Você está na página 1de 181

1

EXPEDIENTE

Comandante de Preparo Editor-Chefe


Ten Brig Ar Sergio Roberto de Almeida Cap Av André Benzi Baccarin

Chefe do Estado-Maior do COMPREP Editor Assistente


Maj Brig Ar Luiz Guilherme Silveira de 2º Sgt SIN Thamires Louzada de Souza
Medeiros

Conselho Editorial Científico


Chefe da Subchefia de Preparo de Cel Av Daniel Ferreira Manso
Operações Aéreas Cap Av André Benzi Baccarin
Brig Ar Alessandro Cramer

Capa (Arte)
Chefe da Subchefia de Operações S1 SAD Gabriel Felipe Ribeiro da Cunha
Terrestres Moraes
Brig Inf Alexandre Okada

Diagramação
Chefe da Subchefia de Planejamento, 2º Sgt SIN Thamires Louzada de Souza
Orçamento e Gestão Institucionais
Brig Ar Alvaro Marcelo Alexandre Freixo
Os conceitos e opiniões emitidos nas colunas e
artigos são de responsabilidade exclusiva de
Chefe da Divisão de Doutrina seus autores. Estão autorizadas transcrições,
Cel Av Rubens Gonçalves integrais ou parciais dos trabalhos publicados,
desde que mencionados o autor, a fonte e
remetido um exemplar para o COMPREP.
SUMÁRIO

EDITORIAL .............................................................................................................................................................. 4
Ten Brig Ar Sergio Roberto de Almeida

INTELIGÊNCIA E POLÍTICA PÚBLICA: O CASO DA "LEI DO ABATE" ................................................................. 5


Cel Av José Augusto de Castro Carvalho Júnior / Cel Inf Edson Leonardo Paulo da Silva

A RESPONSABILIDADE DO NÍVEL TÁTICO NA OBTENÇÃO DO ESTADO FINAL DESEJADO EM CONTRAIN-


SURGÊNCIA.......................................................................................................................................................... 19
Ten Av Raul Feres Machado

METEOR RAMJET: UM ESTUDO EM FONTES ABERTAS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS PROPULSIVAS DO


MÍSSIL DO F-39 GRIPEN ...................................................................................................................................... 24
Ten Av Matheus Becker Motta

GESTÃO DO CONHECIMENTO DO SISTEMA F-39 ............................................................................................ 35


Maj Av Felipe Braga Galvão de Souza

PODER AEROESPACIAL E AS SINGULARIDADES DA PROFISSÃO DE LOCADOR ....................................... 43


Ten Inf Flávio Souza Arcanjo / Ten FIS Paula Morisco de Sá

EMPREGO OPERACIONAL DE INTERFERÊNCIA ELETRÔNICA ...................................................................... 53


Cap Av Rodrigo Eberle Almeida

ALGORITMO DE PREVISÃO COMO FERRAMENTA DE APOIO À DECISÃO NAS UNIDADES AÉREAS DA


FORÇA AÉREA BRASILEIRA ............................................................................................................................... 66
Ten Av Fradique Teixeira Nunes Gomes / Luiz Gustavo Antonio de Souza

ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS ORDENS DE INSTRUÇÃO 50TT10, 50TT20, 50TT30 E 50TT40 DO PRO-
GRAMA DE ELEVAÇÃO OPERACIONAL DA AERONAVE C-105 ....................................................................... 77
Ten Av Isaac Luiz Matias de Santana

EMPREGO EFICIENTE DO RADAR NAS OPERAÇÕES DE BUSCA E SALVAMENTO (SAR) .......................... 86


Cap Av Raphael Lopes Rosa

VANTAGENS DO USO DE RODOPISTAS EM AMBIENTES DE GUERRA IRREGULAR ................................... 95


Ten Av Richardy Barcellos Almeida

A EFICIÊNCIA OPERACIONAL POR MEIO DO MONITORAMENTO DE DADOS EM MISSÕES DE TRANS-


PORTE AÉREO LOGÍSTICO............................................................................................................................... 106
Ten Av Rafael da Silva Vilete / Ten Av Guilherme Lucas de Menezes Araújo

A OPERAÇÃO EM PISTAS CRÍTICAS COMO FATOR PRIMORDIAL PARA A EFETIVA INTEGRAÇÃO DA AMA-
ZÔNIA BRASILEIRA ............................................................................................................................................ 117
Maj Av Emanuel do Socorro Verderosa Santos Morais / Ten Av Wanderson Willian Zorzo

COMBATE BVR: A IMPLANTAÇÃO DE UM SIMULADOR ESPECÍFICO NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA .... 126
Cap Av Vinícius Ticianelli

GESTÃO DO RISCO AVIÁRIO PARA OPERADORES DE AERONAVE DE CAÇA NA FORÇA AÉREA BRASI-
LEIRA .................................................................................................................................................................. 136
Ten Av Gabriel Boscolo dos Santos Alves da Silva

A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS SIMULADOS VIRTUAIS PARA A SELEÇÃO E PREPARO DE COMBATENTES


CIBERNÉTICOS: ESTUDOS DE CASO MANDABYTE E SIMOC ...................................................................... 155
2° Sgt BCO Luiz Henrique Filadelfo Cardoso

ANALISANDO A IMPLEMENTAÇÃO DO BIM NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA: RESULTADOS E IMPLICAÇÕES


............................................................................................................................................................................. 172
2° Ten CIV Camila Tasca Leitão
Tenente-Brigadeiro do Ar Sergio Roberto de Almeida, Comandante do COMPREP.

Caro leitor,
A implantação de novas aeronaves, tecnologias e sistemas adquiridos, tais como o F-39 Gripen, o H-36
Caracal e o KC-390 Millenium, representa grandes desafios e é de suma importância para o preparo do Brasil
frente a um cenário moderno de emprego, exigindo novos conhecimentos e estudos para o aprimoramento da
operação desses vetores.

Destarte, a Força Aérea Brasileira tem passado por constantes transformações, a fim de otimizar os
recursos, melhorar equipamentos e capacitar seu pessoal, de forma a preparar os combatentes para uma rápida
ação. Dentro desse cenário, o Comando de Preparo (COMPREP) vem atuando continuamente, habilitando seus
meios e seu efetivo para os futuros desafios, nacionais e internacionais.

Assim, os homens e mulheres do COMPREP trabalham incessantemente para cumprir a nobre missão
de “preparar, para o emprego, os meios de Força Aérea, sob sua responsabilidade, a fim de manter a soberania
do espaço aéreo e integrar o território nacional”, visando “ser reconhecido pela excelência no preparo e apoio das
suas equipagens, capazes de realizar ações de Força Aérea, em cenários específicos, na dimensão adequada e
no momento oportuno”.

Essa missão só é possível se apoiada pelo estudo e pela pesquisa. Com tal propósito, foi confeccionada
esta edição da revista PREPARO, a maior já publicada, divulgando os resultados de pesquisas na área
operacional, fruto do trabalho árduo de nossos militares, que investiram esforços na construção dos brilhantes
artigos aqui apresentados.

Desejamos a todos uma boa leitura, na certeza de que os textos publicados servirão de base para a
melhoria do preparo e emprego de nossos combatentes.

Tenente-Brigadeiro do Ar Sergio Roberto de ALMEIDA


Comandante de Preparo
INTELIGÊNCIA E POLÍTICA PÚBLICA: O CASO DA "LEI DO ABATE"

Cel Av José Augusto de Castro Carvalho I - INTRODUÇÃO


Júnior
Cel Inf Edson Leonardo Paulo da Silva
Comando de Preparo (COMPREP)
A Constituição Federal de 1988
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal
define que as Forças Armadas (FFAA)
analisar de que maneira a “Lei do Abate” são instituições nacionais permanentes
influenciou na Doutrina de emprego, referente
às interceptações de tráfegos aéreos e regulares, organizadas com base na
desconhecidos por meios de defesa aérea da
Força Aérea Brasileira. Para chegar a tal hierarquia e na disciplina, sob a
objetivo, primeiramente situa-se o contexto
histórico da referida lei, a qual indica a Força autoridade suprema do Presidente da
Aérea Brasileira como instrumento do Estado
brasileiro para o policiamento do espaço aéreo República, e destinam-se à defesa da
no Brasil. Após essa abordagem, descreve-se Pátria, à garantia dos poderes
o surgimento das políticas públicas e seus
níveis de atuação. Em seguida, verifica-se de constitucionais e, por iniciativa de
que maneira a Inteligência auxilia no combate
ao narcotráfico. Por fim analisa-se a influência qualquer destes, da lei e da ordem.
da “Lei do Abate” nas doutrinas de emprego da
FAB. Em 1998, a Lei nº 7.565 1., de 19 de

Palavras-Chave: Força Aérea Brasileira; dezembro de 1986 foi alterada pela Lei
Tráfego Aéreo Desconhecido; Lei do Abate. nº 9.614, de 5 de março de 1998 e ficou
INTELLIGENCE AND PUBLIC POLICY: THE conhecida como “Lei do Abate”, por
CASE OF THE "LAW OF SLAUGHTER"
incluir a hipótese de destruição de
ABSTRACT
The main objective of this work is to analyze aeronaves classificadas como hostis,
how the “Abate Law” influenced the
employment doctrine, referring to the
quando esgotados os meios coercitivos
interceptions of unknown air traffic by means of legalmente previstos.
air defense of the Brazilian Air Force. To reach
this objective, firstly, the historical context of the Desde então, o Estado
referred law is placed, which indicates the
Brazilian Air Force as an instrument of the brasileiro, por meio da Força Aérea
Brazilian State for the policing of the airspace in
Brazil. After this approach, the emergence of Brasileira (FAB), criou diversos
public policies and their levels of action are
described. Then, it is verified how the procedimentos de checagem em voo e
Intelligence helps in the fight against drug interceptação de Tráfego Aéreo
trafficking. Finally, the influence of the “Abate
Law” on FAB employment doctrines is
analyzed.

Keywords: Brasilian Air Force; Prepare


Command; Unknown Air Traffic; Slaughter Law.

1 Código Brasileiro de Aeronáutica.

5
Desconhecido (TAD) 2., com o objetivo Aeronáutica (PEMAER) e demais fases
de identificar o piloto, a aeronave, sua do planejamento institucional da FAB.
origem e seu destino, entre outros Dessa maneira, a missão síntese da
aspectos. Muitas destas ocorrências Força Aérea é a de manter a soberania
são aeronaves que transportam ilícitos, do espaço aéreo e integrar o território
que voam sem o conhecimento dos nacional, com vistas à defesa da pátria.
órgãos de controle. Caso o piloto da Para cumprir a missão síntese, a
aeronave desconhecida se recuse a FAB dispõe na sua estrutura o
responder, o piloto da FAB, em conjunto Comando de Preparo (COMPREP),
com os escalões superiores, realizará a OM responsável pelo treinamento,
interceptação, a averiguação, o tiro de avaliação e doutrina das unidades
aviso e, caso não seja atendido, o tiro operacionais da FAB; e do Comando de
de detenção. Operações Aeroespaciais (COMAE),
Organização Militar (OM) responsável
Sinteticamente, a Aeronáutica de- pelo planejamento, coordenação,
verá defender o Brasil, impedindo o
execução e controle das operações
uso do espaço aéreo brasileiro e do
aeroespaciais, tanto recorrentes quanto
espaço exterior para a prática de
atos hostis ou contrários aos inte- eventuais. Nesse sentido, o COMPREP
resses nacionais. Para isto, deverá foi instituído visando atender o que
dispor de capacidade efetiva de vi- dispõe a Lei Complementar nº 97, de 9
gilância, de controle e de defesa do
de junho de 1999 (BRASIL, 1999),
espaço aéreo, sobre os pontos e
conforme abaixo.
áreas sensíveis do território nacio-
nal, com recursos de detecção, in-
terceptação e destruição. (BRASIL, [...] Art. 14. O preparo das Forças

2018, p. 19)3. Armadas é orientado pelos seguin-


tes parâmetros básicos:
A Concepção Estratégica “Força I - permanente eficiência opera-
cional singular e nas diferentes mo-
Aérea 100” (BRASIL, 2018) detalha a
dalidades de emprego interdepen-
missão, a visão e os valores do
dentes;
Comando da Aeronáutica (COMAER), II - procura da autonomia nacio-
servindo de orientação para o nal crescente, mediante contínua
Planejamento Estratégico Militar da nacionalização de seus meios, nela

2 Aeronaves que não foram identificadas pelo Sistema de Controle do Espaço 3 DCA 11-45/2018, Concepção Estratégica da “Força Aérea 100”.
Aéreo, apesar de possuírem o plote radar, ou seja, serem vistas nas consoles
dos controladores de voo.

6
incluídas pesquisa e desenvolvi- procedimentos operacionais de
mento e o fortalecimento da indús-
interceptação de aeronaves
tria nacional;
desconhecidas.
III - correta utilização do poten-
cial nacional, mediante mobilização
Assim, esta pesquisa é oportuna
criteriosamente planejada [...] para avaliar de que maneira tais
(BRASIL, 1999). mudanças podem interferir na doutrina
da FAB. Por outro lado, é uma
Diante disso, surgiu a
contribuição acadêmica ao descrever
inquietação destes autores sobre em
os processos de uma política pública,
que medida as políticas públicas
no contexto da Defesa, desde a
influenciam no preparo e na doutrina da
formação, o tratamento, a assimilação
FAB. Ao analisar o processo de criação
e a conversão em ações e atividades
e de emprego da “Lei do Abate”, pode-
que visem a assegurar a segurança
se inferir que houve modificações na
pública, um dos direitos básicos do
doutrina empregada pelo COMPREP.
cidadão.
Assim, o objetivo deste trabalho é
analisar de que maneira a criação de tal
II - METODOLOGIA
lei contribuiu para modificar as
doutrinas relacionadas ao preparo da
A pesquisa foi exploratória,
FAB. Para alcançar tal objetivo,
descritiva e experimental. Com o
estabeleceu-se como objetivos
proposto de complementar tal
específicos: 1) descrever políticas
investigação, utilizou-se métodos
públicas; 2) analisar de que maneira a
complementares de pesquisa
Inteligência está inserida na política
qualitativa e quantitativa.
pública contra o narcotráfico; e 3)
A qualitativa será realizada por
analisar a influência da “Lei do Abate”
meio de dados descritivos, analisando-
nas doutrinas de emprego da FAB.
se documentos, legislações e notícias
As políticas públicas podem
da mídia aberta sobre operações de
sofrer alterações, de acordo com a
controle de fronteira e combate a
necessidade do Estado brasileiro,
ilícitos, a “Lei do Abate” e a doutrina de
podendo gerar um efeito dominó nas
treinamento da FAB.
demais normas jurídicas, ocasionando
A pesquisa quantitativa foi
modificações na doutrina de preparo da
realizada por meio de questionário,
Força Aérea Brasileira, com efeitos nos
com base na escala de Likert,

7
produzido no google form, no qual ações de governo oriundas de
decisões, valores e metas; em
verificou-se a relevância e a
suma, é o que o governo, como
adequabilidade do preparo, bem como
instrumento, decide fazer ou não
a praticabilidade e aceitabilidade da fazer para lidar com problemas
doutrina de interceptação de aeronaves públicos, isto é, concernentes aos
da FAB. Tal questionário fora aplicado cidadãos de uma comunidade
nacional.
nos esquadrões de voo que operam
(BRASIL, Agência Brasileira de
aeronaves de caça, as quais cumprem
Inteligência, 2016, p.67).
as missões de interceptação,
estabelecidas na “Lei de Abate”. Assim,
Dessa maneira, para que tais
o público alvo do questionário foram os
políticas públicas funcionem na prática,
pilotos de caça dos esquadrões,
é necessário que diversos setores do
tomando-se por base um universo de
Estado atuem em conjunto em nível
80 militares. Desses, 73 responderam
estratégico, cada instituição analisando
ao questionário no prazo solicitado.
sob seu ponto de vista, construindo um
cenário da situação. A partir desse
III - REVISÃO DA LITERATURA
cenário, as instituições estatais podem
desenvolver planos, projetos e afins
As políticas públicas são criadas
nos níveis operacional e tático.
pelo campo político e executadas pelos
órgãos federais, estaduais e municipais Se admitirmos que a política
nos níveis estratégico, operacional e pública é um campo holístico, isto
tático, por meio de leis, decretos e é, uma área que situa diversas
unidades em totalidades
portarias, que visam a sanar um
organizadas, isso tem duas
problema social, para o bem da
implicações. A primeira é que,
coletividade. como referido acima, a área torna-
se território de várias disciplinas,
Políticas públicas e de governo são teorias e modelos analíticos.
termos equivalentes. Cabe ao Assim, apesar de possuir suas
governo, como complexo de próprias modelagens, teorias e
órgãos do Estado, elaborar, gerir e métodos, a política pública, embora
avaliar essas políticas, que são seja formalmente um ramo da
soluções para assuntos públicos ciência política, a ela não se
específicos. As políticas públicas resume, podendo também ser
são enunciados normativos ou objeto analítico de outras áreas do

8
conhecimento, inclusive da pelos radares de vigilância do espaço
econometria, já bastante influente
aéreo, além de não respeitarem as
em uma das subáreas da política
normas de tráfego aéreo, colocando em
pública, a da avaliação, que
também vem recebendo influência
risco outras aeronaves.
de técnicas quantitativas. A Segundo Traumann (2001), a
segunda é que o caráter holístico “Lei do Abate” foi elaborada depois que
da área não significa que ela
estudos do governo concluíram que
careça de coerência teórica e
havia uma "zona cinzenta" na vigilância
metodológica, mas sim que ela
comporta vários “olha res”. Por do espaço aéreo. A legislação brasileira
último, políticas públicas, após não amparava a destruição de
desenhadas e formuladas, aeronaves, mesmo que ilegais, em
desdobram-se em planos,
tempos de paz, o que ocasionava o
programas, projetos, bases de
desrespeito às ordens da autoridade
dados ou sistema de informação e
pesquisas. Quando postas em
aeronáutica, no caso o piloto da
ação, são implementadas, ficando aeronave interceptadora. Em função
daí submetidas a sistemas de dessa situação, o Estado brasileiro
acompanhamento e avaliação
adotou novas medidas normativas e
(SOUZA, 2006. p. 7).
diversas ações com a finalidade de
mitigar tais ocorrências, por meio de
“A política pública é abrangente
políticas públicas de combate ao
e não se limita a leis e regras” (SOUZA,
narcotráfico.
2006, p. 36, apud ALMEIDA, 2010).
Uma dessas medidas foi o
Assim, para este trabalho, política
Código Brasileiro de Aeronáutica
pública é entendida como um conjunto
(BRASIL, 2004), que passou a
de ações a determinados assuntos
estabelecer os procedimentos a serem
específicos que o Estado brasileiro
seguidos com relação às aeronaves
utiliza para mitigar um problema de
hostis ou suspeitas de tráfico de
ordem pública e social.
substâncias entorpecentes e drogas
Nesse quesito, um dos grandes
afins, já que estas se tornam uma
problemas no Brasil é a utilização de
ameaça à segurança pública. Os TAD
aeronaves para o transporte de
estarão sujeitos às medidas coercitivas
entorpecentes e armas. Tais aeronaves
de averiguação, intervenção,
voam na maioria das vezes a baixa
persuasão e detenção, de forma
altura para não serem visualizadas
progressiva e sempre que a medida

9
anterior não obtiver êxito, executadas [...] Na I parte, considero as infor-
mações como uma espécie de co-
por aeronaves de interceptação, com o
nhecimento. [...]
objetivo de compelir a aeronave
Na II parte, considero as informa-
suspeita de efetuar o pouso em ções como o tipo de organização
aeródromo que lhe for indicado. Muitas que produz conhecimentos [...].
dessas missões de interceptação são A III parte, considera as informa-
ções como a atividade desempe-
realizadas a partir de operações
nhada por uma organização [...]
conjuntas 4, as quais são planejadas
(KENT, 1967, p. 9).
com base em informações sigilosas,
provenientes da Inteligência.
No Brasil, o processo normativo
A Inteligência de Estado tem
que regulamenta a Atividade de
como principal objetivo identificar as
Inteligência foi aprovado em 2017, com
oportunidades e detectar as ameaças,
a Estratégia Nacional de Inteligência
de modo a preservar as instituições e
(ENINT), a qual é decorrente da Política
as organizações de um país;
Nacional de Inteligência (PNI), e tem
assessorar o tomador de decisão com
por finalidade orientar os órgãos do
conhecimento oportuno, baseando-se
Sistema Brasileiro de Inteligência
em uma análise do ambiente interno e
(SISBIN) nos temas de maior interesse
externo.
para o Brasil.
Nesse contexto, a Inteligência
pode ser vista como um conhecimento, A Atividade de Inteligência no Bra-
o qual pode ser descrito como sendo sil vem ganhando relevância cres-
um dado que, por meio do Método de cente e transparência, sobretudo
com a aprovação da PNI e a edição
Produção do Conhecimento (MPC), foi
da presente ENINT. Esses docu-
processado um analista de Inteligência;
mentos são elos aglutinadores dos
uma organização, a qual é uma órgãos que compõem o SISBIN e
instituição que produz os os direcionadores para a formula-
conhecimentos; ou como uma ção das iniciativas estratégicas re-
ferentes à Atividade de Inteligên-
atividade, que está diretamente
cia”
relacionada com o tipo de
(BRASIL, 2017, Estratégia Nacio-
conhecimento que a organização de nal de Inteligência, p.7).
Inteligência produz.

4 Operações com mais de uma instituição ou órgão estatal.

10
A Política Nacional de unidade de comando ao programa, ao
Inteligência é o documento de maior alinhar as atividades em prol de um
nível, o qual orienta e define os limites objetivo único principal.
de atuação da Atividade de Inteligência.
A ENINT, define os objetivos Atualmente, podemos afirmar com
segurança que estão definidos dois
estratégicos de maior relevância para o
marcos normativos que tratam das
país, a partir de estudos elaborados
políticas destinadas à fronteira: 1) a
para definir as principais ameaças e CDIF (Comissão Permanente para
oportunidades para o Estado brasileiro, o Desenvolvimento e a Integração
dentre os quais pode-se destacar os da Faixa de Fronteira), instituída
pelo Decreto de 8 de setembro de
problemas nas fronteiras do Brasil.
2010, que tem como atribuição
contribuir para o aperfeiçoamento
Os problemas de segurança
da gestão das políticas públicas
internos e externos ao Brasil
para o desenvolvimento da faixa de
encontram-se, muitas vezes, nas
fronteira, estimulando a articulação
próprias fronteiras territoriais. É
com os governantes locais. Tro-
determinante a necessidade de se
cando em miúdos: tem a responsa-
manter uma fiscalização adequada
bilidade de sugerir políticas públi-
das fronteiras para se controlar o
cas para o desenvolvimento social
trânsito de pessoas, além de evitar
e econômico. 2) O PPIF (Programa
o fluxo de narcóticos, de armas e
de Proteção Integrada de Frontei-
de produtos relacionados a
ras) que tem como atribuição criar
contrabando.
e executar políticas para as áreas
(BRASIL, 2017, Estratégia
de defesa e de segurança pública.
Nacional de Inteligência, p. 15).
(FIGUEIREDO, 2017, p. 82).

Com o intuito de combater os ilícitos Assim, o Estado brasileiro


transnacionais, foi criado o Programa procura se contrapor às ações do
de Proteção Integrada de Fronteiras Crime Organizado (ORCRIM)
(PPIF) no ano de 2017. O Gabinete de transnacional, com programas que têm
Segurança Institucional da Presidência como objetivo principal integrar as
da República (GSIPR) assumiu a instituições, promovendo o
gestão deste programa, que antes era compartilhamento de informações de
gerido por três entes distintos, a saber: inteligência.
Ministérios da Defesa, da Justiça e da A FAB participa e colabora para
Fazenda. Essa modificação forneceu a consecução dos objetivos elencados

11
na ENINT, bem como no PPIF, IV - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS
realizando o controle do Espaço Aéreo RESULTADOS
Brasileiro, com medidas de
averiguação dos tráfegos aéreos Ao realizar um estudo sobre as
desconhecidos, conforme comentado Leis que têm relevância com o combate
na introdução do presente trabalho. ao tráfego aéreo desconhecido, para o
Nesse sentido, a “Lei do Abate” combate a voos ilícitos, observa-se um
preconiza as medidas de policiamento amadurecimento na regulação dos
aéreo da FAB, conforme Figura 1. termos normativos do Governo
Brasileiro. Observa-se, ainda, por meio
FIGURA 1 - MEDIDAS DE POLICIAMENTO do PPIF, política, estratégia e planos de
AÉREO DA FAB
inteligência a busca por reunir e
integrar os órgãos que possam
contribuir com informações de
inteligência sobre tal tema.
A Lei 7.565, a qual dispõe sobre
o Código Brasileiro de Aeronáutica,
promulgada em 1986 que trata do
FONTE: LEMOS, V. (2018).
Espaço Aéreo Brasileiro, do Tráfego
Aéreo, entre outros temas afins teve
De acordo com tais medidas de
que ser adaptada para o cumprimento
policiamento, os procedimentos a
legal dos procedimentos de
serem adotados pela aeronave
interceptação. A Lei 9.614, “Lei do
interceptadora dependerão da situação
Abate” decretada em 1998, até então
da aeronave, que é definida pelo órgão
não mencionava os procedimentos que
de controle de tráfego aéreo. Assim
deveriam ser seguidos pela autoridade
uma aeronave sofrerá um tiro de
aeronáutica ou estipulava metodologias
detenção somente ao ser considerada
procedimentos de Força Aérea.
“Hostil”.
O Decreto 5.144, de 16 de julho
de 2004, regulamentou a Lei 7.565,
detalhando as medidas de controle que
o Estado deveria adotar, faseando as
tarefas e dando responsabilidades e
tarefas para os agentes públicos

12
exercerem a atividade de policiamento problemática nacional de segurança
aéreo. pública e definindo a necessidade do
Em 2011, com o Decreto nº controle das fronteiras para evitar a
7.638 foi criado o Plano Estratégico de disseminação desses ilícitos através de
Fronteiras, com o qual surgiram as medidas de caráter estratégico.
Operações Ágata, visando o combate O Decreto nº 8.903, inseriu a
aos ilícitos na região de fronteira. Por Inteligência de Estado no contexto da
fim, em 2017 o Decreto nº 8.903 segurança das fronteiras, integrando os
instituiu o Programa de Proteção órgãos Federais, Estaduais e
Integrada de Fronteiras e organizou a Municipais. Assim, a atividade passou a
atuação de unidades da administração estar presente nos diversos níveis
pública para sua execução. (político, estratégico, operacional e
O PPIF trouxe a mesa de tático), atuando de maneira a levantar
negociação a atuação entre agências e conhecimento oportuno e preciso, com
órgãos internacionais de interesse para o objetivo de assessorar o decisor.
a troca de informações de Inteligência Neste escopo, o decisor poderá
sobre o tráfico internacional de drogas criar políticas públicas que possam
ocorrido pelas fronteiras brasileiras, mitigar o tráfico de ilícitos e outros
sob coordenação do GSIPR. Desta problemas sociais. Outro papel da
maneira, o Decreto nº 8.903 determinou inteligência é o de alimentar o nível
a gestão integrada entre os órgãos de operacional com o conhecimento
segurança pública, de inteligência, de necessário para que o nível tático
controle aduaneiro e das Forças possa combater as ações ilícitas,
Armadas, juntamente com as ações conforme ocorreu no contexto da Força
dos Estados e Municípios. Aérea Brasileira.
Outro aspecto a ser considerado Esse conjunto de ações do
é a PNI e consequentemente a ENINT, Estado brasileiro, culminou na
as quais trouxeram a cabo a adaptação da doutrina de preparo dos
implementação dos planos setoriais de meios de Força Aérea, visando o
inteligência, direcionando seus planejamento, a organização e
conhecimentos para matérias de articulação, a instrução e
combate ao narcotráfico nas fronteiras adestramento, o desenvolvimento de
brasileiras. Priorizando o combate aos pesquisas específicas, de inteligência e
crimes transnacionais como uma a estruturação da FAB para cumprir as

13
já citadas leis e políticas públicas, com Analisando a influência das
a finalidade de manter a soberania do políticas públicas no preparo dos meios
espaço aéreo e integrar o território de Força Aérea, de acordo com a Lei
nacional, com vistas à defesa da pátria. Complementar nº 117/04, visando o
O Código Brasileiro de cumprimento das missões de
Aeronáutica de 2004 foi regulamentado interceptação de trafego aéreo
no âmbito da Força, à nível de controle desconhecido observou-se que 56,85%
do espaço aéreo e procedimentos de da amostra concordam totalmente, e
interceptação, pela Instrução do somente 0,68% discordam totalmente,
Comando da Aeronáutica (ICA) 100-12, da metodologia de planejamento,
de 2016, o qual se reserva ao direito de organização, articulação, instrução e
interceptar qualquer aeronave, a adestramento, desenvolvimento de
critério dos órgãos de defesa aérea ou doutrina e pesquisas específicas,
das autoridades responsáveis pela inteligência e estruturação da dos
execução das missões de defesa esquadrões aéreos, conforme o Gráfico
aeroespacial. O referido documento foi 1. Considera-se, portanto, como
gerado por intermédios de doutrinas de relevante e adequado o preparo para
preparo de caráter sigiloso, as quais ações de combate a crimes
resguardam a salvaguarda transfronteiriços internacionais.
administrativa dos militares
empregados nas medidas de detecção
e interceptação de TAD.
Por intermédio de questionário,
que contou com uma amostra de 73
oficiais aviadores subalternos,
intermediários e superiores dos
esquadrões de caça responsáveis pelo
emprego das novas doutrinas de
atuação dos meios operacionais em
detrimento do tráfico aéreo ilícito, pôde-
se avaliar a relevância do preparo
destes militares para ações de combate
a atividades ilícitas e a crimes
transfronteiriços internacionais.

14
GRÁFICO 1 - A RELEVÂNCIA E A GRÁFICO 2 - A NECESSIDADE DE MEDIDAS
ADEQUABILIDADE DO PREPARO DE CONTRAINTELIGÊNCIA E NOVAS
POLÍTICAS PÚBLICAS

FONTE: OS AUTORES (2021).


FONTE: OS AUTORES (2021).

Ao opinarem sobre a
cooperação com os órgãos de Indagados sobre os métodos

segurança pública e de órgãos públicos previstos na ICA 100-12, em seu Anexo

com interesses afins e a falta de mais “D”, quanto aos procedimentos a serem

políticas públicas que aprimorem a imediatamente adotados durante a

metodologia, seja para salvaguarda interceptação e sobre a doutrina em

dos militares empregados vigor nas ações de detecção e

(contrainteligência), seja para identificação de aeronaves ilícitas,

cooperação entre os órgãos envolvidos visando o preparo para o emprego dos

observou-se que 56,2% concordam meios de Força Aérea, observou-se

que precisa melhorar, enquanto que que 58,22% da amostra concorda e

12,3% não concordam nem discordam 1,37% discordam que sobre a

as necessidades de melhoria, conforme praticabilidade e aceitabilidade do que

o Gráfico 2. O que leva a conclusão que está escrito e efetivamente é aplicado

as políticas públicas atuais não são em situação real, conforme o Gráfico 3.

suficientes para a proteção de pessoal O que leva a aceitar que os protocolos

e de material que trabalha diretamente atendem às necessidades para o

no emprego dos meios de combate ao emprego contra o combate a crimes

tráfego aéreo desconhecido na região transfronteiriços internacionais.

de fronteira.

15
GRÁFICO 3 - A PRATICABILIDADE E político, modificando sua Doutrina
ACEITABILIDADE DA DOUTRINA
operacional de interceptação de
aeronaves, visando atender às
determinações emanadas do nível
político, por meio de leis e programas,
os quais identificam uma política
pública voltada ao combate ao

FONTE: OS AUTORES (2021). narcotráfico. Sobre o preparo destes


meios, verificou-se que são relevantes
V- CONSIDERAÇÕES FINAIS e adequados as necessidades de
emprego dos meios aéreos. Também
Diante do exposto, chegou-se a foi possível verificar que a doutrina de
conclusão de que as novas Políticas preparo é praticável e aceitável em
Públicas contribuíram na termos de legislação para o
implementação de novas metodologias cumprimento das políticas públicas.
de produção de conhecimento de Porém ainda faltam políticas de
Inteligência visando o combate ao proteção e salvaguarda dos militares
tráfego aéreo ilícito. Além disso, o que participam destas ações, sejam
Estado Brasileiro promove a integração administrativas, sejam de
dos órgãos de inteligência com outros contrainteligência.
órgãos Federais, Estaduais e Por fim, mostrou-se que o
Municipais, os quais trabalham em trabalho de inteligência, dos órgãos do
conjunto, combatendo os crimes de Sistema Brasileiro de Inteligência, está
fronteira, dentre eles o tráfego aéreo presente nos diversos níveis, desde o
ilícito. político até o tático, dando as
Ao longo do trabalho, verificou- informações necessárias para dar
se a contribuição da Força Aérea subsídios à decisão de efetuar o tiro de
Brasileira nesta política pública, que é a detenção em uma aeronave
de manter o controle, a segurança e a classificada como hostil.
Soberania do Espaço Aéreo Brasileiro. Dessa maneira, este trabalho
Visando este objetivo, a FAB criou o contribuiu para a academia ao
Processo de Medidas de Policiamento caracterizar todo o processo que
Aéreo, alinhando-se com as envolve as políticas públicas voltadas
determinações emanadas do nível ao tema do voo ilícito, bem como

16
contribuiu para a sociedade ao 2014/2011/decreto/d7638.htm >.
Acesso em 20 de set. de 2021.
esclarecer que esta atividade oferece
uma segurança no Espaço Aéreo ________. Decreto nº 8.903, de 16 de
novembro de 2016. Institui o Programa
Brasileiro, onde milhares de usuários
de Proteção Integrada de Fronteiras e
estão presentes todos os dias. organiza a atuação de unidades da ad-
ministração pública federal para sua
execução. Brasília, DF. Disponível em:
REFERÊNCIAS < http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2015-2018/2016/de-
ALMEIDA, C. W. Política de defesa no creto/D8903.htm >. Acesso em 20 de
Brasil: considerações do ponto de vista set. de 2021.
das políticas públicas. Montevidéo,
Uruguai: Universidade de la empresa – ________. Força Aérea Brasileira.
UDE, 2010. (2018). DCA 11-45 CONCEPÇÃO ES-
TRATÉGICA FORÇA AÉREA 100
BRASIL. Agência Brasileira de Inteli- 2018. [s.l: s.n.]. Disponível em:
gência. Doutrina Nacional de Inteligên- https://www.fab.mil.br/Download/arqui-
cia: fundamentos doutrinários. Brasília, vos/DCA%2011-45_Concepcao_Estra-
DF, (2016). tegica_Forca_Aerea_100.pdf. Acesso
em: 22 set. 2021.
________. Constituição (1988). Consti-
tuição da República Federativa do Bra- ________. Estratégia Nacional de Inte-
sil. Brasília, DF. 1988. Disponível em: < ligência. Gabinete de Segurança Insti-
http://www.planalto.gov.br/cci- tucional. Brasília, 2017.
vil_03/constituicao/constituicao.htm >.
Acesso em: 19 set. 2021. ________. Lei nº 7.565, de 19 de de-
zembro de 1986. Código Brasileiro de
________. Decreto nº 5.144, de 16 de Aeronáutica. Brasília. Disponível em:
julho de 2004. Regulamenta os §§ 1º, <http://www.planalto.gov.br/cci-
2º e 3º do art. 303 da Lei nº 7.565, de vil_03/leis/l7565compilado.htm >.
19 de dezembro de 1986, que dispõe Acesso em: 20 de set. de 2021.
sobre o Código Brasileiro de Aeronáu-
tica, no que concerne às aeronaves ________. Lei nº 9.614, de 5 de março
hostis ou suspeitas de tráfico de sub- de 1998. Altera a Lei nº 7.565, de 19 de
tâncias entorpecentes e drogas afins. dezembro de 1986, para incluir hipó-
Brasília, DF. 2004. Disponível em: tese destruição de aeronave. Brasília,
<http://www.planalto.gov.br/cci- DF. Disponível em: <www.pla-
vil_03/_ato2004-2006/2004/de- nalto.gov.br>. Acesso em: 20 de set. de
creto/d5144.htm>. Acesso em 20 de 2021.
set. de 2021.
________. Lei Complementar No
________. Decreto nº 7.638, de 08 de 97/1999. Dispõe sobre as normas ge-
dezembro de 2011. Altera o Decreto nº rais para a organização, o preparo e o
7.496, de 8 de junho de 2011, que ins- emprego das Forças Armadas. Brasília,
titui o Plano Estratégco de Fronteiras. 1999. Disponível em: www.pla-
Brasília, DF. Disponível em: < nalto.gov.br/cci-
http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/leis/lcp/lcp97.htm. Acesso em:
vil_03/_ato2011- 20 de set. de 2021.

17
FIGUEIREDO, S. M. Operação Ágata: AUTORES
O Poder de Polícia das Forças Arma-
das. (2017). CORUMBÁ, MS, BRASIL.
2017. Disponível em:<
https://ppgefcpan.ufms.br/fi-
les/2018/03/SAFIRA.pdf>. Acesso em
04 nov 2021.

KENT, S. Informações Estratégicas.


(1967). Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército.

LEMOS, V. Perseguição, disparos,


pouso forçado: como são feitas inter-
ceptações de aviões suspeitos no céu O Cel Av José Augusto de Castro
do Brasil. 30/04/2018. Disponível em: Carvalho Júnior concluiu o CFOAV em
https://www.bbc.com/portuguese/bra- 1999 e possui graduação em Ciências
sil-43930386. Acesso em: 24 set 2021. Aeronáuticas e Administração pela
Academia da Força Aérea. É oriundo da
SOUZA, C. Políticas Públicas: uma re- Aviação de Patrulha Marítima, tendo
visão da literatura. Porto Alegre. 2006. servido em Belém/PA e em
Disponível em: < https://www.sci- Salvador/BA.
elo.br/j/soc/a/6YsWyBWZSdFg-
fSqDVQhc4jm/?format=pdf&lang=pt>. Contato: leonardoelps@fab.mil.br.
Acesso em: 04 nov 2021.

TRAUMANN, B. S. Folha de S.Paulo -


Fronteira: Espaço aéreo é invadido 228
vezes este ano - 01/09/2000. Disponí-
vel em: <https://www1.fo-
lha.uol.com.br/fsp/bra-
sil/fc0109200024.htm>. Acesso em: 23
set. 2021.

O Cel Inf Edson Leonardo Paulo da


Silva concluiu o CFOINF em 2000 e
possui graduação em Ciências Militares
e Administração pela Academia da
Força Aérea. Possui todos os cursos de
carreira e foi Comandante do Grupo de
Segurança e Defesa de Brasília no biê-
nio 2018/2020. Atualmente servindo no
Comando de Preparo.

Contato: leonardoelps@fab.mil.br.

18
A RESPONSABILIDADE DO NÍVEL TÁTICO NA OBTENÇÃO DO ESTADO FINAL
DESEJADO EM CONTRAINSURGÊNCIA

Ten Av Raul Feres Machado


Segundo Esquadrão do Terceiro Grupo de Avi-
ação (2º/3º GAV) Insurgência é definida como o
RESUMO uso de subversão e violência para obter
Este trabalho apresenta considerações sobre o
planejamento de operações aéreas em ambien- o controle político de um determinado
tes de contrainsurgência e demonstra como as setor, sobrepujando o governo central,
equipagens envolvidas nas missões nesse tipo
de ambiente precisam ter plena consciência legítimo (WASHINGTON, 2021). Para
das diretrizes emanadas pelo nível Político para
o cumprimento das ações de Força Aérea. Con- isso, ao tempo em que adota ações vi-
siste em uma síntese bibliográfica dos fatores a
serem considerados num planejamento de uma olentas, um grupo insurgente também
campanha aérea e na relação dos pilotos com
esses fatores, com vistas a alcançar um Estado precisa conquistar o apoio dos morado-
Final Desejado. Ao final, apresenta uma suges- res da região, mediante prestação de
tão de incremento na atenção a esses fatores
em todos os voos, e não apenas nos exercícios serviços, fornecimento de alimentos
que visam à preparação para atuação em con-
trainsurgência. Sua relevância se dá pelo cres- etc. Sua atuação, muitas vezes, tende
cente interesse, na FAB, pela preparação dos
militares para atuação em ambiente de guerra a levar ao emprego do poder militar do
irregular.
próprio país ou de uma força multinaci-
Palavras-Chave: Estado Final Desejado; Pla- onal visando a restabelecer a autori-
nejamento; Contrainsurgência; Dano Colateral.
dade legítima e eliminar a ameaça.
THE RESPONSIBILITY OF THE TACTICAL
LEVEL IN OBTAINING THE DESIRED END Contudo, o enfrentamento deve ser
STATE IN COUNTERINSURGENCY
feito com nível adequado de cautela, a
ABSTRACT
This paper presents considerations about the
fim de preservar a integridade de pes-
planning of air operations in counterinsurgency soas e propriedades, sob pena de
environments and demonstrates how the crews
involved in missions in this type of environment perda do apoio popular, sem o qual a
need to be fully aware of the guidelines issued
by the Political level for the fulfillment of Air vitória se torna mais difícil (CRANE,
Force actions. It consists of a bibliographical
synthesis of the factors to be considered in the 2011). Por esse motivo, a preocupação
planning of an air campaign and the relationship
of pilots with these factors, in order to reaching com fatores como Regras de Engaja-
a Desired End State. At the end, it presents a mento (Rules of Engagement – ROE) e
suggestion of increasing attention to them in all
flights, and not just in exercises that aim to pre- Estimativa de Danos Colaterais (Cola-
pare for acting in counterinsurgency. Its rele-
vance is given by the growing interest, in the teral Damage Estimative – CDE) as-
Brazilian Air Force, in the preparation of the mil-
itary to work in irregular warfare environment. sume um papel ainda mais preponde-

Keywords: Desired End State; Planning; Coun-


rante do que em conflitos regulares. A
terinsurgency; Colateral Damage. não observância das ROE e a falha na
I - INTRODUÇÃO
avaliação de CDE têm o potencial de
19
fazer o Estado perder a legitimidade em emprego de armamento aéreo, a fim de
conduzir aquela operação (CRANE, minimizar perdas de vidas inocentes e
2011). não causar prejuízos à infraestrutura lo-
O Manual de Planejamento e cal, como pontes, depósitos de água,
Condução de Operações Aéreas (MCA subestações de energia etc. O ataque
55-84, de 2019) apresenta diversos fa- a esses tipos de local, ainda que não
tores a serem considerados quando do proibido, provavelmente seria restrito a
planejamento de uma campanha aérea. situações de maior necessidade, a fim
Entre eles, e considerando escopo de evitar a perda do apoio daquela po-
deste trabalho, sobressaem-se (BRA- pulação pelo desconforto criado. Dire-
SIL, 2019): tamente ligado a isso estaria a seleção
1) Estado Final Desejado (EFD): dos alvos: seriam atacados, sempre, al-
uma situação política ou militar favorá- vos que contribuíssem para a obtenção
vel após o término da operação; e de um efeito desejado específico e,
2) Efeitos Desejados: o que se quase sempre, que apresentassem
espera da realização de uma missão. uma CDE baixa, principalmente se o ar-
A necessidade de as equipagens mamento utilizado fosse não-guiado.
terem bem definidos esses dois últimos Até aqui, estão sendo abordados
conceitos, e conhecê-los em conjunção os níveis Político e Estratégico, onde o
com as ROE e CDE cabíveis, será dis- EFD e as ROE são estabelecidos. Po-
cutida nos itens seguintes. rém, é na ponta da lança, nas equipa-
gens dos diversos projetos cumprindo
II - DEFINIÇÃO DOS FATORES as variadas ações, que as diretrizes se-
rão de fato postas em prática. Se as tri-
Pelos pontos apresentados no pulações não as tiverem bem assimila-
item anterior, e considerando uma ope- das, falhas de julgamento diversas po-
ração de contrainsurgência a ser de- derão ocorrer e gerar situações desfa-
sencadeada, pode-se inferir que o EFD voráveis à consecução do EFD.
político seria a população local apoi- III - APLICAÇÃO NO NÍVEL TÁTICO
ando o governo legítimo, que interveio
com sua força militar para restaurar a A importância da compreensão
normalidade na região. Seguindo essa plena, em nível tático, das ROE em vi-
lógica, também se pode inferir que as gor, bem como a consciência do EFD
ROE imporiam algumas restrições ao político se dá, com ainda mais

20
importância, em missões cujos possí- 3) Se sim, posso mitigar esse
veis alvos não passaram pelo ciclo de- risco alterando o armamento utilizado,
liberado de planejamento, em que são o eixo ou algum outro parâmetro?
priorizados e estudados com antece- 4) Se não, quantos não-comba-
dência por especialistas, que são capa- tentes eu vou ferir ou matar com esse
zes de definir os melhores parâmetros ataque?
para o emprego do armamento e as 5) O ganho militar será proporci-
restrições aplicáveis a fim de se minimi- onal? Pelas ROE em vigor, eu preciso
zar os danos colaterais. Missões que solicitar autorização a alguém para efe-
envolvem alvos cujo planejamento pré- tuar o ataque nessa condição?
vio não ocorreu incluem, por exemplo, Uma situação com repercussão
Apoio Aéreo Aproximado (ApAA) e Re- negativa no nível político por falha na
conhecimento Armado (Rec A). Nelas, PID ocorreu no Kosovo, por ocasião da
os pilotos só têm contato com os alvos Operação Allied Force, no dia 14 de
quando na Área de Operações (AO), e abril de 1999. Nesse dia, uma aeronave
precisam estar cientes de todas as res- da OTAN erroneamente identificou um
trições aplicáveis, bem como conhecer comboio civil como sendo de veículos
as características de suas próprias ar- sérvios e o atacou, gerando mortes de
mas, a fim de empregarem-nas com inocentes e repercussão negativa na
maior eficiência. Nesse contexto, deve- mídia. Paradoxalmente, um dos moti-
se frisar a necessidade de uma correta vos na falha de PID foi uma ROE que,
identificação positiva do alvo (Positive para proteger as aeronaves de amea-
Identification – PID). Antes de empre- ças superfície-ar, limitava a altura mí-
gar um armamento, o piloto deve se nima até onde elas podiam descer, o
questionar (BÉLGICA, 2019): que dificultava a identificação correta
1) Consigo identificar correta- de possíveis alvos. Após o ocorrido, as
mente o alvo que irei atacar (por exem- aeronaves foram autorizadas a descer
plo, por ter sido informado por outra ae- até menor altura durante o processo de
ronave)? identificação dos objetivos (HAAVE,
2) Há bens protegidos, não-com- 1999). Ainda que não tenha sido um
batentes sendo utilizados como escu- conflito contra insurgentes per se, essa
dos humanos ou inocentes que podem situação em específico é demonstrativa
ser afetados pelo raio letal do arma- da importância das ROE e do impacto
mento que irei utilizar?

21
político que pode ser causado por um
único ataque mal sucedido. O trabalho apresentou as medi-
As prescrições citadas anterior- das que podem ser adotadas no nível
mente, presentes no manual de Interdi- Político para diminuir a probabilidade
ção Aérea da Organização do Tratado de perda de apoio popular quando do
do Atlântico Norte (OTAN), e o relato da transcurso de operações de contrain-
situação ocorrida no Kosovo, com a surgência e relacionou a necessidade
consequente alteração de ROE para de os pilotos, que estão no nível tático,
evitar novos danos à imagem da força compreenderem-nas e aplicarem-nas
de intervenção, demonstram a impor- com rigor. Foi demonstrado, por meio
tância que se dá ao estabelecimento de de uma citação de um manual da OTAN
mentalidade, nas equipagens, de sem- e do relato de um caso real de dano co-
pre raciocinar com efeitos desejados, lateral decorrente de incorreta PID,
ROE, danos colaterais e o Estado Final como o assunto em tela é relevante
Desejado antes de efetuar um ataque. para as operações militares, e como um
Um piloto sozinho em sua nacele tem o único militar, em sua aeronave, pode
potencial de causar sérios danos à ima- comprometer todo um esforço para
gem de um governo legítimo e compro- manter o apoio popular a uma operação
meter a obtenção de um EFD se não específica.
dispensar a atenção devida ao cumpri-
mento das regras estabelecidas.
Por isso, faz-se mister que todas
as unidades estimulem, em seus pilo-
tos, o raciocínio contínuo com ROE,
CDE, efeitos desejados e EFD, em
cada emprego real ou simulado de ar-
mamento. Deixar essa preocupação
apenas para exercícios de maior vulto
pode levar a erros em uma situação real
devido à não massificação de procedi-
mentos que podem ser treinados no
dia-a-dia.

IV - CONCLUSÃO

22
REFERÊNCIAS AUTOR

BÉLGICA. Allied Tactical Publication.


North Atlantic Treaty Organization. Tac-
tics, Techniques and Procedures for
Close Air Support and Air Interdic-
tion: ATTP 3.3.2.1 [Bruxelas], 2019.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Es-


tado-Maior da Aeronáutica. Manual de
Planejamento e Condução de Opera-
ções Aéreas: MCA 55-84. [Brasília],
2019.

CRANE, Conrad C. Princípios e Impe- O 1º Ten Av Raul Feres Machado con-


rativos do Combate a Insurgências. Air cluiu o CFOAv em 2014. Possui espe-
& Space Power Journal, Maxwell cialização em Análise de Ambiente Ele-
AFB, n. 1, p. 81-88, 2008. tromagnético pelo Instituto Tecnológico
da Aeronáutica (2019). Atualmente é
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. De- Oficial Adjunto à Seção de Avaliação e
partament of Defense. Dictionary of Doutrina e à Assessoria de Inteligência
Military and Associeted Terms: da Base Aérea de Porto Velho.
[Washington], 2021.
Contato: raulrfm@fab.mil.br /
HAAVE, Christopher E.; HAUN, Phil M. (22) 98826-7037.
A-10 OVER KOSOVO. 1. Ed. Maxwell
Air Force Base: AU Press, 2003.

23
METEOR RAMJET: UM ESTUDO EM FONTES ABERTAS SOBRE AS CARACTE-
RÍSTICAS PROPULSIVAS DO MÍSSIL DO F-39 GRIPEN

Ten Av Matheus Becker Motta NG, focusing on its propulsive system. To


Segundo Esquadrão do Terceiro Grupo de Avi- achieve this goal, data related to Meteor® re-
ação (2º/3º GAV) leased by the manufacturing companies were
first researched. The knowledge gathered in
RESUMO this initial study served as a basis for further re-
Em 2014, o Brasil adquiriu 36 aeronaves de search through bibliographies on propulsion
caça Gripen NG, sendo um dos grandes dife- and weapons systems. In this way, it was pos-
renciais desse vetor aéreo a possibilidade de sible to expand the knowledge about Meteor®,
empregar o míssil Meteor® da empresa MBDA. generating results that can be used both in the
Esse armamento se caracteriza como uma tec- operational and scientific scopes.
nologia disruptiva dentro de sua classe, mísseis
para combate ar-ar além do alcance visual, pois Keywords: Meteor; Ramjet; Gripen; Weapons
combina um motor foguete com um motor Systems.
ramjet, arranjo que lhe confere alcance superior
aos demais concorrentes. Contudo a aquisição
é apenas parte do processo. Para operar com I - INTRODUÇÃO
máximo aproveitamento as novas tecnologias
que estão sendo adquiridas, a Força Aérea Bra-
sileira (FAB) precisa se dedicar a 24onhece-las.
Portanto, esse artigo estudou as características
Em 24 de outubro de 2014, a
do míssil empregado pelo Gripen NG, focando Força Aérea Brasileira assinou contrato
em seu sistema propulsivo. Para atingir esse
fim, pesquisou-se, primeiramente, dados relaci- com a empresa sueca SAAB® para a
onados ao Meteor® divulgados pelas empresas
fabricantes do armamento. Os conhecimentos compra de 36 aeronaves Gripen NG®,
levantados nesse estudo inicial serviram de
base para um aprofundamento da pesquisa designadas atualmente como F-39
através de bibliografias das áreas de propulsão
e sistemas de armas. Dessa forma, foi possível (BRASIL, 2014). Essa aquisição colo-
ampliar o conhecimento a respeito do Meteor®, cou o Brasil dentre o rol de países de-
gerando resultados que podem ser utilizados
tanto no âmbito operacional, quanto científico. tentores de caças da chamada geração
Palavras-Chave: Meteor; Ramjet; Gripen; Sis- 4.5, os quais possuem semelhanças,
temas de Armas.
em termos aerodinâmicos, com aerona-
METEOR RAMJET: AN OPEN-SOURCE
STUDY ON THE PROPULSIVE CHARACTER-
ves desenvolvidas nas décadas de 70
ISTICS OF THE F-39 GRIPEN MISSILE e 80, mas incorporam tecnologias de
ABSTRACT ponta no que tange aos sistemas em-
In 2014, Brazil acquired 36 Gripen NG®. One of
the great qualities of this aircraft is the possibil- barcados (FERREIRA, 2016). Contudo,
ity of using the Meteor® missile from the
MBDA® company. This armament is character- a aeronave é apenas a plataforma de
ized as a disruptive technology within its class,
the beyond-visual-range air-to-air missile. It armas e, por melhor que seja o seu de-
combines a rocket engine with a ramjet engine sempenho e a sua aviônica, ela de-
and therefore has a longer range than its com-
petitors. However, the acquisition is only part of pende da qualidade de seus armamen-
the process. In order to make the most of the
new technologies being acquired, the Brazilian tos para maximizar a eficácia e a efici-
Air Force needs to be dedicated to getting to
know them. Therefore, this article studied the ência de seu emprego operacional.
characteristics of the missile used by the Gripen

24
Dentro desse escopo, o F-39 determina que as compras realizadas
conta com a possibilidade de empregar pelas Forças Armadas com valor lí-
os mísseis Meteor®, da empresa multi- quido acima de cinco milhões de dóla-
nacional MBDA® (SAAB, 2020). Esse res americanos devem incluir um
armamento é utilizado no combate ar- Acordo de Compensação. (BRASIL,
ar além do alcance visual (BVR) e, 2002)
nessa categoria, pode ser considerado Portanto, as aquisições que es-
como uma tecnologia disruptiva. Seu tão sendo realizadas atendem a essa
principal diferencial é a combinação de legislação e uma das contrapartidas
um motor foguete com um motor exigidas é a transferência de tecnolo-
ramjet, os quais lhe conferem um al- gia. Entretanto, esse processo de
cance superior aos demais BVRAAM aprendizagem através dos contratos
(beyond-visual-range air-to-air missile), com empresas estrangeiras, especial-
como o AIM-120, americano, e o Derby, mente quando se trata de equipamen-
israelense. (MBDA, 2018) tos de defesa, é bastante complexo. Ele
Sob a perspectiva do que foi ex- depende de fatores que envolvem a
posto, pode-se dizer que o sistema de cultura local, bem como a capacidade
armas — combinação de aeronave, ar- técnica e o conhecimento previamente
mamentos e equipamentos — que está estabelecidos no país. Ademais, está
sendo adquirido pelo Brasil, coloca o sujeito a interesses no âmbito da polí-
país em outro patamar no campo da tica internacional, por se tratar de maté-
guerra aérea. Contudo, a aquisição é ria sensível à segurança nacional de
apenas uma parte do processo, a ope- outros países. (ROSSI, 2014)
ração do avião em toda sua capacidade Dessa forma, baseado no que foi
é um desafio enorme que se apresenta apresentado, o objetivo da pesquisa em
no horizonte e, para superá-lo, um pauta foi combinar dados obtidos em
ponto fundamental é o conhecimento fontes abertas com fundamentos teóri-
sobre o que foi comprado. cos da área de armamentos e propul-
Analisando mais a fundo esse são, a fim de ampliar o conhecimento
aspecto, constata-se que a Força Aé- da Força Aérea Brasileira sobre o míssil
rea Brasileira conduziu os contratos re- Meteor®. Em especial, no que tange
lacionados ao GRIPEN NG® à luz do ao seu sistema propulsivo, o qual cons-
que prevê a Portaria Normativa N° titui-se como um diferencial desse ar-
764/MD em seu artigo 8. O qual mamento.

25
II - FASES DA PESQUISA Segundo a MBDA (2018), o Me-
teor® faz parte da nova geração de
Por se tratar de uma tecnologia BVRAAM, tendo sido projetado com o
inovadora dentro de seu nicho de em- objetivo de revolucionar o combate ar-
prego, consequentemente, as informa- ar do século 21. Para tanto, ele é equi-
ções disponíveis em fontes abertas a pado com um seeker radar ativo, possui
seu respeito são escassas. capacidade de data-link, pode ser lan-
çado a partir de trilhos ou de pilones de
FIGURA 1 - MBDA METEOR®
ejeção e conta com uma cabeça de
guerra de fragmentação que pode ser
ativada pelas suas espoletas de proxi-
midade e de impacto. No que tange às
suas dimensões, ele possui 3,7 metros
de comprimento, 0,178 metro de diâ-
metro e uma massa de 190 quilogra-
mas.
O sistema propulsivo é baseado
FONTE: MBDA (2018). na combinação entre um motor de ace-
leração do tipo foguete e outro de sus-
Dessa forma, a pesquisa sobre
tentação do tipo ramjet. Sendo que o
as suas características se dividiu em
primeiro, responsável por levar o míssil
duas fases. Primeiro, coletou-se dados
até as velocidades supersônicas, está
nos canais oficiais das empresas liga-
instalado na configuração denominada
das ao míssil. Posteriormente, a se-
integral (integral rocket booster). (BA-
gunda fase aprofundou essas informa-
YERN-CHEMIE, [s.d.]). No que tange
ções através de pesquisas em literatura
ao combustível da fase sustentadora,
que não tinham ligação direta com o
sabe-se que possui boro em sua com-
Meteor®, mas abordavam, em caráter
posição e é introduzido na câmara de
mais geral, aspectos técnicos que po-
combustão por um gerador de gases, o
dem estar associados a esse arma-
qual possui uma válvula reguladora.
mento.
Dessa forma, é possível controlar a va-
III - INFORMAÇÕES DISPONIBILIZA-
zão de propelente, a razão entre a
DAS EM CANAIS OFICIAIS
quantidade de ar e de combustível na

26
câmara de combustão e, consequente- câmara de combustão e a tubeira
mente, o empuxo. (MBDA, 2014) (AVERY, 1955).
Em termos de desempenho, o al- Segundo NASA ([s.d]), em velo-
cance é declarado como sendo maior cidades supersônicas, o ramjet admite
que 100 quilômetros e a velocidade má- uma grande quantidade de ar. Esse flu-
xima superior a Mach 4.0. Com relação ido é desacelerado pelas ondas de cho-
às plataformas de lançamento, o Me- que geradas na entrada de ar até o re-
teor® prevê integração com as aerona- gime subsônico, resultando em um
ves JAS Gripen®, EF Typhoon®, Das- grande aumento de pressão. Depois,
sault Rafale® e F-35 Joint Strike Fi- na câmara de combustão, ele é mistu-
ghter. (SAAB, [s.d.]) rado ao combustível e ignizado. Final-
mente, a tubeira expele os gases quen-
IV - INFORMAÇÕES DEDUZIDAS tes, produzindo o empuxo. O fluxo más-
ATRAVÉS DE PESQUISA BIBLIO- sico de saída não se diferencia muito do
GRÁFICA fluxo mássico de entrada, pois a quan-
tidade de combustível introduzida é pe-
Uma vez esgotadas as informa- quena. Em um motor típico, aproxima-
ções de fontes vinculadas às empresas damente 45 quilogramas de ar por se-
fabricantes, buscou-se complementar gundo são misturados a 0,9 quilograma
esses dados através de pesquisa bibli- de combustível por segundo e, por-
ográfica. Para isso, iniciou-se pelo sis- tanto, a geração de empuxo se dá, prin-
tema propulsivo, foco principal desse cipalmente, pela diferença entre a velo-
artigo. cidade do jato de fluido expelido pelo
Conforme mencionado, o Me- motor em relação a velocidade do ar cir-
teor® conta um motor de sustentação cundante. Conforme pode ser consta-
tipo ramjet. Essa categoria de propulsor tado em (1).
é bastante simples em termos de de-
sign, pois, por depender somente do (1
seu movimento para frente para gerar a )
compressão na entrada de ar, não pos-
sui partes móveis. Seus principais com- Sendo o empuxo gerado, é
ponentes são as entradas de ar, o sis- o fluxo mássico de saída, é a veloci-
tema de injeção de combustível, a dade de saída, é o fluxo mássico de
ar circundante admitido pelo motor,

27
é a velocidade do fluxo livre, é a pres- quanto oblíquas. (SEDDON e GOL-
são de saída, é a pressão do fluxo de DSMITH, 1985)
ar livre e é a área externa da tubeira.
FIGURA 2 - COMPRESSÃO EXTERNA E
Grande parte dos fenômenos
MISTA
que diferenciam um ramjet se dá nas
entradas de ar ou intakes, pois ali
ocorre a compressão do ar, a qual seria
realizada através de partes móveis,
como os compressores, em um motor
aeronáutico convencional. Portanto, um
ramjet necessita de uma velocidade ini-
cial para seu funcionamento e não é efi-
ciente em velocidades subsônicas,
FONTE: ADAPTADO DE SEDDON E GOL-
tendo em vista que que o processo de
DSMITH (2018).
compressão do ar decorre da presença
de ondas de choque. Assim, sua opera- Tendo por base a informação da
ção passa a ser competitiva em relação empresa fabricante que o Meteor® é
a outros tipos de propulsão a jato em capaz de operar em velocidades supe-
termos de consumo de combustível riores a Mach 4, vê-se em Mattingly
versus desempenho, a partir de Mach (2006), que o sistema de compressão
2.5. Melhorando com o aumento da ve- mista é o mais indicado para esse re-
locidade até um limite que fica entre gime de desempenho. Mais especifica-
Mach 4 e Mach 8, normalmente pró- mente, o autor pontua que, a partir de
ximo de Mach 5,5. (EL-SAYED, 2016) Mach 2.5, a compressão mista é mais
Em termos de características ge- indicada. Isso se justifica, pois, dessa
ométricas, as entradas de ar devem ser condição de voo em diante, tal configu-
projetadas para que seja gerado um ração apresenta uma relação mais van-
sistema de ondas de choque capaz de tajosa entre a taxa de recuperação de
produzir as taxas de compressão ne- pressão e o arrasto produzido pelos fe-
cessárias à operação do motor. Esses nômenos de compressão ocorrem no
sistemas podem ser de compressão ex- intake.
terna ou mista e as ondas de choque Quanto à câmara de combustão,
produzidas podem ser tanto normais, Fleeman (2006), apresenta diferentes
configurações possíveis para um

28
ramjet. Contudo, uma delas se destaca, combustível líquido. Logo, torna-se
por possuir características compatíveis adequado para a propulsão de mísseis.
com as informações divulgadas pela (PETTERS e LEINGANG, 1996).
empresa fabricante do míssil. Trata-se Besser (2008), por sua vez, ao
do chamado ducted rocket, sistema que abordar o histórico de desenvolvimento
consiste em um gerador de gases res- de ducted rockets pela empresa MBDA,
ponsável por fornecer ao ramjet uma confirma a motorização do Meteor®
composição rica em combustível, a como sendo desse tipo específico.
qual é então ignizada na câmara de Além disso, pontua outras característi-
combustão em mistura com o ar. Além cas, como o casco do motor em aço
disso, esse fluxo oriundo do gerador de inoxidável de alta resistência e a pre-
gases pode ser regulado, conferindo ao sença de boro na composição química
motor o controle de empuxo. Por fim, do combustível.
ele acrescenta que o intervalo de ope- Quanto ao motor de aceleração,
ração mais eficiente dessa configura- responsável por levar o míssil até as ve-
ção, em termos de velocidade, é entre locidades em que o ramjet torna-se efi-
Mach 2,5 e 4,0. ciente, Fleeman (2006) define a confi-
guração integral, como sendo aquela
FIGURA 3 - DESENHO ESQUEMÁTICO DE em que o motor de aceleração compar-
UM DUCTER ROCKET
tilha a câmara de combustão com o
ramjet. Ou seja, o estágio inicial de fun-
cionamento do sistema propulsivo é
idêntico a um motor foguete, cujo pro-
pelente está armazenado e é consu-
mido na própria câmara de combustão
do ramjet. Tal arranjo apresenta como
vantagens valores reduzidos de ar-
FONTE: ADAPTADO DE PETTERS E LEIN-
GANG (1996). rasto, diâmetro, volume e massa do
conjunto motopropulsor em relação às
Ademais, o sistema propulsivo suas alternativas, nas quais o booster é
ducted rocket combina a robustez dos levado de maneira anexa.
ramjets que operam com propelente só- Sobre a composição do prope-
lido e a capacidade de controle de em- lente, Hashim, et al (2019) descrevem o
puxo daqueles que possuem boro com um combustível metálico que

29
possui um calor de combustão que é Por fim, a opção por utilizar um
superior ao dos seus semelhantes, motor ramjet, diferenciando-se dos
como o magnésio e o alumínio, per- principais mísseis BVR existentes, gera
dendo apenas para o berílio, que não impactos também em outras caracterís-
tem uso prático por conta de sua toxici- ticas e outros sistemas do Meteor®.
dade. Contudo, também apresenta de- No que tange aos aspectos ae-
safios em sua combustão, perpetuando rodinâmicos, segundo Anderson
assim as pesquisas sobre o assunto. A (2015), as forças experimentadas por
problemática reside no fato de que, na um corpo em movimento imerso em um
fase inicial da queima, forma-se uma campo de escoamento são fruto das
camada de óxido de boro sobre as par- distribuições de pressão e de tensão de
tículas do metal, a qual precisa ser re- cisalhamento por toda a sua superfície.
movida para que então ocorra a com- Por definição, a força de sustentação é
bustão. Essa primeira etapa é cha- perpendicular ao vetor velocidade do
mada, na literatura, de estágio de igni- escoamento não perturbado e de ar-
ção, atraso de ignição ou pré-combus- rasto, paralela ao mesmo. Tratando-se
tão e, por conta dela, há uma redução de mísseis, Fleeman (2006), estabe-
da velocidade de reação que gera uma lece que o arrasto é o fator aerodinâ-
queda na performance do boro como mico que mais interfere no alcance, es-
combustível. Tem-se buscado, ao pecialmente em regimes supersônicos,
longo do tempo, diversas formas para e ele pode ser mitigado através da re-
contornar tal percalço e melhorar a qua- dução do diâmetro. Destarte, a maioria
lidade dos combustíveis com boro. Al- dos mísseis táticos possui a razão entre
guma das possibilidades propostas são comprimento e diâmetro (razão l/d) os-
a utilização de aditivos, como o magné- cilando entre 5 e 25. Sendo esse o caso
sio, a realização da combustão em dos BVRAAM, o AIM-120, por exemplo,
duas etapas, a presença de pós-com- possui razão l/d de 20,5, bastante se-
bustor e a redução da granulometria melhante à do Meteor®, que vale 20,8.
das partículas. Nesse sentido, é possí- Outro aspecto aerodinâmico que
vel identificar no Meteor® a combustão pode ser depreendido das informações
em duas etapas, tendo em vista que disponíveis em fontes abertas é o tipo
ocorre uma primeira queima no gerador de controle aerodinâmico. A partir de
de gases e a mistura produzida é nova- fotos do míssil, é possível perceber que
mente ignizada no ramjet. todas as suas superfícies de controle

30
estão posicionadas na cauda, portanto, mísseis com entrada de ar, pois as evo-
atrás do centro de gravidade, configu- luções são executadas com menores
rando o que é chamado na literatura de ângulos de derrapagem, característica
tail control ou controle por empenas. As que é positiva para a estabilidade do
vantagens apresentadas por esse tipo escoamento nos intakes.
de configuração se dão pela necessi- Por outro lado, o bank-to-turn
dade de atuadores de torque menores, apresenta uma resposta aos comandos
devido aos ângulos de ataque locais mais lenta, o que pode ser prejudicial
nas superfícies serem pequenos; pela na fase terminal de voo e aumentar a
redução do momento induzido de rola- distância de passagem para o alvo, cri-
mento, resultado dos vórtices formados tério que, juntamente com as caracte-
atrás do míssil pela deflexão das empe- rísticas da cabeça de guerra, influencia
nas, e por uma boa eficiência em altos na letalidade do míssil. Tal deficiência
ângulos de ataque (FLEEMAN, 2006). pode ser resolvida pela utilização de
Quanto à manobrabilidade, Flee- atuadores de rolamento mais ágeis,
man (2006) estabelece que mísseis melhorias no sistema de guiamento e
que possuem entradas de ar, sejam alteração do modo de manobra para
elas simples ou duplas, geralmente, skid-to-turn na fase terminal. Sendo
evoluem através de manobras do tipo essa última, a modalidade em que o
bank-to-turn (BTT) e, portanto, indica míssil aponta para a direção desejada
que o Meteor® se enquadra nessa con- em um só movimento.
dição. Esse tipo de manobrabilidade Com as informações disponíveis
modifica a trajetória em duas etapas. sobre o Meteor® e especialmente pelo
Primeiro, o míssil rola em torno do seu fato dele ser um BVRAAM, podendo ser
eixo longitudinal até que seu eixo prin- empregado contra aeronaves de caça
cipal de sustentação aponte na direção com grande manobrabilidade, a ten-
do movimento requerido. Depois, atra- dência é que ele alterne seu modo de
vés da modificação do ângulo de ata- manobra para skid-to-turn na fase ter-
que, é imprimida a força necessária minal do engajamento.
para realizar a manobra. Em resumo,
V - CONCLUSÃO
tal modalidade se assemelha ao voo de
um avião. Em termos de vantagens e
A aquisição do Gripen NG repre-
desvantagens, o autor destaca que o
senta um salto de tecnologia para a
BTT provê maior manobrabilidade para

31
Força Aérea Brasileira, porém não se a taxa de recuperação de pressão e o
trata apenas da aeronave, os arma- arrasto produzido pela compressão.
mentos que ela é capaz de empregar Quanto à estrutura de seu pro-
também estão entre os mais modernos pulsor, tem-se um tipo específico de
de suas classes. Destarte, é fundamen- ramjet denominado ducted rocket. O
tal que a instituição se dedique a anga- qual combina um gerador de gases
riar conhecimento sobre suas novas com a câmara de combustão convenci-
aquisições, pois somente assim será onal de um ramjet. Esse esquema pos-
possível aproveitá-las ao máximo. sui como qualidades, a robustez ele-
Dentro desse cenário, a pes- vada e a capacidade de controle de em-
quisa em pauta teve como foco princi- puxo.
pal a busca por informações em fontes No que tange ao motor de acele-
abertas sobre o míssil MBDA Meteor®, ração, foi adotado o modelo integral.
especialmente no que tange ao seu sis- Onde o combustível sólido do booster é
tema propulsivo. Para atingir tal obje- armazenado e consumido na mesma
tivo, cumpriu-se duas etapas, primeira- câmara de combustão do motor de sus-
mente, coletou-se dados oriundos dire- tentação. Reduzindo assim o arrasto,
tamente das empresas fabricantes. diâmetro, volume e a massa do con-
Posteriormente, complementou-se es- junto motopropulsor.
sas informações através de pesquisas Em termos de composição do
bibliográficas em literatura da área de propelente, a presença de boro se jus-
propulsão e sistemas de armas. Dessa tifica pelo alto calor de combustão
forma, pode-se agora descrever esse desse metal. Por outro lado, o atraso de
armamento com maior detalhamento. ignição desse combustível se constitui
Trata-se de um míssil BVR de como uma problemática que, até hoje,
longo alcance e que opera em velocida- é fruto de pesquisas científicas. Porém,
des supersônicas que podem superar é possível perceber no Meteor®, a
Mach 4. Portanto, as entradas de ar do queima em duas etapas em seu ducted
seu motor ramjet devem operar em um rocket, medida apontada na literatura
sistema de compressão mista de ondas como mitigadora para a dificuldade
de choque. Tendo em vista que, acima mencionada.
de Mach 2.5, essa configuração apre- Por fim, quanto aos aspectos ae-
senta uma relação mais vantajosa entre rodinâmicos e de controle. Pode-se
constatar visualmente, a presença de

32
controle por empenas e razão l/d ele- EL-SAYED, A. F. Fundamentals of
Aircraft and Rocket Propulsion. 1ª.
vada. Ademais, a existência das entra-
Ed. Londres: Springer, 2016.
das de ar, indica a utilização de mano-
FERREIRA, M. J. B. Plataforma
bras do tipo bank-to-turn. As quais con-
Aeronáutica Militar. In: NEGRETE, C.
tribuem para a estabilidade do fluxo de A., et al. Mapeamento da Base
Industrial de Defesa. Brasília: Instituto
ar nos intakes. Contudo, pela resposta
de Pesquisa Econômica Aplicada,
de comandos mais lenta e a necessi- 2016. Cap. 6, p. 399-508.
dade do Meteor® engajar alvos com
FLEEMAN, E. L. Tactical Missile
grande manobrabilidade, essa solução Design. 2ª. Ed. Reston: American
Institute of Aeronautics and
provavelmente é alterada para skid-to-
Astronautics, 2006.
turn na fase final do engajamento.
HASHIM, S. A. et al. Experimental
observation anda characterization of B-
REFERÊNCIAS
HTPB-based solid fuel with addition of
iron particles for hybrid gas generator in
ANDERSON, J. D. Fundamentos de
ducted rocket applications.
Engenharia Aeronáutica. 7ª. Ed.
Propellants, Explosives,
Porto Alegre: AMGH, 2015.
Pyrotechnics, Weinheim, 2019.
AVERY, W. H. Twenty-Five Years of
MATTINGLY, J. D. Elements of
Ramjet Development. Journal of Jet
propulsion: gas turbines and rockets.
Propulsion, v. 25, n. 11, p. 604-614,
2ª. Ed. Reston: AIAA, 2006.
Novembro 1955.
MBDA. Preview of MBDA Meteor
BAYERN-CHEMIE. Bayern-Chemie
missile in the Farnborough air show.
projects. Site da Bayern-Chemie,
Site da MBDA missile systems, 2014.
[s.d.]. Disponivel em: <https://bayern-
Disponivel em:
chemie.com/projects/>. Acesso em: 18
<https://mbdainc.com/farnborough-air-
jul. 2021.
show-preview-mbdas-meteor-cruise-
BRASIL. Portaria Normativa N°
missiles/>. Acesso em: 22 jul. 2021.
764/MD de 27 de dezembro de 2002.
MBDA. Meteor datasheet. Site da
Brasília: Diário Oficial da União, 2002.
MBDA, 2018. Disponivel em:
<https://www.mbda-
BRASIL. Brasil assina contrato para
systems.com/product/meteor/>.
aquisição de 36 caças Gripen NG.
Acesso em: 18 jul. 2021.
Site da Força Aérea Brasileira, 2014.
Disponivel em:
NASA. Ramjet and Scramjet Thrust.
<https://www.fab.mil.br/noticias/mostra
Site da National Aeronautics and Space
/20483/REAPARELHAMENTO---
Administration, [s.d]. Disponivel em:
Brasil-assina-contrato-para-
<https://www.grc.nasa.gov/www/k-
aquisi%C3%A7%C3%A3o-de-36-
12/airplane/ramth.html>. Acesso em:
ca%C3%A7as-Gripen-NG>. Acesso
23 Agosto 2021.
em: 18 jul. 2021.
PETTERS, D. P.; LEINGANG, J. L.
Ducted Rockets. In: ZARCHAN, P.

33
Tactical Missile Propulsion. 1ª. Ed.
Reston: American Institute of
Aeronautics and Astronautics, 1996.
Cap. 12, p. 447 – 468.

ROSSI, J. S. Proteção do know-how


nos contratos de transferência de
tecnologia de defesa. XXIII Encontro
Nacional do CONPENDI. Florianópolis:
CONPENDI. 2014. P. 394-423.

SAAB. Meteor. Site da SAAB, [s.d.].


Disponivel em: O 1° Ten Av Motta concluiu o CFOAV
<https://www.saab.com/products/mete em 2016 e possui graduação em Ciên-
or>. Acesso em: 18 jul. 2021. cias Aeronáuticas e Administração pela
Academia da Força Aérea (2016) e es-
SEDDON, J.; GOLDSMITH, E. L. pecialização em Análise e Seleção de
Intake Aerodynamics. 1ª. Ed. Armamento pelo Instituto Tecnológico
Londres: Collins, 1985. de Aeronáutica (2021). Atualmente é
Oficial Adjunto à Divisão de Doutrina do
AUTOR 2°/3° GAV.

Contato: mottambm@fab.mil.br /
(51) 99575-1696.

34
GESTÃO DO CONHECIMENTO DO SISTEMA F-39

Maj Av Felipe Braga Galvão de Souza I - INTRODUÇÃO


Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA)

RESUMO
A implantação e operação de qualquer sistema Os quase 50 anos de operação
complexo exige um eficiente trabalho contínuo
de Gestão do Conhecimento para que informa- das aeronaves F-5 na FAB trouxeram à
ções úteis cheguem aos elementos necessá- tona quantidade enorme de informa-
rios com correção em horizonte temporal con-
veniente. Tal Gestão visa, ainda diminuir as ções dos mais diversos campos. As ho-
chances de retrabalho e o conseqüente desper-
dício de tempo, valioso para a operação do sis- ras voadas, as ações de manutenção,
tema. O início da operação do F-39 na FAB irá
requerer a gestão de grande volume de infor- os diversos cursos, os planejamentos
mações e conhecimentos. Se eficientemente
executada, poderá maximizar a eficiência do operacionais, logísticos e de recursos
sistema Gripen como um todo, contribuindo di- humanos, dentre outras atividades, to-
retamente para a missão-síntese da Força Aé-
rea Brasileira. A instituição, especialmente den- dos contribuíram para a criação de co-
tro do âmbito do COMPREP, já possui as ferra-
mentas necessárias para tal Gestão do Conhe- nhecimento, tanto o explícito (aquele
cimento, bastando utilizá-las de maneira eficaz.
que foi escrito, como os Manuais e le-
Palavras-Chave: Gestão do Conhecimento.
gislações), quanto o tácito.
KNOWLEDGE MANAGEMENT OF THE F-39 Sem uma efetiva prática de Ges-
SYSTEM
tão do Conhecimento (GC) em todos os
ABSTRACT
The implementation and operation of any com- níveis (Estratégico, Operacional e Tá-
plex system requires an efficient and continu-
ous work of Knowledge Management, so that tico), tal quantidade de informações
useful information reaches the necessary ele-
ments with correction in a convenient time hori-
acaba sendo subutilizada e, até
zon. Such Management also aims to reduce the mesmo, constituindo obstáculo à plena
chances of rework and the consequent waste of
time, which is valuable for the operation of the operação de qualquer sistema. Uma
system. The start of operation of the F-39 in the
Brazilian Air Force will require the management conseqüência direta é o retrabalho,
of a large volume of information and knowledge.
If efficiently executed, it could maximize the ef- com gasto de esforço e tempo para que
ficiency of the Gripen system as a whole, con-
tributing directly to the synthesis mission of the seja descoberto algo já conhecido ante-
Brazilian Air Force. The institution, especially riormente. No viés operacional na Avia-
within the scope of COMPREP, already has the
necessary tools for such Knowledge Manage- ção de Caça, outro resultado negativo
ment, being enough to use them effectively.
é possibilidade de que conhecimentos
Keywords: Knowledge Management.
adquiridos não sejam recebidos por to-
dos os operadores do sistema, seja por
não serem explicitados, seja por,
mesmo já explícitos, os processos de
gestão não os façam chegar a todos os

35
envolvidos de maneira oportuna e efici- procedimento adotado certamente sido
ente. discutido por ocasião da implantação
O objetivo do presente texto é da aeronave, como surgiram novas dú-
abordar, de maneira inicial, uma siste- vidas a respeito dele? Como gerenciar
mática eficiente de GC nos níveis Ope- as informações levantadas de modo a
racional (COMPREP) e Tático (Unida- evitar que, no futuro, ressurjam as ve-
des Aéreas) que possibilite o pleno em- lhas dúvidas a respeito do mesmo as-
prego do sistema F-39 Gripen pela sunto?
FAB. Alguns fatores colaboram para
que existam tais óbices nos fluxos de
II - DESAFIOS NA GESTÃO DO CO- informação. Um deles é a ancoragem
NHECIMENTO NA OPERAÇÃO DO F- das Atas das Reuniões Doutrinárias
5M pela data de sua realização, não ha-
vendo qualquer sistemática de registro
A atitude para decolagem com o de informações por temas, o que difi-
F-5M foi assunto da Reunião Doutriná- culta a consulta às informações (como
ria do Projeto em 2018, não obstante saber se determinado tema já foi abor-
ser referente a um sistema em opera- dado em alguma Reunião? Devo con-
ção na Força a mais de quatro décadas sultar todas as Atas existentes?).
e com mais de 15 anos desde sua mo- Ainda, não há processo explícito
dernização MLU. Apesar de mudanças previsto para que as Atas confecciona-
e melhorias serem sempre desejáveis, das e suas informações sejam gerenci-
deve-se analisar se as discussões que adas de modo a permitir às UAE, ou ori-
as proporcionam são eficientes, especi- entá-las quanto, seu acesso posterior
almente quando o assunto é, como no para consulta ou outra utilização. O que
exemplo, bastante simples e ligado di- se tem é tão somente a obrigação de os
retamente à operação básica da aero- participantes da Reunião assinarem a
nave. A solução para a questão da ati- Ata, com o fim que seja cumprida a for-
tude de decolagem foi a de que o pro- malização da Reunião e documentos
cedimento até então adotado deveria originados.
ser mantido. Ficam as questões: o que Quanto às capacidades operaci-
motivou a discussão de um assunto bá- onais do sistema F-5M (ou seja, após a
sico em que a solução foi manter o es- modernização), o desenvolvimento
tado em que se encontrava? Tendo o doutrinário no âmbito das Unidades

36
Aéreas seguiu um horizonte de tempo 5M, usualmente utilizada para a divul-
de curto prazo, com estudos e discus- gação de trabalhos técnico-científicos,
sões surgindo conforme as demandas com pouca apresentação de artigos
da Segurança de Voo ou as percep- opinativos e dissertações (como o pre-
ções individuais dos pilotos, quase sente texto). Assim, o espaço existente
sempre com caráter imediatista. Não para a divulgação de opiniões sobre te-
houve nenhum planejamento de longo mas operacionais, ensaios, divulgação
prazo significativo contemplando as ne- de melhores práticas, etc, não é utili-
cessidades de desenvolvimento doutri- zado significativamente. As opiniões
nário para a operação plena do vetor. dos pilotos e as boas práticas adotadas
Exceção se faz às demandas le- ficam restritas ao campo tácito, no âm-
vadas ao Instituto de Aplicações Ope- bito do seu Esquadrão, sendo sua mi-
racionais, sempre componentes de noria explicitada.
Plano oficial de trabalhos com horizonte
temporal variado. No entanto, o Insti- III - PROPOSTA INICIAL PARA A
tuto ainda não conta com recursos sufi- GESTÃO DO CONHECIMENTO OPE-
cientes para atender a todas as neces- RACIONAL DO SISTEMA F-39
sidades operacionais em tempo conve-
niente, o que restringe sua atuação às Com o início da operação do F-
pesquisas de caráter técnico-científi- 39 em um horizonte bastante próximo,
cas. Os estudos e discussões de viés surge o desafio de construir e fazer fun-
tático ainda são, em grande parte, leva- cionar um sistema de Gestão do Co-
das a cabo no âmbito das Unidades Aé- nhecimento operacional eficiente, para
reas. Além disso, ainda não há um pro- que os erros cometidos na operação do
cesso robusto para o trânsito do conhe- sistema F-5M, rapidamente abordados
cimento entre o IAOp e seu destino fi- acima, não ocorram novamente.
nal, os pilotos. Alguns relatórios tem De acordo com Batista [1], “na
sido colocados como anexos à TTP administração pública, a efetiva GC
sem uma “tradução” para o operador, o ajuda as organizações a enfrentar no-
que pode sobrecarregá-lo com informa- vos desafios, implementar práticas ino-
ções para ele desnecessárias, bem vadoras de gestão e melhorar a quali-
como banalizar dados mais relevantes. dade dos processos, produtos e servi-
Por fim, a revista Preparo tem ços públicos em benefício do cidadão-
sido, no que concerne ao sistema F- usuário e da sociedade em geral”. Ora,

37
enfrentar novos desafios, implementar todos os fatores envolvidos, com con-
práticas inovadoras e buscar a quali- seqüentes retrabalhos.
dade são fatores rotineiros na Aviação Este trabalho de gestão também
de Caça, aos quais estamos bastante é conveniente para as diversas outras
habituados. A implantação do F-39 po- discussões que ocorrerão durante os
tencializa o cenário, e faz a GC ainda primeiros anos de operação do F-39. O
mais necessária. formato da TTP, como estruturar as OI
O primeiro objetivo da GC é ser dos Programas de Formação e Manu-
patrocinada pelo mais alto nível da or- tenção Operacional, os próprios Pro-
ganização, o que, felizmente, já é uma gramas, quais capacidades serão obje-
realidade em nossa Força. São diver- tos de pedidos de Avaliação Operacio-
sas as regulações e instrumentos por nal (AVAOP) em quais horizontes tem-
elas previstos para possibilitar tal ge- porais, assim como assuntos mais es-
renciamento. O aprimoramento da pecíficos, como técnicas de voo (crité-
nossa GC resume-se, pois, a utilizar de rios para decolagem com e sem a pós-
maneira mais eficiente o sistema já combustão, doutrina para utilização dos
existente. mísseis integrados, dentre inúmeros
Especificamente para o Gripen, outros), tudo isso irá gerar grande
algumas discussões e definições no ní- quantidade de informações que, se
vel tático já se fazem necessárias, bem gerenciadas, podem facilitar e tor-
como, por exemplo, o desenvolvimento nar mais eficiente a operação do sis-
do PEVOP do sistema F-39. O docu- tema, o que leva, em último grau, a ma-
mento é o alicerce de todo o treina- ximização do poder de combate da
mento dos operadores, e dele derivam Força.
as publicações de Técnicas, Táticas e Já existe a ferramenta para tal
Procedimentos (TTP), Ordens de Ins- gerenciamento de informações no âm-
trução (OI), Projeto de Atividades Ope- bito do Comando de Preparo (COM-
racionais (PAOP), dentre outras. As- PREP), e encontra-se em processo de
sim, é clara a demanda por um ade- implantação no 1º GDA: a Memória, do-
quado registro das informações, dis- cumento previsto pela NO-
cussões e argumentos que levarão ao PREP/LEG/01A, criado para o registro
formato final do documento, já que tal de dados e acompanhamento do de-
registro pode evitar futuras modifica- senvolvimento de determinado assunto
ções decididas sem o conhecimento de e que permite um formato flexível,

38
podendo ser utilizado para a compila- estariam assim disponíveis por data
ção das informações por assunto. Esta (pelas Atas) e por assunto (pelas Me-
sistemática complementaria as Atas de mórias), o que facilita a consulta e
Reuniões Doutrinárias, que consolidam acesso. Mais uma vez, destaca-se a
e oficializam as informações por datas, necessidade de um registro detalhado
e facilitaria sobremaneira a consulta fu- não só dos pareceres, mas de toda a
tura aos apontamentos de determinado discussão e argumentação que servi-
tópico. ram de insumo para as decisões. Um
Devido ao dinamismo dos pri- jeito prático de coletar tais dados é,
meiros anos de operação do F-39, e complementando o apontamento es-
com a facilidade de o 1º GDA ser, a crito, a gravação das conversas, desde
princípio, a única Unidade operadora que siga os protocolos de segurança
no curto prazo, faz-se conveniente que necessários para seu armazenamento.
as Memórias sejam criadas e mantidas O formato e objetivo das publica-
em formato digital em ambiente seguro, ções de TTP também terão grande in-
e gerenciadas pelo 1º GDA, com ciên- fluencia na GC do sistema F-39. Existe
cia da gerência do projeto no COM- um dilema quando se confecciona e ge-
PREP (GT-FOX, enquanto ativado). rencia este tipo de publicações, e se re-
Após a ativação de outra Unidade ope- fere ao tipo e detalhamento das infor-
radora, o gerenciamento deve ser mações que serão ali incorporadas. Es-
transmitido à gerência, não excluindo a taria o modelo americano correto, em
possibilidade de que cada Unidade que se detalha, além das TTP propria-
mantenha suas próprias Memórias, que mente ditas, as teorias, explicações e
poderão e deverão servir de fontes para outras informações envolvidas? Ou se-
as Memórias do projeto caso as infor- ria melhor o modelo francês, em que
mações sejam de caráter geral (o Es- apenas as ações a serem executadas
quadrão pode manter uma Memória são explicitadas, tornando a publicação
para temas que serão sugeridos para a mais enxuta? Neste último caso, as te-
próxima Reunião Doutrinária, por orias e demais informações seriam ex-
exemplo). plicitadas ou se manteriam como co-
As Memórias devem ser alimen- nhecimento tácito? No primeiro caso,
tadas, ainda, pelas informações prove- que tipo de publicação as comportaria?
nientes das Reuniões Doutrinárias. As Mais uma vez, já temos um pre-
informações discutidas nas Reuniões cedente na FAB que, se bem

39
normatizado, pode resolver a questão. importantes para a segurança e eficiên-
As Unidades de F-5 contam com um cia da operação.
manual extra-oficial chamado Manual Ainda, destaca-se a necessi-
de Combate, o MACOMB. Além de al- dade de adequado gerenciamento das
gumas padronizações (inválidas se TTP após sua confecção, com proces-
conflitantes com a TTP, que é docu- sos inequívocos e definidos quanto às
mento oficial), ele traz informações bas- atualizações, correções e divulgações.
tante detalhadas das técnicas de com- O recebimento das informações por
bate visual com o F-5, constituindo-se parte do operador final (pilotos e opera-
de excelente fonte de consulta para dores de sistemas), bem como a clara
aprofundamento técnico dos pilotos. sinalização, dentro do texto anterior-
Para o caso do F-39, ao invés da cria- mente conhecido, dos dados novos ou
ção de mais uma publicação operacio- modificados, é extremamente impor-
nal, pode-se adaptar tal modelo, man- tante para a padronização dos conheci-
tendo no corpo dos capítulos das TTP mentos e da operação do sistema,
as informações mais importantes, dire- sendo a padronização um dos alicerces
tivas, objetivas, padronizadas e de apli- para o emprego eficiente no contexto
cação rotineira e obrigatória (como as da aviação militar.
Standard Operational Procedures – Obviamente que a GC envolve a
SOP), colocando como anexos aos ca- criação e operação de processos ro-
pítulos os textos que abordam de ma- bustos, com gerência claramente defi-
neira detalhada as teorias e outras ex- nida e engajada, apoiada pelo mais alto
plicações sobre o assunto. Restaria nível da administração. No caso de um
claro aos pilotos que partes da publica- Esquadrão, uma das opções mais cla-
ção devem ser consultadas rotineira- ras é alocar a gerência à Célula de Dou-
mente para a operação segura, padro- trina da Seção de Operações, uma vez
nizada e eficiente do sistema, e quais que grande parte da atividade desta
podem ser acessadas quando se busca Célula já é a GC, através das padroni-
entender mais profundamente determi- zações emitidas, sugestões de atuali-
nado assunto. A maior vantagem do zação de manuais e OI, emissão de
modelo é o fato de permitir que conhe- Avisos Operacionais, entre outras
cimentos valiosos se tornem explícitos, ações. Uma NPA detalhando todos os
oficiais e gerenciáveis sem, no entanto, processos se faz necessária, a título de
banalizar aquelas informações mais metainformação ou base de um

40
sistema de sistemas (a Gestão do Co- possibilidade mais prolífica, convém
nhecimento da GC do F-39). aumentar o limite de dez artigos por edi-
Há, ainda, a oportunidade e con- ção (o que não deve aumentar os gas-
veniência de tornar explícitas as opini- tos demasiadamente), além de aplicar
ões e boas práticas adotadas pelos pi- incentivos internos para que os pilotos
lotos e Unidades, em local que não as de fato escrevam suas idéias.
misture com as padronizações e itens
de cumprimento obrigatório. Não se IV - CONCLUSÃO
mostra adequado, portanto, agregar as
opiniões e boas práticas às TTP. Um As propostas acima visam iniciar
paralelo que se pode fazer é com o pe- a discussão para o aprimoramento da
riódico Technical Digest do F-5, emitido Gestão de Conhecimento, no âmbito do
pela Northrop e que trazia variados as- COMPREP e Unidade Aérea, de modo
suntos (operacionais, logísticos, segu- a tornar mais eficiente o registro e dis-
rança de voo) em diversos formatos, ci- ponibilização, nos canais adequados,
entíficos e opinativos. Incluía, também, de toda informação julgada conveni-
diversos textos referentes a boas práti- ente para a operação plena do sistema
cas, tornando a revista uma excelente F-39.
fonte de consulta e parte importante da Grande quantidade de informa-
gestão do conhecimento sobre o pro- ções é naturalmente gerada durante a
jeto F-5E em âmbito internacional. operação de qualquer sistema, especi-
Como a operação do Gripen e os co- almente em sua implantação. No caso
nhecimentos decorrentes não decorre- do F-39, com a utilização adequada de
rão de milhares de aeronaves, pilotos e todas as ferramentas já disponíveis nos
horas de voo como no caso do F-5, uma contextos operacionais e táticos da
publicação periódica exclusiva para o FAB, tal fluxo de conhecimento pode
F-39 não se faz proveitosa. No entanto, ser devidamente gerido e oportuna-
os orientações para publicação na Re- mente distribuído e empregado. Os ma-
vista Preparo já permitem a submissão nuais e TTP podem ser utilizados para
de textos que não os estritamente obe- o registro de padronizações e outras
dientes ao modelo científico, o que a ações de compliance. Separados do
torna ferramenta útil para a divulgação corpo principal, os anexos podem tra-
de dissertações, opiniões e melhores zer as teorias e explicações necessá-
práticas. De modo a tornar tal rias a um aprofundamento do

41
conhecimento. As melhores práticas, administração pública brasileira:
como implementar a gestão do co-
opiniões dos operadores e as constan-
nhecimento para produzir resultados
tes conversas informais podem ser di- em benefício do cidadão. 1ª Edição.
Brasília: Ipea, 2012.
vulgadas na Revista Preparo sem a for-
malidade dos trabalhos puramente ci- AUTOR
entíficos, enquanto todas as discus-
sões e argumentos que levaram às de-
cisões no emprego do sistema podem
ser detalhadamente registrados para
consultas nas Memórias, sem saturar
os canais anteriores.
Os reflexos serão a maior padro-
nização (e conseqüente operacionali-
dade) e a menor incidência de retraba-
lhos, o que leva a mais tempo disponí-
vel para melhor estudar o emprego do
O Maj Av Galvão concluiu o CFO em
vetor. Tudo sem qualquer aumento de 2007 e possui pós-graduação em Ges-
tão de Processos pela Universidade do
custos. Como dito, em última instância,
Sul de Minas (2018). Concluiu o Com-
estes fatores levam ao fortalecimento bat Readiness Training em aeronave
JAS 39C/D Gripen junto à Força Aérea
do poder de combate da Força como
Sueca (2021). Atualmente é Chefe da
um todo. Seção de Apoio Administrativo do 1º
GDA.
REFERÊNCIAS
Contato: galvaofbgs@fab.mil.br /
(62) 3329-7429.
[1] – BATISTA, F.F. Modelo de gestão
do conhecimento para a

42
PODER AEROESPACIAL E AS SINGULARIDADES DA PROFISSÃO DE
LOCADOR

Ten Inf Flávio Sousa Arcanjo I - INTRODUÇÃO


Terceiro Grupo de Defesa Antiaérea (3°
GDAAE)

Ten FIS Paula Morisco de Sá O poder aeroespacial brasileiro


Base Aérea de Santa Cruz (BASC)
constitui as várias possibilidades de
RESUMO projeção de poder e de defesa que in-
O presente trabalho tem por finalidade descre-
ver a percepção do locador da defesa antiaérea cluem o ambiente aéreo e suas singu-
acerca da tarefa por ele desempenhada. E, di-
ante deste, possivelmente aperfeiçoar critérios laridades. Como principal aspecto
de seleção para a função de locador. Para tal
foi utilizada uma descrição da tarefa através de desse poder, e tendo em vista a natu-
grupo focal, composto por sete profissionais
que desempenham a função de locador. Foi reza pacífica do Brasil, a defesa aero-
feita a gravação e posterior transcrição do espacial é o seu principal aspecto. Em
grupo focal e posteriormente estas falas foram
submetidas ao programa WordArt® para a ob- grande parte dos países do mundo a
tenção de nuvem de palavras que trouxe icono-
graficamente as percepções desses sujeitos. defesa aeroespacial é composta unica-
Foi possível entender que se trata de uma per-
cepção das responsabilidades intrínsecas da mente pela defesa aérea (DA), na qual
profissão, onde realizam tarefa de enorme com-
plexidade e responsabilidade. se encontram todos os projetos, armas,
plataformas e vetores aéreos ou não
Palavras-Chave: Defesa Antiaérea; Análise e
performance da tarefa. que possam projetar o referido poder.
AEROSPACE POWER AND THE SINGULAR- No Brasil, o conceito de defesa
ITIES OF THE LESSOR PROFESSION
aeroespacial se divide em DA, que são
ABSTRACT
The present work aims to describe the percep- unicamente as plataformas aéreas, avi-
tion of the air defense lessor about the task per- ões e radares que possam realizar a
formed by him. The relevance of this study lies
in providing a basis for the authors' master's projeção do poder a partir do ar, e a de-
study which, associated with other methodolo-
gies, will seek selection criteria for the role of fesa antiaérea (DAAE), que são os
lessor. For this, a description of the task was
used through a focus group, composed of equipamentos, mísseis e vetores que
seven professionals who perform the role of les-
sor. The focus group was recorded and later
são projetados a partir do solo para a
transcribed, and later these statements were projeção do poder (BRASIL, 2015a;
submitted to the WordArt® program to obtain a
word cloud that iconographically brought the 2017a).
perceptions of these subjects. It was possible to
understand that this is a perception of the intrin- A DAAE tem sido fundamental
sic responsibilities of the profession, where they
perform a task of enormous complexity and re- nos mais diversos conflitos da atuali-
sponsibility.
dade, sendo um importante compo-
Keywords: Air Defense; Task performance and
analysis. nente do poder aeroespacial. Em con-
flitos mais recentes, o número de

43
abates de aeronaves inimigas pela fluxo de informações passa do oficial de
DAAE, incluindo os sistemas portáteis controle para ele e dele para as unida-
de defesa aérea (Man-portable air-de- des de tiro no terreno e vice-versa, além
fense sistem - MANPADS), mais espe- de operar o sistema visualizador da sín-
cificamente os mísseis antiaéreos de tese de imagem radar (VISIR), no qual
ombro, têm sido cada vez mais expres- ele observa todas as aeronaves que es-
sivos. tão dentro ou nos arredores da área a
O Brasil atualmente tem a DAAE ser defendida pelo sistema de defesa
subordinada à Força Aérea Brasileira antiaérea (BRASIL, 2016a; 2015a;
(FAB), porém utilizando-se de recursos 2015b; 2017a; 2013a; 2005; 2008a; e
dela mesma e de outras Forças. Na 2009a).
FAB o armamento antiaéreo é o míssil
de ombro de fabricação russa IGLA-S FIGURA 1 - ESQUEMA DE ONDE O LOCA-
DOR SE ENCONTRA NUM SISTEMA DE DE-
(BRASIL, 2015a; 2017a).
FESA ANTIAÉREA
Como a vertente antiaérea
desse poder trabalha com equipamen-
tos sensíveis e de elevada tecnologia e
valor agregado, há a necessidade de
que haja estudos e regulamentações
sobre o fator humano nessa atividade.
Nesse ínterim, e como forma de
iniciar pesquisas que preencham essa
lacuna de conhecimento acerca dos as-
pectos cognitivo-comportamentais no
Sistema de DAAE, o presente estudo FONTE: ACERVO PESSOAL, 2022.
debruçou-se sobre a função de locador
da DAAE, militar que trabalha em uma Identificar as características re-
função chave no Sistema de DAAE, es- ais para o desempenho da função de
pecificamente. locador de um Sistema de DAAE, com
O locador é o militar responsável vistas a fornecer informações ao co-
por ser o elo entre o centro de opera- mando para futuramente viabilizar estu-
ções antiaéreas e as frações de tropa dos e métodos de seleção e treina-
que estão dispostas no terreno com- mento baseado no conhecimento
pondo o sistema de defesa antiaérea. O

44
dessas características, pode potenciali- protocolo de seleção para ser locador,
zar o desempenho operacional e miti- sendo atualmente alocados graduados
gar possíveis falhas por erro humano da especialidade de Guarda e Segu-
no contexto da DAAE. Sendo uma fun- rança voluntários e autorizados pelos
ção central do sistema de DAAE, é pos- seus superiores, já a avaliação e manu-
sível que a melhor compreensão das tenção operacional é feita anualmente
características cognitivo-comportamen- através do cumprimento dos Planos de
tais que integram a função de locador, Atividades Operacionais (PAOP) que
possa trazer propostas para vários es- cada Grupo de Defesa Antiaérea tem
tudos relacionando a psicologia e a que cumprir e relatar ao comando supe-
DAAE. rior (BRASIL, 2015a; 2017a; 2020a).
Como forma de endossar essa Como parte integrante do Sis-
necessidade e a relevância de que es- tema de Defesa Antiaérea, e do poder
tudos nessa linha sejam feitos, a pre- Aeroespacial (BRASIL, 2015b; 2017b),
sente pesquisa propõe descrever as o locador se insere no mesmo conjunto
percepções dos locadores acerca da de profissionais cuja assertividade em
tarefa por eles realizada. Essa percep- suas funções e primordial para que haja
ção serve para que, no contexto da pes- o cumprimento das missões e a inexis-
quisa da qual ela foi extraída, possa ser tência de acidentes. Porém, diferente
integrante dos objetivos específicos a das demais funções do poder aeroes-
fim de delinear as características que pacial, o locador não possui legislações
na atualidade os militares que desem- e protocolos de seleção que ratifiquem
penham a função de locadores pos- a escolha ou não de determinado pro-
suem e, após listadas e trazidas ao co- fissional para exercer essa função.
nhecimento, elas possam ser utilizadas A presente pesquisa é um re-
como possíveis critérios de seleção corte de um estudo amplo, do Pro-
através dos testes utilizados nesta me- grama de Pós-Graduação strictu sensu
todologia. em Desempenho Humano Operacional
A função de Locador é exercida (PPGDHO), da Universidade da Força
por um graduado no sistema de DAAE, Aérea. Esta, visa descrever o perfil ocu-
que tem atividade similar às acima cita- pacional dos locadores e possivel-
das e, portanto, altos graus de exigên- mente, criar novas estratégias de sele-
cia e de responsabilidade fazem parte ção da profissão. O primeiro passo visa
da sua rotina. Atualmente não existe fornecer entendimento de como os

45
locadores percebem a tarefa por eles forma a manter uma equidade na parti-
realizada, e assim, contribuir para me- cipação dos membros (KINALSKI et al,
lhor descrever o perfil ocupacional des- 2016).
ses militares (PASQUALI, 2010; PAS- A fala iniciou com uma introdu-
QUALI & LAGO, 1989). ção por parte do mediador, expondo o
foco da discussão, a atividade do loca-
II - MATERIAL E MÉTODO dor durante a execução de uma “janela
aberta” do sistema de Defesa Antiaé-
Para a aplicação do Grupo Focal rea, ou seja, seu efetivo funcionamento
foram tidos como norteadoras as postu- quando montado no terreno. Após isso
lações dos referenciais teóricos do as- foi questionado aos militares que des-
sunto (COMEL et al, 2013; FLICK 2009; crevessem como eles executam suas
KINALSKI et al, 2016; NÓBREGA et al, tarefas durante esse momento.
2016; OLIVEIRA & FREITAS, 1988;). Dos participantes de maior expe-
A partir de recrutamento prévio, riência um foi o que tomou a palavra
considerando a seleção segundo os cri- quando aberta à participação e foi o que
térios da pesquisa, foi feita a apresen- mais fez colocações durante a discus-
tação do moderador e co-moderador, e são. O mediador fez intervenções no
apresentada a situação-problema ou sentido de direcionar a palavra aos
estímulo para a discussão. Os sete par- mais silenciosos a fim de que também
ticipantes foram dispostos em uma sala participassem e estes fizeram suas co-
previamente selecionada, tranquila e locações, contudo foram modestas e
isento de estímulos distratores. novamente o primeiro integrante inter-
Foi gravada a interação para via.
posterior transcrição e análise bem Após a descrição da tarefa, foi
como delimitado o tema. Um aparelho repassada de forma sintética e breve a
celular foi utilizado para gravar sons e eles aquilo que fora rascunhado e eles
um bloco para rascunhos por parte do aquiesceram a sequência das ações.
moderador, como anotação comple- Complementando toda a discussão foi
mentar. Ainda, o moderador manejou perguntado a eles o que sentiam
os silêncios chamando os participantes acerca do processo, quais as emoções
mais quietos a participarem e contor- e sentimentos perpassavam individual-
nando possíveis manipulações de pala- mente, bem como as maiores
vras por parte dos mais expressivos, de

46
dificuldades encontradas no processo ser frente à função foi notada a partir do
como um todo. primeiro filtro em que os pronomes apa-
A gravação foi transcrita pelo receram proeminentemente. As pala-
pesquisador e analisada com relação vras “gente” no sentido coloquial perfa-
aos tópicos elencados e às respostas zendo “nós” endossa essa percepção
que foram colocadas. As informações de si e do outro frente à formalidade da
obtidas encontram-se descritas no pró- função (DIAS et al, 2014; MCNAUGHT
ximo capítulo e a transcrição no apên- & LAM, 2010; SERRÃO et al, 2019).
dice “B” desta pesquisa. Ato contínuo, a percepção da
Para que fosse possível uma vi- função per si, é expressa com as pala-
são iconográfica do discurso dos parti- vras centrais da última nuvem de
cipantes com as ênfases expostas, foi , “locador”, “COAAE”, “curso” e “aero-
utilizada a ferramenta da nuvem de pa- nave”, colocando o foco da discussão
lavras, disponível no website WordArt® nos substantivos que, concretamente,
(2020), a qual fornece essa visão pre- remetem à função e à tarefa. Nesta
tendida. mesma nuvem as palavras que apare-
cem de forma secundária denotam
FIGURA 2 - NUVEM DE PALAVRAS DECOR- ações frente à tarefa, grande parte de-
RENTES DO GRUPO FOCAL.
las verbos como “ser”, “fazer”, “traba-
lha” e “saber”. Outras denotam aspec-
tos de exigência com relação a esses
verbos, percepções de parâmetros na
tarefa como “hora”, “atenção”, “pes-
soal”, “exercício”, “unidade”, “missão”,
“agora”.
O grupo focal, assim como as
pesquisas quantitativas como um todo,
FONTE: ACERVO PESSOAL, 2022.
os objetos pesquisados “não são redu-
III - DISCUSSÃO
zidos a simples variáveis, mas repre-
sentados em suas totalidades, dentro
A nuvem de palavras representa
dos seus contextos cotidianos”. Essa
a tarefa estudada, nas palavras de seus
afirmação em confronto com os acha-
especialistas, a fim de entender como
dos do grupo focal realizado endossa
eles percebem a tarefa. A percepção do
que aquelas palavras mais

47
proeminentes na nuvem de palavras geradora de rico conteúdo ao longo da
após alguns filtros são pontos de repre- coleta. A ênfase e as falas a priori tu-
sentatividade do contexto no qual os multuadas em alguns assuntos como a
pesquisados se inserem. A fala sobre a situação de um ingresso de aeronave
atividade do locador no COAAE aliada no VRDAAE, vieram a serem fontes de
aos estímulos e sentimentos que fluem expressões de sentimentos para com a
dessa atividade provê um panorama de situação, muito ricas para a compreen-
como a atividade é rígida e exigente são objetivada com essa metodologia.
(FLICK, 2009). A interação entre os participan-
O uso do grupo focal tem como tes e os pesquisadores é justamente o
principais objetivos os achados em re- foco da pesquisa qualitativa obtida por
lação a como pessoas pensam acerca intermédio do grupo focal, não sendo
de determinada tarefa, ação ou situa- uma entrevista individual, mas uma
ção, partindo de suas percepções e da forma de busca de conhecimento
interação entre eles. Dessas percep- acerca de determinado tema através da
ções foi possível perceber o que fluiu no interação e do resultado subjetivo
que diz respeito às palavras já mencio- dessa interação. Nesse ínterim, a pes-
nadas. Da interação entre o grupo, em quisa efetivada com os locadores do 1°
vários momentos foi possível perceber GDAAE e os sentimentos e ênfases
como uma fala atravessava a fala de que surgiram, vão ao encontro dos ob-
outro e vice-versa, em especial em mo- jetivos dessa metodologia, bem como
mentos em que as questões relaciona- endossam o que se pretendia ao utilizá-
das à cobrança e à regulação dos pro- la nesta pesquisa (KINALSKI et al,
cedimentos eram enfatizadas (OLI- 2016).
VEIRA & FREITAS, 1988). Palavras como “pessoal”, “exer-
Da relação entre os participantes cício”, “unidade”, “missão”, “agora”,
que Oliveira & Freitas (1988) citam, foi “trabalha”, dentre outras, fortemente
possível acrescentar às palavras que expressadas pelos pesquisados, refor-
surgiram uma carga ansiogênica que çam a ideia de equipe e de exigência de
não viria à tona caso fosse uma entre- padrões de desempenho por esse am-
vista individual, haja vista a intercorrên- biente. A ênfase e a repetição de certos
cia de uma fala na outra dos vários par- desafios inerentes à função como
ticipantes, em princípio coibida pelo “hora”, “atenção”, “exercício”, “uni-
moderador, mas logo percebida como dade”, “missão”, “agora”, bem como a

48
ansiedade com que esses aspectos fo- Os conhecimentos obtidos por
ram relatados, com vários atravessa- esta pesquisa possibilitaram que seja
mentos de fala que inclusive dificulta- possível através de um composto maior
ram a transcrição do áudio em alguns com testes de personalidade e atenção,
momentos, mostram os sentimentos a elaboração de um parecer técnico
envolvidos com esses momentos de para a seleção dos indivíduos que te-
exercício de sua função. nham interesse em se especializar na
As percepções dos pesquisados área de defesa antiaérea. Este parecer
sobre a atividade de locador quando poderá auxiliar aos gestores da Força
elas advêm do grupo focal refletem os Aérea responsáveis pela seleção dos
sentimentos envolvidos com as circuns- alunos a serem matriculados nos cur-
tâncias estudadas, em especial as to- sos da Aeronáutica a terem uma per-
madas de decisão. Esse procedimento cepção mais pragmática de quais indi-
em relação ao grupo pesquisado trouxe víduos teriam mais capacidades de se
emoções no tocante às palavras utiliza- desenvolverem operacionalmente na
das, já expressas anteriormente, e a área.
forma como elas foram usadas e em
quais momentos do discurso, enfati- REFERÊNCIAS
zando momentos de maior tensão em
BRASIL. Comando da Aeronáutica.
que havia a confluência dos discursos Edital nº 01/2017/PPGDHO. Rio de Ja-
neiro, 2017b.
em direção à expressão do sentimento
envolvido com a tarefa narrada (CO- _______. Comando da Aeronáutica.
ICA 63-16: Programa de prevenção
MEL et al, 2013).
de acidentes aeronáuticos no Depar-
tamento de Controle do Espaço Aé-
reo para 2016. Brasília, 2016a.
IV - CONCLUSÃO
_______. Comando da Aeronáutica.
ICA 63-36: Atividades de fator hu-
mano, aspecto psicológico, no ge-
Para a amostra de locadores
renciamento da segurança operacio-
analisada é clara as responsabilidades nal. Brasília, 2015b.
intrínsecas da profissão, onde realizam
_______. Comando da Aeronáutica.
tarefa de enorme complexidade e res- ICA 38-9: Teste de Aptidão à pilota-
gem Militar com vistas à matrícula no
ponsabilidade, exigindo atenção e con-
1º ano do Curso de Formação de Ofi-
trole emocional, bem como um preparo ciais Aviadores da Academia da
Força Aérea. Brasília, 2013a.
à altura da tarefa.

49
_______. Comando da Aeronáutica. 4382/pt, acesso em 07/09/2020, às
ICA 38-6: Procedimentos para a rea- 16:12h. Sobral – CE, 2014.
lização de Exame de Aptidão Psico-
lógica no Comando da Aeronáutica. FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa
Brasília, 2005. Qualitativa. 3ª ed. Artmed. Porto Ale-
gre - RS, 2009.
_______. Comando da Aeronáutica.
MCA 63-7: Investigação do aspecto KINALSKI, D. D. F.; PAULA, C. C.; PA-
psicológico nos incidentes de trá- DOIN, S. M. M.; NEVES, E. T.; KLEIN-
fego aéreo. Brasília, 2008a. UBING, R. E.; CORTES, L. F. Focus
group on qualitative research: expe-
_______. Comando da Aeronáutica. rience report. Rev Bras Enferm [Inter-
MCA 355-1: Manual de Defesa Antia- net]. 2017;70(2):424-9. DOI:
érea. Brasília, 2015a. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-
2016-0091.; Santa Maria - RS, 2016.
_______. Comando da Aeronáutica.
MCA 355-1: Manual de Defesa Antia- MCNAUGHT, Carmel, & LAM, Paul.
érea. Brasília, 2017a. Using Wordle as a Supplementary
Research Tool. The Qualitative Re-
_______. Comando da Aeronáutica. port, 15(3), 630-643. Disponível em:
NSCA 38-10: Investigação do as- <https://nsuworks.nova.edu/cgi/view-
pecto psicológico nos acidentes e content.cgi?article=1167&context=tqr>.
incidentes aeronáuticos e ocorrên- Acesso em 07/09/2020, às 16:15h.
cias no solo. Brasília, 2009a.. 2010.

_______. Comando da Aeronáutica. NÓBREGA, Danielle Oliveira; AN-


ICA 55-87: Programa de Capacitação DRADE, Erika dos Reis Gusmão; e
Operacional do Comando de Pre- MELO, Elda Silva do Nascimento. Pes-
paro. Brasília, 2020a. quisa Com Grupo Focal: Contribui-
ções Ao Estudo Das Representações
COMEL, J. C.; NEUSA, S. R.; MAR- Sociais. Psicologia & Sociedade,
TINI, M. R.; NERY, R. M.; VIDOR, C. R.; 28(3), 433-441. Natal - RN, 2016.
SANTOS, A. C.; STEFANI, M. A. Gru-
pos Focais como Ferramenta para OLIVEIRA, Míriam, FREITAS, Henri-
Avaliação de Qualidade de Vida – que. Focus Group, Método Qualita-
Uma Revisão da Literatura. J Oral In- tivo de Pesquisa: resgatando a teo-
vest, 2(1): 3-9, 2013 - ISSN 2238-510X. ria, instrumentalizando o seu plane-
Porto Alegre - RS, 2013. jamento. RAUSP, v.33, nº3. São Paulo
- SP, 1988.
DIAS, Maria Socorro de Araújo; PA-
RENTE, José Reginaldo Feijão; VAS- PASQUALI, Luiz. Instrumentação Psi-
CONCELOS, Maristela Inês Osawa; cológica. Artmed, 1ª ed. Porto Alegre,
DIAS, Fernando Antônio Cavalcante. 2010.
Intersetorialidade e Estratégia Saúde
da Família: tudo ou quase nada a PASQUALI, Luiz & LAGO, Leila Janice
ver? DOI: 10.1590/1413- Abreu do. O controlador de tráfego
812320141911.11442014. Disponível aéreo no Brasil: profissiografia do
em: https://www.scie- cargo. Psic: Teor. e Pesq., Brasília, V.
losp.org/pdf/csc/2014.v19n11/4371- 6, nº 1, pp. 55-74. Brasília, 1989.

50
SERRÃO, Jeane Rodrigues Miranda; do Sistema KONUS (CIKONUS) pelo 3°
PEIXOTO, Ivonete Vieira Pereira; NAS- GDAAE (2021), Curso de Busca e Sal-
CIMENTO, Camilla Cristina Lisboa do; vamento (SAR-005) pelo DECEA
SERRÃO, Analu Miranda; PAMPLONA, (2018), Curso para Tratamento de In-
Monica Custodia Abreu. Saberes de formações Classificadas (CTIC) pelo
gestantes com HIV sobre o autocui- CIAER (2016), Curso Básico de Instru-
dado. Revista Eletrônica Acervo Sa- tor do COMPREP (CBIC) pelo GITE
úde. Electronic Journal Collection (2022), Curso Básico de Guerra Eletrô-
Health. ISSN 2178 2091. Belém – PA, nica (CBGE) pelo GITE (2021), Estágio
2019. de Vida na Selva pelo CIGS (2014), Es-
tágio de Instrutor de Tiro (EITIR) pela
WORDART – Nuvem de Palavras. AFA (2014) e Estágio Básico do Com-
Website. <https://wor- batente de Montanha (EBCM) pelo 12°
dart.com/nwl5dq0aletg/nuvem-de-pala- BI do EB (2013). Atualmente é mes-
vras> Acesso em: 06/08/2020, às trando do Programa de Pós-Graduação
10:29h. em Desempenho Humano Operacional
(PPGDHO) da Universidade da Força
AUTORES Aérea (UNIFA) e Chefe da Célula de
Gestão de Pessoal do Terceiro Grupo
de Defesa Antiaérea (3° GDAAE).

Contato: arcanjofsa@fab.mil.br /
(61) 3329-7871.

O 1° Ten Inf Arcanjo concluiu o CFOInf


em 2014. Possui graduação em Psico-
logia pela Universidade LaSalle de Ca-
noas – RS (2020), e MBA em Gestão
de Pessoas e Liderança Coach pela
mesma instituição (2016). Possui as es-
A 1° Ten Paula Sá é oficial fisiotera-
pecializações em Psicanálise e Clínica
peuta da Base Aérea de Santa Cruz
Contemporânea: Sofrimento, Sujeito e
(BASC). Possui Doutorado em Ciências
Intervenções pelo IPOG (2021), Sexo-
(UERJ/FISCLINEX). Docente do Pro-
logia Humana e Terapia Sexual pela
grama de Pós-Graduação Stricto
FATECPR (2021), Antropologia pela
Sensu em Desempenho Humano Ope-
Unyleya (2021), Transtornos Parafílicos
racional da Universidade Da Força Aé-
e a Psicanálise pela Unyleya (2021) e
rea. Colaboradora do Laboratório de
Tanatologia: Sobre a Morte e o Morrer
Instrumentação Biomédica (LIB) da
pela Unyleya (2021). Operacional-
UERJ. Pós-graduada em Fisioterapia
mente possui o Curso de Defesa Antia-
Respiratória. Pós-graduada em Ergo-
érea (CDAAE) pelo GITE (2016), Curso
nomia. Pós-graduada em Metodologias
de Ligação Antiaérea (OPM-12) pelo
Modernas de Educação. Formação de
ICEA (2021), Curso de Operador do
Osteopatia em andamento. Graduada
Radar SABER M-60 (CORADAR) pelo
em Fisioterapia. 1° Tenente
3° GDAAE (2021), Curso de Instrutor

51
Fisioterapeuta da Força Aérea Brasi- desempenho humano operacional, Fisi-
leira. Atuação nas áreas de Fisioterapia ologia e Fisiopatologia humana.
Pneumofuncional, Disfunções Muscu-
loesqueléticas, Saúde do trabalhador, Contato: paulasapmsp@fab.mil.br /
Doenças pulmonares ocupacionais, Er- (21) 2157-2442.
gonomia, Ergonomia aplicada ao

52
EMPREGO OPERACIONAL DE INTERFERÊNCIA ELETRÔNICA

Cap Av Rodrigo Eberle Almeida I - INTRODUÇÃO


Terceiro Esquadrão do Décimo Grupo de Avia-
ção (3º/10º GAV)

Ao longo do tempo, foram reali-


RESUMO
Um aspecto cada vez mais importante dos con-
zadas diversas descobertas significati-
flitos modernos é o combate eletrônico. Isso vas na esfera do sistema radar e, dada
porque os avanços na Guerra Eletrônica (GE)
têm determinado os vencedores do Teatro de a vantagem que esse tipo de equipa-
Operações. Nesse contexto, a interferência ele-
trônica ganha destaque por sua capacidade de mento demonstrava para o alerta ante-
negar a habilidade radar de detectar e localizar
as plataformas, consolidando-se, portanto, cipado de aeronaves nos campos de
como a grande responsável por garantir a so-
brevivência das aeronaves. batalha da Segunda Guerra Mundial,
Dessa forma, este trabalho se propõe a estudar especialistas começaram a estudar for-
três modos de geração de técnicas de interfe-
rência eletrônica: noise, repeater e transpon- mas de se contrapor a tal tecnologia. A
der. Além disso, foram abordadas táticas para
sua execução e foram feitas considerações so- Guerra Eletrônica (GE) nasce, portanto,
bre o emprego dessas técnicas em um cenário
operacional. Para isso, foi realizada uma revi- como produto da rápida evolução dos
são bibliográfica sobre o tema e apresentação
de alguns resultados de simulação.
radares e da necessidade premente de
se defender contra as formas de locali-
Palavras-Chave: Guerra Eletrônica; Interferên-
cia Eletrônica; Jamming; Interferidor. zação de alvos realizadas por eles [1].
OPERATIONAL EMPLOYMENT OF ELEC- Foram esses esforços para se
TRONIC INTERFERENCE
contrapor ao inimigo que motivaram o
ABSTRACT
An increasingly important aspect of modern primeiro voo de teste em Londres com
conflict is electronic combat. This is because equipamentos a bordo de uma aero-
advances in Electronic Warfare (EW) have de-
termined the winners in the Operations Theater. nave capazes de emitir ondas eletro-
In this context, electronic jamming gains promi-
nence for its capacity to negate the radar ability magnéticas que atrapalhavam o pro-
to detect and locate the platforms, consolidating
therefore as the major responsible for ensuring cessamento dos radares, os chamados
aircraft survival.
In this scenario, this work proposes to study sistemas interferidores [2].
three ways of generating electronic interference Como resultado direto dessa
techniques: noise, repeater and transponder.
Furthermore, some tactics for its execution corrida em busca de tecnologias mais
were discussed and considerations were made
about the use of these techniques in an opera- avançadas para radares e interferido-
tional scenario. To achieve this purpose, a liter-
ature review about this theme was conducted res, instaurou-se a necessidade cons-
and some simulation results were presented.
tante de ações de Inteligência e Contra-
Keywords: Electronic Warfare; Jamming; Jam- inteligência no ambiente eletromagné-
mer.
tico, tendo em vista a Defesa e a Sobe-
rania de uma Nação [1].

53
Acompanhando a tendência
mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB)
tem investido cada vez mais em capa-
citação de recursos humanos, aquisi-
ção de aeronaves de elevado desem-
penho, sistemas d’armas de última ge-
ração e, sobretudo, equipamentos vol-
tados para o uso estratégico do espec-
tro eletromagnético [3]. Nesse contexto,
FONTE: ADAPTADO DE [4].
é fato que esforços avançados de pes-
quisa e desenvolvimento contribuem 1) Antenas que funcionam como
substancialmente para a dissuasão. E transdutores para recepção das ondas
com as contramedidas eletrônicas não eletromagnéticas e leitura como sinais
seria diferente: a pesquisa e o desen- elétricos, ou ainda, para conversão dos
volvimento acerca das técnicas de in- sinais elétricos gerados pelo interferidor
terferência eletrônica frente aos siste- em ondas eletromagnéticas propagan-
mas radares modernos moldam as táti- tes;
cas, as manobras operacionais e as es- 2) Sensores receptores, respon-
tratégias em todos os níveis do campo sáveis por coletar os parâmetros des-
de batalha atual. critores da emissão da ameaça radar;
3) Processador digital de sinal
II - ARQUITETURAS DE INTERFERI- ou uma unidade de processamento
DORES central, cérebro que controla a produ-
ção do sinal interferente; e
A Figura 1 ilustra uma arquite- 4) Elementos controláveis, em
tura típica de um sistema de contrame- geral geradores e moduladores, que
didas eletrônicas ativas. Seus compo- podem criar ondas interferentes ou mo-
nentes básicos podem ser divididos em dificar em amplitude, frequência e fase
[4]: a emissão já recebida da ameaça ra-
dar.
5) Obtidas por meio do arranjo e
rearranjo desses componentes, exis-
FIGURA 1 - EXEMPLO DE ARQUITETURA tem arquiteturas conhecidas na litera-
BÁSICA
tura por sintetizar sinais interferentes

54
eficientes. Trata-se das arquiteturas Um aspecto importante para a
dos modos básicos de jamming, a sa- eficácia da técnica noise jamming é a
ber: repeater, transponder e noise. Elas densidade de potência do ruído na
se diferenciam, em resumo, pela forma banda de operação do radar vítima.
como o sinal de RF é tratado para gerar Como o sistema interferidor possui uma
um ruído interferente ou um alvo falso. potência fixa, se um jammer cobrir uma
ampla faixa de frequência, a energia se
III - INTERFERÊNCIA ELETRÔNICA espalhará por toda a faixa e menor será
POR RUÍDO (NOISE JAMMING) a densidade espectral de potência do
ruído. Por outro lado, se o jammer co-
Os sinais ecos, parcela da ener- brir uma faixa estreita de frequência, o
gia refletida pelos alvos de interesse sinal interferente será concentrado em
que retorna ao radar, são extrema- uma pequena largura de banda e, por-
mente fracos e, consequentemente, o tanto, maior será a densidade espectral
receptor radar precisa ser muito sensí- de potência do ruído [5].
vel e eficaz em amplificar tais sinais fra- Uma classificação recorrente
cos vindos do alvo para assim detectá- das interferências por ruído diz respeito
los. A interferência por ruído, interferên- ao espalhamento espectral do jam-
cia de bloqueio ou noise jamming se ming, ou ainda, à proporção entre a lar-
aproveita disso ao injetar ruído interfe- gura de banda do sinal de interferência
rente dentro do receptor radar para, e a largura de banda do equipamento
desse modo, aumentar o nível de ruído vítima [6]. São elas: barragem, spot
já presente no receptor. Como resul- noise e swept spot noise.
tado, o eco radar acaba submergido A interferência de ruído por bar-
pela interferência e o radar acaba impe- ragem é uma técnica de bloqueio em
dido de detectar seu alvo [5] [6]. que a alta densidade de potência é sa-
As principais vantagens do blo- crificada em favorecimento da cober-
queio por ruído são sua simplicidade e tura de uma ampla faixa de frequência.
a necessidade de que apenas detalhes Ao espalhar o bloqueio por uma ampla
mínimos sobre o equipamento inimigo faixa de frequência, há diminuição da
sejam conhecidos, como por exemplo Potência Efetiva Radiada (ERP) nas
uma estimativa da banda de frequência frequências cobertas, porém há algum
de operação e do quadrante de che- nível de bloqueio em uma banda larga.
gada da ameaça [6]. Esse tipo de interferência pode ser útil

55
quando não se tem conhecimento a pri- em banda estreita no espectro de fre-
ori da largura de banda do radar ini- quência [5]. Para mitigar tal desvanta-
migo, contra radares que chaveiam sua gem, é necessário que o receptor moni-
frequência de operação entre canais tore constantemente o sinal do radar ví-
próximos quando submetidos a interfe- tima e sintonize novamente o sinal de
rência (agilidade em frequência), contra interferência caso a frequência do radar
sistemas radar com múltiplos feixes ou se altere. Esse movimento de monitorar
contra vários sistemas radar operando o recebimento em frequência se chama
em uma faixa de frequência específica capacidade de look-through e é a res-
[5]. ponsável pelo sinal de interferência po-
Uma maneira de aproveitar a der ser ajustado em caso de mudança
simplicidade do noise jamming, porém na frequência de operação do radar ví-
aumentar a densidade de potência do tima. [6]. A figura 2 ilustra a diferença
sinal de interferência, é utilizar a técnica entre as técnicas de barragem e ponto.
spot noise ou, em português, bloqueio
de ponto. Trata-se de injetar o ruído em FIGURA 2 - TÉCNICAS DE BARRAGEM E
BLOQUEIO DE PONTO
uma largura de banda muito estreita,
chegando a cobrir uma banda de pou-
cos Mega Hertz. O spot noise deve en-
tão ser configurado para coincidir com
a frequência já previamente conhecida
do alvo radar ou programado para se
ajustar automaticamente à frequência
recebida. Quando é necessário blo-
FONTE: [7].
quear vários radares em frequências Quando uma alta densidade de
distintas, mais de um spot é usado [5]. potência é necessária em uma grande
A principal vantagem do blo- largura de banda, uma alternativa é
queio de ponto é proporcionar uma usar um spot noise para varrer toda a
densidade de potência mais alta. O pro- largura de banda de interesse. Essa
cessamento dos receptores radar pode técnica é chamada de Swept Spot
ser degradado a maiores distâncias do Noise (SSN). Com ela, é possível inter-
que quando utilizada uma barragem de ferir em vários radares inimigos ope-
igual potência do interferidor. Uma des- rando em uma ampla faixa de
vantagem do spot noise é a cobertura

56
frequência. No entanto, é importante de J/S, os interferidores introduzem si-
ressaltar que essa cobertura de interfe- nais de interferência de alta potência no
rência não ocorre de maneira contínua feixe principal do radar vítima para ne-
em todas as bandas de frequência [5]. gar informações de alcance e também
A figura 3 ilustra a técnica de SSN. nos lóbulos laterais para negar informa-
ções de azimute [5].
FIGURA 3 - TÉCNICA SSN A densidade de potência, por
sua vez, está diretamente relacionada
com a razão J/S. Se o ruído estiver cen-
trado na frequência e na banda do radar
vítima, o jamming terá uma alta densi-
dade de potência e, consequente-
mente, maior efetividade. Assim, pode-
se dizer que a capacidade da interfe-
FONTE: [7].
rência de ruído de concentrar o sinal de
jamming depende da capacidade do in-
A efetividade do bloqueio de ru-
terferidor de identificar a exata frequên-
ído depende da arquitetura do sistema
cia e banda do radar vítima [5].
interferidor e de diversos fatores opera-
Para uma interferência por ruído
cionais. Dentre eles, destacam-se a ra-
de boa qualidade, recomenda-se que a
zão jammer-sinal (J/S) de interferência,
banda do ruído seja de 1,5 a 3 vezes a
a densidade de potência do jammer, a
largura de banda do receptor [4]. Se o
polarização do sinal de interferência
sinal de interferência de ruído estiver
transmitido e a qualidade do sinal de ru-
centrado na frequência e dentro inte-
ído gerado [5].
gralmente da largura de banda do radar
É intuitivo que a efetividade do
da vítima, a potência do interferidor
bloqueio será maior para maiores valo-
será melhor aproveitada e o ruído terá
res da relação J/S. Isso, porque a de-
uma alta densidade de potência. Em
gradação da capacidade radar de lei-
contrapartida, se o sinal de interferên-
tura dos ecos está intimamente ligada
cia de ruído gerado tiver de cobrir uma
ao fato da potência do jammer ser
ampla largura de banda em frequência,
maior e, portanto, encobrir a potência
a densidade de potência em qualquer
do retorno do alvo medida na saída do
frequência será reduzida e grande
receptor radar. Para atingir altos níveis

57
parte da potência do interferidor não DE INTERFERÊNCIA NO RECEPTOR DO
RADAR
entrará no receptor radar [5].
Um outro fator bastante significa-
tivo para a efetividade da interferência
por ruído se refere à polarização das
antenas (radar e interferidor). Os dife-
rentes sistemas radar podem assumir
diferentes tipos de polarizações. Por
conta disso, as emissões de interferên-
cia utilizam em geral polarização linear
FONTE: [8].
com 45° de inclinação ou polarização
circular. A escolha desse tipo de polari- IV - INTERFERÊNCIA ELETRÔNICA
zação se deve ao fato de a maioria dos POR REPEATER
sistemas eletrônicos utilizar polarização
vertical ou horizonta, assim, as perdas Na execução das interferências
por descasamento de polarização entre utilizando uma arquitetura repeater,
jammer e antena radar, são mitigadas e faz-se necessária a recepção do sinal
estabelecidas em torno de 3 dB para radar para que este possa ser irradiado
polarização [6]. novamente com modulação em ampli-
Para simulação da utilização da tude, fase ou frequência, com ganho
técnica de ruído para introdução do si- constante ou desvio em frequência. Ou
nal interferente no receptor inimigo, foi seja, o sistema intercepta os sinais, re-
utilizado o software MATLAB. A figura 4 aliza a amplificação, a modulação e os
apresenta o sinal composto pelo eco de transmite. Esse modo de operação é
retorno do alvo adicionado ao ruído de conhecido como modo repetidor, por-
interferência no receptor do radar no que o sinal transmitido é coerente-
domínio do tempo. Observa-se que o mente derivado do sinal interceptado
sinal de interferência se mistura ao si- na antena de recepção do equipamento
nal real, o que prejudica o processa- Electronic Countermeasures (ECM) [6]
mento no receptor [8]. [4].
Em radares pulso Doppler, o ras-
FIGURA 4 - SINAL COMPOSTO PELO RE-
treio dos alvos é feito por meio de
TORNO DO ALVO ADICIONADO AO RUÍDO
speed gates estreitos (filtros de rastreio

58
Doppler). O objetivo da interferência se afasta do verdadeiro alvo. Portanto,
por arquitetura repeater é capturar es- tais repetidores devem induzir mudan-
sas gates de velocidade, fazendo com ças de frequência realistas no sinal re-
que o radar perca as informações de petido, consistentes com o afastamento
track ou um seeker de míssil perca as em distância [6].
informações confiáveis de orientação. Na figura 5, é possível observar
Uma técnica possível de ser empre- uma simulação de variação da frequên-
gada para realizar a captura dessas ga- cia Doppler para execução da técnica
tes é gerar alvos falsos que realizem VGPO.
Velocity Gate Pull In/Off (VGPI/O) [6].
A técnica VGPI/O busca capturar FIGURA 5 - DEMONSTRAÇÃO DA DINÂMICA
DE UMA TÉCNICA VGPO
as velocity gates ou speed gates do ra-
dar vítima, movendo-o para fora delas e
deixando o radar sem sinal de retorno
do alvo. Desse modo, o radar é obri-
gado a passar para o modo de reaqui-
sição e tentar readquirir o alvo [6].
Para realizar esse tipo de interfe-
rência contra radares de rastreio com
compressão de pulsos, o ECM deve
produzir réplicas coerentes da forma de
FONTE: [8].
onda do radar com frequência Doppler
variável no tempo. Inicialmente, deve-
De modo a facilitar a visualiza-
se repetir o pulso do radar com atraso
ção, foi apresentado na imagem ape-
mínimo, pois isso garante que o pulso
nas o lóbulo principal do sinal no domí-
de interferência esteja dentro dos
nio da frequência. Observa-se que o
tracking gates junto com o sinal verda-
eco do alvo real possui uma potência
deiro e, assim, permite a captura dos
menor do que os sinais de interferência.
circuitos de controle automático de ga-
Pelo gráfico, verifica-se que essa rela-
nho (AGC) do radar. Após, devem ser
ção J/S está na ordem de 7 dB, dentro
introduzidas quantidades crescentes de
da faixa de valores previsto na literatura
variação na frequência do sinal repe-
esperada, que considera a faixa de 7 a
tido. Com isso, o radar começa a ras-
10 dB como necessária para execução
trear o sinal mais forte e gradualmente

59
de técnicas repeater. Inicialmente o si- função de permitir que o interferidor
nal enviado é bem próximo da frequên- funcione efetivamente em um cenário
cia do alvo real e, em seguida, come- de alta densidade, respondendo a uma
çam os desvios Doppler sucessivos, variedade de ameaças sofisticadas. Ele
gerando uma velocidade maior para o recebe uma série de sinais digitais que
alvo falso e, consequentemente, atra- representam instruções para sintonizar
sos sucessivos do alvo falso de modo a e permanecer em uma frequência es-
capturar o velocity gate [8]. pecífica, podendo, em seguida, sintoni-
zar rapidamente uma nova frequência
V - INTERFERÊNCIA ELETRÔNICA de ameaça existente [4].
POR TRANSPONDER Os sistemas transponder execu-
tam técnicas de despistamento chama-
As técnicas de interferência rea- das de Range Gate Pull In/Off
lizadas utilizando uma arquitetura (RGPI/RGPO). Essas técnicas são lar-
transponder jamming são utilizadas em gamente utilizadas em sistemas de
muitos sistemas modernos de interfe- contramedidas eletrônicas para repro-
rência eletrônica ativa para despista- duzir um pulso radar recebido, apli-
mento. Para esse tipo de arquitetura, é cando um atraso de tempo, que se con-
requerida a utilização de um Digital Ra- verte em distância, e amplificando-o [9].
dio Frequency Memory (DRFM) ou um Tal artifício é uma técnica de autoprote-
Voltage-Controlled Oscillator (VCO) [4]. ção normalmente empregada por uma
O DRFM permite mecanização aeronave contra míssil ou radar de ras-
da memória, que é independente do treio, e tem o objetivo final de fazer com
tempo e, por isso, elimina qualquer de- que o rastreador perca completamente
terioração da fidelidade do sinal com o alvo (quebra de lock on) ou, na falta
eventual atraso. Múltiplos sinais podem disso, crie erros de medição em distân-
ser armazenados simultaneamente e cia grandes o suficiente para degradar
replicados sob comando. Através dele, a precisão do sistema diretor de tiro ini-
é possível replicar sinais com compres- migo [9].
são de pulso e sinais com codificação As range gates podem ser defi-
de fase e modulação intrapulso [6]. nidas como uma porta dividida ao meio,
O VCO, por sua vez, é um com- que funciona como um discriminador de
ponente associado aos modernos siste- tempo de chegada do eco radar, garan-
mas de transponder jamming e tem a tindo o rastreio do alvo em distância.

60
Quando essa porta está posicionada
em relação ao pulso de modo que tanto
a early como a late gate estejam captu-
rando partes iguais do pulso, significa
que o rastreio está centrado no alvo.
Quando isso ocorre, o pulso é aceito e
é passado adiante para o sistema de
processamento do radar [9]. O objetivo
FONTE: [8].
dessa técnica é, portanto, mover essas
range gates para longe da posição real
VI - TÁTICAS DE INTERFERÊNCIA
do alvo. Isso significa que o sistema
ELETRÔNICA
ECM deve, no início da técnica, trans-
mitir sinais de interferência tão coinci-
A tática de interferência eletrô-
dentes no tempo quanto possível com o
nica está diretamente ligada com o po-
sinal refletido do alvo real [10].
sicionamento relativo entre a aeronave
A figura 6 é resultado de uma si-
interferidora, o alvo e demais aerona-
mulação da técnica RGPO. Nela é pos-
ves amigas no momento de utilização
sível observar o sinal radar transmitido,
da Interferência Eletrônica [1]. Elas po-
o eco recebido já com o atraso de
dem ser definidas como Stand-off Jam-
tempo correspondente à distância do
ming, Escort Jamming e Self-Protection
alvo e, por fim, o sinal interferente; si-
Jamming.
mulando um alvo falso com atraso no
A técnica de Stand-off Jamming
tempo de chegada, isto é, atraso em
(SOJ) é aquela na qual a aeronave in-
distância [8].
terferidora está fora do alcance do ar-

FIGURA 6 - SIMULAÇÃO DA TÉCNICA mamento e do sistema radar inimigos


RGPO enquanto outras aeronaves se aproxi-
mam deles para cumprir a missão.
Nesse caso, como a aeronave interferi-
dora está distante das aeronaves que
deve proteger, há a necessidade de
uma alta potência de transmissão do in-
terferidor [1].

61
O Escort Jamming, por sua vez, inimigo empregando tanto aeronaves
é realizado por aeronaves designadas de Defesa Aérea como sistemas de De-
para acompanhar os vetores que irão fesa Antiaérea equipados com radar.
cumprir a missão no território inimigo, Nesse contexto, por meio dos
denominadas aeronaves de ataque ou conceitos abordados nas seções ante-
atacante. Nessa tática, a aeronave de riores, é coerente afirmar que esses ca-
interferência acompanha as demais, ças bombardeiros estariam realizando
penetrando o território inimigo e se ex- uma tática de Self Protection Jamming,
pondo a possíveis ameaças existentes em virtude de realizarem a missão prin-
[6]. cipal provendo a sua própria proteção.
Também conhecida como Self- É válido ressaltar também que, no caso
Screen Jamming, a técnica de Self-Pro- de duas aeronaves voando próximas e
tection ou Autoproteção é realizada por somente uma com sistema de interfe-
aeronaves que detêm a capacidade de rência eletrônica operacional, esta
realizar interferência eletrônica simulta- pode realizar também a tática Escort
neamente ao cumprimento da sua mis- Jamming, provendo a segurança para a
são principal, como por exemplo os ca- segunda aeronave.
ças bombardeiros. Essas aeronaves Sendo o sistema de autoprote-
possuem os equipamentos de Guerra ção dessa aeronave capaz de utilizar
Eletrônica para produzirem o ataque os três modos de geração de interferên-
eletrônico já integrados em sua estru- cia eletrônica abordados nas seções
tura ou são capazes de carregar um anteriores, ressalta-se que cada uma
pod interferidor [1]. delas teria um impacto operacional di-
ferente no display radar e, consequen-
VII - EMPREGO EM UM CENÁRIO temente, nas atitudes a serem adota-
OPERACIONAL das pelo operador dos sistemas d’ar-
mas inimigos.
Um cenário de emprego operaci- Em se tratando de técnicas por
onal da interferência eletrônica possível ruído, um dos efeitos possíveis é cha-
é aquele no qual uma aeronave de mado de screening. Nesse caso, o dis-
caça, devidamente equipada com um play radar apresentaria uma “mancha”
Sistema de Autoproteção (Self Protec- no setor de onde é recebido o sinal in-
tion Suite), executa uma missão de ata- terferente. Essa condição requer uma
que ao solo em território hostil com o elevada potência para execução e

62
denuncia a direção das aeronaves in- as gates de tracking do radar, alterar as
terferidoras, porém impede a detecção informações do alvo real e, então, gerar
de qualquer alvo naquele setor. Outra um comportamento no display radar
possibilidade é de que, ao iluminar a (em velocidade e/ou direção) diferente
aeronave alvo, o radar receba o sinal daquele que a aeronave está realmente
eco juntamente com o ruído interfe- realizando. Nessa situação, existem
rente, impedindo que o radar passe duas possibilidades. A primeira delas é
para o modo de tracking e impossibili- o desligamento do sinal interferente
tando o emprego de armamento. A fi- após determinado período, o que cau-
gura 7 ilustra o efeito screening. saria a perda do lock radar e o início de
uma nova aquisição do alvo. A segunda
FIGURA 7 - EXEMPLO DE SCREENING EM delas é o lançamento de armamento
UM DISPLAY RADAR
em um alvo falso, o que acarretaria o
desperdício de material.
Para causar uma confusão no
operador radar inimigo, a aeronave ata-
cante com autoproteção, ao detectar as
emissões do radar de rastreio, introdu-
ziria no receptor radar inimigo diversos
alvos falsos válidos, gerando uma polu-
FONTE: [5]. ição de alvos no display. Essa situação
impossibilitaria o operador de distinguir
Seja com VGPO/I, seja com alvos reais e alvos falsos.
RGPO/I, as interferências por repeater
Considerando um combate ar-ar, a po-
e transponder têm o objetivo de criar al- luição do display radar pode forçar o pi-
vos falsos para despistar ou confundir o
loto a tomar decisões baseadas em in-
operador radar inimigo, fazendo com formações falsas, acarretando prejuízo
que este perca a consciência situacio-
operacional ou impedindo o lança-
nal. Uma aeronave dotada da capaci- mento de armamento no alvo real. A fi-
dade de interferência eletrônica, para o
gura 8 exemplifica este contexto abor-
cenário descrito no primeiro parágrafo dado de criação de diversos alvos fal-
desta seção, inicia a emissão de sinais
sos.
interferentes ao ser iluminada por um
radar inimigo. Isso de modo a capturar

63
FIGURA 8 - CRIAÇÃO DE ALVOS FALSOS de programação do equipamento e com
NO RADAR INIMIGO
os cenários de emprego da plataforma.

VIII - CONCLUSÃO

A notória evolução dos equipa-


mentos de Guerra Eletrônica ao redor
do mundo é também observada na
Força Aérea Brasileira. Inserido nesse
FONTE: [11]. contexto, estão os equipamentos de in-
terferência eletrônica, imprescindíveis
Ponto importante de ser conside- para o sucesso no teatro de operações
rado no emprego de interferência ele- moderno.
trônica em um cenário operacional são O presente artigo teve como ob-
os processos de separação, caracteri- jetivo o estudo das técnicas de interfe-
zação, identificação e classificação dos rência eletrônica, geradas por meio de
sinais de radiofrequência que estão arquiteturas noise, repeater e transpon-
sendo recebidos pelos sistemas de der, de suas características e de possí-
Guerra Eletrônica da aeronave. Para veis efeitos nos receptores e display ra-
que esses quatro passos mencionados dar. Por fim, foram feitas algumas con-
sejam executados corretamente pelos siderações sobre a utilização das técni-
sistemas da aeronave, é imprescindível cas de interferência e táticas de em-
que todos os parâmetros descritores da prego em cenário operacional. Abor-
emissão inimiga sejam devidamente dou-se ainda pontos de fundamental
programados com a maior riqueza de importância para a eficaz programação
informações e detalhes nas bibliotecas de bibliotecas de missão, como por
de missão. exemplo dados de ELINT confiáveis e
Por fim, para que essa progra- coerentes com as necessidades de
mação seja realmente eficaz, é impera- cada software de programação dos
tivo que os dados coletados e proces- equipamentos de Guerra Eletrônica.
sados pelos sistemas de Electronic In-
telligence (ELINT) sejam confiáveis, fi- REFERÊNCIAS
dedignos, detalhados, e disponibiliza-
dos de acordo com as características

64
[1] BRASIL. Força Aérea Brasileira. Jamming. Boston: Artech House,
Grupo de Instrução Técnica 1990.
Especializada. Guerra Eletrônica:
Apostila do Curso Dutrinário de Guerra [10] CHRZANOWSKI, E. J. Active Ra-
Eletrônica (CDGE). Natal, 2021. dar Electronic Countermeasures.
Boston: Artech House, 1990.
[2] KUCUKOZYIGIT, Ali Can.
Electronic Warfare (EW) Historical [11] HICKS, F.; HOLCOMB, J. Sparta
Perspectives and its relationship to Software Solution – Assessing Elec-
Information Operations (IO): tronic Coutermeasures to Help Save
Considerations for Turkey. 2006. Lives. Southwest Research Institute,
Thesis (Master Of Science In Systems 2020. Disponível em: <
Engineering) - Naval Postgraduate https://www.swri.org/technology-to-
School, Monterey, 2006. day/sparta-software-solution-electro-
nic-countermeasures>. Acesso em: 14
[3] BRASIL. Força Aérea Brasileira. de jul. de 2022.
DCA 1-1: Doutrina Básica da Força .
Aérea Brasileira. Brasília, 2020. AUTOR

[4] WIEGAND, R. J. Radar Eletronic


Countermeasure System Design.
Boston: Artech House, 1991.

[5] CHOUDHARI, P.; KARTHIKEYAN,


V.; MADHAVAN, A. Eletronic Warfare:
Radar Noise Jamming. Full
Afterburner, 2018. Disponível em:
<http://fullafterburner.weebly.com/next-
gen-weapons/electronic-warfare-radar-
noise-jamming>. Acesso em: 13 de jul.
de 2022. O Cap Av Eberle possui graduação em
[6] SCHLEHER, D. C. Eletronic Ciências Aeronáuticas e Administração
Warfare in the Information Age. com ênfase em Administração Pública
Boston: Artech House, 1999. pela Academia da Força Aérea (2012)
e especialização em Análise de Ambi-
[7] ELBIT SYSTEMS. ELISRA.A1-M ente Eletromagnético pelo Instituto Tec-
CLS Program Offset Training: nológico de Aeronáutica (2021). É pi-
Eletronic Warfare Relates Technology loto de caça e possui o curso de Inves-
Course. Porto Alegre, 2019. tigador de Acidentes Aeronáuticos,
[8] ALMEIDA, Rodrigo Eberle. Estudo Chefe Controlador para Piloto de De-
das Capacidades do Sistema de fesa Aeroespacial, Curso Doutrinário
Contramedidas Eletrônicas Ativas de Guerra Eletrônica, entre outros. Atu-
da Aeronave A-1M. 2021. 141f. Traba- almente é Adjunto da Célula de Progra-
lho de Conclusão de Curso. (Lato mação de Guerra Eletrônica do 3º/10º
Sensu) – Instituto Tecnológico de Aero- GAV.
náutica, São José dos Campos Contato: eberlerea@fab.mil.br /
(55) 3220-3762.
[9] LOTHES, R. N.; SZYMANSKI, M. B.;
WILEY, R. G. Radar Vulnerability to

65
ALGORITMO DE PREVISÃO COMO FERRAMENTA DE APOIO À DECISÃO NAS
UNIDADES AÉREAS DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA

Ten Av Fradique Teixeira Nunes Gomes I - INTRODUÇÃO


Quinto Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação
(5º/8º GAV)

Luiz Gustavo Antonio de Souza O avanço tecnológico das últi-


Universidade Federal Fluminense
mas décadas tem permitido à Força Aé-
RESUMO rea Brasileira uma frequente moderni-
Este trabalho tem como objetivo avaliar a utili-
zação de algoritmos de previsão no processo zação de suas diversas plataformas.
de apoio à decisão das escolhas de tripulações
para as diversas missões das unidades aéreas Missões que anteriormente eram consi-
da FAB em substituição às decisões tradicio-
nais baseadas exclusivamente em experiência deradas complexas hoje são vistas
ou disponibilidade de informações. O algoritmo
representa as diretrizes da autoridade expres- como possíveis dado o arcabouço de
sas por um modelo matemático capaz de con- funcionalidades que as aeronaves pos-
templar todas as variáveis tidas como impres-
cindíveis ao processo de decisão. Para a cons- suem.
trução do algoritmo, foram utilizados dados de
testes realizados ao longo do ano de 2022 no Como consequência direta
5º/8º GAV - Esquadrão Pantera. Os dados fo-
ram processados no Software IBM SPSS Sta- desse avanço tecnológico, as equipa-
tistics 21.0. A ferramenta demonstrou aderên-
cia à realidade das unidades aéreas e está em gens necessitam cada vez mais realizar
aprimoramento. esforços no intuito de manterem-se atu-
Palavras-Chave: Algoritmo; Viés; Fórmula;
Apoio à decisão; Unidade Aérea.
alizadas e preparadas para o cumpri-
mento das mais variadas missões. A
PREVISION ALGORITHM AS A DECISION
SUPPORT TOOL AT THE AERIAL UNITS OF fim de atingir esse objetivo, faz-se ne-
THE BRAZILIAN AIR FORCE
cessário atender aos seguintes aspec-
ABSTRACT
This work aims to evaluate the use of prevision tos:
algorithms on the decision support process for
the choice of crews for different missions of the 1) constante estudo e preparo
Brazilian Air Force Aerial Units, replacing tradi- teórico;
tional decision making based exclusively on ex-
perience or availability of information. The algo- 2) efetivo aproveitamento das
rithm represents the authority guidelines ex-
pressed in a mathematical formula in order to missões de manutenção operacional; e
ensure that all necessary variables are being
considered in the decision process. For the con- 3) cumprimento de missões re-
struction of the algorithm it was used data from
tests carried out throughout 2022 at the 5th/8th
ais (maior ganho operacional).
GAV - Pantera Squadron. The data was input to Os dois primeiros tópicos são
IBM SPSS Statistics 21.0 Software. This tool
demonstrated adherence to the reality of Aerial tratados e checados de forma assídua
Units and it undergoes constant improvement.
e rotineira no dia a dia de um Esqua-
Keywords: Algorithm; Bias; Formula; Decision
support; Aerial Unit. drão Operacional, porém ao tratarmos
sobre o terceiro tópico surgem diversas

66
variáveis que incorporam o processo de mas uma simples combinação de vari-
escolha das tripulações para missões áveis provavelmente apresentaria me-
operacionais, tais como: lhores soluções. Segundo Kahneman
1) quantidade de horas voadas (2020, p. 290), “sempre que podemos
até o momento no ano (pau de sebo1); substituir o julgamento humano por
2) validade do cartão de voo por uma fórmula, devemos ao menos levá-
instrumentos (CVI)2; la em consideração”.
3) validade da inspeção de sa- A ação humana pode ser divi-
úde (INSPSAU); dida em ações racionais e ações subje-
4) qualificação operacional; tivas. A parcela subjetiva pode se tradu-
5) disponibilidade do militar para zir na dificuldade de se tomar decisões
o período da missão; e em curtíssimo prazo e com variáveis
6) fatores operacionais específi- agravantes e limitadoras. A escolha de
cos, como por exemplo a demanda de tripulação para a composição de deter-
escalar militares que necessitem encer- minada missão, por exemplo, está en-
rar o comissionamento. volta muitas vezes em informações
Dessa forma, fica evidente o tra- descontínuas e instantâneas (às vezes
balho hercúleo necessário para conci- poucos minutos ou horas antes da de-
liar devidamente os diferentes fatores colagem). Neste sentido, verifica-se
envoltos na definição das tripulações uma lacuna entre a celeridade deman-
de voo e para garantir que tais defini- dada e a objetividade exigida pela mis-
ções não contenham erros. são. Embora eficazes, as decisões ado-
De acordo com Kahneman tadas em curto prazo e sem uma exa-
(2020, p. 287), as avaliações finais de- ustiva avaliação, muitas vezes pos-
terminadas por procedimentos subjeti- suem pontos de melhoria e, desse
vos deveriam ser abandonadas. Essas modo, poderiam ser otimizadas com o
avaliações possuem baixo grau de con- auxílio de ferramentas computacionais.
fiabilidade em relação a estudos esta- Prado, Diehl e Gordan (2020)
tísticos com atributos avaliados. Muitos afirmam que “se você é um ser humano
decisores acreditam que seus julga- 'normal', deve estar bastante conven-
mentos são completos e complexos, cido de que o seu raciocínio é imparcial,

1“Pau de sebo” é uma expressão comumente utili- 2O cartão de voo por instrumentos - CVI ou CVIH,
zada nos Esquadrões Aéreos da FAB. Trata-se de no caso de helicópteros - é uma habilitação do piloto
um ranking de horas de voo do ano corrente. para operar em condições meteorológicas adversas.

67
lógico e racional, e por isso chega a tendência de reafirmar conceitos em
conclusões corretas na grande maioria que já se acredita previamente, sem le-
das vezes”. A realidade é que diversos var em consideração a possibilidade de
vieses corroboram para tomadas de de- não serem verdadeiros. Esse viés atua
cisões degradadas. E isso ocorre justa- em conjunto com a dissonância cogni-
mente pelo fato de que a mente hu- tiva3 e o raciocínio motivado4 (DO-
mana possui uma limitação cognitiva, CKHORN, 2021).
levando-a a decisões equivocadas. O viés do resultado é traduzido
Dentre os principais vieses cognitivos, como a tentativa de tomada de decisão
pode-se citar: baseada em resultados, mesmo que
1) viés da disponibilidade; em esferas de desenvolvimento dife-
2) viés da confirmação; e rentes. O processo percorrido para o
3) viés do resultado. resultado é pouco reconhecido, porém
De acordo com Costa (2018), o resultado em si recebe grande peso
“graças ao viés de disponibilidade, ca- na avaliação do indivíduo. A qualidade
minha-se pelo mundo com um mapa da decisão é influenciada por fatores
falso de riscos na cabeça. Assim, supe- pouco relevantes para a situação prin-
restima-se sistematicamente o risco de cipal, enquanto que outros fatores são
morrer pela queda de um avião, por um desconsiderados inconscientemente
acidente de carro ou por assassinato. E (CUOFANO, 2022).
subestima-se o risco de morrer por for- Em síntese, as mentes estão a
mas menos sensacionalistas, como di- todo momento suscetíveis a interferên-
abetes ou câncer de estômago”. Isso cias internas e externas, as quais preju-
ocorre, porque as informações utiliza- dicam o processo de tomada de deci-
das para o processo de decisão tor- são. De posse de tal pensamento, sur-
nam-se as que são mais facilmente giu a necessidade do desenvolvimento
acessíveis, independente de serem as de uma ferramenta computacional que
mais válidas ou relevantes (BANERJEE fosse capaz de englobar todas as vari-
et al., 2019). áveis essenciais para o processo e que
Em relação ao viés da confirma- suprisse em tempo real o papel de es-
ção, pode-se dizer que se trata da colha das tripulações das missões do

3Conflito entre o que uma determinada pessoa acre- 4 Tendência de interpretar situações de modo a aco-
dita ou pensa e o que ela efetivamente executa. modar o resultado em crenças preexistentes no indi-
víduo.

68
Esquadrão Pantera. Além do ganho de indicadores objetivos e relevantes
operacional, foi possível observar um no escopo de uma Unidade Aérea.
aumento na credibilidade do processo Conforme exposto anteriormente, vari-
de escala, uma vez que o processo de áveis como:
escolha das equipagens tornou-se 1) quantidade de horas voadas
transparente para os tripulantes. até o momento no ano (pau de sebo);
Essa transparência objetiva en- 2) validade do cartão de voo por
tregar um produto de qualidade (to- instrumentos (CVI);
mada de decisão quase perfeita) e alta 3) validade da inspeção de sa-
confiabilidade. A melhoria no processo, úde;
a evolução da transparência e o au- 4) qualificação operacional;
mento da confiança não poderiam re- 5) disponibilidade do militar para
sultar em nada diferente da melhoria na o período da missão; e
qualidade de trabalho e do clima orga- 6) outros fatores operacionais
nizacional, o que posteriormente fora específicos são complexas o bastante
constatado. quando necessitam ser priorizadas em
O entendimento desses vieses um curto período de tempo.
da disponibilidade, confirmação e resul- Somado ao fator diversas variá-
tado foi imprescindível para a correta veis, surge também a preocupação
avaliação dos parâmetros escolhidos com subvariáveis. No tocante ao fator
para composição do algoritmo. O pre- “pau de sebo”, entra-se na discussão
sente artigo sintetiza o trabalho que de horas voadas em sede e fora de
vem sendo desenvolvido no Esquadrão sede. No exemplo a seguir, tem-se uma
Pantera e objetiva trazer à luz os ga- melhor visualização:
nhos operacionais e administrativos Piloto A: Piloto com duas mis-
com o uso de algoritmos de previsão sões realizadas no ano. 40 horas de
em detrimento de soluções globais, for- voo totais no ano.
talecendo diretamente o preparo da Piloto B: Piloto com duas mis-
Força Aérea. sões realizadas no ano. 45 horas de
voo totais no ano.
II - PRINCÍPIOS DO ESTUDO Olhando apenas essas informa-
ções, certamente o piloto A seria uma
O processo de tomada de deci- prioridade para cumprir uma próxima
são na escolha de tripulações depende missão (terceira missão do piloto).

69
Entretanto, ao verificar com mais cui- Piloto A: Piloto com duas mis-
dado os detalhes, depara-se com a se- sões realizadas no ano. 40 horas de
guinte situação: voo totais no ano (5 horas em sede e 25
Piloto A: Piloto com duas mis- horas em missões fora de sede). Inspe-
sões realizadas no ano. 40 horas de ção de saúde vencendo em 3 meses.
voo totais no ano (15 horas em sede e Piloto B: Piloto com duas mis-
25 horas em missões fora de sede). sões realizadas no ano. 45 horas totais
Piloto B: Piloto com duas mis- no ano (30 horas voadas em sede e 15
sões realizadas no ano. 45 horas totais horas em missões fora de sede). Inspe-
no ano (30 horas voadas em sede e 15 ção de saúde vencendo em 20 dias.
horas em missões fora de sede). Missão: Gota no norte do país
Verifica-se grande discrepância (duração estimada de 40 dias)
de horas efetivas de voo fora da sede Com a inclusão dessa nova vari-
entre os pilotos. De posse desses da- ável, porém mantendo-se as mesmas
dos, é possível que o piloto B, nesse ce- condições das variáveis anteriores,
nário, seja priorizado para uma próxima tem-se novamente uma inversão.
missão fora de sede. Nessa nova situação, o piloto A torna-
Foi abordado, até o momento, se novamente prioridade, pois o piloto
três variáveis do modelo para seleção B perderia a validade de sua inspeção
de tripulação implementado atualmente de saúde durante a missão.
no Esquadrão Pantera, a saber: Agora, pode-se imaginar a situa-
1) quantidade de missões reali- ção em que ao menos 9 fatores fossem
zadas no ano; levados em consideração, como elen-
2) horas totais no ano; e cados na Tabela I.
3) horas divididas entre sede e
fora de sede. Contudo, outras variáveis
também se mostram relevantes para
esse processo decisório. Nota-se a se-
guir, o impacto causado pela inclusão
da variável “Inspeção de saúde5”.

5 A inspeção de saúde é um procedimento anual re- não é cauteloso escalar tripulantes com a inspeção
alizado por todos os pilotos da FAB. Em virtude do próxima do vencimento para missões longas.
tempo necessário para a renovação da inspeção,

70
TABELA I - VARIÁVEIS POSSÍVEIS NO MO- chegar a um algoritmo que processa
DELO ALGORITMO DE PREVISÃO
em tempo real todos os dados do Qua-
dro de Tripulantes (QT) e sinaliza para
o tomador de decisão quem são os me-
lhores tripulantes para compor a mis-
são. O resultado do algoritmo asses-
sora a autoridade, e a partir disso ajus-
tes pontuais na composição podem ser
realizados para adequar também a va-
riável “fatores operacionais específi-
cos”.
Os algoritmos manifestam-se
justamente como uma ferramenta alter-
nativa para a resolução de problemas
complexos para a mente humana
(NARCISO, 2001).

III - DEFINIÇÃO DO MODELO

FONTE: O AUTOR. O objetivo principal do modelo é


ordenar uma sequência de elementos
Para um acionamento inopinado,
(tripulantes de um QT) de acordo com
em que há um curto espaço de tempo
um fator F, conforme (1):
para uma tomada de decisão com-
plexa, torna-se inviável levar todos es-
ses fatores em consideração, apesar (1)
de todos serem essenciais para a distri-
buição de operacionalidade ao longo do xij: é o valor da i-ésima variável
ano. observada para o j-ésimo elemento;
Essa inviabilidade surge justa- ai: é o peso da i-ésima variável
mente por conta de nossas limitações (importância da variável na construção
cognitivas aliadas à urgência da situa- do fator F).
ção. Entretanto, com variáveis relevan- Define-se FP01 como o fator do
tes e objetivas pré-definidas, é possível piloto 01. Sendo assim, o FP01 é

71
determinado pelo somatório entre as vez, começando pela X1, após X2, e
variáveis relevantes e seus respectivos assim sucessivamente.
pesos atribuídos (ai). Em síntese, primeiramente cal-
Para o modelo em questão, o pri- cula-se o fator F para k variáveis. Pos-
meiro passo foi determinar as variáveis teriormente, calcula-se o novo fator F,
relevantes dentre o universo de variá- repetindo-se os passos e eliminando a
veis possíveis. Para um universo de k variável X1. Em seguida, reintegra-se a
variáveis, determinar as n, n<k, que variável X1 e elimina-se a X2, e assim
produzem impactos consideráveis no por diante. Em cada cálculo são consi-
fator F (KUBRUSLY, 1992). deradas k - 1 variáveis. Caso ocorra
Por exemplo, pode-se conside- uma mudança considerável no ordena-
rar um cenário em que k = 7, tal que: mento dos elementos, a variável exclu-
1) horas voadas em sede; ída é considerada “relevante”. Caso
2) horas em missão; haja pouca interferência, a variável é
3) horas solo; dita “irrelevante”, ou seja, não será utili-
4) quantidade de missões reali- zada no modelo.
zadas; Após as aplicações dos passos,
5) dias em missão; observou-se que a variável “Horas
6) tempo de esquadrão; e Solo” não apresentava relevância no fa-
7) dentre outros. tor, enquanto que as demais apresen-
taram mudanças consideráveis. Na
Desse modo, foi utilizado o Sof- comparação apresentada no Gráfico 1,
tware IBM SPSS Statistics 21.0 para percebe-se a pouca variação causada
construir um modelo fidedigno. Segui- no ordenamento dos pilotos com a reti-
ram-se os seguintes passos: rada da variável “Horas Solo”:
1) Transformar as variáveis do
problema em variáveis quantitativas;
2) Calcular o fator F conside-
rando todas as variáveis possíveis;
3) No passo 2 atribuir peso 1
para a variável “ai”;
4) Repetir o passo 2 eliminando
a cada passo uma única variável por

72
GRÁFICO 1 - COMPARAÇÃO DO FATOR IV - MODELO DE PREVISÃO DE EQUI-
COM A PRESENÇA OU EXCLUSÃO DA VA- PAGENS
RIÁVEL "HORAS SOLO"

Com base no entendimento dos


stakeholders acerca da relevância das
variáveis do problema, consolidou-se o
modelo apresentado na Figura 1. Ele foi
implementado em janeiro de 2022 no
5º/8º GAV na Base Aérea de Santa Ma-
ria - RS.

FIGURA 1 - MODELO DE PREVISÃO DE


EQUIPAGENS

FONTE: O AUTOR.

Os pesos a serem utilizados fo-


ram definidos com base em entrevistas
com os elementos do QT. O grau de im-
FONTE: O AUTOR.
portância médio atribuído pelos pilotos
definiu o peso de cada variável rele-
FIGURA 2 - RESULTADO EM TEMPO REAL
vante (MIGUEL, 2010). DO MODELO DE PREVISÃO DE EQUIPA-
Sendo assim, ai é igual ao peso GENS PARA UM EXEMPLO DE QT.
atribuído com base no julgamento da
importância do QT sobre a variável.
Em ambas as definições, variá-
veis e pesos, usou-se o Software IBM
SPSS Statistics 21.0 para trabalhar os
dados.
FONTE: O AUTOR.

O texto encontrado na Figura 2 é


uma breve explicação para o QT sobre
o funcionamento do modelo e diz o

73
seguinte: A Prioridade para a missão os pesos atribuídos, conforme definição
são os menores FATORES de cada disponível na Seção III.
Classe (IN, 1P ou 2P)6, levando-se em De forma breve, para ilustração,
consideração a formação da tripulação caso uma missão fosse acionada e as
(2(1P) e 1(2P) ou 1(IN), 1(1P) e 1(2P)). condições do momento fossem as da
O critério de CVIH (ao menos um piloto Figura 2, teríamos a seguinte composi-
na tripulação com o CVIH válido) e INS- ção (Os trigramas são os códigos atri-
PSAU (não vencendo em menos de 30 buídos para a ilustração. Ex.: P01= tri-
dias) serão considerados seguindo a grama atribuído ao piloto 01):
ordem decrescente dos fatores. O Para o caso de um (IN), um (1P)
Controle geral de missões, horas em e um (2P), respectivamente: P04 (IN),
sede, em missão, dias fora e quanti- P22 (1P) e P24 (2P). Para o caso de
dade de missões estará disponível para dois (1P) e um (2P), respectivamente:
consulta na escala em caso de dúvidas. P22 (1P), P14 (1P) e P24 (2P).
O fator escolhido como oportuno Ao longo de 2022, a tela repre-
à tomada de decisão no Esquadrão foi sentada pela Figura 2 foi disponibili-
o calculado com base em (2) e comple- zada7 para todo o QT em tempo real por
mentado com informações como a vali- meio de uma televisão disponível no
dade do CVIH e da inspeção de saúde. setor de Operações do Esquadrão Pan-
A equivalência entre nome da variável tera (5º/8º GAV). Essa disponibilização
e significado pode ser verificado na Fi- permitiu uma melhora significativa no
gura 1. nível de planejamento dos militares do
Esquadrão, haja vista que as priorida-
Fator = ((HS + 2xHM) + DM/15 + QM + des da vez mantêm-se alertas para o
TE) (2) caso de acionamento de missão que
não seja Alerta SAR8 (nessa situação a
A fórmula acima representa o so- equipe de Alerta SAR do dia cumpriria
matório de variáveis relevantes já com os procedimentos previstos em legisla-
ção).

6 As siglas IN, 1P e 2P significam respectivamente: 8 SAR é uma sigla inglês para “Search and Rescue”.
Instrutor de Voo, 1º Piloto e 2º Piloto (copiloto). Tra- O serviço de alerta SAR é composto por uma equipe
tam-se de qualificações operacionais. de 2 pilotos, 2 operadores de equipamento e mais 3
7 A tela disponibilizada contém os trigramas reais dos homens de resgate. A equipe permanece de pronti-
pilotos. Para o artigo os dados foram mascarados dão por um período de 24 horas, e em caso de acio-
com o intuito de preservar as informações dos pilo- namento decolam para o cumprimento da missão de-
tos. terminada.

74
V - CONCLUSÃO bias. In: Catalogue of Bias 2019: www.
catalogbias.org/availabilitybias. Acesso
em: 11 jul 2022.
O uso de ferramentas de apoio à
COSTA, F. N. Viés da disponibili-
decisão reduz a carga de trabalho do
dade, 2018: https://fernandonogueira-
decisor e melhora consideravelmente o costa.wordpress.com/2018/03/06/vies-
da-disponibilidade/. Acesso em: 08 jul
processo de tomada de decisão. Com
2022.
uma carga de trabalho reduzida, é pos-
CUOFANO, G. Qual é o viés de resul-
sível empenhar esforços em outras
tado? O viés de resultado em poucas
áreas da Unidade Aérea, possibilitando palavras, 2022: https://fourweek-
mba.com/pt/vi%C3%A9s-de-resul-
ainda mais a melhoria dos processos.
tado/. Acesso em: 13 jul 2022.

DOCKHORN, Vanessa. Entenda o


A redução da carga de trabalho
que é e como evitar o viés de confir-
aliada à transparência gerada pelo mo- mação em sua vida, 2021: https://psi-
cologiadockhorn.com/blog/como-evi-
delo matemático permite uma melhor
tar-o-vies-de-confirmacao/. Acesso em:
comunicação entre o setor responsável 11 jul 2022.
e os demais membros do QT, aumen-
KAHNEMAN, D. Rápido e devagar:
tando consideravelmente a confiança Duas formas de pensar. Tradução
Cássio de Arantes Leite. Objetiva – Rio
no trabalho desenvolvido. É necessário
de Janeiro, 2012.
destacar que o modelo desenvolvido
KUBRUSLY, L.S. (1992). Utilização de
não se trata de um trabalho esgotado,
Técnicas de Análise Multivariada
e sim de um processo em constante re- para Redução de Variáveis num Pro-
blema de Controle Ecológico. Revista
formulação e aprimoramento.
Brasileira de Estatística, ano 53, n.
O modelo sofre ajustes quando a 199/200.
autoridade entende que outras variá-
MCRANEY D. Você não é tão esperto
veis tornaram-se relevantes (nesse quanto pensa. São Paulo: Texto Edito-
res Ltda., 2013.
caso ocorre uma nova modelagem no
SPPS). Aproximando, dessa forma, o MICHAELIS, Dicionário escolar da
língua portuguesa. Editora Melhora-
pensamento do gestor com o resultado
mentos, 2020.
eficiente, automático e transparente da
MIGUEL, F. V. C. A entrevista como
ferramenta.
instrumento para investigação em
REFERÊNCIAS pesquisas qualitativas no campo da
linguística aplicada. Revista Odisséia
nº 5, Universidade Federal do Rio
BANERJEE A; NUNAN D. Catalogue Grande do Norte, 2010.
of Bias Collaboration, Availability

75
NARCISO, M. G; LORENA, L. A. N. Contrainteligência, ambos pelo Centro
Uso de algoritmos genéticos em sis- de Inteligência da Aeronáutica em
tema de apoio à decisão para aloca- 2022. Atualmente é Oficial da Célula de
ção de recursos no campo e na ci- Controle de Programação de Instrução
dade. e Atividades Operacionais do 5º/8º
Grupo de Aviação.
PRADO; DIEHL; GORDAN. Vieses
cognitivos: Programados para errar, Contato: fradiqueftng@fab.mil.br /
2020: https://raciociniocli- (21) 99837-7558.
nico.com.br/vieses-cognitivos/. Acesso
em: 10 jul 2022.

TANAK, Y; MORI, Y. (1997). Principal


Component Analysis based on a
subset of variables: variable selec-
tion and sensitivity analysis. Ameri-
can Journal of Mathematics and Mana-
gement Science.

AUTORES

Luiz Gustavo Antonio de Souza é gra-


duado em Ciências Econômicas pela
Universidade Estadual de Londrina
(2007), possui Doutorado em Economia
Aplicada pela Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queiroz” - Universidade
de São Paulo (2013), Pós-Doutorado
pelo Núcleo de Economia Agrícola -
Universidade Estadual de Campinas
(2014) e Pós-Doutorado pelo Núcleo In-
terdisciplinar de Planejamento Energé-
tico - Universidade Estadual de Campi-
nas (2017). Atualmente é Professor do
O 2º Ten Av Fradique possui graduação Curso de Ciências Econômicas na Uni-
em Administração Pública e em Ciên- versidade Federal Fluminense, Depar-
cias Aeronáuticas pela Academia da tamento de Economia de Campos e Di-
Força Aérea (AFA), turma de 2019. Es- retor Financeiro da TEC Incubadora em
pecializou-se em Gestão de Segurança Campos dos Goytacazes.
de Voo nível pós-graduação no ano de
2020. Possui o Curso de Análise de In- Contato: lgasouza@id.uff.br /
teligência e o Curso de (43) 99169-4730.
.

76
ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS ORDENS DE INSTRUÇÃO 50TT10, 50TT20,
50TT30 E 50TT40 DO PROGRAMA DE ELEVAÇÃO OPERACIONAL DA AERO-
NAVE C-105

Ten Av Isaac Luiz Matias de Santana I - INTRODUÇÃO


Primeiro Esquadrão do Décimo Quinto Grupo
de Aviação (1°/15° GAV)

RESUMO Diante da acelerada moderniza-


O presente artigo tem por finalidade realizar
uma análise exploratória nos dados referentes ção de nossos vetores, sob a luz da im-
a execução de voo cumprindo as Ordens de plantação do KC-390, faz-se necessá-
Instrução 50TT10, 50TT20, 50TT30 e 50TT40
utilizando ferramentas estatísticas para descri- ria a utilização de métricas cada vez
ção e predição de novos valores. Com a análise
realizada, pôde-se notar uma diminuição consi- mais precisas para serem aplicadas ao
derável entre os tempos de voo previstos e
tempo de voo realizados. treinamento das tripulações no cenário

Palavras-Chave: Análise Operacional; Ciên- de atuação da Aviação de Transporte.


cia de Dados; Estatística. Considerando a missão principal do
EXPLORATORY ANALYSIS OF INSTRUC- Comando de Preparo, “Preparar meios
TION ORDERS 50TT10, 50TT20, 50TT30 AND
50TT40 OF THE OPERATIONAL ELEVATION de Força Aérea, sob sua responsabili-
PROGRAM FOR THE C-105 AIRCRAFT
dade, a fim de manter a soberania do
ABSTRACT
The purpose of this article is to carry out an ex- espaço aéreo e integrar o território na-
ploratory analysis on the data referring to the cional”, se atendo mais especifica-
execution of a flight complying with Instruction
Orders 50TT10, 50TT20, 50TT30 and 50TT40 mente ao preparo, pode-se afirmar que,
using statistical tools for the description and the
prediction of new values. With the analysis per- ao determinar com maior precisão os
formed, it was possible to notice a considerable
decrease between the predicted flight times and parâmetros de treinamento, o dimensi-
the actual flight times.
onamento recursos poderá ser reali-
Keywords: Operational Analysis; Data Sci- zado de maneira mais eficiente.
ence; Statistic.
Neste artigo, será apresentada
uma análise exploratória em dados re-
ferentes a voos realizados pelo 1° Es-
quadrão do 15° Grupo de Aviação em
cumprimento das Ordens de Instrução
50TT10, 50TT20, 50TT30 e 50TT40
com intuito de motivar estudos que ve-
nham a aprimorar, hoje ou no futuro, o
a capacidade de planejamento,

77
treinamento e atuação da Força Aérea realizadas. Além dos conceitos a serem
Brasileira. retratados nesta parte do artigo, se faz
necessário o conhecimento sobre os
MOTIVAÇÃO conceitos de algumas medidas descriti-
vas (média, mediana, variância, desvio
A motivação deste artigo pode padrão, quartil), interpretação de histo-
ser descrita pela seguinte sentença: “A gramas e Box-plot (Diagrama de Cinco
complexidade e o elevado custo da ati- pontos ou Diagrama de Caixa e Ante-
vidade aérea exigem cada vez mais a nas). Optou-se por não abordar estes
antecipação e correto planejamento e conceitos por estarem inseridas no
dimensionamento de esforço aéreo” campo da estatística básica e no intuito
(REBOUÇAS; SILVA; ABRAHÃO, de deixar este relatório o mais direto e
2018). simples possível.

CONTRIBUIÇÃO DISTRIBUIÇÃO NORMAL

O artigo partiu de uma lacuna Considerado como “uma das


observada pela carência de utilização mais importantes, úteis e comuns distri-
de metodologia científica para previsão buições em estatística” (WHEELAN,
do esforço aéreo para os Esquadrões 2014), a distribuição normal possui a
da FAB. Em termos de aplicação, este grande maioria de seus elementos pró-
artigo espera incrementar a capacidade ximos a média da população. Pode-se
de planejamento e precisão da previsão dizer que uma distribuição de média μ
de esforço aéreo necessário ao treina- e desvio padrão σ², seja e -∞<u<∞ e
mento e manutenção dos Esquadrões 0<σ²<∞, é normal se ela possui densi-
que operam o C-105. dade (1) (BOLFARINE; SANDOVAL,
2010).
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2
1
f  x,  ,  2  
 x    2 2
e ,   x   (1)
 2

A fundamentação teórica ba-


seou-se em duas áreas do conheci-
mento: Estatística e Data Science.
Cada uma destas proporcionou funda-
mentos às análises e às inferências

78
TESTE DE KOLMOGOROV E SMIR- artigo, o teste de Kolmogorov-Smirnov
NOV será utilizado para inferir que determi-
nados dados de amostras pertencem a
Criado pelos estatísticos Kolmo- população com distribuição normal
gorov e Smirnov, o teste de Kolmogo- (LOPES; CASTELO BRANCO; SOA-
rov-Smirnov verifica a proximidade de RES,2013).
uma amostra aleatória aos valores de
uma população com características de- INTERVALO DE CONFIANÇA
terminadas. O resultado (2) é obtido por
meio de uma estatística que utiliza a Segundo Morrettin e Bussab,
distância dos estimadores da amostra e tem-se que partindo da ideia que uma
os reais da população F(x) (MORET- amostra aleatória retirada de uma po-
TIN; BUSSAB, 2010). pulação com média igual a u possui
média X, o intervalo de confiança é o
D  max F  X i   Fe  X i  (2) grau de certeza com que se pode de-
1i  n

terminar o intervalo de valores possí-


veis para u baseando-se nas caracte-
O teste baseia-se em duas hipó-
rísticas encontradas na amostra. O in-
teses (3), a hipótese nula H0 que supõe
tervalo de confiança é definido como 1
que os dados da amostra podem ser
-α. Para as amostras com distribuição
considerados pertencentes a uma po-
normal, o intervalo de valores, basea-
pulação com determinado tipo de distri-
dos no grau de certeza, pode ser calcu-
buição e a hipótese alternativa Ha que
lado com o uso de (7) em que n é igual
supõe o contrário.
a número de elementos das amostras e
σ é o desvio padrão da população.
H 0 : F  x   F0  x  ,  x ,
H a : F  x   F0  x  , para qualquer x,
(3) Para as amostras com mais de
30 elementos segundo a lei de Teo-
rema Central do Limite, considera-se
O teste de Kolmogorov-Smirnov
que “o desvio padrão da amostra é
resulta em uma estatística denominada
igual ao desvio padrão da população”
p-valor e para os valores deste acima
(TRIOLA, 2004).
de 0.05, pode-se considerar que a
amostra pertence a uma população
com determinada distribuição. Neste

79
  diferenças nas técnicas utilizadas, o in-
X  z    X  z (4)
2 n 2 n tervalo temporal necessário para reali-
zação destes, foi considerado igual
III - MATERIAIS E MÉTODOS considerado igual para os voos do
1°/15 GAV e 1°/9° GAV.
As ordens de instrução analisa-
das foram descritas na tabela (1) sendo OBTENÇÃO DOS DADOS
especificados a Fase, Subprograma, e
intervalo temporal (TEV) necessário ao A obtenção dos dados analisa-
cumprimento destas. dos foi realizada por meio de conferên-
cia das Fichas de Controle de Surtidas
TABELA I - ORDENS DE INSTRUÇÃO ANALI-
confeccionada pela Seção de Opera-
SADAS
ções do 1°/15° GAV. Embora o côm-
OI Fase Subprograma Tempo
puto de dados tenha sido realizado
Lança-
através de relatórios que são confecci-
50TT10 mento de SPMO-1 00:30
Pessoal
onados de maneira informal pelo Es-
Lança- quadrão, somente por meio destes
50TT20 mento de SPMO-1 00:30 pode-se verificar quantas vezes cada
Pessoal procedimento foi realizado, pois os sis-
Lança-
temas existentes não possibilitam o re-
50TT30 mento de SPMO-1 00:30
gistro de maneira adequada para o
Pessoal
Lança- cumprimento destes tipos de voo.
50TT40 mento de SPMO-1 01:00 Um item relevante a se comentar
Pessoal é que os minutos devem ser computa-

FONTE: O AUTOR.
dos em múltiplos de cinco, embora seja
sugerível “utilizar dados com precisão

Foram analisados todos os voos de duas a três casas decimais para ob-

relativos ao ano de 2022, sendo estes ter análises mais confiáveis” (VIN-

realizados nas cidades de Campo CENT, 1998). Este fato pode impactar

Grande - MS, Rio de Janeiro - RJ e Goi- na cadeia logística de manutenção da

ânia-GO. Como os procedimentos para aeronave e dessa forma atuar direta-

realização das Ordens de Instrução são mente com os custos destinados a

padronizados, ou seja, não há essa, pois “o custo do elemento manu-


tenção, por exemplo, é um fator

80
importante no gerenciamento de opera- tratamento para que estes não interfe-
ções aéreas. Em 2016, a aviação gas- rissem no resultado da análise;
tou um total de USD 18,2 bilhões, com c) Realização de teste de ade-
um custo de manutenção direta de USD rência de modo a verificar se seria pos-
15,57 bilhões. A Força Aérea dos Esta- sível afirmar que as amostras pertence-
dos Unidos (USAF) gastou USD 36 bi- riam a uma população com distribuição
lhões em operações e suporte (O&S) Normal utilizando uma significância de
de sistema de armas no ano fiscal de 95%; e
2006” (REBOUÇAS; SILVA; d) Apresentação do intervalo
ABRAHÃO, 2018) e aproximar os valo- temporal necessário, de acordo com a
res das horas voadas pode, com o de- metodologia descrita e nível de signifi-
correr do tempo, distorcer a real neces- cância supracitado, necessário para o
sidade de manutenção em virtude das cumprimento das referidas Ordens de
horas voadas de determinada aero- Instrução.
nave.
ORDENS DE INSTRUÇÃO 50TT10,
ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DA- 50TT20 E 50TT30
DOS
Inicialmente, todos os registros As Ordens de Instrução 50TT10,
presentes nas Fichas de Controle de 50TT20, 50TT30 pertencem ao Sub-
Surtidas foram estruturados e tabula- programa de Manutenção Operacional
dos utilizado o Excel. Após conferência, 1 descrito no Programa de Elevação
os dados foram importados para o sof- Operacional 09A referente à utilização
tware R para realização de todas as da aeronave C-105.
análises. A análise foi realizada com os
Estas podem ser descritas nos dados pertencentes a estas três OI em
seguintes procedimentos: função do circuito para realização das
a) Verificação das Medidas Des- três ser similar para todas modificando
critivas para cada amostra; somente procedimentos internos com a
b) Análise gráfica por meio de tropa paraquedista e mantendo dos de-
um box-plot e histograma de modo a mais parâmetros constantes.
verificar a existência de outliers ou da- O resultado da análise inicial
dos faltantes, neste ponto, as amostras pode ser visualizado no Quadro I.
que possuíam outliers receberam Como foi verificada a presença de

81
alguns outliers, foi realizado o trata- QUADRO II - SEGUNDA ANÁLISE OIS
50TT10, 50TT20 E 50TT30
mento da amostra e pôde-se constatar
os seguintes valores presentes no Qua- FONTE: O AUTOR.
dro
II. P-va-
Mín 1° Qt Média Mediana 3° Qt Máx D. P.
lor
Após verificação de um P-valor
3,28 4,00 4,82 4,62 3° 5,00 6,33D. 0,73
muito menor do que o utilizado como Mín 1° Qt Média Mediana Máx P-valor
Qt P.
base neste relatório, foi realizado novo
3,28 4,00 4,32 4,54 5,00 6,33 0,73 0,06
tratamento nos dados de modo a dimi-
nuir o quantitativo de surtidas analisa-
das, porém mantendo a proporção exis-
tente na amostra inicial. Tal procedi-
mento foi realizado, pois testes para-
métricos não funcionam corretamente
Intervalo de Tempo de voo (mi-
para amostras com muitos dados. O re- 95% 4,48 - 6,18
Confiança: nutos)
sultado foi descrito a seguir na Quadro
QUADRO III - ANÁLISE FINAL OIS 50TT10,
III. 50TT20 E 50TT30

FONTE: O AUTOR.
QUADRO I - ANÁLISE INICIAL OIS 50TT10,
50TT20 E 50TT30
Conforme descrito acima, em
P- 95% dos casos, o tempo necessário
1° Mé- Medi- 3° D.
Mín Máx va- para cumprimentos das OI varia entre 4
Qt dia ana Qt P.
lor
e 7 minutos. Ressalta-se que existe a
3,28 4,00 5,00 5,34 5,00 20,00 2,27
possibilidade de realização de mais de
um tipo de método de lançamento em
um voo. Tal prática deve ser incenti-
vada, em coordenação com a tropa pa-
raquedista, nos exercícios de treina-
mento desses procedimentos de modo
a otimizar o tempo de voo gasto no trei-
FONTE: O AUTOR. namento destes procedimentos.

82
D. P-
ORDEM DE INSTRUÇÃO 50TT40 Mín 1° Qt Média Mediana 3° Qt Máx
P. valor
5,00 11,67 17,50 16,85 21,25 30,00 7,08 0,60
A Ordem de Instrução 50TT40
se refere às missões realizadas no pe-
ríodo diurno e noturno em que são exe-
cutados os procedimentos de lança-
mento de pessoal pelo processo ma-
Intervalo
nual realizando os procedimentos do Tempo de voo
de Confi- 95% 14,68 - 19,03
(minutos)
Salto Livre ou Salto Livre Operacional ança:
estando os pilotos exercendo as fun- FONTE: O AUTOR.

ções de 1P e 2P. O resultado da análise


inicial foi descrito no Quadro IV. Como resultado, pode-se afirmar
que, em 95% das ocasiões, cada reali-
QUADRO IV - ANÁLISE INICIAL OI 50TT40 zação de lançamento de pessoal pelo
processo livre terá a duração entre 14 e
P- 20 minutos.
Mé- Medi- D.
Mín 1° Qt 3° Qt Máx va-
dia ana P.
lor
IV - CONCLUSÃO
5,00 11,67 17,50 17,23 21,25 45,00 7,75

Os resultados das etapas pro-


postas foram agrupados na Tabela II no
intuito de realizar uma comparação en-
tre os tempos previstos no PEVOP e os
frutos da análise realizada.
FONTE: O AUTOR

Em razão da existência de um
outlier, foi necessário realizar trata-
mento na amostra. O resultado após
análise pode ser visualizado no quadro
V.

QUADRO V - ANÁLISE FINAL OI 50TT40

83
TABELA II - COMPARATIVO ENTRE TEM- REFERÊNCIAS
POS DE VOO
REBOUÇAS, S.; SILVA, T. A.;
Tempo Tempo ABRAHÃO, F. T. M. Modelagem de
OI Fase Subprograma programa de treinamento de pilotos
Previsto Proposto
para predição de esforço aéreo. In:
Lançamento SIGE, 20., 2018. São José dos Cam-
50TT10 SPMO-1 00:30 00:07
de Pessoal pos. Anais […] São José dos Cam-
Lançamento pos: ITA, 25 a 27 setembro, 2018, p.
50TT20 SPMO-1 00:30 00:07 61-66.
de Pessoal
Lançamento BOLFARINE, H.; SANDOVAL, M. C.
50TT30 SPMO-1 00:30 00:07
de Pessoal Introdução à inferência estatítica.
Lançamento
São Paulo: SBM, 2010.
50TT40 SPMO-1 01:00 00:20
de Pessoal MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. O.
Estatística básica. São Paulo: Sa-
FONTE: O AUTOR. raiva, 2010.

LOPES, M. D. M.; CASTELO


Após observação dos valores BRANCO, V. T. F.; SOARES, J. B.
descritos na tabela acima, pode-se ve- Utilização dos testes estatísticos de
Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk
rificar que os valores propostos repre- para verificação da normalidade para
sentam 23% e 33% dos valores previs- materiais de pavimentação. Trans-
portes, v. 21, n. 1, p. 59, 30 abr.
tos para Ordem de Instrução 50TT10, 2013.
50TT20 e 50TT30 em conjunto e a Or-
TRIOLA, M. F. Elementary statis-
dem de Instrução 50TT40 respectiva- tics: updates for the latest technol-
mente. O que ratifica a importância da ogy. New York: Pearson, 2004.
VINCENT, S. Input data analysis.
análise inicial realizada e dos conceitos In: Handbook of simulation. Hobo-
de estatística empregados, pois, caso o ken, NJ, USA: John Wiley & Sons,
Inc., 1998. p. 53-91.
esforço fosse modelado baseando-se
nos parâmetros anteriormente defini-
dos, certamente haveria um excesso de
horas de voo alocadas para cada Es-
quadrão.

84
AUTOR
O Tenente Isaac Luiz Matias de San-
tana concluiu o CFO em 2015 e possui
especialização em Análise Operacional
pelo Instituto Tecnológico da Aeronáu-
tica (2019). Atualmente é o Chefe da
Seção de Navegação e Sistemas D’Ar-
mas do 1º Esquadrão do 15º Grupo de
Aviação.

Contato: isaacmatiasilms@fab.mil.br /
(67) 98414-4779.

85
EMPREGO EFICIENTE DO RADAR NAS OPERAÇÕES DE BUSCA E SALVA-
MENTO (SAR)
TÁTICA E TÉCNICA QUE MAXIMIZEM A EFICIÊNCIA DO RADAR NAS OPERA-
ÇÕES SAR
Cap Av Raphael Lopes Rosa due to obstacles. This article, then, concludes
Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Avi- how the implementation of tactics and tech-
ação (2°/10° GAV) niques in the use of radar can reduce the cost
of operations and, as all the arguments put to-
RESUMO gether, translate into an operational gain for the
As recém implantadas aeronaves SC-105 Ama- Brazilian Air Force and would place it at the
zonas SAR (AIRBUS C295M BR02) são equi- forefront of the use of this sensor on the world
padas com diversos sensores de última gera- stage.
ção, dentre eles, o radar denominado Synthetic
Aperture Radar. O equipamento viabiliza dife- Keywords: Search and Rescue; Synthetic Ap-
rentes ganhos operacionais, desde que seja erture Radar; C295 and SC-105.
identificada sua potencialidade e exploradas
suas funcionalidades. Esse artigo visa identifi-
car tática e técnica que permitam maximizar a I - INTRODUÇÃO
eficiência do uso do radar nas operações SAR.
Primeiramente aborda como o ganho que a re-
dução da área de busca garante uma maior pro-
babilidade de detecção e redução da quanti-
A responsabilidade prestação do
dade de horas voadas. Depois explica como a Serviço SAR (Search and Rescue) é di-
utilização da técnica de múltiplas imagens per-
mite a solução de oclusão do objetivo em razão vidida entre as nações por meio de
de obstáculos. Esse artigo, então, conclui como
a implementação de táticas e técnicas no uso acordos internacionais, sob a mediação
do radar podem reduzir o custo das operações
e, como todos os argumentos reunidos, se tra- da IMO (International Maritime Organi-
duzem em um ganho operacional para a Força
Aérea Brasileira e colocaria na vanguarda do zation) e ICAO (International Civil Avia-
emprego desse sensor no cenário mundial. tion Organization), ambas sob a égide
Palavras-Chave: Busca e Salvamento; Radar da Organização das Nações Unidas
de Abertura Sintética; C295 e SC-105.
(ONU). Para cumprir esses acordos, o
EFFICIENT USE OF RADAR IN SEARCH AND
RESCUE OPERATIONS (SAR) Estado Brasileiro assumiu a responsa-
TACTIC AND TECHNIQUE THAT MAXIMIZE
RADAR EFFICIENCY IN SAR OPERATIONS bilidade pela prestação do serviço SAR
em "[...] uma área de mais 22 milhões
ABSTRACT
The recently deployed SC-105 Amazonas SAR de km² (Fig.1), quase três vezes a ex-
aircraft (AIRBUS C295M BR02) are equipped
with several state-of-the-art sensors, among tensão continental do País, sendo reali-
them, the radar called Synthetic Aperture Ra-
dar. The equipment enables different opera- zado sobre o território nacional. sobre o
tional gains, as long as its potential is identified
and its functionalities explored. This article mar territorial, zona econômica exclu-
aims to identify tactic and technique that allow siva e ainda uma ampla área de águas
maximizing the efficiency of the use of radar in
SAR operations. First, it addresses how the internacionais do Atlântico" (ENETÉ-
gain that the reduction of the search area guar-
antees a greater probability of detection and re- RIO, 2016, p.2).
duction of the number of hours flown. It then
explains how the use of the multiple image tech- FIGURA 1 - ÁREA DE RESPONSABILIDADE
nique allows the solution of objective occlusion SAR

86
implantação do SC-105 e que o em-
prego do radar SAR, no ambiente de
selva, não ocorre em nenhuma outra
nação do mundo por, principalmente,
dois fatores: não há radar com tecnolo-
gia dedicada ao ambiente de selva e a
escassez de países com capacidade
geopolítica com percentual de cober-
tura do território com esse tipo de bioma
FONTE: DECEA (2022).
que justifique o desenvolvimento do
emprego proposto.
Além do cumprimento de trata-
dos e da própria questão da salva-
FIGURA 2 - SC-105 AMAZONAS SAR
guarda humana, as operações SAR
ecoam geopoliticamente e induzem que
o País busque atualizações nos meios
de emprego e inovações tecnológicas
no mercado mundial.
Dentro do âmbito do Comando
da Aeronáutica no ano de 2017, foram
incorporadas à FAB, as modernas ae-
ronaves SC-105 Amazonas SAR (Fig. 2
Airbus C295M BR02) equipadas com
sensores1 que ampliam as capacidades FONTE: REVISTA FORÇA AÉREA (2022).
nas operações de busca e salvamento.
Dessa maneira, adentrando, conceito Para embasar essa tese, inicial-
SAR² que consiste no emprego do ra- mente será apresentada a tática da re-
dar SAR nas operações de busca e sal- dução da APG (área de probabilidade
vamento. Nesse contexto, o presente genérica) para uma APE (área de pro-
artigo identificar tática e técnica que babilidade específica) para que, dessa
permitam maximizar a eficiência do uso forma, realizar o imageamento com-
do radar nas operações SAR. Com a pleto da área com uma resolução que

1 EO/IR (Electrical-Optical/ Infrared) FLIR StarSafire III e Radar de Abertura


Sintética – ELTA/M-2022(V).

87
garanta a maior probabilidade de detec- (RCC) assume as ações necessárias
ção e reduza a quantidade de horas vo- para trazer de volta à segurança as ví-
adas na operação. timas daquela ocorrência. Entre as me-
Em seguida, será discutida a téc- didas a serem adotadas, inclui-se a de-
nica de realização de múltiplas imagens finição da área de busca, onde os cál-
da mesma área, pois, SCHEDI, KURMI culos, internacionalmente preconiza-
e BIMBER (2020) afirmam que a dos apontam como local de maior pro-
chance da localização do objetivo de babilidade de localização do objeto de
missão aumenta de 24,8% (imagea- busca e, por consequência, onde serão
mento único) para 92,2% (imagea- concentrados os esforços.
mento múltiplo). Dentro desse tema se- No MCA 64-3, no item 4.3.3.9.2,
rão abordadas as ações mitigadoras temos: “[...] à determinação de uma
para a possível oclusão (cobertura ve- área de probabilidade genérica (APG)
getal) do objetivo devido a obstáculos. inicia-se a partir da determinação de
Assim como, das características do ra- um ponto conhecido como última posi-
dar e as soluções propostas pela em- ção conhecida (LKP – Last Know Posi-
presa que o desenvolveu. tion) e da rota prevista do objeto de
busca. A partir dessas informações
II - GARANTIR MAIOR PROBABILI- traça-se um retângulo com 10NM de
DADE DE DETECÇÃO E REDUÇÃO afastamento para cada lado da rota
DA QUANTIDADE DE HORAS VOA- prevista, com início a 10NM antes da
DAS NA OPERAÇÃO LKP e estendendo-se até 10NM após o
destino previsto.” (DECEA, 2019).
Segundo o MCA 64-3 (2019), o Após determinada a APG (Fig.3)
Incidente SAR é “qualquer situação precisa ser compreendido com quantas
anormal relacionada com a segurança imagens SAR (geradas pelo radar em-
de aeronave ou embarcação e que re- barcado Synthetic Aperture Radar) é
queira alerta ou ação imediata dos re- atingido o objetivo de vasculhar toda
cursos SAR. Um Incidente SAR é um essa área da busca. Além disso, com-
dos motivos pelo qual se inicia uma preender as diferentes imagens gera-
Operação SAR.” das pelo SC-105 tal como suas resolu-
No âmbito da Força Aérea, ções.
quando ocorre um Incidente SAR, um
Centro de Coordenação de Salvamento

88
FIGURA 3 - ÁREA DE PROBABILIDADE GE-
NÉRICA
O numeral acompanhando a no-
menclatura da imagem (STRIP ou
SPOT) indica quantos metros cada
pixel da imagem representa (Ex: STRIP
12m – cada pixel indica 12m de super-
fície imageada). Outro fator é que
quanto maior a resolução, maior a
FONTE: AUTOR.
quantidade de dados gerados (Mega-
bytes ou Gigabytes) e, proporcional-
A ELTA System Ltd. (2009), fa-
mente, será maior o tempo de proces-
bricante do radar, divulga no manual do
samento da imagem.
operador que o EL/M – 2022 (modelo
As missões de busca e salva-
do Radar SAR do SC-105) possui a ca-
mento ainda contam com a incerteza da
pacidade de produzir imagens (Quadro
dimensão que o objetivo de busca se
I).
apresentará para o sensor e, segundo
LUKOWSKI e CHARBONNEAU (2003),
QUADRO I - RESOLUÇÃO DAS IMAGENS
mesmo com um Fairchild-272, com di-
SAR NO SC-105
mensões preservadas, mesmo após o
ÁREA CO- pouso forçado, não era detectado em
IMAGEM DEFINIÇÃO
BERTA todas as imagens com resoluções con-
25 Km X 25 dizentes com a sua exposição ao sen-
STRIP 12 m
Km
sor.
7,5 Km X 7,5
STRIP 3m Para reduzir a incerteza da di-
Km
mensão do objeto que estará exposto
7,5 Km X 7,5
SPOT 3m para o imageamento, maximizar a pro-
Km
2,5 Km X 2,5 babilidade de detecção e reduzir a
SPOT 1m
Km quantidade de dados a serem analisa-

SPOT 0,6 m 1 Km X 1 Km dos. Dentre as possibilidades ofereci-


das pelo sensor, obtém-se que a opção
mais viável é o uso da resolução SPOT
FONTE: AIRBUS. 0,6m e garantido que um pedaço de 60

2 Aeronave de fabricação americana, bi-motor com dimensões


25,50mX29mX8,41m.

89
cm do objeto de busca é equivalente a aumentaria a eficiência com a redução
1 (um) pixel da imagem produzida e, de das horas gastas e, por consequência,
acordo com a AIRBUS (2018), cada o custo da operação.
imagem SPOT 0,6 representa aproxi-
madamente 1km² de área verificada. FIGURA 4 - ÁREA DE PROBABILIDADE ES-
PECÍFICA
Compreendendo essas premis-
sas deve-se procurar ferramentas que
garantam indícios fortes da presença
do objetivo de busca e a realização de
imagens, com resolução SPOT 0,6,
para cobertura da área. Constata-se
que serão indícios fortes que poderão
resultar na redução da APG, por exem- FONTE: AUTOR.

plo, uma posição GPS da aeronave


(ELT ou SPOT), um ponto de triangula- III - MITIGAR A OCORRÊNCIA DE
ção do sinal do celular ou um informe OCLUSÃO DO OBJETIVO EM RAZÃO
pontual de fonte checada pelo coorde- EM RAZÃO DE OBSTÁCULOS
nador da operação. Essa redução da
APG é definida como Área de Probabi- É necessária a compreensão do
lidade Específica (APE) conforme o funcionamento do Radar ELTA/M -2022
MCA 64-3, no item 4.3.3.9.4.1, “área embarcado na aeronave SC-105 para
estabelecida após uma criteriosa inves- entender a necessidade da utilização
tigação dos fatos relacionados com o de múltiplas imagens.
desaparecimento do objeto da busca, A ELTA Systems Ltd. (2009), de-
que poderá ou não estar contida na senvolvedora do Radar, divulga no seu
APG”. manual do operador que a banda utili-
Pode-se concluir que para em- zada na criação da imagem SAR é a X.
pregar o radar SAR, nas missões de Além disso, a imagem é formada pelo
busca e salvamento, devemos reduzir a efeito Doppler.
APG para uma APE para termos condi- Outro fator preponderante é a
ções de empregar a resolução SPOT aplicação dessa tecnologia no ambi-
0,6 de forma a maximizar a probabili- ente de selva sobre essa interação
dade de detecção do objetivo da busca. (Banda X e Cobertura Vegetal). A partir
Essa redução para APE (Fig. 4) do qual temos a seguinte conclusão:

90
“O tamanho e a densidade dos proa nos trajetos percorridos pela aero-
elementos vegetais têm relação direta nave, em relação ao ponto de interesse
no tipo de interação com as micro-on- e a realização da análise das imagens
das incidentes. Pequenos comprimen- no pós voo (Fig. 5).
tos de onda, como as das bandas X e
FIGURA 5 - TÉCNICA PARA EVITAR A
C, por exemplo, trazem informações
OCLUSÃO DO OBJETO
sobre as camadas superficiais do dos-
sel vegetal, através do retro espelha-
mento produzido nas folhas e peque-
nos galhos. Já comprimentos de onda
maiores, como os da banda L e P, têm
uma penetração maior no dossel vege-
tal e o retro espelhamento é causado
pelos galhos e tronco.” (DOBSON,
2000)
No IAMSAR3 (2019) tem-se que
o cenário onde se têm a menor proba- FONTE: AIRBUS.

bilidade de detecção do objeto da


busca seria em ambientes que haja Em adição, SCHED, KURMI e

uma área de 15% de exposição do ob- BIMBER (2020) afirmam que a utiliza-

jeto da busca, ou seja, uma cobertura ção de múltiplas imagens pode descar-

vegetal de 85%. Com base nessas in- tar falsos positivos e, com utilização de

formações, a AIRBUS4 (2018), fabri- filtros e ferramentas de análise de ima-

cante do SC-105 e desenvolvedora da gem, poderemos ter um aumento de

integração entre o radar e a aeronave, mais de 4 (quatro) vezes (4x) na detec-

recomenda a realização de imagens ção do objetivo da operação de busca

com diferentes ângulos para contornar e salvamento.

o fenômeno de oclusão que pode ser Diante do exposto concluímos

ocasionado pela cobertura vegetal. que para empregar o Radar SAR que

Essa realização de múltiplas imagens opera na banda X é necessário a téc-

ocorreria com defasagens de 90° de nica de múltiplas imagens para reduzir

3 International Aeronautical and Maritime Search and Rescue Manual - manual 4 Consórcio europeu formado por Holanda, França, Alemanha, Espanha e
tri anual feito pela ICAO que em três volumes fundamenta o serviço de busca Reino Unido produtora de produtos aeroespaciais civis e militares.
e salvamento.

91
a oclusão do objetivo da busca devido tornaria o radar capaz de mitigar a oclu-
à limitação do equipamento quanto à são do objetivo de busca devido à limi-
capacidade de penetrar na cobertura tação do radar penetrar na copa das ár-
vegetal. Tal técnica aumentaria a efici- vores.
ência do uso desse tipo de radar e co- A solução para os desafios da
locaria a FAB na vanguarda do em- utilização desse sensor vem da utiliza-
prego desse sensor no cenário mun- ção das aplicações propostas pela em-
dial. presa fabricante do sensor e aeronave,
respectivamente, ELTA e AIRBUS.
IV - CONCLUSÕES Ademais, as soluções propostas foram
testadas na execução da AVAOP (Ava-
A aquisição da aeronave SC- liação Operacional) conduzidas conco-
105, equipada com o radar SAR, coloca mitantemente com esse ensaio, com-
a FAB em consonância com as mais provando empiricamente os argumen-
modernas tecnologias empregadas nas tos defendidos. Portanto, esse artigo
missões de busca e salvamento no ce- apresentou que a implementação de tá-
nário mundial. No entanto, esse investi- tica e técnica que maximize a eficiência
mento vem acompanhado do ônus de do radar nas operações de busca e sal-
empregá-lo de maneira eficiente. Essa vamento é viável e levará a ganhos de
efetividade pode ser adquirida sabendo curto, médio e longo prazo.
como extrair o máximo do equipamento Diante do exposto, esse estudo
conhecendo suas potencialidades. permite que a FAB explore todo o po-
Esse artigo evidenciou que para tencial do vetor adquirido (curto prazo),
o emprego do radar SAR deve-se, pri- utilize o radar SAR de maneira eficiente
meiramente, utilizar a tática de reduzir reduzindo os custos das operações
a área de busca para uma APE onde há (médio prazo) e, ainda, fique na van-
a possibilidade do imageamento com- guarda no emprego dessa tecnologia,
pleto da área utilizando a resolução sendo referência no cenário mundial e
SPOT 0,6. Desta maneira, aumentando possibilitando intercâmbio com nações
a probabilidade de detecção e redu-
zindo os custos das operações SAR.
Segundo ponto abordado é a uti-
lização da técnica de múltiplas imagens
dessa área de interesse. Técnica que

92
que utilizam o mesmo vetor como o Ca-
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION
nadá5 (Fig.6) (longo prazo).
ORGANIZATION. Doc 9731 IAMSAR:
International Aeronautical and Maritime
FIGURA 6 - CC-295 KINGFISHER Search and Rescue Manual. v. 2, Mon-
treal, 2019.
LUKOWSKI, I.T.; CHARBONNEAU,
J.F.; Synthetic Aperture Radar and
Search and Rescue: Detection of
crashed aircraft using imagery and in-
terferometric methods. Canadian Jour-
nal of Remote Sensing, n. 22, p. 770-
781, 2003.

ROYAL CANADIAN AIR FORCE. CC-


295 Kingfisher. Government of Can-
FONTE: AIRBUS.
ada, Comox, 07 de out. de 2020. Dispo-
nível em: < www.rcaf-arc.for-
REFERÊNCIAS ces.gc.ca/en/aircraft-current/cc-
295.page>
AIRBUS DEFENCE & SPACE. C295M
BR02 – Especificações Técnicas: Es- SCHEDL, D.C.; KURMI, I; BIMBER, O.;
panha, 2018. Search and rescue with airborne optical
sectioning. Nat Mach Intell, n. 2, p.
BRASIL. Ministério da Defesa. Co- 783–790, 2020.
mando da Aeronáutica. MCA 64-3. Ma-
nual de Coordenação de Busca e Sal- AUTOR
vamento Aeronáutico. Boletim do Co-
mando da Aeronáutica. Rio de Ja-
neiro, n. 144, 15 ago. 2019.

DOBSON, M. C.; Forest Information


from Synthetic Aperture Radar. Journel
of foresty, n. 98, p. 41-43, 2000.

ENETÉRIO, H. S.; O Sistema de Busca


e Salvamento Aeronáutico Brasileiro:
uma responsabilidade internacional
com a vida. In: 3º Seminário de Rela-
ções Internacionais da Associação
Brasileira de Relações Internacio- O Cap Av Rosa concluiu o CFOAV em
nais, 2016, Florianópolis. Segurança 2009. Foi oficial de doutrina do 2º/10º
Internacional, Estudos Estratégicos e GAV de 2017 a 2021. Realizou os se-
Política de Defesa, 2016. guintes cursos na AIRBUS DEFENCE
AND SPACE, C295 CLX1/CLX2 Air-
IAI ELTA SYSTEM LTD. EL/M – 2022 craft Difference,C295 CLX2 Integration
(V) 3 – Especificações Técnicas: Israel, and Coordenation Flghts em 2017,
2009. Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
5 Em 2016, a RCAF (Royal Canadian Air Force) através do programa FWSAR
(Fix Wing Search and Rescue) adquiriu 16 aeronaves C295 versão SAR.

93
em 2021. Atualmente é Chefe da Seção
de Avaliação e Doutrina da Base Aérea
de Campo Grande.

Contato: rosarlr@fab.mil.br /
(67) 98130-3666.

94
VANTAGENS DO USO DE RODOPISTAS EM AMBIENTES DE GUERRA REGU-
LAR

Ten Av Richardy Barcellos Almeida I - INTRODUÇÃO


Terceiro Esquadrão do Terceiro Grupo de Avi-
ação (3º/3º GAV)

RESUMO No dia 24 de fevereiro de 2022,


O presente artigo tem o objetivo de apresentar
as vantagens do uso de rodopistas em ambien- ataques de mísseis russos atingiram di-
tes de guerra regular. Foram elencados os be- versas cidades ucranianas. Segundo
nefícios, os requisitos necessários para esco-
lher um bom trecho, considerações operacio- guardas de fronteira ucranianos, as for-
nais importantes e os desafios logísticos para
realizar esse tipo de exercício. Para tal, foi rea- ças russas acessaram o norte de Kiev
lizada uma pesquisa bibliográfica e concluiu-se
que a operação em rodopistas pode trazer ga- a partir de Belarus para executar um
nhos operacionais e vantagens sobre o inimigo
em um contexto de guerra regular. ataque com mísseis contra alvos milita-
res (LINHA, 2022).
Palavras-Chave: Rodopista; Operações Aé-
reas de Dispersão; Guerra Regular; Desafios A informação acima foi retirada
Logísticos.
do site de notícias Uol e mostra como
ADVANTAGES OF THE USE OF HIGWAY
STRIP IN CONTESTED WAR ENVIRON- foi o primeiro dia do conflito; neste tre-
MENTS
cho se evidencia a grande intenção
ABSTRACT russa em destruir os alvos militares
The purpose of this paper is to present the ad-
vantages of using Highway Strips in regular ucranianos nos primeiros minutos da
warfare environments. The benefits, the re-
quirements necessary to choose a good stretch, guerra.
important operational considerations, and the
logistical challenges of carrying out this type of Sabendo que o objetivo do ini-
exercise were listed. To this end, a literature
search was conducted and it was concluded migo é minar o poder militar oposto ata-
that operating on Highway Strips can bring op- cando os seus centros de gravidade, as
erational gains and advantages over the enemy
in a regular warfare context. bases aéreas tornam-se objeto de
Keywords: Highway Strip. Dispersed Air Oper- grande interesse. Através da sua inter-
ations. Contested War. Logistical Challenges.
dição, conquista-se o espaço aéreo,
abrindo caminho para destruição de ou-
tros pontos sensíveis com maior facili-
dade e rapidez. Para se contrapor a es-
ses tipos de ataques, diversos países
utilizam o conceito de dispersão, cuja
objetivo central é evitar que um único
ataque destrua grande parte de sua ca-
pacidade bélica.

95
Este artigo se propõe a demons- como exemplo, a rodovia Alemã A29
trar como o uso de rodopistas em ambi- Autobahn, que possui trechos construí-
entes de guerra regular podem contri- dos para abrigar pousos e decolagens
buir para o aumento da capacidade de aeronaves, sendo utilizada em trei-
operacional, por meio da dispersão de namentos militares para a operação de
meios, além de diversas outras vanta- vetores como os A-10 THUNDER-
gens. BOLTS, C-130 HÉRCULES, caças F-
15 e F-16 (NIEUWINT, 2016).
II - O QUE É RODOPISTA
FIGURA 1 - TRECHO DA RODOVIA AUTO-
BAHN
Segundo o glossário das forças
armadas, encontramos as seguintes
definições para o termo rodopista:
“1. Trecho retilíneo de estrada de roda-
gem que se presta às operações de
pouso e decolagem de aeronaves em
missões operacionais e em situações
de emergência. 2. Trecho de rodovia
previamente selecionado e preparado
em defesa aérea que, mediante interdi- FONTE: FOTO AÉREA (1984).
ção por autoridade competente, pode
ser utilizado como pista de pouso e de- Apesar do fato das rodovias na-
colagem alternativa.” (Ministério da De- cionais não terem sido construídas para
fesa, 2016, p. 244). apoiar operações desse tipo, o Brasil
Dessa forma, observamos que possui uma malha rodoviária federal de
as rodopistas se dividem em duas mo- 75.553 km, dos quais 65.528 km (87%)
dalidades, aquelas as quais desde seu correspondem a rodovias pavimenta-
projeto já foram concebidas para apoiar das e 10.025 km (13%) correspondem
esse tipo de operação ou qualquer tre- a rodovias não pavimentadas (RODO-
cho retilíneo de estrada que sirva para VIAS, 2020).
operações de pousos e decolagens. Dessa forma, existem grandes
No Brasil, as rodovias não foram possibilidades de se encontrar bons tre-
projetadas para prestar apoio a esse chos que podem servir para operação
fim. Já na Europa, pode-se encontrar, de aeronaves.

96
previamente, as aeronaves nas diver-
III - VANTAGENS OPERACIONAIS DO sas rodopistas disponíveis, evitando
USO DAS RODOPISTAS que um único ataque inimigo a uma
base aérea destrua todos os meios aé-
Inicialmente, pode-se observar reos disponíveis.
como vantagem principal a capacidade Ademais, outras vantagens po-
de dispersão que, segundo o glossário dem ser observadas tais como:
das forças armadas é definido como: “O  Prontidão;
espaçamento de aeronaves, tropas, na-  Surpresa;
vios, material, edificações e atividades,  Dissuasão;
em uma ampla área, a fim de não apre-  Ajuda humanitária;
sentar um alvo concentrado” (Ministério  Pousos em emergências.
da Defesa, 2016, p.92).
Essa capacidade torna-se uma Prontidão: “Situação extraordi-
grande vantagem tratando-se de um nária da tropa que importa em ficar a
conflito convencional, tendo em vista unidade preparada para sair do quartel,
que um dos objetivos do inimigo é des- tão logo receba ordem, para desempe-
truir os centros de gravidade e que a in- nhar qualquer missão dentro da respec-
terdição dos aeródromos é um dos pon- tiva guarnição ou à distância tal que
tos chaves para neutralizar a capaci- permita o atendimento de suas neces-
dade aérea oposta. sidades com os recursos da própria uni-
Dessa forma, nos primeiros mi- dade” (Ministério da Defesa, 2016, p.
nutos da guerra, o inimigo procuraria 226).
minar as bases aéreas, debilitando so- Com a capacidade de operar em
bremaneira a capacidade de combate rodopista, pode-se estar pronto para re-
(HATCH, 2015). Entretanto, ao possuir alizar decolagens e pousos de regiões
a capacidade de operar em locais dis- que não possuem bases aéreas ou ae-
persos, como por exemplo rodopistas, ródromos próximos, aumentando a ca-
pode-se lançar as aeronaves dessas pacidade de pronta resposta.
posições e engajar o inimigo, enquanto Surpresa: “Princípio de Guerra
as bases estão sendo recuperadas. que consiste em golpear o inimigo
Outro fator a se considerar é onde, quando ou de forma tal que ele
que, sabendo do conflito iminente, há a não esteja preparado. O comandante
possibilidade de dispersar,

97
que obtém o efeito da surpresa poderá Ajuda humanitária: Além dos fa-
alterar a seu favor, de forma decisiva, a tores bélicos, operar de rodopistas pro-
correlação das forças em combate. porciona a capacidade de apoiar locali-
Esse princípio sugere que os es- dades que estejam em situações de
forços devam ser empreendidos de emergência ou calamidade pública
forma a surpreender o inimigo e não ser (HATCH, 2015).
surpreendido por ele” (Ministério da De- Visto a característica de veloci-
fesa, 2016, p. 222). dade dos meios aéreos, pode-se apoiar
Sabendo da capacidade de ope- rapidamente as populações, através de
rar em regiões onde não existem aeró- contribuições de alimentos, logística e
dromos mapeados e já conhecidos pelo transporte de pessoal, assim como
inimigo, pode-se utilizar o efeito sur- ocorre na Royal Flying Doctor Service
presa para infringir grandes baixas ao of Australia, um serviço de ambulância
adversário. Além disso, os pontos de aérea que visa a atender a população
operação podem ser modificados, tor- das áreas remotas daquele país (RO-
nando-se imprevisíveis, mantendo YAL, 2021).
dessa forma sempre o fator surpresa
como uma grande vantagem. FIGURA 2 - PLACA NA RODOVIA EYRE NA
AUSTRÁLIA, INDICANDO QUE UMA PISTA
Dissuasão: “Atitude estratégica
DE POUSO DE EMERGÊNCIA ESTÁ À
que, por intermédio de meios de qual-
FRENTE
quer natureza, inclusive militares, tem
por finalidade desaconselhar ou desviar
adversários, reais ou potenciais, de
possíveis ou presumíveis propósitos
bélicos.” (Ministério da Defesa, 2016, p.
93).
Tendo em vista a capacidade de
pronta-resposta e surpresa sempre
constantes, ao operar de rodopistas, o
inimigo certamente levará em conta tais FONTE: WIKIMEDIA COMMONS (2006).
fatores antes de empenhar um ataque. Pousos em emergências: Além
Sendo assim, nota-se um aumento no de todo recurso tático e operacional
poder dissuasório em função desse tipo que se pode obter com o uso das rodo-
de operação. pistas, cabe evidenciar suas vantagens

98
para pousos em condições de emer- com bombas ou lançadores de fogue-
gência. Diversos casos já foram relata- tes em uma localidade com altitude mé-
dos de aeronaves que necessitaram re- dia de 4000 ft e temperatura de 25°C,
alizar um pouso forçado em estradas tem-se que a distância mínima deman-
ou rodovias. dada para operação é de 2km (MA-
Dessa forma, o treinamento e a NUAL DE VOO, 2007).
operação em rodopistas aumenta a Largura: uma largura de 45 me-
probabilidade de se efetuar uma aterri- tros é preferível para aeronaves de asa
sagem mais segura e proporciona fixa, porém aviões de caça podem ope-
maior confiança e segurança para o pi- rar em pistas com apenas 23 metros.
loto, caso seja necessário utilizar esse Resistência: cada rodovia possui
recurso numa eventual situação de um índice de resistência, que indica
emergência. qual o peso máximo por eixo suportado.
Para aeronaves maiores, um estudo
IV - REQUISITOS DAS RODOPISTAS bem detalhado deve ser feito, a fim de
verificar as possibilidades. Aeronaves
Outro fator muito importante a de caça leves, como o A-29, possuem
ser considerado é saber se determi- uma operação mais facilitada devido ao
nada rodovia é capaz de suportar tal baixo peso de decolagem e pouso.
operação. Além de um trecho retilíneo, Orientação: a orientação da pista
alguns fatores importantes devem ser deve levar em conta o vento de super-
observados e analisados a fim de apro- fície, que deve ser na maior parte do
var determinado trecho rodoviário para ano, de mais ou menos 30 graus em re-
operar como uma rodopista, são eles: lação à rodopista.
 Comprimento; Gradiente: também é importante
 Largura; que se realize um estudo do gradiente
 Resistência; vertical e do gradiente horizontal da ro-
 Orientação; dovia, a fim de determinar o trecho mais

 Gradiente; adequado.

 Localização. Localização: a localização da ro-


dopista deve levar em consideração a

Comprimento: levando-se em distância à base principal, de modo que

conta uma aeronave A-29A configurada se obtenha o máximo de apoio logístico


e operacional possível.

99
“lixão” próximo, já que nestes locais há
V - CONSIDERAÇÕES OPERACIO- uma grande concentração de pássaros.
NAIS PARA O TREINAMENTO Durante o treinamento é impor-
tante que estejam presentes autorida-
É importante salientar que as des responsáveis pela rodovia, uma
operações de rodopistas são de caráter equipe de saúde com uma ambulância
temporário e de curta duração (JOINT e uma equipe de bombeiros, com o ob-
SUSTAINMENT SUPPORT TO AGILE jetivo de prestar apoio, em caso de al-
COMBAT EMPLOYMENT, 2022). Para guma situação de emergência.
que a operação seja possível os recur-
sos de mão de obra, equipamentos e VI - LOGISTICA: O GRANDE DESA-
materiais devem ser capazes de pres- FIO
tar apoio durante toda duração. Como pôde-se perceber, para
Outro fator que deve ser plane- que a operação em rodopista ocorra
jado é a coordenação junto às outras são necessárias diversas coordena-
agências, para autorização da opera- ções. Dessa forma, o maior desafio
ção na rodovia, além do desconflito aé- para a realização do treinamento e ope-
reo na região, realizado via notam. ração gira em torno do apoio logístico
Um sistema confiável de comu- necessário.
nicação deve ser utilizado tanto “terra- Alguns países já relataram que o
ar” como “terra-terra”, a fim de se evitar fator logístico é o principal dificultador
falhas ou interferências durante o exer- desse tipo de treinamento e operação
cício. É importante que haja comunica- (JOINT SUSTAINMENT SUPPORT TO
ção com as demais agências envolvi- AGILE COMBAT EMPLOYMENT,
das no exercício, com o intuito de evitar 2022). Nos Estados Unidos, o emprego
o ingresso indevido de pessoas, veícu- de rodopista entra no conceito de Agile
los ou animais na área de operação. Combat e, desde 2003, já existem estu-
Um oficial de segurança de voo dos questionando a necessidade de
deve vistoriar a pista a cada pouso e mudanças em termos logísticos para
decolagem para verificar a presença de apoiar esse tipo de operação (HALL,
Foreign Object (FO) e monitorar aves 2003).
ou algo que possa prejudicar a segu- Na hipótese de um treinamento
rança da operação. Recomenda-se que realizado no âmbito da Força Aérea
o local escolhido não possua nenhum

100
Brasileira, serão elencados os princi- depósitos podem estar pré-posiciona-
pais fatores a se considerar: dos ou serem transportados para o lo-
 Proximidade da base; cal de operação conforme a necessi-
 Combustível, óleo e lubrifi- dade.
cantes; Segurança: Dever ser estabele-
 Equipamentos de solo; cido um perímetro de segurança feito
 Infraestrutura de armazena- por militares da FAB ou pelas outras
gem; agências participantes para manter a

 Segurança. segurança dos materiais, tripulantes,


mecânicos, equipe de solo e aerona-

Proximidade da base: A base ves.

mais próxima deve servir de “Base-


Mãe”, prestando todo o apoio necessá- VII - EXEMPLOS DE OPERAÇÕES

rio. Para isso, o transporte pela via que


conecta a Base-mãe à rodopista pre- A seguir serão listados alguns

cisa ser eficiente e eficaz. exemplos de operações em rodopistas.

Combustível, óleo e lubrifican-


tes: O combustível é o principal ele- 1) Entre os dias 17 e 18 de maio de

mento para operação de qualquer aero- 2005, foi realizada a Operação Rodo-

nave. Óleo e lubrificante são outros pista - 2005, contando com aeronaves

itens que devem ser supridos pela AT-27 Tucano do Esquadrão Flecha

base-mãe. Eles podem estar previa- em um trecho da MS-080 entre Campo

mente armazenados no local ou serem Grande e Rochedo, no Mato Grosso do

transportados quando necessários. Sul (OPERAÇÃO, 2005).

Equipamentos de solo: Sugere-


FIGURA 3 - AERONAVE T-27 DECOLANDO
se que materiais como fontes de força
DA MS-080 EM TREINAMENTO MILITAR
externas, ferramentas, equipamentos
de proteção, entre outros sejam de res-
ponsabilidade da unidade aérea que
está realizando o exercício.
Infraestrutura de armazenagem:
A estrutura de armazenagem pode ser
fechada, coberta ou aberta e tais

101
capacidade de operar em toda a Eu-
FONTE: 3GAV3 (2005).
ropa (WOODY, 2018).

2) Entre os dias 19 e 26 de setembro de FIGURA 5 - AERONAVE A-10 DECOLANDO


2015, a Força Aérea Finlandesa reali- DE PISTAS IMPROVISADAS EM EXERCÍCIO
zou o Exercício Baana 2015, que ocor- MILITAR NA EUROPA

reu na Base Aérea de Rovaniemi e na


pista de Hosio. Jatos finlandeses F-18
Hornet, aeronaves táticas e de trans-
porte leve, foram acompanhados neste
exercício por dois caças Gripen da
Força Aérea Sueca que pousaram em
uma rodopista na Finlândia pela pri-
meira vez (LEONE, 2015). FONTE: US AIR NATIONAL GUARD (2018).

FIGURA 4 - F-18 HORNET POUSANDO EM 5) No dia 29 de junho de 2022, a


UMA RODOPISTA NA FINLÂNDIA Northern Agility 22-1 exibiu as aerona-
ves A-10 Thunderbolt II realizando ope-
rações em uma rodovia fechada a leste
de Munising - USA. Pela primeira vez
durante as operações em rodovias, as
equipes de manutenção treinaram di-
versas ações para permitir o rápido re-
armamento e reabastecimento do jato
ainda em funcionamento para que a tri-
FONTE: LEONE (2015).
pulação voltasse ao ar rapidamente
3) No dia 7 de junho de 2018, os A-10
(LAYTON, 2022).
Thunderbolts da Força Aérea dos EUA
voltaram ao Báltico, para praticar pou-
FIGURA 6 - AERONAVE A-10 POUSANDO
sos em pistas improvisadas como parte EM RODOPISTA, DURANTE EXERCÍCIO DE
do Saber Strike 18, o exercício anual OPERAÇÕES ÁGEIS
em que a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) e as forças ali-
adas trabalham para melhorar sua

102
as decolagens das aeronaves que in-
terceptarão aviões em situações irregu-
lares.

IX - CONCLUSÃO

Neste artigo foram abordadas as


vantagens do emprego de rodopistas

FONTE: US AIR NATIONAL GUARD (2021).


em ambientes de guerra regular. Além
disso, definiu-se o termo rodopista e

VIII - HIPÓTESE DE EMPREGO DA detalhou-se como a Força Aérea Brasi-

AERONAVE A-29 leira pode aproveitar a grande malha


rodoviária nacional para esse tipo de

A aeronave A-29 pode ser utili- operação.

zada para aumentar a presença do Es- Foram abordadas as vantagens

tado nas regiões fronteiriças, através operacionais como prontidão, surpresa,

do uso das rodopistas, em cenários se- dissuasão, além do uso humanitário e

melhantes a Operação ÁGATA, cujo de emergência. Elencou-se requisitos

um dos objetivos é intensificar a pre- importantes que devem ser observados

sença do Estado Brasileiro na faixa de no momento da escolha do trecho rodo-

fronteira. (OPERAÇÃO, 2022). viário ideal, além das considerações

Além disso, tem-se o conheci- operacionais a serem observadas para

mento de que pessoas observam e fo- que o treinamento ocorra de forma se-

tografam as decolagens das aeronaves gura.

militares quando operando de bases Mostrou-se que o maior desafio

preparadas, possibilitando a transmis- para o treinamento e utilização das ro-

são de informações, quebrando o sigilo dopistas é a grande coordenação logís-

e a surpresa necessária para a missão. tica necessária para que as atividades

Dessa forma, pode-se utilizar as rodo- ocorram. Foram citados alguns exem-

pistas em missões de Alerta de Defesa plos de operações realizadas no Brasil

Aérea para se explorar o princípio da e exterior e evidenciou-se um grande

surpresa. Destarte, não seria possível interesse de outros países nesse tipo

identificar de onde e quando são feitas de operação.

103
Por fim, foi apresentado uma Display/Article/3076324/northern-agi-
lity-22-1-begins-in-michigans-upper-
possível hipótese de emprego da aero-
peninsula/. Acesso em: 14 jul. 2022
nave A-29 em um cenário de escolta
LEONE, Dario. Watch Finnish And
CSAR. Detalhou-se como o uso das ro-
Swedish Fighter Jets Take Off And
dopistas pode aumentar o raio de ação Land On A Finnish Country Road
During A Recent Exercise. 2015. Dis-
e gerar maior prontidão dos meios aé-
ponível em: https://theaviatio-
reos. nist.com/2015/10/06/swedish-and-fin-
nish-jet-operate-from-public-roads/.
Dessa maneira, após um balan-
Acesso em: 15 jul. 2022.
ceamento dos pontos positivos e dos
LINHA do tempo: relembre a esca-
desafios que envolvem este tipo de
lada de ataques da Rússia à Ucrânia.
operação, pôde-se perceber que o em- 2022. Elaborada por Uol Notícias. Dis-
ponível em: https://noti-
prego de rodopistas representa um
cias.uol.com.br/internacional/ultimas-
avanço operacional que pode ampliar noticias/2022/03/03/linha-do-tempo-re-
lembre-a-escalada-de-ataques-da-rus-
as capacidades do poder aéreo no con-
sia-a-ucrania.htm. Acesso em: 01 jul.
texto da guerra regular moderna . 2022.

MANUAL DE VOO. OTFN 1A-29 A/B-


REFERÊNCIAS 1-2: Manual Suplementar de Dados de
Desempenho. 8 ed. São José dos Cam-
HALL, J. Reggie. Agile Combat Sup- pos: Embraer, 2007. v. 8.
port Doctrine and Logistics Officer
Training: do we need an integrated lo- MINISTÉRIO DA DEFESA. Portaria
gistics school for the expeditionary air Normativa nº 9/GAP/MD, de 13 de ja-
and space force ?. Maxwell Air Force neiro de 2016. Glossário das Forças Ar-
Base, Alabama: Fairchild Paper, 2003. madas: MD35-G-01. 5. ed. Brasília,
91 p. 2015.

HATCH, Benjamin B. Optimizing Dis- NIEUWINT, Joris. 1984: Testing The


persed Air Operations: A Concept To Autobahn Airfield – A10s, Hercules’
Use Highways As Improvised Air- And Fighters Land On A Highway
fields In A Contested Environment. (Watch). 2016. Disponível em:
2015. 42 f. TCC (Graduação) - Curso de https://www.warhistoryonline.com/fea-
Master Of Operational Arts And Sci- tured/1984-testing-the-autobahn-airfi-
ences, Usaf, Alabama, 2015 eld.html. Acesso em: 10 jul. 2022.

Joint Sustainment Support To Agile OPERAÇÃO Conjunta das Forças Ar-


Combat Employment. [S.I]: Army Lo- madas Brasileiras em coordenação
gistics University, v. 54, n. 02, 2022. com outros órgãos federais e esta-
duais na faixa de fronteira da Amazô-
LAYTON, Andrew. Northern Agility nia para combater delitos transfron-
22-1 Begins in Michigan’s Upper teiriços e ambientais. Exército Brasi-
Peninsula. 2022. Disponível em: leiro. Disponível em:
https://www.ang.af.mil/Media/Article-

104
http://www.eb.mil.br/web/agata/a-ope- Disponível em: https://www.businessin-
racao. Acesso em: 15 jul. 2022. sider.com/air-force-a-10-warthogs-
make-rough-landings-on-highways-
OPERAÇÃO Rodopista 2005. Disponí- near-russia-2018-6. Acesso em: 13 jul.
vel em: http://www.spot- 2022.
ter.com.br/bacg/rodopista_2005.htm.
Acesso em: 13 jul. 2022.
AUTOR
RODOVIAS Federais - Informações
Gerais - Sistema Federal de Viação.
2020. Ministério da Infraestrutura. Dis-
ponível em: https://www.gov.br/infraes-
trutura/pt-br/assuntos/transporte-ter-
restre_antigo/rodovias-federais/rodo-
vias-federais-informacoes-gerais-sis-
tema-federal-de-viacao

ROYAL Flying Doctor Service pro- O Ten Av Richardy Almeida concluiu o


gram. 2021. Disponível em: CFOAV em 2019 e foi declarado piloto
https://www.flyingdoctor.org.au/. de caça em 2020. Atualmente é adjunto
Acesso em: 13 jul. 2022. da Sessão de Segurança de Voo do
3º/3º GAV.
WOODY, Christopher. Air Force A-10
Warthogs Are Back In The Baltics, Contato: richardyrba@fab.mil.br /
Practicing For Rough Landings (67) 99255-3401.
Close To The Russian Border. 2018.

105
A EFICIÊNCIA OPERACIONAL POR MEIO DO MONITORAMENTO DE DADOS
EM MISSÕES DE TRANSPORTE AÉREO LOGÍSTICO

Ten Av Rafael da Silva Vilete OPERATIONAL EFFICIENCY THROUGH


Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7º DATA MONITORING IN LOGISTIC AIRLIFT
ETA) MISSIONS
Ten Av Guilherme Lucas de Menezes
Araújo ABSTRACT
Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7º The Brazilian Air Force (FAB) plays an essential
ETA) role in the integration of the national territory
through Logistic Air Transport missions, using
aircraft to transport cargo and people,
RESUMO supporting institutions such as the Brazilian
A Força Aérea Brasileira (FAB) desempenha Army on the borders of Brazil, as well as the
um papel essencial na integração do território population itself. in places where the
nacional por meio de missões de Transporte infrastructure is precarious. Resources are
Aéreo Logístico, utilizando aeronaves no limited especially when it comes to the main
transporte de cargas e pessoas, apoiando input used by aircraft, fuel. For this reason, it is
instituições como o Exército Brasileiro nas necessary to carry out scientific studies that
fronteiras do Brasil, bem como a própria allow the optimization of the use of these
população em lugares onde a infraestrutura é vectors and that meet the current budget
precária. Os recursos são limitados scenario. Among some important concepts
principalmente quando se trata do principal addressed, there is Flight Operational Quality
insumo utilizado pelas aeronaves, o Assurance (FOQA) or Flight Data Monitoring
combustível. Por isto faz-se necessário a (FDM), a methodology developed and
realização de estudos científicos que implemented throughout the history of aviation
possibilitem a otimização do emprego desses that has contributed greatly to making the
vetores e que atendam o panorama aeronautical sector more efficient and more
orçamentário atual. Dentre alguns conceitos efficient. safe in the face of a reality of high
importantes abordados, está o Flight operating costs. Thus, the present work aims to
Operational Quality Assurance (FOQA) ou analyze literature inherent to the concept
Flight Data Monitoring (FDM), metodologia mentioned above and its possible contributions
desenvolvida e implementada ao longo da to development in the FAB. The result proved to
história da aviação que tem contribuído, be satisfactory for the need to employ low-cost
sobremaneira, com objetivo de tornar o setor alternatives in order to provide the development
aeronáutico mais eficiente e mais seguro diante of the theme of operational efficiency through
de uma realidade de altos custos operacionais. data monitoring, something that is still incipient
Dessa forma, o presente trabalho tem por in our environment.
objetivo analisar literaturas inerentes ao
conceito ora mencionado e suas possíveis Keywords: Operational Efficiency; Operational
contribuições para desenvolvimento na FAB. O Costs; FOQA; FDM.
resultado mostrou-se satisfatório para a
necessidade de empregar alternativas de baixo
custo a fim de proporcionar o desenvolvimento
do tema sobre eficiência operacional por meio
do monitoramento de dados, algo que ainda é
incipiente em nosso meio.

Palavras-Chave: Eficiência Operacional;


Custos Operacionais; FOQA; FDM.

106
I - INTRODUÇÃO também, do abalo econômico mundial
devido à pandemia gerada pela
O cenário de reestruturação COVID-19. De acordo com a
econômica do país e de limitações International Air Transport Association
orçamentárias no âmbito das Forças (IATA) (2022a), houve um aumento de
Armadas impulsionou a FAB na 68% no preço do combustível de
realização de inúmeros planejamentos aviação comparado ao ano de 2020.
que abarcam desde o setor Sendo assim o setor aeronáutico tem
administrativo até o setor operacional sido compelido a uma constante
para o cumprimento de suas atividades evolução a fim de minimizar os custos
aéreas durante o ano. (BRASIL, 2020b) e de obter a maior lucratividade. Por
As companhias do setor privado isso têm sido desenvolvidas inúmeras
da aviação usam de planos setoriais pesquisas no âmbito da análise
semelhantes para a manutenção da operacional sobre motores mais
competitividade no mercado por meio eficientes, combustíveis alternativos,
de seus serviços. Todavia, designers de aeronaves projetadas,
diferentemente de uma companhia tecnologias embarcadas,
aérea, cuja finalidade é lucrar por meio monitoramento e análise de dados de
da oferta de Transporte Aéreo, a FAB voos que visam a mudança de
tem como missão síntese “manter a procedimentos de operação de suas
soberania do espaço aéreo e integrar o aeronaves. (SILVA, 2018)
território nacional, com vistas à defesa Uma vez que a Força Aérea
da Pátria’’. Entretanto, apesar de precisa lidar com a limitação de
objetivos distintos, existem alguns orçamento, o campo da pesquisa tem
fatores de operação em comum, dentre sido uma alternativa para o
os quais estão os custos operacionais, desenvolvimento de soluções menos
sendo o consumo de combustível o custosas para Instituição,
principal deles. (BRASIL, 2018) possibilitando a otimização do emprego
O combustível tem sido o insumo dos recursos disponíveis. Desta forma,
mais custoso para a manutenção das este trabalho tem por objetivo
atividades aéreas, tornando-se motivo apresentar conceitos de eficiências
de preocupação para a saúde operacionais utilizados pela aviação
financeira de grande parte das geral, bem como analisar possíveis
empresas. Isso se deve ao fato, alternativas viáveis para o emprego na

107
FAB com base revisão literária atribuição subsidiária da Aeronáutica é
realizada. (BRASIL, 2018) possível realizar a integração nacional
A fundamentação para elaborar e interligar cidades, por mais que
o trabalho é importante para que haja longínquas e carentes de
um entendimento holístico do assunto. infraestrutura. Um exemplo desse
Assim sendo, são apresentados os emprego é o apoio à Região Norte do
conceitos motivadores da pesquisa, a Brasil, patrimônio de riquezas naturais,
qual trata sobre a operação de onde inúmeros Esquadrões Aéreos
Transporte Aéreo Logístico (TAL) na desempenham um papel essencial na
FAB, a influência do combustível na integração e no desenvolvimento da
aviação, o conceito de FOQA/FDM e Amazônia, onde a precariedade
sobre os benefícios da aplicabilidade aeroportuária, as grandes extensões
desse programa na aviação em geral. entre as localidades a serem
Posto isso, são realizadas algumas transportadas e meteorologia tornam-
análises e conclusões acerca da se desafios constantes.
pesquisa. (BRASIL,2020c) Por conseguinte,
existem muitas missões onde esses
II - TRANSPORTE AÉREO vetores aéreos são empregados nos
LOGÍSTICO (TAL) limites de suas performances, exigindo
que as tripulações estejam com um
O Transporte Aéreo Logístico conhecimento acurado dos principais
(TAL) é tido como uma das Ações de fatores de planejamento para garantir o
Força Aérea em que é harmonizada a cumprimento de uma missão segura.
junção coordenada de recursos Outro grande exemplo recente
humanos no emprego de diferentes da importância do TAL foi a operação
vetores para alcançar o objetivo de combate à COVID-19 executada
desejado, sendo esse caracterizado durante a pandemia, conforme Fig. 1,
pelo transporte de cargas e pessoas na qual o transporte de mais de 5 mil
com a finalidade de atender demandas toneladas de carga, dentre insumos
específicas, sejam elas militares ou hospitalares, cilindros de oxigênio e
governamentais. (BRASIL, 2020a) vacinas foram feitos. Foram ainda
As missões de TAL são a razão realizadas inúmeras evacuações
de ser do Correio Aéreo Nacional aeromédicas. Nessa incansável missão
(CAN) (BRASIL, 2018). Por meio dessa que têm um papel imprescindível na

108
viabilização do aumento das chances economia mundial e do seu impacto na
de vida de muitos brasileiros foram aviação principalmente na última
utilizadas diversas aeronaves, sendo década. (BRASIL, 2020a)
alcançada a marca de
aproximadamente 6.000 horas de voo. III - O COMBUSTÍVEL NA AVIAÇÃO
(FAB, 2021)
Desde muito tempo, o
FIGURA 1 - C-130 TRANSPORTANDO querosene e a gasolina de aviação têm
CILINDROS DE OXIGÊNIO
sido as principais fontes de energia
para operação dos motores. Contudo a
grande quantidade de emissão de CO2
na atmosfera, bem como a crescente
nos preços propiciaram a reunião de
grandes organizações do setor
aeronáutico a fim de desenvolverem
políticas de preservação ambiental,
como, por exemplo, o Carbon Offsetting
FONTE: FAB/CECOMSAER (2021). and Reduction Scheme for International
Aviation (CORSIA), criado e
Nesse contexto, para que a FAB regulamentado pela International Civil
consiga ampliar suas capacidades de Aviation Organization (ICAO) em 2016
mobilidade, alcance e pronta resposta, cujo objetivo é a redução das emissões
seja num cenário de objetivo de carbono, pois, até o ano de 2017, o
estratégico, operacional ou tático, é mercado da aviação foi responsável por
necessário o desenvolvimento da 2% dessas emissões, o equivalente a
Força valendo-se de um sistema de 859 milhões de toneladas de CO2.
processos integrados capazes de (SILVA, 2018) (IATA, 2022c)
propiciar mudanças em suas Conforme Fig. 2, o combustível
capacidades existentes ou, até mesmo, tem tido um aumento considerável nos
desenvolver novas capacidades. Por últimos sete anos, principalmente após
conseguinte, considerando que o o cenário pandêmico devido à COVID-
combustível tem sido o principal fator 19. Segundo o relatório da International
dos custos operacionais, é importante a Air Transport Association (IATA)
observância dessa matéria-prima na (2022b) apesar da recuperação

109
econômica no ano de 2021, os preços movida a hidrogênio como combustível
do combustível de aviação e o petróleo alternativo, além da estabilização do
bruto aumentaram e podem intensificar carbono lançado na atmosfera. (IATA,
a preocupação acerca do preço devido 2022c)
à Guerra na Ucrânia, uma vez que a Segundo Silva (2018), para que
relação de oferta e procura tem haja uma redução do consumo de
acentuado o crescimento do valor. combustível que torne a operação
(IATA, 2022b) aérea mais eficiente, é importante que
todos os operadores que adotam o
FIGURA 2 - GRÁFICO DE PREÇO DO plano CORSIA cumpram com o dever
COMBUSTÍVEL
de monitorar, avaliar e reportar suas
emissões durante voos internacionais,
bem como na aquisição de créditos de
carbono como forma de compensar o
aumento dessas emissões avaliadas
no plano.
O Brasil está entre os países
incluídos no CORSIA, sua
implementação teve início no ano de
FONTE: IATA (2022B).
2019. O Órgão responsável pela
implantação e fiscalização dos
No entanto, apesar dessas
operadores é a Agência Nacional de
últimas ocorrências terem afetados a
Aviação Civil (ANAC), a qual
economia mundial, já havia a
desempenha tal papel por meio
preocupação e o desenvolvimento
diretrizes publicadas na Resolução nº
dessas políticas de economias ora
496, de 28 de novembro de
mencionadas, como o CORSIA. Esse
2018.(ANAC, 2019) Parte desse
foi concebido para ser uma aplicação
entendimento sobre a importância do
de curto a médio prazo, de maneira que
combustível e seus impactos na
a sua implantação, iniciada em 2021,
aviação tem se dado também pelo
consiga alcançar um crescimento de
conceito de Flight Operational Quality
novas tecnologias de baixas emissões,
Assurance, conhecido mais como
a exemplo da Sustainable Aviation Fuel
FOQA, ou de Flight Data Monitoring
(SAF), utilizando tecnologia elétrica
(FDM).

110
programa de garantia de qualidade
IV - FLIGHT OPERATIONAL QUALITY operacional de voo de transportadora
ASSURANCE (FOQA) OU FLIGHT aérea nos Estados Unidos e os custos
DATA MONITORING (FDM) atrelados a sua implementação. (FSF,
1993) Após análise do relatório emitido
Sua origem conceitual teve início pela FSF, Federal Aviation
após a obrigatoriedade da utilização do Administration (FAA), decidiu-se
Flight Data Recorder (FDR) nas implementar o programa nos EUA junto
aeronaves pela US Civil Aeronautics a outras quatro companhias aéreas.
Administration, a qual objetivava Contudo, apesar de reconhecerem os
primariamente a gravação de dados benefícios do FOQA, alguns fatores
para auxiliar nas investigações de impediam a implementação, sendo o
acidentes aeronáuticos. Entretanto, principal deles a proteção de dados,
empresas aéreas perceberam que o pois o objetivo era a melhoria
monitoramento dos dados gravados operacional e não as possíveis
pelo FDR poderiam contribuir para o fiscalizações que pudessem gerar
aprimoramento da segurança de voo. alguma sanção punitiva. (FSF, 1998)
(ABREU, 2009) Nesse sentido, de acordo FSF
Devido à percepção de que o (1998), foram elaboradas
fator humano era o principal regulamentações pela FAA que
contribuinte para as ocorrências de pudessem garantir a segurança das
acidentes aeronáuticos, fez-se informações coletadas para análise,
necessário o desenvolvimento de um estimulando o desenvolvimento do
programa que pudesse focar nas programa. Com o decorrer do tempo, o
irregularidades operacionais FOQA foi amplamente definido como
resultantes de ações humanas, modelo para o aprimoramento
possibilitando a criação de medidas operacional da aviação geral.
corretivas para mitigação de potenciais Desta forma, a FAA sugeriu uma
fatores de risco. (FSF,1993) duração de 24 meses para a
Todavia, o termo FOQA foi criado implantação do programa, dividindo-o
por meio do estudo realizado pela Flight em três fases, conforme Fig.3. A
Safety Foundation (FSF) em 1993, no primeira consiste na escolha de
qual foram emitidos um relatório de 252 pessoas capacitadas e no
páginas sobre os requisitos do estabelecimento de metas,

111
posteriormente; a segunda fase treinamento de pilotos. (VAZ
resume-se no local de teste e na FERNANDES, 2002)
instalação do equipamento; finalizando Devido ao grande avanço da
com a fase três, de análise dos tecnologia, seja ela na evolução dos
resultados para verificação de um plano equipamentos de gravação de dados,
de otimização. A partir do ano 2000, o na fabricação de motores mais
FOQA começou a ser exigido por eficientes, ou nos auxílios de
diversos órgãos de regulamentações navegações, tem-se amplificado o
internacionais. (ABREU, 2009) campo de pesquisa na eficiência
operacional a fim de adequar o
FIGURA 3 - SUGESTÃO DE IMPLANTAÇÃO programa à realidade econômica das
DO PROGRAMA FOQA PELA FAA.
empresas do setor aeronáutico, pois o
custo de implantação pode variar de
acordo com o tamanho da frota e com
a tecnologia embarcada de gravação
de dados nas aeronaves, conforme
analisado por Vaz Fernandes (2002).

FONTE: US DOT - UNITED STATES


DEPARTMENT OF TRANSPORTATION
(2004).

V - BENEFÍCIOS DO FOQA/FDM E
SUAS ABORDAGENS DE ESTUDOS

São muito os benefícios


advindos do programa FOQA/FDM,
conforme Fig. 4, podendo ser
destacados a melhoria da segurança
de voo, a diminuição de custos
operacionais e consumo de
combustível e a melhoria no

112
FIGURA 4 - EXEMPLO DE GRAVAÇÃO DE dispõem de gravadores de acesso
VOO
rápido, conhecidos como Quick Acess
Recorder (QAR); (BROMFIELD;
WALTON; e WRIGHT, 2019)
- Eficiência no consumo de combustível
por meio de pesquisa operacional com
a finalidade da otimização no
planejamento de voo com base na
roteirização e análise de preço;
FONTE: DELHOM (2014). (KHERARIE, A.Z.; MAHMASSANI,
2012)
Nesse sentido, é imprescindível - Análise de procedimentos
a exploração de temas que abordem o operacionais de voo que podem ser
assunto de acordo com Tsuruta (2008), aprimorados para contribuição na
pois a implementação do FOQA segue sustentabilidade econômica das
as três fases sugeridas pela FAA. A empresas; e (GRAEBIN, 2021)
necessidade de estudos deve-se às - Eficiência no gerenciamento de
possibilidades dos altos custos tráfego aéreo com base nos conceitos
envolvidos, uma vez que a aquisição de de navegação em performance
novas aeronaves com tecnologias mais (Performance Based Navigation –
avançadas torna os custos mais altos PBN) e operações de descida ou
para uma empresa aérea, enquanto subida contínuas (Continuos Descent
que estudos sobre políticas de Operations – CDO e Continuos Climb
economias de recursos podem ser uma Operations – CCO). (SZENCZUK,
alternativa menos custosa. 2019)
(BROMFIELD; WALTON; e WRIGHT, Na aviação civil, tem-se uma
2019) grande quantidade de atividades
Foram observados alguns ligadas à segurança de voo, as políticas
trabalhos desenvolvidos com temas de economia de recursos, as pesquisas
correlacionados ao plano de em torno da eficiência operacional e ao
FOQA/FDM, dentre os quais destacam- desenvolvimento de novas tecnologias
se: de monitoramento de dados de voo. No
- Soluções de baixos custos para âmbito da Força Aérea, têm sido
monitoramento de aeronaves que não desenvolvidos, também, alguns

113
trabalhos, como por exemplo: análise fomentem discussões no âmbito da
do impacto financeiro no consumo de eficiência operacional para análise da
combustível em missões de Transporte viabilidade de implementação de
Aéreo Logístico (ROCHA, 2015), programas como o FOQA/FDM, que
modelagem estatística na otimização têm proporcionado benefícios para
da ocupação de aeronaves de carga sustentabilidade econômica em muitas
em missões prestando apoio aos empresas aéreas. Podem ser feitas
Pelotões de Fronteiras (PEF) do também parcerias de workshops com
Exército Brasileiro (ÁVILA, 2019), as entidades governamentais e civis
roteirização de missões minimizando para o compartilhamento de
custos (CASTRO, 2020) e modelagem conhecimentos que proporcionem
preditiva do consumo de combustível alternativas para emprego do programa
(VILETE, 2021). Todavia, temas dentro da FAB.
correlacionados ao monitoramento de Sendo assim, pode-se concluir que o
dados de voo podem ser mais tema em questão é de suma
explorados objetivando a eficiência importância para o aprimoramento dos
operacional dos vetores aéreos. nossos recursos materiais e
principalmente dos recursos humanos,
V - CONCLUSÕES pois por meio desses podemos cumprir
com a missão síntese da FAB de
Uma vez que o cenário manter a soberania do espaço aéreo
econômico mundial tem impulsionado brasileiro e integrar o território nacional,
um crescimento nos custos com vistas à Defesa da Pátria.
operacionais, a Força Aérea Brasileira
encontra-se na situação de envidar REFERÊNCIAS
esforços para otimizar seus recursos.
ABREU, F. V. FOQA Flight Operatio-
Desta forma, a barreira da limitação nal Quality Assurance. Faculdade de
Ciências Aeronáuticas. Pontifícia Uni-
orçamentária tende a conduzir na
versidade Católica do Rio Grande do
priorização da capacitação de recursos Sul. Porto Alegre, 2009.
humanos, objetivando o
AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO
desenvolvimento de novas CIVIL (ANAC). CORSIA, 2019. Disponí-
vel em: <https://www.gov.br/anac/pt-
capacidades a fim de atender às
br/assuntos/meio-ambiente/corsia>.
missões da Instituição. Sendo assim, é Acesso em: 21 Jul. 2022.
importante que as Unidades Aéreas

114
ÁVILA, L. L. Modelagem de métrica Quality Assurance Methods In U.S.
Eficiência Operacional em Missões Air Carrier Operations. April, 1993.
de Transporte Aéreo Logístico do
1º/9º Grupo de Aviação em Apoio aos FORÇA AÉREA BRASILEIRA (FAB).
Pelotões de Fronteiras na Amazônia. OPERAÇÃO COVID-19. A FAB e o
Instituto Tecnológico de Aeronáutica. combate à pandemia de COVID-19
São José dos Campos, 2019. em 2021. Disponível em:
<https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/
BRASIL. Ministério da Defesa. Co- 38481/OPERACAO COVID-19 – A FAB
mando da Aeronáutica. DCA 11-45: e o combate pandemia COVID-19 em
Concepção Estratégica Força Aérea 2021>. Acesso em: 21 Jul. 2022.
100. Brasília, 2018.
GRAEBIN. M. Procedimentos
BRASIL. Ministério da Defesa. Co- Operacionais Específicas que
mando da Aeronáutica. DCA 1-1: Dou- Ccontribuem para a Economia de
trina Básica da Força Aérea Brasileira. Combustível na Aiação Comercial
Vol. 2, Brasília, 2020a. Brasileira. Universidade do Sul de
Santa Catarina, Palhoça, 2021.
BRASIL. Ministério da Defesa. Co-
mando da Aeronáutica. MCA 11-5: Ma- INTERNATIONAL AIR TRANSPORT
nual do Processo do Preparo Operaci- ASSOCIATION. Airlines Financial
onal. Vol. 1 – Planejamento, Brasília, Monitor December 2021 - January
2020b. 2022. Canada, 2022a. 2 p.

BRASIL. Ministério da Defesa. Política INTERNATIONAL AIR TRANSPORT


Nacional de Defesa. Brasília, 2020c. ASSOCIATION. Annual Review 2022.
78th Annual General Meeting and
BROMFIELD, M., WALTON, T., & World Air Transport Summit, Doha,
WRIGHT, D. Evaluation of Low-Cost Qatar, 2022b.
Solutions to Support Flight Operations
Quality Assurance. Journal of Air INTERNATIONAL AIR TRANSPORT
Transportation. 2019. ASSOCIATION. CORSIA Fact sheet.
Canada, 2022c. 2 p.
CASTRO, A. L. Otimização de
transporte de tropa e carga para KHERARIE, A.Z.; MAHMASSANI, H. S.
aeronave C-105 Amazonas em apoio Leveraging Fuel Cost Differences in
aos pelotões de fronteira na Aircraft Routing by considering Fuel
Amazônia. Instituto Tecnológico de Ferrying Strategies. Transportation
Aeronáutica. São José dos Campos, Research Record, 2300, 139 – 146.
2020 2012.

DELHOM, J. Flight Data Analysis ROCHA, A. N. O impacto financeiro


(FDA), a Predictive Tool for Safety do modelo de abestecimento das
Management System (SMS). Safety aeronaves do 1º/1º GT. Escola de
First | January 2014 - Airbus S.A.S. Aperfeiçoamento de Oficiais da
2014. Aeronáutica. Rio de Janeiro, 2015.

FLIGHT SAFETY FOUNDATION. SILVA, L. C. Análise de dados de voo


Flight Saftey Digest: Study Urges para a redução de consumo de
Application of Flight Operational combustível de uma linha aérea.

115
Escola de Engenharia da Universidade AUTORES
Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2018.

STOLZER, A. J. Fuel Consumption


Modeling of a Transport Category
Aircraft Using Flight Operations
Quality Assurance Data: A Literature
Review. Journal of Air Transportation,
7(1). 2002.

SZENCZUK, J. B. T. Análise do
Potencial de Redução no Consumo
de Combustível de Empresas Aéreas
por Meio de Melhorias no O Ten Av RAFAEL VILETE concluiu o
Gerenciamento de Tráfego Aéreo. CFOAV em 2016 e possui
Instituto Tecnológico de Aeronáutica. especialização em Análise Operacional
São José dos Campos, 2019. pelo Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (2021). Atualmente é
TSURUTA, G. M. L. The Analysis of Chefe da Seção de Apoio
Flight Operational Quality Assurance Administrativo do 7º ETA.
(FOQA) Data: Exploration of a
Proposed List of Improved Safety Contato: rafaelviletersv@fab.mil.br /
Parameters. Theses - Daytona Beach. (92) 3614-1758.
201. 2008.

US DOT: Advisory Circular: Flight


Operations Quality Assurance
(FOQA), AC No: 120- 82, 12. Abr 2004.

VAZ FERNANDES, R. An Analysis of


the Potential Benefits to Airlines of
Flight Data Monitoring Programmes.
Cranfield University, Cranfield, UK -
School of Engineering Air Transport
Group, 2002.

VILETE, R. S. Previsão do consumo


de combustível em missões de O Ten Av MENEZES concluiu o CFOAV
Transporte Aéreo Logístico para em 2020. Atualmente é Adjunto da
políticas de economia de recursos. Célula de Acompanhamento do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Desempenho Operacional do 7º ETA.
São José dos Campos, 2021.
Contato: menezesglma@fab.mil.br /
(92) 3614-1758.

116
A OPERAÇÃO EM PISTAS CRÍTICAS COMO FATOR PRIMORDIAL PARA A
EFETIVA INTEGRAÇÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Maj Av Emanuel do Socorro Verderosa exclusively by river, thanks to isolated private


Santos Morais and local government initiatives. With more than
Base Aérea de Belém (BABE) half of the Brazilian territory and less than 15%
Ten Av Wanderson Willian Zorzo of its population, the Legal Amazon is charac-
Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo (1º terized by low population density, whose inhab-
ETA) itants depend almost exclusively on Union ac-
tions for larger or urgent displacements. These
RESUMO transfers often take place in Brazilian Air Force
O Comando da Aeronáutica (COMAER), desde aircraft and, despite the great advance in airport
a introdução do Consolidated PBY Catalina no infrastructure since the creation of COMARA,
Brasil, em 1947, esforça-se para determinar a there are still places where the only means of
presença estatal em todo território nacional, em transporting food, medicines, doctors, dentists
especial, na Amazônia Brasileira. A criação da and teachers, among others resources/profes-
Comissão de Aeroportos da Região Amazônica sionals, is limited to an aircraft capable of oper-
(COMARA), em 1956, potencializou o alcance ating on runways with reduced operational ca-
de aeronaves a localidades antes acessíveis pabilities. In order to allow these communities to
exclusivamente por via fluvial, estas graças a continue to be supported, the training of Air
isoladas iniciativas privadas e governamentais Force crew members is essential for the conti-
locais. Com mais da metade do território brasi- nuity of the integration process of the Brazilian
leiro e menos de 15% de sua população, a Amazon.
Amazônia Legal caracteriza-se pela baixa den-
sidade populacional, cujos habitantes depen- Keywords: Critical Lanes; Integration; Amazon;
dem quase que exclusivamente de ações da Caravan; Catalina; COMARA.
União para deslocamentos maiores ou de ur-
gência. Estes translados ocorrem, frequente-
mente, em aeronaves da Força Aérea Brasileira I - INTRODUÇÃO
e, apesar do grande avanço da infraestrutura
aeroportuária desde a criação da COMARA,
ainda há localidades as quais o único meio de
transporte de víveres, medicamentos, médicos, A integralidade territorial brasi-
odontólogos e professores, entre outros recur- leira, pautada pela presença do Estado
sos/profissionais, limita-se a uma aeronave ca-
paz de atuar em pistas de reduzidas capacida- em toda sua extensão, é um desafio im-
des operacionais. A fim de permitir que estas
comunidades continuem amparadas, o treina- posto às instituições públicas, notada-
mento de tripulantes da Força Aérea é indis-
pensável para a continuidade do processo de mente às Forças Armadas. Com mais
integração da Amazônia Brasileira.
de 12.000 (doze mil) km de extensão, a
Palavras-Chave: Pistas Críticas; Integração; fronteira da Amazônia Legal passa por
Região Amazônica; Caravan; Catalina; CO-
MARA. 7 (sete) países, tornando a presença
THE OPERATION ON CRITICAL LANES AS A permanente do Estado na área um fator
PRIMORDIAL FACTOR FOR THE EFFECTIVE
INTEGRATION OF THE BRAZILIAN AMAZON estratégico importante.

ABSTRACT Isto posto, a COMARA impulsio-


Since the introduction of the Consolidated PBY nou o processo de integração territorial
Catalina in Brazil in 1947, the Air Force Com-
mand (COMAER) has strived to determine the à medida em que propiciou a chegada
state presence throughout the national territory,
especially in the Brazilian Amazon. The creation do modal aéreo em localidades remo-
of the Amazon Region Airports Commission
(COMARA), in 1956, boosted the reach of air- tas. No início da década de 50, havia
craft to locations previously accessible

117
apenas 17 aeródromos na Amazônia, aeronaves Grand Caravan, C-98A. As-
sendo asfaltadas exclusivamente as sim, a perícia dos seus pilotos mostra-
pistas dos aeroportos de Belém (PA) e se imperativa à integração dos seus ha-
Manaus (AM). Hoje, é possível contabi- bitantes ao restante do país.
lizar a construção e recuperação de Destarte, o treinamento dos tri-
mais de 170 pistas de pouso, mais de pulantes nestes aparelhos, com meto-
70 reformas em instalações aeroportu- dologia e periodicidade, é parte ine-
árias e vias públicas. Com a atuação da rente da atividade aérea na região norte
COMARA, localidades como Tefé e Pa- do Brasil. Notadamente, o 1° ETA e o
rintins, no Amazonas, puderam contar 7° ETA têm realizado Exercícios Técni-
com a chegada periódica de mantimen- cos de forma a promover o aprendizado
tos (remédios e medicamentos, entre e aperfeiçoar táticas e técnicas de ope-
outros) com a possibilidade do pouso ração em pistas de dimensões reduzi-
de aeronaves como o C-130 e o C-105. das, permitindo que localidades ainda
Pelotões Especiais de Fronteira não contempladas com uma expansão
(PEF) do Exército Brasileiro (EB) pas- aeroportuária, permaneçam conecta-
saram a ser constantemente ressupri- das ao país.
dos quase que exclusivamente devido
à construção de pistas de pouso, como II - CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO
por exemplo os PEF de Palmeiras do AMAZÔNICA
Javari e Maturacá, também no Amazo-
nas, tendo em vista que os rios usados A região definida como Amazô-
para transporte nestas localidades tor- nia Legal (figura 1) possui mais de 5
naram-se não navegáveis em grande (cinco) milhões de km², o que repre-
parte do ano devido às secas e aos senta cerca de 59% do território brasi-
bancos de areia. leiro. A Região hospeda cerca de 38
Em que pese toda essa expan- (trinta e oito) milhões de habitantes, o
são estrutural, localidades como as de que representa 13% da população na-
Tunuí Cachoeira, no Amazonas, e Uira- cional (IBGE, 2021). Devido à sua baixa
mutã, em Roraima, contam com pistas densidade populacional, o atendimento
de reduzido comprimento, de apenas às demandas básicas, como alimenta-
800m e 750m, respectivamente, e o ção, saúde e vestuário vem se caracte-
acesso ao modal aéreo de asa fixa se rizando como um grande desafio logís-
dá, exclusivamente, por intermédio das tico, que repele a iniciativa privada, mas

118
cuja lacuna necessita ser, necessaria- por modal fluvial, necessários para al-
mente, preenchida pelo Estado. cançar algumas cidades no Estado do
Amazonas:
FIGURA 1 - AMAZÔNIA LEGAL
QUADRO 1 – DISTÂNCIAS MODAL FLUVIAL

Tempo de via-
Origem x Destino gem em horas
(h)
Rio Amazonas
Manaus-Almeirim 50h
Manaus-Alvarães 42h
Manaus-Alenquer 26h
Manaus-Belém 84h
Manaus-Boa Vista do Ramos 22h

FONTE: IBGE (2021). Manaus-Itacoatiara 11h


Manaus-Juruti 11h
Manaus-Monte Alegre 33h
Qualquer empreitada na região
Manaus-Óbidos 27h
deverá compensar inúmeras dificulda- Manaus-Parintins 18h
des já transpassadas em outras regiões Manaus-Urucará De 18h a 20h
Manaus-Barreirinha 22h
do país. Como o acesso à internet
Manaus-Santarém 28h
banda larga, em virtude de a Amazônia
Manaus-Maués De 18 a 20h
possuir, à exceção das capitais estadu- Manaus-Faro 22h
ais, uma baixíssima cobertura. Apenas Rio Solimões
Manaus-Anamã 17h
50% dos habitantes são atendidos, dos Manaus-Benjamim Constant 168h
quais, 70% apenas por meio de telefo- Manaus-Coari 30h
nia celular (MADEIRO, 2021). Manaus-Codajás De 11h a 24h
Manaus-Santo Antônio do Içá 144h
Outra dificuldade regional carac-
Manaus-São Paulo de Olivença 144h
teriza-se pela baixa quantidade de es- Manaus-Tabatinga 168h
tradas pavimentadas. Essa condição Manaus-Tonantins 144h
obriga a maioria de seus habitantes a Manaus-Manacapuru 6h
Manaus-Caapiranga 12h
adotar o modal fluvial como meio de
Manaus-Fonte Boa 72h
transporte principal. Manaus-Amatura 144h
A título de exemplificação, e a Manaus-Tefé 42h
fim de esclarecer a distância entre algu- Rio Negro
Manaus-Barcelos De 29h a 36h
mas localidades amazonenses, segue
Manaus-São Gabriel da Cacho-
84h
abaixo o quadro 1, o qual elenca, a par- eira
Manaus-Novo Airão De 9h a 10h
tir de Manaus, os tempos de viagem,

119
Rio Purus III - PISTAS CRÍTICAS
Manaus-Tapauá De 50h a 144h
Manaus-Lábrea 144h
O termo “Pistas Críticas” vem
Manaus-Manaquiri 1h 40min
Manaus-Beruri 21h sendo adotado na Força Aérea com o
Rio Madeira intuito de designar pistas de pouso que
Manaus-Humaitá 120h exijam uma operação com cautela adi-
Manaus-Borba 6h 30min
cional das tripulações, uma vez que po-
Manaus-Porto Velho 96h
Manaus-Autazes De 12h a 17h dem apresentar características que,
Rio Juruá normalmente, tendem a ser desconsi-
Manaus-Carauari 120h deradas no planejamento, quando da
Manaus-Juruá 96h
seleção do local de pouso.
Manaus-Foz do Jutaí 84h
São exemplos de tais caracterís-
FONTE: NOGUEIRA, 2019.
ticas: o relevo no entorno da pista; o
seu comprimento de pista limitado; a
Cabe acrescentar, que alguns
presença de vegetação nas imedia-
dos trechos acima apresentam um in-
ções, assim como sua altura e densi-
tervalo de tempo de viagem que depen-
dade; ausência de cercamento que
derá, ainda, de uma esperada variação
afastem pessoas ou animais; e a possí-
sazonal do volume de águas no rio, o
vel deterioração ou ausência de pavi-
que impacta diretamente no trajeto a
mentação no local.
ser seguido, na velocidade empregada
Uma pista considerada ideal
pela embarcação durante a viagem, no
para a operação segura do Caravan
tipo de embarcação utilizada e na ex-
deve possuir ao menos 1 km de compri-
pertise da tripulação a ser empregada.
mento, 30 m de largura, ser asfaltada e
não apresentar obstáculos que influen-
ciem a aproximação para o pouso ou a
altitude de decolagem. Com menos
disso, os procedimentos de decolagem
e pouso normais devem ser alternados
aos previstos para a operação em pis-
tas curtas.
Além do comprimento disponí-
vel, outros fatores devem ser analisa-
dos, como a largura da pista, a

120
ausência de obstáculos durante a apro- IV - O PRIMEIRO ESQUADRÃO DE
ximação e se o perfil de decolagem per- TRANSPORTE AÉREO E A IMPOR-
mite, ou não, utilizar o comprimento to- TÂNCIA DE SUAS MISSÕES NA AMA-
tal de pista disponível, haja vista a exis- ZÔNIA
tência provável de árvores de elevado
porte próximas às cabeceiras. O Primeiro Esquadrão de Trans-
Tomando como exemplo a já porte Aéreo (1º ETA), o Esquadrão Tra-
mencionada pista de Uiramutã, em Ro- cajá, sediado às margens do Rio Gu-
raima, esta possui 750m de extensão, amá, na Base Aérea de Belém, atua
dos quais apenas 600m são disponí- efetivamente no transporte aerologís-
veis para a corrida de decolagem, haja tico entre cidades localizadas na Re-
vista sua inclinação permitir apenas a gião Amazônica.
decolagem por uma das cabeceiras. Desde sua criação, em maio de
Ela apresenta, ainda, obstáculos na 1969, o 1º ETA tem a finalidade primor-
reta de decolagem (árvores altas no fim dial de desenvolver a região amazônica
da pista), que obrigam a aeronave a por meio de suas aeronaves em mis-
atingir a velocidade de rotação em até sões de transporte aéreo, operando as
150m antes da cabeceira oposta. Linhas de Transporte Nacional (LTN),
Outro fator de consolidada im- realizando missões de Evacuação Ae-
portância, diz respeito à largura da romédica, efetuando o transporte de ór-
pista. Considerando novamente a loca- gãos e atuando junto à outras institui-
lidade de Uiramutã, essa conta com ções governamentais, como o Exército
apenas 19 m de largura (ressalta-se Brasileiro, nos Planos de Apoio Amazô-
que a aeronave C-98A possui 15,87 m nico, ou o IBAMA e ICMBIO, durante a
de envergadura), o que, somada à au- Operação Verde Brasil 2. O apoio do
sência de cercamento, implica em redu- Esquadrão Tracajá tem contribuído
zida margem para a realização de uma substancialmente para a integração do
abortiva em caso de incursão de um território nacional.
animal, pedestre ou veículo durante a Para alcançar a excelência nes-
corrida de decolagem. tas atividades, o Esquadrão busca
constantemente manter suas equipa-
gens aptas para cumprir missões que
necessitem do emprego das habilida-
des adquiridas e sedimentadas nos

121
diversos exercícios de adestramento, governamentais que atuaram em apoio
dentre eles, o Exercício Técnico Pistas a essas populações.
Críticas, que visa adestrar tripulações
de C-98A e de C-97 (Embraer 120 – V - O EXTEC PISTAS CRÍTICAS
Brasília).
Com mais de 60% das aldeias O Exercício Técnico (EXTEC)
amazonenses situadas a pelo menos Pistas Críticas, concebido em 2018,
200 km de distância do apoio de um tem como objetivo o de oferecer a opor-
leito hospitalar capacitado com Uni- tunidade aos Esquadrões, sediados na
dade de Tratamento Intensiva (UTI) Região Norte do país, de aprimorarem
(KIMBROUGH, 2020), percebe-se a im- táticas, técnicas e procedimentos para
portância que o Primeiro Esquadrão de a operação segura em pistas com limi-
Transporte Aéreo representa, quando tações operacionais, das mais hetero-
realiza missões em apoio direto a essas gêneas.
comunidades. Em Maturacá, por exem- O EXTEC é dirigido pelo Co-
plo, integrantes da comunidade Yano- mando de Preparo (COMPREP), por in-
mami necessitam aproximadamente de termédio das Bases Aéreas localizadas
3h de voo até uma unidade de saúde, na região amazônica, e conta com a
mesmo com esse tempo de voo consi- participação de tripulantes das aerona-
derável, caso não houvesse o apoio por ves C-98A do 1º ETA, 7º ETA e Base
parte da FAB, e o modal fluvial tivesse Aérea de Boa Vista.
que ser utilizado, a duração da viagem Dividida em duas fases anuais,
provavelmente impediria o acesso a somando um total de sete fases no ano
este apoio hospitalar (KIMBROUGH, de 2022, contando, ainda, com uma
2020). média de 50 pousos e decolagens em
Do início de 2021 até o mês de pistas críticas por fase, o Exercício pro-
junho de 2022, foram realizadas 12 picia o adestramento de mais de 60 tri-
missões de evacuação aeromédica (95 pulantes, entre pilotos e mecânicos de
h de voo) e 536 missões de transporte voo, que recebem instruções de forma
aerologístico (4.600h). Cada uma des- a manterem a operacionalidade em
tas ações teve como objetivo imediato seus projetos.
o atendimento às necessidades bási- No último ano, as localidades
cas das comunidades da Região Ama- mais dependentes das ações realiza-
zônica, ou algum apoio às instituições das pelo 1º ETA, especialmente as

122
beneficiárias diretas das ações de ma- mantendo o atual apoio até que outras
nutenção operacional em pistas críti- modais logísticas possam atender as
cas, foram: Surucucu (RR), Tunuí-Ca- necessidades destas comunidades iso-
choeira (AM), Pari-Cachoeira (AM), Ma- ladas.
turacá (AM), Auaris (RR), Querari (AM),
Uiramutã (RR), Bonfim (RR) e Norman- FIGURA 2 - AERONAVE C-98 GRAND CARA-
VAN DECOLANDO PARA TREINAMENTO DE
dia (RR).
POUSOS EM PISTAS CRÍTICAS
As populações destas localida-
des somam em torno de 90 mil pessoas
e a sua integração ao restante do país,
na ausência destas missões da FAB,
seria dependente exclusivamente de
modais de transporte lentos, em sua
maioria fluviais, com disponibilidade e
duração que variam de acordo com a
sazonalidade amazônica, conforme já
citado no quadro 1. FONTE: 1º ETA, 2021.
Cabe ressaltar, ainda, que ape-
sar das restrições encontradas nas pis- VI - AÇÕES FUTURAS DE INFRAES-
tas de pouso abordadas neste artigo, TRUTURA
as operações, realizadas em sua maio-
ria em atendimento às demandas do Neste diapasão, uma vez que o
Comando de Operações Aeroespaciais modal aéreo vem sendo implementado,
(COMAE), vem sendo atendidas com outras necessidades estruturais pode-
sucesso e sem quaisquer incidentes rão ser alvo de investimentos a fim de
que comprometam a segurança. que a atividade logística possa ser to-
Assim, em função da importância, e em mada sem as limitações e as dificulda-
virtude do alto nível de segurança que des já apontadas.
vem sendo apresentado, entende-se A questão apresenta-se, em úl-
que o COMAER deva continuar con- tima instância, como fator determinante
centrando esforços em bem adestrar para que empreendimentos que aten-
suas tripulações, com o objetivo de al- dam as necessidades básicas dos ha-
cançar níveis de proficiência técnica e bitantes da região sejam efetivamente
capacidade operacional ainda maiores, iniciados, como, por exemplo, a

123
ampliação da gama de aeroportos dis- operação com segurança em pistas
poníveis, expandido o tamanho das pis- operacionalmente limitadas.
tas diminutas e facilitando a ligação en- Nesse sentido, e na busca em
tre as localidades e as cidades-pólo, reduzir o distanciamento social e eco-
como Belém e Manaus. nômico de cidadãos brasileiros que re-
O progresso, neste sentido, bus- sidem em localidades desprovidas de
caria o atendimento de condições jus- um adequado apoio, o Comando da Ae-
tas de vida à uma população que me- ronáutica tem atuado na expansão da
rece desfrutar de um Brasil que seus infraestrutura aeroportuária e na execu-
concidadãos, sediados nas demais re- ção de uma atividade aérea constante,
giões brasileiras, já vivenciam natural- pautada nos Exercícios Técnicos e por
mente. Porém, até que isto seja alcan- uma maior sedimentação de suas ca-
çado, a FAB se faz presente, redu- pacidades operacionais, visando a ope-
zindo, dentro de suas capacidades e li- ração em pistas restritas, fator que vem
mitações, tal lacuna social. permitindo condições melhores de
apoio à essas comunidades.
VII - CONCLUSÃO Assim, torna-se imprescindível e
necessário que a Força Aérea Brasi-
A integração da Região Amazô- leira continue capacitando seus pilotos
nica ao restante do país vem se inten- para a operação em pistas classifica-
sificando ao longo do tempo. Inicial- das como críticas, a fim de que não haja
mente, visando a presença do Estado, interrupções na manutenção da integri-
foram criados os Pelotões Especiais de dade territorial, não apenas em seu as-
Fronteira, do Exército Brasileiro, com o pecto geográfico, mas, principalmente,
objetivo de estabelecer a presença Es- quando consideramos o aspecto social,
tatal em regiões estratégicas da fron- quando se possibilita o acesso à saúde,
teira brasileira (BRASIL, 2015). à alimentação, à segurança e à cidada-
Posteriormente, o Brasil passou nia para todos os brasileiros, indepen-
a expandir as formas de acesso de ví- dente da localidade.
veres e medicamentos às localidades
isoladas, as quais vinham sendo aten-
didas por outros modais de transporte.
Para tanto, a FAB se fez presente, con-
tando com vetores que propiciam a

124
REFERÊNCIAS AUTORES

NOGUEIRA, R. J. B. Amazonas: um
estado ribeiro: estudo do transporte
de carga e passageiros. Dissertação
de Mestrado em Geografia Humana,
USP, 1994.

NOGUEIRA, R. J. B. Caminhos que


marcham: O transporte fluvial na
Amazônia. Revista Terra das Águas, v.
1, n° 2, 1999.

NOGUEIRA, R. J. B. Transporte flu- O Major Aviador EMANUEL DO


vial na Amazônia. In: SILVEIRA, M. R. SOCORRO VERDEROSA SANTOS
Circulação, transportes e logística. MORAIS concluiu o CFO em 2008 e o
São Paulo: Outras Expressões, 2011, Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
pp. 385-401. da Aeronáutica em 2020. Possui MBA
em Gestão de Processos pela
KIMBROUGH, L. 60% das Aldeias da Uniasselvi do Rio de Janeiro (2020).
Amazônia Estão a Mais de 200 km de Atualmente, é Chefe da Seção de
Um Leito de UTI. Disponível em : < Avaliação e Doutrina da BABE.
https://brasil.mongabay.com/2020/06/6
0-das-aldeias-da-amazonia-estao-a- Contato: verderosaesvsm@fab.mil.br /
mais-de-200-km-de-um-leito-de-uti/> (91) 99306-2603.
Acesso em 21 jul. 2020.

MADEIRO, C. Equeceram de Mim.


Disponível em: <
https://www.uol.com.br/tilt/reportagens-
especiais/amazonia-
conectada/#cover> Acesso em 10 jul.
2022.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023:
informação e documentação:
referências: elaboração. Rio de
Janeiro, 2002a. O Tenente Aviador WANDERSON
WILLIAN ZORZO concluiu o CFO em
BRASIL. Exército Brasileiro. EB20-MF- 2016. Possui o Curso de Tática Aérea
10.102 Doutrina Militar Terrestre. e é piloto operacional de C-97 e piloto
Brasília, DF, 2019. Disponível em: < instrutor de C-98A. Atualmente, é
https://bdex.eb.mil.br/jspui/han- Chefe da Célula de Doutrina do 1º ETA.
dle/123456789/4760> Acesso em: 20
Jul 2020. Contato: zorzowwz@fab.mil.br /
(19) 98262-9638.

125
COMBATE BVR: A IMPLANTAÇÃO DE UM SIMULADOR ESPECÍFICO NA FAB
requires preparation of pilots and controllers. It
Cap Av Vinícius Ticianelli is observed, however, that the FAB has gaps in
Primeiro do Décimo Quarto Grupo de Aviação the training of this type of mission. One of them,
(1º/14º GAV) generated by the logistical difficulty in providing
enough aircraft to carry out complex missions
RESUMO (which involve more than 4 aircraft), prevents pi-
O Controle Aeroespacial, tarefa que visa o do- lots from complying with their annual prepara-
mínio do espaço aéreo, é cumprido pela Força tion program. There is also a lapse caused by
Aérea Brasileira (FAB) através de aeronaves the intrinsic limitations of training in peacetime
capazes de detectar e engajar aviões-alvo além (such as flight safety rules, impossibility of
do alcance visual. Essa prática, conhecida launching real missiles, limited flight areas),
como Combate BVR (Beyond Visual Range), which makes it difficult for pilots to experience a
exige preparo de pilotos e controladores. Ob- closer experience a war environment. To fill
serva-se, no entanto, que a FAB possui lacunas these gaps, the FAB must deploy a specific
no treinamento desse tipo de missão. Uma de- BVR combat simulator. It provides the training
las, gerada pela dificuldade logística em se dis- of crews using complex and realistic scenarios,
ponibilizar aeronaves suficientes para a realiza- which involve several aircraft and allow the per-
ção de missões complexas (que envolvem mais formance of essential combat tasks not trained
de 4 aeronaves), impede aos pilotos o cumpri- in real flight. In addition, the simulator allows for
mento de seu programa anual de preparo. an increase in the amount of training, as a
Nota-se, também, um lapso ocasionado pelas greater number of sorties can be performed in
limitações intrínsecas ao treinamento em tem- the same amount of time, compared to flying
pos de paz (como regras de segurança de voo, practice. Finally, it is believed that this advent
impossibilidade de lançamento de mísseis re- will facilitate the incorporation of new doctrines
ais, áreas de voo limitadas), o que dificulta aos upon the arrival of the newly acquired Gripen
pilotos vivenciarem uma experiência mais pró- fighters, as well as facilitate the operational pro-
xima de um ambiente de guerra. Para o preen- gression of pilots between the different FAB air-
chimento dessas lacunas, a FAB deve implan- craft.
tar um simulador específico de combate BVR.
Ele proporciona o adestramento das equipa- Keywords: BVR Combat. Doctrine; Brazilian
gens utilizando cenários complexos e realistas, Air Force; Simulator; Training.
os quais envolvem diversas aeronaves e permi-
tem a realização de tarefas essenciais de com-
bate não treinadas em voo real. Além disso, o I - INTRODUÇÃO
simulador possibilita um acréscimo na quanti-
dade de treinamento, na medida em que um nú-
mero maior de surtidas pode ser realizado no
mesmo espaço de tempo, comparativamente à
A missão-síntese da Aeronáutica
prática de voo. Por fim, acredita-se que esse é “manter a soberania do espaço aéreo
advento facilitará a incorporação de novas dou-
trinas quando da chegada dos recém-adquiri- e integrar o território nacional, com vis-
dos caças Gripen, bem como facilitará a pro-
gressão operacional de pilotos entre as diferen- tas à defesa da pátria” (BRASIL, 2020b,
tes aeronaves da FAB.
p. 7). Para cumpri-la diretamente, a
Palavras-Chave: Combate BVR; Doutrina;
Força Aérea Brasileira; Simulador; Treina- Força Aérea Brasileira (FAB) dispõe de
mento. meios e de pessoal para realizar a ta-
BVR COMBAT: THE IMPLEMENTATION OF A refa de Controle Aeroespacial, prevista
SPECIFIC SIMULATOR IN THE FAB
na Doutrina Básica da Força Aérea.
ABSTRACT
Aerospace Control, a task aimed at mastering Com o advento da modernização de
airspace, is carried out by the Brazilian Air
Force (FAB) through aircraft capable of detect- seus aviões de caça a partir de 2005,
ing and engaging target planes beyond visual especificamente do F-5M, a FAB
range. This practice, known as BVR Combat,

126
passou a realizar a defesa do espaço de F-5M devem cumprir o programa de
aéreo utilizando radares e mísseis aero Manutenção Operacional estipulado
embarcados com capacidade de detec- pelo Comando de Preparo (COM-
tar e engajar aeronaves além do al- PREP1), no qual “o número de voos
cance visual dos pilotos, traduzido do visa a fornecer todo o conhecimento e
inglês, Beyond Visual Range (BVR). preparo básico para que o piloto [...]
Por esta razão, este tipo de combate seja capaz de cumprir as principais
aéreo é denominado Combate BVR. Ações [...] com êxito e segurança.”
(BRASIL, 2020a, p. 8) Neste programa
FIGURA 1 - F-5M ARMADO COM MÍSSEIS estão previstas as quantidades míni-
BVR
mas que cada piloto deve realizar de
missões de combate BVR, com um nú-
mero variável de participantes: comba-
tes 2x1, 2x2, 4x2, 4x4 e 8xN2. Entre-
tanto, observa-se estatisticamente que,
ano após ano, a dificuldade logística
em se disponibilizar a quantidade sufi-
ciente de aeronaves impede que todos
os pilotos atinjam essas marcas. Gera-
se, assim, um lapso no treinamento, em
FONTE: RAFAEL LOPES / GLOBALSPOT-
TER (2010). especial na realização das missões que
exigem um número maior de vetores.
O combate BVR envolve a siner- Paralelamente, no treinamento

gia entre pilotos e controladores, não rotineiro dos esquadrões de defesa aé-
somente na execução das táticas e no rea, observa-se que as restrições ine-
fluxo de comunicações, como também rentes ao adestramento em tempos de
no uso adequado dos sistemas aero paz (ocasionadas por limitações de se-
embarcados e de solo. Tudo isso exige gurança de voo e impossibilidade de
do operador certo grau de proficiência. emprego de mísseis reais, por exem-
Por esse motivo, anualmente, os pilotos plo), criam uma lacuna por impedir a

1 COMPREP é, dentro do organograma da Força Aérea Brasileira, o Comando envolvem voos de pacote COMAO (Combined Air Operations), nos quais, se-
Superior aos Esquadrões Aéreos responsável pela doutrina de formação e trei- gundo Brasil (2019), aeronaves de Defesa Aérea proveem a segurança de uma
namento das equipagens. força de ataque e/ou reconhecimento.
2 O termo ‘8xN’ representa o combate de 8 aeronaves contra um número ‘N’
não definido de aviões, que geralmente varia entre 1 e 8. Essas missões

127
realização de algumas tarefas funda- missão complexa, como uma missão
mentais para o sucesso de um combate Offensive Counter Air3 4x4.” Na FAB
aéreo. não é diferente: ao se observar a esta-
Nesse contexto, a FAB deve im- tística anual de missões realizadas por
plantar um simulador específico de piloto, verifica-se que poucos (ou quase
combate BVR, a exemplo de forças aé- nenhum) são os que atingem as mar-
reas de países desenvolvidos, como cas recomendadas pelo COMPREP
EUA e Suécia. O uso desse tipo de para esse tipo de missão. Isso ocorre,
equipamento permitirá à FAB inserir o principalmente, devido a dificuldades
piloto em um ambiente complexo, em logísticas em se manter uma disponibi-
termos de quantidade de aeronaves; e lidade de aeronaves elevada durante
realista, na medida em que aproxima o todo o ano.
treinamento a um cenário de guerra.
Outrossim, a quantidade de treina- FIGURA 2 - CAÇAS F-5M DE DIVERSOS ES-
QUADRÕES REUNIDOS EM EXERCÍCIO
mento que é possível realizar nesse
CONJUNTO
tipo de simulador representa um ganho
em relação ao modelo adotado atual-
mente, uma vez que muitos engaja-
mentos podem ser realizados em curto
espaço de tempo.

II - LACUNAS DE TREINAMENTO

Não é novidade em forças aé- FONTE: SGT REZENDE / FAB (2015).

reas ao redor do mundo a dificuldade


em se cumprir missões complexas com Além disso, algumas restrições

mais de 4 aeronaves de caça envolvi- intrínsecas ao treinamento em tempos

das, conforme relata McGrath (2005, p. de paz limitam a prática do combate

30, tradução nossa): “Qualquer piloto BVR. Esses entraves, gerados por re-

que serviu recentemente em um esqua- gras de treinamento focadas em segu-

drão operacional entende os desafios rança de voo, impossibilidade de em-

para a execução bem-sucedida de uma prego de armamento real, uso de áreas

3 Offensive Counter Air, segundo Brasil (2019, p. 67), envolve “o conceito de aeronaves amigas, quando realizando incursão em território inimigo.” É umas
aeronaves de defesa aérea cumprindo missões de proteção às demais das missões de combate BVR realizadas por esquadrões de Defesa Aérea.

128
limitadas para voo supersônico, corro- FIGURA 3 - F/A-18 LANÇANDO MÍSSIL BVR

boram para que ocorram lacunas no


adestramento ao reduzir sua efetivi-
dade e, por conseguinte, a preparação
das equipagens para a guerra, con-
forme descreve Houck, Thomas e Bell
(1991):
FONTE: WILSON HUI / FLICKR.COM (2016).
[...] o ambiente de treinamento em
tempos de paz oferece oportunida- McGrath (2005, p. 5, tradução
des limitadas para praticar determi-
nossa) também apresenta em seu es-
nadas tarefas de combate que são
tudo essa dificuldade que causa a ca-
essenciais para o sucesso da mis-
são. Por exemplo, a maioria dos pi- rência no treinamento de combate: “O
lotos não praticam rotineiramente velho ditado ‘treine como você luta’ só
tarefas críticas como voar a baixa vai até onde a segurança permite.”
altura, utilizar sistemas eletrônicos
Na FAB, assim como na USAF,
classificados ou mesmo atirar e se
a segurança das equipagens é priori-
defender de mísseis reais. A falha
em treinar tais tarefas críticas para zada em relação ao treinamento de tais
o combate pode resultar em defici- tarefas críticas. É possível observar,
ências que reduzem a eficácia do em Ordens de Exercícios Técnicos e
treinamento e, consequentemente,
Operacionais recentes, a existência de
a prontidão para o combate.
inúmeras regras de treinamento (como
(HOUCK; THOMAS; BELL, 1991,
p. 2, tradução nossa) limitação de níveis de voo e restrição de
manobrabilidade em voo noturno e sob
condições meteorológicas adversas,
por exemplo) que restringem o adestra-
mento em prol da segurança e em de-
trimento da realidade do combate.

129
FIGURA 4 - F/A-18 ULTRAPASSANDO A FIGURA 5 - F-15C EAGLE
BARREIRA DO SOM

FONTE: WILSON HUI / FLICKR.COM (2016).


FONTE: ROB TABOR / AIRLINERS.NET
(2007).
Em seu trabalho de avaliação do
Simulador de Combate Aéreo Avan- Essa avaliação que durou quase
çado (AACS) de aeronaves F-15 da um ano, envolvendo 94 pilotos e 43
Força Aérea Americana (USAF), controladores de voo, identificou quais
Houck, Thomas e Bell (1991) constata- as tarefas de combate exigiam adestra-
ram a vantagem do treinamento simu- mento adicional no simulador; e deter-
lado para a resolução desse problema: minou quais dessas tarefas eram per-
ceptivelmente mais bem treinadas no
[...] para os pilotos, o ingrediente-
chave do treinamento no AACS foi
AACS, em relação ao treinamento roti-
o cenário das missões. [...] Os ce- neiro em seus Esquadrões Aéreos. O
nários foram elogiados por serem principal resultado foi a aprovação do
desafiadores, exigentes, realistas e simulador como forma de complemen-
por fornecerem números adequa-
tar o treinamento de combate e a tarefa
dos de ameaças aéreas.
(HOUCK; THOMAS; BELL, 1991,
com maior nota de avaliação pelos par-
p. 13, tradução nossa) ticipantes (4.8, de 0 a 5) foi justamente
a “Multibogey Employment (four or
more)” (HOUCK; THOMAS; BELL,
1991, p. 63), no qual ocorre o “emprego
tático contra múltiplas ameaças aéreas
inimigas.” (HOUCK; THOMAS; BELL,
1991, p. 25, tradução nossa).

130
Para ratificar esse resultado, FIGURA 6 - SIMULADOR DE COMBATE NOS
EUA
McGrath (2005, p. 15, tradução nossa),
ao analisar em seu trabalho a eficácia
do uso do simulador de combate por pi-
lotos de caças F-16 na USAF, com-
prova: “A simulação é excelente no trei-
namento de tarefas não permissivas,
como situações de emergência ou tare-
fas de combate não executáveis no ar,
FONTE: FERNANDO VALDUGA / CA-
devido a restrições de tempos de paz.” VOK.COM (2020).
Sendo assim, extrapolando os
resultados obtidos por Houck, Thomas III - INCREMENTO NA QUANTIDADE
e Bell (1991) e McGrath (2005), pode- DE TREINAMENTO
se inferir que um simulador específico
para combate BVR na FAB preencherá Além de preencher as lacunas
a lacuna de adestramento de missões observadas no treinamento rotineiro ao
que demandam grande número de ae- permitir a capacitação de missões com-
ronaves, bem como suprirá a carência plexas e o adestramento em um cená-
de prática de tarefas de combate es- rio mais próximo ao encontrado em um
senciais, na medida em que permite o conflito real, o simulador de combate
treinamento em cenários complexos e possibilita aos pilotos realizar um
que não podem ser executados em voo grande volume de treinamento em curto
real. espaço de tempo, diferentemente do
que ocorre no voo real.
O uso do ambiente virtual para o
treinamento de combate aéreo “permite
a inicialização dos voos em qualquer
posição e em qualquer momento que
se deseja dentro do teatro de opera-
ções simulado”, conforme descreve
Crane et al. (2006, p. 19-2, tradução
nossa). Assim, não se faz necessário
aos pilotos realizar todos os procedi-
mentos de solo, decolagem, subida e

131
ingresso na área de voo, bem como o engajamentos de combate, se compa-
regresso e pouso de suas aeronaves. rado com o treinamento de voo real.
Crane et al. (2006, p. 19-2, tradução
nossa) inclusive complementa: “No trei- FIGURA 7 - SIMULADOR DE COMBATE NA
SUÉCIA
namento de exercícios para combate
aéreo além do alcance visual (BVR), as
aeronaves podem ser inicializadas logo
após o alcance radar, combater até
atingir o objetivo do treinamento e se-
rem reinicializadas nas mesmas condi-
ções iniciais para um novo engaja-
mento”. Ou seja, é possível, com o ad-
vento do simulador, realizar o treina- FONTE: ALEXANDRE GALANTE / AERO.JOR
mento somente do período específico (2018).

de combate, o chamado Vultime4. Isso


é importante pois é nesse espaço de Crane et al. (2006) exemplifica
tempo que são colocadas em prática as essa vantagem na utilização do simula-
táticas planejadas e combinadas previ- dor ao citar um experimento realizado
amente ao voo. É nesse momento tam- pelo Laboratório de Pesquisa da Força
bém que são treinados os fundamentos Aérea Americana (AFRL). Nessa oca-
do combate, como a consciência situa- sião, pilotos de F-16 receberam instru-
cional, o apoio mútuo entre as aerona- ção ao longo de uma semana e passa-
ves, o uso do radar aero embarcado e ram a dominar uma nova doutrina de
o processo decisório que envolve o lan- combate BVR, cujo nível de proficiência
çamento de um míssil ar-ar; tudo isso levaria anos para ser atingida.
torna o Vultime o objeto principal do
FIGURA 8 - F-16 FALCON
treinamento de combate.
Nessa conjuntura, a redução no
tempo entre o término de uma surtida e
o início de outra proporciona a execu-
ção de um número maior de

4 Vultime (Vulnerability Time): “Período definido em determinado cenário em [Defensive Counter Air], quanto a OCA [Offensive Counter Air] estarão prontas
que as aeronaves estão vulneráveis a sofrer quaisquer engajamentos. Em se para iniciar e manter o treinamento definido.” (BRASIL, 2019, parênteses
tratando de exercícios, refere-se ao espaço de tempo em que tanto a DCA nosso)

132
FONTE: JARED ROMANOWICZ / AIRLI- tácitos ou ainda desenvolver e testar
NERS.COM (2013).
novas doutrinas de combate.
As equipes voavam de 6 a 8 mis-
sões como Offensive Counter Air ou 3
IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS
a 4 missões como Defensive Counter
Air, em uma hora de treinamento no si-
Desde a modernização das ae-
mulador. [...] As equipes realizavam o
ronaves F-5M, a FAB passou a realizar
briefing, os voos e o debriefing duas ve-
as missões de Defesa Aérea com capa-
zes por dia, resultando em um incre-
cidade de combater além do alcance vi-
mento no nível de habilidade que nor-
sual. Esse tipo de missão demanda
malmente levaria dois ou três anos para
certa proficiência dos participantes e a
ser desenvolvido. (CRANE et al., 2006,
capacitação deles é fundamental.
p. 19-5, tradução nossa)
Apesar dessa importância, alguns óbi-
ces são perceptíveis no treinamento de
FIGURA 9 - SIMULADOR DE COMBATE NA
combate BVR na FAB. Primeiramente,
SUÉCIA
nota-se uma lacuna na realização de
missões complexas (como combates
4x4 ou superior) que é ocasionada pela
dificuldade logística em disponibilizar
número suficiente de aeronaves. De
forma que nem todos os pilotos conse-
guem cumprir tais missões previstas no
programa de treinamento anual.
FONTE: ALEXANDRE GALANTE / AERO.JOR
(2018). Observa-se, ainda, a escassez
Assim, além do benefício de se de adestramento em ambientes mais
preencher as lacunas identificadas no próximos aos encontrados em uma si-
treinamento rotineiro, o simulador de tuação de conflito real. Esse lapso é de-
combate BVR permite à FAB intensifi- vido às limitações impostas pelo treina-
car e tornar mais eficiente seu adestra- mento em tempos de paz, como, por
mento, na medida em que seus pilotos exemplo, restrições de segurança de
podem praticar mais exercícios e mis- voo, limites de espaço aéreo e impossi-
sões em curto período de treino, po- bilidade de uso de armamento.
dendo sedimentar conhecimentos Tudo isso é solucionado com a
implantação de um simulador

133
específico de combate BVR, o qual
possibilita a capacitação em cenários
complexos e mais realistas, envolvendo
inúmeras aeronaves e permitindo a
execução de tarefas de combate não
FONTE: SAAB (2019).
praticadas em voos de treinamento.
Conjuntamente, esse simulador REFERÊNCIAS
propicia um incremento na quantidade
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Co-
de adestramento, uma vez que ele mando de Preparo. Portaria COMPREP
torna possível, em um determinado es- n° 58/SCAD-10, de 28 de março de
2019. Aprova a reedição do Manual que
paço de tempo, a realização de um nú- dispõe sobre o “Combate Aéreo com
mero maior de engajamentos, compa- apoio de OCOAM (BVR)”. Boletim do
Comando da Aeronáutica de Acesso
rativamente com a prática de voo. Restrito, Brasília, DF, n. 4, 31 maio
Por fim, o advento dessa tecno- 2019.
logia trará benefícios para a Força Aé- BRASIL. Comando da Aeronáutica. Co-
rea já no curto prazo. Com a chegada mando de Preparo. Portaria COMPREP
n° 174/COMPREP, de 17 de agosto de
dos novos vetores de caça F-39 Gripen, 2020. Aprova a modificação da Coletâ-
a demanda por treinamento e a neces- nea de Instruções do COMPREP sobre
o Programa de Elevação Operacional
sidade de desenvolvimento e incorpo- (INPREP/PEVOP). Boletim do Co-
ração de novas doutrinas, farão com mando da Aeronáutica, Brasília, DF, n.
149, 20 ago. 2020.
que o simulador de combate tenha um
papel relevante no preparo e na manu- BRASIL. Comando da Aeronáutica. Es-
tado-Maior da Aeronáutica. Portaria nº
tenção operacional das equipagens. 1.224/GC3, de 10 de novembro de
Ainda, com o aperfeiçoamento do uso 2020. Aprova a reedição da Doutrina
Básica da Força Aérea Brasileira – Vo-
desse simulador, a FAB poderá realizar lume 1. Boletim do Comando da Aero-
um treinamento integrado entre pilotos náutica, Brasília, n. 205, 12 nov. 2020.
de diferentes projetos; essa integração CRANE, P. et al. Advancing fighter em-
favorecerá a unificação da doutrina de ployment tactics in the Swedish and US
Air Forces using simulation environ-
combate e facilitará a progressão ope- ments. Transforming Training and Ex-
racional dos pilotos. perimentation Through Modelling and
Simulation, p. 19-1 – 19-12, 2006. Dis-
ponível em:
FIGURA 10 - GRIPEN NG COM MÚLTIPLOS https://apps.dtic.mil/dtic/tr/fulltext/u2/a4
ARMAMENTOS E SENSORES. 76573.pdf. Acesso em: 28 mar. 2021.

134
HOUCK, M; THOMAS, G.; BELL, H. AUTOR
Training Evaluation of the F-15 Ad-
vanced Air Combat Simulation. Dayton:
University of Dayton Research Institute.
1991. Disponível em:
https://apps.dtic.mil/sti/pdfs/ADA24167
5.pdf. Acesso em: 02 maio 2021.

MCGRATH, S. R. Leveraging DMO’S


Hi-Tech Simulation Against the F-16
Flying Training Gap. Montgomery: Air
University, 2005. Disponível em:
https://apps.dtic.mil/dtic/tr/full-
text/u2/a476205.pdf. Acesso em: 11
abr. 2021.

O Cap Ticianelli concluiu o CFO em


2010 e possui pós-graduação em Ges-
tão de Projetos pelo Centro Universitá-
rio Leonardo da Vinci (2021), extensão
em Gestão de Processos pelo Centro
Universitário do Sul de Minas (2021) e
especialização em liderança com ên-
fase em gestão no COMAER pela Uni-
versidade da Força Aérea (2021). Atu-
almente é Chefe da Célula de Doutrina
do 1°/14° GAV.

Contato: ticianellivt@fab.mil.br /
(51) 3462-5317.

135
GESTÃO DO RISCO AVIÁRIO PARA OPERADORES DE AERONAVE
DE CAÇA NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA:
Uma Aplicação da Soft Systems Methodology

Ten Av Gabriel Boscolo dos Santos Alves promote an operational safety improvement to
da Silva Brazilian Air Force fighter aircrafts operators.
Primeiro Esquadrão do Décimo Quarto Grupo
de Aviação (1º/14º GAV) Keywords: Aviation; Aviary Risk; Soft Systems
Methodology.

RESUMO
O risco aviário é o risco resultante do uso do
mesmo espaço, no solo ou no ar, por aeronaves I - INTRODUÇÃO
e pássaros. O presente artigo propõe, dada a
existência semelhante do risco aviário em
diversos aeródromos em que operam
aeronaves de caça, aplicar a Soft Systems O Manual do Comando da
Methodology no contexto do Aeroporto Aeronáutica para Gerenciamento do
Internacional de Porto Velho (RO) de modo que
seja possível estruturar o problema e chegar a Risco de Fauna (MCA 3-8, de 2017)
um conjunto de ações sistemicamente
desejáveis e culturalmente viáveis, as quais define risco de fauna como sendo o
podem se estender a demais aeródromos onde
o risco se mostrar latente. Ao final, chegou-se a risco decorrente do uso do mesmo
um conjunto de ações que podem contribuir
para mitigar o referido risco. A aplicação espaço, no solo ou no ar, por aeronaves
proposta se justifica por contribuir para a e a fauna. Quando a fauna que interage
segurança de voo com potencial de promover
um improvement em segurança operacional com as aeronaves é composta
para os operadores de aeronaves de caça da
Força Aérea Brasileira (FAB). exclusivamente de pássaros, refere-se
Palavras-Chave: Aviação; Risco Aviário; Soft então, ao risco aviário (BRASIL, 2017).
Systems Methodology.
Neste sentido, o objetivo deste
AVIARY RISK MANAGEMENT TO artigo é aplicar a Soft Systems
BRAZILIAN AIR FORCE FIGHTER
AIRCRAFTS OPERATORS: AN APLICATION Methodology (SSM) ao contexto do
OF SOFT SYSTEMS METHODOLOGY
Aeroporto Internacional Jorge Teixeira
ABSTRACT
Aviary risk is the risk resulting from the use of de Oliveira, localizado em Porto Velho
the same space, on the ground or in the air, by
aircrafts and birds. The present publication
(RO) de modo a encontrar um conjunto
proposes, given the aviary risk similarity among de ações tal que sejam sistemicamente
fighter aircrafts operators aerodromes, to apply
the Soft Systems Methodology at Porto Velho desejáveis, culturalmente viáveis e que
International Airport objectifying to structure the
problem and reach a set of systemically contribuam para mitigar o risco aviário
desirable and culturally viable actions. In the
end, this publication proposes a set of actions neste e em outros aeródromos
capable to contribute with the aviary risk
mitigation, which can be applied at other similares.
aerodromes where this risk may be present. Este artigo se justifica pela
The proposed application is justified because it
contributes to flight safety in with the potential to preservação da vida humana e dos

136
meios aeronáuticos por meio da aeronaves registradas, foi
postura preventiva frente ao risco de disponibilizado na Figura 1 um gráfico
acidentes e incidentes aeronáuticos e adaptado do anuário, o qual apresenta,
de ocorrências de solo oriundos do uso de 1996 a 2015 o número de colisões
concomitante do espaço (no solo ou no reportadas e o número de aeronaves
ar) entre aeronaves e pássaros. registradas, a fim de que se possa
São consideradas contribuições realizar a comparação.
deste artigo, considerando que as
ações finais elencadas sejam FIGURA 1 - COLISÕES REPORTADAS E
FROTA DE AERONAVES REGISTRADAS DE
aplicadas: a possibilidade de reduzir o
1996 A 2015
número de acidentes e incidentes
aeronáuticos, a possibilidade de reduzir
a perda de vidas humanas e a
possibilidade de reduzir os dispêndios
financeiros com manutenção ou
substituição de peças e equipamentos
danificados em colisões com pássaros.

II - PROBLEMA DE PESQUISA

Eventos envolvendo aeronaves


e fauna acompanham o crescimento do
número de aeronaves registradas no
Brasil, segundo aponta o Anuário do
FONTE: BRASIL (2015A).
Risco de Fauna publicado pelo CENIPA
em 2015 (versão mais atualizada
Para o contexto específico de
disponível).
Porto Velho (local onde se aplicou a
O anuário compila reportes de
pesquisa em si, no ano de 2019), o
colisão, quase colisão e avistamento de
2º/3º GAv Esquadrão Grifo, operador
fauna por parte das tripulações de
de aeronaves A-29 Super Tucano,
aeronaves civis e militares.
efetuou um mapeamento do risco
A fim de ilustrar o crescimento no
aviário no período de janeiro a
número de eventos com fauna
dezembro de 2017.
acompanhando o crescente número de

137
O mapeamento reuniu um
conjunto de mais de 300 reportes com
a definição dos seguintes pontos
chave: as espécies significativas são o
urubu-cabeça-preta (Catharidae), cujo
atrativo para as proximidades do
aeroporto são os depósitos irregulares
de lixo às margens da Av. Lauro Sodré
(avenida que passa a menos de 300
metros da cabeceira 01 da pista do
aeroporto); e os pássaros quero-quero, FONTE: SIPAA 2º/3º GAV.

que se instalaram na área gramada


III - METODOLOGIA DE PESQUISA
situada entre a pista e as taxiways para
reprodução.
O presente estudo se propôs a
O posicionamento das aves em
aplicação prática da SSM na busca de
uma perspectiva percentual revela as
soluções para problemas reais,
margens da Av. Lauro Sodré como
portanto deve ser classificado de
fonte de 27% do total de urubus
natureza aplicada (MORABITO et al.,
avistados (setor mais significativo), a
2012).
vertical da pista e taxiways com 18% do
Ainda segundo Morabito et al.
total de urubus e 100% dos reportes
(2012), sobre os procedimentos
envolvendo quero-queros, além disso,
técnicos relativos à estruturação do
os demais reportes da presença de
problema de pesquisa, foi realizada
urubus mais significativos
pesquisa bibliográfica, documental e de
compreendem: a perna do vento do
levantamento.
circuito de tráfego visual pelo setor
Para a estruturação dos
oeste (10%), a perna do vento pelo
conceitos e teorias, utilizaram-se,
setor leste (9%), a vertical da cidade de
primordialmente, artigos publicados em
Porto Velho (8%), o fixo de entrada no
periódicos nacionais e internacionais,
tráfego pelo setor oeste (5.2%), dentre
além de alguns livros para melhor
outros.
FIGURA 2 - MAPEAMENTO PERCENTUAL embasar os conhecimentos sobre a
DO RISCO DE FAUNA temática.

138
A estruturação do problema se BAPV, DTCEA de Porto Velho e
deu por meio de entrevistas realizadas INFRAERO.
com um conjunto significativo de Dada a identificação de
stakeholders, todos os estágios da stakeholders, prosseguiu-se para uma
SSM foram seguidos sequencialmente sequência de entrevistas a fim de
conforme estabelecido por Checkland possibilitar a estruturação do problema.
(1981). As entrevistas foram realizadas no ano
O primeiro passo consistiu no de 2019 com o chefe da SIPAA da
estudo dos documentos e manuais BAPV, com o chefe da SCOAM da
afins ao tema. Em seguida foram BAPV, com o chefe da SCI da BAPV e
identificados os stakeholders, levando com a Coordenadora de Segurança
em consideração as interações entre os Operacional da INFRAERO de Porto
indivíduos e as interações entre eles Velho.
(ACKERMANN; EDEN, 2011). O comandante do DTCEA de
A coleta de dados foi realizada Porto Velho não pode atender à
por meio de entrevistas entrevista por motivos pessoais,
semiestruturadas com os stakeholders entretanto, dada a similaridade do risco
considerados, de modo a compreender aviário nos aeroportos em geral, foi
melhor os diferentes pontos de vista. entrevistado o comandante do DTCEA
Os estágios da SSM foram aplicados e de São José dos Campos. Ressalta-se
validados em conjunto com os que o militar entrevistado possui 28
stakeholders durante as entrevistas, de anos de experiência em controle de
modo a se chegar ao conjunto final de tráfego aéreo e já atuou em diversos
ações propostas. aeroportos do Brasil. A experiência
profissional do entrevistado foi
IV - APLICAÇÃO considerada como adequada para
contribuir com o presente artigo, ainda
O primeiro passo para a que este não esteja atuando
aplicação da SSM foi a identificação de diretamente em Porto Velho.
stakeholders. Nesta direção foram As entrevistas foram feitas por
identificados e considerados os meio telefone móvel (exceto a
seguintes stakeholders: SIPAA da entrevista com o comandante do
BAPV, SCOAM da BAPV, SCI da DTCEA que foi presencial), e as
identidades dos entrevistados foram

139
preservadas, a fim de transmitir legais limita os posicionamentos dos
segurança ao entrevistado objetivando stakeholders frente ao risco.
obter as respostas mais fidedignas
possíveis. As contribuições de cada Estágio 2 - Expressar a Situação
stakeholders serão identificadas pelo Problemática
nome da instituição ou seção que
representam. O resultado do estágio 1 foi
Foi possível obter contribuições expressado em uma Figura Rica
para todos os estágios da SSM e ainda (Figura 3), a qual foi validada com a
validar os resultados de cada estágio. SIPAA da BAPV, e após foi proposta
aos demais stakeholders a fim de
Estágio 1 - Explorar a Situação identificar se a figura expressa
Problemática adequadamente o contexto.

Em vias de se explorar a FIGURA 3 - FIGURA RICA

situação problemática, foram coletados


os dados do 2º/3º GAv, as estatísticas
do CENIPA disponíveis na internet, as
legislações que regem os papéis de
cada stakeholder em seu respectivo
ambiente, os trabalhos disponíveis na
literatura, etc. e com estes dados a
maior parte das Seções II e IV deste
artigo foi desenvolvida.
FO
A SCI apontou para o fato de que NTE: O AUTOR.
os custos escondidos no processo de
mitigação representam uma das A Figura Rica concentra, em
incertezas preponderantes para inibir a uma representação pictórica, o
adoção de medidas para mitigar o risco contexto percebido pelos stakeholders.
aviário. A SCOAM apontou que as Dela são abstraídos os sistemas
fronteiras de responsabilidades estão relevantes, os quais serão as bases
mal definidas, e que o para as transformações necessárias.
desconhecimento das atribuições

140
Estágio 3 - Construção de Definições O foco está nas transformações
Raiz Para os Sistemas Relevantes (T1, T2, T3), as quais serão o cerne dos
próximos estágios da SSM.
Dentre os sistemas relevantes
identificados na figura estão: TABELA I – DEFINIÇÃO RAIZ DO SISTEMA
RELEVANTE CRIAÇÃO DE UM CANAL DE
 A ausência de um canal de
COMUNICAÇÃO
comunicação aberto entre os
stakeholders (relativo ao fato T1 – Criação de um Canal de Comunicação
C FAB, INFRAERO, IBAMA e Prefeitura
de que não há qualquer reu-
Municipal de Porto Velho
nião periódica na qual as au-
A FAB, INFRAERO, IBAMA e Prefeitura
toridades que atuam no aeró- Municipal de Porto Velho
dromo possam se reunir e T A ausência de um canal de
tratar de segurança de voo); comunicação formal e periódico aberto
entre os stakeholders que possuem
 A gestão da fauna de aves no
autoridade legal sobre o sistema
interior do aeroporto (área
inviabiliza qualquer ação mitigadora ao
em que habitam os quero- risco aviário ==> Criação de um canal
queros); e de comunicação aberto e periódico que

 A cultura social no descarte possibilite tratar do tema risco aviário (e


demais temas de segurança de voo
de resíduos (principal fator
pertinentes).
contribuinte para atrair uru-
W A ausência de um canal de
bus, devido ao descarte irre- comunicação aberto, por meio de
gular de lixo). reuniões periódicas, impossibilita
gerenciar o risco aviário no aeródromo.
O FAB
Os sistemas relevantes podem
E Inexistência de reuniões periódicas
ser definidos como abaixo. A
sobre segurança de voo (canal de
abordagem da definição utilizada é a comunicação inexistente) entre órgãos
CATWOE, acrônimo em inglês que que dividem a responsabilidade legal
significa Clients, Actors, sobre ambientes que afetam
diretamente a segurança de operação
Transformation, Weltansschauung,
no aeródromo.
Owner e Environment, que em
Definição Raiz: Um sistema que atenda à FAB,
português significam: clientes, atores, à INFRAERO, ao IBAMA e à Prefeitura
transformação, visão de mundo, Municipal de Porto Velho, executado pela FAB
“donos” e ambiente. a fim de desenvolver um canal de comunicação
aberto e periódico, objetivando o

141
alcance da mitigação do risco aviário à pelo IBAMA a fim de gerenciar as
operação aeronáutica, uma vez que a espécies de aves presentes no ae-
inexistência de um canal de comunicação ródromo e/ou desenvolver um novo
impossibilita gerenciar o risco aviário haja vista
design de infraestrutura aeroportuá-
o compartilhamento de autoridades legais
ria de modo a alcançar a mitigação
sobre as áreas de decisão.
do risco aviário, uma vez que a pre-

TABELA II – DEFINIÇÃO RAIZ DO SISTEMA sença e reprodução de pássaros na


RELEVANTE GESTÃO DA FAUNA DE AVES área de movimento representa um
NO INTERIOR DO AEROPORTO risco real à operação, deste modo,
capitaneado pelo gestor regional da
T2 - Gestão da Fauna de Aves no Interior
INFRAERO e com assessoria do
do Aeroporto
IBAMA, o sistema deve abrir um ca-
C Operadores do Aeroporto (FAB e
nal de comunicação entre os órgãos
empresas aéreas)
A INFRAERO e IBAMA a fim de possibilitar medidas que sa-
T Presença de pássaros na área tisfaçam as legislações ambientais.
gramada do aeroporto (área de
circulação de aeronaves), os quais
TABELA III – DEFINIÇÃO RAIZ DO SISTEMA
oferecem risco à operação aeronáutico
RELEVANTE CULTURA SOCIAL NO
==> Gestão das espécies e gestão da
DESCARTE DE RESÍDUOS
infraestrutura aeroportuária a fim de
evitar reprodução de aves na área de
T3 - Cultura Social no Descarte de
movimento do aeródromo, mitigando o
Resíduos
risco aviário.
C População de Porto Velho e
W A presença e reprodução de aves na
Operadores do Aeroporto
área de movimento de aeródromos
Internacional de Porto Velho
representa um risco real à operação
A Gestores da Prefeitura Municipal de
aeronáutica.
Porto Velho
O Superintendência Regionais da
T População com maus hábitos de
INFRAERO (com assessoria do
descarte de lixo resultando em uma
IBAMA)
poluição que atrai pássaros para as
E Desconhecimento da intensidade do
circunvizinhanças do aeroporto,
risco aviário no interior do Aeroporto
aumentando o risco da operação
Internacional de Porto Velho.
aeronáutica ==> População
Definição Raiz: Um sistema
consciente de seus atos e que efetua
que atenda aos operadores do aero- descarte correto do lixo contribuindo
porto, executado pela INFRAERO e

142
para a segurança de voo e para expectativas dos stakeholders para
limpeza urbana.
aquele sistema. Os HAS apresentam
W A participação da população é
sinteticamente as atividades que
essencial na mitigação do risco
aviário no aeroporto de Porto Velho.
deverão se seguir para proporcionar as
O Gestores Municipais por meio das transformações.
Secretarias de Educação e Saúde Durante a validação foram
E Falta de conhecimento da população identificadas quais atividades seriam
sobre as consequências
comuns aos HAS dos três sistemas
relacionadas à operação
relevantes e determinou-se que uma
aeronáutica, inexistência de material
e de cultura escolar para sequência de três atividades seria
conscientização acerca do tema. necessária como preparação para
Definição Raiz: Um sistema que atenda à aplicação efetiva da sequência dos
população de Porto Velho e aos operadores
HAS de cada sistema, a saber:
do aeroporto, gerenciado pelos gestores da
 Definir um grupo de trabalho
Prefeitura Municipal, que realiza a
conscientização social acerca da com representantes de todos
importância do correto descarte de lixo para os operadores do aeroporto a
a segurança da operação aeronáutica, sob fim de estabelecer um proce-
a coordenação da Secretaria Municipal do
dimento para coleta de dados
Meio Ambiente a fim de desenvolver um
e outro para controle das
material educativo capaz de levar o
conhecimento à população e implantar uma transformações nos siste-
nova cultura social na gestão dos resíduos. mas.
 Mapear os riscos oferecidos
Estágio 4 - Elaborar Modelos pelas aves: além dos levanta-
Conceituais mentos já existentes, quanti-
ficar o quanto o risco aviário
A fim de se atender às já onerou os operadores e
transformações desejadas foram projetar prejuízos potenciais.
elencadas atividades sequenciadas  Compor um relatório e uma
logicamente compondo o que se chama apresentação contendo as in-
de Modelo Conceitual (CM) ou Human formações anteriores a se-
Activity Model (HAS). rem utilizadas nas reuniões
Cada um dos HAS proposto com os stakeholders.
estabelece uma sequência de
atividades as quais satisfizeram as

143
Após estas atividades cada antecipadamente em uma agenda de
sistema relevante possuirá seu próprio encontros.
HAS para proporcionar a M1) Monitorar o sistema por um
transformação. controle de presenças a ser anexado
em ata de reunião e guardado para
FIGURA 4 - HAS DA CRIAÇÃO DE UM
registro, com assinatura dos
CANAL DE COMUNICAÇÃO
participantes.

FIGURA 5 - HAS DA GESTÃO DA FAUNA DE


AVES NO INTERIOR DO AEROPORTO.
FONTE: O AUTOR

FONTE: O AUTOR.

A sequência de atividades que


visam proporcionar a transformação T1
é:
FONTE: O AUTOR.
A1) Identificar oportunidades na
agenda interna da BAPV para reunir os
Dada a instauração de um canal
stakeholders.
de comunicação, as ações dos demais
B1) Contatar os stakeholders
sistemas relevantes poderão se
para iniciar um ciclo de reuniões dentro
desenvolver em direção a soluções.
das oportunidades encontradas na
O presente HAS se dá no
agenda.
domínio de autoridade da INFRAERO e
C1) Reunir os stakeholders para
na visão da empresa apresentada na
abordar a temática risco aviário,
entrevista, qualquer atividade precisa
expondo o relatório e a apresentação
ser considerada pela assessoria
confeccionados previamente.
ambiental antes de ser implementada e
D1) Manter o canal de
a assessoria necessitará realizar um
comunicação aberto por meio de
levantamento do comportamento da
reuniões periódicas marcadas
fauna aviária. Deste modo, além das
atividades de obtenção de métodos,

144
foram consideradas as perspectivas da redução da população de aves
empresa. interferindo no tráfego das aeronaves.
A sequência de atividades que FIGURA 6 -FIGURA RICA

visam proporcionar a transformação T2


é:
A2) Reunir o grupo de trabalho
separadamente com representantes da
INFRAERO e do IBAMA (ou empresa
de assessoria contratada) para definir
as fronteiras do problema.
B2) Realizar um levantamento
acerca do comportamento da fauna FONTE: O AUTOR.
aviária presente no aeroporto e suas
características. Salienta-se que há métodos
C2) Obter, junto à literatura, os disponíveis na literatura que podem se
métodos mais adequados para lidar aplicar tanto ao quero-quero quanto ao
com as aves (a Seção IV deste artigo urubu e as ações elencadas no próximo
poderá servir de guia na obtenção de estágio visarão atuar sobre estas duas
métodos, haja vista o levantamento espécies.
bibliográfico realizado). A sequência de atividades que
D2) Obter, junto à literatura, os visam proporcionar a transformação T3
métodos mais adequados para lidar é:
com a infraestrutura aeroportuária. A3) Reunir o grupo de trabalho
E2) Submeter todo os métodos à com representantes da Prefeitura
assessoria do IBAMA ou da empresa Municipal de Porto Velho (secretaria de
contratada. meio ambiente) a fim de definir as
F2) Implementar as ações fronteiras do problema em questão.
julgadas adequadas de acordo com a B3) Desenvolver um portfólio de
assessoria. medidas de conscientização: cartilhas,
M2) Monitorar o sistema por palestras, cartazes, propagandas
meio dos reportes de avistamento, televisivas e de rádio, por exemplo.
quase colisão e colisão com pássaros C3) Implementar o portfólio de
(especificamente o quero-quero), pelos medidas de conscientização a fim de
quais será possível acompanhar a mitigar o depósito irregular de lixo.

145
D3) Dispor de recursos visuais e identificar se correspondem com as
de fiscalização para evitar novos necessidades do aeródromo.
depósitos de lixo e promover a remoção Durante esse procedimento,
do lixo já existente no local. efetuado na validação, foi possível
M3) Monitorar o sistema por identificar que os HAS atendiam
meio dos reportes de avistamento, adequadamente ao que foi expressado
quase colisão e colisão com fauna, com na Figura Rica, conforme relataram
atenção à ave urubu-cabeça-preta e todos os stakeholders.
verificar periodicamente a limpeza das A partir da comparação, das
margens da avenida Lauro Sodré. sugestões propostas pelos
A INFRAERO, operadora do stakeholders e com vistas às
aeródromo e instituição com as bibliografias referenciadas na Seção IV,
atribuições legais para assumir a foram enumeradas ações específicas
aplicação destas atividades informou para serem implementadas ao se
que já efetuou um mapeamento do que seguir os modelos conceituais.
viria a ser os atrativos para os urubus e Cada ação possuirá uma palavra
relatou que dentre os resíduos ou expressão resumida que simbolizará
deixados na margem da avenida estão a referida ação.
as carcaças de cães, gatos e outros Ações para a Criação de um
animais mortos. Canal de Comunicação:
A coleta de resíduos, incluindo  Reunir os stakeholders du-
das carcaças de animais, é feita nas rante a jornada de segurança
margens da avenida somente a pedido, de voo da BAPV, proposta
por telefone, à Secretaria de Meio pela SIPAA da BAPV (R. Jor-
Ambiente da prefeitura. nada);
 Reunir os stakeholders no
Estágio 5 - Comparação dos Simpósio de Segurança de
Estágios 2 E 4 Voo de Rondônia, proposta
pela SIPAA da BAPV (R.
Após a elaboração dos Modelos Simpósio);
Conceituais seguiu-se uma  Reunir os stakeholders em
comparação com o que havia sido reuniões específicas para tra-
expressado na Figura Rica a fim de tar dos temas de segurança
de voo e, dentre eles, o risco

146
aviário, proposta pela SIPAA Ações para o sistema Cultura
da BAPV (R. Específica). Social no Descarte de Resíduos:
 Medidas escolares de consci-
Ações para a Gestão da Fauna entização: cartilhas, carta-
de Aves no Interior do Aeroporto: zes, palestras, etc (Escola),
 Uso de falconídeo (Falcão) propostas pela SCI;
(ZANATTA, 2012);  Medidas de conscientização
 Caçar os pássaros (Caçar) social: propagandas por rádio
(BELANT; MARTIN, 2011); e televisão (Social), propos-
 Uso de repelentes químicos: tas pela SCI e pela SCOAM;
Antraquinone, Methil Athrani-  Recursos visuais (cartazes
late, etc. (Repelentes) (BE- nas margens da avenida
LANT; MARTIN, 2011); Lauro Sodré) (Cartazes), pro-
 Uso de explosivos pirotécni- posta pela SCI;
cos ou gasosos (Explosivos)  Fiscalização semanal da
(BELANT; MARTIN, 2011); quantidade de lixo por uma
 Uso de cães (Cães) (BE- ronda periódica de guardas
LANT; MARTIN, 2011); municipais (Fiscalização),
 Uso de artifícios: espetos e deduzida como uma ação
arames (Artifícios) (BELANT; possível dada a possibilidade
MARTIN, 2011); de acionar a coleta de lixo por
 Uso de paisagismo para for- meio da Prefeitura Municipal.
mação de obstáculos natu- Após a enumeração das ações
rais (Paisagismo) (BELANT; supracitadas verificou-se se estas são
AYERS, 2014); sistemicamente desejáveis e
 Controle de insetos (artrópo- culturalmente viáveis como se verá no
des) (FERREIRA; ROCHA; estágio seguinte.
ABREU, 2015);
 Controle da altura da grama Estágio 6 - Listar Mudanças

(Grama) (ABREU et al, 2017; Sistemicamente Desejáveis e

BELANT; AYERS, 2014). Culturalmente Viáveis

Estas ações supracitadas visam


atuar sobre os quero-queros e urubus. Para se alcançar o resultado do
estágio 6, cada stakeholders foi

147
entrevistado de modo a ponderar, ação SIPAA, a INFRAERO informou que
por ação, quanto a serem este método está disponível no
sistemicamente desejáveis e aeródromo e é empregado quando
culturalmente viáveis nos termos do solicitado pela torre de controle. A
definido pela metodologia de eficácia desta metodologia foi
Checkland. ponderada pela INFRAERO haja vista o
Para a INFRAERO o uso de efeito paliativo sobre as aves (após as
falconídeo foi considerado explosões os pássaros se dispersam
sistemicamente indesejável, pois a por algum tempo mas retornam na
empresa de assessoria ambiental sequência). A SCOAM e o DTCEA
contratada para realizar a Identificação apontaram ainda a possibilidade de as
do Perigo de Fauna reportou que foram explosões gerarem algum prejuízo
identificados falconídeos nas fisiológico às aves.
circunvizinhanças do aeródromo e por O uso de cães foi considerado
isso as aves que oferecem o risco sistemicamente indesejável pelo
aviário não seriam intimidadas pela DTCEA devido à possibilidade de uma
inserção de novos falconídeos. incursão em pista por parte do cão. A
Para a SCI, caçar os pássaros área ampla do aeroporto tornaria
foi considerado culturalmente inviável, complexa a tarefa de controlar o animal
haja vista a perspectiva da preservação e as consequências sobre o tráfego
ambiental (traduzida na possibilidade aéreo poderiam ser piores com o cão
de encontrar outros métodos menos do que somente com pássaros.
invasivos), e ainda a possibilidade de O uso de artifícios como arames
um desequilíbrio no ecossistema e espetos foi considerado inadequado
(excesso da população de insetos). pela perspectiva da INFRAERO, pois a
O uso de explosivos foi área gramada do aeródromo
considerado culturalmente inviável pela representa um local para saída segura
SIPAA da BAPV haja vista a de pista, ou seja, permitir a parada da
proximidade entre aeródromo e a área aeronave em caso de estouro de pneu,
urbana do município, podendo resultar ou de derrapagem, etc. O uso de
em poluição sonora adicional para a artifícios representaria a interposição
população ou até em uma perturbação de barreiras físicas para aeronaves que
(esta mesma perspectiva foi apontada venham a sofrer uma excursão de
pela SCOAM). Além do exposto pela pista.

148
As ações consideradas sendo necessário uma maior
sistemicamente desejáveis e assessoria por parte do IBAMA ou
culturalmente viáveis para todos os empresa de assessoria ambiental.
stakeholders foram congregadas, O uso de repelente foi
resultando na Tabela IV. considerado como sistemicamente
desejável e culturalmente viável pela
TABELA IV – AÇÕES SISTEMICAMENTE INFRAERO e pelo DTCEA desde que,
DESEJÁVEIS E CULTURALMENTE VIÁVEIS
dadas as condições climáticas da
região amazônica, caracterizada por
Sistemica Cultural
Transfor chuvas intensas, ficasse comprovado
Ação mente mente
mação pela assessoria que estes repelentes
Desejável Viável
R. não contaminariam o solo ou lençóis
Jornad SIM SIM freáticos.
a O controle de artrópodes foi
R.
considerado sistemicamente desejável
T1 Simpós SIM SIM
e culturalmente viável pelo DTCEA
io
R.
desde que fosse comprovada pela
Específ SIM SIM assessoria ambiental que o equilíbrio
ica do ecossistema não seria ferido pela
Repele quebra da cadeia alimentar.
SIM* SIM*
nte
Chegou-se, por fim, a um
Paisagi
SIM SIM conjunto de ações sistemicamente
T2 smo
Artrópo
desejáveis e culturalmente viáveis para
SIM* SIM*
des cada uma das transformações, e estas
Grama SIM SIM são as sugeridas no item que segue.
Escola SIM SIM Estágio 7 - Sugerir Ações Para
Social SIM SIM
Transformar a Situação
Cartaz
T3 SIM SIM Problemática
es
Fiscaliz
SIM SIM
ação Estão relacionadas a seguir a
ações sugeridas, sistemicamente
As ações identificadas com desejáveis e culturalmente viáveis para
asterisco (*) na Tabela IV foram alcançar as respectivas transformações
identificadas pelos stakeholders como anteriormente propostas. Por

149
similaridade com o contexto encontrado Como sugestão adicional a
neste trabalho, também são aplicáveis SIPAA da BAPV elencou a
a outros aeródromos do Brasil. possibilidade de reunir os stakeholders
trimestralmente nas reuniões da
Criação de Canal de Comunicação comissão de segurança de voo.
São elas:
 Reunir os stakeholders du- Gestão das Aves no Interior do
rante a jornada de segurança Aeroporto
de voo da BAPV a qual São elas:
ocorre anualmente no mês  Uso de repelentes químicos:
de agosto. Participam da jor- Antraquinone, Methil Athrani-
nada todos os pilotos do 2º/3º late, etc. para afastar as
GAv e do 2º/8º GAv. Durante aves, sem predá-las, estando
a jornada são apresentados condicionado a um estudo de
temas relativos à segurança possível contaminação do
de voo, dentre eles o risco solo e/ou lençol freático (BE-
aviário. A participação dos LANT; MARTIN, 2011);
stakeholders proporcionaria  Uso de paisagismo para for-
divulgar a perspectiva da mação de obstáculos natu-
FAB, na visão de operador do rais: diferentes espécies de
aeródromo, acerca do tema plantas são capazes de pro-
risco aviário. porcionar o mesmo efeito dos
 Reunir os stakeholders du- artifícios, sem o uso de estru-
rante o Simpósio de Segu- turas de metal, cortantes ou
rança de Voo de Rondônia, perfurantes (BELANT;
realizado anualmente. AYERS, 2014);
 Reunir os stakeholders em  Controle de artrópodes (inse-
reuniões específicas para tra- tos) os quais servem de ali-
tar dos temas de segurança mento para as aves, estando
de voo e, dentre eles, o risco condicionado a um estudo de
aviário. Nestas reuniões se- equilíbrio do ecossistema
riam seguidos os HAS para pela análise das consequên-
as transformações deseja- cias de se atuar na cadeia
das.

150
alimentar (FERREIRA; RO-  Fiscalização semanal da
CHA; ABREU, 2015); quantidade de lixo por uma
 Controle da altura da grama, ronda periódica de guardas
a qual, segundo Abreu et al municipais a fim de acionar
(2017), se acima de 30cm, é os meios de coleta de lixo e
capaz de evitar a fixação das impedir que os urubus se ali-
principais espécies e pássa- mentem dos resíduos deixa-
ros nos aródromos (ABREU dos nas margens da avenida.
et al, 2017; BELANT; Havendo a possibilidade de
AYERS, 2014). aplicação de multas e outras
medidas coercitivas estas se-
Cultura Social no Descarte de riam adequadas durante a
Resíduos prática de fiscalização. Caso
algum material atrativo fosse
São elas: encontrado, a Secretaria de
 Medidas escolares de consci- Meio Ambiente da Prefeitura
entização: cartilhas, carta- seria acionada a fim de pro-
zes, palestras, etc a fim de porcionar a coleta do mate-
estabelecer uma nova cultura rial.
social no descarte de resí- Este conjunto de ações,
duos por meio da educação sistemicamente desejáveis e
infantil; culturalmente viáveis, obtido pela
 Medidas de conscientização aplicação completa da SSM na
social: propagandas por rádio estruturação do problema, com os
e televisão a fim de conscien- stakeholders considerados e com base
tizar os habitantes de Porto nas publicações de risco aviário, tendo
Velho acerca do caso; sido ainda validado pela visão dos
 Recursos visuais (cartazes stakeholders estágio a estágio, é o
nas margens da avenida conjunto de ações sugerido como
Lauro Sodré) a serem afixa- detentor do potencial de contribuir para
dos para coibir e conscienti- mitigar o risco aviário no Aeroporto
zar a visão dos habitantes da Internacional de Porto Velho.
cidade que costumam depo-
sitar lixo no local; V - CONSIDERAÇÕES FINAIS

151
características de operação das
O presente artigo foi iniciado referidas plataformas), com potencial
apresentando contexto problemático para reduzir o número de acidentes e
envolvendo o risco aviário em uma incidentes aeronáuticos, reduzir a
conjuntura geral. Especificamente no perda de vidas humanas e reduzir os
objeto de pesquisa (Aeroporto dispêndios financeiros com
Internacional de Porto Velho) os dados manutenção e substituição de peças
levantados pelo 2º/3º GAv e as por colisões com pássaros.
estatísticas do CENIPA apontaram Foram limitações para este
para a presença do risco no aeródromo. artigo a não congregação das visões
A Seção III apresentou a dos stakeholders IBAMA e Prefeitura
metodologia de pesquisa utilizada. Municipal de Porto Velho (ou do
No Seção IV foi feita, município onde for apicado).
inicialmente, a identificação e definição
de stakeholders, em seguida, as
entrevistas com os stakeholders foram
explanadas em um sentido amplo e as
contribuições e validações de cada
entrevista compuseram a etapa
subsequente: aplicação dos estágios
da SSM em conjunto com os
stakeholders.
O objetivo deste artigo foi
atingido pela aplicação da SSM,
metodologia consagrada na literatura,
em conjunto com os stakeholders, em
todos os estágios, alcançando-se ao
final um conjunto de ações
sistemicamente desejáveis,
culturalmente viáveis e capazes de
contribuir para a mitigação do risco
aviário nos aeródromos em que operam
aviões de caça (haja vista a
similaridade do risco aviário e das

152
REFERÊNCIAS Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos (CENIPA). Estatística
anual de colisão, quase colisão e
ABREU, T. L. S. et al. Avaliação de
avistamento de aves para o
diferentes alturas de grama para
Aeroporto Internacional de Porto
controle de aves em um aeroporto
Velho. 2015. Disponível
brasileiro. Revista Conexão SIPAER,
em:<http://sistema.cenipa.aer.mil.br/ce
v. 8, n. 1, p. 80-91, 2017.
nipa/sigra/pesquisa_dadosext>.
Acesso em: 04 maio 2019.
ACKERMANN, F.; EDEN, C. Strategic
management of stakeholders: theory
BRASIL. Ministério da Defesa.
and practice. Long Range Planning, v.
Comando da Aeronáutica. Investigação
44, n. 3, p. 179-196, 2011.
e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos. MCA 3-8: Manual de
ANAC. RBAC nº 164: Gerenciamento
gerenciamento do risco de fauna.
do risco da fauna nos aeródromos
Brasília, DF, 2017.
públicos. Brasília, DF, 2014.
CHECKLAND, P. Systems thinking,
AUSTRALIAN AIRPORTS
systems practice. Chichester, UK:
ASSOCIATION. Managing bird strike
Wiley, 1981.
risk: species information sheets. West
Burleigh, Australia: Australian
CHECKLAND, P.; SCHOLES, J. Soft
Government, 2015.
systems methodology in action. 1 ed.
Chichester, UK: John Wiley & Sons,
BELANT, J. L.; AYERS, C. R. Habitat
1990.
management to deter wildlife at
airports: a synthesis of airport practice
FERREIRA, J. B. C.; ROCHA, D. A.;
(ACRP Synthesis 52). Washington, DC:
ABREU, T. L. S. A diversidade de
Transport Research Board, 2014.
artrópodes terrestres em dez
aeródromos brasileiros e suas
BELANT, J. L.; MARTIN, J. A. Bird
implicações no gerenciamento do risco
harassment, repellent, and deterrent
de fauna. Revista Conexão SIPAER,
techniques for use on and near
v. 6, n. 1, p. 564-572. 2015.
airports: a synthesis of airport practice
(ACRP Synthesis 23). Washington, DC:
MALTA, C. S. O controle do lixo como
Transport Research Board, 2011.
meio de prevenção do risco aviário no
município de Aracaju/SE. Revista
BRASIL. Lei nº 12.725, de 16 de
Conexão SIPAER, v. 4, n. 1, set-out.,
outubro de 2012. Dispõe sobre o
2012.
controle da fauna nas imediações de
aeródromos. Diário Oficial da União.
MINGERS, J.; ROSENHEAD, J.
Brasília, DF, 17 de out. 2012.
Problem structuring methods for
complexity. Wiley, Chichester:
BRASIL. Ministério da Defesa.
Uncertainty and Conflict, 2001, p. 337-
Comando da Aeronáutica. Centro de
355.
Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos (CENIPA). Anuário de
MORABITO, R. et al. Metodologia de
risco de fauna. Brasília, DF, 2015a.
pesquisa em engenharia de
produção e gestão de operações. 2.
BRASIL. Ministério da Defesa.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
Comando da Aeronáutica. Centro de

153
AUTOR
MORAIS, F. J. de A. Evolução do risco
aviário no Brasil entre 2006 e 2010:
estatística e probabilidades. Revista
Conexão SIPAER, v. 3, n. 2, mar-abr.,
2012.

ROSENHEAD, J; MINGERS, J.
Problem structuring methods in action.
European Journal of Operational
Research, v. 152, n. 3, p. 530-554,
2004.

ZANATTA, B. Uso de falcões para


combater aves no entorno de
aeródromos: possíveis reflexos na O Ten Av Gabriel Boscolo dos Santos
responsabilidade civil do estado em Alves da Silva concluiu o CFO em 2015
caso de colisão com aeronave. Revista e possui especialização em Estatística
Conexão SIPAER, v. 4, n. 1, p. 165- Aplicada pela Faculdade Unyleya.
174, 2012. Atualmente é Chefe da Célula de
Gestão de Meios Aéreos e Sistemas
Operacionais do 1º/14º GAV.

Contato: boscologbsas@fab.mil.br /
(51) 3462-5357.

154
A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS SIMULADOS VIRTUAIS PARA A SELEÇÃO E
PREPARO DE COMBATENTES CIBERNÉTICOS: ESTUDOS DE CASO
MANDABYTE E SIMOC

2º Sgt BCO Luiz Henrique Filadelfo Car- trained and active in Cyber Defense, especially
doso graduates of Cyber Warfare courses already
Gabinete do Comandante da Aeronáutica (GA- taught by the Brazilian Army.
BAER)
Keywords: Cyber Defense; Virtual Simulation;
SIMOC; and Mandabyte.
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar duas al-
ternativas para a seleção de novos talentos e I - INTRODUÇÃO
provimento de treinamento contínuo a militares
especializados em defesa cibernética, basea-
das em simulação virtual, quais sejam: Compe-
tição Cibernética das Forças Armadas (Man- Em um atual cenário dominado
dabyte) e o Simulador de Operações Cibernéti- por ameaças cibernéticas avançadas
cas (SIMOC). Em relação ao Mandabyte, foi
possível verificar a necessidade de aperfeiçoa- capazes de sequestrar, exfiltrar e
mentos na organização para se expandir o al-
cance da referida competição, não só no âmbito corromper grandes quantidades de
das Forças Armadas, mas a todo setor público
e privado brasileiro responsável pela segurança dados pessoais e governamentais,
de ativos cibernéticos críticos. Já ao que se re-
fere ao SIMOC, identificou-se oportunidades torna-se urgente para a nação
para disponibilização de acesso regular a um brasileira possuir profissionais
universo maior de combatentes cibernéticos já
formados e atuantes em Defesa Cibernética, altamente qualificados para atuar de
sobretudo egressos dos cursos de Guerra Ci-
bernética já ministrados pelo Exército Brasi- maneira oportuna e efetiva quando
leiro.
concitados a agir no domínio
Palavras-Chave: Defesa Cibernética;
Simulação virtual; SIMOC; e Mandabyte. cibernético. (CARDOSO, 2017).
No entanto, como selecionar e
THE PRACTICE OF VIRTUAL SIMULATED
EXERCISES FOR THE SELECTION AND preparar os combatentes responsáveis
PREPARING OF CYBER COMBATANTS:
CASE STUDY MANDABYTE AND SIMOC por prover a Defesa Cibernética
ABSTRACT brasileira? E de que forma é possível
This study aims to analyze two alternatives for
the selection of new talents and the provision of
reproduzir (o mais próximo do real) as
continuous training to combatants specialized in complexidades e particularidades
cyber defense, based on virtual simulation,
namely: Cyber Competition of the Armed presentes no ciberespaço? Frente a
Forces (Mandabyte) and the Cyber Operations
Simulator (SIMOC). Regarding Mandabyte, it estas demandas, surgem como
was possible to verify the need for improve-
ments in the organization to expand the scope oportunas as soluções suportadas por
of this competition, not only within the Armed
Forces, but to the entire Brazilian public and pri- simulação, principalmente por serem
vate sector responsible for the security of critical capazes de proverem cenários
cyber assets. With regard to SIMOC, opportuni-
ties were identified to provide regular access to controlados, customizáveis, com
a larger universe of cyber combatants already

155
qualidade e a um menor custo para o FIGURA 1 - ORGANIZAÇÕES DO EB
RESPONSÁVEIS PELO PROGRAMA
preparo contínuo de combatentes
ESTRATÉGICO DE DEFESA CIBERNÉTICA
cibernéticos.
Este artigo objetiva realizar uma
análise reflexiva em relação a duas
soluções implantadas pelo Exército
Brasileiro baseadas em simulação
virtual, quais sejam o Simulador de
Operações Cibernéticas (SIMOC) e a
Competição Cibernética das Forças
Armadas (Mandabyte), a fim de indicar FONTE: MARRA (2018).
possíveis alternativas procedimentais
que possam ser aplicadas com a Este artigo foi organizado da
finalidade de prover maior alcance e seguinte forma: na Seção II define-se
eficiência para a seleção e preparo simulação e exercícios simulados
contínuo de militares em Defesa virtuais, assim como é apresentado,
Cibernética. conceitualmente, exercício tipo Captura
Neste ponto, devido à necessi- de Bandeira (do inglês, Capture The
dade de melhor entendimento da estru- Flag – CTF) e exercício de dupla ação;
tura administrativa e operacional do se- na Seção III, são analisadas as duas
tor cibernético brasileiro, tal qual apon- principais alternativas hoje existentes
tado em Brasil (2008), e suporte argu- para a seleção e treinamento de
mentativo no decorrer deste estudo, combatentes cibernéticos brasileiros:
cabe apresentar a correlação subordi- Mandabyte e SIMOC; já, na Seção IV,
nativa entre as Organizações Militares são analisados e apresentados os
do Exército Brasileiro (EB) responsá- principais aspectos e procedimentos
veis pela Defesa Cibernética nacional, que podem ser adaptados e (ou)
quais sejam: Comando de Defesa Ci- aperfeiçoados para se obter maior
bernética (ComDCiber), Centro de De- efetividade, eficiência de meios e
fesa Cibernética (CDCiber) e a Escola alcance em tais soluções; e por fim, na
de Defesa Cibernética (ENaDCiber), tal Seção V, são tecidas considerações
qual apresentado na Figura 1. finais após o estudo realizado.
II - SIMULAÇÃO E EXERCÍCIOS SI-
MULADOS VIRTUAIS

156
classificação qualquer Exer-
Para Jean Baudrillard, conforme cício Operacional (ExOp) ou
depreendido de seu livro “Simulacros e Manobra militar.
Simulação”, simulação é "a imitação  Simulações virtuais: são
de uma operação ou processo aquelas onde o operador real
existente no mundo real", e, por utiliza um sistema modelado
conseguinte, simulacros são "cópias em ambiente virtual, emu-
que representam elementos que nunca lando o comportamento dos
existiram ou que não possuem mais o sistemas de interesse. Simu-
seu equivalente na realidade". lador de voo para treina-
(BAUDRILLARD, 1991). Já para mento de pilotos de aerona-
Nogueira et al. (2018), simulação pode ves é um exemplo desta ca-
ser entendida como o processo capaz tegoria.
de "modelar sistemas reais e conduzir  Simulações construtivas: são
experimentos com o propósito de aquelas onde tanto os opera-
entender o comportamento dos dores quanto os sistemas
sistemas e avaliar várias estratégias são virtuais, concebidos atra-
para as suas operações"; e simulador vés de modelos matemáticos
como sendo "um aparelho e (ou) que buscam representar
programa de computador capaz de como os sistemas reais vão
reproduzir o comportamento de um se comportar. Usualmente
determinado sistema" existente no não se emprega hardware
mundo real. real, mas pode ser utilizada
Ainda em Nogueira et al. (2018), os parte do software real dos
autores entendem que a simulação sistemas de interesse, tor-
pode ser utilizada como relevante meio nando ainda mais fidedignas
de treinamento, e desta forma, pode ser as simulações realizadas.
classificada nas seguintes categorias: São exemplos, os simulado-
 Simulações reais ou ao vivo: res MARTE (Força Aérea
são aquelas executadas com Brasileira) e COMBATER
sistemas reais e operadores (EB).
reais, com o objetivo de trei- No meio militar, por possuir
nar situações hipotéticas. características, necessidades e
São exemplos desta objetivos particulares, a opção por

157
simulações virtuais (computacionais) redes e ativos, pensamento crítico e o
revestem-se de benefícios por prover raciocínio técnico-lógico são passíveis
economia de recursos, possibilidade de de serem emulados (e aperfeiçoados)
repetição (e customização) de cenários por meio da adoção de exercícios
para aprendizado e menor risco do que simulados virtuais específicos como
a execução de um treinamento de meios de treinamento, sobretudo a
combate que utilizaria equipamentos, partir dos formatos Capture The Flag
pessoas e recursos reais. (NOGUEIRA (CTF) e Red Team and Blue Team,
ET AL., 2018). como será visto a seguir.
Logo, a conformação de
exercícios simulados computacionais A. Exercício de Dupla Ação (Red
customizados e criados team and Blue Team)
especificamente para preparo dos
militares responsáveis pela Defesa Conforme exposto por Mejia
Cibernética brasileira reside como meio (2008), um exercício red team and blue
ideal para manter a perícia técnica e team consiste, basicamente, em um
capacidade de pronto-emprego em grupo de profissionais de segurança da
nível adequado para responder às informação (red team) intentar em
demandas emergentes, dinâmicas e atacar e explorar uma infraestrutura
complexas de tal tarefa. No âmbito da cibernética, e outro (blue team), em
Força Aérea Brasileira (FAB), tal lado oposto, ser capaz de se contrapor
reflexão foi inicialmente abordada em e proteger a infraestrutura sob ataque.
Diedrich et al. (2015) e em Diedrich et Dois objetivos principais devem ser
al. (2016), em que os autores não só atendidos durante tal exercício:
traçam um panorama da capacitação identificar vulnerabilidades na
em Defesa Cibernética no Brasil, mas infraestrutura cibernética (emulada ou
também listam os benefícios inerentes real) sob teste e refinar as habilidades
da adoção de um exercício operacional dos profissionais alocados em ambos
cibernético regular no âmbito da FAB, os lados em combate simulado. Ao final
no caso CRUZEX C2. do treinamento, deve-se realizar uma
Nessa direção, há de se pontuar reunião para que ambos os times
que algumas das características apresentem suas considerações,
necessárias para entender e atuar no pontos fortes e fracos identificados,
ciberespaço como a complexidade de assim como as estratégias e táticas

158
utilizadas durante o exercício com a B. Capture The Flag (CTF)
finalidade de aperfeiçoar as
competências técnicas de todos os O termo CTF (do inglês, Capture
envolvidos. The Flag) designa um espectro de
Alguns elementos-chave para o competições que exigem diversas
sucesso do exercício consistem em: um habilidades dos competidores para a
red team hábil, que possua um extenso resolução de desafios ("challs",
repertório de conhecimento e abreviação da palavra challenge)
experiência, TTPs (Técnicas, Táticas e relacionados à segurança da
Procedimentos) avançadas e uma informação, com o objetivo de "capturar
mentalidade ofensiva e "fora da caixa" uma bandeira", informação ou dica para
para resolução de problemas, similar à pontuar e seguir no jogo. Tais desafios
de um oponente do mundo real são divididos em categorias, tais como:
(criminoso cibernético); assim como, criptografia, esteganografia, análise de
uma equipe blue team atualizada e que binários, engenharia reversa,
possua conhecimento avançado não só programação, segurança de
em relação aos serviços, redes e dispositivos móveis, análise de tráfego
sistemas a serem protegidos durante o de redes, vulnerabilidades em
exercício, mas também sobre o aplicações web, análise forense,
comportamento das ameaças protocolo de redes Wi-Fi, etc. (CTF-
cibernéticas mais atuais. (MEJIA, TIME, 2015).
2008). De acordo com CTF-BR (2014),
Importante ainda destacar que existem três tipos básicos de CTFs:
um treinamento “red team and blue a) Jeopardy-Style: neste são
team” pode ser realizado nas apresentadas questões (quiz) de
modalidades simulação real ou virtual. diversas categorias, níveis de
Esta última é a mais adequada quando dificuldade e pontuações. A pessoa ou
se busca manter a integridade, equipe (geralmente multidisciplinar, de
disponibilidade e segurança dos ativos três a cinco integrantes) que sairá
durante o exercício, bem como maior campeã do CTF é a que resolver a
variedade de cenários a serem maioria das questões (sobretudo
testados e explorados. (DIEDRICH ET àquelas de maior complexidade) e em
AL., 2016). menor tempo que os adversários. Em
alguns CTF’s o acesso a outros "challs"

159
é condicionado à resolução de formatos de competições e exercícios
anteriores, de menor complexidade, cibernéticos descritos na seção
dentro da mesma categoria. anterior, e como eles podem contribuir
b) Ataque-defesa (attack-defense): para a seleção, preparo e melhor
de forma genérica, as equipes recebem diálogo com o combatente do século
uma rede própria ou apenas um host XXI, o Exército Brasileiro adotou como
(máquina virtual) com diversos serviços principais soluções para atender tais
(alguns com vulnerabilidades demandas a Competição de
conhecidas) e ficam encarregadas de Cibernética das Forças Armadas
corrigir as vulnerabilidades em seus (Mandabyte) e o Simulador de
serviços e (ou) desenvolver Operações Cibernéticas (SIMOC).
ferramentas (exploits e payloads) para
atacarem a rede ou sistemas A. Mandabyte
oponentes. O objetivo é atacar os
pontos fracos da equipe rival (capturar A partir da ideia inicial e
as bandeiras alheias) e proteger-se coordenação voluntária de alguns
contra ataques da outra equipe militares do Exército Brasileiro com
(defender suas bandeiras). experiência em competições
c) Formato misto: CTFs mistos cibernéticas nacionais e internacionais,
podem variar de formato, mas sobretudo na modalidade CTF, e da
geralmente consistem em uma percepção quanto à necessidade em se
configuração de jogo baseado em desenvolver uma competição similar
ataque-defesa, na qual as flags são voltada a identificar recursos humanos
questões típicas do estilo Jeopardy. Ou das Forças Armadas brasileiras para
seja, a progressão nesse tipo de CTF atuar na Defesa Cibernética, surge no
não reside apenas em se explorar os ano de 2016 com o aval oficial do então
serviços da equipe rival, mas também incipiente Centro de Defesa Cibernética
na habilidade de resolver as questões (CDCiber) a Competição de Cibernética
presentes nas flags capturadas. das Forças Armadas, o que hoje
III - ESTUDOS DE CASO: MAN- conhecemos como Mandabyte.
DABYTE E SIMOC (GONÇALVES, 2020).
A respeito do Mandabyte, o Tcel
Atento às características e Righi à época integrante do Comando
particularidades presentes nesses

160
de Defesa Cibernética (ComDCiber) quantidade de participantes da 7ª
destaca que: edição do Mandabyte realizado no dia
Trata-se de uma chance para 22 de outubro de 2020.
aqueles que se capacitam colocarem
em prática o conhecimento adquirido. A FIGURA 2 – PARTICIPANTES DA 7ª EDIÇÃO
MANDABYTE
grande dificuldade da área de ciberné-
tica é colocar em prática o que se
aprende, então quando temos uma
competição assim é uma excelente
oportunidade de prática”. (EXÉRCITO
BRASILEIRO, 2017).
Desde sua criação já ocorreram
sete competições: Mandabyte 1.0 e
Mandabyte 2.0 no ano de 2016;
FONTE: EXÉRCITO BRASILEIRO (2020).
Mandabyte 3.0 e Mandabyte 4.0 no ano
de 2017; Mandabyte V no ano de 2018, Quanto aos aspectos
Mandabyte 6ª edição em 2019 e organizacionais, cabe expor que até o
Mandabyte 7ª edição. A edição mais ano de 2019 o cadastramento das
recente do Mandabyte ocorreu no ano equipes e a montagem dos desafios a
de 2020, a qual teve 73 equipes serem resolvidos pelas equipes
participantes, totalizando 213 competidoras eram desenvolvidos
competidores militares no total. colaborativamente entre o Tenente-
(GONÇALVES, 2020; EXÉRCITO Coronel Éder Luis Oliveira Gonçalves e
BRASILEIRO, 2020). outros militares voluntários do EB;
Na atual configuração, os assim como, a infraestrutura física e
desafios do Mandabyte devem ser lógica eram hospedadas no 11º Centro
resolvidos dentro de seis horas de Telemática na cidade de Curitiba-
ininterruptas de competição e são PR, cabendo ao Comando de Defesa
relacionados, basicamente, aos temas Cibernética o fomento e divulgação do
de Criptografia, Forense referido evento aos integrantes da
Computacional, Pentest em Aplicações Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e
Web, Engenharia Reversa e Força Aérea Brasileira. A partir da 7ª
Miscelânea. Na Figura 2 é possível edição, toda a responsabilidade
observar reprodução de tela contendo a

161
(administrativa e operacional) pela Partindo do pressuposto já
organização do Mandabyte passou a delineado de que o espaço cibernético
ser do ComDCiber e seus órgãos possui características que o distingue
subordinados. (GONÇALVES, 2020). de outros domínios e, por esse motivo
Hoje, em específico, a infraestru- as ferramentas, técnicas e
tura lógica e física para a realização do procedimentos utilizados em outros
Mandabyte e disponibilização de seus domínios podem não surtir efeito
“challs” resume-se, sinteticamente, em adequadamente por ser um ambiente
um servidor/Datacenter com software eminentemente virtual (ainda que seus
de virtualização instalado, no qual tam- efeitos possam ser sentidos no real), o
bém está alocado um firewall que cuida Exército Brasileiro identificou a
da segurança e da criação e gestão das necessidade de possuir uma
chaves assimétricas que permitem es- ferramenta customizada e baseada em
tabelecer conexão (VPN) entre as equi- simulação, que pudesse atuar de forma
pes competidoras e o ambiente de segura, controlada e em auxílio ao
competição. Por meio de hosts virtuali- processo de formação dos profissionais
zados, alocados em redes segregadas, responsáveis pela Defesa Cibernética
disponibilizam-se o ambiente de intera- nacional (MACHADO ET AL, 2015)..
ção da competição e inserção das Fruto dessa necessidade, após
flags, assim como com máquinas virtu- avaliação criteriosa de diversas outras
ais vulneráveis destinadas a servirem soluções de mercado, optou-se pelo
de base para os desafios disponibiliza- Simulador de Operações Cibernéticas
dos. Ao passar das edições, também se (SIMOC), desenvolvido de maneira
observa a contínua necessidade de ex- colaborativa entre a indústria nacional e
pansão da capacidade de processa- instrutores do Centro de Instrução de
mento, memória útil e link internet para Guerra Eletrônica (CIGE), tal qual
o CTF devido ao acentuado aumento citado por Machado et al. (2015). Na
do número de participantes inscritos a Figura 3 é possível perceber
cada nova competição. (GONÇALVES, representação de tela do SIMOC.
2020; EXÉRCITO BRASILEIRO, 2020).
FIGURA 3 – TELA SIMOC.

B. SIMOC

162
Todos os elementos usados na criação
da rede são modulares, permitindo a
reutilização e facilitando a expansão do
conteúdo disponível, inclusive para
utilização de outros alunos e em outros
cenários de treinamento. O principal
objetivo é fornecer uma ferramenta
para geração automática de redes
FONTE: MACHADO ET AL. (2015).
virtualizadas com acesso a partir da

O SIMOC surgiu com o objetivo [interface] web.

de ser uma ferramenta baseada em Outra característica relevante do

simulação virtual, estocástica e SIMOC, que estimula e aperfeiçoa o

dinâmica, capaz de fornecer aprendizado, é a sua capacidade de

treinamentos em configuração e integrar objetos físicos do mundo real

administração de redes; operações aos seus modelos e redes

cibernéticas de ataque e defesa a redes virtualizadas. Assim, a partir de ações e

TCP/IP, sistemas operacionais e (ou) procedimentos cibernéticos realizados

aplicações instaladas nas máquinas e nos modelos virtuais do simulador

demais dispositivos existentes e também é possível emular efeitos

possíveis de serem emulados do cinéticos do mundo real. (MACHADO,

mundo real. (GOMES, 2013). Para 2017). Por exemplo, tal qual presente

isso, conforme apontado em Machado na Figura 4, é possível perceber a

et al. (2015): representação em escala de uma usina

SIMOC faz uso de máquinas virtuais termoelétrica utilizada em treinamento,

(computadores e dispositivos de rede) na qual alunos puderam interagir e

em auxílio ao processo de treinamento. interferir em sua operação, bastando

As máquinas virtuais desejadas para para isso acessar as redes e

configurar uma rede devem ser computadores (emulados em máquinas

selecionadas e relacionadas entre si virtuais) específicos para seu

para criá-la. Para a criação da rede funcionamento dentro de um cenário

você pode especificar as configurações virtual disponibilizado pelo SIMOC.

na forma de scripts que serão assim


executados nas máquinas virtuais.

163
FIGURA 4 - MAQUETE DE USINA d) Variedade de funcionalidades
TERMOELÉTRICA UTILIZADA EM
que apoiam o instrutor durante as simu-
TREINAMENTO SIMOC.
lações, tais como: gerador de tráfego
randômico, defesa automatizada, ata-
que automatizado, recurso de grava-
ção, material de apoio e aplicação das
diversas métricas existentes;
e) Monitoramento em tempo real
com a possibilidade de interferência do
instrutor durante a execução dos exer-
FONTE: MACHADO ET AL. (2015).
cícios. Como exemplo, o instrutor pode:
pausar a simulação, adiantar, repetir
Importante acrescentar que,
uma situação, mudar parte do cenário e
conforme exposto em detalhe por
modificar o nível de dificuldade do exer-
Machado (2017), a utilização do
cício;
SIMOC tem se mostrado relevante no
f) A implementação do simulador
processo de ensino-aprendizagem
conta com uma relativa segurança na
cibernético e apresentado as seguintes
sua infraestrutura, seja para o acesso
vantagens:
interno (administrador, instrutor, alu-
a) Possibilidade de criar diversos ti-
nos) ou para acessos externos ou re-
pos de simulações tais como: exercí-
moto;
cios de dupla ação, criação de redes de
g) A utilização de maquetes, conec-
computadores (a partir de uma situa-
tadas ao simulador, propicia ao instru-
ção-problema) e a gerência de uma
endo a possibilidade de emular a con-
rede de dados;
sequência “real” de um ataque ciberné-
b) Reuso de elementos (objetos,
tico, realizado pelo aluno, sobre a infra-
eventos, métricas etc.) pré-registrados
estrutura de uma localidade (fábrica, ci-
no catálogo do simulador, com o obje-
dade etc.); e
tivo de adequar o cenário a uma situa-
h) O simulador pode ser acessado,
ção-problema ou de criar uma nova;
remotamente, permitindo a realização
c) Capacidade de se criar redes
de treinamento de militares em diferen-
mistas, contendo segmentos virtuais e
tes localidades.
segmentos de rede e artefatos reais;
i) No entanto, conforme também
destacado em [14] e citado em [16], o

164
SIMOC encontra algumas limitações, possuam, em suas máquinas, suas fer-
tais como: ramentas instaladas e customizadas
j) Inviabilidade de simular ligações para as atividades no ciberespaço.
de fibra ótica. No entanto, essa limita-
ção pode ser parcialmente contornada IV - ANÁLISE
com a integração de redes de fibra óti-
cas reais ao SIMOC; Ainda que o SIMOC e o
k) As principais empresas fornece- Mandabyte representem importantes
doras de soluções de TI não disponibi- avanços e casos de sucesso para a
lizam as versões virtualizadas de seus seleção e preparo de novos
produtos. Uma possibilidade para con- combatentes cibernéticos, há de se ter
tornar esse problema seria fazer parce- um olhar crítico para reconhecer
rias com as empresas para obter os oportunidades quanto aos aspectos
produtos de interesse no formato vir- que possam vir a torná-los mais
tual. Por exemplo, atualmente, existe a acessíveis a um universo maior de
possibilidade de virtualizar roteadores profissionais (não só àqueles em
da empresa CISCO. Contudo, para re- formação ou integrantes de operações
alizar essa virtualização, depende-se militares pontuais), e com isso,
de autorização prévia da empresa e proporcionar uma contínua capacitação
(ou) obtenção de licenças; a partir da simulação e de desafios
l) O simulador não é um ambiente cibernéticos customizáveis.
adequado para a análise de vírus de No tocante ao Mandabyte, ainda
computador, uma vez que malwares que o esforço colaborativo inicial aliado
avançados e Advanced Persistent a contribuição institucional do
Threats (APTs) são capazes de identifi- ComDCiber tenha trazido a competição
car a existência de máquinas virtuais, e até aqui com qualidade, economia de
nesse caso, sendo capazes de evadir e meios e formato atrativo, é necessário
(ou) não executarem seus códigos e ro- refletir sobre sua evolução e formato de
tinas maliciosas; apoio caso o objetivo seja aperfeiçoar e
m) Atualmente, não é possível co- expandir o referido CTF para um
nectar o SIMOC às máquinas pessoais espectro maior de equipes, bem como
dos alunos para realizar os exercícios. prover maior regularidade e
Esse fato acaba se tornando um óbice, complexidade aos desafios a serem
pois é comum que esses instruendos já disponibilizados.

165
A existência de equipe cibernético em prol da defesa do país e
permanente e dedicada para gerir tornar-se um centro de excelência no
especificamente o Mandabyte ensino e pesquisa em Defesa
(infraestrutura, mapeamento e gestão Cibernética em âmbito nacional [3].
de talentos identificados, divulgação, Já no que concerne ao SIMOC,
confecção e catalogação de desafios, cabe refletir, que mesmo que tenha sido
etc.) formado por integrantes das três desenvolvido, inicialmente, para
Forças Singulares não só traria atender às demandas do Centro de
benefícios implícitos advindos da Instrução de Guerra Eletrônica (CIGE),
gerência institucional, mas também com seu emprego focado para o Curso
seria capaz de gerar continuidade e de Guerra Cibernética (para sargentos
eficácia na gestão e repasse de e oficiais), sua utilização deve ser
conhecimento para outros profissionais incentivada e expandida para além dos
em relação à experiência adquirida a alunos em formação e do Exército
partir do processo de organização e Brasileiro, sobretudo para os
realização do referido CTF militar. profissionais de Defesa Cibernética já
Por sua vocação, a Organização em atuação no âmbito das outras
Militar que melhor se adequaria a Forças Armadas e setores de interesse.
avocar para si a formação, o apoio e Esse pensamento se reforça
manutenção dessa equipe dedicada pela baixa amplitude de exercícios
em seus quadros, com um primeiro regulares ou previsão de treinamento
objetivo de gerir o Mandabyte, mas que prático contínuo em ambiente simulado
no futuro também seja capaz de virtual voltados à maioria dos militares
apreender, mapear e conformar outras já especializados em Defesa
competições cibernéticas em múltiplos Cibernética, ainda que resida
formatos, com base também em inafastável se manter o constante
simulação, sob a supervisão do preparo de tais quadros para o seu
ComDCiber, certamente, é a Escola pronto-emprego quando necessário.
Nacional de Defesa Cibernética Uma alternativa a este cenário
(ENaDCiber). Tal conclusão advém da seria o estabelecimento de acordos
adequação dos objetivos do Mandabyte entre as Organizações Militares que
à natureza da missão da ENaDCiber, possuem militares especializados (e a
qual seja a de capacitar recursos Defesa Cibernética como missão) com
humanos para atuação no setor o CIGE, sob coordenação da

166
ENaDCiber, para estabelecer um qualquer lugar e em quaisquer
calendário regular e customizado para condições.
treinamento no SIMOC. De maneira
similar ao que ocorre com militares em V - CONCLUSÃO
outras atividades específicas (tais
como piloto de aeronaves, controlador Ao se inspirar na essência da
de tráfego aéreo, etc.), propõe-se a expressão: "Você luta da forma que
definição de um número específico de treinou", este artigo revisou
horas a serem cumpridas no referido analiticamente duas soluções
simulador. De acordo com a natureza implementadas pelo Exército Brasileiro
da missão da Organização Militar e baseadas em simulação virtual, o
(ataque, exploração ou proteção Simulador de Operações Cibernéticas
cibernética) seriam definidos cenários, (SIMOC) e a Competição Cibernética
a melhor forma de acesso ao SIMOC das Forças Armadas (Mandabyte), a
(remoto ou local), carga de treinamento fim de identificar possíveis aspectos
e metas a serem atingidas durante os que possam ser aperfeiçoados para
treinamentos para a elevação prover maior alcance e eficiência de
operacional dos combatentes meios, sobretudo para a seleção de
cibernéticos em aperfeiçoamento. novos combatentes e preparo contínuo
Deste modo, com a adoção de de militares a serem empregados no
um calendário de treinamento âmbito cibernético.
customizado e em simulador específico Para isso, além da
para combatentes cibernéticos em contextualização inicial sobre a
atividade, não só seria possível necessidade de possuir entre o rol de
aumentar a eficiência e a taxa de combatentes aqueles capazes de atuar
retorno de investimento do SIMOC, no domínio cibernético, foram também
mas também proporcionar o preparo apresentados conceitos como o de
contínuo e de qualidade daqueles que simulação, exercícios simulados, CTF,
tem o dever de estarem preparados Red Team and Blue Team que serviram
para serem empregados na defesa das como base para a realização da
redes, sistemas e plataformas militares posterior análise das soluções objeto
acessíveis pelo domínio cibernético, 24 deste artigo.
horas por dia, 7 dias por semana, em Em relação ao Mandabyte foi
possível verificar a necessidade de

167
formação de equipe (ou seção) dedi- guerra cibernética (oficiais e sargen-
cada, subordinada diretamente ao tos), com a oportuna coordenação en-
ENaDCiber, a ser responsável por or- tre o CIGE e a Organização Militar plei-
ganizar e gerenciar a referida competi- teante no âmbito das três Forças Singu-
ção (no âmbito tecnológico e adminis- lares por apoio de treinamento do SI-
trativo). Tal configuração é entendida MOC, identificou-se a oportunidade de
como recomendável para que em um se criar um calendário anual com o fim
futuro próximo com base no conheci- de assegurar o uso total das capacida-
mento adquirido e nas lições aprendi- des da referida plataforma para o trei-
das deste pioneiro CTF militar, seja namento e aperfeiçoamento de pessoal
possível proporcionar a documentação a partir de exercícios cibernéticos cus-
de desafios e processos (gestão do co- tomizados. Para que isso seja possível,
nhecimento), maior regularidade de a atuação também da ENaDCiber na
edições, gerenciamento de infraestru- esfera administrativa e coordenativa
tura e expansão do atual formato (obje- mostra-se essencial.
tivando maior alcance, complexidade e Por fim, vislumbra-se como ob-
variedade de desafios), inclusive com a jeto de pesquisa futura, o aprofunda-
possibilidade de viabilizar outras op- mento dos estudos em busca do melhor
ções também baseadas em jogos ciber- formato de treinamento contínuo de
néticos simulados (exercício de dupla combatentes cibernéticos em simula-
reação, Bug Bounties de sistemas mili- dor, no âmbito de cada força singular e
tares, Hacktons, etc), não só ao público de acordo com suas necessidades par-
militar do Exército Brasileiro, mas tam- ticulares. No tocante à FAB, sobretudo
bém em auxílio a outras Forças Arma- após a criação e ativação do Centro de
das e ao público civil especializados em Defesa Cibernética da Aeronáutica
temas de interesse (setor bancário, po- (CDCAER), tal qual depreendido de
licial, energia, nuclear, etc.). Brasil (2020), emerge como importan-
Já em relação ao SIMOC, identi- tes questionamentos: Quantas horas
ficou-se a carência na disponibilidade em simulador seriam ideais para o ade-
de acesso a um universo maior de pro- quado preparo do operador cibernético
fissionais cibernéticos já formados e para seu emprego em missões reais?
empregados em Defesa Cibernética. Quais seriam os formatos dos cenários
Assim sendo, a partir do intervalo tem- e sistemas a serem emulados (siste-
poral entre cursos de formação em mas radar; plataformas aéreas e seus

168
protocolos de comunicações; satélites REFERÊNCIAS
de comunicações militares e respecti-
BAUDRILLARD, J. Simulacros e
vas estações de solo; sistemas de con- Simulação. 1991 Lisboa: Antropos.
BRASIL. Ministério da Defesa. Estraté-
trole de trafego aéreo; etc)? Os cená-
gia Nacional de Defesa (END).DE-
rios seriam padronizados ou customiza- CRETO Nº 6.703, de 18 de DEZ 2008.
Brasília. Disponível em
dos de acordo com a natureza da mis-
<http://www.planalto.gov.br/cci-
são a ser cumprida (ataque, exploração vil_03/_ato2007-2010/2008/de-
creto/d6703.htm>. Acesso em 02 jun.
ou proteção)? Caberia estimar a opera-
2022.
cionalidade do combatente cibernético
BRASIL. COMANDO DA
com base no cumprimento de horas em
AERONÁUTICA. DCA 11-130. Diretriz
simulador, de maneira similar ao que de Implantação do Núcleo do Centro
de Defesa Cibernética da
ocorre hoje a pilotos militares e contro-
Aeronáutica. Brasília, DF, 7 out. 2020.
ladores de tráfego aéreo? Dessa ma-
CARDOSO, L.H.F. Anatomia de um
neira, caso tais respostas venham a ser
ataque cibernético: conhecer e en-
respondidas e colocadas em prática tender para melhor defender os ati-
vos e meios de interesse da Força
adequadamente, de certo, poderão al-
Aérea Brasilieira. SPECTRUM: Re-
çar o combatente cibernético brasileiro vista do Comando de Preparo, Brasília,
n. 20, 51-57, 2017.
a um novo patamar de preparo e em-
prego, mais próximo ao que se espera CTF-BR. CTFS. 2014. <https://ctf
br.org/sobre/>. Acesso em 17 jun.
de um profissional alinhado aos desa-
2022.
fios, tecnologias e complexidades ine-
CTF-TIME. What is Capture The Flag.
rentes das ameaças cibernéticas de
2015. <https://ctftime.org/ctf-wtf/>.
nosso tempo. Acesso em 17 jun 2022.

DIEDRICH, T. J.; MACHADO, A. F. A.;


OLIVEIRA, P. R. M. Capacitação de
pessoal na área de Defesa
Cibernética no âmbito do Comando-
Geral de Operações Aéreas.
SPECTRUM: Revista do Comando-
Geral de Operações Aéreas, Brasília, n.
18, p. 11-16, set. 2015.

DIEDRICH, T. J.; GONÇALVES, A. C.;


DA SILVA, R. C. B. Simulação
Cibernética e a Capacitação de
Pessoal para Operações Militares no
Ciberespaço. SPECTRUM: Revista do

169
Comando-Geral de Operações Aéreas, uniceub.br/gti/article/viewFile/4322/363
Brasília, n. 19, p. 53-58, set. 2016. 5>. Acesso em 19 jun. 2022.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Terceira MARRA, M. F. C. Programa de Defesa


competição de cibernética das Cibernética na Defesa Nacional.
forças armadas. 2017. 2018. In: XV Congresso Acadêmico
<http://www.eb.mil.br/web/noticias/noti sobre Defesa Nacional.
ciario-d0- 2018.<https://www.defesa.gov.br/arqui
exercito/asset_publisher/MjaG93Kcun vos/ensino_e_pesquisa/defesa_acade
QI/content/terceira-competicao-de- mia/cadn/palestra_cadn_xi/xv_cadn/pr
cibernetica-das-forcas armadas>. ograma_da_defesa_cibernetica_na_de
Acesso em 18 jun. 2022 fesa_nacional.pdf>. Acesso em 17 jun.
2022.
EXÉRCITO BRASILEIRO. 7ª Edição
de competição cibernética entre inte- MEJIA, R. Red team, Blue team: how
grantes das forças armadas busca to run an effective simulation. 2008.
novos talentos na área. 2020 <https://www.networkworld.com/article/
<https://www.eb.mil.br/web/noticias/no- 2278686/lan-wan/red-team--blue-team-
ticiario-do-exercito/asset_publis- -how-to-run-an-effective-
her/MjaG93KcunQI/con- simulation.html?page=1>. Acesso em
tent/id/12363209>. Acesso em 19 jun. 18 jun 2022.
2022.
NOGUEIRA, R. N. L.; FILHO, G. M. L;
GOMES, R. Simulador de operações WERNECK, A. G. R. Simulação para o
de guerra cibernética. 2013. preparo da Força Aérea. PREPARO:
Exposição Oral. Revista do Comando de Preparo, n. 1,
4-10, 2018.
GONÇALVES, E. L. O. Aspectos
envolvidos na criação e AUTOR
desenvolvimento da Competição de
Cibernética da Forças Armadas
(Mandabyte). 2020. Questionário de
perguntas encaminhado via email.
Colhido em 22/10/2020. Entrevistador:
Luiz Henrique Filadelfo Cardoso.

MACHADO, A. F. A.; REGUEIRA, F. A.


C.; REZENDE, J. Use of simulation to
achieve better results in cyber
military training. 2015. In: MILCOM:
Military Communications Conference,
IEEE Communications Society (pp. O 2º Sgt BCO LUIZ HENRIQUE con-
1270-1275). cluiu o CFS - Comunicações no ano de
2007. Realizou o Curso Doutrinário de
MACHADO, A., F. A. Utilização de Guerra Eletrônica (2013) pelo Grupo de
simuladores para a formação de Instrução Tática e Especializada, o
guerreiros cibernéticos. 2017. Curso de Guerra Cibernética para Sar-
Disponível em: gentos (2016) pelo Exército Brasileiro e
<https://www.publicacoesacademicas. os Cursos de Análise de Inteligência
(2016) e de Contrainteligência (2021)

170
pelo Centro de Inteligência da Aeronáu-
tica. É também bacharel em Sistemas
de Informação com ênfase em Análise
de Sistemas pela Faculdade Porto Ve-
lho (2011) e especialista em Gestão de
Segurança da Informação e em Inteli-
gência de Segurança Pública pela Uni-
versidade do Sul de Santa Catarina –
UNISUL (2014). Atualmente cursa o
Mestrado Profissional em Segurança
Cibernética pela Universidade de Brasí-
lia e é militar efetivo do GABAER.

Contato: luizhenriquelhfc1@fab.mil.br.

171
ANALISANDO A IMPLEMENTAÇÃO DO BIM NA FORÇA AÉREA BRASILEIRA:
RESULTADOS E IMPLICAÇÕES
2º Ten Civ Camila Tasca Leitão according to the methodology proposed by Bilal
Caixa de Financiamento Imobiliário da Aero- Succar, and the BIM implementation level in the
náutica (CFIAe) Aeronautics was estimated. Information like this
tends to provide a scientific basis for the AEC
RESUMO industry, allowing the use of BIM, together with
O BIM (Building Information Modelling), tam- public policies, to reach maturity levels similar
bém conhecido no Brasil como Modelagem da to those already observed in developed coun-
Informação da Construção (MIC), é um pro- tries. Additionally, it can be considered as a ref-
cesso considerado divisor das práticas tradicio- erence for countries that are in the same stage
nais de mercado que são utilizadas na área da and context of implementation.
construção civil em todo mundo. Nesse estudo,
o objetivo principal é a avaliação de maturidade Keywords: Building Information Modeling
de implementação BIM na Força Aérea Brasi- (BIM), Maturity, Implementation.
leira reforçado pelo Decreto nº 10.306 que es-
tabelece a utilização do BIM na execução direta
ou indireta de obras e serviços de engenharia
realizadas pelos órgãos e pelas entidades da
I - INTRODUÇÃO
administração pública federal. Para alcança-lo,
foi submetida a equipes responsáveis por sua
disseminação, matrizes para avaliação do nível Modelagem da Informação da
de maturidade BIM na organização, de acordo
com a metodologia proposta por Bilal Succar e Construção (em inglês, Building
estimou-se ao nível da implementação BIM na
Aeronáutica. Informações como essas tendem Information Modeling – BIM), é um dos
a fornecer uma base científica para a indústria
AEC, permitindo que o uso do BIM, juntamente
mais oportunos desenvolvimentos na
com políticas públicas, alcance níveis de matu- indústria relacionada à arquitetura,
ridade semelhantes aos já observados em paí-
ses desenvolvidos, além disso pode ser consi- engenharia e construção (AEC). O BIM,
derado como referência a países que estão no
mesmo estágio e contexto de implementação. diferente do processo tradicional, onde
cada disciplina trabalha de maneira
Palavras-Chave: Building Information
Modeling (BIM), Maturidade, Implementação. isolada, apresenta um modelo
colaborativo, onde é possível obter
ANALYZING THE IMPLEMENTATION OF BIM
IN THE BRAZILIAN AIR FORCE: RESULTS
maior controle sobre todo o ciclo de
AND IMPLICATIONS vida do projeto, além também de

ABSTRACT permitir que todos os envolvidos no


Building Information Modelling (BIM), also processo possam acessar e realizar
known in Brazil as Modelagem da Informação
da Construção (MIC), is a process considered a modificações a qualquer momento,
game-changer from the traditional market prac-
tices used in the construction industry world- sempre mantendo o modelo atualizado
wide. In this study, the main objective is to eval-
uate the maturity level of BIM implementation in e ante prevendo falhas para correções
the Brazilian Air Force, reinforced by Decree
No. 10,306, which establishes the use of BIM in mais assertivas.
the direct or indirect execution of engineering
works and services carried out by federal public
administration agencies and entities. To Neste estudo, pretende-se
achieve this, matrices for evaluating the BIM
maturity level in the organization were submit- conhecer o nível de maturidade em BIM
ted to teams responsible for its dissemination,

172
em diferentes organizações militares da observar suas vantagens e utilização
Aeronáutica, bem como avaliar como no Brasil.
as sugestões de implementação da No setor público a serventia de
Estratégia BIMBR alinhadas com o sua utilização está diretamente ligada
Decreto n⁰ 10.306 estão sendo aos conceitos de eficiência, eficácia e
abordadas, para que se possa economicidade. Após o advento da
apresentar o avanço na sua utilização e Emenda Constitucional nº 19, de 4 de
possíveis soluções de otimização no junho de 1998, a qual acrescentou a
acompanhamento da construção e, ao eficiência como princípio que rege a
mesmo tempo, ações para disseminar Administração Pública no caput do
o uso do BIM como forma de trazer artigo 37 da Constituição Federal, ela
vantagens e economia para as partes está atrelada à expectativa da
envolvidas no projeto final. “sociedade que aspira que a
Administração adote os métodos mais
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA apropriados, dentro de avançados
padrões técnicos. O que se exige é que
O conceito de BIM surgiu na a Administração trabalhe com
década de 70, porém a terminologia qualidade, opere de forma a colocar à
utilizada é relativamente recente, sendo disposição da sociedade os avanços
datada no início da década de 90. Com tecnológicos próprios da modernidade,
a ampliação do número de esteja voltada para o atendimento
interessados pelo BIM. Após aprovação satisfatório das necessidades do todo
e publicação oficial do Decreto BIM coletivo. A correção dos métodos será
(Decreto n⁰ 10.306), o assunto “BIM” determinante na obtenção dos
ganhou força necessária para se melhores resultados”.
enraizar na indústria da construção Logo conclui-se que a aplicação
civil. dos conceitos de eficiência, eficácia e
O termo BIM continua a evoluir economicidade é fundamental para a
ao longo dos anos e, portanto, é melhor construção do planejamento
entendido como uma evolução estratégico de qualquer organização.
tecnológica em toda a indústria da Uma vez reconhecidas as dificuldades,
construção e no ambiente construído urgências e necessidades desta, torna-
em geral. Na sequência é possível se mais fácil definir o plano de
implementação, implantação e adoção

173
do BIM, bem como entender a III - MÉTODO DESENVOLVIDO PELO
importância desse modelo para a PROF. BILAL SUCCAR
empresa ou instituição.
A tecnologia BIM começou a ser O pesquisador Bilal Succar
utilizada no Brasil na década de 2000, (2009) desenvolveu uma detalhada
mas foi a partir de 2010 que ela metodologia para descrever, qualificar
começou a ganhar mais destaque no e mensurar o uso do BIM em
país. A pesquisa focará no Decreto nº organizações e esferas diversas. Essa
10.306, deliberando que o BIM deve ser metodologia mostra-se tocante ao
implementado de forma gradual, estudo de caso, pois apresenta a
obedecendo a fases de adoção capacidade de propor uma avaliação
estabelecidas. de grau de maturidade de instituições
Em seu Art. 2º, o mesmo Decreto na adoção e processo de
discrimina quais entes estarão ligados implementação do BIM em relação a
as ações de disseminação do BIM seus processos internos e relacionado
previstas em seu conteúdo, assim a outras organizações.
esses órgãos/entidades são O domínio BIM é composto por
responsáveis pelo desenvolvimento três campos de atividade interligados,
dos primeiros projetos piloto da mas distintos como demonstrado na
Estratégia Nacional de Disseminação Figura 1 a seguir: Tecnologia, Processo
do BIM. O Ministério da Defesa com as e Política. Cada um desses campos
ações executadas nos imóveis BIM tem seus próprios agentes e seus
jurisdicionados à Força Aérea intérpretes.
Brasileira, é o estudo de caso dessa
pesquisa.

174
FIGURA 1 – TRÊS CAMPOS INTERLIGADOS nível de maturidade BIM da
DE ATIVIDADES BIM.
organização como pode ser observado
na Figura 2, em que a organização
pontua conforme seu nível de
maturidade.

FIGURA 2 – ESQUEMA CLASSIFICATÓRIO


DE NÍVEL DE MATURIDADE.

NÍVEL NOME DO NÍVEL CLASSIFICAÇÃO TEXTUAL CLASSIFICAÇÃO NUMÉRICA


A Inicial Baixa maturidade 0-19%
B Definido Média-baixa maturidade 10-39%
C Gerenciado Média maturidade 40-59%
D Integrado Média-alta maturidade 60-79%
E Otimizado Alta maturidade 80-100%

FONTE: SUCCAR (2009) ADAPTADO E FONTE: SUCCAR (2009), ADAPTADO E


TRADUZIDO PELA AUTORA.
TRADUZIDO PELA AUTORA.

A metodologia de avaliação de IV – ESTUDO DE CASO


Succar (2009) consolida-se na Matriz
de Maturidade BIM, BIM Maturity Matrix O pesquisador Bilal Succar
nominada pelo autor com a sigla (2009)A edição da Instrução do
(BIm3), descrita por Succar (2009), Comando da Aeronáutica (ICA) 85-
como uma “ferramenta de 17/2019 para o Programa de
conhecimento que incorpora muitos Disseminação do BIM no âmbito do
componentes da metodologia do BIM Comando da Aeronáutica (COMAER),
com o objetivo de medir e melhorar o do dia 28 de fevereiro de 2019, e o
desempenho do BIM. Tanto sua Manual de Comando da Aeronáutica
estrutura como seu conteúdo se (MCA) 86-1 “Manual de Modelagem
beneficiaram de modelos de BIM – BIM Mandate”, que tem como
maturidade e de excelência testados objetivo apresentar as regras sobre a
com o tempo”. organização das informações, os
Com base nos passos a serem processos e ações de uso da
atingidos por uma organização na metodologia BIM para as benfeitorias
implementação progressiva do BIM em da Força Aérea Brasileira (FAB), de
seus projetos, (Succar, 2009) modo a fornecer orientações e
desenvolveu o Índice de Maturidade subsídios para os profissionais de
sendo uma maneira de mensurar o engenharia e arquitetura das diferentes

175
unidades da FAB, servirão como relevantes para o desenvolvimento
diretrizes e auxiliarão no urbano dos locais em que atuam, suas
desenvolvimento deste trabalho. ligações seguem detalhadas no Quadro
O BIM Mandate também define I.
as regras necessárias para a gestão do
QUADRO I - SÍNTESE DA ATRIBUIÇÃO DAS
acervo técnico da FAB, através da ORGANIZAÇÕES.
criação de bibliotecas de templates,
famílias e showrooms e de repositórios

CO-DCTA CFIAe
Por meio da construção de unidades habitacionais em polos urbanos coopera com o
planejamento urbano nas áreas selecionadas para expansão populacional na região.

de projetos em BIM em um ambiente Mediante a entrega de diversas obras, colabora diretamente com a evolução dos projetos
propostos, verificando o atendimento aos padrões construtivos planejados garantindo que
todos os requisitos, lições aprendidas e resultados serão compartilhados entre as organizações
digital único. Com isso, espera-se dar militares.
Através do desenvolvimento de projetos de engenharia e arquitetura contribui para

CEPE
condições de disseminação do BIM desenvolvimento de espaços urbanos, atualmente desenvolve extensa bases de dados de
diversas regiões do país contribuindo para interoperabilidade de informações nas diversas
organizações da instituição.
para seus diversos elos. FONTE: AUTORA (2023).

A etapa inicial do processo


metodológico consistiu na seleção das A primeira matriz foi gerada
organizações militares nas quais o baseada nas percepções dos
estudo de caso seria aplicado. Feito integrantes do CEPE, obteve-se o grau
isso, identificou-se quais setores do de maturidade 25 com a média
órgão, a adoção BIM estava em aritmética da pontuação de todas as
desenvolvimento e ainda quais áreas (estágio, escala e subdivisões de
estavam dispostos a se submeter à tecnologia, processos e políticas).
pesquisa. Chegou-se ao índice de
As organizações militares maturidade 50%, calculando-se a
selecionadas são referidas no quadro porcentagem do grau de maturidade
abaixo, é possível compreender que tal em relação a 50; que corresponde à
seleção se justifica por serem elos pontuação máxima que se pode ser
representativos e atuantes no atribuída a cada uma das áreas. Tendo
desenvolvimento de projetos, o índice de maturidade (50%) foi
acompanhamentos e fiscalização de possível chegar ao nível de maturidade
obras e contratação de empresas para da implementação BIM. Aplicou-se
execução indireta de obras e serviços esse percentual resultante ao esquema
de engenharia e percursoras na classificatório, desta forma, chegou-se
disseminação da tecnologia BIM, suas à maturidade da implementação BIM, a
ações e atividades voltadas para nível operacional: nível de maturidade
implantação e geração de dados

176
C – gerenciado, que corresponde a capacidades em BIM, para o estágio de
uma média maturidade. integração e para a escala
Ao mesmo procedimento organizacional macro. Esses dois
descrito no início deste subitem, foram últimos foram definidos pela autora, o
submetidos os dados do CO-DCTA Estágio 3, de acordo com Succar
gerando um grau de maturidade de (2019) define a integração baseada em
36,70; índice de maturidade 73% e rede, explana sobre o intercâmbio
definindo a maturidade da simultâneo e interdisciplinas de
implementação BIM, a nível D – modelos através de ciclos de vida da
integrado, que corresponde a uma edificação, já a escala macro propõe
média-alta maturidade. A avaliação do dinâmicas e entregáveis em BIM,
nível de maturidade para o conjunto de seguindo a escala organizacional, com
capacidades em BIM foi definida para o alto detalhamento e mercados chaves
estágio de integração e uma escala definidos ela estabelece que o mercado
organizacional meso. pode ser estabelecido
Da mesma maneira, foram geograficamente, geopoliticamente ou
apresentados os dados advindos da com o resultado de acordos com
pesquisa realizada na CFIAe. Gerando objetivos similares.
um grau de maturidade de 18,30; índice Obtidos e discutidos os
de maturidade 37% e definindo a resultados dessas investigações,
maturidade da implementação BIM que passa-se a discussão da relação entre
atua no acompanhamento de obras, a nível de maturidade da implementação
nível B – definido, que corresponde a BIM e das propostas pré-estabelecidas
uma média-baixa maturidade. A pelo Decreto n⁰ 10.306. Uma forma de
avaliação do nível de maturidade para relacionar às duas informações é
o conjunto de capacidades em BIM foi comparação das etapas atuais com o
definida para o estágio de modelagem tempo determinado para cada fase do
e uma escala organizacional micro. processo. Com esse fim observamos o
comparativo da primeira fase no
Após a análise nas organizações Quadro II a seguir.
selecionadas, foi possível obter o grau
QUADRO II - COMPARATIVO DECRETO N⁰
de implementação BIM na Força Aérea
10.306 E AÇÕES NA FAB.
Brasileira, a avaliação do nível de
maturidade para o conjunto de

177
prática como das unidades observadas,
PRIMEIRA FASE - A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2022.
DECRETO AERONÁUTICA
Projetos dos Próprio Nacional Residencial PNR de Anápolis-
A elaboração dos modelos de arquitetura e dos modelos de
GO e de Santa Cruz-RJ, sede da unidade do CEPE em São

por ser a mais recente em ações de


engenharia referentes às disciplinas de: estruturas, instalações
José dos Campos-SP CEPE.
hidráulicas, instalações de aquecimento, ventilação e ar-
Projeto do Residencial Estrela do Bosque em Sulacap-RJ
condicionado e instalações elétricas.
CFIAe.

implementação é coerente o menor


A detecção de interferências físicas e funcionais entre as diversas
Projetos dos Próprio Nacional Residencial (PNR) de Anápolis-
disciplinas e a revisão dos modelos de arquitetura e engenharia,
GO e Santa Cruz-RJ (CEPE).
de modo a compatibilizá-los entre si.
Orçamento da nova sede do CEPE em São José dos Campos-

grau obtido.
A extração de quantitativos.
SP (CEPE).
Projetos dos Próprio Nacional Residencial PNR de Anápolis-
GO e de Santa Cruz-RJ, sede da unidade do CEPE em São
A geração de documentação gráfica extraída dos modelos a que
se refere este inciso.
José dos Campos-SP CEPE.
Projeto do Residencial Estrela do Bosque em Sulacap-RJ Os resultados obtidos com maior
CFIAe.
SEGUNDA FASE - A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2024.
DECRETO
Os usos previstos na primeira fase.
AERONÁUTICA
Em andamento conforme ações mencionadas na primeira fase.
pontuação foram alcançados na CO-
Execução do alojamento H8 do Instituto de Tecnologia da
A orçamentação, o planejamento e o controle da execução de
obras.
Aeronáutica (ITA) em em São José dos Campos-SP (CO-
DCTA). DCTA, unidade que tem o objetivo
A atualização do modelo e de suas informações como construído
(as built), para obras cujos projetos de arquitetura e engenharia
tenham sido realizados ou executados com aplicação do BIM.
Não iniciado.
principal a execução de obras. Posto
FONTE: AUTORA (2023). isso seu grau de envolvimento com a
tecnologia BIM compreende o
V – RESULTADOS E ANÁLISES gerenciamento do fluxo de trabalho,
coordenação das atividades entre as
A aplicação do modelo de equipes, verificação da conformidade
maturidade proposto por Succar do trabalho realizado com o projeto e a
mostrou-se viável mesmo em um garantia da qualidade da obra.
contexto específico como organizações Como nesse contexto, o BIM é
militares reduzidas em diferentes considerado uma inovação e o CEPE
estados da região sudeste, o Quadro III foi uma das primeiras organizações a
expõe de forma resumida os graus adotá-lo de forma sistematizada no
obtidos em cada organização. órgão é compreensível o seu grau de
implementação mais avançado, além
QUADRO III - NÍVEIS DE MATURIDADE
ATINGIDOS. do tempo de utilização da tecnologia a
organização também foi responsável
FONTE: AUTORA (2023). por criar diretrizes como do BIM
A disparidade apresentada entre Mandate.
as três análises regionais, pode ser
atribuída a não experiência prática por No que se refere ao andamento
parte de todas as organizações e a das ações determinadas pelo Decreto
recente implementação na CFIAe, a n⁰ 10.306 a organização demonstrou
ORGANIZAÇÃO NÍVEL ATINGIDO CLASSIFICAÇÃO TEXTUTAL
FAB C - Gerenciado média maturidade
um andamento benéfico com as ações
CEPE C - Gerenciado média maturidade
CO-DCTA D - Integrado média-alta maturidade
propostas pré-estabelecidas.
CFIAe B - Definido média-baixa maturidade
VI - CONCLUSÃO
unidade possui bagagem teórica,
porém menor vivência em situação

178
O objetivo geral e específicos alcançar maior qualidade durante a
foram atingidos, a partir da execução das ações.
determinação do nível de maturidade
da implementação BIM através de REFERÊNCIAS
estudo de caso nas unidades CEPE, BRASIL. Presidência da República.
CO-DCTA, CFIAe e a verificação da Constituição (1988). Emenda
constitucional nº 19. Diário Oficial da
relação entre o nível de maturidade União, Brasília, DF, 5 jun 1998.
atual das organizações e as estratégias
BRASIL. Ministério da Defesa.
estabelecidas pelo Decreto n⁰ 10.306, Comando da Aeronáutica. ICA 85-17 –
de 2 de abril de 2020. Instrução do Comando da
Aeronáutica. “Programa de
Foi possível observar uma Disseminação do BIM no âmbito do
mudança notória durante a pesquisa, a COMAER”. Portaria EMAER Nº
11/4SC, de 28 de fev de 2019.
readequação do ambiente de trabalho
com a aquisição de equipamentos e BRASIL. Ministério da Defesa.
Comando da Aeronáutica. MCA 86-
licenças para atender às necessidades 1/2021 - Manual do Comando da
de infraestrutura tecnológica, com o Aeronáutica. “Manual De Modelagem
BIM – BIM Mandate”. Portaria
objetivo de cumprir os objetivos de DIRINFRA Nº 38/ANCN, de 7 de dez de
disseminação do BIM e aumentar o 2021.
espaço para realização do acesso SUCCAR, Bilal. Handbook of Research
comum de dados. on Building Information Modeling and
Construction Informatics: Concepts and
A instituição tem se dedicado a Technologies. In: Research on
estudar e definir procedimentos Building Information Modelling and
Construction Informatics: Concepts
jurídicos para a contratação de projetos and Technologies p.65-103. Austrália:
utilizando a metodologia BIM no futuro. IGI Publishing, November 2010.
O processo de implementação da SUCCAR, Bilal. BIM Maturity Index.
metodologia BIM na Aeronáutica 2013. Disponível em: <
https://www.bimframework.info/2013/12/b
poderá ser avaliado continuamente im-maturity-index.html >. Acessado em
para permitir ajustes e evitar revisões e 18 de janeiro de 2022.
retrabalhos nas análises de projetos, LEITÃO, C. T. Analisando a
controlar efetivamente o tempo de Implementação do BIM na Força Aérea
Brasileira: Resultados e Implicações.
execução das obras, reduzir Dissertação (Mestrado em Engenharia
significativamente termos aditivos de Urbana). Universidade Federal do Rio
de Janeiro. 2023.
metas e prazos dos contratos e mudar
paradigmas no setor, com o objetivo de AUTOR

179
A Ten Tasca concluiu o QOCON em
2021. Possui mestrado em Engenharia
Urbana pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), pós-graduação
em Gerenciamento de Projetos (2020)
e Engenharia de Produção (2021), e
MBA em Orçamento, Planejamento e
Controle na Construção Civil (2021).
Atualmente é Adjunta da Seção de
Fiscalização da Caixa de
Financiamento Imobiliário da
Aeronáutica (CFIAe).

Contato: tascactl@fab.mil.br
(21) 96672-1852.

180
181

Você também pode gostar