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ISSN 2594-6935

BOLETIM
NEAAPE
v.01 n.02 - dez. 2017
BOLETIM NEAAPE
ISSN 2594-6935

O Boletim NEAAPE divulga análises sobre o processo decisório


de política externa de distintos países, bem como sobre temas
que integram as agendas de política exterior. A publicação tem
periodicidade quadrimestral e é composta por editorial e textos
dirigidos a leitores interessados em ter acesso rápido a informações
de qualidade sobre temas contemporâneos.

A publicação é vinculada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto


de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (IESP/UERJ).

É permitida a reprodução deste boletim e dos dados nele contidos, desde que
citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

Corpo Editorial

Conselho Editorial
Leticia Pinheiro
Maria Regina Soares de Lima

Editora Executiva
Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves

Editor Adjunto
Edgar Andrés Londoño Niño

Editoria de Redação
André Pimentel Ferreira Leão
Edgar Andrés Londoño Niño
Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves
Juliana Pinto Lemos da Silva
Leandro Wolpert dos Santos
Leonardo Albarello Weber
Livia Liria Avelhan
Luã Braga de Oliveira

Instituto de Estudos Sociais e Políticos


Univesidade do Estado do Rio de Janeiro
Rua da Matriz, 82 - Botafogo
Núcleo de Estudos Atores e Agendas de Política Externa CEP: 22260-100
Rio de Janeiro – RJ
neaape.com.br (21) 2266-8300
SUMÁRIO

4 28
Editorial resenha:
Leticia Pinheiro Novos olhares sobre a Política
Fernanda Nanci Gonçalves Externa Brasileira
Leonardo Albarello
6
Politização no itamaraty: críticas
ao governo e represálias
Leandro Wolpert dos Santos
Lívia Liria Avelhan

15
o pensamento dos militares em
política externa e defesa no
século XXi
Fernanda Cristina Nanci Izidro
Gonçalves
Luã Braga de Oliveira

23
Política Externa e atores não
tradicionais em uma américa
latina em crise
Edgar Andrés Londoño Niño
Leonardo Albarello
Boletim NEAAPE - ISSN 2594-6935 - v. 1 n. 2 - dez. 2017

Editorial

2017: o ano que, enfim, terminou

E ste foi um ano particularmente decepcionante


para a política externa brasileira. Após uma
década e meia de notável ativismo diplomático em
que o Brasil ampliou e adensou suas relações com os
chamados países emergentes, em que a cooperação
Leticia Pinheiro Sul-Sul foi destaque na política externa e em que
Coordenadora o continente sul-americano teve notória prioridade
Neaape nas suas relações exteriores, por meio de contatos
bilaterais ou de iniciativas de integração regional, em
Fernanda Nanci 2017 o país viu estreitarem-se suas oportunidades
Gonçalves e aumentar seu isolamento internacional tanto por
razões sistêmicas, como – e principalmente – por
Coordenadora orientação deliberada do governo de Temer. Seguindo
Adjunta a mesma linha inaugurada por seu antecessor, José
Neaape
Serra, o atual chanceler Aloysio Nunes, optou por
dar continuidade a uma política externa de baixo
perfil. Em decorrência, o Brasil continuou a perder
protagonismo no debate sobre temas críticos na
região, tal como a crise da Venezuela, encerrando
o ano com a inviabilização do diálogo bilateral após
4 a expulsão dos seus respectivos representantes
diplomáticos. Além disso e, não por acaso, o país
deixou de ser destino de viagem de importantes
lideranças internacionais como ocorreu com os
dirigentes da Alemanha, Israel e França que, em
visita à América do Sul, sequer realizaram escala
neste país.

Com a proximidade das eleições de outubro


de 2018, quando a escolha do novo presidente, num
quadro de retrocesso político e recessão econômica,
trará para o debate nacional temas de forte apelo
popular, não se espera, entretanto, qualquer
destaque para as questões de natureza internacional,
mesmo que tenham importantes efeitos distributivos
no âmbito doméstico. Lamentavelmente, na
contramão dos anos pretéritos, o modelo de inserção
internacional do país e suas parcerias exteriores
não deverão ser entendidos como instrumentos
de promoção de desenvolvimento econômico, de
progresso social e de emancipação, o que poderia
tornar a política externa uma das arenas de
disputa de projetos durante a campanha eleitoral.

Mas, se na arena política mais ampla não se


vislumbra para o próximo ano um debate sobre
diferentes visões a respeito da inserção internacional
do Brasil, dentro do próprio Itamaraty as disputas
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têm sido recorrentes, como analisam Leandro Santos e Lívia Avelhan


em seu artigo Politização no Itamaraty: críticas ao Governo e
represálias, publicado nesta edição. De forma semelhante, diplomatas,
acadêmicos e jornalistas buscaram refletir sobre as opções e os desafios
a serem enfrentados pelo país a partir de suas conquistas pretéritas e
em vista das mudanças sistêmicas, no livro Novos olhares sobre a
Política Externa Brasileira, organizado por Gustavo Westmann e
resenhado nesta edição do Boletim Neaape por Leonardo Weber.

Por fim, às vésperas do ano que se inicia, chamamos atenção


para pelo menos duas dimensões da atuação internacional do país que,
atingidas de modo distinto pelo baixíssimo ativismo do atual governo,
ainda assim poderão trazer algumas novidades. A primeira refere-se ao
pensamento e à ação dos militares brasileiros sobre política externa e
política de defesa. Desde que passaram a atuar mais intensamente nas
missões de paz das Nações Unidas, os militares vêm adquirindo crescente
interesse sobre o desenho da nossa política exterior, o que poderá trazer
algumas mudanças na sua relação com a política de defesa num futuro
próximo. A segunda dimensão refere-se a iniciativas de cooperação
entre os chamados atores não tradicionais no vácuo do imobilismo do
Ministério das Relações Exteriores. Essas duas questões são analisadas
neste número respectivamente por Fernanda Nanci Gonçalves e Luã
Braga no artigo O pensamento dos militares em política externa e defesa
no século XXI e por Leonardo Weber e Andrés Londoño em Política
Externa e atores não tradicionais em uma América Latina em crise.

Em que pese o potencial de ativismo desses atores acima


mencionados, no que tange ao expirante governo, entretanto, pouco
5
devemos esperar no campo da política externa para o próximo ano.
Ainda assim, em 2018 a equipe do NEAAPE estará atenta para
registrar e analisar os acontecimentos mais relevantes e seus possíveis
desdobramentos tal como realizado nos últimos doze meses com o
compromisso de quem, ao considerar a política externa como uma política
pública, trabalha no sentido de sua maior transparência e democratização.

Dezembro de 2017
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Politização no Itamaraty: críticas ao


governo e represálias

Leandro Wolpert introdução


dos Santos
Não é novo, na literatura brasileira, o
Livia Liria diagnóstico de crescente politização da política
Avelhan externa do Brasil após o fim da Guerra Fria, para
a qual concorreram a liberalização econômica e
Pesquisadores
Neaape a redemocratização no país [1]. Entendido como
“a intensificação do debate de ideias, valores e
interesses sobre escolhas políticas, como também et
pour cause, de disputas inter e intraburocráticas,
debates entre atores sociais distintos quanto à
melhor forma de contemplar suas demandas [no
plano internacional]” [2], o fenômeno da politização
tem impactado diretamente o Itamaraty, tanto
6 no que diz respeito a sua autonomia decisória na
produção da política externa brasileira [3], quanto
no que se refere à coesão interna de seu corpo

[1] Lima, Maria Regina Soares de. Instituições


Democráticas e Política Exterior. Contexto Internacional.
Rio de Janeiro: v. 22, n. 2, 2000; Faria, Carlos Aurélio
Pimenta de. Opinião pública e política externa: insulamento,
politização e reforma na produção da política exterior do
Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília:
v. 51, n. 2, 2008; Lopes, Dawisson. Belém. A Política
Externa Brasileira e a “Circunstância Democrática”: do
silêncio respeitoso à politização ruidosa. Revista Brasileira
de Política Internacional. Brasília: v. 54, n. 1, 2011; Milani,
Carlos R. S; Pinheiro, Leticia. Política Externa Brasileira:
Os Desafios de sua Caracterização como Política Pública.
Contexto Internacional. Rio de Janeiro: v. 35, n.1, 2013;
Casarões, Guilherme. A mídia e a política externa no Brasil
de Lula. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações
Internacionais, v. 1. n. 2, 2012.
[2] Milani; Pinheiro, op. cit, p.30.
[3] Faria, Carlos Aurélio Pimenta de. O Itamaraty e a
Política Externa Brasileira: Do Insulamento à Busca de
Coordenação dos Atores Governamentais e de Cooperação
com os Agentes Societários. Contexto Internacional. Rio
de Janeiro: v. 34, n. 1, 2012; Pinheiro, Leticia. Autores y
Actores de la Política Exterior Brasileña. Foreign Affairs
Latinoamérica, v. 9, n. 2, 2009.
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diplomático [4]. Itamaraty em tempos hodiernos.


A ênfase, contudo, recairá sobre
Historicamente reconhecido eventos ocorridos recentemente,
por ser uma burocracia altamente que voltam a suscitar a
especializada, meritocrática e necessidade de se examinar o
insulada das injunções da política interior do que alguns analistas
doméstica, o Itamaraty parece consideram como “segunda caixa
estar cada vez mais envolvido preta” [5] da política externa
nos debates públicos nacionais. A brasileira.
carta pública elaborada por mais
de cem diplomatas em crítica Críticas e represálias: alguns
à resposta oficial do Ministério casos recentes
das Relações Exteriores (MRE)
às instituições internacionais Um dos casos mais
de direitos humanos, bem como conhecidos de manifestação
a remoção do diplomata Júlio pública de um diplomata que
de Oliveira Silva do consulado resultou em represálias por parte
brasileiro em Nova Iorque, após do governo ocorreu em 2001,
a publicação de artigo de sua no final do segundo mandato
autoria qualificando como “golpe” presidencial de Fernando
o processo de impeachment que Henrique Cardoso (1995-2002),
levou Michel Temer à presidência quando o embaixador Samuel
do país, são evidências deste Pinheiro Guimarães foi exonerado
fenômeno já conhecido, embora da direção do Instituto de Pesquisas
hoje com proporções maiores, de Relações Internacionais (IPRI)
dada a intensa polarização política do Itamaraty, cargo que ocupava
vivenciada no Brasil desde 2013. desde 1995. Sua exoneração 7
Com efeito, um breve olhar pela ocorreu logo após Guimarães
história recente da diplomacia haver criticado abertamente, em
brasileira é capaz de identificar palestras, entrevistas e escritos
momentos semelhantes em diversos, o projeto estadunidense
que diplomatas insurgiram-se de integração hemisférica
contra a estrutura hierárquica consubstanciado na proposta
do Itamaraty na publicização de da Área de Livre Comércio
críticas contundentes à orientação das Américas (ALCA). Para o
política de seus superiores e/ou diplomata em questão, a ALCA
do governo vigente, sofrendo, em eee constituía, antes de tudo, um
função disso, represálias, dentre
as quais se destacam as remoções [5] Nas Relações Internacionais,
de cargos. o termo “caixa preta” se refere à
concepção ontológica do Estado
O objetivo deste artigo é enquanto ator racional, unitário e
resgatar alguns destes momentos coeso, cujos atributos domésticos
mais emblemáticos, que, acredita- não são relevantes na determinação
se, demonstram a “politização” do de sua política externa. A analogia
“segunda caixa preta” é utilizada
por João Vargas para se referir ao
[4] Lopes, op. cit; Faria, Carlos Aurélio Itamaraty. Singer, David. The Level-
Pimenta de; Casarões, Guilherme. of-Analysis Problem in International
Itamaraty on the Move: Institutional Relations. World Politics, v. 14, n.
and Political Change in Brazilian 1, 1961; Vargas, João. Individuals
Foreign Service under Lula da Silva’s and Ideas in Itamaraty: The role of
Presidency (2003–2010). Bulletin of diplomatic thought in Brazilian Foreign
Latin American Research, v. 32, n. 4, Policy ABRI/ISA Joint Conference, Rio
2013. de Janeiro, 2009.
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projeto de incorporação do Brasil à diplomática brasileira” [7]. Além


economia dos Estados Unidos, que de exonerar Guimarães, Lafer
acarretaria no desaparecimento emitiu circular recomendatória
do Mercado Comum do Sul no Itamaraty pela qual proibia
(MERCOSUL) e reduziria a qualquer manifestação pública
capacidade de o Estado brasileiro sobre política externa, por parte
atuar autonomamente na política dos diplomatas, sem autorização
internacional [6]. da cúpula do ministério [8].
Consoante um analista, a “lei da
Frente às declarações de mordaça”, como ficou conhecida
Guimarães, o Itamaraty, então a referida circular, tinha por
sob o comando do chanceler finalidade precípua administrar
Celso Lafer, divulgou nota na a desaprovação existente no
qual esclarecia que as opiniões interior do corpo diplomático
do embaixador Samuel Pinheiro brasileiro em relação à política
eram pessoais e que o mesmo não
tinha “autoridade funcional para externa para os países ricos [9].
expressar oficialmente posições Com a chegada do Partido dos
que dizem respeito à formulação Trabalhadores (PT) e de Lula da
e à execução da política externa Silva ao poder em 2003, Samuel
brasileira”, nem devia “valer- Pinheiro Guimarães foi nomeado
se de uma posição institucional secretário-geral das relações
para dar autoridade ou peso a exteriores do Brasil, segundo
avaliações pessoais acerca de um posto mais importante dentro do
dos grandes temas da agenda Itamaraty, na estrutura decisória
da política externa brasileira,
8 atrás apenas do chanceler [10].

No início do segundo
mandato do governo Lula (2007-
[6] Guimarães, Samuel Pinheiro.
Inserção Internacional do Brasil. 2010), a “politização ruidosa” [11]
Economia e Sociedade. Campinas, no Itamaraty evidenciou-se
v. 17, 2001. Para ter acesso a outras com a publicização de críticas
declarações de Guimarães sobre
a ALCA que resultaram na sua
exoneração do IPRI, ver também [7] MRE. Declarações do Embaixador
Quinhentos Anos de Periferia: uma Samuel Pinheiro Guimarães,
contribuição ao estudo da política em Seminário sobre a ALCA e o
internacional e A ALCA e o fim do MERCOSUL, 27/03/2001. Resenha de
MERCOSUL. Para mais detalhes Política Exterior Brasileira, ano. 88, n.
sobre a exoneração de Samuel 28, 1º semestre de 2001, p. 260.
Pinheiro Guimarães, ver Silva, André
[8] Soliani, André. Itamaraty
Luiz Reis da. Do Otimismo Liberal à
baixa “lei da mordaça” para os
Globalização Assimétrica: A Política
diplomatas brasileiros. Folha de
Externa do Governo Fernando
São Paulo, Diplomacia, 17/02/2001.
Henrique Cardoso (1995-2002).
Tese de Doutorado - Programa de [9] Silva, op. cit.
Pós-Graduação em Ciência Política
[10] Samuel Pinheiro Guimarães
da UFRGS. Porto Alegre, 2008,
permaneceu no cargo de secretário-
especialmente página.158; e Moniz
geral até 2009, quando então deixou
Bandeira, Luiz Alberto. As Relações
o Itamaraty para assumir a chefia da
Perigosas: Brasil – Estados Unidos.
Secretaria de Assuntos Estratégicos
3 ed. Rio de Janeiro: Civilização
(SAE) da Presidência.
Brasileira, 2015, especialmente
páginas 208 e 209. [11] Lopes, op. cit.
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contundentes de diplomatas rico” [13]. No mesmo diapasão,


brasileiros à política externa da Abdenur (que substituiu Barbosa
administração petista e à gestão na embaixada brasileira em
do então chanceler Celso Amorim Washington entre 2004 e 2006)
e de Samuel Pinheiro Guimarães afirmou, em polêmica entrevista
à frente do ministério. Neste caso, concedida à revista Veja em 2007,
não houve represálias por parte que a ênfase da diplomacia de
do governo, uma vez que muitos Lula e Amorim à cooperação com
desses diplomatas retiraram-se os países em desenvolvimento era,
do Itamaraty e se aposentaram na verdade, reflexo de uma visão
antes mesmo que pudessem, ideológica antiglobalização e anti-
eventualmente, sofrer qualquer
punição. Isso fica claro na carta estadunidense [14].
escrita pelo ex-embaixador Márcio
Dias a Celso Amorim, publicada Durante o primeiro
no Jornal do Brasil em 2007: mandato presidencial de Dilma
Rousseff (2011-2014), também
Com o Governo do PT e conhecendo a sua filiada ao PT, o diplomata
“flexibilidade”, mais o viés ideológico do Eduardo Saboia sofreu punição
Samuel, vários, como eu, previmos o que em função de haver trazido para
estaria por acontecer e, com o espírito
o Brasil em agosto de 2013, sem
de disciplina da carreira, preferimos dela
nos afastar, por estimarmos que viríamos conhecimento e autorização do
a discordar frontalmente da maneira pela Itamaraty, o senador boliviano
qual a Casa seria conduzida. Assim, eu, por Roger Pinto Molina, opositor do
exemplo, pedi minha aposentadoria mais de governo Evo Morales e condenado
cinco anos antes da data compulsória
[12]
. por corrupção e outros crimes

Este também parece ter


na Bolívia. Depois de viajar 22h
entre La Paz e Corumbá (MS)
9
sido o caso de Rubens Barbosa e junto a Eduardo Saboia em um
Roberto Abdenur, que, ao serem automóvel da embaixada escoltado
transferidos de seus postos na por fuzileiros navais e policiais
embaixada brasileira nos Estados federais do Brasil, Molina se
Unidos, tornaram-se críticos encontrou com o senador brasileiro
rigorosos da política externa Ricardo Ferraço, na ocasião
petista. Para Barbosa (embaixador filiado ao Partido do Movimento
em Washington entre 1999 e Democrático Brasileiro (PMDB)
2004), o Itamaraty sob a liderança e presidente da Comissão de
de Amorim dava prioridade, por Relações Exteriores do Senado, e
questões ideológicas, “aos países
em desenvolvimento, à relação
sul-sul, e isso reflete uma visão
de centro-periferia, de pobre-

[13] Estadão. Rubens Barbosa


vê ideologização na política
externa. 14/03/2008. Disponível
em: <http://politica.estadao.com.
br/noticias/geral,rubens-barbosa-
ve-ideologizacao-na-politica-
externa,140231>. Acesso em:
14/12/2017.
[12] Dias, Marcio. Carta aberta ao
chanceler Celso Amorim. Jornal do [14] Abdenur, Roberto. Nem na
Brasil, Opinião, 16/12/ 2007. Ditadura. Revista Veja, 07/12/2007.
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foram, juntos, até Brasília [15]. do Senado, presidida à época pelo


então senador Aloysio Nunes,
Molina se encontrava do Partido da Social Democracia
asilado na embaixada brasileira Brasileira (PSDB). E com o
na Bolívia havia quase 15 impeachment da presidenta Dilma
meses e, segundo Saboia, corria e a assunção de Michel Temer ao
risco iminente de morte, dada poder em 2016, o diplomata foi
a fragilidade de sua saúde. promovido a ministro de primeira
Ainda conforme o diplomata, as classe (que possui mesmo peso que
negociações entre o Brasil e a o cargo de embaixador na carreira
Bolívia entabuladas há algum diplomática) e hoje é chefe de
tempo para resolver a situação gabinete do atual chanceler
do senador “eram um faz de Aloysio Nunes [18].
conta”, de modo que, diante da
inação da comissão bilateral e Em junho de 2017, durante
dada a “situação limite” em que o governo de Temer (pertencente
se via, decidiu agir sozinho [16]. ao PMDB), 119 servidores do
Essa decisão lhe custou vinte MRE, em sua maioria, diplomatas,
dias de suspensão, a remoção do divulgaram uma carta pública
cargo de embaixador interino denominada “Diplomacia e
na Bolívia e sua transferência Democracia” [19], na qual faziam
para a secretaria de Estado, em diversas críticas ao governo. Os
Brasília [17]. Na mesma ocasião, o principais pontos da carta foram
então chanceler Antônio Patriota o repúdio ao uso da força para
foi afastado da chancelaria, a inibir manifestações, a crítica à
10 mando da presidência, por não linguagem agressiva de notas
emitidas pelo Itamaraty e o apelo
ter conseguido evitar a atuação de
Saboia, seu subordinado. à renovação do diálogo político no
país. A carta relatava preocupação
Em 2015, Saboia foi com o “acirramento da crise social,
nomeado para atuar como política e institucional que assola
assistente parlamentar da o Brasil”, pedia diálogo para a
Comissão de Relações Exteriores “retomada de um novo ciclo de
desenvolvimento, legitimado
pelo voto popular” e afirmava
[15] UOL. Diplomata brasileiro assume que conquistas importantes
que decidiu trazer senador boliviano para a sociedade e a relevância
ao Brasil. 26/08/2013. Disponível internacional do país estavam
em: <https://noticias.uol.com.br/ ameaçadas.
politica/ultimas-noticias/2013/08/26/
embaixador-diz-que-decidiu-trazer-
Aponta-se que o estopim
senador-boliviano-ao-brasil.htm>.
Acesso em: 14/12/2017. para a publicação do documento foi
uma nota do Itamaraty, divulgada
[16] Folha de São Paulo. Diplomata
que trouxe senador boliviano ao Brasil
é afastado. 26/08/2013. [18] G1, op. cit.
[17] G1. Diplomata que ajudou [19] BBC Brasil. Em carta pública
senador boliviano vira chefe de inédita, diplomatas criticam uso da
gabinete de Aloysio Nunes. 21/03/2017. força para reprimir manifestações e
Disponível em:<https://g1.globo.com/ pedem fim de ‘tentações autoritárias’.
politica/noticia/diplomata-que-ajudou- 01/06/2017. Disponível em:
na-fuga-de-senador-boliviano-vira- <http://www.bbc.com/portuguese/
chefe-de-gabinete-de-aloysio.ghtml>. brasil-40110901>. Acesso em:
Acesso em: 14/12/2017. 13/12/2017.
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no final de maio, que criticava, em o documento [21].


tom agressivo e pouco usual para
a chancelaria, o Alto Comissariado Outro caso digno de nota
das Nações Unidas para os aconteceu em setembro de 2017,
Direitos Humanos e a Comissão quando foi cancelado o evento
Interamericana de Direitos de lançamento de um livro do
Humanos, que anteriormente diplomata e ex-embaixador
haviam questionado a violência Rubens Ricupero, que aconteceria
policial no Brasil. no Itamaraty. O cancelamento
aconteceu após a publicação de
Em depoimentos concedidos uma entrevista concedida por
à imprensa, alguns diplomatas
que assinaram o documento Ricupero a Folha de S. Paulo [22],
comentaram que a carta na qual disse que a imagem
não significava um gesto de do país no exterior estava
insubordinação ou de confronto prejudicada e comentou episódios
em relação ao MRE, mas que considerados por ele como
buscava um tom conciliador, sem perseguições ideológicas dentro do
levantar bandeiras, nem fazer MRE. Logo após a publicação da
críticas diretas a políticos ou à entrevista, a Secretaria Especial
política externa do país. Além de Comunicação Social da
disso, demonstraram expectativa Presidência da República lançou
de que o texto pudesse representar uma nota [23] na qual criticava
um primeiro passo no sentido de – em uma linguagem hostil e não
abrir espaço para divergência e usual para veículos oficiais de
vozes dissonantes na diplomacia, comunicação – os comentários de
tendo em vista a rígida hierarquia
dentro da instituição. Destacaram
Ricupero. 11
também que o número de
signatários, que chegou a 180, [21] Congresso em Foco.
mas caiu devido ao temor dos Manifestação de diplomatas contra
funcionários em sofrer represálias o governo Temer provoca divisão no
Itamaraty. 02/06/2017. Disponível em:
dentro do ministério, como
<http://congressoemfoco.uol.com.br/
remoções e exonerações, e também noticias/manifestacao-de-diplomatas-
devido ao receio de expor suas contra-o-governo-temer-provoca-
próprias chefias, pois o Itamaraty divisao-no-itamaraty/>. Acesso em:
é “muito hierarquizado e baseado 13/12/2017.
em relações de confiança” [20], [22] Folha de S. Paulo. ‘Ninguém
nas palavras de um diplomata. O quer sair na foto com o Brasil’, diz
Itamaraty não se pronunciou em Ricupero, que lança livro. 26/09/2017.
relação à carta, mas o ministro Disponível em: <http://www1.folha.
das Relações Exteriores, Aloysio uol.com.br/mundo/2017/09/1921639-
Nunes, destacou que a carta ninguem-quer-sair-na-foto-com-o-
brasil-diz-ricupero-que-lanca-livro.
era uma manifestação livre de
shtml>. Acesso em: 13/12/2017.
cidadãos brasileiros e negou que
haveria punições a quem assinou [23] Folha de S. Paulo. Governo Temer
reage a críticas e diz que Ricupero está
‘desantenado’. 26/09/2017. Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/
mundo/2017/09/1921889-em-nota-
planalto-ataca-ricupero-e-o-chama-
de-desantenado.shtml>. Acesso em:
13/12/2017.
[20] BBC Brasil, op. cit.
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o ordenamento legal” [25] e pediu


Ainda em 2017, o que o chanceler Aloysio Nunes
diplomata Julio de Oliveira Silva explicasse a remoção. O Itamaraty,
foi afastado do cargo de segundo- entretanto, não se pronunciou
secretário do consulado do Brasil sobre o caso.
em Nova Iorque. No final de
setembro, o diplomata havia as Questões Envolvidas na
estreado como colunista da revista Politização do itamaraty
“Carta Capital” e, em seu primeiro
artigo, definiu o impeachment Os casos apresentados
que levou Temer ao poder como na seção anterior expõem
“golpe”, além de fazer críticas ao práticas que são apontadas por
atual governo. Silva não recebeu funcionários do MRE como um
aviso prévio ou explicação para problema de ordem estrutural
a transferência e considerou e que acontece há décadas. Em
a remoção como uma punição reportagem publicada pela BBC
por publicitar suas posições Brasil, com base em entrevista
políticas [24]. O diplomata afirmou com vários diplomatas, pode-
que consultou a assessoria de se dizer que há um receio
imprensa do Itamaraty sobre sua generalizado de contrariar
coluna na Revista Carta Capital e superiores ou fazer críticas
foi orientado apenas a incluir um à política externa brasileira,
alerta de que as opiniões expressas internamente ou publicamente [26].
no artigo eram sua manifestação Esse receio é motivado pela falta
pessoal, o que foi feito. O de transparência e clareza nas
Sindicato Nacional dos Servidores
12 do Ministério das Relações
Exteriores (Sinditamaraty)
afirmou, por meio de um oficio,
que “a sequência dos fatos fomenta
insegurança jurídica por abrir
perigoso precedente institucional
de caráter punitivo, que contraria

[25] Estadão. Sinditamaraty pede


explicações sobre remoção de
diplomata anti-Temer. 05/10/2017.
Disponível em: <http://cultura.
[24] Segundo Silva, “como seu nome
estadao.com.br/blogs/direto-da-fonte/
não constava no plano de remoções de
sinditamaraty-pede-explicacoes-
diplomatas e que houve coincidência
sobre-remocao-de-diplomata-anti-
de datas é “óbvio que é uma tentativa
temer/>. Acesso em: 14/12/2017.
de punição”. Carta Capital. Diplomata
brasileiro é removido de Nova York [26] BBC Brasil. Para diplomatas,
após críticas ao governo. 03/10/2017. estrutura do Itamaraty abre caminho
Disponível em: <https://www. para arbitrariedade e perseguição
cartacapital.com.br/politica/diplomata- política. 17/10/2017. Disponível em:
brasileiro-e-removido-de-nova-york- <http://www.bbc.com/portuguese/
apos-criticas-ao-governo>. Acesso brasil-41590574>. Acesso em:
em: 04/12/2017. 04/12/2017.
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promoções e remoções [27] e está evidências a exoneração seguida


presente independentemente de promoção de diplomatas com
da inclinação ideológica dos as mudanças de governo (PSDB-
funcionários ou dos governos que PT, PT-PMDB e PSDB).
estiveram no poder nas últimas
décadas. Conforme apontado no
início deste artigo, o fenômeno da
Sendo assim, revela- politização impacta o Itamaraty
se que a estrutura burocrática tanto no que diz respeito a sua
interna do Itamaraty não está autonomia decisória na produção
isenta de decisões políticas – que da política externa brasileira – ao
podem levar à arbitrariedade colaborar para intensificar sua
e até perseguição – presentes suscetibilidade às mudanças de
nas promoções ou remoções, governo – quanto no que se refere à
até então mais reconhecida em unidade de seu corpo diplomático,
outros ministérios ou órgãos tendo em vista que os debates
públicos. É importante lembrar políticos internos podem diminuir
que a Lei do Serviço Exterior a coesão interna da instituição.
prevê que os diplomatas devem
pedir autorização prévia para se Considerações Finais
manifestar publicamente sobre
A exposição dos vários casos
política externa [28], mas não são de críticas ou ações realizadas por
proibidos de manifestar ideias ou diplomatas em desacordo com
opiniões políticas, desde que não os governos vigentes permite
o façam como representantes do enxergar o MRE como menos
MRE. insulado da política e politização
domésticas do que anteriormente
13
Outro fator relevante se supunha. Foi possível notar
que pode ser verificado nos que aspectos ideológicos estão
casos apresentados é a presença presentes na dinâmica interna
de disputas partidárias e do Itamaraty e podem impactar
ideológicas como pano de fundo, diretamente tanto no ethos da
demonstrando como principais instituição quanto na carreira de
seus funcionários.
[27] “Como não há critérios claros,
dizem eles, as escolhas acabam Por fim, é interessante
sendo influenciadas por relações observar que apesar de existirem
pessoais ou mesmo afinidade política,
registros anteriores de críticas
o que exige uma constante diplomacia
pessoal”. BBC Brasil. Para diplomatas,
seguidas de represálias no âmbito
estrutura do Itamaraty abre caminho do MRE, é notável o aumento
para arbitrariedade e perseguição da incidência de casos desde o
política. 17/10/2017. Disponível em: início do governo de Temer. Além
<http://www.bbc.com/portuguese/ da ocorrência de ao menos três
brasil-41590574>. Acesso em: situações desse tipo em pouco
04/12/2017. mais de um ano de sua gestão, é
[28] Como foi dito anteriormente, importante lembrar que, desde
no caso de Julio de Oliveira Silva, o o início desta administração, o
diplomata afirmou que consultou o MRE é comandado por políticos
Itamaraty e seguiu a orientação da de carreira, ao contrário do que
chancelaria ao incluir um alerta de ocorria nos últimos anos, em
que as opiniões expressas no artigo que os chanceleres costumavam
eram de caráter pessoal.
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ser diplomatas. Nesse sentido,


a politização recente do
Itamaraty parece acompanhar
a polarização política no Brasil,
intensificada nos últimos tempos
e bastante atrelada ao processo de
impeachment que levou Temer à
presidência e ao elevado índice de
reprovação de seu governo.

14
Boletim NEAAPE - ISSN 2594-6935 - v. 1 n. 2 - dez. 2017

O pensamento dos militares em


política externa e defesa no século
XXI

Fernanda introdução
Cristina
Nanci Izidro Junto aos diplomatas e acadêmicos, os
Gonçalves militares ocupam uma posição de destaque na elite
nacional que reflete sobre as relações internacionais
Luã Braga de
do Brasil [1]. Este artigo tem como objetivo apresentar
Oliveira
o pensamento destes atores sobre defesa e política
Pesquisadores externa brasileira no século XXI, especialmente
Neaape entre 2003 e 2016, em função de ser um período
caracterizado pelo estabelecimento de um maior
diálogo entre defesa e diplomacia.
Para tanto, apresenta-se resumidamente
a trajetória apartada das políticas externa e de
defesa no país e as mudanças que fortaleceram
a instituição militar na ação externa no período
pós-redemocratização. Em seguida, analisa-se o 15
pensamento dos militares sobre defesa e política
exterior neste novo século, buscando responder a
seguinte questão: como os militares pensam temas
relacionados à defesa e à política externa no contexto
recente? Ao final, apresenta-se a conclusão sobre o
tema estudado.

Para cumprir os objetivos delimitados, este


artigo se apoia em produções acadêmicas sobre o
tema e em levantamento de artigos publicados em
periódicos nacionais militares [2], monografias, teses
e dissertações produzidas por oficiais na Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME),
na Escola Superior de Guerra (ESG) e na Escola de

[1] Garcia, Eugênio Vargas. O pensamento dos militares


em política internacional (1961-1989), RBPI, v. 40, n. 1,
1997.
[2] Os periódicos pesquisados foram a Revista das
Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME), Revista da Escola Superior de
Guerra e os Cadernos de Estudos Estratégicos, ambos
produzidos pela Escola Superior de Guerra (ESG), um
Instituto de Altos Estudos de Política, Estratégia e Defesa,
integrante do Ministério da Defesa.
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Guerra Naval (EGN) [3]. A escolha que se estabeleceu entre os


de realizar o levantamento personagens centrais das
bibliográfico da produção relações internacionais do
acadêmica dos militares no país, contribuindo para o
âmbito destas Escolas se deu desenvolvimento de pensamentos
devido à relevância que os institucionais autônomos sobre a
cursos têm em seus processos de inserção do Brasil no mundo [4].
profissionalização e socialização Uma sinergia momentânea
institucional. O levantamento da ocorreu durante o período
produção intelectual dos militares do Regime Militar quando
é realizado sem pretensão de Chancelaria e Forças Armadas
exaustividade e abrange o período atuaram de forma integrada no
compreendido entre 2003-2016. tratamento de determinadas
questões, como por exemplo
Política Externa e Política de
defesa: breve histórico da tecnologia nuclear [5].
(des)articulação
Aliado a isso, o desvio
Uma análise da história da missão de defesa clássica
brasileira, ao menos desde a que os militares deveriam
Proclamação da República em desempenhar – voltada ao
1889, evidencia que ao longo dos âmbito externo – contribuiu
anos a condução da política externa para limitar sua participação na
e da política de defesa foi realizada política exterior, ampliando sua
de forma apartada, sem a sinergia ingerência na política doméstica
necessária para a elaboração da e nos temas de segurança
16 uma efetiva estratégia de inserção interna [6]. Em contraposição, a
internacional que potencializasse instituição diplomática ampliou
os benefícios obtidos no exterior. sua capacidade de controle
Tanto condições históricas como sobre a formulação da política
opções políticas influenciaram exterior, ganhando prestígio e
o relacionamento polarizado credibilidade diante da burocracia
governamental/estatal e da
[3] O levantamento das monografias, sociedade [7].
teses e dissertações foi realizado
a partir dos sites das instituições
de ensino militares e do material
disponibilizado online. Neste sentido,
foram pesquisadas as produções [4] Menezes, op. cit.
acadêmicas produzidas por militares [5] Lima, Maria Regina Soares de.
no âmbito do Programa de Pesquisa Diplomacia, defesa e a definição
e Pós-Graduação em Ciências política dos objetivos internacionais:
Militares (PPGCM) da ECEME, do o caso brasileiro. In: JOBIM, Nelson;
Curso de Altos Estudos de Política ETCHEGOYEN, Sergio; ALSINA
e Estratégia (CAEPE) da ESG e JR., João Paulo (Org.) Segurança
do Curso de Política e Estratégia Internacional: perspectivas brasileiras.
Marítimas (C-PEM) da EGN. Não foi Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010, p. 401-
possível acessar teses, dissertações 418.
e monografias online produzidas na
Escola de Comando e Estado-Maior [6] Lima, op. cit.
da Aeronáutica. Outros programas [7] Cheibub, Zairo Borges. Diplomacia
como o Curso de Estado-Maior da e Construção Institucional: o Itamaraty
ESG também não disponibilizam as em uma perspectiva histórica. Dados
monografias produzidas ao final do - Revista de Ciências Sociais, Rio de
curso em seu site. Janeiro, v. 28, n.1, 1985.
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Especialistas [8] afirmam Política de Defesa Nacional


que alguns fatores contribuíram (PDN), em 1996, e a segunda foi
ao longo do tempo para a baixa a criação do Ministério da Defesa
prioridade do tema da defesa na (MD), em 1999, extinguindo
política exterior e para uma fraca os antigos Ministérios
articulação entre militares e Militares (Marinha, Exército,
diplomatas, tais como: o histórico Aeronáutica e Estado-Maior
de intervenção das Forças das Forças Armadas) [10]. Porém,
Armadas na política brasileira; a aproximação mais intensa da
a ênfase da política externa no política de defesa e externa se deu
desenvolvimento econômico em ao longo do Governo Lula da Silva
detrimento da defesa nacional; o (2003-2010) e Dilma Rousseff
não confrontacionismo da política (2011-2016), onde o entendimento
exterior; a baixa percepção de de que era necessário investir
eventuais ameaças externas; a em forças armadas condizentes
baixa securitização da região; com o tamanho e a importância
o insulamento e alto grau de do Brasil, gerando uma eficaz
autonomia das instituições capacidade dissuasória, ganhou
militares e diplomática, e, por fim,
a preocupação com as ameaças terreno [11].
internas, que deslocou a função
das Forças Armadas. Nesse contexto, algumas
iniciativas foram de particular
Contudo, o fim da Guerra relevância para uma maior
Fria, a agenda de reforma da interlocução entre diplomacia e
Organização das Nações Unidas defesa e para o fortalecimento
(ONU) e a intensificação das da ação externa dos militares,
como: a participação ativa
17
Operações de Paz criaram
condições para uma aproximação do Brasil em Operações de
da diplomacia e da defesa e para Paz, liderando a Missão de
um renovado papel dos militares Estabilização das Nações Unidas
na política externa. Na seara no Haiti (MINUSTAH); a criação
doméstica, a consolidação do do Conselho de Defesa Sul-
regime democrático propiciou Americano na União de Nações
mudanças importantes que Sul-Americanas (Unasul); as
ajudaram a associar as Forças revisões da PDN, nos anos 2005
Armadas à função clássica de e 2012; a elaboração e a posterior
revisão da Estratégia Nacional de
defesa [9]. Defesa (END), respectivamente
em 2008 e 2012; a criação
O governo Fernando do Livro Branco de Defesa
Henrique Cardoso (1995- Nacional (LBDN), em 2012, e o
2002) contribuiu para isto, amadurecimento institucional do
particularmente, com duas Ministério da Defesa.
importantes inovações
institucionais que concederam Estas iniciativas foram
maior relevância à política de importantes não apenas por
defesa na agenda nacional e
aprimoraram a articulação
[10] Alsina Jr., op. cit.
entre defesa e política externa.
A primeira foi a formulação da [11] Fuccille, Luís Alexandre; Barreto,
Lis; Gazzola, Ana Elisa. Diplomacia e
Defesa no Governo Lula: o diálogo
[8] Lima, op. cit. e Alsina Jr., op. cit.
tardio. Anais do 5º Encontro Nacional
[9] Lima, op. cit. da ABRI, Belo Horizonte, jul., 2015.
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implicar em maior sinergia existentes, foram criadas novas


entre as áreas, mas também por disciplinas, incluindo o estudo de
motivarem reflexões sobre as temas relacionados ao entorno
novas conjunturas no campo da estratégico, aos organismos
segurança e da defesa nacional internacionais, às ações
e sobre a inserção do Brasil no brasileiras em missões de paz,
mundo. Os próprios documentos entre outras iniciativas presentes
declaratórios de defesa foram
na END [14].
acompanhados por legislações
e diretrizes que emanaram
Essas ações contribuíram
do Ministério da Defesa e
para estimular o pensamento
que propiciaram modificações
dos militares sobre estratégia,
no ensino militar, refletindo
defesa e política externa em
transformações na formação
um novo contexto das relações
e estimulando o pensamento
internacionais do Brasil.
relacionado à política externa e
Somam-se a estas iniciativas
à defesa nas Forças Armadas.
a participação de militares em
Nesse contexto de modernização
programas civis de pesquisa e a
do ensino, as Escolas Militares
estruturação de uma Associação
de Comando e Estado-Maior dos
Brasileira de Estudos de Defesa
três ramos submeteram propostas
(ABED), que contribuíram para
para criação de programas de
ampliar o diálogo entre civis e
pós-graduação de mestrado ao
Forças Armadas [15].
Ministério da Educação [12]. Os
programas favoreceram-se dos
Pensamento dos militares
recursos de agências públicas de
18 fomento que buscaram estimular
sobre política externa e defesa
(2003-2016)
linhas de pesquisa direcionadas
para estudos de defesa [13]. O levantamento da
produção intelectual dos militares
Ainda no campo do nos periódicos e trabalhos finais
ensino, alterações estruturais analisados, entre os anos 2003 e
foram implementadas a partir 2016, evidenciou convergência no
do lançamento dos documentos que tange aos principais temas
PND e END, uma vez que estes abordados. Ademais, o pensamento
indicam disciplinas importantes expresso nas monografias, teses,
no currículo militar, atribuições dissertações e artigos pesquisados
específicas de cada Força e está alinhado com os principais
diretrizes estratégicas. Desta documentos que estabelecem as
forma, além de mudanças de diretrizes para a atuação das
carga horária de disciplinas Forças Armadas e para a defesa

[14] Fontoura, Camila Bravo. O


[12] No ano de 2012, a ECEME e a Curso de Comando e Estado-Maior
Universidade da Força Área (Unifa) do Exército: conteúdos e mudanças
obtiveram autorização para seus após a criação do Ministério da
programas. Em 2013, foi a vez da Defesa. Anais do IX ENABED: Forças
EGN. Armadas e Sociedade Civil. UFSC:
Florianópolis, 2016.
[13] Marques, Adriana; Fuccille, Luís
Alexandre. Ensino e Pesquisa em [15] Lima, Maria Regina Soares de;
Defesa no Brasil: Estruturação do Milani, Carlos R. S (Orgs). Atlas da
Campo e Desafios. Revista Brasileira Política Brasileira de Defesa. Buenos
de Estudos de Defesa, v.2, n. 2, jul./ Aires: CLACSO; Rio de Janeiro:
dez. 2015. Latitude Sul, 2017.
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nacional, isto é, a PND, a END e, âmbito do entorno estratégico);


mais recentemente, o LBDN. Submarino Nuclear (tratado
como fundamental ao poder naval
A produção acadêmica brasileiro e à sua capacidade de
sobre as atividades fins das dissuasão) e Programa Espacial
Forças Armadas, englobam em Brasileiro (destacado por oficiais
sua maioria temas como doutrina da Aeronáutica como fator
e educação militar; administração estratégico para segurança e
no âmbito das Forças Armadas; desenvolvimento nacional).
emprego estratégico, tático,
operacional e técnico do poder Conquanto as três Forças
militar e de seus recursos; tenham demonstrado interesse
áreas estratégicas para a defesa de pesquisa em temas largamente
nacional e agendas de segurança. similares, as especificidades de seu
Também existe reflexão teórica preparo e emprego direcionam o
nos campos da Segurança e da estudo de seus oficiais para alguns
Defesa, do Direito Internacional, dos temas. No caso da Marinha,
da Política Externa e da os interesses concentram-se no
Economia Política. Nestes casos, estudo da Amazônia Azul; do
parte dos estudos apresentaram Submarino Nuclear; da América
análises de casos com enfoque em do Sul; da Antártica; do Atlântico
determinadas regiões ou países, Sul; e das novas ameaças
sob uma abordagem independente (sobretudo pirataria). Os oficiais
ou de suas relações bilaterais com da Marinha também abordaram
o Brasil. Ademais, uma parcela a participação do Brasil nas
dos trabalhos discutiu temas Operações de Paz, com ênfase na
referentes à relação entre as
forças de defesa, a sociedade civil
atuação dos Fuzileiros Navais, a
guerra cibernética e a presença
19
e outras instituições de natureza de potências no Atlântico Sul,
doméstica. como a China, cuja atuação tem
sido fortalecida na Namíbia. Um
A produção acadêmica conceito amplamente utilizado foi
referente mais especificamente o da “diplomacia naval”, para se
à política exterior e à política referir à forma como o poder naval
de defesa abordaram, em geral, pode contribuir para a política
os temas considerados mais externa, ampliando a cooperação
importantes para os diferentes com outros Estados e a projeção
ramos das Forças Armadas e internacional do país, além de
que constam nos documentos resguardar os recursos naturais e
declaratórios de defesa do a soberania.
governo brasileiro. Os assuntos
mais tratados foram: Amazônia No caso do Exército,
(sobretudo por oficiais do podemos notar maior preocupação
Exército); Operações de Paz (com com a Amazônia brasileira,
ênfase na participação brasileira destacando incremento das ações
na MINUSTAH); América do Sul de combate, cooperação regional
(inserida no entorno estratégico nas áreas fronteiriças e no setor
brasileiro e tratada pela ótica da de inteligência. As Operações
cooperação); Atlântico Sul (tratado de Paz também são enfatizadas,
como fundamental no entorno focando na liderança do Brasil
estratégico); Amazônia Azul (em na MINUSTAH e na estratégia
especial por oficiais da Marinha); de desmobilização, além da
Antártica (também enfatizada aplicação do Direito Internacional
por militares da Marinha no dos Conflitos Armados nestas
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missões. Emprega-se o termo diretrizes da PND e da END e,


“diplomacia da defesa” para mais recentemente do LBDN,
referir-se à participação do Brasil no pensamento expresso pelos
em Operações de Paz. O entorno oficiais, refletindo uma mudança
estratégico é foco de diversas na doutrina que orientava os
pesquisas, que enfatizam a militares. Inclusive, diversos
cooperação em defesa com os oficiais fazem referências diretas
vizinhos da América do Sul aos documentos como orientadores
no âmbito bi e multilateral e de suas análises. A necessidade
com países da África. A guerra de uma sinergia da política
cibernética permanece como tema externa e de defesa, preconizada
recorrente, sendo enfatizada a por esses documentos, são
necessidade de preparação do premissas adotadas por diversos
Brasil para as novas ameaças autores dos trabalhos analisados,
(como biopirataria, pirataria, que empregam conceitos que
contrabando, terrorismo e relacionam as duas atividades,
narcotráfico). Outros temas como “diplomacia da defesa”,
estudados foram Gestão de “diplomacia naval” e “diplomacia
Operações de Evacuação de Não militar”. Assim, estabelece-se uma
Combatentes em Situação de Não relação de complementaridade,
Guerra, como ocorrido no Líbano em que os militares, ao lado dos
em 2006 e na Guiné-Bissau diplomatas, atuam como agentes
da política externa, representando
em 1998 [16], e Exportação de
os interesses nacionais.
Produtos de Defesa.
Quanto às influências
Como se pode perceber
20 as modificações institucionais,
teóricas presentes nos trabalhos
analisados, foram adotadas e
que culminaram na criação
discutidas linhas de pensamento
do Ministério da Defesa e
e referenciais bastante próximos.
na redefinição da missão
Avultam constructos teóricos como
institucional dos militares,
as “Guerras de Quarta Geração”,
a elaboração e a revisão de
documentos que estabelecem consagrada por William Lind [17] e
diretrizes e orientações sobre a
Alessandro Visacro [18]; o conceito
defesa nacional, as reformas no
de “Guerra no Meio do Povo”,
ensino militar e a implementação
cunhado pelo general Rupert
de uma estratégia de política
externa que abriu espaço para Smith [19]; e as concepções de “Pós-
uma maior articulação entre Modernismo Militar” e “Revolução
defesa e diplomacia, estimularam em Assuntos Militares”, através
a renovação do pensamento dos de citações dos trabalhos de
militares sobre sua atuação e
identidade.
[17] Lind, William S. Compreendendo
a guerra de quarta geração. Military
Review (edição brasileira), jan-fev,
É nítida a influência das 2005.
[18] Visacro, Alessandro. Desafio da
[16] Estas operações são
transformação. Military Review (edição
implementadas em casos em que
brasileira), mar-abr, 2011.
apenas através da diplomacia não é
possível gerir a crise internacional, [19] Smith, Rupert. The Utility of
sendo necessário uma operação Force: the art of war in the modern
militar. world. Vintage, 2008.
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Moskos [20], Caforio [21] e Moskos, política externa. Nesse sentido,


alguns temas eram recorrentes
Williams e Segal [22]. nos anos 1961-1989, como:
fronteiras, Amazônia, Atlântico
Garcia [23], ao analisar Sul e Antártica, Cone Sul (ênfase
as publicações acadêmicas de nas relações com a Argentina)
militares entre os anos de 1961 e análises sobre os avanços do
e 1989, constatou que a visão comunismo internacional. Porém,
internacional dos militares de o fim da Guerra Fria encerrou
outrora guardava afinidades com formalmente a possibilidade de
a perspectiva teórica do Realismo envolvimento do país em uma
Clássico, cujo traço fundamental é guerra extracontinental e esvaziou
a compreensão do Estado como ator a visão de combater o inimigo
de maior relevância no sistema interno. Ademais, as relações com
internacional. Em contrapartida, a Argentina e com os países da
os aportes teóricos que figuram região progrediram, dando origem
como principais tópicos de debate a um padrão de cooperação. Deste
na produção acadêmica militar modo, os conceitos e o imaginário
aqui estudada têm em comum a que orientavam o pensamento
percepção de um enfraquecimento militar brasileiro, tiveram que ser
do Estado nacional enquanto ator revistos.
de relevância principal para as
análises do sistema internacional Conclusão
após a Guerra Fria, frente à
ascensão das chamadas “novas Como apresentando no
ameaças”, predominantemente decorrer deste artigo, o pensamento
transnacionais e de natureza internacional dos militares
brasileiros foi atualizado à luz
21
difusa.
das novas concepções e doutrinas
O autor constatou que emergiram desde os anos
também que as reflexões 1990, direcionadas por diversas
tendiam a ser voltadas para o iniciativas governamentais e pela
ângulo estratégico-militar, sendo inserção mais ativa do Brasil
escassos estudos específicos sobre nas relações internacionais. A
articulação então precária entre
[20] Moskos, Charles C. From política externa e política de
institution to occupation: trends in defesa foi alterada neste contexto,
military organization. Armed Forces propiciando mudanças relevantes
& Society, v. 4, n.1, 1986. Moskos, na função, na missão e no
Charles C. Institutional/Occupational pensamento das Forças Armadas.
Trends in Armed Forces: An Update.
Armed Forces & Society, v. 12, n.3, Como destaca Garcia [24], junto
1977. aos diplomatas e acadêmicos, os
militares ocupam uma posição
[21] Caforio, Giuseppe. Social
de destaque na elite nacional
Sciences and the Military: an
interdisciplinary overview. New York: que reflete sobre as relações
Routledge, 2007. internacionais do Brasil. Percebe-
se, através do levantamento
[22] Moskos, Charles; Williams, John realizado, que há uma gama de
Allen; Segal, David R. The Postmodern
reflexões pouco exploradas pela
Military: Armed Forces after the Cold
War. Oxford: Oxford University Press,
academia, e desconhecidas do
2000.
[23] Garcia, op. cit. [24] Garcia, op. cit.
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público geral, que enriquecem o


debate sobre a política externa
e a política de defesa brasileira.
Entende-se que é importante
atentar para a forma como
as Forças Armadas pensam
a inserção do país no mundo,
quais são os recursos de poder
à disposição do Brasil, que
estratégias de defesa são viáveis,
quais são as principais ameaças,
além da concepção que possuem
sobre o próprio papel que têm a
desempenhar na sociedade.

É a partir do maior
conhecimento sobre o pensamento
deste segmento da elite nacional
que podemos avançar em prol
de mecanismos mais adequados
de controle civil sobre as Forças
Armadas e estabelecer um diálogo
aberto, que congregue academia,
setores governamentais, civis
e militares para a elaboração
de uma política de defesa mais
22 democrática e transparente [25].
Por fim, o maior conhecimento
sobre as Forças Armadas, suas
doutrinas e concepções pode
estimular uma visão livre de
preconceitos sobre o papel da
defesa e dos militares na política
exterior de um país democrático
e que, mesmo pacífico, precisa
estar pronto para responder às
eventuais ameaças.

[25] Ressalta-se um certo avanço


com as novas versões da PND,
END e LBDN, cujas minutas foram
disponibilizadas para consulta no site
do Ministério da Defesa em março
de 2017. Desta forma, setores civis e
militares podem conhecer previamente
as novas ideias e conceitos
apresentados nas propostas. A edição
definitiva dos documentos ocorrerá
após a apreciação pelo Congresso
Nacional e aprovação por Decreto
Presidencial.
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Política Externa e atores não


tradicionais em uma América Latina
em crise

Edgar Andrés introdução


Londoño Niño
Em uma região onde a condução da política
Leonardo externa é predominantemente feita pelos governos
Albarello centrais e há uma tradição, como no caso do Brasil,
de um papel protagônico do Ministério das Relações
Pesquisadores
Neaape Exteriores (MRE) na condução desse processo,
evidencia-se uma diversificação de atores na atuação
externa de vários países, ou ao menos uma demanda
para que essa diversificação ocorra. Este texto
pretende analisar a participação externa de atores
estatais não tradicionais e de atores não estatais,
e como eles têm conduzido acordos internacionais
de distintas ordens ou têm procurado espaços de
diálogo e coordenação com organismos multilaterais
ou entidades estatais de países da região. Para
isto, são apresentados alguns casos recentes na
23
América Latina onde estão presentes a cooperação
de organismos estatais de países vizinhos, a
participação de atores subnacionais em eventos
regionais e a diversificação de atores não tradicionais
participando de assuntos internacionais.

Diversificação de atores e agendas

Um primeiro caso em que se observa a


participação de atores não tradicionais na política
externa refere-se à cooperação entre órgãos estatais
de países vizinhos, tais como as Procuradorias ou
as Polícias que assinam acordos ou estabelecem
operações conjuntas de forma direta e sem a
intermediação do governo central ou dos seus MREs.
Na Argentina, o Ministério Público, chefiado pelo
procurador, é um órgão independente e com autonomia
funcional e autarquia financeira, semelhante à
Procuradoria do Brasil, onde a Constituição de 1988
lhe deu uma maior independência do Executivo e da
Polícia. Em junho de 2017, as Procuradorias-Gerais
do Brasil e da Argentina firmaram um acordo com o
objetivo de analisar os desdobramentos da Operação
Lava Jato na Argentina, envolvendo a empreiteira
brasileira Odebrecht. Ressalta-se que os governos
centrais e os MREs de ambos os países puseram
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entraves e fizeram ingerências valores na tríplice fronteira entre


no estabelecimento desse acordo, Argentina, Brasil e Paraguai,
o que gerou um comunicado gerou a busca de ações coordenadas
de protesto das Procuradorias entre as polícias dos três Estados
argentina e brasileira no qual para responder a este e a outros
assinalavam que o Ministério
delitos nas áreas fronteiriças [2].
da Justiça do Brasil tentou
Na ocasião, a Bolívia também
interferir na redação do acordo e
decidiu intensificar os controles
que o MRE da Argentina buscou
na fronteira com o Brasil e o
converter o mesmo em um tratado
Paraguai por meio do Plano
internacional negociado pelos
Fronteira Sul, criado pela Direção
Poderes Executivos dos dois
de Polícia Fronteiriça boliviana e
países [1]. que permite que as autoridades
dos três países estabeleçam um
Este caso é interessante, contato maior para a ação conjunta
pois permite analisar como órgãos contra atividades delitivas,
não vinculados ao Poder Executivo especialmente as derivadas da
nos Estados protagonizam ação de organizações criminosas
acordos internacionais com seus brasileiras como o Primeiro
pares em outros países de forma Comando da Capital (PCC) nas
direta, inclusive, questionando
regiões lindeiras [3].
os governos centrais e os MREs
por obstaculizarem ditos acordos.
Outro exemplo da
Salienta-se que as investigações
participação de atores não
que envolvem a Odebrecht,
tradicionais envolve os atores
especialmente, vêm ensejando
24 a cooperação entre diversas
subnacionais, que vêm ampliando
sua atuação em eventos
Procuradorias na região, visto que
internacionais, que eram antes
a empreiteira conduziu inúmeros
limitados ao protagonismo dos
projetos de infraestrutura
governos centrais. A literatura
no período recente e também
sobre o tema demonstra um
financiou eleições que hoje passam
interesse intermitente das
por investigações em diversos
entidades subnacionais em
países vizinhos.
temas internacionais, o que
envolve a participação externa
Ademais do exemplo da
de governadores, prefeitos e de
atuação das Procuradorias, no
outras instituições de ordem
caso das regiões de fronteira se
regional ou local. Destaca-se
tem evidenciado a coordenação
a atuação de governadores e
entre autoridades militares de
países vizinhos, dada a existência
[2] ABC Color. El mayor robo en
de problemas comuns de natureza Paraguay. 27/04/2017. Disponível
transnacional e transfronteiriça. em: <http://www.abc.com.py/
Assim, por exemplo, em abril de nacionales/botin-supera-los-us-11-
2017, o roubo de uma empresa de millones-1588129.html>. Acesso em:
08/12/2017
[1] Conjuntura Latitude Sul, n.8/ago [3] Estadão. Bolívia prende 3
2017. Acordo de cooperação entre brasileiros na fronteira e intensifica
Procuradorias-Gerais de Brasil e controle. 26/04/2017. Disponível
Argentina é barrado, p.4. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.
em: <http://latsul.org/wp-content/ br/noticias/geral,bolivia-prende-3-
uploads/2017/09/Conjuntura-Latitude- brasileiros-na-fronteira-e-intensifica-
Sul-n.8-Agosto-2017.pdf>. Acesso controle,70001752101>. Acesso em:
em: 07/12/2017. 08/12/2017.
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partidos políticos na Assembleia que mobilizou atores internos e


Geral da Organização dos Estados externos. Internamente, nota-se a
Americanos (OEA), ocorrida em intenção da oposição ao presidente
Cancun em junho de 2017. No Nicolás Maduro de ampliar
marco desse encontro, o presidente sua projeção externa de modo a
da Conferência Nacional de atrair atenção para a situação
Governadores (Conago) firmou no país. No mês de fevereiro de
um acordo com a OEA para a 2017, o presidente da Assembleia
promoção dos direitos humanos Nacional da Venezuela, Julio
Borges, visitou os presidentes
e a democracia [4]. Desse modo,
da Câmara dos Deputados e do
esse mecanismo multilateral no
Senado no Brasil, além do Ministro
qual participam Estados assinou
das Relações Exteriores, buscando
um acordo com representantes
articular atuação de políticos
dos governos subnacionais
brasileiros por uma maior pressão
mexicanos, o que evidenciou uma
ao governo de Maduro. Borges
participação direta desses atores
também atentou para o caráter
com o organismo multilateral,
regional da crise e seus impactos
sem intermediação do Poder
no crime transnacional e fluxo de
Executivo.
pessoas [6].
Do mesmo modo, partidos
políticos do estado mexicano Outras tentativas da
de Coahuila levaram perante o oposição a Maduro em externalizar
secretário da OEA a disputa sobre suas pautas vêm de outros anos,
as eleições regionais, denunciando como por exemplo uma série de
irregularidades e compra de votos viagens feitas por Lilian Tintori,
[5]
. O que há de não tradicional
esposa de Leopoldo López, que está 25
preso desde 2014. Tintori reuniu-
neste caso é a ampliação do campo
se com governantes da América
de atuação externa dos partidos
Latina, Europa e Estados Unidos,
políticos, acionando instâncias
em caráter de denúncia à prisão
multilaterais como a OEA acerca
de seu marido e à situação no
de questões internas.
país. Em outro momento, ainda no
ano de 2014, a ex deputada María
Além dos exemplos citados,
Corina Machado foi convidada
o fenômeno de internacionalização
pelo Panamá para assumir o
de atores não tradicionais
assento deste país na Assembleia
mostrou-se especialmente visível
Geral da OEA e pronunciar-se
no caso da crise venezuelana,
contra o governo Maduro, o que
gerou a cassação de seu mandato
[4] El Universal. Firman Conago y
pela Assembleia Nacional da
OEA acuerdo en favor de democracia
y DH. 21/06/2017. Disponível em:
<http://www.eluniversal.com.mx/
articulo/nacion/politica/2017/06/21/
firman-conago-y-oea-acuerdo-en-
favor-de-democracia-y-dh>. Acesso
em: 07/12/2017.
[6] Estadão. Opositor venezuelano
[5] El Universal. PAN lleva a la OEA pede ajuda ao governo brasileiro.
denuncia por fraude en Coahuila. 08/02/2017. Disponível em:
18/06/2017. Disponível em: <http:// <http://internacional.estadao.
www.eluniversal.com.mx/articulo/ com.br/noticias/geral,opositor-
nacion/politica/2017/06/18/pan- venezuelano-pede-ajuda-ao-governo-
lleva-la-oea-denuncia-por-fraude-en- brasileiro,70001658538>. Acesso em:
coahuila>. Acesso em: 08/12/2017. 10/12/2017
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Venezuela [7]. tortura [8]. Esses eventos ilustram


o cenário regional de polarização
Políticos e partidos de política, em que a ação externa
outros países na região também dos governos não é sempre
vêm se pronunciando sobre a acompanhada pelos atores
crise na Venezuela, gerando políticos internos, que nesse
polarizações em seus respectivos último ano buscaram uma posição
parlamentos, com destaque para própria, articulando-se com atores
aqueles partidos que adotam internos de outros Estados.
posições contrárias às dos governos
de seus respectivos países. Esse Considerações Finais
foi o caso de senadores que fazem
oposição a Evo Morales na Bolívia, A política externa é por
inclusive o ex presidente do país, vezes tratada como uma política
Jorge Quiroga, e que criticam distinta das outras políticas
Morales por seu apoio a Maduro. públicas, distante da deliberação
Do outro lado, partidos de
pública e do controle da sociedade [9].
esquerda reunidos no Foro de São
Em nome da soberania do país, a
Paulo, cujo 23º Encontro realizou-
urgência e o segredo costumam ser
se na Nicarágua, declararam apoio
apresentados como justificativas
a Maduro e à realização de uma
para que a política externa não
Assembleia Nacional Constituinte
seja debatida como as outras
no país no mês de julho de 2017.
políticas o são, ademais alega-
Dentre esses partidos salientam-
se que haveria baixo interesse
se o Partido dos Trabalhadores e
e demanda da sociedade por
o Partido Comunista do Brasil,
26 que fazem oposição ao governo
participar da construção da ação
externa do país. Essa perspectiva
de Michel Temer, cuja posição
foi e é reforçada por abordagens
é mais crítica a Maduro. Outro
que tratam os Estados como um
caso peculiar foi a denúncia
monolito, onde o conteúdo da
que parlamentares chilenos e
política externa tende à perenidade
colombianos levaram à Corte
mesmo com mudança de governo.
Penal Internacional no mês de
Os exemplos apresentados aqui
julho, acusando Nicolás Maduro
questionam essa perspectiva
de crimes de guerra, genocídio e
porque demonstram outros
atores estatais que não o MRE
(ou seu equivalente) atuando
internacionalmente, assim como
atores não estatais questionando
a posição oficial de seus governos

[8] Conjuntura Latitude Sul, n. 7,


jul/2017. Posição de atores não
tradicionais em política externa sobre
a Constituinte venezuelana, p.5.
[7] Martinez, Alfredo Juan Guevara;
Disponível em: <http://latsul.org/wp-
Pedroso, Carolina Silva. Múltiplas
content/uploads/2017/08/Conjuntura-
arenas em conjuntura internacional:
Latitude-Sul-n.7-Julho-2017.pdf>.
mudanças na América do Sul sob
Acesso em: 10/12/2017.
a perspectiva da Venezuela pós-
Chávez. In: Ayerbe, Luis Fernando [9] Milani, Carlos R. S. e Pinheiro,
(Org.). Análise de Conjuntura em Leticia. Política Externa Brasileira:
Relações Internacionais: Abordagens Os Desafios de sua Caracterização
e Processos. São Paulo: Acadêmica, como Política Pública. Contexto
2016. Internacional, v. 35, n. 1, 2013.
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e mesmo articulando-se com tratando de questões fronteiriças


outros atores internacionalmente relacionadas principalmente a
de maneira independente. crimes transfronteiriços.

Abordagens acadêmicas
alternativas sobre política
externa vêm lançando luz sobre
o processo decisório envolvido na
construção de posições, permitindo
compreender melhor o fenômeno
da participação de atores não
tradicionais na política externa,
flexibilizando noções como de
estadocentrismo e da divisão entre
externo e interno. Acompanhando
a diversificação de atores, cabe
também compreender que temas
transversais, como direitos
humanos, saúde, meio ambiente
e combate à corrupção ganharam
força no período recente, pondo
em xeque o monopólio que o MRE
costuma ter na condução da política
externa. Outros ministérios
passam a ter uma agenda
externa própria e organismos
públicos, como as Procuradorias,
estabelecem acordos com seus
27
pares, sem a intermediação
dos governos centrais, levando
à uma maior horizontalização
da política externa. De outra
parte, a sociedade manifesta-se
mais sobre a atuação externa
de seus governos, através de
partidos, grupos de interesse e
outras organizações que por meio
de mecanismos multilaterais,
antes reservados a presidentes,
ministros das relações exteriores
ou seus representantes, procuram
novos espaços regionais e
internacionais para a resolução
de problemas domésticos. No caso
dos exemplos apresentados, essa
pluralização de atores parece ter
sido potencializada pelo contexto
regional de polarização política, no
caso da Venezuela, mas também
motivada por um maior ativismo
das Procuradorias de diferentes
países no que tange ao combate
à corrupção, especialmente com o
caso da Odebrecht, e das Polícias
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Resenha
Westmann, Gustavo (org.). Novos olhares sobre a Política
Externa Brasileira. São Paulo: Editora Contexto, 2017.

Leonardo O livro “Novos olhares sobre a Política


Albarello Externa Brasileira” propõe-se a analisar o cenário
contemporâneo das relações internacionais do país
Pesquisador de maneira inovadora. Embora composto por artigos
Neaape
tratando de diferentes tópicos, possui como linha
condutora a urgência de reformas na maneira como a
política externa é construída no Brasil. Tais reformas
seriam destinadas a aprimorar o modo como os
principais atores envolvidos coordenam-se para tomar
decisões em política externa, assim como para tornar
o processo mais transparente, ampliando as formas
de prestação de contas e responsabilização diante
da sociedade. Neste sentido, são reconhecidos os
avanços obtidos pelos últimos governos democráticos
em um ambiente externo favorável, o que resultou na
28 diversificação de parceiros e temas da agenda externa
do país, assim como o avanço no desenvolvimento e em
uma nova inserção internacional. Contudo, a crítica
principal do livro refere-se à inexistência de reformas
estruturais e de planejamento de longo prazo, o que
teria gerado a atual falta de rumo da política externa
brasileira. Adiciona-se a isso a carência de espaços
mais inclusivos onde a política externa pudesse ser
debatida de maneira mais aprofundada e menos
polarizada.

O livro foi escrito, em sua maioria, por


diplomatas e acadêmicos, mas também conta com
jornalistas e representantes do setor privado. Não se
propõe a ser um texto com formalidades acadêmicas,
mas sim mais acessível e propositivo. A coletânea
está organizada em dois eixos. No primeiro eixo,
encontram-se artigos de abordagem mais geral,
tratando da política externa brasileira de forma
panorâmica e histórica, mas também enfocando
questões da atividade diplomática no Brasil. No
segundo eixo, abordam-se tópicos específicos de
relevância crescente na agenda externa brasileira.

O primeiro eixo inicia com a análise de


Felipe Antunes sobre a relação entre modelos de
desenvolvimento e política externa, criticando
a polarização partidária no Brasil e sugerindo
Boletim NEAAPE - ISSN 2594-6935 - v. 1 n. 2 - dez. 2017

uma política externa voltada retrocesso na relação do Brasil


à transformação social, assim com a África, em comparação
como uma redefinição do com a aproximação empreendida
conceito de desenvolvimento. durante o governo Lula. A autora
Guilherme Casarões trata da demonstra os benefícios políticos
crise brasileira desde o governo e econômicos que a parceria com
de Dilma Rousseff em diferentes o continente teve no passado
instâncias: regionalmente, recente, assim como os impactos
globalmente e quanto às parcerias negativos do desmantelamento
estratégicas brasileiras. O artigo dessa política. Flávio Campestrin
de Gustavo Westmann aborda Bettarello descreve a ascensão
as transformações trazidas pela da região Ásia-Pacífico e a
globalização e seu impacto na centralidade que esta zona vem
diplomacia brasileira. O autor tomando na política externa dos
sugere reformas administrativas países mais influentes do globo.
e institucionais que tragam O autor aponta a necessidade
ao Itamaraty maior eficácia e de o Brasil articular esforços
eficiência em suas funções, assim para se inserir nesta dinâmica,
como maior transparência diante devendo constituir a região
da sociedade. Dawisson Belém com um dos pilares de sua
Lopes, por sua vez, retoma a política externa. Felipe Krause
atividade diplomática desde argumenta em defesa da criação
as monarquias europeias para de uma agência brasileira para o
demonstrar os fundamentos desenvolvimento internacional e
aristocráticos e oligárquicos em a cooperação técnica, que possua
que o estamento diplomático legislação e recursos próprios.
brasileiro esteve enraizado
e seu correspondente déficit
Krause afirma a necessidade de
aprofundamento do debate sobre
29
democrático desde então. Tiago este tema como uma atribuição
Santos escreve sobre o peso da do Estado brasileiro, sugerindo
experiência e da teoria na formação a participação do Congresso
do conhecimento dos diplomatas. Nacional, da mídia, de think
Sem desprezar a importância tanks e do público em geral para
da experiência, Santos defende aprimorar a discussão. Candice
a utilidade de investir na Sakamoto Vianna traz para
pesquisa e análise teórica para apreciação a segurança alimentar
que os diplomatas estejam bem e nutricional como um componente
preparados para suas funções. positivo da política externa
Hayle Gadelha reflete sobre o soft brasileira nos últimos anos. Na
power brasileiro e a diplomacia visão da autora, isto contribuiu
pública no Brasil. Segundo ele, para renovar as credenciais do
o Brasil não utiliza seu poder Brasil como um país que combate
brando de forma planejada e a fome, apresentando potencial
estrategicamente. O país careceria de adensamento das relações com
de modernização para conectar países em desenvolvimento, na
seu potencial de poder brando com perspectiva da cooperação Sul-
formas modernas de projeção da Sul. O tema do desenvolvimento
“marca-país”, especialmente na sustentável é abordado por
sociedade informacional em que Roberta Lima. A autora aponta
vivemos. o papel positivo desempenhado
no Brasil na construção da
O segundo eixo do livro Agenda 2030 e nos Acordos
começa com o texto de Patrícia de Paris. Também demonstra
Campos Mello, expondo o atual as possibilidades de maior
Boletim NEAAPE - ISSN 2594-6935 - v. 1 n. 2 - dez. 2017

articulação com a sociedade civil e


outras instituições estatais nesse
campo. Em tema semelhante, Ilan
Cuperstein analisa a trajetória
das posições brasileiras no regime
climático. O autor enfoca as
conferências multilaterais sobre
o tópico e faz um balanço do
cenário pós Convenção de Paris
para a política externa brasileira.
Fernando Zelner, por sua vez,
discute a participação financeira
e administrativa do Brasil na
Organização das Nações Unidas,
demarcando a importância
dessa atuação para o alcance
dos objetivos do país dentro do
organismo. Finalizando o livro,
Bruno de Moura Borges e Maurício
Santoro abordam o protagonismo
brasileiro na discussão sobre
privacidade no mundo digital e a
recente aprovação do Marco Civil
da Internet. Os autores apontam
para a especificidade deste
campo, que envolve a sociedade
30 civil, o setor privado e diferentes
instituições do Estado brasileiro.

A coletânea “Novos
olhares sobre a Política Externa
Brasileira” compõe-se de
análises marcadamente atuais
de temas relevantes para a
sociedade brasileira e demonstra
preocupação em abrandar o
distanciamento da agenda externa
e doméstica do país. A influência
da crise política e econômica
vivida pelo Brasil destaca-se na
escrita dos textos, que se voltam à
defesa da preservação de avanços
obtidos nos últimos anos e à crítica
construtiva da política externa
passada e atual. O livro cumpre
seu objetivo de ser propositivo e
contém projeções para o futuro
do país que ainda precisam ser
confirmadas nos próximos anos.
O NEAAPE reúne pesquisadoras
e pesquisadores dedicados a
compreender o processo decisório
e os temas que integram as
agendas de política externa por
meio de estudos e análises sobre
distintos países, seja de forma
individual ou sob uma perspectiva
comparada. O NEAAPE também
produz textos, mapas, infográficos,
tabelas e entrevistas que ilustram
e problematizam este campo de
pesquisa e reflexão. Criado em
2016, o Núcleo dá continuidade
às pesquisas realizadas no âmbito
da extinta Rede de Agendas e
Atores de Política Externa que foi
responsável, com apoio do CNPq,
por avançar a reflexão sobre a
política externa como uma política
pública.

Núcleo de Estudos Atores e Agendas de Política Externa - 2017

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