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FALL

A primeira vez que conheci Jax Blackwood as coisas deram um


pouco errado.
Em minha defesa, eu não sabia que ele era Jax Blackwood -
quem espera que uma lendária estrela do rock faça compras em um
mercado? Mais importante ainda, uma nevasca estava chegando e
ele estava prestes a pegar a última caixa de sorvete de menta com
pedaços de chocolate.
Mesmo assim, eu poderia ter me afastado, mas então ele me
desafiou de forma presunçosa a tentar pegar o cobiçado sorvete.
Então, eu o beijei. E o distraí o suficiente para pegar aquele sorvete
de suas mãos.
Certo, foi um golpe baixo, mas tempos desesperados e tudo
isso. Além disso, eu nunca esperei que ele fosse meu novo vizinho.
Um vizinho irritante que tem grande prazer em me lembrar que
eu lhe devo um sorvete, mas que aceitaria de bom grado mais
beijos como pagamento. Um vizinho irresistível que me mantém
acordada enquanto toca violão nu - de forma espetacular - em sua
sala de estar.
Claramente, evitar é a coisa certa a se fazer. Exceto que nada
sobre Jax é fácil de ignorar - não a maneira como ele me faz rir, ou
que sua marca particular de escuridão combina com a minha, ou
como um olhar dele me derrete mais rápido do que manteiga sob
um sol quente.
Nenhum de nós acredita no amor ou no para sempre. No
entanto, estamos nos tornando rapidamente o vício um do outro.
Mas poderíamos ser mais. Poderíamos ser tudo.
Tudo o que temos que fazer é confiar o suficiente para cair.
SUMARIO

Nota da Autora

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epilogo
NOTA DA AUTORA

Ao escrever a história de Jon, eu também queria mostrar que


aqueles que sofrem de problemas de saúde mental não são todos
melancólicos e tristes. São muitas vezes pessoas extremamente
inteligentes, talentosas, engraçadas e carismáticas. John não é
exceção. Espero que você o ame tanto quanto eu.
Este livro é especial para mim porque, como John, eu tenho
lutado contra a depressão e a ansiedade. É um assunto difícil de
discutir e, no entanto, quanto mais me abro para os outros, mais
descubro que não estou sozinha. Tantas pessoas sofrem em
silêncio. Nós não precisamos. Há pessoas que querem ajudar.
Tentei o melhor tratar esse assunto da maneira mais respeitosa e
realista possível. E embora tenha consultado leitores sensíveis e
aqueles que tiveram experiências semelhantes, estou ciente de que
certos pontos podem não ressoar o mesmo para todos. Quaisquer
erros são meus próprios.
Por último, se você estiver sofrendo, por favor, procure alguém -
um amigo, um membro da família, um médico ou terapeuta. Pedir
ajuda parece difícil, mas pode fazer toda a diferença.
— Com amor, Kristen
FALL

KRISTEN CALLIHAN
“Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem
sorrir, chorariam comigo.”
—Kurt Cobain
CAPÍTULO UM

STELLA

T . Tenho 99,5% certeza disso.


Embora eu devesse surtar, estou mais curiosa nesse exato
momento. Eu deslizo um olhar sobre a caixa de maçã orgânica para
o perseguidor em questão. Alto, magro, em forma – pelo menos a
julgar pela maneira como o casaco cai sob seus ombros largos –
feições equilibradas, bela mandíbula. Cabelo castanho-chocolate e
pele bronzeada. Manteiga de amendoim e chocolate. Delícia.
Eu reprimo uma bufada. Nunca é uma boa ideia comprar comida
quando se está com fome; tudo começa a parecer gostoso. E, ok,
talvez eu tenha uns 80% de certeza de que ele está me seguindo.
Analise os fatos, se quiser: Cara Super Gostoso tem aparecido em
todos os corredores em que eu estive, mas ele não parece do tipo
que segue alguém por aí. Há algo muito calmo nele, como se ele
estivesse tentando, a todo custo, não ser notado. Boa sorte com
isso. O cara tem um brilho que não tem nada a ver com a aparência,
mas está mais próximo do puro magnetismo. É tão intenso que ele
parece vagamente familiar, o que é simplesmente ridículo. Se eu o
tivesse conhecido antes, me lembraria do seu tipo de sensualidade.
Ele está me seguindo? Ainda é algo incerto. Mais análises são
necessárias.
O possível perseguidor olha para cima, com uma maçã rosada
em sua enorme mão, do mesmo tipo que eu tinha colocado na
minha cesta um momento antes. Sou atingida por olhos verde-jade
sob expressivas sobrancelhas escuras antes de eu desviar o olhar,
meu coração batendo forte por ser pega em flagrante.
Não, ele definitivamente não está me perseguindo. Caras como
ele nunca olham para garotas como eu. Eles preferem as deusas
altas e magras com estrutura óssea perfeita ou pequenas fadas com
olhos grandes e sorrisos alegres. Eles não olham para meninas de
altura média, peso médio e aparência comum. Eu deveria saber;
tenho sido ignorada por caras como ele a vida toda. Desde a
primeira série, quando o pequeno Peter Bondi correu atrás de todas
as meninas para beijá-las – exceto atrás de mim.
É uma coisa terrível perceber que você é a única garota cujos
piolhos são tão repulsivos, que nem o comedor de melecas da
classe toca em você. A lembrança de assistir todas as outras
garotas correrem pra lá e pra cá gritando, enquanto Peter O
Beijador as perseguia durante o recreio, ainda dói um pouco.
Não que eu tenha o direito de reclamar. Tenho minha cota de
boas características: pele limpa – sempre um bônus – e lábios
decentes. Mamãe costumava me chamar de Bardot, não porque eu
pareço a estrela de cinema dos anos 60, mas porque ela achava
que eu tinha a boca parecida com a da atriz. Lábios picados por
abelhas, como minha mãe os chamava, o que soa realmente
doloroso e medonho. Também fui abençoada com cabelos ruivos
dourados, sedosos e suavemente ondulados.
Agora, eu amo o meu cabelo – e levei vinte e nove anos para
poder dizer isso sem me preocupar em parecer vaidosa. Mas alguns
homens vêem o cabelo e esperam mais do meu rosto. Eles esperam
uma beleza deslumbrante, não uma comum. Como eu sei? Já me
disseram algumas vezes. Ai. E, claro, o cabelo vem com as sardas.
Os homens as amam ou as odeiam.
Honestamente, tenho mais chances de atrair nerds de histórias
em quadrinhos. Caras de corpos moles com mentes afiadas.
Funciona para mim. Me dê personalidade em vez de músculos em
qualquer dia. Tudo o que quero dizer é que o Sr. Sedutor
provavelmente está se perguntando porque estou nos mesmos
lugares do que ele, e não está nem um pouco interessado.
Balançando a cabeça com a minha paranóia, vou para o
corredor dos biscoitos. As prateleiras estão tristemente
desabastecidas. Nevezilla, como a mídia está se referindo, está
vindo para cá. Como estamos em março e os nova-iorquinos
estavam apenas começando a aproveitar a primavera, ninguém está
particularmente feliz com a tempestade surpresa. No espírito
genuíno de moradores da cidade que enfrentam a possibilidade de
que as lojas possam realmente fechar, o pânico se instalou. As
pessoas têm armazenado itens essenciais como papel higiênico,
pão, água e guloseimas.
Eu nunca entendi a coisa de estocar o pão, porque ninguém
parece comprar nada para acompanhá-lo. A manteiga de amendoim
ainda está na prateleira, assim como a geléia. O que essas pessoas
fazem com o pão em caso de emergência? Aconchegam-se ao lado
de suas pilhas de papel higiênico e comem fatias de pão puro até a
ajuda chegar?
Seja como for, tudo o que resta são alguns pacotes de chocolate
e uma embalagem solitária de Oreo Recheio Duplo. Não se
preocupe, minha pequena delícia de Recheio Duplo, vou encontrar
um bom lar para você. Pego o pacote e estou prestes a colocá-lo na
minha cesta quando o Sr. Manteiga de Amendoim e Chocolate entra
no corredor. De novo?
Seu longo passo vacila quando me vê e sua sobrancelha levanta
um pouco como se ele também estivesse pensando, você de novo?
Ele olha para o Oreo na minha mão e seus belos lábios se
apertaram. Como eles são bonitos, aqueles lábios. Bem modelados,
largos, não muito cheios, não muito finos, mas apenas...
Nos enfrentando como pistoleiros no O.K. Corral1, o tempo para
por um instante, no qual um calor explode na minha barriga e entre
as minhas pernas. Mortificada, eu me viro e fujo. Como uma
covarde. Porque um rubor está por vir. Ruim o suficiente ter sido
pega olhando duas vezes. Pior ainda ser pega babando nele, por
assim dizer.
Estou muito consciente da minha bunda e de suas proporções
generosas enquanto passo por um sorridente Keebler Elves2.
Irritada com minha autoconsciência, decido desacelerar e mostrar o
meu atributo, colocando um pouco de balanço extra no movimento.
Incomodada com o mini confronto, eu me apresso enquanto
pego absorventes e um novo sabonete líquido, depois segui para o
corredor do sorvete. Tenho planos e incluem biscoitos, calda de
chocolate e meu sorvete favorito de menta com pedaços de
chocolate.
Virando no corredor, eu paro de repente. O Sr. Alto, Moreno e
Acusador está abrindo o freezer de sorvete e pegando o último...
— Você não está pegando o de menta! — Não é uma pergunta.
Ele faz uma pausa e, novamente, sua sobrancelha escura se
arqueia, desta vez um pouco mais alto, um pouco mais indignado
também. Deus, aqueles olhos verde, que fazem minhas pernas
ficarem bambas, cercados por cílios grossos. Cílios de menina.
Nada nele, além disso, é feminino. — E se eu estiver?
Um arrepio percorre a minha pele e não tem nada a ver com o ar
gelado saindo do freezer. Ele tem um pouco do sotaque britânico,
desbotado em partes como um par de jeans bem usados. E a voz
dele? Argh. É como sexo e lençóis suados, calda quente sobre
biscoitos esmagados.
Eu realmente preciso comer antes de fazer compras na próxima
vez. Eu deveria ir para o caixa e voltar para casa.
Mas o sorvete de menta com chocolate está em jogo aqui. Eu
atravesso o corredor pisando forte, muito consciente da maneira
como meu corpo diminui o espaço para me aproximar dele. Merda,
esse cara é poderoso, com feromônios irresistíveis e um olhar
ardente. Eu me preparo para a réplica.
— Estou desejando esse sorvete o dia todo. — E é o único que
resta. Argh. O que há com esta loja? Todos na cidade a invadiram
mais cedo?
O Sr. Sedutor muda seu peso, aproximando seu corpo magro. —
Eu também estava querendo. — A mão dele envolve a parte
superior da caixa.
De jeito nenhum. Ah, você está arrumando uma briga, cara.
Pego o fundo da caixa. — Você não quer ficar entre uma mulher
e seu sorvete, amigo.
Os olhos dele se estreitam. Deus, ele realmente parece familiar.
Não de um jeito, ah, onde você esteve durante toda a minha vida. É
mais de uma maneira, você esteve no noticiário ultimamente – e,
por favor, não deixe que seja um possível suspeito de assassinato.
Uma besta sexy assassina? Claro. Ele definitivamente tem uma
coisa de bad boy nele.
Seu cabelo escuro é curto nas laterais, mas desgrenhado no
topo, caindo nos olhos para se emaranhar com aqueles seus cílios
longos e loucos. Tenho o desejo insano de pentear as mechas para
trás. Mas não o toco.
Eu estou congelada pelo seu olhar. Bom Deus, ele é imperioso e
totalmente seguro, inundado por um tipo de arrogância que diz que
ele está acostumado a se dar bem em todas as coisas. Minha
percepção sobre ele muda novamente e me pergunto se ele é um
garoto rico que gosta da periferia. O suéter cinza é de caxemira e,
embora o casaco e o jeans estejam gastos, o estilo é bom demais
para ser de prateleiras de lojas baratas. Na minha linha de trabalho,
já estive ao redor de homens ricos o suficiente para conhecer
roupas caras quando as vejo.
Ele é rico ou realmente bom em pegar ótimas promoções em
roupas de segunda mão. E ele ainda é estranhamente familiar. Não
sei o porquê e é estranho não saber. Normalmente, sou especialista
em ler as pessoas. Mas esse cara desafia as categorias básicas.
Sua voz assume um tom forte. — Você pegou o Oreo, querida.
Estou pegando o sorvete.
Eu seguro o meu precioso pacote mais perto de mim. — E ele
precisa da Menta para estarem completos.
— “A Menta”? — Ele ri brevemente. — Você está seriamente se
referindo ao sorvete como se ele tivesse algum tipo de superpoder?
— Sem dúvida tem o poder de me deixar feliz.
Aquela arrogante sobrancelha ergue-se novamente. — E isso
deveria me convencer a deixar pra lá? — Algo escurece em seu
olhar, algo que envia um flash indesejado de calor sobre a minha
pele. — E se eu quiser um pouco de felicidade também? — Ele
murmura, todo cheio de sexo sombrio e chocolate quente.
Ah, ele é bom. Ele provavelmente engana muitas mulheres,
fazendo-as desistirem dos seus sorvetes com aquela voz derretida.
— Que pena. Este sorvete tem o meu nome nele, amigo. — Eu
puxo, mas seu aperto é mais forte e a caixa nem se mexe.
Ele se inclina para mais perto, trazendo com ele o cheiro de
sabão e uma lufada de mel e limão. — Você entrou no trem para La-
La Land, se acha que está ficando com esse sorvete, Bonita.
— Bonita?
— Você me ouviu. — Ele sorri em seguida – mostrando todos os
dentes – e gesticula em direção aos outros sabores com um aceno
de cabeça. — Desista e pegue o napolitano ali. Porque esse sorvete
é meu.
Isso é ridículo. Eu nunca brigo com estranhos. E certamente não
com caras gostosos. No meu normal modo de agir, eu teria feito
uma piada sobre a escassez de sorvete relacionada à tempestade
de neve, desejando ao desconhecido uma boa noite e depois
seguido o meu caminho. Brigar não resolve nada. No entanto, aqui
estou eu, agindo como uma mulher louca. A consciência disso não
me impede de rosnar. — Eu. Quero. O. De. Menta.
Ele está tão perto que eu vejo a pequena cicatriz sob o olho
esquerdo, meio escondida pelos cílios femininos. Tão injusto, esses
cílios. — Em hipótese alguma, Bonita.
Novamente com o Bonita. Não tenho ideia do que isso significa,
mas não estou desistindo agora. Minha honra está em jogo.
Nenhum de nós se move. Eu olho. Ele olha. Dessa maneira, eu o
leio perfeitamente. Tão fácil quanto respirar.
Continue, Bonita. Eu te desafio a tentar.
Você acha que não posso tirá-lo você?
Eu sei que você não pode.
A arrogância de sua pequena réplica silenciosa me faz ranger os
dentes. Stella Grey pode ser uma garota normal, com cabelos
selvagens e possuir uma bunda farta, mas ela não é uma covarde.
Ignorando o fato de que comecei a pensar em mim na terceira
pessoa, ignorando o meu lado sensível que está gritando "Não! Não
faça isso!", eu aceito o desafio.
Levantando-me na ponta dos pés, vou para a matança.
E o beijo.

E . Por causa de um beijo. E nem era quente e


intenso. Apenas um selinho. Rápido e furtivo. Mal tive tempo de
reagir antes que acabasse e ela se fosse. Mas durante esse único
instante de contato, eu tinha estado totalmente envolvido. Naquele
estranho momento, todos os músculos do meu corpo se apertaram
e meu coração acelerou dentro de sua prisão. Senti o suave toque
de seus lábios – a entrega e a resiliência neles – e a explosão
quente de sua respiração quando ela ofegou. Assim como eu.
Eu ofeguei. Que. Merda?
A estranheza disso se instala sobre mim, formigando na minha
pele. É o fim de um dia de merda, precedido por uma semana de
merda, mês de merda, ano de merda. Atolado em merda, fiquei
confortavelmente entorpecido. Eu existo em um mundo nem de altos
nem baixos. Funciona para mim. Assim como participar de
atividades simples que pessoas normais fazem. Por pequenos
períodos, eu ajo como um cara normal. Hoje à noite, estou
comprando mantimentos antes que a tempestade chegue. Eu gosto
da normalidade disso.
Tudo está perplexo agora, da mesma forma que estou,
boquiaberto na direção em que a minha ladra de beijo fugiu,
vagamente consciente de que o ar gelado do freezer está
começando a entorpecer minha orelha e bochecha e que eu devo
me mover. Mas há outra sensação que prende a minha atenção.
Uma que eu pensei que tinha perdido. Do meu sangue bombeando
forte e quente pelas minhas veias, minha respiração instável e
rápida, como se eu tivesse passado de uma corrida intensa para
uma parada súbita.
Meu pau está duro. Com nada além de um beijinho nos lábios
dado por uma garota comum. De novo... Que. Merda?
Bem, ela não é totalmente comum. Na minha mente, ainda
posso ver a rapidez com que saiu e o balanço da sua bunda, aquela
bunda carnuda, arredondada e bem moldada em uma saia preta
apertada, enquanto ela se afastava de mim. Saia preta, legging
preta, coturnos pretos, cabelos ruivos.
Deus, aquele cabelo. Não importa quão louca a mulher
claramente seja, seu cabelo é lindo. Eu notei o cabelo dela quando
ela entrou na loja. Uma ruiva. O cabelo da Garota Maluca é ruivo-
dourado brilhante, como um centavo novinho em folha. Uma
exuberante queda de brilhantes cachos soltos, espiralando como
uma explosão de estrelas em torno de seu rostinho simples.
Tinha sido quase como um choque quando ela se virou e eu a vi
completamente. Cabelos assim fazem um homem esperar sexo e
pecado. Não olhos arregalados e sardas. Bonita pra caramba. Uma
sexy garota gótica com um rosto de Mary Ann. Uma garota comum
misturada com Wandinha Addams.
Balanço minha cabeça levemente, tentando me recompor. Não
importa como ela seja, a garota é uma coelha irritada pronta para
atacar. Por que ela me beijou? Sobre o que estávamos discutindo?
Olho para minha mão vazia e congelada. Certo. — A Menta.
Um sorriso estica as minhas bochechas frias. Ponto para a
Bonita.
Deixando a porta do freezer bater, eu saio atrás do meu sorvete.
Ela já está na fila do caixa, tentando colocar uma mecha de
cabelo brilhante atrás de uma orelha. A curva de sua bochecha
ostenta um belo rubor rosa, que fica mais profundo conforme me
aproximo. Dentes brancos mordiscam um lábio inferior macio que
me lembro muito bem.
Vendo-a agora, também me lembro daquela centelha de choque
que passou em seus olhos quando me beijou, como se não pudesse
acreditar no que tinha feito. Eu nunca conheci uma pessoa tão fácil
de ler. Eu quase posso ver aqueles rodas e engrenagens girando
em sua mente quando eu caminho até ficar atrás dela e coloco
minha cesta no final da esteira com um baque.
Ela está esperando por uma briga. E isso claramente a assusta.
Interessante, considerando que ela não recuou antes. Mais cedo, eu
tinha começado a me perguntar se ela estava me seguindo, o que é
definitivamente desnecessário. Eu não preciso de uma stalker.
Exceto que ela tinha me enviado um olhar de advertência, na seção
de frutas, que me fez reavaliar essa teoria. Não, essa garota
claramente não quer nada comigo.
Seu nariz se levanta como se estivesse cheirando algo. No
entanto, ela não me reconheceu. Ah não, Bonita virou as costas e
me ignorou, a mão pálida descansando no meu sorvete de menta
com pedaços de chocolate, como se ela achasse que eu poderia
pegá-lo. Ha.
Meu sorriso retorna, eu ocupo o seu espaço, olhando para a
parte de trás do seu pescoço, para a trilha macia de pele visível logo
acima de sua jaqueta de couro azul escuro desgastada. Os olhos
dela também são azul escuro. Tenho o desejo repentino de vê-los
novamente, me encarando em desafio.
Vamos, Bonita, me dê esses olhos desafiadores. Tenho estado
entediado pra caralho. Tão entorpecido.
Eu me aproximo. Perto o suficiente para que, se ela respirar
errado, sua bunda atrevida roçaria contra a minha virilha. O
pensamento envia todo tipo de idéias impuras, mas muito boas, à
minha cabeça. Estranho que essa garota desconhecida me afete.
Esse cabelo certamente me afeta. Dei uma olhada para aquele
cabelo e o imaginei deslizando sobre o meu pau duro. Mas ela é
muito fofa para mim. Sem mencionar o fato de que seria mais
provável ela morder o meu pau do que chupá-lo.
Com esse pensamento horrível em mente, dou um passo para
trás e olho para os itens que ela está tirando da cesta com
movimentos bruscos. Além dos produtos femininos, quase tudo o
que ela escolheu, é idêntico ao meu. Até as oito maçãs fuji, dois
potes de iogurte islandês de baunilha, granola orgânica – com os
cranberries – mussarela de búfalo, tomate cereja, pão italiano e
bacon defumado fatiado. Exatamente a mesma merda. Ela tinha
pego o Oreos. Eu queria Oreos. E não vamos esquecer “A Menta”.
Que diabos é isso tudo? Se ela não está me perseguindo, posso
admitir isso, eu geralmente estava um passo atrás dela, como é que
nós dois pegamos as mesmas coisas?
Muito esquisito.
Eu a estudo de novo, irritado, e certamente confuso com essa
hiperconsciência dela. É atração? Não tenho certeza. Eu sou atraído
por mulheres confiantes. As que comandam um quarto. Ok, eu
geralmente gosto de gatinhas sexuais que me olham como doce. Eu
sou superficial quando se trata de sexo. Me processe.
Essa mulher se arrasta pelo espaço como se estivesse tentando
se misturar a ele. Até o momento em que ela me enfrentou. E então,
ela mudou. Toda a atenção dela se concentrou em mim como um
soco duplo. Foi impressionante. Eletrizante. Não tinha sentido isso
há tanto tempo, quase não reconheci a sensação a princípio.
Estranho. E ela claramente não tem ideia de quem eu sou. O
que eu gosto. Muito. Embora nem todos me reconheçam, a maioria
das pessoas da minha idade reconhecem. Mas pelo jeito senhorita
Ladra de Menta não.
Eu deixo o meu olhar passar sobre ela, sabendo que ela o sente,
é um bônus fazer com que se arrepie.
Seus traços são peculiares, um nariz um pouco grande demais,
queixo quadrado com bochechas redondas. E depois tem as sardas.
Sardas polvilham o nariz e as bochechas dela como açúcar e
canela. Elas são escuras o suficiente para chamar a atenção e fazer
você querer contá-las, talvez traçar seus desenhos. Eu nunca gostei
de sardas. Muita distração.
Ela ainda tem duas nos lábios. Uma distração definitiva.
São os olhos dela que quero ver novamente. A culpa neles.
Porque ela é culpada. Ela fica ali, inquieta e mantendo a vigilância
sobre a sua comida. Me ignorando completamente. Fofa.
Eu me aproximo, pairando como uma consciência. Suas
bochechas redondas ficam rosa choque, confrontando com aquelas
sardas cor de canela. Eu gosto de irritá-la, mesmo que não devesse.
O porquê disso eu realmente não posso dizer, mas desde que eu
sempre sigo o meu instinto, eu estou fazendo isso agora.
O caixa me dá um olhar sujo. Com razão. Eu sou um cara
grande respirando no pescoço de uma garota sozinha.
Eu sorrio para o caixa. — Nós nos conhecemos.
— Não, nós não conhecemos. — Diz a ladrazinha de sorvete,
sem se dar ao trabalho de se virar.
Eu me inclino, o cheiro de xampu feminino e de mulher nervosa
enchendo meus pulmões. — Ah, agora como você pode dizer isso,
Bonita? Não é todo dia que eu beijo uma mulher e lhe dou o meu
sorvete.
O corpo inteiro da Bonita parece vibrar, oscilando entre o modo
de luta ou fuga. Estou apostando na fuga, já que ela tinha fugido
antes. Mas então aquele brilho azul escuro se volta para mim. — Eu
te beijei. E era o meu sorvete.
Dela? Eu levanto uma sobrancelha quando ela cora. Tente
novamente, sua pequena ladra sorrateira.
Sua sobrancelha se levanta em retaliação. Quem está
segurando o sorvete, idiota?
É meio impressionante a maneira como ela se comunica tão
claramente com um olhar. O caixa entrega a Bonita o seu troco e ela
se vira para ir embora. O conhecimento de que ela está prestes a
sair da minha vida me deixa irritantemente desolado.
— Qual é o seu nome? — Eu pergunto, precisando saber.
Provavelmente é algo bonito e alegre.
Ela faz uma pausa. — Sinto muito, não falo com estranhos.
Eu solto uma risada. — Certo, você só os beija.
Beije-me novamente, vamos nos conhecer melhor.
Não. Eu não quero beijar essa garota. Ela é uma Muppet
cautelosa, do tipo que provavelmente fecha os olhos durante o sexo
e escreve a sua lista de compras – sonhando com outra briga pelo
sorvete de menta com chocolate. Ladrazinha. Uma ladra malvada
que me deixou sem nada para comer durante a nevasca. Merda, eu
deveria voltar e pegar o maldito sorvete de napolitano. Mas eu odeio
a parte do morango. Por que eles se incomodam com essa merda?
Balanço a cabeça e me concentro na senhorita Menta. Ela está
sorrindo para mim agora, sabendo muito bem que eu não tenho
nenhuma maravilha açucarada e eu tenho uma súbita vontade
infantil de puxar o cabelo dela ou beliscar sua bunda. É uma
incógnita.
Pervertido e estranho, Jax.
— Você realmente não vai dizer o seu nome, ladra?
— Qual é o seu nome? — Ela atira de volta, como se eu não
tivesse um.
— John. — É tanto uma verdade, quanto uma mentira. Eu sorrio
mostrando os dentes. — E o seu? Vou precisar de algo para anotar
no boletim de ocorrência.
Com a cabeça erguida, ela pega suas bolsas, mas depois para,
pega o Oreos – o último pacote que ela tinha conseguido pegar
antes que eu pudesse chegar até eles – e o joga na esteira.
— Alimente os policiais com alguns biscoitos. Eles
provavelmente estarão com fome depois de ouvir você choramingar
sem parar. — Com isso, ela se afasta. Sem o balanço agora,
apenas uma marcha militar que me faz querer rir de novo.
— “Deixe a arma e pegue o cannoli.” É isso? — Eu grito para
ela.
O caixa olha para mim como se eu fosse louco. Eu tenho que
concordar. Porque por um momento imprudente, considero correr
atrás da Bonita e ver se posso irritá-la um pouco mais – apesar de
minhas suspeitas sobre ela ser tensa na cama ou talvez seja por
causa disso. Eu gosto de um desafio.
Mas nunca consigo esquecer quem sou. É tão imutável quanto a
cor dos meus olhos. Para melhor ou pior, eu sou Jax Blackwood:
famoso por ser o vocalista e, às vezes, guitarrista do Kill John,
infame por tentar me matar há dois anos. Qualquer mulher com
quem eu interaja sempre saberá essas coisas sobre mim e o
conhecimento sobre isso afetará tudo entre nós a partir de então.
Fama e infâmia são ótimos para manter os relacionamentos em um
nível superficial. Prefiro dessa maneira. Sexo é sexo, divertido, fácil,
prazer mútuo.
A Srta. Ladra de Menta claramente não é do tipo transa rápida.
Isso eu sei. Embora brigar com ela tenha sido mais divertido do que
qualquer coisa que eu tinha feito em meses, prefiro que esse
momento seja fresco e puro, do que manchá-lo transando com ela e
saindo da cama assim que terminar.
Eu a assisto ir embora e esfrego o familiar vazio no meu peito.
Algumas coisas não são para ser.
CAPÍTULO DOIS

STELLA

P , minhas sacolas de compras


parecem incrivelmente pesadas. A fria e dura embalagem daquele
maldito sorvete de menta bate na minha coxa a cada passo. Eu
sufoco as lembranças dos olhos verdes furiosos e sorrisos
provocantes, enquanto entro no meu prédio. O hall de entrada é
úmido e sempre cheira a canos mofados, mas o piso preto e branco
quadriculado, com várias rachaduras, e as instalações empoeiradas
trazem um conforto familiar.
Tenho muita sorte de ter um lugar acessível para morar na
cidade. Fico me lembrando disso enquanto levo a minha comida por
cinco andares, meus pés ecoando no contato com escada de ferro.
Tem um elevador se você quiser viver perigosamente. Depois de ter
ficado presa naquela minúscula caixa por três horas, não tenho
pressa em tentar a sorte tão cedo.
Quando chego ao meu andar, não quero comer – só quero me
enrolar na cama e dormir. Meu apartamento fica no final do corredor.
Aqui em cima não cheira a mofo, mas, a poeira e gesso velho. Eu
tinha onze anos quando meu pai me trouxe para cá. Eu estava
apavorada e sentindo tanto a falta da minha mãe que mal conseguia
respirar através da dor. Mas ela estava morta e meu pai – um
completo estranho para mim – era a única família que me restava.
Fiquei ao seu lado quando ele me levou pelo corredor até o
pequeno apartamento que seria a nossa casa.
Naquela época, minha cama era pequena, de solteiro, que se
escondia atrás de uma cortina e papai ficava com o sofá-cama,
quando ele estava por aqui. Ele saía por dias e depois aparecia de
novo como se não nada tivesse acontecido. Como se fosse
perfeitamente normal deixar uma criança por conta própria. Ele
chamava de lições de “amadurecimento”.
Agora, ele está sabe lá Deus onde e o pequeno espaço parece
positivamente palaciano. Não sinto falta do meu pai. Há dias em
que, francamente, eu o odeio. Mas isso não me impede de me
perguntar onde ele está, de querer ver o seu rosto apenas mais uma
vez, apenas para amaldiçoá-lo por me abandonar. Então vou
esperar aqui, no apartamento alugado que está no nome da minha
falecida tia-avó, onde o síndico fecha os olhos para tudo, do mesmo
jeito que ele fazia com meu pai – desde que eu lhe dê algumas
notas de cem por mês.
É por isso que o envelope colado na minha porta, nítido e de
aspecto oficial, me faz parar. Meu coração para de bater ao vê-lo
pendurado ali contra a tinta preta falhada. Eu não abro o envelope,
mesmo já dentro de casa. Em vez disso, concentro-me em guardar
minhas compras, trocar de roupa, colocar meus pijamas, escovar
meus cabelos, qualquer porra, menos olhar para o envelope.
Não conseguindo mais aguentar a tensão apertando o meu
pescoço, eu finalmente o abro. Meus dedos esfriam e meu mundo
fica um pouco menor e muito mais vazio. Meu prédio está virando
um condomínio. Se eu fosse minha tia-avó Agnes, teria a opção de
comprar o apartamento. No entanto, não sou Agnes e não tenho os
650.000 dólares necessários para comprar meu pequeno pedaço de
Manhattan.
— Inferno, inferno, inferno. — Murmuro, rasgando a carta.
Toda a alegria inocente de flertar com um cara gostoso se foi.
Logo vou ser uma sem-teto. A última conexão com o meu pai será
cortada. Não sei o porquê eu me importo; ele era um pai de merda.
No entanto, tudo o que posso fazer é sentar no sofá-cama imundo
que ele chamava de cama, olhar para o chão e me sentir tão
sozinha que meu corpo treme.
A instintiva urgência de sair correndo direto para a segurança
familiar do aeroporto do Hank é forte. Eu preciso de espaço. Eu
quero ver o chão bem abaixo de mim e o céu azul logo acima da
minha cabeça. Mas o céu está nublado e cinza com a nevasca
iminente, e você nunca voa quando está emocionalmente distraída.
Castigada e sozinha, não há como escapar dessa nova
realidade. Eu posso desistir, deixar a vida me derrubar. Parte de
mim quer fazer isso.
Em vez disso, pego meu telefone e faço algumas chamadas.

Q a vida dos sonhos, nada parece real. Esse


sempre foi o meu problema. Eu nunca tive nada sólido para me
agarrar. Sim, eu tenho minha música, a banda, a fama, mas isso
tudo não me mantêm com o pé no chão. Me fazem sentir o auge da
felicidade. Eu vivo por esses instantes, pelos momentos no palco
em que me sinto invencível, que posso fazer qualquer coisa. Nada
na Terra supera esse sentimento. A música é a minha alma e
quando toco, sou imortal.
Mas você não pode viver a sua vida inteira por um momento. E a
queda de uma altura tão grande dói demais.
Como continuar quando você cai o mais baixo possível? Um
pequeno passo de cada vez. Pelo menos é o que minha terapeuta
diz. Dê um passo todos os dias. Alguns dias serão mundanos. E
alguns serão uma verdadeira dor de cabeça.
Ir ao médico para um check-up está em algum lugar entre o
mundano e a dor de cabeça. Mas algo sobre quase morrer faz você
respeitar um pouco mais a sua saúde. Aqui estou eu, sentado em
uma cadeira desconfortável na sala de estar da minha médica
particular – porque eu posso fazer algo tão mundano quanto um
check-up, mas eu ainda sou eu e a fama exige anonimato completo
ao consultar um médico.
A Dra. Stern não me deixa esperando. Ela entra na sala com um
sorriso agradável que deve ser ensinado aos médicos na faculdade
de medicina. — Olá, Jax. Como você está?
— Tudo certo. Um pouco de dor de garganta, mas minha
garganta sempre dói depois de uma turnê. Cantar noite após noite
tem um preço. Eu tenho bebido tanto chá de mel com limão, que eu
juro que essas coisas estão saindo pelos os meus poros.
Ela franze os lábios, o que me deixa cansado. — Por que você
não se senta no sofá e eu vou dar uma olhada?
Sento-me, deixo-a espiar e cutucar a minha garganta. — Algum
outro problema? Dor ou desconforto em outras áreas?
— Outras áreas? — Franzo a testa, meu coração disparando um
pouco, embora eu não saiba o porquê. Algo sobre sua expressão
cuidadosa me incomoda. — Não. Por quê?
Ela dá um passo para trás e pega uma pasta que estava em uma
mesinha. — Eu tenho seus exames laboratoriais.
Desde que assumi a nova oportunidade de ser responsável,
também faço exames regulares de DST. Tenho vergonha de admitir
que não foi algo que fiz muito na minha juventude, mas eu seria
amaldiçoado se fosse descuidado com a minha saúde agora.
Mesmo assim, não gosto do olhar da Stern.
— Ok. — Eu digo com cautela.
A Dra. Stern me encara por um longo tempo. — Parece que você
tem clamídia, Jax.
O sangue corre em meus ouvidos. — O que? Não. O quê?
Ela olha para o meu prontuário e depois para mim.
— Mas eu uso camisinha — insisto, um pouco frenético agora,
minha pele começando a se arrepiar. — Toda. Vez. — Eu sou
cuidadoso pra caramba com isso. Nunca confiei no preservativo de
ninguém fora o meu. Além da ameaça de doenças, um buraco
furtivo e eu tenho uma mamãe para o meu bebê. E isso não está
acontecendo.
— Infelizmente — diz Stern, — você também pode contrair
clamídia por meio de sexo oral.
Eu a encaro.
O tom da Dra. Stern é compreensivo. — Está na sua garganta,
Jax. O que faria sentido, se você pegou através do sexo oral. A dor
que você está sentindo é um sintoma. Felizmente, descobrimos
cedo.
Oral? Eu chupei uma vagina, e ela me deu uma DST? Meu
estômago revira. — Garganta? Posso pegar uma DST na porra da
minha garganta?
— É menos comum, mas sim.
Onde diabos eu estava durante essa aula? Provavelmente
matando-a. Fale sobre a juventude desperdiçada. Aperto a ponta do
nariz e tento me acalmar.
A Dra. Stern ainda está falando. — Você sente alguma sensação
de queimação quando urina? Dor ou sensibilidade nos testículos?
— O que? Não. — Sento-me ereto. — Não, nada. Meu pau está
bem.
Ela me dá um sorriso paciente que me irrita muito. — Mesmo
assim, seria melhor se eu fizesse um exame completo.
— Exame completo? — O alarme dispara pelas as minhas
costas.
Ela nem pisca. — Do seu pênis e ânus para...
— Ah inferno. — Eu passo uma mão fria através do meu cabelo.
Isso não pode estar acontecendo.
Dra. Stern coloca a mão no meu ombro. — O bom é que é
facilmente tratado. Os antibióticos devem resolver rapidamente.
O que é ótimo, mas ela está prestes a apalpar o meu pau e
colocar uma luz no meu cu. Eu me encolho de novo e esfrego meu
rosto com uma mão trêmula. — Puta merda. — Outro pensamento
passa por mim e eu quase vomito. — Ah, porra, eu vou ter que
entrar em contato com as minhas parceiras, não vou?
Um buraco negro de humilhação se abre diante de mim quando
ela assente. — Seria a coisa responsável a se fazer, Jax.
E um pesadelo saído do inferno para o pessoal das relações
públicas. Estou sob o microscópio público há dois anos – o cara que
tentou se matar. Ele vai tentar de novo? O que ele está pensando
agora? Sempre com as perguntas. Sempre observando cada
movimento meu. Agora eu vou ser alvo de piadas sobre sexo
também. Sim, estou com pena de mim mesmo. Eu realmente não
ligo. Porque eu sei que vou ter que contar para Scottie e Brenna.
— Merda, merda, merda.
— Vai ficar tudo bem, Jax.
Ah, a ironia. Toda vez que alguém me diz isso, surge outra coisa
para me dar uma bofetada e jogar de volta ao chão.
Ela tem aquele olhar no rosto, você sabe, aquele que os médicos
te dão para fazer você se sentir um merda com as suas escolhas de
vida. — Quando foi a última vez que você teve contato sexual com
alguém?
— Mais ou menos um mês atrás. — Honestamente, não foi tão
bom para mim nem para a minha parceira, e eu finalmente acordei
para o fato de que talvez eu devesse pôr um freio no que havia se
tornado relações estúpidas.
— Hmm… Bem, o período de incubação do vírus varia de alguns
dias a alguns meses. No entanto, os sintomas geralmente se
mostram em cerca de uma a três semanas. Eu diria para você
começar com a sua última parceira e trabalhar a partir daí.
Não vou me preocupar em contar a ela o número de parceiras
que tive na semana passada. Passei a mão pelo rosto e parei. Um
lampejo de horror passa por mim.
— Doutora, outro dia uma garota me beijou em uma mercearia.
— Ah, bons tempos. A caminhada atrevida da ladrazinha de sorvete
de menta passa pela minha mente antes que eu pisque.
Ela luta visivelmente contra um sorriso. — Por que não estou
surpresa?
Estranhamente, eu ainda estou. Me chamam para uma transa o
tempo todo. Mas essas propostas são um pouco mais diretas. Se eu
gostaria de foder? Sim, por favor, claro, ótimo. A ladra de menta me
beijou como uma tática de distração. Eu ainda a admiro por isso.
— O problema é que eu não sei quem ela era. E se... — Ah
inferno, não posso encarar a Ladra de Menta e dizer a ela para fazer
um exame de DST. — Eu poderia ter passado para ela...
— Não, Jax — Dra. Stern interrompe. — Você não pode
propagar clamídia através de beijos ou mesmo ao compartilhar
bebidas. Somente atividades sexuais como penetração ou oral.
Meus ombros caem em alívio. — Bem, isso é bom.
A Dra. Stern me dá outro tapinha gentil. — Vou lhe dar um
momento para trocar de roupa, e vamos começar.
Certo, o exame. Incrível. Incrível pra caralho.

N , quando meu telefone toca e eu estou dormindo, eu


não atendo. No entanto, já que meu telefone está preso sob a minha
bochecha, e seu toque estridente acabou de me assustar pra
caramba, estou um pouco mais disposta a atender.
Lutando para fazer a maldita coisa se calar, acabo me batendo
na cara antes de encontrar o botão de atender.
— Porr... Alô?
Há um silêncio prolongado, do tipo que deixa claro que alguém
está na linha, mas está decidindo se deve falar.
Suspirando, eu rolo de costas. — Você me ouviu dizer porra, não
é?
Não é bom, já que essa é minha linha para clientes e alguns em
potencial já estão nervosos o suficiente.
Uma garganta é limpa e então um homem com uma voz como
água cristalina finalmente fala. — Estou falando com a Srta. Grey?
Bem, olá, James Bond. Esfrego minha bochecha e me sento. —
Sim, é a Srta. Grey. A maioria das pessoas me chama de Stella. O
que posso fazer por você? — Merda, isso foi elegante. Boa maneira
de falar como um pai e soar como uma idiota, Stells.
Bond está claramente de acordo. Ele faz um som duvidoso. —
Meu nome é Sr. Scott. Recebi suas informações de contato de
Aaron Mullins. — O tom duvidoso está de volta e mais forte agora.
— Ele disse que você é confiável e poderia estar interessada em
cuidar de animais de estimação.
Ah, droga. O emprego fácil e rentável. Na noite passada, Aaron,
um cliente antigo, havia falado sobre uma solução fácil para o meu
problema atual de ficar desabrigada quando o aluguel expirar em
três semanas.
— Sim — eu deixo escapar. — Cuidar do gato enquanto você
viaja, certo? Aaron me disse que estava procurando alguém para
cuidados a longo prazo? Dois meses, era isso?
— Quatro, na verdade. Meu cliente vai fazer uma viagem
prolongada e ele não quer levar o animal.
O cara é frio, eu vou dizer isso. — Bem, seria muito melhor para
– me desculpe, qual é o nome do gato?
Outra pausa, e então ele limpa a garganta. — Stevens.
— O nome do gato é Stevens? — Parece o nome de um
mordomo. Não é surpreendente. O cara no telefone soa como
alguém que teria um mordomo.
Ele também parece descontente. — Sim.
Algo surge no meu cérebro. E então eu sorrio. — Você quer dizer
como Cat Stevens? O cantor e compositor? — Reprimo uma
risadinha.
— Estou surpreso que você tenha ouvido falar do homem — diz
Scott secamente. — Eu diria que ele está muito além da sua faixa
etária.
— Eu faço o meu trabalho em conhecer muitas curiosidades, a
maioria das quais são inúteis na sociedade contemporânea. —
Argh. Sério, pare de falar, Stells. Você vai perder a oportunidade
com esse cara.
— E qual é exatamente o seu trabalho, Srta. Grey?
— Eu sou uma faz tudo. — Algumas pessoas podem dizer que
isso me fez uma preguiçosa sem rumo, mas eu tentei a vida com o
horário de trabalho convencional. Não funciona para mim.
— Isso deve ser útil. A governanta vem uma vez por semana,
então não é esperado que você limpe as coisas. No entanto, há a
questão do peixe dourado.
— Interessante. — Saio da cama e vou para o banheiro para me
olhar no espelho. Bom Deus, o cabelo bagunçado alcançou
proporções épicas. — Qual é o nome dele?
— Hawn — diz ele.
— Como Han Solo?
— Não. Hawn. Hawn. Como em H-A-W-N.
Eu paro, a mão a meio caminho de empurrar meu cabelo para
fora do meu rosto. — Goldie Hawn?
O Sr. Scott suspira enquanto eu rio.
— Santo inferno — eu digo através da minha risada. — Quem é
o seu cliente?
A voz do Sr. Scott é como gelo agora, e eu realmente sinto um
calafrio. — O requisito essencial para essa posição é que a
privacidade do meu cliente deve ser guardada a todo custo.
— Ah... tudo bem. Então provavelmente terei que recusar, Sr.
Scott. — O que é deprimente. Aaron me disse que isso incluía um
quarto e comida grátis em uma cobertura no Chelsea. Desde que eu
estou prestes a ficar sem casa, teria dado certo.
Há outra pausa, e eu tenho a sensação de que ele estava
esperando total concordância. — Deixe-me entender isso. Você tem
algum problema em respeitar a privacidade do meu cliente?
— Não. Eu não sonharia em invadir a privacidade dele. Mas,
como eu disse, tenho alguns trabalhos paralelos. Às vezes, os
clientes me visitam
O silêncio soa entre nós.
— Clientes? — O tom duvidoso está de volta.
— Nada ilegal ou decadente. — Conto ao Sr. Scott sobre o meu
trabalho, enquanto o silêncio do outro lado do telefone aumenta, e
me sinto cada vez mais tola por me explicar a esse completo
estranho. — Então, veja — termino, — enquanto amo animais de
estimação e fico feliz em cuidar deles para o seu cliente, não posso
deixar meus outros empregos.
O Sr. Scott murmura, e então sua voz é toda formal e poderosa
mais uma vez. — Sr. Mullins é um velho amigo da minha esposa.
Ele recomendou muito você...
Como deveria. Ele foi um dos meus primeiros clientes, e eu fiz
dele uma verdadeira excelência. Mas eu mantenho a minha boca
fechada. Afinal, eu protejo a privacidade dos meus clientes da
mesma forma.
— Minha esposa confia no julgamento dele, e eu confio no da
minha esposa. Desde que você concorde em manter seus clientes
nas áreas comuns, estou disposto a ignorar os visitantes. Além de
hospedagem e alimentação, a compensação financeira está incluída
na oferta. — Ele me diz uma quantia que me faz afundar no chão
frio do banheiro.
Com esse valor, e sem ter que me preocupar com o aluguel por
meses, eu poderia economizar uma enorme quantia. Eu poderia
finalmente comprar o carro que eu preciso e não ter que depender
do trem para chegar a Long Island, sempre tendo que pedir a Hank
para me buscar na estação. Eu não teria que correr para cada
trabalho que aparece no meu caminho. Eu poderia respirar com um
pouco mais de facilidade.
Scott ainda está falando. — Precisamos que você ocupe o lugar
imediatamente, pois há uma tempestade e meu cliente já está fora
da cidade.
Ah, sim, a nevasca. Estará aqui hoje à noite.
— Eu posso fazer isso. Não vai demorar muito para arrumar as
malas. — Eu posso limpar o meu apartamento no próximo fim de
semana.
— Ótimo. Um envelope com instruções será enviado para a sua
residência dentro de uma hora.
Uau. A eficiência foi levada para outro nível. — Eu estarei
esperando.
— Uma última coisa. A cobertura compartilha uma parede com
outra unidade. Minha empresa possui as duas. Se você tiver um…
problema com o seu vizinho, eu apreciaria se você falasse
diretamente comigo antes de envolver o ocupante.
Ok... isso é muita esquisitice formal.
— Você faz parecer que haverá problemas, Sr. Scott. Há algo
que eu deva saber sobre esse meu novo vizinho? — Se ele ou ela é
um psicopata empunhando uma faca? E que diabos? Problemas?
Que tipo de problemas? Começa incêndios quando fica irritado?
Assiste pornô no volume máximo? Quem são essas pessoas?
— Ele costuma viajar com frequência. Muito provavelmente,
você nunca saberá que ele está lá, Srta. Grey — Scott diz
suavemente. — É apenas uma precaução. Você tem seus clientes,
eu tenho os meus. Os meus exigem muita privacidade, só isso.
Estou começando a me perguntar se os clientes dele não são
criminosos internacionais. Mas alguém que nomeia seus animais de
estimação com nome de celebridades e faz isso com trocadilhos
não pode ser tão ruim. Quanto ao vizinho – aquele que não deve ser
perturbado – terei que aceitar a palavra do Sr. Scott.
Além disso, tenho coisas melhores em que pensar, como na
cobertura e em um gato chamado Stevens.
CAPÍTULO TRÊS

JOHN

C um erro ao ficar na cidade. Na primeira vez que eu ouvi que


uma nevasca estava chegando, eu deveria ter entrado em um avião
e deixado a cidade. Ir para a minha casa em Londres. Ou, inferno, ir
para o sul, onde está quente e ensolarado. Uma semana ou duas
em uma praia, bebendo cerveja e fodendo uma mulher disposta
seria o plano perfeito.
Mas não, eu tive que me prender sozinho com nada além do
silêncio como companhia. Não é bom para mim ficar sozinho por um
longo período. Alguns podem chamar de fraqueza. Para mim, é
simplesmente uma faceta da minha personalidade; se eu ficar
sozinho por muito tempo, meus pensamentos podem facilmente
tomar um rumo sombrio.
— Droga. — Esfrego os olhos e ando até a parede de janelas.
Não vejo nada além de um borrão branco e a neve amontoando no
painel inferior. Uma súbita sensação de estar completamente
perdido me faz descansar a mão no vidro frio. Intelectualmente, eu
sei onde estou – Nova York, em uma cobertura de trinta milhões de
dólares que comprei com o dinheiro do meu próprio bolso. Rei do
mundo, certo?
Um rei que não pode ficar parado em silêncio.
Com um grunhido, eu me afasto da janela. Estou com fome e
deveria comer alguma coisa. Olhar na minha geladeira não ajuda.
Tudo o que consigo pensar é no sorvete de chocolate com menta
que escapou. Um sorriso aparece na minha boca.
Aquele beijo doce e casto que a minha ladra de sorvete de
menta me deu permanece na minha mente. Libby, Sophie e Brenna
são as únicas mulheres na minha vida que não me tratam como um
deus que deve ser venerado ou como um triste caso que pode
explodir a qualquer segundo. Mas elas são basicamente um grupo
indisciplinado de irmãs que bisbilhotam e se metem nos meus
assuntos. Eu quase tinha esquecido como é interagir com uma
mulher que não sabe quem eu sou.
Aquela excêntrica ladra de sorvete lutou pelo o seu como uma
guerreira. Fofa pra caralho, na verdade. E isso é onde estou na
minha vida – me divertindo mais discutindo com uma ruiva louca em
uma mercearia do que em uma boate ou festa cheia de gente
famosa.
Eu rio um pouco, tentando imaginar como teria sido se eu tivesse
chamado ela para sair. Não para foder, mas para jantar, assistir a
um filme, compartilhar aquele sorvete. Igual na época da escola.
A ideia está tão longe da minha realidade que nem consigo
imaginá-la completamente. De qualquer maneira, eu nunca faria
algo assim. Não quando o possível resultado seria dar assunto para
os tablóides. Sou quem sou e minha vida não inclui amizades
casuais com mulheres estranhas.
Fique com aqueles que você conhece. É uma lição aprendida
desde cedo, e dolorosamente.
Fechando a geladeira com força, pego o meu telefone. Há pelo
menos cinquenta mensagens esperando por mim.
“Ei, querido, você está na cidade. Adoraria te ver novamente!”
“Eu continuo pensando na nossa noite. Preciso muito de você.”
“Jax, você me deixa encharcada.”
Paro de olhar as mensagens e clico em excluir, meu interior
repentinamente frio, minha pele pegajosa. Não me lembro de
nenhuma dessas mulheres, e isso parece trágico. Eu amo mulheres,
mesmo. Eu amo a suavidade delas, o seu cheiro, o som das suas
risadas, como parecem quando eu estou afundando nelas. Eu amo
sexo. Foder é uma parte essencial da minha vida, um alívio para o
estresse – uma maneira de esquecer. E embora eu tenha
desacelerado ultimamente, a oportunidade de sexo rápido sempre
esteve lá se eu precisasse.
No momento, ela desapareceu totalmente, com os resultados de
alguns testes. Nunca julguei os outros com base em sua história
sexual passada. Um dos meus mentores contraiu HIV no final dos
anos 80. Ele sobreviveu, e acho isso admirável como o inferno.
Então por que não consigo parar de sentir como se eu estivesse
sujo? Estou envergonhado. Está aí, na minha pele, essa sensação
nojenta e errada de fracasso.
A sensação de derrota também está presente. Mas não é tão
forte. Tem sido cada vez mais difícil me perder no sexo ultimamente.
Meu cérebro continua abrindo caminho na equação.
A última vez em que estive com uma garota, mal tinha começado
quando sofri uma crise de consciência. Ela tinha alguma esperança?
Algum sonho? Ela pensou que eu ligaria no dia seguinte? E quando
eu não ligasse, isso machucaria? Meu pau esvaziou com a
velocidade de um dardo perfurando um balão. Acabei fazendo um
oral nela só para que ela não fizesse perguntas, e saí me sentindo
sujo, barato e chateado comigo mesmo.
Deus, essa deve ter sido a garota da DST. Eu evitei o sexo e
peguei clamídia em vez disso.
Uma risada escapa de mim, mas não há humor nela. Tenho que
contar a essa mulher e não consigo me lembrar o nome dela. Não
me lembro de nada sobre ela, exceto que tinha cabelo rosa choque
e a boceta depilada.
— Merda.
Então, não, não vou procurar uma transa rápida tão cedo. O que
me deixa aqui, sozinho. E isso nunca é uma coisa boa para mim.
Pegando o telefone de novo, ligo para Killian. Toca e toca, e não
tenho ideia de que horas são onde Killian está. Mas não me faz
desligar.
Ele responde e parece acordado. — E aí, J?
— Explique novamente por que você e Libby tiveram que se
mudar para Sydney por quatro meses, porque não estou
acreditando em toda essa desculpa de, queremos ver a descarga do
lado contrário.
Killian ri. — Libby se apaixonou pelo lugar quando visitamos
Scottie.
— Visitou é a palavra chave. Inferno, Scottie já voltou para Nova
York e agora você está aí.
Estou tentando não me sentir desapontado com isso. Mas eu
estou.
— O que posso dizer? Libby e eu queremos explorar o
Hemisfério Sul, e estou tentando não ter que pegar vôos de vinte e
quatro horas para lá e pra cá. Faz mais sentido ficar aqui por um
tempo.
Essa é a nossa vida – a capacidade de fugir por meses e se
divertir sem preocupações. Kill John acabou de sair de uma longa
turnê mundial, e não estamos escrevendo nada de novo no
momento, mas “recarregando”, como diria Whip. O que significa que
os caras estão se divertindo e fodendo por aí, para não nos
matarmos quando finalmente nos acomodarmos para fazer tudo de
novo.
Parece mesquinho remoer isso. No entanto, aqui estou eu,
melancólico. — Eu só estou dizendo, você finalmente me convenceu
a sair do meu apartamento perfeitamente bom...
— Apartamento de avó — ele interrompe.
— Eu o herdei da minha avó.
Killian bufa. — E você não mudou nada no lugar. Eu juro, toda
vez que eu entrava lá, tinha flashbacks do chá aguado e biscoitos
sem graça que a sua avó nos forçava a comer quando visitávamos
ela.
— Você amou aqueles biscoitos.
— Sim. Bons tempos. — Ele suspira feliz. — Você gosta do
lugar?
Olho em volta enquanto caminho para o sofá. Killian vai ficar
horrorizado quando ver que muitos dos móveis antigos da minha
avó vieram para cá. Ele está sempre implicando comigo por causa
do meu estilo de decoração. O que posso dizer? As coisas da vovó
eram reconfortantes e familiares. — É realmente… claro.
— Claro? — Ele parece confuso.
— Muitas janelas. Tetos altos. — Sinto falta do meu lugar antigo,
com suas paredes escuras e janelas menores. Era uma caverna
agradável e relaxante, em vez de toda essa… clareza.
— John — Killian fala com um longo suspiro — claro e arejado é
uma coisa boa.
Certo, se você gosta de estar exposto. Nada aqui me dá
estabilidade. — A acústica é boa — murmuro, porque sei que ele
está esperando por alguns elogios.
— É ótima — acrescenta ele. — Tente tocar Gretsch. Você não
vai se decepcionar.
Eu bufo, meio sorridente. Eu posso tocar meu violão todas as
horas do dia. Não importa se eu não tiver um material novo. Assim
como os Beatles, Kill John tem dois vocalistas, Killian e eu. Nós dois
cantamos, nós dois tocamos violão. Algumas músicas, Killian
assume a liderança. Algumas músicas, eu lidero. Mas nós as
escrevemos juntos.
Whip e Rye geralmente apresentam batidas e o ritmo geral, mas
Kills e eu somos os pilares do processo. Desde o Incidente, como
todos chamam, Killian está assumindo o peso do trabalho,
escrevendo músicas com sua esposa, Libby. E tudo bem, mas não é
o nosso som.
Eu preciso virar homem. Dois anos é mais do que um período de
seca; é um poço vazio.
— Talvez eu toque hoje à noite — digo a Killian, e abro a
geladeira novamente. — Volte para o que estava fazendo.
— Com quem eu estava fazendo — ele corrige. — E eu estava
fazendo a minha esposa – ai Libs. Por que os beliscões?
Ouço Libby gritando ao fundo e eu rio. — Talvez não deva
compartilhar os detalhes, cara.
— Sim — ele murmura. — Entendi isso alto e claro.
Sorrindo, eu puxo uma panela de ensopado que fiz ontem. —
Estou decepcionado pra caralho com você, se é isso que estava
fazendo quando atendeu o telefone.
— Ei — ele protesta, — eu estava sendo um bom amigo.
Meu sorriso desaparece. Ele está cuidando de mim novamente.
O que é pior? Que eu senti a necessidade de ligar para ele em
primeiro lugar? Eu suprimo um suspiro. — Seja um bom marido e
divirta a sua esposa. Vou desligar.
Desligando, olho para o meu ensopado. Eu não posso ficar aqui.
Lá fora, a nevasca sopra mais forte. Estou sozinho, mas tenho
comida. Muita. E isso é bom. É provável que outros não tenham a
mesma sorte.
Correndo para a lavanderia, pego uma pequena cesta e coloco o
ensopado e outros suprimentos nela. Carrego por dois andares
abaixo e bato na porta.
Maddy responde e abre um sorriso largo. — Bem, oi gato.
— Maddy, linda como sempre.
Ela ri e sai um pouco ofegante. — Galanteador. O que você está
fazendo aqui?
— Queria saber se você gostaria de jantar comigo. Talvez você
possa querer um pouco de ensopado de carne?
Ela sorri como se fosse a melhor coisa da sua semana. Colocar
esse olhar em seu rosto me deixa feliz, mas também há uma
sensação de desconforto. Tudo o que estou fazendo é compartilhar
a minha comida – dificilmente é algo heróico aqui.
— Eu adoraria jantar com você, Jax. Entre. — Ela se vira e volta
para o apartamento.
Eu desacelero o meu passo para combinar com o dela. O
apartamento de Maddy é menor, os tetos mais baixos. É decorado
com bom gosto, cheio de antiguidades e móveis de boa qualidade.
De certa forma, é como uma casa inglesa mergulhada no meio de
Manhattan. Eu não preciso de uma terapeuta para dizer que me
lembra a minha infância, mesmo que Maddy seja uma nova iorquina
atrevida.
Eu a conheci quando me mudei alguns meses atrás. Na época,
ela estava tentando levar um carrinho de livros pelos degraus da
frente. A mulher tem um metro e meio e provavelmente pesa
quarenta e cinco quilos, mas ainda assim ela não desistiu de lutar
até que eu pegasse o carrinho dela.
Eu logo aprendi que Maddy tinha sido uma corretora da bolsa de
valores, uma das únicas mulheres nesse setor durante as décadas
de 1960 e 1970. Tenho certeza de que ela poderia comprar o prédio,
mas ela parece contente em morar em seu apartamento de um
quarto.
Eu a sigo até a cozinha e ela puxa uma panela grande para
aquecer o ensopado. — O que mais você tem nessa cesta,
Chapéuzinho?
— Engraçadinha — eu digo, pousando a minha cesta. — Eu
tenho um pouco de salada e um belo baguete.
Maddy se inclina contra o balcão e puxa um cigarro eletrônico de
uma gaveta. — Jovem, você torna tudo muito fácil de provocar.
Balançando a cabeça, preparo o ensopado. — E você tem uma
mente suja, Sra. Goldman.
— Agora é Sra. Goldman, não é? — Ela pega o cigarro
eletrônico e me olha através de cílios postiços ridiculamente longos.
— Estou tentando ser um cavalheiro.
Maddy pega o pão e começa a cortá-lo. — Querido, eu tenho
setenta e quatro anos. Não tenho tempo para cavalheiros.
Eu rio. — Anotado.
Jantamos na mesa da cozinha que está escondida no canto da
janela. É um daqueles conjuntos antigos de fórmica e cromo estilo
anos 40, mais adequado para lanchonetes. A neve cai forte,
soprando em ondas.
— Não que eu não aprecie a sua companhia, garoto, mas eu
esperava que você estivesse longe da cidade agora. — Maddy diz
entre as colheradas de ensopado.
Ela sabe quem eu sou. Ela me reconheceu assim que eu me
ofereci para ajudá-la com suas bolsas naquele dia há muito tempo.
Aparentemente, ela é uma fã do Kill John.
— Eu acho que deveria estar. — Pego um pedaço de pão. —
Não conseguia pensar em nenhum lugar que eu quisesse ir.
E essa é a pura verdade. Killian e Scottie estão casados agora.
Ser a vela não é atrativo. Rye e Whip estão em um retiro de saúde.
Não para ficar saudável, mas para arranjar mulheres, o que parece
meio desesperado, se você me perguntar. Eu poderia ter saído com
Brenna, mas eventualmente nós começaríamos a discutir, já que ela
acha que eu deveria sossegar; eu acho que ela deveria cuidar da
sua própria vida. E sair com pessoas que não são amigos íntimos
não é diferente para mim do que ficar sozinho.
O olhar de Maddy penetra meus pensamentos. — Você precisa
encontrar uma mulher. Alguém para te fazer companhia nas noites
frias.
Ela também não. Juro por Deus, você faz trinta anos e todo
mundo quer ver você se casar. É uma maldita epidemia.
— Eu tenho uma mulher para me fazer companhia nas noites
frias. Estou aqui com você. — Eu pisco para ela.
Ela ri, balançando a cabeça. — Sedutor sem vergonha. E se eu
fosse quarenta anos mais jovem, você não saberia o que te atingiu.
Eu acredito. Há fotos de Maddy e seu falecido marido Jerry por
todo o apartamento. Ela parecia a Lauren Bacall. Ela é linda agora,
francamente.
— Você já pensou em encontrar alguém? — Eu pergunto a ela.
Maddy põe as mãos no colo e olha pela janela. De perfil, as
linhas das suas experiências de vida são mais fortes, mais
profundas. Meu mundo é dominado pela juventude. Mesmo as
lendas de rock de cabelos grisalhos e quadris artificiais tentam
parecer que ainda estão na casa dos trinta. Mas a velhice é algo
que eu desejo. Um dia, comprarei uma casa com uma varanda e
vou sacudir a bengala para jovens de boca suja que se atreverem a
andar muito perto de meu gramado.
Maddy suspira e isso sacode o seu peito. Quando ela olha para
mim, sua expressão é calma, mas seus olhos estão tristes. —
Quando você encontra sua alma gêmea e vive quarenta e sete anos
com ela, seguir em frente parece mais como esperar a sua hora. Eu
tenho meus filhos, netos e amigos. Suponho que poderia encontrar
um homem. Talvez um dia eu encontre. Mas eu tive o que queria por
um longo tempo. Quem quer que apareça teria que ser especial.
Lentamente, concordo com a cabeça. Mas é mentira. A ideia de
dar tanto poder a outra pessoa é incompreensível. A vida já é difícil
o suficiente, sem me preocupar com mais alguém no processo.
Claro, vejo Killian e Scottie felizes agora. Mas também os vi
chegarem ao fundo do poço, doentes com dor no peito. E tudo
porque eles haviam discutido com suas mulheres. Como dizer que
não vai acontecer novamente? O que acontece se alguém morrer?
Suprimindo um tremor, enfio uma colher cheia de ensopado na
boca.
À minha frente, Maddy ri. — Meu garoto, o rosto que você está
fazendo. A velhice é tão desagradável para você?
Demoro um momento para responder porque ainda estou
mastigando. — Eu não estava pensando sobre envelhecer. Você me
conhece melhor do que isso.
Seus olhos escuros brilham. E percebo que caí em sua
armadilha. Como um otário.
— Não desista do amor até tentar, garoto. Rejeitar algo por medo
só te torna um idiota.
Meu sorriso é inclinado e dolorido. — Ah, Maddy querida,
ninguém nunca me acusou de fazer escolhas inteligentes na vida.
Não existe pena em seu olhar, e eu a amo ainda mais por isso.
— Então comece a fazer.

Q em um táxi, está nevando. Meu novo apartamento


é perto o suficiente do meu antigo que eu poderia ter caminhado,
mas estou carregando duas malas grandes, uma com roupas, a
outra com meu travesseiro e produtos pessoais, além das minhas
compras. Eu queria deixar o sorvete para trás – ainda não consegui
abrir o pote –, mas estamos falando de menta com pedaços de
chocolate e eu não podia, em sã consciência, deixar algo tão
saboroso para trás.
Se apenas o sorvete não estivesse inesquecivelmente ligado a
ele. Estive pensando muito no Sr. Menta Revoltada e na pressão
suave dos meus lábios nos dele, querendo voltar ao pequeno
momento em que a vida era simples e inesperada.
Mas ele se foi, perdido no fluxo que é Manhattan. Nunca mais o
verei. Me permito um momento para lamentar, e depois escondo os
pensamentos sobre olhos verdes irados e sorrisos malignos quando
o táxi para na frente do meu novo prédio. Por um longo momento,
apenas fico olhando, sem saber se estou no lugar certo. Mas o
endereço está correto.
— Você está saindo? — O taxista pergunta por cima do ombro.
— Estou indo. — Eu pago e pego minhas malas.
A neve cai em flocos pesados e molhados que pousam como
beijos gélidos nas minhas bochechas. Eu pisco rapidamente quando
eles se agarram aos meus cílios e continuo olhando para cima.
Porque este edifício não é um prédio normal. É uma enorme igreja
antiga.
Feita com pedras de calcário liso e erguendo-se cinco andares,
foi convertida em condomínios. Não parece muito com uma igreja no
meio. Grandes janelas gradeadas foram inseridas nas paredes.
Exceto pelo topo, onde fica um imenso vitral redondo com duas
torres de sino de cada lado.
Subo os largos degraus da frente. As velhas e esculpidas portas
de madeira da igreja são ladeadas por lamparinas de ferro. Agora
há um teclado e uma série de interfones. As câmeras me vigiam
enquanto tiro meu envelope com as instruções.
Fiel à sua palavra, o Sr. Scott me enviou um envelope dentro de
uma hora após eu aceitar a sua oferta. E o conteúdo é extenso. Eu
tenho um conjunto de chaves, um código de alarme para a porta da
frente, um código de abertura para o condomínio e uma lista
detalhada de instruções para basicamente tudo o que eu possa
pensar, até os gostos e desgostos de Stevens e Hawn.
No interior, há um pequeno hall de entrada com piso de mármore
e esculturas de calcário nas paredes. Tem um elevador, mas não há
escadas principais, o que parece estranho para um prédio com
apenas cinco andares, mas não vou insistir nisso. Eu já estou
congelando por ter ficado boquiaberta do lado de fora. Apertando o
botão para o andar da cobertura, logo me encontro em um hall de
entrada menor.
É uma entrada bonita, quase caseira, com um grande espelho de
latão e um fino aparador de mogno com algumas revistas, embora a
seleção seja meio estranha – Rolling Stone e Guitar World. Também
tem uma bancada cheia de guarda-chuvas bem usados.
O andar da cobertura possui duas portas: 5A e 5B. Estou na B.
Não há razão para o meu coração estar batendo forte e rápido,
mas estou trêmula e nervosa quando abro a porta da frente do que
será o meu novo lar nos próximos meses.
Eu morri e fui para o paraíso dos apartamentos. Se você mora
em Nova York por tempo suficiente, passa a apreciar as pequenas
coisas: um lugar maior do que um armário, uma boa dose de luz
natural passando pela janela, um closet de verdade.
Esse lugar? É ar e luz e espaço e todas as coisas com as quais
você sonha quando se fica apertada em seu pequeno, escuro e
eficiente prédio sem elevador.
Talvez seja apropriado que esse prédio já tenha sido uma igreja.
Estou tentada a me ajoelhar e agradecer.
O design da cobertura é detalhado, um pequeno conjunto de
degraus levam da porta da frente até a sala principal. Tetos catedral
com vigas expostas e conceito aberto, centrado em torno de uma
cozinha industrial. A parede traseira é toda de vidro, mostrando um
grande terraço onde a neve já está se acumulando. A decoração
parece algo saído diretamente dos catálogos de móveis em que eu
babo: mobiliários grandes e robustos, com um toque industrial
casual.
Ando pelo espaço com passos lentos, absorvendo tudo. Algumas
lâmpadas estão acesas, assim como as luzes da cozinha. No meu
envelope de informações úteis, eu sei que é um sistema de
iluminação projetado para ligar uma vez que escurecer lá fora.
Aparentemente, há um iPad no meu quarto com um programa para
controlar toda a eletrônica do apartamento. Legal.
Coloco minhas sacolas de compras na ampla ilha da cozinha. A
maior parte pode esperar, mas meu sorvete de menta com
chocolate precisa ir para o congelador. Uma pontada de algo...
desconfortável passa por mim enquanto eu retiro suavemente o meu
sorvete da pequena bolsa térmica em que o pus.
O ar gelado do congelador sopra ao meu redor e minha mente
volta ao surpreendente calor dos firmes lábios masculinos. O som
do seu suspiro chocado quando eu o beijei ecoa pelos os meus
ouvidos. Não estou mais com frio, mas fico corada e muito quente.
Beijar homens aleatórios não é algo que eu faça. Mas tinha sido
divertido. Hilariante, na verdade.
Eu quero fazer isso de novo. Com John.
Hmm... John. Não é o nome que imaginei para ele. É indicado
para alguém que tenha tanto carisma e vida irradiando. E, no
entanto, John é um nome forte. Eu tenho a sensação de que
ninguém se aproveita dele com muita frequência. Sorrindo um
pouco com a lembrança da sua expressão indignada, deixo o resto
da minha comida por um minuto para sentar e continuar olhando em
volta.
Diante a fachada do edifício, há indícios de cor vindo de alguma
parede distante. Através de uma porta larga que alcança o teto,
encontro uma sala de cinema com uma parede de prateleiras, uma
televisão gigantesca e várias obras de arte. Em um tapete verde-
esmeralda, há uma fileira de poltronas de couro preto voltadas para
a estante. O grande vitral redondo da igreja antiga compõe a outra
parede.
Eu quase saio da sala, mas paro quando vejo um aquário na
estante. Hawn é um peixinho dourado rechonchuda, nadando
alegremente em torno do que parece ser a gruta de Ariel.
— Ei, pequena Hawn — eu sussurro, chegando perto do aquário.
— Olhe para você toda solitária. Eu acho que você precisa de um
amigo. Um peixe arco-íris Kurt Russell ou algo assim. — Algo para
mencionar ao Sr. Scott.
Hawn se aproxima e sopra alguns beijos de peixe em minha
direção. Tiro um momento para alimentá-la e depois sigo em frente.
Uma escada de vidro e aço leva para outro andar que rodeia a
sala de estar aberta. Há uma academia em casa, uma porta
trancada, um quarto escuro e mais algumas portas trancadas. Meu
envelope com informações me diz que posso acessar esses
quartos, se necessário, mas devo deixá-los quietos, a menos que
haja uma emergência. Por mim tudo bem. Eu tenho espaço mais do
que suficiente. No final do corredor aberto, encontro o último quarto
com vista para o terraço.
As luzes estão acesas, o que é meio assustador, mas também
acolhedor. O quarto é maior do que o meu último apartamento, com
piso de nogueira suave e outro tapete em tom de pedra preciosa,
esse é vermelho rubi. A cama é ridícula. Tem que ser uma king size
com uma cabeceira de um metro e oitenta de altura e feita de
carvalho desgastado recuperado. Pareceria monástica, exceto pela
abundância de travesseiros exuberantes e o edredom felpudo, tudo
em linho cor de fumaça. Eu passo a mão sobre o edredom e
descubro que é macio como manteiga.
— Uau — eu sussurro, colocando as minhas malas no chão.
Meu sussurro se transforma em um pequeno grito de prazer
quando vejo a cesta de presentes na mesa de cabeceira de ferro e
madeira. Está cheia de xampu, loções para o corpo, géis e bombas
de banho. Um roupão de caxemira e chinelos completam o conjunto.
É um pouco esquisito, já que tem uma nota de boas-vindas feita
pela Scott Inc. Como o Sr. Scott parece ser do tipo super eficiente,
não deveria me surpreender. Ainda não avistei Stevens, mas estou
supondo que ele é tímido. A melhor maneira de lidar com animais de
estimação tímidos é esperar por eles.
Faço uma visita ao banheiro – banheira de hidromassagem para
dois! – e então tiro meus sapatos e me jogo na cama com um
suspiro. A casa está parada e a tempestade do lado de fora da
grande janela sopra loucamente. A cama imensa é um casulo de
conforto.
Inexplicavelmente, minha visão fica turva, inspiro e solto
lentamente.
Dizem que o lar é onde o coração está. Acho que quem criou
essa pequena expressão estava tentando se sentir melhor. Quando
você não tem um lar permanente, sente-se assim. Eu acabei de
perder o meu lar e, embora eu ganhe um bom dinheiro, mais do que
ganharia em qualquer trabalho de escritório que pudesse encontrar,
não posso comprar ou alugar um novo apartamento em Manhattan.
Eu poderia me mudar para outro lugar, mas Nova York tem sido a
minha casa por toda a minha vida. Eu tenho amigos e contatos aqui.
E, infelizmente, esta é a cidade onde meu pai me deixou. Por
mais patético que seja, se eu partir, parecerá uma morte, como se
essa última pequena conexão entre nós fosse cortada
permanentemente.
Um leve afundar na cama me faz virar a cabeça. — Aí está você,
Stevens.
Stevens é um gato malhado marrom com olhos amarelos
brilhantes e uma expressão doce. Ele dá um pequeno miado
inquisitivo e depois bate com a cabeça no meu quadril. Estendo a
minha mão e, depois de alguns cheiradas, ele está ronronando e me
deixando acariciar seu pelo sedoso. — Um menino tão bonito.
A dor no meu peito se intensifica e então libera quando Stevens
ronrona e me oferece seu carinho. Eu o aconchego mais perto. Ele
é o principal motivo pelo qual aceitei esse trabalho. Talvez eu não
consiga manter um animal de estimação, mas posso amar o dos
outros por um curto período de tempo.
— Vamos, Stevens, vamos invadir a cozinha.
Vestindo meu pijama mais quentes e meias grossas, desço as
escadas. Agora, a neve está caindo tão densamente que a vista da
parede com janelas é um borrão branco. Ligo a lareira a gás, dou o
jantar a Stevens e sento na ilha da cozinha com o meu sorvete.
O silêncio é profundo, a neve apagando os sons da cidade, que
foi forçada a descansar dessa vez. Mas a calma pacífica não dura
por muito tempo.
De algum lugar do prédio vem o som de uma guitarra acústica. É
difícil dizer exatamente de onde, porque a música ecoa e amplifica
no silêncio induzido pela neve até que o som pareça me cercar.
Quem está tocando é bom.
Faz isso realmente muito bem.
O guitarrista está tocando uma das músicas mais antigas do Kill
John, uma balada lenta que fala de amor agridoce e tempos
passados. Isso aumenta o meu humor melancólico, e eu estou
tentada a gritar para o guitarrista desconhecido tocar “Apathy”, do
Kill John, então eu posso dançar pela cobertura e me sentir
empoderada.
Mas a música triste é bonita demais para parar. Cantarolando,
pego uma colher cheia do meu amado sorvete de menta direto do
pote e a deslizo lentamente para dentro da boca. O ato não me dá
tanto prazer quanto costuma fazer. A menta com pedaços de
chocolate tem o sabor fraco e minha mente se enche com a imagem
de John.
Que coisa estranha é a vida. Todos esses momentos de
interação com os outros, seguidos de um retorno à normalidade.
Normalmente, não pensamos duas vezes. E, no entanto, existirão
aqueles momentos singulares que de alguma forma se incorporam à
nossa psique quando estamos menos preparados.
Por mais que eu tente, não posso me livrar da lembrança do
confronto pelo sorvete que eu tive com John. Eu poderia dizer que é
porque ele era gostoso. Mas não é isso. Ok, claro, faz parte. Brigar
com um cara bonito certamente me deixa excitada. Mas não, é algo
mais.
— É como se eu conhecesse o homem — digo a Stevens
enquanto pego outra colher de sorvete. Eu reconheço o rosto dele.
O que é simplesmente estranho, porque eu não o conheço.
Stevens mia e empurra o meu pé com a sua cabeça.
— Eu sei. Certo? Talvez tenha sido um déjà vu bizarro.
As assustadoras notas de uma música do Kill John tocam, me
distraindo ainda mais.
Os olhos de John aparecem na minha mente, aquele olhar que
ele me deu por debaixo das mechas de cabelo escuras... eu já tinha
visto essa expressão dele antes. O reconhecimento me bate como
um trem de carga.
Paro, com a colher cheia na boca e imediatamente começo a
tossir.
— Puta merda — eu cuspo meu sorvete de menta gelado. — Ah
meu Deus.
Não pode ser. Estou inventando coisas na minha cabeça.
— De jeito nenhum — exclamo para um Stevens perplexo. —
Não pode ter sido.
Minha mente dispara, repassando cada segundo do meu
encontro bizarro com o homem que começo a suspeitar que seja
Jax Blackwood, cantor e guitarrista do Kill John. O nome verdadeiro
dele não é John? Kill John não é uma piada estranha entre a
banda? Uma combinação dos nomes de John e seu companheiro
de banda, Killian?
Eu estremeço. A ironia dói agora. Jax Blackwood tentou cometer
suicídio há pouco mais de dois anos. Foi muito público. Fotos
horríveis se espalharam por toda a mídia, de Jax no chão, quase
morto por causa de uma overdose. Kill John se desfez por um ano
após a quase tragédia.
Todo mundo estava falando sobre isso, um escândalo suculento
do qual não se cansavam. A vida muito particular de Jax serviu de
forragem para bebedouros em todos os lugares. Eu pessoalmente
achei triste. O nível de dor que Jax sentiu deve ter sido enorme. O
público deveria tê-lo deixado em paz. Mas o mundo o amava. Eles o
queriam bem. Eles queriam que sua estrela caída ascendesse
novamente. E ele conseguiu. Jax Blackwood estava em turnê com o
Kill John no verão passado. Eles esgotaram os ingressos para o
show de Nova York em cinco minutos.
— Jax Blackwood — digo em torno de outra colherada de
sorvete.
Mas por que Jax Blackwood, lendário cantor e guitarrista da
maior banda do mundo, estaria comprando mantimentos antes de
uma nevasca?
Isso é Manhattan e tudo pode acontecer, até uma estrela do rock
mundialmente famosa comprando sorvete de menta com chocolate.
Certo, é onde ele estaria, comprando sorvete. Não em algum lugar,
tomando sol em uma praia com mulheres lindas penduradas em
seus braços.
Não sei muito sobre Jax Blackwood, mas sei que ele é um
famoso mulherengo. A maioria das fotos que eu vi dele são com
mulheres sobrenaturalmente bonitas ao seu lado. Mulheres
famosas. Atrizes, modelos, cantoras. Ele não mudou muito nisso.
Mas Deus, agora que eu realmente penso sobre isso, meu cara
parecia exatamente como Jax. O mesmo sorriso ordinário do tipo,
eu vou abalar o seu mundo e deixar a sua calcinha molhada antes
de sair. Os mesmos lindos e sensuais olhos verdes. Eu tinha uma
vizinha que costumava declarar que Jax era a estrela de seus
sonhos pessoais. Por outro lado, ela reivindicou todos os membros
do Kill John com essa honra.
Na última foto que eu vi de Jax, seu cabelo passava dos ombros
e ele estava usando uma barba. O cara da loja – John – estava
barbeado, com cabelos mais curtos, uma bagunça desgrenhada.
— Ele poderia ter cortado o cabelo — pondero em voz alta.
Stevens mia de acordo.
Perturbada, eu encaro meu sorvete, a memória de seus lábios
contra os meus fazendo minhas bochechas corarem. Eu realmente
tinha beijado Jax Blackwood?
— Talvez ele se pareça muito com Jax — digo a Stevens. Mas e
a voz dele? Aquela voz de chocolate quente e biscoitos tinha sido
puro sexo e pecado. Assim como a de Jax.
Ele queria saber meu nome. E eu o abandonei.
Pressionando minhas mãos nas minhas bochechas quentes, eu
rio um pouco. — Santo inferno. Deixe por minha conta beijar uma
lenda do rock e nem apreciar completamente o fato até mais tarde.
Steven apenas mia.
— Talvez — eu emendo. — Eu acho que... Não... Ele não
poderia ter sido Jax.
CAPÍTULO QUATRO

STELLA

O de uma nevasca na primavera é que o tempo


esquenta mais cedo ou mais tarde. Eu fico na minha Cobertura
Fantástica com Stevens ronronando no meu colo durante uma
semana. Se você vai ficar presa dentro de casa por uma semana,
estar em uma cobertura do caralho é definitivamente a melhor
maneira. Já tive o suficiente de banhos longos na banheira para que
a minha pele fique com um tom rosado agora. E quem quer que
more nesse apartamento é um viciado em música. O sistema de
som é excelente, e tenho certeza de que todas as músicas já
gravadas estão armazenadas em um computador que parece ser
apenas para esse uso. A coleção de filmes também é fantástica.
Entre isso, meu leitor de livros digital e meu sorvete de menta, eu
poderia ter ficado feliz por mais tempo. Ok, claro, comer o sorvete
não tinha me proporcionado a felicidade usual. Certos... sentimentos
haviam atrapalhado. Mas eu comi esses sentimentos, entorpecendo
tudo com meus ganhos ilícitos.
Quando a neve que cobre o mundo derrete o suficiente para
podermos sair, estou precisando desesperadamente de algum
exercício. Oferecendo petiscos para Stevens e um borbulhoso
adeus para Hawn, pego meu tapete de ioga e vou para o ar livre.
Tenho certeza de que sou a pior praticante de ioga do planeta,
minha capacidade de manter uma pose é algo entre dez a trinta
segundos antes que eu caia ou alguma parte do meu corpo estale.
Mas é melhor do que correr. Eu detesto correr. Pulmões queimando
e canelas doloridas são um inferno que não estou disposta a
suportar.
Dito isso, sempre invejei os corredores. Eles parecem tão livres.
Além disso, eles terão vantagem definitiva durante um apocalipse
zumbi. Infelizmente, terei que renunciar o meu destino de ser uma
das pessoas mordidas.
Uma hora depois, estou suando um rio, tenho uma cara que
deixaria um tomate orgulhoso e estou voltando para casa. Por que
eu decidi tentar hot ioga é um mistério para todos. Calor e minha
bunda pálida não se misturam. Nem um pouco. Acho que prefiro
correr ou ser atacada por zumbis.
Deus, eu estou fedendo. A suor e a tapete de ioga úmido. Eu
passo por uma mulher que me dá um considerável espaço,
provavelmente para salvar suas narinas. Meu sorriso é sombrio
enquanto me arrasto.
Ao virar a esquina, finalmente chego ao meu prédio. De volta ao
meu amado banho. Estou sonhando com isso quando subo as
escadas da frente direto para...
— Você só pode estar brincando — eu exclamo quando John
para em seu caminho, um pé no primeiro degrau do meu edifício. —
Vamos lá, sério, era apenas um sorvete!
É o suficiente; esse cara não pode ser Jax Blackwood. Uma
estrela do rock não iria procurar uma mulher só porque ela pegou o
sorvete dele.
Não, não pareça culpada. Fique calma. Mesmo se você estiver
suada e fedida. Merda. Por que agora?
Ele também está suado, vestindo shorts esportivos e uma
camiseta de manga comprida que se agarra ao peito largo e ao
tronco plano como um abraço. Fica ótimo nele. Seu corpo é firme e
em forma, a proporção perfeita de ombros largos, fortes e magros e
barriga de tanquinho. Sua pele não está com manchas vermelhas,
mas parece mel suave. Naturalmente, seu suor cheira a sol e sexo.
Típico. Deveriam transformar em uma colônia: Cara Gostoso Suado.
O zumbido de algo puramente antecipatório passa por mim.
Aparentemente, eu sou fácil assim, feliz em ver um cara, mesmo
que pareça que ele é algum tipo assustador de perseguidor. Minhas
prioridades estão embaraçosamente fora de ordem.
Não ajuda que a luz do sol só melhora a sua boa aparência,
deixando seus olhos cor de jade escuros. Filho da puta sortudo. Ele
tem duas linhas profundas que sustentam sua boca quando ele
sorri. Eu não tinha notado isso antes. Mas eu lembro perfeitamente
da sua risada sem humor.
— Ah, essa culpa deve estar te devorando, Bonita. Aposto que
guardou aquele sorvete no seu congelador como se fosse um
coração batendo a semana toda.
— Não mesmo. — Claro que sim. Seu maldito e afrontoso rosto
me assombrou em cada colherada. — Eu comi todo o pote em um
instante. E foi gostoso pra caralho.
Ele sobe um degrau, aproximando-se de mim, no meu lugar, dois
degraus acima. Eu endureço, enquanto ele se inclina para perto,
sua voz no meu ouvido, zombando. — Tum, Tum. Tum, Tum.
— Cala a boca. — Não vou ceder. Não mesmo.
Mas eu cedo. Eu posso sentir a culpa distorcer as minhas
feições. Droga.
Ele ri. — Eu sabia. A vingança é um prato que se come frio, não
falam isso?
— Você está pensando demais em mim e no meu sorvete, cara.
— Eu coloco uma mão no meu quadril. — Você tem alguma ideia de
como é assustador e desesperado perseguir alguém por causa de
um sorvete?
Ele ri de novo – um som rouco, como se não risse por um tempo.
— Por mais que eu odeie te desapontar, Bonita, eu moro aqui.
— Conversa fiada.
— Sem sacanagem, docinho.
— É Stella, não “doce” ou “Bonita” ou qualquer apelido idiota que
você insista em usar.
— Stella, hein? — Ele parece mais perto agora. O suficiente para
ver aquela pequena cicatriz debaixo do olho dele novamente. Meus
joelhos ficam um pouco fracos. Eles quase cedem quando a sua voz
rouca chega até mim. — E meu nome é John. Lembra? Não é “cara”
ou “senhor” ou qualquer nome malévolo que você esteja usando na
sua cabeça. — Ele olha para mim, seu sorriso atrevido. — Não se
preocupe em negar. Eu praticamente posso vê-los quando você olha
para mim.
Ele tem razão. Eu tenho muitos apelidos para ele fervilhando na
minha cabeça. John? Ou Jax?
Deus, eu não sei. E ainda está me deixando louca.
Eu não quero que ele seja o Jax. Já é ruim o suficiente ter que
enfrentar esse cara agora, na minha pior aparência. Eu não vou
aguentar se for a estrela do rock que eu canto as músicas no
chuveiro. — Olha, seja você quem for… — Não seja Jax. —
Perseguir uma mulher por causa de um sorvete é triste. Tenho
certeza de que as lojas já estão reabastecidas agora.
Ele bufa. — Confie em mim, querida, não me importo tanto com
uma sobremesa.
— Tudo indica o contrário.
— Você está certa — diz ele com um sorriso sarcástico que
estou começando a associar a ele. — Pensei, “ei, por que não vou
correr e perseguir a pequena ladra beijoqueira que roubou meu
sorvete de menta com chocolate?” Por que, em uma cidade com
dez milhões de habitantes, eu com certeza vou encontrá-la.
— Haha. Sério. Haha. — Olho em volta da rua, onde tristes
aglomerados de neve enegrecida estão derretendo. — Você está
me dizendo que isso é uma coincidência?
Esse sorriso cresce, curvando-se nos cantos como o de uma
cobra. — Aparentemente sim. — Um conjunto de chaves tilinta
quando ele as levanta diante do meu nariz. — E eu também moro
aqui.
— Bem, foda-se — murmuro sem pensar.
John sorri largamente, a expressão em seus olhos positivamente
má. — Foder, hein? É algo que você gosta?
— Confie em mim, isso não foi um pedido. — Na verdade não.
Bem, talvez. Argh, deixe isso pra lá Stells.
Ele examina meu corpo com uma espécie de leitura preguiçosa,
claramente projetada para perturbar. — Tem certeza disso? Você
parece um pouco corada e superaquecida.
— Acabei de vir da hot ioga!
— Hot ioga? É como uma aula cheia de gostosas fazendo ioga?
— Ele acaricia o queixo como um professor assustador. — Estou
intrigado. Me diga mais.
Espere, ele me chamou de gostosa? Faço uma pausa, olhando
para ele, mas ele simplesmente pisca com falsa inocência.
— Eu vou para dentro — digo com um sorriso agradável. —
Fazer a posição do cão descendente me cansou.
O humor brilha em seus olhos, mas sua expressão fica
completamente maliciosa.
Eu levanto uma mão. — Seja o que estiver pensando, apenas
pare.
— Mas é tão bom — ele protesta, esse brilho clareando. — Ah,
as maravilhosas possibilidades.
— Porco.
— Oink. Oink. — Ele abaixa a cabeça na minha direção, e não é
justo o quão bom ele cheira quando está suado. Não é nada justo.
Feromônios de “foda-me” estão no seu melhor. — Como eu sei que
você não está me seguindo? Esse é o cenário mais provável.
Tudo em mim para – minha respiração, meu coração, meus
tremores musculares induzidos pela ioga. Eu sinto a pausa entre
nós. Ele claramente pensa que falou demais. E agora não há mais
mistério. Esse cara é Jax Blackwood.
Seus olhos se arregalam um pouco, como se silenciosamente
me pedisse para ignorar o que ele deixou escapar, voltar a pensar
que ele é apenas um cara normal. Mas então os olhos se estreitam,
e sinto que ele está se preparando para o impacto.
Honestamente, eu gostaria de poder deixar para lá, mas alguém
tem que falar sobre a estranha situação na escada. Eu limpo a
minha garganta. — Enquanto eu estava tomando o meu sorvete...
Ele bufa, mas permanece tenso.
— Pensei em como você parecia familiar.
— Foi a culpa assombrando você.
— Ou… não que seja tão importante. Você é Jax Blackwood.
Ele realmente se encolhe. — Porra. Você me reconheceu.
— Estava prestes a acontecer. John? Sério?
O queixo dele se inclina em um ângulo brusco. — É o meu
nome. John… sou eu. Jax é quem eu sou no palco.
Eu o imagino performando, com toda a energia, paixão crua e
talento puro. É uma bela visão. Inferno, um par de fantasias
realmente sexys foram induzidas por essa visão.
Enquanto estou perdida em uma fantasia adolescente, seus
olhos disparam como se estivesse esperando alguém sair de trás de
um montículo de neve e tirar uma foto. Então, seu olhar se prende a
mim. Minha expressão deve estar um pouco aturdida, porque todo o
seu corpo se afasta do meu. Não é exatamente lisonjeiro perceber
que ele tem medo que eu tente lamber o seu rosto ou algo assim.
Fecho minha boca aberta. — Ah, acalme-se. Não é como se eu
fosse começar a gritar e tentar agarrar o seu pau.
Sua expressão alivia um pouco. — Eu acho que se você
pegasse no meu pau, eu seria o único a gritar.
— Verdade. Eu tenho mãos surpreendentemente fortes. —
Quando ele me olha horrorizado, eu as levanto e mexo os dedos. —
Ioga. É altamente eficaz.
— Minhas bolas se encolheram de terror.
— Considere-se avisado.
Ele bufa, mas depois olha para o nosso prédio. — Você
realmente mora aqui?
— Acha mesmo que eu te segui?
John – porque eu não consigo pensar nele como Jax – passa a
mão pelo cabelo úmido, o que faz seu bíceps se enrolar e se
contorcer. — Sim... isso parece loucura.
Loucura. Toda essa situação. Um dia, me ofereceram um lar por
quatro meses em um apartamento dos sonhos; no outro, estou de
pé na minha varanda conversando com uma estrela do rock. A
maior lenda da minha geração. Sinceramente, não sei como não
estou gaguejando agora.
— Não acredito que somos vizinhos — digo sem pensar.
Seus olhos verdes brilham à luz da tarde, mas ele faz uma pausa
e me olha mais de perto. — Você sabe, não querendo parecer
convencido, mas você meio que está babando agora.
Meu queixo se fecha como se eu tivesse sido atingida, assim
como meu corpo cora de vergonha. Merda. Eu estava mesmo
babando. Não, não babando. Mas olhando para ele com admiração.
Argh. — Bem, você soa bastante convencido. Eu estava
simplesmente fazendo um contato visual educado.
Mentirosa.
Mesmo que seus lábios se curvem, ele é gentil o suficiente para
não apontar minha falha. — Você deve ser nova. Eu não te vi por aí
antes. E esse edifício não é tão grande.
— Eu me mudei na noite da nevasca.
— Você quer dizer a noite depois de roubar o sorvete?
— Você não vai esquecer isso, vai?
Ele me dá um olhar longo e uniforme, e me sinto contorcendo.
Não quero me lembrar de que o beijei, mas eu lembro. E ele sabe
disso. Seus lábios macios se esticam em um sorriso presunçoso.
Quando minhas bochechas atingem a capacidade máxima de rubor,
ele finalmente fala. — Considere o sorvete um presente de boas
vindas.
— Ei, eu te dei os meus biscoitos. Cadê o meu agradecimento?
John passa a parte de trás do dedo ao longo do lábio inferior. —
Eu sei que você está dizendo literalmente, mas só estou ouvindo as
insinuações.
— Pode querer verificar essa audição, detetive.
Ele cantarola como se estivesse de acordo, mas o olhar em seus
olhos é calculista. — Se você realmente mora aqui, qual é o número
do seu apartamento?
Eu quase não quero dizer a ele. É claro pela sua expressão que
ele está se divertindo me incomodando. Mas nem por um segundo
acho que ele está flertando para chegar a algum lugar comigo. Esse
cara é uma porta giratória de mulheres gostosas. Ruivas sardentas
de aparência comum não vão prender sua atenção por muito tempo.
Eu nem me importo. A ideia de transar com ele é impensável.
Ah, eu sei que ele faria o meu tempo valer a pena. A maneira como
ele se move é puro sexo e total confiança. Mas ele mora no meu
prédio. Não há como eu olhá-lo nos olhos dia após dia, sabendo que
ele me teve e saiu em seguida. Porque Jax Blackwood também é
famoso por isso.
Balanço a cabeça e forço meus pensamentos para longe do
sexo. — Estou no 5B.
John pisca, sua expressão continua totalmente em branco. —
Caralho, você é minha vizinha.
— 5A? — Eu digo fracamente. Deus, aquela música que eu ouvi
na outra noite – era ele tocando violão.
Ele abre um sorriso. — Esse sou eu.
E então me atinge como um choque. — Você é Aquele Que Não
Deve Ser Perturbado! Eu deveria saber.
— Perdão? Quem?
É meio cativante a maneira como a testa dele se enruga em
confusão.
— Meu vizinho de parede no andar da cobertura. Eu devo ficar
longe do Aquele Que Não Deve Ser Perturbado.
Ele pisca para mim e depois os cantos da boca se apertam. —
Vejo que Scottie está gerenciando as coisas novamente.
— Sr. Scott, você quer dizer.
— Sim, claro, como você quiser chamá-lo.
— Esse é o nome dele. Pelo menos esse é o nome do homem
que me contratou para cuidar dos animais.
Virando como um, nós dois subimos as escadas para as portas
da frente. John digita seu código de acesso e abre a porta para mim.
— A banda o chama de Scottie. Ele é nosso empresário.
— Todo o sigilo faz sentido agora.
— Ele é como um pai superprotetor e irritante. — John joga sua
garrafa de bebida vazia na lixeira ao lado da porta. Um arremesso
rápido e o bastardo nem olhou. — Mas ele, definitivamente, é o
nosso maior muro de proteção.
Eu toco minha testa. — Uau, entendi agora, você é famoso e
tudo mais. Você provavelmente não gosta de entrar em contato com
as pessoas comuns, a menos que elas classifiquem os seus M&M's
ou algo assim.
— Ah, pelo amor de Deus. Eu nem gosto de M&M’s.
— Skittles então. Você não quer provar o arco-íris inteiro, quer?
No entanto, eu realmente não posso discutir. Os roxos são nojentos.
Não sei que diabos é esse sabor, mas com certeza não é uva.
O silêncio soa enquanto John olha para mim como se eu tivesse
duas cabeças. Eu acho que ele é um amante dos roxos, o que
explica muito. Ele se sacode do seu torpor. — Sabe, eles fazem
remédios para lidar com pessoas como você.
— Ah, sério.
— Sim. Antiácido.
Eu não posso evitar; eu rio.
Sua expressão brava derrete, e então ele está rindo também. O
som é rico e quente, e ficamos ali rindo como dois lunáticos. Até nos
ocorrer que estamos ali rindo como dois idiotas, e nossa alegria
desaparece como um balão se esvaziando.
John limpa a garganta e se endireita. — Scottie te avisou, não
foi?
— Na verdade, ele disse que, se surgir algum problema em
relação a você, devo entrar em contato com ele imediatamente.
Ele faz uma careta, mas depois solta uma risada. — Sim, soa
como o bastardo.
— O que ele quis dizer, exatamente, com problemas?
A expressão de John se expande em um sorriso largo e
levemente maligno. — Ah, eu tenho certeza de que você vai
descobrir, você sabe… — Ele usa um sotaque britânico adequado,
imitando perfeitamente o Sr. Scott. — Quando esses problemas
surgirem.
— Fofo. — Eu olho para ele lentamente. — Não vou ter que
comprar um monte de extintores, não é?
Olhos arregalados e inocentes, cor de grama verde, me
encaram. — Claro que não. O apartamento já tem muitos. — Ele
pisca. Com isso, ele passa, indo em direção aos elevadores.
Infelizmente, estou subindo também.
John olha por cima do ombro, suas sobrancelhas arqueadas. —
Você está me seguindo, Bonita?
— Só porque você está indo para o elevador. E pare de me
chamar assim.
As portas do elevador se abrem e entramos no espaço. Eu
deveria ter pego o próximo. O elevador é muito pequeno e John
Blackwood ocupa muito espaço com seu enorme ego.
Ele se encosta na parede à minha frente, casualmente cruzando
uma longa perna sobre a outra. A postura tem o infeliz efeito
colateral de aumentar a protuberância espessa entre as pernas. Eu
mantenho meus olhos em seu rosto quando ele me dá um olhar
preguiçoso. — Não posso evitar. Você é bonita pra caramba, com
essas bochechas redondas e todas as pequenas sardas. Eu juro,
minha paixão do primeiro ano costumava ter uma boneca que se
parecia com você. Eu acho que ela chamou de Chucky.
Não se deve bater em uma estrela do rock. Seu corpo
provavelmente tem um seguro.
— Uau, eu nunca ouvi a piada do Chucky antes.
Ele ri. — Me disseram que sou original.
— Original? — Eu murmuro antes de lhe dar um sorriso
inofensivo. — Você sabe como Chucky lidava com as pessoas que
ele não gostava, certo?
John inclina a cabeça, me analisando. — Talvez seja eu quem
deva me preocupar com possíveis problemas que possam surgir.
— Dormir com um olho aberto pode ser a opção mais segura. —
Imito sua postura, que, infelizmente, não é tão sexy quando você é
pequena. — Obviamente você conhece o misterioso dono da
cobertura em que estou hospedada.
— Obviamente — ele concorda, um sorriso insolente ainda no
rosto.
— O que significa que você conhece Stevens e Hawn.
A boca de John se contrai. — Sim.
— Então por que você não está cuidando deles?
O sorriso dele cai um pouco. — Stevens não gosta de mim — ele
murmura, examinando a unha.
— Stevens? Mas ele é doce e fofinho. Ele é carinhoso, não um
lutador.
Os ombros largos de John se erguem com um encolher de
ombros.
Eu olho para ele com cuidado. — Deve ser algo que você fez.
Ele lança um olhar sombrio para mim. — Acidentalmente pisei
em seu rabo uma vez. Uma vez!
Não posso deixar de sorrir. — E a pobre Hawn? O peixinho
também tem algo contra você?
— Ainda não. Embora, para ser justo, Hawn seja nova. Antes
dela, era a Locks. Mas ela morreu. Muito repentino, você sabe.
O elevador chega ao nosso andar e saímos para a pequena área
entre as nossas portas.
— Locks? — Cachinhos Dourados2. Eu faço uma careta. — Ah,
Deus, isso é ruim.
John ri. — Apenas a ponta do iceberg quando se trata da loucura
de Killian.
Eu paro. — Killian? Estou cuidando os animais de estimação de
Killian James?
John faz uma careta. — Merda. Eu deveria ter ficado quieto.
— Uau. — Olho para a chave na minha mão e depois para a
porta do meu apartamento temporário. — Isso faz muito sentido
agora.
Cansado, John me olha. — Você não vai ficar toda estranha com
isso, vai?
— Eu? Pffft. — Eu aceno para ele. — Por que eu iria
enlouquecer sobre os animais de estimação de Killian James, se eu
nem estou impressionada com o infame Jax Blackwood?
No segundo em que digo, peço desculpas. John esvazia
instantaneamente, seu queixo apertado.
O arrependimento torna minha voz grossa. — Ei, eu não quis
dizer...
Ele levanta a mão. — Não, está bem. — Mas sua expressão é
fria, aqueles olhos verdes que antes estavam estalando com vida,
agora estão mortos. Ele se vira para a porta e abre rapidamente. —
Bem-vinda ao edifício.
— John...
— Se você precisar de alguma coisa, lembre-se de ligar para
Scottie.
Com isso, ele se foi, e eu sou deixada sozinha no corredor,
temendo ter cometido um erro terrível.
CAPÍTULO CINCO

STELLA

S um lugar para si no meu colo e ronrona. O seu peso


quente e vibrante é um conforto quando pego o telefone e disco.
Distraidamente, afago o pelo sedoso de Stevens e espero, cada
toque aumentando a minha agitação. Stevens se pressiona contra
mim, como se estivesse tentando fortalecer o meu espírito.
— Mitchell falando — responde um homem em breve.
Tenho certeza de que ele sabe quem está ligando, mas conto a
ele de qualquer maneira. — Oi, Mitchell, é Stella Grey.
Uma cadeira range e Mitchell limpa a garganta. — Srta. Grey,
sempre um prazer ouvir a sua voz.
— Sim, obrigada Mitchell. Eu estava pensando... — Eu lambo
meus lábios secos. — Você tem alguma informação nova...
— Srta. Grey — ele interrompe com um suspiro extenso — você
sabe que eu ligaria se tivesse algo para você.
Meu punho aperta o telefone. — Sim, eu sei. Eu só... queria ver...
— Eu sei — diz ele, mais gentil agora. — Sinto muito, garota.
Seu pai não é um homem fácil de encontrar. Ele usa pseudônimos,
não registra impostos, vive totalmente fora do radar. Inferno, não
tenho certeza se o nome dele é Garret Grey de verdade.
Eu bufo, mas soa como um soluço abafado. — Provavelmente
não. Mas é o único nome que tenho para seguir.
— Olha, eu não me sinto bem em continuar aceitando o seu
dinheiro quando estou apenas encontrando becos sem saída.
Estupidamente, concordo, mesmo sabendo que ele não pode me
ver. Mitchell não é a primeira pessoa que eu contratei para localizar
o meu pai. Mas ele será a última.
Eu lambo meus lábios novamente e encontro a minha voz. —
Talvez seja melhor dar um tempo. Obrigada, Mitchell, por tentar.
Ele resmunga. — Eu falhei com você, e nós dois sabemos disso.
Meu sorriso é vacilante. — Não é sua culpa, você não pode
encontrá-lo. O homem dedicou sua vida a fugir das pessoas.
— Correndo o risco de parecer condescendente, talvez seja o
melhor. Um pai que abandona o filho não vale a pena ser
encontrado.
Apesar da opinião rude e bem-intencionada de Mitchell, minha
visão borra com lágrimas quentes que eu rapidamente afasto. —
Como você está certo.
Desligo e abraço Stevens. Meu nariz e pálpebras formigam e
queimam com lágrimas não derramadas. Me sinto uma tola
procurando meu pai quando sei muito bem que ele não quer ser
encontrado. Se ele quisesse, saberia exatamente onde me
encontrar. Ou saberia antes de eu me mudar. Agora?
Bem, ele ainda seria capaz de me encontrar se tentasse. Papai
sempre foi bom em deixar uma marca. Mas ele nunca se preocupou
em voltar.
Um pequeno soluço me escapa, e escondo meu rosto na nuca
de Stevens, sem prestar atenção nos pelos fazendo cócegas no
meu nariz. Eu deveria ter deixado isso para trás há muito tempo.
Meu pai me deixou. Foda-se ele. Ele não merece outro pensamento
meu. Mas isso não me impediu de gastar muito dinheiro procurando-
o.
Eu nem tenho certeza do que eu queria com ele. Uma chance de
mandá-lo se foder por me deixar. Uma chance de perguntar por que
eu era descartável. Talvez até perguntar se tínhamos outra família.
Minha mãe não tinha nenhuma.
Mamãe. Há dias em que luto para lembrar do seu rosto. Não
tenho mais nada dela, nem fotos, nem lembranças. Quando meu pai
pensou em embalar as coisas dela, um senhorio enfurecido já tinha
jogado tudo fora e nosso apartamento em DC havia sido alugado.
Eu nunca perdoei meu pai por isso.
Fico horrorizada que as suas feições estejam nebulosas em
minha mente. Eu sei que tinha cabelos loiros que eram sedosos e
macios ao toque, e olhos azuis profundos – da mesma cor do que
os meus. Ela cheirava a maçãs frescas, e quando eu estava triste,
descansava minha cabeça no declive do seu peito e ouvia seu
batimento cardíaco.
Sinto tanto a falta dela que às vezes dói respirar. Mas ela se foi.
Não tenho ninguém em quem confiar, a não ser eu mesma. Faz
tanto tempo que eu deveria aceitar e seguir em frente. Eu fiquei
presa em um padrão de espera, tentando encontrar um pai que
falhou comigo de muitas maneiras.
Limpando meu rosto, coloco Stevens de lado e levanto,
esticando meus músculos cansados. — Chega de autopiedade,
Stevens.
Entrando no banheiro, pego um lenço de papel e assoo o nariz
antes de lavar o rosto. Stevens segue, observando com interesse
curioso.
— Sou jovem e inteligente. Tenho a vida inteira pela frente. Estou
ficando em uma cobertura com o gato mais fofo de todos os tempos.
— Com isso, Stevens mia e eu sorrio. — O gato mais fofo e
inteligente de todos os tempos. Eu não preciso encontrar o idiota
que me fez infeliz quando ele estava por perto. Não mais. Para o
alto e avante.
Stevens mia novamente e eu aceno. — Está decidido.
Com isso, tomo um longo banho quente. E se acontecer de eu
chorar o tempo todo, há apenas Stevens para ouvir os meus
soluços, e ele não vai contar a ninguém.

E . Eles são malditamente claros. O peso no


meu peito, a forma como fica mais difícil levantar de manhã, porque
a cama é confortável e os sonhos são melhores do que a realidade.
Tudo se torna pesado. Até a minha mente.
Essa é a pior parte disso, não conseguir escapar da sua própria
mente.
A mente é tudo, certo? Como você se afasta de seus próprios
pensamentos? Você não pode. Existe apenas a distração.
Antes, quando meu mundo começava a ficar sombrio, eu me
distraía com música, bebida, festas e sexo. Ótimas distrações
quando você é uma estrela do rock e todo mundo quer agradá-lo.
Pelo menos por um tempo. Mas a escuridão sempre encontrará uma
maneira de entrar.
Além disso, beber, usar drogas? Pior distração possível. Eu
poderia muito bem ter apertado um botão de autodestruição e me
poupado algum tempo.
Inclino-me no sofá e passo a mão sobre o rosto para sentir algo
diferente do peso pressionando contra mim. Os sussurros não
param, no entanto. Os pequenos pensamentos traiçoeiros
rastejando pelo meu cérebro, me dizendo que eu mereci isso, que
sou um desperdício de espaço.
— Droga. — Eu pulo e espreito a sala de estar. Mecanismo de
defesa número um: lembre-se de que seus pensamentos nem
sempre são seus amigos. Eles podem mentir como um filho da puta.
Eu sou Jax Blackwood porra, uma maldita lenda. Sou a voz da
minha geração.
Não mais. Você é o conto de advertência da sua geração.
— Merda.
Não é verdade, cara. Isso é apenas a ansiedade tentando fazer
uma agradável e confortável casa no seu cérebro. Foda-se a
ansiedade.
Eu me acalmo um pouco, mas não o suficiente. Estou tomando
medicação, mas isso não é tão preto e branco quanto parece. É
uma questão de descobrir qual medicamento funciona para mim.
Tentativa e erro. E não importa o que eu tome, eu tenho que ficar
mentalmente vigilante.
Marco uma consulta com a minha terapeuta. Não vou mentir –
meu lado infantil se irrita com o fato de que preciso pedir ajuda. É
estúpido como o inferno, mas aí está; me sinto dependente dos
outros e não gosto disso. Mas isso é parte do que me afundou antes
– a recusa em acreditar que eu precisava de ajuda.
Aprendi com os meus erros. E agora, preciso de reforços.
Mesmo que seja uma merda.
Pego o telefone e digito.
Trinta minutos depois, minha campainha toca.
Porra, porra, porra, isso realmente me faz querer vomitar.
Rye e Whip sorriem para mim do outro lado da porta.
— Olá, Sting — diz Rye enquanto passa por mim.
— Sting?
Whip entra e me dá uma olhada paciente. — Você enviou um
SOS.
Certo. “Message in the Bottle”, uma das melhores músicas do
The Police.
— Engraçadinho — digo enquanto Scottie os segue, sua
expressão severa e um pouco irritada. Como ele está sempre assim,
não levo para o lado pessoal.
— Jax — diz ele como forma de cumprimento. Mas também vejo
a preocupação em seus olhos. Ele sabe que eu não chamaria todos
eles aqui se não fosse sério.
Olho para o lado de fora agora vazio.
— O que você está procurando? — Scottie pergunta.
— Garantindo que Brenna não esteja escondida nas sombras. —
Para onde Scottie vai, ela normalmente segue como um capanga
malvado em um salto alto de treze centímetros. — Onde ela está?
— Em Los Angeles — diz Scottie enquanto se inclina contra um
braço do sofá. — O que está acontecendo, Jax?
— Direto ao assunto, hein? — Vou até minha cozinha, fingindo
que não estou prestes a vomitar. — Nenhum “Olá, Jax, bom te ver.
Como você tem estado?”
Scottie levanta uma sobrancelha. — Como você tem estado,
Jax?
— Bem, obrigado.
— Fico feliz em ouvir isso. Agora me diga o que diabos está
acontecendo.
Rye e Whip se sentam nas poltronas e nos observam. Pego
algumas cervejas e jogo uma garrafa para cada um. Eles pegam
suas bebidas com facilidade.
— Você quer uma, Scottie? Não preparei nenhum chá.
Cruzando os braços sobre o peito, ele me dá um olhar firme. —
Eu vou precisar disso?
— Provavelmente.
Scottie puxa os punhos da camisa, ajustando-os. Seu terno é
cinza e impecável. Eu só o vi verdadeiramente irritado uma vez e foi
por causa da sua agora esposa, Sophie. Eu sei que ele
permanecerá calmo quando eu contar as minhas novidades. Eu
confio nisso. Ele é a cola que mantém essa banda unida – uma
excelente qualidade para se ter em um empresário.
— Cara — Rye diz de sua poltrona, — diga de uma vez.
Rye, nosso baixista, é um grande brutamontes com um
conhecimento enciclopédico de música. Ele também é um pé no
saco.
— Jesus — diz Whip, balançando a cabeça. — Deixe o cara ter
um minuto.
— Obrigado, Whip.
— Claro, Jax. — Ele pisca. — A merda flutua ou afunda. De
qualquer forma, ainda é uma merda.
— Eu nem... sei o que diabos isso significa.
Ele sorri. Como um idiota.
As meninas adoram Whip. Ele tem o cabelo escuro, olhos azuis
e a cara de um modelo. Inferno, eu também tenho essa aparência.
Mas Whip de alguma forma se faz parecer inocente e um pouco
perdido, como se tudo o que ele precisa é do amor de uma boa
mulher para salvá-lo. E todas elas se apaixonam por isso. Ele é o
nosso baterista. Mesmo agora, ele está batendo as mãos nas coxas
porque não pode ficar parado.
Com um suspiro, me jogo no sofá e esfrego as mãos sobre o
rosto. — Eu tenho uma DST.
Se um rato peidasse agora, você seria capaz de ouvir.
— Desculpa, o que? — Rye diz com uma tosse.
— Você me ouviu.
Uma garganta é limpa.
O sotaque de Scottie fica mais nítido. — Que DST você tem,
John?
Ele está me chamando John. Estou na merda.
Eu recuo e encontro o seu rosto sombrio. — Clamídia.
— Puta merda. — Ele aperta a ponta do nariz e depois se afasta
do sofá para andar.
— Uau. — Rye balança para a frente e aperta as mãos. — Uau.
Isso é só... caralho.
Whip me dá um olhar simpático. — Sinto muito, cara.
— Sim. — Eu me sinto do tamanho de um inseto.
— Como no inferno… — Scottie levanta a mão. — Não
responda. Eu sei como. Droga, John, você é mais inteligente do que
isso.
— Sério — acrescenta Rye. — Segurança em primeiro lugar,
cara. Cubra-o antes de sufocá-lo.
Apesar de me sentir uma merda, sento-me ereto. — Ei, eu me
protegi.
— Então por que...
— Oral. — Quando Rye franze a testa, dou-lhe um olhar
compassivo. — Você também está se protegendo? Usando uma
barragem dental? Caso contrário, eu verificaria meus exames se eu
fosse você.
Rye parece horrorizado. — Você está falando sério, cara?
Scottie faz um barulho irritado. — É isso aí, estou inscrevendo
todos vocês em uma aula de Educação Sexual.
Com a sua postura desleixada na cadeira, Whip sorri
largamente. — Apenas me dê os guias de estudo.
— Você já os teve. Eles claramente deixaram todos vocês
lamentavelmente mal educados.
Whip balança a cabeça e me dá um olhar simpático. — Dureza,
J.
— Sim.
— É por isso que eu estou fora do sexo casual — ele diz
sombriamente. — A partir de agora, estou esperando por uma
namorada ou contratando uma profissional.
— Você vai pagar uma prostituta? — Rye pergunta, chocado. —
Estamos tão baixo assim, William?
— Uma profissional cuidadosamente avaliada e altamente
treinada — corrige Whip, depois dá de ombros. — Ela sabe o que
está fazendo, e ninguém se machuca ou contrai a porra de uma
DST. — Não perco a ênfase na última parte.
— E se ela falar — Rye pressiona, — o que acontece?
Whip balança a cabeça. — O tipo de mulher que eu contrataria
teria tanto a perder que manteria em segredo a identidade do seu
cliente.
— Você parece saber muito sobre isso — aponto, olhando para o
meu amigo. — Você não está usando esse serviço agora, está?
— Estamos falando da sua vida sexual agora, Garganta
Profunda, não da minha.
Whip se esquiva facilmente da almofada que eu lanço nele, mas
não da lata de Pringles que vai em seguida. Ela faz um barulho
satisfatório quando se conecta à sua cabeça, e eu rio enquanto ele
esfrega a cabeça e vira para mim.
— Cara — Rye se inclina, seus olhos cinzentos arregalados de
preocupação, — seu pau dói? Ou as suas bolas? Eu sempre me
perguntei o que acontece, mas tive medo de procurar. O Google não
é seu amigo nesses casos. — Ele estremece.
— Eu disse que peguei fazendo um oral, não foi? Está na minha
garganta.
— Na porra da sua garganta? — Novamente com a expressão
de horror.
— Você prefere que esteja no meu pau? — Não posso deixar de
rir, mesmo que não seja engraçado. Não para mim, pelo menos.
— Não. Eu só... Deus. Acho que não vou conseguir comer uma
garota por pelo menos uma semana depois disso.
Whip bufa. — Uma semana inteira? É como abstinência para
você.
— Né? — Ele balança as sobrancelhas.
— Vocês estão me dando azia — Scottie murmura, depois faz
uma pausa e franze a testa. — Como isso afeta a sua voz? — Ele
levanta a mão quando eu o encaro. — Eu tinha que perguntar.
Meus ombros caem. — A infecção não saiu do controle porque a
descobrimos cedo. Vou te dizer como eu me sinto quando tentar
cantar.
Assentindo, ele pega o telefone, o polegar batendo na tela.
— O que você está fazendo ?— Eu pergunto com alguma
apreensão.
— Ligando para Brenna.
— O que? Não! — Eu pulo, pronto para pegar o celular dele. —
Não conte a ela. Ela vai falar sobre isso pelo resto da vida.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você acha que eu esconderia
dela? Ela é a chefe de relações públicas e isso vai ser uma merda
de pesadelo para eles. Seus parceiros devem ser informados.
Eu paro. — Porra. Eu sei, tudo bem. Eu só... Foda-se.
Whips sorri. — Foder é o que te levou a isso, filho.
— William? — Scottie olha para ele. — Cale a boca.
— Sim chefe. Calando agora, chefe. Calando completamente.
Scottie não se incomoda em reconhecê-lo. — Você tem uma
ideia de quem pode ser a mulher em questão?
— Sim. — Meu estômago aperta. — Acho que sei quem é. O
problema é que não trocamos nomes exatamente.
— Você quer dizer que há apenas uma candidata? — Rye
pergunta, como se a possibilidade de eu não ter feito sexo oral em
inúmeras mulheres fosse inédita. Se ele tivesse me perguntado
alguns anos atrás, eu teria concordado.
A verdade é que eu adorava ter uma mulher dessa forma. Talvez
tenha sido a minha infância britânica, mas a ideia de colocar minha
boca entre as coxas de uma mulher sempre pareceu um pouco
ilícita e completamente viciante. Trazer uma mulher ao ponto em
que ela está tremendo, vacilante na ponta do precipício e tudo do
que precisa é do simples toque da minha língua para fazê-la perder
a cabeça.
Então ficou muito fácil, muito comum. Quando o sexo é fácil de
encontrar, oferecido várias vezes diariamente, a emoção se
transforma em algo mais vulgar. Agora, sexo é mais sobre eu me
sair da maneira mais eficiente possível. E esse não é um
pensamento triste.
Esfrego minha mandíbula, querendo tocar minha garganta
dolorida, mas me recusando a fazer isso. — Uma mulher que pode
ter me dado a DST. Nós estávamos em turnê. Você sabe como é.
Tínhamos talvez... merda... dez ou quinze mulheres ao redor na
mesma época. — Tudo dentro de mim aperta e torce. Eu poderia ter
passado para outras pessoas. Eu tive sexo protegido todas as
vezes, mas não usava camisinha quando uma garota me dava um
boquete.
Eu posso sentir Scottie ao meu lado e o peso do seu olhar. Isso
aumenta o peso já nos meus ombros e fecho os meus olhos. — Eu
nem sei o nome delas, Scottie.
Ele não diz nada. Eu não quero que ele diga. Não há nada a ser
dito. Em algum momento, você não pode fugir dos seus erros.
Inesperadamente, sua mão agarra meu ombro e aperta. — Nós
vamos resolver isso, cara.
Concordo, mas é superficial. — Eu deveria ser o único a dizer a
elas.
O aperto dele fica mais forte. — Absolutamente não.
Olho para ele e o encontro me olhando. — É um erro meu. Eu
preciso assumir a responsabilidade.
As narinas de Scottie se alargam dessa maneira obstinada dele.
— E você se deixará bem aberto para aquelas que querem tirar
proveito dessa situação.
— Se eu infectei uma mulher, ela tem o direito ficar chateada.
— Chateada, sim. Processá-lo ou explorar a situação? Não.
Você não foi o único a tomar decisões durante o sexo.
— Quando você se tornou tão cínico?
Seu sorriso é breve e sem humor. — Quando vocês se tornaram
famosos.
Eu bufo e olho para longe. Ele não está errado. A merda que
vimos ao longo dos anos afetou todos nós de maneiras diferentes.
Scottie se tornou mais protetor, enquanto eu me tornei mais isolado.
Sexo foi o meu último contato significativo com pessoas fora da
banda.
— Brenna e eu vamos lidar com isso — diz ele em voz baixa. —
Vamos fazer o nosso trabalho.
Que trabalho. Eu não respondo e Scottie sai para ligar para
Brenna.
Estremecendo, ando até a janela dos fundos. Basicamente, a
neve acabou agora, restando apenas pequenos montes nos cantos.
Eu tenho um jardim no terraço onde eu poderia sentar, se quisesse.
Mas acho que nunca quis.
Rye vem para ficar ao meu lado e então Whip aparece do outro.
Ficamos em silêncio, olhando a cidade enquanto a voz de Scottie
sobe e desce com aborrecimento.
— Eu não posso mais fazer sexo — murmuro.
Whip enfia as mãos nos bolsos da calça jeans. — Bem, não até
o seu tratamento terminar.
— E quanto é isso, uma semana? — Rye acrescenta.
Esfrego a parte de trás do meu pescoço. — Essa não é a
questão. Não estou arriscando de novo.
Rye olha para mim. — Você não quer mais? Fazer sexo?
— Eu não sei. Whip está certo; não posso mais ter sexo casual.
Mas também não estou procurando por algo sério. A última coisa
que quero é uma namorada. Eu sou uma bagunça do caralho, e não
há como dar a alguém tanto poder sobre mim.
Whip assente. — Como eu disse, ou você se familiariza muito
bem com a sua mão ou contrata alguém.
— Faça uma anotação mental para não tocar na mão de Whip —
diz Rye para mim.
Whip lhe dá o dedo
enquanto suspiro.
— Nenhuma dessas opções são atraentes. — Porra dupla.
A mão pesada de Rye pousa no meu ombro. — Eu acho que
você está fodido, J. — Ele bufa. — Ou não fodido, se você quiser
ser técnico.
Eu não sei disso.
CAPÍTULO SEIS

STELLA

A um novo vizinho que se recusa a sair da minha


cabeça, não importa o que eu faça, morar na casa de Killian James
é um sonho. Tenho um mau pressentimento de que será difícil
desistir. Como faço para voltar para aqueles armários minúsculos e
sem luz que as pessoas nessa cidade chamam de apartamentos?
Já estou me apegando ao doce Stevens, que me segue pela casa
como um guarda-costas peludo.
Ele observa enquanto eu arrumo o meu tapete de ioga no
terraço. Um terraço de verdade. Na cidade de Nova York. Estou
quase tonta. O sol brilha no pavimento de pedra. O amplo espaço é
moderno, com espreguiçadeiras e sofás organizados em torno de
uma fogueira/fonte de água quadrada em pedra e aço. No momento,
a água está ligada e dança alegremente através do barulho da
cidade abaixo.
Quando começo minha saudação ao sol, não consigo deixar de
olhar para a parede que divide meu terraço do de John. É mais
baixa do que eu esperava, quase no peito. Exuberantes árvores em
vasos e videiras floridas são visíveis, e tenho a vontade esmagadora
de espiar o terraço de John, porque parece um jardim muito verde
em comparação com o espaço austero de Killian. Não é o que eu
esperava do meu vizinho.
Mas eu realmente não o conheço. Não o vejo há uma semana.
Não é como se eu estivesse tentando vê-lo. Mas é estranho que
nunca nos encontremos. Eu me pergunto se ele está me evitando.
— Ridículo — murmuro, movendo-me para a pose da prancha.
Eu odeio a pose da prancha. Meu corpo treme, fogo correndo
pelo o meu peito. Tenho certeza de que meus seios estão me
avisando que estão prestes a pular do navio e fugir. Eu mantenho a
posição por poucos segundos antes de cair com um alto “oof”. Mas
estou melhorando. Pelo menos agora eu posso fazer uma prancha.
Antes, meus quadris não saíam do chão, por mais que tentasse me
levantar. O progresso é bom.
Só que agora que devo endireitar meus braços e graciosamente
subir em um cão descendente. Eu dou uma risada e me alinho por
um segundo antes da parte superior do meu corpo dizer: — Não.
Não. NÃO. — Eu faço o movimento e provavelmente pareço uma
tartaruga bêbada.
A posição do cachorro voltado para cima é um doce alívio,
esticando meus pobres braços. Mas minhas coxas e panturrilhas
queimam em protesto. Inspiro e expiro, mantendo a posição,
absorvendo o sol quente.
O tilintar suave da água acalma e uma brisa suave agita as
copas das árvores no terraço de John. À distância está a melodia
sempre presente em Nova York: buzinas e sirenes e barulhos
aleatórios. Isso me conforta tanto quanto qualquer outra coisa, e eu
me vejo afundando naquele agradável e relaxante estado de
espírito, apenas para ser arrancada dele pelo som áspero de uma
guitarra. O pavimento abaixo de mim vibra.
Maldita estrela do rock. Ele não respeita ninguém? Ele nem está
tentando manter o som baixo. Apenas fica mais alto, mais irritado. É
como se eu tivesse aterrissado no meio de um show, porra.
Resmungando, fico de pé e caminho até a parede que separa
nossos espaços. Há um baixo banco de pedra do lado de Killian, e
eu fico de pé para espiar por cima do muro. As portas de correr de
vidro do lado do John estão bem abertas, mas não o vejo em lugar
nenhum.
A música toca, agressiva e pesada. Não é uma das músicas do
Kill John, o que me surpreende. Pensei que ele só tocasse as suas
canções. Mas ele está tocando e cantando “Alive”, do Pearl Jam.
Sua versão não soa exatamente como a de Eddie Vedder. Existem
diferenças sutis. O tom de sua voz é um pouco mais limpo, a
guitarra tocando está tingida de melancolia sob toda a raiva. Não
tenho ideia de como isso acontece, mas deixa claro que, embora as
notas musicais permaneçam as mesmas, cada artista pinta uma tela
diferente.
E não há dúvida sobre isso; Jax Blackwood é um artista.
Normalmente, eu poderia estar dançando, mas a minha calma foi
dizimada e tem poucas chances de eu conseguir voltar. Eu quero o
meu estado zen de volta.
— Oi! — Eu grito a plenos pulmões. — John! Blackwood!
Nada. Nem mesmo uma pausa.
Ele toca com fluxo fácil, sua guitarra cantando.
Coloco minhas mãos em volta da boca e grito de novo. —
Olááááá!
É inútil. Não tem como ele me ouvir. Pego uma das almofadas de
uma espreguiçadeira próxima e a jogo na direção de suas portas de
correr. Ela cai lamentavelmente longe do alvo. Com um rosnado,
considero jogar minha garrafa de água, mas ele claramente não
está olhando na direção das suas portas ou teria visto a almofada.
Isso ou ele está ignorando. Eu poderia ligar para o Sr. Scott.
Afinal, ele me disse para avisar se John estivesse sendo um pé no
saco. Mas parece que estou fazendo uma fofoca. Além disso, eu já
conheci John. Por que me preocupar com um intermediário quando
posso ir direto na fonte?
É o que digo a mim mesma. O que eu realmente faço, no
entanto, é hesitar e encarar o lado de John do terraço.
Como eu suspeitava, o jardim de John é um paraíso exuberante
no meio da cidade. É muito inglês, com canteiros de flores coloridos
e caminhos traçados. Ele também tem uma fonte, mas apresenta
uma escultura de Pan tocando sua flauta. Não faço ideia se John
comprou a cobertura com o terraço desse jeito ou se ele o criou,
mas sua beleza me surpreende.
John atinge a reverberação na guitarra e o grito desafiador me
tira da minha fantasia de tomar chá e comer bolos sob a bonita
lógia3. Ok, já basta. Eu posso fazer isso. Eu posso confrontá-lo. É
apenas uma pequena questão de arrombar e entrar. Bem,
tecnicamente não estou “arrombando” nada se eu pular o muro dele.
Apenas uma pequena entrada ilegal, então.
John não vai se importar. Tenho certeza de que ele me deixaria
entrar se pudesse me ouvir. Um suor frio brota no meu lábio
enquanto contemplo meu crime.
— Ah, aguente firme, doçura — murmuro para mim mesma.
Limpando as palmas das mãos suadas na calça legging, eu as
pressiono contra o topo quente da parede e me levanto. Imaginei
fazer isso com mais graça, mas depois de alguns problemas,
consigo me levantar e pular no banco espelhado que percorre a
parede de John. Sem me dar tempo para me acovardar, vou direto
para dentro.
Por um momento, estou distraída com o fato de que, diferente do
estilo urbano-retrô de Killian, a casa de John é decorada como algo
saído diretamente do set de Orgulho e Preconceito. Enormes
tapetes orientais sobrepõem um ao outro. Existem móveis antigos e
caros, cadeiras estofadas e dezenas de pinturas a óleo em
molduras douradas. É tão contrário à fachada de roqueiro que John
usa que eu fico boquiaberta, perguntando-me se eu entrei em uma
dimensão alternativa.
Mas não, a música está mais alta do que nunca. E estou
invadindo um apartamento no palácio de Buckingham.
Para provar que não sou uma aberração total, eu o chamo
enquanto lentamente entro ainda mais em sua casa. — John? Jax?
Você pode me ouvir?
Não. Não, ele não pode.
Eu sei disso porque ele está de pé em um tapete persa vermelho
desbotado, completamente absorvido pela música, os dedos se
movendo com precisão nas cordas da guitarra.
E ele está completamente nu.
Jesus amado, não posso desviar o olhar. Eu. Não. Posso.
Desviar. O. Olhar.
Ele é impressionante. De tirar o fôlego.
O corpo dele é mais longo e magro do que grande e volumoso.
Ombros quadrados encantadores, quadris compactos, coxas bem
definidas e surpreendentemente fortes e panturrilhas firmes. Correr
claramente faz bem ao corpo. E talvez tocar guitarra também,
porque os antebraços do homem são pura poesia, atléticos com
definição.
Tudo isso passa pela minha cabeça num piscar de olhos, porque
na verdade eu estou apenas boquiaberta como um peixe
moribundo.
Santo inferno, ele move seus quadris como se estivesse
fodendo, a guitarra mal escondendo suas mercadorias. Mas então
ele levanta o pescoço e de repente tudo está em exibição. E toda
aquela... espessura... balança. Balança como o pêndulo de um
hipnotizador. Juro que balanço com ele, completamente hipnotizada.
Isso é até que ele se vira e seus olhos verdes se fixam nos
meus. Isso me tira do meu transe mais rápido do que uma bala, e
entendo perfeitamente que estou de pé em uma sala com Jax
Blackwood nu.
Naturalmente, eu enlouqueço.

S . Amplos, profundos
espelhos azuis, refletindo algo como horror, mas não é realmente
isso – algo mais perto de choque e mortificação, como se eu tivesse
lhe dado um tapa com o meu pau ou algo assim. E “pau” é
definitivamente o tema do dia, porque, mesmo que o Pequeno John
esteja bem escondido atrás da guitarra, ela está olhando para minha
virilha, como se a memória dele estivesse queimada em suas
retinas.
— Ah meu pênis... Deus. Meu pênis... DeuspênisDeus... — Ela
bate as mãos. — Deus. Eu quis dizer Deus. Deus-pênis. Argh!
Sua tagarelice confusa termina em um murmúrio e um novo fluxo
de batidas rápidas das mãos.
Mesmo que a sua aparição repentina tenha me assustado pra
caralho – até eu perceber que era Stella e não uma perseguidora
que havia conseguido entrar – uma risada me escapa. — Meu pênis
é divino, então eu entendo a sua confusão.
O rosto dela está vermelho vivo. — Pau4.
— Ele também tem esse nome. — Eu pisco para ela porque é
hilário o jeito que ela está praticamente pulando ao redor, mas seus
olhos estão colados na minha guitarra. — Embora você deva dar
uma boa olhada se realmente quiser ficar impressionada.
Movo-me para levantar minha guitarra, e ela estica as mãos.
— Não se atreva! Você vai deixar a guitarra exatamente onde
está, senhor.
— Tem certeza? — Eu hesito, minha mão segurando o pescoço.
— Você está olhando muito para alguém que não quer ver as minha
mercadorias.
Seus olhos se limitam ao meu rosto, seu brilho é como um raio
da morte. — Que diabos, Jax? Quem sai por aí nu tocando guitarra?
— É John. — Por alguma razão, me incomoda muito quando ela
me chama de Jax. — E eu toco. Quando estou na privacidade do
minha própria casa. — Eu sorrio — Embora tenha existido uma vez
no palco.
— Bem... vista algumas roupas — ela sibila.
— Não.
— Não?
— É a minha casa. Estou tocando pelado. Lide com isso.
Stella bufa, o que faz coisas fantásticas aos seus seios. Eu sou
momentaneamente distraído pela maneira como eles balançam
naquele topzinho que ela está vestindo. Talvez eu mantenha a
guitarra na frente do meu pau depois de tudo. Porque, agora que eu
dei uma boa olhada nela, é difícil virar as costas.
Com o cabelo ruivo e aqueles lábios carnudos, ela é uma Wilma
Flinstone total. Cintura fina, quadris volumosos, pernas curvilíneas.
E os seios dela? Fantasma de Great Gibson5, por que diabos ela
costuma esconder esses doces seios atrás de blusas folgadas? Ela
tem a Cachinhos Dourados dos seios – não muito grandes, não
muito pequenos, mas apenas certos. Eles são perfeitos, um
punhado atrevido. E eu tenho mãos muito grandes.
— Você está olhando para os meus peitos? — Stella estala,
atraindo a minha atenção e me fazendo recuar.
Eu não desvio o olhar, no entanto. Santo inferno, eles são lindos.
— Você olhou para o meu pau — eu digo para os seios dela. —
Estou apenas devolvendo o favor.
Tenho o prazer de assistir seus mamilos se animarem e dizerem
olá. Um sorriso se espalha pela minha boca. Droga, eles parecem
perfeitos também, como pequenas jujubas. Eu quero vê-los. Agora.
— Oi. — Ela estala os dedos. — Você já os viu. Agora olhe para
cima.
Ela está certa; existe olhar e depois existe o babar.
— Falando em dar uma olhada… — Eu limpo a minha garganta.
— Por que você está invadindo?
O rubor chega até os seus seios. Seios adoráveis. Comporte-se,
John.
A voz na minha cabeça soa perturbadoramente parecida com a
da minha mãe. Desconcertante, já que não ouço a voz dela há anos.
Isso mata qualquer excitação que eu tenha mais rápido do que um
tiro.
— Eu tentei chamar — diz Stella. — Você não me ouviu.
— Então, você simplesmente entra direto? É bom saber que já
estamos nesse nível no nosso relacionamento.
— Nós não temos um relacionamento. E sim, eu entrei. Você
está perturbando o meu tempo fazendo ioga com todo o barulho.
Sério, essa garota. Ela é parte entretenimento de qualidade,
parte desmancha prazer. Uma dicotomia completa. — Isso não era
barulho. Era música, Stella Bonita.
— Seja o que for... Argh. Não posso falar com você desse jeito.
Coloque uma maldita calça, pelo menos.
A agitação dela me diverte e fico tentado a recusar o seu pedido.
Mas estou começando a me sentir um pouco ridículo aqui de pé e
nu com apenas minha guitarra como proteção. Além disso, agora
que parei de tocar, estou ficando com frio.
— Bem. — Eu tiro a alça do meu pescoço e coloco minha
guitarra no chão. Muitos gritos se seguem, o que me faz sorrir
largamente quando pego meu jeans e o visto.
Apesar de todos os seus protestos, Stella assiste com interesse
ávido enquanto eu me enfio no jeans e puxo o zíper. Eu não me
incomodo em abotoar. Primeiro de tudo, eu sei que isso vai irritá-la.
Em segundo lugar, isso vai irritá-la.
Seus olhos ficam presos naquele botão aberto, e eu coloco
minhas mãos nos meus quadris, flexionando meu abdômen para me
divertir.
— Tem certeza que quer que eu fique com isso? — Eu pergunto,
lutando contra uma risada.
Sua boca sexy se fecha. — Você não tem vergonha?
Eu tenho muita vergonha. Vergonha sem fim. Mas do meu
corpo? — Não.
Ela balança a cabeça e suspira. Mas ela não pode esconder seu
sorriso de mim.
— Então estamos de acordo — digo a ela. — Você não vai se
esgueirar e eu continuarei tocando pelado.
— O que há com tocar nu, afinal? — Ela pergunta.
Eu dou de ombros. — Eu fiquei com calor. Tirei minhas roupas.
Nada demais.
Não mencionei que estou com tesão, mas não tenho saída para
aliviar as minhas necessidades além da minha mão. E minha mão
não está fazendo isso. Tocar nu alivia a tensão. Chame de estranho,
mas há um certo erotismo no ato, a pressão fria da guitarra contra o
meu pau, a resistência das cordas esticadas na ponta dos meus
dedos e a música. Música e sexo andam de mãos dadas por uma
razão; ambas são formas de expressão, liberação, criação.
Ela olha para mim como se eu fosse maluco. Mas quando ela
fala, seu tom é tranquilo. — Você está certo. Tudo o que você faz na
sua casa é da sua conta.
— Obrigado...
— Mas — ela se intromete, — sua música não permanece na
sua casa. Está invadindo a minha.
— A música não pode ser contida por meras paredes, Stella
Bonita.
— Bom, tente.
Eu levanto minhas mãos largas. — Como eu devo fazer isso?
A boca de Stella se abre. — Você não pode ser tão sem noção.
Eu a encaro aborrecido. — Não estou abaixando o volume. É
besteira.
— Conecte fones de ouvido no seu pequeno amplificador.
— Fones de ouvido? Estou na casa dos meus pais? Sem
chance.
— Ah, cresça. Não é tão ruim.
— Eu cresci. É por isso que tenho o meu próprio apartamento.
Para tocar a minha música como eu quiser.
Ela coloca a língua para fora e faz um barulho parecido com um
peido, o som alto e desagradável. Quero rir. Mas não rio, porque
ainda estou irritado.
— Pare de agir como uma praga, John. Você está acabando com
a paz e sabe disso.
— Ninguém mais reclamou.
— Bem, eu reclamei. Não me faça ligar para o Sr. Scott.
Sinto minhas sobrancelhas se arquearem. — Você vai fazer uma
queixa de mim? Isso é baixo, Stella. Baixo demais.
Ela funga, cruzando os braços sob os peitos. — Ele disse que eu
deveria entrar em contato se tivesse algum problema com você.
— Você sabe, Scottie tem estado atrás de mim há um tempo
para que eu toque. Não importa que, embora ele seja um “idiota
pomposo” eficiente, tecnicamente ele trabalha para mim.
Sua boca abre e fecha. — Eu esqueci disso.
— Compreensível. Nós o deixamos bancar o chefe quando nos
convém. Mas fatos são fatos, e estou pensando que vou ganhar
essa rodada. Tente novamente, Bonita.
Um rubor cresce em suas bochechas. — É sério que você não
vai abaixar o volume?
Eu provavelmente diminuiria se ela não tivesse me ameaçado ao
dizer que ligaria para Scott. Ou sugerido que eu usasse fones de
ouvido. Dou-lhe um encolher de ombros preguiçoso.
Ela rosna, fazendo que todos os seus lugares redondos
balancem – novamente. — Se você não abaixar, eu vou… — Ela
olha em volta loucamente, depois se concentra na minha amada
guitarra. — Eu vou te bater na cabeça com essa guitarra velha e
imunda.
Um suspiro horrorizado me escapa. — Essa, doce Stella, é uma
Fender Stratocaster Sunburst de 1964, que já foi de Jimi Hendrix.
Prefiro que você me dê um chute nas bolas e acabe com isso.
As sobrancelhas dela se erguem. — Você tem uma guitarra do
Hendrix? E você está tocando ela?
— Claro que estou. A velha garota precisa ser tocada ou vai
morrer. — Eu descanso uma mão no corpo áspero e maltratado. —
Não ouça a velha Stella. Eu vou te proteger, bebê.
Stella revira os olhos. — Jesus. Quanto isso custou, afinal?
— Ela não é uma coisa. E ela pode ouvir você.
Outro revirar de olhos.
Eu dou um tapinha no meu bebê novamente. — Cerca de um
milhão, eu acho. Mas ela não tem preço para mim.
Stella empalidece e oscila um pouco.
— O que está errado? — Pergunto a ela, já sabendo mas....
ainda assim pergunto.
— Estou sobrecarregada.
— Você deveria ver a coleção de instrumentos de Rye. Agora
isso é impressionante. — De repente, quero que ela veja, conheça
Rye, alguém que eu sei que ela gostaria. Ele a encantaria em um
segundo. Faço uma carranca inesperada. Talvez eu não queira ela
se aproximando de Rye.
Ela balança a cabeça como se tentasse sair de um nevoeiro. —
Estou tendo pensamentos inapropriados sobre fugir com ela.
— Eu me senti da mesma maneira — digo solenemente.
— E vender.
— Aí está a pequena ladra que eu conheço.
— Eu daria a maior parte do dinheiro para caridade. — Ela não
parece convincente.
— Vamos, não dê uma de Robin Hood — eu provoco. — mexe
com a minha imagem mental sobre os seus modos mercenários.
Stella coloca as mãos nos quadris. — Olha, você pode por favor
usar um fone de ouvido como uma pessoa normal?
— Você quer que eu acabe com o meu som? De jeito nenhum.
— Eu não posso fazer ioga em paz, e você está assustando
Stevens.
— Stevens é um gato do rock 'n' roll. Ele ama. — Quando ela se
encolhe, dou um passo para mais perto, meus olhos em seu rosto.
— Stella Grey, você usou um gato inocente para fazer eu me sentir
culpado! — Eu meio que amo isso.
Seu nariz enruga, e ela dá uma fungada arrogante. — Eu não
usei.
— Você usou sim.
Stella joga as mãos para o ar. — Ok. Tudo bem. É tudo por mim.
Agora, por favor, abaixe?
Ela se move para sair, e eu me pego impedindo-a.
— E se eu tocar algumas melodias enquanto você pratica ioga?
— Que diabos? Eu não acabei de dizer isso.
Seus olhos azuis me espreitam sob seus cílios, todo encoberto
enquanto me estuda. Não perco a maneira como sua atenção
permanece no meu peito. Tudo bem para mim. Também estou
olhando para o peito dela. Justo é justo e tudo isso.
— Como você sabe que eu estava fazendo ioga? Não é como se
você pudesse me ouvir chamando. E não vou entrar nesse pesadelo
novamente.
— Palavras machucam, Bonita.
Ela olha, uma sobrancelha vermelha arqueada.
— Me manda uma mensagem — eu ofereço. — Então eu vou
saber quando diminuir o volume.
— Eu não tenho o seu número.
— Você está tentando ser lenta agora, não está? — Eu rio
quando ela faz uma careta para mim. — Me dê seu número. Ou eu
vou te dar o meu.
Inacreditavelmente, ela balança a cabeça. Uma onda de choque
passa por mim. Eu nunca dou meu número real. Nunca. Apenas a
banda e Scottie têm. O restante recebe o número de um assistente
ou o telefone secundário que eu uso para manter contato com as
minhas fodas. E ela não quer. Ou talvez ela não queira que eu tenha
o dela. De qualquer maneira, é um golpe que eu não esperava.
Eu lambo meus lábios secos. — Não estou tentando fazer algo
que você não queira, peitos de açúcar. Se você preferir que eu
toque...
— Ah, acalme-se, doce de nozes — ela rebate. — Só estou
tentando lembrar o meu número. Não é como se eu ligasse para ele
frequentemente.
Ela me arranca uma risada. — Doce de nozes, hein? — De
repente, não quero que ela vá. Quero que ela me ouça tocar violão.
Quero preparar o jantar dela e mostrar que realmente sei o que
estou fazendo na cozinha. E quero ouvir que coisa nova e ultrajante
sairá da sua boca.
A necessidade da sua companhia é tão estranha para mim que
estou um pouco tonto. Meu estômago revira desconfortavelmente.
Engulo em seco e minha garganta dói, lembrando-me que não tenho
absolutamente nenhuma experiência em flertar com qualquer
mulher. Estou a alguns instantes de um ataque de pânico, o que
significa que ela precisa sair, apesar do que eu quero.
Eu passo a mão pelo meu cabelo. — Eu deveria tomar banho.
Vou pegar o seu número mais tarde.
Stella franze a testa, mas depois levanta as mãos exasperada.
— Tanto faz. Apenas... mantenha isso baixo.
O desapontamento tem um gosto amargo na minha língua. Eu o
engulo e, novamente, sinto dor na garganta. — Sim, claro.
É melhor evitá-la completamente. Minha vida é muito distorcida
para alguém normal como ela de qualquer maneira.
CAPÍTULO SETE

STELLA

— O para comer xiao long bao — digo ao meu novo


amigo Bradley, — é colocar o bolinho na colher, furar com o
pauzinho e depois beber o caldo divino antes de comer o resto.
Bradley, um contador forense de quarenta e seis anos,
anteriormente de Cleveland, olha para mim hesitante, depois para
os bolinhos aninhados na cesta de vapor de bambu entre nós. Um
olhar determinado cruza seu rosto, e ele pega um bolinho,
levantando-o cuidadosamente e colocando-o em sua colher.
— Lembre-se de deixar o caldo esfriar um pouco ou você vai
queimar a língua.
Bradley segue as minhas instruções com paciência rigorosa que
o serve bem em sua profissão. Uma nuvem de vapor perfumado
escapa quando ele perfura seu bolinho de massa.
— Permita-se a experiência de inalar todos esses aromas
adoráveis.
— Tem um cheiro fantástico — diz ele alegremente, e depois
toma o caldo.
Não importa quantas vezes eu testemunhe o fenômeno, nunca
deixa de me satisfazer ver alguém comer uma nova refeição
deliciosa pela primeira vez. O olhar de admiração e prazer em seus
rostos, seguido por uma alegria quase infantil, faz eu me sentir
como uma criança novamente.
— Delicioso — diz ele com um suspiro. — Esse é o melhor lugar
para comê-los?
Como um bolinho antes de falar novamente. — Existem outros
lugares bons. Vou te enviar uma lista. Mas eu gosto daqui porque
você tem uma variedade de excelentes pratos.
Estamos no East Village, a algumas estações de metrô do novo
local de Bradley.
Bradley assente e pega o telefone para escrever algumas notas.
É fofo, e excessivamente eficiente. Algumas pessoas tratam seu
tempo comigo como uma espécie de aula em que eu sou a
professora e elas são os alunos ansiosos e entusiasmados. Outros
apenas absorvem a experiência. Bradley é claramente do primeiro
tipo.
O que é bom para mim. O que quer que funcione melhor. Ele
está pagando por isso, afinal.
— Vamos experimentar as panquecas de cebolinha em seguida
— diz ele com crescente emoção.
Quando conheci Bradley, ele mal falava, mas corou timidamente
e perguntou se poderíamos experimentar alguns xiao long bao. Ele
leu sobre eles quando se preparava para se mudar para Nova York,
mas quando chegou, ele era tímido demais para ir sozinho ou
convidar um de seus novos colegas de trabalho.
— Você vai adorar — digo, enquanto ele nos serve. — Como
está indo o novo emprego?
— Muito bem, obrigado. — Bradley cora. — Meus colegas de
trabalho são... agradáveis.
Um sorriso puxa meus lábios. — Um em particular, talvez?
O rubor cresce e ele ajusta a gravata. — Possivelmente. Mas
não tão adorável quanto você, minha cara.
Estou pronta para isso. Isso acontece de tempos em tempos. Eu
dou um sorriso cativante para ele. — Você é um doce. Mas estou
pensando que essa sua colega de trabalho é ótima.
Bradley estuda sua comida, mas não consegue esconder sua
expressão. Sim, ele é um caso perdido quando se trata dessa
mulher.
— Conte-me sobre ela — eu digo.
Bradley começa a conversar. E eu realmente quero ouvir, mas
minha atenção desliza ociosamente sobre o restaurante e de
repente colide com um par de olhos verde-jade.
Jax Blackwood olha para mim com um sorriso maligno.
Pelo menos tenho quase certeza de que é Jax – John. Ou ainda
outra versão dele. Esse cara está com uma camisa de botão branca
Oxford. O tipo de jovem que trabalha em um escritório. Um óculos
com a armação de metal prateada repousa sobre a ponta do nariz, e
seu cabelo, que uma vez era bagunçado, está partido do lado e
penteado em um estilo arrumado e estiloso. Nerd chique. Um
completo Clark Kent.
A única coisa que permanece a mesma é aquele sorriso
malicioso e torto e a maneira como seus olhos se enrugam com
profundas linhas de riso. E, claro, que é John. Ninguém mais olha
para mim como se conhecesse meus segredos mais profundos e os
acham divertidos.
Ele não me conhece completamente, no entanto. Ele só pensa
que sim. Irritação desliza sobre meus ombros quando ele levanta
um pão de porco em saudação antes de dar uma mordida voraz.
Minhas coxas se apertam, e eu imediatamente me xingo por
olhar para ele. Eu me concentro em Bradley, que está feliz
conversando sobre uma mulher chamada Grace.
Eu converso, mas, pela primeira vez em muito tempo, estou no
piloto automático. Minha concentração é abalada por um certo astro
do rock desleal que fica me encarando, comendo seu dim sum com
um nível de sensualidade totalmente perverso. Ninguém poderia
desfrutar tanto da comida. E como diabos eu deveria me concentrar
quando seus olhos não me deixam?
A cada mordida, ele pisca ou lambe os lábios de uma maneira
lasciva, tudo claramente projetado para me irritar. E estou tão
tentada a mostrar o dedo do meio que a minha mão se contrai sobre
a mesa. Eu quebro um bolinho antes de colocá-lo na minha colher e
juro que John ri.
Cerrando os dentes, termino minha refeição com Bradley.
Estamos de pé, e não posso deixar de olhar para John. Ele se foi.
Eu deveria me sentir aliviada, mas fico horrorizada ao perceber que
estou decepcionada.
Malditos astros do rock.
— Bem, isso foi adorável, Stella — Bradley me diz na calçada. —
No começo, eu não sabia o que pensar sobre o seu serviço. Mas eu
não posso te agradecer o suficiente. Valeu cada centavo.
Muitos clientes novos ficam nervosos com a nossa primeira
reunião. Estou feliz por ter conquistado Bradley.
— Não me agradeça. O prazer foi meu. — Na maior parte.
Estúpido John Blackwood, se metendo no meio do meu trabalho. —
Estou feliz que você tenha se divertido.
Bradley ajusta a gravata. — Gostaria de agendar outra reunião,
se estiver tudo bem com você?
Apesar do que os meus clientes possam pensar, nosso primeiro
encontro também é um campo de testes para mim. Se não me sinto
à vontade com uma pessoa, eu vou embora. Mas Bradley é meigo e
genuíno. Se eu puder ajudá-lo a sair um pouco da sua concha,
ficarei satisfeita.
— Claro que está. Apenas envie algumas datas e horários para
que eu possa me ajustar.
— Ok. Bom. Obrigado. — Bradley se inclina como se fosse me
abraçar, mas para, claramente perturbado.
Eu o ajudo e dou-lhe um abraço amigável e um rápido beijo na
bochecha. — Tome cuidado, Bradley. E converse com a Grace, ok?
Tenho certeza de que ela adoraria experimentar os bolinhos
também.
Seu sorriso é vacilante. — Ok, Stella. Você é a profissional.
— Sim, eu sou. Vá em frente e prospere, Bradley Tillman.
Ele fica vermelho, mas vai embora com pequenos saltos em seu
passo. É tão fofo, eu o assisto com um grande sorriso no rosto.
— Na verdade — diz uma voz masculina suave atrás de mim, —
é “vida longa e próspera6”.
Meu coração quase explode no meu peito, mas eu não reajo
quando me viro para encarar John. Ele está muito perto, com um
sorriso no rosto, as mãos enfiadas nos bolsos da calça larga e solta.
A camisa dele não está enfiada por dentro da calça como alguém
que trabalha no escritório faria, mas fora isso, ele parece com o
estagiário menosprezado.
Não o vejo desde o infeliz incidente em que estava tocando
guitarra nu. A memória ainda é forte o suficiente para tornar difícil
encontrar seus olhos. Eu o vi nu. Eu vi o pau dele. Seu longo,
carnudo e bonito pau. Droga, quero ver de novo.
Não, não, não, Stella. Acalme-se. Eu não posso deixar que ele
saiba que estou afetada; ele nunca vai me deixar esquecer isso.
— Sinto muito — eu digo com um sorriso falso. — Eu conheço
você?
Sua expressão diz claramente que ele acha que eu sou uma
espertinha. Mas ele estende sua mão grande com aqueles dedos
longos e talentosos. — Oi, eu sou John Blackwood. Você me
encarou por toda a mercearia, me beijou e depois roubou a minha
sobremesa.
Eu não seguro a mão dele. — Você parece bastante preso a
essa parte de beijar e roubar.
O canto da sua boca se eleva. Ele pode estar vestido como um
nerd, mas parece o pecado encarnado. Não tenho ideia de como ele
faz isso. Sua voz permanece suave, uma provocação lenta. —
Admito que estou. Ninguém nunca me roubou um beijo e não ficou
por perto para eu poder retribuir o favor.
Juro que meus lábios suavizam e incham. O que é simplesmente
um absurdo, eu digo a mim mesma severamente. — Por que não
estou surpresa que todas elas fogem?
Sua sobrancelha se levanta. Deliberadamente me entendendo
mal? Muito engraçado, Bonita.
Ah, isso foi deliberado?
Ele sorri largamente. E eu tento não olhar. Geralmente, há algo
um pouco cínico em John Blackwood. Uma estranha quietude que o
alcança quando ele não está falando, e é como se ele estivesse em
seu próprio mundo, e é um lugar sombrio. Mas quando ele sorri
assim, desprotegido e cheio, ele é quase outra pessoa – infantil e
feliz.
Não consigo superar sua transformação.
— Você sequer precisa usar óculos? — Em uma inspeção mais
detalhada, a lente é plana e fina.
John empurra os óculos ainda mais pela proeminente ponte do
nariz. — Eles são um adereço. Eu descobri que a maioria das
pessoas me ignoram quando estou limpo e arrumado.
— Imagina só.
Ele ri e se aproxima um pouco. — Mas você percebeu logo.
— Porque você estava me encarando.
— Você estava olhando de volta. — Ele está perto o suficiente
agora que o calor do seu corpo golpeia o meu. Estou ao redor de
homens o tempo todo. Alguns cheiram bem, alguns cheiram a
perfume e outros apenas fedem. O perfume de John é mais uma
provocação: um pouco quente e picante, um pouco cítrico e
almiscarado. A combinação faz cócegas nos meus sentidos,
chamando-me para me aproximar, me enterrar e investigar. É
diabólico.
Dou um passo para longe dele e olho para o restaurante que
acabamos de sair. — O que você está fazendo aqui?
— Almoçando no meu restaurante dim sum favorito.
Obviamente.
— É o meu restaurante dim sum favorito.
— Certeza de que é o favorito da metade da cidade — ele diz.
— E ainda assim você está aqui. Hoje.
Seus olhos se enrugam com um sorriso. — Vamos minha
pequena Gnomeu. Por acaso, o consultório da minha terapeuta fica
do outro lado da rua e eu gosto de almoçar aqui depois de uma
sessão.
— Ah. — Agora me sinto uma idiota.
Algo que John obviamente percebe. Seu sorriso de resposta
rivaliza com o do Gato Risonho da Alice. — Olhe para você toda
adorável e desajeitada, pensando que falou algo embaraçoso.
— Bem, eu meio que falei.
Sua sobrancelha se torce. — Porque você me fez dizer que eu
vou para terapia? Não tenho vergonha de falar sobre isso. A Dra.
Allen ajudou a me tirar de um lugar ruim. — Ele encolhe os ombros.
— A verdade é que eu meio que gosto da terapia agora. Isso me
ajuda a tirar as coisas do meu peito e analisar as coisas com mais
clareza.
— Eu frequentei por um tempo quando era adolescente — digo a
ele levemente. Por dentro, no entanto, estou nervosa. Porque,
embora John pareça estar bastante à vontade em se abrir, eu não
estou. Eu nunca estive. — Eu provavelmente poderia fazer algumas
sessões de novo.
Se ele está curioso sobre o porquê de eu precisar de
aconselhamento antes, ele misericordiosamente não pergunta. Em
vez disso, sua atitude permanece leve e provocadora. — Pode
ajudar com esse caso violento de paranóia que você tem. — Ele me
dá uma piscadela conspiratória.
Quando limpo o canto do olho com o dedo médio, John ri baixo e
claramente satisfeito consigo mesmo. Ele se acalma e me olha com
interesse renovado. — Você está mesmo surpresa por termos o
mesmo gosto de restaurantes?
— O que você quer dizer?
Uma ruga aparece entre suas sobrancelhas escuras. — E na
outra noite quando estávamos fazendo compras? Pegamos quase
todos os mesmos itens.
— Eu tinha notado — murmuro inquieta. — Foi estranho.
— Foi estranho pra caralho.
Começamos a andar na rua. Não sei para onde estamos indo ou
por que começamos a andar, mas não paro. John permanece perto
o suficiente para tocar, mas ele mantém os olhos focados na frente.
— No começo pensei que você estava me perseguindo.
Eu ri. — Eu pensei a mesma coisa sobre você.
— Eu sei. Você ficou encarando furiosamente com aqueles olhos
loucos ‘se você se mover na minha direção, eu vou te matar’.
— Esse olhar é a primeira linha de defesa para a maioria das
mulheres.
Ele encolhe os ombros. — Nunca um deles foi dirigido a mim
antes.
— Porque você é o grande Jax Blackwood? — Eu estou apenas
provocando um pouco.
— Bem, sim. — Por trás dos óculos, seus olhos verdes brilham.
— Por que você está olhando para mim como se eu devesse me
desculpar por isso?
— Pelo menos seja um pouco humilde.
— Eu não sei como. — Ele me dá outro sorriso atrevido, seu
passo leve e confiante. — Quem é esse cara Bradley?
Ele claramente ouviu demais. Eu mantenho meu queixo erguido.
— Ele não é da sua conta.
John encolhe os ombros. — Eu não pude deixar de ouvir...
— Quando você estava escondido atrás de nós?
— Quando eu estava enviando uma mensagem e vocês dois
pararam bem na minha frente — ele parece quase ofendido, — sem
nem perceber que eu estava lá.
— Desculpe, não tirei um momento para procurar por você.
Ignorando meu sarcasmo, ele me cutuca com o braço. —
Perdoada.
— Argh!
A risada de John é baixa e desinibida e muito satisfeita. — Deus,
você é fácil de implicar.
— Estou começando a pensar que você gosta de fazer isso.
Ele se inclina e sua respiração faz cócegas na minha pele. — Eu
amo isso.
Tremores surgem sobre meus ombros e correm pelo meu peito.
Horrivelmente, meus mamilos se apertam, e é um esforço manter o
meu ritmo casual. Sério, como o homem faz isso? Como algumas
palavras e o tom suave de sua voz me afetam tão fortemente?
Nossos passos são lentos quando chegamos à esquina. Há uma
poça enorme, uma das muitas que apareceram desde que a neve
está derretendo. Essa é escura e profunda, pedaços desagradáveis
de gelo e detritos da cidade flutuam na superfície. Paro e estou
procurando uma maneira de atravessar quando John segura o meu
pulso.
Seus dedos longos fazem meu pulso parecer pequeno e frágil.
Quando eu paro e olho para ele, ele sorri para mim, os olhos
brilhando com travessura.
— O que… — Minhas palavras são cortadas com um guincho
quando ele se abaixa e me pega em seus braços.
— Não se mexa — diz ele, enquanto caminha direto para a poça
de gelo e nos leva através da rua. — Não vai gostar se eu te deixar
cair.
Ele é quente e claramente forte como um boi, apesar de sua
estrutura magra. Envolvo um braço em volta do seu pescoço, não
porque acho que posso cair, mas porque não consigo me conter. —
Você é louco.
De perto, seus olhos possuem manchas de um azul profundo
atravessando o verde. — Estou sendo um cavalheiro — diz ele em
protesto. — Sério, guarde essa data, porque é a primeira vez.
O hálito dele cheira levemente aos doces de melão que o
restaurante entrega no final da refeição, e eu tenho que me apoiar
no peito dele para não me inclinar e roubar outro beijo para
descobrir se ele tem um gosto bom também. Não me impede de
sentir a marca de sua mão apertando minha coxa nua ou a maneira
como a outra mão pressiona contra minhas costelas, logo abaixo da
curva do meu peito. É demais e muito perto.
Ele não está olhando para onde está indo, mas estuda meu rosto
enquanto eu estudo o dele. John Blackwood tem uma aparência
Hollywood Antiga – características que são de natureza forte em vez
de agradável perfeição. Seu nariz é um pouco longo demais, suas
sobrancelhas escuras são linhas grossas um pouco severas e seu
queixo é completamente tenaz, uma ponta brusca no final da sua
mandíbula afiada. Mas sua boca é suavemente esculpida e cheia.
Seus lábios se aproximam um pouco mais, e eu percebo que
estou encarando-os, que John está me olhando encarar eles.
Meu rosto fica vermelho e eu olho para longe, finjo que estou
inspecionando a rua. — Nós poderíamos ter dado a volta na poça.
Acho que não o enganei nem por um segundo.
— Levaria muito tempo. E assim, eu consigo te carregar. — Ele
pisca daquele jeito atrevido dele.
Não tenho ideia do por que ele iria querer isso, mas tenho medo
de perguntar. Ser carregada por ele já é estranho o suficiente. Mas é
bom. Realmente muito bom. Eu tenho visões dele me carregando
por aí de agora em diante. John Blackwood: meu novo meio de
transporte.
— A última vez que alguém me pegou no colo, eu tinha dez anos
— murmuro.
Seus passos parecem lentos quando ele olha para mim, seu
olhar como uma carícia quente na minha pele. O sorriso que puxa
as bordas de seus lábios é gentil. — Ah, querida, com esses
grandes olhos de boneca e pequenas sardas, às vezes você parece
uma criança.
Um bufo de irritação sai dos meus lábios e começo a me mexer.
Ele me segura com mais força enquanto olha para os meus seios.
Seu sorriso se amplia. — Mas você é toda mulher, não é, Stella
Bonita?
— Ah, me coloque no chão — eu falo, corada e irritada. — Eu
não ligo se molhar os meus pés. Não estou ouvindo esse flerte
banal...
Ele me coloca no chão abruptamente, e eu profiro um
deselegante — Oof!
— Aí está, — ele diz alegremente. — Completamente segura e
seca.
Eu ajeito minha camisa. — Idiota.
Ele ri, satisfeito consigo mesmo. — Você é realmente fácil de
irritar.
— Você é a única pessoa que me irrita.
No entanto, não é completamente verdade. Ele só me irrita
algumas vezes. Na maior parte do tempo ele é surpreendentemente
charmoso.
John passa a ponta da língua ao longo da borda dos dentes. —
Então eu sou o sortudo?
Ele realmente parece que acredita nisso. Um sorriso surge nos
meus lábios. Ele ficou encharcado até os tornozelos, seu tênis
branco da Vans, agora está cinza escuro. Não pode ser confortável.
E ele fez isso por mim. Não apenas charmoso, mas gentil também.
Estamos na saída mais próxima do metrô agora. E olho para ele.
— Estou indo para casa. — Quero perguntar se ele também está
indo para lá, mas não pergunto.
John olha na outra direção. — Eu estou indo para a loja de
guitarra ali.
Se ele não tivesse apontado, eu não teria visto. O local não tem
placa e a janela de vidro é suja e quase completamente coberta por
velhos pôsteres de shows.
— Ah. Bem... boas compras. — Essa é a minha deixa para ir. Eu
não me mexo.
Ele também não.
Nós nos encaramos.
Ele morde o canto do lábio inferior. — Quer vir comigo?
Uma descarga de felicidade passa por mim. Acalme-se, garota.
Resista. Não o siga como um filhote de cachorro.
Minha boca não pega o memorando, porque está aberta e
falando antes que eu possa fechá-la. — Ok, claro.

O fazendo aqui com Stella?


Não tenho certeza. Quero dizer, sim, eu sei que a convidei para
vir comigo à minha loja de instrumentos favorita em Nova York. Eu
simplesmente não sei o porquê.
Mentiroso. Você sabe por quê. Você gosta dela.
Porra. Eu gosto. Ela me faz rir, e ela é tão estranha. De um jeito
bom. Como uma pintura do Escher, surreal e um pouco
desorientador, mas você quer continuar olhando, porque sabe que
descobrirá algo novo. Quem diabos Bradley é para ela? Por que
tenho um mau pressentimento de que não vou gostar da resposta?
Balanço a cabeça enquanto caminhamos em direção à loja. Não
é da minha conta. Nós nem somos amigos, apenas vizinhos que
brigam e paqueram. Mesmo assim, o instinto me faz colocar a mão
na parte inferior das costas de Stella. Eu sinto o calor dela através
de suas roupas.
Ela está vestindo uma blusa branca comprida sob um suéter
preto apertado, combinado com uma saia preta que a faz parecer
com a versão sexual de uma colegial. Funciona totalmente para
mim. Talvez até demais. Stella pode ser baixa, mas suas pernas são
fortes e curvilíneas. Deus, ela está usando meias cinza claro na
altura do joelho. Na porra altura dos joelhos? Ela tem alguma ideia
do que isso faz com um cara?
Me lembra os meus dias na escola pública na Inglaterra, onde
meu objetivo principal era encontrar o caminho para a calcinha de
uma menina. Sem pensar, eu traço meus dedos pela curva estreita
de suas costas, e ela estremece. Meu pau se mexe, acordando de
um longo sono.
Isso não é bom. Meu pau carente está em prisão domiciliar.
Eu tiro a minha mão.
Como sempre, Sam está em sua poltrona reclinável de couro
vermelho junto à janela. Cercado por guitarras penduradas nas
paredes, apoiadas em suportes e escondidas em estojos, ele parece
quase um pastor cuidando de seu rebanho de instrumentos. Ele não
levanta os olhos da última edição da revista Guitarist, mas bebe
calmamente uma caneca do que eu sei que é chá de ervas.
— Jax — diz ele, virando uma página. — Estava me
perguntando sobre quando você apareceria.
— Parecendo bem descansado, Sam. — Na verdade, Sam
parece pra caralho com o grande e falecido BB King. Seu talento
também é muito parecido com o do mestre. Mas Sam toca para si
mesmo, não para uma multidão. — Tenho algo para você.
Ele abaixa sua revista. — Me apresente a sua adorável amiga
primeiro.
Algo que eu estava prestes a fazer, droga. Estendo a mão em
direção a Stella, que está pairando perto da porta, seus grandes
olhos absorvendo o caos organizado. — Stella Grey, este é Sam
Absolom.
Para isso, Sam fica de pé. — Como vai, Srta. Grey?
Ela aperta a mão dele. — Muito bem, Sr. Absolom.
— Pfft. Me chame de Sam. Não sei por que Jax sentiu a
necessidade de ser tão formal.
Stella sorri, e me ocorre que ela está sempre sorrindo. Não
porque ela está forçando, mas porque é sua inclinação natural estar
radiante. Para alguém que desliza para o escuro com demasiada
frequência, seu brilhante entusiasmo é um farol. Eu me aproximo
mais. — Eu estava sendo educado.
Sam faz pffts de novo. — Agora me mostre o que você
conseguiu.
Desgraçado exigente. Eu amo o cara. — Aqui. — Pego um
pequeno pacote de palhetas do meu bolso. Minha impressão digital
foi impressa na parte de trás de cada uma. — Como prometido.
Sam o pega alegremente e coloca o pacote atrás do balcão. —
Muitos jovens pedem por elas.
Foi por isso que eu as trouxe. Lembro da primeira vez que entrei
nessa loja. Sam me deixou tocar uma das guitarras quebradas de
Kurt Cobain, bem emoldurada e esperando um cliente rico buscá-la.
Eu senti como se estivesse conectado a um pedaço de imortalidade.
Eu ainda me sinto assim às vezes; um dia serei ossos e cinzas, mas
minha música vai continuar viva.
Sam pega o cotovelo de Stella e a guia pela sala, apontando
várias guitarras e dizendo os prós e contras de cada uma.
Stella absorve tudo de olhos arregalados e lábios rosados
suavemente separados. — Todas são lindas.
— Elas são. — Os dedos ossudos de Sam seguem a doce curva
de uma Gibson Acoustic Hummingbird. — Qual delas é a sua
favorita?
— Ah… — Ela gira em círculo, os braços abertos. — Todas elas.
Sam ri. E assim, ele fica encantado. O otário. — Você já tocou?
Eu também quero saber.
Stella cora lindamente. — Eu tentei uma vez. Tenho vergonha de
dizer que as cordas machucam meus dedos demais para continuar.
Agora, se fosse outra pessoa, tenho certeza de que ela receberia
um sermão sobre força de espírito e como deve lidar com a dor, mas
Sam – o cachorro velho – apenas concorda com a cabeça. —Tem
que ser mordido pelo desejo de tocar ou não funciona.
Estranhamente, Stella parece saber exatamente do que ele está
falando. — Algumas coisas são assim.
— O que fez você querer tentar, no entanto? — Eu pergunto,
incapaz de ficar quieto. Minha voz parece assustar os dois, como se
eles tivessem esquecido de que eu estava aqui.
Stella se endireita, com o nariz franzido. Ela hesita.
— Foi uma música? — Eu pergunto. — Um certo guitarrista que
você admirava? — Eu? Posso ter esperanças.
— Você vai rir — diz ela, me olhando como se estivesse
esperando para atacar.
— Eu não vou rir. — Eu coço a barba no queixo. — Bem, talvez.
Stella olha para mim furiosa, mas Sam interrompe. — Ninguém
julga os gostos musicais aqui.
— Jax julga — diz ela um tanto petulante. É estranho ouvi-la
dizer meu nome artístico. Eu realmente não posso chamá-lo de
nome artístico a essa altura. Todo mundo me chama de Jax. Só
ouço o nome John se um dos caras ou Brenna estiverem chateados
comigo. Eu sou Jax há tanto tempo, que o nome John quase não
sou eu mais. Mas por razões que não entendo completamente,
prefiro ouvi-lo dos lábios dela.
— Jax tem que ser esnobe — diz Sam, cortando meus
pensamentos. — Ele é inglês.
— É um distintivo de distinção — provoco. — Agora nos diga os
seus segredos obscuros, Stella Bonita. — Eu quero todos eles. Que
diabos? Por quê? Por que eu deveria me importar?
Não vendo minha carranca de confusão, Stella suspira. — Ok.
Eu tinha dezesseis anos e fui com alguns amigos assistir a uma re-
exibição de Pulp Fiction em um daqueles grandes teatros. — Eu já
estou me animando, um sorriso puxando nos meus lábios, porque
eu sei o que ela vai dizer. Seu rubor é adorável. — E havia aquele
solo de guitarra do...
— Dick Dale — Sam e eu dizemos em uníssono.
— “Misirlou”. — Pressiono uma mão no meu coração. — Um
clássico brilhante.
Stella parece aliviada por aprovarmos. Embora, honestamente,
se ela tivesse dito uma canção de merda, eu não teria dito uma
palavra. Apesar das minhas provocações, Sam está certo; não há
julgamento aqui. — Foi tão rápido e libertador — diz ela. — Eu
queria me sentir livre.
Por que ela queria ser livre? Por que existem sombras em seus
olhos quando ela diz isso? Distraidamente, coço meu peito, onde a
pele ficou quente e firme. Meu interesse nessa garota está ficando
fora de controle. Sou tranquilo e fico na minha, um iceberg, distante
e sozinho.
Ah, diabos, não posso nem falar algo sobre isso.
— Você está bem? — Stella pergunta, olhando para mim como
se visse por trás da minha fachada.
— Estou. — Eu olho para ela, esperando despistá-la. — Por
quê?
Ela encolhe os ombros. — Você meio que parece estar com
indigestão. — Sam ri enquanto Stella sorri, toda Srta. Ajuda
Inocente. — Eu ia te oferecer um antiácido.
— Engraçadinha — murmuro. — Meu estômago está
perfeitamente bem, Bonita. Mas, no momento em que eu sentir um
ronco, eu aviso você.
Seus lábios se apertam, e eu não posso dizer se ela está lutando
contra uma risada ou se ela está irritada. Provavelmente ambos.
Eu quebro nosso silêncio virando-me para Sam. — Você tem as
cordas? — Eu quase tinha esquecido por que estava aqui em
primeiro lugar.
— Claro que sim. — Ele vai para os fundos da loja, deixando
Stella e eu sozinhos.
— Sam é incrível — diz Stella. — Vou perguntar se ele quer
participar do meu rotativo de sanduíche.
— Rotativo de sanduíche?
Ela estuda um pedal Whammy pousado no balcão. — Algumas
pessoas não gostam de sair de suas lojas para almoçar. Então,
trago um sanduíche para eles.
Eu sei que estou olhando. Eu não posso evitar. Eu nunca
conheci ninguém como essa mulher. Nunca conheci alguém tão
dedicado a fazer os outros se sentirem melhor apenas oferecendo
coisas simples. — Quem é você?
Ela franze a testa como se eu estivesse louco. Estou começando
a pensar que sou um quando estou com ela.
— Eu sou Stella Gray — ela diz simplesmente.
Balançando a cabeça, dou-lhe um olhar irônico. — Você é uma
mulher impressionante, sabia disso?
Suas bochechas estão rosadas. — Não são todas as mulheres?
— Não igual a você. — Não para mim, pelo menos. Eu amo as
mulheres e vivo as admirando por sua força e inteligência, mas
nenhuma delas me fascina como Stella. Eu poderia passar o dia
todo esperando feliz para ouvir o que ela vai dizer a seguir. Uma voz
de aviso no fundo da minha mente diz que eu provavelmente
deveria estar preocupado com isso, mas eu a ignoro a favor de ver
Stella corar. Uma amável mistura de rosa e vermelho.
Sam sai da parte de trás segurando uma Fender Strat 1976 em
preto e branco com um pescoço de bordo. — Tenho algo para você.
David disse que você perguntou sobre isso.
— Puta merda — eu expiro. — Diga-me que estamos falando do
mesmo David.
— Você sabe disso. — Sam me entrega a guitarra. —
Autografada na parte de trás.
Com certeza, há uma assinatura atrás, feita para mim.
Stella nos observa com os olhos arregalados, claramente não
entendendo a situação. — Quem é David?
Eu seguro a guitarra de corpo largo na mão antes de colocá-la
no meu colo. — Você pode conhecê-lo como o guitarrista principal
do U2. Nós saímos algumas vezes, falamos sobre trocar guitarras.
— Testo as cordas e faço um pequeno ajuste de afinação. — Pensei
que era uma daquelas coisas que você diz no calor do momento,
sabe? — Parece que vou ter que escolher algo muito bom para
enviar para ele. Vale a pena pra caralho.
— Você está apaixonado? — Ela pergunta com um sorriso
suave.
Eu devolvo o sorriso. — Agora, parece mais com luxúria. Vou ter
que conhecê-la melhor para ver se vai se transformar em amor.
Stella faz um barulho de diversão e eu conecto a guitarra em um
amplificador. O zumbido baixo bate direto no meu peito. Na maior
parte do tempo, sou conhecido como o vocalista do Kill John.
Quando os caras e eu formamos a banda, alguém tinha que ser o
vocalista. Eu tinha a voz mais forte – embora Killian não fique para
trás e faça a sua parte cantando. Mais importante, porém, eu tinha o
maior ego. Eu vivia para ser o centro das atenções, enquanto Killian
preferia ficar para trás. Mas meu amor pela música começou com a
guitarra, e sempre me considerarei um guitarrista primeiro.
— Você está pronta para mim, querida? — Eu murmuro para a
guitarra. Ela cantarola na minha mão, esperando ganhar vida. Olho
para Stella. — O que você quer que eu toque?
Seus olhos azuis se arregalam, seus lábios rosados se separam
de surpresa.Tenho o desejo insano de me aproximar e beijá-los. Eu
imagino o gosto de menta e chocolate na língua dela. Stella morde o
lábio inferior e eu seguro um grunhido. Pego a guitarra na minha
mão e minha mente imediatamente vai para o sexo. Os dois estão
sempre ligados. O que é péssimo para mim, já que estou em
abstinência quando se trata de foder.
Iceberg, cara. Seja o iceberg.
— Uma das suas — diz ela, felizmente atrapalhando meus
pensamentos perdidos.
Balanço a cabeça. — Parece muito pretensioso.
Stella bufa. — Você é um músico talentoso. Não é pretensioso
tocar sua música.
Como posso explicar que agora tocar algo meu dói demais?
Minha música é a minha alma. Tocá-la para milhares de pessoas
sem nome não é real para mim. Tocar para essa mulher que já vê
demais? Eu poderia muito bem abrir o meu peito para ela.
Eu dou de ombros. — Mesmo assim, escolha outra coisa.
O pequeno nariz se enruga enquanto ela considera suas opções.
— Você disse que costumava ser a guitarra do The Edge?
Concordo, não confiando em mim mesmo para falar. Apesar de
eu não poder expor completamente a minha alma, quero tocar para
Stella, mostrar a ela o que posso fazer. Ela já me ouviu tocar antes,
mas isso não era para ela. E ela ficou irritada. Isso vai ser puro. Um
presente, mesmo que ela não perceba.
— Acho que você deveria tocar uma música do U2 — diz ela.
— Excelente decisão. Que música?
O sorriso dela é como o sol rompendo as nuvens. — Eu deixo
isso para você.
Apesar de eu ter pedido para ela escolher, o fato de ela colocar a
escolha de volta em minhas mãos e confiar em mim para lhe dar
algo bom, faz meu peito ficar desconfortavelmente apertado. Passo
a mão pela curva suave ao longo da borda da guitarra, a madeira
como seda contra a palma da minha mão.
Eu já me apresentei para estrelas de cinema. Eu toquei para a
realeza, artistas e outros músicos. Nunca houve qualquer hesitação
ou necessidade de impressionar. Fazer música é como respirar. No
entanto, de repente estou ansioso. Eu quero fazer certo para Stella.
Ela está esperando, suas bochechas coradas, seus olhos
brilhando, aquele lindo cabelo ruivo-dourado em volta do seu rosto
redondo. Eu já pensei que ela era comum? Eu estava
demasiadamente cego.
Abalado, começo a tocar a primeira música que me vem à
mente. Eu não tenho ideia se ela conhece a música que eu escolhi,
até eu olhar para cima e ver seu rosto. Deus, que admiração. É
demais.
Desvio o olhar, tentando me concentrar em tocar, quando na
verdade estou me escondendo. Mas eu não paro. Começo a cantar
a letra de “All I Want Is You”. É uma das primeiras músicas que
aprendi. É bonita, assombrosa, e eu sempre amei. Mas nunca
significou nada para mim. E não vou deixar que signifique nada
agora.
Eu canto e toco, e deixo todo o resto desaparecer. Ou eu tento.
Mas no fundo da minha mente está Stella. Stella me observando.
Stella ouvindo a minha voz, a música da minha guitarra.
E embora eu só quisesse mostrar a ela o quão linda é essa
guitarra, eu escolhi uma música que é tudo sobre a voz. Eu não
posso me esconder nessa música. Cantar bem significa deixar a
emoção entrar na equação.
O peso constante dentro de mim se transforma em algo mais
espesso, viscoso e quente, depois apertado e pequeno. Anseio. É o
que é esse sentimento desconfortável. Anseio do caralho.
Eu empurro isso para a música, desesperado para deixar ir,
afastar de mim.
O suor escorre pelas minhas costas. Minha garganta queima
enquanto canto sobre as promessas feitas, o amor que dura até o
túmulo e a simples necessidade de amar e ser amado.
Estou pensando demais, o que nunca é uma coisa boa. A
emoção me sufoca, apertando a minha garganta e travando com
força. Eu vou ficar doente. Minha mão treme. O próximo acorde está
fraco, minha voz está fora do tom.
Termino a música com um som distorcido e encaro o silêncio,
consciente de Stella e Sam me encarando, esperando uma
explicação. A humilhação pinica nas minhas costas.
Mas então Stella bate palmas. Estou tão chocado com o som
feliz que meu queixo se levanta.
Ela sorri para mim. — Foi brilhante.
Ela fala sério. Eu não sei como ela perdeu a merda absoluta que
foi o fim. Ou talvez ela tenha ignorado. De qualquer maneira, as
paredes estão me pressionando. Meu iceberg está desmoronando.
Eu preciso sair e ir embora. Eu preciso ficar sozinho. Há uma
estranha segurança na solidão.
E talvez seja por isso que, depois que terminei meus negócios
com Sam e providenciei a entrega da guitarra, faço o possível para
levar Stella para o mais longe possível de mim, agindo como o
maior idiota do mundo.
CAPÍTULO OITO

STELLA

A que tenho estrelas nos meus olhos. Não tenho um espelho,


então não posso confirmar. Mas eu as sinto. Eu sei que estou
boquiaberta por causa de Jax. Eu não posso evitar. Estou fascinada.
Estive desde o momento em que ele começou a tocar.
“Tocar” é uma palavra muito fraca para o que ele faz. Ele colocou
os dedos nas cordas da guitarra, abriu a boca e o mundo mudou.
Meu mundo mudou. Quem eu era, todos os meus problemas,
medos, tudo desapareceu, e havia apenas som, música, emoção.
Sua emoção, agridoce, bonita e dolorida.
Deus, sua voz. Não é espalhafatosa ou forçada. Não precisa
forçar para transmitir a mensagem. É suave, mel profundo, parecida
com carícias de dedos macios ao longo da minha nuca, uma
vibração de borboletas no meu estômago. Jax Blackwood canta
como se estivesse te contando um segredo que só você é digna de
ouvir.
Quando eu pedi para ele escolher uma música do U2, eu não
tinha ideia do que escolheria. Eu pensei que seria algo rápido e
animado. Em vez disso, ele me toca uma música de amor. Sua
versão de All I Want Is You é linda e dolorosa cheia de desejo
desesperado. Ele canta e o meu peito é rasgado. Meu coração é
uma ferida exposta e tenho que piscar rapidamente para não chorar.
Mas ele sequer me vê. Seus olhos estão abaixados, o grosso
leque dos seus cílios escondendo seus olhos dos meus, ele toca
com facilidade fluida e canta sobre o para sempre.
Com cada verso, cada acorde, meus dedos afundam nas minhas
coxas, minha garganta se fecha ainda mais.
Eu o amo nesse instante. Completamente. Dolorosamente. Eu
sei que é uma ilusão, uma prova do poder de seu talento. E no
momento em que ele parar, eu serei liberada desse feitiço. Mas isso
não torna a situação menos intensa.
Ele chega ao refrão final, sua voz ficando rouca e chorando por
seu amor, seus dedos voando sobre as cordas, a música ficando
mais firme, mais rápida, mais urgente. Ele está se desfazendo. O
suor escorre de sua testa; o canto da sua boca treme.
Eu me movo para alcançá-lo, mas depois paro. Ele iria odiar
isso.
Os acordes clamam, saindo do tom, sua voz falhando. A nota
final morre desajeitadamente, ambos pairando no ar e com um final
abrupto.
Ele fica ali, não é mais o Jax, mas John, com seu peito arfando.
Sua mão treme quando ele passa os dedos pelo cabelo úmido e
olha loucamente ao redor como se procurasse uma saída. Bato
palmas porque não sei mais o que fazer.
Ele aceita meus aplausos com um aceno de cabeça, mas ainda
não está olhando para mim, e depois se apressa nas suas compras
com Sam. A guitarra será entregue mais tarde. Tenho a sensação
de que ele não quer tocar agora. Ele ainda está um pouco trêmulo
quando saímos da loja e vamos para o ar fresco.
John faz uma pausa para tirar os óculos falsos do bolso e
colocá-los. Passa os dedos pelo cabelo outra vez para arrumá-lo e
volta a ser o nerd gostoso. Ele enfia as mãos nos bolsos e me dá
um sorriso inofensivo como se todo o concerto improvisado nunca
tivesse acontecido. — E essa é a Loja de Guitarras do Sam.
Não faço ideia de por que ele quer evitar essa incrível
demonstração de talento. Se eu pudesse fazer o que ele faz, eu
seria uma puta musical, tocando em todas as malditas esquinas em
todas as horas do dia e da noite. Mas eu jogo junto. — Eu gostei. Do
Sam também. — Eu tinha esquecido de perguntar a Sam sobre os
sanduíches. Voltarei sozinha depois.
— Ele é um cara legal. Trabalhou com muitos músicos ao longo
dos anos.
Embora seu tom permaneça causal, ele está pálido em torno da
sua boca, e seu passo está perdendo sua graça habitual.
Andamos um pouco em silêncio. Não é confortável, mas não
tenho certeza do que está errado. Ele está envergonhado? Como
pode estar? Ele é uma estrela do rock. É literalmente o trabalho dele
se apresentar. Geralmente sou muito melhor em ler as pessoas e
torná-las confortáveis. Pelo amor de Deus, eu deveria ser uma
profissional. Mas aqui estou eu incapaz de pensar em uma única
palavra para iniciar uma conversa fiada.
John me cutuca com o braço. — De volta ao problema com
Barry.
— Barry? — Eu franzo a testa. — Barry White? Barry Manilow?
Ele sufoca uma risada. — Essas são as suas primeiras escolhas
para Barry?
— Você pensa em mais alguém quando menciona Barry e
música na mesma conversa?
Ele encolhe os ombros. — Eu teria ido com Barry Gibb ou Barry
Bonds.
— Eu não sei quem são esses dois.
— Músico e jogador de beisebol e dói que você não saiba o
nome deles. Mas não, eu não estava falando de nenhum Barry
famoso. Eu quis dizer o seu encontro. Barry. O tonto que parecia
trabalhar para o mercado financeiro.
— É Bradley, e ele é um contador forense.
— Ha. Eu cheguei perto.
— Vou me lembrar disso quando te apresentar como baixista e
cantor de coral um dia.
Ele me cutuca novamente. — Stella Maliciosa. E pensar que eu
andei na água suja por você.
Meu sorriso desaparece, mas eu não digo nada. Eu não sou
assim tão fácil.
Ele grunhe em claro aborrecimento. — Pare de evitar a pergunta,
Bonita.
— Tinha uma pergunta? Não percebi com toda a sua
empolgação sobre Barry.
— Tinha.
— Sério? Tudo o que ouvi foi “De volta ao problema com Barry.”
Posso senti-lo revirando os olhos, mesmo mantendo os meus na
rua à nossa frente.
— Espertinha — ele murmura antes de limpar a garganta e falar
comigo com um nítido sotaque inglês que rivaliza com o do Sr.
Scott. — Pretendo perguntar, Srta. Grey. Qual é a natureza do seu
relacionamento com Bradley, o contador forense?
Não consigo deixar de rir. — Você parece um professor.
Seu sorriso é um rápido lampejo de dentes. — Eu estava
canalizando o meu pai, na verdade. Algo que tento evitar sempre
que possível. — Ele inclina o queixo na minha direção. — Então?
Responda à pergunta.
— Certo... Sem comentários.
John para, com a boca aberta em clara indignação. — Você não
pode dizer isso!
— Claro que posso — eu falo por cima do ombro. — Não é da
sua conta.
Ele começa a se mover novamente, dando dois longos passos
para me alcançar. — Vamos. O que há, Stella? Bradley disse que
você valia cada centavo. E ele não é o único cara velho com quem
eu te vi.
É a minha vez de parar. — O que? Quando? Você está me
seguindo?
— Veja, foram três perguntas — diz ele presunçosamente. — E
eu aposto que você quer que elas sejam respondidas, não é?
Entro no espaço dele e cutuco o seu peito. — Fale, você.
John agarra meu dedo e habilmente liga sua mão à minha,
segurando-as perto do seu estômago. As juntas dos meus dedos
escovam contra a parede dura de seu abdômen, e calor dança pelas
minhas coxas. Corada, eu me afasto, mas isso não acaba com o
seu sorriso presunçoso. — Dois dias atrás, Madison Square Park.
Você estava comendo no Shake Shack com um cara mais velho e
nervoso, e você que estava falando a maior parte do tempo, devo
acrescentar.
Ele me viu com Todd? E eu não notei?
Um calor desconfortável toma conta do meu rosto. — Jesus.
Você estava me espionando. Que merda é essa, John?
Os olhos dele se estreitam. — Ei, eu estava sentado a duas
mesas, cuidando da minha vida e bebendo um shake de café. Você
é meio barulhenta, sabia.
— E que droga você estava fazendo lá ao mesmo tempo do que
eu? Ao mesmo tempo hoje também? Suspeito.
— Ah, supere. — Ele dá um aceno preguiçoso com a mão. —
Admito que temos um timing muito estranho. E acredite em mim,
também estou perturbado, mas não estou seguindo você. Tenho
coisas melhores para fazer.
— Como comer sozinho? — Assim que digo, eu me arrependo.
John mal reage, o que é pior. Ele desliga, ficando sem
expressão. — Sim, comendo sozinho — ele responde intenso, mas
sem calor. Seu significado é perfeitamente claro; comer sozinho é
melhor do que fazer qualquer coisa comigo.
Por dentro, estremeço, mas também fui uma merda com ele. —
Eu sinto muito. Eu não quis dizer...
— Sim, você quis. — Seu tom é mais claro, sua boca se contrai
como se lutasse contra um sorriso. E percebo que John não é de
guardar ressentimentos. Muitas pessoas afirmam que deixam as
coisas irem, mas poucos deixam. Inferno, eu raramente faço isso.
— Bem, eu não quis dizer isso como um insulto — eu esclareço.
— Eu como sozinha também.
— Quando? — Ele pergunta, olhando para mim com suspeita em
seus olhos verdes. — Porque parece haver um padrão aqui.
— Dois homens não formam um padrão.
John olha para mim como se eu estivesse cheia disso. E eu
estou.
— Talvez eu goste de homens mais velhos. E daí?
Ele bufa. — Homens mais velhos que têm dinheiro para pagar.
Merda. Minhas coxas tremem com o desejo de fugir. Eu me
mantenho firme. — O que você está insinuando?
John olha de um lado para o outro da rua antes de se aproximar.
Sua voz é um estrondo quente no meu ouvido. — Você é uma
acompanhante?
Ele poderia muito bem ter me dado um tapa. Eu recuo com um
suspiro, me sentindo estranhamente exposta. É por isso que ele
está falando comigo? Alguma curiosidade mórbida sobre qual pode
ser a minha profissão? Aquelas estrelas nos meus olhos? Se foram.
Qualquer tipo de pensamentos felizes que eu tinha em relação ao
meu novo vizinho? Estão queimando no fogo do inferno.
As sobrancelhas de John se unem quando seu olhar se move
sobre o meu rosto. Mas ele não parece arrependido, apenas
impaciente.
— Você acabou de perguntar se eu sou uma prostituta? —
Minha voz ecoa pela rua, e um homem passeando com seu
cachorro vira a cabeça em nossa direção.
John ignora tudo, menos eu. — Não uma prostituta. Uma
acompanhante. Elas não dormem com todos os seus clientes.
Apenas alguns.
A raiva vibra através dos meus ossos. — Eu... você... eu...
— Você e eu… — Ele acena com a mão. — Desembucha, Stells.
— Vá se foder! — Eu deixo escapar com raiva. — Vá se foder
com uma vara de bambu.
John me olha, suas bochechas ficando vermelhas. — Você não
precisa ser rude.
— Eu sou rude? — Eu praticamente engasgo com o meu
choque. — Eu sou rude? Você está me acusando de ser uma
prostituta. — O pior? Eu me sinto envergonhada. E não tenho
motivos para estar. Nenhum mesmo. Eu não sou uma
acompanhante, e mesmo que fosse, seria da minha conta, não da
dele. Mas foi o que as palavras dele fizeram comigo.
— Você não seria a primeira. É a profissão mais antiga do
mundo — ele fala, como se estivesse dizendo algo que eu não sei.
Me estico em minha altura total. — Quer saber? Acabamos.
Eu me viro e vou embora.
Obviamente, o bunda suja me segue.
— Ah vamos lá. O que mais devo pensar? — Ele acena a mão
descontroladamente. — Você está saindo com caras velhos e
estúpidos que dizem que você vale cada centavo e querem outra
chance.
Eu engato o passo. — Eu poderia estar ensinando a eles tricô!
— Ainda não vi uma agulha de tricô aparecer.
— Não me tente. Eu vou enfiá-la em algum local rude seu.
— Pervertida. Mas ainda não explica os caras.
— Eu poderia estar ensinando ioga, ou dança. Qualquer coisa.
— Eu olho para John enquanto passo. — Qualquer coisa além de
transar com eles por dinheiro!
Seu rubor se aprofunda. — Deus. Ok. Entendi. Foder por
dinheiro é proibido.
Eu bufo e empurro-o para longe. Ou tento; o idiota é forte demais
para se mexer. — Pare de me seguir — eu assobio, indo para o
metrô.
— Vivemos no mesmo prédio.
Eu paro e ele também. Ele é alto o suficiente para bloquear o
céu branco e nebuloso enquanto olha para mim, perplexo.
— Escute, idiota. — Dou um soco em seu estômago para
enfatizar. É como bater em uma parede quente, caramba. —
Quando digo que acabamos, quero dizer que nós. Já. Terminamos
— Eu o cutuco com cada palavra. — Não fale comigo. Não olhe
para mim. Apenas esqueça que me conhece.
Sua expressão só poderia ser descrita como um homem fazendo
beicinho, seu lábio inferior se sobressaindo. Tenho vontade de
mordê-lo. Infelizmente, não consigo decidir se quero mordê-lo de
uma maneira sexy ou má, você sentirá a minha ira. Talvez ambos.
Quando ele fala, sua voz é solene e pensativa. — Acho que
devemos rever isso quando você não quiser arrancar o meu pau ou
enfiar agulhas de tricô em lugares estranhos.
— Você vai esperar por muito tempo, então. — Com isso,
estendo a mão e chamo o táxi vindo pela rua. Eu corro para ele e
pulo dentro. John me observa com uma expressão vazia enquanto
eu alcanço a porta para fechá-la. Eu o encaro. — Ah, e Open
Shelter é melosa e imatura na melhor das hipóteses.
Seu olhar de indignação por eu falar mal de uma das canções
mais icônicas do Kill John é quase o suficiente para me fazer sorrir.
Eu bato a porta do carro assim que John grita: — Golpe baixo, ladra
de sorvete!

C , ainda tenho uma última saída.


Exercício. Muitos exercícios. Não posso dizer que gosto tanto
quanto sexo. Seria muito triste se eu dissesse. Mas os exercícios
me dão foco e um tipo de dor sóbria. Há um sentimento no esforço
físico que imita o sexo ou a presença no palco. Infelizmente, é
apenas uma sombra dessas coisas. Mas eu a persigo mesmo
assim.
Hoje, eu estou correndo com Scottie. Ele me colocou nisso há
um ano, me mostrando as alegrias desse tipo especial de tortura.
Sem dúvida, o sentimento vale a pena.
Meus pulmões têm uma boa queimadura, meu corpo quente e
livre enquanto corremos ao longo do Hudson River Park. Quando
começamos a correr juntos, Scottie acabou comigo todas as vezes.
Eu mancava como a morte enquanto ele mal suava. Agora o jogo
virou. Scottie é quem fica para trás, suas bochechas coradas, sua
expressão geralmente irritada fica ainda mais acentuada.
Desde que ele se tornou pai – e eu ainda estou chocado com o
fato de que o Sr. Frio se tornou o Sr. Pai Coruja – Scottie não teve
muito tempo para fazer qualquer coisa além de cuidar do seu bebê,
algo que ele faz com a mesma intensidade inabalável que ele
entrega ao trabalho dele, com a banda. A alegria em sua expressão
quando ele fala sobre seu filho é incandescente. Eu nunca vi nada
parecido, e isso me faz ter um pouco de inveja de Scottie, embora
não muita, porque o cara tem olheiras sob seus olhos que rivalizam
com os anéis de Saturno.
— Vamos, pai — brinco, diminuindo o meu ritmo para
acompanhar o dele. — Você quer desenvolver uma pança?
— Vá se foder — ele murmura.
Eu sorrio. A vingança é uma coisa linda. — Eu não posso. É por
isso que estamos correndo.
— É por isso que você está correndo — ele fala entre
respirações. — Estou correndo porque sou um maldito masoquista.
— Eu pensei que você era um sádico.
Ele me olha, e eu rio, me sentindo mais leve.
Scottie murmura um xingamento, antes de passar a mão pela
testa. — Estou curioso...
— Quando você não está?
— Você diz que está correndo porque não pode fazer sexo —
continua. — Já faz duas semanas desde que você começou a
antibióticos. Certamente, eles fizeram efeito.
Meus pés batem em um ritmo constante. — Eles fizeram. Na
verdade, eu vi a Dra. Stern hoje e ela disse que está tudo certo.
— Então por que...
— Eu estava falando sério quando disse que tinha parado com o
sexo casual. Eu não posso arriscar. Francamente, eu não quero isso
mais. A ideia de fazer sexo com uma mulher que eu não conheço...
— Estremeço. — Não. Não vai acontecer. O que significa que Jax
Jr. está de abstinência no futuro próximo.
Scottie grunhe. — Não é tão ruim esperar. Na verdade, quando
você encontra alguém que realmente quer, é tão fantástico que
compensa toda a tortura.
— Ah Deus, você não está me dando um discurso de “o amor te
dar asas”, não é?
Ele me lança um olhar. — Qualquer um que zomba do amor não
experimentou o verdadeiro prazer e está falando demais.
Eu faço uma careta, mas não estou irritado. Apesar de ele agir
como se fosse meu pai na metade do tempo, temos a mesma idade.
E ele é um dos meus melhores amigos. De todos eles, a calma de
Scottie com o seu lado “vai se foder” o tornou o mais fácil para mim
de relaxar ao redor. Eu posso dizer o que penso, e ele não me deixa
escapar com essa merda.
Em um mundo em que quase todo mundo me deixa falar ou
fazer o que eu quero, sua firmeza é um presente. Não que eu
dissesse a ele. Scottie odiaria.
Corremos em silêncio, seu bufar alto, mas nivelado. Eu sei que
Scottie ficará contente em permanecer como estamos, sem falar
sobre nada. Normalmente eu ficaria também. Mas estou inquieto há
dias. Uma emoção desconfortável que parece muito com a culpa
está crescendo dentro de mim, e eu não consigo me livrar dela.
Sinceramente? Eu preciso confessar. Killian, Rye ou Whip vão
me dar um passe livre para o meu comportamento de merda.
Principalmente porque eles não querem que eu fique “chateado”. Eu
odeio isso. Mesmo sabendo que seria mais fácil conversar com um
dos meus colegas de banda, sigo em frente e conto ao único cara
que não vai suavizar nada.
— Perguntei a Stella se ela era uma acompanhante.
Scottie tropeça um passo. — Você fez o que?
Seu grito soa pelo caminho, e alguns pombos voam.
— Mantenha sua voz baixa — murmuro, correndo.
Mas Scottie parou. Viro a cabeça e o encontro parado no
caminho, com as mãos nos quadris, seu rosto irritado. Se eu fosse o
Scooby-Doo, seria a hora de dizer “Oh-oh”.
Nos meus pés, corro de volta para ele.
A voz de Scottie é irritada quando ele fala novamente. — Estou
imaginando coisas ou você acabou de me dizer que acusou Stella
Grey de ser uma prostituta?
Esfrego a parte de trás do meu pescoço suado. — Pensando
bem, parece muito ruim.
As sobrancelhas de Scottie se erguem.— Pensando bem? Cara,
você não poderia fazer isso soar melhor mesmo se você tentasse.
As mulheres não reagem bem ao serem chamadas de prostitutas.
— Ei, eu quis dizer o tipo de acompanhante que sai com caras
velhos, dá a eles um bom tempo e talvez concorde em fazer sexo...
Ok, porra, isso parece superficial também.
Deus, eu odeio a culpa. Eu tenho o suficiente dela por muitas
coisas. Essa merda se acumula por dentro e faz pequenos
acampamentos em seu cérebro. Invade seus pensamentos em
momentos inconvenientes e depois se afasta, nunca indo longe
demais, mas à espreita e esperando para aparecer novamente.
Me sentir culpado por Stella é uma merda. Eu gosto dela. E
agora ela pensa que eu sou um canalha. — Porra.
Scottie aponta um dedo acusador em minha direção. — Foi por
isso que avisei a Srta. Grey para ficar fora do seu caminho. Você diz
coisas estúpidas para garotas legais, e eu preciso consertar.
— Eu não digo coisas estúpidas.
— Lembra de toda a merda que você falou para Liberty quando
Killian a trouxe?
Estremeço um pouco, porque, tudo bem, não fui o mais
acolhedor. Mas então eu me endireito. — E Sophie? Se não fosse
por mim, Sophie não estaria em sua vida. Porque você era o idiota
nessa situação.
Como sempre, a menção de sua esposa faz com que a
expressão assustadora de Scottie se torne menos assustadora e
mais sentimental. — Essa eu aceito — ele murmura antes de ficar
assustador novamente. — Isso é sobre o trabalho de Stella?
Eu chego mais perto. — Você sabe sobre o trabalho dela?
— Você está sugerindo que eu não verifiquei completamente
todos os candidatos antes de dar a alguém os códigos da casa de
Killian e Liberty?
Ele faz parecer o crime do século. Eu aceno com a mão,
afastando a ideia ridícula. — O que significa que você sabe.
Os olhos de Scottie se estreitam. — Mas você não.
Droga. Porra. Droga.
— Scottie...
Seu sorriso é sútil e maligno. — Desculpe amigo. Não é da
minha conta.
— Você enfia o nariz grande na vida de todos. Diga logo, cara.
— Não. Se a Srta. Grey não quer que você saiba, eu não vou
contar.
— Gabriel Scott...
Ele bufa. — Essa coisa com o nome não funciona comigo, John.
Eu juro que vou estrangulá-lo. Então eu vou matá-lo. Eu posso
ganhar dele. Estou malhando, enquanto ele passa intermináveis
noites lidando com um bebê agitado. — Tudo bem, seja um idiota,
então.
— Parece que você é o idiota nesse cenário em particular. —
Com isso, ele começa a correr.
Eu facilmente acompanho. — Eu não queria ser. Tenho boas
razões para querer saber.
— Que são?
Merda. Eu não quero contar para ele. Eu nem quero admitir para
mim mesmo. — Ela... é perigoso se encontrar com homens
estranhos. Ela pode se machucar.
Ele bufa ainda mais alto do que antes. — Tente novamente.
— Eu sou um bastardo intrometido? — Sai como uma pergunta e
eu estremeço.
Scottie me lança um olhar de soslaio. — Sim, mas eu não acho
que é por isso.
— Bem. Eu sou um idiota, ok?
Ele não discorda.
— Conserte isso, Jax. — Ele faz uma careta para a trilha diante
de nós. — Estou falando sério. Stella Grey é uma menina doce...
Eu bufo. Alto.
— Que merece respeito.
— Sim, bem, eu não posso chegar nem perto dela no momento.
Ela está determinada a arrancar meu pau e entregá-lo a Stevens
como um brinquedo.
A boca de Scottie se curva. — Eu pagaria um bom dinheiro para
ver isso.
Grande amigo.
CAPÍTULO NAVE

STELLA

À se existem pessoas que realmente


gostam de festas. Eu sei que devem haver; as pessoas não as
frequentariam de outra maneira. Mas em um momento de cada festa
em que estive, sempre parece que uma sensação de miséria se
instala. Como se todo mundo estivesse tentando desesperadamente
convencer os outros de que eles estão se divertindo, enquanto por
dentro estão contando os minutos até que possam sair.
Talvez sejam as festas que vou em Nova York. Muitas vezes, por
causa do trabalho, e elas são como um exercício de voyeurismo. Eu
juro, as pessoas estão mais interessadas em assistir do que em
conversar. É por isso que prefiro jantares onde posso comer uma
comida gostosa e conversar.
Infelizmente, estou presa em uma cobertura no topo de quarenta
andares e cercada por pessoas que fazem parecer que as luzes
estão acesas, mas ninguém está em casa. E fico impressionada
com a sensação de que somos todos atores em um palco.
— Não é à toa que você me pediu para ser o seu encontro —
murmuro para Richard quando paramos no bar diante de uma
janela. — Eu acho que você ficaria meio louco se tivesse que
circular sozinho nessa multidão.
Ele ri e me aproxima do seu lado. — Você me conhece bem,
pequena rosa.
O francês parece uma versão mais antiga e grisalha do Idris Elba
e é um dos melhores chefs de Manhattan. Ele poderia ter qualquer
mulher que quisesse para acompanhá-lo, mas logo após conhecê-
lo, descobri que, fora da cozinha, ele é intensamente tímido e odeia
encontros. Mas, como a maioria das pessoas, não significa que ele
quer estar sozinho. É aí que eu entro. Posso oferecer a companhia
para Richard sem as amarras que ele acha sufocante.
Às vezes, Richard me pede para encontrá-lo em sua casa para
assistir TV ou ver um filme. Uma coisa simples que ele não
consegue fazer com muita frequência, mas que precisa
intensamente em sua vida. Às vezes, eu o acompanho em eventos
que ele deve participar para manter as aparências, mas não quer
realmente falar com muitas pessoas. A essa altura, já o considero
um amigo de verdade, mas mesmo assim, Richard insiste em pagar
pelo meu tempo.
Mesmo que ele me diga que é porque não se sentiria bem em se
aproveitar do meu tempo, isso me irrita um pouco. Eu tenho vários
“amigos” que conheci através do meu trabalho. Mas nem um deles é
real.
Quase todo maldito dia da minha vida eu estou interagindo com
as pessoas, fazendo com que se sintam um pouco mais amadas,
dando a elas um pouco de felicidade, e ainda assim de repente me
sinto a pessoa mais solitária de Nova York.
Sacudindo-me do pensamento, ofereço a Richard um sorriso
brilhante e aceito a taça de champanhe que ele oferece. Eu
pergunto: — De quem é essa festa?
Richard toma um gole de champanhe, faz uma careta para a
taça por algum motivo desconhecido, depois olha para mim. — Um
produtor musical chamado Pete. — Seu sotaque francês faz o nome
parecer “bife”. Richard me dá um encolher de ombros preguiçoso. —
Nenhum sobrenome que eu saiba.
Olho mais atentamente para a sala ao redor. Quanto mais estudo
os convidados, mais claro fica – a maioria dessas pessoas é
famosa. Modelos, atores, músicos. Tenho certeza que o cara no
canto é um rapper. E a mulher com cabelo azul claro é
definitivamente uma estrela pop.
Fama. Ela tem uma aparência. Nem sempre é bonita, mas
apesar disso, somos atraídos por ela, como pequenas mariposas
para a chama.
Não quero ficar impressionada. Adorar pessoas famosas parece
me diminuir, como se eu estivesse dizendo que sou inferior a elas.
Exceto que estou impressionada. Admiro talento e tenacidade. Mas
a ideia de estar em uma festa cheia de gente famosa faz o meu
vestido azul-índigo de loja parecer um pouco gasto demais. Isso me
irrita.
Sem minha permissão, minha mente se volta para John. Eu
realmente deveria chamá-lo de Jax. Ele é a única pessoa
verdadeiramente famosa com quem tive uma interação prolongada.
E sim, muitas vezes estou irritada com ele. Mas é diferente. Ele é
como um caroço debaixo do meu colchão, me fazendo sentir
demais. Penso muito nele – quando acordo, em momentos
estranhos do dia, quando eu vou dormir, agora.
É por causa de sua fama? Talvez. Exceto que eu costumo
esquecer que ele é o famoso Jax Blackwood. Ele é apenas... John.
Irritante, engraçado, gostoso demais para o seu próprio bem.
John, que me perguntou se eu era uma prostituta. Bastardo
babaca imbecil. Não quero mais pensar nele.
Aceito uma torta da garçonete que passa. Richard inspeciona a
sua própria com uma carranca.
— Por que você está encarando toda comida e bebida? — Eu
pergunto antes de colocar a massa na minha boca. Uma explosão
de sabores assalta minha língua. Azedo, doce, apimentado,
cremoso, amanteigado. Estou tendo dificuldade em não gemer.
Um brilho aparece em seus olhos. — Bom não?
— Ah, sim — digo a ele.
— Agora o champanhe — ele ordena.
Eu bebo e os sabores se intensificam, o champanhe revigorante,
borbulhante e refrescante.
— Minha equipe está servindo como um favor ao Pete — diz
Richard, quase convencido. — Torta de morango com crème
anglaise de pimenta rosa. É melhor com champanhe.
— E você sabia que eles estavam passando com essas tortas
agora, não sabia? — Eu aceno para outra garçonete sem vergonha.
Eu nunca vou ser uma modelo magra e não vou nem tentar. —
Delicioso.
Richard ri do meu entusiasmo. — Claro que é. É a minha
comida.
— Quando que você vai me dar uma aula de culinária? — Eu
pergunto a ele, minha boca meio cheia de morango.
Sempre cavalheiro, Richard entrelaça meu braço no dele
enquanto circulamos. — Agora, minha querida Stella, devo adverti-
la, sou um capataz extremamente difícil. — Ele me dá uma
piscadela astuta. — Você tem certeza de que está pronta para as
minhas aulas?
Eu rio levemente. — Você realmente acha que eu recusaria as
aulas do grande Richard Dubious?
Em troca de aguentar suas insanas horas de trabalho – não que
eu me importe desde que sou bem paga – ele se ofereceu para me
ensinar a cozinhar. Algo que eu realmente quero aprender. Eu posso
fazer o básico, mas cozinhar bem está além do meu conjunto de
habilidades.
Os olhos dele brilham. — Você seria uma tola se recusasse.
— Não se preocupe, espero que você cumpra sua promessa
dentro de duas semanas ou vai enfrentar a minha ira.
Richard ri, mas não sei o que ele me responde porque eu vi o
homem que consegue me assombrar aonde quer que eu vá.
Jax Blackwood fica no centro de um grande grupo de pessoas,
todas rindo e parecendo que mal podem esperar para ouvir o que
ele vai dizer. Ele parece com cada centímetro do roqueiro agora.
Suas roupas não são extravagantes – uma camisa de botão preta
com alguns botões abertos e calça preta, mas elas encaixam em
seu corpo duro com perfeição e são claramente sofisticadas. Uma
grossa pulseira de couro preto envolve o seu pulso esquerdo e
grossos anéis de prata adornam alguns de seus dedos longos.
Os anéis brilham na luz quando ele passa a mão pelo cabelo,
deixando-o em ângulos selvagens. Um gesto com o qual estou
familiarizada. Eu quase sorrio quando o vejo.
Quase. Porque há uma ruiva deslumbrante segurando seu
braço. Seu cabelo é um ruivo escuro e mel, que contrasta
fortemente com a pele pálida e está puxado para trás em um rabo
de cavalo severo que destaca a simetria de seus traços. Ela é alta e
magra e usa sapatos Jimmy Choo impossivelmente altos. Aqueles
saltos, com lantejoulas arco-íris e plumas macias na ponta,
deveriam fazê-la parecer ridícula, mas em vez disso ela parece uma
espécie de princesa das fadas da Park Avenue.
O ciúme indesejável reveste o meu interior como piche quente.
O pior é que mesmo que ele esteja com uma mulher bonita que
poderia muito bem ser uma modelo, ele está olhando ao redor.
Várias outras mulheres igualmente impressionantes se aglomeram
ao redor dele e ele nem se incomoda em esconder a maneira como
verifica os bens delas. Ele corteja essas mulheres, dando o seu
sorriso malicioso, aquele que promete que você vai se divertir
mesmo que se arrependa mais tarde.
Esse sorriso, a maneira fácil como ele se encaixa com essas
pessoas, me deprime. Por trás de toda a sua confiança, há um
entorpecimento em seus olhos, como se ele estivesse interpretando
um papel. Ele tinha feito isso comigo também e eu estava muito
cega por ele para ver até agora? Ele realmente se importa com
alguma coisa?
A fada ruiva de salto alto ri com John e depois golpeia seu braço,
e eu tenho minha resposta. Ele se importa com ela. É na maneira
como sua expressão se suaviza e seu corpo se inclina para o dela.
Eles se sentem confortáveis um com o outro, de maneira que
nenhum dos que estão ao seu redor se sentem. Os dois são um
casal.
O conhecimento é como um bloco de gelo no meu peito. Todas
as vezes em que discuti com John, nunca considerei que ele tinha
alguém. Ele flertava comigo como se talvez fosse atraído por mim
do jeito que sou por ele, de forma involuntária, mas completamente.
O que faz de mim uma tola; ele estava apenas se divertindo ao me
provocar.
Eu quero desviar o olhar. Eu pretendo desviar. Mas, como se ele
sentisse os meus olhos, John levanta a cabeça. Aqueles famosos
olhos verdes que deixam as fãs com joelhos fracos se prendem a
mim. E eu sou tão vulnerável como tinha estado antes. Sinto isso
nos dedos dos pés, entre as pernas, em todo lugar.
Não tenho certeza do que esperava dele. Uma careta. Um
sorriso.
Ele abre um sorriso largo, e meu coração salta, minha respiração
fica presa. Jesus, ele não deveria ter permissão para fazer isso.
Mexer com o meu cérebro e me fazer querer coisas impossíveis. Eu
não deveria gostar dele mais. Eu fiz uma promessa, droga. Mas
quando ele olha para mim como se eu fosse a melhor coisa que ele
viu o dia todo, é difícil não sorrir de volta.
Antecipação borbulha em minhas veias como o champanhe que
eu tenho bebido, e é uma luta ficar parada.
— Você conhece Jax Blackwood? — Richard diz no meu ouvido.
Eu me sacudo, tendo esquecido que ele estava lá. Com uma
dificuldade chocante, afasto meu olhar de John.
Os olhos de Richard se enchem de carinho. — Ou ele acabou de
te ver e percebeu que você é a mulher mais bonita que ele já teve o
prazer de conhecer?
— Velho bajulador — eu digo, rindo.
— Eu sou francês — diz ele com um encolher de ombros.
— O que significa que você exagera brutalmente sobre os bens
de uma mulher para acalmá-la? — Estou só brincando. Estou bem
ciente das minhas melhores características e estou feliz o suficiente
com meu corpo. Mas eu também sei que eu não sou a mulher mais
bonita da sala.
Ele faz um barulho como se dissesse que estou sendo ridícula.
— Pode ser que eu tenha que pagar pelo prazer da sua companhia,
mas isso não significa que eu sou cego. Na verdade, isso me torna
um conhecedor dos seus encantos. Você é absolutamente adorável,
minha querida.
É a minha vez de fazer barulho. Não estou interessada em
Richard romanticamente, e eu o conheço o suficiente para perceber
que ele está sendo gentil. Mais uma vez, ele vai voltar para casa
sabendo que nunca seremos nada mais do que um acordo
comercial.
Alheio, ele ri da minha cara feia. — Me conte então? Como você
conhece Jax?
— Eu sou vizinho dela — diz John, logo atrás de mim.
Meu estômago afunda e para nos meus dedos dos pés. Porra. O
que ele ouviu? Pelo olhar calculista em seus olhos, estou supondo
que foi muito. Existem tantas maneiras de ele entender o que
Richard disse. Minha coluna endurece. Porra. Eu não estou
explicando nada.
Ele segura meu olhar. — Ei, Stella.
A maneira suave como ele diz meu nome me pega
desprevenida. Por outro lado, minha resposta é dura e embaraçosa.
— Jax.
Ele franze a testa por eu usar o seu nome artístico, mas então
ela se suaviza. — Não esperava vê-la aqui. — Ele ri. — Apesar de
que eu provavelmente deveria esperar por isso.
Ele não está errado. Continuamos nos encontrando como se
morássemos em uma cidade pequena, em vez de uma das maiores
cidades do mundo.
Dou-lhe um sorriso fraco, incapaz de pensar em uma maldita
coisa para dizer. Ele olha para mim por um segundo, depois volta
sua atenção para Richard, dando-lhe um sorriso duro. — E aí cara.
Como está indo o novo restaurante?
Eles se conhecem? Claro que sim.
Richard aperta a mão de John. — Estou satisfeito. Você ainda
não foi lá jantar.
— Um erro que devo corrigir. Sinto falta da sua comida.
Richard assente. — Talvez você traga Stella com você.
É uma luta não pisar no pé de Richard.
John olha para mim. O que quer que ele veja, talvez minha
expressão de Deus não, nem pense nisso, ele sorri com entusiasmo
falso e passa um braço em volta dos meus ombros. — Não consigo
pensar em outra pessoa que eu prefira levar comigo.
Eu resmungo e removo o peso quente de seu braço. Maldito
braço que parece seda e aço na parte de trás do meu pescoço. No
momento em que se foi, sinto falta do seu toque, o que realmente
me irrita.
— Como vocês dois se conheceram? — Eu pergunto a Richard,
porque eu não quero prestar atenção no roqueiro presunçoso ao
meu lado.
— Eu ia perguntar o mesmo para vocês dois — John interrompe.
Seu braço escova contra o meu e os pequenos pelos na minha pele
se arrepiam. Eu quero me aproximar, aliviar essa estranha e
insatisfeita sensação que ele criou ao me tocar. Eu permaneço
firme, fingindo que sou indiferente.
Os lábios de Richard se curvam quando ele percebe tudo, mas
quando fala, sua voz é tão leve e agradável como sempre. — Eu
sou um grande fã do Kill John.
— E eu sou um grande fã de tudo o que Richard escolhe colocar
no meu prato — John acrescenta alegremente. — Ele também deu
a Rye e eu aulas de culinária há um tempo. E posso dizer com toda
a honestidade que fui o melhor aluno.
— Humilde também — murmuro. É claro que John teve aulas
com Richard. De repente, me sinto muito menos única.
Richard ri. — Não, é verdade. Rye era um completo caso
perdido.
A expressão de John é brilhante de tanto rir. — Ele tinha medo
do frango cru. Teve um ataque sobre isso e continuou tentando
cortar sem precisar tocá-lo.
Os dois homens se desfazem em risos.
— Richard Dubious — exclama uma voz feminina, cortando suas
risadas profundas. — Eu pensei que era você.
A ruiva de John nos encontrou. Ela praticamente se joga nos
braços de Richard e lhe dá um abraço. Richard beija suas
bochechas. — Brenna, querida. Linda como sempre.
Olho para a porta da frente com desejo.
— Velho bajulador — diz ela dando um tapa no ombro dele.
Surpresa que ela tenha usado as mesmas palavras do que eu,
só posso olhar. Ela tem a mesma confiança inata que Jax tem e um
senso de moda que invejo. Ela chama minha atenção e me dá um
sorriso amigável. — Eu sinto muito. Eu interrompi vocês. — Seus
olhos felinos se estreitam. — A gente se conhece? Você parece
familiar para mim.
O braço de John me toca novamente. — Brenn, essa é Stella
Grey.
Como se ela devesse me conhecer.
Estranhamente, ela me olha como se conhecesse. — Não
brinca? Que mundo pequeno.
Eu olho para John, confusa como o inferno, mas Brenna estende
a mão. — Eu sou Brenna James. Eu trabalho com Scottie e os
meninos.
John bufa com o termo “meninos”.
Eu o ignoro e aperto a mão de Brenna. — Prazer em conhecê-la.
É quase verdade. Mesquinho, mas me ainda me lembro da
maneira como ela e John estavam pendurados um no outro. Eles
são um casal? Se for esse o caso, sinto pena dela, porque John
definitivamente tem um flerte indiscriminado.
— Scottie me mandou enviar o pacote de informações — ela me
diz.
— Você é a responsável pela cesta de presentes? — Eu
pergunto a ela, me animando.
Ela sorri. — Uma garota tem que se sentir bem-vinda, não é?
Ok, eu não posso odiá-la. Ela é incrível, e estou em uma
situação desagradável por ter ciúmes de um cara que prometi nem
gostar. Eu sorrio de volta para ela. — Muito obrigada. Foi o melhor
presente que já recebi.
É a verdade. Presentes inesperados são sempre os melhores.
John franze a testa, e eu não sei dizer se ele acha que estou
sendo perturbada ou se está apenas irritado por eu conversar com
Brenna. De qualquer maneira, eu retorno o olhar dele. Eu não sou a
babaca nesse relacionamento – ou o que quer que seja isso entre
nós.
Não é nada. Nada.
Ele capta o meu olhar novamente, e sua expressão se torna algo
estranhamente satisfeita. Eu não o entendo. Minha confusão se
torna alarmante quando ele pega a minha mão e a aperta firme.
— Nos deem licença por um segundo — ele diz a Richard e
Brenna, já me afastando.
— Que diabos? — Eu assobio, tropeçando atrás dele. Não me
liberto porque, enquanto meu cérebro e boca protestam, o meu
corpo claramente não recebeu o memorando. Ah não, o traidor
imundo está cantarolando com uma antecipação inebriante. Meus
sentidos se estreitam com a sensação áspera da sua mão, que
também é quente, forte e tão grande que diminui a minha. Eu sinto
um leve cheiro de perfume ou talvez de sabonete líquido. Não sei
dizer – tudo o que sei é que é esfumaçado e delicioso, e quero
enterrar meu nariz na curva do seu pescoço para sentir mais desse
perfume.
Loucura.
Ele me leva para um corredor nos fundos, onde as luzes estão
fracas, e fico tensa. — Onde diabos estamos indo?
Ele olha por cima do ombro, os lábios se inclinando em um meio
sorriso. — Onde bisbilhoteiros não podem nos ouvir.
No final do corredor, ele nos leva para um canto, colocando-me
entre ele e uma mesa exibindo uma obra de arte que provavelmente
custa mais do que o meu salário anual, mas parece uma cabeça de
vidro derretido.
— Eu não acho que deveríamos estar aqui — eu digo, olhando
para o caminho por onde viemos.
Ele solta uma risada. — Deus, você é adorável. — Quando olho,
ele sorri para mim. — Boneca, eu poderia usar o quarto de Pete a
noite toda e ele não piscaria um olho. Ele é meu produtor.
— Você faz ele parecer um cafetão — murmuro, depois fico
tensa. Merda. Eu não quero me aventurar no assunto cafetões e
prostitutas.
Estranhamente, John não diz uma palavra, mas simplesmente
dá de ombros.
— Isso é rude com Brenna — eu continuo quando ele fica quieto.
— Brenna? — Uma ruga se forma entre as suas sobrancelhas.
— Sim, Brenna. Você a deixou lá e fugiu comigo.
As rugas ficam mais profundas. — Brenna pode cuidar de si
mesma.
Inacreditável. — Ela é seu encontro. Você não sai com outra
mulher quando você está em um encontro!
Por um momento muito silencioso, ele me encara. Então um
sorriso se espalha sobre seu rosto. — Brenna definitivamente não é
o meu encontro. Ela é como uma irmã para mim. Uma irmãzinha
irritante e mandona.
— Ah. — Merda.
— Sim, “ah”. — Seu sorriso é absolutamente presunçoso agora.
— Mas vamos voltar ao porquê de você pensar que ela era o meu
encontro.
Eu dou de ombros como se não estivesse completamente
envergonhada. — Vocês pareciam... familiarizados um com o outro.
— Bem, estamos... familiarizados um com o outro. — Ele nem
está tentando esconder sua diversão. — Ela é prima do Killian. Ela
sabe todas as minhas merdas e vai usá-las contra mim sem vacilar.
Ela é má assim. — Ele inclina a cabeça, pegando meu olhar quando
tento desviar. — É por isso que você fez essa cara, como se tivesse
chupado um limão podre.
— Limão podre?
— Sim, toda verde e enrugada.
— Isso não seria uma lima?
— Não. Limas não têm o gosto amargo do ciúme. — Ele balança
as sobrancelhas em triunfo pateta.
— Eu não estou com ciúme.
John encolhe os ombros, ainda muito satisfeito. — Tudo bem se
você estiver. Eu me vi atingido por uma onda inesperada quando vi
você com Richard.
Espere. O que?
Um som desarticulado me deixa.
Ele olha para as nossas mãos, ainda de alguma forma ligadas, e
esfrega o polegar em um círculo lento ao redor da minha palma. A
ponta do seu polegar é áspera, dura e com calos, quase arranhando
minha pele. Minhas coxas se apertam.
Ele faz outra exploração lenta, sua atenção totalmente na minha
mão. — Você é tão suave.
— As mãos da maioria das mulheres não são suaves? — Eu
brinco, tentando ignorar a vibração no meu peito enquanto ele
continua a acariciar minha palma e as costas dos meus dedos.
— Eu realmente sou de segurar as mãos. — Ele olha para cima
e sou atingida com toda a força do seu olhar verde. — Estive
pensando em você, Stells.
Minhas entranhas afundam. Entranhas estúpidas. Não digo uma
palavra, mas olho para ele com uma expressão dura.
Seus lábios largos se curvam. — Me desculpe, eu fui um idiota.
Eu não quis te ofender. Eu tenho o mau hábito de falar sem pensar.
Ele ainda segura a minha mão. Como se fosse dele. Não posso
deixá-lo pensar isso. Mas ele é quente e os pequenos toques que
ele dá enviam pulsos de prazer para diferentes pontos do meu
corpo. Até esse momento, eu não tinha ideia de quão sensíveis
minhas mãos eram. Como é que uma carícia suave ao longo da
lateral do meu indicador parece um carícia no interior da minha
coxa? Uma pressão do seu polegar na carne da minha palma faz
meus seios incharem como se estivessem sendo provocados.
Com um suspiro, levanto minha mão e deliberadamente a tiro da
dele. Ele me deixa ir, mas me observa, quase esperando por uma
discussão.
— Obrigada — eu digo, um pouco rígida, porque sinto falta de
seu calor. — Eu entendo. Eu digo coisas estúpidas o tempo todo. —
Um rubor atinge meu rosto quando ele sorri. — Você sabe o que eu
quero dizer.
— Sim, eu sei. — O sorriso desaparece. — O problema, Bonita,
é que eu sei que vou estragar tudo de novo. Eu costumo fazer isso.
— Bem, saber é metade da batalha.
Ele ri, um som suave, quase distraído. A risada diminui para um
silêncio pesado enquanto ele se preocupa em morder o canto do
lábio inferior com os dentes. A tensão zumbe ao longo de sua
estrutura magra e, quando ele fala, suas palavras são tensas e
rápidas como se ele estivesse forçando-as a se libertar. — Eu não
consigo tirar você da minha cabeça. Eu tentei. Mas nada funciona.
Meu coração dispara. — Você não consegue?
John encosta um ombro na parede. — Não consigo deixar minha
curiosidade de lado. Estou tentando. Então eu vejo você aqui com
Richard, que obviamente quer transar com você...
Uma risada chocada me escapa. — Ah, por favor. Ele não quer.
As sobrancelhas escuras de John se arqueiam. — Você está
brincando certo?
— Richard é um amigo. — Que não para de falar sobre me
pagar, mas ainda assim. — É tudo o que ele já foi.
— Stells, você deve ser cega ou estar em uma séria negação.
Ele olha para você como se estivesse mentalmente provando molho
nos seus peitos.
Instantaneamente, meus mamilos ficam rígidos, mas não é por
imaginar Richard. Não, minha mente está em um certo roqueiro que
olha para os meus seios como se quisesse fazer a mesma coisa
comigo.
Um rubor aparece em suas bochechas, e sua mandíbula aperta
quando ele encontra meus olhos. — Você tem que saber disso.
Você é esperta demais para não perceber.
Eu não zombo dele, por pouco. — Se ele está tão afim de mim,
por que ele praticamente te forçou a me levar ao restaurante dele?
— Para ver se eu quero te foder também.
Um som estrangulado sai na minha garganta. Engulo em seco e
olho para a festa. Se eu correr, ele vai me perseguir?
Provavelmente.
O silêncio se estende entre nós, e John claramente devolve um
sorriso. — Não vai fazer a pergunta óbvia?
Calor se espalha pela minha pele. — Não.
Eu pareço a completa covarde que sou. Não posso evitar. Na
minha cabeça, eu gosto de pensar que sou fodona, mas a realidade
me faz pensar Abortar! Abortar! Estrela do rock gostoso vai
incendiar a sua calcinha e você queimará.
Meus lábios se apertam com o meu próprio absurdo.
John abaixa a cabeça para encontrar meus olhos. Os dele estão
brilhantes de diversão. — Hmmm — ele inclina seu corpo para o
meu, — é o seguinte. Eu ouvi Richard dizendo que ele paga pela
sua companhia e...
— Você é inacreditável. — Eu bufo e dou um passo para trás. —
Eu sabia que era disso que se tratava.
— Não. Você não entende. Estou preocupado com você, ok? —
Ele pega minha mão novamente e dá uma pequena sacudida no
meu braço. — Não é seguro. Não me importo com o que dizem, ou
com o quão bem você examina os seus clientes. Já vi
acompanhantes em festas. Lugares como esse. — Seu braço livre
balança em direção ao corredor. — Existem caras ruins e fodidos
que fazem merda para as mulheres sem pestanejar. E acredite, eles
não se parecem com vilões. Você nem sempre os vê chegando. É
preciso apenas um idiota, Stells.
Ele parece tão genuinamente chateado que minha irritação
derrete. Mas ele está empolgado e não percebe.
— Não estou tentando te envergonhar, policiar ou o que quer
que você esteja pensando que estou fazendo aqui. Sim, tudo bem,
eu odeio a ideia daqueles caras pagando pelo “prazer da sua
companhia”, como Richard disse, posso dizer isso agora? Que porra
foi essa merda desprezível? Ele deveria ser melhor que isso. Você
percebe, certo? Quero dizer, porra.
John passa a mão pelos cabelos e os fios grossos ficam para
todos os lados. — Seu corpo deve ser um privilégio, não um
produto.
Luto contra um sorriso porque ele é adorável ao expressar sua
opinião sobre o assunto, andando de um lado para o outro. Eu vejo
o segundo em que percebe que não estou brigando com ele. Ele
pisca algumas vezes, sua expressão violenta se tornando irônica. —
Você ia me deixar continuar e continuar, não ia?
— Era um discurso adorável. — Não consigo segurar um sorriso.
— Como eu poderia parar?
Seus olhos estreitam, e é claro que ele está tentando não rir.
Meu sorriso cresce, mas mantenho minha voz baixa. — Eu não
sou uma acompanhante, John.
O duro conjunto de seus ombros relaxa e de alguma forma ele
está mais perto. — Ok. Bom. Estou feliz.
Sua empolgação é estranha, totalmente diferente do seu normal,
e eu tenho que lutar contra uma risada. Ele obviamente vê minha
luta e sorri largamente. O ar entre nós muda. Estou cheia de uma
estranha tontura, querendo rir por diversão, mas também estou
muito quente, meus membros estranhamente pesados como se
movimentos simples fossem demais para mim.
Seu tom se torna suave e sedutor, tentando arrancar a verdade
de mim. — Você vai me dizer o que faz? — Quando não digo nada,
os cantos dos olhos dele se enrugam. — Entendo. Você vai me
torturar um pouco.
A sensação quente e confusa cresce quando dou de ombros. —
A tortura parece apropriada nesse cenário.
Ele cantarola novamente, dando outro passo em minha direção.
— O que te faz pensar que não vou gostar de ser torturado por
você?
O calor do seu corpo e o cheiro da sua pele deixam minha
cabeça leve e meu pulso dispara. Como chegou ao ponto em que o
destaque do meu dia é flertar com Jax Blackwood? Apesar da
emoção, sei que é demais para mim. Não saio em um encontro há
meses porque me apego, fico emocional e depois me magoo
quando eles inevitavelmente vão embora. E esse homem vai
embora. Ele é tão brilhante e fugaz quanto o flash de uma câmera.
Ficarei com a imagem dele gravada em minha memória e nada
mais.
Digo tudo isso a mim mesma, a voz na minha cabeça soando o
mais severa possível. Mas ainda não me faz recuar. Não impede o
meu corpo de se esticar em direção ao dele sem sequer se mover.
Porque pode ser estúpido da minha parte, mas eu quero ter algo
que não foi planejado. Algo real, por mais breve que seja.
Ele está muito sintonizado comigo para não notar. As pálpebras
de John se abaixam quando sua atenção desliza pelo meu corpo
antes de voltar para o meu rosto. Lentamente, ele descansa o
antebraço na parede ao lado da minha cabeça. — Diga-me, Stella
— ele murmura.
— Não — eu sussurro de volta, flertando, mesmo que não
devesse.
Seu bíceps se tensionam quando ele se inclina, um sorriso
dançando em seus lábios. — Conta.
Meus seios roçam seu peito e sinto isso nos dedos dos pés.
—Você está me apertando. — Eu odeio o quão ofegante pareço.
— Não posso evitar. — Sua voz é um estrondo, o calor de sua
respiração tocando sobre a minha pele. Ele abaixa a cabeça,
aproximando-se até nossos lábios quase se tocarem, e quando ele
fala novamente, seu tom é quase conversacional, exceto pelo som
rouco que toca profundamente dentro do meu núcleo. — Você
cheira a morangos. Fodidamente deliciosa.
Minhas pálpebras tremem e eu engulo em seco. —
Normalmente, eu chamaria você de clichê, mas desde que eu comi
morangos, você não está exatamente errado.
Sua risada é lenta e calma, enquanto ele recua e seu olhar viaja
lentamente sobre o meu rosto. — Eles eram doces, Stella Bonita?
Ele está olhando para minha boca como se tentasse descobrir.
Meus lábios tremem em resposta, e John acompanha o movimento,
sua respiração ficando mais profunda, mais rápida. — Você tem
duas sardas nos lábios. Uma no de cima e outro no canto inferior.
Aquelas malditas sardas. Elas foram a desgraça da minha
adolescência. Eu as escondia com batom e xingava silenciosamente
sempre que alguém as mencionava.
Sardas não têm nenhum sentido, mas juro que é como se ele
estivesse tocando nelas.
— Você acabou de notá-las? — Eu tento fazer parecer uma
piada, mas sai fraca e cansativa.
Seus próprios lábios se curvam. — Ah, eu notei. Distraem como
o inferno. São como dois pontinhos de bala de caramelo. Me faz
querer lambê-las, sentir o sabor.
Ah Deus. Lamba-as, por favor. Eu quase posso sentir. Eu quero
sentir.
Não. Stella má. Comporte-se.
Os lábios de John se separam um pouco, como se ele pudesse
sentir o gosto.
— Se afaste — sussurro. E, no entanto, de alguma forma,
minhas mãos traidoras encontram o caminho para os lados dele,
passando pela cintura da calça jeans, segurando-o ali.
John faz um som profundo com a garganta e inclina os quadris,
pressionando-os contra os meus. Uma protuberância distintamente
grossa cutuca a minha barriga. Nós dois perdemos o fôlego, e então
ele está mais perto, sua bochecha tocando a minha têmpora. —
Você terá que me soltar primeiro.
Meus polegares deslizam sob a borda de sua camisa e
encontram a pele lisa e firme. Um tremor percorre o seu corpo. Eu
tento pensar, lembrar de que merda estamos falando.
Seus lábios roçam o topo da minha bochecha enquanto ele
murmura contra a minha pele. — Diga-me o que você faz, Stella.
Você sabe que quer.
Meu sorriso parece proibido. De alguma forma, a ação está
diretamente ligada a todas as minhas partes felizes, fazendo com
que elas fiquem quentes e apertadas. — Eu acho que não.
Outro murmuro. — Mentirosa. Você está morrendo de vontade.
Uma risada suave me deixa. É bom fazer isso com ele, provocar
e nos esfregar um contra o outro – dois objetos incapazes de se
separarem. Minha ponta dos dedos desliza ao longo de sua pele,
traçando a ponta da calça jeans, e ele estremece.
— Bonita… — É um aviso.
Eu deveria prestar atenção. Eu sei que deveria. Mas ele é
quente e sólido e cheira como o meu melhor sonho. — Sim?
Ele solta um suspiro lento. — Eu não sei. Esqueci o que
estávamos dizendo.
Nós dois rimos, baixo e leve.
— Você quer saber o que eu faço? — Eu digo, um pouco
enevoada, esfregando minha bochecha contra a dele.
— Sim. — É apenas um sussurro no meu ouvido. — Sim.
Calor luxurioso derrete sobre mim. Eu afundo contra a parede,
seu pau grosso e duro pressionando no monte do meu sexo é a
única coisa que me mantém de pé. Um pulso baixo de prazer se
concentra ali. Eu pressiono contra ele para aliviar a pressão, e nós
dois emitimos um som – doloroso, desamparado, carente.
John balança contra mim, apenas um movimento, mas o
suficiente para fazer minhas pálpebras tremerem.
Minha cabeça está girando. — Eu… — Eu lambo meus lábios,
tentando me concentrar.
— Você...? — Seus lábios fazem cócegas na ponta do meu
queixo.
— Eu sou… — Deus, ele pressiona um beijo no canto do meu
olho. — Eu sou… — Eu estou afundando nele. Seus lábios se
abrem e roçam como asas ao longo da minha pele. As pontas dos
meus dedos deslizam sobre sua cintura, sentindo seus arrepios.
Longe de nós, alguém ri.
A espessura doce da voz de John está no meu ouvido. — Você
é...?
Minhas pálpebras pesadas se abrem. O mundo está um borrão.
John está tão perto, a seda de seus cabelos castanhos polidos
fazendo cócegas na minha têmpora, o cheiro de sua pele quente e
sabão provocando as minhas narinas. — Uma amiga — eu digo.
Ele para, não tenso, mas realmente ouvindo agora. — Uma
amiga?
Também sou mais clara, mas não muito. Meus dedos ainda
traçam suavemente a borda de seu jeans. — Sim. Uma amiga
profissional. Se alguém precisar de um amigo, pode me contratar.
Sinto o choque de surpresa que se move através dele. Eu ouço o
pequeno gorgolejo em sua garganta. Nossos corpos roçam quando
ele levanta a cabeça o suficiente para encontrar meus olhos. Seus
olhos verdes estão um pouco nebulosos e se move sobre o meu
rosto como se ele estivesse me vendo pela primeira vez. — Você é
uma amiga profissional? — Sua voz é rouca, falhando no fim.
O som do seu choque faz o calor ser drenando de mim, deixando
meus músculos frios e tensos. Franzo o cenho, olhando para ele. —
Sim.
Ele olha para mim, seus lábios abertos, mas nenhuma palavra
sai. Por um momento, parece que ele oscila. Então ele pisca
rapidamente, cor inundando suas bochechas perfeitamente
esculpidas. — Eu… — Ele dá um passo para trás, seus movimentos
rígidos e desajeitados. — Eu…
— Você parece comigo — provoco, fracamente, porque meu
coração está batendo forte. Ele está olhando para mim como se eu
tivesse acabado de pousar com a Nave Mãe.
John tenta sorrir, mas falha completamente. O melhor que ele
pode fazer é uma inclinação trêmula de seus lábios. Ele passa a
mão pelos cabelos e aperta a nuca, o olhar disparando como se não
soubesse onde está. E então seus olhos encontram os meus
novamente. Ou eles tentam – ele rapidamente concentra-se no meu
rosto.
— Eu tenho que ir — ele deixa escapar.
Antes que eu possa piscar, ele está se virando e se afastando
como se o lugar estivesse pronto para explodir.
CAPÍTULO DEZ

STELLA

— S , ? — O pedido
rouco vem de uma mulher mais velha na base da escada que leva
ao meu prédio. Ela me dá um sorriso, seus lábios com aquele tom
perfeito de vermelho que as estrelas de cinema da velha Hollywood
costumavam usar. Honestamente, a mulher poderia ter sido uma
estrela de cinema clássica. Seus cabelos grisalhos são penteados
com um longo e elegante penteado, seu traje Chanel creme e preto,
perfeitamente adaptado para o seu corpo esbelto.
Percebo que estou encarando a mulher, obviamente lutando
para puxar seu carrinho de compras pelas escadas. Mas a
estranheza de ver uma mulher vestindo alta costura e carregando
uma bolsa original da Birkin que vale mais do que eu ganho em três
meses, cuidando de suas próprias compras, me deixa pasma.
Somente em Nova York.
Ela pode ser elegante, mas parece que um vento forte poderia
soprá-la para longe. Estou de saída, mas coloco minha bolsa no
limiar da porta para mantê-la aberta e depois desço as escadas
correndo e pego seu carrinho. — Me deixe te ajudar.
— Você é muito gentil — diz ela com um pequeno sorriso. — E é
nova aqui.
— Eu sou Stella Grey.
— Madeline Goldman.
— Estou aqui há algumas semanas — digo a ela enquanto
subimos as escadas. — Eu estou cuidando de alguns animais de
estimação.
— Na casa de Killian? — Ela diz com um aceno de cabeça. —
Ouvi dizer que ele estava ausente por alguns meses.
— Você o conhece?
Ela pega o carrinho assim que eu o pouso, e o enorme anel de
diamante canário que ela usa pisca na fraca luz do sol. É parte de
um conjunto, acompanhado por uma fina aliança de ouro. Tudo nela
exala “nova iorquina esbanjando dinheiro”. Exceto pelo fato de ela
estar morando em um prédio sem porteiro e não ter um motorista.
Essa parte é um pouco estranha. Mas parece que esse edifício atrai
pessoas excêntricas.
— Minha querida — ela diz, — faço questão de conhecer meus
vizinhos. É mais seguro e amigável assim.
— Isso é verdade. — Entramos no prédio e pego minha bolsa,
pronta para sair.
A Sra. Goldman pega um conjunto de chaves e abre a caixa de
correio enquanto me olha. — Suponho que você conhece Jax
também.
Meu coração dá um pequeno salto, tentando escapar das
minhas costelas. Patético. Eu tenho que parar de reagir a tudo o que
for relacionado a John, ou Jax, ou como ele quiser se chamar.
Minha vida estava perfeitamente boa antes de conhecê-lo. Um
pouco solitária, com certeza. Não tão emocionante, ok. Mas tudo
bem. Então eu encontro o astro do rock mercurial e ele domina os
meus pensamentos. Totalmente inaceitável. Especialmente desde
que ele fugiu de mim como se tivesse visto um fantasma.
Engulo o nó amargo na garganta. — Nós já nos conhecemos.
Ela deve ouvir algo no meu tom, porque ela dá uma olhada dupla
e depois ri. — Sim eu posso ver isso. Aquele garoto tem uma
maneira de causar uma impressão duradoura.
Eu bufo. — Ele me deixa louca.
— Então você deve gostar bastante dele. — Ela parece
satisfeita.
— Não pretendo estourar sua bolha, Sra. Goldman, mas nem
toda pessoa irritante é secretamente agradável.
— Não, eles certamente não são. — O sorriso dela cresce. —
Mas Jax é. Lembre-se, eu conheço o jovem. Ele não é apenas
encantador como um príncipe, ele também tem um bom coração.
Faço um som evasivo na garganta.
— Ele também tende a cometer erros de vez em quando — diz
Goldman com um olhar conhecedor.
— Pode-se dizer que sim.
— Ele estragou tudo, não é? — Os olhos dela brilham com
diversão agora.
— Bem vamos ver. Ele me acusou de persegui-lo. Embora eu
ache justo, já que eu o acusei do mesmo. Mas ele também achou
que eu era uma acompanhante profissional quando eu não disse o
que fazia da vida.
Isso chama a sua atenção. A Sra. Goldman empalidece, seus
lábios vermelhos se separam. — Ah. Nossa.
— Ele pediu desculpas — me sinto compelida a acrescentar, já
que parece que ela pode pegar John pela orelha e brigar com ele na
próxima vez que o vir. — Então ele me abandonou em uma festa, e
não nos falamos desde então.
Eu dou de ombros, mas meus ombros estão muito apertados, a
memória de John se agarrando como chiclete.
— Ele gosta de você — diz ela, assentindo quase para si
mesma.
Minha pele cora. — Não vejo como a senhora chegou a essa
conclusão.
— Não? — Ela rebate suavemente.
E caramba, quero me arrastar para um buraco e me esconder.
Porque eu pensei que John gostasse de mim. Eu honestamente
comecei a acreditar que havia algo entre nós. Mas ele saiu correndo
e me deixou sem olhar para trás. Não sei mais o que pensar.
Então não. Esqueça ele e siga em frente.
— De qualquer forma, estou apenas de passagem e ele é... bem,
ele. Estrela do rock. Lenda. Tudo isso... — Dou um aceno
impotente. — Eu sou muito mais adequada para caras legais e
normais.
Por que estou balbuciando? Eu não conheço essa mulher. Eu
não quero falar sobre John – Jax. Pior, ela está olhando para mim
como se pudesse ver dentro da minha cabeça. Uma pausa
embaraçosa preenche o espaço antes de ela colocar sua
correspondência na bolsa Birkin e depois se endireitar.
— Vivi muito tempo — ela diz pensativa, — e o que aprendi é
que existem pessoas que nunca cometem erros. Eles nunca pisam
na bola, sempre agem perfeitamente. Minha querida, não confio
nem um pouco nessas pessoas.
Uma risada chocada me escapa. — Porque elas são legais?
— Porque ninguém que vive honestamente é perfeito o tempo
todo. Essas pessoas perfeitas? Elas estão muitas vezes vivendo
uma mentira. Um personagem público organizado para que possam
se esconder atrás. — Os olhos escuros dela brilham. — Se reparar
nas notícias, ao entrevistarem os vizinhos de um assassino em série
desequilibrado eles sempre insistem que ele era um homem tão
legal e normal. Ha. Norman Bates não machucaria uma mosca,
certo?
Seu tom espirituoso me faz rir. — Bem, você me pegou.
— Não existe algo perfeito. Os seres humanos cometem erros.
As melhores pessoas são as que mais erram. É a intenção que
conta. É um erro baseado em ódio, egoísmo ou covardia moral?
Não dê o seu perdão. Mas um erro honesto apoiado por um coração
verdadeiro é totalmente diferente.
Os ossos de seu pulso destacam-se bruscamente contra sua
pele fina quando ela alcança o botão que chama o elevador. — Meu
marido – que Deus tenha sua alma – e eu fomos casados por
quarenta anos. Nós dois tivemos que aprender essa lição da
maneira mais difícil. Perdoe os pequenos erros. Não perca algo
devido ao orgulho.
Ela dá uma pequena fungada, e eu não consigo deixar de pensar
que ela está exagerando um pouco.
— Desculpe-me por perguntar, Sra. Goldman, mas você costuma
bancar a casamenteira com frequência?
Ela congela e me lança um olhar repressivo. Mas então um
sorriso lento se espalha pelo seu rosto. — Sou conhecida por isso.
— Você é muito boa — ofereço, segurando meu próprio sorriso.
— Sim, eu sou. — Sua expressão suaviza. — Ele é solitário,
Srta. Grey. Embora ele nunca admitiria para mim. E é um dos
melhores homens que tive o prazer de conhecer.
Qualquer humor que eu senti desapareceu, deixando meu peito
dolorido. — Acho que nós dois podemos estar um pouco ferrados
demais para nos relacionarmos agora.
O elevador para quando ela bufa suavemente. — Estamos todos
ferrados. É o que tenho tentado te dizer. Você vem?
— Não. — Eu dou um passo para trás. — Eu vou voar.
— Você pilota aviões? — Os olhos dela brilham. — Que
maravilha.
— Os pequenos. — Os aviões grandes são chatos, francamente.
Eu poderia muito bem estar dirigindo um ônibus com asas. Hank me
chama de esnobe por isso, então aprendi a segurar minha língua.
Além disso, eu particularmente não gosto de conversar com as
pessoas sobre o meu hobby; é muita exposição e leva a perguntas
inevitáveis: há quanto tempo estou voando? O que me meteu nisso?
Já estou arrependida de ter aberto a boca e me pego me
aproximando da porta. — Não é fácil ir para Long Island, mas tento
quando posso.
A Sra. Goldman me dá um sorriso gentil. Muito gentil, o que
significa que eu não fiz um bom trabalho em esconder o meu
desconforto. Normalmente, sou especialista em fingir que estou à
vontade.
— Não vou te atrasar, então — diz ela. — Bom voo. Você deve
pegar uma jaqueta, no entanto. O clima da primavera é
temperamental.
Já estou na metade da porta, não querendo ouvir mais nenhum
conselho da Sra. Goldman.

—E .
Scottie olha na minha direção antes de voltar a estudar a fila de
opções na frente dele. — O que te levou a pensar isso? — As
sobrancelhas dele se enrugam. — Embora, se eu for honesto,
também não tenho a menor ideia. Eu busco conforto ou fácil
portabilidade? E como diabos esse carrinho de bebê fecha?
Ele faz um movimento furtivo com a alça quando eu reprimo um
bufo. — Eu não estou falando sobre os malditos carrinhos.
Na verdade, não tenho ideia de por que somos os únicos
comprando um carrinho de bebê. Impossível encontrar dois caras
mais ignorantes sobre o assunto.
Scottie se agacha ao lado de um modelo preto e prata que mais
me parece uma cápsula espacial. — Bem, eu estou. O último que
Sophie comprou tinha um raio de curvatura de merda e as alças
eram muito baixas para mim. Tenho dor nas costas manobrando
aquele pesadelo.
— Você faz parecer um carro.
— É mais importante do que um carro. É responsável por
carregar o meu primogênito.
Eu bufo, mas depois avalio as opções. — Nesse caso, pelo
menos comece com os que estão no alto.
Ele estuda os carrinhos de criança. — Por quê?
— Os modelos tradicionais têm o rosto de uma criança no nível
da sua bunda. Você gostaria de estar constantemente olhando para
bundas?
— Só se for a da Sophie.
— Bem, claro. Ela tem uma ótima bunda.
Ele olha para mim e eu levanto minhas mãos em sinal de
rendição. Scottie dá um grunhido e vira na minha direção. — Por
que você está no limite?
Agora que ele me distraiu, me arrependo por ter dito isso. Mas o
olhar a laser de Scottie está apontado para mim e não há como sair
dessa sem ele me atormentar até a morte.
Eu passo a mão no meu rosto. — Eu não posso fazer isso na
frente dos carrinhos de bebê.
— Você acha que eles vão contar para a imprensa? — Ele
pergunta, inexpressivo.
— Ha. Não, sério, você é hilário. As pessoas não entendem o
seu humor.
Ele concorda. — Sophie diz o mesmo.
— Porra, eu vou precisar de um antiácido depois disso.
Sem vacilar, ele enfia a mão no bolso do paletó e puxa uma fina
caixa de metal. Eu fico boquiaberto quando ele me entrega dois
antiácidos. — Agora, fale.
Eu mastigo antes de confessar. — Aconteceu uma coisa. — Eu
engulo em seco. — Com a Stella. De novo.
Scottie levanta a mão e pega dois antiácidos para ele mesmo.
Reviro os olhos enquanto ele os mastiga. — Você terminou?
— Continue.
Resmungando, eu me afasto dos carrinhos, e ele segue.
— Pedi desculpas por ser um merda. — Eu ignoro o corredor de
produtos de banho. Patinhos amarelos e sapos verdes sorriem para
mim.
— Bom.
Dou uma olhada para Scottie, e procuro por uma saída. Bombas
para extrair leite aparecem à esquerda, fraldas à direita. Um
verdadeiro labirinto com a alegria de um bebê feliz e do tempo em
família ao meu redor. Não consigo ar suficiente aqui. Um monte de
crianças estão cantando uma das minhas músicas no alto-falante, o
que é errado em muitos níveis.
— Mmm... Scottie?
— Sim?
— Quando diabos demos autorização para o Tots That Rock
tocar as nossas músicas?
Ele estremece. — Eu estava um pouco distraído quando Sophie
me disse que estava grávida. Pequenos erros de julgamento podem
ter ocorrido.
— Certo.
Os olhos dele se estreitam em mim. — Você estava na reunião e
assinou os papéis, Blackwood. Você pode tentar prestar atenção se
tiver objeções a certas formas de marketing de divulgação.
— Uh-huh. A propósito, marketing de divulgação é um termo
interessante. Pontos por isso.
Seus olhos se tornam fendas. — Pare de desviar do assunto e
me fale sobre o seu problema.
— Stella me contou sobre seu trabalho.
Eu puxo a gola da minha camiseta. Juro que eles ligaram o
aquecedor. Fotos de bebês sorrindo e babando me encaram. É
como o filme Os Pássaros em fraldas.
Scottie agarra o meu cotovelo. — Por aqui.
Deixo-o me guiar para fora do inferno dos bebês e encho os
meus pulmões com o ar gloriosamente poluído da cidade, assim que
saímos. — Obrigado.
— A mesma coisa aconteceu comigo nas primeiras cinco vezes
que Sophie me arrastou para uma dessas lojas — ele admite. —
Você tem que trabalhar aos poucos até estar pronto para uma visita
completa.
Atravessamos a rua e seguimos em direção ao Central Park.
Scottie continua conversando assim que estamos na relativa
privacidade do parque. — Você tem um problema com ela ser uma
amiga profissional?
— Não. — Quem dera fosse. Eu preferiria isso agora. — Não é
isso...
— Então o que?
Juro que minha garganta está se fechando.
— Desembucha, John, ou eu vou voltar para comprar o carrinho
de bebê.
— Eu achei adorável, está bem? — Eu passo a mão pelo meu
cabelo. — Ela é totalmente adorável. Algo aconteceu comigo que eu
não...
Scottie para e olha para mim. Não posso olhá-lo nos olhos.
— Eu estava parado ali, olhando para ela, e ela se tornou...
mais. Eu não podia... eu não conseguia pensar, cara. Tudo
simplesmente… — aceno uma mão em aborrecimento para mim
mesmo. — Mudou. O mundo mudou, e lá estava ela. Entende?
Um sorriso lento e irritante se espalha pelo seu rosto. Eu quero
chutá-lo. Mas não faço. Eu trouxe isso para mim mesmo.
— Sim — ele diz, — na verdade, eu entendo.
Eu temia isso. Lembro-me de como Scottie ficou quando se
apaixonou por Sophie, seu foco mudando do trabalho para uma loira
tagarela que apareceu para deixá-lo louco. Foi divertido como o
inferno vê-lo se apaixonar. Agora não tanto. Não quando sou eu
quem está desenvolvimento sentimentos.
O primeiro instrumento que toquei foi um violino. Eu gostei
bastante e era muito bom nisso. Mas no segundo em que peguei um
violão em minhas mãos, eu sabia que mudaria minha vida. O
mesmo aconteceu quando me encontrei com Killian, Whip, Rye,
Brenna e Scottie. Eu sabia que eles teriam um papel na minha vida,
que alterariam sua direção e propósito.
Eu tenho o mesmo sentimento em relação a Stella. Ela é nova e
revigorante, confortável e atemporal, como uma das minhas
melhores músicas, tocada de uma maneira totalmente diferente. Só
que, em vez de ir com tudo, eu quero recuar. Ao contrário dos
outros, Stella me assusta pra caralho.
Eu a encarei naquele corredor escuro e percebi o quanto eu a
quero. Eu a quero debaixo de mim, em cima de mim, ao meu lado.
Quero dedicar horas memorizando o padrão de suas sardas, cada
curva e declive de seu corpo. Eu quero o corpo dela contra o meu
até que o seu cheiro esteja na minha pele. Quero prová-la, transar
com ela, rir com ela. Eu quero tudo.
Sexo sempre foi fácil para mim. Posso me desligar, me deixar
sentir prazer, ignorar toda a merda na minha cabeça. Eu amo sexo.
Mas eu nunca quis verdadeiramente uma mulher em particular
antes. Uma era tão boa quanto qualquer outra. E se alguém que eu
estivesse afim não gostasse de mim, havia muitas mulheres
dispostas e disponíveis para satisfazer as minhas necessidades. Eu
costumava amar isso sobre o sexo – a facilidade e a impessoalidade
de tudo. Eu podia experimentar uma intensa conexão humana que
eu precisava desesperadamente sem ter que permanecer
conectado depois que terminasse.
Nada sobre Stella é impessoal.
Talvez se fosse um simples caso de luxúria ou a necessidade de
foder, eu poderia lidar com essa coisa com Stella. Mas não é. É
abundantemente claro. Ela me disse que é uma amiga profissional,
alguém cujo trabalho é fazer com que outras pessoas se sintam um
pouco menos solitárias na vida, e esse era o meu caso. Eu caí
direto no abismo. Meu desejo por ela não é apenas físico; mas em
um nível espiritual.
Se tivesse que escolher entre ter Stella na minha vida mas sem
sexo, ou transar com ela e deixá-la em seguida, escolheria o
celibato com Stella todas as vezes. Mas como exponho a minha
alma, por mais falha que seja, e mantenho a esperança de que ela
também me queira?
Eu sou um eterno fodido. Tenho sido durante toda a minha vida.
É um milagre que eu seja famoso. E sim, sou adorado pelos fãs.
Mas eles não me conhecem. Stella conhece, e não estou
convencido de que ela possa suportar minha presença por muito
tempo. Claro, ela está atraída. Eu posso ver isso muito bem. Mas eu
sei que a atração é uma emoção superficial que pode desaparecer
facilmente, então não me inspira muita esperança. É por isso que
quero correr para o mais longe possível de Stella. Mas quanto mais
eu me afasto, mais a sinto me puxando de volta.
Scottie ainda está me olhando, o brilho de conhecimento em
seus olhos. Ele está gostando disso.
Esfrego uma mão na parte de trás do meu pescoço e aperto os
músculos rígidos. — Eu a deixei ali de pé. Dei uma corrida
completa.
Ele balança a cabeça como se minha reação fosse perfeitamente
normal, o que não é. — “Somos todos tolos no amor”.
Por um segundo, eu olho para ele. — Você acabou de citar Jane
Austen?
Scottie bufa. — Cara, você tinha uma cópia de Orgulho e
Preconceito debaixo do seu colchão na primeira turnê que fizemos.
— Eu estava tentando impressionar as mulheres!
— Certo. É por isso que estava marcado e caindo aos pedaços.
— Era a antiga cópia da Brenna — protesto, mas depois dou de
ombros. — Darcy estava bem. Mas sempre me incomodou que
Elizabeth só começou a mudar de opinião sobre ele quando o viu
em Pemberley.
— Ela estava se apaixonando antes disso; ela simplesmente se
recusou a reconhecer. Você é cínico por pensar o contrário. —
Scottie pega o seu telefone para mandar uma mensagem para o
motorista. O homem nunca anda pela cidade se não precisar. — O
que não funcionará com a Srta. Grey; a mulher é uma romântica.
Eu perguntaria como ele sabe, mas Scottie sabe tudo sobre
todos. Não adianta ficar chateado com isso. E ele está certo.
Franzindo a testa, olho para o parque. O céu cinzento pesado e
cheio paira sobre a grama verde. A chuva está prestes a cair e as
pessoas estão procurando por cobertura. Scottie e eu seguimos
para a Columbus Avenue, onde seu motorista estará esperando.
— O que eu faço? — Deixo escapar.
Scottie me dá um olhar de soslaio. — Invista em um bom
conjunto de joelheiras. Prevejo que você vai rastejar muito no seu
futuro.
— Se eu pudesse passar um tempo com ela sem me preocupar
com mais nada — murmuro.
— Seria o ideal. — Scottie parece achar isso impossível. Por
outro lado, o bastardo sortudo estava trabalhando com Sophie
quando se conheceram. Ela tinha que estar perto da sua bunda
espinhosa.
Uma ideia nebulosa começa a se formar, fazendo cócegas nas
bordas do meu cérebro desesperado.
— Além disso — diz Scottie, interrompendo os meus
pensamentos, — Temos problemas maiores agora.
A sensação de que algo ruim vai acontecer retorna com uma
vingança. — Você falou com as mulheres? — A lista que eu havia
dado a ele era embaraçosamente vaga, mas sua equipe acompanha
todos que vêm ao nosso encontro ou visitam nossas salas VIP, o
que ajudou muito, considerando que minhas fodas habituais são
com mulheres que participam de eventos do Kill John.
— Sim — ele diz lentamente. — Também localizamos a origem.
Uma jovem chamada Karen...
— Karen. Certo, esse era o nome dela.
Scottie me lança um olhar irritado. — Aparentemente, Karen
também tinha sido muito amigável com Dave North.
Dave North, o vocalista do Infinite Sorrow. Esfrego a parte de
trás do meu pescoço. — Dave sabe que ele está em risco?
— Ele sabe agora. — Scottie solta um suspiro ofendido. — Eu
juro, eu deveria te ensinar a fazer as coisas...
— Enfim — interrompo antes que ele pudesse continuar, — por
que tenho problemas maiores?
— Eventualmente, essa história vai ser publicada. Não podemos
contê-la.
— Eu percebi. — A chuva começa a cair em gotas lentas e
suaves, pontilhando as costas dos meus braços. — Não tem outro
jeito, tem?
Scottie tira um guarda-chuva compacto da maleta antes de ligar
para o motorista. — Não. Mas nós precisamos formar um plano para
controlar os danos. Sua imagem é fundamental. Temos que deixá-la
perfeita.
A chuva cai mais forte agora, atingindo minhas bochechas com
respingos frios. — Scottie, cara, eu vivo como um monge agora. E,
francamente, eu não dou a mínima se eles acabarem comigo. —
Não é exatamente verdade. Vai doer, quer eu queira ou não. — Não
se preocupe comigo mais do que o necessário. Eu vou ficar bem.
Olhos gelados se prendem a mim, vendo demais. — Eu
costumava me isolar. Olhar para os outros, mas nunca para mim. É
uma maneira solitária de viver.
Eu sei disso. Sucesso, fracasso – são estados transitórios. O
medo pode te desconcertar. Mas a solidão crava suas garras como
nada mais. Você pode estar cercado por amigos e ainda se afundar
na solidão. É horrível pra caralho.
— Sophie te ensinou isso? — Eu brinco, ignorando o abismo
sombrio dessa emoção.
Os lábios de Scottie se curvam levemente. — Não, cara. Você
ensinou.
CAPÍTULO ONZE

STELLA

U sobre os táxis da cidade de Nova York:


se chover, eles desaparecem. Como mágica. Outra lei da chuva e
da cidade? A chuva começa quando você estiver o mais longe
possível de uma estação de metrô. Tenho certeza de que a cidade
quer que você se molhe.
Bem, estou molhada agora. Encharcada até os ossos enquanto
subo os degraus do meu prédio. É uma tempestade de primavera,
fria e implacável, martelando meu crânio com um barulho
incessante.
Desde que saí de camiseta e saia, estou congelando. Porra, a
Sra. Goldman estava certa; eu deveria ter levado uma jaqueta.
Eu ficaria bem se pudesse me aquecer novamente. Mas eu não
consigo entrar no caralho do meu prédio. Minhas mãos tremem
enquanto digito o código de alarme da porta da frente. De novo.
E, novamente, recebo um flash vermelho raivoso: “Acesso
Negado”.
— Vamos — eu murmuro, um nó subindo pela minha garganta.
— Me deixe entrar.
Se não conseguir desativar o alarme, a chave não será ativada.
É uma medida de segurança simples, mas enlouquecedora, que eu
costumava apreciar. Agora, eu odeio. Os números do teclado nadam
na frente do meu rosto. Eu sei que estou digitando errado. Não
anotei o código, mas esses são os números que eu lembro. Minha
memória é sólida como pedra. Como posso estar errada? Mas sei
como.
Eu digito o código novamente, minha ponta do dedo doendo
enquanto eu a pressiono contra os números do teclado.
Acesso negado.
Minha visão fica embaçada e eu pisco rapidamente. — Porra. —
A palavra escapa em um soluço pequeno.
Alguém sobe as escadas. Por favor, não seja ele. Por favor.
Mas o mundo não é assim tão gentil.
— Stella Bonita? — John para atrás de mim, segurando um
guarda-chuva sobre nossas cabeças. — Por que diabos você está
parada aqui? Abra a porta e saia da chuva.
Por que ele? De todas as pessoas que moram nesse maldito
prédio, por que sempre tem que ser ele? Eu teria preferido o “eu te
disse” da Sra. Goldman do que ele agora.
Minha garganta convulsiona. — Estou tentando.
Ele se inclina para mais perto, obviamente se esforçando para
ouvir minha voz fraca sobre a chuva forte. — O que está errado? A
porta está quebrada?
Meu lábio treme, e eu o mordo com força antes de responder. —
O código não funciona. — Rapidamente eu digito e é negado. —
Viu?
Há uma enorme pausa. Eu posso sentir o peso intenso do seu
olhar. Então ele se move, e fico tensa quando sua bochecha roça a
minha quando ele se abaixa. — Stella, amor, é 22577, não 77522.
Eu sabia. Mas como digo a ele que pensei que estava colocando
a combinação certa, que minha mente confusa trocou os números
de lugar durante o processo? Não posso. E não vou. Eu apenas fico
de pé, rígida e com lágrimas nos olhos.
— Ei. — A suavidade na sua voz me faz levantar a cabeça. Ele
procura meu rosto, e os cantos dos seus olhos se enrugam. —
Cristo, Stells, você está acabando comigo.
Não sei do que ele está falando. Eu sou a única encharcada e
com frio.
Movendo-se lentamente, ele levanta a mão e escova uma mecha
de cabelo molhada da minha bochecha. O silêncio cresce entre nós
quando ele olha para o meu rosto como se nunca tivesse me visto
antes. Por outro lado, toda vez que ponho os olhos nele, parece a
primeira vez, como se eu estivesse sempre procurando pelo seu
lindo rosto.
Ficamos assim, a chuva tamborilando em seu guarda-chuva e
ricocheteando na calçada aos nossos pés. Não consigo me mexer
ou dizer uma palavra. Ele é sério, proibido e bonito, seu cabelo
escuro coberto de gotas de chuva prateadas.
Eu não o vejo desde a noite em que ele fugiu, mas o tempo não
fez nada para entorpecer a atração que sinto sempre que estou
próxima a ele. Na verdade está pior agora. Eu respiro trêmula, e seu
olhar se lança para os meus lábios.
— Fornasetti — ele finalmente deixa escapar, embora sua voz
esteja rouca.
— O que? — Minha própria voz é um triste coaxar.
As sobrancelhas de John se juntam. — Sabe aqueles pratos
italianos pintados por ele? A imagem em preto e branco com a
menina nela. Ela tem olhos grandes, um nariz pequeno e uma boca
que parece um belo botão?
Eu devo estar carrancuda, porque suas bochechas ficam
vermelhas e ele se afasta. — Você me lembra dela.
— Uma garota em um prato?
O rubor nas bochechas se aprofunda. — Sim... não importa.
Ele rapidamente coloca o código certo e abre a porta. Seu toque
na parte inferior das minhas costas é suave enquanto ele me
conduz para fora do frio e da chuva. Vou até o elevador, deixando
poças no meu caminho.
Com um palavrão suave, John encolhe os ombros e tira sua
camisa de flanela úmida e a envolve a minha volta antes de me
puxar para o seu lado e me abraçar apertado. — Você está
congelando.
Eu ouço o julgamento em sua voz, como se soubesse há quanto
tempo estou do lado de fora, tentando entrar e falhando. Eu mordo
meu lábio com mais força. Sem uma palavra, John aperta o botão
para o nosso andar. O elevador pode muito bem ser um túmulo com
o silêncio que se segue. Olho para os meus dedos dos pés e tremo
enquanto John me abraça e esfrega meu braço com a mão grande.
Eu deveria me afastar, mas ele é quente e é bom demais. Sim,
aqui estou eu, escolhendo o conforto humano básico em vez do
orgulho. Meu orgulho sofre outro golpe quando chegamos a nossa
pequena área em comum e John digita o código da minha porta da
frente.
Eu recuo, meu olhar finalmente se voltando para ele. — Você
sabe o código?
John tem a graça de estremecer. — Killian é meu melhor amigo.
Nós sabemos o código um do outro por razões de segurança.
— Não me sinto muito segura agora — resmungo, pisando na
cobertura.
Ele me segue. — Espero que você esteja chateada por causa da
chuva e não porque pensa que um dia eu vou entrar sem ser
convidado.
Olho para ele e meus passos diminuem quando percebo sua
expressão magoada. Um suspiro me deixa. — Sim, é a chuva. — Eu
dou um sorriso fraco para ele. — Se você quisesse mesmo entrar,
poderia pular o muro do terraço como eu.
Não acho que ele considere minha tentativa de humor engraçada
agora. Mas sua rigidez diminui. — Sempre que você estiver nua
fazendo ioga, me avise, e eu vou pular o muro sem pensar duas
vezes.
Apesar do aperto no meu peito, eu rio um pouco. — Vou colocar
isso no topo da minha lista de afazeres.
Um calafrio assola meu corpo, com uma inclinação de cabeça
ele gesticula em direção ao quarto. — Vá se secar. Vou fazer um
chá para você.
— Você vai fazer chá?
Seu lábio torce quando ele se dirige para a cozinha. — Talvez
você não saiba disso, mas, no fundo, eu sou inglês. Aprender a
fazer uma boa xícara de chá é uma das nossas primeiras lições na
vida.
Lembro-me então de que John é de uma família inglesa
extremamente rica. — Seu sotaque é fraco e sai em momentos
estranhos.
Talvez seja porque sua infância foi dividida entre Nova York e
Inglaterra. Mas a reação de John me diz o contrário.
Sua careta é tão leve que quase não percebo. — Quando
começamos a banda, tentei o máximo perder o sotaque. Talvez eu
tenha sido um pouco bem-sucedido demais nisso.
— Por que? — Seu sotaque é adorável quando aparece.
John se dirige para a cozinha de Killian, dando as costas para
mim. Quando ele finalmente responde, seu tom é tedioso. — Para
os britânicos, seu sotaque define você. No instante em que você
abre a boca para falar, as pessoas sabem de onde você é. Meus
pais são elitistas esnobes. Eles odiavam tudo sobre o que eu estava
fazendo e quem eu estava tentando me tornar.
Ele para no balcão da cozinha e olha distraidamente para os
armários. A tensão corre ao longo de seus ombros, deixando os
músculos sob a camisa rígidos. Mas então ele olha para mim e o
sorriso que me lança é descuidado e um pouco arrogante. — Já que
eles estavam fazendo o possível para me apagar da família, pensei
em retribuir o favor.
Jesus. A mágoa por ele pressiona o meu peito e me pede para
lhe dar um abraço. Eu sei tudo sobre ser abandonada e a raiva
desafiadora que se segue. Eu poderia contar a ele sobre isso, dar-
lhe um pedaço da minha própria dor. Mas eu também conheço a
linguagem corporal, e a dele está gritando: “Recue, por favor”. Além
de que, não devemos fazer coisas intensas e reais. Ele deixou isso
claro quando correu da festa. Essa confissão deve ser uma
aberração – um deslize causado pela minha curiosidade.
Então, eu faço minha parte e conto uma piada.
Eu rio. — Você é um inglês em Nova York.
A expressão de John fica em branco quando ele olha para mim,
sem entender, mas então ele sorri lentamente. — A música do Sting,
certo?
Eu concordo. — Surgiu na minha cabeça agora.
A gratidão brilha em seus olhos verdes, e então se vai. Mas seu
sorriso cresce. — Whip citou Sting outro dia. — Ele pega uma
chaleira e a enche. — Você me lembra Whip.
— Sério? Por quê?
Estamos em lados opostos da sala e ele se afastou de mim
novamente, mas quando ele pega duas xícaras de chá do armário,
vejo um vislumbre do seu sorriso suave. — Vocês dois são...
bondosos.
— Bondosos? — Não sei por que estou repetindo o que ele
disse. Mas “bondoso” parece como um tapinha na cabeça.
Ele olha por cima do ombro. — Sim. Bondoso. A pessoa para
quem você liga quando está afundando e precisa de uma mão para
segurar, porque sabe que ela vai aparecer. — Balançando a cabeça,
ele ri. — Não sei mais como descrever.
O calor se espalha pelo meu peito, mas meu intestino se aperta
desconfortavelmente. Ninguém nunca tentou explicar como sou para
mim. Eu não sei como lidar com isso. Eu não sei como lidar com ele.
Eu quero perguntar mais sobre seus colegas de banda. Ele sai
com eles quando não estão trabalhando? São tão descontraídos
quanto ele? Eles sentam e fazem música? Ou talvez sejam como os
outros caras e assistem esportes enquanto bebem cervejas e falam
merdas.
Mas perguntar parece ser uma intromissão e muito fanatismo. Eu
gostaria de ser mais de boas sobre a fama dele, mas parece que
John é duas pessoas. O homem sedutor, às vezes irritante, às
vezes travesso, que é meu vizinho, e então ele é Jax, a estrela que
é objeto de infinita luxúria e idolatria dos fãs.
Quando ele fala sobre seus colegas de banda, não consigo
deixar de pensar nele como Jax e me perguntar o que diabos ele
está fazendo aqui e por que está me fazendo chá. Não parece real.
O silêncio fica estranho, e John me pega enrolando. — Seus
lábios estão azuis.
— Estou indo, estou indo.
Tomo um banho quente e visto minha calça de pijama mais
macia e uma camisa de manga longa. Não estou tentando
impressionar John. Quão ridícula – eu totalmente sou. O homem é
uma tigela cheia de sexo cremoso com chocolate quente por cima.
Meu corpo sabe disso, mesmo que meu cérebro continue me
lembrando que ele é um desastre esperando para acontecer. Talvez
se eu não tivesse que morar ao lado dele, ou ser lembrada do sexo
depois que o suor secasse, eu gostaria que ele me quisesse.
Apesar do fato de ele ser um exímio namorador, não acho que
ele me veja como uma conquista. Caras como Jax Blackwood não
hesitam. Eles vão atrás do que querem sem medo. Por mais que me
doa admitir, admiro isso nele.
Eu rio de mim mesma enquanto seco meus cabelos com uma
toalha e depois vou para a sala de estar. A única verdade que
preciso saber é por quê ele se afastou de mim na outra noite como
se eu tivesse uma doença contagiosa. Não corro o risco de as
coisas irem mais longe do que estão agora.
O pensamento ainda está comigo, puxando um sorriso
melancólico nos meus lábios, quando me junto a ele na sala
principal. Ele tem uma jarra de chá pronta, uma pilha de torradas e
pequenos potes de geléias, mel e manteiga dispostos em uma
bandeja. É tão inglês que mexe com o meu coração.
— Como você toma o seu chá? — Ele pergunta, e fico
impressionada com outra estranha sensação de que estou
sonhando: Jax Blackwood tão atencioso e adequado quanto um
mordomo me preparando uma xícara de chá.
A Sra. Goldman estava certa? Ele é solitário? Quero perguntar,
mas não tenho coragem.
— Um pouco de leite. Uma colher de açúcar.
Ele derrama meu chá e depois me entrega a xícara. — Killian
tem uma seleção desanimadora de chá disponível. Lamento dizer
que deve ser barato, apenas Earl Grey ensacado para nós.
Meus dedos envolvem a cerâmica quente. — Eu não sou uma
grande bebedora de chá. Acho que não saberia a diferença de
qualquer maneira.
Ele me olha com uma expressão falsa de horror. — Ainda terei
que te converter, Bonita.
John parece saber o que faz, porque o chá é melhor do que
qualquer outro que eu já tomei antes. Forte, mas não amargo.
Perfumado e leitoso com apenas uma pitada de doçura. Tomo outro
gole e suspiro calmamente antes de me servir de uma torrada
amanteigada com mel. — Obrigada — digo entre mordidas. — Está
maravilhoso.
Ele bebe seu chá e de alguma forma faz parece viril a xícara
delicada em suas grandes mãos. — O que aconteceu lá fora? — Ele
pergunta. — Você não precisa me contar se não quiser. Mas você
parecia... perdida, Stells. Você está bem agora?
Minha garganta engrossa quando eu aceno. — Estou bem. É...
— Tomo meu chá para me dar uma pausa. — Às vezes os números
meio que mudam no meu cérebro.
Seus brilhantes olhos verdes estão firmes em mim. — Você é
disléxica?
— Não são as palavras. No meu caso são os números. Um caso
leve de discalculia. — Solto um suspiro. — Só acontece quando
estou estressada ou cansada demais. É como se algo no meu
cérebro simplesmente parasse ou mudasse os números. Quando
tento forçar, a situação piora. Como hoje. Eu estava cansada, com
frio e com raiva de mim mesma e... — Dou de ombros, segurando
minha xícara com mais força.
— Estou feliz por estar lá para deixar você entrar então. — E
esse é o fim. Sem piedade. Sem perguntas para as quais não tenho
respostas.
John espalha geléia de groselha na torrada e nós comemos em
silêncio por alguns minutos. Não é exatamente cansativo – eu
definitivamente estou me sentindo quente e bem cuidada – mas há
uma certa tensão entre nós. Tenho a sensação de que John está se
preparando para algo. Ele continua me lançando olhares hesitantes
antes de pegar grandes pedaços de torrada e mastigar como se sua
vida dependesse disso.
Todo mundo erra. Eu sei isso. Eu sei que ele é tão humano
quanto o resto de nós, embora às vezes pareça que ele vive acima
do resto do mundo. Eu me acomodo mais confortavelmente no sofá,
tomo meu chá e como minha torrada. Ele vai falar quando estiver
pronto. John não é do tipo que fica calado por muito tempo.
Provo que estou certa quando ele toma um longo gole de chá e o
abaixa. Ele pressiona os ombros nas almofadas do sofá,
preparando-se. — Me desculpe, por ir embora daquele jeito da
festa.
Não é algo sobre o qual eu realmente quero falar. As frases que
me vêm à mente começam com “embaraçoso” e terminam com
“rejeição”.
— Você fugiu tão rápido, por um momento, pensei iriam remover
as paredes e o teto — brinco. Não sei se pareço tão despreocupada
quanto quero. Provavelmente não. Eu disse a ele o que faço para
viver e ele correu – logo depois de sorrir e se inclinar para mim
como se quisesse devorar a minha boca. Claramente, ser uma
amiga profissional é um problema para ele.
Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas antes de suavizar.
— Uma piada do Megamente? — Ele sorri. — Deus, você é
adorável.
— Igual a um filhote de cachorro gordo — digo baixinho, depois
balanço a cabeça, e coloco uma expressão brilhante no rosto.
Mas ele me ouve perfeitamente e franze a testa. — Foi rude da
minha parte. Não sei como explicar a não ser dizer que tive um surto
de insanidade temporária.
Encontro-me voltando aos velhos hábitos, querendo suavizar a
nossa embaraçosa conversa. — Não precisa se desculpar. De
qualquer maneira, eu tive que voltar para Richard.
Ele não parece convencido. — Se eu soubesse que você estava
trabalhando, não teria afastado você. Te deixar em problemas com
um cliente era a última coisa que eu queria.
Eu estreito meus olhos para ele porque não posso dizer se ele
está sendo sincero ou me enrolando. Ele está muito tenso e inquieto
para eu fazer uma boa leitura dele. — Richard não se importou.
Ele descansa os pés na mesa de café. — O que você faz com
esses amigos? E juro por Deus, não estou insinuando sexo —
acrescenta ele às pressas.
Eu dou uma risada. — Eu não pensei que tivesse. — Eu passo a
mão pelo meu cabelo úmido. — Nós fazemos o que eles querem.
Minhas únicas regras são, não fazemos nada ilegal e sem contato
sexual. Estritamente platônico.
Ele assente, atento e me incentivando a continuar.
— E não saio apenas com homens. Também tenho muitas
clientes mulheres. Só aconteceu de você me ver apenas com caras.
— Balanço minha cabeça com tristeza. — Quanto ao que fazemos,
já fui às compras, saí para comer, ver filmes, participei de
casamentos como um encontro falso. Até fui a um funeral uma vez.
As sobrancelhas dele se erguem. — Um funeral?
— Sim. Uma mulher não queria ir ao funeral da sua mãe
sozinha. Ela não tinha ninguém próximo e precisava de alguém para
segurar a sua mão.
Sua expressão suaviza. — Stells, você realmente acaba comigo
às vezes.
— Por quê? — Eu pergunto com uma voz fraca. A lembrança da
dor da pobre Mari permanece com a narrativa.
— Você ajudou uma completa estranha a passar por um dos dias
mais difíceis da sua vida. Muitas pessoas não fariam isso.
— Não torne isso nobre. — Eu olho para longe. — Eu não queria
estar lá. Odiei cada minuto.
— Mas você estava.
— Só porque sei como é estar sozinha. Não poderia dizer não ao
pedido dela.
— E isso — diz ele, inclinando-se para a frente, colocando-o na
minha linha de visão, — faz toda a diferença. Você fez mesmo
assim.
— Está tentando me agradar, Blackwood?
Ele me lança um olhar de soslaio. — Talvez.
Ok, não esperava essa. Enrolo minhas pernas debaixo de mim.
— Por quê?
Seu pé começa a bater. — Estive pensando...
Eu realmente não gosto do jeito que ele olha para mim, hesitante
e ainda determinado. — Pensando em que?
Ele levanta um ombro. — Eu gostaria de contratar você. Para ser
a minha amiga por um tempo — ele esclarece diante do meu
silêncio.
Eu tento dizer alguma coisa. Realmente tento. Mas minha
garganta se contrai. Espinhos parecem crescer atrás minhas
pálpebras. Vou chorar e não sou uma chorona.
Me pagar para ser sua amiga? Ele poderia muito bem ter puxado
uma foice e cortado as pernas debaixo de mim. Já lidei com isso
antes, ficar perto de alguém que acaba me vendo não como uma
amiga de verdade, mas como algo menos. Honestamente, eu já lidei
com isso tantas vezes que tenho uma padrão de resposta
memorizado: — Sim, claro. Vamos agendar alguma coisa.
E, afinal, ele está se oferecendo para pagar. Algumas pessoas –
muitas pessoas – querem que eu seja a amiga de plantão, a amiga
que age como uma acompanhante paga, esperam que eu dê
respostas favoráveis e sorrisos agradáveis, mas eles não querem
pagar. Eles esperam que eu aja dessa maneira de graça.
Talvez eu devesse estar agradecida.
John olha para mim com uma expressão sincera, claramente
alheio de que me deu um soco mental. Tudo o que tenho a fazer é
ser educada e tirá-lo do meu apartamento o mais rápido possível.
Mas não consigo fazer minha boca se mexer.
Claramente impaciente, ele se inclina para frente. — Eu vou te
pagar muito bem. O suficiente para que você não precise ver outros
clientes. Apenas eu.
Meu rosto começa a formigar. — Você quer me pagar para sair
exclusivamente com você?
Satisfação ilumina seu rosto. O rosto grande e estúpido. — Sim.
Começo a praticar minha respiração profunda de ioga.
— Bem então? — Ele pergunta, mãos cerradas em punhos. — O
que você acha?
— Você precisa sair. — Eu estou de pé, quase batendo na mesa
de café. — Agora por favor.
John se levanta também, as sobrancelhas arqueadas. — Sair?
Por quê?
Eu não posso olhar para ele. — Porque eu te pedi. — Virando as
costas para ele, pego as xícaras.
— Que merda? O que eu fiz de errado?
Você se ofereceu para me pagar pelo que eu teria feito de graça.
— Nada.
Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas. — Então por que
você está me expulsando?
Para que eu possa chorar sozinha. — Estou cansada.
— Besteira — Seu sotaque inglês se eleva, nítido como papel. —
Parece que eu te dei um soco. É realmente tão desagradável sair
comigo?
Desagradável? Eu quero gritar. Eu poderia.
A cor de John se intensifica quando ele dá um passo para mais
perto, seu corpo longo e magro pairando sobre mim. — Me
responde, merda.
Quando ele se move para segurar meu cotovelo, eu afasto meu
braço. — Porque você me deu um soco, seu idiota.
Ele me olha boquiaberto. — Como?
De todas as... Minha decepção borbulha e se transforma em
raiva. — Como você pode não saber? Você realmente não tem
noção?
Sua boca se fecha num instante. — Aparentemente não. Então
me esclareça.
— Porque dói, ok? — Quando ele franze a testa, eu avanço nele.
— Você acha que porque eu sou a boa e velha Stella, amiga de
todos, que não sinto esse… — Eu aceno com a mão impotente. —
Buraco negro de dor? Esse vazio absoluto de merda? As pessoas
me pagam para ser amiga delas. Faço as pessoas sorrirem e rirem
para que possam dizer: “A Stella, ela não é muito divertida”?
Algo escuro e amargo queima dentro de mim. Minhas palavras
saem como socos fortes. — Você sabe quantos amigos de verdade
eu tenho? Nenhum. Nenhum fodido. Ninguém conhece o meu
verdadeiro eu. Ninguém liga no meu aniversário, ou para ver como
estou quando não têm notícias minhas há algum tempo. Ninguém
me procura por qualquer coisa que não seja uma risada passageira
ou companhia paga.
Dói dizer. Minha visão fica embaçada e eu pisco rapidamente. —
Eu tenho zero amigos de verdade. Apenas pessoas que conhecem
a minha superfície. Às vezes, a solidão dói e esmaga o meu peito
como uma prensa. E eu sento aqui, sozinha, me perguntando o que
diabos há de tão errado comigo que ninguém se deu ao trabalho de
tentar. Que ninguém ficou.
— Não há nada errado com você — ele diz com a voz áspera,
tentando agarrar meus ombros.
Eu o evito novamente. — Mas tem que ter. Tem que existir uma
razão pela qual não tenho amigos, por que ninguém fica comigo. E o
motivo sou eu. — Eu respiro fundo. — Você acabou de provar. Eu
pensei que estávamos nos tornando amigos de verdade...
— Nós estávamos. — Ele parece quase desesperado agora, um
olhar selvagem em seus olhos enquanto ele se inclina para perto. —
Nós estamos!
— Para com isso. Você queria me contratar como todos os
outros.
John passa a mão pelos cabelos, fazendo as pontas se
bagunçarem em todas as direções. — Eu disse isso porque queria
estar perto de você e estou muito emocionalmente atrofiado para
admitir. Não há ninguém que eu queira por perto mais do que você.
Você ocupa os meus pensamentos, assombra os meus sonhos. Não
consigo ficar longe tanto quanto não consigo impedir o meu coração
de bater.
Suas palavras são tudo que eu sempre quis ouvir. Mas suas
ações contam uma história diferente. E não posso me deixar sentir
essa esperança. Não agora. Quero muito acreditar e não posso
confiar no meu julgamento.
— Se isso fosse verdade — digo através dos meus lábios
rígidos, — você não teria tentado comprar a minha amizade. Eu
entendo o que você disse sobre estar emocionalmente atrofiado.
Mas a sua primeira ação foi me comprar. O que significa que uma
parte de você me vê como uma mercadoria, não como uma pessoa.
— Droga. — Ele abre bem os braços. — Eu vejo você, Stella. Eu
quero...
— Não. Eu realmente não me importo com o que você quer
agora. Eu preciso que você saia.
Seus lábios se achatam. Ele claramente não tem intenção de
obedecer.
— Vai. — Eu empurro seu peito, fazendo dar um passo para trás.
Eu sei que ele está me deixando empurrá-lo. Bom. Pelo menos ele
entende que não significa não. — Eu não posso lidar com você aqui.
— Stella — Ele ainda está recuando, desajeitadamente
cambaleando em direção à porta enquanto eu o conduzo. —
Desculpe, ok? Eu não pensei...
— Não, você não pensou. Mas não é meu trabalho mimar você.
Agora mesmo, vou lamber minhas próprias feridas e não quero você
aqui.
O olhar de John dispara para o meu rosto. Ele parece tão
magoado que, por um segundo, considero ceder. Mas eu sempre
cedi, suavizei as coisas durante situações desconfortáveis. Sou
sempre eu quem corrige as coisas. Eu não vou fazer isso por ele.
Se há alguma esperança para qualquer tipo de relacionamento com
esse homem, não posso começar sendo “Stella, a esponja
emocional”.
Talvez ele veja minha determinação. Ele solta uma respiração
lenta, os ombros caindo. — Ok, Bonita. Estou indo. Eu... — Ele
franze a testa. — Eu sinto muito. Você pode me ver quando estiver
pronta, por favor?
Suas sobrancelhas se arqueiam, os olhos verdes implorando.
Minha resistência desmorona como areia seca. Fico ainda mais
ressentida com ele por isso, e por não conseguir me impedir de
dizer: — Tudo bem.
Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, fecho a porta em
seu rosto muito bonito. E então me enrolo e choro. Não tenho
dúvidas de que John está arrependido. Ele me machucou. Mas não
me impede de me sentir completamente sozinha. Eu preciso de uma
nova profissão, uma nova vida. Eu preciso de uma liberação.
Pegando o telefone, ligo para Hank.
— Você pode me colocar na agenda para amanhã? — Eu
pergunto quando ele responde.
Eu estive lá hoje e geralmente voo apenas uma vez por semana,
mas Hank não faz nenhuma pergunta. Ele nunca faz quando se
trata de coisas pessoais. — Claro, criança. Você precisa que eu te
pegue na estação?
— Sim, por favor. — Eu desligo, um pouco mais decidida. Talvez
eu deva ir falar com John e aceitar seu pedido de desculpas. Mas
minha garganta está queimando e eu também. Seja do meu choro
ou de ser pega pela chuva, de repente não me sinto bem.
CAPÍTULO DOZE

JOHN

U nas bordas da minha mente. Uma


canção está lá, esperando por mim. Mas não consigo reproduzi-la.
Tocando acordes preguiçosos, eu tento deixar vir.
Em vez disso, pego-me pensando em cachos vermelho-
dourados e pequenas sardas cor de canela. Eu sinto falta da voz
dela. Acho que nunca senti falta da voz de uma pessoa antes. Não
posso dizer que exista algo excepcional ou verdadeiramente
diferente na voz de Stella, exceto que é a voz dela.
Isso não é bom. Estou ficando apegado a uma mulher que pensa
que sou um idiota. Mesmo que não pensasse, desenvolver
sentimentos por alguém é uma má ideia. Eu nem consigo ser
confiável para cuidar dos animais de estimação de Killian – como
diabos eu deveria embarcar em um relacionamento real? Porra, eu
não posso nem tocar uma mulher agora. Não importa que os
antibióticos tenham resolvido o problema e eu esteja perfeitamente
saudável. Eu me sinto infectado. Contaminado.
— Porra. — Toco alguns acordes, mas o som se choca com o
zumbido furioso da campainha de Killian.
Olho para a minha própria porta. Stella tem companhia? Perfeito.
Provavelmente outro cara excêntrico que está pagando para ser seu
amigo. E ela deixa. Eu? Eu recebo um “vai se foder” em resposta.
Não me importo mais. Mas importa. Fui um completo idiota por
tentar comprar a amizade de Stella em vez de simplesmente dizer a
ela como me sinto. Algo pelo qual eu pediria desculpas
repetidamente se ela deixasse. Faz três dias e nem um sinal dela.
Eu enviei mensagens algumas vezes sem sucesso. Ontem toquei a
campainha e ela não respondeu. Ok, ela poderia ter saído, mas não
saber é uma droga. Ser deixado de escanteio é uma merda.
O barulho continua.
Meus dedos tropeçam nas cordas. Porra. Porra. Porra.
Talvez não seja um cliente. Talvez seja um encontro. Alguém tão
encantador quanto Stella, o tipo que ela namora o tempo todo. Ela
vai levá-lo para sua cama? Deixar que ele a toque? Tocar nele?
Claro que eles vão tocar. Se um cara tem Stella na cama, ele vai
tocá-la. Muito. Em toda parte.
A parte de trás do meu pescoço fica quente e tensa. Não é da
minha conta. Não é da minha maldita conta.
A campainha toca novamente. Coloco o violão no chão e cerro
os dentes. O suor escorre pela minha espinha. Tudo o que vejo é
Stella, sua pele macia e sardenta lentamente sendo revelada
enquanto um punheteiro tira sua blusa...
— Filho da puta. — Eu levanto e ando em direção à porta. Para
fazer o que? Dar uma de bobo? Implorar para ela parar? Ridículo.
Totalmente ridículo. De jeito nenhum eu vou ser Esse Cara.
Eu me viro para ir embora quando um cara começa a gritar.
— Ei? Olá? Você não responde, ainda me deve dinheiro!
Meus músculos se contraem. Deve dinheiro a ele? Ah inferno
não. O que o caralho está acontecendo?
— Ei! — o cara irritado no lado de fora grita. — Olá?
Ele toca a campainha de novo.
É isso aí. Cansei.
Um garoto magricelo em idade universitária se encolhe quando
abro a porta, mas ele logo se acalma. — E aí cara. Desculpe
incomodar. — Ele olha para a porta de Killian. — Sua vizinha me
chamou e depois se recusou a abrir a porta. Alguém tem que pagar
por essa sopa.
Ele segura uma sacola repleta de caixas de comida para viagem
como prova.
Por um instante, o alívio é tão forte que me encosto na porta.
Então a preocupação toma seu lugar, porque, se Stella chamou
esse cara, ela deveria estar atendendo à porta. Pego algumas notas
do bolso, muito mais do que a comida provavelmente custa.
Colocando o dinheiro em sua mão, pego a sacola e não penso mais
nele, enquanto rapidamente digito o código da porta de Killian.
— Stella? — Eu chamo, entrando no lugar.
Ela não está na sala de estar, e meu pulso acelera. O órgão
carnudo bate no meu peito quando eu abaixo a sopa e chamo seu
nome novamente. Mais alto desta vez. Meio frenético, porque foda-
se. — Stella!
Um barulho fraco no quarto dela me fez subir as escadas, meu
sangue gelado, minha garganta seca.
Inferno, se isso é mesmo uma amostra do que meus amigos
sentiram quando me encontraram, entendo totalmente por que eles
são tipos pais corujas agora. Eu entro no quarto dela e quase
tropeço no tapete enquanto paro.
Stella está deitada na cama, tremendo, os cabelos emaranhados
e úmidos, a pele corada.
— Baby. — Corro e toco sua testa. Ela está queimando. —
Merda. Há quanto tempo você está assim?
Lençóis cobertos com o cheiro de suor, envolvem seu corpo.
Com os olhos sem brilho, ela me olha por um segundo e depois
afunda no travesseiro. Ela não me dá nenhuma informação, apenas
choramingos. E meu peito se contrai.
Faz anos desde que estive perto de alguém doente. Acho que a
última vez foi quando Killian teve gripe. Eu não cuidei dele, no
entanto. Esse tinha sido o trabalho de Brenna na época. Mas lembro
da minha infância e como minha mãe cuidava de mim.
— Vamos, amor — eu sussurro enquanto pego Stella. — Vamos
deixar você mais confortável.
Sua cabeça paira no meu ombro e ela choraminga novamente. O
calor insalubre de seu corpo se infiltra através da minha camisa, e
eu reprimo uma maldição. Deitando-a delicadamente no sofá, corro
para o quarto de Killian, onde sei que há um bar com uma pia. Eu
sei disso porque o bastardo roubou a ideia de mim.
Armado com uma garrafa de água fria e um copo com água
fresca, volto e encontro Stella cochilando. Uso o tempo para trocar
os lençóis da cama e pegar alguns analgésicos. Ela faz um barulho
de protesto quando eu a pego novamente.
— Está tudo bem — eu digo suavemente. — Você vai ficar bem.
— Dói — ela resmunga.
— Onde?
— Garganta. Em toda parte.
Eu a coloco na cama e retiro o lençol sujo. Ela está vestida com
uma regata amarrotada e encharcada de suor e calcinha. Porra.
Passando a mão pelo meu cabelo, hesito por um segundo, mas
depois dou de ombros. Ela precisa vestir roupas limpas. Fim da
história.
Demora um pouco, mas eu a visto com uma camisa branca larga
e puxo a regata por baixo. Sim, eu estou sendo puritano. Eu já vi
muitas mulheres nuas, já perdi a conta. Mas essa é Stella. Parece
errado vê-la nua quando está desamparada e doente.
Não que ela pronuncie uma queixa enquanto eu a troco. Ela
apenas me observa com aqueles olhos opacos e apáticos. Sua mão
treme quando eu lhe dou um copo de água fria, e ela toma apenas
um pequeno gole.
— Mais — digo a ela, empurrando o copo de volta aos lábios.
— Dói.
— Eu sei, baby. Mas você precisa se hidratar. — Entrego a ela
dois analgésicos. — Tome esses.
Me fere olhar sua careta, mas ela faz o que peço antes de cair
de novo nos travesseiros. Cubro-a com um lençol e depois encontro
o termômetro.
É ruim.
— Trinta e nove e meio? — Eu olho para ela. — Baby, você
deveria ter me chamado.
Stella não responde, mas começa a tremer novamente, e eu a
cubro com a colcha.
Irritação e preocupação agitam meu intestino quando me sento
ao seu lado e passo a mão sobre a sua cabeça. Eu estava
morrendo de vontade de tocar seu cabelo, imaginando se seria tão
sedoso quanto parece. Mas agora está pegajoso de suor, xingo
novamente e pego meu telefone para ligar para a Dra. Stern.
Ela responde rapidamente.
— Eu tenho uma emergência — digo a ela enquanto penteio
cuidadosamente meus dedos através dos cachos emaranhados de
Stella.
— Defina emergência, Jax.
— Eu tenho uma amiga aqui. Ela está com febre alta. Arrepios.
Disse que sua garganta dói. Preciso que você dê uma olhada nela.
Agora, se eu fosse uma pessoa comum, a doutora Stern me diria
para levar Stella à clínica mais próxima. Mas como Kill John a paga
extremamente bem para estar de plantão por qualquer motivo, ela
me diz que vai vir agora.
Eu não sou bom em esperar. Eu odeio. Agora, está me matando.
Stella está com dor e doente de sabe-se lá o que. Com meu
estômago dando um nó, deito na cama ao seu lado. Imediatamente,
ela se enrola em mim, descansando a cabeça no meu colo. Sua
bochecha empurra contra o meu pau, e eu tento não estremecer.
Estou tenso demais para ficar duro. Mas não me impede ser
consciente dela.
Algo sobre Stella faz meus sentidos acelerarem. Se ela estiver
por perto, eu estou focado. É uma sensação estranha. Tento não
pensar nisso, enquanto traço suavemente os dedos do seu couro
cabeludo até a têmpora. As pontas dos meus dedos formigam como
se estivessem recebendo um choque de baixo intensidade.
— Por que você não ligou para alguém? — Eu pergunto,
acariciando sua mandíbula. Ela ainda está com febre.
— Quem? — É apenas um coaxar, mas ela diz como se
estivesse realmente curiosa. Como se não tivesse ninguém e não
tivesse há um tempo. Ela me disse que não tinha amigos de
verdade, mas me ocorreu que eu realmente não acreditava nisso.
Como poderia? Stella é leve e doce. Toda pessoa que se aproxima
é puxada para sua órbita. E ela acha que não tem ninguém.
Meu estômago aperta. — Eu. Você deveria ter me ligado ou
mandado uma mensagem.
Seus olhos estão fechados, mas ela move o ombro em um fraco
encolher. — Brigados.
O aperto em meu estômago se torna doloroso. — Nós não
estamos brigados. E mesmo se estivéssemos, você ainda poderia
me pedir ajuda, Bonita.
Cristo. Ela não entende isso? Amigos do caralho. Não importa o
que. Eu poderia estar agindo como um idiota completo, mas se eu
chamasse Whip, Rye, Brenna, Scottie, Sophie ou Libby, eles
estariam aqui para mim. Eu faria o mesmo por eles.
Instantaneamente, sinto falta dos meus amigos.
Meus pensamentos são interrompidos quando Stella estremece
e abre os olhos com um suspiro. Isso para o meu coração. — O
que? — Eu toco sua bochecha. — Você está com dor?
Ela apenas olha para a porta. — Comida. O cara deveria estar
aqui.
Caindo contra a cabeceira acolchoada, descanso a mão na
cabeça dela. — Está tudo bem. Eu já paguei ele.
Mas seus olhos permanecem selvagens. — Stevens e Hawn.
Ao som de seu nome, Stevens sai de debaixo da cama e pula
para abraçar a coxa de Stella. Ela toca fracamente a cabeça dele.
Olho a bolinha de pelo com apreensão. Ele pode gostar de Stella,
mas o desgraçado é traiçoeiro pra caralho. — Vou alimentar os
animais — digo a ela. Stevens estreita os olhos diabólicos para mim
como se dissesse: é melhor você fazer isso ou eu vou estripá-lo. E
eu acredito.
— Sua caixa de areia — Stella sussurra, preocupada.
Eu juro que Stevens sorri. Eu reprimo um arrepio. — Sim, vou
fazer isso também.
Stella suspira e se aconchega de volta no meu colo. — Ok.
— Você quer sopa?
Ela balança a cabeça, se aprofundando mais e jogando o braço
sobre as minhas coxas. Mexe comigo, o jeito como ela se apega.
Ninguém nunca me procurou para um simples conforto físico.
Nunca. Eu não teria permitido. Eu não sou um cara que gosta de
abraçar muito. As mulheres tentaram me agarrar. Fazia minha pele
arrepiar. Eu costumava pensar que estava quebrado. Incapaz. Mas
confortar Stella é bom. Me sinto importante.
Preguiçosamente, corro meus dedos por seus cachos e olho
para o teto.
A campainha da porta toca. Dra. Stern. Finalmente.
Eu me movo para deixá-la entrar, mas Stella aperta meus
quadris. Seus grandes olhos azuis, sem brilho, encontram os meus.
— Não me deixe.
Porra. Ela está partindo o meu coração. Eu seguro sua
bochecha. — Nunca, amor. Só estou abrindo a porta, ok?
Ela pisca, parecendo confusa.
Eu beijo sua têmpora. — Eu já volto. Prometo.
No segundo em que ponho os olhos na Dra. Stern, agarro sua
bolsa. — Ela está no quarto.
Stern me segue para dentro. — Acalme-se, Jax.
— Eu vou ficar calmo quando Stella estiver melhor. — Paro e
giro para encarar Stern. — Merda. Ela está com dor de garganta,
doutora. E algum tipo de erupção rosada no pescoço. Eu poderia
ter... — Passo a mão pelo meu cabelo. — E se eu a infectei?
Os olhos de Stern se estreitam. — Você não teve relações
sexuais desprotegidas com essa mulher enquanto estava em
tratamento, teve?
— O que? Não! Porra, não. Mas nos beijamos uma vez. Lembra
sobre o incidente na mercearia que eu te perguntei? A ladra de
beijo? É a Stella.
Stern balança a cabeça e sua voz suaviza. — Então você vai se
lembrar que eu disse que não pode contrair clamídia por meio de
um beijo. Jax, os antibióticos fizeram o trabalho deles. Nós te
testamos. Você está limpo. Então, a menos que vocês dois tenham
tido alguma forma oral de contato sexual...
— Não. Apenas aquele beijo. — Eu passo uma mão fria no meu
rosto. — Estou preocupado... a garganta dela está dolorida.
Dra. Stern toca o meu braço. — O que pode ser causado por
várias coisas. Vou testá-la se é isso que ela quer. — Sua expressão
fica séria. — Mas vou precisar da permissão da sua amiga para
examiná-la, Jax. Porém, entre nós dois, se estiver em um
relacionamento com essa mulher, eu diria a ela o que aconteceu.
Um peso se instala no meu peito e tripas. — Eu deveria ter dito a
ela desde o começo. Eu só... — me encolho, meus ombros tensos.
Parece que formigas estão rastejando sobre a minha pele. — Olha,
você pode sugerir que ela faça o teste?
A Dra. Stern dá um aperto amigável no meu braço. — Me deixe
vê-la. Febre alta, erupção cutânea e dor de garganta podem indicar
infecção.
Dou um suspiro e a levo para o andar de cima e prontamente
esqueço minhas próprias preocupações quando vejo Stella
encolhida na cama, parecendo fraca, lamentável e com dor.
Apressando-me, eu a pego e a coloco no meu colo, abraçando-a
perto. — Stella Bonita, a médica está aqui. Ela vai te ajudar.
Stella descansa a bochecha no meu peito. — Ok.
Ela treme e eu a beijo na têmpora antes de olhar para Stern. —
Conserte ela, doutora. Conserte rápido.
O sorriso de Stern é claramente confuso. — Ela não está
quebrada, Jax. Só doente.
Isso pode ser verdade. Mas enquanto Stella está sofrendo, nada
parece certo.
S

E e existe estar no inferno. Eu estou no último.


Santo Deus, eu quero implorar por remédios. Apenas me nocauteie
e me acorde quando estiver melhor.
Minha mente deriva, um vai e vem de dor e calor e barulhos
estranhos. Eu sei que John está comigo. Sinto a força rígida de seu
corpo ao lado da massa quente e mole que eu sou. Ouço sua voz,
sua linda e suave-como-mel voz me dizendo para beber, me
pedindo para levantar meus braços enquanto ele desliza uma
camisa limpa e fresca sobre o meu corpo maltratado, me dizendo
que vou melhorar em breve.
Ha. Mentira. A dor na minha garganta é como vidro quebrado e
lava se movendo lentamente.
Ainda me agarro a ele. Ele é tudo o que é seguro e reconfortante
no meu mundo dolorido.
Então a médica chega. Eu nem sabia que médicos ainda
atendiam à domicílio. Ela me disse que é a médica pessoal da
banda. Parte de mim quer rir – é claro que Jax Blackwood teria um
médico à sua disposição. Mas estou com dor e fraca demais para
fazer qualquer coisa além de responder suas perguntas com
resmungos suaves que mal soam como palavras reais.
Ela está me dizendo algo importante enquanto me examina. Eu
simplesmente não me importo. Desde que ela faça essa dor e calor
do diabos irem, eu farei o que ela quiser. Ela esfrega minha
garganta e depois se vai. John está de volta, forçando fluidos na
minha garganta quente como o inferno.
É tudo uma névoa depois. Eu sei que ele está aqui. Ele se deita
ao meu lado, suas mãos flutuando pelos meus cabelos úmidos com
movimentos suaves. Parece bom demais, e eu me aproximo. Ele é
fresco comparado ao meu calor. Seu braço se enrola ao meu redor,
me puxando contra seu peito. Minha cabeça encontra a curva onde
o ombro encontra seu braço. Um local de descanso perfeito, e
relaxo com um suspiro.
Não sei por quanto tempo ficamos assim. O tempo passa, eu sei.
Ele me dá os antibióticos prescritos pela médica, me ajuda a ir ao
banheiro quando preciso. Me ajuda a voltar para a cama quando
termino. Sempre nos deitamos na mesma posição. Seus dedos no
meu cabelo, minha mão cavando sob sua camisa para encontrar
sua pele macia e fria.
Qualquer sensação de autoconsciência queima com a minha
febre. Meu mundo se reduz à dor e a tentar escapar dela. John me
ajuda a escapar. Ele cuida de mim. Minha febre atinge o pico no
meio da noite e ele está lá, limpando meus braços com um pano frio
que queima ao longo da minha pele.
— Calma — ele sussurra no escuro. — Temos que esfriar você,
Bonita. Se acalme agora.
Essa voz, suave e gentil, me mantém firme, me faz fazer o que
deseja. Eu me concentro nessa voz durante a noite e de manhã.
Não sei por que ele não me deixa, mas tenho medo de
perguntar, caso eu lhe dê ideias. Não importa; ele fica. Ele fica e não
faz ideia do que isso significa para mim. Eu não fui cuidada assim
desde que minha mãe morreu. Parte de mim quer que ele saia. Não
posso me apegar a ele. Porque ninguém fica para sempre e a
partida dói demais.
Mas não digo uma palavra. Eu me agarro a ele como a mulher
fraca que sou.
Em algum momento no dia seguinte, ele me obriga a tomar uma
sopa. Eu não sou uma boa paciente, afastando a mão com um
rosnado toda vez que a maldita colher paira na minha frente.
— Se você não tomar sua sopa — ele me diz, sorrindo com os
olhos, — teremos que colocá-la no chuveiro.
Eu o encaro, com a colher pressionada entre os lábios, depois
me afundo nos travesseiros. — Na verdade, eu preciso tomar
banho. Me sinto nojenta.
John abaixa a sopa que eu tenho evitado na última meia hora. —
Bem, vamos tomar um banho.
— Sozinha, roqueiro.
Ele me atira um olhar de reprovação. — Eu já tive cerca de dez
chances de te ver nua hoje. — John se levanta e estende a mão. —
Acredite, eu não tenho interesse.
Eu olho para ele. — Por quê? O que há de errado com o meu
corpo?
Ele engasga com uma risada. — Você está falando sério? Stella
Bonita, seu corpo é lindo pra caralho. — Seus olhos aquecem, e ele
me olha de cima a baixo. — Qualquer lugar e qualquer hora que
você quiser ficar nua para mim, eu estarei lá. Entusiasmado pra
caralho. Mas não quando você está doente. Quando ficarmos nus,
você vai estar saudável e querendo isso. Ofegante por isso.
Deus, a maneira como ele me olha. Como se estivesse
imaginando em detalhes. Como se estivesse um pouco tonto com a
ideia. Então, novamente, eu estou tonta também. No momento, não
sei se é febre ou ele. Talvez ambos. — Nós não estamos ficando
nus.
Eu gostaria que soasse mais enfático.
Seus lábios se curvam para o lado, mas ele não consegue
esconder o sorriso divertido em seus olhos. — Não hoje. — Ele
pega minha mão e me puxa para cima. — Para o banho, Stells. Sem
ofensa, mas você meio que fede.
Minha cabeça pesa como chumbo e me inclino contra ele
enquanto cutuco suas costelas. — Idiota.
Ele sorri enquanto me leva para o banheiro. — E pensar que as
mulheres afirmam que querem total honestidade.
— O silêncio também é apreciado em algumas situações.
John ri e depois prepara o banho. Ele me deixa, mas insiste em
ficar na porta do lado de fora. — Me chame se se sentir mal. Estou
falando sério — ele diz com um tom absolutamente mandão. — Se
você se sentir tonta. Se vacilar, me chama. Fecharei os olhos se
estiver preocupada comigo te vendo, mas não quero que desmaie e
se machuque. Ok?
— Sim senhor. — Faço uma saudação fraca a ele. A verdade é
que minha cabeça está ficando mais pesada e preciso me limpar
antes de realmente cair no chão.
Meu banho é rápido. Não posso demorar do jeito que quero. Meu
corpo pesa mil quilos e minha garganta ainda dói. Eu quero me
deitar, mas a água fria é maravilhosa.
Em algum momento, John traz roupas novas para mim. Elas
descansam em uma pilha arrumada no chão junto à porta. Não
gosto exatamente que ele tenha mexido na minha gaveta de
calcinhas, mas estou agradecida de qualquer maneira.
Me sentindo um pouco mais humana, abro a porta e o encontro
esperando exatamente como prometeu.
— Melhor? — Ele pergunta, mantendo os olhos no meu rosto.
Ele me deixou uma camiseta e shorts para vestir. Apertados, mas
agradável e fresco. E, francamente, não me importo se ele vê o
contorno dos meus mamilos. O conforto supera a modéstia no
momento.
— Sim. — Mas estou enfraquecendo. Minha voz é fraca e minha
cabeça lateja por ficar em pé por muito tempo.
Completamente paciente, ele estende a mão grande e calejada,
e eu o deixo me guiar de volta para uma cama recém-feita.
Não hesito em ir até o meio, abrindo espaço para ele. Eu preciso
tanto dele lá, estou tentada a implorar, mas não preciso. Ele me
segue até a cama e, quando me aconchego ao seu lado, ele nos
cobre com o cobertor. Meu cabelo está úmido, e ele o levanta para
cobrir seu ombro antes de envolver um braço a minha volta.
Nós não dizemos uma palavra, nenhum de nós querendo
mencionar o fato de que ele está na cama comigo e agora estou
lúcida o suficiente para estar plenamente consciente dele.
— Stells? — Ele sussurra depois de um momento.
— Hmm?
— Antes, você disse que não havia ninguém para cuidar de
você… — Suas palavras cessam quando fico tensa, agora
totalmente acordada e desconfortavelmente alerta. John aperta meu
ombro, me apoiando contra ele. — O que aconteceu com a sua
família? Você não precisa me dizer, mas... — Ele encolhe os
ombros, claramente sem saber o que fazer.
Ele tem razão. Eu não preciso dizer nada a ele. Minha vida é da
minha conta. Mas ele está aqui, cuidando de mim quando ninguém
mais está. E se quero ter amigos, tenho que aprender a deixá-los
dentro desses muros que construí.
Lambendo meus lábios secos, respondo lentamente. — Minha
mãe morreu quando eu tinha onze anos.
— Baby… — Sua mão segura minha nuca em um gesto terno.
— Eu não sabia. Sinto muito.
Dou de ombros e pego um fiapo da sua camisa. — Condição
cardíaca não detectada. É uma merda, mas é a vida. — Dói como o
inferno engolir. — Meu pai não estava na cena até então.
Principalmente porque ele era um vagabundo. Quando mamãe
morreu, ele apareceu e me trouxe para Nova York para morar com
ele.
Por um segundo, vejo meu pai como ele era naqueles dias, com
cabelos ruivos desbotados, barba desgrenhada, magro como o
inferno. — Meu pai estava totalmente perdido sobre o que fazer com
uma pré-adolescente em luto. Ele me ensinou o que sabia, como
encantar as pessoas, como levá-las fazer o que ele queria, sem que
percebessem. Meu pai é um vigarista, e eu aprendi a seguir os seus
passos. Só fiz um esforço para não ser como ele – nunca tirar
vantagem dos outros.
Piscando rapidamente, aperto as dobras soltas da camisa de
John. — No dia em que completei dezoito anos, ele foi embora. O
trabalho estava feito, ele estava fora.
— Jesus. — John me envolve em um abraço apertado. Deixo
porque preciso demais. Seu peito é firme e quente, e ouço a batida
constante de seu coração contra minha bochecha.
— Foi... bem, foi uma merda — eu admito com uma risada
dolorosa. — Mas eu superei.
— Claro que superou. Você é foda, Stella Bonita.
Com um bufo, eu recuo, e ele deixa, movendo-se um pouco até
que nós dois estamos confortavelmente deitados lado a lado mais
uma vez. Tomar banho e essa viagem feia pelo caminho da
memória me esgotaram e meus olhos se fecham.
John parece saber que eu preciso de um descanso, porque ele
começa a cantar, sua voz suave e baixa. O som passa por mim
como uma mão gentil, e algo dentro de mim relaxa com um suspiro.
Nunca cantaram para mim antes. Eu provavelmente odiaria vindo de
qualquer outra pessoa, ou contaria piadas internas sobre ser brega.
Mas John não é apenas alguém. Sua voz é sua alma. Eu absorvo
sua beleza e deixo que me leve aonde quiser.
Minha mão desliza sob sua camisa novamente, procurando sua
pele firme. Ele se inclina ao toque enquanto seus dedos passam
pelo meu cabelo.
Sinto-me segura e protegida, inteiramente à vontade em seus
braços. Mas uma pequena voz dentro da minha cabeça se pergunta
se isso é um sonho estranho. Ele é adorado por milhões, sua voz é
um presente que as pessoas pagam para ouvir, e ainda assim ele
está cantando para mim. Como isso aconteceu?
Minha mente deriva, ouvindo a cadência agridoce quando ele
começa a cantar “Asleep”, do The Smiths. — Essa música não é
sobre suicídio? — Eu pergunto, sem pensar.
John faz uma pausa e seu abdômen tenso. — Sim? — Sai como
uma pergunta, quase apologética e um pouco cautelosa, como se
ele esperasse uma palestra. — Ou talvez seja apenas sobre
adormecer. Difícil dizer quando se trata de Morrissey.
— Ele é um cara bem alegre — murmuro, pensando no cantor
dos The Smiths, que é conhecido por ser sentimental em um dia
alegre.
O peito de John ronca em uma risada baixa. — Você conhece
The Smiths?
— “I Am Human” é uma das minhas músicas favoritas. — Eu
passo minha mão pela sua lateral. — Costumava ouvir em loop
quando eu tinha quinze anos e estava imersa na minha angústia
adolescente.
— Mesmo? — Sua voz é rouca e carinhosa. — O que te deixou
angustiada, Bonita?
Eu levanto um ombro em um encolher. — Eu nunca fui beijada.
Nunca foi convidada para um encontro.
Seus músculos do estômago se contraem. — Como isso é
possível? Você é bonita como o inferno.
— Ah, eu era ruiva, sardenta, rosto redondo e, na época,
completamente sem peito. Não era o que os caras da minha turma
estavam procurando, eu acho.
Ele acaricia o meu braço. — Adolescentes são idiotas. Quero
dizer, eu basicamente tinha um critério para as meninas: fáceis.
— Encantador.
— Ei, eu disse que éramos idiotas.
— Você está dizendo que seus padrões mudaram?
— Ah...
— Talvez deva começar a cantar de novo — eu aconselho.
Seus lábios roçam o topo da minha cabeça. — Você é quem
interrompeu a beleza silenciosa do meu canto sobre afundar
lentamente em uma morte inevitável enquanto seus amigos olham e
choram.
Fechando os olhos, bato a palma da mão contra a pele dele. —
Seu senso de humor é um pouco distorcido, sabia?
Eu quase posso senti-lo sorrir. — Os caras acham irritante como
o inferno.
— Você era assim antes… — Eu paro sem jeito.
Seu peito levanta e cai em um suspiro. — Sim. Humor negro
abismal e falta de tato social adequado.
Ele soa como se estivesse citando o Sr. Scott.
— Eu sabia. — Com um sorriso, eu viro minha cabeça em seu
aconchego. Ele possui o cheiro do meu sabão de limão e mel que
está usando para lavar as mãos; embaixo, há um tom de sândalo
cremoso que pode ser seu desodorizante. Nada de especial,
realmente, mas eu ficaria feliz em pressionar o nariz em sua pele e
o respirar por dias. A verdade é que o simples ato de estar perto
dele me faz feliz. — Nunca mude, John. Me prometa isso.
Ele fica em silêncio por um segundo, com a mão apoiada no topo
da minha cabeça. — Prometo.
— Bom. Agora, cante uma música que não seja sobre morte.
Ele ri, devagar e com calma, e seus dedos brincam com o meu
cabelo novamente. — Mmm... você sabe, eu apenas percebi que a
maioria das músicas lentas é meio mórbida. Perda de um amor,
saudade, morte... Jesus, nós músicos, somos um grupo triste e
doente.
Solto uma gargalhada. — O mundo está doente e triste na
metade do tempo. Você está apenas cantando as suas músicas,
dando uma voz para todos se sentirem à vontade.
Ele brinca com uma mecha do meu cabelo.
— Você já — começo sem pensar, e depois mordo meu lábio
para calar a boca.
Sua respiração aquece meu cabelo. — Eu já o quê?
— Nada. — Eu me aconchego mais perto. — Eu não sei o que
eu ia dizer.
Sua voz é suave, mas um pouco divertida. — Sim, você sabe.
Apenas pergunte, Stells. Está tudo bem.
Eu me encontro pressionando contra ele, tentando me fundir,
fundi-lo a mim. — Você já pensou naquela noite?
Ele sabe exatamente de que noite estou falando e seu corpo
tensiona.
— Sinto muito — eu deixo escapar. — Eu não deveria ter...
— Não sinta — ele interrompe. — Prefiro que você pergunte do
que pise em ovos ao meu redor.
Estupidamente, concordo com a cabeça, meu pulso acelerando.
John se ajusta, estabelecendo-se em uma posição mais
confortável. — Todo mundo anda em ovos, inclusive eu. É como se
fosse um segredo sombrio, o que é uma piada porque todo mundo
sabe.
— Sinto muito — digo novamente, porque não sei mais o que
dizer.
Mas ele parece gostar disso. Ele me dá um pequeno aperto. —
Vivemos em um mundo onde as pessoas se cumprimentam com
“Como você está?” mas poucos de nós realmente querem uma
resposta. É meio hilário se você pensar sobre isso. Realmente não
queremos saber como as outras pessoas estão, só queremos que
pareça que nos importamos.
— Estou sempre tentada a responder que tenho cólicas
menstruais horríveis e nunca me lembro se deixei o forno ligado, e
você ainda pode chamar o sanduíche de queijo grelhado desse jeito
se adicionar qualquer carne que não seja bacon?
Ele ri rápido e leve. — Definitivamente não, para essa última
pergunta. — Ele faz uma pausa e continua em um tom suave. — Eu
não sabia que estava com problemas naquela época. Eu sempre
tive altos e baixos. Eu meio que pensei que todo mundo tinha. Eu
ficaria empolgado com a vida, produzindo música após música,
ficando acordado o tempo todo, apenas querendo que isso
continuasse. Então eu bateria nessa parede e tudo iria desabar. Eu
não queria de sair da cama, preferia dormir do que acordar, não
tinha interesse em nada. Mas a banda estava sempre lá. Eu era
famoso; eu não tinha tempo para “afundar” como costumava
chamar.
— O que mudou? — Eu sussurro.
— Eu não sei, — ele diz com uma voz oca e distante. — Os
baixos se tornaram mais longos, mais fortes. Comecei a viver na
minha cabeça. Percebi que não tinha sonhos. Todos se foram.
— O que você quer dizer?
— A maioria das pessoas tem um sonho que está tentando
alcançar, uma meta na vida que as mantém em atividade. Eu fiz o
que queria fazer. Eu alcancei o meu ápice. Eu não tinha mais nada,
nada pelo que lutar. O conhecimento disso me atingiu e fiquei
olhando para um abismo. E a escuridão me engoliu.
— E tudo que eu conseguia pensar era: quem diabos eu sou? Eu
me senti como uma mentira, e então toda essa... feiúra começou a
aparecer – me dizendo que eu era detestável, indigno, uma farsa –
até que me senti tão sujo e preso na minha própria pele que não
aguentava. E não havia saída.
Eu acaricio sua pele agora. Esse lindo homem que influenciou e
inspirou inúmeras pessoas e parece não saber disso. Esse homem
bonito que me faz sentir mais viva do que qualquer um que já
conheci. Eu quero chorar porque já me senti assim antes. Não na
mesma medida que John, mas eu entendo esse sentimento horrível.
Seu corpo relaxa um pouco, mas ele continua com uma voz
áspera. — Mas não é sobre isso que eu penso. — Ele engole
audivelmente. — O que eu lembro, o que guardo claro como cristal,
é aquele momento em que comecei a desmaiar. Lembro como me
senti aterrorizado e arrependido. Eu não queria morrer. Na verdade
não. Eu só queria me sentir bem.
— Querido. — Eu me viro para ele, e apenas me agarro, meus
dedos cavando ao seu lado. — Estou tão feliz que você esteja aqui.
Ele solta um suspiro duro. — Eu também estou, Bonita. Bem.
Aqui. Porra.
Eu não quis dizer isso literalmente, mas não discordo. John e eu
tivemos nossos momentos. Nós brigamos e saltamos um sobre o
outro como forças magnéticas opostas. Mas agora, é perfeito.
Fico quieta, então John começa a cantar “Something” dos
Beatles. Fico em silêncio. A emoção invade forte e espessa, e tudo
o que posso fazer é deitar e agarrá-lo, fechar os olhos e segurá-lo
perto de mim. Estou doente como o inferno, meu corpo dói, e ainda
assim sinto que recebi o melhor presente do mundo.
CAPÍTULO TREZE

JOHN

—A . — Scottie parece sombrio, mas conformado.


Segurando meu telefone, afundo no sofá e passo a mão pelo
rosto. Faz dois dias desde que vi Stella. Eu não tinha uma desculpa
para ficar por perto quando ela estava claramente se recuperando.
Além disso, eu não tinha certeza absoluta de que ela iria me querer
lá quando estivesse saudável. A Stella doente era carente. A Stella
saudável voltará a ser independente e não gostar muito de mim.
É tudo mentira. A verdade é que eu não queria ficar para ver
quando ela finalmente estivesse boa o suficiente para fazer
perguntas – como por que eu estava surtando por causa de DSTs.
Por que eu insisti que Stern perguntasse a Stella se ela estaria
disposta a fazer o teste, mesmo sabendo que as chances eram
nulas.
Inferno, ela já deve ter os seus resultados agora. A Dra. Stern
achou que Stella tinha uma infecção e começou a lhe dar
antibióticos. Logicamente, eu entendo que a Dra. Stern estava me
dizendo a verdade, que um beijo não teria infectado Stella. Mas não
consigo relaxar até ter certeza.
Mesmo que Stella ainda não tenha recebido as notícias da Stern,
ela saberá tudo agora. É um show de merda em todas os jornais.
Assim como eu havia previsto. Jax Blackwood, uma bagunça em
grande estilo. Não é capaz de fazer as coisas do jeito certo.
Cafajeste que fez seu caminho até a Terra das DST. Meninas
inocentes contaminadas.
Eu bufo. Claramente, a imprensa nunca conheceu as mulheres
com as quais eu me relacionei. Nenhuma delas era inocente ou foi
coagida. Mas não é exatamente uma boa publicidade.
Deus, como Stella vai olhar para mim? Meu interior se
transforma em gelo.
— Jax? Você está aí, cara?
Eu saio da minha névoa e mudo para o viva-voz. — Sim. Alguém
falou. Nós sabíamos que aconteceria eventualmente.
Minha mente volta para Stella. Devo mandar uma mensagem?
Pular o muro e ir vê-la?
Scottie limpa a garganta. — Você tem alguma ideia de quem
poderia ser?
— Isso importa? Já contaram. Não vai mudar nada.
— Droga, Jax, você está prestando atenção? Você nunca leva
nada a sério...
— Bobagem — interrompo, tendo o suficiente. — Faço piadas ou
menosprezo uma situação, porque é assim que eu lido. E, sim, sou
desatento a ponto de tirar do sério. Também me irrita o fato de eu
não conseguir manter minha mente concentrada. Eu deveria
escrever listas para acompanhar minhas coisas, mas isso significa
foder tudo quando não me lembrar de fazer uma lista em primeiro
lugar. Mas não quer dizer que eu não me importo, Scottie. Apenas
que não faço um bom trabalho em mostrar isso.
Ele está calado, e eu sei que ele está tentando descobrir a
melhor forma de me controlar. Ah, Scottie. Ele não é nada senão
previsível.
— Você está certo — diz finalmente. — Peço desculpas.
Bem, ele finalmente me pegou. Eu não esperava por isso. Eu
deveria me sentir vingado, mas estou desconfortável. — Esqueça,
cara.
— Eu estava sendo um idiota, Jax. Nós dois sabemos disso.
Eu luto contra um sorriso. — Bem. Você é um idiota. Estou feliz
por finalmente podermos reconhecer o elefante na sala.
Ele resmunga, depois limpa a garganta. — Como está a Srta.
Grey? Ouvi dizer que ela estava doente.
Claro que ele ouviu e está juntando as peças. Errado
novamente, no entanto.
— Não foi Stella.
— Como você sabe? — Ele soa mais curioso do que acusatório.
— Porque eu a conheço. — Olho para o terraço. A luz do sol
brilha contra o vidro e machuca meus olhos. Aperto a ponta do meu
nariz. — Stella não fala. Ela age.
A risada de Scottie é curta. — Você parece estranhamente
emocionado com a perspectiva.
Ele não tem ideia.
— Eu ainda não saí. — digo a ele. — Mas acho que ninguém
sabe onde estou no momento. — Eu nunca trouxe ninguém de fora
do meu círculo para esse condomínio. E eu poderia estar em
qualquer cidade do mundo.
— Independentemente disso, eu tenho Bruce acampado do lado
de fora da sua casa.
Temos alguns guarda-costas na equipe que trabalham em
nossos eventos públicos. Mas raramente os usamos durante o dia-
a-dia. Quem quer viver assim? Além disso, eu posso me defender
muito bem. Algo que lembro a Scottie agora.
— Claro que você pode. — Ele não parece tão sincero quanto
deveria, idiota. — No entanto, alguém precisa ficar de olho caso
haja uma situação com uma multidão. Bruce estava disponível. Não
se preocupe, ele vai se misturar.
Eu bufo. — Scottie, ele é um guarda-costas chamado Bruce Lee,
que se parece muito com o mestre Bruce Lee. Ele atrai a atenção
apenas por ser ele.
— Para ser justo, não é o nome dele que chama a atenção dos
estranhos — diz Scottie. — Não é como se ele usasse uma camisa
que diz: “Olá, meu nome é Bruce Lee.”
Eu ri. — Eu deveria mandar fazer uma.
— Tenho certeza que ele adoraria — diz Scottie.
— Vou colocar na minha lista de tarefas. — Meu sorriso
desaparece. — Sério, eu não gosto da ideia dele sentado do lado de
fora, entediado. É desnecessário e ridículo.
Na verdade, Bruce é um dos meus favoritos. Ele é engraçado
como o inferno e foi quem me ensinou MMA. Killian e eu tivemos
aulas com ele por anos antes de Scottie o contratar como guarda de
meio período.
— Ele está ficando. Espere ser seguido por um tempo.
— De jeito nenhum. — Sento-me reto agora. — Quero dizer isso.
Se eu ver um dos caras me seguindo, vou mandá-lo para casa. E
nem tente essa merda de empresário comigo.
Encontro o silêncio. Não me incomodo em tentar preenchê-lo. Já
joguei esse jogo de quem fala primeiro com Gabriel Scott antes.
Finalmente, ouço um suspiro sofrido. — Me faz esse pequeno
favor, Jax. Seja discreto. Não sei o quanto você viu...
— Eu já vi o suficiente — cortei. O suficiente para fazer meu
estômago revirar. O suficiente para me fazer querer voltar para a
cama, onde posso ignorar o mundo completamente.
— Então você sabe que tem que ficar quieto até que possamos
emitir uma declaração.
Eu rio sem humor. — Não existe uma boa maneira de mudar
essa merda.
— Não, não existe.
Sua resposta sem emoção me faz estremecer.
— Então vamos deixar rolar — digo a ele, lutando contra o
desejo de vomitar.
— Me garanta que vai ficar longe dos seus lugares de sempre.
— Jesus, Gabriel. A falta de sono perturbou seu cérebro? Você
não precisa me ensinar. Eu não tenho mais “lugares de sempre”. Eu
sou um maldito eremita hoje em dia.
— Certo — diz ele depois de uma pausa embaraçosa. — Bem,
meu trabalho aqui está concluído então.
Apesar de tudo, eu sorrio com verdadeira diversão. — Sim... foi
divertido.
— Você é um péssimo mentiroso, John.
— Não venha com John.
— Você veio ou não me chamando de Gabriel? — Ele retruca.
— Você estava sendo um idiota de novo.
— Falando de pessoas que te chamam de John...
— Excelente deixa — eu interrompi.
Scottie solta um suspiro prolongado antes de falar. — Você
explicou a situação para a Srta. Grey?
Eu resisto à vontade de me contorcer. — Estamos falando sobre
isso agora?
— Sim.
— Deus me ajude. — Esfrego meus olhos cansados e os fecho.
— Você já explicou?
— Não — eu garanto. — Eu estava muito ocupado cuidando
dela enquanto ela estava doente. — E, você sabe, sendo um
covarde.
— Pobre bobo apaixonado. Você está na merda, cara. — Ele
parece tão presunçoso que estou tentado a desligar o telefone.
— Qual foi sua primeira pista, Fred?
— Fred? — A confusão em sua voz me faz rir.
— De toda a turma, você definitivamente seria o único a usar
uma encharpe, então sim, Fred.
Scottie zomba. — Estou tentado a dizer que você seria o
Salsicha, mas você está mais para a Daphne do grupo.
— Fred gostava da Daphne — eu indico.
— Essa conversa tomou um rumo estranho e está fazendo
minha cabeça doer.
— E meu trabalho aqui está feito — Eu digo com orgulho.
Posso visualizá-lo revirando os olhos.
— Falando por experiência pessoal — diz ele, voltando ao ponto.
— Só posso aconselhar que você seja honesto com a Srta. Grey.
Provavelmente, ela terá perguntas...
— Scottie, cara, eu não estou envolvido com Stella. Nós somos
apenas... nem sei o que somos. Mas não estou tentando transar
com ela.
— Mentir piora a minha dor de cabeça — ele murmura. — Não
sei porque você se incomoda em mentir para mim.
— Eu sou um conto de advertência ambulante — eu digo, irritado
agora. — Não é exatamente o material de um namorado de primeira
qualidade.
— O fato de você ter usado a palavra “namorado” me diz tudo o
que preciso saber — diz Scottie. — Tire sua cabeça da bunda e fale
com a garota. Ah, e todos nós vamos sair para jantar essa noite
Com isso, Scottie desliga. Desde que frequentemente ele desliga
quando termina uma conversa, não levo para o lado pessoal. Só
que agora estou sozinho com o silêncio. Falar com Stella? Eu me
sinto como uma criança novamente, prestes a enfrentar o diretor e
querendo correr para o outro lado. Aquele garoto quer descer e sair
com Bruce.
— Merda. — Passo a mão pelos cabelos e aperto a nuca. Eu sei
o que tenho que fazer; tenho que conversar com Stella, avisá-la
enquanto eu ainda tenho forças para deixar ela ir. Porque tem uma
coisa que eu entendo muito bem: eu sempre consigo decepcionar
as pessoas com quem me preocupo, e não quero ser mais uma
pessoa na vida de Stella que falhou com ela.

Q , você meio que segue o fluxo. Não é


como se você pudesse protestar. Seu mundo inteiro se resume a
quão ruim você se sente e como você pode se sentir melhor.
Naquela realidade nebulosa, eu não tinha pensado no fato de que
John estava lá comigo. Mas estou bem agora e estou pensando
sobre isso. Muito.
Ele cuidou de mim. Melhor que qualquer um desde que minha
mãe morreu. O conhecimento me deixa toda suave e pegajosa por
dentro. Eu devo a ele. Sinto falta dele.
Eu poderia estar fisicamente miserável quando ele estava aqui,
mas eu estava completamente confortável perto dele. Feliz mesmo.
O que é bizarro, dada a quantidade de dor que eu sentia.
Mas agora ele se foi. Ele saiu há dias, e eu não ouvi um pio do
meu amigável vizinho estrela do rock. É inquietante. Como ele pode
passar de totalmente atencioso para um completo desaparecido? Eu
o ofendi de alguma forma? Foi por pena?
Eu quase não quero saber. Se foi por pena acabaria comigo.
Mas me pego enviando mensagens para ele de qualquer maneira.
Ele não responde. E, porque aparentemente me tornei uma
masoquista total, eu também ligo. Vai direto para o correio de voz.
— Eu acho que é isso — murmuro, jogando meu telefone no
balcão da cozinha. Dor invade meu peito. É um caroço feio e
pegajoso que não posso remover. E me segue o dia todo.
Estou a meio do caminho para ficar chateada novamente, mas
então me lembro de como ele me segurou, mudou meus lençóis,
cantou canções para mim. Ele estava inteiramente nisso. John é
muitas coisas – ele não é de forma alguma perfeito – mas nunca é
cruel. Ele respondia minhas mensagens e ligações.
De repente, estou gelada. Algo não está certo, e passei dias
fazendo beicinho quando deveria estar pensando objetivamente.
Faz dias.
Sem pensar duas vezes, vou para o terraço e pulo por cima do
muro. Quando bato na porta de vidro, ninguém responde. Eu
deveria voltar para casa, mas não posso. Não quando meus
instintos estão gritando comigo para continuar.
A porta não está trancada e eu realmente deveria falar com ele
sobre segurança adequada. Mas pelo menos estou dentro.
— John? — Eu rastejo pela sala de estar, meu coração batendo
forte demais para ser confortável. Não quero ter medo ou
pensamentos sombrios. Não quero me preocupar com ele assim.
Mas me preocupo.
Há um ar de desuso aqui, como se ele tivesse ido embora.
Talvez tenha ido a algum lugar. Ele não tem obrigação de me
informar de suas idas e vindas. Mas eu ouvi a música mais cedo,
então sei que alguém esteve aqui.
Outra onda de medo espeta minha pele.
— John? — Eu chamo, mais alto agora.
De algum lugar no andar de cima, ouço um rangido e, em
seguida, a voz de John, áspera, sombria e confusa. — Stella?
Eu deveria ser educada, esperar ele vir até mim. Afinal, eu invadi
a casa dele. De novo. Mas eu me vejo subindo as escadas
correndo. Eu só preciso vê-lo, saber que ele está bem. — Você está
decente? — Eu grito quando me aproximo do quarto dele.
Outro rangido soa, como se ele estivesse se movendo em sua
cama. — Jesus. Não estou pelado, se é isso que você está
perguntando. — Há uma pausa prolongada, e ele acrescenta: —
Mas eu posso ficar.
Alívio inunda meu corpo com o som de sua voz e a maneira
familiar que ele me provoca.
— Eu só estava tentando avisar que eu estou chegando — falo e
juro que o ouço murmurar “chata”.
Em uma voz mais alta, ele grita de volta. — Você não precisa me
dar um aviso.
Ele está brincando como sempre, mas não tem o ânimo de
sempre. A porta do quarto está entreaberta e eu a empurro.
Está escuro, as cortinas fechadas enfrentando a luz do dia. John
está esparramado em uma cama grande, olhando para o teto,
embora ele saiba claramente que estou aqui. Eu desacelero meus
passos e olho em volta, porque não era assim que eu esperava que
o quarto de John fosse.
Paredes pretas aveludadas, cortinas pesadas, móveis de
madeira polida e pinturas a óleo em molduras douradas – é como se
eu tivesse saído de Nova York e ido direto para o interior da
Inglaterra, mas um pouco mais ousado.
— Bem — eu digo, passando o dedo sobre uma poltrona de
couro tabaco posicionada em frente a uma lareira de mármore preto.
— É aconchegante.
John bufa, mas continua olhando para cima. — Killian chama de
decoração de velhinha.
E é. Mas de um jeito legal tipo, eu venho de uma família rica e
tradicional. — É muito Downton Abbey. Com um pouco de Família
Addams.
John olha para mim, acompanhando meus movimentos. Ele está
vestindo calça cinza e uma camiseta verde-oliva desagradável.
Barba espessa cobre sua mandíbula, mas ele parece limpo o
suficiente. Não nos vemos há alguns dias e sinto sua falta. Mesmo
com o olhar estranho e distante que ele está me dando, eu senti
falta dele.
Eu poderia mentir para mim mesma e dizer que não sabia
quanta saudade eu senti, mas eu me conheço. Senti sua falta no
segundo em que ele saiu da minha cabeceira. Eu queria implorar
para ele ficar. Ficar comigo, não porque ele sentia alguma obrigação
de cuidar de mim, mas porque queria estar perto.
— A maioria dessas coisas era da minha avó — diz ele. — Eu
não sei, me lembra a infância.
Minha casa de infância estava cheia de mobília surrada da IKEA
e achados na rua. Não havia nada de caseiro, e eu nunca tentaria
replicá-la. Prefiro viver na nostalgia dourada de John. Tenho uma
breve fantasia que inclui bolinhos com chá e John fazendo o papel
de um duque com tesão.
— Você odeia. — A voz de John me faz olhar para ele.
Sua expressão é neutra, como se ele simplesmente tivesse
declarado um fato bem conhecido e não espera uma resposta. Mas
ele está quieto demais, e eu sei que quer minha opinião.
— Honestamente? Quero me enrolar em uma coberta, ler e
torcer para que outra nevasca esquisita surja para que possamos
acender o fogo.
Seu sorriso de resposta é fraco. Não é o que eu esperava.
Normalmente, ele se ilumina com uma luz interna tão brilhante que
às vezes é difícil de encarar. Mas agora que está abatido, quero
essa luz de volta.
Estou perto da beira da cama dele. É alta o suficiente para que
eu tenha que escalar. O edredom de cashmere é xadrez cinza e
azul escuro. Não é o meu estilo, mas é suave e suntuoso debaixo
das pontas dos meus dedos. — O que está errado? — Pergunto. —
Você está doente?
Ele desvia o olhar. — Não. Só cansado. Pensei em tirar uma
soneca.
Sou a favor de uma boa soneca, mas John parece estar aqui há
um tempo. Algumas tigelas e copos sujos enchem sua mesa de
cabeceira, e há uma sensação de que alguém mora no quarto que é
uma oposição direta à sensação de vazio lá embaixo. Se eu não
soubesse que John lidou com a depressão, eu poderia ter pensado
pouco sobre a cena. Mas agora, os cabelos em minha nuca se
arrepiam.
— Há quanto tempo você está dormindo?
Ele faz uma careta para mim. — O que é isso? Por que você
está aqui?
Ignoro o golpe da mágoa porque conheço as evasão defensiva
quando a vejo. — Queria agradecer por cuidar de mim. Mas você
não retornou nenhuma das minhas ligações ou mensagens.
— Não precisa me agradecer. O prazer foi meu. — Não há nada
além de sinceridade em sua expressão, mas esse tom horrível,
plano e sem vida permanece.
— Eu estava preocupada com você — confesso.
Ah, ele realmente não gosta disso. — Eu sou um homem
crescido, Stella Bonita. Você não precisa se preocupar. Eu estou
bem.
— Se você está bem, talvez deva se levantar? Tomar um banho.
O canto de sua boca se contrai. — Está dizendo que estou
fedendo?
Ele não fede, na verdade. Não que eu possa dizer de onde
estou, de qualquer maneira. Mas sua apatia geral me incomoda.
Estou ao seu lado e ele nem sequer tentou se sentar. Ele
simplesmente fica lá deitado.
— Vai fazer o seu sangue circular pelo corpo — digo a ele,
cutucando seu joelho.
John pisca para o teto. — Eu vou me levantar em breve.
Quando eu simplesmente o olho, ele levanta a cabeça e olha
para mim através do comprimento elegante do nariz. — Eu estou
bem, Stella. Como você pode ver, eu não me machuquei, ou o que
quer que você tenha temido.
Ele parece irritado, mas eu posso ouvir o constrangimento que
está tentando esconder. Entendo por que o irrita que as pessoas
assumam o pior quando ele não responde às ligações. Mas não me
sinto remotamente culpada. Ele é muito importante, e me recuso a
ignorar os seus sentimentos, se isso significa que sua segurança
está em risco.
Eu mantenho minha voz leve. — Eu estava tão irritada quando
você me achou doente? Não me lembro.
Ele não revira os olhos, mas é algo próximo. — Você estava pior.
Então, você estava realmente doente. Eu não estou. Então, se você
acabou com a visita, pode ir.
Seu tom indica que ele não aceita discussão. Mas seu olhar
quase me desafia a não ir. E percebo que, apesar de sua irritação,
apesar de estar claramente me provocando, ele não quer ficar
sozinho.
— Se você não vai se levantar, então chega para lá.
As sobrancelhas de John se arqueiam. — O que?
— Você me ouviu. Toda essa preocupação sobre você ter se
machucado enquanto tocava guitarra nu me deixou cansada. Eu
preciso de uma soneca também. Mova-se.
O sorriso dele é pequeno e irônico, mas ele faz o que foi pedido,
abrindo espaço para mim e descansando a cabeça na mão
enquanto me observa subir na cama. É uma luta para subir.
— Jesus. Você herdou essa cama da realeza ou algo assim?
Talvez da princesa que dormiu sobre a ervilha? — Sua cama é uma
nuvem de perfeição, totalmente luxuosa com a coberta em um tom
de manteiga suave. Eu realmente tenho vontade de me enterrar e
dormir o dia inteiro.
John ri. — Desculpe estragar a fantasia, mas é nova.
Com um suspiro, descanso a cabeça em um travesseiro e o
encaro. Embora não estejamos nos tocando, estamos perto o
suficiente para eu sentir o calor do corpo dele. — Eu pensei que a
cama de Killian era boa, mas essa está em um outro nível de
conforto.
As sobrancelhas de John se juntam. — Você pode não se referir
ao lugar onde dorme atualmente como a cama de Killian?
Eu reviro meus olhos. — Tudo bem, a cama de hóspedes de
Killian e Liberty. Melhor?
— Sim.
Meus lábios puxam em um sorriso. — Você parecia um pouco
ciumento, sabe.
Ficar tão perto dele quando não estou doente é uma sensação
estranha. Estou ciente do seu tamanho, muito maior do que o meu.
Estou ciente da cadência de sua respiração e que ele cheira um
pouco a Earl Gray e limões. E eu estou ciente da maneira como
seus olhos verdes me observam como se eu fosse tudo o que ele
vê.
— Você está certa — diz ele levemente. — Eu pensei que era
bastante óbvio, Stella Bonita.
Chegamos mais perto um do outro. Nossos antebraços se
tocam. Sua pele é quente, a fricção suave contra a minha faz os
pequenos pelos ao longo do meu braço levantarem.
— Não estou sempre certa? — Respondo, provocando-o porque
tenho medo de que posso me expor. — Estou feliz que você
finalmente esteja admitindo.
— Você tem um dom de me entender mal de propósito. — Sua
expressão é carinhosa e um pouco tenra quando ele estende a mão
e toca a ponta do meu nariz. — Não vou tentar de novo — ele
sussurra bruscamente. — Nunca.
Um nó se forma na minha garganta. — Eu perguntei se você
está bem, porque eu me importo. Mas você não precisa me
tranquilizar. Ou a ninguém, por favor. Vocês não fez nada de errado,
John.
Ele solta um suspiro duro, e meus dedos encontram os dele.
Sem hesitar, ele vira a palma da mão e entrelaça os dedos nos
meus. Seu polegar acaricia um círculo lento sobre as costas de
nossas juntas.
Minha voz é um fantasma entre nós. — Você quer saber por que
eu vim procurar por você?
Seu foco se intensifica. — Conte.
Ele ainda está gentilmente explorando minha mão, a pele macia
ao longo da parte de trás, nas bordas sensíveis do meu pulso e
entre as articulações dos dedos. Eu me sinto frágil nesse momento,
como se ele pudesse me quebrar com um toque duro ou se me
soltar.
Eu não desvio o olhar. — Senti sua falta.
Seus dedos se convulsionam em um aperto. — Eu também senti
sua falta, Bonita. Eu só… — Ele balança a cabeça. — Não sei por
que não respondi, honestamente.
Mas acho que eu sei. Porque quando estou para baixo, não
quero ser a única a procurar companhia. Quero que alguém me
encontre, diga que sou desejada, necessária. E quando não tenho
isso, me afundo mais. Talvez John seja diferente nesse aspecto,
mas de alguma forma, duvido.
Eu engulo em seco. — Eu pensei... tive a sensação de que o
mundo pode estar ficando um pouco escuro e pesado demais para
você agora. Que você pode estar precisando de um abraço.
Minha confissão parece inundá-lo, e ele treme, fechando os
olhos como se estivesse pensando em se afastar. Eu quero tanto
apertar sua mão com força e segurar firme. Mas eu não seguro. Não
é minha decisão a tomar.
Seus olhos estão brilhantes demais quando ele os abre e olha
para mim. A dor neles tira o meu fôlego.
— Eu quero — ele rouca. — Eu preciso…
Eu abro meus braços para ele. Tremendo, ele se aproxima de
mim, sua cabeça descansando no declive do meu peito, seu braço
envolve a minha cintura me puxando contra ele. Nossas pernas
emaranham-se quando nos aproximamos. John suspira, seu corpo
se fundindo ao meu. E eu passo minhas mãos pelo seu cabelo,
fazendo barulhos sem sentidos em voz baixa.
— Porra, Stella... Dói, e eu não sei como… — Seu corpo se
aperta como se ele estivesse mentalmente disposto a nos manter
juntos.
— Eu sei querido. — Acaricio a curva onde seu pescoço
encontra o ombro. Os músculos tensos parecem aço sob a seda de
sua pele.
Ele engole audivelmente. — Vem e vai. Estou no topo do mundo
e, de repente, não estou. — O calor de sua respiração sopra sobre
meus seios. — Minha terapeuta me avisou. Ela disse que é uma
corrida de resistência. Você suporta. Você continua seguindo em
frente. Mas alguns dias, Stella... Alguns dias eu fico tão cansado.
— Então descanse — eu sussurro. — Descanse comigo. Deixe-
me ser o local onde você descansa por um tempo.
Ele para, sua bochecha pressionada contra o meu peito. — Eu
não quero a sua pena.
Não, ele quer garantias. Entendi. — Você não tem minha
piedade. É o que você faz pelas pessoas com quem se importa.
Eu gostaria de ter palavras melhores para ele, uma maneira
melhor de confortá-lo, mas ele é o poeta, não eu. Só posso abraçá-
lo e esperar que ajude.
A rigidez em seu corpo diminui, mas ele permanece
completamente imóvel. — Você se importa?
— Claro que sim. — Um rubor sobe pelas minhas bochechas.
Estivemos brigando há tanto tempo, que falar de sentimentos é
estranho. — Gostaria de pensar que somos amigos agora, não
somos?
— Amigos — ele repete baixinho. Mas quando me mexo,
completamente envergonhada por sua falta de entusiasmo, ele me
abraça. — Somos amigos, Stella. Sempre fomos, mesmo quando
você não percebeu.
Não deixei de perceber a repreensão em seu tom; isso só me faz
sorrir. — Está bem então.
— Ok — ele concorda.
Caímos em um silêncio hesitante. Eu brinco com seus cabelos,
passando meus dedos por ele, e John relaxa lentamente contra
mim. O conhecimento de que eu o ajudei a se sentir um pouco
melhor é gratificante. Mas não consigo parar de pensar no estado
em que o encontrei. — John?
— Hmm? — Ele está relaxado e acolhedor agora.
Eu odeio que eu possa estragar isso, mas eu tenho que fazer a
pergunta. — É terça-feira. — Instantaneamente, ele fica tenso. A
culpa aperta meu pescoço. Eu continuo acariciando seus cabelos,
temendo que ele se retire. — Você vê a Dra. Allen às terças-feiras,
não é?
John enfia a cabeça ainda mais na dobra do meu ombro. — Eu
esqueci.
— John...
— Eu juro que esqueci — diz ele, mais forte agora. Seus longos
dedos enrolam em torno da curva do meu quadril e seguram com
força. — Eu sei que parece mentira, mas eu esqueço as coisas.
Especialmente quando eu estou na merda.
— Eu acredito em você — digo suavemente. — Mas não é
quando você está na merda, a hora mais importante de se lembrar
dos seus compromissos?
Não consigo ver o rosto dele, mas de alguma forma sei que ele
está carrancudo. Está lá na curva do pescoço e no aperto das mãos.
— Eu deveria escrever listas — ele resmunga contra o meu
peito, depois ri brevemente e sem humor. — Meio difícil de fazer
quando eu esqueço de escrever as malditas listas também.
— Verdade. — Mordo um sorriso carinhoso. — Eu posso ajudar,
você sabe. Lembrá-lo...
— Não — ele interrompe, suave mas veemente. — Não quero
isso de você, Bonita. Eu não quero que me veja assim. Como
alguém que precisa de atenção. Alguém para consertar.
— Eu não te vejo assim — eu respondo.
Dessa vez, é John quem me acalma, esfregando círculos lentos
no meu quadril. — Eu sei amor. Mas há algumas coisas que preciso
aprender a fazer por conta própria. Por favor.
Toda a luta me deixa. Ele está certo, e o orgulho é uma coisa
poderosa. Às vezes, é tudo o que resta. Eu só posso fazer o que ele
pede. — Tudo certo. Mas, por favor, prometa que vai ligar para a
Dra. Allen.
Há um pequeno sorriso em sua voz quando ele responde: — Eu
vou.
Ele cutuca minha mão com o topo da cabeça. Sutil, ele não é.
Mas como eu amo brincar com seus cabelos sedosos, fico feliz em
passar os dedos pelos fios mais uma vez.
Quando ele fala, sua voz é o fantasma de um som. — Killian
estava tão chateado comigo. Quando eu tentei. Quero dizer, eu
entendi...
— Sinto muito — interrompi com mais força do que pretendia, —
mas Killian pode ir se foder.
Os ombros de John estremecem. — Jesus, Stells — diz ele com
uma risada rouca, — não se segure.
— Eu sei que ele é seu amigo. Mas estou falando sério. Ele pode
se foder.
Eu o sinto sorrir contra mim enquanto aumenta seu aperto. —
Assustou ele, Bonita. Assustou todos eles. Mudou todos nós de uma
maneira que eu não pensei. Nós éramos como crianças mimadas
antes. Então, de repente, a vida ficou muito real.
Eu posso praticamente sentir o peso dessa mudança nos
ombros de John. Pressiono meus lábios no topo de sua cabeça. —
Quando eu tinha cinco anos, corri para o meio do trânsito e quase
fui atropelada por um carro. No segundo em que minha mãe chegou
até mim, ela me deu um tapa na bunda e gritou comigo por ser
descuidada. Ela estava morrendo de medo e sua reação foi atacar.
— Meus dedos percorrem os cabelos de John. — E percebo que é
por isso que seus amigos agiram dessa maneira. Mas o susto inicial
acabou, John, e ainda assim o incomoda. Você ainda está tentando
proteger os sentimentos deles.
John suspira. — Merda. Eu sei. Parece que não consigo deixar
de fazer isso.
— Porque você é um apaziguador.
— Dificilmente.
— Você é — eu insisto suavemente. — Você suaviza as coisas,
tenta fazer as pessoas se sentirem melhor. Só porque você faz isso
com um monte de sarcasmo não torna menos verdade.
O carinho aquece sua voz. — Igual a você.
Somos parecidos nesse sentido. Não tinha pensado nisso
quando o conheci, mas vejo agora. Nossas abordagens são
diferentes, mas a intenção é a mesma.
Meus olhos estão fechados quando ele fala novamente.
— Você cheira bem. — A observação de John me desperta.
— Ok.
— Que tom é esse? — Ele pergunta, claramente divertido.
Eu dou de ombros. — Cheirar bem deveria ser um fato. Porque o
oposto seria o cheiro ruim...
— O que seria um problema — ele acrescenta solenemente.
Eu cutuco seu ombro. — É como se eu dissesse, ei, John, olhe
para você todo limpo.
Ele ri e se levanta. Seu nariz roça minha mandíbula, causando
arrepios felizes em minha pele. — Stella Bonita, você pensa demais.
Não posso deixar de passar a mão pela cintura dele. Ele é
quente e sólido. — Melhor do que pensar muito pouco, não é?
Seu zumbido em resposta vibra entre nós, então ele muda,
colocando sua bochecha na dobra do meu pescoço. — Deixe-me
elaborar minha declaração anterior. Você sempre cheira bem. Mas
tem esse perfume que eu não consigo descobrir... — Ele respira
fundo, depois exala lentamente, aquecendo minha pele. — É doce e
limpo, mas suave e meio picante. Está no seu cabelo e na sua pele.
— Uma grande mão desce pelo meu braço, os calos de John são
ásperos, mas seu toque é suave. — Eu amo esse perfume. E isso
me deixa louco porque não sei o que é.
Deuses, o jeito que ele me toca. Com amável afeição, mas estou
queimando.
Eu limpo minha garganta, mas minha voz soa muito fina quando
eu finalmente respondo. — Sua elaboração é definitivamente melhor
que o seu comentário inicial.
John cantarola novamente, seus lábios roçando minha clavícula.
— Você vai me dizer o que é?
Eu honestamente não tenho ideia; eu não sabia que tinha um
cheiro específico. E seus lábios levemente fazendo cócegas no meu
pescoço estão me distraindo. — Uh... meu shampoo?
Ele me dá outro beijo minúsculo, um pouco de provocação. —
Não — ele murmura em voz baixa e suave. — Está no apartamento
de Killian também. — Seus lábios pressionam contra a parte inferior
da minha mandíbula. — Como se você tivesse habitado
completamente cada centímetro do lugar.
Deus, é bom demais o modo como ele está me explorando com
aqueles pequenos beijos, como se ele não pudesse se conter. Eu
também não posso. Minha mão corre lentamente para cima e para
baixo em sua cintura fina. Eu luto para acompanhar a conversa, e
então me atinge. — Ah — eu digo, em uma explosão. — É lavanda.
John faz uma pausa por um segundo. — Eu odeio lavanda.
— Espera. Você odeia o meu cheiro? Pare de me confundir.
Ele suspira. — Você está tentando brigar, não é? — Ele belisca
minha lateral com os dedos. — Vamos falar sobre o porquê em um
minuto.
Eu olho para a cabeça dele, não que ele me veja. Está muito
ocupado brincando com a minha camisa, passando o dedo por uma
dobra no tecido.
Sua voz permanece baixa. — Tenho certeza de que você me
ouviu mais cedo quando disse que cheira bem. Portanto, não pode
ser lavanda. Eu odeio lavanda. Teve essa assistente uma vez –
June. Ela amava essa porcaria. Achei que seria calmante e coloquei
esses palitos de óleo de lavanda em todos os lugares. Me deu as
piores dores de cabeça.
Não posso deixar de sorrir. — Há uma enorme diferença entre os
óleos essenciais baratos e a planta de verdade. Coloquei lavanda
no terraço, no meu quarto e na sala de estar. Usar pacotes de
lavanda mantém minhas roupas com um cheiro fresco.
Ele respira fundo e depois solta o ar lentamente. O prazer treme
através de mim, minha pele formiga.
Me beija. Deixe-me provar você. Eu preciso disso. As palavras
grudam na minha garganta. Estou quase vibrando de desejo, e ele
sente isso. Ele tem que sentir, porque fica tenso. Por um segundo,
espero que ele levante a cabeça e encontre minha boca com a dele.
Mas ele não se mexe. Em vez disso, limpa a garganta.
— Obrigado por vir me encontrar — diz ele.
Fico deitada, manhosa e ardente, sem saber o que fazer com a
formalidade de seu tom ou com o fato de que ele parou de me
explorar. — É claro — eu digo, encarando sua cabeça inclinada e a
maneira como o faz parecer derrotado. O que quer que o esteja
incomodando ainda o pesa. — Quer me dizer o que desencadeou?
Os músculos ao longo do pescoço e do ombro ficam duros.
Embora ele não se mexa, sinto cada centímetro dele se afastar,
como se uma parede enorme deslizasse entre nós. — Não foi nada.
Apenas aconteceu.
Ele está mentindo. Não sei como sei, apenas sei. Mas não posso
forçar a confiança. Eu só posso apoiar. — Sabe o que eu acho que
devemos fazer?
John se move contra mim, enviando um delicioso tremor na
minha barriga que eu ignoro cuidadosamente.
— O que devemos fazer, Bonita? — Seu tom provocador está de
volta, mas ele está se afastando. Tanto por sexo. Talvez tudo que
ele realmente precisa é de um pouco de conforto físico. Apesar de
agora estar excitada como o inferno, não tenho ressentimentos.
Confortar as pessoas é a minha especialidade, e estou mais do que
feliz em dar isso a John.
— Pedir uma pizza e assistir um filme.
A cama mal se move quando ele se joga de costas e descansa a
cabeça na mão. Seu cabelo está despenteado e há olheiras sob
seus olhos, mas ele não parece mais perdido. — Quem escolhe o
filme?
— Eu. Obviamente.
Ele lança um sorriso rápido. — Obviamente. Com o que você vai
me torturar, pequena ladra de sorvete?
— Por isso, eu deveria escolher uma maratona de Crepúsculo.
— eu sorri maldosamente quando John geme. — Mas estou me
sentindo solidária. Vou escolher a trilogia do Senhor dos Anéis.
John olha para mim por um longo momento, seus lábios
ligeiramente entreabertos. Um olhar estranho passa por seus olhos,
então ele sorri lentamente. — Como você sabia que são meus
filmes favoritos? Ninguém sabe disso.
Satisfeita, afasto um tufo de seus cabelos rebeldes da sua testa
franzida. — Porque nós temos gostos assustadoramente
semelhantes, lembra?
Os cantos dos seus olhos enrugam quando ele desce e me dá
um beijo rápido e leve na bochecha. Com isso, John se vira e se
levanta da cama. Soltando outro gemido, ele levanta os braços
sobre a cabeça e os músculos magros e tensos se estendem,
expondo uma linha de abdômen plano e pele lisa. — Você sabe,
Stella — diz quando seus braços caem soltos e relaxados ao seu
lado, — você é uma Mary Poppins.
— Mary Poppins? — Repito, observando-o passear no banheiro.
— Como uma governanta?
Ele para na porta e olha para trás. — Praticamente perfeita em
todos os aspectos.
CAPÍTULO QUATORZE

STELLA

E café na manhã seguinte quando chega um email


da Dra. Stern. No começo, não presto muita atenção. Ela me lembra
de terminar o último dos meus antibióticos e me manter hidratada.
Eu sei bem disso. Mas é o resto do seu relatório que faz o sangue
nas minhas veias desacelerar. Aparentemente, também estou livre
de quaisquer doenças sexualmente transmissíveis.
Não é como se eu não me lembrasse da Dra. Stern perguntando
se eu queria um exame completo, incluindo exames de sangue para
possíveis DSTs. Na época, pensei que era gentileza dela ser tão
minuciosa. Agora, no entanto, estou tendo uma pausa. Porque uma
memória esquecida volta à vida. Ela disse que John estava
preocupado, que ele queria que eu fizesse esses exames, mas que
era minha escolha. Alguma parte confusa e ignorante minha
esperava que fosse sua maneira estranha de garantir que nós dois
estivéssemos seguros para o sexo. Mas o seu uso da palavra
“preocupado” me faz pensar no porquê.
Por que John tinha se preocupado com o fato de eu ter uma DST
especificamente? Era alguma besteira de quando ele acreditava que
eu era uma acompanhante?
Um lento fervor de raiva constrói e borbulha. Mas então penso
nele caído na cama, no jeito como ele parecia se bater
mentalmente. Ele estava escondendo alguma coisa. Eu sabia
durante toda a nossa maratona de filmes. Estava na tensão que
continuava subindo pelo pescoço, e no aperto de sua mandíbula
quando sua atenção se dissipava. Sim, eu sabia que algo o estava
incomodando profundamente, mas não eu podia forçá-lo a me dizer
o que era.
Estou prestes a mandar uma mensagem para John e perguntar
não sei o que, algo, qualquer coisa para me dar uma dica sobre o
que está acontecendo, quando recebo uma mensagem de um
número desconhecido.
Desconhecido: Ei, é a Brenna. Estou fazendo um pouco de
controle de danos de relações públicas. Desde que você tem
andado com Jax, eles podem te procurar e fazer perguntas. Se
alguém fizer, fique calma, não faça comentários e saia daí.
— Que porra é essa? — Que merda John fez? Mas acho que
sei, e isso faz meu coração despencar.
Meus dedos voam pelo telefone, respondendo Brenna para que
ela não mande outra mensagem.
Farei isso.
Demora dois segundos para encontrar as notícias. Dessa vez,
meu peito aperta. O modo como eles vasculham sua vida pessoal
faz minha pele arrepiar.
Uma coisa é clara: John mentiu para mim. Uma mentira por
omissão ainda é uma mentira. Ele manteve segredo.
— Droga. — Largo o telefone e olho para a grande parede de
janela, onde a luz do sol reflete os edifícios à distância.
Eu também menti. Estou mais envolvida com John do que
gostaria de admitir. Talvez eu teria sido capaz de ir embora antes.
Antes de ficar doente, antes de procurá-lo e oferecer conforto em
troca. Eu não posso fazer isso agora.
Me assusta muito. Dizem que há momentos em sua vida em que
você percebe que tudo está prestes a mudar. Eu nunca acreditei
nisso, até agora. Eu nunca fui de mudar. Mas não posso mais negar
– John significa algo para mim. Posso significar algo para ele
também. Ou talvez nosso relacionamento seja apenas uma
distração para ele. Não tenho certeza. Mas sei de uma coisa:
quando ele finalmente sair da minha vida, vai doer.
Eu preciso resolver isso antes de ir lá e falar alguma coisa para
ele. Não tenho ideia do que diria nesse momento.
Não tenho com quem conversar sobre John. Me atinge como um
soco no estômago no momento em que pego o telefone para discar
e percebo que não sei para quem diabos estou ligando. Melhor
dizendo, não há ninguém para ligar. Dói. Mais do que eu esperava.
Passei anos fingindo que minha vida está cheia de pessoas e
alegria, quando na verdade me envolvi nessa torre de autoproteção.
Não precisei que ninguém falasse sobre homens e preocupações
pessoais, porque nunca me deixei apegar a ninguém ou a nada.
Um caroço enche minha garganta e incha até eu ter que engolir
convulsivamente. A dor me sufoca, empurra as paredes e torna o
quarto abafado. Lá fora, a cidade espera por mim, um rio
interminável de movimento, humanidade e barulho.
Mas assim que chego do lado de fora, me pego hesitando. Não
estou com vontade de andar e vagar.
Dez minutos depois, uma voz leve e seca, áspera por décadas
de fumo, atravessa meus pensamentos. — Você não tem um terraço
naquele seu apartamento, minha querida?
Com o cotovelo apoiado no meu joelho, e o queixo apoiado na
minha mão, olho para cima de onde estou sentada. — Sou mais o
tipo de garota de varandas — digo para a Sra. Goldman.
Seus lábios vermelhos abrem um sorriso fino, mas amigável. —
Eu cresci no Lower East Side. Sentar na varanda e brincar com a
água do hidrante constituiu a maior parte da minha infância.
— Eu gostaria de brincar com a água de um hidrante — Digo a
ela.
Ela faz um barulho descomprometido. — Parece que você
poderia apreciar alguma companhia.
As palavras para fingir que estou bem estão na ponta da minha
língua. Mas não posso me obrigar a dizer. Dou de ombros,
envergonhada por ser tão óbvia. Mas ela não me olha com pena.
Seus olhos estão quentes enquanto ela assente.
— Por mais que eu adorasse reviver minha infância sentada com
você — ela diz, — meus quadris não podem tolerar isso. Por que
você não vem comigo e eu preparo um bom almoço para nós?
Mais uma vez, quero protestar, dizer a ela para não se
incomodar por minha causa, mas me pego limpando a garganta e
forçando um sorriso. — Obrigada, Sra. Goldman. Eu apreciaria
muito.
— Venha então. — Ela acena. — E não se esqueça de tirar a
poeira da sua bunda.
Alguns minutos depois, estou sentada na cozinha aconchegante
da Sra. Goldman enquanto ela se apressa para almoçarmos juntas.
Fui informada que sou uma convidada e, portanto, não tenho
permissão para ajudar. O almoço é uma variedade de bagels
frescos, salmão defumado, cream cheese, tomate, arenque em
conserva, cerejas sem caroço, pão de centeio integral, salada de
frango, com pequenos pratos de mostarda, alcaparras e cebolas em
conserva e uma garrafa de champanhe para completar.
— Porque eu amo champanhe — diz ela, servindo uma taça
para cada uma de nós. — E você deve se entregar ao que ama
todos os dias.
— Todo dia? — Eu tomo um gole. É revigorante, frio e
perfeitamente borbulhante.
— Não precisa ser a mesma coisa todos os dias. Mas cheguei à
conclusão de que negar a nós mesmos a alegria diária é viver uma
meia-vida. E onde está a diversão nisso? — Ela levanta a taça e
saúda antes de beber. Um suspiro satisfeito sai dos seus lábios. —
Maravilhoso.
Faço um sanduíche de salada de frango com pão de centeio,
aceitando uma faca para cortá-lo em triângulos. — Algumas
pessoas argumentam que se entregar ao que você quer leva à
imprudência. É mais seguro andar com calma e às vezes se abster.
A Sra. Goldman coloca um pouco de cream cheese no pão. —
Mais seguro, hein? — Ela sorri, mas seus olhos escuros brilham
quando olha para mim. — Como você e Jax são parecidos.
— Eu? Parecida com Jax? — Rio brevemente.
Ela não está frustrada. — Perfeitamente. Ambos seguem o plano
seguro da vida.
Outra risada chocada explode de mim. — Ah, vamos lá, Jax
nunca segue a segurança. Toda a sua vida é um grande deleite.
Uma sobrancelha cinza escuro se levanta. — Você acha? — Ela
acrescenta algumas fatias de tomate ao pão e polvilha alcaparras
sobre ele. — Você percebe que o que uma pessoa considera um
risco pode ser um familiar conforto para outra. O estilo de vida
desse garoto faz parecer que vive no limite, mas para ele, pode
muito bem ser um berço.
— Acho que não pensei dessa maneira. — Dou uma mordida no
meu sanduíche, principalmente porque, de repente, não quero
conversar. Mas mesmo que tenha um gosto delicioso, acho difícil
engolir o caroço persistente na minha garganta. Engulo com
dificuldade e tomo outro gole longo de champanhe, grata pela forma
como ele borbulha na minha boca.
Silêncio desce enquanto comemos. Mas sinto seu olhar curioso
em mim. Sra. Goldman, embora não tenha minha idade ou até
mesmo seja minha amiga, é o tipo de mulher com quem você pode
conversar e ela não vai suavizar nada. Melhor ainda, ela obviamente
é boa em ver lugares que não posso.
Com um suspiro reprimido, abaixo os restos do meu sanduíche.
— Estou atraída por Jax – John. Eu penso nele como John.
Ambas as sobrancelhas levantam desta vez, mas a Sra.
Goldman não está surpresa. — Claro que está, querida.
Minhas bochechas esquentam, e eu sei que elas estão rosa
brilhante, caramba. — Ok, obviamente eu sempre estive. Mas é
mais agora. Eu gosto dele. Muito, e… — Pressiono minha mão
quente sobre meus olhos ardentes, um doloroso, sorriso torto
puxando meus lábios. — Eu não aguento mais ignorar, sabe? Eu
acho... eu acho que tenho que reconhecer isso com ele, ou seguir
em frente. Porque eu não sou do tipo que fica ao redor... — com
quem você está brincando, Stells? Você nunca fica ao redor... —
triste por causa de um cara que pode não gostar de mim da mesma
maneira.
Mordo o lábio, estremecendo internamente com a minha
emoção. Por trás da sombra da minha mão, ouço a Sra. Goldman
fazer um barulho de diversão.
— Ah, tenho a sensação de que ele gosta muito de você,
querida.
Dou uma espiada nela entre meus dedos. Como ela poderia
saber?
Ela sorri amplamente. — O notável mulherengo – sim, conheço
bem a reputação dele – está passando um tempo com você.
Homens como ele não fazem isso a menos que estejam
apaixonados.
Eu caio contra a mesa, descansando minha testa nos braços
dobrados. — Deus. Parece que estou no ensino médio, me
preocupando se um garoto realmente gosta mesmo de mim.
Delicadamente, ela desliza meu prato para fora do alcance dos
meus cabelos. — Faz um tempo desde que eu estive na escola,
mas me lembro de como passava bilhetes.
Eu gemo e levanto minha cabeça. — Eu estou assustada.
O tremor no meu tom suaviza sua expressão. Ela se inclina para
frente, mais perto de mim. — Com o que?
Com o que? Com o homem mais gostoso, engraçado, estranho e
imprevisível que eu já conheci. Antes de o ver naquela mercearia
tristemente esgotado, antes da nevasca, eu nunca teria pensado em
John como o meu par ideal ou mesmo o tipo para namoro. Ele
existe em um plano que meros mortais como eu nunca alcançam.
— Ele não é seguro — eu sussurro.
A Sra. Goldman se recosta, cruzando uma perna fina sobre a
outra. Ela toma outro gole de champanhe, considerando-me, e eu
me sinto desesperada para preencher o silêncio.
— Não vou mentir. Eu já tive crush em celebridades. Inferno,
toda vez que vejo o filme dos Vingadores, quero colocar meus dois
Chris em câmera lenta e repetir. E eu já pensei, “ah, se eu estivesse
sozinha em um quarto com um desses gatos, o que eu faria?” —
Forço um sorriso aflito. — Mas quando sou confrontada com a coisa
real? Esse homem maravilhoso que acontece de também ser
extremamente famoso? Ele nunca será como outros homens. Ele
sempre será mais.
— Tenho certeza de que Jax acredita que é como outros
homens.
— Tenho certeza de que ele quer ser — eu digo. — Mas o que
queremos e o que temos nem sempre é o mesmo. Ele sempre terá
o público e as pressões que o acompanham. — Passo a mão pelo
meu cabelo despenteado. — Então há a sua… — Eu não posso
dizer. Tenho vergonha de pensar nisso.
Os olhos escuros da Sra. Goldman não piscam. — A sua
doença.
Mais uma vez minhas bochechas ardem. — Sim. Não. — Meus
ombros caem. — Eu me sinto uma idiota por... principalmente
quando não tenho ideia do que vai acontecer. Mas não é
exatamente como se eu tivesse minha vida em ordem. Metade do
tempo, sou uma bagunça e tenho medo de falhar com ele por não
saber o que fazer. — Ele teve pessoas suficientes atrapalhando sua
vida.
Pressiono a mão na minha testa quente e suspiro. — Eu nem sei
o que estou dizendo. Estou toda confusa. Só não consigo deixar de
pensar que temos poucas chances de dar certo. Estamos lutando
contra forças externas e internas.
— É — ela diz simplesmente. — Vocês têm poucas chances,
quero dizer.
Eu acabei de dizer isso, mas sua confirmação me bate
diretamente no peito, e eu recuo contra o assento, esvaziada. Não
tenho muita experiência em receber conselhos, mas tenho quase
certeza de que a pessoa deve apoiá-la. Não?
— O medo fará isso com um relacionamento. — O sorriso dela é
fraco. — Eu mataria por um cigarro, mas estou tentando diminuir. —
Ela nos serve mais champanhe antes de falar novamente. — Eu
disse que cresci no Lower East Side. Mas passei toda a minha vida
de casada vivendo em Uptown. Oitenta e dois com a Madison. Eu
amei aquele lugar. Eu andava até o Met para almoçar nos meus
raros dias de folga.
Ela brinca com a haste da taça. — Então Jerry faleceu, e tudo
que eu podia ver era ele. Em cada sala, em cada eco de quando eu
andava pelos corredores vazios.
— Como você acabou aqui? — Pergunto, sem saber exatamente
para onde ela está indo com essa conversa, mas entendendo que
ela vai chegar lá.
As rugas que mapeiam seu rosto se aprofundam, irradiando dos
olhos e da boca como uma explosão de estrelas. — Foi aqui que
conheci Jerry.
— Nesse apartamento?
— Não. Nessa igreja. Nós dois estávamos participando de um
casamento aqui. Patricia, a noiva, era minha secretária na empresa
em que eu trabalhava. Jerry era o dono da empresa, embora eu não
o tivesse conhecido até aquela tarde. Ele estava em uma posição
muito alta na empresa para se preocupar com os novos contratados.
— Uau. E agora você mora aqui.
— Sim. Eu tinha meu adorável duplex de mil e duzentos metros
quadrados, uma casa cheia de lembranças maravilhosas e eu não
aguentava mais. Um dia, meu táxi ficou preso no trânsito do lado de
fora desse prédio, e havia uma grande placa anunciando as novas
conversões em condomínio. Me lembrei da primeira vez em que
Jerry e eu nos esbarramos nas escadas que levavam às portas da
igreja. — Ela ri baixinho, com os olhos enrugados. — Dois judeus de
Nova York prestes a entrar em um casamento católico.
Uma imagem de John suado, recém chegado da sua corrida e
me dando seu sorriso bajulador quando nos esbarramos na varanda
pela primeira vez, enche minha mente. — Então você comprou um
apartamento aqui.
— Sim. Mesmo que fosse pequeno, não tivesse porteiro e
estivesse longe de todos os meus amigos. Foi o local onde tudo
começou e agora é uma casa.
A Sra. Goldman estende a mão e toca a minha com as pontas
dos dedos. Suas juntas são protuberantes, as costas da mão são
manchadas e cheia de veias, mas ainda elegante, sua pele fresca e
macia. — Ah, você deveria ter visto aquele homem em seu auge.
Jerry era rico como Midas, bonito como o pecado, e olhava para
mim como se eu fosse uma nota de cem dólares que alguém deixou
na calçada.
Eu rio, e ela permite um sorriso carinhoso.
— E eu estava mais do que disposta a ser apanhada. Nós nos
apaixonamos como almas gêmeas perdidas que finalmente se
encontraram. Mas eu resisti com o medo muito real de me perder
para ele. Era o final dos anos sessenta. Nós mulheres estávamos
queimando nossos sutiãs, mas ainda era um mundo dos homens.
Era novidade que eu tivesse um escritório, ainda mais uma
secretária. Tive que lutar por cada grama de respeito que eu ganhei.
Lutar para mantê-lo. Como iriam olhar para mim se de repente eu
estivesse com o chefão?
Ela encolhe os ombros e toma um gole da sua bebida. — Eu
seria vista como nada mais do que uma prostituta patética, subindo
a escada corporativa de joelhos. Mas eu o amava tanto. Eu sabia
que ele era o meu começo e fim. Jerry se ofereceu para sair, desistir
de tudo. — Ela abaixa a cabeça como se estivesse rindo
interiormente. — Mas isso não teria mudado a minha percepção.
Estávamos em um impasse. Destinados a amar e se ressentir um
do outro.
— O que você fez? — Obviamente, ela se casou com o homem.
— Eu terminei com ele. — Ela coloca uma cereja na boca e
mastiga cuidadosamente. — E eu estava muito infeliz.
— Você voltou para ele?
— Não. — Ela sorri. — Ele ligava todas as noites com uma
pergunta. “Ainda vale a pena?” Eu aguentei por meses. Até que
finalmente eu podia responder: não, estar separada dele não valia a
pena.
— Então vocês ficaram juntos, viveram felizes para sempre e
todas essas coisas, certo?
A Sra. Goldman balança a cabeça. — Não. Tudo o que eu temia
que eles pensassem, aconteceu. Eu tive que sair da empresa e abrir
a minha própria. Me demorou anos porque ninguém queria contratar
uma mulher como gerente financeira. — Um olhar sombrio
atravessa seus olhos. — Mas eu persisti. E eu consegui.
— Mas você perdeu...
— O que? — Ela interrompe. — O respeito de um bando de
idiotas ignorantes que realmente já não me respeitavam em primeiro
lugar? Perdi o sono? Dinheiro?
Ela descansa o braço sobre a mesa e, por um momento, a
expressão em seus olhos está aberta e jovem. — Eu perdi todas
essas coisas. E ganhei o amor da minha vida. Nem tudo era
champanhe e rosas, embora nos entregássemos a eles todos os
dias. Nós discutimos, brigamos. Jerry tinha meses sombrios de
depressão de vez em quando. Eu também. No papel, éramos um
desastre. Juntos…
Ela se afasta com um encolher de ombros e desvia o olhar.
Lágrimas enchem seus olhos e ela funga. — Porra, eu realmente
quero um cigarro.
Sua perda e o amor que ela sentia por seu marido nos envolvem,
sufocando e, de alguma forma, caloroso. Dou-lhe um momento,
meus próprios pensamentos correndo enlouquecidos.
— Eu não sei se John é o único — digo finalmente. — Mas ele é
o único por quem já pensei em me arriscar.
A Sra. Goldman se endireita e me prende com um olhar. —
Então o que você está esperando?
CAPÍTULO QUIZE

STELLA

M . Não sei por que me apego a isso,


mas não consigo ignorá-los quando abro a porta de vidro que leva
ao terraço. Meu coração bate forte e frenético no peito, e respiro
fundo na tentativa de me acalmar. Não tenho motivos para ficar
nervosa, mas aqui estou, enlouquecendo.
Nos meus tornozelos, Stevens solta um uivo melancólico e
esfrega seu corpo elegante contra a minha panturrilha. Ele está por
perto desde que fiquei doente. Estou melhor agora, mas o rapaz
ainda se preocupa.
— Você vai ficar aqui, amigo. — Eu gentilmente o empurro de
volta para casa e fecho a porta antes que possa me seguir. Ele me
olha com olhos solenes como se estivesse me mandando para a
guerra.
Eu rio dos meus pensamentos rebeldes, mas isso ainda não
diminui minha tensão.
O pôr do sol brilha em rosa e dourado ao longo do terraço e
aquece a pedra que percorre ao longo da parede entre a cobertura
de Killian e a de John. Pressiono minhas mãos na pedra e fecho os
olhos por um longo segundo antes de me inclinar e gritar. — Estou
pulando o muro!
As portas de John estão abertas, e logo ouço sua voz lá dentro.
— Você não pode apenas enviar uma mensagem como uma pessoa
normal?
— Não! — Eu passo por cima do muro – com toda graça e
dignidade – e pulo no terraço dele. Minhas mãos passaram de
geladas para úmidas.
Esfrego-as no meu short e faço o meu caminho para dentro.
John senta-se esparramado no sofá enorme, a cabeça virada na
minha direção. Sua expressão está em branco, mas apesar da sua
pose casual, seu longo corpo está tenso e imóvel, como se ele
estivesse prendendo a respiração. Ele não está vestindo nada além
de um par de jeans pendurado nos quadris magros. Seu peito nu e
abdômen duro estão me distraindo como o inferno.
Por um segundo, eu apenas olho para ele. Seu cabelo castanho
chocolate fica arrepiado como se tivessem agarrado suas pontas.
Barba espessa sombreia sua mandíbula, fazendo sua boca larga
parecer mais pálida, mas de alguma forma mais suave. Seus olhos
verdes, porém, estão duros agora, um jade quase estranho cercado
por seus cílios escuros.
Encará-lo agora apenas torna mais intenso; estou seriamente
apegada a John Blackwood. E não é uma coisa boa. Ele olha para
mim como se estivesse pensando o mesmo, como se estivesse me
avisando para me virar e sair enquanto eu posso. Mas é muito tarde.
Eu dou um passo para mais perto dele. — Então...
O canto de sua boca se torce fracamente. — Então.
Não deveria ser tão difícil. Minha respiração engata. — Recebi
um email interessante da Dra. Stern.
Ele pisca lentamente. — Eu aposto. E?
— Eu tive garganta inflamada.
John parece afundar nas almofadas do sofá. Ele não diz nada,
no entanto. Apenas me observa.
Eu me aproximo um pouco. — Em todos os outros aspectos, sou
perfeitamente saudável. Sem DSTs.
Ele se encolhe, os punhos apertando e soltando. — Bom. — Ele
limpa a garganta. — Isso é bom.
— Foi por isso que você ficou comigo? Ligou para a sua médica
pessoal? Porque pensou que tinha me dado clamídia?
Irritação brilha em seus olhos, mas quando ele fala, suas
palavras são comedidas. — Liguei para Stern porque você estava
doente como o inferno. Fiquei porque você precisava de alguém
para cuidar de você.
— Mas estava preocupado, não estava? — Eu digo em voz
baixa. — Que tivesse me dado uma DST.
Ele desvia o olhar e sua mandíbula tensiona. — Aparentemente,
você não pode pegar através de um beijo.
— Mas você sabia? Foi por isso que se afastou naquela noite?
Porque pensou que você fosse contagioso?
— Cristo, Stells… — Seus olhos se arregalam e ficam um pouco
selvagens. — Eu fiz um monte de coisas estúpidas na minha vida,
mas eu nunca colocaria sua saúde em perigo dessa maneira. Porra.
— Com um som de aborrecimento, ele desvia o olhar.
Encho-me de vergonha. — Eu sei. Desculpe. Só estou tentando
descobrir.
Ele assente, mas mantém sua atenção na parede oposta.
Deus, eu estraguei tudo. Sou uma amiga profissional, pelo amor
de Deus, mas não sei o que diabos estou fazendo com John. Ele
nunca reage como espero, e estou totalmente fora do meu elemento
aqui. Fico na beira do sofá e torço as mãos. — Eu não entendo.
Você estava preocupado comigo porque ...
— Você me beijou — ele interrompe com uma voz rouca. — Na
noite em que nos conhecemos. Eu estava infectado e não sabia.
Seus olhos abaixam e ele estuda seus punhos cerrados.
— Ah — eu digo.
Um bufo sai dele. — Sim, ah.
No estrondoso silêncio, ouço o sangue correndo em minhas
veias. Eu o machuquei.
Ele suspira e passa a mão pelo cabelo bagunçado. — Assim que
descobri, perguntei a Dra. Stern sobre aquele beijo. Se você estava
segura. Ela me garantiu que estava tudo bem. Mas eu meio que
enlouqueci quando você ficou com dor de garganta.
Eu também teria. A lógica nem sempre escuta quando o medo
grita na sua cabeça.
Ele olha para mim com olhos solenes. — Eu deveria ter te
contado. Mas seria foda se eu pudesse encontrar uma boa maneira
de dizer, “ah, ei, eu sei que você não pensa o melhor de mim, mas
me deixe acrescentar mais uma coisa à lista”.
— Eu não penso mal de você, John. — Ele tem que saber disso.
Seus punhos se apertam, então ele flexiona os dedos como se
estivesse tentando se livrar de algo. — Estou contaminado, Stella.
— Você não está contaminado — eu ranjo. — Uma boa rodada
de antibióticos vai resolver e a vida continua.
Ele bufa, suas sobrancelhas se erguendo com um olhar de
irritação confusa. — Eu tomei os remédios. Eu estou limpo agora.
Estou há duas semanas.
— Então o que você quer dizer...
— Porque esse rótulo sempre paira sobre mim — ele interrompe.
— Jax Blackwood, contaminado. Uma piada patética. Fodido...
— Pare — eu estalo. — Basta parar essa droga agora.
Ele franze a testa para mim. — Que droga?
— Você acha que está contaminado e que é patético porque
contraiu uma DST? Você sabe quantas pessoas contraem doenças?
Quantas pessoas morreram por causa de uma delas? Você
realmente vai sentar aí e chamá-las assim?
Sua expressão fica esquisita e ele desvia o olhar.
Eu sigo em frente. — Eu duvido que muitas pessoas estão
procurando contrair uma doença. E mesmo que não estejam agindo
com responsabilidade, isso importa? Não as envergonhe, ou a si
mesmo. Não seja uma daquelas pessoas arrogantes que pensam
que são melhores do que os outros, que pensam que, ao
envergonhar os outros que se foderam ou enfrentaram a desgraça,
vai se proteger de coisas infelizes que também podem te acontecer.
É um falso conforto, na melhor das hipóteses, e já existe muito
julgamento no mundo.
John esfrega a mão no rosto e suspira. — Podemos pular a
palestra? Estou simplesmente dizendo o que o mundo já pensa de
mim.
— Eu não dou a mínima para o que o mundo pensa de você, e
você também não deveria.
Suas sobrancelhas se contraem. — Assim, sem mais nem
menos, hein?
— Sim.
Vermelho flui sobre suas bochechas quando ele se senta e se
inclina em minha direção. — Até que a onda de julgamento esteja
na sua direção, você não tem ideia. Não, eu não quero dar a mínima
para o que as pessoas pensam, mas eu me importo. Eu sinto isso.
Bem aqui. — Ele apunhala o peito com o polegar. — Sinto isso toda
vez que saio e alguém me reconhece. Eles costumavam me olhar
com adoração. Agora, é com pena ou um sorriso malicioso ou
ambos, e eu odeio. Mas acima de tudo, odeio me importar.
Suas palavras soam no silêncio que se segue entre nós. A raiva
crepita sobre ele, seu peito subindo e descendo em agitação. Não
desvio os olhos; parece uma traição desviar.
Eu limpo minha garganta, engolindo a necessidade de tocá-lo. —
Eu sinto muito. Foi errado da minha parte ficar toda moralista. Você
está certo; não tenho ideia de como deve ser. — Eu levanto uma
mão, então deixo cair. — Sinto muito.
Toda a rigidez o deixa em uma expiração pesada, e ele afunda
de volta nas almofadas do sofá. — Ah, inferno, não me dê esse
olhar. Eu não aguento.
— Que olhar? Não estou dando um olhar. — Sinceramente, não
estou. Meu arrependimento é real.
Ele inclina a cabeça na minha direção, um leve sorriso nos
lábios. — Sim, você está.
— Não estou. Eu juro, John.
O sorriso cresce. Mas é fraco e cansado. — É um olhar de “tudo
bem”. Esses olhos azuis grandes e tristes, cheios de preocupação e
arrependimento. Dói vê-lo.
Meus lábios se contraem e eu luto contra o meu próprio sorriso,
porque sei que ele não está mais com raiva. — Me chateia o fato de
eu ter acrescentado à sua dor. Eu estava tentando ser útil.
Sua risada é rouca. — Stella Bonita, você me irrita muito às
vezes, mas eu gosto que você esteja disposta a lutar minhas
batalhas. Mesmo se você estiver brigando comigo no processo.
Alívio flui através de mim, tirando a força dos meus joelhos. —
Bem, então eu provavelmente deveria confessar que falei sério.
Ele bufa. E soa muito como — Não brinca, Stells.
Eu escolho ignorá-lo. — Você não está contaminado ou é
patético. Eu nunca vou te ver dessa forma.
Assim que digo as palavras, fico envergonhada. Não porque elas
não são verdadeiras, mas parece que revelaram demais, e ele está
muito silencioso. Estamos de frente um para o outro, mas não posso
realmente olhá-lo nos olhos. Talvez ele também não possa, porque
seu olhar é nebuloso, quase perdido.
O calor desconfortável provoca cãibras no meu interior e picadas
na minha pele. Eu quero me virar e ir embora, mas não consigo me
mover. Isso também revelaria coisas que não quero que sejam
vistas.
Uma profunda respiração se move através dele como um
suspiro, e então ele pisca como se estivesse saindo de uma névoa.
Quando olha para mim novamente, seus olhos estão brilhantes,
como vidro verde ao sol. Os olhos de um homem não devem ser tão
expressivos. Faz com que uma mulher esqueça de manter suas
defesas.
— Stells — ele sussurra, — onde você esteve toda a minha
vida?
Um nó sobe na minha garganta. — À deriva.
O canto do lábio se ergue. —Bem, pare. Não se afaste.
— Ok. — É um som estridente, meu peito muito apertado para
mais.
Sua expressão se torce e fica dolorida. — Você não seria tão
rápida em concordar se soubesse no que eu estava pensando.
Meu coração bate forte contra as minhas costelas.
Não pergunte. Não pergunte.
— O que você está pensando, John?
Por baixo das pálpebras abaixadas, ele me observa, seu corpo
longo e magro repentinamente solto e lânguido no sofá. — Eu quero
beijar você.
Minha respiração escapa em um whoosh. — Só isso?
Deus, por favor faça isso. De novo e de novo.
— Por enquanto — ele diz calmamente. Mas eu o vejo recuar
para dentro de si mesmo.
É uma vergonha. Não importa o que eu diga, ele ainda acredita
que está danificado.
— E se eu quiser que você faça mais do que me beijar? — Eu
pergunto, pressionando.
A luz em seus olhos diminui ainda mais. — Bonita… — Sua voz
falha e ele engole. — Você precisa aprender a não me levar a sério.
Eu digo merda estúpida o tempo todo. Eu não sou o cara para você.
Meu coração cai nos dedos dos pés. Eu deveria acreditar nele;
por que ele mentiria? Há um fio de verdade em suas palavras. Eu
posso ouvir claramente. Eu deveria deixar pra lá. A voz na minha
cabeça – aquela que sempre apareça e me diz que sou uma
fracassada – insiste que eu nunca teria chance com um homem
como John. Ele é uma lenda e eu sou apenas eu.
O problema é, eu odeio essa cadela; ela governou muito da
minha vida. Suspeito que a maioria de nós tenha uma voz
semelhante, uma invasora pessimista que tenta o seu melhor para
fazer com que nos odiemos. Suspeito que John tenha uma que se
transforma em gritos em alguns dias.
Eu respiro fundo, pressiono minhas mãos frias nos quadris. —
Foi mentira, então? Você querendo me beijar?
Os músculos ao longo de seu tronco e braços se tensionam
visivelmente. E por um segundo, eu me pergunto se ele não vai me
responder. Mas então ele responde, seu dom dolorido e duro. — Eu
queria te beijar desde a noite em que nos conhecemos e você me
roubou um beijo. Quero aprender o seu sabor, os sons que faz,
como você se moverá contra mim quando eu provar você.
Seus olhos ficam quentes, focados nos meus lábios. — Eu
penso na sua boca o tempo todo. Aquelas pequenas sardas
provocadoras, a curva suave do seu lábio superior, a plenitude
teimosa do seu lábio inferior. — Ele solta uma risada. — Stella
Bonita, é completamente embaraçoso o quanto eu penso em te
beijar.
— Mas você não vai. — Eu nem sei como estou falando direito
agora. Por dentro, sou uma poça de calor e desejo nebuloso.
— Não.
Eu sinto o “não” como um chute no meu peito. Eu deveria desistir
e me salvar de mais humilhação. Mas não posso. — Por quê?
Sua mão treme quando ele a passa pelos cabelos. — Sexo
confunde as coisas. Especialmente para mim. Não sei o que fazer
quando acaba. Poderia nos separar, Stella. E não posso me dar ao
luxo de te perder.
Jesus, as coisas que ele me diz. Como ele pode pensar que me
perderia?
— Ou pode ser o começo de um nós — eu respondo, com o
coração na garganta – nas mãos, porque eu poderia muito bem tê-lo
colocado em seu colo.
Sua boca expressiva se torce, lutando contra um sorriso, mas ele
parece cansado e resignado. — Eu não vou me apaixonar por você,
Stells.
Dói, mas não é como se eu não esperasse por isso. Não tenho
certeza se sequer quero amor. Amor é igual à perda no meu mundo.
Eu não quero mais me machucar. Mas quero John. Finalmente,
estou finalmente disposta a admitir. Porque negar também dói. —
Quem disse algo sobre se apaixonar?
Seu sorriso é fraco. — Bem, isso é um alívio.
Estranhamente, ele parece quase decepcionado. Sob as
pálpebras abaixadas, ele me observa caminhar em sua direção.
Com cada passo mais perto, meu coração bate mais forte e mais
rápido. O sofá range um pouco quando eu coloco meu joelho nele.
Monto John, movendo-me com languidez líquida como se estivesse
fluindo pela água.
Suas grandes mãos pousam nos meus quadris, e seu aperto é
firme quando ele me puxa para mais perto até que meu sexo
pressiona contra a protuberância crescente em suas calças. Nós
dois respiramos fundo.
Tonta e inundada de calor, eu me inclino em sua direção, as
pontas dos meus seios roçando seu peito nu. Minha mão segura
seu pescoço, e a batida rápida de seu pulso toca as pontas dos
meus dedos. Ainda assim, ele me observa, silencioso e imóvel, seus
músculos tensos.
— John? — Eu sussurro, nossos lábios perto o suficiente para
que sua respiração suave faça cócegas nos meus.
Sua voz é tão suave quando ele responde. — Sim, baby?
— Posso te beijar?
Um tremor passa por ele e ele engole em seco. — Você está me
perguntando? — A descrença em sua voz é fraca, apesar de tudo.
Seu aperto nos meus quadris aumenta e ele me puxa.
Me ajusto no lugar, meu sexo pressionando mais firmemente em
seu pênis inchado. — Alguém já perguntou antes?
De perto, seus olhos são de um verde puro, seus cílios grossos e
macios; ele é quase bonito demais para olhar. Ele pisca, os cílios
deslumbrantes. — Não. Não posso dizer que isso já importou antes.
Antes.
Importa agora. Porque ele está sentado aqui acreditando que
está contaminado, pensando que eu não o quero.
Meus dedos traçam a forte coluna de sua garganta. — O
problema é que penso em beijar você também. Desde que roubei o
primeiro, quis mais. — A mão de John desliza pelas minhas costas
enquanto eu falo, seus dedos emaranhados no calor úmido do meu
cabelo. Tremo de prazer, minha confissão saindo em uma corrida
sem fôlego. — Sempre que abro a boca para falar com você, tenho
medo de implorar por outro beijo, apenas um gostinho seu...
— Stella? — Ele interrompe, seu olhar quente no meu.
— Sim?
— Me beija.
Então eu beijo. E é tão bom que meu corpo inteiro suspira de
alívio antes de derreter com calor e necessidade. Sua boca se abre
para minha como se estivesse esperando uma eternidade para me
sentir, me provar. Estou envolvida em torno dele, o mais perto que
posso chegar, nossas línguas deslizando, nossos lábios dançando
lentamente.
John grunhe baixo e impaciente, apertando meu cabelo com
força. Ele inclina a cabeça, tentando tirar mais de mim. E sinto em
toda parte, como se meu corpo estivesse preso à cordas que se
esticam com força, apertando cada músculo com desejo. Nos
beijamos assim até que não podemos respirar, então nos afastamos
ofegantes, apenas para voltar um para o outro novamente. E de
novo. Beijos profundos e deliciosos que duram apenas alguns
segundos antes de tentarmos outro e outro.
John pega meu lábio inferior e chupa. — Ah, porra, você
parece... eu precisava de você… — Ele me beija com ganância
suave, sua mão se movendo sobre o meu corpo como se estivesse
memorizando cada declive e curva. — Eu precisava de você, Stells.
Precisava disso. Só isso.
Eu também precisava disso. Não percebi o quanto até tocá-lo.
Seus lábios deslizam sobre o meu pescoço, espalhando arrepios
pela minha pele. — Você é tão boa. Boa pra caralho.
Ele também, seu cabelo fresco e sedoso nas minhas mãos, sua
mandíbula áspera com barba por fazer que faz cócegas nos meus
lábios. E o tempo todo, ele está balançando contra mim, trabalhando
os quadris lentamente, movimentos como um aceno que me deixa
um pouco frenética de luxúria.
Nossas bocas se juntam e desta vez é explosivo, nosso controle
escorregando. Eu seguro o topo de seus ombros duros, meus dedos
agarrando e acariciando. Suas mãos deslizam por baixo da minha
camisa, alisando as laterais da minha cintura.
— Eu quero ver você — diz ele contra a minha boca. — Posso
tirar isso? Posso te ver, doce Stella?
Ondas de calor rolam sobre mim. — Sim. Sim.
Nossos dedos se mexem, os meus tremendo de impaciência,
enquanto puxamos a maldita camisa sufocante juntos. Isso não me
esfria. Eu queimo ainda mais quando o olhar de John se move sobre
o meu torso, sua expressão extasiada. — Tão linda, Bonita.
Estou usando um sutiã branco simples, mas sob o olhar dele, me
sinto tão bonita e delicada quanto algodão doce. Suas mãos largas
deslizam para cima das minhas costelas e arqueam minhas costas,
empurrando meus seios para fora. Ele se senta, os braços em
minha volta, e pressiona um beijo carinhoso no inchaço dos meus
seios. — Toda noite, eu tenho sonhado com isso. Com você.
Sua pele está quente e úmida sob minhas palmas, e eu as passo
em cada centímetro que posso.
As pontas bruscas de seus dedos traçam o fecho do meu sutiã.
— Isso também?— Ele pergunta.
— Sim. Por favor, John. — Meus seios estão inchados, meus
mamilos sensíveis e doloridos. Eu preciso do toque dele. — Por
favor.
— Qualquer coisa — diz ele. — Qualquer coisa que você
precise.
O sutiã desliza para longe. Ele faz um som profundo em sua
garganta. — Ah inferno. Sardas. Você está me matando. — Ele beija
cada uma, sua língua tocando-as como se fossem doces. Quando
ele finalmente lambe meu mamilo gentilmente, eu gemo, inclinando
minha cabeça para trás.
Sua boca quente se fecha sobre mim e dá puxões rítmicos. A
ponta de sua língua sacode a ponta inchada, é demais e não é o
suficiente, e eu me enrolo nele, meus braços em volta de seu
pescoço, meu peito em sua boca. Estou montando seu pau,
cavalgando-o como se fôssemos adolescentes excitados em um
banco traseiro.
John libera meu mamilo com um estalo molhado. Estremeço,
querendo que ele volte.
— Me toque — diz ele, movendo os lábios ao longo da minha
pele, procurando meu outro seio. — Por favor. Me toque.
Sua barriga é firme e lisa. Sigo o cume no centro do abdômen.
Ele grunhe, sua boca cheia com o meu seio. Eu me atrapalho com o
botão do seu jeans, e então ele está na minha mão, quente, duro e
grande. Acaricio o calor sedoso, meu polegar passa sobre a coroa
molhada, e ele estremece.
— Ah, merda. Porra. Mais Stella. Me dê mais.
Sua boca encontra a minha. Não há mais conversa, apenas
sussurros suaves de desejo e aprovação, choramingos carentes e
gemidos por mais. Nossos beijos são uma bagunça, frenéticos,
molhados, profundos. Trocas de fôlegos. Exalações trêmulas. Estou
masturbando seu pau enquanto ele belisca meus mamilos, e é tão
gostoso e bom. Eu vou gozar e ele nem sequer tocou meu clitóris.
— John… — Eu balanço contra ele, lamentando.
— Eu sei — ele murmura, — eu sei.
Sinto isso subir, quente, frio, me fazendo tremer. Meu corpo fica
tenso no precipício.
Um zumbido alto atravessa o ar. Nós dois pulamos com o som.
Muito perto um do outro, outro zumbido soa.
Minha testa descansa contra a dele. — Quem é?
— Merda. — John engole, e move seus lábios inchados sobre os
meus. — Ignore.
Quem quer que seja, começa a bater na porta.
— Oi! — Uma voz masculina profunda grita. — Se apresse e
abra a porta.
Ofegando, nós dois viramos a cabeça em direção à porta em
questão.
As mãos de John ainda estão nos meus seios, e eu o sinto tenso
antes que ele as deslize para os meus quadris. — Malditos empata-
foda.
Dou uma risada e caio contra seu peito quente. Ainda estou um
pouco tonta e sem fôlego. John pressiona os lábios no topo da
minha cabeça. — São os caras — diz ele no meu cabelo úmido. —
Eles se convidaram para jantar. Eu esqueci.
— Me pergunto por quê — murmuro, e é a vez dele de rir
fracamente.
— Porra — ele geme, longo e dolorido. Mas parece que isso não
vai acontecer tão cedo. — Merda, merda, merda. — John respira
lentamente pelo nariz em um esforço claro para se acalmar.
Eu simpatizo. Estou muito excitada, meu sexo está pulsando,
úmido e querendo mais. Um arrepio me atravessa, e John me lança
um olhar de reprovação, seus dedos segurando meus quadris um
pouco mais apertados. — Fique quieta — ele avisa, — ou eu vou te
foder com eles ouvindo.
— Isso deveria ser uma ameaça? — Eu pergunto, olhando a
pequena auréola fofa de seu mamilo endurecido. Quero dar uma
mordida suave antes de lamber a dor. — Porque estou disposta a
ser submetida. — Mas, apesar da minha bravata e seu gemido de
dor, eu o afasto. Porra, seu pau parece bom, todo grosso e escuro
de luxúria. Aponta na minha direção, como se estivesse me
chamando de volta. E eu estou tentada. Tão tentada.
A porta vibra novamente com uma insistência implacável.
— Estou indo7, está bem? — John grita, sua voz falhando um
pouco.
— Não da maneira que eu esperava — murmuro.
Ele solta uma risada fraca, passando a mão pelos cabelos. O
suor escorrega pelo peito e abdominais tensos. — Pode rir,
engraçadinha.
— É rir ou matar seus amigos. — Eu luto com meu sutiã. Eu
também estou suada, meus seios inchados e sensíveis. Agarrando
minha camisa, eu a puxo sobre minha cabeça e me levanto. — Eu
atendo a porta. Você arruma... — aceno com a mão na direção de
seu pau persistentemente duro — tudo isso.
— Eu acho que posso quebrá-lo se eu tentar guardar agora —
ele resmunga antes de se levantar e subir o jeans. Um sorriso
irônico inclina seus lábios. — Desculpe por isso, Bonita. Vou te
compensar. — Ele me dá um beijo suave e depois corre para o
banheiro.
CAPÍTULO DEZESSEIS

STELLA

S , corro meus dedos pelos cabelos e


ajeito minha camisa. Tenho certeza de que estou uma bagunça;
meus lábios estão sensíveis e provavelmente parecem
machucados. Mas esses caras são roqueiros. Eles estão
acostumados ao sexo, e não sinto vergonha. Na verdade, estou
chateada com o fato de terem nos interrompido.
Ainda estou praticando meu olhar de boa compostura quando
abro a porta da frente. Ele desaparece abruptamente quando eu fico
cara a cara com o que é sem dúvida o homem mais lindo que eu já
vi. Ele está parado na soleira, impecavelmente vestido com um belo
terno cinza, seus cabelos pretos como tinta brilhando à luz do
corredor, olhos azuis afiados com foco. Eu juro que meus joelhos
ficam um pouco fracos com a vista. Mas não é isso que me faz
suspirar com verdadeiro prazer.
Outro conjunto de brilhantes olhos azuis me encantam. Me
apaixono um pouco nesse momento. Porque a criança
acolhedoramente aninhada no canguru que o homem usa é o bebê
mais fofo que eu já vi. O rapazinho claramente sabe disso e me dá
um sorriso babado enquanto acena com o punho gordinho.
— Ah, meu Deus. Se acalme.
O homem de terno não muda sua expressão, mas algo que se
parece muito com um orgulho radiante enche seus olhos e o faz
repentinamente parecer humano. Ele coloca a mão protetora no
estômago do bebê. E lá se vão os meus ovários. Eu posso senti-los
explodindo em chamas quando um suspiro feliz me escapa.
— Ele tem esse efeito nas pessoas — diz outro homem ao seu
lado. Eu nem tinha notado, o que é chocante o suficiente porque o
cara é gostoso, não a perfeição fria do homem com o bebê, mas de
uma forma esguia e descontraída. É o tipo de cara para quem as
mulheres correm, sabendo que ele as tratará direito, mesmo quando
ele partir os seus corações. Ele é muito parecido com John nisso.
O reconhecimento me atinge. Ele é Whip Dexter, o baixista do
Kill John. Ele me dá um amigável, mas avaliativo sorriso. — Um
olhar para esses olhos azuis-bebê e as mulheres se transformam
em poça.
John aparece nas minhas costas, vestindo uma camisa e
parecendo ofendido. — Jesus, você também não está se
apaixonando pelo rosto de Scottie, está?
— Scottie? — Eu pergunto inexpressivamente.
— Ele está falando de mim — diz Papai Gostoso do Bebê, seu
sotaque tão nítido quanto seu terno.
Esse é o homem que me contratou? Claro que é. Eu reconheço
a voz dele. Scottie encontra meus olhos e uma de suas
sobrancelhas negras se arqueia. Ele sabe perfeitamente que eu
estava babando no bebê, mas claramente não tem nenhuma
intenção de corrigir John. Eu me pergunto sobre isso, enquanto
John continua reclamando.
— Sério, é embaraçoso. Ele é muito bem casado, sabe.
Irritação desliza pela minha espinha. Minha língua estava dentro
da sua boca, e ele acha que eu estou desejando Scottie? Por outro
lado, o homem é lindo – posso entender como qualquer cara ficaria
desconfiado.
Eu zombo e reviro os olhos. — Ah, pelo amor de Deus, eu
estava falando sobre o bebê. — Faço uma careta boba para o
pequeno arrulhar. — Eu não estava? Seu carinha bonito.
— Carinha — repete Whip com um sorriso. — Eu gosto disso.
John respira fundo, tendo a decência de parecer envergonhado.
— Certo. Felix. Não o vi aí. Ei, homenzinho.
— Você estava distraído com a minha boa aparência, não
estava? — Scottie brinca. — Isso acontece muito.
John mostra o dedo para ele.
— Esse é o nome dele? — Eu pergunto a Scottie.
— Sim, esse é meu filho, Felix Tiberius Scott.
Felix levanta o punho como se dissesse: — Respeite minha
grandiosidade, mulher!
Scottie deu ao filho um nome vindo de Star Trek? Fico um pouco
mais apaixonada pelos dois. Embora, na verdade, Scottie seja muito
frio e bonito demais para algo que não seja uma admiração casual.
Seu bebê, no entanto? Eu quero morder aquelas bochechas
gordinhas.
— Ele é maravilhoso.
— Obrigado. — Outro arquear daquelas sobrancelhas
imperiosas. — Senhorita?
Tenho a sensação estranha que ele sabe, mas está perguntando
por educação.
John e eu conversamos um sobre o outro.
— Eu sou...
— Ela é...
Whip nos interrompe. — Maddy, certo? — Ele me dá um sorriso
inocente. — Jax me disse que estava fazendo jantares para sua
vizinha Maddy.
Maddy? Quem diabos é Maddy? Eu endureci, meu rosto
parecendo concreto. Ele está fazendo “jantar” para uma das outras
vizinhas? Eu sou apenas uma de muitas?
— Ah, não, eu sou...
John faz um barulho de irritação. — Essa é Stella, não Maddy.
Jesus, acho que é bem claro que ela não é a Maddy, seu idiota.
Ok, isso dói. Não posso fingir que não. Atiro a John um olhar
enquanto ele conduz Scottie e Whip para dentro, mas não consigo
dizer uma palavra porque Scottie se vira e me prende no lugar com
seu olhar estranhamente intenso. — Finalmente nos encontramos,
Srta. Grey.
Ah Merda. Eu não deveria estar em contato com John. E aqui
estou eu. Próxima e em contato pessoal. Abro a boca e encontro
minha voz.
— Você disse a ela para não falar comigo? — John diz,
colocando tudo para fora.
Scottie dá uma breve olhada e Felix sopra bolhas de cuspe.
— Sim, eu sou Stella Gray. Eu sei que você disse para não me
envolver com John, mas...
— Sim — John diz, — esse plano saiu pela culatra quando ela
roubou o meu sorvete.
Respondo inesperadamente John, que agora é um homem
morto. — Ei! Você tinha suas patas por todo meu sorvete de menta.
Só o peguei de volta. — Cada palavra é pontuada por um cutucão
nas costelas.
John salta com um ganido. — Jesus, acalma esse dedo afiado. E
nós dois sabemos que isso não é verdade, Stella Bonita. Preciso
mencionar o...
— Diga outra palavra e eu vou te morder como um furão furioso.
John fica boquiaberto por um segundo, depois irrompe em
gargalhadas – gargalhadas que sacodem os ombros e causam
lágrimas nos olhos.
Eu sopro uma respiração irritada. — Estou falando sério. Tema
minha ira, garoto roqueiro.
Ele ri mais. — Faça parar — ele fala rouco através das lágrimas.
— Meu estômago dói.
— Pedaço de merda — murmuro, o que o faz se curvar.
O arrulhar de um bebê me faz parar, e eu percebo que temos
uma audiência, uma que eu tinha esquecido completamente. O calor
sobe pelo meu rosto e pinica minha pele. Ah, inferno. Mortificada,
dou uma cotovelada em John e viro lentamente para encarar Scottie
e Whip.
Whip sorri largo e satisfeito e, para meu horror, ele está
gravando John rindo. — Desculpe — ele me diz, — mas isso tinha
que ser guardado para a posteridade.
Não faço ideia de porquê a visão de John perdendo o controle
das suas emoções é grande coisa, mas estou muito focada em
Scottie para me importar. — Desculpe — digo ao meu empregador.
— Eu realmente não quis dizer isso.
A sobrancelha escura de Scottie se levanta. — Isso seria uma
pena, Srta. Grey. Se alguém precisa ser derrubado por uma mulher
imitando um furão furioso, é Jax.
Deus, eu realmente disse furão furioso. Eu quero me afastar e
me esconder.
John fica sério então. — Ei — ele diz indignado, — o que eu fiz?
— Devemos imprimir uma lista? — Scottie murmura sem
qualquer calor. Então ele se vira para mim. — Tenha certeza, Srta.
Grey, de que a minha intenção era te poupar qualquer irritação.
Certamente não foi para impedir você de conhecer Jax.
— Ela o chama de John — aponta Whip, ainda estranhamente
feliz.
— É o meu nome. — John dá um peteleco na orelha de Whip e
depois sai do alcance quando Whip chega para bater na cabeça
dele. John olha para Scottie. — E você, Sr. Traidor, continue assim e
vou dizer a Sophie que o carrinho que comprou não é aprovado
pelas Diretrizes dos Pais.
O pequeno Felix solta um gritinho indignado.
Scottie empalidece, sua sobrancelha arrogante se enrugando. —
Uma mentira completa. Você não se rebaixaria tanto.
— Experimente. — John funga, erguendo o queixo. — Ruim o
suficiente que você tenha tentado arrombar a minha porta.
Whip bufa. — Nós interrompemos? — Ele parece bastante
satisfeito com a ideia.
Ele ganha outro peteleco na orelha. Whip está prestes a dizer
algo quando a porta do elevador se abre e duas pessoas saem,
claramente discutindo.
— O fato de eu ter sorrido para a motorista do Uber e ter
desejado uma boa noite não significa que eu estava paquerando ela
— diz um cara grande e loiro, claramente Rye Peterson. A pura
perfeição de seus braços musculosos é suficiente para identificá-lo.
Existe um Tumblr “Braços do Rye Peterson” dedicado a eles.
A mulher com ele é Brenna. Assim como na noite da festa, seus
longos cabelos estão em um rabo de cavalo alto e elegante que ela
joga por cima do ombro. — O fato de você ter pego o número dela
faz de você um mentiroso.
Suas mãos levantam exasperadas. — O que eu deveria fazer?
Jogar de volta para ela? Então vou estar nas redes sociais como
Rye, o idiota que foi mau com uma mulher. E você sabe disso. —
Ele se inclina, ocupando o espaço dela. — Quero dizer, você é ou
não é minha relações públicas?
Brenna dá a ele um olhar frio. — Como sua relações públicas, eu
aconselho você a manter seu pau na calça.
O sorriso dele é sombrio. — Parece muito com ciúmes para mim,
Berry.
— Berry? — Whip repete, quebrando seu silêncio. — Você tem
um apelido carinhoso para ela?
Ambos congelam, Brenna ficando um tom de rosa framboesa. Eu
simpatizo. É péssima a que facilidade com que nós ruivas coramos.
Felix murmura no silêncio. Brenna alisa a saia e segue em nossa
direção, os saltos estalando no mármore. — Felix Tiberius, meu
homem. — Ela levanta o punho minúsculo dele e bate contra a
palma da sua mão.
John se afasta da porta. — Podemos levar todo o drama para
dentro, por favor?
— Sem drama — garante Brenna. — Apenas lidando com a
cabeça grande de alguém.
— De que cabeça você está falando? — Rye diz com desdém.
— Porque eu tenho duas cabeças, querida, e ambas são grandes.
— Não foi isso o que eu ouvi — Brenna canta enquanto todos
entram na cobertura.
— Cadê Sophie? — John pergunta, cortando os protestos de
Rye.
— Saiu com a mãe dela. — Scottie vai até o aparador
Biedermeier, que serve como um bar. — Ela envia suas desculpas.
Antes que John possa fechar a porta, o elevador apita
novamente e uma mulher bonita com cabelos azul-prateado sai. Ela
parece uma pin-up dos anos 40, mas está vestida de macacão azul
e tênis all star vermelho e está segurando uma grande embalagem
de comida. — Liberdade! — ela grita com a melhor imitação de
Coração Valente, a mão erguida em vitória.
Pelo jeito que Scottie e Felix sorriem para ela, suponho que é
Sophie.
John lhe dá um beijo de “Olá” na bochecha. — Graças a Cristo.
Não quero lidar com Scottie ficando de mau humor, porque você não
está aqui.
Scottie bufa. — Por isso, eu ainda vou ser um idiota mau-
humorado para você. — Mas para Sophie ele sorri. — Darling8, seus
homens sentiram sua falta. — Felix grita de acordo.
— Meus meninos bonitos — Sophie murmura, sufocando-os com
beijinhos. Nenhum dos homens parecem se importar. Na verdade,
os dois ronronam sob seus cuidados. Ela se vira para John. — Eu
sei que você tem o jantar garantido, então eu trouxe um pouco de
bibingka para a sobremesa. — Suas palavras desaparecem e seus
olhos se arregalam com algum tipo de choque interno. — Santo
inferno, estou virando a minha mãe. Rápido, alguém pega essa
maldita comida e faz um exorcismo!
John ri. — Tarde demais, o estrago está feito.
— Ah, cale essa boca malvada. — Ela golpeia o braço dele e
depois se vira para mim com um sorriso. — Ei, sou a Sophie. Ouvi
coisas boas sobre você.
— Sério? — Sai em um guincho embaraçoso.
— Ah, sim. Gabriel disse que você está deixando Jax louco. —
Ela praticamente sorri. — O que é uma coisa maravilhosa.
— Darling, — Scottie interrompe suavemente, — deixe Jax em
paz. Ele terá um ataque e nunca iremos comer.
— Cuidado, Stells — John murmura. — Aparentemente, eu vou
ter um ataque em breve.
— Pelo menos sei que te deixo louco.
— Você já sabia disso, Bonita.
Verdade.
Ele fecha a porta e eu me aproximo dele. — Quem é Maddy?
O olhar extremamente carinhoso em seus olhos meio que me faz
querer gritar. Especialmente porque é claro que ele sabe que estou
com ciúmes. — Maddy, minha querida e doce Stella, é nossa vizinha
de 74 anos, que gentilmente me deixa entrar em sua casa às vezes,
quando me sinto sozinho.
Eu o encaro com um cervo atordoado por um segundo antes que
meu corpo ceda. — Ah.
Ele é presunçoso como o inferno e tem todo o direito de ser. —
No entanto, eu meio que amo o rosnado ciumento que você fez.
— Eu não rosnei. — Torço o nariz quando ele me olha. Ok, eu
posso ter rosnado. — Maddy é a Sra. Goldman? — Qual é o
primeiro nome dela? Madeline? Tem que ser ela. Embora eu não
consiga imaginar chamá-la de Maddy.
John confirma com um aceno de cabeça. — Você a conheceu?
— Almoçamos juntas. Ela tentou bancar a casamenteira com a
gente.
— Sério? — Ele parece satisfeito. — Bem, isso prova que ela
tem muito bom gosto.
— Não deixe o ego aumentar a sua cabeça, John. Você ainda
precisa passar pelas portas.
Sorrindo, ele toca meu nariz enrugado com carinho. — Eu estava
falando sobre o gosto dela em relação a você.
Gah. Ele vai me matar com o seu charme. Eles vão me encontrar
em uma poça de luxúria com apenas minha calcinha flutuando nela.
— Ei — Rye nos chama, — parem de olhar um para o outro com
os olhos brilhando, e vamos cozinhar. Estou com fome.
A boca de John se torce. — Lição número um quando se trata
dos meus rapazes: Rye é um idiota.
— Eu ouvi isso!
— Eu queria que você ouvisse! — Balançando a cabeça e rindo
silenciosamente, John pega minha mão e me leva para a cozinha.
E é aí que percebo que vou jantar com três de quatro integrantes
do Kill John. Mais importante, estou com os amigos mais próximos
de John. De repente, estou nervosa.

S a conhecer a maioria da minha família.


Minha verdadeira família, é isso. Tenho pais, avós, tias e tios. Nem
um deles me reconhece mais. Eu sou uma vergonha. Primeiro, por
ser um roqueiro. Segundo, por expor publicamente meus
“problemas” de saúde mental. Para eles, o decoro supera tudo. Não
se gira em um palco, cantando canções sobre foder. E
definitivamente não se tenta tirar a própria vida de maneira pública.
Aparentemente, você faz essa merda atrás de portas fechadas e
espera que a família a encubra adequadamente.
Minha família se orgulha do sangue azul e espera que cada
membro se comporte de acordo. Acho isso irônico como o inferno, já
que conheci a Rainha da Inglaterra, saí com os dois jovens
príncipes e, geralmente, estou mais familiarizado com eventos
patrocinados pelo Palácio Real do que qualquer membro da minha
estimada família. Talvez seja esse o problema – eu consegui nos
meus próprios termos.
Seja qual for o caso, além de Killian e Libby, as pessoas que
mais amo no mundo estão aqui agora. E Stella também. Enquanto
meu pau não está confortável e contente por ter sido interrompido e
minhas bolas doem ferozmente, fico feliz por Stella estar
encontrando meus amigos.
Rye enfia a bunda no sofá. — Eu não sinto cheiro de comida.
— Eu esqueci de cozinhar — confesso com um estremecimento.
Eu sou notoriamente esquecido e isso irrita as pessoas.
Whip bate uma mão no meu ombro e a aperta. — Você tinha
coisas melhores para fazer. — Ele assente na direção de Stella. —
Entendo, cara.
Eu não posso nem fingir que não era Stella me distraindo. Mas o
fato de ela corar na mesma cor do que um algodão doce rosa me
faz dar uma cotovelada no estômago de Whip. — Pare com isso.
Ele leva o golpe com uma risada e depois vai para a cozinha.
Brenna e Sophie seguem, e os três começam a vasculhar a
geladeira, encontrando as duas galinhas inteiras que eu comprei
para assar.
— Vamos começar esta refeição — diz Whip, ligando o forno.
Sophie e Scottie observam Felix enquanto o resto de nós faz o
jantar. Stella e eu estamos ao lado da pia descascando batatas,
nossos braços roçando de vez em quando. Toda vez que isso
acontece, olhamos um para o outro e Stella sorri timidamente. Isso
me faz querer beijá-la. Toda vez.
Estou tão ciente dessa mulher que não é engraçado. E
apaixonado. Ridiculamente apaixonado. É pior, agora que eu sei o
gosto dela, como ela parece contra a minha boca, debaixo das
minhas mãos. Ela é minha nova música favorita; eu quero tocá-la
repetidamente.
Com a preparação pronta, eu assumo a maior parte do
cozimento, principalmente porque sou o melhor nisso. Stella ri
enquanto Rye e Whip contam histórias sobre estar na estrada. E por
serem imbecis, a maioria das histórias gira em torno de meus
momentos mais embaraçosos.
— E a primeira entrevista para a Rolling Stone? — Brenna
interrompe prestativamente.
— Ah, puta merda. — Eu levanto uma mão em derrota.
O olhar de Stella se lança pela ilha da cozinha, pegando os
sorrisos malignos de todos. — O que aconteceu? — Ela está
claramente gostando da minha dor. Vadiazinha.
Brenna está praticamente tonta enquanto conta a história. — Foi
a primeira entrevista para a Rolling Stone do Kill John. Grande
momento, certo?
Stella assente, extasiada de antecipação.
— Jax e a repórter estavam flertando o tempo todo — diz Whip
enquanto corta um pouco de alecrim. — Foi nojento, na verdade.
— Só porque ela te ignorou — me sinto obrigado a dizer.
Sem pausa, ele me mostra o dedo do meio e continua sua
história. — Estávamos encerrando as coisas, e o Sr. Suave se
aproximou para pegar o número dela.
Balanço a cabeça, meu rosto quente.
Os olhos de Stella são grandes e azuis profundos. — Ele se deu
mal?
— É reconfortante saber que você acha a ideia chocante, Bonita
— eu brinco. — Mas não.
— Não — Whip concorda com uma risadinha. — Não
exatamente.
Rye está sorrindo enormemente, os olhos formando pequenos
triângulos azuis. — Ele estava lá, todo “Então, baby”, quando de
repente ele começa a balançar e a mexer a cabeça, com essa cara
estranha...
Nesse momento, todo mundo imita meu rosto, lábios apertados,
narinas queimando como se estivessem cheirando algo, e Stella
começa a rir. Todos eles riem. Eu faço uma careta com a memória.
Rye ainda está rindo enquanto fala. — E nós tipo, “que porra foi
essa, cara?” Mas Jax fingiu que nada aconteceu e tentou falar com
ela novamente.
— Só que ele começa a balançar de novo — diz Brenna,
fazendo uma imitação justa de mim.
— Maldito inferno — eu murmuro, os ecos daquela vergonha há
muito tempo zumbindo ao longo da minha pele.
— O que estava acontecendo? — Stella pergunta, olhando de
mim para meus amigos.
Eu não respondo. Whip consegue falar primeiro.
— Ele abre a boca uma última vez para falar quando, de repente,
engasga e tosse, engasgando pra caralho.
Rye está praticamente chorando de alegria. — E a repórter
estava recuando, parecendo realmente arrependida de que se deu
ao trabalho de conversar com esse retardado, mas perguntou se ele
estava bem. — Rye enxuga os olhos. — E Jax diz...
Todos os meus amigos traidores gritam juntos: — Eu... engoli...
um... inseto.
Todo mundo ri. E eu também, de má vontade. Foi péssimo, mas
foi engraçado. — O fodido mosquito gostou de mim. Estava me
perseguindo a entrevista inteira.
Rindo, Stella descansa a mão no meu antebraço, seu sorriso
brilhante, embora esteja claro que ela está lutando para não rir. —
Pobre bebê.
Tudo em mim aquece, minha atenção se concentra em onde ela
está me tocando. Duas horas atrás, eu pensava que ela não iria
querer me ver novamente. Fui sugado por um turbilhão de
pensamentos escuros e provocadores. Ela me puxou de volta para a
luz.
Quero me curvar, e encaixar seus lábios nos meus. Quero levá-
la para o quarto e aprender a topografia do seu corpo cheio de
curvas. Quero que meus amigos saiam daqui. Quero muito. Quero,
quero, quero.
Não que meus amigos faladores notem.
Rye ainda está falando. — A repórter olha para ele como se
pensasse que ele estava tentando ser engraçado e estivesse
falhando miseravelmente. Mas ela claramente queria dar uma
chance a ele. E ela disse: “Isso foi uma citação de Homem ao Mar?
É o meu filme favorito!”
Stella começa a rir. — Ela não fez isso.
Rye assente. — Jax ficou quieto por um segundo e depois
concordou, todo solene e sério, e disse a ela que também era seu
filme favorito. Foi tudo o que precisou. Seu lado legal foi restaurado.
— Esse é o poder do Jax — Brenna interrompe, revirando os
olhos.
Coloco a mão no meu peito. — O que posso dizer? Minha
conversa fiada é forte.
Felizmente, meus amigos não mencionam que eu liguei para a
repórter. E o tempo todo, ela ficava me pedindo para fazer citações
de Homem ao Mar. O que era lamentável, porque eu nunca vi o
filme. Estranho pra caralho.
Não me arrependo do meu passado. Não me arrependo de tratar
o sexo sem cuidado suficiente quando era mais jovem. No geral, eu
me diverti. Muito. Eu nunca vou ser o Santo John, mas agora eu
entendo porque Whip deixou o sexo casual de lado. Eu nunca fui eu
mesmo. Nunca tive nada real.
Infelizmente, aí está o cerne do meu problema. Eu quero sexo
com Stella. Eu a quero e só ela. Mas há perigos em me apegar. Me
tornar dependente de alguém é inaceitável. Não posso confiar nela
para me tirar do meu humor sombrio; tenho que fazer isso por mim
mesmo.
E não é uma troca justa. Stella pode me oferecer muito. O que
posso oferecer em troca? Orgasmos? Claro, isso é ótimo, mas sou
realista o suficiente para saber que ela pode conseguir em outro
lugar – não que não acabaria comigo se ela fizesse isso. Tenho
muita pouca privacidade, e qualquer mulher que estiver comigo terá
a sua invadida da mesma maneira. Talvez seja pior, já que muitos
idiotas gostam de destruir as mulheres que homens famosos amam.
Amor. Minha garganta fica seca e apertada.
— Cara, você está prestes a coalhar o molho — Scottie aponta
para o meu cotovelo.
— Certo. — Abaixo o fogo, adiciono mais caldo e tento me
concentrar.
Ele me dá um olhar de soslaio, seus lábios se arqueando, e eu
estou tentado a chutá-lo. Mas não chuto. Termino com uma
determinação obstinada. Apesar do meu melhor esforço, um ouvido
permanece sintonizado a Stella rindo com Sophie e Brenna
enquanto colocam a mesa. Enquanto Rye e Whip falam em meus
ouvidos sobre novas batidas, eu a vejo sorrir e corar com prazer
simples. Eu bebo minha cerveja e finjo que tudo está normal.
Mas quando nos sentamos para o assado de domingo, eu a
procuro, escolhendo a cadeira ao seu lado. Minha mão encontra o
caminho para a sua nuca macia e suave. Eu falo com meus amigos
e brinco com os fios sedosos de seus cabelos ruivos-dourado.
Felizmente, Stella me deixa, ficando muito quieta, como se tivesse
medo de que eu parasse.
Provavelmente não. Não quando finalmente posso tocá-la do
jeito que eu estava morrendo de vontade o tempo todo.
— Certo, então… — Scottie coloca seus talheres no prato vazio,
— Brenna e eu estivemos pensando.
— Ah, inferno — Whip murmura.
A boca de Rye torce em acordo silencioso. Não sei se eles estão
lamentando o horror que Scottie e Brenna estão tramando em geral.
Ou se é algo mais específico. Porque sou o único para quem Scottie
está olhando.
— Pensei que tivéssemos proibido vocês dois de usarem seus
poderes de Supergêmeos — eu digo, descansando meu braço nas
costas da cadeira de Stella.
O pequeno nariz de Brenna levanta com uma fungada. —
Somente quando usado para o mal.
Rye bufa. — Quando você está planejando, tudo é mau.
— Rápido, Scottie — diz ela, enquanto olha para Rye, — eu
preciso formar uma pistola de água gigante.
Scottie solta um suspiro de sofrimento antes de voltar seus olhos
para mim. — Eu odeio ser portador de más notícias...
— Não, você não odeia — diz Whip com descaramento.
— Mas há uma horda de imprensa acampada do lado de fora do
meu escritório — Scottie continua.
— Eu acho que eles deveriam ser chamados de bando — diz
Sophie, enquanto balança o pequeno Felix no braço. — Sabe, como
um bando de corvos?
Os lábios de Scottie se contraem. — Comparação adequada,
Darling. — Sua expressão volta à severidade. — Um bando da
imprensa se estabeleceu na entrada da famosa Kill John. O
escritório de Brenna está sendo massacrado com telefonemas.
Resisto ao desejo de me contorcer, e realmente não aprecio o
fato de ele estar trazendo isso na frente da Stella. Mas tudo que eu
mostro a eles é um sorriso sem graça. — Então diga “sem
comentários” e siga em frente.
Brenna faz uma careta enquanto imita o som de um peido. —
Não funciona, urso Jaxy. Este é uma daquelas situações precisamos
negociar e rapidamente.
Scottie descansa o antebraço sobre a mesa, na tentativa de
parecer casual, quando tudo o que sua postura passa é eficiência
nítida. — Hoje de manhã, recebi uma ligação de uma mulher
dizendo que você dormiu com ela na semana passada e ela tem
medo de ser infectada.
— Besteira. Não toquei em ninguém há meses... — As palavras
morrem no ar quando fecho a boca. Não quis admitir tudo isso.
Mas já foi e todo mundo está olhando para mim como se eu
tivesse duas cabeças.
— Bem — Brenna diz, com dificuldade, — isso é...
— Inesperado — Whip diz antes de tossir — mulherengo —
baixinho.
Eu o ignoro, depois olho Scottie. — A última mulher que toquei
foi… — Eu faço uma careta.
— Sra. Calcinha com DST? — Rye fala.
Sophie e Brenna dão petelecos em suas orelhas.
— Ei!
— Não a envergonhe assim — diz Sophie. — Não do jeito que
você festeja.
— Homens — diz Brenna.
Rye faz uma careta e esfrega as orelhas. — Podemos nos ater
ao problema de Jax?
Brenna lança um olhar repressivo para ele, mas depois fica
séria. — Estávamos pensando que se você estivesse em um
relacionamento… — Seu olhar se dirige para Stella. — Algo sério
que transmite você se acalmou.
Eu me levanto, minha mão deslizando da cadeira de Stella. —
Brenna...
Ela ignora o meu aviso. — Stella, eu sei que é muito perguntar...
O alarme corre pela minha espinha. — Espere um...
— Mas você consideraria agir como a namorada de Jax por
algumas semanas? Pagaríamos bem.
— Você está louca? — Eu grito, afastando-me da mesa. A
cadeira balança atrás de mim. — Acabei de me desculpar com
Stella por chamá-la de acompanhante, e você está pedindo que ela
interprete minha namorada de aluguel?
Eu estou tão irritado. Mal posso ver direito. — Porra, caralho...
eu não sou uma panela quebrada que você precisa colar
novamente. Você não me conserta. Você não tinha o direito de pisar
aqui e ...
— John. — Stella pega minha mão e a aperta. Pelo jeito que ela
diz meu nome, acho que ela me chamou algumas vezes.
A mesa inteira está em silêncio, meus amigos me encarando
com diferentes expressões de desconforto ou choque. Todos,
menos Stella, que me dá um sorriso fraco. — Está tudo bem — diz
ela. — Eu sei que isso não foi ideia sua.
— Pode apostar que não foi — eu estalo, ainda abalado, então
solto um suspiro. — Bonita, me desculpe.
Ela balança a cabeça. — Não precisa. Eles estão apenas
tentando ajudar. — Ela ainda está segurando minha mão, e eu enfio
meus dedos nos dela enquanto me sento. Stella olha para o rosto
sombrio de Scottie e para uma Brenna irritada. — Eu posso fazer
isso.
— Não — eu interrompi, mal mantendo minha voz nivelada. —
Absolutamente não.
— Por que não? — Os olhos de Stella se estreitam. — Você
precisa de uma namorada. Eu sou profissional. Nós dois sabemos
disso.
É um chute no rabo, honestamente. Embora parte de mim queira
rir – afinal, eu tentei contratá-la há menos de uma semana. Só que
eu particularmente não acho isso engraçado. Isso dói.
— Nos dê licença por um momento — digo aos meus amigos,
meus olhos em Stella. Seguro a mão dela com firmeza e a conduzo
para o terraço. Ela caminha atrás de mim, obviamente esperando
uma briga. Ainda bem, já que ela vai conseguir uma.
CAPÍTULO DEZESSETE

STELLA

J em um temperamento explosivo é uma visão. Pelo o que sei


dele, ou ele é o roqueiro descontraído do tipo “se você fez você fez”
ou, se ele estiver de mau humor, é um idiota. Mas isso é diferente.
Seu corpo magro está praticamente vibrando, todos aqueles
músculos tensos esticados com força e destacando-se contra sua
pele dourada enquanto ele caminha para o terraço e se vira para
mim.
Fogo verde ilumina seus olhos. — Que diabos, Stella?
A falta de um apelido parece uma punição. E quão confuso é
isso? Fecho a porta de vidro porque não estou tendo essa conversa
com os seus amigos ouvindo. — Por que você é contra? Não faz
uma semana, você queria a mesma coisa que eles estão me
pedindo.
Vermelho cobre suas bochechas. — Eu admiti que era uma coisa
estúpida e idiota para se sugerir. — Ele dá um passo agitado na
minha direção. — O que eu não consigo entender é por que você
concorda agora quando isso claramente te incomodou antes.
Eu dou de ombros. — Você não precisava de mim antes. Mas
precisa agora.
— Você está errada se acha que eu não precisava antes.
O olhar em seus olhos, faz meu pulso disparar. — Mas não quer
agora? Agora, quando você precisa ser visto com uma namorada.
Eu não te entendo.
Como ele não consegue entender que eu quero ajudá-lo? De
todas as pessoas na minha vida, ele é o que eu mais quero ajudar.
E ele não deixa.
John passa a mão pelos cabelos. — Eu não quero ser outro
idiota que usa seus serviços.
— Eles não são idiotas, John. É o meu trabalho. Um que eu
gosto. — Ou gostava. Agora, eu não tenho tanta certeza.
Ele franze a testa para o horizonte. — Talvez eles não sejam no
começo. Mas quem quer manter a amizade e o pagamento? — Seu
olhar colide com o meu. — Você estava certa, você merece mais.
Não se esqueça disso.
— Eu não estou esquecendo — eu digo, levantando a mão em
frustração. — Você precisa ser visto constantemente com alguém.
Eu posso fazer isso por você.
— Você pode? — Ele estala, suas narinas dilatando.
— Sim — retruco. — De novo, qual é o seu problema?
Ele dá outro passo. — Duas horas atrás, eu tinha seus peitos na
minha mão e minha língua na sua garganta...
— Elegante, John — eu interrompo, corando intensamente.
— E foi perfeito — ele recua. — A melhor sensação que tive em
tanto tempo, não consigo lembrar de nada melhor.
Meus joelhos ficam fracos, uma respiração me deixa em um
suave — Ah.
— Sim, “ah” — diz ele secamente, as sobrancelhas se abaixando
sobre os olhos raivosos. — E eu estava pensando, finalmente.
Finalmente consegui provar e tocar a garota que eu não consigo
parar de pensar, e então o que acontece? Ela e meus amigos bem-
intencionados, mas irritantes, concordam que ela deveria ser minha
namorada falsa.
Ele me dá um olhar frio e percebo que não é raiva que está
mostrando, ele está magoado. Instantaneamente, me sinto pequena
e horrível. — Merda — eu sussurro, olhando para ele.
Sua boca torce amargamente, mas ele não diz nada.
— John. — Engulo em seco. — Me desculpe.
Dou um passo em direção a ele, mas ele foge de mim, me dando
suas costas enquanto olha a cidade. — Esqueça. Não é grande
coisa.
— Sim, claro que é.
John se vira. — Sim, claro que é — ele concorda, caminhando
em minha direção.
Antes que eu possa me mover, ele está me pegando com uma
facilidade chocante, suas grandes mãos segurando minha bunda.
Automaticamente, minhas pernas envolvem sua cintura, minhas
mãos segurando seus ombros. Com dois passos, ele me coloca
contra uma parede, seu corpo longo e firme pressionando o meu.
— Não foi real o suficiente para você? — Ele diz contra a minha
boca, nossos lábios mal se tocando. Minhas pálpebras tremem. Seu
hálito é quente e perfumado com o vinho que ele bebeu. — Você
não sentiu o quanto eu te queria?
Eu sinto agora, uma presença dura e grossa cutucando o meu
sexo. Minhas coxas se apertam, e ele sente isso também. Um som
áspero lhe escapa, e não há mais conversa. Seu beijo é rápido,
brutal, desesperado, ganancioso. Nossos lábios pressionam um
contra o outro, moldando, beliscando, sugando. Sua língua é um
deslizamento suave e liso sobre a minha. Uma varredura e um
mergulho, mais profundo, acariciando, tomando. Isso me inflama,
me faz gemer e choramingar, querendo mais dele.
John balança contra mim enquanto nossas bocas fodem, suas
mãos apertando minha bunda mais forte. E eu estou tonta, ainda
muito malditamente pesada com a necessidade que me sinto fraca.
Quando ele se afasta, minha boca persegue a dele, meus lábios
inchados e molhados. Mas ele abaixa a cabeça e chupa meu
pescoço, puxando a pele sensível.
— Eu não quero falso, Stella. — Sua boca toca o topo da minha
orelha. — Não quero pagar por isso. Não quero fingir.
Minhas mãos estão em seus cabelos sedosos e bagunçados.
Meus quadris roçam naquele seu adorável pau duro. — Você pode
ter o que quiser. — Estou ofegando agora, meus mamilos apertados
e doloridos. — Qualquer coisa.
John para. A ponta de sua língua toca levemente um ponto no
meu pescoço que me faz ceder. Ele pressiona um beijo suave antes
de levantar a cabeça. Nas sombras, seus olhos brilham. — Fique
comigo. Vamos nos apaixonar juntos, Bonita.
Apaixonar. Desenvolver sentimentos de verdade. Eu posso me
sentir fazendo isso, aquele mergulho rápido, sem nada para segurar.
Nada para me salvar. É assustador como o inferno. Pelo olhar de
John, ele sabe, também teme. Mas ele quer assim mesmo.
— Você disse que não iria se apaixonar.
Seu olhar se move sobre o meu rosto antes de encontrar meus
olhos. — Te deixei naquela noite porque sabia que se pudesse me
apaixonar por alguém, seria por você. — John descansa a testa na
minha e suas pálpebras abaixam. — Eu nunca me apaixonei. A
ideia me assusta pra caralho, e eu continuo me lembrando de todas
as razões pelas quais não devemos ficar juntos. Mas quando eu
realmente sou confrontado com a ideia de ir embora? Depois do que
fizemos no sofá? Não. — Ele balança a cabeça. — Porra, não. Eu
não posso fazer isso. Eu quero tentar com você.
Já superei esse precipício. — Ok.
Seu corpo endurece por um segundo, e então ele sorri. É como o
sol derretendo o gelo, brilhante e quente e me iluminando. Nesse
momento, ele é incandescente e eu recupero o fôlego. Ele me rouba
um beijo rápido e profundo que sinto nos dedos dos pés. Eu
choramingo, abrindo minha boca para mais.
John me dá isso, beijando e beijando como se eu fosse sua
droga preferida. Então ele se afasta com um gemido de dor. —
Merda, você me tenta.
— Bom — eu ofego contra seu pescoço, me aninhando lá. — Me
leva para a cama.
Ele encosta a bochecha na minha, seu corpo estremecendo. —
Não posso.
Meus dedos deslizam para o peito dele. Deus, ele tem um belo
peito. Firme, definido. Eu quero lambê-lo. — Diga a seus amigos
para irem embora e você vai poder.
John ri, e as vibrações fazem cócegas na minha pele super
sensível. — Não, baby. — Com um suspiro, ele dá um passo para
trás e cuidadosamente me coloca em pé. Estou vacilante e de
joelhos fracos. Mas ele segura meus braços, me dando um sorriso
que é parte puro calor masculino satisfeito e parte doloroso
arrependimento. — Nós vamos fazer isso direito. Vou te conquistar.
Meus dedos se enrolam em seus bíceps duros. — Me considere
conquistada.
Ele dá uma risada trêmula. — Eu quis dizer encontros. Levar as
coisas devagar.
Dado que meu sexo está úmido e latejando, a ideia de ir
“devagar” soa como uma tortura. — Por quê?
Sua mão vem para tocar minha bochecha, e a ponta áspera do
seu polegar acaricia meu lábio inferior inchado. — Chame de
egoísmo, mas quero toda a experiência do namoro, a antecipação
de ter que trabalhar até o sexo e te conhecer melhor. Porque você é
importante demais para se transformar em algo tão simples quanto
o sexo casual. Não quero te perder por isso.
Meu batimento cardíaco está na minha garganta, meu peito com
uma dor oca. Ele olha para mim como se visse tudo. Como se
soubesse exatamente como é estar sozinho quando está cercado
de pessoas. Eu acho que ele sabe melhor do que eu. Sua voz é
como mel quente no escuro. — Sempre foram as outras pessoas
querendo que você as agradasse. Me deixe te dar algo mais. Algo
verdadeiro.
— John… — Eu não sei quem se move primeiro. Talvez nós
dois.
Ele me envolve em seus braços, sua mão segurando minha
cabeça em seu peito, onde seu coração bate forte. — Eu não sei
onde isso vai dar, ou se eu vou ser bom nisso, mas quero estar
nessa estrada com você.
Eu soltei uma risada suave. — Ah, você será bom nisso. Você já
é.
Ficamos ali em silêncio, abraçados um ao outro. Minhas mãos
encontram o caminho sob sua camisa para sua pele quente, e ele
treme. Sorrindo, eu pressiono ainda mais contra ele. — Ok, mas
nada de sexo? — Inclino minha cabeça para trás para encontrar
seus olhos. — Meu cérebro pode aceitar que seja uma boa ideia,
mas minha vagina é um pouco atrevida. Ela vai fazer beicinho se for
ignorada.
John começa a rir, seu peito roçando o meu. — Deus, eu gosto
de você.
A admiração em sua voz me fez cutucar sua lateral. — Você não
precisa parecer tão surpreso.
— Mas eu estou — ele diz com sinceridade. Ele descansa o
queixo levemente na minha cabeça. — A última garota que eu
realmente gostei foi Pippa Hicks no sexto ano. Doce menina. Ela me
deixou olhar embaixo da sua saia.
Eu bufo. — Típico.
Risos preenchem sua voz. — Ela também me deu as respostas
para a nossa cartilha de matemática.
Meu sorriso pressiona seu peito enquanto escondo minhas
bochechas em chamas. — Ah, bem, essa é uma história
completamente diferente. — Sua pele é lisa e quente sob as pontas
dos meus dedos. — Eu também gosto de você.
— Bom. — Ele olha para mim e um sorriso se espalha sobre sua
boca. — Não se preocupe. Vou prestar a devida atenção à sua doce
boceta. — Com um grito, ele se afasta, escapando dos meus
beliscões e rindo. — Ela pode não receber o serviço completo no
começo, mas vou mantê-la satisfeita.
Eu o belisco novamente, e ele continua rindo, me envolvendo
para que meus braços fiquem presos entre nós. Sua risada morre.
— E nos beijamos. — Seu olhar desce para a minha boca, todo
quente e ganancioso. — Muito.
— Muito — eu respondo atordoada.
Sua expressão está atordoada também. — Beijar você se tornou
minha coisa favorita.
Meus lábios ainda estão inchados e sensíveis. Estou
completamente de acordo com esse plano, embora acho que não
vai funcionar como ele pretende. — Você já namorou uma garota
antes, John? Namorou sem sexo?
Uma pequena ruga se forma entre as sobrancelhas. — Não. Por
quê?
Eu sorrio, minhas mãos cerradas abrindo e pressionando a
parede firme de seu peito. — Estou pensando que você está prestes
a ser mais tentado do que imagina.
Os olhos de John brilham com diversão. — Eu não vou
desmoronar, Bonita.
— Veremos.
CAPÍTULO DEZOITO

JOHN

E com a letra de “Suddenly Stella” tropeçando no meu


cérebro. Como a maioria dos meus melhores trabalhos, a música
não é planejada, ela simplesmente aparece e se instala em minha
mente. Escrevo vários versos enquanto tomo meu chá da manhã,
depois saio para encontrar minha musa.
Ela me cumprimenta com um sorriso, seus cabelos brilhando
como um pôr do sol em torno de seu lindo rosto. — Você tomou café
da manhã?
— Apenas uma xícara de chá.
Ela passa o braço pelo meu. — Vamos lá então, inglês em Nova
York.
— Onde estamos indo? — Hoje, Stella está me mostrando um
pouco do seu mundo. Eu admito, estou curioso como o inferno.
Claro, parece que esbarramos um no outro em um ritmo alarmante,
mas não sei tudo o que ela faz. Eu não sei como ela vê a vida. Eu
só olhei para o mundo através dos meus próprios olhos. Nunca me
importou em fazer mais... até Stella.
— Em todo lugar — diz ela.
Logo se torna aparente que Stella simplesmente não mora em
Manhattan, ela é parte do distrito. Eu vivi indo e vindo dessa ilha a
minha vida inteira, mas nunca a habitei como Stella. Primeiro, todo
mundo a conhece. Entramos em uma loja de bagels e dois caras
atrás do balcão imediatamente gritam — Stella! — como um casal
apaixonado de Marlon Brando.
Ela os cumprimenta, atrevida como sempre. — Tony. Murray.
Vocês parecem bem, rapazes.
Na verdade, eles parecem anúncios ambulantes de cera de
bigode ou porta-vozes de cervejas artesanais modernas, do tipo que
tem gosto de chocolate e bagas de acácia ou alguma merda
exigente.
Tony, um italiano musculoso com bigode de morsa, faz uma
serenata para ela com uma versão realmente horrível de “There She
Goes”, do The La's, enquanto Stella se encolhe e ri. O lugar está
lotado e, enquanto esperamos a nossa vez, as pessoas olham para
Stella, claramente se perguntando quem ela é. Estou bem ao seu
lado, e nenhuma pessoa olha na minha direção. É foda demais.
Chegamos ao balcão e Murray, de barba espessa, pergunta se
ela quer o de sempre.
Stella olha para mim. — Você tem um pedido em mente?
— Qual é o de sempre?
Seu sorriso é tímido. — Vai ter que esperar para ver se escolhe
esse.
Na pior das hipóteses, vou odiar e ter que encontrar outra coisa
para comer mais tarde. Mas, considerando nossos gostos
estranhamente semelhantes, duvido disso. — Vou pegar o mesmo
que você.
— Dois, Marco. E café. — Outro olhar para mim e eu aceno. —
Faça três cafés.
Murray balança a cabeça em resignação. — Você é muito boa,
garota.
— Uma eterna santa — ela fala, mas não parece ofendida.
— Três? — Eu murmuro enquanto Murray sai para pegar o
pedido dela. — Você está com sede?
— O terceiro não é para nós — diz ela antes de Tony vir para
uma longa conversa. Ele conta a ela sobre sua esposa, Glory, que
está tendo seu segundo filho a qualquer momento. Ele aperta minha
mão quando Stella me apresenta como seu amigo John. E então ele
volta a perguntar se ela gostou da sua receita para o minestrone.
— Aposto que não é tão bom quanto a minha receita de bolo de
maçã — diz Murray, entregando nosso pedido. Enquanto Stella lida
com o café, pego a sacola com a comida e pago. Ela me lança um
olhar repressivo que respondo com um encolher de ombros. Fui
criado para pagar pelo meu encontro. Eu não tenho certeza se isso
é sexista, já que eu também faria isso se gostasse de homens.
— Eles se complementam — diz ela diplomaticamente. — Sopa
para o jantar. Bolo para a sobremesa.
Eles estão ocupados demais para continuar conversando e nos
dão um aceno de adeus.
— Podemos comer no Union Square Park — ela diz do lado de
fora. — É a dois quarteirões de distância.
— Você vai me dizer qual é o seu pedido habitual?
Ela sorri largamente. — Um bagel completo com cream cheese
de ervas e salmão defumado.
Meu passo vacila. — Stells, nosso hálito vai assustar as
pessoas.
Uma leve risada a escapa. — Ainda bem que não vamos fazer
sexo.
Eu olho de soslaio para ela. — Beijar, no entanto, foi uma
atividade acordada, Stella. Esteja preparada. Vou enfrentar o alho.
Na entrada da Union Square, ela para ao lado de um velho que
está ocupado cobrindo a calçada com giz. O cara é bom, suas
imagens são exuberantes com cores vivas. Há algumas
reproduções altamente detalhadas de antigos mestres – Leonardo,
Michelangelo e, ao lado deles, um Elvis usando strass e um James
Dean rabugento.
O artista olha para cima e dá a Stella um sorriso cheio de dentes.
— Star Girl.
— Ramon. Pensei que você poderia gostar de um pouco de
cafeína. — Ela entrega uma xícara de café a ele.
— Você é um anjo — diz ele antes de tomar um gole.
— Eu pensei que era uma Star Girl — diz ela.
— Todas as Star Girls são anjos — insiste Ramon. — Eu vou
fazer o seu retrato agora.
—Eu voltarei mais tarde e verei — ela promete.
Com um aceno de cabeça, partimos novamente.
— Esse cara é bom — digo a ela.
— Ele é. — Uma ruga se junta entre as suas sobrancelhas. —
Mas ele está em seu próprio mundo. Às vezes está lúcido, às vezes
não. Ele esquece de cuidar de si mesmo, então as pessoas da
vizinhança o ajudam quando podem.
Não apenas pessoas – Stella.
— Você realmente cuida de todos, não é? — A admiro pra
caralho por isso.
Mas ela claramente não gosta da atenção. Sua carranca cresce
enquanto as bochechas ficam rosadas. — Não é... eu só… ninguém
cuidou de mim, a menos que eu pedisse, e eu lembro como me
senti. Se eu vejo alguém que precisa de ajuda, eu apenas... ajo.
Eu passo meu braço em volta de seus ombros e pressiono um
beijo no topo de sua cabeça. — É o que te faz uma Star Girl.
Nós comemos em um banco sob as árvores. Nossos bagels
ainda estão quentes e macios. — Isso é ridiculamente bom — digo
de boca cheia. — Alho pra caralho, mas é bom.
Seus olhos brilham, suas bochechas recheadas de comida a faz
parecer um esquilo. — Eu te disse.
Ela engole, lambendo um pouco de cream cheese dos lábios e
sorri como uma criança no verão. Eu me inclino sobre a bagunça de
xícaras de café e sanduíches e a beijo. Um grito de protesto vibra
contra meus lábios e eu sorrio, sem me afastar.
— John — ela protesta novamente, com a boca na minha, —
estou fedendo.
— Eu te avisei. — Mordo o seu lábio inferior e depois o chupo. —
Um pouco de alho não vai me impedir.
Ela não fede, no entanto. Talvez seja esse velho ditado que diz
que as pessoas que comem a mesma coisa não percebem. Ou
talvez eu só queira beijá-la mais do que qualquer coisa. Mas ela
simplesmente tem gosto de Stella, doce amanteigado como
caramelo na minha língua. Sua boca amolece e ela se inclina para
mim, seus dedos segurando meu ombro, traçando a borda da minha
gola. Sinto aquele toque na base da minha espinha.
Nós nos beijamos sob o sol, nossos lábios conhecendo um ao
outro. Estranhamente, nós dois estamos meio que rindo, entre
beijos. Eu nem percebo que estamos balançando até quase
cairmos.
Meu braço dispara para nos apoiar, enquanto o outro envolve o
ombro de Stella para puxá-la contra mim. Ela ri, e eu pressiono
meus lábios em sua boca sorridente uma última vez. — Você me
deixa tonto, Star Girl.
Olhos azuis brilham para mim. — É Senhora das Estrelas para
você.
— Não mexa com meus ídolos da Marvel, Bonita. Seria todo tipo
de erro associar você ao Peter Quill. Algumas coisas são sagradas.
Stella balança a cabeça com diversão, mas então sua atenção
se volta para o parque ao redor e ela se senta um pouco mais ereta.
— Você me faz esquecer onde estou.
Ela não cora, mas seus ombros se curvam um pouco como se
ela estivesse tentando se tornar menor, e me ocorre que ela está
envergonhada. Embora eu realmente queira, não a toco novamente.
— Você não gosta de demonstrações públicas de afeto?
Sua boca se torce. — Não tenho certeza. — Ela balança a
cabeça levemente, mordendo o canto do lábio. — Eu nunca fiz isso
antes. Você já?
Demonstrações públicas? Sim. Muitos dos meus encontros
sexuais foram em lugares públicos. Boquetes na sala da after-party,
rapidinhas no corredor, sexo em grupo em suítes de hotel. Eu mudo
no meu assento, o banco de madeira de repente muito
desconfortável. Não tenho exatamente vergonha do que fiz no
passado. Mas equiparar isso ao que estou fazendo com Stella
parece errado.
Ela está me observando atentamente, e seu sorriso fica torto. —
Pela expressão em seu rosto, eu acho que você fez.
Eu limpo minha garganta. — Na verdade, não. — Quando sua
sobrancelha se torce em descrença, eu seguro seu olhar com o
meu. — Nunca houve qualquer carinho envolvido antes.
Engraçado como isso torna mais difícil de suportar. Para nós
dois, aparentemente. Porque ambos olhamos ao redor, cada um de
nós de repente se interessa demais pelo que está acontecendo no
parque. Tomo um apressado gole do meu café. Tem um creme
branco e plano e está quente demais para beber rapidamente. A
ponta da minha língua dói no silêncio que se segue.
Stella dá outra mordida no seu sanduíche, então me olha
pensativamente. — Eu gosto de beijar você. Em privado ou em
público, não importa.
O calor se espalha sobre o meu peito em um derramamento
lento, e eu sorrio.
— Mas tenho limites quando se trata de apalpar os meus seios.
É divertido quando estamos em privado — ela termina com uma
praticidade brusca que me faz rir.
— Anotado.
Terminamos a comida e Stella me leva em uma caminhada pela
Broadway até o SoHo. Mais uma vez, experimento o estranho
fenômeno de não ser reconhecido, e não acho que seja devido ao
boné que uso baixo na testa. É Stella, que brilha como uma estrela.
Os lojistas a conhecem, os caras que vendem relógios na esquina a
conhecem. Um homem chamado Amin joga para ela uma garrafa de
água gelada quando passamos pelo seu armazém. Ele não aceita
um pagamento. Afinal, Stella o ajudou a encontrar seu gato
desaparecido um dia.
— Esqueça Star Girl, você é a Rainha de Manhattan — digo
depois que ela toma um gole da sua água.
Stella bufa. — Se você mora em um lugar por tempo suficiente,
começa a conhecer as pessoas.
— Acho que não. — Balanço a cabeça, observando as
salpicadas sardas cor de canela pelo nariz, o jeito como seus
brilhantes cachos refletem a cada passo que ela dá. Como posso
não escrever uma música sobre ela? Ela é poesia feita de carne e
osso. — Eu vivi indo e voltando daqui a minha vida inteira e não
conheço ninguém do jeito que você conhece.
— Você conhece o Sam.
— Que vende guitarras. Não interajo com ninguém fora do ramo
da música. — Olho para ela, não querendo ver pena em seus olhos.
Mas ela simplesmente caminha, sua expressão pensativa, e tento
me explicar melhor.
— Não é que eu não goste das pessoas. Encontro centenas
delas em um determinado ano. Eu nunca fui particularmente capaz
de iniciar uma conversa. — É um maldito milagre que eu não pude
deixar de provocar Stella todas aquelas vezes.
— Você é um introvertido que também é uma estrela do rock. —
Um sorriso brilha em seus olhos. — É isso aí. Você ganha vida
durante suas apresentações, mas quando acaba, você quer o seu
tempo sozinho.
Penso nisso por um segundo e bufo. — É verdade. Deus, que
profissão para um introvertido escolher.
— Você escolheria outra coisa se pudesse? — Ela parece
genuinamente interessada.
— Não. — Nem hesito. — Eu amo isso. Mesmo com todas as
armadilhas, eu amo com tudo o que tenho. — Nossas mãos se
encontram e eu enfio meus dedos nos dela. — Eu sinto saudades
de me divertir durante as apresentações, no entanto. A simples
alegria em fazer música. Todos os caras a perderam quando eu... —
Eu respiro lentamente. — De qualquer forma, foi como se
tivéssemos pulado uma faixa do disco, nos tirando do ritmo. Mas
eles a conseguiram de volta. Exceto eu.
Seus olhos azuis nublam-se. — O que você quer dizer?
— Estou fingindo nesses dias, Stells. Eu subo naquele palco e
sinto que sou um eco. Como se estivesse vivendo a experiência de
longe. Às vezes, penso naqueles primeiros dias em que tínhamos
que convencer o dono de um bar a nos deixar tocar e então
ficarmos malditamente agradecidos quando alguém finalmente
concordasse. — Minha boca se torce com as memórias antigas. —
Quando éramos bem novos e realmente terríveis, havia momentos
em que íamos tocar na calçada, apenas para que alguém que não
fosse nossos amigos pudesse nos ouvir. Eu estava esperançoso
naquela época. A música era o meu ar, não a água se erguendo
sobre mim.
Não sei por que estou descarregando nela, só que é bom
conversar com alguém de fora da banda, alguém que não estou
pagando para me ouvir. Percebo que Stella é a única relação
verdadeira que tive com alguém na minha vida adulta que é
exclusivamente minha. Não sei se é fodido ou estamos todos
vivemos nessas bolhas sociais isoladas, mas eu gosto disso. Eu
olho para ela agora, não encontro piedade, apenas reconhecimento.
— Quero respirar livremente de novo, Bonita. Faz algum
sentido?
Seu nariz enruga quando ela observa a nossa frente,
contemplando. — Acho que em algum momento, todos começamos
a sentir a água nos cercando. Todos queremos o ar.
— Você está sufocando também? — Eu pergunto baixinho.
Distraidamente, ela assente. — Em alguns dias. — Uma rajada
de vento sopra pela avenida, jogando o ar dela sobre o rosto, e
percebo que estamos parados enquanto as pessoas na calçada
passam correndo, fluindo ao nosso redor como se fossemos pedras
em um rio.
Stella coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Quando
foi a última vez que você se apresentou apenas pela música?
— Quando toquei para você na loja do Sam. — Não terminou
exatamente bem, e nós dois sabemos disso.
Ela cantarola pensativamente. — Acho que você precisa fazer
isso de novo. Vamos lá.
— Espere, onde? — Há uma luz em seus olhos; ela está
planejando algo. Algo estilo Stella.
Ela aperta minha mão. — Você vai ver.
— A última vez que ouvi essas palavras com esse tom, Rye nos
embebedou e nos convenceu de que era uma ótima ideia raspar
nossos pentelhos.
Stella erra um passo, quase tropeçando no meio-fio. Eu a puxo
contra mim, envolvendo meu braço em volta da sua cintura. Ela ri de
mim, o som curto e chocado. — Tirou tudo?
— Sim. Coçou como a porra enquanto crescia. — Eu resmungo,
lutando contra um sorriso. Eu poderia culpar a ignorância da
juventude, mas foi apenas três anos atrás.
— Bem-vindo ao mundo dos problemas femininos — diz Stella.
— Fale comigo depois de experimentar a depilação brasileira.
É a minha vez de quase tropeçar.
— Pare de ficar boquiaberto como um peixe — ela diz com outra
risada. — Vamos lá, temos que ir.
— Espere. Podemos falar sobre suas aventuras na depilação?
Ou talvez me dê um resumo sobre que você está fazendo hoje em
dia?
Infelizmente, ela continua andando, me deixando para segui-lá.

A no Battery Park e, quando Stella para perto de um


grupo de jovens músicos esfarrapados tocando, eu começo a
entender. E dou um grande passo para trás. — Não. De jeito
nenhum, Bonita.
Seus olhos estão arregalados e inocentes. Uma excelente farsa.
— Você nem sabe o que vou dizer.
— Conheço sua mente maléfica melhor do que você pensa.
Você quer que eu toque com eles, não é?
Ela pisca, seus lábios se separando de surpresa. — Ok, você é
bom.
Eu bufo. — Como eu disse, eu te conheço.
Vermelho passa sobre suas bochechas. — Droga, que previsível.
— Como o inferno. Você me surpreende o tempo todo. Me
excita.
Ela cora um tom mais profundo de rosa, mas depois sacode
minha triste tentativa de distração e puxa minha manga com
renovada determinação. — Essas crianças estão aqui todo fim de
semana e nunca conseguem dinheiro.
— Porque eles são uma porcaria. — Quando ela me olha,
levanto uma mão. — Vamos lá, você tem ouvidos. Eles são
horríveis. Não adianta suavizar.
— Eu sei que eles são horríveis. Mas você não é.
— E o que? Eu devo ir até lá e dizer, ei, posso pegar seu
instrumento emprestado e te ofuscar com minhas habilidades
profissionais? — faço uma careta. — Vou parecer um completo
idiota.
O aperto de Stella no meu pulso é firme, como se ela pensasse
que eu vou virar e sair correndo. Eu poderia. Eu deveria. Mas é
meio fofo que ela pense que pode me segurar; vou colocá-la por
cima do ombro e levá-la comigo.
— Tudo bem — ela diz, — talvez seja uma ideia estúpida – não
concorde ainda. Me ouça.
— Não ia dizer nada — eu minto.
— Se você for até lá e se oferece para tocar com eles, talvez
cantar algumas músicas, você não tem ideia de como será.
— Eu tenho ideias — murmuro. — Nenhuma delas é boa.
— Mas você não sabe — diz ela enfaticamente. — Não é
planejado como os seus shows. Não é seguro. Você vai até lá e está
por conta própria, sem uma rede de apoio.
Eu estudo os adolescentes tocando. Eles estão tentando uma
canção Lincoln Park. É doloroso ouvir. Eles sabem tocar, mas não
de maneira coesa. Eles precisam de orientação. E cerca de dois
anos de prática.
— Eu não tenho ideia de como é ser uma lenda do rock — diz
ela em uma voz suave. — Eu pessoalmente não entendo as
pressões que você está sofrendo. Mas sei que algumas das
melhores experiências da vida acontecem quando você não está
seguro.
— Quando você não jogou pelo seguro? — Eu pergunto,
verdadeiramente curioso.
Ela olha para mim como se eu fosse estúpido. — Com você,
John.
Engulo em seco e depois aceno, sem saber o que dizer. Ela me
deixou mudo. Também não estou brincando com ela, mas me sinto
como um merda, porque parte de mim sabe que, pelo menos, ela
gosta de mim da mesma maneira que eu gosto dela. Estar com
Stella pode não ser exatamente um terreno seguro para mim, mas
não parece um risco. É assim que ela vê? Ela está aterrorizada?
Está esperando para ver o que eu vou fazer, sua mão ainda
segurando meu pulso. As pontas dos dedos dela pressionam contra
o meu pulso, certamente sentindo a batida agitada do meu coração.
O potencial para constrangimento é alto, mas esse é o ponto,
não é? Estou fazendo algo com a música que envolve me arriscar.
Quando foi a última vez que me senti dessa forma ao me
apresentar? Talvez aos dezoito anos, na verdade nem nessa época.
Eu tinha sido um bastardo arrogante, completamente seguro do meu
valor e do meu lugar no mundo. Killian costumava dizer que eu tinha
coragem e ousadia suficientes para tirar todos do esquecimento. No
entanto, Killian não hesitaria em fazer isso. Ele é o mais reservado
de nós dois, mas nunca teve medo falhar.
Mesmo quando no topo, eu tinha medo de cair.
Por um momento, não consigo respirar. Minha cabeça está
quente e muito pesada para aguentar. Então expiro e estou mais
leve. — Foda-se — eu murmuro, esfregando a parte de trás do meu
pescoço de onde a tensão fugiu.
Stella olha para mim. — Você vai fazer isso?
— Sim, baby, eu vou. — Dou a ela um beijo rápido, depois vou
em direção ao grupo, os nervos tamborilando pelas minhas veias,
coração batendo nas minhas costelas. Não sei se são nervos ou a
expectativa de fazer algo arriscado. Talvez ambos.
Existem três deles, todos rapazes. Todos vestindo jeans skinny e
tênis esfarrapados. Um é mais alto que eu e magro, seus cabelos
castanhos caindo nos olhos, sua barba irregular em alguns lugares.
O outro é bastante baixo, loiro, e já ostenta uma quantidade
impressionante de tatuagens ao longo de um braço. Embora ele
esteja vestido com as roupas mais esfarrapadas, conheço uma
criança que vem da riqueza quando a vejo. O último garoto, aquele
que segura um baixo com um aperto mortal, está na minha altura e
ostenta um moicano preto. Eu tinha o mesmo corte quando tinha
mais ou menos a idade dele. Eu já fui tão jovem? Deus, eu me sinto
velho.
Todos eles me observam com olhos arregalados enquanto eu
ando até eles.
— Ei, eu sou Jax. — Melhor usar o meu nome artístico; em
alguns minutos, não vai adiantar esconder quem eu sou.
— Nós sabemos quem você é — o loiro deixa escapar com
aspereza. — Quero dizer, não podemos acreditar, mas sabemos.
Nenhum deles pega a minha mão estendida e estou começando
a me sentir um idiota. Mas então o cara de barba desgrenhada
estica a mão e aperta a minha. — Jamie. Esse é Joe — ele diz
apontando para loiro boquiaberto. — E esse é Navid.
O cara com o moicano levanta a mão em um olá.
— Somos grandes fãs — diz Jamie.
— Acho que é um alívio — brinco. — Seria um pouco estranho
se vocês pensassem que sou um maluco.
Todos me olham como se eu fosse, de fato, um maluco. Eu limpo
minha garganta, forçando para baixo um calor desconfortável. — Eu
estava pensando se vocês poderiam me ajudar com uma coisa.
— O-o que? — Pergunta Navid. Suas mãos estão tremendo
bastante, mas ele rapidamente as desliza nos bolsos, e eu dou um
sorriso de aprovação. Finja até você criar um componente essencial
nesse negócio de merda.
— Minha garota ali, a ruiva bonitinha fingindo não olhar? Bem,
ela realmente quer que eu toque para ela agora. Eu estava me
perguntando...
— Aqui. — Joe empurra a sua guitarra nas minhas mãos. — Vá
em frente.
— Obrigado. — Eu seguro melhor o pescoço do instrumento. É
um Ibanez surrado que custa menos do que minhas botas, mas tem
um som muito bom de perto e se você não está muito preocupado
com as nuances. — Mas eu pensei que vocês gostariam de tocar
comigo. Eu poderia cantar.
— Não, não — Jamie insiste. — Por favor, toque minha guitarra
também. Será épico.
— Eu vou tocar com você — diz Navid. Ele parece um pouco
cinza sob a pele bronzeada, mas ele a esconde bem.
— Eu também. — Joe está com o rosto rosado, alto e
determinado, segurando sua guitarra – uma velha Strat.
— Tudo certo. — Eu aperto algumas cordas e estremeço. —
Está desafinada. Apenas um pouco, mas mostra quando você toca.
Jamie estremece também. — Porra.
Eu dou a ele um sorriso de encorajamento. — É algo que muitas
pessoas precisam aprender a ouvir. Até lá, use um sintonizador. —
Eu ajusto as cordas até que a guitarra esteja afinada ao meu gosto.
— Quando comecei, estava sempre desafinada. Killian costumava
brigar comigo por isso.
À menção de seu nome, os caras se animam.
— Ele é fodidamente brilhante — diz Jamie.
— Ele é — concordo, sentindo saudades do meu amigo com
uma dor que me choca. Eu não ligo para ele há um tempo. A
verdade é que não quero saber quando ele voltará para casa,
porque isso significa que Stella se mudará. Eu dou de ombros e
presto atenção nos adolescentes me olhando com olhos
atordoados. — Certo então. Siga minha liderança e ouça. Ouça
enquanto toca. Quando você está começando, tenta tocar tudo por
conta própria. Você se concentra apenas em acertar a sua parte.
Mas você está em uma banda. Você faz parte de uma equipe.
Toquem comigo.
Todos concordam, até Jamie, embora ele esteja ficando de fora.
Passo por algumas músicas, descubro o que eles sabem. Eu não
estou disposto a jogar nenhuma das minhas. O show – por mais
discreto que seja – será encerrado imediatamente se as tocarmos.
Felizmente, os caras entendem isso e estão felizes com qualquer
coisa que eu queira fazer. Nós resolvemos alguns clássicos; as
pessoas conhecem as músicas e são atraídas por eles.
Até agora, ninguém nos notou. Apenas Stella, que se senta no
parapeito de um banco e observa silenciosamente, um sorriso de
Mona Lisa nos lábios rosados.
Começo os acordes de abertura de “About a Girl”, do Nirvana,
mantendo-o agradável e lento. Os caras se juntam, hesitantes, mas
mantendo o ritmo. No segundo em que começo a cantar, as
pessoas diminuem a velocidade. Estou propositadamente fazendo
minha voz soar como a de Kurt. Primeiro, porque não quero parecer
exatamente comigo agora, mas também porque ele é meu ídolo e
sempre será.
Eu era criança quando ele morreu, mas sua perda dói como se
eu o conhecesse bem. A consciência pica sobre minha pele com um
calafrio fino. Eu também poderia ter morrido, ter perdido esse
momento, fecho os olhos por um segundo. Meu estômago revira
doentio. Vou enlouquecer aqui e agora. É por isso que não gosto de
me apresentar como antes. Esse terror doentio e escorregadio do
que poderia acontecer me atormenta toda vez que fico na frente de
uma platéia.
Mas isso não aconteceu. Você está aqui. O sol está brilhando em
seus ombros. O ar está enchendo seus pulmões. Você está aqui.
Estou aqui. Somos apenas eu e a música, a vibração das cordas
contra os meus dedos, o trecho de uma música no meu peito e
garganta. A música se espalha sobre mim, ficando confortável,
ampliando. Toco o solo e ele treme sobre mim com alegria.
Quando abro os olhos novamente, estamos cercados por
espectadores. Não tenho certeza se eles percebem quem eu sou.
Eu realmente não me importo. A música termina e eu falo com a
multidão. — Olá, sou Jax. Eu gostaria de apresentar você para
alguns membros da banda.
Isso me arranca algumas risadas. As pessoas assobiam em
apreciação. Jamie está filmando tudo em seu telefone. Os caras dão
às pessoas acenos hesitantes. E porque eu fiz uma piada dos
Beatles, começo “Hey, Jude”.
Eu dou um passo para trás, virando-me para os rapazes
brincando comigo. Eles parecem ter acertado na loteria, sorriem
largamente, os olhos levemente atordoados. Mas eles estão se
alimentando de mim, juntando tudo. Eu aceno e encaro a multidão.
— Vocês vão ter que cantar junto.
E eles cantam. É por isso que a música é brilhante. Todo mundo
conhece. Todo mundo quer cantar.
Quando estamos quase terminando, o dinheiro está saindo pelo
estojo da guitarra aberto no chão, e dois policiais montados em
cavalos vieram investigar. Estou supondo que já terminamos, mas
eles simplesmente assistem, balançando a cabeça com a música.
Joe toca a guitarra de Jamie. Por sua vez, Joe continua filmando
nossa performance. Tocamos músicas até que o público fique muito
grande, e os policiais começam a ficar inquietos. Não estou
pressionando nossa sorte e acabando com ela. Algumas pessoas
pedem autógrafos, mas a maioria apenas tira fotos. Agradeço aos
caras e dou o número de Relações Públicas de Brenna. — Ela vai
dar alguns ingressos para o nosso próximo show — digo a eles.
— Obrigado, cara. — Jamie sorri.
— Não acredito que fizemos isso — diz Joe. Ele está pegando o
dinheiro, separando-o. Ele tenta entregar para mim, mas eu aceno
para ele. — De jeito nenhum. O prazer foi meu. Vocês guardam
isso.
Navid pega minha mão e a balança. — Sério, obrigado. Foi...
muito legal.
Todos nós rimos. — Sim, foi — eu concordo.
E então Stella caminha em minha direção com um sorriso largo
no rosto. Eu posso tê-la perdido de vista uma ou duas vezes, mas
ela esteve comigo o tempo todo, uma presença no fundo da minha
mente, me segurando firme. Com dois passos, eu a alcanço,
pegando-a. Ela grita de surpresa, as pernas envolvendo a minha
cintura.
— Bem, olá para você também — diz ela com um sorriso. —
Vocês foram ótimos.
Eu a beijo com força e rapidez, depois a ajeito mais alto, a deixo
confortável enquanto saio do parque.
— Você vai me carregar todo o caminho — ela pergunta.
— Sim. Ou até o táxi mais próximo. — Há um vindo em nossa
direção. Eu sinalizo com uma mão enquanto seguro Stella com a
outra. — Então nós estamos indo para casa e nos beijando. Muito.
Mais tarde, eu vou preparar o seu jantar.
Suas pálpebras se abaixam quando seus braços envolvem meu
pescoço úmido. — Eu gosto desse plano.
Porra, eu gosto dessa garota. Eu gosto da minha vida quando
ela está nela. Eu a seguro um pouco mais apertado. — Achei que
gostaria.
CAPÍTULO DEZENOVE

STELLA

C “ S ”, John
propõe que continuemos a nos apresentar a algo que o outro não
havia feito antes. — Você sabe, nos tirar das nossas zonas de
conforto. Mais ou menos como você fez comigo no parque.
— Não sexualmente falando? — Eu pergunto durante o café da
manhã em que John me leva. O café da manhã sendo sorvete de
cereais com flocos de milho por cima no Milk Bar. Eu tenho que lhe
dar pontos pela criatividade e atrevimento.
Ele morde o lábio inferior antes de sorrir. — Você está obcecada,
Bonita. Não estou falando de sexo.
Estou com tesão; me processe. Nas últimas semanas, John e eu
passamos nossos dias juntos fazendo o que nos apetece. Nossas
noites são passadas no sofá, nos beijando.
Quando digo beijar, quero dizer exatamente isso. Sem toques
abaixo do pescoço, apenas beijos. Beijos suaves, lentos e
molhados. Beijos que me deixam louca. Beijos frenéticos. Pequenos
beijinhos entre risos e conversas. Beijos que sugam a alma. Os
profundos que fazem minhas costas arquearem e meu corpo
estremecer.
Nós nos beijamos até meus lábios ficarem doloridos e meu
queixo doer. Nós nos beijamos até que meu corpo seja um enorme
e quente fluxo de desejo e um único toque no meu clitóris me
explodiria. Mas ele nunca me toca lá. E eu não deslizo minha mão
por seu peito firme para apertar o pau que sei que está duro como
uma rocha. Mesmo quando eu sei que ele está tão preparado
quanto eu. Mesmo quando ele está encostado em mim, seu corpo
grande tremendo, sua pele úmida de suor.
Deus, esses momentos me atingem mais do que qualquer coisa
– ver John a um toque de gozar na sua calça jeans. É quente como
o inferno saber quão excitado eu o deixei. Estamos nos torturando,
levando as coisas devagar desse jeito. Mas é tão bom. E há algo em
seus métodos loucos – estamos conhecendo um ao outro. Ele está
sempre em meus pensamentos, se tornando necessário.
— O que exatamente você não fez antes? — Eu pergunto a ele,
um tom áspero na minha voz.
John arrasta uma colher cheia de sorvete sobre sua língua, um
pedaço dourado de cereal gruda nos lábios antes de ele lambê-lo.
Somente John poderia fazer o sorvete parecer carnal sem sequer
tentar. — Essa é difícil. Eu já fiz muito. — Seus olhos verdes
brilham. — Mas não com você.
— Hmmm... minha lista de experiências emocionantes é
bastante pequena.
Ele pisca para mim, sua expressão alegre. Hoje, ele é uma
estrela do rock, camisa da Patti Smith desbotada em cinza, jeans
preto que abraçam suas coxas firmes e pendem baixo em seus
quadris magros. — Você já andou de moto, Bonita?
Faço uma pausa, minha colher a meio caminho da boca. — Na
morte sobre duas rodas? Não.
John ri. — É divertido.
— Você sabe o que acontece se você bater? — Eu tremo
dramaticamente. — Você se rala todo.
Ele se inclina e pega o sorvete na minha colher. — Mmm,
cremoso.
— Coma o seu! — Eu dou um tapa nele e dou outra mordida.
— Mas eu quero o seu creme — diz ele com uma piscadela.
— Que bom que você é gostoso, ou eu estaria fazendo uma
careta agora.
— Você ama, Stella Bonita. Você sabe disso. — John descansa
o queixo na mão e me observa como se eu fosse um grande
entretenimento. Uma pulseira grossa de couro circunda seu pulso,
chamando minha atenção para seus antebraços. Acho que eu
nunca quis tanto na minha vida acariciar a pele sedosa no interior do
antebraço de um homem. — Quero te levar para passear na minha
moto — diz ele.
— Claro que você tem uma moto.
— Claro que sim — ele concorda alegremente. — Muitas delas.
Vou escolher uma boa para o nosso passeio.
— Não estou andando de moto pela cidade. Vou ficar com os
olhos fechados o tempo todo ou ser aterrorizada pelos táxis.
Ele faz uma careta. — Mulher de pouca fé. Sou um ótimo
motorista, Bonita. Mas, não, vamos sair da cidade, almoçar, andar
pelas estradas como se nossas bundas estivessem pegando fogo.
— Imagem adorável. Não sei por que me preocuparia. — Estou
fingindo protestar, mas a emoção borbulha através do meu sangue
como refrigerante.
John sabe claramente que concordo com o seu plano, porque
ele esfrega as mãos juntas, mordendo o lábio inferior para conter
seu sorriso. — Vai ser divertido. Vamos na quarta-feira. Deve estar
quente e ensolarado.
Posso estar protestando, mas seu plano parece maravilhoso –
principalmente porque envolve estar com ele. Não atendi nenhum
cliente novo e deixei uma mensagem no meu telefone dizendo que
estou de férias. Um conceito estranho para mim, mas estou me
acostumando. Até eu me afastar do trabalho, não tinha percebido o
quanto precisava de tempo para ser apenas eu e aproveitar as
coisas que eu gosto.
— Ok, eu vou deixar você me torturar em uma moto. — Eu
aceno uma colher de sorvete em sua direção. — Mas eu fico com a
segunda metade do dia.
Eu tenho uma ideia. Algo meu que posso compartilhar com ele.
Não contei a ele sobre meu hobby, não contei a ninguém na
verdade. Vou me expor de uma maneira que parece um pouco
desconfortável. Mas eu pedi o mesmo a ele no parque; não posso
fazer menos. E tenho quase certeza de que John não experimentou
nada parecido com o que vou mostrar.
— O que vamos fazer? — Ele pergunta enquanto nos afastamos
de nossos assentos.
Balançando a cabeça, sigo-o para fora da porta e para a fraca
luz do sol. — É uma surpresa.
— Envolve nudez? Porque eu estou afim. — Ele balança as
sobrancelhas, a ponta rosada da língua espreitando entre os dentes.
— Você proibiu nudez e qualquer palhaçada relacionada a ela,
lembra?
— Estou começando a repensar esse plano — diz ele
sombriamente.
Rindo, cutuco sua lateral e estou prestes a responder quando um
estranho tipo de som vibra ao nosso redor. No começo eu não tenho
ideia do que é, só que John ficou tenso ao meu lado. Depois,
registro que há um grupo de caras apontando câmeras na nossa
direção, todos gritando — Jax!
— Essa é a sua nova conquista, Jax?
— Como se sente?
— Ela sabe sobre as suas mulheres, Jax?
Chocada, eu fico lá e olho para eles. Todo esse tempo, ninguém
da imprensa nos incomodou. Eu meio que esperava por isso no
parque. Mas nada. Agora eles estão por todo lado. Eu não tinha
ideia de como seria. O barulho que eles criam é suficiente para
embaralhar o meu cérebro.
John pega o telefone e envia uma mensagem para alguém
enquanto eles continuam gritando em nossa direção.
Um grito atravessa o ar e um novo grupo surge. Fãs. Nunca
tendo estado em uma verdadeira multidão de fãs, não sei o que
esperar. É realmente doce. Seus fãs são respeitosos, alguns
tímidos, outros tremendo e chorando. Ele dá autógrafos e tira um
monte de selfies com eles. Estou recuando e me movendo em
direção ao meio-fio para vê-lo trabalhar.
Meu John se foi, substituído por Jax Blackwood com sorrisos
fáceis que não alcançam seus olhos e risadas que não são tão
profundas, mas mais altas, forçadas. Não que eu ache que algum
de seus fãs perceba. Não, ele tem essa qualidade única de fazer
uma pessoa pensar que toda a sua atenção está neles. O fato de
ele conseguir lidar com isso em uma multidão que aumenta de dez
para vinte e depois para trinta pessoas é impressionante.
— Você trabalha para Jax? — Uma adolescente ao meu lado
pergunta, com os olhos brilhando de curiosidade. Ela está com um
grupo de amigos que já tiraram selfies, mas demoram, tirando mais
fotos dele.
— Não, eu sou amiga dele.
Algumas meninas olham para mim com os olhos arregalados. —
Como você chegou a ser amiga de Jax? — Não perco a ênfase no
“você”, como se fosse um milagre do mais alto calibre. Talvez seja.
Observando agora, tudo o que fizemos antes poderia facilmente ser
pensado como um sonho, alguma invenção estranha da minha
imaginação.
— Eu sou sua vizinha — eu digo distraidamente.
Uma agitação percorre o grupo de meninas.
— Sortuda — diz a garota que me perguntou.
—Onde ele vive? — Outra pergunta.
Balanço a cabeça e reprimo um sorriso. — Desculpa.
Confidencial.
Uma delas murmura “vadia” baixinho. As outras olham, mas a
garota ao meu lado me dá um sorriso muito doce. — Entendi. Eu
tentaria mantê-lo para mim o máximo de tempo que pudesse
também.
— Boa sorte com isso — alguém sussurra, e há algumas
risadinhas.
Não sei o que dizer. Eu sinto o aborrecimento delas; estou
retendo informações que querem desesperadamente. Mas ser o
escape para a sua decepção não me faz querer ficar. Eu quero sair
daqui. Isso não é nada como os felizes espectadores assistindo
John tocando no parque. A multidão é sufocante, e o desejo de me
virar e ir embora é alto. Mas não vou deixar John.
— Gente — uma das meninas interrompe, — não sejam rudes.
— Ela me dá um sorriso fraco. — Desculpe, elas são apenas
ciumentas.
Ela ganha alguns olhares, mas uma delas balança a cabeça e
hesita. — Nós somos. Quero dizer, é Jax Blackwood. Ele é um deus.
— Como ele é? Ele é um amor? Aposto que é.
— Um amor sexy — acrescenta outra. — Aquele corpo... quando
está todo suado e se movendo no palco. Eu não posso nem pensar.
Eu interrompo antes de ter que ouvir mais sobre seu corpo.
Tendo estado tão perto e íntima dele no sofá, a visão de John sem
camisa pode me fazer corar. — Ele é o melhor homem que eu
conheço.
A verdade absoluta dessa afirmação afunda no pequeno grupo
ao meu redor e todas nós ficamos em silêncio, o observando.
No começo, pensei que ele não tinha reparado para onde eu
tinha ido, mas rapidamente percebi o quão errada estou. O tempo
todo em que ele trabalha, ele se aproxima de mim. Sua consciência
é uma lâmina afiada. É claro que ele sabe exatamente onde todos
estão e sua posição na multidão. Em um movimento
impressionante, ele se vira para apertar a mão de alguém e de
repente ele está ao meu lado novamente, fazendo com que pareça
casual. Mas o jeito com que ele coloca um braço em volta da minha
cintura diz que não é.
Tudo o que eu quero fazer é me enterrar em seu calor sólido.
Não faço isso, no entanto. Todo mundo está olhando. Dou adeus ao
grupo de garotas boquiabertas, embora saiba que a atenção delas
não está em mim.
A palma de John pressiona a parte de baixo das minhas costas
enquanto ele nos move em direção a um SUV preto brilhante que
aparece. Um cara asiático que parece vagamente familiar sai e abre
a porta traseira. Deslizo direto para o casulo macio de couro preto, e
John me segue. O barulho sólido da porta se fechando traz um
silêncio abençoado.
O motorista corre para frente e entra no SUV. Antes que eu
perceba, estamos entrando suavemente no tráfego enquanto as
pessoas avançam para um último vislumbre.
John se senta com um suspiro, depois vira o olhar para mim. —
Você está bem?
Ele parece diferente agora, coberto por uma pátina da fama, e eu
não consigo parar de pensar que estou com Jax Blackwood.
Inúmeras pessoas dariam tudo para estar no meu lugar agora. O
desdém das meninas deposita farpas quentes na minha pele, e uma
pequena voz na minha cabeça me pergunta o que estou fazendo
aqui. Por que eu? Não sou nada especial. Eu digo para essa voz
calar a boca.
— Estou bem.
Ele procura meu rosto como se estivesse tentando ler meus
pensamentos. — Você ficou tensa.
— Eu simplesmente não esperava ser bombardeada. Ou você
ser. — Meu sorriso é fraco. — Às vezes esqueço quem você é.
A mão quente de John pousa sobre a minha e aperta. — Você
sabe exatamente quem eu sou, e não é aquele cara lá atrás.
Estamos de frente um para o outro agora, nossos corpos virados
no banco traseiro. — É por isso que você não gosta que eu te
chame de Jax?
Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas, e ele abaixa a
cabeça. — Eu tenho sido Jax há muito tempo. Depois que eu caí e
quebrei a cara, Jax parecia mais como... eu não sei, um nome
artístico. John era o homem por baixo de tudo. Jax não conseguia
respirar com toda a fama o pressionando. John era apenas o cara
que gostava de tocar guitarra e fazer música. — Ele bufa, a sombra
de uma risada. — Deus, isso me faz parecer seriamente confuso.
Não estou dizendo que tenho duas personalidades diferentes
lutando pelo domínio no meu cérebro ou qualquer coisa. Só que,
quando você me chama de John, sinto que você está me vendo,
não a estrela do rock.
— Vocês dois. — Meu polegar acaricia seus dedos. — Vocês
dois são maravilhosos.
Seus olhos se fecham em um suspiro. — Contanto que você não
se afaste por causa da fama. Embora eu não possa te culpar.
— Eu não vou me afastar. Mas essa vida não é nada como estou
acostumada. Eu posso ficar abalada às vezes. Ou deslumbrada, por
mais embaraçoso que isso pareça.
Um sorriso treme em seus lábios. Ele me olha através do véu de
seus cílios. — Deslumbrada, hein?
Minhas bochechas ardem. — Cala a boca.
As covinhas de John aparecem, enquanto ele balança a cabeça
levemente. — Você é tão fácil de provocar. — É verdade. Quando
ele fala novamente, sua voz é leve e relaxada. — Eu esqueci de te
apresentar ao meu guarda-costas de algumas vezes. — Ele ainda
está me olhando enquanto fala, mas olho para o motorista que
acena para mim. — Conheça Bruce Lee.
Eu devo ter feito um som de surpresa, porque John e Bruce
estão sorrindo. Não é difícil saber o porquê; Bruce Lee se parece
quase exatamente com a lenda do kung fu. — Seus pais fizeram
isso com você de propósito?
Bruce ri. — Completos fãs sem arrependimentos ou
preocupações com o que seu pobre garoto poderia suportar.
— Eu disse a ele que ele deveria abraçar O Bruce — diz John.
— Usar grandes óculos escuros, vestir camisas com golas enormes,
calças boca de sino vermelha e adotar totalmente o estilo dos anos
70.
— Eu não gostaria de ofuscar as estrelas do rock — brinca
Bruce.
— Por favor faça isso. Assine alguns autógrafos e me deixe
descansar um pouco.
Nós rimos e brincamos todo o caminho de volta para o
apartamento. Mas John e eu estamos claramente abalados e
tentando esconder esse fato. Eu acho que John está envergonhado
por sua fama. Meus pensamentos são um pouco mais obscenos.
Não posso deixar de pensar que isso não é a vida real. É uma
fantasia. Ninguém tem essa sorte. Especialmete eu.

— E , ? — Rye me
cutuca com seu braço grande.
Como ele é construído como um tanque, um empurrão de Rye é
mais como ser atingido por um galho de árvore. Esfrego a dor no
ombro e olho para ele. — Você tem que colocar um rótulo nisso?
— Eu não — ele diz com facilidade, — mas ela vai. As mulheres
querem rotular, delinear os detalhes, traçar o seu progresso e definir
uma data para o casamento. Esteja preparado para a tortura, cara.
Estamos dirigindo de volta do Brooklyn, onde Rye procurou por
um sintetizador Moog de 1969 que ele precisava comprar, o que nos
levou a fazer uma versão de “People Are Strange” enquanto o
testávamos. Me faz sentir falta de Killian, porque ele faz uma ótima
imitação de Jim Morrison. Sua versão de “RoadhouseBlues” agitou a
multidão em Londres na última vez que fizemos uma turnê. Não falo
com ele há tanto tempo, parece errado, como se estivesse perdendo
uma parte de mim.
Saio do torpor e olho Rye. — Sabe, falando assim me faz pensar
que você tem medo de mulheres.
Ele bufa alto. — Por favor. Eu amo as mulheres. Não tenho
medo delas.
Inclino-me no banco e olho para Bruce, que está dirigindo. —
Você ouviu isso? Rye não tem medo de mulheres.
Bruce assente. — Entendi. Sem medo.
— Vocês dois babacas continuem implicando comigo — Rye diz
com uma risada. — Vejam se eu me importo.
— Me diga, Ryland. — Eu viro na sua direção. — Quando você
começou a chamar Brenna de “Berry”?
Ele fica vermelho, como a fruta9 em questão, é uma visão tão
rara que quero pegar o meu telefone, tirar uma foto e enviar para
todos os caras. — Vá se foder, bonitão. Foi um insulto, não um
apelido.
Eu sorrio — Parecia um apelido para mim, filho.
A mandíbula de Rye se aperta. Estou brincando com fogo. Minha
longa experiência me diz o quão longe eu posso empurrar Rye
antes que ele me ataque. Quando éramos jovens punks, muitas
vezes acabávamos nos esmurrando. Tudo muito divertido, mas não
significava que alguém não iria embora com um lábio partido ou olho
roxo. Na adolescência, era uma boa maneira de aliviar o estresse.
Aos trinta anos, acho que vou me arrepender e tomar aspirina por
uma semana.
Quando Rye finalmente fala, seu tom é inesperadamente duro e
doloroso. — Vocês precisam deixar essa coisa entre Brenn e eu de
lado. Ela odeia as minhas entranhas, e por boas razões. Essa
merda não vai acontecer. Nunca.
O silêncio desce, estranho e espesso. Bruce levanta a divisória
de vidro, me deixando sozinho com Rye. Lá fora, buzinas ressoam e
o carro dá solavancos com a estrada irregular. Eu limpo minha
garganta e arrisco um olhar. Rye está olhando pela janela, seu
corpo uma grande protuberância de músculos tensos.
— Por que você acha que ela te odeia? Porque eu não entendo
essa vibração, vocês dois estão constantemente atacando um ao
outro. Eu assumi que era algum tipo de preliminar perversa. —
Mesmo quando éramos garotos, e a magra Brenna, de dezesseis
anos, começou a passear pelas nossas sessões de jam, ela e Rye
brigavam. Mas eles também se entreolhavam como se o outro fosse
doce fora do alcance.
Rye bufa suavemente. — Talvez a princípio estivesse flertando.
Não vou mentir e fingir que não a acho gostosa. Sim, brigamos. Sim,
às vezes é divertido implicar com ela. E talvez ela tenha alguma
satisfação doentia em me incomodar. — Ele balança a cabeça
lentamente, como se pesasse uma tonelada. — Mas a desavença é
real e não quero falar sobre isso.
— Ei, você trouxe isso à tona.
Ele me lança um olhar. — Não. Eu disse que vocês precisam
parar de esperar por algo, porque é uma perda de tempo. Não disse
que queria falar sobre os meus sentimentos ou o quer que seja.
— Cara, eu nunca vi um homem que mais precise expressar
seus sentimentos do que você. — Eu rio brevemente. —Você é o
garoto-propaganda da repressão.
Rye relaxa contra o assento, sua expressão se abrindo mais
uma vez. — Talvez. Mas prefiro conversar sobre seus sentimentos e
essas merdas. Você está feliz, Jaxy?
— Covarde. — Estamos chegando ao meu apartamento. — E
sim, eu estou. Porque eu falo sobre os meus sentimentos e essas
merdas.
O carro para e eu abro a porta antes que Bruce possa alcançá-
la. Eu nunca gostei de que ele, ou de qualquer um de nossos
funcionários, tivessem que abrir as portas para mim. É uma
remanescente da minha infância e do modo como me senti isolado,
preso à minha família certinha e adequada quando eu preferia rir e
brincar como uma criança normal. Há uma certa ironia que, ao
tentar usar minha música para fugir de tudo que minha família foi, eu
me coloquei em uma situação em que muitas vezes preciso de
guarda-costas e segurança excessiva. Estou tão isolado quanto
naquela época, só que agora posso escolher viver de acordo com
minhas próprias regras.
— Vocês querem subir para tomar uma cerveja? — Eu pergunto.
Surpreendentemente, eu estou bem em ficar sozinho agora.
Francamente, estou me sentindo muito bem em geral. Eu tenho um
encontro com Stella amanhã, e o fato de eu poder tocá-la, de poder
passar o dia inteiro com ela, simplesmente porque nós dois
queremos, me deixa ansioso como uma criança esperando o Natal.
Mas Rye parece que ele poderia ter alguma companhia, e eu nunca
deixo meus amigos lidarem com as suas merdas por conta própria
quando posso oferecer uma mão.
Rye se anima. — Sim, claro.
— Eu poderia beber uma cerveja — Bruce diz com um encolher
de ombros.
Estamos a meio caminho da porta quando um cara se aproxima,
seu olhar fixo em mim como se eu fosse um alvo. Instantaneamente,
Rye e eu endurecemos. Sabemos como nos defender, mas se esse
cara tiver uma arma, lutar não vai adiantar nada. Na minha visão
periférica, vejo Bruce se aproximar, colocando-se entre nós e o
desconhecido.
O cara, um homem mais velho e magro, com cabelos grisalhos e
avermelhados para, seus pálidos olhos azuis se arregalam. — Não
estou tentando causar problemas — diz ele, sabiamente lendo a
situação. — Eu só queria falar com Jax.
— Então fale — eu digo, em prontidão. Eu poderia dizer ao cara
para ir se ferrar, mas às vezes é fácil deixar a pessoa falar a sua
parte e dizer “não, obrigado” ao que quer que esteja vendendo.
Infelizmente, isso também pode ser sobre uma das mulheres com
quem dormi. Esse cara pode ser um pai irritado. Inferno.
— Vi uma foto nos tablóides sua com uma garota.
Minhas costas tensionam. — Sou fotografado com mulheres
muitas vezes. Se é nisso no que está interessado, sugiro que
encontre outro hobby.
Eu começo a andar, e Rye se move para a minha esquerda,
Bruce tomando o meu outro lado. Eles estão me flanqueando, o que
é legal, mas desnecessário.
Infelizmente, o cara não se intimida. — Você a estava
carregando através de uma poça.
Meus passos vacilam. Eu só carreguei uma mulher. Desde
sempre. Alguém tirou uma foto? Fodido inferno. Lá se vai o meu
disfarce de Clark Kent. A ideia da privacidade de Stella sendo
invadida me deixa enjoado.
— Notícias antigas, cara. Isso foi há semanas. — Eu aceno para
o homem e começo a andar novamente.
Sua voz rouca me segue. — Tinha outra foto de vocês dois
ontem. Pareciam aconchegantes saindo do Milk Bar. Pensei que
você gostaria de saber com quem está lidando, isso é tudo. Stella
Grey não é o que parece.
Gelo flui em minhas veias e eu paro, virando-me para encará-lo.
— O que disse?
O homem encolhe os ombros ossudos. — Ela é fofa, mas não é
tão inocente quanto parece.
O gelo se transforma em vapor quente, uma névoa vermelha
nublando minha visão. Estou avançando nele antes mesmo de
pensar. Bruce entra na minha frente, bloqueando meu caminho,
enquanto a grande mão de Rye agarra o meu cotovelo.
— Calma, cara — diz Rye baixo e firme.
Minha atenção está no merda que me olha desafiadoramente. —
Fique longe da Stella — eu digo, empurrando as costas de Bruce.
Meu guarda-costas fica imóvel, no entanto. — Você quer me
perseguir como um fã maluco, tudo bem. Mas fique longe dos meus
amigos.
O cara apenas sorri, e a visão é estranhamente familiar. — Ela é
uma amiga? Parecia mais acolhedor do que isso. Stella tem uma
sedução nela. Muito eficaz em se esgueirar sob as defesas de um
homem.
Avanço, tentando passar por Bruce e Rye. Ambos se mantêm
firmes.
O cara levanta as mãos. — Se acalme. Estou tentando ajudá-lo.
As informações que tenho para compra podem poupar algumas
dores de cabeça no futuro.
— O inferno — eu cuspo. — Quem diabos você pensa que é?
Ele olha para mim, totalmente calmo. — Eu sou o pai dela.
Toda a raiva evapora quando eu olho para ele. Estou enjoado.
Doente em nome de Stella. O pai dela está tentando me extorquir
por dinheiro. O filho da puta que a abandonou quando adolescente e
ela não vê desde então.
— Saia da minha frente — digo através dos dentes cerrados. —
Porque esses caras não serão capazes de me segurar para sempre,
e eu realmente não dou a mínima para as repercussões se eu bater
em você.
O aperto de Rye no meu braço diminui. — Podemos até ajudá-lo
— diz ele em uma voz fria.
O chamado pai de Stella encolhe os ombros novamente. — Me
bater não vai mudar a verdade. Eu não estou pedindo muito. Dez mil
devem resolver. Se você mudar de ideia, ligue para esse número. —
Ele joga um cartão maltratada aos meus pés. — Você vai me
agradecer mais tarde.
Olho para o cartão como se fosse uma bomba, a sensação de
mal estar crescendo.
— Maldito inferno — murmura Rye, olhando para o verme indo
embora. — Esse realmente é o pai da Stella?
— Eles têm o mesmo sorriso — digo sem expressão. Embora
Stella nunca tivesse parecido tão... sem alma. Mas a forma e os
movimentos são os mesmos – até a pequena covinha
estranhamente posicionada que aparece logo abaixo do canto
esquerdo da boca. Meu coração bate forte no meu peito. — Aquele
idiota tentou me extorquir.
Bruce balança a cabeça. — Eu vou ficar de olho nele.
Rye solta um suspiro duro. — O que você vai fazer?
Nenhum de nós pegou o cartão. Eu não quero. Mas sinto que
deveria pelo menos guardá-lo. Eu passo a mão pelo meu cabelo. —
Porra. Eu não sei. — Como digo a Stella que o pai que a abandonou
só apareceu porque viu uma chance para um vale-refeição em mim?
— Você acha que ele estava dizendo a verdade? — Rye
pergunta calmamente.
Eu olho para ele. — Ele é um vigarista. Eu acho que ele a
venderia com uma mentira sem perder o passo. — Eu aperto a parte
de trás do meu pescoço. — Ele provavelmente está falando sobre
seu trabalho como amiga profissional e quer transformá-lo em algo
errado.
Uma pequena voz sussurra que ele pode estar falando sobre
outra coisa e eu não deveria pelo menos tentar descobrir o que é?
Cerrando os dentes, pego o cartão. É um pouco de nada, apenas
um pequeno retângulo de papel, mas de alguma forma, parece
veneno contra a minha pele.
Nem é um cartão de negócios legítimo. O nome e as
informações de um advogado foram riscados. Em tinta azul, o nome
Garret Grey e um número de telefone local foram rabiscados. Do
outro lado do cartão, há outro número: US$ 10.000. Foi sublinhado
duas vezes. Idiota desprezível. Meus dedos tremem de raiva
quando enfio o cartão no bolso da calça jeans.
Preciso contar a Stella sobre isso, mas como e quando é outra
questão.
— Vou ver se Scottie pode descobrir algo sobre esse traidor
primeiro.
Um manto caiu ao longo do dia. Eu sofro por Stella; quero
abraçá-la e dizer que vou cuidar dela a partir de agora. Mas eu mal
sei como me cuidar. Não sei o que vou dizer quando a vir amanhã,
mas sei que não será sobre isso. Eu não vou deixar esse palhaço
aproveitador entre nós antes mesmo de termos uma chance de
começar.
CAPÍTULO VINTE

STELLA

E , o que é raro e um pouco irônico, considerando o


que planejei para John. Mas fatos são fatos, e minha barriga dá
voltas e treme quando saio do prédio e vou para o sol.
Provavelmente está um pouco quente demais para usar a minha
jaqueta de couro, mas não estou prestes a tirá-la. E então eu paro
de pensar em qualquer coisa.
Porque John está de pé, com as mãos apoiadas nos quadris
magros, na frente de uma moto brilhante, e tudo o que posso fazer é
olhar. Ele também está vestindo uma jaqueta de couro, maltratada e
bem ajustada. Combinada com jeans gastos e botas pesadas de
motoqueiro, ele é algo saído direto dos meus sonhos febris na
adolescência. Minhas fantasias juvenis, no entanto, eram inocentes
em comparação com a pura potência de John Blackwood.
O jeito que ele está, a inclinação de sua cabeça, até o brilho
escuro em seus olhos verdes – sexo puro. Ele tem uma
sensualidade inata a ele que te incita a tocar, a ficar. Eu não acho
que ele está ciente do seu apelo; está simplesmente lá, impregnado
em cada centímetro dele.
Ele está olhando para mim e me sinto como um doce. É isso que
John faz comigo, transforma a simples e prática Stella Grey em algo
rico e decadente. Eu não sou mais eu, mas de alguma forma
inteiramente dele. Nossos olhares se conectam e ele sorri, a boca
firme se alargando. É como se seu sorriso estivesse diretamente
ligado a um ponto baixo na minha barriga. O puxão é forte e doce.
Faz eu me sentir importante e meus passos flutuarem.
Ele se endireita e me encontra no meio do caminho. — Olhe
para você, Srta. Stella Bonita.
Olho para mim mesma. — Essa roupa está ok?
— Ok? — Ele sorri suavemente, seus olhos quentes. — Você
está linda. Perfeita.
— Bajulador. — Provavelmente estou vermelho beterraba.
— Estou sendo sincero — ele rebate, inclinando-se e me
beijando com uma ternura que derrete meus joelhos. Porra, eu vou
dissolver como açúcar em manteiga quente, se ele continuar com
isso. Eu aperto seu antebraço apenas para permanecer em pé.
Sua expressão é justificadamente presunçosa, mas também um
pouco atordoada quando ele levanta a cabeça. — Está pronta?
— Prefiro que você me beije um pouco mais — digo com
sinceridade, e seu sorriso se inclina.
— Você gostaria? — Sua voz é rouca no ar da manhã.
— Mmm. — Passo a mão pelo peito dele, onde o couro é quente
e macio. — Você é muito bom nisso.
John me olha através das pálpebras abaixadas. — Muito bom?
— Excelente?
— Hmm… — Ele está perto o suficiente para eu sentir o calor do
seu corpo e o cheiro da sua pele. Lentamente, ele estende a mão e
toca uma mecha do meu cabelo que está dançando na brisa. —
Diga-me, linda, você está tentando enrolar para subir na minha
moto? Ou você está se sentindo particularmente atrevida hoje?
O maldito homem me lê muito bem. Solto uma pequena risada
de resignação. — Eu posso estar enrolando. Mas você é realmente
tentador.
Seu sorriso é rápido e satisfeito.
Me beije novamente. Me beije para sempre.
Eu respiro fundo. Depois de novo, porque uma respiração não é
suficiente para clarear minha cabeça. — Lidere.
Ele ri, vendo através da minha bravata. — Vai ser divertido. Mas
se você odiar, me diga, e nós iremos para casa.
Eu o sigo até a moto. — Eu não vou odiar. Eu posso gritar muito,
no entanto.
Pura doçura brilha em seu sorriso quando ele pega um capacete
e verifica as tiras. O capacete é azul meia-noite com estrelas
pintadas sobre ele, e quando ele o vira nas mãos, vejo meu nome
pintado em prata brilhante do outro lado.
— Você mandou fazer um capacete para mim? — Eu pergunto,
olhando para ele. É extravagante e chamativo e totalmente perfeito.
— Claro que sim. — Ele abaixa a cabeça, olhando para o meu
rosto enquanto me ajuda a colocar o capacete. — Você precisa do
equipamento adequado.
Fico parada e deixo que ele ajuste as tiras. Pequenas vibrações
de prazer correm sobre mim toda vez que seus dedos roçam minha
pele.
Satisfeito, John se endireita. — Tem um microfone no capacete
para que possamos conversar um com o outro. Mas vou me
concentrar em nos tirar da cidade primeiro.
— Quanta alta tecnologia — eu digo, as vibrações mudando para
nervos crus. Dado o fato de eu gostar de velocidade, não deveria
estar nervosa. E talvez seja mais porque eu queira aproveitar isso
com John. Quero que ele ame o que planejei para a minha parte do
dia também.
Eu deixo tudo pra lá e sigo John até a moto. Ele dá um sorriso
largo e depois coloca o capacete. E eu caio na gargalhada. Seu
capacete é elegante e preto, e do lado, em dourado brilhante, estão
as palavras “Carona da Stella”.
— Sua carruagem — diz ele, ainda sorrindo e estendendo a
mão.
— Impressionante. — A moto parece uma mistura entre vintage
e moderno, quase steampunk10. A tinta é preta fosca com detalhes
em bronze. Nesse momento, estou mais interessada no assento
bem acolchoado.
John passa a mão sobre a borda. — Esta é uma edição limitada
da Ducati Italia Scrambler. Eu tenho várias motos diferentes,
esportivas, touring, algumas de corrida. — Seus lábios se contraem
ironicamente. — Eu costumava dirigir uma incrível Harley Fat Boy,
mas a emprestei para Killian, e o asno caiu com ela no gramado de
Libby. A pobre bebê não tem sido a mesma desde então.
— Não foi assim que eles se conheceram? — Lembro-me
vagamente de ter lido sobre o caso de amor de Killian e Libby e
como ele caiu no gramado dela.
— Sim. — John balança a cabeça, mas ele está claramente
divertido. — Desde então ele tem sido um bobo apaixonado, e não
posso guardar rancor dele. Ah bem, vivendo e aprendendo. — John
dá um tapinha no assento. — Vamos colocar esse mel à prova, hm?
O que eu não percebi sobre andar de moto é que vibra muito.
Bem contra a minha virilha. Combine isso com a proximidade contra
o corpo magro e duro de John, meus braços em volta da sua
cintura, e estou mais do que um pouco distraída quando finalmente
escapamos de Manhattan e seguimos para Long Island.
Assim que estamos livres, John solta a Ducati. Eu grito e rio. É
como voar. Só que com o benefício de poder segurar no calor de
John.
Através dos alto-falantes do capacete, ouço sua voz. — Me
deixe saber se você estiver com medo ou quiser encostar. Ok,
Bonita?
— Manda ver, roqueiro.
Ele ri, indo mais rápido. Eu o aperto pela pura alegria disso.
A Ducati consome a estrada. John toca música através dos
capacetes, seu gosto é eclético, mas todas tem um ritmo acelerado
para o passeio. Quando “Raspberry Beret” começa, levanto as mãos
para sentir o ar.
— Como você está? — John pergunta quando paramos em uma
lanchonete um pouco depois.
Engulo um pedaço de cheeseburger derretido antes de
responder. — Ok. Mas estou começando a suspeitar que ficarei
dolorida mais tarde. — A moto dele pode ser rápida e poderosa,
mas sinto cada solavanco na estrada – intimamente.
John vira a banqueta para me encarar, depois pega algumas
batatas fritas. — Não se preocupe, madame. Aqui no Passeios
Fantásticos do John, oferecemos um serviço completo que inclui
massagem em qualquer área que você precisar. — É claro que ele
sabe exatamente onde eu vou estar dolorida e atualmente está
imaginando essas áreas sensíveis.
— Hmm… — Eu roubo uma de suas batatas fritas. — Que
conveniente.
— Nosso objetivo é agradar. — Ele balança as sobrancelhas
para mim. Há uma leveza nele agora, seus claros olhos verdes
brilham, sua expressão aberta e relaxada. Com seu sorriso fácil e
cabelo castanho macio emaranhado e um pouco suado do
capacete, ele é quase juvenil e, ah, tão bonito. Meu cérebro está
gritando: “Podemos ficar com ele? Por favor?”
O que é mais do que um pouco assustador. A vida nem sempre
funciona da maneira que queremos. As pessoas vão embora. As
pessoas não amam de volta com a mesma intensidade. Não importa
o quanto você segure; se alguém quiser ir, encontrará um caminho.
E dói toda vez. Mas com John? Receio que ele vá levar o sol junto.
— Ei — ele diz suavemente, cortando meus pensamentos
acelerados. Quando encontro seu olhar, ele segura minhas
bochechas e se inclina. Seu beijo é lento e simples, mas tingido de
calor, como se estivesse se controlando e aproveitando a reviravolta
de antecipação.
Nós comemos hambúrgueres e batatas fritas, mas não sinto o
gosto; sinto o gosto dele, como mel na minha língua. Ele é o maldito
melhor beijador que eu já conheci – um pouco ganancioso, um
pouco sujo e todo doce. Ele segura minhas bochechas como se eu
fosse totalmente quebrável. Ele move a boca sobre a minha como
se eu fosse a melhor coisa que ele já sentiu.
Quando ele se afasta, fico tonta de desejo. — Por que isso?
— Porque eu posso. — Um beijo. — Porque sua boca me deixa
louco. — Outro beijo. — Porque você é tão malditamente bonita, eu
não consigo me segurar. — Ele se afasta para encontrar meus
olhos. A ponta áspera do seu polegar desliza ao longo da curva da
minha mandíbula. — Escolha uma. São todas verdades.
— Você é realmente bom nessa coisa de seduzir, sabia?
Ele toca o canto da minha boca como se não pudesse parar a si
mesmo. ― Não sou. Mas é bom ouvir isso.
Estamos de frente um para o outro, meus joelhos dobrados entre
o V de suas coxas. E ele não parou de me tocar. Pequenas carícias
ao longo do meu pescoço e ombros, um puxão suave do meu
cabelo. Toques tão simples. Sinto cada um no meu coração, entre
as minhas coxas. Nunca foi assim para mim antes. Eu não fico
zonza. Eu não me apego. Não me apaixono.
Estou fazendo todas essas coisas com uma velocidade
alarmante. Por um cara que é tão ignorante em relação ao amor
quanto eu. John se inclina e belisca o lóbulo da minha orelha,
enviando arrepios para a minha espinha. Todas as minhas
preocupações silenciosas voam pelos ares. Estar aqui com ele é
bom demais para protestar.
— Você vai me dizer para onde estamos indo? — Ele pergunta,
erguendo as sobrancelhas em expectativa.
— Não. Não até que seja óbvio.
Ele faz um pequeno beicinho, mas depois se move para pagar a
conta. — A antecipação é surpreendentemente divertida.
— Sim.
John dá uma segunda olhada quando percebe como suas
palavras podem ser interpretadas e um sorriso insolente se espalha
pela boca. Ele está prestes a me responder quando um rapaz se
aproxima dele, com uma caminhada hesitante, mas com os ombros
tensos.
— Ei… — O cara para, limpa a garganta e tenta novamente. —
Você é... ah... você é Jax Blackwood, não é?
John se endireita em seu banquinho, mas adota uma expressão
calma. — Eu sou.
Os ombros do cara relaxam e depois ficam tensos novamente.
Seu olhar dispara entre eu e John. — Eu… ah… queria te
agradecer… — Um rubor violento aparece em suas bochechas, e
ele olha para mim.
Eu escorrego do meu banquinho. — Com licença, rapazes, mas
a natureza chama.
Eu não sei se John está grato pela minha saída ou se ele ficará
irritado quando eu voltar. Mas eu sei que ele pode se cuidar e
qualquer um pode ver que o cara quer desesperadamente falar com
ele sozinho.
Demoro o máximo de tempo possível sem parecer que estou
tendo algum tipo de problema. Quando volto, eles ainda estão
conversando, John se inclinando para dizer algo ao cara. Ele coloca
a mão no ombro do sujeito e aperta quando o homem mais jovem
assente, sua expressão tensa de emoção.
Eu peço alguns brownies para a viagem e volto a tempo de tirar
uma foto para o cara com o seu telefone.
— Cuide-se, cara — John diz a ele com um aperto final no
ombro.
O cara me dá um sorriso tímido antes de sair, seu passo mais
leve. Quanto a John, seu humor é calmo quando ele pega minha
mão e me leva para fora da lanchonete e para a sua moto.
— Você está bem? — Pergunto quando ele não diz nada.
— Sim. Estou bem. — Mas ele simplesmente segura meu
capacete em suas mãos, sua expressão distante.
— Você pode falar comigo, sabe — eu digo baixinho.
Ele respira fundo. Quando ele encontra meus olhos, os dele são
excessivamente brilhantes. — Ele ia fazer isso. Sabe?
Meu interior afunda e tudo fica muito quieto. — Sim.
John morde o lábio inferior e desvia o olhar. — Mas então eu
tentei. E ele não fez.
O zumbido fraco da estrada corta o silêncio entre nós. Eu lambo
meus lábios secos. — O que você quer dizer?
John passa a mão pelos cabelos e aperta a nuca. — Ele toca
guitarra. Eu sou o seu ídolo. E quando eu tentei, o destruiu. Mas ele
disse que também o confortou. — John me dá um olhar irônico,
quase confuso. — O grande Jax Blackwood sentia o mesmo do que
ele, e ele não se sentia mais sozinho. Depois conseguiu ajuda.
John engole em seco e agarra o capacete. Quando ele não diz
mais nada, eu me aproximo e descanso minha mão em seu braço.
Sua voz é fina. — Eu nunca pensei… — Ele balança a cabeça e
seus olhos ficam escuros de emoção. — Eu nunca pensei neles.
Nos fãs. Que eu poderia ajudá-los.
Meus dedos apertam o braço rígido. — Você pode. Você fez isso
durante toda a sua carreira. — Ele franze a testa em confusão, e eu
continuo, mesmo que eu odeie falar de mim mesma. — Quando
meu pai me deixou, eu estava em um lugar ruim por um tempo.
— Baby… — Ele se aproxima, os olhos verdes preocupados. —
Eu sinto muito.
Dou de ombros e me inclino para trás para poder encontrar seu
olhar. — O que me fez passar pelos muitos dias sombrios foi ouvir o
álbum Apathy. — Um começo de surpresa o percorre e é a minha
vez de me segurar firme. — Eu ouvi sua voz, com toda aquela raiva,
desafio e poder, e me senti poderosa também.
Por um momento, ele apenas olha para mim, seus lábios
entreabertos, claramente sem palavras, mas então suas pálpebras
se abaixam em uma varredura de seus longos cílios. — Eu gostaria
de estar lá para você.
— Naquela época você não estava ouvindo. Mas estava
presente. Você está presente para tantos que precisam de você.
Você é... — luto por palavras. — Maravilhoso.
John ri então, depreciativo e rouco. — Você está me matando,
sabia disso?
Eu posso ver o desconforto rastejando sobre seus ombros. Por
ser um famoso astro do rock, John não se sente totalmente à
vontade com elogios. Ele está constantemente empurrando ou
colocando sobre outra pessoa. Entendi; costumo fazer o mesmo, e
eu sei que preciso recuar.
Eu dou um puxão na jaqueta dele. — Certo. Sua parte do dia
está pronta. Agora é a minha vez.
John visivelmente relaxa e me dá um sorriso largo. — Vamos,
Stella Bonita.
— Sem recuar?
Ele zomba. — Por favor. Eu nunca recuo.
— Estou contando com isso. — Antes que ele possa dizer mais
alguma coisa, eu subo na ponta dos pés e o beijo. Não é nada além
de um encontro de bocas, um pequeno beliscão e eu chupando seu
lábio inferior firme. Mas ele me persegue com a boca quando me
afasto.
— Por que isso? — Ele pergunta, sorrindo contra a minha boca,
fazendo carinho.
— Porque eu posso — digo. — Porque sua boca me deixa louca.
Porque você é tão malditamente bonito, não consigo me conter.
— Roubando minhas falas, Bonita?
— Até parece. Agora, pare de enrolar. — Deus, eu estou nervosa
agora. Eu nunca mostrei a ninguém esse meu lado. É no que eu sou
melhor, mas até agora, tem sido uma fuga pessoal.
John acredita que ele é o único que não sabe nada sobre
relacionamentos, mas eu também não. Não somos românticos. Mas
se vamos fazer isso funcionar, tenho que confiar em algo a mais do
que eu. Tenho que confiar nele.
J

A de verdadeira antecipação e nervos


incertos é algo que não sinto há muito tempo. Costumava ser minha
droga emocional preferida nos primeiros dias do Kill John. Eu vivi
por esse ponto doce do sentimento, oscilando à beira da grandeza e
da ruína. Naquela época, havia uma chance de nos darmos mal no
palco. Ou levaríamos o local abaixo de tanto agitação. Eu amava a
emoção de não saber. E, no entanto, eu sabia. Eu sabia que iria lá e
me sentiria vivo de uma maneira que poucas pessoas experimentam
– todos os nervos zumbindo, sangue correndo, as bolas apertadas e
o pau duro.
Esses momentos se tornaram meu tudo. Mas eles começaram a
ser poucos e distantes.
Então veio Stella. O que sinto por ela não é exatamente o
mesmo. É mais fundamentado. Uma estranha mistura de excitação
temperada por um conforto inesperado. Mas hoje é diferente. Estou
praticamente tremendo enquanto sigo suas instruções para essa
experiência misteriosa que ela criou para mim. A terra é plana e se
estende ao longo do Atlântico. Está um dia claro. No alto, alguns
aviões pequenos e particulares decolam de um aeroporto próximo.
No meu ouvido, a voz minúscula de Stella me direciona a entrar
no aeroporto. Bem, isso é uma surpresa. Ela está me levando para
algum lugar? Mesmo sabendo que ela vai chutar a minha bunda se
eu protestar, não gosto da ideia dela pagar por um voo. Stella não
está cheia de dinheiro e não deveria gastar seus suados dólares
comigo. Mas eu seguro minha língua. Essa é a sua parte do dia, e
eu vou me comportar e aproveitar essa porra.
O aeroporto não é grande – uma pista e um par de edifícios
baixos e hangares. Uma placa anunciando paraquedismo aponta o
caminho para um prédio, e me pergunto se esse é o seu plano, mas
Stella me orienta em direção a outro prédio e depois me pede para
parar.
— Tudo bem — diz ela, tirando o capacete, — vamos fazer isso.
“Isso” é Stella entrando em um escritório para registrar um plano
de vôo e conversar com os caras que trabalham lá e que claramente
a conhecem bem, enquanto eu estou lá, boquiaberto em total
silêncio. Eu ainda estou boquiaberto quando a sigo até um pequeno
– sério, a coisa parece fodidamente pequena – avião branco com
uma hélice no nariz.
Já tive SUVs maiores.
— Você é uma piloto. — Minha voz soa embaraçosamente
chocada.
Suas bochechas coram quando ela passa a mão sobre a ponta
de uma asa. — Sim.
— E você possui esse avião?
— Sou a décima proprietária — diz ela com um sorriso auto-
depreciativo. — O resto é de Hank. Ele me deixou comprar, para
que eu não me sentisse um idiota quando quisesse voar. — Existe
um carinho em sua voz quando ela fala de Hank que me deixa, bem,
não exatamente com ciúmes, mas...
— Quem é Hank?
— Ele é o instrutor e o proprietário da escola de vôo. Quando eu
tinha dezesseis anos, meu pai passou o verão aqui como mecânico.
Eu estava andando por aí e Hank se ofereceu para me ensinar. Em
troca, eu trabalhava na padaria da sua esposa perto da praia. Foi
uma decisão fácil para mim. — Uma carranca aparece em sua testa
lisa. — Então meu pai foi embora quando estava cansado de
alguma coisa, mas Hank manteve nosso acordo, mesmo que papai
estivesse devendo dinheiro.
Aquele bastardo de merda também abandonou Stella. Eu limpo
minha garganta, afastando a fantasia de caçar seu pai negligente e
chutar seu rabo. — Hank parece um cara legal.
— Ele é o melhor — diz ela. — Eu tenho aulas com ele há anos.
— Você deve ser próxima dele.
Ela encolhe os ombros e passa um dedo sobre uma mancha na
pintura branca e lisa do avião. — Hank não é exatamente desse
tipo. Ele é mais um velho arrogante que grita saia do meu gramado
e tem um fraquinho por adolescentes desajeitados e ociosos. Nos
damos bem, mas não trocamos cartões de Natal nem nada.
Mais uma pessoa em sua vida que a manteve à distância. — Se
você pudesse ver seu pai novamente, você gostaria?
Sua boca se torce como se ela estivesse provando algo ruim. —
Por que você pergunta?
Merda. Diga a ela. Mas eu não posso. Não quando ela está
fazendo uma careta como se estivesse vendo um fantasma imundo,
porque eu mencionei o pai dela. Não quando tudo em sua postura
grita dor e defesa.
Eu tento dar de ombros, mas meus ombros estão muito rígidos.
— Estamos falando de Hank, que parece uma figura paterna.
Há um som amargo na risada dela. — As figuras paternas são
superestimadas. Eu não preciso de uma em Hank. — Ela se move
para a cauda do avião. — Quanto ao meu pai? Não, não quero vê-lo
novamente. Dói muito, eu acho. Isso, ou eu o mataria e teria que
enfrentar a prisão.
Uma pequena carranca puxa sua boca macia. E assim, eu quero
beijá-la. Então eu beijo.
Ela cantarola contra a minha boca, depois se afasta, as
bochechas coradas. — Você me distrai e nunca vamos voar.
— Faça o que quiser, capitã. — Enfio minhas mãos em meus
bolsos. — Serei bom.
— Questionável. — Stella tem uma prancheta e passa pelo avião
com a mesma inspeção intensa que dou às minhas guitarras antes
de um show. Sim, tenho um roadie que cuida delas durante as
turnês e as guarda depois, mas afino o meu próprio instrumento e
tem que ser exato.
Ver Stella colocar o mesmo cuidado em algo é uma excitação
surpreendente. Eu nunca pensei que iria querer pular em uma
mulher só de vê-la checar os flaps da asa de um avião, mas aí está;
estou duro e mexo os pés quando ela puxa um pequeno tubo de
vidro e o enche com gás da asa.
— Eu os mandei encher o avião antes de chegarmos — ela me
diz. — Mas você ainda precisa verificar se há sedimentos e se
certificar de que é o tipo certo de gás.
— Tipo certo?
— Sim. — Ela se aproxima de mim, segurando o frasco na luz.
— Existem diferentes misturas. É como o tipo de gás que você
escolhe no posto de gasolina. Estamos procurando uma cor azul
pálida. Não vermelho ou transparente.
Porra, ela é sexy. Eu mal resisto a vontade de pressionar meu
nariz em seus cabelos e respirar.
Quando ela termina sua inspeção externa de pré-voo, que inclui
verificar o motor e perguntar quanto eu peso para que ela possa
levar em consideração a carga, estou duro como pedra e fervendo
de tesão. Mas eu não digo uma palavra. Esse é o seu show, e eu
vou deixá-la conduzir do jeito que ela quer. Sem distrações.
Stella abre a porta do avião e afasta a prancheta antes de me
encarar. — Ok, algumas coisas. Você pode estar se perguntando
como uma pessoa que tem problemas com números pode ser uma
piloto.
— Não tinha pensado nisso, na verdade. — Um pequeno
lampejo de autopreservação passa por mim e olho para o avião. —
Eu acho que você tem isso sob controle.
Ela aperta os olhos à luz do sol. — Passei na área médica e fui
certificada. Para combater qualquer possível acidente, eu anoto
algumas coisas. Eu sou hipervigilante. E nunca, jamais, colocarei a
mim ou a meus passageiros em perigo. Se houver até uma dica de
que algo não está certo, eu pouso. O orgulho não tem lugar lá em
cima.
Lentamente, eu aceno. — Eu acredito em você.
Seu aceno de resposta não é exatamente fácil, mas seus
ombros não são tão rígidos. — Isso me leva à segunda coisa. Eu sei
que deveria ter perguntado há muito tempo, mas teria arruinado a
surpresa. Você se sente confortável comigo pilotando?
— Você está brincando comigo? Mal posso esperar para vê-la
voar.
O prazer ilumina seus olhos azuis, mas ela não sorri. — Não vai
ser como um voo comercial. Vai ser uma viagem turbulenta. Você
fica enjoado? Diga a verdade, porque vomitar em um avião pequeno
não é divertido. Sem julgamento.
Eu bufo, mas a olho diretamente nos olhos. — Estômago firme,
baby. Juro.
Ela solta um suspiro aliviado. — Apenas me avise se você
estiver se sentindo mal.
— Acredite, não vou ficar enjoado. Mas vou te contar.
Com isso, Stella enfia a mão nas costas minúsculas e pega duas
mochilas pequenas com arreios de quatro pontos.
— Paraquedas de voo — explica Stella. — Muito confortável,
considerando todas as coisas.
— Paraquedas? — Não posso negar que estou um pouco
chocado e um pouco nervoso. Porque somos apenas nós. Eu
certamente não quero saltar de paraquedas sozinho. — Você está
esperando que eu pule desse avião?
A risada dela é brilhante. — Não. Sem pulos. Eu prometo.
— Então por que o paraquedas? Porque tenho que admitir, já
estive em um avião pequeno antes e nunca me pediram para usar
um. Eu confio em você para cairmos. Honestamente.
Stella sorri largamente, seus olhos azuis enrugando nos cantos.
— Bem, obrigada, John. Eu estou aliviada. Vamos colocá-los porque
é lei se eu estiver levando um passageiro. Agora, você vai colocar o
paraquedas e parar de fazer perguntas?
Eu nunca ouvi falar dessa lei, mas tudo bem, eu vou agradá-la.
Segurando minha língua, eu coloco o paraquedas, nem mesmo
fazendo uma piada quando ela se inclina perto da minha virilha para
me ajudar com os fechos.
Eu disse que Stella era sexy quando checou seu avião? Não é
nada – nada – comparado a vê-la fazer a verificação interna antes
do voo. Ou ao vê-la taxiar pela pista e conversar com a torre para
conseguir decolar. Juro que admiração brilha nos meus olhos
quando ela acelera e corremos pela pista nesse pequeno avião com
uma cabine tão pequena que meu ombro roça o dela.
E embora eu tenha estado em um avião pequeno antes, a
experiência de decolar com Stella, o chão simplesmente caindo
enquanto subimos ao céu azul é de tirar o fôlego.
Ela se vira e me dá um sorriso quando eu rio. — Tudo bom? —
Ela pergunta, sua voz crepitando nos nossos fones de ouvido.
— Lindo. — O Atlântico se estende amplo e azul escuro à minha
direita. Manhattan está atrás de nós, enquanto abaixo está a faixa
pálida das praias de Long Island.
Nós ganhamos altitude antes de Stella falar. — Ok. Sobre os
paraquedas...
— Eu juro por Deus, Stells, se você me disser que estamos
pulando, eu vou amarrá-la e encontrar um jeito de fazer essa coisa
voar de volta.
Ela ri, o som é baixo nos fones de ouvido. — Você nunca quis
saltar de paraquedas?
— Já saltei. — Ela me lança um olhar surpreso, e eu dou de
ombros. — Foi durante os meus dias de busca de emoções.
— Hmm... Bem, pelo menos eu sei que você não vai se assustar.
Mas não, não é disso que estou falando. — Ela gira o avião, o
movimento gracioso e eficiente. — Aqui está a coisa. Eu faço
acrobacias.
— Como manobras? — E eu estou ficando duro de novo. —
Você está brincando comigo?
Sua expressão é cuidadosa, quase preocupada com a minha
reação. — Sim. Você quer um pouco?
Santo inferno. Minha garota me levou para voar e quer fazer
acrobacias para mim. Eu sorrio tão grande que os fones de ouvido
praticamente caem. — Ah, foda-se sim.
Seu sorriso de resposta está cheio de alegria. — Vamos
começar com um hammerhead11. Depois alguns giros e um loop.
Nada muito louco.
— Nada muito louco, é?
Os cantos dos olhos dela enrugam. — Estou tentado a te
mostrar o louco, mas não estamos em um avião adequado para
coisas avançadas. Este avião é para o básico.
Eu acredito nela. Não há necessidade de dizer que estou duro
como uma pedra, que a acho tão sexy no momento, que estou
tendo problemas para me concentrar. Por que diabos eu disse a ela
que iríamos devagar?
Uma calma fresca se instala sobre Stella e é algo a se ver. Com
movimentos hábeis, ela nos leva ao céu; estamos totalmente na
vertical e subindo. É uma sensação estranha, a gravidade me
pressionando no encosto do banco, nada além de céu azul no meu
campo de visão. Subimos até parecer que estamos desacelerando.
Tudo parece parar – um momento de estranha quietude. O motor
está claramente funcionando com força, mas é como se tivéssemos
parado.
É meio assustador. No entanto, a concentração de Stella é
absoluta e me sinto muito seguro.
Então de repente o avião cai para a esquerda, uma queda total
em noventa graus. E nós estamos caindo, mergulhando diretamente
para baixo. Não posso evitar, grito como se estivesse em uma
montanha-russa. O chão está vindo em nossa direção, e de repente
não está mais. Estamos de volta no alto, girando, a terra e o céu são
um borrão. Meu interior está sendo reorganizado, os músculos do
meu pescoço tensionam e minha cabeça parece uma bola de
boliche. É brilhante pra caralho.
Stella leva o avião de volta ao céu. Para cima, para cima, para
cima... e mais. O cabelo dela está arrepiado. Meu estômago está na
minha garganta quando o avião dá uma volta. Estou gritando de
novo, rindo, totalmente vivo nesse momento.
Ela nos estabiliza e leva um minuto para eu me orientar. Minha
cabeça gira e meu sangue está bombeando, mas eu ficaria feliz aqui
em cima com Stella a observando fazer loop após loop.
— Acho que você gosta disso — diz Stella, com a voz baixa e
crepitando no meu fone de ouvido.
— Gostar? Eu amo isso.
— Eu também. — Seu rosto brilha de felicidade quando ela nos
leva ao longo da faixa pálida de praia que compõe Long Island. —
Eu me sinto livre aqui em cima, literalmente estando longe do
mundo. Mas competente também. Estou no controle total do meu
avião. Fazer as manobras requer precisão perfeita. Eu não tenho
tempo de me concentrar em qualquer outra coisa. É libertador
também.
— Entendi. É como me sinto em relação à música. Ela me puxa
para o momento e não existe mais nada. Não me sinto como um
fodido, porque sei que sou bom nisso. — Eu olho para ela. —
Provavelmente pareço arrogante, hein.
— Não. Parece a verdade. Você é bom. A falsa humildade é
muito mais irritante e arrogante. — O nariz dela enruga. — Nada
pior do que alguém fingindo que não se acha bom apenas para que
você possa falar sobre o quão bom eles são.
— A maioria dos músicos que conheço sabe que são bons, mas
ainda querem que você fale isso. Somos arrogantes assim.
— Você quer que eu te elogie, Blackwood?
— Tentador. Depende do que você estiver vestindo enquanto faz
isso.
Stella bufa. — Terá que esperar por mais tarde. Há uma
tempestade se aproximando mais rápido do que a meteorologia
havia previsto. — Nuvens escuras estão no horizonte e se
aproximando. —Vamos voltar.
Observo enquanto Stella faz suas coisas, conversando com o
controle de tráfego aéreo, manobrando o avião em direção à pista.
Mas quando estamos na aproximação final, e ela consegue
autorização para pousar, ela se vira para mim. — Você quer nos
pousar?
— O que? Eu?
— Sim. Pegue o manche. Coloque os pés nos pedais. — Ela
sorri para o meu rosto atordoado. — Está tudo bem. Você faria isso
se estivesse na sua primeira aula.
Faço o que ela diz, um pouco nervoso de que eu possa nos
matar, mas confio que Stella sabe o que faz.
— Os pedais se conectam aos lemes, que viram o nariz do avião
para a esquerda e para a direita. O manche atua no eixo de
controle. Para cima e para baixo, de um lado para o outro. Puxe o
manche um pouco para trás. Queremos que o nariz fique mais alto.
Bom. Agora, um pouco de pressão no leme esquerdo para
neutralizar o vento.
Sob meus movimentos desajeitados, o avião oscila e depois se
estabiliza. Stella mexe com os flaps e o acelerador, o tempo todo,
me dando instruções com sua voz suave. Minhas mãos suam, meu
coração bate mais rápido.
— Firme. Puxe o manche um pouco para trás. Um pouco mais.
Segure.
Apesar de estarmos diminuindo a velocidade, ainda parece que
o chão está correndo para nos encontrar. Então estamos flutuando
por um segundo, suspensos no tempo. As rodas batem com um
pequeno choque e solavanco. Stella assume, freando. E assim,
estamos taxiando na pista.
É surreal a sensação de estar no chão novamente, como se
tivéssemos sido algo completamente diferente lá em cima e agora
estamos de volta, ligeiramente mudados. Ou talvez seja eu quem
mudou. Não me sinto o mesmo cara que começou o dia. Estou
diferente – algo dentro de mim mudou ou rachou. Não sei qual, mas
sei que não sou mais o mesmo.
Fico quieto enquanto Stella estaciona seu avião. Fico quieto
enquanto ela faz o cheque pós-voo e resolve tudo. Fico quieto até
que ela se vira para mim com um sorriso largo, mas ligeiramente
vacilante em seu lindo rosto. — Tudo feito. Está pronto?
Sim. Sim, eu estou.
É quando eu a agarro.
CAPÍTULO VINTE E UM

JOHN

O S , seus lábios rosados se


separam quando eu a agarro. Minhas pernas parecem borracha, e
não sei se é por estar no avião ou porque sou tão completamente
desfeito por Stella que não consigo me conter. De qualquer maneira,
eu estou praticamente tremendo no momento em que estou diante
dela, minhas mãos segurando suas bochechas macias, os dedos
deslizando pelos fios sedosos de seus cabelos.
Minha testa repousa contra a dela e, por um segundo, eu apenas
a inspiro. Ela carrega o perfume de seu amado avião, do couro da
jaqueta que ela veste, de suor e luz do sol e mulher quente. Não é
reconfortante, o seu perfume. Nem de longe. Não posso chamar de
reconfortante quando ela faz meu coração bater forte e minha mente
acelerar com todas as maneiras que eu a quero. O cheiro de Stella
não conforta; ele me chuta em alta velocidade.
— Stells — falo rouco, porque minha voz ainda não está lá. —
Você sempre está me surpreendendo. Sempre me deixando tão feliz
por estar com você.
Quero contar mais a ela, contar como estou feliz por encontrá-la
e o pensamento de perdê-la me assusta pra caralho, mas não posso
dizer nada agora. Eu tenho que prová-la.
Sua boca é macia e suave, a boca como um pêssego doce. Eu
gemo como um homem morrendo de sede e finalmente provando a
água enquanto deslizo minha língua em seu calor quente e úmido
para obter outro sabor. Deus, ela é deliciosa, viciante.
Beijar Stella é uma experiência de corpo inteiro. Ela se move
comigo, seus lábios se movendo contra os meus, sua pequena
língua uma provocação escorregadia e astuta. Eu sinto na base do
meu pau, vibrações quentes ao longo do meu abdômen, passando
pela parte de trás das minhas coxas. Estou flutuando, e só ela pode
me aterrar.
Minha mão encontra o cetim suave de suas costas, onde ela
está um pouco úmida e quente. A curva da sua cintura se encaixa
perfeitamente na minha palma, e eu acaricio, amando o jeito como
ela estremece, os pequenos ruídos delicados de desejo que ela faz
na garganta.
Eu sei, querida, eu também quero.
Eu a pressiono mais perto, deslizando minha coxa entre as dela,
quando uma voz alta corta através da minha névoa de luxúria.
— Nós temos crianças aqui, Stella — diz um homem
rispidamente. — E elas não vieram para um show.
Stella estremece como se tivesse sido beliscada e se afasta do
meu abraço. Mas ela deixa uma mão no meu peito. É um simples
ato de propriedade que me faz reprimir um sorriso. Embora
provavelmente não seja uma boa ideia exibir um sorriso de merda
agora. Um homem mais velho e cansado está me encarando como
se ele soubesse exatamente onde minha mente estava e ele não
aprova.
— Hank — diz Stella, um pouco sem fôlego, — eu não vi você.
— Sem dúvida, já que você estava ocupada — diz Hank irritado.
Ele deve ter cinquenta ou sessenta anos. É difícil dizer. Rugas
profundas se espalham pelo canto dos olhos e correm pelas cristas
de suas bochechas. Um verdadeiro parágrafo de linhas franzidas
ondula ao longo da pele marrom escura de sua testa. Não sei se
elas estão sempre ao redor ou se formaram por causa da sua
carranca, mas aposto no primeiro.
Stella ri, suas bochechas ficando rosadas. — Sim, Hank. Eu
estava.
Ele prova que não é menos imune ao sorriso dela do que eu, e
sua testa franzida suaviza um pouco. — Teve um bom vôo?
— Excelente. — A palma da mão desliza pelo meu peito e se
concentra no meu coração. — Esse é meu amigo John.
Os olhos de Hank se estreitam. — Amigo, é?
— Bom amigo — Stella emenda, completamente imperturbável e
adoravelmente feliz.
Desde que Hank está ali parado, fazendo um buraco na minha
testa, eu dou um passo à frente. — Prazer em conhecê-lo.
Ele pega minha mão e dá um aperto mortal. Mas eu toco guitarra
desde criança, então minha mão é forte demais para esmagar.
Terminamos nosso impasse com Hank me soltando e acenando
com a cabeça antes de virar para Stella. — Vi você lá em cima. Sua
altura foi um pouco alta no hammerhead.
O nariz de Stella enruga. — Eu sei.
— Stella poderia competir se quisesse — diz Hank para mim e,
apesar do que Stella parece pensar sobre Hank não ser do tipo
paternal, o homem está claramente orgulhoso dela. — Ou ser uma
instrutora. É apenas uma questão de conseguir a licença.
Stella cora. — Então voar não seria só para mim mais. Estaria
vinculado às expectativas e ao trabalho.
— Se você gosta, não é trabalho — afirma Hank.
Ele está certo, e ele está errado. Adoro fazer música, tocar
guitarra e cantar. Eu mal podia esperar para mergulhar de cabeça
em ser uma estrela. Mas tornou-se um trabalho. As expectativas e o
estresse de cumprir compromissos intermináveis têm um preço. De
repente, o que eu amo não é mais puro. Tem vida própria e pode me
drenar se eu não tomar cuidado. Então, entendo por que Stella não
quer transformar sua paixão em seu trabalho.
Minha mão segura a nuca de Stella em uma demonstração
silenciosa de apoio. Mas ela não precisa disso. Stella balança a
cabeça suavemente e ri um pouco. — Seria um ótimo argumento,
Hank, se eu não tivesse ouvido você reclamar diariamente dos
alunos por anos.
Hank ri, um chiado estridente, como se ele não fizesse isso
muito. — É verdade, garota Stella.
O vento aumenta, correndo ao longo do chão e chicoteando no
topo das árvores baixas que cercam o aeroporto. Está ficando mais
escuro, o céu cheio de nuvens cinzentas.
Hank olha para cima, franzindo a testa. — Você vai voltar para a
cidade?
— Esse era o plano — diz Stella.
— Nós não vamos conseguir. — Enquanto eu falo, começa a
chover um leve salpico. Vai piorar a qualquer segundo. Olho para
Stella. — Estamos de moto. Confie em mim, você não quer andar
em uma tempestade.
Ela estuda o céu. — Teremos que nos esconder em um
restaurante por um tempo. Você se importa?
— Eu não tenho lugar nenhum para estar, além de com você.
Ela pisca com isso, mas Hank limpa a garganta, parecendo
bastante enojado. — Por que você não vem jantar? Corinne
adoraria vê-la.
— Ah... eu… — Os olhos de Stella disparam para mim, como se
ela estivesse preocupada em me deixar de fora.
Sendo sincero, provavelmente irei para uma noite em que
receberei olhares de desaprovação de Hank, já que ele não parou
de me encarar desde que apareceu. Mas ele claramente se importa
com Stella, e obviamente é importante para ela.
— Parece bom para mim — eu digo, bem quando o céu se abre
de verdade.

— A fica a casa de Hank? — John pergunta sobre


a chuva que cai quando sentamos na moto.
Hank correu em direção a sua picape e estamos nos preparando
para segui-lo.
— Cerca de cinco milhas. Não me importo de ficar um pouco
molhada. — Um trovão me faz pular.
John grunhe e me entrega meu capacete. — Montar em uma
tempestade não é algo que eu quero arriscar com você. Uma chuva
como essa não vai ser boa. Coloque sua cabeça nas minhas costas.
John liga a moto e seguimos para a estrada atrás da
caminhonete de Hank. A chuva nos atinge, e repenso minha postura
despreocupada sobre me molhar. Chuva te atingindo a cem
quilômetros por hora não é divertida. Eu sinto pena de John, que
está recebendo todo o impacto dela, e me aconchego mais perto de
suas costas.
Fica mais frio e molhado, e quando John vira a moto na rua de
Hank, eu estou tremendo. A visão da casa verde e branca, estilo
anos 50 de Hank é um alívio. Hank abre sua garagem e faz um
gesto para John estacionar sua moto ao lado da caminhonete.
Assim que John desliga a moto, Corinne abre a porta da cozinha
e acena. — Entre, entre. Você deve estar congelando. — Ela sorri
para mim enquanto eu ando. — Olá, garotinha. Faz muito tempo
desde que eu te vi.
— Ei, Corinne. — Eu beijo sua bochecha macia e sinto o
perfume familiar de sabão de lilás12. — Eu também senti sua falta.
Não importa a hora ou o local, Corinne está sempre arrumada.
Hoje, seus lábios são de um coral brilhante, seus cabelos grisalhos
cortados próximos à sua cabeça. Pulseiras de ouro balançam em
seu braço enquanto dá um tapinha no meu ombro e depois sorri
para John. — Vejo que você trouxe um amigo.
John entra no corredor da cozinha. — John Blackwood. Obrigado
por me receber, senhora.
— Ah, esqueça esse senhora. Faz eu me sentir velha. Pareço
velha? — Ela brinca.
As bochechas de John coram. — De maneira nenhuma,
senhora, er...
— Me chame de Corinne — diz ela, acabando com o sofrimento
de John. Ela nos leva a uma cozinha grande e alegre que eles
reformaram no ano passado com armários de madeira escura e
balcões com granito verde. E embora eu nunca diga isso a Corinne,
uma parte de mim sente falta da cozinha antiga com seus armários
laminados dos anos 80, balcões de açougue e piso de ladrilho cinza.
Só porque passei tanto tempo aqui quando adolescente.
A nova cozinha é linda, e completamente o estilo de Corinne,
mas não me sinto em casa do mesmo modo como a outra. Mesmo
assim, cheira da mesma forma, quente e convidativa, o cheiro de
carne assada me deixa com água na boca.
John e eu tiramos nossas jaquetas e Corinne faz um som de
reprovação. — As calças de vocês estão ensopadas. Vamos ver o
que podemos fazer sobre isso.
Apesar de nossos protestos, Corinne nos manda para fora, John
sendo enviado para o banheiro e eu para o quarto da filha deles,
Lucille. Logo, estou usando uma calça legging rosa choque que ela
deixou para trás quando foi para a faculdade. Encontro John no
corredor e sorrio. Ele está usando a velha calça de moletom da
Academia da Força Aérea de Hank, e ela está um pouco apertada.
— Sexy — eu digo, olhando para os tornozelos magros expostos
pela calça muito curtas.
— Espere até você ver a minha bunda — ele sussurra, andando
um pouco pelo corredor como se ele fosse um modelo de passarela.
O moletom está de fato abraçando sua bunda de forma libertina.
Mas ele faz funcionar. Eu assobio, e ele olha por cima do ombro
para piscar antes de voltar na minha direção. Apesar do meu medo
de que ele odiasse a visita, ele parece relaxado, feliz até. Mas seus
olhos procuram os meus, e o humor dele desaparece. — Você me
disse que não tinha família.
O comentário me atinge desprevenidamente, e luto para impedir
que meu rosto me traia. — Eu não tenho.
Meu ato é fraco, e nós dois sabemos claramente disso. John se
inclina, um sussurro alto o suficiente para ser ouvido. — Eu não sei
se você notou, Bonita. — Ele olha para o corredor onde as luzes da
cozinha brilham em boas-vindas e a conversa silenciosa de Corinne
e Hank flui. — Mas eu acho que tem.
Está escuro no corredor, mas me sinto totalmente exposta. —
Eles têm sua própria filha.
Um argumento fraco, na melhor das hipóteses, mas como posso
explicar a ele que, apesar de amar Corinne e Hank, não posso
emocionalmente mendigar para fazer parte da família deles. Será
como piedade ou caridade, porque eles estavam lá para me ver ser
abandonada. Eu os amo; mas não posso precisar deles.
O silêncio cresce, enquanto eu mudo o peso em meus pés e
procuro algo para dizer. John me observa por mais um momento e
depois me puxa para um abraço. Eu fico rígida em seus braços, mas
ele não parece se importar. Ele coloca um leve beijo na minha
cabeça. — Deixe-se ser amada, Stella Bonita. Você merece isso.
Ele não espera que eu responda, mas pega minha mão e me
leva de volta à cozinha.
O jantar é servido na mesa da cozinha e eu como,
surpreendentemente com fome. Ou talvez seja apenas a comida de
Corinne.
— Você voou hoje, Stella? — Corinne pergunta.
— Eu levei John para um passeio — digo entre bocados de
carne assada e purê de batatas. — Mostrei a ele alguns truques.
Hank resmunga. — Levou algum saco para enjoo?
À minha frente, John reprime um sorriso. Ele sabe que está
sendo provocado.
— Na verdade — eu digo — acho que posso ter convertido ele.
John assente. — Você converteu. Me chocou pra caralh-
caramba, no entanto. Eu não tinha ideia de que Stella poderia fazer
isso. — Ele explica principalmente para Corinne, já que Hank ainda
não parou de olhar para John, como se esperasse que ele fosse
roubar os talheres.
A lógica me diz que é porque ele viu John e eu nos agarrando,
mas ele não é exatamente parental comigo, então não sei por que
ele parece não gostar de John.
— Stella é uma ótima piloto — diz Hank, com os olhos
arregalados. — Precisa, lúcida, mas capaz de improvisar quando
necessário.
É o máximo que Hank já me elogiou, e me vejo querendo
afundar debaixo da mesa para esconder o meu rubor.
— É claro que, quando ela tinha dezesseis anos, ela só queria
passar pelas aulas teóricas de pilotagem para poder subir e fazer
intermináveis voltas no céu. — Hank bufa. — Se ela tivesse o que
queria, teria atravessado o Atlântico.
Eu sorrio — Mas que maneira de morrer.
John ri. — Como Stella era quando adolescente?
— Mais baixa. — Hank pisca para mim.
— Mais magra — eu digo com tristeza.
Corinne toca meu ombro. — Ela era pele e ossos. — Uma
sombra passa sobre seus olhos enquanto seus lábios se apertam
uma fração, antes que sua expressão amenize. — Mas colocamos
um pouco de carne nesses ossos.
Eu percebo que ela está pensando sobre a distinta falta de
paternidade do meu pai, que incluía esquecer de fornecer refeições,
e como muitas vezes eu chegava aqui faminta por qualquer comida
que ela me desse. Meu jantar está pesado na minha barriga e tudo
aperta. Estou enfiando comida na boca agora porque estou
realmente com fome ou por hábito?
Abaixando o meu garfo, empurro um sorriso. — Corinne faz as
melhores tortas. Por favor me diga que há torta para a sobremesa.
— Merengue de limão. — Ela ri baixinho quando faço um
pequeno gesto comemorativo.
John assiste, claramente divertido. — Eu posso imaginar a Stella
adolescente agora. Você deveria vir aqui mais vezes, Bonita.
Eu sei que deveria. Eu sei disso toda vez que os visito. Mas
quando saio, é mais fácil ficar longe e não ser lembrada de que não
tenho uma família real. Eu dou de ombros levemente. — É difícil
sem um carro. Mas estou economizando para um.
Hank se serve com mais um pouco de tudo. — Você deveria se
mudar para cá. Economize tempo e dinheiro, em vez de viver
naquela cidade barulhenta e muito cara.
— Hank — Corinne diz em tom baixo, — que jovem quer deixar
a emoção de Manhattan para viver aqui?
Hank resmunga e enfia uma garfada de cenoura assada em sua
boca.
Sento-me e descanso as mãos na barriga. — Na verdade, eu
estive pensando sobre isso.
John para, as sobrancelhas escuras baixando em uma carranca,
mas ele não interrompe.
— Meu apartamento virou um condomínio e estou pensando em
uma mudança de carreira. — Não sei por que estou dizendo isso
para Corinne e Hank. Mas é bom conversar com pessoas que
sabem o que aquele apartamento significava para mim. Talvez eu os
veja como influências parentais mais do que eu percebi. De
qualquer maneira, eu abri minha boca e tenho que continuar. — Não
estou dizendo que decidi nada, mas me aproximar do aeroporto
passou pela minha cabeça.
— Bom — diz Hank, pousando o garfo. — Você quer um
emprego na escola, você sabe que é seu. Assim que você receber
um certificado de instrutora — ele acrescenta, como se eu não
soubesse.
— Obrigada, Hank.
— Você ama a cidade — diz John calmamente. Há um olhar em
seus olhos, decepcionado e um pouco chateado, mas ele está
tentando não demonstrar. — Eu pensei que você também amasse o
seu trabalho.
Eu cutuco uma cenoura com meu garfo. — Acho que meu tempo
como amiga profissional está chegando ao fim.
— Trabalho ridículo — Hank murmura baixinho.
— Hank — Corinne repreende, dando um tapa no braço dele.
Mais uma vez, luto contra o desejo de deslizar para debaixo da
mesa. Por que, ah, por que eu trouxe isso à tona? Boca grande
ataca novamente. Eu limpo minha garganta. — O fato é que em
breve vou precisar de um lugar para chamar de casa. Killian não vai
ficar longe para sempre.
John pisca como se tivesse esquecido que eu não sou realmente
sua vizinha, mas apenas uma babá de animais que logo o deixará.
O sulco entre as sobrancelhas cresce, mas ele não diz uma palavra.
Um pesado silêncio desce sobre a mesa e não perco o olhar que
passa entre Hank e Corinne.
Corinne dá um sorriso brilhante e se vira para John. — Você está
trabalhando em um novo álbum?
John começa, com o garfo a meio caminho da boca. — Você
sabe quem eu sou?
— Jax Blackwood — diz Corinne de maneira prática. — Hank
aqui é um grande fã.
— Corinne! — Hank assobia. Sua expressão é mortificada. Eu
rio, o que me faz ganhar um olhar duro.
— Bem, é verdade — Corinne insiste, completamente
imperturbável. — Ele tem todos os seus álbuns.
Juro que a mesa chacoalha como se tivesse sido chutada.
John, espertamente, não sorri. — Estamos entre álbuns no
momento. — Não há um pingo de presunção em seu tom, mas eu
sei que ele está rindo por dentro. Eu posso sentir zumbindo ao longo
da sua pele. — Estou trabalhando em algumas músicas, mas elas
não estão prontas para serem gravadas.
Hank olha para o prato por um longo momento antes de se
endireitar e encontrar os olhos de John. — Vi você no Madison
Square Garden no verão passado. Não precisava de toda aquela
dança, mas sua voz melhorou.
Um brilho ilumina os olhos de John. — Ah, sim?
— Mmm. — Hank corta um pedaço de carne assada. — Mais
emotiva agora, menos pomposa.
John pisca, e eu não posso evitar – eu finalmente perco a luta e
rio.
— Desculpe — digo entre bufos — mas Hank é um fã. Estou
morrendo.
— Cale a boca, você — diz Hank sem muito calor. Os lábios dele
se contraem. — Eu gosto de todos os tipos de música.
Os lábios de John também se contraem. — Eu não posso mentir.
Esse foi o choque do meu ano.
Depois disso, Hank deixa seu ato rabugento mal-humorado de
lado e começa a interrogar John sobre as músicas, e ele fala
alegremente sobre isso. Nós comemos, e Corinne serve torta, e
John é o convidado perfeito. Mas não perco o modo como ele olha
para mim quando pensa que não estou olhando. Ele está chateado
e tentando não demonstrar.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

JOHN

S três da manhã e a chuva atinge a grande janela do escritório


de Hank e Corinne. Eu me concentro nisso, em vez da barra enorme
passando debaixo do colchão do sofá-cama que está cravando nas
minhas costas. Já dormi em sofás antes – bêbado e desmaiado, e
às vezes acordando com uma ou duas mulheres em cima de mim.
Essa experiência está tão distante de tudo isso, que meu velho eu
nunca teria acreditado. Meu velho eu teria deixado Stella com Hank
e Corinne e voltado para Manhattan na chuva.
O velho eu era um idiota. O velho eu não teria visto Stella. Sei
que não teria me incomodado em notar tudo o que ela é.
Não. Não pense em Stella agora.
Melhor ver a água correr como rios pelo vidro do que imaginar
Stella toda macia e aconchegada em sua cama em algum lugar no
andar de cima.
Estou com muito tesão. Mesmo que seja desconfortável, posso
superar o tesão. O tesão pode ser tratado pela Sra. Mão Amiga.
Minha mão não tem cuidado tanto dos negócios desde a minha
juventude, quando parecia que eu andava com uma ereção o dia
todo.
O que não consigo afastar é esse impulso de procurar Stella só
para estar perto dela. Mesmo que a chuva não tenha cessado desde
que chegamos aqui, eu queria voltar para a cidade para ficarmos
sozinhos. Mas logo ficou claro que não ia acontecer. Moto do
caralho. Eu deveria ter chamado um serviço de carro. Depois teve
Corinne e Hank, que nos pediram para ficar, preocupados com a
segurança da garota deles. O que eu poderia dizer? Obviamente,
eles significam muito para Stella. Eu seria um completo idiota em
dizer não.
Tomar o longo corredor até o escritório, na direção oposta que
Stella foi hoje à noite, me machucou fisicamente. Minhas bolas e a
parte inferior do meu abdômen realmente doem. Estou
desequilibrado e esse maldito sofá-cama está ficando cada vez
menos confortável.
Amaldiçoando, eu caio de costas e olho para o teto. O único som
que chega aos meus ouvidos é o tamborilar da chuva e meu próprio
coração batendo. Inferno, ela está pensando em se mudar para cá?
Quando Stella mencionou se mudar de Manhattan, foi como se
tivesse tirado o meu chão. Eu deliberadamente deixei de lado o fato
de que ela é uma vizinha temporária e que desaparecerá assim que
Killian e Libby retornarem.
Eu nem sei por que estou me importando com isso; mal fico em
Nova York por mais do que alguns meses de cada vez. Eu me
desloco muito.
Então, onde isso deixa Stella e eu? Por que eu não tinha
pensado nisso antes?
Você estava muito ocupado se divertindo e querendo-a.
— O que diabos eu estou fazendo?
Meu sussurro irritado percorre a escuridão, destacando o fato de
que estou sozinho e conversando comigo mesmo quando poderia
estar na cama de Stella, conversando com ela, tocando-a. Exceto
que estou na casa de Hank. Hank, que com certeza cortará as
minhas bolas se eu colocar a mão em Stella aqui. O que eu não vou
fazer. Não, eu vou ser um bom garoto e manter meu pau na calça,
mesmo que isso me mate.
Minha mão está úmida quando a passo pelo meu rosto. Eu não
me reconheço mais. O cara que eu costumava ser teria feito sexo
com Stella semanas atrás. Com quem estou brincando? Jax teria
seguido Stella para fora daquela mercearia e a seduzido no local.
Por que continuo pensando no velho eu?
O fato de eu pensar no meu velho eu como Jax e no novo eu
como John é confuso. Em algum lugar ao longo do caminho, eu me
separei. Empurrei Jax para as sombras com essa ideia maluca de
que eu poderia colocar toda a culpa nele e tudo ficaria bem.
Sim, eu estava fora de controle e era arrogante quando eu era
Jax, a estrela do rock. Sim, eu atingi o fundo do poço quando eu era
Jax. Mas não existe Jax e John. Sou só eu. Stella está certa, eu sou
os dois. Ela acha que ambos os meus lados são dignos. O fato é
que eu me senti mais eu mesmo – quem quer que seja – hoje do
que há muito tempo. Porque eu estava com Stella. Ela me faz sentir
vivo.
Então o que diabos você está fazendo aqui sozinho, cara?
Você prometeu levar as coisas devagar, lembra?
Devagar é uma coisa. Você prometeu que daria a devida
atenção à ela. Má ideia, Blackwood.
Você não pode fazer nada essa noite mesmo, então cale a boca.
— E agora estou discutindo comigo mesmo. — Com um bufo, eu
corro minhas mãos pelos meus cabelos. Estou tão irritantemente
tenso que no segundo que a porta do escritório se abre, meu
coração pula uma batida. Erguendo-me nos cotovelos, olho para as
sombras.
— Stells? — Melhor que seja ela. Realmente não quero pensar
sobre mais ninguém entrando aqui ou por que eles iriam.
Uma forma esbelta desliza para fora da escuridão. Os cachos
brilhantes de Stella são da cor da ferrugem no escuro quando ela
chega ao lado da minha cama. — Ei — ela sussurra.
— O que você está fazendo aqui? — Eu sussurro de volta. —
Você quer que Hank me castre?
O bufo dela é o fantasma de um som. — Ele não vai te castrar.
— Ah, sim ele vai. Ele claramente disse que rasgaria minhas
bolas e me alimentaria com elas se eu colocasse uma mão
inapropriada em você.
— Inapropriada? — Ela ri de mim. — Sr. Darcy, como você é
corajoso ao proteger minha honra.
Eu estreito meus olhos para ela. — Você sabe o que eu quero
dizer.
Stella se aproxima mais e o chão range alto. Eu juro, quase cago
nas calças. Eu olho para a porta. Graças a Deus ela pelo menos
teve o bom senso de fechá-la.
Na penumbra, seu sorriso é um cintilar de dentes brancos. —
Hank não disse isso. Eu o vi ir direto para o quarto antes de você
fechar a porta do escritório para dormir.
— Ah, ele disse tudo bem — murmuro. — Ele disse isso com
aquele brilho de morte que estava me dando. Confie em mim, sua
mensagem foi recebida alta e clara, pequena detetive.
— Mesmo que ele dissesse, é ridículo. Sou uma mulher adulta.
Você tem alguma ideia de como é arcaico nos colocar em lugares
separados?
— Sim. E eu concordo cem por cento sobre você ser uma mulher
adulta, totalmente capaz de tomar suas próprias decisões. Mas eu
sou um convidado na casa dele, então você sai, amor. — Eu faço
um movimento de enxotar em direção à porta.
O bufo dela diz que estou sendo ridículo. Claro, não é o traseiro
dela correndo o perigo de ser aniquilado por um furioso ex-piloto de
combate. Eu sei disso porque Hank me contou histórias, incluindo
sobre como ele conhece caras que podem fazer as pessoas
desaparecerem. Estou apenas meio certo de que ele estava
brincando.
— Ele nem é meu pai, pelo amor de Deus.
— Diga isso a Hank. — Eu levanto uma mão rápida. — De
manhã.
Suas coxas pressionam contra o colchão, brilhando branca e
nua, e, ah porra, eu posso sentir o perfume da sua pele. Ela está tão
perto, tudo o que tenho a fazer é estender a mão e deslizá-la entre
as suas pernas.
Eu fecho meus olhos com força. — Tenha misericórdia, Stells.
Estou tentando ser bom.
— Eu sei. É realmente irritante.
Escuto uma risada silenciosa. — Volte para a cama, sua pirralha.
Ela sorri, inclinando-se um pouco, o rosto uma lua pálida
pairando acima de mim. — Eu não consigo dormir.
Eu tenho algo para fazer você dormir melhor. Não, espere, é
uma piada horrível; as mulheres não querem ser colocadas para
dormir enquanto você as fode, seu idiota.
Eu passo a mão sobre os olhos e tento limpar meus
pensamentos. — Por que você não consegue dormir? Está se
sentindo bem?
— Não. Estou solitária. Posso dormir do seu lado?
Do meu lado, em cima de mim, embaixo de mim. Contanto que
você esteja comigo.
Limpando minha garganta, encontro minha voz. — Stella, não
vamos fazer sexo.
— Eu ofereci?
Eu a encaro porque nós dois sabemos que se ela entrar nessa
cama, não vamos manter nossas mãos longe um do outro. Ela olha
para trás por alguns instantes, mas depois cede com um mexer das
sobrancelhas que me faz rir. Eu não quero que ela vá embora. Ela
vai levar toda a alegria da sala.
— Posso ficar ou o quê? — Ela é toda cachos caídos, grandes
olhos suplicantes e lábios carnudos. Como devo resistir? Não sei
por que estou tentando. Eu posso me preocupar em morrer amanhã.
Resmungando, eu me arrasto e levanto as cobertas. Stella entra.
Instantaneamente, minha cama é um lugar melhor, preenchida com
seu corpo macio, quente e agitado. E eu quero dizer agitado. Ela me
lembra um filhote de cachorro enquanto se esconde debaixo das
cobertas e reivindica um lugar o mais perto de mim possível. Eu rio
baixinho e deslizo um braço sob o pescoço dela, colocando sua
cabeça no meu ombro.
Stella descansa a mão no meu peito e suspira. — Isso é melhor.
Eufemismo. Sorrindo, pressiono meus lábios no topo da sua
cabeça. — Confortável?
— Sim. — Ela se mexe novamente, e o sofá-cama grita em
protesto.
— Shhh! — Eu juro, estou suando. — Quieta.
Stella revira os olhos. — Meu Deus, você está agindo como um
gato agitado.
Eu olho do meu nariz para ela. — Você não notou as espadas de
verdade pairando sobre nossas cabeças? — Hank tem uma coleção
delas. Juntamente com um bom número de facas de caça. Ele fez
questão de mostrá-las para mim.
As bochechas dela estão inchadas. — Elas são apenas para
decoração.
— Uh-huh. Claro que são. Diga-me, Bonita, você já trouxe um
cara para cá? Seus corpos estão enterrados no jardim?
— Você é o primeiro. Mas vou contar sua história se você não
conseguir.
— Sua preocupação é comovente. Sério.
Stella ri suavemente, uma lufada de som faz meu coração
tropeçar. Sim, meu fodido coração está vibrando por causa de uma
risada. Eu seriamente não me reconheço. E eu não ligo.
— Você vai mesmo acabar com o serviço de amizade? — As
palavras saem da minha boca sem premeditação.
Seus dedos ficam tensos e pressionam meu peito antes de
relaxar. — Adoro ajudar as pessoas, fazendo com que se sintam
menos solitárias. — Uma leve respiração sopra pela minha pele. —
Mas está chegando ao ponto em que meu trabalho me faz sentir
sozinha. Estou começando a me ressentir, e isso nunca é bom.
— O que então? Você será instrutora de vôo?
— Eu não sei. — Seus dedos traçam um padrão ocioso no meu
peito. — Eu teria que conseguir um certificado. O trabalho não paga
muito bem, e não é fácil chegar na estação de trem, então eu
definitivamente teria que me mudar da cidade.
Desejo não ficar tenso, mas posso sentir meus músculos
enrijecerem de qualquer maneira. Stella claramente sente isso
também. A palma da mão suaviza a minha pele. — Não quero
deixar a cidade. É a minha casa. — Ela olha para mim. — É ridículo
me apegar a uma área que não posso pagar só porque é familiar?
— Bonita, você mesmo disse: é a sua casa. Mais do que a de
qualquer um que eu conheço. Por que seria ridículo querer ficar?
— Tenho trinta anos e não tenho uma pista. Eu só queria saber o
que fazer comigo mesma. Eu estava sempre tão focada em me
divertir no momento que nunca planejei o “e agora?”.
Dessa maneira, Stella e eu somos iguais. O futuro é um lugar
escuro e nebuloso que eu nunca quis contemplar. Principalmente
porque quando penso nisso, me vejo sozinho, irrelevante e à deriva.
Eu digo a mim mesmo que não me importo de ficar sozinho. A essa
altura, estou sozinho por mais da metade da minha vida. Mas depois
que a música parou e os meus amigos começam a fazer suas
próprias coisas, tudo o que sinto é vazio. Tentei preencher esse
buraco com festas constantes, sexo, viagens de um lugar para
outro. Mas ainda está lá.
Também não quero isso para Stella. Ela é muito cheia de alegria
e vida para se sentir à deriva. — Se você pudesse ter qualquer
coisa que quisesse, qualquer coisa e dinheiro não é problema, o que
seria?
Ela fica em silêncio por um tempo, claramente pensando na
questão. Então ela fala, hesitante, como se a admissão lhe
custasse. — Um lar. Algo permanente. Algo que seja meu.
Eu sofro por ela. — Como seria?
Ela se mexe um pouco, acomodando-se mais confortavelmente.
— Na cidade. Uma casa em uma pequena rua, onde é privado, mas
perto de tudo. Uma casa antiga, com personalidade e charme, e um
jardim no terraço para plantar tomates e flores, e eu posso
aproveitar o sol.
Eu posso praticamente ver isso. — E uma lareira a lenha —
acrescento. — Você tem que ter uma para poder se enrolar e ler nas
noites frias.
— Parece o paraíso — diz ela com um suspiro.
Eu a imagino lá, naquela casa aconchegante, cheia de livros,
flores e música. Preenchida com a luz de Stella. — Sim.
— Eu te invejo — diz ela antes que eu possa falar novamente.
— Por quê? — Espero que não seja a fama, porque é uma faca
de dois gumes.
— Você está brincando comigo? Você tem esse talento incrível e
está no ápice da sua profissão. Você sabe o quão raro é?
Eu sei. Ou eu achei que sabia. O engraçado é que, é preciso a
admiração silenciosa de Stella para eu realmente ter certeza.
Mesmo assim, tenho que ser honesto com ela. — Parece que você
pode ter um aspecto da sua vida em perfeita ordem e o resto estar
pegando fogo.
— Você está certo — diz ela em voz baixa. — Desculpe. Eu não
pensei...
— Eu não quis dizer meus problemas. — Solto uma curta risada.
— Embora admita, tenho minha quota. Mas é isso mesmo. Todas as
pessoas que conheço na minha profissão têm merda em que
precisam trabalhar. Uma forma de sucesso não garante outra, sabe?
Ela vira o rosto na dobra do meu ombro. — Sim. Por que essa
parte da minha vida? Agora mesmo? Espetacular.
— Estou me sentindo muito bem agora — eu concordo.
Especialmente quando Stella desliza sua coxa nua sobre a minha.
Um pensamento surge na minha mente depravada: e se ela não
estiver usando calcinha? Assim, minha mão começa a flutuar para o
sul, deslizando pela encosta delicada das suas costas, buscando a
curva suave da sua bunda. Porque eu tenho que saber. Eu tenho
que saber.
Stella se move em meu toque, delicadamente arqueando sua
bunda doce em direção a minha mão. Boa garota, Stella. A melhor
garota. Ela é um punhado suculento, e lhe dou um aperto suave e
apreciativo enquanto a ponta do meu dedo traça a linha da sua
calcinha.
Droga.
Sua calcinha é de algodão macio, o que de alguma forma me
excita mais do que se eu a tivesse encontrado nua ou em seda. Não
consigo ver, mas na minha mente a calcinha é rosa pálido com um
grande coração vermelho na frente e no centro. Isso me deixa tão
excitado que meu corpo inteiro se aperta.
Ela sente. Eu sei que ela sente, porque ela está se virando mais
para mim, seus seios pressionando contra as minhas costelas. —
Você está me agarrando de uma forma sexual, senhor.
— Não posso evitar. Se você estiver a uma curta distância, eu
vou te apalpar. — Apertado com antecipação, viro para o lado,
deslizando um pouco até ficarmos cara a cara. E o maldito sofá-
cama do inferno grita em protesto. Desta vez, nós dois congelamos,
olhando um para o outro com os olhos arregalados enquanto os
segundos passam.
Um sorriso travesso brilha nos seus lábios. — Eu nunca me
esgueirei com um garoto quando adolescente, mas sinto que estou
fazendo isso agora.
A verdade é que, embora eu não goste da ideia de ser pego por
Hank, não seria o fim do mundo. Mas fingir que seria, esgueirar-me
com Stella como se fossemos um par de adolescentes
desobedientes, é surpreendentemente divertido. Eu nunca tive
medo de ser pego. Eu não tinha ideia de como isso poderia fazer
cada toque, cada respiração, significar mais. Quão excitado poderia
me deixar.
Com a ponta do dedo, afasto uma mecha de cabelo que caiu
sobre sua bochecha. — Acho que estávamos perdendo.
Seus olhos brilham e eu sei que ela quer brincar. Isso me deixa
ainda mais excitado.
— Nós vamos ter que compensar isso. — Ela acaricia a linha do
meu pescoço, leve e à deriva, como se não tivesse um destino em
mente, mas apenas quisesse tocar. — Quero dizer, essa não é a
casa dos meus pais. Mas poderia ser. Se Hank entrasse e me
encontrasse aqui...
Minha boca está sobre a dela, reaprendendo o suave e doce
inchaço de seu lábio inferior, tomando uma pequena saboreada do
seu lábio superior. Não me lembro de me mexer, ou mesmo de
decidir beijá-la. Mas não paro. Eu a beijo suavemente, amando o
jeito que a faz tremer. Eu beijo sua bochecha, a curva da sua
mandíbula. Minha mão segura a parte de trás da sua cabeça
enquanto beijo seu pescoço e depois encontro sua boca novamente.
Seus dedos vasculham meus cabelos, massageando meu couro
cabeludo. É tão bom, tão malditamente bom. Eu descanso minha
testa contra a dela enquanto brinco com a gola da sua blusa. —
Você ficará de castigo se formos pegos, Bonita?
— Talvez — ela sussurra, arqueando as costas apenas o
suficiente para levantar os seios.
Ela está vestindo uma camiseta velha dos Knicks. Lentamente,
traço o “K” e roço a ponta rígida do mamilo. Stella respira. Eu corro
meu dedo de novo, provocando. Mas isso me provoca também, e eu
tenho que morder o lábio para não gemer, largar o jogo e apenas
transar com ela.
— Você é tão bonita aqui. — Minhas juntas acariciam a curva do
seu peito. — Posso ver você nua, doce Stells? Você vai me dar uma
espiada?
Eu já vi os seus seios antes. Eu tive minhas mãos neles, minha
boca neles. Maldito céu. Mas aqui no escuro, nessa casa que não é
minha ou dela, é diferente. É uma emoção simples que me atinge
mais do que qualquer sexo completo que eu já tive.
Eu não sei o que isso está fazendo para Stella, mas ela faz um
pequeno barulho, seu corpo se mexe na cama como se estivesse
lutando para se manter imóvel. Sua voz é ofegante e inocente como
se não tivesse certeza. — Só uma espiada?
Porra, ela sabe jogar. Meu pau está tão duro que dói. — Eu não
vou colocar uma mão em você, eu juro. — E eu não vou. Se eu a
tocar agora, a brincadeira vai acabar. — Me dê uma pequena
espiada desses peitos bonitos, querida.
No quarto escuro, ela é iluminada pela luz esverdeada da rua
que derrama pela janela, então não sei dizer se ela está corando.
Mas suas pálpebras se abaixam quando seus lábios se abrem, e os
inchaços dos seus seios se elevam em uma respiração agitada.
Suas mãos são desajeitadas quando ela se abaixa e agarra a
bainha da blusa. Minhas bolas se apertam em antecipação.
Deus, ela é sexy, mexendo os quadris para tirar a camisa da
bunda. Então desliza sobre essas curvas. Sua calcinha não tem
coração nela. Ela é coberta de pequenas bolinhas. Eu quero tocar
cada uma com a minha língua. Fico quieto enquanto o inchaço
suave da sua pequena barriga e a lua crescente de seu umbigo são
expostos. Ela é um pêssego, exuberante e madura.
Stella vai devagar, demorando-se de propósito. No momento em
que as curvas gordas dos seios inferiores são expostas, estou
suando. Ela faz uma pausa, seus olhos encontrando os meus. O
momento para, se expande até que eu possa senti-lo pressionando
contra a minha pele.
— Me mostre — digo rouco, sem reconhecer a minha própria
voz.
Stella morde o lábio inferior, olhando para mim por baixo das
pálpebras abaixadas. Está me matando, e ela sabe. Eu amo isso.
Com um pequeno som, ela coloca a blusa sobre os seios.
E lá estão, cheios, seios redondos cobertos com mamilos
castanhos que apontam para cima. Eu sei que sardas espanam a
extensão de seu peito, mas elas estão escondidas nas sombras.
Quero acender uma luz só para vê-las, mas não me mexo. Meus
dedos se enrolam com força para não estender a mão. — Você é
linda. Você sabe disso? Absolutamente linda.
Stella se estica como se estivesse se deleitando na sensação de
seu corpo estar em exibição, como se ela estivesse tão tensa e
excitada como eu. Com as mãos ainda segurando a blusa, ela olha
para mim, seus seios levantando e caindo a cada respiração
superficial que ela dá.
— Você gosta que eu olhe para você, doce Stella?
Ela lambe o lábio inferior. — Sim.
Diante dos meus olhos, seus mamilos enrugam e endurecem em
brotos rosados.
Meus dedos seguram o lençol. — Olhe esses mamilos bonitos
ficando tão rígidos. Eles estão doendo, baby?
Eu sei que ela está corando. Eu posso sentir o calor saindo dela.
Quando ela fala, é um estalo de som. — Sim.
— Dê uma beliscada nesses doces mamilos — eu sussurro
intensamente.
Eu amo seu gemido estrangulado como se eu a tivesse chocado
demais.
Ela hesita, e eu me pergunto se fui longe demais, mas então
suas mãos relaxam sobre os seios. Reprimo um gemido, recusando-
me a piscar. Delicadamente, ela agarra os mamilos e aperta, a
cabeça caindo em um suspiro.
Minha reação é visceral, um golpe de demasiado calor direto no
meu pau, e eu tenho que pressionar a minha ereção na cama para
aliviar a dor. — Deus. Deus, faça isso de novo.
Ela faz. Seus cílios tremem quando ela puxa seus peitos.
— Tão bonita. Você é perfeita. — Minha voz é grave no escuro.
Suas coxas se movem uma contra a outra, impaciente, carente. Eu
assisto a ação. — Você está molhada, querida?
— Mmm. — Ela morde o lábio inferior.
— Coloque a mão na calcinha e sinta como está molhada.
Stella exala rapidamente, seu corpo tremendo. — Ah Deus. —
Ela não olha para mim quando estica o braço. Seus olhos se
fecham, um nó se forma entre as sobrancelhas como se ela
estivesse com dor. Quando a mão dela desliza por baixo da frente
da sua calcinha de algodão, ela dá um pequeno miado de angústia.
— Tão molhada. John, estou tão molhada.
Eu quase perco o controle. Por um segundo, nós dois apenas
respiramos, Stella com os olhos fechados e a mão fechada em volta
de si mesma, eu assistindo, sabendo que ela é a visão mais linda
que já vi. — Você vai me deixar assistir você? — Eu pergunto a ela.
— Eu quero ver você gozar.
— Você... você não quer me tocar? — Ela sussurra de volta, seu
corpo tremendo.
— Eu quero te tocar tanto que dói. — Engulo em seco. — Mas
prometi que manteria minhas mãos para mim mesmo.
— John. — Ela está meio rindo, meio olhando para mim. — Você
é mau.
Eu sorrio, mas rapidamente se dissipa, e minha voz fica urgente.
— Me mostre. Mostre como você gosta. Me mostre para saber
exatamente o que fazer com você quando chegarmos em casa. —
Porque no segundo em que a tiver sozinha na minha casa, será
inevitável.
— Tudo bem — diz ela, — mas você também precisa me
mostrar.
O calor lambe minha espinha. — Você quer que eu goze com
você?
A chuva bate nas janelas enquanto os olhos arregalados de
Stella olham de volta para mim. — Você já fez isso antes? Se
masturbar na frente de alguém?
Eu tive muito sexo. Fiz muita merda louca, algumas divertidas,
alguns das quais me deixaram enjoado e questionando minhas
escolhas. Mas eu posso responder honestamente. — Ninguém
nunca me pediu.
Geralmente, as mulheres querem fazer isso por mim. Elas me
masturbavam ou me chupavam enquanto diziam repetidamente que
não podem acreditar que estavam tocando o pau de Jax Blackwood.
Envelheceu muito rápido e aprendi a me desligar mentalmente das
minhas parceiras. Eu não estou me desligando agora. Na verdade,
eu sou tão parte do momento que é quase demais.
Antes, eu diria que me masturbar ou ver uma mulher se
masturbar era apenas mais um ato sexual. Pensando em fazer isso
com Stella, percebo que não é. É preciso confiança para realmente
se abrir, se deitar. De repente, me sinto exatamente como o
adolescente que estou fingindo ser, porque não sei merda nenhuma
sobre a verdadeira intimidade.
A parte de trás do meu pescoço se aperta. — Nós não
precisamos — eu sussurro, — se você estiver desconfortável.
— Eu estou nervosa. — Ela me dá um sorriso vacilante que me
faz querer beijá-la. — Eu nunca fiz isso antes. Mas eu quero com
você.
Tão mais corajosa do que eu. Antes que eu possa confessar
isso, ela arrasta a calcinha pelos quadris. Olho por muito tempo,
minha boca provavelmente aberta como um cão ofegante. Mas
então paro de pensar nisso e me atrapalho com minha cueca boxer.
Estou tão duro que meu pau trava no tecido e bate no meu
estômago quando o libero.
Stella ri.
Esse som. Borbulha sobre a minha pele, viaja até o meu
coração. Eu amo esse som. Eu estou sorrindo de volta, rindo baixo
até a ver. Calcinha ao redor dos joelhos, camisa enrolada no
colarinho e cada glorioso, exuberante centímetro em exibição. Para
mim.
Eu quero saber se o seu pequeno tufo de cabelo também é
ruivo-dourado. Estou desesperado para descobrir. Desesperado
para conhecer todas as cores, sabores, o aroma e a textura da sua
pele. Eu quase peço – imploro – para acender a luz, mas minha voz
se perde, meu cérebro se mexe quando ela separa as coxas e
desliza a mão entre elas.
— Eu gosto suave no começo. — as pontas dos dedos deslizam
ao longo do broto inchado de seu sexo enquanto a outra mão
percorre o mamilo. — Uma provocação mal feita que me faz querer
mais.
Ela mexe os quadris, perseguindo o próprio dedo, e eu juro por
tudo o que é sagrado, eu choramingo.
— Geralmente — ela murmura, — faço isso até me sentir
escorregadia. Mas estou tão molhada agora...
— Jesus — expiro apressadamente. — Eu consigo ouvir. Ouço
seus dedos deslizando sobre essa boceta molhada.
A respiração de Stella trava. Seu olhar colide com o meu, todo
quente e luxúria atordoada. — Você deveria estar fazendo isso junto
comigo.
Francamente, receio que se eu tocar no meu pau agora ele
explodirá, mas eu prometi. Minha mão treme quando eu a levo para
a boca. Inferno, eu amo o jeito que os olhos dela se arregalam
quando eu dou uma lenta lambida na minha palma antes de segurar
o meu pau. Eu estou quente ao toque e tão duro que meu pau está
dolorido. Eu me aperto para aliviar a pressão antes de dizer rouco:
— Começo devagar e firme, como se estivesse empurrando em
uma mulher.
Stella assente, assistindo com um ávido interesse que me anima.
As coxas dela se separam apenas uma fração, como se ela não
estivesse realmente ciente do que fez, e eu quase rolo e afundo
nela. Seria tão fácil, tão bom. Mas não faço. Porque ela quer essa
experiência e, por mais excitado que eu esteja, também quero.
— No que você pensa? — Ela pergunta no escuro. — Quando
você faz isso?
— Você. — Estou me acariciando mais rápido agora, entrando
em um ritmo. — Desde aquela primeira noite, em só você.
Ela geme, a cabeça pendendo no travesseiro. Ela está indo mais
rápido também, movendo os dedos em círculos ásperos e
desleixados, abusando da sua pequena boceta. A vontade de beijá-
la e facilitar isso para ela faz eu me inclinar para frente. Nossas
respirações se misturam enquanto ofegamos. Estou empurrando
meu pau com força agora, a tensão em mim aumentando.
— Diga-me — diz ela. — Diga-me o que você imagina.
Por um segundo, fico quieto. Eu vou decepcioná-la. Ela terá
expectativas. Mas seus olhos estão cheios de desejo e confiança.
Ela olha para mim como se eu fosse a melhor coisa que já viu. Eu,
não a concha ou o nome. Isso me deixa aberto e cru. Aumenta
minha consciência de tudo, os lençóis amarrotados em volta das
minhas pernas, o suor escorrendo pelas minhas costas, o atrito da
minha mão ao longo do meu pau e o som que faz. Minha respiração
ofegante, secando a minha boca.
Eu lambo meus lábios. — A verdade?
Sua resposta é um som fraco. — Sempre.
— Eu penso em me ver deslizando em você. Imagino afundar no
seu calor. — Minha voz fica mais áspera, minhas bolas estão
apertadas e prazerosas. — Aquele primeiro impulso de quando eu a
tomo, sabendo que você está deixando. É isso. Eu penso em ter
você. Finalmente, porra, transando com você. É com esse momento
que eu sonho.
Ela geme, seus lábios se abrindo fracamente.
— Ah, porra, Stells, por favor, goze. Goze para mim, querida.
Ela goza. E ela é tão malditamente bonita que eu não posso
falar. Seu lábio está preso entre os dentes, as coxas apertadas ao
redor da mão, um grito silencioso apertando suas feições. Ela
arqueia as costas, empurrando os seios para o alto, aqueles lindos
seios. Eu não posso evitar. Eu me abaixo e pego um mamilo com a
boca, chupando forte.
Stella solta um pequeno grito e empurra contra mim,
silenciosamente exigindo mais. Eu a chupo como um homem
faminto. Eu nem percebo que estou gozando até sentir o gozo
quente e molhado na minha mão, atingindo meu estômago. Por um
longo momento, eu caio sobre ela, minha boca aberta e ofegante
contra o seu seio trêmulo. Dou-lhe uma lambida prolongada que a
faz choramingar antes de me afastar, caindo de costas com uma
expiração pesada.
Ficamos lá, nós dois respirando com dificuldade na escuridão
silenciosa. Batidas de chuva nas janelas, a sala ainda como se nada
tivesse acontecido, como se meu mundo não tivesse virado de
cabeça para baixo. Stella se move, endireitando suas roupas com
apalpadas desajeitadas. Pego um lenço de papel da caixa em cima
da mesa lateral e me limpo, ciente de que ela está me vendo.
Estranho como eu acho isso sexy também.
— Uau — ela diz suavemente, e eu sei que ela não está falando
sobre a minha limpeza.
Atiro o tecido em uma lata de lixo, puxo minha cueca e rolo para
o meu lado para encará-la. Ela está olhando para o teto, com os
cabelos despenteados. Como se estivesse sentindo meu olhar, ela
vira a cabeça e um pequeno sorriso torce os lábios. Ela não diz
nada, apenas olha.
— Stells — Meus dedos traçam a curva de sua mandíbula. Sua
pele está quente e úmida, e eu seguro sua bochecha antes de
descansar minha cabeça em um travesseiro.
Ela se move na minha direção, se aconchegando perto. Ela
cheira a sexo, suor e alguma doçura fresca. Eu respiro fundo,
fechando meus olhos. Por que isso é tão bom? Só isso.
Eu preciso encontrar uma maneira de segurar esse sentimento,
mantê-lo seguro. Não tenho ideia de como fazer isso. Parece
essencial que eu aprenda.
— John?
— Sim? — Eu brinco com seus cabelos acetinados, torcendo um
fio em volta do meu dedo.
— Se não fodermos quando chegamos em casa, vou ter que te
matar.
Eu endureço por um segundo, depois caio na gargalhada,
tentando mantê-la baixa. Ela aperta a minha lateral e eu me inclino
ainda mais para ela. — Porra, sim, nós vamos, Bonita.
Assim, estou contando os minutos.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

STELLA

— E , . — Corinne
coloca uma caneca de café na mesa para ele.
Ao meu lado, Hank grunhe e lança um olhar para John. Eu
mordo o interior da minha boca. Ontem à noite, adormecemos
embrulhados um no outro, apenas para acordar com Hank em pé
sobre John, dando-lhe o olhar de reprovação. — Não sei por que me
incomodei.
— Sim, senhora, dormi. — John enfia uma enorme mordida de
panqueca amanteigada na boca, mantendo espertamente os olhos
no prato, mas há um pequeno sorriso brincando nas bordas dos
lábios. Sob a mesa, seu joelho salta em um ritmo agitado. Desde
que estamos sentados perto, sua coxa esfrega levemente contra a
minha. O pequeno contato zumbindo ao longo da minha pele.
Memórias do que fizemos flutuam pela minha cabeça,
dificultando a concentração em qualquer coisa. Eu continuo vendo
seu tronco se contraindo, os músculos tensos em seu antebraço
mudando e flexionando enquanto ele trabalhava em seu pau duro.
Deus, ele tem um belo pau. Cabeça arredondada, um eixo grosso
que curva um pouco para a direita.
O calor corre sobre minha pele. Pare de pensar no pau dele
enquanto está na mesa. Isso é tão errado. Doentio, Stells. Doentio.
E tolo. Tudo o que consigo pensar agora é em John se
satisfazendo, suas bolas gordas batendo contra o punho a cada
golpe, seu rosto tenso com a concentração e seus lábios suaves
com a respiração ofegante. Foi a coisa mais gloriosa que eu já vi.
Eu quero ver de novo. Em plena luz do dia. Talvez em câmera lenta.
Repetidas vezes.
Meu Deus, Corinne está com o aquecedor ligado ou algo assim?
Tomo um gole apressado de café e ele queima o fundo da minha
garganta.
Os olhos verdes de John se estreitam ao som do meu pequeno
gorgolejo. — Você está bem, Bonita?
Não. Estou com tanto tesão que minha barriga dói e estou
fantasiando sobre fazer filmes com seu pau.
Fracamente, sorrio e pego um pedaço de bacon perfeitamente
cozido. — Ótima.
Os olhos de John seguram os meus, e seu pequeno sorriso se
torna um pouco desonesto. Duvido que ele esteja tendo fantasias
sobre fazer filmes, mas definitivamente está pensando na noite
passada. A ponta rosada de sua língua se esgueira para pegar um
resquício errante de xarope no lábio inferior. É tudo o que posso
fazer para não lambê-lo também.
Precisamos sair daqui.
Seu joelho continua balançando, um empurrão frenético que está
começando a chacoalhar a mesa. Coloco minha mão em sua coxa,
e ele imediatamente para. Sua mão cobre a minha e aperta.
Corinne ainda está falando, tagarelando. — Juro que tivemos
tanta chuva ontem à noite. Hank, é melhor você verificar o porão.
Você sabe como essa escada de trás tende a inundar.
— Mmm — diz Hank. Tradução: verifiquei. Está tudo bem, mas
eu quero comer sem você me incomodar.
A resposta de Corinne — hmmm — basicamente significa que
ela está de olho nele e vai verificar o porão ela mesma assim que o
café da manhã terminar.
Eu sorrio com a boca cheia de bacon. Um empurrão do ombro
de John contra o meu me faz olhar para cima. Ele arqueia uma
sobrancelha, seus olhos disparando entre Hank e Corinne. Ele
notou a interação deles e, como eu, ele acha agradável. Tenho o
desejo irresistível de rir, não de Corinne e Hank, mas desse
estranho e vertiginoso sentimento de leviandade. De serena
felicidade.
Eu abaixo minha cabeça, deixando meu cabelo deslizar sobre
minhas bochechas quentes para esconder meu rosto.
O polegar de John acaricia minha palma, a ponta bruta
circulando lentamente um certo ponto que faz minhas coxas
apertarem. Só a partir disso. Nós realmente precisamos sair daqui.
— Eu odeio comer e correr… — Um bufo de Hank me
interrompe. Eu franzo meus lábios. — Mas Stevens, o gato que eu
estou cuidando, vai precisar comer.
Eu envio um pedido de desculpas silencioso a Brenna – que eu
sei que John pediu para alimentar os animais de estimação hoje de
manhã – e depois bato no joelho de John quando ele faz um
pequeno gorgolejo no fundo da garganta, tentando engolir uma
risada.
Corinne sorri largamente. — Claro, querida. Estou tão feliz por
termos passado um tempinho juntas.
Eu me sinto um lixo agora. Mas quando ela me puxa para um
abraço na porta, ela murmura no meu ouvido. — Se eu fosse jovem
e livre e tivesse acesso a um lindo e alto rapaz como o seu homem
ali, também estaria me contorcendo no meu lugar.
Uma risada assustada me escapa. — Amo você, Corinne.
— E você é amada, menina. Lembre-se disso.
Apesar de mal-humorado, Hank dá a John um forte aperto de
mão e um convite aberto para mais uma visita. Então estamos
livres. Eu quase corro para a moto. Nem um pouco digna. Mas já
que John está atrás de mim, me guiando com uma mão nas minhas
costas, acho que estamos no mesmo barco cheio de tesão.
Sua expressão é quase sombria quando ele clica no fecho do
meu capacete. — Aviso rápido. — Ele me dá um sorriso de dor. —
Eu posso chorar se houver muito tráfego.
— Só nos leve para casa — digo, segurando seu pulso.
Ele assente, sombrio novamente.
É impressionante a maneira como ele lida com a moto. Eu nunca
me sinto insegura quando ele tece através do tráfego em uma
velocidade eficaz. Mesmo assim, parece levar uma eternidade para
chegar em casa. Se eu achava que uma viagem pelo país era difícil,
isso empalidece quando me agarro a seu corpo magro com essa
energia zumbindo entre nós, quando minhas coxas se apertam ao
seu redor simplesmente chamando a atenção para o que deixamos
inacabado.
Você pensaria que um enorme, alucinante orgasmo tarde da
noite iria aliviar a tensão, mas o sexo não funciona assim. Um pouco
de sexo é um monte de provocação. É como pegar apenas uma
colher de sorvete de menta com chocolate e não conseguir alcançar
o resto na tigela bem na sua frente.
Eu quero tudo. Agora.
Porra, a moto tem que vibrar tanto? Dispositivo de tortura do
inferno.
Quando John finalmente para em frente ao nosso prédio – e
esquece todas as coisas ruins que eu disse sobre a moto porque ela
se encaixa em um espaço minúsculo – nós dois estamos saindo,
descoordenados e instáveis. John arranca suas luvas e capacete
enquanto eu cuido dos meus. Depois agarra minha mão e nos
empurra pela escadas da frente.
— Dentro — ele diz baixinho. — Faça isso dentro. — Não sei se
ele está falando comigo ou com ele mesmo, mas não estou
perdendo tempo perguntando.
Quando entramos, no entanto, mantemos a calma. Exceto por
dar as mãos, não nos tocamos enquanto esperamos pelo elevador.
Ficando perfeitamente imóvel, sem dizer uma palavra, ouço o ranger
lento do elevador descendo o poço. Cada som suave que anuncia
um andar corre pela minha pele. Sua mão aperta a minha, nossos
dedos se apertam com tanta força que posso sentir seu pulso.
Só mais um pouco. Só um pouco…
Mordo o lábio quando as portas finalmente se abrem. Dentro do
elevador, John aperta o botão do nosso andar, então suas mãos
encontram meus quadris e ele me coloca na sua frente. O
movimento é firme, proprietário, mas também carinhoso, como se
me tocar fosse algo que deveria ser feito com cuidado. É essa
combinação de ganancioso e paciente que faz minha respiração
engatar.
Sua bochecha roça minha têmpora enquanto ele se inclina. —
Estou tremendo por dentro — diz ele com uma risada impotente. —
Tremendo como a merda de uma folha na brisa.
Eu sei exatamente como ele se sente. O elevador está subindo,
mas sou eu quem está flutuando, minha cabeça leve. Minhas mãos
enrolam-se debaixo da sua camisa para tocar o cós da sua calça
jeans, puxando os quadris contra os meus. John grunhe baixo. Ele
já está duro. Por um momento, simplesmente moemos um contra o
outro, então a mão dele desce entre nós. Ele encontra o botão do
meu jeans e dá um puxão. Minhas coxas se apertam quando ele
abaixa meu zíper lentamente, o zumbido do som alto no pequeno
elevador.
— Mal posso esperar — ele diz. Explicação ou declaração, eu
não sei. Sua mão desliza sobre a minha barriga, sob a minha
calcinha. Minhas coxas se separam para dar mais espaço. Ele
encontra o meu clitóris com uma precisão infalível. A ponta calejada
de seu talentoso dedo circunda suavemente o inchaço liso, e meus
joelhos enfraquecem. Minha testa descansa em seu ombro
enquanto eu choramingo.
Seu dedo desliza um pouco para acariciar a minha abertura. —
Eu quero tanto entrar aqui, Stells. — Ele não introduz o dedo, mas
simplesmente acaricia, uma leve tortura que me faz balançar os
quadris em desespero.
— John… — Quero que seja uma exigência, mas sai como um
apelo.
O elevador para com um baque. A mão de John me deixa, e eu
estou muito consciente de como estou molhada e agora fria sem o
seu toque. Ele me puxa para o corredor, todos os movimentos
irregulares e passos descoordenados. John soca o código da sua
porta como se estivesse tentando quebrar o painel. Estala e, em
seguida, estamos praticamente caindo no silêncio fresco do seu hall
de entrada.
Não há mais conversa, não há mais espera. Estamos nos
beijando, e não é exigente ou frenético; está nos consumindo, uma
queda direta para o fundo do oceano. John vem atrás da minha
boca como se fosse seu direito, seu prazer. Eu nunca fui beijada
dessa maneira. Eu sou o banquete e ele é a fome.
Eu sei que estamos nos movendo – beijando, absorvendo um ao
outro, roupas silenciosamente saindo e deixadas onde caem – mas
meus sentidos estão apenas sobre ele, a sensação de seus lábios,
o gosto azedo da sua língua. Ele é pele macia e músculo rígido, seu
aperto firme enquanto me guia, reivindicando minha boca, me
puxando para seu quarto.
É uma caverna escura – paredes negras, cortinas pesadas, a
única luz entra pelas janelas de grade maciça na parede oposta. Ele
me puxa direto para essa luz. O calor na minha pele é quase
demais.
Estou queimando agora, por dentro e por fora, incandescente de
desejo pelo homem parado diante de mim. Esse lindo homem. Ele é
construído em proporções perfeitas: ombros largos, braços fortes,
abdômen rígido. Jeans desabotoados pendurados baixo no quadril
esbelto, revelando a borda de sua cueca e uma trilha de cabelos
escuros.
Nunca na minha vida quis alguém assim. Quero fazer coisas
com ele, morder os mamilos castanhos, chupar a pele sensível do
pescoço. Mas sou imobilizada pelo seu olhar, absorto e intenso,
carinhoso e cobiçoso.
Com as costas dos dedos, ele traça um caminho ao longo da
minha espinha. Quando ele atinge o fecho do meu sutiã, ele faz uma
pausa. — Eu quero te ver.
Ele já me vê. Estou completamente exposta, de pé usando meu
sutiã e calcinha, o resto das minhas roupas perdidas em algum lugar
ao longo do caminho. Não estou envergonhada; quero ficar nua com
ele. Nua e suada. Mas sei com o que ele está acostumado, e eu não
sou assim.
— Não é nada de especial — eu sussurro. Sou apenas eu, uma
garota como qualquer outra.
Sob as pálpebras abaixadas, ele olha para mim, sua expressão
solene. — Você é extraordinária.
Nesse momento, eu acredito em qualquer coisa vinda dele. Me
inclino em direção ao seu toque, onde ele está brincando com os
ganchos do meu sutiã. Por favor. Por favor. Apenas o tire de mim.
Eu diria a ele, mas minha voz desapareceu. Ele entende o gesto. O
sutiã fica frouxo, escorregando. Abençoada liberdade.
— Aí está você — ele diz, como se estivesse sentindo minha
falta. Uma mão grande e quente segura o meu peito dolorido. Seus
lábios pressionam a curva sensível do meu pescoço e ele respira
profundamente.
— Eu tinha planos — diz ele, beijando seu caminho até o meu
peito. Beijos delicados, sucções exploradoras. — Eu te levaria para
casa, deixaria molhada e depois transaria com você. — Beijos mais
lentos, mapeando minhas sardas, abaixando-se em seus joelhos. —
Foder todo esse desespero, duro e rápido.
A luxúria me banha, e eu cambaleio em sua direção. Ele agarra
minha cintura, me firmando.
— Tantos planos. — O beijo na ponta do meu mamilo é tão leve
que eu persigo sua boca por mais, gemendo quando ele obedece e
chupa. — Você está destruindo todos os meus planos — ele
murmura contra a minha pele, passando a língua rapidamente.
Minha mão alisa seus cabelos grossos. — Sinto muito.
Mas eu não estou arrependida e ele sabe disso. Sua risada é
quente sobre o meu mamilo úmido. — Mentirosa.
— A pior — eu concordo, minha voz fraca. Eu quero tocá-lo em
todos os lugares, a ampla extensão de seus ombros, a tensão das
suas costas. À luz do sol, sua pele é dourada, bonita e suave. Mas
ele está se movendo para mais baixo, fora do meu alcance.
— Agora, tudo que eu quero fazer é levar o meu tempo,
saborear. — Mãos grandes emolduram meus quadris, seus lábios
deslizando ao longo da inclinação da minha barriga. Com cuidado
deliberado, ele agarra a borda da minha calcinha e desliza-a para
baixo. Ela cai aos meus pés e estou nua para ele. John apenas olha
e depois suspira contentemente. — Ruiva.
Deus, ele está aqui, aconchegando no meu sexo, respirando-me.
Minhas pernas tremem. — John... você não precisa… — Mordo meu
lábio com força. Por que eu disse algo? Não tenho certeza, só que
nunca quero ser uma obrigação.
Ele para, seu aperto aumenta uma fração, e eu engulo em seco,
desejando que o chão me engula. Eu trouxe o seu passado para
isso, quando era a última coisa que queria fazer. Esse momento não
tem espaço para nada além de nós dois.
Ele tem todo o direito de ficar chateado, levantar e desistir. Mas
ele não me solta. Em vez disso, ele abre bem os dedos, as palmas
das mãos pressionando calorosamente na minha pele.
Olhos verdes, escuros de desejo, me encaram. — Quero novas
memórias desse ato. Eu as quero com você. — Seu polegar esfrega
uma linha vermelha deixada pela minha calcinha. — Tudo bem,
Bonita?
Em uma névoa, eu aceno. Os cantos dos seus olhos se
enrugam, um brilho ilícito cintila neles. — Bom. Agora, seja minha
garota e separe essas lindas coxas para mim. — O educado e
paciente John derrete, deixando o com pequenos defeitos e grandes
exigências. — Um pouco mais. Me mostre essa doce boceta. Ela
precisa de um beijo apropriado, pobre e negligenciada amor.
Com uma mão firme, ele agarra minha bunda. Lábios suaves
roçam a parte interna da minha coxa. — Mais, querida. Me deixe dar
uma boa olhada. — Ele facilmente levanta minha perna e a apoia no
ombro. — É isso aí.
— Deus — eu sussurro, sustentada por ele. Estou ofegante
agora, intensamente ciente de como estou escorregadia e inchada.
E ele nem me tocou lá.
— Tão linda. — Ele me dá um beijo, lânguido e aberto, lábios e
língua se movendo com perfeita prescrição. Eu gemo, meu corpo
tensionando, tentando me agarrar a sensação, o deslizar quente e
úmido de sua boca. Meus dedos passam por seus cabelos,
agarrando-os para não cair no chão.
John faz um barulho no fundo da garganta. — Deus, Stells, você
tem um gosto tão... tão fodidamente... — Ele para com uma
respiração trêmula que eu sinto contra a minha pele. Não há
requinte, nem toques praticados. É calor carnal, lábios e língua
moldando, lambendo, chupando.
É tão bom. Eu quero isso todos os dias. Todo dia.
— John... por favor. — Eu nem sei pelo o que estou implorando.
Mais. Menos. Mais forte. Mais suave. Não consigo pensar. Meus
quadris balançam contra sua boca, perseguindo a sensação,
fugindo dela. Eu vou me despedaçar, derreter bem na sua língua.
Deus, o jeito como me ataca, recuando de vez em quando para
olhar sua obra. Então ataca em um novo ângulo. Ele está se
deleitando. A total absorção de sua expressão, a maneira como sua
língua sai para lamber minha abertura me faz tremer.
Uma suave chupada do meu clitóris e eu gozo, uma baixa e
quente onda de prazer que me deixa sem ossos. Mas é apenas um
aperitivo. Meu interior pulsa, precisando de algo para preenchê-lo.
Eu empurro contra ele, implorando silenciosamente.
Eu preciso. Preciso tanto disso.
— Por favor — eu digo. — Por favor.
A ponta bruta do seu dedo me provoca. — Eu sei querida. Mas a
primeira vez que eu estiver dentro de você, será com o meu pau. —
Ele olha para mim, anjo inocente, demônio impenitente. — Se
segure.
— O que… — Eu grito e agarro sua cabeça enquanto ele passa
os braços em volta dos meus quadris e simplesmente se levanta.
Apenas me ergue sobre os ombros, me segurando tão facilmente
quanto uma de suas guitarras.
Ele ri contra o meu sexo, o som abafado e quente, enquanto ele
caminha até a cama.
— Maluco — eu repreendo com uma risada.
Sorrindo, ele me joga em uma nuvem de travesseiros. Eu deito
lá, um esparramado de membros, e assisto com crescente fome
enquanto ele puxa uma tira de preservativos do bolso e os joga na
cama ao meu lado. Eles não emitem som quando pousam, mas
sinto o impacto em meus ossos, um baque mental que envia um
arrepio de antecipação sobre minha pele. Segurando meu olhar, ele
tira a calça jeans e a cueca com um empurrão impaciente.
Jesus, ele é lindo, toda elegância magra e rígida, o pau duro. E
ele é meu. Eu sou uma garota de sorte.
— Isso parece doloroso — digo rouca, olhando para a ereção
espessa que ele está acariciando.
O sorriso de John é predatório. — Dói ferozmente, Bonita. Você
vai me dar algum alívio?
É tão fácil abrir minhas pernas, arquear minhas costas e me
exibir para ele. Dar-lhe um sorriso suave e dizer: — Venha aqui,
então.
Seus olhos se estreitam, e ele rasteja até a cama e sobre mim.
Músculos se amontoam quando ele paira, seus braços abraçando
meu corpo. Vermelho corre ao longo de suas bochechas e na parte
superior de seus ombros largos. — Qualquer coisa que você não
goste, qualquer coisa que queira mais, me diga, Bonita. — Os lábios
dele se arquearam. — Eu quero que seja bom para você.
Minhas mãos deslizam sobre seus ombros para cobrir a parte de
trás de seu pescoço, onde sua pele é quente e úmida. — O mesmo
vale para você.
Surpresa brilha em seu rosto, e ele solta uma risada curta. — Ah,
anjo, tudo o que levou a isso já foi melhor do que qualquer coisa que
eu já experimentei. Você poderia fazer o seu pior e ainda assim
seria o melhor para mim.
Estou sorrindo como uma maluca quando o puxo em minha
direção. Expiramos quando nossos lábios se encontram, nosso beijo
um pouco atrapalhado. Logo fica febril, ganancioso, bagunçado. —
Ah, merda — digo asperamente. — Não espere. Eu preciso. Eu
preciso disso.
Isso o excita. Os toques cuidadosos e os movimentos lentos se
vão. Sua grande mão agarra minha bunda, apertando enquanto ele
mói seu pau duro contra o meu sexo. Nosso beijo é mais profundo,
forçando minha boca a abrir. Eu agarro seus ombros, minhas unhas
cravando enquanto ele tateia em busca do pacote de camisinha.
Assim que ele se apossa dele, senta-se em seus calcanhares e
rasga um pacote de preservativo. A visão dele ajoelhado diante de
mim, o tronco tenso e tremendo, seu pau tão duro que ele tem que
liberá-lo de onde bate em seu abdômen – é tão sexy, eu não penso.
Sento-me, minhas mãos deslizando sobre suas coxas fortes. Antes
que ele possa pronunciar uma palavra, tomo seu pau na minha
boca, sugando-o profundamente.
— Ah, porra. — O corpo de John treme quando ele empurra na
minha boca. — Ah, inferno.
Sua mão vem para a minha cabeça, os dedos emaranhando no
meu cabelo. Ele é grande e quente na minha boca. O suficiente para
eu sentir a minha mandíbula alongando. O suficiente para que ele
tenha que trabalhar para entrar em mim.
Eu amo o seu gosto, seu deslizar grosso ao longo da minha
língua e o jeito como treme, empurrando seus quadris um pouco
como se não pudesse se conter.
— Stells... — Ele parece aflito, fraco. Eu também amo isso.
Não reconheço essa coisa imbecil e carente que eu me tornei
onde cada toque é uma questão de agora e mais e de novo. Não
reconheço essa emoção quente e bagunçada, ou a maneira como
perco toda a noção de mim mesma. Já não sou mais minha; sou
dele.
A mão de John no meu cabelo aperta e depois relaxa. Eu deixo
ele me levantar. Nossos olhos se encontram, os dele arregalados e
atordoados. Pego o preservativo da sua mão e o deslizo por todo
seu comprimento. Em um piscar de olhos, estou de costas, a
respiração me escapando. John agarra meus quadris e o puxa para
cima das suas coxas. Meus seios se levantam, minhas costas
arqueando enquanto pressiono meus ombros na cama para me
preparar.
A grande coroa de seu pênis se encaixa contra a minha abertura
lisa. Chama toda a minha atenção. John se inclina para a frente, e a
cabeça grande desliza para dentro, me esticando. Seus olhos se
fecham, uma expressão de quase dor passando por suas feições.
Seus lábios ficam frouxos, o espaço entre as sobrancelhas se
unindo.
De alguma forma, eu sei – sei que ele está pensando em todas
aquelas vezes que imaginou esse momento. Meu corpo se aperta
com o pensamento, e ele sente. Seus olhos se abrem, verde
brilhante e intenso. Eu abro mais as minhas coxas. Seus olhos
estreitam com determinação, e ele empurra.
Ele me faz sentir cada centímetro, indo devagar e constante. Ele
empurra até parar e se mantém ali, movendo os quadris em um
círculo lento, apenas o suficiente para me fazer gemer.
— Eu sou sua — eu digo, um pouco irracional. — Sua.
John aperta com força meus quadris. — Eu sei. — Então ele
começa.
E eu perco completamente a cabeça.

E sobre mim como um buffet. Eu quero comer


cada delicioso centímetro. Mas agora, eu só posso transar com ela
– assistir meu pau entrar e sair do seu buraco liso e rosa com uma
sensação de admiração absoluta. Ela parece tão bem, meu coração
bate tão forte que eu não consigo recuperar o fôlego. Tudo o que
posso fazer é empurrar, recuar e empurrar, foder ela como um
louco.
A necessidade é um animal arranhando dentro de mim, exigindo
mais, mais fundo, mais. Só mais porra.
O suor escorre pela minha pele, escorre pela minha espinha.
Minha bunda tensiona com cada impulso. Sinto o aperto nos
músculos, a queimação do esforço. Meu pau está tão inchado, tão
duro, que assume todos os meus pensamentos.
Stella geme, a cabeça inclinada para o lado, os lábios abertos e
os olhos fechados como se ela precisasse se concentrar em cada
toque. Mas isso não serve. Eu preciso dos olhos dela. Preciso
daqueles olhos azuis escuros olhando nos meus para que eu possa
ver um pouco mais da sua alma.
Minhas mãos deslizam pelas suas costas suadas e agarram
seus ombros. Cabelos ruivos e dourados caem em espiral em torno
de seu rosto enquanto eu a puxo para o meu colo, para tê-la me
cavalgando enquanto eu fodo sua doce e pequena boceta. Sua
expressão é sensual e atordoada, mas ela envolve os braços em
volta dos meus ombros, pressionando os peitos contra o meu e se
move comigo, balançando os quadris, encontrando cada impulso.
Ela é tão sexy, completamente carnal a maneira como me olha
por baixo das pálpebras, na maneira como ela captura meus lábios
e os beija vorazmente como se estivesse morrendo de fome. Eu
nunca fiz sexo assim antes – dando e recebendo. Estamos nos
comunicando aqui. Antes, cada toque foi temperado com ternura.
Agora, é uma dura necessidade. Eu quero morar em sua mente e
fazer meu caminho até seu coração.
Ela me disse que era minha. Ela tem que saber que eu também
sou dela. Ela me possui agora.
Os dedos de Stella se enroscam no meu cabelo, o aperto
trazendo uma picada de dor que me estimula.
— Tão bom — ela arfa na minha boca. — Tão bom.
Eu beijo a curva úmida do seu pescoço, chupo a pele macia
onde seu perfume é mais forte. Com um grunhido, eu a deito de
costas na cama e me abaixo sobre ela. Stella envolve as pernas em
volta da minha cintura. Quando agarro sua coxa e a levanto mais
alto, ela geme e se mexe para mais perto.
— Me diga — falo, fodendo-a lentamente na cama. — Me diga o
que te excita.
Os olhos dela se fixam em mim. Eu vejo a surpresa neles, como
se nunca tivessem lhe perguntado. A verdade é que eu nunca me
incomodei em perguntar também. Egoísta. Mas não com ela. Nunca
com ela.
Eu quero conhecer Stella, deixar seu mundo de pernas para o ar.
— Meus seios — ela deixa escapar, ofegante e corada. —
Chupe meus peitos e... ah, Deus. Faça isso de novo. Esse
movimento... — Ela geme profundamente e empurra contra mim. —
Novamente.
— O que? — Meus lábios tremem em um sorriso, porque vou
enlouquecer em breve. — Esse? — Eu empurro, inclinando-me no
último segundo.
Ela mia. Como uma gatinha com tesão. Porra, eu gosto desse
som. Eu amo esse som.
— Sim — ela diz. — Sim. Mais.
Sim, senhora.
Eu sou mais alto que Stella. Não nos alinhamos olho no olho.
Não é fácil manter o meu ritmo, movendo minha bunda do jeito que
ela gosta enquanto encontro uma maneira de chupar seus seios
oscilantes. Mas eu sou um homem determinado, e os sons doces
que ela faz, a maneira como ela se tensiona e me aperta vale tanto
a pena. O prazer dela aumenta o meu.
Eu fico ali, em seu mundo de prazer e necessidade, naquele
lugar quente e suado de pele se movendo contra a pele, seu corpo
segurando o meu. Cada movimento parece o céu, mas ainda não é
o suficiente. Eu não quero sair daqui nunca.
Quando ela começa a gozar, sua boceta apertada ordenha meu
pau em movimentos rítmicos, é o maior prazer que eu já
experimentei. Eu continuo, deleitando-me com a maneira como ela
se arqueia contra mim, enfia os calcanhares na cama enquanto seu
orgasmo rola sobre ela. Corada, suada, grunhindo e totalmente
desinibida, ela é a coisa mais linda que eu já vi.
— John — diz ela, piscando para mim, de olhos arregalados.
É a primeira vez que alguém diz o meu nome verdadeiro durante
o sexo. E é Stella dizendo. Não sei por que, mas me abre em um
nível emocional que eu nunca soube que tinha. Minha garganta se
fecha, o ar entra em meus pulmões queimando.
Não sei se o que estou sentindo pode ser chamado de prazer;
dói demais. Estou sendo puxado, minha pele esticada demais. Mas
inferno, se eu não quero mergulhar diretamente nessa sensação.
Então eu mergulho, empurrando sem pensar, aproximando-me mais
e mais. Stella está ao meu redor, pele quente, curvas abundantes,
as mãos na minha bunda, sua buceta lisa e tão malditamente
apertada.
Encontro seus olhos azuis e grito – Deus sabe o que. Choro soa
na minha garganta, mas não o ouço, apenas as minhas orelhas
latejando. Olho para Stella e caio no abismo.
Eu.
Estou.
Arruinado.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

STELLA

— A , . —Rye coloca um pedaço de


dragon roll na boca e dá a John um sorriso convencido enquanto
mastiga. — Olhe para você, todo olhos de cachorro apaixonado e de
gatinho bobo.
John bufa. — Se decida. Sou um cachorro ou um gato?
— Os dois.
John me lança um olhar e faz uma careta para Rye. Estamos
aconchegados em um canto de uma mesa enorme e privada,
jantando com seus amigos. Uma grande cortina de veludo creme
nos separa do resto do restaurante, e estou surpreendentemente
grata.
Quando três quartos do Kill John decide sair pela cidade, as
pessoas seguem. Câmeras seguem.
Eu participei de eventos no tapete vermelho. Um ano, eu tive a
sorte de ir ao Met Gala; usei um vestido preto formal, comprado em
uma loja, e com gratidão me misturei ao cenário enquanto
observava os outros vestidos. Mas em todos esses casos, eu estava
trabalhando como amiga contratada. Minha atenção estava
concentrada em acalmar meu cliente nervoso, entrando em uma
conversa quando alguém ficava com a língua presa, fazendo um
comentário para entreter. Eu me diverti, mas ainda era trabalho.
Sair com John como seu encontro enquanto as câmeras piscam
e as pessoas ficam boquiabertas é completamente diferente. Eu me
sinto territorial, protetora. Não gosto da ideia de pessoas assistindo
e especulando sobre ele.
John sendo zoado por seus amigos, no entanto, é outra questão.
Eles constantemente provocam um ao outro, mas há uma
proximidade que eu amo assistir e que quero fazer parte. Ainda não
me sinto como uma deles – talvez nunca verdadeiramente faça
parte. Mas sou boa em fingir até lá.
Eu o cutuco com meu ombro antes de estender a mão para
pegar uma fatia de sashimi de salmão com meus pauzinhos. —
Sinta-se livre para se defender à vontade. Conte a ele sobre o sexo
incrível.
Não é um exagero. Sexo com John é como se banquetear
depois da fome. Eu estou insaciável.
Estamos juntos há três semanas. Três semanas incapazes de
manter as mãos afastadas um do outro por mais do que algumas
horas por vez. Tanto sexo que, francamente, estou dolorida em
lugares que nunca pensei antes. E, no entanto, apoiada no calor de
seu braço, apenas encostada no duro volume da sua coxa, me
deixa inquieta e querendo atraí-lo para uma despensa e fazer o que
quiser com ele.
Estou levemente corada e tonta com luxúria enquanto ele sorri
largo e maldosamente. — Você é a melhor namorada de todas.
Namorada. A palavra, tão facilmente pronunciada, cai como um
dardo no meu coração sensível. O que é bobo. É apenas um termo,
mas parece importante – parece aceitação, segurança.
Não sei o que John vê na minha expressão, mas ele dá um
grande e molhado beijo na minha bochecha, me provocando e
reforçando de uma só vez. Ele rouba o último pedaço de dragon roll
de Rye. — O problema Stells é — ele diz, sob o grito de protesto de
Rye, — eu sei onde todos os corpos estão enterrados. Então Rye
aqui realmente não quer mexer comigo.
Rye faz uma careta. — Estou com tanto medo. Além disso, eu
também sei onde o seu armário de esqueletos está.
— Acha que não vou mostrar a Stella? — John retruca com um
sorriso presunçoso. — Inferno, eu estou lhe dando uma chave. —
Isso me surpreende por dois segundos; então percebo que John
nunca realmente tentou esconder suas falhas de mim. Ele as
empurrou na minha cara, quase me desafiando a fugir. Eu acho isso
insultuoso, exceto que, à minha desastrada maneira, tenho
desafiado ele a fazer o mesmo. Só que não é porque eu quero que
ele vá, mas quero que fique.
— Aviso justo — diz John para mim com seriedade falsa. — Está
meio empoeirado lá dentro. Não coloquei nada nele por um tempo e
não sou de ficar limpando.
— Ah, e eu com minhas alergias a poeira. — Eu dou um suspiro
dramático. — Acho que terei que acreditar na sua palavra sobre
quem você é.
John planta outro desleixado, beijo risonho nos meus lábios. Rye
faz um barulho de engasgos.
— Eu acho que eles são adoráveis — Sophie anuncia para a
mesa. Ela está sentada do meu outro lado, um enorme Mai Tai na
sua frente que ela está bebendo com o entusiasmo de uma mãe que
desfruta de uma rara noite sem o bebê.
— Claro que você acha — diz Rye com uma risada. — Você
pensa que Scottie é adorável.
Scottie levanta uma sobrancelha grossa. — Eu sou adorável.
Ninguém pode manter uma cara séria. O nariz de Sophie enruga
alegremente. — Ele realmente é — ela me diz. — Você deveria vê-
lo quando está assistindo Buffy. Ele veste a camiseta mais fofa...
— Darling — Scottie interrompe. Suas sobrancelhas grossas
estão agora abaixadas sobre olhos estreitos e gelados. E acho que
significa feche a boca ou sofra as consequências. Sophie
simplesmente manda um beijo para ele.
— Eu, por exemplo, sou um livro aberto — afirma Whip,
inclinando-se para trás para descansar os braços ao longo das
laterais da mesa.
Ao seu lado está a assistente de Scottie, Jules, que revira os
olhos castanhos. — Mais como uma revista pornô.
Como eu, Jules tem sardas espalhadas por suas bochechas,
mas elas parecem contidas naquele local. O resto de sua pele
parece ser uma extensão suave e sem sardas de marrom arenoso.
Eu poderia sentir inveja disso antes, mas mais cedo, John fez de
sua missão lamber todas as minhas sardas com carícias lentas e
persistentes, e passei a perceber que as tenho em todos os lugares.
Whip sorri para Jules. — Ah, vamos, todos sabemos que não é
mais verdade. Hoje em dia, sou todo sobre por amor próprio. — Ele
estende a mão e puxa uma das mechas firmemente enroladas, cor
de lavanda, que pulverizam o bonito rosto dela.
Jules golpeia sua mão e dá a ele um olhar frio. — Me deixe
explicar isso em termos simples, para que você entenda: não toque
no meu cabelo ou perderá um dedo. — Ela funga com claro
desgosto. — Especialmente desde que você declarou seus hábitos
de masturbação.
— Ei! Eu lavo as mãos.
— William — Scottie diz — Jules é a melhor assistente que eu
consegui manter. Não a afaste, compartilhando suas inclinações
pessoais.
— Ela é a única assistente que você conseguiu manter — Whip
resmunga. — Todo mundo sai chorando.
— Isso é verdade. — Brenna acena seus pauzinhos para Scottie.
— Se alguém é culpado por assustar os funcionários, é o Sr. Calças
Perfeitas aqui.
— Eu não me assusto facilmente — acrescenta Jules, mas acho
que ninguém mais está ouvindo.
— Não peço desculpas por ter calças perfeitas. Ou ternos, nesse
caso.
— Ele tinha uma mancha de vômito de bebê na lapela outro dia
— John sussurra no meu ouvido. — Muito impróprio.
Os olhos de Scottie se estreitam para ele. — Quieto.
Whip faz uma careta para Scottie. — E que bobagem é essa de
inclinações? Desde quando descabelar o palhaço ou siriricar se
tornou uma atividade depravada?
— Descabelar o palhaço. — John ri em sua cerveja.
— Tem uma melhor? — Responde Whip balançando uma
sobrancelha.
— Cinco contra um?
— Botar a cobra para cuspir — oferece Sophie.
— Acariciar a periquita — diz Jules.
— Malhar o antebraço — acrescenta Brenna.
— Estou ficando desconfortavelmente excitado — resmunga
Rye, o que faz Brenna corar rosa brilhante e esconder o rosto atrás
da borda do copo de martini.
Scottie levanta as mãos. — Vocês todos são porcos.
Poderíamos, apenas uma vez, conversar sobre algo normal, como o
estado descontrolado dos buracos da nossa cidade ou, não sei,
talvez o mercado de ações?
Os caras olham para ele como se ele sugerisse que vestissem
trajes medievais e saqueassem aldeias locais, mas então Rye
esfrega a barba por fazer, pensativo. — Ouvi dizer que o feijão caiu
um quarto.
— Feijão azul13? — Whip pergunta solenemente.
Rye dá um sorriso largo. — Você sabe disso.
Eles batem as mãos e Scottie faz um barulho de nojo.
— Ah, saia do seu pedestal, Scottie — Whip protesta, rindo
levemente. — Todo mundo bate uma. — Ele olha em volta da mesa,
seus vívidos olhos azuis implorando. — Alguém vai negar?
É claro que todos aqui realmente desfrutam do tempo sozinhos,
mas ninguém diz nada, deixando Whip falando com o vento. E
embora eu esteja completamente na Equipe John, a exasperação
de Whip é adorável.
Eu me inclino para ele. — Eu faço. O tempo todo. Brincar de DJ,
quero dizer.
Há uma batida de intenso silêncio, onde o ruído de fundo do
restaurante aumenta, e todos os olhos estão em mim.
Então John explode com um breve e feliz risada. — Ah Deus,
você é perfeita. — Ele segura a minha bochecha e me dá um beijo
suavemente rápido, seus lábios sorrindo enquanto ele se afasta. —
Nunca mude.
Estou inclinada para ele, pronta para subir em seu colo bem aqui
na frente de seus amigos. As pontas dos meus dedos pressionam o
músculo firme em seu peito. — Continue me beijando assim e você
tem um acordo.
O brilho nos olhos de John me diz que estamos a cerca de cinco
minutos de pedir a conta e sair. A dor que se dane; ele pode curar
os meus dodóis.
— Você tem certeza que está se relacionando com Jax? — Whip
pergunta, invadindo nossa pequena bolha. — Claramente, você e eu
somos fãs de trabalho braçal, sem mencionar que sou mais gostoso
e muito mais talentoso que esse cara.
John mostra o dedo a ele. — Nos seus sonhos. E a partir de
agora, mantenha suas mãos onde podemos vê-las, cara.
— Amém — diz Jules.
Rindo com eles, um brilho quente de pura felicidade flui através
de mim. Felicidade e satisfação. Eu nunca experimentei isso dessa
forma. Eu quase não sei o que fazer. Talvez por isso o destino tenha
escolhido esse momento para me derrubar.
Um homem entra no espaço, de algum jeito escapando do
guarda lá fora. Ninguém mais parece notar, mas o meu mundo
inteiro fica lento. Eu conheço esse homem. Sonhei com ele, mantive
conversas com ele na minha mente, esperei tanto tempo apenas
para ter uma palavra de reconhecimento que minha criança interior
teme que seja uma miragem. Espero que ele tenha mudado de vida
e amadurecido.
Além de estar mais velho, com a barba cheia, em vez de
barbeado, ele parece igual. Magro, enrijecido, cabelo ruivo
desbotado e olhos azuis frios. Ele olha diretamente para mim, sem
remorso ou hesitação, como se tivessem passado alguns minutos
em vez de anos. É essa atitude presunçosa que me dá um pontapé
no peito e me faz respirar com força.
Ao meu lado, John se vira para ver o que me chateia. Eu o sinto
estremecer.
— Merda — ele diz baixinho.
À nossa frente, Rye gira e empalidece. — Ah, inferno.
Suas palavras afundam lentamente através da minha dormência.
Eles acham que ele é um fã que invadiu?
Mas então eu estou me levantando, passando por Brenna, que
está sentada no final da mesa. Minha cabeça lateja enquanto
caminho em direção a ele.
Meu pai sorri e abre bem os braços. — Stella, minha querida.
Sou um grande pulso de dor e me afasto, envolvendo meus
braços ao meu redor. Minhas costas colidem com algo duro e
quente. John. Sua mão pousa no meu ombro e o aperta com força.
Papai desacelera, seu sorriso em um padrão apertado.
Vagamente, estou ciente dos seguranças correndo, todos
olhando, e John levantando a mão para avisá-los. Eles se afastam,
mas não vão embora. E o tempo todo, olho para o meu pai, presa
nesse pesadelo. Porque outros pensamentos começam a aparecer.
Ele está aqui – onde a banda está, o que significa que ele sabe
exatamente com quem eu estou.
A verdade cai como uma bigorna: ele está aqui por dinheiro, não
por mim.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

STELLA

M . Meu pai. Eu não acredito. Anos e anos, eu


tentei encontrar a coisa perfeita para dizer a ele, a maneira exata
como eu iria reagir. Os cenários variavam; às vezes eu grito com
ele, às vezes eu choro. Durante uma fase carente e emocional da
minha vida, imaginei abraçá-lo e implorar-lhe para que não me
deixasse novamente.
Agora que ele realmente está aqui, tudo o que posso fazer é
sentar em um silêncio entorpecido na traseira do enorme SUV de
John. Como chegamos aqui é uma névoa. Eu sei que John levou eu
e meu pai para fora do restaurante. Sei que fui junto, meus ouvidos
soando tão alto que eu não conseguia ouvir nada que alguém
dissesse.
Agora estou nesse carro, John sentado no meio, literalmente
colocando um bloqueio físico entre eu e meu pai. Uma boa ideia,
mas não funciona.
Papai se inclina para frente. — Assim...
— Nem uma palavra — eu interrompo bruscamente. — Não me
diga uma palavra até chegarmos… — Porra, para onde estamos
indo?
— Para minha casa — diz John para mim. Sua voz é dura, a
tensão percorrendo sua coxa tão forte quanto a minha. Me conforta
que ele está chateado em meu nome, mas ainda me sinto
desorientada e doente.
— É justo — diz meu pai, dando de ombros, como se tudo isso
não fosse grande coisa.
Um tremor me atravessa e John se inclina até meu ombro. Ele
não se move para segurar a minha mão, e eu aprecio que ele não
esteja dando ao meu pai nada para tomar notas. É um gesto legal,
mas o Querido Velho Pai já farejou as minhas fraquezas, e as de
John, nos primeiros segundos depois de nos ver juntos.
Eu permaneço no meu nevoeiro até entrarmos no apartamento
de John. O espaço frio mantém seu perfume e me conforta em um
nível visceral. Sem me preocupar em olhar para o meu pai, vou até
a geladeira e pego uma garrafa de chá gelado. Eu posso senti-lo me
observando enquanto eu viro a tampa com um sorrisinho e engulo
longos goles de chá extremamente frio.
— Agradável lugar que você tem aqui — meu pai diz.
A mandíbula de John se aperta, mas não responde.
— Me parece — diz lentamente papai, — que você estava sendo
um pouco pão-duro, ignorando minha oferta inicial.
— Cale a boca — John rosna. — Cale a boca, porra.
O frio me banha. — John?
Ele olha para mim e instantaneamente se encolhe, a culpa
estampada em todo o seu rosto.
Minhas mãos começam a tremer. — Você... Ele…
— Era apenas um pouco de garantia, garota Stella — diz papai,
quase docemente.
As narinas de John se abrem e ele parece a um segundo de
explodir. — Deixe isso para lá.
— Por que você não quer que ela ouça? — Papai pergunta,
olhando para mim com simpatia. Ele realmente acha que tudo isso
foi provocado por John? Que eu cairia na sua pequena atuação?
Eu só posso olhar de volta, meus olhos ardendo.
— Ela é sua filha. Por que você quer machucá-la? — John
resmunga antes de me olhar com os olhos arregalados e aflitos. —
Stella...
— Ele tentou tirar dinheiro de você — eu cortei, minha garganta
doendo tanto que mal consigo expressar as palavras. — Não foi?
John abaixa a cabeça, depois encolhe os ombros e me encara.
— Sim. E eu não te contei. Sinto muito.
Estupidamente, eu aceno.
— Era apenas negócios, patos. — O som da voz do meu pai faz
eu me curvar. Eu queria ouvi-la por tanto tempo, e agora irrita minha
pele.
— Claro que sim — eu digo, ainda aborrecida, ainda sofrendo.
Não consigo encontrar seus olhos. — São sempre negócios. Quanto
você tentou conseguir?
— Apenas dez mil. — Ele levanta as mãos. — Uma gota no
balde para o tipo de pessoas em quem você coloca o seu alvo.
Eu rio mas não há humor. — Meu alvo. Você acha que ele é um
meio para um fim? Claro que você acha. Todo mundo é um alvo
para você. Até eu.
John dá um passo em minha direção, sua expressão distorcida
com arrependimento. Mas eu o detenho com um olhar. Se ele me
tocar agora, eu vou quebrar.
— Qual foi a chantagem? — Eu pergunto ao meu pai.
— Foi para proteção dele, na verdade. Achei que ele deveria
saber sobre o seu tempo como acompanhante.
Com isso, John empalidece, seu corpo inteiro vibrando como um
diapasão14 atingido. Seus olhos encontram os meus, e vejo sua
necessidade de me defender, sua indignação absoluta.
— Você já foi vista o suficiente com ele — diz meu pai. — É
apenas uma questão de tempo antes que alguém fale. Melhor se ele
estiver preparado.
— Seu miserável. — John segue em direção ao meu pai. — Seu
merda desprezível...
— John — eu falo alto o suficiente para atravessar a sua fúria.
Ele para e olha para mim por cima do ombro. — Por favor não.
Bater nele é exatamente o que ele quer que você faça.
— Então, me deixe agradar — John moe os dentes. — Eu posso
aguentar as consequências.
— Mas eu não posso. — Respiro fundo. Então de novo. — Ah,
você pode nos dar um minuto? — Faço um gesto para o meu pai.
John muda sua postura, os dedos abrindo e fechando,
claramente lutando com seus instintos. Não é normal para ele se
segurar. Quer ele reconheça ou não, ele é um protetor. — Stella —
É um apelo baixo. — Me deixe...
— Por favor — eu sussurro, no final das minhas forças.
Ele dá um breve aceno de cabeça. — Eu estarei na outra sala.
— Ele aponta para o meu pai um olhar duro. — Se você fez a sua
lição de casa, já sabe quem é minha família. Desde o berço, aprendi
a jogar sujo. Posso acabar com você tão facilmente quanto posso
estalar meus dedos. Machuque ela, e eu vou.
Chocada, eu assisto John girar nos calcanhares e entrar em sua
sala de mídia.
— Eu gosto dele — diz meu pai no silêncio. Quando lhe lanço
um olhar, ele levanta uma sobrancelha. — Ele está certo, você sabe.
Sua família é o pior tipo de criminosos – rica e poderosa o suficiente
para se safar de qualquer coisa.
— Então talvez você deva prestar atenção no seu aviso e recuar.
Papai caminha até a lareira de mármore e examina a pintura a
óleo bucólica acima. — Ele não vai me machucar. Ele tem muito
medo de te ferir se fizer isso.
— Diferente de você. — Derrubo a garrafa que estava segurando
com um aperto mortal. — Anos desde que você se foi. Anos que eu
procurei por um sinal da sua existência, e nada!
Ele não vacila, sequer reage. Apenas fica lá, tocando o obelisco
de ônix que fica na lareira, e eu sei que ele está pensando em
roubá-lo.
Eu me movo em direção a ele em passos hesitantes e
descoordenados. — Anos sozinha, sem família, só para você voltar,
não por minha causa, mas por causa dele. — Eu lanço meu braço
na direção em que John saiu. — Por dinheiro.
— Eu fiz um favor a você — Meu pai diz sem entonação. — Você
não precisa de mim. A verdade é que você prosperou quando eu
saí.
— Nem um pingo de remorso — continuo — nem agora.
Ele balança a cabeça. — Nunca senti remorso. Nunca senti
muita coisa, se for honesto.
Seus olhos têm a forma e a cor exata dos meus, mas estão sem
emoção. Me ocorre que sempre pensei neles como espelhos,
refletindo, nunca mostrando qualquer profundidade.
Ele esfrega um dedo por cima da barba. — Não, isso não é
totalmente verdade. Eu sempre tive orgulho do jeito que você
aprendeu tão rapidamente a se cuidar.
Eu bufo. — Eu precisei. Você certamente não cuidou de mim.
— Como eu disse, você estava melhor sem mim.
— E ainda assim, aqui está você. Por dinheiro. — Minhas
entranhas tremem tanto que eu tenho que envolver meus braços a
minha volta e segurar firme. É um processo desconfortavelmente
familiar. Eu estou sempre me segurando.
— Apenas uma gota. Estou em apuros. — Papai dirige sua
atenção para uma caixa de prata na antiga mesa de café de John.
— Não é como se esse cara fosse sentir falta.
— Você arriscaria destruir a coisa mais próxima que eu tive da
verdadeira felicidade por uma "gota" de dinheiro? — Um som feio
borbulha na minha garganta e engulo em seco para não vomitar.
— Vamos, garota Stella. Te ensinei a ler as pessoas melhor do
que isso. Não tem risco. Esse cara olha para você como se o sol
nascesse e se pusesse com o seu sorriso. Você nunca correu o
risco de perdê-lo. Fiz questão disso antes de me aproximar dele.
Doce Jesus, ele realmente acredita que está fazendo o certo por
mim. Olho o homem responsável pela minha existência. Estava
querendo encontrá-lo por tanto tempo, eu tinha esquecido como
realmente é estar perto dele. Ele é uma ilusão, sempre foi. Nada do
meu pai se parece com amor ou segurança. Estou magoada e com
raiva, mas não tenho mais amor por esse homem. Não há nada
entre nós. Apenas a dor de finalmente saber que não tenho mais
uma família. Estou sozinha nesse mundo.
— Quero que vá embora — digo através dos lábios dormentes.
Ele me encara, avaliando todos os resultados e possíveis
respostas. — Se é o que você quer.
— Afaste-se de John e de qualquer pessoa ligada a ele, ou
chamarei a polícia. Entendido?
As características desgastadas do meu pai se estreitam, mas ele
assente. — Entendido.
Ficamos ali em silêncio, nenhum de nós se mexendo. Essa é a
última vez que colocarei os olhos nele e me sinto aliviada. Ferida
pelo o que nunca tive, mas está tudo ligado aos meus próprios
sentimentos de abandono. Quando tento pensar em sentir sua falta
ou querer que ele volte, não sinto nada.
Com um pequeno gesto de queixo, ele coloca a caixa de prata
de volta na mesa – Jesus, quando ele a pegou? Endireitando-se, ele
inclina a cabeça novamente. — Certo. Então eu vou embora.
Lembre-se do que eu te ensinei. Você estava sozinha quando
nasceu e vai estar sozinha quando morrer.
Em outras palavras, a única pessoa importante nesse mundo é
você mesmo. Ouvi ele dizer isso tantas vezes que havia perdido a
conta. A amargura passa pela minha língua e garganta.
— Adeus. — Quero que ele se vá. Ele tem que ir antes que eu
chore.
Não há um abraço final, nem um pedido de desculpas. Ele
simplesmente se vira e sai. Tão facilmente quanto fez da última vez.

E . Seriamente. Esqueci de contar a Stella sobre


o pai dela. Eu esqueci. Por que eu esqueço tantas coisas? Coisas
importantes. Coisas que serão profundamente prejudiciais para
outras pessoas quando eu esquecer. Por que faço isso com as
pessoas?
Passo a mão pelo meu cabelo e ando, me xingando. Mas não é
sobre mim. É sobre Stella. Ela está lá fora com aquela desculpa de
merda de um pai. Eu pensei que os meus pais eram frios. Esse cara
é o ártico. Um sociopata funcional, se eu tivesse que adivinhar.
É claro que ele tem pouca ou nenhuma empatia ou pensamento
pelos outros. Mas ele pode ligar o encanto como um interruptor –
tudo reluzente, zero substância. Eu conheci pessoas como ele
durante toda a minha carreira. Eles me arrepiam até os ossos. O
pior é que eles geralmente fogem destruindo tudo em seu caminho,
só mantendo por perto as pessoas que podem usar com sucesso.
O fato de que Stella dependeu dele para crescer e ainda brilha
com tanta vida e luz é um maldito milagre. Eu sei tudo sobre estar
sozinho em uma casa sem amor. Mas tive meus amigos ao meu
lado. Talvez eu nem sempre tenha apreciado isso por completo, mas
aprecio agora. É verdade que Stella tinha Hank e Corinne, mas é
claro que ela nunca se apoiou neles totalmente.
Deus, ela está lá fora magoada. O desamparo parece arrancar o
meu intestino. Eu olho para a porta, querendo abri-la e jogar o pai
dela para fora em sua bunda. A voz de Stella estava subindo e
descendo, indecifrável, mas claramente irritada. Do pai dela, eu não
tinha ouvido nada. Agora está em silêncio.
Por que está tão silencioso?
Estou prestes a dizer foda-se e ir descobrir quando a porta se
abre. Stella fica na sombra do corredor, o rosto pálido, os olhos
azuis vidrados. — Ele se foi.
— Você está bem? — Ela tem que estar. Ela vai estar.
— Estou. — Ela não parece bem; ela parece oca. Toda a luz foi
drenada de seu bonito rosto.
— Baby… — Eu ando devagar. Ela está se segurando com tanta
rigidez que tenho medo de quebrá-la se eu me mover muito rápido.
A cada passo para mais perto, ela fica mais inquieta.
Stella lambe os lábios e pisca rapidamente. — Quero dizer uma
coisa primeiro.
— Ok. — Ela pode dizer ou fazer o que quiser; eu vou aguentar.
— Quando eu tinha dezoito anos, meu pai veio até mim com um
emprego. Ele disse que era dinheiro fácil. Tudo o que eu tinha que
fazer era me pendurar no braço de um cara com quem ele estava
trabalhando e fazê-lo parecer bom.
Minhas entranhas se reviram, pavor doentio me enchendo.
Seus olhos brilham e uma lágrima escapa, mas ela ignora e me
encara sem piscar. — Eu deveria saber, sabe? Mas eu estava tão...
— Ela respira fundo. — Eu queria a aprovação dele.
— Bonita — eu sussurro. — Eu sei. Acredite em mim, eu sei. —
Eu tinha perdido a conta de quantas vezes eu esperei que meus
pais mostrassem qualquer vislumbre de interesse na minha vida.
Eventualmente, a decepção me desgastou e era mais fácil não me
importar muito – com nada.
Uma risada sem humor escapa dela, e ela olha para o teto,
piscando para conter as lágrimas. — Logo ficou dolorosamente claro
que o cara esperava que eu estivesse disposta a fazer sexo.
Inferno, ele me disse que meu pai prometeu que eu estaria.
Doente, fodido da porra. Eu respiro fundo e suspiro para não me
virar e caçá-lo.
— Enfim — ela diz, tentando parecer mais leve — eu saí de lá.
Quando cheguei em casa, meu pai tinha ido embora. Ele me deixou
alguns milhares de dólares, um tipo de pedido de desculpas, eu
acho. Eu nunca mais o vi. Até agora.
É preciso dois passos para alcançá-la. Ela está fria e rígida
quando envolvo meus braços ao seu redor, mas ela não resiste
quando eu a aninho no meu peito. — Sinto muito — eu digo em
seus cabelos sedosos. — Sinto muito, Stella.
Ela treme e depois se afunda no meu abraço, seus braços
deslizando em volta da minha cintura. — Quando você me
perguntou se eu era uma acompanhante, eu reagi com mais raiva
do que teria porque, de certa forma, por uma noite, eu fui.
— Merda. Stella, eu era um idiota. — Aperto-a com força. — Nós
dois sabemos disso. Você acha que eu iria envergonhá-la sobre
sexo? Meu aborrecimento nunca foi sobre sexo; era apenas o meu
jeito estúpido de querer saber tudo sobre você. — Mergulhando
minha cabeça, encontro a concha de sua orelha com meus lábios.
— Eu te conheço agora, Stells. Você é maravilhosa, perfeita,
exatamente como é.
Seu bufo abafado parece duvidoso. — Se todo mundo se
sentisse assim.
Eu a abraço com toda a ternura e amor que posso, curvando
meu corpo o máximo que posso sobre sua forma menor, como se eu
pudesse de alguma forma cobrir todas as suas dores e as levar
embora. Eu a seguro até que ela fique quente e suave, sua
respiração diminuindo. Vou segurá-la para sempre, se é isso o que
ela quer.
Meus olhos se fecham e eu estou afundando na sensação dela
quando seu aperto na minha cintura aumenta. — Quando ele
apareceu pela primeira vez?
Inferno. — Logo antes de voarmos.
Stella puxa meus braços, mas não tenta me deixar.
Eu engulo um nó duro de remorso. — No começo, eu não podia
acreditar que seu pai realmente...
— Fosse um idiota tão insensível? — Ela diz sem rodeios, como
se ele não tivesse aberto um buraco no coração dela.
— Fosse fazer isso com você — eu digo, aflito. — Eu deveria ter
te contado imediatamente. Eu sei disso. Mas eu não queria
incomodá-la e estávamos saindo... Merda. — Eu a seguro, não
tenho certeza se estou fazendo isso por ela ou por mim. — Foi
completamente egoísta da minha parte. Eu deveria ter te contado.
Eu ia contar depois, mas esqueci.
Ela não diz uma palavra, o que parece pior. Ela deveria estar
gritando comigo, mas em vez disso ainda está encostada no meu
peito, seus dedos traçando padrões ociosos nas minhas costas. Eu
engulo convulsivamente.
— Juro por Deus, Stells, não quis esquecer. — Lambendo meus
lábios secos, eu me forço a terminar. — Eu o vi andar em sua
direção e tudo voltou. Não acredito que fiz isso com você.
Stella dá um passo para trás e olha para mim sem expressão.
Com o polegar, limpo um rastro prateado de lágrimas da sua
bochecha, e ela se inclina na minha mão.
— Você tem um problema em lembrar as coisas — diz ela.
— Sim. — É pior quando minha mente está encoberta com
outras coisas. — Mas não torna tudo bem.
Aqueles olhos azuis claros, cheios de mágoa e arrependimento,
seguram os meus. — Acho que você se cobrou bastante por isso. —
Quando minha mão fica rígida e tento me afastar, ela envolve os
dedos em volta do meu pulso, me mantendo lá contra sua
bochecha. — Você tem um bom coração, John. Isso conta muito.
Talvez eu deva ficar com raiva, mas não posso encontrá-la em mim
mesma para me importar. Não quando ele... — ela morde o lábio
com força. — Ele só voltou por dinheiro.
Um soluço se liberta, e então ela cai nos meus braços. Eu a
recolho e seguro enquanto ela chora. Stella não chora
silenciosamente. É alto, seu corpo inteiro tremendo. Isso é raiva,
mágoa e desespero. Eu ouvi esse som dentro da minha própria
cabeça, senti esse tipo de dor muitas vezes, e nunca fica mais fácil.
Ela está lutando para manter contido, engolindo seus gritos em
grandes goles. — Estou tão brava, John. Está preso dentro de mim
e não consigo me livrar disso.
Corro meus dedos pelo cabelo molhado de suor. — Me use,
querida. Descarregue em mim.
Isso a deixa pouco emotiva. Seu rosto está vermelho e inchado
de lágrimas. — Não. Eu nunca vou te usar. Não é assim entre nós.
Sua ferocidade me faz sorrir. — Está tudo bem. Eu dou conta.
Além disso, quero fazer isso por você.
Com um suspiro, Stella pressiona os lábios no centro do meu
peito, e suas mãos deslizam pelas minhas costas, como se ela
estivesse tendo conforto em me tocar. — Eu não sei como deixar ir.
Mas eu sim. Pego a mão dela e a aperto. — Venha comigo.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

JOHN

— Q ? — Stella pergunta quando eu a deixo


entrar no enorme loft no SoHo.
Ela anda ao redor, observando o espaço aberto, os poucos sofás
acoplados espalhados e depois vê o palco na parte de trás.
— Espaço para prática. — Eu fecho a porta e o som do silêncio
me envolve. O loft foi projetado para otimizar a acústica. — Há
algumas cabines de gravação lá. — Aponto para as salas
envidraçadas onde nossos produtores vêem e trabalham de vez em
quando.
— Legal. — Ela olha para mim com grandes olhos azuis. — O
que nós estamos fazendo aqui?
— Venha e veja. — Tomando a mão dela na minha, eu a
conduzo para o palco em que todos os instrumentos do Kill John
estão montados.
— Você vai cantar algumas músicas? — Um brilho de excitação
ilumina seu rosto e ela meio que pula no lugar. — Sim!
Eu dou um sorriso rápido para ela. — Não. Nós vamos cantar
juntos.
Sua expressão feliz desaparece. — O que? Nós? Não... —
Rindo, ela balança a cabeça. — Eu não sei tocar nenhum
instrumento. E acredite em mim agora – não posso cantar. Nem um
pouco.
Com a mão nas costas dela, eu a guio pelas escadas do palco.
— Não importa, querida. Somos apenas nós.
— Não mesmo. Não posso. Parece que um gato está transando
com uma vaca. É assustador.
Eu rio enquanto ligo o microfone. — Isso é algo que nunca vai
sair da minha cabeça. Mas estou disposto a arriscar. Agora, pare de
dar desculpas.
Stella bufa, colocando as mãos nos quadris. — Como isso deve
fazer eu me sentir melhor? Eu deveria estar tomando um banho de
espuma, não me humilhando no palco.
— Você está discutindo — eu brinco, indo para a minha guitarra
Strat. — É um bom começo para trazer a Stella normal de volta.
Um sorriso puxa seus lábios, mas ela está lutando contra ele. —
Deus, você sabe como me irritar.
— Mas você é a minha irritadinha, Bonita. — Eu sopro um rápido
beijo para ela.
Stella ri e me vira. Mas ela vem para onde eu estou afinando
minha guitarra. — Eu acho que você deveria me tocar uma música.
— Vou fazer isso também. — Eu beijo a ponta do seu nariz
sardento. — Se você for boa.
Me dando a língua, ela se afasta e toca levemente um prato da
bateria de Whip. Um pequeno sibilar soa pela sala.
— Vá em frente e experimente — eu digo.
Ela se assusta como uma criança que estava se esgueirando e
acabou de ser pega, e enfia a mão atrás das costas.
— Sério, Stells. Whip não vai se importar.
Lançando um olhar tímido, ela se apoia no banquinho baixo e
pega um par de baquetas. Whip tem estoques. Ela dá um toque
suave na caixa da bateria.
Eu faço uma careta. — Fraco. Bata nele, querida. É o que ele
quer.
Stella faz uma cara feia, mas depois encolhe os ombros.
— Dê a ele sua raiva — digo a ela.
Ela começa devagar, mal fazendo contato, mas algo parece
estalar nela, e ela vai com todo o vigor selvagem de Animal dos
Muppets. Eu sorrio com o espetáculo. Quando ela termina, seu
cabelo está despenteado e ela está ofegante, mas há um brilho nos
olhos. — Foi incrível.
— Você não foi tão ruim — digo a ela, batendo palmas.
— Fui horrível. — Ela escova uma mecha de cabelo para trás
com a ponta de uma baqueta e sorri. — Mas foi divertido para
caramba tocar bateria. Agora eu totalmente entendo o Whip.
— Ele ficará feliz em ouvir isso. — Eu aceno para ela. — Agora,
se prepare para entrar na minha área. Nós vamos cantar.
Murmurando algo sobre sexo entre gatos e vacas, Stella se
aproxima, relutante e desconfiada. Eu a cutuco com meu ombro. —
Vamos, vai ser divertido.
— Ou você vai fugir gritando — diz ela sombriamente.
— Eu já te disse o quanto me excita quando você está mal-
humorada?
— Não. Mas você é uma pessoa doentia, então não estou
surpresa. — Ela descansa a cabeça no meu bíceps e olha para mim
através de longos cílios vermelhos. — O que estamos cantando?
— Sempre que quero me sentir seguro ou melancólico, toco uma
música dos Beatles. Se quero dizer ao mundo para se foder,
escolho Nirvana.
Stella me observa. — Por que esses dois?
— Minha mãe mal ouvia música, mas ela amava os Beatles. Me
lembra de ser criança e de vê-la sorrir.
Stella se aproxima, emprestando-me seu calor. — Você nunca
fala muito sobre sua mãe.
Eu dou de ombros. — Não há muito mais a dizer. Eu cresci e ela
não gostou do homem que eu me tornei. Acontece que eu percebi
que também não gostava muito da mulher que ela era, então... —
Dou de ombros novamente. — Minha família agora é uma das
minhas escolhas. E eu estou bem com isso.
Lentamente, ela assente. — E Nirvana?
Meu sorriso é fácil. — Kurt é meu ídolo. Ele já tinha morrido
quando descobri o Nirvana, mas eu ainda me sentia perto dele.
— Vocês têm muito em comum — diz ela baixinho.
Exceto que eu sobrevivi e ele não. Minhas mãos agarram
fortemente o pescoço da Strat o suficiente para fazer a dor aparecer.
Stella beija a curva do meu bíceps. — Eu quis dizer o jeito que
vocês amam música e não parecem se importar com o sistema.
— Bem… — Eu torço meus lábios — existe isso também.
Ela ajeita os ombros e determinação enche seus olhos. —
Nirvana, então.
Dói saber que ela precisa gritar com o mundo agora. Eu ainda
quero caçar aquele imbecil do seu pai e socá-lo. Mas Stella precisa
mais de mim.
Eu pratico alguns acordes. A guitarra está afinada perfeitamente
agora. — Você conhece “Heart-Shaped Box”?
— Sim, mas não o suficiente para acertar toda a letra.
— E o refrão?
Seu nariz enruga em concentração. — Você quer dizer a parte
“Hey, Wayne, I got a new complaint”? Claro.
— É “Hey, Wait”, mas foi perto o suficiente. — Toco a abertura, e
ela pula um pouco quando o som da minha guitarra rola rico e forte
ao redor do loft. — Vou cantar os versos principais, e nós dois
faremos o refrão. Tudo bem?
Parecendo nervosa, mas animada, ela assente. Sinto-me ficando
mais leve, mais seguro a cada movimento. Isso é o que a música
faz comigo; espero que faça algo puro para ela também. —
Realmente cante. Grite no microfone. É só para nós aqui.
Começo a cantar e Stella guincha, puxando a parte inferior da
minha camisa com felicidade. Suas palhaçadas me fazem rir através
de parte da letra, o que só a faz rir também. Perto do refrão, eu
sorrio para ela e balanço minhas sobrancelhas em encorajamento.
Ela respira fundo e depois se solta.
Ela não estava exagerando – ela não pode cantar. Nem um
pouco. Ah, mas a maneira como ela se entrega à música, seu corpo
cheio de curvas tremendo de energia, é uma visão bonita. Eu amo
cantar com ela, vê-la se envolver. Quando chego ao solo, Stella pula
do palco e dança, os braços abertos, o corpo girando.
Sua alegria flui até mim e alimenta a música. Eu tive essa
adrenalina embriagante muitas vezes, tocando para milhares de
pessoas e os ouvindo gritar para mim. Mas isso é algo mais. Eu não
conhecia aquelas pessoas; elas eram massas sem rosto. Stella é
meu tudo. Me apresentar para ela é um presente que eu nunca
soube que queria ou precisava.
A música termina e se mistura com outra. Pela primeira vez, eu
toco minhas músicas para ela, canto minhas letras, permaneço com
as de ritmo acelerado para que ela possa continuar dançando.
Quando eu chego a “Apathy”, ela gira por aí, cantando desafinada e
com todo o seu coração. Ela ainda está usando o vestido azul que
vestiu para o jantar e a saia flui em torno de suas coxas, subindo
aqui e ali para mostrar vislumbres provocantes da sua calcinha rosa.
Eu tenho sutiãs jogados na minha direção, mulheres se exibem
em meus shows. Nada disso me motivou tanto quanto esperar para
dar outra espiada na doce bunda de Stella.
Ela balança seu quadril – aquele quadril arredondados o qual me
apaixonei no momento em que ela me roubou um beijo e mudou o
meu mundo – quando nossos olhos se encontram. Meus dedos
tropeçam nas cordas, minha voz desaparecendo. De alguma forma,
nós dois paramos ao mesmo tempo. Os seios de Stella sobem e
descem a cada respiração ofegante.
Meu corpo zumbe, suor escorregadio na minha pele. Ela está
corada, a umidade deixando seu cabelo mais escuro ao longo das
têmporas. A ponta da sua língua sai para lamber o lábio inferior. É
tudo o que preciso para me deixar duro. Sem quebrar o contato
visual, deslizo a correia da guitarra sobre a cabeça e lentamente
coloco a Strat no suporte.
O olhar de Stella fica quente e nebuloso. — Tire a camisa.
Meu abdômen aperta com uma dor doce, quando chego na parte
traseira da minha cabeça e pego um punhado da camisa antes de
tirá-la. Ela oscila como se eu a tivesse deixado fraca dos joelhos e
agitada. Calor brilha na minha pele, minha respiração ficando mais
rápida.
Tudo para quando Stella tira o vestido dos ombros e o joga no
chão. Seu sutiã voa livre em seguida. Eu gemo baixo e profundo ao
ver aqueles mamilos rosados, duros e carentes.
Sua voz está rouca com a ordem. — Venha aqui, Jax Blackwood.
Nesse momento, eu sou Jax, e ele quer brincar. Saltando do
palco, eu vou para ela. O cetim de sua pele desliza contra o meu
peito nu enquanto agarro sua bunda cor de pêssego e a levo em
meus braços. Sua boca está quente e aberta, suas coxas fortes
apertadas em volta da minha cintura. Sinto seu beijo atrás dos meus
joelhos, ao redor da ponta do meu pau, que quer entrar nela.
Tudo fica um pouco frenético. Encontramos o sofá, caindo sobre
o couro frio, o corpo macio de Stella em cima do meu. Eu preciso
dela. Pele com pele, boca com boca. Ela é ar, água e vida. Eu
envolvo meus braços em suas costas magras e a puxo para mais
perto, mesmo quando ela desliza sua língua mais fundo, me
provando com lambidas impacientes.
Sua pequena calcinha de seda rasga sob o meu aperto, e eu
gemo com o deslizamento molhado de seu sexo na parte inferior do
meu abdômen. Stella alcança entre nós e puxa o botão do meu
jeans, então eu estou levantando meus quadris, nós dois lutando
para me libertar. Sua boca, no entanto, não posso deixar sua boca
suculenta. Pura luxúria dispara quente e selvagem na minha
espinha quando ela finalmente, finalmente, agarra meu pau.
E então ela está afundando, me segurando tão quente, molhada
e apertada com sua pequena boceta. Eu empurro, balançando-a
nos meus quadris, e ela quica, trabalhando-me como ela quer,
usando-me para o seu prazer. Eu amo isso, amo o jeito que seus
doces seios balançam e sacodem, a firmeza rechonchuda de sua
bunda em minhas mãos.
Ela me trabalha cada vez mais rápido, seus quadris batendo. Ela
arqueia as costas, inclinando a cabeça para o lado, os olhos
fechados enquanto se concentra. Eu nunca vi nada mais bonito.
Como se ela pudesse ouvir os meus pensamentos, seus olhos
se abrem e encontram os meus. Os lábios macios se separam
quando ela se inclina, envolvendo-se em mim. Eu capto seus lábios
e a beijo como se estivesse morrendo. Estamos nos movendo com
empurrões e impulsos desconexos, tudo sobre a sensação e sem
sutilezas. Ela parece tão bem, tão lisa e quente. Eu não vou durar.
— Você está perto? — Eu ofego em sua boca. — Me diga o que
você precisa.
Mas ela apenas geme, as sobrancelhas franzindo quando ela
mói no meu pau. Com uma mão trêmula, apalpo entre nós e
pressiono meu polegar em seu clitóris inchado – forte, do jeito que
ela gosta – e ela explode, gemendo, seu corpo ficando relaxado e
desamparado. Stella cai em seu orgasmo, deixando-se levar,
deixando-me lidar com seu corpo com total confiança.
A visão dela desfeita, o pulso rítmico de seu aperto em volta do
meu pau, me faz gozar com tanta força que esqueço onde estou,
quem sou. Há apenas o prazer e Stella. Sempre Stella.
Volto a mim mesmo atordoado. Stella deita sobre mim,
escorregadia e ofegante, mole com sua libertação. É preciso toda a
minha energia para levantar minha mão e passar por seus cabelos.
— Se é isso que ganho por me apresentar para você — digo a ela,
— farei isso todos os dias pelo resto de nossas vidas.
Ela dá uma risada fraca. — Combinado.
Stella se move um pouco e a umidade se espalha pelas minhas
coxas. Nós dois enrijecemos e Stella levanta a cabeça. Não sei
como ler completamente seu olhar. Não é horrorizado, mas
definitivamente chocado.
— Esquecemos a camisinha — digo baixinho.
Uma meia risada culpada a escapa, mesmo quando ela fica
corada. — Eu nem pensei nisso.
Meu sorriso é irônico, e afasto uma mecha de cabelo da
bochecha dela. — Eu também não. Isso… Eu nunca fiz isso. —
Nunca. Essa proteção nem sequer passou pela minha cabeça em
primeiro lugar.
Stella descansa a cabeça no meu ombro. — Bem, nós sabemos
que estamos limpos. Eu estou tomando anticoncepcional, então... —
Ela para.
Eu ainda estou dentro dela, meu pau lentamente ficando flácido.
Agora que sei que não estou usando camisinha, meu pau se mexe
com interesse renovado. Ele quer tentar novamente, devagar, levar
algum tempo para conhecê-la de novo. Eu digo ao meu pau para
calar a boca.
— Isso significa que podemos... ah... não usar… — Eu paro.
Merda, eu sou um canalha.
Stella olha para mim, hesitante, mas não irritada. Pelo menos
ainda não. — Você quer?
Nós dois estamos pisando em ovos ao redor das palavras,
nenhum de nós aparentemente sabe como dizer. Eu nunca tive essa
conversa antes. Nunca quis. Parece significativo, no entanto. Não se
trata do preservativo – não de verdade –, mas do fato de estarmos
discutindo como queremos nos proteger de forma mais permanente.
Eu pressiono meus lábios na sua cabeça. Claro que somos
permanentes. Estou totalmente rendido pela Stella. — Baby, vamos
fazer o que você quiser.
Ela mexe o quadril, apenas o suficiente para me fazer grunhir.
Há um sorriso na sua voz. — Eu gosto disso. Não precisa parar.
Porra, eu também gosto. — Então eu vou te foder sem pausa a
partir de agora — provoco.
Ela ri e o som ilumina meu mundo.
— Se sente melhor agora? — Eu pergunto, mais sério.
Um suspiro a deixa. É descontraído e lento. Suas mãos deslizam
pela minha lateral, deixando arrepios. — Sim. Obrigada John. Por
cuidar de mim.
Minha garganta aperta. — Eu não fiz muito.
Olhos azuis seguram os meus. — Você fez tudo o que importa.
Nós nos encaramos. Ela olha para mim com tanta confiança e
ternura que meu coração começa a doer. Quero puxá-la para mim e
escondê-la do mundo, de qualquer coisa que possa machucá-la.
Mas eu sei que não vai funcionar. Não podemos proteger aqueles
que amamos; só podemos deixar que eles saibam que estaremos lá
para pegá-los quando caírem.
O silêncio entre nós cresce. Não é estranho, mas preenchido
com algo frágil e pesado. Outra mudança reorganizou nosso mundo,
outra parede desmoronando. Talvez seja demais para Stella. Ela
vira a cabeça e beija a curva do meu pescoço, seu sorriso ficando
tímido e provocador. — Mas talvez devêssemos ter certeza...
Ela não precisa dizer mais nada. Eu a rolo no sofá e a penetro. A
risada de Stella se transforma em outro suspiro satisfeito. Nessa
rodada, eu levo o meu tempo.

J , me dá um banho – se enrolando ao
meu redor enquanto lava cuidadosamente os meus cabelos –
depois me leva para a cama. Ficamos lá todo o dia seguinte,
descansando, satisfazendo um ao outro. É uma coisa estranha,
estar nua o tempo todo, movendo-se através do tempo em uma
névoa de luxúria e sexo. Meu corpo está diferente agora,
hipersensível, mas satisfeito, suave e lânguido. Estou ciente de
cada centímetro de mim mesma, dele.
Deus, seu corpo. É delicioso, sólido, firme e quente. Não consigo
parar de tocá-lo. Eu não preciso tentar. A luz do sol se põe sobre a
cama em faixas douradas quando ele me alcança novamente. Com
fácil auto-confiança, ele me puxa para baixo dele, sua boca
encontrando a minha. Ele cantarola em apreciação contra os meus
lábios enquanto se instala entre as minhas coxas.
Ele é o vício que escolhi, me fazendo lentamente perder todo o
senso de tudo o resto. Só existe ele. A pressão de seu corpo duro
contra o meu, a maneira como ele se move contra mim – um
balançar lento de seus quadris magros – é tão bom, tão decadente,
que tremo. Sua ereção parece quase pesada quando desliza quente
e dura sobre o meu sexo. Será preciso tão pouco para ele recuar e
empurrar. Nós dois sabemos disso.
Mas John estuda meu rosto, seus olhos observando todos os
detalhes. Ele está tão perto que vejo a fraca cicatriz embaixo do
olho, outra no canto inferior do lábio. Marcas velhas e desbotadas
que contam uma história de sua vida. Com um toque suave, ele
afasta uma mecha de cabelo da minha bochecha.
— John… — Eu me mexo um pouco, pressiono meus seios
doloridos contra seu peito duro. — Empurre. — Eu preciso disso.
Um pequeno sorriso levanta os cantos da sua boca. — Não.
— Como assim não? — Deus, estou tão quente. Estou tremendo
agora.
— Você me ouviu. — Ele passa os lábios nos meus, uma
provocação. — Não.
A cabeça arredondada de seu pau beija minha abertura antes de
se afastar, e eu arqueio, tensa e tremendo. — Você está me
matando.
— Bom. — Ele é todo presunção e quadris balançando.
— Bom? — Eu o encaro, mas não consigo aguentar, não quando
estou ofegante, não quando estou tão vazia. — Você está feliz me
torturando com sexo?
— Mmm… — Ele abaixa a cabeça e lentamente lambe meu
mamilo. — Orgulhoso, até.
— Doente. Deus, faça isso mais um pouco.
— Shhh… — Seus dentes mordem meu peito. — Aceite sua
tortura como uma boa garota, está bem?
— Não tenho certeza se gosto mais de você. — Meus dedos
deslizam por seus cabelos macios, brincando com as pontas
enquanto ele chupa apenas o suficiente para me deixar sentir o
calor da sua língua.
Eu sinto o seu sorriso maligno. — Claro que você gosta. — Ele
beija o caminho até o outro seio enquanto seu pau mói contra o meu
clitóris. — É claro que, se você realmente se opuser, pode me
afastar e cuidar disso por conta própria.
Seria bom para ele se eu fizesse. Mas ele é muito bom e sabe
disso. Mesmo assim, pego um punhado de seus cabelos e puxo
gentilmente. Olhos verdes encontram os meus. Eles estão
ligeiramente desfocados, sonolentos. E eu sei que ele está tão
afetado quanto eu.
— Prefiro que você acaricie a minha periquita. — Eu balanço
minhas sobrancelhas. — Brinque de DJ comigo.
Uma risada sai de seus lábios, os cantos dos olhos enrugando.
— Eu te amo.
Ele diz isso de maneira tão simples, tão fácil, como se
irrompesse com completa pureza. No entanto, seu corpo estremece,
seus olhos se arregalam. Tudo para, as palavras penduradas entre
nós, essa coisa viva, que respira, que segura o meu coração e o
aperta com força. Ele não fala, mas olha para mim, seu olhar
disparando sobre o meu rosto como se quisesse avaliar minha
reação. Na verdade, ele parece um pouco horrorizado. Estamos tão
apertados que sinto cada baque frenético do seu coração.
— Você não quis dizer isso, não é? — Eu sussurro.
— Não. — A confissão é um fio de som.
Mas estremeço como se ele tivesse gritado e abaixo minha
cabeça para não ter que encará-lo. Mas ele estende a mão e segura
minha bochecha, gentilmente levantando meu queixo. Solenes olhos
verdes seguram os meus. — Mas eu amo.
Calor percorre a minha pele. Eu não consigo respirar. — Você
me ama?
Ele não vacila, não pisca. — Sim. Já faz um tempo.
Eu tento acreditar, mas tenho medo. — Você disse que não iria
se apaixonar.
Os lábios de John se curvam ironicamente enquanto seu polegar
acaricia lentamente o canto da minha boca. — Stella Bonita, no
momento em que você arrancou o sorvete da minha mão, você me
deixou sem equilíbrio. Tudo o que eu pude fazer foi cair aos seus
pés.
A esperança cresce dentro de mim, subindo como uma onda
quente. Eu toco o topo da sua bochecha, a borda da sua mandíbula,
apenas para senti-lo. Minha garganta ameaça se fechar em mim. —
Eu amo você também.
John respira fundo pelo nariz, e expira tão rápido e trêmulo. —
Eu meio que esperava que você amasse. — O sorriso dele é
trêmulo. — Nunca me apaixonei.
Eu vejo a incerteza em seus olhos, o medo. Combina com o
meu. — Eu também.
Seu sorriso fica mais forte. — Eu não pensei que seria tão bom.
— Uma risada sai dele. — Ou aterrorizante.
Meu sorriso de resposta é tão amplo que sinto no meu rosto. —
Pensei que era a única.
John cantarola profundamente em sua garganta e abaixa a
cabeça para beijar seu caminho pelo meu pescoço. — Estou com
você, Bonita. Aconteça o que acontecer, eu sempre vou estar com
você. — Ele coloca um beijo suave na ponta do meu mamilo antes
de olhar para mim. — Agora abra mais essas coxas e me deixe te
foder direito.
— Tão romântico. — Mas eu abro como ele pede, e ele me faz
bem.
CAPÍTULO VINTE E SETE

JOHN

— B . — Stella cutuca meu braço que está enrolado em sua


cintura, me tirando de um sono profundo. — A porta.
Estou tão encostado em seu corpinho suculento que nos
fundimos e não quero me mexer. Como que eu dormi sem ela?
Minha mão segura um peito cheio e a ponta do mamilo endurece
contra a minha palma. — Mmm. Você está pronta? — Eu a aperto.
— Eu posso te dar mais.
— Não pronta. Porta.
Um grunhido me deixa enquanto ela mexe sua bunda,
empurrando meu pau. — Você quer a porta dos fundos, baby? — Eu
a cutuco com o pau agora excitado e seriamente interessado. —
Estou disposto, se você estiver.
Sua voz se ilumina com humor. — Alguém está batendo na porta
da frente, seu pervertido.
Finalmente registro o som da batida, e levanto minha cabeça
com uma carranca. Ficamos na casa de Killian para fazer
companhia a Stevens, já que o gato do inferno se recusa a entrar no
meu apartamento. Stella afirma que é porque ele não gosta de mim.
Não estou mais comprando isso, já que a bola de pelos está
atualmente empoleirada no meu quadril, como se ele fosse o rei da
cama. Seus olhos amarelos estreitam com um olhar de desdém
quando outra batida soa. Aparentemente, ele também não se diverte
em ser perturbado.
Eu passo a mão sobre minha barba matinal. — Quem diabos
bate na porta as… — Um olhar para o relógio faz minha carranca
aumentar. — Nove da manhã? Ninguém que conheço visitaria tão
cedo e esperaria continuar vivo.
Ela ri, toda aconchegante e rouca do sono. Seu cabelo é uma
auréola selvagem em torno de seu rosto quando ela se vira e sorri
para mim do seu lugar no travesseiro. — Ei, sou apenas a babá dos
animais. Provavelmente é alguém procurando por Killian?
— Quem quer que seja, eles não vão gostar de mim. —
Movendo o gato, que uiva seu aborrecimento, pego meu moletom e
o visto. Meu pau mostra seu volume na frente e, com uma careta,
coloco-o contra a cintura. — Eu estava quase conseguindo um
pouco de você.
Stella bufa com diversão. — Claro que estava, grandalhão.
Pego uma camisa enquanto caminho em direção à porta do
quarto, mas paro no limiar para olhar para trás. Stella está retorcida
no lençol cinza, sem se preocupar em esconder os seios – aqueles
peitos perfeitos e carnudos com mamilos agora despertos como
framboesas maduras. Meu pau palpita em protesto. Simpatizo. —
Ah, baby, eu vou ter você e te darei um pouco de mim com interesse
e você vai adorar.
Seu olhar desce para a minha ereção, e ela geme baixo na
garganta. Porra, parece um ronronar. — Se você se livrar de quem
está na porta rápido o suficiente, podemos conversar sobre a
sugestão da porta dos fundos.
O calor lambe minha espinha e quase rastejo de volta para a
cama. Agarrando o batente da porta para não fazer exatamente
isso, dou a ela um longo olhar. — Já mencionei hoje o quanto eu te
amo? Como realmente, realmente te amo. O suficiente para me
ajoelhar atrás de você e...
Ela ri e joga um travesseiro na minha direção. — Homens. Dou
uma dica de que vou oferecer um pouco da minha bunda e veja
como você está disposto a ficar de joelhos.
Sorrindo, eu visto minha camisa. — Você já me deixou de
joelhos, Stella Bonita. Me dar um pouco dessa bela bunda, apenas
adoça o acordo. — Eu sopro um beijo para ela e sigo para a porta
da frente. A verdade é que não preciso de nada além do que ela me
deu para ficar completamente contente.
Por outro lado, o pensamento da sua bunda arredondada... Eu
balanço minha cabeça e foco. Uma espiada pelo buraco da
fechadura me fez parar. Eu não conheço o cara do outro lado, mas
ele não parece um fã perseguidor. Mais como um contador. Mais
baixo do que eu, com cabelos cacheados escuros e usando óculos
finos de armação dourada, ele também está vestido com um terno
cinza sem graça no domingo – e está segurando uma pequena
caixa de jóias.
Inferno, talvez ele seja um dos clientes de Stella que veio
professar seu amor por ela.
Abro a porta com um pouco mais de força do que o necessário.
— Posso ajudar?
O homem pisca como se tivesse esquecido o motivo de estar
aqui, e noto que seus olhos estão vermelhos e inchados.
— Estou procurando por Jax Blackwood. Acredito que ele mora
em uma das coberturas, mas eu não tinha certeza de qual delas.
Que diabos?
— Sou o Jax — eu digo, olhando para a caixa na mão e depois
de volta para o seu rosto. Isso está ficando estranho, e a parte de
mim que foi preparada para desconfiar de todos os estranhos quer
recuar e fechar a porta. Mas há uma tristeza no cara que me deixa
inseguro. Atrás de mim, ouço Stella descendo as escadas, e um
sentimento de proteção me atinge com tanta força que quase me
sacode. Os pelos do meu pescoço se levantam, e eu preparo meus
pés, coloco meu corpo entre ela e o estranho na porta.
O cara não parece notá-la e se retrai. — Ah, que bom. Eu sou
Leo, filho da Madeline.
— Maddy? — Eu digo, enquanto Stella para ao meu lado. — Ela
está bem?
Cada dolorosa linha do rosto de Leo me diz que ela não está.
Leo engole em seco. — Mamãe faleceu semana passada.
A sala se inclina. Stella agarra meu cotovelo.
— Eu… — Eu limpo minha garganta. — Sinto muito por ouvir
isso. — Dou um passo para trás e gesticulo para ele entrar. Leo me
segue até a sala e senta-se na beira de uma cadeira.
— Você gostaria de um pouco de café? — Stella pergunta para
ele. Ela está pálida e abalada, mas sua atenção se volta para mim,
avaliando quão triste estou.
— Não, obrigado.
Ela se senta no braço do sofá, seu corpo encostado no meu. Sua
mão se instala na minha nuca, segurando-a levemente. Não sei se o
toque é para mim ou para ela, mas agradeço da mesma forma.
Leo empurra os óculos de volta pela ponta do nariz. — Mamãe
falou muito bem de você. Ela disse que você fazia o jantar de vez
em quando.
— Sim. Às vezes. — Mas não o suficiente. Jesus, quando foi a
última vez que conversei com Maddy? Eu me encolho. Foi na noite
da nevasca. Então eu tinha visto Stella, e a última coisa que pensei
em fazer foi visitar a minha vizinha. A culpa cai no meu estômago
com um baque retumbante. — Sua mãe era especial.
Leo sorri tensamente. — Sim, ela era. — Ele coloca a caixa na
mesa de café e desliza em minha direção. — Mamãe queria que
você tivesse isso.
— Ela queria? — Olho a caixa, hesitante em abri-la. Isso
significa que ela realmente se foi.
Mas Leo está esperando. Meus dedos tremem quando eu
levanto a tampa. No interior, encontra-se um relógio de pulso Rolex
vintage para homem, com a face em creme e revestimento de ouro.
A pulseira de couro preta é fina nas laterais após anos de uso, e eu
sei que ela pertencia ao marido de Maddy, pai de Leo. Com um
suspiro pesado, coloco a caixa de volta na mesa. — Obrigado, mas
não posso aceitar. É muito... Pertence à sua família.
Leo balança a cabeça, de repente inflexível. — Se mamãe queria
que você tivesse isso, então pertence a você. — Sua expressão se
torna carinhosa. — Você conheceu minha mãe. O que ela queria,
ela conseguia.
Eu rio, mas é fraco e doloroso. — Ela me aterrorizou metade do
tempo.
Toda aquela vitalidade determinada se foi. Sem mais nem
menos.
— E essa era a minha mãe. — Ele se endireita. — Por favor,
aceite com a minha bênção.
— Como você sabe que ela queria que eu ficasse com isso? —
Minhas mãos se fecham em punhos nas minhas coxas. — Ela falou
de mim antes...? — Merda, eu vou chorar. Maddy era uma amiga.
Mais importante, ela esteve ao meu lado de uma forma que poucos
estiveram. Eu me senti seguro confiando nela porque ela estava
separada de todos os outros aspectos da minha vida. E agora ela se
foi.
— Não — diz Leo. — Ela deixou um bilhete...
— Um bilhete — eu interrompi bruscamente, algo horrível e frio
cortando através de mim. — Ela... me disse que não… — Jesus,
não. Ela não pode... Eu levanto abruptamente, me afastando da
mesa.
A expressão confusa de Leo de repente desaparece. — Não,
não. Foi um ataque cardíaco. Ela faleceu enquanto dormia quando
estava em nossa casa de férias em Boca.
Paro bruscamente, o alívio me inundando como água fria. —
Você disse um bilhete...
— Sinto muito, não estou explicando bem — diz ele com um
sorriso triste na direção de Stella, provavelmente porque eu pareço
um louco agora. Ele se endireita na cadeira. — Mamãe era louca
por listas. Ela tem – tinha – livros cheios delas, de contas
domésticas a futuros planos. No ano passado, ela teve um pequeno
ataque cardíaco. Depois disso, ela começou as listas, catalogando o
que queria deixar para quem e por quê.
Ele cava no bolso do terno e pega um papel dobrado. — Eu
copiei isso. — Ele ajusta os óculos e lê: — Jax fica com o Rolex de
69. Ele vai gostar desse número e precisa saber que a única coisa
que não podemos segurar é o tempo.
Eu coro forte, então uma risada se liberta, agridoce e fazendo o
meu peito doer. — Ah, inferno, vou sentir falta dela.
— Eu também. — Os olhos de Leo brilham antes que ele pisque
rapidamente e se levante. — Eu tenho que ir.
Uma estranha sensação de pânico desliza sobre minha pele e se
arrasta para dentro de mim. Quero que ele se vá. Eu quero ficar
sozinho no silêncio da minha cama. O nível de dor que sinto pela
perda de uma amiga que mal vi me deixa perplexo. E se Scottie
tivesse vindo me dizer que Killian se foi? Ou Stella?
O terror não diluído suga minha alma com tanta força que minha
cabeça gira. A menos que eu vá primeiro, esse dia chegará. Eu vou
perder todos eles. Maddy estava certa sobre o tempo –
eventualmente o tempo de todos vai acabar. O suor escorre pelas
minhas costas enquanto minha garganta se fecha. Franzo o cenho,
tentando me concentrar. Leo está falando comigo, sua voz abafada
zumbido nos meus ouvidos.
— Se eu puder incomodá-lo com mais uma coisa, você conhece
uma Stella que mora no prédio? Minha mãe não tinha o sobrenome
ou o número do apartamento.
Stella pula na cadeira como se fosse beliscada. — Eu sou Stella.
— Ah! — Na verdade, ele cora, o que não combina com seu
visual abotoado. Mas como ele não pode cair no feitiço de Stella?
Ela é uma luz brilhante na mais escura das noites. Ele estende a
mão para apertar dela. — Como vai? Mamãe deixou algo para você
também.
— O que? — Choque faz com que ela segure meu braço, os
olhos arregalados. — Mas almoçamos juntas apenas uma vez.
— Bem — Leo diz com uma nota irônica, — você deve ter
causado uma grande impressão. Na verdade, eu deixei no corredor.
— Ele se levanta e nós o seguimos até a porta. Leo volta com uma
grande bolsa vermelha que faz Stella engasgar. — Eu pensei que
poderia ser estranho para mim tocar a campainha enquanto usava
uma bolsa, então...
Ele encolhe os ombros com uma pequena risada e entrega a
bolsa a Stella. Ela pega com reverência, a mão alisando a superfície
de couro nodosa.
— Ah, uau. A Birkin. — Stella lambe os lábios, os olhos
lacrimejando. — Apenas uau.
— O bilhete da minha mãe para essa dizia que toda mulher
deveria ter uma bolsa fabulosa, e que iria colidir maravilhosamente
com o seu cabelo. — Leo olha para os cachos brilhantes de Stella
com algo quase confuso. — Não tenho certeza do que ela quis dizer
com isso.
Stella sorri, claramente não ofendida. — Mas eu sim. E ela
estava certa. — Ela se inclina e dá um abraço em Leo, que aceita
depois de vacilar por um segundo. Um suspiro o faz estremecer,
como se um simples abraço fosse algo que ele estivesse
precisando, antes de se recompor e dar um passo para trás.
— Quando é o funeral? — Eu pergunto. Eu não quero ir. Não
quero olhar a morte de cara e saber que está esperando por todos
que amo. Mas vou fazer isso por Maddy.
A expressão de Leo cai e ele esfrega as costas e lança um olhar
para a porta. — Pela lei judaica, tentamos enterrar nossos mortos
dentro de vinte e quatro horas após a morte.
Certo. Já faz uma semana. Uma semana que ela está morta e
enterrada e eu não tinha ideia ou pensado nela durante todo esse
tempo. Engolindo de volta a náusea, digo adeus ao filho de Maddy.
Não estou realmente acompanhando a conversa, mas simplesmente
enfrentando as minhas emoções até que eu possa ficar sozinho.
Assim que Leo se vai, Stella se vira para mim e me abraça.
— Estou tão triste — diz ela. — Gostei muito Sra. Goldman.
Olhando para longe, esfrego círculos lentos nas costas de Stella.
— Eu também.
Ela assente e um pequeno arrepio percorre seu corpo. — Vou
sentir muita falta dela. Mas não consigo deixar de pensar que ela
finalmente está com seu Jerry.
Meu carinho distraído para. — Maddy te contou sobre Jerry?
— Naquele almoço. Ela o amava muito. Eu acho que realmente
a dilacerou que ele se foi e ela não podia seguir.
Sem dúvida, sei que Stella está dizendo isso para confortar a
mim e a si mesma. É um conforto imaginar Maddy com Jerry. Ou
seria se minha mente se prendesse a isso, mas ela gira e gira com
medo. Eu penso na dor de Maddy. Tantos anos sofrendo sozinha,
porque ela perdeu aquele que mais amava. Toda vez que visitei
Maddy, eu via a melancolia em seus olhos, percebia o modo como
ela voltava todas as conversas ao seu amado marido. Como ela fez
isso? Como ela continuou depois que sua outra metade morreu?
Me sinto enjoado dos ossos quebradiços até ao meu coração
aterrorizado. Tudo acaba. O amor morre. No final, ficarei sozinho e
não há nada que eu possa fazer para impedir.
Stella levanta a cabeça para encontrar meus olhos. — Você está
bem?
— Sim. Eu estou bem.
É uma mentira, no entanto. As paredes estão se fechando sobre
mim, sombras infestando os limites da minha mente. Eu conheço
essas sombras, esse sentimento. Durante anos, tentei reprimir esse
medo quando ele chegava, mas nunca fui capaz de guardá-la
completamente. E pela primeira vez em muito tempo, estou com
medo. Porque nada de bom acontece quando eu perco o controle.
CAPÍTULO VINTE E OITO

JOHN

E . Há uma besta desagradável sentada no meu


peito, cavando suas garras profundamente. Rasgando, empurrando,
implacável. O suor escorre pela minha pele. Não consigo parar de
tremer. Tudo está preto e girando. Eu quero gritar, mas não posso
falar. Eu mal consigo respirar. É muito pesado. Demais.
Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo. As palavras circulam em
torno do ralo, rodopiando e caindo. Não consigo tirá-las de lá.
Eu não quero isso. Eu nunca quis.
O ácido queima minha garganta, reveste a parte de trás da
minha língua com arrependimento amargo.
Eu realmente nunca quis isso. Isso não.
A solidão é agonizante. Soluços brotam, mas não há força em
mim para libertá-los.
E uma mão quente e grande toca o meu ombro. Humana.
Familiar.
— Jax! Ah, merda. Jax. — A mão me balança, os braços me
puxam para perto. — Porra, não. John. John!
Killian. Ele está gritando por mim. Gritando comigo. Não posso
decepcioná-lo. Eu não posso machucá-lo. Mas é tão difícil abrir os
olhos. Estou cansado de tudo ser tão difícil. Estou tendo uma
recaída...
Meus olhos se abrem com meu suspiro. Estou na minha cama
nu e banhado em suor. Eu respiro fundo várias vezes, tentando me
controlar. Ao meu lado, Stella está quente, macia e adormecida. Ela
parece em paz e feliz. Tudo dentro de mim anseia por voltar a deitar
e me envolver ao seu redor. Segurar firme e nunca soltar.
Ela vai saber que você está com medo e em pânico novamente.
Que mulher quer isso em um homem? Você deveria ser forte por
ela. Ela será sua nova muleta. Ela não pode te consertar.
Segurando os lados da minha cabeça, tento esmagar os
pensamentos. Mas eles continuam circulando esse ralo. Sempre
circulando. Sempre lá.
Não consigo respirar.
Maddy está morta.
Um dia, Stella também estará morta.
Bile surge na minha garganta. Desordenado, corro para o
banheiro e mal chego a tempo. E parece que tudo o que sou está
sendo eliminado. Estou me perdendo de novo. Tudo o que resta é
um buraco vazio.
Eu odeio isso. Odeio me encontrar no chão, uma casca do que
eu era. Ou talvez seja o que eu realmente sou – uma casca que
estou tentando desesperadamente preencher com algo bom e puro.
Mas não funciona. Não por muito tempo. E voltei a ser aquele
receptáculo vazio.
Eu não estive aqui, encolhido no chão do banheiro, há um
tempo. Desde aquele dia sombrio. Agora estou de volta e sei o que
causou isso.
Stella.
A amorosa Stella.
Eu vou estragar tudo eventualmente. De um jeito ou de outro, ela
vai embora. E não haverá mais volta. Ela vai discutir. Vai querer me
consertar. Mas não pode. Eu não quero que ela conserte. Eu não
quero que ela me veja tão quebrado.
Deus, eu preciso fugir. Voltar para como as coisas eram.
Entorpecido. Eu preciso estar entorpecido novamente.

A . Algo está muito errado. Estranho


como eu sei disso antes de estar totalmente acordada. Sinto nos
meus ossos, no medo intenso que pesa sobre as minhas entranhas.
Piscando o sono dos meus olhos, encontro-me sozinha na cama, o
lado de John está amarrotado e vazio.
Em um nevoeiro estranho, visto a camiseta descartada e a calça
de pijama. O quarto está escuro, as cortinas ainda fechadas, mas o
relógio diz que é quase meio dia.
— John?
Ele não está no banheiro.
— Baby? — Meus passos se arrastam quando saio do quarto e
entro no corredor. O loft está quieto. Muito quieto.
Não vou entrar em pânico; não vai ajudar e parece desleal me
preocupar. Eu o encontro na sala de música, amontoado entre uma
fileira de guitarras. Vestindo uma calça de moletom e nada mais, ele
está enrolado em si mesmo, as costas pressionadas contra a
parede. Ele não olha para cima quando me aproximo.
— Baby? — Eu me ajoelho ao seu lado. — O que está
acontecendo?
Seu braço está frio e úmido, e ele se encolhe ao meu toque. Ele
olha diretamente para mim, mas está sem foco, como se seus
pensamentos tivessem fugido para outro lugar.
— John. — Eu descanso minha mão em seu braço. — Baby,
olhe para mim.
Seus olhos finalmente encontram os meus. Há tanta dor refletida
em minha direção. Dor e pânico.
— Respire fundo — digo a ele. John simplesmente me encara,
ofegante e de olhos arregalados, e eu acaricio seu braço. — Por
mim?
Lentamente, ele respira fundo e solta o ar. Ele continua fazendo
isso, lentamente para dentro e para fora, enquanto eu seguro sua
mão.
— Existe alguém para quem você quer que eu ligue? —
Pergunto quando sua cor volta um pouco.
— Não. — Seus dedos abrem e fecham. — Não há ninguém.
Deus, seu cabelo está úmido de suor. Ele estremece um pouco
antes de enrijecer. Há uma manta na poltrona, e a agarro para
envolver em torno dos ombros de John. Ele deixa. No entanto, ele
parece não perceber o que estou fazendo.
— Eu não gosto disso. — O tom de sua voz é tão vazio que não
parece com ele mesmo.
— Do que você não gosta? — Eu pergunto baixinho.
Seu olhar desliza para longe.
— Isso — diz através dos dentes cerrados. — Eu não gosto
desse... sentimento.
— O que você está sentindo?
— Não — ele balança a cabeça. — Eu não gosto de sentir.
— John. — Eu acaricio seu braço. — Você não está fazendo
sentido. Me deixe ligar para a sua terapeuta...
— Não me toque. — Com um rosnado, ele sacode minha mão.
Eu só posso ficar boquiaberta, meu coração batendo forte e rápido
enquanto ele me olha. — Não. Me. Trate. Como. Criança.
— Eu não estou. — Minha bunda bate no chão quando ele se
levanta e se afasta. — Só estou tentando ajudar.
— Eu não preciso de ajuda — ele retruca, andando de um lado
para o outro. — Eu não sou um projeto.
Eu também estou de pé. — Eu nunca disse que você era. Mas
algo está obviamente te perturbando, e eu quero...
— Ajudar? — Ele corta secamente.
Ardor enche meu peito e corre sobre minhas bochechas. — O
que há de errado em ajudar? O que você faria se me encontrasse
enrolada no chão? Ignorar?
— Mas eu não te acharia assim. — Ele passa a mão pelos
cabelos úmidos e depois abre o braço. — Você não teria um ataque
de pânico depois de ter um pesadelo.
— Eu poderia. Dependendo do sonho.
John não responde, mas se dobra, seu corpo tão tenso que
treme.
— Você foi ver a Dra. Allen ultimamente?
Ele bufa. Por um segundo, não o reconheço; ele está muito cheio
de raiva e desdém – por mim.
— Você sabe muito bem que não — ele solta. — Quando passei
cada minuto que tenho com você.
Minhas costas ficam retas. — Não se atreva a sugerir que você
não ter feito terapia é de alguma forma minha culpa. Eu nunca
ficaria no caminho disso. Nunca.
Os ombros de John caem e ele agarra as pontas dos cabelos. —
Eu sei. Eu não quis dizer... Não, tudo bem? Eu esqueci. Mas eu
realmente não preciso ser lembrado sobre como eu estraguei isso
também.
— Eu não estou… — Eu respiro. Calma. Não pressione. — Você
está bem agora? — Eu quero abraçá-lo, mas não ouso enquanto ele
está assim.
Ele desvia o olhar. — Estou bem.
— John...
— Foda-se — ele grita, virando-se para mim com olhos
selvagens. — Eu não estou bem. Estou fodido. E não há nada que
você possa fazer sobre isso.
Não sei o que dizer ou fazer. Horrivelmente, quero chorar, mas
não posso. O orgulho não vai deixar. Mas ele vê através de mim.
Sua mandíbula se contrai e ele passa a mão pelo rosto. — Eu
sinto muito. Eu não deveria ter feito isso.
Ele está encarando um buraco nas tábuas do assoalho e
revirando os ombros como se estivesse tentando mentalmente ser
indiferente a algo. Estou começando a ficar com medo de que eu
seja o que ele quer que vá embora.
— Feito o que? — Eu pergunto, não querendo ouvir a resposta,
mas precisando.
John levanta a cabeça em seguida. — Isso. — Ele acena uma
mão entre nós. — Tentado um nós.
Nós. Como se fossemos algo tóxico e errado. Isso me bate com
a força de um bastão.
Eu agarro meu tronco, recuando. — John, não...
Ele não escuta. — Cometi um erro. Eu deveria saber.
A sala se torna um borrão enquanto eu pisco rapidamente,
ouvindo-o falar através de uma névoa de rejeição.
— Você entende? — Ele pergunta, ultrapassando o zumbido nos
meus ouvidos. — Estar com você me deixa escancarado. Tudo
parece mais. Eu tenho muito mais a perder.
— Você acha que eu não entendo isso? — Digo áspera. —Você
acha que não foi difícil para mim te deixar entrar? Bem, foi. Ainda é.
Mas também sinto mais alegria.
Ele estremece. — Eu também. Mas não aguento a dor, o medo.
A ideia de te perder, a possibilidade de responder a uma batida na
porta e descobrir que é você quem está morta... Não. — Ele solta
um suspiro, passando a mão pelos cabelos suados. — Acabei de
chegar a um ponto em que posso lidar com a vida cotidiana. Pode
não ter sido tão divertido, mas eu podia lidar.
Um pulso lateja na base da minha garganta e bate nas minhas
têmporas. Meus dedos tremem quando toco aquela batida irregular
no meu pescoço. Estranhamente, eu meio que esperava encontrá-lo
escorregadio com sangue porque as palavras de John continuam
me cortando.
— Não faça isso conosco. Não me afaste. — Eu me pergunto se
ele está realmente ouvindo. Ele continua andando com movimentos
agitados. Eu sei que ele não está no estado de espírito certo, mas
isso não para a dor. Porque, independentemente do que ele sente,
seu primeiro instinto é fugir de mim.
— Eu não posso correr atrás de você — digo secamente. Deus,
a dor continua crescendo. A mágoa. — Eu persegui pessoas que
deveriam me amar a vida toda. Não posso mais fazer isso. — Um
punho de sentimento se aloja atrás do meu esterno, e eu engulo em
seco. — Eu não deveria.
Ele para e olha para mim, olha através de mim. Sua expressão é
fixa e distante. — Esse é o meu ponto. Você não deveria ter que
lidar com isso, comigo.
— Eu não sei como fazer você ver o quão errado está — eu
sussurro.
— Porque eu não estou errado. — Ele pressiona as pontas dos
dedos contra os olhos e respira tão fundo que levanta seu peito. Eu
só posso assistir enquanto ele se estabelece em sua convicção e a
segura firme. Quando ele olha para mim novamente, todos os
vestígios do homem que disse que me amava se foram. — É melhor
assim. Você merece alguém que possa cuidar de você, e eu preciso
ficar sozinho.
Sozinho. Parece que nós dois estamos destinados a ficar assim.
— Então você acha que é mais seguro me dispensar agora? —
A raiva se eleva, empurrando minhas palavras para fora. — Então
você pode simplesmente voltar a sair comigo como se nada tivesse
acontecido? É isso? — Não vou chorar. Não. Eu não vou chorar.
John vira as costas para mim. — Sinto muito, Stella. Com o
tempo, você vai me agradecer.
Eu bufo, amarga e tão magoada que está me sufocando. Mas
não digo nada. Não existe nada a se dizer a um homem que está
decidido e não pode ver uma alternativa melhor.
Eu quero discutir com ele, no entanto. Mesmo agora, quando ele
puxou o tapete de debaixo de mim e me deixou sangrando por
dentro, eu quero lutar por ele, por nós. Mas não posso ser a única
pessoa no ringue. E isso não importa, porque ele já se foi.
A porta que se fecha silenciosamente é um golpe contra a minha
pele. Eu me encolho e caio de joelhos quando o silêncio se instala.
Respirar. Apenas respire.
Mas eu não posso. Meu coração desabou no meu peito. Tudo
machuca.
Respire!
Meu peito se contrai, enquanto um soluço se liberta. Não. Não
vou permitir. Não vou chorar.
Pressionando meu punho no esterno, levanto-me. Dá trabalho,
mas respiro fundo, depois de novo. Lentamente, muito lentamente, a
dor se transforma em dormência. Eu posso senti-la se espalhando
pelo meu corpo, pesada e sólida.
Stevens solta um miado melancólico, seu corpo sedoso
deslizando ao redor das minhas canelas. Não tenho forças para me
inclinar e acariciá-lo. Ainda não.
O apartamento está tão silencioso que meus ouvidos zumbem.
Eu deveria me mudar, fazer... alguma coisa. Mas o que? Não sei
como começar de novo. Estupidamente, olho em volta, tentando
encontrar algo que possa me dar uma dica sobre como começar.
Cada centímetro desse lugar é lindo, perfeito. Nem um único pedaço
é meu. Eu não pertenço a esse lugar.
John não me quer.
Outro soluço explode na superfície, e eu bato forte no meu peito.
Basta.
Mas não consigo parar de pensar nele. Apesar de toda a minha
dor, havia agonia em seus olhos. O fato de eu não poder mais
confortá-lo me mata. Ele pode não me querer, mas não posso
desligar meu amor por ele tão facilmente. Ele está sofrendo e
precisa de alguém.
Minha mão treme quando eu me sirvo de um copo de água e o
engulo. Então pego o telefone e faço a ligação.
Quando ouço o profundo — Olá? — do outro lado da linha,
quase desligo. Mas cerro os dentes e falo.
— Ei, é Stella. A babá dos seus animais de estimação.
Há um momento de silêncio, então Killian James fala. — Ei,
Stella. Está tudo bem?
Lágrimas espetam a parte de trás das minhas pálpebras, e eu as
pisco de volta. — Seus animais de estimação estão bem. Isso é
sobre John, Jax.
— Jax? Aconteceu alguma coisa? — A tensão em sua voz é
clara. — Ele está machucado?
— Não. Sinto muito por ter assustado você. — Eu limpo minha
garganta. — Não, eu estou ligando porque quero falar com você
sobre John.
Praticamente consigo senti-lo recuar através da linha.
— Ouvi dizer que vocês dois estão saindo — diz ele, um pouco
tenso e definitivamente cauteloso. — Eu não sei o que você tem a
dizer, mas não estou confortável falando sobre...
— E não estou confortável em ligar para você — interrompo. —
mas é uma pena, porque não se trata dos seus sentimentos ou dos
meus. Até onde eu sei, você é a coisa mais próxima que John tem
de um irmão.
— Sou — diz Killian firmemente.
— Então traga sua bunda para casa e esteja aqui para ele.
Killian faz um ruído estrangulado na garganta. — O que diabos
está acontecendo?
— Nós terminamos — eu deixo escapar, depois estremeço.
Porque não é isso que eu quero dizer.
Pelo jeito que Killian soa, ele claramente pensa que estou
ligando para reclamar. — Er... Ok, acho que deveria te parar aí
mesmo...
— Isso não é sobre mim. Não estou tentando ganhar nenhum
ponto aqui. Acabou. Mas John precisa de um amigo agora. Não —
eu emendo — ele precisa de você. De todos os caras, ele precisa
de você aqui.
Killian está calado por um instante. — Vocês dois terminaram,
mas está preocupada com ele?
Meu sorriso é amargo, mas ele não pode vê-lo. — Eu percebo
que provavelmente pareço um pouco doida agora.
Killian grunhe.
— John tem andando em cascas de ovos ao redor de vocês. Por
dois anos. E isso não está certo. Então, por favor, volte para casa.
— Eu respiro irregularmente. — Venha para casa para que eu possa
sair sabendo que ele está... bem.
Eu posso sinto a pressão crescendo por trás dos meus olhos.
Mais alguns minutos e não vou conseguir segurar.
Quando Killian finalmente fala, sua voz é insuportavelmente
suave. — Por que vocês terminaram?
A sala à minha frente fica embaçada. Eu mordo o interior do meu
lábio com tanta força que dói. — Porque eu não era o que ele
precisava.
— De alguma forma — diz Killian, — duvido disso, Stella.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

STELLA

E . Quero tanto que um pequeno gemido infantil


vaza dos meus lábios. Na aconchegante cabine do meu avião, que
cheira a metal, calor e gasolina de aviação, estarei segura, livre. Eu
sou competente lá em cima no céu azul e nas nuvens dispersas.
Ninguém pode me machucar lá em cima. Apenas eu. Porque voar
enquanto se está com esse emocional é pedir para morrer. Além
disso, Hank me daria uma olhada e saberia que eu estou esgotada.
Ele iria querer saber o porquê, e meu orgulho não aguenta mais
golpes.
Em vez disso, estou esperando o táxi que chamei, morrendo um
pouco por dentro a cada minuto que passa. Um enorme SUV branco
com janelas escuras para na minha frente. Reconheço Bruce
dirigindo e, por um momento difícil e doloroso, acho que deve ser
John na parte de trás do carro. Ele veio para pedir desculpas, para
me dizer que estava errado. Mas mesmo quando o pensamento
começa a se cristalizar, eu o estilhaço. Não vou ter esperanças.
A porta traseira se abre e os pequenos fragmentos de esperança
que eu não tinha esmagado se transformam em pó. Brenna sorri
para mim, a expressão um pouco tensa, mas obviamente tentando
não estar.
— Vamos. Entre. — Ela diz, acenando para mim.
— Isso é um sequestro? — Estou surpresa que posso até falar
com o nó na garganta.
— Sim — diz Brenna — do tipo amigavelmente gentil.
Desde que não posso simplesmente ir embora e manter minha
dignidade que já está vacilante, vou até o SUV. — Eu não posso
deixar minhas coisas.
— Bruce está cuidando disso.
— O que... — Olho para trás e vejo Bruce pegando minhas
malas e caminhando até o porta-malas. — Você não precisa fazer
isso. Eu chamei um táxi.
— Já está feito — Bruce diz com uma piscadela e fecha o porta-
malas.
— Entre no carro, Stella. — Brenna sorri para mim. — Não me
faça arrastar você até aqui.
— Ok. Mas, aviso justo, estou desagradável hoje.
Brenna ri. — Um pouco malvada. Eu gosto disso.
Ela recua e entro, fechando a porta atrás de mim. Uma vez lá
dentro, encontro Sophie também, sem o bebê Felix. Ela me dá um
sorriso alegre quando o carro entra no trânsito.
— Então — eu digo com falsa bravata, — isso é algum tipo de
doutrinação de culto?
— Ah, com certeza. — Sophie alcança o bar embutido na nossa
frente. — O culto de se preocupar com homens super-gostosos,
mas cabeças-duras e às vezes sem noção. É uma bênção e uma
maldição.
Eu bufo, mas secretamente, quero chorar. Eu não vou, no
entanto. Eu me recuso a chorar.
— Você quer um chá gelado? Ou talvez suco de frutas?
Honestamente, eu esperava que ela pegasse um champanhe,
como uma diva. Por outro lado, Sophie está amamentando e nem
perto de ser uma diva. Suspiro e tento deixar de lado a sensação
desconfiada que aperta meu peito. — Um chá gelado seria bom.
Ela me entrega uma garrafa de chá e pega uma limonada rosa.
Brenna, por outro lado, estende a mão e pega uma cerveja. Eu rio
do olhar de desaprovação que ela dá a Sophie.
— Ou nós podemos tomar uma cerveja — diz Sophie com um
sorriso tímido. — Eu meio que posso tomar um pouco de álcool
nesses dias.
— O chá está bom — asseguro a ela, tomando um longo gole. —
Então, o que há com o sequestro?
— Estou levando você para casa comigo — diz Brenna.
Deus, uma captora agindo por pena. Eu deveria saber. Mesmo
que minhas entranhas estejam tremendo, forço um tom leve. —
Você é gostosa e tudo mais, mas infelizmente eu não sou lésbica.
Sophie bufa.
Mas Brenna simplesmente me olha. — Que pena. Você tem toda
a energia de boa garota apenas esperando para ser corrompida.
— É uma fachada. Eu sempre fui corrompida. — E então John
me quebrou, me fazendo acreditar no “para sempre”.
Brenna ri, mas tenho a sensação de que ela sabe muito bem que
estou apenas tentando aguentar cada minuto. — Você pediu para
Killian voltar para casa, e agora você está sem uma. Onde está
hospedada?
Inicialmente, eu pensei em ir para Hank e Corinne. Mas
rapidamente esmaguei a ideia. Eu não posso fazer isso. De novo
não. Chame de estúpido orgulho; eu não ligo. A ideia de dizer a eles
que John me deixou e que eu não tenho para onde ir me deixa
enjoada. Se vou ficar sozinha nesse mundo, tenho que continuar
caminhando por mim mesma.
Meus dedos tremem enquanto os passo através da condensação
que envolve a garrafa de chá, volto minha atenção para o trânsito
pelo qual estamos rastejando. — Aluguel a curto prazo. Está tudo
bem.
Sophie faz uma careta tímida. — Um local onde acontece ritos
sexuais, com a ejaculação inspirada nas obras de Pollock e que
você tem que usar luz ultravioleta para visualizar? Stella, não.
Brenna se vira no banco. — Não vou te forçar, mas tenho um
ótimo lugar com muito espaço. E quero que você fique comigo.
— Por quê? — Sai muito confuso. — Você é amiga do John, sua
família, na verdade. Você não precisa de mim pendurada ao redor.
— Jax é meu amigo — ela concorda. — E eu o amo como um
irmão. Mas não significa que eu também não possa ser sua amiga.
— Eu esperava ir a algum lugar e lamber minhas feridas em
particular.
Sophie toca meu joelho, seus olhos castanhos arregalados e
aflitos. — Eu sei como é se sentir sozinha e com o coração partido.
É horrível. Mas a pior parte é não ter um ombro para chorar. Por
favor, deixe-nos fazer isso. Brenna está certa – nós gostamos de
você. Não precisa ser sobre Jax.
Exceto que será. No momento, ele é tudo o que consigo pensar,
e isso é terrível. — Seria melhor para nós dois se eu saísse
completamente da vida dele.
As duas ficam em silêncio por um momento, o som de buzinas e
o zumbido geral da cidade se infiltram. Afasto-me da janela e olho
cegamente para as minhas mãos. Eu não posso nem desfrutar da
minha cidade; eu o vejo em todos os lugares agora.
— Você realmente acredita nisso? — Brenna pergunta
suavemente.
Minha risada é amarga. — Por que não deveria?
Ela lambe os lábios e se inclina para mais perto. — Jax está
passando por uma situação difícil agora. Não vou dar desculpas ou
tentar descobrir o que ele está pensando. O que sei é que ele nunca
se apegou a uma mulher. Ele nunca tentou antes de você.
— Eu sei disso. — Meus dedos apertam a garrafa escorregadia.
— Eu sei que ele tentou comigo. E não funcionou... — Minha voz
falha e eu desvio o olhar. — Algumas coisas não dão certo, não
importa o quanto você queira.
Nenhuma delas diz nada, e eu sou grata. Estamos indo para o
centro da cidade, virando na Park Avenue, onde bonitas faixas de
grama verde dividem as ruas e babás passeam com as crianças ao
longo das calçadas ensolaradas.
— Fique comigo — Brenna finalmente diz em uma voz
gentilmente persuasiva. — Vamos sair. Nunca vamos mencionar
Aquele Que Não Deve Ser Nomeado. Vamos apenas relaxar e você
pode se reagrupar, descobrir o que quer fazer.
— Eu não sei… — Eu paro porque parece bom. Eu nunca tive
amigas de verdade. Eu queria, queria alguém para conversar e
desabafar. Preenchi esse vazio com clientes e conhecidos casuais.
Conversar com a Sra. Goldman tinha sido mais fácil; ela não tinha a
minha idade, não estava procurando por uma amizade íntima. Mas
agora que duas mulheres simpáticas e engraçadas estão
oferecendo algo real, acho difícil ceder.
Eu me segurei por tanto tempo que não sei como confiar. A única
pessoa em quem realmente confiei foi John, e olha onde acabou?
Um nó surge na minha garganta. Eu não quero estar quebrada e
com medo do abandono mais. Não quero me sentir sozinha.
Sophie me olha com cautela, claramente preocupada com que
eu vá fugir. — Não se preocupe em encontrar Jax. Ele está
planejando deixar o país de qualquer maneira... — As palavras dela
morrem de um jeito estranho quando Brenna sibila para ela.
Quero rir. Rir até chorar. Porque claro que ele está indo embora.
Ele tem esse luxo. Mas meus ombros caem quando descanso a
cabeça no encosto do banco. Eu não posso odiá-lo. John é quem
ele é. Ele precisa do seu espaço para se recompor. E, francamente,
eu também.
Meu sorriso provavelmente é amargo, mas eu realmente não me
importo. — Tudo bem — eu digo para Brenna. — Vou ficar com
você.
CAPÍTULO TRINTA

JOHN

— S . B , não posso dizer o quanto significa ter você


falando aqui hoje. — Beverly, a mulher encarregada pelo programa
de prevenção ao suicídio, me dá um sorriso caloroso o qual eu
saúdo e evito.
Acabei de realizar uma conversa casual de uma hora com outros
sobreviventes, e estou exausto, mas bem, inacreditavelmente bem.
Fiz a palestra para ajudar a apagar o estigma do silêncio e para
mostrar às pessoas que elas não estão sozinhas, que até um cara
como eu, supostamente sentado no topo do mundo, tem as mesmas
esperanças e medos. Fiz isso para ajudar os outros, mas de uma
maneira estranha, acho que também me ajudou. Estou cansado,
mas mais leve.
— Por favor me chame de Jax. E foi um prazer.
Jules me acompanhou hoje e ela faz arranjos para outra reunião
semelhante no próximo mês, enquanto eu assino autógrafos e poso
para fotos. Faço essas coisas de bom grado, porque é claro que
alegra as pessoas que estão ao meu redor. Particularmente é
estranho para mim, mas aprendi a aceitar.
Isso foi algo que ela me ensinou.
A verdade é que eu não tenho certeza de que estaria aqui, se
não fosse pela forma como ela me empurrou para fora da minha
bolha e me mostrou outro jeito de ver o mundo, me fez tirar minha
cabeça da bunda e me libertar.
Assim, a dor retorna. A dor da depressão é uma coisa.
Depressão é inércia, insegurança. Essa é outra tortura; é perda e
arrependimento. Estou fora do meu estado habitual, frio ao longo
das bordas dos braços e costas. É uma necessidade instável de
seguir em frente, fazer alguma coisa – qualquer coisa – ou
começarei a gritar.
Eu também engulo isso e entro na parte de trás do carro que me
levará para casa.
A banda costumava ter um lema: sem arrependimentos. Nós
canalizávamos Edith Piaf e não lamentávamos nada. Também
éramos crianças que não tinham nada a perder tentando.
Engraçado como quanto mais você se importa com as coisas, mais
difícil é se livrar dos arrependimentos.
Estou vivendo em um mar dessa pesada emoção agora.
Mergulhei bem no minuto em que terminei de pirar com Stella e ouvi
a porta fechar quando a deixei.
Empurrei esse arrependimento para baixo, porque, você sabe,
eu devo viver o momento e nunca olhar para trás. Eu a deixei ir, fiz
planos para dar o fora da cidade. Minhas malas estão prontas;
minha casa em Londres está sendo arejada para a minha chegada.
A fuga perfeita, e eu sinto como se estivesse morrendo.
É assim que o verdadeiro arrependimento parece, a morte de
algo que você nunca compreendeu completamente, mas quer
desesperadamente recuperar.
Sinto falta do rosto dela, do jeito que seu cabelo ruivo-dourado
salta quando ela mexe a cabeça, das pequenas sardas que ficam
em seus lábios como um desafio. Sinto falta do som da sua voz e do
seu sarcasmo.
O carro parece ficar menor, mais lento. Depois de alguns
quarteirões, eu peço a Bruce para encostar.
— Você me deixou no meu apartamento — digo a ele, nós dois
sabendo muito bem que papai – também conhecido como Scottie –
vai se borrar se ele descobrir que estou andando sozinho depois de
um evento. Seu raciocínio é que um louco poderia me seguir. Ter um
guarda-costas levando a mim, ou qualquer um dos caras, de volta
para um local seguro depois de ser visto em público é uma das
coisas dele.
Bruce vacila por um momento, mas então assente. — Pode
deixar.
Ele provavelmente vai me seguir a uma distância discreta. Eu
não me importo, desde que eu esteja fora desse carro e andando.
Infelizmente, é só depois que saio que percebo que estou na
Union Square. Ignoro o lugar em que beijei Stella sobre os bagels,
mas vejo seu rosto sorridente, ouço sua risada sobre o barulho da
cidade. Meus dedos sentem o fantasma de seu cabelo sedoso e
brilhante deslizando sobre eles.
Enfio minhas mãos profundamente nos bolsos do meu jeans e
ando mais rápido. Mas não posso superar o seu fantasma – o
nosso. E quando seu rosto de repente se materializa bem debaixo
dos meus pés, quase grito em choque. Assim, eu paro apavorado.
Eu devo estar alucinando. Mas lá está ela, olhando para mim com
aqueles grandes olhos azuis que conheço tão bem.
Então percebo, estou olhando para um retrato de giz dela. Ela é
perfeita, os cachos de seu cabelo ruivo-dourado cravejados de
estrelas brilhantes sobre um fundo índigo. Há uma tristeza em sua
expressão, um distanciamento, como se ela não pertencesse a esse
mundo.
Isso me irrita.
— Linda, não é? — Um homem mais velho e hispânico está ao
meu lado, olhando para a calçada. Giz colore seus dedos em
manchas de cores que viraram um laranja esverdeado.
Eu lembro o nome dele. Ramon, o cara que Stella comprou café.
Eu limpo minha garganta. — Sim, ela é.
Ramon olha para baixo sem expressão. — Star Girl não é para
esse lugar.
— Esse lugar?
Seus olhos vermelhos encontram os meus. — Ela não pertence
aqui com o resto de nós. Ela é uma Star Girl15.
Stella olha para mim, distante e sozinha. A ideia dela solitária
parte meu coração.
— Você está errado — eu deixo escapar. — Ela pertence.
Ramon encolhe os ombros. — Você também não pertence.
Uma risada sem humor se liberta. — É?
— As estrelas pertencem ao céu. — Sua voz é vaga, e ele não
olha na minha direção novamente enquanto se afasta.
O barulho da água batendo contra a calçada me faz pular. Cai
sobre o rosto de Stella e começa a borrar.
— Pare! — Não sei por que digo – Stella já está derretendo,
cores rodopiam em uma sopa enlameada – mas a visão me
incomoda.
Ramon olha para mim como se eu estivesse louco. — Por quê?
— É muito bonito para estragar. — É um motivo ridículo. Não é
como se eu pudesse dizer que queria observá-la por mais tempo.
Ele encolhe os ombros novamente. — É apenas giz.
— Como você pode dizer isso? Você é um artista. —
Francamente, estou ofendido por ele. Se alguém chamasse minha
música de só barulho, eu ficaria chateado.
Ele olha para mim pelo canto do olho. Por um segundo, acho
que não vai responder. Ele esfrega um ponto na parte de trás da
cabeça, fazendo os fios grisalhos ficarem bagunçados. — Eu
costumava pintar em telas. Olhava para o meu trabalho e via as
imperfeições. Me incomodava muito. Cheguei a um ponto em que
não podia mais pintar. Tinha medo do que poderia dar errado, onde
falharia. — Ele volta a lavar o chão, limpando Stella do concreto. —
Melhor assim. Eu não aguento. Eu sei o que é real agora.
— Eu não sei mais o que é real — me pego confessando.
Ramon estende a mão e me dá um beliscão forte, rindo quando
eu o encaro. — Agora você sabe.
Acho que ele quer dizer o aqui e agora. Mas nunca fui bom em
me concentrar no momento por muito tempo. Estou sempre olhando
para trás ou para frente. Sempre preocupado. Stella me ajudou a ter
foco, mas agora ela se foi.
Esfregando o ponto latejante no meu braço, estou dividido entre
rir e chegar em casa. — Obrigado. Você quer um café? — Porque
Stella compraria um para ele. Ela iria garantir que ele também
tivesse comido.
Ele balança a cabeça, visivelmente voltando para o seu próprio
mundo. — Tenho coisas para fazer. — E então ele está ajoelhado
sobre sua caixa de giz. Eu digo adeus, mas ele não responde.
Durante todo o caminho para casa, aquele ponto no meu braço
queima. Seria fácil descartar as palavras de Ramon como
divagações. Mas não posso me livrar delas. O que é real? Com
certeza não é o medo. Isso é uma ilusão. Quantas vezes eu vou
deixar o medo me impedir antes que eu aprenda?
A única vez em que me senti completo, em toda a minha glória e
imperfeições, foi com Stella. Mas o que eu fiz por ela? Eu fiz o
mundo dela mais real? Melhor?
Você tirou aquele olhar solitário dos olhos dela e o substituiu por
luz, seu idiota.
Mas é o suficiente?
Horas depois, a questão ainda não desapareceu. É o suficiente?
Eu sou?
CAPÍTULO TRINTA E UM

STELLA

— E — afirma Brenna com um olhar


que diz que resistir é inútil.
Uma vez que estou encolhida na cama com as cobertas em volta
das orelhas, acho que isso me torna uma imagem bastante patética
agora. Suspirando, eu arremesso a coberta para trás e me alongo.
— Tudo bem.
— Sério? — Ela se ilumina. — Eu estava preparada para te
arrastar para fora da cama.
— É por isso que você já está de tênis? Boa tração?
O sorriso de Brenna é amplo. — É exatamente por isso.
Eu sorrio enquanto olho para o teto. — Eu preciso sair. Eu odeio
ficar deprimida.
Mas lamentar é tão bom agora. Eu poderia ficar aqui a semana
toda se me permitisse. Portanto levanto minha bunda e vou para o
chuveiro. — Quando vamos? — Pergunto por cima do ombro.
— Assim que você estiver pronta. Sophie e Libby estão vindo
conosco.
Eu não conheci Libby. Não tenho vergonha de admitir que tenho
o seu álbum e acho que ela é uma cantora fantástica. Felizmente,
não vou me envergonhar com bajulações de fã.
Fiel ao estilo de Brenna, ela pediu uma limusine para nos levar.
Rindo da ostentação luxuosa, entro e encontro Sophie e Libby
esperando. Libby parece exatamente como nas fotos – esbelta,
esvoaçantes cabelos castanhos dourados, expressão vulnerável e
olhos cinzentos sorridentes. Como torta de maçã com uísque.
Sua voz é como mel denso atada com um sotaque sulista. —
Finalmente nos encontramos.
— Como estão Stevens e Hawn? — Eu pergunto depois que
apertamos as mãos.
O sorriso dela se amplia. — Stevens está guardando rancor.
Especialmente contra Killian. Não vimos nada além da sua cauda no
ar, nos punindo desde que voltamos.
Rio disso. — Ele parece do tipo que te faz sofrer.
— Eu disse a Killian para verificar se na sua fronha tinha o xixi
da vingança. Hawn provavelmente se sente da mesma forma, mas
eu não sou uma garota de peixes, então não saberia como
identificar.
Há algo reconfortante sobre o seu jeito, e logo ela está cavando
um cesto que trouxe e distribuindo hambúrgueres de frango frito
para acompanhar o champanhe que Sophie está distribuindo.
— Você tem certeza de que não se importa em ficar sem Felix
durante o fim de semana? — Brenna pergunta para ela.
— Não vou mentir — diz Sophie. — a mãe em mim está
chorando pelo seu bebê. Mas a parte que está privada de sono e
cansada está chorando de alívio. — Ela encolhe os ombros. —
Gabriel me pediu para sair e fazer uma pausa. Deus, eu amo esse
homem.
Libby brilha com alegria. — Lembro quando conheci Scottie. Ele
me assustou pra caramba. O homem de gelo completo. Vê-lo se
tornar um grande e velho marshmallow é muito divertido.
Sophie ri. — Nosso bebê o mudou bem.
Brenna se inclina. — Antes de sairmos, programei seu toque
com a música tema de Patrulha Canina.
Sophie grita de tanto rir.
— Patrulha Canina? — Eu pergunto, meio rindo da alegria delas.
— Um desenho infantil. — Brenna balança as sobrancelhas.
Todas nós rimos. A viagem para os Hamptons passa rápido
enquanto Libby nos conta sobre seu tempo na Austrália. Eu não
tinha me incomodado em perguntar onde vamos ficar hospedadas,
mas o carro faz uma curva para uma pista menor perto do mar e
depois para em um portão. Os pneus trituram os cascalhos no
caminho e uma casa aparece. É uma casa enorme cinza em estilo
colonial norte americano, completa com nuvens macias de
hortênsias em frente à varanda.
— Uau — digo quando paramos.
— Ótima, não é? — Libby me segue para fora da limusine.
— Quem é o dono?
Brenna começa a subir a ampla escadaria central. — Os
meninos. É uma das poucas propriedades que eles compraram
juntos como uma banda.
Os meninos. John. Eu não quero ficar na casa dele. Dói pensar
nele aqui, que vai passar algum tempo nessa casa quando eu
estiver fora da sua vida e muito longe. Mas não posso dizer isso
agora ou pedir para ser levada para casa.
Brenna nos leva para dentro e para a sala de estar. Eu fico lá,
olhando boquiaberta para as paredes cremosas com painéis
brancos e grandes e confortáveis sofás de cor creme. Tudo é suave
e tranquilo, o tipo de lugar em que você pode sonhar o dia todo.
— Você gosta? — Sophie pergunta, de pé ao meu lado.
— Você já viu aquele filme Alguém Tem Que Ceder com a Diane
Keaton? Onde ela relutantemente se apaixona pelo bajulador Jack
Nicholson enquanto ele está se recuperando na espetacular casa
nos Hamptons?
A boca de Libby se abre. — Não acredito que não fiz a conexão
antes. Parece exatamente com a casa dela.
Em outras palavras, minha casa da praia dos sonhos.
— Você quer ouvir a parte assustadora? — Brenna diz, de olhos
arregalados. — Jax estava encarregado do design.
— O que? — Sophie fica boquiaberta. — Sr. Casarão Inglês fez
isso?
Dói ouvir seu nome. Mas tenho que encará-lo mais cedo ou mais
tarde. Falo além do nó na minha garganta. — John tem um bom
olho. Qualquer um que consiga misturar antiguidades com um loft
moderno teria.
O silêncio constrangedor aumenta e fica claro que todas não
sabem como responder. Eu forço uma risada tensa. — Não tenho
medo de dizer o nome dele, sabe. Ele não é um Beetlejuice16 nem
nada.
— Você está certa. — Sophie liga seu braço ao meu. — Ainda
me sinto mal por dizer na sua frente. Eu não pensei.
Brenna se encolhe. — Nem eu. Deveríamos ter ido a um resort.
O calor se espalha através de mim enquanto as outras meninas
concordam. A cada dia que estou perto delas, me sinto um pouco
mais normal, um pouco menos sozinha. A ausência de John ainda é
uma ferida aberta no meu peito. Mas pelo menos eu posso andar
sem me curvar.
— Se não fosse por vocês, eu estaria enrolada sozinha em uma
cama dura, sentindo pena de mim mesma. — Não consigo olhar
para qualquer uma nos olhos, mas continuo. — Isso significa o
mundo para mim.
Estão todas olhando. Deus, me esconda agora. Mas então Libby
me abraça forte.
— É difícil se abrir, não é? — Ela sussurra no meu ouvido com
um tom que me diz que sabe exatamente o quão difícil é.
Eu aceno rapidamente enquanto ela me solta. E então é como
se toda a troca nunca tivesse acontecido. Elas estão todas
conversando feliz e me mostrando o meu quarto. Eu me sinto quase
normal quando finalmente paramos em volta da piscina.
Como está quente como o inferno, pego uma espreguiçadeira
flutuante e fico à deriva na água fria sem fazer nada, tomando um
gole do Mai Tai com o olhar de Brenna fixo em mim. Libby flutua ao
meu lado.
— Então, você é uma amiga profissional? — Ela me pergunta.
— Sou. — Eu sorrio ironicamente. — Você sabe, além de ser
babá dos animais.
Ela ri baixinho. — Como funciona? Quero dizer, existem
realmente muitas pessoas procurando uma amiga contratada?
— O mundo está cheio de pessoas solitárias. A maioria de nós
cria amizades na infância ou na faculdade. Talvez você faça um
grupo de amigos no seu primeiro emprego. Mas se você perder
esses marcos da amizade? — Olho em volta para elas. — Ou uma
mudança permanente no seu estilo de vida faz você se afastar dos
seus velhos amigos, e então?
— Isso aconteceu comigo — diz Libby. — O distanciamento.
Passei mais de um ano sozinha, sem conversar com ninguém, antes
de Killian acabar no meu gramado.
— E o que você faz se ninguém entrar na sua vida? — Eu digo.
— Como você faz novos amigos? Não é assim tão fácil. Quando
você é mais velho, é menos capaz de confiar em novas pessoas ou
se deixar levar.
— Eu odeio fazer amigos — Brenna resmunga, o nariz
enrugando. — Realmente odeio. A maioria das pessoas que
conheço acaba pedindo ingressos para shows ou querendo
conhecer os caras.
Sophie cantarola de acordo. — Parece diferente com vocês.
Mais seguro, eu acho. Porque não queremos obter nada uma da
outra, apenas companheirismo.
Eu as assisto do meu lugar na beira da piscina. — Eu não queria
entrar no carro com vocês porque não sei fazer amizade de
verdade. É como um vestido mal ajustado que estou sempre
tentando colocar no lugar.
Os olhos de Brenna ficam suaves. — Mas você fez.
— Porque você está dentro, assim como nós estamos — diz
Sophie.
Dentro? Balanço minha cabeça tristemente. — Eu não estou, no
entanto. Estou completamente fora.
Sophie zomba. — Mesmo se você nunca mais falar com Jax,
você ainda estará dentro. Você é uma de nós agora. Não
abandonamos nossas amigas porque nosso outro amigo não
consegue enxergar o óbvio.
Eu rio baixinho, apreciando o sentimento. Mas não quero falar
sobre John. — Enfim, eu tinha mais clientes do que vocês
imaginam. Mas estou desistindo. — Passo meus dedos pela água
fria. — Começou a tirar muito de mim. E, realmente, nunca foi um
trabalho permanente.
Libby sai da borda e desliza pela piscina, os olhos apertados por
causa da luz do sol. — O que você está planejando fazer agora?
Entrar em pânico. Chorar. Construir um muro tão alto que
ninguém vai entrar novamente. Por quanto tempo vai continuar
doendo?
Recheio esses pensamentos selvagens com um longo gole do
coquetel de frutas. — Sinceramente, eu não sei. Foi estúpido da
minha parte não começar uma carreira. Aqui estou eu aos trinta
anos, e posso muito bem ter acabado de sair da faculdade por todo
o planejamento que preparei.
— Eu também nunca tive uma pista. Killian que me levou a
cantar. Mesmo assim, resisti porque estava com medo.
— Adoro pilotar aviões — digo a elas. — Mas eu não quero fazer
disso uma carreira. Se for honesta, o tipo de voo que quero fazer
não vai pagar por um lugar na cidade.
Os olhos de Libby se arregalam. — Que tipo de voo você faz?
— Acrobacias aéreas.
— Isso é tão legal! Você vai me levar um dia?
— Claro. Posso levar quem quiser ir essa semana, se
desejarem.
Instantaneamente, todas elas aproveitam a chance, com Libby
fazendo uma pequena dança feliz em seu lugar na piscina. Rindo,
faço anotações mentais sobre como posso organizar os vôos. —
Estou surpresa que John não tenha contado a vocês sobre os meus
voos — digo quando termino o planejamento.
O tom de Brenna é hesitante, sabendo muito bem que o assunto
“John” é um potencial campo minado. — Apesar de toda a sua
bravata, ele é estranhamente privado. Quanto mais ele se importa
com algo ou alguém, menos ele fala sobre.
Não é exatamente uma novidade; eu já sabia disso sobre ele por
um tempo. Mas ela definitivamente rasgou uma ferida. Todo mundo
olha para outro lugar. Até Sophie pular para dentro da piscina,
jogando grandes respingos sobre nós. Ela ressurge, com os cabelos
azuis escorregando sobre os ombros. — Eu gostava de fotografias
— diz ela, fingindo que nunca nos desviamos do assunto. — Mas
nunca me acomodei em algo que amava até começar a tirar fotos da
banda.
— Eu sou uma planejadora — diz Brenna no bar onde está
preparando outra rodada de coquetéis. — Isso não significa que eu
me sinto resolvida ou particularmente feliz o tempo todo.
Eu estava feliz com John. Tão feliz que todo o resto das minhas
preocupações parecia mais leve. Agora, meu mundo está pesado e
escuro. E, maldição, eu não deveria deixar um homem me fazer
afundar tanto.
Brenna toma um gole da jarra e depois acrescenta um pouco
mais de rum. — Acho que nenhuma de nós jamais vai sentir que
todos os aspectos das nossas vidas são perfeitos de uma só vez.
John havia dito o mesmo. Deus, ele se espalhou por toda a
minha vida. Não consigo produzir um pensamento que de alguma
forma não o tenha. Eu bato na água irritada e me concentro na
conversa. — Eu amo trabalhar com pessoas. Eu gosto de ajudá-las.
Só não sei o que fazer com isso. Eu quero algo mais concreto.
Assistência médica e benefícios soam muito bem nos dias de hoje.
— Hmm… — Brenna vem e enche nossos copos. Nesse ritmo, o
fim de semana vai passar em um borrão bêbado. Não que eu esteja
reclamando.
Ela se senta na beira da piscina e mergulha as pernas. — Kill
John patrocina várias instituições de caridade. Até agora, Scottie
teve estagiários, mas eles estão mais interessados no lado musical
do negócio, e muitas coisas foram ignoradas. Temos falado sobre
encontrar alguém para organizar a divulgação. Basicamente,
precisamos de um coordenador de eventos. Eles também seriam
responsáveis pelo desenvolvimento de novos projetos. — Seus
olhos âmbar encontram os meus. — Você poderia fazer isso.
— Eu? — Chio. — Não tenho nenhuma experiência com isso.
Ela encolhe os ombros. — E eu não tinha nenhuma experiência
em relações públicas quando comecei. Precisamos de alguém que
saiba tornar essas funções divertidas e sem estresse para as
instituições de caridade envolvidas. Não estamos falando de festas
de gala sufocantes, mas sobre experiências de vida, encontrando
maneiras de arrecadar dinheiro e espalhar a felicidade. Eu sei que
você poderia fazer isso.
O nó na minha garganta cresce. — Brenna... Isso é... Seria… —
Maravilhoso. Horrível. — Mas eu não posso. Não posso aceitar um
emprego onde acabaria em contato com ele.
Pelo jeito que Sophie olha para Brenna e Libby parece
subitamente muito interessada em sua bebida, acho que elas
concordam. Mas Brenna segura o meu olhar. — Eu não sou uma
total idiota. Eu sei que seria difícil e estranho pra caralho. Mas,
caramba, não deixe que ele governe sua vida. Você quer esse
trabalho, é seu. Ou eu vou te ajudar a encontrar outro.
Meu sorriso vacila quando pisco rapidamente. — Você é incrível,
Brenna.
Ela sorri. — Sim, eu sou. Mas falando sério, Stella, pense bem,
ok? Você merece se colocar em primeiro lugar.
Eu não posso aceitar o trabalho. Não sou tão forte. Mas ela está
certa; preciso descobrir como fazer uma vida sem John. Ele só ficou
nela por um curto período de tempo. Não deveria ser muito difícil
voltar a como eu vivia quando Jax Blackwood era apenas uma voz
que eu ouvia em Pandora de vez em quando.
Mas eu sei que é uma mentira. O arrependimento e a tristeza me
puxam para baixo até que sinto que estou me afogando. Vou me
esconder atrás dos sorrisos e fingir que estou feliz como sempre.
Mas isso é uma morte, e eu não sei como superar.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

JOHN

D . Correr é bom, a queimação dolorosa em


meus pulmões e pernas é pura, sem complicações. Se eu correr o
suficiente, minha mente fica perfeitamente em branco. Eu amo
esses momentos. Eu vivo pelos pensamentos vazios. No segundo
em que algo indesejado tenta abrir caminho para a superfície, eu
corro mais e mais rápido. Eu posso fazer isso; eu me supero com a
diversão.
Mas, eventualmente, eu tenho que voltar da minha corrida e ir
para casa. A visão daquela escada de pedra que leva àquelas
malditas portas de madeira esculpida faz meu peito doer. Digitar o
meu código no teclado numérico faz meu peito doer. Até o maldito
cheiro higienizado do elevador faz meu peito doer. Ela está em todo
lugar, e não posso me esconder em casa. Por isso, fico correndo o
máximo que posso.
Fatos são fatos: não posso hesitar mais. Eu tenho que seguir em
frente. Eu preciso sair de Nova York. Sair dos Estados Unidos.
Eu vou para a Inglaterra. Não, foda-se isso. Vou visitar Killian na
Austrália. Ele está na casa de Scottie; há espaço para mim.
“Steady, as She Goes” do The Raconteurs começa a tocar nos
meus fones de ouvido. Normalmente, eu amo essa música, mas
agora ela faz minha pele se arrepiar. Puxo os fones de ouvido
quando viro na rua de casa. Há uma pedra enorme pressionando
meu peito. Eu me preocuparia com o fato de que posso estar tendo
um ataque cardíaco, mas essa pedra odiosa está lá desde... Bem,
eu não vou entrar nessa.
A exaustão faz meu ritmo vacilar e quase tropeço quando chego
às escadas. Há um cara descansando na varanda, suas pernas
compridas estendidas na minha direção. Por um estranho e
nebuloso segundo, acho que ele pode ser uma alucinação; com
certeza sou fraco o suficiente para estar vendo coisas, mas então
ele olha para mim e me dá aquele sorriso arrogante que vi durante
mais da metade da minha vida, e sei que não estou sonhando.
— Você parece uma merda — diz Killian. Direto ao ponto, como
sempre.
Pego a garrafa de limonada que ele estende para mim e bebo.
Está fria e doce e me dá a chance de fazer meu cérebro funcionar
de novo. Limpando a boca com as costas da mão, respiro fundo
duas vezes.
— Você voltou. — Obviamente.
— Aw… — Ele sorri. — Você percebeu.
— Idiota. — Jogo a garrafa vazia nele que a pega, claramente
antecipando o movimento. Killian e eu sempre nos conhecemos em
um nível que é mais profundo do que palavras ou ações. Ele é parte
de mim. Ou era. Quando tentei suicídio, algo entre nós fraturou e
não curou bem, mas ficou espesso e distorcido como uma quelóide.
Cicatrizado ou não, senti falta do cara e tenho uma vontade
estranha de chorar bem aqui. A queimadura atrás das minhas
pálpebras é tão inesperada que não consigo olhá-lo nos olhos. —
Estou indo tomar um banho.
— É, você precisa. — Killian se levanta e limpa sua bunda. —
Você fede.
Me ocorre mais uma vez que Killian está aqui. E isso significa
que Stella se foi. Minha mão agarra o corrimão de pedra enquanto
meus joelhos ficam fracos e a dor me atinge. Talvez eu esteja tendo
um ataque cardíaco; dói muito. — Quando você voltou?
Quando ela foi embora? Por quê você se importa? Você disse
para ela ir.
— Tarde ontem à noite. — Killian olha para mim, deliberando. —
Stella me ligou.
— O que? — Sai como um coaxar.
— Ela disse que eu deveria estar em casa.
Eu subo as escadas correndo. Killian segue em silêncio. Quando
chegamos ao nosso andar, ele entra no meu apartamento.
— Bom Deus, Jax. — Ele fica boquiaberto. — Você adicionou
mais antiguidades desde que eu saí? Como diabos você conseguiu
transformar esse loft moderno em um casarão inglês abafado?
— Talento. Volte para o seu loft frio e sem alma, se você não
gosta.
Ele ri baixo e calmo. — Vou te dar um daqueles roupões de
cetim que os homens vestem quando fumam para você usar em
casa.
— Eu não fumo, mas eu meio que gosto da ideia do roupão. —
Eu vou em direção ao meu quarto. — Vou tomar banho agora.
Killian ainda está na minha sala de estar quando eu volto. Ele
não parece satisfeito, e estou supondo que vai me dar uma palestra
sobre Stella. Deus sabe que eu mereço uma. Mas, francamente, ter
Killian me criticando agora pode me fazer desmoronar.
Olho para ele cautelosamente. — É bom ter você de volta, cara,
mas não estou com ânimo para companhia agora.
Ele assente, mas depois coloca sua bunda no sofá ao meu lado.
— Só vai demorar um minuto.
Uma batida maçante começa nas minhas têmporas. — Kills, eu
não posso falar sobre ela.
O silêncio segue, e eu me vejo olhando para ele. O pior de tudo
é que ele parece triste.
— Eu não estou aqui para falar sobre ela — diz, felizmente me
conhecendo o suficiente para não usar o nome dela. Killian se
recosta no sofá e aperta a ponta do nariz antes de me encarar outra
vez. — Jax... Cara, eu sinto muito.
— O que? — Sente muito? Do que caralho ele está falando?
Sente muito por ir embora? Eu não conheceria Stella se ele não
tivesse ido.
Você não deveria pensar nela.
Porra, sinto falta dela como ar.
— Sinto muito — diz ele novamente, sua voz tão crua como
quando cantamos a noite toda. — Eu te decepcionei tanto.
Só consigo olhar, meu pulso batendo forte, o desejo de sair da
sala me fazendo tremer.
Os olhos avermelhados de Killian seguram os meus. — Quando
você tentou, eu estava tão... Isso me assustou pra caralho.
Eu estremeço, olhando para longe. — Eu sei. Entendo. Eu
realmente entendo. Eu simplesmente não posso mais me desculpar.
Eu...
— Eu não estou pedindo para você se desculpar. Estou tentando
explicar. — Ele engole convulsivamente. — Eu estava tão zangado.
Você não confiou em mim. Não me disse o que estava acontecendo
na sua cabeça.
Porra, eu não quero chorar. Não quero perder o controle das
minhas emoções, mas meu peito está queimando e minha garganta
continua convulsionando. — Eu não podia — digo rouco.
— Eu sei — diz ele. — Eu sei cara. E a verdade é que eu estava
chateado comigo mesmo por não ver os sinais. Por deixá-lo
sozinho.
Porra. Eu vou... pressiono meus dedos nos olhos e respiro. —
Eu sou bom em esconder. Não se desculpe.
— Mas eu vou — ele interrompe. — Reagi como um idiota. Fiz
as malas e fugi com o rabo entre as pernas, sentindo pena de mim
mesmo quando deveria estar lá por você.
Ele fez isso. Ele fez isso.
A raiva borbulha tão rapidamente que não consigo segurá-la. —
Você me deixou para trás! — O grito ecoa nas vigas. — Eu tentei
tirar a minha própria vida e você foi embora. Como se eu fosse uma
doença que você tinha medo de pegar.
Lágrimas brotam nos olhos de Killian, e a visão é tão estranha
para mim que revira meu estômago. Mas a raiva, a mágoa, não se
acalmam. — Eu precisei de você. Eu precisava do meu melhor
amigo. E você foi embora...
Killian me puxa para um abraço tão apertado que corta o meu ar.
O aperto machuca, e até ele me abraçar, eu não sabia que
precisava disso também. Um soluço profundo sacode seu peito. —
Eu sinto muito. Eu sinto muito.
Ele continua dizendo isso, apenas um sussurro, enquanto
choramos juntos. Ele repete até que nosso tremor acabe. Sinto-me
exposto, em carne viva e aberto. Pelo menos na superfície. Por
dentro, começo a me acalmar. Estou esgotado, mas isso não me
deixa vazio. Me deixa mais leve.
A mão grande e suada de Killian está na minha cabeça, me
segurando enquanto ele estremece. — Merda, cara, no primeiro dia
em que te vi de novo, bati em você… — Ele para com uma
respiração irregular. — Porra, aquilo não foi certo.
Minha memória desse dia é cristalina. Eu não tinha visto Killian
desde a minha tentativa, um ano antes, e de repente lá estava ele –
fervilhando, magoado, com medo e desconfortável como o inferno.
Eu o entendi perfeitamente naquele momento porque senti o
mesmo.
A verdade é que eu o incitei a me bater. Eu queria isso. Para nós
dois. Porque um bom soco era simples. Um bom soco era algo que
ambos precisávamos.
Apesar de tudo, um sorriso oscila sobre meus lábios. — Você
quer saber a parte louca? Eu preferi essa resposta ao silêncio.
Parecia o verdadeiro nós, do jeito que costumávamos ser quando
um irritava o outro, e resolvíamos com um soco na boca antes de
voltarmos aos negócios.
Uma risada falhada deixa Killian, e ele se inclina para esfregar as
bochechas molhadas com a parte traseira da mão. — Ninguém
pode me irritar como você.
Bufando, eu limpo meus olhos. — O sentimento é mais do que
mútuo.
Ficamos em silêncio, cada um de nós tentando se recompor.
— Você é meu irmão — diz ele depois de um minuto. — A vida
sem você não... não funciona.
A culpa toma conta de mim, fresca e ardente. — Eu estraguei
tudo...
— Não! — Seu grito severo estala entre nós, e ambos vacilamos.
Killian respira fundo. — Não, John, você não estragou. Não com
isso. É o que estou tentando dizer. Você não fez nada errado. Você
é a pessoa mais forte que eu conheço. Você nunca mais diga que
essa merda foi sua culpa.
Ele olha para mim como se estivesse tentando cortar minha pele.
— Eu fodi tudo. Os caras foderam tudo. Fomos nós que o
decepcionamos. Não é diferente de se você tivesse uma perna
quebrada e deixássemos você mancar.
Uma risada curta e sem humor me escapa. — É um pouco
diferente. Você pode ver a perna quebrada. Você não pode ver o
que está acontecendo dentro da minha cabeça.
Killian balança a cabeça. — Talvez sim. Mas quando você
tentou, era aparente pra caralho que precisava de ajuda. Não vou
decepcioná-lo de novo.
A determinação em sua voz me faz voltar a encará-lo, e ele olha
de volta sem vacilar. — O que você precisar, John. Sempre que
você precisar.
— Acontece que — digo a ele, — se tivesse sido você quem
tentou, eu teria reagido da mesma forma. Eu ficaria chateado como
o inferno por você não ter vindo até mim.
Suas sobrancelhas se erguem em choque, e lhe dou um sorriso
amargo.
— Ninguém reage perfeitamente. Então não tente. Só estou
falando sobre o elefante na sala. Deixa pra lá, cara. Me trate como
antes. — Olho para ele e sorrio. — Seja o idiota que você
costumava ser, em vez do idiota deixando essa merda ficar entre
nós.
Killian passa a mão no rosto. — Eu posso fazer isso. — Ele se
senta ereto. — Eu vou fazer isso.
— Bom. — Eu limpo minha garganta. — E obrigado.
Ele sabe que não estou falando apenas sobre concordar com o
meu pedido. Seu ombro pressiona com mais firmeza contra o meu.
— Sempre que precisar.
Sentamos assim, nos apoiando um no outro, sem dizer uma
palavra. E embora seja difícil de admitir, mesmo que para mim
mesmo, a conexão física e a familiaridade do meu amigo mais velho
afundam nos meus ossos como um bálsamo.
Stella estava certa; eu precisava ouvir isso de Killian. Eu tenho
carregado tanta mágoa – de novo – e nunca percebi. Stella sabia
exatamente o que eu precisava e me deu. Mesmo que eu tenha
quebrado seu coração e a deixado de lado, ela me ajudou.
A dor no meu peito se torna intensa e gelada. Todas os
quilômetros que corri foram um esforço desperdiçado. Não posso
mantê-la fora da minha cabeça ou do meu coração. Ela volta
desabando, tão forte que eu vacilo.
Onde ela está? Ela está machucada do mesmo jeito do que eu?
Pare de pensar nela.
Killian me olha de lado. — A babá dos meus animais de
estimação ligou para me dizer que era melhor eu trazer a minha
bunda para casa e estar presente para o meu melhor amigo. Agora,
você está com um olhar que estou muito familiarizado, porque eu
mesmo o usava quando terminei com a Libby. Fale comigo, cara.
— Stella — eu resmungo. — Eu me apaixonei, surtei e terminei
tudo.
— Cabeça oca. — Ele dá um tapa na minha cabeça para
enfatizar.
Esfrego o local distraidamente, mas é o meu coração que dói,
não a minha cabeça. — Ela vai ficar melhor com alguém que não
seja tão confuso. Ela precisa de alguém confiável.
Killian faz uma carranca como se estivesse cheirando algo
podre. — Você está mesmo tentando vender essa merda?
— Não é merda. Eu não sou confiável. Eu sou uma bagunça do
caralho.
— E ainda assim ela te ama de qualquer maneira. — Ele me
lança um olhar duro. — Não me olhe assim. Ela me ligou logo
depois que você quebrou o seu coração. Ela ama você.
Droga, estou congelando. Eu esfrego meu peito trêmulo. —
Duvido que ainda ame.
— Como se fosse fácil desligar esses sentimentos. — Ele bufa.
— Como está funcionando para você?
— Não tão bem. — É o eufemismo da minha vida.
— Pare de correr, John. Figurativa e literalmente. Não vai
funcionar.
Com um suspiro, descanso o braço sobre meus olhos doloridos.
— Eu sei que você acha que estou falando merda, mas estou sendo
sério. Não posso voltar para Stella e pedir desculpas, apenas para
me virar e fazer tudo de novo quando estiver me sentindo instável.
Não é justo com ela.
— Então é isso? Você só vai deixá-la ir?
Há uma nojenta sensação na minha garganta e engulo
convulsivamente. — Eu já deixei.
Killian faz um barulho de protesto, mas não discute, e eu sento
no sofá, desejando ser engolido por ele. Finalmente, Killian suspira
e se levanta. — Se eu adormecer, vou ter um jet lag do inferno, e
Libby está nos Hamptons com... Brenna. Você vai sair comigo e
vamos comer uma pizza.
Eu não quero comer. Provavelmente vou engasgar com ela. —
Você vai me importunar se eu disser não, não é?
Seu sorriso é genuíno e um pouco malvado. — Vou ligar para
Whip e Rye. Whip esteve falando sobre jogar charadas.
— Você está brincando comigo.
— Você quer correr esse risco?
Na verdade não. E já que não posso fugir dele, fico de pé. —
Tudo bem, eu vou.
Nenhum de nós diz outra palavra sobre Stella. É como se ela
nunca tivesse existido. Eu posso ver a estrada desgastada da minha
antiga vida se esticando diante de mim mais uma vez. Não é feliz,
mas é um caminho que eu conheço.
Quando a noite termina, eu estou tão entorpecido que quase
consigo ignorar o buraco no meu peito onde Stella deveria estar.
Quase.
Quase não vai impedir. Eu preciso da minha vida de volta. O
medo me diz um caminho para seguir; meu coração insiste em
outro. Eu vou ouvir meu coração.
Não demora muito tempo para ligar para ela. Assim que
voltamos da pizza, pego meu telefone. É um chute no estômago
quando uma voz mecânica me diz que o número dela não está mais
em serviço.
— Porra. — Eu desligo.
Killian, que ainda está ao redor e tentando me distrair com
videogames, pega duas cervejas na geladeira, entra na sala de
estar e me observa. — Qual é o seu problema?
Eu me jogo no sofá ao lado dele, mas ignoro minha cerveja. —
Ela desligou o telefone. — Jogando meu celular na mesa de café,
belisco o ponto tenso entre meus olhos. — Ou conseguiu um novo.
Killian encolhe os ombros. — Você esperava algo menos? Você
a chutou para fora.
— Não suavize ou algo assim.
Ele sorri largamente. — Sem mais andar sobre ovos, lembra?
Idiota.
— Eu não sei onde ela está ou como está se sustentando. — Eu
passo a mão pelo meu cabelo. — Se ela está bem.
— Stella é uma mulher capaz. Está cuidando de si mesma há
anos.
Eu olho para ele. Não está sendo sarcástico, mas me irrita do
mesmo jeito. — Eu sei disso. Eu só... — O aperto no meu peito
aumenta. — Quero ser o único que cuida dela. Não porque ela não
pode, mas porque eu posso.
Não faz nenhum sentido. Mas não sei mais como explicar.
Killian senta ao meu lado, calado e bebendo sua cerveja. Somos
amigos há tanto tempo que eu sei como ele se senta quando está
agitado, me ignorando, ou quando está simplesmente esperando
que eu resolva os meus problemas. Ele vai ter uma longa espera.
Eu respiro fundo. — Kills, cara, como você fez isso? Com Libby,
quero dizer.
Ele vira a cabeça para encontrar meus olhos. — Você quer dizer,
como eu a deixei entrar na minha vida e a mantive por perto?
— Sim — eu resmungo. — Isso.
Lentamente, ele balança a cabeça, sua garrafa de cerveja
balançando entre as pontas dos dedos. A garrafa oscila quando ele
dá uma risada seca. — Acontece que eu não a deixei entrar. Ela
acabou lá. Eu a conheci e ela se tornou uma parte de mim. — Seus
olhos escuros me prendem. — Não era uma questão de deixá-la
entrar. Era aceitar que ela já estava ali e continuaria.
Minhas mãos se fecham em punhos. — Stella era parte da
minha vida. Ela estava dentro, e eu estava feliz pra caralho. Não,
não apenas feliz, estava em paz.
— Eu sei — diz Killian em voz baixa. — Acredite em mim, eu sei.
Eu bufo, mas é direcionado a mim mesmo. — E eu ainda a
expulsei.
Seu sorriso é tenso e irônico. — Sim, bem, ninguém disse que
era fácil aceitar alguém entrando na sua vida.
Um gemido me deixa e eu caio no sofá. — Virei o Leão Covarde
saltando pela janela e acabei com a melhor coisa que já tive.
— Basicamente.
Killian se abaixa quando jogo uma almofada do sofá na sua
cabeça. — Sério, você pode deixar pra lá esse seu amor bruto.
Ele ri, depois fica sério. — Você estragou tudo. Todo mundo
estraga em algum momento. Você a quer de volta?
— Sim. — Só de dizer a palavra algo desaloja no meu peito, e
tomo o que parece ser a primeira respiração real que tive desde que
ela saiu. Então eu digo de novo, porque é a única coisa verdadeira
no meu mundo agora. — Sim, eu a quero.
— Então crie coragem e resolva o problema.
A realidade que eu enfrento não é tão bonita. — Eu não tenho
certeza se posso consertar isso. Stella não confia facilmente. Ainda
menos do que nós. E eu fui e acabei em toda essa confiança.
Ele dá um tapa encorajador no meu ombro. — Você ama ela. Ela
ama você. O resto é logística. Agora vá buscar a sua garota.

S buscar a minha garota, é mais fácil falar do que fazer.


Primeiro, eu não sei onde diabos ela está. Stella aprendeu a
desaparecer com o pai. Se ele conseguiu ficar escondido por anos,
Stella certamente é capaz de fazer o mesmo. A ideia de que talvez
eu não consiga encontrá-la me enche de pânico. Imaginar uma
longa vida à minha frente sem saber onde Stella está ou nunca mais
dizer outra palavra para ela me deixa doente.
Como não tenho pistas, vou à fonte de conhecimento no meu
universo pessoal.
Scottie atende a porta na quinta batida. Seu cabelo está
arrepiado de um lado e sua gravata está torta – sendo agarrada pelo
aperto impiedoso do punho gordinho de bebê. Felix me dá um
sorriso cheio de dentes, como se quisesse dizer olha quem eu
dominei completamente. Minha admiração pela sua brincadeira é
forte.
— Pensei que você poderia aparecer. Aqui, pegue. — Scottie
coloca Felix nos meus braços. — Tenho uma emergência para
resolver. Sophie acabou de voltar dos Hamptons e está de ressaca
cochilando, e... — Ele para, dá meia-volta e sobe as escadas, dois
degraus de cada vez, até o andar superior.
— Sabe, você poderia colocar ele no berço — eu grito atrás de
Scottie.
Sua voz desencarnada soa. — Tente, cara. Te desafio. — Uma
porta bate e fico sozinho com nove quilos de bebê babão, que
decidiu que minhas sobrancelhas ficariam melhores separadas do
meu rosto.
— Ok, carinha. — Eu afasto seus dedos da minha carne mal-
tratada. — Vamos encontrar algo melhor para você brincar.
O triplex de tijolos de Scott no Upper West Side é grande o
suficiente para que haja uma escadaria central e quartos de ambos
os lados. Eles têm uma sala de família montada na parte de trás
com uma parede de janelas com vista para um pequeno jardim.
Antes do bebê, o lugar era imaculado – sofás creme, tapetes
Aubusson de seda clara e mesas de vidro. Os sofás agora são cor
de carvão, o tapete ainda é de seda, mas é Persa de cor carmesim,
e as mesas são todas de madeiras escuras e resistentes. Ainda
agradável, porém muito mais amigável. E bagunçado. Brinquedos
estão desordenados pelo chão. Quatro canecas com quantidades
diferentes de café frio estão sobre a mesa. Alguns cobertores de
bebê estão espalhados, e tem um brinquedo estranho que parece
ser feito de plástico acolchoado com insetos de pelúcia pendurados
nele. Bizarro.
— Aqui, amigo. Vamos brincar com isso. — Coloco Felix em
frente aos insetos pendurados.
Ele olha para os insetos bobos, depois para mim, então de volta
aos insetos. Seu pequeno queixo enruga. Ouço um alarme interno
de aviso tocando: "Perigo! Perigo! Abortar a missão! Abortar!!"
Eu balanço um dos insetos de brinquedo. — Divertido, sim?
Não, não é. Lágrimas brotam nos olhos de Felix, e ele respira
fundo. É a assustadora calma antes da tempestade. Seu
temperamento rompe com um choro ímpio, seus bracinhos
balançando, o rosto vermelho brilhante. É aterrorizante.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu o pego e começo a andar por aí.
— Está tudo bem. Esses insetos são assustadores mesmo.
Felix faz o seu melhor para explodir os meus tímpanos.
Considerando que eu fiz uma carreira com o volume no máximo,
seus vocais são impressionantes.
— Me desculpe, me desculpe. — Tento balançá-lo como Sophie
faz, mas é inútil. O carinha não está aceitando. Suas costas
arqueiam enquanto ele grita sua fúria, e eu tenho que segurá-lo
mais perto por medo de deixá-lo cair. — Jesus, pensei que eu era
emotivo. Que tal esse pequeno... — Olho para a coisa cinza de
pelúcia que peguei. Eu não tenho a menor ideia do que é. —
Macaco? Você quer o seu macaco?
Macaco cinza desajeitado sai voando com um golpe indignado.
— Certo. Macacos são uma droga. Anotado.
Felix tem assassinato em seus olhos e os malditos pulmões de
Robert Plant.
Scottie entra na sala com uma expressão atormentada. — Você
o colocou no chão, não foi?
— Eu pensei que ele poderia querer brincar! Quero dizer, que
porra é essa, cara?
Scottie pega seu filho, apanha uma chupeta e a segura na boca
de Felix. — Aqui está a sua chupeta, amor.
O pequeno fedorento imediatamente a suga e depois descansa a
cabeça no ombro de Scottie com um suspiro trêmulo como se ele
tivesse passado por uma batalha longa e difícil. Claramente, uma
que eu perdi.
— Tapar o buraco. — Eu bato na minha testa. — Eu deveria
saber.
Scottie e Felix me lançam olhares iguais.
Meus nervos estão oficialmente em frangalhos, e juro que
preciso de uma bebida ou liberar essa adrenalina. — Santo inferno,
cara, como você sabia o que fazer?
— É uma prova de fogo. — Scottie sorri levemente. — Só os
fortes sobrevivem.
Retiro todas as piadas de pai que fiz sobre Scottie. Ele merece
uma medalha.
— Lembre que eu disse “obrigado, mas não” quando se tratar do
serviço de babá.
Scottie bufa. — Cara, nenhum de vocês palhaços está chegando
perto do meu filho. Ele acabaria usando calça de couro e
provavelmente desenvolveria uma ligação infeliz com a bateria.
Não consigo deixar de sorrir. — Seria legal. Vou procurar calças
de couro para bebês. Talvez existam algumas. Você terá que pedir a
Whip a parte da bateria.
Sophie aparece cansada, mas divertida. — Alguém colocou o
bebê no chão.
Eu me viro e dou um beijo na sua bochecha. — Vocês têm um
pequeno ditador em casa. Sejam um pouco mais rígidos e digam
“não” de vez em quando.
Sophie e Scottie explodem em risos. Eles continuam rindo até
Felix sorrir ao redor da chupeta, e Sophie enxuga uma lágrima do
olho. — Ah, isso foi bom. Eu precisava disso.
— Ha — Mas eu também estou sorrindo.
— Pode repetir? — Scottie pega o telefone. — Quero gravar
para usar no futuro quando você decidir ter filhos.
Isso me deixa sóbrio. Minha felicidade futura é o motivo de eu
estar aqui. — Talvez mais tarde. — Eu faço uma careta. — Olha, eu
preciso encontrar Stella.
A temperatura na sala parece cair alguns graus. Scottie adota
sua cara de negócios, que é basicamente um muro escrito “não sei
nada”. Os olhos de Sophie se estreitam como se ela estivesse
pensando em tirar a chupeta de Felix e o entregar para mim.
— Desculpe — Scottie diz, — mas ela não está aqui.
Bela evasão. Eu me aproximo. — Não foi o que eu perguntei.
— Na verdade, você não perguntou nada.
Ele vai jogar assim? Eu sorrio levemente. — Scottie, meu velho,
você saberia o paradeiro da Srta. Stella Grey?
Ele olha para Sophie, que olha para mim, depois de volta para
Scottie. É como uma encenação ruim do confronto de Três Homens
em Conflito.
— Ei — eu interrompi, — eu só estou tentando encontrar a
minha garota.
— Sua garota? — Sophie bufa. — Você perdeu o direito de
chamá-la assim quando a expulsou.
— Sophie — Scottie diz suavemente.
Ela olha para ele. — Ele a magoou.
Deus, isso me chateia. Eu sei que é verdade. Mas ainda corta o
intestino. — Eu preciso me desculpar e tentar melhorar a situação,
Soph. Mas não posso se não a encontrar.
Teimosa como o inferno, Sophie levanta o queixo e se recusa a
falar. Eu suspiro e me viro para Scottie. Houve um momento na
minha vida em que eu ri da ideia de colocar meu coração em jogo.
Ele estava lá para testemunhar. Nós dois sabemos disso muito bem,
mas não tenho medo de implorar agora.
Eu sei que Scottie vê isso na minha expressão. Não preciso
dizer uma palavra antes de seus ombros caírem e ele suspirar. Seus
olhos voltam para Sophie, que o encara.
— Você não vai dizer a ele.
— Darling —, ele começa.
Sophie cruza os braços sob os seios em um bufo. — Então é
amigos antes das vadias, hein?
Os lábios de Scottie se contraem. — Eu nunca chamaria uma
mulher de vadia. E não é nosso direito intervir.
— Apenas pense — digo, — se os amigos de Scottie não
tivessem interferido quando o encontramos com a barba por fazer,
cercado por uma bagunça total, e gemendo lamentavelmente sobre
a sua perda, você ainda estaria na Austrália.
Seus olhos se arregalam e um pequeno sorriso floresce em seu
rosto. — Você estava gemendo? — Ela pergunta a um Scottie
descontente.
Ele faz uma careta. — Eu não estava gemendo.
— Choramingando — eu corrijo, ganhando um olhar. Mas, sério,
estou fazendo um favor ao cara – Sophie já está do outro lado da
sala e dando-lhe um beijo na bochecha.
— Isso é tão doce, raio de sol.
— Que bom que você pensa assim. — Scottie beija a ponta do
seu nariz antes de me dizer: — Stella está ficando com Brenna.
— Merda.
— Mmm — ele concorda. — Eu não sei como você vai passar
por ela. Brenna se tornou extremamente protetora com Stella.
Ainda agarrada a Scottie, Sophie sorri. — Você acha que eu sou
durona? Boa sorte com tudo aquilo.
Estranhamente, o fato de as outras mulheres da minha vida
estarem cuidando de Stella me deixa feliz e agradecido. Stella
sempre quis amigas, uma família. Eu posso dar isso a ela. Olho
para o pequeno Felix que está babando por toda a camisa de
Scottie e me dando um olhar desagradável, e estremeço. Bem,
talvez não a coisa toda da família ainda. Um obstáculo de cada vez.
Eu preciso fazer a minha parte e preciso planejar com cuidado.
Mas estou disposto a fazer o que for preciso para recuperar a
confiança dela. E isso não me assusta.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

STELLA

certeza do que eu esperava de John. Talvez uma


mensagem de texto, uma ligação ou talvez nada. Mas eu com
certeza não esperava uma encomenda. Ela chega três semanas
depois da nossa implosão.
— Que diabos? — Brenna pergunta, me vendo carregar uma
grande caixa quadrada para a sua cozinha depois de recebê-la.
— Eu não sei — eu digo, pegando uma tesoura da gaveta. — É
para mim, mas é tudo o que diz.
Seu rabo de cavalo balança quando ela se apressa para ajudar.
— Tem que ser Jax.
Eu suprimo uma careta. — Nós não sabemos. Como ele saberia
que eu estou aqui?
Suas sobrancelhas franzem com uma carranca. — Scottie deve
ter te denunciado. Ele é o único dos caras que sabe que você está
aqui, e ele é um completo romântico enrustido.
— Sério? — Não consigo imaginar o Scottie que não demonstra
emoções sendo sentimental.
— Acredite. Agora que ele tem uma família, ele quer que todos
nós fiquemos felizes.
— E isso é uma coisa ruim? — Eu pergunto, divertida com a
expressão azeda dela.
— É irritante. — Brenna ergue uma sobrancelha. — Chega de
falar do Scottie casamenteiro. Conhece mais alguém que teria algo
entregue em mãos? Além disso, o entregador era Darren. Ele
trabalha para nós. Aposto que foi Jax que enviou isso.
Olho a caixa, hesitante em abri-la. O que quer que John tenha
enviado não é pequeno. A caixa tem cerca de cento e trinta
centímetros quadrados.
— Se ele enviou uma cabeça humana — Brenna diz
sombriamente, — vou ficar muito chateada.
Uma risada explode de mim. — Que merda, Brenn? Você é
doente.
Ela encolhe os ombros. — Fiz você sorrir, não foi? Pare de olhar
para a caixa como se fosse uma bomba e abra logo.
— Larga de ser curiosa. — Algumas passadas da lâmina da
tesoura a abre, e nós duas espiamos.
— Bem — diz ela, — não é uma cabeça.
— Não. — As garrafas chacoalham quando eu tiro um pacote de
seis cervejas da caixa.
— Jax é tão estranho.
Um sorriso ameaça aparecer, e meus lábios tremem antes de eu
forçá-los a permanecerem retos. — É uma das suas melhores
qualidades. — Deus, eu vou chorar. Por causa dessas estranhas
cervejas de presente.
Brenna vira a caixa, mas está vazia. — O que diabos isso
significa?
— Eu honestamente não tenho ideia. Não é como se eu fosse
uma grande fã de cerveja.
— Como ele não pôde deixar um bilhete? — Brenna faz uma
careta para a cerveja. — Seu primeiro contato e é para enviar
cerveja aleatória?
Suprimindo um suspiro, coloco a cerveja na geladeira. — Cansei
de tentar entendê-lo.
As palavras são superficiais, no entanto; a cerveja me assombra
enquanto eu me afasto. O que diabos John está tentando dizer? Ei,
vamos tomar algumas cervejas e rir disso tudo? Desculpe, eu
quebrei seu coração, tome uma bebida por mim? Seja o que for, eu
me pego cada vez mais irritada.
A raiva aumenta quando tento relaxar na sala de estar de Brenna
e acabo jogando a cópia da Vogue de volta na mesa de café com
tanta força que ela desliza para a direita e cai com um baque no
chão.
— Sabe, — Brenna diz, sem levantar os olhos da sua revista, —
apenas Rye poderia incomodar alguém mais do que Jax. Seja grata
por não ter se apaixonado por ele.
— Me conte — murmuro. — Quão ruim é se apaixonar por Rye?
Ela abre a boca, depois faz uma pausa para me encarar,
claramente esperando uma pergunta diferente de mim e sendo pega
de surpresa. As sobrancelhas dela abaixam. — Ha. Você acha que
eu gosto de Rye?
Meus lábios se contraem. — Todo mundo acha que vocês
gostam um do outro.
Brenna bufa, de repente sua atenção está nas suas unhas azul-
gelo. — Por favor. Ele é um idiota.
Me levanto e vou à geladeira pegar uma maldita cerveja que
John enviou. Se vamos conversar sobre homens, preciso de uma
bebida. Está gelada o suficiente, e Brenna aceita uma garrafa com
um olhar irônico antes de tomar um longo gole.
— Ele é, no entanto? — Eu pergunto, me enrolando no sofá. —
É verdade que ele tem um senso de humor bastante juvenil e é
franco, mas parece um homem legal. Ele claramente se preocupa
com todos vocês.
Um som descontente escapa dela, então suspira e descansa a
cabeça no encosto do sofá macio. — Ele se importa. E ele é um
cara legal. Ele é apenas um idiota para mim.
— Parece mais que ele está puxando seu rabo de cavalo para
chamar a sua atenção.
Ela me lança um olhar de soslaio.
— Não tolere esse comportamento — eu emendo. — As táticas
de valentão devem acabar rapidamente.
Sua boca se torce com um sorriso. — Admito que sou tão ruim
quanto ele. Eu sei disso. É nossa personalidade, eu acho. Estamos
sempre nos incomodando.
— Eu me perguntava se era algum ressentimento que nunca
passava.
— Ah, é isso também — diz ela com uma careta. — Incidentes
aqui e ali. Nada sobre o que eu quero falar agora. Ficarei de mau-
humor o dia todo, se contar.
— Justo. — Eu puxo o rótulo úmido da minha cerveja. — Estou
melancólica o suficiente para nós duas.
Brenna e as meninas me tiraram do pior. Pela primeira vez na
minha vida, eu era a única que tinha amigas me forçando a sair de
casa, me levando a salões para massagens e tratamentos faciais.
Fomos ao cinema, assistimos filmes em casa, nos deliciamos com
coquetéis e sorvetes – sem menta com pedaços de chocolate. Esse
foi banido da casa. Fizemos todas as coisas clichês que podíamos
pensar.
E foi divertido. Bem, tão divertido como algo pode ser enquanto
estou andando por aí com o que parece um enorme buraco no peito.
Pressiono minha mão nesse ponto agora, surpresa pela minha pele
não estar gelada. Estou fria o tempo todo agora. Outro
desenvolvimento novo e infeliz. Se é isso que o amor faz com uma
pessoa, o amor pode ir se foder.
Brenna pega o telefone e responde alguns emails antes de
abaixá-lo e me dar um sorriso muito brilhante. — Deveríamos pedir
uma pizza para acompanhar essa cerveja que seu homem nos
mandou.
— Ele não é mais o meu homem — murmuro.
A campainha impede Brenna de responder. Ela me dá um olhar
animado que me faz vacilar por dentro. Sim, amor e esperança
podem definitivamente se foderem. Não me incomodo em virar a
cabeça para vê-la abrir a porta.
— Outra entrega — ela fala do corredor.
— Sério? — Eu levanto. — Se ele me mandou mais cerveja, eu
vou até ele e despejar tudo em sua cabeça gorda.
— Talvez seja essa a ideia. — Ela franze a testa para a caixa. —
Mas, não, essa é mais leve e mais comprida
Abrimos juntas, Brenna murmurando baixinho sobre cabeças.
Dentro, há outra caixa, essa muito mais agradável. Eu levanto a
tampa e puxo o papel de seda perfeitamente dobrado e encontro um
pedaço de tecido rosa pálido. Eu o tiro e desdobro.
— É um vestido — eu digo, afirmando o óbvio.
— Cacete. — Brenna passa um dedo reverente ao longo do
cetim. — É uma alta costura da Stella McCartney.
A bainha chega na altura dos joelhos com uma espécie de
decote estilo anos 40 e um recorte nas costas.
— Ele me comprou um vestido? Mas que amoroso?
— Talvez seja uma mensagem? — Ela não parece convencida.
— Talvez, vamos tomar uma cerveja na cidade?
Com um barulho de aborrecimento, jogo o vestido de volta na
caixa.
— Ei, — Brenna protesta — não jogue o vestido. Ela é inocente
em tudo isso.
— Ela? — Eu rio.
— Bem, não estou me referindo a vestidos como “ele”. — Ela
funga, erguendo o queixo. — Elas merecem mais do que essa
humilhação.
Eu ainda estou sorrindo quando a campainha soa novamente.
Brenna faz um pequeno ruído, mas levanto a mão. — Eu atendo. —
Irritação me faz caminhar com passos pesados até a porta e a abrir.
O pobre Darren, segurando uma caixa menor, fica boquiaberto
com toda a minha ira. — Ah, entrega para você, Srta. Grey.
— Isso é ridículo. Leve isso de volta e diga a ele que não estou
interessada em jogos.
A boca de Darren se abre mais enquanto ele luta com as
palavras. — O problema é que vou ter problemas se não entregar.
— Ah inferno. — Pego a caixa dele. — Sinto muito por gritar. É
Jax quem é o problema, não você.
As pontas das orelhas de Darren ficam rosadas. — Certo. Bom,
tenha um bom dia!
— Certo. — Eu rasgo a caixa.
— O que é dessa vez? — Brenna pergunta. — Um colar?
— Não. — Dou-lhe um olhar confuso. — Um DVD. Um Bonde
Chamado Desejo.
Ela faz uma careta. — Então... ele está tentando te chamar para
um encontro?
Meu dedo passa pela borda de plástico da capa do DVD. O
jovem Marlon Brando, musculoso e bonito, com a camisa suja e
rasgada, grita para mim a partir de uma pequena imagem. Um
sorriso puxa minha boca. — Ah, pelo amor de Deus.
— O que? — Os olhos de Brenna disparam da capa para o meu
rosto, sua expressão ansiosa. — O que ele fez?
Largando o DVD, vou até a sala, pego minha cerveja e a seguro
no alto. — A cerveja é Stella Artois.
Sua carranca suaviza. — E o vestido é um Stella McCartney. Ele
está mandando coisas com o nome Stella?
Um bufo me escapa quando olho para Marlon Brando
novamente. — Pior. Eu acho que ele está me chamando. Você
sabe... Stella! Ei, Stella!17
Ela ri. — Deus, ele é tão estranho. Bonito, mas estranho.
Minha visão fica embaçada e eu pisco rapidamente. — Sim. —
Ele é estranho, maravilhoso e danificado. E eu amo ele. Eu amo.
Mas amar alguém não é suficiente. Claramente, ele está tentando
se aproximar e fazer algumas reparações à sua maneira
desajeitada. Mas não me sinto melhor. Na verdade, me sinto pior.
Quando a campainha toca mais uma vez, apenas suspiro e me
arrasto para a porta. — Olha, isso já passou...
— Ei, Stella — John diz suavemente. Ele fica ali, com o cabelo
despenteado, uma camiseta branca esticada sobre o peito, as
mangas curtas enroladas sobre os bíceps rígidos e as calças
penduradas em seus quadris estreitos. Depois de duas semanas
sem vê-lo, ele tira o meu fôlego, e eu só posso ficar boquiaberta,
absorvendo-o. Deus, ele é bonito. Ele sempre será o meu ideal de
atração sexual.
E sempre vai doer um pouco demais olhar para ele.
— Você esteve aqui o tempo todo? — Eu falo, porque não
consigo pensar em mais nada para dizer.
Ele me dá seu sorriso torto, aquele que enruga seus olhos e
levanta um canto da boca expressiva. Eu odeio esse sorriso. — Só
desde que Darren entregou o DVD.
— Pobre Darren.
O sorriso dele desaparece. — Sim, você parecia um pouco...
irritada.
— Você acha? — Eu seguro a maçaneta da porta como uma
tábua de salvação. — Nem uma palavra por semanas, seguido por
uma série de presentes bizarros sem um bilhete fazem isso.
John fica de pé e me olha por debaixo dos cílios. — Você
descobriu?
Eu não vou sorrir. Não. Não vou fazer isso. Eu mordo o canto do
meu lábio. — Sim. Você assistiu esse filme, certo?
— Ah… — Ele coça a nuca, mordendo o canto inferior do lábio.
— Quero dizer, eu vi um pouco do clássico grito da Stella. Muito
emotivo.
Apesar do meu melhor esforço, um sorriso luta para se libertar.
— Ele está gritando por ela porque bateu nela quando estava
bêbado e com raiva, na noite anterior. Mais tarde, ele estupra a irmã
dela.
A cor é drenada do rosto de John. — Porra. Sério?
— Não é o melhor cara para se imitar
Ele suspira e cai contra a moldura da porta. — Porra, inferno.
Por que a cultura pop tenta fazer essa parte parecer romântica? —
Ele passa a mão pelo cabelo, desarrumando ainda mais. As pontas
castanhas estão selvagens quando ele olha para mim com olhos
arregalados e verdes. — Eu realmente sou péssimo nisso.
O suave arrependimento em sua voz me enfraquece e é difícil
enrijecer as minhas costas. Mas ele finalmente se dirige ao triste
problema, e pressiona contra todas as minhas partes cruas e
chorosas. — No que, John?
— Eu estava tentando fazer você rir, te distrair o suficiente para
abrir a porta para mim.
— Bem — eu admito, — eu ri, embora fosse mais por
incredulidade. E a porta está aberta. Então tecnicamente você
conseguiu o que se propôs a fazer.
— Eu consegui. Mas não basta.
— Não. — Minha mão está escorregadia e úmida contra o aço
frio da maçaneta. — O que você quer?
Seu olhar se move sobre o meu rosto, absorvendo cada linha de
dor e cautela. — Falar com você.
Ocorre-me que Brenna está em algum lugar atrás de mim, mas
ao olhar para trás encontro a sala vazia. Não quero trazer isso para
o espaço dela.
— Vamos dar uma volta — digo a John. Ele dá um aceno tenso e
espera enquanto encontro meus sapatos e chaves.
Minhas mãos estão tremendo enquanto coloco um par de óculos
de sol. Provavelmente é uma atitude covarde, mas preciso me
proteger o máximo que puder, e John é muito bom em me ler. Ele
me dá um sorriso aflito, mas compreensivo, enquanto saímos, nós
dois ficamos em silêncio e afastados o suficiente um do outro, para
que não haja contato acidental. Toda a facilidade e a maneira como
gravitávamos naturalmente para mais perto agora se foi. Dói mais
do que quando eu não tinha notícias dele.
CAPÍTULO TRINTA E
QUATRO

JOHN

de olhar para Stella. Ela é rica, como


chocolate quente depois de caminhar através de uma nevasca. Ela
é uma cerveja gelada depois de uma performance sufocante. Cada
centímetro dela me encanta, desde os pequenos redemoinhos de
seus gloriosos cabelos pôr-do-sol até a dispersa constelação de
suas sardas. Passei horas mapeando aqueles pontinhos cor de
canela, noites enrolados no sofá deslizando os dedos pelos cabelos
sedosos, feliz por simplesmente acariciá-la enquanto ela me
contava coisas que me faziam rir.
Sua caminhada alegre me faz lutar contra um sorriso; apenas
Stella caminha com um passo que é tanto uma marcha determinada
quanto um balanço sensual de quadris e bunda. Mas ela está tensa
e com os lábios apertados, e sei que sou responsável por isso.
Deus, eu quero vê-la sorrir novamente. Fui um idiota por sempre
pensar que minha vida seria melhor, mais segura sem ela.
Andamos em silêncio por um tempo. É estranho, mas eu não me
importo; estou simplesmente a absorvendo.
Eu a guio para o Central Park. Passamos por um casal
compartilhando um grande shake. As lembranças do nosso encontro
amigável no Shake Shack enchem a minha cabeça. Eu deveria
saber que eu era um caso perdido naquela época – a simples visão
dela sorrindo para outro cara fez meu coração pular dentro do meu
peito e um nó de pura inveja surgir em minhas veias. Eu queria ser
aquele cara sentado em frente a ela. Eu queria ser o único a
merecer sua felicidade.
Ela para na Bow Bridge e descansa os braços no balaústre para
olhar para o lago vítreo. — Então.
Repassei tudo o que quero dizer na minha cabeça, pratiquei na
caminhada até o apartamento de Brenna. Exceto que o que sai da
minha boca não é o que eu havia planejado. — Eu não preciso de
você.
Stella recua como se tivesse levado um tapa, e eu dou um passo
para mais perto. — Espere. Saiu errado.
Ela solta uma risada e depois tira os óculos escuros. Mágoa
aperta os cantos dos seus olhos. — Eu não acho que exista uma
boa maneira de dizer isso.
— Eu sei. Merda. — Passo os dedos pela cabeça. — Eu estaria
aqui antes, porque Deus sabe que senti sua falta, Stells. Eu senti
tanto a sua falta, é como se eu tivesse perdido minhas mãos ou
minha voz. Mas eu tinha que fazer algo primeiro.
— Eu tenho visto a Dra. Allen, conversado e pensado bastante.
Cheguei à conclusão de que você não pode me consertar.
Stella me encara com olhos duros, mas não diz uma palavra. Eu
sei que ela está a cerca de dez segundos de sair andando. Minhas
palavras saem desesperadas para mantê-la aqui. — Ninguém pode.
Mas por tanto tempo, pensei em mim mesmo como quebrado, e
odiei isso. — Lambendo meus lábios secos, eu me forço a contar a
verdade. — Mas o que eu mais odiava era a ideia de que os outros
queriam me consertar também.
Sua expressão suaviza. — Eu nunca pensei que você estava
quebrado, John.
— Eu sei — sussurro. — Orgulho é uma coisa engraçada, no
entanto. Às vezes, ele se recusa a ouvir a lógica. Eu via as
rachaduras na minha existência e me sentia fraco. Eu queria ser a
sua rocha, a pessoa em quem você poderia confiar.
Com uma respiração trêmula, ela vira a cabeça, não querendo
mais me encarar. — Você era.
Até que eu não era mais. Meus punhos se apertam para não
puxá-la para perto. Ainda não. — Eu surtei e te afastei.
O suave movimento de sua mandíbula se apertando. — Eu sei.
— Você me disse que era isso que eu estava fazendo e não
ouvi.
— Eu também sei disso.
Deus, ela parece tão distante, tão cansada de mim.
Minhas mãos frias tremem tanto que preciso enfiá-las nos
bolsos. — Eu sei que não é suficiente, mas sinto muito.
Piscando rapidamente, ela olha para o céu, e o vento lança fios
de cabelo em seus olhos. — Eu sei.
— Jesus, Stells. — Eu me aproximo, abaixando minha cabeça
para tê-la na minha linha de visão. — Pare de dizer "eu sei" e...
— E o que? — Ela retruca, encarando. — O que eu devo dizer
para fazer você se sentir melhor?
Eu empalideço, horrorizado que ela esteja certa. Meus ombros
caem. — Eu mereço isso. Isso e muito mais. — Devagar, estendo a
mão e gentilmente afasto uma mecha de cabelo que estava
balançando sobre seus olhos. Eu preciso ver esses olhos; eles
seguram o meu mundo. — Eu te amo.
O impacto das minhas palavras a faz visivelmente vacilar, e ela
olha para o lado, me dando seu perfil. Ela parece tão pequena
agora, delicada como cristal fino. O que é estranho, porque Stella
sempre me pareceu imparável. Sua força, sua luz – ela pode
enfrentar o mundo e possuí-lo. Ela me possui.
Não consigo parar de tocá-la – as pontas de seu cabelo da
mesma cor da moeda de um centavo, a doce borda da sua
mandíbula. — Mas isso não é suficiente, é?
— Não. — A palavra cai como uma pedra.
Eu nunca enfrentei a rejeição. Stella só foi rejeitada.
Enfio minhas mãos nos bolsos e continuo falando. — No
segundo em que as palavras saíram da minha boca, eu me
arrependi, queria pegá-las de volta. Mas não as peguei, não
consegui. Às vezes é difícil sair da minha cabeça.
— John… — Ela toma uma respiração funda e instável, como se
fosse falar, mas depois para abruptamente. Dentes brancos e
perolados cravam o lábio inferior. Quando ela fala novamente, seu
tom é cauteloso. — Por que estou aqui?
Uma vida fugindo me diz para encantá-la. Um sorriso tenta
aparecer nos meus lábios, mas eu não o deixo florescer. Estou
nervoso como o inferno e preocupado por não ser capaz de acabar
com a sua dor ou fazê-la entender, mas ela merece toda a
honestidade.
— Não preciso que você me conserte, Stella. Eu preciso de você
para todo o resto. Eu preciso dos seus sorrisos, da sua risada. Eu
preciso que você seja minha melhor amiga, meu amor, meu tudo. Eu
preciso cuidar de você, tocar a sua pele, fazer o seu jantar, te dar
prazer sempre que precisar.
Eu me inclino, emoção entupindo minha garganta. — Você é a
melhor coisa que já me aconteceu e eu ficaria feliz em passar o
resto da minha vida tentando ser a melhor coisa que já aconteceu
com você também.
Meu discurso termina com o som de crianças rindo ao fundo e
uma buzina soando distante. Stella pisca para mim, seus olhos
vidrados, o lábio inferior preso na armadilha dos dentes.
— John… — Sua voz falha por um segundo. — Isso é tudo o
que eu sempre quis. Eu queria cuidar de você também, não porque
pensei que você fosse fraco ou confuso, mas porque te amava e
queria te mimar dessa forma.
Meu coração pula no meu peito, ameaça saltar para fora do meu
corpo. — Bonita… — Eu a alcanço, mas ela dá um passo para trás,
erguendo a mão.
— É difícil para mim confiar — diz ela. — Eu nunca fui capaz de
fazer isso antes de você. E então você vai e... — Uma lágrima
escapa e ela respira fundo como se estivesse chateada por mostrar
qualquer vulnerabilidade. — Quem garante que você não vai fazer
isso de novo?
— Eu não vou — eu digo rapidamente.
Outra lágrima escapa. — Mas como você sabe? Você entrou em
pânico, e seu primeiro instinto foi me deixar de lado. Como posso
correr esse risco?
Deus. Eu não tenho resposta; só sei que não vou. Eu poderia
estragar tudo de outro jeito, mas não vou deixá-la. Não posso. Mas
isso não vai funcionar para Stella. A pressão aumenta ao longo da
parte de trás dos meus olhos e na cavidade do meu peito. Eu enfio
meus punhos mais fundo nos meus bolsos. — Eu não sei o que
dizer para fazer você ficar.
Ela assente, as lágrimas escorrendo livremente pelas suas
bochechas macias. — Não sei se tem algo que você possa dizer.
Nós olhamos um para o outro e sinto o espaço entre nós
crescendo. Já tinha me ferido antes? Isso é pior. Corta minha pele e
esmaga a minha esperança. Não vou superar a perda de Stella.
Com outro aceno, ela se vira e sai. Com a garganta fechada, eu
a vejo ir embora. Meu coração grita “não, não, não” a cada passo
que ela dá, mas não consigo me mexer. Não sei se devo deixá-la ir,
dar espaço ou lutar por ela, implorar...
Ela para e minha respiração para junto. Lentamente ela se vira.
O rosto vermelho e manchado de tanto chorar, ela me olha com os
olhos arregalados e aflitos. — Você sabe — ela diz, — Maddy me
contou uma história sobre o marido. Ela o rejeitou, sabe.
Balanço a cabeça, porque não sabia. Mas ela continua falando.
— Ela disse que ele ligava para ela todas as noites. Perguntava
a ela. Valeu a pena? Ficar sem ele — explica Stella. — Valeu a
pena?
Ela não está mais falando sobre Maddy.
Eu limpo minha garganta, mas minha voz ainda é uma rouquidão
espessa. — É isso?
— Eu sei ficar sozinha — diz ela. — Fiz isso mais da metade da
minha vida. Posso fazer de novo.
A queimação atrás das minhas pálpebras aumenta e coça. Eu
cerro os dentes, tentando me manter firme. — Eu sei que você
pode. Você é... você é tão forte.
Sua expressão se enruga. — Eu não sou. — E então ela está
caminhando em minha direção, quase correndo. Antes que eu
possa dizer uma palavra, ela está batendo contra mim, roubando
meu fôlego. Seus braços envolvem meu pescoço. Um som sufocado
me escapa antes de eu a apertar e enterrar meu rosto na queda
sedosa de seu cabelo.
Estou tremendo. Lágrimas queimam as minhas bochechas. Eu
não posso detê-las. Stella me segura, apertado.
— Ele fez a pergunta errada — diz ela, sua voz abafada no
côncavo do meu peito.
— Qual era a pergunta certa? — Pergunto em seu cabelo,
porque não estou disposto a soltá-la.
Stella pressiona os lábios no meu peito. — Estar com você faz
valer a pena viver com o medo de te perder eventualmente?
— Você não vai me perder. Não vai. — Beijo o canto úmido do
seu olho, apenas uma vez porque não consigo me conter e sinto o
gosto das suas lágrimas. — Eu não posso te prometer a perfeição.
Às vezes sou um bastardo mal-humorado. Vou ter dias ruins. Mas
tentei viver sem você, e foi a pior sensação da minha vida. Você faz
parte de mim, Stella. — Meu punho bate contra meu peito onde
ainda parece vazio e incompleto. — Você vive aqui. Sempre.
Ela se inclina para trás e suas mãos seguram minha mandíbula,
limpando minhas bochechas com os polegares enquanto eu limpo
as dela. — A perfeição é um mito. Estou longe de ser perfeita. Se
você ama alguém, tem que estar disposto a aceitar as falhas
também. Eu estava indo embora quando percebi que você também
não sabia como confiar. Mas aqui está você, querendo tentar
novamente.
— Eu quero. — Minha testa repousa na dela. — Vale a pena,
então?
O sorriso dela é trêmulo. — Me ouça bem, John Blackwood,
porque sei como é difícil para você receber um elogio. Você fala da
minha força? Você é a pessoa mais forte que eu já conheci. Você é
um sobrevivente. Todos os dias você luta por uma vida melhor.
Tenho admiração por você. Eu te adoro. Desde o início. O medo não
é uma coisa fácil de se livrar. Mas por você? Eu estarei lutando ao
seu lado e nunca vou me lamentar um dia.
Eu não consigo falar. Só posso puxá-la para perto e segurá-la.
Ela cantarola suavemente sob a sua respiração, desenhando
círculos nas minhas costas trêmulas até eu me acalmar. —
Obrigado — digo quando consigo encontrar minha voz. — Por
confiar em mim. Por se apaixonar por mim. Eu prometo, Stella, eu
sempre vou estar lá para te pegar.
Sua voz me inunda como uma canção. — Você já me pegou. No
segundo em que roubou meu sorvete de menta.
Um sorriso surge quando coloco um braço sobre seus ombros e
saímos da ponte. — Vamos lá, Bonita, nós dois sabemos que você
era a ladra.
— Eu não era! Você sabia que eu estava indo pegar o sorvete de
menta.
— E o beijo?
Ela cora. — Ah bem. Mas, sério, você já se viu? Como eu
deveria resistir?
Minha risada soa no parque, e eu pego Stella, carregando-a do
mesmo jeito que uma vez a carreguei sobre uma poça. — Eu amo
você, Stella Grey.
Ela descansa a cabeça no meu ombro. — Eu também te amo,
John-Jax Blackwood.
EPÍLOGO

STELLA

A , minha época favorita em Nova York. É fresco, o


ar transporta o cheiro ocasional de castanhas assadas nas brisas
fortes que correm pelas avenidas. As folhas são alaranjadas e
douradas, mas os extensos gramados que atapetam o Central Park
ainda são verde esmeralda. Não que você possa ver muito do
gramado agora. As pessoas o cobrem, uma massa ondulada da
humanidade, todas voltadas para o palco montado sob o céu
desvanecendo.
Essa multidão começa a cantar, chamando pelo Kill John. O
canto cresce e vira um rugido quando John, Killian, Whip e Rye
correm para o palco e acenam para eles.
John desliza a alça da guitarra sobre a sua cabeça e caminha
até o microfone. Deus, meu homem é sexy no palco, todo caminhar
arrogante e sorrisos travessos. A camiseta verde-oliva que ele veste
abraça seus músculos magros e, quando ele agarra o microfone,
seu bíceps se agita. Juro que metade da plateia enlouquece com
essa visão – que se tornou monumental na enorme tela montada
atrás do palco. Nesse momento, ele se torna Jax Blackwood.
O sorriso de Jax aumenta, e alguém na plateia grita seu eterno
amor por ele. Sua voz rica ecoa pelo parque. — Olá, Cidade de
Nova York! — Mais gritos. Ele faz uma pausa até que se acalmem
um pouco. — Essa noite é especial. Essa noite é para as lindas
almas que perdemos e para todos as lindas almas que sofrem em
silêncio.
Algumas pessoas assobiam, mas ficou tão quieto que você pode
ouvir a emoção áspera na voz de Jax agora. — Estamos elevando
nossa voz hoje à noite para informar ao mundo que não precisam
mais ficar em silêncio quando se trata de saúde mental. Para que
eles saibam que serão amados.
Lágrimas embaçam minha visão e pressiono uma mão no meu
peito. Meses depois, meu primeiro projeto com o Kill John foi ajudar
a montar esse show. Dezenas de artistas doaram seu tempo ao se
apresentarem para aumentar a conscientização sobre saúde mental
e prevenção ao suicídio. Kill John vai primeiro, cantando
principalmente músicas de ídolos que todos nós perdemos.
Um pesado riff de guitarra corta o ar quando Killian começa a
tocar; Whip e Rye se juntam a ele. A multidão enlouquece. Jax
começa a cantar “Drain You” do Nirvana. Não é sentimental ou doce,
mas Jax disse que era uma das favoritas de Cobain, então foi essa
que Kill John escolheu.
Eles não soam como o Nirvana. Eles parecem com eles
mesmos, perfeitos à sua maneira. Eu danço junto, vendo meu
homem se inclinar para o microfone, ao mesmo tempo tenso com o
poder, mas solto com a confiança. Assim que a música termina,
Killian e Jax iniciam um dueto de “Fell On Black Days” do
Soundgarden.
Eu amo assistir eles juntos, a maneira como se alimentam um do
outro e como eles recuam e entregam o momento para Rye ou
Whip. Esses caras são uma máquina sem costura, e ainda assim
eles têm um entusiasmo cru. Eu sei que eles sentem total alegria lá
em cima, e é contagioso.
Quando tocam “Apathy” e “Rush Love”, uma música nova, a
energia deles ilumina a noite. Então Jax, suado e agora
gloriosamente sem camisa, pousa a guitarra e ajusta o microfone. —
Vocês vão ouvir muitos clássicos hoje à noite. Esse é um pouco
diferente. É para alguém especial para mim. — De alguma forma,
seus olhos encontram os meus e ele me dá um sorriso, aquele
sorriso secreto que não pertence a mais ninguém além de mim. —
Para Stella, “a resolução de todas as minhas buscas infrutíferas.”18
Meu coração pula no meu peito, e eu sopro um beijo para ele.
Killian, no entanto, se inclina rindo e pergunta: — Você tem
certeza de que quer fazer isso? Nem sempre sai como o esperado,
cara.
Whip faz um exagerado “da-dum-dum” em sua bateria. O público
ri. Todo fã do Kill John sabe que Killian uma vez infamemente
dedicou “Darling Nikki” do Prince a Libby, sem perceber que o
contexto da música não era exatamente a mensagem que ele queria
enviar.
Jax sorri para Killian. — Ao contrário de você, eu presto atenção
nas letras. — Ele olha de volta para mim, com olhos apaixonados,
depois volta sua atenção para a multidão. — Espero que vocês
conheçam essa música o suficiente para me ajudar e cantar junto.
Apesar das brincadeiras, a banda claramente planejou isso. Rye
se move para um teclado e eles começam como um. É preciso
algumas notas para eu descobrir qual é a música, mas quando
percebo, sorrio largamente, lágrimas brotando nos meus olhos. Ao
meu lado, Brenna se inclina para perto, cutucando meu ombro com
um sorriso feliz.
Jax canta “In Your Eyes” do Peter Gabriel. Sua voz é áspera com
emoção, seu olhar principalmente em mim. A multidão canta com
ele, milhares de vozes se levantando como uma só. Arrepios
surgem na minha pele, e nesse momento eu sei o que estar nesse
palco significa para Jax, como alimenta sua alma e como ele
devolve isso ao mundo. Eu também canto, devolvo as palavras,
significando-as com tudo o que sou.
Assim que terminam, Jax corre para fora do palco, acenando seu
agradecimento aos fãs animados enquanto ele sai. Ele vem direto
para mim sem hesitar, como se soubesse exatamente onde eu
estive o tempo todo. Coberto de suor e brilhando com vitalidade, ele
sorri e eu me arremesso em seus braços. — Eu te amo.
Ele me levanta, abraçando forte antes de me colocar no chão. —
Eu também te amo, Stella Bonita.
— Estou tão orgulhosa de você — eu digo, beijando sua
bochecha, seus lábios, seu queixo.
Ele ri e me segura perto. — Te excitou, não foi?
— Totalmente — eu sussurro em seu ouvido, sem vergonha,
amando o jeito que ele fica tenso, então move a mão para baixo
para segurar a minha bunda. — Quando podemos sair?
— Não por mais algumas horas —, diz ele com um pequeno
gemido. Mas eu posso esperar. Por ele, vou esperar o tempo que for
necessário, por quanto tempo ele precisar – porque ele sempre vale
a pena.

N , John me leva para fora de casa. Ele está me


levando para algum lugar mas não vai me dizer onde.
— Nem mesmo uma pequena dica? — Eu pergunto enquanto
descemos o elevador do seu loft. Eu ainda moro com Brenna, mas
passo a maior parte do tempo na cobertura de John. Nenhum de
nós dois falou sobre morarmos juntos, mas parece pairar no ar, essa
barreira final e silenciosa entre nós.
Eu nem sei o que está me segurando, só que uma pequena
parte de mim ainda tem uma parede protetora ao redor. Eu acho que
John percebe, mas ele nunca diz nada; ele simplesmente se entrega
todos os dias. E isso faz eu me sentir pior, porque eu o amo mais a
cada dia.
Na rua, John sinaliza para um táxi e dá a ele um endereço em
Murray Hill, uma área de enormes e antigos casas geminadas de
arenito marrom, ruas arborizadas e volumosos arranha-céus de
tijolos que pairam no perímetro. Eu não estou prestando atenção de
verdade, no entanto. Todo o meu ser está focado no homem ao meu
lado.
Sinto o calor do seu corpo e sua pele macia ao longo de todo o
meu lado exposto. Seu cheiro picante e familiar provoca meu nariz
de vez em quando, me fazendo desejar me inclinar e pressionar
meu rosto na curva de seu pescoço. Eu amo essa parte dele. Amo
que eu sei que quando eu o beijar ali, ele vai estremecer, e em
seguida grunhir baixinho em seu peito e me puxar para mais perto.
O táxi para em frente a um grande portão de ferro forjado, entre
duas casas de tijolos. John me dá um pequeno sorriso e pega uma
chave. Do outro lado do portão, há um longo caminho ladeado por
árvores e vasos de plantas.
— É uma antiga construção de séculos passados — John me
diz, abrindo o portão e dando um passo para trás para me deixar
entrar. É um pouco como voltar no tempo direto para o século XIX.
O espaço iluminado pelo sol tem um ar quase silencioso. Um
casarão de tijolos vermelhos com enormes janelas em arco que
percorrem dois andares e compõem cada lado.
— É totalmente privada. — John para em uma porta preta com
hera subindo ao lado. — Um outro mundo escondido dentro da
cidade.
Luzes a gás flanqueiam a porta, cintilando e sibilando no
silêncio.
— É lindo. — Não tenho ideia do motivo de estarmos aqui, mas
John também tem uma chave para entrar nesse lugar. Ele respira
fundo antes de abrir a porta, como se tivesse que se preparar, e
tenho vontade de segurar sua mão.
O interior é cheio de luz, as paredes de gesso branco cremoso e
enormes janelas com moldura ônix. O piso de madeira gasto range
levemente quando passamos por ele, dando ao espaço uma
sensação histórica. O lugar está vazio, e nossos passos ecoam sob
o teto alto.
— Tem quatro andares — diz John, me levando através de uma
grande sala de estar com uma lareira de mármore preto. — A
biblioteca é aqui.
Ele está apontando características com a eficiência de um
corretor de imóveis, e eu sorrio.
— O que há com a turnê? Você está pensando em comprar esse
lugar?
John para ao lado da grande janela em arco e a luz do sol
derrama sobre seu corpo alto. — Não exatamente. Vamos. Tem
mais.
Ele me mostra uma sala menor, forrada com estantes de
madeira de nogueira e uma grande janela com vidraças brilhantes.
Como se não pudesse se conter, ele pega minha mão. Sua mão
está quente, mas um pouco úmida, e eu sei que ele realmente está
nervoso. Dou um aperto suave em seus dedos enquanto ele me
leva a uma ampla escada circular feita de madeira e aperfeiçoada
com um brilho suave.
No andar de cima tem outra área de convivência e uma cozinha.
Há meio teto coberto por janelas inclinadas que deixam entrar mais
luz. Aqui, alguém deixou um velho sofá chesterfield de couro
marrom e uma mesa de centro de madeira desgastada. Ele me
mostra um pequeno quarto escondido atrás, e depois subimos
novamente para outro andar que abriga três grandes quartos e três
banheiros. Há um terraço no último andar cercado por treliças, mas
o resto é bastante vazio.
John enfia a mão nos bolsos da calça jeans e anda por aí. —
Alguns vasos de plantas e talvez algumas buganvílias ou glicínias
na treliça, e você teria seu próprio oásis.
— É mais do que a maioria das pessoas tem na cidade — digo
neutra. Ele não está comprando esse lugar, então por que está me
mostrando?
— Verdade. — Ele lança um olhar crítico para o pavimento do
chão e chuta uma pedrinha para o lado. — Mas eu sempre pensei
que o caráter de um lugar é mais importante.
— Bem, é claro. — Honestamente, ele está agindo de maneira
tão estranha que estou ficando nervosa.
Segurando minha mão novamente, ele me guia de volta para a
área de convivência e depois me solta, apenas para andar pelas
tábuas do assoalho. Eu o observo por um minuto, a confusão
crescendo dentro mim.
— Você não gosta? Ou você queria uma segunda opinião? — Eu
olho ao redor. A casa é aconchegante, mas brilhante, e não tão
grande para que uma pessoa se sinta perdida nela. Tem uma
sensação de permanência. — É linda. Caseira.
Ele me olha com cuidado. — Estou feliz que você pense assim.
— Então você vai comprar — eu respondo, sem entender o olhar
suave e quase esperançoso em seus olhos verdes. — Você deveria.
É perfeita. Toda a privacidade que você precisa, mas ainda parece
uma casa.
John se afasta da janela. — Eu comprei. Mas não para mim. Eu
comprei para você.
— Para mim? — Eu olho para ele. Eu devo ter ouvido errado. —
Eu não... você comprou para mim?
— Sim, você. — Os cantos dos seus lábios se curvam
levemente. — Essa casa é sua, Bonita. Se você gosta, é sua.
— Eu... você… — respiro fundo. — Você não pode me comprar
uma casa, John!
Ele levanta o queixo, com uma expressão firme, determinada. É
o mesmo olhar que ele usou naquele dia há muito tempo, quando eu
o encontrei na varanda e insisti que ele estava me perseguindo. No
mesmo dia em que comecei a me apaixonar por ele. — Mas eu
comprei. É sua.
— Eu não posso aceitar uma casa de você. — Minha voz ecoa
nas paredes vazias, soando um pouco em pânico e completamente
chocada. — É demais. É uma maldita casa, pelo amor de Deus. —
Não é qualquer casa. Uma maldita mansão na Cidade de Nova
York. Em uma rua privada. Não preciso ser uma corretora de
imóveis para saber que esse lugar provavelmente custa mais de dez
milhões de dólares.
Dez milhões. Minha cabeça parece leve. Caio no sofá de couro e
respiro fundo.
John encolhe os ombros enquanto se aproxima lentamente. —
Stella, eu sou uma estrela do rock. Somos meio que conhecidos por
nossas compras impulsivas e grandes gestos.
— Sim, bem, eu não quero esse gesto. — Eu rio brevemente. —
E eu pensei que o vestido de alta costura que você me enviou era
demais.
Ele sorri em seguida, amplo e sem remorso. — Você fica sexy
pra caralho nesse vestido.
— Bem, eu não posso usar uma casa. — Minha cabeça está
girando. — Meu Deus, John. Uma casa? Não preciso que você me
compre presentes. Eu só quero você. Você é tudo o que eu preciso.
Seu sorriso desaparece e ele se ajoelha ao meu lado. — Ei, não
surte.
— Meio difícil quando você está me dando presentes os quais
nunca poderei te reembolsar na minha vida.
Gentilmente, ele descansa sua grande mão sobre a minha. — O
propósito de um presente é que você não precisa pagar de volta.
— John... uma casa?
Seus lábios se curvam, e eu sei que ele está lutando para
manter a cara séria. — Entendo que, para pessoas normais, é uma
coisa extravagante de dar a alguém. Mas nós dois sabemos que
não sou normal. Não está em nenhum lugar dentro do meu código
de área ser normal. — Ele aperta minha mão. — Eu sei que você
não me quer pelo meu dinheiro. Não é sobre isso. Quero que você
tenha essa casa.
— Mas por que?
Por um segundo, ele observa meu rosto como se estivesse
tentando ver se estou brincando ou simplesmente não tenho ideia.
— Porque você sempre quis um lar. Foi o que você me disse.
Lembra? “Uma casa em uma pequena rua, onde é privado, mas
perto de tudo. Uma casa antiga, com personalidade e charme, e um
jardim no terraço para plantar tomates e flores, e eu possa
aproveitar o sol.”
Ah Deus. Eu disse isso.
— Essa… — ele estica um braço na direção da sala — pode ser
a sua casa. Você nunca vai precisar se preocupar em perdê-la,
porque é toda sua. Adicionei todos os pagamentos de impostos à
hipoteca, que vai diretamente para mim. Você está segura agora,
Stells. Sempre.
Ah. Inferno.
Seu cabelo se recusa a ficar arrumado, em vez disso, está em
ângulos selvagens no topo da sua cabeça. Eu passo minha palma
sobre ele, e John fecha os olhos, piscando lentamente, seu corpo
todo se inclinando para o meu toque.
— Então — eu digo, sem muita firmeza, — você vem com essa
casa?
Ele fica completamente imóvel. Olhos verde-jade seguram os
meus, sem revelar nada. — Não. É sua. Sem condições.
— E se eu quiser você nela?
Se eu achava que ele estava imóvel antes? Agora ele está
congelado, tenso e me encarando. Ele lambe os lábios antes de
falar. — Então vou estar aqui com você enquanto você me quiser.
— Quero dizer, é uma casa bem grande. — Meus dedos
penteiam seu cabelo apenas pelo prazer de tocá-lo. — Eu não
posso usar todo esse espaço sozinha.
Seu corpo relaxa lentamente, inclinando-se em direção ao meu.
— Eu provavelmente poderia transformar uma das salas em uma
sala de ensaio.
Nós dois estamos falando levemente, como se tudo fosse uma
conversa fiada. É qualquer coisa menos isso.
— Você poderia. — Traço a concha da sua orelha, amando o
jeito como ele estremece. — Mas e se eu quisesse alguns bebês?
Uma luz que eu não tinha visto antes passa pelos seus olhos. É
livre, brilhante e bonita. — Então, Stella Bonita, seria uma honra
tentar e te ajudar a fazer esses bebês.
Não consigo parar de sorrir. — Você realmente quer isso?
Crianças? Uma vida familiar?
Eu nem tenho certeza se quero isso agora. Mas tenho que saber
o que ele está pensando sobre nós, sobre o futuro. Ele não parece
assustado. Ele parece feliz, esperançoso.
John passa as mãos pelas minhas coxas e segura meu quadril.
— Quero tudo com você, Stells. Tudo e qualquer coisa. Você quer
filhos, vamos ter filhos. Se não quiser, teremos um ao outro. O fato
de estarmos juntos é o que importa. — Seu aperto aumenta. —
Esse é meu sonho. Você e eu. É o que me dá paz.
Lágrimas quentes caem dos meus olhos, e John as afasta com
os polegares enquanto rolam pelas minhas bochechas. Eu sou uma
bagunça com ele.
— Eu também quero — digo. — Comprar uma casa para mim é
um gesto bonito, embora chocante.
Ele ri baixo e suavemente, só agora parecendo um pouco menos
mortificado.
Eu me inclino para mais perto, tocando a sua mandíbula. — Mas
não é um lar, se você não estiver comigo.
John pressiona sua testa contra a minha. — Eu te amo, Stella.
Não quero passar por essa vida sem você. Por favor, acredite nisso.
Por favor, acredite que vou tentar fazer o melhor. Eu vou tentar...
Eu o silencio com um beijo. É um beijo suave, um pressionar de
lábios, mas John geme profundamente em sua garganta e assume,
agarrando a parte de trás do meu pescoço para me segurar no lugar
enquanto sua boca se abre sobre a minha. Acho que nunca vou
superar o quão bom é beijá-lo. O soco visceral que sinto ainda me
tira o fôlego.
Com um último beijo, John segura minhas bochechas e encontra
meu olhar, seus olhos ternos e arregalados. — Nós vamos ficar
bem.
Não é uma pergunta, mas eu respondo assim mesmo. — Claro
que vamos. Nós somos para sempre.
Notas.
[←1]
Maior tiroteio do Velho Oeste estadunidense.
[←2]
Personagem animado da empresa Keebler.
[←3]
Elemento arquitetônico, uma espécie de varanda.
[←4]
trocadilho com a palavra “dick”, que pode significar idiota ou pau,
dependendo do contexto
[←5]
marca de instrumentos.
[←6]
Saudação de Jornada nas Estrelas.
[←7]
Trocadilho com “I’m coming” que também pode significar “estou
gozando”
[←8]
trocadilho com a palavra que em português é “querida” e o
sobrenome da Sophie
[←9]
Berry são frutas silvestres de cor vermelha, como o morango,
cereja, framboesa e etc.
[←10]
Estilo que junta o moderno com a era vitoriana.
[←11]
Consiste em levar a aeronave à posição vertical, deixar que a
velocidade drene lentamente e, quando se esta está quase ou
completamente parado no ar, guinar no eixo vertical até atingir a
vertical descendente e então recuperar.
[←12]
Tipo de flor perfumada comumente chamada de lilás.
[←13]
Em inglês, Blue Bean, é uma expressão para mulheres
correspondente as “bolas azuis”, seria o inchaço do clitóris devido a
privação do orgasmo.
[←14]
instrumento metálico em forma de forquilha, que serve para afinar
instrumentos e vozes através da vibração de um som musical de
determinada altura
[←15]
Ramon fez um trocadilho com o nome da super-heroína dizendo que
ela pertence às estrelas.
[←16]
Referência ao filme “Os Fantasmas Se Divertem”.
[←17]
Uma frase aparentemente clássica do filme, o nome da personagem
também é Stella.
[←18]
Parte da letra da música “In Your Eyes” que John vai cantar para
Stella.

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