Você está na página 1de 42

À Memória de

R osínha de Oliveira Oberg,

minha sogra, que tanto caior humano e


atos de caridade soube praticar em vida.
A RESPEITO DESTE L IV R O

Êste livro devia ter sido publicado, m uito antes.


Na verdade, em 1.972, quando ocorreu o 1? Centená­
rio do lançamento de “ Martin Fierro” , obra gauchesca por exce­
lência, em todo o Continente.
A respeito dela, em “ América Hispânica” , disse o es­
critor norte-americano Waldo Frank: “ Martin Fierro” ê o maior
poema popular do mundo ocidental moderno. N êle respiram as
profundezas sazonadas da Europa católica, mas transfiguradas
através de ritmos e essências da América. O velho mundo espa­
nhol é o barro, ricamente adubado, do qual brota a fio r d e um
novo mundo. 0 poema tornou-se, de repente, o livro mais lido
da América. Os vendeiros nas remotas províncias encomenda­
vam exemplares dêle com as dúzias de velas e as latas de erva-ma­
te. Finalmente, os mestres e os críticos puseram-se a comentá-lo.
O gaúcho morrera para que a terra tivesse corpo: “ renasceu pa­
ra que o corpo tivesse espírito’’ (páginas 148-149 de “ América
Hispânica” , R io, C. E. B. 1.946).
Fatores vários, porém, inclusive o estado de saúde do
autor, não permitiram que o livro aparecesse, naquela ocasião.
Entretanto, hoje, o fazemos, como se estivéssemos na
data certa, porquanto, com o fàcilmente se depreende, “ Martin
Fierro” é livro de interesse permanente, ligado, ainda mais, ao
modo de vida e caracterização de diversos povos-irmãos, nessa
peculiaridade da zona primitiva dos valores gauchescos. Ademais,
trata-se de assunto típ ico da Cadeira de Literatura Hiapano-A-
mericana, que o autor lecionou, por vários anos, na Universida­
de Estadual de Ponta Grossa.
Era o que nos competia dizer, para justificativa do
atraso que se observa.

Ponta Grossa, 2 de Junho de 1.9 76.

1 ■
GAUCHISMOS DO PRATA

E GAUCHISMOS DO BRASIL

Se há, no Brasil, um Estado com características inconfundí­


veis, êsse, sem dúvida alguma, é o do Rio Grande do Sul,
Realmente, se computarmos os elementos vários que entrarem
na composição da vida gaúcha em geral, verificaremos que nenhuma outra
se apresenta tão rica de valores próprios, já de ordem material, já de espiri­
tual.
Modo de vida, indumentária, linguajar, tudo, aí, s extraordina­
riamente diferente (e, por isso mesmo, pitoresco e suscetível de provocar o
aparecimento de novos elementos tipicamente regionais) do resto do país,
mòrmente das populações nordestinas e centro-setentrionais,
Naturalmente, não queremos com isso dizer que os demais pon­
tos do Brasil lhe levem a palma em matéria de nativismo,nacíona]ísmosou
qualquer modo característico de ser brasileiro, no sentido da unidade, da
tradição, como a entendemos nos compêndios de História Pátria, ou, mes­
mo, descendo ao âmago das esteríotípadas criações dos tempos modernos,
dessa picaresca mania de ver o Brasil, através dos olhos do carioca e gente
circunvizinha, tudo televisionado, integralmente.
Dizemos isso, porque não é fora de costume pretender-se que
só é brasileiro quem se conduz exatamente como preceituam os catecismos
da estandardização, as cartilhas de certa culinária de Estados maia antigos,
ou, então, os mistifórios inconcebíveis, calcados nos "argots" de serra-aci-
ma.
Só mesmo as mentes restritas de pretensos intelectuais engaja­
dos, ou outros que tais, ousariam conceber qualquer expressão de riqueza

-3-
espiritual nas célebres uniformizações, com que se nos acenam, numa có­
pia servil dos 1SMOS, que, em última análise, nada mais representam que a
vitória das concepções e filosofias da vida de povos ou nações, tomados co­
mo unidade, mas que, no que diz respeito às expressões de individualidade
e originalidade dos demais, passam a atuar nefastamente, destrutivamente
e, até mesmo, imperialisticamente.
Com efeito, a imitação cega e desordenada das coisas estran­
geiras, acarreta, por sem dúvida, o transporte de traços e complexos cul­
turais, por vêzes, perfeitamente dispensáveis, sem falarmos nos péssimos
resultados das padronizações bruscas, rasteiras e acentuadamente dissolven­
tes, donde, prontamente, o sufocamento das autênticas tradições nacionais,
das variedades e opulentas realizações do povo, compreendido como parte
do "ecúmeno", enfim, de tôdas aquelas manifestações do espirito da terra,
em que as instituições providenciais costumam divisar o sentido do uno no
m úitipio.
Indiscutivelmente, sem que transponhamos os próprios iimites
da literatura, ninguém ousará negar o sentimento de justificado orgulho
nacional, que de todos se apodera, diante da riqueza de formas, sonidos e
colorações, que as literaturas regionais ostentam, em muitos países.
Lembremos a França, a Espanha, a Suiça, a própria Argentina,
onde até línguas diversas aparecem, lado a lado, sem que, no entanto, se
debilite, de maneira alguma, a unidade nacional. Para existir um povo, em
certos casos, como sabemos, não é essencial mente necessário que haja iden­
tidade de raça, costumes, religião ou, mesmo língua. Os exemplos aí es­
tão numa eloquência irretorquível, através da geografia e da história.
E, assim ponderando, que nos deixamos, insensivelmente, em­
polgar peia estupenda experiência histórica da gente sul-riograndense, tão
pródiga em gestos nobres quanto iírica em repentes de preocupação nitida­
mente iocalista, dos PAGOS, da querência incomparável . ■
Mas, o homem que, acima de tudo, sabe amar o rincão dos
pampas infindáveis, mostra, igualmente, iniludíveis inclinações para outras
expansões afetivas, traduzidas em arroubos de desprendimento, conciliação
inconfundivelmente brasileira, consciência continental própria dos países
novos e miscigenados.
Donde, então, o podermos estabelecer, a propósito do Rio
Grande do Sui, que, embora tenha lá a colonização (bem entendido, da
costa ou parte orienta!) surgido, um tanto mais tarde, e a despeito das im­
posições várias, de índole 'mesológica e mesmo hum ana.......... em virtude
de tratar-se de região lin d e ira .......... , nem por isso o filho dos pampas sen­
te menos o Brasil, condição psicológica, de que, bastas vêzes, tem dado
prova, em seus admiráveis atos de bravura.
Já vai longe o tempo, de um João Ribeiro, em seus compên­
dios de História do Brasil, de diferentes graus, pretender considerar COR­
POS ESTRANHOS, no sentido da luso-brasilídade, os pontos extremos, da
Amazónia, e do Rio Grande do Sul, por demasiado indígena, a primeira,
tanto quanto irremediàvelmente acastelhanado ou híbrido, o úítimo.

-5 -
! 1

* Felizmente, tudo isso. não passou de mera tentativa de impor


t ou divulgar juízos ou assertivas de visível proveniência livresca ou metro­
politana, como acabamos de lembrar, acima.
t
No que toca ao Rio Grande do Sui, podemos, até, afirmar que,
t além de tanta demonstração de brasílidade e responsabilidade internacio­
» nal, foi em seu território que muita historicidade tomou outros rumos, e
muita prosápia, para sempre, se desfez. Não nos referimos a guerras, revo­
t luções, intentonas ou "entreveros" decisivos, que sempre os houve, em
profusão.
Seja-nos, tão somente, permitido relembrar que, exceção úni­
%
ca em todo o curso de nossa história colonial, foi em terreno guasca que
os bandeirantes de Piratininga (no caso, preponderantemente, TUPIS) se
viram miserandamente destroçados e desmoralizados, graças ao ardor gua­
§
rani, pois já então os catecúmenos estavam armados e disciplinados para
t reagir, por meio de ordem das autoridades ibéricas.
§ Fizemos questão de especificar a condição étnica dos bandei­
rantes, porque é costume atribuir tudo ao caboclo, mameluco ou indiáti-
I co, quando, na verdade, o elemento predominante entre os invasores era
I constituído de tupis puros, conforme está em livros modernos sôbre o as­
sunto, (1)
%
Mas, também, não nos esqueçamos de que o regiomlismo gaú­
H cho é o melhor veículo para a consolidação da consciência continental, aci­
ma referida (ao menos, na região platina), uma vez que o pan-amerícanis-
I
mo indoamericano se nos afigura ainda de d ifícil realização,
I É comuníssimo vermos filhos do Uruguai e mesmo da Argen­
tina tomando parte em revoluções ríograndenses ou brasileiras e vice-versa.
I
O caso de Gumercindo Saraiva é típico,
I Seja como fôr, basta que se compulse qualquer livro da chama­
§ da "literatura gauchesca", para que, logo, nos demos conta de como o gaú­
cho sabe unir e confundir, num convívio humano e salutar, os elementos
I disponíveis, ou seja, elaborar um "status" de conduta, por assim dizer,
1 cheio de fraternidade, de expansão universalista, enfim, de "CATACRE-
S E " tribal, jacobina ou nacionalista, pouco importa,
1
A fronteira, então, como elemento de separação ou egoísmo
I bairrista, muitas vêzes, desaparece, como desaparecem as rivaiidades de lín­
I gua, raça ou religião. As cidades lindeiras são sempre irmãs gêmeas: Santa-

-6-
k
na do Livramento-Rtvera,
Mas, para isso, sem dúvida alguma, é preciso que ocorram fato­
res e elementos de diversas índoles; circunstâncias e condições de todo espe­
ciais; em suma, a convergência de traços e complexos culturais que, atra­
vés da ação eficiente do meio, juntamente com tendências e inclinações de
cada unidade participante, possam, ao cabo de algum tempo, transformar-
se em síntese providencialmente harmónica, suscetível de responder, ade­
quadamente, às exigências do nôvo habitat e, iguaimente, gerar outros va­
lores e outras riquezas espirituais e materiais ou, como se diz em antropo­
logia, criações anímoiógicas e ergoiógicas, respectivamente,
Dêste modo, assistimos a uma como prodigiosa adaptação ou
reajustamento de realidade, conteúdos culturais e propensões psico-étni-
casou características de cada povo, tudo em função do nôvo meio e respec-
tivas imposições.
Ninguém pode negar, por exemplo, — e não vai nisso nenhu­
ma crença ilimitada no poder drástico dos determinismos geográficos, —
que o papei dos PAMPAS é dos mais relevantes na etno-gênese do tipo gaú­
cho, como o das estepes o é, em relação ao aparecimento do cossaco, e as­
sim, indefinidamente, pelo mundo inteiro.
Mas, é também verdade que o homem REAGE contra o meio
físico ou geográfico e ihe impõe, muitas vêzes, algumas de suas inconfun­
díveis marcas, tremendamente desfigurantes ou transformadoras, tanto no
sentido positivo como no negativo, tal o caso dos canais, obras de barragem
e sistemas de cultivo por transplantações, de um lado, e coivaras, monocul­
turas de caráter efémero e devastações florestais em geral, de outro.
Além disso, ninguém pode esquecer-se dos contactos, interfe­
rências e conflitos de ordem cultural, de que resuitam aculturações, absor­
ções e até destruições de uma das culturas em confronto, embora disso res­
te um saldo de sobrevivências ou SUBSTRATOS (substratum).
Assim sendo, no caso do gaúcho, verificamos que as culturas
indígenas (charrua, tape, guarani, minuana, etc,) deixaram vestígios bem
fortes na ocidental (dos portugueses e espanhóis), a qual, por sua vez, vi­
nha recheada de elementos mouriscos ou muçulmanos, mas que, no final
do longo drama da conquista e colonização da América Meridional, acabou
por predominar, incontestàveimente.
Entretanto, não houve propriamente aniquilamento ou, mes­
mo, destruição branda: o terceiro fator tentou o possível extermínio, aju­
dado pelas condições do meio fisico e conjunturas de fundo histórico, co­
mo iremos ver.
Êsse terceiro fator foi o racial, antropológico ou da miscigena-

-7 -
cão dos troncos da espécie humana, sem excluir o negróide, mais tarde.
De inicio, porém, o gaúcho resultou do cruzamento do espa­
nhol e do português com a mulher indígena ou "china" e, multas vêzes, da
mulher espanhola com o índio, que costumava raptá-la, nas estâncias de
Sul e Oeste argentino,
O negro, a princípio, hão era tão comum nas fazendas e zonas
de gado, precisamente por ser mais CARO, mercadoria pouco acessível pa­
ra as condições gerais do meio, portanto, próprio de regiões mais bem
aquinhoadas, tanto agrícolas como de mineração, Souza Docca, J, 8. Maga­
lhães e outros, em seus valiosos livros, bem que nô-lo elucidam, com muita
cautela e objetivismo, {2}.
A esta aitura, cumpre mencionarmos o quarto fator, que pode
bem ser incluído num dos precedentes ou, então, em doses desiguais, em
todos êles.
É, na verdade, uma decorrência da convergência de elementos,
condições e necessidades, de natureza económica, histórica, sociológica e
até política,
Trata-se da caça ao gado selvagem ou CIMARRON, abando­
nado no ermo ou deserto pelos espanhóis, e que passou a ser perseguido pe­
los índios e mestiços, por causa do preço elevado que os brancos paga­
vam pelo utilíssimo couro, fonte também de inúmeras comodidades, para
o habitante do pampa.
Semelhante serviço, poréoi/era realizado clandestinamente ou
de contrabando, mas, certamente, com a benevolência ou cumplicidade
das autoridades castelhanas da região, pois ninguém ignora o ponto de cor­
rupção atingido pela récua administrativa daquelas priscas eras, mesmo em
terras do Brasil.
Pois bem, o preço compensador que os estrangeiros pagavam
pelo couro, coajuvado pelo espírito de fronteira ou "marginalismo" socio­
lógico, pelo nomadismo tipicamente indígena (com sobrevivências do be­
duíno na tradição tanto espanhola como portuguesa), até, pela acima refe­
rida tolerância das autoridades, tudo isso contribuiu para que surgisse, so­
cial e regionalmente, um tipo inconfundível de latino americano, que iria
realizar feitos extraordinários, quando das lutas externas e internas das no­
vas nacionalidades.
Ora, diante do que se viu, cabe perguntarmos, agora, sé o tipo
gaúcho ou gaúcho sempre apresentou as mesmas características ou "ras­
gos , em todos êsses países, e se êle, apesar da rusticidade e pretensa falta
de escrúpulos dos primórdios, deve, não obstante, merecer o nosso respei­
to e irrestrita admiração.
Porque, é de todos os dias êsse hábito de o equipararmos ao
que existe de mais esplendoroso e cavalheiresco, em tons imarcessíveis de
franca e clangorosa epopeia, enfim, como um privilégio^ criador de mitos e
legendas, e sábia filosofia da vida, por igual.
Sim, aquele gaúcho soberbo, expansivo, amante de festas e os­
tentações, mas, sempre leal, cumpridor da palavra empenhada e incapaz de
ação menos honesta. Aquele gaúcho que todos imaginamos tão sobrancei­
ro e magnânimo, contraposto ao jagunço manhoso e traiçoeiro das caatin­
gas do Nordeste, no clássico contraste, de vigorosa e sugestiva passagem de
"Os Sertões".(3)
É precisamente isso que tem sido estudado, nestes últimos tem­
pos, e é, por meio de tais trabalhos, serenos e objetivos, que tentaremos
responder à interrogativa acima.

- 9 -
Conforme vimos, no capítulo anterior, a etnogênese do tipo
gaúcho é das mais complexas.
Pressupõe a convergência de agentes e elementos das mais va­
riadas índoles e procedências: ântropogeográficas, económicas, raciais e até
políticas.
Portanto, muito longe está daquela simplicidade duns quantos
sociológos ou polígrafos apressados, sem nos referirmos aos talentosos re­
presentantes da literatura regional, que nem sempre sabem sentir ou intuir,
exatamente, o modo de ser gauchesco, o que, nem por isso, lhes dim inui o
valor beletrístico dos escritos; ou aos fecundos românticos das diferentes
fases, como é o caso de José de Alencar, ainda hoje, lidos com deleite e in-
terêsse.
Vejamos, agora, como o assunto tem sido tratado pelos estu­
diosos, e quais os principais nomes que devem ser lembrados, nas três pá­
trias vizinhas.
A bibliografia, na verdade, é enorme, Abrange tratados espe­
ciais, em que se relacionam monografias, pesquisas, ensaios e outros gêne­
ros, em mais de um idioma.
Na Argentina e Uruguai, por exemplo, temos: Acevedo Díaz,
Juan Álvarez, Orestes Araújo, V. Arrequíne, Emílio Corbiére, E, Dairreaux,
Enrique de Gandfa, Augustin Garcia, Martiniano Leguizamó, Lehmann-Ni-
tsche, V, Lynch, Bartolomé Mitre, Mariano Pelizza, Alberto Zum Felde,
Estanisiao Zebalios, Arturo Scarone, Vicente Rossi, G. Eudaldo Montes,
Juiio S. Storni, Domingo Sarmiento e muitíssimos outros, sem contarmos
os viajantes estrangeiros, antigos e modernos, Mas, o livro mais completo,
cientificamente falando, é o de uma socióloga norte-americana: Mrs. Ma-
daline Wallis Nichols, da Universidade da Carolina do Norte.
É o já clássico "O Gaúcho", que conhecemos em bela tradu­
ção brasileira, de Castilhos Goycochêa,
Constituí magnífica síntese, com farta bibliografia e referên­
cias documentais, que credenciam sobremodo a autora.
Após mais de decénio, num trato dignificante com milhares de
livros, ensaios e escritos vários, conseguiu ela brindar-nos com uma das
mais portentosas obras de penetração histórico-sociológica, que representa
guia seguro e imprescindível, por igual.
E lógico que nem tudo aí é objetivo, congruente ou, mesmo.
suficientemente claro; mas, o que se pode exigir, em matéria de abundân­
cia, autenticidade e sistematização, no assunto, ela o abrange, incontesta­
velmente, com muita capacidade e brilhantismo.
Por outro lado, a figura do gaúcho na literatura é das mais co­
nhecidas. Autores como Del Campo, Ascasúbi, Echeverría, Hidalgo, Lusich,
Lynch, Lugones, Guiraldes, Gonzále2 Barbé, E. Gutiérrez, Carlos Reyies,
Rivarola, R, Rosas, J. Superville, M, Ugarte, S. Blixen, W. H. Hudson e in­
finidade de outros, enchem as estantes dos leitores hispano-americanos. En­
tretanto os maiores livros são: “FACUNDO QUIROGA1', de Sarmientò, e
"MARTIN FIERRO ", de Hernández. (41
O primeiro foge ao comum dos romances, por ser de d ifícil
classificação: histórico, político, geográfico, folclórico, etc., etc., ao passo
que, o segundo, é um legítimo desabafo gauchesco, concebido emtêrmos
de agradável versificação popular. A í, tudo se move, ingenuamente, mos­
trando as vicissitudes e injustiças, com que tem sido agraciado o imortal t i­
po dos pampas, Mas, simultaneamente, vamos travando conhecimento com
pitoresco linguajar, magníficas evocações trovadorescas, inesquecíveis qua­
dros de autêntica observação etnográfica, enfim, mil e um aspectos daquela
linha divisória, que se estendia, então, entre a civilização (precária, na ver­
dade) e a bárbarie, nem sempre merecedora de tal designativo.
Ê por isso que iremos servir-nos dêste livro, para final confron­
to entre os linguajares gauchescos brasileiro e platino, nos próximos capí­
tulos.
No Brasil, os estudiosos não têm faltado, igualmente.
Caberia mencionar os nomes de: Manoel ito de Ornei las, Casti-
ihos Goycochêa, Dante de Laytano, Dantede Moraes, Augusto Meyer, Au­
rélio Pôrto, Álvaro Pôrto-Alegre, Cunha Echenique, Waiter Spalding, J. B.
Magalhães, Sílvio Júlio, Tenório Albuquerque, Olyntho Sanmartin, Rubens
de Barcelios, Guilhermino César, Simões Lopes Neto, Roque Callage, Ce-
zimbra Jacques, Gai-Souza Docca, Padre Teschauer, Luís Carlos de Moraes,
Romaguera Corrêa, Antonio Coruja, Alcides de Lima, Vieira Pires, Aurélio
Buarque de Hoilanda, Beaurepaire-Rohan, Holanda Ferreira, Tales de Aze­
vedo e grande número de outros,
A literatura gauchesca brasileira, por sua vez, compreende: Si­
mões Lopes Neto, Vargas Neto, Darcy Azambuja, Ciro Martins, Erico Ve­
ríssimo (de certo modo). Amaro Juvenal, Contreiras Rodrigues, Reinaldo
Moura, Mário Fontana, Alcides Maya, Jorge Cafruni e muitos mais, embo­
ra nem sempre se dediquem apenas ao gênero guasca.
Vastíssima é, pois, a literatura ligada à vida dos pampas, tanto
no Brasil como nos países piatinos

-11 -
i
§ O que se observa, porém, é crescente preferência, principal­
mente nos lugares de afinidades marcantes com a gente das estâncias, co­
mo é o caso dos nossoscamposgerais, que foram ininterruptamente percor­
ridos por tropeiros e peões, num vai-e-vem de mais de século, rumo a Soro­
caba (então, célebre por suas feiras de animais de montaria, como Feira de
Santana, na Bahia} e de lá, novamente, de retorno aos pagos. (5)
31 Poetas e prosadores gauchescos, têmo-los inúmeros aqui, no
l Paraná chamado antigo, de Guarapuava ao Litoral.
De todos os autôres citados acima, o de trabalho mais sério e
I
denso, no que se refere às origens do gaúcho, é, sem dúvida, o ensaísta MA-
NOELiTO DE ORNELLAS, É preciso que se acentue, porém, que, nas edi­
ções mais recentes de seu belo "Gaúchos e Beduínos", taivez movido por
algum lirismo explicável, ou pelo desejo de demonstrar espírito democrá­
tico, interpôs, de maneira exagerada, a influência do afronegro, que, nas
$ primeiras tiragens, estava, adequadamente, restrita a um modesto papei, só
mais tarde tornado apreciável, com o aumento do intercurso de mercado­
9 rias.
§ De qualquer modo, aí, êle vai ès próprias plagas norte-africa­
% nas, em busca do maragato berbérico, que se iria perpetuar, através da Es­
panha., numa estranha metamorfose pol ítica, em terras do Brasii,
1 Manoelito não trepida em atribuir ao beduíno ou nómade mou­
§* ro-arábico alguns dos grandes rasgos de caráter do riograndense do interior.
Seja como fôr, não podemos deixar de, mais uma vez, acentuar
H o papei notabilíssimo que a mistura de raças e culturas, de par com o meio
§ físico, exerceu na etnogênese do habitante do pampa,
Em termos limpos, podemos reconhecer ou identificar a pro­
t
cedência de quase todos os traços culturais e complexos relativos, que se
i nos deparam na vida física e espiritual do gaúcho.
§ Do indígena (sem discriminação), é lícito mencionarmos a se­
guinte participação: boleadeiras ou bolas para laçar os animais (alguns, até,
9 incluem o laço), chiripá, erva mate (chimarrão, etc), churrasco ( a princí­
m pio, de corpo inteiro, num processo giratório, de forquilhas), ponche ou
pala (origem andina), mandioca, etc. Percebe-se, facilmente, a natureza
m
providencial dos empréstimos, dado o perfeito entrosamento índio-solo,
9 com a respectiva sabedoria de milénios,
Do índio, também, se pode dizer que herdou a mobilidade in­
crível, a sobriedade, a inconstância, etc.
Já dissemos que o gaúcho original era quase que exclusivamen­
te euro-amermdio, isto é, resultado do consórcio indo-português ou indo-
espanhol. Mesmo nos dias de hoje, é patente a presença do missionefro ou

-12 ■
indiático, em numerosos pontos do Rio Grande do Sul, É questão, apenas,
de observação detida. Figuras como as de Plácido de Castro, Marechal José
de Abreu (Barão de Sêrro Largo), Érico Veríssimo, Darcy Azambuja, Lou­
reiro da Silva (Charrúa), Honórío de Lemes (o aguerrido revolucionário)
e muitos mais, atestam que o indígena não foi aniquilado, nem expulso do
Brasil, mas simplesmente entrou no caldeirão da mestiçagem.
Da outra parte, o nosso gaúcho tiraria: o uso do cavalo (já co­
nhecido do índio, nos úitimos sécu(os), as rédeas e jaez em geral, a faca
{que, à moda da tromba do elefante, servia para tudo), as botas, as bomba-
chas, o lenço de cobrir a nuca, etc.
Note-se que êstes últimos representam inegável sobrevivência
árabe ou mourisca. Aliás, a terminologia portuguesa está cheia de vozes ará­
bicas, no que tange ao cavalo: alazão, alferes, aiveitar, zarco, jaez, ginete,
argola, zaino, alforge, almocreve, algema (dos pés do cavalo), acicate, azê-
mula, albarda, alarife (no sentido de guia), baraço (corda), arrêto, etc.
E a própria mobilidade ou nomadismo, segundo vimos, não po­
derá explicar-se apenas pela presença dò índio.
Bem assim, a proverbial hospitalidade,
É claro que, no referente à formação das psiques, muitas coisas
são, às vezes, omitidas, e, assim, o maior simplismo passa a imperar.
Mas a vida, nos primeiros anos, não iria lembrar absolutamente
a opulência das relações europeias de então.
Ao contrário, a pobreza circunstante denunciava tão somente a
presença do gado bovino: desde a bota até os berços das crianças, tudo era
feito de couro. Uma autêntica civilização do couro, portanto, como nô-lo
sugere Mestre Capistrano de Abreu, para o seu ensolarado Ceará, onde can­
ta a jandaia nas frondes da carnaúba. Adiante, veremos quais as conse­
quências, em relação à vida espiritual, com especialidade de natureza lin­
guística.

- 13-
1V

Como temos visto, o tipo gauchesco não é exclusivo do Brasil,


nem data de tempos recentes, Ao contrário, havendo surgido em determi­
nada região geográfica, há séculos, a sua presença deixou traços marcantes
na vida daquelas comunidades, tanto no sentido material, como no plano
dito espiritual.
No sentido material, é fácil identificar-se a sua influência, ain­
da hoje, visível, no referente à indumentária, alimentação, habitação e ou­
tras modalidades mais, que denominamos ergoJógícas, Já, no plano espiri­
tual, as coisas não se passam tão fàcilmente assim, porque aí confluem tra­
ços culturais e valores criativos de mais de um grupo ou fonte cultural: in­
dígenas, luso-espanhóis (conduzindo valores arábicos, ciganos,etc.), africa­
nos e outros,
Mitos, superstições, lendas, contos ou fábulas, vocabulário ca-
racterfstíco, tudo isso, em boa verdade, é diferente e tende a tornar dife­
rentes populações inteiras, vizinhas ou distantes, não importa,
Nos "CONTOS GAUCHESCOS" e "LENDAS DO SU L", de
Simões Lopes Neto, muito podemos verificar, em relação a semelhantes a-
firmações.
Mas, como estejamos mais empenhados em apontar o fenôme­
no linguístico, com tôdas as peculiaridades existentes em ambos os lados
da fronteira, achamos mais apropriado um pronto exame de "M AR TÍN
FiERRO” , de José Hernantíez, principalmente; escolha ainda mais ju s tifi­
cada, por ter transcorrido, em 1.972, o primeiro centenário da publicação
do prestigioso livro, (6),
A imortal obra, escrita, portanto, em 1,872, narra, como todos
sabem, a vida de um dêsses tipos dos pampas, que se vê na contingência de
fugir para o deserto, afim de livrar-se da chamada civilização, a qual, real­
mente, não é mais que madrasta, sempre a servir-se dêle para tudo: nas gran­
jas, nos serviços menos dignificantes, nas conscrições das milícias, nas exi­
bições picarescas, etc.
Ora, sempre contribuindo e esfalfando-se, a trôco de nada (m i­
serável, analfabeto, doentio, etc,), não encontrou o nosso herói outra alter­
nativa. E lá se mandou para o lado dos índios nómades (que, até êle, des­
preza e tem em conta de irracional), vivendo, daí para diante, a sua vida de
incertezas e perseguições.

- 14-
p I

Mas, um dia, M artin Fierro se cansa de tanto nomadismo e vol­


ta para rever a família, contando-lhe, então, o que vira e o que praticara,
durante tão longa ausência.
E, nesse relatar, creio, de revoita e advertência, há as passagens
mais pitorescas, interessantes e confrangedoras, concebidas em termos de
foiclore, regionalismo vocabular, paremiologia das mais opulentas, etc.
No tocante ao vocabulário gauchesco platino, comido em
"M A R T fN FIER R O ", seria lícito , primeiro, mencionarmos os elementos
quesão comuns a êles e a nós, sem que nos preocupemos com a prioridade,
no uso e difusão.
Assim é que, principalmente, encontramos as seguintes pala­
vras, também nossas conhecidas e, por vêzes, como veremos, de âmbito
mais que local, estadual ou inter-estadual. '
China, entrevero, pago, boieadoras (ou boias), guasca, espichar,
pingo, criolio ou crioulo,querência {ou querencia), rincón {rincão), chíripá,
milonga, facón (facão), chimango, desembuchar, pelear, baquiano (vaque-
ano), bagual (baguá), .barbaridá (Qué Barbaridál), peón, (peão), poncho,
chacra (chácara), la puchai, (pucha, la guerra), guayaca, rengo, carancho,
guacho, terneríto (terneiro), matambre (mata-hambre ou mata-fome), iivia-
no (leviano), toldo, de yapa (de nhapa), estancia (estância), gringo, pitar,
tapera,gaúcho (gaúcho), "cobres", campear, rancho, matreiro, tapa, pampa,
ratooero, bozal (boçal), maricas, tranquera, fandango, etc.
Mais adiante, tentaremos a distribuição por 2onas de difusão,
levando-se em conta a época presente, apenas,
Assim, teremos: expressões da zona gauchesca (Brasil, Argenti­
na e Uruguai); zona Brasil Meridional (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná. De S. Pauio, somente a região que se estende até Sorocaba), zona
Brasileira Total (até a Amazônia). A zona Luso-ibérica (Portugal e Espa­
nha) será estudada, noutra ocasião, em livro especialmente dedicado ao as­
sunto.
O vacabuiário de "M a rtin Fierro" provará, assim, que há, de
fato, muita afinidade e relações de idêntico viver e lutar, por cima das fron­
teiras e das línguas, e que certos modismos ultrapassam o seu hábitat e se
expandem noutras regiões, aparentemente de outra contextura e modo de
ser.

- 15-
V

Ora, os gauchismos, então, desempenham função das maís fra­


ternais e associativas, mòrmente,,quando a origem ou nacionalidade é de
d ifícil apuração.
Noutros pontos, é a presença gaúcha que leva consigo o voca­
bulário, que se apresenta, então, um tanto estranho, Desses, que se encon­
tram tanto no Brasil como na região do Rio da Prata, vamos analisar, agora,
os mais significativos tla importante obra,
São os que não ultrapassam a faixa propriamente do gaúcho, is­
to é, os contidos em tais versos, mas de uso apenas no Rio Grande do Sul.
São os seguintes vocábulos: china, entrevero, pago, guasca, boieadoras, bo-
leadeiras ou bolas, pingo, toldo, criolloou crioulo, rincón ou rincão, chu­
cho, querencia ou querência, chimango, milonga, chiripá, bombeiro {espi­
ão) e miga (restos),
CHINA, significa mulher índia ou cabocla, principalmente, é vozquichua
e não portuguesa ou guarani. No Paraná, o sentido é mais de
mulher pública (M. Fierro, páginas 20, 70 e 123),
ENTREVERO ou ENTREVÉRO é a confusão geral no combate. Fora da
zona gauchesca, é pura influência dos tropeiros e combatentes
revolucionários,
PAGO, hoje tão de moda, graças à literatura, é pura derivação do latim,
donde se tirou pagão, Talvez se lhe deva atribuir introdução je­
suítica,
GUASCA, no sentido de homem do interior, é local, Acontece, porém,
que o vocábulo passou a outros Estados, com a significação de
ríograndense do sul. Também, é usado como sinónimo de peda­
ço de couro, corda, chicote, etc. Sua origem é incontestavel­
mente quíchua. Vem de huazo ou guazo (guaço), A propósito,
GAÚCHO ou GAÚCHO, se semelhante na terminologia m u lti­
nacional hispano-americana, apresenta, igualmente, muitas hi­
póteses etimológicas. Para uns, vem do árabe jauch ou djauçh,
que se liga à vida militar nómade. Para outros, seria afim de ga­
fo, têrmo de proveniência cigana; outros, ainda, lhe apontam
GARROCHA ou garrucha como fonte principal, pois acham
que ele sempre usou e abusou de tai. Finalmente, outros mais,
ainda, tendo em vista, antes, o homem que a correção ou co­
erência dos étimos, não titubeiam em trazer GAUDO ou GAU-

- 16-
DÉRÍO para a decifração do enigma.
De qualquer modo, não se dave perder de vista a relação gaucho-
quasca, em língua castelhana,
BOLEADORAS, boleadeiras ou bolas são uma espécie de laço com esferas
ligadas à ponta, para caçar emas. São, na verdade, três pedras,
retovadasem couro e presas por pequenas cordas. Não me cons­
ta sejam usadas fora dos pampas,
PINGO, no sentido de cavalo bom, vistoso e fogoso, só tem curso na re­
gião a que estamos referindo, A literatura se encarregou de di­
fundir a expressão, nestes últimos anos,
TOLDO quer dizer aldeiamento de índios, barracas ou postos em que vi­
vem, em condições semi-civilizadas (página 122),
CRIOLLO ou Crioulo tem a acepção denaturai de ou filho de algum lugar:
"Es criollo de Córdoba". A significação de homem de côr é
mais de outros Estados, princípalmente da antiga Guanabara e
adjacências,
RINCÓN ou RINCÃO, por sua vez, tem tanto o sentido de torrão natal co­
mo o de lugar indeterminado: "Los pobrecitos tal vez no ten-
gan ande abrigarse, ni um rincón anda meterse, , , . (Página
48),
CHUCO se usa como tremor de frio, calefrio (página 183), Mas,
QUERENCIA OU Querência, hoje, de projeção inter-estadual, aplicava-se,
antes, a animais, passando, mais tarde, a significar o mesmo que
pago, O têrmo veio da Argentina.
CHIMANGO é nome de ave de rapina, maior que caracará. Designa, tam­
bém, uma dança em que as mulheres tiram os homens para dan­
çar. É neste sentido que o conhecemos no Paraná,
MILONGA, espécie de dança, de toda dolente, com influências africanas,
mas de proveniência visivelmente platina. Em certos pontos do
Brasil, é sinónimo de fofoca, mexerico, etc. (página 40).
CHIRIPÁ é velho conhecido nosso, vestimenta primitiva, feita de baeta«
usada abaixo da cintura, Era indumentária barata e providen­
cial. Mais tarde, passou a ter sentido de avental de couro, neces­
sário nas laçadas ao gado vacum e cavalar. É, ainda, uma voz
quíchua, da língua dos incas. (Página 130).
BOMBERO ou BOMBEIRO, na expressão, "é um bombeiro, veio das li­
nhas inimigas", quer dizer espião e se limita à zona gauchesca.
Em "M artin Fierro", à página 99, está: "N ostom aron por
bomberos y nosquisieron lanciar".

- 17 -
fc

Finalmente,
MIGA, é claramente abreviação de migalha ou migaja, em castelhano "M ar­
tin Fierro", página 207: "sólo ilegaban ias migas que habían
quedado en los lienzos".
Por incrível que pareça, Miga existe, também, em certos pon­
tos do Brasil, o que nos faz pensar s® trate antes de abreviação antiga.
O vocabulário de "M a rtin Fierro" é, pois, uma fonte inesgotá­
vel de gauchismos. Ao lado das palavras que são usadas apenas na zona ga-
uchesca, com determinado sentido, podemos, agora, mencionar outro tan­
to de expressões que são conhecidas no Brasil Meridional, Isto é, também,
em Santa Catarina, Paraná e sul de S. Paulo: pelear, ou peliar, baquiano (va-
queano), bagual (baguá), Barbaridá :(qué barbaridáj, peón (peão), carniar
(carnear), ternero (terneiro), matambre, Siviano (leviano), de yapa (de nha-
pa), estancia (estância), guacho, aporriar, rengo, carancho, rechoncho, gua-
yaca, cancha, chácara (chacra), poncho, puchal (la puchal),etc, (7)
PELIAR ou pelear é lutar, pelejar: , DE PELIAR HASTA MOR IR "
(Página 137).
BAQUIANO (vaqueano), conhecedor de caminhos, homem experimenta­
do: "CUANDO ERA GAÚCHO BAQUEANO", (Página 21)
Ê têrmo aimará,
BAGUAL ou BAGUÃ,cavaio nôvo e arisco, Parece de origem castelhana,
vindo do árabe "baghel", mesmo sentido, e que se disseminou
pela América Latina.
QUÉ BAR BAR ID Á ou, como dizemos: QUE BARBARIDADE! Exclama­
ção de espanto, admiração, etc, É hoje conhecida até no Rio de
Janeiro (Página 23), (8)
PEÓN ou Peão, no sentido de empregado de fazenda ou estância, O caste­
lhano diz PEÓN; (Página 40), Como soldado de infantaria ou
peça de xadrez, o uso é generalizado,
CARNEAR ou CARNIAR: charquear, preparar a carne para tal: "PUES
OTROS PODIAN VENiR Y CARNIARME A L L l'E N T R E 0-
TROS" (Página 128).
TERNERO, ternerito ou terneiro, nome dado ao bezerro (Página 64 e 105).
MATAMBRE ou mata-hambre: carne que cobre as costelas do boi. É assado
m uito saboroso, A tradução é maía-fome.
LIVíAN O ou leviano, no sentido fisico, de leve: "D E ESE MODO ANDA
L1VIANO, NO FATIG A EL MANCARRON" (Página 108).
DE YAPA, de nhapa, de bonificação, como prémio de compra: ", . , .Yde
yapa, cuando vá, todo parece estudiao" (Página 201) . . , É voz
qufchua.

i -18-

i
ESTANCIA o li estância, fazenda de gado; "YO H é VISTO EN ESTA MI-
LONGA A MUCHAS JEFES DE ESTANCIA Y PSONES EN
ABUNDANCI A " (Página 40).
GUACHO, muda de erva mate, animal amamentado por outra mãe, pás­
saro que desova em ninho alheio: "QUE HABIA SIDO PA EL
AMOR COMO GUACHO PA LA LECHE" (Página 70).
APORRIAR, aperrear ou aporrinhar, espancar, domar um cavalo vicioso,
apoquentar, aborrecer: "L A GAUCHADA . . . . NO SE LE VE
APO R R IAD A" (Página 28),
RENGO, no sentido de manco, tanto para cavalos como seres humanos:
"YO SÉ HACÊRME EL CHANCHO RENGO,CUANDO LA
COSA LO ESIGE" (Página 67).
CARANCHO, ave de rapina, pessoa de nariz adunco: "LOS CARANCHOS
LO COMI AN PERO LOS PAGABA Y O " (Página 18),
RECHONCHO, abreviação de rechonchudo;: "A LC IM A R R Q N LE PREN­
D IA, HASTA PONERSE RECHONCHO, M IENTRASSU CHI­
NA DORMIA, TAP AD ITA CON SU PONCHO" (Página 20).
GUAYACA, CINTO PARA GUARDAR DINHEIRO. Hoje, é de emprego
generalizado (Página 39).
CANCHA, têrmo quíchua, primitivamente privativo das estâncias, char-
queadasou estabelecimentos para o beneficio da erva m ate.. ,
Hoje, é usado nos esportes.
CHÁCARA ou chacra, palavra aimará, espécie de quinta, depois, pomar
mais ou menos extenso, e hoje significa até sítio sem árvores
frutíferas (Norte do Brasil).
PONCHO, capa de lã, quadrada, com abertura na parte superior. Veio,
também, das línguas indígenas dos Andes (Página 20).
PUCHA! (ou La Pucha! ), exclamação de admiração ou espanto, Nada tem
a ver com o verbo PUXAR. É de uso corrente no Brasil intei­
ro, na forma errada. A sua origem é castelhana e tem sentido
chuio, embora cordial: "L A PUCHA! QUE SÊ BAJA, SIN QUE
SE LARGUEM NI UM R IA L !" |Página)29).
Agora, tentaremos analisar os gauchismos que têm curso por
todo o te rritó rio nacional, ou seja, a zona brasileira total, até à A M A ­
ZÔNIA.

19
Como temos verificado, um exame detido do vocabulário de
"M a rtin Fierro", de José Hernández, nos mostra que aí existem, também,
termos usados em todo o Brasil e que conservam a mesma significação do
texto argentino ou quase tal.
Por exemplo, GRINGO, que tanta coisa representa, conforme
a região em que estejamos, aqui, sem dúvida alguma, quer dizer "elemento
humano de iíngua bem diferente: "E R A UN GRINGO TAN BOZAL, QUÊ
NADA SE LÉ EN TEN D IA " (Página 41 e também Páginas 42 e 146),
Quanto à origem da palavra, uns dizem que vem de GRIEGO
(como em "parece grego, não entende patavina"). Outros, como Mestre
Gilberto Freyre, acham que êsse substantivo representa o começo da can­
ção inglesa: “Let the Green Go Ashore"l” ou seja; "Que os Verdes Desem­
barquem!" Refere-se aos marinheiros ingleses. De qualquer modo, porém,
temos uma expressão de larga difusão pelo Brasil e, mesmo, pela América
Latina tôda,
Outra palavra que se usa, igualmente, no Brasil inteiro, é PI­
TAR, convergência de PITO, castelhano e português, e PETO ou PYTYMA,
tupi-guarani (Página 28): "LO HAREMOS PITAR DEL JUERTE".
TAPERA é de origem visivelmente indígena. Vem de TABA mais ERA, ou
aldeia abandonada (Página 43).
TOPAR é, de fato, um verbo de muito uso, na língua portuguesa, Mas, no
sentido de aceitar desafio, proposta -^ou" ir com a cara de al­
guém", pode ser considerado privativo do Brasil e região plati­
na: "En cuanto me enderece, nos volvimos a TOPAR", no se
podia descansar y me chorriaba el sudor: en un apuro mayor
jamás me he vuelto a encontrar" (Página 131).
"COBRES", no sentido de dinheiro, é de muita amplitude, sem dúvida al­
guma: "Nosotros, de cuando en cuando, soliamos ladrar de
pobres: nunca ilegaban los cobres, que se estaban aguardando"
(Página 35; igualmente, página 200).
ESPICHAR tem vários sentidos em português e espanhol, Mas, na acepção
de ESTICAR ou de MORRER, é mais brasileiro e principal­
mente do Sul. Em "M a rtin Fierro", temos: "Y e! indio es co­
mo tortuga, de du‘ro para espichar; se lo llega a destripar, ni si-
quiere se le encoge; luego sus tripas recoge y se agacha a dis­
parar" (Página 31).
Que bruto preconceito do suposto civilizado! E não nos esque­
çamos de que Josá Hernández era mestiço de indio com espa­
nhol .........
TABA é aldeia de índios (Página 36),
CURANDERO ou CURANDERA (em português,curandeiro) representa al­
go muito nosso conhecido: "A las mujeres que curan, se las
liama CURANDERAS" (Página 166),
CAMPEAR ou CAMPIAR, por sua vez, expressa muita coisa: acampar, mar­
char garbosamente, fazer ostentação, lutar, etc, Todos se lem­
bram de CIO, el Campiador. Entretanto, no sentido de andar à
procura de gado (a cavalo) ou bater o terreno, em busca de coi­
sa perdida em geral, é brasileirismo puro, como o é, por afini­
dade ou paralelismo, da região gauchesca: "Dentre a CAMPIAR
en seguida al viejito enamorao” (Página 71),
BOZAL constitui, evídentemente, voz de influência da escravidão, embo­
ra a origem seja castelhana, usada, píimitivamente, para desi­
gnar o africano que ainda não entendia português ou castelha­
no, Assim, opunha-se a LADINO (do laíin LATINO) Hoje, é
termo depreciativo e não sòmente explicativo ou distintivo, Já
foi citado acima, juntamente com GRIEGO,
FACÓN e, como facilmente se depreende da forma (começada por F), um
brasileirismo entre os piatinos: "SiN MÁS AMPARO QUE EL
CIELO; NI OTRO AMIGO QUE EL FACÓN" (Página 60), (9)
— Em Buenos Aires, há muitos brasiieirismos, com especialidade
nas baixas camadas: bonde, rua, tapor (metãtese deporta), ca­
rioca, etc. Em compensação, daí nos vieram: encanar, (pren­
der), alambrado, bacana (que a televisão tanto preza), alcague-
te, mala (no sentido de dinheiro, como abreviação de maia gra­
na), etc.
PAMPA devia ser feminino; mas, o português o transformou em masculino.
Trata-se de vocábulo quíchua, Cumpre, porém,esciarecermos
que, quando significa espécie de esvaio ou homem raiente, ele
é masculino em castelhano:
"QUE TODO PAMPA VALENTE AN D A SIEMPRE BIEN-
M ONTAO" (Página 109),
RANCHO, como outras palavras da nossa língua, apresenta inúmeras a-
cepções. Pode ser magote de carnavalescos entusiastas; fazen­
da ou granja para diversos fins, principalmente para a criação
de gado; comida para soldados; lugar na proa, onde dormem os
marinheiros; casa provisória na zona rural; e, finalmente, caba-

- 21 -
na rústica ou miserável, nos campos, nas selvas, etc. Em "Mar­
tin Fierro", está:
"Y sí es lejos dei camino.
Como manda la prudência,
Mas siguro que en su rancho,
Uno ronca a pierna sueíta (pagina 230).
VI I

Muitas palavras portuguesas e espanholas aparecem em poesias


e contos gauchescos, com significado arcáico ou em acepção inteiramente
nova, ditada pelo meio ambiente,
Continuando com a reiação das mesmas, apresentamos, agora,
as seguintes, que conservam, mais ou menos, o mesmo sentido que em ter­
ras da Ibéria:
RIAL ou real, unidade monetária. O plural é RSALES ou reaies (em por­
tuguês, réis): "La pucha! que se trabaja, sin que ie larguén un
R IAL ! (página 29),
CRIOLLO aparece no sentido usado em Portugal, como em "Português
Crioulo de Cabo-Verde": "Le advertirá que en mi pago ya no
va quedando un C R IO LLO " (página 80),
TRAGO, goie, sorvo, como em tomar um trago: "Áunque haíga tomao un
trago, y aigunos por mi pago, que me tiensn por ladino'' (pá­
gina 77),
GUAPO é castelhano, existente no português, e muito usado no Prata: "Y
aunque para el frio soy guapo , , . , , ( página 155). Tem o senti­
do de valervta, destemido, como também o de elegante, atra­
ente..........
Em "M a rtin Fierro",à página 43, encontramos o têrmo (nosso conhecido):
MARICAS, como sinónimo de medroso, arredio, afeminado: "Pa vivir en­
tre maricas, y nunca se andan con chicas para aizar ponchos a-
jenos, Ê expressão m uito antiga em nosso comum vocabulário
iuso-brasileiro (página 43),
RATONERA ou ratoeira, armadilha, coisa que, atualmente, traduz A R A­
PUCA: "Aquello era ratonera, en que sóio gana el juerte (ou
fuerte), , ,” (página 40),
TRANQUERA ou tranqueira, isto é, estacada para cercar ou fortificar:
"Hago mi nido ande quiera y de !o que encuentre como, me
echo tierra sobre ei lomo y me apeo en cuaíquier TRANQUE­
R A " (página 81),
LADINO, no sentido de esperto, já vimos, anteriormente, junto com bozal
e trago.
FANDANGO é palavra tipicamente castelhana, significando cierta espécie
de dança, embora, no Paraná, já sofra influência africana e ame­
ríndia. Em "M artin Fierro", encontramos: "Y para ve re lfan -

-23-
dango, ma colé hacíendome bola, mas metió em diabio la cola,
y todo se volvíó pango". (página 76).
DESEMBUCHAR, no sentido de dizer tudo, falar sem constrangimento, a-
parece na página 94: "EI que va por esta senda cuanto sabe de­
sembucha
No inglês, éTO SPEAK OUT ou, mais popularmente, TO SPIT
OUT, cuspir tudo.
MATREROou matreiro; em português, quer dizer astuto, sabido, experiente.
Entretanto, no sul do país, toma a acepção de arisco, selvagem,
insubmisso, etc, É assim que se depara no livro de HERNÁN-
DE2: "Juyeron los más matreros y lograron escapar" (página
26), E na página 81: "Andaremos de matreros, si es precisoí pa
salvar".
Aqui, no Paraná, o têrmo é usado como MATUTO. Influência
da analogia, como em tantos outros vocábulos.
Como estamos vendo, pois, há muita afinidade entre platinose
sul-brasileiros, como ainda entre os primeiros e o restante dos nossos pa­
trícios, até certo ponto. A esta altura, já. podemos faiar em catalogar outras
expressões, existentes nos pampas e pontos outros do país, conquanto nem
sempre haja coincidência ou identidade geral, nos casos apontados,
Assim é qus relacionaremos vocábulos como os seguintes: chim-
bé, embicar, furungar, fuxicar, guenzo, mambira, malhar, manguarf, mara-
timba, mombuca, muçum, nicar, pechada, pínchar-se, pixuá, reimoso, suro
ou surú, tararaca, tarugo, teiró, troncho, teatinar ou tatinar, esgruvinhado,
novilho, alcaide, retovar, etc. etc.
Vocábulos de várias origens, e que serão mencionados em li­
vro especial, existem no Paraná, como êstes: guri ou piá, tongo, embira,
9anJa, guapeca, jaguara, taimbé, jinjibirra, jaguatirica, macana e bacana,
mamangava, mandruvá ou maranduvá, maxixo, mondrongo, óigale, êigale
e e|9ate!, piquira, pindoca, piroca, samora, sambiquira, solito (guapito), ta-
P®jara, tiguera, tocaio (xará), tubuna, arapuca e urupuca, buava, miquim-
ba, tabacudo, mucuto, etc, (10).
Vl!l

Dos vocábulos que mencionamos anteriormente, vamos, agora,


examinar os seguintes; que são, às vêzes, usados até no longínquo Nordes­
te:
CH1MBÉ; focinho chato, refere-se a animais, Vem do guarani T IM , nariz, e
WIBEBA ou MBEVA, chato. No tupi, é maispeva ou peba, co­
mo em Itapeva, pedra achatada.
EMBiOCAR, fugir da -discussão, esconder-se,
FURUNGAR, cacetear com pedidos ou queixas. Indica, também mexerico,
FUXICAR, coser, ligeiramente e a grandes pontos, qualquer pano; bulir
em qualquer coisa, 0 outro sentido, corrente entre nós, veio
do Nordeste.
GUENZO, bamboleante, não seguro. Não é exclusivo da zona gauchesca.
M AM BiR A, camponês, homem do campo; rústico no andar e faiar. Não
nos consta que se use fóra da área gauchesca.
M AGUARI' homem alto e corpulento. Vem do guarani MGAGUARY, gar­
ça, pernaita, Existe, também, em S, Paulo.
M AR ATIM BA, matuto, roceiro. Têrmo guarani, peculiar à zona dos pam­
pas.
MOMBUCA, abeiha grande que produz mel. Palavra guarani, que se genera­
lizou no sul do BRASIL.
MUÇUM ou MUSSUM, enguia. Entra na palavra MUÇURANA ou mussura-
na, falsa enguia, cobra dágua. No Rio Grande do Sul, quer di­
zer, também, homem de cor preta,
NICAR, picar com o bico, Mas, no sentido de BATER UMA BOLA DE
VIDRO EM OUTRA; é gauchísmo típico.
PECHADA, encontrão; pedido de dinheiro. Veio do Rio Grande do Sul, A
origem é o castelhana pecho, peito, dar de peito contra.
PINCHAR-SE, lançar-se, atirar-se ao chão, como em "Ê LE SE PINCHOU
NA ESTEIRA", é próprio da zona gauchesca, havendo ram ifi­
cações para todo o sul do Brasil,
P1XUÁ, fumo forte e de má qualidade. Equivale a maca/o,
REIMOSO, máu e prolongado; usado principalmente para o tempo, "Que
tempo reimoso, que não para maisl". No Nordeste, é aquilo
que produz cócega e faz mal ao sangue, Vem de reuma, abre­
viação de reumatismo.
SURO ou SURÚ, animal sem cauda (mòrmente aves). Vem do quichua

-25-

nn/Hin* MfiisiiíhysES

surt, ema.
TARARACA, indivíduo confuso, tonto, ou que anda às apalpadelas. È
» gauchismo característico.
TARUGO, indivíduo baixo e grosso; cigarro grosso, feito de fumo macáio.
»
Nesta acepção, é gaúcho e sul brasileiro. No sentido de peça
§ ou prego de madeira.,,passa a ser de todo o BRASIL e mais
PORTUGAL.

• TEIRÓ, no sentido de dúvida, teima, discussão, é gauchismo genuíno. Mas,


como peça de arado, parte dafecharia de arma de fogo, to r­
i na-se uso generalizado,
TRONCHO, mutilado, privado de algum membro. É conhecido em muitas
i
regiões brasileiras. No sul, é apiicado para os animais (princi­
I palmente, cavaio) que tém uma das oreíhas atrofiadas ou defei­
» tuosas. NAMBi é o que tem uma das orelhas caídas,
TEATINAR ou T A T IN A R , vagabundear, perambular à toa: GADO TEA-
I TINO é o que não se sabe a quem pertence,
I ESGROUViNHADO, alto e magro como um grou; desgrenhado; cabelo
crespo ou pixaim.
»
NOVILHO ou TERNEIRO, boi ainda nôvo, bezerro ou vitelo, como se diz
em terras do NORDESTE,
RETOVAR, cobrir com retôvo, isto é, fôrro ou coberto de couro, com
que se guarnece cabo de relho, bengala, etc. Para os animais,
RETOVAR é disfarçar um animal para ser amamentado por
outra m ie: retovar um burrinho para ser amamentado, é cobri-
lo com o couro da cria de uma égua. Sentido figurado: indiví­
duo fingido, mascarado ou pronto à bajulação. Vem do caste­
lhano RETOBAR, mesmo significado.

i
I
»

>
i

-26-
N OT AS
EXPLICATIVAS

1} - Para uma informação condigna das derrotas bandeirantes em MBO-


RORÉ, no Rio Grande do Sul, ver os seguintes autores: Afonso de
Taunay, Jayme Cortezão, J, E. Cafruní, Cassiano Ricardo, Manoelito
Dornellas, Gustavo B arreie outros.

2) - O Gai. Souza Docca, em sua maravilhosa " História do Rio Grande do


Sul", Simões, Rio, 1.954, páginas 80-81, diz, textualmente: "O san­
gue indígena na formação do tipo riograndense não atingiu o coefi­
ciente verificado nos Estados do Nordeste do país, mas fo i aqui su-
■ perior ao do negro" . . . . . sendo a população negra do Rio Grande
do Sul, em 1,814, mais que o dôbro da indígena aldeada e em servi­
ço nas estâncias, o número de caboclos, como já dissemos, era, e é
ainda hoje, mais elevado que o de mulatos". "A concentração dos
representantes da raça negra fo i feita, em nosso Estado, nos três cen­
tros mais populosos de então, que eram Pôrto Alegre, Pelotas e Rio
Grande, e aí aproveitados nos trabalhos domésticos, industriais e a-
grícolas. Nas estâncias, ou seja, em todo o Rio Grande do Sul, predo­
minava o elemento crioulo e indígena" (note-se que CRIOULO, no
Rio Grande do Sul, não quer dizer negro, como no Rio de Janeiro e
outros lugares).
J. B. Magalhães, em “Osório", Agir, Rio, 1,946, página 99, fa­
vorece a predominância cio caboclo: "Os escravos, que em 1,840, fo r­
mavam mais de um têrço da população, deixaram de existir em 1.888,
quando a população atingira os 14.000.000, com aumento principal-
mente dos brancos e mestiços, mas a proporção destes- no Sul era
mínima, embora bem maior que nas províncias do Prata, porque aí a
riqueza era o gado e não a lavoura ou as minas, Nela, de fato, predo­
minavam os mestiços de índios e brancos".
■Aliás, semelhante ponto de vista é hoje vitorioso, estando real­
mente, o elemento luso-ameríndio ou caboclo, também chamado ma­
meluco ou indíático, com predominância na maioria dos Estados do
Brasil: Acre, Amazonas, Pará, Piauí, Mato Grosso, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Alagoas e Goiás, além dos territórios. A í, embora

- 27-
ainda restem poucos indígenas propriamente ditos, o seu sangue cal-
deado prevalece, no entanto, em milhões de indivíduos, que ocupam
todos os cargos, conforme atestamos em "Cepa Esquecida": Eucli-
des da Cunha, Plácido de Castro, Sylvio Roméro, Capistrano de A-
breu, Floríano Peixoto, Café Filho, Pedro Américo, Almeida Júnior,
Pereira Passos, Coelho Neto, Marcos de Macedo (época colonial), Ge­
neral Carneiro, General Tíbúrcio, Cardeal Arcoverde, Diogo Feijó,
Benjamin Constant, Érico Veríssimo, Rocha Pombo, Marechal Hum­
berto de Castelo Branco, Joaquim Murtinho, Conselheiro João A l­
fredo, Campos Saltes, Hugo Carvalho Ramos, Augusto de Mendonça
e muitíssimos outros.

3) - Nos Documentos Históricos, é frequente o jagunço aparecer como


elemento manhoso e traiçoeiro, Euclidesda Cunha, em “Os Sertões",
diz: "O jagunço, não, Recua, Mas no recuar é mais temeroso ainda. É
um negacear demoníaco, O adversário tem, daquela hora em diante,vi­
sando-o pelo cano da espingarda, um ódio inextinguível, oculto no
sombreado das tocaias........." (comparação com o gaúcho), "Os Ser­
tões", Rio, 1.950, página 121), Ora, sabemos que há muito gaúcho
que desmente o juízo otimista que dêle se faz nessas páginas sinceras,
ardorosas e de uma beleza genial.
4) - "Facundo ^ Çuíroga" é livro, acima de tudo, de fundo sócio-políti­
co. Mas, como todo o trabalho do Século X IX , est^impregnadf-de
vícios e deficiências da época. His porque não podemos deixar de a-
pontar, no mesmo, falta de firmeza, coerência, objetividade e condi­
ções de muita responsabilidade, para constantes consultas e citações.
Mas, não se pode, por outro lado, deixar de reconhecer que se trata
de obra-prima, como o nosso "OS SERTÕES", que, igualmente, pa­
dece dos mesmos defeitos, não obstante a genial idade de Euciides,

5) - Sorocaba era o ponto terminal dos tropeiros. Aí, hoje, se encontram


muitos estudiosos, como o Pe. A loisiodeA lm eida.com suas magní­
ficas contribuições para a perfeita compreensão do valoroso período
de nossas comunicações. Neste setor, sua palavra é sempre ouvida,
com respeito e admiração.

8) - MARTIN FIERRO tem de tudo: luta contra os índios, ditados, can­


torias inter-raciaís (como as trovas contra o negro), observações in­
teressantes sôbre os estados psicológicos dos companheiros e partici­
pantes das ações nos pampas, etc.

-28-
7) - Sôbre a genealogia de "Martin Fierro", existe um valioso e bem con-
. densado trabalho do escritor mexicano, Dr. Fortino Ibarra de Anda:
"E I Periquillo Sarniento" V "M a rtin Fierro" (Sendas Semblanzas So­
ciológicas de México y Argentina", México, 1,966. Não deve faltar
em nenhuma biblioteca de estudiosos continentais.

8) - "QUE BARBARIDADE !" é expressão típica do Paraná e sul do Bra­


sil, BUENAS á outra, Outra, ainda: Êigale, Ôigale e, Êigate são ouvi­
dos, a todo o instante. CHE {TCHÉ} já se ouve menos, sendo mais
comum no Rio Grande do Sul,
9} - Além dessas palavras, são também brasileirismos, segundo Américo
Castro: "batuque, buraco, caradura, casal, conchavarse, farihera, fu­
lo, galpón, garantir, gavión, matungo, pedregulho, pichincha, safado,
repartición,tamango(tamanco), tira (policial) e muitas outras.
Ver "La Peculiaridad Linguística Rioplatense”, Taurus, Ma­
drid, 1,960, Jorge Luís Borges - “Ei Lenguaje de B. Aires", Emece,
B, Aires, 1,963.
Amado Nervo também escreveu sôbre o assunto: "La Lengua y
La Literatura", I e II, Biblioteca Nueva, Madrid, 1,928,
Sôbre as palavras vindas de lá, não devemos esquecer o comu­
níssimo BACANA: "B A C Á N " hombre rico, rumboso, chulo", del ge-
novés bacan, amo. De aqui "Bacán de b u lin ", casero; y hasta frases
escritas como: "Avenida La Plata está bacana de luces", Eis aí, moci­
dade brasileira, donde vem o batidíssimo bacanal (V, o livro de Amé­
rico Castro, página 124),
10) - A parte do linguajar paranaense será estudada em livro especial, on­
de aparecem até expressões de gíria e peculiaridades locais ou regio­
nais.
Pela pequena amostra acima, poder-se-á ter uma idéia do as­
sunto.

- 29-
SÕBRE
O AUT OR

Farís A ntonio S. Michaele, intelectual brasileiro, vem,


há m u ito s anos, m o v im e n ta n d o as letras e cultura do Brasil, a-
través de livros, conferências, cursos e fundação de centros cul­
turais.
Atualmente, pertence ao Conselho de Cultura do Pa­
raná, Entre outras entidades, faz parte das seguintes:

1 — Academia Paranaense de Letras • Curitiba,


2 — Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense ■Curitiba.
3 — Academia de Letras José de Alencar ■Curitiba,
4 — Centro de Letras do Paraná - Curitiba,
5 — Instituto Néo-Pitagórico ■Curitiba,
6 — Centro do Professorado Paulista - S, Paulo.
7 — Instituto Haris Staden ■S, Paulo,
8 — Centro Heráldico-Genealógico - S. Paulo,
9 — Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - S, Paulo,
10— Casa da Cultura - Limeira - S, Paulo.
11 — Casa de Euclides - S, José do Rio Pardo, S. Paulo.
12 — Instituto Histórico de Paranaguá-Paranaguá - Paraná.
1 3 — Instituto Histórico de Alagoas - Maceió,
14 — Academia Belo-Horizontina. de Letras - Beio Horizonte, Minas Gerais.
1 5 — Casa de Euclides-Nata!, Rio Grande do Norte,
16 — P, E. N, Clube do Brasil - Rio de Janeiro - Estado do Rio.
17 — Associação Passo-fundense de Letras - Passo Fundo, Rio G, do Sul.
1 8 — Academia Riograndense de Letras - Porto Alegre, Estado do Rio
Grande do Sul.
1 9 — Associação Literária Passo-fundense, Passo Fundo, Estado do Rio
Grande do Sut.
2 0 — Instituto Histórico e Geográfico de P. Grossa, P. Grossa - Paraná,

-31 -
2 1 _ Academia Piracicabana de Letras-Piracicaba - Estado de S. Pauto.
22 -• Ordem dos Advogados do Brasil, Rio.
2 3 - Academie Ansaldi-Paris - França.
24 - American International Academy-Nova York - Estados Unidos.
2 5 - International Counci! oí Museums, Londres - Inglaterra.
26 — Academia de Cultura Guarani-Assunção - Paraguai.
27 — Instituto de Historia, Etnologia y Folclore, Tucumán, Argentina.
2 8 — Instituto Argentino de Críticos Literários, Buenos-Aires - Argentina.
2 9 _ Academia Brasileira de Filologia, Rio de Janeiro - Brasil.
3 0 — Casa de Cultura, Lima, Perú,
31 — Academia de Letras de Uruguaiana, Uruguaiana - Rio G, do Sul
32 — Faro dei Titánici ■ Nápoles - Itália.
3 3 — Accademia Letteraria Scientífica Internazionale, Nápoles - Itália,
3 4 — Accademia di Paestum, Salerno - Itália.
3 5 — Accademia dei Magnati ed Autori, Roma - Itália.
3 6 — Accademia dei Magnati B ib lió fili, Nápoles - Itália.
37 — Union Cultural Americana, B. Aires - Argentina,
3 8 — Instituto de Cultura Americana, La Piata - Argentina,
3 9 — Accademia Letteraria Araldica Scientífica-Treviso - Itália.
4 0 — Instituto y Biblioteca Panamericana-B, Aires - Argentina.
41 — Órdende los Insignidos de América-B, Aires - Argentina.
4 2 — Asociación de los Escritores de la Provinda de B. Aires, La Piata
Argentina,
4 3 — Legión Espiritual Americana, La Piata - Argentina.
4 4 — Confraternité Universelie Balzacienne, Paris - França.
4 5 — Asociación Paramertcana de intercâmbio Cultural, La Paz - BolivSa.
4 6 — União dos Trovadores do Brasil, Rio - Estado do Rio.
4 7 — Academia Universal de Humanidad, B. Aires - Argentina.
4 8 — Institut Nord-Africaín d'Etudes Metapsychiques, Argei - Argéiia,
49 — Grupo Americanista de Intelectuales y Artistas, Montevideo - Uruguai.
5 0 — Asociación Internacional de imprensa, Montevideo - Uruguai.
51 — Academia Filosófica Psicomentesof ía, B. Aires - Argentina.
52 — Centro Literário Filosófico "Arca dei Sur", Montevideo - Uruguai.
53 — Sociedad Naturalista Colombiana, Medelín - Colombia.
5 4 — Academia Andronosófica, San Marino
5 5 — Centro Cultural de Filgueiras, Fiigueíras- Portugal.
5 6 — Asociación de los Derechos dei Negro, B. Aires - Argentina.
57 — Centro Cultural Humberto de Campos, Espírito Santo
5 8 — Associação Intercâmbio intelectual, Guiratínga, Mato Grosso -Brasil,

- 32-
m

59 — Centro Cuitural Euclides da Cunha, Ponta Grossa ■Paraná • Brasi!


60 — Museu Campos Gerais ■P, Grossa - Paraná - Brasil

OBRAS

1 — Ensaios Contemporâneos íCiência e Fiiosofia}, Curitiba, 1.940.


2 — Titãs de Bronze (Ritmos da América) - Curitiba, 1.943.
3 — Manual de Conversação da Língua Tupi, P. Grossa, 1,951.
4 — Breve introdução à Antropologia Física, Curitiba, 1.961.
5 — Brazil {an Ethnic Hodge-Podge in Latin America), 1.953
6 — Dicionário Cultural da Língua Portuguesa, Curitiba, 1.967 (Colabora­
ção).
7 — História do Paraná, Curitiba, 1.967 (Colaboração).
8. — Arabismos Entre os Africanos na Bahia, Curitiba, 1.968.
9 — Titãs de Bronze, 2? edição, Curitiba, 1.969,
10 — Raças no Brasi! (Separata de 'Tapejara", P. Grossa, 1.970.
11- Tupi e Grego, P, Grossa, 1.974,
12 — Biografia de Vila Velha, em colaboração, 1,975.

INÉDITOS

Cepa Esquecida.
0 Direito entre os índios do Brasil.
Dicionário de Provérbio e Frases Feitas da Língua inglesa.
Inéditos e Esparsos,

-33-
I
il
i
I
I
I
I
I
I
i
I
»
I
I
I
>

>

I
I
I...
BIBLIOGRAFIA

1 - José Hernández “Martin Fierro", Editorial Ciardia, Buenos Aires,


1.957,
2 - José Hernández "M artin Fierro" y La Vuelta de Martin Fierro",
Colección Cerbo, Buenos Aires, 1.948.
3 • Augusto Maiaret "Diccíonario de Americanismos", Emecê, Buenos
Aires, 1.946.
4 - Arturo Torres - Rioseco "La Gran Literatura Iberoamericana".
Emecê, B. A,, 1,951
5 ■ Pedro Henríquez Urena "Historia de la Cultura ers la América Latina",
México, 1,949.
6 - Pedro Henríquez Urena - "Las CorrientesLiterárias en la América His­
pânica", Biblioteca Americana, México, 1.949.
7 - Ángel Valbuena Agustin del Saz - "Historia de ia Literatura Espahola
y Hispano Americana", Juventud, Barcelona, 1,956.
8 - Amado Nervo - "La Lengua y ia Literatura”, I, Biblioteca Nueva,
Madrid, 1,928.
9 ■ Amado Nervo - “La Lengua y la Literatura", II, Biblioteca Nueva,
Madrid, 1.928,
10 - Jorge Campos - "Antologia Hispano - Americana”, Pegaso, Madrid,
1,950.
11 - Domingo Sarmiento ■ "Facundo", Madrid, Espasa - Calpe, 1.932.
12 - Domingo Sarmiento • “Civilización y Barbarie”, Editorial Ateneo, B,
Aires, 1.952,
13 - Jorge Luiz Borges y José E, Clemente - “EI Lenguaje de Buenos
Aires” , Emecê, Buenos Aires, 1,955.
14 - Américo Castro - "La Peculiaridad Linguística Rioplatense", Editorial
Losada, Buenos Aires, 1,941.
15 - Menéndez y Pelayo - "Historia de ia Poesia Hispano - Americana”,
Santander, 1.958.
16 - Menéndez y Pelayo - História de ia Poesia Hispano-Americana I" ,
Santander, 1.958.
17 • Luís Alberto Sanchez - "Nueva Historia de ia Literatua Americana I I ”,
Asunción, Editorial Guaranía, 1.950
18 - Enrique Anderson Imbert • “Historia de la Literatura Hispano -
Americana", Fondo de Cultura Económica, 1,957.
19 - Ricardo Guiraldes - "Don Segundo Sombra", Editorial Pleamar, B,

- 35-
Aires, 1.943
20 - Ricardo Gúiraldes • “ Don Segundo Sombra", Penguin, 1.948.
21 - T. M. González Barbé - "Cuentos Gaúchos”, Montevideo, 1.930
22 ■ Adrian Recinos - “Memorial deSolola, Anales de los Cakchiqueles”,
Biblioteca Americana, México, 1.950.
23 - Julio S. Storni - "Charia Sobre ia Tradición en "Amigos dei Gaúcho",
Gabinete de Etnologia Biológica, Tucumán, 1.952,
24 - Julio S. Storni ■ “Gaúcho, Gaúchosy Guapos", Tucumán, 1.950.
25 - Julio S. Storni. - "EJ Homhre dei Tufcma", Tucumán, 1,946
26 - Eudaldo G. Montes - "Acotaeiones Sobre "M artin Pierrô",
Montevideo, 1.952.
27 - Eudaldo G, Montes - "M í Gaúcho", 1.945.
28 ■ Hidalgo y Ascasubi - “PoesiaGaúcha", i - Biblioteca Americana,
México, 1.955,
29 - Ascasubi, Del Campo, Lussich, Hernández y Lynch ■ "Poesia Gaúcha",
II, Biblioteca Americana, México ■B, Aires, 1.955.
30 - Enrique de Gandía - "Cuiíura y Folclore en América”, EI Ateneo,
Buenos Aires, 1,947.
31 ■ Fernán Silva Valdéz ■ "Cuentos deJ Uruguay", Espasa - Calpe, Buenos
Aires, 1.945.
32 - Benito Lynch ■ “EI Inglês de los Giiesos”, Espasa-Caipe, Madrid,
1.924
33 - Ernst W. Middendorf - “Gramática Keshua”, Aguiiar, Madrid, 1,070.
34 - Alberto Zum Felde - "Proceso Histórico dei Uruguay", Montevideo,
1.930
35 - Fortino Ibarra de Anda y Manuel A, Casartellí • “EI PeriquiJio
S a rnien to "y "M artin Pierrô", Grupo Literária "Bohemeia Poblana"
Puebla, México, 1.966.
35a. Justo Prieto ■Paraguay (La Província Gigante de ias índias), E! Ateneo
Editorial, Buenos Aires, 1.951
35b,Monti • Cuentos de Mí Tierra Chúcara", Etíiciones ALBA, Villa Maria,
Argentina, 1.962.
3 6 - Leopoldo Lugones - EI Payador, H ijo de la Pampa", B, Aires, 1.916.
37 - Vários - "Diccionario de ia Lengua Espahola”, Decimoséptima
Edición, Madri, 1.947 (Real. Academia Espanola).
38 • Enciclopédia Universal Herder, Barcelona, 1.954
39 - Carlos A. Warren - “Emancipación Económica Americana", Editorial
Estadigraph, Buenos Aires, 1.948.
40 - Ange! Rosenblat - “La Población Indígena y eJ Mestizaje en América",
I e II vols,, Editorial Nova, Buenos Aires, 1,954.

-36-
41 - Alejandro Lipschutz- "EI Indoamencanismo y el Probelma Racial
en las Américas”, Edit. Nascimento, 1.944, Santiago, Chile.
42 - Ciarence A. Mills - "EJ Ciima Hace el Hombre", Argonauta, 1.945,
Buenos Aires,
43 - M. ! lin - "El Hombreyla Naturaleza”, Futuro, 1.955, Buenos Aires.
44 ■ Ed. Le Danois • "Le Rythme des Climats", Payot, 1.950, Paris.
45 - Hse Schwidetzky - " Etnobiologia”, Fondo de Cultura, México, 1.955.
46 • Brunhes - "La Geographie Humaine", Alcan, Paris, 1,925
47 ■ Norberto Krebs ■"Geografia Humana", Labor, Barcelona, 1.943.
48 - Darcy Azambuja ■"No Galpão", Coleção Província", Globo, P,
Alegre, 1.955.
49 - E, Veríssimo - "O Tempo e o Vento", Glôbo, P. Alegre, 1.950.
50 ■ Manuel Diégues Júnior - "Regiões Culturais do Brasil", Minist.
Educação e Saúde, Rio, 1.960,
51 - Maxime Aubert - "A Vida Quotidiana no Paraguai", Livros Brasil,
Lisboa, s/d.
52 - C. Lugon ■" A Republica Comunista Cristã dos Guaranis", Paz e Terra,
Rio, 1.968.
53 ■ J. E. Cafruni - "Passo Fundo das Missões", P, Fundo, 1.966.
54 - Vários - " História Geral da Civilização Brasileira", 1.960, Difusão
Européía do Livro ( Época Colonial),
55 ■ Roberto Southey • "História do BrasiJ", Progresso, Bahia, 1.948.
56 ■ Oliveira Viana * "Populações Meridionais do BrasiJ", Brasiliana, S,
Paulo, 1.938
57 ■ Eugênio de Castro - "Ensaios de Geografia Linguística", Brasiliana,
S. Paulo, 1,941
58 - José Hanse! - " História dos Sete Povos das Missões”, Livr.
Missíoneira, S. Angelo, 1,951.
59 ■ Bernardino José de Souza ■ "Dicionário da Terra e Gente do BrasiJ",
Brasiliana, 1,939,
60 - Beaurepaire - Rohan - "Dicionário de Vocábulos Brasileiros",
Progresso, 1.956 ■Bahia.
61 ■ Faris Antonío S. Michaele ■ "Arabismos entre os Africanos na Bahia",
Curitiba, 1.968.
62 - A. Jover Peralta - "Diccionario Guaraní-Espanol", Editorial Tupã,
Buenos Aires, 1,950,
63 • A. Lemos Barbosa - "Pequeno Vocabulário Tupi-Português", S. José,
R b , 1,955,
64 - P. A. Guasch - " Diccionario Guaraní-Castellano", B. Aires, 1.948.
65 ■José de Alencar - "O Gaúcho", Melhoramentos, S. Paulo, 1.946.

• 37 -
66 - Plínio Ayrosa - "Vocabulário da Língua Brasílica”, Departamento
de Cultura, S, Paulo, 1.938.
67 - Antonio Ortiz Mayans - “Diccionarío Guarani - Castellano", Tupâ,
Buenos Aires, 1.948,
68 - P. J. Belot - "Vocabulaire Arabe-Français", im prim em Catholique,
Beyrouth, 1.951
69 - Gilberto Freyre ■“Casa Grande e Senzala", Rio, Schmidt Editor,
Rio, 1.934
7 0 - Gilberto Freyre - “ Problemas Brasileiros de Antropologia", J.
Olympio, Rio, 1.959.
71 - Pedro Calmon - “História do Brasil'1, 1P Tomo, Brasiliana, S, Paulo,
1.939.
72 - Pedro Calmon - "História Social do Brasil", 1? tomo, Espírito da
Scíedade Colonial, Brasiliana, 1,937.
73 - A rtur Ramos - "Introdução à Antropologia Brasileira’’, 1.943, Casa
do Estudante, Rio, 1? Volume
74 - A rtur Ramos - " Introdução -à Antropologia Brasileira", 1,947, 2P
Volume, Casa do Estudante - Rio.
75 - Amorim Girão ■"Geografia Humana", Portucalense E d it, Pôrto,
1.946,
76 - Vidai de la Blache - Princípios de Geografia Humana", Cósmos,
Lisboa, 1,954
77 - E de Martonne - "Panorama da Geografia", Vol, II, Cósmos, Lisboa,
1,954.
78 - A, Tenório d'Aibuquerque - “Gauchismos" (A Linguagem do Rio
Grande do Sul), Livrais Sulina, P. Alegre, Sem Data.
79 - João Francisco Ferreira - "Capítulos de Literatura Hispano-America­
na", Gráfica da Universidade, Pôrto Alegre, 1.959.
80 - Augusto Meyer ■"Guia do Folclore Gaúcho", Aurora, Rio, 1.951.
81 - Augusto Meyer - "Cancioneiro Gaúcho", Globo, 1.952,
82 - Sílvio Júlio - " Literatura, Folclore e Linguística da Ãrea Gauchesca
na Brasil", Coelho Branco Filho, Rio, 1.962
83 - Manoel Bandeira - " Literatura Hispano - Americana", Pongetti, Rio
1.949
84 - IVIanoelito D'Ornelias, ■ "Gaúchos e Beduínos", J. Olympio, Rio,
1.948.
8 5 - Madaline Wallis Nichols.- "O Gaúcho", Zélio Valverde, Rio, 1.946.
86 - Simões Lopes Filho - "Contos Gauchescos e Lendas do Sul", Glôbo,
P. Alegre, 1,950.
87 - Simões Lopes Filho - "Casosdo Romualdo", Glôbo, P. Alegre, 1,952.
88 - Simões Lopes Filho - "Cancioneiro Guasca" Glôbo, P. Alegre, 1,960,
89 - Amaro Juvenal - "A ntôn io Chimango", Glôbo, P, Alegre, 1,961.
90 - Sílvio Júlio - "Estudos Gauchescos de Literatura e Folclore", Natal,
1.953.
91 ■ Carlos Dante de Moraes - "Figuras e Ciclos da História Riograndense",
Glôbo, 1,959.
92 ■ Sylvio da Cunha Echenique - " Bruaca" (Adagiário Gauchesco),
Editorial Souza, Rio, 1.954.
93 - Olyntho Sanmartin - "Mensagem", A Nação, P. Alegre, 1,947,
94 - O lyntho Senmartin - " Bandeirantes no Sui do Brasil", A Nação, P.
Alegre, 1,949.
95 - Romaguera Correia, Antônio A. P. Coruja, Luís Carlos de Moraes e
Roque Callage - " Vocabulário Sul-Riograndense”, Edit. Glôbo, P.
Alegre, 1.964,
96 - Walter Spalding - "Tradições e Superstições do Brasil-Sui", Simões,
Rio, 1,955,
97 - E. F, Souza Docca - " História d o R ip Grande do Sul", Simões, Rio,
1.954.
9 8 - Roque Callage - " Vocabulário Gaúcho", Glôbo, P. Alegre, 1,928
(2? Edição)
99 - Luís Carlos de Moraes - " Vocabulário Sul-Riograndense", P. A,,
1.935.
100 - Guilherme César - " História da Literatura do Rio Grande do Sul",
Glôbo, 1.956.
101 - Gustavo Barroso -"Terra de Sol", Livraria S. José, Rio, 1.956,
102 - Roque Callage - "O Drama das Coxilhas", Monteiro Lobato, S. Paulo,
1.923,
103 - José A iípio Goulart - "Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil",
Conquista, Rio, 1.961.
104 - J. E, Erichsen Pereira - "História de Caminhos", Curitiba, 1,962.
105 - Carlos Teschauer - " Poranduba Riograndense", P. A,, 1.903.
106 - Capistrano de Abreu - " Capítulos de História Colonial", Briguiet,
Rio, 1,934
107 - Capistrano de Abreu - "Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil",
Rio, 1.930.
108 - Aluísio de Almeida - Vários Trabalhos no "Estado de S. Paulo".
109 - Euciidesda Cunha - "Os Sertões", Livraria Francisco Alves, Rio,
1.950.
110 - Euelides da Cunha - "Los Sertones", Editorial Claridad, Buenos Aires,
1.942.

- 3 9-
i
W " - ::

^ 111 - Antenor Nascentes - “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa1',


* Rio, 1.932.
) 112 - Cyro Ehlke - " A Conquista do Planalto Catarinense", Editora Laudes,
I Rio, 1.973.
" 1 1 3 - Ribas Silveira ' "História do Tropeirismo” (em vários artigos),
í Ponta Grossa.
| 114 - Antônio Joaquim de Macedo Soares - "Estudos Lexicográficos do
Dialeto Brasileko", Rio, 1.942
I 115 - Francisco de Assis Carvalho Franco - "Dicionário de Bandeirantes e
| Sertanistas do Brasii", S. Paulo, 1.954.
116- João Ribeiro - " História do Brasii", Rio, 1.928.
* 117 - Jayme Cortezão - “Introdução à História das Bandeiras", numerosos
^ artigos em " 0 Estado de S. Paulo".
. 118 - J. B. Magalhães - " A Compreensão da Unidade do Brasii",
Biblioteca do Exército, Rio, 1,956.
í 1 19 - Egon Schaden - "Aspectos Fundamentais da Cuitura Guarani",
| S. Paulo, 1,964.
120 - F. de Paula Cidade ■“Dois Ensaios de História", Biblioteca do
^ Exército, 1,966.
} 121 - Waido Frank - “ América Hispânica", CEB, Rio, 1.946,

>
>

I
>

>
>
\
I

SLfIEa S E I H L BE E i t t S I K
iliS E
\

40-
Endereço de Correspondência:
Prof. Faris A n ton io S, Míchaele.

Caixa Postal, 337

Ponta Grossa - Paraná - Brasil


ÍNDICE

Páginas

A R espeito dêste L iv ro . 1

G auchism os do Prata e Gauchism os do Brasil


1? C a p í t u l o ............................................................ . 3

2? " . . . . . . . .........................
. 6

3P
. 10

. 14
4P

, 16
5P

. 20
6P

7o . 23

. 25
8?

. 27
N otas E xp lic a tiv a s , .

. 31
Sôbre o A u to r . . .

35
B ib lio g ra fia

Você também pode gostar