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INNERARITY, Daniel, A política em tempos de indignação,

Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2018, 383 pp.

Prólogo: “A política e os seus inimigos” (15-239


O objetivo do livro: entender melhor a política (16, 31)
Não há um problema com a política, mas com a má política. Esta está marcada pelo sêlo da impotência
face ao capitalismo financeiro (17), a economia consolidando-se como uma ideologia, princípio absoluto
de legitimação política e social (18). Há um elemento comum no neoliberalismo e no marxismo: o
carácter determinante do fator económico.
A reacção ao niilismo (v. Claudio Magris) foi a indignação que, desta vez, procurou transformar a política
a partir do sistema institucional (19).
Totalitarismo (19): Segundo Hannah ARENDT, o totalitarismo é uma sociedade em que as pessoas não
têm espaço próprio, vivem comprimidos uns contra os outros. O desaparecimento da intimidade é
totalitário. Temos que ter cuidado com a transparência e não confundi-la com a exposição da vida
privada, numa sociedade onde dominam as redes e todos expõem / exibem a sua vida. “Se a cultura da
transparência não tiver limites, coremos o risco de cair num totalitarismo consentido: sem espaço para a
intimidade por auto-exposição” (21).

Para Innerarity, a política é a palavra e não á nada mais antipolítico que o lema «factos, palavras não» 1.
Ver aqui Raúl Proença e a sua polémica contra o integralismo de António Sardinha e a política do facto.

Três ideias fundamentais:


1) A política é o único poder dos que não têm poder;
2) É uma péssima fantasia imaginar uma sociedade sem política;
3) 2
O grande desafio da política é manter a sua autonomia em relação ao economicismo (23).

- Os encantos da antipolítica: 26-27; 44


- Paradoxo da última carruagem (Ah, ah!...), 39
- O populismo desconfia dos políticos – é uma espécie de elitismo invertido, 40
- Requisitos para se ser político, 47
Relação com os especialistas: a democracia precisa tanto dos especialistas como de proteger-se deles,
48-49

1
Entre nós costuma-se dizer que «contra factos não há argumentos», um lema que pode acabar por ser perigoso,
no sentido de eliminar as possibilidades de discutir ideias, que recuam perante os factos, esquecendo-se que muitas
vezes, em nome duma pretensa objetividade, estas factos são também realidades construídas, sofreram a projecção
das nossas ideias e da nossa subjectividade.
2
Um container é o símbolo da globalização comercial, um dispositivo para armazenar coisas, encaixando-se em
espaços homogéneos, estandardizados, classificáveis e geríveis, de maneira que nada fique de fora.

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Fim da era dos contentores (containers) →ver ideias de Clifford GEERTZ → critica essa conceção do
mundo como um puzzle de peças de igual tamanho, elaborada sob o pressuposto de uma coincidência
entre nações e culturas; a mercantilização liberal e a vinculação comunicativa tornam difícil manter um
container nacional, para proteger a unidade entre economia, cultura e política, 53; 59 → acabou o
partido contentor, 66
→ A democracia dos partidos era a forma política adequada a uma sociedade estruturalmente estável, o
que hoje não é assim, quando a lógica dos fluxos é mais forte que a lógica dos lugares, 54
→ A política perdeu a sua essência ideológica e tornou-se personalizada (56), tal como proliferam s
partidos instantâneos, 57
→ Influência da internet (e das redes sociais): o imediatismo converteu-se no único registo democrático,
desvalorizando outros elementos centrais da vida democrática, tal como a deliberação ou a organização,
61

TXT:
“A tripla aliança entre partidos políticos ineficazes, esquerda com escasso sentido da realidade e direita
que a conhece demasiado bem, é uma conspiração não declarada que ameaça a nossa vida democrática
mais do que qualquer outra disfuncionalidade.”, 63

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