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CURSO DE EXTENSÃO SUPERIOR

DISCIPLINA: ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

PROF.: ____________________________
PROFESSOR: _______________________________________________________________

DATA: _______ /_______ /__________

CARGA HORÁRIA: 60h

POLO: _______________________________

ALUNO: ___________________________________________________________________

EMENTA
Atividade física. Exercícios físicos; Aptidão física; Atividade física, qualidade de vida e saúde;
Aptidão física, qualidade de vida e saúde; A importância da atividade física na promoção da saúde
da população infanto-juvenil; Atividade física para gestantes; Atividade física para idosos.

OBJETIVOS

 Diferenciar atividade física e exercício físico;


 Discutir a importância da atividade física na promoção e melhoria da qualidade de vida;
 Analisar a importância do profissional de Educação física para a promoção da atividade
física voltada a saúde.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

 O que é saúde;
 Atividade física;
 Exercício físico;
 Atividade física e qualidade de vida;
 Atividade física versus sedentarismo;
 Avaliação física de indivíduos.

METODOLOGIA / RECURSOS DIDÁTICOS

Aulas expositivas e interativas; Leitura e discussão de textos; Aulas práticas; Orientações para
produção de trabalhos.
Recursos didáticos: Projetor multimídia; Equipamento de som.
AVALIAÇÃO

Avaliação Presencial:
Frequência, participação, produção e apresentação de trabalhos.

FONTES DE PESQUISA
BIBLIOGRAFIA:

ACSM. Aptidão Físicas na Infância e na Adolescência: Posicionamento Oficial Do Colégio


Americano de Medicina Esportiva. Disponível em: http://www.acsm.org.br.htm. Acesso em 18 de
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124.
ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA, E QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À
SAÚDE

Denise Sardinha Mendes Soares de Araújo


Claudio Gil Soares de Araújo

O tempo de vida do ser humano tem aumentado significativamente e ter uma vida
longeva, hoje em dia, já não é uma grande vitória, quando a média atual de expectativa
de vida nos países desenvolvidos está em torno de oitenta anos e quando as pesquisas
biomédicas encontram dados que as permitem inferir sobre o potencial genético do
homem para viver até mais de cem anos.
Para se viver muito, níveis dignos de sobrevivência e de direitos humanos devem
ser respeitados e o cidadão deve ter acesso aos avanços científicos e tecnológicos das
diferentes áreas relacionadas à saúde. Inovações em técnicas, procedimentos,
medicamentos, vacinas e novos conhecimentos sobre alimentação e sobre os efeitos
agudos e crônicos do exercício físico colaboraram para esse fenômeno.
Existe um número cada vez maior de estudos e documentos que comprovam e
relatam os benefícios da aptidão física para a saúde. Pesquisadores nas áreas de
exercício físico, Educação Física e de Medicina do Exercício e do Esporte, pelos métodos
de pesquisa epidemiológica, já demonstraram que tanto a inatividade física como a baixa
aptidão física são prejudiciais à saúde. Recentemente, Petrella e Wight verificaram que
muito embora o aconselhamento sobre exercício físico seja frequentemente realizado
pelos médicos de família, eles relatavam que o pouco tempo disponível e a falta de
conhecimento específico limitavam de certo modo essa prática.
Em outro estudo também recente, observou-se que entre mulheres médicas
americanas havia uma tendência a aquelas que estavam melhorando os seus hábitos de
exercício físico serem as que mais frequentemente aconselhavam os seus pacientes a se
exercitarem. Na verdade, até mesmo a população já incorporou a ideia de que o
“movimentar-se” faz parte de nossas vidas e que a sociedade moderna tende a ser
privada veladamente do seu direito de ir e vir, de seu tempo ativo de lazer, etc., seja por
falta de segurança pública, de informação adequada, e de educação, ou ainda por
responsabilidade da família e/ou da escola, contribuindo para que se acabe com o hábito
natural das pessoas: “exercitar-se”.
Programas de incentivo à prática de atividade física precisam ser estimulados por
políticas públicas. O ato de exercitar-se precisa estar incorporado não somente ao
cotidiano das pessoas, mas também à cultura popular, aos tratamentos médicos, ao
planejamento da família e à educação infantil. Essa necessidade se dá por diferentes
fatores: do fator social, quando se proporciona ao homem o direito de estar ativo
fisicamente em grupo, ao fator econômico, quando se constata que os custos com saúde
individual e coletiva caem em populações fisicamente ativas. Este texto trata das relações
entre aptidão física, saúde e qualidade de vida. Começaremos definindo essas variáveis
e, posteriormente, analisaremos a relação entre qualidade de vida relacionada à saúde e
aptidão física.

DEFININDO ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

Para o termo atividade física, encontramos na literatura diversas definições. A


definição apresentada pelo Manifesto do Cirurgião Geral dos Estados Unidos em 1969
considera como atividade física qualquer movimento corporal com gasto energético acima
dos níveis de repouso, incluindo as atividades diárias, como se banhar, vestir-se; as
atividades de trabalho, como andar, carregar; e as atividades de lazer, como se exercitar,
praticar esportes, dançar, etc. Caspersen et al.11 e, posteriormente, Shephard e
Balady15, definem atividade física como qualquer movimento corporal produzido pelos
músculos esqueléticos que resultem em gasto energético, não se preocupando com a
magnitude desse gasto de energia. Estes autores diferenciam atividade física e exercício
físico a partir da intencionalidade do movimento, considerando que o exercício físico é
um subgrupo das atividades físicas, que é planejado estruturado e repetitivo, tendo como
propósito a manutenção ou a otimização do condicionamento físico.
Ainda para Pate et al. e Caspersen et al. essas definições podem ser
complementadas assinalando que o exercício tem como objetivo melhorar um ou mais
componentes da aptidão: condição aeróbica, força e flexibilidade. Complementando essas
definições temos as propostas por Fahey et al., nas quais a atividade física define-se
como qualquer movimento do corpo realizado pelos músculos que requer energia para
acontecer, podendo ser apresentado em um continuum, com base na quantidade de
energia despendida. Como exemplos, teríamos que subir escadas ou simplesmente
caminhar são atividades fáceis que precisam de pouco esforço e gastam pouca energia,
considerando que essa realização seja feita por pessoas sadias. Já andar de bicicleta ou
correr alguns quilômetros demanda uma habilidade e um gasto energético
consideravelmente maior. Exercício físico para eles se diferencia também pela
intencionalidade e planejamento, enquanto a expressão aptidão física representaria a
habilidade do corpo de adaptar-se às demandas do esforço físico que a atividade precisa
para níveis moderados ou vigorosos, sem levar a completa exaustão.
Dentro do nosso contexto, a questão da aptidão física é abordada por Guedes em
seu capítulo nas “Orientações Básicas sobre Atividades Físicas e Saúde para
Profissionais das Áreas de Educação e Saúde”, definindo-a como “um estado dinâmico de
energia e vitalidade que permite a cada um não apenas a realização das tarefas do
cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas
sem fadiga excessiva, mas, também, evitar o aparecimento das funções hipocinéticas,
enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria de viver”.
Propõe também que a aptidão física seria a capacidade de realizar esforços físicos sem
fadiga excessiva, garantindo a sobrevivência de pessoas em boas condições orgânicas
no meio ambiente em que vivem.
Os componentes da aptidão física englobam diferentes dimensões, podendo voltar-
se para a saúde e abrangendo um maior número de pessoas, valorizando as variáveis
fisiológicas como potência aeróbica máxima, força, flexibilidade e componentes da
composição corporal, podendo voltar-se para as habilidades desportivas em que as
variáveis, tais como agilidade, equilíbrio, coordenação motora, potência e velocidade, são
mais valorizadas, objetivando o desempenho desportivo.
Shephard e Balady ressaltam ainda, nesse seu artigo recente, a inter-relação e a
diferença entre as intensidades de exercício absoluta e relativa, quando definimos a
quantidade ou a dose de atividade física ou de exercício de um indivíduo. A dose de
exercício se refere à quantidade de energia despendida nas atividades físicas que
requerem movimentos musculares e de repetição e pode ser expressa quilocalorias. A
intensidade absoluta reflete a taxa de energia gasta durante o exercício, enquanto a
intensidade relativa se reflete na porcentagem relativa da potência aeróbica máxima que é
mantida durante o exercício e é expressa como a porcentagem do consumo máximo de
oxigênio.
Após definirmos atividade física, exercício e aptidão física, esclarecemos que a
saúde não se caracteriza apenas como um estado de ausência de doenças nos
indivíduos, mas como um estado geral de equilíbrio no indivíduo, nos diferentes aspectos
e sistemas que caracterizam o homem; biológico, psicológico, social, emocional, mental e
intelectual, resultando em sensação de bem-estar. Para esses autores, a saúde é algo
continuo com pólos positivos e negativos. Os pólos positivos são associados à
capacidade das pessoas de aproveitar a vida e de superar desafios e não apenas
ausência de enfermidades, enquanto o pólo negativo é associado com a morbidade e, em
seu extremo, com a mortalidade, entendendo a primeira como um estado de saúde,
resultado de uma doença específica. Já a mortalidade é usualmente definida em termos
específicos para um determinado grupo populacional, levando em conta o sexo e a faixa
etária.
Quando ouvimos a expressão qualidade de vida, podemos ter uma idéia conceitual
sobre ela, mas defini-la não tem sido tarefa das mais fáceis. Adotaremos a postura de
discutir um pouco, na medida em que a palavra “qualidade”, para o senso comum, pode
significar uma coisa boa. Todavia, se observarmos a definição expressa no dicionário do
Aurélio, temos “propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas capaz de
distingui-las das outras e de lhe determinar a natureza”, observaremos que esse atributo
ou condição pode ser positivo ou negativo. Quando falamos na relação entre a atividade
física e a qualidade de vida, precisamos estar conscientes de que essa relação pode ser
negativa, seja pela ausência de resultados positivos para a saúde, seja pela ausência de
atividade física ou também por efeitos deletérios que a atividade física pode causar à
saúde e consequentemente à qualidade de vida do cidadão.
Quando ampliamos os efeitos de uma vida ativa fisicamente para além da saúde e
colocamos os efeitos do exercício, adequadamente realizado, como fator indispensável
para a melhoria na qualidade de vida de um dado indivíduo, aí estamos partindo da
premissa de que alguém inativo e sedentário não tem boa qualidade de vida. Contudo, a
classificação de uma qualidade de vida boa ou ruim está diretamente relacionada à
maneira do indivíduo entende o sentido da vida. Talvez um indivíduo de 30 anos,
intelectual, artista plástico, fumante moderado, com nível normal de estresse inerente à
profissão e sedentário, seja um candidato em potencial para contrair doenças crônico-
degenerativas, mas que, se arguido sobre o seu nível de qualidade de vida, responda que
o considera bom e que esse o satisfaz. A questão da qualidade de vida passa até mesmo
pelas expectativas (baixas ou altas) das pessoas em relação à sua vida e à sua saúde.
Neste texto, toda vez que mencionarmos a palavra qualidade de vida estaremos
considerando um nível de qualidade, respeitando as expectativas do indivíduo, mas
principalmente considerando os padrões esperados para o seu gênero, idade, condição
socioeconômica e valores éticos e culturais. Não podemos considerar apenas as
expectativas do indivíduo, uma vez que temos formação para avaliarmos esses padrões
de modo profissional e por sabermos que existem pessoas com baixa estima e que têm,
naturalmente, expectativas muito baixas para o seu bom nível de qualidade de vida,
cabendo aos profissionais da área intervir veementemente para mudar esse quadro,
respeitando, naturalmente, o livre arbítrio humano que confere aos indivíduos a
capacidade de escolha sobre o que deseja para si, respeitando a sua escolha de
interação com o meio ambiente em que vive. Esse fator de interação com o meio
ambiente, além de ser genético, influencia sobremaneira tanto a quantidade como a
qualidade de vida das pessoas.
Qualidade de vida pode ser vista em termos individuais, de grupos ou de grandes
populações e os domínios de qualidade de vida mais frequentemente descritos na
literatura dividem-se em quatro categorias: a) condição física e habilidades funcionais; b)
condição psicológica e sensação de bem-estar; c) interação social; d) fatores e condições
econômicas. Embora alguns autores estrangeiros citem os fatores sociais e econômicos
como uma das categorias que devem ser levadas em consideração quando avaliamos a
qualidade de vida de um indivíduo ou um grupo de pessoas, em países em
desenvolvimento como o Brasil, devemos provavelmente considerar um outro fator: os
direitos humanos (isto é, direito à educação, moradia, ao trabalho, ao emprego, à
segurança pública...). Sem esses direitos básicos e primários garantidos, não podemos
sequer iniciar uma avaliação sobre os níveis de qualidade de vida das pessoas.
A qualidade de vida de uma pessoa não pode ser considerada, naturalmente,
apenas pela via da saúde. Esse conceito ainda está por amadurecer, mesmo porque, se
considerarmos saúde apenas como ausência de doenças, estamos tendo uma visão
simplista desse conceito amplo que envolve outros fatores já citados anteriormente.
Consideraremos a boa condição física como um desses fatores importantes para a
prevenção e tratamento de doenças e manutenção da saúde, como um instrumento
precioso para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À SAÚDE


Podemos delimitar a qualidade de vida em dois tipos: qualidade de vida não
relacionada à saúde e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). A qualidade de
vida não relacionada à saúde inclui, segundo Cramer e Spilker, quatro domínios: a)
interno pessoal; b) pessoal social; c) meio ambiente natural externo; e d) meio ambiente
social externo. Cada um desses domínios subdivide-se em diferentes componentes que
dependem de fatores individuais. A QVRS representa a parte da qualidade de vida ligada
diretamente à saúde do indivíduo. Fatores externos e internos afetam a percepção, a
função e a sensação de bem-estar de uma pessoa, como no exemplo citado por Cramer e
Spilker no qual fatores do meio ambiente podem ter um grande impacto na QVRS de uma
pessoa que sofre de asma brônquica.
A comunidade científica americana tem procurado definir o que eles entendem como
QVRS, sem, contudo, encontrar um consenso absoluto entre os pesquisadores. Para uma
grande maioria, a QVRS reflete os efeitos funcionais de uma doença e seu consequente
tratamento sobre um paciente tal como é percebido pelo mesmo. Essa percepção do
paciente passa pela sua auto-avaliação sobre atributos tais como conforto resultante,
sensação de bem-estar, capacidade de manter funções físicas emocionais e intelectuais
razoáveis e nível de habilidade para participar de atividades com a família, no local de
trabalho e na comunidade. Com relação aos atributos, fica claro que a QVRS envolve a
avaliação de função subjetiva pelo paciente. A QVRS é agora bastante aceita como uma
medida apropriada para o somatório do tratamento e eficácia em pesquisas clínicas. Nos
Estados Unidos, o Instituto Nacional de Saúde ordenou a inclusão da QVRS na maioria
dos seus ensaios clínicos na avaliação dos resultados, em adendo aos conceitos
clássicos de morbidade e de mortalidade. Observamos também que participar de
atividades com a família, no trabalho e na comunidade, inclui a capacidade de realizar
atividade física, tal como a definimos no início deste artigo, daí resultando a relação entre
aptidão física, saúde e qualidade de vida.

PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA REGULAR DE ATIVIDADE FÍSICA NA POPULAÇÃO

Todas as pessoas envolvidas em exercício físico regular seja em um esporte, grupo


de dança, ou programa de reabilitação cardíaca, o fazem porque gostam e/ou porque
necessitam. Podemos ser ativos fisicamente sem estarmos, contudo envolvidos em
programas com supervisão ou treinamento bastando, para isso, que estejamos envolvidos
em atividades diárias ou de trabalho que demandem níveis razoáveis de atividade física e
de gasto energético. Trabalha no arado, no campo, certamente resulta e demanda um
nível alto de aptidão física. Níveis altos das variáveis, força, potência aeróbica máxima e
alto índice de massa corporal magra são tipicamente encontradas nesses trabalhadores.
Acontece que, junto com o condicionamento físico, deve vir à sensação de bem-
estar. Trabalhadores do sertão nordestino, nesse quadro político e econômico neoliberal,
podem ter ótimos níveis de aptidão física sem, contudo, serem saudáveis ou
considerarem bom o seu nível de QVRS. O trabalho que não resulta em realização
pessoal, justa remuneração, aumento da auto-estima, não pode ser realizado com prazer
e automaticamente não contribui para os níveis de saúde esperados. A condição de
trabalho dos cidadãos que conseguem ainda um emprego no nosso país não é objeto de
estudo deste artigo, mas não podemos generalizar quando dizemos que um trabalho que
demande alto nível de atividade física contribui para a melhoria da saúde, se entendemos
saúde não só como ausência de doenças. Condições outras, como a alimentação, devem
ser incorporadas na nossa avaliação.
Quando imaginamos uma sociedade ativa fisicamente, sonhamos com uma
sociedade na qual crianças, jovens, adultos e idosos de diferentes gêneros, classe social,
etnia e outras opções, mantenham e possam realizar um hábito inerente ao ser humano
que é exercitar-se. Apesar de vivermos em uma sociedade industrializada, imaginamos
que essa sociedade priorize uma escola ativa fisicamente, práticas sociais ativas
fisicamente, acesso ao conhecimento dos benefícios de fazermos exercícios regulares e
acesso a programas públicos de atividade física. Para isso, é necessário que o
planejamento público e o privado da sociedade incorporem condições tais como
segurança pública, parques e jardins, centros comunitários que proporcionem diferentes
atividades físicas, etc.
O nível de atividade física de uma população está dentro do escopo cultural do país
e do povo. A sociedade canadense, nos últimos 20 ou 30 anos, por ter passado por uma
situação progressiva de migração das pessoas das cidades pequenas para as cidades
grandes, teve necessidade de oferecer diferentes oportunidades de atividades físicas para
a população40. Também por causa da política de estímulo à imigração estrangeira, a
sociedade que era estabelecidamente branca, anglo-saxônica e protestante, transformou-
se em uma sociedade multicultural, multirracial, tornando- se culturalmente mais ativa
fisicamente, o que nos mostra que ser ativo fisicamente é um valor social e um dado
cultural.

MANTENDO O HÁBITO INATO DO INDIVÍDUO: MOVIMENTAR-SE

Se quisermos minimizar a prevalência do sedentarismo da nossa sociedade e da


vida de nossas crianças, jovens e adultos, temos que atuar desde os primeiros anos
escolares. Os anos escolares devem proporcionar à criança a oportunidade, o prazer e o
conhecimento de como realizar exercícios, se queremos que ele não se torne um adulto
sedentário. Aos professores não deveria bastar-lhes que o seu aluno realizasse bem as
tarefas da Educação Física Escolar. Existe um sinal inconfundível para afastar o que tem
sido denominado de “ortopedia da aprendizagem”: o prazer do aluno quando consegue
realizar uma tarefa, apropriando- se do conhecimento, implicando em sua corporização
prática, que resulta em prazer corporal. Já é comprovado que a experiência da escola é
importante para adquirir-se o hábito de exercitar-se. Ferreira, em seu trabalho sobre
cidadania, defende que a escola não é um espaço apenas para transmitir conteúdos, mas
também para criar hábitos e desenvolver atitudes.
Pate et al concluíram que comportamentos fisicamente ativos são marcados durante
a infância. Powell e Dysinger afirmaram que muito embora ainda sejam desconhecidos os
determinantes de uma vida ativa fisicamente, as participações em esportes escolares e
Educação Física durante a infância e adolescência são frequentemente mencionadas
como fatores de promoção de um estilo de vida ativo na vida adulta. Sendo isso uma
constatação, a política pública brasileira tem que se preocupar mais vigorosamente em
promover e estimular a Educação Física Escolar. Demarco e Sidney, pesquisadores
canadenses, recomendam que as escolas devem desenvolver e estimular atividades
aeróbicas por serem mais relacionadas com a saúde, além da priorização justa com a
recreação, o jogo, ensinando das vantagens da atividade física regular, como um dos
fatores que influenciam a qualidade de vida, juntamente com outros fatores como:
habitação, saneamento básico, emprego, liberdade, etc.
As crianças e os adolescentes são naturalmente mais fisicamente ativos que os
adultos; todavia, esta participação diminui quando se inicia a vida adulta. O Centro
Americano de Controle e Prevenção de Doenças desenvolveu junto a especialistas de
universidades e a órgãos voluntários de ciências do exercício, educação e saúde, um guia
baseado na literatura especializada, em nível municipal, estadual e nacional, onde foram
selecionados dez aspectos importantes para programas de atividades físicas voltados
para o público jovem. Destacaram-se, entre eles, ambientes sociais e físicos que
estimulem e possibilitem a atividade física, currículo em Educação Física e políticas que
promovam um estilo de vida fisicamente ativo e prazeroso.
Reforçando a idéia de que a prática regular de exercício físico possui boa correlação
com um nível adequado de qualidade de vida, cientistas afirmam que pouca atividade
física é associada a outros comportamentos negativos para a saúde em jovens e
adolescentes; jovens e adolescentes devem ser alertados e encorajados a envolverem-se
em estilo de vida ativo, se queremos controlar os custos na área de saúde, reduzir as
incidências de doenças crônico-degenerativas e melhorar a qualidade global de vida do
cidadão. Um país como o Brasil, com injustiça social exacerbada, deveria devolver à
grande massa de crianças e de jovens adolescentes, seus direitos à escola, ao jogo e a
espaços públicos de lazer ativo fisicamente.
Profissionais da área de exercício devem tentar, pela escola, que os jovens
incorporem no seu imaginário social o ato de movimentar-se com prazer. Assim como as
crianças e os jovens, os pais precisam ser educados adquirindo o conhecimento dos
múltiplos benefícios derivados do envolvimento conjunto deles e dos seus filhos em
programas de atividades físicas. Depois da família, essa é uma das funções da escola.
Programas de atividades físicas na escola e nas aulas de Educação Física Escolar podem
ajudar crianças e adolescentes a compreenderem os benefícios da prática regular da
atividade física, não somente do ponto de vista fisiológico, mas também pelo ponto de
vista da cultura, da corporeidade, da auto-estima e da autonomia.
Se a Educação Física na escola tiver como um de seus objetivos habilitar os alunos
a compreenderem os determinantes culturais, fisiológicos, biomecânicos, sócio-político-
econômicos e pedagógicos da prática desportiva e do exercício físico em geral, ela estará
contribuindo para a construção de estilos de vida ativos e saudáveis.”
As campanhas sobre atividade física no Brasil ainda são absolutamente tímidas e os
programas e as campanhas para a população são quase inexistentes, o mesmo
acontecendo com as pesquisas para se avaliar o nível de aptidão física da população.
Algumas tentativas já foram implementadas; todavia, sabemos que há um longo caminho
a percorrer. Em 1988, o Ministério da Saúde, através de uma agência especializada,
desenvolveu o Projeto Saúde, que tinha como objetivo avaliar o estilo de vida do
brasileiro, tendo-se medido o nível de atividade física da população.
Foram entrevistadas cerca de duas mil pessoas em 12 cidades, encontrando 67%
dos respondentes como “não praticantes de exercício físico regular”. Em 1996, o INDESP
tentou realizar uma pesquisa nesse sentido pelo telefone; contudo, o projeto não foi
adiante. Segundo Nahas, embora o Programa Agita São Paulo indique níveis de
sedentarismo na população em até 80%, essas são estimativas pessimistas e ele levanta
dúvidas sobre os instrumentos utilizados. A qualidade e a validade dos instrumentos de
medidas utilizados não levam em conta, na sua maioria, as diferenças de idade, sexo,
etnia, níveis social e educacional das pessoas. A maioria desses instrumentos é aplicada
em homens e é sensível a atividades mais moderadas e intensas, mas esquece das
atividades mais leves do cotidiano, que, por serem intermitentes, também dificultam a
estimativa de gasto energético.

REFERÊNCIAS

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Petrella RJ, Wight D. An office-based instrument for exercise counseling and


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Med 2000;9:334-344.
A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE DA
POPULAÇÃO INFANTO-JUVENIL

Sergio Luiz Souza Junior

A atividade física apresenta diversos efeitos benéficos ao organismo, sendo


recomendada como uma estratégia de promoção da saúde para a população. Entretanto
vários estudos mundiais incluindo o Brasil apontam para um elevado índice de
sedentarismo em todos os grupos etários, variando de 50% a mais de 80% na população
mundial (MENDES et al., 2006). Atualmente vários estudos têm sido amplamente
divulgados e discutidos na literatura científica a respeito dos benefícios da prática da
atividade física associados à saúde e ao bem-estar, assim como os riscos que predispõe
ao aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções orgânicas relacionadas ao
sedentarismo.
Vários estudos destacam que hábitos de atividade física, incorporados na infância e
adolescência possivelmente possam transferir-se para idades adultas (GUEDES et al.,
2001). De acordo com o Colégio Americano de Medicina Esportiva a aptidão física para a
criança e adolescente deve ser desenvolvida como primeiro objetivo de incentivo a
adoção de um estilo de vida apropriado com a prática de exercícios por toda a vida, com o
intuito de desenvolver e manter condicionamento físico suficiente para melhoria da
capacidade funcional e da saúde (ACSM, 2007).
Devem ser realizados programas escolares focando em mudanças na educação e
do comportamento para incentivar o engajamento em atividades apropriadas fora do
horário das aulas. Os professores de educação física em especial apresentam um papel
de extrema relevância para dar assistência nas formas de integrar outros aspectos da
promoção da saúde (bons hábitos nutricionais, não fumar, o perigo das drogas
relacionando o esporte, etc.) nas instruções relacionadas à saúde (ACSM, 2007).
A criança que é fisicamente ativa tem mais chance e se tornar um adulto ativo,
destacando o ponto de vista de saúde pública e medicina preventiva, a promoção da
atividade física na infância e na adolescência significa estabelecer uma base sólida para a
redução da prevalência do sedentarismo na idade adulta, contribuindo desta forma para
uma melhor qualidade de vida (LAZZOLI et al., 2007).
O aumento da obesidade e sobrepeso na população brasileira é indicativo de um
comportamento epidêmico, com base em estudos realizados nas últimas três décadas,
sendo que está ocorrendo um aumento gradativo de sobrepeso e obesidade desde a
infância até a idade adulta. O tratamento convencional tem como base à redução na
ingestão calórica, aumento do gasto energético, modificação comportamental e
envolvimento familiar no processo de mudança (SBEM, 2005); (OLIVEIRA e FISBERG,
2003).
O presente texto visa expor o impacto da inatividade física e suas consequências em
crianças e adolescentes em idade escolar, destacando a importância da aplicação de
programas que visem um estilo de vida mais ativo nessa população, tendo como principal
interventor no âmbito escolar o profissional de educação física.

Atividade física versus sedentarismo


A atividade física pode ser definida como qualquer movimento produzido pelos
músculos esqueléticos que resulte em gasto energético. A atividade física contribui
consideravelmente para a economia dos gastos em saúde pública, pois auxilia na
prevenção e no tratamento direto para saúde dos efeitos decorrentes do sedentarismo.
Em algumas regiões do Brasil a prevalência de sedentarismo em adultos é em torno de
70%. Poucos estudos ainda são encontrados sobre o nível de atividade física em crianças
e adolescentes na literatura brasileira (JOVENESI et al., 2004).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam para
80,8% de adultos sedentários. Em um estudo na cidade de São Paulo, encontrou-se uma
prevalência de sedentarismo de 68,7% em adultos. Nos Estados Unidos mais de 60% dos
adultos e em torno de 50% dos adolescentes são considerados como sedentários, de
acordo com o National Center for Chronic Disease prevention and Health promotion
(OEHLSCHLAEGER et al., 2004).
O sedentarismo está ligado ao desenvolvimento várias doenças: obesidade, doença
coronariana, hipertensão diabetes tipo 2, osteoporose, câncer de cólon, depressão
(JOVENESI et al., 2004).
Uma pesquisa realizada na cidade do Rio de Janeiro observou que apenas 20% dos
adolescentes realizavam atividade física com regularidade. A prática regular de atividade
física em que ocorre o aumento do gasto energético tem um impacto positivo na
prevenção de doenças cardiovasculares (DCV), redução da pressão arterial e elevação
da lipoproteína de alta densidade (HDL) (REGO et al., 2006). O gasto metabólico gerado
pelo sedentarismo, aliado ao excesso de consumo energético, apresenta relação com
DCV e à obesidade (REGO et al., 2006).
As preferências alimentares das crianças, assim como as práticas de atividades
físicas são influenciadas diretamente pelos hábitos de vida dos pais, que muitas vezes
persistem na idade adulta, reforçando a hipótese que fatores ambientais são decisivos na
manutenção de hábitos de vida saudáveis (OLIVEIRA et al., 2003).
Alguns estudos como o de Baruki et al. (2006) relatam que assistir televisão por
mais de três horas/dia e jogar videogame por mais de duas horas/dia são fatores de risco
para sobrepeso e obesidade, verificando uma correlação positiva entre o tempo gasto
nessa atividade e o índice de massa corporal (IMC).
Nas últimas décadas, a população infanto-juvenil tornaram-se menos ativas
(GIUGLIANO e CARNEIRO, 2004). O Framingham Childrens Study, estudo longitudinal
com crianças de quatro a onze anos de idade, confirma maiores valores de IMC no grupo
que assistiu mais à televisão (>3 horas/dia) e os menores valores no grupo que assistiu a
menos televisão (<1,75 hora/dia). A American Academy of Pediatrics sugere que o limite
para televisão e videogame é de duas horas/dia. As crianças mais sedentárias assistem
mais a televisão do que as crianças mais ativas e estão mais expostas ao aumento
ponderal (BARUKI et al., 2006).
Segundo Cohen (1992) apud. Pinho (1999) o comportamento físico sedentário é um
dos principais causadores do excesso de gordura corporal em crianças e adolescentes. O
autor relata ainda que estes sujeitos com sobrepeso e obesos são menos ativos
fisicamente do que seus pares magros e ressalta a preocupação com os níveis de
gordura corporal e quantidade de atividade física diária tanto em crianças quanto em
adultos.
Para Pinho e Petroski (1990) apud. Oehlschlaeger et al. (2004) há uma dificuldade
de determinar os níveis habituais da prática de atividades físicas de crianças e
adolescentes devido a dificuldade de desenvolver instrumentos padronizados de medida,
impossibilitando a obtenção de informações conclusivas em relação ao comportamento
físico dessa população.

Atividade física e obesidade infantil


De acordo com Wilmore (2000) apud. Bernardes; Pimenta e Caputo (2003)
sobrepeso é definido como o peso corporal que excede o peso normal ou padrão de uma
determinada pessoa, baseado em sua altura e condição física. A obesidade refere-se a
condição em que a pessoa apresenta uma quantidade excessiva de gordura corporal.
O condicionamento físico obtido com a prática de exercício reduz a morbidade
(aparecimento de doenças) e mortalidade, mesmo em pessoas que se mantém obesa
(ACSM, 2003).
“Pessoas obesas não só vivem menos como também tem uma má qualidade de vida
em comparação com indivíduos magros desde a infância”. (BERNARDES; PIMENTA e
CAPUTO, 2003).
A obesidade está associada ao desenvolvimento ou agravamento de inúmeras
disfunções metabólicas, tais como cardiopatias, hipertensão arterial, diabetes,
hipercolesterolemia, hiperlipidemia, entre outras. Um adolescente obeso pode ser
identificado ainda na infância, uma vez que uma criança obesa na infância pode
apresentar de 68% a 77% de probabilidade de permanecer obesa durante a adolescência
(RONQUE et al., 2005). Quanto mais tempo as crianças permanecem acima do seu limite
de peso corpóreo considerado normal, provavelmente mais eles continuarão neste estado
durante a vida adulta. De acordo com Dietz (1995) apud. Pinho (1999) a partir dos seis
anos de idade o excesso de peso corporal não desaparece espontaneamente.
Em várias regiões do país, alguns estudos verificam um crescente quadro de
sobrepeso e obesidade, além de DCV, hipertensão arterial e hipercolesterolemia já
presentes em adolescentes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado
atualmente o perigo do aumento exagerado de massa corporal, em especial no final da
adolescência, observando que 20% dessa população nessa condição apresentam fatores
de risco pra DCV (REGO et al., 2006).
Para o sujeito com problemas em manter o peso corporal na infância, quando não
tratados, segundo Katch e Macardle (1996) apud. Pinho (1999) a chance de tornar-se um
adulto obeso é três vezes maior do que para uma criança com peso normal. Geralmente
isto ocorre porque a criança obesa tem grandes dificuldades para reverter esta situação.
Um estudo realizado na população atendida pelo hospital-escola da Escola Paulista
de medicina mostrou que, aproximadamente 4% a 5% das crianças menores de 12 anos,
que chegam para a consulta em triagem médica apresenta obesidade.
Em um outro estudo domiciliar descrito por Neutzling; Taddei; Rodrigues e Sigulem
(2000) apud. Luiz et al. (2005) de cobertura nacional para representar a população de
adolescentes brasileiros não institucionalizados, foi realizado com o objetivo de descrever
a prevalência de obesidade em 13.715 adolescentes, entre 10 e 19 anos de idade. Os
resultados mostraram que ocorreu uma maior prevalência de obesidade no grupo de
adolescentes do sexo feminino e em adolescentes de nível sócio-econômico mais alto e
de regiões industrializadas (LUIZ et al., 2005).
Inatividade física e distúrbios musculoesqueléticos
São várias as etiologias dos problemas posturais, estes problemas são crescentes
na sociedade moderna já se manifestando na infância e na adolescência. A maioria dos
problemas com a postura são resultados de efeitos cumulativos de uma vida estressante,
maus posicionamentos no trabalho, maus hábitos ao dormir e levar uma vida sedentária
(VERDÉRI, 2007).
A consciência postural deve-se iniciar na infância, quando a criança está em fase de
desenvolvimento físico e seu corpo está sujeito a transformações, porque depois na fase
adulta, sem a presença desse conhecimento, as pessoas já terão muitos vícios posturais
(VERDÉRI, 2007). As alterações morfológicas do sistema locomotor, em virtude de
hábitos posturais associados ao estilo de vida, constituem atualmente uma das mais
graves doenças crônico degenerativas (SHIMIDT e BANKOFF, 2007).
A população escolar merece atenção especial em relação à educação postural, os
escolares mantidos em sala de aula, muitas vezes em posições incômodas e
inadequadas por longos períodos, ficam predispostos a desenvolver vícios posturais
prejudiciais a sua saúde. O impacto do sedentarismo é o principal causador de problemas
de postura. (SHIMIDT e BANKOFF, 2007)
O sedentarismo aliado aos hábitos nutricionais e comportamentais tem um impacto
maléfico na saúde da população, podendo resultar na obesidade e numa série de
doenças crônico- degenerativas, acometendo de forma preocupante crianças e
adolescentes. O impacto negativo da inatividade física e suas consequências na
população infanto-juvenil, precisa ser tratado como problema de saúde pública. Dessa
forma há uma necessidade urgente de aplicação de programas que tenham o objetivo de
estimular o aumento da atividade física espontânea no cotidiano dessa população, como
meio profilático e de tratamento de doenças crônicas já instaladas. Existe à necessidade
de adoção de um estilo de vida mais ativo nas crianças e adolescentes e mudanças
comportamentais também em seus familiares, tendo como peça-chave no ambiente
escolar o professor de educação física.

REFERÊNCIAS

ACSM. Aptidão Físicas na Infância e na Adolescência: Posicionamento Oficial Do


Colégio Americano de Medicina Esportiva. Disponível em: http://www.acsm.org.br.htm.
Acesso em 18 de abril de 2007.
BARUKI, S.B.S. et al. Associação entre estado nutricional e atividade física em
escolares da Rede Municipal de Ensino de Corumbá – MS. Revista Brasileira de
Medicina Esportiva, abr. 2006, vol. 12, n. 2, p. 90-94.

BERNARDES, A.C.; PIMENTA, L.P.; CAPUTO, M.E. Obesidade infantil: correlação


colesterol e relação cintura quadril. Revista Digital Vida e Saúde. Juiz de Fora, v. 2, n. 2,
abril/maio, 2003.

GIULIANO, R. CARNEIRO, E.C. Fatores associados à obesidade em escolares. Jornal


de Pediatria. Porto Alegre, v. 80, n. 1, 2004.

GUEDES, D.P. et al. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes.


Revista Brasileira de Medicina Esportiva. v. 7, n. 6, - nov./dez. 2006.

JENOVESI, J.F. et al. Evolução no nível de atividade física de escolares observados


pelo período de 1 ano. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 12, n. 1, p.
19 - 24, jan./mar. 2004.

LUIZ, AM.A.G. et al. Depressão, ansiedade e competência social em crianças


obesas. Estudo de Psicologia. Natal, abr. 2005, vol. 10, n. 1, p. 35-39.
EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA PARA A SAÚDE

Paulo Vinícius Carvalho Silva

A prática regular de atividade física constitui um elemento essencial à promoção da


saúde e prevenção de algumas doenças que acometem indivíduos e grupos
populacionais. Apesar dos jovens serem a parcela mais ativa da população, os
indicadores de sedentarismo crescente têm alertado os profissionais de saúde pública.
Para diminuir o sedentarismo, estudos destacam a necessidade dos indivíduos
modificarem seus estilos de vida, adquirindo e mantendo ações de promoção da saúde e
prevenção de doenças durante todo o curso de vida. Nesse sentido, a atividade física
praticada regularmente, pelo menos desde a adolescência, proporciona benefícios físicos
e psicológicos considerados preditores da condição de saúde para a vida adulta.
Conforme mencionado, os índices de sedentarismo têm constituído uma grande
preocupação da saúde pública mundial. Isto pode ser causado, entre outros fatores, pela
falta de esclarecimento adequado sobre os efeitos decorrentes da prática de atividade
física regular. Sendo assim, o objetivo geral deste ensaio é sintetizar e analisar as
informações disponíveis sobre a importância da prática da atividade física para a saúde
de crianças e adolescentes, indicando possíveis limitações dos estudos e necessidades
de pesquisas futuras. Espera-se que estas informações forneçam subsídios para o
desenvolvimento de programas de promoção da atividade física para crianças e
adolescentes e incentivem os próprios jovens a buscarem estilos de vida mais saudáveis
e ativos. A atividade física deve ser disponibilizada e praticada por todos os jovens, em
virtude dos benefícios, a curto e longo prazo, que proporciona à saúde.
Um estilo de vida saudável requer que indivíduos e grupos adquiram e mantenham
ações de promoção da saúde e prevenção de doenças durante todo o curso de vida. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que a promoção da saúde envolve tanto
comportamentos individuais como familiares, bem como políticas públicas eficientes, que
protejam as pessoas contra ameaças à saúde e promovam um senso geral de
responsabilidade pela maximização da segurança, da vitalidade e do funcionamento
integral da pessoa (Jenkins, 2007).
As ações de prevenção envolvem três níveis hierárquicos:
a) primária – com objetivo de evitar que a exposição a riscos (biológicos, ambientais,
outros) leve ao desencadeamento de doenças ou traumas;
b) secundária – relacionada à detecção e à intervenção precoces contra condições
de doenças, antes que elas se desenvolvam inteiramente;
c) terciária – com objetivo de prevenir complicações avançadas e sequelas de
doenças já instaladas, bem como promover a reabilitação do indivíduo tanto quanto
possível.
Ou seja, as ações de promoção de saúde e prevenção de doenças pressupõem que
o indivíduo é o principal responsável pela mudança de comportamentos de saúde em si
próprio e que desempenha papel ativo em relação ao contexto de desenvolvimento da
saúde de sua família e comunidade.
A prática regular de atividade física tem sido apontada como um fator relacionado
funcionalmente à promoção da saúde dos indivíduos e à prevenção de algumas
condições de risco a doenças. Ressalta-se, primeiramente, a necessidade da
diferenciação entre os conceitos de atividade física e exercício. De acordo com
Caspersen, Powell e Christenson (1985), atividade física consiste em qualquer movimento
corporal produzido pelos músculos esqueléticos, resultando em maior gasto energético,
quando comparado à taxa metabólica de repouso. Por sua vez, o exercício físico constitui
uma subcategoria da atividade física, de caráter planejado, estruturado, repetitivo e
intencional, com objetivo de manter ou melhorar um ou mais componentes da aptidão
física.
Apesar da relação entre atividade física e estado de saúde, observa-se ainda um
alto índice de sedentarismo entre indivíduos, o que tem sido considerada uma das
maiores preocupações da saúde pública mundial (Allender, Cowburn & Foster, 2006;
Koezuka et al., 2006; Lopes & Maia, 2004). Por exemplo, Stone, McKenzie, Welk e Booth
(1998) já ressaltavam que uma parcela significativa de crianças e adolescentes não é
suficientemente ativa, apontando- se índices de atividade física regular inferiores a 50%.
Jenkins (2007) destaca que o estilo de vida sedentário é o terceiro maior risco de
mortalidade e o quinto maior precursor de incapacitação no mundo pós-industrializado.
Em relação aos jovens, o sedentarismo tem constituído grande preocupação para a
saúde pública. Estudos apontam maiores índices de sedentarismo entre as meninas
(Biddle, Gorely & Stensel, 2004 Stone et al., 1998) e uma tendência à redução do nível de
atividade física com o aumento da idad (Duncan, Duncan & Strycker, 2005; Koezuka et
al., 2006; Lopes & Maia, 2004; Smith & Green, 2005; Twisk, 2001; Stone et al., 1998), o
que justifica o caráter prioritário, atribuído pela saúde pública, nos últimos anos, ao
aumento do percentual de jovens que praticam atividade física regularmente (Stone et al.,
1998; Trost et al., 2003). A melhora do condicionamento físico, proporcionada pelo
aumento da prática de atividade física, é considerada a segunda maneira mais eficaz de
reduzir os riscos de doenças futuras (Jenkins, 2007).
Para diminuir o sedentarismo, enfatiza-se a necessidade da mudança de estilo de
vida desde a infância (Bois, Sarrazin, Brustad, Trouilloud & Cury, 2005; Jenkins, 2007;
Kohl & Hobbs, 1998; Lopes & Maia, 2004; Twisk, 2001). Se praticada regularmente, pelo
menos desde a adolescência, a atividade física proporciona benefícios físicos e
psicológicos considerados preditores da condição de saúde para a vida adulta (Guerra et
al., 2003; Twisk, 2001).
Dunn, Andersen e Jakicic (1998) caracterizam a atividade física como a acumulação
diária de pelo menos trinta minutos de atividades, selecionadas pelo indivíduo,
considerando eventos de tempo livre, domésticos ou relacionados ao trabalho e que
possuem intensidade moderada a vigorosa. Ressalta-se que a atividade física vigorosa é
aquela que faz com que o indivíduo transpire, ou respire intensamente, por pelo menos 20
minutos por dia (Biddle et al., 2004).
A carga de atividade física necessária para jovens alcançarem maior capacidade
funcional e saúde, conforme descrevem Cavill, Biddle e Sallis (2001), deve incluir uma
ação moderada a intensa durante, pelo menos, uma hora por dia. Crianças mais
sedentárias deveriam praticar atividade física moderada a intensa durante pelo menos 30
minutos por dia.
Conforme mencionado, os índices de sedentarismo têm constituído uma grande
preocupação da saúde pública mundial. Isso pode ser causado, entre outros fatores, pela
falta de esclarecimento adequado sobre os efeitos decorrentes da prática de atividade
física regular. Sendo assim, o objetivo deste artigo é sintetizar e analisar os efeitos da
prática da atividade física sobre o estado de saúde de crianças e adolescentes, indicando
limitações dos estudos e necessidades de investigações futuras. Para alcançar seu
objetivo, o artigo pretende:
a) destacar a importância da atividade física para a promoção da saúde e prevenção
de doenças, incluindo o papel do suporte familiar e de amigos para a manutenção da
prática de atividade física dos jovens;
b) descrever variáveis preditoras da prática da atividade física e barreiras
relacionadas à sua efetivação;
c) discutir aspectos relevantes ao planejamento de intervenções que visem o
desenvolvimento de um estilo de vida saudável e mais ativo.

BENEFÍCIOS DECORRENTES DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA


A prática regular da atividade física, em geral, pode proporcionar vários benefícios à
saúde e ainda constitui uma forma efetiva de prevenção à ocorrência de doenças futuras.
Em relação às crianças, a atividade física desempenha papel fundamental sobre a
condição física, psicológica e mental. Conforme descrevem Bois et al. (2005), a prática da
atividade física pode aumentar a autoestima, a aceitação social e a sensação de bem-
estar entre as crianças. Resultados semelhantes foram obtidos por Savage e Holcomb
(citado por Duncan et al., 2005) em relação a adolescentes.
Na idade adulta, estudos ressaltam que a falta de atividade física pode estar
relacionada funcionalmente ao desenvolvimento de doenças coronarianas, diabetes
mellitus, alguns tipos de câncer, osteoporose, doenças do pulmão e doenças mentais
crônicas (Duncan et al., 2005; Sparling, Owen, Lambert & Haskell, 2000). Nesse sentido,
estimativas indicam que 35% das mortes causadas por diabetes mellitus, 35% das mortes
por doenças cardiovasculares e 32% das mortes por câncer do intestino poderiam ser
prevenidas se as pessoas tivessem uma vida mais ativa e um estilo de vida mais
saudável, o que deve ser desenvolvido desde a infância (Powel & Blair, 1994). Hohepa,
Schofield e Kolt (2006) observaram que jovens estudantes relacionam os efeitos
benéficos da prática da atividade física a cinco temas gerais:
a) alegria – resultante da socialização com outros jovens;
b) b) realização – com o desenvolvimento
c) pessoal e o reconhecimento social;
d) c) benefícios físicos – relacionados à aparência,
e) desempenho físico e benefícios
f) à saúde;
g) d) benefícios psicológicos – relativos ao
h) humor e ao aumento de confiança;
i) e) fatores ligados a atividades preferenciais,
j) percebendo a atividade física como a
k) melhor opção disponível.

Pesquisas em ciências da saúde apontam que a atividade física regular promove a


prevenção de várias doenças. Entre os estudos, ressaltam-se aqueles que apontam a
prevenção de:
Obesidade – estudos destacam altos índices de sobrepeso e obesidade entre
crianças e adolescentes norte-americanos (Gunner, Atkinson, Nichols & Eissa, 2005).
Jovens estão expostos ao desenvolvimento de problemas físicos e psicológicos, a curto e
longo prazo.
Os autores ressaltam a importância de desenvolver estratégias de promoção de
saúde que incentivem a adoção de estilos de vida saudáveis. Tais estratégias estão
ligadas a quatro fatores:
a) identificação de fatores de risco ligados ao sobrepeso de crianças;
b) superação de barreiras à atividade física;
c) promoção de comportamentos ligados à saúde;
d) estabelecimento de orientações para a prática adequada de atividade física por
jovens. A obesidade na infância também apresenta relação funcional com a ocorrência d
diabetes tipo II em crianças e adolescentes (Rocchini, 2002).
Distúrbios do sono – há indícios de que a atividade física apresenta uma relação
direta com a

qualidade do sono (Mello, Boscolo, Esteves & Tufik, 2005). Essa relação é explicada por
duas hipóteses:

a) o aumento da temperatura corporal, decorrente da prática de atividade física,


facilita o disparo de mecanismos do sono;

b) o aumento do gasto energético, correspondente à prática de atividade física


durante a vigília, aumenta a necessidade de sono para alcançar um balanço energético
positivo (Driver & Taylor, 2000). Um levantamento epidemiológico, realizado na cidade de
São Paulo, apontou que 27,1% de pessoas fisicamente ativas e 72,9% de pessoas
sedentárias se queixavam de insônia. Em relação à sonolência excessiva, 28,9% de
pessoas fisicamente ativas e 71,1% de pessoas sedentárias se queixavam desse
distúrbio (Mello, Fernandes & Tufik, 2000).
Osteoporose – na idade adulta, altos níveis de atividade física podem prevenir a
diminuição de densidade mineral do osso, reduzindo a probabilidade da manifestação de
osteoporose (Twisk, 2001).
Saúde mental e aspectos relacionados – estudos realizados com crianças e
adolescentes sugerem que a atividade física desempenha uma importante função em
relação à autoestima (Twisk, 2001). Entretanto, ainda não há evidências empíricas
suficientes para relacionar funcionalmente a prática da atividade física ao maior
desenvolvimento social e moral do jovem. Em relação aos adultos, pesquisas apontam
que a atividade física, praticada em níveis de intensidade e duração moderados, pode
reduzir níveis de estresse (Twisk, 2001). A prática regular de atividade física, pela
população em geral, também está associada à ausência ou à reduzida ocorrência de
sintomas depressivos ou de ansiedade (Mello et al., 2005).
Doenças cardiovasculares – diversas pesquisas ressaltam a importância da
atividade física para a prevenção de doenças cardiovasculares. Segundo Twisk (2001), a
maior parte dos estudos sobre a relação entre a atividade física e a saúde cardiovascular
de crianças e adolescentes analisa apenas os fatores de risco, como os níveis de gordura
no sangue, entre praticantes e não praticantes de atividade física.
Alguns estudos populacionais apontam para a relação entre o nível de atividade
física e a diminuição do risco de doenças cardiovasculares; indivíduos que relataram
praticar níveis mais intensos de atividade física foram justamente aqueles que
apresentaram o menor risco para transtornos cardiovasculares (Dunn et al., 1998). No
mesmo sentido, Ciolac e Guimarães (2004) apontam que a prática regular de atividade
física está associada à manutenção de menores índices de pressão arterial em repouso,
relação válida a todas as faixas etárias.
Apesar dos inúmeros benefícios à saúde, associados à atividade física regular,
alguns estudos mostram que eles não constituem o principal motivo para a sua prática
(Allender et al., 2006), destacandose, entre outros fatores, a maior oportunidade para
interação, suporte social e obtenção de satisfação pessoal com a atividade. Em relação
às crianças, os estudos ressaltam a importância do suporte fornecido pela família como
variável mantenedora da prática da atividade física.

INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DOS AMIGOS NA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA


Segundo Lee (citado por Duncan et al., 2005), suporte social oferecido à prática da
atividade física tende a variar conforme a idade dos indivíduos praticantes. Em relação à
prática da atividade física de crianças e adolescentes, por exemplo, os amigos parecem
desempenhar um papel tão relevante quanto a família. Duncan et al. (2005) afirmam que
o suporte proporcionado por amigos pode exerce diferentes funções:
a) integração social ou companhia, que corresponde aos momentos em que as
pessoas praticam a atividade física juntas;
b) suporte emocional, tal como incentivo e apoio moral, por exemplo;
c) suporte informacional;
d) suporte instrumental, representado pela provisão dos recursos necessários à
prática da atividade. Já o suporte familiar constitui uma importante fonte emocional,
informacional e instrumental. Além disso, os pais podem representar modelos relevantes,
relacionados à prática de atividade física, às crianças e jovens (Kohl & Hobbs, 1998;
Stucky- Ropp & DiLorenzo, 1993).
Ou seja, além de constituírem variáveis mantenedoras da prática de atividade física
dos filhos, os que praticam regularmente tais atividades parecem exercer maior
magnitude de influência (e de mediação) sobre as crianças e jovens.

A RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTOS SEDENTÁRIOS E A PRÁTICA REDUZIDA


DE ATIVIDADE FÍSICA ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

As atividades consideradas sedentárias são aquelas realizadas em momentos de


desocupação. Entre elas, podemos incluir: assistir televisão, utilizar o computador, realizar
alguma leitura e jogar videogame. A relação entre comportamentos sedentários e a
diminuição da prática de atividade física é investigada por alguns estudos (Koezuka et al.,
2006; Sothern, Loftin, Suskind, Udall & Blecker, 1999). Segundo Biddle et al. (2004), os
estudos apontam para uma correlação positiva entre comportamentos sedentários e
reduzida prática de atividades físicas, não sendo possível afirmar que o comportamento
sedentário seja a principal variável relacionada funcionalmente à pouca atividade física
praticada por determinados indivíduos e grupos. Nesse mesmo sentido, Kohl e Hobbs
(1998) destacam que a quantidade de tempo gasta pelas crianças com televisão e
videogame não pode ser considerada a causa da redução da atividade física pelos
jovens. No entanto, o acesso facilitado à televisão e ao videogame diminui a oportunidade
das crianças praticarem atividades físicas.
Zabinski, Norman, Sallis, Calfas e Patrick (2007) enfatizam a importância de que os
programas de promoção de saúde, destinados aos jovens, incluam metas de redução da
quantidade de tempo gasto em atividades sedentárias, tais como programas de televisão
e internet. Para isso, sugerem a necessidade da autoeficácia dos jovens, do envolvimento
dos pais e da modificação estrutural e funcional dos ambientes domésticos.
Embora os pesquisadores em geral destaquem a importância do desenvolvimento
de programas de promoção à prática de atividade física, diversos aspectos devem ser
considerados para a implementação de medidas mais efetivas.

PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA REGULAR PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Para o desenvolvimento de alguma medida eficaz de promoção da atividade física


entre crianças e adolescentes, é necessário o conhecimento sistemático de alguns
elementos:
a) particularidades da prática de atividade física de crianças e adolescentes;
b) variáveis preditoras da prática de atividade física;
c) barreiras à prática da atividade física. Essas informações podem fornecer
subsídios indispensáveis ao planejamento de programas efetivos de promoção de
atividade física aos jovens.
Essas informações podem fornecer subsídios indispensáveis ao planejamento de
programas efetivos de promoção de atividade física aos jovens.

BARREIRAS À PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DE CRIANÇAS ADOLESCENTES

A prática da atividade física pode encontrar alguns obstáculos de naturezas


diversas. Allender et al. (2006) sinalizam que as barreiras à prática da atividade física são
compostas principalmente por três aspectos: custos elevados, ambientes sem segurança
e pouco acesso às facilidades existentes. Neumark-Sztainer (citado por Gunner et al.,
2005) também enumera algumas dificuldades à prática da atividade física:
a) preocupação dos pais em relação à segurança na vizinhança, impedindo que os
filhos realizem mais atividades ao ar livre;
b) demandas relacionadas ao trabalho dos pais, que impedem o envolvimento deles
em atividades de lazer;
c) condições estruturais da vizinhança que não possibilitam a prática de caminhada;
d) concorrência de programas de computador e de televisão, que incentivam a
prática de atividades sedentárias;
e) percepção de que as atividades relacionadas à perda de peso possuem um custo
mais elevado que o benefício a ser obtido.
Um estudo sobre as barreiras à prática da atividade física, realizado com jovens
estudantes, apontou seis variáveis principais:
a) ambientes que estimulam a prática de atividades sedentárias;
b) influência adversa de amigos;
c) baixa estrutura de oportunidades ligadas à atividade física;
d) obstáculos físicos;
e) baixo nível de motivação;
f) falta de tempo.
Destaca-se que tais barreiras foram referidas como presentes em diferentes
contextos de desenvolvimento, tais como a família e a escola (Hohepa et al., 2006).
ESTRATÉGIAS E PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA A CRIANÇAS
E ADOLESCENTES

Segundo Sothern et al. (1999), as estratégias de promoção de exercício devem


incluir a identificação de fatores culturais, individuais e da sociedade, que afetam o
desenvolvimento e a manutenção, a longo prazo, do aumento dos padrões de atividade
física. Um aspecto importante é que tais estratégias devem respeitar particularidades e
necessidades de seus respectivos públicos-alvo. Hohepa et al. (2006) realizaram um
estudo com o objetivo de investigar a percepção de estudantes adolescentes sobre os
diversos contextos relacionados à atividade física e ideias de estratégias de promoção da
atividade. Os jovens mencionaram estratégias relacionadas a três categorias gerais:
a) disponibilidade e acesso, relativos à criação de novas atividades, suporte logístico
e modificação/atualização do currículo de educação física nas escolas;
b) suporte da família e dos amigos, que consiste no envolvimento e incentivo das
pessoas, incluindo orientações parentais;
c) responsabilidade pessoal, que corresponde ao desenvolvimento de motivação e
autoconfiança.
Em relação às ações que promovem o aumento da prática de atividade física entre
crianças e adultos, destacam-se estratégias que possibilitem o desenvolvimento de um
estilo de vida saudável pelos próprios indivíduos. Dunn et al. (1998) apontam efeitos
benéficos, a longo prazo, decorrentes do aumento da atividade física moderada e da
redução de atividades sedentárias. Esse tipo de intervenção também mostrou resultados
positivos em relação à prevenção de doenças cardiovasculares, reduzindo os índices de
gordura corporal e pressão sanguínea.
A realização de mudanças estruturais sobre o ambiente, com a finalidade de
promover a prática da atividade física, também é ressaltada em alguns estudos. Foster e
Hillsdon (2004), por exemplo, reconhecem que o ambiente influencia determinados
comportamentos de saúde. No entanto, os efeitos da mudança do ambiente sobre o
aumento da atividade física ainda são pouco esclarecedores.
Devem ser realizadas mais pesquisas com o objetivo de verificar o impacto que as
mudanças estruturais do ambiente exercem sobre a prática de atividade física entre
indivíduos e grupos. Nessa direção, Kohl e Hobbs (1998) sugerem que a modificação do
ambiente escolar também interfere sobre o nível de atividade física praticada por crianças
e adolescentes. Programas escolares e esportivos, com a finalidade de promover a
atividade física, devem ser disponibilizados a todos os segmentos da população,
contribuindo para o desenvolvimento de um estilo de vida saudável e mais ativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora os jovens ainda constituam a parcela mais ativa da população, observa-se


uma gradativa redução da prática regular de atividades físicas, em parte, decorrente dos
avanços tecnológicos do mundo atual. O acesso facilitado ao microcomputador, o
desenvolvimento de videogames mais interativos e instigantes, as atrações
disponibilizadas por canais de televisão e pela internet, bem como a percepção de falta de
segurança pública, retratada diariamente pela mídia, constituem fatores que contribuem
para a mudança em relação às formas de lazer de crianças e jovens (Koezuka et al.,
2006). Atualmente, parece haver grande valorização e investimento em formas
sedentárias de divertimento e um menor envolvimento de jovens com atividades físicas ao
ar livre. Ou seja, as mudanças sociais e culturais têm afetado a participação dos jovens
em atividades físicas.
Observa-se que alguns estudos não caracterizam suficientemente o conceito de
atividade física, utilizando-o como sinônimo de exercício físico. Tal confusão conceitual
pode acarretar maiores dificuldades de entendimento para a população sobre as
diferenças e a relevância da prática regular de atividades físicas. É necessário esclarecer
que a atividade física tem um significado mais amplo, englobando os exercícios físicos,
que são atividades planejadas, estruturadas e repetitivas (Caspersen et al., 1985).
Os estudos que investigam o impacto da atividade física sobre a saúde das crianças
enfrentam dificuldades quanto à definição da quantidade de atividade física necessária
aos jovens. Observa-se grande variabilidade de métodos de mensuração, o que dificulta a
sistematização de comparações entre os resultados obtidos por diferentes estudos.
Assim, aponta-se a necessidade de maior padronização das formas de avaliação,
incluindo-se, por exemplo, a construção e validação de instrumentos que pudessem ser
utilizados pela maior parte dos pesquisadores.
Acrescenta-se também que os estudos sobre os efeitos da atividade física na
infância e adolescência enfatizam benefícios proporcionados à promoção da saúde e
prevenção de doenças. Sendo assim, há uma grande preocupação em incentivar crianças
e adolescentes a, desde cedo, desenvolverem estilos de vida saudável e que valorizem
as atividades físicas.
Os jovens devem ser claramente informados a respeito dos benefícios relacionados
à saúde, a curto e longo prazo, da prática regular de atividades físicas, assumindo
responsabilidade direta pelo desenvolvimento dos seus próprios comportamentos de
saúde. Também devem ser desenvolvidos programas multiprofissionais de intervenção,
que incentivem a aquisição e a manutenção de comportamentos de saúde por toda a
população.
Além de serem destinados a todos os segmentos da população, os programas de
promoção da atividade física devem envolver os diversos sistemas que se relacionam aos
jovens: família, escola e comunidade. O suporte emocional e logístico que esses sistemas
oferecem aos jovens é fundamental ao envolvimento motivacional na atividade física. A
prática da atividade física deve ser considerada prioridade tanto ao jovem quanto aos
seus cuidadores (Duncan et al., 2005).
Um corpo sistemático de conhecimento sobre os efeitos da atividade física a longo
prazo poderia ser obtido com uma maior quantidade de estudos longitudinais. Ou seja,
indivíduos e grupos poderiam ser acompanhados, da infância à idade adulta, verificando-
se os efeitos da prática regular de atividades físicas sobre diversos indicadores de saúde.
As medidas de incentivo à prática de atividade física devem, no entanto, observar as
necessidades psicossociais de crianças e adolescentes. As atividades devem despertar o
interesse dos jovens e serem adequadas ao nível de desenvolvimento físico e cognitivo,
bem como às suas preferências. Além disso, devem ser respeitadas as diferenças entre
atividades realizadas por crianças e adultos e, também a variabilidade cultural entre
meninos e meninas.
Em perspectiva semelhante, destaca-se que as recomendações, correspondentes à
quantidade e à intensidade da atividade física a ser praticada, podem variar segundo o
estado de saúde e a faixa etária dos indivíduos. Ou seja, o foco da atividade física deve
ser o indivíduo, seus respectivos interesses, potencialidades e limitações. A atividade
física precisa ser percebida como atraente, para aumentar a probabilidade da adesão.
Esse é um dos desafios a serem superados pela família, pela escola e pela comunidade,
isto é, constituir um ambiente de cuidados que atenda às necessidades de crianças e
adolescentes, incentivando-os à prática de atividades físicas como um requisito básico ao
desenvolvimento.
Os programas de promoção de atividade física devem estar atentos às
características do público-alvo. Sendo assim, estudos epidemiológicos podem contribuir
com o delineamento do perfil populacional relacionado a um estilo de vida saudável e
ligado à atividade física. Tais informações são fundamentais ao planejamento de
programas de incentivo à prática regular de atividades físicas.
Ressalta-se, também, a necessidade da publicação de mais estudos sobre os
efeitos da prática de atividades físicas entre crianças e adolescentes em periódicos de
circulação nacional. A maior parte dos artigos identificados por este trabalho encontra-se
publicada em periódicos de circulação internacional.
Os artigos analisados se concentram, quase que exclusivamente, na relação entre a
atividade física, a promoção da saúde e a prevenção primária. Entretanto, a atividade
física regular pode estar relacionada à prevenção secundária e terciária. Em relação à
prevenção secundária, a atividade física pode representar uma forma de intervenção
precoce em relação a alguma doença que está se desenvolvendo. No caso da prevenção
terciária, após a doença ter se desenvolvido, a atividade física regular, caso seja
permitida, pode prevenir algumas complicações e promover a reabilitação física e social
dos indivíduos (Jenkins, 2007). Atualmente, a atividade física encontra-se presente em
vários programas de reabilitação para indivíduos com doenças cardiovasculares, por
exemplo (Dunn et al., 1998).
Atualmente, nota-se o surgimento, cada vez maior, de projetos sociais cujo foco
principal é a atividade física como promotora de desenvolvimento. Nessas ações, jovens
têm acesso a condições e oportunidades que provavelmente não teriam em outra
situação em razão da falta de ambientes adequados. Sugere-se que o Estado e as
autoridades competentes priorizem investimentos em projetos de construção de quadras
poliesportivas, áreas de lazer e no aproveitamento desses espaços para a realização de
programas diversificados com a comunidade local.

REFERÊNCIAS
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