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2016 dezembro Ed. 43 3
Editorial

Luciano Lannes
Editor

Caro leitor,
o conceito da resiliência foi sendo modificado e modernizado ao longo dos anos. Inicialmente
utilizou-se o conceito da física e refere-se à capacidade que um corpo tem de, sofrendo uma
deformação, voltar ao seu estado original. Esta ideia foi evoluindo para ser flexível frente às
adversidades. Atualmente, existe um paralelo entre a resiliência e teoria do estresse, e ser
resiliente significa ter a capacidade de flexibilizar pontos de vista, dar novos significados a
fatos, e ter a capacidade de compreender que nem mesmo nossas crenças são absolutas e
precisam ser questionadas e revisadas. Enfim, estar aberto ao novo, com profunda consciência
de que a impermanência rege nossas vidas.

Ter a capacidade de compreender surpresas, traumas e decepções como eventos que fazem
parte da vida, é o que nos confere maior capacidade de encará-las como eventos transitórios,
que, com o passar do tempo, perdem senão sua importância, pelo menos o impacto que nos
causaram.

Em determinados momentos estamos mais equilibrados e resilientes, em outros mais


sensíveis e propensos a perder o equilíbrio.

Dia destes, compartilhando algumas de minhas visões e sentimentos em relação a vários


“absurdos” que presencio no mundo do Coaching, que ainda me impactam e decepcionam
profundamente, com o amigo e mestre Marcos Wunderlich, ele me presenteia com esta
pérola:

VIRA E MEXE PASSO PELOS MESMOS QUESTIONAMENTOS.


Minhas respostas estão no caminho do meio, no equilíbrio e na comunhão. Não aceitar e não
rejeitar, agir sem se apegar. Fazer o bem, atividades prestadias. Estar no mundo sem ser do
mundo, e não se deixar comer. Compaixão profunda e fazer de conta que tudo é muito sério e
sólido, enquanto que nada é sólido, é tudo um grande sonho e sou um fantasma na multidão.
Atuo com as pessoas que querem me ouvir, sem forçar a barra. Há portas fechadas e abertas,
umas se abrem e outras não. Atuar sem querer respostas. Somos infinitamente livres, tanto é que
podemos fingir estarmos presos.
Moro num paraíso, meu refúgio, daqui vou para as atividades prestadias, e para cá volto, num
eterno vai e vem, movido pela liberdade da alma.
De repente caio e perco a conexão, e sofro os infernos que estão sempre à espreita para me
atormentar. As vezes demora recuperar o fio. Mesmo assim, tudo ainda é a liberdade.

Delicie-se com esta edição que trata sobre este importante tema, cujo dossiê foi coordenado
por George Barbosa, da Sociedade Brasileira de Resiliência. Leia também, como complemento
a este dossiê, o artigo do amigo Eduardo Carmello publicado em nossa edição 10 com o título
“Resiliência Estratégica diante das Mudanças”.

Tenha uma excelente leitura.

Luciano Lannes
Editor

4 2016 dezembro Ed. 43


6 Um outro olhar - Ana Pliopas
8 Papo Rápido - Design Thinking e Coaching, tudo a ver!- Marco Ornellas
10 ICF e a arte do Coaching - João Luiz Pasqual
12 Dossiê - A Resiliência de quem cuida de pessoas - Denise de Assis Correa Sória -
Sônia Regina de Souza - Paulo José Pereira de Resende -
Elaine Cristina de Souza Pereira de Resende - Larissa Corrêa Sória - George Barbosa
16 Dossiê - Resiliência como atitude de enfrentamento positivo do câncer -
Wania Moraes Troyano - Monica David Ribeiro
20 Dossiê - A resiliência e as disciplinas da alma quietude e foco: Bálsamo para a mente -
Cristina Monteiro - George Barbosa
24 Dossiê - Desenvolvimento da Resiliência nas Organizações - João Marcos Varella -
Mônica Barbosa - Soraya Oliveira
30 Dossiê - A beleza de um processo de Coaching em Resiliência - George Barbosa - Paula Assis
34 Dossiê - Cultura de Coaching nas Organizações - Meriete Cardoso
38 Eu, cada vez melhor - O Valor da Regulação - Marcos Wunderlich

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Um outro olhar

Ana Pliopas, MCC


Accredited Coaching Supervisor e
Doutoranda pela FGV-EAESP
Sócia do Hudson Institute of Coaching
Brasil
ana.pliopas@hudsoninstitute.com.br

Nosso Coach João apresenta


o seguinte caso:
Estou muito incomodado com a gerência de
Recursos Humanos de uma empresa porque
no meio do processo de coaching com o
gerente de TI da firma, fui chamado para
uma reunião onde o responsável do RH
fez uma série de perguntas sobre o cliente
Leia em 8 min
de coaching: com quais temas estávamos
lidando, quais os objetivos e quando estes
seriam atingidos. Fui pego de surpresa e
dei respostas vagas, mas sinto que posso
ter traído a confiança do gerente com quem
estou trabalhando. Ao mesmo tempo tenho
medo de não ser contratado para futuros
trabalhos nessa empresa. Como posso lidar
com este dilema?

Oi João, você traz um tema muito Quando uma organização decide


importante não só para os coaches como contratar um coach externo para
também para os profissionais de Recursos trabalhar junto a uma pessoa da empresa,
Humanos responsáveis pela gestão tem em geral o objetivo de apoiar seu
de coaching externo nas empresas: a colaborador para que este se desenvolva.
dinâmica que se estabelece no coaching Dessa maneira, estabelece-se a relação
executivo. Porque a empresa remunera triangular do coaching executivo, com a
o coach, é importante esclarecer o papel pessoa que recebe coaching, as pessoas
e responsabilidade que cada um dos que representam a organização e o coach.
envolvidos tem no coaching executivo. A International Coaching Federation,
Se tais papeis não são esclarecidos, há o ICF (2016) deixa claro que o cliente de
risco de que se perca o fator primordial coaching é a pessoa que recebe coaching
em processos de coaching, a confiança e que a organização que remunera o
entre a pessoa que recebe coaching e o coach é o patrocinador do processo. Este
coach. Para ajudar você a lidar com esta pode ser um ponto de partida muito útil
situação, defino relações triangulares para lidar com os diferentes papeis no
em processos de coaching executivo e coaching executivo.
descrevo como os coaches têm lidado
com as questões inerentes a este tipo Vale lembrar, João, que coaching é uma
de coaching. Termino a nossa reflexão atividade relativamente recente, o que
com uma sugestão do próximo passo a pode dar lugar a uma certa confusão
se tomar neste processo. de papeis. Nós coaches podemos,

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entretanto, contribuir com o claras para todos os envolvidos. Como coach, João, você deve
aprimoramento do coaching Além disso, não há conversas dominar os princípios de uma
quando esclarecemos de que de bastidores entre o coach e a conversa construtiva e facilitar
maneira o patrocinador e o coach organização, o que poderia minar a este encontro poderá levar este
podem apoiar o desenvolvimento confiança do cliente em seu coach. processo de coaching a um patamar
do cliente. O papel do patrocinador mais produtivo. Como esclarecido
é esclarecer o que será um processo Os dois expedientes acima são em por Mary Beth O’Neill (2011), as
de coaching bem-sucedido, do ponto geral suficientes para garantir o bom pessoas envolvidas em um processo
de vista da organização, de maneira andamento do coaching quando de coaching executivo estão
mais concreta possível. Além disso, os objetivos de desenvolvimento conectadas umas às outras como
o patrocinador pode ajudar muito do cliente e do patrocinador são elementos em uma teia de aranha:
ao observar na convivência diária as congruentes. A situação é muito quando um elemento se move, os
transformações do cliente quanto mais delicada quando surge um demais também se movimentam. A
à postura e comportamento. Outro elemento que não havia sido experiência de uma reunião aberta
aspecto que pode ser esclarecido acertado no início do processo de e assertiva pode até servir como
pelo coach é a importância coaching, como parece ser seu caso, modelo para outras interações
fundamental da confiança entre João. Como próximos passos, na nesta empresa.
cliente e coach no processo de sessão seguinte de coaching, você
coaching. Isso explica porque o pode propor junto a seu cliente uma João, esta é uma situação delicada e
conteúdo das sessões de coaching conversa esclarecedora entre as ao mesmo tempo uma oportunidade
precisa ser mantido em sigilo. partes envolvidas: quais os pontos para que você reforce ainda mais a
em comum de desenvolvimento relação de confiança com seu cliente
Observo junto a coaches executivos que o cliente, o gerente de Recursos e demonstre profissionalismo e
algumas maneiras de lidar com as Humanos e o gestor do cliente maturidade junto ao gerente de
relações triangulares: apoio no encontram. Concomitantemente, Recursos Humanos.
código de ética de instituições de você pode esclarecer junto ao
coaching e aplicação de um processo gerente de Recursos Humanos Desejo ótimo coaching para você!
robusto de coaching. Muitos quais os diferentes papeis de cada
coaches incluem informações tanto um dos envolvidos no processo
da ICF como do European Mentoring e enfatizar a importância dele
and Coaching Council, EMCC (2016) no apoio ao desenvolvimento do
em suas propostas. Este é um bom cliente.
expediente porque em caso de
dúvidas eventuais no transcorrer
do processo de Coaching, todos
os envolvidos podem se voltar à Referências:
proposta e a partir daí esclarecer
os limites de atuação do coach, da ICF (2016) Code of ethics. (n. d.).
Retrieved November 7, 2016, from
organização e do cliente.
https://www.coachfederation.org/
about/landing.cfm?ItemNumber=854&n
Além dos códigos de ética, é avItemNumber=634
importante ter o processo de
coaching estabelecido, comunicado EMCC (2016). Global code of ethics for
e empregado pelo coach: o processo coaches & mentors (2016). Retrieved
de coaching executivo muitas vezes November 7, 2016, from http://www.
inicia com uma reunião entre o emccouncil.org/src/ultimo/models/
Download/4.pdf
cliente, os patrocinadores, em geral
o gestor do cliente e um profissional O’Neill, M. B. A. (2011). Executive
de Recursos Humanos, e o coach. coaching with backbone and heart: A
Esta é uma reunião fundamental systems approach to engaging leaders
porque as regras que governam with their challenges. (2nd ed.). San
o processo de coaching ficam Francisco: John Wiley & Sons.

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Papo rápido Marco Ornellas
Consultor, Coach, Professor, Pai, Avô, Amigo e
pessoa em constante aprendizado
Membro fundador da ICF – International
Coaching Federation, São Paulo.
marco.ornellas@ornellas.com.br

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Design Thinking e Coaching,

tudo a ver !

O papo rápido de hoje é sobre Design Thinking, uma disciplina atual,


que vem propondo adotarmos novas lentes para velhos modelos
existentes. Ela propõe um novo jeito de pensar e abordar as questões
e os problemas que vivemos. Foi nessa linha que fui buscar entender
mais, lendo e experimentando. Posso garantir que um novo modelo
mental surgiu para mim.

Relacionar Design Thinking com Coaching, apesar de tão diferentes,


seus propósitos e conceitos têm tudo a ver. Ao aprofundarmos,
chegamos até a pensar que é difícil imaginar que sejam coisas distintas.

Design Thinking trata do humano, convida as pessoas para um processo


mais empático, valoriza e estimula os insights, nos convida a ver o
mundo através dos olhos dos outros, experimentar as experiências
alheias, permite o erro e o lúdico, sermos otimistas, mais colaborativos
e curiosos, num mundo cada dia mais volátil, incerto, complexo e
ambíguo. Os especialistas vão mais longe, dizem que sem essa disciplina
e sem pessoas com essas características, não estaremos preparados
para solucionar os problemas e viver o futuro.

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Coaching, nas palavras de Tim Galwey, “é uma relação de parceria que revela,
liberta o potencial das pessoas de modo a maximizar o desempenho delas.
É ajudá-las a aprender ao invés de ensinar algo a elas.” Também gosto das
palavras do Kofman quando diz: “consciência é a capacidade de vivenciar
a realidade, de estar atento ao nosso mundo exterior e interior. Permite
que nos adaptemos ao ambiente e ajamos para promover nossas vidas.
Diferentemente das plantas e dos animais, somos capazes de pensar e agir
para além dos nossos impulsos e condicionamentos instintivos. Embora a
autonomia seja possível, ela não nos é dada. É preciso desenvolvê-la por
meio de escolhas conscientes.”

Agir além dos impulsos!

O velho modelo somente é capaz de mudanças incrementais, não nos leva


para “fora da caixa” ou para um caminho disruptivo, o que costumamos
dizer, fazer mais do mesmo. Precisamos de ajuda, de ferramentas que nos
possibilitem o aprendizado de um novo modelo mental. Um modelo que
nos desafie e nos permita ir além.

O desafio de um Coach é ajudar as pessoas a se movimentarem por


talentos, desafios e necessidades que podem e não sabem que tem. Na
minha experiência, tenho me permitido a trazer para a relação, ferramentas
(cinco por quês, um dia na vida do outro, personas, diagrama de afinidades,
jornada do usuário, matriz CSD, mapa de empatia, entre outras) cujos
resultados têm sido poderosos e muito efetivos.

É proporcionar no processo de Coaching a dança entre os temperamentos


e estilos diferentes do pensamento convergente e do divergente, seguindo
o ritmo da música. Primeiro divergir para surgir novas opções e alternativas
para depois convergir e só então decidir entre as muitas alternativas
levantadas.

Design Thinking e Coaching é um movimento contínuo entre processos


divergentes e convergentes, entre o analítico e o sintético, entre o intuitivo
e inspiracional e o racional e decisório. É o movimento e a harmonia
(caórdica) da pessoa num mundo cada dia mais complexo.

Para mim, Design Thinking e Coaching têm tudo a ver!

Sugestão de Leitura:

BROWN, Tim. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o


fim das velhas ideias. Elsevier: Rio de Janeiro. 2010.

PINHEIRO, Tennyson e Alt, Luis. Design Thinking Brasil: empatia,


colaboração e experimentação para pessoas, negócios e sociedade. Rio de
Janeiro: Elsevier. 2011.

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ICF e a arte do Coaching

Leia em 3 min

Caros(as) leitores(as),
Recentemente li uma das frases de Goethe em que ele dizia:

- Pensar é fácil, agir é difícil, e pôr os pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo.

Foi assim, que me inspirei em trazer para a nossa coluna, o fato que recorrentemente
testemunhamos no papel de Coaches. O fato de que muitos executivos lutam com o
problema de execução. Eles sabem que precisam colocar todos de sua equipe a bordo,
para fazer com que a organização funcione, mas realmente não sabem como.

Sem a presença de uma cultura de trabalho em equipe eles tendem a fazer as coisas à
sua maneira, de forma solitária, sem compartilhamento, sem pesquisar, sem testar, e
sem desafiar o que estão pensando, muitas vezes resultando em decisões e ações não
coordenadas, como verdadeiras embarcações sem rumo, comprometendo assim, as
grandes visões estratégicas.

Como efeitos colaterais da falta de cultura de equipe, a comunicação normalmente é


truncada, e a confiança é superficial.

Para estes casos, uma das intervenções recomendadas, é o Group Coaching, tendo
como objetivo possibilitar que a equipe reflita sobre suas relações interpessoais, sobre
as práticas de trabalho, sobre os estilos de liderança e possam discutir sobre a cultura
organizacional predominante.

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Espera-se que num processo de iniciativas pessoais porque as pessoas aqui são apaixonadas e parecem ter
Group Coaching, além dos pontos não querem correr o risco de estarem objetivos semelhantes. Eles usam
acima, ocorra o efeito subjacente erradas. recursos pessoais para resolver
ao ser criado um alinhamento e ativamente os problemas e, embora
que a equipe torne-se mais eficaz Cultura multidirecional nem sempre aceitem as ações da
na implementação do processo de administração ou outras pessoas ao
transformação corporativa. Esta cultura cultiva a comunicação e a seu redor, eles veem seu trabalho
cooperação entre os departamentos como importante. A maioria nesta
O Coach com sólida formação, não de forma muito reduzida. Lealdade cultura está operando no nível do
só busca explorar como os indivíduos é apenas para grupos específicos grupo.
experimentam as interações da (departamentos). Cada departamento
equipe, como também explora torna-se uma ilha e muitas vezes é Cultura da liderança fortalecida
os elementos menos visíveis - os crítico de outros departamentos, fato
padrões de comportamento e a que, por sua vez, cria muita fofoca. A As pessoas veem a organização como
dinâmica do grupo para melhor falta de cooperação se manifesta na uma extensão de si mesmos, eles
apoiar os membros da equipe a se ineficiência da organização. se sentem bem sobre o que eles
tornarem mais alinhados e mais pessoalmente alcançaram através
eficazes na tomada de decisões e A cultura do viva e deixe viver da organização e têm cooperação
na implementação/execução da excepcional. Os objetivos individuais
estratégia estabelecida. Esta cultura é complacente, estão alinhados com os objetivos
manifesta estagnação mental e baixa da organização e as pessoas farão
O Coach também precisa estar criatividade. As pessoas aqui têm o que for preciso para que as coisas
preparado para de alguma forma, pouca visão do futuro e desistem aconteçam. Como um grupo, a
fazer uma leitura, um diagnóstico de sua paixão. Há cooperação e organização é mais como a família
da cultura predominante da comunicação médias e as coisas que fornece a realização pessoal
organização, para depois intervir, funcionam, mas elas não crescem. que transcende frequentemente
pois, segundo o autor Arthur F. As pessoas têm desenvolvido seus o ego assim que os povos estão
Carmazzi, existem cinco (05) tipos de relacionamentos pessoais e decidem/ consistentemente trazendo para
cultura organizacional: determinam quem fica longe, não há fora o seu melhor. Nesta cultura, os
muito para se aprender. líderes não desenvolvem seguidores,
mas desenvolvem outros líderes. A
A cultura da culpa Cultura da marca congruente maioria de todos nesta cultura está
operando no nível da organização.
Esta cultura cultiva a desconfiança Pessoas nesta cultura acreditam no
e o medo, as pessoas culpam produto ou serviço da organização, E você caro(a) leitor(a), já teve
umas às outras para evitar serem eles se sentem bem sobre o que sua oportunidade de trabalhar com os
repreendidas ou postas para baixo. empresa está tentando alcançar e conceitos de cultura organizacional?
Isso não resulta em novas ideias ou cooperam para alcançá-lo. As pessoas E com Group Coaching?

João Luiz Pasqual


Presidente ICF Brasil
presidencia@icfbrasil.org
www.icfbrasil.org

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Denise de Assis Correa Sória
Doutora em Enfermagem. Professora da Escola de
Dossiê Enfermagem Alfredo Pinto - UNIRIO. Docente do Curso de
Pós-graduação nos moldes de residência.
denisesoria@terra.com.br

Sônia Regina de Souza


Doutora em Enfermagem. Professora da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto e da Pós-graduação. Membro
do Lab. de Pesq. e Resiliência em Enfermagem da UNIRIO.
soniasilvio0@gmail.com

Paulo José Pereira de Resende


Administrador e Doutorando em Engenharia Civil. Análise
de planejamento da FINEP. Membro do Laprenf/UNIRIO
pjresende@gmail.com

A Elaine Cristina de Souza Pereira de Resende


Arquiteta e Urbanista. Doutoranda em Engenharia Civil.

Resiliência Membro do Laprenf/UNIRIO.


arq.elaineresende@gmail.com

de quem Larissa Corrêa Sória


Pedagoga. Pesquisadora na área de História da Educação.

cuida de Membro do Laprenf/ UNIRIO.


larissasoria@hotmail.com

pessoas George Barbosa


Doutor em Psicologia. Diretor Científico da Soc. Bras.
de Resiliência, Pós-doutorando e Professor na Fundação
Vanzolini (USP).
george.barbosa@sobrare.com.br

Leia em 13 min

Uma nova lógica para uma


prática sustentada no equilíbrio
Falar em saúde na saúde parece, à primeira vista, um contrassenso. Teoricamente, o profissional de saúde sabe de
tudo sobre a saúde daqueles que ele cuida, mas muito pouco sobre a sua própria saúde. Em geral, não cuida da pró-
pria saúde, nem nos aspectos mais básicos como alimentação e repouso. Na formação destes profissionais costuma-
-se atribuir a responsabilidade integral pelo sucesso e recuperação das pessoas, imprimindo às mesmas um desfecho
sempre positivo. O profissional, em geral, não recebe o cuidado para cuidar. Como cuidar de quem cuida?

O cuidado a pessoas implica uma corresponsabilização, um compromisso ético, estético, social e de vínculo que re-
quer dos profissionais que se dedicam a essa atividade, uma carga emocional e física que, muitas vezes, transcende
à atividade em si1. Seguem trechos de narrativas extraídas da prática profissional, que evidenciam as adversidades
nesse cotidiano.

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Narrativas de quem cuida nais de saúde como, a cronicidade das adversi-
dades existentes, múltiplas situações adversas
“(...) Aí eu chamei a mãe e disse – mãezinha, coexistentes, exposição à violência e vulnera-
você pode chamar o pai para dormir aqui hoje bilidade percebida podem resultar em culpa,
também (...) já está chegando ao fim” (enfer- e, consequentemente, profissionais de afeto
meira pediátrica) triste. Reduzindo a capacidade em manter um
padrão de respostas coerentes a uma situação
“Eu tenho uma notícia para você (...) você vai que pode comprometer a saúde e equilíbrio.
precisar começar uma nova etapa de trata-
mento, os resultados dos exames não estão A questão da resiliência na saúde abrange tam-
favoráveis, infelizmente” (médico) bém as questões de natureza administrativa
e organizacional. As equipes da saúde estão
As situações de crise e adoecimento resul- submetidas a uma forte pressão no trabalho.
tam na ruptura de um bem-estar. A pessoa Além de lidarem com vidas humanas no dia-a-
passa então a viver uma liminaridade2, isto é, -dia (e frequentemente vidas de alguma forma
um entre-lugar indefinido no qual não é pos- assoladas pelo risco de morte), estão sujeitos
sível categorizá-lo plenamente. a pressões de familiares dos seus pacientes,
No trecho a seguir, um exemplo dessa autoridades da área de saúde, fornecedores,
condição: membros de outras equipes médicas e outros
públicos.
“(...) e naquela manhã todo o meu pior pesade- Nesse contexto, a resiliência cumpre papel fun-
lo se tornou realidade (...) eu queria sumir dali damental como competência específica a ser
com meu filho, voltar para casa e que alguém desenvolvida na gestão das equipes e saúde.
dissesse, foi engano (...) eu queria voltar para Tão relevante quanto o cuidado com o pacien-
minha vida (...) aquele lugar (hospital) não era te, é preciso haver o cuidado com as equipes
para mim e muito menos para o meu filho (...) de saúde. O gestor de equipes de saúde deve
até que as portas se trancaram atrás de nós e dispor de recursos para fortalecer a resiliência
entendi que começava um mundo totalmente da sua equipe e assim promover os melhores
ameaçador e desconhecido” resultados para a sua equipe, pacientes e os
Neste sentido, pacientes, usuários e fami- públicos envolvidos.
liares quando se veem diante das adversi-
dades, marcadas por uma ruptura que pode A resiliência contribui para o fortalecimento
ser a doença ou o estado de adoecimento, dos indivíduos isoladamente, mas também em
se encontram nesse estado de liminaridade. grupo. O seu desenvolvimento permite o de-
Não pertencem àquele “lugar” e os profis- senvolvimento de virtudes subsidiárias à práti-
sionais precisam lidar com todas as emoções ca da saúde, como a paciência, a resignação, a
e reações que essa condição produz. E para disciplina, o afeto pertinente ao cuidado3. Equi-
isso precisam estar preparados para além do pes que não desenvolvem a resiliência podem
conhecimento técnico e científico: precisam ser menos propensas a lidar com as ocorrên-
cuidar da sua resiliência. cias negativas no trabalho.
Devemos considerar ainda que esses profis-
(Re) modelando os profissionais de aço: sionais possuem outras atividades além da
o cuidado aos cuidadores. atuação na área de saúde: hobbies, relações
familiares, outras atividades profissionais, es-
Resiliência é uma força intrínseca a todos tando, portanto, sujeitos a outros estímulos
os seres e coisas vivas. É uma conjunção de e pressões. Esses elementos externos podem
recursos biológicos, recursos psíquicos e de ter profunda influência sobre a atuação na
recursos sociais que estruturam a superação equipe de saúde.
de situações de adversidades que ameaçam Seria, portanto, um quadro no qual a resiliên-
nossa existência. Não é uma característica cia pode servir como fator para a manutenção
que as pessoas têm ou não têm. Trata-se de dos processos internos da equipe de saúde,
comportamentos, pensamentos e ações que mesmo sob condições adversas ou extremas,
podem ser aprendidas e desenvolvidas em sejam elas oriundas da prática profissional ou
pessoas. O comportamento resiliente de- não. Mais do que isso: a resiliência pode ser um
monstra as fortalezas e as potencialidades elemento capaz de contribuir para o processo
do momento da vida. de equilíbrio (cura?) de dores presentes nos in-
Fatores de risco no cotidiano dos profissio- tegrantes das equipes de saúde.

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Abordagem Resiliente: temporalidade e expansivi-
dade no contexto da saúde

Para o desenvolvimento do comportamento • Padrão Comportamental de Equilíbrio dian-


resiliente na perspectiva da “Abordagem te do estresse: são comportamentos que
Resiliente” deve-se trabalhar, através da expressam MCDs em condição de coerência.
ressignificação dos Modelos de Crenças O indivíduo apresenta comportamento con-
Determinantes (MCDs), em oito áreas da gruente diante de situações adversas, alcan-
vida, que são: autocontrole, otimismo para/ çando a excelência comportamental;
com a vida, análise de contexto, empatia,
autoconfiança, leitura corporal, capacidade • Padrão Comportamental de Intolerância
de conquistar e manter pessoas e sentido face ao estresse: são comportamentos que
de vida4. expressam os MCDs característicos da ansie-
dade e da raiva. O indivíduo tem a tendência
Estes modelos representam o conjunto de acreditar demais em suas proposições e
de crenças desenvolvidas pelas pessoas e enrijecer suas crenças.
que irão interferir nos seus estilos compor-
tamentais, ditando a maneira como estas
pessoas se comportarão diante de situações
As Condições de Resiliência caracterizam os padrões
adversas e causadoras de estresse, seja no
comportamentais de passividade e intolerância ao
trabalho, ambiente familiar, ou em qualquer
estresse em “fraca”, “moderada”, “boa” ou “forte”
outro meio onde o indivíduo estiver inseri-
resiliência. Enquanto que o padrão comportamental
do.
de equilíbrio é caracterizado pela condição de “exce-
Esses MCDs não se adquirem momentane- lente” resiliência.
amente em determinada situação, mas se
MCDs que trazem a Condição de “fraca” resiliência,
formam e vão se desenvolvendo e aperfei-
encontram-se em posição “sensível”, enquanto aque-
çoando desde a infância, estando presentes
les situados em Condição de “moderada” resiliência,
em todas as fases do desenvolvimento.
encontram-se em área “intermediária”, com propen-
Nas pesquisas produzidas pelos pesquisa- são para o risco.
dores do LAPRENF (Laboratório de Pesquisa
Os MCDs posicionados em condições de “boa” e “for-
e Resiliência em Enfermagem da UNIRIO)
te” resiliência, encontram-se em posição de “segu-
utilizamos a escala QUEST_Resiliência como
rança”. Todos aqueles MCDs situados em condição de
instrumento para mapeamento da condição
“excelente” resiliência estão posicionados como “for-
de resiliência dos profissionais de saúde.
talezas” (Figura 1). Quando a escala apresentar três
A escala QUEST_Resiliência avalia o parti- ou mais MCDs com área “sensível”, denota-se o ca-
cipante nos critérios de padrão comporta- ráter de “vulnerabilidade cognitiva” – vulnerável em
mental e condição de resiliência. O padrão suas crenças. Esta situação indica perigo iminente.
comportamental pode ser caracterizado
como sendo de passividade, equilíbrio ou
intolerância3 face ao estresse.

• Padrão Comportamental de Passividade


face ao estresse: São MCDs tingidos pelo
pessimismo e negativismo. O indivíduo se
mostrará passivo diante de situações adver-
sas, apresentando tendência a acatar-se ou
submeter-se diante da realidade imposta.
Resulta numa noção distorcida da realidade,
propiciando a tendência ao extremismo
quanto ao fracasso e inadequação no de-
sempenho de atividades;

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Figura 1 – Situação dos esquemas básicos de resiliência, associados a padrões
comportamentais e condições de resiliência.

Condições de Resiliência e situação dos


esquemas básicos em Resiliência

FRACA MODERADA BOA FORTE EXCELENTE FORTE BOA MODERADA FRACA

Pessimismo
Adequação Agressividade
(Tristeza)
(Raiva)
Vulnerabilidade
Inter- Segurança (Fortalezas) Segurança Inter- Vulnerabilidade
mediária mediária
Legenda: Padrão Comportamental Condição de Resiliência Esquema Emocional Posição no MCD

Fonte: produção do autor.

Constitui-se assim uma nova dimensão do cuidado, que não é aquele oferecido aos pacientes, mas compartilhado entre
os próprios membros da equipe de saúde.
Ousamos finalizar com alguns indicadores para se trabalhar no Coaching a favor do equilíbrio e sucesso: o profissional
de saúde demonstra perspectiva positiva de si e do ambiente; expressa desejo de melhorar a própria responsabilidade
e ser mais realista; deseja melhorar as habilidades de comunicação; se envolver nas atividades e ter foco; progredir na
direção de metas; reconhecer sistemas de apoio; utilizar a cooperação para enfrentar os desafios, manter valores, me-
tas e sonhos5. Neste sentido, a resiliência pode e deve ser desenvolvida em coaching junto aos profissionais de saúde,
que cuidam de pessoas, para um fluir em direção ao futuro de atenção plena, estímulo e equilíbrio.

Referências utilizadas e indicadas para futuras leituras:


1. Santos. Franklin Santana. A arte de cuidar: Saúde, Espiritualidade e Educação. São Paulo, Editora: Comenius, 2010.
2. DAMATTA, Roberto. Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de passagem e a modernidade. Mana [onli-
ne]. 2000, vol.6, n.1 [cited 2016-11-19], pp.7-29. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
-93132000000100001&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104-9313. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132000000100001.

3. Barbosa G. A aplicação e interpretação do conceito de resiliência em nossa teoria. Anais do 11º Congresso de Stress da ISMA-BR.
Porto Alegre (RGS): 2011.

4. Barbosa, GS. Resiliência: Desenvolvendo e ampliando o tema no Brasil. São Paulo: SOBRARE. 2014.

5. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificações 2015-2017. Porto Alegre: Artemed, 2015.

2016 dezembro Ed. 43 15


Dossiê Wania Moraes Troyano
Coach em Resiliência, palestrante, facilitadora e escritora
Seja a melhor versão de si mesmo
wania@waniamoraes.com.br

Monica David Ribeiro


Psicóloga, Coach em Resiliência, consultora e escritora
Busque sempre e tenha a coragem de encontrar
monicadr@usp.br

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Resiliência como atitude


de enfrentamento positivo do câncer:
um caso de superação e cura apoiado
pelo sentimento de esperança e confiança

Todas as doenças envolvem fatores biológicos, psicológicos e sociais.


O câncer também tem em sua causa estes fatores e muitas vezes seu
prognóstico envolve estimativas de tempo de vida e de incertezas do sucesso
do tratamento, seja por intervenções farmacológicas ou por cirurgias. Um
diagnóstico de um câncer é considerado uma adversidade severa. Uma
situação de extrema dificuldade de enfrentamento. Uma situação de
exposição da fragilidade humana que muitos consideram incontrolável e
insuportável: é o reconhecimento da maior probabilidade de morte.
Mas o que a Resiliência nos trouxe para contribuir com o enfrentamento
desta doença e de todas as dificuldades que vêm no mesmo pacote é a
confiança na superação.
Resiliência é uma postura estratégica de enfrentamento para conseguir
superar os desafios, limitações e adversidades do dia a dia. É procurar
despender a energia em possíveis soluções para o problema.
Ao se lidar com adversidades graves, como é o caso de um câncer, despende-
se uma energia significativa, inclusive gerando muito sofrimento. Mas a
resiliência revela-se na capacidade de gerir esta energia de forma propulsora,
para encontrar a melhor solução possível aos obstáculos enfrentados.

16 2016 dezembro Ed. 43


E como ter este pensar estratégico, em um momento
de tanta dor, angústia e medo? Como ser resiliente
quando o tratamento da doença é extremamente cruel
e o prognóstico indica possibilidade de pouco tempo de
vida?
A resposta está em acreditar que é possível! É ter
esperança de que tudo vai melhorar, mas não é uma
esperança que somente espera sem agir. É ter confiança
nas estratégias desenvolvidas para a mudança e de que
não há dúvida de que a doença será superada.
Como o acreditar e o confiar podem interferir na
superação e até no prolongamento do tempo de vida
prognosticado?
Pela lógica apresentada no primeiro parágrafo deste
artigo, assim como toda doença envolve em sua causa
fatores biológicos, psicológicos e sociais, a cura também
envolve estes fatores. Por este motivo, o tratamento do
câncer envolve não somente intervenções biológicas,
mas também psicológicas, sociais e espirituais. Estas
intervenções são as mudanças na forma de pensar,
sentir e agir. Envolvem ações como rever o estilo de vida,
a ressignificação das crenças e as diversas mudanças na
estrutura emocional, espiritual e social que contribuirão
para a cura, uma vez que estas ações, se não alteradas,
continuarão a contribuir para a doença.
Apresentamos aqui um depoimento que envolve a
resiliência, hoje aprendida na teoria, mas desde antes
já colocada na prática e apoiada nos sentimentos de
esperança e confiança.
“Minha história começa no ano de
2001, quando estava trabalhando e tive um
sangramento. A princípio me senti assustada,
mas como sou uma pessoa otimista, achei que
seria algo simples de ser resolvido. O otimismo
em relação à vida vem desde minha infância,
quando via as situações de adversidade com
bom humor, entusiasmo e esperança de que
sempre podemos fazer algo para mudar.
Quando cheguei ao hospital com
minha filha, fui atendida e o médico disse que
precisaria pedir auxílio. Meu alerta ligou.
Quando o médico voltou cinco minutos
depois, acompanhando de mais três colegas e
um deles pediu novamente que eu contasse
o ocorrido. O médico pediu licença para
fazer um exame de toque e daí iniciou uma
hemorragia que não parava mais. Os médicos
saíram correndo, colocaram-me em uma maca e
informaram que me levariam para a UTI. Muitas
coisas passaram por minha cabeça e o mais

2016 dezembro Ed. 43 17


importante é que eu estava com minha filha, intestino novamente e que seria necessário
de apenas 9 anos, parada, olhando para mim, fazer exames periódicos pelo resto da vida.
agarrada à minha bolsa e chorando. Um filme de toda a minha vida passou pela
minha cabeça, e me perguntei: “Será que não
Os médicos corriam e queriam me
poderei ver minha filha adulta, se formar,
levar para a UTI imediatamente, mas, apesar
casar ou qualquer outra coisa? E o que ainda
de toda a situação e sentindo-me muito fraca,
eu gostaria de fazer?”
pude parar e analisar todo o contexto. Qual
era o problema? Como poderia ser resolvido Peguei todos os exames e saí do
com o menor risco possível? Como poderia consultório. Naquele momento eu havia
deixar minha filha segura e protegida e, ao perdido o chão e todo o meu otimismo estava
mesmo tempo, estar segura e protegida balançado. Entrei no carro e dirigi sem rumo;
também? uma chuva caía torrencialmente, até que me
dei conta de que estava na Rodovia Airton
Foi importante também, além de
Senna. Parei o carro no acostamento e
analisar o contexto, ter auto-empatia e ser
chorei convulsivamente por um bom tempo,
empática com minha filha, pois me vi no
enquanto meu telefone não parava de tocar.
lugar dela, indefesa, assustada e sem ter
Em um determinado momento, parei de
em quem se apoiar. Informei aos médicos
chorar, baixei o espelho do carro e comecei
que não poderia ir para a UTI antes que
a conversar comigo mesma.
meu marido chegasse, porque em hipótese
alguma minha filha ficaria sozinha e que Analisei a situação da seguinte
seria importante eles verem como poderiam forma: Estou com câncer. O que posso fazer
fazer. A solução encontrada foi improvisar para buscar uma solução mesmo que não
uma UTI no Pronto Socorro, até a chegada fosse de cura definitiva, mas que eu pudesse
de meu marido. viver da melhor forma possível? Eu tinha a
minha parte a fazer, que eram os exames, a
A hemorragia estancou sozinha
cirurgia; o que viria depois também teria que
depois de três dias. Fiz o exame e o médico
ser analisado.
solicitou que eu voltasse ao consultório dele
em uma semana para saber o resultado. Investi-me de toda a autoconfiança
que ainda me restava, lembrando de todas
No consultório o médico me disse
as situações de adversidades que já havia
que eu estava com câncer de intestino e
enfrentado na vida, como as tinha resolvido
que haviam tirado um adenocarcinoma.
e que pensamentos sobre mim mesma
Disse que seria necessária uma cirurgia para
poderiam me ajudar.
extrair o reto e um pedaço do intestino
grosso, totalizando 40 cm. Fui direto para o hospital. Não tinha
ideia de por que precisaria fazer tantos
A notícia boa é que eu fazia parte
exames. Naquele momento me perguntei
da estatística que de um em cada mil
qual era o sentido da minha vida e por que
pacientes descobrem o câncer de intestino
estava com câncer? E essa pergunta me
precocemente.
acompanhou por muito tempo; depois que
Perguntei se havia cura e o médico me recuperei, fui buscar o sentido maior
informou que ninguém poderia dar esse de minha vida, qual o meu propósito, o que
diagnóstico no caso específico desse câncer, poderia deixar como legado.
pois ele poderia aparecer em qualquer
O corpo dá muitos sinais de que você
outra parte do baixo ventre e até mesmo no
não está bem, por isso é de suma importância

18 2016 dezembro Ed. 43


prestar atenção a eles, - aos sinais e evidências. Hoje, uma das
coisas de que não abro mão é a atividade física pelo menos três
a quatro vezes por semana. Otimizo minha agenda de tal forma
que ela sempre está inserida e isso fortalece minha qualidade
de vida e bem-estar, além de aumentar o foco, a determinação,
a autoconfiança, o autocontrole, o otimismo e a atenção ao
corpo; pequenos sinais já me alertam de que posso sair do meu
equilíbrio.
Como nosso sistema nervoso reage às situações em
virtude das tensões elevadas, senti falta de um grupo de apoio,
que poderia ter me ajudado muito naquele momento e a meus
familiares. Uma das coisas que aprendi foi que é muito difícil para
a família lidar com uma pessoa com câncer.
Após exatos 65 dias da cirurgia, eu estava de volta às
minhas atividades. Como foi importante voltar à ativa e buscar
manter uma atitude de confiança e esperança, mesmo sabendo
que não poderia alcançar a cura!
Aprendi que fazia a pergunta errada. Em vez de Por que
o câncer?, eu deveria perguntar Para quê o câncer? Ao perguntar
por que, estava pedindo uma justificativa e havia vitimização;
mas quando passei a perguntar para quê, isto me levou a refletir
sobre o que eu precisava aprender.
Uma das coisas que aprendi foi que sinto autoconfiança,
pois sou capaz de enfrentar a situação, que tenho recursos
internos que poderão me ajudar sempre que necessário. Brinco,
perguntando: O que posso tirar de minha mochila da vida que
poderá me ajudar a lidar com essa ou aquela situação?
Aprendi que tenho otimismo diante da vida, porque
sou uma pessoa entusiasmada, de bom humor, com esperança;
busco aceitar os outros como eles são e não como eu gostaria
que fossem, que podem ser diferentes dos meus e isso não
quer dizer que não possamos ser amigos, trabalhar e criar coisas
juntos e nos amar.
Aprendi que minha vida tem sentido porque tenho como
propósito contribuir não só para minha evolução como ser, mas
para a evolução de quem assim o desejar”.
Este é um relato que bem apresenta a importância da atitude de confiar
e de acreditar a partir dos critérios propostos pela resiliência no qual
se conseguirá o melhor resultado possível, mesmo que o cenário seja
aparentemente muito desolador. Mudar o jeito de pensar, sentir e
agir para assumir uma postura de esperança e confiança, propicia o
desenvolvimento da resiliência e, consequentemente, das melhores
tomadas de decisão com foco na cura. Por este motivo, é muito importante
que os profissionais que atuam com estes pacientes procurem conhecer
mais sobre a arte de se estruturar com resiliência, e utilizem estes
recursos também como ferramentas para o tratamento de pacientes.

2016 dezembro Ed. 43 19


Dossiê Cristina Monteiro
Psicóloga Clínica, Coach em Resiliência e Palestrante
https://resilienciaevida.wordpress.com/

Dr. George Barbosa


Diretor Científico da SOBRARE; Membro Conselheiro na
ICF Brasil; MENTOR COACH
Resilienciar é se tornar flexível a cada duro golpe da vida
george.barbosa@sobrare.com.br

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A resiliência e as disciplinas da alma


quietude e foco: Bálsamo para a mente
A resiliência vem sendo estudada por diversos autores advindos das psicologias cognitivas e é tida como um aspecto
psicológico saudável, ao se levar em consideração os variados graus de maleabilidade que o ser humano pode desen-
volver.
Segundo Barbosa (2011), resiliência é uma força intrínseca a todos os seres e coisas vivas: uma conjunção de recur-
sos biológicos, psíquicos e sociais que estruturam a superação de situações de adversidades que ameaçam a nossa
existência. Constitui-se de fluxos cognitivos-emocionais como a capacidade de acreditar em si, o autocontrole das
emoções básicas, a habilidade de analisar fatos e implicações de eventos presentes no ambiente, a capacidade de
compreender necessidades e objetivos de outros, a arte de conquistar e manter outras pessoas na rede pessoal, a
competência de ler e identificar as reações que ocorrem no próprio corpo face ao estresse, a beleza de ver a vida
com humor, otimismo e esperança e a capacidade de encontrar uma razão de viver nos projetos em que se envolve
(Barbosa, 2014). Essas áreas cognitivas, quando em interação contínua com outras cognições, resultam em uma nova
forma de ver e sentir a realidade, inaugurando o novo e rompendo com o pensamento estabelecido ou enrijecido pela
aprendizagem. Tais recursos, por meio da linguagem, perpetuam e renovam processos regenerativos, mitos, crenças,
padrões e narrativas, organizando e constituindo o Ser Humano (Barbosa in Rodrigues, 2013)”.

Barbosa (2006) destaca outros autores que também definem o conceito de resiliência. Dentre eles, Boris Cyrulnik
(2000), para o qual resiliência é o próprio ato de “tricotar recursos profundos” para superar adversidades. Este trico-
tar, vai para além da capacidade de organizar estratégias de enfrentamento racional (coping) - a vida é um contínuo
“tricotar” de possibilidades. São, fundamentalmente, a função de sucessivas e contínuas reintegrações resilientes. Ou
como Flach (1991) defendeu na lei da ruptura e da reintegração, em que para sobreviver a mudanças significativas
provenientes do enfrentamento de adversidades, é preciso ter resiliência, ou seja, uma espécie de sabedoria e flexibi-

20 2016 dezembro Ed. 43


lidade diante de períodos de ruptura e maior consciência daquilo que fazem
de integração. relatam maior autocompaixão e felici-
Será pautada nessas visões de resili- dade (Hollis-Walker & Colosimo, 2011).
ência, de desintegrar, reintegrar e “tri- Tais autores conceituam mindfulness
cotar possibilidades”, que traçaremos como um atributo da consciência rela-
um paralelo entre os conceitos de re- cionado ao bem-estar, composto por
siliência e mindfulness. dois fatores, consciência e atenção.
Outros, como Langer (2014), definem a
Dentre os estudos na área da resiliên- existência de um terceiro fator: a “não-
cia, estudos internacionais destacam -reatividade”.
a importância da mindfulness, tema Compreendendo os três fatores men-
que, no Brasil, ainda se encontra em- cionados acima: a consciência refere-
brionário. -se ao monitoramento das experiências
Mindfulness é um termo provenien- internas (como sensações e pensamen-
te de tradições orientais e que pode tos) em interação com o ambiente; a
ser traduzido para português como concentração pode ser vista como um
“atenção plena”. Numa definição aná- traço inerentemente humano associa-
tomo-biológica: Como Teasdale (p. 42, do à atenção e à consciência (Pires et
2016) afirma, “a atenção plena forta- al. (2015), incluindo variações de in-
lece as redes do cérebro que regulam tensidade entre as pessoas; já a não-
a reatividade emocional, reduzindo o -reatividade envolve não reagirmos
tamanho e o impacto da amígdala – o diretamente às situações, podendo
sistema de lutar, fugir ou ficar imobili- estar em contato com as emoções, ao
zado; ela fortalece as redes que estão mesmo tempo em que escolhemos in-
por trás da nossa capacidade de sentir tencionalmente o modo de agir, ao in-
compaixão por nós mesmos e pelos vés de sermos guiados por um modo
outros e ela modifica os trajetos que automático de funcionamento (“piloto
normalmente produzem a ruminação automático”).
habitual e inútil, sempre que uma dis- No âmbito da resiliência, defendemos
posição de ânimo triste se manifesta”. a perspectiva de que mindfulness se
refere ao fenômeno “atenção plena”
Tal “atenção plena” seria alcançada como um estado consciente, não reati-
por meio da prática meditativa e/ou vo e concentrado, que difere da nossa
contemplativa que, num constante prática cotidiana em que, muitas vezes,
treino de habilidades, potencializa a somos guiados por um modo automáti-
capacidade de estarmos engajados co de funcionamento, útil para resolver
com as experiências do momento problemas, mas pouco eficiente para
presente. Dentre outros benefícios, lidar com questões emocionais e seus
mindfulness é associado à redução constituintes.
do estresse e demais sintomas, sendo O pensar automático considera a reali-
capaz de promover bem-estar e autor- dade de acordo com os dados que ela
regulação. mesma lhe provê - a realidade externa.
Algumas pesquisas abordam a relação A realidade externa adere à realidade
do fenômeno mindfulness com outras interna. Assim, as emoções e os senti-
variáveis, sendo possível observar, mentos assumem o lugar da realidade
por exemplo, pessoas que possuem externa como se fossem fatos reais,

2016 dezembro Ed. 43 21


distorcendo a realidade e promoven-
do instabilidade e desequilíbrio. Para • Descrever – encarar os
se defender, o indivíduo cria uma bar- pensamentos apenas como
reira entre ele e a realidade e passa eventos mentais, como
a atacá-la (emoções extremadas e parte do fluxo da vida. Com
os sentimentos de intolerância) ou a isso, eles perdem o poder
acatá-la (emoções e sentimentos re- de nos perturbar ou de con-
cuam numa postura de passividade), trolar as nossas ações, favo-
conduzindo ao mal-estar e ao adoe- recendo insights na área da
cimento. resiliência envolvida.
O elo para evitar esse rompimento
eu-realidade propício, ao adoecimen-
to, se dá quando introduzimos um • Abertura à experiência –
elemento novo (a área da resiliência) voltar a habitar o momento
que atua como um amortecedor (air- presente: o foco é o aqui
bag interno) entre a realidade vivida e o agora. A experiência
e a realidade observada. Como num em curso e não se perder
movimento pendular, de levar a aten- em análises racionalizadas
ção entre a realidade percebida e as como o ato de ruminarmos
percepções da área da resiliência, a o passado, revivendo per-
pessoa vai descortinando novas emo- das e fracassos.
ções, sentimentos e estados de alma,
proporcionada pela perspectiva da
saúde e do bem-estar. • Aceitar sem julgar todas as
A partir dessa compreensão, enten- percepções, sensações e
demos haver um foco dirigido para as insights – aceitar a experi-
áreas específicas da resiliência que ência sem precisar acreditar
coincidem com as premissas básicas que as coisas sejam diferen-
do mindfulness: tes do que nos aparecem
(com isso, deixamos de
• Presença – desenvolver a viver a rígida lacuna entre
habilidade de se distanciar o que somos e o que deve-
dos pensamentos do pas- ríamos ser), possibilitando-
sado (experiências e lem- -nos integrar o passado e o
branças). Cultivar um novo futuro.
modo mental que nos per-
mita reagir mais habilmente
a emoções desagradáveis e • Agir com consciência –
experiências interiores in- entregar-se à sensibilidade
desejadas. Lau chama essa e à amplitude da vida, dei-
habilidade de uma “atitude xando de lado o hábito de
de distanciamento de si” priorizar o atingimento de
(Lau et al., 2006). O que nos metas e fluir na área da re-
possibilita levar o pêndulo siliência que estiver sendo
para a área da resiliência trabalhada.
que está sendo considerada
durante a meditação.
• Cultivar uma atitude básica
de tolerância em favor da
• Observar – cultivar uma flexibilidade ante o novo
atenção interessada e de- modo mental que a área da
licada para a própria expe- resiliência venha a produzir.
riência e as implicações da
área da resiliência envolvida.

22 2016 dezembro Ed. 43


Fontes utilizadas:

Barbosa, GS. Resiliência em Professores do En-


sino Fundamental de 5ª a 8ª Série: Validação e
Aplicação do “Questionário do Índice de Resili-
ência: Adultos -Reivich/Shatté/Barbosa”.2006.
http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/
params/id/6883332.html

Barbosa, GS. A aplicação e interpretação do con-


ceito de resiliência em nossa teoria. Anais do 11o
Congresso de Stress do ISMA-BR. Porto Alegre
(RGS): 2011. Disponível em
<http://sobrare.com.br/Uploads/20110718_pa-
lestra_no_congresso_da_isma_em_2011.pdf >
acesso em 14 de novembro de 2016.

Barbosa, GS. Resiliência: Desenvolvendo e am-


pliando o tema no Brasil. São Paulo: SOBRARE.
2014.

Bishop, S. R., LAU, M. A., Shapiro, S. L., Carlson, L.,


Anderson, N. D., Carmody, J., & Devins, G. (2004).
Mindfulness: A proposed operational definition.
Clinical Psychology, 11(3), 230-241. doi:10.1093/
clipsy.bph077

Cyrulnik, B. Les Nourritures affectives affectives.


Considerando as definições iniciais de resili- Paris: Odile Jacob. 2000
ência enquanto uma boa resposta à ruptura Flach F. Resiliência: A arte de ser flexível. Traduzi-
(desintegração e reintegração), na prática do por Wladir D. São Paulo: Saraiva; 1991.
de mindfulness esse processo é ainda inter-
Hollis-Walker, L., & Colosimo, K. (2011). Min-
mediado e sustentado pela respiração (cons- dfulness, self-compasion, and happiness in
ciência corporal): o espaço proporcionado non-medicators: A theory and empirical exami-
pela respiração nos prepara para uma atitude nation. Personality and Individual Differences,
50(2011), 222-227.
mental diferente e envolvida com o presente.
Assim, deslocamos intencionalmente a aten- Langer, E. J. (2014) Mindfulness forward and
back. Em A. Ie, T. N. Christelle, & E. J. Langer
ção de uma maneira delicada e gradual na (Eds.), Wiley Blackwell Handbook of Mindful-
direção de sensações desconfortáveis e po- ness (pp. 7- 20) Chichester, UK: John Wiley &
demos nos conectar a novas crenças e novos Sons, Ltd. doi: 10.1002/9781118294895.ch1.
sentimentos, mais leves e agradáveis. Lau, M. A., Bishop, S. R., Segal, Z. V., Buis, T., An-
Por fim, repensando a relação da derson, N. D., Carlson, L., & Carmody, J. (2006).
busca de resiliência na experiência de min- The Toronto mindfulness scale: Development
and validation. Journal of Clinical Psychology,
dfulness, ampliamos o “tricotar possibili- 62(12), 1445-1467. doi: 10.1002/jclp.20326/pdf
dades”, dando novos sentidos aos recursos
internos e externos que estão disponíveis Pires, Jeferson Gervasio et al . Instrumentos
para avaliar o construto mindfulness: uma revi-
neste instante. Por meio da linguagem, tecida são. Aval. psicol., Itatiba , v. 14, n. 3, p. 329-338,
em processos, padrões e narrativas, vive-se a dez. 2015. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.
prática que integra o indivíduo em seu corpo org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
-04712015000300005&lng=pt&nrm=iso>. Aces-
(respiração, postura, consciência corporal), sos em 15 nov. 2016.
consigo mesmo (a reconstituição do sentido
do pensamento, da emoção e do sentimento) Teasdale, J.D., Williams, M., Segal, Z. Manual prá-
tico de mindfulness (meditação da atenção ple-
e com o outro (ampliando contextos, numa na): um programa de oito semanas para libertar
constante e fluida construção de narrativas). você da depressão, da ansiedade e do estresse
Perdem o sentido as barreiras estabelecidas emocional. São Paulo: Pensamento, 2016.
entre o nosso “eu” e a “realidade” e, em seu Rodrigues, RTS; Barbosa, GS; Chiavone, PA. Per-
lugar, experienciamos novas percepções, sonalidade e Resiliência como Proteção contra o
Burnout em Médicos Residentes. Revista Brasi-
energia e vitalidade ao reconectarmo-nos di- leira de Educação Médica. 37 (2): 245-253; 2013.
retamente com as possibilidades de vida.

2016 dezembro Ed. 43 23


Dossiê

João Marcos Varella


Psicólogo e Coach em Resiliência
jmarcos@joaomarcosvarella.com.br

Mônica Barbosa
Psicóloga e Coach em Resiliência
monica@miradh.com.br

Soraya Oliveira
Empresária e Coach em Resiliência
soraya@i3gp.com.br

Leia em 11 min

Desenvolvimento da Resiliência
nas Organizações

INTRODUÇÃO
Vendo o mundo com um olhar mais apurado e procurando enten-
der os movimentos sociais, políticos ou econômicos, o primeiro
sentimento é de inquietude e incerteza. Corre-se o risco de se ob-
ter conclusões rasas, que pouco contribuem para a compreensão
do contexto atual, o que pode impedir uma tomada de decisão
equilibrada dentro desse contexto. Isso se reflete de modo pro-
fundo nas organizações: fusões, aquisições, novas estruturas que
avançam cada dia mais, com mudanças rápidas de cenários e
de atores nesse mundo globalizado.

24 2016 dezembro Ed. 43


Um conceito que pode apoiar o entendi- Os impactos na realidade das pessoas
mento desse cenário é denominado VUCA, geram desequilíbrios financeiros, profis-
uma sigla em inglês (volatility, uncertain- sionais, familiares e mais que tudo, emo-
ty, complexity and ambiguity) utilizada cionais. Uma resposta é dada sempre a
para descrever a volatilidade, a incerteza, qualquer um desses impactos, mas muitas
a complexidade e a ambiguidade do mun- vezes são respostas fruto de profundo
do atual. Oriundo do vocabulário militar estresse, gerando comportamentos de
norte-americano, expressa a complexida- inadaptação, e as consequentes doenças
de da sociedade, a interdependência fruto físicas e emocionais.
da globalização e seus impactos. Conceito No contexto organizacional, tudo isso se
e seus reflexos: reflete em muitas situações que consulto-
• Volatilidade significa a nature- res, profissionais de Recursos Humanos e
za, a velocidade, o volume e a gestores enfrentam ao buscar a melhoria
magnitude das mudanças que do desempenho de pessoas e equipes,
não se encontram num padrão tentam diversas estratégias, porém, a situ-
previsível e seu impacto na ação não se altera e não há um ganho ex-
sociedade. pressivo na superação desses obstáculos.

• Incerteza entendida como A resposta a esses desafios


falta de previsibilidade, a pers- no mundo VUCA envolve se
pectiva da surpresa e a difi- construir um ambiente de de-
culdade de desenhar cenários senvolvimento de comporta-
futuros a partir de aconteci- mentos de equilíbrio por meio
mentos passados. da capacidade de enfrentar os
desafios, obter novos apren-
• Complexidade refere-se à dizados e sair fortalecido da
interdependência e conectivi- situação.
dade entre os fenômenos, e a
dificuldade de entender o re-
sultado das interações porque
raramente são lineares.

• Ambiguidade significa a impre-


cisão da realidade, o potencial
erro de leitura dos fatos e a
confusão entre causa e efeito.

2016 dezembro Ed. 43 25


METODOLOGIA

A condição de Resiliência de um grupo pode


ser identificada a partir da análise e inter-
pretação de um mapeamento da resiliência
individual. Este mapeamento deve ser efetu-
ado utilizando-se a ferramenta desenvolvida
especificamente para mapear os graus de
Resiliência do indivíduo, relatando desvios e
fortalezas no comportamento resiliente.
A partir desse mapeamento, o comporta-
mento resiliente do grupo é caracterizado,
permitindo o desenvolvimento de treinos
para a consolidação do equilíbrio em resili-
ência, a partir de metodologia própria da re-
siliência.
No processo os treinos devem ser organi-
zados sobre o perfil do grupo, mantendo a
atenção ao indivíduo. Por exemplo, assegu-
rar-se que a diversidade das condições de
resiliência seja utilizada a favor do grupo:
pessoas fortes dirigidas para interagir com
pessoas mais fragilizadas em resiliência via-
biliza que estas descubram por meio do ou-
tro, recursos para avançar no treino.
Ao mesmo tempo, a motivação é essencial
para sua realização que será alcançada pelo
indivíduo e pelo grupo a partir do despertar
da sua consciência sobre sua condição de re-
siliência e sobre as expectativas organizacio-
nais depositadas sobre eles.
Portanto, antes dos treinos serem iniciados
é fundamental assegurar uma devolutiva in-
dividual e a exposição de uma visão conso-
lidada ao grupo sobre os comportamentos
resilientes atuais.
Para promover os treinos em resiliência,
também consideramos necessário o deline-
amento de um contexto para o estabeleci-
mento de um compromisso significativo e
realmente impactante a ser alcançado pelo
grupo. Este compromisso precisa estar atre-
lado aos “desafios” que ele enfrenta em seu
dia-a-dia e, principalmente, aos objetivos es-
tratégicos da organização.
E, finalmente, para a consolidação da apren-
dizagem dos treinos é essencial assegurar
um monitoramento no curto, médio e longo
prazo, por meio de métricas consistentes do
próprio grupo reconhecendo as conquistas
alcançadas.

26 2016 dezembro Ed. 43


APLICAÇÃO DA METODOLOGIA
Esta metodologia permite a aplicação das
ferramentas da Resiliência para melhorar
o desempenho de grupos em face de dife-
rentes necessidades. Quando muda o foco
de desenvolvimento do grupo, muda total-
mente o conteúdo do treino em Resiliência
a ser aplicado, mantida a metodologia. Va-
mos considerar alguns objetivos das organi-
zações e examinar como ocorre a adaptação
do conteúdo a cada um deles.

• PRODUTIVIDADE

Uma condição importante para os padrões de


produtividade é a equipe acreditar que é ca-
paz de enfrentar seus desafios e realizar seus
objetivos. A autodeterminação e a convicção
de ser eficaz nas ações propostas é resultado
do equilíbrio de sua autoconfiança.
Outro conteúdo a ser trabalhado é a clara vi-
são da realidade, das circunstâncias em que
o grupo está inserido e sua capacidade de
adaptar-se às diferentes demandas. Enten-
der as relações de causa e efeito atento às
evidências do ambiente, fazendo um exame
equilibrado dos fatos. Desvios desse compor-
tamento podem representar riscos à produti-
vidade, o que significa perdas e custos.

• LIDERANÇA

O foco do conteúdo de Resiliência está no


desenvolvimento da capacidade de criar vín-
culos e uma rede de apoio de forma a obter
a adesão e colaboração da equipe aos seus
objetivos. E também no comportamento
apropriado do líder para manter um clima
de equilíbrio e compreensão em momentos
de tensão e conflito. Desta forma, o líder
amplia sua compreensão sobre as necessi-
dades das pessoas e acredita no potencial
de sua equipe.

• NEGOCIAÇÃO E CONFLITOS

Para desenvolver a competência para nego-


ciação e superação de conflitos será neces-
sário concentrar o conteúdo em Resiliência
na capacidade de interpretar corretamente
o pensamento do outro, apreender os obje-

2016 dezembro Ed. 43 27


tivos da outra pessoa e habilidade para Complementa o conteúdo, a visualiza-
ouvir e cultivar a comunicação. ção de novos ideais e horizontes com
O conteúdo será complementado imaginação e vontade de realizar.
pela habilidade para criar um ambien-
te emocionalmente agradável e para • SAÚDE
propor alternativas e novos caminhos.
Destaque para a flexibilidade para No dia-a-dia, as pessoas estão sujeitas
adaptar-se a diferentes contextos, que a pressões, estresse e consequentes
ora exigem firmeza e ora necessitam manifestações tanto psico, quanto so-
de diplomacia. máticas. O mais grave é o não reconhe-
cimento adequado dessas manifesta-
• DESAFIOS E CUMPRIMEN- ções sobre o corpo e que poderiam ser
TO DE METAS identificadas precocemente.
O conteúdo em Resiliência está no
O conteúdo em Resiliência para esta desenvolvimento da percepção sobre
situação está em desenvolver a con- as alterações no próprio corpo, iden-
vicção de que as coisas podem mudar tificar os sinais de estresse e efetiva-
para melhor, isto é, desenvolver a fle- mente ter uma atitude de cuidar de si
xibilidade para mudanças, com criativi- mesmo.
dade e humor.
Desenvolver também a convicção que • ASSÉDIO
possui recursos para resolver proble-
mas, força de vontade e entusiasmo Esta é uma ação preventiva onde o
para superar os obstáculos rumo ao foco está na identificação de compor-
cumprimento de suas metas. tamentos radicais por parte dos líde-
res, sobretudo por visão inadequada
• PLANEJAMENTO da realidade. Nestas circunstâncias,
ESTRATÉGICO pode haver a emissão de comporta-
mentos inadequados, criando um am-
O apoio das ferramentas em Resiliên- biente emocionalmente desagradável
cia para elaboração do planejamento gerador de conflito e tensão.
estratégico tem seu foco no desenvol- O conteúdo em Resiliência está dire-
vimento da visão de realidade, na justa cionado para o desenvolvimento de
relação de causa e efeito, na identifica- comportamentos de equilíbrio nas
ção dos riscos e os perigos, lendo ade- ações, sem ultrapassar os limites acei-
quadamente os sinais que o ambiente táveis no exercício de sua liderança
emite. Apresentar uma ousadia saudá- com o objetivo de evitar conflitos e
vel nas decisões e equilíbrio no exame desgastes.
dos fatos e ainda, ser inovador em suas
propostas.

28 2016 dezembro Ed. 43


CONCLUSÃO
Há muito que se explorar no mun-
do corporativo quanto ao desen-
volvimento da resiliência, princi-
palmente, porque o alto nível de
estresse passou a ser uma con-
dição característica dos desafios
que as corporações se impõem
para assegurar sua competitivi-
dade. Diante das necessidades
de especialização exigidas pelas
novas tecnologias, também é au-
mentada a necessidade de forma-
ção de equipes multidisciplinares
que devem cooperar no mesmo
ambiente em que precisam com-
petir por recursos. O desenvolvi-
mento da resiliência fortalecerá
as empresas para o enfrentamen-
to deste cenário a fim de que as
pessoas desenvolvam a capacida-
de de criar estratégias de supera-
ção das adversidades para atua-
ção de forma cooperativa. Somen-
te neste contexto as empresas
estarão fortalecidas e preparadas
para a perenidade. Organizações
resilientes são mais produtivas
em ambiente mais agradável e
saudável.

2016 dezembro Ed. 43 29


George Barbosa
Doutor em Psicologia. Diretor Científico da Soc. Bras. de
Dossiê Resiliência, Pós-doutorando e Professor na Fundação Vanzolini (USP)
Flexibilizar, superar obstáculos... viver feliz. – A arte de ser resiliente.
george.barbosa@sobrare.com.br

Paula Assis
Graduação em Marketing pela Trevisan Escola Superior de
Negócios, especialização em MASTER EM INTELIGÊNCIA
COMPETITIVA pela Universidade Anhembi Morumbi e formação
em Coaching em Resiliência pela SOBRARE. Coordenadora de
Comunicação e Marketing da Sociedade Brasileira de Resiliência.
Fazendo Coaching com confiança.
paula@sobrare.com.br

Leia em 13 min

A beleza de um processo de Coaching em Resiliência.


Possibilidades e amplitudes em áreas vitais do pessoal e profissional

Por volta de 2008 nós iniciamos os primeiros estudos sobre a possibilidade


de se ter uma metodologia cem por cento focada tanto na teoria quanto
no desenvolvimento de resiliência. Como sempre se deve fazer, começamos
por pesquisas. As primeiras delas versavam sobre aonde deveria ser o cerne
de um método quando se quer ter a teoria da resiliência como eixo condutor
e não apenas como um elemento incidental.

30 2016 dezembro Ed. 43


Um pouco da História nificar a sua forma de pensar e enfren-
tar, e, tudo isso, por saber estruturar
o pensamento a partir de um conjunto
de crenças específicas da resiliência,
Para tanto, recorremos às Psicologias os chamados Modelos de Crenças
Cognitivas, à Teoria dos Sistemas, à Determinantes (MCDs) do comporta-
abordagem psicossomática e às Con- mento resiliente. Estes atuam como
dutas e Competências apregoadas lentes ou filtros de se ler a realidade1.
pela International Coaching Federa-
tion (ICF). Tal referencial teórico pos- As perguntas que nos norteavam
sibilitou ter o eixo epistemológico que eram: Com base na resiliência, como
necessitávamos. Como resultado, tive- os eventos podem ser compreendi-
mos em 2013 a formatação da meto- dos e vistos de modo diferente ao
dologia do Coaching em Resiliência© costumeiro; Como reestruturar a
que brevemente descreveremos aqui. explicação dada para si próprio (a)
sobre os eventos em que está en-
volvido (a), se tendo a resiliência
em consideração, e, Como podemos
Para começarmos a falar de coaching ter uma metodologia de coaching
focado em desenvolver resiliência, na qual a estruturação de uma nova
é melhor antes dizer que resiliência narrativa se dá prioritariamente a
é a capacidade de ser flexível diante partir de marcadores específicos
de situações de bastante estresse. O de uma abordagem em resiliência
stress pode advir de um evento impac- humana e favorecer passos práticos
tante específico como o desemprego diante de desafios e adversidades.
não esperado, também costuma vir de
desgastes prolongados no trabalho
ou nas relações familiares. Ele vai nos
corroendo pouco a pouco. Ter que fa- A estratégia dentro da metodologia
zer mais e mais, tudo mais rápido com é sempre buscar ampliação do pen-
menores recursos e sem horizontes à samento, expansão da consciência,
vista. A resiliência empodera no senti- aumento da responsabilidade pesso-
do das pessoas se tornarem hábeis em al e, fundamentalmente, incrementar
identificarem os graus de riscos e dos a flexibilidade face às adversidades.
reais perigos, para que possam ressig- Sabe-se pela nossa prática que, quan-

2016 dezembro Ed. 43 31


do a flexibilidade fica comprometida, Todos esses referenciais alinhados às No teste de Engajamento na Empresa5,
o cliente relata comportamentos de- competências e condutas apregoadas verificamos os resultados de Engajado
notando rigidez. internacionalmente para a prática do com a Empresa e Não engajado com
coaching. sua liderança.

O Coaching em Resiliência© (CR) foi


planejado para atuar nos aspectos vi- Um Caso típico descrevendo No teste de Stress6, que detecta o nível
tais da resiliência e que estão tendo o processo de percepção das adversidades no tra-
o efeito corrosivo do stress e, por- balho, registrou o resultado de Severo
tanto, carecem de reestruturação. O stress em suas percepções, diagnosti-
propósito seria obter ganhos para o Por esse ano estávamos envolvidos cado como Burnout.
bem-estar face aos desafios e adver- com uma crise financeira mundial que
sidades, autoeficácia no desempe- fez com que diversos líderes procu-
nho, controle da ansiedade, minimi- rassem por apoio profissional. Um dos
zação de pensamentos e comporta- Na escala QUEST_Resiliência encontra-
primeiros profissionais que nos procu-
mentos negativos e assertividade na mos os seguintes Graus de resiliência:
rou e aceitou participar da pesquisa,
tomada de decisão. foi o Gomes. Com 39 anos de idade, • Autocontrole (AC): Condição
98 Kg, 1,76 de altura, nascido ao Sul de Moderada resiliência com
Os objetivos que estão mais comu- de MG e criado após os 12 anos no RJ.
mente presentes em um processo do mediana propensão a acatar
Engenheiro Elétrico, vinculado a uma ao stress
CR são: Identificar as razões de nos empresa de TI cerca de 5 anos, atuava
comportarmos do modo como nos como gerente na área comercial.
comportamos quando estamos sobre • Autoconfiança (ACnf): Condi-
impacto; promover mudança de dire- ção de Boa resiliência e maior
Gomes evidenciava perda na autocon- tendência de atacar fontes de
ção nas emoções e pensamentos ne- fiança, dificuldades na tomada de deci-
gativos; amadurecer quanto à capaci- stress
são, seu otimismo estava se tornando
dade de identificar os níveis de riscos um enorme pessimismo, tendo uma
e perigos psicossociais e aprender • Análise de Contexto (ACxt):
má avaliação de sua performance, via- Condição de Excelente resili-
a usar ferramentas para minorar a -se acreditando menos em si próprio,
pressão e o stress relacionado à pró- ência em ambientes adversos
com dificuldades em manejar suas com tendência para o Equilí-
pria pessoa. emoções, deixando-as aflorar de for- brio diante do stress
ma primária e já evitando contatos e
A metodologia trabalha com onze ou exposições no ambiente de trabalho.
doze encontros. Em cada um deles, • Conquistar e Manter Pesso-
uma das áreas da resiliência vai sen- as (CMP): Condição de Fraca
do detalhada pelo cliente, até formar resiliência diante da adversi-
Para o compromisso geral no processo dade com a alta tendência de
sua percepção global e, assim, se
do CR, ficou estabelecido que teríamos atacar tudo percebido como
ressignificar nos hábitos e rigidez de
foco em sua liderança na empresa. Tra- stress
comportamentos. Logo, demarcando
balhar liderança em resiliência tem
horizontes para a flexibilidade.
evidenciado em pesquisas3 que contri- • Empatia (EPT): Condição de
Cientes de que a resiliência pode e bui significativamente para a melhor Boa resiliência tendendo
deve ser medida por meio de escalas performance face a desafios apresen- para ter maior reatividade ao
psicométricas validadas, assumimos tados para diferentes perfis e habilida- stress
que recorreríamos somente a ins- des de gerenciar os efeitos acometidos
sobre si mesmo (a). • Leitura Corporal (LC): Condi-
trumentos específicos da resiliência.
ção de Excelente resiliência
Alinhamos a metodologia à escala
diante do stress com Equilí-
de resiliência brasileira validada,
A pedido, seu psicólogo aplicou uma brio face às fontes de stress
QUEST_Resiliência que evidencia
quais padrões de crenças os clien- escala de depressão3 e obteve o resul-
• Otimismo para com a Vida
tes trazem. Por exemplo, graus de tado de Média Depressão.
(OV): Condição de Fraca resili-
“Excelência” em Autoconfiança, indi-
ência perante ao stress deno-
caria “Equilíbrio” na segurança e ou-
tando alta passividade diante
sadia do cliente. Ao responder, o (a) Nós lhe ministramos o Inventário de de stress
cliente se coloca com maior ou me- Baecke4, para avaliar sua prática de ati-
nor intolerância, ou pessimismo em vidade física e obtivemos um score de • Sentido de Vida (SV): Condi-
seus comportamentos. Ou faria um Atividade Física Baixa. ção de Boa resiliência face ao
meio-termo adequado evidenciando stress voltado para maior sub-
o comportamento equilibrado, não missão ao stress.
extremista2.

32 2016 dezembro Ed. 43


Resultados registrados Ficaram registrados os seguintes Leituras e citações relacionadas
passos nas oito áreas constitutivas com o texto:
da resiliência e trabalhadas ao longo
do processo. Para:
1. Barbosa, GS. Roteiro dos ín-
Resultados em coaching são sem-
pre espontâneos. Não há como • EPT – Espelhar o que ou- dices de resiliência: Uma in-
tros falarem para cons- trodução de como analisar os
determiná-los. No entanto, devido resultados de pesquisas em
ao eixo metodológico, espera-se truir pontes e, a partir, resiliência (Um exemplo de
que o (a) cliente venha estruturar delas fazer suas coloca- como comentar o QUEST_Re-
uma rede de pensamentos decor- ções. siliência. São Paulo: SOBRA-
RE. 2014.
rentes de novas ressignificações
• OV - Fazer registros sema-
ante seus enfrentamentos. Tais 2. Barbosa, GS. A aplicação e in-
nais de crenças negativas
resultados explicitam maior flexibi- terpretação do conceito de
atuando como barreiras
lidade cognitiva na gestão das emo- resiliência em nossa teoria.
à superação de dificulda- Congresso ISMA. 2011. http://
ções, de sentimentos e comporta-
des. Ressaltar nele os as- www.sobrare.com.br/sobra-
mental diante do stress.
pectos positivos. re/publicacoes.php
Ao final do processo, verificamos
• CMP – Mapear em uma 3. Cunha, J. A. (2001). Manual da
que o próprio Gomes havia estabe- versão em português das Es-
tabela as ocorrências de
lecido os seguintes temas para tra- calas Beck. São Paulo: Casa do
impulsividade para com
balhar nas sessões que ocorreram: Psicólogo.
liderados e clientes.
• redução de seu absenteís- 4. Baecke, et al. Questionário
• AC - Descrever insights Baecke de atividade física.
mo e garantia do presente-
que indicassem a manu- 1982.
ísmo;
tenção de seu modo de se
adaptar às demandas do 5. Engajamento na Empresa
• atuação decisiva na toma- http://sobrare.com.br/instru-
da de decisão; ambiente.
mentos/

• empoderamento na capa- • AC - Buscar no contexto 6. Teste de stress - Percepção


cidade de dar resposta às vivenciado a comprova- das Adversidades no trabalho.
demandas; ção para maior assertivi- http://sobrare.com.br/instru-
dade nas atitudes e com- mentos/
• aumento na chamada de portamentos a serem ex-
sua responsabilidade pes- pressados.
soal nas decisões;
• LC – Se referir com positi-
• visão mais realista e posi- vidade sobre sua imagem
tiva das próprias atitudes corporal.
face seu gerente sênior e
diretor; • ACnf – Trazer à consci-
ência práticas para segu-
• melhor gerenciamento em rança no comportamento
ambientes de incertezas, emitido em reuniões da
como reuniões e negocia- empresa e família.
ções;
• SV – Criar um lema de vida
• elevação do nível de inte- contemplando responsa-
gridade moral e ética evi- bilidade, sentimento de
tando assédio moral por pertencimento e autodis-
comunicação violenta; ciplina.
Finalizamos dizendo que temos ex-
• implementar uma cultura perimentado um caminho que nos
voltada para o cultivo e a tem permitido aprender e favorecer
valorização da resiliência a aprendizagem de um efetivo fer-
em seu ambiente de lide- ramental e inovadoras estratégias
rança. para que, nós e nossos clientes, ve-
nhamos a elevar nossos níveis de
resiliência em momentos e circuns-
tâncias difíceis da vida.

2016 dezembro Ed. 43 33


Coaching Executivo Meriete Cardoso
Psicóloga Organizacional, Coach Executiva
Empresarial e Didata pela ABRACEM
meriete@rhedehr.com.br

Leia em 11 min

Cultura de Coaching nas Organizações

Cada vez mais fala-se dos benefícios advindos de uma cultura de coaching nas organizações.
Além do coaching em si, que contribui grandemente para o desenvolvimento organizacional,
o estabelecimento de uma cultura que possua elementos e referências do coaching, traz em
si alta probabilidade de ser bem-sucedida.

Segundo Hawkins, (2012) “uma cultura de Coaching existe numa organização quando uma
abordagem de coaching é um aspecto chave do modo como líderes, gerentes e funcionários
envolvem e desenvolvem seus colaboradores e envolvem seus stakeholders de tal modo a
criar um desempenho elevado, tanto individual, quanto da equipe e da organização, bem
como valor compartilhado para todos os envolvidos”.
Para Dembkowski e Eldridge (2014), existem alguns fatores que podem contribuir positiva-
mente para o estabelecimento de uma cultura de coaching, e tais fatores serão expostos
abaixo.

De acordo com as autoras acima, o uso de coaching dentro das organizações aumentou sig-
nificativamente na Europa. A recente Pesquisa de Treinamento e Desenvolvimento CIPD1
indicou que 78% dos que responderam à pesquisa no Reino Unido relataram usar coaching
como parte de suas atividades de aprendizagem e desenvolvimento. No entanto, os números
podem não ser tão elevados em outros países europeus.

34 2016 dezembro Ed. 43


As organizações que usam coaching tiveram uma variedade de expe-
riências. Embora o uso de coaching pelas organizações esteja aumen-
tando, as empresas ainda são desafiadas a criar uma cultura de coa-
ching para desenvolver uma nova maneira de gestão. Alguns pioneiros
adotaram esse novo estilo, mas muitos outros ainda estão lutando
para encontrar maneiras de se afastar dos antigos hábitos de “coman-
do e controle”.
Os seguintes fatores de sucesso podem ser usados ​​pelas próprias or-
ganizações ou por coaches externos que ajudam as organizações a de-
senvolverem uma cultura de coaching.

a) Ligação à estratégia empresarial


Por exemplo, se estratégia do negócio exige um crescimento eleva-
do, a primeira pergunta é “Qual é a cultura apropriada para permitir o
crescimento elevado?”. Ao avaliar a sua cultura atual, as organizações
podem, por exemplo, identificar que não têm uma “cultura de alto de-
sempenho” ou “cultura de coaching”. As razões para isso certamente
variam. Sem líderes em todos os níveis dentro da organização que po-
dem trabalhar com suas equipes para desenvolver sua melhor perfor-
mance, o crescimento elevado não será sustentável.

b) Identificar um patrocinador
Qualquer iniciativa que está ligada à estratégia de negócios e tem im-
plicações fundamentais para a cultura de uma organização, precisa de
um patrocinador dentro da organização. No cenário ideal, o patroci-
nador é um membro do conselho e/ou um alto executivo altamente
respeitado. Esta pode ser uma questão delicada. Em algumas orga-
nizações ainda é comum para os altos executivos usar coaches, mas
mantê-los escondidos - vendo o coaching como algo para o seu bene-
fício individual e uma “arma secreta” em seu arsenal para alcançar o
sucesso dentro da organização e além.
É claro, é importante para coaches individuais e organizações de co-
aching respeitarem a confidencialidade. No entanto, a introdução de
uma cultura de coaching vai exigir que aqueles que experimentaram
os seus benefícios que se tornem advogados voluntários para os bene-
fícios da organização.
Um bom patrocinador será alguém que tenha experiência de primeira
mão com coaching e pode ver seus benefícios para a organização em
geral.

c) Integrar os módulos de coaching no programa de liderança


As organizações que estão empenhadas em criar uma cultura de coa-
ching precisam dar um passo adiante, e integrar módulos de coaching
em seus programas de desenvolvimento de liderança. Os coaches
executivos externos analisam o currículo para o desenvolvimento da
liderança e trabalham com o RH, a divisão de treinamento e outros ins-
trutores para assegurar uma abordagem bem integrada. Além disso,
alguns membros da organização podem se tornar coaches qualifica-
dos. No entanto, os papéis e responsabilidades de coaches internos
e externos precisam ser claramente definidos. A experiência aponta
que a equipe de altos executivos permanece melhor se atendida por
coaches externos.

2016 dezembro Ed. 43 35


d) Desenvolver estratégias de avaliação
Encontramos uma falta de clareza sobre os resultados desejados para coaching. Isso leva organizações
a algo obscuro sobre como avaliar coaches e o resultado de programas específicos de coaching. Alguns
estão satisfeitos com feedbacks simples sobre o coaching. Outros gostam de ter uma declaração de até
que ponto as metas estabelecidas no início foram cumpridas. Muito poucos começaram a implementar
medidas de ROI para coaching. Por exemplo, atualmente, ainda há um preconceito em algumas organiza-
ções de que o coaching está muito caro. Em termos absolutos, à primeira vista, pode parecer mais barato
enviar executivos para outro programa de treinamento. A questão deve ser “Caro em relação a quê?”. Os
custos de coaching têm que ser colocados em perspectiva em relação ao resultado. Medidas de experi-
ência e ROI tornam-se fundamentais para garantir o apoio de um orçamento para coaching executivo.
Somente se a organização e os coaches aderirem às boas práticas, podem ser desenvolvidas boas estra-
tégias de avaliação. A introdução de uma cultura para qualquer organização levanta os mesmos desafios
que programas de mudança cultural. Não basta apenas anunciar, fornecer informações e assumir que a
mudança terá lugar. O planejamento é essencial para introduzir qualquer nova iniciativa. É importante
analisar todos os custos e benefícios, antecipar e planejar, para minimizar resistências.

e) Começar fazendo coaching no topo


Muitas vezes, o coaching é considerado um método de correção de algo que está quebrado. Quando
usado dessa maneira, o coaching tem uma orientação de problema ao invés de uma orientação de solu-
ção. No Reino Unido e nos EUA, a visão é mais equilibrada, e as organizações começaram a perceber o
benefício de utilizar coaches executivos para o desenvolvimento do potencial humano de seus melhores
talentos. Começar no topo envia um sinal forte para a organização e ajuda a reduzir preconceitos. Além
disso, tem outro benefício significativo: executivos de alto nível e aqueles com alto potencial tornam-se
modelos de papel e multiplicadores essenciais de boas práticas.

36 2016 dezembro Ed. 43


f) Criar um pool de coaches
Uma vez que os coaches tenham cumprido os critérios da empresa que irão atender,
eles poderão ser inscritos em uma lista de coaches prestadores de serviço. A experi-
ência demonstra que muitas organizações preferem operar um pool de coaches para
que os executivos possam escolher um coach. Além disso, se um processo de coa-
ching não funcionar por qualquer motivo, há então outros coaches que podem ser
trazidos sem ter que procurar novos profissionais.

g) Garantir uma estrita confidencialidade


É fundamental para o processo de coaching que o conteúdo das sessões esteja su-
jeito a estrita confidencialidade entre coach e coachee. Caso seja identificado que
as informações sobre o conteúdo estão vazando através da organização, a confiança
no instrumento está quebrada. Seria um desafio extremo para reconstruí-lo. O único
momento em que alguma informação é passada para terceiros, é quando o coachee
revela por si mesmo partes de seu processo.

h) Desenvolver um plano de comunicação integrado


Uma vez que a organização decidiu oferecer coaching para os executivos, ele precisa
ser comunicado ativamente dentro da organização. Como o coaching e seus benefí-
cios podem ser comunicados é uma questão de criatividade. Várias práticas são en-
contradas, que vão desde exibir a oferta de coaching executivo externo na intranet
da organização (incluindo um breve vídeo do patrocinador na organização, em que
ele declarou como o coaching foi benéfico para ele e o impacto que teve sobre o seu
pessoal e carreira corporativa), até a inserção na agenda de eventos importantes da
empresa, como uma reunião trimestral.

Sem dúvida, uma cultura de coaching bem implementada, alinhada aos objetivos
estratégicos da organização e devidamente assimilada pelos executivos, tem alta
probabilidade de ser efetiva. Vale a pena conhecer a fundo cada organização, e no
momento de iniciar a implementação, considerar suas especificidades, facilitadores
e possíveis dificultadores também.

Bibliografia
Dembkowski, Sabine e Eldridge, Fiona. Creating a coaching culture: success factors for bringing it to life.
In: http://www.coachingnetwork.org.uk. Acesso em Novembro de 2016.
Hawkins, P. (2012). Creating a Coaching Culture. Nova York: Open University Press, p27

2016 dezembro Ed. 43 37


Marcos Wunderlich
Eu cada vez melhor Presidente Executivo do Instituto Holos
holos.org.br
Formador em Mentoring e Coaching Humanizado
ISOR®
marcosw@holos.org.br

Leia em 8 min

O Valor da Interação Isomórfica

No primeiro artigo desta série publicado nesta coluna, explorei vários aspectos do Dimensionamento, um conjunto
de competências que podemos aplicar na que resulta em maior preparo, coerência (isomorfismo) e assertividade.
O segundo artigo versou sobre a ativação das competências de Regulação – que tem como principais eixos a nossa
capacidade de condução, centramento e de ajuste situacional.
A partir das bases Dimensionadora e Reguladora, que ocorrem primordialmente na nossa faixa interna, precisamos
entrar em contato com o mundo externo através de interações e relacionamentos.
Neste terceiro artigo vou explicitar diferentes aspectos que compõem o mundo relacional isomórfico. Estou ciente
que apenas darei um “pontapé” inicial a este tema tão vasto e complexo.

O que significa Interação Isomórfica no contexto deste artigo?


A Interação se refere ao campo de energia formado pelos relacionamentos intra e interpessoais, grupais,
intersetoriais, sociais, comunicação e posturas prestadias, enfim, a tudo que diz respeito ao complexo processo de
relacionamentos e interação humana.
Podemos atuar com isomorfismo quando nossas atividades ou ações são coerentes (isos significa igual e morphos
corresponde à forma, ou seja, da mesma forma). O isomorfismo humano é a nossa coerência com a Vida, a sintonia
com as leis maiores que regem a condição humana e permitem o desfrute da própria Vida em estado de harmonia
relacional entre os seres humanos e destes com seu meio ambiente.

38 2016 dezembro Ed. 43


Fatores básicos da Interação Isomórfica
Veja que, fundamentalmente, são três aspectos fundamentais que
compõem o Campo da Interação Humana.

1. Quadrado - hemisfério esquerdo - campo racional: A Objetividade. Esta engloba


vários aspectos da interação humana, mas o principal sentido se refere à comuni-
cação real, tolerância, diálogo, negociação, respeito à verdade de cada um, intera-
tividade mais profunda evitando a fala inútil ou interações desprovidas de aprendi-
zagem, mas sim de trocas e crescimento mútuo.

2. Círculo - hemisfério direito: campo emocional-intuitivo: Sintonia. Este é o aspecto


mais profundo da interação humana, nos sintonizarmos mais profundamente uns
com os outros mediante o uso da intuição, sensitividade e percepção do momento
e necessidade do outro. Inclui o cultivo de nossa paciência, amorosidade e com-
paixão com o outro, o estar presente no aqui e agora, a valorização da vida e não
dos papéis relacionais, do dar-se o direito de amar a si e ao próximo.

3. Triângulo - parte comum do cérebro, corpo caloso - campo operacional: Condução


do clima de harmonia relacional. Isto se refere às posturas focadas e condutoras
nos relacionamentos, equanimidade, diplomacia, atividades solucionadoras e cria-
tivas, atitudes prestadias, onde tudo isto poderá nos auxiliar a realizar a harmonia
relacional.

2016 dezembro Ed. 43 39


Em quais ocasiões podemos utilizar a Interação Isomórfica?
Podemos e devemos aplicar seus princípios todo o tempo, uma vez que nossa vida é marcada por
constantes interações. Estas incluem os fatores do Dimensionamento e da Regulação mencionadas nas
duas edições anteriores desta Revista Coaching Brasil.
Porém o aspecto mais importante no campo pessoal é obtermos como resultante a harmonia e paz
relacional.

O que ultrapassamos com a união da Objetividade, Sintonia e Condução do clima de harmonia?


Vou listar alguns aspectos mais difíceis que podem ficar para trás na medida em que cultivamos
interações mais isomórficas. Obviamente que o leitor aqui irá acrescentar outros tantos aspectos, na
medida em que entender o significado dos relacionamentos mais isomórficos.

Infelicidade
Comunicação de guerra
Vencer a qualquer custo
Fala inútil e fofocas
Posturas impositivas ou de submissão
Justificação
Prisão ao passado ou futuro
Possessividade e manipulação de pessoas
Carência afetiva
Envolvimentos emocionais
Frustrações relacionais
Jogos de poder
Autoritarismo
Paternalismo
Manipulação de pessoas
Jogo de culpas
Omissões e barganhas
Geração de conflitos relacionais
Rispidez
Aversão
Comparar-se com outros
Achar-se superior ou inferior
Mentalidade punitiva
Postura problematizadora
Viver o personagem (papeis)
Auto canonização.

40 2016 dezembro Ed. 43


Como aplicar Critérios Isomórficos de Relação?
Critérios não são normas rígidas ou fixas, mas aspectos que são como setas indicativas ou apontam para
relacionamentos mais harmoniosos e conectados com a qualidade da Vida. Veja abaixo alguns enunciados de
critérios isomórficos. Na medida do possível, poderemos nos auto-orientar por eles e usá-los como referencial
de base ou ponto de partida em processos de Mentoring, Coaching ou Aconselhamento.

Minha sugestão é que este quadro descritor de critérios seja contemplado. Isto é, olhá-lo como um Todo e
refletir sobre cada um deles, como pode ser utilizado ou aplicado nas diferentes situações da Vida. Quais
seriam as mudanças que podem proporcionar, o que mudaria nas minhas interações, e assim por diante.

Nesta contemplação você certamente descobrirá que estes critérios não são isolados uns dos outros, mas sim
que se trata de um conjunto único de ações interconectadas que formarão um vasto campo de competências
superiores que podem qualificar profundamente as interações humanas.

Embora a proposta desta coluna seja o cultivo de aspectos pessoais, não posso me furtar de explicitar
resultante da Interação Isomórfica no aspecto profissional ou organizacional.

A) Visão Compartilhada a partir da comunicação assertiva com colaboradores, fornecedores


e sociedade.

B) Capacidade Articuladora a partir dos relacionamentos cooperativos entre equipes e


áreas, respeito à diversidade de gerações x, y, z, capacidade de envolver pessoas, concilia-
ção e cooperação.

C) Formação de Equipes a partir da comunicação e negociação, capacidade de gerar tensores


ou climas harmônicos, atividades de liderança servidora, educadora e renovadora.

A Interação Isomórfica permite a geração:

Estes três aspectos, A+B+C resultarão na Sinergia e Fluidez Organizacional, o que por sua vez facilitará a
gestão, a realização operacional de lucro e qualidade de vida, investimento na aprendizagem e formação de
capital intelectual como base para a reinvenção e reformulação da organização para seus futuros ciclos.

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