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UNICE – ENSINO SUPERIOR


IESF – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA
GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

ATENÇÃO FARMACÊUTICA E TERATOGENIA: ANOMALIAS


CONGÊNITAS OCASIONADAS PELA AUTOMEDICAÇÃO NO
PERÍODO GESTACIONAL

ANA IZABELLY DUTRA DE ALENCAR

Fortaleza - Ceará
2021.1
1

ANA IZABELLY DUTRA DE ALENCAR

ATENÇÃO FARMACÊUTICA E TERATOGENIA: ANOMALIAS


CONGÊNITAS OCASIONADAS PELA AUTOMEDICAÇÃO NO
PERÍODO GESTACIONAL

Monografia apresentada à UNICE – Ensino


Superior / IESF – Instituto de Ensino Superior de
Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção
do título de Bacharel em Farmácia, sob orientação
do Prof. Me. Fábio Luiz Tartuce Filho e do Prof.
Esp. Antônio Cláudio Silva Nunes.

Fortaleza - Ceará
2021.1
2

Monografia apresentada à UNICE – Ensino Superior / IESF – Instituto de Ensino


Superior de Fortaleza como requisito necessário para a obtenção do título de
Bacharel em Farmácia. A citação a qualquer trecho deste trabalho científico é
permitida desde que em conformidade com as normas da ética científica.

___________________________________________________________________
Ana Izabelly Dutra de Alencar

Apresentação em: ____________/___________/____________

Orientador: Prof. Me. Fábio Luiz Tartuce Filho

1ª Examinadora: Profa. Dra. Terezinha de Jesus Afonso Tartuce

2º Examinador: Prof. Esp. Antônio Cláudio Silva Nunes

Coordenador do Curso: Prof. Me. Fábio Luiz Tartuce Filho


3

Dedico

Com muita gratidão à Deus, que me iluminou


com força e coragem para seguir sempre
adiante.
Ao meu filho, Davi Lucca, que sempre foi a
minha maior motivação.
À minha querida avó, Nildes Dutra (in
memoriam), cuja presença foi essencial na
minha vida. Serei eternamente grata por cada
abraço, por cada beijo e carinho e pelo amor
incondicional dado a mim.
Aos meus pais, Ana Virginia do Nascimento
Dutra e Izac de Alencar Saraiva. Mãe, seu
cuidado, incentivo, dedicação, amor e
compreensão foram fundamentais. Sem seu
apoio, eu jamais teria conseguido! Pai, meu
maior incentivador, que sempre acreditou no
meu potencial e que me ensinou como se
reerguer diante das adversidades da vida.
Esta vitória é nossa!
4

Agradeço

À UNICE – Ensino Superior, que me deu o


incentivo e os meios necessários para correr
atrás do meu sonho. A todos os professores
que me acompanharam ao longo do meu
percurso, eu agradeço do fundo do meu
coração.
Aos meus orientadores, os Profs. Fábio Luiz
Tartuce Filho e Antônio Cláudio Silva Nunes,
que me guiaram durante toda a caminhada
para elaboração deste trabalho, sempre me
instruindo nos momentos mais difíceis.
Ao meu namorado, David Veras, que jamais
me negou apoio, carinho e incentivo. Obrigada
por aguentar tantas crises de estresse e
ansiedade. Seu companheirismo foi
fundamental para que eu prosseguisse nessa
jornada.
Por último, mas não menos importante, quero
agradecer a todos os meus amigos pela
paciência e palavras de apoio durante os
meses de elaboração do trabalho e a todos
aqueles que de forma direta ou indireta fizeram
parte da minha caminhada acadêmica.
5

Muito obrigada!
6

RESUMO

A Teratogenia está relacionada à capacidade que alguns agentes têm de causar


anomalias no desenvolvimento fetal, e os agentes teratogênicos podem ser qualquer
substância ou organismos que, ao serem introduzidos em uma fase embrionária,
principalmente no primeiro trimestre, acarretam problemas como aborto, má
formação fetal, retardo no crescimento e deficiências. Dentre esses agentes,
destacam-se os medicamentos. Na história da humanidade, sempre houve uma
preocupação sobre as causas da má formação. Entretanto, foi após a tragédia com
Talidomida, na década de 1960, que pesquisadores passaram a estudar melhor
como os medicamentos poderiam afetar a formação fetal. Durante a gravidez, o
corpo feminino passa por diversas transformações. Por esse motivo, é necessário o
acompanhamento médico, e o uso de medicamentos durante a gravidez só deve ser
feito com orientação médica. No entanto, a automedicação ainda é comum durante a
gravidez, seja pela dificuldade de acesso à rede de saúde para ser feito o devido
acompanhamento médico ou mesmo pela falta de informações sobre a Teratogenia.
É necessário, então, que o farmacêutico atuante nas farmácias comunitárias
desenvolva ações de Atenção Farmacêutica a fim de evitar esse problema. Sem a
devida atuação do farmacêutico, a grávida usuária de medicamentos pode estar
sujeita a sérios riscos de saúde, tanto para si quanto para o feto. Portanto, o
farmacêutico tem função fundamental na prevenção do uso irracional e inadequado
de medicamentos e, ao realizar uma correta dispensação e orientação farmacêutica,
ele pode informar às grávidas sobre os problemas decorrentes do uso de
medicações durante a gestação.

Palavras-chave: Teratogenia; Gravidez; Má Formação Fetal; Agentes


Teratogênicos; Orientação Farmacêutica; Uso de Medicamentos; Atenção
Farmacêutica.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................08

CAPÍTULO I. FISIOLOGIA DA GRAVIDEZ..............................................................10


1.1 Metabolismo na Gravidez....................................................................................11
1.1.1 Sistema Circulatório.......................................................................................14
1.1.2 Sistema Renal............................................................................................... 16
1.1.3 Alterações Hormonais................................................................................... 16
1.1.4 Gonadotrofina Coriônica Humana.................................................................18
1.2 Embriologia e Teratogênese................................................................................21
1.3 Mecanismos Gerais da Teratogênese.................................................................23

CAPÍTULO II. FARMACOLOGIA..............................................................................25


2.1 Farmacologia e Gestação....................................................................................27
2.2 Automedicação....................................................................................................29
2.2.1 Medicamentos Usados na Automedicação....................................................30
2.2.2 Automedicação na Gravidez..........................................................................32
2.3 Interação Medicamentosa................................................................................... 34
2.3.1 Interação Medicamentosa na Gravidez.........................................................35
2.4 Mecanismos da Teratogênese Relacionados a Medicamentos...........................36

CAPÍTULO III. ATENÇÃO FARMACÊUTICA À GESTANTE...................................40


3.1 Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica..........................................................41
3.2 Medicamentos e Pacientes Gestantes................................................................43
3.3 O Farmacêutico no Combate à Automedicação de Gestantes............................48
3.3.1 Orientação Farmacêutica a Pacientes Gestantes.........................................49

CAPÍTULO IV. PESQUISA DE CAMPO...................................................................52


4.1 Método de Pesquisa............................................................................................53
4.2 Universo da Pesquisa..........................................................................................54
4.3 Perfil do Sujeito....................................................................................................54
4.4 Apresentação dos Dados.................................................................................... 55
4.5 Análise dos Resultados.......................................................................................62
8

CONCLUSÃO............................................................................................................65

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................67

FONTES ONLINE......................................................................................................69

APÊNDICES..............................................................................................................72
9

INTRODUÇÃO

O período gestacional é uma fase de mudanças corporais na mulher,


em que os hormônios se modificam para que o corpo se adapte ao feto e se prepare
para as alterações fisiológicas.

A Teratologia é uma especialidade médica que se preocupa com o


estudo das causas e os mecanismos envolvidos no desenvolvimento de alterações
morfológicas que resultam nos defeitos congênitos ou nos de nascença, como são
popularmente conhecidos.

A preocupação com tais problemas sempre esteve presente na história


da humanidade, porém, por muitos anos, foram associados a questões místicas e
culturais, levando a ostracismos e preconceitos. Foi com a tragédia da talidomida,
nos anos de 1960, que os estudos da Teratologia se voltaram às substâncias, aos
objetos e aos ambientes externos como possíveis causas para as anomalias
congênitas.

Essas anomalias congênitas são os problemas estruturais, funcionais e


metabólicos ou distúrbios no desenvolvimento fetal que se apresentam no momento
do nascimento, os quais se constituem nas principais causas de mortalidade infantil.

Os agentes teratogênicos são entendidos como qualquer substância ou


organismo externo ao feto que pode afetar o seu desenvolvimento saudável e
acarretar alterações morfológicas.

O presente trabalho parte do seguinte questionamento: Qual é o


conhecimento das mulheres gestantes sobre a Teratogenia e de que forma isso
pode afetar o desenvolvimento fetal?

A hipótese é a de que o farmacêutico pode intervir na medicação da


gestante quando a aquisição for feita no balcão de farmácia, na tentativa de melhor
10

prevenir anomalias fetais decorrentes do uso incorreto de medicamentos e usar


termos populares a fim de explicar a procedência das precauções.

Dessa forma, este trabalho tem o objetivo de verificar o conhecimento


de mulheres gestantes sobre o risco da automedicação e o perigo da má formação
fetal conhecida como Teratogenia.

Para melhor compreensão, este trabalho está estruturado nos capítulos


discriminados a seguir:

No primeiro capítulo, aborda-se sobre a gravidez, as modificações


anatômicas e fisiológicas no corpo da mulher, os hormônios femininos e as
modificações pertinentes ao período gestacional.

O segundo capítulo apresenta a Farmacologia e a Teratogenia como


fatores de alteração no feto, o perigo da automedicação na gestação e os problemas
que os medicamentos podem ocasionar durante a gravidez.

O terceiro capítulo discorre sobre a Atenção Farmacêutica e a


intervenção do profissional de Farmácia para garantir a segurança e fornecer
orientações para o uso correto de medicamentos no período gestacional.

No quarto capitulo, apresenta-se a pesquisa de campo de método


quantitativo, aplicada por meio de questionário, com o qual foram coletados dados
acerca do conhecimento das mulheres gestantes sobre o perigo da automedicação e
as alterações no feto durante a gestação.

Com esta pesquisa, espera-se contribuir para o conhecimento


relacionado à automedicação de gestantes e corroborar o modo de como o
farmacêutico pode atuar a fim de conceder informações a esse público e, assim,
prevenir problemas teratogênicos.
11

CAPÍTULO I. FISIOLOGIA DA GRAVIDEZ

A gravidez é um período em que a mulher precisa ter o máximo


cuidado com medicamentos, sobretudo aqueles não recomendados pelo obstetra e
que muitas gestantes fazem uso por conta própria sem consultar o médico que
acompanha sua gestação.

Além disso, durante a gravidez, o corpo feminino passa por mudanças


na anatomia e também sofre variações fisiológicas devido à carga de hormônios
produzidos de maneira a se adaptar à gestação e preparar, também, a mulher para
o período de amamentação.

HALL salienta que:

A mais aparente dentre as diversas reações da mãe ao feto e ao


excesso de hormônios da gravidez é o aumento de tamanho dos
vários órgãos sexuais. Por exemplo, o útero aumenta
aproximadamente de 50 gramas para 1.100 gramas, e as mamas
quase dobram de tamanho. Ao mesmo tempo, a vagina aumenta e o
introito se expande mais. Além disso, os diversos hormônios podem
causar mudanças acentuadas na aparência da gestante, às vezes
resultando no desenvolvimento de edema, acne e traços masculinos
ou acromegálicos. 1

Diante do exposto, têm-se uma ideia das modificações anatômicas


sofridas pelas mulheres durante sua gestação, umas em proporções maiores ou
menores que outras, mas todas elas, de forma geral, passam pelas mesmas
modificações que, muitas vezes, dão uma sensação de peso corpóreo,
principalmente quando mais se aproxima das últimas semanas de gravidez, por
apresentarem retenção de líquidos que dão origem aos inchaços nas pernas e pés.

Na Figura 1., podem ser observadas as modificações quanto ao


aumento de peso corporal da mulher em período gestacional com o dilatamento do
útero. Juntamente com esse crescimento, existe o acúmulo de um líquido
denominado amniótico, que contribui para a alteração do peso corporal.

1
John E. Hall. Tratado de Fisiologia Médica. 2017, p. 984.
12

FIGURA 1. VARIAÇÃO ANATÔMICA DO CORPO DA MULHER GRÁVIDA

Fonte: Jussara Barros. Útero. Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/Utero.h


tm. Acesso em: 10/jun/2020.

Conforme pode ser visto na Figura 1., o útero sofre uma alteração
grande durante a gestação e pode aumentar entre 10 a 20 vezes o seu tamanho
2
original. De acordo com BARROS, isso é essencial para acomodar o feto e o seu
desenvolvimento ocorrer dentro dos parâmetros esperados.

1.1 METABOLISMO NA GRAVIDEZ

O metabolismo corporal funciona como uma máquina que usa tudo que
é consumido pelo corpo para o seu próprio sustento de modo que a alimentação
precisa ter nutrientes que sejam compensatórios aos gastos energéticos do corpo.

HALL explica que:

Como consequência da maior secreção de muitos hormônios durante


a gravidez, incluindo a tiroxina, hormônios adrenocorticais e
hormônios sexuais, o metabolismo basal da gestante aumenta por
cerca de 15% durante a última metade da gravidez. Por conseguinte,
frequentemente ela tem sensações de calor excessivo. Além disso,

2
Jussara Barros. Útero. Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/Utero.htm. Acesso em:
10/jun/2020.
13

devido à carga extra que ela está carregando, precisa despender


mais energia do que o normal na atividade muscular. 3

A autora citada ainda ressalta que, no período gestacional, o


metabolismo da mulher se modifica, fato este que acontece por causa do
desenvolvimento do feto, que necessita de nutrição até os últimos meses a fim de se
preparar para o nascimento. Nessa fase, a mulher precisa manter uma alimentação
balanceada para nutrir o próprio corpo e o da criança que está gerando. Uma
alimentação regrada e composta de todos os nutrientes necessários dá suporte para
que tanto a mãe quanto a criança se mantenham saudáveis nesse período.

ROCHA e BRANCO afirmam que:

As alterações de peso resultam da incorporação dos produtos de


concessão tais como o feto, a placenta, as membranas e o líquido
amniótico, mas também resultam do aumento do útero, das reservas
de gordura, da massa muscular, da quantidade de sangue, do tecido
mamário e da água intra e extracelular. Os edemas dos membros
inferiores, ou seja, o aumento dos fluidos extracelulares, muito
frequentes na mulher grávida são igualmente fatores fundamentais
de aumento de peso e resultam da compressão não simétrica dos
vasos pélvicos que dificulta a circulação dos fluidos corporais. 4

Nesse sentido, é importante considerar que uma parcela significativa


do peso corporal da mulher gestante se modifica por conta do acúmulo de líquidos e
outros componentes teciduais que são desenvolvidos gradativamente no avanço da
gravidez. Além desses fatores, a alimentação contribui, em parte, para o ganho de
peso. Logo, é significativa uma avaliação de um profissional de nutrição para auxiliar
nesse período.

Ademais, HALL testifica que:

Em média, a gestante engorda durante a gravidez cerca de 11 a 15


kg, e grande parte deste ganho de peso ocorre durante os últimos
dois trimestres. Deste montante, cerca de 3,5 kg são do feto e 2 kg
do líquido amniótico da placenta e das membranas fetais. O útero
aumenta cerca de 1,3 kg e as mamas outro 1 kg, ainda restando
aumento médio de peso de 3,4 a 7,8 kg. Cerca de 2 kg são líquido

3
John E. Hall. Op. Cit. p. 848.
4
Rita Santos Rocha; Marco Branco. Gravidez ativa: adaptações fisiológicas e biomecânicas durante a
gravidez e o pós-parto. 2016, p. 24.
14

extra no sangue e no líquido extracelular, e geralmente os 1,3 a 5,6


kg restantes são acúmulo de gordura. O líquido extra é eliminado na
urina durante os primeiros dias após o parto, ou seja, depois da
perda dos hormônios retentores de líquido da placenta. Durante a
gravidez, a mulher normalmente sente mais vontade de comer, em
parte como consequência da remoção de substratos alimentares do
sangue materno pelo feto e em parte devido a fatores hormonais.
Sem o controle pré-natal apropriado da dieta, o ganho de peso da
mulher pode ser tão grande quanto 34 kg, em vez dos usuais 11 a 15
kg. 5

A partir da análise deste núcleo de pensamento do teórico, constata-se


que o acompanhamento pré-natal é crucial para o controle de peso das mulheres em
período gestacional, pois evita sobrepeso e, também, a diabetes gestacional, que se
desenvolve em muitas delas ao engordarem na gravidez, o que ocasiona igualmente
problemas de origem circulatória tanto à mãe quanto ao feto.

FIGURA 2. COMPOSIÇÃO DO AUMENTO DO PESO NA MULHER GESTANTE

Fonte: Rafael Marques. Gestantes não engordam, ganham peso. Disponível em: http://www.
euvejo.vc/quantos-quilos-posso-engordar-durante-gestacao/. Acesso em: 10/jun/2020.

Conforme exposto na Figura 2., a massa corpórea da mulher no

5
John E. Hall. Op. Cit. p. 1065.
15

período gestacional é evidenciada por vários componentes que, somados ao tecido


adiposo, proporcionam um ganho de peso considerável, e isso precisa ser
acompanhado por um médico no pré-natal com o propósito de evitar problemas para
a mãe e o feto.

1.1.1 Sistema Circulatório

Todos os nutrientes que atuam nos órgãos e tecidos do corpo humano


são levados ao destino por meio do Sistema Circulatório, que conta com uma rede
de veias e artérias para esse tipo de função. É fato importante que a mulher
mantenha uma atividade física compatível com suas possibilidades, a fim de
contribuir para um bom fluxo sanguíneo.

HALL argumenta que:

O fluxo de sangue através da placenta e o débito cardíaco materno


aumentam durante a gravidez. Cerca de 625 mililitros de sangue
fluem através da circulação materna da placenta a cada minuto,
durante o último mês de gravidez. Isto, mais o aumento geral do
metabolismo materno, aumenta o débito cardíaco materno por 30% a
40% acima do normal na 27ª semana de gestação; então, por razões
inexplicadas, o débito cardíaco diminui até pouco acima do normal
durante as últimas 8 semanas de gravidez, independentemente do
elevado fluxo sanguíneo uterino. 6

A colocação do teórico citado conduz ao entendimento de que há uma


variação do débito cardíaco decorrente da necessidade da placenta e do feto, que
precisam de todos os componentes que estão no sangue circulante, e, ao se
aproximar das últimas semanas que antecedem o nascimento, esse débito diminui.

Partindo desse princípio, pode-se afirmar que o organismo entende que


uma atividade cardíaca aumentada perto do parto pode causar problemas à
gestante e, consequentemente, à criança que está para nascer. Então, existe uma
modificação de ajuste a fim de que não surjam problemas dessa natureza. Mesmo
com esse ajuste de origem orgânica, ainda é necessário um acompanhamento
médico com o escopo de garantir que tudo ocorra bem no parto.

6
John E. Hall. Op. Cit. p. 1066.
16

Na Figura 3., pode ser observada a variação do volume sanguíneo no


início, durante e no final da gravidez. Salienta-se que, ao se aproximar do final da
gestação e no pré-parto, esse volume diminui para não complicar fatores cardíacos
da mãe e da criança.

FIGURA 3. AUMENTO DO VOLUME DE SANGUE NA GRAVIDEZ

Fonte: John E. Hall. Tratado de Fisiologia Médica. 2017, p. 1067.

Conforme demonstrado na Figura 3., o volume de sangue materno


aumenta durante a gravidez. Esse volume, pouco antes do termo, é cerca de 30%
acima do normal. Tal aumento acontece principalmente durante a última metade da
gravidez provavelmente devido aos hormônios que se elevam muito durante esse
período e à maior retenção de líquido pelos rins.

HALL 7 explana que outro fator que influencia esse aumento de volume
sanguíneo é que a medula óssea fica cada vez mais ativa e produz hemácias extras
circulantes no excesso de volume de líquido. Portanto, na época do nascimento do
bebê, a mãe possui cerca de 1 a 2 litros de sangue extra no seu sistema circulatório.

O teórico referenciado ressalta que cerca de apenas um quarto desse


montante é normalmente perdido por meio do sangramento durante o trabalho de
parto do bebê. Logo, trata-se de um fator de segurança considerável para a mãe.

7
John E. Hall. Op. Cit p. 1068.
17

1.1.2 Sistema Renal

Em decorrência do acréscimo de sangue circulante no organismo


materno, há, consequentemente, um aumento do trabalho do sistema renal e, por
conseguinte, da função renal, que precisa, do mesmo modo, da nutrição obtida.
Desse modo, é necessário realizar um acompanhamento, a fim de evitar sobrecarga.

CAROMANO et al. asseveram que:

Observa-se aumento no suprimento de sangue renal desde o início


da gravidez. Os rins aumentam de peso e tamanho, sofrem dilatação
da pélvis renal, aumento da taxa de filtração glomerular no primeiro
trimestre e aumento da função dos túbulos. Nestes há retenção
gradual de sódio e água. Se a gestante permanece em decúbito
dorsal, há queda do filtrado glomerular e retenção sódica. 8

Além disso, deve-se considerar que, nesse período, é preciso redobrar


os cuidados em relação aos problemas de infecções urinárias, os quais podem
acometer a gestante que, em algumas ocasiões, deixa de ir ao banheiro por estar
em local inadequado. CAROMANO et al. reforçam essa argumentação ao afirmarem
que:

Antes do quarto mês de gestação há alterações anatômicas


significativas na bexiga, e, a partir dessa ocasião, o volume
aumentado do útero, juntamente com a hiperemia que afeta os
órgãos pélvicos, eleva o trígono e produz espessamento de sua
margem posterior ou intrauretérica. 9

A esse respeito, averígua-se que, na gravidez, o peso do útero sobre a


pélvis feminina faz com que a bexiga sofra pressão. Isso aumenta a quantidade de
idas da mulher ao banheiro para urinar.

1.1.3 Alterações Hormonais

Os hormônios são como sinalizadores químicos que o corpo possui


8
Fátima Aparecida Caromano et al. Adaptações fisiológicas do período gestacional. Fisioterapia
Brasil. Disponível em: https://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/fisioterapiabrasil/article/viewFile/
1935/30 78. Acesso em: 01/set/2020.
9
Idem. Ibidem. Disponível em: https://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/fisioterapiabrasil/article/v
iewFile/1935/3078. Acesso em: 01/set/2020.
18

com a função de manter ou modificar ações dentro do organismo. No caso do corpo


feminino, sua ação ocorre no início da puberdade até o fim da menopausa.

Consoante FELIPPE JUNIOR:

Hormônios são substâncias químicas que transferem informações e


instruções entre as células, em animais e plantas. Também
chamados de "mensageiros químicos do corpo", os hormônios
regulam o crescimento, o desenvolvimento, controlam as funções de
muitos tecidos, auxiliam as funções reprodutivas e regulam o
metabolismo (o processo usado pelo organismo para produzir
energia a partir dos alimentos) (...). 10 (grifo original)

Ainda de acordo com o teórico referenciado, os hormônios podem ter


sua função alterada devido a um tratamento medicamentoso, a depender do tipo de
medicamento. Portanto, é necessário efetuar o ajuste do hormônio que está sendo
alterado com o fito de não prejudicar a função desse elemento.

Nesse contexto, vale ressaltar que o corpo da mulher possui uma gama
de hormônios que, quando em atividade, modificam de forma estratégica cada parte
do organismo em que está atuando. Um exemplo disso é que tudo que estiver
relacionado ao período fértil pode contar com a atuação de três ou mais hormônios
nessa atividade.

GUYTON atesta que:

Os dois hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona, são


responsáveis pelo desenvolvimento sexual feminino e, também,
pelas alterações sexuais mensais. Esses hormônios, como os do
córtex suprarrenal e o hormônio masculino testosterona, são
compostos esteroides e, também são formados, principalmente, a
partir do colesterol. O estrogênio é, na realidade, um conjunto de
hormônios, chamados estradiol, estriol, e estrona, sendo mais
importante o estradiol. Entretanto, possuem funções quase idênticas,
embora suas estruturas químicas não sejam tão iguais. Por essa
razão, sejam tratados em conjunto, como se fossem um único
hormônio. 11

10
José de Felippe Junior. Hormônios Femininos: Estrógenos e Progesterona.
Disponível em: http:// www.medicinabiomolecular.com.br/biblioteca/pdfs/Doencas/do-0742.pdf.
Acesso em: 03/fev/2020.
11
Arthur C. Guyton. Fisiologia humana. 1998, p. 509.
19

Com base no que foi expresso, pode-se ter uma ideia da diversidade
de hormônios que compõe o sistema reprodutor feminino, os quais são específicos
em distintas funções e que, no período em que a mulher está gestante, podem
oscilar em maior ou menor quantidade, a depender da função que eles executam no
organismo feminino.

1.1.4 Gonadotrofina Coriônica Humana

Ao ser fecundada, a mulher passa por um ajuste hormonal para que se


haja um controle das funções do seu sistema reprodutor, onde subentende-se que,
em uma situação de gravidez, ela não poderá ser mais fecundada novamente até
que aconteça o nascimento da criança em desenvolvimento.

GUYTON ensina que:

A menstruação normalmente ocorre em mulher não grávida cerca de


14 dias depois da ovulação, época em que grande parte do
endométrio uterino se descarnou da parede uterina e foi expelido
para fora do útero. Se isso ocorresse após a implantação do ovo, a
gravidez seria terminada. Entretanto, isso é evitado pela secreção de
gonadotrofina coriônica humana pelos tecidos embrionários em
desenvolvimento do modo seguinte. Simultaneamente ao
desenvolvimento das células trofoblásticas do ovo recém-fertilizado,
o hormônio gonadotropina coriônica humana é secretado pelas
células trofoblásticas sinciciais para os líquidos maternos. 12

A partir do que se apresenta, evidencia-se que a função do hormônio


Gonadotrofina Coriônica Humana é sinalizar aos ovários e às trompas que o útero
está ocupado com uma gestação e que não pode acontecer outra fecundação até
que esse período se encerre.

É oportuno destacar, segundo o teórico mencionado, que esse


hormônio também pode determinar, de acordo com sua análise quantitativa, o
período de gravidez em que a mulher se encontra, como pode ser verificado na
Figura 4.

12
Arthur C. Guyton. Op. Cit. p. 510.
20

FIGURA 4. GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA E A IDADE FETAL

Fonte: Mônica Ribeiro. Tabela Beta HCG por semana de gravidez ou idade fetal. Disponível
em: https://www.almanaquedospais.com.br/tabela-beta-hcg-por-semana-de-gravidez-ou-
idade-fetal/. Acesso em: 10/jun/2020.

Além da Gonadotrofina Coriônica Humana, outros hormônios têm


função específica no corpo feminino, principalmente em relação ao Sistema
Reprodutor, dando ênfase à sua atividade no período fértil da mulher.

HALL reforça as ideias expostas ao alegar que:

O efeito dos estrogênios sobre o revestimento mucoso das trompas


de Falópio é semelhante ao efeito sobre o endométrio uterino. Os
estrogênios fazem com que os tecidos glandulares desse
revestimento proliferem; e, o mais importante, aumentam o número
de células epiteliais ciliadas que revestem as trompas de Falópio.
Além disso, a atividade dos cílios é consideravelmente intensificada.
Esses cílios sempre batem na direção do útero, ajudando a propelir o
óvulo fertilizado nessa direção. 13

Nesse sentido, as modificações que surgem no período de preparação


para a gravidez dependem, de forma geral, dos hormônios estrogênios, que
precisam estar em uma quantidade suficientemente aceitável para que cada órgão
participante dessa etapa da reprodução feminina possa ter sua função bem definida.

Todavia, considerando o que foi expresso, é preciso entender que há


13
John E. Hall. Op. Cit. p. 848.
21

diferenças de um organismo para o outro, principalmente quando o assunto é


hormônio e sua função dentro do corpo da mulher. Dessa forma, algumas precisam
de acompanhamento de um profissional de saúde em casos de ajustes desses
hormônios de maneira extrínseca.

NELSON e COX elucidam que:

Os hormônios esteroides sexuais femininos incluem principalmente


os estrogênios e a progesterona. São sintetizados a partir do
colesterol em vários tecidos endócrinos, ligam-se a proteínas
carreadoras e são levados pela corrente sanguínea até suas células-
alvo. Afetam o desenvolvimento e o comportamento sexual e uma
variedade de outras funções reprodutivas e não reprodutivas, por
meio da ação em receptores nucleares modificando a expressão de
genes específicos. 14

Partindo desse princípio, existe uma transformação significativa quando


a mulher é fecundada. A partir desse momento, acontece uma modificação hormonal
estratégica até o nascimento do filho. Tais mudanças precisam ser dosadas e
acompanhadas quando houver alterações significativas e que venham a interferir no
desenvolvimento gestacional.

ROCHA et al. argumentam que:

Durante a gestação, por mecanismos ainda não completamente


elucidados, o sistema cardiovascular apresenta um aumento de 40 a
50% do volume sanguíneo, aumento do volume hídrico corporal total,
aumento do débito cardíaco e, consequentemente, aumento do
volume de distribuição de medicamentos hidrofílicos. Essa alteração
acarreta uma diminuição da concentração circulante desse tipo de
medicamento, necessitando assim de incremento na dose inicial e de
manutenção de fármacos hidrofílicos para obter concentração
plasmática terapêutica. 15

Ainda de acordo com o exposto, pode-se afirmar que, com o volume de


sangue aumentado, a circulação do medicamento é rápida e torna-se, algumas

14
David L. Nelson; Michael M. Cox. Lehninger: Princípios de Bioquímica. 2006, p.
230.
15
Rebeca Silveira Rocha et al. Consumo de medicamentos, álcool e fumo na gestação e avaliação
dos riscos teratogênicos. Revista Gaúcha Enfermagem. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34
n2/v34n2a05.pdf. Acesso em: 01/set/2020.
22

vezes, ineficaz devido à sua rápida excreção para fora do organismo. Com isso,
pode-se compreender por que a farmacocinética e a farmacodinâmica em mulheres
em período gestacional precisam ser melhor avaliadas.

BRUCE, CHABNER e KNOLLMAN relatam que:

O aumento nos níveis de estrogênio circulante promove alterações


anatômicas no sistema respiratório, aumentando a vascularização e
o edema nas mucosas. Embora a toxicidade não seja comprovada
experimentalmente, sabe-se que há aumento de absorção de
fármacos inalatórios por mulheres gestantes. 16

Nessa mesma linha de raciocínio, além das questões voltadas à


farmacologia de medicamentos na gravidez, é preciso levar em conta que alguns
hormônios passam a ter picos de aumento que podem interferir em alguns sistemas,
como o respiratório, o que precisa ser considerado no caso de tratamento para a
asma.

1.2 EMBRIOLOGIA E TERATOGÊNESE

17
A Embriologia, de acordo com MOORE, PERSAUD e TORCHIA, éa
ciência que trata do desenvolvimento dos embriões, com enfoque em um estudo
descritivo ou experimental das mudanças na forma do embrião. Além do processo
embrionário, essa ciência estuda os processos anteriores à gestação, como a
gametogênese e a fertilização, que são necessários para a formação do embrião, e
acontecimentos posteriores, como aqueles que ocorrem no período fetal, ou seja,
gestacional.

Nesse sentido, os estudos sobre esses períodos são necessários para


que se possa entender as relações normais da estrutura do corpo humano adulto e o
desenvolvimento de anomalias congênitas. Assim, compreende-se a importância
dos estudos de embriologia para que seja possível entender as causas de defeitos
de nascenças.

16
Laurence L. Bruton; Bruce A. Chabner; Björn C. Knollmann. As Bases Farmacológicas da
Terapêutica. 2012, p. 1202.
17
Keith L. Moore; T. V. N. Persaud; Mark G. Torchia. Embriologia Básica. 2016, p. 1.
23

18
Segundo MONTANARI, os estudos sobre os agentes teratogênicos
têm sido uma constante da Embriologia, principalmente a partir da segunda metade
do século 20, quando se instalou uma preocupação crescente quanto aos possíveis
efeitos sobre o embrião ou feto em desenvolvimento de substâncias ou organismos
a que uma mulher grávida pudesse estar exposta.

A autora mencionada explica que, desde a Antiguidade, há uma certa


preocupação e mitos ao redor dos defeitos de nascença, os quais, muitas vezes, são
representados em pinturas e esculturas. Entretanto, nesse período, a explicação
para os defeitos congênitos era associada a espíritos maus e a medos.

MONTANARI destaca que:

No século XVI, o cirurgião francês Ambrose Paré propôs que fatores


hereditários e influências mecânicas, como compressão uterina,
seriam responsáveis pelos defeitos congênitos. No século XIX,
Etienne Geoffroy de St. Hilaire cunhou o termo teratologia (do grego
teratos, monstro), cujo significado literal é o estudo dos monstros,
para a ciência emergente que tratava das malformações congênitas.
Desde o início do século XX, as manipulações em modelos-animais
na embriologia experimental e na genética contribuíram para
elucidação do mecanismo responsável por várias anomalias e
malformações. 19

Desse modo, compreende-se que, inicialmente, os estudos sobre os


defeitos congênitos associavam-nos a problemas hereditárias. Nessa época, a
Teratologia surgiu com a proposição de estudar as malformações e os defeitos de
nascença e buscar compreender todos os mecanismos que possam afetar o
desenvolvimento fetal.

20
Consoante FEBRASGO, a partir da tragédia da Talidomida, no início
dos anos 1960, aumentou o interesse pelos estudos, pelo conhecimento, pela
prevenção e pelo tratamento das anomalias do desenvolvimento fetal, em especial,
no que tange aos medicamentos como agentes etiológicos dessas anomalias.

18
Tatiana Montanari. Embriologia: texto, atlas e aulas práticas. 2013, p. 4.
19
Idem. Ibidem. p. 4.
20
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Manual de teratogênese em humanos. 2011, p. 17.
24

1.3 MECANISMOS GERAIS DA TERATOGÊNESE

Defeitos congênitos e anomalias genéticas são termos sinônimos que


descrevem problemas estruturais, funcionais e metabólicos presentes ao nascimento
do feto e derivados da Teratogênese.

21
A FEBRASGO define agente teratogênico como qualquer substância
ou organismo externo ao genoma que, ao estar presente em toda a fase embrionária
ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou na função da descendência.

Conforme a referida instituição, esses agentes podem ocasionar os


seguintes problemas: perda do feto por aborto, morte fetal tardia ou perinatal; má
formação fetal; retardo do crescimento intrauterino; e deficiências funcionais. Tais
danos podem ter causa genética ou ambiental ou mesmo ser multifatoriais.

22
Ademais, MOORE, PERSAUD e TORCHIA indicam que a ação do
agente teratogênico sobre o desenvolvimento do feto depende dos seguintes
fatores:

 Genéticos: advêm da herança dos genes que podem causar anomalias.


 Cromossômicos: envolvem as aberrações cromossômicas e o número
anormal de cromossomos.
 Infecciosos: abrangem os efeitos causados por doenças infecciosas.
 Químicos: envolvem medicamentos, drogas e álcool.
 Físicos: tratam-se da radiação.

23
O Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos – SIAT
explica que as anomalias genéticas são causadas devido à exposição a agentes
potencialmente teratogênicos que interferem na gestação, a depender do período de

21
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Op. Cit. p. 18.
22
Keith L. Moore; T. V. N. Persaud; Mark G. Torchia. Op. Cit. p. 295-296.
23
SIAT – Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos. Agentes
teratogênicos. Disponível em: https://siat.ufba.br/agentes-teratog%C3%AAnicos. Acesso em:
18/out/2020.
25

exposição da gestante, do tipo do agente ao qual foi exposta, da duração da


exposição e da dose exposta.
24
Além disso, a FEBRASGO estabelece os seguintes mecanismos
gerais da Teratogênese:

 Estágio de desenvolvimento: dependendo da fase de desenvolvimento, o


feto fica mais suscetível à exposição dos agentes teratogênicos. Se esta ocorre nas
duas primeiras semanas após a concepção, pode acontecer um efeito de tudo ou
nada, ou seja, pode haver letalidade ao embrião ou taxas de malformações similares
aos da população em geral. O período de organogênese, entre a 3ª e a 8ª semana,
é considerado o mais crítico em relação às malformações. Alguns agentes
teratógenos, no entanto, podem afetar o feto em qualquer estágio da gravidez, como
é o caso de alguns medicamentos e o do etanol.

 Relação entre dose e efeito: problemas de má formação aumentam à


medida que se incrementa a dose do agente e podem ser de nenhum efeito, danos
funcionais e, inclusive, a morte do feto. A dose a que um feto é exposto durante a
gravidez depende dos fatores maternos e fetais, incluindo a farmacocinética
materna, a taxa de passagem placentária, os metabolismos placentário e fetal, a
distribuição fetal da substância e a presença de receptores ativos no compartimento
fetal.

 Genótipo maternofetal: a heterogeneidade genética, tanto da mãe quanto do


feto, pode propiciar uma maior suscetibilidade ou resistência a problemas causados
por um determinado agente.

Conforme o que foi dissertado, durante a gravidez, a mulher apresenta


mudanças corporais e psicológicas em decorrência da oscilação de alguns
hormônios que integram o aparelho reprodutor feminino. Desse modo, a gravidez é
um período singular na vida de uma mulher. Esse tempo em que ela gera uma vida
é permeado de alterações e modificações no corpo feminino. Por esse motivo, ela
precisa de um acompanhamento profissional para que todas as funções atinentes à

24
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Op. Cit. p. 18-19.
26

gestação sejam realizadas corretamente. Com o escopo de compreender as


questões da Teratogenicidade, é necessário o conhecimento dos riscos de base de
alguns desfechos adversos gestacionais.
27

CAPÍTULO II. FARMACOLOGIA

O uso de medicamentos em qualquer situação requer a orientação de


um profissional de saúde. Sempre que possível, o farmacêutico deve fornecer
explicações sobre os efeitos do medicamento e quais as possíveis reações
passíveis de acontecer e, caso aconteçam, como proceder perante esse problema.

Nesse contexto, a mulher, devido às modificações significativas no seu


organismo durante o período gestacional, precisa se atentar a quais medicamentos
devem ou não serem administrados, pois alguns podem ser absorvidos com mais
rapidez e outros podem demorar para serem absorvidos ou eliminados pelo
organismo.

OSÓRIO-DE-CASTRO, PAUMGARTTEN e SILVER salientam que:

Descrever o comportamento dos medicamentos no organismo


materno-infantil, durante a gestação, e desenvolver estudos
epidemiológicos abordando o uso destes medicamentos são
estratégias que contribuem com a consolidação do conhecimento e
oferecem subsídios para que os profissionais possam tomar decisões
pautadas em documentos técnicos. 25

Nessa mesma linha de raciocínio, assevera-se que é necessário a


gestante entender que, a partir da confirmação de sua gravidez, todo e qualquer
medicamento que ela venha a utilizar precisa ser comunicado ao profissional de
saúde que a acompanha durante seu pré-natal, a fim de evitar quaisquer problemas
no desenvolvimento do feto ou, até mesmo, complicações durante a gestação.

ANDRADE et al. explicam que:

Durante a gravidez, a mulher passa por alterações dos parâmetros


farmacocinéticos que podem afetar o efeito terapêutico dos
medicamentos. Em geral, nesse período, ocorre um aumento do
volume sanguíneo de cerca de 50%, o que implica em aumento do

25
Cláudia Garcia Serpa Osório-de-Castro; Francisco José Roma Paumgartten; Lynn Dee Silver. Uso
de medicamentos na gravidez. Ciência e Saúde Coletiva. Disponível em: https://www.scielo.br/
pdf/csc/v9n4/a19v9n4.pdf. Acesso em: 02/set/2020.
28

volume de distribuição de drogas hidrossolúveis. A atividade


metabolizadora enzimática pode estar alterada devido a fatores
hormonais, tornando-se mais efetiva para a biotransformação de
algumas drogas e menos para outras. 26

Os referidos teóricos enfatizam que, no período gestacional, é crucial


entender que todo e qualquer consumo feito pela gestante influencia o
desenvolvimento do feto. Logo, drogas, álcool, fumo, dentre outros elementos,
devem ser evitados até o nascimento do bebê e, também, até o fim da
amamentação. Desse modo, os medicamentos devem ser observados e avaliados
minuciosamente com o intuito de preservar o desenvolvimento correto da criança.

COSTA, COELHO e SANTOS argumentam que:

A utilização de medicamentos por gestantes passou a ser pauta de


uma grande discussão a partir da década de 1950, com a tragédia da
talidomida, um medicamento sedativo utilizado no tratamento de
náuseas e vômitos durante a gravidez, que levou ao nascimento de
cerca de 10 mil crianças com focomelia, uma má-formação
congênita, que, até aquele momento, era considerada rara. 27

Considerando o que foi expresso pelos autores citados, pode-se


ressaltar a necessidade de um acompanhamento durante a gravidez a fim de evitar
problemas congênitos no recém-nascido. Vale considerar igualmente que algumas
farmácias comerciais acabam dispensando medicações de maneira indiscriminada,
sem fornecer as informações necessárias para a aquisição e o uso deste produto.

Nesse mesmo contexto, tal cuidado, no caso de mulheres gestantes,


deve ser dobrado a fim de evitar complicações no feto em desenvolvimento, já que
alguns tipos de medicamentos conseguem atravessar a barreira placentária, e
ocorrem o aumento e a diminuição da intensidade de algumas funções hormonais e
enzimáticas, a depender da ação delas exercida nesse período.
RANG et al. frisam que:
26
Andréia Moreira Andrade et al. Farmacocinética e mecanismos de teratogenicidade dos
medicamentos na gestação: uma revisão da literatura. Infarma-Ciências Farmacêuticas. Disponível
em: http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=1929&path%5B
%5D=pdf. Acesso em: 04/fev/2020.
27
Debora Bonfim Costa; Helena Lutescia Luna Coelho; Djanilson Barbosa dos
Santos. Utilização de medicamentos antes e durante a gestação: prevalência e fatores associados.
Cadernos ENSP. Disponível em: http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/pages/iframe_print.php?aid=29.
Acesso em: 04/fev/2020.
29

A gravidez causa mudanças fisiológicas que podem influenciar a


distribuição do fármaco na mãe e no feto. A concentração plasmática
materna de albumina é reduzida, influenciando a ligação do fármaco
à proteína. O débito cardíaco é aumentado, levando à elevação do
fluxo sanguíneo renal e da TFG – taxa de filtração glomerular e à
eliminação dos fármacos. As moléculas lipofílicas atravessam com
facilidade a barreira placentária, enquanto a transferência de
fármacos hidrofóbicos é lenta, limitando a exposição do feto ao
fármaco depois de uma dose materna única. 28

Em complemento às ideias dos teóricos referenciados, destaca-se que,


independentemente de qualquer fator, esses tipos de alterações são sempre iguais
em todas as grávidas, umas em grandes proporções, outras em menores. No
entanto, o risco de automedicação associado à má formação fetal sempre está
presente.

2.1 FARMACOLOGIA E GESTAÇÃO

Aprofundando o assunto dissertado, verifica-se que o grande problema


é que algumas mulheres, mesmo fazendo pré-natal e recebendo as orientações
acerca do uso de medicamentos, pode, diversas vezes, fazer uso de algum tipo de
droga, como analgésicos, dentre outras substâncias, sem saber que tipo de
problema isso pode causar ao feto. Logo, é crucial haver uma comunicação entre a
gestante e o profissional de saúde que a acompanha.

Além disso, constata-se que, de modo geral, a mulher que gera uma
criança envia, no período inicial, hormônios que contribuem para a formação do feto
em sua primeira fase. Por esse motivo, todos os cuidados com medicações que
possam alterar as estruturas em formação devem ser levados em consideração.

RANG et al. relatam que:

O feto depende do suprimento adequado de nutrientes durante o


estágio final da histogênese e da maturação funcional, e seu
desenvolvimento é regulado por vários hormônios. Neste estágio,
malformações estruturais grosseiras não surgem a partir da
exposição a mutágenos, mas fármacos que interfiram no suprimento

28
H. P. Rang et al. Farmacologia. 2016, p. 691.
30

de nutrientes, ou no meio hormonal, podem apresentar efeitos


deletérios no crescimento e no desenvolvimento. 29

Como consequência disso, toda e qualquer substância que não


apresente segurança à mãe e ao feto e que seja utilizada pela mulher no período
gestacional, segundo os teóricos citados, pode interferir significativamente na
formação da criança.

TABELA 1. NATUREZA DOS EFEITOS DOS FÁRMACOS NO FETO

Fonte: H. P. Rang et al. Farmacolgia. 2016, p. 705.

Na Tabela 1., observam-se os períodos de formação fetal e quais os


principais tipos de substâncias que podem afetar o desenvolvimento do feto. Para
cada fase dessa formação, há um processo celular atrelado que, a depender do tipo
de substância, pode modificar irreversivelmente a formação do feto. Ademais, álcool
e drogas ilícitas podem acarretar problemas à criança após o nascimento, como a
dependência, o que pode gerar um quadro de abstinência por conta da falta da
droga.

Corroborando essa explanação, FLORES afirma que:

Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são os mais


utilizados por gestantes devido à sua facilidade de consumo, porém,
assim como os que necessitam de prescrição, podem trazer prejuízo
à gestante e, por consequência, ao feto. Para o tratamento de
alterações fisiológicas causadas pela gestação, várias classes de

29
H. P. Rang et al. Op. Cit. p. 691.
31

medicamentos são utilizadas na tentativa de amenizar os sintomas


próprios do período gestacional. 30

A partir do que foi expresso, pode-se deduzir que a automedicação é


um risco para mulheres gestantes, pois o uso de qualquer medicamento por conta
própria pode colocar em risco a saúde dela e do feto em desenvolvimento.

Perante os fatos expostos, é preciso destacar que é muito difícil para o


farmacêutico interferir de maneira benéfica na tomada de decisão quando alguém
busca um medicamento sem prescrição no balcão da farmácia comercial.

2.2 AUTOMEDICAÇÃO

O uso de medicamentos por conta própria é, de maneira geral,


prejudicial, visto que muitos não possuem o conhecimento específico sobre as
reações desses produtos no organismo e que uma pequena parcela da população
não faz a leitura da bula da medicação, nem pergunta ao profissional prescritor
sobre como tomá-la e o que não tomar junto a tal produto.

FLORES alega que:

Gestantes constituem um grupo populacional que culturalmente


recorre ao uso de plantas medicinais, por acreditarem que não
causam danos ao feto. No entanto, as informações sobre a
segurança de utilização destes produtos durante a gravidez são
escassas. Todavia, existem evidências científicas de que muitas
substâncias existentes em algumas plantas medicinais, de uso
comum pela população, oferecem riscos à gestação por terem
potencial embriotóxico, teratogênico ou abortífero. 31

A referida literata destaca ainda que há também casos de mulheres


grávidas que, por conhecimento empírico dos mais velhos na família, fazem uso
concomitante de chás e medicamentos para hipertensão ou diabetes gestacional, e
isso, muitas vezes, pode alterar a forma de absorção da medicação, inibindo ou

30
Catieli de Morais Flores. Cuidados no uso de produtos terapêuticos contendo substâncias químicas
na gravidez. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/201202/001093505.pdf?seq
uence=1&isAllowed=y. Acesso em: 15/mar/2020.
31
Idem. Ibidem. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/201202/001093505.pdf?
sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 10/jun/2020.
32

potencializando o seu efeito no organismo.

Nessa mesma conjuntura, é preciso considerar que muitas gestantes


têm sempre o acompanhamento da mãe ou de alguma amiga que já passou pela
gravidez. Assim, surgem muitas receitas caseiras com plantas medicinais que foram
passadas de geração a geração.

Diante dessa perspectiva, deve-se enfatizar que nem todo


conhecimento empírico sobre remédios e medicamentos pode, de fato, contribuir
para a resolução de um problema de saúde, e, tratando-se de mulheres grávidas, o
cuidado deve ser redobrado a fim de evitar complicações ao feto e, até mesmo, um
aborto.

2.2.1 Medicamentos Usados na Automedicação

Diante da realidade atual, definir uma classe de medicamentos mais


usados por indivíduos que se automedicam exige uma avaliação mais precisa, visto
que, em cada local e dependendo da cultura, esse perfil medicamentoso de uso
pode variar. Além dessa variação, ainda persiste a falta de conhecimento, por parte
de muitos, sobre os riscos associados e o real papel do farmacêutico na
compreensão de tais informações.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de


32
Farmácia – CFF, a automedicação é praticada por 77% dos brasileiros, o que a
torna uma prática comum. Isso ocorre principalmente no público feminino,
representando 53%. Dentre os medicamentos mais utilizados, destacam-se os
analgésicos, os antitérmicos e os anti-inflamatórios, com 50%, os antibióticos, com
42%, e os relaxantes musculares, com 24%.

32
CFF – Conselho Federal de Farmácia apud CRFSP – Conselho Regional de
Farmácia de São Paulo. Pesquisa aponta que 77% dos brasileiros têm o habito de se automedicar.
Disponível em: http://www.crfsp.org.br/noticias/10535-pesquisa-aponta-que-77-dos-brasileiros-t
%C3%AAm-o-h%C3
%A1bito-de-se-automedicar.html. Acesso em: 19/out/2020.
33

Diante do que se apresenta, assevera-se que é comum o uso de


medicamentos para febre, dores e inflamações, os quais são vendidos sem
necessidade de prescrição. Além disso, mesmo com o controle de receitas, como é
o caso dos antibióticos, alguns medicamentos controlados acabam por serem
utilizados por outros indivíduos, principalmente os membros da família, pelo simples
fato do benefício ocasionado no usuário principal.

GRÁFICO 1. MEDICAMENTOS MAIS USADOS NA AUTOMEDICAÇÃO

Fonte: ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação. Pesquisa – Automedicação no Brasil.


Disponível em: https://www.ictq.com.br/pesquisa-do-ictq/871-pesquisa-automedicacao-no-
brasil-2018. Acesso em: 30/abr/2020.

O Gráfico 1. ilustra que os analgésicos estão no topo da lista de


medicamentos usados por conta própria, seguidos dos anti-inflamatórios, que são
também uma grande preocupação diante da possibilidade de predisposição ao
surgimento de outras doenças por conta do seu uso exacerbado.

Nesse contexto, as classes terapêuticas que lideram a lista de


medicamentos mais utilizados por conta própria estão sempre inseridas quando o
usuário é acometido de algum tipo de sintoma que possa incomodar sua rotina.
Nesses casos, o indivíduo costuma apelar para o consumo desses produtos sem
uma orientação apropriada e, em algumas situações, sabendo dos riscos a que se
expõem.
34

Nesse mesmo âmbito, outro fator a ser comentado é o de que algumas


classes de medicamentos ainda podem ter seu efeito potencializado quando
utilizados com alimentos, líquidos ou bebida alcoólicas. Desse modo, pode haver o
agravamento do quadro do paciente quando ele fica exposto a uma substância
diferente da que está sendo utilizada para um tratamento específico em sua
patologia. Assim, sempre que possível, deve existir um diálogo com o profissional
prescritor do medicamento, e quando não for possível essa comunicação, é preciso
haver a interferência do profissional de farmácia para sanar qualquer dúvida nesse
aspecto.

Com base no que foi exposto, reforça-se a problemática de algumas


classes medicamentosas não apresentarem ao usuário o efeito desejado, haja vista
que o uso indiscriminado e por conta própria tenha estimulado no organismo a
resistência à droga usada.

2.2.2 Automedicação na Gravidez

Um dos principais problemas enfrentados pelos profissionais de saúde


na atualidade é tentar entender quais fatores levam parte da população a se
automedicar, que, mesmo sabendo dos perigos dessa prática, continua utilizando
medicamentos por contra própria, sem uma consulta prévia a um profissional de
saúde e, até mesmo, sem sanar dúvidas com o farmacêutico na hora da compra.

SALOMÃO explica que:

A automedicação como uso irracional, compreende o uso de


medicamento sem prescrição, orientação e/ou acompanhamento do
médico ou dentista; esta definição difere do conceito de
automedicação responsável, que define o uso de medicamento não
prescrito, porém sob a orientação e o acompanhamento do
farmacêutico que irá favorecer uma conduta racional para uso dos
fármacos. Deve-se ressaltar que esta prática contribui na redução da
utilização desnecessária de serviços de saúde, visto que, dos 160
milhões de brasileiros, cerca de 120 milhões não têm convênios para
a assistência à saúde. 33

33
A. J. Salomão apud Ana Leda Ribeiro da Rocha. Uso racional de medicamentos.
Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/11634/1/25.pdf. Acessado em: 16/mar/2020.
35

Considerando a explicação do referido teórico, pode-se entender que


toda e qualquer prática que esteja relacionada ao consumo de um medicamento
sem a devida prescrição de um profissional da área da saúde e que ponha em risco
a vida do usuário é definida como automedicação.
Nessa mesma conjuntura, há ainda a automedicação consciente e
responsável, que ocorre quando existe a interferência do profissional farmacêutico,
que possui o total conhecimento sobre os riscos e os benefícios de cada
medicamento. Com isso, ele pode tornar mais fácil o uso desse produto e promover
a diminuição dos riscos associados ao seu consumo.

Reforçando essa tese, afirma-se que o farmacêutico, na atualidade,


passou de mero dispensador de medicações para um profissional que pode,
também, prescrever uma classe de medicamentos isentos de prescrição. Isso
atenua a prática de consumo de fármacos por conta própria pelo cliente da farmácia.

De acordo com o Ministério da Saúde:

Há o uso racional de medicamentos quando pacientes recebem


medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses
adequadas às suas necessidades individuais, por um período
adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. 34

Em relação a uso racional de medicamentos, a definição do referido


órgão de saúde evidencia a intenção de enfatizar que tal prática deve ser sempre
acompanhada de todos os processos relacionados à clínica que envolve o paciente
e o prescritor e que se deve sempre buscar condições favoráveis para essa
utilização.

LAGE testifica que:

A facilidade de acesso à informação sobre medicamentos é uma


condição necessária, mas inepta para promover o uso racional. No
contexto da saúde pública, torna-se imprescindível o conhecimento
da qualidade das informações sobre medicamentos veiculadas nos
34
Brasil. Ministério da Saúde. Uso racional de medicamentos: temas selecionados.
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/uso_racional_medicamentos_temas_selecionados.pdf.
Acesso em: 16/mar/2020.
36

meios de comunicação de massa; as informações são instrumentos


importantes para a ampliação da consciência sanitária e deverão ser
utilizadas visando ao aprimoramento da qualidade da informação
veiculada e, também, de sua assimilação pela população em geral. 35

O teórico em questão relata ser importante que as informações sobre


medicações sejam um veículo para a promoção do uso racional. Entretanto, esse
direcionamento é inexistente, e o tipo de informação veiculada nos meios de
comunicação, muitas vezes, é incompleto e inadequado. Enfatiza-se, ainda, que tais
informações deveriam aprimorar o conhecimento da população acerca dos
medicamentos, a fim de fazê-las assimilar os riscos da automedicação.

2.3 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA

A interação medicamentosa acontece quando um tipo de medicamento


interfere de maneira a prejudicar a absorção de outro ou quando pode aumentar ou
diminuir a ação deste por meio de competição pelos sítios de ligação.

36
Consoante GARSKE et al., a interação medicamentosa ocorre
quando os efeitos de uma droga são alterados pela presença de outra ou, até
mesmo, pela presença de alimentos, bebidas ou alguns agentes químicos do próprio
ambiente.

Os teóricos referenciados ainda explicam que não somente as


interações medicamentosas podem prejudicar a terapêutica de um paciente, mas
também alguns tipos de alimentos, bebidas e agentes químicos podem interferir na
absorção da medicação quando mudam a bioquímica do usuário durante esse
processo.

37
GARSKE et al. definem que a interação medicamentosa é um

35
E. Lage apud Ana Leda Ribeiro da Rocha. Op. Cit. Disponível em:
https://www.arca.fiocruz.br/ bitstream/icict/11634/1/25.pdf. Acesso em: 16/mar/2020.
36
Cristiane Carla Dressler Garske et al. Interações medicamentosas potenciais na
farmacoterapia de idosos atendidos em farmácia básica do sul do Brasil. Revista Saúde (Santa
Maria). Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/view/21751/pdf. Acesso em:
06/mar/2020.
37
Idem. Ibidem. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/view/21751/pdf. Acesso em: 06/mar/2020.
37

evento clínico em que os efeitos de um medicamento são modificados pela presença


de outro medicamento ou de alimentos.

Segundo os autores citados, nessa interação, pode ocorrer que


algumas substâncias podem competir com o sítio de ligação do medicamento
principal, o que prejudica o tratamento. Já em outras ocasiões, o efeito pode ser
bloqueado totalmente ou até exacerbado no organismo do paciente.
Nesse sentido, outros fatores relativos à idade biológica dos pacientes
também estão envolvidos nesse processo, como mudanças de Ph dos líquidos
internos no corpo e tempo de absorção e excreção do medicamento pelo seu
organismo, perfazendo, assim, um conjunto de mecanismos que devem ser
observados pelo profissional prescritor, que avalia todas essas perspectivas antes
de fazer uma indicação medicamentosa.

Desse modo, constata-se que esses tipos de mudança e a adaptação


fisiológica do paciente torna necessária uma reavaliação do quadro terapêutico do
paciente. Com isso, busca-se uma maneira de tratar a patologia de maneira que não
haja alterações no decorrer do tratamento e possa garantir uma melhora significativa
na sua qualidade de vida.

2.3.1 Interação Medicamentosa na Gravidez

A gravidez de uma mulher é o período em que seu organismo sofre


grandes alterações, e a maioria dessas alterações não são patológicas. Em
decorrência das alterações fisiológicas que ela sofre durante a gestação, existe uma
gama de medicamentos que lhe são prescritos nessa fase.

Na concepção de NICARRETA et al.:

O que deve ser levado em conta é que a maioria dos medicamentos


pode atravessar a barreira placentária, apresentando toxicidade ao
bebê. Em relação aos medicamentos prescritos durante a gestação,
os principais medicamentos prescritos durante a gravidez são:
“sulfato ferroso (53,2%), paracetamol (9,7%), hioscina (4,8%),
metronidazol (4,8%) e hidróxido de alumínio (3,6%).” Foi abordado
que os AINES
38

(anti-inflamatórios não esteroides) possuem uma gama de indicação


clínica, tais como “antipiréticos, analgésicos e anti-inflamatórios”. 38
(grifo original)

Ainda nessa linha de raciocínio, observa-se que a maioria dos


fármacos usados indiscriminadamente são os Medicamentos Isentos de Prescrição
– MIPs, que são vendidos sem uma prévia comunicação com cliente sobre seu
estado físico, e isso inclui a mulher gestante como alvo de preocupação por parte
dos profissionais de saúde. PEREIRA define a interação medicamentosa como um:

(...) fenômeno farmacológico onde os efeitos de um fármaco podem


ser modificados pela administração anterior ou concomitante de outro
medicamento ou substância que o paciente pode entrar em contato
(tabaco, alimentos, drogas de abuso, inseticidas, produtos de
limpeza, cosméticos, etc.). 39

Mesmo encontrando ainda dificuldades no exercício dessa etapa da


profissão, o farmacêutico, segundo os autores citados, deve se posicionar de forma
a conquistar espaço no meio social e afirmar sua condição de promotor de saúde na
farmácia comunitária.

Nessa mesma conjuntura, a dificuldade desse avanço no meio social


para tentar demonstrar sua capacidade de promotor de saúde ocorre pelo fato de o
farmacêutico ainda ser considerado pela população como um mero dispensador de
medicamentos limitado a um balcão de farmácia e cujos propósitos são somente
vender o fármaco e prestar, algumas vezes, serviços de pronto socorro, como
verificação de pressão arterial e glicemia capilar. Isso delimita, assim, a sua
verdadeira função de promotor de saúde pública.

2.4 MECANISMOS DA TERATOGÊNESE RELACIONADOS A MEDICAMENTOS

Alguns fármacos, quando administrados pelas gestantes, podem afetar


40
negativamente o desenvolvimento do feto, assim afirmam GOLAN et al. De acordo
com esses autores, a teratogênese se refere à indução de defeitos estruturais no
38
Fernanda Micaela Richter Nicaretta et al. Utilização de medicamentos por gestantes
usuárias do Sistema Único de Saúde em um Município do Vale do Taquari – RS. Destaques
Acadêmicos. Disponível em:
http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/view/1052/1025. Acesso em: 17/mar/2020.
39
Ricardo de Souza Pereira. Clínica e prescrição farmacêutica. 2014, p. 79.
39

feto, e o teratógeno é a substância capaz de induzir tais defeitos. A exposição do


feto a qualquer substância é determinada por absorção, distribuição, metabolismo e
excreção maternas do fármaco e pela capacidade de o teratógeno ativo atravessar a
placenta.

Nesse contexto, para entender a problemática teratogênica relativa ao


medicamento e ao feto, é preciso saber que as fases que compõe a formação fetal
são distintas e, ao mesmo tempo, peculiares e decisivas para cada fase que se
segue.

41
RANG et al. atestam que a época da lesão teratogênica em relação
ao desenvolvimento fetal é crítica na determinação do tipo e da magnitude do dano.
O desenvolvimento fetal em mamíferos passa por três fases: formação do
blastocisto; organogênese e histogênese; e maturação da função.

Complementando o assunto em questão, verifica-se que, nas


primeiras e segundas fases do desenvolvimento, a atenção sobre o medicamento
deve ser redobrada, pois é justamente o período em que a mulher apresenta
reações fisiológicas por conta da alteração hormonal e passa a sentir náuseas e
enjoos, o que a faz buscar medicamentos com o intuito de aliviar esses sintomas.

RANG et al. enfatizam que:

A divisão celular é o principal processo que ocorre durante a


formação do blastocisto. Durante essa fase, fármacos podem destruir
o embrião pela inibição da divisão celular, mas, ocorrendo sua
sobrevivência, seu subsequente desenvolvimento, em geral, não
parece ser comprometido. O etanol é exceção, afetando o
desenvolvimento neste estágio inicial. Os fármacos podem causar
malformações grosseiras se administrados durante a organogênese
(dias 17-60 em humanos). A organização estrutural do embrião
ocorre em sequência bem definida: olhos e cérebro, esqueleto e
membros, coração e vasos maiores, palato e sistema urogenital. O
tipo de má formação fetal depende da época de exposição ao
teratógeno. 42

40
David E. Golan et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacologia. 2014, p.
181.
41
H. P. Rang et al. Op. Cit. p. 692.
42
Idem. Ibidem. p. 692.
40

Quanto a este aspecto, curiosamente, há casos isolados de algumas


mulheres não saberem que estão grávidas e acabam fazendo uso de bebidas
alcoólicas, fumo e drogas ilícitas, e isso, no processo de gravidez, pode
comprometer algumas funções da criança desde a concepção.

VAN GELDER 43 identificou seis mecanismos teratogênicos que podem


ser associados a fármacos, que são:

 Antagonismo de Folato: existem dois grupos gerais de fármacos e agem como


antagonistas de folato. Os inibidores competitivos de didrofolato redutase – DHFR,
que incluem o metotrexato, sulfassalazina dentre outros. O segundo grupo de
medicamentos, pode antagonizar outras enzimas do metabolismo do folato e
diminuir a absorção de folato ou aumentar a sua degradação.

 Crista neural: fatores de crescimento de fibroblastos, endotelinas, integrinas e


fatores de transcrição podem estar envolvidos na indução de células da crista
neural. Portanto, os medicamentos que interferem com essas vias moleculares, tais
como Bosentana, podem induzir malformações referentes à crista neural.

 Desregulação endócrina: as ações dos desreguladores endócrinos sintéticos no


útero têm um possível impacto sobre os sistemas reprodutivos em desenvolvimento
do feto. As probabilidades dessas ações foram averiguadas quando se observou
que o tratamento de mulheres em gestação com o estrogênio sintético levou a um
aumento do risco de adenocarcinoma vaginal em suas filhas.

 Estresse oxidativo: no período pré-natal, os radicais livres podem levar a


malformações fetais, retardo de crescimento do feto e morte intrauterina.

 Interrupções vasculares: o contato precoce, ou seja, no processo de formação


do feto com fármacos que possuem ação vascular, pode acarretar danos ao feto
durante a gestação. O contato com fármacos vasoconstrictores tem a característica
de alterar a estrutura e a anatomia fetal, podendo, assim, gerar deformações.
43
M. Van Gelder apud Andréia Moreira Andrade et al. Op. Cit. Disponível em:
http://revistas.cff. org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=1929&path%5B
%5D=pdf. Acesso em: 04/fev/2020.
41

 Teratogênese mediada por enzima ou receptor específico: nesse caso,


existem vários medicamentos que atuam sobre um receptor específico ou uma
enzima, gerando, desse modo, em cada um deles um mecanismo de ação
específico.

Baseando-se no que foi exposto, compreende-se que os efeitos dos


fármacos utilizados pela grávida durante a gestação podem ocasionar a
teratogênese por diversos mecanismos de ação e em diversos locais. É necessária,
então, a realização de mais investigações sobre como os medicamentos agem nas
grávidas, pois estudos com gestantes são escassos.

Portanto, é relevante destacar que o farmacêutico deve ter


conhecimentos sobre a Farmacologia, pois essa ciência se baseia nas condições
fisiológicas em que o medicamento vai agir para tratar um determinado paciente. No
caso de mulheres gestantes, deve-se ter uma atenção redobrada pelo fato de que
tudo que é absorvido pelo corpo da grávida passa a ser compartilhado pelo feto, e
isso não é diferente com os medicamentos, pois, por serem drogas com compostos
químicos, podem modificar a natureza do desenvolvimento e, consequentemente,
gerar modificações anatômicas e fisiológicas na criança a nascer.
42

CAPÍTULO III. ATENÇÃO FARMACÊUTICA À GESTANTE

O farmacêutico tem uma função fundamental na orientação quanto ao


uso correto do medicamento. Sua intervenção para melhorar o entendimento do
paciente sobre a importância do uso correto da medicação pode ajudar a prevenir
problemas relacionados a reações adversas e interações medicamentosas e, até
mesmo em casos mais graves, a evitar a morte.

É crucial a atenção do farmacêutico, e sua participação na evolução do


paciente, ensinando-o sobre o uso de cada medicamento, contribui de maneira
crescente para uma melhor prevenção e o tratamento de qualquer tipo de doença.

CANDEIAS explica que:

O processo de promoção da Atenção Farmacêutica no país foi


apoiado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e envolveu pesquisadores,
formuladores de políticas, entidades e diversos profissionais. Ainda
que sua definição continue em uma discussão terminológica intensa
em cada país, é interessante ressaltar que, no Brasil, o termo
Atenção Farmacêutica considera a promoção da saúde, incluindo a
educação em saúde, como componente do conceito, o que constitui
um diferencial marcante em relação ao conceito adotado em outros
países. 44

A respeito disso, é válido acrescentar que o Código de Ética da


Profissão Farmacêutica do Brasil estabelece que o profissional, ao atuar no
ambiente de trabalho, obrigatoriamente tem de prezar pela saúde do paciente e
orientá-lo em todos os sentidos.

Nesse âmbito, o profissional de farmácia, portanto, passou a ter um


papel importante dentro do ambiente da farmácia comunitária e começou a ocupar o
seu verdadeiro espaço dentro da saúde pública no Brasil. A população começa a
entender, então, qual é a real função dele e a lentamente buscar sua orientação,

44
Nelly Martins Ferreira Candeias. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças
individuais e mudanças organizacionais. Revista de Saúde Pública. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/rsp/v31n2/2249.pdf. Acesso em: 10/out/2020.
43

mesmo que de forma muito sutil.

3.1 FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA

A Farmácia Clínica é uma especialidade da Atenção Farmacêutica que


se detém em priorizar o atendimento direcionado ao paciente e que se ocupa de
detalhes que, muitas vezes, passam desapercebidos por outros profissionais de
saúde, detalhes estes que podem fazer a diferença, inclusive na hora da
dispensação de um medicamento.

Nesse sentido, essa modalidade tem como base verificar a rotina do


paciente que procura uma farmácia comercial na tentativa de melhorar sua
terapêutica e, quando possível, interferir de maneira a contribuir para ambientar
adequadamente o paciente com seu tratamento.

Conforme ALMEIDA, MENDES e DALPIZZOL, 45 com o fito de resgatar


o papel social da farmácia, surgem algumas propostas, como a farmácia clínica e a
Atenção Farmacêutica. O conceito de farmácia clínica surgiu em 1960, nos Estados
Unidos, a fim de garantir o uso correto de medicamentos no ambiente hospitalar.

Os autores referenciados relatam que isso ocorreu para reafirmar a


imagem da farmácia, especialmente no âmbito da farmácia clínica e da Atenção
Farmacêutica, com os objetivos de evitar problemas relacionados ao medicamento e
tentar melhorar o entendimento sobre o fármaco.

A Organização Mundial da Saúde – OMS conceitua a Atenção


Farmacêutica como:

(...) uma prática profissional em que o paciente é o principal


beneficiário das ações do farmacêutico. Essa prática profissional
compreende um conjunto de atitudes, comportamentos,
compromissos, cuidados, valores éticos, funções, conhecimentos,
45
Rodrigo Batista de Almeida; Dayanna Hartmann Cambruzzi Mendes; Pablo Alfredo Dalpizzol.
Ensino farmacêutico no Brasil na perspectiva de uma formação clínica. Revista de ciências
farmacêuticas básica e aplicada. Disponível em:
http://servbib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/Cien_Farm/article/down load/2864/1595. Acesso em:
10/out/2020.
44

responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da


farmacoterapia, com o objetivo de obter resultados terapêuticos
sustentados pelos indicadores de saúde e de qualidade de vida dos
pacientes. Nesse contexto, mesmo que centralizada na
farmacoterapia, a OMS reconhece o farmacêutico como educador
que pode contribuir na prevenção de doenças e na promoção da
saúde com outros membros em uma equipe multiprofissional. 46

Partindo desse princípio, salienta-se que o farmacêutico tem, na


atualidade, uma função relevante no sentido de orientar, tratar e acompanhar o
paciente na administração e no uso adequado do medicamento, além de avaliar
junto a ele fatores consideráveis para a cura e o tratamento de seu problema de
saúde.

Nesse contexto, a farmácia comunitária é considerada um


estabelecimento de saúde, onde a prática da farmácia clínica já é uma realidade na
vida dos indivíduos, que, na sua maioria, a depender da sua localização, preferem
procurar uma farmácia para buscar o tratamento ou a cura de uma enfermidade.

BISSON elucida que:

A Atenção Farmacêutica não envolve somente a terapia


medicamentosa, mas também decisões sobre o uso de
medicamentos para cada paciente. Apropriadamente, podemos
incluir nesta área a seleção das drogas. Doses, vias de
administração; monitoração terapêuticas; as informações ao paciente
e aos membros da equipe multidisciplinar de saúde; e o
aconselhamento de pacientes. 47

Portanto, de acordo com o literato citado, a implementação da Atenção


Farmacêutica pode contribuir decisivamente para a adesão ao tratamento e a
otimização dos benefícios da farmacoterapia ao identificar as necessidades
individuais, detectar falhas, orientar e acompanhar o tratamento dos pacientes,
resolver os problemas relacionados aos medicamentos e reduzir desperdícios e
custos para o hospital.

46
OMS – Organização Mundial de Saúde. Promoción del uso racional de medicamentos:
componentes centrales. Disponível em: http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/s4874s/s4874s.pdf
Acesso em: 11/out/2020.
47
Marcelo Polacow Bisson. Farmácia clínica e atenção farmacêutica. 2016, p. 72.
45

48
OLIVEIRA et al. expressam que a Atenção Farmacêutica tem uma
função preponderante, pois, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS,
pode ser definida como uma prática profissional, na qual o paciente é o principal
beneficiário das ações do farmacêutico.

Ademais, os teóricos alegam que toda e qualquer ação de dispensação


realizada pelo farmacêutico acontece em razão de seus conhecimentos e fatores
que podem agregar informação ao paciente, que tem nesse profissional uma fonte
de confiança para sanar dúvidas sobre o uso de medicamentos.

3.2 MEDICAMENTOS E PACIENTES GESTANTES

Os medicamentos contribuem para o tratamento e a cura de uma


doença. No entanto, sua forma de utilização precisa ser orientada por um
profissional da área de saúde, a fim de melhorar a terapia do paciente e ajudá-lo a
obter sua reabilitação o mais rápido possível.

PEREIRA et al. 49
afirmam que as modificações que acontecem no
embrião, na maioria das vezes, acabam sendo notadas somente após o nascimento,
salvo quando há complicações por medicamentos que podem ser abortivos e
acabam adiantando o parto ou, até mesmo, provocando o aborto.

De acordo com os teóricos mencionados, em muitos casos, a mãe não


relata o uso desses fármacos que contribuíram para que tais problemas ocorressem.
Então, cabe aos profissionais que prescrevem ou àqueles que estão na equipe
multidisciplinar fazer com que a gestante entenda os riscos aos quais ela está
exposta quando consome medicamentos por conta própria.

48
Andrezza Beatriz Oliveira et al. Obstáculos da atenção farmacêutica no Brasil. Revista Brasileira de
Ciências Farmacêuticas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbcf/v41n4/a02v41n4.pdf
Acesso em: 11/out/2020.
49
Jair Souza Pereira et al. Conhecimento farmacêutico na dispensação de medicamentos para
gestantes em um município baiano. Revista Saúde e Desenvolvimento. Disponível em:
https://www.uninter.com/revistasaude/index.php/saudeDesenvolvimento/article/view/431/297. Acesso
em: 12/out/2020.
46

50
Consoante GOLAN et al., há medicamentos que, por vezes, podem
exercer poucos efeitos adversos sobre a mãe, mas que causam danos substanciais
no feto. Como o desenvolvimento do feto é, em termos cronológicos, precisamente
programado, o efeito teratogênico de qualquer substância depende da fase de
desenvolvimento em que ocorre a exposição, e a organogênese é o período em que
os teratógenos exercem seus efeitos mais profundos.

Em decorrência dos fatores expostos, é fundamental que o


farmacêutico esteja atento na hora da dispensação de um fármaco. Quando o uso
for por conta própria, a medida de orientação desse profissional deve ser mais
persistente para fazer a cliente gestante entender as orientações mediante
respostas aos seus questionamentos sobre o uso e a finalidade de um
medicamento.

51
GOLAN et al. ainda testificam que a prescrição de fármacos a
mulheres grávidas requer uma avaliação do risco-benefício tanto à mãe quanto ao
feto. No entanto, muitas dessas substâncias ainda não foram estudadas
sistematicamente em populações de gestantes, e isso faz com essas avaliações de
relação risco-benefício sejam incertas.

Ademais, de acordo com os teóricos mencionados, a Food and Drugs


Administration – FDA classifica os medicamentos em cinco classes em relação à
gravidez. Essa divisão foi feita com base em dados de estudos realizados em
animais de laboratório, observações de estudos epidemiológicos e relatos de casos.

52
Desse modo, GOLAN et al. elencam e explanam cinco categorias de
medicamentos, que são:

 Categoria A: com base em estudos adequados e controlados em humanos,


não foi possível demonstrar que esses medicamentos apresentaram quaisquer

50
David E. Golan et al. Op. Cit. p. 181.
51
Idem. Ibidem. p. 182.
52
Idem. Ibidem. p. 183.
47

riscos ao feto no primeiro trimestre de gravidez, e não houve evidências de riscos


nos outros dois trimestres.
 Categoria B: os medicamentos não apresentaram quaisquer riscos ao feto,
porém não foram conduzidos estudos adequados e controlados em gestantes,
apenas os de reprodução em animais.

 Categoria C: baseados nos estudos de reprodução em animais, os


medicamentos demonstraram efeito adverso sobre o feto, e não existem estudos
adequados e controlados nos seres humanos.

 Categoria D: houve evidências positivas de risco ao feto humano, baseados


em dados de reações adversas provenientes de estudos de investigação e de
pesquisa pós-comercialização, porém os benefícios potenciais do medicamento
podem justificar o uso em gestantes, apesar dos riscos.

 Categoria X: estudos realizados em animais ou em seres humanos


demonstraram a ocorrência de anormalidades fetais, em que houve evidências de
risco ao feto humano, com base em dados de reações adversas de experiências de
pesquisa ou pós-comercialização, e os riscos envolvidos no uso do fármaco em
gestantes, claramente, superam os benefícios potenciais.

Em relação a essas categorias, os teóricos explicam que, apesar dessa


classificação não ser considerada perfeita, ela ajuda a identificar algumas situações
de problemas relacionados aos fármacos. Na Categoria X, incluem-se não apenas
os teratógenos, mas também os medicamentos cujo uso não é apropriado em
gestantes.

53
BISSON apresenta alguns fármacos com teratogenicidade
estabelecida e bastante conhecida, que compreendem derivados de vitamina A,
retinoides, metotrexano e fenitoína. Nestes dois últimos exemplos, a
teratogenicidade está relacionada à síntese de DNA devido aos seus efeitos no
metabolismo de folato. O autor em questão ainda apresenta alguns dos mais
importantes fármacos que possuem uma grande incidência na má formação fetal:
53
Marcelo Polacow Bisson. Op. Cit. p. 264.
48

 Talidomida: é a única droga que produz em doses clínicas modestas quase


100% de crianças malformadas. Apesar de estudos intensivos, seu mecanismo de
ação continua a ser mal compreendido. Seu uso é permitido Brasil, entretanto sob
rigoroso controle da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.

 Fármacos citotóxicos: são agentes alquilantes que podem causar


malformação quando utilizados no início da gestação, mas, geralmente, provocam o
aborto.

 Fármacos retinoides: o etretinato, derivado da vitamina A, apresenta efeitos


acentuados sobre a diferenciação epidérmica e é um teratógeno conhecido e com
elevada capacidade de provocar anormalidades graves em fetos expostos.

 Metais pesados: nesse grupo de drogas, o chumbo, o cádmio e o mercúrio


são comprovadamente teratogênicos, e tais compostos inativam muitas enzimas por
formar ligações covalentes com a sulfidrila, o que resulta em distúrbios do
desenvolvimento cerebral e em retardo mental.

 Drogas anticonvulsivantes: as más formações congênitas são duas vezes


mais frequentes em bebês nascidos de mães epiléticas. Há evidências de que a
fenitoina provoca fenda palatina, o valproato gera defeito do tubo neural e a
carbamazepina causa espinha bífida e malformação na uretra de bebês do sexo
masculino.

 Varfarina: associa-se a administração desse medicamento nos primeiros três


meses de gestação à hipoplasia nasal e a várias anormalidades do Sistema Nervoso
Central – SNC.

Conforme pode ser observado pelos dados expostos, a variabilidade de


medicamentos pode interferir prejudicialmente na gravidez, que está praticamente
atrelada a tratamentos que, algumas vezes, são necessários, mas que, nesses
casos, precisam ser particularmente avaliados com o escopo de não comprometer o
49

desenvolvimento do embrião ou, até mesmo, a saúde da mulher.


54
BISSON expõe ainda que os fármacos, para interferir e causar
possíveis danos ao sistema mãe-feto, precisam apresentar alguns fatores:

 Natureza do fármaco administrado: refere-se ao potencial intrínseco de


uma droga ser ou não prejudicial à mãe e/ou ao feto.

 Frequência da administração: os efeitos esperados de uma mesma droga


não são idênticos se ela for administrada de forma esporádica, periódica ou
contínua.

 Momento da administração: as consequências da administração de


determinada droga podem ser diferentes caso ela seja usada no primeiro, segundo
ou terceiro trimestre da gravidez.

 Fase da gravidez: no primeiro trimestre, quando se desenvolve e se


diferencia a maioria dos órgãos e sistemas fetais, haverá uma exacerbação dos
fenômenos proliferativos. Portanto, é um período bastante suscetível a alterações
induzidas por drogas. Assim, uma ação negativa nessa fase vai produzir paralisação
ou deformidade do órgão que estiver se formando no momento.

Sobre as questões farmacológicas teratogênicas, FLORES atesta que:

Apesar de diversos estudos envolverem os mecanismos


teratogênicos, a farmacocinética e a farmacodinâmica dos
medicamentos na gestante, o potencial de risco dos fármacos ainda
não é conhecido por meio de estudos experimentais em humanos,
exceto para aqueles já classificados como de alto risco, desde os
ensaios clínicos com animais. Sendo assim, o ideal seria que não
houvesse a utilização de medicamentos por gestantes, mas sabe-se
que isso raramente ocorre, ou seja, as gestantes estão expostas a
diferentes grupos farmacológicos que vão desde as vitaminas,
agentes anti-infecciosos, analgésicos, antiasmáticos, produtos
dermatológicos e até mesmo antidepressivos e ansiolíticos em
alguns casos. 55

54
Marcelo Polacow Bisson. Op. Cit. p. 283.
55
Catieli de Morais Flores. Op. Cit. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/20120
2/001093505.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 15/mar/2020.
50

Baseando-se nessa explicação, compreende-se que, mesmo utilizando


medicamentos, a gestante precisa, de maneira individualizada, de uma orientação
sobre as substâncias que está utilizando e os perigos que elas podem lhe causar e
ao feto.

3.3 O FARMACÊUTICO NO COMBATE À AUTOMEDICAÇÃO DE GESTANTES

O farmacêutico deve atuar enquanto facilitador e buscar conhecer cada


cliente, tentando entender seus problemas e fornecendo-lhe soluções. Desse modo,
ao longo do tempo, confirma-se a participação desse profissional como promotor da
saúde pública que colabora efetivamente para o bem-estar da população.

FERNANDES e CEMBRANELLI revelam que:

Boa parte da população não possui bom nível de informação sobre


medicamentos, apresentando dúvidas sobre a maneira correta de
utilizá-los e, até mesmo, sobre a indicação terapêutica do fármaco.
Outro resultado obtido pelos referidos autores, após a dispensação
dos fármacos, o nível de conhecimento sobre o medicamento é
melhor por parte do consumidor, o que pode torná-lo mais criterioso
sobre a automedicação, justificando, dessa maneira, a importância
da atuação farmacêutica diante da dispensação. 56

Os autores mencionados ressaltam, então, que grande parte da


população não tem conhecimento adequado sobre o medicamento adquirido e
passa, de certa forma, a tê-lo depois que começa a utilizá-lo. Algo perceptível é que,
em dado momento, torna-se necessário buscar a orientação do profissional de
farmácia, o qual, com o conhecimento adquirido mediante estudos na área, pode se
tornar um aliado na correta escolha do medicamento ao informar a esse público
sobre as possíveis reações e o orientar sobre como usar tal produto devidamente.

Nesse mesmo contexto, um dos alicerces da Atenção Farmacêutica é a


promoção do uso racional de medicamentos. Segundo a percepção dos integrantes
desse serviço, essa prática pode ser realizada pelo farmacêutico ao paciente

56
Wendel Simões Fernandes; Júlio César Cembranelli. Automedicação e o uso
irracional de medicamentos: o papel do profissional farmacêutico no combate a essas práticas.
Revista Univap. Disponível em: http://revista.univap.br/index.php/revistaunivap/article/view/265/259
Acesso em: 16/out/2020.
51

durante o atendimento individual ou em grupo.


57
De acordo com BISSON, a Atenção Farmacêutica não envolve
somente a terapia medicamentosa, mas também decisões sobre o uso de fármacos
para cada paciente. O referido autor corrobora a função do farmacêutico e sua
importância sobre as ações de prevenção a problemas adversos relacionados aos
medicamentos ao afirmar que esse profissional, além do seu conhecimento básico,
pode interferir de maneira decisiva na terapia do paciente, melhorar sua terapêutica
e promover a sua saúde.

Nesse mesmo âmbito, é necessário salientar a interação desse


profissional com o paciente, pois deve conceder a este segurança e lhe mostrar sua
total disponibilidade em contribuir de forma crescente para o tratamento e a cura do
que lhe está acometendo.

58
BISSON ainda elucida que essa relação entre cliente e farmacêutico
tem uma grande chance de estreitamento com ênfase na confiança mútua, onde a
troca de informações oriundas das necessidades do cliente e amparadas pela
experiência da farmácia fornece o vínculo porque tem os objetivos de propiciar uma
maneira de combater o uso do medicamento por conta própria, oferecer uma
margem de segurança medicamentosa e evitar, assim, problemas de saúde no
futuro.

Nesse contexto, cabe, então, discorrer ainda sobre a intervenção do


farmacêutico no sentido de orientar as clientes gestantes sobre o uso indevido de
alguns medicamentos e lhes advertir acerca dos perigos da automedicação.

3.3.1 Orientação Farmacêutica a Pacientes Gestantes

59
Na concepção de BISSON, o farmacêutico que realiza o
acompanhamento e a orientação farmacêutica com pacientes gestantes necessita
de alguns conhecimentos específicos e gerais sobre pré-natal, alimentação e
práticas de exercício físico com o escopo de poder auxiliar a mulher nesse
57
Marcelo Polacow Bisson. Op. Cit. p. 72.
58
Idem. Ibidem. p. 72.
59
Idem. Ibidem. p. 310.
52

momento.
60
BISSON destaca que é preciso o farmacêutico enfatizar algumas
informações à gestante, tais como:

 Iniciar o pré-natal o mais cedo possível.


 Seguir uma dieta balanceada e que inclua suplementos vitamínicos contendo
ácido fólico.
 Fazer exercícios físicos regulares com acompanhamento médico.
 Evitar álcool, cigarro e drogas ilícitas e limitar a cafeína.

Segundo o teórico em questão, essas informações gerais precisam ser


repassadas com o intuito de assegurar que a grávida tenha acesso ao máximo de
informações possíveis sobre o processo da gestação, o que vai propiciar um período
gestacional saudável para a mãe e o feto.

Com base nesse raciocínio, assevera-se que o acompanhamento da


gestante se inicia com o processo de anamnese farmacêutica, etapa onde deve ser
realizado um levantamento de informações necessárias para conhecer a paciente e
o estado de saúde da mãe e do feto e iniciar um plano de acompanhamento
ambulatorial, assegurando, assim, a melhor assistência.

61
Nessa mesma linha de pensamento, SILVA destaca que, no
processo de acompanhamento de gestantes, o farmacêutico deverá oferecer suporte
para as ações desenvolvidas no pré-natal e assegurar que todas as gestações
terminem com o nascimento de um recém-nascido saudável sem prejuízos à saúde
materna.

Nessa oportunidade, salienta-se que o farmacêutico deve fazer todas


as orientações necessárias sobre a tomada de medicamentos, fornecer informações
sobre possíveis interações medicamentosas ou alimentares, salientar a importância

60
Marcelo Polacow Bisson. Op. Cit. p. 310.
61
Naiana Fernandes Silva. Atenção Farmacêutica em Gestantes. Disponível em:
https://repositorio. unesp.br/bitstream/handle/11449/121253/000745589.pdf?sequence=1. Acesso em:
18/out/2020.
53

de tomar os medicamentos prescritos e explanar sobre a utilidade de cada uma das


drogas prescritas.

62
Em complemento a isso, BISSON esclarece que o farmacêutico deve
fornecer informações sobre as fases da gravidez, sintomas e intercorrências
importantes que podem gerar problemas na gestação e salientar que a paciente
deve sempre buscar serviços obstetrícios caso ocorra os seguintes eventos:
qualquer sangramento vaginal, edema facial ou nos dedos da mão; cefaleia severa
ou contínua; distúrbios visuais; dor abdominal ou contrações uterinas; vômitos
persistentes; febre ou calafrios; perda líquida via vaginal; e alteração marcante da
frequência ou da intensidade dos movimentos fetais.

Portanto, é crucial que, nessa orientação, seja explicado à mulher


gestante sobre a eficácia e as alterações de alguns fármacos por conta do estado de
gravidez e sobre o uso de outros medicamentos que possam estar sendo
administrados em conjunto com os que estão sendo prescritos pelo médico que
acompanha o pré-natal, verificando, assim, sua associação e observando a
interferência ou não no mecanismo de ação de cada um no corpo da gestante e, por
consequência, no feto em desenvolvimento.

Em síntese, foi apresentada a Atenção Farmacêutica como prática para


acompanhar e orientar as gestantes com o escopo de prevenir o uso inadequado de
medicações que possam ocasionar problemas no desenvolvimento fetal, ou seja, a
teratogênese.

62
Marcelo Polacow Bisson. Op. Cit. p. 310-311.
54

CAPÍTULO IV. PESQUISA DE CAMPO

Conforme KOCHE, 63 a pesquisa científica é realizada para responder a


questões muito particulares atinentes aos fenômenos da ciência. Dessa maneira, a
pesquisa possui um caráter prático, o de conhecer fatos e eventos de modo que
possa contribuir com o avanço da ciência.

Aprofundando o assunto, o teórico citado expressa que o conhecimento


científico é o resultado da investigação científica e está evoluindo constantemente. A
pesquisa, então, é uma peça fundamental para a construção desse conhecimento.

64
Corroborando essa argumentação, TARTUCE define que pesquisar é
a aplicação do método científico para obter respostas de problemas mediante o uso
de instrumentos e procedimentos padronizados.

Destarte, a pesquisa, segundo a teórica referenciada, tem a finalidade


de atingir objetivos estabelecidos e responder problemáticas levantadas por meio da
aplicação de um conjunto de técnicas sistemáticas, o que possibilita ao pesquisador
confirmar ou refutar hipóteses levantadas mediante a coleta de dados.

65
TARTUCE expressa ainda que a realização da pesquisa demanda o
estabelecimento de um plano de ações por parte do pesquisador, a fim de que ele
possa agir de acordo com a ética necessária e obter respostas claras e concretas a
seus questionamentos.

Desse modo, verifica-se que uma pesquisa de campo é realizada com


base em procedimentos. TARTUCE explica que:

O estudo de campo ou pesquisa de campo com embasamento


teórico aprofundado (pesquisa bibliográfica) procede à
63
José Carlos Koche. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e
iniciação à pesquisa. 2011, p. 43.
64
Terezinha de Jesus Afonso Tartuce. Normas Técnicas para Trabalhos Acadêmicos.
2019, p. 55.
65
Idem. Ibidem. p. 55.
55

observação de fatos e fenômenos exatamente como acontecem


na realidade, bem como a análise e interpretação desses dados
que tem, como finalidade, explicar o problema pesquisado. 66

A partir da análise desse núcleo de pensamento da literata em questão,


compreende-se que o estudo de campo é a etapa da pesquisa subsequente à
realização do estudo teórico. Nessa etapa, sucede-se à investigação do fenômeno
por meio da coleta de dados que, posteriormente, passarão por um processo de
análise e interpretação, a fim de atingir o objetivo estabelecido ou responder a
problemática.

Em relação aos objetivos, este estudo tem caráter exploratório e,


quanto à abordagem, esta pesquisa classifica-se como quantitativa. A pesquisa
67
exploratória, conforme KOCHE, é realizada quando o pesquisador necessita
conhecer melhor as características e variáveis do fenômeno estudado.

Nessa perspectiva, entende-se que, neste tipo de estudo, o


pesquisador busca compreender melhor os fatos pesquisados mediante a coleta de
dados e informações sobre o assunto.

Já a pesquisa quantitativa, de acordo com TARTUCE, é o tipo de


pesquisa “(...) que recorre a diferentes técnicas estatísticas para quantificar opiniões
e informações.” 68

Assim, constata-se que a pesquisa quantitativa trata dos fenômenos


que podem ser mensurados por meio de estatística, ou seja, lida com fatos
quantificáveis. Esse tipo de pesquisa é bastante utilizado para levantamento de
opiniões.

4.1 MÉTODO DA PESQUISA

O método científico é o meio utilizado pelo pesquisador para a

66
Terezinha de Jesus Afonso Tartuce. Op. Cit. p. 71.
67
José Carlos Koche. Op. Cit. p. 126.
68
Terezinha de Jesus Afonso Tartuce. Loc. Cit. p. 59.
56

69
realização da pesquisa. Conforme TARTUCE, o método científico envolve a
aplicação de diversas técnicas para a coleta, análise e interpretação de dados.
Nesse sentido, o método utilizado nesta pesquisa é o quantitativo.
Sobre tal método, TARTUCE afirma o seguinte:

O pesquisador da área quantitativa levanta dados numéricos tendo


como recursos a mensuração dos dados por intermédio de gráficos,
percentagem, média, moda, desvio padrão, mediana, coeficiente de
correlação, análise de regressão, entre outras técnicas. 70

Assim, entende-se que a pesquisa quantitativa lida com dados


numéricos coletados, analisados e expostos por várias formas estatísticas. Sua
mensuração é facilitada pela maneira objetiva com que os dados são interpretados.

O método quantitativo coleta dados mediante questionários ou


formulários. Nesta pesquisa, optou-se pela aplicação de um questionário, que é
71
caracterizado por TARTUCE como uma técnica intrínseca a esse tipo de
abordagem. A elaboração de tal instrumento deve ter como base a problemática e
os objetivos estabelecidos e pode conter perguntas abertas, fechadas ou de múltipla
escolha. A análise dos dados ocorre por meio do uso de técnicas estatísticas.

4.2 UNIVERSO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada entre os dias 17 de fevereiro e 10 de março de


2021 com gestantes que frequentam farmácias comunitárias do munícipio de
Fortaleza e por meio de um questionário elaborado no Google Forms e enviado por
e-mail e por redes sociais como o WhatsApp.

O questionário em questão é composto por 16 perguntas, das quais 4


são voltadas para a caracterização das participantes e utilizadas para a elaboração
do perfil do sujeito, e 12 são questões sobre a teratogenia.

4.3 PERFIL DO SUJEITO

69
Idem. Ibidem. p. 34.
70
Terezinha de Jesus Afonso Tartuce. Op. Cit. p. 59.
71
Idem. Ibidem. p. 148-149.
57

O questionário foi respondido por 81 grávidas, porém, a partir da


sétima questão, 75 delas deram continuidade. Quanto à idade das respondentes,
56% são da faixa etária entre 26 anos e 35 anos, e a segunda faixa etária com maior
porcentagem, com 32%, foi a de 16 anos a 25 anos. Quanto ao grau de instrução, a
maioria das participantes, correspondente a 54%, indicou possuir o ensino médio.

No que concerne à gravidez, verifica-se que 69% informaram ser a


primeira gravidez. Em relação à idade gestacional, a maior porcentagem foi a de
30%, referente às grávidas com 29 semanas.

4.4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

GRÁFICO 2. INÍCIO DO PRÉ-NATAL


2%
5% 7%

86%

1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre Não fez pré-natal

Conforme os dados do Gráfico 2., 86% das grávidas indicaram ter


iniciado o pré-natal no primeiro trimestre, muito provavelmente, assim que
descobriram a gravidez. Isso ocorre, pois o pré-natal é fundamental para que elas
possam adquirir informações sobre a gestação e prevenir ou detectar doenças
maternas e fetais com o intuito de possibilitar o desenvolvimento fetal saudável.

Devido à importância do pré-natal, era esperado que a maioria das


grávidas, se não todas, tivesse feito esse acompanhamento. No entanto, 7% delas
58

alegaram que não fizeram esse procedimento, e 2% informaram que o iniciaram no


3º trimestre.

GRÁFICO 3. CONSULTAS REALIZADAS

7% 25%

68%

de 1 a 5 consultas de 6 a 10 consultas Nenhuma

É recomendado que a grávida faça, no mínimo, seis consultas pré-


natais. Nesta pesquisa, verificou-se que 68% das respondentes já realizaram entre 6
a 10 consultas. Logo, já atingiram o mínimo indicado. Já 25% responderam que
fizeram entre 1 a 5 consultas, e muito provavelmente são grávidas em fase inicial do
pré-natal. Seguindo a lógica dos dados expostos no Gráfico 3., 7% não fizeram
quaisquer consultas, pois não realizaram o pré-natal.

A partir das próximas questões, apenas as grávidas que indicaram ter


feito o pré-natal continuaram a responder o questionário.

GRÁFICO 4. FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE A GRAVIDEZ


59

7%
33%

58%
2%

Livros Internet
Farmacêutico Familiares e Amigas que já engravidaram

Nessa questão, buscou-se averiguar quais os locais ou fontes que as


grávidas procuram com o intuito de adquirir informações sobre a gravidez, além dos
médicos. O Gráfico 4. indica que 58% utilizam a internet como fonte de
conhecimento, algo esperado devido à facilidade de acesso às informações.

Outra porcentagem alta corresponde aos familiares e amigas que já


engravidaram, correspondente a 33%. Troca de informações e experiências nesse
período é comum, pois as grávidas possuem mais facilidade de se comunicar com
indivíduos de seu vínculo social. Por fim, apenas 2% alegaram obter informações
com o farmacêutico.

GRÁFICO 5. USO DE MEDICAMENTOS NA GRAVIDEZ

45%

55%

Sim Não
60

Ao serem questionadas sobre o uso de medicamentos durante a


gravidez, 55% das pesquisadas responderam que sim. Foi solicitado, então, às
gestantes que marcaram essa opção que indicassem os medicamentos consumidos.
Logo, averiguou-se que elas fazem uso de vitaminas e suplementos, que,
normalmente, são indicados pelos médicos, além de medicamentos anti-
hipertensivos (metildopa), antibióticos (cefalexina), analgésicos e antipiréticos
(paracetamol), antidepressivos (sertralina), antipsicóticos (amplicitil) e fármacos para
tratamento de diabetes (metformina e insulina).

Não se pode afirmar com certeza, mas, provavelmente, as grávidas


dos 45% que indicaram não fazer uso de medicações não consideraram as
vitaminas e os suplementos, que, comumente, são indicados pelos médicos.

GRÁFICO 6. ORIENTAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS

100%

Sim Não

Na nona pergunta, foi indagado se as gestantes receberam orientações


sobre o risco de usar medicamentos durante a gravidez, e todas elas responderam
que sim.

GRÁFICO 7. QUEM FEZ A ORIENTAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS


61

16%

84%

Obstreta Enfermeira Farmacêutico

Sobre quem foi o responsável pela orientação acerca dos riscos


associados às medicações, o Gráfico 7. revela que 84% indicaram o médico
obstetra, e 16% que enfermeiras foram as responsáveis. Esse dado é alarmante,
haja vista que o farmacêutico tem como base da sua prática a orientação
farmacêutica que visa ao uso racional de medicamentos.
GRÁFICO 8. CONHECIMENTO SOBRE TERATOGENIA
22%

78%

Sim Não

Apesar de as grávidas estarem fazendo pré-natal e ainda buscarem


informações em outros meios, o Gráfico 8. aponta que apenas 22% têm
conhecimento sobre a Teratogenia. É possível que, dentre os 78% que marcaram
não, existem grávidas que saibam sobre do que se trata a Teratogenia, mas
desconheçam o termo em si.
62

GRÁFICO 9. CONHECIMENTO SOBRE AGENTES TERATOGÊNICOS

24% 15%

18%

43%

Péssimo Ruim Regular Bom Excelente

O Gráfico 9. apresenta os dados referentes ao nível de conhecimento


sobre agentes que causam má formação congênita. Percebe-se, então, que 43%
marcaram a opção regular, e 24% indicaram possuir um bom conhecimento sobre o
tema. Essas porcentagens confirmam que, apesar de, na questão anterior, a maioria
ter indicado não possuir conhecimento sobre a teratogenia, muitas desconhecem o
termo, mas têm algum conhecimento sobre má formação congênita.
Contudo, é preciso ressaltar que esse conhecimento, talvez, não seja
aprofundado, já que nenhuma delas selecionou a opção “Excelente”. Ademais, 18%
informaram que seu nível de conhecimento é ruim, o que pode significar que elas
sabem que alguns fatores podem causar má formação congênita, mas nada além
disso, e 15% marcaram a opção “Péssimo”, que equivale a não conhecer nada
sobre o assunto em questão.

GRÁFICO 10. ÁLCOOL, FUMO E MEDICAMENTOS QUE DEVEM SER EVITADOS


5% 4%

91%

Às vezes
Sim Não Ás vezes
63

Quanto ao uso de substâncias como álcool, fumo e medicamentos, que


são conhecidos pela população em geral como possíveis causadores de problemas
na gravidez, o Gráfico 10. denota que 91% das respondentes apontaram que essas
substâncias devem ser evitadas, 5% responderam que não precisam ser evitadas, e
4% indicaram que apenas às vezes precisam ser evitadas.

GRÁFICO 11. RISCO DE CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DO USO


EXAGERADO DE ÁLCOOL, FUMO E MEDICAMENTOS
4%

96%

Sim Não

Ao serem indagadas se havia a possibilidade de consequências graves


caso o uso de álcool, fumo e medicamentos fosse exagerado, 96% das
respondentes apontaram que isso procede, um dado surpreendente, já que, na
pergunta anterior, apenas 91% alegaram que essas substâncias precisam ser
evitadas durante a gestação.

GRÁFICO 12. GRAU DE RISCO PARA A MÁ FORMAÇÃO CONGÊNITA


DECORRENTE DO USO DE MEDICAMENTOS
2%
21%

77%

Leve Moderado Grave

O Gráfico 12. apresenta os dados sobre o nível de riscos oferecidos


64

por medicações para o desenvolvimento de más formações congênitas. Desse


modo, verifica-se que 77% das grávidas indicaram ser grave, 21%, moderado, e 2%,
leve. Esses dados demonstram que, apesar de existir uma conscientização sobre os
possíveis riscos oriundos de fármacos, ainda é preciso que haja mais orientação
acerca do uso de medicamentos na gravidez.

GRÁFICO 13. PERÍODO GESTACIONAL MAIS SUSCETÍVEL AOS AGENTES


TERATOGÊNICOS
6%
17%

77%

1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre


Quanto ao conhecimento sobre o período gestacional em que os
agentes teratogênicos oferecem um maior risco ao desenvolvimento do feto, 77%
das questionadas afirmaram ser o primeiro trimestre, o que indica que elas estão
conscientes de que esse é o período em que o feto está sujeito aos maiores perigos,
pois está nos estágios iniciais do seu crescimento.

4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base no que se apresentou na coleta de dados, é possível


observar que a maioria das grávidas fazem o pré-natal, haja vista a importância
desse acompanhamento para que elas tenham um período de gravidez saudável. O
ideal seria que todas fizessem esse acompanhamento, mas é claro que alguns
fatores, tais como os de nível socioeconômico e o acesso à rede de saúde, que não
dependem apenas da vontade delas, podem impossibilitar que a gestante faça o
pré-natal.

Em relação à quantidade de consultas, a maior parte das respondentes


informaram já ter feito, pelo menos, o mínimo indicado pelo Ministério da Saúde, que
65

são seis consultas. Esse número pode ser maior, a depender do tipo de gravidez da
gestante, caso ela tenha necessidade de um acompanhamento maior.

Foi solicitado às mulheres grávidas que indicassem outras fontes de


informação utilizadas por elas, e a maioria marcou a opção Internet, o que não
surpreende devido à facilidade de acesso ao conteúdo e aos inúmeros blogs, sites e
comunidades em redes sociais sobre gravidez. Outra opção expressiva indicada
pelas respondentes foi a de familiares e amigas que já engravidaram, o que não é
surpresa, já que é comum a troca de experiências entre grávidas.

No que tange ao uso de medicamento durante a gravidez, o resultado


foi equilibrado, com 55% indicando que sim. Foi solicitado a essas respondentes que
informassem qual é o medicamento utilizado, e muitas indicaram os suplementos
vitamínicos e elementos nutricionais, que são prescritos pelos médicos durante a
gravidez.

Dentre as outras classes de medicamentos apontadas pelas grávidas,


estão: a metildopa, considerada o anti-hipertensivo mais seguro para ser utilizado na
gravidez; antibióticos como a cefalexina; analgésicos e antipiréticos, como o
paracetamol; e a metformina e insulina, que são fármacos para o tratamento de
diabetes gestacional. Além desses, outros dois pertencentes a classe de
psicotrópicos foram apontados: a sertralina, que é um antidepressivo; e o amplicitil,
um antipsicótico. Esses medicamentos não são recomendados para o uso durante a
gravidez, pois apresentam riscos ao feto e são utilizados apenas caso o benefício
que eles proporcionem supere as ameaças e apenas com a devida indicação e o
acompanhamento médico.

Todas as grávidas alegaram ter recebido orientação sobre o uso de


medicamentos na gestação, porém nenhuma delas a recebeu de farmacêuticos.
Tendo em vista que a prática farmacêutica se baseia no cuidado ao paciente
mediante, principalmente, a Atenção Farmacêutica e atividades como a orientação
farmacêutica e a dispensação de medicamentos, é alarmante que nenhuma delas
tenha recebido orientação do farmacêutico sobre o uso de fármacos na gravidez,
especialmente as grávidas que fazem uso de psicotrópicos, que, em tese, só podem
66

ser vendidos com prescrição médica e retenção de receita. Portanto, o farmacêutico


deveria, no mínimo, ter participado do processo de dispensação desses produtos.

No que concerne ao conhecimento sobre teratogenia, a maioria das


participantes afirmou não possuir entendimento sobre tal assunto, porém, ao serem
questionadas sobre agentes que causam problemas de má formação congênita,
percebeu-se que muitas delas que informaram não saber sobre teratogenia
desconhecem o termo em si e não sobre do que se trata o assunto.

Sobre o uso de substâncias como álcool, fumo e medicamentos, a


maioria dos participantes informou que devem ser evitadas durante a gravidez, pois,
conforme elas apontaram, existe um grande risco para o desenvolvimento de
consequências decorrentes de seu uso. O que surpreendeu com essas respostas é
que, apesar se saber amplamente que substâncias como o álcool e o fumo devem
ser evitadas durante a gestação devido à possibilidade de ocasionar problemas no
desenvolvimento do feto, ainda há indivíduos que não levam a sério tais
informações.

Quanto ao poder teratogênico dos fármacos, a maioria das


respondentes alegaram que eles podem acarretar graves problemas de má
formação congênita. Essa informação é importante, pois é um indicativo de que as
grávidas sabem que medicamentos podem afetar o desenvolvimento do feto. Com
base nessa informação, é possível notar também que existe bastante espaço para
que o farmacêutico possa contribuir para a educação em saúde das grávidas em
relação ao uso de medicações.

Por fim, a maioria das respondentes indicaram que o período mais


suscetível à má formação congênita é o primeiro trimestre da gestação, em
consonância com o que foi discutido e estudado no referencial teórico do trabalho.
67
68

CONCLUSÃO

A Teratogenia concerne à capacidade que substâncias ou elementos


externos à gestação tem de afetar o desenvolvimento do feto, aos quais se dá a
denominação de agentes teratogênicos. Eles podem ser de diversos tipos, tais
como: genéticos, cromossômicos, oriundos de doenças infecciosas, acarretados por
substâncias químicas e por fatores físicos, como a radiação.

Tendo em vista às mudanças pelas quais as grávidas estão sujeitas e


os riscos que podem afetar a gestação, o acompanhamento delas nesse momento
por meio do pré-natal é crucial, pois, mediante exames e consultas, é possível
orientar as gestantes e fornecê-las informações sobre os cuidados essenciais
durante a gravidez, principalmente no que concerne à automedicação.

Com os dados coletados durante a pesquisa, foi possível observar que,


apesar das campanhas alertarem sobre a necessidade do pré-natal, ainda há
grávidas que não o realizam ou iniciam o acompanhamento bem depois do primeiro
trimestre, que é um período crucial para o desenvolvimento fetal.

A maioria das grávidas participantes da pesquisa indicaram já ter feito


o número mínimo de consultas determinado pelo Ministério da Saúde. Além dessas
consultas, muitas delas utilizam a internet como fonte de informação para a
gravidez. Apesar disso, ainda foi possível detectar que muitas grávidas fazem uso
de medicamentos durante a gravidez e, em alguns casos, medicamentos que não
são indicados para o uso durante esse período.

Um importante dado coletado durante a pesquisa foi o de que nenhuma


das grávidas recebeu orientação sobre o consumo de medicamentos por parte dos
farmacêuticos, nem mesmo aquelas que utilizavam psicotrópicos, que pressupõe
uma atenção maior por parte desse profissional no momento da dispensação por ser
uma classe de fármacos vendida apenas com retenção de receita e que apresenta
sérios riscos decorrentes de seu uso.
69

Apesar de estarem fazendo o pré-natal, ainda há informações sobre os


efeitos dos medicamentos e de substâncias, como álcool e fumo, que precisam ser
reforçadas para algumas grávidas, como foi possível perceber nos dados coletados.

Quanto à problemática levantada, considera-se que ela foi respondida,


uma vez que foi identificado que muitas grávidas desconhecem o termo teratogenia,
apesar de uma parte delas ter indicado possuir um conhecimento mínimo sobre os
efeitos dos agentes teratogênicos na má formação fetal.

Em relação à hipótese, pode-se asseverar que ela foi confirmada, pois


os dados apontaram a necessidade de intervenção do farmacêutico no consumo de
medicamentos, momento em que podem ser explicados às gestantes os termos
relativos à teratogenia, algo que, de acordo com os dados coletados, não tem sido
realizado.

Ao longo deste trabalho acadêmico, estudou-se a Teratogênia e como


as mudanças fisiológicas pelas quais a mulher passa podem afetar a ação das
medicações nesse período. Diversos são os fármacos que podem causar problemas
no desenvolvimento fetal, e cabe ao farmacêutico atuar de modo a orientar as
grávidas sobre o uso inadequado desses produtos. Todavia, conforme averiguado
nas análises, os farmacêuticos não têm atuado efetivamente na orientação
farmacêutica dessas pacientes.

Portanto, é preciso que haja mais ações desse profissional voltadas ao


atendimento das gestantes, portanto o farmacêutico possui papel fundamental no
tocante ao uso de medicamentos e tem como base de sua atuação o
acompanhamento farmacoterápico, que envolve não apenas a dispensação, mas
também a devida orientação para promover o uso racional e seguro dos
medicamentos. Logo, ele deve informar devidamente as grávidas acerca dos
possíveis efeitos adversos decorrentes da ingestão de remédios inadequados
durante a gestação.
70

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docs/pdf/s4874s/s4874s.pdf Acesso em: 11/out/2020.

OSÓRIO-DE-CASTRO, Cláudia Garcia Serpa; PAUMGARTTEN,


Francisco José Roma; SILVER, Lynn Dee. Uso de medicamentos na gravidez.
74

Ciência e Saúde Coletiva. Disponível em:


https://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a19v9n4.pdf. Acesso em: 02/set/2020.

PEREIRA, Jair Souza et al. Conhecimento farmacêutico na dispensação de


medicamentos para gestantes em um município baiano. Revista Saúde e
Desenvolvimento. Disponível em: https://www.uninter.com/revistasaude/index.php/sa
udeDesenvolvimento/article/view/431/297. Acesso em: 12/out/2020.

RIBEIRO, Mônica. Tabela Beta HCG por semana de gravidez ou idade fetal.
Disponível em: https://www.almanaquedospais.com.br/tabela-beta-hcg-por-semana-
de-gravidez-ou-idade-fetal/. Acesso em: 10/jun/2020.

ROCHA, Ana Leda Ribeiro da. Uso racional de medicamentos. Disponível em:
https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/11634/1/25.pdf. Acesso em: 16/mar/2020.

ROCHA, Rebeca Silveira et al. Consumo de medicamentos, álcool e fumo na


gestação e avaliação dos riscos teratogênicos. Revista Gaúcha Enfermagem.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34n2/v34n2a05.pdf. Acesso em:
01/set/2020.

SIAT – SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE AGENTES TERATOGÊNICOS.


Agentes teratogênicos. Disponível em: https://siat.ufba.br/agentes-teratog%C3%A
Anicos. Acesso em: 18/out/2020.

SILVA, Naiana Fernandes. Atenção Farmacêutica em Gestantes. Disponível em:


https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/121253/000745589.pdf?
sequence=1. Acesso em: 18/out/2020.
75

APÊNDICE I. CARTA DE APRESENTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Prezada Senhora,

Estou lhe convidando a participar da pesquisa intitulada Atenção


Farmacêutica e Teratogenia: Anomalias Congênitas Ocasionadas pela
Automedicação no Período Gestacional. Esse estudo está sendo desenvolvido por
mim, Ana Izabelly Dutra de Alencar, graduanda em Farmácia da Faculdade UNICE,
sob a orientação dos professores Me. Fábio Luiz Tartuce Filho e Esp. Antônio
Cláudio da Silva Nunes.

Suas respostas serão utilizadas exclusivamente para fins científicos.


Asseguro manter a integridade e o sigilo quanto às informações prestadas. Garanto
que os dados serão anonimizados e não serão divulgadas informações que estejam
relacionadas à sua intimidade. Caso aceite participar, não haverá qualquer prejuízo
em face das informações fornecidas.

Sua participação e colaboração são imprescindíveis, além de permitir


ampliar a compreensão sobre o tema em estudo.

Atenciosamente,

___________________________________
Ana Izabelly Dutra de Alencar
76

APÊNDICE II. QUESTIONÁRIO

Parte 1. Caracterização da Participante

1. Faixa etária:

( ) 16 anos a 25 anos.
( ) 26 anos a 35 anos.
( ) 36 anos a 45 anos.
( ) 46 anos a 50 anos.

2. Grau de instrução:

( ) Ensino fundamental.
( ) Ensino médio.
( ) Graduação.

3. É a sua primeira gravidez?

( ) Sim. ( ) Não.

4. Qual é a idade gestacional no dia em que respondeu esta pesquisa?


_____ semanas e _____ dias.

Parte 2. Dados sobre Pré-Natal e Conhecimento sobre Teratogenia

5. Quando iniciou seu pré-natal?

( ) 1º trimestre.
( ) 2º trimestre.
( ) 3º trimestre.
( ) Não fiz pré-natal.
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6. Até o presente momento em que respondeu esta pesquisa, a quantas consultas já


foi?

( ) 1 a 5. ( ) 6 a 15. ( ) Nenhuma.

7. Indique outras possíveis fontes de informações que busca para sanar dúvidas em
relação à gravidez:

( ) Internet. ( ) Livros. ( ) Parentes e amigas que já engravidaram.


( ) Farmácia. ( ) Outros.

8. Faz uso de algum medicamento durante a gravidez?

( ) Sim. ( ) Não.

Se sim, indique quais: _________________________________.

9. Recebeu orientações sobre os riscos que medicamentos ou outras substâncias


podem gerar na gravidez?

( ) Sim. ( ) Não.

10. Quem fez a orientação sobre os riscos do uso de medicamentos na gravidez?

( )Obstetra.
( )Enfermeira.
( )Farmacêutico

11. Tem conhecimento sobre o que é teratogenia?

( ) Sim. ( ) Não.

12. Como classificaria seu conhecimento sobre os agentes causadores da


malformação congênita?
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( ) Péssimo.
( ) Ruim.
( ) Bom.
( ) Excelente.

13. Na sua concepção, substâncias como álcool, fumo e medicamentos devem ser
evitadas na gravidez?

( ) Sempre. ( ) Às vezes. ( ) Não.

14. Na sua visão, existe risco de consequências graves para o bebê quando o
consumo dessas substâncias se torna exagerado?

( ) Sim. ( ) Não.

15. Em seu entendimento, qual é o grau de risco de malformações congênitas


decorrentes do uso de medicações?

( ) Leve. ( ) Moderado. ( ) Grave.

16. Na sua concepção, qual é o período gestacional mais suscetível aos agentes
teratogênicos?

( ) 1º trimestre. ( ) 2º trimestre. ( ) 3º trimestre.

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