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Instituto de Pós-Graduação e Graduação

Curso de Graduação em Direito

A Constitucionalização das Relações Internacionais e seus Efeitos na


Condução da Política Externa Brasileira no Período de 2019 a 2022.

Artigo Científico apresentado


como requisito parcial para conclusão
do Curso de Direito.

Discente Apoena França Albano Silva


Orientador Prof. Me Adriano Henrique de Oliveira Afonso

Goiânia – GO
2023
A Constitucionalização das Relações Internacionais e seus Efeitos na
Condução da Política Externa Brasileira no Período de 2019 a 2022.

The Constitutionalization of International Relations and its Effects on the


Conduct of Brazilian Foreign Policy in the Period from 2019 to 2022.

Apoena França Albano Silva


Orientadores: Prof. Me. Adriano Henrique de Oliveira Afonso
Prof. Me. Frederico Oliveira da Paixão

RESUMO

Este artigo é um estudo acerca da Constitucionalização das Relações Internacionais e seus


Efeitos na Condução da Política Externa Brasileira no Período de 2019 a 2022. Tem como
objetivo apresentar os princípios que regem as relações internacionais da República
Federativa do Brasil, elencados no Art. 4º da Constituição Federal, bem como, elucidar se
no período acima retratado o governo Bolsonaro, proferiu a governança da política externa
brasileira de acordo com os princípios constitucionais. Como metodologia foi utilizada uma
pesquisa aplicada, exploratória e qualitativa, cujos resultados demonstraram a ruptura da
política externa brasileira no período de 2019/2022, produzindo um isolamento internacional
do Brasil, assumindo posição de pária internacional.

Palavras chave: Princípios Constitucionais, Política Externa, Governo Bolsonaro.

ABSTRACT

This article is a study about the Constitutionalization of International Relations and its Effects
on the Conduct of Brazilian Foreign Policy in the Period from 2019 to 2022. It aims to present
the principles that govern the international relations of the Federative Republic of Brazil, listed
in Art. 4 of the Federal Constitution, as well as to elucidate whether in the period portrayed
above the Bolsonaro government, delivered the governance of Brazilian foreign policy in
accordance with constitutional principles. As a methodology, an applied, exploratory and
qualitative research was used, whose results demonstrated the rupture of Brazilian foreign
policy in the period 2019/2022, producing an international isolation of Brazil, assuming a
position of international pariah.

Key- words: Constitutional Principles, Foreign Policy, Bolsonaro Government


1. INTRODUÇÃO

O mundo pós segunda guerra mundial buscou normatizar um conjunto de


valores e princípios, cujo principal objetivo, era estabelecer uma conduta das
relações internacionais entre os Estados.
Tal movimento possibilitou positivar na Constituição Federal brasileira de 1988,
os princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do
Brasil, produzindo diretamente efeitos na condução de sua política externa.
Sendo assim, este artigo visou estudar, analisar e compreender a
constitucionalização das relações internacionais no Brasil, bem como seus
efeitos, produzindo ao final crítica à condução da política externa brasileira (PEB)
no governo Bolsonaro.
Desta forma, este trabalho focaliza três aspectos do tema: princípios como
fundamentação jurídica; princípios constitucionais das relações internacionais;
além da condução e governança da política externa brasileira que compreende
o período de 2019 a 2022.
Entende-se que os princípios constitucionais são essenciais para o ordenamento
jurídico brasileiro, pois trazem fundamento com a devida interpretação da norma
jurídica. Deste modo, o estudo busca primeiramente apresentar o conceito de
tais princípios, determinando seu entendimento como fundamento jurídico.
Na sequência, o presente artigo busca apresentar os princípios das relações
internacionais dispostos no Art. 4º da Constituição Federal de 88, bem como,
traz a devida compreensão de cada princípio.
Princípios estes que foram sendo formalizados ao longo dos tempos, através de
tratados internacionais como o Tratado de Paz de Westfália, como também por
meio de acordos e convenções internacionais.
Não obstante, este estudo, procura dirimir as dimensões que perfazem a política
externa, para depois retratar a condução e governança da política externa
brasileira no período de 2019 a 2022.
Isto posto, entende-se que o objetivo central do presente artigo, é verificar se a
Política Externa do Brasil (PEB) neste período de 2019 a 2022, guiou-se pelos
Princípios que regem as Relações Internacionais codificados no Texto
Constitucional Brasileiro, ou se afastou de tais princípios e valores internacionais
determinados na Constituição.
Portanto, buscou-se realizar estudo teórico do texto constitucional, bem como
destacar o entendimento doutrinário e jurisprudencial do Brasil, acerca dos
Princípios Fundamentais destacados no Art. 4º da Constituição Federal, de
forma a esclarecer seus efeitos na conduta da Política Externa Brasileira (PEB).
Nesse ínterim identificou-se as condutas adotadas no período de 2019 a 2022 à
PEB, dissonantes do texto constitucional, elaborando uma crítica frente à política
externa adotada à época.
Vale ressaltar que Estado é uma organização política que tem na Constituição
sua maior expressão de existência. Sua finalidade é promover o bem comum do
povo que se encontra num dado território. Para a proteção desses valores
fundamentais, as normas constitucionais são padrões jurídicos que se impõem
ao próprio Estado, bem como aos seus Governantes e aos seus Governados.
Desse modo, os princípios fundamentais estabelecidos numa Constituição
determinam o modo e a forma de ser do Estado.
Logo, entende-se que a norma constitucional pode direcionar ou delimitar a
forma com que o Estado empreende suas ações, bem como, o modo como se
relaciona com o mundo, e até mesmo, na forma como conduz sua própria política
externa.
Podemos evidenciar por exemplo, que é através das Relações Internacionais
que os Estados promovem determinados Tratados, que nada mais é que um
acordo escrito formal e juridicamente vinculativo entre atores do direito
internacional. Firmado entre pessoas jurídicas de Direito Internacional Público,
tem por finalidade a produção de efeitos jurídicos.
Por consequência, é importante evidenciar a forma como o texto constitucional
e seus princípios influenciam a condução de suas politicas, bem como, se a
norma jurídica estabelecida impõe caráter taxativo ou apenas exemplificativo ao
operador da política externa, pois a mesma pode induzir diretamente na
condução e no modo com que o Estado irá se relacionar, tanto com a sociedade
brasileira, quanto com à comunidade internacional.
Além disso, torna-se importante saber se a constitucionalização das relações
internacionais no contexto brasileiro, tem determinado o papel que o Estado tem
desempenhado frente à sua governança internacional.
Partindo do entendimento que os princípios constituem a base do sistema
jurídico, e que com o passar do tempo, deixaram de ser simples orientações para
se tornarem, comandos dotados de efetividade e juridicidade, é possível afirmar
que o caráter principiológico da norma constitucional se estabelece como
referencial para a condução da política externa brasileira.
Isto é, os princípios constantes do Art. 4º da Constituição Federal do Brasil, no
sentido estrito da norma jurídica, têm produzido efeitos, e ao mesmo tempo,
orientado o Estado brasileiro na forma de conduzir sua política externa?
Em que pese o entendimento do ponto de vista principiológico das orientações
da Constituição Federal, no que tange às relações internacionais, sirvam como
guia, diante dos valores constitucionais determinados pelo constituinte, no
período de 2019 a 2022 percebe-se um afastamento dos comandos
constitucionais.
Desta maneira, importa afirmar que os princípios que regem as relações
internacionais, codificados no texto constitucional brasileiro de 1988, em seu
Art.4º, estão listados como rol exemplificativo, conforme preconiza a
Constituição, e que embora o rol seja passível de interpretação, tais princípios
possuem força normativa capaz de influenciar na condução da Política Exterior.
Sendo assim, é válido salientar que o constituinte, ao fazer a previsão legal dos
princípios na carta maior, não somente objetivou apresenta-los como guia
exemplificativo, mas sim determinar tais valores como norma coativa a serem
cumpridos pelo executivo, em sua governança internacional.
Ressalta-se ainda que a Constituição apresenta a possibilidade de recepcionar
possíveis novos entendimentos e princípios, constituídos em Tratados
Internacionais do qual o Brasil seja parte, como preconiza em seu Art. 5º §2º.
No presente trabalho, portanto, será avaliada a condução da política externa
brasileira em potencial conflito com os valores previstos no Art. 4º da
Constituição Federal de 1988.
Por fim, objetiva-se formar crítica à direção que o governo dispensou às relações
internacionais do Brasil, no período de 2019 a 2022, frente à nova ordem
mundial.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Princípios – Fundamentação Jurídica

A Constituição Federal de 1988, dirime em seu artigo 4º, os princípios que regem
as relações internacionais da República Federativa do Brasil, como podemos
observar abaixo, in verbis:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações. (Trecho extraído da
Constituição Federal Brasileira, Título I, dos Princípios
Fundamentais).

Baseado nesse entendimento constitucional, entende-se que constituinte


brasileiro, formulador da Constituição, em observância com os princípios
norteadores da ordem internacional vigente à época, buscou imprimir na lei
maior, princípios fundamentais para a governança das relações exteriores do
Brasil, bem como, dirimir os valores que deveriam orientar sua política externa
brasileira.
Miguel Reale, exímio doutrinador do Direito brasileiro, aduz que "princípios são
enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a
compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e integração ou mesmo para
a elaboração de novas normas" (2003, P37). Logo, entende-se que o princípio é
o fundamento da norma jurídica.
Sendo assim, observa-se que os princípios informam, orientam e inspiram regras
gerais, devendo ser observados não somente na criação da norma, mas na sua
interpretação e na sua aplicação, visto que sistematizam e dão origem a
institutos legais.
Ou seja, os Princípios fornecem diretrizes que embasam uma ciência e visam a
sua correta compreensão e interpretação.
Já o doutrinador Silvio Venosa, exprime que “por meio dos princípios, o intérprete
investiga o pensamento mais elevado da cultura jurídica universal, buscando
orientação geral do pensamento jurídico.”
Deste modo, entende-se que violar um princípio torna-se ainda mais grave, que
o próprio descumprimento de determinada regra, já que infringe o próprio
ordenamento jurídico, ora concebido baseado nos princípios e valores gerais.
Celso Antônio Bandeira de Mello, em relação aos princípios fundamentais,
expressa que tais princípios “são os valores nucleares do sistema constitucional,
pois possuem as funções de estruturar o ordenamento jurídico, conferir
coerência e lógica ao sistema, nortear a interpretação normativa e subsidiar as
lacunas jurídicas” (MELLO, 2014, p. 54).
Portanto, deduz-se que o conjunto de princípios elencados no Art.4º da
Constituição (CF/88), contém especificidade normativa, e sua correta
interpretação, dirimem os valores constitucionais que devem reger as relações
internacionais da República Federativa do Brasil.
Enquanto as Constituições brasileiras de 1824, 1934 e 1937 limitaram-se a tratar
apenas do princípio da soberania ou independência nas relações internacionais,
a Constituição de 1988, sistematizou uma série de princípios que regem as
relações internacionais do Brasil.
O artigo 4º da Constituição Federal de 1988 trouxe uma inovação importante em
relação às constituições brasileiras anteriores pois listou dez incisos e seu
parágrafo único explicitando valores e a tradição brasileira nas suas relações
com outros Estados.
Diante desta compreensão, é válido ressaltar que ao longo dos anos, os
princípios constitucionais formataram o ideário e a forma de atuação da
diplomacia brasileira.
Segundo Rubens Ricupero, advogado e diplomata brasileiro, “a diplomacia teve
papel fundamental em moldar a identidade brasileira no cenário internacional,
por ter sido instrumento de formação do território e ter contribuído, ao longo do
tempo, para a definição de uma ideia de país pacífico, satisfeito territorialmente,
moderado, apegado ao direito e à negociação como forma de defender seus
interesses” (2017, P25).
Assim sendo, revela-se importante destacar que os princípios adotados no texto
constitucional, em consonância com a ordem internacional estabelecida pós
segunda guerra mundial, possibilitaram delinear a condução da política externa
brasileira e a forma de atuação da diplomacia pátria, pois imprimiu um conjunto
de valores capazes de estabelecer uma imagem harmônica à do sistema
internacional vigente.

2.2 Princípios Constitucionais das Relações Internacionais

Como já observado, o Art. 4º da Constituição Federal dedicou-se a estabelecer


os princípios regentes das Relações Internacionais frente à República Federativa
do Brasil.
Consequentemente, cada princípio positivado, trouxe consigo um conjunto de
interpretações acerca dos temas destacados, que formataram ao longo dos anos
o pensamento diplomático brasileiro.
O Art. 4º da CF/88 em seu inciso inicial, traz a independência nacional como
ideia de soberania, destacando a qualidade suprema do poder do Estado. Para
Miguel Reale, esta soberania se baseia no “poder de se organizar juridicamente,
fazendo valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos
limites dos fins éticos de convivência”.
Tal princípio, trouxe consigo a capacidade de relacionar entre os Estados, e por
fim construir uma coexistência pacífica entre os mesmos, estando assim em
sintonia com o artigo 1º da Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e
Deveres dos Estados de 1933, onde se observa que o Estado como pessoa de
Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos: população permanente;
território determinado; governo; e capacidade de entrar em relações com os
demais Estados.
Já o princípio da prevalência dos direitos humanos traz consigo a compreensão
de que dignidade da pessoa humana, com todos os direitos humanos dela
decorrentes, deve também orientar a atuação do Estado brasileiro no âmbito
internacional, de forma a respeitar e a contribuir na promoção dos direitos
humanos de todos os povos, independentemente de suas nacionalidades.
Ou seja, a República Federativa do Brasil, se compromete com o parágrafo
primeiro do preâmbulo da Carta de São Francisco da Organização das Nações
Unidas (1945), de maneira a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem,
da dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e
das mulheres, assim como das nações.
No que tange ao princípio da autodeterminação dos povos, entende-se que tal
princípio confere aos povos o direito de autogoverno e de decidirem livremente
a sua situação política, bem como aos Estados o direito de defender a sua
existência e condição de independente.
Logo, a política externa brasileira deve se pautar pelo combate a todas as formas
de opressão aos povos, assim como o respeito à soberania dos novos Estados
que se libertam das dominações ainda existentes, consoante ao que preconiza
o Art. 1º § 2º da Carta de São Francisco da ONU (1945), que expressa ser
preciso “desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito
ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar
outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal”.
Adiante, o princípio da não intervenção, inciso IV do Art.4º da CF88, reflete o
princípio westfaliano de respeito à soberania dos Estados, nas relações internas
e externas.
O Tratado de Paz de Westfália (1648) dirimiu importantes princípios, destacando
entre eles a soberania dos Estados, a não ingerência nos assuntos internos de
outros Estados, a igualdade dos Estados em direitos e obrigações, e por fim o
respeito pelos compromissos internacionais através da Pacta Sunt Servanda.
Princípios estes, norteadores das relações internacionais.
É valido salientar que a Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos)
de 1948 — vigente no Brasil por força do Decreto nº 30544/1958 — recepciona
o princípio da não intervenção e o define de maneira bastante cristalina:

“Artigo 19: nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de


intervir, direta ou indiretamente, seja qual for o motivo, nos
assuntos internos ou externos de qualquer outro. Esse princípio
exclui não somente a força armada, mas também qualquer outra
forma de interferência ou de tendência atentatória à
personalidade do Estado e dos elementos políticos, econômicos
e culturais que o constituem.”
Sucessivamente, o princípio da igualdade entre os Estados abarca o ideário de
soberania e autodeterminação dos povos, buscando dirimir o respeito mútuo
entre os Estados, tendo o entendimento reiterando que todos são da mesma
forma, soberanos nas relações internacionais.
É igualmente o que norteia Declaração sobre os Princípios do Direito
Internacional Relativos às Relações Amistosas e à Cooperação entre Estados,
em conformidade com a Carta das Nações Unidas.
No que se refere ao princípio da defesa da paz, destaca-se o princípio que talvez
maior defina a tradição diplomática brasileira, cujo objetivo principal seja a
manutenção da paz e segurança internacional.
Para tanto, há de se haver um esforço coletivo de modo a promover medidas
efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou ruptura da
paz.
Já o princípio da solução pacífica de conflitos tem por objetivo a busca de
resoluções de controvérsias de forma pacífica em sintonia com os princípios de
justiça, se utilizando de mediadores internacionais, através de organismos
internacionais e entidades multilaterais.
Na sequência, o inciso VII do Art. 4º da CF88, positiva o princípio do repúdio ao
racismo nas relações internacionais diz respeito a promover a eliminação de
todas as formas de discriminação racial nas relações internacionais.
Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade é o nono princípio,
presente no artigo quarto da Constituição de 1988, que rege a ação do Brasil em
suas relações internacionais. A efetivação desse princípio se dá por meio de
iniciativas de cooperação técnica ou financeira.
A cooperação financeira internacional baseia-se primordialmente na
transferência monetária. Todavia, a cooperação técnica internacional consiste
no intercâmbio de conhecimentos, metodologias, boas práticas e experiências
com conteúdo técnico que possam ser sistematizados e disseminados, além de
adequados às características específicas a cada país, com o objetivo de
alavancar o desenvolvimento dos países receptores da cooperação.
O princípio seguinte, concessão de asilo político, não é apenas um dispositivo
constitucional, uma vez que suas raízes são muito mais profundas. De fato, trata-
se de uma garantia consagrada pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos em seu artigo XIV:

Artigo 14°
1.Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de
procurar e de beneficiar de asilo em outros países.

A sua relevância se dá ao fato de que é um princípio atrelado a outros direitos


essenciais, tais como a liberdade, proteção à vida, além de garantir ao indivíduo
segurança em tempos de perseguição.
Estas são características de um Estado Democrático de Direito. Portanto,
conceder asilo é um ato inerente à democracia.
Vale ressaltar que, existem duas exceções à concessão de asilo: quando o
requerente é réu em processo de crime comum ou por atos contrários aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.
Por fim, no Art. 4º da CF88, em seu parágrafo único, dispõe que: “a República
Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.”
Deste modo, importa o entendimento de que a partir da promulgação da CF de
1988, a política externa passa ao status de instrumento governamental para
alcançar os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, tendo em
seus princípios, os valores norteadores na promoção de suas relações
internacionais.

2.3 Condução e Governança da Política Externa Brasileira no Período


de 2019 a 2022.

A política externa possui ao menos três dimensões, sendo elas: a dimensão da


representação, a dimensão da gestão e a dimensão do controle. Cabe ao
Executivo Federal, as dimensões de representação e gestão, restando a
dimensão do controle ao Legislativo (Congresso). De modo que o presente artigo
se limitará às dimensões de representação e gestão relacionadas ao Executivo.
Diante das características do sistema internacional, e das dimensões analisadas,
urge o debate acerca de três grandes contextos diplomáticos e três grandes
campos de atuação.
Todavia, é importante ressaltar que os contextos diplomáticos destacados são,
respectivamente, o das grandes potências, o regional e o contíguo. Enquanto os
campos de atuação referem-se ao da paz, o econômico e o dos valores.
O contexto das grandes potências, é o daqueles países que, pelo poder que
detêm, buscam estabelecer os parâmetros estruturadores da ordem mundial. Já
o contexto regional é aquele que provém dos inter-relacionamentos que ocorrem
entre países que compartilham uma mesma área geográfica. Neste caso, a
América Latina. Por fim, o contexto contíguo, é o que diz respeito à interação
entre países que têm fronteiras em comum.
Deste modo, quando analisamos a governança e a representação da política
externa brasileira, no período 2019/2022, evidencia-se a baixa efetividade no
que tange à capacidade de produzir resultados concretos para o país, bem
como, torna-se notório, no período acima destacado, a violação dos vários
princípios constitucionais regentes das relações internacionais.
Observa-se desde então, uma atuação personalista da Presidência da República
frente à política externa brasileira, associada com uma forte pauta ideológica
consubstanciada pelo populismo extremista de direita, marcando tal período,
com pouca eficiência de atuação.
No que diz respeito ao contexto das grandes potências, exprime-se dizer que a
política externa brasileira do governo Bolsonaro, optou num primeiro momento,
a um alinhamento automático com os Estados Unidos sob a regência de Donald
Trump, o ficou evidente em sua visita oficial aos Estados Unidos, logo no início
de seu governo, no dia 19 de março de 2019, onde inclusive foi celebrado a
concessão da Base de Alcântara.
O mesmo alinhamento, aconteceu a Israel de Benjamin Netanyahu, tendo
inclusive o líder israelense participado de sua posse em 1º de janeiro de 2019.
Importa salientar, que nos dois casos, o alinhamento se deu a dois grandes
países fabricantes de armas.
Para tanto, isolou-se das grandes potências europeias, reproduziu discurso
norte-americano de enfrentamento à China, e rechaçou os organismos
internacionais multilaterais, muitas vezes produzindo uma narrativa anti
globalismo, frente à comunidade internacional.
Nesse interim, por diversas vezes, foi possível identificar o desrespeito da atual
política externa no que tange ao princípio de não intervenção, onde se observou
ao longo dos vários anos, ingerências relacionadas aos assuntos internos dos
Estados.
Desde comentários preconceituosos produzidos pelo Presidente Bolsonaro,
referente à estética da primeira dama da França, em agosto de 2019, à conflitos
com vários organismos interacionais em relação ao meio ambiente e
principalmente à Amazônia no mesmo ano, percebeu-se uma falta de
capacidade de produzir da atual política externa brasileira um diálogo de
inserção na comunidade internacional, bem como, tornou-se evidente e
constante o não cumprimento dos princípios constitucionais que regem as
relações internacionais da República Federativa do Brasil.
Observando os aspectos de representação da PEB, no que se refere os
assuntos relacionados à paz, economia e valores, houveram em variados
períodos o rompimento da atual política externa com os princípios da prevalência
dos direitos humanos, principalmente no período da pandemia de Covid19 em
2020 e 2021; o desrespeito à não-intervenção dos Estados, como foi no casos
das eleições dos Estados Unidos, Israel, França, Argentina, Chile, Colômbia; à
defesa da paz de forma tardia, como no caso da guerra Rússia/Ucrânia, sendo
um dos últimos países e definir posicionamento contra a guerra, tendo admitido
anteriormente um posicionamento solidário a Rússia em fevereiro de 2022; a
falta de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, onde
gerou impasse frente ao reconhecimento no país dos refugiados vindos da
Venezuela em 2020; como também buscou uma não integração latina
americana, tanto no que diz respeito à área econômica, social, ambiental e
cultural, ao longo de seu mandato.
Importa salientar que, os princípios regentes das relações internacionais estão
estabelecidos na Constituição Federal, como rol exemplificativo. Rol
exemplificativo tem como premissa dar exemplo a um entendimento mais amplo
não se restringindo ao descrito no texto da lei.
Conforme estabelece o Art. 5º §2º da CF/88, os direitos e garantias expressos
na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.
Sendo assim, os princípios constitucionais das relações internacionais possuem
caráter exemplificativo. Entretanto, é valido ressaltar que tais princípios se
firmaram ao longo dos anos como valores da ordem internacional, garantindo à
diplomacia brasileira status internacional, por promover e difundir ideais
consoantes ao pensamento internacional.
Tal ruptura, gerou incontestes conflitos, e profundas cicatrizes no relacionamento
internacional da república brasileira com variados Estados Nações, não
legitimados pelo texto constitucional.
3. METODOLOGIA

Podemos ressaltar que importa à metodologia científica estudar os métodos se


utilizando de mecanismos e técnicas capazes de formular pesquisas de modo a
elaborar uma produção científica.
Lakatos e Marconi (2017) afirmam que a utilização de métodos científicos não é
exclusiva da ciência, sendo possível usá-los para a resolução de problemas do
cotidiano. Destacam que, por outro lado, não há ciência sem o emprego de
métodos científicos.
Deste modo, o presente estudo acadêmico apresenta uma série de
classificações metodológicas que seguem descritas abaixo.
Do ponto de vista de sua Natureza, classifica-se como pesquisa aplicada onde
o pesquisador busca orientação prática à solução imediata de problemas
concretos do cotidiano como observa Barros e Lehfeld (2014). De modo que, o
objetivo é gerar o conhecimento dos princípios constitucionais das relações
internacionais, dispostos no Art. 4º da Constituição Federal do Brasil, e como tais
princípios deveriam dirimir a política externa brasileira.
Quanto aos Objetivos, é classificado como uma pesquisa exploratória cujo
principal objetivo é explorar um problema, e assim fornecer informações para
uma investigação mais precisa. Ao se tratar de tema pouco estudado, nota-se
que a pesquisa exploratória é mais recomendada uma vez que considera
diversos aspectos de um problema ou situação. (CERVO; BEVIAN; DA SILVA,
2007). É o que se evidencia no presente estudo, visto que o tema foi pouco
explorado.
Já em relação à Abordagem do Problema, podemos classificar com uma
pesquisa qualitativa, que de acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 70) “O
processo e seu significado são os focos principais de abordagem.” Sendo assim,
vale salientar que foram realizados estudos do texto constitucional acerca dos
princípios das relações internacionais, e artigos científicos que corroboram com
o entendimento de que os princípios constitucionais das relações internacionais
devem nortear de forma exemplificativa a conduta da política externa do Brasil.
No que tange ao Procedimento, é classificado como pesquisa bibliográfica que
de acordo com Gil (2019, p. 44) “é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Logo,
entende-se que o estudo da relação dos princípios das relações internacionais
consubstanciado no Art. 4º da CF de 88 com a condução da política externa
brasileira, se apresenta como novo, embora existam artigos científicos e o
próprio estudo do texto constitucional que reforçam o entendimento de que os
princípios fundamentam de forma normativa os valores que orientam o
relacionamento internacional da República Federativa do Brasil.
4. RESULTADOS

O historiador Romero de Magalhães, face a alguns equívocos interpretativos da


história do Brasil, afirma lapidarmente que o que os portugueses descobriram
em 1500 não foi o Brasil, mas a ilha de Vera Cruz, Terra da Vera Cruz e seus
povos indígenas, e que só depois, e a partir daí, é que começou a construção do
Brasil.
Diante desta interpretação histórica, deve-se atentar-se que a construção do
ordenamento jurídico pátrio, no que tange aos princípios das relações
internacionais elencados no Art. 4º da Constituição Federal, também serviu
como instrumento da construção da identidade nacional, bem como, determinou
ao longo dos anos o posicionamento internacional da República Federativa do
Brasil, e suas relações internacionais, corroborando para o processo de
construção e formatação da nação brasileira.
Nesse sentido, a adoção destes princípios propiciou benefícios concretos à
população do país, respeitando normas internacionais, a exemplo dos Direitos
Humanos, como parte fundamental da interpretação da Constituição Federal
através do corpo diplomático do Itamaraty.
As normas estabelecidas no artigo 4º, por terem sólida estrutura jurídica, são
uma ferramenta que têm pautado a política do Estado brasileiro ao longo dos
anos, desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, e refletem a tradição
diplomática brasileira, antes mesmo desse período.
Importa salientar que não só nas relações internacionais, como também para
outros órgãos institucionais brasileiros, a conjuntura em que a Constituição
Federal foi formulada e promulgada.
Uma vez que se identifica no início do texto constitucional a forma de atuar do
Estado, embasada nos princípios da soberania, da cidadania, da dignidade da
pessoa humana, dos valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e do
pluralismo político. Sendo assim, verdadeiro marco legal, no que tange à
conquista e consolidação dos direitos fundamentais do Estado e,
respectivamente, dos brasileiros.
No que diz respeito às relações internacionais, a Constituição de 1988 definiu a
forma de atuar do corpo diplomático, seja nas diferentes áreas das relações
internacionais, tendo o devido reconhecimento dos organismos internacionais,
como a Organização das Nações Unidas.
Desta forma, entende-se que a política externa de um Estado pode ser delineada
através da atuação frente à comunidade internacional, não somente formada por
Estados/Nações, mas também, por organismos internacionais, empresas e
corporações, fazendo valer suas pretensões, sejam de demandas internas ou
externas.
Importa salientar no presente artigo, que fica claro no período 2019/2022, que o
governo Bolsonaro elegeu a política externa na contenda eleitoral contrariando
os princípios constitucionais contidos no artigo 4° da Constituição Federal
(VIDIGAL, 2021, p.139).
Sendo assim, exprime dizer que a política externa guiada pelos Chanceleres
Ernesto Araújo e Carlos França, solidificou uma mudança de orientação da
política externa brasileira, resultado da motivação ideológica conservadora
defendida por Bolsonaro, que promoveu desde críticas veladas a países como a
China em maio de 2021, ao tempo que produziu um alinhamento automático com
os Estados Unidos, e principalmente com o Presidente Donald Trump já em
2019, se aproximando ainda de países autoritários, xenófobos, como no caso de
Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita em outubro do mesmo ano.
Deste modo, o que se observou, foi que a política externa do governo Bolsonaro
passou a ser um mero campo para exercício ideológico, rompendo com as
premissas de elementares protocolos diplomáticos, isolando o Brasil do Sistema
Internacional.
Em seu artigo: Teoria, discurso e prática da política externa do governo
Bolsonaro: breves considerações, o internacionalista Dr. Gabriel Castro (2019,
p.6), aduz que “a política externa nas mãos de Bolsonaro serviu apenas, não
como uma ferramenta para a promoção do interesse público, mas sim, como um
instrumento de uso privado para a afirmação e fortalecimento do seu grupo
político.”
Jair Bolsonaro ao chegar à presidência da República em 2019, promoveu
diversas mudanças na trajetória da política externa brasileira.
Em seu discurso inaugural em janeiro de 2019, o ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, prometeu uma nova abordagem para a PEB.
Segundo Araújo, uma nova etapa estaria se iniciando, cuja base seria o combate
ao globalismo.
Notabiliza-se no período 2019/2022 assim, os vários rompimentos com os
princípios das relações internacionais do Brasil, elencados no texto
constitucional.
Podemos evidenciar que neste período, a política externa adotou uma
“estratégia do caos”, fomentando assim, discursos de ódio, ferindo a prevalência
dos direitos humanos, em diversos episódios.
No que tange ao princípio de não intervenção, demonstrou evidente nas várias
vezes que o Governo Bolsonaro optou por ignorar completamente o princípio
positivado na Constituição.
Podemos citar, por exemplo, no caso da Venezuela, quando o presidente da
Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se declarou presidente interino da
Venezuela, contando com o reconhecimento sem tardar dos americanos e de
outros países, entre eles o Brasil. Guaidó inclusive foi recebido por Bolsonaro no
Planalto, com pompas de chefe de estado, em fevereiro de 2019, e reconhecido
como autoridade presidencial pelo governo brasileiro, demonstrando clara
intervenção no problema exterior da Venezuela.
Outro exemplo, foi a quebra de tradição diplomática brasileira de apreço aos
organismos multilaterais com o voto a favor do embargo econômico, comercial e
financeiro a Cuba, durante a 74ª Sessão da Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas em Nova York, em 07 de novembro de 2019.
Indo assim, na contramão do Conselho de Direitos Humanos da ONU que
aprovou em 23 de março de 2021 uma resolução que condena os impactos das
medidas coercitivas unilaterais, ou seja, os embargos econômicos contra as
nações.
Em relação ao princípio de solução pacífica dos conflitos, e até mesmo ao
princípio de defesa da paz, houve evidente demonstração de alinhamento a
países autoritários de direita em diversos conflitos, como no caso de Israel, ao
tentar modificar a embaixada brasileira da cidade de Tel Aviv, para Jerusalém,
entre 2019 e 2021, alvo sistemático de conflitos entre israelitas e palestinos,
sofrendo assim alta crítica da comunidade internacional.
Episódios relacionados à discriminação de povos indígenas e originários,
também foi uma constante no decorrer do governo Bolsonaro, obstando em
várias vezes a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, e
produzindo falas com alto teor preconceituoso em muitas ocasiões.
O governo Bolsonaro assumiu posições antagônicas à comunidade internacional
no campo da proteção ambiental, o que gerou profundos desgastes em todo o
seus período de governo.
Menciona-se a negligência presidencial aos impactos de grandes desastres
ambientais: o rompimento da barragem da mineradora Vale na cidade de
Brumadinho em 2019, o vazamento de óleo por um extenso trecho do litoral
brasileiro entre agosto de 2019 e março de 2020, como também, o aumento dos
focos de incêndio e grilagem na Amazônia e no Pantanal no período de seu
governo.
Frente a estas e outras situações, observa-se também a desqualificação das
avaliações científicas por autoridades do governo. Em 2019, o Presidente
inclusive questionou a veracidade dos dados de desmatamento divulgados pelo
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) durante o seu governo e
desprezou os relatórios científicos do Painel Intergovernamental de Mudança do
Clima (IPCC).
Segundo o ex-Chanceler Araújo, o Brasil estaria sendo vítima de análises
ideologizadas sobre o meio ambiente, o que, segundo ele, caracteriza-se como
um “climatismo”, sendo esse um dos corolários ameaçantes do “globalismo”
(Teixeira, 2019).
Como consequência, se deu o rompimento de contratos do Fundo Amazônia e
indisposições públicas com diversos países, destacando-se a França e a Irlanda,
que declararam se opor ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o
Mercosul, devido à baixa capacidade do Brasil de cumprir a cláusula ambiental
(Unterstell, 2019).
Sendo assim, ao analisar o período 2019/2022, o que fica notório, é que o
governo Bolsonaro se propôs a uma articulação entre o negacionismo e o
isolacionismo sem pretensões de ocupar espaços em instituições multilaterais,
e produzir efeitos de relevância econômica para o país.
Fica explícito que no período de 2019/2022, há por parte do governo brasileiro
um rompimento com o conjunto principiológico constitucional, elencado no Art.
4º, bem como fica evidente o desrespeito aos princípios tanto no que tange à
efetividade da norma, como na sua correta interpretação e aplicação.
A consequência dessa governança exterior do governo Bolsonaro, foi atribuir à
República Federativa do Brasil o papel de “pária” internacional, chegando ao final
do período de 2022, num profundo isolamento internacional, e diretamente numa
não participação dos temas internacionais relevantes.
Resta cristalino, que os princípios das relações internacionais positivados na
Constituição Federal de 1988, colocaram o Brasil, numa posição de vanguarda
e respeito pela comunidade internacional.
É o que se observa por exemplo durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC), onde o cerne da política externa brasileira foi personalizado pela
“autonomia pela participação”.
Logo, Fernando Henrique buscou exercer sua política externa com autonomia,
todavia buscou se integrar ao sistema internacional.
O embaixador Luiz Felipe Lampreia, que foi também chanceler das relações
exteriores no período FHC, exprimiu que a autonomia viria sempre no sentido de
exercer uma “participação ativa na elaboração das normas e pautas da conduta
internacional, fornecendo assim, uma contribuição afirmativa engajada para
estabilidade e paz”, ou seja, em consonância com os princípios que regem a
relações internacionais do Brasil (Lampreia,1997, p.5).
Deste modo, é conclusivo dizer que a governança da política externa no período
de 2019/2022, foi de afastamento dos comandos constitucionais, produzindo
efeitos sobre a inserção do Brasil, no sistema internacional.
Tal contrariedade à norma principiológica, não permitiu avanço significativo nas
áreas econômicas, tampouco, gerou parcerias e acordos internacionais
importantes ao país. Apenas reforçou o caráter ideológico e eleitoral do governo
Bolsonaro, que se utilizou da política externa para imprimir uma marca na sua
política interior do Brasil.
Por fim, entende-se que os princípios que regem as relações internacionais,
estabelecidos no texto constitucional são instrumento de relevância importância,
pois além de acompanhar os avanços da comunidade internacional, propiciam
um diálogo permanente capaz de influenciar na participação do sistema
internacional.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inserção na Constituição brasileira dos princípios que norteiam as relações


internacionais demonstra que o Brasil é um participante ativo na construção da
ordem internacional, buscando tornar a sociedade mais justa e equitativa. Esses
princípios constitucionais que governam as relações internacionais servem de
supedâneo à hermenêutica constitucional.
Observa-se que a ordem constitucional e a ordem internacional estão em
harmonia, pois os princípios traçados na ordem interna estão em sintonia com
os princípios estabelecidos no sistema das Nações Unidas.
Neste artigo, buscamos abordar a formatação da Constitucionalização das
Relações Internacionais e seus Efeitos na Condução da Política Externa
Brasileira no Período de 2019 a 2022.
Destacamos o papel principiológico no que tange ao ordenamento jurídico
nacional, bem como, dirimimos acerca dos princípios que regem as relações
internacionais da República Federativa do Brasil.
Nesta seara, identificamos que a formulação da política externa brasileira
durante o governo Bolsonaro, rompeu com os princípios constitucionais vigentes,
levando à uma atuação externa que pouco promoveu a inserção internacional
do Brasil.
O que pode-se observar é que foram várias a vezes que a política externa se
notabilizou mais em se preocupar com as disputas internas diminuindo a
importância relativa do Itamaraty, contrariando o próprio conjunto principiológico
da Constituição.
Ficou evidenciado no presente estudo, o desapreço pelo Art. 4º da CF/88 no
período 2019/2022, estimulado tanto pelo Presidente, quanto por seus
Chanceleres, formatando uma governança de baixa efetividade e conquistas
frente à comunidade internacional.
Além disso, seguiu demonstrado que o discurso ideológico que imprimiu a marca
do Governo Bolsonaro, produziu rupturas com o conjunto normativo e
principiológico do texto constitucional, produzindo o isolamento do país no
sistema internacional.
Deste modo, entende-se ser necessário, que os princípios normativos da
Constituição perfazem uma construção não somente do ordenamento jurídico
pátrio, mas também na construção do país.
Neste entendimento, o cumprimento das normas constitucionais é condição sine
qua non para o desenvolvimento da governança de sua política externa, e para
a promoção de seu relacionamento exterior.
Por fim, importa a contínua reflexão e o debate acerca da importância dos
princípios elencados no Art. 4º da Constituição brasileira, pois os mesmos,
formataram ao longo da história da República Federativa do Brasil, seu conjunto
de valores e identidades, frente ao seu relacionamento internacional, bem como
sua participação no concerto das nações.
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