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Aulas Teóricas Medicina Legal

Prof. Doutor Francisco Corte Real Ano Letivo 2021/2022

DL n.º 146/2000, de 18 de julho → criou o Instituto Nacional de Medicina Legal


Atual é designado – Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P.
DL n.º 11/98, de 24 de janeiro – estabeleceu a divisão do INMLCF em 3 delegações: Lisboa; Porto e
Coimbra

Organização médico-legal
✓ Há 1 único Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses
o Sede: Coimbra

✓ Há 3 delegações: Lisboa, Porto e Coimbra

✓ Há 27 gabinetes médico-legais espalhados por todo o país

O DL n.º 11/98, de 24 de janeiro rege:


- Estrutura orgânica (+ DL n.º 96/2001; Portaria 522/2007; DL n.º 166/2012; Portaria 19/2013)
- Perícias médico-legais (+ Lei n.º 45/2004)
- Carreiras médico-legais e forenses
Atribuições:
1) Cooperar com os tribunais e demais serviços e entidades que intervêm no sistema de administração
da justiça, realizando os exames e perícias médico-legais e forenses a pedido de qualquer entidade
pública ou privada, incluindo particulares.

2) Prestar serviços a entidades públicas e privadas, bem como aos particulares;

3) Tem a natureza de laboratório de Estado (porque cumpre algumas missões do próprio Estado: aloja
a base nacional de dados de perfis de ADN) e é considerado instituição nacional de referência
Deste modo, qualquer entidade pública ou privada pode pedir exames ao INMLCF. De seguida tem de se
averiguar se há ou não legitimidade, isto porque, por exemplo, pode o indivíduo em causa não ter dado o
consentimento (e este é necessário).

Órgãos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (*anexo I):


1) Conselho diretivo
2) Conselho médico-legal
3) Comissão de ética
4) Fiscal único

É o órgão máximo do ponto de vista pericial da medicina legal, que resolve os casos mais complexos e que
suscitem mais dúvidas e se pronuncia sobre os casos de negligência médica. É, portanto, o órgão que, a nível
nacional, se pronuncia quanto aos casos de alegada negligência médica.

Tem como competências: a emissão de pareceres técnico-científicos, especialmente na área da negligência


médica, na área da violação da leges artis medicas.
➔ O conselho médico legal tem especialistas das diversas áreas médicas.

Composição Conselho Médico-Legal:


1) Presidente do conselho diretivo da INMLCF, vice-presidente e vogais;
2) Um representante dos conselhos regionais disciplinares de cada uma das secções regionais da Ordem dos
Médicos.
3) Dois docentes de clínica cirúrgica, clínica médica, obstetrícia e ginecologia e direito
4) Um docente de anatomia patológica, ética e ou direito medico, ortopedia e traumatologia, neurologia ou
neurocirurgia e psiquiatria.

EM SUMA:
O INMLCF, I.P. tem especialistas das diversas áreas da medicina + relatores (relator da área em causa)
Competências/funções do Conselho Médico-Legal:
1) Exercer funções de consultadoria técnico-científica
2) Emitir pareceres sobre as questões técnicas e científicas;
3) A consulta técnico-científica ao Conselho médico-legal pode ser solicitada:
- Pelo membro do governo responsável pela justiça
- Pelo conselho superior da magistratura
- Pelo Procurador-Geral da república
- Pelo presidente do conselho diretivo do INMLCF

O que significa que os magistrados não podem solicitar diretamente a consulta técnico-científica. Mas,
quando tal sucede ela não é rejeitada, sobretudo em casos de negligência médica (que corresponde a 95%
dos casos).
➔ O parecer, por sua vez, é insuscetível de revisão.

NOTA: O legislador não incluiu aqui os particulares.

Serviços técnicos das Delegações do INMLCF – quatro tipos de exames:


1) 3 serviços de clínica e patologia forenses que funcionam nas delegações e nos gabinetes:

1.1) Clínica forense:


Fazem-se nas delegações e nos gabinetes médico-legais: realizam exames de avaliação do dano corporal
no âmbito do direito civil, penal e trabalho (faz exames a pessoas vivas – avaliação dos danos corporais); as
perícias psiquiátricas (perícias e exames de natureza psiquiátrica e psicológica forenses) são realizadas sob a
alçada do Instituto, mas este é só o distribuidor dos exames a hospitais psiquiátricos ou serviços de
psiquiatria.

1.2) Patologia forense:


Autópsias médico-legais; exames de anatomia patológica; perícias de identificação de cadáveres e de
restos humanos; embalsamentos; estudo de peças anatómicas; colheita de amostras – este serviço representa
cerca de 5% da atividade do Instituto.
As autópsias médico-legais realizam-se nos gabinetes médico-legais (que são 27 ao todo!) mas os exames
de anatomia patológica que são exames com microscópio são realizados nos laboratórios de anatomia
patológica que só existem nas delegações.
Se, no âmbito dessa autópsia for necessário realizar um exame complementar de anatomia patológica
forense ou de histologia forense (exames ao microscópio):
▪ Todas as autópsias da região norte em que seja necessário realizar exame de anatomia patológica →
as amostras vão para o Porto.
▪ Todas as autópsias da região sul em que seja necessário realizar exame de anatomia patológica → as
amostras vão para Lisboa.
▪ Todas as autópsias das regiões autónomas (ilhas) em que seja necessário realizar exame de anatomia
patológica → as amostras vão para Coimbra (porque Coimbra tem menos movimento pericial do
que Lisboa e Porto).

2) Química e toxicologia forenses


Que funcionam apenas nas delegações (envenenamentos, drogas, pesticidas) – são realizados exames
laboratoriais de nível de alcoolémia no sangue, à urina, sangue para estudos de drogas e pesticidas, fazem-se
também exames de contraprova de alcoolemia.
Ou seja, realizam a análise à presença de tóxicos, independentemente de ser feita a pessoas vivas ou
mortas.

3) Genética e Biologia Forenses


Que funcionam apenas nas delegações (note-se que, também a Polícia Judiciária faz este tipo de exames – o
que significa que o magistrado pode optar pelo INML ou pela PJ – por exemplo: investigação da paternidade
e identificação genética individual).
3.1) Investigação da Paternidade
3.2) Criminalística Biológica
3.3) Identificação Genética Individual
Se uma vítima de violação na Guarda for a um exame médico-legal, o perito médico do gabinete faz uma
colheita de sémen, manda o laboratório em Coimbra que faz o estudo e depois manda para o médico que fez
o exame.

4) Tecnologias Forenses e Criminalística (este serviço não está em funcionamento)


Que funcionam apenas nas delegações.

1) Realização de exames e perícias em pessoas no âmbito do direito civil, penal e de trabalho (perícias e
exames de avaliação do dano corporal)
2) Perícias de psiquiatria e psicologia forenses
3) Compete a realização das autópsias médico-legais, antropologia forenses, identificação de cadáveres e
embalsamentos
4) Colheita de amostras para exames complementares
*não fazem exames toxicológicos
Foi celebrado um protocolo entre o Ministério da Justiça e o Ministério da Saúde, ao abrigo do qual se
instalaram gabinetes médico-legais nos próprios hospitais, onde se criaram serviços que pertencem ao
INMDLCF, I.P. – com pessoas escolhidas pelo instituto, com as despesas pagas pelo Instituto, etc.

Portanto, os gabinetes médico-legais são serviços do INMLCF – que pertencem ao Ministério da Justiça –,
mas que funcionam nos Hospitais ao abrigo deste protocolo celebrado entre aqueles 2 ministérios.

Despesas de deslocação:
As despesas de deslocação estão perspetivadas na lei e, de facto, as pessoas podem ser ressarcidas por
despesas de deslocação aos serviços médico-legais.
➔ Esta é paga pelo Cofre Geral dos Tribunais através da sua delegação junto do tribunal que solicitou o
exame.
As quantias são consideradas custas do processo.

Realização de perícias médico-legais – Lei nº45/2004, de 19 de agosto


As perícias médico-legais são realizadas obrigatoriamente, nas delegações e nos gabinetes médico-legais
do Instituto Nacional de Medicina Legal.
Excecionalmente perante manifesta impossibilidade dos serviços, as perícias poderão ser realizadas por
entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto.
Atualmente entende-se que sempre que há requisição de perícias, é obrigatório que o perito tenha o máximo
de informação clínica possível, para poder confrontar resultados. Antes entendia-se que o perito devia ter o
menos possível para ser imparcial.
➔ O perito só pode confirmar no seu relatório aquilo que objetivamente conseguir comprovar.
O que não significa que o facto de não estar confirmado não tenha acontecido!! Simplesmente, pode não
haver provas objetivas que comprovem esse facto.

Exames complementares:
O instituto pode celebrar protocolos com instituições públicas ou privadas ou celebrar contratos com
médicos ou outros técnicos, com vista a realização de exames periciais complementares e de diagnóstico
(entre outros).

Requisição de perícias:
As perícias médico-legais solicitadas por autoridade judiciária ou judicial são ordenadas por despacho da
mesma, nos termos da lei do processo, não sendo, todavia, aplicáveis às efetuadas nas delegações do
Instituto ou nos gabinetes médico-legais as disposições contidas nos artigos 154º e 155º do Código de
Processo Penal.
Por razões de celeridade processual, a requisição dos exames deve ser acompanhada das informações
clínicas disponíveis ou que possam a vir a ser obtidas pela entidade requisitante ou até à data da sua
realização.

Acesso à informação:
No exercício das suas funções periciais, os médicos e outros técnicos têm acesso à informação relevante,
nomeadamente, à constante dos autos, a qua lhes deve ser facultada em tempo útil.
O presidente do instituto, os diretores das delegações, os diretores dos serviços técnicos ou os coordenadores
dos gabinetes médico-legais podem solicitar informações clínicas diretamente aos serviços clínicos
hospitalares, serviços clínicos de companhias seguradoras ou outras entidades públicas ou privadas, que as
devem prestar no prazo máximo de 30 dias.
Efetivamente, não se pode concluir um relatório sem ter todas as informações clínicas necessárias. Daí que a
lei fixe este prazo máximo de 30 dias.
➔ Contudo, não há qualquer sanção prevista para o não cumprimento deste prazo, sendo que, a
única hipótese é o INML recorrer ao tribunal para que este aplique uma multa à instituição que devia
ter enviado as informações clínicas atempadamente.
Note-se: o incumprimento deste prazo é a principal causa do atraso da finalização das perícias médico-
legais.

Denúncia de crimes:
As delegações e os gabinetes médico-legais do Instituto podem receber denúncias de crimes devendo
remetê-las no mais curto prazo ao Ministério Público.
Sempre que tal se mostre necessário para a boa execução das perícias médico-legais, as delegações e os
gabinetes médico-legais do Instituto podem praticar atos cautelares necessários e urgentes para assegurar os
meios de prova, procedendo, nomeadamente, ao exame, colheita e preservação de vestígios, sem prejuízo
das competências legais da autoridade policial à qual competir a investigação.
Ou seja, sempre que tal se mostre necessário, o Instituto pode realizar exames e perícias médico-legais,
mesmo antes da pessoa formalizar a queixa (isto acontece, sobretudo, nos exames sexuais – “o tempo é o
maior inimigo da medicina-legal»).

Responsabilidade pelas perícias:


Os peritos técnicos têm autonomia técnico-científica – significa isto que cada perito médico é responsável
pelas conclusões do seu relatório.
Gozam de autonomia e são responsáveis pelas perícias, relatórios e pareceres por si efetuados.
Ninguém pode mandar alterar as conclusões do relatório.
➔ O que pode acontecer é que dois ou mais peritos tenham opiniões divergentes – por exemplo: na
avaliação de um dano corporal para o estabelecimento do grau de incapacidade (considerar
percentagens diferentes). Mas ambos são obrigados a respeitar determinadas regras.
➢ Os peritos são obrigados a respeitar as normas, modelos e metodologias periciais em vigor no
Instituto, bem como as recomendações decorrentes da supervisão técnico-científica dos serviços.

Obrigatoriedade de sujeição a exames:


O Código Deontológico proíbe os médicos de fazerem exames contra a vontade das pessoas.
Porém, a lei neste âmbito vai em sentido contrário: com o novo CPP é aceite o recurso à força para recolher
amostras, etc., dado que ninguém pode eximir-se a ser submetido a qualquer exame médico-legal
quando este se mostre necessário ao inquérito ou à instrução de qualquer processo, e desde que
ordenado pela autoridade judiciária competente, nos termos da lei.
➔ Todavia, este é um assunto mais polémico e controverso (por exemplo: é diferente obrigar uma
pessoa a realizar um exame sexual ou uma colheita de sangue ou saliva).
Deste modo, ninguém pode eximir-se a ser submetido a qualquer exame médico-legal quando este se
mostrar necessário ao inquérito ou instrução de qualquer processo e, desde que ordenado pela autoridade
judiciária competente nos termos da lei.
A autoridade judiciária competente pode assistir à realização dos exames periciais. Antes, o magistrado era
obrigado a assistir, o que verdadeiramente, era raramente cumprido. Hoje, apenas pode assistir se assim o
entender.

Custo dos exames e perícias:


O Instituto funciona como se fosse uma “empresa privada” – não tem OE e vive apenas de receitas próprias.
Os exames e perícias realizados nos estabelecimentos são pagos diretamente a estes pelos tribunais, de
acordo com os valores fixados por portaria do Ministro da Justiça ou com as tabelas em vigor do Serviço
Nacional de Saúde.
Nos casos previstos na última hipótese, poderá uma parte da quantia paga pelos tribunais ao serviço de saúde
reverter, até um máximo de 50%, para os médicos ou técnicos que os tenham efetuado.
➔ Ver Portaria nº175/2011, de 28 de abril relativamente aos custos das perícias.

Assim, pela realização dos exames e perícias requisitados aos serviços do Instituto ou por este deferidas às
As quantias são consideradas custas do processo, mesmo que haja lugar ao seu arquivamento.
Efetivamente, esta foi a última revisão legislativa que operou no sentido de que as despesas com exames têm
de ser pagas na mesma (sendo pagas com dinheiro do Estado).
➔ Ver Portaria nº685/2005, de 18 de agosto relativamente à remuneração dos peritos. O perito é pago depois da
entrega do relatório. No INML existe um sistema de videoconferência e os peritos podem pedir aos
magistrados para este meio ser usado de modo a rentabilizar o tempo.

Esclarecimentos complementares:
Na prestação de esclarecimentos complementares posteriores à realização da perícia e envio do respetivo
relatório médico-legal deverá prescindir-se, sempre que possível, da presença do perito, devendo a
autoridade judicial que a solicita usar os meios técnicos processualmente previstos.
Destino dos produtos examinados:
A amostra fica depositada no serviço médico-legal durante o período de dois anos, após o qual o serviço
médico-legal pode proceder à sua destruição, salvo se, entretanto, o tribunal tiver comunicado a
determinação em contrário.
Antes a lei dizia que tinham de os conservar até que os magistrados ordenassem a sua destruição.

GENÉTICA-FORENSE
Definição do ramo
A Genética Forense é a única das ciências forenses que consegue quantificar a força do seu resultado. Tal
pode comportar algumas desvantagens, como o facto de os magistrados se apercebem de que não se chega a
100% de certezas, existindo sempre uma margem de dúvida, ainda que mínima. E isto porque é quem
recebe o relatório que interpreta o seu resultado (ou seja, os magistrados), sendo as ciências forenses um
auxiliador das suas tarefas decisórias.
➔ Efetivamente, nunca é possível atingir 100% de certeza, pois tal implicaria estudar toda a população
mundial. Na criminologia forense temos a ideia “in dúbio pro reu”, isto é: na falta de 100% de
certeza não se pode condenar ninguém. Porém, aqui 99,99% de certeza vale muito mais que 10
testemunhas.

Por sua vez, ao magistrado cabe interpretar os relatórios forenses (sendo certo que, estes relatórios não
são vinculativos).

Quanto mais raro o perfil analisado, mais provável é que tenha sido ele a deixá-lo (os grupos sanguíneos,
por exemplo, não constituem perfis raros).
➔ Desta feita, quanto mais marcadores se estudarem, mais certezas são alcançadas e tal é
qualificável.

Onde se faz genética forense em Portugal:


a. No INMLCF – Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (que tem 3 laboratórios de
genética Forense – Porto, Lisboa e Coimbra):
i. em que se faz criminalística biológica
ii. e investigações de parentesco
iii. e identificação genética individual (identificação de cadáveres)
b. No Laboratório de Polícia científica da PJ:
i. em que se faz criminalística biológica

Como referido, nesta matéria também a Polícia Judiciária tem laboratório científico que se dedica a estas
questões. Isto significa que, os magistrados podem enviar a amostra tanto para a PJ como para o INML. A
quem é enviada a amostra ficará responsável por estudar o caso.

Há muitos anos que há um acordo entre o INMLCF e a PJ, no sentido de que quem tem a amostra
problema, fica com o caso, a menos que haja uma determinação do magistrado titular em sentido diverso.

▪ Amostra-problema → é a amostra que não está identificada (e que se quer identificar)

▪ Amostra-referência → é aquela que está identificada (em que se conhece o indivíduo a quem
pertence)

Três grandes áreas da genética-forense:

1) Investigações de parentesco – sejam de paternidade ou maternidade. O laboratório limita-se a


responder à pergunta que está a ser feita pelo magistrado, devendo este identificar quais sujeitos
devem ser averiguados. Devem estes identificar especialmente o que se pretende em cada caso.

2) Criminalística biológica

3) Identificação genética individual (identificação de cadáver, p.e.)

Uma introdução ao domínio da genética


À partida, todas as nossas células têm a mesma composição genética – são compostas por:
22 pares de autossomas
1 par de cromossomas sexuais (XX ou XY) – é aqui que se encontra o ADN cromossomático.

Os cromossomas → encontram-se no núcleo das células.

Fora desse núcleo → temos o citoplasma, onde se encontra o chamado ADN mitocondrial
o A nossa constituição genética é igual em todas as nossas células.
o Nas células sexuais temos metade da nossa constituição genética.
Aquilo que mais se estuda na genética forense são os cromossomas, que se encontram dentro do núcleo das
células.
Temos 46 cromossomas no total:
➢ 23 pares de cromossomas:
o Em cada par, há um cromossoma que vem do pai e um que vem da mãe – 1 par de
cromossomas sexuais.

O que interessa à genética forense é estudar as diferenças entre as pessoas.


Marcador Genético (ou gene): é um conjunto de informação que nos dá uma característica que se quer
identificar. Localiza-se no mesmo locus, sendo que, no laboratório são estudadas zonas específicas
conhecidas (todos temos a mesma localização de informação, embora o seu conteúdo seja, claro está,
diferente).
Gene – é a unidade básica responsável por uma característica e que se transmite hereditariamente.
Análise da sequência:
- Polimorfismos de sequência (variação na sequência);
- Polimorfismos de comprimento (alelo mais comprido do que outro);
- Técnica que permite duplicar a amostra (ocorre quando a amostra em análise é muito pequena – este
procedimento não tem qualquer implicação no estudo) – PCR (Polymarase Chain Reaction)
Os marcadores genéticos têm determinadas características:
1) A sua expressão genética está regulada, em geral, por um único locus. As características de
cada pessoa encontram-se num determinado ponto e, por isso, devemos ir estudar essa região,
embora cada uma delas tenha variáveis. Devemos estudar uma determinada região para saber quais
as variáveis daquele marcador.
2) São independentes das condições ambientais.
3) Estão presentes desde antes do nascimento. Por isso se podem fazer investigações de
paternidade mesmo antes do nascimento da criança.
4) Apresentam polimorfismo – isto é, têm muitas variáveis e estão bem distribuídas. Um bom
polimorfismo é aquele que tem 12 ou mais alelos (ou variáveis). É mais fácil a realização dos estudos
de genética forense quando o polimorfismo é bom.
5) É invariável durante toda a vida, apesar de alguns estudos indicarem que pode haver variação
em certas células.

Marcadores clássicos:
1) Enzimas eritrocitárias
2) Enzimas leucocitárias
3) Proteínas plasmáticas
4) Antigénios eritrocitários
5) Antigénios leucocitários

➔ No núcleo das células de um filho, existe:


o metade da constituição genética da mãe
o e metade do pai.

Quando ocorre a fecundação, o espermatozoide junta-se ao núcleo do óvulo, sendo que é a mãe a atribuir
o ADN mitocondrial (que está no citoplasma e não no núcleo das células).
➔ Assim, se realizarmos um estudo com base no ADN mitocondrial, podemos realizar uma
investigação de paternidade? Não, porque o pai não transmite ADN mitocondrial, mas apenas a
mãe.

✓ Com o cabelo arrancado (que inclui a sua raiz) pode fazer-se uma investigação de paternidade.

 Mas uma haste de cabelo cortado não permite que se realize uma investigação de paternidade, porque
uma haste de cabelo (sem raiz) só tem ADN mitocondrial, isto é, ADN da mãe, não servindo, pois, para a
realização de testes de paternidade.

Quando se estuda uma pessoa com base nos cromossomas não sexuais, só podemos saber quais
cromossomas vêm do pai ou da mãe, se os compararmos com os dele, já que os únicos cromossomas onde
existe certeza da sua origem são o cromossoma sexual Y (que vem sempre do pai) e o cromossoma X (que
vem sempre da mãe).
Sendo assim, quando vou estudar um determinado marcador, vou encontrar duas variáveis:
a. uma do pai
b. e outra da mãe.
Depois tenho de compará-las com o pai e com a mãe para saber qual vem dum e do outro.

Gene: é a unidade básica responsável por uma característica e que se transmite hereditariamente
(=marcador genético).

Locus: é a porção básica que um gene ocupa num cromossoma. É a localização de um marcador
genético. É igual em toda a gente.

Alelo: é a variável que as pessoas têm naquele marcador genético – dependem de pessoas para pessoa.

• Polimorfismos de ADN – não é questionado!!


Polimorfismos de sequência: O alelo 1 tem uma variação na sequência relativamente ao alelo 2. Ou seja, a
sequência das bases é diferente de um para o outro.
Um alelo é diferente de outro alelo, porque tem uma base que é diferente.

Polimorfismos de comprimento: O alelo 1 é diferente do 2, porque é mais comprido.

• Polymerase Chain Reaction (PCR) – 1987


Permite duplicar sucessivamente a nossa cadeia de ADN, permitindo duplicar as cópias para mais estudos.
Realiza-se da seguinte forma: separar a cadeia de ADN, acoplar os indicadores e fazer a extensão. Assim,
não é pelo facto que exista uma quantidade ínfima de amostra que tal é impeditivo para se realizar uma
investigação de genética forense (reação em cadeia da polimerase).
• Tipos de ADN presente no genoma

► Temos o ADN codificante – é responsável pelo funcionamento do nosso corpo e pelas nossas
características (responsável pela produção de proteínas, enzimas, etc.). Os erros/mutações no ADN
codificante podem conduzir a abortos espontâneos, mal funcionamento do corpo, doenças genéticas, etc.

► Temos também o ADN não codificante – é um ADN que não produz nada (há quem lhe chame de ‘ADN
lixo’. Portanto, é um ADN que pode acumular erros ao longo de gerações e gerações e tal não tem
consequências (corresponde a grande parte do seu genoma). O ADN não codificante é diferente em todos
nós, sendo aquele que mais interessa à genética forense.
O ADN não codificante é diferente em todos nós – é este que permite distinguir pessoas.
➔ Por tal razão, a genética forense não consegue distinguir irmãos gémeos verdadeiros, porque
partilham do mesmo ADN não codificante, embora seja possível se se encontrar uma mutação
genética, que pode verificar-se posteriormente.

Dentro deste temos o ADN repetitivo em tandem, que é aquele em que um conjunto de bases se vai
repetindo. O mais utilizado são os microssatélites que têm entre 1 a 6 bases. Podemos ainda reconhecer a
existência de minissatélites.
O ADN repetitivo em tandem – tem a ver com o n.º de repetições que temos (temos zonas do nosso genoma
que têm bases que e repetem – unidades repetitivas) → normalmente, são essas zonas que se estudam na
genética forense.

Como é que identificamos os alelos?


➔ Os alelos são identificados pelo número de unidades repetitivas que neles encontramos.

Tanto a maternidade como a paternidade são factos biológicos que carecem de vínculo jurídico. Contudo,
estes dois factos biológicos têm um modo diferente de se provados.
➢ No caso da mãe → a filiação resulta do facto do nascimento.

➢ Para o pai não se pode provar o seu envolvimento biológico, como se prova a maternidade. →
Aplica-se, pois, uma presunção ou testes genéticos (art. 1826º CC).
A investigação biológica da paternidade é realizada aquando das reclamações de paternidade e das
impugnações de paternidade. Apesar das várias soluções previstas no CC para determinação da paternidade,
os exames de sangue têm uma função importantíssima. Refere um Acórdão do STJ (1991) que “os exames
de sangue não constituem uma presunção da paternidade, pois tendem à prova direta da paternidade
biológica”.

Prova de Paternidade
O objetivo da investigação de paternidade é o de determinar se o pretenso pai em questão é ou não excluído
da paternidade do investigante. Com esse fim, estudam-se os vários marcadores genéticos (STR’S) que
conferem uma individualidade biológica determinada pelo perfil genético dos intervenientes no processo.

Numa investigação de paternidade, procura-se saber se o pretenso pai pode ou não ser o pai da criança. A
investigação biológica da paternidade ocorre em virtude:
a. De uma reclamação de paternidade
b. Ou de uma impugnação da paternidade

1.º - Pretende-se saber se é possível excluir o pretenso pai como pai da criança.
2.º - Não sendo possível excluir, desde logo, o indivíduo como pai da criança → é necessário calcular a
probabilidade do parentesco.

Exclusão ou incompatibilidade (deve ser sempre o tribunal a excluir a paternidade já que as provas na
área forense são apenas um auxiliar a uma conclusão a retirar pelo tribunal):
 Exclusão de 1ª ordem ou baseada na 1ª regra de Landsteiner

Consiste no aparecimento no filho de um alelo novo que não existe nem na mãe nem no pretenso pai.

Hipóteses explicativas:
1. ele não é o pai;
2. ele pode ser o pai, mas é possível esta exclusão porque pode ter havido uma mutação na formação do
espermatozoide (é bastante raro que tal aconteça).
Esta é uma das limitações da genética forense: apesar de raro, há a possibilidade de ter havido uma
mutação na formação daquele espermatozoide, e o A mutou-se para B – pelo que o individuo é o pai
biológico da criança, mas há uma mutação de pai para filho, o que dificulta as análises genéticas.
ASSIM: um filho pode não ter exatamente a mesma constituição de metade da mãe e metade do pai, porque
pode haver uma mutação na formação do espermatozoide ou do óvulo.

Com os marcadores clássicos → a taxa de mutação era cerca de 1/1.000.000


Com os marcadores genéticos → a taxa de mutação é cerca de 1/1.000 (muito maior do que antes)
Probabilidade de ocorrerem 2 mutações na mesma criança → (1/1000 x 1/1000) = 1/1.000.000

NOTA: Em regra, só se estuda a possibilidade de mutações se houver algum tipo de exclusão de 1.ª ordem.

Alelo 9 → alelo que veio da mãe


Alelo 7 → pode ter sido dado pelo pretenso pai
➔ Temos aqui uma INCLUSÃO.
Mãe → deu o alelo 9
Pretenso pai → nenhum
➔ Exclusão de 1.ª ordem, porque existe no filho um alelo novo (alelo 7) que não existe nem no pai
nem na mãe.
Hipóteses explicativas:
a. Ele não é o pai
b. Pode ter havido uma mutação, p.ex., do alelo 5 do pai para 7

 Exclusão de 2ª ordem ou baseada na 2ª regra de Landsteiner

Consiste na não transmissão do pai para o filho de um alelo que deveria obrigatoriamente transmitir.

Hipóteses explicativas:
a. ele não é o pai;
b. Pode ter ocorrido uma mutação;
c. ele pode ser o pai e ser possível esta exclusão, porque pode ter havido uma transmissão de um
alelo silencioso, isto é, de um alelo que está lá, mas não se consegue identificar.
Esta é uma outra limitação da genética forense: um alelo silencioso é um alelo que existe, mas que não
se consegue identificar/determinar. Isto pode acontecer:
a. Quando se estudam amostras muito degradadas (quando há degradação, degradam-se os alelos
maiores) – Isto pode acontecer quando se fazem investigações de paternidade em material
degradado (p.e. ossadas). O ADN diz-se degradado quando a cadeia de ADN está partida. É mais
provável a degradação de alelos grandes, devendo, em material degradado ser procurado o alelo
mais pequeno para a realização do estudo.
Como ultrapassar o problema das mutações na genética forense?
Estabeleceu-se a seguinte regra – Se se realizar uma investigação de paternidade, estudando 20 marcadores
(por exemplo):
1. E não houver exclusão nenhuma nesses 20 marcadores → calcula-se a probabilidade de paternidade

2. Se nesses 20 marcadores há apenas uma exclusão de 1.ª ordem ou duas exclusões de 2.º ordem →
então calcula-se a probabilidade de paternidade sem ter em conta aqueles marcadores em que houve
exclusão (calcula-se a probabilidade com base nos outros 19 marcadores) – admite-se que aquela
exclusão se deverá a uma mutação

3. Se houver três ou mais exclusões de 1.ª ordem ou 3 ou mais exclusões de 2.ª ordem → considera-se
provada a exclusão de paternidade (como a taxa de mutação nos marcadores genéticos é superior,
consensualmente aceita-se que possa haver duas exclusões de 1.ª ordem).

EM SUMA:
1) Quando há apenas uma exclusão de 1ª ordem ou até duas exclusões de 2ª ordem, será calculada a
probabilidade de paternidade sem ter em conta os marcadores em que se verifica a exclusão.
2) Se o número de exclusões for superior ao previsto no 1), considera-se provada a exclusão.
3) Se não há nenhuma exclusão, avança-se para o cálculo da probabilidade de paternidade = Inclusão
Hoje em dia é consensualmente aceite que devemos ter mais de 2 exclusões de 1ª ordem para excluir a
paternidade. E isto porque, quando trabalhamos com marcadores genéticos, a taxa de mutação é de 1/1000.
(E isto apesar de que são mais polimórficos.) Há também que ter em conta que nos marcadores clássicos, a
taxa de mutação é inferior.

NOTA: Quando há poucas exclusões e a taxa de probabilidade da paternidade é muito elevada o que pode
acontecer é o pai não ser o sujeito, mas o seu irmão ou familiar próximo. Nestes casos, o médico diz ao
tribunal que o pai poderá ser alguém próximo ao sujeito que foi analisado.
Exemplo 1:

A – Inclusão
B – Exclusão de 1.ª ordem (existe no filho um alelo que não existe nem no pai nem na mãe – alelo 11)
C – Inclusão
D – Exclusão de 1.ª ordem (pela regra antiga: já dizíamos que este não é o pai da criança – hoje já não)
E – Inclusão

A probabilidade de paternidade calcula-se com base no Teorema de Bayes


É um teorema de probabilidade condicionada. Trata-se de saber que probabilidade tem o pretenso pai de ser
o verdadeiro pai (X), quando comparado, ao acaso, com outro homem da população de referência. Ou seja,
com a probabilidade de que outro homem da população seja o verdadeiro pai (Y).
Ou seja, não conseguindo excluir a paternidade, procede-se ao calculo da probabilidade da paternidade –
consiste em comparar a probabilidade que tem o pretenso pai de ser o pai da criança (X), quando
comparado com outro homem qualquer da população (Y).

X=1
Probabilidade de ser filho do pretenso pai = 1
Em qualquer laboratório a nível mundial, há duas formas de apresentar o resultado da probabilidade de
paternidade:

➔ A probabilidade de paternidade pode ser expressa em termos (Equação de Essen Moller) ou como
índice de paternidade e será sempre acompanhada pela respetiva tradução verbal de Hummel (hoje já
não).
Quanto ao valor de Y → é necessário conhecer as frequências alélicas (frequência do alelo transmitido pelo
pai na população). Para isso é necessário estudar previamente as populações de referência.

O pai: a) em 50% dos casos dá o alelo 2; em 50% dos casos dá o alelo 1.


LOGO: 50% dos filhos serão 2+1; e 50% serão 1+1

CONCLUSÃO:
➔ Quanto mais baixo for o denominador, o valor final aumenta – ou seja, quanto mais raro for o
alelo transmitido pelo pai na população, mais alta é a probabilidade da paternidade.
A escala de Hummel já não é usada e tem apenas valor de orientação para o magistrado.
➔ Um bom laboratório deve, pelo menos, atingir 99.99% de probabilidades. Não deve o magistrado
receber nenhum relatório de paternidade que não atinja 99.99%.

Quando temos vários marcadores, a fórmula será a seguinte:

Quanto marcadores têm de ser estudados para atingir esse valor?


Isso depende das circunstâncias e se os alelos são muito ou pouco frequentes na população.
Há duas razões pelas quais um bom laboratório pode não conseguir atingir esse valor de 99,99% de
probabilidade:
1. por exemplo, quando o pai e o filho já morreram e o material está degradado e só se conseguem
estudar 5 ou 6 marcadores mais pequenos, sendo natural que a probabilidade seja baixa;

2. o pretenso pai está desaparecido e utilizam-se familiares afastados, já que quanto mais afastado,
mais baixa a probabilidade.

Procedimento para a realização de provas de investigação da paternidade:


1) O Instituto marca uma determinada data em que devem comparecer o pretenso pai, a mãe e o
filho;
2) São identificados os indivíduos presentes a exame e obtém-se o seu consentimento por escrito para
a realização da perícia.
3) Faz-se uma pequena colheita a cada um;
4) Evita-se a contaminação das amostras, garante-se a sua identificação correta e mantém-se a cadeia
de custódia.
5) O laboratório faz as diversas análises dos antigénios eritrocitários, enzimas, proteínas e ADN;
6) Envio do relatório.
As amostras que podem ser utilizadas são variadas:
a. em caso do pretenso pai estar falecido, podem utilizar-se restos cadavéricos;

b. se o pretenso pai está ausente, podem ser utilizadas amostras sanguíneas dos familiares;

c. em casos de violação, amostras intra-uterinas.

Podemos também afirmar que numa


população de grande tamanho, quando
entra um indivíduo, não produz efeitos
muito significativos, mas já os produz se
a população for pequena.

CASOS PRÁTICOS
1.º sistema – Inclusão para os 2
2.º – Inclusão para Diogo; Exclusão para o Miguel
3.º - Inclusão; 4.º - inclusão; 5.º - inclusão; 6.º - inclusão; 7.º - inclusão
8.º - Inclusão para o Diogo + Exclusão para o Miguel
➔ Já temos duas exclusões para o Miguel
CRIMINALÍSTICA E IDENTIFICAÇÃO
Há um conjunto de regras para a colheita de amostras que se têm de cumprir, e que se relacionam
diretamente com o sucesso do resultado das análises forenses.
➔ Se a colheita não for bem feita, muitas vezes, isso invalida o sucesso da investigação.
Cabe ao Procurador orientar os agentes da polícia para que tais regras sejam cumpridas.

Coloca-se a questão de saber quais os cuidados a ter nas colheitas das amostras de material genético:
o No exame local
o No exame da vítima
o E no exame do agressor

Tipos de vestígios mais frequentes:


o Manchas de sangue
o Manchas de esperma
o Pelos
o Saliva
o Dentes, etc.

CUIDADOS A TER NA COLHEITAS


1) Evitar a degradação da amostra
Como é que se pode degradar uma amostra biológica para identificação genética? Normalmente, o que é que
destrói o ADN?
➔ A ação bacteriana degrada o ADN.

O que fazer para evitar uma proliferação bacteriana?


Evitando:
a. Calor
b. Humidade

Devemos evitar colocar uma amostra que colhemos no local do crime num local com calor e humidade.

 Não colocar a amostra em saco plástico.


✓ A amostra deve ser colocada dentro de um envelope de papel.
✓ E, se não for possível enviar a amostra imediatamente para o laboratório → colocar num local
frio/frigorífico.
✓ Se não for possível enviar a amostra para o laboratório nas 40 horas seguintes → deve ser
congelada.

2) Evitar a contaminação da amostra


Como é que se contamina uma amostra?
A. A própria pessoa que está a fazer a colheita - Se o objetivo é fazer a análise do ADN, a amostra
ficará contaminada se houver mais do que um ADN presente na mesma amostra.
Fontes de contaminação mais comuns:
i. Falar para cima da amostra
ii. Espirrar para cima da amostra
iii. Tossir para cima da amostra
iv. Mexer na amostra com as mãos, sem luvas
v. Deixar cair um cabelo para cima da amostra
Quem está a fazer a colheita deve:
✓ Usar luvas
✓ Usar máscara
✓ Usar touca
✓ Fato protetor/bata
✓ Não falar
✓ Não tossir
✓ Não espirrar
Evitando, assim, que o seu ADN contamine o ADN que se está a colher (até porque em laboratório, o ADN que
mais facilmente aparecerá será o ADN frescos da pessoa viva que fez a colheita, e não o ADN da pessoa morta que já
pode estar a degradar-se e que já não é fresco).
B. Outra grande fonte de contaminação a evitar: É a contaminação cruzada entre amostras – se
houver duas manchas de sangue, à partida, devemos sempre partir do principio de que são de pessoas
diferente; NUNCA SE DEVEM MISTURAR.
Assim:
✓ Não utilizar o mesmo material de recolha de provas para amostras diferentes

✓ Cada amostra deve estar isolada em recipientes separados e diferente

3) Manter a cadeia de custódia


É preciso garantir que, entre a colheita e o resultado final do laboratório, a amostra não foi trocada pelo
caminho – ou seja, interessa garantir que a amostra colhida corresponderá ao perfil genético do resultado
final.
Esta é uma condição de admissibilidade da amostra da amostra como meio de prova em tribunal.
➔ Assim, basta uma possibilidade de que a amostra possa ter sido trocada para a invalidar.
Em suma:

Valorização da prova em criminalística


Suspeito VS. Mancha
Ou é igual, ou então o material genético da amostra não pertence
ao suspeito – como é o caso!
Há aqui uma exclusão.
Neste caso, há uma coincidência, mas não podemos ter a certeza de que a amostra pertença àquele individuo,
porque pode haver outro indivíduo que tenha o mesmo perfil.
De novo:
o Quanto mais raro for aquele perfil na população, maior a probabilidade de a amostra pertencer ao
suspeito.

o Por seu turno, se aquele perfil for muito comum, menor será essa probabilidade.

Likelohood Ratio

O LR é tanto maior quanto mais baixa for a frequência do perfil na população. Que população? É o
tribunal que determina a população que se deve comparar.

O resultado será depois valorizado qualitativamente com base na escala de EVVET.


➔ Todavia, entende-se que esta escala também não tem valor, na medida em que deverá ser o
magistrado a qualificar o resultado do LR.
O perito deve apresentar o valor quantitativo, sendo que a valorização qualitativa deve ser levada a
cabo pelo próprio magistrado.

Bases de dado e tipos de ADN


- O cromossoma Y é muito importante nos crimes sexuais.
- O ADN mitocondrial é utilizado para investigação da maternidade e para estudar células sem
núcleo (como o cabelo e a pele escamada). Trata-se de um ADN que resiste muito à degradação.
- O cromossoma Y é igual em toda a família (num crime sexual é muito complicado porque se
conclui que todos os homens da família são suspeitos)
- Deste modo, o cromossoma Y e o ADN mitocondrial são considerados marcadores de linhagem
(árvore genológica)

!! PERGUNTA FREQUENTE NOS EXAMES:

Servirá o cromossoma Y para fazer uma investigação de paternidade?


➔ Sim, desde que a criança seja do sexo masculino, porque o pai só passa o cromossoma Y ao filho se
o filho for do sexo masculino, porque o cromossoma Y só existe nos homens.

cromossoma Y tem especialmente na criminalística biológica uma grande importância – no caso dos crimes
sexuais.
Quando há uma violação – encontramos uma mistura de sémen do agressor com as células vaginais da
vitima.
Ora, às vezes, as células vaginais da vitima são em quantidade muito superior ao sémen do agressor. Logo,
se vamos estudar os marcadores autossómicos (que são os 22 pares que vimos supra), temos uma mistura em
que as vezes a quantidade da vitima é muito superior à do agressor. Assim, o cromossoma Y tem um grande
virtude quando a vítima for do sexo feminino – as mulheres não têm cromossoma Y e os agressor, se for
homem, tem cromossoma Y. Assim, se aparecer cromossoma Y na amostra colhida, este será do agressor (e
não da vítima).

O cromossoma Y de um determinado individuo, se não houver mutações, será igual ao do seu pai, e ao do
seu avô paterno.
a. Assim, se houver uma violação e o cromossoma do suspeito for diferente do cromossoma encontrado na
vítima da violação → não foi aquele individuo.
b. Já se o cromossoma Y encontrado na vítima for igual ao do suspeito:
- Pode ter sido o suspeito a cometer o crime de violação
- Mas também poderá ter sido o seu pai, o seu irmão, o tio paterno dele, etc. – porque o cromossoma
Y, à partida (exceto e tiver ocorrido alguma mutação) é igual em todos os membros do sexo
masculino da família.

EM SUMA:
O cromossoma Y é muito bom para excluir (se for diferente), mas para incluir, inclui uma família inteira →
e o mesmo sucede no âmbito das investigações de paternidade.
TOXICOLOGIA FORENSE
(pag. 40 da sebenta)
As 3 Delegações têm:
 Área da patologia (das autopsias médico-legais)
 Área da anatomia patológica (realiza exames complementares na sequencia de uma autópsia médico-
legal)
 Área da clínica médico-legal (área dos “vivos” – onde se fazem os exames no âmbito do direito penal,
civil, do trabalho, etc.).
A esta junta-se:
- A área da psicologia
- A área da psiquiatria
(sempre que há perícias complementares ou específicas desta área)
 Serviço de química e toxicologia forense
 Serviço de genética e biologia forense

Os gabinetes médico-legais e forenses:


 Não têm serviços de toxicologia
 Não têm serviços de genética forense
 Não têm a área da anatomia patológica
Têm:
✓Área da clínica
✓Área da patologia
Se houver necessidades de algum exame complementar de toxicologia ou de genética, as amostras são
recolhidas e enviadas para a delegação respetiva.
➔ Assim, as perícias toxicológicas apenas são realizadas no âmbito dos serviços e nunca nos
gabinetes médico-legais (estes apenas realizam perícias no âmbito da patologia e clínica forense
para evitar a deslocação dos cadáveres e pessoas às delegações).

➔ A forma como se reage às diversas substâncias varia de indivíduo para indivíduo.

Fatores que influenciam a toxicidade


Nas palavras do pai da toxicologia, Paracelsus, “todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que
não seja veneno. A dose certa diferencia o veneno do remédio”.
A este respeito importa ainda convocar a “toxicocinética”, a qual assume aqui centralidade indiscutível.
= Conjunto de processos a que uma substância tóxica é submetida aquando da sua passagem pelo
organismo, os quais vão controlar quer o grau de acesso da substância ao seu local de ação específico nos
diversos tecidos, quer a extensão da sua ação.
Dentre os referidos processos estão:
(a) a absorção,
(b) a distribuição,
(c) o metabolismo e
(d) a eliminação.
Significa isto que, apesar de verificados iguais fatores de toxicidade (inter-individuais), poderá a toxicidade
divergir em duas pessoas em virtude da ocorrência de diferentes processos tóxicocinéticos – portanto, a
variabilidade é também intra-individual.

❖ A toxicologia é o estudo da interação entre os xenobióticos e os sistemas biológicos com o


objetivo de determinar qualitativamente o potencial do xenobiótico para induzir danos, de onde
resultem efeitos adversos para os diferentes organismos.
Investiga, igualmente, a natureza destes efeitos adversos, a sua incidência, o seu mecanismo de
produção, os fatores que influenciam o seu desenvolvimento e a sua reversibilidade e desenvolve os
tratamentos para as intoxicações por xenobióticos.
➔ Deste modo, podemos dizer que a toxicologia é a ciência que estuda as substâncias tóxicas e as
alterações que estas produzem no organismo, com o fim de prevenir, diagnosticar e tratar os seus
efeitos nocivos.
Mais de metade do trabalho efetuado nesta área é em pessoas vivas (isto porque, os exames de toxicologia
são pedidos, na maior parte dos casos para exclusão da possibilidade de presença de substâncias).
➔ Depois de uma autópsia, há lugar à realização de exames complementares de matéria patológica e
toxicológica (álcool e drogas de abuso é obrigatório).

Distinção entre tóxico e veneno


• Tóxico – é todo o agente (químico ou físico) suscetível de gerar efeitos nocivos sobre os seres vivos.

• Veneno – é aquela substância tóxica empregue de um modo intencional – aqui são consideradas as
intoxicações homicidas ou suicidas, mas nunca acidentais.
Para se poder dizer que houve um envenenamento é preciso dizer-se se a morte foi ou não causada por uma
intencional interferência de tóxico. Logo: toxicologia analítica, criminalística e depois a parte jurídica.

Toxicologia analítica – visa identificar substâncias tóxicas.

Considerações gerais
O toxicologista “faz o que lhe mandam”, mas se se aperceber de algo, deve comunicar ao médico no sentido
de poder haver outros exames importantes a realizar. Para passar à quantificação de tóxicos, temos de
recorrer a padrões. Só há aqui identificação do tóxico qualitativamente – por exemplo: heroína (e não o tipo
específico.

Tipos de intoxicação
• Aguda – é a mais frequente, aqui entra a importância da toxicologia clínica.

• Crónica – o indivíduo vai estando exposto ao tóxico, e a sua concentração vai-se acumulando
progressivamente.

Investigação toxicológica
O sangue é a amostra de eleição de toxicologia (colhida nas extremidades – sangue periférico; isto porque o
sangue cardíaco pode ser contaminado com os órgãos adjacentes ao estômago).
As substâncias mais procuradas são o álcool, drogas e medicamentos. Se há conhecimento prévio de tóxico
envolvido, empregam-se meios específicos para identificação e quantificação dele. Porém, a situação mais
frequente é ser o tóxico desconhecido, o que implica uma metodologia complexa.

Assim, a investigação toxicológica consiste no conjunto de processos analíticos com o objetivo de separar,
detetar, identificar e quantificar uma ou mais substâncias, principalmente consideradas tóxicas.

• Atualmente o campo de investigação da toxicologia é muito vasto:


- Cadáver
- Indivíduo vivo – análises hospitalares são prioritárias
- Atividade laboral
- Meio ambiente

• Dificuldades associadas às análises toxicológicas:


- Dificuldades associadas às implicações judiciais
- Limitações associadas à qualidade e quantidade de amostra
- Diversidade de substâncias existentes possíveis de provocarem efeitos tóxicos

• Tipos de amostras:
a) Sangue – periférico, colhido nas extremidades porque este é mais útil para a identificação de exames e
especialmente para quantificar (confirmar/quantificar). No caso de envenenamento por tóxico, pode
analisar-se o sangue cardíaco e o estômago (conteúdo gástrico), mas para quantificar/confirmar usa-se o
sangue periférico.
b) Urina
c) Bílis – importante quando não há urina
d) Pulmão – suspeita de tóxico volátil
e) Rins – intoxicações crónicas por metais
f) Fígado – importante quando não existe sangue; porque faz a biotransformação da maioria dos tóxicos
g) Cérebro – mortes por inalação de solventes
h) Cabelo – informação toxicológica muito anterior à morte
i) Humor vítreo – útil para análise de álcool etílico (é resistente à contaminação bacteriana)
j) Amostras não biológicas – ajuda no esclarecimento dos acontecimentos
Note-se que, o exame do corpo na autópsia (patologia forense) não permite ao perito tirar conclusões
distintivas sobre as substâncias responsáveis pela morte.

• Cadeia de custódia em toxicologia forense


O princípio básico é assegurar que tudo o que fazemos é fiável, credível e não pode ser posto em causa.
Em cada ramo os cuidados são diferentes – por exemplo, em genética há maior risco de contaminação, em
toxicologia é muito importante rotular e etiquetar.
Passos:
1. Abertura do processo
2. Seleção e divisão de vísceras de acordo com os exames a realizar
3. Extração das substâncias a analisar
4. Deteção, identificação, confirmação e quantificação por técnicas analíticas e específicas
Desde que se faz a recolha da amostra até ao seu processamento, temos de respeitar uma série de passos que
nos dão garantias de que não houve violação:
1. Colheita das amostras para análise: temos e saber que amostras é que se colhem, o seu tipo e
quantidade
2. Acondicionamento das amostras: atualmente os meios de acondicionamento está uniformizado
3. Transporte das amostras

Depois de tudo isto, a amostra entra no serviço e temos de verificar se as amostras estão frescas, para depois
registar. A primeira coisa a fazer no serviço de toxicologia é avaliar se a cadeia de custódia foi cumprida.

Conclusão: a cadeia de custódia pretende que se tenha um controlo de tudo o que se fez e que todo o
resultado é obtido com confiança e certeza. É necessário:
1. Colheita adequada a cada tipo de análise
2. Contentores adequados para cada tipo de amostra
3. Fechados e selados
4. Mantidos ao abrigo da luz e a baixas temperaturas
5. Requisições devidamente preenchidas
6. Etiquetas com identificação inequívoca, conteúdo, proveniência, data e hora da colheita

O facto de a cadeia não ser cumprida nem sempre significa adulterações. Mas é algo muito importante para
garantir que a análise será bem feita.
• Medicamentos
Um medicamento é toda a preparação farmacêutica contendo um ou mais princípios ativos destinado ao
diagnóstico, prevenção ou tratamento de doenças ou dos seus sintomas ou à correção de funções orgânicas.

➔ Os medicamentos são tóxicos potenciais se administrados em dose tóxica.


Nos últimos anos tem havido um grande aumento de intoxicações medicamentosas – resultante da facilidade
de aquisição e decorrente da automedicação.

✓ Ocorrem erros de medicação – por exemplo: repetirem a dose de xaropes ou antibióticos.


✓ Acidentes com crianças – atraídas pelas cores dos comprimidos
✓ Utilização suicida – a própria pessoa quer pôr fim à vida
✓ Utilização homicida – uma pessoa matar outra. Aqui é difícil haver uma administração da dose letal
sem que a vítima se aperceba. Mas pode sim estar associada a uma tentativa de diminuição da
resistência da vítima para a execução de delitos (importante não só quando não há lesões aparentes).

Quais os fármacos mais detetados nas intoxicações forenses?


1. Psicotrópicos
1.1. Antipsicóticos (ex: halopenidol)
1.2. Ansiolíticos (benzodiazepinas, que tem um efeito muito semelhante ao álcool)
1.3. Hipnóticos não barbitúricos
1.4. Antidepressivos (tricíclicos)

2. Antipiréticos e Analgésicos
2.1. AAS e derivados
2.2. Paracetamol
3. Antiepiléticos, Antihistamínicos e Digitálicos

Monóxido de Carbono
Pode ser detetado morte em caso de suicídio, acidente e homicídio pela utilização deste gás. Trata-se de um
gás incolor, inodoro, insipido, não corrosivo e de elevada difusibilidade.

• Drogas de abuso
Depressores do Sistema Nervoso Central (SNC)

a) Ópio
b) Morfina – a morfina é o protótipo dos agonistas opioides; tem a capacidade de aliviar a dor
intensa com notável eficácia; é o padrão a partir do qual todos os fármacos com acentuada ação
analgésica são comprados; sendo o principal alcaloide do ópio, está presente numa concentração de
cerca de 10%.

➔ A estrutura básica da morfina pode ser alterada levando a modificações drásticas nos efeitos da
droga.
A acetilação de grupos hidroxilo podem levar à síntese de heroína (diacetilmorfina), com muito maior
capacidade para atravessar a barreira hemato-encefálica.
➔ No cérebro, no entanto, a heroína é convertida em morfina e monoacetil morfina.

c) Heroína – a pior droga é a heroína (produto derivado da morfina – a heroína entra mais
facilmente no cérebro, mas atua como morfina).
Note-se que é necessário verificar se o indivíduo foi medicado com morfina por exemplo. Mas é importante
nesses casos saber a origem e a (i)licitude da morfina.
Se se a heroína transformasse em morfina muito rapidamente. Daí que seja essencial o exame do local
(examinar a colher, a seringa).
Havendo suspeita de intoxicação por heroína – procedimento:
local da morte + tudo o que estiver perto do cadáver + características/antecedentes do indivíduo + autópsia +
análise toxicológico.

• Exame do Hábito Externo no caso de heroína


1. Estigmas de punção recente
2. Cicatrizes
3. Abcessos e úlceras
4. Marcas do trajeto da agulha
5. Escoriações cutâneas

• Exame do Hábito Interno no caso de heroína


1. Aspetos específicos de asfixia
2. Edema e congestão (+ frequente)
3. Gânglios linfáticos aumentados

Estimulantes do SNC
a. Anfetaminas
Existem anfetaminas naturais (plantas medicinais) e anfetaminas sintéticas (a mais conhecida é a MDMA).
Os locais típicos de consumo destas substâncias são em raves, discotecas, festivais de música e “house
parties”.

b. Cocaína
A cocaína é o principal alcalóide encontrado nas folhas do arbusto da coca. É um estimulante do SNC.
Em 2500 a.C. a folha da coca era utilizada pelos povos da América do Sul, considerada um presente dos
Deuses apenas acessível às elites. Era utilizada em várias cerimónias, como anestésico local, dores de
estomago, combater a fadiga e a fome. Com o tempo foi sendo utilizada para o tratamento de diversas
doenças e, mais tarde foram surgindo bebidas.
➢ Vias de consumo: injetável, pulmonar, oral e inalatória.

Exame do Hábito Externo no caso da cocaína:


1) Midríase: dilatação da pupila
2) Lesões traumáticas provocadas por convulsões (língua e lábios)
3) Perfuração do septo nasal
4) Sinais de punções venosas recentes, equimoses (manchas roxas na pele)
5) Necrose extensa secundária a injeção (mancha negra na pele)
6) Queratite
7) Erosões do esmalte
8) Calo na última falange do polegar
9) Queimaduras superficiais, hiperqueratose e escurecimento palmar

• Drogas alucinogénias
a) Carabinóides
b) LSD
A partir de 2004, o seu consumo em Portugal aumentou exponencialmente. Temos várias espécies de planta
cannabis, com várias concentrações. A concentração de THC que existia há uns anos atrás não tem nada a
ver com a que existe hoje – um consumidor de cannabis nos dias de hoje está exposto a doses francamente
mas elevadas do que nas anteriores décadas de 60 ou 70.
➔ É consumido como erva (marijuana), a resina, o haxixe e o óleo extraído da planta.
De facto, existem vários fatores/variáveis que podem afetar as propriedades psicoativas dos carabinóides: a
potência do cannabis usado (depende da % de THC existente), a via de administração, a técnica de fumar, a
dose, a experiência e expetativa do consumidor, bem como a vulnerabilidade biológico dos efeitos da droga.
O THC é o princípio ativo que se transforma no organismo em OH-THC e atua em dois recetores do
cérebro.
O consumo de cannabis provoca os seguintes efeitos corporais:
- Olhos: vermelhidão, diminuição da pressão intra-ocular;
- Boca: secura
- Pele: sensação de calor e frio
- Coração: aumento da frequência cardíaca
- Músculos: relaxamento
Tem como efeitos fisiológicos:
- Sensação de prazer,
- Bem-estar,
- Euforia,
- Intensificação da consciência sensorial,
- Maior sensibilidade aos estímulos externos,
- Ideias paranoides,
- Confusão de pensamentos,
- Sonolência, relaxamento,
- Instabilidade no andar,
- Alteração da memória imediata,
- Diminuição da capacidade para a realização de tarefas que requeiram operações múltiplas variadas,
- Diminuição da capacidade de reação e défice na aptidão motora ou interferência na capacidade de
condução de veículos e outras máquinas.

Consumo atual
Nos últimos anos novas drogas estão a entrar no mercado a um ritmo assustador. Estas mimetizam os efeitos
de drogas já conhecidas, não estão previstas na lei (estatuto de legalidade), são vendidas em lojas online ou
lojas físicas sobre várias formas e a sua toxicidade não está estudada.
➔ O aumento do consumo destas substâncias foi relatado quase globalmente. Constituindo, por isso,
um perigo para a saúde pública.
Verificou-se um aumento significativo da recorrência aos serviços de emergência médica, casos de
internamento e mortes. Traduzindo, dessa forma, num desafio para os sistemas de controlo de narcóticos
a nível nacional, regional e global.
o Smart shops: são estabelecimentos comerciais especializados na venda de substâncias psicoativas,
originárias da Holanda. E Portugal a primeira smart shop abriu em 2007. Contudo, em 2013, o
Decreto-Lei nº54/2013 levou ao encerramento de todos estes estabelecimentos em território nacional.
Efetivamente, os efeitos produzidos pelas drogas ilegais e pelas legal highs são os mesmos e ambas podem
levar à morte.

4. Consumidores – podem ser:


a. experimentais,
b. ocasionais,
c. habituais,
d. compulsivos
e. e dependentes.

Quando é que há overdose? A overdose é o excesso de dosagem.


Também podemos ter uma morte por falência multiorgânica motivada por um consumo continuado ao
longo dos anos.

➔ Através da medicina legal conseguimos apurar se o consumidor é esporádico ou habitual.

Enquadramento legal nacional e internacional – drogas

Em 2011 ocorreu uma epidemia na ilha da Madeira, com a ocorrência de 200 internamentos, 308
entradas nos serviços de urgência e 4 mortes. O Decreto-Legislativo Regional nº15/93 adiciona à lista de
substâncias proibidas todas aquelas incluídas nas listas de novas substâncias psicoativas publicadas
anualmente pela OEDT.
Previu um regime cautelar de suspensão de venda por 18 meses de todas as substâncias que possuem
estrutura química ou efeitos biológicos similares às incluídas no DL. Obrigou também à identificação de
todos os constituintes psicoativos na rotulagem de produtos disponibilizados ao público.

O Decreto-Lei nº54/2013 proíbe o comércio e publicidade de substâncias não especificamente


enquadradas e controladas ao abrigo de legislação própria que, em estado puro ou num preparação, podem
constituir uma ameaça para a saúde pública comparável à das substâncias previstas na legislação.

A Portaria nº154/2013 contém uma lista de novas substâncias psicoativas que se anexa ao referido DL
(159 substâncias divididas em 7 grupos).

• Álcool
Efeitos do álcool:
a) Pele:
– Dilatação vascular cutânea
– Flush da face, pescoço e tronco
– Em doses elevadas: palidez da pele por insuficiência circulatória do tipo do choque

b) Rim:
– Poliúria, ↑ acidez urina
– Inibe libertação de HAD

c) Fígado:
– Hepatotóxico direto
– Esteatose e cirrose

d) Cardiovascular:
– Vasodilatação
– Elevação da TA
– Aumento do débito cardíaco
– ↑↑ Quantidades: asfixia, impede circulação, choque e analgesia

e) Tubo Digestivo:
– ↑ Fluxo de saliva e suco gástrico
– Inibe motilidade, secreções
– Vómitos de origem central

Efeitos no sistema nervoso central (SNC)


a) Deprime todas as áreas e funções do cérebro

b) Depressão nos centros inibitórios mais elevadas (libertação dos mecanismos normais de controlo social e
comportamental = efeito inibidor e euforizante)

c) Depressão das áreas de integração mais elevadas (alteração do raciocínio, da discriminação fina, da
capacidade de decisão e da função motora)

Altera as capacidades cognitivas e psico-motoras. Levando ao aumento dos tempos de reação, menor
capacidade e rapidez de decisão, diminuição do poder de diversificar a atenção, descoordenação dos
movimentos; comportamentos desviantes: suicídios ou criminalidade (ofensas corporais, homicídios,
agressões sexuais).
➔ Com mais de 0,45g/ml o álcool leva à morte. Entre 0,35 e 0,50 está em estado de coma.

Em cada pessoa a reação é diferente, pelo que se verifica uma acentuada variabilidade inter-individual.

• Comportamentos de risco:
A. Os acidentes de viação podem ocorrer:
a. por fator técnico (10-15% dos casos)
b. ou por fator humano (85- 90% dos casos).

Sempre que um indivíduo morre na estrada tem de se colher sangue para avaliação da alcoolemia. O Decreto
Regulamentar nº18/2007, de 17 de maio, define o processo de fiscalização ao álcool e às substâncias
psicotrópicas.

Esta fiscalização pode ser feita:


a. pela GNR:
a. exame em ar expirado, no caso do álcool (drogas de abuso) – teste qualitativo:
i. Se der abaixo de 0,5 mg/L, o agente de autoridade manda seguir viagem
ii. Se der acima ou igual a 0,5mg/L (ou ao limite do condutor encartado) - não fica por
aqui, pois este é um teste meramente qualitativo, de triagem
1. Ou os agentes de autoridade têm um equipamento de avaliação quantitativa no
veículo, ou encaminham o individuo ao posto mais próximo para fazer um
novo teste em ar expirado no equipamento quantitativo.

b. pela PSP, no caso do álcool


a. exame em ar expirado, no caso do álcool (drogas de abuso)
b. Sucede o mesmo que foi descrito no caso da GNR

c. e pelo INML no caso de drogas.

A GNR e a PSP podem fazer:

1. Teste de ar expirado
- 1º teste qualitativo – indica a presença
- 2º teste quantitativo – quantifica a TAS

→ O individuo pode alegar determinadas condições de saúde para negar realizar o teste em ar expirado.
→ TODAVIA, não pode negar o teste de confirmação em sangue.

Tem de haver um exame de confirmação ao sangue que só a medicina legal pode fazer. No caso das drogas
há obrigatoriedade de confirmação. Apenas o INML pode fazer análises toxicológicas para determinação do
álcool.

➢ Se o individuo não conseguir expirar suficientemente → passa logo para o exame de sangue.

➢ Quando, em vez de ser o agente de autoridade a parar alguém para fazer uma operação STOP, for no
âmbito de um acidente de viação → faz-se logo exame de sangue, sem haver teste de ar expirado (é
realizado diretamente nos serviços de saúde – hospital, por exemplo, - para onde é encaminhado o
acidentado) – estes exames são obrigatórios, no caso de acidente de viação.

Assim, e mediante a requisição da entidade fiscalizadora (GNR ou PSP), o Estabelecimento de Saúde,


deve promover a realização da colheita de sangue para análise de quantificação da Taxa de Álcool no
Sangue.

2. Teste da saliva – para as drogas de abuso

a. O agente de autoridade encarregue da fiscalização pode ter o aparelho do teste da saliva no veículo;
a. Mesmo que dê positivo – ao contrário do ar expirado – não pode haver lugar à aplicação de
nenhuma sanção no local (há uma positividade em saliva)
b. O agente de autoridade encaminha o condutor para o serviço de urgência do Hospital;
c. É recolhida a amostra de sangue
d. Aqui é obrigatória a confirmação em sangue

b. Ou pode não ter e aí terá de encaminhar o condutor a um hospital para fazer esta mesma triagem:
a. Em urina
b. Ou pode só pedir a colheita de sangue, na medicina-legal.

EM SUMA:
• Em ar expirado → não é obrigatória a confirmação em sangue
• Em saliva → é obrigatória a confirmação em sangue

NOTA:
Aquilo que nos influencia é em sangue – “sangue” é a amostra de eleição.
Só se pode sancionar uma pessoa que estava a conduzir, ou no âmbito de um acidente laboral, se tiver
determinação de substancias em sangue (o ar expirado só acontece no âmbito do código da estrada); não é
em saliva, nem urina, etc.

o No direito do trabalho, em caso de acidentes, não há obrigatoriedade de determinação das


substâncias no organismo.

Mas as boas práticas de medicina legal determinam que tal seja obrigatório, para que os processos não
fiquem parados.

o Alcoolémia cadavérica

É necessário fazer um cálculo retrospetivo da alcoolémia.

Este visa determinar a concentração de álcool no sangue num determinado momento prévio.
Por exemplo: faz-se o tete de alcoolémia na sexta-feira às 20h (quando o indivíduo faleceu), mas o acidente
deu-se na sexta-feira às 17h – pelo que se pretende saber qual o nível de alcoolémia no momento do acidente
(e não no momento do falecimento).

➔ A fórmula é: Co = Ct + (B x T)

Co = Concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida


Ct = Concentração de álcool no sangue no momento da extração
B (beta) = Coeficiente de etiloxidação de álcool no sangue
T = Período de tempo decorrido

➔ O coeficiente de etiloxidação indica a capacidade metabólica do indivíduo, mas tem uma grande
variabilidade inter e intraindividual.

Isto é, da fase da absorção para a eliminação há uma série de fatores que influenciam essa passagem.
Nomeadamente, tipo de bebida, dose ingerida, padrão de consumo, estado digestivo, natureza e composição
dos alimentos ingeridos, patologia gastrointestinal, medicação, características genéticas, peso, idade, sexo,
estado emocional, etc.

As fórmulas para o cálculo retrospetivo são apenas aplicáveis na fase de eliminação. Para serem de maior
fidedignidade exigem diversas determinações da TAS e tao próximas quanto possível da ingestão.

➔ Dr.ª HELENA TEIXEIRA – não acredita na viabilidade destas formulas, acreditando que se deve
pura e simplesmente utilizar a amostragem recolhida do cadáver (se, no exemplo em apreço, não se
tiver recolhido qualquer amostra de sangue entre as 17h e as 20h).

Porque o B (beta) pode variar muito de individuo para individuo, não sendo os resultados destas
formulas credível.
Podem ocorrer desvios inadmissíveis.

Foram elaboradas a partir de estudos experimentais desenvolvidos em condições não correspondentes às da


prática médico-legal, nomeadamente tanatológica.
O cálculo exponencial utilizado em muitas delas leva a uma multiplicação do erro da própria determinação,
o que pode conduzir a desvios inadmissíveis. Um estudo recente (2006) mostrou que varia entre 0,095 a
0,371 g/l/h. Esta fórmula pode ser usada de um ponto de vista técnico, em que o patologista queira ter mais
uma ideia sobre o caso. Mas esta fórmula deve ser rejeitada para efeitos de limites legais em
acidentes de trabalho ou de aviação. É uma fórmula principalmente teórica, na prática legal e forense e que
não deve ser usada (é um cálculo exponencial que leva a erros inadmissíveis).

NOTA:
Está provado que a rede venosa periférica (ao contrário da arterial) é aquela que está menos suscetível a
fenómenos de distribuição post mortem.
Devemos ter diferentes tipos de sangue uma vez que as amostras não são iguais consoante os locais da
colheita.
➔ No cadáver tira-se sempre mais do que uma amostra: sangue arterial e sangue venoso – central e
periférico.

No cadáver, a concentração de etanol no sangue periférico é, teoricamente, mais representativa de


concentração existente no momento da morte, embora não necessariamente a mesma.

Existem três fatores que influenciam a concentração:


1. Difusão post-mortem do etanol
2. Amostras sanguíneas não homogéneas (coagulação – sendo que o sangue dos vasos sanguíneos
periféricos tê menor probabilidade de ter coágulos)
3. Absorção post-mortem do etanol (a absorção do etanol presente no tubo digestivo)

Logo, concluímos que o sangue venoso periférico é a amostra de eleição!

≠ Se não for possível obter sangue venoso periférico, podemos recorrer ao sangue central, mas só se se
verificarem determinados pressupostos:

1. Não pode haver putrefação (o cadáver tem estar conservado a 4ºC)


2. Tem de estar dentro do intervalo post-mortem inferior a 18 horas
3. Ausência de traumatismos tóraco-abdominais severos
4. Ausência de aspiração de vómito
5. Ausência de etanol no conteúdo gástrico

Porém, podemos não ter nenhuma amostra de sangue. Nestes casos, tem de haver uma determinação
indireta da alcoolemia (TAS=Concentração na amostra X Raxa de conversão). Há outras amostras:
a. Medula óssea: mas do ponto de vista laboratorial é muito difícil e, por isso, não se usa
b. Músculo: em Coimbra também não se usa
c. Humor vítreo: é o melhor para a exclusão (é a amostra alternativa ideal). O humor vítreo é o
líquido anatomicamente muito protegido, que se localiza por detrás do olho, ausente de fenómenos
putrefativos.
NOTA: a correlação “humor vítreo/sangue” não é fidedigna – tem intervalos brutais:
Se der negativo – o resultado é perfeitamente fidedigno para usar em Tribunal
Se der positivo só em humor vítreo – não se pode utilizar para fins legais (nomeadamente
no campo da condução rodoviária)

- Facilidade na obtenção da amostra


- Protegido dos fenómenos putrefativos e traumas
- Fluido com boa estabilidade química e fácil de processar analiticamente
- Reduzida probabilidade de contaminação por síntese post mortem
- Amostra pode ser obtida sem necessidade de autópsia

➔ Porém, tem um grande problema: tal como no ar expirado, não tem uma correlação com a taxa (do
sangue).
É, no entanto, muito importante para determinar a negatividade (ausência de álcool). Já a positividade é mais
problemática em termos de identificação. Atendemos aqui à taxa de conversão para o humor vítreo.
Mas podemos também fazer análises no humor vítreo e no sangue podendo concluir em que fase é que
estava o indivíduo (fase absorção – TAS/TAHV > 1 ou de eliminação – TAS/TAHV < 1).

➔ Outro problema é a formação e destruição de etanol no cadáver como referimos.


O etanol pode ser sintetizado ou destruído post mortem.
a) A síntese post mortem do etanol pode ocorrer no cadáver pelos microrganismos (contaminação
externa, endógena) ou pode ocorrer in vitro pelos substratos (glucose, glicerol, aminoácidos, etc).

b) A destruição não tem problema, vai diminuir a concentração. Mas a formação/sintetização é


importante, porque temos muitas bactérias nos intestinos que levam à putrefação que produzem
álcool. Isto pode ser evitado através da refrigeração do cadáver e das amostras.
Também por isso há sempre repetição do exame, no mesmo dia ou 1 a 2 dias depois.
Note-se que basta o início da putrefação para que o patologista negue o exame de alcoolemia. Contudo, se
fizer e der negativo, pode seguir. Se der positivo, o patologista deve indicar que não deve ser indicada para
limites legais.

Objetivos da Toxicologia Forense


a) Segurança no trabalho (álcool, drogas e medicamentos)
b) Comportamentos desviantes: suicídios e criminalidade (ofensas corporais, homicídios e agressões
sexuais)
• Perícia toxicológica

➔ Temos assim que recorrer à análise toxicológica para, face à interpretação de resultados, determinar
se está em causa um acidente, suicídio, homicídio ou morte relacionada com o consumo.
A perícia toxicológica requer vários procedimentos de divisão de amostras, extração e de purificação. É
muito importante aqui o exame do local (colheita de vestígios biológicos e não biológicos).
É importante recolher informação social junto de familiares e/ou amigos ou vizinhos da vítima,
questionando nomeadamente:
- Sintomas antes da morte? Medicação? Qual? Quantidades? Desde?
- Consumo de drogas? Tipo? Vias? Desde?
- Antecedentes patológicos? (doença psiquiátrica?)
- Tentativas de suicídio anteriores? Quantas? Meios empregues?
- Carta ou bilhete de despedida?

Nos casos de suspeita de morte por intoxicação, o perito deve dar especial atenção à informação
circunstancial da morte e material encontrado junto da vítima! Tais como:

1. Restos de vómito – na vítima (corpo, roupa suja de vómito) e no local onde foi encontrada;

2. Cheiro ou odores no local (intoxicação por gases, etc.); torneira de gás aberta/fechada

3. Presença de braseira ou qualquer outra fonte produtora de monóxido de carbono

4. Janelas e portas abertas/fechadas

5. Existência de dispositivos para recolher gases de combustão de motores (exemplo: mangueira


ligada ao cano de escape)

6. Presença de outros elementos indiciadores de morte por intoxicação

7. Seringas/agulhas, algodão e limão

8. Tampas de garrafas, colheres, pratas, cachimbos

9. Embalagens de medicamentos

10. Frascos ou contentores de outros xenobióticos (pesticidas, outros produtos químicos)

Exame do hábito externo e interno


o Do hábito externo – verificar o cheiro:
a) xilol (organofosforados)
b) a amêndoas amargas (compostos cianídricos)
o Do hábito interno – se houver odor a amêndoas amargas, em casos de suspeita de intoxicação por
cianeto, a cavidade craniana deve ser aberta logo de início uma vez que este odor se encontra bem
evidente nos tecidos cerebrais. Mas será sempre verdade?

Exame do corpo na autópsia


Resultados da patologia forense: as lesões macroscópicas ou microscópicas são apenas indicativas de
determinado tipo de intoxicação e carecem de confirmação toxicológica.
O que significa que os aspetos lesionais que podem ser objetivados durante a autópsia (quer do hábito
interno ou externo) em que se suspeita de intoxicação, não permitem ao perito médico tirar conclusões
definitivas sobre a(s) substância(s) responsáveis por determinada morte.

Dados da toxicologia forense


Não existe substituto para uma inequívoca identificação e/ou quantificação de uma substância em amostras
biológicas para explicar a lesão com razoável grau de probabilidade científica.

Quem pode pedir análises à toxicologia?


✓ Os patologistas (no âmbito de uma autópsia médico-legal):
o Acidente de viação – é obrigatório (álcool e drogas)
o Acidente laboral – não é obrigatório, mas convém
o Quando houver suspeitas (por alguma razão)

✓ A clínica forense
✓ Hospitais (são prioritários)
✓ Análises particulares
o Condicionantes:
▪ Não se podem levar amostrar biológicas de ninguém
▪ Amostras não biológicas: se se constatar tratar-se de uma substância ilícita, deixa de
ser uma análise particular, porque tem de ser transmitida ao MP.

DO EXAME LOCAL
As autópsias médico-legais têm como objetivo o estudo do cadáver para ajudar num caso judicial:
a. esclarecendo a causa da morte,
b. as circunstâncias em que ocorreu a morte,
c. verificar a eventual intervenção de terceiros, sua identificação e grau de responsabilidade.
Diagnósticos diferenciais que têm de ser realizados no âmbito de uma autopsia-médico legal:
1) Morte natural (que resultam de patologias intrínsecas à própria pessoa) ou Morte violenta
(c/intervenção de um agente externo – “agente” ≠ pessoa);
2) Suicídio; Homicídio ou Acidente
3) Natureza do instrumento produtor das lesões
4) Entre lesões: causa adequada ou causa ocasional de morte
5) Etc.
O documento elaborado no final é remetido à autoridade judiciária.
➔ Este documento, juntamente com declarações recolhidas de familiares, amigos, vizinhos,
testemunhas, etc. → pode levar à dispensa da autópsia!

O perito avalia:

- O ambiente +
- As circunstâncias do local
- O corpo e o estado em que este se encontra

Tem de haver:
✓ - Colaboração com perito forense
✓ - Isolamento da área, p/ preservação do local
✓ - Deve observar-se muito
✓ - Falar Pouco
✓ - Tirar fotos
 Não se deve tomar nenhuma atitude que possa prejudicar a investigação;

- Colocar luvas, botas, máscara e bata (para evitar deixar vestígios alheios no local)
- Identificação dos presentes, em particular da pessoa que encontrou o cadáver
- Registo do local, data, hora e via de acesso
- Recolha do máximo de informação possível sobre o caso
- Registo das condições climatéricas
- Esquema e fotografias do local, áreas contíguas e do corpo (fotografias c/ escala, e s/ escala)
- Pegadas
- Marcas de arrastamento
- Marcas de pneus
- Vestuário inapropriado para o local
- Livores (manchas que se formam no cadáver em zonas de decúbito não sujeitas a pressão) não
compatíveis com a posição do cadáver
- Material estranho ao local

Exame sumário do corpo:

Sinais de certeza de morte:


a) Precoces:
a. Livores
b. Rigidez cadavérica
c. Arrefecimento
d. Desidratação
e. Autólise
b) Tardios:
a. Putrefação
*nota: sinais positivos de morte ≠ sinais de certeza de morte

Fenómenos Cadavéricos
As manobras de reanimação podem provocar lesões.
➔ Ora, no âmbito da autopsia o médico legista vai encontrar essas lesões e tem de distinguir estas
lesões de outras que tenham resultado de um eventual evento traumático.

• Recolher elementos para identificação do cadáver

Elementos identificativos:
- Aspeto facial
- Cor dos olhos e cabelos
- Pigmentação da pele
- Tatuagens
- Cicatrizes: forma, localização e idade

Outros:
- Deformações ou próteses
- Estigmas ocupacionais (calos, p.ex.)
- Estatura, sexo, idade, raça
- DNA (é o último recurso – serve para identificação APENAS se tivermos algo com que comparar)
Quando temos restos cadavéricos → Pode ter de se recorrer a técnicas especiais.

IMPORTANTE:
- Etiquetar devidamente: local da amostra, natureza da mesma, data, nome do perito, identificação do
indivíduo.
- Enviar documento detalhado (colheita e história)
- Colher material do próprio perito para tipagem
ELABORAR HIPÓTESE SOBRE A CAUSA E ETIOLOGIA MÉDICO-LEGAL
Temos de recolher elementos para elaborar uma hipótese sobre a causa e etiologia médico-legal.
MORTE NATURAL?
MORTE VIOLENTA?
- Suicídio
- Homicídio
- Acidente

Situações típicas no caso do suicídio:


- Ausência de sinais de luta
- Ausência de lesões de defesa, lesões traumáticas
- Aquisição recente de uma arma
- Ausência de desordem no vestuário e no local
- Tipo de local (domicílios, celas, locais de trabalho)

Situações típicas no caso do homicídio:


- Carta de despedida com letra diferente
- Sinais de luta, lesões de defesa, sinais de violência objetivada
- Entrada forçada
- Ausência de arma no local
- Desordem no vestuário
Situações típicas no caso do acidente:
- Ausência de lesões
- Antecedentes irrelevantes
- Informação testemunhal compatível com esta etiologia
- Exame do vestuário e do local em conformidade
- Ausência de vestígios de outrem

➔ Nunca retirar o meio de suspensão!

1) Suspensão completa: corpo totalmente no ar.


2) Suspensão incompleta: Existe um contacto mais ou menos amplo do corpo com algum ponto

Às vezes, os próprios locais onde se encontram os cadáveres levam logo à suspeição de certas situações.
Verificação e certificação do óbito
A verificação e certificação do óbito são da competência do médico e qualquer médico inscrito na Ordem
dos Médicos deverá estar habilitado a fazê-lo. – Art. 93.º do Código Deontológico da Ordem dos Médicos
Na prática, pode certificar o óbito o médico que:
1) Tenha assistido o doente nos últimos 7 dias que antecederam a sua morte
2) No caso de se tratar do seu médico assistente habitual – mesmo que o não tenha observado nas
últimas semanas, que a morte seja consequência previsível da evolução da doença.

Verificação do óbito ≠ Certificação do óbito


Verificação do óbito = constatar que a pessoa está morta
A verificação do óbito destina-se a estabelecer com segurança que um determinado indivíduo se
encontra morto.
Baseia-se essencialmente na identificação clínica dos sinais negativos de vida (sinais positivos de morte)
observados durante um período de tempo apropriado, recorrendo, se necessário, a exames complementares
e/ou testes adequados.

 Certificação do óbito = é o documento oficial que certifica a morte de uma pessoa (a certificação do
óbito é da exclusiva competência dos médicos – art. 114.º CDOM).

SINAIS POSITIVOS DE MORTE


1) Ausência de movimentos respiratórios
(ausência de sopro nasal)

2) Ausência de batimentos cardíacos (durante 5 minutos nos 4 focos, ECG isoelétrico, ausência de
circulação periférica e pulso sistólico)

3) Ausência de resposta a estímulos dolorosos

 Excluir:
- Hipotermia
- Intoxicação por fármacos depressores do SNC
- Alterações endócrinas ou metabólicas

Sinais de certeza de morte


a) Precoces:
b. Livores
c. Rigidez cadavérica
d. Arrefecimento
e. Desidratação
f. Autólise
b) Tardios:
g. Putrefação

• Morte clínica
Dois conceitos de morte clínica
1. Morte cardiorrespiratória (cardíaca)
2. Morte cerebral (ou morte tronco-encefálica ou morte encefálica)

DL n.º 141/99, de 28 de agosto

Quem verifica a morte?


- O Médico, nos termos da lei (art. 3.º, nº1 DL n.º141/99)

Que médico deve verificar o óbito?


- Aquele a quem estiver acometida a responsabilidade do doente no momento da morte (art. 4º, nº1)
- O que chegue em primeiro lugar (art. 4º, nº1).

Quem chega em primeiro lugar?


- Se o indivíduo ainda não estava morto e foi acionado o INEM, os médicos da emergência serão os
primeiros.
- Quando o indivíduo é encontrado já cadáver, dependerá da autoridade policial, que não tem formação nem
sensibilidade para chamar o médico indicado.

• Como se deve verificar um óbito?


Com base em critérios médicos, técnicos e científicos a definir pela Ordem dos Médicos (artº 3º, nº2), que
devem ser atualizados regularmente.
- Estes critérios não foram ainda definidos
- Existe a declaração da OM com os critérios de Morte Cerebral
- Na prática é baseada nos conhecimentos e convicção pessoal do médico, de acordo com a legis
artis

Para o perito não traz normalmente grandes dificuldades.

QUASE SEMPRE HÁ SINAIS DE CERTEZA DE MORTE!

A quem se entrega este documento? (artº 4º, nº3)


- À família ou autoridade que compareça no local.

Em que situações é obrigatória a presença de mais que um médico para a verificação do


óbito?
- Nos casos de sustentação artificial das funções cardiocirculatória e respiratória, a verificação da morte deve
ser efetuada por dois médicos, de acordo com o regulamento elaborado pela Ordem dos Médicos
- Situação em que o indivíduo se encontra em coma profundo por lesão irreversível com ausência de
função do SNC e com as restantes funções vitais mantidas por meios extraordinários de suporte.
➔ A sua certificação requer a demonstração da cessação das funções do tronco cerebral e da sua
irreversibilidade.

- Tem de se fazer, no mínimo, 2 conjuntos de provas.


- Realização de exames complementares de diagnóstico (sem que necessário)
- As provas têm de ser feitas por 2 médicos. Mas apenas médicos especialistas:
- Em Neurologia
- Neurocirurgia
- Ou com experiencias de cuidados intensivos
- Esses dois médicos (em que ambos têm de pertencer a alguma daquelas especialidades supra indicadas),
têm, entre si, de pertencer a serviços diferentes.

Num indivíduo em morte cerebral, quando é que este se considera morto?


O tempo legal da declaração da morte é o tempo em que os testes da morte cerebral foram repetidos pela
segunda vez e (+) revelaram-se inequivocamente positivos.
NOTA: Tem sempre de se consultar o RENNDA para se verificar se a pessoa em causa não se manifestou
contra o seu corpo ser utilizado para fins de ensino!

 Certificação do óbito = é o documento oficial que certifica a morte de uma pessoa e de onde consta a
causa da morte (a certificação do óbito é da exclusiva competência dos médicos– art. 114.º CDOM).

➔ Tem uma grande importância a nível epidemiológico.


Fetos – com 22 ou mais semanas
Crianças – com menos de 28 dias de idade

➔ Chama-se a atenção das “muitas implicações” das certidões de óbito, no que respeita a “seguros de
vida, heranças e indemnizações, que, por vezes, inibem os médicos de expressarem a verdadeira
causa da morte”.
A OMS recomenda que de distingam vários tipos de causa de morte, nomeadamente:
1. Causa direta da morte (alínea a) – o estado patológico ou lesão traumática que provocou diretamente a
morte. Constitui a última consequência ou efeito da causa básica.
Exemplos: (1) lesões traumáticas crânio-meningo-encefálicas; (2) peritonite

2. Causa básica da morte (alínea c) – é o estado patológico responsável pelo desencadeamento de outros
estados patológicos classificáveis como causa direta. Em medicina legal corresponde às circunstâncias que
estiveram na origem da produção das lesões – acidente, suicídio, homicídio.
Exemplo: (1) acidente de trabalho (2) apendicite

3. Causa intermédia (alínea b) – estado patológico que relaciona a causa básica com a direta, quando
existe. Quando não existe, apenas há lugar às outras duas. Muito importante para nós é o instrumento que
produziu as lesões traumáticas (causa direta).
Exemplos: (1) queda de andaime; (2) rutura do apêndice

Parte II – “outros estados mórbidos, fatores ou estados fisiológicos que contribuíram para o
falecimento, mas não mencionados na Parte I”
É importante a avaliação do nexo de causalidade e eventuais concausas, e ainda, para fins estatísticos.
Situações em que a verificação e a certificação do óbito constituem ato único

Situações em que a verificação e a certificação do óbito constituem atos distintos

❖ Desmaterialização dos certificados de óbito

Lei n.º 15/2012 de 3 de abril – Institui o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO)
O SICO é um sistema de informação cuja finalidade é permitir uma articulação das entidades envolvidas
no processo de certificação dos óbitos, com vista a promover uma adequada utilização dos recursos, a
melhoria da qualidade e do rigor da informação e a rapidez de acesso aos dados em condições de segurança
e no respeito pela privacidade dos cidadãos.
EXAME EXTERNO DO CADÁVER

Lei 45/2004, de 19 de agosto

Como vimos na autópsia médico-legal, procedemos ao exame do local, do vestuário, do hábito externo e
interno e a exames complementares.
A Lei nº45/2004 de 19 de agosto prevê no artigo 13º a realização de perícias urgentes e o artigo 17º o óbito
verificado fora de instituições de saúde.
Exame pericial do hábito externo – consiste em elaborar um mini-relatório/exame sumário. É fundamental
para determinar se se ordena ou dispensa a autópsia.

a) Exame pericial do hábito (exame externo do cadáver):

1. Sinais relativos à identificação


2. Sinais relativos à data de morte
3. Sinais relativos à causa de morte
4. Sinais relativos ao meio em que permaneceu o cadáver
b) Exame do vestuário e objetos que acompanham o cadáver:

Vítima não identificada e danos/manchas.


1. Número de peças, estado de conservação.
2. Tamanho, cor, marcas, monogramas, compostura ou desalinho.
3. Arranjos, estragos (rasgões, arrancamentos, cortes, orifícios, queimaduras, falta de botões, etc) e a
sua correspondência com eventuais lesões na superfície cadavérica.

c) Exame externo:
1. Sinais relativos à identificação: idade aparente, sexo, altura, peso, estado de nutrição, cor e forma do
cabelo, cor da íris, estado e particularidades da dentadura, cicatrizes/tatuagens, deformidades/malformações,
estigmas profissionais, impressões digitais, vestuário/objetos de uso pessoal, etc.

2. Sinais relativos à causa de morte:


A. Processos patológicos espontâneos:
o colorações anormais,
o edemas,
o ascite,
o varizes e úlceras varicosas,
o escaras de decúbito,
o processos sépticos locais,
o desnutrição.

B. Lesões traumáticas:
o natureza da lesão,
o localização,
o número de lesões,
o distância a pontos fixos,
o forma da lesão, dimensões, direção, características da lesão.

C. Cor dos livores.


a. Livores – formam-se por efeito da gravidade nas zonas de declive que não estão sujeitas a
pressão.
b. Intoxicação por monóxido de carbono – livores muito vermelhos

D. Posição do cadáver.

d) Colheitas: amostras de cabelos e pêlos.


Nunca esquecer: é necessário uma descrição rigorosa e precisa, atenção a todos os pormenores, é preferível
colher a mais do que perder um vestígio.

AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL


AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL (PESSOAL) – CONCEITO
Identificar, estudar, descrever, documentar e valorar em termos técnicos e num quadro jurídico determinado,
as lesões e sequelas (os elementos de dano) suscetíveis de serem objeto de sanção penal e/ou de concessão
de pensão, de indemnização, de benefícios fiscais, benefícios sociais, etc.
➔ Esta avaliação do dano corporal pode ocorrer em diversas áreas: em direito penal, em direito do
trabalho, em direito civil, em direito administrativo, etc.
AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL EM DIREITO PENAL
Art. 143.º CP – Ofensas à integridade física simples
Art. 144.º CP – Ofensa à integridade física grave

Art. 144.º/d) CP – “Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a: (…) d) provocar-lhe
perigo para a vida”.

PERGUNTA DE DESENVOLVIMENTO EXAME!!


O que é: provocar perigo para a vida?
Uma das alíneas que está contemplada no artigo 144.º CP (alínea d)), corresponde a “ofensa à integridade
física grave” em que o perito médico tem que se pronunciar, sobretudo, naquelas situações em que se
verificam circunstâncias/sinais/elementos clínicos que há uma morte eminente/um prognóstico
reservado, em que se mostre que a pessoa só sobreviveu porque foi adequada e atempadamente
assistida, caso contrário poderia ter falecido. Estes casos graves devem ser valorizados de uma forma
diferente.

○ Período de doença – é todo o tempo que passa desde uma agressão (desde um traumatismo) até à
data em que a lesão se cura; em que terminam os tratamentos.

Da letra da lei à prática médico-legal - conceitos utilizados na prática pericial


i) Doença
– Não importa que a alteração incida ou não sobre a capacidade de trabalho, requeira ou não intervenção
terapêutica e comporte ou não um rebate geral apreciável do organismo.

ii) Tempo/Período de doença


– Corresponde ao período de tempo que decorre entre a produção das lesões e a cura ou consolidação.

iii) Cura
– Consiste na recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial integral com restitutio ad integrum (isto é,
a pessoa fica como antes da lesão).
- É quando não há sequelas – quando as lesões se curaram na sua totalidade, sem deixar quaisquer sequelas
(há uma recuperação integral).
É o caso, por exemplo, de uma equimose; de escoriações, etc.

iv) Consolidação
– Consiste na recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial parcial, com sequelas que se mantêm a
partir de determinado momento.
- É quando há uma recuperação, mas que deixa sequelas (não se consegue voltar totalmente à situação que
existia antes do individuo sofrer o traumatismo.
É o caso, por exemplo, de uma cicatriz, de uma fratura.

3) Conceito funcional de órgão importante (conceito médico-legal)


– Órgão ou membro que funcionalmente sejam relevantes, podendo a sua “privação” ser temporária ou
permanente, total ou parcial (não tem de resultar necessariamente da supressão ou privação total do órgão,
bastando que haja diminuição ou redução grave da função específica que ele desempenha).
– Esta importância está dependente da ciência médica e deverá ser aferida para cada vítima em
particular, atendendo à atividade por ela desempenhada e á relevância que o órgão ou membro tem
para si.
– A importância é suscetível de ser valorizada através da descrição pormenorizada das consequências
da sua produção, incluindo o efeito nas situações concretas da vida da vítima (gerais ou
profissionais).
– Não tem obrigatoriamente que ser permanente
– A importância de um membro determina-se tendo em conta os fatores individuais da vítima (por exemplo:
a privação de um dedo de um pianista – a amputação de um dedo na maioria das pessoas, apesar de criar um
prejuízo estético e limitar funcionalmente, será enquadrável enquanto resultado de ofensa corporal do artigo
143º CP).

4) Desfiguração grave (alteração, em grau elevado, do aspeto, da figura, do ofendido)


*aqui temos de ter atenção à descrição pormenorizada e à foto-documentação
– O perito deverá informar se a desfiguração é ou não permanente, ou seja, se não é suscetível de ser
alterada com o tempo ou através de uma intervenção médico-cirúrgica
– O dano não deve ser considerado apenas do ponto de vista estático mas, também, dinâmico
– A desfiguração grave deverá efetivamente ser grave e permanente e, apesar de ser referido a questão da
visibilidade, a desfiguração grave não se limite ao rosto ou às zonas descobertas do corpo
– Deve ter em conta a extensão e visibilidade do dano bem como circunstâncias pessoais da vítima (sexo,
idade e profissão) que possam ser relevantes

5) Afetação grave da capacidade de trabalho


– Reporta-se ao trabalho em geral, e que é comum também à criança, ao idoso e ao desempregado, bem
como ao profissional
– O dano tanto pode ser permanente como temporário, bastante que seja grave: “tirar-lhe” releva caráter de
permanência, enquanto “afetar-lhe” pode ter caráter permanente ou temporário.

PERGUNTA EXAMES!!
 Objetivo da avaliação corporal para o D. Trabalho – avaliar a “perda da capacidade de ganho no
trabalho”. Isto é: visa-se avaliar a repercurssão que aqueles danos têm no exercício da atividade
laboral/profissional; avaliar os danos que são passíveis de afetarem o exercício da profissão.
➔ Apenas se avaliam, portanto, danos patrimoniais – danos relacionados com a afetação para o
exercício da profissão.
 Objetivo da avaliação corporal para o D. Civil – avalia o dano de forma integral (visando a reparação
integral do dano); em que se avaliam as repercussões do dano para as mais diversas atividades quotidianas.
➔ O objetivo é mais abrangente.
AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL EM DIREITO DO
TRABALHO

ITA – Incapacidade Temporária Absoluta


= N.º de dias que o sinistrado esteve impedido de trabalhar/que esteve de baixa (em que não teve
capacidade para trabalhar)

ITP – Incapacidade Temporária Parcial


= É o período de tempo em que a pessoa-sinistrada já está a trabalhar, mas ainda com limitações; em
que ainda está a fazer tratamentos, fisioterapia, etc.

IPA – Incapacidade Permanente Absoluta


= Corresponde à incapacidade do pessoa-sinistrada quando fica impedida de exercer qualqurr tipo de
trabalho/profissão.

IPATH – Incapacidade Permanente Absoluta para Trabalho Habitual


=Incapacidade da pessoa-sinistrada quando fica impedida, de forma permanente, de voltar a exercer
o seu trabalho habitual.
NOTA: quando uma pessoa tem uma IPATH, tem que se indicar também uma IPP, porque ainda que haja
outras profissões para as quais é compatível (diferentes da sua profissão habitual, para a qual está
impedida/não tem capacidade), as sequelas têm ainda repercussões funcionais no exercício dessas outras
profissões com as quais é compatível.

IPP – Incapacidade Permanente Parcial


= valor da sequela/incapacidade (em %) para o exercício da profissão.

OU SEJA:
➢ IPATH – para o trabalho/profissão habitual

➢ IPP – para as profissões com as quais ainda é compatível.

PERGUNTA EXAMES!!
As vítimas de AT (acidente de trabalho) não necessitam de fazer o ónus da prova.
➢ Em DTrabalho, as lesões verificadas a seguir ao acidente presumem-se que são consequência do
acidente de trabalho (o legislador “acredita” naquilo que o sinistrado diz).
➔ Terá, portanto, de ser a companhia de seguros a provar o contrário (que aquela lesão não resulta do
acidente de trabalho).
EM DIREITO CIVIL – o ónus recai sobre o proprio sinistrado.

AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL EM DIREITO CIVIL


Princípio da reparação integral do dano (isto é medicamente utópico).

Avaliam-se os danos patrimoniais e não patrimoniais


Danos extrapatrimoniais:
o DFTT – Défice Funcional Temporário Total = N.º de dias internada, ou em repouso absoluto em
causa (em que a pessoa não tem razoável autonomia para as attividades da vida diária).
o DFTP – Défice Funcional Temporário Parcial = tudo o que não está no ambito do DFTT
o QD – Quantum doloris (=quantificação da dor; sofrimento doloroso físico e/ou psíquico)

Danos patrimoniais:
o RTAPT – Repercurssão Temporária na Atividade Profissional Total – quando a pessoa está de baixa
o RTAPP – Repercurssão Temporária na Atividade Profissional Parcial – a pessoa está a fazer
fisioterapia, está em tratamentos.

Danos extrapatrimoniais:
o APIFP – Afetação Permanente na Atividade Física ou Psíquica (incapacidade para os atos da vida
diárias) = Défice funcional permanente
Em DTrabalho – é dado em percentagem
Em DCivil – é dado em pontos
NOTA:

o Dano Futuro (não é quantificado, é apenas qualificado “existem aqui motivos para um dia o
proceso ser reaberto”)
Em DCivil (ao contrário do que acontece no ambito do DTrabalho) não há facilidade de reabertura de
processo. Só em casos particulares é que se dá “dano futuro”, porque se sabe, liminarmente, que há uma
grande probabilidade (quase certo) de agravamento da situação.

o DE – Dano estético (permanente)

o RADL – Repercussão nas Atividades Desportivas e e de Lazer


(as temporárias não quantificadas no ambito do quantum doloris)

o RAS – Repercurssão na Atividade Sexual


(as temporárias não quantificadas no ambito do quantum doloris)

o Dependências
Danos patrimoniais:
● RAP – Repercussão na Atividade Profssional (permanente)
É impeditivo p/ a atividade profissional? Para quê?
FORMA DO RELATÓRIO MÉDICO-PERICIAL
TIPOS DE FERIMENTOS
Ver apontamentos sebenta – pags. 21 a 29

Lesões Traumáticas Externas:


A. Contusão supercial:
a. Equimose
b. Hematoma

B. Abrasão: esfoliação/escoriação

C. Ferida contusa:
a. Lesões modeladas
b. Estigmas ungueais
c. Mordeduras

Lesões Traumáticas Internas:


A. Contusão profunda
B. Fratura óssea
C. Laceração/esfacelo de órgãos

Lesões Traumáticas Complexas:


Lesões traumáticas em que se associam aspetos das diversas lesões traumáticas supramencionadas, ou há
sobreposição das diferentes lesões traumáticas.

TIPOS DE FERIDAS PRODUZIDAS


- Por instrumentos cortantes
- Por instrumentos perfurantes
- Por instrumentos corto-perfurantes
- Por instrumentos corto-contundentes

AÇÃO DE NATUREZA CORTANTE

• Armas brancas
Tipos de feridas produzidas por instrumentos cortantes:
➔ Dão origem a ferida incisa.
Podem ter: Cauda de rato
AÇÃO DE NATUREZA PERFURANTE

Tipos de feridas produzidas por instrumentosperfurantes :


➔ Dão origem a ferida perfurante

AÇÃO DE NATUREZA MISTA

A. Feridas causadas por instrumentos corto-perfurantes


Combina: ação cortante + ação perfurante
Exemplo: punhal, faca, canivete, navalha, tesoura, etc.
➔ Dá origem a: ferida corto-perfurante.

B. Feridas causadas por instrumentos corto-contundentes


Combina: ação cortante + ação contundente
O efeito cortante é coadjuvado pelo pelo da arma (peso esse que terá um efeito contundente)

Exemplo: machado
➔ Dá origem a: ferida corto-contundente.

C. Feridas causadas por instrumentos perfuro-contundente


Combina: ação perfurante + ação contundente
Feridas perfuro-contundentes têm:

1- Orifício de entrada de projétil

2- Trajeto em canal
3- Orifício de saída de projétil (inconstante) – pode não ter.
AUTÓPSIAS MÉDICO-LEGAIS
As autópsias médico-legais estão asssociadas ao estudo e à dissecação de um cadáver ou de partes do
mesmo.
Analisando a etimologia da palavra “autópsia”: “autos” + “ophis” → ver com a propria vista; relacionado
com a observação do cadáver, todavia numa autopsia há imput de vários sentidos, não só a vista.

Objetos da autópsia:
• Cadáver íntegro e em bom estado de conservação
• Cadáver em decomposição
• Cadáver com mutilações
• Restos cadavéricos

2 Tipos de Autópsias
PERGUNTA EXAMES!!
A autópsia começa na mesas de autópsias? NÃO.
Começa no local, incluindo com as diligências de apuramento das circunstancias em que foi encontrado o
cadáver (quem encontrou, como encontrou, se houve alterações, etc.), com o exame do local, depois há todo
um exame de documentação e /ou testemunhas, só depois então, e depois de feito um exame ao vestuário do
indivíduo que vai ser autopsiado é que toma lugar o exame ao cadáver: exame externo e exame interno.
Podem ainda ser feitos, posteriormente, exames complementares que se considerem necessários.

PERGUNTAS A QUE A AUTÓPSIA TENTA RESPONDER


MUITO IMPORTANTE!!

A etiologia médico-legal – é uma categorização legal ou administrativa.

• A etiologia médico-legal → não é uma decisão puramente médico-legal

➔ São as entidades judiciárias (administrativas) competentes que dispõem, em última análise, de todos
os elementos para determinar como entendem que a morte em casa deve ser rotulada.
“WHAT”

É o foco de qualquer processo legal.

IMPRIMIR Lei n.º 45/2004 (atualizada): Arts. 14.º, 15.º, 17.º, 18.º, 19.º!!

PATOFISIOLOGIA DA MORTE
• Arrefecimento
Fatores de variação

• Desidratação

• Rigidez
• LIVORES

ver esta questão dos processos/fenómenos cadavéricos na sebenta.

CRIMES DE NATUREZA SEXUAL


E O EXAME MÉDICO DE VÍTIMAS DE AGRESSÃO
O que é uma agressão sexual?
É toda a atividade sexual, todo o comportamento de conotamento sexual no qual a vítima é forçada ou
constrangida a participar por um determinado agressor – seja com o próprio agressor, consigo mesma ou
com uma terceira pessoa – contra a vontade da vítima, por manipulação: afetiva, física, material ou abuso
de autoridade, de maneira evidente ou não – seja o agressor conhecido ou não, haja ou não evidencia de
lesão ou traumatismo físico ou emocional, e independentemente do sexo das pessoas envolvidas.

Violação – art. 164.º CP

Art. 171.º CP “Abuso sexual de crianças”

O ato sexual de relevo aqui será aquele que, do ponto de vista objetivo, tiver caráter sexual e que, em face da
intensidade ou duração, afete a criança em termos da sua autodeterminação sexual da criança.
Fatores de risco
1. Características individuais (das vítimas; e dos agressores)
Em PT temos um predominio esmagador de mulheres vítimas de abusos sexuais; mulheres que se
dedicam à prostituição; imigrantes.
2. Contexto familiar
3. Contexto social e culturais
FASES DA VIOLÊNCIA

Conduta no caso de suspeita de um caso


1. Colher informação sumária:
a. O que aconteceu
b. Quando aconteceu
c. Como aconteceu
d. Saber os casos em que há denúncia obrigatoria

2. Estabelecer a urgência médico-legal da situação e a necessidade de chamar médico legista:


Todos os contactos e agressões sexuais ocorridas com menos de 72h são para ser vistas pelo medico
legista por causa da recolha de vestigios biológicos.

3. Fornecer informação sobre a preservação de eventuais vestígios


A entrevista…

- É o ponto de partida do exame médico-legal


- o relato do evento e das circunstâncias que o rodeiam orientam o perito na sua atuação pericial
(determinando o exame físico, as amostras biológicas e outras que se deve recolher e a necessidade de
acompanhamento médico posterior)
- a entrevista deve ter um planeamento prévio, deve decorrer num local que ofereça privacidade, conforto,
seja adequado à idade, etc.), a colheita de informação deve ocorrer no mais curto espaço de tempo após o
evento, os pais, familiares e outros acompanhantes devem estar a par do sucedido, não deve haver
interrupções e deve realizar-se uma única entrevista
- durante a entrevista deve ser abordado o assunto de modo neutro, adequando a linguagem à idade da
vítima, explicando as “regras da entrevista” (dizendo por exemplo, que não se vai contar aos pais), fazendo
um convite à narrativa, fazendo perguntas abertas e sem repetições, determinando um tempo de resposta,
aceitando lacunas nas respostas/ocultação e fazendo uma abordagem em funil (do geral para o particular)
- a entrevista requer, claro está, conhecimentos da técnica de entrevista forense, compreender as
dificuldades da vítima, imparcialidade e objetividade, open mind e evitar o caráter julgador, considerar todas
as alternativas possíveis e cautelar a interpretação de elementos aparentemente inexplicáveis.
- na entrevista devem ser abordados os antecedentes pessoais (ginecológicos e obstétricos, médicocirúrgicos
e patológicos/traumáticos), os antecedentes familiares e o contexto social. Valorizar a situação de
terceiros (existência de irmãos, por exemplo) e os riscos de recidiva.
Em relação às crianças avaliar Estadios de Tanner – isto é: os estadios de maturação dos caracteres sexuais
secundários das crianças, porque existem agressores sexuausi que tem um tipo preferencial de maturação
sexual.
Recolha e preservação de vestígios
~

Sugilações – “chupões”

´
É essencial que o exame médico-legal seja o mais precocemente possível para colheira e preservação de
vestígios. É essencial uma adequada valorização da sintomatologia e informação prestada pela vítima.

Como referido, repita-se que, a ausência de lesões traumáticas e de vestígios biológicos não invalida a
possibilidade de se ter verificado abuso sexual!
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A violência é o tratamento físico e/ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções
nas relações entre a vítima e o agressor no contexto de uma relação de confiança, poder e dependência.
A vítima fica privada dos seus direitos e liberdades, afetando de forma concreta ou potencial a sua saúde,
bem estar, dignidade e desenvolvimento (físico, psicológico e social, no caso de menores).
Podemos distinguir diferentes tipos de violência, nomeadamente: abuso financeiro/material, abuso físico,
negligência, abuso psicológico/emocional, abuso sexual.

A violência tem vários impactos na saúde e a diferentes níveis: por exemplo: gravidezes indesejadas,
transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e até a morte.
Tem-se falado muito hoje em dia nos indícios de violência durante o namoro, cada vez mais comum. A
informação circula cada vez mais acerca das táticas do agressor, do ciclo da violência e das próprias marcas
que nos devem alertar.

A violência doméstica é um crime público, o que significa que, independentemente da vontade da vítima,
qualquer pessoa pode e deve fazer denúncia.
O artigo 152.º do CP prevê o crime de violência doméstica.
O artigo 152º-A – pevêo crime de maus tratos (a crianças).
No que diz respeito às situações de abuso em menores, de maus tratos, considera-se que a criança ou
jovem está em perigo, designadamente, quando se encontra numa destas situações:
a) Está abandona ou vive entregue a si própria
b) Sofre de maus tratos físicos e psíquicos ou é vítima de abusos sexuais
c) Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal
d) É obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade, dignidade e situação
pessoal ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento
e) Está sujeita a comportamentos que afetem gravemente a sua segurança ou seu equilíbrio
emocional
f) Assume comportamentos ou se entrega a consumos que afeta gravemente a sua saúde, segurança,
formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a
guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a remover essa situação

Considerações gerais:
1. A identificação de fatores de risco serve de guia da prevenção e da intervenção.
2. Qualquer criança pode ser objeto de abuso.
3. Em cada um pode haver a sobreposição de diferentes tipos de abuso.
4. Aos sintomas de qualquer tipo de abuso associam-se sempre sintomas de abuso emocional.
5. Os sinais, mas sobretudo os sintomas, variam conforme a gravidade do abuso, o sexo, a idade da
vítima, a sua capacidade para reagir e a existência de estruturas de apoio no seu meio.
6. Podem existir situações de abuso, sem que existam sinais/sintomas evidentes e que a vítima revela
uma relação saudável com o abusador (ocorre maioritariamente nos grupos etários mais baixos).
7. Podem existir sintomas sugestivos de abuso sem que estes se verifiquem de facto.

As marcas da violência:
✓ Marcas físicas
✓ Psicológicas
✓ Sociais

Maus tratos em crianças


Definição
FATORES DE RISCO
Fatores de risco
1. Fatores individuais da vítima
a) Classicamente, ser do género feminino
b) Idade superior a 75 anos
c) Incapacidade física/inteletual
d) Quadros demenciais
2. Fatores individuais do agressor
a) Familiares (filho; cônjuge)
b) Drogas de abuso/consumo abusivo de álcool
c) Inexperiência/período prolongado como cuidador
d) História de abuso em criança
e) Personalidade hipercríticas
f) Expetativas irrealistas
3. Fatores relacionais
a) Dependência financeira/emocional/habitacional do abusador em relação à vítima
b) Transmissão intergeracional da violência
c) História de relacionamento interpessoal difícil
d) Coabitação e superlotação
e) Excesso de lealdade para o abusador e interiorização da culpa
4. Fatores comunitários e sociais
a) Isolamento social (poucos contactos sociais)
b) Carência de suporte social (recursos e sistemas de suporte)
c) Discriminação em função da idade
d) Outras formas de discriminação
e) Cultura de violência
f) Fatores sociais e económicos
INDICADORES DE ABUSO
❖ Informação colhida deve ser sistematizada de acordo com a sua pertinência, importando sobretudo
destacar a informação relevante sobre o processo a partir do discurso da criança e de outros dados
disponíveis.

❖ Sistematização, análise e interpretação dos dados colhidos.


ABUSOS EM IDOSOS
FATORES DE RISCO
Fatores individuais (vítima; agressor)

Fatores relacionais

Fatores comunitários e sociais

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