— São telefones de merda, mas pelo menos podemos trocar mensagens
durante o dia. Pode parecer que não passamos dezesseis horas sem nos ver.
Apenas tente.
Peguei um telefone e procurei o botão liga/desliga. — Eu nem sei como
usar essa merda.
Devon riu, e então riu ainda mais. — O que diabos há de errado com a
gente? É como se nem estivéssemos vivendo neste século.
— Nós não — eu concordei. — Vivemos em Garron Park.
3

-Devon-
Eu chutei minha perna para longe, esculpindo a berma2 e cerrando os
dentes. Essa pista era um show de merda. Essas bermas estavam meio
arrebentadas, e a bagunça à frente faria meus rins doerem amanhã. Nada
disso importava porque Maddox estava atrás de mim, e um pouco de sujeira
desajeitada não iria me impedir de vencê-lo. Ele estava me provocando o dia
todo sobre esta corrida, alegando que meus pneus estavam danificados e
meus freios não eram confiáveis, mas eu tinha algo que ele não tinha. Mais
maldita determinação para ganhar a aposta que havíamos feito. E disputei
justamente, mesmo com uma moto quebrada.
Havia um novato à minha frente e ele administrou a primeira metade da
pista muito bem, mas era novo por aqui e não fazia ideia do que estava por
vir. Estávamos na segunda hora e, apesar do tempo ameaçar enlamear a
pista, eu vivia para essa merda.
Girei o acelerador, ganhando vantagem sobre o novato enquanto Maddox
ganhava de mim. A adrenalina que percorreu pelo meu sangue, sabendo que
ele estava atrás de mim, me emocionou pra caralho. Talvez eu gostasse de
ser perseguido, mas talvez gostasse ainda mais de conduzi-lo. Com ele nas
minhas costas, eu prosperei sob o desafio disso.
Ao fazer a curva e sobrevoar uma colina, entramos em um trecho de
floresta apertado, cheio de raízes e galhos caídos, mastigando a terra que

2 A berma ou acostamento de uma estrada é uma faixa longitudinal pavimentada, contígua a essa mesma
estrada, não destinada ao uso de automóveis senão em circunstâncias excepcionais.
atingiu meus óculos e impossibilitou a visão da trilha. Eu busquei uma
abertura, vendo uma oportunidade de contornar o novato na próxima
colina. Meus freios podem ter sido danificados, mas ele não tinha coragem
de acelerar naquela encosta íngreme.
Seu pneu atingiu o fundo da inclinação alguns segundos antes do meu, e
quando ele cambaleou, tentando se levantar e se inclinar para frente para
aumentar o impulso, eu acelerei ao lado dele e sorri quando sua cabeça virou
em minha direção. Eu acelerei, quase chutando o pneu traseiro, mas
consegui manobrar para subir a encosta. Meus pneus atingiram o topo plano
juntos, me jogando um pouco para frente, e então minha raiva aumentou e
meu lado competitivo apareceu.
Maddox estava bem ali.
A trilha se estreitou e ele lutou comigo pela posição de liderança, mas
foda-se. Eu o interrompi bem a tempo, bloqueando seu caminho para a
frente do grupo. O novato estava bem atrás dele e, por alguns quilômetros,
nós ziguezagueamos pela floresta mais rápido do que provavelmente era
normal. Reduzindo a marcha quando necessário e subindo de volta para a
quarta e quinta sempre que podia. Meu coração batia junto com a rotação do
motor e, quando a pista abriu, mudei para a quarta, depois para a quinta, e
dei tudo o que tinha.
Passando por um trecho rochoso que exauriu meus braços, escalando
troncos que sacudiam meu capacete e arrancando outro rasgo de meus
óculos quando a chuva começou, respirei o ar úmido e chuvoso e olhei para
a direita. O pneu dianteiro de Maddox estava nivelado com o meio da minha
moto, e tudo o que restava entre nós e a linha de chegada era a colina sul.
Larga o suficiente para duas motos. Por pouco.
Um lampejo de preto e vermelho veio em meu periférico, e então ele fez
um movimento idiota. Um que acabei de fazer antes na trilha estreita. Ele
disparou e me ultrapassou. Subindo a colina, meu sangue ferveu quando ele
ziguezagueou, bloqueando minhas chances de assumir a liderança a cada
alargamento do caminho.
Tentado a cutucá-lo, quase bati meu pneu dianteiro no traseiro dele, mas
recuei no último segundo. Só terminaria com nós dois quebrando e
queimando, e eu não era burro o suficiente para fazer isso. A bandeira na
linha de chegada apareceu e, no último trecho, a pista voltou a se abrir.
Pescoço a pescoço, travamos duras batalhas, ganhando e perdendo aquele
centímetro precioso até que a bandeira quadriculada tremulou e avançamos
para o neutro.
Minha testa estava escorregadia de suor, a chuva molhava meu
equipamento e o motor da minha moto chiava a cada gota quando eu a
desliguei.
Maddox olhou para mim e eu olhei para ele, pronto para lutar – mais uma
vez – pelo nosso lugar no pódio.

Maddox se regozijou e, pela primeira vez, isso me fez sorrir. O


acampamento estava ainda mais lotado do que o normal, e meu cara estava
comemorando sua vitória. Ele tem sido um filho da puta mal-humorado
ultimamente, então foi bom vê-lo se divertindo, mesmo que isso significasse
que eu teria que ficar em segundo lugar para ele.
Sim, eu estava chateado por ele ter me vencido, mas caramba, ele mereceu.
Ele pilotou forte, me superou e conquistou a vitória sozinho. Mesmo que eu
quisesse arrancar aquele sorriso presunçoso de seu rosto bonito, eu gostava
mais de vê-lo ali.
— Do que você está sorrindo? — Nate se sentou ao meu lado, me
entregando uma cerveja. — O velho você teria chutado a bunda dele por esse
exibicionismo.
Abri a lata e ri. — Não se preocupe, eu vou. Vou deixá-lo pensar que está
se safando e depois vou derrubá-lo do alto. — Sorri para Maddox do outro
lado da fogueira.
— Tudo bem com vocês? — Nate perguntou. — Xav disse que Madd está
mal-humorado. — Meu irmão olhou para mim com preocupação real, não
curioso, mas sinceramente preocupado.
— Ele está sempre mal-humorado. É Maddox. — Suspirei porque sabia
que algo estava acontecendo com ele. — Mas sim, estamos bem. Apenas
tentando descobrir como encaixar tudo isso.
— Vá para casa mais cedo no final do dia, idiota. — Nate zombou de mim.
— Arranje tempo para o seu homem ou ele vai te largar.
Esse era o meu maior medo, e piorava cada vez que eu errava ficando na
loja até tarde. — Sim, mas você e Xavi moram na loja. Não quero que pareça
que não estou me esforçando.
— Foda-se com essa merda, Devon. Você dedica tantas horas que
basicamente mora lá. Qual é o sentido de ter um lugar com Madd se você
nunca está em casa? — ele perguntou. — Além disso, eu e Xav não estamos
amarrados aos amores de nossas vidas.
— Amor da minha vida? — Eu zombei, mas não havia nenhuma raiva
por trás disso. Maddox era o amor da minha vida? Como eu deveria saber?
Ah, foda-se. Eu sabia que ele era. — Ele ainda é meu maior concorrente.
Posso amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo.
— Inferno, sim, você pode — Nate concordou. — Mas para fazer qualquer
um, você tem que arranjar tempo para ele. Pare de ser um idiota egoísta. A
loja está bem, mas seu relacionamento não estará se você continuar assim.
Ele tinha razão. Eu odiava quando ele tinha razão. Ficava arrogante com
isso e jogava na minha cara, mas talvez eu merecesse. — Eu sei. Ele é mais
importante.
— Que bom que você finalmente descobriu isso — Nate disse,
basicamente me chamando de lento. — Agora vá bater na bunda dele por se
vangloriar.
— Não posso — eu admiti com um sorriso. — Ele ganhou, então venceu
a aposta. — Eu sabia que ele ia perguntar, então apenas disse. — Ele apostou
comigo que se ganhasse, eu teria que chupar o pau dele no pódio. — Eu ri.
— Puta merda.
— Apresse-se então, princesa. Faça-o trabalhar para isso, no entanto. —
Nate me empurrou por trás, me impulsionando em direção ao meu homem.
Até meu irmão sabia que eu estava negligenciando meu relacionamento e,
se ele soubesse, Maddox devia estar muito chateado comigo por isso. Eu
faria melhor.
Mas eu estava realmente tão seguro nisso que me sentia confortável
colocando Maddox em segundo lugar? O olhar triste em seus olhos,
escondido sob sua raiva, me disse que eu estava estragando muito. Era hora
de consertar porque eu poderia sobreviver perdendo qualquer coisa, mas
não ele. Qualquer coisa, menos Maddox.
Peguei minha cerveja e caminhei atrás dele. Maddox estava no meio de
um grupo de pessoas, mas estava conversando com um cara que eu não
conhecia. O cara estava ouvindo e Maddox estava se gabando, então,
naturalmente, eu acabaria com isso.
— Você trapaceou — eu retruquei, empurrando-o por trás.
Os olhos verdes de Maddox brilharam com o desafio quando se virou para
me encarar de frente. — Como diabos eu trapaceei, Sawyer? — Sabia que ele
cairia na minha besteira - nossa besteira. Aquele tipo que nós
desenvolvemos.
— Você me ultrapassou na colina ao sul.
— Não é minha culpa que você não conheça estratégia — ele disse de
volta.
— Estratégia? — Eu zombei. — Você corre sujo pra caralho, Kane.
— Mhm. — Ele sorriu para mim. Ninguém mais podia ver, mas eu
adorava aquele sorriso.
— Uau, Madd. Acalme-se. — O cara atrás dele tentou aliviar a tensão, o
que me deixou tenso.
Quem diabos esse cara pensava que era e por que ele achava que tinha
uma chance de ficar entre nós? E ninguém o chamava de Madd, exceto eu e
nossos irmãos! Ou diria a ele para se acalmar. Eu era o único autorizado a
dizer isso a ele! Levantei uma sobrancelha acusatória para o meu namorado,
esperando para ver como ele queria que isso acontecesse. Eu estava a um fio
de nocautear seu amigo, mas era mais provável que descontasse em Maddox
só porque eu podia. Se ele quisesse lutar, eu lutaria. Sempre estaria pronto
para a adrenalina de enfrentá-lo. Mas se ele quisesse sumir daqui e receber
o que ganhou com a nossa aposta, eu também estaria nessa adrenalina.
— Este é o Tom — Maddox disse, inclinando a cabeça para o jovem que
falou sem tirar os olhos de mim. — Ele trabalha comigo.
Ótimo. Outro espectador que passou mais tempo com ele do que eu. Olhei
para esse bastardo e tentei não ser um idiota completo sobre isso. Eu era
totalmente um idiota sobre isso, no entanto. Ele era jovem, mas não jovem o
suficiente para ser inocente, o que significava que imediatamente
representava uma ameaça para mim. Parecia que ele malhava e, para ser
honesto, eu não gostei disso. Nem um pouco.
— Esse é o Devon — Maddox continuou porque eu não disse nada. — A
namorada que você queria conhecer. — Ele sorriu para esse idiota do Tom.
Ok, primeiro, aqueles sorrisos eram para mim. Em segundo lugar, foda-se
ele por me chamar de namorada. — Foda-se, Maddox. Você é a cadela neste
relacionamento.
— Sexista — ele acusou com uma risada, me incitando na esperança de
uma briga. Quando eu o cutuquei com o cotovelo, ele o agarrou. E não
largou. Na verdade, ele meio que me segurou possessivamente, como se
fosse meu dono e estivesse se certificando de que Tom soubesse disso.
Merda, eu gostei disso. Realmente gostei disso.
— Ei, cara — disse Tom, estendendo a mão. — Prazer em conhecê-lo.
Achei que vocês dois iam se matar. — Ele riu nervosamente, ainda
imaginando se iríamos lutar.
Apertei sua mão, mas não gostei. — Ainda não está fora de questão.
— Matar um ao outro é nosso fetiche — disse Maddox como um bastardo
tranquilo. — Mas fazer apostas é ainda melhor. E tenho certeza de que
ganhei hoje, certo? — Havia aquele sorriso só para mim.
— Sim, e estou pronto para acabar com você, seu idiota de merda. —
Agarrei seu pulso.
Maddox riu, de bom humor esta noite. — Até logo, Tom. — Ele nem
sequer olhou para o cara enquanto me arrastava para longe. Rumo ao pódio.
— Por que você está tão feliz esta noite? — Eu perguntei com um pouco
de rispidez. Melhor não ter nada a ver com Tom.
— Porque eu bati na sua bunda na pista e agora estou prestes a conseguir
o que quero — ele respondeu. — Além disso, odeio quando você fica todo
inseguro e tal, mas ver você ficar assim perto de Tom? Deixou meu pau duro.
Eu o soquei no ombro. — Foda-se! Eu trabalho com os idiotas do Nate e
do Xavi o dia todo, mas você está lá fora com todos esses caras musculosos!
Como devo competir com isso?
Ainda bravo, não notei seu pé. Ele chutou minhas pernas, e assim que
minhas costas atingiram o chão com um baque, seu joelho pressionou meu
peito e suas mãos prenderam meus pulsos na terra.
— Competir com isso? — ele zombou. — Você não compete com isso. Eles
não podem competir com você. Não importa como eles se parecem, porque
eles não são você, Devon. Fique com ciúmes o quanto quiser, porque eu amo
foder você. Mas se você continuar se questionando, vou te chutar tanto que
você terá que tirar um mês de folga do trabalho. E acredite em mim, durante
esse mês, você aprenderá muito rápido o quanto eu só quero você. Você,
Devon. Só você. Então cale a boca, certo?
Bem, porra! Meu peito arfava contra seu joelho com um fluxo de
sentimentos! E nenhum deles era raiva, então eu não sabia o que fazer com
eles. — Quanto você bebeu? — Eu cuspo a pergunta para ele como se ele
fosse o idiota por me fazer perguntar.
— Não sei, tipo três cervejas. Por quê? — Ele não me deixou levantar.
Eu me senti como um idiota, mas olhei bem em seus olhos e quase
implorei a ele. — Vamos para casa. Eu não quero mais estar aqui. Vamos
para casa. Você pode dirigir?
Seu joelho soltou no meu peito. — Por quê?
— Eu só quero estar com você. Sozinho. Com nenhuma dessas outras
pessoas.
Maddox me observou, certificando-se de que eu não estava mentindo. —
Isso é apenas sobre nós passarmos um tempo juntos? Nada mais?
Sim, outra coisa. Eu estava todo esquisito e emocional ou alguma merda,
e eu queria descontar nele amando-o ao invés de lutar contra ele. Apalpei
suas bochechas e suspirei. — Eu tenho estragado tudo trabalhando demais.
Você não vem em segundo lugar, ok? Eu só quero você para mim hoje à noite
e amanhã porque na segunda-feira... — Eu deixei isso morrer. — Eu te amo,
tudo bem? Eu te amo pra caralho e me odeio por não demonstrar isso
ultimamente.
Maddox molhou os lábios antes de se inclinar para me beijar levemente.
— Pegue sua merda e vamos embora. — Ele se levantou, puxando-me para
levantar. — Mas se você acha que está se livrando desse boquete, você tem
outra coisa vindo.
Eu ri e o segui de volta ao trailer. Quando exalei, a tensão deixou meu
corpo. Quando Maddox segurou minha mão durante todo o caminho de
volta, relaxei ainda mais. Eu o queria e nada mais. Sem distrações, irmãos,
jovens Toms ou festas de merda. Só ele e eu.
4

-Maddox-
Eu sabia que esse idiota era mais sentimental do que gostava de
demonstrar. O observei durante a maior parte da minha vida, mas no ano
passado, eu realmente aprendi a entendê-lo. Sua agressividade muitas vezes
significava que ele sentia algo muito forte. Seu ciúme era baseado na
insegurança. Sua boca grande perdia as palavras sempre que tentava ser
doce. E sua principal vulnerabilidade era ele mesmo. Devon não achava que
merecia nada que tinha na vida, e era por isso que ele estragava tudo com
tanta frequência.
Devon se via como alguém que sempre sonharia, mas nunca conseguiria.
Agora ele tinha o negócio que desejava, estabilidade financeira, um
relacionamento estável, um lugar seguro para sua mãe, um lar seguro para
si mesmo e amor. E ele não tinha a menor ideia de como lidar com tudo isso.
Tudo o que ele sempre desejou estava ao seu alcance, mas quando você
passou a vida inteira no modo de sobrevivência, ansiando por algo, torna-se
impossível parar e apreciá-lo. Ele não podia apreciá-lo porque estava
esperando que fosse tirado dele. Mas adivinhe? Ele seria o único a estragar
tudo e perdê-lo porque não acreditava em si mesmo.
Bem, foda-se isso. Eu acreditaria nele o suficiente por nós dois. Eu não
teria nenhum problema em apontar todos os seus erros e lembrá-lo de como
ele valia a pena. Sim, ele veio de uma família de merda, teve uma vida de
merda e era uma pessoa de merda em geral, mas fez tudo ao seu alcance
para mudar isso e se tornar alguém melhor. Agora precisava de um minuto
para se orgulhar disso. Para se respeitar por isso. Tipo, quantas pessoas
poderiam prosperar no tipo de vida que ele tinha?
Quando entramos em nosso trailer naquela noite, Devon era uma das
minhas versões favoritas de si mesmo. Tímido pra caralho e com raiva disso.
Eu adorava quando suas bochechas coravam de vergonha porque ele não
sabia como lidar com a sensação de sensibilidade. Passamos grande parte de
nossas vidas sendo agressivos e hostis um com o outro, e até mesmo a maior
parte de nosso relacionamento prosperava em tensão e reações exageradas,
mas quando ele ficava profundo e emocional, era fofo pra caralho.
— Eu... eu não queria tirar você da festa, Madd. Porra, desculpe. Eu
deveria ter deixado você ficar e aproveitar sua vitória. — Ah, aqui vamos nós
com sua indignidade novamente.
— Devon. — Interrompi, impedindo-o de dizer qualquer outra coisa
estúpida. — Cale a boca.
— Não — ele zombou, batendo a porta do trailer atrás dele. — Você
acabou de ganhar uma corrida e eu nem deixei você aproveitar!
— Quando eu quis festejar mais do que eu quis estar com você? —
Levantei uma sobrancelha. — Mesmo quando nos odiávamos, fodíamos um
com o outro nas festas. Então foda-se e venha aqui.
Apesar do quanto tentou não o fazer, ele corou um pouco mais e meus
lábios se abriram em um sorriso que não pude mais conter. Eu ri contra seu
cabelo, puxando-o com força.
— Foda-se, Maddox.
— Eu não posso evitar — eu ri, abraçando-o e amando o quão forte ele
me abraçou de volta. — Adoro quando você fica todo envergonhado.
— Eu não estou envergonhado — ele retrucou.
— Sim, você está.
Devon me empurrou e foi até a geladeira. Nosso trailer continha apenas
móveis de segunda mão, mas funcionou bem. Depois das primeiras semanas
do inferno morando juntos, que foi uma merda para nos acostumarmos um
com o outro e fodermos o tempo todo, demoramos um pouco para nos
acomodarmos nesse novo arranjo. Passamos de inimigos para amantes
tensos, a colegas de quarto compartilhando um espaço de vida, então sim,
demorou um pouco para descobrir como isso parecia para nós. Misturar
nossas personalidades em um pequeno espaço era muito para lidar.
O que eu não daria para voltar a isso agora. Tínhamos tido muito mais
tempo para passar aqui brigando e fodendo até cairmos na cama, satisfeitos
e exaustos. Agora caímos na cama, exaustos, mas insatisfeitos. Era péssimo.
— Você quer uma cerveja? — ele me perguntou, parado na frente da
geladeira.
Eu balancei minha cabeça. Ele ficou ali parado, pensando se queria uma
enquanto soltava todo o ar frio, mas nós dois sabíamos que ele recusaria a
cerveja e pegaria um picolé no freezer. Ele vinha comendo essas coisas há
semanas, especialmente quando fazia calor à noite. Restava apenas um, e eu
sabia que ele iria comê-lo.
Ele pegou o picolé de laranja - acertei - e afundou no sofá. — Venha cá,
Madd.
Sentei-me na extremidade oposta, inclinando-me contra o braço para
encará-lo. Ele dobrou as pernas, me encarou e abriu o picolé, preparando-se
para dizer alguma coisa. Eu não estava com pressa, pronto para vê-lo
lutando para encontrar as palavras, então mantive minha boca fechada e o
deixei sofrer por conta própria.
— Vamos discutir nossa merda. Sinto sua falta. Você sente minha falta.
Então, o que vamos fazer sobre isso? — Ele enfiou aquele picolé na boca e
meus olhos acompanharam todo o show.
— Esforçar-nos mais. — Dei de ombros. — Estamos bem, Devon. Só
precisamos arranjar tempo um para o outro ou algo assim.
— Algo assim? — Ele chupou, me distraindo. Eu queria ter essa conversa
com ele por semanas, e agora que estávamos tendo isso, meus olhos estavam
muito focados naquela guloseima gelada sendo fodida dentro e fora de sua
boca como meu pau queria ser.
— Eu não sei, Devon. Você está todo animado e empolgado com a loja, e
estou feliz por você. Porra, você conseguiu o emprego dos seus sonhos, então
aproveite. Estou sendo estranho sobre isso, então vou passar mais tempo
com você lá, certo?
— É isso que você acha? — ele perguntou, apontando a guloseima para
mim. — Você acha que eu amo aquele lugar mais do que você?
Sim. — Eu não disse isso. Pare de colocar palavras na minha boca. — Ele
era um idiota às vezes. Ainda mais porque ele estava certo. — Só estou
dizendo que você sonhou com esse emprego. Você não sonhou comigo,
então tudo bem que você queira mais. — No entanto, não foi bom porque
meus sentimentos foram feridos, não importava o quanto eu disse a eles para
não serem.
Ele lambeu o picolé de laranja e balançou a cabeça para mim. — Você era
a porra do meu pesadelo, Maddox. Agora você é meu sonho sexy. Eu te amo
mais do que aquele lugar e te quero mais do que tudo. Então foda-se sobre
isso. Eu sei que preciso fazer melhor.
Sim, mas ele tinha um jeito de merda para me mostrar que eu significava
mais. — Apenas volte para casa à noite. Isso é tudo o que eu quero.
Devon assentiu. — Eu sei. Eu prometo. Pelo menos você não precisa se
preocupar comigo recebendo flerte de um bando de outros babacas — ele
zombou, deixando aquela insegurança sair de novo.
Revirei os olhos por dois motivos. Primeiro, essa conversa deveria ser
sobre nós e passar um tempo juntos, mas ele transformou em ciúme, assim
como o idiota que ele era. Segundo, ele estava perto de pessoas seminuas em
barcos o dia todo. Claro que eu tinha que me preocupar com essa merda,
mas eu confiava nele. Por alguma razão maluca, eu acreditava em nós e o
amava o suficiente para não tocar no assunto.
— Primeiro, Jeff e seu abdômen, e agora Tom e seu... — Ele olhou para
mim.
— Seu o quê?
— Ele é jovem e gostoso, e é arrogante pra caralho. Ele tentaria tirar você
de mim!
Tom era um idiota nerd que trabalhava para lidar com sua ansiedade. Eu
o olhei enquanto ele chupava aquele maldito picolé, seus lábios sugando ao
redor dele e o suco escorrendo por seu queixo. Maldito seja, Devon. — Isso
mostra quanta fé você tem em nós, se você acha que algum jovem filho da
puta pode nos separar.
Devon gemeu, corou, chupou e olhou de uma só vez. — Só estou sendo
burro.
— Sim, você está. E ele não é muito mais jovem do que nós, então pare de
ser um idiota. Eu não quero ele ou Jeff. Eles nem são gays. O que eu já fiz
para fazer você sentir que há algo que eu quero de outra pessoa? Sério, me
diga, porque estou farto de você ser todo inseguro.
Ele acenou com a cabeça para o meu colo. — Ficou duro enquanto falava
sobre eles.
Eu balancei minha cabeça para ele em exasperação. — Você é tão fodido,
Devon.
— Eu posso ver isso! — ele gritou. Seu pé tocou entre minhas pernas para
esfregar meu pau através de minha calça de motocross. — Você tem um pau
duro.
— Sim — eu concordei. — Por você! Você e seus malditos picolés! Por que
você tem que comer essas coisas todas as noites, me provocando com elas?
Ele lambeu.
— Eu vou te matar.
Ele chupou.
— Nem só com os malditos picolés. O tempo todo, porra. Você se move,
eu quero te foder. Você sorri, eu quero te abraçar. Você me desafia, eu quero
te matar. Não há intermediário com você. Eu te amo tanto que te odeio.
Então pare de ser um idiota, pare de ser inseguro, pare de se comparar com
os idiotas com quem trabalho e ganhe confiança. Você é sexy pra caralho,
Devon. Meu pau está duro por sua causa. — Eu bufei.
Devon chupou lentamente a coisa, olhando para mim.
— Não me pressione agora — eu avisei.
— Você sempre grita essas coisas legais para mim da maneira mais idiota.
— Ele colocou o picolé em um copo na mesinha de centro. — Você diz que
me ama enquanto me chama de idiota fodido.
— Eu digo e você é.
Ele montou no meu colo, os braços em volta do meu pescoço. — Você é
um idiota e eu te amo por isso. — Ele beijou meu pescoço com lábios frios.
— E eu sinto muito.
— Pelo quê? — Eu agarrei seus quadris, precisando segurá-lo.
— Por ter ciúmes. Por questionar tudo o tempo todo. Por não estar em
casa o suficiente. Por negligenciar você. Por tudo isso. — Ele se afastou para
olhar para mim. — Você é tudo para mim, Madd, e sinto muito por continuar
estragando tudo.
Continuamos estragando. Sem sombra de dúvida, mas se ele quisesse levar
toda a culpa, eu deixaria. Por agora.
5

-Maddox-
Algo estava queimando.
Meus olhos se abriram, piscando rapidamente algumas vezes na luz da
manhã. Meu primeiro pensamento quando percebi que Devon não estava na
cama comigo foi que ele deixou o fogão ligado novamente antes de ir
trabalhar. Meu segundo pensamento foi que esse idiota estava tentando -
mas falhando - fazer algo bom para mim. Isso foi confirmado quando o ouvi
amaldiçoar a maldita torradeira como se ela fosse pegá-lo.
Seriamente? Esse idiota não consegue lidar nem com uma torradeira? A
quem eu havia amarrado minha vida? Eu realmente precisava reconsiderar
minhas escolhas.
Mas quando levei um minuto para pensar em tudo, não consegui pensar
em ninguém melhor para mim do que Devon. Existiam pessoas melhores
com mais habilidades para a vida, gerenciamento de tempo superior e
menos problemas de raiva? Claro. Mas essas pessoas não me excitariam
como Devon. Ele era um filho da puta de grandes proporções, mas era o meu
filho da puta e eu não o quereria de outra maneira.
Eu me estiquei na cama, sabendo que provavelmente deveria me levantar
e ajudá-lo antes que incendiasse todo o lugar, mas ficar aqui ouvindo-o
entrar em pânico, xingar e surtar era muito divertido. Ele comia os jantares
de merda da minha mãe porque era um cozinheiro pior do que ela. Devon
não conseguia nem ferver água sem estragar tudo, e acredite em mim, nós
brigamos por causa disso. Ele odiava que eu pudesse fazer isso melhor do
que ele, então ele me agredia toda vez que eu fazia. Eu nunca pararia, no
entanto.
Ele era péssimo em um monte de coisas, e mesmo que isso significasse que
eu sempre teria que remediar seu erro, eu estava feliz em fazer isso porque
ele tentava, porra. Ele tentava tanto. Que merda, ele estava lá fora agora
tentando fazer um café da manhã surpresa enquanto estragava tudo, ficando
chateado e provavelmente quebrando a torradeira, mas pelo menos estava
fazendo isso. Isso mostrava que ele se importava, mesmo que não
conseguisse e eu tivesse que passar a próxima meia hora acalmando-o.
Inferno, eu também não era perfeito em muitas coisas.
— Foda-se essa maldita torradeira! — Devon gritou, e algo bateu.
Sorri para o ventilador, descansando os braços atrás da cabeça para curtir
o som de sua confusão caótica.
— E foda-se esse pão! Foda-se esta tomada! Foda-se essa torradeira
ajustando-se no um! Um? Foda-se!
Que merda. Eu ri alto, mas tentei esconder porque essas paredes eram
finas como papel.
— Maddox! — Devon gritou quando outra gargalhada me deixou. — Eu
ouvi isso, porra!
O imaginei lá fora parecendo todo gostoso e com raiva. Seu cabelo loiro
estaria uma bagunça de tanto passar os dedos por ele, seu peito estaria suado
de pânico e suas bochechas estariam vermelhas de frustração. Este era o
verdadeiro Devon. Não o 'fodão Devon' ou 'melhor competidor Devon',
apenas o Devon que era péssimo em tudo. Este Devon era um fracasso épico
em tarefas mundanas, mas era quem tentava de qualquer maneira porque
ele era um maldito amor. Escondia seu lado doce, até mesmo de mim, mas
era exatamente por isso que ele fez tudo isso e depois ignorou como se não
fosse grande coisa.
Significava o mundo para mim.
— Saia daí, Maddox. Você está comendo essa merda! — ele gritou com
toda a raiva de um touro bravo.
O sorriso bobo ficou no meu rosto o tempo todo em que me levantei, me
vesti e dei uma mijada. Quando entrei na cozinha, Devon olhou para mim
por desperdiçar seu tempo. Olhou ainda mais duro para o prato de comida
que deixou na mesa para mim.
— Coma, idiota.
— Bom dia — eu ri. — Você está de bom humor.
Ele fez uma careta para mim. O café da manhã que ele preparou foi uma
torrada dura com ovos borrachudos por cima. Eu comeria, odiaria cada
minuto e o amaria por isso enquanto me ressentia por ele me fazer engolir.
Mas o amor era mais forte que o ressentimento por causa de todo o esforço
que ele fazia. Além disso, eu estava certo sobre sua aparência. Sexy,
frustrado, bochechas coradas e um leve suor. Cacete.
Puxei a cadeira para me sentar, mas Devon agarrou meu bíceps e me virou
para ele. — Não coma essa merda, Madd — ele suspirou. — Eu nem comeria
isso. — Ele acenou com a cabeça em direção à lata de lixo onde seu café da
manhã, prato e tudo, estava em cima.
Passei minhas mãos até seu peito e o segurei pelo pescoço. Seus olhos
azuis encontraram os meus, tímidos e furiosos, talvez até um pouco
envergonhados. — Você estraga tudo que toca, Devon, mas eu te amo por
isso.
— Bem, foda-me por tentar fazer algo legal — ele zombou, tentando me
afastar.
Segurei mais apertado, sorrindo bem na cara dele. — Então fique de
joelhos. Você ainda me deve um boquete.
Devon não achou graça. Ele alcançou entre nossos corpos e esfregou meu
pau. — Isso é tudo o que importa para você, Madd? Você só quer gozar e
voltar para a cama?
Eu gemi, empurrando em sua mão. — Eu quero gozar e depois passar o
dia inteiro com você.
— Acabei de fazer uma coisa legal para você, e agora você quer me forçar
a ficar de joelhos?
— Você estragou essa coisa boa para mim e agora eu quero você por causa
disso — eu respondi.
— Você gosta quando eu estrago tudo?
— Eu gosto quando você tenta.
— Talvez eu estrague seu boquete. Eu estrago todo o resto. — Ele olhou
para mim.
Movi minhas mãos, uma em seu cabelo e outra ao redor de sua garganta,
forçando-o a olhar para mim. — Você nunca estraga isso. É como se você
pertencesse de joelhos bem na minha frente.
— Você é um idiota — ele zombou novamente.
Mas caiu de joelhos. Observei cada segundo de sua boca no meu pau e,
quando ele olhou para mim, tentei não desmaiar. A boca de Devon era
minha maior fraqueza. Isso costumava me irritar mais, mas agora eu
adorava cada comentário idiota que saía de seus lábios. Ele me excitava com
suas palavras, dizia as coisas mais doces que eu relutantemente amava e
sorria como um pobre coitado que realmente estava feliz. Eu amava tudo
isso.
Quando eu estava prestes a gozar, o empurrei para trás, caí de joelhos com
ele e o empurrei de costas. Montando-o, puxei seu pênis para fora e agarrei
a nós dois em minha mão. — Você me deixa louco — eu disse a ele, nos
masturbando juntos e odiando me sentir tão apegado a ele que não queria
gozar a menos que ele gozasse. — Eu quero você a cada segundo de cada
dia, e eu odeio não poder ter muito de você.
— Maddox — ele gemeu, agarrando minhas pernas enquanto seus
quadris se moviam de prazer. — Eu amo quando você é um idiota insistente
assim.
— Eu vou te foder antes que este dia acabe — eu avisei.
— Mm, sim — ele concordou. — Merda, isso é bom. Já vou gozar.
Fazia uns quinze segundos, mas nós dois estávamos reprimidos com
desejos que nunca mais conseguimos realizar. Com nossos paus se
esfregando, nós dois nos perdemos na sensação, no calor, na emoção do
momento e na química inegável que tínhamos. Não havia sensação melhor
do que estar preso em um momento como este com Devon. Eu o queria tanto
que, quando parávamos para fazer algo indecente, não importava que
estivéssemos no chão da cozinha com o cheiro de torrada queimada ao nosso
redor. Eu aceitaria mesmo se estivesse tendo um derrame, e ainda acharia
que era a coisa mais gostosa da minha vida.
Respirando com dificuldade depois disso, tentei me levantar, mas Devon
agarrou meus quadris para me manter lá.
— Não vá — ele ofegou, estendendo a mão para pegar um pano de prato
meio limpo do fogão. Ele limpou nossa bagunça e olhou para mim. —
Apenas fique aqui comigo. — Me puxou para baixo ao lado dele.
Nossos dedos entrelaçados entre nossos corpos - nossa tentativa usual de
abraçar - nossos peitos arfando com o esforço, e eu me sentia muito bem.
Talvez pudéssemos melhorar as coisas agora que ambos nos lembrávamos
de como era bom brincar.
Devon olhou para as telhas no teto. — Eu sou uma cadela sensível, mas eu
te amo, Madd. Demais. — Ele apertou minha mão, mas não olhou para mim.
— Nate me questionou sobre isso. Disse algo sobre você me deixar porque
eu negligenciei você, e isso me assustou. Não quero perder você. Eu não
posso. Eu não vou sobreviver a isso.
Rolei de lado, o chão da cozinha cavando em meu osso do quadril. — Eu
não vou deixar você, seu idiota. Eu amo sua bunda.
— Só minha bunda?
— Todo você. — Eu o beijei. — Só temos que prestar mais atenção um ao
outro.
— Eu prometo — Devon concordou novamente, beijando meu pescoço.
— Eu posso estragar com tudo, mas me recuso a estragar com a gente.
Bom. Isso era algo que eu poderia deixar para trás.

Devon manteve sua promessa durante toda a semana. Ele chegou em casa
em um horário razoável, jantamos juntos todas as noites e fizemos mais sexo
do que em meses. Meu coração estava feliz, eu estava feliz e meu pau estava
definitivamente feliz.
Mas então eles ficaram sobrecarregados no trabalho novamente, e Devon
voltou aos seus hábitos anteriores.
Segunda à noite, ele não chegou em casa antes das nove. Esperei a noite
toda por ele, fervendo de frustração. Ele nem respondeu às mensagens que
enviei.
Terça-feira foi o mesmo. Trocamos algumas mensagens, mas às sete eu
liguei e ele me disse que ainda demoraria mais algumas horas. Só fui para a
cama às dez e fingi estar dormindo quando ele chegou em casa. Eu ouvi seu
pedido de desculpas, mas agi como se não tivesse ouvido.
Na quarta-feira, minha raiva atingiu níveis mais altos. Ele finalmente
chegou em casa pouco antes de dormir, mas eu já estava de péssimo humor
naquele momento. Nós brigamos um pouco, sentamo-nos em um silêncio
constrangedor no sofá, e então ele foi para a cama e eu fiquei no sofá.
Na noite de quinta-feira, ele chegou em casa a tempo de conversarmos um
pouco. Falou sobre como eles estavam ocupados no trabalho e eu contei a
ele sobre o local de trabalho em que estávamos trabalhando. Tentamos fazer
sexo, mas não era o clima certo, então fomos para a cama frustrados. De
novo.
Era quase o fim do dia de trabalho na sexta-feira, e Devon me enviou
algumas mensagens durante o dia. Ele disse que ia tentar sair de lá mais cedo
para irmos jantar na casa da minha mãe, mas ainda não tinha certeza de um
horário.
— Por que você está tão chateado? — Tom me perguntou.
— Eu não estou.
— Problemas no paraíso? — Jeff perguntou.
Ambos poderiam ir se foder imediatamente e sair do meu paraíso. Não
era da conta deles. Eu os ignorei, fervendo de mau humor. Sim, havia
problemas no paraíso porque não parecia o paraíso quando eu ficava em
casa esperando por ele o tempo todo. Estava cansado disso. Eu precisava de
Devon ao meu lado o tempo todo? Claro que não, mas me irritou que às
vezes ele se esquecesse de mim como se eu não significasse nada para ele.
Isso me machucava. Eu nunca pensei que seria do tipo que se apegava a
outra pessoa, especialmente depois de todos menos meu irmão me
machucarem durante toda a minha vida, mas eu era. Eu estava ligado a
Devon. Ansiava por sua companhia e sentia falta dele quando não estava
por perto. Só queria passar um tempo com ele. Isso era pedir muito?
Eu sabia que ele estava tendo uma semana ocupada, mas quando vi Xavi
e Nate ontem à noite quando cheguei em casa e Devon não estava lá, isso
cravou aquela lâmina mais fundo. Ele optou por não voltar para casa tão
cedo, e comecei a pensar que ele preferia trabalhar a passar tempo comigo.
Ele estava totalmente inflexível de que não queria me perder,
constantemente me dizendo que eu não vinha atrás de nada, mas as palavras
eram uma coisa e suas ações não estavam somando.
Eu estava cansado de me sentir como uma cadela carente. Decidi mandar
uma mensagem para ele. Melhor acabar com a decepção agora se ele não vai
estar em casa. Eu não ligava muito para mensagens de texto, mas ele estava
certo. Pelo menos me deu a chance de conversar um pouco com ele ao longo
do dia.
Maddox: Você vai chegar em casa na hora esta noite?
— Você deveria vir conosco para a corrida de tratores em Shelton hoje à
noite — Jeff ofereceu. — Vários de nós estão indo. Heidi também está indo.
Só venha tomar uma cerveja e sair de casa, cara.
— Não posso. Eu tenho que esperar por Devon e depois ir para a casa da
minha mãe — eu disse, me sentindo como um idiota porque Devon
provavelmente nem apareceria, e eu pularia o jantar da minha mãe porque
estava de mau humor.
— Traga Devon — Tom ofereceu.
— Ele provavelmente vai chegar tarde em casa. — Era uma resposta
automática e não fazia sentido. Isso contradizia minha razão para não ir, mas
era tarde demais para voltar atrás agora.
— Então vem com a gente! Devon pode nos encontrar lá. — Tom riu.
Meu telefone tocou.
Devon Idiota: Talvez chegue um pouco tarde esta noite, mas estou de folga
amanhã.
Meu coração partiu ou alguma merda estúpida assim. Claro que ele se
atrasaria. Não havia corrida na pista neste fim de semana, então não
tínhamos que ir a lugar nenhum, mas ainda queria vê-lo esta noite. Em vez
disso, eu passaria a noite esperando por ele, ficando cada vez mais zangado
com o passar do tempo.
— Foda-se. Eu irei. — Era melhor do que a alternativa.
Liguei para minha mãe para dizer que não iria ao jantar, mas ela não
pareceu se importar. Eu deixaria Devon saber, e ele poderia aparecer se
quisesse. Pela primeira vez, eu estava fazendo algo por mim. Uma pausa de
uma noite sentado em casa como um cachorro esperando por seu mestre.
6

-Devon-
Eu sabia o suficiente para me sentir culpado. Cheguei em casa muito mais
tarde do que deveria. Pretendia sair às sete, mas quando tranquei e saí, já
passava das nove. Fiz isso por boas razões, no entanto. Estava tentando
progredir em alguns trabalhos para ter o fim de semana inteiro livre para
passar com Maddox. Corri para casa em um borrão, animado para vê-lo. Eu
senti falta daquele idiota a semana toda, mesmo que a maior parte fosse
minha culpa.
Mas ele não estava em casa.
Eu estava tão acostumado a voltar para casa e encontrá-lo meio
adormecido no sofá ou já na cama que me surpreendeu voltar para casa e
encontrar um trailer deserto. Não era nada além de vazio e maus presságios.
Era assim que ele se sentia o tempo todo? Esperando por mim e ficando
cada vez mais preocupado com o passar do tempo? Porra, eu não tinha
percebido completamente o quanto eu era um pedaço de merda até este
momento. Nunca, nem mesmo uma vez, tive que esperar por ele porque ele
era confiável. Ele me colocou em primeiro lugar. Ele esperou por mim.
Peguei um picolé da nova caixa que Maddox comprou para mim e tentei
enviar uma mensagem de texto para ele, mas tudo que consegui foi uma
mensagem de número errado aleatório sobre a tração de um trator. Esperei,
mas ele não apareceu, então fui até a casa da mãe dele esperando que ainda
estivesse lá para o jantar.
— Oi, Naomi. Madd ainda está aqui?
Ela balançou em seus pés e sorriu para mim. — Ele não veio esta noite,
querido. Disse que não poderia vir. Quer entrar e comer?
Minha esperança morreu. — Não, obrigado. Ele disse para onde estava
indo? — Senti uma sensação ruim na boca do estômago, mas provavelmente
era culpa e vergonha.
Naomi balançou a cabeça. — Tenho certeza de que ele estará de volta em
breve, querido.
Eu esperava que sim. Voltei para casa para esperar, mas por volta das dez
comecei a me preocupar de verdade. Às onze, eu me banhava em culpa. O
deixei esperando assim tantas noites, ele provavelmente estava fazendo isso
comigo só para me dar um gostinho do meu próprio remédio. Não tinha um
gosto bom. Por volta da meia-noite, eu ligava para ele a cada dez minutos,
implorando para que me avisasse que estava bem.
Ele finalmente teve o suficiente da minha merda e me deixou? As coisas
dele ainda estavam aqui, então não achei que fosse o caso, mas o fato de ter
passado pela minha cabeça foi um indicador suficiente de que eu estava
estragando a única coisa boa que já tive na vida. Maddox era um idiota
insistente, mas nunca tinha ido a algum lugar sem me avisar. O que ele
estava fazendo e por que estava me ignorando? Por que minhas ligações
foram direto para o correio de voz?
Com quem ele estava? Nate e Xavi não tinham notícias dele, então eu sabia
que não estava com eles. E se ele finalmente cedeu à tentação e foi atrás de
outra pessoa para um encontro rápido porque eu o abandonei? Eu sabia que
não tínhamos feito tanto sexo ultimamente, mas ele realmente faria isso?
Merda. Merda. Merda.
Andei pelo trailer, verificando a janela a cada vinte segundos para ver se
o caminhão dele havia entrado, tentando me controlar enquanto esperava. E
se ele não voltasse para casa esta noite? E se ficasse bêbado e ficasse com
outra pessoa para não ter que dirigir? Eu poderia sobreviver uma noite
inteira sem saber onde ele estava? Eu não poderia lidar com essa merda. Não
suportava não saber onde ele estava, e o pior era que eu sabia que era minha
culpa. Eu o empurrei para fazer isso. O afastei porque eu era o idiota que ele
sempre me chamava.
Meu coração batia fora do ritmo, meu estômago doía, minha mente girava
com mil possibilidades diferentes, todas cada vez mais terríveis, e meus
músculos doíam por estarem tensos.
Finalmente, à 1h30, o caminhão de merda de Maddox entrou e estacionou
do lado de fora. Meu estômago ficou ainda mais embrulhado, mas o alívio
me encheu. Ele voltou para casa. Esperei que entrasse, decidindo por uma
emoção. Alívio ou raiva? Pela janela, observei-o fechar a porta do caminhão
e subir os degraus. Ele não parecia bêbado nem nada, e dirigia, então devia
estar quase sóbrio. O que diabos eu sabia? Ele poderia estar em um clube de
strip ou algo assim. Quando ele entrou pela porta, a raiva venceu e eu o
ataquei.
— Onde diabos você esteve, Maddox? — Eu gritei.
Maddox pulou, não esperando que eu lançasse a ele perguntas no meio da
noite. — Merda, Devon. Eu fui para a corrida de tratores.
— Com quem? Por que diabos você não me disse isso? Ou respondeu a
qualquer um dos meus textos? — Oh, eu estava lívido sem o direito de estar.
Ele foi a uma corrida de tratores a duas cidades e não pensou em me avisar?
— Eu respondi — ele rebateu para mim. — Meu telefone descarregou e
não tenho um carregador sobressalente, então enviei uma mensagem do
telefone do meu chefe dizendo onde eu estava e dizendo para você ir quando
chegasse em casa. Relaxe.
Eu verifiquei meu telefone, vendo aquele texto aleatório do número
errado. 'Telefone descarregado. Indo para a corrida de tratores em Shelton.
Me encontre lá.'
— Como diabos eu deveria saber que era você? — Eu gritei com ele. —
Achei que era um número errado!
— Não fique chateado comigo, Devon. Não entendo nada de telefones.
Eu nunca tive um antes! — Maddox tremeu de raiva, chateado comigo por
acusá-lo de fazer algo que não fez.
— Com quem você foi? — Perguntei. A parte insegura e ciumenta de mim
apareceu, e eu sabia que isso iria estragar tudo. Tentei estancar isso, engoli-
la e ignorá-la, mas a pergunta acusatória queimou em minha língua de
qualquer maneira.
— Um monte de gente do trabalho — ele respondeu calmamente.
— Tom? — Eu me odiei por perguntar.
— Sim.
— Jeff?
— Sim — ele rosnou. — E a namorada dele. E Heidi, alguns de seus
amigos e as esposas das pessoas com quem trabalho. Pare de assumir que eu
trai você, idiota. Você me conhece melhor do que isso!
— Bem, você traiu? — Eu precisava calar a boca. Estava sendo um idiota,
mas Maddox estava vivendo uma vida separada de mim, e o jeito que eu me
sentia era de partir a alma. A culpa era ainda pior porque não era culpa de
ninguém além de minha.
— Não, e eu te odeio por me perguntar isso.
Eu confiava nele. Eu realmente confiava. Mas a culpa era uma idiotice do
caralho, e me lembrou como eu era culpado por tudo isso, o que me tornou
imprudente e hostil. Eu sabia que ele me amava. Eu sabia, mas estava sendo
um idiota, insinuando que ele traiu apenas para fazê-lo se sentir pior do que
eu. O que diabos havia de errado comigo?
— Quer saber, Devon? Foda-se. Eu sento aqui todas as noites esperando
para ver se você vai chegar em casa a tempo de ficarmos juntos, mas você
nunca chega! Então, desculpe-me por passar uma noite fora com algumas
pessoas para não ter que sentar aqui e sentir pena de mim mesmo. — Ele
olhou para mim, mas havia dor real em seus olhos, e isso me fez sentir ainda
pior. Eu tinha visto isso acontecendo? Ou pior, eu vi isso acontecendo e
ignorei?
— Eu estava preocupado com você! — Era minha última chance de
redenção.
— Não, você não estava. Você estava com ciúmes. Você estava chateado
porque, pela primeira vez, você teve que sentar aqui e se perguntar quando
eu voltaria para casa. Bem, bem-vindo à porra da minha vida, Devon. — Ele
recuou em direção à porta, e algo estalou dentro de mim. Não.
— Maddox…
Ele suspirou, esfregando a nuca e parecendo completamente derrotado.
— Eu te amo, Devon. Eu te amo com tudo que tenho, mas preciso ir agora.
Vou ficar na casa da minha mãe esta noite...
— Não, Madd! Por favor!
— ...antes que eu diga algo que me arrependerei — ele finalizou.
— Maddox, por favor. Me desculpe, ok? Eu sinto muito. — Eu o segui até
a porta, desesperado para mantê-lo em casa, incapaz de vê-lo ir embora. Eu
não conseguia respirar.
— Não venha atrás de mim. Dê-me uma noite, Devon. Eu te amo. — Ele
recuou pela porta, seus olhos verdes em mim, mas cheios de tristeza. A porta
se fechou na minha cara e todo o meu mundo implodiu.
Caí de joelhos bem ali na porta. — Eu te amo, Maddox — eu chorei em
meio à minha angústia.
Nunca me odiei tanto. Eu odiava tudo sobre mim. A dor atravessou meus
joelhos, mas não foi nada comparado com o despedaçar do meu coração ao
ver o homem que eu amava sair pela porta.
Isso foi minha culpa. Eu o levei a fazer isso porque não conseguia calar a
boca e deixá-lo explicar com calma. Foi aqui que me deixou. Quebrado no
chão do nosso trailer no Lote 62, local que deveria ser nossa casa, nosso
recomeço. Este era o nosso sonho.
Mas vê-lo sair pela porta, deixando-me para trás com toda aquela tristeza
em seus olhos, bem, percebi que ele era meu único sonho e que eu estraguei
tudo. Eu tinha perdido. Eu perdi ele.
— Não, não, não, não — gritei, hiperventilando e entrando em pânico. —
Maddox, por favor! — Meu corpo se encolheu em posição fetal, meu peito
cheio de dor e desespero. Havia uma pressão em minhas costelas e uma
tensão em minha cabeça que doía mais do que as respirações difíceis
tentando sair de meus pulmões. Tudo o que meus olhos viram foi Maddox
me abandonando.
Eu estraguei tudo. Estraguei tudo tantas vezes, por tanto tempo, que não
merecia todas as chances que ele me deu. Maddox era a única coisa que eu
realmente queria, e nem mostrei isso a ele. Eu tive tudo. Tudo isso. Tudo o
que sempre sonhei, e deixei escapar por entre meus dedos porque eu não era
nada mais do que um idiota de merda de Garron Park, condenado ao mesmo
destino que todos os outros daqui.
Eu inalei o carpete, chorando no chão. Eu estava destinado a me tornar
meu pai. Ele pressionou minha mãe com tanta força que ela quebrou. Se
voltou para as drogas e o álcool, fritou seu cérebro e fodeu sua vida como
era. Eu estava fazendo isso com Maddox? Eu o estava empurrando para uma
vida que ele não queria viver? Ele era muito melhor do que eu e merecia
muito mais do que eu.
Chorei no chão por tanto tempo que meus olhos ardiam e minha cabeça
doía, ouvindo meu telefone tocar no bolso. Não era o toque de Maddox,
então ignorei, incapaz de atender. Ignorei por tanto tempo que a porta da
frente se abriu e Nate entrou correndo, me levantando do chão.
— Foda-se, Dev. Madd me ligou da casa da mãe dele. — Nate me pegou
pelas axilas. — Você está bem. Você está bem. Você está bem.
Eu hiperventilei ainda mais forte. Eu não estava bem. Estava quebrado,
envergonhado e a meio caminho da morte. Até meus pulmões se recusaram
a respirar porque sabiam que eu não valia a pena.
— Respire — Nate exigiu. — Porra, respire! — Ele me deu um tapa nas
costas e uma rajada de ar sufocada, forçada e irregular raspou em meus
pulmões e me fez tossir em um ataque.
Eu me engasguei com a bile e comecei a suar. — Eu estou quente. Muito
quente. Estou queimando.
— Você está bem — Nate disse, tocando minha testa. — Você só está
sofrendo, cara. Vamos. Levante-se. — Ele se levantou, servindo-me um copo
de água da cozinha.
Eu balancei minha cabeça. — Não posso. — Eu não tinha energia para ficar
de pé. Eu não merecia levantar.
— Sim, você pode, porra. — Nate praticamente me levantou, empurrou-
me pela porta da frente para o ar da noite e me empurrou em uma cadeira
de jardim no deque da frente.
Sentei-me ali apenas respirando por um minuto, tentando me controlar. A
noite parecia melhor contra a minha pele, mas eu ainda estava com muito
calor. Rasguei minha camisa e joguei no gramado, agradecendo a porra da
sorte de termos um trailer com deque privativo. A última coisa que eu
precisava era que todo o parque visse meu colapso.
Baixei a cabeça de vergonha porque era exatamente isso que eu merecia.
Humilhação pública. Nate levantou meu queixo e me entregou a água e um
maço de cigarros. — Beba isso e fume isso. Alivia. Diga o que aconteceu. —
Ele se sentou ao meu lado.
— O que você está fazendo aqui? É tarde pra caralho. — Tomei um gole
e acendi um cigarro.
— Eu estava na casa de Kaylee quando Madd ligou, então vim aqui
quando você não atendeu.
— Bem, volte para ela. Não valho a pena perder sua conexão. Estou bem.
— Você vale tudo, seu merda estúpido. O que aconteceu? — Ele pegou
um cigarro e acendeu um para si mesmo.
O que aconteceu? — Eu estraguei tudo e arruinei tudo. — Lágrimas picaram
meus olhos porque aquela realidade não era a em que eu queria viver.
— O que quer dizer com você arruinou tudo?
— Madd foi embora. — Minha garganta ficou apertada e a pressão
aumentou em meu peito.
— Para a noite, certo? Só por uma noite?
Dei uma longa tragada e esfreguei minhas têmporas. — Eu não sei, Nate.
Ele disse que precisava ir antes que dissesse algo de que se arrependeria.
Mas por que ele não podia simplesmente me trancar fora do quarto e ficar
aqui? Por que ele realmente teve que sair?
— Porque você não teria parado se ele tivesse ficado. Ele precisava de
distância, Dev. Só por uma noite.
— Por que ele voltaria? Eu sou um fodido e ele merece algo melhor do
que eu! — Ah, merda. Essa verdade bateu forte.
— Sim, mas ele quer você, no entanto. Então pare de ser uma bagunça e
me diga qual é o verdadeiro problema.
— Eu! Eu sou o verdadeiro problema! — Eu perdi minha merda. — Eu
estraguei tudo trabalhando demais, ignorando Madd, e deixando ele aqui
esperando por mim o tempo todo. Eu o negligenciei, Nate. Como? — Essa
era a grande questão. Como eu consegui isso? Ele estava em minha mente o
tempo todo, mas eu o afastei tanto que voltei a fantasiar sobre ele em vez de
viver com ele na realidade?
— Por que você fez isso então? — Nate perguntou, sendo o cabeça-dura.
— Por dinheiro! Para que eu não virasse papai! Então eu poderia fazer
algo para deixar Maddox orgulhoso. Eu só queria ganhar o suficiente para
dar a ele tudo o que ele sempre quis.
— Tudo o que ele quer é você, Dev. — Nate expôs isso, puro e simples. —
Você não pode trabalhar para ter segurança financeira só para não se tornar
papai. Não funciona assim. Você tem uma vida, um namorado, um amor
que nenhum de nós tem, e essa merda tem que vir primeiro. De que importa
o dinheiro se você perder tudo isso?
Suspirei, sabendo que ele estava certo. — Eu sei, mas nunca quis ser como
papai. Não quero sugar ninguém ou precisar ser salvo o tempo todo. Quero
tanto que esse negócio funcione porque não quero que Maddox sinta que
precisa me salvar de novo. Não quero que ele apenas cuide de mim. Porra,
Nate. Ele salvou minha vida mais de uma vez, e eu estava apenas tentando
fazer isso funcionar para que ele se sentisse... cuidado. EU quero cuidar dele
pelo menos uma vez.
E na porra do processo, o negligenciei. Tão esperto, Devon.
— Papai é um perdedor, Devon, mas você não é ele. Se você não sair desse
espaço mental, você nunca vai deixá-lo ir. Você não pode gastar todo o seu
tempo tentando não se tornar ele porque está se esquecendo de se tornar
alguém para si mesmo. Dura verdade, cara. Desde que compramos aquela
loja, você se transformou em um idiota que não faz nada além de trabalhar.
Isso dói. — Eu sei. Eu só queria cuidar dele.
— Ele está cuidado, Dev. Ele quer que você o ame.
— Eu o amo! Porra, eu o amo. — Chupei minha fumaça até o filtro e joguei
fora. — Eu só queria passar por este primeiro ano de negócios, nos preparar
para o sucesso e fazer com que Madd nunca mais tivesse que se preocupar
conosco. Que sempre seríamos firmes e decentes com dinheiro.
— Nós somos. Somos bem-sucedidos, cara. Conseguimos. Já passamos do
primeiro ano e não estamos apenas empatando mais, estamos lucrando.
Portanto, pare de colocar todas as suas esperanças na loja. Pare com esse
nobre ato de tentar cuidar dele. Ele sabe isso. Mas relacionamentos como o
seu funcionam nos dois sentidos. Vocês cuidam um do outro e, neste
momento, podem estar ganhando dinheiro, mas você está falhando com ele.
— Nate olhou para mim com olhos honestos. — Maddox está bem na sua
frente. Você vai lutar por ele?
— Eu não o mereço.
— Você merecia que ele te abandonasse esta noite — Nate disse, sem
pena. — Mantenha essa atitude e ele vai te matar.
— Ele fica sentado aqui o tempo todo esperando por mim, Nate. Eu... eu
tenho tratado ele como merda, mesmo sem querer. Ele merece coisa melhor,
e eu mereço que ele me deixe.
— Porra, Devon. — Nate gemeu de frustração. — Tire sua cabeça da sua
bunda. Ele te ama pra caralho. Se você acha que merece ou não, ele quer
você. Então foda-se com essa besteira autodestrutiva e vá buscá-lo de volta.
Um novo fluxo de lágrimas escorreu pelo meu rosto. — Ele me disse para
não ir atrás dele. — Limpei o rosto e acendi um novo cigarro. — Ele…
— Ele precisa se acalmar — Nate completou para mim. — O que é
inteligente. É melhor do que vocês dois dizendo merdas que não querem
dizer só porque estão sofrendo. Dê a ele esta noite e então pare de brincar.
Deixe-me perguntar algo. — Nate me olhou diretamente nos olhos. — Se
falharmos em ser donos da loja, o que de pior pode acontecer?
Dei de ombros.
— Nós desmontaríamos, venderíamos as peças, venderíamos o prédio e
seguiríamos em frente. Recomeçaríamos com outra coisa. — Ele agarrou
minhas bochechas e ficou na minha cara. — Mas se seu relacionamento com
Madd falhar? Você não pode vender um coração partido e começar de novo,
Devon. Ele está em seu coração por toda a vida, então coloque-o em primeiro
lugar.
Deixei que as palavras de Nate fossem absorvidas. Negócios e empregos
podiam ir e vir. Não era como se eu não estivesse acostumado a viver na
pobreza, então, quando experimentei a segurança, exagerei para tentar
sustentar minha nova família. Sim, possuir nossa loja era um sonho meu,
mas agora esse sonho estava atrapalhando a única coisa que importava.
Maddox maldito Kane. Se eu o perdesse, eu me perderia.
Nate estava certo. Eu não poderia reconstruir um coração partido, e com
certeza não poderia vendê-lo. Eu tinha a chance de melhorar isso, de fazer
melhor, de trazer meu namorado de volta, e era exatamente isso que eu faria.
7

-Maddox-
Xavi levantou uma calça de motocross e ergueu a sobrancelha para mim.
— Não. Eu não uso roxo. Já sou gay o suficiente. — Eu a coloquei de volta
na prateleira.
— O que torna o roxo gay? — ele zombou. — Eu gosto de roxo.
Presságio se eu já tinha ouvido um.
— Preto e vermelho. Essas são as minhas cores — eu disse. — Vou pegar
a merda roxa para Devon.
— Sim, se você falar com ele novamente. — Xavi revirou os olhos e
continuou andando pelo corredor.
Eu o segui, precisando me defender. — Eu posso ficar com raiva dele,
Xavi. Não faça eu me sentir um merda sobre isso.
— Eu sei que você pode ficar chateado com ele — disse. — Mas já se
passaram dois dias, cara. Ele está morrendo de vontade de falar com você.
Pelo menos ele sabia como era cada maldito dia para mim. Eu não queria
ser mesquinho, mas eu era. Devon precisava aprender uma lição dura e
rápida. Infelizmente, a lição foi que eu era um idiota carente e ele não estava
atendendo às minhas necessidades. Odiava que eu ainda tivesse
necessidades.
— Não seja um idiota sobre isso. Ele estragou tudo e sabe, então deixe-o
voltar.
— Você está dando conselhos sobre relacionamento agora? Merda, eu não
sabia que você já tinha estado em um. — Esse idiota achava que sabia algo?
Ele não sabia.
— Ainda não estraguei nada com Nate — ele riu. — Mas também, foda-
se. Eu vejo esse drama de fora. Vejo o quanto vocês dois estão sofrendo agora
porque se amam e sentem falta um do outro. Você pode ficar com raiva e
ainda estar perto dele, Madd. Essa é basicamente a sua configuração padrão
de qualquer maneira, então vá para casa.
— Não é tão fácil — eu disse, vagando pelo corredor só porque sim. —
Ele até esquece que eu existo às vezes, e estou farto disso.
Qual era o sentido de estar em um relacionamento se nunca nos víamos?
Eu amava aquele idiota mais do que qualquer coisa no mundo, mas amor
era o suficiente? Não poderia ser apenas unilateral.
— Ele não se esquece de você. Nunca. Ele é péssimo em priorizar.
Trabalha duro o dia todo e tenho certeza de que faz isso por você.
— Por mim? — Eu zombei.
— Sim! Ele quer prover para você. Você fez tudo por ele, e esta é a única
maneira que ele conhece de retribuir a você.
Eu balancei minha cabeça com isso. — Não é uma competição. — O que
era estranho porque tudo o mais em nossa vida era. — Eu não preciso dele
para me sustentar. Vivi sem nada até agora. Eu só preciso dele.
— Então vá vê-lo, porra! Pare de ser teimoso. Vá conversar com ele, não
comigo. — Xavi jogou um par de luvas de motocross para mim. — E compre
isso para ele. As dele estão destruídas.
Comprei as malditas luvas, mas não tinha certeza se alguma vez as
entregaria. Ele provavelmente veria isso como outra coisa que eu fiz por ele
e que teria de retribuir. Eu precisava tirar aquele pensamento idiota de sua
cabeça.
Demorou muito para esmagar o orgulho, mas no domingo à tarde, entrei
em nosso trailer para discutir isso com Devon. Mas ele não estava em casa,
o que me irritou e me machucou ao mesmo tempo. Eu realmente esperava
que ele apenas se sentasse e esperasse por mim? Claro que não. Ele estaria lá
fora, fazendo o que diabos quisesse, apenas esperando que eu me levantasse
e voltasse rastejando para ele. Bem, dane-se isso. Se ele me quisesse, poderia
vir e me procurar.
Peguei algumas roupas de trabalho e voltei para a casa da minha mãe.
Ficaria com ela por mais uma noite, e então iria para casa, quer Devon
estivesse lá ou não.

Eu mal dormi desde que saí de casa. Minha mente não parava. Me sentia
estranho dormindo em um lugar sem Devon, e constantemente me
perguntava se era eu quem estava estragando tudo. Cometi um grande erro
ao abandoná-lo para me dar espaço?
Era tarde, mas eu não conseguia dormir. O telefone que Devon me deu
tocou na mesa de cabeceira, iluminando o teto.
Devon Idiota: Você está bem? Sinto sua falta.
Li quinze vezes, engasgando-me de emoção a cada vez. As bolhas
apareceram como se ele fosse enviar outra mensagem, mas desapareceram
com a mesma rapidez. Eu também sentia falta dele. Tanto que doía, mas não
sabia como engolir meu orgulho e atravessar o parque novamente para estar
com ele. Era uma droga estar ciente da minha teimosia, mas não saber como
domá-la.
Dez minutos depois, enquanto digitava minha resposta pela centésima
vez, ouvi sua voz. Ele disse algo para minha mãe, e todo o meu corpo se
arrepiou com uma mistura de alívio e nervosismo. Desliguei o telefone e
fiquei lá, esperando para ver se ele entraria. Será que já estive mais nervoso?
A porta se abriu e Devon bloqueou a lasca de luz com seu corpo. Ele ficou
parado, parecendo tão vulnerável quanto na primeira noite em que dormiu
na minha cama, e isso me quebrou um pouco. Eu o machuquei tanto quanto
seu pai. Não consegui dizer nada a ele, talvez porque minha culpa fosse
muito forte, mas nos encaramos sem precisar das palavras ainda. Tudo o que
eu queria era tocá-lo, abraçá-lo, segurá-lo ou talvez lutar com ele. Às vezes
era difícil dizer o que meus sentimentos significavam, mas Devon nunca
lutou para me entender.
— Posso ficar aqui com você? — ele perguntou suavemente, esperando
ser negado.
— Eu não quero falar — eu avisei.
Ele assentiu. Balancei a cabeça. Devon fechou a porta, despiu-se e subiu
na cama minúscula comigo. A cama onde tudo começou. Ele hesitou por
alguns segundos, mas assim que colocou um braço sobre meu peito e
descansou sua bochecha em meu ombro, toda a minha determinação se
quebrou.
Devon me trouxe vida quando eu não tinha nenhuma em tantos dias. Me
virei para encará-lo e ele me puxou, nossas bocas se encontrando em uma
necessidade frenética. Eu o beijei pela primeira vez em dias, e me dei conta
de que ele tinha gosto de casa. Como amor.
— Foda-se, eu senti sua falta — ele sussurrou contra meus lábios. —
Desculpe. Eu te amo.
— Cale a boca — eu gemi, tecendo meus dedos em seu cabelo e puxando-
o contra mim.
As pernas de Devon entrelaçaram-se com as minhas, e nossos corpos se
debateram juntos em uma tentativa de chegar o mais perto que pudéssemos.
Sua boca nunca deixou a minha, a menos que fosse para beijar meu pescoço,
minha bochecha, meu queixo. Provavelmente era o momento errado para
ficarmos em cima um do outro, mas fomos pegos em uma sessão de amassos
juvenil que parecia a coisa mais gostosa que já havíamos feito.
Não foi alimentado por sexo, no entanto. Era a proximidade que eu
desejava. Companheirismo e união, conforto do homem que me machucou
porque me amava tanto que queria me sustentar. Eu sentia falta dele e o
entendia, mas precisava que ele sentisse minha falta e me entendesse de
volta. Mesmo que eu estivesse com raiva dele, eu precisava investir nele.
Precisava investir nele porque Devon era o meu futuro, não importava
quantas vezes nós estragássemos tudo.
— Não me deixe, Madd — ele falou.
— Eu disse para você calar a boca — eu rebati para ele, ainda puxando-o
contra mim.
Empurrei seu peito e subi em cima dele, acomodando-me entre suas
pernas. Nossos corpos balançavam juntos, alimentando um ao outro, dando
e recebendo tudo o que tínhamos e nos comunicando sem as palavras certas,
mas com as ações certas.
As mãos de Devon tocaram pelo meu corpo, acariciando meus ombros,
meus lados e meus quadris até que ele agarrou minha bunda e puxou minha
virilha contra a dele. Seu toque trouxe vibração de volta à minha existência
monótona, e quando ele gemeu baixo em sua garganta, essa vibração se
tornou selvagem. Capturei aquele som esmagando minha boca na dele.
— Foda-se, Devon — eu disse asperamente, precisando de tudo dele de
uma vez.
— Cale a boca — ele zombou de mim. — Não devemos foder agora. —
Ele me puxou para mais perto.
— Eu sei. — Eu o beijei em todos os lugares que pude.
— Precisamos conversar primeiro — declarou ele, esfregando seus
quadris contra os meus.
— Sim. — Empurrei meu pau duro contra o dele.
Ele soltou um suspiro lento e sussurrou: — Por favor.
Nunca fui bom em controlar impulsos. Além disso, eu precisava dele. Não
era sobre o sexo. Sim, eu queria transar com ele, mas desta vez, foi uma
tentativa de reparação da única maneira que sabíamos fazer no momento.
Nossa linguagem do amor nunca foi saudável de qualquer maneira, então
qual era o problema?
Sentei-me sobre os calcanhares e puxei sua cueca para baixo, seu pau
saltando livre diante dos meus olhos. Ele estendeu a mão para a minha
cueca, mas não havia nada que ele pudesse fazer nesta posição. Então me
levantei, tirei e peguei um frasco de lubrificante que ainda estava na gaveta
da cômoda.
Fiquei em conflito com minhas próprias emoções. Queria ser rude com ele
porque estava com raiva, mas queria adorá-lo porque ele era a única coisa
na minha vida em que eu acreditava. Ajoelhei-me entre suas pernas, tentado
pela visão, e joguei a garrafa na cama. Em vez disso, empurrei seus joelhos
contra seu peito e abri suas pernas para que eu pudesse lamber sua bunda
perfeita.
— Mmm, porra — Devon ofegou quando eu acertei seu buraco. Suas
mãos acabaram no meu cabelo, mas não tentaram me controlar. Foi um ato
de confiança, algo para me mostrar que ele queria o que quer que eu desse
livremente.
Eu o deixei excitado com a minha língua, então adicionei um dedo dentro
dele, abrindo-o para uma foda forte. Tanta merda possessiva e indecente
passou pela minha cabeça, mas minha boca não disse nada disso. Não estava
com humor falante, então ao invés de dizer a ele o quanto eu amava sua
bunda, mostrei a ele com ações até que suas pernas tremessem e sua
respiração ficasse superficial.
— Maddox — ele gemeu meu nome em um gemido desesperado.
Arrepios de desejo se espalharam pela minha pele e se intensificaram em
meu estômago. Acrescentei outro dedo, alternando entre foder com o dedo
e foder com a língua. Eu estava tão desesperado por isso quanto ele, tão sem
rodeios que perguntei: — Você está pronto, porra? — Impaciência.
— Mmm, sim.
— Tem certeza? — Enfiei minha língua em sua bunda com meus dedos.
— Oh Deus — ele gemeu. — Puta merda, apenas me foda — ele exigiu.
Peguei o lubrificante e espalhei no meu pau. Puxei suas coxas e o trouxe
para mais perto, com toda a intenção de empurrar nele, mas eu não o fiz.
Relaxei dentro dele, lenta e firmemente, certificando-me de que ambos
sentíssemos tudo. O rosto de Devon relaxou de prazer, e quando seus olhos
tremeram, engoli minha raiva e lembrei a mim mesmo que eu amava esse
idiota, não importa o quê. Meu humor mudou ali mesmo, não querendo
mais ser duro e rápido com a frustração, mas lento e sentimental porque
sentia falta dele. Eu sentia falta disso. Queria fazer amor com ele ou algo
assim.
Jesus.
Devon notou, ou talvez estivéssemos na mesma página, porque ele puxou
meus braços e me puxou até que nossos corpos estivessem nivelados. Nós
nos movemos juntos, sua bunda encontrando minhas estocadas, um novo
ritmo adicionado à música que normalmente fazíamos. Não era o refrão, mas
era uma ponte, algo diferente para dar uma pausa e curtir a melodia. Suas
mãos serpentearam em volta do meu pescoço, puxando minha boca para a
dele. Nossos lábios nunca se separaram e nossos corpos nunca se
desconectaram enquanto nós moíamos juntos na minha pequena cama, e
merda, era meio que perfeito.
Devon divagou alguma merda sentimental contra meus lábios e eu o
beijei, sentindo em meu coração e sabendo que de alguma forma tudo ficaria
bem. — Eu te amo. Foda-se, Maddox, eu te amo — declarou ele.
Eu queria dizer isso de volta, mas minha voz não funcionou. Deslizei
minha mão por baixo de suas costas e o inclinei um pouco para cima. Devon
se engasgou quando o ângulo mudou, e aquele fogo ardente em meu peito
se intensificou quando ele realmente começou a gemer. Senti-lo ao meu
redor, de volta em meus braços, conectado comigo depois de muito tempo
separados, eu me perdi no extremo dele - de nós. A bunda de Devon apertou
em torno do meu pau e foi isso para mim. Nós nos reunimos em uma
confusão suada de amor, desejo e um pouco de dor emocional. Meu corpo
travado de prazer, de cada fio de cabelo da minha cabeça até a ponta dos
dedos dos pés. Meus pés formigavam, os músculos da minha bunda se
contraiam com tanta força que doíam, e minha respiração ficou presa na
garganta.
E finalmente encontrei minha voz. — Eu te amo — confessei com um pulso
de emoção. — Eu te amo pra caralho. — E eu amava. Eu o amava mais do
que tudo e estava cansado desse tipo de briga com ele. Não era nosso estilo
e não queria que durasse mais.
Devon me puxou ainda mais para baixo, seu esperma pegajoso entre
nossos corpos. Ele passou os braços em volta do meu pescoço e suspirou no
meu cabelo, segurando-se pela minha querida vida. Acho que fiz o mesmo.
Ficamos assim por tempo suficiente para que nosso suor esfriasse, nossos
batimentos cardíacos se equilibrassem e nossa respiração regulasse.
— Nunca mais me faça deixá-lo por três dias, idiota — eu disse.
— Nunca mais. Eu prometo. Eu não posso viver sem você. — Ele me
abraçou mais forte.
Pode não ter sido a conversa que precisávamos ter, mas foi tão boa quanto
seria esta noite. Foi o suficiente por enquanto.
8

-Devon-
Dormir na mesma cama que Maddox parecia surreal. Eu nunca tinha
percebido o quanto tinha isso como certo até que ele se foi. Não importava
que a cama fosse pequena demais para nós dois, ou que estivéssemos na casa
da mãe dele. Tudo o que importava era que estávamos presos juntos
novamente, e agora que eu o tinha de volta, nunca o deixaria ir.
Fizemos um acordo. Íamos conversar sobre isso esta noite. Prometi estar
em casa às seis, e ele prometeu voltar para sempre. Eu não iria decepcioná-
lo novamente, e com certeza não cometeria o mesmo erro. Já tinha feito isso
várias vezes.
— Devon! — Xavi gritou do outro lado da loja. — São 5h30! Dê o fora
daqui antes que Madd exploda de raiva... de novo.
Olhei para o motor em que estava trabalhando e pensei em tentar terminá-
lo, mas depois pensei melhor. Ainda estaria aqui amanhã. Me despedi de
Xavi, peguei minhas coisas e saí na frente.
E encontrei logo Nate, gritando com nosso pai.
— Dá o fora daqui, Jim — Nate fervia. — Você não está chegando perto
dele.
— Ele é meu filho! Eu tenho o direito de...
— Que porra está acontecendo? — Falei para ambos, puxando Nate de
volta para ficar ao meu lado. — O que você está fazendo aqui? — Eu olhei
para o meu pai.
— Devon — papai implorou por algum motivo. — Estou aqui para me
desculpar.
Ok, não. — Você perdeu esse direito quando tentou me matar, e então
você o perdeu completamente quando tentou nos incriminar para sair da
dívida. Foda-se.
— Estou tentando me reerguer — disse ele, parecendo o patético
desperdício de espaço que era. — Só preciso de uma ajudinha.
Sempre era uma ajudinha. — Sem chance, caralho — Nate rosnou. — Você
não receberá nenhuma ajuda nossa. — Nate me empurrou para trás dele e
falou baixinho. — Eu resolvo isso. Vá para casa, para Madd.
— Madd? — Papai perguntou, seu rosto confuso. — Você é... o quê?
Nate xingou baixinho. Mantivemos meu relacionamento em segredo
desde que nosso pai saiu da prisão. Não queríamos dar a ele um motivo para
ir atrás de Maddox. Ele odiava Maddox o suficiente porque o desafiou
naquela noite e nunca parou. Quando meu pai saiu da prisão, ele veio direto
para Garron Park procurando por mim, mas em vez disso encontrou
Maddox. Maddox não hesitou em colocar meu pai no lugar, e quando ele
não entendeu a mensagem com palavras, Maddox o espancou até sangrar.
Eu o amava por isso, mas colocava um alvo em suas costas, então estava
mantendo o resto do nosso relacionamento e acordo de vida em segredo para
proteger meu namorado. Jim não era burro, porém, e cidades pequenas
fofocavam.
— Eles estão trabalhando em uma moto juntos — Nate mentiu, mas papai
não acreditou. — Apenas vá, Dev.
— Vou embora quando ele sair. — Maddox entenderia se eu estivesse um
pouco atrasado por conta disso. Eu não deixaria Nate sozinho para lidar com
isso.
— Tudo bem, estou indo — meu pai cedeu. — Mas podemos nos
encontrar, Devon? Podemos fazer as pazes?
— Não. Saia. — Eu odiei o pequeno tom de culpa que passou por mim.
Ele era um idiota que legitimamente tentou me matar, mas ainda era meu
pai. Canalha ou não, ele é o único que eu consegui, e eu não sabia se seu
desejo de fazer as pazes era real ou não. — Se eu mudar de ideia, vou te
encontrar — acrescentei por algum motivo.
Nate não gostou disso, mas não disse nada. Papai acenou com a cabeça e
se afastou, não estava pronto para enfrentar nós dois ao mesmo tempo.
Ficamos ali juntos enquanto ele subia em um carro velho e surrado e saía do
nosso estacionamento. Eu não tinha ideia de onde ele conseguiu o carro, mas
pelo que pareceria, estava morando nele.
Nate se virou e agarrou meus ombros. — Não se atreva a se sentir mal por
ele, Devon.
— Eu não — eu meio que menti. — Ele fez isso consigo mesmo.
— Sim, ele malditamente fez. Não vou mais deixá-lo mexer com a sua
vida. Não o deixe voltar. — Nate me deu um olhar severo.
Eu não era estúpido o suficiente para deixar meu pai voltar. Sabia melhor
do que isso. Ele era um vigarista manipulador sem bússola moral e valores
de merda. Ele não tinha lealdades familiares e só pensava em si mesmo e no
que o levaria à frente, sem considerar como isso impactaria outras pessoas.
Mas havia uma parte de mim que queria checá-lo à distância apenas para ter
certeza de que ele não seria um perigo para nós.
— Eu não vou — eu prometi. — Você está bem?
Nate assentiu. — Sim, apenas o odeio. Eu falo sério, Dev. Não o deixe se
aproximar. Nada de bom resultará disso.
— Eu sei. — Eu sabia. Realmente sabia. E era por isso que eu ficaria de
olho nele para garantir que ficasse longe.
— Ok, vá. Não deixe Madd esperando. Desculpe por esse deslize. — Ele
se encolheu. — Eu só não quero que você perca Maddox, ok? Vocês são...
vocês estão destinados a ficar juntos ou algo assim, então vá ficar com ele e
faça tudo ficar bem de novo. Não posso prosperar na vida se estiver me
preocupando com o tipo de luta em que vocês dois são péssimos.
Que perdedor. — Sua vida gira em torno do tipo de luta que fazemos?
— Sim — ele riu. — Punhos e foder são suas coisas. Seja o que for, não é
isso. Vocês são péssimos com o tipo emocional de luta e isso está me
arrastando para baixo, então vão consertar isso. — Ele me empurrou.
Eu já estava atrasado, mas aceleraria todo o caminho para casa se fosse
necessário. Nunca deixaria Maddox esperando novamente.

O alívio ao ver Maddox em casa foi demais para mim. Ele tinha um sorriso
presunçoso no rosto, pronto para foder comigo sobre alguma coisa, mas eu
o ignorei enquanto secretamente amava e caí direto em seu peito. O
abraçando.
— É bom ter você de volta aqui — eu disse contra seu pescoço.
Ele passou os braços em volta de mim e zombou. — Você é um fodido tão
sentimental.
Sim, eu não podia negar isso.
— Eu... — Ele se atrapalhou, sugando as palavras às vezes. — Eu
realmente... uh, eu só gosto... — ele fez uma pausa e eu ri. — Foda-se! É bom
ter você em casa pela primeira vez. Foda-se por me fazer dizer isso. — Ele
me empurrou com uma carranca.
Eu sentia falta daquela carranca. Aquela criada por desafio e provocação,
em vez de raiva e mágoa genuínas. Deixei meus olhos percorrerem seu corpo
e, após um segundo de observação, eles rolaram.
Maddox ganhou muitos músculos desde que começou a trabalhar na
construção. Além disso, ele tinha um bronzeado muito escuro, as melhores
linhas de bronzeamento de uma camiseta que eu já tinha visto, e um novo
nível de robustez nele que deixou meu pau ainda mais duro. Ele obviamente
acabou de chegar em casa, então ainda estava sujo e vestindo suas roupas de
trabalho – uma calça azul escura e uma camiseta laranja brilhante.
Vê-lo assim me fez perceber quanto tempo realmente se passou desde que
cheguei em casa cedo o suficiente para vê-lo em seu uniforme de trabalho.
— Droga, Madd. Isso está realmente funcionando para você. — Eu acenei
para tudo sobre a aparência dele. — Você está gostoso pra caralho. — E ele
era meu. Todo meu.
Maddox gemeu para mim. — Não me deixe duro ou nunca vamos
conversar. — Ele apontou para o deque, que estava prestes a se tornar nossa
sala de terapia. — Cerveja?
— Eu pego. — Eu o beijei e depois passei por ele pela porta.
— Não tente essa merda doce em mim, Devon. Te conheço melhor do que
isso — ele gritou do deque.
Merda doce? Eu estava apenas pegando uma cerveja para ele. Eu sorri
para a geladeira, pegando duas latas e relaxando porque era bom estar aqui
com ele.
Instalados no deque com duas cervejas, não começamos da melhor
maneira. Falar sobre as coisas racionalmente nunca foi uma força em nosso
relacionamento. Toda vez que Maddox abria a boca, ele se atrapalhava com
as palavras ou me insultava. Toda vez que eu tentava responder, o chamava
de idiota ou pedia desculpas por algo muito genérico. Ele me disse para
parar de assumir toda a culpa e eu disse a ele para parar de agir como se não
fosse minha culpa.
Não tínhamos chegado a lugar nenhum.
— Tudo bem, foda-se. — Levantei-me e coloquei minha lata vazia no
chão. — Isso não está funcionando.
— Então é isso? — ele zombou. — Nós vamos simplesmente ignorar?
Não. Eu nunca iria ignorar nada com ele novamente. — Não. Nós vamos
lutar, seu idiota de merda. É assim que conversamos melhor. Vou arrancar
as respostas de você.
Maddox se levantou e tirou a camiseta. Jesus, ele nem sequer hesitou. Eu
não vou mentir, aquela linha escura bronzeada na parte de trás do pescoço...
caramba, isso era gostoso. — Bem aqui? Agora? — Ele cerrou os punhos em
preparação.
— Sempre tão ansioso para lutar — eu repreendi. — Está muito quente
aqui. Vamos à praia.
Ele riu. — Oh, então você quer que eu te afogue?
Brigar. Nossa zona de conforto. — Se você acha que pode vencer tão
facilmente? Você pode treinar acidentalmente o dia todo, todos os dias, mas
eu tenho que ser legal com as pessoas o tempo todo. Isso me deixa
malditamente selvagem e estou pronto para descontar em você.
Descemos o caminho atrás do nosso lote. A floresta estava calma; o rio
movia-se vagarosamente e os pássaros cantavam lindamente. Nossa energia
reprimida agitaria tudo.
A praia principal do parque de trailers ficava bem longe e depois de uma
curva, então, quando chegamos à seção atrás do nosso parque, estávamos
sozinhos, isolados e escondidos da área principal. Maddox ficou apenas de
cueca e manteve os olhos em mim enquanto eu fazia o mesmo.
— Regras? — Eu perguntei, jogando minha camisa com minha calça.
— Como se você fosse respeitá-las de qualquer maneira — ele reclamou.
— Você simplesmente não pode deixar passar que eu venço com pura
habilidade e força, pode? — Eu o empurrei no peito, sentindo meu sangue
ganhar vida.
— Mais como movimentos sujos e distrações sensuais — ele rebateu, me
empurrando para trás.
— Talvez devêssemos lutar com roupas então, hein? Já que você não pode
controlar seu pau se eu estiver seminu.
Ele murmurou algo baixinho sobre não importar se eu estivesse nu ou não.
Meu rosto corou com isso. O rubor pode vir mais tarde. Primeiro, eu tinha
confissões a fazer.
— Eu negligenciei e ignorei você — comecei com a verdade.
— Eu não sou a porra de uma princesa, Devon — ele retrucou. — Eu não
preciso de você o tempo todo.
— Sim, mas deixei você sozinho esperando por mim todas as noites. Diga-
me como isso fez você se sentir. — Sentimentos, seu favorito. Era uma
palavra-gatilho.
— Sentir? — ele zombou previsivelmente. — Não se trata de sentimentos.
É sobre fatos! — Ele me empurrou e, quando sorri, ele se virou para mim. Já
funcionou. Esse é o meu cara.
Peguei seu pulso e o chutei na coxa. — Sim, o fato de você se sentir
ignorado, certo?
Maddox chutou minhas pernas e caiu sobre mim enquanto eu caía. — Não
senti nada. É uma merda... eu nunca sabia se você estava voltando para casa
ou não! — ele gritou, me acertando nas costelas.
Eu rolei debaixo dele, ficando com a boca cheia de areia no processo. —
Você acha que eu te considero um dado adquirido? — Eu totalmente
considerei, mas ele precisava expressar isso.
— Eu pensei que você estava tentando ficar longe de mim — ele fervia,
balançando o punho na minha cara. — Achei que você tinha me superado,
que queria terminar esse relacionamento e ficava na loja para me evitar! —
Ele acertou um soco forte no meu queixo.
— Maddox! — Eu gritei, tentando acalmá-lo.
— Se você quer sair dessa, apenas me diga e acabe com isso!
Me lancei para ele. Ele lançou uma joelhada, mas eu bloqueei e o joguei na
areia. Montado em seus quadris, prendi seus braços em ambos os lados de
sua cabeça. — Eu não quero sair disso. Nunca. Eu não estava evitando você.
Estava tentando ser digno de você, e estraguei tudo. Só não queria acabar
como nossos pais, mas agora sei que isso é um erro. — Olhei em seus olhos
verdes e raivosos. — Eu te amo pra caralho, Madd. Eu nunca quero sair
disso.
— Eu também tenho um emprego! Pare de tentar assumir tudo sozinho
— ele rosnou para mim, lutando para se livrar.
— Eu sei! — O prendi com mais força. — E não percebi que, ao tentar
melhorar nossas vidas, eu estava piorando. Não dando valor a você,
pensando que você sempre estaria presente, mas quando você foi embora...
— Engoli as lágrimas. — Nunca mais cometerei esse erro.
Maddox parou por apenas um segundo. Ele estudou a sinceridade em
meus olhos e então me deu uma joelhada na lateral tão forte que eu gemi e
caí em cima dele. Ele me virou de bruços, puxou meu braço para trás e torceu
até que eu gritei de dor.
— Nós não somos eles — ele fervia em meu ouvido. — Mas se você
continuar agindo assim, fazendo tudo ao seu alcance para evitar ser como
seu pai, vai acabar como ele de qualquer maneira, porque ficará sozinho,
miserável e patético.
Ele soltou meu braço e lutou para me colocar de costas novamente. Suas
palavras doeram, mas eu sabia que eram verdadeiras. Negligenciei Maddox
assim como meu pai negligenciou minha mãe. Por razões diferentes, mas
ainda assim, negligência era negligência.
— Olhe para mim — Maddox exigiu. Eu encontrei seus olhos. — Estou
orgulhoso de você — disse ele com certa relutância, mas com toda a sua
honestidade. — E eu nunca quero que você desista da merda que é
importante para você, ok? Mas pare de fazer isso por nós, por mim.
Sinceramente, não dou a mínima se perdermos tudo. O trailer, as motos de
motocross, os caminhões e nossos telefones. Eu não preciso de tudo isso. Eu
só quero que você volte para casa. E se você nunca está lá e nunca nos
falamos ou nos vemos, qual é o sentido de estar nessa coisa?
A luta deixou meu corpo e eu parei de lutar. Foi assim que ele se sentiu?
Ele nunca me viu, então qual era o ponto? — Você não quer mais estar nisso?
— O quê? Você não ouviu nada do que eu disse? — Ele me soltou e nós
dois sentamos nossas bundas de frente para a água, fervendo em um ponche
de frutas de sentimentos que ainda eram muito incertos para misturar.
— Sim, eu ouvi você dizer qual é o ponto. — Esfreguei a areia do meu
cabelo.
Maddox suspirou, levantando os joelhos. — Eu estou tão malditamente
nessa coisa, Devon, que isso me assusta pra caralho. — Ele olhou para o pôr
do sol, mas eu senti sua vulnerabilidade, então olhei para lá também. —
Parecia que eu estava perdendo você nos últimos meses, e isso me
machucou. Pensei que você estava me afastando, e eu… você é tudo para
mim, ok? Eu sei que você fica com ciúmes e merda, mas eu não entendo o
que já fiz para te deixar inseguro sobre nosso relacionamento. Eu nem vejo
outras pessoas.
Eu olhei para ele, querendo me intrometer. Segurei minha língua e o deixei
continuar porque eu precisava ouvir.
— Eu só quero você de todas as maneiras. Mas quando você nunca volta
para casa, eu me sento lá como um tolo patético e apaixonado que espera,
espera e espera por você, mas você nunca aparece. Isso dói. E eu odeio que
doa, mas dói. Isso me assustou, Devon. Isso me assustou porque pensei que
você não me amava mais.
Porra. Porra! Eu fiz isso com ele? Eu o fiz duvidar do meu amor por ele?
Eu era oficialmente a pessoa mais idiota viva. Maddox era a única coisa que
me importava o suficiente para tentar mais, mas minhas tentativas de tentar
foram um fracasso épico. Tudo o que consegui foi machucá-lo e assustá-lo.
Eu assustei Maddox Kane.
— Puta merda, Maddox — suspirei de vergonha. — Eu sinto muito, porra.
— Virei meu corpo para encará-lo, mas ele manteve os olhos no pôr do sol.
— Sinto muito por ter feito você se sentir assim. Eu te amo, e sinto muito por
você ter duvidado de mim. Como faço para consertar isso?
Maddox esfregou a nuca e relaxou um pouco. Olhando para mim com
olhos honestos, ele disse: — Nós fomos morar juntos depois de apenas
alguns meses. Vai levar tempo para entendermos um ao outro.
— Sim, mas não assim. Não depois de um ano.
— Um ano começando um novo negócio, mudando nossas condições de
vida e se preocupando com seu pai.
— Eu não ligo. Não quero que se preocupe conosco. Já temos coisas
demais com que nos preocupar, e eu quero que esse relacionamento seja algo
que você sempre pode contar. Quero ser a coisa com a qual você pode contar.
Odeio ter feito você duvidar de tudo.
— Então, você não está procurando uma saída? — ele perguntou, olhos
tímidos.
— Foda-se não. Nunca. Eu vou te matar se você tentar me deixar. Eu
nunca quero perder você. Isso... isso me quebrou quando você saiu na noite
de sexta-feira. — Estendi a mão e agarrei a dele. — E eu sei que foi minha
culpa. Entendo por que você fez isso, mas não quero que isso aconteça
novamente.
Ele apertou minha mão com mais força. — Não é tudo sua culpa. Eu sou
péssimo em conversar e você é péssimo em ouvir. — Ele riu um pouco. —
Sério, tivemos que começar uma luta só para chegar a esse ponto.
Eu sorri para isso. — Sim, mas nós chegamos aqui. Você está bem?
Ele assentiu, entrelaçando nossos dedos. A areia arranhava entre nossas
palmas, mas eu gostava do grão. Firme como o nosso amor. — Não quero
soar como um disco quebrado, mas senti sua falta, Devon. Sinto falta de
quando costumávamos brincar o tempo todo ou quando fazíamos merda
que não era trabalho ou cuidar de nossas mães. Quero dizer, sei que a vida
muda e tudo, mas sinto falta de quando você estava sempre pronto para um
desafio. Isso. — Ele apontou para a praia onde acabamos de lutar. — Isso
parecia o velho nós. Eu sinto falta.
Ele tinha um maldito ponto. Sim, estávamos tentando ter uma conversa,
mas a briga que nos trouxe até aqui era a merda pela qual costumávamos
viver. Prosperar. Fiquei tão consumido tentando fazer melhor que esqueci
como me igualar a ele. Eu esqueci de desafiá-lo de volta. Não era de admirar
que estivéssemos indispostos.
Poderia muito bem voltar a isso. Imediatamente.
— Posso pedir para você fazer algo comigo que vai te irritar, mas você vai
fazer mesmo assim? — Perguntei.
Maddox riu. — Você está tão malditamente atrasado.
Eu sorri. — Você vai seguir meu pai comigo?
Ele cerrou os dentes. — Por quê?
— Porque eu sou estúpido. Porque eu sei que não vou deixá-lo voltar,
mas há uma parte de mim que não pode ignorar, e ela está me dizendo para
ficar de olho nele. Eu só quero observá-lo um pouco para ter certeza de que
ele não está... — O quê? Vindo atrás de nós? Tramando algo? Sofrendo? Indo
atrás de Nate? Todos os anteriores?
— Você é tão burro, Devon — Maddox gemeu. — Eu vou fazer isso com
você porque se eu disser não, você vai fazer de qualquer maneira e
atrapalhar ainda mais. — Ele se levantou, me puxando com ele. — Tudo
bem?
— Estamos bem. Eu te amo.
— Amo você. Novo começo?
— Não. Não apague nosso começo. Apenas um novo capítulo, certo?
Seus olhos ficaram tímidos novamente, mas ele assentiu.
Eu balancei a cabeça. Resolvido.
— Eu vou nadar, e então você vai chupar meu pau enquanto eu faço o seu
jantar estúpido.
Eu realmente era inútil na cozinha, então era uma troca justa. —
Combinado.
Ele se inclinou e beijou meus lábios. Então ele me empurrou com tanta
força que tropecei nos pés e caí de costas, pegando outro bocado de areia.
Idiota. Eu sorri para o céu.
9

-Maddox-
Eu adorava dizer “eu avisei” a ele, então eu disse isso.
Devon estava menos mal-humorado esses dias, e eu sabia que era porque
ele realmente chegava em casa do trabalho na hora e se divertia mais. Claro,
ele ainda trabalhava até tarde algumas noites, mas pelo menos ele esclareceu
isso comigo agora e não deixou acontecer com muita frequência. Ele
manteve sua palavra e a merda foi finalmente boa.
Estávamos arrasando nessa merda de relacionamento? Nem perto, mas
estávamos muito melhor. E isto era nítido. Até nossos irmãos comentaram
sobre, o que obviamente rendeu uma surra mútua. Eles correram como
covardes antes que qualquer luta real pudesse começar, pulando e batendo
os calcanhares para ir para casa.
E sempre era bom acordar com ele nas manhãs de sábado. Senti a cama se
mexer e abri meus olhos. Devon estava deitado de costas, com a mão no pau,
a perna dobrada sobre minha cintura, parecendo um modelo de parque de
trailers. Maldito. Ele soltou um gemido grogue, massageando seu pênis
através de sua boxer e eu o observei por um tempo.
Colocando o braço atrás da cabeça, levantei-me um pouco para admirá-lo.
Sua tatuagem de caveira de merda subia e descia com suas respirações
profundas, seu abdômen se contraia sutilmente e o contorno de seu pênis
era proeminente através de sua cueca boxer azul. Como diabos ele se tornou
meu?
— Você está se masturbando bem ao meu lado? — Eu acusei, sabendo
que ele estava acordado. Esta não foi uma repetição do marco zero daquela
primeira manhã. Chega de fingir que estava dormindo.
— Mhm — ele gemeu, enfiando a mão dentro de sua cueca e se libertando.
— Acabei de ter o sonho mais sexy com você.
— Sim? — Eu me esfreguei. — Diga-me.
Devon limpou a garganta e passou o polegar sobre a cabeça de seu pênis.
— Era noite de luta em Garron Park — ele começou. — E eu chutei sua
bunda.
— Improvável.
— Shh. Meu sonho — ele me silenciou. — Você estava todo
ensanguentado e suado, olhando para mim como se quisesse me matar. —
Sua voz tinha um tom sonolento que tornava essa recontagem ainda mais
gostosa. Ele se masturbou sem um pingo de vergonha, e meus olhos
absorveram tudo. — O locutor gritou que eu ganhei, mas você não aceitou
isso.
— Mais provável.
— Então você tentou me desafiar para outra luta. Você veio para cima de
mim todo gostoso e com raiva - tão sexy, a propósito - mas eu dominei você
e passei minha mão em volta de sua garganta.
Eu adorava quando ele fazia isso. Sua pegada na garganta costumava me
irritar. Agora me irritava e me excitava. Ele estendeu a mão através da aba
frontal da minha cueca, puxando meu pau para fora. Colocou minha mão
sobre isso e depois tirou a dele. Automaticamente, acariciei lentamente meu
pau.
— Havia uma multidão de pessoas gritando para nós continuarmos
lutando, mas foi como se nós não déssemos a mínima para elas. Eu segurei
sua garganta e você olhou para mim, e então começamos a nos beijar na
frente de todos.
Por que isso foi tão fácil de imaginar? Nós ofegamos um pouco, sentindo
a excitação de seu sonho. Meus olhos se moveram entre minha mão e a dele.
— Então, nós estávamos fazendo isso de forma sexy e apressada e você
puxou meu cabelo. Aí eu apertei minha mão em sua garganta, e então você
me implorou para te foder. Não, você exigiu que eu te fodesse ali mesmo. Foi
tão sexy, Madd. Era como se você precisasse de mim ou morreria.
Meus pulmões trabalharam horas extras e meu corpo esquentou. Meu pau
vazou, antecipando a próxima parte de seu sonho. — Então o quê?
— Então, eu empurrei você contra o penhasco. Você sabe, aquela do qual
nós sempre pulamos? — ele perguntou. Eu balancei a cabeça, embora aquele
penhasco não estivesse nem perto de onde as lutas aconteciam. Qualquer
que seja. Era o sonho dele. — E nós simplesmente começamos a rasgar as
roupas um do outro. Eu estava tão envolvido que comecei a chupar você na
frente de todo mundo.
Eu assisti pré-sêmen vazar de seu pênis, a visão dele me fazendo palpitar
com a necessidade.
— E eu estava apenas me engasgando com seu pau, Madd. Sem vergonha
nenhuma. Eu amo chupar seu pau. Eu já te disse isso? E eu amo o seu gosto
quando você goza. Oh Deus. — Ele gemeu e sua perna pressionou na minha,
fazendo meu abdômen apertar e minhas costas suarem. Minha mão
masturbou mais rápido.
— O que aconteceu depois?
— Você ficou impaciente — ele riu enquanto gemia. — Fiel à forma,
mesmo em meu sonho. Você me puxou para cima agarrando meu queixo e
depois me ameaçou. Disse que se eu não me apressasse e fodesse você, você
me curvaria sobre a amurada e foderia minha bunda com a língua até que
eu gozasse.
— Foda-se — eu gemi.
— E o eu do sonho estava pensando que existiam muitas opções boas, e
eu queria todas elas, certo? Mas merda, Maddox... o olhar em seus olhos me
deixou louco. Eu empurrei seu rosto no penhasco e fodi você. Forte.
Eu me masturbei completamente. Minha mão se moveu com o ritmo de
sua respiração e meus olhos seguiram a sua mão, observando-o acompanhar
meu ritmo.
— E todo mundo estava nos observando, e você estava fazendo os sons
mais sexys. Então eu coloquei minha mão em volta de sua garganta
novamente e puxei você para cima para que eu pudesse morder seu pescoço
e te foder ao mesmo tempo.
Puta merda, isso é sexy. — Você quer ser observado?
Ele gemeu e mordeu o lábio, parecendo gostoso pra caralho. — Não sei,
Madd. Na verdade. Mas esse sonho me deixou excitado, e agora contar a
você está me deixando mais excitado. De qualquer forma, estou te fodendo
forte e profundamente por trás, segurando você pela sua maldita garganta,
afundando meus dentes em seu pescoço, e caramba, você estava adorando.
Você gritou que gozaria e então todo mundo assistiu como... mmm. — Ele
engoliu em seco, excitando-me tão rápido que eu ia gozar. — Todo mundo
assistiu quando eu gozei na sua bunda e você gozou sem se masturbar por
todo o... porra, eu vou gozar agora — ele avisou. — Madd... foda-se.
Eu precisava dele. Rolei na direção de Devon e o puxei. Beijei seu pescoço
e tornei seu sonho realidade. Eu o mordi onde seu ombro encontrava seu
pescoço e ele perdeu a cabeça, o que me fez perder a minha.
— Ah sim! — ele murmurou, gozando em todo o meu pau. Nossos nós
dos dedos bateram e a sensação de seu esperma quente no meu pau me jogou
no limite. Eu me empurrei contra ele, cobrindo nós dois com meu esperma.
Eu gemi contra sua pele, provando a doçura salgada de seu suor. Devon
soltou seu pau e agarrou meus quadris, nos esfregando juntos para acabar
comigo. Pulamos daquele penhasco do sonho dele e, quando respirei pela
primeira vez, ainda estava eufórico.
Nós éramos uma bagunça ofegante de suor e esperma pegajoso, mas
parecia certo. Todo seu sonho.
— Posso admitir uma coisa? — ele perguntou com respirações difíceis. Eu
o segurei, mas não muito apertado porque estava muito quente aqui. — Eu
adoro quando você é um idiota — disse ele. — Quando fica rude comigo e
me trata como se fosse meu dono. Eu amo essa merda.
Bom, porque eu adorava fazer isso. Eu era bastante dominante em meu
âmago, mas Devon também era, então o fato de ele gostar de lidar com
minha agressividade era considerado uma vitória. Agarrei seu queixo e o
beijei com força. Estávamos uma bagunça, não tínhamos tomado banho nem
nada, mas eu não conseguia me importar. Às vezes, a conexão se tornava
mais importante. Era assim que mostrávamos sentimentalismo.
— Mas agora eu vou te irritar — ele riu contra minha bochecha, me
empurrando para que nós dois pudéssemos cair de costas.
— Por quê?
— Quão chateado você ficaria se eu me atrasasse para a festa da feira hoje
à noite?
Olhei para ele, imaginando o que ele queria falar e dando-lhe um olhar
que dizia para falar logo.
— Brian VanErp perguntou se poderíamos taxiar seu barco pela baía pelo
triplo do dinheiro. Nate e Xavi podem fazer isso sozinhos, mas eu meio que
quero estar lá para ver a nova marina e fazer alguns contatos. Quer vir
conosco?
— Nós deveríamos levar Heidi e Jeff para a feira — eu disse, mas não
estava com raiva. Eu entendia. — Você vai e eu te encontro na feira. Xavi e
Nate vão de qualquer maneira.
— Tem certeza? Não me importo de faltar.
Sim, ele se importaria, mas tudo bem. Brian VanErp tinha acabado de
construir uma marina inteira do outro lado da baía e ia enviar seus clientes
para a loja de Devon. Ele precisava estar lá para contatos de marketing e
fiquei feliz em apoiá-lo nisso.
Eu o chutei no quadril com força suficiente para que caísse da cama no
chão. Ele me xingou, mas estava com preguiça de se levantar. — Eu vou com
Jeff e Heidi, mas você vai me levar bêbado para casa mais tarde.
— Acordo justo — ele concordou. — Estou muito satisfeito para me
mover. Traga-me café.
Eu o chutei novamente no meu caminho para o chuveiro.

A manhã começou com um estrondo e meu dia foi muito bom, mas a noite
não começou da melhor maneira.
— O que você está fazendo aqui? — Eu esbarrei no meu pai e depois me
virei para minha mãe. — O que ele está fazendo aqui?
Papai parecia presunçoso e vulnerável ao mesmo tempo, e mamãe parecia
culpada. Ah, eu sabia exatamente o que era. Já havíamos passado por isso
centenas de vezes antes. Passei para ver se ela queria ir à feira comigo, mas
a última coisa que esperava encontrar era meu pai.
— Calma, querido — mamãe tentou me acalmar. — Eu o convidei.
Sabia. — Por quê?
Meu pai tinha sido um idiota com minha mãe durante o casamento.
Tecnicamente, eles ainda eram casados, por que quem diabos poderia se
divorciar? Ele era um idiota egoísta que julgava a todos por tudo que faziam,
mas nunca se manteve nos mesmos padrões. Ele nunca bateu nela, mas a
negligenciou e a manipulou sempre que lhe convinha. Todos estavam abaixo
dele, incluindo seus filhos.
— Estamos apenas conversando, querido — disse mamãe. — Achamos
que esta noite seria um bom momento porque vocês deveriam estar na feira.
— Ela sorriu para mim, mas eu não acreditei.
Olhei para ela com mais atenção, notando pela primeira vez que parecia
mais organizada do que o normal. Seu cabelo estava cacheado, ela estava
com muita maquiagem e usava um lindo vestidinho de verão. Ela estava
seriamente tentando impressionar esse pedaço de merda?
— Quantas vezes você vai deixá-lo fazer uma lavagem cerebral em você,
mãe? É melhor você não voltar para ele. — Não era da minha conta o que ela
fazia, e eu não tinha o direito de dizer isso a ela. Mas Xavi e eu sempre
tivemos que mantê-la bem depois que papai quebrou seu coração de novo e
de novo. Achei que tínhamos acabado com essa merda para sempre.
— Calma, querido. Estamos apenas conversando. Com licença. — Mamãe
desapareceu no banheiro. Ela nunca foi boa com confrontos.
Olhei para o meu pai. Eu não era bom para ele a menos que eu tivesse
dinheiro e ele estivesse duro. Eu não gostava dele e ele não gostava de mim.
Era tão simples quanto isso. Mas agora que eu estava olhando para ele,
percebi que parecia diferente, mais saudável ou algo assim, o que me fez
perceber que não o via há muito tempo. Ele não vinha até nós por dinheiro
há... meses, talvez por metade do ano ou até mais do que isso. Eu esqueci
que ele existia por um tempo.
— Você ainda transa com um cara? — ele perguntou.
— Você ainda está fodendo sua vida? — Eu atirei de volta.
Ele me deu um sorriso, mas eu não poderia dizer se era condescendente
ou satisfeito. Ele queria brigar comigo? — Eu vim aqui para te dar um aviso,
mas se você vai ficar assim, então eu vou cair fora.
Isso foi uma tática de manipulação? — Um aviso para quê?
— Jim Sawyer está de volta à cidade — disse ele.
— Eu sei. — Devon estava me arrastando para perseguir seu pai de vez
em quando, apenas para ficar de olho nele. Queríamos saber se ele estava
planejando algo contra Nate e Devon. Foi ideia de Devon, o que eu odiava,
mas tinha que admitir que era melhor saber onde aquele bastardo estava e o
que estava fazendo.
— Dizem que ele está armando alguma coisa. Algo grande. — Papai me
deu um olhar nivelado. Ele estava honestamente apenas sendo útil?
— Tipo o quê?
Papai deu de ombros e se esticou no sofá como se fosse o dono dele. —
Não sei. Mas eu o peguei farejando pelo escritório do parque. Conversei com
Gary sobre isso, e ele disse que Jim estava perguntando sobre o lote 62.
Como Jim sabia que morávamos naquele lote? Foda-se Garron por ser
uma cidade pequena, e foda-se todos nela por ainda serem vítimas da
influência de Jim Sawyer. Foda-se Gary, o gerente do parque, acima de tudo.
Nós não éramos donos do lote, então não havia como ele mantê-lo como
garantia sobre nossas cabeças, mas ele poderia com certeza levá-lo embora
se tivesse as conexões e a coragem. O que ele tinha, porra.
— Apenas pensei que você deveria saber — papai disse. — Isso é tudo.
Quase agradeci.
— E eu não estou aqui para machucar sua mãe novamente. Não é sobre
isso.
— Ela sabe disso? A julgar pela maneira como ela está vestida, ela acha
que é um encontro.
— Eu tenho algumas coisas para compensar. Não é nada além disso —
disse papai, e então a conversa parou porque mamãe voltou.
Abracei minha mãe, dei um olhar de advertência para meu pai e fui até a
casa de Mary para me encontrar com Heidi e Jeff. A mãe de Devon ainda
morava com Mary, e Heidi era uma ótima cuidadora, então as coisas
estavam indo muito bem. Não era permanente, mas era o melhor que
podíamos fazer por enquanto. As instalações de atendimento eram caras e
poderíamos estar melhor, mas não estávamos muito melhor. Foi um milagre
que Mary tenha concordado em aceitá-la.
Eu precisava ignorar o que meu pai dizia, lembrar a mim mesmo que
minha mãe não era minha responsabilidade e lidar com tudo isso depois.
Quando Devon estivesse por perto.
Hoje à noite, eu ficaria bêbado. Eu precisava de um pouco de diversão.
10

-Devon-
Eu ansiava por ir à feira. Bem, na verdade eu ansiava por chegar até o meu
homem. Fizemos a entrega do barco, verificamos a nova marina e nos
relacionamos com alguns idiotas ricos que estariam enviando negócios para
nós quando chegasse a hora. Fizemos nossa parte e agora eu estava pronto
para sair daqui e ajudar Maddox a ter uma boa noite.
Xavi e Nate estavam tão impacientes quanto eu, mas Brian VanErp era um
daqueles filhos da puta tagarela que não entendia as deixas sociais e as
pausas nas conversas. Estávamos nos afastando dele por quarenta minutos,
mas ele continuou tagarelando. E deixei meu maldito telefone no caminhão,
então não pude nem mandar uma mensagem para Maddox e avisá-lo.
Brian estava falando sobre taxas de ancoragem e planos de clube, que
estavam muito acima da minha situação econômica, mas o telefone de Xavi
tocava a cada poucos segundos em seu bolso. Ele finalmente se afastou para
atender e, para meu alívio, era para mim.
— É Jeff — disse Xav, entregando-me seu telefone com um encolher de
ombros.
Afastei-me no cais e atendi. — Jeff? E aí?
— Ei, Dev. Vocês estão quase chegando?
— Ainda estamos na marina em Long Pier. Madd se encontrou com você,
ok?
— Sim, ele está aqui. — Havia um tom em sua voz.
— O que aconteceu? — Minhas costas se endireitaram.
— Uh — Jeff meio que riu. — Bem, eu tenho quase certeza, não, eu tenho
cem por cento de certeza de que Madd foi drogado. Ele está... ele está todo
fodido e hilário, e ele não para de falar sobre você. Merda, ele está doidão,
cara. Você pode querer chegar aqui rápido.
— Doidão? O que você quer dizer com ele está doidão? — Voltei para
Nate e Xavi.
— Todo mundo nessa festa está tomando alguma coisa, mas está
atingindo Madd mais forte, como se ele tivesse sido drogado duas vezes ou
algo assim. Ele está todo excitado e... sim, ele está doidão. Mas ele continua
perguntando onde você está, Dev. — Jeff riu novamente. — Merda,
desculpe. Ele está bem, mas estou tentando mantê-lo contido.
— Contido como?
— Vamos apenas dizer que ele está pronto para foder e esperando por
você.
Bom Deus. — Obrigado. Não o deixe fazer nada estúpido. Ou com alguém
estúpido, aliás. Estamos saindo agora. Trinta minutos. — Desliguei na cara
de Jeff e corri para o cais. — Desculpe, Brian, mas temos que ir. Conversamos
da próxima vez, certo?
Nate e Xavi pularam na frente e eu subi atrás, verificando meu telefone e
vendo umas trezentas mensagens perdidas de Maddox. Todas ficando cada
vez mais ridículo que a anterior.
— O que aconteceu? — Xavi perguntou. — Madd está bem?
Eu não pude deixar de sorrir enquanto lia suas mensagens muito
sugestivas. — Sim. Ele está fodido com ecstasy ou algo assim e está excitado.
— O quê? — Nate riu.
— De jeito nenhum — Xavi negou. — Madd não usaria ecstasy. Ele fica
quase apavorado com drogas.
— Jeff disse que acha que ele foi drogado.
— Por quem? — Xavi estalou, entrando no modo de irmão mais velho.
— Boa pergunta, porra. — Por que quem diabos drogaria meu namorado
com algo que o deixasse com tesão?
— Então, vamos apenas agarrá-lo e sair de lá? — Nate perguntou. — Eu
nem me importo se ficarmos.
— Acho que vamos ver como ele está quando chegarmos lá. — Era melhor
ele estar bem.
A insegurança se instalou um pouco. Ele estava drogado, com tesão e com
certeza teria um pau duro. Mas ele tinha controle?

Estacionamos nos fundos do estacionamento, a feira estava acontecendo


ao nosso redor, mas o pavilhão da festa ficava nos fundos. Jeff, Heidi e
alguns outros caras que reconheci do trabalho de Maddox estavam lá com
alguns amigos de Garron Park.
— Oh, obrigado porra — Jeff riu quando nos viu.
— Maddox! — Heidi gritou. — Devon está aqui! — Ela se virou para mim
e sorriu. — Você tem aquele menino na sua mão, Dev. Ele está sendo
abordado, recebendo flertes e apalpado, mas continua afastando todo
mundo e procurando por você — ela riu.
Eu desmaiei. Pra caralho.
— Devon — Maddox rosnou para mim, caminhando direto para o meu
espaço pessoal. Seus olhos estavam vidrados, mas seu sorriso era sem filtro.
— Finalmente, porra. — Ele agarrou minha nuca e quase quebrou meu nariz
quando esmagou nossos rostos juntos. Sua mão livre foi direto para a minha
braguilha.
— Merda, Madd. — Eu tentei segurá-lo. — Comporte-se.
— Eu quero foder. Agora mesmo. Vamos — ele sussurrou-gritou como
um idiota. — Eu estive esperando por você a noite toda. Porra, você parece
bem. — Ele descaradamente me fodeu com os olhos.
Revirei os olhos e o empurrei atrás de mim para poder agradecer a Jeff e
Heidi. Eu nunca o ouvi divagar bêbado, exceto naquela noite em que ele
nocauteou o cara de jeans de marca. Eu sabia o nome daquele idiota, então
não sabia por que sucumbi ao apelido que Maddox deu para ele. Quando
me virei para agradecer a Jeff e Heidi, eles estavam rindo de mim. Nate e
Xavi riram ainda mais porque Maddox estava sendo um tolo sugestivo, me
apalpando por trás. Ele colocou as mãos em volta da minha cintura, e eu
lutei com ele para mantê-las fora do meu jeans. Santo inferno, ele estava com
tesão. Maddox beijou meu pescoço e sussurrou coisas obscenas em meu
ouvido, esfregando-me por dentro da calça.
Eu tentei afastar suas mãos e realmente agradecer a esses caras por me
ligarem. — Obrigado por mantê-lo... contido. — Fiz uma careta quando meu
botão se abriu. — Foda-se, Madd. Relaxe por um minuto. — Puxei suas mãos
para fora da minha calça, mas ele lutou comigo o tempo todo, me tocando
em todos os lugares que podia alcançar.
— Ele já está assim há uma hora — Jeff riu. — Ele não tocaria em mais
ninguém, então... boa sorte com tudo isso.
— Quem deu a ele essa merda? — Xavi perguntou.
Jeff deu de ombros, mas sutilmente olhou para o grupo, dando-nos um
sinal. Maldito Tom. Eu sabia que aquele jovem idiota estava atrás do meu
homem.
— Devon — Maddox reclamou contra o meu ouvido, moendo seu pau
duro contra a minha bunda. — Eu preciso foder alguma coisa! Sua boca, sua
mão, sua bunda, não me importa. Algo!
Oh meu Deus, o que diabos havia de errado com ele?
— Vou colocar lubrificante em um saco plástico e foder o espaço entre o
colchão e a cabeceira, estou com tanto tesão agora!
O quê? O quê? — Você fez isso? — Eu não pude evitar minha risada
naquele momento. — Espere. Nós nem temos uma cabeceira.
— Sexo! Agora! — Ele tentou me empurrar para longe da multidão. —
Por favor, Devon.
Todos no grupo começaram a rir, Nate e Xavi eram os mais altos,
puxando-o para longe de mim.
— Vamos lá, menino apaixonado — Xavi riu. — Entre no caminhão.
— Devon! — Maddox gritou atrás de mim. — Vamos!
— É melhor você ir — disse Heidi, rindo pra caramba. — Honestamente,
Dev, ele só queria você.
— Obrigado pessoal. Obrigado por aturar isso. — Eu dei a cada um deles
um aceno de cabeça. Gostava muito mais de Jeff agora.
Como diabos eu iria manter Maddox ocupado durante a viagem de
quarenta minutos de volta para Garron Park sem deixá-lo me foder no banco
de trás? E com Nate e Xavi logo na frente?
Suspirei.

Maddox estava fora de controle. Eu o tinha visto com tesão antes, mas
nada comparado ao quão selvagem e desequilibrado ele estava agora. Ele
não aceitaria um não como resposta, não que eu fosse muito firme sobre isso,
mas ainda assim.
— Você quer que eu pare em algum lugar para que você possa lidar com
ele? — Nate perguntou do banco do motorista, abafando uma risada.
— Apenas me foda aqui — Maddox respondeu antes que eu pudesse, me
puxando para frente, ainda tentando entrar em minha calça. — Apenas
monte no meu pau como um...
— Ele está sob o efeito do ecstasy — interrompeu Xavi. — Você transa
com ele uma vez e ele estará pronto para gozar de novo em sessenta
segundos. Melhor continuar dirigindo — ele se engasgou, tentando segurar
uma risada.
— Devon. — Maddox lambeu meu pescoço, dizendo meu nome com uma
voz cada vez mais difícil de resistir. — Lembra daquela vez que trepamos na
pista e estávamos atrasados para a linha de partida? — Ele esfregou meu
pau.
— Cale a boca, Maddox. — Movi sua mão e tentei manter sua boca
ocupada para que ele não contasse todos os nossos segredos indecentes.
— Vamos foder alternado3 — ele exigiu em um gemido alto.
Oh meu Deus. — Maddox, cale a boca. — Olhei para frente, tentando não
morrer de vergonha. — Não estamos sozinhos.
— Estou sussurrando — disse ele como um bastardo bonito. — Eu quero
foder alternando a noite toda — ele sussurrou alto.
— Sim, você está sussurrando alto o suficiente para o carro atrás de nós
ouvir. Cale a porra da sua boca.
— Isso foi um sim para foder alternando a noite toda?
— Puta merda — eu gemi. — Aumente a música.
— Você realmente vai transar com ele aí atrás? — Nate riu ainda mais.
— A menos que você queira ouvir todas as besteiras que ele está dizendo,
eu vou fazer alguma coisa.
— Sim! — Maddox ficou empolgado. — Sente-se no meu pau, Devon.
Agora.

3 É fazer sexo alternando entre os papeis de penetrante e receptivo.


Envolvi uma mão em torno de sua garganta e inclinei-me em seu rosto. —
Diga mais uma palavra, e eu não vou nem tocar em você pelo resto da noite.
Vai foder o colchão como você disse.
— Não — ele fez beicinho.
— Cala essa boca. Entendeu?
Ele assentiu. Seus olhos verdes acompanhavam cada movimento meu,
suas mãos percorriam todo o meu corpo e seu pênis pressionava as costuras
de sua calça jeans.
Eu o empurrei para encostar-se na porta, desabotoei sua calça e puxei-a
para baixo apenas o suficiente para tirar seu pau para fora. Eu não podia
acreditar que estava fazendo isso. Posso ter sonhado com uma transa
pública, mas nossos irmãos não estavam nesse sonho.
— Música — eu gritei para Nate. Tão confuso.
— Sem esperma em meus assentos, Madd. — Nate avisou antes de
aumentar o volume da música.
— Mm — Maddox gemeu assim que comecei a masturbá-lo. — Devon
pode engolir como um...
— Maddox! — Eu gritei para ele enquanto nossos irmãos riam. Agarrei
sua garganta pela centésima vez e acertei seu rosto novamente. — Cale a
boca ou você pode se masturbar.
Mas Maddox era um filho da puta insistente. Ele empurrou a parte de trás
da minha cabeça e praticamente me forçou a engolir seu pau.
— Oh, merda sim — ele gemeu. — Eu sempre quis essa boca...
Eu me afastei, dominando-o. — Último aviso — eu rosnei para ele.
— Vou apenas sussurrar — ele ofegou.
— Não. Você vai ficar de boca fechada. Lábios grudados.
Ele fez isso, mas eu sabia que não iria durar. Adoraria se Nate e Xavi não
estivessem aqui. Honestamente, eu gostaria de ter sido drogado para poder
bloquear tudo isso e aproveitar Maddox nesta boa forma.
Nate aumentou o volume da música e me perdi na sensação de Maddox e
no quanto ele me queria. Enquanto eu chupava seu pau, as palavras de Jeff
e Heidi continuaram flutuando em minha mente, inflando meu ego. Ele
estava com tanto tesão e não tocou em mais ninguém. Ele disse que não. Ele
perguntou por mim. Ele me queria, mesmo quando eu não estava por perto e
um monte de outras pessoas se jogavam nele. Ele ainda me queria.
Eu queria recompensá-lo por isso. Fiquei ansioso para agradá-lo tão
completamente que ele continuaria a me querer e somente a mim. Queria
reivindicá-lo tanto quanto ele me reivindicou. Eu o levei profundamente em
minha boca, deixando-o empurrar seus quadris para bater no fundo da
minha garganta. Ouvi suas tentativas fracassadas de abafar seus gemidos e
aproveitei cada segundo, apesar do cenário.
— Devon — ele gemeu. — Puta merda. Você… — continuou divagando.
Seus dedos se entrelaçaram em meu cabelo e ele me empurrou ainda mais
para baixo. Eu respirei pelo nariz, deixei meus quadris balançarem um
pouco para bater no maldito assento, e o deixei foder meu rosto como o
idiota dominante que ele era. — Mmmm. Assim. Mesmo. — Seu corpo
tremeu e sua respiração engatou enquanto ele gozava na minha garganta em
rajadas quentes.
Eu me tornei uma vagabunda gananciosa porque engoli ansiosamente
cada pedacinho dele e o lambi para mais. Eu não conseguia o suficiente. A
pressão em minha calça doía tanto, quase como se eu gostasse da tortura de
precisar gozar, mas não conseguir. Quando Maddox puxou meu cabelo e
trouxe minha boca para a dele, não pude evitar meu gemido.
— Eu te amo, Devon — ele respirou meu ar e engoliu o desejo que tentei
esconder de nossos irmãos. — Eu te amo pra caralho.
— Eu disse para você calar a boca, Maddox.
Ele me ignorou. — Foda-me. Bem aqui. Agora mesmo.
— Madd... — Ele acabou de gozar e já estava excitado de novo? Em que
diabos ele estava?
Ele me empurrou para trás e subiu no meu colo, montando em mim. Mal
cabemos aqui, mas a cabeça dele bateu no teto como se não se importasse. —
Podemos ficar quietos.
— Você não poderia ficar quieto se sua vida dependesse disso agora. —
Eu agarrei seus quadris para fazê-lo ficar parado. Se ele continuasse me
esfregando, eu gozaria no jeans.
— Eu sei, mas eu realmente quero você. — Fazer beicinho era novidade
para ele. Eu não odiei isso. — Por favor, Dev.
Sinceramente, não fiquei tão desanimado com isso. A única coisa que me
segurava era nossos irmãos. Eles provavelmente não queriam um show ao
vivo de seus irmãos fodendo. Além disso, eles estavam sóbrios.
— Nate, pare — Maddox exigiu. — Encoste para que eu possa foder meu
homem.
Meu homem. Eu desmaiei novamente.
— Maddox, olhe para mim. — Virei seu rosto para o meu. — Você pode
aguentar até chegarmos em casa.
Ele balançou sua cabeça. — Não posso.
— Quinze minutos, Madd — respondeu Xavi.
Os olhos verdes de Maddox encontraram os meus na escuridão do banco
de trás. — Eu não posso esperar quinze minutos para ter você. Não posso
esperar nem mais um minuto.
— Quando você se transformou em um pirralho amuado?
— Eu não sou um pirralho. Eu só preciso de você, bebê.
— Bebê? — Eu ri. Ok, isso era um sinal infalível de que ele estava drogado.
Ele sorriu como um perdedor. — Foi estranho dizer isso.
— Foi estranho ouvir isso.
Ele descansou a testa contra a minha, balançando os quadris para me
seduzir. — Vamos.
— Foda-se — Nate disse. — Continue, Madd.
— Nate — eu bati no meu irmão para calar a boca. Maddox não precisava
de nenhum encorajamento. — Quanto tempo dura essa merda?
— Depende de quanto ele tomou, mas provavelmente mais algumas
horas. O pau dele vai cair antes disso nesse ritmo.
Maddox transaria comigo como um cão de caça do Mississippi. Mais
algumas horas? Eu estava no jogo, mas e se ele não se acalmasse?
— Sinto muito, Devon — Maddox disse contra minha bochecha. — Não
é só o sexo. Eu te amo. Não é só sexo.
Eu já havia sido afetado tanto?

No momento em que Nate passou pela entrada do Garron Park, Maddox


quase conseguiu me fazer gozar no jeans. No momento em que chegamos ao
lote 62, gritei uma exigência impaciente para que eles simplesmente saíssem
e não olhassem para trás; eles não precisavam de outro show no caso de
Maddox ficar turbulento antes mesmo de a porta do trailer abrir.
Por sorte, ele esperou até entrarmos.
Maddox bateu minhas costas contra o batente da porta do quarto, a mão
enfiada na minha calça e a boca na minha em um beijo desleixado. Ele enfiou
os dedos no meu cabelo e puxou minha cabeça para trás para expor minha
garganta. Com os lábios na minha pele e a mão esfregando meu pau, ele
rosnou em necessidade desesperada.
— Dobre-se. Porra.
Eu empurrei seu peito para fazê-lo recuar. Não porque eu não queria, mas
porque estava a menos de um segundo de gozar em minha cueca. Caminhei
em direção a Maddox, a mão já em volta de sua garganta. Na penumbra do
trailer, nossos olhos se encontraram e travamos uma guerra que não tinha
um perdedor claro e nenhum vencedor direto. Qualquer que seja a batalha
que travamos, nós dois nos beneficiaremos dela.
— Ajoelhe-se.
— Não.
Eu sorri, aumentando meu aperto em sua garganta. Pela primeira vez, sua
obediência não exigia palavras. Eu olhei para ele, e ele olhou de volta, e com
uma dilatação de suas narinas, Maddox caiu de joelhos.
Minha calça atingiu meus tornozelos e meu pau atingiu a parte de trás de
sua garganta. Gemendo de puro êxtase, agarrei a parte de trás de sua cabeça
e fodi seu rosto como ele fodeu o meu no caminhão. Eu precisava tirar esse
orgasmo do caminho para não operar em um frenesi a noite toda.
— Para onde foi seu modo fofo, Madd? — Eu perguntei, observando seus
olhos se arregalarem e lacrimejarem com a ameaça de sufocamento. —
Chega de me chamar de bebê e dizer que me ama? Pensei que o ecstasy
deveria deixar você feliz.
Só para obter vantagem, ele segurou minhas bolas e lambeu a ponta do
meu pau antes de me engolir de volta. Eu estava tão cheio, construído e
andando na linha da sanidade que me curvei para a frente. Com o rolar de
sua garganta quando ele engoliu, eu gozei. Afastando-me para gozar em sua
boca, apertei suas bochechas para que ele não pudesse engolir, fodendo sua
língua e gozando nela. O orgasmo foi abrupto e rápido, e nem de longe
satisfatório o suficiente. Ajoelhei-me, chutando minha calça para fora dos
meus tornozelos, e forcei sua boca a se abrir.
— Olhe para você, Madd. Segurando esperma na boca sem engasgar-se.
Ele mostrou a língua, deixando meu sêmen escorrer por seu queixo e meus
olhos se concentraram nele. Agarrei sua mandíbula e me inclinei para lambê-
la, empurrando-o de volta em sua boca com a minha língua. Oh merda, sim.
Nós nunca tínhamos brincado muito com esperma, mas era seguro dizer que
eu tinha uma nova torção.
Maddox gemeu contra a minha boca, nem um pouco abalado por isso
como tinha estado no passado. Ele chupou meu esperma de volta em sua
boca e então se afastou. Com os olhos nos meus, ele cuspiu na mão, quase
sorrindo, mas não exatamente. Seja qual for o jeito que ele olhava para mim,
era selvagem pra caralho. Primitivo. Malditamente predatório. E eu sabia
que qualquer maneira que ele quisesse me dominar, eu adoraria cada
segundo disso.
Ele empurrou meu peito, me derrubando de joelhos e caindo de costas.
Então o filho da puta abriu minhas pernas, empurrou-as o máximo que pôde
e enfiou aquele punhado de esperma direto dentro da minha bunda.
— Foda-se — eu gemi com a brusquidão disso. Dois dedos bombearam
para dentro de mim, me alisando e me esticando, deixando meu pau duro
novamente. — Jesus, Madd.
Ele não desistiu, mas seu sorriso drogado voltou e seus olhos vidrados
observaram seus dedos foderem minha bunda. — Estou malditamente
selvagem agora, Devon. Vou foder o máximo que puder dentro de você, e
você vai implorar por mais.
Jesus. Tímido e com tesão, feliz e sentimental, mestre das masmorras e
foda excêntrica. Amava todas essas versões dele.
Ele se inclinou para trás para tirar a camisa, então eu o observei enquanto
fazia o mesmo. Quando ele se inclinou sobre mim para abrir a gaveta da
cômoda, empurrei sua calça já aberta sobre seus quadris até os joelhos. Com
uma garrafa de lubrificante na mão, eu lambuzei seu pau enquanto ele ficava
nu, e então ele agarrou minhas pernas e me puxou entre as dele.
— Mal posso esperar. — Ele se alinhou e empurrou para dentro de mim,
fazendo minha mandíbula cair e meus olhos revirarem. Meu pau acordou
todo, e minha bunda apertou com a intrusão. — Ah, porra, Devon — ele
gemeu, fodendo em mim forte e profundamente. — Você não tem ideia. —
Ele balançou a cabeça e inclinou-a para trás, se observando me foder.
Eu me abaixei, aliviando a queimação e aumentando o prazer. O carpete
do quarto queimou minhas costas mais do que qualquer coisa, mas quando
Maddox agarrou meu pescoço e me puxou para cima para montar em suas
pernas dobradas, eu fiquei de joelhos e o montei tão forte quanto ele me
fodeu.
— Alcance atrás de mim — ele murmurou contra a minha boca. — Dedos
em mim.
Empurrei dois dedos em sua boca, observando sua língua deslizar entre
eles para deixá-los molhados e pingando. Os quadris de Maddox
empurraram para cima, e levou tudo em mim para não afundar de volta no
chão e deixá-lo me foder forte. Quando meus dedos estavam molhados,
inclinei-me para ele, deslizei-os pelo lubrificante em meu abdômen e estendi
a mão para trás.
— Mmm, foda-se. — Sua cabeça caiu para frente contra a minha quando
comecei a dedilhar sua bunda. Eu não conseguia obter o ângulo certo, então
eu o empurrei de costas e montei em seu pênis enquanto estendia a mão para
enfiar meus dedos de volta dentro dele.
Isso o excitou e o tornou poderoso. Ele segurou meus quadris firmes e
levantou sua bunda do chão para me foder por baixo. Minha respiração
tornou-se audível, saindo em suspiros ásperos que combinavam com cada
estocada. Com o pré-sêmen vazando da minha ponta para seu abdômen,
puxei meus dedos de sua bunda e virei o roteiro.
Eu me acomodei entre suas pernas, derramei lubrificante em meu pau e o
espalhei. — Foda-se. — O aperto firme de sua bunda agarrou cada
centímetro sensível do meu eixo até que eu cheguei ao fundo e fiquei imóvel.
— Foda-me com força, Devon. Foda-me com muita força. — Ele acariciou
seu pênis e puxou suas bolas para cima, dando-me a melhor visão.
Agarrando seus tornozelos como cabos de merda e segurando-os, eu dei a
ele exatamente o que pediu. O chão ardeu em meus joelhos, o ar queimou
meus pulmões e o suor queimou minha pele, mas puta merda, sua bunda
era incrível ao redor do meu pau.
— Ah, porra. Não pare. — Ele me agarrou, abrindo as pernas e me
puxando para baixo. Suas unhas afiadas arranharam minhas costas
dolorosamente, mas o prazer superou todo o resto. — Foda-me. Apenas.
Assim. — Ele abriu mais as pernas e me deixou usar meus quadris para
colocá-lo no ângulo certo.
Eu conhecia seu corpo. Eu sabia o que era bom, o que era incrível e o que
o faria gozar. Olhei diretamente para ele, raspando minhas unhas em seus
ombros e braços enquanto mantinha meus quadris em movimento. Quando
seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ele prendeu a
respiração, eu sabia que ele estava perto.
— Cubra-me ao gozar, Madd. Porra, você se sente bem.
— Devon — ele gritou, apertando pra caralho meu comprimento. Meu
abdômen esfregou contra seu pau, e seu esperma disparou entre nossos
corpos para pousar em seu peito e queixo.
Inclinei-me para lamber, compartilhando com ele enquanto ele
continuava a gemer lindamente. Ousado. Desequilibrado. Tão sexy. Eu não
pensei que seria capaz novamente tão cedo, mas quando o gosto de seu
sêmen encheu nossas bocas e ele gemeu por causa disso, meu pau latejou
profundamente dentro dele, enchendo-o.
— Eu não terminei — ele ofegou, tentando recuperar o fôlego. Continuei
balançando languidamente contra ele, trazendo-o de volta à terra. — Ainda
não terminei com você, Devon. Eu quero entrar na sua bunda e me encher
de seu esperma antes de dormir.
Eu o beijei, sugando seus lábios limpos. — Eu sei que seu tempo de
reinicialização não é tão rápido, Madd.
Seu peito arfava contra o meu, nossos corpos suados se esfregando
enquanto a adrenalina desaparecia para algo mais calmo. — Bem, seja lá o
que eu tenha usado é uma droga maravilhosa — ele riu, me empurrando
para trás. Eu puxei para fora e o ajudei a ficar de pé. Minhas pernas estavam
gelatinosas, então Maddox me empurrou para a cama. — Mm, minha vista
favorita — disse ele sobre minha barriga e bunda em exibição para ele.
Maddox me cobriu com seu corpo, seu pau deslizando facilmente dentro
de mim novamente. — Madd — eu grunhi. Talvez tenha gemido. — Você
precisa de uma pausa.
— Eu só quero ficar aqui por um minuto — ele sussurrou contra meu
pescoço, mordendo minha orelha. — Você não tem ideia do quanto eu queria
você esta noite — disse ele.
Eu sabia. Eu vi. Foi bom ouvir, no entanto. — Quanto?
— Tão forte que o pensamento de tirar meu pau da sua bunda por um
segundo me deixa malditamente selvagem. Tão forte que tive que beliscar
meu pau para não gozar em meu jeans na feira só de pensar em você. Tão
forte que já estou pronto para gozar de novo. — Ele balançou seus quadris,
seu pênis duro e grosso. — Você precisa de uma pausa? Você quer água ou
algo assim? — ele perguntou quando começou a me foder novamente.
O movimento de seu corpo fez meu pau esfregar contra a cama. Meu
corpo esquentou e meus quadris se inclinaram por conta própria, dando a
ele um melhor acesso.
— Diga, bebê.
Eu nunca me acostumaria com ele me chamando assim. Parecia especial,
destinado apenas a raras ocasiões ou algo assim. — Dizer o quê?
— Diga-me que posso te foder de novo.
Eu não estava drogado, então não tinha ideia de porque ou como meu
corpo estava ansioso para transar de novo, mas estava. Uma noite inteira de
sexo parecia assustador – exaustivamente assustador, mas eu não conseguia
pensar em mais nada que eu quisesse.
— Você pode me foder de novo — eu disse no cobertor. — Você pode me
foder quantas vezes quiser, Madd.
Eu gemi quando ele empurrou em mim. — Eu te amo pra caralho, Devon.
Eu sabia que ele amava. Eu era seriamente a pessoa viva mais sortuda.
11

-Maddox-
Minha bunda doía. Muito mesmo.
Não apenas minha bunda, também. Minhas pernas pareciam ter corrido
uma maratona, meu pau estava sensível, meus músculos abdominais doíam
e havia marcas de arranhões nas minhas costas e ombros. Ótima noite, no
entanto.
Devon não se moveu ao meu lado. Com o rosto para baixo e nu, ele tinha
suas próprias marcas de arranhão, seu cabelo estava uma bagunça e ele
babava por todo o braço. Sexy.
— Devon — eu sussurrei, sacudindo-o. — Merda, me desculpe. Você está
bem? — Acho que fiquei bastante turbulento ontem à noite.
Ele gemeu. — Foda-se.
Eu ri, mas doeu minha cabeça. — Precisa de alguma coisa?
— Que você saía e me deixe dormir — reclamou, nem mesmo abrindo os
olhos. — Você me manteve acordado até às seis da manhã.
Eu verifiquei o despertador ao lado da cama, notando que eram apenas
nove horas. Levantei-me, peguei um copo d'água para ele e o cobertor fino
do chão. Cobrindo-o e tentando aconchegá-lo, beijei seu cabelo.
— Amo você.
Ele só se moveu o suficiente para me mostrar o dedo. Eu sorri, fechando a
porta atrás de mim para dar a ele um pouco de paz e sossego merecidos. Bebi
três copos de água, fiz toda a rotina matinal e fiz o café.
O que realmente aconteceu ontem à noite? Quem me deu isso? Eu não era
do tipo experimental quando se tratava de drogas, e tudo o que bebi foram
alguns drinques e uma ou duas tragadas. Acho que se eu fosse me drogar
com alguma coisa, não seria tão ruim assim. Mas eu não conseguia imaginar
o que teria feito se Devon não tivesse aparecido. Provavelmente ainda estaria
me masturbando como um louco. De qualquer maneira, a noite pode ter sido
divertida, mas não gostei de não ter controle sobre mim mesmo. Eu não tinha
filtro e nenhum controle sobre meus impulsos, e não gostei do sentimento.
Foi ecstasy ou outra coisa?
A cafeteira apitou ao mesmo tempo em que alguém bateu na porta. Quem
viria tão cedo em um domingo?
— O quê? — Eu gritei, servindo-me de um café.
Xavi entrou, carregando um pote de doces da Gina de alguns lotes adiante.
Ela dirigia uma pequena padaria completamente ilegal em seu trailer, mas
suas guloseimas eram de morrer.
— Bom dia, raio de sol — Xavi riu.
Eu gemi, sabendo que ele só estaria aqui para me provocar. — O que você
quer?
— Esta é uma verificação de bem-estar para Devon. Preciso ter certeza de
que você não o matou com sexo ontem à noite.
Eu fingi uma risada e disse a ele para se foder.
Ele devia estar falando sério porque espiou pela porta do nosso quarto
para se certificar de que Devon estava respirando.
— Não está morto — eu confirmei. — Café?
— Sim. Eu trouxe isso. — Ele ergueu os doces da Gina. — Vamos
conversar. — Ele saiu pela porta da frente e sentou-se no deque. Perguntei-
me sobre o que ele queria conversar.
Coloquei um moletom, mas não me importei muito se eu parecia tão ruim
quanto me sentia. Eu estava exausto, mas meu corpo estava dolorido demais
para ficar na cama por mais tempo, então servi um café para ele e fui para a
frente, ignorando a bagunça em nossa cozinha. O sol já estava mais quente
do que eu poderia aguentar, então arrastei minha cadeira para a sombra e
me sentei.
— Como se sente? — Xavi perguntou, rindo da minha miséria.
— Como uma merda. — Tomei um gole de café e alisei meu cabelo com
os dedos. — Com ressaca, mas também meio mal-humorado.
— Nate disse que a ressaca do ecstasy pode ser meio deprimente, então
eu só queria checar.
— Bem, você não é um idiota atencioso?
— Sim, eu sou. Você tirou toda a foda do seu sistema? — ele riu de novo.
— Ugh, acho que meu pau está quebrado.
Xavi riu ainda mais. Ele riu tanto que teve que largar o café. Olhei para o
gramado, ignorando o prazer que ele teve em meu constrangimento.
Ele se controlou e pegou seu café. — O que diabos é foda alternada e por
que você queria tanto fazer isso?
Minha mão deu um tapa em meu rosto, tentando cobrir minha
humilhação. — Eu disse isso em voz alta?
— Umas cinco vezes — Xavi riu. — Você realmente queria isso. Então o
que é?
— Não me pergunte essa merda, Xav! Pesquise na internet como todo
mundo.
— Não me diga! Deus, você não estava tão tímido ontem à noite.
— Por que você se importa? Você é gay? — Eu estreitei meus olhos para
ele.
Ele apenas sorriu.
Mortificado. Conversas sobre sexo gay com meu irmão não eram para
mim. Ele pode ter feito eu me abrir sobre isso inicialmente e me falou sobre
algumas das minhas preocupações logísticas, mas agora essa parte acabou e
isso não precisava ser um tópico de conversa.
— Madd!
— Ugh, é quando dois caras fodem um ao outro.
— Como...
— Sim, assim — interrompi. — Sem ativo ou passivo estrito. Troca. Não
me faça elaborar.
— Sexy — Xavi disse, balançando a cabeça. — Então ele é ativo um pouco
e então você o vira e...
— Foda-se, Xavi.
Ele não pôde deixar de rir de novo. — Estou orgulhoso de você, Madd.
— Por quê?
— Porque. Quando aparecemos lá, você estava enlouquecendo. Pulou em
Devon no segundo em que o viu, e eu juro que você o teria fodido ali mesmo
na frente de todos.
Ainda bem que não fiz isso. Não importa o quão gostoso seu sonho fosse,
eu não tinha intenção de compartilhar a visão do meu homem.
— Você apenas percorreu um longo caminho, só isso. Jeff e Heidi
disseram que você só estava interessado em saber onde Devon estava. Você
ama aquele filho da puta de verdade, não é?
— Infelizmente — eu disse, sorrindo.
— Feliz por você. Mas tipo, você nem olha mais para ninguém?
Por que diabos estávamos tendo essa conversa? — É sobre isso que você
queria conversar? Jesus, Xavi. Conversas gays sobre sexo e depois o papo de
relacionamento? O que está acontecendo?
— Apenas me responda.
Meu Deus. — Não, eu não olho. Não é que eu não olharia, é só que
ninguém mais chama minha atenção como ele. Não apenas seu corpo, mas
como... — Patético. O que quer que eu estivesse prestes a dizer era patético.
— Deixa pra lá.
— Eu quero ouvir. Diz! Estou interessado.
— Por quê? — Eu o estudei.
— Eu te conto mais tarde. Apenas me explique.
Suspeito. Mas se ele quisesse ouvir, eu diria. — Ninguém nunca vai olhar
para mim com o mesmo nível de desafio que Devon, sabe? Às vezes, nem é
o corpo dele que me excita. É o jeito que ele diz alguma coisa, ou o jeito que
aperta o maxilar quando está com raiva de mim. A maneira como tenta e
falha em tantas coisas. É mais sobre o que ele expõe do que sobre sua
aparência. Isso faz sentido?
— Sim, mais ou menos.
Poderia muito bem continuar. — Eu costumava transar antes, certo? Eu
gostava da aparência disso, sentia tesão e investia nisso porque era uma
maneira de gozar. Isso não é um ataque para ninguém com quem eu estive
antes, mas não é o que eu gosto agora. Com Devon, todo o seu
comportamento fode comigo. Ele não apenas emite vibrações como se
estivesse pronto para foder. Ele me irrita, fode comigo, me desafia ou me
força a querer transar com ele. Um olhar dele e eu não tenho a chance de
simplesmente sucumbir a isso como costumava fazer com todo mundo. Ele...
me controla tanto que nem tenho escolha com ele. Não é apenas sexo, é como
se conectar com ele em todos os níveis. E eu não quero dizer isso no sentido
de besteira romântica, mas a energia combinada, o mesmo nível de desafio,
lutar até a morte.
Olhei para meu irmão, me sentindo um perdedor por admitir tudo aquilo.
Mas Xavi não parecia que ia tirar sarro de mim. Ele parecia estar absorvendo
tudo, tentando encaixá-lo com algo em sua vida. Espere o quê?
— Você encontrou isso com alguém? — Perguntei.
— Não exatamente, mas alguma coisa. Não sei. Ainda tentando descobrir.
— Ele parecia um pouco tímido.
— Olha, Xav — eu suspirei. — Se você tivesse me perguntado um ano e
meio atrás se é assim que eu me sentiria sobre aquele idiota lá dentro, eu
teria te matado por sugerir isso. Tudo o que sei é que sou grato por papai ter
me feito odiar Devon quando éramos crianças, porque tudo levou a isso. A
vida é uma bagunça e nem sempre é bonita, mas às vezes dá certo, correto?
— Sim — disse ele, sorrindo. — Falando em merda, papai está por aí.
— Ok, então estamos apenas deixando para lá esse comentário sobre você
talvez encontrar alguém? — Eu levantei uma sobrancelha.
— Sim, por enquanto — ele riu. — Vou te dizer quando eu descobrir.
Tomei um gole de café fresco. — Papai estava na casa da mamãe ontem à
noite antes de eu ir para a feira. Ela estava toda arrumada, e ele praticamente
me chamou de gay e depois me avisou que Jim estava farejando. Qual é o
problema dele?
Xavi recostou-se. — Não sei. Não confio nele, mas ele apareceu na loja
outra noite e me deu seu velho conjunto de ferramentas. Papai disse que eu
as usaria mais do que ele, e parecia real. Genuíno ou algo assim. Não é um
truque desta vez, mas fomos enganados muitas vezes para acreditar.
— Esta não é a primeira vez que ele tenta agir sóbrio apenas para tirar
algo de nós. Estamos velhos demais para essa merda agora.
— Sim, mas mamãe não está. Ela ainda ama sua bunda quebrada, mesmo
que também o odeie.
Verdade. Não importava quantos anos temos ou quantas vezes nossa mãe
cometeu erros bebendo, tomando muitos comprimidos ou deixando nosso
pai voltar, ela ainda era nossa mãe e sempre cuidaríamos dela. Era uma regra
fundamental de ser um filho, e nossa mãe embora seja uma burra inútil na
maioria das vezes, nunca fez nada para nos prejudicar intencionalmente.
Nosso pai fez, no entanto. Uma parte de mim queria culpar o vício. Eu
queria descartar seu comportamento como drogas e estresse e dizer a mim
mesmo que ele era uma pessoa melhor enquanto estava sóbrio. Mas quando
ele esteve sóbrio e limpo por tempo suficiente para que pudéssemos
realmente saber quem ele era? Nunca. Não em minhas memórias, pelo
menos.
— Ele parece…
— Sóbrio — disse Xavi, expressando meus pensamentos. — Não tenha
muitas esperanças ainda, no entanto. O que ele disse sobre Jim?
— Algo sobre ele estar no escritório do parque e perguntar sobre este lote.
— Terminei meu café e peguei um danish4 do recipiente.
— Se Jim aparecer aqui, eu mesmo o matarei — disse Xavi. — Ok, talvez
não, mas eu gostaria. Nate o está ignorando. Devon?
— Devon é um idiota que não consegue deixar para lá. Ele está seguindo
Jim, verificando-o enquanto mantém distância. — E eu odiava isso. Sim, era
vantajoso saber onde Jim estava e o que ele estava fazendo, mas eu não
gostava que Devon estivesse perto dele. Além disso, Devon era um molenga
e algo me dizia que ele se preocupava um pouco com seu pai.
— Bem, fique de olho nele. Não deixe que se machuque de novo —
alertou Xavi e eu balancei a cabeça, não precisando de conselhos sobre como
cuidar do meu namorado, obrigado. — Eles tiveram sorte com Mary sendo
capaz de acolher sua mãe assim. Se a filha dela não tivesse se mudado, ela
estaria morando conosco na loja. Portanto, não deixe Devon estragar tudo.
As coisas estão finalmente resolvidas.
Elas estavam? Jim saiu da prisão e pode não ter feito nada ainda, mas tinha
a sensação de que isso estava por vir. Ele guardava rancor como um filho da
puta e não era do tipo que deixava seus filhos vencê-lo, então, mais cedo ou
mais tarde, aquele velho bastardo voltaria para nossas vidas, e eu precisava
estar pronto para isso.
Então, eu disse a única coisa que eu realmente sentia. — Se alguém vai
foder com Devon, serei eu. — Dei outra mordida na massa, sentindo-me
melhor por ter algo no estômago.
Xavi riu, o tom da conversa mais leve. — Sim, ainda não estou convencido
de que você não o matou ontem à noite.
Eu gemi de vergonha, odiando o quão ridículo eu tinha sido ontem à noite.
Se eu fosse drogado assim de novo, esperava que não fosse sozinho. Dessa
forma, não seria o único fazendo papel de bobo. — Ele vai ficar bem.
— Foi aquele cara loiro com quem você trabalha, hein?

4 Massa folhada recheada com maçã e uva passa, coberto com fondant e amêndoas laminadas.
— O quê? — Eu suspirei. — Tom? Sem chance. Ele é tímido demais para
isso.
— Jeff acha que foi ele, mas não sei. — Xavi deu de ombros. Se foi Tom,
deve ter sido um acidente. Não, eu não podia acreditar porque não havia
nada que ele pudesse ganhar me drogando. Ele nem era gay.
Foi bom passar a manhã conversando com meu irmão. Não tínhamos
passado tanto tempo juntos ultimamente porque a vida gostava de
atrapalhar tudo. Nate apareceu algum tempo depois. Ele checou Devon
assim como meu irmão tinha feito, e começou a me interrogar sobre tudo
que eu disse ontem à noite.
Porra, eu explicaria a foda alternada de novo. Jesus.
Quando Devon finalmente acordou e caminhou como um zumbi até o
deque em um moletom, ele exigiu que eu fizesse um bule inteiro de café para
ele. Eu ri, levantei e tentei massagear seus músculos, mas ele me empurrou
e disse que eu estava proibido de tocá-lo por pelo menos 24 horas.
Algo agitado, mas confortável, aconteceu em meu peito. Eu não era de
fazer suposições, mas pensei que poderia ser uma felicidade genuína.
12

-Devon-
Meu pai estava tramando algo e eu não sabia como abordar isso sem
incomodar ou envolver Maddox. Ele ficou sombrio pra caralho, e quando eu
o peguei conversando com pessoas aleatórias pela cidade, no parque ou
perto da loja, sabia que algo estava acontecendo. Mas minhas suspeitas
realmente aumentaram quando o vi conversando com Gary. Gary era o
gerente do parque e eu não tinha ideia do que meu pai queria com ele, mas
não gostei.
Além de me preocupar com meu pai, eu tinha que lidar com Tom. O que
diabos aquela vadia estava aprontando? A parte não tão racional de mim
queria fazer essa pergunta com os punhos, mas a parte do novo namorado
responsável sabia que seria ruim para Maddox se eu fizesse uma cena em
seu trabalho. Eu lutaria com Tom, Maddox ficaria na merda por trazer
problemas para o local de trabalho, tentaria me nocautear e seria uma
confusão totalmente nova, então eu teria que pensar em uma maneira
diferente de confrontar Tom.
Ser maduro era uma droga. Tipo, não, obrigado.
Mas também havia a parte de sentir pena de mim mesmo que se
perguntava por que parecia que toda vez que nos reuníamos, algo vinha
espreitando nossas vidas para assombrá-la. Nossos pais estavam de volta
agora. Maddox não sabia qual era o problema de seu pai, mas havia pelo
menos uma pequena chance de que ele tivesse boas intenções. Meu pai, por
outro lado, não tinha um pingo de boa intenção em seu corpo. Ele estava
aqui para estragar minha vida, eu só não sabia como ainda. Ele disse a frase
'desculpe, vamos fazer as pazes' muitas vezes antes, e adivinhe onde isso me
levou? Esfaqueado, espancado, ensanguentado, derrubado e sofrendo.
Desta vez não seria diferente. Eu não estava com disposição para perdoar,
mas estava com disposição para ficar de olho naquele filho da puta traidor.
Foi por isso que atravessei a rua até um velho parque, cometendo um
grande erro pelo qual Maddox me mataria se descobrisse. Ninguém veio a
este parquinho porque não era conservado e, para ser honesto, era mais uma
armadilha mortal do que qualquer coisa. Nada além de uma fossa de
preservativos usados, seringas e metal enferrujado. Eu me odiei por fazer
isso, mas odiei ainda mais por ter feito isso em segredo. Mentir para Maddox
foi uma merda da minha parte, mas essa era a única maneira que eu conhecia
de protegê-lo. Mentir para meu irmão foi minha própria culpa, porque eu
sabia que ele me diria para não me encontrar com papai e me chamaria pelo
idiota que sou por sequer pensar nisso.
Eu posso até ser um idiota, mas eu não era estúpido. Jim estava vindo atrás
de nós por causa de alguma coisa, e se eu pudesse descobrir o que era e me
antecipar, seria a única maneira de proteger minha família e meu namorado.
Isso era mais importante para mim do que agir como um idiota.
A noite quase caíra, e qualquer luz que tentasse brilhar no parque era
bloqueada pela copa das folhas das árvores. Eu vi a brasa brilhante de um
cigarro e fui direto para ele. Queixo para cima, defesas intactas e raiva
fervendo sob a superfície da minha pele onde era mais útil para mim.
— Você veio — ele disse como forma de saudação.
— O que você quer? — Eu precisava ir direto ao ponto. Entrar e sair antes
que alguém venha me procurar.
— Como eu disse, só estou tentando fazer as pazes. — Ele inalou, nenhum
instinto paternal nele. Talvez ele nunca tenha tido um.
— Pare com essa merda. Nós dois sabemos que você não dá a mínima
para reparações, então me diga o que você quer e depois me deixe em paz.
— Você ficou corajoso — papai riu presunçosamente. — Você nunca teve
coragem de falar comigo assim antes.
Eu pensei em falar com ele assim antes, mas ele estava certo; Eu não tive
coragem porque a surra não teria valido a pena. Eu era um novo Devon
agora. Um Devon que tinha o poder de proteger as três pessoas mais
importantes da minha vida. Maddox. Mamãe. Nate. Eu tinha a coragem por
causa deles.
— Tenho algo acontecendo — disse papai, jogando a bituca do cigarro na
areia do parquinho. — E se tudo der certo, estarei fora de sua vida para
sempre. Fora de Garron. Sem condições.
Boa história. Isso nunca aconteceria. — Por que estou aqui então?
Continue com suas merdas e saia de Garron.
— Há algo que eu preciso. — Claro que havia. Sempre havia algo de que
ele precisava. Mesmo se eu não tivesse, ele precisaria de mim ou esperaria
que eu conseguisse.
— Dinheiro?
— Não. Bem, talvez uns cem dólares ou algo assim para colocar um
depósito no aluguel de um barco. O barco é a minha saída.
Deixar Garron quebraria sua liberdade condicional e o mandaria de volta
para a prisão, então eu pagaria cem dólares para ajudá-lo a quebrá-la. —
Então, o que mais?
— Eu preciso de um favor. Você se lembra de Patrick Harris?
O agiota com quem meu pai estava em dívida. O cara com quem ele fez
um acordo pelo barco roubado, e o que Maddox ameaçou para tirar eu e
Nate da prisão no ano passado. — O que tem ele?
— Ele tem algo meu e eu preciso de volta.
— Então pegue você mesmo. Eu não sou seu bandido.
— Não posso. Esse é o problema. Está no Garron Park — disse papai,
acendendo outro cigarro.
— Patrick Harris não mora em Garron Park. Ele é de Redding. Pare de
mentir para mim. — Impaciência e ceticismo arranhavam meus nervos,
dizendo-me para correr e nunca olhar para trás.
— Patrick escondeu em Garron Park. Gary o tem em seu escritório. Eles
são amigos ou algo assim. Estou tentando entrar, mas Gary não gosta de
mim.
Sem merda. — Imagino por quê? — Eu cruzei meus braços. — Você quer
que eu roube esta coisa do escritório de Gary?
— Eu não perguntaria se tivesse outra escolha. — Sim, ele perguntaria. —
Você vive lá. Você vai ao escritório dele para pagar o aluguel. Eu só preciso
que você bisbilhote um pouco, e se você encontrar, preciso que você pegue
para mim.
Nunca seria tão simples. — O que eu ganho com isso?
— Eu saindo da sua vida para sempre. Vou deixar você e Nate sozinhos,
nunca mais vou voltar e não mencionarei nada sobre o fato de que você
está... deixa pra lá.
— O fato de eu estar o quê?
— Fodendo aquele garoto Kane que você odiou toda a sua vida — ele
zombou. — Como diabos eu criei uma bicha?
Ele não criou uma bicha. Ele nem criou um filho. Ele não fez nada, mas
não valia a pena puxar aquela conversa com ele. Quanto antes ele saísse da
minha vida, melhor.
— Se eu fizer isso, você jura que vai embora para sempre? Você nunca vai
voltar, você não vai foder com Nate ou mamãe? Você não vai foder com
Maddox?
— Você tem minha palavra. — Sua palavra significava merda para mim.
— Mas só se você fizer isso. Se não, aquele seu lindo namorado…
Eu o mataria antes que ele colocasse a mão no meu lindo namorado. —
Quando?
— Assim que você encontrar essa coisa, eu vou embora. No mesmo dia.
Eu tenho um plano em prática. Só preciso da minha propriedade de Harris
e de um barco para sair daqui. Não há mais nada para mim aqui, garoto,
então quanto mais rápido você terminar isso, mais rápido eu vou embora.
Eu também iria embora em breve, porque assim que Nate ou Maddox
soubessem que concordei em fazer isso, eles me enterrariam mais do que
dois metros abaixo do solo. Mas quantas vezes Maddox tinha me salvado?
Era a minha vez agora, e eu não estragaria tudo. Eu tinha meus próprios
planos, e eles não tinham nada a ver com realmente ajudar meu pai.
— O que é? O que estou roubando?
Papai sorriu.

Maddox estava dormindo no sofá quando voltei para o lote 62. Seu joelho
dobrado descansava contra as almofadas do encosto, a outra perna esticada,
uma mão na barriga e a outra atrás da cabeça. Seu cabelo escuro parecia
úmido de um banho recente, e sua boxer preta estava frouxa em seus quadris
porque o elástico havia esticado com o tempo e o uso. Talvez eu compre
algumas novas para ele. Ele parecia ter se barbeado um pouco, mas não até
a pele. Eu disse a ele uma vez que o amava com um pouco de barba por fazer
e, desde então, ele manteve um pouco de barba. Combinava com seus cílios
escuros, sua energia escura e sua alma escura.
Mas a melhor parte de encontrá-lo dormindo no sofá? Ele confiava em
mim. Sabia que eu estava fora, mas não esperou preocupado por mim. Eu o
amava por isso e me odiava ainda mais. Detestava mentir para ele, mas até
que eu soubesse mais sobre onde este item que meu pai queria estava, eu
continuaria mentindo para ele para protegê-lo. Conhecendo Maddox, ele
entraria no escritório de Gary, roubaria a coisa e abasteceria o barco do meu
pai só para ter certeza de que ele realmente iria embora. Eu não queria que
ele sacrificasse sua liberdade pelos meus problemas desta vez. Eu faria o
trabalho sujo para tirar meu pai daqui e, algum dia, Madd entenderia.
Tirei meus sapatos e me sentei bem em cima dele. Fiquei confortável entre
suas pernas, coloquei todo o meu peso sobre ele e senti a vibração dele gemer
contra meu peito. Descansei minha bochecha lá, só para ter mais da
sensação.
— Foda-se, você é pesado — ele reclamou, passando o braço em volta das
minhas costas.
— Músculo pesa mais que gordura, cara. — Eu sorri contra seu peito.
Ele deslizou a mão pelas minhas costas e brincou com meu cabelo, me
fazendo tremer. Nenhum de nós disse nada, escolhendo aproveitar o
conforto do silêncio para que eu não tivesse que mentir para ele e ele não
tivesse que me incomodar. Eu o esmaguei. Ele brincou com meu cabelo.
Nossos corpos permaneceram conectados, e isso é tudo que importava. Eu
realmente queria contar a ele o que eu tinha feito, e queria falar a merda
sobre Tom, mas nada disso importava o suficiente. Principalmente, eu queria
perguntar a ele como ele estava. Como foi o dia dele.
Em vez disso, mantive minha boca fechada e o ouvi respirar.
Maddox limpou a garganta depois de um tempo. — Tem um morcego
trancado no banheiro.
— O quê? — Eu ri.
— Ele entrou. Ele estava voando por aqui todo louco e tal, então eu o
tranquei no banheiro e fechei a porta. Você pode lidar com isso.
— Você tem medo de morcegos? — Eu perguntei, rindo.
— Não, mas estou chateado com você — disse ele. — Por fazer o que você
fez esta noite. Então agora você tem que lidar com o morcego.
Merda. Eu me recusei a olhar para ele. Mantive minha bochecha em seu
peito, esperando prolongar a paz. — Eu só estava...
— Não minta para mim, Devon. Heidi disse que viu você no parque com
Jim, então me poupe de qualquer besteira que você ia me contar. Eu não sei
por que você fez isso, e você não precisa me dizer, mas se você vai ser
estúpido, pelo menos tome cuidado.
O instinto me disse para ficar na defensiva. Eu ignorei. Relaxei nele, ainda
com o rosto em seu peito e envolvi minhas mãos em torno dele, acalmando
minha respiração. — Ele diz que tem um plano para partir para sempre.
Estou tentando ficar alguns passos à frente dele para garantir que ele siga
em frente.
Maddox passou os dedos pelo meu cabelo. Com uma voz suave, ele disse:
— As coisas nunca são tão simples. Você sabe disso. Apenas tome cuidado e
pare de mentir para mim.
— Tudo bem — eu disse sem fazer uma promessa. Eu mentiria para ele
se acreditasse que isso o manteria seguro. — Eu te amo.
Acabamos de ter uma luta meia-boca sem realmente lutar?
— Te amo — disse ele. — Agora vá lidar com o morcego. — Ele me
empurrou e eu caí entre o sofá e a mesinha de centro. O observei do chão,
admirando a maneira como ele caminhou até o quarto. — Se apresse.
Estamos fodendo quando você terminar.
13

-Maddox-
Meu humor estava uma merda. A cafeteira quebrou esta manhã, o
trabalho se arrastou e eu não conseguia parar de me preocupar com o idiota
do Devon. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava
tramando algo, e não tinha dúvidas de que seu pai o induziu a isso. Fosse o
que fosse, era melhor ele tomar cuidado.
Devon era inteligente o suficiente para saber que seu pai era um risco, mas
também era heróico o suficiente para pensar que poderia salvar todos nós de
Jim. Ele faria o que fosse necessário para tirar Jim de nossas vidas, mesmo
que significasse fazer algo potencialmente perigoso e imprudente para
conseguir. Foi por isso que me vi querendo sair do trabalho e tirar um dia de
folga só para ter certeza de que Devon estava realmente na loja trabalhando
e não fazendo algo perigoso.
Maddox: Como está o trabalho?
Era melhor ele responder. Eu poderia rastrear o telefone dele? Eu gostaria
de ter algum tipo de conhecimento de tecnologia, mas não sei sobre tudo
isso. Nunca precisei saber.
Era o intervalo da tarde, então me sentei na traseira do caminhão de
trabalho, comendo um pacote de biscoitos com manteiga de amendoim
ainda mais seca entre eles. Eu precisava passar por mais duas horas de
trabalho antes de ir ver como ele estava, mas meu humor piorou
progressivamente com o passar do dia. Enviei uma mensagem para meu
irmão perguntando se Devon estava no trabalho, mas ele mal checava o
telefone que geralmente esquecia que possuía, então não prendi a respiração.
— Oi, Madd. — Tom se aproximou com uma expressão tímida no rosto.
Eu o observei sem dizer nada. Acho que o olhar em meu rosto basicamente
traiu minha pergunta porque ele começou a se explicar.
— Eu só queria contar o que realmente aconteceu na feira. — Ele se
encostou no caminhão. — Eu nunca quis que você tomasse essa bebida.
— O quê? Então você pretendia drogar outra pessoa?
— Não — ele suspirou. — Eu mesmo. Era para ser meu. Eu sou meio...
desajeitado, se você não percebeu. — Ele corou como um jovem tolo. —
Então às vezes tomo essa merda para sair da minha zona de conforto. Eu
estava misturando bebidas, coloquei em um copo e acho que os confundi.
Eu realmente sinto muito.
Meus olhos se arregalaram. — Um erro honesto?
Ele assentiu. — E eu nem percebi que tinha feito isso até que você estava...
drogado. A essa altura, era tarde demais para contar. Todo mundo estava
usando, então pensei que talvez você tivesse pegado de propósito, mas... não
sei, percebi que não quando ficou perguntando o que havia de errado com
você. Eu me senti tão culpado que disse a Jeff para ligar para Devon.
Desculpe.
Jesus. — O que era mesmo?
— Uma mistura de MDMA5. Mas acho que você pode ter tomado outra
coisa também, não sei. Eu não costumo ficar assim, então isso me fez pensar.
Eu fumei um baseado que foi oferecido por um dos amigos de Heidi,
talvez. Ótimo, então eu estava drogado com ecstasy/coca/maconha ou algo
assim. Eu não sabia nada sobre drogas, exceto que eu não as usava, então
não era como se eu pudesse dizer o que era. Tudo o que eu sabia era que isso
acabou com todas as minhas inibições e me deixou com tesão.

5 Ecstasy
Olhei para Tom. Ele estava nervoso pra caramba, e eu acreditei que era
um erro. Agora que eu sabia que ele só colocava algo em uma bebida para
se divertir, debati se era tudo culpa dele. Só eu mesmo para ser drogado duas
vezes na mesma noite. Tudo por minha própria estupidez. Pensei que Devon
deveria ser o idiota em nosso relacionamento.
— Sinto muito, ok? Sinceramente, não era minha intenção. — Ele olhou
para o chão.
— Está bem. É... nada de ruim aconteceu. Apenas tome mais cuidado com
essa merda.
— Eu vou.
— Além disso, você não precisa de drogas. Você está bem como está.
Ele corou novamente. — Devon vai me matar?
— Provavelmente — eu ri. — Ele vai pelo menos dar um soco em você.
Talvez queira ficar longe dele por um tempo. — Verdade honesta. Dei um
tapinha na porta traseira para convidá-lo a se sentar. Meus biscoitos tinham
gosto de merda, então dei para ele. Até fiz uma piada sobre eles não estarem
batizados. Cedo demais, talvez.
— Posso te perguntar uma coisa? — Tom perguntou.
Ugh, odiava quando as pessoas diziam isso. Nunca sabia o que estava por
vir e geralmente era péssimo em conversas. Eu balancei a cabeça.
— Como você, uh, sabia que era gay? — Ele estudou os biscoitos.
Ah, isso não foi tão ruim. — Eu não sei. Ainda não. Não faço ideia do que
sou. Devon apenas fodeu com a minha cabeça e me fez desejá-lo. — Dei de
ombros, sem saber como explicar melhor do que isso. — Nossa tensão
mudou — acrescentei, esperando que isso fosse esclarecido.
— E você apenas aceitou? Não te assustou nem nada?
Eu zombei. — Oh, isso me assustou pra caralho. Não tanto porque ele era
um cara, mas porque ele era Devon. Nós nos odiávamos, ou pelo menos
pensávamos que sim. Ele era o meu inimigo número um desde que éramos
crianças, e eu nunca tinha olhado para ele daquele jeito, então isso me
assustou um pouco. — Olhei para Tom, semicerrando os olhos. Ok, eu estava
muito longe de ser um modelo, mal conhecia minha própria sexualidade e
não era nada qualificado para ajudá-lo a determinar a dele, mas perguntei:
— Você é gay?
Suas bochechas coraram como a ponta de um cigarro e suas mãos se
atrapalharam com o pacote de biscoitos. Ser algo diferente de hétero não era
grande coisa hoje em dia, mas realmente não tinha lugar no mundo da
construção. Ainda havia um pouco de estigma em torno disso aqui, então eu
entendia sua hesitação.
— Eu... eu não sou... bem, você vê, eu... uh.
— Sim, eu entendo — eu ri. Basicamente senti o mesmo um ano e meio
atrás.
Devon Idiota: Bom. Ocupado. Sinto sua falta. Quer uma corrida de moto hoje à
noite?
Maddox: Claro. Que horas?
Devon Idiota: Estarei em casa às 6:00hrs. Comer e depois ir?
Maddox: Comer, chupar meu pau e depois ir.
Devon Idiota: Nós vamos correr. O vencedor ganha um boquete.
Eu sorri para o meu telefone e enviei-lhe um polegar para cima.
— Bem, se você precisar de alguém para conversar, eu sou uma péssima
opção, mas estou aqui. — Olhe para mim sendo todo solidário e merda,
conversando com o garoto que me drogou sobre um tópico de sexualidade
que eu não sabia nada. Acho que era basicamente um influenciador para
mudanças confusas na sexualidade.
— Obrigado. — Ele corou um pouco mais. Não era tão bonito quanto o
de Devon.
Uma hora depois, eu estava quase terminando o trabalho e meu telefone
tocou novamente.
Irmão Babaca: Nah. Ele saiu. Disse que tinha um compromisso no banco.
Puta que pariu, Devon.
Maldito seja ele por me fazer sair do trabalho mais cedo. A preocupação
não estava indo embora, então fui para casa ver como ele estava, mas ele não
estava lá. Saí do nosso lote, planejando ir até a loja perguntar a Nate onde
ele poderia estar, mas quando saí de Garron Park, notei a porcaria do
caminhão de Devon no Escritório do parque.
Que idiota. Isso era coisa de seu pai. Meu sangue queimava em minhas
veias, chateado com Devon por ser burro o suficiente para se envolver em
algo assim. Ele não devia estar no escritório, então eu sabia que ele estava
sendo superficial. Estacionei o caminhão e esperei, me perguntando se
deveria entrar lá e arrastá-lo para fora. O que quer que Jim quisesse, ele
poderia conseguir sozinho.
Tomei a decisão de me aproximar quando vi Gary caminhar até a porta da
frente. Eu pulei para fora do caminhão para executar a interferência, então
Devon não seria pego em flagrante fazendo... o que quer que ele estivesse
fazendo.
Felizmente, Gary foi parado por um morador ao entrar no prédio. Eles
ficaram parados do lado de dentro da porta, Gary sendo agredido
verbalmente porque o serviço de correio estava uma merda ultimamente, e
eu olhando em volta para encontrar meu namorado. Avistei Devon através
da janela de vidro do escritório de Gary, remexendo nas gavetas de sua
mesa.
— Gary! — Eu chamei quando ele se virou, indo para seu escritório.
Gary girou em minha direção. — Maddox? O que você está fazendo aqui?
— Suas costas ficaram para seu escritório, dando a Devon tempo para sair.
Devon olhou para cima, pego em flagrante, mas percebeu que eu o estava
ajudando. Eu chutaria a bunda dele por isso mais tarde.
— Ouvi dizer que há algum interesse externo em nosso lote — eu disse,
inventando algo na hora. — Apenas querendo saber se deveríamos estar
procurando outro lugar?
— Oh, não — disse Gary, acenando para mim. — Houve algum interesse,
uh, na trilha ao lado do seu lote. Não o lote real.
— A trilha? — Isso me interessou. Por quê? E se fosse Jim, por que diabos
ele se importaria com aquela trilha? Mantive Gary falando enquanto Devon
saía pela porta. Eu me virei, fazendo Gary virar comigo para que Devon
pudesse sair do prédio.
— Alguns moradores perguntaram se poderiam usá-la ou se era privado.
Eu disse a eles que poderiam usá-la se não acessassem do seu lote. Tudo
bem?
Eu balancei a cabeça. — Tudo bem. Obrigado. Vejo você por aí. — Eu saí.
O caminhão de Devon já havia saído, então pulei no meu e tentei me
acalmar durante a viagem de dois minutos pelo parque. Gary mentiu sobre
Jim ou meu pai estava errado sobre Jim perguntando do nosso lote. Por mais
estranho que fosse o sentimento, eu realmente confiava mais em meu pai do
que em Gary.
Vou matar Devon, no entanto.
14

-Devon-
Andei pelo trailer, imaginando como Maddox planejava me matar. Os
nervos subiram pela minha espinha e perturbaram meu estômago. Ser pego
não estava nos planos, mas agora que ele sabia, a culpa e a vergonha me
comiam vivo – parecia ser meu modo padrão ultimamente. Minhas mãos
tremiam e minhas palmas suavam, e não importava quantas vezes eu
andasse de um lado para o outro na sala, não conseguia me livrar da
sensação de que estávamos prestes a brigar. E não uma boa luta. Uma
daquelas que terminava com sentimentos feridos e agonia emocional.
E era tudo minha culpa.
A porta se abriu e um Maddox zangado, enojado e puto entrou com os
punhos cerrados.
— Você está brincando comigo agora, Devon?
— Madd, espere. — Eu levantei minhas mãos em defesa. Eu lutaria com
ele se fosse necessário, mas talvez eu pudesse despistá-lo primeiro. — Foi a
única vez que pude fazer isso sem a presença de Gary. Eu não tinha outra
escolha!
Ele zombou de mim, cansado da minha merda. — Você poderia ter me
contado, Devon. Você poderia ter pedido ajuda. Estou farto de você mentir
para mim sobre isso.
— Porque estou tentando manter você fora disso, Madd. Estou tentando
protegê-lo caso algo dê errado. — Eu precisava que ele entendesse isso.
Maddox baixou os punhos, mas seu nível de raiva só aumentou. — O que
você acabou de roubar? Algo completamente ilegal, presumo? — Ele deu um
passo para dentro e fechou a porta. — Então, diga-me como você está me
protegendo, colocando-se em risco? Explique isso para mim, idiota.
— Porque eu seria o único que cairia se a merda desse errado. Você não
teria nada a ver com isso! — Eu gritei com ele.
Ele balançou a cabeça em descrença, passando os dedos pelos cabelos
escuros. — Em que porra de mundo perder você me protege? — ele
perguntou, uma estranha calma em sua voz. — Se você cair, eu vou
enlouquecer tentando tirar você disso. O que você não entende?
— Eu entendo, Madd. Sim, mas esta é a única maneira de tirá-lo de nossas
vidas para sempre. Com ele longe, não teremos mais que nos preocupar com
ele vindo atrás de nós.
— Por que foi isso que ele disse? E a palavra dele é tão promissora, certo?
— Sua palavra não significa nada!
— Então por que você acredita que essa merda vale a pena? Por que você
está sendo o filho da puta dele se nem acredita nele? — Ele ergueu os braços.
— Para te proteger! — Eu gritei, lágrimas queimando os cantos dos meus
olhos e bile queimando minha garganta. — Você sabe quantas vezes você
me salvou? Agora é a minha vez, e esta é a única maneira que conheço.
Deixe-me fazer isso por você!
— Você não está me protegendo. Pare de ser estúpido sobre isso. Eu
apenas preciso de você. Não você na cadeia. Não você sob o controle de seu
pai. Só você. — Agora ele parecia à beira das lágrimas, o que fez as minhas
arderem ainda mais. — Não me faça perder você de novo, Devon.
Isso apunhalou meu coração. Eu andei até ele, colocando minha mão em
seu peito. Ele se irritou, mas não recuou. — Estou ganhando seu favor e sua
confiança porque estou tentando armar para ele. Eu não estou sendo
estúpido. Estou planejando. Você não vai me perder. Não vou deixar isso
acontecer.
Tínhamos quase a mesma altura, então seus olhos olharam diretamente
nos meus. Ele disse: — Eu te amo, Devon, mas você está cometendo um
grande erro. — Ele balançou a cabeça e passou por mim, fechando a porta
do banheiro. Quando o chuveiro foi ligado, uma lágrima escorreu pelo meu
rosto.
Bem, ele não tinha me deixado ou terminado comigo, então foi uma
vitória, mas eu sabia que estava pisando em gelo fino. Justamente quando
coloquei minhas prioridades em ordem com o gerenciamento de tempo,
estraguei tudo com outra coisa. Mas desta vez eu fiz isso por ele. Pelas razões
certas. Eu ficaria três passos à frente do meu pai. Agora que eu tinha o que
ele queria, tudo estava em movimento. Quando pulasse naquele barco para
sua grande fuga, ele estaria indo direto para as autoridades. Eu
simplesmente tinha que dizer a hora e o local.
Peguei a pasta roubada do balcão da cozinha. Milhões de dólares em
contrabando ilegal estavam chegando em um navio de transporte. Eu não
fazia ideia de como meu pai sabia disso, mas presumi que ele havia feito um
acordo com o capitão que sabia que o contrabando estaria em seu navio. Ou
isso, ou ele fodeu Patrick Harris para roubar este golpe. Se eu pudesse pegá-
lo com isso, ele ficaria preso para sempre. E para sempre era muito tempo.

Maddox mal falava comigo há uma semana. Ele ainda estava em casa - um
milagre em si - mas não era mais meu. Não agora. Ele me fazia dormir no
sofá, não passava muito tempo comigo e me fazia cuidar de mim mesmo
com as refeições e as necessidades. Ele estava chateado, e eu não podia culpá-
lo.
Enquanto ele me odiava por perto, eu me odiava por dentro. Eu não
poderia ter um policial do meu lado por causa de quem eu era. Um filho
desprezado e um canalha. Isso não me deu muito poder com as autoridades,
e o fato de eu ter um registro me tornou pouco confiável. Eu tinha todas as
provas, as guias de remessa, o envolvimento do meu pai e a identidade do
navio, mas a polícia de Garron não tinha nenhuma fé em alguém com o
sobrenome Sawyer.
— O que está errado agora? — Nate se sentou ao meu lado no cais onde
Maddox e eu fizemos sexo depois da última vez que ele pagou minha fiança.
Eu esperava que ele não tivesse que fazer isso de novo. — Você está
miserável, Dev.
Esfreguei meus olhos cansados. O sofá não era confortável, mas dormir
sem Maddox era ainda mais desconfortável. — Oh, eu estou estragando tudo
de novo.
— Bem, pare. — Nate me cutucou. — O que quer que seja claramente não
vale a pena, então pare.
— Vale a pena desta vez.
Nate fez uma careta. — É melhor você não estar traindo ele ou eu vou
chutar o seu traseiro.
— Eu não estou traindo ele. Jesus. — Olhei para Nate. — Estou tentando
protegê-lo, nos proteger, mas ele não concorda com isso. Então é
basicamente a guerra fria em nosso lugar agora. Estou dormindo no sofá e
ele está sombrio e mal-humorado.
— Por que você acha que ele precisa de proteção?
Porque nosso pai o ameaçou. A maneira como meu pai deixou aquela
ameaça escapar me assustou. Aquele homem me odiava o suficiente para
fazer algo com Maddox só para me machucar. Ele sabia onde acertar para
causar o maior impacto, e era Nate ou Maddox. — Se alguma coisa acontecer
comigo, apenas certifique-se de que ele não faça nada estúpido por mim.
— Do que você está falando? Você está me assustando. — Nate agarrou
meu braço. — Se isso tem algo a ver com o papai, é melhor você me contar.
— Nada em particular — eu menti. — Mas Maddox é um filho da puta
protetor, e a última vez que fomos presos, ele fez algo estúpido. Apenas me
prometa que, se acontecer de novo, você ajudará Xavi a mantê-lo sob
controle.
Nate olhou para mim com preocupação em seus olhos. Ele queria
perguntar detalhes, mas sabia que não obteria respostas. Ainda não. Não até
que eu tivesse que contar a ele. — Sim, tanto faz. Eu prometo, mas você sabe
que Madd não vai ficar na coleira se você estiver em apuros. Você sabe disso.
Eu sabia disso, e foi por isso que tinha que fazer o que deveria sem
problemas.
— Eu o amo, Nate. Porra, eu o amo.
— Eu sei.
Eu sorri para a água. — Eu nunca realmente agradeci por nos trancar na
pedreira naquela noite. Se não fosse por vocês, provavelmente ainda
estaríamos batendo um no outro apenas para aplacar nossos sentimentos.
Nate riu. — Vocês ainda fazem isso.
— Mas não todos os dias — eu ri. — Menos frequente agora. — Eu mal
podia esperar para voltar a isso. Precisava acabar com essa merda com meu
pai, deixar Maddox à vontade e ganhar sua confiança de volta com lutas e
brigas.
— O que quer que você esteja fazendo, Dev, apenas tome cuidado. Deixe-
me participar. Pare de fazer tudo sozinho.
Talvez. Eu deixaria Nate participar se fosse preciso, mas ele estava no topo
da minha lista de proteção, então preferiria que não.
Saí da loja com algumas das minhas memórias favoritas de Maddox em
mente, indo para meu caminhão. Chegou a hora de entregar ao meu pai os
documentos que roubei para ele. Eu tinha várias cópias deles escondidas por
todo o lugar, e até dei uma para o policial que meio que concordou em me
ouvir.
Hoje à noite, daria a ele os papéis e o dinheiro para o barco e torceria para
que contasse o resto de seu plano para que eu tivesse um pouco mais para
usar. Hora de me livrar do meu pai.
15

-Maddox-
Que tipo de destino cruel fez com que eu me apaixonasse por um idiota
tão egoísta, estúpido e irritante? Claro, eu entendia a lógica de Devon sobre
querer nos proteger de seu pai, mas como ele estava tão cego para o fato de
estar caindo em uma armadilha? Seu pai o estava manipulando, de novo, e
Devon caiu nessa, de novo, como o idiota que era.
Sim, eu o fiz dormir no sofá esperando que isso colocasse algum juízo nele,
e eu o estava ignorando principalmente, mas isso não significava que eu não
estava de olho nele. Tentei ficar alguns passos à frente, e se Jim tentasse
incriminar Devon por algo novamente, eu teria provas do paradeiro de
Devon. Tom me ensinou como rastrear o telefone de Devon, então mesmo
que não fosse uma evidência concreta, pelo menos eu tinha um mapa com
carimbo de data e hora de onde ele estava o tempo todo. Sem falar na
tranquilidade que me deu.
Eu não sabia se algo disso importaria no final, mas protegê-lo enquanto
dava a ele o tratamento do silêncio tinha se tornado exaustivo. Devon tinha
dado a ele os documentos, entretanto, e Jim tinha prometido partir em três
dias, então imaginei que veríamos se ele seguiria em frente para que eu
pudesse voltar a amar meu idiota.
Mesmo que meu humor estivesse péssimo, era sexta-feira à noite e eu
tinha ido à casa da minha mãe para o nosso jantar regular. Xavi se sentou ao
meu lado e, apesar de eu não gostar, papai se sentou na cabeceira da mesa.
Sentar à mesa com toda a minha família parecia estranho pra caralho; Eu
nem conseguia me lembrar de uma época em que isso aconteceu. Não tinha
crescido em um tipo de casa para jantar em família.
A refeição tinha sido mais uma caçarola terrível feita por mamãe. Esta
incluía um monte de diferentes coisas enlatadas misturadas com um pouco
de queijo, mas não era tão ruim quanto o espaguete de atum.
Xavi passou o jantar protegendo a mamãe, dando respostas ásperas ao
nosso pai em todas as perguntas que ele fazia. Eu continuei com a minha
típica besteira de uma palavra e ele não me pressionou por mais. Meus olhos
vagaram para o teto manchado de água, para o tapete manchado de vinho e
para as portas do quarto que mal seguravam suas dobradiças. Este lugar era
um risco de segurança, mas já existia há anos. Olhar para tudo isso foi mais
fácil do que ver a esperança nos olhos da minha mãe e o lugar onde meu pai
estava sentado à mesa. Não sabia o que fazer com nada disso, então pensei
em Devon e em todas as maneiras de protegê-lo de si mesmo.
Xavi ajudou mamãe a limpar e meu pai não percebeu que eu queria ficar
sozinho quando ele me seguiu para fora. Acendi um dos cigarros de mamãe
e o ignorei o melhor que pude.
— O que está acontecendo com você? — ele perguntou.
— O que faz você pensar que tem o direito de me perguntar isso?
— Maddox.
— Nada. Apenas caia fora. Eu nem sei por que você está aqui. — Eu inalei,
notando que a nicotina não queimava tanto quanto as palavras que eu
reprimi.
Papai suspirou. — Eu sei que você não tem nenhum motivo para confiar
em mim, ou mesmo gostar de mim, mas você ainda é meu filho.
Eu bufei. — Fui seu filho toda a minha vida. O que mudou desta vez?
Papai jogou uma medalha entre os dedos e a estendeu para mim. — Estou
noventa dias sóbrio. Limpo. Foi isso que mudou.
Olhei para a medalha de sobriedade, me perguntando se ele a havia
roubado de algum lugar só para me enganar. Mas vê-lo ultimamente,
perceber que ele parecia mais saudável, mais animado e melhor em geral,
fez com que alguma emoção indesejada obstruísse minhas vias respiratórias.
Eu a empurrei para trás com fumaça. Noventa dias? Uau, eu não achava que
ele já tinha feito isso por tanto tempo.
— Eu sei que você não vai acreditar só por causa disso. — Ele ergueu a
medalha. — Então, se você quiser uma prova, pode conhecer meu padrinho
ou ir a uma reunião comigo no centro comunitário.
— Eu não me importo o suficiente para precisar de provas. — Olhei para
o trailer do outro lado da rua, sabendo que era mentira, mas incapaz de
retirar.
— Certo — papai disse, derrotado. — Bem, esta é a primeira vez na sua
vida que eu sou... eu. Então, enquanto durar, quero estar aqui para você da
maneira que puder. Eu sei que você não precisa de mim, mas eu... eu preciso
de você.
Ignorando a última parte, perguntei: — Enquanto durar?
— Só no caso de eu não…
— Você não pode pensar nisso assim. Assumindo o fracasso. — Eu não
estava qualificado para dar esse conselho, mas saiu da minha boca de
qualquer maneira.
— Eu não estou. Eu sei. Eu só... eu sei que você não confia em mim, então
estou tentando parecer pouco confiável como você espera que eu seja — ele
riu um pouco. — Definindo a expectativa baixa ou algo assim. Uma parte do
programa é fazer reparações, então é por isso que tenho estado tanto aqui
ultimamente. Estou tentando fazer a coisa certa, mesmo que você não me
queira por perto.
Pateticamente, eu o queria por perto. Esta versão dele. Um pai com quem
eu poderia conversar, contar e confiar, mas ele nunca foi essa pessoa para
mim. Essa pessoa sempre foi meu irmão, e meu pai sempre foi uma ameaça.
Eu não poderia ligar esse interruptor muito rápido.
— Mas aceite isso de alguém que conhece problemas, Madd. Algo está
acontecendo com você e estou aqui para trocar ideias, se precisar. — Ele
embolsou a medalha e recostou-se em sua cadeira de jardim, sem me
pressionar para falar.
Sentei-me em silêncio por mais tempo do que era socialmente aceitável,
mas nunca deixei que as dicas sociais me influenciassem antes, e não estava
prestes a começar agora. Talvez ele tivesse uma nova perspectiva que
pudesse ajudar minha situação. Talvez. Valeria a pena experimentar.
— Como posso proteger alguém de cavar sua própria sepultura quando
não quer ouvir a razão? Como faço para mantê-lo longe de problemas legais?
— Registros. Prova — papai disse. — Depende do que a pessoa está
fazendo. Ele fez alguma coisa? — ele perguntou, sabendo que eu falava de
Devon.
— Ele fez, mas não assim. Ele está tentando me proteger de... — Porra,
apenas admita a verdade. — Jim está de volta, e Devon está executando suas
tarefas na premissa de que Jim manterá sua promessa e desaparecerá para
sempre. Ele está fazendo coisas obscuras para me proteger, mas não confio
em seu pai, e sei que isso de alguma forma vai ligar Devon. Ou Nate.
— Jim é um canalha viscoso — papai disse, balançando a cabeça. —
Nunca conheci um homem mais egoísta. Devon não é assim?
Oh, ele era egoísta, mas sem intenções cruéis. — Não.
Papai limpou a garganta. — Você ama esse cara? Esse cara que você
costumava odiar?
— Eu o odiei porque você me disse para odiar.
— Porque eu odiava Jim. Xav nunca ouviu, mas você mordeu a isca com
bastante facilidade — ele riu. — Mas você o ama agora?
Eu não queria falar sobre meus sentimentos por Devon com um pai que
não tinha sido gentil comigo sobre namorar um cara. Tinha sido ele ou as
drogas? — Mais do que tudo.
— E ele não vai parar o que quer que esteja fazendo?
— Não, a menos que eu o tranque.
— Bem, Deus sabe que cometi uma tonelada de erros na vida, mas se eu
tivesse que dar algum conselho, seria deixar Devon fazer o que quer. Se você
não pode parar o herói, pare o vilão, sabe?
— Como?
— Se sua principal preocupação é que Jim vá incriminar Devon, então
incrimine Jim.
Lógico, mas eu era inteligente o suficiente para fazer isso? Minha maior
conquista na vida foi namorar um idiota e ser um trabalhador braçal. Não
tinha exatamente grandes esperanças para mim.
— Como? — Eu perguntei novamente.
Papai sorriu. — Aquele pedaço de merda tem tantos esqueletos em seu
armário, é como procurar uma agulha em uma pilha de agulhas. Escolha um
e explore-o ao máximo.
Escolha um.
Primeiro passo para proteger Devon de sua própria idiotice.

Depois que meu pai foi para casa, onde diabos ele ficava ultimamente,
passei uma noite decente com Xavi e minha mãe. Foi bom. Importante. Uma
noite de cura ou algo assim.
Quando cheguei em casa, já passava das onze e eu nem sabia se Devon
estaria lá. Eu propositadamente não o convidei para jantar porque precisava
parar de apertar minha mandíbula toda vez que olhava para ele, mas a essa
altura, eu só precisava vê-lo.
Abri a porta do nosso trailer e Devon se levantou do sofá. Ele me encarou
com dor nos olhos e relutância no corpo, sem saber se poderia me tocar ou
não. Ansiávamos um pelo outro, mas a teimosia e a vontade de vencer
sempre nos impediam de conseguir o que queríamos.
Devon deu a volta no sofá, os olhos nos meus, perguntas na ponta da
língua. Ele parou alguns metros à minha frente e abriu a boca. Ele fechou.
Com um suspiro, ele diminuiu a distância entre nós, preparou-se para um
soco e me abraçou.
Minha pele ganhou vida e meu sangue fluiu mais livremente. Meu humor
se estabilizou e meu nível de energia se igualou. Porra, isso era bom.
Descansei minha têmpora contra seu cabelo e me dei permissão para
envolver meus braços em torno dele. Há quanto tempo eu precisava disso?
Por quanto tempo eu fui metade de mim porque neguei seu toque? Eu estava
com raiva dele, sim, mas eu ainda o amava. A raiva não importava em um
momento como este.
Eu o cheirei e o abracei com força, sentindo seu batimento cardíaco contra
o meu e sua respiração soprando em meu pescoço. Segurá-lo parecia tão
natural quanto lutar com ele hoje em dia, e eu sentia falta de ambos. Eu
precisava deixar essa merda de lado para me endireitar novamente. Para
torná-lo certo novamente. Seu peito vibrou com uma expiração trêmula, me
fazendo abraçá-lo mais apertado. Sua garganta fez um som estranho e juro
que se ele chorasse, eu o nocautearia por me fazer chorar. Eu ainda precisava
ficar com raiva dele um pouco mais. Passei meus dedos por seu cabelo e
afundei em seu abraço.
— Eu te amo — ele sussurrou.
— Eu te amo — eu sussurrei de volta.
Porque isso nunca mudaria. Não importava o quanto brigássemos ou de
quantas maneiras diferentes estragássemos nosso relacionamento, o amor
sempre seria mais forte do que as besteiras.
Eu me afastei e quase quebrei quando vi as lágrimas brilhando. Segurei os
lados de seu rosto, passando meus polegares em suas bochechas, me
apaixonando por ele novamente. O azul de seus olhos continha a desculpa
que seus lábios eram obstinados demais para falar, e os brancos injetados de
sangue continham a culpa que ele claramente sentia. Eu sabia que ele estava
arrependido, mas também sabia que não era o suficiente para detê-lo. Me
inclinei para frente e o beijei levemente, não demorando muito.
— Vamos para a cama — eu disse, passando minhas mãos por seus braços
até que eu segurei sua mão.
— Juntos? — ele perguntou.
Eu o puxei comigo como resposta. A respiração emocionalmente sufocada
que ele soltou soou como uma luta contra o choro, então eu reprimi minhas
emoções com força e o levei para a cama comigo. Nos despimos em silêncio
e, como era ele quem se sentia culpado, engoli meu orgulho e puxei suas
costas contra o meu corpo, abraçando-o e, com sorte, nunca o soltando. Não
por esta noite.
16

-Devon-
Eu tinha grandes esperanças. Hoje era o dia em que tudo mudaria. Meu
plano estava no lugar, as armadilhas armadas e os policiais a bordo - a
liberdade do meu pai estava prestes a chegar ao fim. Ao meio-dia, minha
luta com Maddox valeria a pena porque hoje era o dia em que eu removeria
a ameaça à vida dele.
Maddox dormia profundamente. Senti a expansão profunda e lenta de seu
peito contra minhas costas, então aproveitei para rolar e admirá-lo. Girando
em seus braços sem acordá-lo, afastei seu cabelo escuro bagunçado de sua
testa para apreciar sua pele ou algo assim. O quê? Mesmo sua maldita pele
era bonita para mim?
Foda-se. Ele era lindo. Nada na minha vida era tão bonito quanto Maddox.
Não esta cama, o trailer ou o lote que trabalhamos tanto para conseguir. Não
a loja, os caminhões, nossas motos de motocross ou qualquer outra coisa que
possuímos e da qual nos orgulhamos. Eu poderia perder tudo e mal piscar,
mas se eu perdesse Maddox, eu sumiria da existência. Sabia que tinha
estragado tudo ultimamente, mas esperava que ele entendesse quando tudo
terminasse hoje. Papai iria embora para sempre, e Maddox seria meu para
sempre. Para lutar, foder, amar e talvez até casar se ele me perdoasse. Eu
passaria a eternidade compensando-o se fosse preciso.
Eu me inclinei para frente e o beijei, sussurrando adorações contra sua pele
que eu esperava que ele ouvisse, mas ele não reagiu. Eu gostava de ser doce,
mas às vezes isso também me incomodava. — Eu te amo, Maddox Kane.
Tanto que dói. Tanto que me deixa estúpido. — Eu o cheirei por um longo
momento e então saí da cama.
Coloquei minhas melhores botas de merda, me envolvi em confiança e
respirei fundo. Aqui vamos nós, porra.

Um mísero policial? Isso foi tudo que eles me enviaram? Esse idiota não
era um policial que eu reconhecia, e pela aparência dele, ele era jovem,
inexperiente, e provavelmente só apareceu porque a tarefa havia sido dada
a ele. A polícia de Garron pensou que eu estava mentindo, enganando-os,
fazendo algo que não valia a pena. Ser filho de Jim Sawyer não me dava
crédito suficiente para dar à polícia provas de um crime real. Eles alegaram
que eu queria pegar meu pai pelo que ele fez comigo e com Nate no ano
passado. A reputação ataca novamente. Até parece que Devon, o canalha
Sawyer, realmente queria fazer algo bom.
— Há um barco lá fora esperando por ele — disse-me o policial Davis. —
Se ele tiver algo ilegal a bordo, poderemos prendê-lo.
Eu balancei minha cabeça em pânico. O plano estava fodido. — Ele não
tem nada ilegal ainda! Eu disse isso a vocês. Você deve rastreá-lo até o navio
de transporte e emboscá-lo. Jesus, porra, Cristo. — Esfreguei os olhos, me
perguntando se mais alguma coisa poderia dar errado hoje.
Davis segurou o cabo da arma em seu coldre, quase parecendo inseguro
sobre como carregá-la. — Bem, se ele tem os documentos de remessa com
ele, então podemos pelo menos prendê-lo por intenção ou algo assim.
Ou algo assim? Esse cara era real? Não tive a chance de reavaliar o plano
ou fazer algo novo porque o carro surrado do meu pai estacionou na rampa
de atracação vazia. Ele pulou com uma mochila enquanto Davis saiu de
vista, se escondendo na linha das árvores. Ignorei o novato e me movi para
encontrar meu pai.
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, sem parar seus passos
em direção ao barco.
— Certificando-se de que você realmente vai embora — respondi,
seguindo-o. — Eu quero ver você sair.
— Um pirralho tão ingrato — papai bufou.
Tão ingrato que roubei as guias de remessa para ele, dei-lhe dinheiro para
alugar o barco e garanti que tivesse uma fuga tranquila. Mas sim, eu podia
ver como isso me tornava um pirralho ingrato. Abstive-me de revirar os
olhos, observando-o jogar sua mochila no pequeno barco a motor em que
partiria.
— Acho que é isso, garoto — disse ele. — Bom te conhecer.
Desamarrei as cordas do cais. — Nunca volte.
— Este lugar suga a vida de você. Seria melhor você sair enquanto ainda
pode. — Ele ligou o barco e eu joguei as cordas a bordo.
Tentei não demonstrar meu nervosismo, esperando que qualquer barco
que estivesse esperando por ele fosse suficiente para prendê-lo por quebrar
a liberdade condicional. Ou intencional, como disse o oficial babaca. De
qualquer maneira, pelo menos era alguma coisa e o tiraria da minha vida.
Eu não sentiria falta dele, não choraria por ele ou me arrependeria da decisão
de ajudá-lo a partir. Quando ele se afastou do cais, nada além de alívio e
liberdade se entrelaçaram através de mim.
— Ei menino! — Papai gritou acima do som do motor. — Você tem que
aprender em quem confiar! — O sorriso em seu rosto estava distante, mas
revirou meu estômago. O pavor se instalou.
— Não se mexa!
Eu virei. Davis tinha aquela arma do quadril apontada direto para o meu
peito. O som da risada do meu pai desapareceu com o vento, as folhas
farfalhando nas árvores da praia enquanto eu olhava para o cano de uma
arma. O pavor me deixou gelado e suado, mas a vergonha afundou em
minhas entranhas. Claro que eu seria traído. Quem diabos eu pensei que era?
Eu era Devon Sawyer, o cara que estragava tudo o que via, e com aquela
arma brilhando diante dos meus olhos, eu sabia que esse era o maior erro da
minha vida.
— Vamos — disse Davis, apontando para a praia.
Minhas pernas quase falharam, tremendo tanto que mal deram um passo
à frente. O medo genuíno me consumia, e eu odiava admitir que minha
mente não estava trabalhando rápido o suficiente através do terror para
bolar uma estratégia de saída. Com sua arma apontada para mim, passei por
ele enquanto tremia. Ele me empurrou por trás e pressionou a arma na
minha espinha, conduzindo-me para baixo do cais e de volta para a linha
das árvores. Através do meu medo, uma amiga familiar me cumprimentou.
Raiva. Furioso pra caralho e cansado de ser sempre o perdedor na minha
vida, eu queimei por dentro, mas não sabia como usar isso a meu favor. O
constrangimento interrompeu minha raiva, lembrando-me de que, mais
uma vez, todo mundo estava certo. Maddox estava certo. Nate estava certo.
Eu fiz algo estúpido. Tentei ser o herói quando não tinha direito ao papel.
Porra… Maddox.
Dependendo de como isso acontecesse, eu nunca mais o veria. Isso doeu
mais. Eu estraguei tanto que partiria o coração de Maddox. Em vez de
protegê-lo, eu falhei com ele. Arruinei-o. Ele sofreria mais por minha causa
do que jamais sofreria por causa de meu pai. Por isso, eu merecia a bala na
câmara, mas Maddox não merecia a dor e o sofrimento que isso causaria a
ele. Nate não merecia sofrer.
Tudo passou pela minha mente, zombando de mim por tudo que eu
poderia ter, mas nunca teria. Eu costumava pensar que o carma era uma
merda, e esse destino me levou a um caminho de vida que não tinha
esperança. Eu estava errado. Eu era o carma. Eu era o destino. Coloquei em
movimento a espiral descendente do meu próprio caminho na vida e, mais
uma vez, não tinha mais ninguém para culpar além de mim mesmo.
O cascalho estalou sob meus pés e o farfalhar das folhas ficou mais alto.
Davis me empurrou para a borda da floresta, parando-me onde planejava
me matar.
— Por que você está ajudando-o? — Eu encontrei minha voz. — O que ele
poderia oferecer a você como pagamento?
— Mais do que você jamais poderia, então nem tente negociar. — Ele me
empurrou e eu caí de joelhos. Me levantei imediatamente, porque se fosse
aqui que eu encontraria a morte, eu o faria de pé e de frente para ele. Então,
eu me virei.
— Você deveria me matar?
Davis olhou ao redor, mas assentiu. Não parecia que ele estava feliz em
ser meu carrasco, mas também não parecia comprometido moralmente o
suficiente para me deixar ir. Ele tinha um trabalho a fazer e o faria. O olhar
inseguro em seus olhos era a única coisa que eu poderia explorar. Eu tinha
que tentar.
— Você não tem que fazer isso. Eu irei embora. Desaparecerei para
sempre e nunca mais voltarei. Jim nunca saberá. — Eu tentaria qualquer
coisa neste momento.
Maddox. Meu coração doeu quando imaginei a dor em seus olhos. Eu
inalei pelo nariz, evitando as lágrimas por uma tragédia que eu ainda
poderia evitar.
— Jim me disse que você diria isso — disse Davis. — Não adianta atrasar
essa coisa. — Ele destravou a trava de segurança.
Não fechei os olhos, mas eles ficaram turvos com as lágrimas. Lágrimas
pela vida que Maddox viveria depois de mim. Lágrimas pelo ódio que ele
jogaria em mim e pela raiva do tipo 'eu avisei' que ele teria que conviver.
Lágrimas por ele esperando em casa todas as noites, sozinho, sabendo que
eu nunca mais apareceria. Ele merecia muito mais do que eu.
— Eu te amo, Madd — sussurrei ao vento.
Maddox foi o verdadeiro herói da nossa história. Eu não era nada além do
Coringa.
Eu pisquei.
17

-Devon-
A arma disparou. A floresta se inclinou quando eu caí. A dor surgiu em
meu ombro quando bati no chão, mas não era aguda como uma bala. A
realidade se transformou em ilusões e os sonhos se transformaram em
pesadelos. Talvez os pesadelos se transformaram em sonhos. Eu não sabia
mais.
— Devon!
Eu pisquei. Pisquei novamente. Sufoquei sob um grande peso e pisquei
uma terceira vez. A vida acontecia em câmera lenta - talvez fosse a morte.
Um cobertor de peso corporal me esmagou protetoramente e, na quarta
piscada, a corporeidade me agrediu.
— Fique abaixado, Devon.
Maddox.
Eu freneticamente me sentei enquanto ele estava na minha frente. Ele veio.
Ele estava aqui. Ele me salvou novamente, empurrando-me para fora do
caminho; a bala nunca me atingiu.
Tentei me levantar, mas Maddox me empurrou de volta e me virei para
Davis. E foi aí que o segundo eco da arma destruiu meus ouvidos e arrancou
meu coração do peito. Seu corpo bloqueou o meu e seu grito de agonia fez
meu cabelo se arrepiar. Ele caiu para trás, aterrissando em cima de mim em
agonia, todo o seu peso me esmagando. Eu gritei mais alto do que ele.
Nate e Xavi gritaram em algum lugar distante, e uma terceira voz
masculina soou também, mas a respiração áspera de Maddox tornou-se o
ponto focal da minha existência. Ele respirou. Ele ainda está respirando.
— Maddox! — Sacudi-o, enlouquecido de desespero. — Maddox, levante-
se! — Eu o empurrei de cima de mim e o joguei no chão. — Madd!
Sangue se acumulou em seu abdômen e sua respiração ficou ofegante.
Não. Não não não não não. Minhas mãos ficaram dormentes e meu peito ficou
apertado, mas levantei sua camisa em um atordoamento concentrado de
atenção alerta para nada além dele. Suas mãos agarraram seu estômago, sua
pele brilhando carmesim.
— Maddox, por favor, acorde! — Eu dei um tapa na cara dele. — Por
favor! — Eu pressionei minhas mãos na ferida, tentando impedir que o
sangue deixasse seu corpo. Tentando mantê-lo dentro. Tentando mantê-lo
vivo. Tentando não morrer com ele. — Maddox! Acorde! Acorde! Por favor!
Alguém!
Não. Não. Não. Eu não poderia perdê-lo. Eu não poderia ser a causa de
sua morte. Eu não poderia falhar com ele tão malditamente! Eu tremia, ou
talvez ele tremesse, mas de qualquer forma, minha respiração gaguejou
tanto quanto a dele, e minhas mãos pressionaram com tanta força seu
ferimento que provavelmente afundaram em sua pele. Não me deixe, bebê. Não
vá embora.
— De onde vem o sangramento? — Seth, o pai de Madd, deslizou para o
chão do outro lado. — Mova suas mãos para que eu possa ver. Devon, mova
suas mãos.
Meus dentes batiam e a baba se misturava com as lágrimas. — Não posso.
Não posso. Não posso ou ele morrerá. — O pânico tomou conta de mim, mas
a dor venceu. — Maddox, por favor, acorde. Eu não posso perder você! Por
favor, não morra. Não vá embora por minha causa. Não vá a lugar nenhum.
Por favor. Por favor. Por favor. Eu te amo. Eu preciso de você. — Eu não
conseguia olhar para o rosto dele. E se não houvesse nada lá? Eu não
conseguia olhar para isso. Eu não podia. Em vez disso, observei seu sangue
escorrer por entre meus dedos, tentando jogar Tetris6 com seu corpo.
— Devon, você tem que mover suas mãos para que eu possa ver. — Seth
afastou meus dedos. — Segure a mão dele. Tente acordá-lo.
Segurei sua mão com tanta força que provavelmente a quebrei. Por
qualquer coisa que valesse a pena, eu seria sua tábua de salvação para esta
vida de merda que construímos juntos, segurando-o porque me recusava a
deixá-lo ir. Eu me recusava a deixá-lo morrer me protegendo. Eu me
recusava a acreditar que ele não sobreviveria a isso. — Abra os olhos, Madd.
Por favor. Apenas acorde e olhe para mim para que eu possa dizer o quanto
você estava certo. Você pode me dizer que você me avisou e você pode me
dar uma surra por estragar tudo de novo. Por favor, apenas olhe para mim
com raiva ou algo assim. Qualquer coisa. Ódio. Eu aceito o ódio.
Baba borbulhava de meus lábios implorantes, lágrimas misturadas com
ranho e o coquetel molotov que eles prepararam pingou meu desgosto em
seu rosto. Meu corpo se livrou de todas as coisas que eu não merecia, assim
como o corpo de Maddox se livrou do sangue que ele merecia mais do que
tudo. Eu não era digno do meu sangue. Aquela bala era para mim. Eu
deveria ter sido o único sangrando no chão.
— A ambulância está a caminho. — Nate deslizou para o meu lado. —
Davis está nocauteado e amarrado. Foda-se, Xavi!
Xavi se ajoelhou na cabeça de Madd, segurando suas bochechas e
sacudindo-o. Assisti a tudo, me perguntando como tanta dor poderia estar
presente em um único momento. Como poderíamos sobreviver a isso. Como
uma única bala poderia causar isso. Eu nunca tinha rezado antes e não sabia
como, mas ofereci minha alma, meu coração, minha vida, minha servidão e
minha submissão a qualquer demônio ou divindade que ouvisse se eles
apenas mantivessem Maddox vivo.

6 Tetris
é um famoso jogo eletrônico do gênero quebra-cabeça onde o objetivo é encaixar todas as peças para
que não sobre nenhuma fora.
— Vamos, seu desgraçado — implorou Xavi. — Você é Maddox Kane.
Uma porra de bala não vai acabar com você.
Eu fiz isso com ele. Fui eu. E agora eu lutaria por sua vida em nome dele.
Pressionei meu ouvido em seu peito, ouvindo sinais de vida enquanto
Seth trabalhava para fechar o ferimento de bala. Fechei os olhos, hiper focado
nos sons do coração que me amava. Eu esperava, ouvia, rezava e implorava
por um batimento cardíaco.
Buh-dum.
— Oh meu Deus! Ele tem um batimento cardíaco! — Eu gemi de alívio.
— Maddox, abra os olhos. Olhe para mim! Olhe para mim, Madd.
O peito de Maddox subiu e seus olhos mal se abriram. Ele tossiu sangue e
olhou para mim.
— Mantenha-o calmo — Seth exigiu.
— Madd. — Eu agarrei suas bochechas, ficando bem em seu rosto. — Eu
sinto muito. Você vai ficar bem. Eu te amo. — Eu beijei seus lábios
sangrentos sem me importar, porque não havia uma chance no inferno que
eu não faria isso. Eu daria a ele meu ar, meu sangue e minha corda para a
vida se ele pedisse, mesmo que ele não pedisse.
Sua voz era fraca, rouca e tensa quando ele disse. — ‘Amo ocê. Disse iso a
ocê.’
Uma risada histérica saiu de mim. — Foda-se, você me disse isso. Fique
comigo para que você possa me dizer isso para sempre. Promete?
Ele piscou, mas acenou com a cabeça apenas um pouco.
Com Maddox sob os cuidados de uma equipe de médicos e a adrenalina
da minha responsabilidade e vergonha fazendo o choque passar, eu quebrei.
Eu sentia.
Eu sentia culpa. Culpa por tentar fazer algo que não tinha o direito de
fazer. Por ignorar seus avisos para não ser estúpido. Por mentir para ele e
guardar segredos que ele obviamente sabia de qualquer maneira, porque ele
não confiava em mim o suficiente para não me checar.
Eu sentia medo. Medo de perdê-lo. Medo de perdê-lo, mesmo que
sobrevivesse. Quando ele sobrevivesse. O medo de perder a vida que
poderíamos ter vivido juntos se eu tivesse dado ouvidos a ele. O medo de
causar tanta dor à sua família.
Eu me sentia fraco. Eu era o elo fraco em todas as nossas vidas. Sentia
vergonha da minha fraqueza.
Medo misturado com vergonha e arrependimento agitou. Me arrependia
de tudo. Nunca seria capaz de enfrentar meu pai e tinha orgulho demais
para acreditar em Maddox quando ele me disse isso. Eu não tinha mais
orgulho. Também não tinha dignidade. Não tinha nada além de esperança
de que ele passaria por isso e determinação para compensá-lo para sempre.
Para fazer melhor. Para ser melhor.
— Isso é culpa sua, Devon! — Xavi gritou comigo, me empurrando por
trás. — Ele não estaria lá lutando por sua vida se você o tivesse ouvido!
Esfaqueado. Em todos os lugares, de uma só vez.
— Xavi, chega! — Nate gritou.
— Ele está morrendo lá por sua causa! — Xavi cuspiu em mim.
Eu assumia. Assumia a culpa porque não pertencia a nenhum outro lugar.
— Eu sei! Eu sei disso, porra! — E eu nunca esqueceria. Se Maddox vivesse
ou morresse, eu sempre usaria isso contra mim.
Nate me empurrou para uma cadeira, envolvendo um braço em volta do
meu ombro. Enterrei minha cabeça em minhas mãos e chorei mais do que
nunca. Eu morreria com ele se ele escolhesse deixar este mundo. Eu não
poderia viver sem ele, de qualquer maneira, então não fazia sentido ficar.
Maddox sempre foi a pessoa mais forte que eu conhecia e, de alguma forma,
ele lutaria para passar por isso e mandaria a morte se foder. Eu acreditei nele
mesmo que não acreditasse em mim.
— É melhor ele não morrer — Xavi gritou em meio às lágrimas, ajoelhado
na minha frente. Ele me abraçou, me puxando contra seu peito. — Sinto
muito, Dev. Estou com medo. Desculpe. — Ele enxugou minhas lágrimas e
segurou meu rosto. — É culpa do seu pai. Não é sua. Desculpe.
Nate envolveu nós dois, e eu não era forte o suficiente para me afastar de
seu conforto. Seth e Naomi sentaram-se à nossa frente, chorando suas
próprias lágrimas. Todas essas lágrimas, causadas por mim.
Eu chorei entorpecido. Mas não era aquele entorpecimento que vinha com
a sensação de nada. Era um entorpecimento que me impedia de sentir
qualquer coisa além do constante estado de agonia em que eu estava. Ele me
mantinha aqui como seu prisioneiro, me entorpecendo de alívio, mas eu
sabia que era o que eu merecia. Mais três horas de espera, esperando,
esperando por uma atualização, e fiquei entorpecido.
Vamos, seu filho da puta obstinado. Não se atreva a desistir.
Bem quando eu estava quase no limite da espera, as portas se abriram e o
cirurgião de Maddox entrou. Todos nós nos levantamos, nossas pernas
instáveis.
— Maddox sobreviveu à cirurgia.
Caí. Desabei. Amassado sob o peso do alívio e da gratidão. Nate e Seth
colocaram as mãos em mim, mas meus olhos permaneceram no cirurgião.
— Vai demorar um pouco até que ele acorde, mas quando acordar, vocês
poderão vê-lo em pares por enquanto. Não queremos sobrecarregá-lo. A
bala atravessou seu rim e danificou um pouco seu fígado, então ele perdeu
uma boa quantidade de sangue, mas estamos confiantes de que terá uma
recuperação completa. Consertamos o que pudemos e agora veremos como
ele se cura. Ele parece bem.
Ele parece bem.
Obrigado caralho. Xavi e Nate me abraçaram, me abraçando ali mesmo no
chão da sala de espera. Fiquei liberto além do alívio, mas com medo. Com
medo de que algo desse errado. Principalmente, apenas com medo de ter
que enfrentá-lo. Desculpar-se. Para compensar o que eu tinha feito e talvez
não permitir que ele aceitasse minhas desculpas.
Algum tempo depois, todos nós olhamos para cima quando uma
enfermeira apareceu. — Alguém de vocês tem o nome — a enfermeira fez
uma pausa, limpando a garganta e parecendo desconfortável — Devon
maldito Sawyer? — Todos olharam para mim. — Ele está perguntando por
você. Ele me pediu, não, ele me disse para levá-lo e dizer-lhe para não chorar
como um pequeno... bem, você sabe o que ele disse.
Uma explosão nervosa de riso escapou dos meus lábios. Isso diminuiu
alguns dos meus nervos e me aqueceu. Era uma coisa tão Maddox de se
dizer. Todos riram, até Seth, e eu dei uma olhada para todos, sabendo que
não merecia vê-lo primeiro.
Maddox estava vivo.
Vivo.
Vivo.
Ele ainda era meu?
18

-Maddox-
Apesar da situação terrível, eu nunca estive tão feliz. Atordoado, talvez.
As drogas eram boas e eu me perguntava por que não as consumia com mais
frequência. Apertei o dispensador de remédios mil vezes, olhando para a
porta. Devon estava vivo, e aquela pequena enfermeira foi buscar aquele
filho da puta para mim. Mal podia esperar para mostrar a ele minha bomba
de morfina. Tão legal!
Vamos, idiota. Entre aqui e não seja um idiota culpado, pensei, rindo disso.
— Ele está aqui. Vou te dar um tempo. — Vozes. Fora da minha porta. Eu
bombeei a coisa novamente, ainda olhando, forçando meus olhos para vê-lo.
Olhos azuis. Cabelo loiro. Queria poder ver a tatuagem de caveira de merda dele.
Lixo de trailer em sua melhor forma.
Assim que vi seu corpo se mover, meu humor borbulhante mergulhou na
sarjeta, substituído por nervosismo. Tentei me sentar, mas não conseguia me
mexer. E então meu namorado sexy pra caralho, de olhos vermelhos,
completamente nojento e desgrenhado apareceu na porta, todo quebrado e
merda. Havia alívio e amor em seus olhos, mas mais forte do que isso era
vergonha e fracasso. Lágrimas escorriam por seu rosto e suas mãos
entrelaçadas na frente de seu estômago enquanto seu peito arfava muito
rápido. Tive um momento de pânico ao ver sangue por todo ele até que
lembrei que era meu.
— Tranque — eu rosnei para ele grogue. — Tranque essa merda, Devon.
Ele engoliu as lágrimas, assentindo.
— Venha aqui. — Na minha cabeça, minha voz saiu dominante pra
caralho. A realidade riu da fraqueza áspera das minhas cordas vocais, mas
foda-se ela.
— Madd, sinto muito.
— Venha para cá, Devon. — Larguei a bomba de morfina, precisando
segurá-lo. — Por favor. Eu preciso de você. — Lágrimas queimaram meus
olhos. Se ele não viesse até mim, eu não sobreviveria à recuperação. Eu
precisava dele mais do que dessas máquinas ligadas a mim. — Por favor,
Devon.
Devon soltou um grito e então seus pés se moveram. Rápido. Ele agarrou
minha mão e usei todas as poucas forças que eu tinha para puxá-lo contra o
meu corpo, envolvendo meus braços em volta dele e perdendo o controle
completo das emoções que às vezes esquecia que tinha. As bolhas se foram
e as erupções vulcânicas começaram, meus sentimentos jorrando por toda
parte. Enterrei meu rosto em seu pescoço imundo e gritei todo o medo que
senti quando vi Davis apontar aquela arma para ele. Devon passou diante
dos meus olhos novamente, e eu sabia, sem uma única dúvida, que nunca o
deixaria ir. Eu levaria todas as balas por ele. Faria tudo e qualquer coisa,
chegaria a qualquer ponto alto e afundaria em qualquer ponto baixo para ter
certeza de que ele ficaria comigo. Devon era meu. Burrice e tudo. Porque eu
amava esse filho da puta com cada fibra do meu ser, até mesmo meu ódio
adorava odiá-lo.
— Desculpe. Sinto muito, Madd. Eu te amo. Sinto muito — ele divagou
entre soluços, parecendo ridículo e perfeito. Meio irritante, mas eu até
adorava ficar irritado com ele.
— Pare de se desculpar. Eu te amo. — Acariciei seu cabelo para trás e
tentei beijá-lo. Eu estava meio desnorteado, bem desorientado, então errei,
mas ele me endireitou.
Devon se afastou, as mãos emoldurando meu rosto. — É minha culpa que
você está aqui. Essa bala era para mim.
Eu zombei, o que doeu pra caralho. — E você foi feito para mim. Eu
mantive o destino em jogo. — Eu zombei de novo, o que doeu pra caralho.
— Você realmente acha que vou deixar seu pai vencer e tirar você de mim?
Por favor. Você é meu, Devon. Só preciso treiná-lo para ouvir melhor, como
um bom cachorro.
Ele riu e chorou e uma bolha de ranho escapou de sua narina. Tentei
estourá-la, mas ele aspirou de volta. Mostrei a ele meu soro de morfina, mas
ele não pareceu impressionado. — Eu estraguei demais dessa vez, Maddox.
Você não pode me perdoar por isso.
— Sim, eu posso. Eu estrago o tempo todo. Apenas escondo isso de você
melhor. — Eu sorri com o rosto entorpecido. — Não importa quantas vezes
nós estragamos tudo, estamos presos juntos. Nem pense em se afastar de
mim, Devon. Eu não quero espaço. Não preciso de tempo. Não preciso
pensar em nada. Eu quase perdi você, mas você ainda está aqui, então
podemos simplesmente pular essa parte estúpida?
— Madd …
— Eu vou te caçar se você tentar me deixar por causa disso.
— Achei que estava fazendo a coisa certa — exclamou.
— Eu sei. — Eu balancei a cabeça para a bomba de morfina novamente.
— Viu?
Ele empurrou minha mão para baixo. — Nada disso funcionou. Eu
estraguei tudo porque os policiais não confiam em um Sawyer. Ninguém
confia em mim.
— Eu confio. — Eu confiava nele como pessoa. Eu confiava em sua
intenção. Eu confiava em nosso relacionamento.
— Você não deveria. Ele se foi. Ele fugiu naquele barco com os
documentos e depois tentou me matar para amarrar suas pontas soltas. De
novo. — Seus olhos azuis brilhantes encontraram os meus. — Você salvou
minha vida de novo.
— Sem arrependimentos. Olha. — Mais uma vez, a bomba de morfina.
— Chega de levar balas por mim, ok? Prometa-me. — Ele suspirou, mas
ainda não olhou para a minha bomba.
— Não, sem promessas. Se você tivesse morrido lá fora, eu teria morrido.
Eu sabia que minhas chances de sobreviver a um tiro eram melhores porque
sou mais durão do que você, então arrisquei. Sem você, eu estaria morto,
Devon. Andaria em um corpo sem a pessoa que me faz ser eu.
Devon engoliu em seco, balançou a cabeça, assentiu e fez uma bolha de
baba dessa vez. Tantas coisas borbulhantes. — Idem, seu idiota! Então vamos
viver os dois, ok? Não posso viver em um mundo sem sua atitude de merda.
— Combinado. — Movi minhas pernas para que ele pudesse se sentar.
Não devo tê-las movido o suficiente porque ele as pegou e as deslizou, sendo
mais gentil do que eu jamais o vi ser. — Olha. — Levantei a bomba de
morfina e acenei na cara dele.
Devon olhou para ela, olhou para mim e então suspirou. — Legal.
Eu cliquei no botão um milhão de vezes, sorrindo.
Ele limpou o nariz e virou-o para me mostrar o que estava escrito na
lateral. — Essa é a porra do botão de chamada, Madd. Você está irritando
pra caralho as enfermeiras.
Ohhh. Sem graça. Devon se inclinou sobre mim, pegou outra coisa
cilíndrica e colocou em minha mão.
— Tente esse — ele riu.
Apertei o botão quantas vezes pude. Tanto por não ser o tipo de droga
experimental, mas percebi que era praticamente encorajado sob a supervisão
do médico, então continuei clicando. Eu sabia que minha voz estava lenta e
tensa, mas continuei falando. — Podemos seguir em frente agora? Não quero
passar todo o nosso tempo brigando pelo seu pai ou vendo você ser todo
culpado por tudo isso. Aconteceu. Nós dois estamos bem. Eu te amo. Nós
temos uma vida juntos agora, então vamos vivê-la.
— Madd.
— Apenas me ajude a me curar e me leve para casa. Eu só quero ficar em
casa com você.
Devon mordeu o lábio. — Quero pelo menos uma semana para me sentir
culpado. De preferência duas semanas.
— Não.
— Cinco dias.
— Hoje. Você pode ter hoje, mas não mais depois disso. — Estendi a mão
para ele, então ele se inclinou para me ajudar. Pressionou nossas testas
juntas, e eu inalei o cheiro dele. — Eu só quero ir para casa com você, bebê.
Ele finalmente riu. Um verdadeiro. — O drogado em você gosta dessa
palavra.
— Mhm.
— Obrigado por me salvar, Madd.

A enfermeira que bloqueava minha saída desse buraco de merda ficava


tentando me contar sobre os formulários que eu estava assinando; alguns
formulários hospitalares, alguns formulários policiais. Eu rabisquei minha
assinatura em tudo que eles colocaram na minha frente, pronto para dar o
fora daqui. Não me importava com o que eram, mas eram a passagem para
minha liberdade.
Foram oito dias de comida de merda, noites agitadas, Devon cuidando de
mim e flores idiotas. Tão farto deste lugar. Eu ansiava tanto pela minha
varanda de merda. Eu queria sentar lá com Devon sem um monte de
enfermeiras e médicos nos observando.
— Sente-se nela — exigiu Xavi.
— Sem chance, porra. — Eu me segurei.
— É a política do hospital — disse Xavi, olhando para mim. — Você tem
que ser levado para fora.
— Eu não estou sentando nessa coisa. Eu posso andar muito bem.
— Bem. Então fique aqui e eu vou ficar com Devon. — Ele virou a cadeira
de rodas para longe de mim.
Idiota maldito. Eu agarrei a parte de trás disso e rosnei. — Te odeio. —
Sentei-me na maldita coisa, odiando que eles quisessem que eu me sentasse
ao sair. Eles não perceberam há quanto tempo eu ansiava por movimento
real? Estava cansado de ficar sentado.
— Selfie! — Xavi gritou, sua cabeça aparecendo bem ao lado da minha
quando um flash me cegou. — Consegui! Essa é boa. — Ele segurou o
telefone para eu ver. Fiz uma careta. Ele sorriu, tão largo que eu podia ver
todo o caminho até sua garganta. Jesus. Ele era tão idiota. Havia uma
enfermeira ao fundo, nos observando com um sorriso no rosto.
— Calma, Maddox — ela disse atrás de mim. — Eu dei a Devon todas as
instruções para seus remédios e rotina de cuidados. Ouça-o. Entendido?
— Não é provável, mas obrigado por tudo. — Eu sorri para ela. Ela era
uma boa enfermeira e ajudou a evitar que eu enlouquecesse de tédio. Eu não
ia sentir falta dela, no entanto. Ou qualquer outra pessoa neste lugar
esquecido por Deus onde salvaram minha vida. Xavi fez barulhos de motor
enquanto saíamos dali.
Assim que atingimos a porta, levantei-me da cadeira e dei um soco nele
por ser ridículo. Ele me fez apoiar-se nele o resto do caminho até o caminhão,
mas foi bom sair e me movimentar. Meus músculos estavam fracos, mas eu
me sentia bem de outra forma. Sentei-me no banco da frente e me senti um
pouco culpado por mentir para minha mãe. Ela estava me mimando mais do
que Devon, trazendo todos os seus amigos do trabalho para me ver como se
fosse uma hora social e eu precisava de um espaço dela. Eu a amava, mas
afaste-se um pouco. Ela queria estar presente quando eu saísse, mas menti e
disse que era mais tarde esta noite. Faria meu irmão dizer a ela a verdade
depois.
— Como se sente? — ele perguntou.
— Bem. Só quero chegar em casa.
Xavi assentiu com a cabeça e um silêncio constrangedor se instalou. Não
tínhamos silêncios constrangedores, então fiquei arrepiado.
— O quê?
— Tenho que admitir uma coisa para você, Madd. — Ele parecia nervoso.
— Eu, uh, eu fiquei um pouco... eu fui um idiota com Devon no dia em que
isso aconteceu. Eu disse a ele que era tudo culpa dele e coloquei toda a culpa
nele. Realmente o ataquei. Eu estava estressado e assustado, e sinto muito.
— Foda-se, Xavi. Por quê? — O pobre Devon não precisava de ajuda para
se sentir culpado. — Culpe Jim. Devon não.
— Eu sei! Eu só precisava descontar em alguém e ele estava perto. Nós
fizemos as pazes, mas sim, eu definitivamente piorei a culpa dele.
Devon não tinha aderido à minha regra de 'um dia de culpa'. Tentou
esconder isso de mim, mas sempre fui bom em entendê-lo. Se eu estivesse
disposto a isso, colocaria algum sentido literal nele para ter certeza de que
sabia que eu não tinha nada contra ele. Eu só queria seguir com a vida com
ele ao meu lado.
— Ele vai ficar bem. Vou me certificar disso. — Baixei a janela,
desesperado por ar fresco.
Devon realmente não era o culpado. Ele fez algo estúpido depois que
todos nós dissemos para ele não fazer, mas como eu disse antes, adorava
quando ele tentava. E tudo o que estava fazendo era tentar nos proteger.
Ninguém nunca tentou por mim como Devon fez. Nossa mão na vida acabou
sendo uma merda, e se não fosse por Jim, nada disso teria acontecido, então
era nisso que eu colocava a culpa.
Entramos no Garron Park e, por fim, no lote 62, Xavi desligou o caminhão.
Seu sorriso era perverso quando me encarou. — Tenho que te avisar sobre
mais uma coisa.
— Uh oh.
— Devon exagerou completamente. Ele não sabe cozinhar nada, então o
parque inteiro preparou refeições e coisas para vocês. Devon limpou,
higienizou e se tornou a porra da Martha Stewart7 para fazer seu lugar
brilhar. Ele queria que estivesse limpo para você porque também pesquisou
infecções no Google — Xav riu. — Apenas um aviso justo, ele está no modo
de namorado superprotetor.
Que merda. Eu sorri.
— Vamos. Seu marido enfermeiro sexy está esperando por você. — Ele
me deu um tapa.
Marido.

7 É uma empresária e personalidade de televisão americana. Ela é um símbolo americano de casa e


hospitalidade. Ela se tornou uma das chefs celebridades mais famosas do ramo, com prósperas linhas de
decoração e móveis, livros de receitas e um império de mídia com programas.
19

-Maddox-
Entrei no trailer e tentei não engasgar com o cheiro insuportável de
desinfetante e alvejante que tinha sido coberto às pressas com purificadores
de ar em aerossol. Devon usava luvas de borracha, esfregando a pia da
cozinha como se de alguma forma tivesse entrado em contato com minha
ferida em cicatrização. O que ele pensou, que eu estaria tomando banho lá?
Jesus, Devon.
— Maddox — ele meio que gemeu, meio engasgou meu nome. — Sua
mãe roubou uma tonelada de produtos de limpeza do hospital. Bons
produtos. Este lugar vai ser a porra de um templo. Fiz um cronograma para
todos os seus remédios e consultas, e até separei suas pílulas neste pequeno
recipiente semanal que Andrea me deu. — Ele acenou com a cabeça na
direção do balcão e então ficou muito animado pegando para sacudi-lo para
mim. — E eu comprei essas almofadas especiais daquela velhinha do outro
lado do parque. Segunda mão, mas tanto faz. Elas ajudam você a dormir
para que você possa se mover sem muita dor e...
— Devon. — Levantei a mão e agarrei o balcão limpo. — Obrigado, mas
foda-se. — Eu puxei a frente de sua camisa e o beijei para garantir que ele
calasse a boca.
Xavi riu atrás de mim. — Tudo bem, estou fora. Boa sorte lidando uns com
os outros. — Ele fechou a porta atrás de si.
Os olhos azuis de Devon tentaram me submeter a isso, mas não. Obrigado,
mas não. Eu só queria seguir em frente e aceitar uma ajudinha dele enquanto
voltávamos para nós mesmos. — Só estou tentando cuidar de você.
Eu apreciei. Nós finalmente resolvemos nossos problemas de
relacionamento - eu esperava - e agora eu teria um novo problema em
minhas mãos. O problema oposto. Eu fui de Devon insuficiente para Devon
demais. Mas não pensei que fosse reclamar disso; não, a menos que ele se
esquecesse de me tratar como um namorado em vez de um paciente. —
Apenas seja meu namorado como você tem sido.
Devon olhou para baixo, ainda lutando contra a vergonha.
— Pare de se sentir culpado por algo que não foi sua culpa. — Eu levantei
seu queixo. — Você teve um dia e mais um pouco. Já superamos isso, certo?
— Estou tentando.
— Devon, olhe para mim. — Ele ouviu. — Você nos chantageou? Você
roubou esses documentos porque foi ideia sua roubar um navio? Você
contratou alguém para atirar em nós? Não? Então pare de assumir a culpa
pelo que seu pai fez. Você não é ele. Você não fez nada além de tentar e não
precisa mais se sentir mal por isso. Nós dois estamos bem, e se eu tiver que
assistir você com aqueles olhos tristes por mais um dia, eu vou morar com a
minha mãe. Entendeu?
Devon umedeceu os lábios, suspirou, piscou para afastar aquela tristeza e
assentiu. Ele passou os braços em volta do meu pescoço, com cuidado para
não tocar meu lado, e sussurrou. — É bom ter você em casa. Este lugar estava
muito calmo sem você aqui.
Eu sorri em seu cabelo, o arranhão da minha nova barba indesejada
ficando toda presa nele. — Bom. Estou sexualmente reprimido, então fique
de joelhos e me chupe.
Devon sorriu. — Não enquanto você estiver de pé. Farei isso se você se
sentar.
Eu me afastei para olhar para ele. — Tão fácil?
— Contanto que você não estique seu maldito lado, estoure um ponto ou
fique muito tenso, sim. Tão fácil.
— Lembre-me de levar tiros com mais frequência.
— Sente-se, imbecil. — Ele zombou de mim, apontando para o sofá. Tinha
cobertores novos por toda parte, cobrindo o tecido áspero. — O que mais
você precisa?
— Apenas sua boca, mas se você está oferecendo, sinta-se à vontade para
me montar também. — Sentei-me.
Devon riu e balançou a cabeça. — Foda-se, eu senti sua falta, Madd.
Devon não hesitou em cair de joelhos. Ele me ajudou a levantar minha
bunda para baixar meu moletom, e meu pau ansioso apareceu bem na frente
de seu rosto. Ele lambeu os lábios antes de lamber a ponta, e aquele primeiro
toque de sua língua fez meu abdômen apertar dolorosamente.
— Acalme-se — ele alertou, os dedos em volta do meu eixo. — Se você
respirar muito forte, eu paro.
Bem, isso seria impossível, então eu teria que esconder isso dele. — Chupe
meu pau, Devon.
Ele sorriu para mim, passando a mão para cima e para baixo como uma
provocação. — Uh-uh. Este não é um daqueles momentos em que você fica
tagarela e dominante. Eu sei como chupar você, Madd. Então cale a boca e
deixe-me.
Deus, eu adorava quando ele ficava mandão.
Eu não tinha me masturbado desde que levei um tiro, e sabia que este
estava prestes a ser o orgasmo mais rápido da minha vida, mas isso não
impediu meus olhos de ficarem pesados ao ver a língua de Devon lambendo
o comprimento do meu pau. Brincalhão e sexy, ele me chupou com um show
que superou todo o pornô que eu já assisti. Com seus olhos azuis nos meus
e suas mãos e boca trabalhando em conjunto, eu engoli um gemido e me
sentei para aproveitar todas as maneiras que ele conhecia meu corpo.
Completamente no comando e arrogante sobre isso, Devon envolveu seus
lábios ao redor da cabeça do meu pau, chupando forte antes de puxar para
trás para lamber a fenda.
— Ah, foda-se sim. — Eu me empurrei contra o sofá, minhas mãos ao meu
lado em vez de na parte de trás de sua cabeça. Ele não me deixaria controlá-
lo em um momento como este. Esta era a sua hora de ser poderoso.
Ele pressionou meu pau no meu abdômen e lambeu até minhas bolas,
sugando-as em sua boca e acariciando seu rosto bem ali. Quase gozei com
isso, mas ele se afastou bem quando eu estava prestes a fazê-lo.
— Maldito seja, Devon. — Comecei a respirar mais forte, então respirei
fundo para me acalmar.
Ele sorriu, parecendo gostoso pra caralho. — Não toque na minha cabeça,
Madd. Deixe-me fazer isso. — Esse foi todo o aviso que recebi antes que ele
se levantasse de joelhos e engolisse meu pau. Sua cabeça balançava da base
até a ponta, e meus dedos cravaram nas almofadas para evitar empurrar sua
cabeça. Ele estava certo; ele sabia como me chupar, e eu nunca tive tanta fé
nele.
A baba escorria pelo meu pau, encharcando minha virilha. Devon
engasgou um pouco, gemendo até que minha cabeça caiu para trás de prazer
e meus olhos se fecharam sem que eu quisesse.
— Foda-se, eu vou gozar, Dev. Puta merda, engula tudo.
Sua mão bombeava a base e sua boca sugava a cabeça, e isso era tudo para
mim. Eu me tencionei com tanta força que meu lado me matou, mas não era
nada comparado ao prazer abrasador serpenteando pelo meu corpo como
raios de felicidade. Enchi sua boca, observando-o escorrer pelos lados
quando ele não conseguiu engolir tudo de uma vez. Ele diminuiu o ritmo,
me sugando através dos jorros e me lambendo até ficar limpo.
Quando respirei fundo, Devon seguiu o rastro de esperma até minhas
coxas, lambendo tudo e lambendo os lábios.
— Foda-se, você é sexy com meu esperma em seus lábios — eu disse,
observando-os brilhar.
Devon viu o desespero em meus olhos e entregou o que eu queria.
Inclinando-se sobre meu colo, ele pressionou seus lábios nos meus sem me
beijar. — Eu sei que você tem uma torção agora, Madd. Não adianta
esconder.
Lambi seus lábios, provando a mim mesmo. — Eu tenho? Você é uma
fodida puta hoje em dia, e eu estou aqui para isso. — Puxei a parte de trás
de sua cabeça, enfiando minha língua em sua boca para provar que ele estava
certo. Eu tinha um pouco de esperma, mas adorei ainda mais do que ele.
Deus abençoe a porra do seu coração por realmente me chupar. Tomei
uma espécie de banho no hospital, mas foram oito dias de banhos de esponja,
e apreciei sua ignorância sobre isso. Recusei-me a dizer a ele que meu
orgasmo doía um pouco, especialmente quando ele me ajudou a tomar
banho e fazer a barba depois. Deixei um pouco de barba por fazer só porque
sabia que ele gostava. Deus, aquele cara me tinha envolvido em seu dedo
mindinho. Enrolado em uma toalha rosa escura que cheirava a naftalina,
sentei-me na beirada da banheira e observei Devon trocar meu curativo.
— Isso parece familiar.
Devon sorriu. — Sim, meu pai tentando me matar parece nos aproximar.
— Mm — eu concordei. — Estamos nos unindo.
— Andrea me ensinou a cuidar de você, Madd, mas nunca mais quero me
aproximar assim novamente.
Maldito homem.
O boquete e o chuveiro, infelizmente, me afetaram. Cansados, deitamos
juntos na cama, de mãos dadas, mas sem nos tocar em nenhum outro lugar.
O ventilador zumbia com um guincho toda vez que chegava à extrema
direita, e Devon batia nos nós dos meus dedos toda vez que fazia isso.
— O que os policiais disseram? — Perguntei. Devon deu depoimentos a
semana toda, mas ninguém realmente acreditou em sua história. Isso o
machucou profundamente e alimentou suas inseguranças para basicamente
ser descartado como se ele não fosse nada. Eu odiei isso.
— Davis, aquele idiota de merda, perdeu o distintivo, mas está em casa
esperando o julgamento. Ele está alegando... porra, ele está alegando que foi
legítima defesa e que nós o atacamos primeiro. — Ele apertou minha mão
com força, lembrando-me de me acalmar.
Em vez disso, apertei meus molares. Claro que ele diria isso. Nós éramos
ninguém de um parque de trailers que tinha a reputação de ser o lar de
toneladas de criminosos menores, e nós dois tínhamos registros duvidosos.
Nenhuma prisão real, mas o tempo gasto em uma cela e acusações de
queixas. Quem acreditaria em nós em vez de um policial?
— Bem, se eles tivessem alguma coisa concreta, estaríamos presos, certo?
— Tentei focar no positivo. Devon começou a pensar demais, então dobrei
seu mindinho até saber que doía. — Eu não quero falar sobre tudo isso agora.
Me fale alguma coisa boa.
— Alguma coisa boa — ele meditou. — Temos comida suficiente para seis
meses. Não havia espaço nem para tudo, então sua mãe tem um pouco no
freezer e o resto está na loja.
Aquilo foi legal. Havia um monte de gente boa em Garron Park, e sempre
aparecia quando alguém precisava de ajuda.
— E Gina te ama, então ela me disse que vai trazer aqueles doces que você
gosta. E Andrea está ficando toda mãezinha, deixando suprimentos médicos
e se oferecendo para checar você.
— Doces são a melhor notícia até agora.
— Recuperei a papelada do seu trabalho também. Aparentemente,
grande parte da sua internação está coberta pelo seu seguro, então isso é
ótimo para nós.
Sim, tanto faz. Eu não me importava com nada dessa merda. — O que há
de bom com você, Devon?
— Você está vivo. Você está em casa. Você está seguro. É isso.
Virei minha cabeça para encará-lo, encontrando seus olhos honestos. Às
vezes era difícil esquecer que costumávamos nos odiar porque esse ódio agia
tão livremente. Mas em tempos como este, amá-lo parecia mais natural do
que competir com ele. Foi preciso nossa rivalidade para chegar até aqui e,
embora ainda competíssemos em um nível muito competitivo, funcionamos
ainda melhor como equipe. — Você quer se casar com a minha bunda um
dia? — Perguntei.
Os olhos de Devon se arregalaram e ele riu. — Realmente? Não pensei que
você fosse do tipo de casamento.
— Também nunca me considerei do tipo gay, mas aqui estamos nós.
Sério, eu realmente seria um marido tão ruim?
Devon bufou logo antes de começar a rir. Abafou o rangido do ventilador
e fez a cama tremer. Melhor som de todos. — Foda-se, você seria o pior
marido!
— O quê? Por quê?
— Você é mandão pra caralho, mal-humorado, bate em mim o tempo
todo, abusa de mim, me usa e me irrita. O mundo explodiria se nos
casássemos. — Ele sorriu para mim, tão brilhante.
— Sim, mas a explosão seria bonita. — Eu apertei sua mão. — Além disso,
você não é melhor. Eu constantemente tenho que explicar hematomas e
olhos roxos.
Ele assentiu, não negando isso. — Nós faríamos um casal de merda. — Ele
enxugou os olhos e continuou sorrindo. — Mas acho que adoraríamos cada
segundo do nosso casamento condenado.
Meu peito inchou. — Não condenado. Apenas... conturbado.
— Um casamento conturbado com Maddox Kane — disse ele em voz alta,
saboreando a ideia. — Esse é o meu novo sonho. — Ele rolou para o lado e
me beijou levemente. — Eu só quero o seu sobrenome para não ter que ser
mais um Sawyer.
— É isso? Apenas meu nome, seu idiota?
— Mhm — ele cantarolou. — Devon Kane. Parece muito foda.
— Não tão fodão quanto Maddox Kane — eu respondi. — Case-se comigo
um dia, Devon.
— Tudo bem — ele sussurrou.
Ele me beijou como se fosse meu marido algum dia.
20

-Devon-
Algo não estava fazendo sentido.
Não havia registro do meu pai. Nenhum. Ele partiu naquele barco que
paguei e nunca mais voltou. Ele e o barco estavam desaparecidos, mas eu
não era estúpido o suficiente para pensar que ele morreu magicamente no
mar; aquela barata sobreviveria a um apocalipse. Ele estava por aí em algum
lugar, escapando impune de tentativa de homicídio e qualquer outra merda
organizada que estivesse tramando.
Era hora de abandonar minha estupidez e me tornar um novo Devon;
alguém que pensava um pouco mais. Achei que tinha aprendido minha lição
sobre ser burro quando Maddox me abandonou por negligenciá-lo, mas
definitivamente aprendi depois de vê-lo quase morrer. Chega dessa merda.
A hora de fazer melhor estava aqui, e eu estava focado nesse plano.
Maddox queria seguir em frente com nossas vidas e, por mais que eu
também quisesse, era impossível não temer as sombras. Meu pai poderia
estar escondido em qualquer uma delas, pronto para terminar o trabalho que
falhou. Honestamente, o melhor resultado que eu poderia imaginar era que
ele acreditava que eu estava morto, mas se ele ainda devia a Davis por aquele
'trabalho bem feito', então ele entraria em contato com o policial corrupto e
descobriria que sobrevivi. Papai era um filho da puta astuto, e eu sabia no
meu íntimo que não terminaria aqui.
Os policiais não acreditaram na minha história sobre meu pai ter
contratado Davis para me matar. Não. Aqueles filhos da puta ficaram do
lado de seu doce policial novato que tinha um histórico impecável e algum
tipo de besteira de estrela de ouro de qualquer academia de onde ele veio. A
polícia de Garron acreditou em sua história, que Maddox o atacou e ele teve
que disparar sua arma em legítima defesa. Quando lhe perguntaram o que
fazia no cais, disse à polícia que tinha sido incumbido de interceptar o meu
pai, o que o seu capitão confirmou, e que a culpa era minha porque fui eu
que pedi a presença da polícia. Mal sabia eu que meu pai teria um policial
em seu bolso. Davis contou uma história ainda mais fantástica quando disse
à polícia que eu e Maddox estávamos lá para ajudar meu pai a fugir. Então,
não éramos nós os idiotas culpados, hein?
Seth, Nate e Xavi foram duramente questionados sobre porque eles
estavam lá e porque Davis estava amarrado quando a polícia chegou. Eles
apareceram para me proteger, assim como Maddox, e contaram a mesma
história sobre Davis ser o atacante, então tiveram que contê-lo. Mas a história
deles foi descartada da mesma forma que a minha. De acordo com a polícia
de Garron, éramos cinco testemunhas não confiáveis que inventaram a
mesma história.
Essa coisa toda era um monte de merda. Minha frustração infeccionou
dentro de mim como uma doença viva, corroendo as partes boas de mim até
que tudo o que restou foram as partes patéticas. Eu nunca me importei muito
em ser um canalha antes, mas agora isso significava que eu tinha zero poder
e nenhum crédito quando realmente precisava de ajuda. Agora eu me
ressentia da minha vida por me colocar exatamente onde eu estava. Pisado.
— Tudo bem. — disse Nate, sentando-se no deque comigo e me
entregando uma cerveja. — O que estamos fazendo sobre essa merda, Dev?
Eu sei que Madd e Xavi estão tentando seguir em frente, mas papai ainda
está por aí.
Pelo menos meu irmão sentia o mesmo. — Eu nem entendo o jogo dele
com os documentos de remessa. Não deu em nada. O navio não foi roubado,
então por que ele os queria tanto?
Nate balançou a cabeça, inseguro. Esse mistério ficava mais difícil de
resolver a cada dia. — E por que não conseguimos que ninguém acredite em
nós? Papai tem uma ficha mais longa do que a nossa.
— Porque nós somos Sawyers. Nosso sobrenome é uma sentença de
morte. Nunca fizemos nada credível. — Eu tomei um gole.
— Então nós mesmos faremos essa merda.
Sim, boa tentativa. Como iríamos encontrar nosso pai, atrapalhar seu
plano e prendê-lo para sempre se não tivéssemos confiança suficiente para
dar depoimentos contra o depoimento de um policial desonesto? Não
tínhamos ninguém do nosso lado, sem recursos e sem voz. A pressão e a
responsabilidade de fazer algo sobre isso pesavam sobre mim. Eu queria
proteger minha família, mas sabia que não poderia fazer isso sozinho desta
vez. O problema era que eu não sabia nem por onde começar.
— Para onde ele iria? — Nate perguntou, tentando resolver isso. — Quem
ele conhece que poderia ajudá-lo?
— Eu não sei, cara. Perguntei a Davis o que papai havia prometido a ele,
e tudo o que ele disse foi que era mais do que eu jamais poderia. Papai não
tem nada, não roubou o navio, então o que ele prometeu?
— Provavelmente uma promessa vazia. — Nate deu de ombros. — Você
acha que Gary sabe de alguma coisa? Ou teve algo a ver com isso? Afinal,
ele tinha esses documentos em seu escritório.
Nenhuma ideia. — É um ponto de partida. — Coloquei a cerveja na mesa,
sem humor para isso. — Mas não posso mentir para Madd desta vez. Ele
quer seguir em frente, mas sabe que ainda estamos em perigo, então só
preciso conversar com ele sobre tudo. Honestamente desta vez.
Nate sorriu para mim, empurrando meu ombro. — Ah, você amadureceu
tão rápido.
Uma infinidade de merdas e seu namorado levando um tiro por você
fazem isso com um cara. — Ele deve estar de volta a qualquer minuto agora.
— A menos que tenha convencido Xav a levá-lo para a pista. Ele sabe que
você não vai aceitar, mas o irmão dele provavelmente sim.
Maddox era o pior paciente do mundo. Ele não ouvia, basicamente tinha
um desejo de morte e estava ficando louco por não poder trabalhar, andar
de moto, nadar ou lutar. Ele passou de um paciente ferido a bala para um
paciente mental insano e eu o odiei um pouco.
Sabendo que ele provavelmente enganou Xavi para deixá-lo se machucar,
peguei meu telefone para suborná-lo.
Devon: Nada de motocross. Venha para casa e eu farei valer a pena.
MFK: O quanto valerá a pena?
Devon: Volte para casa e descubra.
— MFK? — Nate bisbilhotou.
— Mister Maddox Fodido Kane. — Eu sorri para o meu telefone.
— Ei, rapazes — Seth disse, atravessando nosso gramado. — Meus filhos
estão aqui?
Nate balançou a cabeça. — Madd tinha uma consulta médica e Devon
precisava de uma folga dele.
Não era verdade?
— Como ele está? — Seth me perguntou.
— Ele é impossível e imprudente e eu o odeio. — Guardei meu telefone.
— Além de me tratar como seu servo, ele está bem.
Seth sorriu, parecendo muito com Xavi. — Parece correto. Escute, pelo que
vale, eu estaria disposto a ajudar com... essa coisa do Jim.
Nate e eu olhamos para ele, imaginando qual era a sua intenção. Ele
sempre odiou meu pai, mas nunca apoiou tanto seus filhos antes. A
sobriedade ficava bem nele, e eu podia até admitir que não odiava o cara,
mas os problemas de confiança não desapareciam simplesmente.
— Sem jogos de azar, sem bebida, sem drogas — disse Seth. — Estou
tentando encontrar um novo emprego, mas, enquanto isso, estou entediado.
O tédio não é um bom presságio para os viciados, e estou tentando fazer as
pazes com meus filhos, então estou aqui para ajudar se você precisar. — Ele
virou uma medalha de sobriedade entre os dedos e parecia estranho.
— Você conhece Gary? — Nate perguntou a ele.
— Um pouco, sim. — Seth assentiu.
— Ele tem algum tipo de conexão com nosso pai ou Patrick Harris? —
Perguntei.
Seth olhou para o céu, pensando. — Pensando bem, a esposa de Gary, ela
faleceu, era prima de Patrick Harris ou algo assim.
— Jim me fez roubar aqueles documentos do escritório de Gary, mas ele
disse que Gary os estava guardando apenas para Harris. Precisamos
descobrir o que ele sabe sobre eles e por que nada saiu disso.
— Quer que eu bisbilhote um pouco? — Seth perguntou.
— Sim, e se isso não funcionar, vamos ameaçá-lo — disse Nate. — Cansei
de jogar bem.
Eu esperava que não tivesse que chegar a isso, principalmente porque eu
não queria que nenhum de nós fosse preso. Todos nós precisávamos estar
aqui, limpando nossos nomes e humilhando meu pai enquanto
trabalhávamos por uma vida que realmente queríamos. Juntos. Todos nós.
Porque, algum dia, eu me casaria com aquele idiota.

— Ela disse que eu estava bem! — Maddox gritou comigo.


Olhei para Xavi, esperando que ele denunciasse a mentira de Maddox. —
Ela disse nada extenuante.
— Pelo amor de Deus, Devon, eu não sou uma cadela frágil. — Ele ergueu
os braços, aparentemente não de bom humor após a consulta médica.
— Não, você é uma vadia chorona porque ela disse que você não tem
permissão para foder. — Esfreguei minhas têmporas, sabendo que teria que
passar o resto do dia afastando-o. Com toda a honestidade, eu estava tão
chateado quanto ele com esta notícia. Precisávamos de sexo para desabafar.
— Foda-se — Maddox bufou. — Eu vou me masturbar no chuveiro. —
Ele bateu a porta do banheiro atrás de si.
Xavi tentou, mas não conseguiu reprimir um sorriso. — Ele fica mal-
humorado quando é impedido de transar.
Ele era mal-humorado, mesmo quando não era impedido. Xavi me
desejou boa sorte antes de partir com Nate. Fiquei ali parado por um minuto,
tentando descobrir como dispersar meu namorado. Quando ouvi o chuveiro
ligar e a cortina fechar, suspirei frustrado e elaborei um plano. A médica
disse a ele nada extenuante, então talvez eu pudesse fazer as partes
extenuantes.
Maddox ficou tão frustrado em sua condição atual porque não tinha saída.
Não havia como tirar sua energia. Ele não ficava bem parado e o tempo
ocioso deixava seu humor ainda pior. Ele precisava que algo bom
acontecesse, algo que o excitasse. Ele estava se recuperando bem e seus
pontos estavam todos dissolvidos agora, mas permaneceu com algumas
restrições para garantir que tudo continuasse a cicatrizar como deveria.
Tirei minha camisa e entrei no banheiro úmido. Maddox não disse nada,
mas eu o vi através da cortina transparente embaçada. Ele ficou lá com as
mãos na parede e a água batendo em suas omoplatas, não se masturbando
como ele ameaçou. Tirei a roupa e entrei com ele.
— Pensei que eu fosse uma vadia chorona — ele resmungou para mim.
— Você é. — Passei minhas mãos por suas costas, sobre sua bunda, e
envolvi-as na frente dele. — Um de nós tem que ficar no controle aqui,
Madd.
Ele girou, de frente para mim. Seus olhos verdes encontraram os meus e
ele me mostrou toda a sua dor. Não a dor física de sua lesão, mas a dor
mental e emocional de não poder viver depois de sobreviver a tudo isso.
Maddox me queria, e ele queria seus vícios, e ele queria aproveitar esta
segunda chance na vida que ele tinha.
Tinha certeza de que vendi minha alma para conseguir aquele presente
para ele, mas faria isso dez vezes mais. Sem arrependimentos.
— Sinto sua falta — disse ele. — O jeito que somos juntos. Eu só quero
você pra caralho, Dev.
Uma bomba de desmaio explodiu. Porra, eu estava ficando doente de
desmaiar. Mentira. — Eu tenho uma ideia, mas você tem que seguir as regras.
Sua mandíbula apertou. Ele já viveu por tantas regras. — Que regras?
— Você ouvirá tudo o que eu disser. Tudo. Concorde ou você pode
masturbar-se como você disse. — Fiz cócegas na cicatriz da cirurgia com a
ponta dos dedos, me lembrando do que estava em jogo. Então eu agarrei seu
pau e ele se engasgou. — Você concorda?
— Para fazer tudo o que você disser? — ele perguntou, sibilando quando
movi meu punho para baixo em seu eixo.
— Sim.
— Eu não sou submisso — ele me lembrou. Como se eu não soubesse
disso.
— Hoje você será ou isso não acontecerá.
— Bem. Apenas hoje. Só porque preciso de você.
Eu sorri e ele revirou os olhos. Empurrando-o até que suas costas batessem
na parede, coloquei a mão em seu peito e disse: — Não se afaste desta
parede.
Ele assentiu com a cabeça, os lábios entreabertos.
Beijei em meu caminho para baixo em seu corpo e ignorei a mão na minha
cabeça tentando me empurrar para baixo mais rápido. Ele não tinha gozado
desde seu boquete de boas-vindas, então eu sabia que ele poderia gozar duas
vezes se eu o obrigasse. Este era o pré-show, e se seguisse minhas regras, eu
daria o que realmente queria. Olhei para ele, poderoso sob o peso de seu
olhar, e lambi a ponta de seu pau.
— Foda-se, Devon — ele gemeu.
Eu o provoquei com meus lábios, chupei suas bolas em minha boca e
passei minha língua da base à ponta até que suas pernas tremessem. Eu não
queria que ele caísse, então empurrei seus quadris para cimentá-lo na parede
e, finalmente, o coloquei em minha boca. O sabor salgado do pré-sêmen
acomodou-se bem em minhas papilas gustativas, e aquela ânsia dentro de
mim ansiava pela plenitude dele em minha garganta. Chupei a cabeça de
seu pênis e bombeei o comprimento dele, e então enterrei meu rosto contra
sua virilha e o deixei encher minha garganta.
— Ah, puta merda.
Engasgando um pouco, eu me afastei. Saliva saiu de meus lábios e uma
onda de desespero tomou conta. Chupei-o forte e rápido. Eu diminuí a
velocidade e inclinei minha cabeça, sentindo-o contra minhas bochechas,
minha língua, minha garganta. Eu o queria em todos os lugares. Mais do que
isso, eu queria dar a ele exatamente o que ele queria. A necessidade de
agradá-lo cresceu dentro de mim com tanta força que eu choraminguei em
torno de seu pênis.
— Devon — Maddox gemeu, baixo e profundo, me deixando selvagem.
Com fome.
Eu engasguei com a necessidade e cavei meus dedos em seus quadris.
Com a cabeça de seu pênis enterrada no fundo da minha garganta, eu engoli.
O toque da minha garganta apertou seu pênis e fez o meu vazar, mas quase
gozei quando Maddox rosnou para mim. Seu aperto no meu cabelo
aumentou até doer, e o primeiro jorro de esperma na minha garganta foi
seguido por uma dor cegante no meu couro cabeludo que me deixou sem
fôlego.
— Ah, foda-se sim, Devon. Pooooorra.
Ouvi-lo atingir o orgasmo fez coisas incríveis para mim. Tudo de mim.
Levei a mão ao meu pau, apertando-o para evitar um orgasmo, e engoli o
dele inteiro. Ele deslizou pela minha garganta e assumiu o controle,
empurrando seus quadris para foder minha boca. Olhei para ele, pronto para
repreendê-lo por quebrar minha regra, mas suas costas ainda estavam
pressionadas contra a parede como eu havia ordenado. Como recompensa,
lambi a fenda de seu pau e o fiz tremer.
— Essa maldita boca — ele murmurou para mim, a cabeça batendo contra
a parede. — Essa porra de boca, Devon.
Lambi meus lábios, preso entre mais desmaio e desejo enlouquecido. De
pé, afastei sua mão do meu pau e agarrei sua mandíbula. — Você seguiu as
regras. — Nossos peitos bateram. — Eu quero que você me foda.
Seu corpo cansado ganhou energia. — Sim? Você vai... mesmo com o que
a médica disse?
— Sob minhas regras, sim.
Ele sorriu. Tinha que ser a coisa mais sexy que eu já tinha visto. Angústia
melancólica e esperança fofa, tudo transmitido em um sorriso simples. Meu
Deus.
21

-Maddox-
Meu pau estava enterrado fundo em sua bunda, mas isso não o impediu
de olhar para mim. E no entanto, eu não me importava. Consegui tudo o que
queria quando ele montou no meu colo e afundou no meu pau para ser o
dominante. Sua regra.
Ele empurrou meu peito, avisando-me para me encostar nas almofadas do
sofá ou ele pararia de me montar. Segurei seus quadris com mais força, mas
me inclinei para trás, aliviando a tensão em meu abdômen. Como eu deveria
me concentrar em evitar uma nova lesão quando sua bunda tinha meu pau
em um estrangulamento tão perfeito que perdi a noção de tudo, menos dele?
— Pare de tentar empurrar de baixo para cima — ele rebateu para mim.
Seus joelhos descansavam em cada lado das minhas pernas, e seus quadris
giravam pecaminosamente no meu colo. A suave e erótica calmaria de
nossos corpos fez minha cabeça brilhar e meus olhos revirarem.
Eu posso estar fisicamente por baixo, mas meu pau estava em sua bunda,
então ele poderia fingir que era o melhor, desde que continuasse me fodendo
assim. O suor e a umidade do chuveiro nos deixaram pegajosos, e seus
braços escorregavam sobre meus ombros. Eu ansiava pelo gosto dele, tão
malditamente desesperado para me inclinar para frente e passar minha
língua em sua garganta, marcando-o para o mundo saber.
Ele não me deixou.
O meu estilo de foda era diferente do meu estilo de luta. Em uma briga,
ficava em silêncio até ser incitado a falar mal. Em uma foda, minha boca
abria primeiro.
— Foda-se, eu adoro quando você me monta assim. — Olhei para aquela
tatuagem de caveira de merda em seu peito. — Sua bunda é incrível pra
caralho.
— Então siga as regras e deixe-me foder você — disse ele, ofegante e
grave.
Devon tinha definição e bronzeado junto com aquela tatuagem. Quando
ele balançou em mim, seu abdômen se destacou, e quando ele puxou para
trás, aqueles músculos da costela chamaram toda a minha atenção. Da barba
loira escura em sua mandíbula ao perigo e insegurança em seus olhos azuis,
Devon era gostoso pra caralho. Todos os pedaços corajosos dele. Suas
cicatrizes e contusões, a carranca que às vezes ganhava sobre os lábios
entreabertos, as marcas irregulares do bronzeado do trabalho nas docas e o
corte de cabelo que tornava seu cabelo sexy. Devon era um homem confuso,
mas eu nunca tinha visto uma tela mais bonita.
— Porra, olhe para você, Devon. — Eu o fodi com os olhos pra caralho. —
Eu te dei isso. — Toquei uma cicatriz sob seu olho, lembrando-me da noite
em que o bati com tanta força que a pele se partiu. Ficava acima da cicatriz
que remendei no banheiro naquela primeira noite.
Inclinei-me para beijá-lo, mas seus dedos apertaram em volta do meu
pescoço, me empurrando para trás. — Não.
— Eu só queria te beijar. — Eu o assisti me foder. Observando seus olhos
enquanto ele me fodia.
— Se você não parar de se inclinar para a frente, vou amarrá-lo, Maddox.
Eu não era nem um pouco submisso, mas isso me intrigou um pouco. A
ideia de assistir Devon assumir o controle total me excitou. Ele me disse que
gostava quando eu era um babaca agressivo, mas aparentemente eu não
tinha permissão para ser agressivo enquanto estava ferido.
— Beije-me então.
— Tão carente. — Ele mal sorriu antes de ceder. Seus lábios encontraram
os meus ao mesmo tempo em que sua mão soltou minha garganta. Seus
dedos entrelaçados em meu cabelo e os meus pressionados em suas costas,
segurando-o contra mim. Sua língua dominou a minha, provando cada parte
de mim que podia com desespero apressado e quase nenhum controle que
estava segurando. Talvez algum dia eu realmente o deixasse me amarrar.
— Ah, porra. Bem desse jeito. — Eu gemi e Devon balançou no meu pau.
Eu apertei sua bunda com força, mal me segurando para não empurrar para
cima e fodê-lo mais forte.
— Pare — ele reclamou, movendo minhas mãos de volta para sua cintura
para me acalmar. — Deixe-me fazer tudo. Eu sei o que estou fazendo.
Porra, sim, ele sabia. Em vez disso, passei minhas mãos por suas costas,
emaranhando-as em seu cabelo e puxando seu rosto para o meu. Devon
estabeleceu um ritmo lento e profundo, construindo em mim um impulso
lânguido até que fechei os olhos e senti. Apenas senti. Seu peito contra o meu.
A maneira como seu coração batia rapidamente em seu peito e como eu
podia senti-lo contra meus lábios em sua garganta. Seus dedos entrelaçados
no meu cabelo e a maneira sutil como ele os usou para controlar minha
cabeça. Seus lábios contra os meus, escorregadios com saliva e ofegantes
respirações irregulares que terminavam em gemidos. Sua testa suada e o
movimento de seus músculos se contraindo enquanto ele me fodia.
Magia. A energia que ele criou me fez criar a minha própria e, quando se
misturou à dele, tornou-se uma força a ser reconhecida. Foi aí que a
verdadeira mágica aconteceu. Algumas pessoas chamavam de tensão,
outras de química, mas eu apenas conhecia como nós. Quando aquela magia
atingiu, foi de uma maneira totalmente nova desta vez. Minha garganta
estava entupida com mais do que apenas luxúria.
Finalmente, sendo capaz de tê-lo tão intimamente quanto eu o queria
durante todo o mês em que estive no hospital... tudo voltou para mim; duro
e agressivo. Era amor. Aquele tipo único na vida. Real, cru e hostil. Isso veio
até mim, rasgando-me como outra bala, assaltando meu corpo e minha
mente com a sensação de conseguir tudo o que sempre quis depois de passar
pelo inferno para obtê-lo. Eu estava faminto por contato – faminto por
conexão – e Devon finalmente me alimentou.
Caramba, não chore durante o sexo!
— Maddox — Devon sussurrou contra meus lábios, sua testa contra a
minha. — Eu sinto você.
Eu realmente não sabia o que isso significava, mas entendia o sentimento.
Ele sentiu isso também. Inclinando meu queixo, olhei em seus olhos e vi a
mesma conexão emocional que eu sentia.
Devon sobreviveu.
Eu sobrevivi.
Estávamos em casa. Juntos.
Juntos. Juntos. Juntos.
Tudo voltou para mim de uma vez. Os sentimentos se manifestaram em
algo físico e, sem muito aviso, soltei um gemido e gozei. Meus olhos ardiam
com lágrimas de tensão, embaçando minha visão para aguçar a sensação do
toque.
— Oh, Deus — eu gemi, cravando minhas unhas em sua pele, segurando-
o no meu pau enquanto eu enchia sua bunda com esperma e beijava sua boca
aberta. O orgasmo de Devon foi silencioso, mas seu corpo tremeu no meu e
seu pau esfregou contra meu abdômen, cobrindo-me com a melhor
confusão.
Arrebatamento e ascensão; condenação e todos os nossos pecados. Eles se
misturaram por um tempo, e a intensidade disso me dominou alegremente.
Nós éramos dois fodidos em um canto do mundo do qual provavelmente
nunca sairíamos, mas nos encontramos aqui e isso é tudo que importava.
Passei muito tempo sentindo pena de mim mesmo quando deveria estar
contando minhas bênçãos. Algo sempre esteve do meu lado porque colocou
Devon em minha vida durante a infância e, quando adulto, ele se tornou o
amor da minha vida. Isso em si foi mais um milagre do que eu jamais poderia
esperar realizar no meu tempo de merda aqui.
— Eu te amo — eu disse a ele com força. — Pra caralho.
Devon caiu contra mim, colocando todo o seu peso exatamente onde ele
prometeu que não. Idiota contraditório. Me mantive enterrado dentro dele,
sem vontade de perder a conexão depois de precisar dela por tanto tempo.
Eu o segurei perto e não conseguia nem parar de beijá-lo por tempo
suficiente para ele dizer que também me amava. Eu sabia. Ele não precisava
dizer isso.
Esta noite perdi-me em um furacão de sentimentos que, pela primeira vez,
não me ressentia. Amanhã, eu voltaria a chutar o traseiro dele, mas, por
enquanto, viveria esse sentimento que compartilhamos. Criamos.
Amor.
Amor verdadeiro.

O meio da noite era uma cadela. O quarto se transformou em uma caixa


quente do inferno, mesmo com dois ventiladores ligados, e minha mente se
transformou em um tipo de inferno mais sombrio. Pensamentos, perguntas
e cenários possíveis se misturavam ali, e eu não conseguia desenredá-los o
suficiente para voltar a dormir. Nem mesmo o som dos roncos melódicos de
Devon poderia me levar à inconsciência. Então, eu olhei para o teto e tentei
descobrir o que exatamente estava em minha mente.
Quero dizer, as coisas finalmente ficaram boas com Devon. Ele aprendeu
algumas lições e superamos nossa merda de relacionamento interno. Todo
esse tempo, pensei que fontes externas nos separariam, mas não. Nós
fizemos isso. Relacionamentos eram difíceis, e eu não tinha a menor ideia de
quão difícil era até que tentamos unir nossas vidas e necessidades. Éramos
nossos piores inimigos, mas eu esperava que tivéssemos superado isso
agora. Mais problemas viriam, mas estávamos mais bem equipados para
lidar com eles agora que tínhamos força e compreensão do nosso lado.
As coisas estavam bem no trabalho. Eu ainda estaria de licença por mais
um mês, mas meu chefe e alguns dos caras estavam checando e eu me sentia
bem em voltar. Nate e Xavi administravam a loja enquanto Devon era o dono
da casa. Ele passava algumas horas todos os dias, mas nunca ficava muito
tempo. Eu disse mil vezes para ele sair da minha frente e voltar ao trabalho,
mas ele dizia para eu me curvar toda vez, então foi isso. Mudança completa.
Acho que ele secretamente sabia que eu adorava ficar irritado com ele.
Além do trabalho, Devon e nossos irmãos, minha vida não consistia em
muito, então eu não tinha ideia de porque minha mente não desligava. Meu
pai tinha aparecido muito ultimamente, o que era muito estranho, mas
estava indo bem. Ele não estava enganando minha mãe, embora eu pudesse
dizer que ambos queriam tentar o relacionamento pela bilionésima vez. Foi
meu pai quem se conteve, provavelmente porque ainda não confiava
totalmente em si mesmo ou em sua capacidade de manter a sobriedade.
Mostrou maturidade e compaixão, o que me fez sentir melhor em relação a
ele. Se ao menos minha mãe, tão carente quanto um cachorro no cio,
entendesse a mensagem e desse a ele um pouco de espaço. Jesus.
Então, além dessa merda, a única coisa que poderia estar fodendo com a
minha cabeça era Jim. Nada sobre o que ele fez fazia sentido. Nada. Não
fazia sentido, e não tinha lógica. E era exatamente por isso que eu era uma
porra de hipócrita e não deixei nada para lá como eu disse a Devon que
queria.
Por que ele se deu tanto trabalho para conseguir aqueles documentos se
nunca planejou fazer nada com eles? Ou algo realmente aconteceu com ele
ou com o barco depois que ele partiu, frustrando seus planos? O capitão do
navio foi interrogado e, claro, disse que tudo a bordo chegou onde deveria
chegar e não tinha conhecimento de nenhum contrabando ilegal. Alegou que
verificou pessoalmente cada contêiner de transporte. O que era besteira, mas
não tinha como provar. Que capitão de navio envolvido em um golpe
admitiria de bom grado transportar algo ilegal?
Então, considerando tudo isso, apenas duas coisas poderiam ter
acontecido. Primeiro, Jim conseguiu o que estava procurando e se escondeu
depois de fazer um acordo com o capitão. Ou segundo, algo o impediu de
agir no plano. Um possível terceiro cenário poderia ser que a coisa toda era
besteira, e Jim apenas usou isso como uma forma de desacreditar Devon,
mas eu não conseguia entender como isso o beneficiava. Além disso, ele
tentou assassinar Devon, então tinha que ser porque Devon sabia demais.
Ou talvez Jim fosse tão rancoroso.
As rodas em minha mente giraram, sem saber o que focar ou como decifrar
tudo junto. Tudo o que eu sabia com certeza era que Jim ainda estava por aí
em algum lugar, rico pra caralho ou pobre pra caralho, mas de qualquer
maneira, ele continuava sendo uma ameaça para nós. Para Devon. Para
Nate. Não podia descansar até saber que ele não voltaria com outra arma
para tirar a única vida que já significou alguma coisa para mim. Eu não sabia
se Devon era um dano colateral para ele, ou se o golpe tinha sido pessoal, e
não saber me fodeu ferozmente.
— Cale a boca — Devon gemeu, sua voz abafada por seu travesseiro.
— Eu não disse nada.
— Seu cérebro está gritando comigo. Mande-o se foder. — Ele esticou
uma perna e abraçou o travesseiro, seu corpo sexy em uma bela exibição.
Ok, cale a boca.
Eu bati meu punho no travesseiro, respirei fundo, me arrastei até ficar
confortável e fechei os olhos... apenas para ouvir as engrenagens em minha
mente continuarem girando. Mais como interferindo.
Jim teria presumido que Devon contou a mim e a Nate sobre esses
documentos, o que significava que éramos um risco para seu plano. Ele
voltaria para acabar conosco? Enviaria alguém como Davis para fazer isso?
Devo esperar uma segunda onda de perigo?
Ok, eu poderia admitir plenamente que sou um hipócrita. De jeito
nenhum eu estava pronto para deixar isso para lá e seguir em frente. Foi
assim que Devon se sentiu quando tentou fazer aquele acordo com seu pai?
Passei tanto tempo punindo-o por ser estúpido, mas agora eu queria ser
estúpido para chegar ao fundo disso. Quando a pessoa que você amava
estava em perigo, você fazia loucuras sem ver toda a lógica para protegê-la.
Agora eu entendia muito melhor por que ele tinha feito isso. Devon usou
todos os pequenos pedaços de poder que tinha para tentar nos manter
seguros, mas agora tínhamos ainda menos. Eu precisava encontrar uma
maneira de obter um pouco desse poder de volta. Quero dizer, eu não hesitei
nem mesmo uma batida do meu coração para pular na frente daquela bala
indo em direção a Devon; foi uma reação. Um impulso. Talvez fosse isso que
ele estava tentando fazer por mim o tempo todo, e lá estava eu, deixando-o
longe e fazendo-o dormir no sofá por causa disso. Jesus.
— Maddox — Devon rosnou. — Cale-se. Porra.
Esfreguei o rosto com as mãos, dobrei o joelho para descansar contra a
parede e soltei minha confusão com um longo suspiro.
Foda-se agora.
O plano de Jim seria impossível de decifrar porque ele provavelmente
nem tinha tudo planejado. Sem nenhuma ideia de onde ele estava ou para
onde planejava ir, nenhuma pista sobre aquele navio de transporte, e
nenhuma dica de quem mais ele tinha em seu bolso da Polícia de Garron,
estávamos muito fodidos. Meu pai tinha dito que ele havia farejado nosso
lote um pouco, mas isso significava alguma coisa? O que nosso lote ou nosso
trailer tem a ver com tudo isso? Se eu tivesse que adivinhar, era Jim tentando
foder com nossas cabeças. Adivinha? Cabeça fodida!
Tínhamos todas essas pequenas informações e não tínhamos ideia do que
elas significavam. Nenhum ponto de partida para começar a investigá-las
também. Jim simplesmente desapareceu no ar, tentou assassinar o filho e foi
isso. Fim da história. Mas não parecia o fim da história.
— Puta merda — Devon estalou, rolando de costas. Sua semi ereção caiu
contra sua coxa antes que ele a segurasse em sua mão. — Você está me
irritando.
— Desculpe. Porra.
— Eu te amo, Madd, mas você tem que aprender a meditar ou algo assim.
Seu cérebro está zumbindo por todo o lugar. — Ele moveu as mãos para
imitar minha mente.
— Vou dormir no sofá. — Sentei-me e comecei a engatinhar sobre ele.
Devon agarrou meus quadris e me empurrou para trás, seu pau ficando
duro. Ele me deu um olhar que dizia para ignorar isso, e então ele se apoiou
nos cotovelos. — Eu nunca vou dormir sem você de novo, então você pode
simplesmente desabafar para que possamos conversar e voltar a dormir. O
que é?
Encostei-me na parede lateral, de frente para ele. — Eu sou um hipócrita
e não posso deixar essa merda para lá. Essa história com seu pai ainda não
acabou.
Devon se sentou, puxou o lençol sobre o colo e acendeu a lâmpada. — Eu
sei.
— E não consigo dormir porque estou preocupado que ele volte para
terminar o trabalho. — Eu balancei a cabeça para ele, sinalizando que ele era
o trabalho. — E eu me recuso a perder você, Devon. Passamos tanto tempo
lutando contra a vida e um contra o outro que estou pronto para ir para a
porra da guerra para lutar por você. Estou pronto para todos os... — Oh,
Deus. Cala a boca, Madd.
— O quê? — ele perguntou, sorrindo.
— A parte da felicidade, sabe? Eu quero estar apaixonado e tal, e tipo... ir
para um hotel horrível com jacuzzi ou banheira de hidromassagem. Viagens
estúpidas, sabe? — Sim, fui sentimental. Qualquer que seja. — Eu quero a
parte divertida e a felicidade e as besteiras cafonas, Devon. Eu simplesmente
odeio me preocupar com tudo o tempo todo.
— Seu filho da puta romântico — ele disse, usando o mesmo tom de voz
que usou na primeira vez que disse isso – a noite em que transamos pela
primeira vez. Eu mostrei o dedo para ele, mas isso só o fez sorrir. — Para
onde iríamos em uma viagem? Não somos caminhantes e com certeza não
combinaríamos em algum lugar chique. Não somos cultos, ousados ou
artísticos. Onde diabos os perdedores de colarinho azul vão de férias? — Ele
sorriu para mim, perguntando honestamente onde eu gostaria de ir.
Sim, eu realmente não dou a mínima para Paris e vivi no período quando
em Roma mais do que realmente queria estar em Roma, então não fazia ideia.
— Em qualquer lugar. Em qualquer lugar onde não tenhamos que trabalhar,
nos preocupar ou nos proteger. Eu só quero um fim de semana com você
sem que ninguém estrague tudo — eu ri.
Devon colocou as pernas sobre as minhas. — Bem, podemos fazer isso
aqui até podermos pagar um hotel. Podemos faltar à corrida, bloquear
nossos irmãos e simplesmente desligar o mundo. Pode não ser chique, mas
podemos pagar por isso. Podemos até fingir que pedimos serviço de quarto
se fizermos alguém esquentar todas as nossas caçarolas de presente para nós
— ele riu.
— Eu queria uma banheira de hidromassagem — fiz beicinho.
— Quente pra caralho, cara. O oceano é basicamente uma banheira de
hidromassagem. Pule direto. — Ele apertou meu joelho. — Vamos fazer isso
neste fim de semana. Nenhuma corrida. Combinado?
Parecia perfeito, o que significava que não seria, mas eu adoraria de
qualquer maneira. — Combinado. Contanto que você não fique todo
enfermeiro Devon para cima de mim.
— É Doutor Devon — ele corrigiu. — Eu prometo.
Pelo menos ele calaria minha mente um pouco. — Venha aqui. — Eu o
agarrei e o coloquei entre minhas pernas. Ele descansou as costas contra o
meu peito e eu passei meus braços em torno dele, sentindo nossos corações
baterem juntos. Nunca pensei que iria gostar desse tipo de romance, mas
Devon me fez partes iguais de sentimental e agressivo e eu gostei da mistura
disso. — Eu te amo.
22

-Devon-
Maddox não estava me escondendo coisas, e eu não estava mentindo para
ele. Desta vez, fizemos essa merda juntos sem nenhum ressentimento,
segredos ou sentimentos.
Ele estava sentado com as pernas penduradas sobre o cais, a água batendo
em seus tornozelos e os ombros relaxados. Ele ficou muito melhor. Sua
incisão cicatrizou bem, não estava nem mesmo inchada, apenas um pouco
vermelha, então ele ainda estava na minha lista de observação. Sua médica
disse que ele poderia retomar a atividade normal sem levantar pesos, então
ele ainda não havia sido liberado para o trabalho. Fazia quase dois meses,
então ele poderia relaxar um pouco mais. Eu me certificaria de que ele o
fizesse, não importava o quanto reclamasse.
Xavi passou uma cerveja para Maddox e sentou-se ao lado dele no cais,
enquanto Nate e eu nos sentamos na beirada do deque. Estávamos na loja e
Seth apareceu para nos contar o que descobriu com Gary. Meu pai ainda
estava desaparecido e, para ser honesto, não me importava com o que ele
estava fazendo. Tudo o que eu queria era tirá-lo de nossas vidas para
sempre. Mesmo que ele cumprisse sua palavra e deixasse Garron, eu ainda
queria saber. Eu precisava saber que ele não poderia voltar um dia e arruinar
nossas vidas... de novo. Aquele caloteiro já havia arruinado minha vida o
suficiente.
Teria que pensar nele toda vez que visse a cicatriz de Maddox - minhas
próprias cicatrizes, aliás. Teria que anexá-lo à minha história de origem, ao
único relacionamento da minha vida, e teria que ver o dano que ele causava
à minha mãe toda vez que olhasse para ela. Isso foi o suficiente. Ele não
conseguiria reivindicar mais nada. Eu precisava que ele fosse embora para
que pudéssemos passar para aquela parte da felicidade, como Maddox havia
dito. Eu queria as besteiras, as risadas, a alegria e o amor que às vezes levava
a brigas. Eu queria sexo gostoso e brigas tarde da noite em um trailer que era
pequeno demais para conter nossa energia, mas nos abrigava de qualquer
maneira porque adorávamos viver em nosso caos. Era hora de remover Jim
e começar a focar em novos objetivos. De preferência aqueles que mudavam
meu sobrenome.
Para conseguir tudo isso, Jim tinha que ir. Desta vez, eu tinha a porra da
minha família na minha retaguarda. Olhei para Maddox ao mesmo tempo
em que ele olhou para mim, nossos olhos se conectando sobre as cabeças de
nosso irmão. Ele sempre foi quieto, e ainda era, mas eu podia ver tudo o que
ele sentia só de olhar em seus olhos ultimamente. A maioria de seus olhares
pareciam zangados, mas este... significava segurança. Com um olhar, ele me
disse que passaríamos por isso juntos. Ele sorriu timidamente, odiou-se por
isso, então me mostrou o dedo do meio para ganhar um pouco de crédito.
Que amorzinho.
— Tudo bem, então Gary está mentindo ou ele realmente é tão burro
quanto parece — disse Seth, sentando-se no degrau e tentando não olhar
para nossas cervejas. Ele já nos disse para não mudar perto dele, mas eu
ainda me sentia uma merda.
— O que ele disse? — Xavi perguntou.
— Alegou que não sabia do que eu estava falando. Disse-me que não tinha
ligação com Harris, o que era mentira, e disse que não falava com Jim há
anos, o que também era mentira. Eu os vi conversando algumas semanas
antes daquele dia. Então, a única coisa sobre a qual ele pode estar falando a
verdade é não saber sobre essas guias de remessa.
— Ele estava assustado? — Nate perguntou. — Sendo ameaçado para
manter a boca fechada, talvez?
— Nervoso pra caralho — Seth disse. — Suando. Trêmulo.
O que significava que meu pai estava chantageando-o. Ou isso, ou Patrick
Harris tinha algo contra Gary. Maddox havia avisado Harris para não se
envolver com meu pai novamente, então eles estavam trabalhando juntos
para uma grana maior ou Jim roubou de Harris?
Nate me cutucou no lado, uma garantia silenciosa de que daríamos um
jeito. Era difícil quando nada fazia sentido.
— Então, nós vamos atrás de Gary ou o quê? — Maddox perguntou como
um idiota, bebendo cerveja e limpando a boca no pulso.
— Acho que devemos primeiro descobrir quem é o capitão do navio —
sugeriu Xavi.
— Você ainda não tem amigos nas docas? — Maddox perguntou a Seth.
— Pode falar com alguns caras?
Seth concordou em tentar descobrir. Acho que era um ponto de partida, já
que Gary não havia oferecido nada de útil.
— E o policial babaca? — Nate perguntou. — O que estamos fazendo
sobre ele?
Eu mesmo queria matar Davis. Ele quase tirou Maddox de mim, e
ninguém poderia fazer isso. — Não podemos tocá-lo — eu zombei, a raiva
me consumindo. — Ele está em prisão domiciliar e tem policiais
monitorando sua casa porque ele os fez pensar que ainda podemos ser uma
ameaça. Estaríamos alimentando seu plano se formos atrás dele.
O fato de Davis ter contado uma mentira e todos terem acreditado nele
irritou cada parte de mim. Mais uma vez, não tínhamos voz. Vivíamos com
medo e éramos ridicularizados enquanto ele apenas, temporariamente,
perdia seu distintivo e tinha guarda-costas de olho nele. Tudo o que
podíamos fazer era lutar para que nossas vozes fossem ouvidas, mas quem
iria querer ouvir alguns caipiras como nós? Ninguém, e isso malditamente
foi comprovado.
Olhei para Maddox novamente. Eu podia não ter muito, mas tinha ele, e
isso me tornava o homem mais rico do mundo. Havia apenas um Maddox
Kane, e ele era meu, porra. Eu nunca tomaria isso como garantido
novamente.
— Eu estou indo para as docas agora — Seth disse, se levantando para
sair. — Não faça nada estúpido. — Ele apontou isso para Maddox e Xavi,
principalmente. Eu não sabia por que, porque eu era o único a fazer coisas
estúpidas.
— Obrigado, Seth. — Dei a ele um aceno de cabeça. Eu tinha muito
respeito por Seth agora. Se ele não estivesse lá naquele dia para assumir o
controle e me fazer com que me movesse, Maddox não teria chegado à meia-
noite. — Deixe-nos saber se você encontrar alguma coisa. — Com outro
aceno, ele saiu.
Aprendi algo sobre mim naquele dia em que Seth assumiu o controle. Eu
era péssimo sob pressão. Sempre imaginei que seria capaz de reagir a uma
situação e lidar com ela até que a crise acabasse, mas não. Era Maddox
morrendo no chão, e fiquei muito envolvido com o desgosto, o terror e a
culpa para ser produtivo. Odiei-me um pouco por isso, mas escondi de
Maddox porque ele estava cansado de lidar com a minha vergonha.
Xavi e Nate entraram, então peguei mais algumas cervejas e me sentei ao
lado de Maddox. Ele ficou quieto, perdido em sua própria cabeça. Estudei o
sulco de sua testa, o aperto de sua mandíbula e os círculos roxo-escuros sob
seus olhos. O sol os tornava mais escuros, mas o reflexo da água o deixava
mais calmo. Ele não estava dormindo bem e eu sabia que ele estava
estressado. Como um cara como ele lidava com o estresse? Bem, geralmente
ele trepava, brigava, andava de moto ou nadava no oceano para abafar o
mundo um pouco. Suas restrições médicas acabaram com tudo isso, e fiquei
com um namorado volátil que não podia usar seus vícios. Tinha que haver
uma maneira segura de desabafar, exercer algum estresse e atacar algo sem
se machucar.
Sexo. Sexo era provavelmente o mais seguro. Eu o seduziria pra caramba
mais tarde e o deixaria descontar tudo em mim.
— Ainda temos aquele fim de semana? — Perguntei.
Ele tomou um gole e observou o horizonte. — Sim.
— Olhe para mim. — Esperei até que ele abaixasse a cerveja e olhasse para
mim sem muito brilho por trás desta vez. Apenas cansaço. — Você precisa
dormir se quiser acompanhar o que planejei para nosso fim de semana
romântico.
— Fim de semana romântico — ele soltou uma risada. — Charadas e jogo
de cartas? — Que idiota. Sim, éramos competitivos e, como não podíamos
competir de nenhuma das maneiras habituais, recorremos às cartas, jogos de
tabuleiro e pequenos desafios estúpidos no trailer. Ele ganhou todos os de
culinária, mas eu não me importei em perder porque isso o deixou feliz.
— Um tipo diferente de jogo desta vez, cara.
— Hm — ele meditou. — Cobras e escadas8?
Tomei um gole, certifiquei-me de que Nate e Xavi não estavam por perto
e olhei diretamente para ele. — Mais como torções e orgasmos. — Eu teria
que ser criativo com isso.
Seus olhos se arregalaram e ele lambeu os lábios. — Não brinque comigo,
Devon.
— Oh, eu vou fazer muito mais do que brincar com você. Cansei de bancar
o seu médico, Madd. Estou pronto para tratá-lo como a puta submissa que
você é.
Quando ele sorriu, todos os meus cabelos se eriçaram. Sombrio, sexy, até
um pouco sinistro. — Vamos ver isso.
Ele pode não dizer muito, mas quando diz, acerta em cheio. Esse desafio
acendeu um fogo embaixo da minha bunda e ampliou meu lado
competitivo. Seria um novo jogo, e não tínhamos tido uma foda dura em dois
meses, mas eu estava mais do que pronto para colocá-lo onde eu queria. Eu
só me perguntava onde ele queria me colocar.

8 Cobras e Escadas é um jogo de tabuleiro simples para 2 jogadores.


23

-Maddox-
Como tudo em nossas vidas, nosso fim de semana não havia começado
bem. Por um lado, chovia com tanta força que nos ensurdecia dentro do
trailer, batendo no teto de aço como mil martelos. A chuva fez com que a
pista fosse inundada, então Garron Park não estava tão vazia quanto
esperávamos. Isso deixou Xavi e Nate entediados sem nada melhor para
fazer do que nos importunar como fofoqueiros irritantes.
Além disso, minha mãe ficava ligando ou aparecendo porque,
aparentemente, agora que ela estava dando uma nova chance ao meu pai,
ela achava que eu era a porra do melhor amigo dela. Não, obrigado. Não
precisava dos detalhes e não queria tagarelar com ela sobre isso. Eu tentei
dizer a ela dez vezes que eu não dou a mínima ao que ela usaria para o
pequeno restaurante quebrado em seu primeiro encontro em anos. Apenas
concordei com todas as escolhas de roupas dela, e então ela ficou chateada
comigo por não levar isso a sério.
Quando você namora e termina com o mesmo homem por trinta e cinco anos, é
difícil levar isso a sério, pensei.
Além dessa merda, a mãe de Devon teve um dia ruim. Ela não conseguia
se lembrar onde estava ou o que sua vida implicava, e Mary não estava
qualificada para lidar com isso, então Mary ligou para Nate e Devon, e eles
a levaram para o hospital. Comecei a temer que Mary a expulsasse porque
seus problemas estavam ficando grandes demais para ela lidar, e então
teríamos que encontrar dinheiro ou tempo para arrumar um lugar melhor
para ela. Foi pura sorte que Mary tivesse o espaço disponível em primeiro
lugar.
Portanto, sem jogos de cartas, sem jogos de tabuleiro e sem torções e
orgasmos. Eu esperava que a mãe deles estivesse bem, mas eu estava ansioso
por este fim de semana com Devon a semana toda. Toda vez que tentávamos
fazer algo juntos, dava errado. Eu queria usar este fim de semana para
mostrar a ele que ele não precisava mais ser meu médico. Eu não queria que
ele cuidasse de mim, me protegesse ou colocasse sua vida em espera por
mim. Eu queria sexo como costumávamos ter, rivalidade como
prosperávamos e voltar para nós mesmos em geral. Um confronto que se
transformaria em sexo gostoso parecia perfeito.
— Tudo bem, seu mal-humorado filho da puta — disse Xavi, recostando-
se em sua cadeira de jardim no nosso deque da frente. Nós recentemente
compramos um toldo, e eu ficaria chateado se esta chuva forte o quebrasse.
— Eu tenho dúvidas.
Claro que sim. Ele era pior para fofocar do que minha mãe. E mais difícil
de ignorar porque ela acabava desistindo, mas Xavi era um babaca
persistente.
— Você é gay? — ele perguntou sem rodeios.
— Por que diabos essa é a sua pergunta?
Xavi balançou a cabeça em algum movimento não comprometedor.
— Eu tenho minha bunda fodida, Xavi. Isso me torna muito gay. Não
posso fingir que sou apenas um garoto hétero que gosta de sexo.
— Mas você só quer transar e foder a bunda de outros caras ou ainda
gosta de garotas? — Ele esticou as pernas como se conversas sobre sexo anal
fossem uma terça-feira casual.
— Apenas Devon. Nenhuma outra bunda. Nenhuma outra coisa.
Nenhuma outra pessoa. Por que isso importa? — Olhei para ele, tentando
decifrar a porra da bagunça que ele era. Esse cara não sabia qual era o
caminho para cima ou qual direção era para baixo, e ele se saiu bem assim
durante a maior parte de sua vida, mas algo estava em sua mente agora.
— Porque estou tentando descobrir minha sexualidade aqui, Madd. Não
me enche o saco! — Ele suspirou dramaticamente. — Achei que era hétero,
certo? Mas algumas coisas sensuais estão acontecendo, e agora estou me
perguntando se há uma escala móvel ou algo assim? Como hétero com um
pouco gay? Como apenas um pouco de algo, você sabe? Isso existe? — Ele
olhou para mim, honestamente pensando que eu tinha as respostas. Que
porra eu sabia? Como apenas um pouco de algo?
— Que coisas sensuais? O que aconteceu?
— Bem, eu tenho saído com essa garota, certo?
— Sim. — Não tinha ideia.
— E está indo muito bem e toda essa merda. Mas ela... também está saindo
com outra pessoa. — Ele olhou para mim e eu sabia que a piada estava
chegando. Eu juntei isso na minha cabeça.
— Nate?
— Sim — ele gemeu. — Nós dois sabemos disso. Está bem. Estamos bem.
Tem sido fácil.
— OK?
— Mas então, na outra noite, eu ia para a noite da luta, mas esqueci uma
coisa na loja, e Nate estava lá com ela quando voltei. Uma coisa levou a outra
e coisas sensuais aconteceram, Madd.
— Então? Você e Nate já fizeram essa merda antes. Qual é o problema?
— Eu olhei! — ele gritou, levantando-se, derrubando a cadeira, jogando
os braços para o céu. — Eu olhei, Madd. Eu assisti. Eu admirei! Oh, bom Deus,
eu olhei. — Seus olhos em pânico me imploraram para convencê-lo a sair
dessa crise. — Eu acho que o que estou tentando dizer é... — Ele se
atrapalhou, então eu disse por ele.
— Você o examinou e conseguiu um pau duro com isso.
Ele bateu com as duas mãos no rosto e gemeu como se estivesse morrendo.
— Sim.
— Não pense nisso. Não faça isso, cara. Péssima ideia. Ele é seu melhor
amigo e as amizades não sobrevivem a essa merda, a menos que sejam
mútuas. Quer dizer, eu sei que vocês dois têm uma amizade sólida, mas você
tem certeza de que ela poderia sobreviver se você cruzasse o limite?
— Não, não tenho certeza, e nem mesmo tenho certeza de porquê olhei e
não parei de olhar.
— Espere, isso é tudo o que aconteceu? Você apenas fez sexo a três e ficou
um pouco preso em observá-lo?
— Sim.
— Isso não faz de você um pouco gay. Essa é apenas uma situação sexy.
— Dei de ombros, esperando que essa conversa de merda terminasse.
— É a merda que passou pela minha cabeça, Madd.
— Se você me disser que quer começar a chupar o pau do Sawyer, eu dou
uma surra em você. Vocês dois deveriam ser melhores amigos, não do tipo
que fazem sacanagem e boquetes. Não.
Seu constrangimento era evidente, mas seu drama era pior. — Houve um
flash de uma imagem daquela garota simplesmente desaparecendo e eu e
Nate sendo... sim, provavelmente é uma má ideia, certo? É totalmente uma
má ideia — ele respondeu a si mesmo. — Eu sou gay em uma escala móvel?
— Você é um idiota. — Dei-lhe uma cerveja para calá-lo. — Sente-se e
pare de ser uma diva.
Ele endireitou a cadeira e caiu nela, arrancando a cerveja da minha mão.
— Eu posso ser uma diva o quanto eu quiser. Essa merda surgiu do nada. É
a inversão de papéis do ano passado. Agora eu estou me perguntando se eu
deveria lutar com Nate para ver qual pau tropeça na bunda de quem. — Ele
bebeu a lata inteira e jogou em mim. — Malditos Sawyers.
— Crack para nossos paus — eu concordei.
— Sim, mas não ficamos viciados até mais tarde na vida. O universo criou
nossas histórias para foder conosco até pelo menos vinte e cinco anos e então
progredimos para o nível dez e temos que batalhar para sair disso.
— Eu tinha vinte e cinco anos quando fodi meu Sawyer, então sou
claramente mais fodão do que você.
— Não vou discutir isso — ele riu. — Eu não estou transando com ele.
Não vou. Ele está chateado comigo porque estou sendo estranho, e estou
aqui tipo, o quê? Desculpe, eu fiquei duro e imaginei sua boca no meu pau.
Deus.
Eu sorri para a chuva. — Era sobre ele que você estava falando antes
quando me perguntou como eu me sentia sobre Devon?
— Não. Ela. Eu gosto dela por causa de quem ela é, mas acho que gosto
mais dela porque Nate também está lá. — Ele encolheu os ombros. — E eu
odeio que minha mente às vezes queira tirá-la de cena, então, obviamente,
meus sentimentos mudaram. Poooorra — ele gemeu novamente, inclinando
a cabeça para trás. — Eu tive uma coisa boa com ela e ele estragou tudo.
— Você estragou tudo — eu ri. — Apenas tome cuidado, Xav. Se vocês
dois estragarem sua amizade, o apocalipse pode acontecer.
— Sim, sim — Xavi me interrompeu. — Quando eles voltarem do
hospital, você quer que prendamos você e Dev na pedreira de novo? Pode
ser a única maneira de conseguir algum tempo para vocês mesmos.
Isso não soou tão mal, mas minha boca disse algo diferente. — Como
diabos você se casa com um cara?
Meu irmão virou a cabeça em minha direção. — Uh, com certeza da
mesma forma que qualquer um se casa.
— Sim, mas eu tenho que propor? Ele propõe? Tem que haver uma
proposta?
— Sim — Xavi zombou. — E me avise sobre isso para que eu possa filmar
essa merda. Qualquer um de vocês pode propor, e agora que eu disse isso,
sinto que vocês vão transformar isso em uma competição. Você está
pensando honestamente em casamento, Madd?
Ah, eu estava pensando sobre isso. Não queria um casamento chique ou
qualquer uma dessas merdas, mas queria que Devon fosse meu de todas as
maneiras que pudesse tê-lo. Eu queria nos amarrar para o resto da vida,
mesmo que fossem algemas.
— Ei, Madd?
Olhei para meu irmão.
— Prometa-me uma coisa. Prometa-me que não importa o que aconteça
com Jim, você não se colocará em risco novamente. Não posso perder você,
cara.
Eu balancei a cabeça para prometer. Eu faria o que fosse necessário para
proteger Devon de seu pai, mas não tinha intenção de estragar minha
própria vida no processo. — Eu só quero que essa merda acabe para que
todos possamos seguir em frente com nossas vidas chatas, onde lutamos e
brigamos e nos divertimos. Isso é tudo o que eu quero.
— Então acho que tenho uma ideia — disse Xavi.

Que merda de mau humor. Quando Devon chegou em casa do hospital,


ele passou uma hora inteira desabafando sobre o sistema médico, saúde
mental, a condição de sua mãe, seu pai e o envolvimento de seu pai na
condição de sua mãe, a chuva e a porra do destino do mundo. Ele também
reclamou sobre nosso fim de semana ter sido arruinado.
Enquanto ele reclamava, eu fazia as malas. Ele ainda estava
inconscientemente reclamando quando eu empurrei sua bunda para dentro
do caminhão, e mal parou para perceber para onde estávamos dirigindo.
Quando estacionei em frente ao nosso trailer na pista, ele finalmente
acordou. Se ninguém ia estar aqui por causa da chuva, poderíamos estar aqui
por causa dela.
— Eu não acho que posso estar todo feliz e com tesão agora, Madd — ele
suspirou, caindo em uma cadeira de jardim para a qual eu basicamente tive
que conduzi-lo. — Minha mente está toda fodida.
Veríamos isso. — Então beba o suficiente para desligar a cabeça e liberar
um pouco desse estresse.
Ele me deu um olhar de olhos azuis. Eu sabia exatamente o que
significava. Ele não se importava em beber, mas não quando estava de mau
humor.
— Você não é seu pai, Devon. Chega dessa merda. Confie em si mesmo.
— Toda vez que esse cara abria uma cerveja ou cheirava uísque, ele pensava
que estava se tornando um alcoólatra. Eu entendia. Entendia mesmo. Mas
eu odiava porque significava que ele não acreditava em si mesmo. Ele nunca
escaparia do controle de seu pai se gastasse toda a sua energia tentando não
ser ele. Eu nem queria dizer sobre bebida; apenas tudo. Os pais dele eram
viciados e diziam que essa merda acontecia nas famílias, então se esse fosse
o motivo dele, eu apoiaria. Infelizmente, não era o seu raciocínio e até que
ele colocasse a cabeça no lugar e descobrisse que era melhor do que Jim, eu
continuaria pressionando-o a fazer coisas que ele não queria fazer. Eu estaria
aqui para cuidar dele o tempo todo.
— Sim, até que eu beba demais e não consiga desligar. — Ele olhou para
a lata fechada.
Ok, esse foi um raciocínio melhor.
— Bem. Não beba. — Peguei a cerveja dele. — Mas você tem que aprender
a acalmar e relaxar. Qual é o sentido de se estressar com tudo se nunca há
um resultado feliz?
Devon esfregou as mãos úmidas na calça jeans, olhando para as poças de
lama que se formavam. Eu sabia que o peso do mundo estava sobre seus
ombros, então, por uma noite, eu queria aliviar um pouco dessa pressão. Eu
queria dar a ele uma boa sensação para segurar.
— O que vamos fazer se meu pai voltar para nos pegar? — ele perguntou,
olhando para mim com esperança de que eu pudesse ter as respostas.
— Passar por isso. — Dei de ombros e agarrei sua mão. — Olha, babaca.
Deixamos seu pai, sua mãe, nossos irmãos e toda essa merda em Garron
Park. Estamos na pista agora. Só você e eu. Não me faça chutar o seu traseiro
antes de foder ele.
Ele sorriu. Então gemeu, não caindo na minha isca ainda. — Estou falando
sério, Madd. Já estraguei tudo uma vez por perder os sinais. Não quero fazer
isso de novo.
Não dê um soco nele. — Fale comigo sobre isso.
— Eu estou assustado. Com tudo. Estou com medo de você voltar ao
trabalho porque não posso te proteger lá e vou sentir sua falta. Foda-se por
isso. Estou com medo de que minha mãe fique no hospital e não possamos
cuidar dela. Estou com medo de que Mary a expulse e não tenhamos ideia
de como cuidar dela. Me assusta toda vez que Nate e Xavi saem porque
aqueles idiotas são irresponsáveis pra caralho e nunca se protegem. E estou
com medo de que meu pai realmente consiga tirar você de mim. — Ele se
engasgou. — Só estou com medo, Madd.
Esta foi a primeira noite novamente. Lá estava ele, o cara que eu sempre
pensei ser a pessoa mais forte do mundo, olhando para mim com toda a
vulnerabilidade que ele tinha. O medo vazou por seus olhos e pesou em seus
ombros, e as linhas de preocupação em seu rosto não combinavam com a
ruga de raiva que ele normalmente tinha entre as sobrancelhas. Este era
Devon vulnerável, e Deus sabe porra que ele era a minha maior fraqueza.
Força.
— Ele se foi há dois meses. Eu entendo, ok. Eu entendo todos os medos.
Aconteça o que acontecer com sua mãe, nós descobriremos, mas o resto? Não
há nada que possamos realmente fazer além do que já estamos fazendo.
Temos que aprender a ter alguns dias bons com todos os nossos dias ruins,
não?
— Eu sei — ele concordou, querendo se desculpar por ser um Devon
Deprimente
— Você sabe do que você precisa?
Ele revirou os olhos. — Diga-me.
— Você precisa se lembrar para que diabos estamos vivendo. Para mim,
é você, seu idiota de merda. Você é o que eu vivo. Temos vinte e seis, não
oitenta e seis. Estou curado, você está vivo e estamos apaixonados, sim?
Então, seja esperto.
Ele sorriu timidamente. — Como você é tão doce e tão idiota ao mesmo
tempo?
— Se pudermos passar do ódio um ao outro para o amor, podemos fazer
qualquer coisa, Devon. — Pronto. Doçura sem insulto. Eu era praticamente
Shakespeare.
Devon ficou preso olhando para mim. Eu o observei se transformar. A
preocupação em seus olhos se transformou em desejo, e o medo neles se
transformou em determinação. Mais do que isso, observei o peso em seus
ombros relaxar e, em seu lugar, vi um desafio. Ele sorriu, olhando para a
floresta ao lado do trailer.
— Lembra quando nos beijamos aqui pela primeira vez?
Eu nunca esqueceria. Principalmente porque eu era muito covarde para
fazer isso e ele venceu o desafio. Melhor beijo da minha vida.
Ele se levantou e apontou para a floresta onde aconteceu, seus olhos nos
meus. — Estou me sentindo nostálgico. Eu quero que você me foda lá.
Meu pau reagiu antes da minha boca. Levantei-me, combinando com sua
altura.
Elevando-se ao seu desafio.
24

-Devon-
A primeira vez que nos beijamos, Maddox estava bêbado, chateado com
algum idiota em jeans chique por atacar gays e agressivo pra caralho sobre
isso. Ele foi quem colocou tudo em ação, mas fui eu quem tirou vantagem e
realmente o beijou.
Mas Maddox não estava hesitando desta vez. Oh não. Meu garoto tinha
toda a confiança do mundo quando se tratava de ser físico agora, e receber
seu amor severo e assertividade primitiva era o único lugar que eu queria
estar.
A maldita chuva quase chiava em nossos corpos aquecidos. As copas das
árvores balançavam nos ventos turbulentos, assim como nossos desejos
desenfreados formavam tempestades dentro de nós. Não importava que
estivéssemos fodendo por mais de um ano. A excitação ainda existia e o fogo
só queimava com mais calor. A nossa tempestade se enfureceu mais
selvagem do que nunca.
O verde nos olhos de Maddox brilhava a cada relâmpago. O poder em
seus olhos tornou-se meu próprio suprimento de bateria, me carregando, me
deixando excitado. Ele me ampliou até a potência máxima, e a faísca
formigou em todos os lugares.
— Vire-se, Devon — ele rosnou para mim, a mandíbula apertada
impacientemente e os olhos cheios de hostilidade.
Embora eu absolutamente amasse seus movimentos de poder, adorava
desafiá-los ainda mais. Sorrindo para ele, realizei uma ação típica de
Maddox Kane. Silêncio. O tipo de silêncio carregado que falava mais alto
que palavras e prendia a respiração em antecipação.
Maddox deu um único passo à frente. Apenas um passo calculado. Isso
era tudo o que ele se permitiu porque esta noite, seu jogo era finalização. Até
que conseguisse isso de mim, ele permaneceria no controle de nós, da
tempestade e da situação. A água escorria das mechas escuras de seu cabelo
e pingava de seu queixo. O trovão estalou acima, ao redor, batendo no
tambor de seu coração. Tudo sobre Maddox me excitava. Desde a maneira
como ele emitia uma energia assustadora até a maneira como olhava para
mim como se eu fosse a salvação e a ruína de sua vida. Ele me amava. Mas a
maneira como me amava era selvagem, finita e implacável.
Eu o amava de volta com a mesma ferocidade.
— Devon — ele murmurou, os pés chapinhando na lama. — Vire-se.
Agora mesmo.
— Você acha que eu não sei como desafiá-lo, Madd? — Eu zombei, só
para irritá-lo. — Por favor.
Mais dois passos calculados. Esses dois passos nos trouxeram peito a
peito, e minha cabeça levantou por conta própria quando ele colocou a mão
em volta da minha garganta. Eu encontrei seus olhos e não me esquivei,
animado para me elevar a ele - para me elevar a mim mesmo.
— Por que você está fodendo comigo? Você pediu isso. Você disse que
queria transar aqui. — Relâmpagos eram refletidos em seus olhos e trovões
retumbavam para ressoar com sua voz. A tempestade não o estava
afogando, ela o amplificava, trabalhava com ele, fazia seu trabalho sujo.
Sim, eu queria isso. Mais do que isso, queria relembrar nosso início.
Chame-me de idiota sensível, mas aquele momento nesta árvore há um ano
e meio mudou nossas vidas para sempre. Para melhor. Eu queria reviver
aquele momento, lembrar o poder dele e me alegrar com o quão longe
chegamos desde então. Ganhei Maddox Kane por causa daquele momento,
e com o fogo do inferno aquecendo seu sangue e a tempestade alimentando
sua energia, eu queria experimentá-lo como ele era agora. Mais forte.
Confiante. Perigoso. Protetor e possessivo, e no amor verdadeiro.
Eu queria lembrar o quão sugestivamente inseguro ele estava naquela
noite. Ele não tinha ideia do que queria, mas tinha todo o instinto para
aceitar. Agressão com uma causa e confusão com um propósito.
Os dedos de Maddox tamborilaram contra meu pescoço. — Eu quero —
eu admiti. — Eu quero você aqui neste lugar.
Ele se inclinou para me beijar, mas eu pressionei seu peito.
— Podemos estar apaixonados e tal, Maddox, mas você ainda é meu
maior oponente. Nossas lutas mudaram e não precisamos mais nos
machucar, mas não me curvo a você naturalmente.
O pequeno sorriso que inclinou seus lábios fez meu pau endurecer. Lá
estava ele, meu rival digno. Ele não estava tentando ser sexy ou brincalhão;
estava me mostrando que aceitou o desafio. Seus dedos tamborilaram mais
uma vez antes de apertar minha garganta.
— Mm — ele meditou, inclinando-se em meu corpo, fazendo a casca da
árvore machucar minhas costas. — Então você precisa ser forçado?
Leve-me.
— Você quer me desafiar apenas para provar que tem força para lutar
comigo pelo poder que nós dois sabemos que eu já tenho?
Conquiste-me.
— Eu vou foder você, Devon. Bem aqui, como você quer. Mas quando eu
terminar com você, você não terá mais nenhuma luta em você.
Controle-me.
— Você ainda está falando? — Eu zombei.
— Você ainda está lutando?
Eu encontrei seus olhos assim que um raio caiu. — Sempre.
Seu sorriso se transformou em uma provocação, mas não tive tempo de
apreciá-lo. Quando sua mão agarrou meu cabelo e ele esticou meu pescoço
para trás, observei seus olhos seguirem para baixo enquanto recuperava seu
poder. Meus joelhos dobraram para ele enquanto ajoelhava até que
esmagassem no chão lamacento.
Domine-me.
Minha criptonita em vida, mesmo antes de nosso relacionamento, era o
poder dele. A luta para desafiá-lo, mas também o desejo de se submeter a
ele. A eletricidade da tempestade carregou o chão em que me ajoelhei, mas
Maddox me carregou.
— Engasgue — ele exigiu, desfazendo a calça.
Eu olhei para ele. Force-me.
Com uma mão na minha nuca, Maddox puxou meu rosto para sua virilha.
A umidade de sua calça esfriou meu rosto, mas minha boca esquentou o
tecido. Com dedos gananciosos, eu o lambi através do tecido, tentando
desfazê-lo, e puxar para baixo. Desci por suas pernas, deixando seu pau me
dar um tapa na cara enquanto se soltava, e então minha boca ansiosa lambeu
as gotas de chuva que pingavam de seu pau. Minha respiração ofegante
embaçou o ar e a chuva se misturou com minha saliva, criando uma bagunça
quente e desleixada que me fez avançar para provar mais.
Chupei-o em minha boca com uma necessidade choramingada de mais.
Eu não sabia o que havia de errado comigo, mas não podia me submeter
voluntariamente. Quando ele me forçou, me fortaleceu tanto que eu me
perdi em seu controle e não dei a mínima para isso. Engasguei, assim como
ele exigiu, e então esse idiota agarrou os dois lados da minha cabeça e fodeu
meu rosto sem remorso. Amordacei, gaguejei, engasguei e gemi perto dele,
puxando seus quadris com tanta força quanto ele puxava minha cabeça.
— Eu não ouço engasgos o suficiente — Maddox rosnou para mim.
Minha garganta queimou alegremente, a dor fazendo meu pau vazar em
minha calça. Meus olhos choraram lágrimas que se misturaram com a chuva,
e os músculos do meu pescoço ficaram mais tensos do que meu pau.
Me faça seu. Tire de mim o que você quer. Use-me agora e me ame depois.
— Eu possuo você pra caralho, Devon — a voz de Maddox tornou-se mais
profunda do que o trovão. — Todo você. Seu maldito corpo, sua alma
quebrada e todo o seu coração.
Use-me agora e me ame o tempo todo.
— Entendeu?
Eu balancei a cabeça em seu pau, sugando-o tão pateticamente que ele me
puxou pelos cabelos. Engasguei em protesto, viciado na maneira como ele
me controlava.
— Entendeu? — ele perguntou novamente. Maldosamente.
— Sim — eu ofeguei, os olhos nos dele. — Foda-se, sim.
— Sim, o quê?
Maldito seja. — Você me possui.
Maddox lambeu a chuva de seu lábio inferior antes de mordê-lo,
arrastando-o entre os dentes. Ele ficou acima de mim, olhando para baixo
como se eu fosse seu bem mais valioso, mas ele não tinha certeza se queria
me exibir ou me trancar apenas para seus olhos. Uma de suas mãos esfregou
meu cabelo, fazendo cócegas em minha bochecha e mandíbula suavemente
antes de puxar meu queixo e me colocar de pé.
— E agora eu vou te foder. — Ele realizou meu antigo sonho, cravando
seus dentes em meu pescoço. Uma felicidade pungente irradiava para o meu
peito, e minhas mãos agarraram sua camisa para manter o equilíbrio. Ele
puxou minha calça para baixo e rasgou minha camisa, trocando aquela
mordida por um beijo de sucção enquanto eu chutava minha calça que caiu
em uma poça. Rasgando sua camisa com dedos trêmulos que trabalharam
mais rápido do que minha mente poderia acompanhar, eu o arranhei até que
ele estivesse nu. Perfeição bronzeada, tonificada e cicatrizada.
A cicatriz de sua cirurgia se destacava em roxo contra os arrepios em sua
pele, a chuva contornando a imperfeição marcada. Empurrando minhas
costas contra a árvore em que originalmente nos beijamos, Maddox cuspiu
na palma da mão e esfregou em seu pênis. Ele me observou com grande
interesse enquanto a tempestade avançava, e então agarrou meu pulso,
separou meus dedos e enfiou dois deles em minha boca. Chupei até que
estivessem pingando e ofeguei quando ele os enfiou entre as minhas pernas.
Ele enganchou uma das minhas pernas sobre seu quadril e
silenciosamente exigiu que eu me dedilhasse. Com a mão agora na minha
garganta, ele me forçou a manter contato visual enquanto eu fodia minha
bunda com o dedo, desejando que fosse o pau dele. Quando eu gemia, ele
rosnava. Quando eu estremeci, ele me firmou. Quando minhas pernas
ameaçaram recusar meu peso, ele me segurou ali por pura força de vontade.
O relâmpago destacou as partes pecaminosas dele, e o trovão enunciou a
batida de seu coração, e quando eu gemi e deixei minha cabeça cair para trás,
a chuva esfriou minha testa aquecida.
Ele arrancou minha mão da minha bunda. — E eu nunca vou parar de
foder você. Amar você. — Ele se alinhou com meu buraco, me posicionando
com facilidade. — Você também me possui, Devon.
Meu coração inchou e minha bunda apertou. Maddox se enterrou dentro
de mim, sua testa encostada na minha enquanto eu me mexia para me ajustar
a ele. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele se sentia sentimental,
mas só permitiria a ele um único momento dessa suavidade. Ele me disse
que eu o possuía também, e esse comentário e o tempo que levei para me
ajustar ao seu pau invadindo minha bunda foi todo o tempo que teríamos
para ser gentis.
Ele prometeu foder-me até à exaustão.
Cumpra.
— Eu te amo — sussurrei, segurando seus ombros para me equilibrar,
aproveitando a plenitude dele me preenchendo.
Eu sabia que ele me amava; ele não precisava dizer isso. — Você é meu —
ele repetiu ao invés. Era o mesmo que uma declaração de amor.
Com um beijo agressivo final, Maddox puxou e empurrou em mim. O
tronco arranhou minhas costas e Maddox machucou minha pele. Ele me
fodeu assim até que o tronco me fez sangrar e meu corpo ficou fraco, e então
ele puxou para fora.
O vento me refrescou e fiquei com as pernas trêmulas sem que ele me
segurasse. Eu sabia o que viria a seguir, e era eu quem teria que fazer isso.
Ele fodeu-me até a exaustão, então eu perdi o jogo.
Quando ele acenou com a cabeça para o chão, eu me ajoelhei. Submetendo.
Submetendo a ele, nosso relacionamento, a vida fodida que viveríamos
juntos e o amor que queimaríamos. Para Maddox Kane.
Ele se ajoelhou atrás de mim, agarrando meus quadris com força para me
posicionar exatamente como ele queria. Caído e sujo na lama, a tempestade
rugia. Eu gritei de prazer quando ele empurrou dentro de mim, liberando
seu próprio tsunami que rivalizava com aquele que o tempo colocou sobre
nós.
A chuva esfriou nossa pele em chamas, mas Maddox nos queimou.
O trovão ecoou por entre as árvores, mas Maddox rosnou mais alto.
O relâmpago chiou no ar, mas nossa química superou qualquer
tempestade elétrica.
O vento açoitava nossos corpos expostos, mas Maddox me protegeu de
todas as tempestades, menos da dele.
Ele fodeu mais do que até a exaustão. Ele fodeu a vida fora de mim. E
quando eu estava meio morto na lama com galhos e folhas presas ao meu
corpo quebrado, ele me trouxe de volta à vida com um segundo,
completamente não solicitado, orgasmo.
Puta merda, Maddox.
25

-Maddox-
Depois de tomar banho até o tanque de água ficar vazio e Devon
praticamente forçar a água em sua bunda para se certificar de que nenhuma
lama entrou lá, ele me chamou de idiota e adormeceu contra o meu peito.
Ele ficou nostálgico ontem à noite. Nunca percebi o quanto aquela maldita
árvore significava para mim. Essa coisa toda começou com aquela árvore, e
agora que ele estava dormindo ao meu lado, sem me ver desmoronar em
meus sentimentos, também me permiti ser sentimental sobre isso. Uma
maldita árvore. Jesus.
Deitado na cama minúscula com o braço de Devon sobre meu peito e suas
pernas quase forçando as minhas para fora da borda, a pista estava
finalmente silenciosa. A tempestade havia diminuído e, apesar de a manhã
estar cinzenta e sombria, estava quente e pacífica.
Minha mente fez uma viagem pela estrada da memória. A noite em que
Devon apareceu em nosso trailer com uma facada e vulnerabilidade em seus
olhos foi a melhor e a pior noite de todas. Me abalou vê-lo assim, mas acho
que me abalou ainda mais perceber que doía vê-lo tão derrotado. Eu não
esperava uma reação como aquela, e foi isso que mais me pegou de surpresa.
Ele deveria ser forte, intocável e durão, mas vê-lo fraco e em um ponto tão
baixo me mostrou que não éramos tão diferentes um do outro. Foi a primeira
vez que realmente me relacionei com ele.
A partir daí, lutamos contra isso com tudo o que tínhamos. Não era natural
para nós unir nossas vidas e passar do ódio ao amor, e era especialmente
difícil admitir isso. Uma parte de mim se perguntou se poderíamos ter
acabado aqui sozinhos ou se ainda estaríamos nos debatendo inutilmente se
nossos irmãos não tivessem intervindo. Naquela noite na pedreira... droga.
Não foi gracioso, mas quando cedemos, nossas vidas mudaram para sempre.
Eu deixei de ser um idiota com uma vingança contra meu inimigo para ser
um idiota com um desejo ardente pelo meu maior rival. Devon sempre foi o
ponto focal da minha vida, mesmo quando eu não percebia. Ele era a
pontada no meu lado, a queda do meu humor e a fonte da maioria das
minhas frustrações, mas também se tornou minha salvação, minha
esperança e o amor da minha vida.
Fodido.
Envolvi meu braço em torno dele um pouco mais apertado, não pronto
para deixá-lo ir ainda. Eu era um romântico sentimental com a necessidade
de mimá-lo o tempo todo? Porra não. Mas eu queria dar a ele o mundo, tratá-
lo como o fodão que ele era, lembrá-lo do idiota que ele sempre foi e dizer
para sempre que ele tinha todo o meu maldito coração. Tudo isso. Não
importava o quão inseguro e ciumento ele ficasse, eu sempre pertenceria a
ele. Devon era isso para mim.
Apesar de quantas vezes nos irritamos, bagunçamos nosso
relacionamento ou usamos os punhos em vez de palavras para resolver
nossos problemas, eu não gostaria que fosse de outra maneira. Um terapeuta
nos diria que prosperamos com violência doméstica. Talvez sim. Talvez não
fosse saudável. Mas não via isso como abuso. Eu via isso como um desafio.
Éramos pessoas físicas e nosso relacionamento se tornou físico por causa
disso. Nossa dinâmica era falha, e se ele fosse uma garota, eu provavelmente
estaria na prisão perpétua, mas ele não era, e eu não via sentido em nos
comparar com mais ninguém. Nós éramos diferentes. Não se tratava de
machucar um ao outro; não mais. Tratava-se de expressar os sentimentos da
maneira como falamos melhor e nos comunicar um com os outro em tipos
de conversas que faziam sentido para nós. Por que alguém mais precisava
estar em nosso relacionamento? Não estávamos machucando um ao outro.
Muito.
A perfeição me entediava, e Devon era a coisa mais distante disso. Juntos
não parecíamos nada nem perto da perfeição, e talvez seja por isso que eu
nos amava tanto. Éramos areia e cascalho, unidos com cuspe e supercola,
fundidos entre todos os nossos pedaços irregulares.
Cheirando-o, lembrei a mim mesmo que essa merda com Jim acabaria
eventualmente. Xavi tinha um plano para atrair Jim para Garron Park, e
então nos livraríamos dele, com ou sem a ajuda da polícia. Desta vez,
tínhamos uma vantagem real. Gary havia escorregado. Meu pai ficou um
pouco... criativo com seu questionamento, e Gary admitiu que o conteúdo
daquele contêiner realmente havia sido roubado, e estava sendo mantido em
Garron em algum lugar. Então, planejamos encontrá-lo e oferecê-lo a Jim em
uma bandeja de prata.
Também encontramos uma maneira de enviar uma mensagem para Jim.
O maldito Patrick Harris, aquele aviador amarelo filho da puta, tinha sido
tirado desse acordo por Jim. O contêiner era para ser seu golpe, e agora que
Jim tinha estragado tudo e escondido o conteúdo dele, ele tinha sua própria
vingança com aquele patético filho da puta que gerou meu namorado.
Patrick alegou não saber onde estava o conteúdo, mas eu não confiava nele...
ou em seus aviadores.
Eu encontraria o contrabando primeiro e, quando o encontrasse,
encontraria uma maneira de derrubar Jim com ele. Xavi e Nate estavam lá
agora, procurando por ele, conversando com as pessoas para ver se tinham
visto alguma coisa e de olho em Gary. Gary estava envolvido, só não
sabíamos o quão profundo ainda.
Afastei o cabelo crescido de Devon de sua testa, passando meus dedos
pelas mechas loiras. Esse idiota precisava tanto de um corte de cabelo, mas
eu tinha que admitir, era bom ter o comprimento extra para segurar. Devon
era a única pessoa viva que poderia me deixar sentimental. Para todos os
outros, eu era um idiota taciturno e miserável com problemas de raiva e uma
vibração ruim, mas Devon me deixou mais caloroso e, com certeza, às vezes
eu odiava quando ele fazia isso. Especialmente em público. Eu precisava
permanecer o idiota para todas as intenções e propósitos. Outra coisa que
Devon tinha que ninguém mais tinha? Poder sobre mim. Eu nunca diria isso
a ele, mas ele me possuía, porra, corpo, sangue e ossos. Eu tinha certeza de
que ele já sabia. Não tínhamos nada de conto de fadas sobre nós, mas
tínhamos um monte de coisas que os outros não tinham.
Tínhamos lealdade, apesar de às vezes ser falha.
Tínhamos desejo, embora ardesse com tanta força que às vezes nos
tornava mudos.
Tínhamos franqueza, mesmo que ferisse meu orgulho admitir certas
coisas para ele.
Nós tínhamos um ao outro. Amor, lealdade, conforto e um nível de
respeito que supera tudo. Ganhei na porra da loteria com esse idiota. Porra
me leve, cara. Leve tudo de mim, porque não havia mais ninguém a quem eu
daria um pedaço de mim.
— Não — Devon gemeu. — Pare. De. Pensar.
Acho que eu era um pensador barulhento. Ainda não tinha aprendido a
meditar, mas provavelmente adiei porque queria que ele me sentisse
pensando.
— Vamos tomar café da manhã — eu disse ao invés disso, beijando seu
cabelo como um sentimental.
Ele bufou uma risada rouca contra o meu peito. — Não podemos pagar o
café da manhã.
Ele não estava errado. O dinheiro estava curto, já que estávamos
basicamente fora do trabalho enquanto eu me curava, mas não estávamos
terríveis. Ainda não, de qualquer maneira.
— Então vamos para casa. Temos o suficiente para que eu possa fazer o
café da manhã para você.
— Por que você está sendo um idiota doce? — ele perguntou, seus dedos
traçando meu abdômen e seus olhos ainda fechados.
Mate-me por dizer isso, mas. — Porque eu te amo e quero fazer coisas boas
para você. — Eu deveria ter batido nele por me fazer admitir isso. Uma parte
de mim queria jogá-lo para fora desta cama, chutá-lo para andar e colocar
sua bunda em movimento. Uma parte diferente de mim passou a mão por
suas costas para acalmá-lo suavemente. O que estava errado comigo?
Amor. Droga.
Devon abriu aqueles olhos azuis e olhou diretamente para mim com um
sorriso cruel. — Oh, aqui vamos nós — ele riu. — Dê um passeio pela estrada
da memória e de repente você é uma noiva corada.
— Foda-se, Devon. — Eu o empurrei.
Ele riu ainda mais, me puxando de volta. — Eu também te amo — disse
ele. — E já que você me fodeu até a exaustão ontem à noite, deixe-me foder
você até a exaustão de volta esta manhã. — Ele montou em mim.
Pau duro. O antigo mau humor se foi. Voltei para a estrada da memória.
Eu meio que tinha que mijar, mas ainda não estava desesperado e isso
parecia mais importante. Admirei-o novamente, mas desta vez foi mais do
que seu corpo. Era a maneira como ele assumia o comando e sabia o que
queria. Era a maneira como ele sabia o que eu precisava sem que eu
precisasse dizer.
Ajoelhando-se entre minhas pernas, ele moveu o cobertor e pegou meu
pau em sua mão, segurando-o para cima. Observei sua língua deslizar sobre
a ponta, me provocando e me fazendo tremer. Eu coloquei meu braço atrás
da minha cabeça, contente em vê-lo comandar este show. Ele me lambeu da
base à ponta e de volta para baixo antes de descer para chupar minhas bolas.
Sua mão acariciou languidamente, e seus olhos continuaram mudando do
meu olhar para o meu corpo. Ele mexeu comigo até que comecei a suar com
a contenção de não agarrar o cabelo que precisava cortar para enfiar meu
pau em sua garganta. Só esse idiota daria um boquete sem realmente dar um
boquete. Eu amei a foda mental disso. Tanto que minhas pernas se abriram
mais.
— Lubrificante? — ele perguntou, sua voz vibrando em minhas bolas.
Jesus.
Eu derrubei copos e latas quando estendi a mão para ele na mesinha lateral
de merda, muito ansioso porque Devon não tinha me fodido desde antes de
eu levar um tiro. Não foi até este exato momento que percebi o quanto eu
queria isso.
Lubrificando os dedos, ele massageou minha bunda e continuou a
provocar a porra da minha cabeça. Quando seus dedos bombeavam, meus
quadris balançavam por conta própria. Ele lambeu meu pau, mas nunca
chupou, e toda vez que eu empurrava em seus dedos, eu tentava deslizar
meu pau entre seus lábios, mas ele me segurava todas as vezes.
— Devon — eu rosnei. — Se apresse. Sem mais provocações.
Ele bombeou três dedos e os curvou até que eu engasguei com a
respiração. — Você está me implorando, Maddox Kane?
Claro que estava, mas cerrei os dentes e tentei mandá-lo se foder com os
olhos. Ele entendeu a mensagem, mas era muito burro - persistente - para
aceitá-la. — Sim. Foda-me já. Deus.
Devon ficou de joelhos, lubrificando seu pênis. — Se doer…
— Não vai. Estou bem.
— Eu sei que você está — disse ele, sorrindo para mim. Ele puxou meus
quadris e colocou minhas pernas sobre as dele, seu pau cutucando meu
buraco. — Mas vou usar seu ferimento como desculpa para ser gentil.
— Por quê? — Eu olhei para seus olhos, seu abdômen, sua merda de
tatuagem de caveira, e o lugar onde nossos corpos estavam quase unidos.
— Porque eu sei que você está todo pegajoso no centro e quer que eu faça
amor com você. — Maldito seja por saber disso. — Não se preocupe. Como
eu disse, podemos usar a lesão como desculpa. — Ele sorriu.
Inclinando-se para frente, ele plantou as duas mãos ao lado da minha
cabeça, e seu cabelo fez cócegas no meu rosto. Quando seus lábios roçaram
os meus, ele empurrou dentro de mim e não parou.
— Foda-se — eu sussurrei contra sua boca. O deslizar dele dentro de mim
e a forma como meu corpo implorava por mais era o que eu tinha sentido
falta. O alongamento e a fricção, a conexão e a maneira como ele se encaixava
em cima de mim.
— Tão romântico — ele sussurrou, suas coxas batendo na minha bunda.
— Ganancioso — eu corrigi. — Puta merda, eu senti falta disso. Senti sua
falta dentro de mim.
Devon gemeu, balançando os quadris para realmente me foder, fazer
amor comigo. Suave e lento se transformou em profundo e apaixonado, e a
conexão era inédita. Eu nunca me senti mais perto dele. Nunca estive tão à
beira do orgasmo e de uma emoção avassaladora ao mesmo tempo. Ele
beijou meu pescoço, sugando a pele até que marcou. Até mesmo a carícia de
sua respiração ofegante contra minha mandíbula formigava com
antecipação e satisfação. Minhas pernas se abriram mais, e Devon as
empurrou para trás para envolver seus quadris, igualando-me gemido por
gemido.
E quando meu corpo estava pronto para entrar em erupção, agarrei seu
rosto em vez do meu pau e puxei seus lábios nos meus. Devon manteve o
ritmo e meus olhos se fecharam, meu pau latejando entre nossos abdominais.
Forte, pulsante e quase doloroso da intensidade, eu gozei entre nossos
corpos em uma onda de amor pingando de prazer. Amor cru.
Devon soltou um gemido interminável. — Foda-se, Madd. Puta merda. —
Ele se acalmou dentro de mim, a boca aberta contra a minha. — Nada mal
para fazer amor, hein? — ele riu pateticamente, desmoronando todo o seu
peso no meu peito.
Éramos apenas um casal de tolos apaixonados em um trailer, tentando não
admitir o quanto amávamos a suavidade.
Não tínhamos ideia do que estava por vir.
Quando voltamos para Garron Park, as viaturas da polícia se alinhavam
nos estacionamentos e nas ruas. Olhamos um para o outro, sem saber o que
fazer. Alguém morreu? Houve um ataque no parque? Jim estava de volta?
Devon dirigia devagar, boquiaberto tanto quanto eu. Desconforto surgiu
em meu estômago, e eu tinha uma suspeita de que não deveríamos estar
aqui. O aperto de Devon no volante ficou branco, e eu sabia que ele sentia
isso também. Se nós dois sentimos isso, era um indicador suficiente de que
deveríamos sair.
— O que vamos fazer, Madd? — Ele parou o caminhão.
O lote 62 apareceu e minha garganta se fechou. Estava cheio de policiais e
viaturas. Meu primeiro instinto foi me preocupar com meu irmão, então
peguei meu telefone e liguei. Ele apitou e sibilou imediatamente, um milhão
de mensagens chegando de uma só vez.
Irmão Babaca: Não volte para GP. Algo não está certo. Esconda-se. Pegue o
Dev.
— Porra! — Olhei para Devon, em pânico. — Temos que sair...
— Maddox Kane, você está preso por distribuição e posse de substâncias
ilegais, armas e dinheiro roubado. Use sua mão direita para abrir a porta do
passageiro e saia do veículo com as mãos para cima e de costas para nós.
Devon parou de respirar. Ele olhou para mim, lágrimas de raiva
misturadas com as de medo. — Não — disse ele, balançando a cabeça. —
Não! De jeito nenhum. Não vou deixar isso acontecer.
— Devon, não! — Eu gritei com ele, mas ele abriu a porta e saiu furioso,
com as mãos para cima, mas a boca aberta.
Todas as armas no local apontavam diretamente para ele, e parecia um
déjà vu da última vez que quase o perdi para isso.
— Devon!
26

-Devon-
A estupidez me atingiu com força. Era minha maldição, mas não havia
nada que eu não fizesse por Maddox. Nada. Especialmente quando alguém
tentava tirá-lo de mim.
Mantive meus braços para cima, mas olhei em volta com raiva para quem
estava no comando aqui. — Que porra está acontecendo? — Eu exigi saber,
caminhando lentamente em direção às trinta armas apontadas para mim.
Isso era coisa do meu pai. Ele pensou que eu estava morto, morto por
Davis, então essa tinha que ser sua maneira de arrumar suas pontas soltas.
Maddox sendo a prioridade.
— Devon, porra, pare — Maddox implorou para mim, batendo a porta
do caminhão e colocando as mãos para cima. — Por favor, não faça isso,
Devon. Não me faça ver você se machucar.
Parei de avançar, impressionado com o desespero e o medo em sua voz.
Quando olhei para ele, encarei seus olhos enquanto os policiais o cercavam
e o jogavam no chão, colocando algemas em seus pulsos.
— Ele não fez nada! Deixe-o ir — eu gritei, ficando imóvel. — Sobre o que
diabos você está falando? — Ninguém prestou atenção em mim, então corri
para chegar a Maddox. Três policiais me seguraram, segurando meus pulsos
atrás das costas. — Alguém me diga o que está acontecendo!
Meu sangue queimou minhas veias, minha visão ficou vermelha e meu
coração se partiu pelo destino que estava caindo sobre Maddox por minha
causa - por causa do meu pai. Eu não poderia perdê-lo. Não iria perdê-lo.
— Por favor! — Eu gritei, minha voz embargada. — Você está cometendo
um erro!
Maddox, com o queixo na terra, olhou para mim com olhos calmos. —
Acalme-se — ele me avisou com uma voz calma. — Não torne isso pior.
Apenas respire. — Os policiais o levantaram, puxando seus pulsos até que
ele estivesse entre eles. Eu bloqueei seu caminho para a viatura, não
deixando que eles o levassem de mim.
— Por que ele está sendo preso? — Eu implorei.
— Devon! — Nate gritou meu nome, Xavi correndo atrás dele. — O que
está acontecendo?
Eu não fazia ideia e nunca me senti mais impotente. Um oficial, que eu já
havia tentado pedir ajuda com tudo isso, tentou me conduzir para trás, mas
não me mexi.
— Olha, filho. Ele está sendo preso por posse e intenção de distribuir
contrabando ilegal. — O policial deu um tapinha no meu ombro, tentando
me acalmar.
— Que contrabando?
— Ele não tem nada ilegal! — Xavi gritou. — Madd? Você está bem?
Maddox assentiu, quase como se estivesse disposto a sucumbir a isso.
— Aquele contrabando ilegal — disse o policial, apontando para o nosso
trailer.
Nate agarrou meu braço quando me virei. O pátio lateral não estava à
vista, mas vi máquinas pesadas alinhadas na frente. Um buraco foi cavado
em algum lugar. Dei alguns passos para ter uma visão melhor, vendo uma
cratera entre nosso trailer e a floresta. Dentro desse buraco, caixotes abertos
com dinheiro embrulhado em plástico e armas. Outro continha blocos de pós
e cubos que não haviam sido abertos. Não. De jeito nenhum.
Como diabos alguém colocou isso lá? Nunca vimos aquela parte do
quintal, mas com certeza teríamos ouvido alguma coisa. A menos que tenha
acontecido ontem à noite enquanto estávamos na pista.
Enfrentei o oficial novamente. — Sério! Você sabe que não é nosso!
— Sinto muito, filho — disse ele, dando-me um sorriso simpático.
Foda-se a simpatia dele. — Não, você não sente! Você só quer a porra da
parte da qual você está conse...
— Devon! — Maddox gritou comigo. — Por favor pare. — Seus olhos me
diziam que ele estava apavorado, mas seu tom me dizia que ele estava mais
preocupado comigo.
— É minha — declarei. — Toda essa merda é minha. Eu coloquei lá. —
Eu estendi meus pulsos. — Eu me declaro culpado.
— Devon — Maddox gritou desta vez. — Não.
Desta vez, a polícia não me impediu de ir até ele. — Você levou uma porra
de tiro por mim, Madd. Deixe-me pegar um por você.
— Não.
— Infelizmente, temos provas de que foi Maddox Kane. Documentos de
remessa com sua assinatura, confissão verbal e confirmação de uma
testemunha e suas impressões digitais em algumas das contas. Desculpe. —
O policial agarrou os pulsos algemados de Maddox, começando a afastá-lo.
— Que porra de testemunha? — Xavi gritou.
— Confidencial por enquanto — disse o policial.
Agarrei Maddox pelo pescoço. — Não se atreva a desistir, Maddox. Me
ouça? Isso não é você. Lute!
Maddox forçou os policiais a pararem. Ele olhou diretamente para mim e
disse: — Lute por mim, Devon. Arranje-me um advogado ou algo assim. Eu
preciso da sua ajuda. Encontre Jim.
— Eu prometo. Eu vou. Eu não vou deixar que eles o mantenham lá. —
Segurei-o pela minha vida, começando a entrar em pânico quando o
arrancaram da ponta dos meus dedos.
— Eu te amo — ele murmurou.
— Eu te amo — eu murmurei de volta.
Meus olhos ardiam enquanto eu os assistia empurrar Maddox na parte de
trás de uma viatura. Nem uma porra de chance de que isso continuaria. Faça
chuva ou faça sol, eu o tiraria dessa. Custe o que custar.
Xavi discutiu com um policial, tentando declarar a inocência de seu irmão,
e Nate agarrou nossas camisas pelas costas para nos manter quietos. Mantive
meus olhos em Maddox, dando a ele a determinação que sentia sabendo que
chegaria ao fundo disso. De alguma forma.
— Ele está certo, Devon. Você tem que lutar a batalha dele aqui. Ele
precisa de você aqui para provar sua inocência — Nate disse, aliviando seu
aperto.
Maddox precisava de mim.
Quando a viatura se afastou e Maddox virou a cabeça para manter os
olhos nos meus, fiz uma promessa a mim mesmo. Poderíamos não estar
casados ainda, mas, para o bem ou para o mal, estaríamos juntos novamente.
Eu estava prestes a me tornar um maldito caçador de recompensas. Eu
encontraria meu pai e o faria pagar por isso.
— Onde você está levando ele? — Xavi perguntou.
— Bluffs County — o policial disse enquanto eu observava as luzes
traseiras e os olhos verdes de Madd se distanciando. — Você pode visitá-lo
depois que ele for transferido. Ele passará uma noite nas celas de Garron e
será transferido amanhã. Não faça nada estúpido enquanto isso.
— Vejo você amanhã, Maddox! — Eu gritei a plenos pulmões, esperando
que ele ouvisse. — Amanhã!
Meu mundo implodiu quando a viatura sumiu de vista. Minha noite
perfeita e manhã feliz com Maddox desmoronou ao meu redor, lembrando-
me que eu não era alguém digno de viver a vida de que os sonhos eram
feitos. Eles o tiraram de mim. Tanto quanto partiu meu coração, escureceu
minha alma.
Quando caí de joelhos com aquele tipo de dor entorpecida, senti meu
espírito se agitar. Pode estar escurecendo, mas estava pronto para o desafio
de resgatar o homem que amávamos.
Foda-se o mundo. Não havia mundo se Maddox não estivesse nele.

PRIMEIRO MÊS
O quarto de Maddox no trailer de sua mãe era uma caixa quente do
inferno. Memórias giravam em meio ao ar úmido com uma falta de
movimento semelhante ao ritmo estagnado em que minha vida progredia.
Elas ficaram presas em movimento, pararam enquanto eu fazia uma pausa.
Este quarto que mais era como um armário parecia malditamente enorme
sem a presença dominadora de Maddox nele.
Eu amava este quarto. Eu odiava este quarto.
O lote 62 era uma cena de crime. Eu não tinha permissão para entrar desde
que Maddox foi preso, nem mesmo para pegar minhas roupas. Ele havia
sido isolado e guardado continuamente. O contrabando que eles alegaram
que ele tinha agora estava em uma sala de provas da polícia, sendo
inspecionado, contado e documentado. Eles mantiveram nosso lote isolado
porque quanto mais cavavam, mais encontravam. E quase nada disso estava
em nosso lote real. A maior parte ficava na floresta ao lado do nosso lote, e
agora eu sabia por que alguém havia perguntado a Gary sobre a trilha que
ligava nossa propriedade até lá. Mas não importava o quanto eles
desenterrassem na floresta, as impressões digitais de Maddox permaneciam
em parte do dinheiro.
O que era besteira. Alguém estava acrescentando mais às suas supostas
evidências, mas eu não tinha permissão para ir sem ser preso por invadir e
adulterar as evidências. Nosso trailer foi destruído e revistado, mas nada foi
encontrado dentro. E ninguém do parque tinha nada a dizer por que
ninguém tinha visto nada disso acontecer. Nem mesmo nós, e nós
morávamos bem ali, porra!
O fodido Gary estava por trás disso. Seth havia nos avisado meses atrás
que viu meu pai conversando com Gary, ao redor do lote 62, e agora eu sabia
por quê. Ele estava plantando essa evidência naquela época sem que
percebêssemos, ou ele estava investigando para plantá-la na noite anterior à
prisão de Maddox. Mas por quê? Só para prender Maddox? Jim era um filho
da puta ganancioso, então você pensaria que ele queria tudo naqueles
caixotes mais do que queria arruinar a vida de Maddox.
Eu era malditamente inútil. Maddox estava em uma cela de prisão por
duas semanas e meia já, e eu tinha feito pouco mais do que irritar os guardas,
policiais e o detetive principal em seu caso. Consegui uma advogada, mas
não tinha dinheiro para uma boa, e ninguém queria aceitar um caso pro bono
de lixo de trailer. Em vez disso, consegui para ele uma advogada nomeada
pela comunidade sem muita experiência. Ela era legal, mas legal não iria
vencer. Eu precisava encontrar outra pessoa para ajudá-la. Eu venderia tudo
o que tinha para fazer isso.
Olhei para o forro de papelão descascado do antigo quarto de Maddox,
sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto para molhar o travesseiro -
elas não fizeram nada além de aumentar o desespero desde que Maddox foi
tirado de mim.
Porra, eu sentia falta dele.
Eu me preocupava com ele. Maddox era um durão, e eu sabia que ele
manteria sua guarda alta por lá. Quanto tempo levaria para que essa dureza
se tornasse permanente? Por quanto tempo ele poderia manter a esperança?
Eu era o namorado mais merda do mundo por não ser capaz de dar a ele
nenhuma esperança ainda. Ainda.
Um estrondo na cozinha me assustou. Enxuguei minhas lágrimas e saí de
cueca boxer como fiz todas as noites nas últimas duas semanas. Naomi
estava sentada amontoada no chão da cozinha, uma panela de ovos crus
derramada ao seu redor e uma garrafa de vinho quase toda perdida na
bancada.
— Você está bem? — Eu perguntei, segurando seu braço e puxando-a
para levantar. Ela tentou. Foda-se, ela tentou. Eu admitiria isso a ela.
Ela cheirava mal, não tomava banho direito há alguns dias e seu hálito
estava azedo por causa do vinho velho. Sentei-a à mesa da cozinha e dei-lhe
um copo plástico de água. Ela era muito instável para lidar com um de vidro.
Ela não me respondeu, mas eu sabia que ela precisava comer alguma coisa
para absorver o álcool.
— Eu vou fazê-los. O que mais você precisa?
Suas mãos tremiam enquanto ela acendia um cigarro. — Preciso do meu
filho em casa.
Virei as costas para ela, com lágrimas brotando em meus olhos. Limpei a
bagunça dela e tentei não perder a cabeça com a dor e o quão patético era.
Ela nunca disse abertamente que me culpava, mas eu sabia que sim. Maddox
estava na prisão por causa do meu pai, e não havia outra maneira de dizer
isso. Se ele não fosse meu namorado, ele estaria solto no mundo agora. Fiquei
surpreso por ela se importar tanto; ela não tinha sido uma mãe ruim, mas
também não tinha sido boa. Acho que seu filho na prisão estava batendo nela
com mais força do que todos os olhos roxos e hematomas que ela ignorou ao
longo dos anos.
Quanto mais tempo eu passava deitado em sua velha cama, olhando para
o teto danificado pela água, mais eu perdia a esperança. Quanto mais eu
percebia quanta merda eu trouxe para sua vida.
Ele foi cortado, marcado, abusado, baleado e agora preso por causa de seu
relacionamento comigo. E esses eram apenas do meu pai. Por minha causa
diretamente, ele foi negligenciado e sua confiança e importância foram
questionadas. O que eu trouxe de bom para ele? E não apenas isso, mas
Naomi, que estava indo muito bem com a bebida e o uso de pílulas, havia
caído de volta no fundo do poço. Ela bebia até ficar bêbada todas as noites,
só piorando com uma variedade de pílulas aleatórias. Entre mim, Xavi e
Seth, fizemos o nosso melhor, mas ela bebeu seu desgosto de uma garrafa, e
eu não poderia culpá-la por isso.
Seth também teve uma recaída. Foi na noite em que Maddox foi preso. Ele
estava com muita vergonha de usar de novo, mas fez a coisa certa. Ele ligou
para Xavi pedindo ajuda. Então agora Seth morava na loja com eles, só até
confiar um pouco mais em si mesmo. As reuniões e seu padrinho eram uma
parte importante de sua vida, mas encontrar uma maneira de ajudar seu
filho era mais importante. Sim, ele queria Maddox fora, mas brincar de
detetive o mantinha ocupado e longe das drogas.
Liguei o fogão, quebrei ovos novos e finalmente enfrentei Naomi. —
Vamos trazê-lo para casa. Eu prometo. — Se eu não pudesse provar sua
inocência, eu faria como em Um Sonho de Liberdade com ele e passaria o resto
da minha vida fugindo com ele.
— Eu sei — disse ela em torno do filtro de sua fumaça. Ela procurou no
fundo de sua bolsa por qualquer pílula esquecida, mas não encontrou nada.
— Eu só... estou preocupada com ele lá dentro! — ela chorou. — Ele está com
muita raiva para a prisão.
Ela não estava errada. Esse era o meu maior medo.
Maddox passou tanto tempo com raiva de tudo que se tornou sua
configuração padrão. Em que ponto ele não seria capaz de voltar a si mesmo?
Se eu não encontrasse algo para ele ter esperança em breve, eu temia que
seria mais cedo ou mais tarde. Em um lugar como a prisão, Maddox seria
seu pior inimigo.
27

-Devon-
SEGUNDO MÊS
— Deve ter acontecido no hospital — disse Xavi. — Ele assinou uma
tonelada de formulários quando estava recebendo alta. Aposto que alguns
deles eram sobre o contêiner de transporte. Ele caminhou ao longo do deque
atrás da loja. — Vou lá procurar aquela enfermeira.
— Espere. — Nate o segurou com a palma da mão no peito. — Devemos
arranjar outra pessoa para fazer isso. Ela conhece você.
— Eu não confio em mais ninguém, Nate! É da vida do meu irmão que
estamos falando! — Xavi estava a um passo de um colapso, e eu também não
sabia como acalmá-lo.
Foi um bom lugar para começar. A polícia alegou que a assinatura de
Maddox estava nos documentos de remessa, então ele teria que ter os
assinado em algum lugar. O hospital foi o último lugar em que consegui
pensar nele assinando alguma coisa, então valia a pena tentar. Eu verificaria
com aquele filho da puta sorrateiro do Gary para ter certeza de que a
assinatura não veio do nosso contrato de aluguel de um ano e meio atrás.
Quantas pessoas meu pai tinha nisso e como diabos ele estava pagando?
— Vá — eu disse a Nate. — Ela não conhece você. Vocês podem interrogá-
la juntos.
Xavi saiu furioso sem outro olhar, e Nate gemeu uma maldição para o
oceano, esperando por alguma ajuda para manter seu melhor amigo na
linha. — Se ele não parar para pensar, vai acabar na prisão com Madd.
Sinceramente, desejei essa opção para mim, para ter certeza de que
Maddox não se perderia lá. Nate não me deixou.
— O que você vai fazer? — ele perguntou.
— Vou ver Gary. Seth vai comigo. — E eu levaria até onde precisasse ser
levado. Sem moral dessa vez. — Então eu vou visitar Madd.
Eu precisava vê-lo. Ele me disse para parar de ir todos os dias porque eu
era péssimo em esconder meus sentimentos, então comecei a ir dia sim, dia
não. Eu odiava vê-lo em um macacão laranja, e ele me disse que não gostava
quando eu olhava para ele assim, então isso se tornou um meio termo. Eu fiz
tudo ao meu alcance para não olhar para ele daquele jeito de novo, no
entanto.

— Tudo bem! — Gary gritou, sangue voando de seus lábios e lágrimas


manchando seu rosto. — OK!
— Comece a falar — eu rosnei para ele.
— Eu dei a ele acesso ao Lote 62! — ele gritou, finalmente revelando seus
malditos segredos. — Ele me disse que mataria minha filha se eu não o
avisasse quando vocês saíssem do parque. É o Jim, sabe!? Eu acreditei nele
— Gary chorou ainda mais. — Então comecei a ligar para ele de telefone pré-
pago toda vez que vocês saíam.
— Então, ele está enterrando evidências em nosso lote esse tempo todo?
— Eu zombei, alcançando um novo nível de raiva.
— Não sei! Eu nunca perguntei o que ele estava fazendo. Pode ter apenas
começado. — Gary choramingou, obviamente com medo, mas eu não sabia
se ele tinha medo de nós e o que faríamos com ele, ou meu pai e o que
aconteceria se ele descobrisse que Gary o delatou.
Seth olhou para mim, perguntando silenciosamente o que eu queria fazer
sobre isso. Quer dizer, eu entendia. Gary queria proteger sua filha, mas por
que diabos Maddox deveria apodrecer em nada além de raiva e ossos para
que ela continuasse viva? A seus olhos, sua filha era mais importante, e ele
fez o que tinha que fazer para protegê-la. Mas aos meus olhos, nada tinha
mais importância do que Maddox e eu faria coisas terríveis para tirá-lo de
lá.
— Confesse — eu disse a Gary. — Admita isso à polícia para que eu possa
tirar Madd de lá.
— Não posso! Ele vai matá-la — ele disse em meio aos soluços, parecendo
uma bagunça total.
Seth agarrou Gary pela nuca. — Onde está Jim? Você ainda tem contato
com ele? Como vocês se comunicam?
Gary não respondeu, mas seus olhos se voltaram para a mesa. Seth o
soltou e vasculhou as gavetas, então concentrei minha atenção em Gary. —
Que outro trabalho sujo você fez para o meu pai? — É melhor ele me
responder porque meus punhos estavam bastante trêmulos.
— Eu... eu...
— Você o quê?
— Eu dei a ele o dinheiro! O dinheiro que continha as impressões digitais
de Maddox. — Ah, esse filho da puta. — Peguei todo o dinheiro do aluguel
dos últimos meses e coloquei do lado de fora daquelas pilhas. Foi assim que
o ligaram ao crime. Essa foi a prova física! Desculpe.
Meu punho trêmulo fez seu nariz sangrar. Então isso fez seu lábio rachar.
Foi assim que conseguiram as digitais dele naquelas notas? Tinha que haver
uma maneira de desacreditar isso.
— Esse? — Seth levantou um celular velho. — É assim que Jim entra em
contato com você?
Gary baixou a cabeça, o sangue jorrando em sua camisa amarela.
— Qual é a senha?
Assim que Gary murmurou, Seth desbloqueou o telefone. — Apenas um
número aqui. É o Jim?
Gary assentiu. — Por favor... minha filha.
Eu não era insensível. Eu faria o que pudesse para proteger sua filha. O
antigo eu teria presumido que era uma ameaça vazia, mas o novo eu, que
quase foi assassinado por causa do meu pai, levou a sério. Maddox
continuou sendo minha prioridade, e agora eu não só tinha uma confissão
de Gary, mas também uma maneira de me comunicar com o homem que
arruinou minha vida.

TERCEIRO MÊS
— Você parece bem, Dev — Maddox disse em uma voz que tentou ser dele,
mas não era. Suas mãos estavam algemadas em cima da mesa entre nós, e a
curvatura de seus ombros doía de se olhar. — Os olhos estão vermelhos e
você geralmente parece uma merda, mas um bom pedaço de merda.
O que ele não disse, porque eu já o tinha deixado na merda por isso, era
que ele achava que eu parecia bom o suficiente para transar. Fora. Sem ele.
Isso significava que ele desistiu. Isso significava que ele estava me dizendo
para seguir em frente e perder a esperança porque ele não ia sair daqui.
Um enorme não a isso.
— Se fôssemos casados, poderíamos ter tido visitas íntimas — brinquei,
tentando aliviar o clima.
Maddox nem sorriu. — Não faça isso, Devon. Não se prenda a alguém que
ficará preso a maior parte da vida. Não vale a pena.
— Você pode calar a boca sobre isso? — Eu retruquei, cansado de ouvir.
— Pare de perder a esperança, seu idiota. Confie em mim, ok? Coloque sua
maldita confiança em mim para tirá-lo disso.
O que eu não disse foi que tínhamos algumas pistas com as quais
trabalhar, mas nada concreto o suficiente para ajudá-lo. Ainda. Eu não iria
parar de tentar até que Maddox estivesse em casa comigo - onde quer que a
porra da casa acabasse sendo uma vez que esse pesadelo terminasse.
— Eu confio em você — ele disse suavemente. — Mas você não pode
continuar vivendo para mim. Você não tem vida agora.
Então, porra, o quê? Ele era minha vida, então foda-se por pensar que não
era isso que eu queria fazer. Eu não me importava se demorasse mais um
mês, um ano ou dez anos, eu não desistiria. Ele iria, no entanto, e isso me
assustou mais. A culpa era estranha assim. Nós dois sentimos isso de
diferentes pontos de vista; Eu me sentia responsável por ele estar ali, e ele
sentia como se estivesse me segurando na vida porque ele estava ali. Por
todos os ângulos, era péssimo pra caralho.
— Eu estou vivendo minha própria vida, e você vai estar nela. Então cale
a boca sobre isso e me diga o que há de novo. — Eu coloquei minhas mãos
sobre a mesa, desesperado para tocá-lo.
— O que há de novo? — ele zombou, inclinando-se para trás em desgosto.
— Ah, ok, vamos ver. Um cara foi espancado até a morte ontem bem na
minha frente. Não tomo banho há mais de uma semana por causa de algum
problema de esgoto que eles não estão consertando. Meu colega de cela se
masturba para matar o tempo, então isso é divertido. E tenho certeza de que
faz três meses desde que caguei. Então, é isso. Isso é o que há de novo
comigo.
Ele parecia mais magro. A comida aqui não era nutritiva, mas o mais
importante, era difícil de digerir, e isso vinha de alguém que vivia das
caçarolas de merda de sua mãe. Eu estava tentando contribuir para a loja da
prisão com dinheiro e salgadinhos, mas cada centavo que eu tinha ia para os
advogados e para o caso. Algumas pessoas do parque estavam contribuindo
para um fundo Maddox, então isso era bom.
— Eu te amo, Maddox. Mas você tem que manter sua merda sob controle,
ok? Eu estou trabalhando nisso. Estamos todos trabalhando nisso. — Meus
dedos avançaram em direção aos dele, mas não o toquei. A última vez que
fiz isso, tive que assistir um guarda bater nele com um cassetete. — Eu não
vou desistir, então você também não pode. Entendeu?
Maddox suspirou. Suas mãos unidas subiram para deslizar por seu cabelo.
— Eu só estou cansado, Devon. Tão cansado.
Meu coração continuou quebrando. Vê-lo assim foi um pesadelo. Maddox
não pertencia atrás das grades. Ele pertencia ao mundo, destruindo uma
pista de motocross, causando todo tipo de merda e nadando no oceano
comigo. Ele pertencia a mim, mostrando-me seu lado suave enquanto era
duro sobre isso, e não havia uma realidade em minha mente onde isso não
existisse. Ele iria sair.
— Eu sei. — Eu sorri para ele. — Eu sei, bebê.
Ele sorriu um pouco com isso. — Eu nem estou drogado.
— Eu disse isso, não você. — Eu sorri. — Nós amamos você e nunca
vamos parar. — Eu tinha mais notícias, mas compartilhá-las com ele teria
que esperar. Aprendi da maneira mais difícil que dar esperança a ele e
depois ter que retirá-la era pior do que não dar nada. Se tudo ocorresse como
planejado hoje, estaríamos expondo Davis. — Vou tirar você daqui Madd.
— Sim?
— Foda-se sim. E quando o fizer, podemos ir a qualquer lugar, fazer
qualquer coisa e ser quem quisermos ser. Eu e você, Madd. Esse é o nosso
futuro.
Eu vi uma centelha minúscula de esperança brilhar no verde de seus
olhos. Um pouco, mas estava lá. — Tudo bem.
Tudo bem. Eu precisava de uma vitória. Eu precisava voltar aqui com a
advogada de Maddox e boas notícias. Então era exatamente isso que eu ia
fazer.

O policial que falou comigo meio que respeitosamente naquele dia, o


mesmo que colocou Maddox na parte de trás da viatura e nos disse para não
fazer nada estúpido, cruzou os braços e balançou a cabeça para mim.
— Ele ainda está alegando que foi legítima defesa. Por que eu deveria
acreditar no contrário? — perguntou o policial Hanes.
Eu queria matá-lo... só um pouco. — Por quê! Pela centésima vez, por que
diabos Maddox tentaria matar alguém, muito menos um policial, pelo meu
pai? Ele odeia meu pai e sempre o odiou. Você tem um punhado de
testemunhas para confirmar isso.
— Isso causou problemas de relacionamento entre vocês dois? — Hanes
perguntou. — Você estava tentando ajudar seu pai a fugir para protegê-lo, e
Maddox tentou impedi-lo?
Se eu tivesse uma arma agora, provavelmente o mataria. — Eu estava
tentando ajudar meu pai a fugir, — eu admiti, me acalmando com longas
respirações. Todas aquelas vezes que eu disse a Maddox para aprender a
meditar e ele não tinha, mas eu estava sobrevivendo dessa merda por três
meses agora. Ficar com raiva não o ajudaria, então olhe para mim sendo uma
vadia calma com esse policial idiota. — Porque ele ameaçou Maddox. Eu não
estava protegendo meu pai, estava protegendo meu namorado.
— Não se incrimine, Sawyer. Tenha cuidado com o que você diz — Hanes
alertou do outro lado de sua mesa.
Eu já havia mencionado que fui eu quem roubou as guias de remessa, e
Hanes também fingiu não ter ouvido. — Eu só estava lá para garantir que
ele fosse embora. Para ver com os meus próprios olhos, para saber que
estávamos seguros.
— Então como Maddox foi parar lá?
— Porque ele sabia que eu faria algo estúpido e apareceu para cuidar de
mim. — Ele sempre fazia isso, e eu estaria morto se não tivesse feito isso. —
Quando meu pai saiu e Davis apontou aquela arma para mim, ele me disse
que era seu trabalho acabar comigo. Foi quando Maddox entrou na frente da
bala. Por que você confia naquele policial mais do que em mim? Por que eu
inventaria isso? — Eu implorei a ele, tentando não parecer derrotado.
— Para tirar seu namorado da prisão — brincou ele.
— Isso aconteceu meses antes de Maddox ser preso, e eu contei a mesma
história na época! Você é apenas um pedaço de merda hipócrita como o resto
deles. Não confia nos fatos só porque eles vêm de um Sawyer! Malditos
policiais, hein? Aqui para proteger? Besteira. — Levantei-me e derrubei a
cadeira, andando de um lado para o outro em seu escritório.
— Tudo bem — Hanes cedeu. — Estou ouvindo, mas preciso de mais do
que sua palavra. Preciso de provas de que um policial, que completou seu
treinamento, passou em todas as verificações de antecedentes criminais e é
um cidadão honesto de Garron, mentiria para seus colegas de trabalho e
comandantes e se juntaria a um criminoso conhecido como Jim Sawyer.
— Estou esperando meu irmão com isso. — Acendi um cigarro em seu
escritório, embora ele já tivesse me dito três vezes para não fazê-lo. Depressa,
Nate.
Dez minutos e dois cigarros depois, Nate e Xavi finalmente apareceram
com as provas de que precisávamos.
— Ele está esperando uma prova — eu disse a eles.
— Bem, aqui está — Xavi colocou uma pasta, um gravador de voz e um
telefone celular. — Já que tivemos que fazer o seu trabalho para você, você
não tem o direito de nos perguntar como conseguimos isso.
Hanes balançou a cabeça, mas não comentou. Eu sabia que as evidências
teriam que ser reunidas legalmente para serem mantidas no tribunal, mas
esperávamos que isso fosse o suficiente para convencê-lo a investigar da
maneira certa. Assim, durante a hora seguinte, colocamos tudo o que
tínhamos sobre a mesa.
A confissão gravada de Gary, admitindo que permitiu que Jim tivesse
acesso ao nosso lote e que deu a Jim o dinheiro do aluguel com as impressões
digitais de Maddox. Gary também admitiu sua disposição de guardar as
guias de remessa para Jim, o que era outra maneira de nos incriminar
fazendo com que eu as roubasse, porque ele sabia que Maddox iria tocá-las.
Sim, as digitais dele também estavam nelas. Meu pai nunca precisou desses
formulários; ele só me fez roubá-los para aumentar suas evidências contra
Maddox.
Voltamos ao hospital e encontramos a enfermeira que deu alta a Maddox.
Ela disse que ele assinou formulários do hospital, mas também formulários
que um policial à paisana deu a ela. Admitiu ser nova em lidar com um
assunto policial sério como esse, então, quando o policial disse que era o
protocolo padrão para uma situação como essa, ela nem verificou o que
eram. Mas ela disse a Maddox que havia formulários da polícia no pacote.
Ela conseguiu que a segurança do hospital nos mostrasse o vídeo do dia da
soltura de Maddox, e mostrava claramente Davis quebrando a prisão
domiciliar e entregando seus documentos. Não mostrava o que eram aqueles
formulários, mas era o suficiente para Hanes começar a questionar tudo.
O telemóvel que encontramos no escritório do Gary mostrava mensagens
de texto a configurar tudo. Novamente, não pudemos provar que era meu
pai enviando as mensagens, mas mostrava a intenção de alguém que não era
Maddox. Hanes pegou o telefone e mandou para o departamento de TI, mas
eu queria de volta. Eu tinha o número, de qualquer maneira.
— Ok, algo está suspeito — concordou Hanes. — Mas me explique como
você não sabia que estavam escavando do lado de fora do seu trailer?
— Porque Gary dizia a Jim quando saíamos. Eles faziam isso quando não
estávamos em casa, e era o terreno ao lado e a floresta, então nunca vimos
isso. Garron Park não tem gramados exuberantes, então não é como se um
pouco de sujeira fosse notado por nós.
Hanes não parecia convencido. — Por que ele roubaria um navio cheio de
contrabando, colocaria o capitão no negócio, usaria tudo para armar para o
seu namorado e depois perderia o transporte?
Xavi pegou essa. — Porque o seu garoto Davis tem acesso ao depósito de
evidências — ele retrucou. — Quando isso esfriar, é melhor você acreditar
que seu policial novato vai pegar tudo e distribuir para Jim, o capitão, Gary
e ele mesmo.
Hanes juntou os dedos. — Você tem alguma outra prova de que o oficial
Davis esteve em contato com Jim?
— Sim — disse Nate, olhando para nós. — Mas você não vai gostar de
como conseguimos.
Depois de uma aula sobre pendrives e discos rígidos externos de um
amigo em Redding, Nate e Xavi invadiram a casa de Davis durante o período
de terapia indicado pelo tribunal. Eles transferiram o conteúdo de seu laptop
e telefone sobressalente para o disco rígido e tiveram que pedir à advogada
para conectá-lo ao laptop porque não tínhamos um. Pelo menos não
estragaram tudo. Eles agiram como hackers criminosos depois disso.
— Não quero saber — disse Hanes. — Mas se a evidência for boa o
suficiente, vou conseguir um mandado e obtê-lo legalmente.
Nate colocou o laptop da advogada sobre a mesa e mostrou a Hanes
registros telefônicos de meses, ligações para a prisão em que meu pai estava
preso, e-mails sem nomes reais e a transferência de números e novos
telefones descartáveis. A parte mais importante era a configuração de seu
plano. Meu pai estava na prisão quando o plano começou, então e-mails e
mensagens de texto eram o principal método de comunicação, o que
funcionou bem para nós. Não, não havia nomes reais ligados a nada, mas o
plano foi apresentado de forma clara e simples para Hanes ver. Agora eu só
precisava que ele acreditasse que Maddox não tinha nada a ver com isso.
— Vocês não fizeram isso? — Hanes perguntou, duvidando de nós.
— Consiga a porra de um mandado e descubra tudo por si mesmo —
zombou Xavi. — Meu irmão está preso há três meses por um crime que não
cometeu. Faça a coisa certa aqui, Hanes!
— E faça isso rápido — acrescentei. — Maddox já sofreu o suficiente. Se
alguma coisa acontecer com ele lá dentro…
— Eu sei que você não é estúpido o suficiente para ameaçar um policial
— Hanes disse, me lançando um olhar.
Eu posso ser.
A sala estava tensa. Minha esperança mal estava por um fio e eu precisava
desesperadamente de alguém do nosso lado. Precisava de boas notícias para
levar a Maddox e precisava dele de volta em minha vida. Eu precisava do
verde de seus olhos para queimar com o desafio, em vez de fracassar com a
derrota, e eu precisava dar um pouco de vida a Maddox Kane.
— Vou pedir uma ordem de urgência ao juiz para obter um mandado
agora mesmo — disse Hanes.
Nós três ficamos aliviados.
Finalmente.
28

-Devon-
QUARTO MÊS
Preso em perpétua vigília, não conseguia desligar meu cérebro no meio da
noite. O caso se arrastava, embora tivesse sido expedido. A advogada de
Madd estava bastante confiante de que a nova informação, agora obtida
legalmente por causa de Hanes, iria tirá-lo de lá ou, pelo menos, deixá-lo
voltar para casa durante o julgamento.
Davis havia sido preso, mas como ainda não havia provas suficientes para
acusá-lo de nada além de violação da prisão domiciliar, ele não ficou detido
por muito tempo. Isso significava que ele continuaria em prisão domiciliar,
embora seu telefone, laptop e tablet estivessem sendo monitorados. Não
impediu aquela cadela de enviar uma mensagem 'está quente aqui' para o
número do meu pai. Isso foi um aviso se eu já tivesse visto um. Mais uma
vez, meu pai escapou porque ninguém conseguiu encontrá-lo. Eu nunca o
tomei por um criminoso inteligente, mas foda-se, ele continuamente provou
que eu estava errado com toda essa confusão.
Joguei minhas pernas para o lado da cama de Maddox, meu pau duro me
irritando porque eu não queria que ficasse duro. Peguei meu telefone e puxei
algumas fotos de Maddox, assim como tenho feito nos últimos quatro meses.
Comecei a me masturbar sem muita esperança.
Eu sentia falta do gosto dele, da sensação de suas mãos no meu corpo e da
maneira totalmente dominadora como ele me agarrava. Eu sentia falta dele
me xingando de tudo, me lembrando que eu era burro na maioria das vezes,
e rindo de mim por estragar o jantar. Eu sentia falta da sensação de seus
olhos em mim quando ele não achava que eu estava prestando atenção, e a
carranca que me dava sempre que eu o pegava.
Acariciei meu pau. O prazer existia, mas não foi o suficiente para me fazer
gozar.
Eu sentia falta das marcas de bronzeamento de sua camiseta e da pele
escura em sua nuca. Sentia falta do jeito que ele se espalhava na cama como
se tivesse direito a tudo, mesmo que ele me abraçasse forte para garantir que
eu não fosse a lugar nenhum. Eu até sentia falta de sua mente barulhenta
quando ele pensou demais em algo a ponto de me acordar com o zumbido
de seu cérebro.
O olhar em seus olhos quando ele gozava. A maneira como lambia o lábio
inferior antes de mordê-lo...
Meu pau latejava na minha mão.
Eu sentia falta de tudo dele. Sua energia e comportamento, os textos de
merda que ele estragou o envio e sua presença no meu espaço.
— Porra! — Eu gritei, soltando meu pau. Em vez disso, lágrimas brotaram
em mim, e uma agonia transbordante me encheu tanto que derramou pelos
meus olhos apenas para alívio.
Eu não conseguia me masturbar há meses e, para ser sincero, nem me
importava. Meu coração não estava nisso. Como algo poderia ser bom
quando Maddox sofria? Apoiei a cabeça nas mãos, incapaz de conter os
soluços. Durante a maior parte da minha vida, meu dia começou e terminou
com Maddox. A princípio, ele era meu amigo de infância e eu o admirava,
seguindo seu exemplo. Então ele se tornou o inimigo, o único rival contra o
qual eu já me opus, e uma vez que isso começou, tudo se transformou em
mexer com ele. Eu pensava em coisas para fazer com ele quando ele não
estava por perto, e me comparava a ele depois de cada competição, dentro
ou fora da pista. Comparei meus empregos, minha vida e eu mesmo com
tudo o que ele fazia e, embora isso me irritasse, ainda era tudo sobre ele.
Então me apaixonei por ele.
Eu estava perdido agora.
Minha mente gostava de evocar a maneira como ele costumava parecer
meses atrás para como ele parecia agora. Vazio, sem esperança e sem
vontade de lutar. Eu odiava isso. Porra odiava isso. Ele sempre foi o único a
enfrentar um desafio, e agora desistiu como se não tivesse mais resistência.
Eu precisava que ele continuasse lutando, só um pouco mais.
Esfregando os olhos, encarei a foto de Maddox em sua moto, sorrindo um
daqueles raros sorrisos que só foram feitos para mim. Salvei como meu papel
de parede há muito tempo, mas ele continuou mudando para uma de nós
dois.
Precisando ouvir eu mesmo, eu disse: — Eu prometo a você, Maddox. Vou
tirar você daí.
Porque eu não era mais o cara que negligenciava o namorado. Eu não era
o perdedor que não tinha suas prioridades certas. Eu não era burro e
impulsivo quando se tratava da vida de Maddox, e não era ingrato por nada
que tinha.
Mas isso foi um novo ponto baixo para mim e eu precisava de ajuda.
Apertei o telefone no ouvido e respirei fundo quando meu irmão atendeu.
— Nate, eu não estou bem.
Porque uma parte muito grande de mim, uma parte da qual eu vinha
lutando e escondendo desde a adolescência, queria afogar essa dor em uma
garrafa de qualquer coisa que eu pudesse colocar em minhas mãos e atirar
felicidade direto em meu braço para acabar com tudo.
— Estou indo. — Nate disse. — Agora mesmo. Espere, Devon. Apenas
espere.

No meio de toda essa porra de confusão, eu perdi praticamente tudo. O


trailer, nossos caminhões, a maioria de nossos pertences, o telefone de
Maddox e nossas motos de motocross. Antes de vender o telefone dele por
praticamente nada, enviei todas as fotos e conversas para o meu telefone
para poder vê-las sempre que quisesse. Os advogados eram caros, e agora
que tínhamos um melhor, eu venderia quaisquer órgãos que não precisasse
para garantir que Maddox ganhasse.
Nate e Xavi ajudavam com dinheiro sempre que podiam. Nossa loja dos
sonhos sofreu por isso. Nosso dinheiro foi para a caixa de Maddox em vez
de ser reinvestido na loja. Precisávamos de muitas ferramentas novas, um
novo elevador e as portas da garagem precisavam ser consertadas, mas tanto
Nate quanto Xavi me garantiram que nada disso era importante. Seth ajudou
onde pôde, também. Ele não tinha muito dinheiro, mas assumiu a
responsabilidade de estar sempre alguns passos à frente no caso e cuidou de
Naomi quando o resto de nós não podia. Xavi chegou a vender seu caminhão
para ajudar a pagar.
Eu não tinha casa, veículo, hobby e quase nenhuma roupa. Eu não tinha
Maddox.
— Aqui — disse Nate, entregando-me um maço de cigarros e um isqueiro.
— Não é bebida, mas pode ajudar.
Baixei a janela do passageiro, acendi um cigarro e tentei me dar um pouco
de crédito por não ter engolido uma garrafa de uísque. Nate nos levou de
carro durante a noite, sem ir a nenhum lugar específico, mas também sem ir
para casa. O rock suave tocava baixinho, mas o vento da minha janela o
dominava.
— O que está acontecendo, Dev? Fale comigo.
— Estou quebrando — eu admiti, observando a escuridão através da
janela.
— Você pode quebrar, Dev, mas não pode despedaçar. Madd precisa de
você.
A meia-lua apareceu quando passamos por uma área arborizada.
Observei o reflexo disso contra o oceano enquanto Nate dirigia ao longo da
costa. Fumamos o cigarro, tentei colocar meus pensamentos em ordem.
— Eu falhei com ele. Falhei com ele uma e outra vez. Tantas coisas fodidas
aconteceram com ele por minha causa. — Aqui vou eu, soando como um disco
quebrado novamente.
— Pare de levar a culpa pelo papai — Nate retrucou.
Eu sabia que era meu pai, mas indiretamente através de mim, Maddox
sofreu. — E agora ele está na porra da prisão, Nate. Ele está apodrecendo lá
dentro, perdendo a esperança, desistindo e pensando que merece isso por
algum motivo. Como se ele fosse pagar esse preço se isso significasse que
estou seguro, e não mereço isso. Não quero que ele pague nenhum preço! —
Lágrimas brotaram. — E agora ele está me dizendo para seguir em frente e...
não, não posso. Eu não posso seguir em frente. Eu não vou. Não quero nem
pensar nisso. — A lua ficou embaçada e muito brilhante através da minha
visão molhada. — Eu não vou.
— Com certeza você não vai — Nate concordou. — Ele está apenas em
um lugar sombrio agora. O que significa que você tem que ser o único a
trazê-lo de volta. Esta é apenas a sua maneira de tentar não ter muitas
esperanças sobre este novo julgamento.
— Mas como? Como faço para ajudá-lo quando mal consigo me manter
de pé? Não posso prometer nada a ele, e ele sabe disso. Isso tudo é um
grande ponto de interrogação e tudo está nas mãos do tribunal.
— Hanes vai conseguir. Agora temos dois bons advogados e temos provas.
Madd está saindo de lá e, quando isso acontecer, você deve garantir que ele
saiba o quanto é amado.
— Então o quê? Mesmo que ele escape, papai ainda estará lá fora, capaz
de levá-lo para longe de mim a qualquer momento que bem entender.
— Não podemos nos preocupar com isso agora. Concentre-se no
julgamento. Uma coisa de cada vez.
Terminei o cigarro e joguei pela janela, acendendo outro só para ter o que
fazer com as mãos. — Salvei o número que Gary usou para entrar em contato
com ele.
Salvei no meu telefone e olhei para ele por meses, me perguntando se
deveria ligar e enfrentar meu pai.
— Devon, não. Deixe o número em paz até que isso acabe. O julgamento
de Madd é em quatro dias. Não faça nada para estragar tudo antes disso.
— Eu não vou — eu prometi, falando sério. — Preciso vender outra coisa
para comprar um terno para Madd ir ao tribunal.
— Seth disse que encontrou um para ele.
Bom, porque além da minha alma, eu não tinha mais nada para vender.
Eu estava falido, sem-teto, quase alcoólatra e cheio de raiva vingativa. Estava
com o coração partido, sofrendo, culpado e enfraquecendo a cada dia. Tudo
isso teria que ser bom o suficiente, porque era tudo que me restava. Se este
julgamento não funcionasse, eu teria que começar a fazer acordos com
demônios para tirar Maddox de lá.
— Dev? — Nate disse. — Estou orgulhoso de você.
Eu chorei de novo. Por mais que eu apreciasse o sentimento, o orgulho
não me levou a lugar nenhum. Eu precisava de ação, e precisava agradecer
ao meu irmão por me pegar no meio da noite para me impedir de beber e
roubar as pílulas de Naomi.
— Quatro dias, Devon. Ele está voltando para casa em quatro dias.
É melhor porque eu não achava que poderia viver cinco dias sem ele.
29

-Maddox-
QUARTO MÊS - DOIS DIAS ANTES DO JULGAMENTO

O silêncio não existia neste lugar. Eu o acolhi de bom grado. Até mesmo o
barulho das grades, os gritos dos outros presos e os sons constantes dos
guardas se arrastando ficaram muito quietos. O silêncio encorajou minha
mente a vagar e, atualmente, não vagava por nenhum lugar agradável.
Afundou na depravação e me lembrou que havia uma chance muito boa de
eu viver aqui para sempre.
Uma vida sem Devon.
Eu me deitei de costas e olhei para a foto de Devon presa no beliche acima
de mim. Não deixei lá, com medo de que alguém mexesse, mas sempre que
tinha um momento para mim, olhava para ela e tentava não chorar.
Vê-lo todos os dias na sala de visitas não era suficiente para mim. Eu
precisava tocá-lo. Porra, eu faria qualquer coisa para tocá-lo. Sentia falta de
quando ele sorria de verdade, mas hoje em dia, tudo o que ele me dava eram
sorrisos falsos para me encorajar a continuar. Eu o amava por tentar me dar
esperança, mas por quanto tempo eu deveria deixar isso continuar? Se as
coisas não funcionassem a meu favor em dois dias, eu teria que deixá-lo ir.
Isso me despedaçaria, esmagaria minha alma em pequenos fragmentos de
poeira e tornaria meu coração tão negro quanto minha mente estava se
tornando. Mas eu faria isso para libertá-lo. Devon não merecia passar o resto
de sua vida lamentando por um cara na prisão. Eu precisava partir seu
coração para libertá-lo e, depois de alguns meses de dor, ele começaria a
melhorar. O que era o amor sem um pouco de sacrifício?
— Kane — o guarda gritou, aparecendo na porta aberta da minha cela. —
Visitante.
Meu companheiro de cela inclinou a cabeça sobre o beliche, sorrindo para
mim. — Namorado de novo?
Eu o ignorei, odiando que ele soubesse que eu tinha namorado. Eu nunca
tive vergonha de estar com um cara, mesmo quando a coisa toda me
confundiu, mas eu temia isso aqui. Ser gay em um lugar como este não era a
coisa mais fácil, mas por alguma razão, meu colega de cela manteve meu
segredo. Enfiei a foto de Devon debaixo do meu travesseiro, esperando que
esse idiota não tocasse nela novamente. Ele tocou uma vez, e eu dei um soco
no olho dele por isso. Ele nunca me delatou por isso também.
Saí do beliche e coloquei meus pulsos na minha frente, familiarizado com
a rotina agora. Eu podia vagar o quanto quisesse em certos horários, mas
sempre que tinha visita, as algemas apareciam como se eu fosse um risco de
morte.
Forçado a andar à frente do guarda, fui insultado quando passamos por
outras celas. Alguns desses caras nunca recebiam um único visitante, e eu
praticamente recebia um dia sim, dia não. Eu não me importava com as
provocações, porque sem Devon, meus pais, meu irmão e Nate, eu teria
enlouquecido aqui durante o primeiro mês. Pensei que era durão. Acontece
que eu não era. Talvez a dificuldade do parque de trailer e a dificuldade da
prisão fossem duas coisas diferentes.
— Trinta minutos — disse o guarda quando chegamos à área de visitação.
— Quarenta se eu esquecer de verificar meu relógio por mais dez. — Ele mal
sorriu para mim, mas tem sido um cara legal desde que cheguei aqui.
— Obrigado.
A maioria das mesas estava vazia, mas alguns presos tinham visitas de
esposas, filhos ou pais. Eu não era considerado um criminoso violento, então
recebia visitas em um espaço comunitário com guardas por toda parte.
Meu irmão se levantou, sorrindo para mim com menos dor em seus olhos
do que Devon tinha. — Oi, Madd. — Ele queria me abraçar, mas não era
permitido. — Você parece uma merda.
— Eu me sinto uma merda — admiti, sentando-me em frente a ele.
Xavi colocou as mãos na mesa de metal, parecendo tão culpado quanto os
outros. Eu não sabia por que eles sempre olhavam para mim como se fosse
tudo culpa deles. Não era. Mas meu companheiro de cela me disse que era
algo como a culpa do sobrevivente. Eles se sentiam mal por serem livres
quando eu não era.
— Como vai você? — ele perguntou.
Exatamente o mesmo de sempre, apenas um pouco mais sombrio agora.
— Cansado. — Chateado, com medo, com medo de tudo, mais solitário do
que nunca e deprimido pra caralho.
— Mais dois dias, Madd. Dois dias.
— Sim. — Eu esperava que ele estivesse certo, mas não me permitia
pensar nisso com muita frequência.
— Deixei seu terno com os guardas. Você está pronto para o tribunal.
— O que você teve que vender desta vez? — Perguntei. — Quem diabos
pode pagar um terno?
Eu odiava que eles venderam tudo por mim. Se este julgamento não me
desse uma vitória, tudo seria em vão e eles teriam que começar do zero.
— Papai tinha um — disse Xavi, ignorando isso. Sua expressão ficou
sombria. — Olha, Madd. Eu tenho que te dizer uma coisa.
— O que aconteceu? — Sentei-me mais reto.
— Devon…
— Devon, o quê? — Inclinei-me para a frente, o pânico tomando conta de
mim. — E quanto a Devon, Xavi? Ele está bem? — Meu coração afundou até
os tornozelos e minha ansiedade atingiu o pico.
— Ele está bem agora — disse Xavi, fazendo minha garganta fechar. —
Ele simplesmente não estava muito bem.
— Diga-me, Xavi! Por favor. — Eu implorei a ele com meus olhos para
não terminar esta visita com raiva antes de ter a chance de descobrir. Os
guardas me puxariam para fora da sala se eu levantasse a voz. — Por favor.
Xavi passou os dedos pelos cabelos. — Ele está bem. Está apenas lutando.
Ele estava indo tão bem, sabe? Tentando manter o foco no julgamento e tirar
você daqui. Mas…
— Xavi — exclamei. Diga-me antes que eu quebre.
— Ele ficou muito bêbado ontem à noite. Tomou alguns dos comprimidos
da mamãe e acabou no hospital.
Não pensei que fosse possível meu coração se partir ainda mais. Não.
Devon. Aquele bloqueio na minha garganta gaguejou em uma respiração
entrecortada que fez meu lábio tremer. — Ele está bem?
— Eu nem tenho certeza se foi uma overdose ou se foi envenenamento
por álcool, mas ele está bem. Eles bombearam seu estômago e lavaram seu
sistema, mas ele está bem hoje. Voltou para casa, mas agora está conosco.
Não quero mais que ele fique com a mamãe. Ele queria vir hoje, mas não
deixamos. Ele precisa descansar antes de amanhã.
Devon estava lá fora sofrendo, e não havia nada que eu pudesse fazer
sobre isso. Meu estômago revirou e meus olhos queimaram. Eu precisava
ganhar este processo judicial para que pudesse dar o fora aqui e dar um tapa
em Devon, fazer com que ele voltasse à forma. Eu precisava lembrá-lo pelo
que tínhamos que viver.
— Por que ninguém estava olhando ele? Deve ter havido sinais, não?
— Houve. Ele ligou para Nate na noite anterior no meio da noite, pedindo
ajuda. Ele disse a Nate que queria beber, então eles dirigiram por algumas
horas até que Devon se sentisse melhor. Eu acho… nós estragamos tudo
pensando que ele iria entrar em contato novamente. Sinto muito, Madd.
Ele não tinha do que se desculpar.
— Estou lhe contando isso porque você precisa manter a esperança.
Devon está sofrendo e precisa de você lá fora, Madd. Não desista ainda.
Prometa-me que não vai desistir dele. — Xavi chamou minha atenção,
querendo que eu prometesse.
Eu não poderia fazer essa promessa. Nenhuma parte de mim queria
desistir de Devon, mas se ele continuasse voltando para as drogas e álcool,
eu teria que libertá-lo o mais rápido possível se não saísse. Devon era a
melhor pessoa que eu conhecia, bem, para mim. Eu não seria o único a
arruiná-lo. Se eu tivesse que ficar aqui, não o arrastaria para este buraco
escuro comigo. Eu o machucaria, me machucaria e o libertaria de nosso
relacionamento e de sua responsabilidade de me tirar daqui. Eu encontraria
uma maneira gentil de facilitar Devon em uma vida que não me incluía.
— Eu o amo, Xavi. Eu o amo o suficiente para fazer o que for preciso para
garantir que ele não sofra.
Xavi balançou a cabeça. — Isso não é a mesma coisa e você sabe disso.
Nada disso está certo. Você nem deveria estar aqui, e se você quebrar a porra
do coração dele, ele nunca vai parar de doer por causa disso. Esteja você
dentro ou fora. Pare de pensar nisso. Concentre-se apenas no julgamento
porque sairá daqui em dois dias. Me ouve?
Aquelas lágrimas ardentes escorriam pelo meu rosto, e eu acenei para meu
irmão. Eu tinha que ter esperança por pelo menos mais dois dias. Mais dois
dias e talvez eu possa abraçá-lo, beijar seus lábios e trancá-lo para que ele
nunca mais se machuque.
— Eu não o quero sozinho agora, ok? Fique com ele até o julgamento.
— Ele está sob vigilância constante. Isso o está irritando, mas ele está
sucumbindo a isso. Ele é um filho da puta mal-humorado, mas está lutando
muito por você, Madd.
Eu sabia que ele estava. Fiquei meio surpreso por ele não ter assaltado um
banco só para ficar preso aqui comigo.
— Certifique-se de que ele saiba que eu o amo. Diga a ele por mim.
Por mais dois dias, eu lutaria por isso tão forte quanto Devon lutou por
mim nos últimos quatro meses.
Ele era minha casa, e eu faria qualquer coisa para voltar para ele.
30

-Devon-
DIA DO JULGAMENTO
Eu estraguei tanto.
Não só perdi a oportunidade de visitar Maddox, mas também o
decepcionei no processo. O que diabos eu estava pensando? Eu sabia! Eu
sabia que aquela garrafa não me levaria a lugar nenhum, e sabia que as
pílulas que tomei depois não ajudariam. Eu sabia disso, então por que diabos
eu tinha feito isso? A dormência não tinha valido a pena, e hoje, o estresse
ainda existia, mas agora foi amplificado com uma ressaca persistente,
vergonha e ainda mais culpa empilhada em cima do meu suprimento
interminável. Maddox não precisava se preocupar com nada além do
julgamento, mas eu fiz com que ele se preocupasse comigo.
Devon estraga tudo de novo, senhoras e senhores. Surpresa, surpresa.
— Um erro não define você — Seth disse, entregando-me uma gravata já
amarrada porque eu não tinha ideia de como amarrar uma. — Deixa pra lá
e segue em frente.
Enrolei a gravata em volta do pescoço, mas não fiz nenhum movimento
para apertá-la. Encostei-me no balcão da recepção da loja, me sentindo um
merda. Eu não sabia se era nervosismo ou doença persistente do meu erro,
mas de qualquer maneira, meu estômago estava pesado na minha barriga.
— E se eles... E se hoje não for...
— Não pense assim — Seth disse, levantando minha gola e endireitando
a gravata. — Você continua dizendo a ele para ter esperança. Siga seu
próprio maldito conselho. — Ele sorriu para mim.
Os advogados estavam confiantes. Hanes estava preparado para colocar
todas as evidências que provavam que Maddox foi incriminado. Até o
capitão do navio iria testemunhar a favor de Maddox, confessando seu
acordo paralelo com Jim. Foi uma barganha que ele fez com Hanes para ficar
sem prisão; apenas a perda de sua licença de capitão e o encontro com um
oficial de condicional em sua cidade natal. A filha de Gary tinha guardas
durante o dia, mas isso deu a Gary a tranquilidade de ir ao tribunal e dizer
a verdade. Tínhamos o suficiente para pelo menos provar uma dúvida
razoável, e isso seria o suficiente para tirar Maddox de lá.
As duas únicas pessoas trabalhando contra nós eram Davis e meu pai. Os
advogados nos disseram que nossas chances de provar a inocência de
Maddox eram boas, mas boas não eram uma coisa certa. Tudo o que eu
precisava era que provasse que Maddox havia sido incriminado. Então eu
poderia levá-lo para casa e resolver o resto com ele. Com ele.
— Estou tentando — eu disse a Seth quando ele abaixou minha gola e
ajeitou a gravata. — Eu só o quero de volta.
Seth baixou as mãos. Ele suspirou e deu um passo para trás. — Olha,
Devon, eu tenho que me desculpar pela forma como eu... tratei você no
começo.
Agora não era hora para isso. Eu balancei a cabeça para aceitar, mas acenei
para ele dizendo que não me importava agora. Sim, ele fez um comentário
sarcástico sobre foder um cara, mas ele tinha mais do que provado desde
então.
— Eu só quero que você saiba que, como pai dele, ainda que um péssimo,
me deixa orgulhoso ver como meu filho se saiu bem com você. Ele merece
alguém que o ame do jeito que você ama, e estou feliz que ele tenha você. —
Ele esfregou a nuca enquanto meu estômago apertava. — Só estou tentando
dizer... obrigado por ser tão bom para ele.
Em vez de fazer um comentário culpado sobre o quanto eu estraguei a
vida dele, simplesmente disse: — Sempre.
Eu nunca tinha usado um terno antes, e me sentia estranho pra caramba
nele, mas estava pronto para ir. Hora de trazer meu namorado de volta.

Essa porra de gravata me sufocava. Eu a afrouxei, enxugando o suor da


testa, tentando me acalmar enquanto Maddox era escoltado para o tribunal.
Porra, ele ficava bem em um terno. Quero dizer, ele parecia uma merda,
mas ele era uma merda sexy.
Eu o observei vasculhar a sala, sabendo que estava procurando por mim.
Meu coração falhou quatro batidas quando ele me olhou, parando para olhar
diretamente para a minha alma como se fosse a única coisa que o prendia a
esta sala. Ninguém mais existia naquele momento, apenas ele e eu e nosso
desejo de voltar um para o outro. Maddox respirou trêmulo, o que fez sua
garganta tremer, e eu dei a ele toda a força que eu tinha através do nosso
contato visual.
— Eu te amo — eu murmurei para ele.
— Te amo — ele murmurou de volta.
Maddox estava sentado em uma cadeira ao lado de seu advogado, bem na
nossa frente. Meus dedos se contraíram com a necessidade de estender a
mão e tocá-lo, mas eu estava com muito medo de cometer um erro e estragar
tudo para ele. Nate apertou meu ombro de um lado e Xavi se inclinou para
mim do outro. Unidos. Seth e Naomi sentaram-se do outro lado de Xavi, e
Andrea do parque sentou-se ao lado de Nate. Alguns outros residentes do
parque vieram mostrar apoio, mas a maioria não conseguiu chegar à cidade
vindo de Garron.
Era isso. Este era o dia pelo qual estávamos lutando. Maddox teria seus
sonhos respondidos ou seus pesadelos confirmados, e não importava o
resultado, eu estaria ao seu lado para carregar o fardo. Sonho ou pesadelo,
eu viveria por causa do meu homem.
— Madd — eu sussurrei, inclinando-me para frente. Ele se inclinou para
trás, mas manteve o rosto à frente. — Tentei o que você disse naquela noite
em que foi drogado. O colchão e a cabeceira.
Para a porra do meu alívio absoluto, Maddox realmente sufocou uma
risada. Puta merda. Minha pele se arrepiou ao ouvir aquele som.
Ele se virou para o lado, olhando para mim com o canto do olho. — Você
não quer saber o que eu tive que fazer lá dentro.
— Pervertido. — Eu pisquei para ele. Nunca tinha piscado antes, e me
senti idiota por fazer isso, mas isso o fez rir de novo, então não foi de todo
ruim.
Eu me sentia muito melhor ao vê-lo sorrir. Era mentira. Eu não tinha
fodido nada, nem mesmo meu punho, em quatro meses, mas o comentário
funcionou para nos acalmar. Até…
— Todos se levantem.
Uma manada de cães infernais galopava em meu peito.
Nate enfiou minha cabeça entre os joelhos e me disse para respirar como
na noite em que parou meu ataque de pânico quando Maddox me
abandonou.
A corte foi muito intensa. O caso tinha sido exposto, e eu suei por cada
maldita parte dele. Agora eu hiperventilava no corredor, lembrando-me dos
ombros de Maddox enquanto ele se declarava inocente.
Gary fez sua parte. O capitão do navio fez sua parte. A enfermeira do
hospital disse a verdade. Hanes expôs tudo e os advogados entregaram as
provas com confiança. Tudo ocorreu bem até Davis depor, provando que
tinha uma consulta médica confirmada que lhe dava um motivo para estar
no hospital naquele dia. Essa foi a parte em que minha mente se prendeu. E
se a consulta de um médico arruinasse todo o nosso caso?
A advogada de Maddox foi rápida, questionando o raciocínio de Davis
para estar no ambulatório cirúrgico para entregar os documentos à
enfermeira. Davis tropeçou em suas palavras por alguns segundos antes de
continuar com a história de que se perdeu no hospital, pediu informações a
ela e apenas deu documentos que pensou ter visto ela deixando cair. Ele
'nunca os tinha visto antes', o mentiroso maldito. Não era nem uma boa
mentira porque as imagens de segurança provavelmente poderiam
desacreditá-la.
Nate deu um tapa nas minhas costas, levantando minha cabeça agora que
minha respiração estava um pouco regulada. — Você está bem — ele me
assegurou.
Esfreguei os olhos, tentando limpá-los. Dizer que eu estava nervoso era o
eufemismo da porra da década. Maddox estava lá agora, esperando seu
destino. Culpado ou inocente.
Xavi me colocou de pé, mas minhas pernas tremiam. Ele agarrou os lados
do meu rosto e encontrou meus olhos. — O que quer que aconteça lá dentro,
nós nos uniremos e superaremos.
Eu balancei a cabeça, os olhos embaçados.
— Prometa-me, Devon.
Eu balancei a cabeça novamente, mal respirando. — Eu prometo. Nós
ficaremos juntos.
— Eu te amo cara. Nunca poderei agradecer o suficiente por tudo que
você fez pelo meu irmão. Não importa o que aconteça, você sempre será meu
irmão também. — Ele me puxou para um abraço, e eu caí contra ele.
O abracei de volta, segurando-o com a esperança de que nós dois o
recuperássemos hoje. Talvez eu apenas o segurasse pelo bem da minha
sanidade.
— Te amo — murmurei em sua jaqueta.
Nate se juntou ao abraço, e nós três ficamos ali, esperando por força, apoio
e conforto enquanto um júri de estranhos decidia o destino de nossas vidas.
A vida de Maddox. Os segundos passavam e minha ansiedade ficava mais
intensa a cada um que passava.
Era isso. Este era o momento que eu esperava desde o dia em que Maddox
foi levado. Eu teria meu namorado de volta ou estaria fazendo acordos com
novos tipos de demônios? Porque se Maddox tivesse sua liberdade negada
hoje, ele desistiria. E se ele desistisse, eu seria preso só para ficar com ele.
Uma vida na prisão com Maddox era mil vezes melhor do que uma vida
livre sem ele. Nate me disse que não era uma maneira saudável de pensar,
mas nosso relacionamento não era saudável em geral, então não me
importei.
As portas se abriram.
Dei meu primeiro passo em direção ao futuro que me esperava do outro
lado deste veredicto.
31

-Maddox-
Escuridão.
Fui consumido por ela, emitindo-a, vivendo nela. Minha mente escureceu,
minha alma escureceu, minha esperança nublada pelo desespero e
desolação, e meu coração coberto de raiva e ódio. A pequena partícula de
luz me amarrando a esta realidade era Devon. Seus brilhantes olhos azuis e
seu cabelo loiro, me segurando aqui para que a escuridão não pudesse me
levar completamente ainda.
Guiado por dois guardas até o tribunal, meu estômago revirou com os
nervos e minha mente repassou todos os resultados possíveis. Havia apenas
dois imediatos, mas eles levavam a futuros muito diferentes.
Se considerado culpado, voltaria para a prisão para cumprir qualquer
sentença que me dessem por meu crime de posse com a intenção de
distribuir mais de meio milhão de dólares em contrabando ilegal. A partir
daí, eu perderia minha vida, meu amor e a mim mesmo. Eu o excluiria, me
desligaria e murcharia em um homem que nunca mais conheceria o amor,
tornando-me uma casca da pessoa que costumava ser.
Se provado inocente, eu iria para minha casa, para Devon. Teria a chance
de lutar pela vida que eu queria. Eu teria a oportunidade de segurar o
homem que eu amava com todas as minhas forças enquanto fazia promessas
a mim mesmo de nunca mais perdê-lo. Eu pegaria Devon... para sempre.
Ainda teríamos que lidar com as consequências do julgamento e do pai dele,
mas poderíamos fazer isso juntos. Se eu saísse daqui hoje, me casaria com
ele na primeira chance que tivesse.
Mas... escuridão. Aglomerou-se em mim de todos os lugares. Mesmo
quando me sentei ao lado de meus advogados com o júri e o juiz no lugar,
pronto para decidir minha vida, aquela escuridão apagou minha esperança.
Recusei-me a ficar muito esperançoso, muito animado. A falsa esperança
poderia ser o fim da minha vida, e eu não queria me antecipar.
Olhei para trás. Devon parecia absolutamente destruído e absolutamente
lindo. Ele respirava muito forte, suava muito e ficava puxando a gola do
terno como se isso o sufocasse. Quando encontrou meus olhos, ele se
acomodou um pouco, mas não muito. Parecia prestes a desmaiar, vomitar,
bombardear o local ou chorar. Eu sorri para ele, tentando acalmá-lo ainda
mais para que não morresse de ataque cardíaco antes que o veredicto
pudesse ser lido.
Ele sorriu de volta, seus olhos azuis cheios de toda aquela esperança que
eu tentava não sentir. Lá estava ele, minha luz em meio à escuridão,
brilhando azul para mim no meio de toda essa desgraça e tristeza. Agarrei-
me àquela partícula de luz enquanto me virava para enfrentar o juiz.
— Maddox Kane, você está sendo julgado em um tribunal. Duas
acusações separadas aguardam sentença. A primeira acusação, posse de
contrabando ilegal no valor de mais de seiscentos mil dólares. Você se
declarou inocente.
Meu peito apertou, mas levantei minha cabeça, agindo com mais
confiança do que me sentia.
— Pela acusação de intenção de distribuir contrabando ilegal no valor de
mais de seiscentos mil dólares, você se declarou inocente.
Engoli.
Minha boca salivou e minha garganta secou. A hora havia chegado. Meu
corpo tremia violentamente, minhas mãos mal conseguiam ficar paradas ao
meu lado.
Ao júri, o juiz perguntou: — Na primeira acusação, acusação de posse,
você considera o réu culpado ou inocente?
Meu pulso acelerou. Minha cabeça ficou leve. Fechei os olhos, ouvindo o
destino.
— Inocente.
A respiração saiu de mim e Devon soluçou atrás de mim.
— Na segunda acusação, intenção de distribuir, você considera o réu
culpado ou inocente?
Minha vida passou diante dos meus olhos. Cada memória que eu tinha de
Devon nadava por trás de minhas pálpebras fechadas, puxando para frente
uma série de emoções que eram muito vastas e muito poderosas para um
momento de atenção. Memórias mudaram para esperanças e sonhos. Sonhos
em casar com o homem que amo. Esperança de construir uma vida de
merda, mas perfeita, com ele. O dom de dormir na mesma cama, vê-lo comer
as caçarolas da minha mãe, desafios, discussões e brigas até rirmos ou
apagarmos as chamas com sexo. Os rostos sorridentes e intrometidos de
nossos irmãos enquanto planejavam cada detalhe de um casamento que
nunca pedimos que planejassem, e seu total desrespeito aos nossos desejos
quando dissemos que não o fizessem. Um sonho. Uma vida. Um futuro com
Devon.
Meus pulmões pararam quando o jurado abriu a boca. Apertei meus olhos
com mais força, incapaz de observar o momento que me libertaria ou me
destruiria. Minhas mãos se fecharam em punhos cobertos de suor, minhas
unhas cortaram minhas palmas e meus pés ficaram dormentes enquanto
minhas pernas ameaçavam ceder.
Aquela escuridão circulou, rastejando, me lembrando que eu não merecia
muitos favores na vida. Mostrando-me que caras como eu não conseguiam
ter esperança e sonhos como pessoas normais.
Respire.
Escuridão.
Respire.
Escuridão.
Respire.
— Inocente.
Luz.
Minhas pernas cederam e meus joelhos doeram ao cair no chão do
tribunal. Então minha escuridão foi obliterada pela luz do rosto manchado e
soluçante de Devon aparecendo bem na minha frente. Ele caiu em mim, ou
eu caí nele, e nada mais importava porque ele estava de volta em meus
braços, me sujando de ranho, me enchendo de esperança renovada. Eu o
senti pela primeira vez em meses, e com aquele toque, a realidade voltou ao
foco. Não perdi mais um segundo. Segurei-o com tanta força que ele não
conseguia respirar, mas não pensei que ele estivesse respirando de qualquer
maneira. Os sons do tribunal foram abafados pelo amor vindo direto de
Devon Sawyer, como se ele tivesse reprimido todo esse tempo e lançado em
mim de uma vez.
Xavi me abraçou por trás, mas não consegui me afastar de Devon. Ele
chorou no meu ouvido e disse um monte de merda que eu não consegui
entender com a confusão dele, mas eu entendi o sentimento.
— Case-se comigo, Devon. — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca.
— Eu vou, seu idiota de merda — ele meio riu, meio chorou, não me
soltando. — Porra, eu vou. Eu te amo, Madd.
— Eu te amo. — Com tudo que eu tinha para dar. — Obrigado por tudo.
Ainda temos um monte de besteiras vindo em nossa direção? Isso aí. Mas
eu era inocente desses crimes e me certificaria de que continuasse assim.
Eu tinha chegado tão perto de deixar a depressão me consumir, e agora eu
precisava segurar Devon enquanto eu o tivesse. Em troca, eu aprenderia
como animá-lo para que parasse de se odiar. Aprendi que não há
vulnerabilidade em confiar nos outros. Eu costumava pensar que isso
significava que eu era fraco, mas agora sabia que não estaria aqui sem a
ajuda, o amor e o apoio de todas as pessoas próximas à minha vida.
Eu mantive minhas mãos em Devon, mas me afastei o suficiente para
realmente olhar para ele. Ele nunca pareceu tão bagunçado, mas o sorriso
em seu rosto era maior do que qualquer coisa que eu já tinha visto. Em seus
olhos vermelhos, eu vi tudo o que eu amava nele. Sua teimosia e sua paixão,
suas preocupações e medos, e todo o amor e lealdade que ele possuía. Vi
suas esperanças e sonhos para o futuro que finalmente estava ao nosso
alcance, e vi a honestidade crua enquanto ele o queria. Esse idiota se tornou
meu mundo inteiro, e eu nunca deixaria passar outro dia sem dizer isso a
ele, mostrar isso a ele e lembrá-lo disso.
— Você precisa cortar o cabelo, porra — ele riu, quase histérico de alívio.
Talvez nervosismo.
— Você também — eu falei de volta, fungando. — Mas você parece
gostoso pra caralho, Devon. Me leve para casa.
Onde quer que fosse a casa hoje em dia.
32

-Maddox-
O alívio me encheu tão completamente que eu me sentia eufórico. O medo
e a depressão constantes que me dominaram por quatro meses começaram
a passar e a diminuir.
Inocente.
Inocente.
Eu exalei um longo suspiro, sentindo como se estivesse segurando o ar
desde o momento em que fui algemado e colocado na parte de trás daquele
carro da polícia. Meus pulmões se esvaziaram de desolação e depressão, e
eles inspiraram algo como um novo começo com uma nova perspectiva.
Minha segunda chance na vida. Ok… talvez minha terceira.
O tribunal zumbiu ao meu redor enquanto se esvaziava. Agradeci aos
meus advogados uma vez, embora devesse ter agradecido um milhão de
vezes, e mantive minha mão na de Devon o tempo todo. Será que eu seria
capaz de largá-lo? Não importava quem me puxou em que direção, eu
arrastei Devon comigo por tudo isso.
Devon foi o que mais chorou de todos. Suas lágrimas vieram livremente e
sem vergonha, derramando aquela pressão sob a qual ele viveu por meses.
Sua alma se iluminou, sua raiva e medo escorreram por suas bochechas, e a
vergonha e a culpa incharam em seus olhos, finalmente se dissipando
quando escorreram de seu queixo para cair no chão do tribunal. Meu garoto
estava doendo, mas desta vez, era uma dor boa. A dor da cura.
Minha mãe me abraçou, chorando em meu ombro. Meu pai me abraçou,
segurando as lágrimas e se contentando com o silêncio. Nate me abraçou,
me agradecendo por nunca ter desistido de seu irmão, e Xavi me abraçou
por tanto tempo que tremi. Ele me chamou de idiota por fazê-lo se preocupar
tanto, e eu o abracei com mais força por isso. Quando olhei para ele, agradeci
silenciosamente por cuidar de Devon o tempo todo, certificando-me de que
seu coração nunca se partisse.
— Devon — eu chamei, puxando sua mão. — Não se atreva a se afastar
de mim. — Limpei suas bochechas com as pontas dos meus polegares,
sorrindo para ele antes de pressionar meus lábios nos dele.
Incendiou. Uma onda de muitas coisas - gratidão, poder, contentamento,
amor - passou por meus lábios e se instalou em meu peito. Finalmente beijá-
lo novamente deu um novo sentido de vida à minha alma desgastada. A
carícia de sua língua contra a minha queimou com aquela química que nós
sempre contivemos, mas passamos muito tempo ignorando. Mesmo depois
de tudo o que passamos ainda tínhamos, e um beijo desse idiota foi o
suficiente para encher meus tanques, encher minhas reservas e carregar
minhas baterias. O que uma vida inteira com ele faria?
— Casa, Devon. Onde quer que seja, vamos lá. Agora.
Ele sorriu contra a minha boca. — Fico feliz em ver que você ainda é um
idiota insistente, Madd.

Mesmo tendo passado apenas quatro meses desde que pisei em Garron
Park, parecia que tudo havia mudado. O lote 62 ainda estava isolado, nossos
caminhões não estavam mais estacionados lá e o trailer que normalmente
continha nossas motos de motocross havia sumido. Havia placas de 'bem-
vindo ao lar, Maddox' penduradas nas varandas da frente de muitos trailers,
e o trailer da minha mãe tinha serpentinas de papel penduradas no toldo.
Eu sentiria mais falta de nossas motos de motocross, mas não perderia
tempo lamentando-as quando tinha Devon bem na minha frente. Eu só tinha
que esperar que possamos recuperá-las algum dia. Nate e Xavi nos deixaram
na casa da mamãe e depois saíram para nos dar algum tempo para ficarmos
sozinhos. Mamãe estava com papai em algum lugar, planejando um
churrasco de boas-vindas para mais tarde. Eu realmente queria passar um
tempo com todo mundo, mas minha atenção se concentrou apenas no meu
namorado por enquanto.
— Você está bem, Madd? — Devon perguntou enquanto estávamos no
gramado marrom da frente da minha mãe.
— Se você me perguntar isso de novo, eu vou bater em você — eu disse a
ele. Sinceramente, porém, eu não estava bem. Entrar no trailer me assustou.
Foi aí que Devon teve uma overdose e teve que ser levado ao hospital. Seria
diferente entrar lá? Será que as imagens mentais que conjurei daquele
acontecimento me assombrariam para sempre?
— Olhe para mim — Devon insistiu, parando na minha frente. — Eu
estraguei tudo, Madd. Mas eu não vou estragar tudo de novo, ok?
Finalmente tenho você de volta e não vou fazer nada para estragar isso.
Confie em mim, ok?
— Eu confio em você — eu disse, falando sério. Eu tinha o direito de me
preocupar com ele, no entanto. — Por que você fez isso?
— Porque eu estava com medo — disse ele. — Porque eu senti sua falta.
Porque tudo ficou muito pesado e eu não sabia mais como carregar. Porque
eu estava com tanto medo de nunca mais ser capaz de tocar em você de novo,
e porque eu era fraco. Escolhi o mecanismo de enfrentamento errado.
Desculpe.
— Não se desculpe. Apoie-se em mim agora.
Devon assentiu. — Você pode chutar minha bunda por isso mais tarde.
Estou meio ansioso para ver o quão fraco você está agora que está mais
magro. — Ele sorriu. — Mas podemos apenas... nos tocar agora?
Lambi meus lábios e puxei-o contra o meu peito. — Estou orgulhoso de
você e confio em você, mas definitivamente vou chutar o seu traseiro mais
tarde. Não importa quanto peso eu perdi, ainda posso vencê-lo.
— Eu sei — ele riu. — Vamos. Estou farto de todo mundo nos observando.
Entrando para que os bisbilhoteiros não pudessem nos espionar, entrei no
lugar que tinha sido meu lar durante a maior parte da minha vida. Estava
praticamente arrumado, mas havia garrafas de vinho vazias no balcão,
pratos sujos na pia e maços de cigarros meio vazios espalhados pelo lugar,
me lembrando que a vida continuava aqui enquanto a minha fazia uma
pausa.
A adrenalina do julgamento passou e o cansaço se instalou. Meses de
trabalho. Por mais que eu quisesse ter intimidade com Devon, não parecia o
momento certo. As olheiras sob seus olhos me disseram que ele estava tão
cansado quanto eu, e seu constrangimento me fez esconder um sorriso. Sim,
estávamos de volta à estaca zero. Nosso relacionamento começou com um
estrondo, alimentado por raiva e tensão, mas desta vez, estávamos
sufocados na suavidade, sem saber como voltar para aquelas pessoas
quando éramos diferentes agora. Nós tínhamos mudado. Não sabíamos
como ficar juntos sexualmente com essa nova dinâmica, e isso nos
transformou em idiotas tímidos.
— Está com fome? — ele perguntou, chutando o tapete.
Faminto e ansioso por uma refeição de verdade. — Eu só estou cansado.
— Eu o observei se mexer.
Ele acenou com a cabeça e agarrou meu pulso, levando-me para o meu
quarto. Lentamente, Devon afrouxou minha gravata e desfez os botões da
minha camisa, tentando esconder seu choque com o quão diferente meu
corpo parecia. Perdi um pouco de peso e perdi muita massa muscular. Ele
puxou o cinto das presilhas e jogou-o no chão, deixando minha camisa
aberta. Enquanto ele se despia, tirei a calça e os sapatos, tirei as meias e o
observei em silêncio.
Eu tentei tanto recordar uma imagem perfeita de seu corpo enquanto eu
estava preso, mas nunca fiz justiça. Ele também havia perdido algum peso,
mas era bonito pra caralho. Duramente lindo. Vê-lo de cueca me deu uma
pausa.
— Foda-se, Devon, você é... — Engoli em seco, sem saber que palavra
usar. Simplesmente perfeito. Só meu.
Um lampejo de desejo acendeu em seus olhos, mas não foi aquecido o
suficiente para agir. Seu bronzeado havia empalidecido e sua tatuagem de
caveira de merda se destacava mais por causa disso. Jurei mantê-lo na praia
o máximo que pudesse para escurecer sua pele, descolorir seu cabelo com
sol e colocar mais calor nele.
Caímos em nossas antigas posições, meu braço em volta dele, sua cabeça
na curva do meu ombro e nossas pernas todas juntas, a coisa mais próxima
de um abraço que já tivemos. Bênção. Sua pele aqueceu a minha, suas mãos
calejadas arranharam meu abdômen, seu cabelo crescido fez cócegas em
meu queixo e sua barba por fazer espetou meu ombro. Eu amei.
— Senti sua falta — eu disse a ele, tentando não chorar. A realidade de
estar aqui, acomodado na cama em que nosso relacionamento havia
começado, com ele em meus braços e a segurança ao nosso redor, me
dominou. Tudo o que eu desejava nesses quatro meses era isso. Este
momento. Eu finalmente consegui, e foi tão bom que doeu.
Eu chorei. Tentei não fazê-lo, mas as lágrimas vieram e não pararam. Meu
peito arfava, o alívio transbordou em felicidade e gratidão, e Devon me
segurou durante tudo isso, chorando comigo. Ele não disse nada e nem eu,
porque não havia nada a dizer. Era sobre sentir, não falar.
Quando as emoções ficaram demais, eu me virei para encará-lo e levantei
seu queixo. Beijá-lo com lágrimas salgadas misturadas em nossas línguas,
nossos peitos arfando juntos e nossos corpos se entrelaçando como se
soubessem exatamente o que fazer parecia bom demais para ser verdade. As
mãos de Devon me puxaram para mais perto e as minhas acabaram em seu
cabelo, segurando-o contra mim para aprofundar nosso beijo. Meu pau não
ficou duro e nem o dele, mas nossos batimentos cardíacos sincronizaram e
nossas lágrimas secaram. Ficamos deitados na minha cama minúscula, nos
beijando até ficarmos exaustos, mas ainda sem parar.
— Durma — ele sussurrou, os lábios nos meus antes de se afastar.
Eu odiava ser cafona, mas fiz assim mesmo. — Não consigo fechar os
olhos.
Ele não pôde evitar seu sorriso satisfeito. — Você vai se cansar de olhar
para mim em breve. Eu sou tudo que você tem agora — ele riu.
Eu o observei, completamente apaixonado.
— Não temos casa, dinheiro, caminhões, motos de motocross e
literalmente nada em nossos nomes. Você nem tem emprego, Madd. Eu sou
tudo que você tem. Desculpe pela sua sorte. — Ele sorriu.
Eu sorri, deixando meus olhos se fecharem. Sim, tínhamos muita realidade
para alcançar e enfrentar, mas essa merda poderia esperar até amanhã. Por
hoje, Devon era a única coisa que eu precisava.
— Eu te amo.
Devon beijou minha bochecha e tocou meus olhos para forçá-los a fechar
novamente. — Eu te amo. Agora durma, imbecil.
Virei-me de costas, agarrei sua mão entre nossos corpos e finalmente
dormi.
33

-Maddox-
Eu dormi por horas, e eu jurava pra caralho que não tinha descansado
assim há uma eternidade. A primeira coisa que fiz quando acordei foi beijar
o cabelo de Devon, depois tomei um banho. Devon, aquele filho da puta
sensível e fofo, sentou-se na tampa do vaso sanitário e falou até eu ouvir o
tempo todo enquanto eu lavava a prisão da minha pele. Ele me emprestou
uma cueca quase toda limpa, porque aparentemente eu não tinha mais
nenhuma, e então nos deitamos na cama para... conversar.
— Ela está bem, Madd — Devon disse quando perguntei a ele sobre
minha mãe. — Desviou-se um pouco, mas ela está tentando. Um ponto a seu
favor.
— É meio foda que meu pai, um viciado em recuperação e alcoólatra, ser
quem cuida da minha atual viciada e mãe alcoólatra. Espero que ele esteja
lidando bem com isso.
— Infelizmente, isso não é muito diferente de muitos casais aqui — disse
Devon. — Ele está indo bem. Acho que isso lhe dá algo pelo que lutar. O
deixa orgulhoso de sua sobriedade.
Eu queria perguntar a ele sobre seu próprio erro. Eu sabia que ele disse
que estava assustado e oprimido, mas eu precisava saber onde sua cabeça
estava agora. Ao mesmo tempo, não queria perguntar porque não queria que
ele pensasse que eu duvidava dele. Devon era o filho da puta mais forte que
eu conhecia, e eu não queria que ele duvidasse de sua força em tudo isso. Se
duvidasse, eu queria que ele soubesse que sempre poderia vir até mim.
— Como você está se sentindo sobre o que aconteceu? — Eu perguntei,
esperando que soasse como um apoio ao invés de uma acusação. — Você
está preocupado?
Devon suspirou, colocando um braço sobre o rosto como eu sempre fazia.
— Eu me sinto um idiota sobre isso, Maddox. Tipo, o que diabos eu estava
pensando? Você sabe? Passei todo esse tempo tentando não ser como meu
pai, e então fiz algo assim? É embaraçoso pra caralho.
Tirei o braço de seu rosto e o fiz olhar para mim. — Não se sinta estúpido.
— Ele era estúpido, mas todos nós éramos estúpidos às vezes. Ele apenas
mais do que a maioria. — Apenas fale comigo sobre isso, ok? Quando as
coisas ficarem difíceis, venha até mim. Sempre.
Devon assentiu e seguiu com um sorriso malicioso. — Você se
transformou em uma espécie de pregador enquanto estava preso, Madd?
Revirei os olhos e coloquei o braço atrás da cabeça, olhando para o teto e
rastreando os danos causados pela água com os olhos. — Não, mas meu
colega de cela era ainda mais idiota do que você, então passei muito tempo
ouvindo as besteiras dele. — Juntei nossos dedos no meu peito.
— Ele era um cara legal?
— Não, mas ele também não era terrível. Manteve a boca fechada sobre
as coisas que sabia sobre mim.
Devon não disse nada, mas eu sabia que ele queria perguntar. Eu conhecia
suas inseguranças a essa altura. Ele não perguntou, no entanto. Talvez ele
tivesse... crescido. Mas só para tranquilizá-lo, eu disse: — Nunca. Não o
toquei. Não olhei para ele. Não toquei ou olhei para ninguém.
Eu o senti sorrir contra o meu ombro. — Então, quando você está
propondo?
— Já perguntei três vezes. — Eu lutei contra um sorriso.
— Eu quero um pedido de verdade. Com um anel e tudo.
— Ah, eu tenho que fazer isso?
— Mhm — ele meditou, sendo todo fofo.
Eu realmente queria fazer isso direito. Com um anel e um discurso de
merda e todas as dobras de joelho que meus joelhos rangendo poderiam
aguentar. Uma chama de ressentimento queimou meu peito, lembrando-me
quanto controle esse cara tinha sobre mim. Foda-se ele por me transformar
nesse idiota tradicionalmente romântico.

— Cerveja? — Xavi segurou uma lata na frente do meu rosto.


Olhei para o quintal atrás do trailer de Andrea, tentando ver o que Devon
bebia. — O que ele está bebendo?
— Uh, acho que chá gelado.
Eu não dava a mínima para beber, então balancei a cabeça para a cerveja
e pedi uma limonada. Se meu homem quisesse desistir do álcool, eu faria o
mesmo por ele. Eu já estava sem beber na prisão, de qualquer maneira.
— Feliz por estar em casa? — Xavi perguntou.
— Não tenho casa — eu ri. — Mas foda-se sim. Você não tem ideia. —
Sentei-me em uma cadeira de jardim ao lado de Xavi enquanto todos no
parque ficavam para beber, comer e conversar. Andrea hospedou, mas todos
contribuíram com comidas diferentes e até alguns presentinhos. Alguém me
deu um pacote de camisetas brancas, então isso ajudou, e outra senhora me
deu as velhas botas de seu filho. Tudo o mais que eu possuía ficou trancado
no lote 62, e não voltamos para pegá-lo. Não poderíamos. Talvez outra hora.
Eu mantive meus olhos em Devon. — Não tenho ideia de como vou viver,
encontrar um emprego e fazer Devon feliz, mas nunca mais quero estar em
um lugar onde ele não esteja.
— Tão sentimental — zombou Xavi. Ele passou o braço em volta do meu
ombro e deu um beijo pateticamente alto contra o lado da minha cabeça. —
Vá ao mercado de antiguidades comigo neste fim de semana.
— Por quê? — Isso não era algo que normalmente fazíamos juntos.
— Por quê. Apenas vá. — Ele sorriu como se tivesse um plano. Sempre se
intrometendo.
— Tudo bem, mas só se você me contar se alguma coisa aconteceu com
você e Nate depois que admitiu toda aquela merda para mim.
Xavi gemeu. — Ainda não. A vida meio que parou enquanto
trabalhávamos em sua fuga da prisão.
— Você ainda está pensando nisso? Sobre ele? — Perguntei a Xavi, mas
observei Devon. Robusto, risonho, pobre, vestindo roupas de segunda mão
e chinelos incompatíveis. Na verdade, eu tinha certeza de que a camiseta que
ele usava era do Xavi de um daqueles canhões de camisetas de show, mas
quanto mais eu olhava, mas eu achava que eu era o dono.
— Talvez. Não sei. Não me pressione. — Xavi me deu um tapa na lateral
da cabeça. — Ele não vai desaparecer. Não recebo sua atenção?
— Você não parece tão bem quanto ele — eu ri.
— Ele está vestindo minha camisa.
— Acho que foi a minha camisa.
— Foi — Xavi riu. — Daquele show de rock de merda sem bandas
conhecidas em que você entrou quando tinha uns vinte anos.
Sabia.
— Como foi a primeira foda pós-prisão?
— Ainda não aconteceu.
— O quê? — Xavi riu. — Vocês dois sempre foram tão excitados e
carentes. Algo mudou?
Não. Nada mudou. Eu o queria tanto quanto sempre quis, mas... — É
como a primeira vez de novo. Acho que nós dois estamos nervosos ou algo
assim. Eu apenas…
— Não quer que ele pense que o sexo é tudo que você sentiu falta — Xavi
completou para mim.
Eu olhei para ele. — Você é uma vadia sábia agora?
— Sim. — Ele apontou o mindinho e tomou um gole de cerveja. — É por
isso que você vai ao mercado de antiguidades comigo no sábado.
Eu não tinha uma casa ou um armário para comprar coisas, mas tanto faz.
Se ele quisesse ir ao mercado de antiguidades, eu iria apenas para passar um
tempo com ele.
— Tudo bem, vá buscá-lo em vez de fodê-lo com os olhos do outro lado
do gramado. Você está deixando todos nós desconfortáveis. — Ele me
cutucou.
Sim, provavelmente não precisava me dizer isso duas vezes. Gostei da
festa e me sentia grato por ela, mas já chega. — Obrigado por tudo, Xav. —
Puxei-o para um abraço. — Amo você.
— Te amo, irmão. — Ele deu um tapa nas minhas costas. — Feliz por ter
você de volta.
Eu caminhei até Devon, minha intenção aparentemente clara em meu
rosto. — Não me olhe assim, Madd — ele alertou. — Não vejo esse olhar há
quatro meses e não tenho mais resistência.
Pedi desculpas ao grupo ao redor dele, oferecendo um sorriso afetado.
Dirigindo-o para longe, passei meu braço em volta de seu pescoço e
sussurrei: — Então vamos gozar em dez segundos e, finalmente, chegar à
verdadeira foda.
— Esta festa é para você — ele me lembrou.
— Eu apareci. Conversei. Comi um pouco. Agora eu estou farto. Quero
você.
Ele encontrou meus olhos e, assim, uma velha chama de desafio e
competitividade acendeu entre nós.
Porra, finalmente.
34

-Devon-
Dois sentimentos completamente diferentes me consumiam - prazer
enquanto eu gozava e vergonha por ainda não ter tirado minha boxer.
O sêmen vazou através do material preto da última cueca boxer limpa que
eu tinha, mas a visão dele não fez nada além de me fazer sentir remorso. Eu
tentei parar isso apertando meus músculos e tirando minha mente da
sensualidade do cenário olhando para a cozinha ao nosso redor, mas era
tarde demais. Fui tocado pelo homem que amo pela primeira vez em meses
e meu corpo reagiu. Fortemente.
— Foda-se — eu gemi através dos tremores. — Foda-se, me desculpe.
Maddox sorriu, mas sua mão não parava de massagear meu pau latejante
através do material, espalhando meu esperma ao redor. Se eu tivesse que
adivinhar, diria que ele estava muito presunçoso que basicamente me fez
ejacular prematuramente na minha maldita cueca.
— Eu... não... não pude gozar enquanto... foda-se, Maddox!
Ele riu, beijando meus lábios. — Apenas cale a boca enquanto você está
vencendo. Esta é a coisa mais sexy que vi em meses. O fato de que você não
conseguiu nem aguentar? Sim, tão gostoso. — Ele mordeu meu lábio inferior
de brincadeira e, para meu constrangimento ainda maior, meu pau
endureceu de volta.
Meus quadris se moveram e meu pau esfregou contra sua mão
descaradamente, embora minha mente sentisse vergonha. Não era assim que
eu queria que a noite terminasse. Eu queria que fosse especial, passar cada
segundo perdido com ele, envolto nele, transando com ele como
costumávamos fazer. Eu queria a experiência completa de Maddox Kane, e
agora eu havia interrompido o show antes mesmo de as prévias terminarem.
— Isso não acabou — ele alertou naquele tom perigoso que eu tanto
amava. Merda, eu tinha sentido falta disso. — Estamos fodendo. Você pode
gozar de novo.
Eu provavelmente poderia gozar mais seis vezes. Eu vinha me limitando
a contragosto havia quatro meses e agora tinha permissão para gozar. Mas
quando a intensidade do orgasmo diminuiu, um novo tipo de desafio surgiu
em seu lugar.
— Como se você fosse fazer algo melhor, idiota — eu retruquei para ele,
endireitando minha coluna. — Você se masturbava treze vezes por dia com
seu colega de quarto?
— Companheiro de cela — ele corrigiu. — Não. — Uma centelha de
desafio se acendeu em seus olhos verdes. Oh infernos não. Eu não suportaria
isso. Ele queria se ver como todo-poderoso só porque me fez gozar em minha
boxer? Foda-se ele. Ele era poderoso, mas eu também.
Afastei sua mão, demorei alguns segundos para admirar o sêmen
escorrendo pela minha cueca e então o empurrei até que ele batesse no
balcão oposto. Maddox sorriu para mim enquanto eu desabotoava sua calça
jeans, agindo como se já tivesse ganhado alguma coisa. Sua camisa já estava
aos nossos pés, e eu queria socá-lo por quão bom ele parecia, mesmo tão
magro.
— Você treinou lá — eu comentei.
— Mhm. Mas não comi direito.
Dava para notar. Tonificação muscular sem massa. Eu gostava, mas
gostava dele um pouco mais completo, ainda melhor. — Você se acha fodão,
Madd?
Ele começou a cantarolar sua confirmação, mas parou quando caí de
joelhos e engoli seu pau sem hesitar. Ele se restaurou muito rápido, puxando
a parte de trás da minha cabeça para foder minha boca.
— Ah, Devon — ele gemeu, todo baixo e gutural. Ele geralmente não era
muito falador, mas continuou. — Você sabe quantas vezes eu pensei sobre
isso preso?
Cale a boca, Maddox. Este era para ser o meu show. Girei minha língua ao
redor da cabeça de seu pênis antes de tomá-lo profundamente em minha
garganta. Fazia tempo que não me engasgava com um pau, e foda-se, eu
sentia falta. Sentia falta do jeito que ele agarrou meu cabelo e tentou ser
dominante ainda mais. Lembrando a mim mesmo que eu estava aqui para
provar um ponto, segurei suas bolas, o fiz chupar uma respiração áspera e
engoli em torno de seu pênis.
— Poooorra — ele se engasgou, seus quadris empurrando. — Não me
faça... oh, foda-se.
Eu sabia. Ele estava tão reprimido e fora de controle quanto eu. Seu pau
endureceu ainda mais, suas bolas apertaram em minha mão, e eu abri meus
músculos da garganta, com fome de gozo e ansioso para prová-lo. Os dedos
de Maddox me agarraram com força, segurando minha cabeça no lugar
enquanto ele gozava forte, rápido e com força. Ele gemeu meu nome, me
elogiou e fez todos os tipos de sons sensuais enquanto meus olhos
lacrimejavam e minha garganta tinha espasmos. Engolindo-o, puxei a parte
de trás de seus joelhos até que eles cederam e ele caiu no chão na minha
frente. Sua boca estava na minha um segundo depois, ofegante e desleixada.
— Odeio você pra caralho — ele reclamou com a respiração irregular. —
Foda-se, eu... foda-se você por isso.
Meu ponto foi provado. Eu sorri. — Bem, pense antes de ser um idiota da
próxima vez. — Ele agiu todo duro e no controle, mas no final do dia, não
éramos nada além de idiotas ansiosos sem descanso. Jesus, o nível dos
nossos desafios havia mudado.
— Eu não vou. Pensar primeiro, quero dizer — ele riu. — Se isso é
punição, eu aceito.
Eu o empurrei para longe com um escárnio, tentando me levantar. Ele me
puxou de volta para baixo, mas eu bati em suas mãos. — Essa é minha única
cueca limpa. Preciso lavá-la na pia antes que seque e fique uma crosta
crocante.
Ele ficou no chão como um perdedor, mas estendeu a mão e encheu um
copo de água da torneira. — Recarregue, porque eu estou fodendo você.
Fechei a porta do banheiro atrás de mim e vasculhei os armários em busca
de algo que havíamos deixado aqui há um ano. Uma ducha íntima. Se
Maddox queria me foder pela primeira vez de novo, eu queria estar pronto,
limpo e preparado para isso. Eu poderia já ter gozado, mas meu pau estava
longe de terminar esta noite, e minha bunda apertou em antecipação.

A primeira vez que fizemos sexo, foi uma decisão impulsiva que estava
fervendo por semanas. Sabíamos que as coisas estavam indo para isso, mas
não tínhamos nenhum plano quando se tratava de realmente foder. Não
havíamos conversado sobre papéis ou posições, mas de alguma forma, tudo
funcionou com uma mistura de desejo ansioso, nervosismo, falta de
conhecimento real sobre isso e choque por ser tão bom.
Isso aconteceu de novo esta noite.
Tornou-se nossa segunda primeira vez, e nós dois ficamos agressivos com
energia carente e impaciência, enquanto permanecíamos um pouco
hesitantes por causa dos nervos. Maddox estava entre minhas pernas,
empurrando para dentro de mim em um ritmo lento e torturante. Eu não
sabia se era nervosismo ou se ele estava me provocando, mas apreciei um
pouco. Tinha sido um tempo desde que levei um pau na bunda.
— Foda-se, Madd — eu reclamei de qualquer maneira, voltando ao meu
padrão. — Eu não sou um virgem.
— Tem certeza? — ele murmurou acima de mim. — Você gozou na
cueca...
Eu bati nele bem no queixo. — Cale essa boca e me foda.
Ele rosnou para mim, aumentando a força de suas estocadas até que eu
engasguei e gemi. — Se você me bater de novo, eu vou bater em você de
volta.
Isso não parecia tão ruim, mas problemas poderiam vir mais tarde. Esta
era uma reunião, e eu precisava disso como eu precisava do sangue em
minhas veias. Eu envolvi minhas pernas em torno de seus quadris e
praticamente o forcei a me foder mais fundo.
Bem, Maddox não aceitou isso. Ele prendeu minhas pernas, abrindo-as
tanto que doía, e usou meu corpo como alavanca para me foder exatamente
como eu queria. O deslizar de seu pau na minha bunda foi bom
simplesmente porque parecia íntimo. A dominância que ele irradiava e o
brilho de paixão agressiva no verde de seus olhos aumentavam todo o clima.
— Mais — eu implorei, sem vergonha. — Profundo.
O que eu mais amava em Maddox era que ele sabia a diferença entre mais
profundo e mais rápido. Ele manteve o mesmo ritmo, mas o tapa de suas
coxas na minha bunda aumentou, e a profundidade com que ele me fodeu
me balançou na cama. Quando ele se inclinou para frente, trazendo minhas
pernas com ele, eu gemi. Desequilibrado, basicamente dobrado ao meio, e
sendo fodido sem sentido pelo meu homem, deixei meus olhos se fecharem
para sentir tudo.
Sua respiração no meu pescoço como uma carícia dura.
Seus dedos cavando em minha pele possessivamente.
Seu peito arfando contra o meu, nossos batimentos cardíacos tão erráticos
e selvagens quanto nosso tipo de amor.
Seus quadris me perfurando, empurrando com toda a força de nossa
energia combinada.
Isso. Foi nisso que eu prosperei. Nossos corpos fazendo o que faziam de
melhor, competindo em uma corrida até a linha de chegada para a qual nós
dois reduzimos a velocidade para que pudéssemos aproveitar o passeio. Isso
não foi forte e rápido; foi uma viagem profunda e melodiosa de volta a nós
mesmos.
— Maldição, Devon — a voz áspera de Maddox abriu meus olhos. —
Como diabos passamos quatro meses sem isso?
À força. Eu inalei prazer e exalei tensão com cada estocada, sentindo a
profundidade dele enterrado tão fundo na minha bunda, arrastando contra
aquele ponto perfeito com cada golpe de seu pau grosso. — Nunca mais —
prometi.
As hesitações desapareceram rapidamente, mas eu não diria que caímos
nos velhos padrões porque isso era algo novo. Nossa conexão havia
mudado, e com essa mudança veio uma nova compreensão, um respeito e
um nível de amor e aceitação que não existia antes. Nós vivemos nosso
próprio inferno, e nós conseguimos.
Talvez fosse essa a sensação de sair da sombra e viver na luz.
Suando e ofegando como um criminoso, os dedos de Maddox envolveram
minha mandíbula. Olhos conectados e respirações se misturando, ele exigiu
que eu gozasse com nada mais do que sua energia. Ajustando seus quadris,
ele diminuiu o ritmo, me fodeu profunda e lentamente no ângulo perfeito, e
mal se manteve de pé quando o prazer o inundou. Isso acabou comigo. Tudo
isso. Toda a porra da experiência. Ele gozando na minha bunda, seu pau
parando, sua respiração presa e seus dedos apertando minha mandíbula.
Um interruptor ligou dentro de mim e meu cérebro desligou para dar espaço
para pura euforia.
Quando o sol nasceu, Maddox me fodeu com mais força. No meio da
manhã, minha bunda estava tão dolorida que ele me chupou até que eu gozei
em sua garganta. Para igualar o placar e ter um gostinho egoísta dele, eu o
masturbei até que ele gozou pela terceira vez, e então eu lambi seu abdômen
e engoli como se fosse aquele vinho nas igrejas. Não era religioso. Não
conhecia o termo.
Então nós conversamos. Muito.
— Minha esperança morreu, Devon — ele disse. — Me matou estar lá.
Eu... eu fiquei no escuro.
Eu percebi. Eu percebi aquela escuridão dentro dele. Ele sempre teve um
pouco disso, mas era mais proeminente agora, demorando mais perto da
superfície como se estivesse com medo de deixá-la ir. Isso o protegia, e
qualquer coisa que o fizesse se sentir mais seguro estava bem pra mim. Eu
sempre estaria por perto para puxá-lo de volta para a luz.
— Eu a vi parada ali — contei a ele sobre a noite da minha overdose. —
A garrafa. Cheia e prometendo um pouco de alívio, mesmo sabendo que iria
me arrepender. Eu... apenas entrei nesse estado de espírito em que me
arrependia de tudo o que havia acontecido, então por que não mais uma
coisa? — Olhei para ele e vi apenas compreensão.
— Mas não foi o suficiente? — ele perguntou.
— O que você quer dizer?
— Xavi disse que você tomou comprimidos da minha mãe.
Eu desviei o olhar com vergonha, mas Maddox forçou meu rosto de volta
para o dele. — Não foi o suficiente — eu concordei, admitindo a verdade. —
Eu não queria morrer nem nada. Eu só... precisava ficar entorpecido, mesmo
por um maldito minuto. Eu sei que isso me torna fraco.
— Não.
— Sim, Madd. Acho que se você tivesse sido considerado culpado, eu...
eu teria feito algo pior.
Ele se inclinou então, pressionando seus lábios nos meus e sua mão no
meu coração. — Eu estou aqui Devon, porra. — Eu não sabia se ele queria
dizer fisicamente ou se ele queria dizer no meu coração, mas não importava.
Ele estava em ambos. — E eu não vou a lugar nenhum. Eu te amo.
Essa confissão parecia mais poderosa do que o resto. — Eu te amo. E
sempre que precisar ficar nas sombras, apenas… não esconda isso de mim.
Eu aguento.
— Eu sei que você aguenta — disse ele, me beijando novamente.
Diziam que o amor te consome. Eu costumava pensar que era um monte
de besteira. A forma como o amor de Maddox me consumia não era nada
saudável, e eu nunca me senti tão seguro em algo. Encontramos algo juntos
que ninguém entenderia. Como você pode amar alguém tão completamente
e querer bater nele como uma forma de conexão? Não fazia sentido, mas
fazia todo o sentido. Eu não queria machucá-lo, e ele não queria me
machucar, mas sempre fizemos o nosso melhor nos comunicando com atos
físicos, e eu não esperava que isso mudasse para nós tão cedo. Nós tínhamos
um ao outro, o que significava que ninguém mais precisava nos ter. Não era
da conta deles.
Tínhamos aquele tipo de amor pelo qual a maioria das pessoas ansiava, e
eu nunca, nunca, porra, tomaria isso como garantido. Nossas almas foram
descobertas, nossas verdades foram expostas e nossa lousa foi reiniciada.
Não limpa, mas renovada.
35

-Maddox-
— O que estamos fazendo aqui? — perguntei a Xavi enquanto ele me
conduzia pelos vendedores do mercado de antiguidades. — Não tenho
dinheiro.
— Quer calar a boca? — ele reclamou novamente. — Eu não estou
fazendo você comprar nada. Eu só quero que você conheça alguém.
— Essa garota que você e Nate estão pegando? — Eu perguntei,
esperançoso.
— Dificilmente — ele zombou. — Isso esfriou um pouco de qualquer
maneira.
— Por quê? — Melhor não ter sido por minha causa.
— Se você calar a boca, eu te pago o almoço.
Não sabia como ele pagaria o almoço, mas calei a boca. Ele e Nate
trabalharam muito nos cinco dias desde que saí, então talvez as coisas
melhorassem logo.
Devon não tinha voltado ao trabalho ainda. Aquele idiota estava obcecado
em passar cada segundo do dia comigo. Quero dizer, eu não estava
reclamando, mas precisávamos de algum dinheiro para fazer o que viesse a
seguir. Seria difícil passar dias sem ele na segunda-feira, quando ele voltasse,
mas era o melhor. Encontrar um emprego para mim seria a prioridade
número um, e não importava o quão nervoso eu estivesse com o estigma da
prisão associado a um pedido de emprego, eu tinha que fazer isso. Quem
diabos queria contratar um cara direto da prisão? Não era como se eu
pudesse esconder isso. Aqui era Garron. Todo mundo sabia da vida de todo
mundo. Eu não havia sido condenado por nada e as acusações haviam sido
retiradas, mas ainda assim. A prisão se ligava à reputação de um cara, e eu
tinha que me acostumar com isso.
Conversamos um pouco sobre onde íamos morar. Por enquanto,
ficaríamos na casa da minha mãe, mas não funcionaria a longo prazo. O lote
62 estava sendo liberado e limpo depois de tanto tempo contido, e então
teríamos permissão para voltar. Depois de tudo o que aconteceu lá, eu não
sabia como me sentia sobre me mudar novamente. Precisávamos de um
lugar novo, onde pudéssemos recomeçar sem aquela nuvem negra pairando
sobre nossas cabeças. Toda vez que olhava para aquele lugar, via o olhar de
pânico nos olhos de Devon quando fui empurrado para a parte de trás da
viatura. Isso me marcou.
Meu pai, sendo um tipo completamente novo de oportunista desde que
ficou limpo e sóbrio, foi contratado para ser o novo administrador do
parque. Gary foi expulso e meu pai não hesitou em intervir e se candidatar.
Ele começaria em algumas semanas e tinha certeza de que um trailer vinha
com o trabalho. Ele estava nos fornecendo informações sobre quais lotes
estariam disponíveis, mas eu não tinha pensado muito nisso.
E se eu não quisesse mais morar em Garron Park? Poderíamos realmente
sair? Poderíamos pagar outro lugar?
Segui Xavi pelas fileiras, mal olhando para qualquer uma das bugigangas.
Era um mercado de fazendeiros, então havia toneladas de barracas de
produtos e pessoas vendendo coisas como mel e xarope, mas também havia
artesãos e vendedores ambulantes de antiguidades. Tudo parecia bom, mas
tudo custava dinheiro.
— Não sabia que você gostava dessa merda, Xav. — Eu tentei descobrir
onde ele estava me levando.
— Só conheço um cara que tem uma barraca aqui — disse Xavi. — Disse
a ele que viria dar uma olhada em algum momento.
E, de todos os dias ele escolheu hoje?
Ele leu minha mente. — Achei que seu traseiro desempregado não teria
nada melhor para fazer.
Eu teria com Devon se Xavi não tivesse me arrastado para fora da cama às
sete da manhã de um sábado.
Xavi me levou a uma mesa de canto com uma variedade aleatória de
merda. Frutas e legumes muito bonitos, enlatados e algumas flores
encheram um lado e o outro tinha coisas velhas e de cavalo. Bugigangas
espalhadas por todos os lados. O que parecia ser projetos de carpintaria
caseira enfileirados no topo, casas de pássaros pintadas e placas penduradas
no toldo.
Xavi disse que voltaria logo, então mexi nas merdas desse cara para matar
o tempo. Vasculhei pilhas de figurinhas de beisebol, carrinhos de brinquedo
e joias velhas sem polir, tentando decidir onde queria que Xavi me levasse
para almoçar. Boa comida nunca fez parte da minha vida, mas a merda que
comi nos últimos cinco dias parecia um bom jantar em comparação com o
que comi por quatro meses. Até a caçarola da minha mãe.
Abri gavetas aleatórias de caixas decorativas de madeira, me perguntando
o que Devon e Nate estavam fazendo. Talvez eles nos encontrassem para
almoçar. Fios de pérolas falsas enchiam a maior parte das gavetas, mas eu
continuava abrindo mesmo assim, viciado no jogo de esconde-esconde. Eu
vasculhei pérolas de plástico até encontrar algo que realmente despertou
meu interesse.
— Madd! — Xavi gritou, caminhando até mim. Ele acenou para o cara
atrás da mesa, o dono de toda essa merda. — Este é Pete, um cliente meu.
Pete, este é meu irmão Maddox.
Limpei a mão na camisa e apertei a dele. — Prazer em conhecê-lo. — Eu
não tinha ideia de por que o estava conhecendo, mas ele parecia um velho
idiota decente. Aquele tipo rabugento de velho mal-humorado que não se
importava, mas era honesto sobre isso. Provavelmente como eu seria se
vivesse tanto tempo.
Ele agarrou minha mão e a apertou, ignorando as gentilezas. — Ouvi dizer
que você pode estar procurando trabalho — ele disse em vez disso.
— O quê? — Meu queixo caiu. Olhei para Xavi, que apenas deu de ombros
com um sorrisinho no rosto.
— Você quer um emprego ou não? — Pete foi direto ao ponto.
— Aqui? — Perguntei. Quero dizer, eu aceitaria, mas precisava de mais
do que apenas as manhãs de sábado.
— Eu tenho uma fazenda fora de Garron. Acontece que preciso de um
lavrador. Sim? — Pete franziu os lábios, não para sorrir.
Olhei entre ele e Xavi, tentando não criar muitas esperanças. De jeito
nenhum isso estava acontecendo. Eu esperava lutar no departamento de
trabalho por meses, olhando para aquelas pequenas caixas de seleção que
perguntavam se eu já havia sido acusado de algum crime. Eu era Maddox
Kane; Eu não tinha essa sorte.
— Eu, uh, tenho um registro. — Melhor botar pra fora. Essa acusação
pode estar sendo apagada do meu registro permanente, mas eu ainda tinha
um e ainda passei quatro meses preso.
— Eu tenho uma TV — Pete disse como se eu fosse burro. — Eu vi a
notícia. Além disso, seu irmão me contou.
— E você não vai ficar estranho com isso? Você confia em mim em sua
fazenda? — Eu olhei para ele, querendo a verdade.
— Não seja um idiota, Madd — Xavi rebateu para mim.
— Claro que não — Pete admitiu, novamente como se eu fosse burro por
perguntar. — Mas eu confio na palavra do seu irmão o suficiente para
contratá-lo. Você tem que ganhar minha confiança depois disso. — Ele
limpou o nariz. — Olha, rapaz, o trabalho não é fácil, as horas são uma merda
e o salário também não é bom, mas é seu se quiser.
Um novo começo como a porra de um lavrador. — Sim senhor. Obrigado.
Ele zombou da minha formalidade. Eu nem sabia por que o chamei assim.
— Lá na floresta de Bluffs. Você conhece o lugar?
Conhecia bem. Eu balancei a cabeça.
— Segunda de manhã, cinco horas. Não se atrase. — Pete me deu um
olhar severo.
Eu balancei a cabeça novamente, embora não tivesse ideia de como
chegaria lá. Eu teria que levantar à meia-noite para começar a andar. Talvez
eu pudesse pegar uma bicicleta emprestada ou algo assim.
— Você trabalha de graça na primeira semana e pode ficar com eles. —
Ele acenou com a cabeça para os itens ainda presos em meu punho. — Eles
são feitos de tungstênio, então são uma merda resistente. Não faço ideia do
que diz a inscrição.
Eu sabia. Depois de esfregá-los para limpá-los, foi o que me fez segurá-los
com tanta força. — Uma semana grátis e posso ficar com eles?
— Combinado, garoto. — Ele estendeu a mão direita e eu a apertei. —
Leve-os agora. Você merece isso. — Ele me deu um sorriso de boca fechada,
acenou com a cabeça para Xavi e voltou a ser um vendedor.
Puta merda.
Xavi passou o braço em volta dos meus ombros e beijou minha bochecha
como um idiota enquanto nos afastávamos. — Quando você vai...
— Você estava me prostituindo para empregos quando eu ainda estava
preso?
— Com certeza eu estava — ele riu. — Quase coloquei você no
departamento de esgoto, e esse lugar tem vantagens, mas não deu certo.
Lavrador parecia melhor do que rato de esgoto de qualquer maneira. —
Obrigado, Xav.
— Amo você. — Ele levantou o telefone e tirou uma selfie aleatória de
nós. — Para mostrar a Devon o olhar em seu rosto logo depois que você
conseguiu isso. — Ele acenou com a cabeça para a minha mão.
Enfiei-os no bolso protetoramente.
Não era nem meio-dia ainda e eu tinha conseguido um emprego e anéis.
Era hora de forçar aquele pedaço de merda loiro a se casar comigo.
36

-Devon-
A noite de domingo havia chegado e, com ela, a tristeza da noite de
domingo. Estávamos vivendo em uma bolha um com o outro, mas amanhã
a realidade viria. Eu tinha que voltar para a loja para começar a ganhar
algum dinheiro novamente, e Maddox estava pronto para começar em seu
novo emprego.
Isso me assustou. Esse sentimento nunca passaria? Eu não queria deixá-lo
fora da minha vista enquanto meu pai ainda estava lá fora em algum lugar,
mas se eu continuasse segurando-o tão apertado, eu iria sufocá-lo. As coisas
mudaram, no entanto. Enquanto ele estava na prisão, eu tinha um trabalho
a fazer, um propósito, uma meta pela qual lutar, o que manteve minha mente
satisfeita por estar protegendo-o da única maneira que podia. Mas agora que
ele estava fora e a vida continuava, eu não tinha ideia de como protegê-lo e
seguir em frente ao mesmo tempo. Levaria algum tempo para se acostumar.
Com o lugar só para nós durante a noite, porque Seth e Naomi estavam
checando o novo trailer que veio com seu novo trabalho, sentei-me no sofá e
tentei colocar minha cabeça no lugar.
Maddox saiu do banheiro com uma toalha verde de merda, segurando
duas calças de trabalho diferentes que pegou emprestadas de seu pai. Todas
as nossas roupas permaneceram intactas no trailer do lote 62, mas com a fita
em volta do local e uma estranha relutância em ir até lá, nos viramos com o
que podíamos roubar, pegar emprestado ou dividir.
— Você vai ficar acordado? — ele perguntou-me. — Tenho que levantar
às quatro para pegar o ônibus mais cedo para poder fazer o resto da
caminhada antes das cinco. — Era o primeiro ônibus que levava os
montadores até os barcos para transporte.
Eu não podia deixá-lo ir para a cama ainda. Eu tinha uma surpresa para
ele, mas Nate e Xavi estavam atrasados na entrega, então eu precisava
distraí-lo até que eles aparecessem.
— Venha aqui. — Dei um tapinha no sofá.
— Não. — Ele manteve sua posição. — Não tente me distrair com sexo.
Eu preciso dormir.
— Você é uma vadia hoje em dia, Madd. Achei que a prisão o tornasse
durão? — Eu sorri para ele, sabendo que uma provocação seria a melhor
maneira de mantê-lo acordado. — Agora você quer ir para a cama às dez
como um velho fodido? Jesus.
— Se eu estragar este trabalho, não vou encontrar outro. Deixe para lá. —
Ele jogou as calças nas costas de uma cadeira, olhando para mim.
Ele tinha razão, mas eu ainda precisava que ele esperasse. — Então venha
me dar um beijo de boa noite.
Ele deu um passo à frente e parou. Eu tentei esconder meu sorriso. Ele não
era estúpido. Sabia que um beijo se transformaria em mais, e ele não sabia se
poderia permitir o compromisso de uma boa foda quando já tinha passado
de sua autoproclamada hora de dormir. Vamos, Madd, morda a isca.
Ele deu outro passo. — Não me toque, Devon.
— Por que não? — Eu fiz beicinho.
— Eu sou…
— Um escravo do seu pau? — Eu ri.
— Um escravo para você, idiota. — Ele se inclinou, pressionando seus
lábios nos meus.
Mantive sua regra e não o toquei, mas lambi seu lábio inferior e o mordi
levemente para provocá-lo. O beijo se aprofundou e a toalha se esticou na
frente do meu rosto.
— Ah, foda-se, Devon — ele gemeu, passando os dedos pelo meu cabelo.
— Apenas me deixe ir para a cama.
— Ok — eu concordei contra seus lábios, mas Maddox já havia levantado
a toalha para montar em minhas pernas. Seu peso pousou no meu colo e
meus lábios sorriram contra os dele. — Vá para a cama, Madd. — Eu cavei
meus dedos em seus quadris, puxando-o para mais perto. Seu corpo estava
quente do banho, e seu pau estava duro e pressionando contra o meu
estômago.
— Sim — ele falou. Se afastou por meio segundo, em seguida, chupou
meu lábio inferior, seus quadris balançando. — Vou.
— OK. — Eu apertei suas coxas e o ajudei a balançar no meu colo. — Boa
noite. Eu te amo.
— Te amo — ele ofegou, puxando meu cabelo. — Boa noite.
Eu adorava quando ele lutava contra si mesmo e perdia. A parte
responsável de sua mente lhe disse para ir para a cama, mas seu corpo lhe
disse para transar primeiro. Ele provavelmente racionalizou isso como uma
forma de relaxar para dormir melhor, e eu não discutiria isso.
Quando ele continuou girando no meu colo, puxando meu cabelo para me
beijar mais profundamente, puxei a toalha de sua cintura e agarrei seu pau
entre nossos corpos.
— Puta merda, Devon — ele reclamou pateticamente. — Foda-se você. Eu
deveria estar dormindo.
— Serei rápido. Eu sei como fazer você gozar em cinco minutos — eu
provoquei, mordendo seu lábio novamente.
Eu tinha que fazer isso rápido para que Nate e Xavi não encontrassem um
show. Envolvi minha mão ao redor dele e acariciei seu pênis macio,
passando meu polegar sobre a cabeça em cada movimento ascendente.
Quando ele estremeceu com isso e começou a foder meu punho, mantive
minha mão parada e deixei ele fazer todo o trabalho. Adorava pra caralho
quando ele assumia o comando. Eu beijei seu pescoço, lambendo meu
caminho para baixo na coluna de sua garganta para chupar uma marca em
seu peitoral. O calor de seu corpo misturado com o calor de nossa química,
queimando-me sob o peso dele. Eu não dava a mínima para gozar. Isso era
sobre Maddox, admirando-o, distraindo-o, agradando-o.
Ele levantou minha camisa um pouco, inclinando seu corpo para que sua
cabeça esfregasse contra meu abdômen toda vez que ele empurrava para
cima. Sobrancelhas franzidas, lábios entreabertos, olhos verdes me
observando tão intensamente quanto eu o observava. Tão gostoso.
— Tão sexy, Madd. Jesus. Olhe para você. — E todo meu.
A cabeça de Maddox caiu para frente e seu corpo estremeceu com a força
de seu orgasmo. Seu sêmen atingiu meu estômago e seus quadris
continuaram se movendo, fodendo lentamente meu punho através de seu
prazer. Ele me beijou, mas foi desleixado e cheio de respirações ofegantes, e
eu não me importei porque adorava quando ele fazia isso.
— Puta merda, rapazes — Nate reclamou, abrindo e fechando a porta da
frente. — Se apressem! — ele gritou através disso.
Maddox parou, olhando para mim de forma diferente. — Você estava me
distraindo.
— Mhm. Então vista uma calça. — Eu o beijei antes de empurrá-lo para
longe de mim.
— Mas... cama — ele fez beicinho.
— Você vai gostar disso. Eu prometo. Então você pode ir para a cama. —
Levantei-me para limpar sua bagunça do meu estômago. Quando ele ficou
parado completamente nu com a toalha na mão, eu gritei: — Calça!
Ele refletiu sobre isso, reclamou bufando e olhou para mim algumas vezes,
então eu agarrei sua mão e o empurrei em direção à porta. — É para amanhã.
— Amanhã? — ele perguntou. — Você me deu uma nova marmita ou
algo assim?
— Sim, ou algo assim — eu ri. — Você é péssimo com surpresas. Vamos.
Abri a porta e Maddox parou de repente assim que viu o que havíamos
feito para ele. Meu peito bateu em suas costas e meus braços o envolveram,
mas eu caminhei até a frente dele para admirar sua expressão. Choque,
admiração, gratidão e aqueles olhos de criança que se iluminavam sempre
que algo milagroso acontecia.
— Parabéns pelo seu novo emprego, Madd — eu sussurrei, sorrindo para
ele.
— Você... — ele fez uma pausa para engolir. — Você me deu uma moto
de motocross mais ferrada?
— Isso aí! — Nate riu. — A mais ferrada! — Esta moto de motocross não
era nada em comparação com a antiga, mas era uma moto e ele estava grato.
— Agora você tem seu próprio jeito de ir trabalhar, Madd. Sem ônibus.
Nada de andar. — Xavi sorriu para ele.
— Algum dia, vamos conseguir uma melhor, mas por enquanto...
— Obrigado — disse ele a todos nós. — Eu... é uma ferrada! — ele riu
como um idiota. — Eu amo isso. — Eu sabia que ele lutou contra uma
centena de emoções que ele não gostaria que ninguém testemunhasse, então
piscou para afastá-las.
— Ela vai levar você para o trabalho — disse Xavi.
— Eu quero saber como você pagou por isso? — ele perguntou.
Não. Enquanto Seth limpava o antigo escritório de Gary, ele encontrou um
saquinho de cocaína de tamanho decente. Eu vendi essa merda para Patrick
Harris pelo suficiente para comprar esta moto. Eu balancei minha cabeça
para Maddox, dizendo a ele para não perguntar.
— Foda-se. Eu nem me importo. Vou levá-la para um passeio! — O sorriso
no seu rosto valia tudo. Tudo.
— Mas... cama — eu o citei.
Ele me mostrou o dedo do meio. Com um moletom azul e nada mais, ele
passou a perna por cima da moto e subiu. — Vou dormir quando estiver
morto. Faz muito tempo desde que eu andei de moto. — Ele ligou, e eu até
me arrepiei com o som. Porra, realmente fazia muito tempo desde que
andamos de moto. Algum dia, compraríamos novas motos e poderíamos
voltar ao motocross. Poderia morrer sem isso.
Maddox partiu na moto, descendo a estrada de cascalho de Garron Park
para um passeio que metade dos residentes do parque reclamaria amanhã.
— Você fez bem, Dev — Nate disse, passando o braço em volta do meu
ombro para assistir Maddox partir. — Muito bem.
Eu sorri.

Era o fim do dia de trabalho na segunda-feira, mas eu ainda não tinha


voltado ao parque. Maddox não sabia a que horas sairia, mas disse que seria
em algum momento da noite. Um longo dia para seu primeiro dia lá, e desde
que tive que penhorar seu telefone, não tive como contatá-lo. Ele me ligou
do telefone fixo na hora do almoço para dizer que gostou do lugar, mas isso
o fez perceber como estava fora de forma. Eu já sentia falta dele e tinha sido
apenas um dia.
Sentei-me na varanda do lado de fora da loja, fumando um cigarro e
olhando para o número no meu telefone que levava ao meu pai. Eu pensei
em ligar tantas vezes, só para ver se atenderia. Ele ainda tinha o telefone
conectado a esse número? Quero dizer, Davis havia enviado um aviso para
ele neste número, mas fora isso, eu não tinha ideia se meu pai ainda estava
do outro lado. Ele pode ter esquecido, mas eu não tinha dúvidas de que ele
de alguma forma ouviu falar sobre Maddox sair. Jim Sawyer era um homem
procurado, então como diabos ele estava fugindo da polícia por tanto
tempo?
Nate me entregou um café, olhando por cima do meu ombro. — É
melhor você ter um plano se você o contatar, Dev — ele repreendeu,
sentando-se comigo.
—Você recuperou seu garoto. Não estrague tudo agora.
Eu não. Eu nunca cometeria esse erro novamente. — Mas como você sabe
que estamos seguros enquanto ele ainda está lá fora?
— Não sabemos disso.
Tomei um gole do café e guardei meu telefone no bolso. — O que você
faria? — perguntei ao meu irmão. Eu fazia essa merda agora. Pedia
conselhos e ajuda porque sabia que não seria capaz de lidar com tudo
sozinho. Tão malditamente maduro.
Nate balançou a cabeça, suspirando longamente. — Foda-se se eu sei, cara.
Eu nem entendo como ele ainda não foi encontrado. Ele não é tão engenhoso.
— Doeria tentar? Não é como se ele pudesse nos rastrear ou algo assim.
Ele sabe exatamente onde estamos. Provavelmente está de olho em nós.
Talvez seus filhos sejam os únicos que podem tirá-lo do esconderijo.
— Ele sempre teve um maldito problema conosco. Ele voltaria para se
certificar de que estávamos abaixo dele, pelo menos — Nate concordou. —
Mas se ele fizer isso? E se voltar em alguma ação de guerra assassina desta
vez?
— E se ele já planeja? — Eu contra-ataquei. — E se estiver usando todo
esse tempo para planejar algo ainda mais elaborado do que a armadilha de
Madd? Ele não vai se contentar com esse fracasso, e isso me faz pensar que
algo mais está por vir. Maddox não era a única ponta solta, Nate. Estou
preocupado que você seja o próximo.
Nate olhou para a água. — Eu sei. Podemos ligar para o número e esperar
que ele atenda por despeito. Pode ser mais fácil saber que algo está por vir
do que ficar sentado imaginando.
Tomei outro gole do café. Era amargo, ruim e morno, mas era melhor do
que uma cerveja. — Eu só preciso de algum tipo de conclusão, sabe? Nada
parece acabado. Sim, estou muito grato por ter Madd de volta, mas todo o
resto parece indeciso, e isso está me estressando. E se ele te levar em seguida?
— Bem, meu namorado vai me proteger se algo acontecer comigo —
brincou. — Você não é o único com um Kane do lado.
— Você e Xavi estão namorando agora? — Eu zombei.
O rosto de Nate corou e ele se afastou de mim muito rápido.
Eu bati nele. — Que porra é essa, Nate!? Sem chance!
— Não! Porra não. Claro que não. — Ele olhou para mim, mas suas
bochechas continuaram vermelhas. — Ele é meu melhor amigo.
— Mas? — Eu sabia que tinha que haver um mas.
— Mas... a merda tem sido sexy por um tempo. Isso é tudo.
— Isso é tudo? A merda tem sido sexy? O que diabos isso significa?
— Isso não significa nada. Acabamos... você sabe, com a mesma garota,
então as coisas acontecem às vezes. Nada demais.
— Uh, sim, grande coisa. Que coisas? É melhor você não estragar sua
amizade.
— Eu não vou. Caramba, me dê algum crédito. Nossa amizade
sobreviveu às besteiras de você e Madd por vinte anos.
— Que coisas aconteceram?
Nate esfregou a nuca e acendeu um cigarro, protelando. — Você sabe,
como o estranho toque acidental de pênis... isso realmente não me desanima.
Eu derramei meu café em estado de choque. — Você quer foder com ele?
Nate balançou a cabeça e mordeu o lábio ao mesmo tempo. Se isso não
bastasse, ele também acrescentou: — Não, acho que não. Mas eu meio que
quero foder com ela enquanto estou com ele, sabe? Como talvez mais do que
apenas colocar toda a atenção nela. Faz sentido?
Sim, fazia sentido, mas aqueles dois estavam pisando em um limite
bastante confuso. — Cuidado, cara. Você sabe o que acontece se você foder
um Kane.
— O quê? — ele riu. — Vocês estão todos preocupados que seremos
irmãos e cunhados de verdade ao mesmo tempo? Por favor — ele zombou.
— Seus paus têm superpoderes — eu admiti. — Não critique até
experimentar. E só para deixar claro, não estou sugerindo que você tente.
Xavi é seu melhor amigo.
— Eu sei — ele suspirou. — É só que as coisas não são tão sexy com ela se
ele não está lá. Isso é tudo.
— Não a use como eu e Madd usamos Julie. Nós éramos idiotas. Você
deveria ser melhor do que nós.
Ele balançou a cabeça com incerteza.
Ficamos sentados em silêncio, pensando nos meninos Kane. O meu era
meu inimigo que virou amante... mas ainda meu rival, e o de Nate era seu
melhor amigo que virou... amigo de foda? Eu não sabia, mas nós dois
estávamos fodidos da cabeça. Era melhor que fosse apenas uma situação
sexy, porque eu não tinha certeza se queria que o que ele disse fosse real.
Irmãos e cunhados. Isso era estranho, certo? Tudo o que eu sabia com certeza
era que Nate e eu éramos persistentes quando se tratava de proteger aqueles
dois Kanes e, por enquanto, isso era perfeito.
— Você acha que Mary vai expulsar a mamãe agora que os cuidados dela
estão ficando mais difíceis? — Eu perguntei a Nate.
— Talvez. Heidi ainda vai todos os dias, mas Mary não poderá cuidar
dela para sempre. Juro que acabamos de receber um golpe aleatório de sorte
que Mary ofereceu em primeiro lugar.
— Então, o que vamos fazer sobre isso? Não podemos pagar mais do que
Heidi e ainda não podemos pagar uma clínica. Há aquela em Redding, mas...
parece incompleto. — E isso estava dizendo alguma coisa. Se pensávamos
que era mais superficial do que nossa mãe morando com uma mulher que
só queria ser uma mãe galinha para alguém desde que sua filha se mudou,
deve ser difícil.
— Não sei, Dev. Continue tentando, eu acho. — Ele olhou para mim. —
Foda-se. Envie uma mensagem de texto para esse número. Se você não fizer
isso, vamos continuar pensando demais.
— O que eu deveria dizer?
— Pai? — Nate riu. — É isso. Apenas deixe-o saber que é um de nós e
deixe nas mãos dele.
Sem pensar muito sobre isso, enviei o texto. Nós dois olhamos para a tela
para ver se ele respondia, mas depois de vinte minutos, Xavi apareceu e me
disse para ir para casa. Maddox estava em casa.
Eles me deixaram na entrada do Garron Park, e dei uma olhada no meu
irmão antes de partirem, lembrando-o de cuidar de seu pênis.
Ele sorriu.
37

-Devon-
— Você está brincando comigo? — Eu bati em Maddox, chateado, mas
também tentando não rir de seu ridículo.
— Não, eu não estou brincando com você, Devon — ele gemeu,
esparramado no gramado como um idiota. — Não consigo me mexer.
Jesus. Um dia de trabalho na fazenda e esse idiota estava morto? —
Levante. — Eu o chutei com a ponta do meu chinelo.
— Carregue-me — ele choramingou.
Estávamos tentando, mas sem sucesso, chegar à praia. Maddox queria
nadar para aliviar os músculos doloridos e alongá-lo, mas ainda não havia
passado do gramado.
— Apenas me jogue em um carrinho de mão porque estou morto pra
caralho. — Ele tentou rolar, mas estremeceu antes de ir muito longe. —
Aquele velho bastardo está tentando me matar. — Normalmente não sou de
dramas, eu escondi meu sorriso enquanto ele gemia e reclamava no
gramado, empurrando como se estivesse preso lá.
Minha nossa. Eu agarrei seus braços e o puxei para ficar de pé. — Já passou
um dia, Madd. É melhor você se preparar.
Ele reclamou quando eu o coloquei de pé, e tinha certeza de que ele
exagerou demais em suas pernas instáveis porque continuou se apoiando
em mim e acidentalmente agarrando minha bunda a cada poucos segundos.
— Apenas me deixe para trás, Devon. Salve-se.
Que merda. Eu virei minhas costas para ele e arrastei seus braços sobre
meus ombros. — Suba. — Ele obedeceu, rindo o tempo todo enquanto lutava
para ficar na posição de cavalinho. — Se você se afogar lá, não é minha culpa.
— Levantei sua bunda pesada e enganchei meus braços sob suas pernas.
Enquanto eu carregava esse idiota para a praia, tropeçando nas minhas
sandálias, pensei em como nosso relacionamento havia fechado um círculo
em certo sentido. Passei tanto tempo negligenciando Maddox quando
começamos a loja. Tanto que ele estava chateado comigo o tempo todo,
escondendo seus sentimentos feridos. Me perdi em algum objetivo de ser
melhor que meu pai e, no processo, estraguei tudo com meu namorado, fiz
com que ele se sentisse invisível e o machuquei muito. Depois que o perdi,
fiquei esperto, mas agora voltamos a ter o mesmo problema.
Maddox conseguiu um emprego que tinha horas longas, cansativas e de
merda que obviamente o deixavam exausto e dolorido. Mas ao contrário de
como eu lidei com isso, aqui estava ele, fazendo o maior esforço do mundo
para me levar à praia só para passar um tempo comigo. Ele estava aqui,
morto de cansaço, doendo como uma cadela e fisicamente esgotado, mas
fazendo um grande esforço para ter algo comigo. Eu o amava muito por isso.
Tanto que carreguei sua bunda preguiçosa pelo caminho da floresta.
Tentamos não olhar para todos os pontos que a polícia havia revirado o
solo.
— Pare de andar tão instável — ele reclamou comigo.
— Você cheira a merda — eu retorqui.
— Eu trabalhei com pá o dia todo — ele riu. — Os cavalos cagam muito.
— Você precisa de roupas de trabalho separadas. Apenas deixe-as lá e
não traga essa merda de volta para casa. — Eu o levantei porque ele estava
escorregando e gemendo de dor. Seu pau ficou duro também.
— Vamos arrombar o lote 62 e roubar nossas coisas de volta. — Ele
aumentou seu aperto em volta do meu pescoço, praticamente me sufocando.
— Comprei luvas de motocross para você há muito tempo e as escondi na
despensa da cozinha onde você nunca olharia. Elas são roxas.
Não que eu tivesse muito uso para elas agora, mas adorei que ele fez isso.
Esta foi uma boa ideia. O lugar ainda estava bloqueado, mas eu tinha
certeza de que era principalmente porque não estávamos lutando pelo
acesso de volta. Tudo o que possuímos permaneceu trancado naquele lugar
como um túmulo do nosso passado. Não queria voltar para lá, mas era difícil
viver sem toda aquela merda. Eu nunca tomaria um suprimento de roupas
íntimas como garantido novamente.
— Combinado. Amanhã à noite? — Perguntei.
— Sim — ele riu, com um humor muito alegre esta noite. Provavelmente
de exaustão. — Você pode me carregar até lá assim, roubar todas as nossas
coisas de volta e me levar para fora. Minhas pernas estarão totalmente
quebradas amanhã.
Ele acabaria se acostumando com o trabalho do emprego. Seu corpo iria
se adaptar, crescer, se ajustar e se fortalecer para que ele não fosse um pedaço
de merda reclamando para sempre.
— Acho que minha mãe vai morar com meu pai quando ele receber o
novo trailer — disse Maddox. — O que você acha disso?
Essa foi sua maneira de perguntar se eu queria ficar no trailer de sua mãe
e torná-lo nosso. Embora fosse um bom lugar temporário, não era o que eu
queria a longo prazo. Todo o nosso relacionamento fodido começou na porta
da frente daquele trailer na noite em que apareci meio morto. Tínhamos
ótimas lembranças de seu minúsculo quarto, até do banheiro e da cozinha, e
tivemos muitas novidades lá. Mas também foi o lugar em que tive uma
overdose, o lugar para onde Maddox foi quando me deixou naquela noite e
o lugar em que fiquei com tanta agonia e desgosto enquanto ele estava na
prisão.
— Eu não quero morar em Garron Park — deixei escapar.
— Oh, obrigado porra — ele falou contra o lado do meu pescoço. — Acho
que prefiro morar na cidade de tendas do que em Garron Park.
Eu sorri quando chegamos à praia. Larguei essa cadela na areia e me sentei
com ele. — Vamos morar em uma casa flutuante.
Maddox riu novamente, olhando para a lua. — Oh, inferno sim. Eu amo
uma casa flutuante e você tem um cais, mas como diabos vamos pagar por
uma casa flutuante?
— Talvez mais barato que um trailer. Quão bem seu novo trabalho paga?
— Nada esta semana — disse ele.
— O quê? — Eu olhei para ele. — Por quê?
— Merda, quero dizer... é quase um salário-mínimo. Bem, pelo menos nos
primeiros meses. Ele disse que se eu o fizesse bem, ele aumentaria meu
salário e me daria regalias, o que quer que isso signifique. — Maddox
brincava com a areia entre nós. Ele estava escondendo algo de mim, mas não
parecia uma coisa ruim. — Aprendi que não preciso levar o almoço, no
entanto. Aquele velho fodido tentou me matar a manhã toda com trabalho
braçal e então me alimentou com uma das melhores refeições da minha vida.
— Por que você não está sendo pago esta semana?
Maddox sorriu. — Período de teste.
Mentiroso. Eu conhecia aquele sorriso malicioso.
— Fique nu — ele mudou de assunto, me distraindo sendo fofo. — E
então me ajude a ficar nu. Não consigo levantar os braços.
— Onde diabos você estaria sem mim? — Eu sorri.
— Nos poços mais escuros do inferno — ele brincou.
Awn.

Maddox escondeu algo de mim a semana toda. Ele cantava como um


maldito canário sobre seu corpo dolorido, mas calava a boca sempre que eu
mencionava seu pagamento. Eu só estava tentando fazer um maldito
orçamento, porque porra, precisávamos começar a guardar dinheiro para
qualquer futuro que planejássemos ter, mas ele não falava sobre isso.
— O que Madd está aprontando? — perguntei a Xavi, tentando arrancar
dele as respostas. Ele estava com a cabeça enterrada em um motor, mas
talvez fosse melhor perguntar enquanto ele estava distraído. — Ele está
sendo todo esquisito e estúpido.
— Esquisito e estúpido são novos indicadores de comportamento
superficial? — Xavi riu.
— Não, mas esse tipo de besteira é novo.
— Falando em esquisito e estúpido — Nate entrou carregando uma caixa
de peças de barco. — Você já recebeu uma resposta de Jim? — Ele se recusou
a chamá-lo de pai; Respeitei a decisão.
— Não, mas está marcada como lida, então alguém viu.
— Poderia ser qualquer um. Quem sabe quem tem esse telefone agora —
Nate bufou.
Jim poderia ter penhorado o telefone, vendido ou jogado fora para ser
pego por alguém aleatório. Quem sabia? Mas se ele ainda estava lá fora,
como estava sobrevivendo? Ele não obteve o lucro pretendido com o roubo
daquele contêiner porque Davis ainda estava sob vigilância e não conseguiu
retirá-lo da sala de evidências. Inferno, pode ter sido transferido para uma
instalação diferente, pelo que sabíamos. Então, o que meu pai estava fazendo
para ganhar dinheiro? Tudo o que ele tinha era o aluguel do barco que
paguei. Ele tinha algum tipo de plano de contingência? Havia outras pessoas
envolvidas?
Minha maior dúvida era uma preocupação constante com o que viria a
seguir. Eu queria saber o que aquela barata tinha planejado e se envolvia
algum de nós. Eu precisava daquele filho da puta morto ou preso.
— Não faça nada estúpido, Dev — Nate advertiu novamente, e eu me
perguntei se algum dia deixaria de ser considerado o burro. Provavelmente
não. Eu tinha algumas falhas épicas em meu currículo. — Lembre-se de
como você é bom.
Eu me lembraria. Eu me lembraria e faria tudo ao meu alcance para
garantir que as coisas continuassem tão bem. Madd finalmente saiu e estava
feliz, e a loja estava começando a se recuperar desde o momento em que
diminuímos a velocidade para trabalhar no caso. As coisas precisavam
seguir em frente, mas Jim também precisava ser tratado. Eu não estava
perdendo meu irmão, minha mãe ou meu namorado em nada disso.
Maddox era meu, e da próxima vez que alguém tentasse tirá-lo de mim,
eu explodiria a porra do mundo e o veria queimar apenas para mantê-lo ao
meu lado.
38

-Maddox-
Minhas mãos sangravam. Mas eu gostei. Havia algo sobre as bolhas e os
calos, a dor em meus músculos e a fadiga me atormentando que parecia
importante. Porque eu merecia. Não a dor, mas a porra dos anéis. Eu tinha
cumprido minha semana de trabalho gratuito e agora essas coisas eram
minhas. Dois anéis com a inscrição mais ideal, quase como um destino
cafona, brilharam na palma da minha mão.
Estudei as palavras que abrangiam os dois anéis, imaginando se eram
muito ruins para usar como alianças de casamento. Qual pertencia a mim e
qual pertencia a Devon?
Sem luz, não há escuridão.
Devon costumava ser a escuridão que nublava minha vida antes de me
apaixonar por ele. Ele pode ser sombrio, mas desde que nosso
relacionamento passou a incluir o amor, ele sempre foi a luz que me tirou de
minha própria mente sombria.
Sem luz.
Olhei para o anel que tinha aquela metade do ditado gravada no metal.
Devon realmente era minha luz. Ele tinha cabelos claros, era mais feliz do
que eu e sempre teve uma disposição que acendeu o fogo queimando dentro
de mim.
Não há escuridão.
Eu era a escuridão e, sem Devon, às vezes sentia que não poderia existir.
Essa frase parecia me descrever perfeitamente. Sem Devon, não havia eu.
Xavi achava que eles eram ridículos. Ele me disse que anéis de noivado e
alianças de casamento deveriam ser elegantes, em vez de conter uma frase
idiota que nem mesmo colocamos nisso. Mas desde quando Devon e eu
tínhamos classe? Sim, podemos não ter colocado as palavras nos anéis, mas
elas se encaixavam. Eu tinha oitenta por cento de certeza que Devon
entenderia o ditado e concordaria comigo. Esses vinte por cento de dúvida
realmente foderam com a minha confiança, no entanto.
— O que está escrito? — Pete perguntou, entregando-me um copo de
limonada em nosso intervalo para o almoço. Nós nos sentamos em sua
varanda frontal, tentando ficar longe do sol.
— Sem luz, não há escuridão.
— Mm — ele meditou, tossindo. — Sem escuridão não há luz — ele
inverteu a frase.
— Estúpido? — Perguntei. — Para usar como anéis de noivado?
— Não é estúpido — disse ele. Esse idiota era quase tão calado quanto eu.
Respostas de uma ou duas palavras eram nosso estilo, então nos demos
muito bem. Ele bebeu metade da limonada em um só gole, limpou a boca
com as costas do pulso sujo e tossiu de novo. — Às vezes é preciso conhecer
o escuro para apreciar a luz.
Bem... isso foi malditamente profundo. E perfeito. Enfiei os anéis de volta
no bolso, me perguntando se deveria tentar limpá-los de alguma forma antes
de me ajoelhar.
— Você os mereceu — disse Pete. — Quando você está propondo?
Dei de ombros. Eu não fazia ideia. Eu queria que fosse especial, mas não
era o melhor em grandes gestos românticos. Como alguém iria propor ao
homem dos seus sonhos, mantendo uma vantagem competitiva para isso?
Mas então minha mente ficou confusa, imaginando se este era o pior
momento para propor. Devo pelo menos esperar até que a merda com Jim
termine e o caso seja totalmente encerrado? Devon seria capaz de ficar feliz
com a proposta enquanto se estressava com seu pai? Devo esperar um
pouco?
— A vida é curta — disse Pete. — Não espere pelas coisas que fazem seu
coração bater forte.
Devon fazia meu coração bater tão forte que na metade do tempo eu sentia
como se ele fosse sair do meu peito e me matar. Aquele fodido loiro era um
risco de segurança toda vez que ele estava perto de mim.
— Eu sei. Só tem... alguma merda.
Ele dispensou isso. — Sempre tem alguma merda. Você quer um grande
casamento?
— Não — eu zombei. — Não podemos pagar um grande casamento.
Provavelmente vamos nos casar no tribunal ou algo assim.
Que péssimo porra. O tribunal mais próximo já guardava todas as piores
lembranças da minha vida. Eu não queria que meu julgamento superasse o
que deveria ser essencialmente um dos dias mais felizes da minha vida.
Pete apontou para o outro lado do quintal, bem longe. — Você vê aquele
Salgueiro? — ele perguntou, e eu assenti. — Casei-me com minha esposa lá.
Você pode tê-lo.
— O Salgueiro? — Eu ri.
— O local, garoto — ele resmungou. — Você pode se casar lá.
— Vou me casar com um homem. Você tem um problema com isso? —
Havia muitos fodidos homofóbicos em Garron, então agora era a hora de ser
claro.
— Casei-me com uma mulher. Você tem um problema com isso? — Ele
bebeu o resto de sua limonada e limpou a boca novamente.
Eu sorri. Eu gostava de Pete, embora ele me fizesse trabalhar como um
escravo.
— Esses cavalos não vão ser pegos sozinhos — disse ele. — Vá.
Engoli a bebida. — Obrigado — eu disse, mais sobre a oferta do local do
casamento do que sobre a limonada. — Por tudo. — Acho que devia muito
a esse cara - os anéis, o trabalho, o conselho e o encorajamento, e agora o
Salgueiro.
Ele fez um grunhido quando me afastei. — Esses copos não vão se lavar
sozinhos também.
Rindo, voltei para pegar os dois e os levei para dentro para lavá-los. Chefe
mandão.

— Você é um idiota — Devon reclamou sem entusiasmo, batendo na


minha bunda. — Faz uma semana. Como você já conseguiu uma bunda
assim?
Trabalho manual e muita dor. Eu sorri, esperando que ele me batesse
novamente. Jesus. Em vez de uma surra, fui atingido no ombro.
— Foda-se — eu gemi. — Não é a reação que eu esperava.
— Você pode se comportar por cinco minutos? — ele perguntou,
empurrando o carrinho de compras. Ok, talvez o corredor da confeitaria não
fosse o melhor lugar para apanhar.
— O que estamos fazendo aqui? Você não assa. A última vez que
verifiquei, você não conseguia nem fazer torradas.
Devon rosnou para mim. Foda-se minha vida. Passamos de corridas de
enduro na pista todo fim de semana para ir ao supermercado com os bolsos
cheios de cupons. Não estou reclamando, mas merda. Eu esperava que
pudéssemos voltar ao motocross algum dia, pelo menos. Eu seria aniquilado
lá fora na merda da moto que os meninos me deram, mas eu adorei mesmo
assim. Isso estava me levando para o trabalho como um sonho.
— Gina vai me mostrar como assar aquelas coisas que você gosta —
Devon disse, suas bochechas ficando rosadas. — Foda-se sobre isso. Estou
tentando fazer algo legal!
Mais uma vez, adorei o esforço que ele fez. — Então me bata de novo —
eu ri.
Devon parou com a mão em um saco de açúcar. Ele levantou uma
sobrancelha para mim, muito sério. — Você realmente gostou disso?
— Mhm — eu cantarolei, sorrindo. Peguei o carrinho dele, inclinando-me
sobre o suporte enquanto ele fazia compras. — Acho que me lembro de você
mencionar algo sobre me amarrar?
— Foda-se o corredor de confeitaria. — Ele colocou o açúcar de volta. —
Vamos.
Eu bufei uma risada. — Pegue sua merda de Martha Stewart primeiro. —
Peguei o açúcar e coloquei no carrinho. — Então iremos.
— Não aquele. — Ele o devolveu, trocando-o por outro. — Não temos um
cupom para esse.
Fiz um gesto para prometer que, de agora em diante, manteria minhas
mãos dentro do carrinho. — Você também pode aprender a preparar
jantares? Gina faz esse tipo de mágica?
— Foda-se, Maddox.
Merda, isso foi realmente divertido. Nunca fui feliz em um supermercado
antes, mas eu meio que gostei de vê-lo ser todo doméstico e essas merdas.
Material de marido de verdade ali mesmo. Eu ainda estava meio rindo
quando entramos no próximo corredor e encontramos Julie, a garota com
quem nós dois ficamos e meio que namoramos.
— Oh, ei — Julie disse, parecendo surpresa ao nos ver. — Ei pessoal.
Eu balancei a cabeça, pronto para seguir em frente e deixar este lugar, mas
Devon não era tão desajeitado quanto eu. — Ei, Julie. Como você está?
— Sim, bem. — Ela ajeitou o cabelo e arrastou os pés.
Ok, isso deve ser uma obrigação social suficiente agora. Passei o carrinho
por ela, mas ela falou novamente.
— Ei, Maddox?
Eu me virei para encará-la, feliz por ela não ter me chamado de Maddy
como costumava fazer. Eu me sentia um pouco mal sobre como Devon e eu
brincávamos de cabo de guerra com ela no passado, mas não havia nada que
eu pudesse fazer sobre isso agora. Eu sorri, com o melhor de minha
habilidade, mas Devon me deu uma cotovelada nas costelas, então eu
mostrei alguns dentes.
— Só queria dizer que sinto muito pelo que aconteceu com você — disse
Julie.
Bem, isso foi bom. — Obrigado. Pelo menos já acabou.
Julie assentiu sem jeito novamente. Qual era o maldito negócio dela? Ela
nunca tinha sido tímida antes. Ela parecia nervosa, o que me deixou nervoso.
— Você está bem? — Devon perguntou a ela, olhando ao redor.
— Algo errado? — Eu perguntei ao mesmo tempo.
— Estou bem. — disse ela com um sorriso. Um sorriso falso. Então ela
olhou para trás e seu rosto ficou tenso.
Eu compartilhei um olhar preocupado com Devon antes de me virar para
ver o que ela estava olhando. E eu encontrei os olhos do homem que atirou
em mim.
39

-Maddox-
Oh, porra não!
Automaticamente meus punhos cerraram, meu sangue disparou e meu
rosto ficou quente. Aquele maldito policial novato. Isso não acontecia há
muito tempo, mas minha visão ficou vermelha como costumava ficar
quando eu olhava para Devon. Ver esse cara livre, andando pela porra do
supermercado, vivendo sua vida como se não tivesse tentado nos matar, me
atingiu com tanta força que toda a racionalidade me deixou.
Mas Devon agiu primeiro. — Seu filho da puta! — Devon disparou para
Davis, dando um passo em sua direção. — Como você se atreve?
Todo o meu temperamento mudou. Por mais que eu quisesse confrontar
Davis, eu tinha uma prioridade diferente agora. Devon. Assim que ele se
tornou protetor, também se tornou meu único foco. Protegendo-o de si
mesmo. Algumas coisas nunca mudaram.
— Quem diabos você pensa que é? — Devon cuspiu nele, esbravejando
como um cão raivoso.
Virei as costas para Davis e coloquei a mão no peito de Devon, parando
bem na frente dele para bloquear seu caminho até o policial. Se ele fizesse
algo estúpido e fosse preso, nunca sairíamos dessa, e Davis era nojento o
suficiente para nos armar assim.
— Devon — eu disse calmamente. — Olhe para mim.
Ele não olhou. — Seu mentiroso de merda! Você sabe a merda que
passamos por sua causa? É melhor você dar o fora de Garron antes que eu...
— Devon! — Eu gritei para ele, agarrando seu queixo com uma mão e
mantendo a outra em seu peito. — Olhe para mim. Só eu.
Eu não tinha ideia do que Davis estava fazendo nas minhas costas, mas os
olhos azuis de Devon encontraram os meus antes de voltar para Davis. Eles
dispararam para frente e para trás enquanto seu peito arfava, e quando seu
olhar finalmente pousou no meu, tivemos uma conversa sem palavras. Com
um olhar, eu disse a ele para ser esperto. Acabei de sair da prisão, o caso
ainda estava em andamento e Davis fazia parte dele. Intrometer-se nisso, o
que incluía confrontar Davis em um supermercado, era uma ofensa criminal.
Com um olhar, Devon me disse que quase me viu morrer por causa desse
idiota e agora ele queria matá-lo por isso. Não vou mentir, o olhar puramente
letal em seus olhos me fez pensar duas vezes, notando como um bom
assassinato parecia para ele.
Devon odiava que Davis tivesse permissão para ficar na cidade. Ele
deveria estar em prisão domiciliar, mas ser policial lhe dava certas vantagens
que pessoas como nós nunca teriam. A vida não era justa, mas aprendemos
essa lição desde a infância.
Minha mão subia e descia com a força de sua respiração. Nossos olhos
permaneceram conectados, terminando nossa conversa sem palavras, e
quando ele piscou, eu sabia que ele ficaria bem. Mais tarde. Essa foi a
promessa que fizemos um ao outro. Davis receberia o que merecia... mais
tarde. Encontraríamos uma maneira de garantir tal coisa, mas isso, em um
lugar público, não era a decisão certa.
— Foda-se — Devon murmurou baixinho, a luta caindo de seus ombros.
— Foda-se.
Davis bufou uma risada zombeteira atrás de mim, e levou tudo ao meu
alcance para não girar e nocauteá-lo. Devon ficou tenso, então eu firmei meu
aperto em sua mandíbula e pressionei minha mão em seu peito. Um
lembrete para manter-se calmo.
— Estamos juntos — sussurrei para ele, lembrando-o do que era
importante. — Não se esqueça disso. — Nós tínhamos uma segunda chance
de ter uma vida juntos, e este momento não iria estragar tudo.
A mandíbula de Devon apertou novamente, mas ele assentiu, olhando
para mim em vez de para Davis.
— Vamos. — Eu o empurrei no peito, levando-o para trás e para longe do
policial idiota. Devon continuou me encarando até que eu o empurrei uma
terceira vez, e então ele finalmente se virou para andar sozinho. Julie ainda
estava lá, parecendo quase assustada, então inclinei minha cabeça para ela
para convidá-la a sair conosco.
— Fuja como uma putinha de novo, Sawyer — Davis zombou quando
saímos. — Seu pai ficaria tão orgulhoso.
Devon se virou, pronto para atacar Davis como um touro. — Foda-se,
você...
Eu bloqueei seu caminho e ele ricocheteou no meu peito. — Vá para fora,
seu idiota — eu rosnei para ele, dando-lhe mais um empurrão. Jesus, esse
cara era um exaltado.
Eu quase lutei com ele durante todo o caminho, e ele não parou de lutar
comigo até que as portas se fecharam atrás de nós. Ele me empurrou e lançou
uma série de insultos, dirigidos a Davis, a mim. Eu aguentaria o peso deles,
deixando-o desabafar para não quebrar o caminhão de Nate ou a fileira de
carrinhos de compras perto disso.
Enquanto ele falava, verifiquei Julie. — Você sabia que ele estava lá?
Ela tinha um olhar culpado em seu rosto, e se ela tivesse algo a ver com
ele, eu a jogaria de bunda e não daria a mínima para isso. — Eu o vi no
corredor — disse ela, defendendo-se. — E ele me deu arrepios, então saí
daquele corredor e encontrei vocês. Juro.
Era melhor que tenha sido uma coincidência, e acho que isso explica por
que ela parecia desajeitada na loja. Provavelmente tentou nos distrair dele.
Ou ela era uma vadia maior do que eu jamais dei crédito e queria se vingar
de nós pela maneira como a tratamos. Pensando sobre isso, eu não tinha
ideia de por que ela estava aqui. Não deveria estar em alguma faculdade
comunitária ou algo assim?
—... matar ele e a porra da cabra dele! — Eu peguei o final do discurso de
Devon. Então ele se transformou em um idiota e jogou aquela raiva em Julie.
— Você estava com aquele filho da puta?
Jesus, ele precisava se acalmar. Abri a porta do caminhão de Nate e o
empurrei para dentro. Ele lutou comigo, então eu dei a ele o olhar mortal e
não recuei.
— Foda-se, Maddox. — Ele bufou para dentro do caminhão, mas não me
deixou fechar a porta. Sentou-se com as pernas meio abertas, ainda
esperando a resposta de Julie.
— Não, eu juro. Eu estava apenas pegando algumas coisas antes de ver
vocês. — No entanto, todos nós abandonamos nossos carrinhos de compras
lá. — Eu prometo.
— Nós acreditamos em você — eu disse a ela logo antes de Devon tentar
sair novamente. — Entre na porra do caminhão antes que eu te derrube e te
coloque na parte de trás.
Devon revirou os olhos e voltou a se sentar. Julie tentou esconder um
sorriso.
— Você precisa de uma carona ou algo assim? — Eu perguntei a ela,
querendo sair antes que Davis aparecesse e provocasse Devon de novo.
— Não, eu dirigi até aqui. Sinto muito, Madd. Eu não… Só sinto muito
por tudo que você passou. Vocês dois. — Ela olhou além de mim, dando a
Devon um pequeno sorriso.
— Desculpe por toda a merda que fizemos você passar — Devon riu,
finalmente mais calmo. — Fomos idiotas.
Julie riu, concordando com isso. — De qualquer forma. Foi bom ver vocês.
Talvez possamos nos encontrar algum dia.
Sim, provavelmente não, mas eu balancei a cabeça como se desse a
mínima. Nós a observamos entrar no carro, notando um cara sentado no
banco do passageiro. Pelo menos ela encontrou alguém melhor do que nós.
Quando ela foi embora, bati a porta na cara de Devon e subi pelo outro lado.
Eu virei a chave. O caminhão não deu partida. — Você é um idiota, Devon.
Você sabe o que teria acontecido se você batesse nele ou algo assim? — Girei
a chave novamente. Ele roncou, mas não deu partida.
Ele soltou um suspiro. — Eu sei. Porra. Eu sei. Aquele cara só…
— Sim, sem brincadeira. — Girei a chave novamente e o caminhão
finalmente deu partida. — Mas temos que esperar essa merda. Ele vai tentar
nos pegar em alguma coisa, e não podemos reagir a isso. Espancar um
policial em um supermercado depois que ele já alegou que teve que atirar
em mim em legítima defesa... como você acha que isso iria acabar?
— Eu entendi, ok? Pare de me tratar como se eu fosse estúpido.
— Um pouco estúpido — eu murmurei.
— Bem, porra! Como você reagiria se tivesse que enfrentar o cara que
quase… — Sua raiva mudou para tristeza. — Eu quase perdi você por causa
dele, Maddox.
Saí do estacionamento e segurei sua mão no meio de nossos assentos. —
Eu sei. Então não vamos estragar tudo agora.
— É melhor Hanes pegar esse filho da puta — ele resmungou na janela,
ligando seus dedos com os meus.
Devon precisava que algo bom acontecesse.
Já era tempo.
— Calma, Madd, — Xavi zombou de mim como se eu estivesse sendo
ridículo. Ele estendeu a mão para os anéis e não os deixou cair. — Você vai
estragar tudo se não relaxar.
Eu me apeguei a esses anéis idiotas e não queria entregá-los ao meu irmão.
Eu também sabia que ele estava certo e precisava soltá-los. Devon já estava
ficando desconfiado, e se eu não os tirasse de casa, aquele bisbilhoteiro iria
encontrá-los e estragar a surpresa. Então nós brigaríamos sobre isso até que
um de nós estivesse ensanguentado ou ainda sangrando, ou desmaiado ou
nocauteado. Então nós provavelmente transaríamos. Mas ainda assim, eu
não queria que ele visse isso.
— Suas mãos estão limpas? — Eu olhei para suas patas sujas, puxando
minha mão para trás.
— Jesus Cristo, Madd. Minhas mãos são mais limpas que as suas, sua
cadela meticulosa. — Ele pegou os anéis recém-polidos da minha mão e os
enfiou de volta na caixa. — Vou protegê-los com a minha vida. — Ele enfiou
a caixa no bolso e ergueu as mãos para o caso de um soco estar por vir.
Era melhor ele proteger.
— Você já tem um plano? — Xavi perguntou, oferecendo-me uma cerveja.
Eu peguei, estressado pra caralho, e livre para beber sem Devon aqui. —
Mais ou menos — eu admiti. — Mas conhecendo Devon, ele vai foder tudo
para mim.
Eu pensei em mil maneiras diferentes de propor a Devon.
Eu poderia trancá-lo na cabana nas pedreiras e recriar nossa primeira noite
lá. Enfrentamos tanta merda naquela noite, e parecia um bom lugar para
enfrentarmos o resto juntos. Eu poderia ter feito isso na pista, transformando
em uma metáfora sobre sempre competir e agora estar do mesmo lado. Mas
estar na pista sem motos de motocross era chato pra caralho, então cancelei
esse plano. Pensei em fazer isso na praia, onde passávamos muito tempo
conversando, brigando, resolvendo nossos problemas e encontrando todas
as nossas melhores resoluções. Encaixava no tema, então uma parte do meu
plano ia acontecer ali.
Mas quando pensei em tudo o que nos tornou quem éramos, havia apenas
uma opção viável que marcava todos os requisitos.
Agressivo. Fodido. Nervoso. Competitivo. Uma rivalidade.
Eu sorri, sabendo exatamente quando e onde eu planejava propor. Eu só
tinha que manter o nariz de Devon fora disso até então.
— Vou precisar deles de volta no sábado — disse à Xavi.
— Sábado? O que tem no sábado... oh, porra. — Ele soltou uma risada. —
Seriamente? Você é tão fodido, Madd.
Podemos não querer mais morar em Garron Park, mas ainda havia uma
grande coisa sobre esse lugar, e ele se encaixaria perfeitamente no meu plano
de propor.
40

-Devon-
Nate me ofereceu UMA cerveja, mas eu recusei, ainda não confiando em
mim para beber. Talvez eu simplesmente não tivesse o desejo. Em meu
coração, eu sabia que poderia casualmente beber algumas, mas em minha
mente, duvidei de mim mesmo como um filho da puta. Aquele
envenenamento por álcool e overdose me assustaram pra caralho. Não
porque eu quase morri, mas porque recorri a esse tipo de mecanismo de
enfrentamento como se fosse o único que eu tinha. Eu precisava aprender a
fazer melhor, lidar melhor com minhas merdas e pedir ajuda quando
precisava. A vida tinha sido muito boa desde que Maddox chegou em casa,
e enquanto eu o tivesse ao meu lado, eu sabia que ele me manteria sob
controle, mesmo que eu quisesse ceder de vez em quando.
— O que estamos fazendo aqui? — Eu perguntei a Nate.
— O quê? Você costumava amar essa merda — ele riu.
— Sim, quando eu usei isso como desculpa para bater em Madd. —
Talvez não fosse uma má ideia para esta noite, afinal.
A praia principal de Garron Park havia sido limpa e rodeada de veículos
antigos, iluminando o ringue de luta improvisado. A Noite de Luta de
Garron Park estava lotada hoje à noite, mas a vibração era boa e saudável.
Atualmente, duas garotas estavam brigando para ver quem ficaria com o
modelador de cabelo que elas dividiram.
Eu realmente amava a noite de luta. Era o lugar perfeito para liberar
agressividade, desabafar e liberar algumas frustrações em um ambiente
seguro e controlado. Para as pessoas aqui, a noite de luta era uma terapia, e
essa merda fazia maravilhas. Só demorei um pouco para perceber que todas
aquelas vezes que brigamos, Maddox tinha sido meu terapeuta em noites
como esta. Nós batíamos um no outro até que nenhum de nós pudesse ficar
de pé, e mesmo que meu corpo estivesse dolorido, eu sempre me sentia
melhor depois. Eu não sabia por que na época, mas agora entendia.
— Você está me dizendo que não ama mais a emoção disso? — Nate
perguntou, aproximando-se da frente do círculo para ter uma visão melhor.
As pessoas aplaudiram as lutas das garotas, incitando-as e animando-as.
— Nah, eu adoro isso. Onde estão Madd e Xavi? — Examinei a multidão,
procurando por um par de idiotas altos e de cabelos escuros. Um deles
estaria rindo e o outro pensativo.
— Eles estão aqui em algum lugar — Nate disse. — Acabe com ela, Karen!
Pegue aquela chapinha!
— Modelador — eu corrigi.
— Modelador! É seu, querida! — Sua cerveja espirrou por todo o lugar.
Eu não tinha ideia de onde Maddox estava, mas assim que Karen ganhou
o modelador, dois filhos da puta mais velhos pularam no ringue; eles tinham
um churrasco em disputa. Merda, eu poderia ter um churrasco.
— Todo mundo está apostando alto esta noite — eu ri.
— O que estamos apostando? — Maddox perguntou, aparecendo ao meu
lado como uma sombra escura. Seu tom rouco e profundo fez algo sinistro
para mim.
Eu estreitei meus olhos para ele. — Por favor — eu zombei. — Não temos
nada para colocar em disputa.
— Tudo bem — Maddox deu de ombros. — Assim, o vencedor escolhe
seu prêmio após a luta. Combinado?
Eu o estudei, tentando descobrir seu acordo. Seu rosto era severo, seu
sorriso era honesto, e seus olhos verdes não estavam fugindo dos meus. —
Merda, você está falando sério? — Eu ri. — Não. De jeito nenhum. Não
estamos brigando, Madd. — Eu me afastei dele.
— Por que não?
— Por quê. Porque você levou um tiro e...
— Isso foi há meio ano. Estou bem. Lute comigo.
— Não.
— Covarde.
— Foda-se! — Eu o empurrei no peito. — Você é uma vadia sobre seu
trabalho, Madd. Você realmente acha que pode se segurar lá dentro? Tive
que pegar você no gramado na semana passada.
— Lute comigo e descubra. Vamos. — Ele nem estava brincando. — Já sei
o que quero quando ganhar.
— Quando você… oh, porra, não. Não me faça bater na sua bunda só para
te colocar no seu lugar. Deveríamos ter superado isso.
— Mas nós não superamos. — Ele sorriu para mim. — Onde é minha casa,
Devon? — ele ronronou sedutoramente, batendo seu peito contra o meu. —
Hum?
— De joelhos na minha frente — eu murmurei para ele.
— Então lute comigo por isso. — Ele bateu no meu pau. — A menos que
você tenha medo de parecer uma vadia na frente de todas essas pessoas. —
Ele inclinou a cabeça.
Olhei para ele, odiando que ele soubesse quais botões apertar. Maddox
tinha um caminho direto para três partes de mim - meu pau, meu coração e
minha competitividade.
— Lloyd! — Eu gritei com o cara que dirigia esse show de merda. — Nós
somos os próximos! — Apontei entre mim e Maddox.
Lloyd abriu um sorriso e a notícia se espalhou pela multidão. Fazia mais
de um ano desde que lutamos na noite de luta e, aparentemente, o parque
havia sentido falta. Apostas paralelas e provocações de merda soaram, mas
eu me concentrei no namorado que acabou de me incitar a uma briga.
— Feliz?
— Muito. — Ele sorriu.

Apesar do sabor acobreado do meu sangue na boca, tudo que eu podia


sentir era a adrenalina. O que me alimentou? Paixão ou raiva? Fúria ou
desejo? Simplesmente rivalidade com meu melhor concorrente?
Provavelmente isso.
Maddox, o filho da puta presunçoso, tinha os punhos levantados e um
sorriso arrogante e sangrento no rosto. Seus dentes estavam gravados em
vermelho, os nós dos dedos quebrados e seu cabelo espetado para todos os
lados. Que bagunça sexy, suada e sangrenta. Ele pode ser meu, mas eu ainda
queria vencê-lo. Os direitos de se gabar e os prêmios estavam em jogo. Disse
a mim mesmo para não me distrair com o rastro de sangue que escorria de
seu queixo para decorar seu peito bronzeado, e disse a mim mesmo ainda
mais para não deixar esse gladiador sexy frustrar meus objetivos.
Eu pretendia vencer e colocá-lo de joelhos onde ele pertencia, como eu
disse.
Minha cabeça girava de tontura, os músculos das pernas queimavam e
meu olho inchava um pouco, mas a maneira como meu sangue zumbia em
meu sistema me fazia sentir mais vivo do que nunca. Porra, eu tinha sentido
falta disso.
— Não me diga que você terminou — Maddox tocou. — Eu sei que não
estou namorando um desistente. — Ele puxou o calção de banho preto até
as coxas para ter mais liberdade de movimento, agachando-se em posição
de luta.
Eu sorri para ele, amando a adrenalina que isso me deu. — Eu não vou
terminar até que eu te nocauteie. Você nunca costumava falar tanto, e estou
morrendo de vontade de calar sua boca. — Levantei meu short branco,
combinando com sua postura - sua energia.
— Eu tenho muito mais a dizer esta noite — ele incitou, me provocando.
Bem, não havia tempo como o presente. Investi contra ele, e a multidão
reunida rugiu com o burburinho da nossa luta. Apontei meu primeiro
gancho de direita para sua boca faladora de merda. Meu soco acertou, e
Maddox mordeu a língua ou a bochecha porque o sangue fresco escorria de
seu lábio inferior e descia pelo queixo, tornando-o selvagem.
Estrelas brilhavam na periferia da minha visão, e eu tropecei alguns
passos para trás. Eu nem tinha visto aquele golpe chegando. Maddox não
parou. Ele acertou um soco na minha barriga, nas minhas costelas, e então
me deu uma joelhada bem na coxa. A dor percorreu meus músculos,
travando-os com tanta força que me dobrei para frente, cedendo de angústia.
Mas, do meu ponto de vista inferior, vi a oportunidade perfeita se
apresentar. Eu golpeei e acertei um uppercut9 forte na parte inferior de sua
mandíbula.
Ele caiu. Forte.
E ele não se levantou.
— Foda-se — ele gemeu, esparramado na areia. — Foi um golpe baixo,
seu idiota! — Ele tentou se levantar, mas caiu para trás.
Eu saltei na ponta dos meus pés, não pronto para parar a luta em mim até
que eu tivesse certeza de que esse filho da puta não iria voltar. — Você está
se levantando, Madd? — Eu gritei para ele, ignorando a multidão. —
Levante-se!

9 Uppercut é um soco utilizado em várias artes marciais como no boxe, kickboxing e muay thai. Este golpe é
lançado para cima, com qualquer uma das mãos. O uppercut viaja no plano vertical, de baixo para cima, junto
ao tórax do adversário e entra pela sua guarda em direção ao seu queixo.
Maddox tentou mais duas vezes, esfregando o maxilar e tentando afastar
o desmaio em sua cabeça. Tonto e vacilante, ele caiu na areia de costas, rindo
e balançando a cabeça. — Foda-se por isso.
Eu levantei meus punhos no ar e a multidão aplaudiu minha vitória!
Deixei Maddox caído em uma pilha, fazendo uma volta da vitória, porque
merecia essa merda. Sabe o que mais eu ganhei? Direito de me gabar! Eu me
agachei e ri bem na cara dele.
— Viu? — Ajoelhei-me ao lado dele. — Às vezes você precisa ser colocado
em seu lugar, Madd. — Eu sorri para ele, agarrando sua mão para puxá-lo
para uma posição sentada.
Ele balançou um pouco, mas nivelou depois de um minuto. Ele gemeu,
limpando o sangue da boca, espalhando areia por toda parte. — Tenho
certeza que você nunca vai parar de me colocar lá.
— Nunca — eu concordei. — Levante-se, perdedor. Tenho um prêmio
para receber. — Eu o levantei, firmando-o enquanto ele encontrava o
equilíbrio. Ele pode ter perdido, mas havia um sorriso em seu rosto e, se não
me engano, havia algo mais ali também. Nervos, talvez? Presunção,
definitivamente. Por que diabos ele tinha que ser arrogante?
Que diferença. Costumávamos lutar nessas noites de luta, mas não
importava quem vencesse no final, ainda ficávamos chateados um com o
outro depois da luta. Agora, Maddox realmente sorriu para mim, orgulhoso
da minha vitória e disposto a celebrá-la comigo. Meio que amei o quanto
nossa dinâmica mudou enquanto nos apegamos a algumas das partes das
quais não estávamos prontos para abrir mão. Brigando? Verifique. Raiva
real? Boa viagem.
Passei meu polegar sobre seu lábio inferior, manchando o sangue. — Você
precisa lavar tudo isso antes que eu fique muito turbulento e fique com tesão
na frente de todas essas pessoas — eu ri, fodendo-o com os olhos. Porra,
Maddox. — Nadar?
— Carregue-me — ele choramingou, sorrindo.
Eu balancei minha cabeça. — Seu orgulho não aguenta depois de perder.
Você pode andar com o próprio traseiro até a água e depois pode me dar
meus ganhos.
Maddox me deu um sorriso quase tímido, capaz de misturar as duas
expressões perfeitamente. Não tive tempo de pensar nisso. Nate e Xavi
correram para nós, tagarelando sobre a luta.
— Você desgraçou o nome da família — Xavi repreendeu Maddox. Ele
provavelmente envergonhou o nome da família na primeira vez que beijou
um Sawyer, mas tanto faz.
— Fico feliz em ver que você ainda pode bater na bunda dele com mais
do que apenas seu pau — Nate riu na minha cara.
Eu sorri para isso.
— Nós vamos sair. Vocês estão bem? — ele perguntou.
— Sim. Vou levar essa cadela para a praia e depois dar um jeito em casa.
— Acenei com a cabeça para Maddox, que estava imerso em uma conversa
abafada com Xavi. — Onde é que vocês vão?
Nate esfregou a nuca. — Uh, para uma coisa de festa.
— Com essa garota que vocês estão compartilhando?
— Não estamos compartilhando. Apenas... ambos amando — ele riu. —
Fisicamente amando. Não emocionalmente. Cale-se.
Limpei a garganta, mas Nate me interrompeu antes que eu pudesse dizer
qualquer outra coisa.
— Eu não preciso de nenhum conselho esta noite, cuzão. Foda-se sobre
isso.
Okay, certo. — Tenha cuidado — eu disse de qualquer maneira. — Vejo
você amanhã?
Nate assentiu, seu sorriso demorando alguns segundos extras. — Ok,
divirta-se. Apenas, uh, divirta-se. — Ele me entregou meu celular e eu o
enfiei no bolso minúsculo do meu calção de banho.
Que esquisito. O observei decolar com Xavi, os dois olhando para nós por
um segundo. Eu os ignorei e passei o braço de Maddox por cima do meu
ombro, tropeçando na praia e carregando todo o seu peso.
— Use suas malditas pernas, Madd.
— Eu não posso — ele riu. — Você me chutou no estômago e agora não
consigo andar.
Sim, ele poderia. Estava apenas sendo um bastardo deprimido porque
sabia que eu o ajudaria. Chegamos tão longe na praia que as luzes e o
barulho das lutas diminuíram, deixando apenas as ondas e a lua para
orquestrar o resto da noite.
Levei-o até a beira da água e soltei seu braço do meu ombro. De frente
para a água e respirando-a, senti a emoção da noite tomar conta de mim. —
Tudo bem, Madd. Hora de pegar meu prêmio.
Meus lábios estavam puxados em um largo sorriso quando me virei para
encará-lo, mas se transformou em um nada atraente quando o encontrei
agachado na areia.
— Você me queria de joelhos, certo?
— Ambos os joelhos.
— Um joelho — ele rebateu.
Puta merda. Porra do inferno. Porra, foda-se pra caralho. Isso estava
realmente acontecendo?
Minha visão ficou turva com lágrimas indesejadas e meu corpo se eriçou
com muito mais adrenalina e energia do que durante a luta. Eu não
conseguia respirar. Eu não conseguia respirar.
— Maddox…
— Devon — ele começou…
41

-Devon-
Eu não sabia se estava engasgando com o ar ou respirando muito. Meu
peito batia forte com a força do meu coração, e meus dedos ardiam com areia
entre eles, apertando tudo só para me manter inteiro e não cobrir minha boca
como uma noiva corada.
— Devon — Maddox começou, e minha garganta ficou grossa. — Eu te
disse uma vez que queria te odiar, ter você, te foder e brigar com você.
Engoli o nó na garganta e me lembrei da noite em que ele disse isso. Foi
depois de uma corrida na pista e foi a definição dele do que éramos. Eu amei.
— E agora? Agora eu quero te odiar, ter você, foder com você, brigar com
você, te amar para sempre e me casar com você. — Maddox abriu o velcro
do bolso do calção de banho. Sua mão ensanguentada estendeu um anel
prateado, e eu juro porra de verdade, meu coração parou de bater. Pausou.
Aguardou a pergunta. — Case-se comigo, Devon.
Ok, não foi uma pergunta. Foi uma demanda.
Minha voz interna já havia gritado sim para ele uma tonelada de vezes,
mas minha língua grudou no céu da boca. Engoli a lixa e me engasguei com
o amor, nem mesmo constrangido que as lágrimas escorriam pelo meu rosto
como a confusão emocional de homem que eu era.
Eu tossi. — Sim. Porra, sim. Puta merda, Maddox. Sim!
Antes que ele pudesse se levantar, caí de joelhos na frente dele. Eu ignorei
o anel e puxei seu rosto para o meu, beijando seus lábios sangrentos com
tudo que eu possivelmente tinha. Foi o pior beijo de todos porque eu não
conseguia parar de chorar, e isso só me deu vontade de bater nele de novo.
Ou rir. Ou abraçá-lo ou alguma merda. Eu não fazia ideia. Eu só sabia que
ele era tudo para mim.
— Eu te amo — eu choraminguei contra sua bochecha, agarrando-se a ele
para salvar sua vida. — Eu odeio que você me fez bater em você primeiro.
— Não, você não odeia — ele riu. Ele passou os dedos pelo meu cabelo e
me beijou novamente. Afastando-se, ele encontrou meus olhos. — Você vai
se casar comigo?
— Eu me casaria com você agora mesmo se tivéssemos alguém para fazer
isso — eu disse, falando sério. — Eu só quero você para sempre, Madd.
Sua timidez se transformou em arrogância, e ele sorriu mais do que eu já
o vi sorrir. Seus dentes sangrentos refletiam a luz da lua, e seus olhos
brilhavam com lágrimas que ele não deixou cair. — Me dê sua mão.
Inclinei-me sobre os calcanhares e estendi a mão esquerda. Meus dedos
estavam sangrando, mas felizmente eu era destro, então minha mão
esquerda não estava muito inchada. Maddox deslizou o anel em meu dedo,
e eu estudei as palavras nele.
— Sem luz?
Ele se encolheu um pouco. — Meloso, eu sei. — Ele segurou minha mão
na dele. — Encontrei um conjunto que diz: 'sem luz, não há escuridão'. Eles
apenas se encaixam ou alguma merda, sabe? Você é minha luz, Devon.
Mais lágrimas encheram meus olhos. Maddox era péssimo em romance às
vezes, mas caramba, essa besteira idiota me afetou. — Eu sou?
— Eu não preciso de você para iluminar meu mundo ou algo assim.
Apenas... sente-se comigo no escuro e me lembre que a luz existe.
Eu tossi para cobrir um choro. Oh, doce Jesus. — Você é o filho da puta
mais obscuro que já conheci, Madd, mas nós iluminamos um ao outro, certo?
— Pare de tentar ser mais meloso que eu — ele zombou.
— Foda-se! Onde está o outro anel? Eu quero colocar em você. — Enfiei
minha mão em seu bolso e puxei para fora. Eu li a outra metade da inscrição,
senti a honestidade e o significado por trás da frase, e não dei a mínima se
era cafona. Éramos nós. Tínhamos permissão para ser cafonas. Luz e
escuridão, é disso que o nosso mundo consistia às vezes. Nós nos revezamos
sendo a escuridão consumidora e a luz esperançosa, e eu não gostaria que
fosse de outra maneira. — Você vai ser meu para sempre? — Perguntei.
— Eu já propus. Você não pode me propor também, seu idiota.
Eu sorri, agarrando sua mão esquerda. — Eu possuo você, cara. —
Coloquei o anel. Ficou preso no dedo inchado, mas ele não quis tirar. — Eu
te amo, Madd.
— Amo você, Dev. — Nossos olhos se encontraram.
Envolvi meus braços em torno dele e o cheirei. Sangrento, arenoso, suado
e meio ranhoso, mas ele era perfeito. Meu homem. Meu noivo. Eu não sabia
que tipo de carma estava em jogo, mas obviamente fiz algo certo em outra
vida para ganhar esse idiota. Eu ia me casar com o idiota dos meus sonhos,
e merda, essa era a noite mais feliz da minha vida.
— Espere. — Eu me afastei para olhar para ele. — Você planejou essa
merda com a luta?
— Mhm — ele cantarolou. — Você é tão malditamente previsível, eu sabia
que você iria me querer de joelhos — ele riu.
Idiota. — Nem tente usar isso como desculpa para você perder nossa luta,
Madd. Eu bati na sua bunda de forma justa e limpa. O que você teria feito se
eu o nocauteasse?
Ele sorriu, mas não disse nada em resposta. Uma reação tão Maddox. Eu
adorava as besteiras que saíam de sua boca, mas também adorava seu
silêncio. Às vezes, quando ele não dizia nada, a mensagem era mais alta.
— Ok, você tem que ser todo meloso e cafona. Agora é minha vez. —
Peguei meu telefone. — Estamos tirando selfies.
Maddox zombou. — Não vou me casar com um cara que usa palavras
como selfies.
— Sim, você irá. — Eu me inclinei para ele. Maddox passou os braços em
volta da minha cintura e beijou minha bochecha. Tirei uma selfie nossa,
mudei o ângulo e tirei mais cem. — Sorria, seu idiota de merda.
Ele sorriu. Seus dentes estavam sangrando, meu olho estava inchado, eu
tinha sangue na minha bochecha e ele tinha no queixo, mas foda-se, nós
sorrimos. As melhores fotos de noivado de todos os tempos.
Continuei tirando fotos e Maddox nem reclamou disso. Em seguida, a tela
da câmera mudou para uma tela de chamada recebida.
Meu sangue gelou, meu sorriso sumiu e meu corpo ficou tenso. Eu tinha
memorizado esse número.
— Quem é esse? — Maddox perguntou.
Deixei escapar um suspiro trêmulo. — O meu pai.

Tive que ignorar a ligação. Não havia uma chance no inferno que eu
deixaria meu pai estragar a melhor noite da minha vida. Esta era a nossa
noite, e meu pai não tinha nada a ver com isso.
Tentei colocar o telefone de volta no bolso, mas Maddox agarrou meu
pulso para me impedir. — Você não pode ignorá-lo — disse ele. — E se for
a única chance que temos de confrontá-lo?
Ele tinha razão, mas era a nossa maldita noite de noivado. — Madd …
— Não importa o que ele diga, não vai estragar nossa noite. Eu prometo.
— Ele tocou minha bochecha com uma delicadeza surpreendente.
Ele poderia dar pistas, nos dar algum tipo de expectativa ou nos provocar
de uma maneira que nos informasse o que viria a seguir, e qualquer
vantagem nesse ponto era bem-vinda. Nate e Xavi estavam em algum lugar
sem nós, mamãe estava desprotegida na casa de Mary e eu precisava saber
que todos estavam seguros.
Atendi a ligação no viva-voz sem falar nada. Sentamo-nos na areia com
sangue no rosto e anéis de noivado nos dedos, ouvindo a estática do outro
lado da linha. Ele respirou, e o som disso irritou cada nervo. Jim não tinha o
direito de respirar. Devo ter ficado tenso, porque Maddox se apoiou em
mim, oferecendo ou aceitando, eu não sabia.
As ondas continuaram batendo, a lua continuou brilhando e continuamos
esperando. Houve uma inspiração como se alguém fosse falar, mas
nenhuma palavra saiu. Eu não queria dizer nada, e sabia que Maddox não
diria, então se Jim não dissesse algo no próximo minuto, eu desligaria o
telefone, verificaria minha família e passaria o resto da noite fodendo meu
noivo.
Havia tantas coisas que aprendi no último ano e meio, e a mais importante
era que nada superava Maddox e meu irmão. Mas, por causa do meu pai,
vivíamos em constante medo, olhando por cima dos ombros todos os dias
só para ter certeza de que ele não saltaria sobre nós e levaria outra coisa.
Eu estava farto.
Farto de deixar meu pai ditar minha vida. Pronto para assumir o controle
de nossas vidas e retomar o poder.
Meu polegar pairou sobre o botão vermelho para encerrar a ligação.
Maddox beijou meu pescoço, mostrando apoio enquanto se inclinava para
mim.
Quando eu estava prestes a apertar o botão, meu pai falou.
— Vejo que os parabéns estão em ordem.
Gelo cobriu meu corpo suado, e Maddox ficou de pé tão rápido que caí
para frente. Examinamos a praia juntos, olhando em volta freneticamente,
lutando pela posição de protetor, embora não soubéssemos de onde vinha a
ameaça.
E então meu pai riu pela linha. Era doentio, maníaco e distorcido.
42

-Maddox-
Eu não tinha ideia do que esperava que Jim dissesse, mas não era isso.
Como diabos ele sabia sobre o nosso noivado quando acabou de acontecer?
Tínhamos passado por uma maldita situação severa, e esse noivado
deveria ser o começo de algo novo, algo bom e animador para nós depois de
tanto tumulto. Como sempre, a porra do Jim Sawyer encontrou uma maneira
de se meter nisso, e eu estava tão chateado que tinha vontade de queimar a
porra do parque de trailers.
Andei de um lado para o outro no trailer da minha mãe, tentando me
acalmar para não queimar nada, mas essa raiva aumentou e ameaçou me
dominar. A única coisa que me mantinha calmo era Devon e minha
necessidade de checá-lo. Nate e Xavi vieram depois que Devon os chamou
para voltar. Tínhamos checado discretamente Mary e sua mãe apenas no
caso de Jim ir atrás dela, e meus pais estavam aqui. Andrea ligou para dizer
que passaria a noite na casa de Mary e nos avisaria se acontecesse alguma
coisa. Essa senhora era uma santa.
Eu queria uma coisa na vida: Devon. Porque diabos alguém
constantemente pensava que poderia ameaçar isso e se safar estava além de
mim, mas se Jim pensou que iríamos facilitar isso para ele, ele tinha outra
coisa vindo. Ele arruinou a porra da minha vida um pouco, mais de uma vez,
e arruinou toda a vida de Devon, então foda-se ele, foda-se o barco em que
ele entrou e foda-se seu maldito jogo. Eu não queria mais ser um covarde.
Evitar não era a resposta aqui.
Para ser honesto, eu me sentia muito assassino no momento.
— Vá comemorar — disse meu pai. — Nós cuidaremos de Jim. Esta é a
sua noite.
Oh, eu planejava passar o resto da minha vida comemorando, mas esta
noite, eu não me moveria nem um centímetro até que tivesse algum plano
de ataque. Devon olhou para mim, seus olhos azuis calculando os meus, mas
quando ele assentiu, eu sabia que concordávamos. Mal podia esperar para
casar com aquele idiota.
— Nós iremos — Devon disse. — Mas primeiro, precisamos descobrir
como Jim sabia onde estávamos.
Minha mãe se sentou à mesa e remendou os nós dos dedos quebrados de
Devon. Eu a amava por isso, mas também fiquei com um pouco de ciúme.
Remendá-lo era meu trabalho, e eu não gostava que ninguém mais o fizesse.
Mas minha raiva furiosa se transformou em orgulho presunçoso quando ele
deu um tapa na mão dela depois que ela tentou tirar o anel dele para limpar
embaixo.
— Ele devia estar em um barco — disse Nate. — Se ele estivesse na água,
ninguém o teria notado. Ele tinha binóculos ou algo assim.
— Porque ninguém viu merda nenhuma — concordou Xavi. — E se ele
estivesse em terra, alguém o teria visto.
— A menos que eles o acobertassem — Devon cuspiu as palavras. —
Aquele pedaço de merda parece ter meios ilimitados para pagar as pessoas.
Ele estava chateado; eu entendia. Mas as pessoas de Garron Park eram em
sua maioria boas e estavam tão cansadas da merda de Jim quanto nós. Elas
não o temiam tanto quanto antes, e agora estavam prontas para ficar do
nosso lado.
— Só há uma razão para ele estar de volta — eu disse, levando a conversa
para uma direção diferente.
— O contrabando — meu pai completou.
— Sim, e ele fará o que for preciso para obtê-lo. — Esfreguei o hematoma
sensível sob minha mandíbula. Porra, Devon poderia dar um bom soco. E
isso me excitou. — Incluindo foder com qualquer um de nós. Ele nos quer
perturbados, então estamos cuidando de nossas costas, em vez de vigiá-lo.
— Precisamos de observação em Davis — disse Xavi. — Se alguém pode
tirar essa merda da sala de evidências, é ele.
— Devemos chamar o policial Hanes? — Nate perguntou. — Ele tirou
Madd e acreditou em nós o suficiente para nos ajudar. Podemos confiar nele
com isso?
— Eu voto sim — disse Devon. — Ele está na delegacia e tem o melhor
ponto de vigia. Precisamos dele.
Quando soou uma batida na porta da frente, todos nós ficamos tensos,
esperando que fosse Jim. Xavi abriu a porta, apesar de todos dizerem para
ele não fazer isso, e então meus instintos protetores entraram em ação por
causa de quem estava lá. Não era Jim. Corri para Devon e o trouxe para a
cozinha comigo, tentando empurrá-lo para trás do meu corpo.
— Eu não sou a porra de uma princesa, Maddox — ele sussurrou para
mim, tentando me empurrar para trás dele. Acabamos atrás do balcão, nos
empurrando para a posição de proteção. Bom o bastante.
— Que porra você quer? — Nate gritou para Patrick Harris.
— Senhora — Harris disse para minha mãe respeitosamente. —
Cavalheiros — ele acrescentou para o resto de nós.
— Por que você está aqui? — Devon murmurou, todo ríspido.
— Estou aqui em paz — disse Harris, entrando e fechando a porta atrás
de si. Ele levantou a jaqueta para nos mostrar que estava desarmado, e me
pareceu estranho que eu vivesse uma vida que exigisse esse tipo de besteira.
Jesus. Devon relaxou um pouco, mas eu não. Meu polegar tentou girar o anel
em meu dedo, mas estava muito inchado, então apenas o toquei para me
confortar. — Na verdade, estou aqui com uma proposta de negócios.
— Eu disse para você esquecer que eu existia — eu rebati para ele.
— E eu esqueci, até agora — disse ele. Vestido como um bandido
econômico, com calça larga e tudo. Ele pelo menos não usava os óculos
aviadores amarelos desta vez.
Mantive minha boca fechada, e meu pai também. Enquanto nossas bocas
não falavam, nossos olhos avaliavam a cena. Harris não parecia nervoso ou
superficial, bem, não mais do que normalmente, mas ele tinha um sorriso
sutil no rosto que significava que ele sabia algo que nós não sabíamos.
Informação era ouro agora, então eu o ouviria só por isso.
— Continue com isso — Nate disse, no limite, mas não o suficiente para
impedi-lo de afundar no sofá como se ele não pudesse ficar de pé por mais
tempo.
— Jim Sawyer armou para mim, roubou de mim e me chantageou —
Harris começou, e por alguma razão fodida, Devon se inclinou para trás e
esfregou sua bunda contra meu pau. Suprimi um gemido e tentei me
concentrar em Harris. — Eu gostaria de fazê-lo pagar por isso.
Entre na fila, amigo.
— Pensei que você e Gary estivessem juntos nisso? — Papai perguntou.
— Gary costumava fazer parte da minha vida, mas ele é um tolo covarde
e não teve nada a ver com isso além de tentar proteger sua filha. — Harris
alisou sua calça larga.
— Qual é a proposta? — Devon perguntou, ainda esfregando meu pau
como se não fosse óbvio. Seu tom áspero contradizia completamente o
movimento lento e sensual de seus quadris.
Harris deu um daqueles sorrisos sinistros e doentios, mas, em vez de me
afastar, deu-me uma esperança distorcida. Esse agiota era quase tão
vingativo quanto nós. — Eu sei onde ele está.
Devon ficou rígido, sua bunda não mais rangendo. Eu passei meu braço
em volta de sua cintura e esfreguei seu pau endurecido. Ele relaxou. Eu sorri.
— Onde? Nos diga. — Nate se levantou novamente.
— Pelo quê? — Harris perguntou a Nate. — Você vai ajudá-lo a
desaparecer de novo?
— Eu vou matá-lo, porra — Nate retorquiu.
Xavi lançou a Nate um olhar severo. Esses velhos eram tão protetores um
com o outro quanto Devon e eu.
— Onde está a parte comercial? — meu pai perguntou, aparentemente o
único inteligente aqui. Minha mãe murmurou alguma coisa e tornou a
encher sua taça de vinho. Esvaziou. Reabasteceu novamente.
— Quero algo em troca da informação — disse Harris. Claro que sim.
Eu acariciei Devon pra caralho, regozijando-me com a doce satisfação de
que suas bochechas estavam coradas e ele não tinha dito nada em alguns
minutos. Tão facilmente distraído. — O contrabando — adivinhei. Eu
pressionei meu pau contra a bunda de Devon, moendo contra ele.
— Como você espera que consigamos isso? — Xavi perguntou. — Não
estamos roubando merda para você.
Inclinei-me para Devon, meus lábios roçando seu pescoço. — Continue
esfregando sua bunda em mim assim e eu vou te dobrar sobre essa porra de
balcão.
Um grunhido gutural deixou Devon, e eu sorri contra seu pescoço. Ele não
parou de mover sua bunda, no entanto.
— Eu não espero que você roube — disse Harris. — Tudo o que peço é
que você deixe Jim e Davis trabalharem no plano deles. Eles vão conseguir
para mim.
Meu pai olhou para Harris. — Você está trabalhando com eles?
— Contra eles — disse Harris.
— O que ganhamos com isso? — Nate perguntou. — Você quer que
afastemos nosso pai para que ele possa fazer seu trabalho sujo? Fortemente
não. Não. Eu o quero morto.
— Minha barganha é esta — Harris começou, dando um passo para
dentro do trailer. — Estou de olho em Jim agora. — Ele levantou o telefone
para nos mostrar uma transmissão ao vivo. Jim estava nele, sentado em um
barco, atracado em algum lugar que eu não reconheci. Estava escuro e não
havia muitos marcadores para identificar sua localização. Todos nós ficamos
tensos, e eu esfreguei o pau de Devon novamente para acalmá-lo. — Vou
ficar de olho nele o tempo todo, bancando a segurança para você até que isso
seja feito. Ele nunca estará fora de vista de um dos meus homens, então
qualquer perigo iminente será conhecido com antecedência. Essa é a minha
promessa. Também prometo alertá-lo se ele estiver tramando alguma coisa,
em movimento ou conversando com alguém que você possa conhecer.
Quando eu conseguir o que quero desses caixotes, darei a vocês tanto Jim
quanto Davis e então os ajudarei com qualquer forma de... justiça que
decidirem aplicar.
Devon empurrou seu pau contra a minha mão, e então limpou a garganta.
— Bem. Combinado.
— O quê? — Nate disse para ele, percebendo como ele estava corado.
— Nós concordamos. Eu quero ter acesso a essa filmagem ao vivo, no
entanto. Se Jim desaparecer, o negócio acabou. Contanto que sempre
saibamos onde ele está, você tem um acordo. Mas não vai durar muito. Não
é ilimitado. Se você demorar muito para pegar os caixotes, não vamos nos
impedir de lidar com Jim.
Bem, olha quem finalmente estava ficando esperto. O noivado parecia ter
sido bom para ele.
— Assim que você conseguir o conteúdo e Jim tiver cumprido seu
propósito, nós o pegamos e você mantém sua parte no trato — acrescentei.
— E então você realmente se esquece de nós. Todos nós.
Todos levaram um longo momento para pensar sobre isso. Xavi
concordou primeiro, depois minha mãe, embora ela não tivesse ideia do que
estava acontecendo. Nate esfregou a nuca antes de assentir, e meu pai olhou
para mim. Um olhar preocupado passou por seu rosto, um pouco de
ceticismo para Harris, mas eventualmente, ele assentiu, esperançoso de que
esta poderia ser nossa melhor aposta.
— Combinado — eu disse a Harris. Como ele era o único que sabia onde
Jim estava, meio que precisávamos dele.
Assim que a palavra saiu da minha boca, Devon se virou, colocou a mão
em volta da minha garganta e me encarou. — Fora. Agora.
A noite de noivado estava de volta.
43

-Devon-
Ele pensou que poderia me excitar enquanto estávamos lidando com uma
maldita crise? Que idiota. Funcionou. E eu posso ter começado, mas tanto faz.
Eu o empurrei para fora da porta da frente, maltratando-o como eu sabia
que poderia. Ele ainda tinha um sorriso presunçoso no rosto, e isso me
excitou tanto quanto me irritou. Eu odiava que não tivéssemos nenhum
lugar privado para ir, mas o empurrei, e não parei de empurrá-lo até que
estávamos ao lado do trailer. Era o meio da noite e, felizmente, a maioria dos
vizinhos estaria dormindo ou ainda na noite de luta. Não haveria muitos
voyeurs espiando.
— Você acha que pode me distrair assim? — Eu rosnei, empurrando-o até
que suas costas batessem na lateral do trailer, o único ponto sem janelas.
— Você começou — disse ele, lambendo os lábios. — Mas sim, eu acho
que posso distraí-lo assim. Olha como seu pau está duro, cara.
Ah, eu o odiava. — E você acha que eu vou me curvar e pegar? — Apertei
meu peito contra o dele, amando-o tanto quanto acabei de declarar que o
odiava.
— Mhm — ele gemeu, seus dedos já abrindo meu calção de banho. Eu
deixei, e assim que foi aberto, envolvi minha mão em volta de sua garganta
e fui direto em seu rosto.
— Sem chance, Madd.
— Devon — ele reclamou.
Eu abri seu short com minha mão livre e dei a ele minha própria versão
de um sorriso vitorioso. — Tenho certeza que ganhei nossa luta esta noite.
Você vai se curvar para pegá-lo.
Quando seus olhos verdes brilharam com um desafio, eu sabia que o havia
derrotado. Ele pode querer jogar o jogo de lutar comigo pela posição de
ativo, mas ele disse há muito tempo que gostava mais de lutar para ser
passivo. Apenas estar sob seu olhar abrasador era como olhar para um
eclipse - queimava, sua silhueta queimava minhas retinas e eu não conseguia
desviar o olhar. Maddox Kane era uma força da natureza por conta própria.
A luta existia, a rivalidade intacta, a tensão alta e nossos paus duros. Mas
nós hesitamos. Porque…
Porra. Olhando em volta, parado ao lado do trailer de sua mãe, na noite
em que lutamos e ficamos noivos na praia... ainda era a mesma noite que
meu maldito pai arruinou. Não era assim que deveria acontecer. Deveríamos
estar escondidos no lote 62, ou pelo menos em um quarto ou espaço privado,
vivendo um para o outro e as vibrações que geramos. Em vez disso,
estávamos perdendo nossa ereção porque estávamos pensando demais.
Meus olhos caíram no chão, mas Maddox inclinou meu queixo, forçando-
me a olhar para ele. Ele entendeu. — Não.
— Não o quê?
— Não deixe que ele estrague nossa noite. Nós não temos que foder, mas
não fique sombrio comigo, bebê.
— Bebê? — Eu sorri de verdade. — Você não está drogado, está?
— Apenas pensei em experimentá-lo para ver o tamanho, ver como ele se
encaixa agora que estamos noivos. — Maddox sorriu.
— E? Como é que se encaixou?
Ele se inclinou para frente, pressionando seus lábios nos meus. — Idiota
ainda se encaixa melhor.
— Foda-se — murmurei contra seus lábios. — Desculpe, estamos
quebrados esta noite.
— Não estamos quebrados. — Ele se inclinou para trás, colocando-nos de
volta em nossos shorts. — Estamos pensando.
— Eu odeio pensar. — Eu fiz beicinho para ele. — Eu queria sexo de
noivado sexy.
Maddox me puxou de volta para dentro, ignorou todos que nos
perguntaram alguma coisa e fechou a porta do quarto. Nós nos acomodamos
na cama, mas foi bom quando Maddox puxou minhas costas para seu peito
e me abraçou com força.
Ainda a melhor noite da minha vida, adormecer nos braços do meu noivo.
Maldito noivo.

Maddox estava sendo estoico. E UM IDIOTA.


— Que diabos, Madd? — Eu zombei dele quando estacionamos a moto
de motocross. — Você me fez montar nessa cadela todo o caminho até aqui
e nem vai me dizer por quê?
— Apenas cale a maldita boca e venha comigo. — Ele puxou minha mão,
provavelmente revirando os olhos ao mesmo tempo.
Era meio da manhã, eu mal tinha tomado um café e Maddox me forçou a
sair da cama me chutando para fora dela. Literalmente. Agora ele me
conduzia pela propriedade em que trabalhava, passando por pastos e
celeiros e não me dizendo para onde estávamos indo ou por que estávamos
em seu local de trabalho. Eu não gostava de segredos, então, naturalmente,
eu o fazia se sentir um merda sobre isso. Acho que deveria ter agradecido a
ele por estacionar a moto lá atrás em vez de passar por cima de todas aquelas
pedras e raízes, o que significava que ele tinha pelo menos um pouco de
consideração por eu possivelmente voar da traseira.
Nunca andei na garupa de uma moto de motocross na minha vida. Não
adorei. Eu era piloto, piloto de motocross e odiava não ter minha própria
moto.
Maddox nos guiou ao longo do arbusto por um tempo até que uma
clareira apareceu. Ele foi direto para o salgueiro perfeito que ficava no centro
da clareira, contornado pela floresta, um pouco de grama bonita e um lago.
— O que você acha? — ele me perguntou impacientemente. Ele estava
envergonhado com alguma coisa? Jesus.
— Sobre o quê? — Eu olhei ao redor da área. Sim, era um local agradável.
E daí? — Não me diga que você é um ambientalista que abraça árvores
agora. — Eu o olhei com cautela.
— Da árvore, idiota. Para se casar aqui. — Ele parecia zangado porque
não queria ser tímido. Aw. Casar aqui?
Olhei em volta novamente, encarando-o com um novo ponto de vista. O
salgueiro era epicamente perfeito, o que era estranho. Normalmente, os
salgueiros eram todos angulosos e nodosos, mas este era intocado, bem
proporcionado, caindo perfeitamente, e até mesmo as folhas pendiam em
um comprimento perfeito e uniforme. A maldita coisa parecia arrumada
como um Lulu da Pomerânia. Era uma árvore feliz, saudável e pacífica em
toda a sua beleza.
— Pete nos ofereceu este lugar. Ele se casou aqui. — Maddox esfregou a
nuca quando não aproveitei imediatamente a oportunidade.
Contornei o tronco da árvore, olhando para a copa. — Como foi o
casamento dele?
— Por quê?
— Eu não quero um lugar condenado, Madd. Eles foram felizes? Eles se
divorciaram ou algo assim? — Toquei a casca, sentindo a idade da coisa.
— Nós não ficamos fofocando o dia todo — ele zombou. — Eles ficaram
felizes até que ela morreu. Satisfeito? Porque é assim que nosso casamento
vai ser. Feliz e depois morremos.
Eu sorri com isso. Isso mesmo. O local era realmente lindo e fazia todas
aquelas fotos de casamento perfeitas que as pessoas adoravam postar em
suas redes sociais parecerem besteira em comparação. Eu gostava da
vibração pacífica da árvore, da maneira como a grama ondulava ao seu
redor, os pássaros cantavam dentro dela e os sapos coaxavam no lago
próximo. Seria difícil encontrar um lugar melhor do que este.
Meus olhos passaram de Maddox para a linha da floresta. Encontrei outra
árvore que se destacava e a esperança brilhou em meu peito.
— Que tal lá? — perguntei a Maddox, apontando para a outra árvore.
Maddox olhou e então ergueu uma sobrancelha para mim. — Realmente?
Aquele velho Carvalho semimorto e maltrapilho?
— Sim. — Eu balancei a cabeça. Apontando para o salgueiro, eu disse: —
Esta árvore transmite felicidade e serenidade. Diz que trabalhamos duro o
dia todo, voltamos para casa, passamos a noite jantando e conversando sobre
nossos dias e depois caímos felizes na cama. — Apontei para o carvalho e
disse: — Aquela árvore diz que vi alguma merda, ainda estou de pé e não
vou a lugar nenhum. Isso é mais como nós, certo? Tipo, vou tentar fazer o
jantar, mas vou estragar tudo, você vai ficar chateado comigo enquanto
conserta todos os meus erros, e então vamos nos encarar enquanto comemos
uma refeição meia-boca e acabar odiando foder em uma cama quebrada. —
Olhei para Maddox, imaginando o que ele pensava. — É mais o nosso estilo.
Para seu crédito, ele realmente estudou o carvalho, tentando decifrar se
significava tudo isso. Havia corvos nos galhos, e eu não conseguia me
lembrar se eram um bom presságio ou um mau presságio, mas pareciam
bonitos, então considerei isso uma vitória. A grama ao redor da árvore
estava toda marrom e seca, como se o carvalho tivesse sugado avidamente
toda a água como uma velha cabra egoísta, e até mesmo as outras árvores
meio que se inclinavam para longe dele como se fosse um pária. Eu gostei.
Maddox olhou para ele por tanto tempo que enfiei as mãos nos bolsos para
deixá-lo observar tudo.
— Diz, você é um idiota que não consegue entender as árvores, mas eu
vou casar com você em qualquer lugar porque, claramente, eu sou
igualmente burro. — Maddox estava ao meu lado. — Sim?
— Sim — eu concordei. Inclinei-me para o lado dele e deslizei meu braço
em volta de sua cintura. — Espero que goste, Madd, porque esta árvore de
merda, eu e uma certidão de casamento é tudo o que nosso casamento terá.
Estaremos pescando naquele lago para nossa refeição de casamento.
Maddox riu. — Nunca me importei com patas de sapo. — Ele beijou o lado
da minha cabeça. — Comprei nossos anéis com uma semana de trabalho
gratuito. É por isso que não recebi na primeira semana.
Minha boca se abriu. — Seu filho da puta! Eu sabia que algo estava
acontecendo. — Eu o soquei no ombro. — Eu te amo por isso. Obrigado.
— Tudo bem, bem, já que eu fiz todo o trabalho duro, a merda da certidão
de casamento é com você.
Que idiota, mas ele tinha razão. Eu o beijei perto da árvore que seria o
local do nosso casamento, me sentindo muito bem, apesar de toda a merda
que aconteceu com meu pai ontem à noite.
Tínhamos os olhos em meu pai agora graças a Patrick Harris, mas o jogo
da espera me matou. Eu queria ir atrás do meu pai agora, me livrar dele e
casar sem que sua sombra caísse sobre nós. Hanes estava por dentro de tudo,
mas disse que não agiria até ter provas em vídeo de que meu pai estava
fazendo algo ilegal. Teríamos que esperar até que ele tivesse e então
conseguir a filmagem sem envolver Harris com os policiais. Hanes até
montou segurança adicional em torno da sala de evidências - que Davis não
sabia. Achei que a única coisa que podíamos fazer era esperar que tudo
começasse a acontecer. Estávamos armados, então... esperar era uma merda.
— Ei, Madd?
— Mm?
— Hora de você se curvar.
— Sim, acho que não, Devon. — Ele se virou para mim, pressionando
minhas costas contra o tronco do carvalho. — Estou começando este
casamento com o pé direito.
— Que pé é esse?
— Seus joelhos. — Ele me empurrou de joelho, mas a maneira como olhou
para mim me fez sentir maior do que ele.
— Não se preocupe, Madd — eu disse, repetindo as palavras da pedreira
tanto tempo atrás enquanto desabotoava sua calça. — Vou deixá-lo de
joelhos também.
44

-Maddox-
Como um idiota, fiquei sem gasolina. Sentado nos degraus da varanda da
frente de Pete, esperei meu irmão aparecer com um tanque de combustível
para mim. Quer dizer, Pete tinha um tanque de combustível para o
equipamento da fazenda, mas eu não queria abusar da sorte usando um
quando ele não estivesse em casa. Eu precisava desse maldito trabalho e,
para ser honesto, também gostava bastante dele.
Xavi estacionou vinte minutos depois, já rindo de mim.
Eu disse a ele para se foder como uma saudação. — Você trouxe? — Eu
me levantei, limpando minha bunda.
Xavi riu. — Sim, seu idiota. — Ele puxou a lata da traseira do caminhão e
me entregou. — Apresse-se, no entanto. Algo está acontecendo com Davis.
Eu derramei mais rápido. — O quê?
Xavi deu de ombros. — Ainda não sei, mas Hanes ligou para dizer que
está tramando algo e que está sendo monitorado.
— Isso é vago. Algo com Jim?
Eu mal podia esperar para que tudo isso acabasse. Estávamos lidando com
Jim há tanto tempo que ele era como um cheiro persistente. Eu estava
cansado de pensar nele, falar sobre ele e conspirar contra ele. Só queria me
casar com Devon e seguir com nossas vidas de merda.
Xavi me entregou a tampa. — Algo na delegacia. Hanes disse que
apareceu lá para uma reunião com o sargento, ou quem quer que seja, mas
ele está bisbilhotando um pouco.
Era claro que aquele idiota acharia um motivo para estar na delegacia. As
evidências ainda estavam lá, mesmo que uma carga tão grande já devesse
ter sido movida há muito tempo. Os oficiais acima de Hanes estavam de olho
para ver se alguém faria alguma coisa com o contrabando, mas se isso não
acontecesse logo, eles iriam removê-lo para um local mais seguro.
Precisávamos de Jim e Davis para fazer algo estúpido antes disso. Era assim
que os pegaríamos, e Hanes monitorava tudo.
Apertei a tampa do tanque e devolvi a lata para Xavi. — Hanes está de
olho em Davis?
— Sim, e Harris ainda tem Jim em vídeo, então estamos seguros. — Xavi
colocou a lata na carroceria do caminhão. — Essa é a árvore? — Ele apontou
para o salgueiro.
Eu zombei. — Não. De acordo com Devon, essa árvore é muito saudável.
É aquela. — Eu apontei para o carvalho de merda. — Diz que somos idiotas
que vivem uma vida de merda, mas têm fortes habilidades de sobrevivência.
Ou alguma merda assim. — Tínhamos uma coisa com árvores.
Xavi riu. — Parece certo. Mal posso esperar. Estou convidado, certo?
— De jeito nenhum. — Afastei-me da árvore. — Onde está Devon? É
melhor alguém vigiá-lo para garantir que ele não faça nada estúpido.
— Nate está cuidando dele. Encontro você na loja?
Eu balancei a cabeça, balançando minha perna sobre a moto. Porra, eu
amava esse pedaço de merda. Foi bom andar de novo, mesmo que fosse
apenas nas estradas de cascalho.
Enquanto seguia Xavi até a loja, pensei em tudo que ainda estava por vir.
Eu confiava em Devon, mas ele estava tão cheio de culpa por tudo o que
tinha acontecido, eu estava com um pouco de medo de que ele tentasse ser
o herói e acabasse estragando com o plano como estragou com todo o resto.
Devon era o imprevisível em nosso plano, mas eu gostava de centrá-lo, então
não era um fardo muito grande.
Eu não o culpo por nada disso, mas em sua cabeça, ele tinha meu
ferimento de bala, meu tempo de prisão, nossos problemas iniciais de
relacionamento e nossa falta de moradia atual para se sentir culpado. Além
disso, o constante estado de medo em que todos vivíamos, a ameaça em
nossas costas, minha ficha criminal, embora estivesse sendo eliminada, e
nossas lutas financeiras pesavam sobre seus ombros. Caras sob tanta culpa
raramente tomavam as melhores decisões, e Devon certamente não era uma
exceção a essa regra. Ele era meu idiota, isso era certo. A negligência tinha
sido culpa dele, mas nada do resto. Era principalmente culpa de sua
estupidez, mas essa merda era genética. Nate era burro pra caralho também.
A vida parecia pausada em uma respiração suspensa. Tínhamos as coisas
acertadas, um plano em prática, nos juntamos e fizemos um acordo com um
agiota sombrio e, finalmente, tínhamos um bom policial do nosso lado. As
coisas estavam prontas, mas a inquietação de não saber se tudo daria certo
deixou a gente meio doido. Acho que veríamos.
E então teríamos que descobrir o que realmente fazer com Jim. Nós éramos
assassinos?
De uma coisa eu sabia com certeza: não deixaria Devon matar o próprio
pai. Não importava o quanto ele odiasse o cara, isso o confundiria por toda
a vida.

Oh, Devon estava em boa forma. Ele estava fora de controle, mas não da
maneira que eu esperava. Eu pensei que ele estaria ansioso para fazer algo
sobre Davis, mas em vez disso, ele estava ansioso de forma diferente.
— Maddox, cale a boca e vá para o banheiro — ele gritou para mim pela
terceira vez. — Não temos casa, privacidade e tempo. Estamos aproveitando
isso.
Com isso, ele quis dizer que nossos irmãos e meu pai estavam distraídos
no deque, e finalmente tivemos um pouco de tempo sozinhos. Deixei que ele
me empurrasse para o banheiro, mas não era um lugar legal. — Claramente,
também não temos padrões. — O banheiro da loja era sujo, pequeno e
bagunçado. — Seriamente? Quer foder aqui?
— Desde quando você tem classe? — Ele me empurrou novamente. —
Sem calça. Agora.
— Tudo bem. Droga. — Eu desabotoei minha calça – talvez fosse a calça
dele. — Você carrega lubrificante aleatoriamente com você também?
— Não, mas Nate e Xavi têm alguns, e eu realmente não quero pensar no
que eles farão com isso. — Ele desabotoou a calça jeans - talvez fosse a minha
calça jeans.
— Quem você acha que essa garota...
— Maddox — Devon esbravejou para mim. — Meu pau está duro, nossa
noite de noivado foi fodida e eu só quero foder você. Pare de falar. — Ele
balançou a cabeça, saindo de sua calça. — Jesus. Metade do tempo não
consigo fazer você dizer merda, mas quando quero que fique quieto, você
fala malditamente.
Revirei os olhos, e então os revirei com mais força quando ele colocou uma
toalha que era do pior tom de marrom.
Sentando minha bunda nela, a penteadeira gemeu sob o meu peso, mas
Devon ignorou. Ele se inclinou e esmagou sua boca na minha, roubando
minha voz, minha respiração e meu coração com um beijo. Ele era um
maldito ladrão, mas era o melhor tipo de ladrão. Tire tudo de mim, bebê, é seu.
Peguei o lubrificante dele, enfiando meus dedos dentro de mim para
ajudar esse bastardo impaciente. Com a outra mão, lubrifiquei seu pau e
tentei não cair da penteadeira.
— Pessoal! — Nate gritou pela porta e Devon rosnou. — Davis roubou a
chave do depósito de evidências! Hanes acabou de ligar.
Toquei minha bunda rapidamente, sabendo que Devon não sairia deste
banheiro até que conseguisse o que procurava.
— Foda-se, Nate!
Eu ri ao mesmo tempo que Nate, e Devon tomou isso como um desafio.
Ele empurrou meu peito, abriu minhas pernas e enganchou os braços sob
meus joelhos.
— Precisa de preparação? — ele perguntou impacientemente.
Eu gostava dele assim. — Eu não sou nenhum virgem.
— Bom. — Ele se alinhou, cutucou meu buraco com a cabeça de seu pênis
e olhou diretamente nos meus olhos enquanto empurrava para dentro de
mim em um impulso poderoso. Jesus. Eu gemi. Ok, eu poderia ter usado um
pouco de preparação. Tarde demais agora. — Foda-se, eu senti falta disso —
Devon respirou.
Eu fiquei tenso e segurei seus quadris para me firmar enquanto me
ajustava a sua intrusão. Doeu, mas eu meio que gostei da força disso.
Gostava que ele pegasse o que queria. A autoridade era sexy quando não
vinha de uma figura de autoridade real.
— Eu pensei que você não fosse virgem — ele zombou.
— Eu não sou, mas você está...
— Obrigado — ele riu, presunçoso pra caralho. Estendeu a mão entre
nossos corpos e agarrou meu pau, masturbando-o bem e devagar enquanto
me fodia bem e lento. Adorei esse ritmo - sem pressa, profundo e contínuo.
Foi a construção perfeita. — Fiquei duro hoje — disse ele aleatoriamente. —
Mas eu não fiz nada sobre isso. Eu queria esperar por você. — Ele empurrou
para dentro de mim, fazendo minha cabeça bater na parede.
Observei seus olhos azuis, sua merda de tatuagem de caveira, a maneira
como seu abdômen se contraía com cada balanço de seus quadris. — Sim?
— Eu tive outro sonho. Um em que eu amarrei você e fiz o que queria
com você.
Eu gemi quando ele empurrou para dentro de mim com força, inclinando
seus quadris para acertar. Meu pau latejava em sua mão e meu corpo ficou
quente. — Sim? — Eu perguntei de novo, basicamente implorando para ele
continuar falando.
— Mhm. — Sua mão se moveu com o movimento de seus quadris, e
maldição. — Agora eu tenho essa fantasia. Eu quero ver você lutar comigo
pelo controle enquanto você não tem nenhum. Quero tirá-lo de você, e
quando eu ganhar, você simplesmente cederá e me deixará pegá-lo e usá-lo
como eu quiser. Você se submeterá.
— Eu não sou submisso — eu ofeguei, já perto de gozar.
— Sim, você é. Veja como você está investindo nessa fantasia. — Ele
acenou com a cabeça para mim, prestes a gozar apenas com suas palavras.
Quando ele enganchou o braço sob meu joelho novamente, inclinando-me
ainda mais, eu gemi e engasguei com isso. — Admita.
Ok, merda, talvez. — Talvez uma vez. Vou tentar uma vez.
— Você vai me deixar amarrar você como eu disse antes?
— Uma vez.
— Você vai me dar o controle?
— Se você pegar à força. — Oh, porra do inferno. Continue me fodendo
assim, Devon.
— Posso vendar você?
— Não. Não porra. Eu gosto de olhar para você.
Devon sorriu, empurrando seus quadris. Seu pau encheu minha bunda, o
movimento perfeito e a fricção insana. Esqueci o quão gostoso uma foda no
banheiro pode ser. — Tudo bem, mas uma vez que eu ganhar o controle,
posso fazer o que diabos eu quiser com você. Foder você, usar você, ter você,
dar prazer a você e tirar tudo de você.
Antecipação despertou em meus nervos, e minha cabeça caiu para trás
contra a parede. — Bem. Uma vez.
Ele apertou meu pau em seu punho, acariciando-o lentamente antes de
soltá-lo. Inclinando-se sobre mim, fazendo a penteadeira gemer tão alto
quanto eu, ele me fodeu mais rápido, seu abdômen deslizando sobre meu
pau. — Divirta-se voltando para casa cheio do meu esperma — ele gemeu.
Quando ele gozou, sua boca se abriu e seus dedos cravaram na minha pele.
Com seu abdômen massageando meu pau, gozei em jatos pesados entre
nossos corpos. Meus dedos envolveram a borda do balcão, segurando pela
minha preciosa vida, esperando que essa coisa não caísse e me matasse no
meio do orgasmo.
— Foda-se, Devon — eu gemi.
Ele me beijou, arrastando os dentes sobre meu lábio inferior até que eu
estivesse exausto e suado demais.
— Talvez precisemos de outra noite na pedreira — ele ofegou. — Para
que essa fantasia se realize, já que não temos um quarto grande o suficiente
para tudo o que quero fazer.
Concordo, porra.

Duas semanas se passaram desde que Davis roubou a chave do depósito


de evidências. Ele pegou, fez uma cópia e devolveu tudo no mesmo dia. Ele
não tinha feito nada desde então.
Hanes disse que se falava em transferir as evidências para uma instalação
mais segura, e comecei a me perguntar se esse era o plano de Jim o tempo
todo. Fazer Davis roubar a chave para nos fazer pensar que eles a colocaram
em Garron, mas esperar até que isso esteja em rota. Ou talvez ele tivesse uma
conexão ou um cúmplice no próximo depósito. Eu não tinha ideia do que ele
estava esperando, mas sabia que era calculado.
— Imerso em pensamentos, docinho? — Mamãe perguntou, trazendo-me
de volta ao presente e tirando os e-ses da minha cabeça.
Joguei algumas de suas merdas em uma caixa e prendi com fita adesiva.
— Não. Na verdade. O que mais você precisa empacotar?
Mamãe decidiu morar com meu pai no novo trailer que acompanhava seu
novo emprego. Eu não sabia se eles estavam totalmente juntos ou não, mas
pelo menos meu pai se controlou desta vez e foi capaz de cuidar da minha
mãe. Foi um sentimento meio estranho porque, pela primeira vez na minha
vida, não tive que cuidar dos meus pais. Eu não tinha obrigações além de
Devon e meu trabalho, e era estranho. Bem estranho.
— Apenas aquelas roupas naquela bolsa — mamãe disse, apontando para
uma pilha na cama. — Tem certeza de que está tudo bem com isso?
Bem, sim. Eu mal podia esperar até que ela se mudasse para que Devon e
eu pudéssemos ter privacidade. Não queríamos morar aqui, mas
assumiríamos o aluguel até encontrarmos outro lugar para nos mudarmos.
Estava tudo bem por enquanto, e como nós dois tínhamos empregos, mesmo
que o meu pagasse ruim pra caramba, podíamos pagar e ainda economizar
um pouquinho em cima disso.
Olhe para nós sendo todos maduros e merda.
— Sim. Feliz por você. — Eu sorri para ela, honestamente feliz por ela
estar feliz. — Apenas não coloque o papai no inferno. Ele trabalhou duro
para chegar onde está — E era fácil voltar aos padrões familiares. Dois
drogados morando no mesmo lugar nunca foi fácil, mas eu tinha fé que meu
pai finalmente havia superado sua sobriedade. Se eu realmente fosse sincero,
diria que meus pais eram viciados um no outro. Devon e eu podemos ser
obsessivos e insanamente doentios em nosso relacionamento, mas eu não
conseguia imaginar nenhum de nós colocando o outro na merda que meus
pais passaram.
Quero dizer, sim, nós brigamos, usamos a violência como vício, não
tínhamos a melhor dinâmica de relacionamento e estávamos constantemente
na garganta um do outro, fodendo tudo enquanto fazíamos, mas tínhamos
respeito. Nós tínhamos amor. Isso tinha que contar mais do que todos os
nossos erros. Pode ter sido errado aos olhos da sociedade agir da maneira
que agimos, mas funcionou, e eu aprendi há muito tempo a seguir o que
funcionava. Eu não tinha bons modelos e mal sabia algo sobre
relacionamentos saudáveis, mas para mim, o que eu tinha com Devon era o
mais próximo da perfeição que eu jamais esperava. Saudável ou não, eu o
amava, ele me amava, e nós resolveríamos o resto à medida que
avançássemos.
Talvez eu pudesse tentar conter minha agressividade. Tipo, só um pouco.
— Madd? Você está aqui? — Devon gritou, entrando pela porta da frente
e fechando-a atrás dele. — Acontece que preciso da sua assinatura para essa
certidão de casamento, então mexa-se.
Revirei os olhos e mamãe riu. Eu a deixei fazendo as malas e sorri para
Devon vasculhando os armários em busca de algo para comer.
— Ei — eu disse, sorrindo para ele. — Como foi o seu dia?
Ele me deu um olhar estranho. — Bem. Por quê?
— As pessoas perguntam isso às vezes quando o parceiro chega em casa.
— Dei de ombros.
Ele me deu outro olhar estranho. — Você está pronto para ir?
Eu passei meus braços em torno dele por trás enquanto ele mastigava
biscoitos velhos. Ele ficou tenso, mas acabou se acomodando no meu abraço.
— O que é essa merda? — ele perguntou.
— Bondade, eu acho.
— Eca — ele riu. — É quase tão estranho quanto você me chamar de bebê.
— Ele se virou, sorrindo para mim. Eu sabia que ele secretamente gostava
quando eu o chamava assim. Não acontecia com frequência e não parecia
natural, mas às vezes simplesmente rolava pela língua. — A prefeitura fecha
em meia hora. Vamos. — Ele me empurrou e gritou adeus à minha mãe.
Ok, talvez a gentileza pudesse acontecer às vezes, mas a competitividade
nunca iria a lugar nenhum. Essa era a nossa linguagem do amor. Então, com
isso em mente, corri com ele até o caminhão de Nate, empurrei-o para o lado
dele e roubei as chaves. Devon gemeu, segurando o cotovelo que havia
batido no espelho.
— Isso é mais parecido conosco — ele riu. Subindo no lado do passageiro.
— Compita comigo para sempre, Madd, mas estou pronto para toda essa
merda de felicidade que você falou antes.
— Sim? — Eu ri, ligando a ignição. Nada aconteceu.
— Sim. Mesmo sendo pessoas de merda, ainda merecemos um final feliz,
certo? — Ele sorriu para o nada.
Girei a chave mais duas vezes antes de o caminhão pegar. — Sim, mas não
estamos nem perto do nosso final feliz, idiota. — Coloquei o caminhão em
marcha à ré. — Nós mal começamos.
Eu o vi sorrir para o nada novamente. Ele pode não saber como aceitar
gentileza em todos os momentos, mas isso não significava que ele não anseie
por romance às vezes. Eu me lembraria disso.
45

-Devon-
Minha caligrafia era uma merda total, mas eu tentei de qualquer maneira.
Amassando meu último pedaço de papel, puxei uma nova folha e tentei
novamente.
Maddox,
Você sempre foi um idiota, mas aquela noite em que nos beijamos na pista foi a
primeira vez que descobri que você também era um covarde. Como sempre, eu tive
que tomar as rédeas quando você recuou, não corajoso o suficiente para realmente
me beijar primeiro.
Graças a Deus por mim ou ainda estaríamos batendo um no outro por causa de
alguma briga de ódio entre nossos pais quando éramos crianças. Não estou dizendo
que não te odeio mais, porque ainda odeio um pouco. Eu também te amo agora.
Não. Amassei aquela merda e joguei no lixo. Maddox provavelmente
responderia a todos esses pontos com um não muito sutil, 'Obrigado por eu
socar o cara de jeans de marca'. Eu era péssimo em escrever votos. Eu
gostaria de confiar em mim mesmo para ficar um pouco bêbado; talvez as
palavras fluíssem mais livremente.
Maddox,
Eu odeio quanto controle você tem sobre mim. Você é um idiota presunçoso, mas...
Merda. Risca isso. Eu meio que gostava de seu controle e não queria
mentir em meus votos.
Maddox,
Prometo que levarei o próximo tiro, cumprirei a próxima pena de prisão e
aprenderei a cozinhar uma refeição de verdade.
Porra! Meus doces. Eu pulei do sofá, papéis espalhados por toda parte, e
verifiquei o forno. Gina finalmente me ensinou a fazer aqueles doces que
Maddox adorava, mas quando abri a porta, eles estavam... arruinados.
Derretidos, planos, caindo aos pedaços e cheirando a fracasso.
— Que diabos? — Eu gemi, puxando a panela arruinada e tentando
afastar o cheiro. — Eu segui a maldita receita dela. Foda-se, receita!
— Jesus, Dev — Nate reclamou assim que se convidou para entrar. — Que
cheiro é esse?
Cocei a cabeça, tentando descobrir onde errei. — Eu sou péssimo em tudo.
Isso é o que é esse cheiro — eu bufei, empurrando a panela para longe e
desligando o forno. Maddox nunca me deixaria superar isso, então eu teria
que me livrar das evidências e esperar que os pássaros pelo menos os
comessem.
Nate riu, pegando um pedaço de papel amassado. — Maddox, você é meu
fodido favorito. — Ele sorriu para mim. — Esse é o seu voto?
Eu o tirei dele. — Claramente, eu não esperava isso. Foda-se. Você é algum
tipo de poeta?
— Merda, não — ele riu. — Mas Madd também não. Pare de tentar tanto
e apenas diga o que você quer dizer.
Mas como? Como eu deveria transmitir o que sentia por Maddox em
algum discurso idiota - er, voto? Não havia uma palavra que tivesse vindo a
mim ainda que encapsulasse o sentimento. E, claro, Maddox já havia
terminado o dele. Eu revistei suas calças, todas as gavetas, o alforje de sua
moto e a loja para descobrir onde ele o havia anotado, mas sempre não
achava. Eu só precisava de uma pista, algo para trabalhar.
— Estou prestes a me divorciar dele antes mesmo de nos casarmos —
reclamei.
— Por quê?
— Porque ele é um idiota, cara. Ele roubou minha única cueca limpa hoje
de manhã, vestiu o jeans que eu ia usar, embora tenha sido eu quem lavei a
roupa ontem à noite, e roubou o último muffin quando sabe que não posso
fazer o café da manhã para salvar minha vida. E fez tudo isso só para me
irritar. E aqui estava eu tentando ser um marido que fica em casa, fazendo
guloseimas para ele e falhando nisso.
— Bem, que bom que vocês dois prosperam nessa merda. Você
encontrará uma maneira de dar o troco. Quer pedir pizza? — Nate sentou-
se à mesa.
— Se você está comprando. Não posso pagar uma pizza porque,
aparentemente, uma certidão de casamento custa dinheiro. — E Maddox não
me deixou mexer na conta poupança. O que me irritou porque fui eu quem
preparou e começou, e ele assumiu o controle como se tudo tivesse sido ideia
dele. Se o dinheiro dependesse dele, estaríamos falidos como uma piada,
sem saída.
— Vou comprar, mas será da Pizza Construction — disse Nate.
Eu gemi. Essa era a pizzaria mais merda, mas tanto faz. Comida era
comida quando você não sabia cozinhar. Nate pediu, e então nos sentamos
na varanda da frente para esperar. As cadeiras de jardim pertenciam à mãe
de Maddox, e eu tinha certeza de que eram mais velhas do que eu. Elas
estavam caindo aos pedaços, mas ainda estavam de pé, então nos sentamos
nelas.
— Distraia-me com algumas de suas merdas, Nate. O que há com você e
Xav ultimamente?
— Nada. Eu cuido do meu pau, você cuida do seu. — Ele dispensou isso.
— Temos outras merdas para conversar.
Acenei com a mão, dizendo-lhe para continuar.
— Hanes disse que o contrabando está sendo transferido em três dias para
uma nova instalação. Então, se a merda vai acontecer nesse dia, precisamos
conversar sobre o que queremos fazer com... Jim.
Bem, isso manchou meu já terrível humor. — Como prendê-lo ou matá-
lo?
— Sim, assim.
Boa pergunta.
Eu poderia matar meu pai se a situação exigisse isso. Como se fosse uma
questão de vida ou morte, ou se eu não fizesse algo, alguém de quem eu
gostava morreria, mas eu não achava que poderia matá-lo à queima-roupa
sem uma situação terrível. Maddox me disse que me mataria se eu tentasse,
então havia isso também. Ele pensou que iria mexer com a minha cabeça, e
talvez estivesse certo. Patrick Harris quase se ofereceu para matá-lo e ajudar
com o encobrimento, então isso era algo que eu poderia aguentar? Contratar
um assassino suspeito e esperar que ele faça sem problemas?
— O que você acha? — Eu perguntei a Nate.
Ele esfregou as sobrancelhas e enterrou o rosto nas mãos enquanto
respondia. — Às vezes eu acho que conseguiria, sabe? É a ideia de viver com
isso depois que me fode. Eu não seria o mesmo.
— Então deixamos os policiais lidarem com ele, sim?
— Idealmente, sim, mas ainda somos Sawyers, cara. Os policiais não
gostam de nós, então você tem certeza de que podemos contar com eles?
Havia uma chance de sermos traídos novamente, mas eu acreditava que
Hanes estava realmente do nosso lado. Havia o risco de as acusações não
serem severas o suficiente, correndo o risco de que Jim saísse em alguns anos
e começasse tudo de novo.
— Vamos mutilá-lo. Cortar seus joelhos ou algo assim. Danifica-lo
permanentemente para que, se ele fugir ou sair, não seja rápido o suficiente
para vir atrás de nós. — Eu sorri, gostando da ideia. — Eu posso não ser
capaz de matar aquele idiota, mas com certeza posso atirar em seus joelhos.
— Conhecendo você, você estragaria tudo e o mataria por acidente. Madd
nunca permitiria isso — Nate riu. — Mas eu gosto deste plano. Ele também
precisa de algum dano cerebral, só para ter certeza de que não pode vir até
nós novamente. Você estoura os joelhos dele e eu acerto aquele bastão velho
que ele costumava usar contra nós bem na cabeça dele. Parece bom?
— Combinado — eu ri, quase desejando que fosse assim.
— Seja como for, Dev. Nós vamos ficar bem. Temos um ao outro e os
meninos Kane.
— Eu sei. — E eu sabia. Eu sabia que éramos mais fortes juntos e, de
alguma forma, faríamos tudo dar certo.
— Em breve, você será um daqueles garotos Kane — Nate riu.
— Na verdade, não estou usando o sobrenome dele — eu zombei.
— O quê? Por quê?
— Porque eu sou muito preguiçoso para mudar legalmente todos os meus
documentos e, além disso, eu não deixaria você como o único Sawyer em
Garron. — Olhei para meu irmão. — Nós estaremos fodendo como Sawyers
até o dia que morrermos.
— Tudo bem, se você quer se condenar assim. — Nate sorriu.
— Não tem sido tão ruim.
— Não, não tem. E mamãe ainda é uma Sawyer. Embora ela
provavelmente nem saiba que é.
— Vadia sortuda — eu ri.
Foda-se os votos. Foda-se os doces. Nate me fez sentir melhor.
46

-Maddox-
Tudo deu errado. DE NOVO.
Davis estava morto.
Não que eu desse a mínima para aquele pedaço de merda mentiroso, mas
ele era uma parte essencial do nosso plano, e agora tudo estava indefinido
novamente. A evidência estava sendo movida esta noite, e o único cara com
uma ligação com Jim e este crime estava morto? Isso não poderia ser uma
coincidência.
— O que está acontecendo? — Devon andava de um lado pro outro no
chão da sala, as mãos puxando o cabelo recém-cortado. Andrea cortou em
seu jardim da frente, e parecia assim, mas ele ainda era gostoso. — Onde está
Jim?
O corpo de Davis foi encontrado no mesmo parque em que Devon
encontrou Jim há tanto tempo atrás. Suspeito, mas não temos provas de que
Jim tenha algo a ver com a morte. Eu não confiava em nada disso e odiava
não saber o que fazer a seguir.
— Ele não está na câmera! — Nate gritou, segurando o telefone para
mostrar a transmissão ao vivo a que tínhamos acesso graças a Harris. —
Harris nos ferrou!
Ou Jim enganou Harris ou Harris deixou Jim ir porque ele tinha seu
próprio plano. Nunca faça um acordo com um criminoso suspeito. Lição
aprendida.
— O que nós faremos? — Xavi perguntou, olhando entre mim e nosso pai.
— Hanes está lidando com o corpo de Davis, então quem diabos vai
monitorar os caminhões de evidências quando eles saírem?
— Alguém vai — disse Nate. — Eles não são estúpidos o suficiente para
pensar que isso acabou. Jim e Harris estão indo atrás dos caminhões.
— Foda-se — Devon retrucou, pegando as chaves do caminhão. — Vou
seguir os caminhões.
Agarrei Devon pelas costas de sua camiseta. — Não. — Eu o joguei atrás
de mim e me virei para encará-lo, bloqueando seu caminho até a porta.
— Maddox, mova-se — ele rosnou para mim. — Não vou deixar Jim
escapar depois de tudo que passamos.
— Você não vai a lugar nenhum, Devon. — Eu mantive minha posição.
— O que você vai fazer, hein? Matar ele? Você não é um policial com
capacidade para prendê-lo.
— Não, mas posso segurá-lo lá até que um policial apareça. — Ele tentou
se livrar do meu aperto, mas foda-se. — Maddox!
— Pense nisso, idiota! Jim vai jogar você embaixo do ônibus e mandar
você para a cadeia, alegando que você o ajudou a roubar os caminhões. Você
vai ficar aqui, então sente-se.
— Não!
Deus, estúpido era sua principal escolha de personalidade nos piores
momentos. — Devon — eu avisei quando ele tentou me empurrar para fora
de seu caminho novamente.
— Estou indo. — Ele se libertou e correu para a porta.
Eu tinha mais um último recurso e o usei. Mantendo meu nível de tom, eu
disse: — Não me faça te perder antes de me casar com você, Devon.
Ele parou na porta, de costas para mim. Estava todo tenso, a raiva rolando
dele, mas ele parou para pensar sobre isso. Para dar a si mesmo uma
verificação da realidade. Balançando a cabeça, deu mais um passo para fora
da porta. Então parou novamente. Isso poderia acontecer de duas maneiras:
ele ficaria chateado o suficiente comigo por usar isso contra ele e iria apenas
para me irritar, ou ele recuaria e se desculparia. Eu não me importava com o
que ele faria, eu não iria deixá-lo ir. Protegê-lo de si mesmo era meu trabalho
principal, e não me importava em fazê-lo. Nate e Xavi olharam entre nós
dois, Devon tenso e eu esperando.
Finalmente, Devon abaixou a cabeça, e imaginei que ele iria com a opção
de desculpas, mas ele se virou e olhou para mim. As chaves voaram pela
sala, quase acertando minha cabeça. — Foda-se, Maddox.
Tudo estava certo em nosso mundo. Eu tentei muito suprimir meu sorriso,
mas ele percebeu, e isso me rendeu um duro golpe no queixo.
— Não seja um idiota sobre isso. Eu estou estressado! — Ele se afastou de
mim, precisando de algum espaço. — Alguém ponha Hanes no telefone
antes que eu perca a cabeça e mate meu noivo! — Seus olhos pousaram em
uma garrafa de uísque, e eu lutei para não agarrá-la. Eu confiava nele.
Olhei para aquela garrafa tão forte quanto ele, mas no final, ele virou as
costas para ela também, provavelmente mandando-a se foder também.
Fiquei na cozinha para dar espaço a ele enquanto Nate e Xavi tentavam
entrar em contato com Hanes. Precisando fazer algo para Devon se sentir
melhor, peguei um doce e dei uma mordida. Ou tentei. As coisas eram mais
duras do que pedras, mas era sua terceira tentativa, e eu precisava que ele
soubesse que apreciei o esforço. Quando Devon me notou mastigando, ele
quase pareceu grato por eu estar quase quebrando meus dentes.
— Os caminhões estão sendo atingidos! — A voz de Hanes gritou pelo
viva-voz. — Agora mesmo. Eu tenho que ir. — Ele desligou.
— Onde está Jim? — Nate tentou gritar ao telefone, mas Hanes já tinha
desligado.
Se esta noite não terminasse com Jim sendo pego, Devon perderia
completamente a cabeça para a escuridão da qual ele geralmente me salvou.
Seria a minha vez de salvá-lo.
Eram três da manhã e estávamos todos mortos de cansaço, mas muito
nervosos para realmente dormir. Hanes ligou e disse que prenderam dois
caras por atacar os caminhões de provas, mas nenhum deles era Jim. Um
caminhão ainda estava faltando, mas não havia sido levado por Jim.
Sabíamos disso porque Jim estava de volta naquele barco, preenchendo
nossa tela com as imagens de segurança. E ele parecia absolutamente irado.
Algo estragou seu plano esta noite, e nenhum de nós sabia o quê.
— Estou muito cansado para ficar com raiva de você, Madd — Devon
disse, afundando ao meu lado no sofá e descansando sua têmpora contra
meu ombro. — E não vou agradecer por me impedir de cometer um grande
erro. Vamos deixar por isso mesmo.
— Sinto muito que essa merda não acabou, mas não posso perder você,
Devon. — Eu trouxe suas pernas para o meu colo, esfregando-as.
— Eu sei — ele suspirou.
Todos nós ficamos sentados como zumbis, esperando, esperando,
esperando ouvir alguma coisa. Qualquer coisa. O ar estava sombrio pra
caramba quando a realidade da noite se instalou. Perdemos nossa única
oportunidade de pegar Jim em um ato criminoso. Agora a evidência havia
sumido - um caminhão chegou ao depósito seguro e o outro havia
desaparecido - e não tínhamos como ligá-lo a isso em primeiro lugar. Além
disso, tínhamos que cuidar de um Harris traidor.
Como eu disse, tudo deu errado.
Mas eu ainda tinha Devon. Passei meu braço em torno dele e o segurei
firme. Prioridades, certo?
O silêncio se estendeu como um mau presságio, mas ainda assim, todos
nós ficamos acordados e juntos. Algum tempo depois, uma batida rápida
soou na porta e meu pai entrou.
— Ainda não acabou, rapazes — disse ele, quase parecendo esperançoso.
O que isso significava? Todos nós nos sentamos, imaginando o que diabos
estava acontecendo. Devon ficou tenso e se levantou quando Patrick Harris
entrou atrás do meu pai.
— Cavalheiros — disse Harris.
Toda aquela raiva que Devon abrigava finalmente saiu de sua boca. —
Você nos ferrou! — Três palavras que saíram como uma sentença de morte.
Maldito.
— Eu ferrei mesmo — Harris concordou, com as mãos para cima. — Mas
eu não tive tempo para discutir isso com você primeiro.
— Discutir o quê? Você roubou aquele caminhão? — Xavi se levantou.
Harris assentiu e meu pai me deu uma olhada, me dizendo para ouvir. —
Contratei dois caipiras — disse Harris. — São os dois que foram presos pelo
primeiro caminhão. O segundo caminhão? Bem, nunca será encontrado e
nunca será ligado a mim, mesmo que você decida me delatar. — Ele olhou
para nós, esperando para ver se íamos denunciá-lo. Quando não fizemos
nada, ele seguiu em frente. — Eu consegui o que estava procurando, e nosso
acordo ainda está de pé. Agora eu tenho algo para vocês, mas apenas se
pudermos concordar em nos separar e nunca mais falar sobre isso depois
que tudo estiver dito e feito. — Ele esperou.
— O que é? O que você poderia ter para nós? — Perguntei.
— Eu dei a Seth de boa-fé, mas acredite em mim quando digo que
rescindirei minha oferta se vocês decidirem me trair. — Harris acenou com
a cabeça para o meu pai. — Prossiga.
Papai puxou um novo telefone do bolso, exibindo um vídeo. A esperança
reacendeu e o choque se instalou enquanto assistíamos ao vídeo.
— Peguei isso por ter uma equipe de segurança em Jim. Eu ia contar para
vocês, mas aí tudo com os caminhões em movimento me manteve ocupado
e tive que agir rápido. Eu não tive a chance de mostrar a vocês primeiro. —
Ele olhou para todos nós. — Espero que isso seja o suficiente para encerrar a
negociação?
Devon assentiu. — É o suficiente. Nós possuímos esta cópia?
Harris assentiu. — E é feito backup se algo acontecer com isso. Prazer em
fazer negócios com vocês, rapazes. Entre em contato se precisar de ajuda
com... ele. Se não, espero que nunca mais nos encontremos. — Com isso,
Harris saiu pela porta da frente e, com sorte, saiu de nossas vidas.
Papai limpou a garganta, sorrindo. — Nós o temos. Isso vai prendê-lo por
mais tempo do que aquele contrabando teria, de qualquer maneira. Nós o
pegamos, rapazes.
Os instintos de sobrevivência eram uma coisa difícil de abandonar, mas
quando esse fato se estabeleceu entre nós cinco, todos nós relaxamos um
pouco.
Harris tinha um vídeo de Jim Sawyer, claramente como a porra do dia,
atirando em Davis à queima-roupa entre os olhos. Até tinha filmagem de
onde ele largou a arma.
Jim iria embora por assassinato em primeiro grau. Para toda a vida.
Homicídio em primeiro grau foi o melhor resultado possível que
poderíamos esperar, e não atrapalhou o fato de ter resolvido nosso problema
de Davis também.
— Aquele filho da puta — Nate zombou. — Ele está acabado. Acabado.
Devon engoliu em seco, segurando minha mão. — Sim, agora só
precisamos pegá-lo.
47

-Devon-
Normalmente, minha mente ficava nervosa por causa do meu pai, mas
esta noite estava por causa do casamento. Eu me revirei na pequena cama,
tentando não empurrar Maddox, mas também não me importando se isso
acontecesse. Era culpa dele eu não conseguir dormir.
Suspirei, tentando forçar o sono a vir. Nunca funcionou.
Maddox gemeu, sentando-se. — Venha aqui. — Ele se encostou na parede.
— Estou muito cansado para sexo — eu bati nele por nenhuma outra
razão do que ele estar lá.
— Você parece um avô — ele zombou. — Venha aqui.
Revirei os olhos, mas me sentei entre suas pernas, de costas para seu peito.
Ele esfregou meus ombros, e eu decidi que não estava tão bravo com ele,
afinal. Suas mãos eram ásperas e calejadas, e ele pressionava com muita
força, mas cavalo dado não se olha o focinho. Boca. O que quer que fosse
esse ditado.
— Se você vai começar a reter o sexo, diga-me agora para que eu não me
amarre ao seu traseiro celibatário por toda a vida — disse Maddox, e eu tinha
certeza de que ele não estava nem brincando.
— Estou estressado, chateado e enlouquecido. Processe-me.
— Sobre o quê?
— Meu maldito pai arruinando nosso casamento. Você se casando com
um Sawyer. Eu não sendo bom o suficiente para você. — Suspirei,
afundando contra ele. — Tem certeza de que não quer adiar o casamento?
Vamos nos casar em duas semanas, e Jim ainda está por aí como um
fantasma sombrio. Eu quase posso garantir que ele vai estragar tudo para
nós. — Seria o estilo dele. Quero dizer, os policiais estavam atentos agora
que tinham evidências concretas de que ele assassinou Davis, mas ainda
assim. Ele os evitou por tanto tempo, e eu odiei que ele pudesse arruinar
nosso dia. — Então? Quer adiar?
— Você quer? — ele perguntou.
— Não — eu respondi honestamente. — Eu só quero me casar com você,
Madd, mas estou preocupado.
Preocupado com todo tipo de merda. A maior parte tinha a ver com o
foragido do meu pai, mas também, uma enorme pilha de dúvidas pesava em
mim e eu não gostava disso.
— Tem certeza de que quer se casar comigo? — Eu me virei para encará-
lo.
— Apreensivo? — ele perguntou, sem expressão em seu rosto.
— Eu não quero que você se arrependa, Madd. Eu sou um ninguém. Eu
cometo mais erros do que qualquer um, e faço coisas estúpidas que quase
matam você. Eu sou uma merda em tudo, e eu tenho medo de que você fique
cansado de me aturar eventualmente.
— Se você duvidar de mim mais uma vez, estarei levando você para
aquela merda de carvalho no dia do nosso casamento. Pare de pensar que
sabe o que o futuro reserva.
— Eu não trago nada para esse relacionamento!
— Nem eu! — ele gritou de volta. — E você quer que eu faça um melhor
para você? — ele perguntou, transformando isso em uma competição sobre
quem era o maior pedaço de merda. — Você quer filhos algum dia, Dev?
Ok, não era onde eu pensei que ele estava indo com isso. — Eu seria um
pai de merda.
— Não, você não seria — disse ele. — Mas eu tenho ficha criminal, então
se você quiser filhos algum dia, vamos ter que roubar um, porque nenhuma
agência de adoção vai me deixar adotar uma criança. Então, talvez você deva
pensar muito se quiser se casar comigo.
Suas acusações foram retiradas, mas ele tinha ficha porque seu caso foi a
julgamento, então entendia o que ele quis dizer. — Apreensivo?
— Estou falando sério, Devon. Por causa daquele tempo de prisão, eu vou
ser fodido por merdas como essa, e eu não quero te impedir de fazer as coisas
que você quer. Não quero que daqui a cinco anos você se ressinta de mim
por isso.
— Estamos tão atrasados — eu ri, inclinando-me contra ele novamente.
— Provavelmente deveríamos ter conversado sobre isso antes das duas
semanas antes do casamento. — Inclinei minha cabeça para trás para olhar
para ele, e a vulnerabilidade honesta em seus olhos quebrou algo dentro de
mim. — Você não é o único com uma ficha. Você pode ter cumprido quatro
meses de prisão, mas também tenho uma longa lista de pequenos crimes em
meu nome. Estamos quites nisso, bebê.
Ele zombou. — Pare de tentar ser como eu.
— Madd, eu só quero você. Mal conseguimos cuidar de nós mesmos na
metade do tempo, então nem estou pensando em filhos. Eu pegaria um
esquilo ou algo assim. Uma porra de iguana ou alguma merda antes de
tentar ter um filho. Como um teste, sabe? — Ele não respondeu, então segui
em frente. — Sabe quantas pessoas procuram o que temos? — Eu perguntei
a ele.
— Um relacionamento despreparado impulsionado por agressão e
besteira? — ele perguntou.
— Amor. Amor verdadeiro. E não estamos despreparados. Estamos
completamente prontos, mesmo que às vezes sejamos precipitados para o
nosso próprio bem. Podemos ser uma merda na maioria das coisas, mas
honestamente acho que somos... — Eu hesitei.
— Oh Deus. Por favor, não diga o que eu acho que você está prestes a
dizer — ele gemeu.
— Foda-se você. Eu estou dizendo isso de qualquer maneira. Somos
almas gêmeas, Madd.
— Patético — ele gemeu, rindo.
— Sim, estou pateticamente apaixonado por você, e posso te odiar muito.
Então, ricos ou pobres, com filhos ou sem filhos, com um lar ou sem-teto,
estamos destinados ao mesmo futuro sombrio. Viva com isso.
— Eu não deveria ser o único te acalmando e aliviando sua dúvida? — ele
perguntou sarcasticamente.
— Sim, mas agora estou te deixando mais confortável, então lide com isso.
Nós somos destinados.
— Mm — ele meditou. — É por isso que não morri quando levei um tiro,
hein? Eu estava lutando para voltar para minha alma gêmea predestinada.
Você manteve minha alma como refém e não me deixou ir para a luz.
Eu sabia que ele estava sendo um idiota e tirando sarro de mim, mas eu ri
de qualquer maneira. — Certo. Nem mesmo a morte pode nos separar, alma
gêmea.
— Não me chame assim.
— Sim, idiota ainda se encaixa melhor — eu concordei.
— Obrigado por me salvar, Devon. Naquela vez, todas as vezes, quando
nos encontramos, em geral. Eu te amo, e não importa quais dúvidas você
tenha sobre nosso casamento, vamos provar que todas estão erradas. De
alguma forma.
— Quem é cafona agora? — Eu me virei, envolvendo meus braços ao
redor de seu pescoço e montando em seu colo. — Eu te amo.
— Você me transformou nessa versão patética de mim mesmo — ele me
culpou. — Mas eu te amo e quero me casar com você, então vamos ser felizes
com isso, ok?
— Ok — eu concordei.
Esperançosamente, nosso casamento não se transformaria em uma cena
de crime se meu pai decidisse aparecer.

— Que diabos, Nate? Não. Eu não estou usando isso — eu disse ao meu
irmão e ao terno que ele ergueu. — Os ternos são para tribunal e funerais.
Isto é um casamento.
Ele o pendurou de volta na prateleira. — O que alguém veste para se casar
com o idiota do Kane debaixo de uma árvore morta?
Eu não fazia ideia. Decidimos apenas nos vestir limpos - literalmente
limpos, como lavado e merda - mas, caso contrário, não tínhamos combinado
nada mais do que isso. Eu só sabia que não era um cara de terno. A única
vez que usei um foi no julgamento de Maddox, e não queria reviver isso de
novo. Caminhei pelo corredor do brechó, procurando por algo que se
destacasse. Algo que parecia certo.
— Xavi disse que Madd convenceu você a continuar com isso, mesmo que
papai ainda estivesse livre? — Nate perguntou.
— Sim, ele disse que não devíamos esperar porque a vida é curta. Ele está
começando a soar como um filósofo, e eu não gosto disso, mas ele tem razão.
Eu quero me casar com ele, então não adianta adiar. Vou me casar com
aquele idiota em nove dias.
— Ótimo — Nate disse. — O que você quer de presente de casamento?
— Privacidade.
Nate sorriu, mas não forçou o assunto. — E quanto a isso? — Nate ergueu
uma daquelas camisetas que pareciam um smoking.
— Não.
— O que Madd está vestindo?
— Nenhuma ideia. Ele não vai me dizer nada. Não me deixa ver seus
votos. — O que me irritou porque eu ainda estava lutando com o meu.
— Eles deveriam ser uma surpresa — Nate disse. — Ah, porra! Esta. —
Ele ergueu uma camiseta.
— Isso mesmo. — Eu balancei a cabeça para ele, sabendo que parecia
certo. — É perfeito. — Eu teria que esconder isso de Maddox. Conhecendo-
o, ele a encontraria, esperaria até que eu a lavasse e então a roubaria para si
mesmo, como fez com todas as minhas outras roupas limpas.
Paguei pela camisa, comprei um par de jeans de propriedade anterior e
encerrei o dia de compras de roupas para o casamento. Feito. Ordenado.
Acabado. Descemos para as docas para pegar um almoço barato.
— Você acha que mamãe poderá ir ao casamento? — Perguntei. — Na
metade do tempo, acho que ela não sabe quem eu sou.
— Ela sabe. Ela simplesmente não sabe o que fazer sobre isso. — Ele
encolheu os ombros. — Acho que teremos que ver como ela estará no dia.
— Faz muito tempo desde que ela teve um dia lúcido, hein? Ela
costumava tê-los de vez em quando, mas já faz, o quê, meses?
Drogas e abuso mental a colocaram onde ela está, e a demência precoce
não ajudou. Ela estava assim há alguns anos, mas continuava piorando. Eu
sempre serei grato a minha mãe porque ela sacrificou sua própria saúde para
suportar o peso da ira de papai, protegendo-nos de ter que lidar com isso.
Ela fez o que pôde para nos ajudar, e agora era a nossa vez de fazer o que
podíamos para ajudá-la. Estávamos tentando.
— Pelo que vale, estou orgulhoso de você, Dev. — Ele sorriu para mim,
ficando todo sentimental. — Você é um bastardo sortudo por ter o que vocês
têm.
Eu debati em mencionar a coisa da alma gêmea, mas guardei para mim,
não querendo ser ridicularizado novamente. Coloquei meus braços em cima
da frágil mesa de piquenique e sorri. — Eu sei. Maddox é um idiota com
complexo de Deus e muita atitude, mas ele é meu. — Peguei minhas batatas
fritas. — E essa garota com quem você e Xavi estão?
Nate deu de ombros. — Eu não sei. Essa merda ainda está indefinida, e
não acho que nenhum de nós seja do tipo sério para realmente pensar sobre
isso.
— A merda ainda está bem entre você e Xav?
— Oh, foda-se sim. Não cruzamos nenhum limite. — Ele deixou de fora
o ainda. — Mas eu vou te dizer se cruzarmos. — Ele sorriu.
— Se? Você está realmente pensando nisso?
— Eu realmente não sou do tipo que pensa nas coisas, cara. A merda só
acontece quando acontece, e estou lhe dizendo que não aconteceu. Isso é
tudo.
Eu balancei minha cabeça para ele. — Tome cuidado. É tudo o que estou
dizendo.
— Dê algum crédito à nossa amizade. Passamos pelo pior de você e
Madd, e estamos mais fortes do que nunca. Pare de se preocupar com o meu
Kane e se preocupe com o seu. Madd vai chutar o seu traseiro quando vir o
que você está vestindo para o seu casamento.
Provavelmente, mas a emoção disso me excitou. Uma briga no dia do
nosso casamento? Não parecia improvável.
— Ah, também — Nate disse, enfiando a mão no bolso. — Eu tenho as
chaves para você.
Eu sorri, pegando o chaveiro dele. — Obrigado.
Eu tinha planos. Planos para manter Maddox em sua promessa. Uma noite
de submissão na pedreira. A maioria das pessoas tirava fotos de noivado e
tinha festas de noivado. Maddox e eu teríamos torções de noivado.
48

-Maddox-
Quando éramos crianças, Devon costumava agarrar minha garganta para
me ameaçar em uma briga. Quando éramos adolescentes, suas garras na
minha garganta eram tão fortes que pensei que ele poderia me sufocar até a
morte. Naquela primeira noite em que nos beijamos na pista, ele envolveu
seus dedos em volta da minha garganta para me colocar no lugar e assumir
o controle.
Agora?
Agora eu ansiava por seus apertos de mão. Maldito. Todo o meu corpo
ganhou vida quando ele colocou a mão em volta da minha garganta. Devon
sabia como confundir minhas emoções o suficiente para excitá-las. Sua
palma pressionada contra minha traqueia, seus dedos enrolados ao redor do
meu pescoço, tamborilando uma vez antes de apertar, e seu polegar
empurrando meu queixo, forçando meu olhar. Seus olhos azuis viam através
de mim, lendo meus pensamentos como se tivesse todo o direito sobre eles.
— Você gosta disso — declarou, sem margem para negociação.
Sim, eu gostava pra caralho. Gostava porque toda a sua atenção estava em
mim. Ele não estava sendo autoconsciente ou preocupado com seu pai, sem-
teto, nossas vidas patéticas, o casamento, ou como nosso plano deu errado e
seu pai estava à solta novamente. Devon era descaradamente meu agora, e
eu não me importava que ele precisasse me amarrar para chamar toda a sua
atenção. Ele era meu e eu era dele, e este momento provou isso.
— Você gosta de me dar o controle — ele continuou.
— Gosto da sua atenção — respondi, minha garganta balançando contra
a palma da sua mão.
— Você gosta quando estou no comando.
— Eu gosto quando você assume o comando. — Eu sorri para ele, amando
isso.
Depois de uma luta pelo controle durante a qual não lutei muito, Devon
quase pareceu desapontado ao vencer. A cabana ficou borrada do lado de
fora da minha visão, manchas pretas e brancas dançando onde costumava
estar, mas Devon soltou seu aperto antes que eu desmaiasse. Minhas mãos
estavam reféns, amarradas à cadeira da mesma forma que meus tornozelos.
Eu nunca tinha sido contido antes, além de ser algemado, e ainda não sabia
o que pensava sobre isso.
— Isso não é o que eu pensei que você faria quando ganhasse o poder —
eu admiti para ele. — Mas estou feliz que acabou assim.
Sim, pensei que ele tentaria me dominar sendo o melhor, mas em vez
disso, ele montou meu pau e usou meu pescoço como rédeas. Ele ainda
estava no comando aqui, não importa o papel que assumisse, e ele sabia
muito bem disso.
— Só gosto que você não pode assumir o controle. Eu ganhei essa merda
— ele disse, afundando no meu pau e ficando parado. Seus quadris
balançaram e eu gemi, mas aquele gemido se transformou em um gemido
de reclamação quando ele quebrou minha única regra.
— Devon! Eu disse não a isso.
— Sim, bem, foda-se.
— O consentimento não significa nada para você? — Eu zombei, minha
visão sendo tirada de mim.
Ele colocou à venda sobre meus olhos e amarrou o elástico na parte de trás
da minha cabeça. — Não agora. Eu preciso dizer alguma merda, e eu não
quero que você me veja enquanto eu digo isso.
— Seriamente? — Eu reclamei, olhando para o nada, mas olhando para
ele através do material. — Você usa sua única chance de domínio para
confessar segredos enquanto eu não posso te ver?
— Sim — ele gemeu, ainda balançando no meu pau. — Então cale a boca
e deixe-me dizer essa merda.
Puxei as amarras em volta dos meus pulsos, desejando poder arrancar a
venda do meu rosto. — Apresse-se e diga isso então. Odeio não ver você. —
Apesar de minha raiva por ele ter desrespeitado minha regra, fiquei um
pouco nervoso com o que ele precisava dizer. Era sobre o casamento? Ele
mudou de ideia? Iríamos nos casar em uma semana. Eu esperei.
— Pare de surtar. Não é nada ruim, mas eu sei que você vai zombar de
mim por isso, então prefiro que você não me veja corar.
Eu fiz beicinho. — Adoro quando você cora. — Como ele ousa me roubar
a chance de vê-lo.
— Adoro lutar com você, Madd. — Ok, não era a direção que eu pensei
que isso iria. — Adoro quando você me desafia e gosto quando lutamos pelo
controle.
Eu apertei minha mandíbula fechada e tentei me concentrar em seu corpo
tanto quanto em suas palavras. Ele não estava mais se movendo. Ele apenas
se sentou no meu pau e brincou com meu cabelo, sua voz quase nervosa.
— Uma das minhas coisas favoritas sobre você é que você nunca me deixa
vencer. Você não faz metade do seu esforço, sabe? Ou você é um idiota
egoísta ou me vê como um igual.
Ambos.
Devon se mexeu um pouco, sua bunda apertando meu pau. — Eu quero
lutar com você para sempre. Quero dias em que eu vença, dias em que você
vença e dias em que sejamos teimosos demais para declarar um vencedor.
Quero que nossa competitividade nos alimente para sempre e não quero que
você olhe para mim como se eu fosse menos do que você.
— Por que não consigo olhar para você quando diz isso? — Eu perguntei,
desesperado para ver o olhar em seus olhos e descobrir o que ele estava
tentando dizer.
— Jesus, Madd. Você nunca diz merda quando eu quero, mas você não se
cala quando eu peço. Apenas deixe-me confessar!
Eu suspirei, balançando a cabeça.
— A questão é que adoro nossos desafios e, se você parar de competir
comigo, me divorciarei de você. — Seus dedos brincaram com meu cabelo, e
então eles ficaram parados. — Eu gosto quando você... ganha.
— OK? O que isso significa?
Ele xingou a si mesmo baixinho, ficando tímido. — Gosto da luta,
Maddox! Mas eu gosto quando você ganha! Eu gosto quando você está no
controle, ok? Eu sabia que você zombaria de mim por admitir que gosto de
ser submisso, então cobri seus olhos julgadores! Eu deveria ter amordaçado
você também. — Ele zombou. — Eu gosto quando você me domina. Pronto.
É isso? Eu já sabia disso. Qual era o grande problema naquela confissão?
— Eu sei. Por que você está dizendo isso agora? O que você está tentando...
— Estou tentando dizer que você é estúpido! — ele esbravejou para mim.
Claramente, eu não tinha entendido aquela mensagem. — Estou dizendo
que dei todas essas insinuações sobre amarrar você porque queria que você
lutasse comigo... e ganhasse! Eu queria estar onde você está! Deus. Eu te
odeio por me fazer admitir isso.
Meus tornozelos chutaram, meus pulsos torceram e meus quadris
contraíram. Uma onda de poder me invadiu, e eu precisava dar o fora dessa
cadeira e colocá-lo nela. Como eu não tinha percebido aquela mensagem?
Jesus, eu me odiei por não ter acertado. — Desamarre-me. — Meu pau ficou
mais duro, o domínio inundou minha energia, meus músculos todos se
contraíram, e aquele limite tênue entre amor e ódio me provocava. —
Desamarre-me, porra. Agora, Devon.
Devon suspirou, e honestamente parecia cansado. Ele beijou minha
mandíbula, então meus lábios, e sussurrou: — Desamarre-se, idiota. Então
venha me encontrar.
Ele saiu.
Ele me deixou preso, amarrado e malditamente vendado. Por vingança!

Eu não tinha ideia de quanto tempo levei para me livrar das cordas, mas
quando consegui, meus pulsos estavam esfolados, meu corpo brilhava de
suor e um demônio assassino saiu direto da minha alma. Achei que poderia
ler Devon como um livro, mas desta vez o interpretei mal e ansiava pela
capacidade de corrigi-lo.
Com o comprimento da corda em minha mão, meu pau ainda brilhante
com lubrificante, e uma determinação para lutar contra Devon pelo controle
que ele queria perder, eu invadi a porta da cabana. O sol estava quase se
pondo, mas vi Devon em uma boxer, sentado naquela parede de pedra em
que nos sentamos da última vez que estivemos aqui. Ele fumava um cigarro
e nem olhou para mim quando saí.
— Você demorou o suficiente — ele zombou. Sempre um idiota. Amei.
Eu não disse nada, mas agarrei um punhado de seu cabelo, dei uma
joelhada na parte de trás do joelho dele e o girei. O cigarro voou e suas mãos
pousaram na parede de pedra para se apoiar.
— Maddox — ele gemeu.
Segurando-o no lugar com meu corpo, soltei seu cabelo e puxei seus
braços para trás. Uma das vantagens de trabalhar nas docas por anos era
saber amarrar nós, então fiz um nó duplo naquela merda e apertei bem. Com
seus pulsos amarrados atrás das costas, puxei sua boxer para baixo, inclinei-
o e bati em sua bunda perfeita. Forte.
— Foda-se — ele gemeu.
Afastei suas pernas, bati em sua bunda novamente e depois me alinhei
com seu buraco. Com mais um tapa forte, Devon curvou-se para frente, e eu
usei o impulso para agarrar seus quadris e puxá-lo para trás. Bem no meu
pau. Eu empurrei dentro dele em um impulso, e então seus joelhos dobraram
também. Uma série de palavrões saiu de seus lábios, mas seus gemidos os
dominaram.
— Levante-se, Devon — eu rosnei para ele, fodendo-o mais forte.
Ele tentou. Merda, ele tentou. Forçou seus joelhos a se endireitarem, e
então apenas aceitou. Ele aceitou minha foda brutal e se divertiu com a
emoção disso. Descontei meu fracasso nele, dizendo-o o quanto eu sentia por
ter entendido tudo errado fodendo com ele do jeito que ele queria ser fodido.
Posso não ser pervertido o suficiente para saber como amarrá-lo igual
naqueles pornôs, mas aprenderia. Por enquanto, meu cara queria ser
amarrado e dominado, e eu faria isso com prazer.
— Você me vendou quando eu disse para não fazer isso. — Tapa.
Choramingo. — Você me contou um segredo enquanto eu não podia vê-lo.
— Tapa. Lamento. — Você escondeu seu rubor de mim! — Tapa. Choro.
— Foda-se, Maddox — ele ofegou, mal se levantando. As únicas coisas
que o mantinham em pé eram meu pau em sua bunda e minhas mãos em
seus quadris.
Foi uma foda sem piedade porque ele me irritou ao se esconder de mim.
Foi uma versão sem limites de uma luta porque ele me enganou e eu entendi
errado. Bati na bunda dele até ficar vermelha, e então bati nele de novo. Eu
nunca tinha espancado ninguém na minha vida, mas a dor na palma da
minha mão tornava isso viciante, e eu não me importaria de adicionar isso à
rotina regular. Tipo, de jeito nenhum.
— Madd — ele ofegou. — Oh Deus. — Ele estava perto, disso eu sabia.
Nunca mais eu não perceberia seus sinais.
Me enterrei dentro dele, empurrei sua parte inferior das costas e bati nele
mais uma vez.
Devon gritou, gozando por toda a parede de pedra sem se masturbar. Ele
me amaldiçoou, me elogiou, me repreendeu e disse que me amava tanto
quanto me odiava. Sua bunda apertou em torno do meu pau e ele estremeceu
de felicidade. Quando começou a se acalmar, bati nele mais uma vez para
estender tudo - a dor, o prazer, a conexão e o novo sentimento - e então me
acalmei, gozando dentro do meu futuro marido.
— O próximo esperma — eu ofegava — você engolirá. — Puxei para fora
e o virei.
Ele estremeceu com o movimento e tinha lágrimas escorrendo pelo rosto,
mas seus olhos azuis estavam brilhantes e cheios de adrenalina. Ele cuspiu,
engoliu, lambeu os lábios e depois assentiu, ainda ofegante.
— Nunca mais se esconda de mim, entendeu?
— Então não me julgue.
— Parece que estou te julgando, seu idiota? — Agarrei seus pulsos e os
desamarrei. — Sem mais segredos.
— Tudo bem. — Ele esfregou os pulsos, mas eu bati em suas mãos para
poder fazer isso. — Estou alimentando você com comida, alimentando você
com sêmen, e então fazendo de você minha vadia pelo resto da noite. Lute
comigo o quanto quiser, bebê. Você não vai ganhar.
Ele sorriu, corou e então olhou para o chão. — Amo você.
Eu o empurrei de volta para a cabana, feliz que tudo estava bem
novamente. Eu estraguei tudo um pouco, mas passaria o resto da noite me
certificando de que ele fosse submisso como queria ser. Amanhã, ele poderia
voltar a ser o alfa. — Amo você. Acho que sempre amei.
O peso do nosso amor se instalou em meu peito como um cobertor. Devon
realmente me amava. Eu. Maddox Kane. Canalha de Garron Park que
trabalhava em uma fazenda por um salário-mínimo. Eu era o suficiente para
ele, e isso me fez sentir que poderia ser o suficiente para qualquer coisa que
surgisse em nosso caminho.
— Acho que não sabíamos a diferença entre amor e ódio naquela época
— disse ele.
— Nós sabemos agora? — Perguntei.
— Provavelmente não — ele riu, abrindo a porta da cabana, nu como no
dia em que nasceu. — Mas vai ser divertido tentar descobrir isso juntos pelo
resto de nossas vidas.
49

-Devon-
Todas as estrelas estavam alinhadas ou algo assim. Ela estava seis dias
adiantada, porque só íamos nos casar no sábado, mas quem se importava?
Minha mãe estava aqui e ela estava lúcida pela primeira vez em mais de
meio ano.
— Devon, tire as mãos. Pare de tocar em tudo. — Maddox bateu no meu
pulso para evitar que eu estragasse a comida na bandeja. — Apenas deixe aí
e vá ficar com ela. — Ele nem tentou esconder aquele ultraje. Apontou com
o queixo para a porta e essa foi minha dica para sair e passar um tempo com
minha mãe.
Joguei minhas mãos para cima e saí para o quintal do novo trailer de Seth
e Naomi. Tinha deque e tudo. Minha mãe riu de alguma coisa, conversando
animadamente com Nate, e os nervos cresceram em meu estômago. Fazia
muito tempo desde que tive uma conversa com minha mãe, e não saber
quando eu faria isso de novo me deixou todo estranho em falar com ela. Seus
olhos estavam claros e focados, e sua atenção estava em Nate. Suas pernas
estavam fracas e ela não conseguia andar muito bem, mas fora isso, ela era a
mesma velha mãe que eu conhecia. Assim que me sentei, ela pegou minha
mão e apenas... segurou.
Eu precisava que Maddox me insultasse novamente, então eu tinha uma
emoção diferente para focar.
— Fique no momento, querido — Naomi sussurrou para mim com um
sorriso, e então ela se levantou para ajudar Maddox e Xavi a cozinhar. Por
que ela foi permitida na cozinha? Ela era péssima em cozinhar tanto quanto
eu.
Ok, fique no momento. Nate falou sobre a loja, o apartamento nos fundos e
os detalhes ridículos de sua amizade com Xavi.
— Vocês dois sempre foram como irmãos — mamãe disse, e eu vi Nate se
encolher com isso. Ok, sim, algo havia mudado entre eles. — E você! —
Mamãe se virou para mim. — Casando-se com seu inimigo jurado? — Seu
sorriso iluminou meu maldito mundo e ela brincou com a bolsa no colo.
— Sim, estranho pra caralho, hein? — Deus, quando eu me tornei tão
estranho? Eu sempre fui tão estranho? Maddox e eu não tínhamos nenhum
motivo real para sermos inimigos quando éramos mais jovens. Nossos pais
simplesmente se odiavam, nos diziam para nos odiarmos, e era isso. O resto
nós fizemos por conta própria, transformando a briga em um estilo de vida
que de alguma forma acabou em casamento. — Você aprova?
Mamãe passou os nós dos dedos pela minha bochecha, deixando uma mão
na bolsa. E se ela dissesse não? Ah, ela provavelmente esqueceria na próxima
vez que acordasse. — Eu aprovo você ser feliz, e se ele te faz feliz, então sim.
Espero poder estar lá.
— Eu também — eu disse, engolindo o fato de que ela provavelmente não
estaria. Seis dias de lucidez? Isso aconteceria? Eu não queria ter muitas
esperanças, mas não havia problema em sonhar por um segundo. — Você
sabia sobre nossas vidas? Você... você foi capaz de nos ouvir falar todas
aquelas vezes que você não era realmente você mesma?
Mamãe assentiu, enxugando os olhos depois de enxugar os meus. — Ouvi.
Eu simplesmente não sabia como processar ou responder a isso, mas acho
que absorvi. Vocês, meninos, xingam demais — ela riu.
Nate olhou para mim por fazer essa pergunta. Ele estava certo.
Precisávamos aproveitar o momento.
Então, dissemos a ela tudo o que podíamos dizer. Nate deixou escapar
todo tipo de merda estranha, e eu fiz o mesmo. Acho que nós dois estávamos
um pouco preocupados que nosso tempo com ela fosse limitado, então
conversamos tão rápido que esquecemos de respirar entre as palavras.
Parecia um confessionário. Dissemos a ela coisas que nunca contaríamos a
mais ninguém, sabendo que ela os guardaria e nunca trairia nossos segredos
porque ela não podia. Talvez ela simplesmente não quisesse. Eu disse a ela
que estava com medo de ser um péssimo marido, e Nate disse que estava
com medo de seguir em frente porque gostava de como era. Menos a merda
do pai.
Maddox se sentou ao meu lado depois de um tempo, mantendo a boca
fechada para me deixar falar. Mas ele segurou minha mão o tempo todo,
lembrando-me de desacelerar, focar em outra coisa ou aproveitar, em vez de
deixar tudo se confundir.
— A comida está pronta — Xavi disse, carregando os pratos com Seth
atrás dele.
O estado de lucidez de mamãe surgiu sobre nós, então não tivemos tempo
de fazer uma refeição de verdade. Essa comida era um show de merda de
tudo o que as pessoas tinham em seus freezers. Um monte de gente do
parque colocou o que podia. Frango empanado, palitos de muçarela,
pedaços de pizza, algumas almôndegas que queimaram no freezer, um
molho meio comido com algumas batatas fritas e uma caçarola que parecia
espaguete assado. Gina fez guloseimas e as deixou, e Mary fez uma salada
com marshmallows coloridos. Variedade fodida, mas tanto faz. Esta era a
minha refeição de casamento com a minha mãe.
Todos nós nos sentamos ao redor da mesa torta, encaixados em cadeiras
diferentes para que pudéssemos agir como uma família de verdade. Estava
bem. Muito bem.
Heidi, a cuidadora que cuidava da mamãe, aproximou-se com um pote de
cerâmica nas mãos. — Ei pessoal! Prazer em conhecê-la oficialmente, Deb —
ela disse para minha mãe. — Eu trouxe algo para contribuir. — Ela colocou
o pote na mesa, e cheirava como a melhor coisa aqui.
— Chilli? — Xavi perguntou. — Cheira muito bem.
— Receita de família — disse Heidi.
Levantei-me para agradecê-la, mas acabei puxando-a de lado por um
minuto. — Quais são as chances de isso ser permanente? — Perguntei. Eu
sabia que ela não era médica, mas ela sabia mais sobre essas coisas do que
eu.
Heidi me deu um sorriso gentil. — Não é provável, Devon. Dias lúcidos
são raros, mas acontecem de vez em quando. As chances são de que ela
voltará ao seu estado anterior em breve.
— Podemos prolongar? Tipo... até o meu casamento?
Ela sorriu novamente. — Provavelmente não, mas nunca se sabe. Eventos
estressantes podem ser um gatilho, então fique longe deles, mas pode ser
algo tão simples quanto dormir. Se ela adormecer, sua mente pode reiniciar
e ela estará diferente quando acordar. — Heidi deu de ombros. — Meu
conselho? Apenas aproveite o tempo que você tem.
Suspirei. — Tudo bem. Obrigado por tudo Heidi. Quer ficar para jantar?
— Não posso. Tenho alguns pacientes para ir ver. Mas obrigada. É bom
vê-la sorrir. — Ela apertou meu ombro, acenou para todos e saiu.
Sentei-me com minha família. Puta merda, minha família. Isso foi surreal.
Eu tinha meu noivo, nossos irmãos, os pais que tínhamos deixado e eu. Eu
não queria tomar um único segundo disso como garantido, então sentei-me
como um idiota e admirei tudo ao meu redor enquanto Maddox me
observava.
Feliz. Genuinamente feliz.
— Não me diga que meu convite se perdeu no correio?
Meu sangue ficou mais quente do que nunca, e minha mandíbula apertou
com tanta força que doeu. Meus instintos de sobrevivência entraram em
ação, mas meu lado protetor entrou em ação com mais força. De pé na frente
da minha mãe, eu olhei para o intruso interrompendo nossa noite com ela.
— O que você quer Jim?
Claro que ele apareceria agora. Claro, porra. Maddox ficou comigo, uma
mão em volta do meu pulso para me manter ao alcance do braço e a outra
no ombro da minha mãe, pronta para jogá-la para trás se meu pai tentasse
alguma coisa. Eu nunca tinha ficado tão bravo. Nunca estive tão bravo e com
tanto medo ao mesmo tempo. Assim não.
Ele pisou no deque, uma arma na mão e um olhar enlouquecido em seus
olhos. Havia um cansaço geral nele que eu nunca tinha visto antes, nem
mesmo quando ele estava no fundo do poço. Não confiei naquele olhar
terrível porque significava que ele falhou, e este era seu plano reserva
impensado. Esta foi uma missão de vingança porque ganhamos algo sobre
ele.
— Fique atrás! — Papai gritou quando Nate tentou dar um passo à frente.
— Sente-se! — Sua voz tremia tão forte quanto sua mão. Isso o deixou
nervoso, e eu não confio nele com um gatilho nervoso.
— O que você quer Jim? — Seth perguntou, posicionando Naomi atrás
dele.
Quando papai acenou com a arma de novo, Nate foi para o outro lado de
mamãe e Maddox foi para o meu. Todos nós nos sentamos, esperando para
ver como isso iria acontecer. Como íamos sair dessa? Nós o superávamos em
número, mas ele tinha uma maldita arma e nada a perder.
— Eu quero o que é meu — meu pai fervia. — Eu sei que Harris está com
ele e o quero de volta. Traga-o para mim ou mato seu irmão. — Ele olhou
para mim, apontando a arma para Nate.
Por que nosso pai nos odiava tanto? Nós éramos seus filhos. Nate sempre
assumiu que era algo sobre orgulho, como se ele fosse o pai e devesse ser
mais do que nós. Bem, não éramos nada, mas tínhamos amigos e família, e
talvez isso tenha sido o que mais o atingiu. Seu orgulho não suportava que
fôssemos amados e ele não. Eu não sabia, provavelmente nunca saberia, mas
este dia não terminaria comigo ou meu irmão morrendo. Isso eu sabia com
certeza.
— Não temos nenhuma influência com Harris — Nate disse a ele,
tentando amenizar a situação. — Nós nem sabemos se ele está com isso.
— Ele está com isso — papai disse, tremendo. — E você vai conseguir
para mim.
— Tudo bem — Seth concordou. — Nós vamos conseguir se você sair
agora. — Naomi estava em estado de choque e chorando, mas minha mãe
não disse nada. Ela ainda estava aqui ou tinha saído?
A arma de papai balançou no ar úmido e ele soltou uma risada maníaca.
— Sair? Parece uma festa de família. Eu perguntei onde estava meu convite,
não perguntei?
Oh, ele finalmente perdeu o controle. Tudo isso. Sua mente, sua cabeça,
sua sanidade, sua ligação com a humanidade. Se eu pensei que meu pai tinha
sido um monstro toda a minha vida, este era ele completamente
desequilibrado. Ele tinha uma última chance para conseguir o que queria, e
foi isso. Olhei para Maddox, mas seus olhos estavam em meu pai com um
nível de foco inabalável. Eu sabia que ele pularia na minha frente se meu pai
disparasse aquela arma, então precisava ter certeza de que não dispararia.
Nate tremeu, com o rosto vermelho e com mais raiva do que eu pensei que
ele fosse capaz.
— Não fui convidado para o casamento?
— Nós vamos pegar a merda de Harris — Nate disse. — Apenas vá.
— Não vou a lugar nenhum até conseguir o que é meu! — Papai apontou
a arma para Nate novamente, engatilhando.
Levantei-me ao mesmo tempo que Maddox. Ele tentou me puxar para trás
dele, mas eu me mantive firme, precisando ser o único a salvá-lo desta vez.
Xavi protegeu meu irmão para mim, aproximando-se de Nate para ser outro
Kane a bloquear uma bala para um Sawyer.
— Se eu for, vou levar você comigo como garantia, garoto — papai cuspiu
para Nate.
— Não. Toque. Nele. — O peito de Xavi arfava.
Naomi e mamãe eram as únicas duas sentadas. Eu não sabia como
proteger a todos.
— Tudo bem. — disse Nate, tentando se livrar do aperto que Xavi tinha
sobre ele. — Eu irei com você. Agora. Vamos.
— Nate! — Maddox, Xavi e eu gritamos ao mesmo tempo.
Uma arma disparou.
50

-Devon-
Eu estava surdo de um ouvido. Por que eu estava surdo de um ouvido?
Tudo aconteceu em câmera lenta. A arma disparou, minha audição foi
embora e meu corpo se agachou, tentando cobrir minha mãe e Maddox.
Quando pisquei, Maddox estava com a mão em volta do meu pescoço por
cima do corpo sentado da minha mãe, mas meus olhos examinaram toda a
extensão de Nate. Maddox estava bem, mas Nate estava?
Nate parecia chocado, e as mãos de Xavi estavam em cima dele,
procurando feridas, tentando descobrir o que diabos aconteceu. E então meu
pai caiu de joelhos, a arma ainda na mão e uma mancha vermelha se
espalhando sobre o material de sua camisa cinza.
— Você sempre foi uma vadia — papai tossiu.
O quê?
Olhei para trás. Minha mãe, que estava com a mão naquela maldita bolsa
a noite toda, tinha uma arma na mão, e sua bolsa foi aberta para revelar
embalagens de doces e batons velhos. Meu cérebro tentou entender tudo,
mas o que diabos aconteceu?
— Devon — Maddox gritou, roubando minha atenção atordoada. — Você
está bem? — Ele me girou, apalpando minhas bochechas e me verificando.
— Apenas me diga que você está bem.
— Estou bem — eu sussurrei, meus olhos fazendo a mesma pergunta.
Maddox assentiu, e o alívio trouxe de volta um pouco da minha clareza.
Seth pegou a arma do meu pai quando ele caiu no deque em uma poça de
seu próprio sangue. Olhei entre meu pai moribundo e minha mãe assassina,
mas quando encontrei seus olhos, ela não era uma assassina. Ela estava
inexpressiva. Confusa. Ainda segurando uma arma fumegante.
— Mãe? — Nate perguntou, pegando a arma da mão dela. — Mãe?
Nenhuma luz de reconhecimento ou centelha de compreensão. Nenhum
sorriso em seu rosto ou lágrimas em seus olhos. Ela se foi. Seu estado de
lucidez fugiu por causa de uma situação estressante, como Heidi havia dito.
Um evento traumático interrompeu nosso momento porque, mais uma vez,
meu pai reduziu seu tempo a uma arte.
Eu me levantei, não querendo olhar para ela tão vazia. Contornando a
mesa com Maddox em meus calcanhares, caminhei até meu pai. Então veio
a raiva.
— Como você se atreve! — Eu rosnei para o meu pai. — Você a tirou de
mim. De novo! — Eu agarrei o tecido ensanguentado de sua camisa e sacudi
o bastardo, exigindo que ele me reconhecesse como um adulto, um homem.
Mas assim como o rosto da minha mãe, não havia nada no do meu pai
também.
Olhei para ele longa e duramente, não acreditando no que estava vendo.
Nate se ajoelhou ao meu lado, afastando minhas mãos do caminho para que
pudesse olhar mais de perto.
Morto. Morto. Morto.
— Ele se foi, rapazes — Seth disse. — D... desculpe?
Um bufo aterrorizante de riso enlouquecido veio de algum lugar. Eu. Isso
veio de mim. Outro borbulhou na minha garganta e se juntou ao primeiro,
me surpreendendo e me assustando e me deixando louco. Morto? Depois de
tudo isso? Depois de tudo que ele nos fez passar, bastou um dia lúcido da
nossa mãe, uma bolsa com balas, batons e uma arma, e ela terminou um
trabalho que não poderíamos fazer nós mesmos?
Outra risada enlouquecida encheu o ar, mas veio de Nate. Ele se inclinou
para trás, parecendo tão diabólico quanto eu provavelmente. E então riu
ainda mais. Eu não sabia do que estávamos rindo, mas não tinha controle
sobre meu corpo. Eu ri com ele. Rimos tanto que foi impossível parar - nem
mesmo quando as sirenes soaram ao longe.
— Ela fez isso — disse Nate, enxugando as lágrimas de riso de seus olhos.
— Ela realmente fez isso.
— Ela atirou no desgraçado — eu ri com meu irmão, tentando me acalmar
e sentir algo de verdade. Alívio e histeria eram uma combinação estranha,
mas eram tudo que eu tinha no momento. Talvez tenha sido o choque.
— Ela salvou nossas bundas novamente. Da única maneira que ela sabia
— Nate bufou outra risada. Virando-se para encarar nossa mãe de olhos
vazios, ele disse: — Obrigado.
Ela não reagiu.
Olhando para o meu pai no deque, sabendo que ele estava realmente
morto, parei de rir.
Chega de viver com medo.
Chega de correr.
Sem mais ameaças para as pessoas que eu amava.
Não haveria mais pânico e dor.
A vida poderia finalmente seguir em frente.
Mamãe me deu o melhor presente de casamento que eu poderia ter
pedido. Mesmo que ela tivesse desistido de sua lucidez para fazer aquilo, eu
tinha a sensação de que ela ficaria bem com isso. Deixei aquele bastardo para
ficar no deque e me ajoelhei na frente da minha mãe.
— Obrigado, mãe. Eu te amo. — Eu beijei sua bochecha e alisei seu cabelo.
Todas as pessoas que meu pai subornou, as pessoas como Harris que ele
fodeu, os negócios que ele fez, os crimes que cometeu para realizar este
trabalho... e aqui estava ele, morto em um deque.
O quintal se encheu de moradores do parque e, logo depois, os policiais
apareceram. Fiquei com Maddox e nossos irmãos, observando o corpo do
meu pai ser etiquetado, ensacado e levado embora. Eu não sentia tristeza. Eu
não sentia pesar. Sentia algo, mas não sabia como nomeá-lo.
Todos nós demos nossos depoimentos à polícia, e depois de murmurar
repetidamente sobre isso ser legítima defesa por parte de nossa mãe, Hanes
empurrou a mim e a Nate para o lado com um bufo de raiva.
— Que porra é essa, Hanes? Precisamos estar com ela agora — Nate
estalou para o policial.
Hanes olhou ao redor suspeito. — Olha, vou ser direto aqui, mas tenho
uma ideia. — Ele se inclinou para falar mais suavemente. — Sua mãe tem
um diagnóstico médico para a condição dela?
Nate parecia confuso. Quero dizer, ela tinha, mas nunca soubemos se era
o diagnóstico certo ou não. — Histeria induzida por drogas e demência de
início precoce.
Hanes esfregou a nuca, balançando a cabeça. — Então cale a boca sobre
isso ser legítima defesa. Se ela tiver um médico que possa fornecer seus
registros médicos ao tribunal, ela não irá para uma prisão tradicional. Ela irá
para um centro de saúde mental para criminosos.
— Como isso é melhor? — Eu perguntei, irritado com essa conversa.
— Ela ficará em uma sala privada, trancada sim, mas receberá cuidados,
medicamentos, equipe médica, alimentação e apoio. — Hanes olhou para
cada um de nós. — Ela não... precisa de tudo isso?
Eu recuei, me perguntando se ele estava dizendo o que eu pensei que ele
estava dizendo. — Espere, deixe-me ver se entendi. Você está dizendo que
se ela for acusada de assassinato, ela receberá todos os cuidados que
tentamos conseguir por anos... de graça?
— Sim. Desde que um médico possa fornecer o diagnóstico médico
correto.
Nate riu novamente. Ele colocou a mão sobre a boca para calá-la, mas não
adiantou. — Você está brincando comigo? Ela acabou de resolver o problema
do nosso pai, nosso problema de dinheiro e seu próprio problema de
assistência médica em uma noite lúcida? — Ele soltou outra risada. — Foda-
se, essa mulher sabe como fazer as coisas.
Eu ri também. Maddox olhou para mim, e o que quer que ele tenha visto,
eu tinha certeza de que era algo pior do que choque. Loucura, talvez.
— Podemos visitá-la lá? — Nate perguntou.
— A instalação fica em Arbor, então é um pouco difícil, mas sim. Eles têm
horário de visitas como em uma prisão comum ou em um hospital comum.
— Ele puxou o telefone do bolso. — Deixe-me fazer algumas ligações para
confirmar tudo, mas enquanto isso, mantenha a boca fechada sobre tudo. —
Ele se afastou com o telefone no ouvido.
Fiquei ao lado do meu irmão, observando tudo se desenrolar. Maddox
falou com um policial, mas seus olhos estavam em mim, e eu gostei do jeito
que ele me olhou com amor e preocupação, tudo misturado. Naomi bebeu
vinho direto da garrafa enquanto Seth a consolava, e minha mãe ainda
estava sentada em sua cadeira à mesa com as comidas incompatíveis que
ainda não tínhamos tido a chance de comer.
— Isso é tão foda — Nate finalmente disse. — Mas eu sinto... algo.
— Liberdade.
Pela primeira vez em nossas vidas adultas, não precisávamos nos
preocupar com nossos pais. Papai se foi e nunca mais viria atrás de nós.
Mamãe iria para o tipo de lugar que ela precisava há anos. Um tiro resolveu
todos os nossos problemas, e eu ainda não sabia como avaliar isso.
— Você acha que ela sabia? — Nate perguntou. — Sobre o papai e tudo o
que ele tem feito, e esta foi a maneira dela de cuidar de nós?
Balancei a cabeça porque queria acreditar nisso. Tornou tudo poético.
Quero dizer, ela se voltou para as drogas e fritou o cérebro para aguentar a
ira do papai para que não precisássemos, e foi a única maneira que ela soube
de nos proteger. Ela não podia deixá-lo, ou pelo menos acreditava que não,
mas fez tudo o que pôde para nos manter o mais longe possível de seu
caminho. Nem sempre funcionou, mas ela tentou. Em seu estado lúcido,
atirou em papai, não em nós; aquela arma nunca apontou em nossa direção,
o que significava que ela nos amava. Ela nos protegeu quando precisou e, no
processo, nos livrou de ter que cuidar dela. Ela sabia que era um fardo, mas
eu odiava que ela soubesse. Eu vi isso em seus olhos a noite toda, então esse
foi seu último ato de maternidade. Sinceramente, ela nos deu tudo o que
sempre quisemos.
— Nate e Devon Sawyer? — O legista se aproximou de nós com uma
prancheta. — Algum pedido para o corpo do falecido?
— Queime — disse Nate.
— Despeje em uma vala comum — acrescentei.
Nate olhou para mim. — Tem certeza de que não quer um túmulo para
mijar?
— Nah, eu vou mijar no seu quando você finalmente bater as botas.
Que jantar em família fodido e perfeito. Obrigado pelo presente de
casamento, mãe.

— Você acha que ela deixou algum dinheiro para você? — Maddox
perguntou, entregando-me uma cerveja mais tarde naquela noite.
Olhei, mas não peguei.
— Beba uma cerveja, Devon. Eu confio em você, e se você estragar tudo,
eu vou te colocar algum juízo. Você tem que começar a confiar em si mesmo
com alguma coisa, mesmo que não seja beber.
Peguei a cerveja. Apenas uma. — Talvez eu possa penhorar todos os seus
batons antigos — eu ri. — Talvez Pete me deixe montar em sua barraca no
sábado. Eu sempre quis fazer um mercado de fazendeiros.
Maddox me deu um tapa na bochecha. — Nosso casamento é sábado.
Você está desistindo agora?
— De jeito nenhum. Você está preso comigo para o resto da vida.
— Bom. — Ele olhou para mim e ficou todo estranho e reservado.
— O quê?
— Nada. Eu apenas te amo.
Eu sabia que não era isso que ele queria dizer, mas não tinha espaço
mental para pressioná-lo. Este dia tinha sido bagunçado o suficiente. —
Também te amo.
Bebi a única cerveja e, quando Maddox adormeceu na outra ponta do sofá,
com os pés no meu colo, puxei o nonagésimo oitavo pedaço de papel e tentei
novamente. Eu precisava me concentrar em algo importante, e meus votos
eram a coisa mais importante.
Maddox,
Eu te dou minha alma fodida, meu coração meio batendo e minha falta de
habilidades para a vida como um sinal do meu amor. Pode não ser muito, mas é tudo
que eu tenho, então é melhor você ficar feliz com isso.
Não posso prometer que essa merda vai ser fácil, mas posso prometer que estarei
presente a cada passo do caminho para te irritar e te amar.
Nah, isso soou muito sentimental. Não era meu estilo. Ele era o
sentimental. Inclinei minha cabeça para trás e imaginei todas as melhores
cenas de nosso relacionamento como um rolo de destaque danificado.
Tínhamos competitividade como sempre tivemos e eu sabia que não iria a
lugar nenhum. Pensei em todas as nossas brigas, e como elas se
transformaram ao longo dos anos de realmente querer machucar um ao
outro para serem apenas uma conexão e uma maneira de desabafar juntos.
Tínhamos conforto e honestidade, o que nos permitia sermos nós mesmos
sem vergonha. Tínhamos problemas de raiva, problemas de confiança,
problemas com os pais, falta de dinheiro, falta de um lar e nenhum objetivo
na vida real, mas cobrimos isso tudo com amor e o sufocamos. Acho que
tudo o que realmente queríamos era sobreviver a esta vida juntos.
Com esse pensamento, algo clicou em minha mente. Pensei na árvore sob
a qual iríamos nos casar, no olhar no rosto de Maddox quando ele a visse, e
algum tipo de lema me ocorreu. Eu coloquei a caneta para baixo, sorrindo
para ele dormindo.
Eu tinha meus votos.
51

-Maddox-
Xavi me deu um tapa na cabeça. — Você deveria estar calmo. Por que você
não está calmo?
Eu o ignorei e me virei para encarar o idiota que estaria oficializando nosso
casamento. — Você é legal mesmo? Eu juro que se você for algum vigarista
que Devon foi estúpido demais para perceber que ele contratou, eu vou
queimar sua casa.
Esse idiota, um cara jovem com a barba mais desgrenhada que eu já vi,
enfiou seu fichário debaixo do braço e nem se intimidou com a minha
acusação. — Aqui está minha licença. — Ele me mostrou. — Eu sou legítimo.
E não tenho uma casa para incendiar, então boa sorte com isso.
Peguei o certificado em papel de sua mão e o li. Dizia seu nome e o
reivindicava como legítimo, mas não me deixou menos desconfiado dele. O
que um jovem fanfarrão como ele estava fazendo casando caras gays debaixo
de árvores de merda?
— Madd, relaxe. — Xavi pegou o papel de minhas mãos e o devolveu ao
Desgrenhado. — Você vai se casar com seu inimigo hoje. Você não está feliz?
Exultante. Tão feliz. Apenas chateado com isso porque Devon estava
atrasado. — Se eles aparecerem na hora — eu zombei. — Devon é um idiota.
Nate e Devon estavam visitando sua mãe em sua nova instalação criminal
sofisticada. Eles saíram super cedo, visitaram um pouco e já deveriam estar
de volta. Ele fugiu? Cavalgou até a porra do pôr do sol sem mim para que
ele e Nate pudessem escapar dos Kane agora que não precisavam se
preocupar com o pai? Eu sabia que não trazia muito para esse
relacionamento, mas pensei que tínhamos amor. Certo?
Xavi me bateu de novo. — Pare de questionar tudo. Ele te ama. Você o
ama. Você estará casado às três. Fim da história.
— Não é o fim da história — eu virei para ele. — Início da história.
Xavi sorriu. — Eu gostaria de ter isso em vídeo. Porra, você é fofo, Madd.
Eu o dei o dedo. Ele riu e me entregou a camisa que eu escolhi para vestir.
Desgrenhado estava conversando com meus pais, então tirei minha
camisa suja, passei um pouco de desodorante e coloquei minha camisa de
casamento. Era apenas uma camiseta preta que dizia: 'tomar más decisões é
meu superpoder', mas se encaixava no tema. Eu não sabia por que me
importava, mas até fiz Devon lavar meu melhor jeans. As meias também
estavam limpas e meus sapatos estavam gastos, mas arrumados. Bom o
bastante.
— Maldito. — Xavi agarrou meus ombros. — Você vai se casar hoje.
— Eu sei disso — eu zombei.
— Você, Maddox Kane, idiota de Garron Park, vai se casar hoje. — Ele
agiu como se fosse um feito monumental. Era. Eu nunca vi minha vida indo
nessa direção. Sinceramente, pensei que acidentalmente engravidaria uma
garota e passaria o resto da minha vida pagando pensão alimentícia
enquanto tentava fazer meu filho me amar, apesar de sua mãe sempre falar
merda de mim. Casar com Devon? Sim, nunca esteve no meu radar.
— Fodido, hein? — perguntei a Xavi, sorrindo.
— Tão fodido — ele concordou. — Tão orgulhoso. Você tem seus votos
prontos?
Revirei os olhos. — Eu vou dizer algo que vai fazer Devon desmaiar, ele
vai dizer algo que vai me irritar, então nós vamos nos casar. Tudo certo. —
Eu sorri com esse pensamento. Eu li cada um dos pedaços de papel
amassados que ele tentou esconder na lata de lixo. Devon ia amar minha
camisa.
Devon balançou a cabeça para mim em advertência, dizendo-me para
recuar. — Deixe pra lá, Maddox. — Ele saltou do caminhão com um jeans
que não estava tão limpo quanto o meu e uma camisa que dizia: 'Estou com
o estúpido'. Foda-se ele por me superar na camisa! — O caminhão quebrou.
Tivemos que obter um reforço, e então a merda piorou, mas estou aqui
agora. Você pode não ser um idiota sobre isso? — ele perguntou, mas não
me deixou responder. — Apenas cale a boca e case comigo. — Ele me
empurrou no peito, com o objetivo de passar direto por mim.
Agarrei seu pulso e puxei-o para trás. — Você é um idiota. — Eu balancei
a cabeça para sua camisa.
— Então é você. — Ele acenou com a cabeça para a minha. — Onde você
quer chegar?
A questão era que nossas camisas estavam erradas. Ele deveria estar
usando a minha porque seu superpoder realmente era tomar decisões ruins,
e eu deveria ter usado a dele porque eu realmente estava com um estúpido.
Brigar com ele no dia do nosso casamento parecia certo. — Última chance
de desistir.
Estávamos na fazenda. Nate e Devon estavam atrasados, mas Barba
Desgrenhada não parecia ter nada melhor para fazer, e Pete não tinha saído
de sua varanda, então ele não parecia apressado para nos tirar de sua
propriedade. Tudo ficaria bem. Exceto que eu estava nervoso e odiava estar
nervoso.
Estudei seus olhos azuis, procurando por quaisquer dúvidas, dúvidas de
última hora, reservas e hesitações.
— Olhe o quanto quiser, Madd. Você não encontrará nada. Se me fizer
esperar mais um minuto para me casar com você, vou arrastá-lo até aquela
árvore. — Ele espalmou minhas bochechas com suas mãos sujas, puxando
minha boca para um beijo rápido. Ele tinha gosto de menta, mas cheirava
como um mecânico do caminhão quebrado. — Eu te amo. Vamos nos casar.
— Você poderia ter tomado banho — eu resmunguei.
Devon revirou os olhos. — Você me deixa na merda por estar atrasado,
mas gostaria que eu chegasse mais tarde para poder tomar banho? Pegue-
me ou deixe-me, Madd. O que vai ser?
Pegá-lo. Sempre.
Eu o empurrei para o carvalho de merda que ele escolheu como nosso local
de casamento. Pete ergueu o copo na varanda da frente, que ficava bem
longe, mas eu vi e apreciei. Nossa família nos importunou enquanto
caminhávamos pela grama morta que essa árvore gananciosa havia matado.
Meu coração trovejou no meu peito o tempo todo. Era isso. Depois de tudo
o que passamos, finalmente estávamos nos casando. Devon estava se
comprometendo comigo por toda a vida e eu estava me amarrando a ele por
toda a eternidade. Passei a maior parte da minha vida o odiando, mas foda-
se, talvez isso fosse apenas uma parte do nosso destino falho. Tudo o que eu
sabia era que amava esse idiota e faria tudo ao meu alcance para garantir
que ele sempre soubesse disso.
— Não acredito que você vai se casar com um Sawyer — Xavi zombou,
me abraçando. — Não fica pior do que isso.
— Estou ciente. — Eu sorri.
— Foda-se, Maddox — Devon me disse, mas Nate o puxou para um
abraço.
Minha mãe já estava chorando. Ela tinha um pacote de vinho com um
canudo dentro, mas tanto faz. Era um casamento. Ela poderia beber se
quisesse. — Te amo querido. Eu estou tão feliz por você. — Ela soluçou.
— Obrigado, mãe. — Eu queria abraçá-la ou algo assim, mas nunca
estivemos tão próximos dessa forma, então apertei a mão dela e sorri.
Meu pai não era um homem de muitas palavras, mas disse: — Nunca
pensei que seria convidado para o seu casamento. Honrado por estar aqui,
filho. Você escolheu um bom.
Eu balancei a cabeça, sem muita certeza do que mais dizer, mas isso foi
bom o suficiente para ele. Nate me abraçou e ameaçou minha vida se eu
machucasse seu irmão. Então ele me prometeu recompensas se eu fodesse
com ele para sempre, então fiz aquele acordo sem problemas. Combinado.
— Preparados? — Barba Desgrenhada perguntou.
Li o nome dele no certificado, mas meu cérebro não tinha mais espaço para
lembrar de coisas em um dia como este.
Preparados. Tão preparados pra caralho. A árvore parecia ter vindo direto
do Inferno, as nuvens ameaçavam chover, o grasnido dos corvos superava o
som de nossas vozes e minha mãe já estava bêbada. Nate e Xavi estavam em
ótima forma, fofocando e tirando fotos como dois turistas, mas o que mais
havia de novo?
Nós acenamos para o Desgrenhado.
A respiração de Devon saiu dele em uma exalação trêmula assim que
pegou minhas mãos. Porra, eu sabia que ele ficaria emocionado. Ele precisava
parar com essa merda porque eu não estava com vontade de chorar hoje.
— Pare com isso — eu sussurrei e gritei para Devon quando Desgrenhado
começou a falar monotonamente sobre o que o casamento significava.
Devon olhou para mim, mas pelo menos isso o colocou de volta em forma.
Nós meio que ouvimos enquanto esse idiota falava, mas acho que tivemos
uma conversa totalmente diferente com nossos olhos. Devon me disse que
não importava que fôssemos pobres e sem-teto porque nosso amor era
suficiente. Eu disse a ele que ele era um idiota que precisava definir suas
prioridades, mas que eu o amava mesmo assim.
— Eu disse nada de exibicionismo! — Devon gritou para Desgrenhado.
— Apenas chegue à parte em que dizemos nossas besteiras e nos beijamos.
Mais uma vez, Desgrenhado não se incomodou com nossa franqueza. —
Maddox, fale.
Eu não tinha muita declaração porque Devon já sabia como eu me sentia.
Estive provocando-o com meus votos sendo feitos por semanas, então ele
provavelmente esperava algo grande e besteiras. Não. Não era eu. Eu era
mais o tipo de cara de uma linha. Eu disse a ele que queria odiá-lo, tê-lo,
transar com ele, brigar com ele e me casar com ele. Mas agora eu tinha algo
novo para adicionar a essa lista.
— Devon — eu comecei, sentindo aquelas emoções rastejarem pela minha
garganta – as mesmas pelas quais eu acabei de repreendê-lo. Esfreguei meu
polegar sobre o anel em seu dedo esquerdo, olhando em seus olhos e apenas
em seus olhos. — Eu prometo nunca deixar você se sentar sozinho no escuro.
Devon, aquela cadela fodida, piscou, e uma lágrima escorreu por sua
bochecha.
— Foda-se, Devon. Pare essa merda. — Eu gritei com ele, tentando parar
a queimação em meus próprios olhos.
Ele assentiu, piscando para afastar as lágrimas. A respiração que ele soltou
era vacilante pra caralho.
— Devon? — Desgrenhado pediu.
Devon acenou com a cabeça mais uma centena de vezes, e então ele olhou
para a árvore sob a qual estávamos. O velho, abatido e meio morto carvalho
que ficava na beira da floresta e se recusava a desistir da vida como o farol
de força que era. Resistiu por ter sofrido o impacto de todas as tempestades,
mas foi sábio para sobreviver a elas. Era firme porque se recusava a ser fraco.
Acho que eu era um ambientalista abraçador de árvores agora.
— Maddox — Devon começou, olhando para mim agora. — Estou bem
aqui e não vou a lugar nenhum.
Bem, porra, caramba. Assim como a árvore. Arregalei os olhos, recusando-
me a piscar. Se eu piscasse, isso aconteceria. Olhei para ele com um alto nível
de intensidade inabalável, mas tentando afastar o sentimento avassalador de
amor. Ele estremeceu quando apertei suas mãos com muita força, e então ele
apertou as minhas de volta. Esse sentimento rasgou meu senso de
compostura, assim como todos os votos rasgados que Devon havia feito.
— Você pare com isso — Devon sibilou para mim. Mas ele começou a
chorar, e foda-se por isso!
Uma única lágrima caiu pelo meu rosto, e eu me engasguei com a porra
do amor. — Vamos logo — ordenei ao Desgrenhado.
Ele começou a dizer algo sobre o poder investido nele, mas Devon ficou
impaciente. Com lágrimas ainda em suas bochechas, ele me agarrou pela
maldita garganta como o idiota que ele era e me beijou.
— Eu agora os declaro marido e marido. Você pode... foda-se.
Esse beijo era diferente de todos os outros. Selou o destino e o tornou
eterno. Prometeu coisas que nossas bocas falharam em dizer, nos lembrou
de memórias que nossos corações ainda carregavam e ofereceu esperanças
que hesitamos em desejar. Os dedos de Devon pressionaram meu ponto de
pulsação, sentindo exatamente o quanto ele me dava vida. Quando nossa
família começou a berrar e gritar, Devon não desistiu. Ele manteve a mão na
minha garganta, descansou a testa na minha e cheirou.
— Eu te amo pra caralho, Maddox Kane.
Eu controlei minhas emoções, respirei fundo e engoli meu orgulho. — Eu
não mereço você, mas vou gastar a eternidade para ganhá-lo, Devon. Eu te
amo.
Eu o beijei mais uma vez, e então Devon agarrou minha mão e a ergueu
acima de nossas cabeças quando nos viramos para encarar nossa família.
Todos os corvos grasnaram e o vento aumentou como se nosso casamento
fosse um presságio - bom ou ruim. — Eu peguei um Kane para mim!
Eu ri. E sorri. Um real. Do tipo cheio de alegria e toda aquela bobagem de
gratidão humilde. Pete levantou o copo da varanda novamente, e eu acenei
para ele antes que entrasse. Acho que encontrei minha casa aqui na fazenda
dele.
Fomos parabenizados, ridicularizados, provocados e humilhados por
nossos irmãos, e minha mãe acabou dividindo seu vinho com Desgrenhado.
Nós não trocamos alianças porque já as tínhamos, mas quando meu pai
pegou seu telefone para tirar fotos de nós e de nossos irmãos, Devon se
certificou de que a flecha em sua camisa apontasse para mim. Xavi e Nate
dirigiram as fotos como diretores de passarela, mas foi tudo muito divertido.
Eles eram irritantes, mas não mais do que o normal, então aceitamos. Eles
até conseguiram uma conosco segurando Desgrenhado em uma chave de
braço.
Eu não tinha ideia de como eram os casamentos normais, mas o nosso foi
perfeito pra caralho. Literalmente não poderia estar mais feliz.
— OK! — Nate gritou, chamando a atenção de todos agora que estávamos
de volta aos nossos veículos. Ele apontou para o celeiro e passou o braço em
volta do pescoço de Xavi. — Temos um presente de casamento.
— O quê? Como? — Devon zombou.
— É melhor não ser uma cabra — eu disse, sabendo que novos bebês
haviam nascido naquele celeiro na semana passada.
— Não é uma cabra — Xavi riu.
— Eu meio que quero uma cabra — disse Devon. — Seria mais barata do
que um cortador de grama.
— Não temos gramado.
— Como você comprou um presente? — Devon perguntou,
aparentemente incapaz de deixar a coisa do dinheiro passar.
— Harris — disse Xavi. — Ele sentiu que nos devia uma. — Isso parecia
sombrio, mas deixei passar. — Fique aqui. — Eles fugiram juntos.
Devon passou um braço em volta da minha cintura enquanto
esperávamos. Meu pai se aproximou de nós, segurando um envelope. —
Enquanto eles estão pegando isso, eu queria dar algo a vocês. — Ele me
entregou o envelope. — Não é muito, mas espero que ajude vocês a
começarem juntos.
Abri o envelope e vi um maço de dinheiro. Talvez dois mil. Eu fechei. —
Não. Eu não posso aceitar isso.
Papai sorriu. — Eu te devo muito mais do que isso ao longo dos anos.
Estou bem agora. Mais fácil de economizar quando não estou cheirando,
jogando e bebendo todo o dinheiro. Pegue. Talvez possa ajudar vocês a
conseguir uma nova casa. — O olhar em seus olhos dizia que ele queria fazer
isso por nós.
— Obrigado, Seth — Devon disse. — Obrigado.
Eu balancei a cabeça para o meu pai, grato. Mamãe ainda bebia vinho pelo
canudo, sem saber o que estava acontecendo conosco. Jesus.
Então Devon me deu um tapa no ombro. — Que porra é essa! — ele se
engasgou. — Que porra é essa?!
Eu repeti seus sentimentos em minha cabeça, vendo Nate e Xavi saindo
do celeiro.
— Muito melhor que uma cabra!
— Feliz dia do casamento, filhos da puta!
Eles empurravam motos de motocross. Nossas motos de motocross.
Nossas velhas motos de motocross.
Puta merda. Este foi realmente o melhor dia da minha vida.
— Eu sei que deveria estar todo feliz e merda por sermos casados, Madd,
mas...
— Sim — eu concordei, babando com ele sobre nossas motos. — Montar?
— Duplo sentido? — ele perguntou, sorrindo para mim.
— Foda-se sim.
Corremos em direção às motos que começaram nossa rivalidade.
Adequado para recuperá-las no dia do nosso casamento. Eu não tinha ideia
do que Harris fez para conseguir isso para nós, mas eu sempre serei grato a
Nate e Xavi por nos trazer de volta o único vício saudável que tínhamos.
Montamos em nossas motos, basicamente gozando ao som de seus
motores e saímos de nosso casamento em duas rodas e com muita
adrenalina.
52

Epílogo
-DEVON-

Amaldiçoei baixinho quando Maddox me assustou pra caralho. A parte


de trás da minha cabeça bateu na parte de baixo da pia e joguei minha chave
inglesa em um balde sujo de água.
— O quê? — Eu gritei para ele por me interromper. De novo.
— Você já viu essa merda? — ele perguntou, empurrando um maço de
papéis para mim.
Saí de debaixo da pia quebrada e olhei para os papéis que ele estendia. —
Uh, sim.
— Que diabos é essa cobrança? Quem paga tanto por alguma coisa?
Enxuguei minhas mãos em uma toalha e evitei revirar os olhos. — Chama-
se seguro residencial, Madd. Nós pagamos essa merda agora.
— Não — ele zombou. — De jeito nenhum. Devolva.
Ok, não consegui mais segurar o revirar de olhos. — Foi você quem quis
comprar esta merda de casa. Esse é o preço que temos que pagar.
— Mas tanto assim? — Ele apontou o dedo contra a quantia mensal antes
de levantar a mão para mostrar nosso lugar. — Para este barraco de merda?
Peguei uma lata de limonada na geladeira - pelo menos funcionava -
entreguei a dele e saí. Ele seguiu. Como um cachorrinho.
— Você sabe que pagamos seguro de caminhão também, certo?
— O quê? Desde quando? — Ele agarrou meu ombro. — De onde você
está tirando todo esse dinheiro?
Maddox era estúpido. Quer dizer, passei tanto tempo sendo o burro em
nosso relacionamento que me senti muito bem sendo o inteligente agora. Ele
poderia trabalhar em uma fazenda e consertar as coisas do lado de fora
muito bem, mas quando se tratava de dinheiro, administração de uma casa,
orçamento ou qualquer responsabilidade básica de um adulto, ele falhava.
Muito. Ele até comprou coisas de marca no supermercado sem um cupom, e
agora ele queria reclamar de mim sobre seguro? Foda-se ele.
— Nós trabalhamos, merda — eu o lembrei, sentando na varanda
inclinada da frente.
— Você está me dizendo que trabalhamos tanto só para pagar um seguro
que provavelmente nunca precisaremos? É iniciante, Devon. Pegue de volta.
Cancele.
Idiota. — Não podemos ter uma hipoteca sem seguro residencial. Supere
isso ou venda esse pedaço de lixo.
Maddox sentou-se no degrau da nossa varanda. Este se quebrou e ele caiu
de bunda um degrau abaixo. Ele soltou um milhão de palavrões, mas não se
levantou.
Mudamo-nos para esta merda há alguns meses. Era pequeno, ainda de pé,
decrépito e meio apodrecido na maioria dos lugares, mas caramba, era
nosso. Tínhamos a hipoteca e o seguro para provar isso. Maddox tinha
consertado algumas das coisas externas, e eu estava trabalhando nas coisas
internas - um acordo que fizemos quando percebemos que éramos péssimos
trabalhando nos mesmos projetos juntos - e estava meio que dando certo.
Nosso aquecedor de água não funcionava, então chuveiros frios eram a nova
norma. A pia vazou, o ralo do chuveiro estava entupido, o telhado vazou em
três lugares diferentes e a fossa séptica precisava ser bombeada, mas olha a
vista!
Maddox originalmente queria morar em uma casa flutuante, mas
acabamos nos saindo muito melhor. Este casebre pode afundar com o tempo,
mas pelo menos não nos afogaria em nada além de dívidas. Nós compramos
uma pequena cabana de merda na praia alguns minutos fora de Garron.
Agora éramos verdadeiros cidadãos da comunidade. Não tínhamos
vizinhos, nem postes de luz e nem energia na metade do tempo, mas era
nosso lar.
— Cães também custam dinheiro — eu o lembrei.
Maddox olhou para mim, e minha pele se arrepiou com a intensidade
disso. — Eu estou pegando um cachorro, Devon. Se você conseguiu um
seguro, eu ganho um cachorro.
Eu sorri, tomando minha bebida. Maddox ainda trabalhava na fazenda
com Pete, e os dois descobriram que uma das cadelas estava grávida. Ela deu
à luz há alguns meses, e Maddox se apaixonou por um dos filhotes, então
acho que agora era nosso. Ele era um vira-lata, mas todos os melhores eram.
Nós éramos vira-latas.
— Quando vamos pegá-lo? — Perguntei.
— Semana que vem. Ele estará com dez semanas então. Ele é tão
tranquilo, Dev.
Maddox se gabava desse cachorro sem parar. Ele o levava para o trabalho
durante o dia e o trazia para casa à noite, para que ele nunca tivesse que ficar
sozinho aqui. Se esse cachorro fosse nosso bebê, Maddox já era o melhor pai
do mundo.
— Você quer um filho de verdade? — Eu perguntei a ele, realmente não
esperando por uma resposta sobre a outra.
Maddox deu de ombros. Típico. — Aprenda a cozinhar alguma coisa e eu
pensarei a respeito.
— Aprenda a pagar uma conta e eu aprendo a cozinhar, seu imbecil —
repliquei.
Maddox terminou sua bebida e jogou a lata na varanda. — Tudo bem, mas
é melhor você aprender a cozinhar algo rápido porque vou lutar por um
churrasco na noite da luta amanhã.
Claro que ele ia. Ele estava procurando por um desde que alguém lutou
por um churrasco há mais de um ano. — Não podemos comprar carne.
Maddox apontou para o oceano. — Foda-se uma tonelada de comida aí.
Vá pescar.
Eu o empurrei do degrau e o chutei enquanto ele estava caído. — Foda-se.
Maddox gemeu no gramado, sem se mover. — Traga-me uma cerveja.
Engraçado como sempre havia dinheiro para cerveja, mas ele reclamava
de pagar o seguro. Para ser justo, Maddox conseguiu um aumento na
fazenda. Ele ganhava tanto, senão mais, do que eu, e seu trabalho trazia
muitas regalias legais. Pete tinha gado, então comíamos carne toda vez que
ele os mandava para o açougue. Recebemos enlatados, vegetais e produtos
que não foram escolhidos para ir para os mercados dos fazendeiros, ovos
frescos e até um monte de ferramentas e merda para ajudar por aqui. Toda
vez que Maddox chegava em casa do trabalho, era como se ele tivesse ido à
loja. Serei eternamente grato à Pete por isso.
— Espere. — Eu me impedi de pegar outra cerveja para ele. — Amanhã à
noite? Você vai lutar amanhã à noite?
— Sim.
— Não. Temos planos. — Era nosso primeiro aniversário de casamento.
— Achei que estávamos fazendo algo juntos.
— Sim, lutando — ele riu. — Círculo completo, certo? Ganharemos um
churrasco de presente de aniversário e vamos sangrar um com o outro no
processo. Todo mundo ganha.
Eu balancei minha cabeça para ele e entrei para consertar a pia. Quer dizer,
não era o pior plano; um churrasco seria bom. Mas eu esperava algo um
pouco mais avançado do que preso no passado quando se tratava de nosso
aniversário. Eu não iria lutar com ele.
Eu não peguei outra cerveja para ele. Deixei-o no gramado e rastejei para
baixo da pia, pronto para torná-lo minha cadela.

-MADDOX-
Devon precisava superar seu humor e se animar. Levei-o à pista esta
manhã e competimos na corrida de enduro. Ele ganhou o segundo lugar e
eu só terminei em quarto, então não sei por que ele estava tão mal-humorado
quando deveria estar feliz. Bem, eu sabia exatamente por quê. Foi o nosso
único ano, e ele pensou que eu realmente queria lutar com ele.
Eu queria lutar com ele, mas não na praia. Um novo tipo de luta.
Xavi saiu correndo da loja com uma garrafa de vinho em uma das mãos e
uma caixa vazia na outra. Ele subiu no banco do passageiro do meu
caminhão novo, mas velho, sorrindo para mim como um idiota.
— Eu disse sem bebida — reclamei. — É Devon.
— O vinho é para mim. — Ele desatarraxou a tampa e tomou um gole. —
A caixa vazia é para você. Estou comemorando hoje também, você sabe.
— Comemorando o quê? — Algo havia acontecido com essa nova garota
que Nate e Xavi estavam vendo? De novo. Ela foi a terceira.
— Sua vida — Xavi riu. — Um ano inteiro casado com Devon e você ainda
está vivo, Madd. Isso é motivo de comemoração. Além disso, Nate me deve
cem dólares.
Eu nem queria perguntar, mas perguntei. — Por?
— Apenas uma aposta.
Sim, uma aposta que provavelmente tinha algo a ver com o meu
casamento. Se ele não me contasse logo, eu arrancaria a resposta dele.
Coloquei o caminhão em movimento e entrei na estrada principal de Garron,
indo para minha próxima parada.
Não estávamos cheios de dinheiro, mas na verdade tínhamos algum
agora. O suficiente para não se estressar com isso o tempo todo, de qualquer
maneira. Sim, aqueles pagamentos de seguro me irritaram porque eram
basicamente criminosos e eu não entendia por que tínhamos que pagar tanto
por algo que provavelmente nunca precisaríamos usar. Talvez eu jogasse um
galho de árvore por algumas janelas para aproveitar. Precisávamos de novas
janelas. Apesar disso, havia uma coisa que ambos queríamos fazer, mas
nunca poderíamos pagar antes. Aconteceu que eu poderia associar isso ao
nosso aniversário.
Estacionei na rua, disse a Xavi para não tocar em nada e peguei o resto do
meu presente. Quando voltei, Xavi tinha bebido metade da garrafa, mas me
ajudou a colocar todas as minhas coisas na caixa vazia.
— Tem certeza de que ele vai gostar disso? — ele perguntou.
Ele provavelmente me odiaria por isso, me diria que não estava em nosso
orçamento e então me bateria, mas foda-se. Nós merecemos isso. — Não. Só
estou supondo. — Devon sabia que eu estava tramando algo, mas não disse
uma palavra sobre isso a ninguém além de Nate e Xavi.
— Nate apostou que Devon amarraria você depois da corrida para que
você não pudesse sair de casa e ir para a noite da luta — disse Xavi,
contando-me sobre os cem dólares que ganhou. — E eu apostei que você
escaparia como uma putinha e evitaria todas as ligações dele. — Ele acenou
com a cabeça para o meu telefone tocando a cada minuto, Devon Idiota
piscando na tela. — Eu venci.
Idiotas. Ambos.
— Que porra é essa, Madd? — Devon veio até mim assim que estacionei
o caminhão na frente da nossa casa. — Você realmente ganhou um
churrasco? — Ele olhou para trás, observou minha sobrancelha
ensanguentada e balançou a cabeça para mim. — É melhor que seja bom.
— Vamos precisar para o jantar de aniversário que estou preparando.
— São dez.
— Amanhã. — Puxei a frente de sua camisa e o beijei. — Eu te amo. Você
não vai me agradecer?
— Não, você me fez ficar em casa como uma criança enquanto você saía
para lutar à noite — ele reclamou, envolvendo seus braços ao redor de mim.
Isso porque lutei com o cara do Jeans chique e não queria que Devon
chegasse perto daquele perdedor. Ele era surpreendentemente fácil de
incitar em uma briga de churrasco e era ainda mais fácil de vencer. A testa
ensanguentada veio do meu irmão, e isso foi só porque ele estava tão bêbado
que tropeçou e me jogou na lateral do meu próprio caminhão. Limpei a
mancha de sangue antes que Devon pudesse vê-la.
— Você não queria lutar comigo — eu o culpei, envolvendo meu braço
em volta de seus ombros para guiá-lo para dentro. — Eu trouxe outra coisa
para você, no entanto.
— O quê?
— Vou tomar banho primeiro. — Eu o beijei e o deixei na cozinha.
Tomei um banho frio - sem aquecedor de água - e depois mantive a toalha
em volta da cintura para encontrá-lo na cozinha. Ele tinha seu olhar focado
na pia como se fosse uma guerra que estava lutando pessoalmente, mas eu
adorava seu compromisso em tornar nosso lugar melhor.
Porra, ele era sexy. Estava bronzeado por trabalhar na loja e passar muito
tempo nas docas. Seu cabelo loiro estava mais claro do que o normal por
causa do sol, e o topo de seus ombros estava apenas um pouco queimado.
Filho da puta de cabelos loiros. Meu marido. Conseguimos um ano inteiro.
— Devon — chamei, chamando sua atenção.
Ele se virou, cruzou os braços e encostou-se no balcão, olhando-me com
admiração e ceticismo em partes iguais. — O que você fez? — ele perguntou,
já duvidando de mim.
— Eu gastei o dinheiro que você vai alegar que não temos — eu disse,
andando até ele. — Mas estou pronto para brigar com você a noite toda,
então não se contenha. — Eu sorri.
Inclinei-me contra a frente dele, prendendo seus braços teimosamente
cruzados entre nossos peitos. Seus olhos azuis me observavam atentamente,
tentando descobrir no que eu poderia ter gasto tanto dinheiro.
— Você tem dois cachorros, não é?
— Não. — Eu ri. — Apenas um.
— Não me diga que você comprou legitimamente aquele churrasco
porque eu não acreditaria por um segundo.
Eu ri de novo. — Não.
— Diga-me — ele exigiu.
— Me beije.
Ele lambeu os lábios, me provocando. — Diga-me primeiro.
Inclinei-me até que nossos narizes se tocassem, mas não o beijei. Eu faria
esse idiota sucumbir primeiro. Só para dizer que eu poderia.
Para seu crédito, ele tentou muito lutar contra isso, mas quando me
inclinei contra seu corpo e coloquei minhas mãos no balcão de cada lado
dele, ele cedeu.
— Ah, foda-se, Maddox. — Seus lábios pressionaram os meus e suas mãos
deslizaram até meu pescoço.
Eu não sabia como era possível, mas beijá-lo agora era ainda mais
inebriante do que na primeira vez na pista. Estive fodendo esse cara por anos
e eu ainda não conseguia o suficiente dele. Foi a nossa tempestade. A
tempestade que criamos juntos quando nossas energias concorrentes se
debatiam para produzir a mistura mais intensa de amor, respeito e desejo.
Devon se tornou meu contraponto, meu fulcro10 e o eixo em que minha vida
girou e, de alguma forma, eu o fiz meu.
Ele baixou as mãos para o meu peito e me empurrou enquanto lutava para
não me puxar para mais perto. Ele queria sua resposta, mas também queria
transar. Sempre uma competição.
Apertei a toalha azul desbotada em volta da cintura e deslizei uma caixa
sobre o balcão. Devon olhou para isso, depois para mim, então olhou para
nós dois com cansaço.
— O que é? — ele perguntou.
— Abra, brigue comigo sobre isso e depois me odeie por bagunçar nossas
finanças. Eu não ligo. Mas você irá para a cama feliz esta noite, Devon. —
Isso foi uma promessa.
Ele balançou a cabeça, me empurrou para fora do caminho e abriu a caixa.
Lá dentro, ele encontrou duas jaquetas de inverno que eram difíceis de
encontrar neste clima, alguns gorros e luvas que encontrei no brechó, botas
e um envelope.
— O que é tudo isso? Onde você encontrou roupas de inverno por aqui?
— Ele olhou para mim. — Por que precisamos disso?
— Você poderia calar a boca e abrir o envelope?
Ele olhou para mim, abrindo-o. Seu olhar se transformou em choque,
então admiração, então raiva. Ah, lá estava ele.

10 Parte essencial ou mais importante; ponto básico; cerne.


— Não! — ele gritou para mim, batendo o envelope no balcão. — Não. De
jeito nenhum, Maddox. Não podemos pagar uma merda como esta!
— Tarde demais. Ao contrário de você, eu não compro seguro. A agência
de viagens ofereceu, e eu aceitei sem pensar duas vezes. Opa.
— Maddox! — ele gritou comigo. — Por que diabos você faria isso?
— Porque eu te amo e eles têm uma banheira de hidromassagem como
falamos. — Ignorei sua raiva e vi através dela, sabendo que ele estava feliz.
Eu o puxei para perto. — Feliz aniversário, Devon. Eu te amo.
Finalmente estávamos fazendo aquela viagem de que falamos uma vez.
Aquela com uma banheira de hidromassagem onde ficaríamos sozinhos,
felizes e merda. Talvez fosse uma lua de mel tardia, ou talvez fosse apenas
uma chance de ver alguma outra parte do mundo. Quem sabia? Tudo que
eu sabia era que Devon queria ir a algum lugar, e agora nós íamos. Alasca
chamou nossos nomes, e se ele resistisse demais, eu arrastaria seu traseiro
até lá se fosse necessário.
— Estamos brigando por causa disso? — Eu perguntei quando ele não
disse nada.
Seus olhos azuis queimaram nos meus verdes. — Não podemos pagar por
isso.
Sim, bem, a vida nem sempre foi justa, mas era isso que a tornava tão
divertida. — Eu sei.
Inalando pelo nariz, Devon disse: — Acho que vou pular essa parte e ir
direto para te odiar por bagunçar nossas finanças. — Ele puxou a toalha da
minha cintura, agarrou minha garganta como sempre fazia e acrescentou: —
Nem sei por que eu te amo, Maddox, mas puta merda, eu amo.
Eu disse a ele que ele iria para a cama feliz. Todas as noites pelo resto de
nossas vidas de merda.

A LINHA DE CHEGADA.
NORDIKA NIGHT
Canadense.
Obcecada por Café.
Internet terrível.
Amante dos livros MM.
Vivendo a vida com meu cachorro, Waylon!
Qual será o próximo?
Nate e Xavi vão ganhar um livro! Será o livro 3 da série From Nothing.
Obviamente de amigos para… algo ;) algo como amantes.
Tenho muito mais por vir no reino MM, então certifique-se de me seguir
nas redes sociais (principalmente Instagram ou meu grupo FB – Nordika's
Nightmares) para se manter atualizado com novos lançamentos e
novidades.

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