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Abordando o anúncio publicitário enquanto gênero textual/discursivo, o presente

artigo tem por objetivo traçar linhas gerais acerca das principais características deste
gênero pela visão linguística, pautado em apontamentos teóricos de MARCUSCHI,
CARVALHO e CAMPOS.

Como um tipo de gênero textual, o anúncio publicitário é uma formação


interativa, multimodalizada e flexível de organização social e produção de sentido, onde
as funções sociocomunicativas e institucionais importam mais que as meras
peculiaridades linguísticas (Marcuschi, 2008).

Pela sua função conativa, ou apelativa, o anúncio publicitário, ou publicidade, se


utiliza de subterfúgios para atingir seus objetivos, o convencimento dos receptores da
mensagem. Sobre isso, CARVALHO (apud Carvalho; Menezes, 2011) aponta a
persuasão como único objetivo central da publicidade.

Uma vez assumindo a missão de persuadir e na busca de satisfazer tal empenho,


resta uma ponderação ao publicitário: a quem persuadir. Aqui surge a necessidade de se
delimitar o público-alvo para, utilizando-se dos diversos recursos estilísticos
disponíveis, a linguagem e a mensagem alcancem a quem se deve, garantindo a
efetividade da publicidade.
Ao promover um produto ou ideia, o publicitário, através do anúncio, busca
atingir o público de maneira não meramente para apresentar conteúdo, essência ou
mesmo o objeto em si, mas antes persuadir para que receba a mensagem de tal modo a
formar um convencimento acerca do que está sendo apresentado.

Sobre isso, CAMPOS (ANO) aduz:

“a fim de melhor promover o produto, o anúncio passa


da informação à persuasão. A descrição das características
objetivas do produto se anula cedendo lugar a mecanismos de
persuasão. Há, dessa forma, na estruturação da mensagem, um
deslocamento da ênfase do produto para o destinatário. O
anúncio se coloca do ponto de vista do receptor, visando exercer
sobre ele um efeito persuasivo e obtendo, na maior parte das
vezes, um consenso emotivo.”

Tendo como foco o público-alvo e não simplesmente o conteúdo, a linguagem e


os recursos linguísticos e estilísticos, sobretudo metáforas e metonímias, do anúncio
publicitário passam a garantir maior ou menor conexão com o receptor, aumentando o
alcance da persuasão propositada.

Para persuadir e chamar a atenção do seu alvo, a publicidade se utiliza de


linguagem oral, verbal e não verbal, imagética, textos simples, curtos e atrativos, verbos
em tom de comando ou convencimento, figuras de linguagem, estudo e uso de cores e
seus impactos.
O suporte e a plataforma utilizados também inferem na persuasão e no alcance
do anúncio. Outdoors, panfletos, Totens, comerciais eletrônicos, musicalidade e toda a
gama de efeitos visuais existentes são utilizados.

Com o mundo cada vez mais imerso no consumismo e na cultura de massa, tem-
se discutido a importância de um olhar reflexivo sobre a publicidade, de modo que ela
não sobrepuja a língua ou mesmo que haja um tipo de ética entremeando as produções
publicitárias.

Campos (ANO) sugere a metáfora do canto da sereia ao salientar o poder


discursivo da publicidade:

A beleza e sedução do jogo das imagens, cores, formas e


objetos, subjaz uma visão do mundo, uma proposta de relação
do consumidor consigo mesmo, com os objetos e as pessoas,
com a própria estrutura social, enfim. o consumidor segue o
melodioso canto e, imperceptivelmente, deglute o que lhe e
apresentado. o Canto da sereia metaforiza esse aspecto sedutor e
envolvente do discurso publicitário. Também aqui, atras do doce
canto, da beleza visual e da promessa de realização do desejo, há
um discurso que envolve e entorpece, que implica a
descaracterização individual e cultural, a perda da identidade e,
portanto, a morte.
Certo é que o anúncio publicitário enquanto gênero, modificador e partícipe das
interações sociais, como prática e fato social que é, merece destaque e estudos
constantes na contemporaneidade consumista, onde a percepção de si e de mundo
parecem confusas, ora caminhando para frente, ora caminhando para trás.

REFERÊNCIA

CAMPOS, Maria Helena Rabelo. Canto e plumagem: a retórica da publicidade.


Ensaios de Semiótica. n. 6 (1981). Disponível em:
https://periodicos.ufmg.br/index.php/cltl/issue/view/410. Acesso em: 10/02/2024.

CARVALHO, Nelly Medeiros de; MENEZES, Tayana Dias de. In: A linguagem
publicitária: um estudo comparativo entre a publicidade brasileira e canadense. Via
Litterae. v. 3, n. 2, Anápolis: 2011. Disponível em www.unucseh.ueg.br/vialitterae.
Acesso em: 10/02/2024.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e


compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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